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PATROLOGIA
Plano de Ensino
Caderno de Referência de Conteúdo
Caderno de Atividades e Interatividades
© Ação Educacional Clareana, 2010 – Batatais (SP)
Trabalho realizado pelo Centro Universitário Clareano de Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
PLANO DE ENSINO
1 APRESENTAÇÃO.................................................................................................. 7
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA........................................................................... 8
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................... 10
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ........................................................................................ 10
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 11
1
PE
1. APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo da disciplina Patrologia, disponi-
bilizada para você em ambiente virtual (Educação a Distância).
Como você poderá observar, nesta parte, denominada Ca-
derno de referência de conteúdo, encontraremos o conteúdo bási-
co das quatro unidades em que se divide a presente disciplina.
O estudo que ora se inicia irá levá-lo ao conhecimento das
noções preliminares sobre a história da literatura cristã referente
aos escritos da antiguidade cristã que nos chegaram por meio dos
escritos dos santos padres e outros escritores.
Iniciaremos estudando as noções gerais de Patrologia, bem
como sua definição, sua cronologia, sua divisão e ainda o ambien-
te sócio-político em que viveram os santos padres.
Na segunda unidade, identificaremos os padres apostólicos,
os apologistas, os escritores eclesiásticos e conheceremos, tam-
bém, as escolas teológicas.
8 © Patrologia
Ementa
Noções gerais de Patrologia e Patrística; padres apostólicos,
apologistas, escritores eclesiásticos e padres da Igreja; as escolas
teológicas: escolas de Alexandria, Antioquia e Cesaréia; a literatura
cristã latina e a grega; santos padres e heresias (arianismo, apolina-
rismo, nestorianismo, monofisismo, pelagianismo e donatismo).
Objetivo geral
Os alunos da disciplina de Patrologia do curso de Teologia,
na modalidade EAD do Claretiano, dado o Sistema Gerenciador de
Aprendizagem e suas ferramentas, serão capazes de reconhecer a
História da Igreja nos períodos Moderno e Contemporâneo e os
principais aspectos históricos desses momentos.
Com esse intuito, os alunos contarão com recursos técnico-
pedagógicos facilitadores de aprendizagem, como material didá-
tico mediacional, bibliotecas físicas e virtuais, ambiente virtual,
acompanhamento do tutor complementado por debates no Fó-
rum e na Lista.
Ao final desta disciplina, de acordo com a proposta orientada
pelo tutor, os alunos terão condições de interagir com argumentos
contundentes, além de dissertar com comparações e demonstra-
ções sobre o tema estudado nesta disciplina, elaborar um resumo,
ou uma síntese, entre outras atividades. Para esse fim, levarão em
consideração as ideias debatidas na Sala de Aula Virtual, por meio
de suas ferramentas, bem como o que produziram durante o es-
tudo.
Modalidade
( ) Presencial ( X ) A distância
10 © Patrologia
3. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste Plano de ensino você encontrou as orientações e infor-
mações práticas necessárias para o estudo da disciplina Patrologia
e suas etapas de desenvolvimento ao longo do curso.
Para o melhor desenvolvimento e aproveitamento desta dis-
ciplina, é importante que você interaja frequentemente com seus
colegas e tutores na Sala de Aula Virtual. Sua participação será im-
prescindível aos colegas e à avaliação final de seu desempenho.
Faça desta disciplina uma grande oportunidade de cresci-
mento e amadurecimento intelectual. Mais do que um subsídio
pedagógico, esta disciplina pretende estimulá-lo ao estudo e à
pesquisa sobre as religiões.
Bons estudos!
4. BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BOGAZ, A. S.; COUTO, M. A.; HANSEN, J. H. Patrística: caminhos da tradição cristã. São
Paulo: Paulus, 2008.
FIGUEIREDO, A. F. Curso de teologia patrística. Vozes, 1983-1990. Vol. 3.
HAMMAN, A. Os padres da igreja. São Paulo: Paulinas, 1980.
5. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BERARDI, D. Dicionário de antiguidades cristãs. Petrópolis/São Paulo: Vozes-Paulus,
2002.
DICIONÁRIO DE ANTIGUIDADES CRISTÃS. Petrópolis/São Paulo: Vozes-Paulus, 2002.
FIGUEIREDO, F. A. Introdução à patrística. Petrópolis: Vozes, 2009.
GÓMEZ, A. J. Manual de historia de la iglesia. Madrid: Publicaciones Claretianas, 1987.
PIERINI, F. Mil años de pensamiento cristiano. Bogotá: San Pablo, 1993.
ROST, L. Introdução aos livros apócrifos e pseudoepígrafos. São Paulo: Paulinas, 1980.
SCHLESINGER, H-P. H. Dicionário enciclopédico das religiões. Petrópolis: Vozes, 1995. Vol.
II.
SPANEUT, M. Os padres da igreja. São Paulo: Loyola, 2000-2002.
TREVIJANO, R. Patrología. Madrid: BAC, 1994.
VV. AA. Padres apostólicos: patrística. São Paulo: Paulus, 1995.
Caderno de
Referência de
Conteúdo
CRC
1. INTRODUÇÃO
A literatura apresentada para a elaboração do nosso mate-
rial de Patrologia é ampla, mas procuramos nos embasar em tex-
tos renomados e respeitados que estudam o assunto.
A bibliografia acerca da Patrologia é vasta, entretanto, deve-
mos levar em consideração que tais orientações seguem por ca-
minhos diversos, que devem ser compreendidos para que possam
ser utilizados.
A História da Igreja é ampla, especialmente devido à lon-
ga existência da instituição católica que perfaz dois mil anos, dos
quais passou em acompanhamento, fundamentação e inúmeras
transformações junto aos homens e sua história. A Patrologia ocu-
pa em torno de sete séculos dentro da História da Igreja e expressa
a produção dos grandes escritos dos tempos primitivos.
14 © Patrologia
PATRÍSTICA:
O termo deriva da expressão teologia patrística que os teólogos
do século 17 desenvolveram para distingui-la da theologia bíblica,
scholastica, speculativa et symbolica. A patrística não se identifica
com a história dos concílios e dos dogmas, embora, ao relacionar a
vida e a produção literária dos Padres da Igreja, também se ocupe
em apreciar-lhes a importância para a atividade sinodal da Igreja e
para o aprofundamento da fé (cf. SCHLESINGER, H-PORTO, H. Di-
cionário Enciclopédico das Religiões. Petrópolis: Vozes, 1995. v. 2).
PADRES DA IGREJA:
Conjunto de escritores eclesiásticos da antiguidade cristã, teste-
munhas da doutrina tradicional da Igreja... Em razão da língua,
dividem-se em Padres Gregos (Orientais) e Padres Latinos (Ociden-
tais). Os quatro maiores da Igreja ocidental são: Ambrósio, Agosti-
nho, Jerônimo e Gregório. Os três nomes mais conspícuos entre os
orientais são: Basílio, Gregório Nazianzeno e João Crisóstomo. O
termo PADRES, atribuído aos bispos e mestres da antiguidade cris-
tã, é de origem eclesiástica. Foi por primeiro aplicado aos Bispos do
Concílio de Nicéia (325). Partia-se da idéia análoga à do judaísmo,
de que personificavam o início da tradição (Eclo 8,9; Flávio Josefo,
Antiqu. 13,297). Gradativamente, as primeiras testemunhas des-
ta tradição, em geral, que eram bispos, passaram a ser os Padres
por excelência. Como o tempo, incluíram sob essa denominação
também presbíteros, como S. Jerônimo, e leigos, como Próspero
de Antioquia. Como a controvérsia nestoriana, o testemunho dos
Padres ganhou maior prestígio, multiplicando-se as coletâneas. No
Ocidente, a substância da doutrina dos Padres foi absorvida pela
teologia do começo da Idade Média. No Oriente, a era dos Padres
se encerrou com a Doctrina Patrum e as obras de João Damasceno
(c.650-754). (SCHLESINGER, H-PORTO H. Dicionário Enciclopédico
das Religiões. Petrópolis: Vozes, 1995, v. 2).
18 © Patrologia
PADRES APOSTÓLICOS
Escritos confeccionados após os escritos do novo testamen-
to, situados no fim do século 1º e meados do século 2º. Os Padres
Apostólicos foram discípulos dos Apóstolos, formaram um grupo
heterogêneo, escreveram em grego da koiné e tinham o estilo de
cartas pastorais. Estes escritos tinham um sentido de edificação e
de instrução.
a) DIDAKÉ (90-100);
b) CLEMENTE ROMANO;
c) INÁCIO DE ANTIOQUIA (+110);
d) CARTA DE BARNABÉ ou PSEUDO-BARNABÉ (140);
e) POLICARPO D ESMIRNA (130);
f) PAPIAS (135);
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APOLOGISTAS
Durante os três primeiros séculos, os cristãos sofreram com
as várias perseguições promovidas contra eles por parte do Estado
romano, das lideranças judaicas, dos intelectuais e do povo. Neste
contexto, a partir do início do século 2º, surgiu uma forma literária
de defesa e justificativa do Cristianismo: as apologias.
Como afirma Gómez:
[...] no início do século II alguns filósofos e oradores se fazem cris-
tãos. Estes intelectuais se sentem obrigados a sair em defesa do
cristianismo: 1.frente ao Estado, que estabelecera a pena de morte
contra os cristãos, os apologistas respondem que essa lei é injus-
ta porque os cristãos são cidadãos honrados que pagam impostos,
cumprem com suas obrigações civis e rogam pelo Estado e pelo Im-
perador; 2.ao povo, que considera os cristãos causadores de todas
as calamidades públicas, respondem apelando a manifesta morali-
dade e exemplo de vida dos cristãos; 3.aos intelectuais pagãos, que
“gozam” da novidade da religião cristã fundada por um ignorante,
Cristo, respondem que o cristianismo traz suas origens deste Moi-
sés, que é muito anterior aos filósofos gregos; [b]. os apologistas
não escreveram obras sistemáticas, ou verdadeiros tratados de re-
ligião, e sim obras polêmicas para refutar as objeções de seus ad-
versários; [c]. os escritos apologéticos começam no meio do século
II e terminam no século IV, depois da morte de Juliano, o Apóstata
em 363 (cf.: GÓMEZ, J.A. Manual de Historia de la Iglesia. Madrid:
Publicaciones Claretianas, 1995, p.49).
ESCRITORES LATINOS
Viveram em torno do mundo ocidental (Roma e Europa oci-
dental, norte da África). Nos séculos 4º e 5º houve grande flores-
cimento da literatura eclesiástica, que entrou em crise com as in-
vasões bárbaras e a queda de Roma. Estes escritores são menos
especulativos que os orientais, mais orientados às questões práti-
cas e disciplinares.
1) Santo Hilário de Poitiers (315-366): pagão e nobre, se
converteu ao ler a Bíblia. Combateu o arianismo.
2) Santo Ambrósio (340-397): nobre, advogado e gover-
nador de Milão. Foi grande orador e influenciou Agos-
tinho.
3) Prudêncio (348-405): espanhol, dominava o latim com
perfeição e é considerado o maior poeta cristão latino.
4) Rufino de Aquiléia (+410): monge e combateu questões
origenistas.
5) São Jerônimo (347-420): asceta e monge, o mais erudito
dos Padres do Ocidente e por seus escritos bíblicos.
6) Santo Agostinho (354-430): maior filósofo da era pa-
trística e um dos grandes gênios de todos os tempos.
Converteu-se ao Cristianismo. Escreveu e lutou contra as
heresias: maniqueísmo, donatismo, pelagianismo.
7) Cassiano (+435): teólogo, monge e autor clássico da vida
monástica.
8) São Leão o Grande (+461): é um dos papas mais ilustres
da antiguidade cristã. É autor da doutrina sobre as duas
naturezas de Cristo contra Eutiques.
9) Temos de citar vários outros: São Gregório Magno, Santo
Isidoro de Sevelha, Salviano de Marselha (+480); Vicente
de Lerins (+450); Santo Fulgêncio de Ruspe (+533); Cas-
siodoro (485-570); Venâncio Fortunato (+603).
Glossário de Conceitos
Este glossário permite a você uma consulta rápida e preci-
sa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio
dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento
dos temas tratados na disciplina Patrologia.
30 © Patrologia
Heresias: exigiram respostas ajudaram na Temas principais: Outros temas: fé cristã, Sagrada Escritura,
formação da ortodoxia (arianismo, catequese, penitência, liturgia, sacramentos,
apolinarismo, nestorianismo, monofisismo, -Santíssima Trindade mariologia, questão social, moral e
monotelismo, donatismo, pelagianismo). jurisprudência...
-Cristologia e Pneumatologia
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
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Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-
tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-
fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para o
estudo da unidade.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do
ser humano. É importante que você se atente às explicações
teóricas, prácas e cienficas que estão presentes nos meios de
comunicação, bem como parlhe suas descobertas com seus
colegas, pois, ao comparlhar com outras pessoas aquilo que você
observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece,
aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido
antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à
maturidade.
Você, como aluno do curso de Bacharelado em Teologia na
modalidade EAD e futuro profissional da educação, necessita de
uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você con-
tará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobre-
tudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organi-
ze bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
36 © Patrologia
1
1. OBJETIVOS
• Conhecer e aprofundar os temas ligados à Patrologia.
• Compreender as noções gerais de Patrologia.
• Analisar e interpretar divisão da era patrística.
• Reconhecer e identificar o contexto e ambiente dos san-
tos padres.
2. CONTEÚDOS
• Noções gerais de Patrologia.
• Nova Patrologia.
• Cronologia.
• Divisão da era patrística.
• Contexto e ambiente dos santos padres.
38 © Patrologia
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Bem-vindo ao estudo da disciplina de Patrologia!
Nesta primeira unidade, você estudará noções gerais de Pa-
trologia e aprofundará seus conhecimentos sobre o contexto e
ambiente dos santos padres.
Lembre-se de que, para acompanhar nossa reflexão e apro-
veitar este estudo, é imprescindível a leitura dos textos indicados.
Bom estudo!
Patrística
Vejamos agora uma definição de Patrística, bem como de pa-
dres da Igreja segundo Schlesinger:
O termo deriva da expressão teologia patrís!ca que os teó-
logos do século XVII desenvolveram para dis!ngui-la da theologia
bíblica, scholas!ca, specula!va et symbolica. A patrís!ca não se
iden!fica com a história dos concílios e dos dogmas, embora, ao re-
lacionar a vida e a produção literária dos Padres da Igreja, também
se ocupe em apreciar-lhes a importância para a a!vidade sinodal
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Padres Da Igreja
Conjunto de escritores eclesiásticos da antiguidade cristã, teste-
munhas da doutrina tradicional da Igreja [...] Em razão da língua,
dividem-se em Padres Gregos (orientais) e Padres Latinos (ociden-
tais). Os quatro maiores da Igreja ocidental são: Ambrósio, Agos-
tinho, Jerônimo e Gregório. Os três nomes mais conspícuos entre
os orientais são: Basílio, Gregório Nazianzeno e João Crisóstomo.
O termo PADRES, atribuído aos bispos e mestres da antiguidade
cristã, é de origem eclesiástica. Foi primeiro aplicado aos Bispos do
Concílio de Nicéia (325). Partia-se da ideia análoga à do judaísmo,
de que personificavam o início da tradição (Eclo 8,9; Flávio Josefo,
Antiqu. 13,297). Gradativamente, as primeiras testemunhas des-
ta tradição, em geral, que eram bispos, passaram a ser os padres
por excelência. Como o tempo,,incluíram sob essa denominação
também presbíteros, como S. Jerônimo, e leigos, como Próspero
de Antioquia. Com a controvérsia nestoriana, o testemunho dos
padres ganhou maior prestígio, multiplicando-se as coletâneas. No
Ocidente, a substância da doutrina dos padres foi absorvida pela
teologia do começo da Idade Média. No Oriente, a era dos padres
se encerrou com a Doctrina Patrum e as obras de João Damasceno
(c.650-754) (SCHLESINGER, 1995, p. 2005).
Nova Patrologia
O estudo da Patrologia, no decorrer dos séculos, passou por
processos de evolução e ampliação, Assim, Pierini, em sua obra
Mil Años de Pensamiento Cristiano, fala da nova Patrologia, com a
intenção de dar resposta a alguns critérios fundamentais que ele
expressa sinteticamente desta maneira:
a) O pensamento cristão representa a expressão de uma novidade.
b) A novidade cristã se expressa como uma atividade de comunica-
ção social que abarca todos os documentos, sob todos os aspec-
tos.
c) A novidade cristã, sendo uma atividade de comunicação social,
não abarca só documentos, mas também os monumentos.
d) A novidade cristã, em sua primeira fase, se estende por um arco
de mil anos.
6. CRONOLOGIA
Quando se fala na divisão da Patrologia, pode-se pensar
numa divisão por assuntos, por grupos de escritores cristãos ou
cronologia. Propomos aqui a divisão feita em períodos de um sé-
culo, exposta por Pierini:
Vejamos:
SÉCULO 1º
O cristianismo começa sua difusão no âmbito do Império Roma-
no. Aparecem os escritos dos mais antigos testemunhos cristãos,
a partir da I carta aos tessalonicenses, escrita por Paulo em torno
do ano 50. Nasce também uma literatura dos denominados padres
apostólicos, como a carta do papa Clemente aos coríntios, do ano
96. É a época na qual domina a mentalidade ´judeu-cristã(s)´. De-
clamação e cantos, salmodia de tipo responsorial, hinos e cânticos
são as formas originárias do canto e da música cristã.
SÉCULO 2º
O cristianismo vai se consolidando apesar das primeiras persegui-
ções. Seguem aparecendo as obras dos ´padres apostólicos´ (como
Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna), mas começa também
a apologética cristã, particularmente por obra de Justino. No final
do século, por causa do nascimento das heresias gnósticas, apare-
cem as controvérsias, com Irineu de Lyon. Começa a transição para
a mentalidade clássica. A língua usada é quase exclusivamente a
grega.
SÉCULO 3º
É o século no qual o cristianismo, que se consolidou definitivamen-
te, dá origem às primeiras verdadeiras correntes e escolas teológi-
cas e literárias: em Roma, com Hipólito e Novaciano; em Cartago,
com Tertuliano e Cipriano; em Alexandria do Egito, com Clemente
e Orígenes. A literatura cristã segue cada vez mais a linha clássica,
tanto na língua grega como na latina. Nasce a arte cristã nas cata-
cumbas e nas domus ecclesiae.
SÉCULO 4º
Começa a era constantiniana: o cristianismo obtém a paz e o reco-
nhecimento oficial por parte do império. Este momento de transi-
44 © Patrologia
SÉCULO 8º
No Oriente se desencadeou a luta contra os ícones, defendidos por
Germano de Constantinopla e João Damasceno. O II Concílio de Ni-
céia (787) aprova a doutrina dos ícones. No Ocidente está se desen-
volvendo um renascimento cultural e literário no ambiente anglo-
saxão, representado por Beda, o Venerável. Esse renascimento está
na raiz do incipiente renascimento carolíngio, tanto literário como
artístico, estimulado pela atividade de Alcuíno de York. No Império
Carolíngio, enquanto começam a entrar na práxis as fórmulas mu-
sicais da sequência, do tropo e do versus, se abre caminho para a
unificação das liturgias na liturgia romano-galicana (PIERINI, 1993,
p. 254-257).
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
10. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da primeira unidade introdutória de Pa-
trologia, com noções básicas para que você possa compreender os
objetivos deste curso e os principais temas a serem estudados.
Esperamos que agora possamos iniciar a próxima unidade,
aprofundando-nos mais sobre os autores e escritos patrísticos.
Bom estudo!
11. E! REFERÊNCIA
LIMA, A. R. ESTUDO DA DOUTRINA DOS SANTOS PADRES DA IGREJA. Disponível em: <
www.veritatis.com.br/area/32>. Acesso em: 02 ago. 2010.
2. CONTEÚDOS
• Padres apostólicos.
• Apologistas.
• Apologistas gregos.
• Apologistas latinos.
52 © Patrologia
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo da unidade anterior, você foi subsidiado com con-
teúdos relacionados à Patrologia.
Já nesta unidade entraremos em contato especialmente com
a literatura cristã dos três primeiros séculos, ou seja, o período que
vai do início do cristianismo até o Concílio de Nicéia (325).
Não nos deteremos nos escritos neotestamentários, pois
os mesmos são estudados na área bíblica. Do final do século 1°
até meados do século 2°, temos os chamados escritos dos padres
apostólicos, registrados no interior da Igreja e voltados para ela
mesma. São escritos de edificação mútua e instrução recíproca.
Apesar das perseguições iniciais e do surgimento das primei-
ras heresias e seitas, temos uma expansão do número dos cristãos.
Surgem, assim, os escritos que giram em torno da organização
eclesial e os que visam defender a Igreja dos ataques judeus e das
perseguições. No final do século 3°, surgirão escritores que apro-
fundarão vários temas ligados à dogmática cristã, com destaque
5. PADRES APOSTÓLICOS
Neste grupo elencamos os textos cristãos que foram escritos
logo depois dos escritos do Novo Testamento, situados no fim do
século 1° e meados do século 2° (alguns situam-nos entre os anos
70 a 170). Os padres apostólicos foram discípulos dos apóstolos e
mantiveram viva a tradição apostólica.
A denominação “Padres Apostólicos” foi usada pela primeira
vez por Cotelier, em 1672, fazendo menção aos escritos de Barna-
bé, Clemente Romano, Hermas, Inácio de Antioquia e Policarpo
de Esmirna. Posteriormente, foram incluídos neste grupo, Pápias,
Carta a Diogneto e a Didaqué ou Doutrina dos Apóstolos.
Tecnicamente, esses padres formam um grupo bem hetero-
gêneo; escrevem em grego da koiné e têm o estilo de cartas pas-
torais. Esses escritos são geralmente dirigidos em um sentido de
edificação e de instrução: eles entendem corroborar, explicar e
aprofundar a pregação oral.
Falando de suas características, Santidrián afirma que estes
escritos:
Representam a passagem ou ponte entre os escritos canônicos do
NT e a literatura subseqüente dos finais do século II, em que apare-
ce outro tio de escritos: apologistas, santos padres, historiadores,
etc. ´Dois dos santos evangelhos, Atos e cartas dos apóstolos, não
tem conjunto algum de obras que nos dêem uma impressão tão
imediata, tão íntima, tão cálida da vida da Igreja´. Os padres apos-
tólicos constituem a fonte primeira da tradição viva não canônica.
Nos permitem descobrir a fé e a práxis de uma Igreja que caminha
nutrindo-se da eucaristia e do evangelho, permanecendo na ora-
ção do Senhor e obediente aos pastores, representantes do único
pastor, Cristo. Esta Igreja primitiva, tal como aparece nos escritos
dos padres apostólicos, se apresenta como exemplo vivo da Igreja
54 © Patrologia
Padres Apostólicos
Vejamos, a seguir, os principais escritos:
Didaké (90-100)
A Doctrina apostolorum foi descoberta no ano 1883, em
Constantinopla, foi redigida entre os anos 90-100 d.C. em Antio-
quia e não se conhece o seu autor. É o documento mais importan-
te da era pós-apostólica e:
Uma espécie de manual de religião, que contém um catecismo mo-
ral (capítulo 1-6, a doutrina das duas vias, da vida e da morte) e um
ritual; este último trata do batismo, do jejum, da prece eucarísti-
ca e dita normas sobre o modo de receber os apóstolos, isto é, os
pregadores ambulantes, os profetas e os irmãos viajantes e, além
disso, sobre a celebração do domingo, sobre a eleição dos bispos e
diáconos (BYHLMEYER-TUECHLE, 1963, p. 173).
cia que lhe foi concedida sempre na Igreja como protótipo do ver-
dadeiro bispo.
Para Inácio, a eucaristia é “a carne de nosso Salvador Jesus Cristo,
que sofreu por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai ressus-
citou”. Ensina que para a unidade da Igreja é fundamental a comu-
nhão com a hierarquia: bispos, presbíteros e diáconos. Santo Inácio
utiliza, pela primeira vez, o termo “Igreja católica” para designar a
verdadeira Igreja de Jesus Cristo. “Onde aparece o bispo, aí esteja
a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a
Igreja católica”. Distingue a comunidade de Roma dentre todas as
demais. É ela a igreja que “preside na região dos romanos, digna de
Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor,
digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta
a lei de Cristo, que porta o nome do Pai...” Lá os apóstolos Pedro e
Paulo selaram seu testemunho. Em Roma se encontra o autêntico
magistério da fé. Seu martírio ocorreu por volta do ano 110 (Dis-
ponível em: <www.bibliacatolica.com.br/historia_igreja12php>.
Acesso em: 02 ago. 2010.
INÁCIO AOS EFÉSIOS
Exortação à unidade. Não vos dou ordens como se fosse uma pes-
soa qualquer. Embora eu esteja acorrentado por causa do Nome,
ainda não atingi a perfeição em Jesus Cristo. Com efeito, agora es-
tou começando a aprender e vos dirijo a palavra como a condis-
cípulos meus. Sou eu quem teria necessidade de ser ungido por
vós com a fé, a exortação, a perseverança e a paciência. Todavia, o
amor não me permite calar a respeito de vós. É por isso que dese-
jo exortar-vos a caminhar de acordo como o pensamento de Deus
(FRANGIOTTI, 1995, p. 82-83).
INÁCIO AOS ROMANOS.
Não impedir o martírio. Não desejo que agradeis aos homens, mas
que agradeis a Deus, como de fato o fazeis. Eu não teria outra oca-
sião como esta para alcançar a Deus, e vós, se ficásseis calados, po-
deríeis assinar obra melhor. Se guardásseis silêncio a meu respeito,
eu me tornaria pertencente a Deus. Se amais minhas carne, porém,
ser-me-á preciso novamente correr. Não desejeis nada para mim,
senão ser oferecido em libação a Deus, enquanto ainda existe altar
preparado [...]
Sou trigo de Deus. Escrevo a todas as Igrejas e anuncio a todos que,
de boa vontade, morro por Deus, caso vós não me impeçais de o
fazer. Eu vos suplico que não tenhais benevolência inoportuna por
mim. Deixai que eu seja pasto das feras, por meio das quais me é
concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído pelos
dentes das feras, para que me apresente como trigo puro de Cristo.
Ao contrário, acariciais as feras, para que se tornem minha sepul-
tura e não deixem nada do meu corpo, para que, depois de morto,
eu não pese a ninguém. Então eu serei verdadeiramente discípulo
de Jesus Cristo, quando o mundo não vir mais o meu corpo [...]
(FRNANGIOTTI, 1995, p.104-105).
Carta a Diogneto
É um texto de autor desconhecido, mas alguns o atribuem
a Panteno, predecessor de Clemente de Alexandria, no ensino fi-
losófico em Alexandria e, portanto, refletindo um ensinamento
típico alexandrino. Alguns autores defendem que foi escrita por
Quadrato, ao imperador Adriano, em torno do ano 120, em Ate-
nas. É um escrito apologético, e a maioria dos críticos a situam no
século 2°, outros no século 3°, mas alguns colocam este escrito na
lista dos escritos dos Padres Apostólicos. O melhor de toda a carta
é sua descrição da vida dos cristãos: “o que é a alma no corpo, isso
são os cristãos no mundo”. Ela traz também uma breve refutação
do paganismo e do judaísmo e explica o tardio aparecimento da
religião cristã.
Refutação do culto judaico. Por outro lado, creio que desejas par-
ticularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira dos
judeus. Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que
falamos antes, e prestam culto a um só Deus, considerando-o Sen-
hor do universo. Contudo, erram quando lhe prestam um culto
semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos demonstram
idiotice, sacrificando as coisas insensíveis e surdas, eles também,
pensando oferecer a Deus coisas, como se ele tivesse necessidade
delas, realizam algo que é parecido à loucura, e não com ato de
culto (FRANGIOTTI, 1995, p. 21).
A alma do mundo. Em poucas palavras, assim como a alma está
no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalha-
da por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as
cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do
corpo; os cristãos habitam no mundo mas não são do mundo. A
alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos
no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a
64 © Patrologia
6. APOLOGISTAS
Durante os três primeiros séculos da antiguidade cristã, já a
partir do próprio Cristo, os cristãos sofreram com as várias perse-
guições promovidas contra eles por parte do Estado romano, das
lideranças judaicas, dos intelectuais e do povo. Nesse contexto, es-
pecialmente a partir do início do século 2°, foi surgindo uma forma
literária de defesa e justificativa do cristianismo. Contra os adver-
sários do cristianismo, surgiram as apologias.
Como afirma Gómez:
a) no início do século 2º, alguns filósofos e oradores se fa-
zem cristãos. Esses intelectuais se sentem obrigados a
sair em defesa do cristianismo;
b) frente ao Estado, que estabelecera a pena de morte
contra os cristãos, os apologistas respondem que essa
lei é injusta porque os cristãos são cidadãos honrados
que pagam impostos, cumprem suas obrigações civis e
rogam pelo Estado e pelo imperador;
c) ao povo, que considera os cristãos causadores de todas
as calamidades públicas, respondem apelando a mani-
festa moralidade e exemplo de vida dos cristãos;
d) aos intelectuais pagãos, que “gozam” da novidade da
religião cristã fundada por um ignorante, Cristo, respon-
dem que o cristianismo traz suas origens desde Moisés,
que é muito anterior aos filósofos gregos;
e) os apologistas não escreveram obras sistemáticas, ou
verdadeiros tratados de religião, e sim obras polêmicas
para refutar as objeções de seus adversários;
7. APOLOGISTAS GREGOS
Vejamos, agora, detalhadamente, alguns dados dos princi-
pais apologistas gregos:
Quadrato (123-124)
Este apologista foi discípulo do apóstolo João, provavelmen-
te na Ásia Menor. Escreveu em Atenas, em torno do ano 125, uma
apologia ao imperador Adriano (117-138) e, por meio de Eusébio
de Cesaréia, dela só se conservou um pequeno fragmento que fala
dos milagres e curas de Jesus.
Aristides de Atenas (136-161)
Segundo Eusébio, enquanto vivia em Atenas, Aristides es-
creveu uma apologia aos imperadores Adriano e Antonino Pio. É
considerada a apologia mais antiga que se conserva integralmen-
te. Fala da religião dos bárbaros, gregos, judeus e cristãos, desta-
cando que só os cristãos têm o conhecimento preciso de Deus.
Em seguida, insistiu no estilo de vida dos cristãos, exemplo para a
sociedade romana.
Aristão de Pela (140)
Considerado o mais antigo apologista cristão grego, publicou
o Diálogo entre Jasão e Papisco, datado de 140. Aristão era antiju-
deu e tentou mostrar o cumprimento das profecias do Antigo Tes-
tamento na pessoa e na obra de Jesus Cristo. Esta obra foi muito
utilizada em debates posteriores com o judaísmo.
Atenágoras (177)
Foi um filósofo de Atenas e é considerado o mais eloquente
dos apologistas. Após o ano 177, escreveu uma Súplica em favor
dos cristãos defendendo-os das acusações de ateísmo, festins tiés-
ticos e incestuosos, dirigida a Marco Aurélio e Cômodo. Essa obra
tem grande profundidade filosófica, mas distingue o cristianismo
das outras doutrinas filosóficas de seu tempo. Em sua obra De Res-
surrectione, demonstrou com clareza a fé cristã na ressurreição do
corpo e procurou tirar o escândalo que essa doutrina sugeria aos
pagãos; tratou de provar a unidade de Deus por argumentos da
razão, esclarecendo o tema da Santíssima Trindade.
Teófilo de Antioquia (180)
Foi bispo de Antioquia e contemporâneo do imperador Cô-
modo (180-192). Escreveu três livros dirigidos a um amigo, pagão
e culto, chamado Autólico, que o reprovou por sua conversão ao
cristianismo, por isso, a obra se chama A Autólico. Teófilo dividiu
essa obra em três temas: no livro I, trata do conhecimento de Deus
respondendo às objeções contra a fé em um Deus invisível; no li-
vro II, trata do tema da ressurreição como continuidade ao Antigo
Testamento e no livro III comenta sobre a origem recente do cris-
tianismo, ligando-o com as próprias origens do mundo.
Melitão de Sardes (170)
Na Lídia, Melitão de Sardes ou bispo de Sardes, era venerado
como profeta e grande cristão da Ásia Menor. Durante a persegui-
ção de Marco Aurélio, dirigiu uma apologia ao imperador, em torno
do ano 170, na qual expressou, inicialmente, sua lealdade a ele. Só
se conservaram alguns fragmentos da apologia, que foi considera-
da, também, uma homilia pascal, marcada pelo tom antijudaico e
por uma cristologia muito consistente em torno da doutrina das
duas naturezas. Foi o primeiro a promover uma eficaz colaboração
entre o cristianismo e o Império, o que só traria prosperidade e
benefícios a ambos.
68 © Patrologia
Justino (165)
É o mais importante de todos os apologistas. Nasceu em Si-
quém, de pais pagãos, era filósofo e morreu martirizado no tempo
de Marco Aurélio, em torno de 165. Ele foi estoico, peripatético,
pitagórico e platônico. Mas em nenhuma dessas escolas filosóficas
encontrou a paz religiosa e intelectual. Um dia, um ancião, passe-
ando pela margem do mar, falou-lhe dos profetas, os únicos que
tinham anunciado a verdade. Refletindo sobre as palavras do an-
cião, que desapareceu misteriosamente, encontrou a resposta: só
os profetas e os amigos de Cristo possuíam a autêntica filosofia. A
busca da verdade e o comportamento heroico dos mártires ante a
morte o levaram à verdade cristã.
Após passar um tempo em Atenas, Justino abriu uma escola
de filosofia em Roma, onde foi martirizado, denunciado pelo filó-
sofo Crescente, que era seu opositor. Seu desejo era mostrar que
o encontro do homem com Deus, que se buscava pelas filosofias
de sua época, só podia se realizar no cristianismo. Escreveu muitas
obras, com destaque para as duas Apologias (150) dirigidas a An-
tonino Pio e a seus filhos adotivos, Marco Aurélio e Lúcio Vero, nas
quais defende o cristianismo das acusações correntes, e o Diálogo
contra o judeu Trifão, na qual mostrou a um rabino a divindade
do cristianismo. Ele queria conciliar o cristianismo e o platonismo,
mas, às vezes, tinha expressões pouco felizes quando tentava ex-
plicar os mistérios cristãos. Nelas nos ofereceu, também, notícias
da liturgia cristã do século 2º.
Taciano (170)
Era natural da Síria e se converteu ao cristianismo, sendo
discípulo de São Justino, mas posteriormente contrastou com Jus-
tino no que diz respeito à filosofia e à cultura não cristã. Em 170,
escreveu o Discurso contra os gregos, que é uma polêmica contra
a mitologia, a filosofia e a cultura em geral. Taciano rejeitou a acu-
sação de novidade da religião cristã, com apelo à antiguidade dos
8. APOLOGISTAS LATINOS
Destacaremos, agora, os apologistas latinos e suas caracte-
rísticas.
Arnóbio de Sica (300)
Era norte-africano, da região da Numídia, e foi mestre em re-
tórica. Converteu-se ao cristianismo e escreveu no início do século
4° sete livros Contra os pagãos, para justificar diante do bispo de
Sica a sua conversão sincera ao cristianismo.
Lactâncio (+317)
Apologista africano que tinha um estilo elegante e era consi-
derado como o Cícero cristão. O imperador Diocleciano o nomeou
mestre em eloquência latina em Nicomédia e, com as persegui-
ções, teve que deixar esse cargo, vivendo precariamente. Mais
tarde, foi levado pelo imperador Constantino para Tréveris para
educar o seu filho Crispo. Escreveu várias obras e foi considera-
Gregos
Panteno
Considerado o fundador da Escola Catequética de Alexan-
dria, não deixou escritos, mas ensinou por mais de 20 anos na Es-
cola Catequética de Alexandria (180-202) e influenciou vários es-
critores desse período.
Clemente Alexandrino
Filho de pais pagãos, nasceu em Atenas no ano de 150. Per-
correu a Itália, Síria e Palestina para instruir-se com os mestres
cristãos mais renomados. O mestre que mais o influenciou foi Pan-
Latinos
A língua grega esteve em uso na Igreja ocidental até início
do século 3°, inclusive a Bíblia era lida em grego. A Bíblia traduzida
para o latim começou a encontrar leitores só a partir do século 3°.
A literatura latina cristã teve seu primeiro e principal foco na ex-
pansão no norte da África. A figura mais importante foi Tertuliano,
Antioquia
Em Antioquia, capital da Síria, vivia uma importante colônia
judaica e essa cidade foi grande centro do pensamento cristão
antigo, formada inicialmente por judeus e gentios convertidos ao
cristianismo. O livro Atos dos apóstolos relata a importância dessa
comunidade, onde os seguidores de Cristo receberam pela primei-
ra vez o nome de cristãos (At. 11,26):
Sob o nome de Escola Antioquena se congrega um punhado de
escritores cristãos que praticavam uma exegese gramatical e his-
tórica, voltada para o sentido literal da Escritura, em oposição ao
alegorismo alexandrino. A primeira figura a ilustrá-lo foi Luciano
de Antioquia (+312), natural de Samósata e que foi praticamente o
fundador da Escola (SCHLESINGER H-PORTO, 1995).
Cesaréia da Palestina
Nesta cidade, às margens do Mediterrâneo, em 230, Oríge-
nes, que é considerado um dos maiores pensadores do cristianis-
mo antigo, fundou uma escola cuja importância durou entre os
séculos 5° e 6°. Como Orígenes foi educado em Alexandria, a Esco-
la de Cesareia segue a linha alegórica e liberal na interpretação da
Bíblia e também é influenciada pelo platonismo. Ela possuía uma
importante biblioteca e nela estudaram Eusébio de Cesaréia, Gre-
gório Taumaturgo, Clemente Alexandrino, São Basílio de Cesaréia,
escritores cristãos importantes dos séculos 3° e 4°.
13. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao término da segunda unidade da disciplina Pa-
trologia! Nesta unidade conhecemos os escritos patrísticos dos
primeiros séculos, bem como os padres apostólicos, os apologistas
da época e as escolas teológicas.
Com tais conhecimentos, estamos aptos a estudar, na próxi-
ma unidade, os padres do Ocidente e os padres do Oriente.
Até lá!
14. E! REFERÊNCIA
BIBLIA CATOLICA. Disponível em: <www.bibliacatolica.com.br/historia_igreja12php>.
Acesso em: 2 ago. 2010.
2. CONTEÚDOS
• Padres do Ocidente e do Oriente grego.
• Escritores gregos.
• Escritores latinos.
88 © Patrologia
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você foi convidado a compreender a
literatura cristã dos três primeiros séculos, ou seja, o período que
vai do início do cristianismo até o Concílio de Nicéia (325).
Nesta terceira unidade, estudaremos a literatura cristã dos
séculos 4º ao 7º, considerando que este é o período áureo da Pa-
trologia com as grandes obras teológicas escritas por grande nú-
mero de escritores gregos e latinos.
Para maior compreensão do tema, dividiremos em dois pe-
ríodos:
a) padres latinos;
b) padres gregos.
Para tanto, vamos considerar o contexto geográfico e social
distinto de cada grupo.
Vamos lá?
6. ESCRITORES GREGOS
São chamados de escritores gregos os padres que viveram e
desenvolveram suas atividades apostólicas e intelectuais no con-
texto do antigo império do Oriente, que, inicialmente, teve seu
centro em Antioquia, Jerusalém e Alexandria e, depois, a partir do
século 4º, em Constantinopla. Os padres gregos são considerados
mais especulativos que os latinos e seguiam a linha da escola de
Alexandria ou a da escola de Antioquia.
Os padres orientais ou gregos, conviveram diretamente com
o problema do combate às doutrinas heréticas e do fortalecimento
da ortodoxia cristã. Basta recordar que as grandes heresias surgi-
ram no contexto geográfico oriental e lá foram realizados todos os
concílios ecumênicos antigos em Nicéia, Constantinopla, Éfeso e
Calcedônia. Há que se recordar também que no período de Juliano,
o Apóstata (360-363), houve um marcante retorno ao paganismo,
já que este imperador era anti-cristão. A ação dos padres gregos
foi marcante no combate ao paganismo, ao Arianismo, condenado
no concílio de Nicéia, em 325; ao Apolinarismo e Nestorianismo,
condenados no concílio de Constantinopla, em 381 e em Éfeso, em
431;ao monofisismo, condenado em Calcedônia, em 451. É neste
contexto que se destacaram vários Santos Padres, que conhecere-
mos a partir de agora.
Vejamos alguns desses escritores:
Dídimo (+395)
Dídimo, cego desde a infância, foi leigo, teólogo e asceta
e um dos maiores sábios de seu tempo. Foi diretor da Escola de
Alexandria e mestre de São Jerônimo e Rufino. Escreveu Tratado
sobre o Espírito Santo, Contra os Maniqueus, Sobre a Trindade e
Sobre os dogmas e contra os arianos.
7. ESCRITORES LATINOS
Os padres latinos são escritores que viveram em torno do
mundo romano do Ocidente, com seu centro em Roma e outras
regiões da Europa ocidental. Há também os que viveram no nor-
Prudêncio (348-405)
Prudêncio nasceu em Calahorra, Espanha. Dominava o latim
com perfeição e é considerado o maior dos poetas cristãos latinos.
Ocupou vários cargos públicos até se dedicar totalmente a Cristo.
Escreveu várias obras: Cathemerinon (livro diurno), com doze odes
piedosas, Peristephanon (livro das coroas), com 14 poemas dedi-
cados aos mártires, Hamartigenia (origem do pecado), Apotheosis
etc.
que ele conhecia por experiência própria. Somente a graça pode ar-
rancá-lo do encantamento produzido pelas “sereias da carne”. Sua
experiência espiritual havia despertado nele a percepção do auxílio
e do mistério de Deus e fizera-o avaliar até que ponto o homem se
encontra ferido pelo pecado do mundo. O bispo de Hipona torna-
se par a posteridade o doutor da graça. Não quer dizer que seu
sistema não tenha falhas; ele, porém, percebeu com uma acuidade
excepcional a ação de Deus e a dependência do homem inscritas
em todas as páginas da Bíblia.
O mestre de Hipona viveu o tempo suficiente para assistir à toma-
da de Roma pelos soldados de Alarico. A derrota foi atribuída ao
cristianismo pelos pagãos. Os tempos de catástrofe inspiraram ao
bispo a Cidade de Deus, um dos livros mais lidos a julgar pelos 382
manuscritos existentes nas bibliotecas. Trabalhou nele durante ca-
torze anos, redigindo ao mesmo tempo seu tratado Sobre a Trinda-
de, a obra de maior importância a seus próprios olhos. Propõe, na
Cidade de Deus o problema dos dois poderes e da caducidade das
civilizações, e desenvolve, pela primeira vez, uma filosofia cristã da
história.
A obra que ainda melhor nos revela o escritor é sua correspondên-
cia; 225 de suas cartas conservam-se até hoje. Elas não possuem
a elegância e a mordacidade das de Jerônimo. Demonstram uma
bondade de alma inesgotável, que consola e instrui, uma autori-
dade universalmente consultadas sobre as questões mais diversas,
referentes à vida e à doutrina cristãs.
A obra oratória é considerável. Restam-nos cerca de mil sermões e
homilias, e a sagacidade dos pesquisadores continua enriquecendo
ininterruptamente a coleção. Temos, outrossim, o Evangelho e a
Epístola de João comentados para os fiéis de Hipona, as Ennarratio-
nes in psalmos, s homilias sobre o saltério, onde se revelam a dou-
trina e a qualidade espiritual, mas também a piedade de Agostinho.
Toda a sua teologia encontra-se em sua pregação: ele simplifica-a,
sem jamais vulgariazá-la.
Agostinho mantém-se junto de seu povo, que ele ama e que o
amam. Como se conhecem e se perdoam! Em parte alguma apa-
recem melhor a ternura, a imensa caridade deste homem que sa-
crificou seus gostos pessoais para servir ao rebanho que lhe fora
confiado. Este retórico cheio de prestígio, considerado um mestre
na arte da palavra, cujos artíficios conhecia todos, renuncia a isto
para se adaptar ao auditório. Contenta-se com recursos popula-
res: a antítese, a rima sonora, a fórmula que serve de provérbio.
Maneja a antítese até cansar-se. Ela era mais do que um jogo de
sua arte; exprimia o fundo de seu espírito: o confronto das duas
cidades, o confronto dos dois amores, aquele que já o consumira
e o que nele ardia agora. A pregação tempera os exageros de sua
Quantos males, se não nos atos, nas palavras, se não nas palavras,
na vontade!
Mas és bom e misericordioso, Senhor; com tuas mãos exploraste
minhas vísceras mortais, e purificaste minha alma em seu abismo
de corrupção. Asism fizeste quando não mais queria o que antes
tanto desejava; queria só aquilo que tu querias. Onde estivera meu
livre-arbítrio por tanto tempo? De quais profundidades secretas
emergiu num instante, para que eu pusesse minha cabeça nob o
teu suave jugo, e sobre meus ombros teu fardo leve, ó Cristo Jesus,
ajuda e redentor? Como, de repente, foi doce a privação das falsas
doçuras! Aquilo que eu temia perder, alegrava-me, agora, em aban-
donar. Na verdade, tu, suprema e verdadeira doçura, as afastavas
de mim, e te colocvas em seu lugar, tu, o mais doce de todos os
prazeres - não para a carne, por certo -, a mais brilhante das luzes,
o mais íntimo dos segredos, a mais sublime das honras – mas não
para os que axaltam a si mesmos. Minha alma se libertara da cor-
rosão das ambições e da avareza, dos pruridos da paixão. Agora me
entretinha em ti, minha grandeza, minha riqueza e minha salvação,
Senhor Deus meu (VIGINI, 2000, p. 148)
Cassiano (+435)
Cassiano nasceu no Oriente, foi teólogo, monge e autor clás-
sico da vida monástica. Viveu em Roma, depois em Marselha; foi
grande incentivador do monarquismo com suas obras: Collationes
Patrum (conferências dos padres do deserto) e Sobre as institui-
ções dos cenóbios.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Ficou clara a ação e importância dos Santos Padres na
vida do Cristianismo e na formação da ortodoxia cristã?
2) Em qual contexto eclesial e social se inserem a vida e os
escritos dos Santos Padres dos séculos 4º e 5º?
3) Você assimilou o conteúdo dos escritos dos principais
Santos Padres?
9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade conhecemos os padres do Oriente e do Oci-
dente, a literatura cristã entre os séculos 4º e 7º, bem como gran-
des obras teológicas de escritores gregos e latinos.
Na próxima unidade, destacaremos a relação dos santos pa-
dres com as heresias e estudaremos, ainda, alguns temas doutri-
nais.
Até lá!
10. E REFERÊNCIA
Santos, J. M. texto Disponível em: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm
?IDmat=183&mes=fevereiro2002> Acesso em: 23 ago. 2010.
2. CONTEÚDOS
• Santos padres e heresias.
• Patrologia e temas doutrinais e pastorais.
• Santíssima Trindade e cristologia.
• Perseguições e apologias.
• Questão social.
116 © Patrologia
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como afirmamos na unidade anterior, um dos fatores que
provocou o incremento da ação dos santos padres e seus escritos
foi o surgimento das heresias e sua grande expansão nos séculos
4° e 5°. Com os questionamentos e dúvidas a respeito da doutri-
na cristã, houve a necessidade de se sistematizar essa doutrina e
de lhe dar uma espinha dorsal. Muitos aspectos sistemáticos da
doutrina cristã foram organizados na tentativa de dar respostas às
dúvidas levantadas pelos hereges.
Assim, na primeira parte, conheceremos um pouco mais as
heresias e sua relação com os santos padres e, na segunda parte, a
posição e relato de trechos dos escritos dos mesmos em relação a
alguns temas específicos.
Vamos lá?
Arianismo
O arianismo foi uma heresia trinitária que surgiu com base
na heresia monarquiana dinamista, que, na relação trinitária, de-
fendia a superioridade do Pai em relação ao Filho e ao Espírito
Santo. Influenciado por essa corrente, no início do século 4°, Ário,
sacerdote da Líbia que vivia em Alexandria e contava com grande
respeito, passou a negar a divindade, eternidade e consubstancia-
lidade de Cristo, o Filho, na sua relação com o Pai. Segundo ele, o
Cristo, sendo criatura do Pai, não podia ser da mesma substância
e natureza que o Pai e, sendo criatura, era subordinado ou inferior
a Ele e não era, também, eterno e da mesma substância do Pai.
Ário foi condenado no Sínodo de Alexandria no ano 321 e não se
submeteu a isso, provocando a convocação do I Concílio de Nicéia,
no ano 325.
O Concílio de Nicéia defendeu a igualdade entre as três pes-
soas divinas e confirmou a doutrina da divindade do Filho e sua
consubstancialidade na relação com o Pai, o que não foi aceito por
Ário e seus seguidores, e a discussão seguiu por várias décadas,
sendo solucionada apenas no I Concílio de Constantinopla, no ano
381.
A decisão conciliar de Nicéia afirma o seguinte quando trata
do tema da relação entre o Pai e o Filho:
Deus Pai é justo e bom, criador do céu e da terra, e que existe um
único Senhor, Jesus Cristo, filho único, o qual não nasceu do nada,
mas do Pai, não como uma obra, mas como Filho, gerado de manei-
ra inefável (BOGAZ, et al. 2008, p. 175).
118 © Patrologia
Apolinarismo
Apolinário foi bispo de Laodicéia, Síria, e sendo grande es-
critor e erudito, foi um dos primeiros a defender uma heresia cris-
tológica. Com Atanásio, foi opositor do arianismo, que negava a
divindade do Filho, chegando ao extremo contrário: comprometeu
a alma humana de Cristo ao afirmar a sua divindade, afirmando
que a natureza humana de Cristo era incompleta. Essa doutrina foi
condenada no I Concílio de Constantinopla, em 381, e já encontra-
ra opositores em Santo Atanásio e no papa Damaso.
Nestorianismo
Nestório (380-451) foi monge e sacerdote em Antioquia e
patriarca de Constantinopla no ano 428. Foi discípulo de Teodoro
de Mopsuéstia, que também afirmava a humanidade incompleta
do Cristo, dizendo que Jesus (o homem) e o Filho de Deus eram
duas pessoas distintas. Assim, negava também que a Virgem Maria
era mãe só do homem Jesus e não do Filho de Deus ou do Verbo
divino, ou seja, negava a maternidade divina de Maria e era con-
trário ao culto de imagens e aceitava somente a representação de
Cristo e da cruz.
Nesta lógica de sua doutrina, não admite a divindade de Jesus de
Nazaré. Ele é apenas o ser humano, no qual o Logos divino encon-
tra a sua habitação. Logo, Maria não é “Theotokos”, mas apenas
“Christotókos”. Se Apolinário negava a existência da alma humana
em Jesus, que fora eliminada pelo Logos, Nestório afirmava que Je-
sus tinha verdadeira humanidade. Deste modo, Jesus não é reden-
tor da humanidade, pois não é Deus. Sua paixão e morte não tem
valor salvífico.
Para Nestório, Maria pode ser apenas Mãe do homem Jesus: “an-
tropotokos”. Suas afirmações são claras: “ninguém venha me dizer
que Maria é Mãe de Deus. Ela foi mulher e Deus não pode nascer
de uma mulher.”
Maria deu à luz um ser humano. A união do Verbo divino ao “filho
de Maria” não é ontológica, apenas acidental, de forma moral. [...]
Nestório defende que, em Jesus Cristo, se encontram duas nature-
zas e, portanto, duas pessoas: pessoa divina, como Filho de Deus, e
pessoa humana, como Filho de Maria (BOGAZ, et al. 2008, p. 184-
185).
Monofisismo
Esta doutrina cristológica surgiu em Constantinopla, iniciada
pelo monge Eutiques, homem de vida austera e santa, que comba-
teu os erros nestorianos, o que o levou a cometer outro erro que
gerou a heresia monofisita. Afirmava que no Cristo só existia uma
natureza, isto é, a natureza divina, que absorve a natureza huma-
na, após a chamada união hipostática, ou seja, a união entre as
naturezas divina e humana.
O misiticismo de Êutiques, comum aos monges de seu tempo, leva
ao desprezo da natureza humana. Assim, acreditavam que a san-
tidade consistia em viver a experiência intensa do espírito. Como
conseqüência, a grandeza de Jesus Cristo é bem maior, se houver
desprezo pela natureza humana e possuir apenas a divindade (BO-
GAZ, et al. 2008, p. 178).
120 © Patrologia
Monotelismo
Doutrina cristológica defendida pelo patriarca Sérgio de
Constantinopla, que buscava um meio de conseguir a paz com os
monofisistas e escreveu uma fórmula de fé que deveria ser acei-
ta por monofisistas e cristãos. Afirmava que Cristo possuía uma
única vontade ou energia por causa da unidade de sua pessoa e
natureza. Foi condenado pelo III Concílio de Constantinopla, no
ano 681, e a doutrina correta foi exposta na carta dogmática do
papa Agatão. Foi combatido por Sofrônio de Jerusalém e Máximo,
o Confessor.
Donatismo
Esta heresia soteriológica (que trata do tema da salvação e
dos meios para consegui-la), surgiu no contexto do mundo norte-
africano, em Cartago, na época da perseguição de Diocleciano. Era
uma doutrina rigorista, que leva o nome do bispo Donato. Afirma-
va que a Igreja não podia ter pecadores no seu meio e negava a
ela o perdão dos pecados, como também duvidava da eficácia dos
sacramentos, que dependiam mais da santidade e moralidade dos
ministros do que da graça divina.
Os donatistas concebem a Igreja com a comunidade dos puros e
justos. Os fiéis são morada do Espírito Santo. [...] Os ministros de-
vem ser puros e santos e a Igreja é vista como ´jardim fechado´e
uma ´fonte selada´, o reino celestial no mundo.
Professam que a Igreja deve ser santa e pura, a ponto de que ne-
nhum sacerdote em pecado mortal poderia celebrar validamente
os sacramentos. Os donatistas seguem Cipriano e afirmam que ne-
nhum batismo celebrado fora da Igreja, ou por ministros cismáticos
Pelagianismo
Esta doutrina soteriológica foi fundada pelo monge inglês Pe-
lágio (360-420), que viveu em Roma e era muito admirado por sua
ascese. Sua doutrina comprometia a ação da graça divina, confian-
do totalmente no esforço humano para se conseguir a salvação e
a superação dos pecados humanos. Negava o pecado original (que
só afetou Adão) e comprometia a dimensão salvífica e redentora
do próprio Cristo, que só nos deu um bom exemplo. Afirmava que
não existe pecado original, mas somente os pecados pessoais.
Aprofundando um pouco mais o tema pelagiano:
Pelágio versa sobre a perfeição da natureza humana. Na sua con-
cepção doutrinal, o “pecado original” não tocou a natureza do
gênero humano, apenas do próprio Adão. Assim, o pecado não é
transmissível e nossa natureza continua perfeita Omo antes do “pe-
cado de nossos primeiros pais”.
122 © Patrologia
Fé cristã
Santo Hilário de Poitiers (316-367), França, era de família no-
bre, teve ótima formação literária e filosófica e é considerado o
primeiro escritor da Igreja do Ocidente. Combateu o arianismo e
escreveu obras importantes, com destaque para Sobre a fé e Sobre
a Santíssima Trindade, de cujo trecho se extrai a profissão de fé,
no Pai, no Filho e no Espírito Santo, em uma época em que as here-
sias trinitárias e cristológicas se expandiam e provocavam cismas.
Enquanto mo permitir a vida que me deste, Pai santo, Deus todo-
poderoso, quero proclamar-te como o Deus eterno e como o eter-
no Pai. Jamais cairei no ridículo e na impiedade de me estabelecer
juiz de tua onipotência e de teus mistérios, de fazer meu frágil co-
nhecimento passar à frente da noção verdadeira de tua infinitude
e da fé em tua eternidade. Nunca, portanto, afirmarei que possas
ter existido sem tua Sabedoria, sem tua Virtude, sem teu Verbo; o
único Deus gerado, meu Senhor, Jesus Cristo.
A palavra humana, fraca e imperfeita, não cega os sentidos de mi-
nha natureza em relação a ti, a ponto de reduzir minha fé ao si-
124 © Patrologia
proferida por alguém que conhecia o que possuía. Por que será que
a imaginação do homem, por que razão seu espírito frívolo lhe re-
presentam Deus, por que forjam estes um ídolo para o seu coração?
Por que lhe oferecem um Deus imaginário, em vez do Deus que ele
merece encontrar? Isso, porventura, é Deus? Não, mas ei-lo. Por
que esboçar contornos? Por que arrumar esses membros? Por que
traçar essas linhas delicadas? Por que sonhar com as belezas do
corpo? Deus é amor. Qual é a cor do amor? Quais são suas formas
e suas linhas? Dele não vemos nada; e, assim mesmo, amamo-lo
(HAMMAN, 1980, p. 237).
São Justino
Catequese
São Justino viveu em Éfeso e Roma, no século 2° e se conver-
teu ao cristianismo em uma época em que a filosofia substituía as
falidas religiões do Império Romano. No período em que os cris-
tãos eram perseguidos, dialogou com judeus e pagãos e viveu em
busca da verdade, que encontrou no Cristo, encarnado e crucifi-
cado. Justino foi martirizado com seis de seus discípulos e deixou
várias obras. Aqui citamos parte de sua obra catequética sobre o
batismo, iniciação e culto cristão:
Vamos expor-vos agora de que modo, renovados pelo Cristo, nos
consagramos a Deus. Se omitíssemos este ponto em nossa exposi-
ção, parecer-nos-ia incorrer em falta. Os que creem na verdade de
nossos ensinamentos e de nossa doutrina promete, antes de mais
nada, viver segundo esta lei. Ensinando-lhes, em seguida, como re-
zar e pedir a Deus, no jejum, a remissão de seus pecados, e nós
também rezamos e jejuamos com eles. Depois, conduzimo-los a
um lugar onde haja água, e aí, da mesma forma como nós fomos
regenerados são eles, por sua vez, regenerados. Em nome de Deus,
pai e mestre de todas as coisas, e de Jesus Cristo, nosso Salvador, e
do Espírito Santo, eles são então lavados na água. Pois o Cristo dis-
se: ´Se não renascerdes, não entrareis no reino dos céus’. É bastan-
te evidente para todos que aqueles que nasceram uma vez não po-
dem entrar de novo no seio da própria mãe. O profeta Isaías, como
dissemos acima, ensina de que maneira os pecadores arrependidos
apagam seus pecados. Ele se exprime nos seguintes termos: Lavai-
vos, purificai-vos, tirai o mal de vossos corações, aprendei a fazer
o bem, fazei justiça ao órfão e defendei a viúva; vide, então, e dia-
loguemos, diz o Senhor. Ainda que vossos pecados fossem rubros
como a púrpura, eu os tornaria brancos como a lã... Eis a doutrina
que os apóstolos nos transmitiram sobre este assunto. Em nossa
primeira geração, nascemos sem o saber e por necessidade, de
uma semente terrena, proveniente da união recíproca de nossos
pais. Depois, vivemos com hábitos maus e inclinações perversas.
Para que não permanecêssemos como filhos da necessidade e da
ignorância, mas pudéssemos ser filhos da eleição e da ciência, para
que obtivéssemos a remissão de nossas faltas passadas, invoca-se,
na água, sobre aquele que quer ser regenerado e que se arrepende
de seus pecados, o nome de Deus pai e mestre do universo. Este
é exatamente o único apelativo que o ministro pronuncia quando
conduz ao banho aquele que deve ser lavado. Com efeito, poder-
se-ia dar um nome ao Deus inefável, e não seria loucura orgulho-
8. PERSEGUIÇÕES E APOLOGIAS
Tertuliano (160-230)
Apologético de Tertuliano
Tertuliano nasceu em Cartago e foi advogado em Roma, tor-
nando-se grande apologista e adepto de um rigorismo exagerado
que o levou a deixar o cristianismo e seguir a heresia montanista.
Na obra Apologético, apresenta uma defesa do cristianismo e acu-
sa o povo, imperador e juízes romanos de odiar o cristianismo sem
o conhecer.
Se não vos é livre, ó magistrados do império romano – que fazeis
vossos julgamentos em público e no mais eminente lugar desta
urbe; se não vos é livre o examinar aos olhos da multidão a causa
dos cristãos; se o temor ou o respeito humano vos levam a afastar-
vos, apenas nesta presente ocasião, das regras estritas da justiça; se
o ódio do nome cristão, como sucedeu ultimamente, valendo-se de
delações domésticas, fecha o caminho a qualquer defesa judiciária;
que a verdade possa ao menos chegar até vós pelo canal secreto
de nossas cartas!
O ódio público
A verdade não pede favor, porque a perseguição não a intimida.
Nossa religião sabe que seu destino é ser estrangeira sobre esta
terra e que sempre terá adversários. É no céu que ela tem sua sede,
suas esperanças, seu crédito e sua glória. A única coisa a que aspira
é não ser condenada sem ter sido ouvida. Que podereis temer da
parte de vossas leis, se permitis à verdade o difundir-se na sede
de seu império? Acaso o poder das leis se manifestaria melhor na
condenação da verdade sem antes a escutar? Mas além do escân-
dalo que tal injustiça acarreta, dais a impressão de que vos recusais
a ouvi-la porque sabeis não poder condená-la se a tendes ouvido.
Eis nossa primeira advertência: a de que existe um ódio contra tão
somente o nome dos cristãos.
Ignorância dos juízes
Vossa ignorância mesma, que pareceria dever escusá-los, é preci-
samente o que atesta essa injustiça e a torna ainda mais grave. Que
9. QUESTÃO SOCIAL
A reflexão sobre o tema da Questão Social, dentro do Cristia-
nismo, cresceu muito no fim do século 19 e se fortaleceu no século
20, de modo especial após a publicação da encíclica ´Rerum nova-
rum´ do Papa Leão XIII, publicada em 1891. A partir daí surgiram
outros documentos importantes sobre o tema e a Doutrina Social
da Igreja teve um grande fortalecimento. Mas, podemos afirmar
que já nos primeiros séculos encontramos, nos escritos dos Santos
Padres, a base e o fundamento da Doutrina Social.
Nos dois primeiros séculos do cristianismo, a partilha fraterna e o
ideal de vida de todos os cristãos. Existe uma genuína apreciação
da comunidade cristã apresentada nos Atos dos Apóstolos (At 2,44;
4,32-3,7). No entanto, o crescimento das comunidades dificulta
esta partilha. Os primeiros escritos realçam sempre a necessidade
da partilha. Vemos estas exigências na Didaqué e na Carta a Diog-
neto (n. 10). Estes textos usam passagens bíblicas para manifestar
suas convicções.
Tanto Inácio de Antioquia (Carta aos Efésios, 14), quanto Policar-
po de Esmirna (Carta aos Filipenses, 10) falam da necessidade de
ajudar as viúvas e os pobres e de doar as esmolas. Este é um dever
daqueles que possuem, conforme nos afirma o Pastor de Hermas
(Segundo Mandamento, 27). As exigências mais expressivas se re-
ferem aos órfãos, às crianças, às viúvas e aos estrangeiros, que são
os modelos dos pobres mais gritantes nas comunidades antigas do
cristianismo.
Há ainda uma retomada muito significativa da Carta de Tiago, para
afirmar que a pobreza material não é defendida pelas Escrituras.
O cristão tem direito aos “bens de sua dignidade”. A oposição en-
132 © Patrologia
nância em vida, agora guarda o corpo inteiro do rico. Ela nos criou
a todos iguais e iguais ela nos encerra a todos dentro do sepulcro.
Quem pode distinguir as aparências dos defuntos? Descobre a ter-
ra, e se podes, mostra qual é o rico. As riquezas apodrecem enter-
radas com ele.
Não é dos teus bens que distribuis aos pobres. Estás dando apenas
o que já lhe pertence, pois és o único usurpador quando tiras aquilo
que foi dado para o uso de todos. A terra pertence a todos. A terra
pertence a todos, e não aos ricos. Mas são mais numerosos os que
não usam de sua propriedade (os pobres) do que os que usam (os
ricos) (AMBRÓSIO de Milão, P.L. 14, p. 731-756 apud BOGAZ, et al.
2008 20, p. 153).
11. CONSIDERAÇÕES
Nossa disciplina encerra-se aqui, mas não nosso diálogo.
Você, ao optar pela Educação a Distância, tem, além de todos os
seus colegas de curso, o seu tutor com quem pode contar. Sempre
que necessitar de nossa ajuda, não tenha receio em nos contatar.
Foram muitas atividades, interatividades, horas de leitura e,
com isso, nosso dever está cumprido. Mais do que isso! Alguns dos
tópicos aprendidos aqui continuarão a merecer reflexão ao longo
de todo o curso, pois são imprescindíveis a sua formação.
A reflexão, a manutenção e a atualização diária de seus co-
nhecimentos sobre a Patrologia e seus desdobramentos devem
ser preservadas por você. É um hábito que contribuirá para a com-
preensão desta importante área do saber.
Foi um prazer conhecê-lo, ensinar e aprender com você!