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PROGRAMAS DE SAÚDE

E SOCORROS URGENTES
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Programas de Saúde e Socorros Urgentes – Prof.ª Dra. Cristiane Miryam Drumond de
Brito e Prof.ª Flávia Vernaschi Lima

Olá! Meu nome é Cristiane Miryam Drumond de Brito. Sou doutora em Comunicação
e Semiótica, docente na UFSCar e tutora na Residência Multiprofissional em Saúde da
Família e Comunidade da UFSCar.
E-mail: cdru@uol.com.br

Olá! Meu nome é Flávia Vernaschi Lima. Sou graduada em Enfermagem e especialista
em Enfermagem Médico-Cirúrgica pela Unifesp.
E-mail: fvlmail@uol.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Cristiane Miryam Drumond de Brito
Flávia Vernaschi Lima

PROGRAMAS DE SAÚDE
E SOCORROS URGENTES
Caderno de Referência de Conteúdo

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

616.025 B875p

Brito, Cristiane Miryam Drumond de


Programas de saúde e socorros urgentes / Cristiane Miryam Drumond de
Brito, Flávia Vernaschi Lima – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
166 p.

ISBN: 978-85-67425-37-5

1. Fundamentação teórica dos conceitos de saúde e doença, necessidades humanas básicas e os


aspectos históricos e psicossociais da pessoa humana e suas dificuldades relativas à qualidade de
vida. 2. Noções sobre higiene física e mental, individual e coletiva, correlacionados à análise dos
fundamentos biopsicossociais da Educação Física e dos Desportos nas várias faixas etárias,
incluindo a relação com a saúde dos diversos aparelhos e sistemas. 3. Noções sobre as DSTs,
bem como discussão da higiene e parâmetros de sinais vitais. 4. Formar profissionais para
identificar as situações que representem riscos à vida e à sua qualidade, apresentando noções
sobre a promoção de ações de socorro nos acidentes e emergências clínicas de diferentes origens.
5. Biossegurança, traumatismos, ferimentos e lesões, hemorragias e emergências clinicas.
I. Lima, Flávia Vernaschi. II. Programas de saúde e socorros urgentes.

CDD 616.025

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
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Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo CDD 658.151
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
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Raphael Fantacini de Oliveira
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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO....................................................................... 9
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 30
4 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 30

Unidade 1 – HISTÓRIA DA SAÚDE NO BRASIL


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 31
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 31
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 32
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 32
5 HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL................................................................... 32
6 PROGRAMAS DE SAÚDE................................................................................... 56
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 59
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 60
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 60
10 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 61

Unidade 2 – ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE, PROGRAMAS


GOVERNAMENTAIS, DST, SAÚDE MENTAL, CORPO E
INTERSETORIALIDADE
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 63
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 63
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 64
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 64
5 COMBATE À DENGUE........................................................................................ 65
6 SAÚDE DA FAMÍLIA........................................................................................... 68
7 FARMÁCIA POPULAR........................................................................................ 76
8 UPA 24H.............................................................................................................. 77
9 SAMU-192.......................................................................................................... 78
10 N OÇÕES DE DST................................................................................................. 79
11 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 91
12 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 92
13 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 93
14 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 93
Unidade 3 – ATENDIMENTO AOS ACIDENTES
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 95
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 95
3 ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE.................................................. 95
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 96
5 SEGURANÇA DA CENA...................................................................................... 97
6 AVALIAÇÃO DA VÍTIMA..................................................................................... 100
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 136
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 137
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 137
10 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 137

Unidade 4 – PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA E OUTRAS EMERGÊNCIAS


CLÍNICAS
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 139
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 139
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 140
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 140
5 VÍTIMA COM SUSPEITA DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA....................... 143
6 OUTRAS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS................................................................... 154
7 QUESTÃO AUTOAVALIATIVA............................................................................. 164
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 164
9 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 165
10 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 165

Claretiano - Centro Universitário


Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC

Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Fundamentação teórica dos conceitos de saúde e doença, necessidades huma-
nas básicas e os aspectos históricos e psicossociais da pessoa humana e suas
dificuldades relativas à qualidade de vida. Noções sobre higiene física e mental,
individual e coletiva, correlacionados à análise dos fundamentos biopsicossociais
da Educação Física e dos Desportos nas várias faixas etárias, incluindo a relação
com a saúde dos diversos aparelhos e sistemas. Noções sobre as DSTs, bem
como discussão da higiene e parâmetros de sinais vitais. Formar profissionais
para identificar as situações que representem riscos à vida e à sua qualidade,
apresentando noções sobre a promoção de ações de socorro nos acidentes e
emergências clínicas de diferentes origens. Biossegurança, traumatismos, feri-
mentos e lesões, hemorragias e emergências clínicas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Neste Caderno de Referência de Conteúdo, você encontrará
unidades que o auxiliarão na compreensão e domínio de aspectos
históricos, antropológicos, sociológicos, filosóficos e técnicos da
história da saúde brasileira, do processo saúde-doença, do concei-
8 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

to de homem nesse processo, de sinais vitais, primeiros socorros,


ações de socorros nos acidentes e emergências clínicas de diferen-
tes origens, bem como biossegurança, traumatismos, ferimentos e
lesões, hemorragias e emergências clínicas.
Este caderno tem seu conteúdo relacionado à saúde, toda-
via, sua abordagem está direcionada para um contexto mais am-
plo, afinal, trataremos de sua inserção no contexto social e escolar.
Assim, nosso intento é o desenvolvimento da aprendizagem que
o auxiliará na compreensão do trabalho docente, uma vez que é
esse o principal foco de estudo e atuação de um licenciado em
Educação Física.
A Educação a Distância exigirá de você uma nova forma de
estudos, uma vez que você será o protagonista de sua aprendiza-
gem. No entanto, você não estará sozinho, pois terá o apoio ne-
cessário para a construção do seu conhecimento. Esse será um
desafio que enfrentaremos juntos, e, com sua dedicação, o cresci-
mento profissional e pessoal será conquistado.
Não se esqueça de assumir o compromisso de participar e de
interagir com seus tutores e com seus colegas de curso nas tarefas
indicadas, assim como de fazer a leitura não só deste material, mas
também das bibliografias indicadas. Tenha certeza de que, ao apro-
priar-se dessa postura, você facilitará a aprendizagem de novos co-
nhecimentos, o que levará, certamente, a um exercício profissional
comprometido com a valorização das possibilidades educacionais
das práticas em saúde crítico-reflexivas.
Visando ao favorecimento dos estudos, o conteúdo deste
material está organizado em quatro unidades.
Na Unidade 1, a história da saúde no Brasil será contextu-
alizada, utilizando, para isso, a análise histórica. A compreensão
crítica dessa história é importante, pois é a partir dela que nos
posicionamos atualmente como cidadãos e profissionais influen-
ciados por todo o processo conflituoso de sua construção.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Na segunda unidade, compreenderemos como a saúde está


organizada na atualidade com os diversos programas do governo,
por meio do Ministério da Saúde, bem como qual é a atenção dis-
pensada por este a esse tema e suas relações com outros setores,
como a Educação. Nessa unidade, buscaremos uma reflexão do
contexto da saúde em interação com o contexto educacional.
Já na terceira unidade, apresentaremos os primeiros socor-
ros, sinais vitais, ações de socorros nos acidentes e emergências
clínicas de diferentes origens, bem como biossegurança.
Enfim, a Unidade 4 tratará de traumatismos, ferimentos e
lesões, hemorragias e emergências clínicas e os procedimentos
possíveis a um docente de Educação Física.
Desejamos, no início desta trajetória, que você se empenhe
em cumprir as tarefas propostas, concentrando-se, sempre, na
qualidade de sua formação!
Após esta breve introdução aos conceitos principais do nos-
so estudo, apresentaremos a seguir, no Tópico Orientações para o
estudo, algumas orientações de caráter motivacional, bem como
dicas e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar o seu
estudo.

2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO


Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
A ideia de saúde pública de forma integralizada ainda é bem
recente no Brasil. Você deve ter alguma experiência com planos

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10 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

de saúde que são pagos por mês para usufruir-se de seus serviços
e que elevam seu custo conforme o aumento da idade, além de
não aceitarem pessoas com problemas de saúde, ou, quando acei-
tam, o preço é diferenciado. Os planos de saúde são realmente
para quem tem saúde, não é mesmo? Mas quando se iniciou essa
história de planos de saúde? Eles existem com que função? Ape-
nas pessoas das classes média e alta têm acesso? Os planos atuam
em todas as áreas necessárias para a saúde? Infelizmente, o que
assistimos hoje é um abuso de planos, os quais, muitas vezes, no
momento em que mais precisamos deles, nos abandonam.
Outro aspecto que vivenciamos é a difamação, pela mídia,
da saúde pública. Os repórteres correm atrás de escândalos; en-
tão, mostram hospitais precários, filas enormes para o atendimen-
to etc. Pouco se ouve falar em experiências positivas em relação à
saúde pública; às vezes, é possível escutar, quando alguém famo-
so usufrui do sistema público e se recupera, como o vocalista da
banda Os Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, que, em 2001,
foi atendido no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, o qual está
inserido em uma rede de várias unidades hospitalares destinadas
ao atendimento e reabilitação de vítimas de politraumatismos e
problemas locomotores, rede essa que é mantida pelo Governo
Federal.
Desse modo, ficamos paralisados diante destas duas reali-
dades: o plano de saúde que nos "abandona" e a saúde pública
"abandonada". Mas será que é assim mesmo? Será que não po-
demos contar com um sistema de saúde pública que nos atenda
minimamente? E se um de nossos alunos cair e fraturar algum
membro em uma de nossas aulas? E se, por algum problema de
saúde, um aluno convulsionar em um jogo de futebol na quadra?
Será que não há nada a se fazer? A saúde pública é inexistente na
vida cotidiana dos brasileiros?
Todos nós, cotidianamente, temos experiências com a saúde
pública do país. Esperamos que as suas tenham sido experiências
positivas, as quais estão inseridas em programas governamentais,
uma vez que a missão promulgada pelo Ministério da Saúde atual é:
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

[...] oferecer condições para a promoção, proteção e recuperação


da saúde da população, reduzindo as enfermidades, controlando
as doenças endêmicas e parasitárias e melhorando a vigilância à
saúde, dando, assim, mais qualidade de vida ao brasileiro (BRASIL,
2011).

Compete ao Ministério da Saúde, como constituído atual-


mente, ter uma política nacional de saúde; coordenar e fiscalizar
o Sistema Único de Saúde (SUS); atuar na saúde ambiental e em
ações de promoção, proteção e recuperação da saúde individual e
coletiva, inclusive a saúde dos trabalhadores e dos indígenas; dar
informações de saúde a todos os cidadãos brasileiros; implemen-
tar políticas de assistência farmacêutica, de avaliação e incorpo-
ração de tecnologias no SUS; desenvolver pesquisas em saúde no
país; realizar ações preventivas em geral, como ações de vigilância
e controle sanitário de fronteiras e de portos marítimos, fluviais
e aéreos; e cuidar da vigilância de saúde, especialmente drogas,
medicamentos e alimentos. Assim, o Ministério da Saúde nos dias
atuais está presente na vida de todos os cidadãos brasileiros –
quando vamos ao supermercado comprar um alimento ou a uma
drogaria adquirir um medicamento, por exemplo. O problema é
que muitos de nós nem sequer temos a consciência de como a
saúde pública atua no nosso país e reproduzimos discursos da mí-
dia sem nenhum conhecimento a respeito disso.
As experiências que vivenciamos atualmente em relação à
saúde ainda são recentes historicamente e faz pouco mais de 20
anos, já que apenas na Constituição Federal de 1988 se afirmou a
importância de promover a saúde como direito fundamental de
cidadania, cabendo ao Estado a obrigação de garanti-la aos cida-
dãos. Antes disso, a saúde não era um direito de todos nem dever
do Estado. Como afirma Mendes (1996, n. p.):
Na década de 80 que surgiram novas propostas de saúde, visando
uma melhor organização do sistema, trazendo os pressupostos de
equidade, integralidade e universalidade, como princípios nortea-
dores das políticas no setor saúde, exigindo profissionais com for-
mação generalista, capazes de atuar em diferentes níveis de aten-
ção à saúde.

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12 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Desse modo, houve discussões entre as entidades de classe,


escolas, instituições de saúde, entre outras organizações, acerca
da necessidade de reformulação dos currículos da área de saúde. E
é aqui que a Educação Física se insere: entre a saúde e a educação.
A relação da Educação Física com a saúde na busca de sua
cientificização data do final do século 19 e início do século 20, com
a busca, também, do reconhecimento da Educação Física Esco-
lar. Nesse período, os fundamentos científicos da Educação Física
baseavam-se no pensamento médico-higienista, estruturando-se,
principalmente, nos conhecimentos biológicos (MENDES; NÓBRE-
GA, 2012).
Mas a relação da Educação Física com o SUS vem ocorrendo
recentemente, e os estudos sobre o SUS e a saúde coletiva ainda
ocupam lugar de pouco prestígio nas grades curriculares dos cursos
superiores de Educação Física. A demanda crescente por profissio-
nais aptos ao trabalho no SUS não efetivou uma formação inter-
disciplinar e voltada às necessidades de saúde (PASQUIM, 2012).
Além disso, esse caderno não tem a pretensão de aprofundar-se
em saúde coletiva, pois visa dar apenas uma visão geral do históri-
co da saúde pública no Brasil e dos programas atuais do Ministério
da Saúde, que prevê uma intersetorialidade na prática tanto da
saúde quanto da educação e parcerias entre o professor de Educa-
ção Física e os equipamentos de saúde territoriais, os quais estão
inseridos no mesmo território da escola poderão ser construídas.
Ocorrências imprevistas que demandam atenção à saúde também
poderão acontecer na prática do professor, e este, como profissio-
nal e como cidadão, deverá ser resolutivo nos primeiros socorros,
nas relações de encaminhamento ao setor da saúde, bem como
na construção de atividades de promoção e prevenção da saúde e
qualidade de vida.
Como veremos na primeira unidade deste CRC, a história da
saúde pública no país, tal como toda história, tem sua cronologia
escrita, por vezes, de forma linear, apontando os diversos aspectos
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

nela presentes: antropológico, porque abrange essa temática con-


siderando diversas dimensões; sociológico, por estudar a história
e o comportamento humano interligado ao coletivo, a grupos, a
instituições, a associações, ou seja, aos fenômenos sociais em que
essa história está envolvida; filosófico, por lidar com problemas
fundamentais da existência humana, como os valores morais e es-
téticos; além da reflexão dentro do campo das Ciências Biológicas
e da Medicina Social. Isso nos será apresentado no campo da com-
plexidade, isto é, de forma interdisciplinar; orientamos, portanto,
que você esteja aberto a diferentes olhares na compreensão desse
histórico. Apresentaremos somente um recorte dele, pois o apro-
fundamento é algo inerente à educação continuada e a uma práti-
ca constante de autodidatismo.
Os governos, ao longo da história, organizam a atuação de
suas políticas de forma a ter ações cotidianas associadas ao campo
da saúde. Então, há diversos programas e indicativos do governo
atual dentro desse campo, e hoje há vários projetos que interagem
no campo da educação e da saúde. Os projetos governamentais
são apresentados, e incentivos aos estados e municípios são rea-
lizados, porém a prática acontece na realidade concreta de cada
município. Assim, esse estudo levará a você alguns conhecimentos
em tal área, que devem ser atualizados na página do site do Minis-
tério da Saúde (disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/
portalsaude/>. Acesso em: 13 jun. 2012) e do Ministério da Edu-
cação (disponível em: <http://www.mec.gov.br/>. Acesso em: 13
jun. 2012).
Mas a atitude esperada neste campo é que abra um espaço
para você compreender que a cada perfil de governo é concreti-
zado em políticas reais que acontecem nos locais onde as escolas
estão inseridas. Do ideal escrito na política à prática real, há dis-
tanciamentos, e você, como profissional e cidadão, pode exercer
e ensinar a importância da cidadania e dos direitos reservados às
pessoas. Portanto, sua postura no estudo da segunda unidade, na
qual trataremos desse assunto, deve ser crítica e reflexiva, diante
da apresentação dos programas atuais de governo.

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14 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

As unidades que se seguirão abordarão aspectos técnicos de


procedimentos reais dos quais o professor deve ter conhecimento
em sua busca pelo aprendizado.
Desejamos a todos um bom estudo e uma boa caminhada
crítico-reflexiva no campo da saúde e da educação!

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápida
e precisa das definições conceituais aqui estudadas, possibilitan-
do-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados
na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Re-
ferência de Conteúdo. É claro que esta apresentação não dá conta
de todos os conceitos que este campo do saber abarca, mas com
certeza leva a uma aproximação da linguagem específica utilizada.
Conceitos traduzem uma visão de mundo, e vale ressaltar
que o recorte dado aqui não é o único; os conceitos que veremos
serão apresentados como uma reflexão, e não como algo pronto e
determinado. O mais complexo de todos é o próprio conceito de
saúde, e cabe a você se perguntar, como educador físico, qual a
sua ideia sobre o que é saúde.
1) Biossegurança: "[...] significa Vida + Segurança, em sen-
tido amplo é conceituada como a vida livre de perigos.
Genericamente, medidas de biossegurança são ações
que contribuem para a segurança da vida, no dia-a-dia
das pessoas (ex.: cinto de segurança, faixa de pedestres).
Assim, normas de biossegurança englobam todas as me-
didas que visam evitar riscos físicos (radiação ou tempe-
ratura), ergonômicos (posturais), químicos (substâncias
tóxicas), biológicos (agentes infecciosos) e psicológicos
(como o estresse). No ambiente hospitalar encontram-
-se exemplos de todos estes tipos de riscos ocupacionais
para o trabalhador de saúde (p. ex., radiações, alguns
medicamentos etc.)" (CAVALCANTE; MONTEIRO; BAR-
BIERI, 2012).
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

2) Educação em Saúde: "A educação em saúde como área


de conhecimento requer uma visão [...] tanto da educa-
ção como da saúde, integrando disciplinas como psico-
logia, sociologia, filosofia e antropologia. [...] Dessa for-
ma, o conceito de educação em saúde está ancorado no
conceito de promoção da saúde, que trata de processos
que abrangem a participação de toda a população no
contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas
sob risco de adoecer. [...] Uma educação em saúde nos
moldes da integralidade inclui políticas públicas, am-
bientes apropriados para além dos tratamentos clínicos
e curativos, comprometidas com o desenvolvimento da
solidariedade e da cidadania, envolvidas na melhoria da
qualidade de vida e na promoção do homem" (MACHA-
DO et al., 2012). A educação em saúde é uma "prática na
qual existe a participação ativa da comunidade, que pro-
porciona informação, educação sanitária e aperfeiçoa
atitudes indispensáveis para vida" (BRASIL, 2007, p. 13).
3) Emergência: "ocorrência ou situação perigosa, de apare-
cimento súbito e imprevisto, necessitando de imediata
solução".
4) Prevenção em saúde: refere-se a doenças e pode ocor-
rer em nível primário, secundário ou terciário. Há outra
classificação, mais abrangente, a qual reconhece cinco
níveis de prevenção: primordial, primário, secundário,
terciário e quaternário, os quais são mais bem detalha-
dos, respectivamente, a seguir.
5) Prevenção primordial: "tem por objectivos evitar a
emergência e o estabelecimento de estilos de vida que
aumentem o risco de doença. Ao prevenir padrões de
vida social, económica ou cultural que se sabe estarem
ligados a um elevado risco de doença, promove-se a saú-
de e o bem-estar e diminui-se a probabilidade de ocor-
rência de doença no futuro. Para tal, procura-se elaborar
e aplicar políticas e programas de promoção de ‘deter-
minantes positivos de saúde’, na população em geral e
em grupos seleccionados. Temos como exemplos:
• legislação para criação de espaços livres de fumo do
tabaco;

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16 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

• plano nacional de saúde escolar (PNSE);


• plano nacional para a acção ambiente e saúde (PNA-
AS);
• regulamentação para a segurança alimentar com im-
plementação obrigatória do sistema de análise e ges-
tão do risco [...].
Por meio destas medidas, prevê-se e pretende-se que
o impacto na saúde pública seja notável, já que os pro-
gramas e políticas têm como alvo um grande número
de indivíduos e porque um mesmo ‘determinante posi-
tivo’ ou comportamento saudável tem efeitos benéficos
múltiplos na saúde (protecção de várias doenças). Por
exemplo, a prevenção do tabagismo contribui para a pre-
venção de doenças respiratórias, oncológicas e cardio-
vasculares" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012).
6) Prevenção primária: "visa evitar ou remover factores de
risco ou causais antes que se desenvolva o mecanismo
patológico que levará à doença. Recorre a meios diri-
gidos ao nível individual, a grupos seleccionados ou à
população em geral. [...] Espera-se a diminuição da inci-
dência da doença pelo controlo de factores de risco ou
causas associadas, bem como a diminuição do risco mé-
dio de doença na população. Como exemplos deste tipo
de prevenção, temos:
• imunização (vacinação) contra algumas doenças in-
fecto-contagiosas;
• toma de vitamina D pelas crianças para prevenir o ra-
quitismo;
• uso de preservativos para a prevenção de doenças se-
xualmente transmissíveis;
• uso de seringas descartáveis pelos toxicodependen-
tes, para prevenir infecções como VIH/SIDA e hepati-
tes" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012).
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

7) Prevenção secundária: "corresponde à detecção pre-


coce de problemas de saúde em indivíduos presumi-
velmente doentes, mas assintomáticos para a situação
em estudo. Pretende-se, ainda, que haja uma aplicação
imediata de medidas apropriadas, com vista ao rápido
restabelecimento da saúde ou, pelo menos, um condi-
cionamento favorável da evolução da situação, com cura
e/ou redução das consequências mais importantes da
doença. Este nível de prevenção pressupõe o conheci-
mento da história natural da doença, a existência de um
período de detecção precoce suficientemente longo (pe-
ríodo pré-clínico ou assintomático) e facilmente detec-
tável, e que seja passível de tratamento que interrompa
a evolução para estádios mais graves. Assim, espera-se
que haja diminuição da prevalência da doença, essen-
cialmente pela diminuição da duração da mesma. Temos
como exemplos:
• rastreio dos cancros do colo do útero, da mama, da
próstata, do cólon e recto;
• rastreio da fenilcetonúria no recém-nascido;
• rastreio e vigilância da pressão arterial, glicémia ou
dislipidémia;
• realização dos testes de avaliação de acuidade auditi-
va e visual no âmbito da saúde ocupacional;
• provas cutâneas e radiografia do tórax para o rastreio
e diagnóstico precoce da tuberculose" (PORTAL DE
SAÚDE PÚBLICA, 2012).
8) Prevenção terciária: "este tipo de prevenção tem como
objectivos: 1) limitar a progressão da doença, circuns-
crevendo-a, 2) evitar ou diminuir as consequências ou
complicações da doença como as insuficiências, inca-
pacidades, sequelas, sofrimento ou ansiedade, morte
precoce, 3) promover a adaptação do doente às conse-
quências inevitáveis (situações incuráveis), 4) prevenir
recorrências da doença, ou seja, controlá-la e estabilizá-
-la. Para atingir estes objectivos, é frequente (e neces-
sária) a intervenção associada da medicina preventiva e

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18 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

da medicina curativa. Com efeito, é muitas vezes difícil


individualizar os seus papéis e sobressai, não raras ve-
zes, a prevenção exercida fundamentalmente através de
terapêutica, controlo e reabilitação médicas. Não obs-
tante essa situação, há múltiplos exemplos de acções de
carácter não médico e que são fundamentais para a po-
tenciação da capacidade funcional do indivíduo, melho-
ria significativa no seu bem-estar, reintegração familiar e
social e até diminuição dos custos sociais e económicos
dos ‘estados de doença’ [...]:
• realização de sessões formativas/educativas nas es-
colas e locais de trabalho para eliminar atitudes fóbi-
cas em relação a indivíduos soropositivos para o VIH
[AIDS];
• reintegração de trabalhadores na empresa que por
algum tipo de incapacidade (pós-traumática, seque-
las de politraumatismos etc.) não possam voltar a re-
alizar o mesmo tipo de actividades;
• educação, formação e apetrechamento necessários
à autonomia de indivíduos [...]" (PORTAL DE SAÚDE
PÚBLICA, 2012).
9) Prevenção quaternária: "trata-se dum nível de preven-
ção recentemente introduzido [...]. Apesar de desconhe-
cido ou não aceite por muitos, este nível de prevenção
assenta num conjunto de evidências e argumentos de
contexto muito actual e premente. É sabido que a po-
pulação − concretamente dos países mais desenvolvi-
dos − se encontra em progressivo envelhecimento, e
que tal facto determina o aumento de doenças crónico-
-degenerativas, doenças do foro oncológico, com neces-
sidade de cuidados assistenciais de toda a ordem, de-
signadamente continuados e paliativos. Nesse sentido,
a alteração da estrutura familiar e da dinâmica social
também contribuem para a institucionalização dos ido-
sos, internamentos mais prolongados (até em fase ter-
minal), decorrendo também uma maior solicitação de
assistência. A inovação científico-tecnológica − médica,
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

cirúrgica, laboratorial, etc. – é cada vez mais ‘veloz’ no


seu surgimento, e também mais exigente na verificação
experimental, financiamento e cumprimento de normas
para introdução no ‘mercado’, entre outros aspectos.
As maiores expectativas das populações face à saúde −
exigência de mais e melhores cuidados de saúde − e a
prática duma ‘medicina defensiva’, conduzem à avultada
realização de exames complementares de diagnóstico e
aplicação de possibilidades terapêuticas, cada vez mais
caras e sofisticadas, que podem ultrapassar o apropria-
do e racional. É atribuído ‘estatuto patológico’ a factores
de risco e situações fisiológicas. Ao se estabelecerem li-
miares de intervenção cada vez mais baixos gera-se uma
‘epidemia de riscos’, e consequente alargamento do con-
sumo de cuidados de saúde e mercado farmacêutico. O
‘patrocínio da doença’ pela indústria farmacêutica, atra-
vés de campanhas dirigidas ao público, e beneficiando
da sobrestima da clínica e dos factores de risco, resul-
tam em ‘marketing do medo’ promotor de consumo. A
‘dessacralização’ dos clínicos devido a um público mais
activo na sua saúde, que aceita menos passivamente a
autoridade médica, e que é mais permeável a outras in-
fluências menos credíveis (porque parciais) como a já re-
ferida indústria farmacêutica, informação e publicidade
em media tendenciosos, além do excesso de informação
que o público não sabe gerir, leva a uma aquisição de
produtos e serviços de modo mais avultado. Como con-
sequência de todos estes factores e realidades, resultam
uma sociedade dependente e ‘hipermedicalizada’, a ‘ro-
tulagem’ indevida e a ‘epidemia de riscos’, efeitos secun-
dários da utilização excessiva (iatrogenias), custos cres-
centes e desperdício em saúde. Perante este cenário, a
prevenção quaternária tem como objectivos:
• evitar o excesso de intervencionismo médico e suas
consequências (ou iatrogenias);
• detectar indivíduos em risco de sobretratamento (‘hi-
permedicalização’), para os proteger de novas inter-
venções médicas inapropriadas;

Claretiano - Centro Universitário


20 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

• sugerir, subsequentemente, alternativas eticamente


aceitáveis por forma a curar sem dano;
• capacitar os utentes [indivíduos], enquanto consumi-
dores de cuidados de saúde, quanto às implicações
(individuais, sociais, económicos) do consumo inapro-
priado;
• salientar a importância de ‘análise das decisões clí-
nicas’ no aumento da qualidade do acto médico, no
complemento e reforço do julgamento e decisão clí-
nicos, na utilização dos métodos de diagnósticos e
tratamento, na prescrição criteriosa e adequada téc-
nico-cientificamente, na racionalidade económica e do
acto médico.
Em suma, este nível preventivo visa, genericamente, evi-
tar ou atenuar o excesso de intervencionismo médico −
actos desnecessários ou injustificados, ‘passivos’ ou ‘acti-
vos’" (PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA, 2012, grifo do autor).
10) Primeiros socorros: "[...] referem-se ao atendimento
temporário e imediato de uma pessoa que está ferida
ou que adoece repentinamente. Também podem en-
volver o atendimento em casa [e/ou local do ocorrido]
quando não se pode ter acesso a uma equipe de resgate
ou enquanto os técnicos em emergência médica (TEM)
não chegam. Os primeiros socorros incluem reconhecer
condições que põem a vida em risco e tomar as atitudes
necessárias para manter a vítima viva e na melhor con-
dição possível até que se obtenha atendimento médico.
[...] Os principais objetivos dos primeiros socorros são:
• Reconhecer situações que ponham a vida em risco.
• Aplicar respiração e circulação artificiais quando ne-
cessário.
• Controlar o sangramento.
• Tratar de outras condições que ponham a vida em risco.
• Minimizar o risco de outras lesões e complicações.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

• Evitar infecções.
• Deixar a vítima o mais confortável possível.
• Providenciar assistência médica e transporte" (HA-
FEN; KARREN; FRANDSEN, 2002, p. 3).
11) Promoção da saúde: "promoção da saúde é o nome
dado ao processo de capacitação da comunidade para
atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, in-
cluindo uma maior participação no controle deste pro-
cesso. Para atingir um estado de completo bem-estar fí-
sico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber
identificar aspirações, satisfazer necessidades e modifi-
car favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser
vista como um recurso para a vida, e não como objetivo
de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo,
que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como
as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não
é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para
além de um estilo de vida saudável, na direção de um
bem-estar global" (BAHIA, 2012).
12) Saúde: "o conceito de saúde reflete a conjuntura social,
econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não repre-
senta a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá
da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valo-
res individuais, dependerá de concepções científicas, re-
ligiosas, filosóficas" (SCLIAR, 2012). Houve o tempo em
que saúde e doença estiveram relacionadas a concep-
ções religiosas associadas ao pecado e ao castigo. Com a
descoberta de Descartes no campo da Mecânica, vê-se o
corpo como uma máquina, e, portanto, "saúde" significa
o "silêncio dos órgãos". Com a revolução pasteuriana, o
microscópio foi descoberto, revelando a associação en-
tre micro-organismos causadores de doenças. O nasci-
mento da Epidemiologia trouxe a ideia de se contabilizar
as doenças, e diversos foram os estudos realizados no
mundo que chamaram a atenção para as desigualdades
no processo saúde-doença, estabelecendo-se diferenças
conforme o distrito, as condições de vida sobre a morta-
lidade e os tipos de enfermidades, isto é, considerando

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22 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

as condições sanitárias, dando-se início, assim, à ideia


de saúde pública, ideia essa que ganhou força de lei na
Grã-Bretanha, em 1840. O mundo caminhou, ocorreram
guerras, várias ideias surgiram, em especial marxistas, e
houve dificuldades de consenso em relação ao concei-
to de saúde. Em 1948, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) define: "Saúde é o estado do mais completo bem-
-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
enfermidade" (SCLIAR, 2012). Houve, em 1974, no Cana-
dá, a formulação de um conceito de saúde que abrange
a biologia humana, o meio ambiente, o estilo de vida e
a organização da assistência à saúde (hospitais, serviços,
medicamentos etc.). Em 1977, é retomada a ideia de
saúde como a ausência de doenças, sendo "a classifica-
ção dos seres humanos como saudáveis ou doentes [...]
uma questão objetiva, relacionada ao grau de eficiência
das funções biológicas, sem necessidade de juízos de
valor" (SCLIAR, 2012). Em 1978, na Conferência Inter-
nacional de Assistência Primária à Saúde, realizada na
cidade Alma-Ata (atual Cazaquistão), a OMS "destacou
a responsabilidade governamental na provisão da saúde
e a importância da participação de pessoas e comunida-
des no planejamento e implementação dos cuidados à
saúde", baseando-se nos seguintes pontos: "1) as ações
de saúde devem ser práticas, exeqüíveis e socialmente
aceitáveis; 2) devem estar ao alcance de todos, pesso-
as e famílias – portanto, disponíveis em locais acessíveis
à comunidade; 3) a comunidade deve participar ativa-
mente na implantação e na atuação do sistema de saú-
de; 4) o custo dos serviços deve ser compatível com a
situação econômica da região e do país [...]. O sistema
nacional de saúde, por sua vez, deve estar inteiramente
integrado no processo de desenvolvimento social e eco-
nômico do país, processo este do qual saúde é causa e
conseqüência. Os cuidados primários de saúde, adapta-
dos às condições econômicas, socioculturais e políticas
de uma região deveriam incluir pelo menos: educação
em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cui-
dados materno-infantis, planejamento familiar, imuniza-
ções, prevenção e controle de doenças endêmicas [...].
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e


os demais, como agricultura e indústria. [...] nossa Cons-
tituição Federal de 1988, artigo 196, evita discutir o con-
ceito de saúde, mas diz que: ‘A saúde é direito de todos
e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para a promoção, proteção e recupera-
ção’. Este é o princípio que norteia o SUS, Sistema Único
de Saúde. E é o princípio que está colaborando para de-
senvolver a dignidade aos brasileiros, como cidadãos e
como seres humanos" (SCLIAR, 2012).
13) Sistema Único de Saúde (SUS): "[...] é um dos maiores
sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange des-
de o simples atendimento ambulatorial até o transplan-
te de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gra-
tuito para toda a população do país. Amparado por um
conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988
pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema
de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. Além
de oferecer consultas, exames e internações, o Sistema
também promove campanhas de vacinação e ações de
prevenção e de vigilância sanitária – como fiscalização
de alimentos e registro de medicamentos –, atingindo,
assim, a vida de cada um dos brasileiros" (PORTAL DA
SAÚDE, 2012).
14) Urgência: "ocorrência ou situação perigosa, de apare-
cimento rápido, mas não necessariamente imprevisto e
súbito, necessitando de solução em curto prazo. A dife-
rença entre emergência e urgência reside em dois pon-
tos: 1) na primeira o aparecimento é súbito e imprevisto,
na segunda não; 2) a primeira exige solução imediata; a
segunda, em curto prazo, havendo apenas premência ou
insistência de solução. Ambas têm em comum a pericu-
losidade. Na área médica, as definições seriam:
a) Emergência médica: quadro grave, clínico ou cirúr-
gico ou misto, de aparecimento ou agravamento sú-
bito e imprevisto, causando risco de vida ou grande

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24 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

sofrimento ao paciente e necessitando de solução


imediata, a fim de evitar mal irreversível ou morte.
b) Urgência médica: quadro grave, clínico ou cirúrgico
ou misto, de aparecimento ou agravamento rápi-
do, mas não necessariamente imprevisto e súbito,
podendo causar risco de vida ou grande sofrimen-
to para o paciente, necessitando de tratamento em
curto prazo, a fim de evitar mal irreversível ou morte.
Ambos termos têm em comum serem quadros no-
sológicos graves, se não tratados, podem causar mal
irreversível ou morte. Diferem: a emergência o apa-
recimento ou agravamento é súbito e imprevisto,
necessitando de solução imediata – é um estado de
agudeza; a urgência o aparecimento é rápido, mas
não é súbito e imprevisto e a solução pode ser em
curto prazo – é um estado de semi-agudeza. Exem-
plos:
• Parada cardiorrespiratória e hemorragias são sempre
emergências;
• Fratura, dependendo do comprometimento pode
ser urgência;
• Entorses e luxações são geralmente urgências;
• Na rotina pré-hospitalar as ocorrências são conside-
radas emergências.
A importância da distinção entre estes dois concei-
tos está na necessidade de termos bases definidas
para estabelecermos as prioridades nos atendimen-
tos nas constantes situações críticas em prontos-
-socorros. Essa distinção é importante para se esta-
belecer a diferença entre ‘Plantão’ e ‘sobreaviso’. O
estabelecimento que estiver sujeito a receber casos
de ‘emergência’ terá que ter equipe de plantão. Os
outros, pode ter a equipe de ‘sobreaviso’ em casa.
Em alguns casos, pode não ser uma equipe, apenas
um ou alguns especialistas"
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo.
O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de
conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício
é uma forma de você construir o seu conhecimento, ressignifican-
do as informações com base de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais

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26 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-


tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 12 ago. 2011).
Primeiros
Processo Saúde-
Socorros
Doença

Relações –
Históricas Qualidade de Emergência e
Políticas Públicas Vida Urgência
de saúde Brasil

Prevenção/
Promoção de
SUS Biossegurança Tratamento
Saúde
Reabilitação

Ações de
Educação em
Saúde

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Programas


de Saúde e Socorros Urgentes.

Como você pode observar, o esquema anterior apresenta


uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Se-
© Caderno de Referência de Conteúdo 27

guindo esse esquema, você poderá transitar entre um e outro con-


ceito e descobrir o caminho para construir o seu processo educati-
vo. Por exemplo, com base nele, é possível compreender com mais
facilidade que o conceito de qualidade de vida tem relação com to-
dos os outros conceitos, bem como o conceito de promoção se re-
laciona com ações de educação, biossegurança e qualidade de vida.
Observamos que o Esquema dos Conceitos-chave é mais um
dos recursos de aprendizagem que vem somar-se àqueles dispo-
níveis no ambiente virtual com suas ferramentas interativas, bem
como as atividades didático-pedagógicas realizadas presencial-
mente no pólo. Lembre-se de que você como aluno na modalidade
a distância, pode valer-se da sua autonomia na construção de seu
próprio conceito.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com o caderno Programas de Saúde e Socorros Ur-
gentes, pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento.
Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto
tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será
dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você
testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a
sua prática profissional.

As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta


apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por
resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.

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28 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
O estudo deste caderno convida você a olhar, de forma mais
apurada, a educação como processo de emancipação do ser hu-
mano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa,
permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo
a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é,
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 29

Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie


seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa.
Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Caderno de educação popular e saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2007. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
HAFEN, B. Q.; KARREN, K. J.; FRANDSEN, K. J. Primeiros socorros para estudantes. 7. ed.
Barueri: Manole, 2002.
MENDES, M. M. R. O ensino de Graduação em Enfermagem no Brasil, entre 1972 e 1994:
mudança de paradigma curricular?. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo/Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, 1996. (Tese de Doutorado).

4. E-REFERÊNCIAS
BAHIA (Estado). Ministério Público do Estado da Bahia. Carta de Ottawa. Disponível em:
<http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/cidadania/gesau/legislacao/internacionais/carta_
ottawa.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2012.
CAVALCANTE, N. J. F.; MONTEIRO, A. L. C.; BARBIERI, D. D. Biossegurança. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/08Bioseguranca.pdf>. Acesso em: 15 mar.
2012.
MACHADO, M. F. A. S. et al. Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as
propostas do SUS – uma revisão conceitual. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.

Claretiano - Centro Universitário


30 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

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MENDES, M. I. B. S.; NÓBREGA, T. P. O Brazil-Medico e as contribuições do
pensamento médico-higienista para as bases científicas da educação física
brasileira. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0104-59702008000100013>. Acesso em: 10 abr. 2012.
PASQUIM, H. M. A saúde coletiva nos cursos de Graduação em Educação Física. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902010000100016&script=sci_
arttext>. Acesso em: 10 abr. 2012.
PORTAL DA SAÚDE. Apresentação. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/
saude/cidadao/area.cfm?id_area=1395>. Acesso em: 15 mar. 2012.
PORTAL DE SAÚDE PÚBLICA. Níveis de prevenção em saúde. Disponível em: <http://www.
saudepublica.web.pt/TrabCatarina/NiveisPrevencao.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012.
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312007000100003&lng=pt>. Acesso em: 19 jun.
2012.
EAD
História da Saúde
no Brasil

1
1. OBJETIVOS
• Contextualizar o processo saúde-doença na história da
saúde do Brasil.
• Identificar a visão de mundo do homem inserido nos pro-
cessos históricos apresentados.
• Reconhecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua orga-
nização.
• Relacionar os conceitos de Educação em Saúde na prática
da saúde e da educação.

2. CONTEÚDOS
• Histórico da saúde no Brasil.
• SUS: seus princípios e sua implantação.
• Princípios e práticas de Educação em Saúde.
32 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático e discuta a unidade com seus
colegas e com o tutor.
2) Tenha sempre à mão o significado dos termos citados
no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Esquema
dos Conceitos-chave para o estudo de não apenas esta,
mas todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar
sua aprendizagem e seu desempenho.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Para iniciar o estudo de Programas de Saúde e Socorros Ur-
gentes, é indispensável um breve histórico sobre como a saúde foi
se estruturando em nosso país. É importante compreendermos os
interesses e saberes que perpassam a história e, assim, nos posicio-
narmos diante de processos de saúde-doença e da busca da cida-
dania e autonomia com o próprio corpo e com a saúde de cada um.

5. HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL


Em 1988, houve a promulgação da Constituição Brasileira.
Nela, há uma seção dedicada especialmente à saúde, composta
pelos Artigos de 196 a 200. Vejamos, a seguir, o que dizem três
desses artigos:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá-
rio às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde,
cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regu-
lamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita
© U1 - História da Saúde no Brasil 33

diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física


ou jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, orga-
nizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preven-
tivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III – participação da comunidade (STF, 2012).

Esses direitos constitucionais, que destacam ações de pro-


moção, proteção e recuperação, além de fiscalização, controle,
organização da saúde, atendimento integral e participação social,
nem sempre foram naturalmente concedidos; são parte de um
processo de luta da população brasileira há anos. A história da saú-
de no país está associada a determinantes históricos e à evolução
político-social e econômica. Tais contextos influenciaram e ainda
influenciam o setor da saúde brasileira.
No período colonial, o Brasil não dispunha de nenhum mo-
delo de saúde institucionalizado, e as enfermidades eram cuida-
das com plantas, ervas e curandeiros. Havia a carência de médicos
profissionais no país, tanto que, em 1789, só existiam aqui quatro
médicos exercendo a profissão. Ocorreu, então, a disseminação
dos boticários (farmacêuticos), que viajavam pelo país mesmo
sem possuir aprendizado acadêmico – o processo de habilitação
na função consistia tão somente em acompanhar um serviço de
uma botica já estabelecida durante certo período de tempo, ao
fim do qual prestavam exame perante fisicatura e se aprovado, o
candidato recebia a "carta de habilitação", e estava apto a instalar
sua própria botica (SALLES, 1971). Essa prática de consultar-se um
farmacêutico quando se tem algum sintoma ainda é presente no
cotidiano brasileiro.
Com a chegada da família real no Rio de Janeiro, em 1808,
criou-se uma estrutura mínima sanitária para dar suporte ao po-
der e realizar um controle sanitário mínimo na capital do impé-

Claretiano - Centro Universitário


34 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

rio. Forçaram a criação das duas primeiras escolas de medicina do


país: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade
de Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E foram essas
as únicas medidas governamentais até a República.
Até esse momento de reconstituição histórica, observa-se
que a colonização do Brasil não respeitou e não dialogou com a
cultura existente na época, de tratamento com ervas e curandei-
ros. No início, houve uma valorização do saber fazer, isto é, o far-
macêutico habilitava-se no momento em que, diante de uma fis-
calização, era considerado apto a medicar e a tratar. A figura dos
médicos era escassa, e, por isso, o farmacêutico tinha um valor
social e para a saúde reconhecido. A estrutura sanitária só foi insti-
tuída no Brasil Império, com a chegada da família real, e apenas na
sua capital. Duas escolas de Medicina foram criadas na ocasião, e a
finalidade era atender o poder constituído da época. O sistema de
saúde no Brasil inicia-se já na relação de poder, e, desde esse perí-
odo, o acesso a ele era excludente, sendo apenas para as camadas
mais altas da população.

Primeiras medidas sanitaristas no Brasil


A figura do médico Oswaldo Cruz surgiu na nomeação do
Presidente Rodrigues Alves (1902-1906), a fim de combater a dis-
seminação de doenças como a varíola, a malária, a febre amarela
e, posteriormente, a peste. Suas ações tinham forte apelo policia-
lesco. Ele convocou 1500 pessoas para invadir as casas das pesso-
as e queimar roupas e colchões, sem nenhuma ação educativa, e
a população ficou indignada com essa atuação sanitária. O auge
da indignação resultou na instituição, pelo médico, da vacinação
antivariólica, fato que levou o povo às ruas e iniciou a conhecida
Revolta das Vacinas. Oswaldo Cruz, então, foi afastado do cargo.
O motivo que levou o governo a nomear esse médico a Dire-
tor do Departamento Federal de Saúde Pública foi a disseminação
das doenças gerar, naquela ocasião, consequências tanto para a
© U1 - História da Saúde no Brasil 35

saúde coletiva quanto para o comércio exterior, influenciando a


economia externa, já que os navios estrangeiros não queriam mais
atracar no Porto do Rio de Janeiro. O modelo de saúde de Oswaldo
Cruz ficou conhecido como "campanhista", possuindo forte visão
militar, no qual os fins justificam os meios. Esse modelo obteve
vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo erradi-
car a febre amarela no Rio de Janeiro, tornando, com isso, hege-
mônico na área de saúde coletiva durante décadas. Nesse perío-
do, surge o embrião do Instituto Oswaldo Cruz, existente hoje no
Rio de Janeiro. A organização dessa diretoria possuía uma seção
demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço de enge-
nharia sanitária e de profilaxia da febre amarela e a inspetoria de
isolamento e desinfecção.
O seu sucessor, Carlos Chagas, nomeado, em 1920, Diretor
do Departamento de Saúde Pública, agora ligado ao Ministério da
Justiça, introduz na prática campanhista a educação sanitarista e a
propaganda. Tal médico expande essa prática para além do Rio de
Janeiro e cria a primeira escola de enfermagem, a Escola de Enfer-
magem Anna Nery. Enquanto a sociedade brasileira esteve domi-
nada por uma economia agro-exportadora, acentada na monocul-
tura cafeeira, o que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo,
uma política de saneamento destinado aos espaços de circulação
das mercadorias exportáveis e a erradicação ou controle das doen-
ças que poderiam prejudicar a exportação. Por esta razão, desde
o final do século passado até o início dos anos 60, predominou o
modelo do sanitarismo campanhista (MENDES, 1992).
No Brasil, como se pode observar, as medidas sanitaristas
têm forte cunho militar e de imposição, principalmente, para a
preservação do campo econômico, quer dizer, da relação nacional
com a exportação. A população, já nesse período, conseguiu se
mobilizar e destituir Oswaldo Cruz do Departamento Federal de
Saúde Pública. O sucessor incrementou a ideia campanhista intro-
duzindo a propaganda, mas o destino dessa campanha continuava
a ser a preservação do comércio exterior, isto é, ela era destinada

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36 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

a espaços de circulação de mercadorias. A questão econômica – e


somente ela – dominava a institucionalização da saúde pública no
país.

Nascimento e desenvolvimento da Previdência Social e políticas


de saúde entre 1923-1964
A Previdência Social é tema recorrente na mídia, uma vez
que é objeto de interesse político e, constantemente, alvo de es-
cândalos. A ideia de uma previdência social no Brasil surgiu como
medida de proteção aos trabalhadores do país. Vejamos, a seguir,
em que contexto apareceu essa ideia, de acordo com Cunha e
Cunha (1998):
[...] os operários no início do século 20 ainda não tinham quais-
quer garantias trabalhistas, tais como: férias, jornada de trabalho
definida, pensão ou aposentadoria. O surgimento da Previdência
Social no Brasil se insere num processo de modificação da postura
liberal (não intervenção do Estado) do Estado frente à problemática
trabalhista e social, portanto, num contexto político e social mais
amplo. Esta mudança se dá enquanto decorrência da contradição
entre a posição marcadamente liberal do Estado frente às ques-
tões trabalhistas e sociais e um movimento operário-sindical que
assumia importância crescente e se posicionava contra tal postu-
ra. Esta também é a época de nascimento da legislação trabalhista
brasileira. Em 1923 é promulgada a lei Eloy Chaves, que para alguns
autores pode ser definida como marco do início da Previdência So-
cial no Brasil. No período compreendido entre 1923 e 1930 surgem
as Caixas de Aposentadoria e Pensões – CAPs. Eram organizadas
por empresas, de natureza civil e privada, responsáveis pelos be-
nefícios pecuniários e serviços de saúde para os empregados de
empresas específicas. As CAPs eram financiadas com recursos dos
empregados e empregadores e administradas por comissões for-
madas de representantes da empresa e dos empregados. Cabia ao
setor público apenas a resolução de conflitos (apud BRASIL, 2005,
p. 29).

O surgimento das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs)


também obedeceu à mesma lógica: somente as empresas estra-
tégicas para a economia nacional é que conseguiam fundar suas
caixas.
As primeiras foram as dos trabalhadores das companhias de via fér-
rea e portuários. Era autenticamente uma espécie de seguro social,
© U1 - História da Saúde no Brasil 37

ou seja, só tinha direito aquele que pagava a contribuição estipula-


da, que garantiria certos benefícios como a aposentadoria e, princi-
palmente a assistência médica. Como eram privados, ou seja, eram
mantidos por empresas, ainda não se configuravam como iniciati-
vas do Estado, muito embora, curiosamente, os presidentes dessas
Caixas fossem nomeados pelo Presidente da República, havendo
um claro interesse do governo na manutenção desse sistema (FON-
TILENE JÚNIOR, 2008, n. p.).

As CAPs, que, posteriormente, foram transformadas em Ins-


titutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), congregavam os traba-
lhadores por categorias profissionais. Apesar de estarem voltados,
prioritariamente, para os benefícios e pensões, os IAPs também
ofereciam serviços médicos, mas essa assistência era limitada aos
trabalhadores inseridos em empregos formais e organizados. Esse
modelo corresponde à concepção de cidadania regulada – modali-
dade em que a base dos direitos não se encontra em valores políti-
cos universais, e sim em um sistema de estratificação ocupacional
definido por norma legal. Assim, trabalhadores rurais, domésticos
e trabalhadores informais eram vistos como pré-cidadãos (ESCO-
RES; TEIXEIRA, 2008).
Os IAPs eram autarquias de nível nacional centralizadas no
governo federal, nas quais a filiação se dava por categorias profis-
sionais, diferentemente das CAPs, que eram promovidas por em-
presas. Já sob regime de repartição, os IAPs ofereciam maior nível
de proteção, como assistência médica para filiados e dependentes,
porém, os saldos superavitários (devido aos poucos beneficiários)
no início do sistema foram utilizados para outros fins, além da con-
cessão de aposentadorias e pensões generosas. O financiamento
da previdência social – dos IAPs e das poucas CAPs então rema-
nescentes – tem origem nas contribuições dos empregadores, dos
trabalhadores e do próprio Estado, em geral criando impostos pre-
videnciários. Institui-se, então, o regime de capitalização: as dife-
renças entre receita e despesa passam a ser investidas lucrativa-
mente.

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38 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

A partir de 1930, o Estado recebe fortes pressões por par-


te de intelectuais e militares para a criação de novos serviços na
área de saúde pública, culminando, em 1931, com a criação do Mi-
nistério da Educação e Saúde. Nessa fase, a saúde pública definiu
seu papel, e os burocratas e as classes que apoiavam a Revolução
Constitucionalista obtiveram grandes privilégios políticos (IYDA,
1994).
Convivendo com uma constante alternância de seus dirigentes, o
Ministério ficou refém das instabilidades políticas decorrentes das
disputas entre as diversas forças que haviam se aliado em torno do
novo regime. O Ministério da Educação e Saúde passou a ter um
caráter centralizador, normatizando e uniformizando as estruturas
estaduais, nas mãos de interventores escolhidos pelo executivo fe-
deral, as quais deveriam assumir as atividades municipais.
A estrutura administrativa da saúde pública instituída nesse perí-
odo permaneceu quase inalterada até a criação do Ministério da
Saúde em 1953.
O período ficou marcado pela separação entre saúde pública – cen-
trada na erradicação de doenças infectocontagiosas, endemias ou
epidemias – e assistência médica previdenciária, de caráter indivi-
dual, destinada aos indivíduos acometidos por doenças que lhes
impediam de trabalhar.
A assistência individual não estava sob o controle do Ministério da
Educação e Saúde e sim do Ministério do Trabalho, Indústria e Co-
mércio (ESCORES; TEIXEIRA, 2008, n. p.).

A criação de um Ministério da Saúde independente do da


Educação foi o grande marco do ano de 1953. Sua estrutura era
frágil, e seu orçamento era a menor fração do antigo Ministério da
Educação e Saúde, cabendo-lhe um terço do imposto da educação
e saúde. Até 1964, o Ministério da Saúde teve transitoriedade de
seus titulares, evidenciando a barganha política dos governantes.
Houve, também, aumento dos gastos da previdência com a assis-
tência médica, ampliando as doenças a serem contempladas por
ela. O foco do processo saúde-doença era, principalmente, a do-
ença.
Kubitschek buscou, tanto em seu programa de saúde como em suas
primeiras medidas como presidente eleito, apresentar as relações
entre enfermidades e nação na mesma chave positiva que emol-
© U1 - História da Saúde no Brasil 39

durava suas proposições para o desenvolvimento do país. Em sua


opinião, o Brasil havia superado as "doenças pestilenciais" (como
a febre amarela e a peste bubônica) e o novo governo deveria de-
dicar-se a combater primordialmente as "doenças de massa", tais
como a tuberculose, a lepra, as doenças gastrointestinais e as en-
demias rurais, que debilitavam e tornavam improdutivos milhões
de brasileiros.
[...] No governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek duran-
te o período de 1956 a 1960, houve transformações econômicas es-
truturais e conjunturais no país apoiada principalmente pelo capital
estrangeiro. A saúde não era o tema central do governo de Kubits-
chek e ele em sua campanha a presidente em 1955 rejeitou a asso-
ciação entre enfermidades e o Brasil dizendo a frase que – o Brasil
não seria mais apenas "doença" (KUBITSCHEK, 1955a, p. 4-32).
Além disso, alertava: o país já deveria agir contra as "doenças crô-
nico-degenerativas" ou as enfermidades do mundo desenvolvido,
como o câncer. Guardando semelhanças com os objetivos gerais do
movimento médico-higienista da Primeira República, o programa
de Juscelino explicitava visão otimista sobre o futuro do país, refor-
çando a idéia de que a saúde dos brasileiros estava melhor do que
havia sido e que as doenças que os afligiam já não eram as do início
do século XX (HOCHMAN, 2009, p. 23).

No campo da saúde, houve, também, o Congresso de Hospi-


tais, instituindo serviços próprios das empresas. Nasce uma nova
prestação privada de serviços de saúde, por meio da emergência
da medicina de grupo. Podemos considerar esse formato de pres-
tação de serviço como o precursor da política neoliberal na saúde,
pois hoje há planos de saúde constituídos de empresas com fina-
lidade lucrativa, isto é, a estrutura hospitalar de natureza lucrativa
já estava montada e apontava na direção da formação de empre-
sas médicas; a corporação médica estava ligada há interesses ca-
pitalistas.
Sucedeu Juscelino Jânio Quadros, o 22º Presidente do Brasil,
com um mandato breve entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agos-
to de 1961, quando renunciou ao poder. Após sua renúncia, os
militares tentaram vetar a chegada do Vice-presidente João Gou-
lart (Jango) à presidência, por desconfiarem que ele pudesse ser
uma ameaça à segurança nacional, principalmente pela ideia de

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40 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

comunismo. Houve, então, um movimento chamado "Campanha


da Legalidade", liderado por Leonel Brizola. Com várias pressões e
conflitos, em 7 de setembro de 1961, João Goulart assumiu a vaga
deixada por Jânio Quadros. A instalação do parlamentarismo fez
que João Goulart não tivesse meios para aprovar suas propostas
políticas. No Ministério da Saúde, houve sucessão de seis minis-
tros em três anos.
O penúltimo, Souto Maior, apresentou um conceito ampliado de
saúde, no XV Congresso de Higiene, em 1962. A saúde da popula-
ção deveria ser entendida como suas condições globais de traba-
lho. Reconhecia um círculo vicioso entre pobreza e doença e subor-
dinava sua interrupção a um projeto de desenvolvimento nacional.
Nesse Congresso, a indústria farmacêutica nacional manifestou-se
contra a crescente desnacionalização do setor. A expansão das mul-
tinacionais de medicamentos era percebida como fator capaz de
influenciar a orientação política do setor saúde por meio da cons-
trução de um modelo de ampliação descontrolada do atendimento
médico hospitalar (TEIXEIRA, 2008, p. 7).
Outro marco da história da saúde no âmbito ministerial ocorreu em
1963, com a realização da III Conferência Nacional da Saúde (CNS),
convocada pelo ministro Wilson Fadul, árduo defensor da tese de
municipalização.
A Conferência propunha a reordenação dos serviços de assistência
médico-sanitária e alinhamentos gerais para determinar uma nova
divisão das atribuições e responsabilidades entre os níveis político-
-administrativos da Federação visando, sobretudo, a municipaliza-
ção (BRASIL, 2010, n. p.).

Havia a pretensão de descentralizar o modelo de saúde, ini-


ciando desde o atendimento básico até o nível terciário médico-
-hospitalar especializado. No final do governo de Jango, a área da
saúde estava diante de uma intensa polêmica entre os interesses
nacionais e do capital estrangeiro. Além disso, o seu governo teve
a proposição de reforma agrária radical, estatização do abasteci-
mento e nacionalização.
Os partidos que se opunham a João Goulart, como a União
Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD),
o acusavam de estar planejando um golpe esquerdista e de ser o
responsável pelos problemas que o Brasil enfrentava na época. No
© U1 - História da Saúde no Brasil 41

dia 13 de março de 1964, João Goulart realizou um grande comício


na Central do Brasil (Rio de Janeiro), onde defendeu as Reformas
de Base e prometeu mudanças radicais na estrutura agrária, eco-
nômica e educacional do país. Seis dias depois, em 19 de março,
os conservadores organizaram um protesto que reuniu milhares
de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo contra as
intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade.
A crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia.
No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Pau-
lo saíram às ruas. Evitando uma guerra civil, Jango deixou o país,
refugiando-se no Uruguai. Os militares finalmente tomaram o po-
der e, em seguida, estabeleceram o AI-1 (Ato Institucional). Com
11 artigos, esse documento dava ao governo militar o poder de
alterar a constituição, cassar mandatos legislativos, suspender di-
reitos políticos por dez anos e demitir, colocar em disponibilidade
ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse con-
tra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da
administração pública, além de determinar eleições indiretas para
a presidência da república. Foi nesse contexto que emergiu o mo-
vimento sanitário no interior das universidades, como decorrência
da exclusão da participação dos trabalhadores e técnicos no pro-
cesso decisório das políticas de saúde, as quais eram tomadas pe-
los governos autoritários em seu próprio benefício (BERTOLOZZI;
GRECO, 1996).

Compreensão do Regime Militar e os reflexos na saúde


"Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... É tempo de
meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina"
(ANDRADE, s. n. t.).

O novo governo passou a trabalhar por decreto, como já su-


pracitado, pelo chamado AI (Ato Institucional). O presidente bai-
xava o AI sem consultar ninguém, e todos tinham de obedecer. O

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42 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

AI-1 determinava que a eleição para presidente da república fosse


indireta, ou seja, com o Congresso Nacional já sem os deputados
e senadores incômodos, devidamente cassados, e um único can-
didato. Em 15 de abril de 1964, era anunciado o primeiro general-
-presidente, que iria governar o Brasil segundo interesses do gran-
de capital estrangeiro nos próximos anos: Humberto de Alencar
Castello Branco. Esse general, a pouco mais de 20 dias de governo,
decretou o AI-2, que acabava, definitivamente, com eleições dire-
tas para presidente da república, e quem votaria nesse cargo se-
riam os senadores e deputados, de forma nominal e declarada. Ele
acaba, também, com partidos políticos, podendo apenas dois exis-
tirem: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) E MDB (Movimento
Democrático Brasileiro). O primeiro era do governo e apoiava o
regime militar, e o segundo era a oposição consentida. A ditadura,
querendo uma imagem democrática, permitia a existência de um
partido levemente contrário, contanto que ninguém fizesse uma
oposição muito forte. No começo de 1966, é lançado o AI-3, que
determinava que as eleições para governador também seriam in-
diretas.
No campo econômico do Governo Castello Branco, o salário
dos operários foi considerado responsável pela crise econômica;
portanto, os aumentos salariais deveriam ser menores que a in-
flação. Um dos recursos para diminuir salários foi a extinção da
estabilidade. Pela lei antiga, depois de dez anos numa empresa, o
empregado praticamente tinha estabilidade, mas isso foi derruba-
do pela criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servi-
ço), em 1966, o qual ainda existe, funcionando assim: todo mês,
o patrão deposita no banco uma parte do salário do empregado,
formando uma espécie de caderneta de poupança. Essa poupança
só pode ser sacada em algumas situações, como compra de casa
ou determinados problemas de saúde. As empresas, assim, fica-
ram mais livres para demitir, e foi-se criando um exército de re-
serva (pessoas desempregadas que aceitam qualquer salário por
trabalho). Há, claramente, o aumento de exploração da força de
trabalho.
© U1 - História da Saúde no Brasil 43

Os sucessivos governos militares continuaram a utilizar os


Atos Institucionais, chegando até o AI-17. O Presidente Costa e Sil-
va, que sucedeu Castello Branco, decretou, em 13 de dezembro
de 1968, o AI-5, no qual cancelava todos os dispositivos da Consti-
tuição de 1967 que pudessem ser utilizados pela oposição. O AI-5
autorizava o presidente da república, em caráter excepcional, e,
portanto, sem apreciação judicial, a: decretar o recesso do Con-
gresso Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar manda-
tos parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos
de qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilí-
citos; e suspender a garantia do habeas corpus. No preâmbulo do
ato, dizia-se ser essa uma necessidade para atingir os objetivos da
revolução, "com vistas a encontrar os meios indispensáveis para a
obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país". No
mesmo dia em que se instituiu o AI-5, foi decretado o recesso do
Congresso Nacional por tempo indeterminado – só em outubro
de 1969, o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do
General Emílio Garrastazu Médici para a presidência da república.
Mas o Decreto AI-5 vigorou até dezembro de 1978 e produ-
ziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu
o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos
governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do
regime ou considerados como tal. A cassação de direitos políticos,
agora descentralizada, poderia ser decretada com extrema rapi-
dez e sem burocracia; o direito de defesa ampla ao acusado foi
eliminado; suspeitos poderiam ter sua prisão decretada imediata-
mente, sem necessidade de ordem judicial; os direitos políticos do
cidadão comum foram cancelados; e os direitos individuais foram
eliminados pela instituição do crime de desacato à autoridade.
Os militares, em relação à previdência, também buscavam o
maior controle e organização em conformidade com outras ações
na área econômica, política e social. Em 1966, criou-se o Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS), subordinado ao Ministério
do Trabalho (resultado da unificação dos IAPs), com o objetivo de

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44 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

modernizar a máquina estatal e aumentar a regulação do Estado.


Essa reforma afetou profundamente a saúde pública e medicina
previdenciária. A população enfrentava altas taxas de mortalidade
devido às péssimas condições de saúde, agravadas com a repres-
são política, com cassações, exílio, aposentadoria compulsória de
pesquisadores e fechamento de centros de pesquisas. É importan-
te notar que as políticas de saúde, nessa época, eram exclusivas
ao atendimento do cidadão, este entendido como assalariado e
inserido no mercado formal de trabalho. Aos excluídos desse pata-
mar, restava recorrer à filantropia e aos poucos estabelecimentos
mantidos pelo Estado que atendiam os não previdenciários (OLI-
VEIRA, 2009).
As políticas de saúde dos governos da ditadura militar privilegiaram
o setor privado, com compras de serviços de assistência médica,
apoio aos investimentos e empresas, intensificado com subsídios
fiscais. Nessa mesma época unificaram-se os IAPs, surgindo assim
o "INPS – Instituto Nacional de Previdência Social". Apesar da dita-
dura, foi nessa época que se iniciou o ensaio de um atendimento
universal em saúde no Brasil, como na extensão dos direitos pre-
videnciários aos trabalhadores rurais e atendimento de não-pre-
videnciários em alguns hospitais em casos de emergência. Entre-
tanto, como nos aponta PAIM (2003), o acesso à saúde continuava
limitado, e essas exceções geralmente constituíam atendimento
mais precário daquele da medicina previdenciária (OLIVEIRA, 2009,
n. p.).

No regime militar, a repressão contra as classes subalternas


servia aos interesses do grande capital, garantindo uma exploração
da força de trabalho, impedindo manifestações organizadas dos
trabalhadores em favor dos seus direitos. Dessa forma, a política
previdenciária e outras políticas sociais em geral foram utilizadas
como moeda de troca: a extensão de alguns direitos sociais tinha
como objetivo buscar legitimidade para um regime essencialmen-
te coercitivo. Data do início da década de 1970, em plena ditadura,
a inclusão tardia de segmentos de trabalhadores até então deixa-
dos à margem do sistema previdenciário, como os trabalhadores
rurais, os empregados domésticos e os autônomos. Em meados
da década de 1970, pode-se dizer que o conjunto de trabalhado-
© U1 - História da Saúde no Brasil 45

res inseridos no mercado formal de trabalho estava vinculado, de


algum modo, ao sistema previdenciário. Mais uma vez, repete-se
um antigo traço da história brasileira: ainda que algumas das rei-
vindicações das classes subalternas sejam incorporadas ao projeto
de poder das classes dominantes, as modificações políticas, sociais
e econômicas ocorrem sem a participação efetiva dessas classes
subalternas.
Os movimentos sociais estavam quase ausentes na socie-
dade, sendo os movimentos políticos sociais limitados, principal-
mente o do operariado. Então, o movimento estudantil torna-se a
principal organização de oposição ao regime.
Com o aumento da repressão, as organizações dos movimen-
tos políticos e sociais ficaram limitadas. O movimento operário,
por exemplo, era praticamente ausente. O movimento estudantil
torna-se, então, a principal organização de oposição ao regime.
Durante 15 anos, quase não houve greves no Brasil, justamente os
anos entre 1964 e 1978, nos quais a ditadura militar foi mais dura.
Nesse período, aconteceram várias prisões, torturas, assassinatos
políticos e o desaparecimento de pessoas. Nessa época, morre-
ram, ficaram presos e/ou foram exilados trabalhadores, estudan-
tes, intelectuais, padres etc.
A ditadura militar durou mais de 20 anos, criando uma ten-
dência de desenvolvimento econômico, social e político. Aprofun-
dou problemas estruturais com um sistema regulador da sociedade
intenso. Nas relações sociais, era essa ideia reguladora que domi-
nava, por meio de uma política assistencialista; assim, buscava-se
suavizar as tensões sociais, legitimar o regime e acumular capital.
Como visto, a previdência foi unificada com a junção dos
IAPs, em 1966, crescendo a ingerência do Estado na sociedade,
com este excluindo os trabalhadores na gestão da previdência. O
setor de saúde assume características capitalistas, incorpora as
modificações tecnológicas do exterior, tendo as seguintes carac-
terísticas:

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46 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase


totalidade da população urbana, incluindo, após 73, os trabalha-
dores rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos;
ênfase na prática médica curativa, individual, assistencialista e es-
pecializada, e articulação do Estado com os interesses do capital
internacional, via indústrias farmacêuticas e de equipamento hos-
pitalar; criação do complexo médico-industrial, responsável pelas
elevadas taxas de acumulação de capital das grandes empresas
monopolistas internacionais na área de produção de medicamen-
tos e de equipamentos médicos;
Interferência estatal na previdência, desenvolvendo um padrão de
organização da prática médica orientada para a lucratividade do se-
tor saúde, propiciando a capitalização da medicina e privilegiando
o produtor privado desses serviços; organização da prática médica
em moldes compatíveis com a expansão do capitalismo no Brasil,
com a diferenciação do atendimento em relação à clientela e das
finalidades que esta prática cumpre em cada uma das formas de
organização da atenção médica (BRAVO, 2001, p. 2).

Os questionamentos das políticas de saúde iniciaram-se no


final da década de 1970 e início de 1980, por meio de sindicatos
e partidos do meio acadêmico e científico. Iniciam-se debates em
seminários, congressos, com questões sobre as epidemias, as en-
demias e a degradação da qualidade de vida da população. Os mo-
vimentos populares, como associação de moradores, de mulhe-
res, sindicatos, igreja e partidos políticos, exigiam soluções para
os problemas de saúde criados no regime autoritário (LUZ, 1991).
Nesse período, foi marcante a produção científica de intelectuais,
professores e pesquisadores, que, reforçando os estudos já exis-
tentes desde o início da década, criticavam o modelo vigente, de-
nunciavam as más condições de vida da população e propunham
alternativas para a construção de uma nova política de saúde efe-
tivamente democrática.
Quase toda essa produção adotava uma postura radical
de crítica ao centralismo autoritário do regime militar (SOARES;
MOTA, s. d.). O movimento começa a ganhar força, até a criação do
SUS pela Constituição de 1988. Assim, surge o Movimento Sanitá-
rio Brasileiro, que se apropria dessas pesquisas para denunciar os
efeitos do modelo econômico na saúde das pessoas. Defende a re-
© U1 - História da Saúde no Brasil 47

forma sanitária, que é um processo político em busca de conquis-


tas sociais – consequentemente, da saúde – e responsável pela
construção do novo sistema nacional de saúde.

Movimento Sanitarista Brasileiro e as conquistas na Constituição


de 1988
O movimento político pela Reforma Sanitária no Brasil rei-
vindicava mudanças para além do setor de saúde, visando à con-
solidação da democracia e cidadania nos países. A maioria da po-
pulação nos anos 1980 era excluída do direito à saúde, que era
restrita aos trabalhadores que contribuíam com o Instituto Nacio-
nal de Previdência Social.
Com a redemocratização, a derrota das eleições diretas em
1984, vem o advento da Nova República, em 1985: a sociedade
brasileira conquista, por meio da eleição indireta, um presidente
não militar, elegendo um presidente civil, o primeiro desde 1964.
Foi formada uma aliança, a Aliança Democrática, para derrotar o
autoritarismo do colégio eleitoral, e, assim, elegeu-se Tancredo
Neves para presidente e José Sarney para vice-presidente, uma
transição negociada. Com a morte de Tancredo, em 21 de abril,
Sarney assume o posto de presidente da república.
Paralelamente a esse acontecimento, o movimento sanita-
rista brasileiro cresceu e ganhou representatividade por meio dos
profissionais de saúde, usuários, políticos e lideranças populares,
na luta pela reestruturação do nosso sistema de saúde.
O marco desse movimento ocorreu em 1986, durante a VIII
Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, congregando o ex-
pressivo número de 5.000 participantes, provenientes de um le-
que bastante diversificado de agentes/sujeitos sociais e políticos
da sociedade civil organizada. A participação no evento foi signifi-
cativa, precedida de mobilizações em pré-conferências estaduais.
Foi garantida a autonomia na escolha dos representantes de enti-
dades e delegados para conferência. É inédita essa convocação do

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48 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

poder executivo do Brasil na convocação da sociedade civil para o


debate de políticas e/ou programas do governo.
No relatório final da conferência, a saúde passa a ser defini-
da como o resultado não apenas das condições de alimentação,
habitação, educação, trabalho, lazer e acesso aos serviços de saú-
de, mas, sobretudo, da forma de organização da produção na so-
ciedade e das desigualdades nela existentes.
Vejamos um trecho do texto do relatório:
Saúde como Direito – em seu sentido mais abrangente, a saúde é
a resultante das condições de alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liber-
dade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, as-
sim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da
produção, que podem gerar desigualdades nos níveis de vida.
Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dig-
nas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços
de promoção, proteção e recuperação de saúde, em todos os seus
níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando ao de-
senvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade (BRA-
SIL, 1986, p. 4).

Essa conferência teve propostas concretas que foram defen-


didas na Assembleia Nacional Constituinte criada em 1987. Dentre
as propostas, destacam-se: a saúde seria defendida como direito
de todo cidadão, independentemente de ter contribuído, de ser
trabalhador rural ou não trabalhador; não se deveria excluir ne-
nhum brasileiro do acesso à saúde; as ações de saúde deveriam
garantir o acesso da população às ações preventivas e curativas;
haveria a descentralização da gestão tanto administrativa como
financeira e a inserção do controle social das ações de saúde. Con-
trole social é a participação da sociedade no acompanhamento e
verificação das ações da gestão pública na execução das políticas
públicas, avaliando os objetivos, processos e resultados.
O movimento preconizava a mudança do modelo médico-
-assistencial privatista para um sistema nacional de saúde univer-
sal, público, participativo, descentralizado e de qualidade. O movi-
© U1 - História da Saúde no Brasil 49

mento sanitário torna-se uma experiência singular e rica no campo


da luta em torno das políticas públicas e das suas implicações para
o relacionamento Estado-sociedade.
O Governo Sarney constituía-se de forças políticas heterogê-
neas, isto é, forças conservadoras e progressistas, havendo, por-
tanto, interesses opostos: de um lado, os privatistas, e, do outro,
os estatizantes, não tendo nenhuma força hegemônica. Diante
desse quadro, o que possibilitou transformações importantes foi
o movimento sanitário, que teve um papel fundamental nas con-
quistas políticas, como em 1987, e o Decreto nº 94.657/87, que
cria o Programa de Desenvolvimento dos Sistemas Unificados e
Descentralizados de Saúde (SUDS). Esse programa prevê financia-
mento tripartido na área da saúde, nas esferas federal, estadual e
municipal, dando autonomia a esses dois últimos níveis de gestão
da saúde. A ideia é universalizar o acesso aos serviços de saúde
por meio do fortalecimento do setor público de oferta de serviços.
O Suds avançou na política de descentralização da saúde e, prin-
cipalmente na descentralização do orçamento, permitindo uma
maior autonomia dos estados na programação das atividades do
setor; deu prosseguimento às estratégias de hierarquização e uni-
versalização da rede de saúde e retirou do Inamps a soma de poder
que ele centralizava (VENÂNCIO, 2005, p. 4).

O SUDS foi a base para a construção do SUS, e ele afirmava a


participação da sociedade civil, recomendando a criação de conse-
lhos de saúde. No entanto, a composição deles não foi estipulada.
O local em que havia maior disputa política não era nos conselhos,
mas, sim, na Assembleia Nacional Constituinte, em que os conser-
vadores eram contrários aos direitos sociais. Assim, para contrapor
o conservadorismo, os deputados ligados à Reforma Sanitária uni-
ram-se em uma plenária nacional de entidades de saúde, visando
inserir as propostas do movimento sanitário, principalmente as da
VIII Conferência Nacional de Saúde, no texto constitucional. Essa
plenária desenvolveu um trabalho de mobilização e negociações
no Congresso Nacional. O debate constituinte foi acirrado e reve-
lou resistências por parte dos prestadores de serviço privado do

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50 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

setor de saúde e da medicina autônoma, além dos constituintes


conservadores. Mas essa disputa não barrou a aprovação do SUS
e seus princípios.
Em 5 de outubro de 1988, é promulgada a 8º Constituição do
Brasil, denominada "Constituição Cidadã", sendo um marco fun-
damental na redefinição das prioridades da política do Estado na
área da saúde pública.
Na constituinte, delimitou-se, então, que saúde é qualidade
de vida e, portanto, deve estar vinculada aos direitos humanos, ao
direito ao trabalho, à moradia, educação, alimentação e lazer. O
direito à saúde, especialmente quando examinado sob a ótica da
qualidade de vida, exige, também, que a superação das desigual-
dades envolva o acesso democrático a alimentos, medicamentos e
serviços que sejam seguros e que tenham sua qualidade controla-
da pelo Poder Público. Qualidade de vida implica o reconhecimen-
to do ser humano como ser integral. O conceito de cidadania que
a Constituição assegura deve ser traduzido nas condições de vida
da população.
Figueiredo Neto et al. (2010) ressaltam que a promoção da
atenção à saúde são fundamentais e fazem parte do elenco de po-
líticas sociais necessárias para a construção de uma sociedade jus-
ta e democrática, sendo essa a missão central do SUS.
Como se pode perceber, o processo saúde-doença tem rela-
ção com diversos aspectos (políticos, sociais, culturais, de interes-
ses de setores etc.). Desde a colonização do Brasil até a aprovação
do SUS, o conceito de saúde foi sendo transformado, atendendo
às ideologias vigentes em cada época. Sem dúvida, a saúde asso-
ciada à qualidade de vida, aos direitos humanos, à cidadania como
preconizada no SUS, é um avanço importante para quaisquer cida-
dãos brasileiros. Os conceitos historicamente traduzem a visão de
homem em cada período e a sua organização social.
© U1 - História da Saúde no Brasil 51

SUS: princípios e implantação


A base do texto foi a cartilha do Ministério da Saúde de 1990,
intitulada ABC do SUS – doutrinas e princípios.
A sigla "SUS", que significa "Sistema Único de Saúde", traz
a ideia de único porque segue a mesma doutrina e os princípios
organizativos em todo país, que está sob responsabilidade das três
esferas de governo (federal, estadual e municipal). O SUS é um
sistema com serviços e ações que interagem para um fim comum,
trabalhando com atividades de promoção, proteção e recuperação
da saúde.
Sua base doutrinária segue os seguintes princípios:
Universalidade – É a garantia de atenção à saúde por parte do sis-
tema, a todo e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo
passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde,
assim como àqueles contratados pelo poder público. Saúde é direi-
to de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e federal.
Equidade – É assegurar ações e serviços de todos os níveis de acor-
do com a complexidade que cada caso requeira, more o cidadão
onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual
perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o
limite do que o sistema puder oferecer para todos.
Integralidade – É o reconhecimento na prática dos serviços de que:
Cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunida-
de. As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde for-
mam também um todo indivisível e não podem ser compartimen-
talizadas. As unidades prestadoras de serviço, com seus diversos
graus de complexidade, formam também um todo indivisível con-
figurando um sistema capaz de prestar assistência integral. Enfim,
o homem é um ser integral, bio-psico-social, e deverá ser atendido
com esta visão integral por um sistema de saúde também integral,
voltado a promover, proteger e recuperar sua saúde (OLIVEIRA et
al., 2007; MATTOS, 2009, n. p.).

Há, também, os princípios que regem sua organização:


Regionalização e Hierarquização – Os serviços devem ser organi-
zados em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos
numa área geográfica delimitada e com a definição da população
a ser atendida. Isto implica na capacidade dos serviços em ofere-
cer a uma determinada população todas as modalidades de assis-

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52 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

tência, bem como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível,


possibilitando um ótimo grau de resolubilidade (solução de seus
problemas). O acesso da população à rede deve se dar através dos
serviços de nível primário de atenção que devem estar qualificados
para atender e resolver os principais problemas que demandam os
serviços de saúde. Os demais, deverão ser referenciados para os
serviços de maior complexidade tecnológica. A rede de serviços,
organizada de forma hierarquizada e regionalizada, permite um co-
nhecimento maior dos problemas de saúde da população da área
delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sani-
tária, controle de vetores, educação em saúde, além das ações de
atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexi-
dade.
Resolubilidade – É a exigência de que, quando um indivíduo busca
o atendimento ou quando surge um problema de impacto coleti-
vo sobre a saúde, o serviço correspondente esteja capacitado para
enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência.
Descentralização – É entendida como uma redistribuição das res-
ponsabilidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários
níveis de governo, a partir da idéia de que quanto mais perto do
fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim, o
que é abrangência de um município deve ser de responsabilidade
do governo municipal; o que abrange um estado ou uma região
estadual deve estar sob responsabilidade do governo estadual, e, o
que for de abrangência nacional será de responsabilidade federal.
Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na pro-
moção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos.
Participação dos cidadãos – É a garantia constitucional de que a
população, através de suas entidades representativas, participará
do processo de formulação das políticas de saúde e do controle
da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local.
Essa participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com repre-
sentação paritária de usuários, governo, profissionais de saúde e
prestadores de serviço. Outra forma de participação são as confe-
rências de saúde, periódicas, para definir prioridades e linhas de
ação sobre a saúde.
Complementariedade do setor privado – A Constituição definiu
que, quando por insuficiência do setor público, for necessário a
contratação de serviços privados, isso deve se dar sob três condi-
ções:
A celebração de contrato, conforme as normas de direito público,
ou seja, interesse público prevalecendo sobre o particular;
© U1 - História da Saúde no Brasil 53

A instituição privada deverá estar de acordo com os princípios bá-


sicos e normas técnicas do SUS. Prevalecem, assim, os princípios
da universalidade, eqüidade etc., como se o serviço privado fosse
público, uma vez que, quando contratado, atua em nome deste;
A integração dos serviços privados deverá se dar na mesma lógica
organizativa do SUS, em termos de posição definida na rede regio-
nalizada e hierarquizada dos serviços. Dessa forma, em cada região,
deverá estar claramente estabelecido, considerando-se os serviços
públicos e privados contratados, quem vai fazer o que, em que nível
e em que lugar (OLIVEIRA et al., 2007; MATTOS, 2009, n. p.).

Gestão do SUS
Nos municípios, os gestores do SUS são as secretarias muni-
cipais de saúde ou as prefeituras, sendo responsáveis os respec-
tivos secretários municipais e prefeitos. Nos estados, os gestores
são os secretários estaduais de saúde e, no âmbito federal, o Mi-
nistério da Saúde. A responsabilidade sobre as ações e serviços de
saúde em cada esfera de governo, portanto, é do titular da secre-
taria respectiva, e do Ministério da Saúde no âmbito federal.
Os gestores têm responsabilidades no âmbito municipal, ca-
bendo a eles programar, executar e avaliar as ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde. Isso significa que o município
deve ser o primeiro e o maior responsável pelas ações de saúde
para a sua população. Os serviços devem ser oferecidos em quan-
tidade e qualidade adequadas às necessidades de saúde da po-
pulação, e ninguém melhor do que os gestores municipais para
avaliar e programar as ações de saúde em função da problemática
da população do seu município.
Em nível estadual, o secretário estadual de saúde, como ges-
tor estadual, é o responsável pela coordenação das ações de saúde
do seu estado. Seu plano diretor será a consolidação das necessi-
dades propostas de cada município, por meio de planos munici-
pais ajustados entre si. O estado deverá corrigir distorções existen-
tes e induzir os municípios ao desenvolvimento das ações. Assim,
cabe também aos estados planejar e controlar o SUS em seu nível

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54 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

de responsabilidade e executar apenas as ações de saúde que os


municípios não forem capazes e/ou que não lhes couber executar.
Em nível federal, o gestor é o Ministério da Saúde, e sua mis-
são é liderar o conjunto de ações de promoção, proteção e recupe-
ração da saúde, identificando riscos e necessidades nas diferentes
regiões para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro,
contribuindo para o seu desenvolvimento. Em outras palavras, ele
é o responsável pela formulação, coordenação e controle da políti-
ca nacional de saúde, tendo importantes funções no planejamen-
to, financiamento, cooperação técnica o controle do SUS.
Ainda que a saúde seja um direito de todos e um dever do
Estado, isso não dispensa cada indivíduo da responsabilidade por
seu autocuidado nem as empresas, escolas, sindicatos, imprensa e
associações de sua participação no processo.

Ações de promoção, proteção e recuperação da saúde


As ações a serem desenvolvidas no SUS devem ter como
base principal as características do perfil epidemiológico da popu-
lação, não só em termos de doenças mais frequentes, como tam-
bém em termos das condições socioeconômicas da comunidade,
dos seus hábitos e seus estilos de vida e de suas necessidades de
saúde, sentidas ou não sentidas – aí incluída, por extensão, a infra-
estrutura de serviços disponíveis.

Ações de promoção e proteção de saúde


Esses grupos de ações podem ser desenvolvidos por insti-
tuições governamentais, empresas, associações comunitárias
e indivíduos. Tais ações visam à redução de fatores de risco que
constituem ameaça à saúde das pessoas, podendo provocar-lhes
incapacidades e doenças. Esses grupos compreendem um elenco
bastante vasto e diversificado de ações, de natureza eminente-
mente preventiva.
© U1 - História da Saúde no Brasil 55

No campo da promoção, são exemplos de ações: Educação


em Saúde; bons padrões de alimentação e nutrição; adoção de es-
tilos de vida saudáveis; uso adequado e desenvolvimento de ap-
tidões e capacidades; aconselhamentos específicos, como os de
cunho genético e sexual. Mediante essas ações, são estimuladas
as práticas da ginástica e outros exercícios físicos, os hábitos de
higiene pessoal, domiciliar e ambiental, e, em contrapartida, de-
sestimulados o sedentarismo, o tabagismo, o alcoolismo, o con-
sumo de drogas e a promiscuidade sexual. No desenvolvimento
dessas ações, devem ser utilizados, de forma programática e siste-
mática, com emprego de linguagem adequada ao público-alvo, os
diferentes meios e veículos disponíveis de comunicação ao alcance
da comunidade: cartazes, rádio, jornal, televisão, alto-falantes, pa-
lestras e debates em escolas, associações de bairro, igrejas, em-
presas, clubes de serviço e lazer, entre outros.
No campo da proteção, são exemplos de ações: vigilância
epidemiológica, vacinações, saneamento básico, vigilância sani-
tária, exames médicos e odontológicos periódicos, entre outros.
Com base na vigilância epidemiológica, são obtidas as informações
para conhecer e acompanhar, a todo momento, o estado de saúde
da comunidade e para desencadear, oportunamente, as medidas
dirigidas à prevenção e ao controle das doenças e agravos à saúde.
A vigilância sanitária busca garantir a qualidade de serviços,
meio ambiente, ambiente de trabalho e produtos (alimentos, me-
dicamentos, cosméticos, saneantes domissanitários, agrotóxicos
e outros), mediante a identificação, o controle ou a eliminação
de fatores de risco à saúde neles eventualmente presentes. São
exemplos de serviços sujeitos à vigilância sanitária: unidades de
saúde, restaurantes, academias de ginástica, institutos de bele-
za, piscinas públicas etc. No meio ambiente, a vigilância sanitária
procura evitar ou controlar a poluição do ar, do solo e da água, a
contaminação por agrotóxicos, o uso do mercúrio nos garimpos
etc. Nos locais de trabalho, a vigilância sanitária preocupa-se, por
exemplo, em assegurar condições ambientais satisfatórias (ilumi-

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56 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

nação, temperatura, umidade, ventilação, nível sonoro), adequa-


ção ergométrica de máquinas, equipamentos móveis, eliminação
de substâncias e produtos que podem provocar doenças ocupacio-
nais etc. Em relação aos produtos, a vigilância sanitária não se limi-
ta apenas à fiscalização dos artigos já expostos ao consumo, mas
efetua, com prioridade, a inspeção sanitária e técnica das respec-
tivas linhas de fabricação, de modo a evitar a sua comercialização
em condições insatisfatórias de segurança e qualidade.
No campo da recuperação, esse grupo de ações envolve o
diagnóstico e o tratamento de doenças, acidentes e danos de toda
natureza, a limitação da invalidez e a reabilitação. Essas ações são
exercidas pelos serviços públicos de saúde (ambulatórias e hos-
pitalares) e, de forma complementar, pelos serviços particulares,
contratados ou conveniados, que integram a rede do SUS nos ní-
veis federais, estaduais e municipais, particularmente nos dois
últimos, nos quais deve estar concentrada a maior parte dessas
atividades.

6. PROGRAMAS DE SAÚDE
Existem grupos populacionais que estão mais expostos a ris-
cos na sua saúde, e isso é evidenciado pelos registros disponíveis
de morbimortalidade, como, por exemplo, menores de um ano,
gestantes, idosos, trabalhadores urbanos e rurais sob certas con-
dições de trabalho etc.
A intensidade e a peculiaridade dessa exposição variam bas-
tante com os níveis sociais e características epidemiológicas de
cada região e, muitas vezes, da microrregião. A exposição a riscos
também pode ser vista e entendida em função de cada doença,
como no caso da tuberculose, do câncer, da hanseníase, de doen-
ças cardiovasculares, da AIDS e outras patologias.
Portanto, no planejamento da produção das ações de educação em
saúde e de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, controle
de vetores e atendimento ambulatorial e hospitalar, devem ser nor-
© U1 - História da Saúde no Brasil 57

malizados alguns procedimentos a serem dirigidos especialmente


a situações de risco, com a finalidade de intensificar a promoção,
proteção e recuperação da saúde. Daí o conceito e prática dos pro-
gramas de saúde, que fazem parte da produção geral das ações de
saúde pelas instituições, unidades e profissionais da área (BRASIL,
2012).

O texto ABC do SUS – doutrinas e princípios foi publicado


em 1990, e, atualmente, já estamos com mais de 20 anos de SUS.
A implantação desse sistema, desde sua preconização até os dias
atuais, é dinâmica e complexa; portanto, está sempre em movi-
mento. A partir do conhecimento do ABC do SUS, é importante
retomarmos historicamente sua implantação e analisarmos como
na atualidade ele vem se comportando. Qual será o papel do pro-
fessor de Educação Física, da escola e dos setores da sociedade
civil? Por que é importante a relação da Educação Física com o SUS
e, principalmente, no ambiente escolar?
O SUS só é possível com o envolvimento de todos os setores
da sociedade; como já dito, a ideia é de trabalhar-se o conceito de
saúde de forma ampliada, o que inclui estilos de vida, qualidade
de vida, moradia, alimentação, transporte, direitos, deveres, entre
tantos outros aspectos. Essas condições não pertencem apenas a
um setor social, pois diversos são os atores agentes de transfor-
mação da qualidade de vida e cidadania da população, inclusive os
nossos alunos.

Implantação do SUS
Segundo Peres (s. n. t.), uma das etapas para a implantação
do SUS no Brasil é a municipalização da saúde, ou seja, que o mu-
nicípio se responsabilize em administrar o dinheiro arrecadado e
promova ações em saúde. Entretanto:
[...] existe especialmente três grandes obstáculos para que este
processo não ocorra: o primeiro é a questão financeira, pois os gas-
tos com saúde no Brasil são incompatíveis com a real necessidade,
além de variar muito a destinação das verbas em períodos de crise.
O segundo relaciona-se com a capitalização da saúde, onde há
grande expansão dos seguros saúde privados, podendo "desfigurar
os serviços públicos e expandir a mercantilização da saúde".

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58 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

O terceiro obstáculo para implementação da municipalização da


saúde diz respeito à ambiguidade dos textos legais, quando não se
deixa claro, em certos momentos das Normas Operacionais Bási-
cas, quais são os compromissos e responsabilidades destas institui-
ções privadas para com a população (PERES, 2012, n. p).

Enquanto esses obstáculos não forem resolvidos, o modelo


médico-assistencial continuará predominando sobre o país. Eles
"conspiram contra os princípios da universalidade, eqüidade e
integralidade na atenção à saúde consagrados na Constituição"
(PAIM, 1992, p. 40). Uma das formas para reverter o quadro é a
participação popular nos conselhos de saúde que existe no bairro,
no município e no estado.
A comunidade civil pode buscar a participação nas políticas
públicas por meio dos conselhos, inclusive as escolas. O fortaleci-
mento do SUS pode ser realizado por meio de ações intersetoriais,
ou seja, da articulação entre sujeitos de setores sociais diversos e,
portanto, de saberes, poderes e vontades diversos, para enfrentar
problemas complexos. É uma nova forma de trabalhar, de gover-
nar e de construir políticas públicas, que pretende possibilitar a
superação da fragmentação dos conhecimentos e das estruturas
sociais para produzir efeitos mais significativos na saúde da popu-
lação.
A educação, a saúde, a assistência social etc. possuem sabe-
res complexos que se complementam na busca da qualidade de
vida e dos direitos da população. A implantação do SUS ultrapassa
o limite circunscrito dos profissionais da saúde. Sem a participação
de outros setores, sem o fortalecimento dos conselhos, o modelo
médico-assistencial poderá predominar.
Mesmo com essas dificuldades, o SUS é um dos sistemas que
se propõe a ser universal, ou seja, a garantir que o acesso à aten-
ção e a assistência à saúde ocorram em todos os níveis de com-
plexidade, desde atendimentos a ocorrências menores, como ma-
chucados que necessitam de curativos, até transplante de órgãos,
além de garantir aos cidadãos brasileiros a promoção e proteção à
saúde no sentido amplo do conceito.
© U1 - História da Saúde no Brasil 59

Atualmente, o SUS oferece serviços de qualidade a todos os


cidadãos brasileiros, mesmo àqueles que têm seus planos privados
e acreditam não usufruir do mesmo nível de atendimento. O SUS
hoje, por meio de órgãos federais, estaduais e municipais, fiscaliza
todos os insumos de medicação e padrões de higiene em estabe-
lecimentos que manipulam alimentos, bem como custeia medica-
ções caras para quaisquer cidadãos e socorre pessoas por meio do
SAMU, entre tantos outros serviços. Por isso, hoje, a defesa do SUS
é associada à defesa da vida, e ele está organizado em todo o terri-
tório nacional como um sistema, ponto esse que iremos refletir na
próxima unidade, por meio dos programas governamentais e da
organização dos serviços do SUS.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder, discutir e comentar as questões a seguir,
que tratam da temática desenvolvida nesta unidade. A autoavalia-
ção pode ser uma ferramenta importante para você testar seu de-
sempenho. Lembre-se de que, na Educação a Distância, a constru-
ção do conhecimento ocorre de forma cooperativa; compartilhe,
portanto, as suas descobertas com seus colegas.
Confira a seguir as questões propostas para verificar seu de-
sempenho no estudo desta unidade:
1) Considerando a história da saúde descrita nesta unidade desde a coloniza-
ção do Brasil até a criação do SUS como você é capaz de refletir o processo
de saúde doença ao longo do tempo?

2) Como você consegue compreender as influências políticas, sociais e cultu-


rais na constituição da saúde pública ao longo do tempo, a que interesses
atenderam em cada período?

3) O que é o SUS e o que ele defende no campo da saúde pública?

4) Os princípios do SUS podem relacionar com a vida dos cidadãos brasileiros,


como? O que eles preconizam?

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60 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

8. CONSIDERAÇÕES
O objetivo desta unidade foi introduzir você no campo histó-
rico da saúde pública brasileira. Para isso, associaram-se os diver-
sos contextos brasileiros, desde o Brasil Colônia, incluindo a dita-
dura de Getulio Vargas, o governo de Juscelino, a ditadura militar
dos anos 1960 aos 1980, até a criação do SUS. Em todas as descri-
ções históricas feitas, é possível a reflexão de qualquer assunto, e
o aqui proposto foi o da saúde pública.
Com o estudo desta primeira unidade, foi possível verificar
como os processos de cidadania e saúde estão intimamente rela-
cionados e fazem parte de opressões e conquistas em cada mo-
mento. As políticas públicas não estão dadas, e essa é uma luta
que pertence a quaisquer cidadãos. Por isso, foi importante com-
preender, de forma panorâmica, a evolução das ações na área de
saúde, bem como ver que a efetivação do direito à saúde depende
do provimento de políticas que assegurem esse direito, cabendo,
especificamente, ao SUS, a promoção, proteção e recuperação da
saúde dos indivíduos e das coletividades, de forma equitativa.

9. E-REFERÊNCIAS

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© U1 - História da Saúde no Brasil 61

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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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Preto/USP, 1992. (Tese de Doutorado).
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constituição simbólica do Sistema Único de Saúde: representações socioprofissionais.
Psicol. Teor. Prat. 2007; 9(2) São Paulo.
OLIVEIRA JR, M. O financiamento da área social e do SUS no Brasil. In: Planejamento e
Gestão em Saúde. Cadernos de Saúde, v. 1, Belo Horizonte, COOPMED, 1998.

Claretiano - Centro Universitário


62 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE SÃO PAULO. História das Políticas de Saúde no


Brasil. Centro de Formação dos Trabalhadores de Saúde. Roteiro e direção: Renato
Tapajós. Tapiri Vídeo produções. 1992.
SCLIAR, M. Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre: L&PM, 1987.
EAD
Organização da Saúde,
Programas Governamentais,
DST, Saúde
Mental, Corpo e
Intersetorialidade 2
1. OBJETIVOS
• Reconhecer e analisar, de forma crítica e reflexiva, os pro-
jetos e programas governamentais associados ao SUS.
• Identificar as noções de DST.
• Definir as noções de saúde mental e o corpo no cotidiano.

2. CONTEÚDOS
• Combate à dengue: tratamentos e prevenções.
• Saúde da família: conceito de saúde, promoção de saúde
e Educação em Saúde no território/importância da inter-
setorialidade e da qualidade de vida.
• Farmácia Popular.
• UPA 24h.
• SAMU-192.
64 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

• AIDS: prevenção e tratamento.


• Noções de saúde mental e corpo no cotidiano.
• Corpo na cultura contemporânea.
• Relação entre corpo e saúde mental.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático e discuta a unidade com seus
colegas e com o tutor.
2) Tenha sempre à mão o significado dos termos citados
no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Esquema
dos Conceitos-chave para o estudo de não apenas esta,
mas todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar
sua aprendizagem e seu desempenho.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O SUS traz uma concepção ampliada do processo saúde-do-
ença quando propõe que:
Saúde é a resultante das condições de habitação, alimentação, edu-
cação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, la-
zer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde
(BRASIL, 1986, p. 4, grifos nossos).

A partir dessa concepção, a atenção à saúde tende a organi-


zar políticas e ações de saúde na perspectiva interdisciplinar, sen-
do fundamentadas nos princípios da universalidade, integralidade
e equidade. A equidade propõe garantir a atenção de forma igua-
litária, sendo considerada desigualdade das condições sociossani-
tárias da população.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 65

Toda formulação de políticas para atender à população tem


prioridades. A implantação de serviços e ações de saúde no SUS
busca respeitar o direito da população brasileira em geral de ter
as suas necessidades de saúde atendidas, porém considerando as
diferenças constituídas historicamente e que expressam direitos
desiguais de saúde, segundo regiões do país, estados e municípios.
Então, a ideia é associar à atenção a saúde, a prioridade de ações,
recursos financeiros etc., em favor, prioritariamente, dos mais des-
favorecidos, caminhando-se, assim, em direção à diminuição das
desigualdades.
O Ministério da Saúde propõe, portanto, várias ações e pro-
gramas na área da saúde. Segundo o próprio Ministério, a finalida-
de é trazer a saúde para perto do cidadão e dar ao profissional a
especialização necessária para exercer seu trabalho com qualida-
de (BRASIL, 2010).
No site do Ministério da Saúde, disponível em: <http://por-
talsaude.saude.gov.br/portalsaude/index.cfm> qualquer cidadão
que tenha acesso à internet é capaz de navegar e conhecer os pro-
gramas e ações.

5. COMBATE À DENGUE
Os países tropicais estão mais vulneráveis à dengue; portan-
to, o Ministério da Saúde propõe o controle da doença, incluindo
profissionais, cidadãos em geral e educadores para auxiliar nesse
trabalho. Assim, atualmente, informações e materiais (vídeo, car-
tazes, folhetos etc.) são de fácil acesso às pessoas.
O combate a uma doença tem relação com a educação. Des-
se modo, o Ministério da Saúde diz que é essencial o aprendiza-
do disso na formação de professores, e você está sendo formado,
também, para lidar com diversas situações no interior da escola,
como, por exemplo, de pessoas com dengue. Nesse caso, o que

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66 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

fazer? Inicialmente, é importante conhecer, saber prevenir, saber


orientar no caso de necessidade e saber encaminhar devidamente
tais pessoas, pois a dengue pode levar a óbito.
A dengue é uma doença infecciosa aguda que pode ser de
curso benigno ou grave, dependendo da forma em que se apre-
senta. A primeira manifestação é a febre, geralmente alta (de 39°C
a 40°C), de início abrupto. É transmitida pela picada do mosquito
Aedes aegypti infectado. Ocorre, principalmente, nas áreas tro-
picais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias
geralmente acontecem no verão, durante ou imediatamente após
períodos chuvosos. O quadro clínico é amplo, apresentando desde
uma síndrome febril inespecífica até quadros mais graves, como
hemorragia, choque e, às vezes, óbito. Os sintomas mais comuns
são:
1) Febre alta com duração de dois a sete dias.
2) Dor de cabeça.
3) Dor no corpo e nas juntas.
4) Dor atrás dos olhos.
5) Manchas vermelhas pelo corpo.
Deve-se procurar imediatamente um médico em qualquer
uma das situações a seguir:
1) Dores na barriga fortes e contínuas.
2) Vômitos persistentes.
3) Sangramento pelo nariz, boca e gengivas.
4) Sede excessiva e boca seca.
Caso observe que você ou alguém está com suspeita de den-
gue e começou a apresentar dores abdominais e vômitos, utilizan-
do somente medicamentos prescritos pelo médico para aliviar as
dores e a febre, busque uma unidade de saúde imediatamente.
As unidades de saúde e seus graus de complexidade variam.
Geralmente, em uma região na qual há escolas, principalmente as
públicas, existe uma Unidade Básica de Saúde e/ou Unidade de
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 67

Saúde da Família. Essas unidades cuidam diretamente das pessoas


que pertencem àquela região; por isso, é muito importante a esco-
la ter contato com elas sempre.

Tratamentos
Ao ser observado o primeiro sintoma da dengue, deve-se buscar
orientação médica no serviço de saúde mais próximo. Só depois
de consultar um médico, alguns cuidados devem ser tomados,
como: Manter-se em repouso e beber muito líquido (inclusive soro
caseiro). A reidratação oral é uma medida importante e deve ser
realizada durante todo o período de duração da doença e, princi-
palmente, da febre. O tratamento da dengue é de suporte, ou seja,
alívio dos sintomas, reposição de líquidos perdidos e manutenção
da atividade sanguínea.
Para combater a dengue é necessário que toda a comunidade par-
ticipe. É importante que o tema seja abordado em sala de aula,
para que os alunos divulguem as informações em casa e no bairro
(SESAB, 2012).

Prevenção
A melhor maneira de lidar com a dengue é prevenindo. O
ambiente escolar é propício para incentivar ações de prevenção,
pois as pessoas estão nesse ambiente de ensino-aprendizagem, e
o diálogo compartilhado poderá ser uma realidade ali.
Deixamos aqui os pontos para a prevenção discriminados
pelo Ministério da Saúde (2012):
Não deixe água acumulada sobre a laje. Manter o saco de lixo bem
fechado e fora do alcance dos animais até o recolhimento pelo ser-
viço de limpeza urbana. Manter a caixa d'água completamente fe-
chada para impedir que vire criadouro do mosquito. Manter bem
tampados tonéis e barris d'água. Encher de areia até a borda os
pratinhos dos vasos de plantas.
Lavar semanalmente por dentro, com escova e sabão, os tanques
utilizados para armazenar água.
Se você não colocou areia e acumulou água no pratinho de planta,
lavá-lo com escova, água e sabão. Fazer isso uma vez por semana.
Remover folhas e galhos e tudo que possa impedir a água de correr
pelas calhas. Jogar no lixo todo objeto que possa acumular água,
como embalagens usadas, potes, latas, copos, garrafas vazias e etc.

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68 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Se você tiver vasos de plantas aquáticas, trocar a água e lavar o


vaso principalmente por dentro com escova, água e sabão pelo
menos uma vez por semana.
Colocar o lixo em sacos plásticos e manter a lixeira bem fechada.
Não jogue lixo em terrenos baldios.
Lavar principalmente por dentro, com escova e sabão, os utensílios
usados para guardar água em casa, como jarras, garrafas, potes,
baldes, etc.

6. SAÚDE DA FAMÍLIA
Este tópico está baseado em informações encontradas no
site do Ministério da Saúde, em informes técnicos institucionais
editados na Revista de Saúde Pública, em 2000, e em artigos diver-
sos sobre o Programa de Saúde da Família e a Estratégia de Saúde
da Família.
O Programa de Saúde da Família foi criado em 1993 e hoje é
uma das metas importantes do Governo Federal para as pessoas
que lutam por uma saúde pública digna, universal, integral, equâ-
nime e de qualidade.

SAÚDE DA FAMÍLIA––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O objetivo do Programa Saúde da Família (PSF) é atuar na manutenção da saúde
e na prevenção de doenças, alterando, assim, o modelo de saúde centrado
em hospitais. Criado em 1993, o programa já atende 103 milhões de pessoas
(PORTAL DA SAÚDE, 2012).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Conforme o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF):
A Saúde da Família caracteriza-se como a porta de entrada priori-
tária de um sistema hierarquizado, regionalizado de saúde e vem
provocando um importante movimento de reorientação do mode-
lo de atenção à saúde no SUS (SAÚDE MAIS PERTO DE VOCÊ, 2012).

Esse modelo de saúde no SUS tem por base a implantação


de equipes multiprofissionais que atuam em Unidades Básicas de
Saúde e são responsáveis por um número predeterminado de fa-
mílias localizadas numa área delimitada.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 69

A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas


pela Estratégia de Saúde da Família, compõem parte do conjunto
de prioridades políticas apresentadas pelo Ministério da Saúde e
aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. Essa concepção su-
pera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na
doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sani-
tárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em
equipes, dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos
quais assumem responsabilidade.
O PSF não é uma peça isolada do sistema de saúde, mas um
componente articulado com todos os níveis. A ideia desse progra-
ma é ordenar os encaminhamentos e racionalizar o uso de tecno-
logias. Isso é possível porque as equipes dos PSFs estão próximas
à população. A atenção primária não descarta a alta complexidade
hospitalar, por exemplo, apenas articula todas as necessidades da
população e a disposição de todos, racionaliza o uso e democratiza
o acesso. Como é isso? Não há necessidade de uma pessoa buscar
um hospital por um estado gripal; isso pode ser resolvido perto do
local onde ela mora, por meio de uma Unidade de Saúde da Famí-
lia. O controle e as atividades direcionadas à qualidade de vida da
população podem ser o apoio para hipertensos, diabéticos, cardí-
acos, entre outros, sendo estes encaminhados a um serviço de alta
complexidade quando houver necessidade e por meio da Unidade
de Saúde da Família.
Com base nessas premissas, o Programa Saúde da Família repre-
senta tanto uma estratégia para reverter à forma atual de presta-
ção de assistência à saúde como uma proposta de reorganização da
atenção básica como eixo de reorientação do modelo assistencial,
respondendo a uma nova concepção de saúde não mais centrada
somente na assistência à doença mas, sobretudo, na promoção da
qualidade de vida. Caracteriza-se pela sintonia com os princípios
da universalidade, eqüidade da atenção e integralidade das ações.
Estrutura-se, assim, na lógica básica de atenção à saúde, gerando
novas práticas e afirmando a indissociabilidade entre os trabalhos
clínicos e a promoção da saúde.
O modelo de atenção preconizado pelo Saúde da Família já foi
testado em vários países, com contextos culturais de diferentes

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70 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

dimensões e níveis diferenciados de desenvolvimento socioeconô-


mico, como por exemplo Canadá, Reino Unido e Cuba, resolvendo
mais de 85% dos casos.
O percentual restante destina-se a unidades mais complexas. Além
do mais, o programa permite uma forte integração entre o Minis-
tério, as secretarias estaduais, os municípios, a comunidade local
e outros parceiros, em benefício de todos. Por seus princípios, o
Programa Saúde da Família é, nos últimos anos, a mais importante
mudança estrutural já realizada na saúde pública no Brasil.
A estratégia do PSF propõe uma nova dinâmica para a estruturação
dos serviços de saúde, bem como para a sua relação com a comuni-
dade e entre os diversos níveis e complexidade assistencial.
Assume o compromisso de prestar assistência universal, integral,
equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva à população, na
unidade de saúde e no domicílio, sempre de acordo com as suas
reais necessidades. Identifica os fatores de risco aos quais ela está
exposta, neles intervindo de forma apropriada.
O PSF representa ações combinadas a partir da noção ampliada
de saúde que engloba tudo àquilo que possa levar a pessoa a ser
mais feliz e produtiva. Propõe-se a humanizar as práticas de saúde,
buscando a satisfação do usuário pelo estreito relacionamento dos
profissionais com a comunidade, estimulando-a ao reconhecimen-
to da saúde como um direito de cidadania e, portanto, expressão e
qualidade de vida.
Uma das principais estratégias da Saúde da Família é sua capacida-
de de propor alianças, seja no interior do próprio sistema de saúde,
seja nas ações desenvolvidas com as áreas de saneamento, educa-
ção, cultura, transporte, entre outras. Por ser um projeto estrutu-
rante, deve provocar uma transformação interna do sistema, com
vistas à reorganização das ações e serviços de saúde. Essa mudança
implica na ruptura da dicotomia entre as ações de saúde pública e a
atenção médica individual, bem como entre as práticas educativas
e assistenciais.
Configura, também, uma nova concepção de trabalho, uma nova
forma de vínculo entre os membros de uma equipe, diferentemen-
te do modelo biomédico tradicional, permitindo maior diversidade
das ações e busca permanente do consenso. Sob essa perspectiva,
o papel do profissional de saúde é aliar-se à família no cumprimen-
to de sua missão, fortalecendo-a e proporcionando o apoio neces-
sário ao desempenho de suas responsabilidades, jamais tentando
substituí-la. Tal relação de trabalho, baseada na interdisciplinarida-
de e não mais na multidisciplinaridade, associada a não-aceitação
do refúgio da assistência no positivismo biológico, requer uma
nova abordagem que questione as certezas profissionais e estimu-
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 71

le a permanente comunicação horizontal entre os componentes de


uma equipe.
A equipe de saúde da família deve realizar uma permanente inte-
ração com a comunidade, no sentido de mobilizá-la, estimular sua
participação e envolvê-la nas atividades (REVISTA DE SAÚDE PÚBLI-
CA, 2012).

Todas essas atribuições deverão ser desenvolvidas de forma


dinâmica, com avaliação permanente, pelo acompanhamento de
indicadores de saúde da área de abrangência.
O PSF, portanto, visa ao trabalho na lógica da promoção da
saúde, almejando a integralidade da assistência ao usuário como
sujeito integrado à família, ao domicílio e à comunidade.

Conceito de saúde, promoção de saúde e Educação em Saúde no


território
O PSF é a estratégia da saúde que busca parceiros de outros
campos do saber, como as escolas inseridas em seus territórios,
por exemplo. Como sabemos, as ações na área da saúde devem
extrapolar em muito a área exclusiva da atenção assistencial à pró-
pria saúde; ações em outras esferas, como habitação, transporte,
renda, lazer, educação etc. devem ser implementadas, com o obje-
tivo de garantir saúde aos brasileiros.
O processo saúde-doença é um processo social caracteriza-
do pelas relações dos homens com a natureza (meio ambiente,
espaço, território) e com os outros homens (por meio do trabalho
e das relações sociais, culturais e políticas) num determinado es-
paço geográfico e num determinado tempo histórico.
A garantia à saúde transcende, portanto, a esfera das ativida-
des clínico-assistenciais, suscitando a necessidade de um novo pa-
radigma que dê conta da abrangência do processo saúde-doença.
A Carta de Intenções da Primeira Conferência Internacio-
nal sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em
1986, define a promoção à saúde como:

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72 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

[...] o processo de capacitação da comunidade para atuar na me-


lhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participa-
ção no controle desse processo. Para atingir um estado de comple-
to bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem
saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente [...] Assim, a promoção à saúde
não é responsabilidade exclusiva do setor da saúde, e vai para além
de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global
(CARTA DE OTTAWA, 2012).

A Carta de Ottawa, como é conhecida, advoga que a saúde


constitui o maior recurso para o desenvolvimento social, econô-
mico e pessoal e que é somente por meio das ações de promoção
que as condições e recursos fundamentais para a saúde se tornam
cada vez mais favoráveis. Ela considera que esses recursos são:
– paz: redução da violência;
– habitação: condições dignas de moradia, tanto em relação ao es-
paço físico quanto ao assentamento legal;
– educação: cumprimento do ensino compulsório, redução da eva-
são escolar e revisão da qualidade de ensino;
– alimentação: garantia de política municipal de geração e de me-
canismos de troca de produtos alimentícios e, principalmente, ga-
rantia de alimento na mesa da família;
– renda: a geração de renda para todos e com volume compatível
com a vivência;
– ecossistema saudável: ar salubre; água potável disponível 24 ho-
ras por dia; alimentos existentes em quantidade suficiente e de boa
qualidade;
– os recursos renováveis: o mais importante é o próprio homem,
que se renova cada vez que se recupera de um mal-estar [...] Os
serviços de saúde devem estar aptos para atender o homem em
todos os seus níveis de complexidade, seja com recursos próprios
ou em parceria com outros municípios;
– justiça social e eqüidade: a iniqüidade é caracterizada pela dife-
rença de velocidade com que o progresso atinge as pessoas [...]
avaliada indiretamente pela área geográfica em que o cidadão resi-
de. Dessa forma é que se busca, através do esquadrinhamento do
município em territórios homogêneos, observar os determinantes
e suas conseqüências ao bem-estar. A promoção da eqüidade é fei-
ta pela redução dos efeitos nocivos à salubridade e pelo reforço dos
fatores positivos (CARTA DE OTTAWA, 2012).
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 73

Como podemos ver, em 1986, elaborou-se internacional-


mente um conceito amplo de saúde, considerando-a como o maior
recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal. É vi-
sível que esse conceito abrange todos os princípios preconizados
pelo SUS e só é possível com a inserção de diversos setores e cam-
pos de saberes nessa conquista.
As equipes do PSF que absorverem esse conceito certamente
buscarão equipamentos (associações de bairro, escolas, CRAS, sin-
dicatos etc.) e pessoas inseridas no território (lideranças naturais,
presidentes de associação etc.) para realizar ações direcionadas à
saúde. Nesse sentido, as escolas, por serem espaços educacionais,
são um potencial de parceria real.
A ideia ampliada de Educação em Saúde é fundamental nes-
se processo. O conceito de Educação em Saúde também é definido
como um processo que abrange a participação de toda a popula-
ção no contexto de sua vida cotidiana, e não apenas das pessoas
sob risco de adoecer.
Uma Educação em Saúde nos moldes da integralidade inclui
políticas públicas comprometidas com o desenvolvimento da so-
lidariedade e da cidadania, envolvidas na melhoria da qualidade
de vida e na promoção do homem. Em outras palavras, falamos
de ambientes apropriados para além dos tratamentos clínicos e
curativos (SCHALL; STUCHINER, 1999).
As ações de Educação em Saúde devem considerar saberes
técnico-científicos e populares. As relações constituídas cultural-
mente são significativas e podem, ao longo de um processo, ser
libertadoras ou opressoras (MORIN, 1998); portanto, é importante
almejar, culturalmente, o exercício de cidadania. Esse exercício é
capaz de provocar mudanças individuais e prontidão para atuar na
família e na comunidade, contribuindo para a transformação social
(CATRIB et al., 2003).
A Educação em Saúde relaciona-se com pensamentos de
Freire (2000, n. p.), pois ela é:

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74 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

[...] coerente e competente, que testemunha seu gosto pela vida,


sua esperança no mundo melhor, que atesta sua capacidade de
luta, seu respeito às diferenças da realidade, a maneira consistente
com que vive sua presença no mundo.

Assim, para educar em saúde, faz-se necessário estar aberto


ao contorno geográfico, social, político e cultural do indivíduo, da
família e da comunidade. Nesse sentido, a escola torna-se espaço
primordial para as ações de Educação em Saúde:
Na escola, onde crianças e jovens passam grande parte de seu dia,
as ações de orientação de promoção da saúde constituem impor-
tante meio de informação. A escola, local onde vivem, aprendem
e trabalham muitas pessoas, é um espaço no qual programas de
educação e saúde podem ter grande repercussão, atingindo os es-
tudantes nas etapas influenciáveis de sua vida, quais sejam, a infân-
cia e adolescência (BRASIL, 2002, n. p.).

É incontestável o papel do professor como Educador em


Saúde, principalmente o professor de Educação Física, que é um
profissional que dialoga com várias áreas do saber, sobretudo a
da Educação e a da Saúde. O professor de Educação Física tem um
ambiente móvel em seu local de trabalho, pois utiliza-se de espa-
ços mais fechados, como as salas de aula; espaços abertos, como
quadras cobertas ou não; espaços lúdicos, como parques e salas
de jogos; enfim, trabalha na mobilidade da escola e, se possível,
do bairro e da cidade.
O corpo, o movimento no espaço físico, o psicológico e a
cultura tornam-se algo a ser refletido pelo professor de Educa-
ção Física, pois possibilitam que ele seja capaz de abrir espaços
para incluir em seu trabalho ações e estudos de naturezas diver-
sas, permitindo a análise do corpo de seus educandos e do seu
próprio, como agentes criadores de cultura (SÉRGIO, 1987). As
parcerias com os PSFs nas reflexões e ações da saúde, educação,
cultura, paz, violência, renovação, qualidade de vida etc. poderão
dinamizar e potencializar a conquista da cidadania e autonomia
dos alunos, suas famílias e comunidade, sendo então necessária
a compreensão do que é a intersetorialidade para o professor de
Educação Física.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 75

Importância da intersetorialidade e da qualidade de vida


O texto a seguir foi retirado, na íntegra, da dissertação de
Mestrado de Santos (2005), da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas – FCM-UNICAMP. Esse estudo
reflete sobre ações intersetoriais em Educação e Saúde.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O setor saúde, ao se pautar pela concepção ampliada de saúde, é multidimensio-
nal, ou seja, sua compreensão perpassa outras áreas do conhecimento. Chaves
(1998) esquematiza esta noção em um diagrama circular onde a saúde aparece
no centro, rodeada por outros setores conectados entre si e a ela, representando
a interação entre diferentes áreas para compreensão e intervenção sob uma
realidade complexa. O autor aponta oito áreas prioritárias para o setor saúde:
ecológica, epidemiológica, estratégica, econômica-política, educacional, psico-
-socio-cultural, transcendental e ética. Para este estudo, destacamos a área edu-
cacional.
As concepções da trans e intersetorialidade das ações surgiram da nova orienta-
ção da Saúde Coletiva na busca por promoção de saúde, cuja conquista significa
que necessariamente as políticas sociais e econômicas devem passar por um
processo de reformulação, originando o que se convencionou chamar de "políti-
cas saudáveis" (MOYSÉS; MOYSÉS; KREMPEL, 2004).
Para vários autores que estudam este tema, isto só é possível por meio de ações
intersetoriais, de forma que um setor somente desenhará suas estratégias, ações
e objetivos conforme as repercussões sobre as estratégias, ações e objetivos do
outro setor (TEIXEIRA; PAIM, 2002). Isto significa, que o setor educacional, por
exemplo, deve organizar suas práticas a partir dos efeitos que alcançam sobre o
setor saúde, na direção da promoção da saúde.
Buss (1998, p. 179) aponta a estratégia intersetorial de:
"[...] usar as escolas como espaços privilegiados de fazer saúde por meio de
programas de saúde escolar e de programas de educação em saúde com esco-
lares. A promoção da saúde obtida através de iniciativas criativas de educação
para o setor, que são desenvolvidas em conjunto por professores e profissionais
de saúde visando a ampliação da consciência sanitária – tem mostrado enorme
capacidade para estender seus efeitos ao longo da vida futura de cada estudan-
te, assim como, de imediato, para o interior de suas famílias".
À Educação cabe ainda a formação de cidadãos conscientes a respeito do mun-
do e de seus próprios corpos, os quais além de transformarem seus comporta-
mentos, possam ser capazes de participar na construção de políticas públicas
saudáveis e consequente melhoria da qualidade de vida (BUSS, 1998).
Por sua vez, as políticas públicas saudáveis surgem como resposta a um novo
entendimento das formas de organização em sociedade das civilizações huma-
nas. Homens e mulheres são seres racionais e que estabelecem relações sociais
para sobrevivência. Entretanto, não basta simplesmente sobreviver, pois criamos
uma necessidade subjetiva, a felicidade. Isto só foi possível porque ações e re-
lações humanas adquiriram significados coletivos, constituindo o que chamamos
de cultura.

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76 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Para sobrevivermos com qualidade no mundo contemporâneo, precisamos de


condições favoráveis de vida, apontadas por BUSS (1996), e que dividimos em
concretas (como alimentação, habitação, trabalho) e abstratas (como amor, paz,
amizade). Usufruir destas condições, em maior ou menor grau, configura uma
melhor ou pior qualidade de vida.
Contudo, somente o setor Saúde não é capaz de suprir todas as necessidades
objetivas e subjetivas que explicitamos. Assim, a promoção da saúde deve ser
uma prioridade em todas as políticas sociais, pois o que será do homem e da
mulher sem condições adequadas de sobrevivência e felicidade? Podemos
afirmar, sem receio, que nenhuma destas condições básicas de vida é possível
sem a saúde. Saúde é o bem humano essencial e primordial. Interpretamos que
foi com esta preocupação que a XI Conferência Nacional de Saúde elegeu como
prioridade para efetivação do SUS, além da participação social (SANTOS, 2005,
n. p.).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

7. FARMÁCIA POPULAR
O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular do Brasil
para ampliar o acesso aos medicamentos para as doenças mais co-
muns entre os cidadãos.
O Programa possui uma rede própria de Farmácias Populares e a
parceria com farmácias e drogarias da rede privada, chamada de
Sistema de Copagamento ou "Aqui tem Farmácia Popular".
O Programa Farmácia Popular do Brasil, tem o objetivo de levar me-
dicamentos essenciais a um baixo custo para mais perto da popu-
lação, melhorando o acesso e beneficiando uma maior quantidade
de pessoas. O Programa atua sobre dois eixos de ação: as UNIDA-
DES PRÓPRIAS, em funcionamento desde junho de 2004, que são
desenvolvidas em parceria com Municípios e Estados e o SISTEMA
DE COPAGAMENTO, lançado em março de 2006, desenvolvido em
parceria com farmácias e drogarias privadas.
As unidades próprias são operacionalizadas pela Fundação Oswal-
do Cruz (Fiocruz), que coordena a estruturação das unidades e exe-
cuta a compra dos medicamentos, o abastecimento das unidades e
a capacitação dos profissionais.
Contam, atualmente, com um elenco de 108 medicamentos mais o
preservativo masculino, os quais são dispensados pelo seu valor de
custo representando uma redução de até 90% do valor comparan-
do-se com farmácias e drogarias privadas. A única condição para a
aquisição dos medicamentos disponíveis nas unidades, neste caso,
é a apresentação de receita médica ou odontológica.
Já no SISTEMA DE COPAGAMENTO, o Governo Federal paga uma
parte do valor dos medicamentos e o cidadão paga o restante. O
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 77

valor pago pelo Governo é fixo e equivale a 90% do Valor de Re-


ferência (consulte os valores na legislação do Programa). Por esse
motivo, o cidadão pode pagar menos para alguns medicamentos
do que para outros, de acordo com a marca e o preço praticado
pelo estabelecimento. Para ter acesso a essa economia, basta que
a pessoa procure uma drogaria com a marca "Aqui tem Farmácia
Popular" e apresente a receita médica acompanhada do seu CPF
e documento com foto. Atualmente, o Sistema de Copagamento
está trabalhando com medicamentos para hipertensão, diabetes,
colesterol, asma, rinite, mal de Parkinson, osteoporose e glaucoma,
além de anticoncepcionais e fraldas geriátricas (PORTAL DA SAÚDE,
2012).

8. UPA 24H
As Unidades de Pronto Atendimento – UPA 24h são estruturas de
complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e
as portas de urgência hospitalares, onde em conjunto com estas
compõe uma rede organizada de Atenção às Urgências. São inte-
grantes do componente pré-hospitalar fixo e devem ser implanta-
das em locais/unidades estratégicos para a configuração das redes
de atenção à urgência, com acolhimento e classificação de risco em
todas as unidades, em conformidade com a Política Nacional de
Atenção às Urgências.
A estratégia de atendimento está diretamente relacionada ao tra-
balho do Serviço Móvel de Urgência – SAMU que organiza o fluxo
de atendimento e encaminha o paciente ao serviço de saúde ade-
quado à situação.
Podemos classificar as UPAs em três (3) diferentes portes, de acor-
do com a população da região a ser coberta, a capacidade instala-
da (área física, número de leitos disponíveis, recursos humanos e
capacidade diária de atendimentos médicos) e para cada porte foi
instituído incentivo financeiro de investimento para implantação
das mesmas além de despesas de custeio mensal (quadros abaixo)
(PORTAL DA SAÚDE, 2012).

As UPAs, localizadas em regiões das cidades, são, poten-


cialmente, locais em que as emergências e urgências possíveis de
ocorrer no ambiente escolar podem ser encaminhadas, depen-
dendo do grau de extensão e gravidade do problema. Esse é um
local com um grau de complexidade diferenciado do Programa de
Saúde da Família, que é a porta de entrada do sistema de saúde.

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78 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

9. SAMU-192
O SAMU 192 faz parte da Política Nacional de Urgências e Emergên-
cias, de 2003, e ajuda a organizar o atendimento na rede pública
prestando socorro à população em casos de emergência. Com o
SAMU 192, o governo federal está reduzindo o número de óbitos,
o tempo de internação em hospitais e as sequelas decorrentes da
falta de socorro precoce. O serviço funciona 24 horas por dia com
equipes de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, au-
xiliares de enfermagem e socorristas que atendem às urgências de
natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica
e de saúde mental da população.
SAMU realiza o atendimento de urgência e emergência em qual-
quer lugar: residências, locais de trabalho e vias públicas, contando
com as Centrais de Regulação, profissionais e veículos de salvamen-
to.
As Centrais de Regulação tem um papel indispensável para o resul-
tado positivo do atendimento; sendo o socorro feito, após chamada
gratuita, para o telefone 192. A ligação é atendida por técnicos que
identificam a emergência e, imediatamente, transferem o telefone-
ma para o médico regulador. Esse profissional faz o diagnóstico da
situação e inicia o atendimento no mesmo instante, orientando o
paciente, ou a pessoa que fez a chamada, sobre as primeiras ações.
Esse mesmo médico regulador avalia qual o melhor procedimento
para o paciente: orienta a pessoa a procurar um posto de saúde;
designa uma ambulância de suporte básico de vida, com auxiliar
de enfermagem e socorrista para o atendimento no local; ou, de
acordo com a gravidade do caso, envia uma UTI móvel, com médico
e enfermeiro. Com poder de autoridade sanitária, o médico regu-
lador comunica a urgência ou emergência aos hospitais públicos e,
dessa maneira, reserva leitos para que o atendimento de urgência
tenha continuidade (PORTAL DA SAÚDE, 2012).

Quando chamar o SAMU?––––––––––––––––––––––––––––––


1) Na ocorrência de problemas cardiorrespiratórios.
2) Em casos de intoxicação exógena.
3) Em caso de queimaduras graves.
4) Na ocorrência de maus tratos.
5) Em trabalhos de parto em que haja risco de morte da mãe ou do feto.
6) Em casos de tentativas de suicídio.
7) Em crises hipertensivas.
8) Quando houver acidentes/traumas com vítimas.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 79

9) Em casos de afogamentos.
10) Em casos de choque elétrico.
11) Em acidentes com produtos perigosos.
12) Na transferência inter-hospitalar de doentes com risco de morte.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Política Nacional de Atenção às Urgências


A Política Nacional de Atenção às Urgências tem como fi-
nalidade proteger a vida das pessoas e garantir a qualidade do
atendimento no SUS. Suas diretrizes são: a universalidade, a in-
tegralidade, a descentralização e a participação social, ao lado da
humanização, a qual todo cidadão tem direito.
A política tem como foco cinco grandes ações:
1) Organizar o atendimento de urgência nos pronto-aten-
dimentos, Unidades Básicas de Saúde e nas equipes do
Programa Saúde da Família.
2) Estruturar o atendimento pré-hospitalar móvel (SAMU-
192).
3) Reorganizar as grandes urgências e os prontos-socorros
em hospitais.
4) Criar a retaguarda hospitalar para os atendidos nas ur-
gências.
5) Estruturar o atendimento pós-hospitalar.
O Governo Federal possui outras ações e programas, todos
de interesse público, os quais podem ser conhecidos no site do Mi-
nistério da Saúde. No entanto, para o objetivo deste estudo, esses
programas supracitados são os mais importantes.

10. NOÇÕES DE DST


Você sabe o que significa a sigla "DST"? Ela quer dizer "Do-
ença Sexualmente Transmissível", ou seja, trata-se das doenças
transmitidas por meio de relações sexuais, tendo uma pessoa sau-
dável e outra infectada, que mantêm relação sexual sem proteção,
isto é, sem camisinha.

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80 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Nas relações sexuais, é importante que se tenha higiene,


principalmente aquelas pessoas que optam por ter maior núme-
ro de parceiros. A prevenção de quaisquer delas geralmente está
associada à higiene e ao uso de camisinha em todas as formas de
relação (anal, oral, vaginal etc.), não importando se esse relaciona-
mento é heterossexual ou homossexual.
Neste tópico, abordaremos a AIDS, que é a mais conheci-
da dentre as DSTs, mas é preciso ressaltar que há outras doenças
transmitidas por meio do sexo, a saber: sífilis, gonorreia, herpes
genital, candidíase, HPV, linfogranuloma venéreo, granuloma in-
guinal, pediculose do púbis, hepatite B, triconomíase genital, além
das infecções por ureaplasma, por gardnerella ou por molusco
contagioso.

Sobre a AIDS
Apenas o fundamental para a compreensão do tema AIDS
será apresentado aqui, pois nossa intenção é oferecer somente
noções básicas para se trabalhar como educador na prevenção
dessa doença. O campo de estudo aprofundado do assunto, na
área biológica, é a disciplina Imunologia, que, entre outros aspec-
tos, trata da compreensão do que é a AIDS. No entanto, neste es-
tudo, objetivamos que você obtenha uma ideia geral dessa DST,
para transmiti-la de forma simples aos seus educandos. A intenção
é que este texto sirva de apoio para o trabalho nas escolas, junta-
mente com formas criativas de prevenção da AIDS.
"AIDS" é uma sigla em inglês que significa, em português,
"Síndrome da Imunodeficiência Adquirida". Ela atua no sistema
imunológico do indivíduo portador dessa doença.
O sistema imunológico é o principal sistema do organismo
vivo para combater micro-organismos invasores, impedindo que
vírus, bactérias e parasitas ajam no corpo de forma a prejudicá-lo.
Todo ser humano nasce com uma imunidade inata, mas ainda ima-
tura. Ao nascermos e entrarmos em contato com o mundo exter-
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 81

no ao útero materno, inicia-se um processo de aprendizagem no


sistema imunológico, ou seja, gradativamente, ele irá aprendendo
a responder a cada antígeno (partículas, substâncias, micro-orga-
nismos estranhos ao corpo humano).
Para cada antígeno, o organismo é estimulado a produzir an-
ticorpos (proteínas produzidas no corpo em resposta à presença
de antígenos). Há especificidades na produção de anticorpos, quer
dizer, cada antígeno estimula a produção de um tipo de anticorpo.
Desse modo, cada anticorpo inibe ou neutraliza um tipo de antí-
geno, e, assim, a imunidade vai sendo adquirida, apreendida. O
sistema imunológico possui memória e produz o anticorpo para
cada antígeno sempre que necessário e cada vez mais rápido. Por
isso, muitas pessoas não apresentam uma doença mais de uma
vez. Essa é a função da vacina, por exemplo, que é produzida a
partir de uma forma atenuada do vírus de determinada doença,
ativando a produção de anticorpos no organismo. Dessa maneira,
quando o organismo entra em contato com a substância produtora
da doença, ele busca, em sua memória, os dados que combatem
ou neutralizam essa doença. No caso da AIDS, porém, ainda não
foi produzida uma vacina que combata o seu vírus.
O HIV é o vírus que causa a AIDS. É uma sigla em inglês para
"Vírus da Imunodeficiência Humana". Ele ataca as células de de-
fesa do organismo, alterna o DNA das células, integra-se ao có-
digo genético das células infectadas e usa-as para fazer cópias de
si mesmo. Cada vez que a célula infectada se divide, ela produz
uma cópia de seu código genético e uma cópia do código genético
do vírus, prejudicando, com isso, o sistema imunológico. Assim, o
indivíduo que tem o vírus HIV fica sujeito a doenças oportunistas,
que são assim chamadas porque tiram proveito da fraqueza do sis-
tema imunológico para instalarem-se no organismo, sendo estas,
geralmente, de origem infecciosa. Desse modo, doenças que não
causariam problemas graves em pessoas não infectadas pelo HIV,
em um portador do vírus, geram vários problemas, porque o corpo
não consegue defender-se.

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82 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

É importante saber que nem todas as pessoas que têm o ví-


rus HIV têm AIDS ou desenvolvem a doença, mas elas transmitem.
Há soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem
desenvolver a doença, mas, mesmo assim, podem transmitir o ví-
rus por meio de relações sexuais desprotegidas, bem como pelo
compartilhamento de seringas contaminadas ou através da gravi-
dez e da amamentação.

Formas de contágio
O HIV pode estar presente no esperma masculino, nas secre-
ções vaginais femininas, no leite materno e no sangue. As princi-
pais formas de contágio descritas atualmente são: via relações se-
xuais com pessoas infectadas pelo vírus; transfusão de sangue que
contenha o vírus HIV; troca de seringas com pessoas infectadas;
contato com material cortante infectado; e via mãe para filho, por
meio da gestação ou da amamentação, sendo esta denominada
"transmissão vertical".
O vírus da AIDS é transmitido somente pelo contato direto e/
ou troca de sangue e/ou fluidos corporais de uma pessoa infecta-
da. O carinho, o abraço, o contato via ar, o aperto de mãos, o beijo
na boca, a masturbação a dois, suor, lágrimas, saliva, espirro, va-
sos sanitários, piscinas, picadas de insetos, copos, pratos, talheres,
roupas de cama, toalhas usadas por pessoas que têm o vírus da
AIDS e a comida não transmitem o vírus.

Sintomas
Os sintomas são próprios de doenças oportunistas e podem
ser confundidos. Em geral, há febre, dores musculares e articula-
res, crescimento dos gânglios, dores de garganta, vermelhidão no
corpo, emagrecimento. Os sintomas às vezes vêm e desaparecem.
É geralmente observado emagrecimento rápido, sem que a
pessoa esteja fazendo dieta, além de diarreias prolongadas, febres
persistentes, tosse seca, suores noturnos e cansaço, erupções na
pele e manchas vermelhas.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 83

Se a pessoa contaminada ainda tiver maior queda nas defe-


sas do organismo, outras doenças mais graves poderão surgir. As
mais comuns são a pneumonia, câncer, problemas na memória,
problemas neurológicos, sarcomas (tipo de câncer de pele), entre
outras. O indivíduo portador do vírus da AIDS pode chegar a óbito.

Como descobrir que se tem o vírus HIV?


Não é possível saber se a pessoa tem AIDS apenas pela apa-
rência ou por algum sintoma. Se, no ambiente escolar, familiar, de
trabalho etc. alguém é acusado de ser aidético, isso está mais rela-
cionado com o preconceito do que com a verdade, e esse tema é
importante de ser trabalhado na escola. Muitas pessoas aparente-
mente saudáveis podem ser portadoras do vírus HIV.
O único meio de saber se o indivíduo tem o vírus é por meio
de exames de sangue realizados em laboratórios. Mesmo o exame
sendo positivo, não significa que a pessoa tem AIDS, e sim que ela
teve contato com o vírus. O exame detecta a presença de anticor-
pos contra o HIV, e não o HIV; por isso, é necessário um tempo
entre o contato de risco e a formação de anticorpos. Só haverá an-
ticorpos circulantes no sangue depois de decorrido esse período,
chamado "janela biológica", que varia de três a 12 semanas.

Por que fazer o teste?


Saber precocemente do contágio pelo HIV aumenta a expec-
tativa de vida do soropositivo. Quem busca tratamento especiali-
zado no tempo certo e segue as recomendações do médico ganha
em qualidade de vida (BRASIL, 2011).

Mães soropositivas
As mães soropositivas têm 99% de chance de ter filhos sem
o HIV se seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal,
parto e pós-parto. Por isso, é importante uma mulher grávida que
tenha passado por uma situação de risco, como ter feito sexo des-
protegido ou compartilhado seringas, fazer o exame.

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84 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Local de realização dos exames


Os exames podem ser realizados no Sistema Único de Saúde
(SUS) gratuitamente, nas unidades da rede pública e nos Centros
de Testagem e Aconselhamento (CTA). Eles podem ser feitos, in-
clusive, de forma anônima. Nesses centros, além da coleta e da
execução dos testes, há um processo de aconselhamento antes e
depois do teste, para facilitar a correta interpretação do resultado
pelo paciente (BRASIL, 2011).

Encaminhamentos
Caso seja confirmado o diagnóstico de HIV positivo, o porta-
dor do vírus deve ser encaminhado a serviços de saúde. A consulta
com o profissional de saúde é o momento certo para esclarecer
todas as dúvidas e acontecer os encaminhamentos necessários à
melhora da qualidade de vida e ao tratamento. A equipe envolvi-
da no atendimento de soropositivos tem todas as condições de
responder sobre qualquer assunto relacionado ao tratamento e à
prevenção da doença.

Prevenir é melhor que remediar


Para prevenir, é importante saber como se pega ou não o
vírus da AIDS, aspectos esses que já foram mencionados no Tópi-
co Formas de contágio. Portanto, neste espaço, serão abordadas
as metodologias do trabalho pela prevenção, e não exatamente o
conteúdo a ser abordado.
Figueiredo e Gregori (1998, n. p.) trazem, no texto Os dife-
rentes modelos de prevenção à AIDS adotados em campanhas e
projetos, as diferentes metodologias utilizadas para o tratamen-
to desse tema. Descrevemos de forma literal parte desse texto.
Acompanhe:
Modelo do Princípio Moral: As ações desse modelo "tem como
base princípios morais e religiosos, onde somente a abstinência
deveria ser contemplada como forma de se prevenir a AIDS por via
sexual". Outra recomendação seria o reforço da monogamia e con-
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 85

denação das relações extraconjugais. "Este modelo tem sido consi-


derado contraproducente nas avaliações de diversos profissionais",
pois embora a maioria da população almeje tais preceitos, eles não
são efetivamente seguidos na vida cotidiana das pessoas, seja pe-
los jovens que são sexualmente ativos ou pela cultura que reforça
um padrão masculino de infidelidade sexual.
Modelo do Conhecimento Científico: "Esse modelo propõe o for-
talecimento de informações sobre AIDS de modo imparcial e cien-
tífico. Segundo esta proposta os jovens teriam condições de tomar
decisões racionais e bem fundamentadas", que incluiriam práticas
preventivas. "Infelizmente, as avaliações constataram que apesar
dos jovens assimilarem as informações, isto não os mantinha longe
de comportamentos inseguros".
Modelo do Estilo de Vida Saudável: Esse modelo "promove esti-
los de vida associados à boa saúde, a auto-estima, a ecologia. Vem
sendo trabalhado na França com bons resultados". Acredita-se que
com o desenvolvimento de noções de auto-cuidado os indivíduos
realizem escolhas mais positivas no seu estilo de vida, expondo-se
menos a situações de risco à saúde física e mental, tanto com re-
lação à prevenção de doenças como a AIDS, como da utilização de
drogas psicotrópicas.
Modelo de Educação Afetiva: Esse modelo supõe a presença de
um agente externo, um educador ou um coordenador. Ele desen-
volve "técnicas que visam melhorar ou desenvolver a auto-estima,
a capacidade de lidar com a ansiedade, a habilidade de decidir, de
comunicar e de negociar, e a capacidade de resistir às pressões do
grupo. É um modelo que tem demonstrado bons resultados, mas
que depende muito de capacitação de educadores e de sua dispo-
nibilidade e paciência".
Modelo de Pressão de Grupo Positiva: Esse modelo preconiza a
"utilização dos próprios jovens como multiplicadores das informa-
ções e o fortalecimento de organizações de solidariedade e ajuda
entre os jovens, como é muito recente, ainda não foi suficiente-
mente avaliado". Na prevenção ao uso de drogas supõe, igualmen-
te, que a relação horizontal de indivíduos com um código comum
tenha mais eficácia que recomendações externas aos grupos de
convivência social, como por exemplo, a Associação dos Alcoólatras
Anônimos, entre outros grupos.
Redução de Danos: Surgiu para a prevenção da AIDS entre os
usuários de drogas injetáveis. A constatação de que nem sempre
a conduta preconizada idealmente (abandono do uso de drogas)
fosse possível para alguns indivíduos, pelos mais variados motivos
(sociais, econômicos ou psicológicos, orientou que fossem criadas
estratégias de prevenção que reduzissem a possibilidade de expo-

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86 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

sição ao HIV. Assim, foram criadas escalas de prevenção que procu-


ravam dar conta das diferentes situações de exposição a AIDS. Uma
ação inicial (1) recomenda o não uso de drogas; (2) numa segunda
escala de intervenção, recomenda-se que caso haja uso, tais drogas
não sejam injetáveis; (3) caso haja uso de drogas injetáveis, esta
deve ser realizada com a utilização de material descartável; (4) caso
isso não seja possível pela falta de acesso ou motivos econômicos,
recomenda-se a esterilização caseira da seringa e da agulha do usu-
ário, antes que seja por ele reutilizada.
A grande contribuição do emprego do conceito de Redução de
Danos foi à extensão da prevenção aos indivíduos que não tinham
possibilidade de adotar uma conduta considerada ideal, incluindo-
-os, com várias possibilidades, em outras formas de prevenção. Até
então a maioria das campanhas excluía algum grupo por considerá-
-lo inatingível.

Metodologias ativas de aprendizagem como formas de trabalhar


com a prevenção
Trabalhar com a prevenção é buscar formas de conscientizar
a população sobre sua vida, seus papéis, seus anseios e desejos
relacionados com reflexões no campo da ciência e do saber po-
pular. Isso não é possível de ser realizado de forma vertical, quer
dizer, um detentor de saber que exerce o papel de professor e que
o guarda em um recipiente, podendo ser o cérebro esse saber,
desconsidera que a aprendizagem é um processo apreendido com
afeto, saber, cognição, mente, corpo, contexto etc.
No campo da saúde e da educação, há metodologias diver-
sas para se pensar o processo ensino-aprendizagem. No contexto
em que se propõe trabalhar com prevenção a saúde em ambien-
te escolar ou de saúde e que a ideia seria mudanças de atitudes,
propõe-se aqui a problematização como método.
A problematização é fundamentada em Paulo Freire (1995)
e prioriza a transformação da realidade social. O autor considera
que todo ser humano tem vocação para ser sujeito da história, e
não objeto. O ser humano pode dar uma direção consciente em
sua vida, ele capta dados objetivos da realidade de forma reflexiva
com capacidade de transcender. O ser humano integra-se às con-
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 87

dições do contexto e busca responder aos desafios existentes. Por


esse motivo, é imprescindível, no processo ensino-aprendizagem,
considerar o saber de cada um, bem como o saber coletivo e o
contexto em que está inserido. Todos sabem algo, não existem,
nesse caso, analfabetos; portanto, a relação entre o educador e
o educando deve ser horizontal e dar-se por meio de diálogo, da
vivência de cada um, suas experiências vividas. Os problemas e
linguagens devem ser compartilhados.
Portanto, independentemente dos recursos utilizados, a di-
nâmica é sempre o diálogo a partir da problematização da realida-
de; assim, criam-se a conscientização e espaços para ações sociais
e políticas. A ideia é partir da experiência concreta do estudante e,
por meio do diálogo, corresponsabilizá-lo, para que esse conheci-
mento inicial seja ultrapassado e atinja um conhecimento crítico e
sistematizado que faça sentido e mude atitudes.
No caso da AIDS, há vários conhecimentos prévios em rela-
ção ao assunto, apreendidos por meio da mídia, em casa, na rua –
temos sempre alguma ideia do que se trata. Há modos de se ver o
assunto, seja de maneira aberta, seja de maneira preconceituosa.
O assunto não é algo puramente técnico e que só tem relação com
os profissionais da saúde. A AIDS, assim como quaisquer processos
de saúde-doença, faz parte de uma construção histórico-cultural;
por isso, é muito importante ter como base, no processo preventi-
vo, a realidade vivida. O ideal é trabalhar a vida real, ou seja, a re-
alidade como ponto de partida, e o estudo do tema, ou seja, abrir
espaços para que as pessoas dialoguem sobre seus conhecimentos
prévios do assunto, em um primeiro momento, e, em um segundo,
responsabilizar os envolvidos para uma busca teórico-científica do
assunto, retornando o olhar para a realidade. Com isso, criam-se
questionamentos, criam-se conflitos, cria-se uma situação em que
o sujeito pode dar o seu referencial e abrir espaços para questio-
ná-lo, bem como pode identificar o que precisa ser mudado na
realidade e buscar os conhecimentos necessários para intervir na
realidade. É fundamental que os estudantes (jovens, crianças ou

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88 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

adultos) se alinhem no processo de prevenção da AIDS, sem pre-


conceito e com apropriação de si mesmo e do tema.

Trabalho com estigma e preconceito


O preconceito e o estigma são elementos que dificultam o
trabalho com a prevenção ao HIV/AIDS.
Há, ainda hoje, várias crenças sobre a temática que gera mo-
vimentos de exclusão. Uma delas é de que a AIDS se relaciona com
grupos de risco, gerando um processo de separações humanas por
categorias sociais. Outra crença é de que a AIDS é algo que ocorre
entre os jovens. Há, também, relações de preconceito relativas à
pobreza, ao gênero e à opção sexual. São processos capazes de
gerar discriminações e intolerâncias.
A AIDS surgiu há mais de 20 anos, e, ainda hoje, o preconcei-
to é alto e subjetivamente se coloca numa relação do "eu" com "o
outro aidético", tirando deste aspectos de humanidade. Portanto,
trabalhar com esse tema é também interferir em processos de vio-
lência social.
O preconceito em relação a essa doença em pleno século
21, quando a Medicina vive diversos avanços tecnológicos, ainda
se mantém na relação com as primeiras explicações da epidemia,
que a denominou de "peste gay". A ideia inicial é de que o contato
com homossexuais devia ser evitado, bem como com prostitutas,
usuários de drogas, pessoas pobres etc.
No campo da Educação, deve-se incentivar a tolerância e a
convivência ética e solidária entre todos.

O corpo na cultura contemporânea


"O ser humano está inserido em uma rede complexa de sím-
bolos, saberes, mitos, crenças, memórias, valores, imagens etc."
(BRITO, 2004, p. 51), em constante construção e reconstrução;
portanto, é uma rede inacabada. Ele caminha interagindo com es-
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 89

sas forças, podendo inclusive configurá-las, construir formas e sub-


jetividades, opor e identificar subjetividades culturais. A presença
palpável de agentes somáticos, assim como traços dessa presença,
é central no entendimento da subjetividade (BRITO, 2011).
Os humanos são seres encarnados em um tempo e um es-
paço, onde convivem com aspectos sociais, históricos e culturais.
O seu fazer não nasce apenas de sua subjetividade singular, mas
também é mediado como participante de práticas culturais. Nós
estamos sempre no meio de outras pessoas e outros significados;
nossas funções são definidas, ao menos parcialmente, em termos
de nosso tempo e espaço. A cultura é um gerador de estruturalida-
de e torna possível a vida (BRITO, 2011).
A cultura, como um saber coletivo e acumulado em memó-
ria social, geradora de princípios e conhecimentos, poderá ser li-
bertadora ou opressora (MORIN, 2002). No contexto cultural, há a
formação dos dogmas e normatizações. A cultura estabelece mo-
delos de ação e conduta, por meio de processos de identificação e
de projeções que os indivíduos e grupos sociais constroem a partir
dos símbolos culturais.
Na contemporaneidade, vivemos a busca incessante pelo
corpo perfeito, idealizado segundo padrões da mídia – inclusive, é
totalmente permitida a transformação desse corpo cirurgicamen-
te, como algo modificável segundo os padrões exigidos pelos íco-
nes dos meios de comunicação. Tudo é mutável, é verdade, mas,
atualmente, isso é tão banalizado que chega a ser descartável. O
que não é apreciado é descartado, independentemente de o ob-
jeto em questão ser um celular, uma televisão, a vida ou o próprio
corpo.
Há repercussões desse contexto no campo da Educação Físi-
ca, pois o modelamento desses corpos midiáticos está diretamen-
te associado ao fitness, a uma vida saudável – não que isso seja
verdadeiro. Vê-se, nos meios de comunicação, a associação da gi-
nástica e do exercício a um modelo estético, a um esculpimento do
corpo (BETTI, 2004).

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90 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Uma nova cultura do consumo estabelece-se a partir da ima-


gem do corpo bonito, sexualmente disponível e associado ao he-
donismo, ao lazer e à exibição, enfatizando a importância da apa-
rência e do visual. Essas imagens de corpo são divulgadas pelos
meios de comunicação de massa e mídia eletrônica, exigindo toda
uma rotina de exercícios, dietas, cosméticos, terapias, entre outras
preocupações com a imagem e a autoexpressão, uma exposição
sem limites do corpo (corpo-outdoor) (NÓBREGA, s. d.).
Os corpos atuais estão globalizados, vivem on-line, informa-
ções de todos os tipos colocam ao vivo e em tempo real notícias
e padrões de qualquer parte do mundo. Esse processo de virtuali-
zação do corpo se concretiza na alteração das funções somáticas,
como: a percepção, os movimentos de deslocamento do corpo,
as alterações na visibilidade do corpo, seja por reconstituições da
pele e dos tecidos, seja pela criação de modelos digitais do corpo,
entre outras possibilidades.
O fenômeno de reconstrução da identidade do humano a
partir da virtualização cria o hipercorpo, propício às mais diversas
viagens e trocas entre os indivíduos (NÓBREGA, s. d.).
O conhecimento do corpo sempre fez parte do processo de
formação na Educação Física, e trabalhar com esse conhecimen-
to em um processo de ensino-aprendizagem é muito importante.
Como afirma Carmo Junior (2009), a educação é algo abrangente,
e educar o físico parece limitar o conceito de Educação Física ao
que ela representa, isto é, a um referencial cultural. Não seria coe-
rente educar o físico sem educar o ser humano na sua totalidade,
motivo pelo qual é importante se conhecer o corpo no contexto
contemporâneo.
Os estudantes com os quais os profissionais de Educação Fí-
sica trabalham atualmente estão inseridos nesse processo virtuali-
zado e globalizado. A proposição do professor de Educação Física é
trabalhar a formação da consciência do sujeito, inclusive corporal,
de forma crítica, pretendendo gerar conflitos na construção de um
corpo autônomo, em contraposição com esse corpo mercadológi-
co, robotizado.
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 91

Essa conscientização corporal na Educação Física não pre-


tende adquirir uma função socializadora, ou seja, colaborar para
a adaptação do homem à sociedade, mas, sim, contribuir para a
formação do homem como um ser integral e agente da transfor-
mação social. Assim, a proposta é de que os indivíduos, além de
serem capazes de participar de atividades corporais, desenvolvam
o espírito crítico em relação à prática de tais atividades.
O papel do profissional da Educação Física é auxiliar o sujeito
no processo de mediação simbólica desse saber orgânico para a
consciência, levando-o à autonomia no âmbito da cultura corporal
de movimento (BETTI, 2004).
Os professores de Educação Física podem ser inseridos nesta
sociedade e desenvolver um homem integral, no sentido de possu-
írem autonomia, quer dizer, poder de decisão sobre o que querem
de seus próprios corpos, promovendo, assim, conscientização e
transformação social.

11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Nesta unidade, conhecemos alguns programas e ações do
governo no âmbito da saúde, dos quais todos os cidadãos brasi-
leiros devem ter conhecimento e acessar quaisquer deles em suas
necessidades.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) A partir de uma situação-problema colocada a seguir, construa ações pos-
síveis de serem realizadas no âmbito da educação associada à saúde. Quais
proposições de programas e ações a saúde se propõe em realizar? O que
Amélia e Matheus podem conhecer das ações previstas pelo Ministério da
Saúde? Justifique suas conclusões com o embasamento apreendido nos tex-
tos anteriores e em pesquisas bibliográficas.

Gravidez na adolescência–––––––––––––––––––––––––––––––
Na sala de professores, entra Amélia, professora de Português, e desabafa com
seu amigo, professor de Educação Física, Matheus:

Claretiano - Centro Universitário


92 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

— (Amélia) Estou ficando preocupada, já é a terceira aluna neste mês que está
grávida em uma única sala de aula.
— (Matheus) Pois é, e elas sempre vêm falar comigo porque sentem um tanto de
mudanças no corpo e, como eu trabalho com o corpo, têm em mim esse apoio.
Sempre estou conversando com elas, busco sempre os conhecimentos técnicos,
fisiológicos e anatômicos para explicar, mas sinto que não é isso exatamente que
elas estão buscando quando conversam comigo.
— (Amélia) O pior é que eu nem sei muito bem o que dizer; fico pensando na
minha filha, que tem a idade delas, e logo já penso em agir como mãe e "pagar
uma moral".
— (Matheus) Esses dias, estive pensando que apenas nós, da Educação,
não conseguimos resolver essas problemáticas, porque ela exige outros
conhecimentos, não acha?
— (Amélia) Eu acho que isso tem relação principalmente com a saúde delas.
Como vão cuidar delas mesmas e de um bebê, sendo tão novas?
— (Matheus) Aqui no bairro sempre vejo um pessoal andando de branco por aí,
parecem ser do postinho. Acha que podemos conversar com eles e propor uma
parceria?
— (Amélia) Boa ideia! Vamos fazer isso!
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
2) Quando e como você, como professor, aciona o SAMU?

3) Como analisar o corpo na contemporaneidade e qual o seu papel como pro-


fessor de Educação Física?

12. CONSIDERAÇÕES
Finalizamos esta unidade não com a intenção de esgotar o
assunto, mas, sim, de introduzir você nos conhecimentos sobre
os programas, projetos e ações do governo no campo da saúde.
Nesses projetos da saúde, preconiza-se a intersetorialidade, o que
cabe muito bem na atuação da escola e do professor de Educação
Física, nos campos da educação, saúde e cidadania.
O aspecto fundamental desta unidade é incentivar a cons-
trução de projetos que associem saúde e educação. Na prática
conjunta com a aquisição de saberes da Unidade 1 e da Unidade
2, saiba fazer escolhas profissionais para trabalhar com a preven-
ção; escolher o melhor método, sabendo que este está sempre
associado a uma linha de pensamento; trabalhar com educação e
saúde na intersetorialidade, na construção da autonomia de seus
© U2 - Organização da Saúde, Programas Governamentais, DST, Saúde Mental, Corpo e Intersetorialidade 93

estudantes; bem como refletir sobre o corpo na sociedade atual e


sobre a Educação Física como espaço potencial de construção de
corpos livres e autônomos.

13. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Home page. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/>.
Acesso em: 16 set. 2011.
______. Portal da saúde. Disponível em: <www.saude.gov.br/programas/promocao/
escolas.htm>. Acesso em: 18 jan. 2012.
BETTI, M. Corpo, cultura, mídias e Educação Física: novas relações no mundo
contemporâneo. Revista Digital, Buenos Aires, ano 10, n. 79, dez. 2004. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/>. Acesso em: 18 jan. 2012.
CARMO JUNIOR, W. Educação Física e a cultura da Prática. Motriz: Revista de
Educação Física. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1980-
65742011000200015&script=sci_arttext>. Acesso em: 5 jul. 2012.
DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Secretaria de Políticas de Saúde. Programa Sáude
da Família. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 3, jun. 2000. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102000000300018>. Acesso
em: 27 abr. 2012.
OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Carta de Ottawa. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/promocao/uploadArq/Ottawa.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2012.
PORTAL DA SAÚDE. Saúde da família. Disponível em: <portal.saude.gov.br/portal/saude/
area.cfm?id_area=360>. Acesso em: 17 jan. 2012.
SAÚDE MAIS PERTO DE VOCÊ. Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF. Disponível em:
<dab.saude.gov.br/nasf.php>. Acesso em: 17 jan. 2012.
SESAB – SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA. Combate à dengue. Disponível
em: <http://www.saude.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1
27&catid=7&Itemid=48>. Acesso em: 10 abr. 2012.

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARANHA, M. I. (Org.). Direito sanitário e saúde pública. Brasília: Ministério da Saúde,
2003.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório Final. In: 8º CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE,
1986. Brasília: Ministério da Saúde, 1987.
______. Ministério da Saúde. O desenvolvimento do Sistema Único de Saúde: avanços,
desafios e reafirmação dos seus princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde,
2002.
BRITO, C. M. D. Comunicação com público: uma tendência no projeto poético de Álvaro
Apocalypse. São Paulo: PUC-SP, 2004. (Tese de Doutorado).

Claretiano - Centro Universitário


94 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

BRITO, C. M. D.; ZOCCHI, N. S.; AGOSTINI, R. La Terapia Ocupacional y su relación con la


cultura contemporánea. A Coruña, v. 13, p. 1-14, 2011.
BUSS, P. M. Saúde e qualidade de vida. In: COSTA, N. R.; RIBEIRO, J. M. Política de saúde
e inovação institucional. São Paulo: ENSP, 1996.
CATRIB, A. M. F. et al. Promoção da saúde: saber fazer em construção. In: BARROSO, G. T.;
VIEIRA, N. F. C.; VARELA, Z. M. V. (Orgs). Educação em Saúde: no contexto da promoção
humana. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2003.
CHAVES, M. Complexidade e transdiciplinaridade: uma abordagem multidimensional do
setor saúde. Revista Brasileira de Educação Médica, 22 (1): 7-18, 1998.
GREGORI, R.; FIGUEIREDO, R. Os Diferentes Modelos de Prevenção à AIDS Adotados em
Campanhas e Projetos. Módulo I de Continuidade do Projeto. Prevenção Também se
Ensina. FDE, São Paulo, 1998.
FREIRE, P. À sombra desta mangueira. 2. ed. São Paulo: Olho d'Água, 1995.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.
MORIN, E. O método 4: as idéias de habitat, vida, costumes, organização. 3. ed. Porto
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MOYSÉS, S. J.; MOYSÉS, S. T.; KREMPEL, M. C. Avaliando o processo de construção de
políticas públicas de promoção de saúde: a experiência de Curitiba. Revista Ciência e
Saúde Coletiva, 9(3): 627-641, 2004.
NÓBREGA, T. P. Agenciamentos do corpo na sociedade contemporânea: uma abordagem
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SANTOS, D. S. Ações intersetoriais de educação e saúde: entre teoria e prática. Campinas:
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SCHALL, V. T.; STUCHINER, M. Educação em Saúde: novas perspectivas. Cadernos de
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SERGIO, M. Educação motora: o ramo pedagógico da ciência da motricidade humana. In:
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TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S. Planejamento e programação de ações intersetoriais para a
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L. (Orgs.). Promoção e vigilância da saúde. Salvador: Cooptec/ISC, 2002.
EAD
Atendimento
aos Acidentes

3
1. OBJETIVOS
• Conhecer e identificar as principais ações a serem feitas
nas situações de acidente.
• Identificar a sequência de ações para exame e atendi-
mento da vítima.

2. CONTEÚDOS
• Avaliação da cena.
• Sequência ABCDE para o exame da vítima e procedimen-
tos.

3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
leia as orientações a seguir:
96 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-


plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático à mão e discuta a unidade com
seus colegas e com o tutor.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Não há dúvida de que existem situações que estão no ima-
ginário de todos como amedrontadoras: são os acidentes e situa-
ções de emergência em saúde. Na maioria das vezes, não sabemos
em que pensar nem em que fazer primeiro.
Prestar os primeiros socorros a alguém que tenha sofrido um
acidente ou que esteja sofrendo um agravo à saúde requer alguns
conhecimentos básicos, possíveis a todo e qualquer cidadão, o
que, na maioria das vezes, tem a ver com providenciar ajuda pro-
fissional e saber, principalmente, o que não se deve fazer.
Além desses conhecimentos básicos, abordaremos, nesta
terceira unidade, alguns outros saberes mais elaborados, para que
o profissional de Educação Física, como docente e profissional da
saúde, possa ter uma postura mais técnica e trabalhada para sua
atuação.
Durante muitos anos, prestar primeiros socorros era sim-
plesmente transportar a vítima, o mais rapidamente possível, no
primeiro veículo disponível, sem maiores cuidados . Com a evolu-
ção da ciência ao longo dos anos, além da observação da prática
e dos estudos realizados, muita coisa mudou, e cada vez mais são
definidos o que chamamos de protocolos de atendimento. Esses
protocolos são guias que orientam as ações que devemos realizar
nessas situações. O transporte "mais rápido possível" se tornou
coisa do passado, sendo, hoje em dia, o chamado por socorro (li-
gar 192, ou 193) uma das ações essenciais no momento da emer-
gência, seja em caso de acidente ou não.
© U3 - Atendimento aos Acidentes 97

Os protocolos utilizados auxiliam-nos a ordenar as ações no


atendimento de emergência, não nos deixam esquecer atitudes ou
procedimentos importantes e diminuem a possibilidade de erro.
São construídos por grupos de especialistas, depois de discussões
que acontecem em congressos e estudos pelo mundo afora, e
abordam os principais problemas na emergência.
Além dos protocolos internacionais, existem problemas lo-
cais, cujos procedimentos são definidos pelas autoridades nacio-
nais, como os acidentes com animais peçonhentos, que, no caso do
Brasil, a fonte de norteamento das ações é o Ministério da Saúde,
baseado nos seus especialistas dos Institutos Vital Brazil e Butantã.
Nos momentos de discussão sobre esses temas, traga todas
as suas dúvidas, informações já adquiridas e conhecimentos ante-
riores para enriquecer os trabalhos. Somente saberemos o que é
senso comum, conhecimento científico, folclore e mito se conver-
sarmos a respeito, pois, em primeiros socorros, folclore e mitos
são o que não falta. Como docente de Educação Física, você cum-
pre um importante papel na difusão de conceitos adequados de
saúde.

5. SEGURANÇA DA CENA
O conceito de segurança da cena é talvez o mais importan-
te em primeiros socorros. É pensando na segurança da cena que
evitamos ações intempestivas que poderiam inclusive colocar em
risco a vida e a integridade do socorrista (pessoa que presta os
socorros), da vítima e dos circundantes (transeuntes, passantes,
observadores).
Quando estamos diante de uma cena de emergência, de-
vemos nos fazer algumas perguntas, que visam abordar todos os
aspectos da cena, identificando os riscos, necessidade de socorro
especializado e limitações que os recursos imediatos podem ter.

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98 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Quando pensamos na segurança da cena, fazemos como se


déssemos um passo para trás, olhando para a situação como um
quadro ou uma foto. Esse distanciamento imaginário nos faz olhar
para o cenário geral e evita o que se chama de "visão em túnel".
Um socorrista que atravessa uma rua em desabalada carreira para
alcançar uma vítima de colisão ou atropelamento vê somente a
vítima, e não a rua. Pode, dessa forma, com grande possibilidade
de acerto, transformar-se em mais uma vítima. Portanto, a velha
máxima faz-se presente: "tenha calma!".
Você pode argumentar: "mas isso só acontece em situações
extremas!". Ora, riscos à segurança podem acontecer em qualquer
lugar: na escola (que, no seu caso, pode ser seu local de trabalho),
em casa, na rua. Fios elétricos desencapados, estruturas, constru-
ções ou reformas, piscinas, pisos escorregadios, cacos de vidro,
caixas de energia elétrica, animais, substâncias tóxicas (fumaça,
gases etc.), parafernálias para uso de drogas (seringas, cachimbos,
agulhas), tráfego intenso e, até mesmo, uma pessoa em surto de
agressividade, que pode ser considerada um risco à segurança de
si e dos outros.
Para dimensionar esses riscos e saber o que será necessário,
faça estas três perguntas:
• "O que é isto?": olhe para a situação e defina: é um atro-
pelamento, colisão de veículos, queda (de altura, da pró-
pria altura), acidente de mergulho (em rio ou piscina),
intoxicação (por drogas, medicamentos, plantas, gases
etc.). É um desmaio, convulsão, uma pessoa passando
mal? A pessoa não consegue respirar? Está pálida? Azu-
lada? Suando frio? A pessoa não apresenta movimento
de nenhum tipo? A pessoa está com um lado paralisado?
• "Que riscos existem nesta cena?": procure por todo e
qualquer tipo de situação que possa oferecer risco: eletri-
cidade, fogo, altura, água, explosão, movimento intenso
de carros ou pessoas, estruturas colapsadas, escadas, ter-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 99

reno escorregadio. Nessa pergunta, pense nos riscos de


contaminação biológica, inclusive. Você pode, somente
olhando para a vítima, dizer, com certeza, se essa pessoa
é ou não portadora de alguma doença infecciosa? Obvia-
mente, a resposta é não.
• "Existe alguma coisa que eu possa fazer para controlar
esses riscos?": algumas vezes, a resposta a essa pergun-
ta também é não. Nesse caso, trata-se de uma situação
em que só profissionais podem atuar, por terem treina-
mento e equipamentos adequados. Situações como essas
pedem apenas que as pessoas se mantenham afastadas
e que informem as autoridades competentes: Corpo de
Bombeiros, SAMU, Polícia, concessionária de estradas (de
acordo com o caso). Esses serviços acionarão outros, se
for preciso, como CETESB, Companhia de Energia Elétrica
etc.
Resumindo: você tem treinamento e equipamento para en-
frentar a situação? Se sim, vamos lá! Se não, afaste-se, afaste as
pessoas e chame ajuda.
Se, para ajudar a vítima, o único risco é o de contaminação
biológica, será necessário o uso de equipamento de proteção indi-
vidual para tal. Geralmente, esses equipamentos devem proteger
o socorrista do contato com fluidos, como saliva, escarro, sangue,
vômito, entre outros.
O equipamento mínimo necessário para proteção individual
deve fazer parte de qualquer "caixinha" de primeiros socorros.
Assim como os profissionais da saúde, verifique as vacinas
que você pode e deve tomar para se prevenir, como as de tétano e
hepatite, que são as mais comuns e estão disponibilizadas no SUS.
Porém, estar imunizado contra doenças como essas não elimina a
necessidade do uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual).

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100 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Esses conceitos (uso de EPI, normas de proteção universal


etc.) estão dentro do grande conceito chamado de "biosseguran-
ça" e compreendem todos os equipamentos e atitudes que evitam
ou minimizam a possibilidade de contágio ou contato com agentes
contaminantes ou intoxicantes.
As normas de biossegurança e a avaliação da segurança da
cena fazem parte de uma das regras de ouro da emergência: "a
primeira preocupação que o socorrista deve ter é consigo mes-
mo". Portanto, novamente, tenha calma, olhe para a situação e
não aja intempestivamente. A cautela, nesses casos, é a melhor
conselheira.
Algumas ações podem ser realizadas no momento em que
você fica a par da situação:
• Afaste as pessoas: a aglomeração em torno da vítima
normalmente não ajuda e até atrapalha. Utilize o artifício
de que a vítima precisa de espaço para respirar. Se hou-
ver pessoas afoitas demais em ajudar, distribua tarefas e
faça-as se sentirem úteis de alguma forma. Chame para
perto de você somente quem e quantos precisar.
• Isole o local: providencie uma forma de visualização de
isolamento, com galhos, cavaletes, cones, lanternas, o
que for possível, principalmente se for local de tráfego de
veículos, como ruas, avenidas e estradas, ou outras situa-
ções, como incêndio, desabamento de estruturas etc.
• Peça a alguém que chame ajuda: solicite a alguém que
ligue 192 ou 193, dependendo da situação e da estrutura
que a cidade possui.

6. AVALIAÇÃO DA VÍTIMA
A avaliação da vítima e os procedimentos relacionados aos
achados clínicos têm sofrido várias modificações ao longo do tem-
po. O que era verdade há dois ou cinco anos hoje pode ser con-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 101

siderado procedimento ineficaz ou inadequado. Portanto, mante-


nha-se atualizado!
Os procedimentos de avaliação da vítima podem ser dividi-
dos em dois caminhos diferentes: se a vítima não sofreu "aciden-
te" e se a vítima sofreu "acidente". Para fins didáticos e técnicos,
a partir de agora, não usaremos mais a expressão "acidente" e va-
mos passar a chamá-la de trauma. Esse é um nome técnico e mais
correto que se dá a um agente ou força externa que exerce uma
ação sobre a pessoa.
Todos os procedimentos e protocolos de atendimento à ví-
tima que traremos aqui estão baseados nas últimas resoluções de
comitês internacionais, sobre as quais podemos encontrar mais
informações no Tópico Referências Bibliográficas.
Você verá que, a partir de agora, juntaremos conceitos de
anatomia, fisiologia, patologia, entre outros. Será um bom mo-
mento para rever os estudos já realizados; portanto, não deixe
passar nenhuma dúvida, conceitos ou ideias.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para esquentar um pouco nossa discussão, vamos conversar sobre a palavra
"acidente". Por que a professora de Português escorregou e caiu no corredor?
Porque alguém deixou o chão molhado? Porque havia uma goteira? A goteira
existia porque ninguém trocou as telhas quebradas? Ou ela estava usando uma
sandália velha que quebrou? Por que a pessoa foi atropelada? Porque não olhou
direito ao atravessar a rua? Porque o motorista estava desatento? Passou o sinal
vermelho?
Se formos descartar, dos acontecimentos que normalmente chamamos de "aci-
dente", aqueles que, por ação humana, foram determinados ou que poderiam
não acontecer, pouco nos resta para chamarmos mesmo de "acidente". A ação
humana acaba, portanto, determinando a maioria dos eventos, por imperícia
(por exemplo, alguém está trabalhando em um andaime de construção pela pri-
meira vez e deixa escapulir uma ferramenta da mão, e esta cai na cabeça de um
passante na calçada, ou seja, fazer alguma coisa que você não está plenamente
capacitado para tal), negligência (o responsável pela obra não colocou a prote-
ção que precisava para que nada caísse na cabeça de quem estava passando,
ou seja, você sabe o que tem de ser feito e não faz) ou imprudência (o operário
fica fazendo malabarismos com a ferramenta, que acaba "voando" da mão, ou
seja, sabe do grau do risco envolvido e, mesmo assim, age além da justa medida
da prudência, excedendo os limites do bom senso).
Tente lembrar-se de situações ou imaginar possibilidades delas tentando identi-
ficar se foi "acidente" ou se poderia ser classificada como imperícia, negligência
ou imprudência.

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102 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Converse com seus parentes e amigos e faça-os pensar em casos que já ouviram
falar ou presenciaram. Faça o exercício de avaliar a situação e tente imaginar as
causas.
É de espantar como, a partir desses conceitos, pouca coisa pode ser determinada
ao "acaso" ou à sorte. No fundo, alguém "pisou na bola".
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As vítimas que não sofreram trauma serão chamadas de ví-
timas clínicas.

Avaliação da vítima de trauma


A grande maioria das vítimas de trauma apresenta uma situ-
ação de leve a média gravidade. Estatisticamente, apenas aproxi-
madamente 10% das vítimas apresenta quadros graves.
No trauma, o processo fisiopatológico que está por trás da
maioria das situações com risco de morte é a falta de oxigenação
das células teciduais, que faz que o organismo passe a produzir
energia utilizando o metabolismo anaeróbico.
Para que o metabolismo normal de produção de energia
ocorra (metabolismo aeróbico), são necessários, minimamente,
três componentes:
• Oxigenação dos glóbulos vermelhos nos pulmões. Para
isso, o ar precisa ser respirável; o ar precisa chegar até os
pulmões (vias aéreas livres); os pulmões devem ser capa-
zes de proporcionar a troca de gases; e, por fim, precisa
haver glóbulos vermelhos perfundidos em quantidade na
área de troca pulmonar.
• Oferta de glóbulos vermelhos para os tecidos. Para isso,
é preciso haver volume de sangue suficiente.
• Entrega de sangue oxigenado para os tecidos. O circuito
onde o sangue flui (artérias e veias) e o coração devem
estar plenos nas suas funções.
A avaliação inicial da vítima de trauma tem como objetivo
identificar e corrigir essas situações.
© U3 - Atendimento aos Acidentes 103

O protocolo dos primeiros socorros que rege a ação no aten-


dimento da vítima de trauma é o que chamamos de "ABCDE". Es-
sas letras fazem parte de um método mnemônico que foi criado a
partir de palavras em inglês que nos ajudam a lembrar o que fazer.
Essas palavras têm relação com a dinâmica dos processos
que podem levar alguém à morte mais rapidamente em uma situ-
ação de trauma, como, por exemplo, obstrução da via aérea (por
inconsciência ou sangue), parada respiratória, parada cardiorres-
piratória, sangramento externo abundante, traumatismo craniano
e outras lesões ou ferimentos graves, como, por exemplo, fraturas,
amputações, ferimentos por arma branca ou projétil de arma de
fogo em cabeça, tórax ou abdome, entre outros, que acabam por
levar a uma situação grave.

Lesões por atividades esportivas––––––––––––––––––––––––


Muitos esportes ou atividades recreativas podem provocar lesões graves. Essas
lesões podem ser causadas por forças de desaceleração súbita, compressão
excessiva (como nos saltos, por exemplo), rotação, hiperextensão ou
hiperflexão. Atletas ocasionais ou sem treinamento, orientação, condicionamento
ou equipamentos de proteção são mais propensos a lesões. Mesmo atletas
com treinamento bem orientado e equilibrado podem sofrer lesões. Esportes
que envolvem atividades potencialmente de alta velocidade, desaceleração,
colisões e impactos se assemelham a ocorrências com motocicletas ou veículos
motorizados.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Inicialmente, de acordo com aquelas perguntas feitas na se-
gurança e avaliação da cena, você definiu de que tipo de situação
se trata, não definiu? É ou não é trauma? E, afinal de contas, para
que você precisa saber disso?
Um dos traumas que podem ocorrer e que não é visível aos
olhos é a lesão de coluna. Sendo assim, a regra é sempre suspeitar
que a vítima possa ter sofrido traumatismo raquimedular, tendo
chance de sofrer lesões permanentes.
Portanto, é por isso que perguntamos "o que é isso", pois
precisamos saber antes de "por a mão" na vítima: é ou não é pos-
sível que a pessoa tenha lesão de coluna? Essa pessoa pode se
mover? Pode ser movida de posição sem preocupações?

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104 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Situações que podem ser consideradas potencialmente de


risco para traumatismo raquimedular são:
1) Queda acima de dois metros de altura.
2) Queda curta com velocidade associada (saltos).
3) Mergulho (mergulho em altura ou em água rasa).
4) Colisões.
5) Atropelamento.
6) Capotamento.
7) Agressão física.
8) Lesões por projétil de arma de fogo em cabeça, pescoço,
tórax ou abdome.
9) Ejeção de veículo em movimento (carro, moto, bicicleta,
skate, patins etc.).
O ABCDE primário, ou avaliação primária, deve ser realizado
em 15-30 segundos, pois deve identificar apenas as condições de
risco de morte iminente, ou seja, só faremos o ABCDE se a vítima
estiver inconsciente. Caso a vítima esteja consciente, não preci-
saremos ver se respira ou se o coração está batendo, pois essas
condições são sine qua non para manter-se a consciência.
Portanto, primeiramente, vamos verificar se a vítima está
consciente ou não, e, para isso, o primeiro toque na vítima é para
segurar a cabeça, antes que ela se vire sozinha. Não permita que
a vítima faça nenhum movimento de rotação ou lateralização da
cabeça na tentativa de olhar para você.
Essa primeira ação faz parte da letra A do ABCDE. Vamos a
ela e às outras.

A (Airway) – abertura da via aérea com estabilização da cabeça e


coluna cervical
Posicione-se por trás da vítima, de joelhos ou deitado de
bruços, e assuma a posição de controle. As mãos são colocadas
uma de cada lado da cabeça da vítima, cobrindo as orelhas com as
palmas. Os dedos são espalhados de forma a estabilizar a cabeça,
© U3 - Atendimento aos Acidentes 105

sendo que o quarto e o quinto dedo de cada mão devem envolver


a parte posterior do crânio da vítima. Os cotovelos podem ficar en-
costados no chão, um de cada lado, ou apoiados sobre os joelhos
do socorrista. Você não deve soltar a cabeça da vítima até que o
socorro especializado chegue.
Ao assumir essa posição, você imediatamente vai perceber
que não poderá fazer mais nada além disso, pois, ao estabilizar a
cabeça, não poderá mais soltá-la. Se você precisar sair do local,
coloque outra pessoa no seu lugar.

Fonte: Prentice-Hall (1994, n. p.).


Figura1 Controle da coluna cervical.

Na suposição de inconsciência, outra pessoa deve postar-se


ao lado da vítima para chamá-la e conduzir o restante da avaliação.
Essa segunda pessoa deve tocar a vítima levemente nos
ombros e chamá-la em voz alta. A vítima que tem algum grau de
consciência deve esboçar alguma resposta ou, então, responder
claramente ao chamado.
Na ausência de resposta, consideramos a vítima inconscien-
te. Na inconsciência, ocorre o relaxamento dos músculos voluntá-
rios que se tornam flácidos. Um dos problemas desse relaxamento
é o músculo da língua, que acaba por "cair", desabando sobre a
passagem do ar, impedindo-o de chegar aos pulmões.

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106 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Fonte: Prentice-Hall (1994, n. p.).


Figura 2 Língua bloqueando a passagem do ar.

Para liberar a via aérea, o socorrista que assumiu a estabili-


zação manual deve posicionar o segundo e terceiro dedos sob o
ângulo da mandíbula e impulsioná-la para cima. Essa técnica rece-
be diversos nomes: propulsão da mandíbula, ou, em inglês, jaw
thrust.

Figura 3 Manobra de propulsão da mandíbula.


© U3 - Atendimento aos Acidentes 107

Como a maior parte da língua está presa à mandíbula, o mo-


vimento de elevação desse osso movimenta, também, a língua,
retirando-a da passagem do ar. Caso a vítima permaneça incons-
ciente, o socorrista deve manter a elevação da mandíbula.
O segundo socorrista deve rapidamente olhar a cavidade
oral, procurando sangue, próteses dentárias soltas ou qualquer
outra coisa que obstrua a passagem do ar, removendo o problema.

B (Breathing) – respiração
O socorrista postado ao lado da vítima deve aproximar seu
rosto em direção ao nariz e boca da vítima, direcionando seu olhar
para o tórax. É o que chamamos de "ver, ouvir e sentir" a respi-
ração. Devemos ver o movimento do tórax, ouvir a respiração e
sentir o ar que sai da boca e nariz da vítima na nossa face.
Esse segundo socorrista deve observar se a respiração está
rápida ou lenta, se o tórax se move simetricamente ou se algum
dos lados do tórax está se movendo diferentemente do seu opos-
to, se a respiração é profunda ou superficial. Essa avaliação deve
ser rápida, durando entre 5 e 10 segundos. Na Unidade 4, estuda-
remos o tema Parada Cardiorrespiratória para situações em que a
vítima não está respirando.

C (Circulation) – circulação
Como já abordamos anteriormente, para que a circulação
aconteça, são necessários três componentes: o coração, o sangue
e os vasos sanguíneos (artérias e veias). Portanto, na letra C, obser-
vamos todos esses componentes, iniciando pelo pulso carotídeo.
O segundo socorrista deve colocar os dedos indicadores e
médio no meio do pescoço da vítima, localizando a artéria carótida
entre a traqueia e o músculo esternocleidomastoideo. A palpação
do pulso deve demorar, também, em torno de dez segundos. Se
não houver pulso, isso é uma parada cardiorrespiratória (que estu-

Claretiano - Centro Universitário


108 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

daremos mais detalhadamente na Unidade 4). Observe se o pulso


está forte ou fraco, rápido ou lento. Atente-se, também, para a cor
da pele: se está corada ou descorada, pálida ou azulada, quente
ou fria. No Tópico Problemas no "C" de Circulação, abordaremos
essas ações, com o tema choque.

Figura 4 Verifique o pulso carotídeo.

Os sangramentos externos, que também chamamos de "san-


gramentos óbvios", são bastantes simples de se localizar, porém,
devemos procurar sangramentos que estejam sendo contidos por
roupas volumosas.
O segundo socorrista deve passar a mão sob a vítima, sem
movimentá-la, procurando por manchas de sangue na roupa.
Os sangramentos internos não são tão fáceis de identificar e
serão abordados no tema choque.
© U3 - Atendimento aos Acidentes 109

D (Disability) – avaliação neurológica rápida


Se a vítima está com os olhos abertos e responde adequada-
mente às perguntas, dizemos, então, que está alerta e consciente.
Isso significa, também, que o cérebro está sendo oxigenado ade-
quadamente. Porém, se permanece com os olhos fechados mesmo
depois de chamada ou se não está respondendo "coisa com coisa",
então, o nível de consciência está alterado. A função cerebral dá-
-nos uma noção indireta da oxigenação cerebral. Uma vítima agita-
da, agressiva, que não coopera ou que está muito sonolenta deve
ser considerada como tendo oxigenação cerebral ruim (hipóxia),
até prova em contrário.
Uma vítima com nível de consciência alterado, seja por agi-
tação, seja por inconsciência, deve alertá-lo para uma destas qua-
tro possibilidades:
1) Oxigenação cerebral diminuída (hipóxia, ou hipoperfu-
são).
2) Lesão do Sistema Nervoso Central (SNC).
3) Intoxicação por drogas ou álcool.
4) Distúrbio metabólico (diabetes, convulsão).
Ainda dentro da avaliação neurológica, as pupilas devem ser
examinadas, devendo ser observado seu tamanho e simetria. Pu-
pilas dilatadas podem significar oxigenação cerebral ruim ou in-
toxicação por determinadas drogas, lícitas ou ilícitas. Pupilas de-
masiadamente contraídas podem significar uso de outras drogas,
lícitas ou ilícitas, ou, ainda, exposição à luz intensa.
Antigamente, pupilas dilatadas significavam sinal de morte.
Hoje em dia, sabe-se que esse é um erro que pode ser fatal. Subs-
tâncias para dilatar a pupila em consultas oftálmicas, drogas lícitas
ou ilícitas, entre outras, podem levar a erros de diagnóstico.

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110 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

E (Exposure) – exposição
A vítima deve ser avaliada por inteiro, procurando-se por le-
sões óbvias; deve ter suas roupas abertas, dentro do possível, para
observar lesões localizadas, e, ao final, deve ser protegida contra
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA 
hipotermia (mesmo que o tempo esteja quente). A vítima de trau-
COORDENADOR: PROF. MS. ENGELS CÂMARA 
ma perde calor com grande rapidez, e, sendo a manutenção da
DISCIPLINA: PROGRAMAS DE SAÚDE E SOCORROS URGENTES 
temperatura umaAUTORAS: PROF CRISTIANE E FLÁVIA 
das funções essenciais para a vida, devemos evi-
FORMATAÇÃO: SIMONE RODRIGUES 
tar essa situação, cobrindo-a o mais rápido possível.
REVISÃO: VANESSA VERGANI MACHADO

Algoritmo de Atendimento da Vítima de Trauma 

Segurança de cena:
 Qual é o trauma? Quais os riscos? 
 Isole o local 
 Chame ajuda

Vítima 

Consciente  Inconsciente

Segure a cabeça  Segure a cabeça e faça abertura da via aérea 
Procure sangramento externo  Realize avaliação primária – abcde 
Realize avaliação secundária  Realize avaliação secundária 

Observações .................................................................................
Se a vítima estiver de bruços, somente a desvire (veja a técnica mais adiante),
Observações–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
caso seja impossível determinar se há ou não respiração. Caso contrário,
mantenha-a na mesma posição, sem mexer a cabeça, e aguarde socorro
Se a vítima estiver de bruços, somente a desvire (veja a técnica mais adiante),
especializado.
caso seja impossível
Se houver determinar
risco ambiental, se há ou
como incêndio, não respiração.
explosões, contaminação Caso física oucontrário,
mantenha-a
química, nanãomesma
entre naposição,
cena, ou, se sem mexer
possível, a acabeça,
retire vítima o maise aguarde
rápido e socorro
especializado.
cuidadosamente possível.
.......................................................................................................
Se houver risco ambiental, como incêndio, explosões, contaminação física ou
química, nãoA entre na cena,
avaliação  ou, se possível,
primária,  ou  ABCDE  retire a vítimacomo 
primário,  o maisjá rápido e
cuidadosamente possível.
dissemos anteriormente, é um processo que deve ser executado 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A avaliação primária, ou ABCDE primário, como já dissemos
anteriormente, é um processo que deve ser executado rapidamen-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 111

te, tentando identificar e corrigir os problemas prioritários que co-


locam a vida em risco.
É óbvio que, se a vítima está alerta e conversando, a priori-
dade é identificar outras lesões ou situações menos óbvias, mas
que também podem levar a estados mais graves. Assim, a vítima
estando sem problemas na avaliação primária, passaremos à ava-
liação secundária.

Avaliação secundária da vítima de trauma


Antes de iniciar a avaliação secundária, você deve certificar-
-se de que observou todos os itens da avaliação primária, sobre os
quais estudaremos um a um nos parágrafos subsequentes, iden-
tificando-os e corrigindo-os. Por exemplo, você não deve deixar
sem controle um ferimento aberto com sangramento abundante
para realizar a avaliação secundária. O objetivo dessa avaliação é
identificar lesões ou problemas que não são óbvios e não foram
identificados na avaliação primária e que podem colocar a vida em
risco ou não.
A avaliação secundária pode ser realizada enquanto o socor-
ro especializado não chega. Você deve aproveitar os momentos
de consciência e lucidez da vítima para coletar dados importantes,
como o telefone de alguém da família, nome completo, endereço
etc.
A avaliação secundária compõe-se de três itens:
• Avaliação da cabeça aos pés, ou exame objetivo.
• Entrevista, ou exame subjetivo.
• Avaliação dos sinais vitais.
Vamos, agora, conhecê-los um a um.

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Avaliação da cabeça aos pés, ou exame objetivo


A avaliação da cabeça aos pés é denominada dessa forma
para que uma ordem na avaliação seja seguida. É também chama-
da de "exame objetivo", porque é a reunião de informações que
o socorrista identifica objetivamente, ou seja, a partir do que vê,
ouve ou sente. Caso a vítima esteja consciente, peça ajuda para
que ela indique onde está doendo, ou, ainda, que ela diga, de acor-
do com a região avaliada, se está doendo ou não. A dor é um forte
indicativo de problema ou de lesão. Caso esteja inconsciente, você
terá apenas seus recursos para identificar lesões. Seus recursos
nada mais são do que alguns dos seus sentidos: tato, audição, vi-
são e olfato.
Aproveite seus conhecimentos de anatomia e fisiologia; ago-
ra eles serão de muita ajuda para você.
Palpe, com as mãos espalmadas, todas as regiões do corpo,
iniciando pela cabeça e seguindo até os pés. Procure por sinais de
sangramento. Observe a presença de lesões na pele, como equi-
moses, hematomas, escoriações, contusões lacerações, cortes ou
ferimentos penetrantes (a definição de cada tipo de ferimento ve-
remos no Tópico Problemas no "E" de Exposição e proteção con-
tra hipotermia). Veja e sinta se há deformidades ósseas, inchaços
(edema), abaulamentos ou afundamentos resultados de fraturas
ou incapacidades funcionais agudas.
Repare na cor da pele, se pálida, azulada ou avermelhada. A
pele dá-nos informações importantes caso esteja úmida, pegajosa,
seca, pálida, avermelhada ou azulada. A pele pálida pode signi-
ficar pouco sangue circulante, dor ou reação autonômica (siste-
ma nervoso autônomo), de medo ou pavor, por exemplo. A pele
avermelhada pode significar contusão, inflamação ou, até mesmo,
febre. A pele azulada significa pouca oxigenação. Uma região do
corpo que se apresenta quente, inchada (edema), dolorida e ver-
melha muito provavelmente está inflamada. Sinta a temperatura,
se quente, fria ou normal. Ouça ruídos diferentes da respiração
© U3 - Atendimento aos Acidentes 113

ou atente para gemidos da vítima torporosa. Odores estranhos


podem indicar doenças (como diabetes, doenças renais) ou into-
xicações (álcool, produtos de limpeza etc.). Ainda utilizando sua
audição e tato, ossos fraturados podem produzir o que chamamos
de "crepitação" ao serem palpados.
Temos de ter muito cuidado na palpação. Esse procedimento
deve ser firme, porém não intempestivo, especialmente na palpa-
ção do crânio, da face e, também, dos locais que a vítima informa
dor importante. Nas extremidades, caso a vítima esteja conscien-
te, peça para executar movimentos leves, como apertar sua mão
ou mover o dedão do pé. Esses movimentos, se executados, po-
dem indicar que, até então, não há lesão raquimedular, o que não
significa que não há lesão de coluna.
Vá relacionando mentalmente todos os seus achados. Ao fi-
nal do exame, você vai decidir, em ordem de prioridade, o que
fazer primeiro, sempre seguindo da lesão mais grave para a mais
leve.
Por exemplo, você deverá imobilizar, primeiramente, o qua-
dril, que você suspeita ter lesão, e, depois, o punho, e não o con-
trário.

Entrevista, ou exame subjetivo


O procedimento chamado de "entrevista", ou "exame subje-
tivo", recebe esse nome por representar a reunião de informações
que são fornecidas pela vítima. Obviamente, para isso, a vítima
precisa estar consciente e lúcida.
Pergunte a ela seu nome completo, idade, endereço e tele-
fones para contato. É preciso aproveitar ao máximo esses momen-
tos de consciência e lucidez para obter-se essas informações. Caso
a vítima se torne inconsciente, será possível, com esses dados, o
contato com a família.

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114 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Aqui também se usa de um artifício para lembrar-se do que


perguntar, que é representado pelas letras da palavra em inglês
"sample".

S (Symptoms) – sintomas
Pergunte se a vítima está sentindo dor e em que região. Per-
gunte, também, sobre tontura, náusea (ânsia de vômito); se houve
perda da consciência (se ficou desmaiada); se há perda de memó-
ria. Pergunte, por exemplo, se a vítima se lembra de tudo o que
aconteceu. Pergunte se ela consegue sentir seu toque nas mãos e
nos pés.

A (Alergies) – alergias
Pergunte se a vítima tem alergia a algum medicamento ou
substância. Essa informação é muito importante para os profis-
sionais do SAMU e do hospital que receberá a vítima, a fim de
que sejam evitados acidentes de administração de medicação, por
exemplo.

M (Medications) – medicações em uso


Pergunte se a vítima usou ou tem usado medicações, sejam
de uso contínuo, sejam de uso eventual. Algumas medicações po-
dem "mascarar" o estado da vítima; outras são incompatíveis com
drogas que podem ser administradas em momentos de urgência.

P (Past Medical History) – passado clínico


Aqui precisamos saber se a vítima é portadora de alguma
doença preexistente, como hipertensão, insuficiência cardíaca,
epilepsia, diabetes, depressão ou outras doenças mentais, etc.
© U3 - Atendimento aos Acidentes 115

L (Last Meal) – última refeição


Esse dado é importante para as vítimas que precisam ir para
cirurgia de emergência. Há quanto tempo foi a sua última refei-
ção? O que comeu? Por exemplo, se a vítima acabou de comer
uma feijoada e sofreu um atropelamento, o estômago estará, com
certeza, bem cheio, e isso deve ser informado ao anestesista, para
o caso de ser necessária uma cirurgia, pelo risco de vômito no mo-
mento da indução anestésica. Pelo mesmo motivo, nos traumas,
não dê nada para a vítima beber ou comer, mesmo que esta su-
plique por água!

E (Event) – evento desencadeador


O que aconteceu? A senhora que caiu da escada escorregou
e caiu? Ou teve um escurecimento da visão, ou tontura, e depois
caiu (isso significa que ela pode ter tido um derrame e, por isso,
caiu da escada)? O pedreiro que estava no andaime da obra na
escola teve uma convulsão e depois caiu do andaime? O avô da
criança que veio buscá-la na escola e que bateu o carro no poste
teve algum sintoma cardíaco e perdeu os sentidos antes de bater
ou bateu o carro e depois perdeu os sentidos? Seu aluno está in-
consciente no vestiário. Ele tem alguma doença? Tomou algum re-
médio? Usou drogas? Tomou bebida alcoólica? Não se alimentou?
Bateu a cabeça?
Veja que a avaliação da cabeça aos pés e a entrevista são
as ferramentas mais valiosas para o levantamento de informações
sobre a vítima, suas lesões e problemas.

Avaliação dos sinais vitais


Dentro da classificação "sinais vitais", estão: frequência car-
díaca, ou pulso; frequência respiratória; temperatura e pressão
arterial. Outros dados, como pupilas, pele etc., não são conside-
rados sinais vitais. Para medir a pressão arterial e a temperatura,
são necessários o esfigmomanômetro e o termômetro, respecti-

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116 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

vamente; portanto, pode ser difícil a obtenção desses dados com


precisão sem o auxílio de tais instrumentos. Vamos aqui discutir o
que significam essas informações e alguns "truques" que nos po-
dem ser bastante úteis.
Temperatura: podemos simplificar e apenas observar se a
pele está quente, fria ou normal. A pele quente pode significar
inflamação, infecção, febre, exposição ao calor ou reação do
sistema nervoso autônomo (raiva, vergonha – esses sinais são
bastante fugazes). A pele fria pode significar exposição ao frio,
reação vascular à perda de sangue, reações do sistema nervoso
autônomo (medo ou fuga), assim como dor.
Recomendamos que você pesquise sobre os conceitos de
inflamação e infecção para que obtenha um melhor entendimento.
Frequência cardíaca (FC), pulso, ou batimento cardíaco
(qualquer um dos nomes pode ser usado): o pulso informa-nos
sobre o status do coração e da circulação. Um pulso forte e acelerado
pode ser a resposta orgânica ao exercício, à febre ou ao estresse.
Pulso acelerado e fino pode ser resposta à perda de sangue ou
compensação de pressão baixa; pode, também, ser resposta à dor,
medo, angústia. A FC de um adulto normal pode variar de 80 a 100
batimentos por minuto. Normalmente, o coração dos atletas bate
com uma frequência menor, pois o treinamento faz que esse órgão
se torne mais eficiente, com contrações mais fortes, mais efetivas,
com frequências entre 80 e 60 batimentos por minuto, mesmo
sob esforço. Frequências abaixo de 60 ou acima de 120 indicam
problemas e estarão acompanhadas de outros sintomas e sinais
indicativos. Ausência de pulso na artéria radial (localizada junto
ao punho) não é bom sinal, pois significa que a pressão arterial
sistólica está menor que 8cm H2O, ou 80mmHg. Ausência de pulso
na artéria carótida (artéria do meio do pescoço) é um péssimo
sinal, significando parada cardíaca!
Frequência respiratória: a respiração, da mesma forma que
o pulso, responde fisiologicamente de acordo com a solicitação or-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 117

gânica, o que significa que, no exercício, no estresse, na dor, entre


outras situações, normalmente, a frequência respiratória (FR) vai
sofrer alterações. É também importante ouvir o ruído respiratório.
Na asma, nas bronquites, por exemplo, os brônquios estão cons-
tritos, fazendo que o ar passe fazendo um som de assobio (sibilo),
como o vento forte passando na fresta da janela. Adultos normais
apresentam em torno de 12 respirações por minuto. FR maior que
20 ou menor que 12 movimentos por minuto é sinal de preocupa-
ção. O organismo pode solicitar aumento da FR em diversas situ-
ações, tais como contusão no tórax, ferimentos abertos no tórax,
compensação de diabetes, perda de sangue etc. A diminuição da
FR pode ser relacionada ao uso ou abuso de drogas, lícitas ou ilíci-
tas, como sedativos, álcool, éter, entre outras, que levam à depres-
são do centro de controle respiratório no cérebro. A FR aumentada
é um sinal de que o corpo está lutando, ao contrário da diminui-
ção, que pode significar falência da respiração.
Pressão arterial: a medida da pressão arterial informa-nos
sobre a força que o sangue exerce na parede das artérias durante
sua passagem. É influenciada pelo volume de sangue circulante,
pelo diâmetro e resistência oferecidos pelas artérias e pela força
de contração do coração. O valor maior da pressão (que vem sem-
pre em primeiro) significa a pressão sistólica (da sístole do cora-
ção), chamado também de pressão máxima, e o valor menor (que
vem sempre por último) é a pressão da diástole (relaxamento do
coração), ou, ainda, pressão mínima. Esse é um dos sinais vitais
que tem mais desinformações e folclore ao seu redor. As pessoas
costumam dizer que a pressão "normal" é 12 x 8 (dizem "doze por
oito"). Na verdade, isso é uma generalização. Para saber qual é a
pressão "normal" de uma pessoa, é preciso que se façam várias
medidas, em diferentes momentos do dia, por vários dias. Mulhe-
res normalmente apresentam pressão dita "mais baixa", principal-
mente durante a gravidez. Crianças também apresentam valores
pressóricos mais baixos que 12 x 8. É muito comum, também, o
mito de colocar sal debaixo da língua ou fazer a pessoa comer uma

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118 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

azeitona quando pensam que ela está com a pressão baixa, pro-
vavelmente relacionando o sal com a retenção de líquido e con-
sequente aumento da pressão, porém, esse procedimento é ine-
ficaz e incapaz de aumentar a pressão em tempo tão curto (veja o
Tópico Desmaio, na Unidade 4). Para saber os valores da pressão
arterial, é necessária a utilização de um aparelho para medição,
pois não é muito fácil obtermos esse dado. Podemos, no entanto,
inferir que, se a vítima apresenta pulso na artéria radial (no pu-
nho), significa que o coração está com pressão sistólica suficiente
para que o sangue chegue até lá, e isso é um bom sinal.
Relate aos profissionais que vieram atender ao seu chamado
(192 ou 193) todas as informações que coletar.
Vamos então agora discutir alguns dos problemas da avalia-
ção primária e secundária.

Problemas no "A" da via aérea


Neste tópico, vamos discutir alguns dos procedimentos para
liberação da via aérea. Porém, o problema específico de engasgo
por corpo estranho será discutido na Unidade 4.
Como dissemos anteriormente, a inconsciência, ou desmaio,
é a situação que intrinsecamente pode levar, com mais frequência,
à obstrução da via aérea. Essa situação ocorre com mais facilidade
caso a vítima esteja em decúbito dorsal horizontal, ou seja, deita-
da de costas, pois, nessa posição, a língua pode "cair" sobre a via
aérea.
O traumatismo craniano (contusão na cabeça) pode muito
frequentemente causar comprometimento da função neurológica,
levando ao rebaixamento do nível de consciência. Daí até ocorrer
um relaxamento muscular generalizado e, por consequência, o re-
laxamento da língua é coisa de pouco tempo.
Para liberar a via aérea, o socorrista deve realizar a manobra
de elevação da mandíbula, ou jaw thrust, que é uma das manobras
© U3 - Atendimento aos Acidentes 119

para desobstrução manual da via aérea, descrita, anteriormente,


na letra A do ABCDE.
Se a vítima não recobrar a consciência ou, no mínimo, su-
perficializar o nível de consciência (isto é, passar de inconsciência
a torpor ou passar a balbuciar gemidos ou palavras), o socorrista
deverá manter a abertura manual da via aérea. Quando o organis-
mo recobrar o tônus muscular, não será mais necessária a manu-
tenção da manobra.
Caso a vítima esteja em decúbito ventral horizontal (de bar-
riga para baixo), respirando e consciente, é melhor deixá-la nessa
posição até a chegada da ambulância.
Na impossibilidade de manter a vítima "de barriga para bai-
xo", por inconsciência, sangramento na região anterior do corpo
ou outras situações de risco, você vai precisar desvirá-la. Chame
ajuda de outras pessoas e desvire a vítima como se rolasse um
bloco ou um tronco de árvore.
A obstrução da via aérea pode ser causada, também, por
sangue ou vômito. Essa é uma situação bem difícil para você lidar
sozinho, pois é necessário equipamento de aspiração e sondas es-
peciais para desobstruí-la; portanto, esse é um trabalho para um
profissional especializado (SAMU ou Corpo de Bombeiros) fazê-lo.
Situações como essa são bastante angustiantes para quem
está prestando socorro. Por sorte, não são tão comuns, pois trau-
mas como esses são resultado de lesões causadas por grande ener-
gia cinética, como alta velocidade, grandes quedas, violência etc.

Problemas no "B" da respiração


Como dito anteriormente, a respiração, tanto na frequência
como na profundidade, responde às necessidades do corpo. Por
exemplo, para melhorar a oxigenação do sangue nas vítimas com
hemorragia, o organismo aumenta automaticamente o número de
movimentos respiratórios, até a exaustão.

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120 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Todo o processo respiratório depende de inúmeros fatores,


como, por exemplo:
1) Ar respirável.
2) Vias aéreas livres (desde a boca e nariz até os bronquí-
olos).
3) Integridade da caixa torácica (costelas, músculo diafrag-
ma, músculos intercostais, pleuras etc.).
4) Integridade do parênquima (tecido) pulmonar.
5) Integridade do Sistema Nervoso Central e Autônomo.
6) Integridade e funcionamento do Sistema Circulatório
(sangue, artérias, veias e coração).
Como podemos observar, o A, o B e o C dependem muito
uns dos outros para que o organismo funcione adequadamente.
Problemas em qualquer um deles afetam diretamente os outros.
É importante atentar para a vítima de traumatismo craniano,
seja por qualquer mecanismo, ou que tenha feito ingestão de be-
bida alcoólica, pois esses dois agentes potencializam o efeito de-
pressor do centro de controle da respiração.
Favoreça a respiração da vítima afastando as pessoas; desa-
frouxe ou desabotoe roupas, cintos, gravatas etc.
Em caso de intoxicação por gases ou fumaça, retire a fonte
de intoxicação de perto da vítima ou a afaste da fonte – obviamen-
te, se for seguro para você realizar esse procedimento.
A contusão torácica ocasionada por uma força de alta energia
cinética (agressão, colisão, queda etc.) pode muito provavelmen-
te provocar uma contusão pulmonar, levando ao edema (inchaço)
do tecido pulmonar e consequente dificuldade para realização das
trocas gasosas. Esse processo é sentido pela vítima como dificul-
dade para respirar, angústia respiratória, aumento da frequência
respiratória e consequente diminuição da profundidade das respi-
rações (respirações mais curtas).
© U3 - Atendimento aos Acidentes 121

A vítima que está apresentando dificuldade respiratória tem


grande dificuldade para permanecer deitada. Isso é verdade tanto
no trauma como em situações clínicas (insuficiência respiratória,
infarto, insuficiência cardíaca etc.). Nestas, a vítima pode perma-
necer sentada ou semissentada, porém, no trauma, há o risco de
lesão de medula caso haja movimentação da coluna.
Caso a respiração esteja ausente, proceda de acordo com a
reanimação cardiopulmonar, que você conhecerá na Unidade 4.

Problemas no "C" de circulação


Como também já foi dito, na avaliação da circulação, deve-
mos procurar se há pulso na artéria carótida (um dos chamados
"pulsos centrais") e se há sangramentos externos.
Na ausência de pulso carotídeo, você deverá proceder de
acordo com o protocolo de reanimação cardiopulmonar que está
descrito na Unidade 4. A reanimação deve ser mantida até a che-
gada das equipes de emergência.
Na presença de pulso, procure os sangramentos externos.
Na grande maioria das vezes, diante de um trauma, a vítima estará
consciente, respirando, com pulso e, talvez, com algum corte com
sangramento. Caso não haja suspeita de lesão de coluna, você pre-
cisará então apenas conter esse sangramento, não sendo neces-
sária a estabilização da cabeça (como, por exemplo, em casos de
cortes sem queda).
O sistema circulatório é responsável por levar sangue oxige-
nado e em quantidade suficiente para todos os tecidos e células
do corpo. Para manter a vida, todas as células necessitam de oxi-
gênio e glicose para realização do metabolismo celular. Essas duas
substâncias essenciais somente conseguem chegar até as células
por meio da circulação. O oxigênio e a glicose entram nas reações
químicas conhecidas como "Ciclo de Krebs" para produção de
energia. Esse processo é chamado de "metabolismo aeróbico", ou

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122 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

seja, utiliza "ar" para acontecer. Na ausência de oxigênio, as células


passam a produzir energia por meio do metabolismo anaeróbico.
Esse é um processo bastante ineficiente de produção de energia,
quase "desesperado", que, além disso, produz metabólitos tóxicos
(ácido láctico e ácido pirúvico) difíceis de serem descartados, di-
ferentemente do CO2 e H2O da reação normal. Esses ácidos vão se
acumulando no organismo, deixando o ambiente interno do corpo
em acidose. Nosso organismo não consegue funcionar em acido-
se, e a progressão desse estado leva à morte.
A oferta inadequada de oxigênio aos tecidos do corpo é cha-
mada de "choque". Portanto, o "estado de choque" ao qual nos
referimos aqui não é aquele "trauma psicológico" que estamos
acostumados a ouvir e ver em reportagens e filmes. Essa é uma
síndrome patológica, que pode levar à morte se não corrigida.
O choque pode ser causado por fatores associados à falência
do sistema cardiovascular:
• Volume (conteúdo).
• Vasos sanguíneos (continente).
• Coração (bomba).
Nas perdas de volume, vamos nos ater às hemorragias, tanto
externas como internas, aos vasos sanguíneos, cujos ferimentos
são os causadores de problemas, e, por fim, à falência cardíaca,
em situações como infarto ou edema agudo de pulmão, que são
os principais causadores de choque. Existem outras situações que
podem levar ao choque, mas fazem parte mais frequentemente do
universo de situações mais difíceis de ocorrer na vida do cidadão
comum ou, então, encontradas no ambiente hospitalar.
Vamos utilizar o exemplo das hemorragias para discutir o
choque.
O choque hemorrágico, também denominado "choque hi-
povolêmico", ocorre quando há perda significativa de sangue ou
desidratação, isto é, quando acontece um desequilíbrio entre o vo-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 123

lume de líquido (conteúdo) e o tamanho do continente (lembra-se


de que a pressão arterial é a força que o sangue exerce nas pare-
des das artérias?). Nesses casos, o organismo lança mão de alguns
mecanismos, chamados de "compensatórios", para tentar manter
o fluxo de sangue normal para os tecidos:
• Aumento da FC e da força de contração do coração: para
manter o mesmo fluxo de sangue para as células, o co-
ração bate mais forte e mais rápido. O resultado disso é
um pulso rápido e ligeiramente mais forte, que denomi-
namos como "taquicardia".
• Vasoconstrição periférica: o corpo "escolhe" para onde
mandar o sangue, elegendo os órgãos importantes (cora-
ção, pulmões, cérebro e rins), e deixa de mandar sangue
para a pele, por exemplo. Além disso, a vasoconstrição
periférica diminui o tamanho do continente, adequando-
-o ao volume de sangue disponível. O resultado é a pali-
dez.
• Aumento da FR e encurtamento da respiração: o organis-
mo tenta melhorar a captação de oxigênio para aumentar
a oferta para as hemácias. Além disso, como as células
estão já começando a fazer metabolismo anaeróbico, o
corpo tenta, por meio da respiração, eliminar os subpro-
dutos tóxicos dessa reação química. O resultado é o que
chamamos de "taquipneia", que é uma respiração rápida
e superficial.
Todos esses recursos são ativados pelo corpo para tentar
compensar a falta de sangue, resultando em uma vítima pálida,
sudoreica (suor excessivo causado por reflexo vagal), com a pele
fria, com pulso e respirações mais rápidos.
Essa é a maneira de desconfiarmos de uma hemorragia que
não se apresenta externamente. Junte a causa (agressão, atrope-
lamento, colisão, queda etc.) com esses sintomas e você poderá
praticamente afirmar que a vítima tem um sangramento. Se você

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não vê esse sangramento (hemorragia externa), então, é um san-


gramento interno (hemorragia interna). Esses recursos, chamados
de "mecanismos compensatórios", já indicam que a vítima está
em choque. O choque compensado já quer dizer perda de sangue
significativa e que temos pouco tempo para tentar reverter a situ-
ação, ou seja, a vítima tem de chegar rapidamente a um hospital.
À medida que o sangramento continua, esses mecanismos
começam a entrar em falência, e, por fim, o corpo entra em colap-
so e morre. Portanto, nos primeiros socorros, o objetivo é estan-
car o sangramento, no caso das hemorragias externas, ou retardar
seus efeitos, no caso das hemorragias internas. Estas, na maioria
das vezes, somente serão interrompidas com procedimentos cirúr-
gicos.
As hemorragias externas são fáceis de identificar, e, para
contê-las, utilizamos esta sequência de ações:
1) Compressão direta sobre o ferimento: utilize gazes,
compressas ou panos limpos, como toalhas ou guarda-
napos. Faça certa pressão sobre o ferimento. Não remo-
va as gazes, compressas ou o pano já colocado sobre o
ferimento. Se estiverem encharcados de sangue, não os
substitua, coloque mais compressas sobre os primeiros
(ao retirar compressas que estão em contato com o feri-
mento, você remove, também, os coágulos que já estão
se formando – não se engane; aqui, coágulos não são
ruins, são, em vez disso, a única coisa que vai fazer o san-
gramento parar). Exceção: só não fazemos compressão
direta sobre fraturas expostas ou ferimentos com vidro
encravado.
2) Elevação da região afetada: se não houver fratura asso-
ciada na região, você pode elevá-la até que fique acima
da altura do coração. Obviamente, essa ação só é possí-
vel em ferimentos nos membros superiores e inferiores.
3) Compressão de artéria acima do ferimento: procure
pela artéria mais próxima do ferimento e faça uma com-
pressão média, a fim de diminuir o fluxo de sangue para
o ferimento. Identifique no seu corpo os vários locais em
© U3 - Atendimento aos Acidentes 125

que temos pulsos palpáveis facilmente alcançáveis nas


seguintes artérias: braquial, femoral e radial.
4) Repouso da vítima e repouso da região afetada: faça
uma imobilização para impedir a movimentação da re-
gião e não permita que a vítima faça esforço físico. Qual-
quer esforço vai aumentar o batimento cardíaco, au-
mentando, também, o sangramento. Nesse sentido, faça
o possível para acalmar a vítima. O medo e a angústia
também aumentam os batimentos cardíacos.

O uso de torniquete é bastante controverso, porém, em situações


limite, se você estiver diante de um sangramento incontrolável e
todas as ações anteriores já tiverem sido realizadas sem sucesso
na contensão da hemorragia, em locais com falta de recurso ou
onde o atendimento hospitalar está muito distante, você pode
considerar a aplicação do torniquete – porém, com a possibilidade
quase certa de perda do membro.

Nas hemorragias internas, como a própria expressão diz,


não há externalização de sangue e, portanto, é mais difícil saber se
está acontecendo ou não. Para desconfiar de que a vítima possui
algum sangramento interno, associamos o tipo de lesão sofrido
pela vítima aos sinais e sintomas de perda de sangue já elenca-
dos anteriormente. Além disso, algumas indicações podem nos ser
úteis, tais como:
5) Eritemas: vermelhidão na pele – indicam pancada forte.
Procure essas marcas no tórax, abdome e na pele sobre
grandes conjuntos musculares, pois esses lugares podem
conter grandes quantidades de sangue extravasado.
6) Equimoses: rompimento de pequenos vasos sanguíne-
os, como os capilares – também indicam contusão forte.
7) Hematomas: rompimento de grandes vasos sanguíneos,
formando um "lago" (chamado de "loja") de sangue sob
a pele – a palpação desse local dá a sensação de flutu-
ação.

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8) Fraturas de grandes ossos: as fraturas de fêmur e dos os-


sos da cintura pélvica, por exemplo, podem causar gran-
des perdas sanguíneas, de 1,5l a 3,0l, respectivamente.
Como já dissemos anteriormente, não é possível, nos pri-
meiros socorros, conter a hemorragia interna, isso só será feito
por cirurgia. Porém, podemos tentar retardar seus efeitos:
• Eleve os membros inferiores: coloque um apoio alto sob
os joelhos, elevando as pernas em 30° a 45°, se não hou-
ver lesão de coluna associada – esse procedimento "dre-
na" o sangue das pernas para a circulação.
• Aqueça a vítima: cubra a vítima evitando a perda de calor
– a hipotermia que acontece nas hemorragias é bastante
prejudicial à vida.
• Não dê nada para a vítima beber ou comer.
Esses procedimentos também devem ser feitos para vítimas
com hemorragia externa.

Antigamente, havia uma diferenciação de procedimentos para


sangramentos de origem venosa, capilar ou arterial. Atualmente,
essa diferenciação não é mais comum em primeiros socorros.

Problemas no "D" de avaliação neurológica rápida


Os pontos avaliados neste tópico são as pupilas e o estado
da consciência. Vamos discorrer rapidamente sobre eles, mas,
nos primeiros socorros, não temos muitas ações para corrigir es-
ses problemas, restando-nos apenas a constatação da gravidade e
consequente informação para os profissionais da emergência.
Pupilas: não é à toa que os antigos diziam que "os olhos são
a janela da alma". Em emergência, dizemos que as pupilas nos
mostram o estado do cérebro. As pupilas, quando estão dilatadas
(midríase), não sendo ação de nenhuma droga ou medicamento,
indicam pouca ou nenhuma oxigenação cerebral. Nas lesões cra-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 127

nianas que afetam apenas um lado do cérebro, uma das pupilas


estará de tamanho diferente, geralmente maior, do que a outra.
Nas lesões que atingem todo o cérebro, as duas pupilas estarão
dilatadas. Pupilas contraídas (miose) ocorrem por ação da luz forte
ou de drogas e, também, em algumas lesões e doenças cerebrais.
Estado de consciência: do estado de vigília (acordado e
atento) ao coma, são várias as gradações da consciência, passando
pela agitação, confusão mental, sonolência e torpor. Para avaliar
a consciência, usamos perguntas simples, como qual o nome da
pessoa, se ela sabe que dia é e onde está. Se a vítima não responde
adequadamente a essas questões, se faz repetidamente a mesma
pergunta ou se diz coisas sem sentido, dizemos que está confusa
ou desorientada. Essa situação indica, no mínimo, contusão cere-
bral. Respostas lentas (abre os olhos lentamente) ou ausência de
resposta indicam lesões mais graves no cérebro.
Não se esqueça de que existem várias drogas, lícitas e ilícitas,
que têm sua ação no Sistema Nervoso Central, lentificando ou ace-
lerando as respostas da vítima sob sua ação. Tente identificar se a
vítima fez uso de alguma delas, incluindo álcool. Porém, cuidado!
Não atribua toda sonolência ao uso de drogas.

Problemas no "E" de Exposição e proteção contra hipotermia


Na exposição da vítima, vamos procurar por ferimentos e, ao
mesmo tempo, cobrir a vítima. Neste tópico, vamos então discor-
rer sobre vários tipos de ferimentos, alguns bem comuns, outros
nem tanto.
Você não verá aqui a indicação de nenhuma substância para
limpeza dos ferimentos além de água e sabão! Não recomenda-
mos o uso de substâncias caseiras, como açúcar, limão, vinagre,
terra, cinza de algodão, folha de bananeira etc. ou, ainda, gliceri-
nas, vaselinas, água oxigenada etc. Repetimos: use, em primeiros
socorros, apenas água e sabão!

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128 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Vamos então à descrição desses ferimentos e ações em cada


um deles.
Cortes: ferimentos abertos, normalmente causados por ob-
jetos com gume, como facas, cacos de vidro, ferramentas etc.; têm
as bordas lisas e podem ser desde superficiais a bem profundos e
extensos. Devemos proceder a limpeza somente com água e sabão
caso o corte seja superficial. Cortes profundos precisam ter o san-
gramento contido imediatamente. Proceda conforme a contensão
de hemorragias externas.
Escoriações: ferimentos abertos, causados pelo atrito da
pele com superfícies. Podem ser superficiais, como os causados
por galhos, ou bastante extensos, como os causados pelo atrito
com cordas ou com o asfalto nas quedas de moto. São ferimentos
extremamente dolorosos, pois o sistema atingido, que é a pele,
possui grandes quantidades de inervação sensorial. Devem ser la-
vados com água e sabão. Dependendo da quantidade de pele atin-
gida, podem causar reflexo vaso vagal pela dor e até perda consi-
derável de líquido pela pele exposta.
O uso de substâncias para limpeza e desinfecção diária de
um ferimento deve ser orientado por um médico ou enfermeiro
especialista. Não use substâncias à base de iodo, pois podem ser
tóxicas. Isso serve também para líquidos ou pomadas.
Contusões: ferimentos fechados, causados por objetos rom-
budos (sem gume), podem apresentar eritemas, equimoses ou
hematomas. Podem causar rompimento de órgãos internos. Nas
contusões em membros (tanto superiores como inferiores), pode
ser aplicado gelo (nunca aplique gelo diretamente sobre a pele e
por não mais do que 15 minutos em cada aplicação). O uso de
gelo em lesões abertas ou com sangramento ativo (hematomas
ou equimoses) é contraindicado, pois o efeito rebote da vasocon-
trição é bastante intenso, chegando a aumentar o sangramento
após a retirada do gelo (aprenderemos mais sobre o uso do gelo a
seguir, na explicação de amputações).
© U3 - Atendimento aos Acidentes 129

Um objeto, mesmo que rombudo, pode, pela ação da for-


ça, causar o dilaceramento dos tecidos, como, por exemplo, uma
pancada forte em um músculo com um bastão de beisebol. Esse
ferimento é chamado de corto-contuso.
Lacerações: são ferimentos abertos de bordas irregulares
que rasgam o tecido, órgão, víscera, músculo ou pele, normalmen-
te causados por objetos com várias faces, como rodas dentadas,
portas, forças de arrancamento (aceleração ou desaceleração
bruscas) etc. Os ferimentos que apresentam sangramento externo
devem ser tratados como qualquer hemorragia.
Perfurações: ferimentos causados por objetos punctóricos
ou transfixantes, como projéteis de arma de fogo, tesouras, flore-
tes, chaves de fenda, furadores de gelo etc. Contenha a hemorra-
gia externa.
Ferimentos com objetos encravados: o objeto não deve ser
retirado, sob risco de aumentar o ferimento e aumentar a hemor-
ragia. Faça um curativo volumoso, tentando criar um apoio em
volta do objeto que evite sua movimentação. Esse curativo deve
ser feito com gazes ou compressas estéreis no contato com a pele
aberta ou pano limpo, como toalhas, pano de cozinha etc. Deve
também sustentar 2/3 (dois terços) do objeto que está para fora
do corpo.
Pessoas que ficam presas em lanças ou outro tipo de feri-
mento dessa natureza somente devem ser retiradas pelo Corpo
de Bombeiros, que tem equipamento para efetuar o corte desses
objetos.
Ferimentos abertos no tórax: feche o ferimento com um
quadrado de plástico limpo e estéril, transparente, sem cor, ocluin-
do três lados com esparadrapo. O ferimento aberto no tórax pode
causar o que chamamos de "ferida aspirativa". A abertura causada
pelo ferimento facilita a entrada de ar por esse local. O curativo
plástico de três pontas (como é chamado esse procedimento) evi-
ta que o ar entre no tórax pelo "buraco errado".

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Eviscerações: ferimentos que apresentam abertura da pare-


de abdominal com saída de vísceras. Cubra as vísceras com plástico
limpo e estéril, transparente, sem cor, para evitar o ressecamento
da víscera. Não use gazes ou panos, mesmo que umedecidos com
soro fisiológico.
Amputações: são dois os procedimentos: um com o segmen-
to amputado, outro na ponta do corpo onde aconteceu a amputa-
ção. No corpo, a hemorragia deve ser contida da mesma forma
que qualquer outra hemorragia; com o segmento amputado, este
deve ser envolvido em gaze seca estéril, depois, deve ser colocado
em saco plástico bem fechado e somente depois disso deve ser co-
locado em gelo. A parte amputada jamais deve entrar em contato
direto com o gelo.
Em qualquer grande ferimento, existe o risco de a vítima per-
der muito sangue e entrar em choque hemorrágico. Observe os
sinais de perda de sangue e, além do curativo do ferimento, use
os procedimentos para retardar os efeitos do choque: aqueça a
vítima, eleve as pernas e não se esqueça de chamar ajuda! Rápido!
Entorses e distensões: esse tipo de ferimento pode atingir
músculos, tendões e ligamentos. Com relação a tendões e liga-
mentos, geralmente, esses ferimentos estão localizados próximos
às articulações. Existem vários graus de distensão, sendo alguns
bastante graves. A dor é bastante intensa e pode haver edema,
equimose e hematoma. Pode ser colocado gelo no local (se não
houver sangramento) e deve ser feita a imobilização.
Luxações: esse ferimento se caracteriza pelo rompimento
total ou parcial dos ligamentos que sustentam uma articulação.
Pode haver também rompimento da cápsula articular. Não é um
ferimento simples e não pode ser confundido com distensão, en-
torse ou fratura. Normalmente, está associado a muita dor e des-
vio importante na articulação. É um ferimento grave. Pode estar
associado à fratura, e, nesse caso, a gravidade aumenta. A ten-
tativa de "colocar no lugar" pode romper ainda mais as estrutu-
© U3 - Atendimento aos Acidentes 131

ras e aumentar a gravidade da lesão; portanto, por mais dor que


esteja ocorrendo, não tente colocar no lugar o membro luxado.
Imobilize-o na posição encontrada e encaminhe a vítima o mais
rápido possível para um especialista. Não é raro saber de pessoas
que já tiveram um ombro luxado e que este sempre "sai do lugar";
às vezes, isso se tornando até uma brincadeira. Na verdade, essa
pessoa teve uma luxação que foi mal tratada, tanto nos primei-
ros socorros como no tratamento definitivo, ficando a articulação
como se fosse uma dobradiça de porta velha e mal parafusada, o
que não é nem de perto motivo de graça ou brincadeira.
Fraturas fechadas: em primeiros socorros, somente dizemos
com certeza que alguém tem uma fratura se a lesão for muito ób-
via. Ao contrário, dizemos apenas que a vítima tem uma suspeita
de fratura. As fraturas podem ser acompanhadas por dor, restri-
ção ou incapacidade de movimento, edema (inchaço), equimose,
hematoma. Pode ou não haver desvio anatômico, principalmente
em membros com dois ou mais ossos, como o antebraço (rádio
e ulna), a perna (tíbia e fíbula), os ossos do carpo e do tarso. O
osso fraturado sangra como qualquer estrutura do organismo, e,
quanto maior o osso, maior o sangramento. Além disso, tanto as
forças que causaram o ferimento quanto as próprias pontas ós-
seas podem causar lesões musculares e vasculares, aumentando
ainda mais o sangramento. Pode haver lesão do nervo na região
da fratura. Essas lesões podem apresentar-se com dormência, for-
migamento, perda da capacidade de movimentação e perda de
pulso periférico do membro atingido. O membro pode apresentar-
-se pálido e frio. Imobilize a região de acordo com os princípios de
imobilização definidos mais adiante.
Fraturas abertas ou expostas: dizemos que a fratura é aber-
ta ou exposta se houver comunicação entre o foco de fratura e o
meio externo (como, por exemplo, em uma fratura causada por
um tiro). Portanto, necessariamente, não é preciso haver exposi-
ção óssea, apesar de esta ser a apresentação mais comum dessa
lesão. Nunca, jamais, tente colocar as pontas ósseas expostas para

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132 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

dentro do ferimento. Aborde o ferimento como se fosse um feri-


mento com objeto encravado: proteja as pontas expostas e faça
um curativo ao redor do ferimento além da própria imobilização.
Para imobilizar, siga as mesmas regras da imobilização de lesões
ósteo-articulares do quadro a seguir. Esse ferimento tem um ris-
co potencial de sangramento, portanto, fique atento aos sinais de
choque e proceda de acordo com o protocolo para o choque he-
morrágico.

Para imobilizar um membro com suspeita de lesão–––––––––


• Avalie o membro: observe cor, temperatura, motricidade e sensibilidade.
Compare com o membro contralateral.
• Se a lesão for num osso, imobilize a articulação acima e a articulação abaixo
da lesão.
• Se a lesão for numa articulação, imobilize o osso acima e o osso abaixo da
lesão.
• Acolchoe os espaços entre a vítima e as talas.
• Em membros inferiores, sempre estenda mais a imobilização, devido ao
peso.
• Em lesões de quadril, estenda a imobilização do meio do tórax aos pés.
É possível a improvisação de materiais para imobilizar, como cabos de vassoura,
travesseiros, cobertores, jornais ou revistas, porém, não se esqueça de acolchoar
bem o contato da vítima com esses materiais, de forma que seu uso não provoque
mais dor. Utilize, para isso, toalhas, lençóis, camisas etc.
• Se for possível o uso de materiais profissionais para imobilização, como
talas flexíveis e bandagens triangulares, utilize-os conforme os mesmos
princípios anteriores.
• A imobilização bem realizada diminui em grande parte a dor e o sangramento.
• Após a imobilização, compare novamente com a avaliação inicial: observe
cor, temperatura, motricidade e sensibilidade. Qualquer alteração desses
parâmetros deve levar à reavaliação da imobilização e da vítima.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Queimaduras: são ferimentos causados por diversos agen-
tes, com graduação na profundidade e na extensão. O cálculo da
área corpórea queimada é um recurso para o tratamento de hi-
dratação realizado no hospital, além de medir a gravidade. Para
os primeiros socorros, é importante definir, mesmo que grosseira-
mente, qual a extensão de área corpórea atingida. Para também
definir a gravidade, além da extensão, usamos os parâmetros da
profundidade e da área atingida.
© U3 - Atendimento aos Acidentes 133

Para calcular a área, ou, ainda, a superfície corpórea queima-


da (SCQ), usamos, no ambiente hospitalar, a chamada "regra dos
nove", porém, em primeiros socorros, sugerimos a regra da pal-
ma da mão, que corresponde a 1% de superfície corpórea. Utilize
como parâmetro a palma da mão da vítima, e não a sua.
Com relação à profundidade, são queimaduras de 1º grau
aquelas que atingem apenas a camada superficial da pele, causan-
do vermelhidão, edema (inchaço) e bastante dor; são queimadu-
ras de 2º grau aquelas que atingem até a camada média da pele,
chamada "derme", causando bolhas e bastante dor; são queima-
duras de 3º grau aquelas que atingem todas as camadas da pele,
incluindo o tecido celular subcutâneo, podendo atingir músculos,
vísceras e ossos. As queimaduras de 3º grau podem se apresentar
carbonizadas ou coureáceas (com aparência de couro) e, apesar
de serem consideradas indolores (pois as terminações nervosas
também foram destruídas), estão circundadas por áreas de 2º e 1º
graus, que são bastante dolorosas.
São consideradas queimaduras graves:
1) Queimaduras de 1º ou 2º grau que alcançam 25% de
SCQ.
2) Queimaduras de 3º grau que alcançam 10% de SCQ.
3) Queimaduras nas mãos, pés, virilha, e face.
4) Queimaduras das vias aéreas (por inalação de ar quente
ou fumaça).
5) Queimaduras circulares (circundam uma área do corpo,
como braço, perna, abdome, tórax, pescoço etc.).
6) Queimaduras em pessoas menores de cinco anos e
maiores de 50 anos.
7) Queimaduras elétricas.
8) Queimaduras associadas a outras lesões (fraturas, trau-
matismo craniano etc.).
9) Queimaduras associadas a outras doenças (diabetes, in-
suficiência cardíaca etc.).

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Os agentes térmicos são os agentes mais comuns, sendo a


queimadura por escaldo a mais frequente, e as crianças, as víti-
mas comuns. Como o mecanismo causador é a transferência de
calor de um objeto ou substância para o corpo, a melhor forma
de controlar a queimadura térmica é fazer a mesma coisa, ou seja,
transferir o calor da pele para outro corpo, que, nessa situação,
o melhor remédio é a água! Portanto, resfrie a queimadura com
água em temperatura ambiente. Ao passar pela pele, a água vai re-
mover o calor em excesso. Essa ação vai restringir a área queimada
e controlar a dor.
As queimaduras por causas elétricas atingem normalmente
adultos jovens em ambiente de trabalho, sendo que a corrente
elétrica, ao passar pelo corpo, gera calor, causando necrose (mor-
te dos tecidos), destruição dos tecidos musculares, coagulação do
sangue e lesão endotelial (parede dos vasos). Além disso, a cor-
rente elétrica de natureza alternada interfere na fisiologia elétrica
cardíaca, levando à arritmia grave e parada cardíaca.
As queimaduras elétricas produzem ferimentos de entrada
e saída da corrente, indicando, com grande certeza, o caminho
percorrido pela energia. O ferimento de entrada normalmente é
menor em relação ao ferimento de saída.
As queimaduras por radiação têm, na queimadura de sol,
sua representante mais frequente, e, como o próprio nome diz,
não são causadas pelo calor do sol, mas, sim, pela radiação (UVA
e UVB, essa última a mais lesiva). Casos leves e não complicados
de queimadura solar resultam em irritação e vermelhidão na pele.
A exposição grave e não tratada pode causar choque e até morte.
A dor pode estar presente em quase todas as situações. Os sinto-
mas aparecem em torno de duas a seis horas após a exposição e
têm seu pico com 12 a 24 horas, podendo variar de bolhas somen-
te percebidas com a esfregação da pele a extensas áreas com se-
questro de fluido do organismo (perda maciça de líquido levando
à desidratação); desequilíbrio eletrolítico; infecção; febre; náusea
© U3 - Atendimento aos Acidentes 135

e/ou vômitos etc. Nos casos leves e moderados, a pele começa a


se recuperar entre quatro e sete dias. Mas não se engane! Não há
remédio que remova a radiação! Só o tempo. Portanto, no caso de
queimadura solar, o melhor é não tê-la!
As queimaduras químicas, excetuando as situações que en-
volvem agentes de limpeza e sanitários domésticos, ocorrem, na
sua maioria, em situações de trabalho. Aqui, o remédio também
vai ser a água, que não somente vai diluir a substância química,
como também vai "varrê-la" da superfície do corpo, devendo ser
aplicada tanto para substâncias ácidas como para álcalis.
Em toda situação de queimadura, preste atenção no agente
causador e garanta inicialmente que você não corre perigo, tan-
to nas situações de incêndio ou explosões como nas queimaduras
elétricas e químicas. Esteja seguro de que você não corre risco an-
tes de tocar na vítima.
Nas queimaduras térmicas:
1) Caso a vítima esteja em chamas, você deve, primeira-
mente, extingui-las. Cubra a vítima com um cobertor ou
role-a até que as chamas sejam apagadas.
2) Resfrie a área queimada com água em abundância. O
resfriamento da pele deve ser feito com menos abun-
dância no caso das queimaduras graves, pelo risco de
hipotermia. Não rompa as bolhas.
3) Retire objetos que retêm calor, como anéis, pulseiras,
relógios, colares, brincos, cintos, carteiras etc., mesmo
que grudados na pele.
4) Remova as roupas. Se houver roupas derretidas aderidas
à pele, estas não devem ser removidas. Corte em volta
da área aderida.
5) Não use substâncias caseiras, como manteiga, pomadas
(nenhuma!), vaselina, glicerina, pasta de dente, pó de
café etc. Como já dissemos, em primeiros socorros, usa-
mos apenas água. O curativo que será feito diariamente
vai ser definido pelo médico ou enfermeiro especialista.

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Nas queimaduras elétricas:


1) Corte a fonte de energia se possível.
2) Se não for possível afastar a vítima da fonte, ou a fonte
da vítima, chame o Corpo de Bombeiros.
3) Avalie se a vítima está em parada cardíaca (estudaremos
mais profundamente esse assunto na Unidade 4).
4) Identifique se há ferimentos de entrada e saída da cor-
rente elétrica. Isso fornecerá ao médico uma noção de
que órgãos foram atingidos.
Nas queimaduras químicas:
1) Somente se aproxime se for seguro! Toque na vítima
usando proteção: luva de borracha, avental, máscara e
gorro.
2) Enxágue a vítima com água em abundância. Não se es-
queça de remover os sapatos (para não empoçar água
com substância química nos pés) e roupas. Cuidado com
os respingos!
3) Em caso de substâncias químicas ácidas, enxágue por 10
minutos.
4) Em caso de substâncias químicas básicas (álcalis), enxá-
gue por 15 minutos.
5) Em caso de substância de categoria desconhecida, enxá-
gue por 20 minutos.
Nas queimaduras por radiação solar:
1) Não use cremes com anestésicos ou com perfume (o
perfume contém álcool, que desidrata mais a pele).
2) Banhos frios podem ajudar a aliviar os sintomas.
3) Leve a vítima ao médico se for grave.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
© U3 - Atendimento aos Acidentes 137

1) Faça uma pesquisa e identifique quais são os equipamentos de proteção in-


dividual (EPI) para risco biológico e quais deles teriam seu uso indicado para
o atendimento a uma vítima, trazendo essas informações para a discussão.

2) Procure identificar na sua cidade de origem e/ou na cidade onde você traba-
lha quais dos dois serviços existentes, se os dois existem e como funcionam.

8. CONSIDERAÇÕES
Obviamente, existem inúmeras variações dos ferimentos
que aqui vimos, bem como muitos outros tipos de ferimentos,
porém, não foi o objetivo desta unidade percorrer todos eles ou
transformá-lo em um profissional da emergência. O importante é
saber comportar-se na maioria das situações e, principalmente,
como chamar ajuda!
Na próxima unidade, abordaremos as ocorrências e situa-
ções em que não está envolvido trauma.
Bons estudos!

9. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 3 Manobra de propulsão da mandíbula. Disponível em: <www.marimar.com.br>.
Acesso em: 17 dez. 2012.
Figura 4 Verifique o pulso carotídeo. Disponível em: <http://www.endocardio.med.br/
abc-da-ressuscitacao/>. Acesso em: 10 maio 2012.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório Final. In: 8º CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE,
1986. Brasília: Ministério da Saúde, 1987.
______. Ministério da Saúde. O desenvolvimento do Sistema Único de Saúde: avanços,
desafios e reafirmação dos seus princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde,
2002.

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SANTOS, D. S. Ações intersetoriais de educação e saúde: entre teoria e prática. Campinas:
UNICAMP, 2005. (Dissertação de Mestrado).
SCHALL, V. T. S. M. Educação em Saúde: novas perspectivas. Cadernos de Saúde Pública,
1999.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade
Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. ArqBrasCardiol 2010;
95(1 supl.1): 1-51.
EAD
Parada Cardiorrespiratória
e Outras Emergências
Clínicas
4
1. OBJETIVOS
• Identificar os sinais e sintomas que caracterizam a parada
cardiorrespiratória de adultos.
• Identificar os elos que compõem a cadeia da sobrevida e
as ações a serem realizadas na parada cardiorrespiratória.
• Identificar os sinais e sintomas e as ações a serem reali-
zadas nas seguintes situações de emergência: desmaio,
convulsão, engasgo, infarto agudo do miocárdio (IAM) e
acidente vascular cerebral (AVC).

2. CONTEÚDOS
• Vítima com suspeita de parada cardiorrespiratória.
• Outras emergências clínicas.
140 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre
com o material didático e discuta a unidade com seus
colegas e com o tutor.
2) Tenha sempre à mão o significado dos termos explicita-
dos no Glossário de Conceitos e suas ligações pelo Es-
quema dos Conceitos-chave para o estudo de não ape-
nas esta, mas todas as unidades deste CRC. Isso poderá
facilitar sua aprendizagem e seu desempenho.
3) Volte às unidades anteriores para entender e recordar os
conceitos propostos. Consulte-as sempre que surgirem
ideias que ainda não foram completamente assimiladas.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A parada cardiorrespiratória (PCR) é um dos eventos dra-
máticos que podem ocorrer dentro do espectro das emergências,
principalmente porque a grande maioria das pessoas não sabe o
que fazer nessa situação.
Em vários países mundo afora, existem programas de treina-
mento da comunidade para reconhecimento da PCR e realização
da massagem cardíaca, sendo as escolas, os professores, as crian-
ças e seus parentes o grande público para o ensinamento dessas
ações (Figura 1).
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 141

Figura 1 Cartaz de informação utilizado pela American Heart Association – AHA 2010.

O desenvolvimento desses programas é baseado no conhe-


cimento já adquirido há muito tempo pela comunidade científica
de que quanto mais precocemente for iniciado o procedimento
de reanimação cardíaca, maior a possibilidade de sobrevida para
a vítima.
No Brasil, existem poucos programas com esse objetivo, e
talvez fossem os conteúdos programáticos da Educação Física, em
parceria com as Ciências Biológicas, um bom caminho para insti-
tuir essas ações dentro da escola e da comunidade que a circunda.
Os procedimentos e protocolos que utilizaremos aqui estão
publicados na última revisão de diretrizes para reanimação feita
pela American Heart Association e pelo Consenso Internacional
ILCOR – Aliança Internacional dos Comitês de Ressuscitação –
(2010), aceitos e utilizados também no Brasil.

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142 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

A modificação dos procedimentos é realizada sempre com


base em trabalhos científicos e profundas discussões com espe-
cialistas. Essas modificações ocorrem a cada dois ou quatro anos,
dependendo dos resultados dos trabalhos de pesquisa em anda-
mento.
A American Heart Association (AHA) definiu o conceito de
Corrente da Sobrevivência, e este tem se mostrado uma metáfora
útil para fixação dos elementos e ações que o compõem, como
mostrou a Figura 1. Elos da Corrente da Sobrevivência resumem a
compreensão atual da melhor abordagem para o tratamento das
pessoas com parada cardíaca súbitas. Esses elos sofrem modifica-
ções dependendo da vítima a ser abordada – se adulto, criança ou
bebê.
A Corrente da Sobrevivência trata de uma situação com víti-
ma inconsciente e potencialmente em parada cardiorrespiratória.
Os procedimentos obviamente serão diferentes se a vítima estiver
acordada.
Como vimos na Unidade 3, as situações de emergência de-
terminam o ABCDE na avaliação da vítima de acidente, porém, na
vítima clínica (sem ocorrência de trauma), essas situações são di-
ferentes, a saber:
1) Parada cardíaca.
2) Ataque cardíaco (infarto agudo do miocárdio).
3) AVC (acidente vascular cerebral, ou derrame).
4) Obstrução das vias aéreas (engasgo por corpos estra-
nhos).
Devido à natureza dessas situações, a sequência das letras
na avaliação fica sendo CAB (Circulação-Vias Aéreas-Respiração)
para a vítima clínica.
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 143

5. VÍTIMA COM SUSPEITA DE PARADA CARDIORRES-


PIRATÓRIA
A parada cardiorrespiratória (PCR), ou, simplesmente, para-
da cardíaca, é uma das situações que exigem do socorrista ações
precisas e rápidas, pois trata-se de uma emergência real. As ati-
tudes tomadas podem determinar o resultado ou a sobrevida da
vítima.
Em que pese tomarmos e fazermos as ações para reanima-
ção o mais corretamente possível, não devemos colocar o peso
do resultado sobre nossas costas, pois existem situações fora do
alcance dos esforços de reanimação.
Com base nas estatísticas comprovadas mundialmente e,
também, no Brasil, a parada cardíaca súbita, que atinge os adul-
tos, na sua grande maioria, acontece fora do ambiente hospitalar,
ou seja, na rua, em casa, no trabalho. Na maioria das vezes, o co-
ração dessa pessoa está no estado que chamamos de "fibrilação
ventricular".
A fibrilação ventricular (FV) é uma situação potencialmen-
te reversível por meio de massagem cardíaca e desfibrilação, que
devem ser feitas o mais precocemente possível. A massagem car-
díaca é um procedimento que pode ser feito por qualquer pessoa,
desde que devidamente treinada (saberemos mais nos parágrafos
seguintes sobre a descrição do procedimento), e a desfibrilação
pode ser realizada por meio de aparelhos automáticos e manuais.
Os aparelhos manuais dependem da atuação de um profissional
médico, e os automáticos funcionam, como a própria palavra diz,
automaticamente, pois são programados para reconhecer a fibri-
lação ventricular e aplicar o tratamento (choque). Qualquer pes-
soa com um mínimo de treinamento pode utilizá-lo.
Daí a grande febre mundial para treinamento da população e
para aquisição e acesso público aos desfibriladores externos auto-
máticos, os DEAs. Esses equipamentos são de fácil manuseio e re-

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144 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

querem uma curtíssima capacitação para sua operação. Com farta


bibliografia e trabalhos sobre o tema, a utilização do DEA o mais
precocemente possível, juntamente com a massagem cardíaca,
tem sua eficácia comprovada na reversão dos quadros de parada
cardíaca por fibrilação ventricular.
Uma das ações de orientação para a saúde que devem fa-
zer parte das suas atividades como professor é mostrar aos seus
alunos como reconhecer a PCR e saber o que fazer nesses casos.
Quanto mais pessoas da comunidade estiverem orientadas para
realizar esses procedimentos, mais teremos chances de reverter
uma parada cardíaca. Essas são ações não somente de saúde, mas
também de civilidade, cidadania e preocupação com o bem-estar
de todos.
Nessa situação, devemos seguir cinco elos da Corrente da
Sobrevivência (Figura 2) dita. As ações a serem realizadas são:
1) Acesso rápido.
2) RCP precoce.
3) Desfibrilação precoce.
4) Suporte avançado precoce.
5) Cuidados integrados pós-reanimação.

Figura 2 Cadeia da sobrevida.

Primeiro Elo – acesso rápido: o acesso rápido inclui o reco-


nhecimento precoce da situação de possível PCR e o acionamento
do serviço de emergência. As pessoas também devem ser encora-
jadas a reconhecer os sinais de alerta, como dor torácica, falta de
ar, e acionar o sistema de emergência antes do colapso se possível.
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 145

Segundo Elo – RCP Precoce: a RCP (reanimação cardiopul-


monar), também chamada de "massagem cardíaca", é mais eficaz
quando iniciada imediatamente após o colapso da vítima. Estudos
demonstram constantemente que a RCP realizada por circundan-
tes tem um efeito positivo sobre a sobrevivência e deve ser man-
tida até a chegada do desfibrilador ou do serviço de emergência.
Terceiro Elo – desfibrilação precoce: a desfibrilação precoce
é o elo da Corrente da Sobrevivência que mais provavelmente me-
lhora os índices de sobrevida para vítimas de parada cardíaca com
fibrilação ventricular (FV). Disponibilizar DEAs para um grande nú-
mero de pessoas treinadas na comunidade (clubes, escolas, está-
dios, lugares de grande circulação) pode ser um passo fundamen-
tal para aumentar a sobrevivência a uma parada fora do hospital.
Quarto Elo – suporte avançado rápido: a chegada do supor-
te avançado ao local da emergência consegue garantir que a vítima
receba cuidados especializados (suporte ventilatório avançado,
medicação endovenosa, controle das arritmias, estabilização etc.)
mais rapidamente do que levar a vítima até o hospital.
Quinto Elo – cuidados integrados pós-reanimação: dentro
do hospital, os maiores esforços devem ser instituídos para me-
lhorar a sobrevida da vítima de parada cardíaca, que devem incluir
um sistema abrangente, estruturado, integrado e multidisciplinar
de cuidados pós-PCR, suporte cardiopulmonar e neurológico, hipo-
termia terapêutica e intervenções coronárias percutâneas (quando
indicado), eletroencefalograma para o diagnóstico de convulsões
e monitorização contínua em pacientes comatosos após o retorno
da circulação espontânea.
Vamos então descrever os procedimentos que estão conti-
dos em cada elo até a chegada do serviço de emergência.

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146 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Acesso rápido
O tempo é um dos fatores que mais influenciam resultados
bons ou ruins. Portanto, reconhecer rapidamente a necessidade
de socorro e ajuda é uma das ações mais importantes para o so-
corrista.
A qualquer instante, podemos nos deparar com uma pessoa
inconsciente – no trabalho, na rua ou em casa. Procure determinar
rapidamente se essa pessoa está reagindo ou não.
Aproxime-se e chame em voz alta a pessoa, ao mesmo tem-
po em que a toca nos ombros, dizendo: "você está bem?".
Caso não haja resposta, não haja movimentos respiratórios
ou a vítima esteja em respiração agônica (movimento torácico
ineficaz), dizemos que a vítima está inconsciente, e, nesse caso,
você deve chamar ajuda imediatamente (192 ou 193), pedindo,
também, que venha um DEA, ou peça para que alguém que esteja
próximo o faça.

Reanimação cardiopulmonar precoce


Após ter acionado o serviço de emergência e solicitado um
DEA, volte para a vítima e verifique se há presença de pulso ca-
rotídeo. Posicione-se de joelhos ao lado da vítima, na altura do
tórax. Utilizando os dedos indicador e médio, localize o meio do
pescoço, exatamente sobre a proeminência laríngea, antigo "po-
mo-de-adão" (faça a correspondência da região caso a vítima seja
do sexo feminino), e escorregue os dedos pela borda da traqueia
até conseguir palpar a artéria carótida (no espaço entre a traqueia
e o músculo esternocleidomastoideo). Procure sentir o pulso por,
no máximo, dez segundos.
À ausência do pulso carotídeo chamamos de "parada car-
diorrespiratória", e você deve imediatamente iniciar as compres-
sões cardíacas.
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 147

Posicione o "calcanhar" de ambas as mãos (região hipote-


nar) um sobre o outro, exatamente sobre o osso externo, no seu
terço inferior, devendo coincidir a linha intermamilar da vítima
com o seu dedo médio, como ilustra a Figura 3.

Figura 3 Posicionamento das mãos sobre o tórax.

Aproxime-se o suficiente para fazer que seus braços fiquem


esticados e alinhados em 90° com o tórax, como podemos obser-
var na Figura 4.

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148 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Figura 4 Ilustração da posição do corpo para realização da RCP.

Não use a força dos braços para fazer a massagem cardíaca,


mas, sim, o peso das costas.
Inicie a massagem fazendo 30 compressões e 2 ventilações
boca-máscara. Continue fazendo ciclos de 30:2 até completar 5 ci-
clos, ou seja, 2min de reanimação, interrompendo para checar no-
vamente e rapidamente o pulso. Continuando a ausência de pulso,
reinicie os 5 ciclos de 30:2. Estando presente o pulso, verifique se
a respiração também está presente e, caso negativo, faça somente
uma ventilação a cada 5-6s. Para melhor compreensão desse pro-
cedimento, observe a Figura 5.
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 149

Figura 5 Posição do corpo para massagem cardíaca.

Somente faça as ventilações caso seja possível o uso de al-


gum mecanismo de barreira (máscara com válvula unidirecional
ou outro mecanismo). Não improvise com sacolas de supermerca-
do ou pedaços de plástico. O risco de adquirir doenças infectocon-
tagiosas existe.
Para fazer as ventilações, pince as narinas, fechando-as com-
pletamente. Através da máscara de barreira, coloque seus lábios à
volta dos lábios da vítima. Faça uma inspiração ligeiramente mais
profunda e insufle ar para dentro da vítima, o suficiente para pro-
vocar elevação do tórax. Cada insuflação não deve demorar mais
que um segundo.
A cada sequência de 30 compressões, você deverá fazer duas
ventilações.
Ao final de 5 ciclos de 30:2, cheque o pulso carotídeo.
Caso você esteja contando com a ajuda de outro socorris-
ta, um poderá assumir as compressões e o outro poderá assumir

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150 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

as ventilações. Porém, ao final de 5 ciclos, as posições devem ser


trocadas, independentemente de o massageador sentir-se bem ou
não para continuar (Figura 6).
Se você estiver sozinho, aguente firme! Não há outra saída!

Figura 6 Fazendo a ventilação boca a boca (use sempre máscara de barreira).

Desfibrilação precoce
Caso exista a possibilidade de se obter um desfibrilador an-
tes mesmo da chegada do SAMU (isso pode ocorrer em clubes,
casas noturnas, escolas, aviões etc.), interrompa imediatamente
as compressões e utilize o aparelho.
Se a pessoa que está trazendo o aparelho souber como utili-
zá-lo, esta deve iniciar os procedimentos, enquanto você continua
com as massagens até que o aparelho ordene sua interrupção.
O DEA é um aparelho de fácil operação, pois, após ser ligado,
dá início a uma série de comandos de voz que orientam todos os
passos a serem realizados.
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 151

A sequência básica de ações do DEA possui as etapas que se


seguem:
1) Ligar o aparelho.
2) Colocar as pás adesivas no tórax do paciente.
3) Análise.
4) Choque recomendado ou não recomendado.
a) Choque recomendado (presença de FV): o choque
deve ser deflagrado.
b) Choque não recomendado (ausência de FV): o apa-
relho vai solicitar que seja checado o pulso e RCP se
necessário.
5) Interrupção para checagem a cada 2 minutos.
Assim que o choque for deflagrado, as compressões devem
ser imediatamente reiniciadas na sequência de 30:2, até comple-
tar 5 ciclos ou 2 minutos para nova checagem.
Caso o DEA não identifique a necessidade de choque, o pró-
prio aparelho orientará para que o socorrista verifique a neces-
sidade de RCP (reanimação cardiopulmonar), e deve-se, então,
checar o pulso. Na ausência de pulso, as compressões devem ser
realizadas na mesma proporção de 30:2. Na presença de pulso,
verifique a necessidade de ventilação.
Estando ausente apenas a respiração, faça uma ventilação a
cada 5-6 segundos, durante mais 2 minutos, checando o pulso na
sequência, ou até a vítima recobrar a respiração espontânea.
Essa sequência de RCP deve ser realizada por profissionais
da área da saúde (educadores físicos inclusos). A sequência desig-
nada para leigos tem diferenças, e, caso você inicie um programa
de treinamento no seu local de trabalho, verifique corretamente o
protocolo que será utilizado. Conheceremos o algoritmo da sequ-
ência completa da RCP para profissionais da saúde no Quadro 1.
Estando o pulso e a respiração presentes, coloque a vítima
na posição de recuperação (deitada sobre o lado esquerdo).

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152 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Causas da parada respiratória e cardiorrespiratória–––––––––


As funções vitais da respiração e da circulação (batimento cardíaco) são
suscetíveis a diversos fatores, tais como:
– afogamento;
– infarto agudo do miocárdio;
– intoxicação por drogas (inclusive álcool);
– intoxicação por fumaça ou venenos;
– choque elétrico;
– traumatismo craniano;
– ferimentos diretos sobre o coração e os pulmões;
– acidente vascular cerebral (derrame);
– perda maciça de sangue;
– outras situações.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Seja qual for a causa da parada cardíaca ou da parada res-
piratória, não há alteração dos procedimentos, ou seja, se não há
pulso, qualquer que seja a causa, você deverá fazer massagem car-
díaca. Se não houver respiração, você deverá fazer a ventilação,
não importando a causa, mesmo no caso de afogamento!
No afogamento, muitas pessoas pensam que a "água no pul-
mão" é o problema, porém essa é uma informação incorreta. A
água que se acumula, na grande maioria dos casos, está na via aé-
rea e no estômago. A falta de oxigenação causada pela submersão
leva à parada cardiorrespiratória ou respiratória, ou seja, ela não
está respirando, e o coração não está batendo, e, portanto, o que
a vítima precisa é de massagem cardíaca e ventilação!

153
Quadro 1 Algoritmo de ©reanimação
U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas
cardiopulmonar de adultos
para profissionais
Quadro 1 Algoritmo da saúde.
de reanimação cardiopulmonar de adultos
para profissionais da saúde.





LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
................................................................................................................................
COORDENADOR: PROF. MS. ENGELS CÂMARA
DISCIPLINA:
PROGRAMAS DE SAÚDE E SOCORROS URGENTES

AUTORAS: PROF CRISTIANE E FLÁVIA
FORMATAÇÃO E FEEDBACK: SIMONE RODRIGUES
PREPARAÇÃO: JOSIANE MARCHIORI
REVISÃO: VANESSA VERGANI MACHADO


................................................................................................................................
 
 



Para fazer RCP de boa qualidade:
 
 Mínimo de 100 comp/min.
 
Chegada do desfibrilador  Compressões com, no mínimo, 5cm

de profundidade.
 
 Permita
 total reenchimento do
tórax.
 
 Minimize o tempo sem

compressões.
 
 Evite ventilação excessiva.

O ritmo é chocável?
................................................................................................................................
 

Dê 1 choque e reinicie 30:2, 5 Verifique o pulso. Faça 30:2 se


ciclos, e cheque novamente a necessário.
cada 2 minutos. Coloque na posição de recuperação
caso haja pulso e respiração. Cheque
novamente a cada 2 minutos.

Você deve manter as compressões durante o tempo neces-


Você deve manter as compressões durante o tempo
sário, até que haja retorno do pulso ou até a chegada do SAMU
necessário, até que haja retorno do pulso ou até a chegada do
(em situações extremas,
SAMU (em situações até a suaaté
extremas, exaustão).
a sua exaustão).
A ordem para que a reanimação não seja realizada ou seja
interrompida deve ser feita por um médico ou autoridade policial
na ausência deste (em localidades distantes).

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154 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

6. OUTRAS EMERGÊNCIAS CLÍNICAS

Desmaio
O desmaio é definido como a perda súbita e temporária da
consciência, ou seja, a situação acontece de repente e logo passa!
Normalmente, as situações causadoras do desmaio são au-
tolimitadas. Isso significa que sem interferência externa o próprio
corpo consegue reverter o problema, pelo menos temporariamen-
te.
O mecanismo fisiopatológico do desmaio dá-se por falta de
oxigênio no cérebro (hipóxia), falta de glicose (hipoglicemia) ou
falta de ambos, por um fluxo diminuído de sangue para irrigação
cerebral.
Como causas do desmaio, estão:
1) Calor excessivo (vasodilatação periférica, dificultando o
fluxo de sangue para a cabeça).
2) Posição imóvel ereta prolongada (pouco retorno venoso
– posição do soldado em guarda).
3) Lipotimia (queda brusca da pressão quando uma pessoa
agachada se levanta rapidamente).
4) Jejum prolongado ou baixa ingestão de calorias.
5) Estresse agudo e intenso, medo e pavor.
A pessoa pode apresentar palidez, sudorese (suor excessivo)
e pele fria. Pode também referir tontura, escurecimento da visão
e mal-estar.
Para ajudar uma pessoa que sofreu um desmaio, primeira-
mente, tente se acalmar e, principalmente, não tente levantar ou
colocar a pessoa em pé! A pessoa está desmaiada, sem controle
muscular, e não há ninguém que consiga colocar alguém nessa si-
tuação em pé ou mesmo sentada em uma cadeira!
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 155

Deixe-a no chão, verifique se está respirando e coloque-a,


então, na posição de recuperação, até que volte à consciência.
Desafrouxe roupas, como colarinho, gravata, cintos, o que
for possível. Assim que a pessoa conseguir, coloque-a em lugar cal-
mo e fresco.
Normalmente, a situação do desmaio resolve-se natural-
mente, em até pouco mais de 1 minuto.
Somente dê água para quem estiver totalmente recobrado.
Não forneça nada para beber ou comer a quem está torporoso
(meio mole).
Pergunte o sample (já mencionado na Unidade 3), direcio-
nando mais precisamente para o que aconteceu antes do desmaio
e se a pessoa está bem ou mal alimentada. Não se esqueça de per-
guntar se a pessoa possui alguma doença ou faz algum tratamento
de saúde.
Se na queda a pessoa bater com a cabeça no chão, você terá
dois problemas: o primeiro é a causa do desmaio e o segundo é o
traumatismo craniano. Nessa situação, é necessário imobilização e
até RX ou tomografia. Não se esqueça de chamar o SAMU! Muitas
pessoas acreditam que é necessário colocar a pessoa sentada com
a cabeça entre as pernas, pedindo para que faça força etc., mas
nada disso é necessário. Exceto em uma situação em que o retor-
no do desmaio está demorando muito, na qual podemos elevar as
pernas da vítima (coloque almofadas sob os joelhos para não for-
çar a articulação, até, no máximo, 30° de elevação). O desmaio não
precisa de atitudes heroicas ou de dificuldade para ser resolvido.
Quando uma pessoa que está inconsciente demora a reco-
brar o estado de alerta, isso deixa de ser um desmaio de uma cau-
sa simples, como calor ou pressão baixa. A causa pode ser uma
situação mais grave, como um sintoma de alguma doença, e, por-
tanto, a pessoa deve ser obrigatoriamente levada a um hospital.

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156 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Convulsão
A convulsão é uma situação em que há uma descarga elétrica
que acontece em um grupo de neurônios e que pode se espalhar
para parte do cérebro ou na sua totalidade. Pode ocorrer por cau-
sas simples, por situações de agressões externas ou por doenças.
A causa mais comum é a doença chamada "epilepsia", que
se caracteriza por uma alteração temporária e reversível do fun-
cionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre,
drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou mi-
nutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem
ficar restritos a esse local ou espalhar-se. As medicações atuam de
forma a minimizar a possibilidade de convulsões.
Qualquer pessoa está sujeita a ter uma convulsão; é só ver as
causas que podem desencadeá-la:
1) Traumatismo craniano (em outras palavras, pancada na
cabeça).
2) Intoxicação por drogas (lícitas ou ilícitas).
3) Hipoglicemia (falta de açúcar no sangue).
4) Meningite (infecção das meninges que envolvem o cére-
bro e a medula).
5) Tumores cranianos.
6) Hipóxia (falta de oxigênio).
7) Febre alta em crianças menores de 6 anos.
Existem vários tipos de convulsão, mas o mais comum é a
convulsão generalizada. Nela, inicialmente, a vítima perde a cons-
ciência (por isso, pode sofrer uma queda), os músculos fazem mo-
vimentos tônicos e clônicos, há liberação de esfíncteres (a vítima
pode urinar e evacuar) e produção intensa de saliva (por isso apa-
rece a espuma).
Porém, tudo isso não é nada comparado ao grande mito que
envolve a convulsão: a língua. O que acontece de verdade com a
língua?
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 157

As pessoas acreditam que a língua "enrola" ou que a vítima


vai "engolir" a língua! Mas isso pouco tem de verdade. Anatomica-
mente, é impossível "enrolar" a língua ou "engoli-la"!
Porém, não é de todo errado nos preocuparmos com o pro-
blema da língua; só devemos fazê-lo na hora certa.
Durante a convulsão, todos os músculos estão se contraindo,
inclusive a língua, posto que também é um músculo. O objetivo
do cuidado nesse momento é impedir que a vítima sofra ferimen-
tos pelos movimentos bruscos que estão acontecendo. Portanto,
você deve impedir que a vítima bata a cabeça no chão, colocando
suas mãos como travesseiro sob a cabeça dela. Afaste objetos ou
móveis que possam machucá-la, como mesas, cadeiras etc. Não
restrinja os movimentos convulsivos, pois a força destes é imensa,
e você pode até provocar uma fratura. Deixe os membros livres
e não segure a cabeça, apenas a proteja. É possível que a língua
fique presa entre os dentes durante a convulsão, podendo até
ocorrer cortes de superficiais a profundos. Não há nada o que fa-
zer durante a contração da mandíbula. Não tente abrir a boca ou
retirar a língua de entre os dentes da vítima. Seus esforços serão
inúteis, podendo até provocar lesões na vítima e em você mesmo.
Aguarde a convulsão passar.
Após a convulsão, você consegue perceber que os movimen-
tos começam a ficar mais suaves e que a respiração da vítima fica
ruidosa (roncos) e difícil. Isso ocorre porque o relaxamento mus-
cular atinge também a língua, que, com o peso e falta de tônus, cai
sobre a via aérea. Nesse momento, basta lateralizar a cabeça da ví-
tima para o lado e também girar o corpo todo para o lado esquer-
do (posição de recuperação). Executando apenas esse movimento,
você resolve vários problemas: a saliva que está acumulada vai es-
correr para fora da boca e a respiração acontecerá livremente, pois
a língua não vai atrapalhar a passagem do ar e o fluxo de sangue
para o coração também melhorará.
Enquanto isso, você pode:

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• Pedir que alguém chame ajuda.


• Afastar curiosos, que podem atrapalhar sua atuação.
• Conversar com a vítima acalmando-a, mesmo que pareça
que ela não está consciente.
Se houve lesão na língua, também haverá sangue misturado
com a saliva. Você pode envolver a língua em gaze seca e levar a
vítima para o hospital (é importante o uso de luvas!).
Verifique também se a vítima está acompanhada e, ao reco-
brar a consciência, pergunte o que houve, se a vítima é portadora
de epilepsia, se está sob medicação, se a prescrição está sendo
seguida etc.
É possível que a vítima não queira ir até o hospital, pois pode
estar confusa (estado comum após uma convulsão) ou mesmo por
acreditar que o pior já passou. Você pode tentar convencê-la, mas
não pode obrigá-la a ir ao hospital.
Apesar de parecer muito tempo, uma convulsão não dura
mais que um ou dois minutos. O grande perigo é o que chamamos
de "estado de mal epiléptico" (normalmente, isso acontece em
quem possui a doença epilepsia), que ocorre quando mal termina
uma convulsão e já se inicia outra, sem o tempo necessário para
o cérebro se recompor. Isso é uma emergência neurológica, e o
paciente deve receber medicação específica urgentemente para
que a situação seja controlada. Por isso, toda pessoa que tem uma
convulsão deveria ficar no hospital sob observação.

Engasgo
O engasgo com o qual nos preocupamos é o que acontece
por obstrução da via aérea por objetos ou alimentos sólidos, im-
pedindo a passagem do ar para os pulmões.
Espinhas de peixe machucam a garganta, mas não obstruem
a via aérea! Cuidado com os truques para fazer "descer" a espinha,
para não empurrá-la e provocar ferimentos ainda maiores. Espi-
© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 159

nhas fininhas são digeridas pelos ácidos do estômago. Caso a espi-


nha seja grande, acalme a pessoa e leve-a para o pronto-socorro.
A tosse é o mecanismo natural mais eficiente para desobstrução
da via aérea, pois é um grande volume de ar que tenta passar pela
obstrução em grande velocidade. A manobra de desobstrução da
via aérea nada mais é do que a tentativa de realizar a mesma coisa
que a tosse.
Na situação de engasgo por objeto (pedaços de alimento,
como carne, doces, balas, chicletes, ou brinquedos, ou próteses
dentárias), existe um "divisor de águas" para ação imediata ou não
do socorrista que está presenciando a situação: a pessoa ainda
está conseguindo respirar ou não?
A pessoa engasgada assume uma posição típica, segurando
a garganta com uma ou com as duas mãos, e também apresenta
expressão de angústia respiratória (ânsia por ar), como ilustra a
Figura 7.

Figura 7 Posição universal do engasgo.

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160 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

Preste atenção para não confundir infarto com engasgo. Para


que isso não aconteça, é importante, ao aproximar-se da pessoa,
perguntar: "você está engasgado?".
Em caso negativo, veja se é dor no peito ou qualquer outra
coisa e proceda conforme o caso.
Na resposta positiva, verifique se a pessoa consegue tossir
com eficiência ou emitir palavras, significando que ainda há espa-
ço para passagem de ar. Acontecendo assim, estimule a pessoa a
respirar e tossir com bastante força.
Muitas pessoas nessa hora fazem "simpatias", como erguer
os braços e bater nas costas. Tudo é válido se a pessoa ainda está
respirando. Se a pessoa não consegue respirar, tossir ou falar, aja
imediatamente! Coloque-se atrás dela, fazendo com seu corpo um
"muro de arrimo" junto das costas da vítima, não deixando espaço
entre vocês. Coloque seus braços à volta da cintura da vítima na
distância média entre o umbigo e o apêndice xifoide. Junte suas
mãos e faça movimentos de "soco" para dentro e para cima no
abdome da vítima, como mostra a Figura 8.

Figura 8 Manobra de Heimilich, ou manobra de desengasgo.


© U4 - Parada Cardiorrespiratória e Outras Emergências Clínicas 161

Faça esses "socos" até a vítima "cuspir" o objeto para fora


ou até que, na impossibilidade de desobstrução, a pessoa, já sem
ar, desmaie. Nesse caso, deite-a no chão e inicie a RCP. A única di-
ferença é que, ao ventilar a pessoa, você deve verificar a cavidade
oral e, se for possível, retirar o objeto.
A técnica da massagem cardíaca também provoca um au-
mento da pressão dentro do tórax, e, dessa forma, é possível "em-
purrar" o objeto para cima, deixando-o mais visível e alcançável na
via aérea.
Não se esqueça de chamar ajuda, pois, se a vítima evoluir
para uma parada cardíaca, quanto menos tempo demorar para a
ambulância chegar, melhor! Se o objeto for "cuspido" com a vítima
ainda consciente, isso é o que de melhor poderia acontecer. Veri-
fique se a respiração está adequada, acalme a vítima e insista para
que ela seja examinada por um médico.

Infarto agudo do miocárdio


Um dos "fantasmas" que assombram o homem moderno é
o infarto agudo do miocárdio e, portanto, também é um assunto
cheio de folclore e informações desencontradas.
O músculo do coração (miocárdio) é irrigado por diversas ar-
térias, chamadas "coronárias". O infarto agudo do miocárdio (IAM)
é uma obstrução que ocorre em uma dessas artérias que impede
o livre fluxo de sangue, fazendo que as células cardíacas à frente
dessa obstrução fiquem sem oxigênio e glicose, substâncias essen-
ciais para a sobrevivência de qualquer célula. Disso decorre sofri-
mento e até a morte dessas células.
Essa obstrução pode ser causada por diversos fatores que
não cabem aqui ser discutidos, porém, como um profissional da
saúde, você deve estar alerta aos fatores de risco e, sempre que
possível, orientar seus alunos para melhorar a qualidade de vida,
minimizando a possibilidade de ocorrência desse tipo de evento.
Dentro dos fatores de risco, estão: alimentação inadequada, se-

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dentarismo, hábito de fumar, estresse, hipertensão arterial sistê-


mica, diabetes, colesterol alto, sobrepeso e obesidade, fatores ge-
néticos, alcoolismo, entre outros.
Os sintomas e sinais do IAM podem ser: dor aguda no peito e
em compressão (sensação de morte iminente), falta de ar, palidez,
sudorese e náusea, por vezes, com vômito. A dor no peito pode
irradiar-se para diversas regiões, como: braço esquerdo, costas,
mandíbula e para a região epigástrica. A irradiação para a região
gástrica acaba por ser confundida com mal-estar estomacal e pode
fazer que as pessoas subestimem essa dor e não pensem que pode
ser na realidade um infarto.
Sua tarefa é impedir que a pessoa com suspeita de infarto
se movimente (qualquer esforço muscular significa aumento de
trabalho para o coração), deixando-a em repouso na posição mais
confortável possível enquanto aguarda a ambulância. Desafrouxe
as roupas, como cintos e gravatas. Não tente medidas caseiras,
como chás, sal embaixo da língua ou outras coisas. Por vezes, o
paciente portador de doença cardíaca possui prescrição de algum
medicamento para o momento de dor no peito. Siga as indicações
da prescrição, se houver.
Uma pessoa que esteja sofrendo um infarto não deve ser
levada com carro particular ao hospital, pois pode ocorrer uma
parada cardíaca no meio do caminho, e não há possibilidade de
realizar RCP dentro de um carro. Um infarto não é sinônimo de pa-
rada cardíaca, assim como parada cardíaca não quer dizer infarto.
O infarto pode evoluir para a parada cardíaca.

Derrame, ou acidente vascular cerebral


O derrame, ou acidente vascular cerebral (AVC), também
chamado de "acidente vascular encefálico", tem sinais e sintomas
que invariavelmente afetam as funções cerebrais, tais como: per-
da da consciência (desmaio) ou torpor, perda ou dificuldade de
coordenação motora e da fala, convulsões, dor de cabeça intensa
e súbita, entre outros.
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O AVC pode acontecer a partir do rompimento (AVC hemor-


rágico) ou da obstrução (AVC isquêmico) de um vaso sanguíneo no
encéfalo.
É muito importante reconhecer os sinais e sintomas e acio-
nar o serviço de emergência o mais rapidamente possível, pois o
tempo é fator determinante para a possibilidade de sobrevida e
diminuição das sequelas.
Para poder reconhecer mais precisamente o AVC, você pode
utilizar-se de três pontos básicos para identificação:
1) Avaliação da coordenação da fala Peça para a pes-
soa falar alguma coisa, como seu nome completo, ende-
reço ou qualquer outra resposta. Observe se a fala sai
pastosa ou embolada.
2) Coordenação dos músculos da face Peça para a
pessoa forçar o riso. Observe se a rima labial fica repuxa-
da para algum lado.
3) Coordenação motora Peça para a pessoa sustentar
os braços esticados para frente, na altura dos ombros,
com os olhos fechados. Observe se não há sustentação
ou se algum braço tende a cair.
Caso um ou mais desses sinais esteja presente, é muito pro-
vável que a pessoa esteja tendo um AVC. Isso só deve apressar a
ida ao hospital.
As pessoas com tendências a desenvolver um AVC (pratica-
mente os mesmos fatores de risco do infarto) devem ser alertadas
para a prevenção, e a Educação Física exerce um grande papel nes-
sas ações.
Além disso, os exercícios podem ajudar na recuperação de
pacientes que sofreram agravos à saúde, e você, como profissional
da saúde, pode exercer seus conhecimentos em ambientes como
escolas, academias, programas de saúde da família, entre outros.
A atuação dos profissionais da Educação Física na educação
para a saúde tem ficado cada vez mais expressiva, e é importante

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164 © Programas de Saúde e Socorros Urgentes

que você se mantenha atualizado tanto nos conteúdos da saúde


como nos conteúdos de atendimento das emergências.
O importante é sempre manter a calma e chamar ajuda!
Nunca se esqueça disso.
Boa sorte!

7. QUESTÃO AUTOAVALIATIVA
Confira, a seguir, a questão proposta para verificar o seu de-
sempenho no estudo desta unidade:
1) Considerando as situações que foram descritas nesta unidade, liste mate-
riais ou equipamentos que você colocaria em sua "caixinha de primeiros so-
corros" do seu trabalho.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao término da última unidade de Programas de
Saúde e Socorros Urgentes.
O foco desta unidade foi introduzir você no campo das emer-
gências clínicas, com o objetivo de tornar o menos angustiante
possível momentos como esses.
Você deve compreender que as informações aqui apresen-
tadas são referenciais para a construção de novos conhecimentos,
e suas compreensões devem ser ampliadas na direção dos objeti-
vos. Existem inúmeros outros elementos que não constam nesta
unidade e podem ser utilizados. Cabe agora a você aprofundar-se
o mais que puder e construir seu próprio conhecimento.
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9. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Cartaz de informação utilizado pela American Heart Association – AHA 2010.
Disponível em: <http://afludiary.blogspot.com.br/2010/10/aha-unveils-2010-cpr-
guidelines.html>. Acesso em: 10 maio 2012.
Figura 2 Cadeia da sobrevida – American Heart Association – 2010. Disponível em:
<http://cientifico.cardiol.br/cardiosource2/cardiologia/int_artigo29.asp?cod=157>.
Acesso em: 10 maio 2012.
Figura 3 Posicionamento das mãos sobre o tórax. Disponível em: <http://sstrabalho.
wordpress.com/category/artigos/page/2/>. Acesso em: 10 maio 2012.
Figura 4 Ilustração da posição do corpo para realização da RCP. Disponível em: <http://
pergunteparaaenfermeira.blogspot.com.br/2007_01_01_archive.html>. Acesso em: 10
maio 2012.
Figura 5 Posição do corpo para massagem cardíaca. Disponível em: <www.marimar.com.
br>. Acesso em: 24 jan. 2012.
Figura 6 Fazendo a ventilação boca a boca (use sempre máscara de barreira). Disponível
em: <http://geicpe.tripod.com/clin_emerg_parada.htm>. Acesso em: 10 maio 2012.
Figura 7 Posição universal do engasgo. Disponível em: <www.marimar.com.br>. Acesso
em: 24 jan. 2012.
Figura 8 Manobra de Heimilich, ou manobra de desengasgo. Disponível em: <http://
spacemaia.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10 maio 2012.

Sites pesquisados
AMERICAN HEART ASSOCIATION. Learn and live. Disponível em: <http://www.heart.org/
HEARTORG/>. Acesso em: 10 maio 2012.
INTERNATIONAL LIAISON COMMITEE ON RESUSCITATION. Disponível em: <http://www.
ilcor.org>. Acesso em: 10 maio 2012.
WANNMACHER, L. Medicina paliativa: cuidados e medicamentos. Disponível em:
<http://www.opas.org.br/medicamentos>. Acesso em: 10 maio 2012.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


DOCUMENTO DO BANCO MUNDIAL. Enfrentando o desafio das doenças não-
transmissíveis no Brasil. Relatório nº 32576-BR. 15 de novembro de 2005.
MALTA, D. C. et al. Doenças crônicas não-transmissíveis: mortalidade e fatores de risco
no Brasil, 1990 a 2006. In: Saúde Brasil 2008. Ministério da Saúde, Brasília. 2009.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão.
ArqBrasCardiol, 2006 Fev: 1-48.

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______. Sociedade Brasileira de Hipertensão/Sociedade Brasileira de Nefrologia. In: VI


DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO. ArqBrasCardiol 2010; 95(1 supl.1): 1-51.
WILLIAMS, B. The year in hypertension. JACC 2010; 55(1): 66–73.

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