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Comissão de Avaliação
(por ordem alfabética)
Cláudia Basso
Vanderlei Brasil
PÔSTER
A PRIMEIRA ESCOLHA PROFISSIONAL
PO1 - A IMPORTÂNCIA DA FEIRA DAS PROFISSÕES DA UFC NO PROCESSO DE ESCOLHA DA
FUTURA PROFISSÃO.
O processo de escolha da futura profissão não é fácil, e por isso mesmo pode desencadear muita
angústia. Como sublinha Bianchetti (1996), essa escolha pode ser mesmo aterradora, pois muitas
coisas estão em jogo a partir dela e por meio dela. Outro aspecto importante a ser observado, é
que esta escolha, como destaca Dias e Soares (2009, p. 42) porque é feita precocemente, “sofre
sempre de um certo grau de desacerto pela imaturidade do jovem”. Há que se considerar ainda
que “encontrar a informação necessária em tempo hábil” é um fato de extrema relevância no
processo decisório (GRECA, 2000, p. 116). Preocupada com essas questões, a Universidade Federal
do Ceará (UFC) realiza anualmente uma mostra de todos os seus cursos de graduação, chamada de
Feira das Profissões. O evento tem como objetivos aproximar a Universidade dos alunos de ensino
médio e auxiliá-los no processo de escolha do curso superior. Nessa Feira, são apresentados todos
os cursos de graduação ofertados pela UFC e quem faz esta apresentação são os alunos de cada
curso. Nesse diálogo entre estudantes do ensino superior e estudantes do ensino médio, são
abordados diversos tópicos, como o currículo do curso, a forma de ingresso e o mercado de
trabalho. Em cinco anos de evento, a UFC acredita que as informações transmitidas na Feira
contribuem, num primeiro plano para a uma escolha mais consciente do curso superior, e num
segundo plano para a redução dos índices de evasão na Universidade. Neste ano, a fim de analisar
se de fato esse evento tem conseguido cumprir seus propósitos, a Pró-Reitoria de Graduação
elaborou um questionário para a avaliação do evento. O instrumento tem 5 (cinco) questões de
múltipla escolha e será disponibilizado para os estudantes visitantes da próxima Feira das
Profissões, que ocorrerá no período de 10 a 12 de setembro de 2014. As questões visam: saber se
o estudante é de escola pública ou particular; através de que meio ele(a) soube da Feira das
Profissões; que avaliação o(a) estudante faz da infraestrutura do evento; que outras fontes de
informação, além da Feira, ele(a) buscou/tem buscado para ajudá-lo(a) na escolha da profissão; e
finalmente, qual avaliação o(a) estudante faz da Feira enquanto canal de informações sobre os
cursos da UFC.
.
PO2 - CONTRIBUIÇÕES DA OFICINA PROJETO DE VIDA NA PRIMEIRA ESCOLHA PROFISSIONAL.
LISBOA, A. 1;
1 - Universidade Salvador - UNIFACS;
Moraes MC 1;
1 - Universidade Federal de Goiás/Campus Jataí;
O presente trabalho pretende refletir sobre um possível projeto de Orientação Profissional para
adolescentes de nono ano do Ensino Fundamental II, tendo como ponto de partida a análise da
proposta de Orientação Profissional na disciplina de Formação Humana em turmas de nono ano de
uma escola particular de Fortaleza. A adolescência constitui-se um período no ciclo da vida de
transição entre a infância e a idade adulta, marcada por modificações físicas e psicológicas,
circunscrito em um dado período sócio-histórico. Aos adolescentes são atribuídas novas funções
sociais que passam a exigir um comportamento adulto com a aquisição de novas
responsabilidades como a inserção no mercado de trabalho e a escolha da profissão. A maioria dos
adolescentes brasileiros não tem a possibilidade de escolher a sua profissão, pois são lançados
muito cedo no mercado de trabalho para assegurar o seu sustento. Por outro lado, quando as
condições sócio-econômicas assim o permitem, a escolha pode constituir-se em um processo
iniciado desde a adolescência, respeitando-se um ciclo de amadurecimento, dado de forma
paulatina e organizada, sem a necessidade de atropelamentos. Na referida escola a orientação
profissional é trabalhada com alunos de nono ano na disciplina de Formação Humana, sendo estes
em sua maioria de classes média e alta, compondo o grupo daqueles que têm a oportunidade de
um processo de escolha desde a adolescência. Os adolescentes de nono ano apresentam
peculiaridades que os diferenciam dos alunos de Ensino Médio, pois estão mobilizados por
vivências específicas, como os medos e expectativas em relação à passagem para uma nova etapa
de sua vida escolar. Neste sentido, o presente estudo torna-se importante para despertar o
interesse por estratégias que possam trabalhar com turmas no nono ano, tendo em vista a pouca
literatura disponível em livros e periódicos para atuação com este público. A proposta de
orientação profissional avaliada no cronograma apresenta certas lacunas. Verificamos que as
temáticas não seguem uma sequência que as tornem partes de um mesmo processo, portanto,
existe a necessidade de um melhor planejamento das atividades. Apesar disso, ressalta-se a
pertinência da orientação profissional como parte do currículo da disciplina de Formação Humana,
tendo em vista que a formação da identidade do adolescente é atravessada pela construção de
uma identidade profissional.
Araujo, ACO 1;
1 - Universidade Salvador - UNIFACS;
Duarte, L. e Gusmão, S. 1;
1 - Trajeto Consultoria/ PE;
Objetivo: Propiciar aos servidores “aposentáveis”, oportunidade para refletir acerca das
transformações inerentes ao processo de aposentadoria, favorecendo a construção de novos
projetos de vida/ profissionais. Justificativa: A expectativa de vida da população brasileira
aumentou e a pirâmide da sociedade brasileira está se invertendo. Em 2010, o número de jovens
brasileiros era 10 vezes maior que o de idosos. A projeção do IBGE é que essa diferença caia para 7
vezes em 2020 e para 3 vezes em 2050. O envelhecimento populacional indica melhoria da
qualidade de vida e de uma nação. Contudo, também, representa problemas, produzindo efeitos
na economia e na saúde. Demanda iniciativas condizentes com as necessidades dos mais velhos
que se confrontam com diversas perdas – do seu lugar e poder no sistema produtivo, do vínculo
com os colegas de trabalho e da rotina. Portanto, é preciso preparar-se para esse momento.
Refletir sobre as mudanças sociais e familiares, reestruturar-se para novos laços afetivos, fazer
planos futuros e saber torná-los concretos, pode transformar um tempo de crise em
oportunidade! Metodologia: Inspirado na experiência de Dulce Helena Soares e adaptado à
proposta da Trajeto que se fundamenta na psicanálise, na psicossociologia e na concepção de
grupo operativo, o programa estimula a participação ativa e a emergência da singularidade para
construção de um projeto futuro, compatível com as expectativas e possibilidades de cada um.
Estruturado em 03 encontros, o Programa - desde a reflexão sobre a retrospectiva da trajetória
socioprofissional, as mudanças pós-aposentadoria até a tarefa de pensar novos projetos,
organizando-os no tempo livre que terão - objetiva favorecer a reflexão sobre o futuro e a
viabilidade desses novos projetos. Resultados: A adesão e a participação ativa dos “aposentáveis”,
a avaliação e os depoimentos atestam a efetividade da proposta, embora demande a necessidade
de um tempo maior para melhor eficácia do processo.
Referências Bibliográficas:
Pichon – Rivière, E. Processo grupal; tradução: Marco Aurélio Fernandes Velloso; revisão: Monica
Stabel, 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Soares, Dulce Helena Penna. Aposent-Ação: Aposentadoria para Ação / Dulce Helena Penna
Soares, Aline Bogoni Costa, 1. Ed. – São Paulo: Vetor, 2011.
Zanelli, J. C; Silva, N.; Soares, D. H. P. Orientação para aposentadoria nas organizações de trabalho:
construção de projetos no pós-carreira. Porto Alegre: Artmed, 2010.
Lopes, A. P. V. 1;
1 - Autônoma;
Trata-se de uma técnica cujos objetivos residem em levar à reflexão e discussão sobre: preparação
para objetivos de realização futura (carreira, previdência); idiossincrasias e necessidades
individuais; valores e escolhas; expectativas de realização futura geradas por estereótipos;
escolhas compatíveis com estilos de vida; valor do trabalho e do tempo a ele empregado. A técnica
consiste em apresentar gravuras das diversas etapas da fábula A Cigarra e A Formiga, de La
Fontaine, solicitando que sejam escolhidas o mínimo de duas gravuras por personagem para em
seguida caracterizá-los e apresentá-los oralmente. Feita essa apresentação, sugere-se escolher um
mínimo de três gravuras para elaborar e contar sua própria versão da história. A aplicação dessa
técnica destaca o quanto Cigarra e Formiga personificam valores inerentes ao trabalho, ao
trabalhador, aos fazeres que identificam labuta. Tais personagens, cada uma em cada tempo e
espaço de cada versão do conto, personificam sentidos de trabalho, lazer e valores atribuídos a
eles.
O Programa ViraVida no Maranhão ora apresentado refere-se ao eixo temático “Orientação para o
trabalho” e consiste num programa de atendimento a jovens de 16 a 21 anos em situação de
Exploração Sexual, de escolaridade diversificada, visando a inserção no mercado de trabalho. Este
programa é uma iniciativa do Conselho Nacional do SESI, em parceria com as instituições do
“Sistema S”, e atende o jovem por 24 meses. Este jovem é encaminhado pela rede de
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes e passa por um processo de
inserção, onde se verifica o perfil e disponibilidade do jovem em participar do programa. Nos
primeiros 12 meses, o participante passa por processo socioeducativo – qualificação profissional,
atendimento psicossocial (individual e grupal), atendimento à família, reforço escolar, atividades
de cultura, esporte e lazer, oficinas de empregabilidade e orientação profissional – e 12 meses de
acompanhamento do jovem inserido no mercado de trabalho ou formação complementar aos que
não ingressaram. Durante o processo socioeducativo, as oficinas de empregabilidade e orientação
profissional são realizadas em grupos de 25 alunos, quinzenalmente, 4 horas/aulas e tem como
objetivo desenvolver aspectos que contribuam para escolha profissional consciente, inserção no
mercado de trabalho e projeto de vida, tais como: autoconhecimento, significado e valor social do
trabalho, conhecimento da realidade profissional e preparação para o trabalho, processo de
escolha, planos e sonhos. Os resultados alcançados, ao longo dos três anos de existência do
programa no estado, são: elevação da autoestima, fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários, saída espontânea da exploração sexual como geração de renda, maior segurança
nos processos seletivos, alto índice de inserção no mercado de trabalho, maior número de jovens
com projeto de futuro estabelecido. Espera-se deste trabalho com os jovens, o desenvolvimento
da autonomia, o protagonismo e ampliação da visão de mundo e futuro afim de que o mesmo não
permaneça refém das condições impostas pelo meio em que ele vive. Além de apresentar para a
sociedade científica uma tecnologia social desenvolvida com um publico de classe socioeconômica
desfavorecida, que vivenciaram varias formas de violência e com vínculos fragilizados ou
rompidos.
PÔSTER
RE-ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA
PO15 - A PROFISSIONALIZAÇÃO COMO PROJETO DE APOSENTADORIA? UMA EXPERIÊNCIA NO
ENSINO SUPERIOR NOTURNO.
Guimarães, K. 1; ]
1 - UFRRJ;
Em tempos de políticas neoliberais em que se vigora um processo cada vez mais arraigado de
"precarização social do trabalho", pode-se problematizar o projeto de se tornar um profissional,
particularmente quando este se inicia concomitantemente ao processo de "aposentar-se". No
Brasil, desde o Império, o acesso ao ensino superior privilegia às elites político-econômicas do país,
no entanto, essa realidade vem, aos poucos, se alterando. A partir de muitos debates, entraves e
lutas entre os diversos atores sociais envolvidos vivencia-se atualmente uma política de acesso e
permanência neste nível de ensino, diferenciada, embora ainda longe de resolver a dívida histórica
com os estratos sociais mais desfavorecidos do ponto de vista socioeconômico. Assim, algumas
universidades públicas foram criadas enquanto outras sofreram um processo de interiorização,
ampliando seus campi. Nesse sentido, o ensino superior noturno também foi implementado
nestes novos campi criados e estudantes com trajetórias educacionais interrompidas pela
necessidade do trabalho assalariado começam, enfim, a retomar antigos projetos laborais,
especialmente o do "diploma" universitário, o qual no Brasil atrela-se ao exercício de uma
profissão. Logo, o objetivo deste trabalho foi o de problematizar o projeto de se tornar um
profissional por trabalhadores em processo de aposentadoria. Seria a profissionalização, pela via
do ensino superior noturno, um projeto de aposentadoria, um projeto de planejamento de
carreira? Para responder a esta pergunta recorreu-se a uma experiência na disciplina eletiva
intitulada Planejamento e Desenvolvimento de Carreira oferecida, no segundo semestre do ano de
2013, pelo curso de Administração num recém criado campus de uma universidade federal rural. A
maioria dos estudantes, jovens, trabalhava em organizações privadas, sobretudo em atividades de
estágio remunerado durante o período diurno. No entanto, uma das estudantes, trabalhadora
com uma longa trajetória em sua atividade ocupacional encontravam-se em processo de
aposentadoria, o que permitiu a discussão da aposentadoria como mais uma etapa da vida laboral,
não mais considerada como a última delas. A partir das observações realizadas em sala de aula,
percebeu-se o quanto a aposentadoria configura-se, contemporaneamente, para a continuação da
vida produtiva. Ademais, as discussões sobre planejamento de carreira, num contexto onde
vigoram as trajetórias "iô-iô" foram estimuladas pela presença de estudantes com variadas
trajetórias laborais, muitas acompanhadas de períodos de interrupção do estudo e inserção
precoce no trabalho. Desta forma, a disciplina de Planejamento de Carreira revelou-se como um
espaço de discussão privilegiado sobre as questões da inserção e permanência laboral para os
estudantes do ensino superior noturno.
RESUMO
OBJETIVO: Este trabalho teve como finalidade obter informações a respeito da importância prática
do Programa Aprendiz de uma Instituição Financeira na vida profissional dos adolescentes que
passam por esta experiência. JUSTIFICATIVA: Trabalhando na Empresa com os Adolescentes, desde
que ingressei, me questiono sobre qual a verdadeira influência da experiência destes jovens no
Programa, para suas escolhas profissionais futuras. Percebemos claramente a mudança a nível de
amadurecimento dos meninos e meninas, mas: Qual a contribuição concreta para prepará-los para
o mundo do trabalho? O público alvo desta pesquisa é composto de meninos e meninas de classe
social carente, escolas públicas, de bairro de periferia, filhos de adultos subempregados, muitos
analfabetos. A renda que passam a receber no período que estão no Programa, muitas vezes,
ajuda efetivamente no sustento da família. Observamos ao chegarem, assustados, o quão grande
são os desafios: conciliar estudo e trabalho, mudança na rotina de alimentação, convívio com
locais e pessoas de nível econômico muito diferente do deles, além das demandas próprias de um
ambiente de trabalho. MÉTODO: Questionários foram aplicados, a 15 Aprendizes que encontram-
se no final do contrato e 08 que já estão fora da Empresa, após terem concluído o Programa: há
aproximadamente 1 ano ou mais. Daqueles que estão concluindo, busquei informações sobre suas
expectativas e projetos, ao sair do Programa. Quanto aos demais, que já estão fora, obtive
informações sobre: em que suas experiências no Programa auxiliaram sua atuação e em que
poderia ter melhor contribuído. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebemos o quanto o Programa
modifica a vida desses meninos e meninas e suas famílias, no entanto o seu prazo é limitado: 2
anos. Costumamos solicitar aos orientadores que procurem indicar os seus aprendizes para
clientes e conhecidos, buscando integrá-los a alguma outra experiência de trabalho. No entanto,
não possuímos um trabalho sistemático para este fim. Não existe um acompanhamento, nem
ações efetivas para que estes menores deem continuidade em suas experiências
profissionais. Fiquei satisfeita com a percepção dos meninos de que, independente das escolhas,
ou de terem definido o seu rumo profissional, o Programa tem um importante papel para que eles
desenvolvam habilidades inerentes a qualquer ambiente de trabalho. Entretanto, acredito que
precisamos estar mais atentos à qualidade do acompanhamento desses meninos em cada unidade
e desenvolver estratégias mais eficazes para auxiliarmos nos direcionamentos destes, após o
Programa.
OBJETIVO
Este trabalho teve como finalidade obter informações a respeito da importância prática do
Programa Aprendiz de uma Instituição Financeira na vida profissional dos adolescentes que
passam por esta experiência.
JUSTIFICATIVA
Trabalhando na Empresa com os Adolescentes, desde que ingressei me questiono sobre
qual a verdadeira influência da experiência destes jovens no Programa, para suas escolhas
profissionais futuras. Percebemos claramente a mudança a nível de amadurecimento dos meninos
e meninas, mas: Qual a contribuição concreta para prepará-los para o mundo do trabalho?
O trabalho, na nossa sociedade, representa o um meio de subsistência, acima de tudo, e a
possibilidade de realização profissional. O conceito do dicionário Aurélio é:
“Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim; atividade
coordenada de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço
ou empreendimento.”
Visto a evolução ao longo dos tempos, onde a máquina foi substituindo a presença do
homem em vários setores e, atualmente, com o avanço da automação, telecomunicação,
microeletrônica, os jovens precisam estar preparados para uma concorrência acirrada, com a
cobrança da qualidade total e acúmulo de funções, ao tempo que o número de pessoas em busca
de emprego aumenta e a quantidade de vagas no mercado de trabalho é infinitamente
desproporcional.
O público-alvo do Programa Aprendiz desta Instituição compreende jovens de 15 a 17
anos, no entanto, o questionário aplicado abrange também adolescentes acima de 17, visto já
terem saído há alguns anos do Programa. Assim achei importante trazer o conceito de
Adolescente e, para o dicionário Aurélio é:
“O período da vida humana, que começa com a puberdade, caracterizado por mudanças
corporais e psicológicas e que vai de 12 a 20 anos.”
Por diversos autores e em várias culturas a faixa etária pode variar, mas percebe-se uma
concepção que se mantem: trata-se de um marco, que demonstra a passagem da infância para a
vida adulta, onde o sujeito está preparado para uma participação social mais ativa e passa a ser
mais cobrado pela comunidade. É visto como um período crítico de desenvolvimento.
Se por um lado existe um grande crescimento da população jovem nos últimos anos, por
outro há uma valorização da mão de obra jovem pela disposição, flexibilidade, agilidade e
atualização de conhecimento, no que se refere às evoluções tecnológicas.
A percepção do trabalho na vida das crianças e adolescentes no nosso país em 1980 era
como um fator positivo para crianças que, dada sua situação econômica e social, viviam em
condições de pobreza, de exclusão e de risco social era uma mão de obra barata, justificada pela
falta de qualificação e por seu tratamento como renda complementar ao trabalho adulto. O
Código de Menores entendia o “menor” que não estudava ou trabalhava como um potencial
“delinquente”, a ser controlado e reprimido pelas estruturas punitivas do poder público.
Promulgada a nova Constituição Federal em 1988, iniciou-se a elaboração do ECA,
aprovado dois anos depois proibiu o trabalho aos menores de 16 anos e garantiu a possibilidade
de ingresso no mercado de trabalho na condição de aprendiz a partir dos 14 anos. O Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), aprovado pela Lei nº 8.069, de13 de julho de 1990, também prevê,
nos seus arts. 60 a 69, o direito à aprendizagem, dando-lhe tratamento alinhado ao princípio da
proteção integral à criança e ao adolescente.
O início da inserção de adolescente na Instituição Financeira em questão; ocorreu em 1971
com a nomenclatura: Menor Estagiário em Serviços Gerais. Embora a legislação vigente na época
permitisse o trabalho infanto juvenil dos 12 aos 18 anos, a Empresa optou por trabalhar com
adolescentes a partir dos 14 anos, até antes de completar 16. Previa-se a possibilidade de suprir
vaga no quadro de Portaria e participar de seleção para Auxiliar de Escrita. Após completar 17 anos
de idade, os menores poderiam participar de concurso de Auxiliar de Escrita, interno ou
externo, desde que tivessem concluído o curso ginasial ou equivalente e a sua posse, caso
aprovado, só poderia ser efetivada depois de completar 18 anos de idade e da quitação com o
serviço militar.
Várias alterações ocorreram desde então até que novo programa foi lançado em 2001,
com o nome de Programa Adolescente Trabalhador, com base nas Leis 10.097/2000, Lei da
Aprendizagem, e 8.069/1990, no Estatuto da Criança e do Adolescente. Tinha como premissas, a
promoção e o desenvolvimento profissional e pessoal do adolescente, por meio de ações que
assegurassem a sua formação profissional, e a aquisição de experiências, hábitos e atitudes
indispensáveis ao trabalho produtivo e na convivência social. As contratações passaram a ser
indiretas, possuindo Entidades sem Fins Lucrativos como contratante dos adolescentes.
Em 2007 e 2008, o Ministério do Trabalho e Emprego publicou as Portarias MTE 615 e
1003 respectivamente, criando o Cadastro Nacional da Aprendizagem, regulamentando a
atuação das entidades sem fins lucrativos voltadas para a aprendizagem e estabelecendo
parâmetros para a capacitação teórica e prática dos aprendizes.
Considerando as mencionadas portarias e as sugestões internas de unidades da
Empresa, foram propostos ajustes no Programa Adolescente Trabalhador, que passou a ser
denominado Programa Aprendiz a partir de outubro/2008, apresentando uma série de
inovações, como o incremento de ações voltadas para a efetividade da aprendizagem e o
encaminhamento do jovem ao mercado de trabalho.
A situação da juventude brasileira, especialmente dos jovens carentes, ratificada por
pesquisas realizadas, reveste a aprendizagem de extrema importância como ação capaz de
mudar a realidade do País, por meio da preparação e manutenção dos jovens no mundo do
trabalho.
Quanto aos meninos e meninas desta pesquisa, percebemos a grande responsabilidade,
visto virem de classe social carente, escolas públicas, de bairro de periferia, filhos de adultos
subempregados, muitos analfabetos. A renda que passam a receber no período que estão
no Programa, muitas vezes, ajuda efetivamente no sustento da família. Observamos ao chegarem,
assustados, o quão grande são os desafios: conciliar estudo e trabalho, mudança na rotina de
alimentação, convívio com locais e pessoas de nível econômico muito diferente do deles, além das
demandas próprias de um ambiente de trabalho. Alguns relatam no final da experiência, “quando
cheguei eu ficava com medo deles, depois vi que são gente como a gente” ou “no trabalho de
minha mãe me colocavam para comer na cozinha, mas aqui participo dos aniversários igual a todo
mundo”.
MÉTODO
Questionários foram aplicados, a 15 Aprendizes que encontram-se no final do contrato e
08 que já estão fora da Empresa, após terem concluído o Programa: há aproximadamente 1 ano ou
mais.
Daqueles que estão concluindo, busquei informações sobre suas expectativas e projetos,
ao sair do Programa. Quanto aos demais, que já estão fora, atuando ou não no mercado de
trabalho, obtive informações sobre: em que suas experiências no Programa auxiliaram sua
atuação e em que poderia ter melhor contribuído.
Aplicação de Questionários: Os questionários foram encaminhados para as Instituições
intermediárias, que fazem a formação teórica do adolescente, respondidos por escrito pelos
meninos (as) e enviados de volta para mim.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Minha proposta inicial era aplicar os questionários para uma mesma quantidade de
adolescentes que já haviam saído do programa e aqueles que estariam no final do contrato, no
entanto consegui uma quantidade maior daqueles que ainda estavam trabalhando, do que os que
já saíram, por uma dificuldade das entidades em localizá-los ou conseguir suas disponibilidades.
Tentei contato com alguns que conhecia, mas tive pouco sucesso. Assim, responderam ao
questionário 08 meninos que já saíram e 15 que estão saindo até setembro deste ano de 2014.
As questões, para ambos os grupos, foram bem parecidas, se diferenciando apenas quanto
à condição que se encontram hoje, ou os verbos no presente ou passado. (Questionários em
anexo).
A 1ª questão trouxe reflexões dos jovens quanto a contribuição mais ampla do Programa,
quanto uma experiência de trabalho, independente da área específica e obtive respostas focadas
em aspectos como: aprimoramento de conhecimento, responsabilidade (com as tarefas, com a
assiduidade e pontualidade), respeito, relacionamento no âmbito profissional, resolução de
problemas, superação de dificuldades, oportunidade para crescimento e amadurecimento
pessoal e profissional.
Quanto a 2ª questão, a contribuição do programa para a escolha profissional, dos 23
aprendizes, 16 responderam afirmativamente, apesar de apenas 5 se identificarem com a carreira
em um Banco, os demais viram na experiência uma oportunidade para ampliar os horizontes, ter
condição financeira para investir em cursos de suas escolhas em outras áreas (teatro,
fisioterapia, enfermagem) e encontro com profissões onde deverá ter uma postura ética,
independente da área de atuação.
3ª questão complementa a 1ª e traz confirmações que o Programa apresentou para os
aprendizes oportunidade para conhecer um espaço de trabalho aonde puderam ter experiências
de relacionamento, comunicação e postura profissional, se tornando um diferencial diante de
outros jovens que não passaram por tal vivência. Já no que diz respeito à aprendizagem
desenvolvida na parte prática do Programa, 4ª questão, alguns aprendizes,
Referem-se às atividades específicas de conhecimento sobre arquivo, manuseio da
impressora, digitalização e cópias de documentos, digitação, uso do computador, organização
de materiais, etc. Falaram também sobre o atendimento telefônico e a habilidade em lidar com
pessoas diferentes, com humor e demandas diversas, trabalhar em equipe. Muitos citam o
desenvolvimento da atenção e da agilidade, para conseguir atender aos vários pedidos e cumprir
com suas atribuições.
Sobre as contribuições da aprendizagem teórica, 5ª questão, informaram que era a base
para as atividades práticas. Receberam noções sobre comportamento ético e profissional, além
de demais conteúdos sobre direitos e deveres, como se comportar, se comunicar, resolver
problemas. Em grupos, com os demais aprendizes, receberam orientações que forneceram
suporte para a prática.
Por fim, as sugestões para melhoria do Programa, solicitadas na 6ª questão, me fizeram
refletir sobre a conclusão dos contratos e o destino desses meninos. Vários propuseram
ampliação do contrato, o que é completamente impossível pela legislação; solicitaram a realização
de parcerias que lhes auxiliassem no ingresso no mercado de trabalho, já que, agora que criaram o
hábito de trabalhar, gostariam de continuar ativos. Alguns fizeram demandas que dizem respeito
a seus orientadores, uma maior atenção destes e ampliação de conhecimento sobre as agências,
como funcionam e sua participação no ambiente da empresa em geral.
Percebemos o quanto o Programa modifica a vida desses meninos e meninas e suas
famílias, no entanto o seu prazo é limitado: 2 anos. Costumamos solicitar aos orientadores que
procurem indicar os seus aprendizes para clientes e conhecidos, buscando integrá-los a alguma
outra experiência de trabalho. No entanto, não possuímos um trabalho sistemático para este fim.
Não existe um acompanhamento, nem ações efetivas para que estes menores deem continuidade
em suas experiências profissionais.
Fiquei satisfeita com a percepção dos meninos de que, independente das escolhas, ou de
terem definido o seu rumo profissional, o Programa tem um importante papel para que eles
desenvolvam habilidades inerentes a qualquer ambiente de trabalho. Entretanto, acredito que
precisamos estar mais atentos à qualidade do acompanhamento desses meninos em cada unidade
e desenvolver estratégias mais eficazes para auxiliarmos nos direcionamentos destes, após o
término do Programa.
REFERÊNCIAS
Abraão, Bernadete Siqueira, HISTÓRIA DA FILOSOFIA. São Paulo: Ed Nova Cultura, 1999.
Ministério do Trabalho e Emprego, MANUAL DE APRENDIZAGEM - O que é preciso saber
para contratar um aprendiz, 8ª edição. Brasília: MTE, 2013.
Mussen, H. Paul et al, DESENVOLVIMENTO E PERSONALIDADE DA CRIANÇA, 4ª EDIÇÃO.
São Paulo: ED. HARBRA, 1977.
Lisboa, Marilu Diez – Tese: ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E O ATUAL MUNDO DO
TRABALHO: A busca de um novo significado frente a um novo cenário. PUCSP, defendida em 2002.
Lisboa, Marilu Diez – Projeto de Pesquisa de pós-doutorado da FAPESP: O DESEMPREGO
NA JUVENTUDE: Um estudo sobre o sentido do desemprego para jovens que residem em cidades de
regiões produtivas da indústria do calçado, nas regiões Sudeste e Sul do país. UNESP campus Franca, 2010.
Ferreira, Aurélio B H., MINI AURÉLIO O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 8ª Edição.
Curitiba: Ed. Positivo, 2010.
Soares, Dulce H.P, A ESCOLHA PROFISSIONAL DO JOVEM AO ADULTO, 2ª Edição. São
Paulo: Summus Editorial, 2002.
Soares, Dulce H.P, O QUE É ESCOLHA PROFISSIONAL?, 4ª Edição. São Paulo: Editora
Brasileira, 2010.
POC2 - ENEM.COM PROJETO DE VIDA: PROFISSÃO & CARREIRA.
RESUMO
No Brasil, a maior parte dos estudantes das escolas da rede pública, com raras exceções, não
possui em sua equipe, psicólogos ou psicólogas, nem orientadores educacionais. Desse modo, no
momento em que os jovens das camadas de poder aquisitivo mais baixo têm de fazer a escolha da
sua futura profissão, eles não dispõem de pessoal especializado para ajudá-los nesse processo.
Conhecedora dessa realidade e consciente da sua responsabilidade social, a Fundação Demócrito
Rocha tomou a iniciativa de lançar o projeto Enem.com Projeto de Vida: Profissão & Carreira, para
oferecer auxílio aos jovens, assim como a seus pais e professores, que estão vivenciando
justamente essa fase da escolha profissional. Conforme ressalta Bock (2008, p. 28): as populações
pobres do Brasil “ainda não têm assegurada a discussão a respeito de suas escolhas profissionais”.
O projeto visa oferecer aos estudantes de Ensino Médio das escolas públicas do Estado do Ceará,
sobretudo, bem como a seus pais e professores e a interessados em geral (dentre eles, alunos e
egressos de cursos de ensino superior), subsídios para superação de medos, angústias e dúvidas
no processo de escolha da profissão e carreira, e informações acerca dos cursos ofertados pelas
instituições públicas de ensino superior, a partir das seguintes ações: (1) elaboração e
desenvolvimento de material didático, na forma de fascículos veículos junto com o jornal; (2)
produção de 10 (dez) programas de rádio e de 10 (dez) programas de TV, discutindo temas
relacionados aos fascículos; (3) desenvolvimento de site específico para o projeto com o conteúdo
por ele produzido; e (4) manual do professor. O que eu vou ser quando crescer? Para muitos, esta
não é uma pergunta fácil de responder, especialmente porque isso é exigido precocemente.
Conforme Dias e Soares (2009, p. 42) relatam, porque é feita precocemente, essa escolha “sofre
sempre de um certo grau de desacerto pela imaturidade do jovem”. Como sublinha Bianchetti
(1996), essa escolha pode ser mesmo aterradora, pois muitas coisas estão em jogo a partir dela e
por meio dela. A Fundação Demócrito Rocha (FDR) e toda a equipe envolvida, acredita auxiliar os
estudantes na tomada da decisão da escolha do curso a seguir, envolvendo os componentes
familiares e escolares, dirimindo dúvidas, ciente de que quanto mais o estudante se conhecer e
conhecer a profissão e as atividades que envolvem a sua pretensa carreira, terá mais chances de
escolher um caminho mais seguro e exitoso.
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
No Ceará, dados do Censo Escolar de 2009 nos informam que, dos 365.362 alunos
matriculados no Ensino Médio, 95.326 cursavam o 3º ano, ou seja, estavam às vésperas de
tentarem o ingresso em universidades ou faculdades. Sabemos que a maior parte dos
estudantes está em escolas da rede pública e que essas escolas, com raras exceções, não possuem
em sua equipe, psicólogos ou psicólogas, nem orientadores educacionais. O serviço de orientação
profissional tem sido privilégio das classes médias e mais abastadas da população brasileira,
porque ao longo da história do têm sido essas classes as que chegam ao ensino universitário. Há
que se considerar ainda que embora durante muito tempo o acesso à Universidade tenha sido
privilégio das classes sociais economicamente mais abastadas, as possibilidades de acesso de
estudantes de escolas públicas a um curso superior têm sido ampliadas, ainda que esteja
longe de atender toda a demanda existente.
Programas como o PROUNI e o FIES, financiados pelo governo federal permitem que os
estudantes de renda mais baixa possam cursar uma universidade ou faculdade particular paga
pelo governo com a contrapartida desses jovens restituírem a União dos gastos depois que
eles estejam empregados no mercado de trabalho. Ao lado disso, passamos a ter a política de
cotas nas vagas de acesso às universidades públicas para estudantes de poder aquisitivo inferior.
Nesse cenário, o trabalho de orientação profissional para as classes sociais mais desfavorecidas
começa a receber uma nova demanda, de jovens que agora têm algumas oportunidades, antes
nem mesmo vislumbradas.
A confusão não poderia ser mais que justificável sabido que no Brasil temos mais de 200
cursos universitários, além de recentes cursos tecnológicos e técnicos e das profissões dita
"informais". O Ministério do Trabalho, por meio de sua Classificação Brasileira de Ocupações nos
apresenta cerca de 2.500 profissões. Dessa forma, um adolescente entre 16 a 17 anos se vê diante
desse universo de possibilidades, sem nenhum tipo de orientação qualificada, terminando por
optar por cursos mais prestigiados, aqueles sobre os quais tem alguma informação, aqueles mais
fáceis "de passar", ou seguindo as temíveis profissões "da moda". No caso dos alunos da rede
pública de ensino, muitas vezes, filhos de pais que nunca frequentaram a universidade (por vezes,
nem bancos escolares), não podem contar com a orientação em casa, o que agrava ainda mais a
situação.
Tal como ressalta Bock (2008, p. 28):
“As populações pobres do Brasil, que estão ampliando sua participação nos degraus escolares em função
de políticas públicas que ampliam a oferta de vagas no ensino básico público e no ensino universitário
privado e de um discurso que reputa a escolarização como escada para a ascensão social, ainda não têm
assegurada a discussão a respeito de suas escolhas profissionais. A ideia de que o encaminhar profissional
é natural e espontâneo ainda prevalece, acrescido daquela de que, para populações empobrecidas, a
escolha profissional não teria o menor sentido em função das necessidades econômicas prementes dessa
população.”
Portanto, estamos num contexto em que no momento em que os jovens das camadas de
poder aquisitivo mais baixo têm de fazer a escolha da sua futura profissão, eles não dispõem de
pessoal especializado para ajudá-los nesse processo. Conhecedora dessa realidade e consciente da
sua responsabilidade social, a Fundação Demócrito Rocha tomou a iniciativa de lançar um
projeto, utilizando os veículos de comunicação que possui, para oferecer auxílio aos jovens,
assim como a seus pais e professores, que estão vivenciando justamente essa fase da escolha
profissional.
O que eu vou ser quando crescer? Para muitos, esta não é uma pergunta fácil de responder,
especialmente porque isso é exigido precocemente. Conforme Dias e Soares (2009, p. 42) relatam,
porque é feita precocemente, essa escolha “sofre sempre de um certo grau de desacerto pela
imaturidade do jovem”.
Como sublinha Bianchetti (1996), essa escolha pode ser mesmo aterradora, pois
muitas coisas estão em jogo a partir dela e por meio dela.
(...) é possível: o filho e aluno provar aos pais e professores que é capaz; os pais projetarem seus anseios
íntimos não realizados ou frustrações de que são vítimas; o vestibulando se afirmar ou se frustrar perante
colegas e amigos; desencadear o processo de habilitação ao futuro ingresso no mercado de trabalho, etc. O
vestibular [ou o Enem]1 pode ainda, ser a porta para a realização pessoal e profissional do aluno, do
filho; a porta para o status e reconhecimento social (BIANCHETTI, 1996, p. 72). 1 Acréscimo nosso.
MÉTODOS
O projeto Enem.com Projeto de Vida: Profissão & Carreira acolhe algumas ações,
dentre as quais a publicação de 10 (dez) fascículos, formatados a partir de um projeto gráfico
atraente, jovem, colorido e moderno, que traz informações, em linguagem simples, lúdica e clara.
Para sermos didáticos, podemos dizer que cada fascículo compreende duas partes: uma primeira
que aborda temáticas psicológicas envolvidas na escolha da profissão; e uma segunda parte
informativa sobre os cursos e as universidades.
Os fascículos foram organizados com os seguintes temas:
RESULTADOS
Temos recebido um feedback positivo que podemos inferir a partir dos indicadores de
audiência dos programas da rádio e da TV, também temos tido boa visibilidade do projeto por
meio do hotsite e das redes sociais.
O retorno do nosso público-alvo, obtido especialmente através do contato com alunos
entrevistados nos programas de TV, é de que as ações do projeto têm os auxiliado na escolha da
profissão e carreira.
Acreditamos que com isso, num primeiro momento, estamos chamando atenção para a
importância de que a escolha da profissão e carreira seja feita de forma responsável, realista, com
base no autoconhecimento e nas informações sobre os diversos cursos existentes nas
universidades e sobre o mercado de trabalho. Também percebemos o despertar das camadas
sociais economicamente menos favorecidas para o conhecimento acerca do serviço de orientação
profissional. Muitos nem sabiam que existia esse trabalho para auxiliarem em suas escolhas.
Podemos perspectivar que através da informação, potencializada pelos canais de
comunicação, seja o jornal impresso, o rádio, a TV e a internet, a discussão sobre a escolha de
uma profissão chegará aos mais diversos lugares do Estado do Ceará, que fomentará a conversa
sobre isso nas famílias, nas escolas e nas comunidades.
Defendemos que esse debate venha à tona e que possa influir em políticas públicas
que auxiliem o cidadão na construção de seu projeto de vida, pois partimos da compreensão de
que a orientação profissional é uma pratica social capaz de estimular o jovem a pensar na
construção do seu futuro, por promover a busca sobre si, dando- se conta de sua condição
presente, das oportunidades e exigências do mundo do trabalho, buscando caminhos possíveis,
escolhendo a partir de uma apropriação de seu contexto e dos fatores que influenciam a
escolha. Assim podemos dizer que o compromisso social da orientação profissional será de
sensibilizar os jovens para uma escolha profissional/ocupacional coerente com suas possibilidades.
CONCLUSÕES
A Fundação Demócrito Rocha (FDR) e toda a equipe envolvida, por meio das ações
propostas no projeto, acredita auxiliar os estudantes na tomada de sua decisão de escolha de
curso a seguir, envolvendo os componentes familiares e escolares, dirimindo dúvidas e
garantindo um salto em seu projeto de vida, ciente de que quanto mais o estudante se conhecer e
conhecer a profissão e as atividades que envolvem a sua pretensa carreira, terá mais chances
de escolher um caminho mais seguro e exitoso, sempre ao futuro, contribuindo também para a
redução da evasão escolar no ensino superior.
Os meios de comunicação pode contribuir bastante uma vez que é possível falar,
explicar, refletir e sensibilizar o jovem sobre o conhecimento de si mesmo, sobre o mundo social e
as relações com os outros. A Orientação profissional é um processo dinâmico, incessante e
contínuo, e pode ser integrado dos diversos meios de comunicação como uma ação de
cooperação entre pais, educadores e o próprio jovem, estimulando a motivação, que é algo
interno.
Luchiari (1996,p.13) considera que :
Gusmão, S. 1;
1 - Trajeto Consultoria/ PE;
RESUMO
OBJETIVO
Demonstrar, a partir da experiência de um caso, o efeito produzido na mudança de posição de
um jovem que, desestimulado após duas reprovações para Medicina, pode agir com determinação
ao fazer uma escolha profissional pela via da assunção do próprio desejo.
JUSTIFICATIVA
Pensar o futuro é uma prioridade estratégica em um mundo em rápida e intensa
transformação. As inovações científicas e tecnológicas e a superposição das áreas de
conhecimento alteraram a base da economia e os hábitos de consumo da população,
impulsionando o surgimento de novos produtos, negócios e campos profissionais. Nessa realidade
complexa e hipercompetitiva, as exigências aumentaram para todos os profissionais, tornando a
tarefa de escolher a profissão mais desafiadora e a necessidade de acertar maior. Escolhas
equivocadas causam inércia, perda de tempo e de dinheiro, numa época em que investimento é
vital para se conquistar um lugar ao sol.
PROCEDIMENTO
O trabalho foi desenvolvido a partir do relato de experiência com um jovem - João1 - que
tentara aprovação no vestibular de medicina há dois anos, sem sucesso. Sentia-se desestimulado e
não conseguia mais investir nos estudos, quando fui procurada por seus pais. Apesar de
preocupados com o estado em que o filho se encontrava, não viam outra opção a não ser por
Medicina. Afirmavam que poderia escolher o que quisesse, mas “na terra deles, um médico é mais
importante do que o prefeito e o padre”. Este jovem é filho temporão de uma família com tradição
política, cujo pai é médico e ex-prefeito da sua cidade.
Durante o processo de orientação profissional, ficou evidente que não havia identificação
com Medicina. Era incontestável sua preferência por filosofia, história, sua habilidade para
escrever, argumentar bem e seu gosto por leitura. Características que o aproximavam do campo
do Direito. No entanto, ao final do processo, não conseguiu assumir sua decisão de imediato. Mais
uma vez insistiu no vestibular para Medicina, atendendo, inclusive, ao pedido do pai de tentar a
aprovação em outro estado, o que fez de maneira simultânea à inscrição para o curso de Direito.
Passados alguns anos, já prestes a se formar, João me procurou e relatou sua trajetória
exitosa como excelente aluno do curso de Direito. Havia estagiado no Rio de Janeiro, num dos
quatro maiores escritórios de advocacia do mundo na área da atuação escolhida. Conta-me,
jocosamente, que conseguiu ser admitido no estágio, não pelas suas qualificações - já que um dos
pré-requisitos era o domínio de três idiomas, incluindo alemão - mas pelo modo persuasivo como
se colocou na entrevista. Foi convidado a entrar na equipe, mas preferiu voltar para Pernambuco,
onde integrou a equipe de um reconhecido escritório. Atualmente investe na carreira acadêmica e
preside uma comissão na OAB Seccional Pernambuco.
A que se deve a mudança da posição de desinvestimento e paralisação para atuar com
ousadia e determinação? O que provocou a mudança da posição subjetiva desse estudante?
1
Nome fictício.
Sabemos desde Freud, que o homem é um sujeito de desejo. “Somente o desejo, e
nenhuma outra coisa, é capaz de colocar o aparato em movimento”, afirma 2. Desejo que emerge
na relação com o Outro, impulsiona o homem, determina sua relação com o mundo, define sua
posição sexual e move suas escolhas.
O desejo do Outro marca as trilhas a serem percorridas, inclusive, as trilhas profissionais. É
neste sentido que a influência da família na escolha profissional é considerada enquanto força
determinante e estruturante, cujos desdobramentos aparecem na maneira como os jovens se
reconhecem com possibilidades de obter sucesso, alcançar seus objetivos ou, ao contrário, como
alguém que desacredita em si mesmo. Apoiadas nos referenciais teóricos da psicanálise, adotamos
na Trajeto a hipótese que a matriz da escolha profissional é constituída a partir do desejo da
família.
Ao longo da história de gerações, essa matriz é realimentada com projetos e expectativas
que determinam o lugar dos filhos. Alguns são reconhecidos e "convocados" a dar continuidade ao
legado da família, outros, são desacreditados. As modalidades do reconhecimento aparecem na
escolha profissional, tornando-se um desafio para um processo de curta duração e de objetivos
delimitados.
O excesso de credibilidade e de exigências dos pais, assim como a não identificação do
jovem com o projeto familiar, produzem conflitos, inércia, fantasias e temores de perder o afeto
dos pais, de fracassar profissionalmente, especialmente, quando a tendência é não corresponder
ao que se espera. Seus efeitos podem ser observados no bloqueio ou impossibilidade de definir a
escolha profissional, apesar de as informações e os dados da orientação já terem sido suficientes
para realizá-la. No caso em que os pais nada esperam do filho, o problema é mais preocupante na
medida em que a baixa autoestima provoca descrédito nas próprias capacidades.
Vale ressaltar que essas marcas do reconhecimento no processo de orientação, como na
análise, não são tratadas a partir de um julgamento de valor. Ao contrário, a psicanálise nos
permite considerá-las como expressão do desejo que estrutura as relações. É o desejo dos pais,
por excelência, que formula demandas, cria projetos, gera expectativas e atua, muitas vezes,
mesmo que seja desconhecido. O desejo se propaga em tudo o que se faz na vida, sem responder
a intervenções racionais, conselhos ou sugestões que pretendem neutralizar conflitos.
Do lado dos pais, os sinais incontestáveis de sua força aparecem nas pressões para o filho
dar continuidade ao projeto familiar, seguir uma rota diferente, realizar aquilo que não foi possível
na vida profissional etc. Quer sejam faladas, silenciadas, amparadas em justificativas racionais ou
não, exigem uma escuta atenta à identificação do sujeito e à emergência da sua singularidade,
para que seja possível assumir a responsabilidade pela própria escolha.
O reconhecimento e a assunção do desejo transformam o sujeito devido à subtração das
identificações alienantes, gerando efeitos na subjetividade. É por essa via que operamos no
processo de orientação profissional conduzido na Trajeto.
Nossa experiência mostra evidências de mudança de posição, quando a escolha por uma
profissão se fundamenta no desejo do sujeito. Os depoimentos dos pais (e dos próprios jovens)
confirmam maior investimento nos estudos e na carreira, o desenvolvimento da autonomia e de
condições internas para enfrentar as adversidades na trajetória profissional, como fica claro na
situação de João.
2
FREUD, S. Interpretação dos sonhos, Edição standard brasileira das obras completas de
Sigmund Freud, Rio de Janeiro, Imago Editora, Vol. V, 1980.
A mola propulsora desse processo é a metodologia desenvolvida pela Trajeto.
Fundamentada na psicanálise, na psicossociologia e na concepção de grupo operativo, não fornece
respostas prontas, nem utiliza testes psicométricos. Exige a participação ativa do cliente em um
programa estruturado com tempo delimitado - apenas seis encontros -, oferecendo operadores
que dão realce à escolha profissional como projeto de vida a ser bancado em nome próprio.
Para isso, é necessário, de partida, fornecer condições para o jovem distinguir o próprio
desejo da demanda de sua família, razão pela qual os pais, também, têm espaço privilegiado no
processo. Eles falam sobre suas expectativas e sobre a trajetória profissional deles e das suas
famílias. Nesse encontro, são estimulados a verbalizar o que desejam para os filhos, o que os seus
próprios pais desejaram para eles, seus projetos, suas preocupações e temores. Ou seja, são
legitimados enquanto figuras de referência e autorizados a falar sem culpa. Aspecto difícil de
abordar, na medida em que, hoje, pais e adultos, em geral, não assumem com tranquilidade o
lugar da alteridade e de autoridade.
Em um segundo tempo, construímos o perfil do jovem. Trata-se de um questionário
aberto, cujo objetivo é fazer o mapeamento dos interesses, habilidades e limites, preservando a
expressão da individualidade de cada participante. A atuação do coordenador nessa tarefa visa a
facilitar a reflexão sobre as características pessoais que o jovem reconhece possuir e,
simultaneamente, a discriminação daquelas que estão incorporadas às identificações alienantes,
geradoras de conflitos e de situações que os aprisionam. Isto é, estão incorporadas à fantasia de
não ter direito de seguir outro caminho a não ser aquele que já está traçado. Essa tarefa tem como
objetivo, também, articular os dados pessoais às informações sobre as profissões e o mercado de
trabalho, efetuando uma análise das afinidades, dificuldades e impossibilidades.
No caso de João, por exemplo, a insistência em cursar Medicina era apenas para atender à
demanda do pai. Tentativa inconsciente de responder a esse apelo que o deixava imobilizado.
Direito, por outro lado, combinava mais com seus interesses e condições pessoais para o exercício
competente da profissão. Vale ressaltar que um dos seus irmãos, bem mais velho, é advogado.
Em todo o processo, atenção especial é dada ao manejo do coordenador. Ao ocupar o lugar
de terceiro e de mediador, sua função é possibilitar a fala e a explicitação dos conflitos e das
contradições.
Para ter condições de propiciar esse clima, é preciso tomar distância, não se envolver de
modo pessoal e intervir para suspender as barreiras, sem ultrapassar o objetivo do trabalho. Em
outras palavras, o coordenador estimula a fala e a reflexão do cliente, investe para desmobilizar as
resistências, sem reforço à associação livre nem à transferência ao coordenador, mas às tarefas da
orientação profissional.
No caso de João, o momento em que ele se situou foi quando o coordenador o colocou em
questão: sua hesitação em abandonar Medicina não seria o receio de dizer não ao pai? Questão
que o colocou frente ao seu desejo e o desejo do seu pai.
Essas intervenções causam efeito subjetivo, embora no contexto de um trabalho de curta
duração. Nesse contexto, não perdemos de vista o enquadramento que nos norteia para não
cairmos na armadilha de incitar a falar sobre aspectos que a orientação profissional não pode dar
conta. Por exemplo, incitar João a entrar em detalhes sobre a relação com seu pai.
Ao final do processo, os pais são novamente chamados para discutir o seu resultado. Nesta
etapa, recebem um documento que demonstra a evolução do trabalho com o registro das
elaborações realizadas. Ao reconhecerem a fala dos filhos, quer seja por ser apaziguadora das
expectativas ou surpreendente, é a singularidade do sujeito que transforma os “mandatos” a
serem cumpridos em abertura de diálogo e, na maioria das vezes, em respeito às diferenças.
Naturalmente, a escolha profissional não se restringe aos aspectos psicológicos. Integra
fatores de ordem econômica, política e social, todos articulados a uma realidade em permanente
transformação. Portanto, exige análise do contexto da economia do conhecimento, da
competitividade do mercado de trabalho, das inquietantes exigências e mudanças, tais como, o
desaparecimento de profissões e ocupações simultâneo ao surgimento de outras devido aos
avanços da ciência e da tecnologia. Além da necessária aquisição de competências
complementares que extrapolam a formação acadêmica.
RESULTADO E CONCLUSÃO
O depoimento do jovem, ao término do curso de Direito, demonstrou uma mudança de
posição subjetiva. Saiu de uma postura de desinvestimento para atuar com ousadia e
determinação, cujo efeito foi a construção de uma carreira exitosa. Comprovada pelo convite para
integrar escritórios renomados como estagiário e profissional, inclusive, fora do Estado, pelo
percurso na vida acadêmica e pelo reconhecimento entre os pares, ao presidir uma comissão no
órgão da classe.
Portanto, quando o processo de orientação profissional é conduzido de modo a favorecer
que o cliente assuma seu próprio desejo, escolhendo uma profissão em sintonia com suas
condições pessoais articuladas à estratégia adequada para a inserção no mercado de trabalho
produz como resultado maior investimento nos estudos e na carreira.
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POC4 - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO.
RESUMO
Este trabalho faz parte do projeto de extensão do curso de Psicologia, da Universidade Federal de
Goiás/Campus Jataí e aconteceu em uma escola da rede privada, entre os meses de Agosto de
2013 a Novembro de 2013. O grupo era composto em média por 8 participantes, com idade entre
16 e 18 anos, sendo a maioria do sexo feminino (5 mulheres) e todos cursando o 3º ano do Ensino
Médio. Foram realizados 10 encontros, um por semana com duração de uma hora e meia cada. Os
encontros aconteceram na própria escola no contra turno das aulas dos alunos. O projeto
envolveu três etapas, a primeira abordou o tema autoconhecimento através do resgate da história
individual, história familiar, habilidades, gostos e preferências. A segunda etapa do projeto teve
como objetivo informar sobre o mundo do trabalho e as possibilidades de formação profissional,
discutir sobre profissões, bem como auxiliar o jovem a reconhecerem as influencias que sofrem da
família, dos amigos, dos professores e trabalhar a escolha possível naquele momento. E para
encerrar o terceiro momento do projeto teve-se como objetivo promover reflexões sobre o que é
vestibular; trabalhar exercícios de relaxamento; dicas para o dia da prova. Após refletirem sobre si
mesmos, sobre gostos, preferências, habilidades, interesses e também descobrirem um pouco
mais sobre profissões, mercado de trabalho e o que gostariam de fazer no futuro, os participantes
foram se decidindo e fazendo suas escolhas. Alguns esperavam um pouco mais de segurança,
tranquilidade, que as dúvidas fossem sanadas e que se conhecessem um pouco melhor e segundo
eles todas essas expectativas foram atendidas e eles se sentiram seguros e tranquilos para
fazerem a escolha profissional. Porém, houveram também aqueles que esperavam que as
orientadoras fossem dizer ao final qual era o caminho profissional que eles deveriam seguir e isso,
foi ao longo do tempo sendo desconstruído à medida que percebiam que a responsabilidade era
de cada um e que o papel da orientadora era auxiliar para que esse processo de escolha fosse
saudável.
INTRODUÇÃO
A Orientação Profissional (OP) enquanto campo do conhecimento científico e prático
procura intervir em diferentes etapas da trajetória ocupacional de pessoas e grupos em contextos
educacionais e/ou profissionais. A OP para jovens adultos se justifica como um trabalho de
prevenção e promoção da saúde, uma vez que é nesta fase que se intensificam as dúvidas a
respeito do futuro e dos interesses profissionais (Noronha & Ambiel, 2006). Soma-se a isso o fato
de que a prática profissional pode ser considerada uma das atividades de maior importância na
vida de um indivíduo adulto, e, por isso, pode afetar de diversas maneiras a sua realização pessoal.
Para Bohoslavsky (1993) a OP tem como objetivo criar condições para que o adolescente
defina uma profissão e aprenda a escolher e a encontrar sua identidade vocacional e pessoal, para
que assim decida de maneira autônoma, considerando seu psíquico e seu meio social. A escolha
profissional é um processo amplo e complexo ocorrendo principalmente numa fase conturbada de
saída da infância e entrada na vida adulta e nesse momento os jovens são cobrados a assumirem
posturas mais responsáveis diante da sociedade, tendo que escolher uma profissão. Nesse período
o jovem ainda se sente descompromissado com a vida, vivenciando outras realidades, mas
conforme vai conquistando sua identidade e percebendo suas singularidades, surge a necessidade
de se conhecer e se definir e, logo escolher uma profissão (Andrade, Meira & Vasconcelos, 2002).
Há vários fatores envolvidos na escolha da futura profissão como, por exemplo, fatores
emocionais, pessoais e subjetivos. Para uma escolha profissional satisfatória é preciso levar em
consideração vários aspectos: o desejo de quem está em processo de escolha, o que é possível
escolher em função da condição social, o que se espera do futuro, quais as competências, aptidões
e habilidades necessárias. A melhor escolha é aquela realizada de forma consciente, considerando-
se o que se almeja e o que se pode esperar obter (Scorsolini-Comin, Nedel & Santos, 2011).
Ao se deparar com o momento da escolha profissional, o jovem se sente confuso diante da
multiplicidade de opções existentes e da complexidade da escolha a ser feita e, nesse momento
ele se guia a partir das suas representações baseadas na sua posição sociocultural e econômica
(Andrade, Meira & Vasconcelos, 2002).
Nesse sentido, a OP é uma prática capaz de estimular o jovem a pensar na construção de
seu futuro, por promover a busca do autoconhecimento, analisando suas características,
explorando sua personalidade, sua história, sua realidade social, as oportunidades e exigências do
mundo do trabalho. Ao refletir sobre esses pontos, o jovem começa a construir e moldar seu
projeto de vida, concomitantemente ao projeto profissional, pois é capaz de perceber seus
sonhos, desejos e interesses, em coerência com a realidade possível para o momento, ou seja, a
realidade social e com as perspectivas de futuro (Mandelli, Soares & Lisboa, 2011).
Outro fator importante no processo de OP é a maturidade para a escolha profissional que
envolve o quanto o jovem está decidido e seguro em relação à escolha profissional, o quanto o
jovem preocupa-se com a escolha profissional e empreende ações para a efetivação da mesma, o
quanto está fazendo esta escolha de forma independente, sem deixar-se influenciar por ideias de
outras pessoas, o quanto se conhece e o quanto conhece sobre as profissões, mercado de trabalho
e instituições de ensino (Neiva, 2003).
Assim, quando a pessoa se torna madura para tomar decisões em relação a profissão,
significa que ela adquiriu comportamentos sociais e profissionais que irão contribuir para o
desenvolvimento de sua trajetória ocupacional. Neste momento, os jovens compreendem melhor
as consequências de suas escolhas e se tornam mais maduros para enfrentar os desafios do
mundo profissional (Silva & Jacquemin, 2001).
O processo de orientação profissional contribui para que os adolescentes tenham uma
escolha clara e consciente e também proporciona alívio em relação aos sentimentos angustiantes
(Scorsolini-Comin, Nedel & Santos, 2011).
Diante do entendimento de que a Orientação Profissional é importante para os jovens que
estão em fase de escolha profissional, apresenta-se os resultados de um trabalho desenvolvido
com jovens do 3º ano do Ensino Médio de uma escola particular, que teve como objetivo construir
um espaço de escuta grupal que contribuísse com a maturidade para a escolha profissional.
O trabalho em grupo na orientação profissional é uma boa forma de se buscar mudança
individual e social, pois possibilita identificações recíprocas; crescimento pessoal através de trocas
de ideias e experiências (Lucchiari, 1993).
MÉTODO
Este trabalho faz parte do projeto de extensão 3 do curso de Psicologia, da Universidade
Federal de Goiás/Campus Jataí e aconteceu em uma escola da rede privada, entre os meses de
Agosto de 2013 a Novembro de 2013.
O grupo era composto em média por 8 participantes, com idade entre 16 e 18 anos, sendo
a maioria do sexo feminino (5 mulheres) e todos cursando o 3º ano do Ensino Médio.
Foram realizados 10 encontros, um por semana com duração de uma hora e meia cada. Os
encontros aconteceram na própria escola no contra turno das aulas dos alunos. Os encontros
seguiam a seguinte estrutura: dinâmicas para aquecimento, desenvolvimento da temática
principal e encerramento.
O planejamento das atividades realizadas e a avaliação dos resultados foi fundamentada na
abordagem sócio-histórica (Bock, 2006), que defende a orientação profissional como um programa
que oportuniza momentos de reflexão e escuta para indivíduos que querem organizar as ideias em
torno da escolha profissional.
Dentro desta perspectiva o projeto envolveu três etapas, a primeira abordou o tema
autoconhecimento através do resgate da história individual, história familiar, habilidades, gostos e
preferências, família e amigos. Nesta etapa foram usadas as seguintes dinâmicas: técnica de
apresentação por meio de telas impressionistas (Soares, 2010); História do nome; Técnica- Gosto e
faço (Lucchiari, 1993); Técnica da Decisão (Lucchiari, 1993); Peças da casa (Lucchiari, 1993); Carta
pessoal (adaptada- Carta da vida) (Soares, 2010).
A segunda etapa abordou as profissões e o mercado de trabalho orientação com o objetivo
de trabalhar a questão da possibilidade de escolha e seus fatores determinantes; informar sobre o
mundo do trabalho e as possibilidades de formação profissional (cursos universitários e
profissionalizantes); auxiliar o jovem a criar um clima de confiança na família e no grupo de amigos
e trabalhar a escolha “possível” naquele momento. Nesta etapa foram usadas as seguintes
dinâmicas: Trecho do filme Bee Movie; A estrada (http://www.artigonal.com); Loja de trocas
Profissionais (Soares, 2010); Técnica Visão do Futuro (Lucchiari, 1993).
3
Serviço de Orientação Profissional para alunos do Ensino Médio é um projeto de extensão cadastrado no Programa
de Bolsas de Extensão da UFG, com uma aluna bolsista e cinco voluntárias.
E para finalizar o processo trabalharam-se questões relacionadas à ansiedade diante do
exame, o medo de decepcionar a certeza depositada pela família, reflexões sobre a realidade do
processo seletivo, exercícios de relaxamento, despedida e avaliação do processo. Nesta etapa
foram usadas as seguintes dinâmicas: Técnica do cartaz: expectativas (adaptada) – (Lucchiari,
1993); Técnica de Relaxamento; Técnica da Carta de Despedida (Lucchiari, 1993).
O encerramento do trabalho deu-se através de entrevistas devolutivas com cada
participante, de forma individual, na Clínica Escola- SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) da UFG-
Campus Jataí.
Cada encontro foi planejado antecipadamente a partir da leitura pela supervisora dos
relatórios dos encontros, para que assim os encontros pudessem ser organizados de modo a
construir situações que favorecem o processo de escolha profissional.
Ao final de cada encontro pedia-se para os jovens dizer em uma palavra a sua percepção
sobre o trabalho, o que possibilitou uma avaliação contínua e também através da carta de
despedida cada jovem pode avaliar todo o processo, o que possibilitou a apresentação dos
resultados.
“minha mãe queria que eu fizesse uma coisa...a minha mãe ela me influenciava muito né...pensei tipo... ah
vai escolhe a sua o que você quer aí” (masculino, 17 anos).
E para encerrar o terceiro momento do projeto teve-se como objetivo promover reflexões
sobre o que é vestibular; trabalhar exercícios de relaxamento; dicas para o dia da prova e
finalização do projeto. Este momento deu continuidade ao momento anterior, pois as dúvidas,
medos e angustias foram se intensificando assim que eles tiveram que escolher e realizarem as
inscrições. Por mais que já tinham feito as escolhas e alguns não estavam se sentindo seguros,
percebeu-se que eles estavam conscientes das escolhas e não as fizeram aleatoriamente, foram
escolhas baseadas nos interesses, preferências e nos projetos de vida de cada orientando.
Diante da angústia e ansiedade frente ao vestibular e ao ENEM, trabalhou-se uma técnica
de relaxamento, expectativas em relação aos vestibulares e possíveis resultados desta prova,
considerando a possibilidade de aprovação ou não. Assim, foram construídas estratégias que eles
poderiam utilizar, caso não fossem aprovados.
Após refletirem sobre si mesmos, sobre gostos, preferências, habilidades, interesses e
também descobrirem um pouco mais sobre profissões, mercado de trabalho e o que gostariam de
fazer no futuro, os participantes foram se decidindo e fazendo suas escolhas. Alguns ainda
estavam em dúvidas entre uma ou mais profissões, ou se permaneciam em sua cidade de origem
ou mudavam de cidade, mas foi possível perceber que todos já estavam mais confiantes e seguros
diante das escolhas. A seguir um trecho da entrevista devolutiva de uma jovem participante:
“Daqui alguns anos estar formada e trabalhando no que eu escolher agora né... no que eu gosto realmente,
não penso assim nossa eu vou ser rica quero ter um... não eu quero mais estar no que eu quero no que eu
gosto mesmo, pra acordar e falar nossa hoje eu vou trabalhar que bom”. (Feminino, 17 anos)
Alguns esperavam um pouco mais de segurança, tranquilidade, que as dúvidas fossem
sanadas e que se conhecessem um pouco melhor e segundo eles todas essas expectativas foram
atendidas e eles se sentiram seguros e tranquilos para fazerem a escolha profissional.
Porém, houve também aqueles que esperavam que as orientadoras fossem dizer ao final
qual era o caminho profissional que eles deveriam seguir e isso, foi ao longo do tempo sendo
desconstruído à medida que percebiam que a responsabilidade era de cada um e que o papel da
orientadora era auxiliar para que esse processo de escolha fosse saudável (Furtado e Barbosa,
2011).
Através do movimento contínuo do olhar de dentro para fora (quem fui e quem sou) e de
fora para dentro (quem quero ser) atribuídos às escolhas e também das informações transmitidas,
chegou-se ao término do processo, possibilitando aos orientandos fazer uma escolha consciente e
madura (Selig & Valore, 2008).
O projeto foi de suma importância para os jovens, pois encontraram um espaço de escuta
que proporcionou reflexões sobre medos e ansiedades frente às mudanças futuras e o
autoconhecimento, possibilitando a reflexão sobre projetos de vida e identidade profissional.
CONCLUSÕES
O acompanhamento psicológico ofereceu um espaço de acolhimento, podendo o jovem
trazer à tona, ou nos momentos em grupo ou individualmente, os sentimentos mais angustiantes
nesse momento de tensão, que é o processo de escolha profissional.
Através da mediação da orientadora do grupo e da troca de experiências entre os
participantes, os jovens sentiram-se mais preparados para enfrentar medos e ansiedades. Cabe
destacar a importância do trabalho em grupo, pois por várias vezes os jovens se identificaram com
o outro e também ofereceram ideias e soluções para os problemas dos colegas.
Os projetos de extensão promovem um compromisso com a comunidade local, dando
oportunidade para a comunidade participar da Universidade e vice-versa; melhorando a qualidade
de vida da sociedade; transmitindo informações e esclarecendo dúvidas. Especificamente, este
projeto contribuiu com o processo de escolha profissional dos jovens e também permitiu com que
a estagiária entrasse em contato com a prática do profissional psicólogo.
REFERÊNCIAS
Andrade, J. M. de., Meira, G. R. de J. M., Vasconcelos, Z. B. de. (2002). O processo de
orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios. Psicol. cienc. prof. [online],
22(3),46-53.
Bock, S. D. (2006). Orientação Profissional: a abordagem sócio-histórica. São Paulo: Cortez.
Bohoslavsky, R. (1993). Orientação vocacional: a estratégia clínica. 9 ed. São Paulo: Martins Fontes.
Furtado, A. V., & Barbosa, A. J. G. (2011). Orientação Profissional em um Centro de
Psicologia Aplicada: Análise de uma Prática. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 12(1), 97-
106.
Krawulshi, E. (1998). A orientação profissional e o significado do trabalho. Revista da ABOP,
2(1), 5-19.
Levenfus, R. S., Soares, D. H. P., e colaboradores. (2010). Orientação vocacional
ocupacional. 2 ed. Porto Alegre: Artmed.
Lucchiari, D. H. P. S. (1993). Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo:
Summus.
Mandelli, M. T., Soares, D. H. P., Lisboa, M. D. (2011). Juventude e projeto de vida: novas
perspectivas em orientação profissional. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 63 (edição especial), 1-
104.
Neiva, K. M. C. A maturidade para a escolha profissional: uma comparação entre alunos do
ensino médio. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 4(1-2).
Noronha, A. P. P., Ambiel, R. A. M. (2006, jan/jun). Orientação profissional e vocacional:
análise da produção científica. Psico-USF, 11(1), 75-84.
Scorsolini-Comin, F., Nedel, A. Z., Santos, M. A. de. (2011). Temos nosso próprio tempo:
grupo de orientação das escolhas profissionais com alunos do ensino médio.Vínculo, 8(1).
Selig, G. A., Valore, L. A. (2008). Orientabilidade ao longo de um processo grupal com
adolescentes: relato de uma experiência. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 9(2),127-
140.
Silva, L. L. M., & Jacquemin, A. (2001). Intervenção em orientação vocacional/profissional:
avaliando processos e resultados. São Paulo: Vetor Editora.
POC5 - PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES DO CURSO TÉCNICO EM ALIMENTOS INTEGRADO AO
ENSINO MÉDIO DO IFB QUANTO AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS EM SUA ESCOLHA PROFISSIONAL.
Fernandes Cruvinel, Ê. 1;
1 - Instituto Federal de Brasília;
RESUMO
1. JUSTIFICATIVA
1.1 A Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio
O Parecer CNE/CEB No 39/2004, que define a aplicação do Decreto No 5.154/2004,
determina que o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional será oferecido somente a
quem já tenha concluído o Ensino Fundamental e determina que os cursos deverão ser
planejados de modo a assegurar, simultaneamente e na mesma instituição de ensino, o
cumprimento das finalidades estabelecidas para a formação geral e as condições de preparação
para o exercício de profissões técnicas. De acordo com o Parecer, as concepções do Ensino
Médio Integrado à Educação Profissional são: Formação humana integral; Trabalho, Ciência,
tecnologia e cultura como categorias indissociáveis da formação humana; O trabalho como
princípio educativo; A pesquisa/produção do conhecimento como princípio educativo; A
relação parte-totalidade na proposta curricular.
Entre as razões apresentadas pelo Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, a
opção de oferta de cursos técnicos na modalidade integrado dá-se, principalmente, pelo fato
de ser a que apresenta melhores resultados pedagógicos. Assim, o PDE propõe sua
consolidação jurídica na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996), com o acréscimo de uma seção especificamente dedicada à articulação
entre a educação profissional e o ensino médio, denominada “Da Educação Profissional Técnica
de Nível Médio”, e pelo financiamento para a melhoria da qualidade do ensino médio
integrado e ampliação de sua oferta nos sistemas de ensino estaduais por meio do Programa
Brasil Profissionalizado, instituído pelo Decreto no. 6.302, de 12 de dezembro de 2007. O
Programa considera os arranjos produtivos e das vocações sociais, culturais e econômicas
locais e regionais, por meio da prestação de assistência financeira para construção,
ampliação, modernização e adequação de espaço físico; construção de laboratórios;
aquisição de acervo bibliográfico; material de consumo e formação de docentes, gestores e
pessoal técnico-administrativo.
Porém, faz-se igualmente necessário o estabelecimento de políticas e ações
educacionais com foco no indivíduo que busca a formação técnica integrada ao ensino médio a
fim de que se tenha realmente uma formação humana integral e isto passa pelo conhecimento
das escolhas e expectativas pessoais e profissionais dos estudantes, muitas vezes adolescentes
em tenra idade responsabilizados por suas trajetórias de vida e profissionais. Paralelamente, é
imprescindível que os profissionais envolvidos na formação destes estudantes, quer sejam
docentes que sejam os profissionais da área pedagógica, estejam todos alinhados a tais
necessidades.
1.2 O Curso Técnico em Alimentos Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal de
Brasília
O Curso Técnico em Alimentos Integrado ao Ensino Médio do IFB-Campus Gama visa
formar profissionais para atuar em empresas transformadoras de matéria-prima alimentícia (de
origem vegetal e animal), exercendo atividades de planejamento, execução e condução de
projetos. O estudante ingressa no curso por meio de sorteio e tem que cumprir uma carga
horária de 3.427 horas para a sua formação técnica integrada ao ensino médio. No Instituto
Federal de Brasília é condição para a inscrição dos candidatos a participação em palestras
orientadoras sobre os cursos disponíveis. Este é um mecanismo de informação sobre a
estrutura dos cursos, o perfil do egresso e o mercado de trabalho. O profissional egresso do
curso de alimentos deverá ser capaz de: 1. Realizar atividades de investigação e de resolução de
problemas; 2. Desempenhar atividades de gerenciamento e trabalho em grupo; 3. Ler,
compreender e produzir textos técnicos e de assuntos gerais; 4. Comunicar-se verbalmente e
transmitir informações; 5. Apresentar comportamento ético e coerente; 6. Desenvolver
atividades empreendedoras e de trabalho cooperativo.
Considerando-se que todos os estudantes do Curso Técnico em Alimentos Integrado ao
Ensino Médio são egressos do Ensino Fundamental e que possuem idade entre 14 e 17 anos e
que estes estudantes, ao ingressarem no Ensino Técnico, assumiram responsabilidades por sua
formação profissional, buscou-se conhecer as motivações e influencias sofridas por estes
adolescentes na escolha profissional com foco no estabelecimento de ações de orientação
profissional e de carreira.
1.2 Adolescência e escolha profissional no Ensino Técnico Integrado ao Médio
A grande maioria dos estudantes de Cursos Integrados em todo o Brasil está na faixa
etária que caracteriza a adolescência tanto para a Organização Mundial de Saúde-OMS (dos 10
aos 20 anos) quanto para o Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (dos 12 aos 18 anos).
A adolescência é um momento da vida definido por múltiplos aspectos: biológico
(maturação orgânica com mudanças no corpo); psicológico (busca pela identidade, incertezas e
angústias); sociocultural (ampliação do campo de relacionamentos e interesses para além do
núcleo familiar); histórico (passagem para a vida produtiva - o termo adolescência passou a ser
usado apenas entre os séculos XVII e XIX, até então não havia separação clara entre vida e
trabalho e a transição entre as brincadeiras e o ofício ocorria de modo quase natural).
A adolescência é caracterizada como um período de crise, transição, adaptação e
ajustamento. São mudanças que ocorrem na passagem da infância à vida adulta. Para muitos, a
adolescência é um período de crise que tem relação com a rejeição da autoridade parental, os
conflitos de gerações e a crítica dos valores e modos de vida da família. Nesta fase sua relação
com o mundo é marcada por insegurança e medos. É um momento crítico de mudanças na vida
dos indivíduos. A vida futura destes adolescentes dependerá de como eles enfrentam e elaboram
tais mudanças, neste contexto a família e a escola exercem papel de grande importância.
É neste momento da vida que muitos adolescentes enfrentam a necessidade de tomar
decisões com relação às suas escolhas profissionais. A escolha profissional não é uma escolha
isolada, mas fruto de uma série de decisões tomadas ao longo da vida. Escolher uma profissão
não é somente decidir o que fazer, mas principalmente decidir quem ser (FILOMENO, 2005).
Vale ressaltar que neste trabalho adotou-se o conceito de SILVA (2004) para escolha
profissional onde: “a escolha profissional é entendida como a afirmação de uma identidade
profissional a partir do desdobramento da própria identidade pessoal do sujeito, que se constitui
num movimento dialético com seu mundo, transformando-o e sendo transformado. As realidades
subjetiva e objetiva implicam-se”.
Levenfus (1997) defende que no momento da escolha profissional emergem lutos que o
jovem precisa elaborar a partir de uma integração dos três tempos: passado, presente e futuro.
Escolher o que ser no futuro implica reconhecer o que foi na infância, as influências sofridas e os
fatores mais marcantes. A percepção desta dimensão se dá quando o jovem reconhece quem foi
e quem é, para poder projetar, num tempo futuro, quem será. No que se refere aos lutos que os
adolescentes deverão elaborar, o autor cita: luto pelas perdas profissionais fantasiadas; luto
pela perda dos pais da infância; luto pelo corpo adolescente; luto pelas identificações
profissionais que abandona; luto pelo papel e pela identidade adolescente. Aliado a isto, ainda há
de se considerar que a escolha implicará no enfrentamento do medo de errar, de fracassar, de
assumir as mudanças e de frustrar as expectativas dos pais.
De acordo com Filomeno (2005), a faixa etária dos estudantes analisados nesta pesquisa
(14 a 17 anos) corresponde a segunda etapa do processo de escolha profissional, a qual a autora
chama de escolhas-tentativas. Para a autora este período vai dos 10-11 anos aos 17 e divide-se
em três estágios: a) interesse – nesta fase a escolha do adolescente baseia-se quase que
exclusivamente no que ele gosta e se interessa; b) capacidades – estágio em que o adolescente
introduz a noção de habilidades nas considerações vocacionais; c) valores – ocorre quando o
adolescente incorpora a ideia do serviço à sociedade e desenvolve a perspectiva temporal que
lhe permite antecipar o futuro (dificuldades e satisfações inerentes ao exercício de cada
ocupação).
Neste contexto, defendemos que nenhuma instituição de ensino, pública ou privada, pode
negligenciar as questões levantadas anteriormente a título de serem corresponsáveis pela
construção de projetos de vida e profissionais de adolescentes, muitos deles oriundos de famílias
desorganizadas e de condições de exclusão social o que amplia ainda mais na responsabilidade
destas instituições de ensino.
1.3 O papel da família e de terceiros na escolha profissional de adolescentes
A criança quando nasce é lançada em um meio familiar, no qual se identifica, se estrutura,
se constitui e se constrói como indivíduo. É no ambiente familiar que a criança vai se formando, a
partir das ideologias, dos conceitos, dos valores que a família transmite a seus integrantes de
geração para geração. Isto inclui as concepções de trabalho, de estudo, de profissões. Se por um
lado os pais constroem projetos para o futuro de seus filhos, por outro o jovem inserido em uma
família escolhe uma profissão muitas vezes sem perceber as influências recebidas no meio
familiar. A estrutura familiar cria impedimentos à livre escolha, quer de forma explícita quer de
forma sutil.
Vínculos positivos com pessoas (pais, parentes e professores, por exemplo) que
desempenham determinados papéis profissionais podem levar o adolescente a escolher uma
profissão por identificação a este profissional muito mais do que por identificação à profissão em
si. Enquanto vínculos negativos podem exercer efeito contrário. O sucesso, o fracasso, as
facilidades, as dificuldades, a satisfação ou insatisfação da profissão dos adultos que convivem
com os jovens contribuem para que este jovem construa uma imagem de determinada profissão.
Mas durante o seu desenvolvimento outros fatores, para além dos familiares, também
exercem influencia. Durante a adolescência, o grupo de pares de idade e as novas mídias e outras
tecnologias de comunicação passam a ter grande importância em diferentes dimensões da vida,
incluindo a profissional.
O desconhecimento da realidade profissional, do significado do trabalho, do mercado e,
ainda de si mesmos enquanto sujeitos evidenciam um processo de alienação, que se dá em
íntima relação com o contexto sociohistórico. É neste contexto que impera o poder de
manipulação da mídia, gerando necessidades, forjando realidades, ditando valores e maneiras de
ser. O acesso aos meios de comunicação (principalmente a TV e a internet) cresceu tanto e com
tanta força que, pode-se dizer, divide espaço com a família e a escola na formação dos sujeitos.
2. OBJETIVOS
Os objetivos deste estudo foram: 1. Verificar as percepções dos adolescentes quanto a sua
escolha pelo o ingresso no Curso Técnico Integrado ao Médio em Alimentos; 2. Nortear ações de
orientação profissional e de carreira dirigidas aos estudantes do Curso Técnico em Alimentos
Integrado ao Médio.
3. MÉTODO
Para o desenvolvimento da pesquisa foram aplicados e respondidos 42 questionários,
sendo 25 questionários por meninas e 17 por meninos, com idades variando entre 14 a 17 anos,
todos cursando o primeiro ano do Curso Técnico Integrado ao Ensino Médio no Campus
Gama do Instituto Federal de Brasília. Para a construção do questionário utilizou-se como base
o trabalho de Santos (2005). A partir da Epistemologia Qualitativa proposta por González-Rey,
este autor analisou e discurso de adolescentes e definiu indicadores e zonas de sentido para
questões relacionadas à escolha profissional. O questionário diagnóstico constou de 14 questões
abertas relacionadas à influência da família e de terceiros na escolha pelo curso de alimentos, e
os sentimentos gerados por tais influências. Além disso, foi realizada uma associação livre de
palavras utilizando a expressão geradora “curso técnico em alimentos”. A partir da expressão
geradora os estudantes foram estimulados a registrar as três primeiras palavras que lhes vinham à
mente. Posteriormente as palavras registradas pelos estudantes foram analisadas e categorizadas.
4. PRINCIPAIS RESULTADOS
De modo geral os estudantes relataram que não houve influência dos meios de
comunicação sobre sua escolha. Um estudante relatou sobre a influência dos meios de
comunicação que: "quando vejo pessoas bem de vida penso em estudar para ter um bom futuro".
Dos 42 estudantes respondentes, oito disseram que buscaram na internet informações sobre o
IFB ou sobre o curso de alimentos e apenas um estudante relatou que a influência dos meios de
comunicação se deu “em todos os momentos”.
Quadro 1. Síntese das opiniões dos estudantes do primeiro ano do Curso Técnico
Integrado ao Ensino Médio do IFB- Campus Gama sobre: 1. Escolha pelo Ensino Técnico; 2.
Influência da família na escolha pelo curso; 3. Sentimentos gerados pela influência da família na
escolha.
c) Dúvidas
“minha mãe me falou que seria difícil”
“no momento que tinha que fazer a matrícula, se era a coisa certa a fazer sobre o meu futuro”
“quando vi que as aulas eram muito pesadas”
“Meus colegas pedindo para eu ir para a mesa escola que eles”
“se realmente eu iria gostar do curso, se iria me dar bem, porque o curso não é nada que eu
pretendia fazer no futuro”
“se adaptar as pessoas ou “abandonar” amigos da escola”
d) Sentimento de dependência
“quando a minha mão parou de fazer a minha marmita”
“..dependo dela (mãe) para fazer a minha marmita maravilhosa” “me sinto dependente em
quase todos os momentos”
“eu sempre serei dependente de algo ou alguém, então já estou acostumado” “toda hora. Toda
hora mesmo! Sério!”
“não sabia o que fazer com relação ao transporte de casa para o Campus” “no caso que os
meus pais teriam que trazer lanche”
“quando reparei que para tudo eu pedia ajuda da minha mãe” “na organização dos
documentos”
“meu pai chegou em mim e disse que eu era dependente”
“o fato de precisar de uma boa educação para um futuro melhor”
Das 118 palavras associadas livremente à expressão geradora Curso Técnico em Alimentos,
28,8% foi categorizado como dificuldades, 19,5% como estudos e 16,1% alimentação. As demais
palavras (28,8%) foram categorizadas com outros (com destaque para as palavras dinheiro e
oportunidade que ocorreram três vezes cada uma).
5. CONCLUSÃO
Nas sociedades contemporâneas, cada vez mais os jovens são responsabilizados por suas
trajetórias profissionais. No que se refere às escolhas profissionais e a construção de uma
carreia, é importante considerar, especialmente quando se trata de Formação Técnica Integrada
ao Ensino Médio, que a maioria dos adolescentes nem sempre adotam uma atitude reflexiva
acerca dos seus projetos futuros e suas ações são baseadas em aspirações extremamente gerais e
sob influências externas (muitas vezes contraditórias) e não em projetos verdadeiramente
personalizados.
Com a modernidade, aumentaram as exigências e a preparação para a entrada no mundo
profissional e a escola passou a representar o espaço incumbido dessa preparação, assim como o
lugar do “tempo de espera” pela oportunidade de acesso ao trabalho formal. Neste contexto, a
escola deve empreender estratégias educacionais que visem uma melhor preparação para os
momentos de transição: para o ensino médio, para o mundo do trabalho e para a vida adulta.
Neste sentido, a escola pode e deve se configurar em espaço de apoio ao desenvolvimento
vocacional e a orientação profissional e de carreira.
Para o jovem egresso do Ensino Técnico Integrado ao Médio o sucesso de sua escolha
não deve ser entendido apenas como a obtenção de um diploma ou uma boa formação
profissional, mas também o não desenvolvimento de angústias e sofrimentos relacionados à
profissionalização, e a clareza de que uma escolha não é para sempre, ela é a melhor escolha
para determinado momento. É com foco nestas questões que os resultados deste estudo
diagnóstico serão retornados à população investigada através de ações de orientação profissional
e de carreira.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FILOMENO, Karina. Escolha Profissional: uma visão sistêmica. Ed. Vetor. São Paulo. 135 p.
2005. SANTOS, Larissa Medeiros Marinho dos. O papel da família e dos pares na escolha
profissional.
Psicologia em Estudo. Maringá, v. 10, n. 1, p. 57-66, jan./abr. 2005.
SILVA, Janaila dos Santos. A Influência dos Meios de Comunicação Social na Problemática
da Escolha Profissional: o que isso Suscita à Psicologia no Campo da Orientação
Vocacional/Profissional?. Psicologia, Ciência e Profissão. 24 (4), p. 60-67. 2004.
POC6 - PROJETO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS EM SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL EM UMA CIDADE DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR.
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade abordar a primeira escolha profissional através de uma
experiência do projeto de orientação profissional realizado com jovens do nono ano do ensino
fundamental de oito escolas públicas em situação de vulnerabilidade social, em uma cidade da
região metropolitana de Salvador - BA. Auxiliar jovens em situação de vulnerabilidade na condução
de um projeto de vida, trabalhando seus reais interesses, habilidades e competências. Conduzir
reflexões sobre a escolha profissional relacionando-a com a história de vida, como um processo de
desenvolvimento pessoal, destacando as possibilidades oferecidas para a inclusão no mercado de
trabalho. Oportunizar o conhecimento em diversos cursos e campos de atuação, como também
indicar caminhos a serem percorridos para alcançar a profissão escolhida. Este trabalho foi
realizado com 770 jovens, divididos em 39 grupos compostos por 20 participantes. Cada grupo
participou de 06 encontros com 02horas de duração. Foram realizados 09 encontros semanais em
locais pré-estabelecidos nas comunidades. Nos encontros foram utilizados testes psicológicos
como R-1 forma B, caixa das profissões, instrumentos de avaliação de autoconhecimento e de
interesses, além de dinâmicas, músicas e discussões temáticas. Finalizado o processo de
orientação profissional, participaram das atividades 838 alunos de oito escolas municipais, sendo
que 770 concluíram o processo, 421 alunos do sexo feminino e 349 do sexo masculino com idades
entre 12 a 23 anos. Apresentaram afinidades para a área de Humanas 228 alunos, Biologia e Saúde
169, Artes 155, Engenharia e Tecnologia 158 e 60 alunos para área de Exatas. Demonstraram
afinidades para a carreira militar 112 alunos. O resultado do teste cognitivo (R-1 forma B), 175
alunos alcançaram o nível superior, 132 predominância do F1, 196 predominância F2, 235 nível
médio e 32 nível inferior. Desta forma acreditamos que a relevância deste projeto foi levar essa
população de jovens, que vive uma situação desigual, a acreditar que tem potencial e capacidade
de mudar sua realidade e seu contexto atual, através do investimento no conhecimento, na
profissão e num trabalho honesto e digno.
OBJETIVO GERAL
Oferecer Orientação Profissional a jovens em situação de risco e vulnerabilidade social em
escolas de uma cidade da região metropolitana de Salvador.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Auxiliar jovens em situação de vulnerabilidade na condução de um projeto de vida,
trabalhando seus reais interesses, habilidades e competências.
Conduzir reflexões a cerca da escolha profissional relacionando-a com a história de vida,
como um processo de desenvolvimento pessoal, destacando as possibilidades oferecidas para a
inclusão no mercado de trabalho.
Oportunizar o conhecimento em diversos cursos e campos de atuação, como também
indicar caminhos a serem percorridos para alcançar a profissão escolhida.
JUSTIFICATIVA
O ser humano, desde a infância, passa a conhecer a importância e o valor que o trabalho
tem para sua vida, sendo a identidade profissional parte fundamental da identidade pessoal. Ter
um emprego valorizado pela sociedade, ter sucesso e prestígio nele, aumenta a autoestima e
facilita o desenvolvimento de um senso de identidade mais seguro e estável.
Preparar o estudante para o mercado de trabalho, através do ensino médio e cursos
complementares, não significa que se está oferecendo tudo que ele necessita para que tenha boa
condição e uma escolha adequada de profissão. Entretanto, antes de fazer essa escolha, é
necessário que tenha claro seus interesses reais, habilidades e competências e amplie sua visão
sobre as possibilidades oferecidas pelo mercado, conhecendo os cursos e os campos de atuação e
percebendo quais são os caminhos que terá de percorrer para alcançar sua profissão. Uma vez
que, é no final do ensino médio que os adolescentes são pressionados pela sociedade a tomar uma
decisão pessoal e viabilizar essa escolha.
Tratando-se de um contexto de vulnerabilidade social, do trabalho em questão, torna-se
urgente a necessidade de oferecer a estes jovens a oportunidade de reflexão sobre a relevância do
trabalho, em detrimento da oportunidade oferecida pela marginalidade e o tráfico de drogas.
O processo de Orientação Profissional (OP) interessa a âmbitos distintos, como, por
exemplo, à educação em todos os seus níveis, proporcionando informações sobre a realidade do
mercado de trabalho e as necessidades do país. Dessa forma, pode-se dizer que a OP acompanha o
processo educativo, cooperando com ele e não apenas suprindo suas possíveis carências. A OP
cumpre sua função de extrema importância quando leva o sujeito a refletir sobre si mesmo,
analisando suas características, explorando sua personalidade e aprendendo a escolher e abordar
situações conflitivas. Além disso, um processo de OP coloca à descoberto possíveis problemáticas
do sujeito, bem como disposições psicopatológicas, pois condensa toda a história prévia dessa
pessoa e, ao mesmo tempo, antecipa seu futuro (MÜLLER, 1988).
Segundo Soares (2005), o futuro para muitos é sinal de esperança, de mudança, de novas
perspectivas, de vitórias e realizações, mas quando não se tem certeza alguma, não se tem
qualquer suporte para seguir em frente.
Assim sendo, com o intuito de auxiliar jovens, estudantes do nono ano do ensino
fundamental de escolas públicas, este trabalho foi realizado em oito escolas, em uma cidade da
região metropolitana de Salvador, num projeto do Ministério da Justiça, na Formação da Rede de
Proteção Social e Prevenção à Violência, nos bairros com altos índices de vulnerabilidade.
PROCEDIMENTOS
Este trabalho foi realizado com 770 jovens, divididos em 39 grupos compostos por 20
participantes. Cada grupo participou de 06 encontros com 02horas de duração. Foram realizados
09 encontros semanais em locais pré-estabelecidos nas comunidades.
A trajetória dos encontros promoveu o debate através de informações sobre pesquisas e
grupos de profissões, versando sobre temas como habilidades, valores, tendências do mercado de
trabalho, decisão e risco, interesses, fatores que influenciam a escolha e visão global do
profissional do futuro.
Nos encontros foram utilizados testes psicológicos como R-1 forma B, caixa das profissões,
instrumentos de avaliação de autoconhecimento e de interesses, além de dinâmicas, músicas e
discussões temáticas.
Após o término de cada encontro, realizou-se com o grupo uma avaliação geral do que foi
discutido e trabalhado. Ao final do projeto, os alunos fizeram avaliações verbais, referentes ao
trabalho realizado, avaliando e levantando críticas e sugestões alusivas às mudanças, efeitos
percebidos e benefícios do projeto.
RESULTADOS
Finalizado o processo de orientação profissional, participaram das atividades 838 alunos de
Escolas municipais, sendo que 770 concluíram o processo.
Seguem, gráficos autoexplicativos com número total de alunos; escolas atendidas; alunos
classificados por gênero, idade, áreas de afinidade, carreira militar e resultado do teste cognitivo.
120 112111
104
99
100
84 83 83
76 73 71
80 71 72
68 65 67
60 PARTICIPANTES
38 CONCLUÍDOS
40
20
0
Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola
1 2 3 4 5 6 7 8
REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. M. de, MEIRA, G. R. de J. M. e VASCONCELOS, Z. B. de. O processo de
orientação vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios. Psicol. cienc. prof. [online]. set.
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Acesso 13 Julho 2014.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação Profissional: A Estratégia Clínica. São Paulo: Martins Fontes,
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33902006000100007&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 13 Jul. 2014.
MACEDO, R. B. M. Seu Diploma, sua Prancha: Como escolher a Profissão e surfar no
Mercado de Trabalho. São Paulo: Saraiva, 1999.
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SARRIERA, J.; CÂMARA, S. G. e BERLIM, C. S. Elaboração, desenvolvimento e avaliação de
um Programa de Inserção Ocupacional para Jovens Desempregados. Psicol. Reflex. Crit., Porto
Alegre, v. 13, n. 1,2000. Available from
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SOARES, D. H. P. et al. Orientação profissional: Uma experiência com adolescentes
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técnica, V2. São Paulo, Vetor, 2005.
POC7 - PROJETO REALISE: UMA EXPERIÊNCIA DE ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA COM
ADOLESCENTES EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL.
RESUMO
Partindo da premissa de adolescência como uma fase marcada pela “confusão de papéis”, com
“dificuldades para estabelecer uma identidade própria”, o processo de orientação no momento da
escolha profissional se faz necessário. Ainda hoje, por ser um trabalho predominantemente clínico
e muitos não terem condições financeiras para pagar por esses serviços, poucos são os
adolescentes que podem experimentá-los. Então, com o objetivo de orientar o processo de
escolha profissional de adolescentes do ensino público escolar de Campos dos Goytacazes (RJ) foi
criado o Projeto REALISE, realizado pelos alunos do 4° período do curso de Psicologia do ISECENSA.
Com ele, pretendíamos informar sobre as profissões mais presentes na região, bem como
mercado de trabalho, remuneração, possibilidades de especialização e locais com disponibilidade
de cursos nas devidas áreas. Tal projeto foi idealizado pela nossa preocupação com a falta de
atuação de Orientadores Profissionais no segmento público escolar da região. O REALISE consistiu
em três encontros de três horas, sendo os dois primeiros com a realização de dinâmicas, aplicação
de testes, palestras e amostras de profissões, e o terceiro com a devolutiva para os orientandos e
seus responsáveis. No presente trabalho, correlacionaremos as experiências do projeto REALISE
com a importância que essa vivência no contexto escolar pode ter para os adolescentes, visto que
pela fase em que vivem, muitos são os conflitos, ansiedades e questões que atravessam o
processo de escolha, dificultando-o e trazendo insegurança no momento da decisão. Cada
adolescente, com toda a sua subjetividade e construção social, traz seus sonhos, objetivos e
metas. Todos necessitam de formação, informação e escuta, pois a maioria deles não encontra
essa oportunidade na família ou na sociedade. Mas cada um é único em sua forma de ser, pensar,
agir e ver o mundo. E com isso, cada história muda a nossa forma de fazer Psicologia em
Orientação Profissional.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho descreve uma intervenção em Orientação Profissional realizada com
adolescentes do 3° ano do ensino médio de uma escola pública em Campos dos Goytacazes – RJ,
entre os meses de abril a junho de 2014, denominado Projeto REALISE e demonstra como a
Orientação Profissional no contexto escolar facilita o processo de escolha dos adolescentes.
G. Stanley Hall compreende a adolescência como um “novo nascimento, uma vez que os
traços humanos mais elevados e completos têm nela sua origem”, dizendo que “é a fase em que
os piores e os melhores impulsos da alma humana lutam entre si para ganhar terreno”.
Da mesma forma, nos seus estágios de desenvolvimento, Erik Erikson descreve o estágio da
adolescência como “identidade versus confusão de identidade” por ser uma etapa em que
buscamos adquirir uma noção mais coerente do que somos. É a época em que surgem as dúvidas
como “Quem sou eu?” ou “O que vou ser quando crescer?”.
Carlos Drummond de Andrade eternizou essa emersão de conflitos com o poema “Verbo
ser”, que diz:
"Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só
principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe
tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Ser. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá
para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser Esquecer."
As dificuldades dessa fase podem gerar uma crise de identidade, e tal crise reflete
diretamente no processo da primeira escolha profissional. Segundo Bohoslavsky (pág 83, 2007),
independente da abordagem teórica, o objetivo do processo de orientação profissional é auxiliar
os orientandos na compreensão dos conflitos surgidos pela fase da escolha profissional. A escolha
do futuro, como qualquer situação que envolva mudança, implica no aumento de conflitos.
Adolescência: Conflitos e atravessamentos no processo da primeira escolha:
“A adolescência, quando mais comumente ocorre a escolha profissional, é um momento de transição no qual
se efetua uma reorganização da identidade, e a passagem do mundo da infância ao mundo adulto.”; “Esse
tempo de transformação, acompanhado de dúvidas e angústia, é também aquele em que – em nosso país, no
contexto do vestibular ao ingresso na universidade – o adolescente busca saídas que lhe permitam conquistar
como adulto um lugar próprio.” (Soares, Aguiar e Guimarães, pág 135, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Projeto REALISE, pudemos perceber o quanto o processo de orientação foi importante
para os orientandos. Vê-los entendendo mais das profissões, buscando informações, se
identificando com os resultados, enfim, se entregando ao projeto, foi uma experiência muito rica
para nós, estudantes de Psicologia e, na situação, orientadores treinees. Ainda não temos os
resultados, visto que a maioria deles ainda não se decidiu, mas tem sido muito compensador ver
que conseguimos auxiliar de alguma forma àqueles adolescentes, que apesar do momento
conflituoso, situação de angústia com a chegada do momento da primeira escolha profissional,
tensão com o vestibular e ansiedade para as mudanças, demonstraram tanto interesse e confiança
pela causa da Orientação Profissional.
É importante salientar que no contexto público escolar da cidade, projetos como o REALISE
não são comuns. Por esse motivo, conseguimos perceber o quanto a inserção da Orientação
Profissional no contexto escolar seria rica, considerando que há uma grande demanda com
adolescentes carentes de uma escuta e, ao mesmo tempo, sem esse tipo de recursos no meio
escolar.
Concluímos que além da experiência de orientação com adolescentes, o REALISE nos trouxe
uma ampliação na visão da subjetividade dos sujeitos, que no caso, eram os adolescentes. Embora
todos estejam passando pelo mesmo momento, o da primeira escolha profissional, tenham a
mesma média de idade e frequentem a mesma escola, as demandas e carências eram as mais
diversas e, principalmente, as histórias diferiam por carregarem um caráter individual. Cada
adolescente é composto de sonhos, desejos e metas. Todos necessitam de formação, informação
e escuta, pois a maioria deles não encontra essa oportunidade na família ou na sociedade. Mas
cada um é único em sua subjetividade. E com isso, cada história muda a nossa forma de fazer
Psicologia em Orientação Profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BIANCHETTI, L.: Angústia no vestibular: indicações para os pais e professores. Passo Fundo
– Ediupf, 1996.
BOLOSLAVSKY, R.: Orientação Vocacional – A estratégia clínica. São Paulo – Martins Fontes,
2007.
ERIKSON, E.: O livro da Psicologia. Tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São
Paulo – Globo, 2012.
HALL, G. S.: O livro da Psicologia. Tradução Clara M. Hermeto e Ana Luisa Martins. São
Paulo – Globo, 2012.
LUCCHIARI, D. H. P. S.: Pensando e vivendo a orientação profissional. / Dulce Helena Penna
Soares Lucchiari, Marilú Diez Lisboa, Kleber Prado Filho; São Paulo – Summus, 1993. PRADO FILHO,
K.: Escolha profissional e atualidade do mercado de trabalho.
ROSSI, S. M. M.: Escolha Profissional: A questão do ser é estar na família. (Arq. Ciênc. Saúde
Unipar, 3(2), p. 179-185, maio/ago. 1999).
SOARES, D. H. P., AGUIAR, F. e GUIMARÃES, B. F.: O conceito de identificação no processo
de escolha profissional. Aletheia 32, p. 134-146, maio/ago. 2010).
PÔSTER COM COLÓQUIO
ORIENTAÇÃO PARA APOSENTADORIA
POC8 - A TRAVESSIA: O TEATRO SENSIBILIZA PARA A TOMADA DE DECISÃO NA
APOSENTADORIA.
RESUMO
Guimarães Rosa, descrevendo os sertões das travessias humanas, diz: “A coisa não está na
partida, nem na chegada, mas na travessia”. E aposentar é fazer mais uma travessia em nossa
vida!
Relataremos neste paper a experiência compartilhada durante a apresentação da peça A
TRAVESSIA, na sensibilização para a tomada de decisão na aposentadoria. A partir dos recortes do
texto da peça e da observação dos encontros no Programa de Preparação para a Aposentadoria
com colaboradores da ELETROBRAS ELETRONUCLEAR, refletimos sobre a utilização do teatro como
catalizador no processo de discussão e conscientização sobre a questão da aposentadoria.
Apresentaremos ainda o relato das avaliações, bem como os comentários com a família, feito
durante o dia seguinte, pelos participantes, sobre o impacto desta vivencia em suas reflexões
sobre a tomada de decisão.
A TRAVESSIA, peça escrita e dirigida por Aparecido Massi, e encenada pelo Grupo Lanteri
(LANTERI MARKETING CULTURAL) de Curitiba, inicia mostrando o momento histórico no qual o
homem é o centro do universo, o Renascimento – trazendo novos produtos e a responsabilidade
por suas escolhas. Momento do seu renascimento existencial. Relaciona com a necessidade de
buscar uma nova vida invisível, fazer seu próprio renascimento, este não depende mais da
organização.
“Seja o artesão de sua própria trajetória! Ser o artesão da minha trajetória. Está nas tuas mãos, não existe
idade para sonhar. Chegou o momento do seu renascimento, chegou a aposentadoria, chegou o momento
do seu renascimento invisível, dentro de você... este renascimento não depende mais do chefe, da crise, da
empresa, do ambiente... é uma travessia pela frente, ninguém poderá fazer por você... o leme esta em suas
mãos, seja o artesão de sua própria trajetória.”
Na aposentadoria é o tempo de voltar-se para si mesmo, do reconhecimento de si, de
liberdade, não depender mais da empresa, do chefe, e muitas vezes é parte de um sonho, desde
que se entra no mundo do trabalho. Quem não pensou em se aposentar e poder ser dono do seu
próprio tempo, do seu fazer? E este sonho, tem validade? Quando iniciou? Existe uma idade para
sonhar? Pode se sonhar quando quiser, onde quiser e o importante, é colocar uma dose de paixão.
E poder lembrar os sonhos de criança, que estão dentro da gente, não precisa da empresa, de um
lugar, ele esta dentro de cada um de nós, precisa é ser sonhado e realizado...
O homem acaba transferindo suas responsabilidades para outros membros da família a fim
de se dedicar unicamente ao trabalho. A peça mostra a falta sentida pelos filhos da presença do
pai em casa, e a responsabilidade como a de acompanhar o filho em suas atividades fica em
segundo plano.
BETO - Oh, pai! Você tem que me deixar no treino. Assim vou me atrasar!
PAI - Ô filhão! Peça para sua mãe! Eu tenho uma reunião com um pessoal de fora, logo após o
almoço e não posso me atrasar!
BETO - Oh, pai! Almoce senão vou me atrasar!
PAI - Já estou atrasado! Filho, desculpe, mas peça para sua mãe te levar depois, tá bom?
Amanhã...
BETO- Amanhã... Oh, pai, você quase não vem almoçar em casa e quando vem, só fica ao
telefone?!
PAI - Calma, filho! É meu trabalho, né? Sou responsável por um monte de projetos na empresa,
muitas coisas lá depende de mim e eu não posso falhar. Sabe muito bem que, há dois anos, na
empresa eu sou...
BETO - Já sei, já sei! O Dr. Wilson (...) precisa dar um parecer, o Dr. Wilson (...) precisa decidir... o
Dr. Wilson (...) tem que viajar representando a empresa...
PAI - Não se esqueça que a empresa toma muito de meu tampo, mas me paga por isso. - E tem
mais, vocês só tem essas regalias por causa de meu cargo, de minha função!
BETO - Empresa! Empresa! Para o senhor, a empresa é mais importante que sua família, né?!
PAI - Não vamos discutir sobre isso, né Beto?! Quando você tiver o seu emprego, eu quero ver.
Preciso ir, à noite conversamos.
BETO - Até parece. À noite o senhor está cansado e acaba dormindo no sofá! Só se eu viajar em seu
sono e pegar carona em seus sonhos!
A centralidade do trabalho (ANTUNES, 2005) na vida das pessoas fazem com que as
relações familiares passem para segundo plano, e a empresa configura-se como o lugar principal
na vida do sujeito trabalhador. Este não percebe o afastamento das relações familiares, o
distanciamento de seus filhos e até de seus próprios projetos pessoais. Quais são seus projetos,
seus sonhos mais preciosos, que ainda fazem te brilhar os olhos, e que ainda não os realizou?
Pode se perceber no diálogo entre os filhos, a presença dos desafios que seguem juntos à
aposentadoria, como a questão do envelhecimento:
BETO - Que isso, pai?! Levantando cedo... aparou a barba para quê?! Não se aposentou? Não
precisa mais ir para a empresa.
PAI- É... é a força do hábito!
MICHELE - O quê?! Pra que esse paletó, pai? O senhor vai trabalhar?!
PAI - É... vou lá tomar um cafezinho... conversar com o pessoal. Pensei que estava preparado para
me aposentar.... Beto, ligue para o meu celular?!
BETO- Por que pai?
PAI - Por nada! É que está tão estranho... não recebo mais ligações. Até pensei que estava
estragado!
MICHELE - Ih, pai! Agora o senhor não é mais o Dr. Wilson da empresa X. Agora o senhor volta a
ser o Wilson da “Dona Rosinha”!
O aposentado precisa se desapegar da sua rotina de trabalho. Voltar ao local pode ser uma
forma para elaborar a perda deste vinculo, mas também pode ser devido a não aceitação deste
momento. O pai reflete no seu momento:
PAI - Quando um amigo meu se aposentou, todos os dias, sem faltar um só, ele ía lá na empresa e
lá ficava, sem mesa, sem onde sentar, sem ter o que fazer, ficava olhando, com um ar triste e uma
saudade no olhar. Coitado, pensava eu, passou tantos anos preso na gaiola que desaprendeu a
voar. Não sabia o que fazer com o infinito. ... Coitado do aposentado... ele fica sem lugar. Acho que
é por isso que ele morre cedo. Em casa não sabe o que fazer. Não aprendeu a habitar aquele
espaço. O homem, quando está em casa, está de folga do trabalho, enquanto a mulher, quando
está em casa, está simplesmente sentindo-se em casa! Mas como fazer para o homem encarar
essa “folga do trabalho” para sempre? ... Um tempo de felicidade, até pode ser... mas para isso, é
preciso que o passarinho engaiolado não tenha se esquecido da arte de voar.
PAI - Um passarinho que se esquece da arte de voar! Como faz um passarinho para não se
esquecer da arte de voar?! Passei trinta e quatro anos nove meses e vinte e nove dias naquela
empresa!
PAI - Era uma vez uma águia que foi criada no galinheiro. Cresceu pensando que era galinha.....
Fazendo um paralelo com a fábula da Águia... Quais são os seus sonhos para vivê-los fora do limite
da cerca do galinheiro onde você viverá por mais de 30 anos?! O problema é que vivemos tanto
tempo dentro do galinheiro que não sabemos o que fazer com a liberdade. Agora está chegando o
momento de conquistar a liberdade e aí a gente começa a perceber que dá medo de ser livre!
“Na travessia tive muita vontade de chorar, quando muitos riam, e o protagonista conseguiu retratar muito
bem .... todos os momentos da realidade da aposentadoria, cada um de nós precisa repensar os projetos, e
principalmente conversar com a família, MEU pai, um nortista, quando chega a casa aposentado deixando
todo mundo louco, atravessando 15 anos de alcoolismo, depois Alzheimer e essa família teve de cuidar desse
pai e ele foi cuidado ate a morte, converso muito com meus filhos sobre como eles irão me ver na minha
aposentadoria e na minha velhice, precisamos manter uma conversa existencial, esta peça traz uma
realidade”.
“Provocou choros e risos, deu uma chacoalhada, de olhar para trás e pegar o de bom do passado e seguir com
saúde, é necessário chacoalhar”.
Discutimos sobre a importância de fazer valer seus interesses e não se deixar anular pela
família, necessário investir nos seus projetos, pois estes poderão se constituir no alicerce de suas
novas vidas, é preciso ter autonomia e fazer o que quer, chega de obedecer a empresa e o chefe,
agora chegou a sua vez de mandar na sua própria vida.
“A importância de a companheira amadurecer junto, a minha esposa não pode estar no PPA, mas é bom ela
estar junto nesta. Tem duas coisas que você deve gostar, da casa e da mulher, e a peça mostrou como é difícil
deixar a dinâmica do trabalho, devemos aprender a conviver com uma nova rotina. A peça também mostrou
sobre o incentivo financeiro recebido pelo programa e a família vir pedir emprestado, precisa-se manter o
controle, pois tenho um caso na família onde a pessoa adiou seu projeto para ajudar o irmão – que iria pagar
em 6 meses, porém este irmão morreu e não pagou, e o que emprestou ficou sem seu projeto.”
Para a implantação da Usina em Angra do Reis com a ELETRONUCLEAR foi construída uma
vila para acomodar seus colaboradores há mais de 30 anos, e agora com a aposentadoria eles
devem sair deste local, deixando as casas onde viveram e criaram seus filhos durante toda sua
trajetória profissional dentro da empresa. Onde construíram suas relações sociais, frequentaram o
mesmo clube, a padaria, o supermercado o lazer em geral E agora com a aposentadoria devem
deixar além do trabalho na empresa, o local onde sempre viveram.
“O que não foi abordado é a perda do convívio com os amigos, vamos perder a casa e muitos vão ter que sair
deste local, e não vamos ter os mesmos vizinhos, a padaria....”
“O que acho ruim na questão do aposentado na ELETRONUCLEAR é que a empresa era minha casa, uma mãe,
o problema é que passamos 30 anos na mesma empresa, os amigos de trabalho são meus amigos, eu fui fazer
terapia, eu estou com medo porque dei um salto no escuro, estou mergulhando no escuro, passei 33 anos na
mesma empresa, era uma família, o nome aposentado é um saco, porque quando for preencher algum
documento vou colocar lá aposentado e isso significa ser velho, e velho é um saco, isso me incomoda, porque
a velhice limita”.
“Eu cheguei em 1978 e construímos famílias aqui, uma era apoio para a outra, e a maioria de nós vai retornar
para o seus locais de origens e vão passar por grande dificuldade, porque já se passaram 30, 35 anos e esta
tudo diferente, as cidades não são mais as mesmas, onde estarão nossos amigos de infância.”
“Eu acho que independente do momento de vida, a apresentação foi de uma beleza poética, um trabalho
muito bonito levando a uma reflexão, a se questionar não só sobre a aposentadoria, mas também sobre meus
sonhos, (..) o trabalho me trouxe muita reflexão”.
“Queria fazer um depoimento de minha experiência pessoal, eu me considero uma pessoa diferente depois
desta apresentação de teatro, eu tinha medo, como se estivesse passeando no gelo, cheguei em casa e
conversei com minha filha e minha mulher e me fortaleceu, e hoje já estou em outro momento da minha vida,
há dois dias encontrei um amigo que já recebeu o crachá de aposentado e me assustei, o nome APOSENTADO
me assustou” Outro colega apresentou a Carteira de Identidade onde está escrito IDOSO, em letras
maiúsculas, será que estou ficando velho mesmo??.
“A peça foi maravilhosa, emocionante, essa peça deveria ter sido gravada para cada um receber esse vídeo
para quando estivermos pra baixo poder assistir de novo. Essa peça foi muito boa e me marcou.”
“Foi a oportunidade de refletir sobre minha aposentadoria, achava que estava preparado para aposentar,
mas quando o alpinista jogou a galinha, eu me senti como a galinha que precisa ser águia, pois eu contava em
montar um negocio com minha filha que é uma doceira de mão cheia e eu faço comida baiana, mas ela fez
concurso para policia civil, e não vai mais poder me ajudar!”
Muitas vezes os pais contam em realizar projetos com os filhos, quando estes escolhem
profissões que os pais também se identificam e até também já estudaram. Fazem seus projetos
colados aos projetos dos filhos. Mas estes filhos ainda estão em fase de experimentar o mundo de
trabalho e mudam de ideia, deixando os pais sem saber o que fazer, e com projetos já iniciados
sem poder dar a continuação planejada.
“Eu fui escondido assinar o PDI, pois é terrível, para o homem é mais difícil, a aposentadoria mexe com nossa
potencialidade sexual, a mulher esta mais preparada, eu comecei a me incomodar porque não tinha espaço
mais em casa, as outras pessoas não se aposentam, e eu tenho que me adaptar a esse novo momento. Se a
gente não conversar em casa fica mais difícil, os filhos estão em outra.”
“Estou feliz por aposentar, estou muito feliz, isso tudo é um ciclo. Um medo a gente tem, do novo!”
“Me chocou a parte que o sr Wilson quando colocou o terno para voltar na empresa e ele já estava
aposentado, é muito triste, ele dando explicações ‘preciso visitar os amigos, arquivos mortos, repassar uns
conhecimentos’, precisava ver isto e aquilo, e até no arquivo morto ele queria olhar.”
“É preciso navegar. Deixando atrás as terras e os portos dos nossos pais e avós. Nossos navios têm de buscar a
terra dos nossos filhos e netos, ainda não vista, desconhecida.”
Para finalizar, vamos usar as palavras do autor da peça que nos levam a pensar na
aposentadoria como uma trajetória, onde passado presente e futuro se encontram num momento
de tomada de decisão para uma nova vida, para a travessia.... A APOSENTADORIA É UMA
TRAVESSIA!
PAI - É, acho que vou passar a vida a limpo! Nessas horas, a gente começa a passar a vida a limpo!
E agora, eu percebo que a vida passou muito depressa. Lembro de tudo como se fosse ontem... É!
Mas o tempo... a vida passou muito depressa! Meu Deus, como o tempo passa rápido demais!
Lembro do primeiro beijo, do primeiro emprego, da minha primeira reunião, de minha primeira
viagem representando a empresa. Lembro da festa de noivado, do nascimento do meu primeiro
filho, de minha primeira briga, das vezes até em que pensei em me separar, de minha primeira
promoção na empresa, do primeiro trabalho externo, da festa de batizado do primeiro filho, do
segundo...
Que saco, eu prometi que não iria chorar na minha aposentadoria!
Todos esses acontecimentos estão guardados em minha memória porque são carregados de
emoções. Esses acontecimentos prendem uns aos outros. Me prendem à esposa, aos filhos, aos
colegas e amigos da empresa... Sabe, sinto saudade até da mulher do cafezinho, da zeladora...
Isso é a vida!
Esses acontecimentos foram construindo a minha história!
Meu Deus, sempre me disseram que você é o que você faz, agora estou prestes a não fazer nada, o
que serei?!
Olha, mas quem pretende criar uma nova chance na vida não pode ficar acorrentado ao passado. É
preciso planejar um novo caminho a percorrer e trabalhar para evitar o maior perigo: naufragar
durante a travessia.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma de nosso corpo e esquecer
os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos
fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” Fernando Pessoa.
Mini currículo do autor da peça: Aparecido Massi, ator e diretor (DRT – 6.472/PR),
graduado em Filosofia (Lorena/SP), graduado em Ciências Econômicas (UFPR), graduado em Artes
Cênicas – interpretação e direção teatral (PUCPR), pós graduado com Especialização em Qualidade
e Produtividade (UFPR), autor dos livros: “Sob o Sol do Entardecer” e “Qualidade de Vida em Três
Atos”, ambos pela editora Giostri, autor de diversos textos teatrais na área de Gestão de Pessoas,
fundador e diretor artístico do Grupo de Teatro Lanteri (1978), referência como teatro popular do
estado do Paraná e atuante ininterruptamente, até hoje.
POC9 - O SIGNIFICADO DO TRABALHO PARA TRABALHADORES DA TERCEIRA IDADE DE UM
SUPERMERCADO REGIÃO DE LONDRINA/PR.
RESUMO
Este estudo procura analisar os significados atribuídos ao trabalho por trabalhadores da terceira
idade vinculados ao supermercado. A pesquisa foi realizada em uma rede de supermercados da
cidade de Londrina, estado do Paraná. Foram entrevistados sete participantes que estão
aposentados há mais de um ano, com idade entre sessenta a setenta e quatro anos e que estão
trabalhando no supermercado há mais de dois anos. O delineamento utilizado foi de cunho
qualitativo. A coleta de dados foi feita com o uso de entrevistas semi dirigidas com questões sobre
o significado do trabalho, percepções sobre a terceira idade e aposentadoria. Os dados foram
analisados com base na análise de conteúdo de Bardin (2000). Os resultados encontrados foram
descritos a partir das seguintes categorias: trajetória de vida no trabalho, percepções sobre a vida
relacionada ao trabalho, valor atribuído ao trabalho atual, significado do trabalho, percepções
sobre a terceira idade e percepção sobre a aposentadoria. A análise revela que os participantes
começaram a trabalhar muito jovens nas lavouras familiares, sendo o supermercado o primeiro
passo da transição para o trabalho na cidade. Alguns que já trabalharam em outras funções antes
de trabalhar no supermercado, hoje afirmam que se identificam com o atual emprego. São
focados no trabalho em que desenvolvimento pessoal e profissional são primordiais na vida. O
prazer em estar trabalhando é muito significativo na vida deles, pois precisam trabalhar para
complementar a renda familiar, visto que o salário da contribuição não é suficiente para a
sobrevivência. Possuem autonomia e liberdade sobre a rotina de trabalho em que consideram
uma conquista. Estão sempre comprometidos e dispostos para as atividades do dia a dia. Os
participantes consideram-se sábios pelo discernimento e avaliações que fazem da vida pessoal e
profissional. Não possuem o hábito de ficar em casa ociosos e gostam de estar inseridos na
comunidade, sempre se ocupando com alguma atividade. Foi possível verificar e conhecer a
trajetória laborativa e o significado do trabalho para os trabalhadores aposentados, bem como as
suas percepções sobre a terceira idade.
INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho tem sido vital, pois ao pesquisar sobre a atividade humana ao longo
da história, é notável a incessante luta pela sobrevivência, pela conquista da dignidade e da
humanidade. O homem é sujeito do seu processo de ingresso no mundo social, sofre influências
dessa estrutura social e reage reorganizando-as, segundo uma perspectiva própria, no sentido
individual, porém consoante com os aspectos mais relevantes da realidade objetiva.
A realidade objetiva é aquela que de certa forma é imposta ao indivíduo, e já existia antes
dele. Daí a preocupação em mostrar que todo o processo de socialização, cuja fase ou modelo
esboça os movimentos da identidade social, ou ainda, aquilo que foi construído ao longo de sua
história e que a representa enquanto profissão.
A sociedade dispõe de inúmeros mecanismos que, ao mesmo tempo em que justificam
sua estrutura, remetem para o indivíduo a responsabilidade das falhas por elas geradas. Dentre
estes mecanismos podemos citar o incentivo ao individualismo, a competitividade implícita na
promessa da mobilidade social através do esforço pessoal, e da competência individual como fator
diferenciador na distribuição dos sujeitos no espaço social.
Portanto, é importante considerar a importância dada à produção numa sociedade
industrial, em que se percebe a supervalorização que é dada aos papéis profissionais. O valor do
individuo, seu reconhecimento enquanto ser humano pode ser medido pelos papéis no sistema
social, logo é a identidade profissional que determina o lugar na sociedade. Em consequência, se o
sujeito interioriza essa ideia dominante como pensamento social, o trabalho se torna um fim em si
mesmo, podendo ser um fator de alienação, na medida em que a importância da atividade
profissional pode levar o individuo a confundir sua identidade como seu papel. Ele corre o risco de
interiorizar a ideia de que o sentido da sua vida, sua importância enquanto pessoa depende
diretamente do papel profissional que ele representa.
Apesar de a sociedade contemporânea e o universo do trabalho têm sofrido grandes
transformações, com mudanças nas relações de trabalho, redução de postos e escassez de
oportunidades de emprego, estar empregado ou ter uma atividade profissional é aspecto cada vez
mais valorizado nos grupos sociais. O trabalho confere, portanto, ao indivíduo um lugar na
sociedade.
Mourão e Borges-Andrade (2001) destacam que os padrões de significado do trabalho
construídos por indivíduos e grupos podem afetar as organizações e a sociedade em termos de
geração de conflito e impacto na produtividade, uma vez que grande parte do significado que lhe é
atribuído é moldada pelo seu processo de institucionalização e por sua relação com os demais
papéis que os indivíduos assumem em suas vidas. Esses significados são construídos, não somente
como resultado das experiências e condições laborais, mas como uma tentativa dos trabalhadores
de resistir às pressões e adversidades do trabalho, e como uma forma de produzir mudanças nas
organizações e nas estruturas sociais.
Desse modo, ampliar o conhecimento sobre o significado do trabalho para as diferentes
categorias laborais, constitui-se tarefa relevante para compreensão das complexas relações
humanas nas sociedades contemporâneas e para dimensionar o grau de influência das
características das atividades laborais para cada indivíduo e coletividades, o que poderá permitir
avaliar o impacto da centralidade do trabalho para a configuração das sociedades contemporâneas
e em especial neste estudo com a categoria da terceira idade.
O termo “terceira idade” usado pelos latinos é segundo Veras (1994, p. 26), uma
expressão de origem francesa. Há poucos estudos históricos sobre o surgimento da categoria
sobre a terceira idade, especialmente quando os comparamos à bibliografia acerca da história da
categoria velhice. O surgimento recente daquela noção – que aparece nos cenários francês e inglês
por volta de 1950 mas é legitimada somente na década de 80 – pode justificar a ausência de
estudos mais sistemáticos sobre a sua formação e as suas condições históricas de possibilidade.
Ao comentar o cenário brasileiro, Peixoto (1998) argumenta que a introdução da noção
de terceira idade representa uma importação das denominações adotadas pelas políticas públicas
francesas, sendo o termo ‘velho’ gradativamente substituído por ‘idoso’ nos documentos oficiais.
Entretanto as ambiguidades próprias à nossa realidade fizeram com que certas imagens
ganhassem sentidos mais sutis, tanto que o termo ‘velho’ parece se manter e é comumente
utilizado para designar pessoas velhas de classes populares, enquanto ‘idoso’, mais respeitoso, é
utilizado para aqueles de camadas médias e superiores
A expressão Terceira Idade constitui em designar a velhice, ou seja, é uma forma de
representar as modificações no perfil desta população, onde o envelhecimento vem acompanhado
de crescimento e de, principalmente, novas possibilidades, sejam elas de trabalho, de prazer ou de
conhecimento. A Terceira Idade significa a ruptura com certos estigmas ligados ao idoso, como o
de inativo, improdutivo, obsoleto, solitário, o abandono e o estado físico próprios da velhice não
podem ser escamoteados. Eles são reais e o fato de existir uma nova geração que entra nesta faixa
etária com uma maior renda e um maior nível cultural, que busca romper com certos estereótipos
não elimina alguns problemas ainda ligados à velhice (MOREIRA, 2000).
Esse mesmo autor aponta que o aumento da população idosa, é observado de forma
vertiginosa nas duas últimas décadas e vem continuamente despertando a atenção de
pesquisadores, do setor de serviços e do Estado, já que tornou-se uma questão de magnitude no
cenário brasileiro, ou melhor, tornou-se uma questão social. A projeção do percentual de idosos
para o próximo milênio coloca a sociedade brasileira diante de um enorme desafio: o de
proporcionar garantias efetivas para esta população, que possam ser traduzidas em um aumento
(ou manutenção) da sua qualidade de vida.
A questão da terceira idade no Brasil é de extrema relevância, pois existe a estimativa de
que na segunda década do próximo milênio estaremos com mais de 31 milhões de indivíduos com
idade acima de 60 anos em nosso país, fato este que nos colocará como a sexta maior população
mundial de idosos. Além disto, quando falamos em terceira idade no Brasil, devemos levar em
conta as diversas disparidades socioeconômicas existentes entre as regiões brasileiras que exigem
políticas sociais voltadas para este setor que sejam mais adequadas à realidade da população de
determinado estado ou mesmo de determinadas cidades (MOREIRA, 2000).
Privilegiar a fala de pessoas na terceira idade significa reconhecer que estamos falando de
um grupo de indivíduos ainda muito marginalizados pela sociedade, mas que possuem também
uma vasta experiência de vida (vida esta que foi centrada no trabalho), que deve ser estudada e
valorizada. É importante compreender o idoso em suas diversas formas de ser, respeitando suas
maneiras de viver, pois o fato de determinadas pessoas estarem em uma mesma faixa etária não
significa que tenham passado pelas mesmas vivências e que apresentem as mesmas características
e necessidades. A forma de viver-se a velhice está associada a várias questões que se interligam e
que se tornam mais complexa, porque uma das características desta etapa da vida é a sua
heterogeneidade, ou seja, os sujeitos não envelhecem de maneira igual, construindo suas próprias
histórias de vida, com características e dificuldades diferentes. Não é admissível, portanto, que se
trate a velhice de uma forma homogeneizada e que não se leve em conta as diferenças (LOPES,
2000).
Diante disso, surge o interesse em estudar o tema significado do trabalho com os
trabalhadores da terceira idade, na qual se buscará compreender a trajetória do trabalho para os
trabalhadores de um supermercado da região de Londrina, local onde a pesquisadora está
vinculada profissionalmente. A pesquisa teve por objetivo analisar os significados atribuídos ao
trabalho por trabalhadores da terceira idade vinculados ao supermercado.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de campo, qualitativa de caráter exploratório a fim de
privilegiar o discurso dos trabalhadores aposentados, com o intuito de estabelecer uma tentativa
de apreensão acerca dos significados atribuídos ao trabalho ao longo da trajetória profissional. O
modelo de investigação foi baseado na concepção que o significado do trabalho é atribuído e
determinado pelas escolhas e experiências do individuo, tendo, portanto, uma abordagem
psicológica contextualizada com a organização e ambiente o qual vive e trabalha.
A pesquisa foi realizada em um supermercado tradicional da cidade de Londrina. O
supermercado foi inaugurado no ano de 1955 por um comerciante paulista decidiu estabelecer
seu comércio no norte do Paraná. A primeira loja aberta pelo comerciante foi destinada para a
venda de secos e molhados, termo muito utilizado na época. Atualmente, o supermercado é uma
rede de comércio varejista e se mostra influente no que se refere a presença no crescimento e
expansão das regiões as quais é atuante. Com matriz sediada na cidade de Londrina, a rede possui
13 lojas: 10 na cidade de Londrina, contemplando as regiões norte, sul, leste e oeste, 2 lojas na
cidade de Ibiporã e 1 loja na cidade de Cambé.
A razão pela escolha do local se deu em função da pesquisadora ser funcionária do
supermercado, o que facilitou a coleta de dados e o acesso de informações na área de Recursos
Humanos do mesmo.
O quadro de funcionários é composto por volta de 1000 colaboradores trabalhando nas
áreas operacionais, ou seja, nas lojas da rede, bem como nas áreas administrativa do
supermercado. Destes 1000 colaboradores, 25 tem mais de 60 anos de idade e são aposentados
pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
A amostra foi composta por seis (06) participantes sendo estes selecionados
aleatoriamente. Foram considerados participantes do estudo funcionários com diversas condições
socioeconômicas, tais como: sexo, renda mensal, estado civil, número de filhos, número de
pessoas da família que trabalham e que moram na mesma residência, grau de instrução e tempo
de aposentadoria. Assim, foram entrevistados sete participantes que estão aposentados há mais
de um ano, com idade entre sessenta a setenta e quatro anos e que estão trabalhando no
supermercado há mais de dois anos.
A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi dirigidas com questões sobre o
significado do trabalho, percepções sobre a terceira idade e aposentadoria. Os dados foram
analisados de forma qualitativa com base na análise de conteúdo de Bardin (2000). Os resultados
encontrados foram descritos a partir das seguintes categorias: trajetória de vida no trabalho,
percepções sobre a vida relacionada ao trabalho, valor atribuído ao trabalho atual, significado do
trabalho, percepções sobre a terceira idade e percepção sobre a aposentadoria.
“ (...) eu me criei na roça, comecei trabalhar cedo, com 7 e 8 anos já trabalhava na lavoura colhendo café
com minha família. (...) eu vim para a cidade trabalhar como doméstica, eu tinha 15 anos, e já era casada,
casei bem cedo, era criança ainda. Trabalhava como doméstica na casa de um administrador.”
Outro ponto a ser destacado nesta categoria diz respeito à identificação com o trabalho
em supermercados em que os participantes revelam gostar da atividade atual que exercem.
Mostram que continuaram o trabalho mesmo aposentados, pois se sentem valorizados. O setor
de varejo busca profissionais aposentados que queiram voltar ao mercado de trabalho. Esses
profissionais costumam ser mais comprometidos, pois é nítido o comprometimento deles com o
local de trabalho. Paz (2002) aponta que há supermercados que empregam idosos para
empacotamento junto aos caixas. Sem a necessidade de cumprirem com alguns custos sociais,
pois não há necessidade de recolhimento para a previdência, não há custo de transporte (os
idosos têm o direito à gratuidade) e de alimentação, uma vez que cumprem horário por meio
expediente. Assim, essas ‘atividades’ são a porta de entrada para os idosos após a aposentadoria.
Em relação à categoria percepções sobre a vida relacionada ao trabalho, há a
unanimidade entre os participantes em relatar sobre o trabalho como sendo árduo. Isso reflete a
relação que eles têm com o trabalho, já que a maioria dos participantes trabalharam a maior parte
da vida em atividades braçais.
Nas décadas passadas era muito comum as crianças e adolescentes iniciarem as
atividades laborativas executando trabalhos braçais, no campo, roça e lavoura, ou como
entregador de mercadorias, carregamento de caixas e entre outras relatadas pelos participantes.
“(...) comecei a trabalhar desde os 9 anos de idade, como ajudante de tapeceiro, ajudante de mecânico ai
entrei na força aérea, fiquei durante 2 anos na força aérea, voltei para minha cidade, abri minha oficina
mecânica, fechei e fui para Brasília na época da inauguração, fui tentar a vida lá, passei fome que nem um
condenado, tive que voltar com uma mão na frente e outra atrás, aí fui ser viajante durante alguns anos,
me aposentei , e entrei para trabalhar no supermercado” (P3).
“ Me sinto uma menina jovem trabalhando como atendente, adoro atender os clientes, conversar com
eles, a hora passa rapidinho, quando volto para casa me sinto inteirinha” (P1).
“ Adoro o que eu faço, faço com muito carinho e a amor” (P2)
Isso mostra o quanto o trabalho está presente e permanente na vida destas pessoas, que
sempre trabalharam e se mantiveram bastantes ativas, e portanto parar de trabalhar pode
significar a perda de papéis junto a família e a sociedade com um todo. Cattani (1996) diz que o
trabalho constitui e explica grande parte da sociedade capitalista. Facetas essenciais do processo
de socialização, da construção identitária, das formas de dominação e de resistências, enfim, da
dinâmica contraditória da economia de mercado.
O sentir-se como uma menina mostra a incongruência desta fase de vida, uma disposição
além do que se espera, tentando demonstrar jovialidade e vitalidade presente em seu trabalho e
no desempenho de suas tarefas. É importante ressaltar que durante as entrevistas, de forma geral,
todos queriam colocar o ótimo desempenho de seu trabalho, mesmo após tanto tempo nas
mesmas funções, ou que iniciaram há pouco tempo dentro do supermercado, como se o
entrevistador estivesse perto dele para avalia-los.
O trabalho, como ato concreto individual, ato coletivo é, por definição, uma experiência
social, opressão e emancipação, prazer, alienação e criação são duas dimensões ambivalentes, que
não se limitam à jornada laboral, mas repercutem sobre a totalidade da vida em sociedade.
Segundo Oliveira (2006), ao retomar a vida produtiva, o idoso-aposentado se adapta às novas
realidades, adquiri novos conhecimentos e se torna um sujeito autônomo, independente e
emancipado, o que leva a escolher se quer trabalhar por motivo de manutenção de renda ou
simplesmente, pelo bem estar produzido por essa atividade, se sentindo inserido novamente no
meio social, o que também altera significativamente a sua qualidade de vida.
Na categoria sobre o significado do trabalho é nítido observar a satisfação que os
participantes têm em relação a atividade laborativa, ou seja, apontam que o trabalho é a
satisfação da vida deles. Isso fica claro para o participante P5
“meu trabalho é muito importante para mim, eu posso falar para você que às vezes ele representa uma
qualidade de vida também que eu preciso, por exemplo, imagina se eu não venho aqui trabalhar, não tenho
aquele compromisso, não tenho a mente ocupada de ficar aqui, e eu sei que , se eu não venho aqui tenho
que arrumar alguma coisa para fazer, enquanto to aqui eu vejo que o lado bom do trabalho é para minha
saúde e minha vida, aqui praticamente é a minha vida”.
Refletindo sobre o depoimento desse participante fica claro como as pessoas que
trabalham no mesmo local de trabalho durante toda a vida, se identificam com o trabalho
realizado por eles. A relevância de satisfação no trabalho não reflete a preocupação com a
efetividade e a competitividade organizacionais, mas uma concepção social segundo a qual os
participantes do estudo estão satisfeitos com o seu trabalho em que se integram melhor na
sociedade, a família e ao bem estar físico e mental.
A identificação com o trabalho também ficou evidente durante a entrevista com os
participantes da pesquisa, para P 4
“ o meu trabalho sempre dediquei e dedico maior parte da minha vida, se eu falar assim, que eu trabalho
só por necessidade eu estaria mentindo. Eu gosto do trabalho, gosto do que faço as dificuldades todo
mundo tem os momentos difíceis, eu procuro fazer bem feito, então para mim é muito importante ter uma
ocupação. Mesmo aposentado trabalho das 7:30 da manhã as 20:00 da noite de segunda a sexta, e nos
sábados sempre venho de manhã aqui. Eu acho que a gente tem que ter espaço reservado para o trabalho
e horário para o lazer, reservado para sua fé, então a gente tem que conciliar o trabalho, o lazer, a fé, a
família, tudo isso numa boa.”
Isto vem ao encontro de que, além do trabalhador ver o trabalho como necessário para
satisfazer suas necessidades básicas, ele também busca se sentir útil, valorizado e realizado. O
trabalho ocupa um inegável espaço na existência humana. Coloca-se entre as atividades mais
importantes e, de qualquer maneira constituiu-se na principal fonte de significados na construção
da vida de todos. As pessoas articulam-se em redor das atividades laborativas.
Do ponto de vista social, o trabalho é o principal regulador da organização da vida
humana. Horários, atividades, relacionamentos pessoais são determinados conforme as exigências
do trabalho. Entretanto, ao perder o emprego muitas pessoas ficam desorientadas,
desestruturam-se emocionalmente, sentem-se inúteis e sem nenhuma contribuição que possam
dar. Passam a procurar em outras coisas substitutas inadequadas para aquilo que o emprego
proporcionava.
Portanto, o trabalho busca a sobrevivência e manutenção da autoestima, contrapõem-se
aos sentimentos de pouca utilidade do trabalho realizado e restringe a expressão de
potencialidades que existe em cada um. Assim, as demandas organizacionais e as necessidades
individuais compensam algo implícito nas relações, as expectativas do empregado ficam muitas
vezes frustrada.
Se para a sobrevivência o trabalho deveria satisfazer pelo menos as necessidades básicas
diárias, na perspectiva psicológica é categoria central de desenvolvimento, sendo uma fonte
determinante na construção da pessoa, que convive bem consigo mesmo, acredita e orgulha-se
de si. Para Dejours (1999), afirma que o trabalho envolve alguns casos mais e em outro menos
esforço físico e esforço intelectual. Privilegiar o trabalho que demanda maior esforço físico e
esforço intelectual é, sem dúvida, um modo de favorecer interesses, desprezando a evidente
dissociação da pessoa e do fazer em qualquer atividade laborativa e suas consequências para a
saúde mental do trabalhador.
Na categoria referente sobre a percepção sobre a terceira idade há uma preocupação dos
participantes em afirmarem que ainda são úteis para a sociedade, que através dos discursos fica
claro a importância que eles dão em relatar a disponibilidade e o valor para o trabalho. P6 afirma
que:
“eu acho que a terceira idade está sendo valorizada no mercado, tem muitas empresas hoje procurando
pessoas, não digo só aposentadas, mas as pessoas mais vividas, amadurecidas no comércio e em varias
atividades, pela responsabilidade do passado dos mais velhos, porque os homens de hoje depois que criaram
a lei que só podem começar a trabalhar nos 16 anos, na minha concepção foi um pecado que fizeram,
porque na verdade está difícil para formar um profissional hoje, eles não tem a mesma disposição e vontade
que tínhamos quando pequenos. A gente com 11 a 15 anos ia trabalhar com o pais na roça, para conseguir
um troco para comprar bala e doces, hoje uma criança não pode trabalhar, pois o conselho tutelar vai atrás
dos pais, mas essas crianças podem ficar perambulando nas ruas diariamente. Então a sociedade não está
formando profissionais como era formado antigamente”.
Chama à atenção nas falas dos participantes a relação estabelecida do trabalho com o
tempo livre. Simultaneamente eles querem continuar a trabalhar, isso é, o desejado, bem como,
confronta com o temido, ou seja, de se sentirem isolados na sociedade. Como afirma SELIG e
VALORE (2010) “o lazer e o tempo livre não são valorizados nas sociedades que cultuam o trabalho
como valor superior” (p. 16).
Na fala de um participante, em que se refere à terceira idade como valorizada, pois traz
consigo uma convocação a práticas de atenção e cuidados com a saúde, vida social ativa e
exercício da cidadania na busca de um envelhecimento com boa qualidade de vida. É evidente
como a construção do significado sobre a terceira-idade é permeada por crenças, mitos,
preconceitos, estereótipos que, nesta sociedade expressam-se por meio de representações
depreciativas do fenômeno do envelhecimento e do sujeito que envelhece, definindo o seu lugar
social.
Diante disso, pode-se pensar em Castro (1998) quando mostra uma nova visão de mundo e
do próprio mundo provocam na geração mais velha, o desejo de tentar um novo estilo de visa,
buscando fora do grupo familiar, espaços compensatórios de sociabilidade e solidariedade.
Ressignificar o seu papel na família e na sociedade, torna-se autor, ator e personagem. É a
realidade cuja dinâmica decorre da autogestão e autocrítica e através das descobertas únicas,
enquanto pessoas e múltiplas, enquanto grupais.
Na categoria sobre a percepção sobre a aposentadoria, há certa unanimidade entre os
participantes em relatar sobre em não querer ficar parado, ou seja, ficar em casa sem ter
atividades laborativas. Pois relatam serem ativos e não conseguiriam permanecer em suas
residências sem ter atividades para fazer. A aposentadoria deixa de ser um marco a indicar a
passagem para a velhice ou uma forma de garantir a subsistência daqueles que, por causa da
idade, não estão mais em condições de realizar um trabalho produtivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste estudo pode-se compreender que falar sobre a terceira idade, significa ter
que refletir sobre o contexto em que o indivíduo está inserido e os aspectos subjetivos que
permeiam o mundo do trabalho. Quando se trata de processo de envelhecimento, um assunto
muito abordado é a questão da aposentadoria, pois esta não garante uma boa qualidade de vida
para os idosos, apesar de ser um direito conquistado pelos trabalhadores. Atualmente, muitos
idosos, são mantenedores da família por isso necessitam a reinserção no mercado de trabalho, e
em alguns casos, se submetendo à atividades precárias e sem proteção social.
Os aposentados percebem a injustiça do sistema previdenciário; dessa percepção resultam
sentimento de ingratidão. A privação econômica resultante da aposentadoria acarreta em uma
atitude negativa frente ao processo, e não poderíamos deixar de ressaltar a importância dada
pelos participantes da pesquisa em continuar trabalhando, já todos os entrevistados foram
escolhidos por estarem nesta condição.
As situações analisadas evidenciam que cada participante possui uma caracterização única,
exclusiva e especial, todavia cada um deles também possui uma história; um modo de ser, agir e
pensar sobre a vida. Evidenciando que, além de aprofundar os estudos teóricos sobre o processo
de envelhecimento, compete aos profissionais realizar investigações na área, desvelando a
realidade da vida das pessoas que estão na denominada terceira idade, em seus diversos aspectos.
Nesse período as pessoas ainda temem, pois não sabe ao certo como será o fim da
trajetória de vida, ou seja, como irão vivenciar a aposentadoria sendo muitas vezes influenciados
pelas relações pessoais e sociais, seu papel profissional e o modo de enfrentar as novas situações.
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POC10 - PREPARAÇÃO PARA APOSENTADORIA: UMA EXPERIÊNCIA DO NÚCLEO ESTADUAL DO
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO RIO DE JANEIRO.
RESUMO
JUSTIFICATIVA
Diversos estudos têm apontado para um envelhecimento da população mundial. Dados
de grande relevância vêm desenhando no cenário mundial uma sociedade formada por
idosos, com capacidade produtiva, porém relegados a “peso morto”, sem expectativa ou
inserção na sociedade. Idosos sem voz e sem vez.
O trabalho institucionalizado inscreve o cidadão na sociedade e sair deste mercado traz
implicações diversas para um número cada vez maior de pessoas.
O Brasil, juntamente com os outros países do BRICs (Rússia, Índia e China) já responde
por 40,6% da população mundial de idoso. Hoje contamos com mais de 20 milhões de idosos,
que representam 10,5% da população brasileira.
A expectativa de vida do brasileiro ao nascer atingiu 72,7 anos, segundo dados da Síntese
de Indicadores Sociais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em
1992, a população até 15 anos somava 33,8% dos brasileiros, e pessoas com mais de 60 anos
eram 7,9% do total. Em 2007, o percentual dos jovens caiu para 25,2%, e o percentual de
idosos subiu para 10,6%. Os brasileiros com mais de 80 anos são 1,6 milhão, o equivalente a
1,4% da população.
Deve se assumir que o envelhecimento é uma conquista social e reconhecer que as
experiências, capacidades e recursos das pessoas de idades mais elevadas constituem um
patrimônio para a construção de uma sociedade madura, plenamente integrada e humana. (art.
6º da Declaração Política do Plano Mundial de Ação).
Se adequar à nova realidade se faz urgente. Mudanças devem e precisam ser propostas
com este fim. Instituições sérias vêm se preocupando com a questão do idoso e adotando
medidas importantes nesse sentido.
Nesse condão, mediante a cena mundial apresentada, tornou-se imperioso se pensar
uma estratégia de atuação para permitir ao servidor público, que tem sua data de
aposentadoria limitada aos 70 (setenta) anos, o entendimento de que há outras formas de
produção que não somente a Institucional. A possibilidade de integrá-lo em outras relações
além das do trabalho é um foco que se tenta ampliar com o Programa de Preparação para
Aposentadoria. Portanto, o trabalho ora apresentado, tem uma inscrição social, na medida em
que pretende aquecer as relações dos pré-aposentados para além do trabalho e insere se
ainda numa perspectiva mundial de entender o envelhecimento como uma forma natural e
fática de vida.
A Aposentadoria apresenta-se, pois como fonte de inspiração para compreensão de
diferentes questões relacionadas ao envelhecimento e é nesse viés que elaboramos nosso
trabalho.
Institucionalmente ficou evidenciado que a cada ano o número de aposentados que
retornavam ao Núcleo do Ministério no Rio de Janeiro (MS/NERJ) solicitando algum tipo de
revisão em seu benefício ou mesmo simplesmente para reclamar de sua aposentadoria crescia
substancialmente. Verificamos ainda, através do recadastramento domiciliar anual que a
expectativa de vida do nosso servidor vem aumentando sistematicamente, e que nem sempre
este servidor estava preparado para o envelhecimento.
Vale destacar que o servidor passou a ter uma sobrevida bem maior após a
aposentadoria e que não se pensar numa política de sustentação para esse novo cenário
seria ignorar a função social de qualquer instituição, que além de perseguir sua excelência no
mercado de trabalho não pode se furtar a debruçar seu olhar sobre questões sociais de
importância fundamental.
Assim, constatamos que no ano de 2009, 807 (oitocentos e sete) servidores solicitaram
sua aposentadoria; destas 43 (quarenta e três) ocorreram pela compulsoriedade, isto é,
servidores que completaram 70 (setenta) anos de idade. A aposentadoria compulsória implica,
observada a legislação atual, em algumas perdas para os servidores, notadamente no que se
refere à paridade salarial. Os processos de revisão de aposentadoria aglomeram- se. Através do
recadastramento observamos um número crescente de servidores com idade superior aos 65
(sessenta e cinco) anos de idade, destes, muitos se encontravam em condições precárias, o que
lhes impunha o recadastramento domiciliar. Dos servidores recadastrados 2391 (dois mil
trezentos e noventa e um) servidores não tinham condição de dirigir-se ao local de
recadastramento, solicitando a visita domiciliar, onde era constatada a precariedade de muitos
de nossos servidores, que, num lamento quase unânime, reclamavam que a vida tinha mudado
muito desde a aposentadoria.
Deste modo, considerando a qualidade de vida do servidor, o Programa de Melhoria de
Qualidade de Vida (PMQV), promoveu a ação de Preparação Para Aposentadoria para os
servidores do Núcleo Estadual no Rio de Janeiro (NERJ), Ministério da Saúde (MS), atendendo a
Lei nº 10.741/03, cap. VI, art. 28, Inciso II, que prevê a “Preparação dos trabalhadores para
aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos
sociais conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre direitos sociais e de cidadania.”
OBJETIVO
Esta ação tem como objetivo fomentar a reflexão sobre o que fazer na aposentadoria,
através de dinâmicas vivenciais que levem aos participantes a experimentarem de que forma
podem administrar sua vida. Constitui-se, pois, num processo de formação e informação, que
compreende a abordagem de temas voltados ao cotidiano do indivíduo aposentado.
O objetivo da ação de Preparação para Aposentadoria, mais do que atender uma
determinação legal, demonstra também o interesse institucional de se prestar real atenção ao
servidor que, perto de se aposentar, sente-se, por vezes, desorientado, promovendo um espaço
de reflexão sobre os novos caminhos e opções que irão se apresentar nessa nova etapa de vida –
a aposentadoria.
MÉTODO E PROCEDIMENTO
A ação de Preparação para Aposentadoria se desenvolve através de Oficinas temáticas,
que são realizadas fora do local de trabalho, preferencialmente em local afastado da área de
trabalho, onde o servidor se disponibiliza a participar da “família pepeando”, longe dos
conflitos pessoais e profissionais, onde tem a oportunidade de mergulhar num processo reflexivo
individual e coletivo.
Pensar acerca da aposentadoria e suas implicações no próprio local de trabalho não se
apresentam como procedimento adequado, posto que, por vezes, o servidor sente-se
desestimulado e sem a concentração devida para mergulhar nas questões levantadas no decorrer
das Oficinas. Assim, retirá-lo de seu set de trabalho, levando-o a um contato maior com ele
mesmo mostrou-se como uma boa alternativa para uma melhor reflexão sobre as novas frentes e
avaliação de suas possibilidades diante da aposentadoria.
Trabalhamos com um processo de imersão, no qual durante 03 (três) dias consecutivos
o servidor é convidado a refletir sobre os aspectos: biológico, social, familiar, orçamentário,
espiritual, psicológico, empreendedor e, legislativo, incluindo descoberta de talento, com os quais
se confrontará na aposentadoria.
Anteriormente as Oficinas, submetemos às etapas fundamentais para a implantação da
ação, como: Sensibilização da Instituição; Elaboração do Projeto; Preparação da equipe;
Solicitação de verba; Processo administrativo; Sensibilização dos servidores; Oficinas vivenciais e
Redimensionamento das atividades.
No caso específico da Sensibilização dos servidores, significa apresentar a ação para o
público com perfil para aposentar e para as respectivas chefias, quanto ao propósito, justificativa,
objetivo, metodologia, toda funcionalidade das Oficinas. Somente a partir deste momento que os
servidores se inscrevem para participar das Oficinas. No início tivemos algumas resistências por
motivo dos servidores não entender a proposta da ação, pois acreditavam que era um incentivo a
aposentadoria, ou mesmo que pretendíamos definir modelos de aposentação. Mas a partir da
segunda Oficina, as resistências foram diluídas naturalmente, quando os servidores participantes
propagaram um boca a boca positivo sobre a Preparação para Aposentadoria.
A equipe de facilitadores desta ação é composta por profissionais com formação em
Psicologia, Direito, Administração, Letras, Gestão de Pessoas, Serviço Social e Legislação, que torna
o debate e a construção bastante rica de saberes, que é compartilhada a todo o momento,
com visões diferenciadas de mundo que se complementam a fim de dar um arcabouço teórico e
prático a ação.
Como o convite é à reflexão, a metodologia aplicada é a de diferentes dinâmicas para
abordar aspectos diretamente ligados à aposentadoria. Dinâmicas estas, apresentadas em dupla,
pelos facilitadores, onde o servidor é estimulado a trabalhar diversas questões demandadas pelo
grupo de participantes.
A utilização das dinâmicas foi escolhida por acreditar que este MEIO possa conduzir os
participantes a se redescobrir, como propõe Mayer (2007) que “adota e desenvolvem dinâmicas
não como meras técnicas aplicáveis a determinados públicos, mas como meios referenciais e
instrumentais de ajuda capazes de levar – pessoas e grupos – a um novo jeito de ver, pensar,
compreender, encarar a vida, Isto é, a um novo jeito de ser e proceder.”
O facilitador esclarece que a ação de PPA não trata de um estímulo à aposentadoria, mas
de um olhar sobre ela e suas implicações. O servidor que se inscreve para participar dos encontros
não está fadado à aposentadoria imediata, mas a refletir e a se preparar para ela.
É sabido que, seja por força de disposição legal do Estatuto do Idoso, ou para adequação
de uma nova realidade social, a Preparação para Aposentadoria, vem se tornando tema frequente
de inúmeros trabalhos institucionais.
O diferencial apresentado em nossa formulação recai justamente na metodologia
aplicada. Nossa principal linha de atuação consiste num processo de formação, a partir de
experiências relatadas pelos próprios “aposentandos” e não de informação, o que implicaria em
elaboração de material técnico, palestras e pontos de vistas definidos acerca de assuntos
pertinentes ao processo de aposentação.
Aproveitando-nos da metodologia difundida por Paulo Freire, especificamente na Teoria
da Comunicação, que partiu do princípio de que a “Comunicação é a que transforma
essencialmente os homens em sujeitos. Com esta base formulou sua proposição fundamental de
que a educação, como construção compartilhada de conhecimentos, constitui um processo de
comunicação porque se gera através de relações dialéticas entre os seres humanos e com o
mundo. A comunicação adquiriu em Freire uma dimensão política, em vista do caráter
problematizador, gerador de reflexão (consciência crítica) e de transformação da realidade que
possui o diálogo”. (FREIRE apud BURGOS, 2007 p. 01).
Essa premissa prioriza a comunicação, que é capaz de transformar os homens em
sujeitos. Também permite perceber outras possibilidades até então não pensadas e o
compartilhamento com o outro, num constante repensar, que é o exercício do caráter
problematizador para atingir a consciência crítica.
A teoria do construtivismo, também enriquece a metodologia utilizada, quando foca no
aprendizado do indivíduo que acontece como resultado de sua interação com um grupo. O
aprendizado nos encontros é espontâneo, a partir das vivências trazidas pelos participantes que
buscam soluções e possibilidades para as questões surgidas em cada debate, fruto da interação do
grupo.
As dinâmicas são previamente elaboradas de forma leve e criativa, onde cada detalhe se
torna importante, utilizando-se de instrumentos como: poemas, músicas, cenas teatrais,
filmes, cartazes e outros, a fim de possibilitar a consciência crítica do grupo em torno das
vivências ocorridas no período de aposentadoria. Na elaboração destas, buscamos linguagem
acessível para facilitar o entendimento de todos no grupo, para não ocorrer em constrangimento,
uma vez que a ação atinge servidores de várias categorias funcionais com níveis de formações
diversas.
A Preparação para Aposentadoria em suma é uma ação que visa um melhor
esclarecimento e reflexão sobre o período pós-aposentadoria. Sem a pretensão de apresentar
fórmulas mágicas ou messiânicas para se entender todo o processo que cerca o indivíduo que, ao
se aposentar, encerra um ciclo de sua vida e que se vê impelido a enfrentar outro, a ação PPA
propõe uma estratégia de conhecimento, de envolvimento e de superação. Conhecer, planejar e
arriscar, se apresentam como premissas básicas desta ação.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
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www.infoescola.com/educacao/construtivismo www.crmariocovas.sp.gov.br/dia
Fonte: www.ibge.com.br
DEMONSTRATIVO DE ATENDIMENTO DO RECADASTRAMENTO DOMICILIAR POR FAIXA ETÁRIA
A partir de 01 01 03 12 16 20 53
100 anos
Total 177 515 1.095 1.826 2.391 1.997 8.001
Fonte: PPA/NERJ/MS
POC11 - REFLETINDO SOBRE A AUSÊNCIA DE PREPARAÇÃO PARA A APOSENTADORIA
COMPULSÓRIA: UMA ANÁLISE DO FILME LUGARES COMUNS.
RESUMO
Este artigo tem como objetivo resgatar algumas reflexões acerca do momento anterior e posterior
à aposentadoria compulsória. Para isso, recorremos à análise fílmica da obra cinematográfica
Lugares Comuns, do diretor Adolfo Aristarain, e cujo contexto social marca a Argentina em seu
período de crise econômica no início dos anos 2000, pós-governo do presidente neoliberal Carlos
Menem. O filme retrata a vida do professor universitário Fernando Robles, que, abruptamente, vê
sua vida mudar diante da notícia da aposentadoria compulsória, passando a vivenciar as
dificuldades das perdas financeiras e sociais, encontrando no fumo e na bebida o apoio para
minimizar suas angústias. É possível associá-lo ao sentimento de incerteza, angústia e impotência
vivenciada pela maioria dos idosos brasileiros no momento da aposentadoria, em que se observa a
crise do capitalismo e o crescimento do desemprego (ANTUNES, 2010). A justificativa do estudo se
dá pela limitada quantidade de trabalhos que, ao tratar do tema, se utiliza do recurso visual como
método de investigação científica, bem como pela possibilidade de utilizá-lo como caso para
ensino uma vez que mostra a importância da orientação profissional para a aposentadoria. Neste
contexto, a reflexão é amparada, de maneira breve, por aspectos relacionados à centralidade do
trabalho, o envelhecimento e a preparação para a aposentadoria. Metodologicamente, o estudo
se caracteriza por sua abordagem qualitativa, decorrente das análises dos discursos provenientes
de seis cenas intencionalmente selecionadas que englobam dois enquadres, sendo o primeiro
marcado pelo momento da notícia da aposentadoria que é transmitida pelo diretor da instituição,
gerando a reflexão acerca da responsabilização pelo ato da aposentadoria e a representação social
do aposentado; e o segundo, posterior a este momento, sendo possível identificar o sentimento
de falta de esperança, a tentativa de replanejar a vida e a dificuldade de buscar um novo emprego.
Por meio das análises é possível resgatar algumas reflexões como a nossa dependência em relação
ao trabalho, como uma decisão unilateral sobre o momento de cessá-lo e a falta de uma
preparação adequada para este momento da vida, impõe ao idoso uma necessidade de
(re)orientar sua vida para esta nova condição social.
ENVELHECIMENTO E APOSENTADORIA
O senso comum sobre o envelhecimento preconiza que, mesmo sendo um processo
biológico natural da vida humana, geralmente não estamos muito preparados para aceitar a
velhice. Considera-se a princípio que esta etapa da vida carrega consigo uma baixa na autoestima,
decorrente de uma fragilidade da saúde e transformações anatômicas e funcionais, que trazem
como consequência uma redução da qualidade de vida. Essa perspectiva, que ganhou força com o
advento da Revolução Industrial, ao se vincular a saúde física à capacidade laboral como
instrumento de ganhos financeiros para os empregadores, ao mesmo tempo em que foi
responsável por consolidar uma imagem negativa da velhice como em um processo contínuo de
decadência e perdas, proporcionou a legitimação de direitos sociais como a universalização da
aposentadoria (DEBERT, 2012).
Uma visão contemporânea do envelhecimento (FRANÇA, 2009; SOUZA, 2012;), por
outro lado, tem defendido que o avanço da idade pode ser convertido em uma espécie de “vida
nova”, ao elevar a autoestima, manter relações sociais no ambiente de trabalho ou simplesmente
por preservar um sentimento de “utilidade”, repercutindo no prolongamento da vida laboral.
De um lado, há uma concepção – velhice – que destaca os aspectos negativos; e de outro,
há a noção de terceira idade, que enfatiza questões positivas, fortemente associadas ao
consumo, dando uma falsa ideia de autonomia e independência (SILVA, 2008).
Sobre a aposentadoria, alguns autores têm demonstrado que as mudanças que
ocorreram ao longo do tempo (HARDY, 2011; SCHULTZ; WANG, 2011) e a falta de consenso em
relação a seu conceito, contribuem para que atualmente algumas contradições e ambiguidades
sejam percebidas (ECKERDT, 2010; ROESLER, 2010). Uma delas diz respeito ao entendimento de
que a aposentadoria é uma instituição, uma experiência e um processo. Reconhecê-la como uma
instituição implica a existência de estruturas sociais que regulam a saída dos trabalhadores do
mercado de trabalho e, em troca, lhe fornecem algum tipo retribuição pecuniária. É, ao
mesmo tempo, tratada como experiência, quando um indivíduo constrói, ao longo dos anos, sua
própria condição de aposentado. Por fim, a aposentadoria enquanto processo de transição, tem a
ver com as decisões e os diversos contextos que incidem na escolha do indivíduo sobre se e
quando aposentar (SZINOVACZ, 2003).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa qualitativa foi escolhida como a abordagem metodológica mais adequada
para a investigação, cujo objetivo foi analisar o filme criticamente e relacioná-lo a situações
vivenciadas pelo principal personagem diante da aposentadoria numa conjuntura marcada por
uma crise instaurada pelo capital em meados dos anos 2000 na Argentina.
Bartes (1972) apud Melo, Marçal e Fonseca (2009) alerta para a complexidade que é a
seleção das cenas, uma vez que, o que é excluído é tão importante quanto ao que se vai incluir e
irá interferir no restante da análise. Assim, além do roteiro em si, devem ser levados em
consideração outros aspectos como, por exemplo: a fotografia, a trilha sonora, se o filme é preto
e branco ou colorido etc. Para tentar minimizar tal limitação, durante as exibições do filme os
pesquisadores tentaram analisar o roteiro, as reflexões sociais inculcadas na trama, o
momento-chave da história do país, os valores sociais e o relacionamento familiar, os domínios
da vida cotidiana e as emoções do professor Fernando.
O percurso metodológico se iniciou com a exibição do filme para os pesquisadores, de
forma individualizada, durante o mês de julho do corrente ano. Após tal etapa, foram
estabelecidas as cenas temáticas e os quadrantes que seriam analisados. O recorte dos relatos
foi apoiado pelo uso do software Subtitle Edit versão 3.3.15, cuja função é a edição de
legendas. Nesse sentido, o corpus da pesquisa (transcrições ou legendas para análise textual)
resultou em 91 páginas, que além das falas, registrava o tempo em minutos e segundos da
cena que seria selecionada.
As etapas na condução da análise foram baseadas em Denzin (1989b, p.231-232),
apud Flick (2004) que sugere que o filme seja considerado no todo, que as cenas-chave
sejam anotadas, que sejam conduzidas “microanálises estruturadas” das cenas e das sequências
individuais e, por fim, que seja feita uma busca por padrões estendidos a todo o filme como
forma de responder as questões de pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fernando buscou durante o filme explicar os acontecimentos da vida e não apenas
descrevê-los, criticar o sistema que é excludente, incerto e alienante. Mas, a “verdade”
acerca da vida é relativa e as melhores perguntas que poderiam auxiliar nesse trajeto (O
quê? Como? Onde? Quando? Por quê?) são muitas delas “lugares comuns”, desconsideradas,
pois muitos só se importam com o objetivo (o fim) e não os meios.
Assim é o capitalismo, que valoriza a busca pelo lucro, fragiliza os valores que se vão
em nome do progresso avassalador, de uma economia de mercado. Há uma quebra de tradição e
de respeito à herança, do trabalho que transpassa de pai para filho, para um trabalho que gere
mais renda, mais individual (POLANYI, 1980).
Fernando, ao longo da história, faz o filho refletir pelo sentido do trabalho, por
trabalhar por vocação, fazer aquilo que se gosta, por prazer e não tão somente por dinheiro.
Mas, ao mesmo tempo, observa-se que ele não tira férias há muito tempo e nem tem o costume
de ficar com a família (filhos e netos), o trabalho também é centralizante e individual.
Apesar disso, o trabalho é visto como um mecanismo essencial para essa integração
social e a autorrealização do indivíduo. Ficar sem trabalhar ou aposentado, pode gerar
sensação de perdas pela ausência do trabalho, no que tange aos aspectos emocionais (ausência
do senso de parte da organização, das responsabilidades e de enfrentar desafios no trabalho);
aspectos tangíveis (status do cargo, não participação em eventos e reuniões); relacionamento
com colegas de trabalho; redução de salários e benefícios (BITENCOURT et al., 2011; MOREIRA,
2011; FRANÇA, 2009; FRANÇA, SOARES, 2009; SOUZA, 2012).
Foi o que aconteceu com Fernando, após se aposentar. Sofreu, teve perdas financeiras,
emocionais, isolou-se. Mas, o sistema capitalista não está preocupado com os sentimentos
desses trabalhadores; culpabiliza-os e apropria-se da situação de fragilidade para flexibilizar
os direitos deles e precarizar as relações laborais. Quem é idoso e está desempregado, é
duplamente penalizado sendo mais difícil replanejar a vida nesse momento. Os “não
empregáveis” têm maior dificuldade de sobressair dessa situação precária e de se reinserir no
mercado de trabalho (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009).
A preparação para a aposentadoria pode minimizar os efeitos negativos que a
aposentadoria possa causar no indivíduo (CAMBOIM et al., 2011), reorientar o idoso para outra
carreira ou para desenvolver outras atividades. No filme, Fernando não conseguia mais trabalho,
não tinha como sobreviver com uma renda tão baixa, teve que se desfazer dos bens, morar
em outro lugar e tentar empreender individualmente, sem conhecimento do negócio e sem
recursos financeiros, gerente do próprio risco, do fracasso e da desilusão de estar fora do
sistema.
103
Ao final, o personagem não consegue prosperar no negócio, não se adapta a esse novo
modo de vida do interior, e solitário, distante do contexto que viveu, acaba adoecendo e morre.
E a vida continua, como se nada tivesse acontecido, indiferente, como um lugar comum. É
preciso, portanto, se preparar para esse momento, pensar em outras carreiras ou atividades que
propicie o sentimento de bem estar e de utilidade a pessoa aposentada.
REFERÊNCIAS
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105
POC12 - SONHOS NÃO SE APOSENTAM. A IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO PARA
APOSENTADORIA.
RESUMO
106
RESUMO EXPANDIDO
INTRODUÇÃO
Em outubro de 2011 a Diretoria Executiva da Eletrobras Eletronuclear encomendou um
estudo que teve como objetivo responder a questão: Qual o risco de realização de um programa
de demissão incentivada interferir negativamente na performance da empresa? Esse estudo
detectou a existência de demanda de 40% de empregados elegíveis para aposentadoria até o ano
de 2016 e resultou na criação de um Programa de Sucessão Programada que tem em sua
composição o Programa de Preparação para Aposentadoria – PPA, objeto deste artigo.
A proposta foi oferecer um programa interdisciplinar de informações e apoio para os
empregados que participassem do PPA, oferecendo a possibilidade de redefinição desta nova
etapa de vida através da inserção de contextos tão importantes quanto o trabalho.
São muitos os aspectos positivos que o trabalho proporciona ao empregado (a), em sua
vida profissional, no entanto, o momento que antecede a aposentadoria pode gerar ansiedade,
principalmente pela falta de planejamento que auxilie os empregados (as) a usufruir melhor o
tempo nessa nova fase.
Desta forma, foi implantado em março de 2014 o I ciclo do Programa de Preparação para
Aposentadoria da Eletrobras Eletronuclear direcionado para os empregados (as) de toda a
empresa (Angra, Brasília e Rio de Janeiro) aptos a se aposentar. Este programa veio suprir uma
demanda do plano de incentivo, mas se tornará um projeto perene na empresa.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A maioria dos trabalhadores sonha com a aposentadoria para ser dono do seu tempo.
Depois de anos de dedicação chega a hora de se aposentar, mas o momento que deveria ser de
comemoração pode trazer dúvidas e preocupações ao empregado(a), que rumo tomar? o que
fazer? Com que se ocupar?
Para ajudar nesta etapa importante da vida, as empresas vêm investindo cada vez mais em
programas de preparação para aposentadoria. Segundo Debetir e Monteiro (1999), os programas
de preparação para aposentadoria precisam desenvolver um trabalho interdisciplinar, de caráter
biológico-psicológico-social, de forma que os empregados possam construir uma concepção de
aposentadoria mais positiva e próxima da realidade.
França (2000) afirma que o PPA deve se basear numa ampla discussão e avaliação dos
fatos, dos riscos e das expectativas que os empregados prestes a se aposentar queiram alcançar
no futuro. Portanto, a preparação deve ser concebida como um processo educativo, continuado e
interligado a um planejamento de vida. Para Victorelli (2007), um PPA deve contribuir para que as
pessoas:
construam o seu próprio projeto de vida;
reflitam e discutam sobre as maneiras de usar o tempo livre após o desligamento;
se informem sobre as regras e leis que regem o sistema previdenciário;
melhorem sua qualidade de vida e participem de atividades ligadas à saúde, ao lazer e à
interação social.
107
Dois conceitos recentes vêm corroborar a importância do desenvolvimento dos PPA´s nas
organizações: o da aposentadoria ativa e o do envelhecimento ativo. Para a Fraiman apud Abrapp
(2006) a aposentadoria ativa significa “maximizar as oportunidades de êxito profissional e pessoal
após o desligamento da empresa”.
A Organização Mundial de Sáude – OMS e Organização das Nações Unidas - ONU tem como
uma de suas recomendações garantir a mobilidade, a independência e a saúde dos trabalhadores
e aposentados à medida que atingem a maturidade.
“Essas recomendações apontam políticas e ações a serem propostas pelas organizações, diante das
necessidades de atualização dos trabalhadores mais velhos, da flexibilização de horários de trabalho, da
redução dos preconceitos quanto à idade e harmonia nas equipes intergeracionais e da promoção dos
programas de preparação para aposentadoria, para aqueles que desejam ou precisam sair do mercado de
trabalho” (OMS, 2002).
Nessa perspectiva de recomendação da OMS erige-se a lei 8.442 de 04/01/1994, que trata
da competência dos órgãos públicos em criar e estimular a manutenção de programas de
preparação para a aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois
anos do afastamento.
Partindo de tais autores, a Eletrobras Eletronuclear em sintonia com essas recomendações,
no cumprimento da responsabilidade social com seus colaboradores (as) viu a possibilidade de
implantar um Programa de Preparação para Aposentadoria na empresa.
OBJETIVOS
Os principais objetivos que motivaram a criação do programa foram:
Proporcionar aos empregados o acesso a informações e incentivar a reflexão sobre as
questões relacionadas à fase da aposentadoria, no que diz respeito aos aspectos legais,
psicossociais, culturais, financeiros e de saúde;
Discutir com o futuro aposentado questões referentes à ocupação do tempo livre, com
ênfase na sua nova inserção nos ambientes familiar e social;
Oferecer orientações sobre qualidade de vida e saúde e estimular o desenvolvimento de
atividades físicas que favoreçam um envelhecimento saudável e ativo;
Favorecer a troca de experiências entre participantes.
METODOLOGIA
O Programa de Preparação para Aposentadoria é um programa educativo e preventivo.
Tem uma metodologia informativa, vivencial, de integração e cognição. Está organizado em blocos
temáticos pré-definidos, divididos em etapas desenvolvidas utilizando recursos como palestras,
workshops, vivências, técnicas de dinâmicas de grupo e oficinas.
108
O modelo adotado pela empresa foi realizado por etapas que foram desenvolvidas em 6
meses, e iniciou com a sensibilização das lideranças e empregados(as), a fim de fornecer
informações gerais sobre o programa, assim como linhas gerais de ação, estrutura do PPA e
critérios de participação. A adesão era voluntária e os interessados deveriam se inscrever.
O desenvolvimento do trabalho estava voltado para disponibilização de informações sobre
as questões mais relevantes do processo de aposentadoria levando-se em conta os aspectos
social, psicológico, legal, previdenciário, financeiro, familiar e de saúde.
Na primeira etapa foram realizadas palestras e consultoria financeira das fundações
Núcleos e Real Grandeza que deram orientações financeiras, previdenciárias e sobre os planos de
saúde.
Em seguida, foram formadas turmas dos empregados(as) inscritos no programa para a
participação do workshop “Sonhos não se aposentam”, que foi estruturado em dois dias
combinando palestras, teatro e oficinas.
O evento ocorreu fora do ambiente organizacional, em um hotel, e previa, no primeiro dia,
a participação de um familiar ou amigo convidado do aposentável. Nesse evento foram abordados
os temas:
Aposentadoria bem sucedida e seus desafios;
Com o objetivo de sensibilizar os aposentáveis, levando-os a refletir sobre os impactos da
transição de uma rotina de trabalho regular para novos hábitos. Minimizando a
insegurança decorrente da proximidade da aposentadoria, conscientizando o indíviduo
para uma nova etapa da vida. Foram abordados assuntos concernentes a duas temáticas
centrais:
Saúde e bem estar
o Alimentação e estilo de vida com qualidade;
o Exames e prevenção;
o Nutrição e restrições alimentares;
o Longevidade de maneira positiva e mitos sobre o processo de
envelhecimento.
Relacionamento interpessoal
o Reconstrução e fortalecimento dos laços de amizade;
o A importância do apoio da família na vivência desse novo momento;
o Como fortalecer a rede de contatos profissionais e de relacionamentos,
o Rumos e oportunidades através da psicologia positiva;
o Como obter o suporte social com os novos projetos e sonhos.
Planejamento financeiro e orçamento familiar
O intuito era promover aos participantes acesso e aprimoramento ao conhecimento de
orçamento familiar e finanças pessoais abordando assuntos como a importância do
planejamento financeiro pessoal e familiar, autoconhecimento do padrão de renda e de
gastos, fluxo de caixa pessoal, capacidade de poupança, natureza das despesas, paralelo
entre necessidade e desejo, orientação no orçamento pessoal e doméstico, salário indireto
e previdência privada, como reduzir despesas e reorganizar dívidas, principais motivos de
descontrole financeiro e alternativas para renegociação do endividamento.
A Travessia
Palestra cênica que retrata a vida antes e depois da aposentadoria de um homem,
revelando os problemas e as possibilidades no âmbito pessoal e social dos aposentáveis
109
calcadas em questões de saúde, sociais e financeiras e o impacto deste novo momento no
contexto familiar.
Oficinas
As oficinas foram formuladas para trabalhar questões que envolvem a vida e a carreira, de
forma a incentivar a reflexão sobre novas perspectivas, a partir da aposentadoria. Também
permitiu ao aposentável a possibilidade de esboçar um projeto futuro, resgatando sonhos
e interesses do passado ou descobrindo novas possibilidades de ocupação de vida.
RESULTADOS
Na avaliação somativa do programa, com base nos resultados das avaliações e pesquisas
realizadas com as cinco turmas de participantes do PPA, percebe-se que o programa cumpriu o
seu objetivo e superou as expectativas.
As atividades desenvolvidas possibilitaram não só uma oportunidade de mudança e a
chance de receber informações pertinentes, que eram as expectativas iniciais dos participantes
sobre o PPA, como também a oportunidade de reflexão quanto à construção de um projeto de
vida, assim como, evidenciou-se a importância da troca de experiências.
Observou-se durante a realização do evento a preocupação dos participantes com algumas
questões:
Aposentadoria é sinônimo de velhice e a pessoa velha não é bem vista.
A dificuldade de enfrentar o tempo livre. Há uma preocupação em aproveitar bem o
tempo. A preocupação de não virar o “quebra galho” da família por estar mais disponível.
A perda da identidade profissional. Durante o evento foi citado o exemplo do crachá da
empresa que deixaria de ter o nome do funcionário e passaria a ter o nome
“APOSENTADO”.
Quando se está deixando o trabalho, parece que está ficando órfão da família
organizacional.
Constatou-se que todos esses conflitos evidenciados foram dirimidos ao final da realização
do PPA. No feedback, os empregados(a) expressaram, em uma única palavra, o sentimento em
relação ao programa:
Troca – de experiências
Esperança – que vai se aposentar e ter uma vida melhor
Sentimento – de que essas palestras são o início da gente encerrar um ciclo de trabalho
com chave de ouro, porque o convívio com o pessoal proporcionou uma liberdade de
diálogo e a liberdade é uma conquista impagável
Impagável – realmente esse é o termo que traduz esses dias, obrigado por esse momento
Emoções – rir e chorar
Descontração – que realmente foi descontraído
Mudança – muitos tínhamos dúvidas, agora temos uma definição
Confiança – o que devemos ter em nossos projetos
Liberdade – para refletir o que já aconteceu e que vai acontecer
110
Reflexão – foi grande oportunidade de aprender e quem já tem seus projetos a repensar
e melhorá-los
Paz – é uma palavra muito grande que deve ser uma busca que todos devemos ter ao
tomarmos uma decisão
Gratificante – os momentos que passamos juntos
Prosseguir – porque agora temos um novo caminho seguir
Sucesso – tivemos uma fase de sucesso e devemos seguir assim
Ambição – de ter um futuro melhor
Vivencia – utilizada, junto à troca de experiências, a conhecer pessoas
Informação – através das oficinas nos possibilitou refletir
Oportunidade – de aprendizagem
Saudade – de muitos amigos e momentos
Amor – com saudade, amor, carinho, satisfação, só sei que valeu a pena
Proveitoso – realmente aprendemos bastante
Harmonia – ter harmonia, é colocar mais o SER do que TER
Alegria – alegria de passar esses momentos do PPA com todos
Esperança – devemos ter dias melhores
Você (eu) – esperança, sonhos, experiências, sucesso no trabalho, o EU é de dias
melhores, e melhores convivências, que depende da gente
Família – é a coisa mais importante
Elucidação – aposentadoria é um mistério, temos de elucidá-la
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste artigo foi analisar a importância da implantação do I ciclo do PPA dentro
da Eletrobras Eletronuclear. O programa provoca e permite reflexões individuais e coletivas que
possibilita aos empregados(as) a revisão de conceitos sobre aposentadoria, além de trabalhar
diversas questões possibilitando a construção ou o aprimoramento de um projeto de vida.
Chegamos à conclusão de que este processo é contínuo e deve ser aplicado pelo menos
uma vez ao ano. O PPA expressa a responsabilidade social da empresa, que reconhece a
necessidade de programas e ações que permitam ao empregado(a) identificar um nova etapa de
vida, com outras possibilidades e desafios, em contraponto ao entendimento de aposentadoria
versus desligamento como uma momento de término de sua capacidade laboral.
111
Do ponto de vista da Eletrobras Eletronuclear, além do cumprimento do dever de
valorização constante das pessoas que compõem o seu quadro funcional, o Programa de
Preparação para Aposentadoria é um excelente indutor de melhoria do clima organizacional e um
importante instrumento de feedback, cujas informações possibilitam o aprimoramento dos
resultados empresariais e das relações de trabalho.
Do ponto de vista do empregado(a) é o momento de refletir em conjunto com sua família
sobre essa nova etapa de vida pessoal e melhor planejar as novas atividades a ela inerentes em
busca de uma aposentadoria mais saudável. Constatamos que o PPA é um processo que vai ser
desenvolvido ao longo do tempo, alimentado e retroalimentado com o ensinar e aprender juntos.
REFERÊNCIAS
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aposentadoria. São Paulo: Vetor,2011.
SKINNER, B. F., VAUGHAN M. E. Viva Bem a Velhice: aprendendo a programar a sua vida.
São Paulo: Summus, 1985.
GIRARDI, Armelino. Desaposentado melhor Agora. Curitiba: Edição da Editora Clube dos
Desaposentados, 2009.
ARAÚJO, S. M., GIRARDI, Armelino. Agora e sempre, a vida é um projeto – uma visão
ampliada da vida. Curitiba: Edição da Editora Clube dos Desaposentados, 2012.
FRANÇA, L. H. Repensando a aposentadoria com qualidade: um manual para facilitadores
de programa de educação para a aposentadoria. Rio de Janeiro: UnATI/ UERJ, 2002.
ZANELLI, J. C., Silva N., Soares D. H. P. Orientação para aposentadoria nas organizações de
trabalho. Construção de projetos para o pós-carreira. Porto Alegre: Artmed, 2010. Escelsa.
Programa de Preparação para Aposentadoria.
TOMBINI, Isabel Cristina. Programa de Preparação para a Aposentadoria: o começo de uma
nova etapa: 2004-2010. Rio de Janeiro: CPRM, 2011.
Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Envelhecimento ativo: uma política de saúde/ World
Health Organization; tradução Suzana Gontijo. – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2005.
GRAEFF, L. Representações sociais da aposentadoria. Textos envelhecimento, v.4, n. 7,
2002.
Vários autores. Preparação para aposentadoria: você já pensou sobre isso? São Paulo: LTr,
2009.
VICTORELLI, L. Aposentadoria: aprender a parar. Jornal da USP online. Disponível em:
http://www.usp.br/jorusp/arquivo/1999/jusp471/mancheet/rep_res/rep_int/pesqui4.html.
Acesso em: maio de 2012.
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Disponível em: http://www.crde-unati.uerj.br. Acesso em maio de 2012.
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Servidores do IPGG “Reciclar a Vida”. Acesso em maio de 2012.
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Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre. Disponível em:
http://www4.fapa.com.br/monographia/artigos/3edicao/FLAVIA.pdf. Acesso em maio
de 2012.
112
SILVA, Magno da Silva; ALMEIDA, Rosangela Marsinete; MORAES, Soares Lilian. PPA –
Programa de Preparação para Aposentadoria. Disponível em:
http://www.aedb.br/seget/artigos08/194_lilian_e_elvis%20-
%20programa%20para%20aposentadoria.pdf. Acesso em maio 2012.
FRANÇA, L. H., SOARES, D. H. P. Preparação para a Aposentadoria com parte da Educação
ao Longo da Vida. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/#refine. Acesso
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Ministério da Saúde – Secretaria de Políticas de Saúde – Projeto de Promoção da Saúde. As
Cartas da Promoção da Saúde. Disponível em:
<Políticashttp://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_promocao.pdf>. Acesso em maio
2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Relatório Final da Comissão dos Determinantes Sociais da
Saúde. Disponível em:
http://www.who.int/social_determinants/thecommission/finalreport/en/index.html Acesso em
junho 2012.
Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social – SEADS. Políticas Públicas
para a Pessoa Idosa: marcos legais e regulatórios. Disponível em:
<http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/biblioteca/public
acoes/volume2_Politicas_publicas.pdf>. Acesso em junho de 2012.
MARINHO, Margareth Carneiro; RIGONI, Jociane; ZAGO, Camila Avozani; CARDOSO, Olga
Regina. Pressupostos para um Programa de Preparação para Aposentadoria: caso Eletronorte.
Acesso em maio 2012.
113
PÔSTER COM COLÓQUIO
ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO
114
POC13 - A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NOS CURSOS FIC-PRONATEC DO INSTITUTO FEDERAL DE
SANTA CATARINA – FLORIANÓPOLIS CONTINENTE.
BASSO, C. 1;
1 - Instituto Federal de Santa Catarina IFSC e INSTITUTO DO SER;
RESUMO
O presente trabalho aborda um relato de experiência, dentro de uma proposta de ações postas
em prática no ano de 2014 pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), no campus
Florianópolis-Continente, visando à permanência e êxito dos estudantes em cursos de Formação
Inicial e Continuada (FIC) do Pronatec. Dentre as ações desenvolvidas, estão às oficinas de
Orientação Profissional com os alunos dos cursos FIC-Pronatec, via projeto de extensão. O
desenvolvimento desse trabalho iniciou em março de 2014, com a elaboração de uma cartilha
intitulada “Escolha profissional e ingresso no mundo do trabalho”. Em seguida, foi realizada uma
reunião com a equipe pedagógica dos cursos (supervisores, orientadores, apoio administrativo e
professores) e após o agendamento, iniciaram-se as oficinas, desenvolvidas em um encontro com
os objetivos de promover a reflexão, cuidadosa e responsável, sobre a escolha
profissional/ocupacional, destacando aspectos fundamentais para a tomada de decisão, bem
como fornecer informações que auxiliem na escolha profissional e na preparação para o mercado
de trabalho brasileiro, visando à inserção e permanência. Durante o primeiro semestre de 2014,
foram realizadas 17 oficinas, com duração de quatro horas para os cursos diurnos e de três horas
para os cursos noturnos. Ao final da atividade foi entregue aos alunos a cartilha e realizada uma
avaliação escrita do trabalho. As informações obtidas deste questionário avaliativo apontaram
como aspectos positivos o momento de interação e de troca de experiências com os colegas, o
pensar e o refletir sobre o futuro profissional, sobre as escolhas, as expectativas e os fatores que
influenciam na tomada de decisão, bem como a busca pelo autoconhecimento (habilidades,
gostos, interesses, motivações e valores) e a informação profissional acerca das possibilidades de
estudo e para auxiliar na preparação para o ingresso no mercado de trabalho, proporcionando
mais segurança e autoconfiança. Essa proposta de trabalhar com atividades voltadas a orientação
profissional foi considerada pela maioria dos alunos como “muito importante”, e deve ser
realizada em mais de um encontro, no início e no final do curso. Esta sugestão foi levada em
consideração na continuidade do trabalho no segundo semestre de 2014. Analisando o trabalho
realizado, fica evidente a importância da orientação profissional dentro da instituição de ensino
durante o curso. O desenvolvimento de projetos dessa natureza em ação conjunta na instituição
contribui para o desenvolvimento vocacional dos estudantes, objetivando a sua permanência e
êxito no curso, bem como no aconselhamento de carreira e inserção laboral.
115
RESUMO EXPANDIDO
INTRODUÇÃO
4
A cartilha está disponível on line no site institucional: www.continente.ifsc.edu.br
116
administrativo e professores) para explanação sobre a orientação profissional e a apresentação da
proposta de trabalho e a cartilha. Logo após, foi agendado a oficina de orientação profissional em
cada curso. Cada oficina teve a duração de quatro horas para os cursos diurnos e de três horas
para os cursos noturnos. Durante o desenvolvimento da atividade, o/a professor/a e/ou o/a
orientador/a do curso acompanhou a turma. Esse trabalho iniciou na segunda quinzena de maio
de 2014 e foi concluído no final do primeiro semestre (julho), em 17 turmas dos cursos FIC
Pronatec5.
A oficina teve por objetivos promover a reflexão, cuidadosa e responsável, sobre a escolha
profissional/ocupacional, destacando aspectos fundamentais para a tomada de decisão, bem como
fornecer informações que auxiliem na escolha profissional e inserção no mercado de trabalho. Para
o planejamento das atividades durante as oficinas, era necessário saber sobre o perfil dos alunos.
Para isso, buscaram-se junto aos orientadores relatos e na secretaria as fichas preenchidas pelos
estudantes no seu ingresso, onde constava dados como, idade, sexo, escolaridade, naturalidade, se
estudava, trabalhava, entre outras informações.
A atividade em cada turma consistia numa dinâmica de grupo, a qual tinha por objetivo
permitir o autoconhecimento, reflexões sobre suas escolhas profissionais e projetos de futuro,
bem como a informação profissional e o debate sobre o mundo do trabalho. Diferentes dinâmicas
foram realizadas, de acordo com as características de cada turma e o tempo disponível. A cartilha
era entregue aos estudantes durante oficina.
Ao final, os alunos respondiam a um questionário avaliando a Oficina de Orientação
Profissional. Esse questionário contemplava nove aspectos, os quais dizem respeito aos pontos
positivos e negativos da oficina, tempo de duração e quantidade, conteúdos abordados, recursos
utilizados, desempenho da ministrante, grau de importância da oficina, o período que essa
atividade deve ocorrer durante o curso e sugestões. A proposta dessa avaliação foi realizar um
levantamento de demandas voltadas às ações de orientação profissional, visando auxiliar na
permanência dos estudantes em cursos FIC Pronatec, bem como em sua inserção laboral. Na
sequência veremos alguns dos resultados dessa avaliação e reflexões acerca do trabalho realizado.
RESULTADOS
As oficinas foram realizadas ao final de cada curso e tiveram a participação de 136
estudantes. Quanto ao perfil, às turmas eram bem heterogêneas, incluindo uma turma composta
por pessoas com deficiências (curso Atendente de Lanchonete) na APABB 6 e uma turma do
Programa Mulheres Mil na Fazenda da Esperança 7. Os cursos foram ofertados por uma demanda
já existente em cada instituição. Essas turmas tinham características bem específicas, com pessoas
de diferentes faixas etárias, níveis de escolaridade e experiências profissionais, requerendo um
trabalho adaptado às suas demandas e necessidades.
No campus do IFSC-Continente, os cursos ali realizados tinham turmas mais homogêneas,
em sua maioria, compostas por jovens da Marinha, na faixa etária entre 18 e 20 anos, mas
também haviam pessoas da comunidade. Nessas turmas perceberam-se jovens com muitas
5
Cursos de: Padeiro (2 turmas), Garçom, Auxiliar Administrativo, Auxiliar de Cozinha (2 turmas) e Atendente de
Lanchonete (APABB) no IFSC em Florianópolis-Continente; Auxiliar Administrativo, Espanhol Básico, Inglês Básico,
Organizador de Eventos em Recepcionista em meios de hospedagem no município de Porto Belo; Espanhol Básico (2
turmas), Inglês Básico, Pizzaiolo e Auxiliar de pessoal no município da Palhoça.
6
Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de funcionários do Banco do Brasil e Comunidade.
7
A Fazenda da Esperança é um local de recuperação para mulheres usuárias de drogas.
117
dúvidas acerca de suas escolhas e projetos de futuro. Vale salientar, que os alunos da Marinha
estavam frequentando o curso por obrigação, diferentemente de outras pessoas e nos outros
municípios, onde a escolha e a busca pelo curso foram da própria pessoa, salvo os casos daqueles
que estavam no seguro-desemprego.
No município de Porto Belo, em cada turma as idades variaram entre 15 e 52 anos, com
diferentes níveis de escolaridade, inclusive vários alunos com nível superior incompleto ou
completo, e cerca de 60% realizavam alguma atividade remunerada. Durante as atividades pode
perceber que para muitos alunos, estar ali era um momento de buscar um aperfeiçoamento
profissional e, mesmo, iniciar em outra atividade laboral futuramente. Para outros, era um
momento de ocupar o tempo, conhecer novas pessoas e retomar os estudos.
Nos cursos realizados no município da Palhoça, a faixa etária variou entre 16 e 69 anos,
sendo que a maioria se encontrava entre 20 e 40 anos, com o ensino fundamental e médio
incompleto e do sexo feminino. Nessas turmas o desejo em voltar a estudar ficou muito evidente,
sendo a oportunidade ofertada pelo Pronatec muito importante para a realização desse projeto,
bem como para o crescimento profissional. Alguns alunos relataram que após iniciarem o curso já
haviam recebido aumento salarial e/ou promoção no emprego. Por outro lado, muitos estavam
projetando seguir uma profissão como autônomos, ou seja, abrir o seu próprio negócio.
Em cada turma, a partir da realidade vivenciada e dos motivos pelos quais estavam no
curso, encontrávamos diferentes perspectivas de futuro, onde a motivação, a autoestima e a
persistência se tornavam aspectos fundamentais para superar os obstáculos e seguir seus
projetos. Além disso, para muitas pessoas suas trajetórias e escolhas foram/são determinadas por
fatores familiares e socioeconômicos. A necessidade de sobrevivência, a obrigação da família, a
constituição familiar cedo e o cuidado com os filhos, levaram a caminhos diferentes dos desejados,
como o abandono dos estudos e a trabalhos precários. Para muitos estudantes, estar no curso era
sinônimo de resgate dos sonhos e a possibilidade de mudar de vida. Vale salientar que com os
jovens da Marinha, as dúvidas e angústias sobre a carreira eram mais salientes e bem
características do momento de vida, sendo que a maioria já havia passado por experiências
profissionais no mercado de trabalho.
Em relação às informações obtidas no questionário de avaliação da oficina de orientação
profissional, os alunos apontaram como aspectos positivos e que lhe auxiliaram o momento de
interação e de troca de experiências com os colegas, pois possibilitou o pensar e o refletir sobre o
futuro profissional, sobre as escolhas, as expectativas, os sonhos e os fatores que influenciam na
tomada de decisão. Outro aspecto destacado foi à promoção do autoconhecimento (habilidades,
gostos, interesses, sonhos, motivações, valores e projetos) e a informação profissional acerca das
possibilidades de estudo e para auxiliar na preparação para o ingresso no mercado de trabalho,
proporcionando mais segurança e autoconfiança. Esse foi um momento de “incentivo a pensar na
carreira ser seguida”; “de poder falar sobre as experiências e habilidades adquiridas ao longo do
tempo e expectativas para o futuro”; de “pensar de maneira diferente a respeito do trabalho, do
que pretendo trabalhar”; uma “possibilidade de autoavaliação, verificar gostos e prazer no
trabalho e que sempre podemos mudar nossas escolhas”. Estes foram alguns dos relatos
registrados pelos alunos sobre a oficina, mostrando a sua importância dentro de um curso de
formação profissional e para as suas vidas. Pelo fato das atividades desenvolvidas terem requerido
dos alunos falar de si, alguns expuseram esse fato como um ponto negativo, bem como o pouco
tempo dispensado para a oficina.
118
Essa proposta de trabalhar com atividades voltadas a orientação profissional foi
considerada pela maioria dos alunos como “muito importante”, e deve ser realizada em mais de
um encontro. Segundo os alunos esse tipo de atividade deveria ser realizada em diferentes
momentos no curso (início, meio e final). Um percentual maior apontou o início e o final do curso.
No início do curso, os alunos colocaram que esse trabalho poderá ajudar aqueles quem tem
dúvidas em suas escolhas, auxiliar na redução das desistências, pois ajuda a pensar melhor sobre o
curso escolhido, na sua permanência, proporcionando a mudança de curso no período que ainda é
possível efetuar essa troca e a aproveitar melhor o curso, bem como motivar a busca por mais
conhecimento acerca do mercado de trabalho, a procura de emprego e ao alcance dos objetivos
pessoais/profissionais. No final do curso, a oficina pode auxiliar na procura por emprego, por
fornecer informações importantes para sua preparação e para tomar decisões no
desenvolvimento da sua carreira profissional. Essas colocações apontam para atividades de
orientação profissional no início do curso voltadas ao autoconhecimento e tomada de decisão e ao
final do curso para o planejamento da carreira.
A avaliação dos alunos sobre o trabalho realizado, bem como os relatos durante a oficina
colocam em evidência a importância do trabalho de orientação profissional dentro da instituição
de ensino durante o curso, nesse caso, nos cursos FIC Pronatec. O fato de serem cursos de curta
duração (2 a 3 meses) não permite um acompanhamento e desenvolvimento de um trabalho mais
sistemático com os alunos e uma avaliação mais apurada dos resultados desse trabalho, mas
pode-se perceber que essa atividade, mesmo pontual, conseguiu alcançar seus objetivos. Nesse
sentido, foi dado continuidade e esse trabalho no segundo semestre de 2014, nos novos cursos FIC
Pronatec do IFSC campus Florianópolis-Continente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para finalizar, percebeu-se que a dificuldade demonstrada por muitos alunos acerca do
conhecimento de si, bem como a falta e/ou pouca informação profissional, inclusive sobre as
possibilidades de continuidade dos estudos, as oportunidades de bolsas ofertadas e a gratuidade
em instituições de ensino, como o IFSC, refletem em suas escolhas e projetos de futuro. Com isso,
consideramos que a realização de atividades dessa natureza em ação conjunta na instituição de
ensino contribui para o desenvolvimento vocacional dos estudantes, objetivando a sua
permanência e êxito no curso, bem como no aconselhamento de carreira e inserção laboral.
Cabe ressaltar que também é importante realizar atividades de acolhimento institucional
(coordenadores, professores e colegas) dos alunos, bem como conhecer as expectativas dos
estudantes e dos professores e ofertar serviços de apoio e aconselhamento de carreira. Estas
ações se tornam essenciais tanto para conhecer melhor o aluno quanto para promover sua
permanência e êxito no curso (BASSO, 2014), bem como auxiliar na orientação para o trabalho.
REFERÊNCIAS
BASSO, Cláudia. Aspectos pessoais e contextuais favoráveis à permanência de estudantes
em cursos técnicos do Pronatec. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 2014.
BRASIL. Lei Nº 12.513, de 26 de Outubro de 2011. Institui o Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec); altera as Leis no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, que regula o Programa do
Seguro-Desemprego,o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), no 8.212, de 24
de julho de 1991, que dispõe sobre a organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, no
119
10.260, de 12 de julho de 2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior, e no 11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens
(ProJovem); e dá outras providências. Brasília, 2011. Disponível em:
<http://pronatec.mec.gov.br/images/stories/pdf/lei_12513.pdf>. Acesso em: junho de 2014.
BRASIL. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá
outras providências. Brasília, 2008. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em: junho de 2014.
Brasil. Ministério da Educação (MEC). Pronatec. Brasília: MEC. Disponível em: <
http://pronatec.mec.gov.br/>. Acesso em: setembro de 2014.
120
POC14 - ABORDAGEM CORPORAL BIOCÊNTRICA NA ORIENTAÇÃO PARA O TRABALHO DE
MULHERES NEGRAS INTERNAS DO SISTEMA PRISIONAL.
FERNANDES CRUVINEL, E. 1;
1 - Instituto Federal de Brasília-Campus Gama;
RESUMO
121
RESUMO EXPANDIDO
OBJETIVOS
Este trabalho é um relato de experiência do Campus Gama do Instituto Federal de
Brasília com abordagem corporal biocêntrica na orientação para o trabalho de mulheres
negras internas do Sistema Prisional.
JUSTIFICATIVA
Muitas mulheres condenadas à prisão abandonaram ou não chegaram a frequentar a
escola em razão de terem tido suas vidas marcadas pela miséria econômica, acompanhadas,
não raro, de situações de violência e submissão familiar. Na prisão, as internas atribuem o
aparente desinteresse pelas atividades educacionais à falta de condições emocionais,
resultante da situação de tensão interna e preocupações com a família, em especial com
os filhos. Mesmo diante de um quadro de adversidade emocional e material, aquelas que
estudam na prisão relatam que o núcleo de ensino é uma instituição à parte, onde são
tratadas com respeito. Os motivos que levam as apenadas a buscar o ensino são: a conquista
do respeito e da admiração da família (particularmente dos filhos), o empoderamento e
autonomia em relação aos companheiros ou pais, a redução de pena, a possibilidade de
escrever as próprias cartas (para muitas, única forma de contato com o mundo externo)
sem ter que pedir favores ou pagar às colegas pelo serviço, e até mesmo a possibilidade de
melhor compreender sua situação jurídica. No caso específico dos cursos ofertados pelo
Instituto Federal de Brasília, um motivo adicional é a oferta de ajuda pecuniária de 100
reais/mês e auxílio lanche de 6 reais/dia.
O período de cumprimento da pena deve ser uma oportunidade de dedicação à
educação e preparação para o trabalho, especialmente quando os dados do Ministério da
Justiça indicam que 73,83% das pessoas cumprindo pena de privação de liberdade têm idade
entre 18 e 34 anos. Isto, no entanto, ainda está longe de se tornar realidade, pois apenas
10,35% dos internos estão envolvidos em atividades educacionais (a grande maioria em EJA-
Educação de Jovens e Adultos). A oferta de cursos profissionais a população carcerária é
inexpressiva. No caso específico das mulheres presidiárias, ao lado da falta de qualificação
profissional para atuação no mundo do trabalho, elas enfrentam a barreira da discriminação
de gênero como obstáculo para sua ressocialização. Tal realidade exige que sejam criadas
alternativas de capacitação para estas pessoas, com a possibilidade inclusive de se tornarem
microempreendoras individuais ou coletivas, a fim de alcançarem autonomia na geração de
renda. Evidencia-se que este é um grupo social que depende extremamente da criação
oportunidades educativas para buscar sua reinserção na sociedade e no mundo do trabalho
como alternativa ao crime.
A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, na qual o Instituto Federal de
Brasília-IFB está inserido, de acordo com sua lei de criação (Lei nº 11.892/2008), tem como
prerrogativa a atuação permanentemente articulada e contextualizada a sua região de
abrangência. Desta forma, o Campus Gama do Instituto Federal de Brasília localizado na
mesma Região Administrativa (RA- Gama) e a cerca de 3 km da Penitenciária Feminina do
Distrito Federal não poderia se fechar a possibilidade de atender à população carcerária
feminina do Distrito Federal. Desde 2012 o Campus Gama vem atendendo mulheres em
situação de vulnerabilidade (inclusive a apenadas) a partir do Programa Mulheres Mil da
122
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica- SETEC/Ministério da Educação-MEC
(Portaria 1.015/2011). O Programa é uma Política Pública do governo Brasileiro em que o
fazer pedagógico é um instrumento transformador, sintonizado com as demandas sociais,
econômicas e culturais. O diferencial do programa é trabalhar a questão de gênero, aliada à
profissionalização e à elevação de escolaridade. A meta do Programa Mulheres Mil, que hoje
integra o Brasil Sem Miséria, do governo federal, é promover, até o final do ano de 2014, a
emancipação social, econômica e educacional de 100 mil brasileiras.
Em 2013, o Campus Gama ofertou o curso de Artesanato e Estética de Cabelo Afro e
optou por ofertar uma carga horária de biodança para que, através da abordagem corporal
biocêntrica, estas mulheres recebessem orientação para o trabalho. No contexto da
orientação vocacional, Pabst (2010) diz que se entende por técnicas corporais toda a
atividade que coloca o sujeito de corpo inteiro dentro de um fazer concreto, dramático,
imaginado, buscando soluções para uma situação imaginária ou proposta. A autora coloca
ainda que, naturalmente, essas propostas são oriundas de situações que precisam ser
reconstruídas ou ressignificadas. A biodança é um sistema de desenvolvimento humano
voltado para a expressão das potencialidades genéticas de cada pessoa, muitas vezes
reprimidas/negadas pela sociedade. Utiliza música, movimento e consigna para deflagrar
vivências harmonizadoras/integradoras que promovem o fortalecimento da identidade. A
Biodança orienta-se pelo Princípio Biocêntrico e busca sacralização da vida. Na Biodança, cada
indivíduo gera sua própria dança e nela expressa sua existência. Em seu livro A Inteligência
Afetiva, Rolando Toro (2006), coloca que todas as formas diferenciadas de inteligência
motora, espacial, mecânica, semântica, social etc. têm uma fonte comum: a afetividade.
Nenhuma das inteligências pode escapar dos processos afetivos de elaboração
simbólica. Para nós, a elaboração simbólica do trabalho também não pode negligenciar o
afeto. A inteligência afetiva é uma capacidade potencial que todas as pessoas possuem. No
entanto, está profundamente bloqueada pelas dissociações afetivas a que padecem as
sociedades. Também por isso, trabalhar a orientação para o trabalho a partir de uma
abordagem biocêntrica.
Quando se trata de população carcerária a necessidade de uma abordagem corporal é
muito evidenciada. Souza (2013), discute que a prisão imprime no corpo e na gestualidade
corporal dos(as) internos(as) marcas como: olhar aterrorizado, cabeça abaixada, ombro
encolhido, respiração curta, rosto triste, envelhecimento precoce, apatia, expressão
desesperada, medo e vergonha. A biodança, enquanto construção metodológica, pode ajudar
a dissolver essas impressões e ressignificar o movimento do corpo dos(as) internos(as) diante
da vida e do trabalho. Por isso, foi adotada a abordagem corporal e biocêntrica na orientação
para o trabalho com as alunas do curso de Artesanato e Estética de Cabelo Afro.
PROCEDIMENTOS
A abordagem corporal biocêntrica na orientação para o trabalho foi desenvolvida com
alunas do curso de Artesanato e Estética de Cabelo Afro, ofertado em 2013 pelo IFB a 30
mulheres internas do Sistema Prisional em regime fechado. O curso objetivou oportunizar
qualificação profissional às internas; possibilitar às mulheres resignificarem suas atitudes
diante da vida e do trabalho, ocupando espaços, percebendo-se enquanto pessoa, na relação
com o outro e com o ambiente; possibilitar o fortalecimento da identidade, com foco nas
questões de gênero e raça. O curso de Artesanato e Estética de Cabelo Afro teve uma carga
123
horária de 160 horas-aula de 50 minutos, divididas nas componentes: Informática (40h),
Comunicação oral e escrita (16h), educação financeira e gestão (16h), Artesanato (40h),
Estética (28h) e Biodança (20h). As aulas ocorreram no Núcleo de Ensino da Penitenciária
Feminina do Distrito Federal (popularmente conhecida como Colmeia). Os professores
optaram por não saber da vida pregressa das estudantes, no que se referia aos motivos que
as fizeram estarem em restrição de liberdade e nem no que se referia a sua passagem pelo
mundo do trabalho para que não ficassem tentados a emitir juízo de valor sobre a
conduta das estudantes. Assim, todo planejamento foi focado nas potencialidades de vida e
profissionais que as estudantes apresentavam e nas possibilidades de reinserção social pelo
trabalho.
Os critérios definidos pelo IFB para a seleção das alunas foram: 1. cor da pele
(prioridade para as declaradas negras e pardas; 2. escolaridade (prioridade para as de
menos escolaridade); 3. número de filhos (prioridade para o maior número de filhos) e; 4.
reincidência (prioridade para as reincidentes). Após a seleção das estudantes, foi realizada
uma reunião com a direção do presídio onde a equipe do IFB conheceu as normas de
conduta que deveriam ser adotadas pelos professores e coordenação no interior da
unidade prisional. Foi realizada também uma reunião de aproximação das estudantes com a
equipe de professores e coordenação do curso para apresentação da proposta. Na reunião as
alunas relataram sobre a necessidade de qualificação profissional e externarem suas
expectativas em relação ao curso.
As aulas de biodança foram planejadas a partir da abordagem corporal biocêntrica
e ocorreram em 5 encontros semanais. A metodologia dos encontros foi construída com foco
na associação entre o mundo do trabalho e os propósitos e recursos da Educação
Biocêntrica (Toro, 2006), cultivo da afetividade, contato com a própria identidade,
criatividade, desenvolvimento da sensibilidade cenestésica, percepção corporal e destreza
motora, aprendizagem visceral e visão integral do universo, integração com a natureza e
desenvolvimento da consciência ecológica, desenvolvimento e ampliação da percepção,
expansão da consciência ética.
Cada encontro foi estruturado em três momentos: verbalização, construção criativa e
vivências corporais biocêntricas. A verbalização e construção criativa produziram elementos
para a contextualização das vivências, que na biodança são deflagradas a partir do tripé,
consigna, música e movimento. As músicas utilizadas foram do repertório oficial da
International Biocentric Foundation-IBF indicadas para grupos de iniciantes em biodança.
Nos momentos de verbalização as alunas eram estimuladas a dialogar sobre o que
vivenciaram na semana anterior, durante o curso e fora do curso. As mulheres foram
orientadas para o respeito e escuta atenciosa à fala das colegas.
Os momentos de construção criativa foram: apresentação individual através de
colagem livre (tema abordado: quem eu sou); elaboração dos croquis do artesanato (temas
abordados: cores da vida, harmonia, equilíbrio); a árvore que sou (temas abordados:
renovação, transformação, ciclos da natureza/ciclos de vida, flexibilidade, enraizamento,
vinculação nutritiva); confecção de bijuterias (temas abordados: habilidades para o trabalho
criativo e produtivo); árvore das virtudes (temas abordados: virtudes). No último encontro, as
alunas foram estimuladas a refletir sobre as virtudes que precisam fortalecer em si, na relação
consigo mesmas, com o outro e com o planeta, tanto nos aspectos pessoal quanto
profissional. Este encontro foi baseado no livro Pequeno tratado das grandes virtudes de
124
André Comte-Sponville, editado pela Martins Fontes (São Paulo) em 1999. O autor apresenta
as virtudes como essência do humano e descreve 18 virtudes, polidez, fidelidade, prudência,
temperança, coragem, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, humildade,
simplicidade, tolerância, pureza, doçura, boa-fé, humor e amor.
Para as vivencias corporais biocêntricas utilizou-se exercícios de biodança: rodas,
caminhares, danças livres e fluidez. De modo geral, os objetivos das vivências foram:
olhar, chegar, estar presente; sentir o espaço, ouvir o coração e perceber o corpo; Caminhar
com alegria experimentando movimentos criativos; caminhar com encontros, ver no outro
o seu espelho e fazer caretas criativas para a outra imitar; caminhar com determinação
em direção ao objetivo; caminhar com coragem e gratidão; exercitar a doçura do olhar e, a
generosidade e o amor para consigo mesmas; aprender a defender seus pontos de vista e
entrar em conexão com a própria força; facilitar a aceitação das outras companheiras, facilitar
a redução da competição (dentro das celas, entre celas e entre facções), possibilitar a
superação da discriminação. Durante as vivências foram dirigidas às alunas mensagens
afetivas e de encorajamento reforçando a consignas que eram apresentadas tanto do no
contexto do indivíduo quanto na sua relação com a sociedade e com o mundo do trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que se refere ao perfil socioeconômico, na época da seleção (agosto de 2013) a
faixa etária das alunas estava entre 19-25 anos (40%), 26-29 anos (23%) e mais que 30
anos (37%). No que se refere à cor da pele, 60% das alunas se declararam pardas, 37%
negras e 3% brancas. A avaliação da escolaridade identificou que 70% das alunas possuíam o
ensino fundamental incompleto, 10% o ensino médio incompleto e 20% o médio completo.
Quando ao reingresso das mulheres no sistema prisional constatou-se que 40% era réu
primária, 23% tinham até dois reingressos no sistema e 37% tinham mais de 2 reingressos.
O relato das alunas sobre o curso (em especial as aulas de biodança) foi bastante
positivo, tanto no que se refere à produção criativa quanto os momentos vivenciais. Apesar
de algumas alunas terem declarado no início que a motivação em fazer o curso era a remissão
de pena e os auxílios que receberiam (bolsa mensal de 100 reais e vale lanche de 6 reais/dia),
na avaliação do curso e autoavaliações das alunas, algumas mulheres relataram que
identificaram em si habilidades para o trabalho criativo de concepção das bijouterias, outras
para a manufatura, e outras para a comercialização. De modo geral, as alunas se mostraram
motivadas a aprender por vislumbrarem a possibilidade de se tornarem empreendedoras
quando egressas do sistema prisional. Sobre as aulas de biodança as alunas relataram: -
Aprendi coisas que jamais imaginaria; - Me fez relaxar completamente; - Me ensinou a viver
mais e bem melhor, por caminhos diferentes; - Gosto da vida como ela é cheia de altos e
baixos; - Descobri as minhas virtudes e o que ainda falta para me tornar uma pessoa melhor; -
Me proporcionou encontros comigo mesma; - Aulas maravilhosas; - Aprendi varias coisas
boas e assim posso passar adiante; - Experiência legal, distração e aprendizado; - A arvore
que sou me fez refletir muito; - Eu quero mais e mais ser importante; - As aulas de Biodança
me ensinaram a dar mais valor as coisas; - E bem legal conversar com o grupo, adoro sorrir e
brincar; - Estimulou a minha mente.
Cerca de 50% das mulheres participaram dos momentos vivenciais como
“expectadoras”, mas relataram que “aprenderam” através observação das danças das
demais mulheres e da participação nos momentos de verbalização e construção criativa, e
125
que da “próxima vez” iriam participar. Este comportamento era esperado. A biodança propõe
abertura para a vida e o fortalecimento da identidade de forma progressiva. Apesar do
planejamento (escolha dos exercícios e das músicas) ter respeitado o princípio da
progressividade, o curso aconteceu em curto período de 5 semanas. Aliado a isto, é
importante considerar que a população carcerária está inserida em um ambiente de
crueldade, desrespeito, competição e poder. Por isso, desenvolve mecanismos de defesa
que dificultam a sua abertura para as relações de afeto e confiança (consigo e com o outro) o
que demanda tempo. O ambiente e as condutas do sistema prisional brasileiro destroem toda
e qualquer possibilidade de exaltação da sacralidade da vida e tornam muito mais necessárias
as experiências “enteógenas”, por isso as internas buscam (desesperadamente) na compulsão
religiosa o encontro com o seu Deus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência aqui relatada é de caráter puramente pedagógico e não apresentou
nenhum objetivo terapêutico. No entanto, avaliando-se a dinâmica dos encontros e os relatos das
alunas, admitimos que naturalmente, em função da condição de restrição de liberdade a que as
alunas estavam submetidas, todo o curso teve um caráter terapêutico ocupacional para as
alunas. As aulas de biodança, em especial, foram o espaço de diálogo oferecido às alunas e por
isso o caráter terapêutico foi ainda mais evidente. Isso porque as atividades criativas com base no
princípio biocêntrico e a biodança proporcionaram às participantes o resgate de algo que
foi perdido durante o seu desenvolvimento pessoal e profissional e foi uma oportunidade para
se trabalhar questões latentes no cotidiano das internas, inclusive o preconceito que o egresso do
Sistema Prisional sofre na conquista do trabalho.
Trabalhos como este, que buscam capacitar pessoas afastadas do convívio social e
oferecer orientação para o trabalho, podem ter grande relevância na redução do tempo de
internamento, na reintegração das egressas do sistema prisional na sociedade e na redução
nos índices de reincidência. Mas é importante que se trabalhe muito mais temas além dos
trabalhados, a exemplo da imagem pessoal no trabalho, elaboração de currículo,
comportamento para entrevista, e planejamento de carreira.
Infelizmente, a educação profissional no Sistema Prisional é ineficiente e a orientação
para o trabalho inexiste. Esbarramos na escassez de profissionais que se dediquem à educação
prisional e à orientação profissional para a população carcerária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PABST, Maria Aparecida. É possível propor um processo de orientação vocacional
através de técnicas corporais? In: LASSANE, M.C.P. Técnicas para o trabalho de orientação
profissional em grupo. Porto Alegre; Editora UFRGS. 2ª Ed., 2010. 274 p.
SOUZA, José Nildo de. A teatralidade precária: uma experiência ressocializadora diante
das práticas institucionais de violência simbólica e metaforização da cidadania no Complexo
Penitenciário do DF. Brasília; Editora Cara e cultura negra/Instituto Marka, 2013. 133p.
TORO, Rolando. Inteligência Afetiva. In: FLORES. F.E.V. Educação Biocêntrica:
aprendizagem visceral e integração afetiva. Porto Alegre; Editora Evangraf, 2006, 180p.
126
POC15 - DESAFIOS DA PRÁTICA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CURRÍCULO DO ENSINO
MÉDIO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
FROTA, A.K. 1;
1 - Empresa Pleno e Escola EMI;
RESUMO
O presente resumo do eixo “orientação para o trabalho” tem como objetivo apresentar os
desafios encontrados em uma experiência de orientação profissional no currículo do ensino médio
– da 1ª a 3ª série – em uma escola particular da cidade de São Luís no estado do Maranhão. Sendo
a escola esse espaço onde o aluno desenvolve suas potencialidades afetivo-cognitivas e sociais,
com o objetivo não só de fornecer conhecimento teóricos, mas também de reparar para o
trabalho (Soares-Lucchiari, 1993), a orientação profissional se insere neste contexto como espaço
potencializador para gerar reflexões sobre as questões relacionadas ao trabalho. A experiência a
ser relatada foi organizada a partir da leitura, análise e organização das informações registradas
em diários de campo redigidos pela orientadora profissional que conduz a presente prática. Após a
avaliação dos registros do diário foram listados alguns desafios encontrados, como: a ausência de
modelos e registros sobre a prática da orientação profissional no currículo do ensino médio; a sala
de aula e suas exigências; a dupla atuação na mesma instituição como psicóloga escolar e
orientadora profissional; a quantidade de alunos e a duração de cada encontro; e o
desconhecimento por parte dos profissionais da escola, pais/responsáveis e dos alunos com
relação à proposta da orientação profissional de forma mais ampla e não direcionada somente
para a escolha da profissão. O registro e a divulgação das práticas em orientação profissional
contribuem para a discussão do fazer na área, bem como a troca de experiências dos profissionais
ajuda na construção e divulgação das boas práticas. Os desafios encontrados e relatados estão
diretamente relacionados à necessidade de explorar, sistematizar e divulgar o fazer da orientação
profissional curricular.
127
RESUMO EXPANDIDO
INTRODUÇÃO
A orientação profissional (OP) é um processo que pode acompanhar o ser humano ao
longo de toda a sua vida profissional: desde a primeira escolha, passando pelo planejamento de
carreira, possíveis mudanças de profissão, desemprego, recolocação, incluindo o momento de
pensar na aposentadoria e outros projetos.
A orientação profissional e suas possibilidades se espalham e se ramificam entre jovens,
adultos, empregados, desempregados, aposentados e outros. Porém, a primeira escolha acontece
geralmente nos anos finais da vida escolar, concomitante à adolescência que é um período de
muitas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Entre todos os públicos de orientação profissional,
os jovens em fase de primeira escolha se destacam pelo momento de culminância de tantas
experiências relevantes em um curto espaço de tempo e crescimento. É uma fase tão marcante e
cheia de nuances que, não raramente, nos processos de orientação com outros públicos adultos
muito se ouve e se percebe o quanto esse momento inicial dá um tom positivo ou negativo para
todos os outros momentos que se seguem ao longo da vida profissional daquela pessoa.
Os momentos de pensar ou repensar a trajetória profissional suscita sentimentos diversos
que não podem ser significados por outrem que não o próprio indivíduo, e com esse momento de
primeira escolha não é diferente.
Ao falarmos de jovens e escolha da profissional é praticamente impossível, dentro do nosso
recorte social e cultural, não falarmos das instituições escolares. A escola é definida como o
espaço onde o aluno desenvolve suas potencialidades afetivo-cognitivas e sociais, e seu objetivo
seria não só fornecer conhecimento teóricos, mas também preparar para o trabalho (Soares-
Lucchiari, 1993). Diante disso, o trabalho precisa ser encarado como um componente educativo
que deve estar incorporado à prática pedagógica. A escola que se propõe a ser um novo nexo
entre educação e trabalho busca, portanto, propiciar conhecimentos necessários à compreensão
do homem em todas as suas dimensões (Crestani, 2000). Sobre a escola e o trabalho, Lehman
(2010) contextualizou que:
“ (...) o sistema de ensino brasileiro realizou algumas reformulações para acompanhar as mudanças ocorridas
no mundo do trabalho. A Lei de Diretrizes e Bases de 1997 determinou que 25% do currículo do ensino médio
deve ser flexível, de modo a incluir disciplinas que sejam adequadas às necessidades da comunidade. Surge,
então, um espaço para que a OP possa se integrar à grade curricular, tornando formal e responsabilidade da
escola em lidar com a questão”.
129
direção de uma escola de educação infantil e fundamental que atua há mais de 25 anos em São
Luís.
O processo de orientação profissional na instituição em questão está estruturado em
encontros semanais, com duração de 50 minutos, dentro da grade horária dos alunos da 1ª, 2ª e
3ª série do ensino médio. Além dos encontros, outras atividades são organizadas para ampliar a
experiência em sala de aula, como: visita de profissionais, momentos destinados somente a jogos
de informação profissional, discussão de filmes com temáticas pertinentes ao processo de
orientação profissional e apresentação de seminários das profissões. Além dos encontros em sala
de aula, são disponibilizadas 04 (quatro) horas semanais para atendimento dos alunos que buscam
um suporte mais individualizado para questões diversas.
PROCEDIMENTO
O presente relato de experiência foi organizado a partir da leitura, análise e organização
das informações retiradas dos diários de campo escritos pela orientadora profissional. A prática de
escrever o diário a partir do contato com a prática apresentou-se como uma forma de registrar
tanto as atividades o processo, mas sem perder as impressões e avaliações da orientadora com
relação aos diversos momentos que envolveram a prática da orientação profissional do currículo
do ensino médio.
A produção dos diários começou juntamente com a confirmação da contratação da
orientadora. Desde esse primeiro momento mais simbólico, mas de grande importância para o
processo, tudo ia sendo registrado pela ótica do fato em si e das percepções de quem conduzia as
pesquisas, o planejamento e efetivava a ação: a orientadora profissional.
Com relação aos relatos dos encontros, para uma melhor comparação eram feitos em duas
etapas. Antes do encontro com a turma acontecer era registrado no diário de campo o
planejamento e os objetivos com aquele determinado encontro. Posteriormente ao momento do
encontro, era registrado o passo a passo com os alunos por completo com foco no que aconteceu
dentro do planejado, bem como, tudo o que precisou ser alterado e as razões para tal.
DISCUSSÕES E RESULTADOS
A análise dos relatos nos diários de campo permitiu categorizar os desafios que se
apresentaram ao longo desses dois anos na prática da orientação profissional no currículo do
ensino médio. Os desafios encontrados e analisados estão apresentados a seguir na ordem
cronológica em que apareceram nos diários de campo e organizados em tópicos para melhor
visualização e compreensão.
130
A orientação profissional em sala de aula no formato obrigatório e curricular tem suas
peculiaridades e exige uma atuação diferente da atuação com grupos em outros ambientes como
os que acontecem na clínica ou em projetos diversos. Há, inclusive, uma acentuada diferença
entre a orientação profissional realizada em espaço de sala de aula no contra turno e optativa do
modelo relatado no presente trabalho. As questões envolvidas são diversas e vão desde
indisciplina até o maior aproveitamento do tempo e espaço.
Para o orientando, o orientador profissional em sala de aula de forma curricular
desempenha um papel equivalente ao do professor, figura que histórica e socialmente representa
esse espaço. Através da análise dos diários de campos, percebe-se claramente tanto por parte dos
alunos, como dos funcionários em geral e da instituição, um período de adaptação para lidar com
um profissional que está em sala de aula com os alunos semanalmente durante todo o ano letivo,
porém não tem provas, notas entre outras exigências como acontece com os professores. Por
outro lado, há a adaptação do orientador com as regras e as normas institucionais que se
relacionam diretamente com o seu fazer no espaço da sala de aula e as questões de indisciplinas.
Outro desafio recorrente no relatos diz respeito a otimização do tempo dos encontros para
a quantidade de alunos. A quantidade de alunos em uma sala de aula difere da quantidade de
jovens em grupos de orientação profissional em outros espaços, as reflexões e a profundidade das
discussões foram se mostrando diferentes ao longo desses dois anos de experiência. Os diários
estão cheios de impressões sobre o quanto o momento da discussão em sala era interrompido por
questões de tempo e duração do encontro. Bem como, cheios de relatos sobre a adaptação de
atividades para melhor aproveitamento do tempo disponível e da quantidade de alunos.
Os dois anos de registro do diário de campo correspondem aos dois anos iniciais da
instituição de ensino, ou seja, a orientação profissional curricular no EMI se confunde com a
própria história da escola. Não foram poucos os relatos registrados que configuravam desafios já
trabalhados ou a serem superados, porém a sua grande maioria desses desafios diz respeito a
construção contínua do fazer da orientação profissional em alinhamento com a instituição que
também está se alicerçando para crescer. Os desafios que decorrem desse início dizem respeitos
aos ajustes da proposta do processo de orientação profissional com a proposta da instituição, dos
espaços da escola a serem utilizados e explorados, dos projetos e eventos que contribuem para a
131
ampliação da orientação profissional, dos próprios processos institucionais, da sensibilização da
equipe, das possibilidades de inovação e etc. A novidade ainda é uma constante sob todos os
aspectos e em ambos os lados.
132
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O registro e a divulgação das práticas em orientação profissional contribuem para a
discussão do fazer na área, bem como a troca de experiências dos profissionais ajuda na
construção de novas formas de atuação. Os desafios encontrados e relatados no presente
trabalho estão diretamente relacionados à necessidade de explorar, sistematizar e divulgar o fazer
da orientação profissional curricular. Freire (1997), de forma assertiva, colocou que programar e
avaliar não são, contudo, momentos separados um à espera do outro. São momentos em
permanentes relações. A programação inicial de uma prática, às vezes, é refeita luz das primeiras
avaliações que a prática sofre. Avaliar implica, quase sempre, reprogramar, retificar. A avaliação,
por si mesmo, não se dá apenas no momento que nos parece o ser final de certa prática. Com
base nisso, o relato de experiência apresentado está caminhando para seu crescimento e, para tal,
está estruturado e disponível para avaliações diversas de quem está começando ou quem já tem
um percurso na orientação profissional. O objetivo inicial está cumprido: disponibilizar uma
prática ainda rara no nosso país como a orientação profissional curricular para discussão e
melhoria.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bianchetti, L. (1996). Angústia no vestibular: Indicações para pais e professores. Passo
Fundo, RS: EDIUPF.
Bohoslavsky, R. (1977). Orientação Vocacional : A estratégia clínica. São Paulo: Martins
Fontes.
Crestani, R. A. (1999) Orientação vocacional, ocupacional e profissional numa escola de
ensino fundamental e médio. In M. Lisboa & D. H. Soares (organizadoras). A orientação
profissional em ação – formação de orientadores profissionais. São Paulo: Summus.
Lehman, Y. P. (2010) Orientação Profissional na pós-modernidade. In Levenfus, R. S. &
Soares, D. H. P. (Orgs). Orientação vocacional ocupacional. (2ª ed). Porto Alegre: Artmed.
Freire, P. (1997) Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’Água.
Soares-Lucchiari, D. H. P. (1993) Pensando e vivendo a orientação profissional (2a ed.). São Paulo:
Summus.
Uvaldo, A. C. C. & Silva, F. F. (2010) Escola e escolha profissional: um olhar sobre a
construção de projetos. In Levenfus, R. S. & Soares, D. H. P. (Orgs). Orientação vocacional
ocupacional. (2ª ed). Porto Alegre: Artmed.
133
POC16 - NOVAS FORMAS DE CARREIRA E AFROUXAMENTO DE VÍNCULOS: ORIENTAÇÕES E
DESORIENTAÇÕES DO TRABALHO SOB O CAPITALISMO FLEXÍVEL.
DALTO GN 1; BATISTA-DOS-SANTOS AC 1;
1 - UECE - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ;
RESUMO
134
RESUMO EXPANDIDO
OBJETIVOS
Partindo da verificação de uma intensa agenda de pesquisa sobre a identificação,
proposição e análise das novas tipologias de carreira (BENDASSOLLI, 2009; CHANLAT, 1995, 1996;
KILIMNIK; CASTILHO, 2006; SILVA; BALASSIANO; SILVA, 2014, TOLFO, 2002), este trabalho se ocupa
com uma questão ainda demandante de debate: a relação entre as novas concepções de carreira e
o estabelecimento de vínculos sob o capitalismo flexível. O texto parte de interrogações como: Os
novos modelos de carreira são fortalecedores dos vínculos entre trabalhador e organização? É
possível equacionar o discurso do “vestir a camisa da empresa” com as novas maneiras de pensar
e promover carreiras? As novas modalidades de carreira implicam em riscos de desorientação nas
experiências de trabalho? Elegeu-se como campo de estudo os profissionais de Recursos Humanos
(RH) por entender que os mesmos estão situados na zona de intersecção entre objetivos e
demandas organizacionais e pessoais. A pesquisa teve, então, o objetivo de compreender a visão
dos profissionais de RH sobre a relação entre as novas concepções de carreira e o estabelecimento
de vínculos interpessoais e organizacionais, em tempos de capitalismo flexível.
135
sobre as consequências dessas novas dinâmicas nas relações de trabalho e melhor compreensão
dos reflexos dessas mudanças nos laços ou vínculos. Ainda, a pesquisa pode auxiliar profissionais
de Recursos Humanos nas suas atribuições de mediação e orientação das relações de trabalho.
METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida com orientação qualitativa na coleta e na análise das
informações (DESLAURIERS; KÉRISIT, 2008). Uma entrevista semiestruturada com uso de
elemento-estímulo foi realizada com cada sujeito de pesquisa. O elemento-estímulo foi utilizado
como recurso incentivador e norteador da fala, pois este possibilita ao pesquisador obter o
máximo de informação multidisciplinar (de cunho sociológico, psicológico, político) relevante e
necessária à pesquisa, sem transformar a entrevista em interrogatório. Usando elementos que
estimulem o entrevistado a discorrer sobre a temática central, o pesquisador provê condições de
exame do tema em termos de práticas e de experiências subjetivas, de afetos e conhecimentos, de
teorias e práticas as mais próximas da realidade de uma relação entre iguais (ALBANDES-
MOREIRA, 2002; BATISTA-DOS-SANTOS, 2013). O elemento-estímulo foi a palavra CARREIRA,
colocada em letras grandes, sobre a mesa diante do entrevistado, solicitando-se que falasse
livremente sobre suas opiniões, sentimentos e história de vida com ela.
Depois do entrevistado falar livremente sobre o elemento estímulo, procedia-se com a
entrevista mediada pelo roteiro previamente elaborado. O que se tinha em vista era uma escuta
ativa do entrevistador, seguida da busca de uma interlocução entre sujeitos a respeito do objeto.
Os perfis dos sujeitos de pesquisa são os apresentados no Quadro 1.
Tempo de
Código Ramo da
Gênero Idade Escolaridade Curso Função Experiência
entrevistado empresa
em RH
Técnica de
Superior Ciências da
E1 Feminino 27 Petróleo Administração 4 anos
completo Computação
e Controle
Superior Recursos
E2 Feminino 45 Psicologia Gás 25 anos
completo Humanos
Superior Recursos Recursos
E3 Feminino 38 Siderurgia 10 anos
completo Humanos Humanos
Superior Adm. de Estagiária em
E4 Feminino 22 Educação 4 meses
incompleto Empresas RH
Fonte: elaboração dos autores (2014)
136
PRINCIPAIS RESULTADOS
As entrevistas foram tomadas como uma narrativa totalizante sobre o objeto de estudo. Do
processo de análise temática emergiram sete temas principais, com seus respectivos subtemas.
O primeiro tema, nomeado como concepções de carreira, guarda relação com a maneira
como definem o construto carreira, a partir de suas opiniões e vivências. De maneira recorrente,
as entrevistadas atrelam suas definições de carreira à dimensão temporal, como algo que
preenche um lugar no tempo vivido das pessoas. Diversas metáforas exemplificam
discursivamente suas maneiras de conceber carreira. A metáfora da construção, por exemplo,
qualifica a relação entre carreira e tempo, na narrativa. Para elas, a carreira se inscreve no tempo
vivido das pessoas como algo que é por elas próprias construído, ao longo do tempo, devendo-se
evitar qualquer noção de imediatismo. Essa ideia, a do adiamento, é sustentada por uma outra
metáfora sistêmica orgânica do crescimento. Neste sentido, para elas, deve-se investir na
construção da carreira ao longo do tempo, mas com a consciência de também aguardar o tempo
“natural” do crescimento. Foi também frequente um raciocínio que atrela carreira a movimento,
expresso em termos como percorrer, estar procurando, seguir uma carreira, trajetória circunscrita
a uma esfera da vida, que elas segmentam como a vida profissional.
As compreensões das entrevistadas tendem a se mostrar convergentes às concepções
correntes nos dicionários e na literatura especializada (HOUAISS, 2001; RAMOS; BENDASSOLI,
2013). Há uma tendência, contudo, de destacarem mais o aspecto individual, através da metáfora
da construção, do que o de tomar a carreira apenas como um caminho ou percurso, como o faz a
literatura. Para elas, é menos o espaço ou seu percurso e mais o agente, o caminhante e o que ele
faz no percurso. A orientação para o trabalho emerge como auto-orientação do trabalhador.
O tema modelo antigo de carreira foi citado com recorrência entre as entrevistadas. As
citações que se fizeram, confirmam a referência a um elemento temporal que remete a uma
época passada. Essa relação com passado pode ser observada na conjugação verbal em formas do
pretérito. E1 e E4, por exemplo, utilizam a conjugação verbal no pretérito imperfeito: “a pessoa
entrava... passava... e se aposentava...,”(E1) e “enraizava mesmo...” (E4). Com relação a E2 e E3,
percebe-se conjugações verbais utilizadas no pretérito mais que perfeito: “fizeram” (E2) e “antes o
modelo era...” (E3). A utilização de elementos semânticos que remetem ao tempo passado fica
evidenciado também com o uso dos advérbios de tempo “antes” (E1, E3) e “antigamente” (E4).
As narrativas recorrem a um antagonismo entre o que ocorria no passado, no que se refere
ao modelo antigo de carreira e o que ocorre hoje. Expressões metafóricas foram utilizadas
referindo-se a um modelo rígido, amarrado, engessado, ou, ainda, referindo-se a um modelo que
enraizava. Essa relação metafórica pode ser contextualizada pelo perfil de carreira que se
apresentava em décadas passadas, com a característica de relação de longo prazo entre
trabalhador-empresa (OLTRAMARI, 2008).
As percepções do modelo antigo de carreira foram justificadas pelas entrevistadas em
função de literatura oriunda dos estudos, histórias contadas por pessoas que vivenciaram a
dinâmica em gerações anteriores, ou, ainda, pela vivência de quem tem longa experiência e
vivência de mercado de trabalho em RH (E2) e acompanhou as mudanças na prática cotidiana.
O tema imperativo da economia emerge suportado por unidades de sentido como
economia, mercado, organizações, empresa. Neste tema, está subjacente a ideia de autonomia do
mercado, da economia, que se reflete em autonomia da empresa enquanto agente econômico.
137
E3 ressalta que o trabalhador tem percepção desses imperativos do mercado; sabe de suas
exigências e que estas se refletem em exigências também no contexto organizacional onde se dá a
atuação direta do profissional. E3 sugere haver uma consciência, por parte do trabalhador, da
cobrança permanente em função de uma ambiência de exigência advinda de todos os lados. Ela
metaforiza o mercado como um organismo ou objeto que poderá ter sua temperatura elevada ou
diminuída, sinalizando a perspectiva sistêmica de imperativo adaptativo. À “temperatura do
mercado” ela atrela, por exemplo, a empregabilidade na sua área de atuação profissional: o RH.
Predominantemente, os imperativos da economia, mercado e organizações são
especificados pelos sujeitos em relação: i) aos tipos de carreiras; ii) às mudanças nos estilos de
carreira; iii) à ampliação ou retração de vagas; e iv) às mudanças na organização da vida pessoal.
No que se refere às exigências da economia em relação às tipologias de carreira, E1 lança
luz sobre as frequentes mudanças na valorização de determinado conhecimento, ao longo do
tempo, sinalizando que a atenção ou demanda por este ou aquele conhecimento é contingente
aos movimentos do mercado, estando as tipologias de carreira também dependentes disso. E1
parece perceber que, ao nível do indivíduo, tal situação impõe uma escolha crítica no tocante à
profissão e à carreira, o que pode gerar desorientação: buscar fazer o que gosta ou entregar-se a
qualquer ramo de acordo com os imperativos mercadológicos. A esta segunda opção, E1
condiciona tal possibilidade ao perfil do sujeito trabalhador. Ela sugere que, na atualidade, estão
aptas a sujeitar-se aos imperativos da economia pessoas com características de dinamicidade e
ecletismo; donde a própria busca pelo conhecimento se acha contingente ao aqui e agora do
mercado, própria àqueles que tomam a adaptação como melhor orientação para o trabalho.
Semelhantemente, quando perguntadas sobre os motivos das mudanças nos estilos de
carreira, as entrevistadas tendem a apontar a adaptação ao mercado como o fator preponderante
da mudança nos estilos, ressaltando a dimensão exterior ao indivíduo, o mercado, como
condicionante do “jeito de fazer carreira” ao longo do tempo. Além disso, ressalta-se na narrativa
que os imperativos também se dão em termos de velocidade de resposta, de adaptação ao que se
demanda exteriormente. A formação igualmente se dá com grande rapidez e volume.
Segundo a narrativa, os imperativos da economia tendem a atingir o trabalhador ao nível
pessoal em termos de reorganização pessoal. E2 pontua que as mudanças vão se traduzir como
desafios que se dão ao nível do mercado, enquanto ambiente externo às organizações, também
ao nível dessas, como “continente” mais imediato de vivência do trabalhador, e implicarão numa
exigência totalizante para o indivíduo. A sua fala é expressiva quanto a isso; para ela, parece não
haver possibilidade de fuga individual, o indivíduo “tem que se reorganizar”, e não parcialmente,
deverá fazê-lo “inteiramente”, donde sugere-se que ela pode não estar falando tão somente de
aspectos objetivos ligados ao exercício profissional, mas tal inteireza pode guardar relação
também com aspectos subjetivos. Novamente, há a emergência de uma metáfora orgânica. É
necessário atender aos imperativos da economia, visando à sobrevivência.
O tema oportunidades emergiu pela recorrência das unidades de sentido oportunidades e
desafios, tendo aprendizagens e conhecimento como unidades esclarecedoras do sentido que dão
ao tema oportunidades. Ainda, observa-se que o tema oportunidades apresentou expressiva
convergência com o tema imperativo da economia/mercado/empresas, especialmente
relacionado ao poder imputado às empresas pelas entrevistadas.
E2 apresenta a empresa como aquela que tem o poder de escolher o trabalhador, o qual se
vê, após ser escolhido, diante de uma grande oportunidade profissional. A entrevistada destaca
que a situação de escolha empresarial, transformada em oportunidade pessoal, se dá no contexto
138
de competição entre indivíduos. Assim, o imperativo mercadológico/empresarial se expressa
também na evocação do tema oportunidade profissional, pelas entrevistadas, reproduzindo, ao
nível dos indivíduos, a lógica da competição empresarial num contexto de economia de mercado,
donde infere-se uma orientação para o trabalho calcada na competição interpessoal, a qual pode
representar, dialeticamente, o risco de afrouxamento dos vínculos interpessoais.
E4, por sua vez, entende as oportunidades como desafios que se apresentam aos
profissionais. Ela condiciona a existência de oportunidade ao perfil do trabalhador. Segundo sua
compreensão, nunca faltará oportunidade para aquele que ela valora como “bom”, e acrescenta
que o mercado de trabalho é grande o suficiente para “abarcar” todos os bons. Seu raciocínio
parece convergir para a compreensão de E2 quanto à competição, donde pode-se inferir que as
entrevistadas entendem ser a competição a forma mercadológica de seleção daqueles que
demonstram ser os melhores, numa espécie de orientação profissional darwinista.
Na narrativa, as oportunidades também guardam relação com o momento em que o
trabalhador está na sua carreira. No início da vida profissional, por exemplo, o tema
oportunidades é visto por E4 como “qualquer oportunidade” que permita ao jovem trabalhador
ingressar no mercado de trabalho. Ela parece relativizar o “com que trabalhar”; a orientação para
o trabalho nessa fase da vida seria: começar de qualquer jeito, pois o que importa é começar. É
assim que ela narra a sua própria aproximação da área de RH. Ela não apresenta o RH como uma
escolha pessoal consciente, fruto de uma reflexão sobre sua profissão e carreira futuras, mas
como algo oportuno porque se apresentou no momento em que ela precisava “bater o centro” da
sua vida profissional, adentrando no mercado. Assim, ela credita à área a oportunidade de
aprendizado. Movimento semelhante é o de E3 que salienta a importância de aproveitar as
oportunidades do início da carreira, tomando-as como fonte de aprendizado.
As unidades de sentido conhecimento e aprendizado dão contornos específicos ao tema
oportunidades. E1, por exemplo, também falando desde o lugar de um profissional de RH, credita
à oportunidade de estar na empresa a possibilidade de “ter” ou “adquirir” um conhecimento. Ela
parece metaforizar o conhecimento como uma “coisa” que pode ser possuída, da qual ela se
apropria como possuidora, e narra metaforicamente o cenário da empresa como o continente no
qual esse conhecimento pode ser acessado. E4, por sua vez, volta a relacionar oportunidades e
conhecimento desta feita diferenciando as possibilidades do passado das atuais. Ela entende que
hoje se tem mais possibilidades na carreira pelo fato de não se estar preso a um conhecimento
especializado, advogando a ideia que a necessidade de conhecimento especializado era um fator
limitante de oportunidades para o profissional. E4 relaciona, então, a generalidade do
conhecimento a oportunidades plurais de trabalho. Tal relação estabelecida na narrativa entre
conhecimento generalista e as oportunidades de crescimento mostra-se convergente aos estudos
que defendem o conhecimento generalista como única chance para os trabalhadores
prosseguirem na carreira, nesses novos tempos (FERGUSON; HASAN, 2013).
O tema nomeado como novo perfil guarda relação com o modo como as entrevistadas
percebem as características que se evidenciam nos trabalhadores contemporâneos, em suas
maneiras de pensar e agir, e em suas posturas no desempenho das funções nas organizações. Mais
uma vez, metáforas foram socializadas para caracterizar esse novo perfil: dinâmico, eclético,
resiliente, flexível, adaptável. Devido ao aspecto multifacetado das carreiras nos tempos atuais, os
sujeitos relacionam a necessidade do trabalhador demonstrar esses perfis para a devida
construção de suas carreiras num ambiente corporativo, ou mesmo fora deste. Orientar-se no
trabalho emerge, neste tema, como uma permanente busca das características componentes
139
deste perfil apregoado no mercado de trabalho como o desejável. Ressalta-se que, pelo menos a
entrevistada E2, não condiciona esse novo perfil à faixa etária. Apesar de alguns autores, tal como
Veloso, Dutra e Nakata (2008) relacionarem as caraterísticas desse novo perfil aos indivíduos da
chamada Geração Y, a entrevistada E2, diferentemente, entende que, independente da idade,
para a sobrevivência e possibilidade de crescimento na carreira, há que se aderir ao novo perfil.
Os sujeitos atribuem, então, as características desse novo perfil tanto a capacidades natas,
peculiares aos indivíduos, como a capacidades que podem ser aprendidas e desenvolvidas
naqueles que demonstram disposição para aceitar as mudanças exigidas pelos novos tempos. No
geral, a narrativa totalizante, no que se refere ao tema novo perfil, tende a reafirmar a prevalência
da carreira proteana, tal como propagado pela literatura; mas, além disso, tende a apresentar uma
geração com condições intrínsecas de se assumir “proteus”.
O tema papel do RH é apresentado pelas entrevistadas no sentido de uma nova visão da
área de Recursos Humanos, voltada para uma necessidade estratégica das empresas: “um papel
cada vez mais estratégico e que as próprias empresas estão identificando” (E1). Tal discurso se
insere no atual contexto de naturalização da competitividade própria ao capitalismo flexível que
opera pela lógica da “guerra”: se há competitividade, tem-se que pautar a ação organizacional, de
seus setores, de seus funcionários, sempre em termos de estratégias e táticas que garantam a
sobrevivência organizacional. Assim, esse papel estratégico da área de Recursos Humanos é
compreendido como a necessidade de uma atuação mais ampla do setor, numa abordagem de
atuação holística, abrangendo toda a organização e a relação indivíduo-organização.
A entrevistada E4 lança luz sobre a questão de uma tendência crescente de valorização do
capital humano na contemporaneidade, na realidade das organizações, conforme ressalta: “o
capital humano é o mais valorizado hoje”. A entrevistada E3, em sua narrativa, faz uma ligação
direta na abordagem dessas duas temáticas, ou seja, papel estratégico do RH nas empresas e
valorização do ser humano, socializando as características da área de RH que compreende
profundamente o humano e, concomitantemente, tem que acompanhar os números da empresa
(visão estratégica). Para E3, existe a necessidade da área de recursos humanos servir,
metaforicamente, como um catalisador de oportunidades, procurando conciliar os objetivos e
necessidades, tanto dos acionistas, como dos funcionários, estreitando a comunicação indivíduo-
empresa, trabalhador-acionista. Tais concepções das entrevistadas em relação ao papel do RH
tendem a sugerir que elas compreendem esta área funcional como importante nesse momento de
novas demandas organizacionais e pessoais e na relação indivíduo-organização.
Relações indivíduo-organização foi um tema expresso principalmente em unidades de
sentido como fidelidade, fidelize, perspectiva, realização, atraente, atrativo, clima, satisfação, e
investimento. E2 elabora uma interessante reflexão sobre a fidelidade de outrora à organização de
trabalho, contraposta a potencial infidelidade do presente, sugerindo um progressivo
afrouxamento nos vínculos relacionais. Ela brinca com sua própria condição de ser uma
profissional que vive o momento de transição do mercado de trabalho – “com um pé no passado e
outro no presente” – e pontua as diferenças que identifica nessa relação trabalhador-empresa. Ela
qualifica o nível de fidelidade do trabalhador “do passado” fazendo uma analogia com o
“compromisso institucional” de um “mafioso siciliano”, sugerindo que, nos moldes antigos de
carreira, o trabalhador poderia ir às últimas consequências em prol da organização a qual estava
atrelado contratualmente, e também sentimentalmente. Por outro lado, ela expõe a perspectiva
das novas formas de lidar com a carreira e sinaliza no sentido de um afrouxamento da relação
profissional-empresa, onde se relativiza a “fidelidade” do primeiro à segunda. Para ela carreira é
140
uma construção do indivíduo, que, diferentemente do passado, ultrapassa os “muros” de uma
única organização. Colocando a carreira nesses termos, o vínculo institucional parece se tornar
mais frágil, não estando o trabalhador atual, segundo sua visão, preso ou com um compromisso
vitalício com a organização. Em lugar da fidelidade do “mafioso”, ela utiliza a metáfora da troca
para dar os contornos do novo tipo de relação entre empresa e empregado. A possibilidade de
prolongar a relação com a organização, na atualidade, vem condicionada a requisitos como
durabilidade da sensação de realização e da possibilidade de aprendizagem na organização.
E4, por sua vez, evoca o tema relações indivíduo-organização falando desde a posição de
profissional de RH e destacando a importância do papel desta função em relação à “retenção” de
profissionais, na atualidade. Ela utiliza as metáforas mais correntes na literatura da área para
referir-se ao trabalhador - capital humano e colaborador – e vê a “infidelidade” nessa relação,
especialmente da mão de obra gerencial, como um problema para o RH. Ela elabora duas
compreensões quanto a isso: i) entende que o afrouxamento das relações põe a perder todo um
investimento de trabalho do RH; e ii) relaciona à estrutura do RH a possibilidade de fidelização da
mão de obra. Neste último sentido, ela metaforiza o RH como um sustentáculo empresarial.
E3 associa diretamente carreira e relações indivíduo-organização. A entrevistada valora
positivamente o nível dos profissionais no mercado atual e imputa à empresa a tarefa de
manutenção ou retenção dos melhores. Ela sugere que o caminho da fidelização desta relação é o
da oferta de perspectivas plurais para o trabalhador, indo desde aspectos salariais até as
possibilidades de fazer carreira na organização. A entrevistada é assertiva ao afirmar que, na
atualidade, convive-se com uma situação antagônica: permanência de algumas práticas
disciplinares tradicionais, por parte da empresa, versus uma nova geração de trabalhadores mais
consciente de seus direitos e menos “apegada”. Ela, diferentemente de E2, relaciona o novo perfil
às novas gerações. É no centro dessa tensão que parece situar a possibilidade do afrouxamento
nos vínculos, por parte dos trabalhadores da nova geração, que, segundo E3, “não são mais bobos,
são espertos e conscientes de seus direitos”. E3 especifica, então, qual seria um possível caminho
para fidelização dos profissionais da “nova geração”, destacando que a empresa deve se ajustar ao
perfil daquela, a suas características predominantes, como fonte de motivação da sua
permanência; assim, a empresa é narrada como um espaço que evoca dimensões estéticas,
possivelmente ligadas ao encantamento e ao prazer.
CONCLUSÃO
A pesquisa pautou-se no objeto relação entre novas concepções de carreira e
estabelecimento de vínculos, em tempos de capitalismo flexível, ouvindo profissionais de RH. Da
escuta ativa e intenso processo interpretativo, considera-se que o objetivo de compreender esta
relação foi atingido. Os sete temas, em suas especificidades, permitiram tal compreensão.
Os temas concepções de carreira, onde predominaram as metáforas da construção e do
movimento, e novo perfil, com a corroboração do modelo de carreira proteana, permitiram
identificar as concepções atuais de carreira, sob a ótica de profissionais de RH. Já os temas
modelo antigo de carreira, imperativos da economia, e oportunidades foram esclarecedores do
contexto em que essas concepções emergem e são justificadas pelas entrevistadas.
Os temas papel do RH e relações indivíduo-organização, por sua vez, trouxeram conteúdos
bastante expressivos para analisar a relação entre as novas concepções de carreira e o
estabelecimento de vínculos. Como uma totalidade, as entrevistadas tendem a: i) apresentar uma
141
nova geração com forte potencial de afrouxamento de vínculos; e ii) imputar ao RH o papel
estratégico de minimização desse afrouxamento no que toca à relação trabalhador-organização.
Concluímos que este grupo de profissionais entrevistadas traz, nas entrelinhas do seu
discurso, sinais de consciência do risco potencial que as novas formas de carreira, amplamente
promovidas pelo discurso empresarial do capitalismo flexível, representam tanto para a empresa
como para o trabalhador contemporâneo. Para a empresa, como os próprios dados explicitam,
porque o potencial do jargão “vestir a camisa” parece ter perdido força ou mesmo sentido para
este novo trabalhador. Assim, o discurso promotor do engajamento, da participação, mas também
da ampliação da perspectiva de carreira, promoveu seus pares antagônicos: como o afrouxamento
de vínculo e a infidelidade corporativa. Num mesmo movimento, os dados indicam, desde o lado
do trabalhador, os riscos referentes à subjetividade e intersubjetividade. Será o “trabalhador
carreirista flexível” das novas gerações um indivíduo com problemas no estabelecimento de laços
sociais sólidos (BAUMAN, 2001)? Pode isso implicar no risco de corrosão do seu caráter (SENNETT,
2007), pela impossibilidade do desenvolvimento de relações duradouras? Semelhantemente, há
riscos para as “gerações antigas” de trabalhadores, que ingressaram no mercado de trabalho sob a
lógica do capitalismo burocrático, e agora deparam-se com as opções da adaptação para
sobreviver ou da “seleção natural” sob o capitalismo flexível? Além do risco objetivo do
desemprego, quando da “seleção natural”, haverá um ônus subjetivo no movimento de
reinventar-se permanentemente? Será esta nova orientação dialeticamente desorientadora?
Este último resultado, posto em forma de interrogações sobre os velhos e novos
trabalhadores, apresenta-se como uma pertinente pauta para pesquisas futuras, que busquem
articular essas temáticas no âmbito de estudos interdisciplinares sobre gerações e mercado de
trabalho, no contexto do capitalismo flexível, visando ajudar na orientação para o trabalho.
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143
PÔSTER COM COLÓQUIO
RE-ORIENTAÇÃO E PLANEJAMENTO DE CARREIRA
144
POC17 - A CONFECÇÃO DE MANDALAS NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO DE CARREIRA: UMA
EXPERIÊNCIA COM GRADUANDOS EM ADMINISTRAÇÃO.
D‘Avila, GT 1;
1 - UFRRJ;
RESUMO
145
RESUMO EXPANDIDO
A princípio, as mandalas tinham como objetivo ser uma atividade integrativa, de concretização e
relaxamento, a ser utilizada no final de cada encontro do grupo. Realmente, serviram para esse fim, porém,
com sua rica representação simbólica, inevitavelmente, acabaram abordando outros aspectos que não
apenas o de uma atividade de fechamento grupal (Soares, Rotolo, Eidt e Araújo, 2009, p. 65).
Nesse sentido, a utilização de símbolos, tal como a mandala, por exemplo, para a busca do
autoconhecimento pareceu um importante recurso a ser investigado como ferramenta de
trabalho do orientador profissional e de carreira.
como o símbolo que expressa o Si-mesmo, o arquétipo da totalidade, ápice do processo de individuação. Para
ele esse símbolo é uma constante em todas as culturas, religiões e práticas esotéricas, pois aponta para a
convergência em direção a um ponto central, o centro da psique objetiva (Raffaelli, 2009, p. 48).
Atualmente, seja em uma perspectiva clínica, conforme sugerido por Costa e Soares (2011)
e Soares, Rotolo, Eidt e Araújo (2009), seja em iniciativas educacionais, a mandala configura-se
como um instrumento capaz de dar inteligibilidade às vivências dos sujeitos:
A mandala é um símbolo pessoal que revela quem somos num determinado momento de nossas vidas; pode
revelar conflitos e servir como um espaço para a descarga de tensões à medida que projetamos esses conflitos
para fora de nós mesmos. Acredita-se que as mandalas tenham, portanto, efeitos terapêuticos, de cura,
autodescoberta e evolução pessoal (...) (Soares, Rotolo, Eidt e Araújo, 2009, p. 57).
146
Recentemente, no âmbito do governo federal, a mandala foi escolhida como instrumento
para representar a conexão entre as diversas redes sociais das quais a escola faz parte. De acordo
com o Ministério da Educação (Brasil, 2009), a mandala
foi escolhida pelo grupo por representar inúmeras possibilidades de trocas, diálogos e mediações entre a
escola e a comunidade. A Mandala para o programa Mais Educação funciona como ferramenta de auxílio à
construção de estratégias pedagógicas para educação integral capaz de promover condições de troca entre
saberes diferenciados. A educação intercultural pode ser comparada a um sistema dinâmico, imprevisível, um
árduo trabalho de liberdade, de devir histórico, um esforço incessante de nos reconhecer em constante
mutação. (Brasil, 2009, p. 23).
Assim sendo, a técnica da Mandala foi utilizada neste trabalho como um mecanismo de
auxílio no processo de planejamento de carreira, sobretudo no processo de reflexão sobre os
objetivos de vida e de carreira dos universitários.
MÉTODO
A pesquisa caracterizou-se pela abordagem qualitativa, pois buscou a compreensão do
fenômeno a partir da sua materialidade e da sua construção social, nas relações, sem a pretensão
de generalizar as informações coletadas em campo.
Assim, em maio de 2014, os estudantes que cursaram a disciplina de Planejamento e
Desenvolvimento de Carreira no segundo semestre de 2013 foram convidados através de seu
endereço eletrônico para responderem a seguinte pergunta: “Como você avalia a confecção da
mandala em seu processo de Planejamento de Carreira? Justifique sua resposta”. A pesquisadora
mencionou sobre a espontaneidade quanto à participação na pesquisa, além do sigilo quanto as
suas identidades, assim como a recusa da participação a qualquer momento da pesquisa. Além
disso, explicou que as informações coletadas seriam utilizados no âmbito desta investigação,
sendo repassado a cada um o material produzido com os resultados do estudo. Assim sendo, 6
estudantes responderam à pergunta norteadora da pesquisa, sendo quatro do sexo feminino e
dois do sexo masculino. A idade variou de 22 a 50 anos, sendo calculada a média em 30 anos. As
ocupações dos entrevistados variaram entre pesquisa, empresariado, auxílio e atendimento na
área comercial e administrativa.
Importante mencionar que a referida disciplina é uma optativa que segue os mesmos
moldes de outras experiências na universidade, tais como os trabalhos desenvolvidos por
Veriguine, Krawulski, D’Avila e Soares (2010) e Dias e Soares (2009) com a finalidade de possibilitar
diálogo e discussão sobre as dificuldades de inserção dos estudantes em sua transição
universidade e trabalho. Os estudantes estavam em sua maioria no meio do curso, no entanto,
dois deles eram concluintes.
Em relação à técnica utilizada em sala de aula, a construção da mandala, esta seguiu a
seguinte consigna: solicitou-se aos participantes presentes em uma das aulas de planejamento de
carreira que construíssem a partir de recorte e colagem de revistas, de desenhos com canetinha,
giz de cera ou lápis de cor, uma mandala que expressasse sua carreira. Além do material
anteriormente relatado, foram disponibilizadas folhas de tamanho A4 nas cores verde, salmão,
azul e amarelo as quais possuíam um círculo feito a lápis. Os estudantes deveriam escolher uma
dessas cores para dar prosseguimento a esse momento da tarefa que durou em torno de 50
minutos.
147
O processamento da técnica consistiu, após a confecção das mandalas pelos estudantes, da
exposição dos desenhos no chão da sala de aula e consequente socialização das produções
individuais. Cada um deveria escolher uma mandala que não fosse a sua a fim de explicar o motivo
da escolha por um dos desenhos. Este momento durou cerca de 30 minutos. Os estudantes
levaram seus desenhos e muitos deles utilizaram o mesmo para auxílio quanto ao
desenvolvimento do trabalho final da disciplina, o Plano de Carreira, baseado em Dias e Soares
(2009).
PRINCIPAIS RESULTADOS
Os resultados apontam a utilização da construção de mandalas como uma ferramenta
facilitadora no processo de Orientação Profissional e de Carreira (OPC) tal como preconizado por
Soares, Rotolo, Eidt e Araújo (2009). A seguir encontram-se os discursos dos(as) respondentes da
pesquisa que mostram esse instrumento como facilitador da OPC:
através dela pude perceber quais são os meus objetivos. E agora estou traçando metas para alcança-los.
(pesquisadora, 32 anos, sexo feminino, meio do curso).
Particularmente adorei essa técnica, me ajudou a pensar melhor no que eu queria pra o futuro e a enxergar
de forma mais clara meus objetivos. (...) deveriam ser aplicadas logo na entrada dos estudantes na faculdade
(atendente, sexo feminino, 26 anos, final do curso)
Avalio como uma experiência importante e necessária para o planejamento de carreira. (auxiliar
administrativo, 24 anos, concluinte do curso).
A mandala é algo que me inspirou e me deu mais vontade de atingir os meu objetivos (auxiliar administrativa,
27 anos, concluinte do curso).
Gostei disso, nunca fiz uma antes. (analista comercial, 50 anos, sexo feminino, meio do curso)
Como visto, a maioria dos estudantes apontou aspectos que configuram a mandala como
uma técnica capaz de auxiliar na OPC. Apenas um dos estudantes explicitou uma opinião
diferente, a saber:
Apesar de ter sido uma pratica interessante e que sai do usual, acredito que não foi o “divisor de águas” do
planejamento de carreira. Sendo a confecção da mandala abstrata até demais foge do intuído de instruir e
orientar a carreira, pois abre espaço para fatos extremamente lúdicos. Sou leigo no assunto, porem acredito
mais nos testes vocacionais que contém descrições de perfil. (empresário, 22 anos, 6 período).
Assim, o estudante expõe sua visão do assunto e deixa claro sua preferência por
instrumentos de avaliação quantitativa do processo de escolha profissional, o qual pode ser
chamado de Modalidade Estatística (Bohoslavsky, 2007). Interessante o estudante mencionar essa
modalidade de atuação da OPC, pois é justamente tal modalidade um contraponto da abordagem
clínica da OP, defendida no presente trabalho (Bohoslavsky, 2007; Soares, 2002).
Portanto, na modalidade clínica os desejos e as motivações dos sujeitos em direção ao
“sonho profissional” são importantes para fortalecimento do ego ao lidar com os dilemas
presentes na escolha. Alguns estudantes manifestaram sobre a possibilidade da mandala explicitar
desejos que muitas vezes encontram-se latentes e que podem dificultar, nesse caso, a construção
da carreira:
148
A mandala é uma oportunidade de expressar seus sonhos, objetivos, gostos e tudo que considerar importante
de se realizar e ter na vida. Após a confecção da mandala nós podemos visualizar um pouco de nós mesmo,
isso é muito legal. Ao visualizar um pouco do que somos e queremos, podemos revisar tudo aquilo que foi
mostrado através da mandala e fazer mudanças, acrescentando ou retirando informações da mandala. Todo
esse processo gera aperfeiçoamento e solidez das idéias, quando realizado com certa frequência. (auxiliar
administrativo, 24 anos, concluinte do curso).
Eu busquei colocar na mandala situações de futuro profissional e de lazer. Coloquei minhas fotos, viagens,
família, a [empresa estatal]... (analista comercial, 50 anos, sexo feminino, meio do curso).
O relato de uma das respondentes chamou a atenção, uma vez que aborda um objetivo
que não havia sido dimensionado quando do planejamento da técnica: trata-se da função “telê”
proposta por Moreno (1974), a qual tem origem no grego “distante, agindo a distância” do grupo
terapêutico. A seguir, o relato da estudante mencionando que diariamente visualiza a mandala
produzida neste encontro grupal.
Com a confecção da mandala eu pude expressar todos os meu desejos e ao olhar pra ela todos os dias eu me
lembro de que não posso parar, ou seja, sempre seguir em frente com determinação (auxiliar administrativa,
27 anos, concluinte do curso).
Portanto, esse resultado não esperado em relação à confecção da mandala foi citado, o
que implica uma maior reflexão quanto ao uso dessa técnica e da formação profissional do
educador responsável pela ministração das aulas e da OPC dentro da universidade. Ressalta-se
que na experiência com mandalas num processo de OP descrito por Soares, Rotolo , Eidt e Araújo
(2009) as orientadoras possuíam formação em arteterapia e estavam previamente familiarizadas
com a utilização das mandalas. Além disso, as orientadoras profissionais que conduziram todo o
processo estavam concluindo seu curso de graduação em Psicologia. Na pesquisa ora apresentada,
a formação em Psicologia certamente auxiliou a lidar com os efeitos terapêuticos desencadeados
pelo uso da mandala, assim como a participação da pesquisadora em outros grupos de OPC os
quais também utilizaram a mandala como recurso integrador da psique, auxiliando sobremaneira
no processo de autoconhecimento.
Ademais, o caráter do grupo foi ressaltado no segundo momento de confecção da
mandala, conforme a consiga descrita anteriormente no método.
Naquela noite eu cheguei atrasada e inicialmente fiquei um pouco perdida. E na hora das pessoas escolherem
uma mandala eu tinha saído da sala para ir ao toilete. Não tive a oportunidade de escolher uma mandala,
peguei a última que tinha mas gostei dela. Era de uma aluna com uma personalidade parecida com a minha,
disposta a lutar para realizar seu sonho e que já tinha tudo esquematizado na cabeça dela. (...) Fiquei
também muito feliz ao ver o jovem rapaz que escolheu minha mandala. Ele também se identificava com a
maioria dos meus objetivos. Situações e idades diferentes porém com coisas em comum. (analista comercial,
50 anos, sexo feminino, meio do curso).
149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo para estudantes de um curso de graduação bastante voltado para aspectos
“gestionários” (Gaulejac, 2007), o uso de mandalas para OPC pareceu bastante propício, uma vez
que estimulou os estudantes a pensarem aspectos de sua trajetória que talvez antes da aplicação
da técnica não se encontravam tão explícitos. Assim, considera-se a utilização da confecção de
mandalas como possível no contexto da universidade pública, ainda que seus efeitos terapêuticos
quanto ao processo de OPC não tenham sido, inicialmente, planejados. Ressalta-se, então, a
importância da formação quanto ao manejo das mandalas pelo orientador profissional, além da
familiaridade quanto ao uso desses símbolos milenares em processos grupais para que seus
efeitos continuem a ser benéficos.
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150
POC18 - CARREIRA PROFISSIONAL – UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE PROFISSIONAL, QUANDO A
BUSCA PELA QUALIFICAÇÃO DESQUALIFICA O TRABALHO DO TRABALHADOR.
RESUMO
A escolha de uma ou mais profissões e a busca por qualificações podem ser entendidas como
algumas das exigências que o mundo atual do trabalho tem imposto, influenciando o sentido que
o trabalho assumirá na vida do individuo. Diante disso, a Orientação Profissional poderá facilitar o
processo de tomada de decisão na hora da escolha da profissional ou inicio de uma nova
trajetória, pois analisa junto com o profissional os possíveis caminhos para sua carreira, buscando
dar um significado a sua atividade laboral. Desse modo, este artigo tem por objetivo apresentar
fragmentos dos resultados do projeto de pesquisa e extensão cuja proposta é analisar as razões
que levam as pessoas a se submeterem à busca incessante pela qualificação, especialmente a pós-
graduação (Lato Sensu), uma vez que isto também não garante sua inserção ou manutenção no
mercado de trabalho. O trabalho vem sendo realizado junto aos alunos e coordenadores de Cursos
de Pós Graduação na área empresarial de Universidades e Institutos de Pós-graduação da área
empresarial da cidade de Londrina. Estão envolvidos ainda, alunos dos 4 e 5 anos do curso de
psicologia, onde os primeiros buscam a informação e os segundos prestam atendimento de
orientação profissional. O referencial teórico é fundamentado por autores que fazem uma leitura
crítica das práticas neoliberais e as implicações na subjetividade e saúde dos trabalhadores, tais
como Heloani, Dejours, Antunes, Hirata, dentre outros. Até o presente momento foram
identificadas 11 instituições que oferecem cursos de pós-graduação na cidade de Londrina, sendo
mais de 40 cursos na área de gestão e psicologia. Optou-se por começar com os cursos da UEL,
totalizando 7 cursos, na qual foram contatados os coordenadores dos referidos cursos, e
distribuiu-se os flyers do projeto aos alunos com o link para o acesso do questionário. Até o
momento ainda não foram totalizadas as devolutivas. Podemos concluir, que apesar dos dados
ainda terem sido concluídos, há uma pulverização de cursos nas diversas áreas de conhecimento,
os alunos matriculam-se nos cursos com a expectativa de conseguir ou manter uma colocação no
mercado de trabalho, os alunos que estão em final de curso de graduação já estão buscando um
curso de pós-graduação até mesmo ante reféns de definir suas carreiras. Isto reforça a lógica
neoliberal que obriga os profissionais à busca constante de qualificação que torna os
trabalhadores reféns desse processo.
151
RESUMO EXPANDIDO
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo apresentar fragmentos dos resultados do projeto de
pesquisa cuja proposta é analisar as razões que levam as pessoas a se submeterem à busca
incessante pela qualificação, especialmente a pós-graduação (Lato Sensu), uma vez que isto
também não garante sua inserção ou manutenção no mercado de trabalho.Todas as
transformações que o mundo do trabalho vem sofrendo desde a Revolução Industrial, têm
desafiado a inteligência do homem, suas habilidades e capacidades, no sentido de adaptar-se às
mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que a globalização nos impõe, exigindo esforços
especiais para superação dos obstáculos desta nova realidade. O multiprofissional ocupa o lugar
daquele que domina apenas uma tarefa, o treinamento é supervalorizado, a criatividade do
trabalhador é incentivada, e a liderança participativa rompe com o comando autoritário.
Para que esta reorganização seja possível, a estrutura do mercado de trabalho está se
adaptando ao novo paradigma produtivo e tecnológico, cujas palavras de ordem são:
produtividade, competitividade e lucratividade. Porém esta adaptação está sendo feita com um
custo social bastante elevado e com consequências imprevisíveis para as próximas décadas
(ANTUNES, 2004).
A ruptura com o antigo paradigma de gestão traz consigo um mercado no qual o emprego
regular (ou de "tempo integral"), com segurança, salários reais, vantagens sociais, começa a se
tornar escasso para a maioria. Em seu lugar surge o emprego temporário, parcial, casual, e outras
modalidades que representam, na verdade, o chamado "desemprego disfarçado", cujas condições
de trabalho estão muito abaixo dos padrões aceitáveis, e reeditam o pré fordismo principalmente
nos países subdesenvolvidos. Somando-se a este, o desemprego estrutural (ou "tecnológico") está
afastando um grande número de pessoas do mercado de trabalho, tornando-se um fenômeno
global, que tende a crescer na mesma proporção dos requisitos tecnológicos (ANTUNES, 2001).
Por outro lado, presenciamos no mundo inteiro a falta de mão de obra, tanto a altamente
qualificada, como a operacional.
De acordo com Hirata (2006), dentro desta lógica, ganha quem for mais rápido no gatilho.
Rápido no acesso à informação atualizada e na tomada de decisão. Por outro lado, essa mesma
rapidez torna os riscos e as crises globais (globalização), gerando uma "economia da
transitoriedade" cujo lema é: "compre-use-e-descarte" produtos, pessoas, ideias (efemeridade),
exigindo de todos uma flexibilidade em termos de adaptação (dispersão).
O conceito de flexibilização foi discutido por Heloani (2003, p. 117), ao afirmar que os
“neoliberais colocam o trabalhador como “sobrevivente”, que para não ser soterrado pelo
desemprego, deve adaptar-se a subempregos, ocupações temporárias em que é coagido a desistir
de direitos trabalhistas conquistados a décadas, como o pagamento de horas extras e férias
remuneradas. Um sobrevivente que além de sua precária situação, deve estar empenhado em
treinamentos para requalificar-se (ou correr o risco de perder o emprego), pois, as empresas
querem ter em seus quadros profissionais que saibam trabalhar num cenário de mudanças
constantes.
Surge também com todas essas mudanças o enfoque ao “capital intelectual”, o indivíduo
que busca conhecimento, que necessita saber sempre mais e principalmente estar sempre
atualizado para enfrentar este mundo do trabalho.
152
Um mundo de incertezas que, para muitos, significa ameaça à própria sobrevivência e à dignidade. Aos
jovens, cada vez mais se lhes nega o futuro, substituindo as possibilidades que deveriam ser-lhes
oferecidas, pela lavagem cerebral da “empregabilidade”, conceito tosco, quase vazio, a não ser pela carga
ideológica que transfere para os indivíduos, responsabilidades gerais (BUONFIGLIO, 2009, p. 53).
METODOLOGIA
O trabalho vem sendo realizado junto aos alunos e coordenadores de Cursos de Pós
Graduação na área empresarial de Universidades e Institutos de Pós-graduação da área
empresarial da cidade de Londrina. Estão envolvidos ainda, alunos dos 4 e 5 anos do curso de
psicologia, onde os primeiros buscam a informação e os segundos prestam atendimento de
orientação profissional. A primeira fase em andamento, foi uma pesquisa exploratório a fim de
apreender aspectos subjetivos e demográficos da população a ser pesquisada que será composto
por alunos e ex-alunos de cursos de Pós-graduação Lato Sensu na área empresarial da cidade de
Londrina, e coordenadores dos respectivos cursos, através de uma amostragem escolhida
aleatoriamente. A coleta de dados vem sendo realizada por meio de entrevistas semiestruturadas
com questões fechadas, visando obter dados quantitativos e populacionais, e também serão feitas
algumas questões abertas privilegiando a fala dos entrevistados, a fim de levantar aspectos
subjetivos e qualitativos. O instrumento foi enviado de forma online por meio do software Survio,
cujos dados também estão sendo processados para posterior análise. A análise será feita de forma
quantitativa em relação aos dados do perfil do aluno de pós-graduação e qualitativamente em
relação aos aspectos mais subjetivos, por meio da
A segunda fase do projeto (já em andamento) refere-se à intervenção propriamente dita,
na qual o processo de orientação profissional está sendo feito pelas estagiárias do 5º ano do
Curso de Psicologia, na qual foi disponibilizado Clinica de Psicologia da UEL um espaço de escuta
na qual os demandantes (alunos e/ou profissionais) pelo atendimento do projeto visando
orientação para sua carreira profissional. A orientação é feita a partir da análise de currículo,
trajetória profissional e levantamento das competências técnicas e comportamentais, diferenciais
competitivos e pontos a serem melhorados, as vistas das expectativas em relação à carreira a ser
trilhada.
154
RESULTADOS
Até o presente momento foram identificadas 11 instituições que oferecem cursos de pós-
graduação na cidade de Londrina, sendo mais de 40 cursos na área de gestão e psicologia. Optou-
se por começar com os cursos da UEL, totalizando 7 cursos, na qual foram contatados os
coordenadores dos referidos cursos, e distribuiu-se os flyers do projeto aos alunos com o link para
o acesso do questionário. Até o momento f8 questionários no link da pesquisa no Survio, mas os
dados não foram totalizados.
No atendimento do projeto na Clinica Psicológica, foram atendidos 9 pessoas, 7 em final
de curso de Graduação de Psicologia e Administração, cuja demanda era orientação para inicio da
carreira após a formatura, orientação do currículo, etc.; e 2 alunos que fazem curso de Pós-
graduação na área de Gestão empresarial, com a perspectiva de mudança de área na carreira
após o término do curso de Pós.
Outro resultado interessante, refere-se à procura que está tendo do projeto por escolas
de ensino fundamental, apesar de não ser objetivo do projeto, estamos ministrando palestras de
orientação profissional nos Colégios Estaduais e escolas particulares que nos procuram. Ao todo
foram 8 palestras. Acreditamos que isto tenha ocorrido por meio da divulgação do material
institucional do projeto.
A finalização da primeira fase do projeto está prevista para outubro, e os atendimentos
são paralelos.
155
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156
POC19 - JOVENS UNIVERSITÁRIOS E SUAS EXPECTATIVAS DE PLANEJAMENTO DE CARREIRA: “TÔ
UM POUCO INDECISA”.
RESUMO
Esse estudo intenciona compreender a vida cotidiana de jovens universitários que conciliam
estudo e trabalho no cenário contemporâneo. Assim, numa sociedade que tem se organizado em
objetivos de curto prazo, surgem muitas dúvidas na projeção do término da vida acadêmica e as
perspectivas porvir de inserção laboral. As mudanças no chamado mundo do trabalho, ocorridas
entre os séculos XX e XXI, com a mundialização do capital, novas tecnologias de informação e
comunicação sinalizam transformações de ordem objetiva e subjetiva aos trabalhadores. As
carreiras previsíveis cedem espaços as incertezas e ansiedades, deixando, principalmente, os
grupos juvenis à deriva quanto aos caminhos para seu planejamento de carreira. Ancorada pela
categoria cotidiano a partir da ótica de Agnes Heller, considerando o trabalho na perspectiva
materialista histórica dialética e tendo como concepção de juventude uma visão sócio-histórica,
vem sendo construída essa tese de doutoramento. Apresenta-se aqui o estudo exploratório, de
base qualitativa, na qual foram entrevistadas duas estudantes de uma universidade estadual do
Estado de Santa Catarina. A entrevista foi à principal técnica utilizada na coleta de dados
programada em quatro encontros. Como instrumento complementar foi utilizado a Técnica da
Agenda Colorida e a Fotografia de cenas cotidianas produzidas pelas participantes. A análise do
material coletado foi realizada dentro das premissas teóricas dos Núcleos de Significação, sendo
aqui destacado o núcleo: 1) Curso superior: “o pessoal quer crescer, quer seguir uma carreira, é só
um curso superior não é mais suficiente”. Assim sendo, o curso superior é tomado como um
“passaporte” mínimo para acessar a provável inserção profissional. A “antecipação” na conciliação
entre estudo e trabalho exercida pelas pesquisadas é outro elemento significativo, pois a prévia
experiência visa também ampliar as chances de inserção laboral após a graduação.
Complementam suas narrativas comentando a possibilidade de realizarem outros cursos
superiores e/ou estudos complementares, assentindo e reiterando ao “sedutor” discurso da
qualificação, dentro da lógica predominante do capitalismo. Nesse contexto, a cotidianidade
contemporânea numa sociedade flexível, organizada em objetivos imediatistas “instala” nos
sujeitos essas contradições e indecisões. Várias perspectivas futuras, por vezes não consonantes,
são lançadas: participar de programas trainne em empresas privadas, prestar concursos públicos,
dar continuidade a estudos de mestrado/doutorado para carreira acadêmica. Deste modo, a vida
cotidiana juvenil é refletida tanto ao nível psicológico e heterogêneo de cada sujeito, como
também para o seu social, em uma (re)produção de interrogativas: como planejar uma carreira
numa economia dedicado ao curto prazo?
157
RESUMO EXPANDIDO
8
Informação extraída do site: http://www.juventude.gov.br/
158
questões que atravessam as sociedades contemporâneas (Levingard & Barbosa, 2010, pág. 85).
Tedesco (1999) comenta que tal campo surge entre as tensões da modernidade e a pós-
modernidade, através da sociologia da vida cotidiana que passa a observar as ações individuais,
rotineiras como fatores sociais. Desta forma o cotidiano deixa de ser somente vivido e torna-se um
objeto de investigação, mediante sua aceleração, por meio da mercantilização temporal, da
fragmentação de acontecimentos, da rápida circulação de processos, imagens e informações.
Portanto entende-se que o cotidiano não só como espaço de reproduções, mas como lugar
de rupturas, invenções e transformações da vida (Martins, 1998). Corroboro com Sato & Oliveira
(2008, p.190) quando afirmam que “voltar-se para a esfera do cotidiano é estar disposto a
movimentar-se num amplo universo de fenômenos e problemas”, vislumbrando não o encontro
de respostas prontas, mas de novas formas de pensar sobre.
Nossas ações diárias que compõem nossa vida cotidiana são colocam “‘em funcionamento’
todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas,
seus sentimentos, paixões, ideologias” (Heller, 2008, pág.31), de modo concomitantemente
particular e genérico. Observa Heller (2008) permitindo-nos lançar um olhar mais otimista que:
a condução da vida supõe, para cada um, uma vida própria, embora mantendo-se a estrutura da
cotidianidade; cada qual deverá apropriar-se a seu modo da realidade e impor a ela a marca de sua
personalidade (pág.61).
Deste modo apresenta-se aqui o estudo exploratório, de base qualitativa, na qual foram
entrevistadas duas estudantes de uma universidade estadual do Estado de Santa Catarina. A
entrevista foi à principal técnica utilizada na coleta de dados programada em quatro encontros.
Como instrumento complementar foi utilizado a Técnica da Agenda Colorida e a Fotografia de
cenas cotidianas produzidas pelas participantes. Claudia 9 tinha dezenove anos era estudante de
Administração de Empresas e estagiava na sua área num órgão público. Melissa tinha dezoito anos
cursava Artes Cênicas e trabalhava de modo informal em uma casa de festas.
Os encontros foram assim sequenciados: 1) entrevista semi-estruturada com eixos
temáticos relativos à vida pessoal/familiar, vida educacional e atividades profissionais. A entrevista
é tomada numa concepção compreensiva ( Zago,2003) na qual ao utilizar essa ferramenta o
pesquisador não intenciona uma verificação da problemática preestabelecida, mas a partir de
margens de possibilidades no dialogo estabelecida entre pesquisador e pesquisado, 2) Aplicação
da Técnica da Agenda Colorida na qual as participantes faziam um relato gráfico das ocorrências
de todas as atividades realizadas dentro do período de uma semana, sinalizada em diferentes
cores. A agenda colorida é uma técnica adaptado por Soares10 e utilizada por Soares e Costa
(2011) nos programas de orientação para aposentadoria da UFSC., 3) Através da consigna:
fotografe sua vida cotidiana, as participantes produziram de sete a dez fotos que pudessem
significar suas atividades cotidianas e assim narraram seus comentários em cada imagem
produzida. De acordo com Benjamin (1994) a fotografia pode manifestar atitudes imperceptíveis,
9
Nomes fictícios
.
10
A adaptação da agenda colorida foi realizada por Soares (2011) a partir do instrumento de pesquisa
utilizado por Sarriera, Tatim, Coelho e Busker (2007) na investigação do uso do tempo livre por adolescentes de classe
popular, na qual os pesquisadores munidos de uma tabela que espelhava uma semana completa solicitavam o
preenchimento das atividades dos sujeitos quanto ao foco pesquisado.
159
que se tornaram rotineiras e pouco valorizadas, mas que podem revelar nosso inconsciente óptico
a partir da escolha das imagens que serão “congeladas em um click” fotográfico e 4) finalização do
processo, recorrências de eventuais dúvidas. Todos os fatos comentados foram gravados em áudio
e posteriormente transcritos.
A análise do material coletado foi realizada a partir das premissas teóricas dos Núcleos de
Significação (Aguiar e Ozella, 2013), ou seja, parte-se das leituras flutuantes para a elaboração dos
pré-indicadores, em seguida com a aglutinação das similaridades e/ou contrariedades forma-se os
indicadores e por fim procede-se a aglutinação dos núcleos de significação. Neste recorte será
destacado e comentado o núcleo: 1) Curso superior: “o pessoal quer crescer, quer seguir uma
carreira, é só um curso superior não é mais suficiente”. Assim sendo, o curso superior é tomado
como um “passaporte” mínimo para acessar a provável inserção profissional. A “antecipação” na
conciliação entre estudo e trabalho exercida pelas pesquisadas é outro elemento significativo, pois
a prévia experiência visa também ampliar as chances de inserção laboral após a graduação.
Complementam suas narrativas comentando a possibilidade de realizarem outros cursos
superiores e/ou estudos complementares, assentindo e reiterando ao “sedutor” discurso da
qualificação, dentro da lógica predominante do capitalismo, ou seja, tomam o estudo de forma
estrutural, formador paras as competências profissionais.
Nesse contexto, a cotidianidade contemporânea numa sociedade flexível, organizada em
objetivos imediatistas “instala” nos sujeitos essas contradições e indecisões. Várias perspectivas
futuras, por vezes não consonantes, são lançadas: participar de programas trainne em empresas
privadas, prestar concursos públicos, dar continuidade a estudos de mestrado/doutorado para
carreira acadêmica.
Deste modo, a vida cotidiana juvenil é refletida tanto ao nível psicológico e heterogêneo de
cada sujeito, como também para o seu social, em uma (re)produção de: como planejar uma
carreira numa economia dedicado ao curto prazo? Olhando para a dialética articulação na/da
condução da vida cotidiana, não cotidiana e ações alienantes, proposta por Heller (2008)
compreendi as narrativas discursivas pouco criticas, muito mais normativas dentro do atual
contexto social. Assim, os vi mais cristalizados, presos as estruturas cotidianas proferidas pelos
discursos ideológicos característicos do contexto neoliberal.
Corrobora com o pensamento de Sennett (2010), quando o autor destaca que o sistema
capitalista “impede” as carreiras, “determinando” aos trabalhadores “mudanças” frequentes,
apontando para ênfases das chamadas flexibilidades. Por conseguinte, ainda opina que os
indivíduos vivem sob ansiedades devido às novas formas de organização do tempo e da vida
profissional em curto prazo. Em suas palavras adverte o autor: “o que é singular na incerteza hoje
é que ela existe sem qualquer desastre histórico iminente; ao contrário, está entremeada nas
práticas cotidianas de um vigoroso capitalismo. A instabilidade pretende ser normal” (pág.33).
Assim conclui-se da efetiva importância de novos estudos e espaços de discussão no campo da
orientação profissional e de carreiras, considerando as novas configurações do sistema capitalista
e a necessidade de (re)pensar e/ou ressiginificar as conceituações de carreira.
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161
POC20 - ORIENTADOR PROFISSIONAL – UMA CONSTRUÇÃO DIÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA.
BAETTA, MAGDA 1;
1 - IGT - Instituto de Gestalt-terapia;
RESUMO
Esta apresentação tem como propósito compartilhar minha experiência ao longo de seis anos
como coordenadora de um curso que prepara profissionais para atuarem como orientadores
profissionais, bem como apresentar o desenvolvimento e a metodologia do curso, salientando a
importância deste trabalho no sentido de formar profissionais capacitados no exercício desta
função. Acompanhar a tomada de decisão de uma pessoa é um trabalho que requer um preparo
diferenciado, uma vez que buscar o autoconhecimento dos conteúdos conscientes e
inconscientes, que são fatores que influenciam a escolha de um caminho na vida e tomar ciência
destes mecanismos de funcionamento em si mesmo, é a base para se atuar como orientador
profissional. Utilizo como referência de base na administração do curso, a relação existente entre
a modalidade de Orientação Vocacional proposta por Rodolfo Bohoslavsky, as obras bibliográficas
de Dulce Helena Penna Soares e Marilu Diez Lisboa, entre outros e os pressupostos filosóficos,
éticos e metodológicos da abordagem gestáltica criada por Fritz Perls. O método utilizado é
teórico vivencial possibilitando ao aluno a experimentação da maioria dos procedimentos que
estão inseridos na apostila. São aplicadas técnicas projetivas, e autoaplicáveis como jogos,
dinâmicas, vivências e instrumentos de identificação de interesses profissionais, entre diversos
outros métodos que promovam o aprendizado para exercer a função de orientador profissional. A
duração do curso é de 72 horas e é dividido em doze encontros de 6 horas de duração cada.
Desta forma, compartilhar a experiência na condução de grupos de pessoas, capacitando-as na
atuação como orientadores profissionais, informar que a necessidade que apresentam em ter
ciência de sua identidade profissional, bem como rever diversas vezes seus próprios projetos de
vida é extremamente presente e recorrente nestes sujeitos que participam do curso ministrado
por mim. BOHOSLAVSKY, Rodolfo. Orientação Vocacional: A estratégia clínica. São Paulo: Martins
Fontes, 1998. LISBOA, Marilu Diez e SOARES, Dulce Helena Penna (orgs.). Orientação Profissional
em Ação: formação e prática dos orientadores. São Paulo: Summus, 2000. RIBEIRO, Jorge
Ponciano. Gestalt-terapia: o processo grupal: uma abordagem fenomenológica da teoria do campo
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162
RESUMO EXPANDIDO
Esta apresentação tem como propósito compartilhar minha experiência ao longo de seis
anos como coordenadora de um curso que prepara profissionais para atuarem como orientadores
profissionais, bem como apresentar o desenvolvimento e a metodologia do curso, salientando a
importância deste trabalho no sentido de formar profissionais capacitados no exercício desta
função.
A escolha profissional é um processo que inicia nos primórdios da vida, perdurando ao
longo do crescimento do indivíduo e tem continuidade até a idade adulta. O indivíduo inicia seu
processo de desenvolvimento com uma dependência dos adultos em seu início e gradativamente
vai construindo sua identidade.
Acompanhar a tomada de decisão de uma pessoa é um trabalho que requer um preparo
diferenciado, uma vez que buscar o autoconhecimento dos conteúdos conscientes e
inconscientes, que são fatores que influenciam a escolha de um caminho na vida e tomar ciência
destes mecanismos de funcionamento em si mesmo, é a base para se atuar como orientador
profissional.
O exercício da orientação profissional faz parte desde 1998 das atividades profissionais que
exerço. Realimento uma reflexão inserida no meu cotidiano como orientadora profissional e que
se constitui uma das principais preocupações que é a formação de orientadores profissionais.
Em 2008 comecei a ministrar um curso de capacitação neste segmento com base nos pressupostos
da Gestalt-terapia. Mergulhar neste tema possibilita o aprendizado e a apropriação de que deveria
constituir verdadeiramente um orientador profissional.
Utilizo como referência de base na administração do curso, a relação existente entre a
modalidade de Orientação Vocacional proposta por Rodolfo Bohoslavsky, as obras bibliográficas
de Dulce Helena Penna Soares e Marilu Diez Lisboa, entre outros e os pressupostos filosóficos,
éticos e metodológicos da abordagem gestáltica criada por Fritz Perls.
O método utilizado é teórico vivencial possibilitando ao aluno a experimentação da maioria
dos procedimentos que estão inseridos na apostila. São aplicadas técnicas projetivas, e
autoaplicáveis como jogos, dinâmicas, vivências e instrumentos de identificação de interesses
profissionais, entre diversos outros métodos que promovam o aprendizado para exercer a função
de orientador profissional.
A vivência promove ao aluno o desenvolvimento das práticas de orientação profissional e o
capacita a trabalhar tanto com adolescentes, jovens e adultos, bem como em instituições
escolares, clínicas e organizações como Empresas privadas e públicas.
O curso é desenvolvido em doze encontros de 6 horas de duração, perfazendo um total de
72 horas. Em anos anteriores o curso tinha como formato seis encontros de 6 horas com um total
de 36 horas. A mudança ocorreu pelas melhorias implantadas tanto no conteúdo como na oferta
de supervisão e construção de um projeto de conclusão.
Desde que iniciei o curso a procura permanece crescendo, e ainda percebo a vital
necessidade de informar e capacitar pessoas que se interessam nesta atividade, quer por vir de
uma demanda de clientes, quer por sentirem atração em atuar nesta área, visto que há carência
nas instituições de Ensino Superior em oferecer formação adequada com propriedade, Lisboa
(2006), em seu artigo A Formação da Identidade Ocupacional, descreve que se levarmos em conta
163
a identidade enquanto produção estaremos abertos para a compreensão de uma construção, de um
desenvolvimento da identidade enquanto metamorfose. No que tange à identidade ocupacional me
parece necessário, cada vez mais, se refletir e procurar compreendê-la no sentido exposto, sob pena de
cristalizarem-se possibilidades “definidas” com respeito aos indivíduos. (p.19)
Desta forma,
a formação da identidade ocupacional pertence a cada indivíduo – inserida em sua história – e deverá
continuar pertencendo – enquanto projeto de vida ou de futuro. Tudo o que lhe foi legado deverá estar
consciente para que ele possa, como adulto, colocá-la a serviço de seu total, individual e pertencendo,
de preferência como autor, da sociedade. (ibid., p.21)
Segundo Erthal (1999, p.58) “a identidade de alguém é expressa pelas suas ações. (...) Seu
valor não está depositado na produção, mas em si mesmo enquanto produtor dessas ações,
enquanto agente.” A autoimagem, portanto, refere-se às experiências do campo que o indivíduo
sente como sendo suas e que o caracterizam.
O ser humano cria a sua própria imagem e por sua vez, seu comportamento, suas ações,
suas atitudes, estão relacionadas a esta criação sendo necessário apreender esta imagem para que
a assuma de forma responsável.
A dinâmica meio-indivíduo-meio amplia a relação consigo e com o outro e o exercício do
trabalho ganha um significado de construtor e transformador da sociedade. As escolhas que faz
está pautada no que é dele e no que o cerca.
O processo de determinação do “quem sou” estende-se pela infância, marca a
adolescência e adentra a idade adulta. De acordo com Erthal (1999, p.61), “é a determinação do
projeto inicial: a pessoa cria uma imagem de si e realiza todas as suas escolhas a partir desta
opção primária”.
A identidade profissional é construída por meio da identidade pessoal, assim como o
projeto profissional compreende uma parte do projeto de vida. Entende-se a identidade sob este
prisma, como uma conjuntura temporal que passa pelo passado, presente e futuro, abarcando
todas as identificações realizadas ao longo da vida do indivíduo. Desta maneira, compreender a
imagem que o indivíduo desenvolve de si mesmo permite orientá-lo na construção e formação de
seu projeto original.
Por sua vez, a teoria da Gestalt-terapia apresenta como preocupação básica a promoção do
processo de identificação e crescimento do potencial humano. Desenvolve-se no indivíduo a
consciência de se relacionar no mundo como ser de opção, livre para decidir sobre a própria vida e
de se responsabilizar pelas consequências destas escolhas. É na relação constante com o mundo
que a liberdade do sujeito é contextualizada levando em consideração os limites e possibilidades
dele mesmo e do mundo. Polster (1979) destaca a importância da consciência como a
a maneira que uma pessoa vem a compreender o mundo, a si mesma e a sua experiência no mundo. Ela
se movimenta entre uma experiência sintetizada e a consciência das peças elementares que constituem
a sua existência num ciclo dinâmico e em contínua auto-renovação. (...) A cada conscientização
sucessiva a pessoa mais se aproxima da articulação dos temas da sua vida e também do movimento
para a expressão destes temas. (p. 191)
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suas identificações, contato com seus desejos, necessidades, habilidades, aptidões e interesses.
Por conseguinte, Perls (1988), defende que a
homeostase é o processo através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma vez que suas
necessidades são muitas e cada necessidade perturba o equilíbrio, o processo homeostático perdura o
tempo todo. (...) Desta forma, poderíamos chamar o processo homeostático de processo de auto-
regulação, o processo pelo qual o organismo interage com seu meio. (...) podemos dizer que a
necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna figura de primeiro plano, e as
outras necessidades recuam, pelo menos, temporariamente, para o segundo plano. (...) Para que o
indivíduo satisfaça suas necessidades, feche a Gestalt, passe para outro assunto, deve ser capaz de
manipular a si próprio e ao seu meio, pois mesmo as necessidades puramente fisiológicas só podem ser
satisfeitas mediante a interação do organismo com o meio. (p. 21, 23 e 24).
a pessoa saudável responde a isso de uma maneira apropriada: restaurando o equilíbrio, liberando
energias novas e permitindo o emergir de uma próxima e importante necessidade. A efetiva auto-
regulação dependerá de uma discriminação da consciência sensorial que permita à pessoa usar o que é
nutriente para ela e evitar o que não é. (p.18)
Outro conceito chave da Gestalt-terapia – ajustamento criativo – também faz parte ativa
deste processo. É importante dar-se uma “boa forma” ao trabalho e, como orientador profissional,
desenvolver a habilidade criativa proporcionará a ele e ao ambiente uma transformação
significativa. Segundo Zinker (2007, p.15) “A criatividade é a celebração da grandeza de uma
pessoa, a sensação de que ela pode tornar qualquer coisa possível”. Zinker (2007) retrata os
aspectos criativos desta abordagem terapêutica informando que
Um orientador profissional pautado nestas premissas, não julga o que é melhor para o
jovem, pois é necessário compreender, aceitar e acolher a experiência do orientando da forma
como ele vivencia, sem considerá-la certa, errada, boa ou ruim. Para tanto, mister se faz que ele
próprio esteja engajado neste processo.
Uma reflexão fundamental para se pensar o sentido do trabalho na vida de uma pessoa é
dada por Soares (2002), já que realização profissional é algo que envolve um tempo significativo
de nossas vidas e deve nos trazer um sentimento de felicidade. Segundo ela,
é parando para pensar, parando para escutar que nos damos conta do quanto o trabalho é importante
em nossas vidas e do pouco que paramos para pensar se estamos felizes com aquilo que fazemos. (...) o
trabalho preenche grande parte de nossa vida. Pensar, questioná-lo, compreendê-lo é uma tarefa que
cabe a todos os profissionais. Discutir sobre o trabalho e pensar melhor sobre a possibilidade de
escolhê-lo é uma tarefa muito árdua, pois está sempre colocando em dúvida nossa própria escolha.
(p.189 e 190);
o orientador profissional, hoje mais do que nunca, precisa comprometer-se. Precisa mergulhar no caldo
social ao qual pertence e dele emergir impregnado da cor que lhe for dada, como sujeito reflexivo e
ativo dessa mesma realidade. Como reflexivo, não somente alguém que pensa a realidade, mas o faz
criticamente. (p.15)
O referido autor vai mais além, apresentando o que se deve considerar quanto a formação
de um orientador profissional, pois
...pode-se dizer que este se encontra sempre em processo de construção, tanto pelas mudanças
próprias dessa área de conhecimento quanto por constituir-se num saber e numa práxis pertencentes a
um campo científico diretamente atrelado às mudanças sóciopolíticas econômicas de um país e do
mundo do trabalho em geral. (Ibid., p.20)
para poder “jogar” bem (desempenho do papel), é necessário que o profissional esteja tranquilo e
seguro de sua própria identidade. Só assim permitirá deixar-se invadir pelas atribuições do adolescente,
“con-jugá-las” e “inter-jogá-las”. (...) o instrumento fundamental de quem emprega uma modalidade
clínica é a sua própria pessoa; daí ser, sua identidade profissional, o dado mais relevante na
compreensão de seu esquema referencial operacional. (p. 181 e 187).
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Portanto, divulgar este trabalho vem ao encontro de toda a fundamentação teórica que
descrevo no referido trabalho e reforça os apontamentos que orientadores profissionais em todo
o país vêm salientando como imprescindível para esta prática.
Por fim, para ilustrar o trabalho apresentado e possibilitar um momento de reflexão, cito um
poema presente no material do curso que realizei em 2006, no Rio de janeiro - Formação em
Orientação Profissional: A Facilitação da Escolha com Dulce Helena Penna Soares e Marilu Diez
Lisboa.
RIO APA e seu filho THOR escreveram e encenavam nas dunas da Lagoa da Conceição em
Florianópolis, durante a década de 80. “OS SERMÕES DAS DUNAS – A paixão segundo todos os
homens”. A obra, com texto e fotos, foi publicada em 1986 pela Sociedade Antonio Gonzaga em
Florianópolis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: o processo grupal: uma abordagem
fenomenológica da teoria do campo e holística. SP: Summus, 1994.
SOARES, Dulce Helena Penna. A Escolha Profissional: do jovem ao adulto. São Paulo:
Summus, 2002.
ZINKER, Joseph. Processo Criativo em Gestal-terapia. SP: Summus, 2007.
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