Você está na página 1de 3

As heresias Cristologicas

Os dogmas e as heresias Cristológicas


Apolinarismo

Apolinário, nascido por volta de 310, era Bispo de Laodicéia, localizada na Síria.
Combateu veemente, juntamente com seu pai, o paganismo de Juliano Apostata,
bem como defendeu as ideias do Concílio de Nicéia. Sua heresia é unicamente
cristológica, pois se refere unicamente à pessoa de Cristo.

O Concílio de Nicéia afirmava que Jesus era verdadeiramente Deus e


verdadeiramente homem, mas não dava explicações de como se dava esta relação
entre as duas naturezas. Apolinário vai fazer justamente isto que o Concílio não fez.

Para Apolinário o Verbo, ao encarnar-se, ocupou o lugar da alma humana de Jesus,


ou seja, o lugar da alma espiritual é preenchido pelo Logos, assim somente o corpo
é humano. Apolinário elimina a alma espiritual de Jesus, colocando no seu lugar o
Logos e, justamente por isso, Jesus é um humano sem pecado, pois para existir
sem pecado era preciso que uma alma agisse nele.

A consequência que se tira desta teoria de Apolinário é que Jesus é mais homem
celeste do que homem terrestre, ou seja, acontece a encarnação, mas não uma
verdadeira humanização. [1]

Esta falsa teoria foi combatida em vários momentos: primeiro foi condenada pelo
Sínodo de  Alexandria em 362; mais tarde, em 377,   pelo Papa Dâmaso e para dar
um basta final foi convocado o Primeiro Concílio de  Constantinopla em 382. Como
ele negava a presença  de mente (Nous) humana em Jesus, São Gregório
combateu dizendo que: “O que não foi assumido pelo Verbo, não foi redimido”, ou
seja, Deus  salva a humanidade através do mistério da Encarnação que é a união
das naturezas Divina e Humana.

Nestorianismo
Nestório nasceu na Germânia Cesaréia, Síria,  mais ou menos pelo ano 380. Era
Patriarca de Constantinopla e sua heresia gira em torno das naturezas de Jesus.
Segundo ele, a união do humano com o divino era apenas acidental, chegando a
afirmar que em Jesus havia duas naturezas distintas, e também duas pessoas em
Jesus, uma humana e outra Divina ligadas apenas por um vínculo afetivo e moral,
não existindo união hipostática [2]. Afirmava, também, que em Cristo havia duas
filiações: uma natural, pela qual Jesus nasceu de Maria, e outra sobrenatural, que é
a geração por Deus. A conclusão que se chega é que a pessoa divina  apenas
morava na pessoa humana de Jesus e que no momento da crucifixão apenas o
Jesus humano morreu.
Outra heresia que se originou a partir de Nestório foi que Maria não era mãe de
Deus (Theotókos), mas apenas a mãe de Cristo (Christókos). Ele não conseguia
conceber que Maria fosse a mãe de Deus, pois Deus não poderia nascer de uma
mulher. Maria somente deu à luz um filho humano chamado Jesus. “O Verbo divino
estava unido a este filho de Maria, não de maneira ‘ontológica’, ‘substancial’, mas
acidental, de forma moral”[3]. O Verbo apenas habitou na pessoa de Jesus.

Foi no terceiro Concílio Ecumênico de Éfeso, em 431, que a doutrina de Nestório foi
combatida e neste mesmo Concílio foi reafirmado que em Jesus há uma só pessoa e
que Maria é também mãe de Deus pois o Verbo quisera assumir a natureza humana
no seu seio.

O Monofisismo (mónos = um só, único; fýsis = natureza)

Esta heresia foi iniciada por Eutiques que era arquimandrita de Constantinopla. Era
pessoa muito influente no ambiente eclesiástico e político devido à sua amizade
com Cirilo de Alexandria, com seu sucessor Dióscoro e principalmente por causa de
sua amizade com Crísafo, eunuco de Teodósio II.

Sua heresia consistia em negar que Cristo possuía duas naturezas, mas que tendo
a natureza divina absorvida, na encarnação, a natureza humana, não se pode mais
falar em natureza humana, mas sim em apenas uma: a natureza divina, ou seja,
que no momento da encarnação a natureza divina absorve a natureza humana.

Foi o Concílio de Calcedônia, em 451, convocado pela Imperatriz Pulqueria, que


combateu a heresia de Eutiques, afirmando que em Cristo existem duas naturezas:
a divina e a humana e que ambas coexistem na única pessoa do Verbo sem
confusão nem divisão, nem mudanças, nem separação; deve ser o objeto de nosso
reconhecimento, sem que de modo algum desapareça por causa da união a
diferença de naturezas, mas, pelo contrário, salvando a propriedade de cada
natureza; embora ambas concorram numa só pessoa e subsistência; não separado
nem dividido em duas pessoas, mas uma só, que é o único e o mesmo Logo, Deus,
Filho unigênito e Senhor Jesus Cristo.

O Monotelismo ou Monergetismo

Esta heresia foi iniciada pelo Patriarca de Constantinopla denominado Sérgio (619).
É conhecida como a última heresia cristológica do período Patrístico.

Para tentar acalmar os ânimos entre os calcedonianos e os monofisitas, o Patriarca


Sérgio resolveu mudar o termo “natureza” pelo termo “energia” e “vontade”.  “Ora,
a vontade, a energia de Cristo, deriva de sua personalidade (de sua hypóstase) que
é una, e não das duas naturezas. Portanto, há, em Cristo uma só operação, uma só
energia (monoenergismo), dado que seu agir provém da pessoa que é una e não
das duas naturezas”. [4]
Para combater esta heresia o Papa Honório, em 680, convoca o Terceiro Concílio de
Constantinopla. Os padres conciliares condenaram a teoria de Sérgio e destacaram
mais uma vez a doutrina que o Magistério da Igreja ensinava. Este Concílio afirmou
que em Jesus existem as duas naturezas completas e, portanto, duas vontades:
uma humana e uma divina. Afirma também que estas vontades tiveram sempre em
perfeita harmonia, ou seja, a vontade humana segue a vontade divina e a divina
não absorve a humana.[5]
 
Arianismo

O Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, foi convocado pelo Imperador


Constantino. Neste Concílio praticamente definem o dogma trinitário. A intenção
deste Concílio era afirmar a divindade de Jesus contra o Arianismo.

Na visão de Ario, Deus é transcendente, único, sem origem, indivisível e por isso
não pode comunicar sua substância, seu ser, nem por criação, nem por geração a
outro ser. Para Ario, Jesus não possui a mesma substância de Deus e, portanto, é
criado por Deus como a primeira das Criaturas (criatura perfeita), não é gerado
pois é impossível Deus gerar um Filho. É anterior a todas as demais criaturas, mas
como estas ele não é eterno, é apenas uma criatura. Jesus é um ser humano
perfeito porque o Logos fez morada nele e ele estava cheio do Espírito Santo. Jesus
é adotado como Filho de Deus, mas uma filiação subordinada. “O Logos divino é
criado, embora a melhor de todas as criaturas; torna-se o criador de todos os
outros seres como instrumento de Deus Pai; e ele é ‘deus’ em relação às outras
criaturas; este Logos divino se encarnou e se tornou a alma de Jesus Cristo, que foi
adotado como Filho de Deus. Aquele Logos que se fizera homem, que se
contaminara com um corpo humano, não podia ser Deus como o Pai, que é
incorruptível, intemporal, puro, eterno, incomunicável” [6].
O Concílio de Nicéia definiu o seguinte: há “um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de
Deus, nascido (gerado) do Pai como o Filho único, isto é, da substância do Pai,
Deus (saído) de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus Verdadeiro, gerado,
não feito, da mesma substância que o  Pai, por (intermédio de) quem todas as
coisas foram feitas [...] e por nossa salvação desceu, se encarnou e se  fez homem,
sofreu e ressuscitou [...]“[7].

A afirmação fundamental de Nicéia é que Jesus Cristo é da mesma substância


divina do Pai, é consubstancial ao Pai. É, portanto igual ao Pai na divindade.

FONTE

FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias: séculos I-VII (Conflitos ideológicos


dentro do cristianismo). 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997.
MONTEIRO, Pe. Eymard L’E. Ensaio de Cristologia. Natal: Nordeste Editora Gráfica,
1996

[1] Cf. Frangiotti, História das Heresias, ps. 101-102.


[2] União hipostática é a união das duas naturezas, a humana e a divina, em uma
só pessoa, a pessoa do Verbo, Jesus Cristo.
[3] Cf. Frangiotti, História das Heresias, p 129.
[4] Cf. Frangiotti, História das Heresias, p. 154.
[5] Cf. Monteiro, Ensaio de Cristologia, p. 61.
[6] FRANGIOTTI, História das Heresias, p. 87

Você também pode gostar