Muita gente se irrita com as filas e

ineficiência dos hospitais, com à

burocracia e os juros do Banco
Nacional da Habitação (o BNH)...
Não adianta se aborrecer sem
analisar a serviço de quem estão
estas instituições e como suas
políticas são formuladas numa
sociedade capitalista.
Áreas de interesse: Politica/Direitos Humanos

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ISBN 85-11 1te de Paula Faleiros

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POLÍTICA SOCIAL
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editora brasiliense
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 Vicente de Paula Faleiros

O QUE É
POLÍTICA SOCIAL

editora brasiliense
 Copyright 6 by Vicente da Pauta Faleiros

Nentiuina parte desta pubiicação fode ser gravada,

Armazenada em sistemas eletrônicos, fotoconiara,
FAproduzida por (matos mecâricos Ou outros cguaisouer
sem autorização prévia da editora.
ISBN: 8965-11-01 166-4
5º adição, 1881
12 reimpressão, 2004

Revisão; Márcia Canola e Fátima L. T. Alonso

Capa e iiustrações: Gilherto Miadaira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

ÍNDICE
[Câmara Eraslieira do Livro, SP, Brasil)

Falairos, Vicemnde de Paula, 1941-

O quê à politica sócial / Vicorte do Pauta Faleiros,
- São Paulo ; Brasiliense, 2004, — (Coleção primeiros Quebrando 05 óvos
passos, 168%
A bondade aparente
1º reimpr, da 9º ad. de T994. hs políticas sociais no capitalismo avançado, O
ISBN 65-1 1-01 163-4 welfare state ou Estado de bermestar. v0.0
|, Brasil - Politica socia! 2. Política secial 1, Titulo. As políticas sociais dos países periféricos 1.0. 0.100
ll; Sério. Políticas sociais e produção capitalista .....0010
O Estado é pol (ticas sócias, 2. lcau e ca alan
DRI CODOD-S61.6t Crise económica epolticas sociais 1.0.2.0.
Indicações pará leitura
Índices para catálogo sistemático:
1, Política social ; Bam-estarsoclal — 351,6)

editora brasiliense s.a,

Fua Ari, 22 - Tatuapá - GEP 0331010 - São Paulo - SP
FaraiFas! [Dx 1) 6198-1460
E-mail: brasilianseeditíiuo
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Fone/Fax (0x1) 6675-0186
 QUEBRANDO OS OVYOS

Não se pode fazer à omelete sem quebrar os ovos, Para

fazer este livro, tive de quebrar a cabeça e quebrar assuntos
8a temas que estão inter-relacionados: a fala das políticas
sociais, seus mecanismos, sua relação com a economia, com
o Estado é às forças sociais e com as crises económicas.
Infelizmente não posso escrever sobre tudo ào mesmo
tenpo. À você, leitor, cabe fazer à omelete, à nova síntese
& análise de todos esses temas,
A ardem de apresentação dos temas obedeceu ao eritério
dae falar primeiro do envelope e depois da carta, primeiro
da casca é depois da pilula, primeiro da forma como se
apresentam as políticas sociais e depois dos processos e
À memória de Gercé e Sántana, categorias fundamentais que as determinam. Em primeiro
que buscaram mudar o dia-a-dia lugar, mastro o discurso das políticas sociais e, em seguida,
de muitos, e à lembrança de Felipe, à vinculação entre o político e 6 econômico.
seu filho, mortos em acidente ce Na hora de ler você pode comecar por onde lhe apeteçaã,
trânsito, ém Joáo Pessoa, no Natal pois 0 apetite é o melhor tempero da omelete, Trata-se de
de 1584, um práto leve, não se assuste, Fiz apenas uma introdução
8 Vicente de Pauta Faleiros
FP. =

à análise das políticas sociais, e no final você terá, nas

indicações bibliográficas, mais alimento para suas inda
gações, O assunto, é evidente, não se esgota na bibliografia
indicada,
As discussões aumentam é quanto à maneira de se fazer
à Omelete, A análise das políticas sociais tem muitos carmji-
nhos. Aquele por mim escolhido reflete a preocupação
de abordar a articulação entre política e economia, no
seu conjunto, nas sociedades capitalistas, Viso apresentar
a dinâmica das políticas sociais no desenvolvimento e
Grisa do capitalisino e dás lutas sociais, A BONDADE APARENTE
As políticas sociais ora são vistas como mecanismos de
manutenção da força de trabalho, ora como conquistas
dos trabalhadores, ora como arranjos do bloco no podar
úu bloco governante, ora como doação das elites domi-
nantes, ora como Instrumento de garantia do aumento No nosso dia-a-dia entramos constantemente em contato
da riqueza ou dos direitos do cidadão, com as políticas sociais, Todos 05 empregados e muitos
Toda: essa diversidade de pontos de vista torna difícil trabalhadores autónomos pagam à Previdência Social. Há
abordar o tema em questão, já que às políticas sociais vários milhões de mutuários do Banco Nácional de Habi-
não podem ser reduzidas a um único esquema, Ao contrá- lação e milhões de pessoas que estudam nas escolas do
riú, ádotar todas as explicações ao mesmo tempo seria Governo, frequentam creches ou utilizam serviços do
misturar receitas sem avaliar resultados, INAMPS,
Neste trabalho, mostro que as políticas sociais aparecem Não é sô a saúde, à educação e a habitação que com-
como dádivas, relacionando-as em seguida com as exigências poem as políticas sociais. Cada dia surgem novos progra-
do capital pará se valorizar e reproduzir a força de trabalho mas de assistência ao estudante, ao velho, ao Índio, à
& com às lutas sociais e crises-do capitalismo, Esse trabalho criança, à mulher, ao deficiente, ao doente, ao prisioneiro,
de relacionar as lutas dos trabalhadores e as políticas às cidades, Esses programas tornam-se cada vez mais deta-
sociais com o Estado e o capitalismo é que nos abre cam: lhados, alguns tendo cómo alvo diversos tipos de doença,
nho para analisar os átores que produzem a omeleta e. às a lepra, a poliomielite e o câncer,
condições em que ela é feita, No âmbito da assistência, muitos são os programas
Gabe agora ao leitor quebrar o qelo e pôr mãos à obra de nutrição e de ajuda a gestantes e migrantes. A Legião
para construir sua própria reflexão, tirar suas conclusões Brasileira de Assistência (LBA distribui leite em pó e dá
& fazer suasseríticas. auxilio a pessoas necessitecias,

LB
E BO )
10 Ficente ce Paula Faleiros O que é Política social
”
Estados e municípios também possuem vários programas
sociais, geralmente dirigidos pelas esposas de qovernadores
e prefeitos, a4 primeiras-damas. Elas organizam chás,
festas é competições com o fim de angariar fundos para
suas obras,
Há ainda muitos organismos privados Que se encarregam
da menores, mães solteiras, doentes, velhos, migrantes,
mandigos. Uns fornecem alimentos, como sopas e lanches.
Qutros dão abrigo, por exemplo, recolhendo os mendigos
nas ruas durante à noite: Qutros oferecem serviçõs e até
mantém internatos.
Tais organizações privadas recebem subvenções do Estado,
de entidades internacionais, de particulares ou de empresas;
estas Gltimas podem inclusive descontar do Imposto de
Renda alguns servicos que prestam ou algumas subvenções
que oferecer às Instituições e aos trabalhadores, como o
salário-educçação e e vale-refeição, Os organismos privados
é estatais estão muito entrosados na administração ou
Gestão cotidiana dos programas sociais, formando um só
conjunto, que alguns autores chamam Estadio ampriado,
Em geral os programas se apresentam sob a forma de
um benefício ou de um servico, O bensfício consiste pum
augirio dado em certos casos específicos .2 cerda ou
diminuição da capacidade de trabalho a fim ce garantir
um mínimo de subsistência ao trabalhador ou ao potbiré
desempregado, O serviço é uma relagão entre uma insti-
tuição e uma clientela para atender problemas pessoais
OU sociais,
Assim, existem na Previdência Social auxilio-nartalidade;
na ocasião do nascimento de uma criança; auxilio-doença
Ou auxrlio-acidente, quando o trabalhador não tem cóndi-
ções dê compárecer às suas atividades no emprego, O Os políticos aparecem emo benfeitores, embora
presidiário também recebe auxílio e, quando o trabalhador geralotente busquem o prestigio,
 Ficente de Paula Fúieiros O que é Política Social
> ”
morre, sua família pode beneficiar-se de um auxfijo-funeral, Na forma atual de organização da produção, o indivíduo
Todos esses auxílios são inferiores ao salário do trabalha- sobrevive através de um emprego independente é às formas
dor, para que este não perca o estímulo de trabalhar e de vida não lhe dão condições de cuidar dê velhos e doentes,
produzir. pois deve viver para trabalhar (e não trabalhar para viver).
Us serviços educacionais, de orientação social, de assis- Assim mesmo, pela perda de condições salariais na aposen-
tência médica, de ajuda jurídica e outros compõem um tadoria, ou na falta delas; muitos velhos só podem sobre-
conjunto importante de atividades oferecidas pelas insti- viver com à ajuda dos filhos,
tuições sociais, São atividades exercidas por profissionais A intervenção do Estado na garantia de benefícios e
ou técnicos dentro de instituições e obedecem à normas serviços não significa que tenha substituído à família.
muito detalhadas, Apenas articulou 25 novas condições econômicas e sociais,
Esses auxílios e servicos, mesmo garantidos por dei, que mudaram profundamente à vida da família trabalhadora,
geralmente aparecem como favores à população, Assim, O Estado, no entanto, utiliza no caso dos benefícios
são implantados em certas conjunturas políticas, como, prestados uma fala que recorre àao modelo familiar para
por: exemplo; para cata de votos ou para prestigiar certos justificar sua política, Vejamos mais detalhadamente
grupos qua estão no bloco do poder ou bloco governante. estas justificativas,
Através dessas medidas, o Estado e 6: políticos aparecem O sistema da Previdência Social, por exemplo, é orga-
como bons para o povo, preocupados com sua situação nizado em nome da solidariedade social; 03 jovens apare-
social, e aparentemente resolvendo seus problemas do dia-a- cem contribuíndo para à aposentadoria dos velhos, para
dia em relação à docnça, à moradia, à educação e à alimen- ao tratamento dos doentes, 05 empregados para os desem-
tação, que constituem questões de sobrevivência imediata pregacdos, os ativos para os inativos, os solteiros para 05
para o trabalhador de hoje. casados: neste Último caso, está compreendido o salário-
O trabalhador óu desempregado não pode contar com familia,
seus filhos para sustentá-lo quando estiver na velhice, pois Todas essas categorias dão a entender que à sociedade
as formas cle produção atuais destruíram à família extensa te assemelha à uma grande família que deve viver em
quo se organizava em torno da economia de subsistência. harmonia é paz social, uns colaborando com os outros.
Essa forma tradicional de produção se reflotia no Código Esta jdéia de harmonia e colaboração social está subja:
Civil, que obrigava 05 filhos à sustentar os pais na doença cente tanto nã promoção da caridade privada como nos
e na velhice, A família 50 constituía e organizava em torno sisternas mais complexos de seguro social, Este discurso
da produção para seu próprio sustento, compondo UM surge ná voz dos políticos é em seus escritos:
aránde aglomerado, denominado farnflia extensa, que Getúlio Vargas, chefe do qoverno de 1930 a 1945 e
foi desintegrado pelo regime salarial da economia capi- da 1950 a 1954, colocava em seus pronunciamentos à
talista, em que o indivíduo é contratádo pelo capitalista, idéia da colaboração entre patrões e empregados para
e não 0 grupo familiar, apresentar suas políticas sociais. Segundo ele, tais políticas
 Ficente de EFaula Fateiros ( que é Política social

E. F
viriam diminuir as questões, às disputés e o5 conflitos exploradores e explorados, dominadores e dominados.
entre empregadores e empregados pela garantia de uma Entre 03 Íracos e débeis acha-se os velhos, os doentes,
"proteção social” em casos de perda do trabalho, as crianças, as gestantes, os acidentados e os pobres, No
Essas idéias de proteção secial aos fracos e de colabo- entanto, tal debilidade lhes é atribuída em função da
ração entre patrões, Estado e empregados também servi- própria natureza humana, e não das condições sociais
riam de justificativas ao presidente Bismarck, da Alemanha, 217 que se encontram,
ha implantação do primeiro sistema previdenciário estatal, Não é o fato de ser velho ou criança, acidentado ou
am 1871. doente que implica proteção, mas à situação de trabalhador,
A colaboração entre patrões e empregados não visa de operário, de camponês. Porém, no discurso oficial, as
melhorar as relações entre dois Indivíduos, mas reduzir os políticas. aparecem como proteção à determinadas cate-
conflitos entre as classes sociais, aqudizados pelas lutas gorias que seriam mais frágeis individualmente.
BNtre as organizações de trabalhadores e 05 patrões. O economista norte-americano Milton Friedmãán, que
Essa proposta de colaboração, no desenvolvimento das inspira as políticas restritivas e monetaristas do presidente
políticas sociais, não se restringe às relações dentro das Ronald Reagan, afirma que o Estado só deve ajudar os
empresas propriamente ditas, Ela diz respeito às relações grupos e as famílias que não possam sustentar-se, isto é,
entre Estado e sociedade, 05 que ele chama de fracos, como as crianças e os doentes,
Com a ampliação da presença do Estâádo na vida cotl- Muito antes dele, no século XY], um outro econo-
diana, este busca novas formas de relação com as Massas mista, Malthus, havia defendido o corte de toda ajuda aos
para conduzir o processo capitalista no seu conjunto, pobres, a fim de reduzir o crescimento da população,
Juscelino Kubitschek, chefe do governo de 1955 4 1960, A proteção "deveria ser algo excepcional, exciusivamente
propagava à ldêia de desenvolvimento para reforçar à restrita aos inválidos, Aqueles que pudessem trabalhar não
colaboração entre povo e governo, no sentido de ampliar deveriam receber ajuda das igrejas ou do Estado; assim,
5 entrosamento entre Estado e massas. Ele não falava em não teriam interesse em aumentar o número de filhos.
Classes sociais, mas em “qente humilde”; gente pobre; da As idéias de colaboração de classes e proteção social
um lado, e em prósperos, de outro, foram muito defendidas pela lareja Católica nas encíclicas
A ideologia da colaboração está ligada à de proteção papais; Leão XI, em 1891, escreveu uma encíclica, cha-
social, Esta, na fala dos políticos, visa dar o sentimento mada Rerum Movarum, ém que postula a proteção aos
de segurança e garantias aos “mais fracos" da sociedade, trabalhadores através de certas reformas fóciais, como à
aos mais desprotegidos, aos carentes, aos marginalizados, adoção de um "salário justo”, de benefícios sociais e de
aos pobres, Organizações sindicais. Entre os benefícios sugeridos pelo
[Nesse discurso, à sociedade aparece dividida entre fracos Dapa está o repouso dominical.
e fortes, pobres e ricos, favorecidos e desfavorecidos pela D papa, ao mesmo tempo, defende intransigentemente
sorte, encobrindo-se as divisões mais profundas entre à propriedade privada dos meios de produção, aceita à
”.
 16 VFicênte de Paula Eatéiros O que é Politica Social

>

divisão da sociedade entre indefesos e fortes e combate o economia, por exemplo, à de subsistência, também poóluiu
conceito de luta de classes. Segundo o papa, à proteção cidades, rios e florestas, Para justificar novas intervenções
ao trabalhador seria uma forma de harmonizar o5 ricos do Estado na ecologia, utiliza-se o discurso da gusfíidade
com os pobres, ta vicla, considerando-se os equipamentos como “melhoria
Com a expansão do capitalismo, das intervenções do de sua qualidade de vida”. A construção de obras coletivas,
Estado e das lutas sociais, o5 discursos e as falas também como água, telefone, luz, esqoto e parques, aparéce táim-
foram mudando, As ênfases foram sendo dadas a outros bém sob à justificativa da “qualidade da vida", e, portanto,
temas, embora continuem presentes na colaboração e como obras boas e boas obras para o povo.
proteção sociais, Em resumo, à fala e o discurso oficial a respeito: de
Vinculado à expansão do capitalismo encontra-se o várias. Intervenções co Estado apresentam as políticas
desenvolvimento da tecnologia e dos equipamentos de sociais como boas em si mesmas e como bons aqueles
produção, com novos equipamentos de saúde, lazer, trans- que as fazem, Não é ráro 05 políticos que servem ce inter.
porte, comunicação. As políticas sociais também passaram mediários para essás situações receberem em público os
à significar implantação de áreas de lazer e esporte, escolas, epltetos de gensrosos, realizadores, preocupados com o
praças, creches, espaços culturais. Um exemplo disso é bem comum, com à sorte da gente humilde, tom a melho:
o programa Esporte Para Todos (EPT), do governo federal, ria das condições de vida, Esses agentes falam das necessi-
Num primeiro momento, estes equipamentos se intro: dades do povo, em minorar seu sofrimento, em melhorar
duziram nas localidades em nome do “desenvolvimento de suaS sorte através do esfórço de cada um.
comunidade”, sob à ideologia da colaboração e harmonia Além de fazer o povo aceitar e, portanto, legitimar
de todos, À mudança de hábitos e transferência de novos gpusaS |ntervenções do Estado e.de seus agentes, esses discur-
equipamentos à população eram importantes para integrá- £o5 Tazem à população acreditar na. Goriciade do sistema e
là numa sociedade de consumo e adaptá-la à novas formas no fracasso individual. & falta de assistência educacional, à
de produção. falta de nutrição à saúde, a falta de morádia, à falta de
Gomo o homem ceveria tornar-se mais hábil e mais Brprego, de lazer, a falta de roupas e alimentos; ou seja, a
produtivo diante da tecnologia, apareceu o discurso do doença, o desemprego e. a fome são atribuídos à falhas
investimento no homem, para justificar sua capacitação Individuais ou à ausência dé sorte na vida, pols com às
e sua participação nesse processo, A fabricação de equipa- políticas sociais o sistemãa surge como atuante e preocupado
mentos de educação e saúde passou a ser considerada pelo com todos, Os programas governamentais parecem dar
“lado humano", como complemento ao crescimento das um jeito de integrar os “caréntes” no sistema de consumos
técnicas é máquinas, como “desenvolvimento de recursos a equipamentos, ou ao menos oferecem essa perspectiva
humanos", a médio e longo prazo, |
A expansão da indústria e da técnica, por sua vez, além Com esses vários discursos as classes dominantes tentain
de destruir modos de vida próprios de outras formas de obter uma aceitação de suas políticas sociais, colocando
bn
FE
 Vicente de Pauta Faltelros

“
ênfase-no lado humanista do Estado; na resposta às Necessl-
dades e até na participação integrativa co povo no governo.
Essas justificativas ideológicas estão presentes também
nos numerosos estudios técnicos sobre “as necessidades”
da população, para formulação e ampliação dos projetos
é planos dos vários orgânismos estatais,
OD crescimento econômico é apresentado como solução
em si mesmo. Por exemplo, o candidato do PDS à Presi:
dência da República, em 1954, afirmava que ia "fazer do
trabalhador um sócio de progresso”, Este discurso de que, AS POLÍTICAS SOCIAIS
crescendo o bola, cresce à participação do povo na fatia NO CAPITALISMO AVANÇADO.
que lhe corresponde já [foi muito ouvido no capitalismo,
Mas pouco praticado,
O WELFARE STATE OU
A fórma como as políticas sociais aparecem nos discur- ESTADO DE BEM-ESTAR
505, nos jornais, nas inaugurações faz parte do imaginário
social da interação simbólica ou da ideologia dominante,
O Imaginário e a interação simbólica são as representações
que os homens têm de suas condições de existência, de Nas sociedades capitalistas avançadas Bá um discurso
trabalho, do seu projeto de sociedade é de Indivíduo dominante: o da lqualdade, Trata-se dá iguáldade de
e das políticas existentes. oportunidades, ou seja, da garantia do acesso do cidadão
Todos 05 programas sociais vindos de cima para baixo à certos bens é serviços na qualidade de cidadão e que por
são págos é financiados pelos próprios trabalhadores «e isso é chamado de âcesso universal, isto é, sem discrimi-
se inscrevem num contexto muito mais complexo, ouEe 03 nação de barreiras raciais, partidárias, físicas e religiosas,
discursos nem sequer prenunciam, ou melhor, distorcem É o minimo oferecido a todos.
e camuflam. Vou passar a analisar às políticas sociais nas Os países mais ricos da Europa, capitalistas, adotavam
sociedades capitalistas avençadas, onde mais se desémn- assa forma de garantia dos direitos sociais em circunstâncias
voOlyvEeram. diversas e num prócesso específico de cada um, implan-
tando, em momentos diferentes, suas políticas sociais, O
Tratado de Versalhes, no final da Primeira Guerra Mundial
(1514-1918), consagrou certos direitos trabalhistas e
previdenciários, mas só ao finál da Segunda Guerra (1939-
1945) é que se generalizou o sistema de proteção social
ao Indivíduo Nas ocasiões em que perdesse sua fonte de
20 Ficente dê Paula Fateiros O que é Eolífica social 21
=
FF

renda, axigisse uma suplementação temporária ou sé prê-

parasse para ingressar no mercado de trabalho, como é
O caso do seguro-desemprego; do salário-família e da
formação profissional. Esse sistema de suguridade social
garante serviços é benefícios do Estado ao cidadão, desde
seu nascimento até sua Morte, à partir de contribuições
especificadas em lei, É chamado por uns Welfare Sraté
ou Estao do BermEstar a, por outros, Estado dê Prov
iência ou Estado Assistencial, pelo qual o Estado garante
ao cidadão à oportunidade de acesso gratuito à certos
serviços é à prestação de benefícios mínimos para todos,
Nos Estados Unidos, esses benefícios dependem de crj:
térios rigorosos de pobreza e Ds serviços de saúde não são
estatizados, havendo serviços de saúde gratuitos ápenas
para 05 velhos e pobres,
O “acesso geral” à educação, à saúde e à justiça existente
na Európa decorre de direitos estabelecidos numa vasta
legislação que se justifica em nome da cidadania, O cidadão
ê um sujeito de direitos sociais que tem igualdade de
tratamento perante às políticas sociais existentes,
Entretanto, tal lgualdede, no âmbito das políticas
sociais, referese- a um mínimo de oarantias para manter
à subsistência do indivíduo em circunstâncias de mano:
ridade (abono familiar) ou velhice (assistência à velhice);
que, contudo, não altera à distribuição da renda; pois
tanto os ricos como 5 pobres recebem os subsídios uni-
versais de infância ou velhice.
Essa garantia decorre do reconhecimento dos direitos
da retribuição dos contribuintes e de participação pol (tica
nos destihos da nação, Ao menos nó prócesso de eleição
e votação o indivíduo torna-se soberano e 6 soberano
igovernante), súdito, A cidadania é o reconhecimento Programas Sockois são pagos é financiados pelos
da soberania da nação sobre à Estado, dó poço sobre o DFrÓDFIOS tFODAVIZOOrES,
Ea
 Vicente de Paula Faleiros (daue é Política social
,

governo, da sociedade civil sobre às Instituições, que o desemprego voluntário [88 a pessoa pede demissão)
Além desses subsídios, nos países de capitalismo céntral, não é coberto pelo seguro e que as agências exigem que O
há também programas espéciais: para os trabalhadores desempregado faça cursos de treinamento para reciclar-se.
do baixa ronca, para os desempregados e pará os excluídos Hoja em dia esses países estão unificando as diferentes
do trabaíha. polílicas de ajuda ou assistência através de Um mecanismo
Os excluídos do trabalho recebem a assistência pública fiscal chamado garantia de renda Mínima ou iMBOSO
em condições muito especiais, Os desempregados possuem negativo, Ele é administrado pelo Imposto de Renda, Esse
O seguro-desemprego e os trabalhadores de baixa renda imecanismo, nó entanto, não é automático, é consiste no
tem uma compensação através de suplementação de renda. estabelecimento de um limite de renda, denominado
& seguir, detalho esses três tipos de programas. limite de pobreza, a partir do qual o indivíduo passa a
Di critérios para Ingresso no programa ce assistência pagar Imposto de Renda: Se tiver renda familiar inferior à
são preestabelecidos em leiz estar sem poder trabalhar
esse limite, ele receberá uma prestação do governo a partir
ipar impossibilidade individual ou social), estar sem seguro- de sua declaração de rendimentos para o imposto, Ac
desemprego, sem fonte de renda e com um mínimo “acej. invés de pagar imposto, recebe um complemento chamado
tável” de bens, Além disso, é preciso submeter-se à com- imposto negativo,
provação de carência junto aos agentes de serviço social; Não se trata, pois, de uma medida de acesso universal
isto, para determinar a ajuda, sempre inferior ao salário em lunção da idade ou das condições de cidadania: O
mínimo. Os jovens capazes de trabalhar são enquadrados imposto negativo fundamenta-se nà existência da pobreza,
em parâmetros de auxílio mais rigorosos que os velhos da desiqualdade, para possibilitar a sobrevivência dos
& incapazes, Apesar de ser considerada um direito, a assis incapacitados para o trabalho e dos trabalhadores com
tência se apresenta como um estigma, pois é atribujda, baixa renda, Ele apenas completa 05 ganhos até o limite
após à análise de cada caso, aos Cincapazes” de trabalhar, fixado pelo Estado, é claro, inférior ao salário mínimo.
O que vem a tornar-se uma vergonha numa sociedade Com isso possibilita-se também o corte de gastos adminis
competitiva e consumista, trativos dispersos em vários programas e a unificação dos
O seguro-ciesemprego não é uma garantia completa e brogramas de assistência, aumentando 6 centralizando 0 com
permanente de salário, Ele provém de desconto em folha trole da mesmãá, Os governos, por sua vez, estimulam o
é é atribuído por um período determinado. (no máximo ingresso no mercado de trabalho, complementando os baixos
umano), conforme o tempo de trabalho e à taxa de desem- salários desse mercado, e reduzem o valor da assistência
prego, devendo o desempregado comprovar que continua anteriormente conquistada pelos pobres, 6 que acarreta à
buscando trabalho, & prestação é sempre inferior ao salário deterioração das condições de vida da população necessitada.
do segurado, variando de país para país (por exemplo, Apessr das medidas universais, da assistência e do
nos EUÁ corresponde a 40% do teto assegurado e na imposto negativo, por exemplo, nos Estados Unidos, nos
Finlândia chega à 70%), É importante ainda considerar últimos 40 anos, os 20% mais pobres detiveram somente
 Vicente de Paula Faleiros (O que é Política Seciat
= .

5% dá renda, o que significa que à situação da pobreza à 42% da população. Essas medidas foram implantadas
não melhorou no plano interno, Mo entanto, aumentou pelos liberais progressistas ou pelos trabalhistas; tiveram,
à fosso entre à renda per capita dos países centrais em porém, a oposição dos conservadores, que às combatiam
relação aos periféricos, Renda per capita É 6 resultado am nome do mercado, do faissez-faire, isto é, da liberdade
da divisão da renda interna do país pelo número de habi- sem restrições para à produção e o comércio. Os conserva-
tantes desse pais. dores defendem um liberalismo radical, contrário à inter
Como se pode ver, à questão da igualdade decantade vanção do Estado no campo dos benefícios sociais (mas
no discurso não fica resolvida através de medidas de não dá repressão), estimulando o workfare [de work,
política social. Allãs, na teoria e na prática económica trabalho, e fare, estar), isto é, à manutenção do mercado
capitalista liberal, a Hoesciacie surge como prioritária em de trabalho e do trabalho para 6 atendimento das necessl-
relação à igualdade, dades. O governo conservador de Margaret Thatcher cortou
Essa liberdade aparece aos indivíduos como à fivee benefícios sociais e subsídios, implantou programas pára
sscolla tanto do trabalho (patrão) como dos serviços e à manutenção do trabalho é propôs como loma de sua
condições oferecidos pelo Estado. llusoriamente, crêem política “o direito a ser desigual”, para significar que as
eles ser donos de seu destino e depender deles adotar desigualdades sociais são questões devidas às diferenças
Uma ou outra opção, fazendo maior du menor esforço individuais, Já nos Estados Unidos o Estado cobre o acesso
para superar suas dificuldades. As siluáções sociais são à educação, mas impõe inúmeras restrições ao acesso à
transformadas em problemas inctividuais, como se as opor- assistência (limitada aos incapazes) e à saúde (que, em
tunidades fossem iguais para todos, dominantes e domi:- grande parte, é paga), Na França existe uma política espe-
nados, exploradores e explorados, ritos e pobres, e como cial de subvenção familiar que cobre 64% da população,
36 à ascensão social dependesse de cada um, Mas O Acesso a0s serviços de saúde é dividido em vários
As formas pelas quais O acesso aos serviços sociais é organismos, O segurado pode escolher é pagar set médico,
implementado nos diversos países não são idênticas, sendo em parte reembolsado pela Previdência Social e
variando de acordo com às conjunturas políticas e pressões contribuindo, em geral, com 256% do custo da consulta.
sociais, Na Inglaterra, por exemplo, há serviços estatais Essa taxa, denominada bifhete de contenção (ticket mo-
gratuitos que cobrem à perda dá trabalho, da renda, do deratéêur), destina-se a frear o consumo de serviços médicos,
apoio familiar, da saúde, além de oferecer oportunidade Os países limitam ou restringem cartos acessos conforme
de educação, formação profissional, habitação, tratamento às exigências e pressões das forças sociais em presença,
psicossocial, assistência judiciária, tratamento da delin- do. desenvolvimento dos próprios serviços e benefícios e
quência & desenvolvimento regional é comunitário, O da conjuntura de crise. Atualmente, há mais tendência à
Estado, aos poucos, foi assumindo uma séria de prestações restrição que à ampliação dos serviços, tendo em vista
de serviços que acompanham o indivíduo do nascimento à crise econômica e as pressões sociais advindas dos cida-
à morte. No entanto, as alocações familiares são limitadas dãos que suportam grandes descontos no Imposto de Renda
. —
 Ficente de Pouia Fofeiros (gue é Política Social 27
> ”
para financiar esse Estado Social. Nos países desenvol: iftores de produção e da máo-de-obra para que à demanda
vidos, a carga fiscal alcança em torno de 40% da renda. ou à procura de bens e serviços seja mantida, Manter à
No Estado do Bem-Estar social, à maior ou menor demanda significa, pois, a capacidade de comprar bens
restrição ao acesso à bens e serviços sociais está articulada é serviços no mercado, com salários suficientes advindos
ao desenvolvimento do capitalismo e de suas contradições, do emprego, Para tanto, Keynes não hesitou em propor
Nesse contexto, o Estado deve manter o5 mecanismos o aumento dos gastos públicos, com o fim de dar trabalho
do mercado de trabalho e as relações capitalistas de pro- aus desempregados e auxílios pará estimular a demanda,
dução ao mesmo tempo que regula às atividades do mer- Keynes, contrariando o faissez-faire, ou liberdade individual
cado e da produção e atende à prestação de servicos e total na economia, propunha na “Agenda do Estado", ou
benefícios como direito da cidadania. Essa regulação seja, na política qovernamental, es serviços tecnicamente
estatal não é, pois, fruto de uma evolução do humanistinio, sociais que, de acordo com ele, “estão fora do âmbito
mas das próprias contradições e conflitos de uma socie- individual e ninguém adota se-o Estado não o faz", Entre
dade que produz incessantes riscos para à vida das hessoas essag atividades está o controle da moeda, de crédito, da
e O espotamento da força de trabalho, xoupança, da mão-de-obra e dos juros,
Historicamente, o mercado áqravou de tal formaá as Essá estratégia, definida na conjuntura dos anos 30,
desigualdades inerentes ao capitalismo, concentrando à consolidou-se nã Imglaterra durante a Segunda Guerra
produção, a renda e 0 consumo nas mãos de poucos, que Mundial, sendo consubstanciada no relatório presidido
a próprio sistema capitalista foi constantemente sacudido por Larg Berveridge, o qual leva seu nome, É asse relatório
por graves Crises econômicas e sociais que puseram em que organiza o sistema comploto de “segurança social”
risco não só as pessoas e à força de trabalho, como tam- do nascimento à morte. Ele já havia sido precedido na
hêm o próprio capitalismo. Indlaterra por vários outros relatórios e medidas que esta
Certas requlações do Estado para controle da economia beleciam ag Uleis dos pobres" e determinavam desde o
é: do mercado de trabalho foram, então, elaboradas pelos confinamento: dos pobres à uma paróquiá (1601) até seu
liberais progressistas ou nfo-ortodoxos, pára manter o confinamento em “instituições de trabalho" — work
processo global de acumulação da riqueza capitalista e house (1834), Nos Estados Unidos, 05 seguros sociais para
fazer frente às crises econômicas e ameaças sociais. Busca-se desemprego & velhice foram introduzidos durante a grande
assegurar as taxas de lucro dos capitalistas, que históri- crise (]935), e 6 sequro-saúde continua, em grande escala,
camente tendem a baixar pela forte disputa entré eles e nas mãos de empresas privadas, As empresas fazem convê-
pelo confronto do capital com o trabalho. nios coletivos pará saúde e aposentadoria complementar
Essa intervenção ou “regulação capitalista” foi econo- dos empregados, Na França, o sistema assistencial começou
micamente justificada por John Maynard Keynes (1883- com os asilos e hospitais gerais, sendo que 05 seguros
1846), um economista inglês, Segundo ele, é preciso uma foram introduzidos por categorias específicas, em épocas
estratégia estatal de sustentação do pleno emprego dos diferentes,
E
 O que é Política Social!

AS POLÍTICAS SOCIAIS
DOS PAÍSES PERIFÉRICOS

Nos países pobres periféricos não existe 6 waelfáre

State nem um pleno keynesianismo em política: Devido à
profunda desigualdade de classes, as políticas sociais não
são de acesso universal, decorrentes do fato da residência
no país ou da cidadania, São políticas “categoriais”, jsto
é, que têm como alvo certas categorias específicas da
população, como trabalhadores (seguros), crianças (ali
mentos, vacinas), desnutridos (distribuição de leite), cértós
tipos de doentes (hansenianos, por exemplo), através de
Programas criados à cada gestão governamental, segundo
critérios clienteiísticos é burocráticos,
Na América Latina, há grande diversidade na implan-
tação de políticas sociais, de acordo com cada país. Hoje
todos eles possuem um sistema de seguros sociais é certos
brogramas de assistência a categorias de pessoas chamadas
carentes, No entanto, o acesso à tais programas é limitado
por Inúmeras condições que obedecem a critérios estabe- Na América Latina, o benefício não é um direito do
lecidos pelos agentes governamentais, pelo clientélismo cidadão mas um favor concedido em teca de veias.
 Vicente de Fanla Faleiros que é Política social
“ -

& favoritismo político é por certas pessoas dos programas Nessas condições, não prevalece o direito de acesso
sociais o É permitido à outras, dependendo das circuns universal do cidadão 205 serviços, mas um sistema cliente:
tâncias. Portanto, esses programas não significam uma lística de favores e vantagens, Os benefícios surgem como
garantia permanente & segura de um direito jncentestável, uma vantagem passoal, como favores do Estado, e quem
À assistência varia conforme à prioridade dada aos o5 obtém parece ficar devendo uma obrigação à quem
recursos do góverno, aos arranjos políticos, às conjunturas ns presta. Essa obrigação pode significar até o atrelamento
eleitorais e não conseoue sequer abranger 05 que passam do: votó em futuras eleições,
lome permanentemente, Todas essas políticas estruturam-se O modelo de serviços sociais da América Latina não
em corredores de acesso diferentes, de acordo com as lava em conta um ordenamento liberal de acesso garantido
classes e camadas sociais que vão do muito ruiricão muito em lei, generalizado à cidadania é com opções, ao Menos
bom, Os serviços melhores implicam parâmetros elevados, tehricas, de escolha de serviços, mas implica um sistema
já que se encontram em mãos de empresas lucrativas parti- de integração é exclusão controlada de certos grupos &
culares. Por exemplo, 6 atendimento médico se estrutura categorias da população:
em níveis de qualidade muito variados: os serviços pri Tanto nos países onde predomina o chamado KYeifare
vados sofisticados destinam-se aos ricos, e 038 servicos State como no América Látina, articula-se o acesso dos
públicos, «de nível inferior, aos pobres. Criam-se, assim, direitos, benefícios e serviços do Estado de acordo com à
canais e corredores de acesso muito diferenciados pela combinação das categorias pobre, cidadão e trabalhador,
quantidade e pela qualidade, O mesmo acontece com os conforme as correlações de força, às crises e à necessidade
sistemas educacional, habitacional e previdenciário. Não de legitimação das medidas sociais. O cidadão pobre tem
existe, polis, um sistema de bem-estar com acesso gratuito, apenas certos direitos iguais aos ricos: porém, para Manter
igual e aberto 8 todos 05 cidadãos. sua subsistência é o processo de produção de riquezas, é
Na América Latina, há uma combinação dos serviços preciso que seja trabalhador, 16to é, que venda sua força
públicos é privados de tal! forma articulada que 05 últimos, de trabalho ào capitalista, o que exige uma análise mais
às vezes, incrustam-se no próprio sistema público, valendo- detalhada das relações entre 2 economia e as políticas
se ce grandes convênios, alianças, amizades, empregos sociais:
é subornos para conseguir as vantagens dos benefícios
governamentais, No sistema previdenciário brasileiro,
algumas fraudes estão aparecendo constantemente na
linprensa, mostrando, por exemplo, a inadimplência de
empresários no pagamento das contribuições, a concessão
de convênios com critérios eminentemente político-parti-
dário-pessoais,) além da cobrança ao governo de servicos
médicos particulares que não foram efetivamente prestados,
iam S
 (que é Política Secial
Fe

| com as relações de produção,

A Previdência Social, por exemplo, exige contribuições
dos assalariados, encargos para as ermpresas e custos para
o consumidor, pois as empresas trânsferém seus encargos
para os produtos, envolvendo toda a esonomia do país,
As políticas sociais são, assim, formas e mecanismos de
relação e articulação de processos políticos 6 económicos,
Os procéssos políticos de obtenção do consentimento
do povo, da aceitação de grupos é classes e de manutenção
POLÍTICAS SOCIAIS ca ordem social estão vinculados a05 processos econômicos
"E PRODUÇÃO CAPITALISTA de manutenção do trabalhaclor e das relações de produção
das riquezas, ]
Através de políticas sociais, como à Previdência Social,
o trabalhador repõe certos desgastes de sua força de tra-
balho, obtém benefícios que contribuem para a reprodução
Os mecanismos políticos de prestação de benefícios, de de seus filhos ou para sua mânutenção quando estiver
aLeSSO AOS Serviços estatais, de estabelecimento dé direitos temporariamente excluído do mercado de trabalho. É por
OU Mesmo de concessão arbitrária de assistência não consti- isso que se afirma que as políticas sociais constituem
tuem atos isolados do Estado ou iniciativas individuais mecanismos de reprodução da força de trabalho,
de deputados, senadores e ministros. Estes poclem propor Esta reprodução se inscreve nas relações sociais de
novos benefícios à população ou modificações nas políticas produção de trabalho. O trabalhador que produz merca-
existentes até para angariar votos ou prestígio político, mas dorias ou serviços também produz suas condições de
as propostas e as medidas aprovadas ou transfórmadas em sobrevivência através do salário que recebe e qera riquezas
li se inscrevem num contexto complexo de pressões das que são apropriadas pelos capitalistas. Estas relações sociais
várias classes sóciais e nos limites estruturais da economia, de exploração são o fundamento da sociedade capitalista,
Um deputado ou um ministro, para ver seu projeto aceito LU capital se valoriza através da exploração da força de
e implantado, deve levar em conta não só às forças existen- trabalho que não recebe por tudó que produz, & áCumis-
tes no Poder Legislativo, mas as condições econômicas do lação de capital é este aumento incessante de riquezas,
pais. A legislação social implica benefícios, mas também apropriadas por aqueles que possuerm o5 meios de produção
encargos, contribuições, impostos e taxas, Implica investi da riqueza (máquinas e Instalações), ou seja, os capitalistas.
MEeNtos. e despesas com pessoal, acarretando custos elevactos A existência da relação social de exploração é, portanto,
pará ser posta em prática: As leis socieis mexem, portanto, à condição do processo de acumulação, E, conseoliente
tom os custos dos produtos consumidos, com o5 salários, mente, torna-se fundamental manter o trabalhador vivo
"E

Ficente de Faula Faiciros O ue é Política social 35

=
& produtivo para que essa relação se perpetue, com a obténção de serviços e benefícios de saúde, previ-
UÚ trabalhador e sua familia precisam alimentár-se, dência 2 assistência que são regulados pelo Estadó nos
vestir-se, mórar, estudar, cuidar da saúde para colocar-se limites estruturais das relações de produção. Os gastos
em condições de trabalhar e produzir riquezas, À vida e estatais na área social compensam, assim, certas perdas e
n trabalho não são, assim, questões individuais, mês situa- desgastes da força de trabalho e possibilitam sua reprodução
ções coletivas é sociais quê garantem à possibilidade é à num nível que ao mesmo tempo garanta à produção é à
aeletividade da acumulação, As condições sóciais da solire- naz social e não modifique a relação fundamental entre
vivência vão além dos limites da empresa e dos interesses os donos dos meios de produção e 05 assalariados. Uma
capitalistas particulares e passam à relacionar-se com o parte da riqueza produzida pelo próprio trabalhador é a
próprio processo de sustentação do capital. Torna-se ele destinada pela pressão das lutas sociais, Ás lutas por
necessária, então, uma regulação geral da reprodução do salário somam-se aquelas pela moradia, pela saúde, péla
trabalhador que se realiza através.da intervenção do Estado, educação e pela aposentadoria,
As políticas sociais estatais não visam, pois, atender aos A dinimica conflitiva e contraditória da produção leva
vários capitalistas e empresários, ras a tornar disponível GE capitalistas a mudarem suas técnicas para economia
e operável a máo-de-obra para qualquer setór e em condi- de máo-de-nbra e aumento de produtividade, fazendo-se
ções razoáveis, A Previdência Social, pór exemplo, oferéce face ao mesmo tempo à luta entre capitalistas e traba-
benefícios aos segurados independentemente da empresa lhadores e à luta entre os próprios capitalistas nacionais
em que se emprequem, sendo-lhes possível transitar de e intermacionáis. A luta intercapitalista acarreta também
um estabelecimento para outro, Desse modo, a Previdência à concentração das empresas, à centralização de decisões
garante a mobilidade da mão-dé-obra e sua manutenção e formação de conglomerados: cartéis, Os conglomerados
aquando ocorra à perda da cápacidade de trabalho, aqlutinam empresas de diferentes ramos ou nívelssob um
Ds trabalhadores, por sua vez, têm interesse em valorizar sá controle e 05 cartéis são associações de empresas dife-
ao máximo sua forca de trabalho, desenvolvendo lutas e rentes. para obtenção de vantagens. Esses mecanismos
greves para aumento de salários é benefícios e melhoria complexos: visam conter a queda da taxa de lucro e tirar
de seus meios de vida, As organizações sindicais ou parti- a máxime da combinação trabalhadorfinstrumento de
dárias dos assalariados buscam pressionar 0% capitalistas trabalho. Nem todos os setores da produção capitalista
e o Estado para atender à seus interesses, desenvolvendo se modernizaram ao mesmo tempo, diferenciando-se
o conflito de classes da sociedade capitalista, Aos capita- as formas de manutenção da força dé trabalho e às polí
listas não interessa à permanência do conflito aberto ticas sociais, A Previdência Social, por exemplo, mantém
que perturhe a produção e possa levar 20 questionamento as aposentadorias e beneficios diferenciados conforme
da própria “ordem social”, ou seja; das relações de explo- os salários: quem ganha mais recebe mais,
ração, Nesse confronto é que 05 trabalhadores & seus.aliados As políticas sociais se desenvolvem em articulação
conseguem melhorar às condições de vida e de trabalio, com à inclusão; a reprodução e à exclusão da mão-de-obra
36 Vicente de Paula Faleiros O que é Política Social 37
o Fa

no processo produtivo é com a3 lutas sociais. O assalaria- esse vínculo entre o conjunto da produção e o conjunto
mento permitiu 5 desconto em folha diferenciado por da força de trabalho varia conforme as conjunturas, os
remuneração, a prestação de benefícios temporários de momentos históricos, az correlações de força. Podemos
compensação da perda de salário, como o auxílio-doença. destacar, no entanto, que o Estado incorpora, no plano
Quando & trabalhador é excluído da produção, pode nolítico, o atendimento de um mínimo de condições
receber, por exemplo, aposentadoria ou sequro-desemprego. de reprodução do conjunto da força de trabalho e de
O seguro-desemprego existe nã Europa e atende ao institucionalização dos conflitos sociais. Esse minimo
trabalhador que se encontra fora da produção, mas serve não afeta as relações de exploração e ainda oferece às
para manter à ordem social, evitando saques «e revoltas, mesmas condições para todas a5 empresas, contribuindo
como também para controle da disponibilidade do desem- para à pacificação das relações entre as classes, Essa arti-
pregado para o trabalho, possibilitando a reserva de mão-de- culação política do, processo produtivo se realiza através
obra para vlilização em mornentos de expansão da eco- de lutas e pressões de diferentes forças sociais que se
nomia, Além disso, o trabalhador tica em busca de trabalho, manifestam interessadas ná questão em jogo. Tanto os
submetendo-se às exigências do empregador e a seu lugar empresários como 05 banqueiros, 05 trabalhadores, os
de explorado no processo produtivo, As políticas sociais aposentados é os políticos têm interesse na questão da
não rompem o vínculo entre trabalho e benefícios sociais, Previdência Social.
ho contrário, elas consolidam e articulam esse vínculo, Os empresários pressionam por custos mais baixos
Mesmo para aqueles que se encontram fora da produção. à serviços vinculados à empresa, enquanto os banqueiros
OG vínculo entre o conjunto da produção e o conjunto exinêm pagamento de juros e taxas pelo recolhimento e
da força de trabalho não pode ser garantido pelas empresas pagamento feitos aos segurados, Os trabalhadores lutam
particulares, Elas agem como empreendimentos voltados por um mínimo de contribuição retirada dos salários
para seus objetivos de expansão e lucro, e até poder e um máximo de benefícios, Os donos de hospitais exer-
criar benefícios especiais para seus empregados, como cem pressões para aumentar os pagamentos dos atendl-
creches e assistência médica, Esses benefícios diferenciados mentos médicos com o minimo de controle previdenciário.
aumentam os custos da mêo-de-obra, é nem todas as empre- Os políticos propõem benefícios novos de olho nas conjun-
sas podem suportá-los, encarecendo seus produtos, À turas eleitorais, à cata de votos. Essas pressões se baseiam
reivindicação por benefícios, em cada empresa isolada, tam- nos interesses específicos de cada força que-se manifesta
bêm gera greves e conflitos, Somente o Estado pode gerir nm cena política através de requerimentos, telegramas,
relações entre o conjunto da produção e o conjunto da força moções, reuniões; declarações públicas, manifestações
de trabalho, pois ele representa à organização geral da sócie- de rua, Às forças dominantes articulam tobbies ou orupos
dade e o poder de se impor à ela pela força ao mesmo de pressão pagos para fazer valer junto aos poderes públicos
tempo que é reconhecido e legitimado pela sociedade, Seus interesses particulares,
A forma pela qual o Estado estabelece e deserivolve A relação de exploração entre capital e trabalho se
 Vicente de Pouila Foleiros (Fejue é Política Social!

rearticula politicamente nas relações entre Estado e socie- para desestimular os trabalhadores a viver da venda da
dade, pois nas lutas específicas de política social os inte- força de trabalho e preferir encostar-se em henefícios,
resses das diferentes frações do capital e dos vários segmen- Por isso, elas só se efetivam quando o trabalhador pardeu
tos de trabalhadores se civersificim. Às convergências à capacidade de trabalho ou quando ainda não chegou à
se produzem de forma diferente em cada conjuntura, idade de trabalhar, Os auxilios doença, às aposentadorias
É necessário, no entanto, ter em conta que 05 empre à as pensões são sempre mais baixos que o salário do
sários, banqueiros e donos de hospitais têm interesses beneficiário, e auxilto-nátalidade e saláriofamiília são
comuns na manutenção do processo de acumulação, contribuições que dizem respeito aos menores,
nà prática; sê articulam rapidamente aquando se vêem Manter o trabalhador é uma forma de garantiro trabalho,
ameaçados pelá pressão dos trabalhadores, Estes buscam à relação de trabalho, de forma renovada dentro de um
manter o salário e melhores condições de vida, Minimo, tnclispensável para à subsistência é de um míximao
Em 1981, quando o governo Figueiredo introduziu iceitável pelas empresas e pelo oovérno para que seja
aumentos. nas contribuições previdenciárias, que passaram fapassádo ao preço dos pródutos e aos impostos pagos
de 8 a 10% conforme a faixa salarial, empresários e traba- pelos cidadãos. Se 65 encargos sociais sobre a folha de
Ihadores manifestaram-se contra 6 aumento, Os banqueiros salários forem considerados demasiados pelas empresas,
F——p—p———=—=—=—=—=—=—=—=—=—=———=—=—=—=—=—=——=—=—

exiniram o pagamento do débito da Previdência é o5 polí- estas terão de substituir homens por máquinas, para reduzir
ticos do POS (partido do governo) loram contra é proposta os custos dos benefícios sociais, mas, ao Mesmo tempo,
do ministro Delfim Netto de cortar benefícios é aumentar gerarão desemprego, Insatisfação social e diminvirão à
à arrecadação, com medo de perderem as eleições de 1987, demanda, Os encargos sobre à folha de salários incidem
Os. empresários puderam repassar o aumento ao custo mais. sobre às empresas que possuem uma alta taxa de
dos produtos, mas os trabalhadores tiveram maior parcela máfo-de-obra em relação ao Investimento. Este é 6 caso
de seu salário nos cofres da Previdência, Os banqueiros dos descontos da Providência Sócial e do FGTS, que incí-
tiveram parte dos débitos saldados. Assim, no conjunto, dem sobre à fólha de salários. Quando à taxação se realiza
o maior peso do aumento recaiu sobre os trabalhadores sabre o faturamento, às grandes empresas que utilizam
& consumidores, não sendo aáfletado o luéro patronal e pouca máode-ohbra são um pouco mais atingidas que às
o processo de produção de riquezas. pequenas empresas. Este é o caso do PIS iPrograma de
A política previdenciária, como as demais políticas Integração Social) e do Finsocial (Fundo de Investimento
SOCIAIS, iNscreve-se nessa articulação complexa de forças Social).
e pressões, sem afetar, na entanto, às condicões funda- As politicas sociais que não são financiadas com clescon-
mentais do processo de acumulação, garantindo-se' aº refa- tos sobre a folha salarial ou sobre o faturamento dependem
ção do trabalho explorado. dos impostos pagos por tóda a população, Assim, à assis:
As políticas sociais asseguram à manutenção do trabalho tência social, a educação, à saúde pública e o saneamento
como forma de vida Aormai, isto é, não devem contribuir dependem do Imposto de Produtos Industriais (IPI, do
 Vicente de Paula Foleiros Oque é Política Social 41
. r S
Imposto de Circulação de Mercadorias (ILCM) e do Imposto da força de trabalho diretamente ligada à produção, mas
de Renda (IR). A própria Previdência Social tem parte também daquela que está excluída do processo produtivo,
de Seus recursos provenientes de taxas e impostos, No como as crianças e os velhos, mantendo, no: entanto, à
preço dos combustíveis, hã uma parcela destinada à Previ: sua capacidade de consumir, O próprio Keynes considerava
dência (6% do preço "ex-refinaria"” da gasolina), fundamental & estímulo à demanda, através dê subsídios do.
Esses mecanismos de financiamento incidem sobre 6 Estado, pará manter o mercado é, consequentemente,
conjunto da classe trabalhadora seja na produção, seja no a produção,
consumo, inscrevendo-se nas relações capitalistas. Eles, As aposentadorias, pensões e renda vitalícia dos maiores
como à assistência, podem não contribuir diretamente para de 70 anos viabilizáam o minimo de consumo por parté dos
à produção, mas indiretamente influem no consumo & na velhos, enquanto os auxílios em dinheiro ou em alimento
manutenção da order social necessária à produção. garantem o Mesmo para os desempregados e as crianças. Ao
As relações de produção capitalistas não constituerm uma mesmo tempo, 5 Estado organiza sistemas de consumo à
esféra à parte do consumo, contudo nelas mesmas se produz preços mais baratos para as faixas mais pobres da população,
o consumo da matéria-prima, de energia e da força de tra- como é o caso da Cobal Companhia Brasileira de Ali-
balho, além de se processar o desgaste dos equipamentos, mentos!, Esses sistemas também servem aos produtores
Por sua vez, sem produção, não pode haver consumo, através da compra em massa da produção pelo Estado.
As políticas sociais capitalistas, além de manter o trabalho Assim, escoam produtos de qualidáde inferior, que não
e não contrariar o processo de lucratividade das empresas, entram no consumo das familias de renda superior, e os
devem garantir o retorno ào trabalho da mão-de-obra excedentes de pródução porventura existentes.
Iincapacitada para seu exercício, como acontece nos casos As políticas sociais articulamese com 6 processo econê-
de doença e acidente. O trabalhador doente e acidentado mico tanto na manutenção do trabalho como. no estímulo
recebe assistência médica com o objetivo de recuperar-se e à demanda global de bens e serviços no mercado.
voltar à produção, O trabalhador também recebe treina- As políticas sociais se entrosam também com o capital
mento para melhorar a produtividade e adaptar-se a novas financeiro pela captação da poupança popular através das
técnicas. Os critérios de prestação dos benefícios não são contribuições. compulsórias ou obrigatórias dos trabalha-
às necessidades do trabalhador, mas à contribuíção e à dores, No Brasil, os: assalariados pagam, obrigatoriamente,
incapacidade de cada um. No caso da Previdência, um à Previdência, o Fundo de Garantia por Tempo de Servico
trabalhador com maior Incapacitação e maior tempo de (FGTS), o Programa de Integração Social (PIS) e o Fundo
contribuição recebe maior benefício que um trabalhador de Investimento Social (Finsociall, embora nem tódos
com menor incapacitação e menor tempo de contribuição, sejam descontados em folha, como o é a Previdência, pois
A assistência é avaliada segundo critérios tecnocráticos e é com à riqueza produzida pelos trabalhadores que às
não relativos às necessidades do “beneficiário”, empresas efetuam todos esses pagamentos.
As políticas sociais compreenciem não sô à reprodução Com esses fundos obrigatórios por lei, o Estado arrecada
 Vicente de Paula Fóltéiros O que é Política Social 43
>. -
Uma grande quantia de dinheiro que não se destina exelu:- tecnologiá pará oferecer os serviços mais caros e menos
sivamente ao pagamento dos benefícios sociais, mas tam- lucrativos. Por exemplo, o Instituto do Coração, do Hespi-
bêm ao financiamento de investimentos clas empresas. tal das Clínicas de São Paulo, possui aparelhos cspeciais
O Estado centraliza e controla o dinheiro arrecadado, que os hospitais particulares não possuem, arcando com
encaminhando-o, à juros mais baratos, para a capitalização 05 Custos mais altos no tratamento dos doentes. As facul:
das empresas, como é o caso do PIS e do Finsocial, que dades mais caras, como as dê Odontologia e Mediciha, são
à administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento financiadas em sua maioria pelo Estado, e 05 cursos menos
Econômico e Social (BNDES), Esté banco tem por objetivo dispendiosos e mais lucrativos são mantidos por empresas
o financiamento de empréstimos à longo prazo para as particulares
ampresas. OQ FGTS, por sua vez, é administrado pelo Banco Como podemos ver, nessa articulação entre o econômico
Nacional da Habitação (BNH), sendo usado ná construcão & o político, aqueles (trabalhadores (desempregados, does:
de cases e nos empréstimos concedidos pelos agentes tes, acidentados, velhos) e setores que não são imerdia-
financeiros, Uma parcela do dinheíroda Previdência serviu tamente pródutivos, porque não estão inseridos nas
para linânciar grandes obras públicas, como a construção relações de produção de mercadorias, entram no processo
de Brasilia e hidrelétricas, da produção capitalista de riqueza, seja pela reprodução
A articulação do econômico é dó político através das da força de trabalho, seja pela manutenção do consumo,
políticas sociais é um processo complexo que se relaciona através do entrosamento das políticas sociais com o sistéma
com à produção, com o consumo, com o capital financeiro, financeiro e às empresas capitalistas, Nesse processo,
As políticas sociais nem sempre são executadas direta: tarante-se ao trabalhador uma subsistência inferior à seus
mente pelo Estado nu pelas agências estatais, mas por meio ganhos no: trabalho sem que sejam afetadas 25 relações de
de convênios e contratos com ermpresas privadas que passam exploração é o contrato de trabalho que às sustentam
à oferecer os serviços financiados pelo Estado. Este é o juridicamente,
caso de hospitais, escolas, bancos, Os hospitais particulares No contrato de trabalho, o patrão é o trabalhador
atendem a clientes da Previdência ou da Assistência Social aparecem livres para comprar a vender a força de trabalho,
e cobram do Estado pelo serviço, não raro com margem Entretanto, «o trabalhador deve aceitar as condições do
de lucro, As escolas particulares recebêm subsídios e bolsas capital para encontrar trabalho e obter um satário para
para certo número de estudantes e os bancos servem de ua subsistência, Esse salário não é modificado nem aumen-
intermediários para vários serviços aos beneficiários, como, tado pelas políticas, pois elas não afetam o lugar ocupado
por exemplo, pagamentos e cobranças previdenciárias, pelo trabalhador no processo produtivo,
evidentemente cobrando por eles. Assim, essas instituições A garantia do contrato de trabalho é o cerne da legis
mantém seu processo de acumulação de riquezas através lação trabalhista, e ele não é afetado pelas políticas sociais,
da execução de políticas sociais. No entanto, cabe ao que, aliás, o confirmam, dividindo e fragmentando às
Estado à compra de equipamentos sofisticados e de alta |
[|
reivindicações dos trabalhadores relativas às suas condições
44 Ficente de Paula Faleiros O que é Política soci 45
S
e meios de vida, sariais que são do domínio dos proprietários dos meios
Na realidade, as políticas sociais "retiram" do âmbito de produção,
da fábrica certos conflitos relativos às condições de tra- Quando à vítima à atendida, 0 problema lhe é atribuído,
balho, Os confrontos são encaminhados e tratados por por exemplo, falta de atenção em caso de acidente, ou
Orgãos governamentais específicos que despolitizam os falta de cuidados em caso de doença, caracterizando-se à
problemas cotidianos dos trabalhadores, através de estudos culpabilização da vítima, ou seja, considerando-se culpado
e intervenções técnicas e procedimentos burocráticos e o trabalhador que sofre as consequências das más condições
jurídicos, Pelos estudos e intervenções técnicas, às questões de trabalho, Desconsicdera-se, assim, o que deu origem à
relativas às relações sociais da produção capitalista são perda da capacidade de trabálho,
Entregues ao saber de especialistas que dividem, examinam As políticas de atenção à vítima são consideradas com:
E esmiliçam os problemas dos trabalhadores, pensação ao dano sofrido, segundo padrões estabelecidos
Essa Intervenção institucional diluí es conflitos entre por especialistas e tecnocratas que elaboram tabelas que
patrões e operários à respeito das questões de reprodução dão um valor monetário (monetarizam) ao corpo do traba-
da Torça de trabalho, transformando-as em assuntos indi- lhador, dividindo-o em partes ou doenças que recebem
viduais, desvinculando os problemas de acidente; doenca, um valor mínimo, muito inferior ao que ele poderia vir a
Iincapacitação & invalidez de sua origem, ou seja, do pro- obter com o funcionamento completo de seu corpo. Em
cesso produtivo, para responsabilizar por eles as próprias realidade, essa compensação não repõe a perda e não
vítimas cessa estrutura, lsso reduz à possibilidade de vale a pena, mas somente mantém um mínimo de subsis-
reivindicações é mobilizações dentro dos recintos de tra- tência para o trabalhador, além de validar o sistema de
balho, já que à vítima é atendida fora desses lugares, por produção no seu conjunto,
exemplo, em hospitais, repartições públicas ou tribunais, As políticas sociais, apesar de áparecerem como com-
Nas instituições de atendimento ao trabalhador, não se pensações isoladas para cada caso, constituem um sistema
questionam as origens dos problemas dos assalariados, político de mediações que visam a articulação de diferentes
o ambiente que o5 condiciona, nem as relações que os tormas de reprodução das relações de exploração e dom'-
produzem, contudo, trata-se cada “caso” através da “perf- nação da força de trabalho entre sl, com é processo de
cia”, relegando-o ao saber e ao sabor de especialistas que acumulação e:com as forças: políticas em presença. Para
..

examinam individualmente a vítima, e não as condições detalhar esse sistema de mediações entré o económico e
de produção e de trabalho, à político, destaco as formas de organização e concreti
Quando os dirigentes de fábricas contratam especialistas zação das políticas sociais em quatro grandes sistemas ou
[por exemplo, médidos e assistentes sociais) para atuar complexos. Prefiro usar a palavra complexo em razão dos
dentro dos recintos de trabalho, estes ficam sob 6 cóntróle nexos existentes entre 05 vários modos de articular à
direto dá administração, podendo oferecer serviços, mas subsistência do trabalhador e a acumulação capitalista.
não mudar as condições da produção ou políticas empre no desempregado, pobra, excluído do mercado de trabalho,
=
 Ficente de Farta Faleiros Oaue é Política Social

”
corresponde o complexo sócio-assistencial. Em torno Social, tem um caráter assistencial filantrópico,
do trabalhador produtivo e da empresa, organiza-se o Esses organismos públicos e privados têm como clientela
complexo. sócio-industrial.. Para prestação de serviços à a população excluída do mercado de trabalho pelas exi-
acesso a bens de consumo individual, forma-se o complexo nências do processo produtivo, Mas atuais condições da
socio-financeiro, e, para gestão do cotidiano das maiorias acumulação, essas pessoas estão expulsas do trabalho
urbanas, estrutura-se o complexo urbánosocial, Vou formal e se encontram no limite da pobreza, séem a possibl-
falar de cada um deles separadamente, levando em consi- lidade de manutenção é subsistência no âmbito tamiliar.
deração à realidade das políticas sociais dos países da Trabalhiam em biscates, pêédem ajuda, vivem da renda
periferia capitalista é, em especial, a do Brasil. obtida pelos filhos menores ou se inserem em grupos gue
praticam contravenções e crimes para sobreviver. Estão
insericias na periferia das atividades capitalistas, contrl-
buindo para à manutenção de baixos salários, ou pocem
O complexo sócio-assistencial atê ocupar temporariamente trabalhos regulares, como na
construção civil em morrientos de crescimento econômico,
O complexo sócio-assistendial consiste num conjunto Em geral, nos países periféricos, d marnuténção dessas
doe organismos públicos privádos que prestam auxílio aos categorias da população recai sobre às familias. No entanto,
desempregádos, excluídos da produção, aos que não têm tom a pauperização dos trabalhadores, a desagregação do
rendimento: fixo, às crianças, aos velhos abandonados e arupo familiar e a falta de empregos pela condição do
aos deficientes incapazes de trabalhar. Esses: organismos trabalhador capitalista, 23 famílias já não possuem meios
distribuem roupas, alimentos; dinheiro, passagens, bolsas para sustentar crianças e velhos que sejam desmonetari-
de estudo ou prestam serviços de informação e orientação. zacos, isto é, que não recebam salários ou benefícios e
Nos países ónde existe o Welfarê Staté, essas funções não tenham dinheiro nem possibilidade de sobrevivencia
são. cumpridas pelo Estado, de forma predominante, Na nocireuito do mercado capitalista,
América Latina, como acontece no Brasil, existe grande Alguns ainda tentam sobreviver pedindo esmolas nas
quantidade de organizações religiosas e filantrópicas que fuGS5, esquiINAS, de porta em porta,
se encarreogam de atender ou “ajudar” às categorias da Certas circunstâncias podem agravar essa desmonetari-
população proletária acima enumeradas, zação, colocando grande número de pessoas nessa situa-
A Tilantropia consiste na institucionalização da ajuda cão, cómo nos casos de catástrofes, que podem levar
econômica, através da canalização de recursos, à catégorias populações inteiras do extremo se não houver medidas
ou pessoas definidas petos próprios organismos com um de emergência social, Estas não reparam as perdas nem
caráter humanista; voluntário e de boa vontade. Por exem- mudam às relações sociais que dão orgém à miséria, mas
plo, 6 Lior's: Glub, assim como a Legião Brasileira de apenas garantem uma sobrevivência imediata. Disto são
Assistência, órgão do Ministério da Previdência e Assistência exemplos certas intervenções adotadas por organismos
48 Vicente de Faula Foteiros O oue é Política Social 49
“ FP.
públicos e privados nas secas e enchentes, em carátor A articulação entre à legislação social e o desenvolvi-
temporário e precário (por isso mesmo chamado ge emer: mento industrial é um processo bastante intrincâdo que
gêncial, favorecendo na maioria das vezes mais os dqrandes pode ser caracterizado como 0 predomínio da grande
proprietários, atravessadores e políticos do que às popyu- indústria sobre 05 demais setores. É através da concentração
lações carentes. Sem falar nos desvios, roubos e desper- e da centralização do capital que a grande indústria se
dicios que essas “emergências” trazem em seu bojo, axpanda, concentrando ao mesmo tempo à mâáo-de-obra e
Esse complexo de medidas é instrumentalizado por o desenvolvimento tecnológico, Contraditoriamente é aí
agentes religiosos, voluntários, assalariados, políticos e que, pela concentração opérária, óriâm-se as-condições para
profissionais, com subsídios estatais, doações, cobranças os maiores conflitos entre patrões e operários,
de dízimos. No caso do Estado, essa ajuda provém dos Foi no interior da orande Indústria que surgiram as
impostos, recolhidos em grande parte das classes subal- formas de assistência à manutenção da força de trabalho
ternas com à taxaçõão da produção e dá circulação de com serviços médicos, seguros e caixas de aposentadoria
mercadorias, Assim, paradoxalmente, uma parte do dinheiro a pensões. O grande número de assalariados e sua moneta-
úbtido pelos pobres reverte 2o Estado, através do imposto rização facilitavam 05 descontos e à implantação desses
que está embutido nas mercadorias que consomem, À servicos, Alguns tomaram a iniciativa de construir casas
idéia difundida, até mesmo, pelo papa Leão XII] na Encí- E àáté vilas operárias. Foi nos anos 20 que, no Brasil, à
Clica Herum Novartim, de que 05 pobres dever receber os indústria têxtil, a principal do País na época, implantou
supértiluos dos ricos parece náà prática estar jrvertida, Os
vários desses serviços, Na estrada de ferro Santos:-Jundia|
trabalhadores produzem à riqueza e ainda, quando excluf- Surgiu à primeira caixa de aposentadoria 6 perisões, legal-
des da produção, contribuem, com o6 impostos, para à mente constituída em 1923,
manutenção do processo de acumulação, como consumi- A essas indústrias, além da concentração, interessava
dores e contribuintes. Em síntese, são os pobres que finan- manter à paz social é à lealdade dos operários para ocarantir
ciam seus próprios benefícios, essa mãio-de-obra disponível para o trabalho, As estradas
de ferro e as minerações americanas e francesas criaram
O complexo sócio-industrial caixas de aposentadoria é serviços médicos com esses
propósitos,
Assim, a política de recursos humanos nas empresas
O complexo sócio-industrial não fórma um sistema à não aparece por acáso, nem pela boa vontade dos patrões.
parte dos outros complexos, pois a passagem da situação
Us patrões se opuseram ferreamente à legislação referente
de trabalhador produtivo monetarizado à desmonetarizado
a férias, à redução da jornada de trabalho, ao trabalho da
2º vice-versa pode ocorrer no modo de produção capitalista,
mulher e de menores sob à alegação da liberdade de com
conforme 608 movimentos de expansão ou recessão do trata e da vigilância moral sobre às classes trabalhadoras,
capital, que significava o controle da vagabundagem e a exigência
”.
50 Ficente de Paula Foleiros O que é Política Social 51
“ ”
| E
da moral no trabalho com vistas à uma maior produtividade,
No entanto, à concorrência Intercapitalista, às pressões
operárias é o desenvolvimento tecnológico levaram os
patrões 2 articular, através do Estado, formas mais gene-
ralizaddas de benefícios 6 seguros para o5 trabalhadores,
em caso de perda da capacidade de trabalho, Assim, entre
19:30 e 1836, no Brasil surgiram 08 institutos de aposeér
tadória para categorias gerais de trabalhadores, cormo os
ferroviários, marítimos, bancários e industriários,
O desenvolvimento tecnológico (poupador de mão
de-obra), à concorrência intercapitalista, as pressões sociais
de várias forças da sociedade, à necessidade da pacificação
dos conflitos industriais e a monetarização dos assala
riados levaram à implantação de leis sociais para os tra-
hathadores,
tom o desenvolvimento da tecnologia 2 à conseqiiente
poupança de mão-de-obra, a articulação entre as medidas
de legislação social e as exigências das empresas se fez
ho sentido dae impulsionar a erocdutividade, Um exemplo
disso foi a eliminação da estabilidade do trabalhador, a
qual prejudicava à rotatividade é à substituição de mão:
de-obra menos produtiva, através da introdução do Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço (PGTS), Antes do
FGTS (1966), o trabalhador não podia ser dispensado
após dez anos de sêrviço, à não ser por justa causa. Hoje,
o INAMPS llnstituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social) faz convênios com os grandes empresas
para que o5 serviços médicos voltem à ser prestados no
seu interior ou próximo a elas, Para isso são utilizados
os serviços de empresas de medicina de grupo, a fim de que
o trabalhacior não perca tempo nem se afaste do trabálho
para tratamentos de saúde ou volte o mais rápido possível Eliminar à estabilidade do trabalhador é uma forma
à produção. A política de prevenção doe acidentes é um de estimular à produtividade,
po —
52 Vicente de Paula Faoleiros O uue é Política Social!
— P
outro exemplo que visa manter à produtividade, pois é do trabalho, o capital financeiro se interessou em assegurar,
mais econômico prevenir acidentes que reparar acidentados, como fonte de lucro, certos riscos sociais que se desen
Não é só em relação ao atendimento que as políticas volveram com a expansão do capitalismo, & indenização
sociais se entrosam com 85 empresas, mas: também <a de acidentes era decidida na justiça caso por caso, tornando
compra de pacotes tecnológicos, como aparelhos hospi- UNBTOSO, pará quem perdia à causa, satisfazer ds exigências
talares, e nà compra de serviços através de convênios. do processo, Com o5 seguros de riscos profissionais, além
Com efeito, a indústria dae equipamentos médicos, a dae de agilizar os processos, as sequradoras podiam ampliar
informática, à alimentar e à de medicamentos se vêem seus negócios pela expansão do número de segurados,
favorecidas com o desenvolvimente da prestação de assis- garantindo um mínimo de indenização, fixado em lei, mas
tência médica. Além do mais, muitos hospitais-ernpresa sem afetar a empresa e atendendo à urgência do traba-
se constituem para prestar serviços que são pagos pela Ihador, que, com o acidente, fica sam meios de subsistência,
Previdência Social, Apesar da intervenção do Estado nos seguros sociais,
A própria legislação trabalhista contribui para estender estes não foram rétirados dos grupos financeiros. Nos
ao conjunto das empresas os custos dos benefícios que países capitalistas centrais, os seguros sociais só garantem
são cobrados à partir dos salários, um mínimo de indenização ou benefício, ficando a critério
Esse sistema sócioindustrial penaliza as pequenas de sindicatos, orupos, empresas e indivíduos 05 seguros
e médias empresas, que arcam com contribuições per capita complernentáares, controlados pelos grupos financeiros.
elevadas e não têm condições de implantar equipamentos Com à deterioração dos benefícios da Previdência
caros de segurança do trabalho, social, pela recessão e pela infláção, houve estimulo à
expansão dos seguros privados no Brasil para riscos de
invalidez, doença, saúde, velhice e morte, Estes são contro-
lados pelos grandes orupos financeiros, como Bradesco,
O complexo sócio-financeiro Itaú, City Bank, que têm arande influência no mercado
de capitais, inclusiva, com o dinheiro arrecadado dos
Não sé o capital industrial, mas também o capital prêmios, Muitas Instituições e empresas seguram seus
financeiro está vinculado às políticas sociais, O capital funcionários nesses grandes qrupos,
financeiro compreende o setor que controla 6 crédito e Os seguros sociais, segundo as seguradoras, constituem
Os juros e, ainda, as financeiras, os bancos e 05 seguros, Um meic de levar à população à poupár é entrar no mer-
sendo estatal ou privado, pois ambas as formas estão cado segurador,
articuladas entre si. O setor finançeiro vive de emprêstimos Um exemplo marcante da articulação do capital finan-
à juros é de aplicações da poupança ou de dinheiro colo: ceiro com as políticas sociais é o Que ocorre na prestação
cado à sua disposição: dos benefícios previdenciários; como aposentadoria. Os
Por exemplo, na constituição dos seguros de acidentes bancos, conventados com o INPS dlnstituto Nacional de
 Vicente de Paula Faléiros CO que E Política social

> -
Previdência Social), emprestam dinheiro à este, cobrando-
lhe juros, evidentemente, quando há faita de depósitos,
mas não lhe pagam os juros em relação aos depósitos para O complexo urbano-social
pagamento de benefícios, É o chamado sísterna de conta
dupla, que beneficia 05 bancos e penaliza o INPS, O desenvolviménto da industrialização e da urbanização,
No entanto, o melhor exemplo da articulação entre nela concentração da indústria, centralização dos serviços
o capital financeiro é às políticas sociais é o da política 2 expulsão do homem do campo, tem provocado o aden-
habitacional brasileira, através do Eanco Nácionsl da samento populacional nas metrópoles é cidades médias.
Habitação, o BNH. O dinheiro arrecadado do FGTS é Eisa concentraçõo dera exigências de transporte, recreação,
usado para financiar a construção de casas, através de espaços culturais, centros de saúde, além de outros serviços
agentes financeiros. Estes recebem às verbas do BMH e de útilidade pública que implicam a sobrevivência coti-
as. (epassam aos usuários por meio de financiamentos à diana, como. água, luz, esgoto e segurança pública:
prazo, com juros. altíssimos. Os aumentos das prestações Essas exigências se traduzem na implantação de equipa-
da casa tém sido superiores aos renjustes salariais, O con- mentos é áreas de lazer, cultura, saúde, como parques,
trole da política habitacional está, portanto, nas mãos do creches, centros de saúde, teatros é outros espaços culturais.
capital financeiro, O góverno criou um sistema financeiro À expansão do capital implica máo-de-obra é, portanto,
que se descolóu da realidade salarial dios mutuários, possibi- casas, creches, cinemas, televisão, centros de saúde que
litando 5 aumento dos saldos devedores e das prestações atendam ao trabalhador e sua família no local de residência,
segundo o5 padrões monetários, com as UPCs (Unidade Esses equipamentos de massa vinculam-se à manutenção
Padrão de Capital), cujo valor está desvinculado dos salá- da forca de trabalho, enquanto recuperação de energias e
rios é segue o movimento geral do capital financeiro, alívio de tensões da vida urbano-industrial, e ào controle
O governo também facilita o crédito para certos inves- de movimentos áociais que se originam da organização da
timentos na área social, mas não hã garantia de que às população concentrada, Esta política fica a cargo do
reduções concedidas não sejam repassadas ao consumidor, Estado, articúlando-se, pois, no urbano, 6 controle social,
favorecendo-se a construção de edifícios e à compra de à expansão do capital e à reprodução da força de trabalho,
equipamentos para instituições particulares obterem lucros, Com efeito, 65 equipamentos urbanos de consumo coletivo
Mesmo sendo registradas como não-lucrativas, como hospi- são implantados em relação ao confronto de forças, favo:
tais e colégios. recendo o5 bairros burgueses e atendendo secundaria-
mêénte às pressões populares,
O acesso aos equipamentos urbanos pode ser subsl-
ciado, através da gratuidade da visita à parques e da corr
cessão de reduções nos preços dos transportes e das entradas
de teátros e museus, Esses subsídios ao lazer visam reduzir
 Vicente de Paula Eateiros UC eue é Política social

Ps
tensões sociais geradas pelo trabalho e os subsídios ao ' sº antagonismos manifestam-se também no plano ou ma
transporte facilitam à mobilidade da mão-de-obra para cena política, através de lutas e enfrentamentos pelo
os locais de emprego, lsto mostra à vinculação cesses poder, pelo controle das instituições políticas e dos pro-
serviços e equipamentos ao complexo sócio-industrial. cessos e resultados das decisões legislativas, judiciárias
É nas cidades onde se encontra à maioria das |nste é administrativas. Esses processos e decisões estão artico-
tuições de assistência para responder à emigração rural e lados com à dinâmica econômica, mas irei considerá-los
à miséria urbana gerada no processo produtivo capitalista sob o ângulo das relações Estado/sociedade, o que será
pela expulsão de mão-de-obra e baixos salários, Sem renda, objeto do capítulo seguinte. :
o trabalhador e/ou pobre não tem condicões de comprar O Estado não se encontrá fóra ou acima da sociedade,
terreno e casa própria, ocupando a periferia urbana com mMias é atravéssado pelas forças o lutas sociais que condi-
faveias e cortiços. cionam à articulação das exigências econômicas e dos
A política de urbanização, em geral, expulsa 05 ocupan: processos em cada conjuntura.
tes de favelas para outras áreas periféricas; pois os favelados
nem sequer podem arcar com o preço da luz, água e outras
taxas, produzindo-se uma mobilidade espacial da popu-
lação, Os grandes aglomerados de favelas e cortiços mos-
tram que à questão do solo urbano permanece urgente e
conflitiva na sociedade capitalista, A propriedade do solo
está na mão de poucos e à demanda de local aumenta
continuamente, O equacionamento cessa questão passa
pelas políticas habitacionais, que são objeto de luta e
pressão de muitas forças sociais, como os agentes imobi-
liários, os construtores, as empresas. O urbano se tornou
um lugar de conflitos permanentes, onde 0% movimentos
sociais pela água, pela luz, pela saúde, pelo lazer, pelo
transporte vão conquistando espaço através de muitas lutas.
Neste capítulo, analisei a estreita relação existente
entre O processo de acumulação de riquezas e as políticas
sociais, assinalando seus limites e funções, Falta ainda
considerar mais detidamente à articulação das políticas
sociais com o Estado e 05 mMóvimentos e lutas sociais,
À estrutura sócio-econômica e contraditória, conflitiva,
com Interesses antagónicos e opostos. Essas contradições
 O que é Política social
fa

entre banqueiros e empresários industriais em torno da

taxa de juros, As camadas se constituem conforme o peso
econômico do setor especifico, Por exemplo, hoje, à
qrande indústria multinacional tem um peso económico
muito maior que 95 pequeénas empresas; os representantes
da primeira formam a camada da burguesia multinacional
é os das segundas, à pequena burguesia industrial.
Além dessas forças constituídas pelas classes Tunda-
mentais do capitalismo, existem composições com as
classes médias, formadas pelos pequenos proprietários que
O ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS trabalham. por conta própria e pelos assalariados que
detém postos de mando em função do capital eu de seu
próprio saber,
Estas diferentes forças sociais não agem mecânicamente,
em blocos e-sempre da mesma forma, Há alianças, divisões,
OD processo de acumulação capitalista é resultado de pressões e contrapressões. Por exemplo, o regime militar
relações contraditórias de exploração é dominação, Estas brasileiro que se articulou em torno das multinacionais
relações entre capitalistas e trabalhadores implicam à com o apoio da burguesia nacional e da tecnocracia se
controntação de interesses opostos na luta entre as exigên- desgastou pela repressão, pela corrupção e pela crise econó-
cias dos capitalistas, por aumentar à figueza, e as neéces- micã é assim se enfraqueceu; e, com a ascensão do protesto
sidades dos trabalhadores, por garantir seus salários é & ca organização das oposições, foi-se dividindo, permitindo
sets meélos de vida, à formação de um bloco democrático administrado polí
As lutas entre trabalhadores e capitalistas se mediatizam ticamente por Tancredo Neves, Esse bloco ganhou apoio
pela erganização e: mobilização de forças sociais que se de comunistas, socialistas e da massa trabalhadora e, derro-
constituem em cada momento ou conjuntura tanto na tando Maluf, porta-voz da extrema direita e dás multina:
arená política mais geral como na arena das fábricas, das clonais, conseguiu chegar.ao governo federal,
lacalidades, das instituições, Nessas lutas, nem sempre os Os blocos articulados pelas classes dominantes, visam
capitalistas se apresentam em bloco unido, assim como garantir a estabilidade social, a previsibilidade e o controle
Gs trabalhadores, Tanto uns como outros se dividem em das relações sociais para gerir o processo de acumulação
facções, camadas e frações, As facções se constituem nó seu conjunto. Essa organização da estabilidade, da
em torno de líderes e projetos divergentes, As frações previsibilidade e do controle só pode realizar-se através
apresentam interesses particulares que podem entrar em do Estado como poder articulador geral da sociedade,
conflito com outras frações, como demonstram as brigas O controle dos mecanismos estatais permitem dispor do
E
 Vicente de Faula Faleiros O que é Política social
Ss +”
uso da força e do direito reconhecidos como legítimos. preensão das políticas sociais,
A fabricação de leis, inclusive das eis sociais, refletem à Na correlação de forças existente nos países capitalistas,
correlação de forças políticas, que, por sua vez, detém às classes proprietárias da terra, das fábricas, dos bancos
O uso da coerção através, principalmente, de aparelhos articulam um bloco dominante que tem a direção política
policiais, militares e judiciários, As Instituições de reco- da sociedade, ou seja, sua hegemonia, porém não constf-
Ihimento, de ensino e de comércio exercem pressões e tuem um bloco monolítico, sem rachaduras e divisões,
sanções que se.articulam com o poder repressivo mais Para manter essã hegemonia, ela deve atender, nas corr
explicito. junturas em que as forças dominadas se tornem ameaça
O Estado organiza o poder e à economia num território doras, à certos interesses das classes populares, mesmo
determinado, pela mediação de instituições, aparátos ou que isso signifique à redução de certas vantagens para
aparelhos muito diversificados que compreendem a mate- alguns parceiros do bloco dominante.
rialização do poder e da gestão econômica, O poder à à As classes economicamente dominantes também o são
gestão do Estado, assim, representam ou aparecem como politicamente, mas esta dominação é um processo com:
o interesse geral da nação ou da sociedade, mas se exercem plexo de acordos, concessões, repressões, legitimações,
pelo uso da lej (consenso e forçal e de intimeras mediações Por exemplo, quando foi implantado o seguro social de
E Organismos que constituem o governo. O governo com- acidentes do trabalho no Brasil, ém 1967, as companhias
preende um conjunto coordenado de pessoas que controlam de seguro reagiram ao monopólio estatal, contudo foram
os cargos de decisão política e dão a direção principal recompensadas com o sequro obrigatório de automóveis,
ao Estado num momento determinado, e os trabalhadores tiveram melhores bensfícios e mais
O Estado e o governo situam-se no cenário internacional, garantias por parte do Estado, O bloco dominante se
Porque o processo de desenvolvimento capitalista é marcado dividiu em relação à essa problemática: parte das compa-
pelas relações entre paises dominantes e dominados, de nhias de seguro se opuseram ao monopólio de umas poucas,
onde surgem formas específicas de acumulação, condicio- alguns industriais preferiram seguros estatais, mais baratos,
nadas pela relação de forças mundiais que variam em cada & os próprios técnicos do governo se dividiram: por um
conjuntura histórica; lâdo, o Ministério do Trabalho e o da Previdência, a favor
As lormas e 05 processos de elaboração das políticas da estatização, e, por outro, o Ministério da Indústria e
sociais nos diferentes Estados capitalistas não são, pois, do Comércio, defendendo à privatização,
uniformes, estáticos ou permanentes & simultáneos, já A correlação de forças é histórica e mutável segundo a
que se situam numa correlação, de forças internacionais e organização, mobilização, 05 recursos e as estratégias das
no processo de articulação do poder e da economia dos classes ou suas frações em torno da luta por determinados
diferentes blocos de força que sê fórmam, A análise da interesses econômicos e políticos, confrontando-se em
conjuntura política ou da correlação de forças num mo: blócos ou álianças dentro e fora do governo,
mento determinado é assim fundamental para à com- Os blocos históricos estão sujeitos à se desfazerem no
62 Ficente de Paula Foleiros ( que é Política Socta!

“ ”
processo político, podendo surgir novas alianças douo às lutas dos desempregados por trabalho, às dos camponeses
envolvam, de um lado, à maioria dos proletários e parte por terra, às dos estudantes por educação, às dos mutua:
da pequena burguesia e, de outro, à burguesia e partes da rias do BMNH por habitação, às dos funcionários públicos
pequena burguesia e-do proletariado] segundo a conjuntura [or salários, às dos usuários do transporte coletivo por
e em torno de vários objetos de luta (por exemplo; previ tarifas, às dos ecologistas por meio âmbiente e às das
dência, reforma agrária, política económica do governo feministas pelos direitos da mulher,
ars). O conjunto é à articulação dessas lutas poderia colocar
As políticas de saúde, educação, habitação, trabalho, em àúméeaça à ordém capitalista, já que extrápolariam o
assistência, previdência, recreação e nutrição são objeto ambito restrito ou local em quê o sistema tenta mante-las.
de lutá entre diferentes forças sociais, em cada conjuntura, Para evitar a "desordem" ou 6 questionamento cla explo:
não constituindo, pois, 6 resultado mecánico da acumu- ração e da dominação enquanto exoloração é dominação, o
lação nem a manifestação exclusiva do poder das classes Estado busca conter às lutas pela repressão ou articular
dominantes ou do Estado. Essas políticas não caem do respostas específicas e limitadas. No âmbito destas respostas
cêu, nem são um presente ou Uma outorga do Bblóco encontram-se o atendimento parcial de reivindicações, à
do poder, Elas são ganhos conquistados em duras lutas COMNvEersação e à negociação, 0 oferecimento de promessas
4 resultados de processos complexos de relação de forças, futuras [alquimas até ilusórias) à a divisão das forças const-
As lutas pela saúde, pela educação, pela habitação, derádas ameaçadoras
pela previdência atravessam os diferentes grupos das classes O um de determinadas estratégias e táticas pelo Estado
dominadas é se traduzem em movimentos bastante divor- tem tambérs consequências políticas que Necessitam
sificados, envolvendo diferentes organizações, como os ser pesadas, Assim, o Uso indiscriminado tda repressão
sindicatos, às associações, as Instituições e os partidos. pode indispor à população contra o governo e a concessão
Essas lutas podem ser generalizadas e à34 vezes representam de vantagens pode afetar o processo acumulativo, A combi-
grandes alianças de interesses. É o caso da luta dos mu: nação de várias estratégias e Cecursos em cada momento é
tuários do BNH, que incluiu tanto óperários como desem- um processo complexo de montagem e desmontagem de
pregados e Indivíduos das classes médias, Os movimentos jogadas das diferentes forças em presença, Desse modo, na
pela saúde: podem envolver bairros, cidades à Estados luta dos mutuários entraram em jogo o5 agentes financeiros,
inteiros, os mutuários, 05 empresários dá construção civil, 05 depo-
Os interesses dos usuários, nossas lutas, consistem: na sitários do FGTS, 55 deputados, 65 ministros é 6 próprio
busca de novos e melhores meios e condições de vida, presidente da República, O Estádo usóu à conversação, a
exigindo do capital 6 atendimento de reivindicações sala- propaganda na TV e na imprensa, à imposição legal, a
riais e/ou outras (saúde, habitação, educação, previdência ação judicial e até à polícia para controlar as manifestações
ete.), de rua dos mutuários.
As lutas dos trabalhadores por salários somam-se hoje Nas sociedades ocidentais, o desenvolvimento das lutas é
2. ss—EE——|
[e Vicente de Paula Faleiros O que é Política Social 65

E Fo

a ampliação das funções do Estado na política e na eco- forças dominantés, com certa autonomia de dividir e
nomia tornam as relações entre este é às massas fais articular os ônus e és vantagéns imediatas e de médio
muiritaceladas. O Estado se apresenta como gestor econô- prazo entre as forças interessadas na questão, No com-
mico de empresas, banqueiro, controlador da ordem, fronto da Previdência, os bancos. perderam um pouco, às
publicitário, mediador dae conflitos, administrador de empresas tiveram mais ónus, 05 quais, entretanto, foram
benefícios, assumindo funções de repressão, de direção da repassados ao consumidor, é 058 trabalhaclores e benefi-
sociedade e de gestão econômica e social, Nestas funções ciários tiveram mais descontos, segundo uma escala de
ele não é estático e imutável, mas é atravessado pelos salários. Os hospitais foram mais contrólados é certos
conflitos da sociedade, utilizando seu poder de articulação benefícios cortados. Os trabalhadores com menores salãá-
geral do processo para tornar os conflitos qovernáveis e rios jaté três salários mínimos) não tiveram aumento da
Previsiíveis. A questão da Previdência Social, por exornpio, taxa de contribuição, pois compreendiam & grande máioria
interessa à sindicatos e patrões, banqueiros é beneficiários, dos assalariados que mais pressionavam o governo. Os
deputados e técnicos, forças nacionais e internácionais, ânus foram articulados de tal (orma a recair mais sobre os
companhias de seguro e agências de viagem (quando pro: assalariados acima de três salarios minimos. O próprio
movem lazer para aposentados), partido «do governo (o PDS) propunha uma taxação sobre
As pressões dos sindicatos e beneficiários o Estado o faturamento das gqgráândes empresas para alenuar à crise
responde. levando em conta sua articulação com a maánu- da Previdência, mas o ministro do Planejamento rejeitou
tenção do blóco dominante. Assim, frente ao déficit previ- à proposta e mais tarde instituiu c6sse mecanismo para
denciário (1981 e 1982), 05 banqueiros pressionavam por implantar o Finsocial. Aumentou-se a taxação de certos
Mais recursos, os patrões, por Menos ónus, os tecnocratas, produtos para elevar a arrecadação previdencidria.
por mais cortes nos benefícios, certos políticos, por melhor No conjunto, o governo tenta transferir os ónus dos
administração, os trabalhadores, por mais benefícios, O programas sociais pára todá à população através de impos-
governo Figueiredo, sob à orientação do ministro da tos ou contribuições repassadas aos consumidores, o que
Planejamento, Delfim Netto, optou por aurmentar as contri- alimenta à carga tributária dos mais pobres, pois pagam a
buições dos segurados e controlar concessão de banefícios, mesma porcentagem de Impostos que os ricos, Esta trans-
contudo anistiou parte da dívida das empresas e entrou ferência não é automática, mecânica e se situa num pro-
em acordo com os banqueiros para que fossem diminuídas, cesso conflituoso,.
mas não suprimidas, certas vantagens que obtinham com A hegemonia dos blocos dominantes se desenvolve no
o dinheiro da Previdência, enfrentamento cas reações 6 articulações dos dominados
As forças de pressão diante do Estado capitalista não Ou subalternos, que se organizam e mobilizam no sentido
são homogêneas nem têm o mesmo paso político, e o de questionar e ameaçar à ordem dominante, As ameaças,
Estado não é um juiz neutro diante das pressões, tornando-se mais articuladas, extrapolam o nível isolado
O Estado se posiciona politicamente de acordo COM às local ou da fábrica e visam não só relvindicações |mediates,
= a.
 Vicente de Paula Fnteiros O que é Política Social 67

Or É

mas o poder político, o governo, à mudança das relações As leis sociais não respondem a toclas as reivindicações
entre Estado e sociedade, À estratégia do governo é frear dos mavimentos sociais, pois são elaboradas numa com-
essa articulação maior e manter as lutas populares isoladas plexa relação de forças na qual à burguesia exerce pressão
umas das outras, para conceder apenas um mínimo de benefícios, com um
Us trabalhadores e demais dominados, à medida que mínimo de custos, No Brasil, em 1919, os proprietários
lutam pelos direitos políticos, pela participação política, rurais só aceitaram à lei dé acidentes de trabalho para
aliam às lutas por novas condições de reprodução da forca "atrair braços" imigrantes, de outros países, com à condi-
de trabalho às lutas políticas pela cidadania, pela trasfor- ção de que não fossem afétadas as relações de trabalho
mação das relações de poder, O bloco hegemônico, para no campo,
Conter as lutas por novas condições de reprodução da força A articulação e o desenvolvimento das políticas e das
de trabalho e as lutas pelo poder, articula recursos, mano- lutas sociais são condicionadas pelas formas de organização
bras e alianças visando cdíluir às ameaças, despolitizar às do Estado, isto é, elas se situam numa arena institucional
lutas, dividir e fragmentar o5 trabalhadores, integrando-os forlada pelo bloco no poder no contexto da correlação de
EM Mecanismos de conciliação obrigatórios, controlar seus forças sociais, Em qrandes linhas podemos distinguir a
movimentos e organizações ese fazer aceitar como bom e forma democrática do Estado de direito da forma arbitrária
legítimo. Messe sentido é qua as políticas sociais se inscra- do Estado autoritário ou da ditadura. As democracias e às
sem numa correlação de forcas complexas em cada ditaduras não são formas puras, Más processos. concretos
Conjuntura. que variam historicamentao,
O bloco no poder, através das políticas sociais, busca Nos regimes demócráticos témos a institucionalização
atrair para sua área vários segmentos ou setores da popu- dos direitas do cidadão como sujeito político do poder
lação, retirancio-os do âmbito de influências dos adversá- isto é, com direito à voto é veto na eleição de políticos e
rios. Na Alemanha de 1870, por exemplo, frente aó avanço programas governamentais, O Estado se curva diante da
do movimento socialista, Bismarck implantou o primeiro sociedade, presta contas aos contribuintes e os governantes
sistema. previdenciário. Na Inglaterra, em 1808, 6 liberal tomam decisões em função de mandatos de seus represen-
Lloyd George implantou um sistema de pensões para tados. Nas ditaduras, ao contrário, o Estádo cristaliza o
deter o avanço dos Trabalhistas No Chile em 1920, predomínio da força, da repressão sobre à sociedade, sem
Arturo Alessandri buscou atrair os operários mobilizados meacanismos de representação, de cumprimentos de man:
com uma legislação previdenciária. No Brasil, só após cintos, de reconhecimento de direitos, Predomina o arbítrio
à greve geral de 1917 surgiu a primeira lei de acidentes de um grupo que age da acordo com critériosde perseguição
do trabalho, promulgada em 1919, Getúlio Vargas, com à aos que consideram como adversários e de favorecimento
criação dos |nstitutos de Previdência, nos anos 30, visava 205 Que consideram aliados, Os opositores são considerados
à colaboração das classes trabalhadoras com o Estado e inimigos e punidos ao arbítrio dos dirigentes ou coman-
GE BM presários. dantes. Este regime predominou no Brasil entre 19654 e
”.
 Ficente de Pauta Eoleiros (que é Política social
FF.

1865. durante o governo militar, Nas ditaduras as lutas de mais apérto à não ser ao doador, Muitos organismos do
sociais são consideradas subversivas já que perturbam à Estado podem ser inseridos nessa estratégia. A LBA (Legião
ordem social imposta, é os direitos de protesto, de crítica, Brasileira de Assistência), por exemplo, é manipulada, em
de reivindicação, de oroanização não são reconhecidos, muitas regiões, para manter o poder de certos políticos
como o são nos regimes democráticos, locais, com a distribuição dos recursos do Estado a Cclien-
Mesmo nas formas mais autoritárias o Estado não des- tes" políticos,
carta à combinação da repressão com a benevolência ceu Esses Mecanismos autoritários combinaram-se sistemati-
à concessão de certos benefícios, Ambas manifestam Um camente com o corporativismo durante o primeiro governo
poder arbitrário, seja o de punir, seja o de doar, éomo de Getúlio Vargas (1930-1945), O corporativismo consistia
gesto de ostentação do domínio ou da magnanimiícace, nã articulação da harmonia entre patrões e empregados
É assim que os donos da terra, os chamados "coronéis", pela transformação dos sindicatos em órgãos do Estado e
controlavam os séêus subordinados, combinando o uso pela atribuição a eles de funções assistenciais. Segundo
do pau e do pão. À repressão direta se traduz pela exigên: essa política, 03 próprios trabalhadores seriam instrumentos
cia do cumprimento da ordem dada sem contestação, de prestação de assistência à sua classe, o que instituciona-
sem perguntas, sem negociação, A exaltação da figura lizoua o clientelismo e o peleguismo entre 03 operários,
do “deador” se manifesta peló assistencialismo, como O pelêeguismo siqnifica à formação de elementos interme-
manobra dê legitimação do poderoso e de divisão dos diários para amortecer os conflitos entre as classes, assim
deminados, como os pelegos amorteçem 05 contatos entre o cavaleiro
U assistencialismo consiste na prestação de uma ajuda nO cavalo,
arbitrária, inconstante e: vinculada a relações personalizadas Nos Estados tipicamente autoritários, à negociação fica
entre aquele que "dá" 8 .aquele que "recebe", com únfase
eliminada enquanto reconhecimento do conflito, O Estado
na subordinação do ato de receber, Quem recebe fjea estabelece “pacotes” sociais, sem discussão é sem delibe-
devendo favor, Tica obrigado à retribuir a doação numa ração dás forcas subalternas, que são desarticuladas pela
oportunidade qualquer, com serviços, com lealdade ou repressão dominante, embora possam encontrar meios
com o voto de cabresto nas eleições, de expressão novos é inesperados para O regime cpressor.
Quando o assistenciálismo se articula à máquina do No Brasil, no pós-BA, vários programas ou benefícios foram
Estado, os “doadores” se utilizam dos recursos públicos elaborados como pacotes” pelos tecnocratas, como o
para construir seu reduto privado de clientes, aparecentcão
FIS (Programa de Integração Social), o Funrural (Previ-
como beneméritos, protetores, benfeitores. Controlam dência Rural), os CSUs [Centros Sociais Urbanos), 6 Inan
os benefícios concedidos é os próprios beneficiários, (Instituto Nacional de Alimentação). Este último foi
confiqurando-se o clientelismo político. Com esse meca-
vinculado ào complexo sócio-industriall promovendo
nisma, o autoritarismo. é “esquecído” pelos subalternos, à expansão das indústrias de leite em pó, slimentos indus-
que, despojados, não têm à quem recorrer nos momentos trializados, Trata-se de promover à expansão de benefícios
S
 Ficente de Paula Eateiros O que é Política Secial
". FE

que. estimulem o consumo de produtos de empresas mul- de velhos, doentes ou acidentados,

tinacionais. Por outro lado, às lutas pelas condições de vida apare-
Já na forma liberal, com predomínio do direito, o Cem separadas das lutas políticas, na prática das populações,
Estado Institucionaliza mecanismos de negociação das frente às instituições estatais, Alguns ministros chegam até
pressões e até torna compulsória ou obrigatória à presença a dizer cinicamente: "Não discuto esta reivindicação
das partes conflitantes sob 2 égide de aparelhos do Estado, porque ela se tornou política”,
Assim, 08 consumidores possuem canais para reclamar tom o tempo, 05 trabalhadores foram aprendencio à
e delender-se da má qualidade ou (râude nos produtos, Unir suas lutas reivindicativas às lutas políticas é o5 cdesem:
05 locatários possuem organismos da reclamação e defesa pregados tambérm se manifestaram, às veres de formas
contra os preprietários, que também podem apresentar mais agressivas, cómo os saques. Outras categorias insti
suas alegações. As leis trabalhistas prevêem longas nego- tucionalizadas, como o5 hansenianos, 06 deficientes, Os
ciações bem definidas por etapas antes de se chegar às estudantes. 05 usuários de postos de saúde, vêm tomando
greves, e o5 tribunais são independentes para punir os lugar no cenário politico através da organização de reivin-
agentes do próprio Estado que sejam culpados de ferir os dicações globais para uma sociedade alternativa, questio-
direitos do cidadão. nando à forma de Estado.
Nessas condições, à elaboração de políticas sociais Aumentando-se a pressão da sociedade brasileira como
passa também por processos de pressões e negociações um todo, o Bloco do poder busca novos pactos, alianças,
entre as forças em presença com um relativo aumento na para incorporar de forma controlada e parcial as rejuindi-
transparência das articulações, Mesmo 0 governo conser- cações clas classes subalternmas, Produz-se, assim, um processo
vador de Margaret Thatcher, na Inolaterra, que se dispós contraditório de incfusão de certas relvindicações das
à cortar os beénefícios sociais; deve apresentar suas pro- classes subalternas no âmbito estatal e à manutenção de
postas no Parlamento, com repercussões nã Imprensa e sua exclusão da propriedade é do poder, isto é, à manu-
na TV e com debates em toda a sociedade, O qoverno tenção do processo de acumulação, no seu conjunto, ainda
deve prestar contas à população, estar atento às próximas que certos setores capitalistas possam sofrer algumas
eleições 9, para não perder o poder, precisa atender à certas perdas temporárias. No caso do bónus do BNH, 05 agentes
reivindicações da sociedade e manter à divisão das opo- financeiros tiveram de arcar com uma pecuena perda
sições, Aliás, à ascensão de Thatcher está correlacionada temporária da lucratividade global, visando diminuir a
com uma profunda erise no Partido Trabalhista (oposição), inadimplência é retórmmar os ganhos a médio prazo.
que acabou por dividi-lo em vários blocos, As formas de luta dos pobres poder ser violentas e
As lutas pelas políticas sociais são complexas, pois à EXPressar-se por assaltos, por exemplo. Isto faz com que
própria organização das instituições sociais em vários o governo não se descuide da manutenção imediata dos
setores fragmentam e separam os pobres dos trabathagdores pobres, principalmente em périodos de crise, quando
e dos cidadãos, dividindo-os ainda em categorias especiais aumenta o número de desempregados que podem ameaçar
Te Vicente de Paula Falteiros

Fa

à ordem social, Essas lutas são, então, controladas pela

repressão policial direta, que visa imobilizar a população
e isolá-la de seus líderes, os quais, em geral, são presos,
Portanto, as manobras e recursos utilizados pelo Estado
são dinâmicos e instáveis, dependendo do peso econômico
e. do peso político que as forças sociais em presença vão
adquirindo no processo de luta,

CRISE ECONÔMICA
E POLÍTICAS SOCIAIS

As lutas sociais, os conflitos entre trabalhadores e

capitalistas e entre o5 próprios capitalistas, oO envelheci-
mento: dos equipamentos de produção e à5 mudanças
tecnológicas provocam crises no processo de acumulação
capitalista. A forma de predução capitalista é contradi-
tória e não consiste num continuo crescimento da riqueza,
Existem ciclos de crescimento e recessão que são inerentes
a esse sistema, O capitalismo desenvolve à produção de
mercadorias até o limite imposto pelas próprias contra-
dições nele existentes, O limite pode ser o próprio capital,
aque se desvaloriza pelo tempo e pela concorrência, & à
relação de exploração, oque leva à lutas por mudanças e
à crises de demanda, porque, nesse caso, os salários pagos
não permitem aos trabalhadores à compra do que cles
mesmos produzem, Gera-se uma superprodução, polis o
capitalista não visa o atendimento de necessidades, mas
a produção para à troca, para à venda e à obtenção da
lucro. À crise capitalista & à combinação da superprodução
74 Ficente de Paula Faleiros O que é Política Social
” - ”
e do subconsumo, num movimento originário da relação momentos, à pressão de assalariados aumenta, isto é, mais
de exploração que produz mercadorias, Na crise de 1930, dente quer trabalho, e à remuneração do trabalhador. Em
nor exemplo, sobravam automóveis e alimentos e o povo Cconseguéncia, à pobreza também se intensifica,
não podia comprá-los. No Brasil, o governo Vargas queimou Quando à recessão é acompanhada de inflação, isto é;
2a jogou no mar milhões de sacas de café, pois os cafeicul- de alta dos preços, temos à estagflação, Com menos produ-
tores impunham a manutenção de seu preço ede seus lucros. ção, às grandes companhias, principalmente os monopólios
Nos períodos de crise, ocorre a quebra de muitas empre- e oligopólios, aumentám o5 preços para garantir os lucros
sas que não têm saída para seus produtos e são compradas, e o5 bancos aumentam os juros, além de desenvolver-se
a preço inferior, pór grandes conglomerados, que, assim, a especulação com os produtos e bens disponíveis,
aumentam seus investimentos, concentrando em um número O aumento do exército de desempregados pode gerar
menor de mãos 6 capital existente. violência, pols à fome e a miséria se cenceralizam, O traba-
A crise da periferia capitálista dos países dominados é lhador passa rapidamente à categoria de pobre, tornando-se
ainda mais grave, pois estes dependem dos mercados, da desmonetárizado, sem dinheiro para aceder ao mércado
tecnologia e principalmente do capital financeiro do centro. de bens e serviços. Neste contexto, 65 pobrêés, vendo à
A industrialização desses países dominados se fez com uma família passar fome, são submetidos à fortes tensões psico-
tecnologia poupadora de mác-de-obra, isto é, com grandes lógicas; as doenças [ísicas e mentais causadas pela desnu-
empresas que utilizam, em termos proporcionais, muito trição se intensificam,
mais equipamentos que mão-de-obra. Essa estrutura de A grande crise de 1930 levou os Estados capitalistas
produção. leva à formação de uma grande quantidade de avançados a adotar medidas de emergência para dar trabaiho
excedente de população para o capital, isto é, dê gente é assistência à população. À forma de dar trabalho foi 5
que não tem sportunidade de trabalho, No campo, à desenvolvimento de obras oúblicas, como estradas, escolas,
introdução de máquinas para a agricultura expulsa o traba- praças, redes de água e energia. Nas obras públicas, havia
Iliador, agravando aindá mais os problemas de falta de somente um contrato de emergência porque 605 capitalistas
vagas e de excesso de gente pará trabalhar. se opunham à intervenção permanente do Estado em
Essa população excedente e marginalizada do processo certos setores que lhes eram muito lucrativos e para que à
produtivo busca à sobrevivência como autónomos, em máo-de-obra se mantivesse disponível quando da recupe-
biscates e subempregos, ocupando espaços nas ruas das ração económica, Nos Estados Unidos, de 1930 3 1934,
grandes cidades com a oferta de mercadorias em pequenas seram votados anualmente orçamentos de emergência para
barracas, atender aos desempregados, até que Roosevelt implantasse
Nos momentos de recessão económica, de crise, há um um programa mais consistente de obras e Investimentos
áumento simultánaeo é generalizado do desemprego é da com o apoio da iniciativa privada.
capacidade ociosa das empresas. Há máquinas e gente de A assistência, por sua vez, consistia ná distribuição de
sobra, diminuindo-se à produção e o emprego. Nesses bônus para alimentação e aquecimento ÍIneSSe Caso, Para
 Ficente de Fatiia Fateiros
O que é Política Social 77
so
”
compra de combustívell, estimulando o comércio local.
mente em 1973 e 1979) e pela dívida externa, tornou-se
Essas medidas erâm acompanhadas de um arande controle
um mecanismo de transférência de produtos e de pou-
dos assistidos, pela concessão de apenas o (nfimo, abaixo
pança (pagamento de juros e dívida) para os países ricos,
do salário mínimo, para manter o estímulo ao trabalho.
empobrecendo profundamente à economia dos países
Nesse momento crítico é que à questão do desemprego
dominados, que se voltaram para às exportações, sacrifi-
passou à ser vista como estrutura, Até então, o desemprego
cando ainda mais suas populacões/, Expandindo as expor-
era atribuido à vagabundagem, ào vício é à preguiça,
tações de grãos, diminuiu-se sua oferta interna, a produção
Como no momento da crise hávia um grande núinero de
se reduziu, o nível de emprego baixou e promoveu-se o
desempregados manifestando-se nas ruas, o5 quais poderiam
achatamento salarial, com a consequente querca do poder
ameaçar a ordem estabelecida, o seguro-desemprego entrou
aquisitivo, Em quatro anos (1979-1984), o brasileiro
na ordem do dia é foi uma das medidas impulsionadas por
pardeu, em média, um quarto de seu poder de compra,
Roosevelt, nos Estados Unidos, Por óutro lado, para manter
OG achatamento salarial agrava-se ainda mais pela grande
à vida é O consumo por parte dos velhos sem trabalho,
rotatividade da mão-de-obra nas empresas que, antes dos
foi introduzido o regime de aposentadoria e pensões,
reajustes salariais periódicos, despederm 65 empregados,
A crise de 1930 nos países periféricos obrigou-os à
ara recontratações posteriores à custos ménorês. Assim,
diminuição das exportações [o Brasil queimou milhões de
à luta pela manutenção do emprego torna-se uma questão
sacas de cafe) é à renegociação de sua dívida externa.
de sobrevivência para o trabalhador,
Impulsionou também uma industrialização de substituição
Por sua vez, 05 empresários não aceitam negociar uma
de importações, Tendo em vista que à Maioria de sua
estabilidade efetiva no emprego, para manter o controle
população estava ocupada na agricultura, a crise não afetou
da máo-de-obra e sua êxpulsão do trabalho em função da
tanto O consumo e à pródução como a crise atual, que
maior lucratividade, Os salários têm representado uma
atinge a maioria da população urbana empregada na indús-
proporção menor dos gastos das empresas, enquanto
tria ou em serviços para sobreviver.
sobem seus gastos financeiros,
A querra imperialista de | 939 vejo estimular a economia,
sem seguro-desemprego e sem assistência garantida, o
aumentando o05 empregos na indústria bélica e ocupando,
trabalhador refugia-se no trabalho autónomo, quando
no combate, milhões de pessoas. No pós-quérra (1946),
possível, e na família, que passa a sustentar novos desem-
adotaramese medidas para reativar o consumo em tempo
pregados. O Estado não desenvolve programas de empregos
de paz, As subvenções familiares foram implantadas com
nublicos de emergência e seus óraãos assistenciais não
esse objetivo em vários países, como França e GCanadã,
dispõem de recursos suficientes. O resultado disso tudo é
logo após o final da guerra, às vezes por pressão da lqreja
Menos assistência e maior empobrecimento da população,
Católica, através dos cristãos democratas efou eclesiásticos,
com o agravamento da fome, da desnutrição eda doença.
À crise atual nos países periféricos, agravada pela depeén-
É importante salientar que à recessão gera menos receita
dência do petróleo (cujos preços subiram significativa-
para à Previdência e pará o Estado, implicando violentos
-”
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78 Vicente de Paula Faleiros O que é Política Social 79

-. -
cortes no orçamento público, atê pór exigência dos bancos distribuição gratuita de leite e à compra de produtos
internacionais. São as áreas sociais as. que mais sofrém alimentares baratos de boa qualidada,
cortes, porque as prioridades do governo se voltam para Cabe também ao Estado atuar junto às empresas para
os setores de exportação, beneficiados com Inúmeras garantir estabilidade no emprego, com mecanismos de
isenções de taxas e impostos, No Grasil, a proporção dos proibição dé demissão em massa, de manutenção do emprego
dástos governamentais com saude, educação, trabalho, por um período mínimo de um ano, de abertura de novos
assistência é previdência diminuiu 60% no orçamento da empregos com à redução de horas extras: Novas frentes
Unmãêo entre 1977 2 19872, e formas de trabalho precisam ser abertas, mesmo em
Coma possibilidade de explosão da massa de desempre: carater emergencial, pagando-se-o salário minimo.
gados, o Estado, receando saques coletivos à propriedade, Todas essas medidas, para que nãóose tornem pacotes
não descuida da repressão, apesar do que, o número de autoritários, precisam ser baseadas num processo eletivo
assaltos tem crescido assustadoramente, nos últimos anos, de participação e negociação com os interessados. Isto
nos grandes centros urbanos, vai depender, basicamente, da ação das organizações popu-
For outro lado, à iniciativa assistencial privada, através lares que necessitar torriar-se capazes de pressionar o
de obras de caridade, não pode contar com o apoio cas governo e de construir uma nova hegemonia,
classes. médias, que também tém visto seus ganhos dimi- As políticas sociais não são formas estáticas die relação
nuídos, Além disso, no Brasil, as grandes empresas. não entre Estado e sociedade. Os neoliberais propõem, nos
1êm interesse em manter, de forma constante e substancial, períodos de crise, a extinção das medidas sociais 2 a volta
instituições assistenciais: limitam-se a pequenas contri- ao mercado de trabalho, sem proteção do Estado, e isto
buições legitimadoras, como 05 “chás beneficentes”, os justamente num momento em que os trabalhadores estão
“natais dos pobres" ou “auxílios aos flagelados” das mais vulneráveis pela desmobilização decorrente do deserm-
secas e enchentes. prego e da procura de emprego,
Para atender à essa população em crise, é necessária uma Apesar dá crise atual, o5 capitalistas buscam cortar mais
intervenção macia do Estado através de Mecanismos empregos, com o uso de robôs, da informática e dos compu-
assistenciais que não se limitem à distribuição de leite em tadores, Esse corte podera levar a novas lutas pela redução
pô à população desmonetárizada, É preciso garantir, por da jornada de trabalho em vez da redução de empregos.
exemplo, à merenda escolar de qualidade nas escolas, Por outro lado, a pressão da população jovem também
sem desvios e sem clientelismos. Em vez doe subsidiar se fará sentir sobre o Estado e à5 empresas
exportações e bancos falidos, é preciso subsidiar alimentos A articulação política dessas tendências e cóntraten-
básicos à socorrer o5 famintos é miseráveis, com proqra- deências depende da formação de blocos de alianças cas
mações sistemáticas de fornecimento de alimentos, como, forcas em presença, com novos recursos e manobras táticas
por exemplo, projetos de efetiva assistência aos subnu- é estratégicas tanto por parte do bloco hegemônico dos
tridos, com direitos reconhecidos à merenda escolar, à dominantes como por parte do bloco contra-hegemôrnico
=]
 Vicente de Faula Foleiros

dos dominados, A contra-hegemonia surge das lutas e das

Organizações das classes populares articuladas em torno
de seus interesses nã conquista do poder politicofideolô-
gico & económico, Se não houver mobilização e luta,
fortalecer-se-á, ao menos temporariamente, o bloco domi-
nante, o que significará mais cortes nos recursos das polí-
licas existentes, Mesmo que à crise persista, Nesse con-
fIronto entre classes antagônicas, novas políticas sociais ou
NOVOS Mecanismos poderão surgir. INDICAÇÕES PARA LEITURA
Em síntese, as políticas sociais são formas de many:
ténção da força de trabalho econômica e politicamente
articuladas para não afetar o processo de exploração capi-
talista e dentro do processo de hegemonia e contra-hege-
mania da luta de classes, Para “aprofundar as questões de política social, aqui
indico meu livro A política socis! da Estado capitalista,
São Paulo, Cortez, 1985,
Já com uma visão diferênte da minha, és questões
teóricas da política social são abordadas por Pedro Demo,
em seu Desenvolvimento e política soci, Rio de Janeiro,
Tempo Erasileiro, 1978, Demo considera as políticas
sociais reclução das desioualdades sóciais e não as relaciona
ao processo de acumulação e à luta de classes,
O livro de Wanderley Guilherme Santos Cicadania E
justiça, Rio de Janeiro, Editora Campus, 1979, coloca a
política social como equidade ou redução de deseguili-
rios, dividindo o “hern-estar social” em vários compo-
nentes a partir de “carências” em áreas de saúde, educação,
habitação, A função das políticas sociais séria à redistri
buição de renda e benefícios sociais. sua análise das polí-
ticas públicas parte do principio de que há uma quantidade
de demandas diferentes que condicionam essas políticas,
COMO à escassez, à Mudança do comportamento das elites,
à mudança no conteúdo e nã quantidade das decisões e
-.
”
82 Vicente de Paula Faleiros Oque é Política Social
É - ”
a complexificação social. Não realiza uma análise das Tudo à História =, para uma visão histórica das políticas
classes e forças sociais. trabalhistas,
Hélio Jaquaribe, no livro introdução ao desenvolvi À respeito cas políticas sóciais nos países capitalistas
mento social, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979, faz uma dominantes é em especial nos Estados Lnidos hà, em
apresentação do “projeto liberal" e do “projeto marxista” português, o livro de James O'Connor — USA. à crise do
E Mostra em seguida o desenvolvimento social como à Estadio. capitalista, Ajo de Janeiro, Paz e Terra; 1977;
relação entre a diversificação é complexidade dos papéis Sobre à Franca, existe a obra de Jean Lojkine — O Estado
sociais e o processo de participação orientada pélos valores capitalista e 3 questao urnbana, 530 Paulo, Martins Pontes,
ideais de iqualdacie é liberdade de uma sociedade não- 1981,
repressiva. Sobre a acumulação de capital é política sugiro, entre
Ao lado cessas abordagens teóricas existem vários outros, 05 textos de Pierre Salama e Gilberto Mathias —
estudos sobre políticas sociais brasileiras, como o de Angela O Estao superdesenvoiívido, são Paulo, Brasiliense, 1883
Niaria de Castro Gomas, Burguesia é trabalho, Política e — Ee de Luis Alltedo Galvão — Cagrtal e Estadio, São Paulo,
tegistação. social no Brasil = (9177-1937, Rio de Janeiro, Cortez, 1984, Este último livro anresenta as teses de Marx,
Editora Campus, 1979, Analisa a legislação social e traba- Lenin e Ergeils, Para uma visão da relação Estado é capt-
Ihista nesse período, talismo no Brasil, recomendo 6 livro organizado por Carlos
A Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande Estevan Martins — Estago e capitalismo no Brasil, São
do Sul publicou recentemente (1983) o texto “A política Faulo, Huciteci/Cebrap, 1977,
social brasileira 1930-1964", com uma resenha dás Sobre à crise ecornomicá, proponho à leitura dos volumes
políticas sociais trabalhistas, de saúde, educação, previ- organizados por Luiz Gonzaga Beluzzo e Renata Coutinho
denciária e de habitação no período indicado. — Oesonvolvimento capitalista no. Brasil. Ensaios sobre a
Abordando o périodo pôs-G4, existe a resenha feita crise, são Paulo, Brasiliense, 2 vol, 1963 — e Vicente de
nor Pedro Demo em Porítica social fas décadas de 60 Paula Faleiros — Crise econômica 2 política social na
e 70, Fortaleza, Imprensa Universitária, 1981, Outro Airnerica Latina, João Pessoa, UFPB, Mestrado em Serviço
astucdo: específico sebre saúde, FGTS, previdência e edu- Social, 1983, mMimeo.
cação É O de Octavio lanni — Oitadura do grande capital, LQuase ta Mê esquecendo de indicar o livro de Claus
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991] —, que analisa file — Problemas estruturais do Estado capitafista, Rio
o quadro geral dessas políticas sob o regime militar de Janeiro; Tempo Erasileiro, 19684, para quem ceseja
autoritário, aprotundar as questões teóricas das politicas sociais numa
Gostaria ainda de lembrar os livros de Luis Werneck
orientação materialista, O autor trata principalmente das
Vianna Liberalismo e sindicato no Brasil, Rio de Janeiro,
politicas sociais dos países de capitalismo svançado e
Paz e Terra, (1976 =, e de Kazumi Munakata — A fegis-
dominantes, tomando como modelo desse tipo de sociedaçdo
lação trabaifiísta no Brasi, São Paulo, Brasiliense, Col:
às Estados Unidos,
4a PR
 Coleção Primeiros Passos a 1
Uma Enciclopédia Critica »e:P

ABORTO CETICISAÃO
AÇÃO GUITUEM CIBADANIA
SEUPUNTURA CIDADE
ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS COGNITIVAS
ADCLISCÊNCIA CINEMA
AGEEUIURA SOSTENTÁVEL CONAPLITADOR
ATEcS COMUNTCAÇÃO
NBS = 38 VISÃO COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
ALCODUSMO COMUNICAÇÃO RURAL
ALIENS AÇÃO CONMUNIADE ECLESIAL
Biografia ALGLINIA DE BASE
ANARQUISMO EONUNIADES ALTERNATIVAS
Não nasci numa celínica particutar, nem num hospital do ASCLSTIA CONSTITUINTE
INAMPS, é sim numa cama de roça, to interior de Minas, onde APARTAÇÃO CONTO
meu pas capinava feijão e café e minha mãe era professora primária ARQUITETURA, CONTRACEPÇÃO
leiga (19417. ARTE CONTRACULTURA
Trabalhando, censeaui fazer o curso de Serviço Social e Direito, ASSENTAMENTOS ELRAIS COOPERATIVISMO
além de participar dos mevimentos estudantis da época (1962-1964), ASSESSORIA DE IRAPRENSA CORPO
Fui tecnico do governo do DE e, de 1970 à 1879, fiquei fara ASTROLOGIA CORPOLATRA,
do País, trabalhando e estudando no Chile c no Canadá, erule ASTRONOMIA CRIANÇA
defendi uma Lese de doutoramento em Sociologis sobreas políticas ATOR CRIME
de acidentes da trabalho no Brasil, ALTCINCAAA C-PERÁRIA LLITURA
Sou professor da Universidade de Brasilin desde 1984 é gosto AVENTURA CULTURA POPULAR
de [uzer pesquisas nas dreas das políticas sociais e do Serviço Social. RARSIHO DARVANISAM
ABTAdeço a colaboração da Evinha nº revisão desse trabalho: + BELEZA DEFESA [3 CONSDMMIDOS
à lórcida de nossos dois Glhos, Álvaro é André, BENTEÇÃO) DEXIGCEACIA
BIBLIOTECA DEPRESSÃO
BIOÉTICA DERUTADO
Caro leitor: BOLSA DE VALORES DESENHO ANIMADO
As opiniões expressas néste livro são aos do autor, BENS DESIOM
podem náo ter a55uas., Caso você ache que valão HLDIEMO DESOBEDIÊRNCIA CTvIL
perng escrever um eutro livro sobre o mesmo témea, BLUECNCRACIA DIALÉTICA
nós estamos dispostos o estudar sua publicação CAPITAL [EPLOSAAÇA
com o mesmo titulo como "segundo visão". CAPITAL INTERNAÇONAL [HREITO
[DIREITO ALTOS:
2 CPITANENO

2 EM AN |
 Coleção Primeiros Passos bl) Coleção Pimeiros Passos
Uma Enciclopêdia Critica TP Uma Enciclopédia Critica

GIREITOS DA PESSO& FOLCLORE 8 AMSSAO KALSICA

CIRENTOS HUMANDE FOME JaAFE RALISTCA EESSELEIRA
COCUMENTAÇÃO FOTOGRAFIA JORNALISMO MUSICA SERTAMEJA
EEORERSA, FLISSTONMARBEO PÚSUCO: JOIRNALISATMO SESSDICA WATLUREZA
FRITORA FLITÉBO TDAiSAO RiAZISNIO
FEBLCAÇÃO GLOGEAFIA JUSTIÇA NEGENUIOL
EDLSCAÇÃO AMÉEIENTA GLoPORLÍTECA LAZER MLLECISE
EBLCHTÃO HSICA GESTO MUSICA! LEGALIZAÇÃO Cs BECO AS SORDESTE RAS ÉIROO
EMPREGOS É SALÁRICS GOLPE DE ESTADO LEIURA OCLANOGENMTA
EMPRESA GEAFEITI LESS ANSMO ONG
EXERCIA AUCLEAR GRAFOLOGIA LIBERIADE PIAS PLBLCA
ENFERNAARGEM GRIVE LÍNGUA GEIENTAÇÃO SEX A
ENGENHARIA FLORESTAL CLULERA LINGUÍSTICA PAINNTARAL
ESCOLHA PROSTISSICNAL HABEAS CORPLS LITERATURA SSTANTI PABLAMENTARBISMO
ESCÉITA FENNINA HER LITERATURA PÓNLA AR PA BLAMENTABISMO MON ÁROUICO
ESPERANTO |NERÓGLIFOS LINEREEPORIAGEM PARTICIPAÇÃO
ESPIRITISÃO |HPSIOTIEAÃO Lixo PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
ESPIRITISAAO: 24 VISAO [EST EM QUADRINHOS LOVOURA PEBAGÉRIIA
ESPORTE HeSTeRIA, AAA VESA- DE MORTE
ESTATÍSTICA, HISTÓRIA A CiiCIA AIAISAALIA PESTS
ESTRUTURA SINDHCAL HISTÓRIA AS MENTALDADES NIAERETENO PERITERIA UREADA
fTICA LECNMECATIA WIRRKETISO POLÍTICO PESSOAS DEFICIENTES
ETNOCENTRISAD [EIMESSEXSAL DAT: VUARIISREO POLTR
EXISTENCIALISATO | DEL CGA, VATERIALISMO DIALÉTICO DER LEGISLATIVO
FANAÉLIA HERE MEDICINA ALTERNATIVA PODER LOCA)
FANTINE INEIENÁRIO NMAEDICESA POPLILAR POLÍTICA
FENMENISMO MORALIDADE MEDICINA PREVENTIVA POLÍTICA CUITURA
HECÃO IAAPERTALISAAD MEC AMBIENTE POR ÍTICA EDBCACICNAL
FERA EIENTÍFICA INDUSTRA CUOITMURA MENOR POLÍTICA NUCLEAR
[ILAFELHA INFLAÇÃO SAE TOO, PALHCI FREIRE POLÍTICA SOCIAL
HLCSOEIA IMEORMÁTICA, MTO POLUIÇÃO CUÍSAICA
FILOSCHHA DA MENTE INFORMÁTICA 38 VISÃO MCIRAL PORNCHSRAFLA,
FLCISOEA MEDIEVAL INTELECTUAIS MICIRTE PLIS-WODEBNINO
FISICA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAI MULTINACIONAIS PST IASAAO
FA HAIA RLSEL PREVENÇÃO EF DROGAS
 Coleção Primeiros Poissos
Uma Enciclopédia Crítica e te |
PROGRAMAÇÃO SOCIOLOGVA DO ESPORTE
PROPAGA SS DA IDEOUOSIEA
STELSS
PSICANALISE 25 VISÃO
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ROMANCE POLICIAL Ano: 199] v, 1685 ed. ex.: 4
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