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MARIOLOGIA

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD

Mariologia – Prof. Dr. Pe. Pedro K. Iwashita

Meu nome civil é Kuniharu Iwashita, e o nome religioso é Pedro


Iwashita. Sou sacerdote, religioso, membro da Congregação do
Espírito Santo. Sou graduado em Filosofia pela Faculdade de
Filosofia Nossa Senhora Medianeira, em Teologia pelo Instituto
Teológico Pio XI, mestre em Teologia pela Faculdade de Teologia
da Universidade de Fribourg, na Suíça, doutor em Teologia pela
Faculdade de Teologia da Universidade de Fribourg, na Suíça,
e psicólogo clínico pela Universidade São Judas Tadeu. Sou
professor de Teologia Dogmática na Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP), no curso de pós-graduação em Teologia e,
atualmente, sou o chefe de Departamento de Teologia Fundamental da PUC-SP. A minha
tese de doutorado foi publicada com o título: Maria e Iemanjá: análise de um sincretismo
(São Paulo: Paulinas, 1991).
E-mail: iwashita@uninet.com.br
Prof. Dr. Pe. Pedro K. Iwashita

MARIOLOGIA

Caderno de Referência de Conteúdo


© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP)

Cursos: Graduação
Disciplina: Mariologia
Versão: jul./2013

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva


Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. José Paulo Gatti
Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon
Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. José Paulo Gatti
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida

Coordenador Geral de EaD: Prof. Ms. Artieres Estevão Romeiro


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Felipe Aleixo
Camila Maria Nardi Matos Rodrigo Ferreira Daverni
Carolina de Andrade Baviera
Talita Cristina Bartolomeu
Cátia Aparecida Ribeiro
Vanessa Vergani Machado
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Martins Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana A. Mani Adami Joice Cristina Micai
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Henrique de Souza
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Rita Cristina Bartolomeu Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Tamires Botta Murakami de Souza
Simone Rodrigues de Oliveira Wagner Segato dos Santos

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SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA............................................. 8
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 29
4 E-REFERÊNCIA ................................................................................................... 31

Unidade 1 – MARIA NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO E O MISTÉRIO DA


ENCARNAÇÃO REDENTORA
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 33
2 CONTEÚDO........................................................................................................ 33
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 33
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 34
5 MARIA NA HISTÓRIA......................................................................................... 34
6 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 39
7 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 39
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 40

Unidade 2 – MARIA NA BÍBLIA


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 41
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 41
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 41
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 42
5 TESTEMUNHO BÍBLICO..................................................................................... 43
6 A VIRGEM MARIA NOS EVANGELHOS............................................................. 47
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 74
8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 75
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 76

Unidade 3 – OS DOGMAS MARIANOS


1 OBJETIVO........................................................................................................... 77
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 77
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 77
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 78
5 TRADIÇÃO TEOLÓGICA: OS DOGMAS MARIANOS......................................... 78
6 ASSUNÇÃO DE MARIA: DOGMA....................................................................... 99
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 103
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 104
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 104
Unidade 4 – O CULTO A MARIA
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 107
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 107
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 108
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 108
5 PRESENÇA DE MARIA NA VIDA DA IGREJA..................................................... 108
6 CULTO A MARIA HOJE....................................................................................... 115
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 121
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 121
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 121

Unidade 5 – MARIA NA DEVOÇÃO POPULAR


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 123
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 123
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 123
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 124
5 RELIGIOSIDADE POPULAR................................................................................ 125
6 MARIA NO CONTEXTO DA RELIGIOSIDADE POPULAR................................... 127
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 131
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 132
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 132

Unidade 6 – MARIA NO CONTEXTO ECUMÊNICO


1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 133
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 133
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 134
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 134
5 CRÍTICAS ACERCA DA MARIOLOGIA................................................................ 134
6 OS REFORMADORES E MARIA.......................................................................... 135
7 OS MOTIVOS DAS DIFERENÇAS DE VISÃO NA QUESTÃO MARIANA NO
PROTESTANTISMO E NO CATOLICISMO.......................................................... 143
8 O DIÁLOGO NO DEBATE TEOLÓGICO ECUMÊNICO........................................ 146
9 PERSPECTIVAS PARA O DIÁLOGO ECUMÊNICO SOBRE MARIA..................... 151
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 153
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 154
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 154
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Maria na história da salvação e o mistério da encarnação redentora. Maria na Bí-
blia. Maria na história da Igreja. Os dogmas marianos. Maria na devoção popular.
Notas sobre Maria no contexto "ecumênico".
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo da disciplina Mariologia, dispo-
nibilizada para você em ambiente virtual (Educação a Distância)!
A Mariologia é o estudo teológico sobre a pessoa da Virgem
Maria e pertence às grandes disciplinas do curso de Teologia.
Falar da Virgem Maria é falar sobre um tema que é muito
caro à mentalidade cristã e, sobretudo, à religiosidade popular na
qual Nossa Senhora é cultuada por uma infinidade de orações, pelo
rosário, por novenas, peregrinações a santuários marianos etc.
8 © Mariologia

No entanto, é preciso aprofundar o sentido teológico da par-


ticipação de Maria na História da Salvação, motivo pelo qual ela é
venerada, desde os primórdios da história da Igreja, como a Mãe
de Deus.
Nesta disciplina, você terá a oportunidade de estudar as fon-
tes bíblicas que revelam esse sentido teológico, de forma que, com
base nelas, vão se desenvolvendo ao longo da história os dogmas
marianos, sempre ligados ao núcleo cristológico da fé cristã e, tam-
bém, o culto mariano com a ordenação das celebrações marianas
no decorrer do ano litúrgico.
Caberá, por fim, uma palavra sobre a religiosidade popular
mariana e sobre o diálogo ecumênico que as Igrejas cristãs têm
feito sobre a pessoa de Maria.
Esperamos que você possa aproveitar ao máximo este tempo
de estudos mariológicos e que tal estudo lhe permita aprofundar
o mistério de Cristo ao redor do qual se elabora toda a Teologia.
Bom estudo!

2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA

Abordagem Geral da Disciplina


Prof. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos

Neste tópico, apresentamos uma visão geral do que será


estudado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os
assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá
a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada
unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer a você
o conhecimento básico necessário para a construção de um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural, a fim de que,
no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competên-
cia cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos começar nos-
sa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos
que fundamentam esta disciplina.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 9

A Mariologia é o estudo bíblico-teológico-litúrgico e pastoral


sobre a pessoa de Maria, a mãe de Jesus.
A figura de Maria ocupa, sem dúvida, um lugar de destaque
na reflexão teológica católica e, sobretudo, na piedade popular,
na qual são enaltecidas suas diversas virtudes, em particular sua
atuação intercessora diante de Deus.
Quando começamos a estudar a Mariologia, percebemos,
no entanto, que a Bíblia fala muito pouco de Maria e, então, surge
uma pergunta: como é que a doutrina mariana cresceu tanto se,
na Bíblia, encontramos pouquíssimos textos referidos a ela?
A Mariologia é o caso mais típico do "desenvolvimento dos
dogmas", pois teve um crescimento enorme a partir de poucos
(mas riquíssimos) versículos do Novo Testamento.
E como é que isso aconteceu? A resposta para essa pergun-
ta será apresentada ao longo de nossa disciplina, na qual vamos
analisar os fundamentos bíblicos e o desenvolvimento histórico-
-dogmático da Mariologia ao longo da história da Igreja. Veremos,
também, de que maneira, desde a Igreja primitiva, a figura de Ma-
ria é celebrada na liturgia, dada a sua participação no mistério de
Cristo, que é o núcleo central do mistério litúrgico. Não faltará o
estudo da presença mariana na devoção popular e no diálogo ecu-
mênico.
Iniciando nossa disciplina, podemos dizer que Maria é cele-
brada na Igreja no contexto da história da salvação, de modo que
ela não é vista como uma figura isolada, tendo como grandes ex-
poentes dessa teologia os primeiros santos padres Ireneu, Justino,
e outros, mas também Santo Agostinho, tradição essa relançada
pelo Vaticano II. De outro lado, a liturgia contempla Maria dentro
do mistério da história e da Igreja, considerando-a um de seus ele-
mentos estruturais e determinantes.
Isso significa que precisamos, antes de tudo, recorrer à com-
preensão que temos de história da Salvação no contexto da Reve-
10 © Mariologia

lação de Deus na história. E, nesse estudo, descobrimos que Maria


se encontra junto com o seu Filho no centro da história em que
acontece o mistério da Encarnação salvadora (Gl 4,4), pois o Novo
Testamento já apresenta uma teologia da história, que não se pre-
ocupa somente em relatar os acontecimentos salvíficos, mas em
situá-los coerentemente dentro do único projeto de Deus, o que
vale no que se refere à Virgem Maria, que é uma personagem de
confluências e a única testemunha de todos os momentos mais
decisivos da salvação.
A presença de Maria nesses momentos cruciais da história
da salvação tem um profundo significado dentro do desígnio histó-
rico de Deus Pai: o Filho vem do Pai ao mundo e volta desse mundo
ao Pai sob a presença da Mulher; ele apareceu diante do mundo
como o missionário do Pai sob o olhar de Maria.
Maria também esteve presente no momento da inauguração
do tempo da Igreja, pois, em Pentecostes, fez parte da assembleia
constituinte da Igreja de forma singular. Aos pés da cruz, que tam-
bém foi um pentecostes, pois Jesus verteu o Espírito, ao derramar
sangue e água do seu peito perfurado (Jo 19, 31-37), Maria rece-
beu a missão de cuidar maternalmente dos discípulo e, também,
foi acolhida pelo discípulo amado como Mãe e exemplo.
Após essa reflexão introdutória, podemos analisar o que a
Sagrada Escritura fala sobre a figura de Maria.
Por se tratar de realidade teológica, a doutrina católica sobre
a Virgem Maria tem como fonte principal a Sagrada Escritura, pois
somente a Revelação pode nos dar visão justa e verdadeira de sua
pessoa. Maria faz parte então da revelação, e somente à medida
que ela se torna visível à sua luz é que ela tem sentido para o cris-
tão, isto é, como objeto de sua fé e de sua vida espiritual.
Quando se fala dos textos bíblicos, é preciso fazer uma dis-
tinção entre os textos do Novo Testamento e os do Antigo Testa-
mento. Mesmo sendo considerados no conjunto dos fundamentos
bíblicos da Mariologia, os textos "marianos" do Antigo Testamento

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 11

são vistos por meio de sua relação com o Novo Testamento; são,
portanto, textos mariológicos acomodados.
Quanto ao Novo Testamento, encontramos em Paulo a pri-
meira citação mariológica. Trata-se do texto de Gl 4,4: “Quando,
porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho,
nascido de uma mulher, nascido sob a Lei...”.
Esse texto tem sido muito estudado e discutido pelos teólo-
gos e mariólogos, mas o importante a ser considerado não é o que
Paulo deixou de falar, mas o que ele falou explicitamente no texto.
Ele ligou não somente o Filho de Deus preexistente com a história
do mundo e da salvação, como também a mãe desse mesmo Filho.
Mais significativo ainda é o fato de que Paulo, com o seu
conhecimento claro da preexistência e da divindade de Cristo e
igualmente da realidade do seu nascimento terrestre, apresentou
as duas premissas, das quais decorre, com lógica concludente, o
dogma fundamental de toda a doutrina marial: a maternidade di-
vina dessa “mulher”.
Nesse sentido, Gl 4,4 é dogmaticamente a afirmação mario-
lógica mais importante do Novo Testamento, embora muitos teólo-
gos do passado e de hoje ainda não tenham chegado à consciência
do seu peso. O Apóstolo dos gentios começa a ligação da Mariolo-
gia com a Cristologia mediante o testemunho da maternidade di-
vina de Maria e por meio do início de uma visão histórico‑salvífica
do seu significado.
Quanto aos Evangelhos, cujos textos mariológicos serão es-
tudados em detalhes, é preciso considerar, em relação à figura de
Maria, aquilo que se atribui ao conjunto da escrita evangélica, ou
seja, nos evangelhos, encontramo‑nos no nível definitivo da narra-
ção, e não no nível dos acontecimentos históricos. Porém, o nível
da redação (nível definitivo da narração) é, ao mesmo tempo, o lu-
gar da interpretação respectiva das tradições e dos acontecimen-
tos históricos por meio dos evangelistas.
12 © Mariologia

Em outros termos, diríamos que, nos evangelhos, deparamo-


-nos, primeiramente, com determinada imagem de Maria, e não
imediatamente com a figura histórica da mãe de Jesus, igualmente
como acontece na tradição jesuânica.
Analisando cada um dos evangelhos, encontramos em Mar-
cos uma única cena na qual Maria aparece de maneira explícita e
outras duas citações implícitas.
Já em Mateus, existem dois tipos de tradições concernentes
a Maria: uma no curso do ministério público de Jesus; e a outra
nos primeiros dois capítulos, ou seja, o evangelho da infância (Mt
1-2).
Esses capítulos são muito significativos, pois neles Mateus
procura mostrar claramente, e isso é importante do ponto de vista
cristológico e mariológico, que a criança esperada por Maria foi
concebida pelo Espírito Santo (1,18.20b), embora ele não narre a
maneira da concepção, como fez Lucas.
Como em Mateus, distinguem‑se em Lucas dois tipos de tex-
tos no que se refere à Maria: primeiramente, um extenso trecho
no qual Maria representa importante papel no assim chamado
evangelho da infância (cf. Lc 1‑2), a saber, na anunciação, na visita-
ção de Isabel, no nascimento em Belém, na apresentação no tem-
plo e no encontro do menino Jesus no templo; em segundo lugar,
vêm os textos em que Maria tem relativamente pouco espaço, a
saber, nos textos referentes à vida pública de Jesus, com parale-
los nos sinóticos (cf. Lc 4,16‑30; 8,19‑21), enquanto a perícope em
que uma mulher da multidão louva a mãe de Jesus (cf. Lc 11,27‑28)
se encontra somente em Lucas. Nos Atos dos Apóstolos, também
obra de Lucas, Maria é mencionada somente uma vez (cf. At 1,14),
o que representa, cronologicamente, a última vez que Maria e seu
destino são temas no Novo Testamento.
O Evangelho de João apresenta duas espécies de textos, con-
siderados relevantes para o estudo de Maria: duas cenas em que
a mãe de Jesus aparece, a saber, na cena das bodas de Caná (Jo
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© Caderno de Referência de Conteúdo 13

2,1‑11.12) e aos pés da cruz (Jo 19,25‑27); em seguida, vêm os tex-


tos ou versículos relacionados com questões marianas, tais como
a concepção virginal (Jo 1,13; 6,42; 7,41‑43; 8,41) e a problemática
dos “irmãos de Jesus” (2,12; 7,1‑10).
Se o Evangelho de Lucas não fala de Maria na narração da
paixão, o Evangelho de João tem essa característica de expor dire-
tamente quais foram os liames de Maria com a paixão do Salvador.
Nesse sentido, os dois evangelhos completam-se e complemen-
tam-se, com o segundo explicitando o primeiro como se eles ates-
tassem duas etapas de uma mesma reflexão.
Além desses textos, encontramos no Apocalipse uma citação
que pode ser entendida como referida a Maria. Em relação à mis-
teriosa figura da “mulher vestida com o sol” (Ap 12,1), não existe
entre os exegetas unanimidade quanto à sua interpre­tação. Com
efeito, o Apocalipse de João não fala explicitamente da mãe de
Jesus, mas as grandes imagens do capítulo 12 soam incompreensí-
veis sem referência ao papel histórico dela.
Se admitirmos que a “Mulher vestida com o sol” se refere ao
povo de Deus, a Israel e à Igreja, a referência a Maria não é des-
cartada, pois as múltiplas facetas dos símbolos apocalípticos não
excluem que um símbolo possa significar duas realidades.
Terminando essa parte bíblica, diríamos que foi interessante
constatar que na Bíblia existe uma doutrina marial que se caracte-
riza por grande sobriedade.
A razão disso estaria no fato de que o objetivo primordial
foi o de manifestar primeiramente o plano de Deus, de maneira
bem centrada sobre o essencial, a saber, a revelação de Deus, da
Trindade, os meios de salvação, os sacramentos, e, com base nes-
se núcleo essencial, situaram-se, então, os outros aspectos, tais
como os da Mariologia.
É nessa perspectiva que Paulo e Marcos se mostram sóbrios
em relação à Mariologia, porque a preocupação fundamental de-
14 © Mariologia

les é ainda colocar os elementos essenciais à vista, ao passo que,


na reflexão de Lucas e Mateus, por exemplo, se vê uma preocupa-
ção de manifestar outros elementos, entre os quais se encontram
os elementos da Mariologia.
A sobriedade dos primeiros documentos não é, portanto,
uma tomada de posição em relação a Maria. Esse procedimen-
to entrou, na verdade, numa economia de revelação do próprio
Novo Testamento, que começa pelo querigma, o crer no fato de
que Deus nos enviou o seu Filho e que o ressuscitou, fazendo dele
fonte de salvação para todos.
Estabelecido esse núcleo, houve, também, um desenvolvi-
mento mariológico que está muito bem dentro da lógica da reve-
lação, como mais tarde estará, também, na lógica dessa mesma
tradição.
Analisaremos, agora, alguns aspectos do desenvolvimento
histórico-dogmático da Mariologia, ou seja, como nasceram os
dogmas marianos.
Você já deve ter algum conhecimento deles, pois seu conte-
údo está presente na liturgia e, em particular, na piedade popular.
Vamos apresentá-los brevemente e, posteriormente, você poderá
estudá-los com maior profundidade.
No sentido próprio do termo, a Igreja apresenta para a fé do
Povo de Deus quatro dogmas marianos que são vistos em dois blo-
cos: Maternidade e Virgindade (1º bloco) e Imaculada e Assunção
(2º bloco). Isso acontece dado que cada um dos blocos segue um
modelo diferente de desenvolvimento.
Aos primeiros tempos da Igreja pertencem os dogmas da
maternidade divina e da virgindade perpétua. Esses dois dogmas
estão intimamente interligados um ao outro, indissoluvelmente li-
gados com a fé em Cristo e a sua formulação histórico‑dogmática.
Mais recentemente, foram definidos o dogma da imaculada
conceição (8.12.1854) e o da assunção de Maria (1.11.1950). Do

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 15

ponto de vista essencial da constituição do objeto da fé, a mater-


nidade divina, a virgindade perpétua de Maria, a imaculada con-
ceição e a assunção de Maria, sendo dogmas, são verdades “de fé”.
E como esses dois blocos se articulam? O primeiro bloco –
Maternidade e Virgindade – é um só mistério em dois aspectos:
"maternidade virginal". Maternidade é o dogma central, sendo a
Virgindade um aspecto que realça a primeira. No segundo bloco –
Imaculada (começo da vida de Maria) e Assunção (final) – como a
Virgindade, esses dois dogmas estão a serviço da Maternidade: a
Imaculada prepara-a e a Assunção vai consumá-la ou coroá-la.
Em que se fundamentam os dogmas marianos? Só podem
ser na Bíblia, lida, porém, na Tradição. Vejamos:
1) Bíblia – contém materialmente toda a Revelação. Tam-
bém os quatro dogmas: os dois primeiros explicitamente
ou quase; os dois últimos só implicitamente. Para expli-
citá-los, é preciso justamente a Tradição.
2) Tradição – é a própria Bíblia enquanto lida piedosamen-
te pela Igreja ao longo dos séculos. A Tradição é transmi-
tida por três canais:
a) Senso dos fiéis (sensus fidelium) – é a intuição ou
percepção que o Povo de Deus (sempre com seus
Pastores) tem da Palavra de Deus, da verdade da fé.
b) Magistério (Concílios, Papas, Bispos) – aos pastores
compete discernir e consagrar as "descobertas" ma-
riológicas do povo fiel.
c) Teologia – a razão teológica, em geral, teve muita
dificuldade em aceitar os dogmas marianos.
Agora, uma palavra sobre cada um deles:
1) Maternidade divina – partindo de bases bíblicas que ex-
plicitam que Maria é mãe de Jesus, o Filho de Deus, o
Concílio de Éfeso (431) declarou Maria verdadeira "Mãe
de Deus" ou Theotókos, declaração essa que foi confir-
mada no Concílio de Calcedônia (451).
2) Virgindade perpétua de Maria – encontram-se no Novo
Testamento duas tradições autônomas sobre a virginda-
16 © Mariologia

de de Maria, uma reforçando a outra – elas aparecem


nos evangelhos da infância de Mateus e Lucas, respecti-
vamente. Com base nessas tradições, encontramos, no
Credo apostólico e no Credo Niceno-Constantinopolita-
no, a menção de Maria como Virgem e Mãe; tal decla-
ração será encontrada concílios e documentos magiste-
riais posteriores.
3) Imaculada Conceição – não existem textos bíblicos ex-
plícitos sobre esse dogma, mas encontramos sua decla-
ração no magistério da Igreja na bula Ineffabilis Deus
(1854), de Pio IX, na qual se diz que Maria foi preservada
imune de toda mancha do pecado original.
4) Assunção de Maria – o dogma da Assunção é derivado
do sensus fidelium, pois, desde o século 6º, encontram-
-se escritos e culto litúrgico com referência a ele. Neles,
fala-se da "dormição" (em grego, koimesis) de Maria e
celebra-se, como para os santos, o seu dies natalis no
dia 15 de agosto. A declaração dogmática da Assunção
de Maria aconteceu em 1950, por meio da constituição
Munificentissimus Deus, de Pio XII.
Após essa breve referência aos dogmas marianos, vamos
passar para a liturgia ou culto mariano.
Tal como as referências bíblicas mariológicas e o desenvol-
vimento dos dogmas marianos são compreendidos com base no
contexto cristológico, o culto mariano só pode ser entendido em
relação à celebração do mistério de Cristo. De fato, a liturgia é a
celebração do mistério pascal de Cristo e celebram-se Maria e os
santos considerando sua participação nesse mistério.
Segundo o Concílio Vaticano II, os fundamentos teológicos
do culto de Maria são: a maternidade divina, que confere a Ma-
ria uma dignidade e sobre-eminência especiais; a participação nos
mistérios de Cristo, que põe Maria em relação com a salvação de
cada membro do povo Deus; e a sua santidade excelsa e glorifica-
da.
Segundo o Concílio, haveria ainda outro motivo, a saber, Ma-
ria exerce incessante intercessão em favor dos homens (LG 66; MC

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 17

56), e a sua glória nobilita todo o gênero humano, pois “Maria, de


fato, é da nossa estirpe, verdadeira filha de Eva, se bem que isenta
da mancha, e nossa verdadeira irmã, que compartilhou plenamen-
te, mulher humilde e pobre como foi, a nossa condição” (MC 56).
Culto da bem‑aventurada Virgem Maria tem a sua razão suprema
de ser na insondável e livre vontade de Deus, que, sendo a eterna e
divina Caridade (cf. Jo 4,7‑9.16), realiza todas as coisas segundo um
plano de amor: amou‑a por causa de si mesmo e por causa de nós
e deu‑a a si mesmo e no‑la deu a nós (MC 56).

Historicamente, as testemunhas sobre o culto mariano nos


três primeiros séculos são um tanto fragmentárias. Nesse período,
o culto a Maria esteve intimamente ligado com o culto devido a
Cristo. O mais antigo testemunho escrito é o texto de uma oração:
“Sub tuum praesidium”, num papiro egípcio do final do século 3º.
Houve grande desenvolvimento do culto marial por meio da festi-
va legitimação da maternidade divina.
Com base nesse evento e ao longo da história da Igreja, en-
contramos forte presença de Maria em todos os aspectos do culto
litúrgico com a organização de um calendário de festas marianas
ao longo do ano litúrgico, como se fosse um ano litúrgico mariano,
contando, inclusive, com meses marianos. Essa organização che-
gou até a ofuscar o ano litúrgico, que tem sua centralidade na ce-
lebração do mistério de Cristo.
A reforma litúrgica do Vaticano II procurou inserir o culto
mariano em sua original referência a Cristo, assim como o fez com
o culto aos santos. Maria é celebrada a partir de sua participação
na história da salvação, que tem seu ponto culminante na encarna-
ção do Verbo e na morte e ressurreição de Cristo.
Segundo tal participação é que foi organizado o culto maria-
no por meio de solenidades: Imaculada Conceição – 8 de dezem-
bro; Maternidade Divina de Maria – 1º de janeiro; e Assunção de
Maria – 15 de agosto; de festas: Natividade de Maria – 8 de setem-
bro; e Visitação de Maria – 31 de março; e de memórias: obriga-
18 © Mariologia

tórias – Nossa Senhora Rainha – 22 de agosto; Nossa Senhora das


Dores – 15 de setembro; Nossa Senhora do Rosário – 7 de outubro;
Apresentação de Maria – 21 de novembro; e Imaculado Coração
de Maria – sábado após o segundo domingo depois de Pentecos-
tes; e facultativas: Nossa Senhora de Lourdes – 11 de fevereiro;
Nossa Senhora do Carmo – 16 de julho; e Dedicação da Basílica de
Santa Maria Maior – 5 de agosto.
Cabe recordar, ainda, em nosso contexto latino-americano
e brasileiro, as celebrações marianas de Nossa Senhora de Gua-
dalupe – 12 de dezembro – e Nossa Senhora Aparecida – 12 de
outubro.
Passaremos, agora, a considerar a presença de Maria na reli-
giosidade ou piedade popular.
O que podemos entender por religiosidade popular? O do-
cumento de Puebla, no mesmo espírito da Evangelii nuntiandi, de-
fine:
Entendemos por religião do povo, religiosidade popular ou pieda-
de popular o conjunto de crenças profundas, marcadas por Deus,
das atitudes básicas que derivam dessas convicções e as expres-
sões que as manifestam. Trata-se da forma ou da existência cultural
que a religião adota em um povo determinado. A religião do povo
latino-americano, em sua forma cultural mais característica, é ex-
pressão da fé católica. É um catolicismo popular.

Considerando Maria no contexto da religiosidade popular,


poder-se-ia dizer que Maria representa o “símbolo cultural mais
poderoso e popular dos últimos dois mil anos do Ocidente cristão”.
De fato, Maria é vista pelo povo, antes de tudo, na sua di-
mensão de glória e de poder misericordioso, uma pessoa viva, do-
tada de poder e de bondade, com quem se pode dialogar e a quem
podem ser dirigidas preces.
A segunda característica da imagem popular de Maria é a sua
proximidade e a sua familiaridade, o que parece estar em contra-
dição com a dimensão gloriosa. Maria é vista, ainda, pela piedade
popular como a “diferente de nós”, pela sua santidade e pela sua

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 19

pureza, sentindo-se isso verdadeiramente quando se reza “Santa


Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores”. No entanto, Maria
é próxima à história humana, pois ela é a Mãe das Dores.
É impossível catalogar a variedade de expressões pelas quais
o povo honra, venera e suplica à Mãe de Deus. Entre essas expres-
sões, temos, por exemplo, a linguagem orante, constituída de ora-
ções, cantos e devoções. A piedade orante, um dom do Espírito,
exprime-se como louvor, agradecimento, súplica e propiciação.
A oração popular por excelência na devoção mariana é o ro-
sário, que, apesar de sua simplicidade, é profundamente bíblica
e teológica, pois o ordenado e o gradual desenrolar-se do rosário
reflete aquele mesmo modo com que o Verbo de Deus, ao inserir-
-se por misericordiosa decisão, nas vicissitudes humanas, operou
a Redenção. O rosário, de fato, considera, numa sucessão harmo-
niosa, os principais eventos salvíficos da mesma Redenção, que
se realizaram em Cristo. Além do rosário, encontramos toda uma
diversidade de festas, novenas, ladainhas etc., em louvor a Maria.
Por fim, uma palavra sobre Maria e o ecumenismo, ou seja,
de que maneira se discute a Mariologia no diálogo entre as várias
igrejas cristãs.
Acredita-se que a Mariologia e o culto mariano constituíram,
ao lado do papado e dos ministérios na igreja, a dificuldade mais
importante no caminho para a unificação da cristandade, o que é
uma opinião comum.
A Mariologia católica também é chamada à roda denteada
que destrói a fé evangélica; e mais: constituiria uma síntese de to-
das as "heresias do catolicismo". As divergências entre a atitude
protestante e a católica diante da mãe do Senhor são consideradas
até mesmo insuperáveis.
Particular dificuldade observamos na doutrina sobre a me-
diação de Maria. K. Barth incluiu-a entre os mais difíceis problemas
no diálogo entre protestantes e católicos. Também W. von Loewe-
20 © Mariologia

nich a considera como ponto principal de conflito, e J. Daniélou


nela detectou o próprio cerne do problema ecumênico, bem como
o ponto em que o espírito católico e o protestante mais divergem.
Em vista dessas dificuldades, é importante que se reflita e
se pesquise sobre o debate teológico acerca do lugar de Maria na
economia da salvação e sobre o seu significado no debate ecumê-
nico, na busca da unidade dos cristãos.
Durante a disciplina, você poderá ver quais são os principais
passos que foram dados ao longo da história em busca dessa uni-
dade, os quais procuram se fundamentar nas bases fundantes da
Mariologia, a saber, a Sagrada Escritura e o seu desenvolvimento
dogmático.
Esperamos que esta Abordagem Geral tenha atingido seu
objetivo: introduzir a disciplina de Mariologia e incentivar você a
aprofundar, em suas leituras e pesquisas, a importância de Maria
no contexto da teologia católica, na sua liturgia e na piedade po-
pular.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados na disciplina Mariologia. Veja, a
seguir, a definição dos principais conceitos desta disciplina:
1) Antigo Testamento e Maria: no Antigo Testamento, Ma-
ria não é nomeada diretamente, porém é importante
que a figura dela tenha sido esboçada ao se falar da mãe
do Rei Messias. Cf. CAZELLES, H. In: Dicionário de Ma-
riologia. Porto/Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário,
s.d. p. 13.
2) Anunciação: o anúncio a Maria descrito em Lc 1,26-38
tem feito parte importante na reflexão cristã sobre Ma-
ria na liturgia, na teologia e na exegese como normativa
para a compreensão do mistério de Maria. A estrutura

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 21

do relato por Lucas revela o seu propósito teológico fun-


damental para revelar a transcendência do mistério de
Jesus através do caráter excepcional da intervenção de
Deus no momento da sua concepção no seio de Maria.
Cf. PREVOST, J. P. In: Dicionário de Mariologia. Porto/
Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário, s.d. p. 15.
3) Assunção: esse dogma mariano foi proclamado por Pio
XII em 1º de novembro de 1950 nos seguintes termos:
"Pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos
Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa
própria autoridade, pronunciamos, declaramos e defi-
nimos como dogma divinamente revelado que Maria, a
Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem, depois de ter
concluído o curso da Sua vida terrestre, foi elevada em
corpo e alma à glória celeste". Nos termos dessa defini-
ção, Maria já está no estado que deve ser o dos eleitos
após a ressurreição dos mortos, significando a passagem
do estado corporal próprio da vida terrestre para o da
vida eterna. Cf. BOSSARD, A. In: Dicionário de Mariolo-
gia. Porto/Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário, s.d.
p. 25.
4) Concepção virginal: Maria concebeu Jesus sem “conhe-
cer um homem", ou seja, sem participação do sêmen
masculino; assim testemunham os Evangelhos de Ma-
teus (Mt 1,18) e Lucas (Lc 1,35), os antigos símbolos da
fé e, por isso, rezamos no credo: “Creio [...] em Jesus
Cristo, que foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu
da Virgem Maria". O testemunho dos Evangelhos são
diferentes, mas convergentes: "Maria, sua mãe, com-
prometida em casamento com José, antes que coabitas-
sem, achou-se grávida pelo Espírito Santo" (Mt 1,18); "O
Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te
cobrir com a sua sombra" (Lc 1,35), mostrando, assim,
que a concepção de Jesus foi obra do Espírito Santo.
Cf. LAURENCEAU, J. In: Dicionário de Mariologia. Porto/
Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário, s.d. p. 42.
5) Igreja e Maria: o Concílio Vaticano II apresenta Maria
como sendo o protótipo da Igreja, membro eminente da
Igreja e Mãe da Igreja. Ao vê-la como protótipo da Igreja,
22 © Mariologia

o Vaticano II retomou uma perspectiva muito apreciada


nos primeiros séculos e na Idade Média no sentido de
que Maria representa e significa a Igreja; a Igreja encon-
tra-se em Maria como Cristo a quis e constituiu. O aba-
de Isaac, discípulo de São Bernardo, dizia no século 13:
"Tudo o que está dito, nas Escrituras, universalmente da
Igreja, Virgem e Mãe, aplica-se a uma e a outra. Uma e
outra são mães, uma e outra são virgens. Uma e outra
dão a Deus-Pai uma posteridade: Maria dá ao Corpo a
sua Cabeça, a Igreja dá a esta Cabeça um Corpo. Uma e
outra são mães de Cristo, mas nenhuma O dá à luz com-
pleto sem a outra". Cf. HOLSTEIN, H. In: Dicionário de
Mariologia. Porto/Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuá-
rio, s.d. p. 84.
6) Imaculada Conceição: no dia 8 de dezembro de 1854,
o Papa Pio IX proclamou: "Declaramos, pronunciamos e
definimos que a doutrina que sustenta que a Bem-aven-
turada Virgem Maria foi, desde o primeiro instante da
sua concepção, preservada e imunizada de toda a man-
cha do pecado original, por uma graça e favor singulares
de Deus Todo-poderoso, em vista dos méritos de Jesus
Cristo, salvador do gênero humano, é uma doutrina re-
velada por Deus e, como tal, deve ser aceita e constan-
temente por todos os fiéis" – e assim estava proclamado
o dogma da Imaculada Conceição, que reza que Maria
foi preservada, desde o momento da sua conceição, do
pecado original, fonte fundamento da radical impecabi-
lidade da Mãe de Deus, reconhecida desde os primei-
ros séculos cristãos. Os orientais, em vez de falarem em
isenção de pecado, proclamam a suma santidade de Ma-
ria usando o conceito de panagia a "toda santa". O título
de "Mãe de Deus" reforçou a convicção da excepcional
santidade de Maria. O Concílio Vaticano II, numa síntese
extraordinária, integrou os dois conceitos de insenção
de pecado e de santidade extraordinária, assumindo o
conceito de Maria "toda santa" (LG 56) da Igreja orien-
tal. Cf. HOLSTEIN, H. In: Dicionário de Mariologia. Porto/
Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário, s.d. p. 85-88.

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© Caderno de Referência de Conteúdo 23

7) Mãe de Deus: o Concílio de Éfeso, realizado em 431, pro-


clamou que "Maria é verdadeiramente Mãe de Deus",
defendendo a unicidade de pessoa do Verbo encarnado,
ou seja, a sua natureza divina e humana, na única pes-
soa do Verbo encarnado, Jesus de Nazaré. O título “Mãe
de Deus” é consequência da doutrina católica sobre a
Encarnação do Verbo, ou seja, Maria engendrou, segun-
do a natureza humana, a pessoa do Filho de Deus, que
é Deus desde toda a eternidade. Maria é Mãe de Deus
porque, da sua própria carne, comunicou ao Verbo uma
natureza humana semelhante à sua. Cf. DELASALLE, A.
In: Dicionário de Mariologia. Porto/Aparecida: Perpétuo
Socorro/Santuário, s.d., p. 111.
8) Mãe da Igreja: “as afirmações doutrinais relativas a Ma-
ria (por exemplo: "Mãe de Deus", Imaculada Conceição,
Assunção...) são o fruto de um amadurecimento da vida
e da fé da Igreja, guiada pelo Espírito Santo para a ver-
dade total (Jo 16,13), na fidelidade ao ensinamento dos
Apóstolos (At 2,42). Esta explicitação progressiva dos
mistério de Maria, em relação com a vida da Igreja, no
decurso dos séculos, é um aspecto particulamente sig-
nificativo da Tradição viva que continua o testemunho
apostólico. É o Magistério apostólico (Concílio, Papas...)
que tem a missão e o carisma para verificar e atestar a
continuidade da Tradição. A piedade mariana, à medida
mesma do seu fervor, deve mostrar-se particularmen-
te disposta a deixar-se examinar e guiar pela doutrina
do Magistério". É nesse sentido que Paulo VI, na última
sessão do Concílio Vaticano II, proclamou Maria Mãe de
Deus. O Capítulo 8 da Lumen Gentium proclama “a bem-
-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus no mistério de
Cristo e da Igreja", e aqui encontramos todo o ensina-
mento da Tradição condensado sobre Maria, mãe e mo-
delo da Igreja (Cf. LAURENCEAU, J. In: Dicionário de Ma-
riologia. Porto/Aparecida: Perpétuo Socorro/Santuário,
s.d. pp. 113-114).
24 © Mariologia

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhável é
que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até
mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você
construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a
partir de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que “aprendizagem” não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-


tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
26 © Mariologia


Mariologia
Teologia  Marial



Fé e Religiosidade Liturgia
 Aparições
Popular Marianas

Fundamentos 


Patrística
Bíblicos  Dogmáticos



Antigo Novo
Testamento Testamento 
Concílios Magistério e
Cristológicos Sensus
 Fidelium

Espiritualidade Culto Marial Liturgia

Orações

Lex orandi lex
Encarnada Devoções
 credendi

Santuários:

Promessas romarias e
peregrinações

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Mariologia.

Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre
os principais conceitos desta disciplina e descobrir o caminho para
construir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo,
os conceitos de Mariologia e Cristologia implicam conhecer a re-
lação que existe entre essas duas áreas do conhecimento teoló-
gico, pois, no decorrer da história, a Mariologia esteve a serviço
da Cristologia, de forma que um dogma chamado mariano é, na

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 27

verdade, um dogma cristológico, pois, ao se afirmar, por exemplo,


que Maria é Mãe de Deus, de fato está se afirmando que Jesus,
Filho de Maria, é Deus.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com o aprofundamento dos conceitos da Mariologia,
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,
você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-
tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar
seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua
prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-
to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões
autoavaliativas de múltipla escolha.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
28 © Mariologia

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos da disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo vi-
sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
É importante que você se atente às explicações teóricas, prá-
ticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação,
bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao
compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permi-
te-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e
a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portan-
to, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Caderno de Referência de Conteúdo 29

conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos


para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto
para ajudar você.

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© Caderno de Referência de Conteúdo 31

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4. E-REFERÊNCIA
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ephemeridesmariologicae.com/index.php?option=com_content&view=article&id=46
:revista-qephemerides-mariologicaeq-&catid=43:la-revista&Itemid=53>. Acesso em: 7
fev. 2012.
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
EAD
Maria na História da
Salvação e o Mistério
da Encarnação
Redentora 1
1. OBJETIVOS
• Conhecer a importância de Maria na história da salvação.
• Compreender o mistério da encarnação redentora.
• Identificar a relação entre Maria e o mistério da encarna-
ção redentora.

2. CONTEÚDO
• Maria na história da salvação.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada, para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
34 © Mariologia

com o material didático em mãos e discuta a unidade


com seus colegas e com o tutor.
2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades
deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu
desempenho.
3) Durante o estudo desta unidade, lembre-se de que os
Santos Padres Ireneu, Justino, dentre outros, bem como
Santo Agostinho, cuja tradição foi relançada pelo Vatica-
no II, viram a importância da presença de Maria na his-
tória da salvação não como uma figura isolada, mas in-
tegrada no todo com a pessoa de seu Filho Jesus Cristo.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta primeira unidade, convidamos você a refletir sobre
Maria e sua importância na história da salvação, bem como sobre
o mistério da encarnação redentora.
Está preparado? Então, vamos lá!

5. MARIA NA HISTÓRIA
Maria é celebrada na Igreja no contexto da história da salva-
ção, de modo que ela não é vista como uma figura isolada. Como
grandes expoentes dessa Teologia, devemos citar não só os pri-
meiros Santos Padres Ireneu, Justino, dentre outros, mas também
Santo Agostinho, cuja tradição foi relançada pelo Vaticano II. Em
contrapartida, a liturgia contempla Maria dentro do mistério da
história e da Igreja, considerando-a como um de seus elementos
estruturais e determinantes.
Ao situarmos Maria na história da salvação, exige-se, inicial-
mente, levar em consideração algumas objeções apresentadas
pelo racionalismo crítico da história. Autores como K. Popper e H.

Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO


© Maria na História da Salvação e o Mistério da Encarnação Redentora 35

Albert insistem nas limitações do saber histórico, no sentido de


que nosso conhecimento histórico é fragmentado e provisório, de
forma que é impossível conhecer a história; o que apenas pode-
mos fazer é formular teorias, conjeturar hipóteses, que não po-
dem ser falsificadas por fatos posteriores.
Diante disso, como podemos justificar um saber histórico to-
tal que afirme uma história da salvação? Como provar que essa
história é portadora de salvação, quando os fatos parecem falsi-
ficá-lo? Nietzsche questionava perguntando: dizem que o Cristo
redimiu toda a humanidade, mas onde estão os redimidos? (POZO,
1988).
Outra crítica aplicada ao Novo Testamento questiona a his-
toricidade de determinados fatos ou personagens, de maneira es-
pecial os referentes ao evangelho da infância, o que fez surgir a
distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Assim, se abor-
damos a figura de Maria nessa perspectiva, cabe-nos perguntar:
até onde chega a história e até onde a interpretação é teológica ou
teologúmeno (theologoumenon)?
Antes de fixarmos o nosso olhar contemplativo no mistério
de Maria, é preciso, antes, refletir sobre a história da salvação,
que nos permita, de um lado, "dar razão de nossa esperança"
diante das críticas do mundo contemporâneo, e, de outro lado, ter
uma estrutura para uma exposição mariológica.
Dizer que há uma história da salvação é uma das afirmações
fundamentais de nossa fé. As limitações impostas pela crítica são
superadas pela Revelação, que nos foi dada gratuitamente. Essa
Revelação, sem dúvida, não nos oferece informações sobre o pas-
sado ou o futuro imanente do mundo, mas assegura-nos que todo
o processo histórico está sob a promessa de Deus e que o final da
história se identifica com a manifestação da Graça vitoriosa divina
(GARCIA PAREDES, 1984).
Como cristãos que creem, experimentamos intervenções de-
cisivas de Deus em nossa história, o que chamamos de kairós, que
36 © Mariologia

são os momentos oportunos da salvação. Dessa forma, a experi-


ência religiosa de Israel lembra como kairós a criação, o êxodo, a
aliança do Sinai, a conquista da terra prometida, o deserto, a repa-
triação depois do exílio, e os intérpretes desses fatos, que foram
os profetas.
Contudo, o fato central para definir a história da salvação é
Jesus Cristo, que é, ao mesmo tempo, o eixo central da história e o
seu intérprete, de forma que nele temos acesso a uma compreen-
são unitária da história. Jesus Cristo é a chave do passado, e nele
é revelado que o projeto de Deus criador segue em frente, apesar
do pecado, porque Deus não quer anular a criação, e sim levá-la
a uma plenitude insuspeitada, por meio de Jesus Cristo, seu Filho,
sustentado pela Palavra e pelo Espírito. Jesus é, também, a chave
do futuro, porque a criação e a história são os lugares onde Deus
Pai instaura seu Reino de liberdade, e onde se realiza a Aliança de
Amor, que tudo transforma e plenifica.
Portanto, a história, em seu presente, passado e futuro, está
sob o olhar, a ação e a providência de Deus Pai, que se faz presente
enviando o Filho e o Espírito. Não se concebe aqui uma dualidade
entre história profana e história sagrada, mas uma só história, na
qual a história da salvação é imanente ao processo histórico da
humanidade (GARCIA PAREDES, 1984).
Maria encontra-se com o seu Filho no centro da história em
que acontece o mistério da encarnação salvadora (Gl 4,4), pois o
Novo Testamento já apresenta uma Teologia da história, que não
se preocupa somente em relatar os acontecimentos salvíficos,
mas também situá-los, coerentemente, dentro do único projeto
de Deus, o qual se refere à Virgem Maria, que é uma personagem
de confluências, sendo a única testemunha de todos os momentos
mais decisivos da salvação (LAURENTIN, 1967).
Veja, a seguir, o que São Paulo diz na Carta aos Gálatas:
Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram
sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos. E a prova

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© Maria na História da Salvação e o Mistério da Encarnação Redentora 37

de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito
do seu Filho, que clama: "Abá, Pai!". Portanto, já não és mais es-
cravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro; tudo isso, por
graça de Deus (Gl 4, 4-7).

Maria, a mulher, aparece na plenitude dos tempos, ou seja,


na encruzilhada em que o Antigo Testamento chega à sua plenitu-
de, encruzilhada essa marcada pela missão do Filho e do Espírito,
provocando uma mudança qualitativa da história. Nesse sentido, o
Papa João Paulo II disse:
Esta “plenitude” indica o momento, fixado desde toda a eternida-
de, em que o Pai enviou o seu Filho, “para que todo o que n’Ele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ela designa o
momento abençoado em que “o Verbo, que estava junto de Deus,
se fez carne e habitou entre nós” (no mistério da Encarnação) (Jo 1,
1. 14), fazendo-se nosso irmão. Esta “plenitude” marca o momen-
to em que o Espírito Santo que já tinha infundido a plenitude de
graça em Maria de Nazaré, plasmou no seu seio virginal a natureza
humana de Cristo. A mesma “plenitude” denota aquele momento,
em que, pelo ingresso do eterno no tempo, do divino no humano, o
próprio tempo foi redimido e, tendo sido preenchido pelo mistério
de Cristo, se torna definitivamente “tempo de salvação”. Ela assi-
nala, ainda, o início arcano da caminhada da Igreja. Na Liturgia, de
fato, a Igreja saúda Maria de Nazaré como seu início, por isso mes-
mo que já vê projetar-se, no evento da Conceição imaculada, como
que antecipada no seu membro mais nobre, a graça salvadora da
Páscoa; e, sobretudo, porque no acontecimento da Encarnação se
encontram indissoluvelmente ligados Cristo e Maria Santíssima:
Aquele que é o seu Senhor e a sua Cabeça e Aquela que, ao pro-
nunciar o primeiro “fiat” (faça-se) da Nova Aliança, prefigura a con-
dição da mesma Igreja de esposa e de mãe (JOÃO PAULO II, 1987).

Na encruzilhada da história, encontra-se uma mulher, Ma-


ria, cuja presença não é casual ou por mera necessidade biológica,
mas por desígnio do Pai, o qual revela que ela é personagem de
confluências.
São Mateus coloca-a na genealogia como o único elo (Mt 1,
16) que permitiu a Jesus ser filho de Davi e pertencer ao povo; ela
é o ponto de contato por meio do qual o povo e a história de Israel
convergem em Jesus. Maria é a testemunha qualificada do passo
de Jesus implícito (não revelado) e ao Jesus explícito (revelado e
revelador) no ministério de sua vida pública.
38 © Mariologia

A cena do menino Jesus no tempo fez de Maria a testemu-


nha da primeira revelação, feita por Jesus, de sua filiação divina e
de seu projeto de dedicação exclusiva às coisas do Pai (Lc 2, 49-
50). Em Caná da Galileia, quando Jesus realiza o seu primeiro sinal
em que manifestou a sua glória (Jo 2, 1-11), Maria exerceu um
papel ativo de intercessão. Em outro momento de encruzilhada, a
morte de Jesus na cruz e a partida deste mundo para o Pai, ali de
novo, aos pés da cruz (Jo 19, 25-27), Maria esteve presente como
testemunha qualificada da glorificação do Filho pelo Pai (GARCIA
PAREDES, 1984).
A presença de Maria nesses momentos cruciais da história
da salvação tem um profundo significado dentro do desígnio histó-
rico de Deus Pai: o Filho vem do Pai ao mundo e volta desse mundo
ao Pai sob a presença da mulher; ele apareceu diante do mundo
como o missionário do Pai sob o olhar de Maria.
Maria também esteve presente no momento da inauguração
do tempo da Igreja, pois, em Pentecostes, fez parte da assembleia
constituinte da Igreja de forma singular. Aos pés da cruz, que tam-
bém foi um pentecostes, pois Jesus verteu o Espírito ao derramar
sangue e água do seu peito perfurado (Jo 19, 31-37), Maria rece-
beu a missão de cuidar maternalmente dos discípulos, e também
foi acolhida pelo discípulo amado, como mãe e exemplo. Tudo isso
mostra-nos que Maria é uma personagem de confluências decisi-
vas dentro da história da salvação.
A chave para entendermos e nos situarmos na história da
salvação ou para descobrirmos a história do mundo como história
da salvação é Jesus Cristo.
Logo, é por meio de Jesus que se pode entender todo o pro-
cesso histórico do mundo: sua protologia e sua escatologia. Entre-
tanto, não passa despercebido o fato de que há uma figura que o
acompanha silenciosamente e que está aí, junto dele, não sem um
desígnio divino: é a mulher, virgem-mãe Maria.

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© Maria na História da Salvação e o Mistério da Encarnação Redentora 39

Nesse sentido, a mulher Eva está presente nos relatos proto-


lógicos, a mulher Maria está presente nos relatos da plenitude dos
tempos, e a mulher Igreja está presente nos relatos escatológicos,
fazendo da mulher e mais concretamente da figura histórica de
Maria uma chave-subordinada, contextual, da história da salvação
(GARCIA PAREDES, 1984).

6. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais são as críticas formuladas pelo racionalismo crítico da história, que
nega a existência de unidade na história e muito menos uma história da
salvação?

2) Como podemos superar as críticas impostas pelo racionalismo e como pode-


mos vislumbrar uma saída ao dizer que há uma Revelação e, portanto, uma
história da salvação?

3) Quais foram os momentos cruciais da história em que Maria esteve presente?

7. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, conhecemos a história de Maria: a mulher
virgem-mãe.
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Com tais conhecimentos, estamos aptos a estudar, na próxi-


ma unidade, o papel de Maria descrito na Bíblia.
Até lá!

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GARCIA PAREDES, J. C. R. . Maria, a mulher do Reino de Deus. Tradução de Attilio Cancian.
São Paulo: Ave Maria, 1984. Tradução de: Maria seducida por el reino de Dios.
______. Mariología. Madrid: BAC, 1995.
______. Mariologia. Síntese bíblica, histórica e sistemática. São Paulo: Ave Maria, 2011.
JOÃO PAULO II. Carta encíclica: “Redemptoris Mater”. São Paulo: Edições Loyola, 1987.
LAURENTIN, R. Court traité sur la Vierge Marie: cinquième édition, refondue à la suíte du
concile. Paris: Lethielleux, 1967.
POZO, C. Maria, nueva Eva. Madrid: BAC, 2005.

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