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Seminário Teológico Presbiteriano

Rev. Denoel Nicodemos Eller

Sem. Rafael Rodrigues dos Santos

Leitura opinativa do Livro “O


Imperativo Confessional” de
Carl Trueman

BELO HORIZONTE, 2022.


TRUEMAN, Carl R. O imperativo confessional. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2019.

LEITURA OPINATIVA
Carl Trueman, em seu livro “O Imperativo confessional”, trata sobre a importância dos credos
e confissões para saúde da igreja e como os documentos confessionais são concebidos por
muitos na contemporaneidade. Ele defende que as igrejas que dizem não ter credos estão mais
propensas a serem atingidas por ventos de doutrina e se desviarem da verdade bíblica. O autor
é convicto em defender que o passado tem muita relevância na instrução do presente e que a
linguagem é a forma mais apropriada de transmitir a verdade ao longo do tempo. A
elaboração, aplicação e preservação dos credos deve ser de responsabilidade de uma
instituição, isto é, da igreja. Atualmente, o passado é visto por muitos com desprezo, ao invés
de ser uma fonte de conhecimento. As pessoas são desconfiadas quando se trata de
fundamentos estabelecidos. Alguns podem até mesmo se sentirem manipulados quando
alguém busca traçar uma abordagem definida sobre algum assunto, sobretudo no que diz
respeito a religião. Aqueles que são confessionais devem se dedicar para contrapor a rejeição
existente às confissões. Para isso é preciso identificar com clareza do motivo da resistência.
Por trás da desvalorização do passado tem o papel da ciência que pressupõe que o presente é
sempre melhor do que o passado, de modo que o presente passa a ser supervalorizado em
detrimento do conhecimento já construído. Outro aspecto que contribui para a rejeição do
conhecimento passado é o desenvolvimento tecnológico. O autor do livro advoga que no
passado os pais eram quem ensinavam aos filhos sobre as coisas da vida, trabalho,
socialização etc. No presente, são os mais jovens que ensinam aos mais velhos como lidar
usar a tecnologia. Se outrora os mais jovens dependiam dos mais velho, agora os mais velhos
é que dependem dos mais novos. A terceira característica cultural que labuta contra a
valorização do passado é o consumismo. As pessoas nunca estão satisfeitas com o que tem no
momento. Sempre estão correndo atrás de algo novo para alcançar uma pretensa felicidade e
realização pessoal. É o que é visto na moda, na indústria automobilística, nos
eletrodomésticos e em tudo que vem depois da primeira geração. Sempre há uma insatisfação
para ser sanada. Quarto aspecto é o desaparecimento da natureza humana. O presente tempo é
marcado pelo uma ideologia em que o indivíduo é apenas o que ele construiu. Ele pode se
tornar o que quiser e o que foi dito em um passado distante por homens de outro país não é
importante em sua concepção. Os documentos históricos não tem relevância substancial para
os que são controlados por esse tipo de mentalidade. Além do que foi dito, o pragmatismo e o
misticismo têm exercido uma função oposta ao passado. Nos últimos anos tem sido muito
difundida a ideia de que o cristianismo não consiste em proposições, mas em estilo de vida.
Muitos jovens conduzem seu cristianismo baseados nessa visão. É muito comum ouvir
pessoas dizendo que sentiram no coração que isso ou aquilo é verdade. A pregação tem sido
relativizada em muitos lugares e sendo suprimidas para dar lugar a apresentações culturais e
outros elementos que não cumprem o propósito de anunciação de todo conselho de Deus. O
antiautoritarismo é outro elemento conspirador na cultura. Há uma massiva resistência a toda
figura de autoridade. O mundo espera mais a opinião de pessoas famosas do que autoridades
no assunto a ser abordado. Ao que parece, a tentativa de rejeitar as figuras de autoridade
conduziram, talvez inconscientemente, a submissão a novas e despreparadas representações.
De modo geral, a autoridade é sempre vista como uma forma repreensora que quer impedir a
pessoa de ser o que ela quiser. O medo da exclusão também e algo presente na cultura que
navega contra fundamentos do passado. As pessoas desejam se sentir incluídas e respeitadas
em sua forma de pensar. Se deparar com certas formulações podem significar que elas não
podem pertencer a determinado grupo, se assim desejarem por possuírem um pensamento
divergente. Todos elementos conspiradores apresentados por Trueman devem conduzir
àqueles que dizem não ter credo além da Bíblia a refletir sobre o quanto a cultura tem afetado
sua mente. No capítulo 2, o autor trata sobre os fundamentos do confessionalismo. Desde a
antiguidade, Deus escolheu as palavras como meio de evidenciar sua presença. Da mesma
forma, as palavras são o meio de os homens responderem a Deus e falarem entre si sobre o
Altíssimo. Fica notória a importância da história ao analisar a forma como os judeus
preservavam o conhecimento dos feitos de Deus e passavam aos seus filhos. A proclamação
verbal do Senhor ao longo da história da igreja tem lugar na atualidade, isto é, Deus
permanece o mesmo e os seres humanos permanecem se relacionando com Deus e com o
próximo. Isso significa que os elementos básicos da doutrina permanecem, ainda que a
conjuntura mude. A construção doutrinária forneceu uma base para que aqueles que
conhecem pelo menos um pouco da ortodoxia cristã sinta estranhamento quando alguém
começar a falar de Deus de forma unicista ou como se fosse três deuses separados. Nisso se
mostra o valor das formulações confessionais construídas ao longo da história. É incongruente
alguém dizer que não tem credo além da Bíblia e se apropriar de toda formulação dos credos.
É genuíno destacar a singularidade da Bíblia na revelação divina e não supervalorizar outros
documentos em detrimento da Escritura. Por outro lado, as formulações esclarecem o
conteúdo bíblico de forma clara e objetiva para formar o pensamento escriturístico de um
cristão. No capitulo 3, Carl Trueman fala sobre as formulações construídas pela igreja
primitiva. A objeção sofrida pelos confessionais de que a Escritura não tinha credos é
incongruente, pois a Bíblia contém material de caráter confessional e ensina a preservar as
palavras sãs. No período pós apostólico a igreja precisou lidar com a falta dos apóstolos que
norteavam a estrutura normativa. Os lideres da igreja mantiveram sua preocupação com a
defesa da fé. Muitos foram os escritos redigidos para orientar as igrejas e afugentar hereges.
Nesse contexto que se desenvolveu a regra de fé como um resumo dos pontos centrais do
cristianismo que aparecem de variadas formas nos escritos dos pais da igreja. Não havia ainda
uma forma geral, mas havia um fundamento base das formulações. A igreja continuou a
fornecer resumos doutrinários básicos para resumir a fé cristã e para receber os candidatos ao
batismo. Foi surgindo a necessidade cada vez maior de formular credos aceitos e que
circulassem em todas as igrejas. Rejeitar os credos construídos pela igreja nos concílios, mas
utilizar o conteúdo deles é uma desonra às tradições que debateram tanto para construir os
credos e confissões. No capitulo 4, o autor falar das confissões protestantes clássicas. Dentre
elas estão os artigos anglicanos que de forma bela denotam sua teologia e influenciam em sua
liturgia e na congregação. O livro de concórdia, de confissão luterana, apresenta suas
formulações e atribuem importância aos temas que lhe são caros. As três formas de unidade
que são a junção da confissão Belga, do catecismo de Heidelberg e os cânones de Dort são o
padrão confessional das igrejas reformadas que tem suas origens na reforma continental. A
confissão Belga foi obra de um único homem, o protestante francês Guido de Brés.
Provavelmente, o catecismo de Heidelberg também foi obra de um homem, um teólogo
chamado Zacarias Ursino. O terceiro padrão foi produzido por um sínodo que ocorreu na
cidade de Dort para resolver a controvérsia arminiana. As três formas de unidade mostram a
preocupação com a identidade doutrinária e formação da pedagogia cristã. Os padrões de
Westminster são adotados pelas igrejas presbiterianas de todo o mundo. São produto de uma
assembleia ocorrida na Inglaterra a partir de 1643. A assembleia produziu a confissão de fé de
Westminster, o Catecismo maior, o Breve catecismo e o diretório de culto público. No
capitulo 5, trata-se da confissão como louvor. Na mente de muitas pessoas, confissões soam
muito como algo acadêmico, intelectual e proposicional de forma que não tem relação com
doxologia cristã. Todavia, o conhecimento preciso da revelação de Deus dará condições de
conhecer seu senhorio, levando ao verdadeiro louvor. Doutrina e doxologia não estão
separadas. Conhecer as verdades da Escritura produzirá regozijo e genuína doxologia. A
expressão de louvor deve estar firmada em uma boa teologia. Por fim, Trueman chega ao
capítulo 6, onde fala sobre a utilidade dos credos e confissões. Ele ressalta que todas as igrejas
possuem credos e confissões. A diferença é que algumas as tornaram explícitas e sujeitas a
julgamento, enquanto outro as tem de forma implícita o que as torna mais suscetíveis a
variação e não são sujeitas a julgamentos. O fato de não escreverem seus credos não significa
que eles não têm. Existe uma compreensão dominantes a cerca das doutrinas principais, mas
que podem sofrer alterações por um líder que se manifesta como tendo um novo entendimento
sobre determinado fundamento. Como subordinar uma confissão às Escrituras se ela não está
em âmbito público? A critica que é feita aos confessionais é sobremodo injusta, pois todos
tem uma confessionalidade. Ter documentos formulados impede que um líder incauto tente
mudar algum fundamento da fé. Dessa forma o poder dos oficiais se mantém limitado. Os
oficiais subscrevem as confissões para que a elas seja submisso e não perverta alguma
doutrina. A igreja fica muito mais segura quando possui uma confissão bem delineada. Além
disso, faz com que a igreja tenha resumos completos da fé, exijam mais capacitação dos
oficiais, demarquem a posição de autoridade, levam os crentes a desenvolver competência
doutrinária, posiciona-se de forma contra cultural, distinguem umas igrejas das outras e
mantém unidade corporativa. Para que se modifique os credos deve haver uma justificativa
plausível. Do contrário, seria inadequado, pois, como diz o autor, se existe uma forma de
reinventar a roda ela é desconhecida. Se existe uma forma de mudar os credos e confissões,
ela é até o presente momento desconhecida pelos que valorizam as Escrituras e tem os
documentos credais como expressão do ensino bíblico.

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