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Capacitação introdutória de

protocolos em ABA (Applied

Behavior Analysis): Verbal Behavior

Milestones Assessment and Placement

Program - VB MAPP

Msª TAIZE DE OLIVEIRA


O presente programa não é de autoria da capacitadora do curso. As questões éticas e

legais de divulgação do curso e aprofundamento na temática do Protocolo Verbal

Behavior Milestones Assessment and Placement Program - VBMAPP assegura e

preserva os direitos de Mark L. Sundberg (2008), elaborador do mesmo. Ainda, a

tradução brasileira de Martone (2017) será pautada como principal fonte de discussão

sobre o protocolo, sendo que a tradução foi autorizada pelo autor original.

Agradecemos a Sundberg pelo protocolo e a Martone e equipe pela tradução brasileira.

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Sumário

Revisando Princípios da Análise do Comportamento Aplicada.............................................4


O comportamento verbal.........................................................................................................13
Operantes do Comportamento verbal....................................................................................14
Brincar independente.............................................................................................................14
Comportamento social e brincar............................................................................................14
Comportamento verbal espontâneo........................................................................................14
Ecóico....................................................................................................................................14
Escrita....................................................................................................................................15
Estrutura linguística...............................................................................................................15
Imitação Motora.....................................................................................................................15
Intraverbal.............................................................................................................................15
Leitura....................................................................................................................................15
Mando....................................................................................................................................16
Matemática.............................................................................................................................16
Performance visual e emparelhamento com o modelo...........................................................16
Responder de Ouvinte............................................................................................................16
Responder de ouvinte por função, classe e características....................................................17
Rotinas de classe e habilidades de grupo...............................................................................17
Tato........................................................................................................................................17
O VB-MAPP e sua estrutura...................................................................................................18
Avaliação de Marcos................................................................................................................20
Avaliação de Barreiras.............................................................................................................27
Plano de Ensino Individualizado – PEI..................................................................................29
Referências................................................................................................................................32

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Revisando Princípios da Análise do Comportamento

Aplicada

A Análise do Comportamento (AC) é uma ciência, “maneira de estudar o objeto

da Psicologia” (Todorov; Hanna, 2010). Ciência pautada na Psicologia Comportamental

e fundamentada pelo behaviorismo.

AC origina-se de pressupostos e posicionamentos estabelecidos e assumidos por

Skinner, o qual estabelece algumas premissas desde o início de seus estudos

experimentais e sua fundamentação, sendo:

“a) Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e são modificados pelas

consequências de suas ações. (Skinner, 1957/1978)” apud Todorov; Hanna, 2010.

“b) A psicologia é o estudo da interação entre organismo e ambiente.” (Harzem &

Miles, 1978 apud Todorov; Hanna, 2010.)

“c) Através de análise, chega-se aos conceitos de estímulo e resposta. Um estímulo pode

ser definido como 'uma parte, ou mudança em uma parte, do ambiente', já uma resposta

pode ser definida como 'uma parte, ou mudança em uma parte, do comportamento. No

entanto, um estímulo não pode ser definido independentemente de uma resposta.”

(Keller & Schoenfeld, 1950/1968 apud Todorov; Hanna, 2010.)

AC e Análise Experimental do Comportamento (AEC)

Antecede a Análise do Comportamento, é contexto que fundamenta a ciência

comportamental. Através de experimentos teoriza-se e define-se princípios. No histórico

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inicial surge de pesquisas com animais, e posterior humanos, em controle estruturado e

experimental, para maior controle de estímulos;

A AEC também visava investigar interações comportamento-ambiente, e como

essa interação ocorria. O condicionamento operante, enquanto definição surge de

estudos desse contexto.

E o que seria Análise do Comportamento Aplicada?

Há muitos cursos vendendo formação em ABA (Do inglês, Applied Behavior

Analysis), E do que se trata, perguntamos? É a ciência comportamental aplicada. A AC

que se volta para questões sociais, clinicamente relevantes e atua visando solucionar

questões de cunho social é AC aplicada, ou seja, uma ciência prática, que não fica

apenas em teoria → AC + intervenção = ACA ou ABA.

Ainda, ABA é uma ciência, que embasa na prática baseada em evidências e

objetiva estudar e compreender o comportamento humano (COOPER; HERON;

HEWARD, 2007). Borba e Barros (2018) dissertam que “essa área do conhecimento

está centrada na análise, explicação e associação entre ambiente, comportamento

humano e aprendizagem. ABA pressupõe ambiente estruturado, ensino planejado e

individualizado, além de prever treinos com repetição. Ainda, as intervenções nessa

ciência se pautam no contexto de aprendizagem sem erro e com premiações, reforços,

contingente a comportamentos adequados.

A intervenção comportamental em casos de Transtorno do Espectro Autista

(TEA) é discutida em grande parte da literatura nacional e internacional como uma das

formas mais eficaz de intervenção (BORBA; BARROS, 2018; COOPER; HERON;

HEWARD, 2014 COOPER; HERON; HEWARD, 2007). Há duas características

principais do TEA que tem demonstrado ganhos consideráveis a partir da ABA, sendo

elas déficits em interações sociais e de comunicação e comportamentos repetitivos e

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interesse restrito, além de outros comportamentos inadequados, todos estes podem ser

alterados a partir da ampliação de repertório adequados e análises funcionais dos

inadequados previstas na ABA.

A terapia ABA embora preveja ambiente de ensino estruturado e planejado não

tem uma receita que se adeque a todos os casos, cada criança é única, em especial as

que fazem parte do grupo de TEA, que é um espectro com vários graus e diferenças. O

plano individual da criança pode ter foco diferentes, mas geralmente englobam a área de

letramento e habilidades acadêmicas, comportamento verbal, atividades de vidas diárias,

desenvolvimento psicomotor, habilidades sociais e o brincar, independente e

compartilhado. Os planos além de ser individualizados, focados em déficits e excessos

comportamentais da criança a qual se ensina, se pauta em tentativas discretas, instruções

simples e claras, e aumento de demandas progressivas, além de modelagem, modelação

e feedbacks claros sobre o comportamento e a consequência. Ao lado um esquema de

ensino de um comportamento de repertório básico: o sentar.

Figura 1. Contingência de operantes simples

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Fonte: autora.

AC enquanto foco em estudos conceituais estavam em alta na década de 1990

(Tourinho, 1999), atualmente mudou-se o paradigma e o foco são estudos aplicados,

intervenções, e por isso a alta do ABA.

Estudos aplicados tem se mostrado possíveis com os avanços e dados dos efeitos

da ciência para modificar ou promover aquisição de novos comportamentos adequados,

e é a partir dessa perspectiva que protocolos de intervenção e avaliação com base nessa

ciência visa alterações significativas de desenvolvimento.

Por fim, para finalizarmos essa introdução vamos analisar um comportamento

operante com base no tríplice contingência, vejamos a tabela 1:

Tabela 1. Exemplo de tríplice contingência de análise preenchida

No exemplo acima temos um caso de aprendizagem de um repertório simples, o

comportamento de vestir a blusa que foi aprendido devido ao fato da blusa retirar a

sensação de frio (reforço negativo). Podemos ensinar uma criança que não senta a sentar

devido a um elogio emitido por um adulto após sentar (reforço positivo), como lição

primeira aprendemos que o comportamento operante é a consequência que define a

aprendizagem, desta forma, é preciso nos perguntamos diante de um contexto: o que

posso produzir de consequência diante de determinado comportamento e como essa

consequência atuará sobre o comportamento? Aumentará ou diminuirá a probabilidade

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dele ocorre outra vez? Mas para antes precisamos retomar alguns conceitos chaves

dessa ciência, tais como:

Estímulo: eventos no mundo/contextos/eventos públicos ou privados (privado

no sentido “interno”, como a dor de dente).

Respostas: comportamentos (com histórico, característica do organismo).

Classes de respostas: uma resposta não ocorre sempre com a mesma topografia,

e sim com várias, todos os comportamentos que compõem o comportamento em análise

se encontram dentro de uma classe.

Consequências: geralmente decorrente de outros comportamentos, pode ser

definido como ganhos ou prejuízos que ocorrem posterior ao comportamento, sempre

contingente a ele, e que tem função de aumentar ou diminuir a probabilidade de sua

ocorrência.

TEXTO RECOMENDADO: Livro Skinner (1969), “Contingências do

reforço”, Capítulo 1: O papel do meio ambiente

A interpretação do comportamento

O comportamento verbal, por exemplo, é estabelecido pela função de se

comunicar, função de atenção social, e modelado por uma audiência que assim se

comporta e reforça. Nós adultos como parte de audiência reforçamos o comportamento

verbal em todas as nossas interações verbais e não verbais. Modifica-se comportamento

a partir de modelos, modelagem e instrução. Para tanto, é preciso entender que há

contingências de ensino de repertórios e contingência voltada para alterações de

frequência dessas respostas.

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Quando, o educando emite o comportamento, que é objetivo de ensino, a partir

do antecedente e não decorrente de uma consequência é porque já tem o comportamento

“instalado” em seu repertório, e a contingência é então de manutenção.

Ex. de controle por estímulos: educação → instrução – reforço / punição →

ensino é arranjo de contingência > na educação em grande parte aversiva, mas não

deveria ser. Arranjos de contingência na educação deveria pressupor em especial os

reforços como consequências, e não punições.

Um dos recursos possíveis de ser utilizado a educação é a economia de fichas

→ chama-se também por “economia de cartões”, é um recurso que auxilia na

contingencia do reforçador positivo, em que após a emissão da resposta esperada a

criança recebe uma estrelinha por exemplo, educadores também utilizam carimbo nesse

mesmo esquema. Vale lembrar que o atraso pode prejudicar, então um imediato resolve

a situação e depois é “trocado” por outro de maior magnitude, com o atraso. A figura 1

demonstra um exemplo de esquema de ficha:

Figura 2. Ficha de Recompensa

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Fonte: autora

Outra questão em relação ao reforçar, ao dar parabéns ou um prémio após a

emissão de um comportamento que era objetivo de ensino, são os esquemas de reforço.

Ele estabelece a frequência que deve ser dada o reforço quando o educando apresentar o

comportamento esperado, dentre os estudos em educação, indica-se que é melhor

reforçar por frequência simples (esquema por razão fixa) do que por tempo (esquema de

intervalo). Vamos aprender outros conceitos relevantes para a AC que nos auxilia na

educação:

Reforço operante — Consequência que aumenta a probabilidade de ocorrência do

comportamento. Ex: Criança recebe um copo de água após emitir um mando, pedindo

“quero água”;

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Fuga —Comportamento de se retirar de uma contingência aversiva. Ex: Criança finge

choro durante atividade que não gosta para ser retirada dela;

Esquiva — Comportamento de evitar uma contingência aversiva. Ex: Criança finge dor

de barriga para se esquivar ir para a escola fazer avaliação.

Discriminação do estímulo — Comportamento emitido apenas diante de um contexto

que sinalize a possibilidade de reforço. Ex: Criança levanta a mão para fazer uma

pergunta, e espera o estímulo discriminativo do educador dizendo “pode perguntar” para

realizar a pergunta.

Diferenciação de resposta — O reforço só ocorre contingente a uma frequência

esperada de respostas. Ex: criança apenas recebe o reforço social, como “Parabéns!”

após finalizar toda a atividade.

“Superstição” — O reforço ocorre independente da topografia ou frequência da

resposta, mas o organismo entende a necessidade de executar com uma lógica. Ex:

Criança responde todas questões da prova mesmo quando se pede para que responda

apenas 1 de 3.

Encadeamento de operantes — Quando há um contexto de ensino que espera uma

sequência de comportamentos. Ex: Quando a criança precisa seguir um percurso de

comportamentos em educação física, em que cada comportamento deve ser garantido

um reforço.

Observação — Quando a discriminação é esvanecida para que se observe outros

componentes. Ex: quando a criança tem apoio visual da rotina e se substitui pela rotina

verbal ou escrita.

Esquemas de reforço — Os reforços podem ser planejados de muitas maneiras. Cada

esquema com os valores dados dos parâmetros gera um desempenho característico.

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a. Intervalo fixo — uma resposta e reforçada somente quando ocorre após a

passagem de um período de tempo (por exemplo, cinco minutos). Outro período começa

imediatamente após o reforço.

b. Razão fixa — cada enésima resposta e reforçada.

c. Intervalo variável ou razão variável — o intervalo ou número não precisa ser

fixado, mas pode variar acima de um determinado nível em torno de um valor médio.

d. Esquemas múltiplos — um esquema prevalece na presença de um estimulo,

um esquema diferente na presença de outro estimulo. Dois ou mais esquemas ao mesmo

tempo.

e. Reforço diferencial de nível de resposta — uma resposta e reforçada somente

quando segue a resposta precedente após um intervalo de tempo especificado (DRL) ou

antes do termino de um intervalo dado (DRH). Em DRL, o intervalo pode ser, por

exemplo, de 3 minutos; em DRH, de meio segundo.

Privação múltipla — Ausência de acesso ao reforçador para que ele tenha valor no

contexto de ensino. Ex: Não permitir que a criança brinque com seu carrinho preferido,

(não deixar visualmente disponível pois se tora punitivo esse impedimento) durante o

intervalo, pois o carrinho é o prêmio após realizar a atividade.

Por fim, revisto esses conceitos importantes que aparecerão com frequência no

curso, é preciso ressaltar sobre a importância da compreensão de que a ciência ABA se

debruça em ensino de repertórios, e dentre os repertórios o verbal é um deles, e o qual

veremos com maior foco no curso.

Vamos lá?

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Figura 3. Operantes verbais

Fonte: BehaviorBubbles.

13
O comportamento verbal

O comportamento verbal, para Skinner (1957) segue os mesmos princípios

básicos de outros operantes não verbais. Procedimentos de extinção, manutenção,

aprendizagem, controle de estímulos e reforço. É a partir do reforço contingente a

determinados operantes do comportamento verbal, e que depende de uma outra pessoa

treinada pela comunidade verbal, que esse comportamento passa a ocorrer (Santos &

Andery, 2007; Sundberg, 2016).

Os estudos e intervenções baseada no comportamento verbal ocorrem a partir da

analise da linguagem, e entende que sua ênfase é em função das respostas verbais, para

além de sua topografia (Martone, 2017).

O livro “Comportamento Verbal” de Skinner (1957) foi importante marco para

os estudos de Análise do Comportamento nos processos de ensino-aprendizagem dos

operantes desse comportamento, desde a investigação da aquisição, a manutenção e

mudança de topografia e frequência.

O VB-MAPP, diante desse contexto de pesquisa e aplicabilidade da ABA com o

comportamento verbal, volta-se para o uso aplicado da análise do comportamento verbal

de Skinner. O ensino da linguagem a partir do protocolo ocorre a partir das analises e

descrições de relações entre respostas verbais e variáveis ambientais de controle.

Ainda, o comportamento verbal é compreendido por alguns operantes, e

veremos de maneira simplificada cada um deles.

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Operantes do Comportamento verbal

Brincar independente

Corresponde aos comportamentos que envolve engajamento de maneira

espontânea com comportamentos que são potenciais reforçadores, sem reforço externo

para ser mantido.

Comportamento social e brincar

Já a brincadeira social envolve outros reforçadores externos, inclusive o

reforçador social da interação. O brincar social envolve muitos outros operantes verbais,

como mando, intraverbal, tato, entre outros.

Comportamento verbal espontâneo

É o componente verbal mais primitivo, corresponde aos balbucios, brincadeiras

vocais, as quais são emitidos sons. Tais sons fortalecem o ecóico e o comportamento

verbal.

Ecóico

É compreendido a partir dos comportamentos de repetir um modelo auditivo,

repetir o que se escuta.

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Escrita

Corresponde ao comportamento de cópia da escrita e escrita espontânea, e todos

os outros componentes correspondentes e anteriores a esse operante, como

reconhecimento de letras e psicomotricidade fina.

Estrutura linguística

Skinner definiu como comportamento textual, copiar um texto e transcrição. O

VB-MAPP aproxima os três repertórios. Nesse operante compreende-se ler palavras,

escrever palavras e soletrar palavras. Todos esses repertórios finais compreende a

discriminação de letras, discriminação de consoante e vogais, entre outros repertórios.

Imitação Motora

Corresponde a copiar movimentos motores de uma outra pessoa, copiar um

modelo motor.

Intraverbal

Corresponde aos repertórios de manutenção de uma conversação, desde

responder perguntas, completar frases, ou fazer perguntas diante de outra fala.

Leitura

É um componente do textual, definido por Skinner (1957). Corresponde a

identificar escrita, dica visual, e responder de maneira verbal lendo a palavra.

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Mando

O mando pode ser compreendido a partir da classe de comportamentos de fazer

pedidos, seja por algum reforçador ou por retirada de algum aversivo.

O VB-MAPP enfatiza o ensino de mando desde o nível 1. Este operante é

componente fundamental do comportamento verbal, em especial no processo de ensino

da linguagem pois permite que a criança assim acesse a reforçadores, através dos

pedidos. Nossa linguagem, em contexto natural, também inicia por alta frequência de

reforçadores, desde itens naturais a arbitrários, incondicionados e condicionados. Ainda

é a partir do mando que o reforço social se torna condicionado e aumenta o valor/a

magnitude, pois a interação verbal é importante ao social.

Matemática

Esse componente apenas aparece no nível 3 do VB-MAPP, corresponde ao

reconhecer números, contar e operações básicas.

Performance visual e emparelhamento com o modelo

Corresponde a parear estímulos visuais com um modelo também visual, seja ele

idêntico ou generalizado, a partir do Matching to Sample. (MTS)

Responder de Ouvinte

Corresponde aos comportamentos de seguir instruções verbais/auditivas, seja um

mando ou não.

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Responder de ouvinte por função, classe e características

Corresponde a discriminação e classificação de estímulos com base em suas

características, função ou classe. Esse operante contribui na ampliação de vocabulário.

A resposta da criança não necessariamente precisa ser verbal nesse repertório, mas

ainda assim é ampliação de repertório.

Rotinas de classe e habilidades de grupo

São os comportamentos e habilidades envolvidas em interações grupais. Nesse

repertório as habilidades sociais são desenvolvidas, além de outros repertórios verbais

como a imitação de modelos, atividades de vida diária, entre outros repertórios.

Tato

O tato é um dos componentes da “linguagem expressiva”, abordado por Skinner

(1957), junto com o mando e com o intraverbal. O tato pode ser entendido como o

repertório de nomear, identificar e descrever objetos, ações ou eventos.

Figura 4. Quadro de operantes.

Fonte: Quizlet.

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O VB-MAPP e sua estrutura

Dentre as avaliações específicas na ABA, temos algumas de comportamento

verbal, a dentre os protocolos mais conhecidos temos o VB-MAPP e ABLLS-R. A

nossa capacitação é sobre o VB-MAPP, e essa avalia níveis e marcos de

desenvolvimento de repertórios do comportamento verbal em comparação a uma

criança de desenvolvimento típico. Além de avaliação dos marcos, o protocolo auxilia

na avaliação de barreiras de aprendizagem, o que promove a elaboração de um plano de

ensino individualizado adequado às necessidades e realidades especificas da criança,

esse plano de ensino individualizado, ou task analysis, se baseia em projeto de ensino

que compreende a decomposição de objetivos de ensino em objetivos menores, todos

eles comportamentais, posto que se baseia na Análise do Comportamento Aplicada, e a

partir dessa estruturação, estabelece um plano que promova melhores resultados com

base nas particularidades da criança. Embora o VB MAPP não favoreça planos de

ensino de crianças com comportamento verbal já desenvolvido, posto que não orientará

planos de ensino, a sua aplicação nessas crianças ainda assim pode auxiliar a se pensar

marcos a diante, e estabelecer outros objetivos, como por exemplo no caso de barreiras

de aprendizagem.

O VB-MAPP é estruturado a partir de 170 marcos de desenvolvimento em três

níveis (nível 1: de 0 a 18 meses; nível 2: de 18 a 30 meses; e nível 3: de 30 a 48 meses),

vale a ressalva de que embora a estrutura dos níveis ocorra em idade, quando se trabalha

com desenvolvimento atípico os marcos não necessariamente coincidirá com os níveis.

O VB-MAPP é composto por cinco componentes: a avaliação de marcos, o qual

inclui o subteste de Avaliação das Habilidades Ecoicas Iniciais (APCE); a avaliação de

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barreiras; a avaliação de transição; a Análise de Tarefas e Rastreamento de Habilidades;

e a Classificação e Metas PEI. Para melhor descrição dos cinco componentes analisar a

Tese de Martone (2017) que traduziu o protocolo.

Se manter atualizados sobre o desenvolvimento e repertório das crianças se

mostra fundamental para que se estruture projetos de ensino voltados a desenvolve-las

nas áreas que mais necessitam, além de orientar os profissionais, favorece um

acompanhamento mais seguro e claro pelos pais, para que estes identifiquem evoluções

de seus filhos. O VB-MAPP, pauta principal do curso, é um dos protocolos principais

de promoção de desenvolvimento, extrapolando o comportamento verbal.

Figura 5. Operantes verbais.

Fonte: Behaviorbubble.

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Avaliação de Marcos
O VB-MAPP apresenta uma sequência de instruções para os repertórios a serem

avaliados e aprendidos. Associado a ele temos o Behavioral Skills Training (BST)

elaborado por Barnes, Mellor e Rehfeldt (2014) com protocolos de instruções, o

treinamento ensina a aplicação do VB-MAPP. O BST acaba funcionando como métodos

de ensino, e tem demonstrado efeitos positivos de generalização e manutenção de

comportamentos.

Os marcos definidos foram selecionados a partir de pesquisas de marcos de

desenvolvimento e reclassificadas a partir da Análise de Comportamento Aplicada de

Skinner.

Os marcos indicam as metas, objetivos terapêuticos do PEI. A avaliação de

marcos é sempre uma linha de base para definição de repertórios a serem aprendidos. A

pontuação de cada domínio ocorre em meio ponto ou um ponto, a partir da topografia

ou repertório aprendido, entendendo aproximações sucessivas nesse processo de ensino.

Alcançar um marco não significa que a criança o superou, medidas de generalização em

ambiente natural deve continuar ocorrendo.

Quanto ao perfil de quem pode realizar a avaliação o autor alerta que o

profissional deve ter conhecimento básicos em ABA e de análise do comportamento

verbal de Skinner; conhecer estruturas básicas e desenvolvimento típico de linguagem;

boa compreensão sobre o autismo.

O objetivo central da avaliação de marcos é investigar e descrever habilidades

específicas presentes ou ausentes do repertório de uma criança. Essa identificação da

linha de base, do que a criança já sabe fazer, é a avaliação de “nível operante”. A partir

do nível operante da criança identifica-se que já há marcos completos sem a necessidade

21
de testes formais, como por exemplo se a criança possui vocabulário correspondente a

tatear 300 tatos, ela já ultrapassou o nível 1. Essa avaliação acumulativa, sem estrutura

formal, pode ser realizada no incidental, em ambiente natural da criança. A avaliação de

linha de base SEMPRE deve ser interrompida após 3 erros consecutivos, mesmo que

sem feedback, posto que é avaliação, o erro pode tornar o contexto de ensino aversivo.

As avaliações podem ocorrer então: por observação; por teste formal; por ambos; por

observação cronometrada.

Pontos importantes: reforço e pontuação; ambiente de testagem e

administração de tempo; sequência da testagem; importância de a avaliação de

barreiras ocorrer simultaneamente com a de marcos (Ver páginas 61 e 62 de

Martone, 2017).

E nada além do básico do ABA: identificar reforçadores; estabeleça vínculo com

a criança; mantenha o controle dos itens testados e dos reforçadores; reforce respostas

corretas; reforce comportamentos desejados; utilize itens preferidos e novos; utilize de

reforço social como sorrisos e “toque aqui”; escolha itens reforçadores e contextos

conforme idade e interesses da criança; faça pequenos intervalos; retire reforçadores nas

pausas; etc.

Quais materiais para avaliação?

Timer (cronometro); lápis e folha de registro; reforços. E para os níveis:

22
Figura 6. Materiais nível 1

Fonte: Martone, 2017.

Figura 7. Materiais nível 2

23
Fonte: Martone, 2017.

Figura 8. Materiais nível 3

24
Fonte: Martone, 2017.

O preenchimento do formulário de avaliação ocorre em períodos planejados. O

autor indica pelo menos uma avaliação por ano, a literatura indica de 2 a 4 para

acompanhamento da evolução dos marcos, de aquisição de repertórios. Pode acontecer

de um mesmo marco ter pontuação média em um período e atingir o marco completo

em outro, a criança pode pontuar zero, meio ou um. Veja alguns exemplos de gráficos:

Figura 9. Exemplos de gráfico de marcos.

25
Fonte: autora.

Quando há avaliação de comportamento emitido de maneira espontânea é

preciso assegurar contexto controlado com Operações Motivadoras (OMs) e não fazer

26
uso de dicas, o controle de estímulos e um contexto motivador fará diferença no vínculo

e participação do sujeito. A pontuação deve ser preenchida em seus formulários

correspondentes aos marcos e operantes, e somente depois para os gráficos. Vejamos

páginas de Martone (2017) das páginas de 202 a 219. Os marcos, em especial,

acompanham os domínios, mas deve seguir o formulário específico.

O APCE
O VB-MAPP apresenta um subteste específico para o comportamento ecóico. A

avaliação ocorre a partir de repetição de modelos vocais pela criança, seja fonemas,

combinação de silabas ou palavras, além de alguns padrões de entonação. Qualquer

profissional pode aplicar esse subteste, mas o autor indica que o profissional mais

adequado é o fonoaudiólogo.

Assim como as avaliações de marcos o APCE também pressupõe reforçadores,

embora seja um contexto avaliativo. Pode ser aplicado em uma sessão ou mais.

Vejamos o APCE:

Figura 10. Modelo de Registro de Avaliação de Ecóico (Parte 1).

27
Fonte: Martone (2017)

Avaliação de Barreiras
A avaliação de barreiras contribui para contextos de ensino mais adequados,

desde o aspecto de antecipar contextos e comportamentos como o aspecto de entender

excessos comportamentais que impactam na aprendizagem de novos repertórios. Essa

avaliação avalia 24 barreiras que dificultam a aquisição da linguagem, desta forma, a

mudança ou extinção dessas barreiras devem ser incluídos nos objetivos terapêuticos

quando estabelecido o Projeto de Ensino Individualizado (PEI). Vale a ressalva de que

não necessariamente será pontuado em todas as barreiras. As barreiras de aprendizagens

são descritas na figura abaixo.

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Figura 11. Barreiras de Aprendizagem do Vb-MAPP

Fonte: Martone (2017)

A baixa pontuação em barreiras é um ótimo sinal, e até mesmo objetivo

terapêutico, pois significa que a criança está em melhor contexto e condições de

aprender novos repertórios e modificar antigos. A pontuações são: 0 quando não é uma

barreira; 1 quando ocorre ocasionalmente; 2 quando a frequência é de um problema

moderado; 3 pontos quando o problema é persistente e 4 quando o problema é severo.

As descrições dessas barreiras podem ser observadas em Martone (2017, p.165-198). Os

modelos de preenchimento das barreiras podem ocorrer com ausência de itens,

aparecimento de item em segunda avaliação ou outra, mas o ideal é que ocorra a

diminuição e extinção delas. Vejamos alguns modelos de gráficos de barreiras.

Figura 12. Modelos de gráfico de barreiras

29
Fonte: autora.

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Plano de Ensino Individualizado – PEI

Antes da elaboração do PEI é preciso se pensar nos protocolos de registro de

marcos, barreiras e APCE, e o VB MAPP fornece tais modelos (Martone (2017, p.200-

230). O PEI é importante e fundamental para elaboração de melhores contextos de

ensino, avaliação contínua e reestruturação de programas de Ensino para as crianças, em

especial quando esses são adaptados para a inclusão, acolhe sobre necessidades

educativas especiais e recursos necessários. A forma de reestruturar o PEI com base nas

necessidades levantadas pelo VB MAPP pode ocorrer de diversas formas, e aqui não

visaremos abordar sobre qual é o mais adequado, o importante é que auxilie o

profissional a acompanhar continuamente os objetivos terapêuticos, o repertório

adquirido, os que estão em andamento e ainda precisam iniciar.

Os objetivos terapêuticos do PEI com base no VB-MAPP não necessariamente

nortearão objetivos com a real escala de prioridade, logo, o ideal é que se estabeleça

metas de todos os operantes a serem treinado, e que assim aguarde, se organize para

lidar com o restante das pessoas que os tem tratado assim. Desta forma, avaliação e

intervenções caminham juntas, sendo que a avaliação se torna constante a partir do

momento que inicia processo de treinamento.

Quanto ao tempo para escrita de um PEI recomenda-se a cada 3 meses e no

máximo a cada 6 meses. Entendendo que há a avaliação contínua, mas que essas fazem

parte do processo total do grupo de avaliações, e além de verificação de saltos de

alcances que ocorrem a partir desses prazos mencionados, também auxilia a inverter

rotas, alterar objetivos de ensino que foram ultrapassados e validar melhores

31
contingências de ensino. Abaixo veja um exemplo de estruturação de um PEI que

ocorreu de 2021 a 2022.

Figura 8. Modelo de PEI

Fonte: autora

32
Em treinos, utilizar sempre modelo de registro randomizado. A primeira

estrutura do registro é sempre de Linha de Base, avaliativa. Optar por registro de 3

estímulos em mesmo programa, para assim garantir discriminação, generalização e

ensino randomizado. Veja um exemplo da folha de registro:

Figura 9. Exemplo de folha de registro.

Fonte: autora

Por fim, concluindo, o protocolo é importante instrumento avaliativo e

interventivo. Quando aplicado se observa demandas de outros repertórios. Desde a

escolha de instrução adequada, dica adequada, reforço e contingências adequadas, tudo

se faz parte do contexto de ensino-aprendizagem. A tradução e adaptação de Martone

(2017) é fundamental para aplicabilidade do VB-MAPP, no entanto, a versão original dá

subsídios sobre condutas relacionadas ao estabelecimento de metas do PEI.

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Referências

BARNES, C. S., MELLOR, J. R., REHFELDT, R. A. Implementing the


Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program
(VB-MAPP): Teaching Assessment Techniques. The Analysis of
Verbal Behavior, 30(1), 36-47, 2014.

BORBA, M. M. C.; BARROS, R. S. Ele é autista: como posso ajudar na


intervenção? Um guia para profissionais e pais com crianças sob
intervenção analítico-comportamental ao autismo. Cartilha da
Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental
(ABPMC), 2018.

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