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Cursos: Graduação
Disciplina: Antropologia, Ética e Cultura
Versão: jul/2013
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autor e da Ação Educacional Claretiana.
APÊNDICE
1 PROJETO EDUCATIVO CLARETIANO..................................................................... 236
ANEXO 1
ANEXO 2
1 EU ETIQUETA....................................................................................................... 274
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Aspectos históricos que envolveram o ser humano e influenciaram a concepção
social, ao mesmo tempo em que a sociedade influenciava a concepção de pes-
soa. As implicações nas diferentes áreas da atuação do ser humano. A maneira
como a sociedade atual concebe e trata o ser humano, bem como as implicações
decorrentes disso. Noção de pessoa a partir do Projeto Educacional Claretiano e
as correlações nas diferentes áreas de atuação do ser humano.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo, vamos iniciar o estudo da disciplina Antro-
pologia, Ética e Cultura! Teremos muito prazer em desenvolvê-la
com você. Vamos, juntos, descobrir e aprofundar reflexões que se
referem à pessoa humana. Não queremos discutir com você qual-
quer "tipo" de pessoa, nem qualquer estudo sobre a pessoa.
Nossa intenção é analisar como o Centro Universitário Clare-
tiano entende e deseja que seus alunos conheçam, qual é e como é
a pessoa com quem convivemos e ainda vamos conviver e em nosso
ambiente de trabalho
10 © Antropologia, Ética e Cultura
Unidade e totalidade
Quando tratamos do entendimento sobre a pessoa é impor-
tante notarmos que ela é unidade e totalidade, ao mesmo tempo.
Não podemos tratar o ser humano como se fosse possível dividi-lo
e olhá-lo com um único enfoque. Já que cada pessoa é um ser úni-
co e absolutamente novo, com capacidade de se decidir, de esco-
lher, pois é um ser livre por existência, ao mesmo tempo é um ser
dinâmico, aberto ao outro e à transcendência.
A pessoa consciente da unidade e da totalidade abre espa-
ço para a realização pessoal. Ela compreende seu estar-no-mundo
enquanto compreende o sentido de ser-no-mundo. Só o ser huma-
no goza do privilégio de ter consciência de si mesmo, do seu eu, do
seu ser e do seu existir.
A pessoa precisa perceber que ela constrói seu próprio ser, o
que lhe permite adquirir consciência de si mesmo para conquistar
sua identidade.
Ela busca uma finalidade e um sentido para sua existência.
O que está no cerne de toda a questão é a realização da pessoa, é
o seu ser.
Veja, a seguir, os principais conceitos que irão nortear seu
estudo nesta disciplina. Sempre que estes termos surgirem, tenha
presente o seu significado. Isso facilitará o seu estudo.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados na disciplina Antropologia, Ética
e Cultura. Por opção pedagógica do autor, os termos do Glossário
não seguem a ordem alfabética, mas a ordem cronológica da im-
portância que cada um dos conceitos adquire ao longo deste ma-
terial. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
26 © Antropologia, Ética e Cultura
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com Antropologia, Ética e Cultura pode ser uma for-
ma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser
1
1. OBJETIVOS
• Compreender a realidade e os fatos que marcaram as fa-
ses principais da história.
• Analisar como o ser humano foi tratado nas diversas situ-
ações históricas.
• Compreender a realidade da sociedade capitalista neoli-
beral e como o ser humano é tratado nesse sistema.
2. CONTEÚDOS
• Ser humano, como entendê-lo melhor.
• Contexto histórico, a realidade de cada época e de cada
situação.
• Ser humano e sociedade. Não se pode entender o ser hu-
mano sem entender a sociedade em que ele está inserido.
• Caminhos a percorrer.
34 © Antropologia, Ética e Cultura
Centro Universitário
Claretiano - REDE DEClaretiano
EDUCAÇÃO
© Ser Humano e Sociedade: Contexto Histórico 35
Leonardo Boff
Nasceu em Concórdia, Santa Catarina, aos 14 de de-
zembro de 1938. É neto de imigrantes italianos da re-
gião do Veneto, vindos para o Rio Grande do Sul no
final do século XIX. Fez seus estudos primários e se-
cundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-
-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em
Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na
Universidade de Munique-Alemanha, em 1970. Ingres-
sou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em
1959.
Durante 22 anos, foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petró-
polis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade
em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de
professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espa-
nha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha).
Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indigna-
do diante da miséria e da marginalização com o discurso promissor da fé cristã
gênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensor
da causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectiva
dos Direitos Humanos a partir da América Latina, com "Direitos à Vida e aos
meios de mantê-la com dignidade".
É doutor honoris causa em Política pela Universidade de Turim (Itália) e em Teo-
logia pela Universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com vários
prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dos
oprimidos e dos marginalizados e dos Direitos Humanos.
De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Nesse perío-
do, fez parte da coordenação da publicação da coleção Teologia e Libertação e
da edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista Eclesiástica
Brasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da Revista
Internacional Concilium (1970-1995).
Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresenta-
das no livro Igreja: Carisma e Poder, foi submetido a um processo pela Sagra-
da Congregação para a Defesa da Fé, ex-Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985,
foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas
36 © Antropologia, Ética e Cultura
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Ao analisar o contexto histórico, é possível compreender
como a sociedade, em alguns momentos, tratou o ser humano.
Do mesmo modo, é possível ver como alguns pensadores enten-
deram e se pronunciaram a respeito do ser humano. Contudo, não
se pode deixar de olhar tudo isso dentro do contexto em que ele
vivia, levando em consideração tudo o que acontecia naquela rea-
lidade. Muitos se dispuseram a falar e a tecer alguns comentários
a respeito do ser humano. É importante analisar algumas concep-
ções, de algumas épocas para entender alguns pensamentos que
norteavam as atitudes e as ações da sociedade e quais as influên-
cias que esses pensamentos exerciam na vida das pessoas e da
sociedade em geral.
Interessa notar que a concepção a respeito do conceito que
se criava ou que se criou sobre a pessoa influenciou a maneira de
ser e de agir da sociedade em cada época determinada. Ou o con-
trário. Aquilo que se pretendia da sociedade e para a sociedade
acabava criando uma concepção a respeito do ser humano. A ma-
neira como o ser humano era tratado dependia, muitas vezes, do
modo como a sociedade era concebida. Isso parece simples, mas
é preciso notar as diferenças na concepção de homem que tive-
mos em cada momento da história, para que se possam compre-
ender os fatos de forma clara. Ao conseguir enxergar todos esses
mecanismos, pode-se entender a relação existente entre o modo
de vida da época e os pensamentos que regiam as sociedades em
cada período da história. Aliás, é difícil dizer o que vem primeiro.
Tudo acontece quase ao mesmo tempo: enquanto a situação
da sociedade se apresenta de uma forma ou de outra, as análises vão
5. SER HUMANO
Enquanto a sociedade atual olha o ser humano de modo
fragmentado, alguns pensadores acreditam que:
[...] ser homem significa uma pluralidade de dimensões nas quais
não só experimentamos o mundo, senão que nos experimentamos
a nós mesmos [...] o homem é uma totalidade concreta que funda-
menta a totalidade em uma unidade estrutural que contribui para
sua compreensão (CORETH, 1985, p. 39).
6. CONTEXTO HISTÓRICO
Como vimos, o homem quer saber sobre o fundamento e o
sentido do mundo em que vive. Por meio do pensamento filosófi-
co é possível interrogar-se sobre o princípio de todas as coisas para
entender o fundamento de tudo. Ao querer entender a si mesmo
no seu mundo, na sua história e no conjunto da realidade, ele faz
um exercício filosófico.
Na verdade, essa é uma preocupação presente na vida dos
povos em geral. Em todas as épocas da história pode-se perceber a
preocupação que o ser humano tem quanto à sua origem e sobre a
origem do mundo. Afinal, quais foram as preocupações que envol-
veram as sociedades nos diversos momentos históricos?
Percorrendo alguns desses momentos é possível verificar
certos pontos de vista interessantes e que poderão elucidar nosso
estudo.
e corpo não são duas substâncias separadas, mas são dois princípios
eternos que formam o único e mesmo homem completo.
No pensamento cristão, o homem está inserido na ordem obje-
tiva e universal que tem seu fundamento em Deus. Cristo revela o ho-
mem ao homem. Os cristãos têm uma ideia muito elevada do que é o
homem, de sua dignidade, de sua realização, de seu chamado a ser filho
de Deus e viver fraternalmente na dignidade do mistério da vida.
Cristo mostra o verdadeiro amor, que é entrega, doação,
uma perda voluntária de liberdade. Mas nele a pessoa é pessoa e
tira o melhor de si.
Os cristãos são considerados grandes humanistas, mas, ob-
viamente, não são os únicos, pois outras pessoas com concepções
diferentes, com sentido comum e com sentido da beleza ou de
justiça compartilham essas convicções.
É possível perceber uma espécie de otimismo ingênuo na so-
ciedade moderna, enquanto ela acredita que é possível vencer o
mal tanto dentro quanto fora de si, apenas com a razão e a educa-
ção; para os cristãos, é necessária a graça de Deus e o amor.
Materialismo e Evolucionismo
Enquanto na Idade Média o direcionamento da sociedade
era teocêntrico, da modernidade em diante, o direcionamento
passa a ser antropocêntrico. O homem passa a ser o centro das
preocupações, até que, no século 19, essa preocupação se direcio-
na para a sua autoexperiência concreta.
Historicamente, a tradição considerou o espírito no homem
como aquilo que constituía propriamente sua essência e a carac-
terizava acima de qualquer outra qualidade. No século 19, o Mate-
rialismo opôs-se terminantemente a isso, afirmando que o homem
é uma realidade material como outro ser qualquer.
Com Augusto Comte (1798-1857), essa concepção de pessoa
se tornou forte. Considerado o pai do Positivismo, Comte defende
que o valor está no conhecimento objetivo da realidade, tornando
o homem um simples objeto do estudo científico natural empírico,
psicológico, sociológico. Baraquim e Laffitte (2007, p. 69) apontam
o Positivismo como o movimento que:
[...] lança as bases de uma reorganização mental geral que acabaria
com as conquistas do "espírito positivo" próprio da era industrial. Esse
sistema é também chamado por Comte de "filosofia positiva", que
busca a certeza apenas nas aquisições das ciências e do método destas
– busca de constância observáveis, de relações entre fenômenos e não
de causas absolutas – e se recusa, contra o cientificismo, a separar as
ciências da sua utilidade humana e da sua ancoragem na história.
Existencialismo e Personalismo
Blaise Pascal (1623-1662) opõe-se à estreita visão raciona-
lista de Descartes. Pascal soube tomar consciência do trágico da
condição humana, marcada pela finitude e pela morte, da solidão
do homem num universo em que a presença de Deus está excluída
pelo Racionalismo científico. Somente a fé pode salvar o homem
do absurdo e do desespero (BARAQUIM; LAFFITTE, 2007).
No século 20, Sören Kierkegaard (1813-1855) vai mostrar
que o que interessa é a existência, o homem individual e concreto
na totalidade de sua existência pessoal, de sua singularidade e au-
tonomia, de sua liberdade e responsabilidade.
Friedrich Nietzsche (1844-1900) é contrário a tudo isso. Ele
exalta a vida dando a ela um valor supremo, apesar de considerar
a vida humana de uma maneira naturalista, ou seja, de um modo
puramente biológico natural. Para ele, a vida resume-se à vida cor-
poral. Porém, o maior representante dessa corrente de pensamen-
to é Henri Bérgson (1859-1941):
Numa época em que o cientificismo exercia sua tirania sobre os
espíritos, Bérgson propõe restaurar a metafísica em sua vocação de
alcançar o absoluto e de nos transportar por meio da intuição ao
próprio cerne do real. Eclipsado pelas três correntes de pensamen-
to, que são o existencialismo, o marxismo e o estruturalismo, ele
suscita um novo interesse no contexto contemporâneo, que pro-
cura escapar do domínio da filosofia dos conceitos (BARAQUIM e
LAFFITTE, 2007, p. 44).
8. CAMINHOS A PERCORRER
Boff (2000) mostra uma característica que é própria do ser
humano e que precisa ser utilizada quando se trata de construir o
novo. Por isso afirma que:
[...] possuímos a dimensão de romper barreiras, de superar inter-
ditos, de ir para além de todos os limites. É isso que chamamos
de transcendência. Essa é uma estrutura de base do ser humano
(BOFF, 2000, p. 28).
Adaptabilidade
O ser humano é um ser capaz de adaptar-se às situações
mais diversas e adversas. A educabilidade permite a ele situar-se
de tal forma que, mesmo nas situações mais difíceis, é possível
encontrar uma forma, uma possibilidade, um atalho para reencon-
trar o caminho ou adaptar-se em outro modo de viver ou em outro
ambiente distinto.
60 © Antropologia, Ética e Cultura
Autoconhecimento
O primeiro passo compreende um conhecimento de si mes-
mo; e quanto mais profundo esse conhecimento, melhor. Conhe-
cer-se implica conhecer as potencialidades, as aptidões, as dificul-
dades; enfim, a história da existência pessoal.
Esse é um elemento importante, mas não é o único. É preci-
so aceitar-se e, mais que isso, é extremamente necessário gostar
de si mesmo assim como se é. Isso compreende um entendimento
amplo de tudo o que envolve a pessoa. Ao olhar para si mesmo de
maneira positiva, a pessoa descobre o outro.
Durante a guerra fria entre Capitalismo e Comunismo, o ou-
tro era apresentado como inimigo. Devido a esse medo, as rela-
62 © Antropologia, Ética e Cultura
Consciência do eu
O relatório da ONU chama a atenção para a importância de
aprender a ser. Delors (1999) aponta que é necessário levar em
consideração que o processo de caracterização da pessoa consiste
na consciência que ela tem de si mesma. Isso faz que a pessoa en-
tre em contato com o seu interior.
Nesse contato com o interior, cada um pode perceber mais
completamente como a diferenciação é importante e necessária
no processo do próprio desenvolvimento e no desenvolvimento
do mundo.
Essa consciência do eu, que leva o indivíduo a perceber-se
distinto dos outros seres criados e dos indivíduos da sua mesma
espécie, cria nele a consciência da responsabilidade de ser mais e
melhor. Mas é aí que ele encontra o caminho da autorrealização. A
autoconsciência abre caminho para a autorrealização.
O conceito que cada um faz de si mesmo determina o seu
comportamento. O que faz ou tenta fazer, o que realiza ou tenta
realizar e o relacionamento interpessoal podem estar intimamen-
te relacionados com o conceito de "eu-mesmo" e com os vários
fatores que lhe são afins.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a se-
guir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade:
10. CONSIDERAÇÕES
O objetivo desta unidade não foi aprofundar historicamente
as questões abordadas. Contudo, foi possível mostrar a realidade
e as situações que envolveram a sociedade e o ser humano nos
diferentes períodos da história.
Foi possível perceber, ainda, toda a realidade envolvendo a
sociedade atual, a sociedade em que vivemos, a realidade que en-
volve todo o contexto social, a pessoa inserida nesse contexto e
algumas coisas referentes ao ser humano.
Na próxima unidade, será estudada uma proposta ligada à
maneira como o Centro Universitário Claretiano compreende a si-
tuação que envolve o ser humano. É uma proposta humanista.
12. E-REFERÊNCIA
Site pesquisado
SIQUEIRA, H. S. G. Performance sob uma lógica tecnicista. Disponível em: <www.angelfire.
com/sk/holgonsi/performance.html>. Acesso em 25 set. 2010.
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
EAD
Ser Pessoa – Uma Proposta
Humanista
1. OBJETIVOS
• E ntender o conceito que o Centro Universitário Claretia-
no possui sobre a pessoa.
• P
erceber como a pessoa faz parte de um contexto social,
porém pode olhar a realidade de forma mais humana.
2. CONTEÚDOS
• Proposta humanista do Centro Universitário Claretiano.
• O ser humano visto como humano.
• As dimensões da pessoa.
• Unidade e totalidade, uma visão humanista.
68 © Antropologia, Ética e Cultura
compreensão, ela não permitia a plenitude e a alegria de vida, uma vez que
Kant considerava o dever como algo fundamental à ética (imagem disponível em:
<http://www.personalismo.org/filosofia-personalista/grandes-maestros/>. Acesso
em: 15 out. 2010. Texto disponível em: <http://www.netsaber.com.br/biografias/
ver_biografia_c_2671.html>. Acesso em: 15 out. 2010).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, será desenvolvida uma análise da pessoa na
sua totalidade, inserida num contexto mais amplo, englobando-a
numa realidade mais abrangente.
Como Sócrates, o famoso filósofo grego, você está convida-
do a realizar o desafio que ele fazia aos cidadãos de sua época,
"conhece-te a ti mesmo". Como afirma Mondin (1998, p. 8):
O homem não entra neste mundo como uma obra inteiramente
completa, totalmente definida, mas, principalmente, como um
projeto aberto, a ser definido, a ser realizado e que, na definição e
realização de si mesmo, deve ter em conta três coisas: o próximo,
o mundo e Deus.
5. DIMENSÕES DA PESSOA
Dimensão biológica
Ao referir-se à dimensão biológica, refere-se, naturalmente,
a tudo que se relaciona ao corpo da pessoa. Sem dúvida, é por
meio do corpo que o ser humano faz contato com os outros seres,
com o mundo e com Deus, seu Criador.
Como sempre, não se pode deixar de perceber que a socie-
dade está inserida em um contexto social capitalista, neoliberal.
Nesse ambiente, envolvidos pela lógica tecnicista, como analisa-
do anteriormente, o homem acaba sendo reduzido a um ser que
produz e que consome. Diante desse enfoque, o que acaba tendo
valor específico é essa parte do ser humano que está em contato
com o mundo e que possui a força produtiva e consumidora.
Um dos problemas fundamentais que aparece com relação
ao corpo é apontado por Scheler (2003, p. 73), quando ele anali-
sa a questão do Dualismo: "O fosso erigido por Descartes entre o
corpo e a alma através de seu dualismo de extensão e consciência
como substâncias fechou-se hoje quase até a palpabilidade a uni-
dade da vida".
E acrescenta:
Para o terapeuta, o corpo não deve ser visto somente como um
objeto, uma coisa ou uma máquina funcionando com defeito, que
seria mister "consertar". Não; o corpo é corpo "animado". Não há
corpo sem alma, não sendo mais "animado", não merece o nome
de corpo, mas de cadáver (1988, p. 70).
Dimensão psíquica
A dimensão psíquica remete àquilo que os filósofos gregos
chamam de anima – no Português, "alma", "o que dá vida". O que
faz a vida da pessoa acontecer é sua interioridade; remetendo ao
pensamento filosófico, é deparar-se com o conceito de essência. A
alma da pessoa é sua essência. Mas o que vem a ser essência?
Por essência, entende-se aquilo que faz o ser ser ele mesmo.
Ou seja, o ser é aquilo que ele é por causa da sua essência. É a
essência que o torna um ser único. Só eu sou eu. Só você é você. E
o que me faz ser eu e você ser você é a essência. Não existe outro
igual. Eu sou único. Você é único(a).
fazer para corrigi-los? Tem defeitos? Claro que sim. Mas quando
percebe sua essência na profundidade, percebe a beleza daquilo
que é. Aceitar-se como é define o passo adiante. Mas não é tudo,
há mais pela frente, é hora de gostar de si como você é.
Se não conseguir dar esses passos, não poderá perceber que
os semelhantes são tão importantes como você e merecem seu ca-
rinho, sua atenção, seu apreço, seu amor. Assim é possível enten-
der as palavras de Cristo: "amarás teu próximo como a ti mesmo"
(Mt 22,39). Quem consegue amar-se na essência, ama o outro,
o mundo, a natureza e o Criador, porque se percebe parte desse
todo.
O eu do indivíduo é a sua individualidade, é o seu ser pessoa.
É essa a marca indelével do eu sou. E a consciência disso é que faz
o indivíduo perceber que ninguém vai ocupar seu lugar no mundo;
sua missão no mundo é única. Entrar em contato com o seu nú-
cleo, isto é, com o seu ser interior, é abrir as portas para descobrir
sua individualidade, sua importância, para encontrar o caminho
para a autorrealização, a felicidade.
Quanto mais profundo for esse contato com o seu próprio
eu, mais profundo será seu conceito de pertença do todo; mais
profunda será a percepção de seu papel na melhora do meio em
que vive, do mundo onde habita.
Não é possível ser feliz sozinho. Quanto mais o indivíduo
busca a realização pessoal, mais ele percebe que essa realização só
acontece à medida que se abre para o outro, para o todo, para que
todos tenham vida em abundância, como ensina o Cristianismo.
Essa busca do próprio eu não significa fechar-se em si mes-
mo, mas, sim, perceber e sentir um intenso amor e respeito por
si e por seu corpo e, ao mesmo tempo, uma abertura e um pro-
fundo amor pelo outro, pela natureza, pelo meio ambiente, pelo
universo, pelo todo. É isso que nos une aos outros, é isso que une
ao Criador. Entrar em sintonia consigo, com seu próprio núcleo, é
entrar em sintonia com o outro, é entrar em sintonia com Deus.
E acrescenta:
[...] os filósofos, os médicos, os pesquisadores da natureza que se
ocupam hoje com o problema do corpo e da alma convergem cada
vez mais para a intuição fundamental: é uma e a mesma vida que
possui uma configuração formal psíquica em seu íntimo, corpórea
em seu ser para os outros (2003, p. 71).
Dimensão social
Conforme alguns pensadores, o ser humano é produto do
meio em que nasce e vive. Ele recebe uma carga genética mui-
78 © Antropologia, Ética e Cultura
Dimensão espiritual
O significado etimológico da palavra "espiritual" apresenta
um problema de terminologia específico da língua portuguesa.
O termo estóico para espírito é pneuma, e o latino, spirtus, com
suas derivações nas línguas modernas – no alemão é Geist, em he-
braico ru’ach. Não existe problema semântico nessas línguas, mas
existe um problema no português, por causa do uso da palavra
"espírito" equivocadamente, com um "e" minúsculo. As palavras
"Espírito" e "Espiritual" só são usadas para o Espírito divino e seus
efeitos no homem, e são escritos com "E" maiúsculo. A questão
agora é então: pode ser restaurada a palavra "espírito", designando
uma dimensão particular da vida humana? (TILLICH, 1984, p. 401).
Unidade e totalidade
Quando tratamos do entendimento sobre a pessoa, é im-
portante notarmos que ela é uma unidade e uma totalidade ao
6. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no
estudo desta unidade:
4) O que essa maneira de ver o ser humano muda em sua existência? Em que
muda a vida da sociedade? Em que muda na sua forma de viver a sua pro-
fissão?
7. CONSIDERAÇÕES
Se fizermos uma comparação com a primeira unidade, po-
deremos perceber que a proposta humanista apresentada nesta
unidade difere, completamente, da proposta do Capitalismo Ne-
oliberal apresentada anteriormente. A proposta humanista apre-
senta uma realidade em que o ser humano é olhado de maneira
caracteristicamente apropriada à realidade humana.
O ser humano, considerado um ser único e irrepetível, visto na
sua totalidade, apresenta em suas dimensões a maneira apropria-
da para que seja respeitado na sociedade. Entretanto, é importante
considerar que há dois caminhos que devem ser percorridos.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BETTO, F.; BOFF, L. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.
BOFF, L. O destino do homem e do mundo. São Paulo: Vozes, 2003.
______. Saber cuidar, ética do humano – compaixão pela terra. São Paulo: Vozes, 2004.
______. Tempo de transcendência: o ser humano como um projeto infinito. Rio de
Janeiro: Sextante, 2000.
CLARETIANO – Centro Universitário Claretiano. Missão e projeto educativo. Batatais:
[s.n], 2005.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Corpo. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1984, pp. 85-87.
FRANKL, V. E. Sede de sentido. São Paulo: Quadrante, 1989.
LELOUP, J-Y. Cuidar do ser. São Paulo: Vozes, 1998.
MANDRIONI, H. D. Introdución a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1964.
MARTINS, A. A. É importante a espiritualidade no mundo da saúde?. São Paulo: Paulus,
2009.
MONDIN, B. Definição filosófica da pessoa humana. Bauru: EDUSC, 1998.
PIVA, S. I. A pessoa, uma análise. Batatais: União das Faculdades Claretianas, 1995.
SCHELER, M. A posição do homem no cosmos. Rio de Janeiro: Florense Universitária,
2003.
TILLICH, P. Teologia sistemática. São Paulo: Paulinas, 1984.
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
EAD
Ser Pessoa, Ética e
Cidadania
3
1. OBJETIVOS
• Refletir sobre a Pessoa Humana, retomando e aprofun-
dando aspectos já abordados nas unidades anteriores.
• Compreender o significado de ética e moral, suas distin-
ções, campos de atuação e implicações para a sociedade
contemporânea.
• Analisar a importância de se resgatar o papel da cidadania
como ação individual e coletiva na perspectiva de uma
sociedade eticamente sustentável.
2. CONTEÚDOS
• As dimensões humanas da consciência, do amor e da li-
berdade como características antropológicas.
• A definição de ética e moral e suas respectivas distinções
e semelhanças.
88 © Antropologia, Ética e Cultura
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Entender o ser humano é uma tarefa extremamente exigen-
te e difícil. Isso porque não se pode analisá-lo a partir de um único
ponto de vista ou sob uma ótica predefinida. O ser humano deve
ser entendido na sua complexidade, abrangência e profundidade,
caso seja a intenção de toda pessoa que reflete sobre si mesma e
sobre a realidade que está a sua volta.
90 © Antropologia, Ética e Cultura
Dimensão da consciência
O ser humano é o único que sabe de si mesmo. Ele se pergun-
ta: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Para que existo?
Ele é, portanto, o valor absoluto, o valor-fim, a medida de todas as
coisas. Diante do valor ser humano, todas as demais são relativas,
por mais importantes que sejam. Ele sabe isso porque, ao longo da
humanidade, foi descobrindo, foi desvendando, foi compreenden-
do o seu lugar no mundo.
Dimensão do amor
O ser humano como Pessoa é um ser de comunhão e não de
solidão. Ele reconhece no outro o valor absoluto. Ninguém é mais
importante para uma Pessoa que a outra Pessoa. É o "Eu" que se
dirige ao "Tu", para afirmar como valor supremo a comunhão do
"Nós". O outro sou eu mesmo, isto é, a mesma essência sob outra
aparência. Esta é a experiência do Amos: descobrir o outro na sua
identidade, na sua singularidade e na sua profundidade.
Na sua identidade, o outro sou eu mesmo; é a minha essên-
cia que se revela a mim no outro. Na sua singularidade, o outro
não sou eu, pois não há produção em série; o outro é ele mesmo
com uma marca pessoal. Na sua profundidade, o outro é um mis-
tério marcado pela história; um mistério que nunca chegaremos
a penetrar totalmente. E amar é precisamente isto: querer que o
outro seja Eu; querer que o outro seja Tu; querer que o outro seja
Nós. A Pessoa é capaz de amar, por isso somente ela deu o salto da
materialidade para a espiritualidade, do físico para o metafísico,
do ciente para o consciente, do indivíduo para o ser.
Dimensão da liberdade
A liberdade é outra dimensão fundamental da Pessoa. Para
Dostoiévski, "a liberdade é o atributo da divindade", no sentido de
que o que mais aproxima o ser humano de Deus é a possibilida-
de do exercício da liberdade. Entretanto, a liberdade é uma con-
dição ambígua do ser humano: ela tanto constrói como destrói o
94 © Antropologia, Ética e Cultura
Artigo III.
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV.
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V.
Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano
ou degradante.
Artigo VI.
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.
Artigo VII.
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual pro-
teção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII.
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes re-
médio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX.
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X.
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiên-
cia por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus
direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI.
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei,
em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garan-
tias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não
será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era
aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII.
Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu
lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII.
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das
fronteiras de cada Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e
a este regressar.
Artigo XIV.
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros países.
Artigo XXIII.
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a con-
dições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração
por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfa-
tória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível
com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros
meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para
proteção de seus interesses.
Artigo XXIV.
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV.
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e
a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de
perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.
Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma
proteção social.
Artigo XXVI.
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória.
A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da perso-
nalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a to-
lerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII.
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da co-
munidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja
autor.
Artigo XXVIII.
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direi-
tos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.
Artigo XXIX.
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito ape-
nas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegu-
rar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e
de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar
de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos
contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX.
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reco-
nhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direi-
tos e liberdades aqui estabelecidos (ONU, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mas, diante da tarefa da ética, é possível perceber que exis-
tem diversos campos de atuação da própria ética. Podemos desta-
car os seguintes:
1) Ética e convivência humana: há necessidade de ética
porque há o outro ser humano. A atitude ética é uma
atitude de amor pela humanidade.
2) Ética e justiça social: um sistema econômico-político-
-jurídico que produz, estruturalmente, desigualdades,
injustiças, discriminações, exclusões de direitos, entre
outros, é eticamente mau, por mais que seja legalmente
(moralmente) constituído.
3) Ética e sistema econômico: o sistema econômico é o fa-
tor mais determinante de toda a ordem (e desordem)
social. Quando existe uma reprodução da miséria estru-
tural, a ética diz que se exigem transformações radicais e
globais na estrutura do sistema econômico.
4) Ética e meio ambiente: o trabalho é a ação humana que
transforma a natureza para o homem. Mas, para que o
trabalho cumpra essa finalidade de sustentar e huma-
nizar o homem, ele deve se realizar de modo autossus-
tentável para a natureza e para o homem. Preservar e
cuidar do meio ambiente é uma responsabilidade ética
diante da natureza humana.
102 © Antropologia, Ética e Cultura
ciedade civil, visando mobilizar a nação em torno de ações concretas que nos
permitam construir o "outro mundo possível". E priorizar, em pleno neoliberalismo
que assola o Planeta, valores antagônicos ao individualismo e à competitividade,
como o são a cidadania e a solidariedade.
A pergunta central que a Semana pretende levantar é: o que estamos fazendo
para mudar o mundo? O que faz você, a sua escola, a sua comunidade religiosa,
o seu movimento social, a sua empresa? Queixar-se é fácil e reclamar não é
difícil. O desafio, porém, é agir, organizar, conscientizar, transformar.
"Diários de motocicleta", filme de Walter Salles, mostra a cena em que Ernesto
Guevara decide, na noite de seu aniversário, mergulhar no rio que o separava da
comunidade de hansenianos. Naquele momento, Che optou pela margem oposta
a da cidadania e da solidariedade. Não ficou na margem em que nascera e fora
criado, cercado de confortos e ilusões, nem se reteve "na terceira margem do rio",
aquela dos que se isolam em suas convicções sectárias e jamais completam a tra-
vessia. É esta opção que a Semana quer incentivar. Porque nós podemos mudar o
Brasil e o mundo. Basta passar das intenções às ações (BETTO, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
6. QUESTÃO DA CIDADANIA
O que fazer para que o Brasil e o mundo possam implemen-
tar uma sociedade eticamente sustentável? Acreditamos que a
resposta a essa pergunta remete para outra situação, que trata de
pensar a questão da cidadania. Pinsky (2003, p. 9) irá dizer que:
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igual-
dade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também parti-
cipar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políti-
cos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os
direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo
na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário
justo, à saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é
ter direitos civis, políticos e sociais.
O que fazer diante desse quadro? Parece que não existem sa-
ídas plausíveis. A apatia e a falta de perspectivas geram um senti-
mento de desânimo generalizado. Basta olhar para a política no Bra-
sil diante dos casos de fraude e corrupção, cada vez mais evidentes
nos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. Ou, então,
para o papel da imprensa diante desses fatos e de tantos outros que
envolvem vários campos da sociedade civil e da política.
Na maioria das vezes, o que se percebe é que a imprensa não
se mobiliza para esclarecer essas questões, mas quer apenas criar
sensacionalismo e uma divulgação que não considera as causas re-
ais desses acontecimentos. E a violência explícita e implícita presen-
te na sociedade? Não podemos deixar de nos preocupar com toda
essa problemática. Por isso, torna-se necessário pensar um projeto
ético que resgate a importância da cidadania na sociedade atual.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a se-
guir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, da reflexão
sobre a pessoa e das respectivas implicações antropológicas, da distinção en-
tre ética e moral, assim como da valorização e da recuperação do conceito de
cidadania como importante papel de transformação social.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no
estudo desta unidade:
3) A partir do extrato de texto a seguir, reflita sobre o porquê de, por mais que
a constatação seja entendida como moralmente ou até naturalmente aceita
por muita gente, ela ser colocada como um problema ético fundamental.
Você consegue identificar qual seria esse problema?
8. CONSIDERAÇÕES
Depois de refletir sobre o ser pessoa numa perspectiva ética
e cidadã, cabem algumas considerações, cuja finalidade é propor
não o fechamento da questão, mas a abertura de horizontes, vi-
sando a uma atitude de compromisso e de responsabilidade neste
início de século 21. O que pensar a respeito dos temas elencados?
Quais as implicações que eles apresentam para uma atuação cons-
ciente e responsável?
Uma primeira ideia que não se pode negligenciar é o fato de
que a pessoa humana está sendo desconsiderada no atual sistema
capitalista globalizado. Cada vez mais, a preocupação não é com
a humanização do ser humano, mas com a valorização do lucro e
da ganância, "custe o que custar". Os avanços da ciência, o desen-
volvimento tecnológico, entre outras conquistas alcançadas, nor-
malmente, trazem benefícios para uma pequena parcela da popu-
lação; a maioria ainda sofre um processo de empobrecimento que
se traduz numa frase do papa da Igreja católica João Paulo II que
116 © Antropologia, Ética e Cultura
9. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 – Oito jeitos de mudar o mundo: disponível em: <http://www.objetivosdomilenio.
org.br/todosjuntos/>. Acesso em: 23 set. 2010.
Sites pesquisados
BETTO, F. Oito jeitos de mudar o mundo. Disponível em: <http://alainet.org/
active/6469&lang=es>. Acesso em: 23 set. 2010.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.onu-
brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>. Acesso em: 15 out. 2010.
VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores. Disponível em: <http://www.
mpbnet.com.br/musicos/geraldo.vandre/letras/pra_nao_dizer_que_nao_falei_das_
flores.htm>. Acesso em: 15 out. 2010.
118 © Antropologia, Ética e Cultura
1. OBJETIVOS
• Familiarizar-se com as dimensões constitutivas do ser hu-
mano e com a relação corpo-alma.
• Interpretar a reflexão que a antropologia faz sobre o ser
"homem" e sua estrutura ontológica.
• Reconhecer e analisar os argumentos válidos para justifi-
car o não antagonismo e a não identificação do corpo e
da alma.
• Identificar o eu, núcleo da pessoa humana, e refletir so-
bre ele.
• Interpretar a importância do tu na formação da persona-
lidade.
120 © Antropologia, Ética e Cultura
2. CONTEÚDOS
• Elementos constitutivos do ser humano.
• Princípios essenciais do ser humano.
• Relação funcional das dimensões constitutivas do ser hu-
mano.
• Descrição da unidade vital do homem, o sujeito.
• Caracteres constitutivos do ser humano.
• O homem, ser social.
• Surgimento da personalidade e a relação com o outro.
• Características existenciais do homem.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 1, você teve oportunidade de ver que existem
diversas interpretações filosóficas sobre o homem, as quais o ex-
plicam de diferentes perspectivas:
• As que dão ênfase ao físico: o homem atuaria sustenta-
do pelas características físico-biológicas, sem se admitir
que possa existir entre ele e a natureza uma diferenciação
qualitativa.
• A existencialista, que enfatiza a construção da personali-
dade na existência.
• Os que defendem que há, entre o homem e a natureza,
122 © Antropologia, Ética e Cultura
Dualismo corpo-alma
O dualismo é uma concepção que está sempre presente na
concepção antropológica. Os filósofos "pitagóricos gregos" pensa-
vam que a alma era imortal, vinha do céu e caía na Terra para en-
trar no corpo, ao qual ficava atada. Por isso, eles buscavam, com a
"liberação do corpo", o "retorno".
Corpo e espírito, esses dois termos opostos em natureza,
criaram sucessivas discussões. A filosofia aristotélica e, logo, a cha-
mada filosofia perene, virão para auxiliar na superação do proble-
ma criado pelo dualismo, em que a alma espiritual e o corpo físico
existem como dois seres separados.
A dimensão espiritual––––––––––––––––––––––––––––––––––
O homem é um horizonte entre corporal e espiritual. Cabe então falar do es-
piritual. Porém, há uma necessidade ontológica de falar do espírito ou é, uma
necessidade metafórica?
Ou, com outras palavras, se ajusta somente à descrição do homem como hori-
zonte ou tem uma real existência além do simbólico?
Por experiência, percebemos uma diferença entre o vivo e o inerte, isto é, naquilo
que manifesta vida e o que nunca teve – uma cadeira, por exemplo – ou não tem
vida porque a perdeu – um animal morto –. Por outra parte também experimen-
tamos algo comum que existe entre o vivo e o morto, e isso comum é o material.
Deve existir algo mais que somente matéria para poder explicar a vida. E esse
"algo mais", esse outro que não está nos seres mortos, o chamamos alma ou
espírito.
Isso que foi colocado tem alguns pressupostos. Por um lado, devemos experi-
mentar a diferença entre o vivo e o morto, isto é, devemos ver uma heterogenei-
dade no real, uma diferença radial entre estar vivo e estar morto.
Isto significa que "esses 21 gramas", que diferenciam um ser vivo de um morto
não pertencem à mesma hierarquia que o material. Seja como for, imaginemos
como imaginemos, o que chamamos alma é o que dá sentido a essa matéria,
sem a qual a matéria dissolve-se nos diferentes elementos que a compõem. Ou
para dizer de outra maneira, quando a alma se vai da carne, esta se torna corpo
e os elementos que a compõem retornam a suas formas primitivas, o úmido do
corpo volta a ser líquido, e se evapora, por exemplo.
O outro pressuposto é que essa teoria da alma não deve ser uma solução por
ignorância, isto é, não devemos dizer "espírito" onde a ciência biológica diz "ain-
da não sei".
A Antropologia filosófica, neste caso enquanto psicologia ou estudo da alma,
deve se esforçar em dialogar com as ciências biológicas, tanto para a superação
do esquema cartesiano de res cogitans / res extensa, como para a superação do
esquema ciências do espírito/ciências da natureza.
Assim, podemos dizer que existe uma alma ou espírito que anima, isto é, dá
vida a uma matéria, fazendo com que passe de corpo a carne. Temos usado
indistintamente o termo alma como o termo espírito, porém, cabe fazer algumas
distinções. Neste livro de antropologia preferimos usar a palavra "espírito" mais
que "alma", porque este termo nos permite mostrar o mais propriamente huma-
no, em comparação com os outros seres viventes e, por outro lado, nos leva a
pensar algo mais que humano.
Os usos da palavra espírito.
A palavra "espírito" chega a nossos ouvidos com um som de divindade. Um dos
usos desse termo é o religioso. Espírito é uma das pessoas da trindade. Assim,
então, quando usamos essa palavra no que diz respeito ao homem, teremos que
assinalar que algo dele é divino, que alguma participação tem com a natureza
de Deus.
O segundo uso desta palavra já não é no singular, mas, sim, no plural. Falamos
de "os espíritos" para nos referirmos à realidade demoníaca, isto é, realidades
que fazem de nexo entre os deuses e os homens. Assim se entende o demônio
de que falava a Sócrates e que lhe aconselhava o que não fazer, ou a caracteri-
zação que faz Platão do amor no Banquete. O espírito como demônio é um poder
capaz de unificar as diferentes forças da alma humana dando-lhe um sentido,
uma orientação superior.
Na história do pensamento o termo "gênio" se aplica à pessoa que é muito in-
teligente, com o qual vemos que o espiritual é referido diretamente ao racional
não tanto ao afetivo. Porém, "gênio" se aplica também à pessoa que se destaca
sobre o comum, àquele que tem certo carisma que o torna atrativo aos demais,
ou, em outras palavras, é um ídolo para os demais. Tanto demônio como gênio
têm a capacidade de colocar o homem além de seus limites. Então podemos di-
zer que o demônio e o gênio possuem a característica de propor uma forma nova
de atuar, rompem com a rotina e anunciam algo novo, aí está a genialidade – por
sua novidade – seja inicialmente rejeitada, mal compreendida.
O terceiro uso da palavra espírito se aplica à atitude que tomamos perante as
dificuldades. Assim, dizemos que um ancião tem espírito quando apesar da idade
e das enfermidades tem uma visão otimista das coisas, ou também o usamos
126 © Antropologia, Ética e Cultura
Da Alma
Anteriormente dizemos que preferíamos o uso do termo "espírito" para falar da-
quilo que dá vida, que vivifica. Porém, agora cabe fazer uma aclaração. Na his-
tória da Antropologia, os autores têm oscilado entre dois modelos de constituição
do homem: o bipartido ou o tripartido.
O modelo bipartido é aquele que diz que o homem está composto de corpo e
alma. Então são dois os princípios essenciais do homem. Este modelo tem a
vantagem de ser simples – dentro do que se pode tratar aqui de simples – e ter
uma valorização positiva do corpo. Ainda que a simplicidade do modelo tenha
como desvantagem dificultar a visão espiritual da alma.
É por isso que alguns autores adotaram o modelo tripartido. Segundo esse mo-
delo, o homem está composto de corpo, alma e espírito (PLATÃO, República). O
homem tem assim um princípio vital, que é a alma, e que tem como função ani-
mar o corpo, porém, tem também o espírito, que se distancia do material e é onde
propriamente o humano mora. Vemos então como esse modelo tem a vantagem
de dar uma característica espiritual ao homem e claramente uma dimensão que
entra em comunhão com o transcendente; porém, tem como desvantagem des-
considerar o carnal, dado que o humano tende, como já dizemos, a localizar-se
no espiritual. A outra vantagem que possui esse modelo é que permite um trata-
mento da alma como realidade independente do espírito e, portanto, o que afeta
a um não afeta ao outro. Porém, essa vantagem se transforma em problema:
deixa muito comprometida a unidade do homem.
Essa definição de alma explicita ou dá razão à primeira definição, quando nos diz
que o princípio das operações, porque é ato primeiro, é a forma substancial do
vivente. Porém, cabe ainda uma terceira definição, e é a seguinte: "A alma é de
algum modo todas as coisas" (ARISTÓTELES, Da alma).
Enquanto que na segunda definição a alma se fecha na carne, se oculta ao
dar vida à matéria e, portanto, se limita a essa carne, a esses ossos, esta nova
definição nos mostra que a alma é infinita, isto é, está aberta a todo o real (SAN-
TO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica). A alma, então, tem uma capacidade
de infinitude enquanto pode receber, pode hospedar inclusive ao mesmo tempo
Deus, por isso se fala do homem como "capax Dei", está aberta ao absoluto.
Porém, essa infinita abertura da alma, que a constitui em alma espiritual, envolve um
risco, envolve o drama da alma. Porque enquanto é infinita, a alma pode se perder,
pode não encontrar seu sentido e cair em desespero. Seguindo Kierkegaard, podemos
dizer que o desesperado é aquele que não é o que é, e é o que não é. O desespe-
rado aparece como aquele que, graças a essa capacidade de ser tudo, não é nada
(KIERKERGAARD, Tratado da desesperação). Vai de um lado para o outro, sem lugar
próprio, sem destino fixo. Assim, a infinitude da alma pode ser seu fundamento, porém
também seu abismo. (ETCHEBEHERE, 2008, p. 47-52, tradução nossa).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Sobre esse tema, você, além de outras obras, pode ler o Capítulo
2, intitulado "A vida", da obra O homem que é ele?, de B. Mondin.
Espírito
Gevaert (1995) explica que o termo "espírito" é um termo
"complicado" por ser vago e impreciso. Muitas vezes, expressa
um fenômeno vital concreto: hálito, e, outras vezes, um princípio
exclusivamente humano: atman, pneuma, spíritus etc. No nível
filosófico-antropológico, esse termo é empregado para simbolizar
aquilo que é humano e que não pode ser reduzido a fenômenos
materiais definidos pela causalidade ou pela realidade espaçotem-
poral.
Como explica Royce (apud GEVAERT 1995, p. 140): "Denomi-
na-se espiritual o sujeito que pode atuar sem depender intrinseca-
mente da matéria. O espiritual não inclui uma dependência extrín-
seca da matéria e sim intrínseca". Indica que a pessoa humana não
pode ser compreendida unicamente desde a dimensão material
por ser tanto material quanto espiritual.
Sabemos que o espírito é a dimensão constitutiva que dife-
rencia o humano do resto da criação. O espiritual é a dimensão
Corpo
O corpo, assim como o espírito, não é um sistema comple-
to. Ambos, corpo e espírito, formam partes, como subsistemas de
uma estrutura superior: a pessoa humana. Sobre o corpo, pode-
mos destacar as seguintes concepções:
1) O corpo coloca a pessoa dentro dos organismos vivos;
existimos como corpo.
7. HOMINIZAÇÃO
O termo "homem", ou hominis, não indica somente um
grau diferente dentro da escala zoológica; ele sugere alguma coisa
mais. Quando se pensa o homem, um dos questionamentos mais
comuns é: "de onde ele surge?".
Sabemos que, pela reprodução sexuada, herdamos de nos-
sos pais o quadro cromossômico. Dessa união, surge um novo ser,
que, produto da gestação, vai ter uma carga genética dos pais e,
também, vai ser um novo eu. Mas por que "novo eu"? Porque esse
sujeito que espreita o mundo é uma figura nova, com uma reali-
dade própria. Como os seus pais, esse novo eu vai possuir uma
existência particular, unitária, intransferível e indivisível. Esse ser
humano é, portanto, único.
136 © Antropologia, Ética e Cultura
Natureza do homem
O homem tem uma natureza que é universal a todos os homens.
Entretanto, ele não é uma realidade estática, pois o homem concreto
é um ser dinâmico que forja sua personalidade na existência.
A inteligência instrumental, ou seja, o uso do pensamento
como instrumento, não é particular do homem, afinal, ela é co-
mum a todos os primatas superiores. O que é propriamente huma-
no é a capacidade de individualizar as coisas como meio para satis-
fazer necessidades e perceber as essências dos entes, das coisas.
Uma vez que o homem é o único ser que possui essa capacidade,
ele se sente um ente separado da natureza.
O homem é um animal, mas, diferentemente dos outros
animais, não se sente produto da evolução da vida e não se sen-
te somente natureza. Biólogos, como Portmann e Gehlen (apud
FRANKL, 2003), afirmam que o homem não tem um lugar definido
dentro da natureza e não possui um desenvolvimento orgânico de-
terminado. Ele é livre diante do meio.
A pergunta que se refere ao nascimento da espécie humana
tem, hoje, respostas controversas. A maioria das informações
8. PARALELISMO "PSICOFÍSICO"
A Antropologia Filosófica apoia-se no princípio de que há, no
homem, uma unidade vital, uma unidade ontológica que envolve
o corpo e a psique. Como seres humanos, possuímos o eu, que nos
confere identidade. O eu é o nome do comando interno que uni-
fica, a partir do centro da pessoa, as ações dos extratos biológico,
psicológico e espiritual. O eu converte a vida psicofísica numa vida
de caráter espiritual e, portanto, única.
Como se produz essa relação denominada paralelismo psico-
físico? Há duas correntes principais de interpretação do denomi-
nado paralelismo psicofísico. Observe:
• A primeira diz que a consciência (portanto, o espírito) não
passa de um epifenômeno, trocando o paralelismo por
uma reação de causa-efeito. Nessa concepção, tudo de-
pende do aparato psíquico e a causa radica na estimu-
lação do sistema nervoso. Tudo é explicado a partir da
matéria. O comportamento espiritual é, desse modo, re-
sultado do cérebro.
• A outra admite um estreito paralelismo entre o sistema
nervoso e o espírito. O corpo físico diferencia-se da ati-
vidade espiritual da mesma forma que o espírito se di-
ferencia do aparelho psíquico. Cada um tem caracteres
próprios. São, por isso, protofenômenos.
As duas interpretações gerais apresentadas vêm desde a filo-
sofia grega primitiva. No princípio, os gregos pensavam a alma como
forma do corpo e, mais tarde, começam as doutrinas espiritualistas.
Santo Agostinho e, anteriormente, Platão, concebem uma
alma incorpórea. Já Demócrito, Epicuro e os estoicos (pais do ma-
terialismo) reconhecem a alma como composta por átomos.
9. SUJEITO
Já explicamos que as principais questões sobre a existência
humana giram em torno da existência pessoal, o núcleo que sus-
tenta a existência (o ego, o eu). Esses termos mostram o atributo
de unicidade que é característica do ser humano.
Na pessoa, há uma unidade, ou núcleo, que é comum a toda
pessoa humana. Porém, a pessoa de cada um não é uma máqui-
na fabricada em série, pois, como já mencionamos, cada pessoa é
única. Desse modo, o "eu" responde a certas características:
• O sujeito é único, não existem dois sujeitos com os mes-
mos atos humanos. Todos os atos psíquicos respondem a
um eu real e único.
• Também há uma coincidência entre o sujeito que pensa-
va anteriormente e o sujeito que pensa neste momento.
Há uma identidade histórica com o tempo. Eu pensava
ontem e eu penso hoje e, mesmo que meu pensamento
tenha pontos de vista diferente, sou eu quem mudou. No
conjunto ontológico, entretanto, a relação se mantém. O
eu é consciente de si mesmo e de sua atividade.
Surgimento da personalidade
O biólogo e filósofo Gelhen (apud CABADA, 1994) diz que
o homem, ao ser comparado, no plano biológico, com o animal,
é um "ser defeituoso", pois a cria que precisa de mais tempo de
cuidados para prosperar e para poder ser independente é a do ser
homem. Para esses defeitos, segundo o autor, há um antídoto: o
amor. Receber amor (ser amado) é fundamental para a criança que
aparece no mundo.
Segundo Cirulnik (2004), revelações baseadas em fatos em-
píricos têm demonstrado que a falta de amor na primeira idade
chega a comprometer não só o desenvolvimento da personalida-
de, mas também os aspectos fisiológico e biológico.
Observe que o homem não nasce com condições físicas e
existenciais prontas para estar no mundo. Ele nasce, por assim
dizer, com os alicerces prontos, e, a partir daí, da fundação, vai
erguer a estrutura do que vai ser a pessoa futura. Esse movimen-
to dependerá, em grande parte, do amor que recebe do outro.
Esse importante fato antropológico pode ser constatado nas obras
de pensadores, de biólogos, de psiquiatras etc. O homem é consi-
derado um "ser de carência" pelo biólogo Gehlen (apud CABADA,
1994); por isso, sua vida futura dependerá do modo que será rece-
bido pela família construtora – O termo construtora, empregado
por Gehlen (apud CABADA, 1994), tem seus antecedentes históri-
cos na Antiguidade greco-latina).
Nascimento sociológico
O homem é um ser essencialmente social. Logo depois do
nascimento, do parto que nos colocou fora do útero materno, con-
tinuamos dependendo de algo; não do útero, que teve a função de
auxiliar a mãe a "dar à luz", mas do cuidado de alguém. Essa de-
pendência pode ser traduzida como a necessidade de uma segun-
148 © Antropologia, Ética e Cultura
tica que, por sua vez, está apoiada em três graus diferentes de
abstração da realidade:
• Quando a inteligência percebe a realidade material por
meio da experiência sensível, abstrai o ser material (ou
ser móvel, na terminologia escolástica). Pertencem a essa
etapa o conhecimento empírico do ser e os conhecimen-
tos da Filosofia Natural.
• Ultrapassando o ser material da primeira abstração, fica
em evidência a dimensão de quantidade, como, por
exemplo, os conceitos matemáticos.
• Superando toda a materialidade do ser, a inteligência cap-
ta o ser enquanto ser. Essa terceira abstração é a que pos-
sibilita a percepção do bem.
Cultura
Sabemos que, onde existe o homem, existe a cultura. Todos
os homens tiveram, têm e terão uma cultura que os diferencia do
meio ambiente.
O homem não é só o sujeito de cultura, é, também, seu ob-
jeto. Ele, por exemplo, não come qualquer coisa, pois, pelo menos
em condições normais, aprende o que deve comer; por isso, entre
uma e outra cultura, os tipos de alimento podem variar. O homem
aprende, ainda, normas morais para poder viver em sociedade,
regras de boa conduta e de comportamento social, ofícios, cultu-
ra etc. A educabilidade é uma exigência ôntica, afinal, nascemos
inacabados, mas potencialmente perfeitos, embora necessitemos
aprender a desenvolver nossas potencialidades.
5) Você considera que o ser humano, para configurar sua personalidade, pre-
cisa das outras pessoas ou que, pelo contrário, por ser espiritual, ele é in-
dependente onticamente e todo o processo é de sua exclusiva responsabi-
lidade?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) d.
2) b.
3) c.
4) Resposta:
Para configurar sua personalidade, o ser humano precisa do suporte, ou seja,
da cooperação que as outras pessoas proporcionam.
16. CONSIDERAÇÕES
Ao longo desta unidade, levantamos o problema da diversidade
cultural e colocamos, como caminho de explicação, a necessidade de
investigar o homem, que é sujeito no processo da geração da cultura.
A Antropologia Filosófica trabalha com a concepção de que
todos os homens têm a mesma natureza. Então, por que existe
a pluralidade cultural? Os antropólogos culturais, para explicar
esse fato, desenvolveram diferentes teorias. Algumas delas são: o
evolucionismo, o funcionalismo, o estruturalismo etc. Como você
pôde notar, a Antropologia Filosófica focaliza essa realidade a par-
tir do homem como sujeito da cultura.
Assim, nas próximas unidades, vamos continuar a discussão
desses assuntos. Quando você estudar as propriedades essenciais
do ser humano (a liberdade, a historicidade e a dimensão trans-
17. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
SCHELER, M. A situação do homem no cosmos. Diferença essencial entre homem e
animal. Tradução Artur Morão. 2008. Disponível em: <http://www.lusosofia.net/textos/
scheler_max_dieferenca_entre_homem_e_animal.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2012.
1. OBJETIVOS
• Identificar os níveis ontológicos do ser humano e desen-
volver uma reflexão sobre as características ou dimensões
centrais da existência.
• Reconhecer a liberdade como um conceito intersubjetivo
e entender a estrutura de relação que é própria do ser
humano.
• Estabelecer debates sobre a importância da relação com
o outro.
2. CONTEÚDOS
• Liberdade da Vontade, característica central da existência
da pessoa humana.
158 © Antropologia, Ética e Cultura
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Sabemos que o homem tem como característica destacar-se do
meio. Como indivíduo, vive num meio humano sustentado pela cul-
tura, porém, como pessoa, distingue-se de tudo o que não é ele (e de
todos). No ser espiritual, podemos destacar duas capacidades princi-
pais: capacidade intelectual e vontade livre. Afirmar que a vontade é
livre no homem equivale a afirmar que ele possui um princípio que
lhe possibilita levar adiante o seu projeto de vida de forma autônoma.
Alteridade
A categoria alteridade permite descrever uma das dimen-
sões essenciais do ser humano; sua necessária vinculação com os
outros "eus". O homem não é um ser fechado em si mesmo. Se ele
se fecha, desaparece, já que em seu constitutivo o ser humano é
um ser aberto à sociabilidade e a comunidade.
O ser humano necessita de comunicar-se com o outro e tam-
bém de ter contato com o mundo. Sua finitude e sua dificuldade
para compreender a multiplicidade da verdade o obrigam ao diálo-
go ao intercâmbio. Para um homem só, a tarefa de desenvolver as
ciências seria fantástica, como seria fantástico educar a consciên-
cia moral sem uma orientação, sem acompanhamento.
Lévinas alerta para o fato de que a singularidade do outro,
sua liberdade, nunca deve perder-se nem deve ser desrespeitada,
nunca devo pretender dispor do outro:
O absolutamente Outro é Outrem; não faz número comigo. A cole-
tividade em que eu digo "tu" ou "nós" não é um plural de "eu". Eu e
tu, não são indivíduos de um conceito comum. Nem a posse, nem a
unidade do número, nem a unidade do conceito me ligam a outrem
[...]. Ausência de pátria comum que faz do Outro – O Estrangeiro
que o perturba em sua casa. Mas o Estrangeiro quer dizer também
o livre. Sobre ele não tenho poder, porquanto escapa ao meu domí-
nio num aspecto essencial, mesmo que eu disponha dele: é que ele
não está inteiramente no meu lugar. Mas eu, que não tenho concei-
to comum com o Estrangeiro, sou tal como ele, sem gênero. Somos
o Mesmo e o Outro. A conjunção e não indica aqui nem adição,
nem poder de um termo sobre outro (LÉVINAS, 2008, p. 25-26).
Unicidade
Quando você estuda os delineamentos da Antropologia Filo-
sófica, lê, com frequência, definições como esta: a pessoa é "subs-
tância", uma substância concreta que existe em si mesma. O que
significa dizer, pois, que a pessoa é uma substância?
6. LIBERDADE
Por nossa condição espiritual, somos seres dotados de liberdade.
[...] a propriedade de um ser espiritual é sua independência, liber-
dade ou autonomia essencial perante os contratempos e pressão
do orgânico da vida [...]. Tal ser espiritual não está limitado pelos
impulsos e o meio, é aberto ao mundo (SAHAGUN 996, p. 146).
entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que
faz. O existencialismo não acredita no poder da paixão. Ele jamais admitirá que
uma bela paixão é uma corrente devastadora que conduz o homem, fatalmente,
a determinados atos, e que, conseqüentemente, é uma desculpa. Ele considera
que o homem é responsável por sua paixão. O existencialista não pensará nun-
ca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o
oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem quem decifra o sinal
como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio e sem ajuda, está
condenado a inventar o homem a cada instante. Ponge escreveu, num belíssimo
artigo: "O homem é o futuro do homem" (SARTRE, 2011, p. 6).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vamos continuar analisando o que é liberdade para enten-
der plenamente essa passagem.
Deus criou-nos livres, mas não nos deixou sós: Ele mesmo se fez
'caminho' e veio caminhar conosco, para que a nossa liberdade te-
nha também um critério para discernir a estrada certa para percor-
rer (BENTO XVI, 2008)
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Porque estamos no mundo e porque realizamos nosso projeto pessoal nele so-
mos movimentados por impulsos que, segundo Jung (2005), são produto de mi-
lhões de anos de evolução. Baseado nesse postulado, esse psicólogo descreve
o problema do "inconsciente coletivo", o que define como "o sedimento da expe-
riência universal de todos os tempos, é portanto uma imagem de mundo que se
formou há muitos anos (eocenos)". Imagens depositadas no cérebro sobre dife-
rentes acontecimentos psíquicos nos impulsionam a ter prejuízos, medos e, até,
alguma forma de angústia. Por outro lado, somos motivados por sentimentos e
paixões que, muitas vezes, desafiam o pensamento lógico, a razão. Em algumas
pessoas, esses componentes psíquicos impossibilitam o desenvolvimento e não
lhes permite atuar livremente. Nessa mesma ordem estão as necessidades cor-
porais que o homem precisa satisfazer para sobreviver. Mas esse conjunto de ca-
racterísticas é só uma pequena parcela das motivações humanas, a pessoa não
se aquieta como o felino depois de ter comido e bebido, suas necessidades são
essas e outras, o objeto convida constantemente o homem a descobrir coisas
novas, os bens particulares estão sempre despertando algum grau de interesse,
um livro, um poema, a visão da pessoa amada, compaixão, autossuperação,
são o combustível que impulsionam a vontade em direção a um objetivo. Tam-
bém não é uma verdade absoluta que todo objeto externo leve o homem para o
caminho da constante superação. Na sociedade tecnológica contemporânea a
pessoa é estimulada ao consumo, à voracidade, ao sexo, ao individualismo, a ter
e a possuir. Esses estímulos são veiculados pelos meios de difusão, TV, revistas,
cinema etc., são provocados pela propaganda e promovem uma atitude passiva,
levam à massificação, à perda da individualidade etc., desembocam em estados
de ânimo que têm como consequência o tédio, a falta de sentido e, como diz V.
7. HISTORICIDADE
Você percebeu por que o ser humano é diferente dos ou-
tros seres da natureza? Seu comportamento é outro. Enquanto os
animais se ajustam ao conjunto da natureza, o ser humano sente
necessidade de construir acima do natural. Para satisfazer essa ne-
cessidade, ele parte da cultura que herda de seus antecessores.
O homem é o ser que sempre está a caminho, entende sua
existência em termos de "progresso".
Com base nessa particularidade humana, a Antropologia
Filosófica conclui que o homem atua assumindo o passado para
construir o presente, tendo em vista uma realização futura. A esse
processo de tempo humano, os antropólogos denominam histori-
cidade (LUCAS, 1996, p. 219). A historicidade é uma propriedade
humana que:
Depende da liberdade, da comunidade humana e da cultura.
É dinâmica, por estar motivada pela dimensão de liberdade.
Abarca o passado, o presente e o porvir.
Tem um significado oposto ao historicismo.
Precisa partir – essa historicidade da existência – do humanismo
herdado do passado para se dirigir a um futuro que esteja aberto
à liberdade.
8. COMUNICAÇÃO
O homem é um ser no mundo, possui um corpo biológico
que o sujeita ao mundo físico e, por ser no mundo, precisa das
coisas e das outras pessoas para realizar seu projeto pessoal.
No mundo, o "eu" está sempre em comunicação com os ou-
tros "eus", seu corpo serve para se comunicar. A comunicação é
a característica que possibilita ao homem atravessar com êxito a
existência.
Palavra
O homem expressa-se por ser um ser social, porque vive
numa comunidade. O homem é constitutivamente um ser de lin-
guagem.
Na palavra utilizada, estão comprometidas tanto a dimen-
são espiritual como a física, porque a palavra é a exteriorização do
conceito ou da ideia. Não chegaria a ser palavra propriamente se
não existisse um pensamento que a legitimasse e uma condição
física que a divulgasse.
Valor e sentido
Os valores espirituais são aqueles que, tendo uma base me-
tafísica, estão referidos à realidade; ao brilharem nos objetos reais,
fazem-se presentes, cativam nossa atenção. Uma relação pessoal,
a programação de uma ação, a intervenção racional na natureza,
escolher algo para comer ou beber, cada situação existencial está
180 © Antropologia, Ética e Cultura
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Como o sentido e o valor são coisas afins, a possessão do valor pode aliviar o
homem na hora de ter que procurar o sentido de cada situação. Se eu me oriento
pelos valores universalmente aceitos, vou transitar, por concomitância, pela linha
do sentido, sempre que não aconteça um conflito de valores. Os mandamentos
são valores universalmente aceitos. Se, em cada ocorrência, eu os coloco em
prática, estou atuando com sentido; se eu roubar ou matar ou trair para conse-
guir um fim, estou realizando uma ação sem sentido. Agora, se faço isso para
defender minha vida ante uma injustiça, o sentido muda, porque a vida é o valor
principal.
Devemos destacar que os mandamentos "eram" valores universais na época
de Abraão, mas, hoje, possivelmente, é necessário complementá-los. O homem
moderno descobriu que há novas dimensões existenciais, novas realidades, o
trânsito por elas é "novidade" e, portanto, sem antecedentes. Mesmo assim,
devemos aceitar que não estão defasados: posso, perfeitamente, orientar meu
comportamento pelos mandamentos e, sem dúvida, estaria levando adiante a
existência com sentido. Isso é possível porque há uma relação entre realização
existente, sentido e valor. Lembremos que, sempre que as ações de sentido
saem do particular para o universal, convertem-se em valor.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O mito de Er––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A verdade que o que te vou narrar não é um conto de Alcínoo, mas de um homem
valente, Er, o Arménio. [...]
"A virgem Láquesis, filha da Necessidade, declara: Almas efêmeras, vais come-
çar outra vida de caráter transitório, entrarás em um novo corpo mortal humano.
Não é um demônio que vos escolherá, mas vós que escolhereis o demônio. O
primeiro a quem a sorte couber será o primeiro a escolher uma vida a que ficará
ligado pela Necessidade. Mas a virtude não tem dono, cada um poderá tê-la em
maior ou menor grau, conforme a honrar ou desonrar. A responsabilidade é de
"Assim que todas as almas escolheram as suas vidas, avançaram, pela ordem
da sorte que lhes coubera, para junto de Láquesis. Esta mandava a cada uma
o demônio que preferira para guardar a sua existência e fazer cumprir o destino
que escolhera". (PLATÃO, República, Livro X, p. 614-620)
A eleição do tipo de vida é, como diz Platão, o momento crítico para o homem,
tanto que nesse momento coloca em jogo seu destino. "Não será um demônio
quem escolhe, e sim você quem escolherá o demônio". Isto é, não é uma força
cega quem nos dirige e sim nós próprios, por intermédio de nossas ações, que
vamos configurando nosso caráter, moldando nosso demônio.
(ETCHEBEHERE, 2008, p. 138-142, tradução nossa).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ante a exigência de escolher nossa vida, Platão orienta a pro-
curar um conhecimento que nos permita discernir entre uma vida
que é boa e aquela que não é.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) c.
2) d.
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde aprender sobre as características
centrais da existência, sobre a radical liberdade do homem e a es-
trutura que o compõe. Além disso, pôde constatar a importância
do "tu" no desenvolvimento da personalidade, ou seja, a impor-
tância do outro.
12. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
Bento XVI. Homilia na festa do Corpo de Deus, 22.5.2008. Disponível em: <http://noticias.
cancaonova.com/noticia.php?id=260781>. Acesso em 12 jan. 2012.
FRANK, V. Obras. Disponível em: <http://www.centroviktorfrankl.com.ar/bibliografia.
html>. Acesso em: 12 jan. 2012.
SARTRE, J-P. O existencialismo é um humanismo. Disponível em: <http://www.
diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/sugestao_leitura/
filosofia/texto_pdf/existencialismo.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2012.
6
Prof. Dr. Mariano Antonio Sehnem
1. OBJETIVOS
• Identificar que o tema da Bioética ultrapassa a sua dimen-
são científica e médica.
• Reconhecer a complexidade que envolve Bioética e inter-
disciplinaridade e procurar construir caminhos de diálogo
e de convergência.
• Analisar o ponto de partida da Bioética moderna, bem
como a Bioética e suas principais fronteiras epistemoló-
gicas.
2. CONTEÚDOS
• Ponto de partida da Bioética moderna.
• Bioética e interdisciplinaridade.
• Bioética e suas fronteiras epistemológicas.
192 © Antropologia, Ética e Cultura
Edgar Morin
Edgar Morin nasceu em 1921 e, em 1970, fundou, em Paris, o
Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares.
Para ele, a concepção holística não é apenas a somatória de to-
das as coisas, mas, mais do que isso, é uma integração, ou seja,
todas as coisas estão profundamente interligadas entre si (Gran-
de Enciclopédia Larousse Cultural). Edgar Morin: disponível em:
<http://www.ehess.fr/centres/cetsah/IMAGES/CarolineCuello.
jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Jean Bernard
Jean Bernard é professor da Faculdade de Medicina de Paris,
Diretor do Instituto Francês de Investigação sobre a Leucemia e
as doenças de sangue, membro da Academia Francesa, mem-
bro da Academia Nacional de Medicina e Presidente honorário do
Comitê Consultivo Nacional para as Ciências da Vida e da Saú-
de. Escreveu, dentre inúmeras obras, A Bioética. Lisboa: Institu-
to Piaget, 1993 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Jean
Bernard: disponível em: <http://ams.astro.univie.ac.at/~nendwich/Science/SoFi/
portrait.gif>. Acesso em: 4 set. 2010.
Immanuel Kant
Immanuel Kant (1724-1804) foi um importante filósofo alemão.
Em 1781, publicou Crítica da razão pura; em 1785, Fundamentos
da metafísica dos costumes, e, em 1788, escreveu Crítica da razão
prática, obra em que o autor remete a razão ao centro do mundo
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Immanuel Kant: dispo-
nível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2f/
Immanuel_Kant_2.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Baruch Spinoza
Baruch Spinoza (1632-1677) foi um filósofo holandês. Entrou em
contato com Galileu e o pensamento renascentista de Giordano
Bruno e, depois, foi influenciado por Descartes. Publicou: Princí-
pios da filosofia de Descartes (1663) e Tratado teológico-político
em 1670 (Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Baruch Spino-
za: disponível em: <http://philosophy.tamu.edu/~sdaniel/Images/
spinoza1.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
Hans Küng
Hans Küng nasceu na Suíça em 1928. Em 1962, foi nomeado
pelo Papa João XXIII peritus, ou seja, consultor teológico para
o Concílio Vaticano II. Em 1996, tornou-se presidente da Fun-
dação de Ética Global em Tübengen. Tem uma vasta produção
com destaque para: Igreja católica (2001), As religiões do mun-
do (2004), Teologia a caminho: fundamentação para o diálo-
go ecumênico (1999), e O princípio de todas as coisas (2007)
(Grande Enciclopédia Larousse Cultural). Hans Küng: disponível em: <http://
fratresinunum.files.wordpress.com/2009/02/kung.jpg>. Acesso em: 4 set. 2010.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Vamos prosseguir nossa caminhada com relação ao estudo
introdutório da Bioética.
Desde o início, deixamos claro que há uma relação estreita
da Ética com a sociedade, e uma relação mais íntima da Ética com
a Bioética, uma vez que elas se complementam.
Em seguida, abordamos alguns aspectos históricos evoluti-
vos da Bioética.
Acabamos de analisar, na unidade anterior, alguns conceitos
e princípios que fundamentam e dão sustentação à Bioética como
um novo campo do saber.
O nosso desafio, agora, é mergulhar mais a fundo na Bioética
propriamente dita e verificar toda a complexidade que é entender
o ser humano vivendo em grupo, em sociedade e quais as dificul-
dades daí decorrentes.
194 © Antropologia, Ética e Cultura
6. BIOÉTICA E INTERDISCIPLINARIDADE
Falar das “fronteiras” da Bioética é uma tarefa bastante com-
plicada, porque envolve a compreensão dos paradigmas e das in-
ter-relações da epistemologia, isto é, envolve o ser humano, que é
o ser mais complexo do planeta Terra.
196 © Antropologia, Ética e Cultura
Leitura Complementar–––––––––––––––––––––––––––––––––
O global é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de
modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais
de um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. O planeta Terra é
mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e desorganiza-
dor de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são
encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas
qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições pro-
venientes do todo. Marcel Mauss dizia: “É preciso recompor o todo”. É preciso
efetivamente recompor o todo para conhecer as partes (MORIN, 2002, p. 37).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
2) Potter dedicou sua vida inteira para fortalecer e cons-
truir caminhos para que a Bioética se transformasse
num projeto de vida para todos os seres humanos que
habitam o planeta Terra, fato que ainda está muito dis-
tante de acontecer.
Pesquise na mídia uma matéria jornalística que conte-
nha preconceito, xenofobia ou algum tipo de discrimi-
nação religiosa, sexual, étnica, ideológica ou de gênero.
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de conhecer o pon-
to de partida da Bioética moderna, bem como os temas relacio-
208 © Antropologia, Ética e Cultura
7
Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanos Piva
Prof. Juan Antonio Acha
1. OBJETIVOS
• Entender o cerne da reflexão ética na perspectiva filosó-
fica.
• Apreender a natureza, o objeto e o campo semântico da
Ética e da moral.
• Compreender a relação que o aspecto moral tem com a
liberdade humana.
• Dotar de uma ideia adequada o que é um valor moral.
• Entender a presença iniludível de regras morais no seio
da sociedade.
• Compreender por que as normas morais são de caráter
obrigatório.
210 © Antropologia, Ética e Cultura
2. CONTEÚDOS
• A Ética no âmbito das disciplinas filosóficas.
• Razão prática e Ética.
• Análise dos termos "moral", "moralidade", "ética".
• Diversidade de concepções morais e éticas.
• Campo da Ética e campo da moral.
• Conceitos fundamentais da Ética: o ser humano, razão,
história, liberdade.
• Ética e religião: os grandes princípios éticos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como vimos na primeira unidade, quando analisamos as di-
ferentes doutrinas éticas da Antiguidade, a Ética é uma reflexão
sobre a conduta humana considerando seus dois aspectos: parti-
cular ou subjetivo e social ou objetivo. A dimensão subjetiva cor-
responde à noção grega de "êthos", forma de ser da pessoa, tra-
duzida por “caráter", enquanto a parte dos costumes e hábitos, o
que tem como desencadeador o social, corresponde ao conceito
de “ethos", traduzido como “o que vem da casa", “o que surge dos
212 © Antropologia, Ética e Cultura
5. MORAL
Schopenhauer diz que instituir moral é simples, o difícil é funda-
mentá-la. E Wittgenstein acrescenta, instituir moral é simples,
fundamentá-la impossível.
Atos morais
Os atos morais são atos essencialmente humanos. Neles dis-
tinguimos três elementos: objeto, fim e circunstâncias.
São motivados por uma eleição relacionada com a pergunta
“por quê?", sucedida pela indagação “para quê?", relacionada à
finalidade do referido ato. A consciência das possíveis consequên-
cias de nossos atos é importante para a valoração moral. Os atos
morais devem ser realizados de forma voluntária, podendo esco-
lher realizá-los ou não.
220 © Antropologia, Ética e Cultura
Figura 2 Têmis, divindade grega responsável por definir a justiça, no sentido moral
Moral e religião
Toda crença religiosa leva, implícita, uma determinada con-
cepção moral e uma visão de mundo ou cosmovisão. As grandes
religiões, como o Cristianismo, Budismo e Islamismo, possuem
um corpo doutrinar moral, em geral muito bem elaborado, que o
crente deve observar para orientar suas ações. Nele detalham-se
valores, objetivos, normas e virtudes que servirão para orientar a
ação. Entretanto, a religião não compreende só um código moral;
é uma forma de relacionar-se com o transcendente e ordenador.
A obrigatoriedade moral
A realização da moral é um fato individual, porém a moral
responde aos interesses da sociedade, formada pelos indivíduos e
sua vida econômica, política, espiritual e social.
222 © Antropologia, Ética e Cultura
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Chegamos ao final desta unidade. Sugerimos que você pro-
cure analisar, responder e comentar as questões a seguir, que tra-
tam da temática aqui desenvolvida, ou seja, dos problemas éticos
e dos problemas morais da vida cotidiana.
1) Com base nos conteúdos desta unidade e nos conhecimentos sobre a rela-
ção entre Ética e moral, analise se é correto afirmar que:
Os problemas éticos são caracterizados pela generalidade. Seria inútil recorrer
à Ética para encontrar uma norma de ação para uma situação concreta. A ética
vai ajudar na análise do comportamento pautado por normas, que consiste o
fim do comportamento moral.
Resposta:______________________________.
Gabarito
4) c.
8. CONSIDERAÇÕES
É comum na Filosofia encontrarmos correntes de pensa-
mento que embaraçam o significado dos termos “ética" e “moral"
por partirem eles de uma mesma fonte, o “ethos". Essa posição
é muito discutida porque as funções dos dois saberes são bem
diferenciadas: a Ética consiste fundamentalmente numa reflexão
filosófica sobre a moral, enquanto a esta última competem as nor-
mas e códigos que regulam o comportamento dos indivíduos em
sociedade.
Moral e Ética respondem a diferentes questionamentos, já
que a moral tem relação com os códigos que versam sobre a ação
do indivíduo na sociedade e opera ante o questionamento: o que
devo fazer perante determinada situação concreta? Enquanto isso,
a Ética atua num nível teórico, tratando de responder a perguntas
226 © Antropologia, Ética e Cultura
9. E-REFERÊNCIAS
Lista de Figuras
Figura 1 Astreia, divindade que difundia entre os homens sentimentos de justiça e de
virtude. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliot
ecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=astreia>. Acesso em: 26 abr. 2013.
Figura 2 Têmis, divindade grega responsável por definir a justiça, no sentido moral.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliotecaCons
ultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=temis>. Acesso em: 26 abr. 2013.
Figura 3 O anel de Giges. Disponível em: <http://www.outonos.com.br/filosofia.asp>.
Acesso em: 26 abr. 2013.
Sites pesquisados
ARISTÓTELES. Moral. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/bk000424.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2013.
BOFF, L. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. Disponível
em: <http://pt.scribd.com/doc/89815308/Etica-e-moral-a-busca-dos-fundamentos>
Acesso em 26 abr. de 2013.
______. Saber cuidar: Ética do humano. Disponível em: <http://cursa.ihmc.us/
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JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Veritatis Splendor. Disponível em: <http://www.
rainhamaria.com.br/Pagina/193/CARTA-ENCICLICA-VERITATIS-SPLENDOR>. Acesso em:
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RICOEUR, P. Ética e Moral. Tradução de António Campelo Amaral. Covilhã: Universidade
da Beira Interior, 2011. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/
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SANTOS, A. L. Para uma Ética do como se. Contingência e Liberdade em Aristóteles e Kant.
Convilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. Disponível em: <http://www.lusosofia.
net/textos/santos_ana_leonor_para_uma_etica_do_como_se.pdf>. Acesso em: 26 abr.
2013.
8
Prof. Artieres Estevão Romeiro
Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanos Piva
Objetivos
• Entender a relação existente entre educação e cultura.
• Analisar a dimensão de interioridade da cultura pessoal.
• Pensar e entender que a cultura brota do espírito do ho-
mem e que ele também é o destinatário da cultura.
• Compreender que a pergunta: “o que é o homem?” de-
penderá a configuração da cultura.
Conteúdos programáticos
• Conceito de cultura.
• O homem ser cultural, determinado e determinante da
cultura.
230 © Antropologia, Ética e Cultura
1. INTRODUÇÃO
Nesta primeira unidade, iremos estudar uma das dimensões
centrais do projeto político pedagógico do Claretiano: o homem
ser cultural. Prepare-se para fazer uma viagem pessoal rumo à
compreensão de como o nosso projeto pedagógico se articula com
sua existência.
Esta disciplina não visa apenas transferir informações, mas
também quer favorecer uma compreensão integral do ser huma-
no, que deve ser refletida em todos os nossos processos educati-
vos e na vida de cada um.
O conhecimento é inerente a todo homem e mulher. Todos
desejam conhecer, descortinar e descobrir o mundo. Em nosso
dia-a-dia, buscamos informações sobre as coisas que nos rodeiam.
Conhecer é uma necessidade para o ser humano.
Contudo, dentre os objetos de estudo, há alguns que deve-
riam preceder todo conhecimento: tratam-se do conhecimento de
si e do conhecimento acerca do ser humano.
No Centro Universitário Claretiano, conhecer o ser huma-
no é uma necessidade primordial para que alcancemos o êxito de
nossa proposta educativa.
O educador Claretiano além de ser um estudioso, ou expert
em diversos conhecimentos deve ter expertise em ser humano.
Deve conhecer e amar a pessoa e ser capaz de conduzi-la, de for-
ma integral, ao processo educativo, formando-a para a vida.
3. CULTURA E EDUCAÇÃO
A educação é um elemento social que visa transmitir todo
patrimônio cultural desenvolvido pelas gerações anteriores. As-
sim, ao mesmo tempo em que repassa inúmeros conhecimentos,
promove a possibilidade de que cada indivíduo avance criando no-
vas nuances ou críticas à cultura.
Já a educação Claretiana visa à formação integral do homem,
de forma que, pela cultura e na cultura, cada indivíduo seja um ser
responsável, livre e autônomo, capaz de ser agente comprometido
com a vida e vida em abundância.
234 © Antropologia, Ética e Cultura
4. CONSIDERAÇÕES
Ao discutirmos cultura, devemos ter em mente a noção de
diversidade cultural, ou seja, o fato de que, diante da multiplicida-
de de povos e culturas, cada uma deve ser respeitada.
Observe que não se trata de propor uma ética de tolerância,
mas de compreender que existe uma multiplicidade dos produtos
e das relações culturais. Tolerar significa suportar aquilo de que
não se gosta.
Nossa discussão sobre cultura visa promover a compreensão
de que o ser humano é um valor em si. Ele carrega uma dignidade
natural independentemente da cultura a qual pertença.
Nossa comunidade educativa deve, portanto, ter uma con-
cepção ampla de cultura e aberta para acolher a pluralidade ou a
multiplicidade cultural do Brasil e do mundo.
Vale salientar que, em nosso cotidiano, já vislumbramos
exemplos significativos de promoção da vida e da cultura huma-
na com as interações entre professores, alunos e funcionários de
vários estados do Brasil, como é o caso de Rondônia, Goiás, Minas
Gerais, Paraná e Distrito Federal; além das parcerias e contatos
com comunidades educativas Claretianas da Argentina, do Chile e
da Colômbia: povos com culturas diferentes, porém unidos para a
promoção da educação de pessoas mais livres, fraternas e huma-
nas.
O princípio educativo do diálogo é o caminho que possibilita
uma compreensão ampla e abrangente de cultura.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica: ensaio sobre o homem. São Paulo: Mestre Jou,
1977.
______. Ensaio sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
EAGLETON, Terry. A idéia de cultura. São Paulo: Unesp, 2005.
FAETHERSTONE, Mike. O desmanche da cultura global. Globalização, pós-modernidade e
identidade. São Paulo: Studio Nobel, 1997.
GOMBRICH, Ernest Hans. Para uma história cultural. Lisboa: Gradiva, 1994.
JAMESON, Frederic. Estudios culturales: reflexiones sobre el multiculturalismo. Buenos
Aires: Paidòs, 1998.
LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
MONDIN, Battista. Definição filosófica da pessoa humana. Tradução de Ir. Jacinta Turolo
Garcia. Bauru: Edusc, 1998.
______. O homem, quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Paulus,
2005.
PROJETO EDUCATIVO CLARETIANO. Batatais: Claretiano, s/d.
RABUSKE, E. A. Antropologia filosófica. Petrópolis: Vozes, 2003.
6. E-REFERÊNCIAS
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com/watch?v=3JmQmHTrXaQ&feature=related>. Acesso em: 10 set. 2008.
Apêndice
PROJETO EDUCATIVO CLARETIANO
APRESENTAÇÃO
A vocação de serviço que caracteriza a Igreja e a torna soli-
dária com os problemas humanos inspirou os Missionários Clare-
tianos a preocuparem-se também com a realidade cultural que foi
tão marcante na vida de Santo Antônio Maria Claret, fundador da
Congregação dos Missionários Claretianos.
As instituições de Ensino Infantil, Fundamental e Médio da
Ação Educacional Claretiana: Colégio São José de Batatais, Colégio
Anglo Claretiano de Rio Claro e Colégio Claretiano de São Paulo,
juntamente com o Studium Theologicum de Curitiba, Centro Uni-
versitário Claretiano de Batatais e União das Faculdades Claretia-
nas de Rio Claro e São Paulo, foram criadas com um carisma pecu-
liar: anunciar a Palavra de Deus.
O serviço dessa Palavra abrange uma vasta área de ativida-
des, que, embora bem distintas, se unem em sua finalidade.
Uma dessas áreas é a Educação, promotora da dignidade da
pessoa humana e do seu desenvolvimento integral, segundo o de-
sígnio do Criador, e considerada verdadeira evangelização e objeto
de acurada ação pastoral.
A atividade educativa dos Missionários Claretianos, no Bra-
sil, sempre permaneceu atenta ao processo histórico da educação
em nossa pátria. Essa orientação educativa vem atualizando-se
para responder às situações e às realidades novas que surgiram.
Como consequência natural desse processo, a partir do ca-
risma claretiano, foi definida a “MISSÃO" das instituições educa-
tivas claretianas e elaborado o “PROJETO EDUCATIVO", que apre-
sentamos neste livreto a fim de transmitir aos alunos, aos pais, aos
CAPÍTULO I
SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET
Vida e Obra
O fundador da Congregação dos Missionários Claretianos e
patrono de nossas instituições de ensino nasceu em 23/12/1807,
em Sallent, Catalunha, Espanha, numa época de muitas mudan-
ças sociais, culturais, econômicas e políticas que afligiam o mundo
ocidental.
Claret, filho de uma família católica, formou-se nos ensina-
mentos cristãos e, desde criança, desejava ser missionário para
anunciar o Evangelho e a salvação a toda a humanidade.
Insistindo nessa ideia, sua mãe permitiu que estudasse la-
tim com um velho sarcedote. Quando este morreu, seu pai decidiu
238 © Antropologia, Ética e Cultura
CAPÍTULO II
A CONGREGAÇÃO DOS MISSIONÁRIOS FILHOS DO IMACULADO
CORAÇÃO DE MARIA
Missionários Claretianos
Uma das maiores obras da vida de Santo Antônio Maria Cla-
ret foi a fundação da Congregação dos Missionários Claretianos.
Claret, no seu ideal evangelizador e nas suas andanças missionárias
pela Espanha, pelas Ilhas Canárias e por outras regiões, percebeu
que poderia tornar o seu apostolado mais produtivo se conseguis-
se articular homens desejosos de proclamar a mensagem de Jesus
Cristo, unidos em torno de uma congregação de missionários.
Assim, no dia 16 de julho de 1849, na cidade espanhola de
Vic, na Catalunha, fundou, com mais cinco amigos sacerdotes, José
Xifré, Jaime Clotet, Manuel Vilaró, Domingos Fábregas e Estevão
Sala, a Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria,
conhecidos, posteriormente, como Missionários Claretianos.
240 © Antropologia, Ética e Cultura
CAPÍTULO III
IDENTIDADE DE UMA IES COMUNITÁRIA
O Claretiano, Centro Universitário Claretiano, identifica-se
como uma Instituição de Ensino Superior com espírito e postura
comunitários.
CAPÍTULO IV
A MISSÃO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO
A Missão do Centro Universitário Claretiano, inspirada nos
valores éticos e cristãos e no carisma claretiano, consiste em ca-
pacitar a pessoa humana para o exercício profissional e para o
compromisso com a vida mediante uma formação integral; Missão
essa que se caracteriza pela investigação da verdade, pelo ensino e
A MISSÃO
Entendemos por MISSÃO o princípio que está na origem de
nossos trabalhos e atividades, norteado pelo compromisso de as-
sumir a PASTORAL EDUCATIVA como um trabalho de evangeliza-
ção, já que "educar é um modo de ser, um modo de significar e um
modo de atuar em favor do crescimento do Reino" (BOCOS, 1999).
Por isso, nossa Missão, como instituição católica, é:
• garantir, de forma permanente e institucional, a presença da
mensagem de Cristo – luz dos povos, centro e fim da criação
e da História – no mundo científico e cultural, fomentando o
diálogo entre razão e fé, entre Evangelho e cultura;
• favorecer o encontro da Igreja com as ciências, as culturas e
os graves problemas de nosso tempo, ajudando-a a responder
adequadamente a esses desafios;
• consagrar-se sem reservas – pelo esforço da inteligência e à luz
da Revelação – à investigação livre, responsável, corajosa e ale-
gre da verdade sobre o universo, em todos os seus aspectos e
em seu nexo essencial com a Verdade suprema, Deus;
• contribuir para aprofundar o conhecimento do significado e o
valor da pessoa humana;
• dedicar-se ao ensino e a proclamação da verdade, valor funda-
mental, sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a dig-
nidade humana;
• fomentar o diálogo ecumênico e inter-religioso. (CNBB, 2000,
p. 13-14).
O exercício profissional
Queremos preparar pessoas íntegras que, optando por um
determinado segmento profissional, aceitem se submeter ao
aprendizado científico-técnico-humano para poder desempenhar
com eficiência, consistência e integridade as tarefas e obrigações
condizentes com o seu dom profissional e com a área que se pro-
põem a trabalhar.
Nesse sentido, a proposta pedagógica de nosso Centro Uni-
versitário:
buscará integrar o progresso acadêmico e profissional dos alunos
com o amadurecimento nas dimensões humana, religiosa, moral
e social, de modo que respeitada a convicção religiosa de cada um
– eles não só se tornem competentes no seu setor específico, a
serviço da sociedade, mas também líderes qualificados, decididos
a viver e testemunhar sua fé, na Igreja e no mundo. (CNBB, 2000,
p. 27).
A formação integral
O homem é um ser único, irrepetível, construído das dimen-
sões biológica, psicológica e social, unificadas pela dimensão espi-
ritual, que é o núcleo do ser-pessoa. Como pessoa, expressa seu
ser-espírito na liberdade, entendida como capacidade de afirma-
ção, apesar dos condicionamentos e das limitações que reforçam
sua responsabilidade na construção da própria existência, cuja ple-
nitude é alcançada pela superação de si e pela transcendência.
Assim, a pessoa é entendida e assumida como “ser em rela-
ção" e “ser de abertura" ao mundo, aos outros, a si mesmo e ao
Tu absoluto, Deus, que ilumina e dá sentido pleno à sua realidade
humana, e como ser criado por Deus, sentido último de sua exis-
tência, feito à sua imagem e semelhança. Em Jesus Cristo, Filho
de Deus, encarnado na história humana, o homem é chamado a
encontrar tudo o que deseja e procura.
A pessoa humana é um ser educável. Entendemos a educa-
ção como um processo de aperfeiçoamento intencional das dimen-
sões especificamente humanas e cristãs, portanto, um processo de
humanização e personalização.
CAPÍTULO V
PROJETO EDUCATIVO
Educação para a Justiça e o Amor
1. O HOMEM
1.1 O homem é um ser único, irrepetível, constituído das di-
mensões biológica, psicológica e social, unificadas pela di-
mensão espiritual, que é o núcleo do ser-pessoa.
1.2 Como pessoa, expressa seu ser-espírito na liberdade,
entendida como capacidade de afirmação, apesar dos con-
dicionamentos e das limitações que reforçam sua responsa-
bilidade na construção da própria existência, cuja plenitude
é alcançada pela superação de si mesmo e pela transcen-
dência.
2. SER EM RELAÇÃO
2.1 O ser humano apresenta-se numa relação múltipla de
abertura ao mundo, aos outros, a si mesmo e ao Tu absoluto,
Deus, que ilumina e dá sentido pleno à sua realidade huma-
na. Nesse relacionamento múltiplo, ele encontra o caminho
da liberdade e do crescimento, realizando-se ao assumir sua
missão cristã e política.
2.2 Empenhando-se com os outros na libertação de todos,
participando ativamente da vida do seu povo e tendo cons-
ciência de que é agente da história do seu povo e da sua
própria história particular, o homem constrói a própria liber-
dade.
2.3 Essa consciência histórica obriga-o a posicionar-se pe-
rante a realidade social concreta, intervindo para a mudança
das estruturas injustas e desumanas. Tendo consciência de
suas limitações, necessita do apoio e da comunhão de vida
com os seus semelhantes para sua própria realização.
252 © Antropologia, Ética e Cultura
3. CRIATURA
3.1 A esse ser humano, criado por Deus, feito à sua imagem
e semelhança, foi confiada a obra da criação.
3.2 Pela fé, o homem encontra em Deus o sentido último de
sua existência, a fonte da vida, da liberdade e do amor.
3.3 O homem, aceitando Deus como Pai, reconhece-se como
seu filho, irmão de Jesus Cristo, solidário com a humanida-
de na busca da construção do Reino que é Justiça, Verdade,
Comunhão.
3.4 Modelo perfeito de homem é Jesus Cristo, que viveu no
abandono incondicional ao Pai e no amor misericordioso e
compreensivo para com as pessoas. Nele, o homem encon-
tra tudo o que deseja e procura.
3.5 A Igreja é o prolongamento de Cristo na História. Essa
missão universal continua através dos tempos e, dela, somos
participantes e responsáveis.
4. UM SER EDUCÁVEL
4.1 Partindo desses pressupostos, a educação é entendida
como processo de aperfeiçoamento intencional das dimen-
sões especificamente humanas e cristãs, portanto, um pro-
cesso de humanização e personalização.
4.1.1 Processo de humanização enquanto aceita cada edu-
cando como ser único e irrepetível, enfeixando num todo
suas dimensões biofísicas, psicossociais e espirituais, bem
como inserindo-o no contexto histórico.
4.1.2 Processo de personalização enquanto suas dimensões
se integram e convergem para o centro da pessoa como ser
transcendental e ser-em-relação.
4.2 Educação é, pois, um processo de libertação e de con-
versão, mediante o qual o indivíduo se torna agente de seu
5. IDENTIDADE CLARETIANA
5.1 Como Claretianos, inspiramo-nos na figura de Santo An-
tônio Maria Claret, da qual destacamos:
• Ação evangelizadora e missionária, atenta em promover
os meios mais eficazes para atingir seus objetivos.
• Amor e docilidade à Palavra de Deus, como iluminadora
de sua vida.
• Amor a Maria, ao seu Coração Imaculado, como centro
de intimidade com Deus e de afeto maternal aos homens.
• Fidelidade e amor à Igreja.
• Preocupação em preparar evangelizadores leigos.
6. PRINCÍPIOS EDUCATIVOS
A educação da comunidade claretiana baseia-se em três
princípios fundamentais, que devem orientar sua prática educa-
tiva:
6.1 Cada pessoa é um ser único e singular. A educação pro-
cura tornar esse ser um sujeito consciente de suas possibili-
dades e limitações. A manifestação dinâmica dessa singulari-
dade é a originalidade e a criatividade.
6.2 Cada pessoa é o princípio de suas ações, de sua capa-
cidade de governar-se tendo em vista sua liberdade. Fun-
damentalmente, o ser humano é livre para realizar-se como
pessoa e, por isso, é responsável pelo seu projeto pessoal
e social. Tal assertiva opõe-se totalmente à arbitrariedade
vigente.
6.3 O homem é, simultaneamente, uma totalidade e uma
exigência de abertura e contato com os outros. Esse princí-
pio orienta a educação para as relações de colaboração de
trabalho e para a amizade na vida econômica, política e so-
cial.
7. PRINCÍPIOS DIDÁTICOS
7.1 A educação humanista proposta pela Ação Educacional
Claretiana tenta vivenciar uma pedagogia e uma didática
que sejam coerentes com ela.
7.2 A metodologia, amparada pelo Projeto Educativo Clare-
tiano, incide profundamente no desenvolvimento da per-
sonalidade, na autorrealização e na autonomia de ser e de
aprender do aluno, bem como na formação do espírito de
cooperação e de solidariedade. Para isso, essa metodologia
e didática apoiam-se nos seguintes princípios:
• PRINCÍPIO DA UNIDADE
Visa-se com vergência dos valores para o desenvolvimento
da inteligência, da vontade, do sentimento e da ação do alu-
no.
• PRINCÍPIO DA PERSONALIZAÇÃO
Visa salvaguardar e potenciar a unidade e a originalidade do
aluno.
• PRINCÍPIO DA AUTONOMIA
Trata-se de criar, no aluno, uma atitude cultural de abertu-
ra ao saber e de dotá-lo de uma técnica de aprendizagem
intelectual capaz de atualização constante. Além disso, visa
despertar nele o desejo e a responsabilidade de aprender,
mesmo depois de concluída a ajuda do educador.
• PRINCÍPIO DA ATIVIDADE
Requer a atividade pessoal do aluno, sem a qual é inútil qual-
quer ensinamento.
• PRINCÍPIO DA LIBERDADE
Procura-se respeitar o caminho pessoal do aluno para a con-
secução da verdade, do desenvolvimento próprio, adotando,
para isso, princípios de aprendizagem.
256 © Antropologia, Ética e Cultura
• PRINCÍPIO DA INTERIORIZAÇÃO
Caracteriza-se pela formação intelectual como processo do
exterior para o interior, isto é, da atividade e do interesse
pessoal para a posse interior profunda da cultura.
• PRINCÍPIO DA INTEGRIDADE
Considera-se o aluno vocacional e profissionalmente inte-
grado somente quando ele como um todo se projeta numa
perspectiva de vida que lhe seja peculiar e inalienável. Visa
à cultura prática e funcional e não ao intelectualismo puro
e abstrato. Por esse caminho, o jovem é conduzido a buscar
seu próprio aperfeiçoamento, autonomia nos estudos, de-
senvolvimento da capacidade pessoal de investigação, aná-
lise e reflexão.
Nosso educador:
8.1 Tem consciência de seu valor e exerce papel fundamental
na educação.
8.2 Alicerça seu trabalho numa concepção da pessoa, da
vida, do mundo e da sociedade. É essa concepção que de-
termina atitudes e valores coerentes com a visão da escola.
8.3 Sente-se um mediador entre a verdade, que deve ser co-
nhecida, e o educando, agente fundamental da educação,
aquele que constrói o próprio conhecimento.
8.4 Promove uma educação DIALÓGICA, que implica reco-
nhecer o educando como pessoa com identidade e missão
pessoal, estimulando-o a assumir sua responsabilidade indi-
vidual e comunitária.
9. COMUNIDADE EDUCATIVA
A Direção, o corpo docente, os alunos, os pais e os funcioná-
rios compõem a Comunidade Educativa, na qual todos se integram
e, dela, participam, de acordo com sua função, para a educação
integral do aluno.
O principal objetivo é que essa comunidade educativa cons-
titua uma verdadeira comunidade cristã.
O sentido e o alcance da participação de cada um dos mem-
bros da Comunidade Educativa nas decisões que afetam a condu-
ção da Instituição Claretiana estão condicionados às responsabili-
dades assumidas por cada um.
À Ação Educacional Claretiana, como entidade mantenedo-
ra, cabe estabelecer as linhas pedagógicas e as características pró-
prias da educação.
258 © Antropologia, Ética e Cultura
Integrantes da comunidade:
• Professores participam da Comunidade Educativa pela re-
gência de aulas, pelas reuniões de colegiado, pela orien-
tação de trabalhos científicos etc.
• Os alunos, que são o centro da atenção educativa, par-
ticipam da Comunidade como representantes de classe,
nas reuniões pedagógicas e junto à Direção, quando ne-
cessário.
• Os funcionários participam do processo educativo por
meio de suas atividades técnico-profissionais, em uma
estrutura essencial para a realização do PROJETO EDUCA-
TIVO.
• Os pais devem estar presentes no processo educativo,
fazendo de seus lares a primeira escola de virtudes, que
prepara seus filhos para o relacionamento com os ho-
mens e com Deus.
• Eles devem, também, acompanhar seus filhos nos estu-
dos e nas atividades escolares ao longo do ano letivo,
comparecendo às reuniões sempre que convocados pela
Direção.
Além desses canais oficiais de participação, existe a possibili-
dade de contato espontâneo com os responsáveis pela Instituição.
Bibliografia
Bibliografia Claretiana
CABRÉ, Agustín. Evangelizador de dos Mundos. Barcelona: Editorial Claret, 1983.
CLARET, A. M. Santo AUTOBIOGRAFIA. Santo Antônio Maria Claret por ele mesmo.
Tradução de Elias Leite. São Paulo: Ave-Maria, 2004.
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CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Doc. 64. Diretrizes e normas
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DIENELT, Karl. Antropologia pPedagógica. Madrid: Aguilar, 1980.
ESCALONA, Iara . López. Antropologia e educação. São Paulo: Paulinas, 1983.
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HELFER, Carmen L. L. L. iIdentidade das IES comunitárias: referências teóricas. In: X
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JOÃO PAULO II. Ex corde ecclesiae. Universidades Católicas. São Paulo: Edições Paulinas,
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LIMA, S. A. Caminhos novos na educação. São Paulo: FTD, 1995.
MOURA, L. D. A educação católica no Brasil. São Paulo: Loyola, 2000.
STEIN, G. B. A educação nos documentos da Igreja Católica Apostólica Romana. Brasília:
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VANNUCCHI, Aldo. A universidade comunitária. São Paulo: Loyola, 2004.
260 © Antropologia, Ética e Cultura
Anexo 1
UM SENTIDO PARA A VIDA
Palestra realizada em 20 de novembro de 1997 na Federa-
ção do Comércio do Estado de São Paulo, onde Frei Betto, um dos
maiores teólogos e intelectuais brasileiros, fala do papel da ciên-
cia, da educação e da religiosidade no mundo moderno.
Minha intenção é falar sobre o momento que estamos viven-
do, momento confuso em termos de perspectiva do futuro. A pri-
meira evocação que faço é da pintura de Michelangelo na Capela
Sistina, “A criação de Adão”, em que a figura de Deus, recoberto de
mantos e com a barba longa, estende o dedo para Adão. Ao mes-
mo tempo em que Adão, como símbolo da humanidade, é atraído
em direção à Terra, ele estende o dedo na direção do Criador, es-
pécie de premonição nostálgica de que é preciso não perder o con-
tato com a fonte, com a raiz, que é Deus. Michelangelo foi genial,
porque é muito difícil compreender o momento em que se vive.
É fácil analisar os momentos depois que eles passaram. O artista,
com sua intuição, com seu talento, tem o dom de captar o momen-
to, que depois a epistemologia e a filosofia tentam explicar.
O que acontecia naquele momento da “descoberta” da Amé-
rica, da “descoberta” do Brasil? A passagem. Diria que não estamos
vivendo uma época de mudanças. Estamos vivendo, hoje, uma
mudança de época. A última mudança de época foi justamente na
“descoberta” da América, quando o Ocidente passou do período
medieval para o moderno. A pintura de Michelangelo expressa,
com genialidade, essa chegada de um tempo em que o conheci-
mento, a epistemologia, se desloca de uma perspectiva teocên-
trica para uma perspectiva antropocêntrica. A rainha das ciências,
durante mil anos, no período medieval, foi a teologia. A rainha das
ciências, da modernidade é a física. O período medieval se base-
ava na fé; o moderno, na razão. O período medieval se baseava
Descartes e Newton
A modernidade aparece, primeiro, com o grande movimento
da globalização que foram as navegações ibéricas. Falamos hoje em
globalização como se fosse novidade. Mas, na Escola de Sagres, já
se falava em globalização, com outras palavras. E tanto globaliza-
ram que conseguiram abarcar outras regiões do planeta, embora
Colombo tenha morrido sem saber que havia chegado à América.
Morreu convencido de que tinha alcançado Cipango, nome que
se dava ao Japão. As descobertas marítimas, a criação das univer-
sidades, principalmente da Sorbonne, que é do século 12, e da
Universidade de Bolonha, e as corporações marítimas, que são as
matrizes dos sindicatos, foram três fatores que, de certa forma,
prepararam o advento da modernidade. Todos nós somos filhos
da modernidade. Nossa estrutura de pensamento é moderna, mas
nem sempre foi assim, e nem em toda parte do mundo é assim.
262 © Antropologia, Ética e Cultura
Massa disforme
A escola está em crise, porque nada é mais cartesiano e
newtoniano do que a escola. Se os paradigmas da modernidade
entram em crise, a escola também entra em crise. E por que a es-
cola entra em crise? São Tomás de Aquino tem uma frase de que
gosto muito: “A razão é a imperfeição da inteligência”. Ou seja, a
inteligência vem de intus leggere (ser capaz de ler dentro). Há pes-
Educação televisiva
Falávamos em bem comum. Essa expressão está sumindo até
dos documentos da Igreja. Hoje, falamos em tecnologia de ponta.
Falávamos em nação, hoje falamos em globalização. Falávamos em
cultura. Hoje, de tal maneira os veículos de cultura estão atrelados
à publicidade que estamos tendo menos cultura e mais entrete-
nimento. A sensação que tenho, depois de passar uma semana
vendo a televisão brasileira, é de ter ficado mais pobre espiritual-
mente, sobretudo no domingo, que é o dia nacional da imbeciliza-
ção geral. Na segunda-feira, a gente tem ressaca moral, precisa de
um tempo para se refazer, depois de ver o ser humano sendo tão
degradado, ridicularizado e ainda com um toque de humor.
Vivemos uma esquizofrenia social. De um lado, queremos
defender os nossos valores religiosos, morais etc., e, de outro, te-
mos, dentro de casa, uma pessoa da família, eletrônica – a telinha
–, que não foi convidada, não pede licença, não dialoga e nos im-
põe valores que nem sempre conferem com os nossos. É a história
da minha cunhada, que me disse: “Betto, fui aluna de colégio de
freira, por isso paguei muitos anos de análise para me livrar da
idéia de que tudo é pecado. Espero que meus filhos, quando adul-
270 © Antropologia, Ética e Cultura
tos, escolham se querem ou não ter uma religião, mas não preten-
do ensinar-lhes nenhuma religião”. Eu lhe disse: “Você, como mãe,
tem todo o direito de fazer essa opção. Mas, como pessoa, não
tem o direito de ser ingênua. Ou você educa ou a Xuxa educa. Não
pense que existe neutralidade. Se você não educar, a televisão vai
ensinar a seus filhos o que é bem, o que é mal, o que é certo, o que
é errado, o que é justo, o que é injusto”. É uma questão de opção.
Falávamos em valores, hoje falamos de sucesso. E introduzi-
mos cada vez mais na linguagem e na prática a idéia da competiti-
vidade. Às vezes, faço treinamento de recursos humanos em em-
presas, e os treinamentos são interessantes porque não se trata de
fazer palestras, trata-se de captar o pano de fundo da cultura da
empresa. Um dos detalhes mais interessantes é o seguinte: os fun-
cionários de uma mesma empresa praticam entre si a competitivi-
dade. A idéia da competição com outras empresas é internalizada
de tal maneira, que a coisa emperra porque a competitividade está
lá dentro, onde deveria haver cooperação. A competitividade vai
entrando de tal forma que as pessoas já não sabem estabelecer
um nível mínimo de cooperação.
Falávamos de realidade, hoje falamos de virtualidade. A re-
alidade virtual é positiva, do ponto de vista da interação no pla-
neta, que se transforma numa pequena aldeia, mas perigosa do
ponto de vista da abstração dos valores. Em outras palavras, do
meu quarto no convento no bairro das Perdizes, em São Paulo,
posso ter um amigo íntimo em Tóquio, mas não quero nem sa-
ber o nome do vizinho de porta. Então sou um amigo virtual. Há
até o sexo virtual, por computador, que está trazendo um proble-
ma para a teologia moral: o adultério virtual. Sofremos o risco de
entrar numa concepção de virtualidade que nos leva a falar em
cidadania e continuar jogando lata de refrigerante e cerveja pela
janela do carro, invadindo a faixa de pedestre etc. Vamos criando
toda uma linguagem que é virtual e não tem incidência no real. Na
vida real, ficamos cada vez mais agressivos, mais violentos, mais
competitivos.
ANEXO 2
EU ETIQUETA