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OS SETE PRINCÍPIOS DA ABA – ANÁLISE


DIAGNÓSTICA
SUMÁRIO

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS .................................................................................. 4

DIMENSÃO APLICADA............................................................................................ 11

DIMENSÃO COMPORTAMENTAL .......................................................................... 14

DIMENSÃO ANALÍTICA ........................................................................................... 17

DIMENSÃO TECNOLÓGICA.................................................................................... 21

DIMENSÃO CONCEITUAL....................................................................................... 23

DIMENSÃO EFETIVA ............................................................................................... 24

DIMENSÃO GENERALIZÁVEL ................................................................................ 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 27

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29

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NOSSA HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criada a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.
A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é caracterizado por alterações


qualitativas nas habilidades de interação social, dificuldades de comunicação e o
engajamento em comportamentos repetitivos e estereotipados (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). O TEA pode afetar crianças de qualquer raça
ou cultura e a expressão dos sintomas pode variar de leve a severo através dessas
três áreas fundamentais (BERTOGLIO; HENDREN, 2009). Desse modo, os
comportamentos, habilidades, preferências, funcionamento e necessidades de
aprendizagem são diferentes de criança para criança e mudam ao longo do
desenvolvimento (BOYD et al., 2008; LORD et al., 2000). Devido a variação na
severidade dos sintomas, o transtorno do espectro do autismo representa um termo
amplo que inclui, predominantemente, características diferentes de crianças com
autismo clássico, síndrome de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento
sem outra especificação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000; LEACH
et al., 2009).

A prevalência de crianças diagnosticadas com TEA vêm crescendo em todo o


mundo. Estatísticas recentes estimam que 1 em cada 50 crianças em idade escolar
(6-12 anos) são diagnosticadas com autismo nos Estados Unidos (BLUMBERG et al.,
2013; CENTER OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2013).

No Brasil, não existe uma estimativa epidemiológica oficial (BRASIL, 2013),


mas o número de brasileiros afetados pelo TEA também vêm aumentando, em parte
pelo maior acesso à informações sobre o transtorno e à ferramentas de identificação
precoce. O transtorno do espectro do autismo é um transtorno invasivo do
desenvolvimento que persiste por toda a vida e não possui cura nem causas
claramente conhecidas. No entanto, sabe-se que intervenções e métodos
educacionais com base na psicologia comportamental têm demostrado reduzir os
sintomas do espectro do autismo e promover uma variedade de habilidades sociais,
de comunicação e comportamentos adaptativos. Esse método de intervenção e
ensino é conhecido como a análise do comportamento aplicada ou ABA, sigla em
inglês para Applied Behavior Analysis. (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007;
VIRUES-ORTEGA, 2010; VISMARA; ROGERS, 2010).

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Características gerais de uma intervenção baseada na ABA tipicamente
envolvem identificação de comportamentos e habilidades que precisam ser
melhorados (por exemplo, comunicação com pais e professores, interação social com
pares, etc.), seguido por métodos sistemáticos de selecionar e escrever objetivos
para, explicitamente, delinear uma intervenção envolvendo estratégias
comportamentais exaustivamente estudadas e comprovadamente efetivas. Além
disso, ABA é caracterizada pela coleta de dados antes, durante e depois da
intervenção para analisar o progresso individual da criança e auxiliar na tomada de
decisões em relação ao programa de intervenção e às estratégias que melhor
promovem a aquisição de habilidades especificamente necessárias para cada criança
(BAER, WOLF; RISLEY, 1968, 1987; HUNDERT, 2009). Por apresentar uma
abordagem individualizada e altamente estruturada, ABA torna-se uma intervenção
bem sucedida para crianças com TEA que tipicamente respondem bem à rotinas e
diretrizes claras e planejadas (SCHOEN, 2003).

Sabe-se que o método ABA possui grande suporte científico e tem sido o
método de intervenção mais pesquisado e amplamente adotado, sobretudo nos
Estados Unidos, para promover a qualidade de vida de pessoas com transtorno do
espectro do autismo (GILLIS & BUTLER, 2007; LOVAAS, 1987; VAUGHN et al., 2003;
VIRUÉS-ORTEGA, 2010; HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007). No entanto, uma
melhor e mais completa compreensão do ABA, enquanto método de intervenção em
todas as suas dimensões e complexidade, requer o claro entendimento de sua base
conceitual e dos princípios do comportamento que determinam a sua prática e fazem
desta uma abordagem de intervenção efetiva, principalmente para pessoas com
autismo. Portanto, nos propomos a seguir a introduzir brevemente, mas com maior
profundidade, a definição, características e conceitos filosóficos que subjazem esta
disciplina.

Inicialmente, a análise do comportamento aplicada pode ser definida como uma


sistema teórico para a explicação e modificação do comportamento humano baseado
em evidência empírica (HEFLIN; ALAIMO, 2007). Entretanto, uma completa definição
da ABA requer o entendimento deste campo do conhecimento como uma abordagem
científica, tecnológica e profissional. Como uma abordagem científica, ABA é definida
como um método para avaliar, explicar e modicar comportamentos baseado nos

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princípios do condicionamento operante introduzidos por B.F. Skinner (SKINNER,
1953). Na perspectiva do condicionamento operante, os comportamentos são
aprendidos no processo de interação entre o indivíduo e seu ambiente físico e social
(SKINNER, 1953). Em outras palavras, o comportamento é influenciado pelos
estímulos ambientais que o antecedem (chamados de antecedentes), e são
aprendidos em função de suas consequências. Comportamentos que são seguidos
por consequências que são especificamente agradáveis para o sujeito (por exemplo,
atenção ou recompensa) tendem a ser repetidos e aprendidos, enquanto
comportamentos que tem como consequência situações desagradáveis para o sujeito
(por exemplo, uma reprimenda), tendem a não ser repetidos ou não aprendidos
(ALBERTO; TROUTMAN, 2009). Considerando que esses princípios governam os
comportamentos dos seres humanos, estes são entendidos como passíveis de
predição, sendo que suas causas e funções podem ser identificadas nos eventos do
ambiente (SKINNER, 1978).

Portanto, ABA investiga as variáveis que afetam o comportamento humano,


sendo capaz de mudá-los através da modificação de seus antecedentes (o que
ocorreu antes e pode ter sido um possível gatilho para a ocorrência do
comportamento) e suas consequências - eventos que se sucederam após a
ocorrência do comportamento, e que podem ter sido agradáveis ou desagradáveis
determinando a probabilidade de que ocorram novamente (SUGAI, LEWIS-PALMER;
HAGAN- BURKE, 2000). Para estes propósitos, ABA usa métodos experimentais e
sistemáticos de observação e mensuração dos comportamentos, os quais são
definidos como aquelas ações dos indivíduos que são passíveis de serem observadas
e mensuradas (MAYER et al., 2012).

Ao medir comportamentos observáveis, ABA assume uma abordagem


conduzida pelos dados na avaliação e intervenção de comportamentos que são
importantes para os indivíduos e para a sociedade (BAER, WOLF, RISLEY, 1968).
Portanto, enquanto uma abordagem científica, ABA utiliza princípios derivados de
investigações científicas e demostra experimentalmente, através de dados empíricos
consistentes, a eficácia dos procedimentos utilizados nas intervenções.

Na medida em que o conhecimento sobre como os comportamentos humanos


são aprendidos e modificados são gradualmente produzidos em investigações

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experimentais, analistas do comportamento desenvolvem novos procedimentos e
estratégias de intervenção para comportamentos que requerem atenção, tais como
aqueles relacionados à habilidades acadêmicas, sociais e habilidades adaptativas de
vida diária. Ao fornecer uma descrição específica, completa e cuidadosa de
procedimentos baseados na evidência para modificar tais comportamentos, ABA é
definida como uma tecnologia que é aplicada em situações de vida reais onde
comportamentos apropriados e inapropriados podem ser melhorados, aumentados ou
diminuídos.

Embora amplamente conhecida como um método de intervenção para pessoas


com autismo (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007), ABA é uma tecnologia que pode
ser aplicada à crianças e adultos com ou sem necessidades especiais em clínicas,
escolas, hospitais, em casa, no ambiente de trabalho ou na comunidade (CAUTILLI,
DZIEWOLSKA, 2008). Procedimentos usados pela ABA são baseados na avaliação
detalhada das consequências que mantém os comportamentos de cada indivíduo e
podem ser modificados, na medida em que a evidência demostra melhoras ou não ao
longo do tempo e da intervenção. Cabe ressaltar com grande ênfase que os métodos
e estratégias utilizadas na ABA não são baseadas em práticas aversivas para reduzir
comportamentos indesejáveis. Embora estes procedimentos tenham sido estudados
em experimentos com animais, a pesquisa atual tem enfatizado e demonstrado
empiricamente que métodos baseados em técnicas de reforçamento positivo, que são
consequências que motivam e aumentam a probabilidade de comportamentos
desejáveis e adequados ocorrerem novamente, são mais efetivas e produzem
melhoras mais significativas e duradouras do que métodos de punição, devendo
portanto serem utilizadas em detrimento destes últimos (CAMERON, PIERCE, 1994;
MAAG, 2001).

Considerando que a aplicação dos métodos da ABA requer treinamento


apropriado, ABA pode ser também definida como uma abordagem profissional
(MAYER et al., 2012). Analistas do comportamento são profissionais treinados para
conduzir a análise do comportamento em sua dimensão, tanto experimental (através
da pesquisa), quanto aplicada (através da intervenção). Os analistas do
comportamento são orientados a utilizar intervenções efetivas, baseadas na evidência
através de pesquisas experimentais controladas em casos envolvendo tanto

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comportamentos simples quanto complexos e possuem um código de princípios éticos
fundamentais para guiar sua prática (BAILEY, BURCH, 2011). Nos Estados Unidos, o
Behavior Analysis Certification Board é uma organização que representa e
regulamenta a profissão, fornecendo certificação para profissionais que provem estar
habilitados para desenvolver e aplicar intervenções baseadas nos princípios da
análise dos comportamento. Embora nem todos os profissionais envolvidos com
ensino e pesquisa em ABA, obrigatoriamente, tenham certificação do Board, a mesma
tem sido exigida àqueles que oferecem serviços de intervenção para o público
(CAUTILLI, DZIEWOLSKA, 2008; MAYER et al., 2012). Em outros países, como o
Brasil, psicólogos são licenciados para trabalhar com a análise do comportamento,
mas cabe ressaltar que estes devem buscar treinamento adicional e continuado de
qualidade para atuar nessa área (TODOROV, HANNA, 2010).

As características científicas, tecnológicas e profissionais que definem a ABA


acima descritas estão intimamente relacionadas com quatro pressupostos filosóficos,
nos quais esta área do conhecimento se baseia: determinismo, empiricismo,
parcimônia e método científico (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; KIMBALL, 2002;
MAYER et al., 2012). Estes pressupostos têm suas raízes nos movimentos filosóficos
do século XIX (a saber, positivismo, funcionalismo, estruturalismo e associacionismo),
que enfatizavam que o comportamento humano deveria ser objetivamente estudado
ao invés de abstratamente especulado (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; KIMBALL,
2002). Tais pressupostos tiveram forte influência no behaviorismo radical - a filosofia
do comportamento humano originado por B. F. Skinner em experimentos conduzidos
sob o rigor dos métodos científicos (SMITH, 1992). Enquanto uma ciência derivada do
trabalho de Skinner, ABA pode ser descrita pelos quatro pressupostos filosóficos que
estão nas raízes do behaviorismo radical (LAMAL, 2000).

O determinismo é o pressuposto filosófico de que o comportamento humano é


determinado ou causado pelos eventos do ambiente, portanto está sujeito à
investigação científica e à predição, como qualquer outro fenômeno natural (LOCKE,
1964). Esta perspectiva da regularidade dos comportamentos é essencial na ABA que,
baseada nos princípios do condicionamento operante, postula que a forma como
seres humanos se comportam está diretamente e funcionalmente relacionada às
consequências de suas ações (SUGAI, LEWIS-PALMER, HAGAN-BURKE, 2000).

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Devido ao fato de que essa perspectiva se mostra contrária às postulações filosóficas
do livre arbítrio, em que seres humanos são considerados livres para decidir o curso
de suas ações, técnicas comportamentais que alteram o comportamento humano são
frequentemente criticadas como práticas coercivas e desumanas (AXELROD, 1996).

Entretanto, o pressuposto de regularidade e leis que regem os comportamentos


não indicam que ABA rejeita a liberdade humana (NEWMAN, REINECKE, KURTZ,
1996). Ao contrário, analistas do comportamento definem liberdade em termos da
habilidade dos seres humanos de fazerem escolhas e do direito de exercitarem essa
habilidade e terem opções (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; BANDURA, 1975). O
objetivo do analista do comportamento é aumentar as opções para o indivíduo com
autismo, por exemplo, exercitar sua liberdade para escolher respostas alternativas a
comportamentos mal adaptativos (ALBERTO, TROUTMAN, 2009)

O empiricismo, enquanto outro conceito filosófico fundamental da ABA, postula


que o conhecimento deve ser obtido a partir de fenômenos observáveis e
mensuráveis, verificados pela experiência ou prática experimental (KIMBALL, 2002;
KUBINA JR, FAN-YU, 2008). Enquanto uma ciência empírica, ABA conta com dados
verificáveis obtidos através da observação sistemática de comportamentos como a
fonte de conhecimento e técnicas produzidas.

Parcimônia refere-se ao pressuposto filosófico de que, quando duas teorias


tentam explicar os mesmos fatos, aquela que é mais simples, mais breve, que faz
suposições baseadas na observação, que pode ser mais facilmente explicada e tem
maior probabilidade de generalidade, deve então ser considerada (EPSTEIN, 1984).
Desse modo, parcimônia subjaz ABA, enquanto uma ciência empírica que explica
comportamentos humanos, fornecendo conhecimento e estratégias sistemáticas,
objetivas e concisas para a modificação do comportamento ao mesmo tempo que
verifica a generalidade de suas suposições para diferentes pessoas, ambientes,
culturas e comportamentos.

Por último, o método científico é um pressuposto filosófico que envolve um


conjunto de técnicas controladas para empiricamente verificar hipóteses e estabelecer
relações causais entre eventos (MAYER et al., 2012). Tanto a pesquisa básica, que
tipicamente investiga princípios do comportamento em laboratórios, quanto a pesquisa

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aplicada, que investiga a aplicação desses princípios em ambientes e situações do
cotidiano das pessoas, são baseadas no método científico. Embora experimentos
altamente controlados sejam difíceis de serem conduzidos em situações cotidianas
reais, ABA utiliza métodos de pesquisa de caso único (single case research) para
delinear experimentos que possibilitam o controle de variáveis e obter conhecimento
científico que são úteis para melhorar comportamento e a vida das pessoas.

Considerando os pressupostos filosóficos acima mencionados que se


encontram nas bases conceituais da ABA, Baer, Wolf, Risley (1968) publicaram um
artigo inaugural, apresentando sete dimensões da ABA na primeira edição do Journal
of Applied Behavior Analysis (JABA). Estas dimensões são consideradas
características fundamentais que definem e qualificam a análise do comportamento
aplicada e que devem estar presentes em uma intervenção para que ela seja
considerada ABA (HEFLIN, ALAIMO, 2007; MAYER et al., 2012). As dimensões são:
aplicada, comportamental, analítica, tecnológica, conceitualmente sistemática, efetiva
e generalidade. Cada uma destas dimensões será descrita ao longo da disciplina.

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DIMENSÃO APLICADA

A análise do comportamento individual é um problema na demonstração


científica, razoavelmente bem compreendido (Skinner, 1953), amplamente descrito
(SIDMAN, 1960) e bastante praticado (Journal of the Experimental Analysis of
Behavior, 1957).

Essa análise tem sido realizada em muitos contextos ao longo de muitos anos.
Apesar da precisão e poder variáveis, resultou em declarações descritivas gerais de
mecanismos que podem produzir muitas das formas que o comportamento individual
pode assumir.

A afirmação desses mecanismos estabelece a possibilidade de sua aplicação


ao comportamento-problema. Melhores aplicações, espera-se, levarão a um melhor
estado da sociedade, na medida em que o comportamento de seus membros possa
contribuir para o bem de uma sociedade.

Uma vez que a avaliação do que uma “boa” sociedade é em si um


comportamento de seus membros, essa esperança gira em torno de si mesma de
maneira filosoficamente interessante. No entanto, é pelo menos uma presunção justa
de que as aplicações comportamentais, quando eficazes, às vezes podem levar à
aprovação e adoção social.

As aplicações comportamentais dificilmente são um fenômeno novo.


Aplicações comportamentais analíticas, ao que parece, são. A aplicação
comportamental analítica é o processo de aplicar princípios de comportamento às
vezes experimentais para a melhoria de comportamentos específicos e,
simultaneamente, avaliar se quaisquer mudanças observadas são de fato atribuíveis
ao processo de aplicação – e, em caso afirmativo, a quais partes desse processo. Em
suma, a aplicação comportamental analítica é um procedimento de pesquisa de
autoexame, auto avaliação e orientado para a descoberta para estudar o
comportamento. Assim, é toda pesquisa comportamental experimental (pelo menos,
de acordo com as restrições usuais do treinamento moderno de pós-graduação). As
diferenças são questões de ênfase e de seleção.

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As diferenças entre pesquisa aplicada e pesquisa básica não são diferenças
entre o que “descobre” e o que apenas “aplica” o que já é conhecido. Ambos os
esforços perguntam o que controla o comportamento em estudo. A pesquisa não
aplicada provavelmente examinará qualquer comportamento e qualquer variável que
possa estar relacionada a ele. A pesquisa aplicada limita-se a olhar para variáveis que
podem ser eficazes para melhorar o comportamento em estudo.

Da mesma forma, a pesquisa aplicada é restrita a examinar comportamentos


que são socialmente importantes, em vez de convenientes para o estudo. Implica
também, com muita frequência, o estudo desses comportamentos em seus ambientes
sociais habituais, e não em um ambiente de “laboratório”. Mas um laboratório é
simplesmente um lugar projetado para que o controle experimental de variáveis
relevantes seja o mais fácil possível. Infelizmente, o ambiente social usual para
comportamentos importantes raramente é um lugar assim.

Assim, a avaliação de um estudo que pretende ser uma análise do


comportamento aplicada é um pouco diferente da avaliação de uma análise
laboratorial semelhante. Obviamente, o estudo deve ser aplicado, comportamental e
analítico; além disso, deve ser tecnológico, conceitualmente sistemático e eficaz, e
deve apresentar alguma generalidade. Esses termos são explorados a seguir e
comparados com os critérios frequentemente indicados para a avaliação da pesquisa
comportamental que, embora analítica, não é aplicada.

O rótulo aplicado não é determinado pelos procedimentos de pesquisa


utilizados, mas pelo interesse que a sociedade demonstra pelos problemas que estão
sendo estudados. Na aplicação comportamental, o comportamento, estímulos e/ou
organismo em estudo são escolhidos por causa de sua importância para o homem e
a sociedade, e não por sua importância para a teoria. O pesquisador não aplicado
pode estudar o comportamento alimentar, por exemplo, porque se relaciona
diretamente com o metabolismo, e existem hipóteses sobre a interação entre
comportamento e metabolismo. O pesquisador não aplicado também pode estudar a
pressão da barra porque é uma resposta conveniente para o estudo; fácil para o
sujeito e simples de registrar e integrar com eventos ambientais teoricamente
significativos.

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Em contraste, o pesquisador aplicado provavelmente estudará a alimentação
porque há crianças que comem muito pouco e adultos que comem demais, e ele
estudará a alimentação exatamente nesses indivíduos, e não nos mais convenientes.

Em resumo, para ser considerada aplicada, uma intervenção deve focar


comportamentos ou situações que são imediatamente importantes para o indivíduo
e para a sociedade ao invés de importantes para teoria. Ao invés de estar interessada
em comportamentos alimentares por que são importantes para o metabolismo, por
exemplo, ABA está interessada neste comportamento devido a sua importância para
a saúde e qualidade de vida das pessoas (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). O objetivo
final de uma intervenção considerada aplicada é tornar as pessoas mais
independentes e socialmente ajustadas. Portanto, uma intervenção baseada na ABA
deve ter validade social, isto é, deve vir ao encontro das necessidades dos indivíduos
e da sociedade que devem estar satisfeitos com os procedimentos e resultados
obtidos (WOLF, 1978).

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DIMENSÃO COMPORTAMENTAL

Behaviorismo e pragmatismo parecem muitas vezes andar de mãos dadas. A


pesquisa aplicada é eminentemente pragmática; pergunta como é possível conseguir
que um indivíduo faça algo de maneira eficaz. Assim, geralmente estuda o que os
sujeitos podem ser levados a fazer em vez do que podem ser levados a dizer; a
menos, é claro, que uma resposta verbal seja o comportamento de interesse.
Consequentemente, a descrição verbal de um sujeito de seu próprio comportamento
não-verbal geralmente não seria aceita como uma medida de seu comportamento
real, a menos que fosse substanciada independentemente. Portanto, há pouco valor
aplicado na demonstração de que um homem impotente pode dizer que não é mais
impotente. A questão relevante não é o que ele pode dizer, mas o que ele pode fazer.
A aplicação não foi alcançada até que esta questão tenha sido respondida
satisfatoriamente.

Como o comportamento de um indivíduo é composto por eventos físicos, seu


estudo científico requer sua medição precisa. Como resultado, o problema da
quantificação confiável surge imediatamente. O problema é o mesmo para a pesquisa
aplicada e para a não-aplicada. No entanto, a pesquisa não aplicada normalmente
escolherá uma resposta facilmente quantificada de maneira confiável, enquanto a
pesquisa aplicada raramente terá essa opção.

Como resultado, o pesquisador aplicado deve se esforçar mais, em vez de


ignorar esse critério de toda pesquisa confiável. A pesquisa aplicada atual muitas
vezes mostra que a quantificação totalmente confiável do comportamento pode ser
alcançada, mesmo em ambientes totalmente difíceis. No entanto, também sugere que
a gravação instrumentada com sua confiabilidade típica nem sempre será possível. O
uso confiável de seres humanos para quantificar o comportamento de outros seres
humanos é uma área da tecnologia psicológica há muito desenvolvida,
completamente relevante e muitas vezes necessária para a análise do comportamento
aplicada. Uma tática útil na avaliação dos atributos comportamentais de um estudo é
perguntar não apenas se o comportamento mudou, mas também, o comportamento
de quem?

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Normalmente, seria assumido que foi o comportamento do sujeito que foi
alterado; no entanto, uma reflexão cuidadosa pode sugerir que este não era
necessariamente o caso. Se os humanos estão observando e registrando o
comportamento em estudo, então qualquer mudança pode representar uma mudança
apenas em suas respostas de observação e registro, e não no comportamento do
sujeito. A medição explícita da confiabilidade de observadores humanos torna-se,
assim, não apenas uma boa técnica, mas um critério primordial para saber se o estudo
foi adequadamente comportamental. (Um estudo meramente do comportamento de
observadores é comportamental, é claro, mas provavelmente irrelevante para o
objetivo do pesquisador.)

Alternativamente, pode ser que apenas o comportamento do experimentador


tenha mudado. Pode-se relatar, por exemplo, que certo paciente raramente se vestia
ao acordar e, consequentemente, era vestido por seu atendente. A técnica
experimental a ser aplicada pode consistir em alguma penalidade imposta, a menos
que o paciente esteja vestido dentro de meia hora após o despertar. O registro de uma
probabilidade aumentada de se vestir nessas condições pode atestar a eficácia da
penalidade na mudança de comportamento; no entanto, também pode atestar o fato
de que o paciente provavelmente se vestiria dentro de meia hora depois de acordar,
mas anteriormente raramente era deixado sem roupa por tanto tempo antes de ser
vestido por seu atendente eficiente. (O atendente agora é o experimentador que impõe
a penalidade e, portanto, sempre dá ao paciente sua meia hora completa, no interesse
de uma técnica experimental precisa, é claro.) Esse erro talvez seja elementar. Mas
sugere que, em geral, quando um experimento prossegue de sua linha de base para
sua primeira fase experimental, as mudanças no que é medido nem sempre precisam
ser refletem o comportamento do sujeito.

Uma intervenção considerada comportamental é aquela preocupada com o que


os indivíduos fazem ao invés do que eles dizem que fazem (BAER, WOLF, RISLEY,
1968). Isto significa que comportamentos devem ser observados e precisamente
medidos, possibilitando avaliar a ocorrência de mudanças e a efetividade da
intervenção. A precisão na mensuração de comportamentos pode ser um problema
em estudos aplicados, porque torna-se necessário garantir que as mudanças
realmente ocorreram no indivíduo observado e, não apenas, na percepção do

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observador. Para reduzir esse problema, analistas do comportamento utilizam
medidas de confiabilidade para calcular o percentual de concordância entre dois ou
mais observadores.

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DIMENSÃO ANALÍTICA

A análise de um comportamento, como o termo é usado aqui, requer uma


demonstração crível dos eventos que podem ser responsáveis pela ocorrência ou não
daquele comportamento. Um experimentador conseguiu uma análise de um
comportamento quando pode exercer controle sobre ele. Pelos padrões comuns de
laboratório, isso significa uma habilidade do experimentador para ativar e desativar o
comportamento, ou para cima e para baixo, à vontade. Os padrões de laboratório
geralmente tornam esse controle claro ao demonstrá-lo repetidamente, mesmo de
forma redundante, ao longo do tempo. A pesquisa aplicada, como observado
anteriormente, muitas vezes não pode abordar essa clareza arrogantemente
frequente de estar no controle de comportamentos importantes.

Consequentemente, a aplicação, por ser analítica, demonstra controle quando


pode e, assim, apresenta ao seu público um problema de julgamento. O problema, é
claro, é se o experimentador mostrou controle suficiente, e com frequência suficiente,
para a credibilidade. Demonstrações laboratoriais, seja por super replicação ou um
nível de probabilidade aceitável derivado de testes estatísticos de dados agrupados,
tornam esse julgamento mais implícito do que explícito. Como assinala Sidman
(1960), ainda há um problema de julgamento em qualquer caso, e provavelmente é
melhor quando explícito.

Existem pelo menos dois projetos comumente usados para demonstrar o


controle confiável de uma importante mudança comportamental. A primeira pode ser
chamada de técnica de “reversão”. Aqui um comportamento é medido e a medida é
examinada ao longo do tempo até que sua estabilidade seja clara. Em seguida, aplica-
se a variável experimental. O comportamento continua a ser medido, para ver se a
variável produzirá uma mudança comportamental. Se isso acontecer, a variável
experimental é descontinuada ou alterada, para ver se a mudança comportamental
que acaba de ocorrer depende dela. Nesse caso, a mudança comportamental deve
ser perdida ou diminuída (daí o termo “reversão”). A variável experimental é então
aplicada novamente, para ver se a mudança comportamental pode ser recuperada.
Se puder, é prosseguido, já que se trata de pesquisa aplicada e a mudança
comportamental buscada é importante. Ele pode ser revertido brevemente

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novamente, e mais uma vez, se a configuração em que o comportamento ocorre
permitir outras reversões.

Mas esse cenário pode ser um sistema escolar ou uma família, e reversões
contínuas podem não ser permitidas. Eles podem parecer em si mesmos prejudiciais
para o assunto se forem perseguidos com muita frequência. (Se eles são de fato
prejudiciais provavelmente permanecerá uma questão não examinada, desde que o
ambiente social em que o comportamento é estudado dite contra usá-los
repetidamente. De fato, pode ser que reversões repetidas em algumas aplicações
tenham um efeito positivo sobre o sujeito, possivelmente contribuindo para a
discriminação de estímulos relevantes envolvidos no problema.)

Ao usar a técnica de reversão, o experimentador está tentando mostrar que


uma análise do comportamento está à mão: que sempre que ele aplica uma
determinada variável, o comportamento é produzido, e sempre que ele remove essa
variável, o comportamento está perdido.

No entanto, a análise do comportamento aplicada é exatamente o tipo de


pesquisa que pode tornar essa técnica autodestrutiva com o tempo. Aplicação
normalmente significa produzir um comportamento valioso; comportamento valioso
geralmente encontra reforço extra experimental em um ambiente social; assim, um
comportamento valioso, uma vez estabelecido, pode não mais depender da técnica
experimental que o criou. Consequentemente, o número de reversões possíveis em
estudos aplicados pode ser limitado pela natureza do ambiente social em que o
comportamento ocorre, em mais de uma maneira.

Uma alternativa à técnica de reversão pode ser chamada de técnica de “linha


de base múltipla”. Essa alternativa pode ser de particular valor quando um
comportamento parece irreversível ou quando a reversão do comportamento é
indesejável. Na técnica de linha de base múltipla, várias respostas são identificadas e
medidas ao longo do tempo para fornecer linhas de base contra as quais as mudanças
podem ser avaliadas. Com essas linhas de base estabelecidas, o experimentador
então aplica uma variável experimental a um dos comportamentos, produz uma
mudança nele e talvez observe pouca ou nenhuma mudança nas outras linhas de
base. Nesse caso, em vez de reverter a mudança recém-produzida, ele aplica a

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variável experimental a uma das outras respostas, ainda inalteradas. Se ela mudar
nesse ponto, estão surgindo evidências de que a variável experimental é realmente
eficaz e que a mudança anterior não foi simplesmente uma questão de coincidência.
A variável então pode ser aplicada a outra resposta, e assim por diante. O
experimentador está tentando mostrar que ele tem uma variável experimental
confiável, em que cada comportamento muda ao máximo apenas quando a variável
experimental é aplicada a ele.

Quantas reversões, ou quantas linhas de base, contribuem para a credibilidade


é um problema para a audiência. Se a análise estatística for aplicada, o público deve
então julgar a adequação da estatística inferencial escolhida e a propriedade desses
dados para aquele teste. Alternativamente, o público pode inspecionar os dados
diretamente e relacioná-los com experiências anteriores com dados semelhantes e
procedimentos semelhantes. Em ambos os casos, os julgamentos exigidos são
altamente qualitativos e as regras nem sempre podem ser estabelecidas de forma
lucrativa. No entanto, qualquer um dos projetos anteriores reúne dados de maneiras
que exemplificam o conceito de replicação, e a replicação é a essência da
credibilidade. No mínimo, parece que uma abordagem de replicação é melhor do que
nenhuma abordagem. Isso deve ser especialmente verdadeiro para um campo tão
embrionário como a aplicação comportamental, cuja própria possibilidade ainda é
ocasionalmente negada.

A discussão anterior foi direcionada ao problema da confiabilidade: se um


determinado procedimento foi ou não responsável por uma mudança comportamental
correspondente. Os dois procedimentos gerais descritos dificilmente esgotam as
possibilidades. Cada um deles tem variações humanas agora vistas na prática; e
experiências atuais sugerem que muito mais variações são extremamente
necessárias, para que a tecnologia de mudança comportamental importante seja
consistentemente crível.

Dada alguma abordagem à confiabilidade, existem outras análises de valor


óbvio que podem ser construídas sobre essa base. Por exemplo, há análise no sentido
de simplificação e separação de processos componentes. Frequentemente, os
procedimentos comportamentais atuais são complexos, até mesmo “espingardas” em
sua aplicação. Quando são bem-sucedidos, eles claramente precisam ser analisados

19
em seus componentes efetivos. Assim, um professor dando M&M's a uma criança
pode conseguir mudar seu comportamento conforme planejado. No entanto, ela quase
certamente confundiu sua atenção e/ou aprovação com cada M&M.

Análises adicionais podem ser abordadas pelo uso da atenção apenas, cujos
efeitos podem ser comparados aos efeitos da atenção combinada com doces. Se ela
vai descontinuar os M&M's, como na técnica de reversão, ou aplicar atenção com
M&M's a certos comportamentos e atenção apenas a alguns outros, como no método
de linha de base múltipla, é novamente o problema da confiabilidade básica discutido
acima. Outra forma de análise é paramétrica: uma demonstração da eficácia de
diferentes valores de alguma variável na mudança de comportamento.

O problema novamente será tornar tal análise confiável e, como antes, que
possa ser abordada pelo uso alternado repetido de diferentes valores no mesmo
comportamento (reversão), ou pela aplicação de diferentes valores a diferentes
grupos de respostas (linha de base múltipla). Neste estágio do desenvolvimento da
análise do comportamento aplicada, a preocupação principal geralmente é com a
confiabilidade, e não com a análise paramétrica ou análise de componentes.

Em resumo, em sua dimensão analítica, ABA requer a demonstração confiável


dos eventos responsáveis pela ocorrência ou não-ocorrência dos comportamentos em
estudo, permitindo assim a predição e controle das variáveis que afetam e mantém
tais comportamentos (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Uma demonstração confiável
envolve a replicação de medidas que consistentemente e repetidamente indicam
certos procedimentos como responsáveis pelas mudanças observadas nos
comportamentos. Demonstrações consistentes e controladas são geralmente obtidas
através de designs de caso único (por exemplo, reversão experimental e linhas de
base múltiplas) através das quais torna-se possível demonstrar e analisar relações
causais entre os comportamentos e os eventos que os precederam ou sucederam.

20
DIMENSÃO TECNOLÓGICA

“Tecnológico” aqui significa simplesmente que as técnicas que compõem uma


aplicação comportamental específica são completamente identificadas e descritas.
Nesse sentido, “ludoterapia” não é uma descrição tecnológica, nem “reforço social”.
Para fins de aplicação, todos os ingredientes salientes da ludoterapia devem ser
descritos como um conjunto de contingências entre a resposta da criança, a resposta
do terapeuta e os materiais lúdicos, antes que uma declaração da técnica seja
abordada. Da mesma forma, todos os ingredientes do reforço social devem ser
especificados (estímulos, contingência e cronograma) para se qualificar como um
procedimento tecnológico.

A melhor regra geral para avaliar uma descrição de procedimento como


tecnológica é provavelmente perguntar se um leitor tipicamente treinado poderia
replicar aquele procedimento suficientemente bem para produzir os mesmos
resultados, dada apenas uma leitura da descrição. Este é praticamente o mesmo
critério aplicado às descrições de procedimentos em pesquisas não aplicadas, é claro.
Ela precisa de ênfase, aparentemente, porque ocasionalmente existe um estereótipo
menos preciso de pesquisa aplicada, onde a aplicação é nova e derivada de princípios
produzidos por meio de pesquisa não aplicada, como na análise do comportamento
aplicada atual, o inverso se aplica com grande urgência.

Especialmente onde o problema é a aplicação, as descrições procedimentais


requerem detalhes consideráveis sobre todas as possíveis contingências do
procedimento. Não basta dizer o que deve ser feito quando o sujeito dá a resposta R;
é essencial também sempre que possível dizer o que deve ser feito se o sujeito fizer
as respostas alternativas, R2, R3, etc.

Em suma, a dimensão tecnológica da ABA refere-se à elaboração e definição


operacional completa das estratégias e procedimentos que são efetivos para a
aprendizagem e mudança de comportamentos (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Para
ser considerada tecnológica, tanto a descrição do comportamento quanto dos
procedimentos de intervenção devem ser claramente e objetivamente detalhados. A
descrição de uma intervenção utilizando técnicas de reforçamento para
comportamentos apropriados, por exemplo, precisam informar qual o tipo de reforço

21
está sendo empregado, quem fornecerá e quando será fornecido o reforço e o que
será considerado comportamento apropriado (incluindo informações relevantes como
frequência, intensidade e duração) para estabelecer a contingência entre o
comportamento emitido e o reforço, como consequência deste comportamento.
Descrições tecnológicas são características importantes da ABA por que permitem a
aplicação e replicação dos procedimentos de intervenção utilizados.

22
DIMENSÃO CONCEITUAL

Além de precisa, a descrição dos procedimentos da ABA deve ser


conceitualmente sistemática (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Isso significa que os
procedimentos devem estar relacionados com os princípios básicos do
comportamento que as originaram. Procedimentos que fazem referência ao uso do
reforço para aumentar a probabilidade de que comportamentos adequados ocorram,
por exemplo, estão conceitualmente atrelados aos princípios do condicionamento
operante. Este link entre a tecnologia e os conceitos básicos do comportamento são
importantes, pois permitem que a análise aplicada do comportamento progrida como
uma disciplina aplicada consistente.

O campo da análise aplicada do comportamento provavelmente avançará


melhor se as descrições publicadas de seus procedimentos não forem apenas
precisamente tecnológicas, mas também buscarem relevância para os princípios.
Descrever exatamente como um professor de pré-escola atenderá a escalada em uma
criança com medo de altura é uma boa descrição tecnológica; mas, além disso,
chamá-lo de procedimento de reforço social relaciona-o a conceitos básicos de
desenvolvimento comportamental. Da mesma forma, é bom descrever a sequência
exata de mudanças de cor pela qual uma criança é movida de uma discriminação de
cor para uma discriminação de forma; referir-se também a “desvanecimento” e
“discriminação sem erros” é melhor.

Em ambos os casos, a descrição total é adequada para replicação bem


sucedida pelo leitor; e também mostra ao leitor como procedimentos semelhantes
podem ser derivados de princípios básicos. Isso pode ter o efeito de transformar um
corpo de tecnologia em uma disciplina, em vez de uma coleção de truques. Coleções
de truques historicamente têm sido difíceis de expandir sistematicamente e, quando
extensas, difíceis de aprender e ensinar.

23
DIMENSÃO EFETIVA

Se a aplicação de técnicas comportamentais não produzir efeitos


suficientemente grandes para valor prático, então a aplicação falhou. A pesquisa não
aplicada muitas vezes pode ser extremamente valiosa quando produz efeitos
pequenos, mas confiáveis, na medida em que esses efeitos atestam a operação de
alguma variável que em si tem grande importância teórica. Na aplicação, a importância
teórica de uma variável geralmente não está em questão. Sua importância prática,
especificamente seu poder de alterar o comportamento o suficiente para ser
socialmente importante, é o critério essencial.

Ao avaliar se um determinado aplicativo produziu uma mudança


comportamental suficiente para merecer o rótulo, uma pergunta pertinente pode ser:
quanto esse comportamento precisava ser alterado? Obviamente, essa não é uma
questão científica, mas prática. Sua resposta provavelmente será fornecida por
pessoas que devem lidar com o comportamento.
Por fim, efetiva é outra característica essencial da ABA (BAER, WOLF,
RISLEY, 1968). Os efeitos produzidos pelas técnicas comportamentais devem ser
grandes o suficiente para produzir contribuições e mudanças importantes para a
qualidade de vida do indivíduo e da sociedade. Novamente, isso refere-se a efeitos
socialmente significativos pela sua importância prática ao invés de sua importância
teórica. Portanto, uma análise do quão grande é uma mudança de comportamento é
necessária para avaliar a efetividade de uma intervenção comportamental. Isto é
possível através das consistentes coletas de dados ao longo da intervenção. No
entanto, uma análise do tamanho da mudança ou do efeito da intervenção pode ser
relativa e deve incluir pessoas que convivem diariamente com o comportamento alvo
da intervenção, pois uma mudança aparentemente pequena de comportamento (por
exemplo, aumento do repertório verbal de uma criança de 0 para 10 palavras) pode
ser considerado significativo e socialmente importante.

24
DIMENSÃO GENERALIZÁVEL

Pode-se dizer que uma mudança comportamental tem generalidade se for


durável ao longo do tempo, se aparecer em uma ampla variedade de ambientes
possíveis ou se espalhar para uma ampla variedade de comportamentos
relacionados. Assim, a melhoria da articulação em um ambiente clínico provará ter
generalidade se perdurar no futuro após a interrupção das visitas clínicas; se a
articulação melhorada é ouvida em casa, na escola e nos encontros; ou se a
articulação de todas as palavras, não apenas as tratadas, melhorar. Aplicação
significa melhoria prática em comportamentos importantes; assim, quanto mais geral
for a aplicação, melhor, em muitos casos.

Essa generalidade não é alcançada automaticamente sempre que o


comportamento é alterado também precisa de ênfase ocasional, especialmente na
avaliação da análise do comportamento aplicada. Às vezes, assume-se que a
aplicação falhou quando a generalização não ocorre.

Um procedimento que é eficaz na mudança de comportamento em um


ambiente talvez possa ser facilmente repetido em outros ambientes e, assim, realizar
a generalização pretendida. Além disso, pode muito bem provar que uma determinada
mudança de comportamento precisa ser programada em apenas um certo número de
configurações, uma após a outra, talvez, para realizar uma generalização
eventualmente generalizada.

Intervenções comportamentais devem, não somente produzir mudanças


socialmente importantes no comportamento, mas estas mudanças devem persistir
através do tempo, dos ambientes e pessoas diferentes daquelas inicialmente
envolvidas na intervenção. Uma intervenção que melhora a comunicação de uma
criança com autismo na clínica, por exemplo, demonstra generalidade se a criança
também consegue se comunicar com os pais, professores ou outras pessoas, em
casa, na escola ou na comunidade, durante e após o término da intervenção.
Entretanto, os autores enfatizam que a generalidade dos progressos
comportamentais, não ocorrem automaticamente, sobretudo, em crianças com
autismo que possuem dificuldades de transferir habilidades aprendidas para outros

25
contextos. Por isso, a generalização deve ser programada, em vez de esperada ou
lamentada.

A análise tornará óbvia a importância do comportamento alterado, suas


características quantitativas, as manipulações experimentais que estudam com
clareza o que foi responsável pela mudança, a descrição tecnologicamente exata de
todos os procedimentos que contribuem para essa mudança, a eficácia desses
procedimentos – capaz de fazer uma mudança suficiente para o valor, e, por fim, a
generalidade dessa mudança.

26
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A publicação das dimensões que caracterizam a ABA constituiu e impulsionou


o campo como uma ciência, tecnologia e profissão promissoras. As sete dimensões
são importantes, não apenas por que descrevem, mas também por que guiam a
análise do comportamento na produção de intervenções científicas que são baseadas
na evidência e são úteis para a sociedade. Após a publicação de Baer, Wolf, Risley
(1968) e a sua reanálise subsequente (BAER, WOLF, RISLEY, 1987), muitos estudos
publicados são refinamentos de técnicas que venham ao encontro das características
da ABA, acima mencionados, e melhorem a generalidade e manutenção dos
resultados obtidos (HARVEY, LUISELLI, WONG, 2009), a validade social (WOLF,
1978), e a fidelidade de implementação da intervenção (PETERSON, HOMER,
WONDERLICH, 1982), dentre outros aspectos. Portanto, estas dimensões são
designadas a guiar a análise formativa da ABA, definindo critérios para a adequação
da pesquisa e da prática, movendo o campo em direção à aplicação de intervenções
mais efetivas (COOPER, HERON, HEWARD, 2007).

Desde a primeira publicação em 1968, ABA tem alcançado um crescimento


notável, especialmente nos Estados Unidos, onde este campo de conhecimento foi
originado. ABA está constantemente avançando para concretizar todas as dimensões
que a tornam uma ciência respeitável. Muitas estratégias de pesquisa, avaliação e
intervenção (por exemplo, designs de caso único, análise funcional do comportamento
e estratégias de suporte comportamental positivos) foram desenvolvidas incorporando
aspectos comportamentais, tecnológicos e conceituais que vem sendo utilizados
como ferramentas valiosas para melhorar repertórios de comportamentos sociais,
acadêmicos e de atividades de vida diária no cotidiano das pessoas (HORNER et al.,
2005; IWATA, DORSEY, 1994; SUGAI, LEWIS-PALMER, HAGAN-BURKE, 2000).

No Brasil, ABA está gradualmente ganhando espaço enquanto um método de


intervenção para o autismo, mas somente poucos profissionais possuem treinamento
apropriado na área. Os avanços da ABA enquanto uma ciência aplicada tem sido
restritos no Brasil devido a uma maior ênfase em investigações e treinamento em
pesquisa básica dos princípios do comportamento e pouco investimento em pesquisa
e treinamento sobre a aplicação destes princípios para promover comportamentos
socialmente importantes (TODOROV, HANNA, 2010). Ainda são necessários esforços

27
da comunidade científica da análise do comportamento brasileiro para desenvolver a
pesquisa e a prática no campo da análise do comportamento aplicada, em
conformidade com as dimensões e princípios éticos que a constituem. Dessa forma,
enquanto o campo gradativamente progride, tanto nos Estados Unidos quanto no
Brasil, ABA cumprirá o seu papel de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

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