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SACRAMENTÁRIA GERAL

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


Sacramentária Geral – Prof. Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos

Meu nome é Pe. Vitor Pedro Calixto dos Santos. Sou graduado
em Filosofia, Teologia e Psicologia pela PUCPR. Sou especialista
em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo em
Roma e em Psicologia Analítica pela PUCPR. Resido em Curitiba
– PR, onde trabalho no Studium Theologicum como administra-
dor e professor de Liturgia Sacramentária e de disciplinas da
área de Psicologia. Além disso, também atuo como psicólogo
clínico. No Claretiano, sou autor das obras Introdução à Liturgia
e Ano Litúrgico e Liturgia das Horas.
e-mail: vpcsantos@uol.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Vitor Pedro Calixto dos Santos

SACRAMENTÁRIA GERAL

Batatais
Claretiano
2014
© Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014

265 S239s

Santos, Vitor Pedro Calixto dos


Sacramentária geral / Vitor Pedro Calixto dos Santos – Batatais, SP : Claretiano, 2014.
90 p.

ISBN: 978-85-8377-306-1

1. Sacramentos. 2. Celebração do mistério de Cristo. 3. Visão plena da sacramentalidade.


4. Sacramentais. I. Sacramentária geral.

CDD 265

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo CDD 658.151
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rafael Antonio Morotti
Josiane Marchiori Martins Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera Projeto gráfico, diagramação e capa
Raquel Baptista Meneses Frata Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 7
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 8

Unidade 1 – SACRAMENTOS: CELEBRAÇÕES DO MISTÉRIO DE CRISTO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 27
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 27
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 28
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 28
5 CONCEITO DE SACRAMENTO........................................................................... 30
6 MYSTERION NO CULTO E NA FILOSOFIA......................................................... 33
7 MYSTERION NA BÍBLIA..................................................................................... 35
8 MYSTERION NA IGREJA PRIMITIVA.................................................................. 38
9 MYSTERIUM E SACRAMENTUM....................................................................... 41
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 44
11 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 44
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 45

Unidade 2 – SACRAMENTOS: UMA VISÃO PLENA DA


SACRAMENTALIDADE
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 47
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 47
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 48
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 48
5 SACRAMENTALIDADE PLENA........................................................................... 48
6 SACRAMENTOS: EXPRESSÃO SIMBÓLICA DA
SACRAMENTALIDADE PLURAL......................................................................... 52
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 53
8 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 54
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 54

Unidade 3 – SACRAMENTOS: PROBLEMAS FUNDAMENTAIS DE SUA


TEOLOGIA
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 55
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 55
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 56
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 56
5 EFICÁCIA SACRAMENTAL.................................................................................. 57
6 INSTITUIÇÃO DOS SACRAMENTOS.................................................................. 63
7 SEPTENÁRIO SACRAMENTAL............................................................................ 66
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 67
9 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 68
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 68

Unidade 4 – SACRAMENTAIS
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 69
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 69
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 69
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 70
5 SACRAMENTAIS: O QUE SÃO?.......................................................................... 70
6 DIVISÃO DOS SACRAMENTAIS.......................................................................... 74
7 CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTAIS................................................................. 77
8 BÊNÇÃOS............................................................................................................ 78
9 EXÉQUIAS........................................................................................................... 85
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 88
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 88
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 89
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo de Sacramentária Geral, disponi-
bilizado para você em ambiente virtual (Educação a Distância).
Nesta parte, chamada Caderno de Referência de Conteúdo,
você encontrará o referencial teórico das sete unidades em que se
divide a presente obra.
Com o estudo aqui proposto, você terá a oportunidade de
refletir sobre a celebração do mistério cristão, que é o mistério
pascal de Jesus Cristo (sua morte e ressurreição), que se dá nos
sacramentos.
Cristo é, nas palavras de Paulo, o mistério de Deus e por isso
ele é o sacramento original de salvação. De sua sacramentalidade
participam a Igreja, o sacramento de salvação, a pessoa humana, o
sacramento existencial, e toda a criação que manifesta a presença
do Deus criador e salvador.
Ao longo da história, essa concepção ampla de sacramenta-
lidade foi se restringindo até chegar a designar somente os sete
sacramentos que todos conhecemos. Hoje, há um despertar para
8 © Sacramentária Geral

o simbólico e busca-se novas formas de se apresentar a sacramen-


talidade, de modo que, novamente, o homem atual possa compre-
endê-la na sua plenitude e pluralidade.
O objeto de nosso curso é exatamente este: o estudo da sa-
cramentalidade e o modo como, ao longo da história da Teologia,
compreendeu-se o seu fundamento, suas características essen-
ciais e sua diversidade, resultando em alguns ritos que podem ser
chamados de sacramentos da Igreja.
O estudo da Sacramentária Geral não deixa de ser apaixonan-
te e, ao mesmo tempo, desafiador, pois se trata de revelar ao ho-
mem de hoje a vida da graça que se manifesta na sacramentalidade
de Cristo, da Igreja, da criação e, também, em sua própria existência.
Esperamos com este programa atender às suas expectativas
em conhecer e aprofundar seu entendimento sobre os sacramen-
tos, objeto de estudo de Sacramentária Geral.

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO

Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, essa abordagem geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
Estamos iniciando o estudo de Sacramentária Geral que
pode ser chamado também de teologia dos sacramentos. Tivemos
a oportunidade de estudar anteriormente a experiência litúrgico-
-sacramental da Igreja em sua evolução histórica assim como a fe-
nomenologia e teologia da celebração litúrgica.
© Caderno de Referência de Conteúdo 9

Descobrimos, neste estudo, a dimensão sacramental da Igre-


ja e de sua manifestação nas ações litúrgicas. Todas as celebrações
litúrgicas possuem uma dimensão mistérica ou sacramental por
celebrarem o mistério pascal de Cristo.
Agora, estudaremos o modo como esta sacramentalidade se
apresenta naquilo que constitui o centro da litúrgica que são os
sacramentos.
Você, certamente, já ouviu falar inúmeras vezes sobre os sa-
cramentos, mas uma pergunta sempre permanece: o que é um
sacramento?
É exatamente sobre isto que o nosso curso versará. É claro,
que a resposta a esta pergunta, como você verá, é algo bastante
complexo. E para que tenha uma ideia comecemos por delimitar
o objeto de nosso estudo que são os sacramentos, mas não cada
um dos sacramentos em particular, mas sim o que faz com que ele
seja considerado um sacramento. Os sacramentos são, na verda-
de, uma realidade parcialmente diferente e plural e não entende-
mos o conceito de sacramento de maneira unívoca, mas análoga.
Explicando um pouco esta afirmação: os "sete sacramentos"
são ao mesmo tempo semelhantes enquanto são considerados sa-
cramentos todos eles, mas ao mesmo tempo são totalmente dife-
rentes um do outro e não se pode tratar de todos eles da mesma
maneira.
Isto nos faz perceber que um dos objetivos de nosso curso
será descobrir o que é que faz com que algo seja um sacramento
e, de que maneira, este algo esta presente em todos os sete sacra-
mentos.
Este algo está ligado também à liturgia, pois ainda que nem
todas as celebrações litúrgicas sejam consideradas sacramentos,
todas elas possuem uma dimensão sacramental. Como podemos
entender esta relação e distinção?

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10 © Sacramentária Geral

Você já deve ter percebido que o nosso estudo tratará de


algo bastante complexo, ainda que, na sua profundidade a sacra-
mentalidade possa ser considerada algo simples quando relacio-
nada ao mistério de Cristo.
Hoje, de fato, busca-se uma nova síntese da teologia sacra-
mentária, ou seja, busca-se responder, mais uma vez e para o ho-
mem do século 21 a pergunta: o que é um sacramento?
A resposta a tal pergunta nunca é dada uma vez por todas
já que o sacramento toca o mistério de Cristo cuja compreensão
nunca se esgota. Por outro lado, o sacramento é uma realidade
pluridimensional, que inclui diversos elementos ou personagens
(Deus – o homem – a Igreja) e que se realiza em conexão com
diferentes contextos e situações (históricas, culturais e pastorais).
Ainda que sua essência continue a mesma, há sempre a exigência
de uma nova interpretação a partir de novas circunstâncias e seus
diversos elementos.
Esta pluralidade que encontramos no modo de interpretar
os sacramentos constitui uma sadia hermenêutica da sacramen-
tária que está na base de toda teologia sacramental em cada uma
das épocas da Igreja.
Fala-se, hoje, que uma nova síntese sacramentária se faz
necessária por várias razões: razões teológicas – o modo como
cremos em Deus varia e, portanto, sua forma de atuar em cada
sacramento; razões cristológicas – como os sacramentos celebram
o mistério de Cristo é preciso analisar como tal mistério é com-
preendido atualmente; razões pneumatológicas – de que maneira
o Espírito Santo atua na ação sacramental?; razões eclesiológicas
– o modelo de sacramento que defendemos depende do modelo
de Igreja que apresentamos; razões escatológicas – qual é a re-
lação que os sacramentos possuem com salvação?; razões antro-
pológicas – com a renovação das ciências humanas (filosofia, an-
tropologia, psicologia, semiótica, etc.) precisamos fazer hoje uma
releitura da teologia sacramentária nos seus diversos elementos:
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

origem, eficácia, necessidade, etc.; razões socioculturais – dado


que o sacramento não é só uma realidade teológica, mas também
uma realidade fenomênica inculturada é preciso analisar sua ce-
lebração num mundo concreto que é condicionado por diversos
fatores socioculturais e, por fim, razões pastorais – considerando
que os sacramentos são um elemento fundamental da pastoral é
preciso responder à problemática que sua celebração apresenta
no contexto pastoral.
Para tentar responder a este desafio de responder a todos
estes questionamentos é que vamos estudar em nosso curso, ain-
da que de maneira introdutória e sintética, os principais aspectos
envolvidos na teologia sacramental e que podem contribuir para a
compreensão e síntese da sacramentária geral.
Um primeiro ponto a ser examinado será o organismo sacra-
mental pleno, ou seja, as realidades sacramentais e dimensões do
sacramento.
Inicialmente, trataremos da delimitação e extensão do con-
ceito de sacramento. De fato, o conceito de sacramento modifi-
cou-se muitas vezes ao longo da história, passando de um conceito
muito amplo que abrangia todas as celebrações litúrgicas e outras
realidades eclesiais, mas uma visão mais reduzida desde que foi
definido o septenário sacramental.
O Vaticano II usou a expressão sacramento em seu sentido
mais original, aplicando-a a Cristo, à Igreja e, num sentido mais
amplo, ao cristão, a todo homem e às realidades criadas. Atual-
mente, a teologia, fundamentando-se nas fontes da revelação e no
magistério da Igreja chama sacramento outras realidades além do
septenário sacramental. É neste sentido que podemos entender a
necessidade de colocar um acréscimo que determine ou especifi-
que do que estamos falando: Cristo sacramento, o sacramento do
batismo, o homem sacramento.
Esta compreensão mais ampla da sacramentalidade tem
suas raízes na História da salvação na qual Deus se revelou, ou

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12 © Sacramentária Geral

seja, é uma história marcada pela intervenções salvíficas de Deus


e tais intervenções é que tornam a história, a humanidade, a cor-
poralidade realidades impregnadas pela presença do Deus vivo.
O ponto alto das intervenções de Deus na história da salva-
ção, como sabemos, se deu quando ele nos enviou seu Filho como
salvador e redentor. Desta forma, a realidade que já possuía uma
marca divina, tornou-se ainda mais impregnada da sacramentali-
dade do Deus vivo. É por isto que se diz que os sacramentos reca-
pitulam a estrutura sacramental da história da salvação.
Quando se fala da estrutura sacramental da história da salva-
ção podemos perceber os diversos elementos que contém, no seu
conjunto, a verdade fundamental do sacramento. Tais elementos
são: em primeiro lugar - Cristo, o sacramento original. Ele é a fon-
te, o sentido e o centro de referência da sacramentalidade.
Desde sua encarnação, vista como um sinal por excelência
no Novo Testamento, Cristo entra na história humana como um
"sinal-sacramento". Isto porque a salvação tomou figura humana
e se manifestou visivelmente: o Verbo se fez carne, como diz João
no prólogo de seu evangelho.
A sacramentalidade em Cristo se manifesta pelo seu ser, ou
seja, pela sua presença entre os homens como Filho de Deus. Pelo
fato de ter assumido uma natureza humana e manifestado, corpo-
ral e visivelmente, a bondade de Deus ele se tornou um verdadei-
ro sacramento. Cristo é sacramento pela sua atuação que é a sua
ação salvadora manifestada ao longo de sua vida em suas palavras,
atitudes e gestos. Ele é sacramento também pelos seus gestos pri-
vilegiados, ou seja, atos nos quais manifesta de maneira especial
o seu poder salvador como os milagres, o perdão dos pecados,
oferecer seu corpo como comida e seu sangue como bebida, e,
sobretudo, sua morte, ressurreição e glorificação – é o mistério
pascal, a partir do qual todo o resto assume sentido e valor.
Em segundo lugar, nesta estrutura sacramental, aparece a
Igreja como sacramento principal. Cristo é o único sacramento ori-
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

ginal de salvação. No entanto, após sua ascensão, sua presença


em nosso meio se dá através do dom do Espírito Santo que ao
congregar a Igreja possibilita o prolongamento da obra da salva-
ção na história. A Igreja, com seus sacramentos é o prolongamento
terrestre do corpo do Senhor, o primeiro sacramento pelo qual se
torna presente, visível na história, o dom escatológico de Cristo
ressuscitado.
A Igreja é sacramento principal pelo seu próprio ser – sua
realidade e mistério; pela sua atuação que é seu testemunho no
mundo e pelos sinais privilegiados por meio dos quais manifesta a
sua sacramentalidade.
Em terceiro lugar surge o homem, o cristão "sacramento"
existencial. Todo homem é "sinal-sacramento" de Deus e de Cris-
to. Sabemos pela Escritura que o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus. Pelo fato de existir, cada pessoa manifesta o
ato gratuito da criança de Deus, é imagem, sinal visível do próprio
Deus.
O homem é também um sacramento de Cristo à medida que
nele nos encontramos com o Cristo vivo que sofre fome, sede, do-
ença, que está nu, preso...(Mt 25,35-45). Esta realidade sacramen-
tal do homem sempre se manifesta, esteja ele consciente ou não
de ser imagem de Deus e sacramento de Cristo.
No entanto, quando aceita e está consciente de ser imagem
e sacramento, o homem batizado, o cristão, professa publicamen-
te esta realidade e procura vivê-la explicita e conscientemente. As-
sim, o cristão é sacramento pelo seu ser – sua própria realidade de
cristão; pela sua atuação – seu comportamento ético e seu teste-
munho e, por fim, pelos seus sinais privilegiados.
E agora, finalizando os elementos da estrutura sacramental,
vemos a realidade criatural-cósmica, ou seja, toda a criação, e o
seu valor sacramental. A criação aparece como palavra e sinal já
no Gênesis quando o autor sagrado afirma que "Deus viu tudo o
que tinha feito e era muito bom" (Gn 1,31). Esta sacramentalidade

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da criação é vista e anunciada pelo homem, que pode contemplar


nela a força criadora de Deus.
Podemos, agora, perceber que os sacramentos da Igreja po-
dem ser compreendidos como uma concentração simbólica de
uma sacramentalidade plural. É por isto que afirmávamos que os
sacramentos são uma realidade complexa e que não podem ser
compreendidos a partir de uma univocidade. De fato, cada um dos
sete sacramentos são distintos um do outro, mas haurem desta
sacramentalidade plural: Cristo, sacramento original de salvação, a
Igreja, sacramento principal; o homem, sacramento existencial e a
criação, sinal sacramental o seu sentido simbólico.
Tendo compreendido que os sacramentos são sinais que ma-
nifestam a salvação que Deus revelou em toda a história da sal-
vação desde a criação até o momento presente da vida da Igre-
ja tendo o seu ponto alto na encarnação-morte-ressurreição de
Cristo, vamos fazer uma pausa e, em seguida, analisaremos alguns
aspectos particulares da teologia sacramentária.
Retomemos agora nosso estudo da teologia sacramentária
analisando alguns de seus aspectos particulares.
O primeiro deles refere-se ao homem e os sacramentos –
o caráter simbólico e o substrato antropológico dos sacramentos.
Os sacramentos, como vimos há pouco, possuem uma dimensão
divina. No entanto, eles possuem também um substrato humano.
Estas duas dimensões: divina e humana é que fazem do sacramen-
to uma realidade do encontro entre Deus e o homem.
O primeiro aspecto que precisamos considerar para compre-
ender a dimensão antropológica dos sacramentos é sua dimensão
simbólica.
Vale lembrar que, ao estudar a introdução à liturgia, já ti-
vemos a oportunidade de descobrir o que é o símbolo e de que
maneira a liturgia é uma ação simbólica. Agora, retomamos este
conceito, pois os sacramentos são ações simbólicas.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

Recordemos o sentido do símbolo que é uma palavra grega


que quer dizer – "colocar junto, unir" e por isto que ele pode ser
muito bem entendido pela imagem de uma ponte que une duas
margens. A importância da ponte não está em si mesma, mas sim
nas suas extremidades que tocam duas realidades distintas, as
quais podem se unir por causa dela.
Na liturgia o símbolo é que une o humano e o divino, o céu e
a terra e isto é tão importante que os símbolos litúrgicos precisam
ser valorizados em sua função e não devem ser substituídos por
outras coisas que não possuem a mesma significação.
Os símbolos têm na liturgia uma função de manifestar o mis-
tério de Cristo. Dizemos que a linguagem simbólica é metafórica,
que ela é uma epifania do mistério e neste sentido devemos estar
abertos para acolhê-lo.
É por esta razão que o símbolo não se explica, mas se acolhe
na sua revelação do mistério. Quando o símbolo é explicado ele
morre porque fica limitado a uma definição e isto o impede de
colocar junto as várias dimensões da realidade que são dinâmicas.
Vejam, por exemplo, cada vez que celebramos a eucaristia o misté-
rio de Cristo nos é revelado de maneira distinta e, ainda que conti-
nue o mesmo mistério, ele sempre nos transcende e conseguimos
apreendê-lo em sua totalidade. Se, definirmos o símbolo que o
manifesta acabamos por reduzi-lo a uma idéia ou um conceito.
É por isto que não há uma noção uniforme do símbolo, mas
sua explicação é pluriforme e diferente de acordo com cada ciên-
cia. De fato, o símbolo é estudado pela filosofia, psicologia, semió-
tica, antropologia e a teologia e as contribuições de todas estas ci-
ências nos ajudarão a compreender melhor a sacramentária, como
veremos durante nosso curso.
Os sacramentos constituem uma expressão simbólica privi-
legiada tanto que, às vezes, dizemos: os sacramentos são símbolos
ou simbólicos.

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16 © Sacramentária Geral

Desde a época patrística já se tem presente que a história da


salvação tem uma estrutura sacramental e, neste sentido é que os
Padres da Igreja afirmam que tal sacramentalidade se manifesta
por meio de uma diversidade de realidades simbólicas, as quais
tornam presente e realizam salvação em diferentes níveis segundo
os planos de Deus criador e salvador.
Assim, as diversas realidades são imagem, anúncio, prefigu-
ração daquilo que se manifesta plenamente no mistério de Cristo.
Ou dizendo de outra forma – as diversas realidades simbolizam a
salvação que Deus realizou para nós em Cristo, seu Filho.
É neste sentido que se pode compreender que os sacra-
mentos são símbolos e tudo aquilo que se pode dizer do símbolo
também pode ser afirmado, de algum modo, do sacramento. Por
ser símbolo, o sacramento é igualmente uma realidade de ordem
externa e visível que, sendo distinta da própria pessoa e realidade
simbolizada, nos remete a ela, representa-a de imediato para nós
e nos desvela seu mistério, em virtude da semelhança com ela, e
de algum modo, da participação na própria realidade simbolizada.
O sacramento não é um sinal arbitrário, mas um símbolo
convencional com raízes na história da salvação e baseado na in-
terpretação da fé, que representa a realidade que contém, reme-
te a essa mesma realidade cuja plenitude o supera e realiza essa
realidade no sujeito com a fé que a acolhe. O sacramento é uma
imagem ou símbolo eficaz à medida que aquilo que significa por
convenção e representa por semelhança é que o oferece como
dom gratuito para a santificação.
Este dom é oferecido nas situações fundamentais da vida
humana por meio da expressão simbólica dos sacramentos. De
fato, desde o nascimento até a morte, encontramos em cada um
dos momentos fundamentais de nossa vida a manifestação da pre-
sença de Deus e de sua salvação através sacramentos – no nasci-
mento temos o batismo, na doença a unção dos enfermos, e assim
por diante.
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

O segundo aspecto particular que será analisado durante o


curso refere-se à origem, diversificação e estrutura do sinal sacra-
mental.
Este ponto é muito importante para a compreensão da te-
ologia sacramentária por envolver questões tais como: qual é a
origem dos sacramentos? Por que são diversos? Por que é que são
sete os sacramentos da Igreja? O que leva um sinal a ser de fato
um sacramento?
Quanto à origem dos sacramentos vemos que durante a his-
tória este problema foi formulado de diversas maneiras e explica-
do de outras tantas formas segundo o modelo filosófico-teológico
vigente no momento, bem como a partir de uma prática pastoral
de cada período.
Os textos da Escritura são a fonte principal a partir da qual
deve ser mostrada a origem dos sacramentos em Cristo. Este é um
ponto básico – os sacramentos têm sua origem em Cristo. No en-
tanto, o modo de explicar esta afirmação variou sobremaneira ao
longo da história. Os Padres da Igreja, por exemplo, não chegaram
a formular este problema, pois para eles o que mais importava era
a dimensão simbólica dos sinais sacramentais considerados segun-
do um conceito amplo de sacramento.
Os teólogos da Idade Média, na Escolástica, preocupados em
avaliar o conceito de sacramento e em determinar o número dos
sacramentos, não puderam deixar de questionar a sua instituição.
O problema da instituição ou origem dos sacramentos está ligado
ao número – os sacramentos são tais e em tal quantidade por que
esses, e apenas esses, foram instituídos por Cristo.
Será seguindo a visão teológica da Escolástica que o Concí-
lio de Trento defenderá a instituição de todos os sacramentos por
Cristo, rejeitando a crítica dos reformadores que não admitiam tal
instituição para todos os sacramentos, mas somente para o batis-
mo e a eucaristia, sendo que os demais teriam sido instituídos pela
Igreja ao longo dos séculos.

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18 © Sacramentária Geral

A teologia pós-tridentina trilhou sobre a visão dos escolásti-


cos, mas se preocupou com alguns detalhes: Cristo instituiu todos
os sacramentos de forma conjunta ou a cada um separadamente?
Ele já instituiu todos os elementos detalhados de cada um ou so-
mente o essencial?
Tais discussões chegaram até nossos dias quando os teólo-
gos do século 20 procuraram dar novas respostas a tais interroga-
ções. Ainda que haja distinções entre os vários teólogos, nota-se
uma concordância no fato de se afirmar a origem dos sacramentos
no mistério de Cristo e da Igreja.
Quanto à diversidade sacramental, tema que está na base
da compreensão do septenário sacramental, as perguntas que sur-
gem são: por que existem diversos sinais sacramentais? E por que,
de forma concreta, são sete esses sinais?
A resposta a tais perguntas deve ser buscada na origem dos
sacramentos em Cristo – ele é o sacramento original em si, pela
sua atuação e pelos atos privilegiados que se apresentam em um
diversidade de situações da vida das pessoas com as quais Jesus
encontrava ao longo do caminho. O mistério de Cristo é único, mas
se manifesta de formas variadas em cada situação.
Outro aspecto que ajuda a compreender a diversidade dos
sacramentos está na ação da Igreja que, continuando a missão de
Cristo, faz chegar às mais variadas situações da vida humana a gra-
ça salvadora de Jesus.
Por fim, a própria dimensão antropológica nos ajuda a com-
preender a diversidade sacramental já que as situações funda-
mentais da vida humana – nascimento, crescimento, vocação, en-
fermidade, etc. adquirem um sentido simbólico que está presente
nos diversos sacramentos.
Desde o início da Igreja até o século 11 o conceito de sacra-
mento fosse compreendido num sentido amplo e fosse aplicado a
múltiplas realidades sem uma preocupação com uma estrita defi-
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

nição e fixação num número determinado. No entanto, os escolás-


ticos se preocuparam com este problema e à medida que definiam
o conceito de sacramento iam delimitando o seu número segundo
as características que o envolviam.
Desta forma chegaram à formulação do septenário sacra-
mental, ou seja, que os sacramentos são sete. Para tal formula-
ção contribuíram influências teológicas, mas também pastorais da
época aliadas a um sentido simbólico do número sete.
A teologia atual procurou enfatizar mais o sentido simbóli-
co do septenário sacramental na sua forma mais ampla e não se
preocupando tanto com os detalhes da especulação teológica que
existiu durante o período da escolástica e mesmo na teológica pós-
-tridentina.
Em relação à estrutura do sinal sacramental, algo também
discutido durante a história, cabe dizer neste momento, que a te-
ologia sacramentária atual acentua particularmente os aspectos
da palavra e da ação em seu sentido simbólico, deixando de lado
categorias históricas como o hilemorfismo e outras.
Por fim, nosso curso analisará a questão a eficácia simbólica
dos sacramentos e a resposta de fé.
Este problema envolve alguns questões como: de que ma-
neira é que Deus age eficazmente nos sacramentos produzindo
sua graça de salvação? Em que condições é que se pode falar de
uma resposta de fé verdadeira?
A questão da eficácia sacramental envolve os elementos
estruturais do sacramento – sua dimensão divina e humana e o
modo como, pela palavra e ação, a graça de Deus se manifesta na
vida de cada pessoa.
Ao longo da história houve momentos em se privilegiou o
dimensão objetiva referente à eficácia, ou seja, como os sacra-
mentos são ações de Deus eles são sempre eficazes quando ce-
lebrados segundo sua estrutura essencial originada em Cristo. A

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20 © Sacramentária Geral

dimensão subjetiva que envolve a resposta de fé de quem recebe


o sacramento não era tão acentuada e, às vezes, quase nem era
considerada.
Atualmente, sobretudo por influências de várias ciências hu-
manas, em particular a antropologia, a teologia sacramental refor-
mulou esta questão da eficácia, colocando no seu devido lugar a
dimensão objetiva e a subjetiva que toca a resposta de fé de quem
está celebrando o sacramento.
Com a indicação deste aspecto particular da eficácia, che-
gamos ao final da apresentação do curso de sacramentária geral.
Espero que tenha ficado um pouco mais claro o que significa a te-
ologia dos sacramentos – seus objetivos, campo de estudos e suas
dimensões. Será a partir destes conceitos que, posteriormente se-
rão estudados cada um dos sacramentos em particular.
Desejo-lhes um bom curso e até a próxima.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados em Sacramentária Geral. Veja, a
seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Bênçãos: são os sacramentais mais comuns e mais fre-
quentemente celebrados. Tais ritos são encontrados em
todas as religiões, não sendo algo exclusivamente cris-
tão nem católico.
2) Consagrações: são as bênçãos que têm um alcance per-
manente. Seu efeito é a consagração de pessoas a Deus
e de objetos e lugares para o uso litúrgico.
3) Exorcismos: constituem a ação que a Igreja faz para exi-
gir publicamente e com autoridade, em nome de Jesus
Cristo, que uma pessoa ou objeto sejam protegidos con-
tra a influência do maligno, sendo subtraídas ao seu do-
mínio.
© Caderno de Referência de Conteúdo 21

4) Graça sacramental: como imersão no mistério pascal


de Cristo e como autodoação pneumatológica de Cris-
to pelo dom do Espírito Santo, sem esquecer que essa
graça possui uma dimensão eclesiológica, antropológica
e cósmico-sensível "caráter sacramental": "marca" ou
"sinal" para expressar uma especificidade do efeito do
sacramento.
5) Mistério: na apocalíptica fala-se de uma variedade de
"mistérios". Eles são "a origem da realidade oculta,
transcendente a tudo que é e acontece, especialmente
daquilo que será revelado no fim do tempo" (H. Krämer,
Mysterion, 1100), o plano divino dos acontecimentos
históricos futuros, revelado a determinados "videntes"
em experiências extraordinárias (arrebatamento, sonho,
visão), ao qual também eles, por sua vez, são capazes de
transmitir somente em figuras. Aqui o conceito recebe
uma coloração fortemente apocalíptica (sagrada escri-
tura).
6) Sacramento: um sinal visível e eficaz da graça, instituído
por Jesus Cristo, para nossa santificação.
7) Semeia: que quer dizer "sinais", para indicar os feitos de
Deus em Cristo.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre
os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-
plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-
denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.

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22 © Sacramentária Geral

Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-


-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
© Caderno de Referência de Conteúdo 23

Sacramentos

Celebrações do mistério Uma visão plena da Problemas fundamentais


de Cristo Sacramentalidade da sua Teologia Sacramentais

Expressão simbólica da Eficácia e Instituição dos Divisão e Celebração dos


Conceito de Sacramento
Sacramentalidade Plural Sacramentos Sacramentais

Mysterion no culto, na
Filosifa, na Igreja Sacramentalidade Plena Septenário Sacramental Bençãos e Exéquias
Primitiva e na Bíblia

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave de Sacrementária Geral.

Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar entre
os principais conceitos e descobrir o caminho para construir o seu
processo de ensino-aprendizagem.
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Sacramentária Geral
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,

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24 © Sacramentária Geral

você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-


tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar
seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua
prática profissional.

As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-


ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada,
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso,
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito.
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus
colegas de turma.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias apresentadas nesta obra no item Orientações para o estudo
da unidade.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
© Caderno de Referência de Conteúdo 25

partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se


descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Sacramentária Geral na mo-
dalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e con-
sistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância,
do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas.
Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as ativi-
dades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a
esta obra, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para
ajudar você.

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EAD
Sacramentos: Celebrações
do Mistério de Cristo

1
1. OBJETIVOS
• Analisar o sentido do termo mysterion partindo de sua
origem e de seu uso nas religiões mistéricas, na Bíblia e
na Igreja Primitiva.
• Identificar o sentido do termo sacramentum com base na
sua origem e de seu uso na Igreja Primitiva.
• Reconhecer as relações existentes entre os termos myste-
rion e sacramentum na Igreja Primitiva e sua repercussão
para o estudo da sacramentária.
• Compreender os sacramentos como celebração do misté-
rio de Cristo.

2. CONTEÚDOS
• Introdução ao tema geral do estudo da sacramentária.
• Mysterion no culto e na filosofia.
• Mysterion da Sagrada Escritura.
• Mysterion na Igreja primitiva.
28 © Sacramentária Geral

• Uso dos termos mysterion e sacramentum.


• Sacramentos como celebrações do mistério de Cristo.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades
deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu
desempenho.
2) Tente estabelecer um horário e lugar fixo para o estudo.
3) Procure ter à mão todos os recursos e materiais de que
irá necessitar.
4) Participe ativamente do estudo: estude com compreen-
são, atenção e concentração.
5) Faça as reflexões sugeridas e distribua racionalmente os
períodos de estudo.
6) Pesquisar e estudar são hábitos que precisam ser cria-
dos. Assim, como qualquer outra habilidade, no início,
ler e estudar precisam ser atividades realizadas com de-
dicação e esforço, até que se adquira gosto e se torne
uma tarefa cotidiana comum. Pesquise! Assuma este
compromisso e policie-se!

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Uma das coisas que sempre chama a atenção de quem parti-
cipa da vida da comunidade eclesial é a celebração dos sacramen-
tos. Isso acontece, na maioria das vezes, pela admiração e pela
curiosidade em saber o que significa aquele rito que comunica a
graça de Deus.
Em meio a essa admiração, surgem questionamentos, os
quais, de uma ou outra forma, acompanharam a história da Igreja
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 29

e da liturgia, conduzindo a reflexão teológica sacramentária e a no-


vas sistematizações que respondessem aos anseios de cada época
histórica.
Hoje vivemos um momento no qual também estão se elabo-
rando novas sínteses sacramentárias, ou, pelo menos, existem ra-
zões que impelem a Teologia para tal. Isso acontece porque, para
Borobio (1990, p. 288),
o sacramento é uma realidade pluridimensional que inclui diversos
elementos ou 'personagens' (Deus-homem-Igreja) e se realiza em
conexão com diferentes contextos e situações (históricas, culturais,
pastorais). Por isso, embora a sua essência permaneça e seja sem-
pre a mesma, há a exigência de uma interpretação circunstanciada
de seus diversos elementos.

Um dos pontos básicos desse questionamento é exatamente


o que se refere à graça de Deus comunicada pelos sacramentos.
Será que podemos receber a graça de Deus somente pelos sacra-
mentos?
De fato, houve ao longo da história uma compreensão restri-
tiva do termo "sacramento", como se por ele somente se pudesse
entender um dos sete sacramentos que conhecemos.
Sobre esse tema, leia: Borobio (1990, p. 285-292), Nocke
(2001, p. 171-172), Rocchetta (1991, p. 7-23), Rovira Belloso (2005,
p. 25-36), Segundo (1987, p. 15-23).
Nos últimos anos desenvolveu-se uma nova compreensão
para os atos simbólicos, para a linguagem dos gestos partindo de
uma nova visão antropológica e das ciências humanas. Tal visão
contribuiu para um deslocamento do tema da salvação, que não se
traduz mais por uma pergunta a respeito da vida depois da morte,
mas sim pela vida atual e pelo mundo atual.
Assim, surge uma desconfiança em relação àquilo que tenha
um caráter restritivo ou fechado e, nesse sentido, há uma busca
pela manifestação da graça de Deus além dos sete sacramentos.

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30 © Sacramentária Geral

Isso trouxe uma crise na Sacramentária Geral (ou Teologia


dos Sacramentos) e hoje se busca uma nova síntese dessa doutri-
na, que parta de uma compreensão ampla da sacramentalidade.
Sobre as correntes sacramentais católicas do século 20, con-
fira a síntese apresentada por Rovira Belloso (2005, p. 109-142) e
também Nocke (2001, p. 189-190).
O nosso curso está inserido nesse contexto crítico e, por isso,
faz-se necessário compreender, em primeiro lugar, a base original
sobre a qual se alicerça o edifício sacramental.
Agora, vamos aos estudos?

5. CONCEITO DE SACRAMENTO
Quando ouvimos a palavra sacramento, logo entendemos
uma das sete realidades que são os principais símbolos religiosos
e ritos que nossas comunidades eclesiais, sob a presidência do mi-
nistro ordenado, realizam quando celebram a presença salvadora
do mistério de Cristo.
Normalmente é dessa forma que ocorre, mas também mi-
nistros leigos podem administrar alguns dos sacramentos, como o
batismo e o matrimônio.
No entanto, a aplicação do termo "sacramento" a tais ritos é
algo que aconteceu muito tempo depois que a comunidade cristã
já praticava esses e outros ritos para celebrar o mistério de Cristo.
De fato, nos primeiros doze séculos da história da Igreja, o
termo "sacramento" (mistério) era usado para designar outras re-
alidades distintas desses sete ritos. Era aplicado a Cristo, à Igreja, à
Escritura, à Páscoa, à encarnação, à quaresma etc.
Somente após o século 12, após um longo processo, é que
se começou a distinguir entre os sacramenta maiora (batismo e
eucaristia) e os sacramenta minora (os outros sacramentos). Essa
distinção também será feita entre os sacramenta minora e os sim-
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 31

ples "sinais sagrados" que não santificam, apesar de remeterem a


outra realidade.
Mas, quando a Igreja passou a usar o termo "sacramento"
para os sete ritos mais tradicionais que conhecemos hoje?
A partir do século 13 e, sobretudo depois do Concílio de
Trento, é que ficou claramente delimitada a essência ou natureza
do sacramento, o qual passou a ser definido como "sinal eficaz da
graça" e se aplicava, de maneira restritiva, somente aos sete ritos
sacramentais da Igreja.
O caráter restritivo do termo "sacramento" foi ainda mais
acentuado diante das críticas dos reformadores e, diante disso,
só poderiam ser chamadas de sacramento aquelas realidades que
preenchessem os seguintes requisitos: instituição por Cristo, es-
trutura de matéria e forma, eficácia ex opere operato, intenção
por parte do ministro e disposições por parte do sujeito. Retorna-
remos a esse tema com mais detalhes na Unidade 3.
O termo "sacramento" manterá esse caráter restritivo até o
século 20, quando as reflexões teológicas influenciadas pelo mo-
vimento bíblico, movimento litúrgico e ciências humanas, levaram
o Concílio Vaticano II a usar o termo "sacramento" no seu sentido
original, ou seja, de maneira ampla, e aplicando-o a Cristo, à Igreja,
ao cristão, a toda pessoa e às realidades criadas.
Na Igreja também há um movimento de mudança, de revi-
são das posições instituídas, porém, essas mudanças sempre acon-
tecem com o intuito de retorno às origens da religião.
Dessa maneira, quando se usa o termo "sacramento", ele
não se referindo somente aos sete sacramentos, mas também a
outras realidades, e é por isso que se costuma especificar de qual
realidade sacramental se está falando: "o sacramento do batis-
mo", "a Igreja sacramento", "Cristo sacramento", por exemplo.

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32 © Sacramentária Geral

A seguir, vamos analisar sinteticamente de que maneira se


estabeleceu o uso e a compreensão do termo "sacramento" (mis-
tério) desde sua origem.

Mysterion e sacramentum
Vimos que o termo "sacramento" ou "mistério" era aplicado
a realidades diversas que remetiam ao transcendente, à graça de
Deus. Mas, quando é que isso começou?
Nem no Novo Testamento nem nos padres apostólicos ou
apologistas nós encontramos uma categoria fixa que englobe a re-
alidade dos sete sacramentos.
Somente ao redor dos séculos 3º e 4º é que as Igrejas do
Oriente e do Ocidente foram escolhendo algumas categorias teo-
lógicas capazes de dar unidade e classificar adequadamente essas
realidades: foram as categorias de mysterion no Oriente e de sa-
cramentum no Ocidente, frutos de um longo processo que ainda
não está totalmente esclarecido e que tem sido objeto de estudo
da sacramentária. Para Ganoczy (1988, p. 11):
Tanto sob o aspecto da história das línguas como da história da teo-
logia, o conceito de sacramento tem origem no conceito pré-cristão
de "mistério". A simples verificação de o termo latino sacramen-
tum ter sido a versão usada, nos primeiros séculos cristãos, do
termo grego μυστηριον (mysterion) não basta para compreender
o campo religioso intensamente rico de significação que serve de
base a ambos os termos. Para isso é preciso que antes examinemos
cada um em seu próprio contexto na história do pensamento.

Para aumentar sua compreensão sobre esse assunto, con-


sulte as obras de Nocke (2001, p. 172-179) e Rovira Belloso (2005,
p. 39-45).
No próximo tópico estudaremos melhor esse processo de
desenvolvimento do mysterion por meio da síntese das ideias de
Ganoczy (1988, p. 11-31).
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 33

6. MYSTERION NO CULTO E NA FILOSOFIA


Hoje, quando se fala em mistério, pensa-se em algo enigmá-
tico, incompreensível, estranho, que pode fascinar, mas que logo
perde o interesse.
Esse é normalmente o modo como as pessoas usam o termo
"mistério" – algo desconhecido que causa medo e do qual se dese-
ja o afastamento. Fala-se de coisas misteriosas: vida após a morte,
fenômenos paranormais, seres extraterrestres etc. Às vezes, o ter-
mo "mistério" também é usado pelo senso comum, como sendo
oposto à ciência, como algo mítico.
Na Antiguidade o homem percebia o mistério como algo
existencial, capaz de tocar os fundamentos do ser como tal e per-
mitindo, por meio dele, chegar ao divino.
Por essa sua característica existencial, e também divina, o
termo "mistério" aparece primeiramente no culto e depois na Filo-
sofia, sendo que elementos da Antiguidade irão influenciar a com-
preensão cristã de mistério e sacramento.
A tradição de culto dos mistérios tem sua origem nos anti-
quíssimos mitos e cultos que visavam o aumento da fertilidade.
Eram realizadas celebrações que evocavam os tempos primordiais
e, dessa forma, podia-se participar da vida dos deuses e receber
deles o dom da fertilidade.
Nessas celebrações se evocavam os mitos primordiais e, por
meio de ritos, procurava-se participar da vida dos deuses. No caso
dos cultos mistéricos, referentes à fertilidade, faziam parte dos ri-
tos a prática de relações sexuais que proporcionariam a participa-
ção na fertilidade divina. Tais cultos foram condenados e rejeita-
dos pelo cristianismo primitivo.
No entanto, a participação nesses cultos era reservada a pes-
soas iniciadas e que, pela sua perseverança, poderiam receber a
salvação.

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34 © Sacramentária Geral

O pensamento filosófico grego do período helenista clás-


sico compara os esforços dos iniciados para conseguir participar
da vida dos deuses por meio do culto do mistério aos esforços do
pensamento para se chegar à sabedoria e à verdade.
Também na filosofia platônica é preciso a perseverança de
um iniciado para se chegar à verdade, que está no mundo das
ideias e do qual as realidades palpáveis são símbolos.
As ideias filosóficas platônicas, por meio do neoplatonismo,
também irão influenciar o pensamento cristão e o modo de conce-
ber as realidades simbólicas que tocam a esfera do divino.
Para aumentar sua compreensão sobre esse tema, consulte
Nocke (2001, p. 177-181). Vejamos a síntese desse autor:
No grego, mysterion tem a ver, de antemão, com o culto. O radical
μυ (my) significa o fechar dos olhos ou da boca: reação a uma
experiência que foge do pensamento discursivo, que não se pode
formular em palavras. A pessoa iniciada no culto (o místico) "não
participa do evento sagrado de modo inteletivo-racional (...), mas
é (...) atingido numa camada de experiência profunda" (H. Krämer,
Mysterion, 1099). Por isso o conteúdo do culto e o próprio evento
cúltico é chamado de mysterion. Para o nosso contexto interessam
dois aspectos: (1) Um dos mistérios centrais do culto de mistérios
é a ligação de vida e morte, muitas vezes a vida a ser conquistada
por meio da passagem pela morte. (2) O mistério não é concebido
por meio de ensinamento racional, e, sim, por meio de experiência;
por isso somente a pessoa engajada no culto pode experimentá-
lo. Somente por meio da prática de manter os cultos de mistério
em segredo a palavra mysterion adquire um significado mais
restrito, que, muitas vezes, também é associado ao termo alemão
Geheimmis (segredo): o que é silenciado. O significado básico,
porém, é mais amplo: com mistério se expressa uma realidade e
uma participação nessa realidade, que transcendem a linguagem e
o discurso racional (2001, p. 173).

O cristianismo também adotará essa prática – que transcen-


de a linguagem e o discurso racional – durante o catecumenato, no
qual, de maneira progressiva, os catecúmenos vão sendo iniciados
no mistério de Cristo por meio da experiência de fé vivida em meio
à comunidade cristã: leitura da Palavra de Deus, catequese, ora-
ções, liturgias, testemunho, prática da caridade.
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 35

É sob esse enfoque que os textos catequéticos dos Santos


Padres apresentam o conteúdo da fé cristã – conferir As cateque-
ses pré-batismais de Cirilo de Jerusalém, Sobre os sacramentos e
os mistérios de Ambrósio de Milão etc.

7. MYSTERION NA BÍBLIA

Antigo Testamento
Veremos nesse tópico como o termo "mistério" é abordado
no Antigo Testamento.
Em primeiro lugar é preciso considerar na Sagrada Escritu-
ra os escritos veterotestamentários da época helenística (livros da
Sabedoria, Daniel, Tobias, Judite, Sirácida, Macabeus), chamados
literatura apocalíptica, que usaram o termo mysterion no seu sen-
tido filosófico ou profano e menos no cultual, mas que influencia-
ram escritos posteriores e a compreensão dos ritos cristãos.
Chama-se literatura apocalíptica os livros bíblicos escritos ao
redor do século 2º a.C. e que têm como pano de fundo a resis-
tência do povo judeu ao processo de helenização de sua cultura,
sendo que o primeiro a surgir é o livro de Daniel.
Vejamos agora um pouco mais sobre o modo como esses
livros enfocam o mistério:
Na apocalíptica fala-se de uma variedade de "mistérios". Eles são "a
origem da realidade oculta, transcendente a tudo que é e aconte-
ce, especialmente daquilo que será revelado no fim do tempo" (H.
Krämer, Mysterion, 1100), o plano divino dos acontecimentos histó-
ricos futuros, revelado a determinados "videntes" em experiências
extraordinárias (arrebatamento, sonho, visão), ao qual também
eles, por sua vez, são capazes de transmitir somente em figuras.
Aqui o conceito recebe uma coloração fortemente apocalíptica.

De modo semelhante, deve ser entendida a palavra mysterion


em algumas passagens neotestamentárias. Assim, por exemplo, o
poder escatológico de ilegalidade (2Ts 2,7), a transformação dos

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36 © Sacramentária Geral

seres humanos por ocasião da parusia de Cristo (1Cor 15,51), a


futura história de Israel (Rm 11,25s) são chamados de "mistério"
(NOCKE, 2001, p. 173).
Há ainda no Antigo Testamento o desenvolvimento de um
pensamento sacramental que vê a história de Deus com os ho-
mens como uma salvação. De acordo com Nocke (2001, p. 174),
Com "pensamento sacramental" quer-se expressar a convicção de
que a história de Deus com os homens acontece em eventos, atos
e encontros historicamente constatáveis: esses se tornam sinais da
proximidade de Deus. Neles Deus se "mostra" aos homens, e neles
se aproxima deles, transformando-os.

Assim, o Antigo Testamento vai descrevendo os sinais (misté-


rios) da manifestação de Deus na história, começando pelo êxodo
do Egito, que ocupa o lugar central em todo o Antigo Testamento e
do qual se relembra a cada ano na festa da Páscoa.
Há ainda outros sinais muito significativos para o povo de
Deus:
1) A Torá, na qual se revela que Deus escolheu Israel, que
com ele faz uma aliança. É por isso é que ela sempre é
lida no culto sinagogal.
2) Os gestos simbólicos dos profetas.
3) Toda a história de Israel, nos seus acontecimentos políti-
cos, sociais, cultuais, tem um caráter simbólico.
4) Toda a terra criada pode ser entendida como sinal de
Deus, sobretudo o homem, criado "à imagem de Deus"
(Gn 1,26s).
Sobre esse tema, veja a ampla exposição feita por Rocchetta
(1991, p. 47-145).

Novo Testamento
No Novo Testamento, aparece em Marcos (4,11) um impor-
tante exemplo do uso do termo mysterion unido ao termo "Reino",
deixando evidente uma acentuação escatológica da missão de Jesus:
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 37

E ele lhes dizia: a vós é dado o mistério do Reino de Deus, mas para
os de fora, tudo se torna enigma, para que, por mais que olhem
não vejam e por muito que ouçam não compreendam, a fim de que
não se convertam e não sejam perdoados.

Seguindo o pensamento sacramental, Jesus é sinal de Deus


e é por meio de suas palavras e ações que conhecemos quem é
Deus e o que ele pensa sobre o homem e qual é o seu plano de
salvação. Como afirma o texto de Marcos, ele veio manifestar, por
sinais (palavras e ações) o mistério do Reino de Deus.
São João, no seu evangelho, usa exatamente o termo "se-
meia" que quer dizer "sinais", para indicar os feitos de Deus em
Cristo. Sobre esse tema dos sinais veja a exposição sobre o con-
ceito Signo em João e na patrística apresentada por Rovira Belloso
(2005, p. 45-56). Interessante também é o texto de Santos (1995),
Fé e sacramentos no Evangelho de João, no qual o autor apresenta
uma análise dos sinais sacramentais em João: o batismo e a euca-
ristia.
O ponto alto no uso do termo mysterion é encontrado em
São Paulo, que reconhece em Cristo o "Mistério de Deus" (Rm 16,
25-26; Ef 1,9; 3,3-4.9; 5,32; 6,19; Cl 1, 26-27; 2,2; 4,3 etc.).
Partindo da visão de Cristo como aquele no qual se manifes-
ta o mistério de Deus, é que se aplicará o termo mysterion aos seus
atos e, posteriormente, às ações que a Igreja fará em sua memó-
ria. Assim, esse mistério se torna presente na comunidade em que
Jesus Cristo é anunciado.
Poderíamos sintetizar assim o modo como o Novo Testa-
mento utiliza e compreende o termo mysterion, conforme Nocke
(2001, p. 177):
Assim como Jesus Cristo é o mistério de Deus por excelência e as-
sim como esse mistério se torna presente na comunidade, assim
Jesus é o sinal realizador de Deus por excelência, e a comunidade
se torna sinal porque e na medida em que nela atua o Jesus ressur-
reto. Alguns procedimentos da comunidade finalmente se tornam
sinais, porque e na medida em que a comunidade anuncia neles a
Jesus e o experimenta como presente.

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38 © Sacramentária Geral

8. MYSTERION NA IGREJA PRIMITIVA


Os padres da Igreja primitiva utilizaram o esquema platônico
de imagem-arquétipo para entender e explicar os ritos da Igreja.
A doutrina da imagem, de inspiração neoplatônica, influenciou as
características essenciais da doutrina sacramental dos primórdios.
A filosofia platônica defende que existem dois mundos: o
mundo das ideias e o mundo das coisas. A verdadeira realidade
é encontrada unicamente no mundo das ideias (divinas, eternas,
imutáveis, invisíveis, perfeitamente ordenadas etc.).
O mundo das coisas – não divino, temporal, transitório, visí-
vel, desordenado, caduco – ele é mera participação muito imper-
feita do mundo das ideias.
Dessa maneira, haverá dois modos de conhecimento: o co-
nhecimento do mundo verdadeiro – pela ciência (filosofia) e o co-
nhecimento do mundo das coisas – se dá pela opinião (doxa). Nem
todos conseguem atingir o conhecimento do mundo verdadeiro,
que fica, então, reservado a uma minoria.
Seguindo esse esquema, as religiões mistéricas do helenis-
mo consideram que as coisas visíveis são símbolos do reino do es-
pírito e do divino, do qual transmitiam a divindade.
Será com base nessa visão que os padres gregos vão consi-
derar o mysterion não como coisa inacessível, mas sim a misterio-
sa relação entre imagem e arquétipo que é revelada ao iniciado.
Mysterion é uma imagem do arquétipo divino que se encontra no
âmbito da experiência humana, e que participa do ser e da eficácia
do arquétipo.
O termo "arquétipo" deriva de arché + typos = modelo an-
tigo, modelo primordial, no sentido de algo semelhante ao ser, à
realidade verdadeira que, na visão platônica, está no mundo das
ideias.
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 39

Jung explica que os arquétipos são formas do inconsciente


coletivo às quais a energia psíquica se molda; em outras palavras,
existem predisposições que já nascem com os homens, atraindo as
energias do homem para sua realização.
Essa concepção de mysterion pode ser encontrada, ainda
que com algumas aplicações particulares, em quase todos os pa-
dres da Igreja, como Orígenes, Clemente de Alexandria e outros.
Por exemplo, o batismo e a eucaristia são chamados de
mysteria, pois têm uma estrutura análoga ao binômio arquétipo-
imagem própria do conceito do mysterion dos gregos. Mysteria é o
plural de mysterion, que traduzimos por "mistéricos".
João Crisóstomo (354-407 apud Garcia Paredes, 1991, p. 43),
encarregado da preparação dos catecúmenos de Antioquia para
os sacramentos da iniciação, dizia: "Chama-se mistério, não por
considerar o que vemos, mas porque vemos uma coisa e cremos
em outra. Essa é a fé de nossos mistérios". E, ainda:
Cristo não nos transmitiu nada evidente, mas sim realidades pu-
ramente espirituais, porém sob uma cobertura evidente... Se você
fosse um ser incorpóreo, ele lhe teria dado dons incorpóreos dire-
tamente, mas desde o momento que a alma está unida a um corpo,
ele lhe dá o espiritual sob uma forma palpável.

Seguem essa linha de pensamento Cirilo de Jerusalém (315-


386) e Basílio Magno (330-379), em suas considerações sobre os
sacramentos da iniciação cristã, e, nesse sentido, para eles, a eu-
caristia é o mysterion por excelência.

Para aprofundar-se nesse tema, consulte Cirilo de Jerusalém (S.).


Catequeses pré-batismais. Petrópolis: Vozes, 1978. 280 p. (Fon-
tes da Catequese, n. 14). e CIRILO DE JERUSALEM (S.). Cate-
queses mistagógicas. Petrópolis: Vozes, 1977. 52 p. (Fontes da
Catequese, n. 12).
Para compreender e aprofundar o tema da mistagogia e sacra-
mentos nos Padres da Igreja, veja: TABORDA, F. Da celebração
à Teologia. Por uma abordagem mistagógica dos sacramentos. In:
COSTA, P. C. (Org.). Sacramentos e evangelização. São Paulo:
Edições Loyola, 2004. p. 22-60.

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40 © Sacramentária Geral

Para eles, o mysterion é a imagem do arquétipo graças ao Es-


pírito de Deus e, por isso, é que não se preocupavam em distinguir
símbolo e realidade.
Não só os ritos são considerados mysterion (mysteria), mas
também a realidade da Igreja, assim como o corpo de Cristo é o
corpo eclesial, aplicando-se a ela (à realidade da Igreja) o mesmo
esquema "arquétipo-imagem".
Essa ideia da Igreja como mysterion-sacramentum retornará
no Vaticano II. O primeiro documento a expressar essa ideia foi a
Sacrosanctum Concilium nº 5: "Do lado aberto de Cristo dormindo
na cruz nasce o admirável sacramento de toda a Igreja", também
o nº 2; depois isso é retomado na Lumen Gentium nº 48, em que
a Igreja é chamada de "sacramento universal de salvação". Sobre
esse tema, veja o estudo de Santoro (2004, p. 61-79).
As ações mistérico-sacramentais, sobretudo a eucaristia, são
meio para a união à semelhança de Deus. As ações cultuais visíveis
e a diversidade de símbolos agem "como imagens de coisas espiri-
tuais" que ajudam e indicam o caminho para chegar à semelhança
com Deus.
Vejamos agora uma síntese de Nocke (2001, p. 178) sobre
esse período:
Os teólogos da Igreja antiga empregam a palavra (μυστηριον -
mysterion) em amplitude de significado semelhante como o faz
o Novo Testamento. Em decorrência da discussão com a gnose
e cultos de mistério, porém, fazem mais outra associação: às
doutrinas ocultas dos gnósticos e aos cultos pagãos, denominados
mistérios, os apologetas, especialmente os alexandrinos Clemente e
Orígenes, contrapõem os conteúdos da fé cristã com os verdadeiros
mistérios. Disso resultam duas mudanças essenciais em relação ao
NT: em primeiro lugar, contrariando a concentração paulina no
único mistério, que é o Cristo, fala-se agora em mistérios no plural;
em segundo lugar, agora também os ofícios litúrgicos passam a ser
chamados de mistérios.
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 41

9. MYSTERIUM E SACRAMENTUM
Uma pergunta, certamente, ainda paira no ar: se desde os
primórdios a Teologia aplicou aos ritos da Igreja o termo mysterion,
como é que hoje eles são chamados sacramentos?
O uso do termo sacramentum começou no século 3º nas
Igrejas do norte da África, para traduzir a palavra grega mysterion.
Não se sabe bem por que isso aconteceu, mas conhecemos as con-
sequências que isso teve para a compreensão da sacramentária.
Inicialmente, sacramentum começou a significar tudo aquilo
que na linguagem bíblica e litúrgica era chamado de mysterion, ou
seja, sacramentum se tornou também uma categoria teológica.
O uso dos dois termos: sacramentum e mysterion era inter-
cambiável, ou seja, eles eram vistos como sinônimos e podiam ser
usados indistintamente.
O termo sacramentum, tal qual o termo mysterium, também
possui uma história e um sentido, conforme Nocke (2001, p. 178):
O significa básico do radical sacr designa a esfera do sagrado, reli-
gioso; sacrare significa: destinar algo ou alguém à esfera do sagra-
do ("consagrar"); sacramentum é tanto o ato de consagração como
também o meio consagrador. No uso lingüístico concreto da Anti-
guidade latina, o vocábulo tem colorido acentuadamente jurídico:
são denominados sacramentum o juramento no processo civil, o
juramento à bandeira no exército e a quantia de dinheiro que os
partidos em litígio tinham que depositar como caução no processo.
Em todos os três casos, o aspecto jurídico tem conotação religiosa:
juramento e juramento à bandeira entregam a pessoa ao juízo da
divindade, a caução processual é destinada a um santuário no caso
de uma derrota".

Para aprofundar esse tema, consulte: NOCKE (2001, p. 177-181);


GARCIA PAREDES (1991, p. 37-56).
Você pode complementar seus conhecimentos sobre o termo sa-
cramentum, consultando: ROVIRA BELLOSO, 2005, p. 69-71.

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42 © Sacramentária Geral

Dentre os Padres da Igreja, foi Tertuliano quem chamou o


batismo de sacramentum pela primeira vez e o fez também com a
eucaristia e o matrimônio.
Tertuliano escreveu De Baptismo, Ad Martyras, De Idolatria,
De corona, entre outros. E para aprofundar o seu pensamento so-
bre os sacramentos consulte Ganoczy (1988, p. 18-22).
Um aprofundamento no uso do termo sacramentum encon-
tramos em Agostinho (354-430), o qual, desde a perspectiva pla-
tônica, elaborou uma compreensão de sacramento como "sinal de
uma realidade sagrada" (signum rei sacrae). Para se aprofundar
no pensamento de Agostinho sobre os sacramentos, leia Ganoczy
(1988, p. 22-27) e Nocke (2005, p. 180-181).
Percebe-se na definição de Agostinho a base da filosofia pla-
tônica, mas ao mesmo tempo ele irá aplicar o termo sacramentum
como sinônimo de mysterion para as mesmas realidades às quais
ele era aplicado.
Posteriormente, os Padres da Igreja, como Leão Magno (440-
461) consideram que há uma equivalência entre sacramentum e
mysterion, ainda que Ambrosio de Milão (373-397) diferencie nes-
sa relação o mysterion como a dimensão mais intensa do misterio-
so (divino, transcendente) e o sacramentum como dimensão do
caráter do sinal. Em relação a esse tema, é importante conferir a
obra de Ambrosio (1972).
Após o período patrístico, pouco a pouco essa compreen-
são de sacramentum-mysterion vista na sua forma mais ampla irá
se perdendo com a desvalorização da categoria de símbolo, visto
mais como algo que não é real.
Veremos, após o século 2º, com a Escolástica, a busca por
uma nova definição de sacramento, na qual esse termo somente
será usado para definir os sete sacramentos que hoje conhece-
mos. Isso será ratificado pelo Concílio de Trento e será essa doutri-
na que chegará até o século 20, quando, por meio do movimento
litúrgico, se fará uma revisão e uma nova valorização do simbólico.
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 43

Essa nova valorização do símbolo e sua compreensão como


"ponte" entre duas realidades, o significante e o significado, per-
mitirá recuperar na Teologia Sacramentária a visão mais ampla do
termo "sacramento", agora também chamado de mistério.
É essa a linguagem que será usada pelo Concílio Vaticano II
e que pode ser encontrada no Missal e nos demais livros litúrgicos
atuais.
Portanto, hoje, quando falarmos de sacramento, não esta-
mos nos referindo somente aos sete sacramentos, mas sim a uma
sacramentalidade que abarca Cristo, o mistério (sacramento) do
Pai, a Igreja, sacramento de salvação do homem, sacramento exis-
tencial e toda a criação que também é sacramento de Deus.
E, quando o termo "sacramento" especificar um dos ritos
celebrados pela comunidade cristã, sempre estará se referindo à
celebração do mistério de Cristo, pois os sacramentos são celebra-
ção do mistério pascal de Jesus Cristo: sua encarnação, morte e
ressurreição.
Esse mistério aparece no momento central da Eucaristia,
quando, logo após ter proclamado as palavras da instituição, o
presidente da celebração diz: "Eis o mistério da fé", a que a as-
sembleia responde com uma frase que sintetiza o mistério pascal
de Cristo, como por exemplo: "Anunciamos, Senhor, vossa morte e
proclamamos vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus."
Vemos nessa aclamação presente também a dimensão esca-
tológica da Eucaristia, enquanto celebração do mistério de Cristo.
Recordemos que essa dimensão escatológica já estava presente
nas religiões mistéricas que influenciaram a compreensão dos
"mistérios" cristãos.
Odo Casel foi quem contribuiu de maneira decisiva para a vi-
são da liturgia e dos sacramentos como celebração do mistério de
Cristo após seus estudos das religiões dos mistérios, do mistério
em S. Paulo e nos Santos Padres.

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44 © Sacramentária Geral

Sobre o tema do símbolo e sua relação com os sacramentos,


sugerimos que você consulte as obras de Rovira Belloso (2005, p.
55-68) e Borobio (1990, p. 323-343).

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Que significado tinha o termo "mistério" na Antiguidade?

2) Qual a relação entre mysterium e arquétipo para a Igreja primitiva?

3) Ficou clara a abrangência do termo "sacramento", na atualidade, como a


celebração do mistério de Cristo?

4) Você ainda tem dúvidas sobre os conteúdos estudados? Que procedimentos


devem ser tomados para saná-las?

11. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você estudou as origens dos termos mysterium
e sacramentum e como eles influenciaram a constituição dos
sacramentos da Igreja através dos tempos.
Você aprendeu ainda que o entendimento sobre o sacramen-
to mudou ao longo da história, pois até pouco tempo atrás ele tinha
um sentido restritivo. No século 20, o simbólico passou a ser valori-
zado novamente por meio do movimento litúrgico e o sacramento
© U1 – Sacramentos: Celebrações do Mistério de Cristo 45

passou a ter um sentido mais abrangente, não restrito apenas aos


setes rituais mais tradicionais da Igreja.
Esperamos que essa viagem que fizemos pela história, para
a análise do sacramento desde suas origens, tenha lhe ajudado a
compreender um pouco mais esse termo tão importante para a
religião.
Na próxima unidade, conheceremos uma visão plena da sa-
cramentalidade.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AMBROSIO, S. Os sacramentos e os mistérios. Tradução de Paulo Evaristo Arns. Petrópolis:
Vozes, 1972. (Fontes da Catequese, n. 5).
BOROBIO, D. Da celebração à Teologia: que é um sacramento? In: BOROBIO, D. (Org.).
A celebração na Igreja – 1. Liturgia e Sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições
Loyola, 1990. p. 283-424.
GANOCZY, A. Os sacramentos: estudo sobre a doutrina católica dos sacramentos. São
Paulo: Loyola, 1988.
GARCIA PAREDES, J. C. R. Teologia fundamental de los sacramentos. Madrid: Ediciones
Paulinas, 1991.
NOCKE, F.-J. Doutrina geral dos sacramentos. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de
Dogmática. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 171-204. v. II.
ROCCHETTA, C. Os sacramentos da fé. São Paulo: Paulinas, 1991.
ROVIRA BELLOSO, J. M. Os sacramentos: símbolos do Espírito. São Paulo: Paulinas, 2005.
(Coleção Sacramentos e sacramentais).
SANTORO, F. A Igreja como sacramento: símbolo, memória e evento. In: COSTA, P. C.
(Org.). Sacramentos e evangelização. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 61-79.
SEGUNDO, J. L. Os sacramentos hoje. São Paulo: Loyola, 1987. (Coleção Teologia aberta
para o leigo adulto 4).

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EAD
Sacramentos: uma
Visão Plena da
Sacramentalidade
2
1. OBJETIVOS
• Pedagogia do risco.
• Compreender o sentido da sacramentalidade plena.
• Reconhecer as dimensões sacramentais de Cristo, da Igre-
ja, do homem e da criação.
• Relacionar os sacramentos com o mistério de Cristo e a
sacramentalidade plena.

2. CONTEÚDOS
• Sentido pleno da sacramentalidade.
• Cristo, sacramento original de salvação.
• Igreja, sacramento principal.
• Homem, sacramento existencial.
• Criação em seu sentido sacramental.
• Sacramentos, ações simbólicas da sacramentalidade ple-
na.
48 © Sacramentária Geral

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Lembre-se de que a organização de um horário de es-
tudo é útil para estabelecer hábitos, possibilitando que
você utilize o máximo de seu tempo e de sua energia.
2) Ao final da unidade, faça uma recapitulação de suas
ideias: qual era sua visão sobre os sacramentos antes e
depois do estudo desta disciplina, percebendo as mu-
danças em seu ponto de vista.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Vimos na unidade anterior que o conceito de sacramento
(mysterion) referia-se, nos primórdios da vida da Igreja, a uma con-
cepção ampla da sacramentalidade, o que foi se modificando ao
longo da história até chegar ao sentido restritivo de sacramento,
entendido como um dos sete ritos sacramentais.
Estudamos ainda que na primeira metade do século 20 o
movimento litúrgico e outros teólogos recuperaram a visão de sa-
cramentalidade ampla das origens, inserindo os sacramentos na
economia da salvação, que tem no mistério de Cristo o seu ponto
alto e do qual os sacramentos fazem a memória.
Dando seguimento a nossos estudos, aprofundaremos nossa
visão sobre essa concepção mais ampla da sacramentalidade.
Bons estudos!

5. SACRAMENTALIDADE PLENA
A compreensão e visão mais ampla têm marcado a Teologia
Sacramentária atual e encontra na obra de Edward Schillebeeckx –
Cristo Sacramento do encontro com Deus, uma referência que será
retomada por outros teólogos estudiosos da Sacramentária Geral.
© U2 – Sacramentos: uma Visão Plena da Sacramentalidade 49

Na análise do nosso objeto de estudo, seguiremos o esque-


ma proposto por Borobio (1990, p. 297-322), que retoma o esque-
ma básico de Schillebeeckx.

Para saber mais sobre a sacramentalidade plena, consulte tam-


bém Rocchetta (1991).

Cristo: sacramento original (primordial)


A estrutura sacramental da história da salvação é recapitu-
lada nos sacramentos da Igreja que celebram o mistério pascal de
Cristo. Veremos como essa sacramentalidade tem em Cristo sua
fonte, seu sentido e seu centro de referência.
O reconhecimento de que Cristo é o Filho de Deus e, como
diz Paulo, é o "mistério de Deus", pertence à confissão de fé que a
Igreja, desde o princípio, anuncia e celebra.
Desde seu nascimento, quando Cristo entra na história
humana, ele é visto como um "sinal-sacramento" (cf. Lc 2,10-12)
anunciado por João: o Verbo se fez carne (Jo 1,14). Segundo Borobio
(1990, p. 298),
Da criação até Cristo, passando por Israel, ocorre, pois, um proces-
so crescente de concentração sacramental. A encarnação é a sa-
cramentalização radical e culminante da presença preexistente de
Deus no meio dos homens. Cristo é o "proto-sacramento" ou "sa-
cramento original", que torna visíveis, de modo supremo, o amor e
a graça de Deus. Ele é a realização plena do "mysterion" escondido
e revelado (Cl 2,2); o lugar mais importante da experiência e do
encontro com Deus (Hb 1,1); a manifestação mais perfeita do amor
de Deus pelos homens e do amor do homem por Deus. Em Cristo, a
comunhão de vida do homem com Deus chega a seu ponto culmi-
nante, e a manifestação de Deus, como Salvador, ao homem atinge
o seu centro decisivo.

A sacramentalidade de Cristo pode ser vista de diversas ma-


neiras:

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50 © Sacramentária Geral

• Cristo é sacramento pelo seu ser, por sua própria verdade


ontológica, por sua presença entre os homens como Filho
de Deus;
• Cristo é sacramento pela sua atuação, pela totalidade de
sua ação messiânica e salvadora que se manifesta ao lon-
go de sua vida em suas palavras, atitudes e gestos: "Quem
me viu, viu o Pai" (Jo 14,9);
• Cristo é sacramento por seus atos privilegiados, ou seja,
atos nos quais se revela de maneira especial o seu poder
salvador, a presença de Deus nele.
Confira em Nocke (2001, p. 176-177) a exposição que o autor
faz das palavras e ações de Cristo e como é que se aplicou a isso o
conceito de mysterion (sacramento).

Igreja: sacramento principal (sacramento do Cristo celeste)


Cristo é o único sacramento original de salvação, a qual tem
seu ápice na páscoa de Jesus: sua morte, ressurreição, ascensão e
envio do Espírito.
Como Cristo não está mais visivelmente presente em nosso
meio, é por meio da Igreja que ele prolonga na história sua ação
salvadora. É na Igreja que podemos nos encontrar com ele.
Por isso é que a Igreja é o sacramento principal, ou como
diz Schillebeeckx, é o sacramento do Cristo celeste (ressuscitado e
glorioso). E ela o é de diversas maneiras:
• a Igreja é sacramento pelo seu próprio ser, pela sua reali-
dade e mistério que abrange sua totalidade: como hierar-
quia e povo de Deus no exercício de sua missão;
• a Igreja é sacramento pela sua atuação, pelo seu testemu-
nho no mundo;
• a Igreja é sacramento pelos seus atos privilegiados, por
meio dos quais manifesta sua sacramentalidade.
© U2 – Sacramentos: uma Visão Plena da Sacramentalidade 51

É por isto que todos os sacramentos possuem uma dimen-


são eclesiológica: manifestam a Igreja como sacramento principal
e eclesial e manifestam a Igreja quando são celebrados. É nesse
sentido que os atuais ritos sacramentais apresentam na sua forma
típica a celebração comunitária, a qual só pode deixar de ser feita
em casos excepcionais.
Para complementar o assunto, veja a obra de Rocchetta
(1991, p. 159-191), em que o autor expõe o tema das "maravilhas
da salvação" no tempo da Igreja.

Homem, cristão: "sacramento" existencial


O homem, ao se relacionar com Cristo e com a Igreja, des-
cobre-se sacramento existencial. De fato, desde sua criação à ima-
gem e semelhança de Deus (Gn 1,26; 5,1.3), o homem manifesta
a face de Deus.
Mas todo homem é sacramento existencial? Todo fiel, todo
homem, seja batizado ou não, é sacramento de Cristo, como ele
mesmo diz: "Tive fome e me destes de comer, tive sede e me des-
tes de beber..." (Mt 25,35-45), ou seja, em cada pessoa, nos en-
contramos com Cristo.
Se cada um é sacramento de Deus e de Cristo, o batizado é
aquele que tem consciência disso e vive essa realidade sacramen-
tal com autenticidade, com verdade.
O homem é sacramento existencial:
• pelo seu ser, pela sua realidade de cristão;
• o cristão é e deve ser sacramento pela sua atuação, pelo
seu comportamento ético e seu testemunho;
• o cristão é também sacramento pelos seus sinais privile-
giados, sendo que podem ser destacados: as celebrações
sacramentais, o testemunho especial e a promoção da
história no compromisso social e político, o compromisso
especial com o anúncio do evangelho.

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52 © Sacramentária Geral

Confira, na obra de Rocchetta (1991, p. 65 e seguintes), a


exposição que o autor faz do homem e o cumprimento das mara-
vilhas da salvação.

Realidade criatural-cósmica e seu valor sacramental


Qual o lugar que a criação ocupa na Sacramentária Geral?
A criação também revela a grandeza de Deus e de seu desíg-
nio de salvação, que foi se manifestando ao longo da história.
A criação é, de fato, palavra e sinal; é mysterion: no final de
sua obra criadora, Deus viu tudo que tinha feito e era muito bom
(Gn 1,31).
Não é só o homem que recebe uma vocação, também a cria-
ção recebeu um chamado a transformar-se a fim de que Deus se
manifeste mais plenamente nela.
Sobre o tema deste tópico, leia Rocchetta (1991, p. 78-146).
O autor apresenta uma longa explanação sobre a tipologia das
"maravilhas da salvação" que se encontram na criação e na histó-
ria da salvação.

6. SACRAMENTOS: EXPRESSÃO SIMBÓLICA DA SA-


CRAMENTALIDADE PLURAL
Vimos que desde os primórdios o conceito de sacramento
designava uma sacramentalidade ampla, plural. O modo como
cada um dos ritos sacramentais manifesta essa sacramentalidade
se dá por meio da expressão simbólica.

Não deixe de retomar no texto de Introdução à Liturgia o capítulo


referente ao símbolo. Consulte também Rovira Belloso (2005, p.
56-69) e Borobio (1990, p. 323-343) e leia a longa exposição sobre
o caráter simbólico dos sacramentos.
© U2 – Sacramentos: uma Visão Plena da Sacramentalidade 53

Em Introdução à Liturgia, estudamos que a liturgia é uma


ação simbólica e que é possível aprofundar o sentido do símbolo
como realidade a qual remete, pois mesmo sem ter o significado
em si, manifesta o transcendente (o mistério).
A Igreja antiga, quando fala do mysterion e aplica esse termo
a Deus, a Cristo e, como consequência, a toda história da salvação,
à criação e ao homem, está se referindo ao simbólico.
De fato, a ação ritual mistérica não tem um fim em si própria,
mas permite alcançar aquilo que não se vê e que é a verdade, o
transcendente, o divino.
No caso da liturgia cristã, por meio da ação ritual (simbólica)
é que se pode atualizar o mistério pascal de modo a participar dele
e assim receber a graça da salvação e reconhecer que toda a cria-
ção também participa dessa graça.
É dessa maneira que podemos compreender a passagem das
"maravilhas da criação" aos "sacramentos da fé" e de que forma
"as maravilhas da salvação" se manifestam no tempo da Igreja por
meio dos ritos sacramentais e seu simbolismo.
Pode-se, portanto, dizer que os sacramentos são as "maravi-
lhas da salvação" acontecendo simbolicamente no tempo da Igreja.
Concluindo, ressaltamos que cada um dos ritos sacramentais
expressa, por meio do símbolo, a participação na sacramentalida-
de mais ampla, plural, dos primórdios da Igreja.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Porque atualmente fala-se em sacramentalidade plena, e não em sacramen-
talidade restritiva?

2) Qual a relação entre símbolo, rituais dos sacramentos e sacramentalidade


plena?

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54 © Sacramentária Geral

3) Descreva o papel da Igreja como continuadora da missão de Cristo. De que


forma isso se dá por meio dos sacramentos?

4) Você ainda tem dúvidas sobre o conteúdo estudado? Se a resposta for posi-
tiva, o que deve fazer para saná-las?

8. CONSIDERAÇÕES
Seguindo a postura crítica proposta por nós, analisamos
como os sacramentos não estão contidos apenas nos sete ritos
mais tradicionais da Igreja.
Vimos como o Cristo, a Igreja, o homem e a criação parti-
cipam ativamente dos sacramentos celebrados, e como cada um
dos ritos é a expressão simbólica de uma sacramentalidade plural,
que remonta aos primórdios da Igreja.
O tema da próxima unidade é "Sacramentos: problemas fun-
damentais de sua Teologia".
Vamos em frente em nossos estudos!

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOROBIO, D. Da celebração à Teologia: que é um sacramento? In: BOROBIO, D. (Org.).
A celebração na Igreja – 1: Liturgia e Sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições
Loyola, 1990. p. 283-424.
NOCKE, F.-J. Doutrina geral dos sacramentos. In: SCHNEIDER, T. (Org.). Manual de
Dogmática. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 171-204. v. II.
ROCCHETTA, C. Os sacramentos da fé. São Paulo: Paulinas, 1991.
ROVIRA BELLOSO, J. M. Os sacramentos: símbolos do Espírito. São Paulo: Paulinas, 2005.
EAD
Sacramentos: Problemas
Fundamentais de sua
Teologia
3
1. OBJETIVOS
• Verificar a eficácia sacramental em seu desenvolvimento
histórico, das origens até o presente.
• Compreender as várias dimensões da eficácia sacramen-
tal: o ex opere operato e seus efeitos – a graça e o caráter.
• Identificar as várias explicações para a instituição dos sa-
cramentos por Cristo.
• Analisar a origem e o sentido da diversidade sacramental
presente no septenário sacramental.

2. CONTEÚDOS
• Eficácia sacramental – desenvolvimento histórico do
tema.
• Eficácia sacramental – ex opere operato.
• Eficácia sacramental – os efeitos do sacramento: graça e
caráter.
• Sobre matéria e forma.
56 © Sacramentária Geral

• Instituição dos sacramentos por Cristo.


• Diversidade sacramental – o septenário.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Ao iniciar seus estudos, procure ter à mão todos os re-
cursos de que irá necessitar, tais como: dicionário, ca-
derno para anotações, canetas, lápis, obras etc. Desse
modo, você poderá evitar as interrupções e aproveitar
seu tempo para ampliar sua compreensão.
2) Faça anotações de todas as suas dúvidas, não deixe ne-
nhuma para trás, tente solucioná-las por meio do nosso
sistema de interatividade ou diretamente com o seu tu-
tor.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, procuramos entender a plenitude sa-
cramental. Agora vamos estudar outras características, como a
questão da eficácia e da instituição dos sacramentos por meio de
seu desenvolvimento histórico.
Qual é a eficácia dos sacramentos? De que maneira eles fo-
ram instituídos?
Essas e outras perguntas serão analisadas e respondidas no
decorrer desta unidade.
Boa leitura!
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 57

5. EFICÁCIA SACRAMENTAL

Desenvolvimento histórico do tema e visão escolástica: ex opere


operato
O tema da eficácia sacramental apresenta-se em dois aspec-
tos:
• como age o sacramento;
• que efeito produz.
Para aprofundar o tema da eficácia sacramental, leia as obras
dos seguintes autores: Borobio (1990, p. 374-388), Ganoczy (1988,
p. 34-39) e Segundo (1987, p. 47-72). Note que muitos temas que
parecem óbvios na religião, em um primeiro olhar, foram, na ver-
dade, objetos de longos estudos no passado.
Qual é a importância da eficácia dos sacramentos?
Essa questão se tornou muito importante durante a Escolás-
tica, quando se buscava uma nova definição de sacramento. Sua
eficácia era um dos seus aspectos constitutivos a serem levados
em consideração.
Para explicar o modo como o sacramento age e que efeito
produz, inicialmente diz-se que ele é um sinal eficaz e, nesse sen-
tido, afirma-se que ele é a "causa" da graça.
Essa ideia de que o sacramento é a "causa" da graça, ainda
que seja comum nos teólogos escolásticos, tem acentos diversifi-
cados: Tomás de Aquino fala que o sacramento é a causa instru-
mental da graça (eficácia física) e Duns Scoto usará o termo "efi-
cácia moral".
O tema da eficácia não é algo exclusivo da teologia escolás-
tica, pois os padres da Igreja consideravam que as celebrações sa-
cramentais eram ações salvíficas, enquanto atualizavam o mistério
e, por isso, eram santificadoras e eficazes. Assim, tal eficácia seria
derivada da ação do Espírito Santo pela epíclesis.

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58 © Sacramentária Geral

No entanto, durante a Escolástica, chega-se a definir e privi-


legiar a dimensão objetiva da eficácia sacramental, ou seja, a graça
produzida pelo sacramento depende somente de Deus e não da fé
pessoal dos homens.
Segundo Nocke (2001, p. 183), a convicção de que a eficiên-
cia do sacramento não depende da fé pessoal do ministrante ou
do recebedor, mas se fundamenta no agir de Deus, é expressa na
Escolástica, com a fórmula que diz que os sacramentos são eficien-
tes ex opere operato (por força do rito executado) e não apenas
ex opere operantis (por força daquele que executa o sacramento).
Temos, assim, a distinção entre o fator objetivo divino e o
subjetivo humano no sacramento. Se de um lado, pela sua obje-
tividade, a graça de Deus está seguramente presente, por outro,
essa expressão não deixa de trazer o perigo de ver o rito sacramen-
tal em uma dimensão mágica.
Este foi um dos aspectos criticados pelos reformadores (Lu-
tero, Zwinglio e Calvino) e por isso o Concílio de Trento (1545–
1563) apresentará a defesa dessa dimensão objetiva da eficácia
sacramental.

Sobre este tema, consulte: Ganoczy (1989, p. 93-110) e Nocke


(2005, p. 186-187).
Interessante é o estudo de Rovira Belloso (2005, p. 87-198) a res-
peito da polêmica católico-protestante sobre os sacramentos.

Segundo Nocke (2001, p. 184),


Em controvérsias posteriores, sobretudo na época da Reforma, a
fórmula ex opere operato deixava margens à suspeita de que a teo-
logia sacramental da Escolástica estaria determinada por um ritua-
lismo mágico e pela confiança em atos cúlticos humanos, desvalo-
rizando a graça divina. Por isso é importante chamar a atenção para
a intenção contrária da Escolástica, ao desenvolver essa fórmula.
Assim como já a Igreja antiga colocava o agir de Deus acima de
toda disposição pessoal do ministro do sacramento, assim também
justamente a fórmula da Escolástica ex opere operato quer deixar
claro que nos sacramentos o sujeito da ação não é o ser humano, e,
sim, Deus, respectivamente, Cristo. Considerando que os teólogos
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 59

escolásticos ainda conheciam a origem soteriológico-cristológica


dos termos (o opus operatum é a redentora entrega da vida por
Cristo), então também está afastada uma independentização do
sacramento em relação à obra de Cristo: o rito não é eficaz por si, e,
sim, nele opera o agir de Cristo e de Deus.

Para defender a dimensão objetiva da eficácia sacramental


diante dos reformadores, Trento coloca: Se alguém afirma que os
sacramentos da Nova Lei não comunicam a graça, em virtude do
rito ministrado (ex opere operato), mas que para se conseguir a
graça basta a simples fé na promessa divina que seja anátema! (DS
1608).
O período pós-tridentino manterá essa visão da eficácia sa-
cramental, que, por seu caráter técnico, tipicamente escolástico,
trará dificuldades para a Teologia atual, tanto que, durante o sé-
culo 20, foram feitas tentativas de explicar a eficácia sacramental
segundo outras categorias. Dentre elas, podem ser citadas:
• A eficácia simbólica: apresentada por Odo Casel (1948),
o qual, partindo do estudo das línguas clássicas, das re-
ligiões "mistéricas" e dos Santos Padres, afirmará a efi-
cácia sacramental partindo da categoria de mistério. Os
sacramentos são os mistérios salvíficos que atualizam o
mistério pascal de Cristo e nos tornam participantes de
sua força salvadora por meio da celebração ritual.
• Usando as categorias de "palavra" e "símbolo", e não
"culto" e "mistério", como fez Odo Casel, Karl Rahner de-
fenderá que "o sacramento é eficaz, sobretudo enquanto
implica e é 'palavra sacramental reveladora de salvação'",
com a qual se compromete a Igreja como prolongamen-
to histórico da "protopalavra sacramental", que é Cristo"
(BOROBIO, 1990, p. 385).
• Outra contribuição é a de Edward Schillebeeckx, que par-
te de categorias da moderna fenomenologia, sobretudo,
a categoria de "encontro", sendo que para ele Cristo é
"sacramento do encontro com Deus", e os sacramentos

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60 © Sacramentária Geral

são também "órgãos de encontro com Deus". Nós pode-


mos encontrar a salvação por meio dos sinais que permi-
tem o encontro com o Senhor glorioso.
A respeito dessas novas abordagens sobre a eficácia, veja:
Borobio (1990, p. 382-388), Ganoczy (1988, p. 36-39) e Rovira
Belloso (2005, p. 109-142). Já a obra que se tornou referência na
Teologia Sacramentária é a de Schillebeeckx (1968).

Efeitos do sacramento: graça


Outro fator importante que se acentua na Teologia Sacra-
mentária atual, quando se fala da eficácia, é a importância da res-
posta de fé daquele que recebe o sacramento, que é sacramento
da fé, evitando-se uma visão mágica dessa eficácia.
Abordamos o primeiro aspecto da eficácia, que é o modo
como age o sacramento. Vejamos agora o segundo aspecto, que é
o efeito que ele produz.
Segundo a Escolástica, o efeito dos sacramentos é a graça,
um elemento integrante da estrutura do sacramento que indica a
sua meta e o seu objetivo.
Nessa estrutura, a Escolástica distingue:
• o significante (que não é significado por outro) – chama-
do sacramentum tantum;
• o significado (e, ao mesmo tempo, significante) – chama-
do res et sacramentum;
• a graça sacramental (significado) – chamada res tantum.
Sobre a estrutura essencial do sacramento, consulte Borobio
(1990, p. 361-373).
Vamos procurar analisar a estrutura do sacramento por meio
de um exemplo prático no batismo:
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 61

• em cada sacramento há um sinal sacramental exterior que


pode ser captado pelos sentidos (por exemplo: a água no
batismo) – sacramentum tantum;
• uma realidade invisível que é a graça (res tantum);
• e uma realidade que, de um lado, participa da dimensão
sensível e, por outro, da dimensão invisível, pois já há pre-
sença da graça – res et sacramentum.
Hoje, compreende-se a graça sacramental como imersão no
mistério pascal de Cristo e como autodoação pneumatológica de
Cristo pelo dom do Espírito Santo, sem esquecer que essa graça
possui uma dimensão eclesiológica, antropológica e cósmico-sen-
sível.
Para aprofundar-se sobre o tema, leia Borobio (1990, p. 388-
398) e Ganoczy (1988, p. 40-41).

Efeitos do sacramento: caráter


O caráter é algo que, como a graça, está ligado à questão: o
que o sacramento produz?
A doutrina dos sacramentos fala do "caráter sacramental",
ou seja, da "marca" ou do "sinal" para expressar uma especificida-
de do efeito do sacramento.
O termo "caráter" deriva do grego sphragis, do latim
caracter e provém da cultura profana antiga que indicava um sinal
de reconhecimento, de distinção, de pertença ou propriedade. O
soldado ou o escravo eram "marcados" com as iniciais do imperador
ou proprietário, assim como se marcavam os animais. Hoje isso
ainda é feito com o gado, por exemplo. Usamos a expressão "o
caráter daquela pessoa" para indicar algo que a identifica (bom-
caráter, mau-caráter) ou as características de alguém ou algo como
as notas de propriedade e identificação.
Trento assim se pronunciou sobre o caráter: "Entre esses sa-
cramentos há três: batismo, crisma e ordem, que imprimem na

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62 © Sacramentária Geral

alma um sinal, isto é, um sinal indelével, espiritual, que os distin-


gue dos outros sacramentos. Por isso não são repetidos na mesma
pessoa" (DS 1313).
A Escritura, na verdade, não fala de caráter, embora use os
termos "selo" ou "marca" para expressar a ação do Espírito Santo
em nós (2 Cor, 1, 21-22; Ef 1.13-14; 4, 30; Rm 4, 11).
O termo "caráter" será usado pela pré-escolástica e escolás-
tica e depois fixado, como vimos, no Concílio de Trento. O Vaticano
II manterá o termo, mas procurará situá-lo no quadro das eclesio-
logia e pneumatologia atuais.
Para aprofundar o tema do caráter, leia Borobio (1990, p.
398-406) e Ganoczy (1988, p. 41-43).

Matéria e forma
Na base de toda a discussão sobre a eficácia está a questão
da causalidade (o sacramento é a causa da graça) e o pensamen-
to aristotélico das causas, assumido especialmente por Tomás de
Aquino. Desse pensamento, adota-se o par de conceitos hilemor-
fista, matéria (υλη - hylé) e forma (μορφη – morphe).
Assim como o hilemorfismo aristotélico considera matéria e
forma como partes não separáveis, mas constituintes de um todo
que se condicionam mutuamente, o ato sacramental simbólico
será compreendido como um só evento.
A Teologia Escolástica procurou enquadrar todos os sacra-
mentos nessa categoria, mas nem todos eles puderam ser com-
preendidos pela concepção hilemórfica, pois, para alguns sacra-
mentos, este procedimento era fácil, como no batismo: a matéria
é água, e a forma é a fórmula batismal "Eu te batizo em nome do
Pai, e do Filho e do Espírito Santo".
No entanto, para outros sacramentos, foi preciso fazer uma
adaptação, como no sacramento da penitência que, por não pos-
suir matéria, teve os atos do penitente (contrição, confissão e sa-
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 63

tisfação) chamados de "quase-matéria". Sua forma é fórmula da


absolvição.

Eficácia sacramental: conclusão


Após este percurso sobre o sentido da eficácia sacramental
desde os primórdios até o presente, vejamos qual foi o efeito da
Teologia Escolástica sobre os sacramentos na liturgia, segundo No-
cke (2001, p. 185):
De fato, porém, o conjunto do contexto litúrgico se perdeu de vista.
A atenção da teologia estava tão presa à questão da eficiência e
validade do sacramento que, diante da pergunta sobre qual seria o
mínimo de palavras e sinais visíveis absolutamente necessário para
se constituir o sacramento, o interesse pela liturgia como evento
simbólico desdobrado passou para um segundo plano. Ao contrário
do que aconteceu na Igreja antiga, a dogmática (usando a termino-
logia hodierna) se havia separado da liturgia.

Como vimos, somente com o movimento litúrgico e o Con-


cílio Vaticano II é que houve a recuperação de uma visão da sacra-
mentalidade de maneira mais ampla.
Dentro dessa nova visão, as formulações sobre a eficácia, a
graça e o caráter sacramental consideram o sacramento em sua
relação com o mistério de Cristo e os efeitos da participação dos
fiéis nesse mistério, por meio do rito sacramental, em sua relação
com a eclesiologia, a pneumatologia e antropologia.

6. INSTITUIÇÃO DOS SACRAMENTOS


Um ponto muito importante que se destaca na Teologia
Sacramentária refere-se à instituição, ou seja, à fundação dos sa-
cramentos. Mas existe um modo exato de saber como eles foram
fundados?
Dependendo do modo como se vê a instituição dos sacra-
mentos é que se pode determinar quais são e quantos são.

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64 © Sacramentária Geral

Para aprofundar o tema da instituição dos sacramentos, leia


as obras de Borobio (1990, p. 344-350), Ganoczy (1988, p. 43-48) e
Segundo (1987, p. 25-46).

A origem dos sacramentos


A origem dos sacramentos em Cristo deve ser buscada na
Escritura como principal fonte. No entanto, não encontramos nela
uma exposição detalhada e sistemática sobre isso, nem sequer uma
afirmação explícita do desejo de Cristo de instituir os sacramentos.
Conferir sobre este tema o texto de Guillet (1991), no qual
esse assunto é exposto desde a perspectiva bíblica.
Encontramos alguns textos das escrituras que apresentam
de maneira precisa e clara o batismo, a eucaristia e a penitência,
mas isso não acontece com os outros sacramentos.
Os Santos Padres não colocaram esse problema em discus-
são, pois para eles isso era tratado de outra maneira, quando, par-
tindo do conceito de símbolo, consideravam os sacramentos em
sua dimensão salvífica e mistérica e sempre relacionada ao misté-
rio de Cristo.
Para Borobio (1990, p. 345),
Os escolásticos da Idade Média, preocupados em avaliar o conceito
e em determinar o número dos sacramentos, não puderam deixar
de questionar a sua instituição. O problema da instituição está li-
gada ao do número: os sacramentos são tais e em tal quantidade
porque esses, e apenas esses, foram instituídos por Cristo. Embora
sua concepção seja mais "legalista" do que "mistérica", e embora o
seu ponto de partida seja antes um conceito de Cristo como legisla-
dor do que como salvador, ninguém duvida de que os sacramentos
procedem de Deus através de Cristo e de que apenas ele tem auto-
ridade para instituí-los.

Essa ideia de que os sacramentos foram instituídos por Cris-


to não causa dificuldade. O problema se coloca quando, partindo
da visão hilemórfica, busca-se na Escritura os elementos constitu-
tivos de cada sacramento em sua instituição por Cristo.
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 65

Como é que se pode demonstrar, pela Escritura, que Cristo


tenha fixado a matéria e a forma de cada um dos sacramentos? E
como explicar as mudanças históricas que foram modificando cada
um deles?
Para responder a esses questionamentos, alguns afirmaram
que a instituição dos sacramentos por Cristo foi imediata e outros
afirmaram que foi mediata, ou seja, os apóstolos e a Igreja é que
receberam o poder para estabelecer os ritos sacramentais.
O Concílio de Trento, rejeitando os ensinamentos dos refor-
madores que negavam a instituição dos sacramentos por Cristo,
com exceção do batismo e da eucaristia, defende que todos os
sacramentos foram instituídos por Cristo e que são sete, nem mais
nem menos, e se diferenciam dos sacramentos da antiga lei (DS
1061-1602).
A Teologia pós-tridentina seguiu esse ensinamento, mas
buscou responder de que maneira se deu essa instituição, já que
isso não fora declarado por Trento.

Perceba que o estudante de religião não pode aceitar passivamen-


te os conceitos. É preciso analisá-los historicamente para compre-
ender a fundo as bases de nossas crenças.

A Teologia atual
A Teologia atual procurou explicar a instituição dos sacra-
mentos por Cristo de novas maneiras, de acordo com a relação
apresentada por Borobio (1990, p. 347-349):
1) K. Rahner diz que a origem dos sacramentos tem a ver
com a instituição da Igreja como protossacramento e,
partindo da força da palavra de Cristo, proclamada com
compromisso pela Igreja a um sujeito em uma situação
particular.
2) E. Schillebeeckx parte do mesmo princípio eclesiológico,
mas acentuou a orientação de Cristo para que os sacra-

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66 © Sacramentária Geral

mentos fossem sete – a instituição dos sete sacramentos


está implicada na fundação da Igreja como sacramento
original, mas em algum momento Cristo teria determi-
nado a orientação septiforme.
3) L. Boff explica a origem dos sacramentos com base em
uma perspectiva da economia salvífica e da necessidade
da sacramentalização da graça, partindo do sacramento
principal, a Igreja.
4) R. Didier diz que Cristo é o fundador e o fundamento
dos sinais sacramentais e que a instituição sacramental
deve ser entendida mais como instituição profética do
que instituição jurídica.
5) L. M. Chauvet chama a atenção para a necessidade de
voltar ao mistério pascal como princípio e origem dos
sacramentos da Igreja.

7. SEPTENÁRIO SACRAMENTAL
O tema do septenário sacramental refere-se à questão da
diversidade dos sacramentos. Para aprofundar este tema, leia as
obras de Borobio (1990 p. 350-360) e Ganoczy (1988 p. 48-51).
Por que existem vários sacramentos? Por que são sete?
Sobre esse tema, o Concílio de Trento condenou a opinião
que afirma haver "mais ou menos sete" sacramentos, afirmando
que são somente sete (DS 1601).
Não encontramos, de fato, na Escritura, fundamento que de-
monstre que os sacramentos sejam sete e nada mais.
Foi ao longo da história que, aos poucos, ao batismo e à eu-
caristia foram sendo acrescentados outros sinais sacramentais, au-
mentando o número dos sacramentos.
A pesquisa histórica não traz respostas sobre a organização
septenária dos sacramentos, embora possa encontrar uma expli-
cação para esse fato na função antropológica da administração dos
sacramentos pela Igreja.
© U3 – Sacramentos: Problemas Fundamentais de sua Teologia 67

Para Ganoczy (1988, p. 50),


Quanto ao número sete em si, talvez tenha razões muito diferentes
fundadas na história da cultura. Estudiosos da matéria são de opi-
nião de que esse número se tenha imposto por causa de seu sen-
tido místico. Não só filósofos pré-cristãos e o judeu platônico Filo,
mas também Santo Agostinho, atribuem ao número sete o sentido
da totalidade, da universalidade e globalidade. Como soma de três,
símbolo do divino, e de quatro, símbolo da perfeição cósmica, o
número sete apresentava-se como uma realidade santa, mística.
Para certos teólogos da Idade Média era a coisa mais evidente que
também os ritos, através dos quais se realiza a grande comunicação
entre Deus e o homem no culto cristão, tinham de se estruturar
segundo o modelo septenário.

Hoje compreendem-se como fundamentos da diversidade


sacramental e, portanto, do septenário sacramental, os princípios:
• cristológico: Cristo e seus atos e palavras;
• eclesiológico: a Igreja que prolonga a obra salvadora de
Cristo e que realiza essa missa assumindo e santificando
as diversas situações do mundo e da vida humana;
• antropológico: o homem que vê as diversas situações de
sua vida marcadas pela presença de Deus (nascimento –
batismo, pecado – penitência, vocação – matrimônio e
ordem, enfermidade – unção dos enfermos etc.).

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Qual a importância da eficácia para os sacramentos?

2) Quais são os dois principais efeitos do sacramento?

3) Segundo o Concílio de Trento, quem instituiu os sacramentos?

4) Que procedimentos você adotar para aprofundar seus conhecimentos sobre


os temas estudados?

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68 © Sacramentária Geral

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos a eficácia sacramental em seu de-
senvolvimento histórico, das origens até o presente, além de com-
preender suas várias dimensões.
Também estudamos as várias explicações para a instituição
dos sacramentos por Cristo. Por fim, analisamos as origens do sep-
tenário sacramental.
Partiremos agora para a última etapa de nosso estudo: o co-
nhecimento sobre os sacramentais, as bênçãos e exéquias.

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOROBIO, D. Da celebração à Teologia: que é um sacramento? BOROBIO, D. (Org.). A
celebração na Igreja – 1: Liturgia e Sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições
Loyola, 1990. p. 283-424.
CASEL, O. O mistério do culto no Cristianismo. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
DORÉ, J. (Org.). Sacramentos de Jesus Cristo. São Paulo: Edições Loyola, 1989.
GANOCZY, A. A ação sacramental de Deus através de Cristo segundo Calvino. In: DORÉ, J.
(Org.) Sacramentos de Jesus Cristo. São Paulo: Edições Loyola, 1989. p. 93-110.
______. Os sacramentos: estudo sobre a doutrina católica dos sacramentos. São Paulo:
Loyola, 1988.
GUILLET, J. De Jesus aos sacramentos. São Paulo: Paulinas, 1991. (Cadernos bíblicos 50).
NOCKE, F.-J. Doutrina geral dos sacramentos. In: SCHNEIDER, T. (Org.) Manual de
Dogmática. Petrópolis: Vozes, 2001. v. II. p. 171-204.
ROVIRA BELLOSO, J. M. Os sacramentos: símbolos do Espírito. São Paulo: Paulinas, 2005.
(Coleção Sacramentos e sacramentais).
SCHILLEBEECKX, E. Cristo, sacramento do encontro com Deus: estudo teológico sobre a
salvação mediante os sacramentos. Petrópolis: Vozes, 1968.
SEGUNDO, J. L. Os sacramentos hoje. São Paulo: Loyola, 1987. (Coleção Teologia aberta
para o leigo adulto 4).
EAD
Sacramentais

4
1. OBJETIVOS
• Compreender o sentido teológico dos sacramentais.
• Reconhecer as distinções e relações entre os sacramentos
e sacramentais.
• Entender o sentido teológico-litúrgico-pastoral das bên-
çãos e das exéquias.

2. CONTEÚDOS
• Sacramentais.
• Bênçãos.
• Exéquias.

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Para ampliar seus conhecimentos sobre os sacramentais,
procure distribuir racionalmente os períodos de estudo:
70 © Sacramentária Geral

organize seu horário de maneira que não fique saturado


e procure variar seu programa, alternando entre escre-
ver, ler, refletir, participar na Sala de Aula Virtual, realizar
atividades etc.
2) Volte às unidades anteriores para entender e recordar
os conceitos propostos. Consulte sempre o Glossário
quando surgirem ideias que ainda não foram completa-
mente assimiladas.
3) Recomendamos a leitura por várias vezes dos textos
deste material para fixar seus conteúdos. Para isso, re-
comendamos realizar pequenos apontamos com a finali-
dade de comparar e aprofundar pontos de destaque uti-
lizando-se das fontes aqui elencadas e que já indicamos
como indispensáveis para o estudo deste tema.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior estudamos sobre a eficácia sacramental
e as questões relativas à instituição dos sacramentos.
Nesta unidade entenderemos o que são os sacramentais, as
bênçãos e as exéquias, quais são suas divisões, em que momentos
podem ser usados e por quem podem ser ministrados.
Esta é a última etapa de nosso trabalho para o entendimento
do papel dos sacramentos na fé cristã.
Bons estudos!

5. SACRAMENTAIS: O QUE SÃO?


Vimos que nem tudo o que é sacramental se reduz aos sete
sacramentos e que, antes do século 12, usava-se o termo "sacra-
mento" para indicar todas as formas de cerimônias religiosas.
Foi somente com a reflexão teológica da Escolástica sobre os
sacramentos que começou a distinção entre sacramentos e sacra-
mentais.
© U4 – Sacramentais 71

Ainda que encontremos algumas dificuldades na doutrina


teológica dos sacramentais, sua distinção chegou até nossos dias
e, durante a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, foram dadas
algumas orientações para sua compreensão teológica e para sua
renovação.
Assim diz a Sacrosanctum Concilium (nº 60-61):
Além disso, a santa Mãe Igreja instituiu os Sacramentais. São sinais
sagrados, pelos quais, à imitação dos Sacramentos, são significa-
dos efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da
Igreja. Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber o efeito
principal dos sacramentos e são santificadas as diversas circunstân-
cias da vida. Por isso, a Liturgia dos Sacramentos e Sacramentais
consegue para os fiéis bem dispostos que quase todo acontecimen-
to da vida seja santificado pela graça divina que flui do Mistério
Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, do qual todos os
Sacramentos e Sacramentais adquirem sua eficácia. E quase não há
uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finali-
dade de santificar o homem e louvar a Deus.

Esses números da Sacrosanctum Concilium nos apresentam


uma síntese teológica dos sacramentais e sua relação com os sa-
cramentos.
Faz-se necessário retomar essa síntese, pois continua sen-
do um desafio definir teologicamente um conjunto de celebra-
ções tão diferentes que são vistas como sacramentais: bênçãos,
exorcismos, exéquias, consagração de pessoas e objetos, profissão
religiosa, novenas, dedicação de igreja e do altar, procissão, coroa-
ção de imagens, cinzas, ramos, adoração da cruz, lava-pés, santos
óleos, velas.
Somente partindo da compreensão da sacramentalidade
que brota de Cristo, sacramento original de sua Igreja, sacramental
principal da pessoa humana como sacramento existencial e do va-
lor sacramental da criação, é que é possível entender, em primeiro
lugar, os sacramentos, como vimos anteriormente, e, em segundo
lugar, os sacramentais.

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72 © Sacramentária Geral

É nesse sentido que os números da Sacrosanctum Concilium,


anteriormente citados, se inserem apresentando uma síntese teo-
lógica sobre os sacramentais e especificando suas principais carac-
terísticas, que elencamos a seguir:
1) Os sacramentos foram instituídos por Cristo e os sacra-
mentais foram instituídos pela Igreja, mas tanto os sa-
cramentos como os sacramentais celebram o Mistério
de Cristo.
2) Os sacramentos são sete – os sacramentais tem um nú-
mero ilimitado, pois não há situações da vida e uso das
coisas materiais que não possam servir para o louvor de
Deus e a santificação dos homens.
3) Os sacramentais imitam os sacramentos, ou seja, são
semelhantes a eles no modo como são celebrados: sau-
dações, proclamação da Palavra de Deus, orações, cânti-
cos, gestos, elementos simbólicos etc.
4) Os sacramentais produzem efeitos espirituais graças
à impetração da Igreja, ou seja, diferentemente dos
sacramentos que produzem o seu efeito ex opere operato
(dimensão objetiva – o sinal validamente posto) e ex
opere operantis (dimensão subjetiva – a resposta da fé),
os efeitos dos sacramentais derivam da oração da Igreja,
em outras palavras, da resposta da fé – as disposições
daquele que realiza o rito e daquele que o acolhe.
Assim afirma o Catecismo da Igreja Católica (nº 1.670):
Os sacramentais não conferem a graça do Espírito Santo à maneira
dos sacramentos, mas pela oração da Igreja preparam para receber
a graça e dispõem à cooperação com ela.

Os sacramentais estão relacionados com os sacramentos


enquanto os precedem e os seguem proporcionando aos fiéis a
participação plena no Mistério de Cristo. Para entender melhor: o
sacramento do batismo é precedido por uma série de sacramen-
tais: sinal da cruz, bênção do óleo, da água batismal e é seguido
por outra série de sinais sacramentais: entrega da veste branca,
da vela, a bênção final. E os sacramentais irão acompanhar aquele
que foi batizado por toda sua vida.
© U4 – Sacramentais 73

Este é o sentido do texto do Catecismo da Igreja Católica ci-


tado no item 4.
Podemos observar que os sacramentais, por suas caracte-
rísticas, então, derivam do sacerdócio batismal, uma vez que todo
batizado é chamado a ser sinal de santificação no mundo e em
todas as situações.
Justamente por estar ligado ao sacerdócio comum dos fiéis é
que a presidência da celebração dos sacramentais não está restrita
aos ministros, ordenados de modo que qualquer batizado pode
realizá-lo.
Sobre isso, vejamos o que diz a Sacrosanctum Concilium (nº
79):
Os Sacramentais sejam revistos, tendo-se em conta a norma bá-
sica de que a participação dos fiéis seja consciente, ativa e fácil,
e atendendo-se também às necessidades dos nossos tempos. Nos
rituais a serem revistos, conforme o art. 63, podem ser acrescen-
tados novos Sacramentais, segundo a exigência das necessidades.
As bênçãos reservadas sejam poucas, e só em favor dos Bispos e
Ordinários. Providencie-se que alguns Sacramentais, ao menos em
circunstâncias especiais e com o parecer do Ordinário, possam ser
administrados por leigos dotados de convenientes qualidades.

O Catecismo da Igreja Católica trata do tema dos Sacramen-


tais nos nos 1.667-1.690, sendo que o nº 1.667 apresenta a mesma
definição de sacramental apresentada pela SC 60; os nos 1.668-
1.670, os traços característicos dos sacramentais; nos 1.671-1.673,
as diversas formas de sacramentais; nos 1.674-1.676, a religiosida-
de popular; um resumo (nos 1677-1679) e de 1680-1690, os fune-
rais cristãos.
E o Catecismo da Igreja Católica (nº 1.668-1.669):
São instituídos pela Igreja em vista da santificação de certos mi-
nistérios seus, de certos estados de vida, de circunstâncias muito
variadas da vida cristã, bem como do uso das coisas úteis ao ho-
mem. Segundo as decisões pastorais dos Bispos, podem também
responder às necessidades, à cultura e à história próprias do povo
cristão de uma região ou época. Compreendem sempre uma ora-
ção, acompanhada de um determinado sinal, como a imposição da
mão, o sinal da cruz ou a aspersão com água benta (que lembra

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74 © Sacramentária Geral

o Batismo). Dependem do sacerdócio batismal: todo batizado é


chamado a ser uma "bênção" e a abençoar. "Eis por que os leigos
podem presidir certas bênçãos; quanto mais uma bênção se refe-
rir à vida eclesial e sacramental, tanto mais sua presidência será
reservada ao ministério ordenado (Bispos, presbíteros – "padres"
ou diáconos)".

Concluindo: os sacramentais podem ser celebrados por


qualquer batizado no exercício de seu sacerdócio batismal, ou
seja, sempre que se quer manifestar a presença de Deus nos acon-
tecimentos, nas pessoas e nas coisas.

Para aprofundar este conteúdo, leia as obras de Pouilly (2007b, p.


187-208) e Francisco (2004, p. 77-91).

6. DIVISÃO DOS SACRAMENTAIS


Pelo fato de existirem muitos sacramentais, eles foram divi-
didos de várias maneiras.
Usualmente, os sacramentais apresentam-se divididos em
duas categorias: os sacramentais-coisas e os sacramentais-ações,
distinguindo-se as coisas abençoadas e consagradas e as ações
que são as bênçãos, as consagrações, os exorcismos.
Pode-se perceber que esta divisão nem sempre facilita a
distinção entre os sacramentais. Por exemplo: a bênção dos ali-
mentos trata-se de um sacramental-coisa (alimentos) ou de um
sacramental-ação (bênção)?
Existe um livro litúrgico ou ritual próprio para a celebração
de cada uma destas consagrações.
Por essa razão, buscou-se novas formas de dividir os sacra-
mentais, e hoje o modo mais comum de apresentá-los é como ve-
remos a seguir.
© U4 – Sacramentais 75

Bênçãos
As bênçãos podem ser de pessoas, da mesa, de objetos e
lugares.
Toda bênção é louvor a Deus e pedido para obter seus dons.
Como afirma o Catecismo da Igreja Católica: "Em Cristo, os cris-
tãos são abençoados por Deus, o Pai "de toda sorte de bênçãos
espirituais" (Ef 1,3). É por isso que a Igreja dá a bênção invocando
o nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado da cruz
de Cristo" (nº 1.671).

Consagrações
As consagrações são as bênçãos que têm um alcance perma-
nente. Seu efeito é a consagração de pessoas a Deus e de objetos
e lugares para o uso litúrgico.
Entre as consagrações destinadas a pessoas (esta consagra-
ção não é a ordenação sacramental), podemos citar: a bênção do
abade e da abadessa de um mosteiro, a consagração das virgens,
o rito de profissão religiosa e as bênçãos para alguns ministérios
da Igreja (como os leitores, acólitos, ministros extraordinários da
eucaristia, catequistas etc.).
Entre as consagrações de objetos e lugares, encontram-se a
dedicação da igreja e do altar, a bênção dos óleos dos catecúme-
nos e dos enfermos, a consagração do óleo do crisma, a bênção
dos vasos e das vestes sagradas etc.
A bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e a con-
sagração do óleo do crisma são feitas pelo Bispo, reunido com o seu
presbitério na manhã da Quinta-feira Santa. Em seguida, esse óleo é
levado a cada uma das paróquias da diocese, para ser usado durante
a celebração dos sacramentos: o óleo dos catecúmenos (no batismo
de crianças e adultos), o óleo dos enfermos (na unção dos enfer-
mos) e o óleo do crisma (na confirmação ou crisma, nas ordenações
presbiterais e episcopais e nas dedicações de igreja e altar).

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Exorcismos
Os exorcismos constituem a ação que a Igreja faz para exi-
gir publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que
uma pessoa ou objeto sejam protegidos contra a influência do ma-
ligno, sendo subtraídas ao seu domínio.
Jesus, durante sua vida pública, realizou exorcismos (Mc
1,25ss; Lc 11,12) e é dele que a Igreja recebeu o poder e o encargo
de exorcizar. Encontramos os exorcismos simples durante a cele-
bração do batismo (de crianças e adultos).
As orações de exorcismos são mais elaboradas no Ritual de
Iniciação Cristã de Adultos (RICA) e seguem o esquema pedagógi-
co do catecumenato. No Ritual de Batismo de crianças são mais
simplificadas, como, por exemplo: "Deus da vida e do amor, vós
enviastes vosso Filho Jesus ao mundo para nos libertar do pecado
e da morte. Afastai destas crianças todo o mal e ajudai-as a com-
bater o bom combate. Como templos vivos do Espírito Santo, ma-
nifestem as maravilhas do vosso amor. Por Cristo, nosso Senhor"
(Ritual de Batismo de Crianças nº 55).
Após longo período de revisão, foi publicado em 2005 o
Ritual de Exorcismos e outras súplicas, conforme as normas da
Sacrosanctum Concilium. O exorcismo solene, no entanto, só
pode ser praticado por um sacerdote com a autorização do Bispo
e observando as regras estabelecidas pela Igreja. O Catecismo
adverte justamente que é preciso antes de tudo certificar-se de
que se trata de uma verdadeira possessão diabólica (nº 1.673) e
não de doenças psíquicas ou físicas que devem ser curadas com a
ciência médica.
Neste sentido, assim se expressa o Código de Direito Canô-
nico (1983, n. p.):
Cânon 1172 – § 1 – Ninguém pode legitimamente fazer exorcismos
em possessos a não ser que tenha obtido licença peculiar e expres-
sa do Ordinário local. § 2 – Essa licença seja concedida pelo Ordiná-
rio local somente a presbítero que se distinga pela piedade, ciência,
prudência e integridade de vida.
© U4 – Sacramentais 77

Sem deixar de considerar essa tríplice distinção dos sacra-


mentais, alguns preferem separá-los em sacramentais constituti-
vos (que não se repetem) de pessoas e coisas e sacramentais in-
vocativos (que se repetem quantas vezes se fizer necessário). Veja
a seguir o Quadro 1 com essa divisão:

Quadro 1 distinção dos sacramentais


SACRAMENTAIS
Constitutivos Invocativos
(irrepetível em si) (repetível)
Consagração

Profissão

- monástica Bênção
Pessoas
- religiosa Exorcismo

- outras formas

Bênção
Coisas
Dedicação
"Realidades Bênção
Bênção
cósmicas"
Exéquias
Fonte: Scicolone (1993).

7. CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTAIS


Seguindo as orientações da Sacrosanctum Concilium, deu-
-se a reforma litúrgica da celebração dos sacramentais, e para
cada um deles foi elaborado um rito próprio.
Nessa elaboração dos ritos dos sacramentais, foram consi-
derados, em primeiro lugar, os princípios básicos da reforma litúr-
gica: a centralidade do mistério de Cristo, a dimensão comunitária
e participativa da assembleia, a presença da Palavra de Deus e a
verdade dos sinais (a dimensão simbólica) e, em segundo lugar, o
específico de cada um dos sacramentais.

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Dessa maneira, temos diversos livros litúrgicos para a ce-


lebração dos sacramentais: o Ritual de Bênçãos, o Ritual de Exé-
quias, o Ritual de Exorcismo, o Ritual para a Consagração das Vir-
gens, o Ritual para a Dedicação da Igreja e do Altar e o Ritual para
a Profissão Religiosa.
Os sacramentais podem ser realizados dentro da celebração
eucarística ou fora dela, segundo suas características e o modo
como se ordena sua celebração. Como exemplo, temos a dedica-
ção da igreja e do altar, feita durante a celebração eucarística, mas
também há bênçãos que são feitas na missa e fora dela.
Normalmente, a celebração dos sacramentais fora da missa
segue um esquema celebrativo muito semelhante ao dos sacramen-
tos: saudação inicial, proclamação da Palavra de Deus, homilia, pre-
ces, oração de bênção ou consagração, oração e bênção final.
Agora que você já sabe o que são sacramentais e como são
celebrados, vamos estudar de maneira mais detalhada dois deles:
as bênçãos e as exéquias.

8. BÊNÇÃOS

O que são bênçãos?


As bênçãos são os sacramentais mais comuns e mais fre-
quentemente celebrados. Tais ritos são encontrados em todas as
religiões, não sendo algo exclusivamente cristão nem católico.
As pessoas pedem bênção para várias coisas e em muitas cir-
cunstâncias. Pedem a bênção não só para o ministro religioso, mas
também para outras pessoas, pois, quando o fazem, estão pedin-
do a proteção de Deus para si próprias, para os seus entes queri-
dos e para seus bens. Antigamente, os filhos pediam a bênção dos
pais, dos avós e de outras pessoas, como o padre, por exemplo;
costume esse que hoje deixa de ser observado. Observe se na re-
gião onde você mora ainda há esse costume.
© U4 – Sacramentais 79

Normalmente as pessoas distinguem as bênçãos que foram


oficialmente estabelecidas pela Igreja e que se encontram nos li-
vros litúrgicos das demais bênçãos ligadas à piedade popular.
As bênçãos têm raízes bíblicas, nas quais descobrimos que
são uma iniciativa de Deus e não uma invenção do homem. Con-
forme o Ritual de Bênçãos nº 1-2,
Fonte e origem de toda bênção é Deus, bendito acima de tudo, o
Deus de bondade, que fez todas as coisas para cobrir de bênçãos as
suas criaturas, e que sempre as abençoou, mesmo depois da queda
do homem, em sinal de misericórdia.
Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, o Pai enviou seu
Filho e, por meio dele, se fez homem, de novo abençoou os ho-
mens com toda sorte de bênçãos espirituais. E assim a maldição
antiga transmudou-se em bênção para nós quando "nasceu o sol
de justiça", Cristo nosso Deus, que expiando a maldição trouxe-nos
a bênção.

Esse sentido teológico da bênção é retomado pelo Catecis-


mo da Igreja Católica (nos 1.077-1.083), que, dentre outras coisas,
afirma, como pode ser visto no nº 1.082:
Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e co-
municada: o Pai é reconhecido e adorado como a fonte e o fim
de todas as bênçãos da criação e da salvação; no seu Verbo, en-
carnado, morto e ressuscitado por nós, ele nos cumula com suas
bênçãos, e através dele derrama em nossos corações o dom que
contém todos os dons: o Espírito Santo.

Bênção na História da Salvação


O Ritual de Bênçãos, na sua introdução, apresenta uma sín-
tese da História da Salvação, seguindo nos grandes momentos em
que Deus se tornou bênção para seu povo até chegar à vida da
Igreja, a qual continuou a dispensar para todos, e de muitas ma-
neiras, as bênçãos divinas.
Confira também a síntese que o Catecismo da Igreja Cató-
lica apresenta sobre a bênção na História da Salvação (nos 1.077-
1.083).

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80 © Sacramentária Geral

Alguns aspectos podem ser destacados nesta História da Sal-


vação: Deus abençoa o homem desde o momento da criação do
mundo (Gn 1,28; 2,2-3), e os homens, abençoados por Deus, aben-
çoam outras pessoas em Seu nome, chegando, por fim, a abençoar
Deus quando o bendiz por todas as maravilhas que ele criou e por
tudo o que realizou por nós.
Como algumas destas bênçãos, temos Noé e Jacó, que aben-
çoaram seus filhos e a bênção de Aarão, que até hoje é usada na
liturgia da missa, entre outras etc.
É neste sentido que as bênçãos podem ser vistas na tradição
judaica, na qual ocupam um lugar fundamental na prática litúrgica
e espiritual.
As bênçãos judaicas apresentam sempre estas duas dimen-
sões: Deus que abençoa o homem e o homem que abençoa (ben-
diz) a Deus.
Praticamente todas as orações judaicas têm um sentido de
bênção: é a Todah e a Berakah, que estão na origem das nossas
orações de bênção e da Oração Eucarística. Os judeus rezavam as
bênçãos várias vezes ao dia, sendo que elas ocupam um lugar de
destaque, como a chamada Shemoneh Esre (As dezoito bênçãos).
Essas duas dimensões podem ser percebidas na estrutura e
conteúdo das bênçãos por meio da anámnesis – que faz a memó-
ria dos grandes feitos de Deus em favor de seu povo, e da epíclesis
– que invoca e eleva a Deus as preces e o louvor.

Bênção cristã
Os cristãos assumirão esta forma de compreender e celebrar
a bênção em duas dimensões, colocando nela o memorial do mis-
tério pascal de Jesus Cristo, a bênção máxima de Deus-Pai, que,
expiando a maldição, trouxe-nos a bênção (Ritual de Bênçãos nos
2-3). E por isso é que podemos bendizer a Deus em Jesus Cristo,
seu Filho.
© U4 – Sacramentais 81

As orações de bênção apresentarão, segundo essa tradição,


as dimensões:
1) descendente (anámnesis – o memorial) que traduz "o
ser abençoado por Deus";
2) ascendente (epíclesis – a invocação, a súplica e o lou-
vor) que, de nossa parte se dirige a Deus, em Cristo e
que traduz "o bendizer a Deus". Dessa forma, a bênção é
sempre: ser abençoado e bendizer.

Recorde o tema da oração litúrgica estudado no curso de Introdu-


ção à Liturgia, no qual foram estudadas a estrutura e o conteúdo
da Ecologia: anámnesis e epíclesis. Lembre-se de que "bênção"
deriva do latim benedictio e do grego eulogia – ambos são traduzi-
dos como bem-dizer ou dizer bem de alguém ou de algo.

Um exemplo de bênção para que você compreenda o que


vimos até agora, de acordo com o Ritual de Bênçãos nº 55, Bênção
de Família:
Nós vos bendizemos, Senhor nosso Deus,
pois quisesses que o vosso Filho feito homem
participasse da família humana
e crescesse em estreita intimidade familiar,
para conhecer as aflições e provar as alegrias de uma família.
Senhor, nós vos rogamos humildemente por esta família;
protegei-a e guardai-a,
para que, confortada com o dom de vossa graça,
goze prosperidade, paz e harmonia, e dê no mundo testemunho de
vossa glória, comportando-se como verdadeira Igreja doméstica.
Por Cristo, Senhor Nosso. Amém.

Nessa bênção, encontramos as dimensões:


• ascendente (memorial): que recorda a encarnação do Fi-
lho de Deus no seio de uma família, manifestando assim a
importância da vida familiar e a dimensão;

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82 © Sacramentária Geral

• descendente (epíclesis): no louvor a Deus por nos ter


dado seu Filho que viveu em uma família e pedindo que,
tal qual abençoou a família de Nazaré com a vinda de seu
Filho, ele também proteja, guarde e abençoe a família
pela qual se reza neste momento.

Celebração das bênçãos


A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II pediu a revisão dos
sacramentais e, dentro deles, as bênçãos. Dessa maneira, após um
longo período de revisão, o Ritual de Bênçãos foi promulgado em
31 de maio de 1984.
O Ritual de Bênçãos é precedido por uma longa introdução
de caráter teológico-litúrgico, na qual se destaca a leitura que faz
da bênção na História da Salvação (nos 1-7) e na vida da Igreja (nos
8-15).
Veja, agora, a divisão do atual Ritual de Bênçãos, com as
bênçãos que constam em cada uma de suas partes:

Primeira parte – Bênçãos de pessoas


1) Bênção de famílias e de seus membros (de família, anual
das famílias em suas casas, de cônjuges, de crianças, de
filhos, de noivos, antes e depois do parto, pessoas idosas
em suas casas).
2) Bênção de enfermos.
3) Bênção de missionários.
4) Bênçãos referentes à catequese e à oração em comum
(daqueles que recebem o mandato da catequese, de um
grupo reunido para a catequese ou para a oração).
5) Benção de organizações de socorro nas necessidades es-
peciais.
6) Bênção de peregrinos.
7) Bênção para o início de uma viagem.
© U4 – Sacramentais 83

Segunda parte – Bênçãos de edifícios e de outras obras


1) Bênção de pedra fundamental.
2) Bênção de nova residência.
3) Bênção de novo seminário.
4) Bênção de nova casa religiosa.
5) Bênção de nova escola ou universidade.
6) Bênção de nova biblioteca.
7) Bênção de novo hospital ou de casa de saúde em geral.
8) Bênção de escritório, fábrica, casa comercial etc.
9) Bênção de edifício-sede de comunicação social.
10) Bênção de edifícios e instalações para educação física e
atividades esportivas.
11) Bênção de locais e de meios destinados a viagens.
12) Bênção de instrumentos técnicos especiais.
13) Bênção de instrumentos de trabalho.
14) Bênção de animais.
15) Bênção de plantações, campos e pastagens.
16) Bênção na apresentação de frutos novos.
17) Bênção da mesa.

Terceira parte – Bênçãos de lugares, elementos e objetos


destinados ou erigidos nas igrejas, para uso litúrgico ou
devocional.
1) Bênção de batistério ou de nova fonte batismal.
2) Bênção de nova cátedra ou de cadeira de presidência, de
ambão, tabernáculo ou confessionário.
3) Bênção de nova porta de igreja.
4) Bênção de nova cruz, que se vai colocar à veneração pú-
blica.
5) Bênção de imagens, que são colocadas à veneração pú-
blica dos fiéis.
6) Bênção do sino.
7) Bênção do órgão.
8) Bênção de objetos utilizados nas celebrações litúrgicas.

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84 © Sacramentária Geral

9) Preparação da água benta fora da missa.


10) Bênção das estações da via-sacra.
11) Bênção de cemitério.

Quarta parte – Bênção de objetos que favorecem à devoção do


cristão
1) Bênção de bebidas ou alimentos e de outras coisas, por
motivo de devoção.
2) Bênção de objetos, que se destinam à prática devocional.
3) Bênção de rosários de Nossa Senhora.
4) Bênção e imposição de escapulário.

Quinta parte – Bênçãos para diversos fins


• Bênção em ação de graças por benefícios recebidos.
• Bênção para várias circunstâncias.

Apêndices
A celebração destas bênçãos pode acontecer durante a mis-
sa, conforme o caso, e a sua presidência, somente em alguns casos
está reservada ao ministro ordenado, sendo que todas as demais
podem ser administradas por leigos e leigas.
Ainda que os leigos possam usar o Ritual de Bênçãos com-
pleto, foi publicada pela Congregação do Culto Divino uma edição
própria para leigos: Congregação para o culto divino (1991): ritual
de bênçãos por ministros leigos. São Paulo: Paulinas, 1991.
O esquema celebrativo a ser observado normalmente é o
seguinte:
1) ritos iniciais;
2) proclamação da Palavra de Deus;
3) homilia;
4) preces;
5) oração de bênção;
6) conclusão do rito.
© U4 – Sacramentais 85

Como se vê na introdução do Ritual de Bênção (nº 16), trata-


-se de uma verdadeira celebração com os diversos serviços e mi-
nistérios, como acontece em todas as celebrações com os modos
de participação (escuta, canto, oração, silêncio, responsório).
O Ritual de Bênção prevê, para alguns casos, uma forma bre-
ve de celebração:
• saudação;
• breve leitura da Palavra de Deus;
• oração de bênção.
Em nenhum caso, porém, é permitido abençoar objetos e
lugares apenas com o sinal da cruz, sem acompanhamento da Pa-
lavra de Deus ou de alguma oração para tornar mais ativa a parti-
cipação e evitar o perigo de superstição (cf. nº 17).
Para conhecer mais sobre as bênçãos, leia as obras de Pouilly
(2007b, p. 187-208) e Francisco (2004, p. 77-91).

9. EXÉQUIAS
Desde que somos batizados, participamos da morte e da res-
surreição de Cristo (Rm 6,4).
Essa participação no mistério pascal de Cristo se atualiza em
cada celebração dos sacramentos e dos sacramentais até que, pela
morte, celebramos a Páscoa para sempre e ressuscitamos para a
vida eterna.
Movidos pela fé na ressurreição é que a Igreja celebra as exé-
quias, ou ritos fúnebres, acompanhando seus filhos até sua última
morada, expressando pelas suas orações a índole pascal da morte
cristã (SC 81).
Os ritos fúnebres estão presentes em todas as culturas e reli-
giões, mas os cristãos viram, desde os primórdios, que pela morte
participamos da morte de Cristo – e com ele ressuscitamos –, pas-
sando a proclamar isso durante as celebrações exequiais.

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86 © Sacramentária Geral

É neste sentido que o dia da morte do cristão era chamado


dies natalis (dia do nascimento), porque nele se nasce para a
verdadeira vida, a vida eterna. "As exéquias (do latim ex-sequi, ex-
sequiae, seguir, acompanhar, encaminhar) são a série de ritos e
orações com que a comunidade cristã acompanha seus defuntos e
encomenda-os à bondade de Deus" (POUILLY, 2007a, p. 208).
Sobre as exéquias, assim se expressa o Catecismo da Igreja
Católica (nº 1.683):
A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente em seu seio o
cristão durante sua peregrinação terrena, acompanha-o ao final de
sua caminhada para entregá-lo "às mãos do Pai". Ela oferece ao
Pai, em Cristo, o filho de sua graça e deposita na terra, na esperan-
ça, o germe do corpo que ressuscitará na glória. Esta oferenda é
plenamente celebrada pelo Sacrifício Eucarístico. As bênçãos que a
precedem e a seguem são sacramentais.

No entanto, no seu conjunto, os ritos fúnebres não são nem


sacramento e nem sacramental, ainda que normalmente sejam
estudados com os sacramentais. Conforme o Catecismo da Igreja
Católica nº 1.684,
Os funerais cristãos não conferem ao defunto nem sacramento
nem sacramental, pois ele "passou" para além da economia sacra-
mental. Mas não deixam de ser uma celebração litúrgica da Igreja.
O ministério da Igreja tem aqui em vista tanto exprimir a comunhão
eficaz com o defunto quanto fazer a comunidade reunida participar
nas exéquias e lhe anunciar a vida eterna.

O ritual das exéquias tem, como se vê, uma dupla dimen-


são: acompanhar o defunto até sua última morada e acompanhar
a comunidade, principalmente os familiares, que continuam sua
caminhada na Terra para que sejam consolados com a fé na ressur-
reição que anunciam durante os funerais.
Para a celebração dos funerais, a Igreja conta com o Ritual
das Exéquias, publicado em 1969, com a revisão proposta pela Sa-
crosanctum Concilium 81-82, no qual se procurou adaptar os ritos
fúnebres para que correspondessem ainda mais às condições e
tradições das diversas regiões, bem como deixar que a linguagem
© U4 – Sacramentais 87

teológica sobre a morte estivesse em sintonia com os progressos


da antropologia teológica e das ciências humanas.
Um dos aspectos importantes do novo Ritual das Exéquias
refere-se à celebração exequial quando haverá cremação. Neste
caso, é possível fazer os ritos em uma capela ou em casa. Depois,
o corpo é levado ao crematório ou pode-se fazer a celebração na
capela do próprio crematório.
O ritual atual apresenta-se dividido como a seguir.

Praenotanda – introdução
1) Primeiro tipo: celebração na casa do defunto, procissão
até a igreja, celebração na igreja (missa ou liturgia da pa-
lavra seguida do rito da encomendação – commendatio,
procissão até o cemitério, celebração junto ao túmulo,
com bênção e inumação).
2) Segundo tipo: inteiramente no cemitério – celebração
na capela do cemitério (liturgia da palavra e rito da en-
comendação), procissão até o túmulo, celebração junto
ao túmulo com bênção e inumação.
3) Terceiro tipo: inteiramente na casa do defunto, liturgia
da palavra (ou missa) e rito da encomendação.
4) Missas para os defuntos (Missal).
Para concluir, um exemplo da Eucologia das exéquias:
Pai de misericórdia e Deus de toda consolação,
Vós nos acompanhais com amor eterno,
Transformando as sombras da morte em aurora de vida,
Olhai agora compassivo as lágrimas dos vossos filhos,
Dai-nos, Senhor, vossa força e proteção
Para que a noite da nossa tristeza se ilumine com a luz da vossa paz.
O vosso Filho e Senhor nosso, morrendo, destruiu a nossa morte,
E, ressurgindo, deu-nos novamente a vida.
Dai-nos a graça de ir ao seu encontro para que, após a caminhada
desta vida,

Claretiano - Centro Universitário


88 © Sacramentária Geral

Estejamos um dia reunidos com nossos irmãos


Onde todas as lágrimas serão enxugadas.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Para o aprofundamento no tema exéquias, leia Francisco


(2004, p. 93-103) e Pouilly (2007a, p. 209-217). Para aprofundar o
sentido dos vários ritos exequiais, leia a obra de Miranda (1998). Já
para o aprofundamento no sentido dos ritos fúnebres, leia Bayard
(1996).

10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS


Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) O que são os sacramentais?

2) Onde se encontram as raízes da benção?

3) Qual a importância das bênçãos na vida espiritual dos religiosos?

4) Qual é a relação entre as exéquias e a fé na ressurreição?

5) A participação que se adquire no batismo é conhecida pelos leigos religio-


sos? Qual a importância desse conhecimento para a plenitude da vida reli-
giosa dos cristãos?

6) Qual é o papel dos sacramentais em sua prática religiosa? Como eles ajudam
a ampliação de sua religiosidade?

7) O que você pode fazer para ampliar seus conhecimentos sobre os sacramen-
tais?

8) Você ainda tem dúvidas em relação aos conteúdos estudados? Quais proce-
dimentos podem ser utilizados para eliminar tais dúvidas?

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Nesta unidade, vimos que são vários os sacramentais e estu-
damos como eles se diferenciam dos sacramentos.
© U4 – Sacramentais 89

Vimos também que aconteceu uma reforma litúrgica para


atribuir um rito a cada sacramental, e que essa reforma levou em
consideração principalmente a centralidade do mistério de Cristo,
a dimensão comunitária e participativa da assembleia, a presença
da Palavra de Deus e a verdade dos sinais.
Tivemos ainda contato com as bênçãos e as exéquias e tam-
bém aprendemos como cada uma delas se relaciona com o univer-
so e a crença cristã.
Esperamos que as reflexões sobre os sacramentos que fize-
mos durante o estudo deste material tenham ajudado você a com-
preender melhor o universo religioso em que vive.
Nosso estudo encerra-se aqui, mas não nosso diálogo. Você,
ao optar pela Educação a Distância, pode contar com seu tutor,
além de todos os seus colegas de curso. Sempre que necessitar de
nossa ajuda, não tenha receio em nos contatar.
Foram muitas atividades, interatividades, horas de leitura e,
com isso, nosso dever está cumprido. Mais do que isso! Alguns dos
tópicos aprendidos aqui continuarão a ser refletidos ao longo de
todo o curso, pois são imprescindíveis à nossa formação.
A reflexão, a manutenção e a atualização diária de seus co-
nhecimentos sobre a Liturgia e seus desdobramentos devem ser
preservadas por você. É um hábito que contribuirá para a compre-
ensão desta área do saber. Consulte os livros indicados e aprofun-
de seus conhecimentos.
Foi um prazer conhecer, ensinar e aprender com você!
Boa sorte na continuidade de seus estudos!

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BAYARD, J. P. Sentido oculto dos ritos mortuários: morrer‚ morrer. São Paulo: Paulus,
1996.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ritual
de Bênçãos por ministros leigos. São Paulo: Paulinas, 1991.

Claretiano - Centro Universitário


90 © Sacramentária Geral

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS. Conferência


Nacional dos Bispos do Brasil. Ritual de Bênçãos. São Paulo/Petrópolis: Paulinas/Vozes,
1990.
______. Rito de Exéquias. São Paulo: Paulinas, 1986.
FRANCISCO, M. J. Exéquias. In: BUYST, I. Celebrar é preciso. In: BUYST, I., FRANCISCO, M.
J. (Org.). O mistério celebrado: memória e compromisso 2. Teologia litúrgica, Valência:
Siquem Ediciones, 2004. p. 93-103. (Coleção Livros Básicos de Teologia, 10).
______. Os sacramentais. In: BUYST, I. Celebrar é preciso. In: BUYST, I., FRANCISCO, M.
J. (Org.). O mistério celebrado: memória e compromisso 2. Teologia litúrgica, Valência:
Siquem Ediciones, 2004. p. 77-91. (Coleção Livros Básicos de Teologia, 10).
JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Vozes/Paulinas/Loyola/Ave
Maria, 1999.
MIRANDA, E. E. A foice da lua no campo das estrelas: ministrar exéquias. São Paulo:
Loyola, 1998.
POUILLY, A. A celebração da morte do cristão. In: CELAM. Manual de Liturgia IV: A
celebração do mistério pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a
liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007a. p. 209-217.
______. Os sacramentais. In: CELAM. Manual de Liturgia IV: A celebração do mistério
pascal: outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia na vida da Igreja.
São Paulo: Paulus, 2007b. p. 187-208.
SCICOLONE, H. et al. Os sacramentais e as bênçãos. Anámnesis 6. São Paulo: Edições
Paulinas, 1993.

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