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SEMINÁRIO TEOLÓGICO “REV.

DENOEL NICODEMOS ELLER”


CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

Nome: Rafael Rodrigues dos Santos


Matrícula: 21TM1293
Disciplina: Psicologia Geral
Professor: Rev. Marcello Aguiar
Ano: 1°

RESENHA
OUWENEEL, Willem. Coração e alma: Uma perspectiva cristã da Psicologia.
São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

Willem Ouweneel é um biólogo, filosofo, teólogo e escritor holandês que ficou


muito conhecido entre os cristãos do seu país através da participação em palestras,
conferências e livros por ele escritos.
Seu livro “Coração e ama” é dividido em seis capítulos onde em cada um deles
foi abordado um aspecto que envolve a temática da obra. No primeiro capítulo (o mais
sucinto) ele apresenta de forma geral uma reflexão sobre o que é psicologia e os
aspectos que envolvem toda vida de um ser humano desde questões intrínsecas até
relacionais e influências ambientais. Para ele, a possibilidade de uma psicologia sem
pressupostos é uma falácia, uma vez que, ao entrar em um consultório, um psicólogo
sempre levará consigo suas ideias, conceitos, pré-conceitos, pois o objeto de estudo é
outro homem como ele. Sob o pretexto da neutralidade os teóricos da psicologia
retiraram uma parte essencial do ser humano que é a sua relação com o Criador. Dessa
forma, tomaram para si uma compreensão equivocada do que é ser homem.
Uma vez que a psicologia teve sua visão de homem despedaçada, o que ouve foi
o surgimento de diversas correntes de pensamento e nunca uma que pensasse a
psicologia partindo do pressuposto de que as escrituras é a Palavra de Deus e através
dela se teria uma direção na construção desse campo de saber. Sendo assim, segundo o
autor, toda psicologia precisa ser reestruturada para que se crie a partir de pressupostos
corretos.
Isso não significa dizer que a que a psicologia deve ser fundamentada somente
na bíblia, pois a Escritura não é apenas um manual de ciências ou um livro de
psicologia. Muitos tentaram desenvolver uma “psicologia cristã”, mas apenas
conseguiram dar uma definição bíblica do homem. Apesar de úteis para conhecimento
prático da vida humana, essas definições criadas não formam uma psicologia.
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Sob o pretexto de que para criação de uma psicologia de cosmovisão cristã se


deve começar do zero, Ouweneel (2014), no capítulo dois, ponderou sobre uma
antropologia que considerasse homem de maneira abrangente de forma que alcançasse
todo o que faz parte da sua constituição. Nisto é preciso considerar a descrição bíblica
do homem que dará clareza sobre os aspectos do ser humano omitidos por todas as
demais escolas de psicologia. Diferentemente dos animais, o ser humano tem um
aspecto da vida que não pode ser excluído quando ele se torna objeto se estudo. Essa é a
esfera espiritiva que “refere-se à mente intelectual, imaginativa e volitiva, e não
especificamente à vida que temos no Espírito ou à vida que é nossa em Cristo” (p. 20).
Ao acrescentar esse elemento na classificação da constituição do homem ficou
possível identifica-lo e, assim, começar a pensar na psiquê de forma mais fiel ao que é
prescrito nas escrituras sagradas sobre o homem. O fundamento para essa estruturação é
a consideração que o homem e tudo que há no mundo foram criados por Deus e que este
não somente criou, mas guarda e preserva. Somente as escrituras fala sobre o Deus que
criou e sustém todas as coisas.
Ao longo da história foram inventados vários tipos de nome para descrever a
unidade do homem como personalidade, alma, espírito, ego. Ouweneel preferiu usar o
termo mais usado na bíblia para essa questão, o coração. Não se referindo apenas ao
músculo que bombeia sangue, o coração diz respeito a parte mais interna, profunda e
real da personalidade humana.
No capítulo três o autor fala sobre o desenvolvimento da psicologia e apresenta
as principais escolas teóricas (Estruturalismo e Funcionalismo, Psicologia Profunda,
Reflexologia, Behaviorismo, Psicologia Humanista, Cognitiva, Gestalt e
Existencialista). Ao tratar das abordagens apresenta de forma geral os pressupostos e
visão de homem de cada uma delas demonstrando que, apesar de ter alguma verdade,
são muito limitadas por desconsiderar a verdade da relação do homem com Deus.
Segundo Ouweneel, “fazendo uso dessa sabedoria, a psicologia cristã poderá, então,
passar a, criticamente, aprofundar e enriquecer seus conhecimentos por meio de
observações com metas direcionadas e experimentos” (p. 64).
Em “estruturas mentais”, capítulo quatro, foi feito um levantamento das
estruturas mentais pertinentes ao conhecimento psicológico delineada pela visão cristã
do homem. Ouweneel apresentou uma descrição do cérebro e os hormônios, da estrutura
perceptiva, da estrutura sensível, da estrutura espiritiva, da linguagem e da vida social.
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Segundo o autor, “tudo o que ocorre nas estruturas mentais está sob controle de nosso
coração” (p. 72).
Muitos pensadores consideram o homem meramente como um animal racional.
A Sagrada Escritura dá mais importância a esse pensamento que imagina, medita e está
cheio de sentimentos. Todavia, mesmo o pensamento sendo uma faceta da vida
espiritual, ele não está sob o controle da vida sentimental ou intelectual, mas governado
pelo coração.
Um homem pode pertencer a uma igreja ou algum outro grupo apenas para
atender demandas intrínsecas. É como um cristão nominal que frequenta uma entidade
religiosa, goza de um testemunho aparentemente ilibado, se relaciona com os demais
membros, porém seu coração está longe de Deus. Como disse Jesus: Este povo honra-
me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mateus 15:8). É o coração
que mostrará quem o homem é verdadeiramente.
No capítulo cinco, Ouweneel, fala sobre a personalidade normal descrevendo o
desenvolvimento do “ethos” ou da condição ético-religiosa de uma pessoa. Para ele,
mesmo que muitos dos valores e normas sejam diferentes para pessoas de culturas
distintas, existe um padrão mínimo existente no desenvolvimento moral das pessoas.
Como se todos tivessem algo em comum em sua avaliação moral. Sendo assim, todos
os homens, ainda que pecadores, tem uma capacidade moral comum entre si.
Além dessa capacidade moral intrínseca ao homem, este também é um ser
relacional. Uma personalidade normal é caracterizada pela capacidade de se relacionar
de forma funcional. Sendo o homem pecador, pode ser que este baseie seus
relacionamentos pelo principio da atração. Se o outro for belo, talentoso ou simpático
pode provocar interesse dos demais. Mas isso ocorre geralmente com estrelas do
esporte ou ciência, por exemplo. Todavia, pode ocorrer o oposto quando alguém
próximo é perfeito de mais ou superior em seus feitos. Isso pode provocar uma reação
de repulsa, pois as qualidades de um podem ressaltar os defeitos do outro. Dessa
forma, segundo Ouweneel, “pecadores juntos’ se sentem mais à vontade” (p. 98).
No capítulo seis, o autor fala sobre a personalidade anormal abordando os
critérios comumente utilizados para a classificação e definição do que é tido como
anormal. Essa definição é complicada de se explicar por ser muito reducionista por
parte dos teóricos e da divergência entre eles. As doenças mentais não podem ser
reduzidas apenas a causas físico- bióticas ou transtornos corporais. De um lado se vê o
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behaviorismo enfaixando o ambiente, de outro, a psicanálise buscando causas nos


aspectos psíquicos que envolvem as repressões e traumas. O humanismo busca
resposta na falta de desenvolvimento dos potenciais para alcançar a realização pessoal.
O autor do livro “Coração e alma” parece não definir de forma clara sua
pretensão com a obra. Em um primeiro momento provoca no leitor a sensação de que
o livro trará uma nova abordagem psicológica como as demais já existentes. Se não é
esse o propósito, o autor se deteve apenas em tentar olhar para as psicologias pela
cosmovisão cristã. Suas definições da psicologia não parecem ser fiéis as escolas
mencionadas ou pelo menos não são claras o suficiente até mesmo para uma pessoa
com formação na área.
A proposta do livro pode ser muito provocativa por parecer propor uma
psicologia cristã, porém é muito suscinta e não traz nenhuma novidade quanto ao
assunto. Ouwneel se deteve em trazer algumas definições e conceitos que podem
instruir inicialmente um leitor que se interesse pelo tema, mas que está longe de
esgotar o assunto e de ser uma obra de “cabeceira” para o conselheiro bíblico.
A ausência de citações é algo que também chama a atenção. Em uma obra com
essa proposta seria necessário informações direto da fonte para contrapor as principais
teorias existentes se baseando no pensamento dos teóricos representantes delas. Algo
que muito provavelmente seria feito por alguém com formação em psicologio.
Obviamente, o trabalho do autor seria muito mais extenso, todavia teria maior
abrangência em seu propósito.
Sem dúvidas o livro contribui para a compreensão bíblica de que o coração é o
centro das intenções do homem e que ele (coração) deve ser tratado pelas escrituras.
Todo empreendimento para resolução de questões do coração será vão se o homem
não for regenerado por Deus. Por mais que busque o auxílio do profissional mais
requisitado do mundo não terá êxito em resolver as questões do coração.
Ainda que não tenha sido tão abrangente quanto se esperava, o esforço de
Ouweneel para compreensão cristã da cultura é digno de agradecimento, pois pode
suscitar maior produção teórica sobre o assunto, quer seja a favor ou contra a
possibilidade da existência de uma psicologia cristã.

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