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Margarida Carmo
Escola Básica 2, 3 Grão Vasco
marg_carmo@hotmail.com
INTRODUÇÃO
1563
Ora, será com base neste duplo sentido que sistematicamente se intercruza – por um
lado, o suporte prestado ao sujeito na tomada de decisão e, por outro, a valorização das
características que lhe são intrínsecas – que importa destrinçar o conjunto de condicionantes
presentes no processo de tomada de decisão vocacional do jovem, enquanto alicerce do seu
projecto escolar e/ou profissional mas, acima de tudo, do seu projecto de vida.
A Orientação Vocacional
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um papel central na maioria dos adolescentes, ao proporcionar uma série de oportunidades na
exploração vocacional, enquanto que os amigos, por sua vez, influenciam a construção
identitária dos indivíduos, assumindo um papel fulcral no modo como eles encaram a tomada de
decisão vocacional (Papalia, Olds e Feldman, 2001). A família, por seu lado, surge como o
contexto primeiro de desenvolvimento e construção do jovem, surgindo, pois, como a principal
esfera de questionamento, suporte e partilha, o que permite inferir acerca da poderosa influência
que exerce na tomada de decisão (Gonçalves e Coimbra, 1994; Gonçalves, 1998).
Um dos modos de tematizar o desenvolvimento dos jovens e dos adultos poderá ser à
volta do processo de elaboração e implementação de projectos de transformação da sua própria
realidade circundante. A qualidade de vida psicológica de uma pessoa depende, essencialmente,
da capacidade e possibilidade de elaborar e implementar projectos, bem como da qualidade
destes (Campos, 1985).
É neste contexto, apresentado muito globalmente, que se torna possível investigar os
projectos escolares e profissionais dos jovens estudantes, entendendo por projecto (Campos,
1985) qualquer resposta que tenha a ver com a participação do sujeito na definição do seu
futuro: escolhas actuais, aspirações, preferências, planos. Ter-se-á, pois, de ter em linha de conta
que planos são esses, como se caracterizam, como surgem e evoluem, como se diferenciam
entre si e qual a influência que recebem, nomeadamente, de instituições como a família, os
meios de comunicação social ou a escola (Campos, 1985).
Na verdade, o aluno que se encontra no nono ano aproxima-se a passos largos do final
da escolaridade obrigatória, momento em que lhe compete uma escolha, uma opção que irá
determinar a sua vida futura e que coincide, precisamente, com a fase do desenvolvimento na
qual o jovem se redescobre (Lucchiari, 1993).
O seu corpo encontra-se envolto numa série de transformações profundas a diversos
níveis e pode dizer-se que os jovens nesta idade não estão isentos de uma série de perturbações
emocionais, para além de um sentimento de incompreensão e solidão, típicos da adolescência,
assim como de problemas de relacionamento com os outros, e muitas vezes com eles próprios, e
que acabam por constituir motivos que podem dificultar uma abordagem serena do problema da
vocação (Freire, 1980).
Por seu lado, segundo Azevedo (1991), verifica-se que, para a maioria destes alunos,
continuar a estudar após o nono ano de escolaridade é um desejo crescente, tanto em rapazes
como em raparigas. Para o autor, a opção vocacional no nono ano de escolaridade reveste-se de
dois tipos de expectativas: expectativas escolares e expectativas profissionais. As expectativas
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escolares incluem a preferência quanto à via ou área de estudos e percurso académico, enquanto
que as expectativas profissionais são avaliadas através de dimensões, tais como: profissão
desejada e sua articulação com as escolhas escolares; razões de preferência profissional e a
qualidade da informação sobre esta profissão; e, finalmente, a percepção das oportunidades
profissionais e das características profissionais valorizadas pelos empregadores (Azevedo,
1991).
De salientar é, ainda, o contexto no qual se processa a escolha, caracterizado por um
especial sentimento de ansiedade, tensão, insegurança e responsabilidade. Também a família
tende a exercer a sua pressão, ao depositar no jovem expectativas, além das que ele próprio cria
sobre si mesmo. A escolha tende a ser sentida como definitiva e, de facto, influenciará toda a
sua vida futura e determinará o seu locus de inserção na sociedade (Prado, 1993).
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aquilo que mais gosta (escolha ideal ou de fantasia). No entanto, os três conceitos encontram-se
relacionados, segundo revelam alguns estudos empíricos (Borgen, 1986; Dolliver, 1969;
Holland & Lutz, 1968; Silva 1994, citados por Silva, 1997).
É ainda de referir que as decisões podem ser realizadas em condições de certeza ou de
risco. Mas, dado que as decisões de carreira são, de um modo geral, tomadas numa condição de
incerteza, um dos objectivos do psicólogo consiste em procurar minimizar, tanto quanto
possível, os riscos envolvidos na decisão, removendo o máximo de incerteza que puder. Assim,
será da responsabilidade do profissional de orientação propiciar uma atmosfera acolhedora e
uma relação produtiva, de modo que o aluno tenha a liberdade necessária para explorar os seus
problemas e definir os seus objectivos, e implementar as acções necessárias à sua concretização
(Silva, 1997).
Decisão/indecisão vocacional
Chartrand e Camp (1991, cit. por Santos & Coimbra, 1994) consideram que no âmbito
do desenvolvimento vocacional se desenvolveram três linhas de investigação. A primeira
analisou a decisão vocacional como um processo evolutivo que ocorreria ao longo de vários
estádios desenvolvimentais (Harren, 1979, cit. por Santos & Coimbra, 1994); uma segunda
linha de investigação analisou e testou modelos de tomada de decisão baseados, essencialmente,
em teorias racionalistas clássicas de decisão (Janis & Mann, 1977, cit. por Santos & Coimbra,
1994); e, finalmente, uma terceira linha de pesquisas procurou identificar e diferenciar as
variáveis individuais no processo de decisão vocacional, debruçando-se sobre a indecisão
vocacional e os estilos de decisão. Em termos históricos, o interesse dos investigadores centrou-
se, primeiramente, na indecisão e só, posteriormente, no processo de escolha ou decisão
vocacional (Santos & Coimbra, 1994).
Diversos autores (Crites, 1969; Callanan & Greenhaus, 1992; Arlin, 1989; Bransford &
Stein, 1993, citados por Silva, 1997), por seu lado, encaram a indecisão da carreira como uma
circunstância do comportamento vocacional, caracterizada por uma incapacidade de definir
objectivos específicos ou de saber a forma concreta de os atingir. Assim, poder-se-á afirmar que
um adolescente de 14-15 anos, prestes a concluir o nono ano de escolaridade e que ainda não
tomou uma decisão acerca do seu futuro escolar e/ou profissional (estado inicial), está
confrontado com o problema da escolha da carreira ou, simplesmente, está indeciso. Daqui
decorre, naturalmente, que a decisão nunca é o problema, mas, sim, a “não-escolha” (indecisão).
Arlin (1989, cit. por Silva, 1997), no entanto, chama a atenção para um dado
frequentemente negligenciado no estudo tradicional da resolução de problemas e que consiste
no papel que o próprio indivíduo assume na criação e definição do problema.
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Esta última observação permite explicar por que razão, por exemplo, dois estudantes do
nono ano de escolaridade podem evidenciar comportamentos tão diferentes perante a mesma
tarefa de desenvolvimento vocacional (e.g. escolha de agrupamento na transição para o ensino
secundário). Um deles será proactivo, ao preocupar-se com a obtenção de informação existente
sobre a matéria, enquanto que o outro mantém um comportamento habitual, como se ainda não
estivesse consciencializado do problema que vai ter que enfrentar e da decisão que terá de
tomar.
Ora, se os problemas surgem apenas quando a pessoa os percepciona realmente, será
importante perceber o modo como tal se processa. Segundo Arlin (1989, cit. por Silva, 1997), os
problemas assumem esse estatuto quando o sujeito se apercebe das discrepâncias, das
contradições, de modo que um estado temporário de desequilíbrio é atingido. A autora adopta,
então, uma tomada de posição, na qual estabelece uma ligação entre o processo de construção
(constituição) de um problema e, naturalmente, a mobilização de estratégias destinadas à sua
resolução, e o papel da motivação nesse processo, baseando-se no mecanismo da motivação em
geral (Nuttin, 1984).
Esta referência considera, pois, o pressuposto de que um indivíduo só tomará uma
decisão (escolher um curso superior, optar entre ofertas de emprego, escolher um área de
estudos para o ensino secundário) se estiver motivado para isso. No entanto, a incapacidade em
realizar uma escolha de carreira constitui, para a maioria das pessoas, um problema já que isso
as coloca num estado (mais ou menos prolongado) de desequilíbrio, geralmente percebido como
inconfortável, insatisfatório e gerador de stress (Arlin, 1989, cit. por Silva, 1997). É,
precisamente, esta percepção mais ou menos intensa de desconforto que, em última análise, está
por detrás de grande parte dos pedidos de consulta de carreira (Silva, 1997).
E é, de facto, inegável que muitos dos nossos alunos nas nossas Escolas Secundárias
procuram os Serviços de Psicologia e Orientação porque querem ajuda para realizar uma
escolha escolar e/ou profissional. Eles experienciam, geralmente, sentimentos de incerteza,
dúvida, hesitação, perplexidade e vacilação, o que deixa antever um problema de (in)decisão. O
que se passa, em muitos casos, é que estes indivíduos se propuseram a atingir um determinado
objectivo e sentem-se incapazes de o fazer pelos seus próprios meios, ou então já fizeram uma
escolha mas estão inseguros e pedem uma validação externa acerca da sua decisão (Crites,
1969). No entanto, a indecisão da carreira não deve ser perspectivada como pejorativa para o
indivíduo e Cochran (1991) alerta, precisamente, para as consequências que podem advir ao se
assumir automaticamente a indecisão como frequentemente negativa. Aliás, como afirma
Gordon (1981, p. 438, cit. por Santos & Coimbra, 1994, p. 24), “(…) existem muitos estudantes
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decididos (…) que necessitam do mesmo tipo de aconselhamento e intervenção disponibilizado
aos indecisos”.
Assim, a indecisão vocacional não deve ser entendida como algo extremamente
negativo e “rotulador” para o sujeito, mas antes como uma fase ou etapa normativa do
desenvolvimento vocacional. Neste sentido, alguns autores identificaram, implícita ou
explicitamente, a indecisão com a exploração vocacional (Cochran, 1991; Hall, 1992, cit. por
Silva, 1997) e a importância deste processo de exploração para o planeamento e tomada de
decisão, bem como para o ajustamento e desenvolvimento vocacionais (Greenhaus & Sklarew,
1981; Greenhaus, Hawkins & Brenner, 1983; Phillips, 1982, citados por Taveira, 2000).
É, igualmente, necessário ter em conta que a informação profissional resultante
das actividades de exploração é avaliada pelos indivíduos em função do sistemas de
atitudes e de valores pessoais, cujo processo pode influenciar o comportamento
exploratório e as decisões vocacionais dos indivíduos (Osipow, 1973). Por outro lado, o
facto de os indivíduos deterem maior quantidade de informação sobre o mundo
profissional não significa necessariamente que estejam a um passo de decidir.
Opostamente, podem manter-se vocacionalmente indecisos, necessitando de ser
ajudados a adquirir ou a desenvolver outro tipo de competências e de estratégias para
resolver o seu dilema. Porém, a exploração de si próprio e do meio que o rodeia são dois
factores, profundamente interrelacionados, e que têm um papel fulcral no processo de
tomada de decisão vocacional (Taveira, 2000).
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encarados nesta perspectiva como constituindo os elementos essenciais do processo de
intervenção vocacional (Coimbra, Campos & Imaginário, 1994).
Segundo Zunker (1986), é necessário tomar em consideração os valores, os interesses,
as habilidades e experiências do indivíduo – em suma, as suas características individuais – mas
torna-se, igualmente, necessário identificar e problematizar as influências no seu
desenvolvimento vocacional, das quais fazem parte a estrutura económica, as oportunidades
profissionais e de emprego, a classe social, o grupo de pares ou a dinâmica familiar (Imaginário,
1997).
Efectivamente, ao longo das suas vidas, os indivíduos deparam-se com uma série de
expectativas e pressões sociais (por parte da família, escola, sociedade) nas suas escolhas quanto
ao que eles gostariam, ou não, de fazer e quanto à avaliação que eles próprios fazem
relativamente a este último aspecto. Tais pressões conduzem os jovens na busca da sua própria
definição como pessoas, assim como de um sentido coerente para a sua existência (quem são, o
que querem ser e fazer, quais os seus projectos para o futuro, …), integrando as experiências
presentes e passadas e procurando um sentido para o futuro (Departamento do Ensino
Secundário, 2002).
Face a esta última premissa, torna-se, realmente, imperativo instituir o processo de
Orientação Vocacional nas nossas escolas, de modo a possibilitar aos jovens, desde logo, a
consciencialização da necessidade de tomar decisões, não só no que se refere ao seu futuro
escolar e/ou profissional, mas também na habilidade de se explorar a si próprio (interesses,
capacidades, aptidões, personalidade, entre outros) e ao mundo que o rodeia.
METODOLOGIA
Amostra
Instrumentos
1570
Procedimento
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RESULTADOS
Questões Respostas n %
Nunca pensa 3 5,1
Pensou na escolha escolar e profissional Por vezes pensa 23 39,0
Pensa muitas vezes 33 55,9
Tem procurado informação sobre cursos e profissões Sim 15 25,4
Não 44 74,6
Família 2 13,3
Amigos/conhecidos 3 20,0
Se sim, onde Escola 5 33,3
Em locais próprios 1 6,7
Outros 4 26,7
Alguma vez conversou com alguém acerca dos planos para o Sim 51 86,4
futuro Não 8 13,6
Família 22 37,3
Se sim, com quem Família e amigos 21 35,6
Amigos 6 10,2
Outros 2 3,4
Não 4 6,8
Conhece as alternativas que existem após o 9º ano Tem uma ideia 48 81,4
Conhece 7 11,9
Explorou os interesses, capacidades, com vista à escolha de Sim 36 61,0
uma profissão futura Não 23 39,0
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Quadro 2 – Resultados do pós-teste sobre as expectativas dos alunos antes das sessões e a
facilidade na tomada de decisão após os esclarecimentos obtidos com o programa (em
frequência e percentagem).
Questões Respostas n %
Sim 50 84,7
Após o programa, as expectativas foram alcançadas
Não 9 15,3
Mais difícil 30 51,7
Mais fácil 20 34,5
Facilidade na tomada de decisão depois do 9º ano, após a Indiferente. Eu sempre
6 10,2
participação no programa soube o que queria
Indiferente. Não me
2 3,4
preocupo com isso ainda
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
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respostas obtidas com o Pós-teste e nas três questões que foram foco de comparação neste
estudo.
Dos 59 alunos que compunham a amostra, 33 (55,9%) afirmaram pensar
frequentemente na sua escolha vocacional, o que faz supor que esta é já uma parte integrante
das suas vidas, correspondendo, no entanto, a um processo extremamente difícil para grande
parte dos adolescentes. Do mesmo modo, a maioria dos alunos (n=36, 61,0%) responderam
positivamente ao facto de já terem explorado as suas próprias características (capacidades,
interesses), com vista à escolha de uma profissão futura. Tal permite inferir que, realmente, os
alunos se mostraram conscientes da necessidade urgente de encarar a tomada de decisão
vocacional como uma realidade cada vez mais próxima, embora apenas 15 alunos (25,4%)
tenham referido uma procura activa de informação sobre cursos e profissões, o que faz já supor
a adopção de atitude proactiva no sentido da obtenção de informação sobre a matéria.
Por seu lado, relativamente aos alunos que afirmaram já terem pesquisado informação, a
escola foi referida como o local privilegiado, sendo os professores as figuras de eleição. Sendo
assim, de uma maneira geral, a escola surge como uma experiência organizadora central na
maior parte da vida dos adolescentes, passível de lhes oferecer oportunidades, aperfeiçoar
competências, explorar as escolhas vocacionais e estar com os amigos (Papalia, Olds &
Feldman, 2001). São estes últimos que surgem, em segundo lugar, na preferência dos alunos no
que se refere à procura de informação escolar e profissional (n=3, 20,0%). Como se sabe, o
período da adolescência caracteriza-se pela expansão dos jovens fora de casa, procurando um
sentimento de pertença junto dos pares com quem mais se identificam, influenciando-os e
sendo, simultaneamente, influenciados por estes, como referem Papalia, Olds e Feldman (2001).
Um outro aspecto relevante dá conta do facto de a esmagadora maioria dos alunos
inquiridos já terem conversado com alguém acerca dos seus planos para o futuro (n=51, 86,4%),
o que permite, novamente, inferir acerca da tomada de consciência face à necessidade da
escolha. Deste grupo de alunos, a maior ênfase foi colocada na família, inversamente à questão
anterior, seguida da resposta “família e amigos”. Ou seja, se, por um lado, o grupo de pares
constitui uma das principais fontes de informação escolar e profissional, em detrimento da
família, verifica-se que, no que respeita à verbalização dos planos para o futuro, 22 alunos
(37,3%) preferem a família e 21 (35,6%) englobam o sistema familiar e o grupo de amigos na
sua resposta. De facto, a esfera familiar constitui o pano de fundo no qual o jovem se constrói e
desenvolve. A necessidade de partilhar os seus objectivos, dúvidas, desejos, em questionar-se a
si e aos seus projectos, em procurar apoio incondicional, vem suportar a poderosa influência que
a família exerce na tomada de decisão vocacional do jovem (Gonçalves e Coimbra, 1994;
Gonçalves, 1998).
1574
Já no segundo momento de avaliação, os alunos responderam maioritariamente que as
suas expectativas tinham sido alcançadas após a sua participação no PRF (n=50; 84,7%), o que
é, sem margem para dúvida, um aspecto altamente favorável. No que respeita ao item sobre a
facilidade/dificuldade na tomada de decisão, 30 alunos (51,7%) consideraram ser mais difícil
tomar a decisão acerca do que fazer após o 9º ano de escolaridade. Este é, indubitavelmente, um
aspecto tremendamente importante, já que tal programa conseguiu atingir um dos objectivos a
que se propôs e que foi, justamente, o despertar os alunos para a tomada de decisão vocacional,
face à necessidade urgente de tomar decisões conscientes e realistas, que os irão acompanhar ao
longo da vida e interferir na construção do seu projecto profissional e, sobretudo, pessoal.
Assim, é passível de surgir uma situação de dilema, caracterizada por interesses
repartidos entre mais que uma opção viável, colocando os alunos numa fase de intensa
construção e reconstrução de ideias, de uma avaliação sistemática das suas consequências
positivas e negativas, para que então possa processar a escolha vocacional (Departamento do
Ensino Secundário, 2002). Contudo, tal estado não deve ser classificado pejorativamente mas
antes como uma etapa normativa do desenvolvimento vocacional (Cochran, 1991).
Porém, existe uma percentagem relevante de jovens (n=20; 34,5%) que consideraram
mais fácil a tomada de decisão após a sua participação no Programa, e uma outra menos
significativa (n=8; 13,6%), correspondente aos alunos que se revelaram indiferentes.
No que se refere ao primeiro caso, mais uma vez, os objectivos do PRF foram
alcançados, proporcionando a estes alunos uma visão mais ampla do vasto mundo vocacional e
permitindo-lhes, ou consolidar as intenções escolares e profissionais que tinham previamente,
ou alargar os seus “horizontes” através de novas perspectivas e possibilidades de escolha com as
quais se identificaram.
Respeitante ao momento de comparação entre o Pré-teste e o Pós-teste, foi possível
chegar a conclusões essenciais. Anteriormente ao Programa, era superior o número de alunos
que tinha como objectivo começar a trabalhar logo após o 9º ano, bem como aqueles que, no
extremo oposto, queriam prosseguir os estudos e ingressar no Ensino Superior. Por outro lado,
do primeiro momento de avaliação para o segundo, deu-se um ligeiro aumento da preferência
dos alunos pelos cursos de carácter Tecnológico/Profissional, tal como a vontade manifestada
por outros de prosseguir os estudos até ao 12º ano.
Um outro dado merecedor de especial relevância corresponde à diminuição acentuada
que se observa entre o Pré-teste e o Pós-teste, quanto aos alunos que não sabiam o que fazer
após o término da escolaridade obrigatória. Tal poderá dever-se à tematização do sistema
educativo e às possibilidades dadas a conhecer aos alunos no decurso da aplicação do Programa,
1575
como factores imprescindíveis no processo de Orientação Vocacional, possibilitando-lhes um
conhecimento mais aprofundado das diversas alternativas possíveis após o 9º ano.
Relativamente à última questão, que incidiu sobre os motivos que levarão os alunos à
escolha de uma profissão futura, “Ganha-se bem” foi o mais mencionado, havendo
inclusivamente um ligeiro aumento do Pré-teste para o Pós-teste (de n=29; 49,2% para n=32;
52,4%). Mais uma vez está patente o desejo crescente de conquistar a autonomia e a
independência face à família, como factor a considerar face a estes resultados (Azevedo, 1992).
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