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O Ícone da Natividade

por
S. Excia. Dom Pierre Mouallem1

Traduzido por Mons. Alphonse Nagib Sabbagh


e revisado por Philippe Gebara

“No princípio era o Verbo, e o Verbo era Deus e o Verbo se fez carne e habitou
entre nós... e assim vimos sua glória” (Jo 1,14).

“Isto que acabamos de ouvir, vimos em nossos olhos, meditamos com nossas
mentes e corações e nossas mãos apalparam” (1Jo 1,1). Esse é aquele que “morreu por
nós para nos redimir de toda culpa... com seu aparecimento transfigurou-se a
condescendência divina de Nosso Salvador e Seu amor pelos homens. Ele nos salvou,
não com boas obras, que teríamos feito, mas segundo a sua misericórdia (1Ts 2,14;3,
4-5). Este Deus que veio a nós encarnado (Rm 9,5) é o centro da festa da Natividade e
ponto de apoio de todo o grandioso mistério salvífico, que a Igreja celebra, e que nos é
representado pelo ícone da Natividade, personificando a fé dos cristãos e sua esperança.

Os ícones bizantinos da Natividade são incontáveis, mas por mais que haja
variedade nos detalhes, todos se encontram em elementos fixos, comuns, destacados
pelo pincel do pintor conforme o gênio das pessoas em cada tempo e lugar. Quanto a
nós, escolhemos para nosso estudo um ícone russo “moderno”, porque seu autor,

1
Arcebispo Emérito das Eparquias de Nossa Senhora do Paraíso dos Greco-Melquitas do Brasil, e
de São João de Acre, Haifa, Nazaré e de toda a Galileia
Giovanni Mezzalira, italiano de nascimento e nacionalidade2, distinguiu-se por seu amor
profundo, pela preservação do espírito e da tradição iconográfica legítimos, em seus
dois ramos, bizantino e russo, que são formas das mais bonitas para expressar a arte
religiosa cristã. Esse ícone apareceu na frente da exposição especial que foi realizada
em 1998 em Roma, no jubileu milenar da cristianização da Rússia.

Na parte mais alta do ícone, e debaixo de seu título “Nascimento de Cristo”,


vemos o céu se abrindo para um astro sair. Ele se fixa em cima da gruta escura para
indicar a luz que está escondida nela: “Nascestes, ó Salvador, escondido numa gruta,
mas o céu vos declarou a todos, mostrando a estrela como boca para a gruta...”, como
aparece nos cantos da Véspera da Festa. A estrela, embora silenciosa, é como se fosse
uma boca para o céu, apontando como o céu iria se abrir um dia e fazer sua voz ser
ouvida como testemunho público na hora da Epifania e da Transfiguração: “Este é o
meu filho bem-amado no qual ponho todo o meu agrado” (Mt 3, 17; 17,5).

À direita, começa o espetáculo da Natividade como foi contado no início do


Evangelho de Lucas (1,20): “Um anjo descendo do céu inclina-se sobre pastores
simples guardando seus rebanhos de noite e lhes anuncia a grande notícia: “Não tenhais
medo, eu vos anuncio uma grande alegria para todo o povo. Hoje nasceu para vós o
Salvador, que é o Cristo Senhor”. Enquanto os pastores, junto inclusive de suas ovelhas,
olham pasmados para o céu, eis que um coro de anjos do lado esquerdo entoa a alegria
da festa: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra e alegria aos homens”. Esse que foi
anunciado para os pobres pastores antes de todos, velando por seu rebanho, não seria ele
mesmo o Bom Pastor que vem hoje procurar as ovelhas desgarradas, carregá-las em
seus ombros e devolvê-las para o aprisco (Jo 10,16)? Não seria ele o Rei e, ao mesmo
tempo, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo (Jo 1,29)? “Nossa Páscoa foi
imolada” (1Cor 5,7)! A Natividade portanto – isso não podemos esquecer nunca – não é
outra coisa no Novo Testamento senão as primícias dos diversos anúncios de bondade,
tocantes e divinos, e das transfigurações do amor de Cristo por nós, as quais não se
completarão senão com a Páscoa, isto é, com a Morte e a Ressurreição.

E à frente dos pastores podemos ver os magos do lado esquerdo – eles que foram
citados em Mateus no início do Evangelho (2,1-12). O Evangelho não comenta nada a
respeito deles além de que eram magos, embora a tradição tenha conservado que eles
foram reis da Pérsia, versados em astrologia. Se os pastores eram a prefiguração dos
judeus que teriam o anúncio do grande mistério, os magos eram a prefiguração das
“nações” ou dos “gentios”, quer dizer, os pagãos. Os pastores eram do povo simples,
mas os magos eram reis, e a profissão deles era adorar o Rei. “Os magos, os reis da
Pérsia, quando souberam com clareza que o Rei Celestial nasceu na terra, seguiram a
estrela brilhante e acorreram para Belém. Adoraram nu o Deus encarnado e lhe
ofereceram presentes preciosos: ouro puro, porque ele era Rei dos séculos, incenso,
porque era o Rei de todos, e, como era o Deus de todos, morto durante três dias,
ofereceram a ele a mirra dos perfumes do embalsamento imortal” (Canto das Vésperas
da Festa).

No canto inferior do ícone, à direita, vemos um homem sentado sobre a terra,


apoiando sua cabeça sobre o braço com expressão curiosa. Como sempre disseram os
santos em relação aos ícones bizantinos, este seria José com a mente distraída num
2
Nota do revisor: como ainda não encontramos uma versão digital do ícone de Metzalira, usamos
outro, do link http://www.christusrex.org/www2/vartanova/images/c_nativity.gif
outro mundo: “Eis o que diz José para a Virgem: “Ó Maria, o que vejo em vós? Estou
perturbado. Perdi a cabeça. Maria, vós trouxestes para mim a vergonha e a tristeza no
lugar da alegria. Eu vos recebi imaculada no templo do Senhor, das mãos dos
sacerdotes, sem nenhuma repreensão. O que estou vendo agora em vós?” (Canto da
Vigília da Festa). Alguns comentadores pensaram que isto é, de fato, o que José refletia
no ícone, e que a pessoa à sua frente, de pé, não é outro senão o diabo, que veio para
tentá-lo e plantar dúvidas em seu coração. Mas nós achamos com muita humildade que
esta explicação não é exata. O que lemos agora aconteceu antes de o segredo ter sido
revelado a José, mas agora “Diga-nos, José, como que vós recebestes nos Santos dos
Santos uma moça virgem, e a trazeis agora grávida para Belém?”. Ele responde
dizendo: “Procurei os profetas e o anjo me revelou. Então acreditei que Maria dará a luz
a Deus em um nascimento incompreensível, e magos virão do Oriente para adorá-Lo”
(mesma referência). José não é o mesmo José de ontem. Ele está submerso em suas
meditações, lembrando a historia da salvação, seus símbolos e suas profecias, que estão
se realizado hoje. Medita em silêncio, com espanto, sobre a dignidade de ele ter
descoberto esse grande mistério, e a excelência que Deus lhe reservou, de ser o pai legal
do Divino Menino e o protetor fiel da mãe virgem. “José glorioso, vós tivestes uma vida
honesta, irrepreensível. Tornastes-vos, portanto, um protetor para a Virgem e fostes
chamado de pai para o menino nascido, crescendo com esse nome digno” (Matinas do
dia de S. José, Domingo depois do Natal).

Este que está parado na frente dele, quem pode ser portanto? Alguns pensaram
que seria um dos pastores, porque junto dele há alguns cordeiros. Porém, isso não é
certo. Os outros pastores no ícone são jovens, mas ele é um ancião, curvado pelos anos
e com uma roupa diferente. Os primeiros, com seus rebanhos, com seus cordeiros,
dirigem-se ao presépio, mas ele, com seus cordeiros, vão até José. Quem é, então? A
resposta transparece no início do canto com que a Igreja inicia as celebrações da Festa:
“Alegremo-nos no Senhor e difundamos o mistério presente, porque já desapareceu o
muro que separava, a lança flamejante é virada para trás e os querubins apresentam um
madeiro da vida. Mas eu volto a desfrutar da festa do paraíso, de onde fui exilado antes
por causa da prevaricação”. Esse é o parágrafo das Vésperas da Festa. Isto nos leva para
o início da criação, para o Jardim do Éden, para a rebeldia de Adão, o primeiro homem,
e sua expulsão do paraíso (Gên 3,23-24), depois de ter Deus coberto sua nudez e a de
Eva com vestes de couro (21). Não seria esse estranho escuro, esse velho de barba
branca apoiado numa bengala, vestido com um manto de couro, o próprio Adão? E
quem mais digno do que ele de ver o nascimento do novo Adão, a cabeça salvadora da
nova criação? Encontra-se afinal com José. Não seria o Adão o fim da série da
genealogia de Cristo como foi citada em Lucas (3,23-28), iniciada com José? “Vamos
contemplar como Belém abriu o Éden” (Matinas da Festa). As ovelhas que estão na
frente de Adão lembram o primeiro sacrifício que um homem sobre a terra ofereceu a
Deus, quando ofereceu Abel, filho de Adão, de Abcar, suas ovelhas, e das mais gordas
fez um presépio para o Senhor (Gen 4,4). Não seria aqueles cordeiros, melhor dizendo,
o Abel mesmo, o primeiro pastor e vítima na terra (4,4)? Ele é o primeiro símbolo de
Cristo, o cordeiro e o pastor. Mas o jardim do Éden não fica completo sem Eva. Ela está
presente no outro canto, oposto ao de Adão. Que mulher mais digna do que ela para ser
a primeira a ver, apalpar, beijar e abraçar aquele que fora antigamente prometido a ela, o
qual, vindo de sua progenitura, ecrasaria a cabeça da serpente (Gen 15,3)? Ei-la na
qualidade de parteira, lavando a criancinha nova e a apalpando com toda naturalidade
sua e dela. Então que ela vê em uma criança “O Deus existente”, cuja identidade está
escrita em torno de sua cabeça. Convence-se que é o Salvador prometido. Aquele que
ela esperou durante séculos, longos séculos. Mas esta ablução não é uma ablução
normal, é a representação antecipada da ablução do Batismo. Ela o tira da água como a
criança da pia batismal. E não seria o batismo uma participação na morte e na
ressurreição de Cristo (Rom 6,3-5)? Isso lembra o que foi dito antes sobre a relação
entre o Natal e a Páscoa, como um mistério único. Já a parteira que ficou para ajudar
Eva na operação da ablução é, segundo a tradição, Salomé, a parente de Maria, que será
um dia a mãe do Apóstolo João, o discípulo bem-amado, a quem Jesus entregará sua
Mãe quando estava na cruz.

Tudo isso é o quadro que envolve a essência do ícone no meio, mais exatamente em seu
centro: Maria e seu filho, seu menino, ela que foi eleita por Deus, purificada e eleita
entre todas as mulheres do mundo (Sura Al-Umran 42). Ela e seu filho são um milagre,
um prodígio para os mundos (Sura dos Profetas 91). “Vamos fiéis, ver onde nasceu o
Cristo, vamos acompanhar a estrela por onde ela for” – com este bonito canto a Igreja
inicia os seus hinos na manhã da Festa e chama os fiéis para onde nasceu Cristo. Eis o
menino prodígio que vimos há pouco entre as mãos da parteira é aquele que, mesmo
“existindo em forma divina, não considerou como roubo o ser igual a Deus, mas
despojou a si mesmo, assumindo a imagem de servo e tornando-se aos homens
semelhante. E encontrado em aspecto humano, humilhou a si mesmo, fazendo-se
obediente até à morte — e morte de cruz! (Fl 2,6-8). É extraordinária essa queda
humilhante, essa mistura com os homens, a humildade e o aniquilamento que o levou à
morte. Ei-lo no presépio, porque Maria “quando terminaram seus dias e deu
à luz, deu à luz a um Filho Primogênito, ela o envolveu e o depositou na manjedoura,
porque não tinham para ela e para José um lugar na hospedaria” (Lc 2,6-7). No
presépio, isto é, na manjedoura dos animais, há perto da criança um touro e um burro,
para o aquecerem com sua respiração. “O touro conheceu o seu dono e o burro a
manjedoura do seu dono, mas Israel não conheceu e meu povo não entendeu” (Isaías
1,3). “Veio para seus parentes e seus parentes não o receberam” (Jo 1,11). “O menino
deitado, num presépio, os magos não admiraram pelos cetros e pelos tronos, mas pela
extrema pobreza, sendo que não há mais nada desprezível do que uma gruta. Ou qual é a
coisa mais humilde do que as faixas em que brilhou a riqueza de sua divindade?”
(Cântico das Matinas da Festa). Sim, um menino está enfaixado no presépio, mas o
presépio não está desde já na forma de um túmulo? E as faixas, na forma da roupa
mortuária? Não é uma representação antecipada para o sepultamento depois de sua
morte sobre a cruz? Por isso, depois dessa humildade, desse esvaziamento, volta após
sua morte, em um movimento como o asa da águia, batendo de maneira maravilhosa e
plana lá em cima, como estava em sua primeira glória. Por isso, foi elevado de maneira
mais excelsa e recebeu um nome acima de todos outros nomes, para que todos joelhos
se ajoelhem ao nome de Jesus na terra e sob a terra, e para que toda língua reconheça
confessando que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. (Fl 2,9-11).
Retornamos outra vez para o vínculo estreito entre o Natal, e a Páscoa, quer dizer Morte
e Ressurreição. Cristo não veio para andar entre nós como em um passeio de
divertimento; pelo contrário, entrou no mais profundo de nossa natureza decaída para
ascendê-la e divinizá-la. O homem, quer dizer, Adão, quis ser Deus e caiu. Os Padres
dizem: “Deus assumiu a nossa natureza, tornando-se homem, para que o homem se
tornasse um deus”. E por isso, disse Cristo, quando entrou no mundo “Sacrifício e
ofertas não quisestes, mas preparastes-me um corpo. Então eu disse: “Eis-me aqui, para
fazer, Deus, a vossa vontade (Hb 10,5-7). “Hoje, na terra, Deus apareceu e, ao céu, o
homem subiu” (Canto da Procissão de Vésperas da Festa). Isto, numa frase, resume
todo o conteúdo da festa.
“Alegre-se hoje o céu e a terra com alegria profética, celebrem os anjos e os
homens num festim espiritual, porque Deus apareceu no corpo daqueles que estavam
nas sombras e na escuridão: nascido de uma virgem, de uma mulher, e quem o recebeu
foi uma gruta, um presépio” (1ª estrofe da Procissão da Festa). A natureza inteira está
em festa e nós, na porta do presépio, qual será a nossa atitude em respeito da festa? E
nosso lugar nela? “O que vos oferecemos ó Cristo, porque aparecestes sobre a terra,
como homem por nossa causa? Cada criatura que criastes vos agradece. Os anjos
glorificam pelo canto e os céus, pelo astro. Os magos, pelos presentes; os pastores, pela
admiração; a terra, pelo presépio; e o deserto, pela manjedoura. Quanto a nós,
oferecemos-vos uma Mãe Virgem” (das orações de Vésperas da Festa). Haverá algo
mais precioso e mais excelente?

Maria, uma mãe virgem, eis o nosso presente para o menino do presépio. É ela
na entrada mais parecida com uma ponte que liga ao seu filho dormindo com
tranqüilidade, enquanto no seu rosto vemos marcas de perturbação e de calma, no
mesmo tempo. Ela, de um lado, aparece como se estivesse espantada em face do
acontecido, mas, por outro, está firme em sua tranquilidade inspirada por dentro.
“Respondi dizendo: ‘Por que dei à luz no tempo a um filho q não pode ser limitado pelo
tempo?’ E não sei como foi a gravidez desse filho. Como vou dar à luz a um filho sem
ter conhecido homem nenhum? Quem viu um dia um nascimento sem colaboração?
Mas quando Deus quer, ele vence a ordem natural, como foi escrito” (2º cântico das
Matinas da Festa). Sem dúvida, é algo obscuro, mesmo meditando com profundidade o
que entendeu das palavras dos pastores para o seu coração (Lc 2,17-19). Mas seu olhar,
seu pensamento, seu coração, ultrapassam o momento do acontecimento, estende-se
para muito longe, para o infinito do que era antes e do que será depois. Pensa e medita,
volta a lembrar para sua antepassada antiga, a mãe primeira, Eva, que trouxe a morte
para o homem, mas ela mesma, Maria, a nova Eva, carrega para a humanidade quem é a
ressurreição e a vida (Jo 11, 25). Recupera na sua mente milhares de anos que
esmagaram a cabeça da serpente, passam na frente dela dezenas de nomes de pais, avós,
que falaram e escreveram sobre ela, os profetas que a profetizaram com muitos
símbolos e expressões. E será que ela se esquece particularmente da profecia de Isaías,
proferida 800 anos antes: “Escute, casa de Davi, eis o que diz o Senhor, que vos dá este
milagre, eis a virgem que concebe e dá um filho chamado Emanuel” (Isaías 7,14). O
profeta naquele momento estava sonhando e é agora o momento do despertar deste
torpor, na frente daquele em que não se acreditaria se não fosse vivendo vitalmente. E se
esse versículo se realiza nela mesma, o versículo não foi preparado na casa de Davi
apenas, mas tornou-se um milagre dos mundos, a começar por esses magos estrangeiros
que vieram do fim do Oriente, e a se estender até o fim do Ocidente. Maria está
admirada e nós também. “Ó Mãe e Virgem, é muito difícil para nós, apesar de nosso
forte desejo, entoar cânticos dignos, por isso preferimos o silêncio de medo, porque o
silêncio é mais fácil e não compromete” (7º. canto do Cânone da Festa). Mas há algo
mais eloquente que este silêncio?
Maria não medita apenas no passado, ela descobre o futuro e o lê
antecipadamente para nele meditar: depois de poucos dias, vai apresentar o seu filho ao
templo e o velho sacerdote Simeão o receberá. Anunciar-lhe-á o q vai alegrar ou
entristecê-la: “Seu filho é a salvação que Deus preparou para todo povo, luz para as
nações e glória para Israel” (Lc 2,30-32). Há uma glória maior do que essa? Mas será
também “queda de muitos em Israel, sendo sua ressurreição um milagre, mas causa de
contradição” (34). A mãe é um milagre, e o filho, outro. Ela e seu filho um milagre para
os mundos. A primeira profecia de Simeão é alegre, mas a segunda é dramática. São
diferentes e ficarão sempre expostas para a recusa e objeto de contradição, mas o cume
do drama está na terceira profecia: “E seu coração será transpassado” (34). Será que ela
se vê desde já aos pés da cruz: “estava aos pés da cruz de Jesus a sua mãe”? (Jo 19,25).
Entre o passado muito distante e o presente próximo, mais distante ainda está
pensamento de Maria, em um êxtase espiritual, que a leva para o que está entre os dois.
Hoje ela está numa alegria tão grande por um acontecimento feliz que vive as mais
suaves lembranças de sua vida, em poucos meses passados. Naquele dia, o anjo
visitou-a na cidade de Nazaré e lhe transmitiu a saudação da parte do Senhor “Ave, ó
cheia de graça, o Senhor é contigo, vai dar à luz a um filho e lhe dará o nome de Jesus e
será grande o nome do filho do Altíssimo”. E depois do diálogo, pergunta e resposta, ela
retruca “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua vontade”. Depois de
certos dias, Elizabete a receberia: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do
vosso ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? ” (Lc 1,34-45).
Hoje, na alegria do que está se realizando, Maria lembra e vive aquelas lembranças
como num sonho. Ela canta num gozo muito profundo: “Minha alma engrandece o
Senhor e meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque ele olhou para a
pequenez de sua serva. Todas as gerações me chamarão de bem-aventurada, porque o
Poderoso de nome Santo fez em mim maravilhas” (46-49).
Com Maria, nós também, em grande alegria, cantamos “Minha alma engrandece
o Senhor”. Com ela e com a Igreja, nossos sinos badalam, nossos lábios e corações de
todos os lados do universo: “Cristo nasceu, glorificai-O. Cristo veio dos céus,
acolhei-O. Cristo na terra, elevai-O. Ó toda terra, cante para o Senhor, e povos louvai-O
porque foi exultado” (1º cântico do 1º. Cânone da festa).

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