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São Paulo
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São Paulo
2023
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Aprovação: 01 / 12 /2023
Orientador: Prof. Dr. Rev. Dario de Araújo Cardoso
5
Dedico este trabalho a família que o Senhor Deus me confiou. Que tem me apoiado de
forma incondicional, na árdua e gratificante tarefa de proclamar o Evangelho do Reino.
7
Agradecimentos
Gratidão ao Deus de toda glória. Que me chamou e tem me sustentado todos os dias.
Que diante do meu imerecido chamado faz-me pensar e buscar melhorar a cada momento.
Gratidão a minha esposa Summáya, meus filhos Matheus, Felipe e Giovanna, que
incentivam e apoiam de forma abnegada. Louvo a Deus por me deixar ser esposo e pai.
Gratidão ao Rev. Augustinho de Oliveira Junior (in memoriam), que foi um grande
incentivador para a busca do saber.
Enfim, louvado seja Deus por sua infinita bondade sobre nós pecadores.
8
Sumário
RESUMO....................................................................................................................................9
ABSTRACT.............................................................................................................................. 10
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 11
CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 39
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................41
9
RESUMO
A preparação de um sermão é uma tarefa que pode ser abordada de diversas maneiras.
E independentemente da metodologia escolhida, é de suma importância que essa abordagem
esteja profundamente comprometida com a totalidade da Palavra de Deus, tal como registrada
na Bíblia. O pregador é investido com a responsabilidade de levar adiante essa missão, então
deve assumir o encargo de proclamar o completo conselho de Deus e de proporcionar uma dieta
espiritual sólida e abrangente à comunidade de crentes sob sua liderança.
É amplamente reconhecido que os pregadores enfrentam uma série de demandas e
responsabilidades em seus ministérios. Portanto, é imperativo que eles administrem seu tempo
de maneira sábia e equilibrada, de modo a não descuidar de nenhuma de suas obrigações.
Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar o compromisso com a
proclamação de toda a Escritura mesmo diante das várias abordagens disponíveis para a
pregação. Além disso, pretende-se avaliar a eficácia do método de pregação expositiva como
uma ferramenta colaborativa que pode auxiliar os pregadores em seu árduo trabalho,
permitindo-lhes cumprir com excelência todas as suas múltiplas tarefas. Esta pesquisa busca
proporcionar uma visão mais aprofundada e esclarecedora sobre a importância da pregação
centrada na Palavra de Deus e a melhor maneira de implementá-la para o benefício da
comunidade de fé.
PALAVRAS-CHAVE
Pregação; Exposição; Fidelidade; Cristocêntrico; Forma; Caminho; Igreja; Pastoral.
*
Mestrando em Teologia (MDiv), em Estudos Pastorais com área de concentração em Pregação, no Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Noroeste
do Brasil. É Capelão e Professor no SPNB – Seminário Presbiteriano Noroeste do Brasil. É Pastor Presbiteriano
auxiliar na 2ª Igreja Presbiteriana de Ji-Paraná – Rondônia.
10
ABSTRACT
KEYWORDS
Preaching; Exposition; Fidelity; Christ-centered; Form; Path; Church; Pastoral.
11
INTRODUÇÃO
Outro sim, gostar do pregador “x” ou do pregador “y”, não faz com que o que se
prega seja verdadeiramente saudável. A doutrinação bíblico-teológica vem de um púlpito
Cristocêntrico, e um púlpito Cristocêntrico tem a ver com a exposição fidedigna das Santas
Escrituras. John Koessler ao comentar sobre a mensagem ser acima do mensageiro diz que “é
necessário confrontar a tendência tentadora de imitar certas formas de entretenimento na
pregação, na música e em outros elementos do culto na igreja”.2
1 LAWSON, Steven J. O tipo de pregação que Deus abençoa. São José dos Campos – SP: Fiel, 2013, p. 21-22.
2 KOESSLER, John. Manual de pregação. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 47.
12
Este trabalho visa, diante da vida ministerial, elucidar a forma como meio de
fidelidade bíblico-referente, que faz uma imprescindível diferença para o rebanho a qual nosso
Senhor nos confiou. Se um pregador no exercício de seu ofício não se preocupa com o modus
operandi ou até mesmo como ou seus ouvintes estão entendendo ou percebendo a mensagem,
como pode este pregador afirmar-se como fidedigno as Santas Palavras? Outro sim levando em
consideração, que quando a pregação não é denotada como Cristocêntrica, perde-se a sua
objetividade. Como ser salutar diante de uma questão que não parece ser apetitosa a pregadores
até mesmo experientes?
Este trabalho não pretende esgotar o assunto ou até mesmo resolvê-lo de forma única,
mas, de uma forma norteadora, pretende apresentar as correntes de pregações, para que de uma
forma coesa chegue a um denominador comum, onde as pregações sejam biblicamente
entrelaçadas com exposição centrada no Senhor da história e sua Revelação.
Deste modo, Haddon aponta para uma saída dizendo: “O tipo de pregação que melhor
transmite a força da autoridade divina é a pregação expositiva”4. Apesar de não haver
concordância de modo geral, e que à maioria dos pregadores já foi apresentado a pregação
expositiva, entretanto, não a usam por motivos vários.
Antes de prosseguirmos, se faz necessário definir o que é pregação expositiva.
Haddon diz:
Tentar uma definição torna-se uma questão desajeitada, porque, ao definir
algo, às vezes o destruímos. [...] A pregação é uma interação viva que envolve
Deus, o pregador e a congregação, e nenhuma definição pode ter a pretensão
de captar essa dinâmica. Mas por amor a clareza, devemos tentar uma definição
aproveitável para a prática. A pregação expositiva é a comunicação de um
conceito bíblico, derivado de, e transmitido através de um estudo histórico
gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo
primeiramente aplica à personalidade e experiencia dom pregador, e depois,
através dele, a seus ouvintes.5
8 CHAPELL, Bryan. O Sermão Cristocêntrico: Modelos para a pregação Redentiva. São Paulo: Cultura Cristã,
2017, p. 09.
9 John Wycliffe (1328-1384) nasceu em Yorkshire, Inglaterra, provavelmente no ano de 1328, foi um teólogo,
professor e reformador religioso do século XIV. Foi considerado o precursor de Lutero e Calvino. Propôs uma
reforma religiosa, na Inglaterra, que só iria se concretizar dois séculos depois.
10 MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p. 127.
11 STOTT, John. Crer é Também Pensar. São Paulo: ABU Editora, 2001, p. 23.
15
Hieronymous Savonarola, foi um padre dominicano e pregador na Florença renascentista que ficou conhecido por
supostas profecias, pela destruição de objetos de arte e artigos de origem secular e seus apelos de reforma da igreja
católica.
15 Refere-se à prática de expor as Escrituras em sequência durante um período. Cada leitura começa onde a sessão
anterior terminou. Por exemplo, todo domingo uma seção da Bíblia é lida de modo que cada leitura continue onde
a anterior terminou.
16Ulrico Zuínglio ou Hulrico Zuínglio (1484-1531), foi um teólogo suíço e principal líder da Reforma
Protestante na Suíça. Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças.
Independentemente de Martinho Lutero, que era doctor biblicus, Zuínglio chegou a conclusões semelhantes pelo
estudo das escrituras do ponto de vista de um erudito humanista. Zuínglio não deixou uma igreja organizada, mas
as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas.
17 LOPES, Hernandes Dias. Pregação Expositiva e sua Importância para o Crescimento da Igreja. São Paulo:
18 LAWSON, Steven J. A Arte Expositiva de João Calvino: Um Perfil de Homens Piedosos. São José dos
Campos: Fiel, 2008, p. 34.
19 Ibidem, p. 38.
20 Ibidem, p. 50.
21 MATOS, 2008, p. 156.
22 MACGRATH, Alister E. Teologia Histórica. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2007, p. 157
23 LOPES, 2004, p. 48.
17
mentiras e enganos. Calvino via como incumbência do expositor bíblico permitir que a suprema
autoridade da Palavra divina influenciasse seus ouvintes24. Para ele, a pregação fiel da Palavra
de Deus era a primeira marca de uma igreja verdadeira. John Stott comenta sobre isso:
Enquanto Calvino escrevia suas 'Institutas' na relativa paz de Genebra, ele
também exaltava a Palavra de Deus. Em particular, ele enfatizava que a
primeira e mais crucial marca de uma igreja verdadeira era a pregação fiel da
Palavra. Sempre que vemos a Palavra de Deus sendo pregada e ouvida com
pureza, escreveu ele, e os sacramentos sendo administrados de acordo com a
instituição de Cristo, ali, sem dúvida, existe uma igreja de Deus25.
Como pastor principal em Genebra, Calvino pregava duas vezes aos domingos e
todos os dias da semana em semanas alternadas, de 1549 até sua morte em 1564. Estima-se que
ele tenha pregado mais de dois mil sermões apenas a partir do Antigo Testamento. Ele passou
um ano pregando sobre o livro de Jó e três anos sobre o livro de Isaías26. Sob a liderança de
Calvino, Genebra experimentou crescimento espiritual, moral e material. Steven Lawson cita
James Montgomery Boyce, que afirmou o seguinte sobre Calvino e seu impacto em Genebra:
Calvino não tinha outra arma senão a Bíblia... Ele pregava a Bíblia todos os
dias e, sob o poder dessa pregação, a cidade começou a ser transformada.
Conforme o povo de Genebra conhecia a Palavra de Deus e era transformado
por ela, a cidade se tornou, como John Knox mais tarde a chamou, uma Nova
Jerusalém, de onde o evangelho se espalhou para o resto da Europa, para a
Inglaterra e para o Novo Mundo27.
Do começo ao fim de sua carreira, Calvino manteve seu foco singular na explanação
do significado pretendido por Deus nos textos bíblicos. Como expressou Parker: “A pregação
expositiva envolve a explicação e a aplicação de um trecho das Escrituras. Sem explanação, ela
não é expositiva; sem aplicação, ela não é pregação”30. Calvino empenhou-se com dedicação a
essa tarefa. Beza disse sobre suas pregações: “Cada palavra pesava uma tonelada”. Ele
influenciou diversos contemporâneos, incluindo Henry Bullinger (1504-1575) e o reformador
John Knox (1513-1572)31. Anos depois, Charles Haddon Spurgeon expressou o seguinte sobre
João Calvino: “Nenhum outro homem pôde expressar, conhecer e explicar as Escrituras com
mais clareza do que Calvino o fez”32.
Pode ser visto até aqui, que a pregação é a base da proclamação do Reino. Sendo a
Bíblia a Palavra de Deus, a exposição dela torna-se indubitavelmente necessária. O Profeta
Oséias alerta que o povo estava sendo destruído por falta de conhecimento (Os 4.6b). E não
estamos distantes desta realidade em nossos dias. A superficialidade tem tomado conta de
muitos púlpitos. E não somente isso, pode-se notar a falta de compromisso com a exposição
fiel das Escrituras. Essas e outras disfunções teológicas nos faz observar que Cristo tem sido
deixado de lado nas exposições, ou pior, tem sido usado como pressuposto para pregações que
enaltecem a egolatria, e, não distantes, arrastam os ouvintes para longe de Cristo. Em toda
história bíblica que o povo de Deus se afasta dos decretos de Deus, sofrem as consequências
em todos os aspectos de suas vidas. Um Deus justo, sendo o justo juiz. Assim sendo, o que nos
afaga o coração é que o retorno as Escrituras, com uma pregação expositiva e de forma fiel,
reerguem o evangelho puro.
30 Ibidem, p. 79.
31 LOPES, 2004, p. 52.
32 LAWSON, 2008, p. 119.
33 James Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong (Sociedade Bíblica do Brasil, 2002).
19
ouve. Ou seja, nada mais é do que apresentar as Escrituras e somente as Escrituras, não
apresentando uma nova verdade, e sim apresentar o que Deus falou de fato. O pregador
expositivo deve cumprir o objetivo de comunicar o poder que a Escritura proclama.
Assim sendo podemos afirmar que os profetas foram eximíeis expositores da Palavra
de Deus. Estes homens piedosos transmitiam com fidelidade a Palavra.
Paulo Anglada contribui para essa definição:
Em Deuteronômio vemos vários sermões proferidos por Moisés. Após passar uma
grande parte de sua vida no convívio dos Egípcios (Êxodo. 2.5) sendo ali instruído em questões
de ciência, cultura etc. Foi por Deus chamado para ser o guia do provo hebreu. Sendo Moisés
um tipo de Cristo que teve a responsabilidade em conduzir o povo hebreu do cativeiro à terra
prometida (Atos 3.22). Um livro que combina exortação e mandamentos serve de exemplo de
como a Lei deveria ser transmitida, recebida e ensinada por gerações. Como vemos em
Deuteronômio 31.10-22:
34
ANGLADA, Paulo Roberto Batista. Introdução à Pregação Reformada: Uma Investigação Histórica sobre o
Modelo Bíblico-Reformado de Pregação. Ananindeua-PA. Knox Publicações, 2005, p. 21.
20
mal que tiverem feito, por se haverem tornado a outros deuses. 19 Escrevei para
vós outros este cântico e ensinai-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca,
para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel.
20 Quando eu tiver introduzido o meu povo na terra que mana leite e mel, a
qual, sob juramento, prometi a seus pais, e, tendo ele comido, e se fartado, e
engordado, e houver tornado a outros deuses, e os houver servido, e me
irritado, e anulado a minha aliança; 21 e, quando o tiverem alcançado muitos
males e angústias, então, este cântico responderá contra ele por testemunha,
pois a sua descendência, sempre, o trará na boca; porquanto conheço os
desígnios que, hoje, estão formulando, antes que o introduza na terra que, sob
juramento, prometi. 22 Assim, Moisés, naquele mesmo dia, escreveu este
cântico e o ensinou aos filhos de Israel35
Assim podemos perceber que Moisés não sonega a verdade de Deus ao povo, outro
sim, alimenta com verdade pura. Moisés apresentou a leitura da lei, explicou-a e aplicou-a aos
que ouviam, demonstrando que o mais importante é aprender a andar com Deus em detrimento
as bençãos. Paulo Anglada contribui para este pensamento:
Davi é outro exemplo de bela exposição dos decretos de Deus, usando a poesia para
engrandecer a majestade de Deus. Estes e outros apresentam as Escrituras, explicam as
Escrituras e aplicam as Escrituras. Sendo Cristo apresentado, mesmo que por sombras no
Antigo Testamento, podemos em uma unidade Bíblica observar a presença de Cristologia nos
discursos de Moisés, Samuel e Davi.
Entretanto não podemos deixar de observar o ministério preponderante de Esdras.
Pois quando se lê a história do povo de Deus no Antigo Testamento, toma-se conhecimento da
grande tragédia sobre Judá, o reino do Sul: Jerusalém invadida, o templo saqueado e destruído,
o reinado de Davi colocado abaixo e uma grande parte do povo exilado (2Reis 23.36-25.30).
Isso por volta do ano 589 a.C.
35 Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Dt 31.10–22. Obs.: Todos os textos
bíblicos doravante serão extraídos da mesma versão Bíblica.
36 ANGLADA, 2005, p. 17
21
37 ANGLADA, 2005, p. 19
22
Esta abordagem tem suas raízes nos ensinamentos dos profetas do Antigo
Testamento e continua a ser praticada no ministério terreno de Jesus Cristo e, por extensão,
pelos Apóstolos. O trabalho dos Apóstolos não se limita meramente a curas e milagres; eles
assumiram principalmente o papel de proclamadores da Palavra divina. Como expresso em
Atos 6.4: “e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra”.
O livro de Atos dos Apóstolos também relata um evento significativo:
38 Ibidem, p. 22
39 ANGLADA, 2005, p. 22.
23
Através das tribulações e do sacrifício daqueles que estavam dispostos a dar suas
vidas em prol da proclamação da Palavra de Deus, a mensagem foi disseminada ainda mais
amplamente e com maior rapidez. Alister MacGrath assevera que um dos pais da igreja,
Tertuliano, conhecido como o pai da teologia latina devido ao seu impacto significativo sobre
a igreja ocidental, articulou: “O sangue dos mártires é a semente da igreja”40.
Talvez seja válido conjecturar que o cristianismo não teria se expandido tão
vigorosamente caso o Império Romano não estivesse presente. De certa forma, o império pode
ser comparado a um combustível pronto para ser inflamado pela chama da fé cristã, uma fusão
que possibilitou a propagação da mensagem de maneira notável.
Geen ao falar sobre evangelização na igreja primitiva ele assevera sobre a pregação,
nos dizendo:
Assim, a pregação na sinagoga, na reunião dos cristãos ou ao ar livre, em
condições normais ou sob inspiração direta, foi um elemento importante entre
os métodos da missão.41
A pregação tem sido e continuará sendo um papel crucial na vida da igreja. O próprio
Senhor Jesus, antes de ascender aos céus, instruiu: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho
a toda criatura” (Marcos 16.15). A pregação assume um caráter profético, apostólico e cristão.
Com efeito, as Escrituras proclamam: “Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas
boas” (Romanos 10.15b). Paulo Anglada contribui para este pensamento:
Pregação, no Novo Testamento, pressupõe comissão. Trata- se de uma função
exclusiva de homens especialmente comissionados para a tarefa: “E como
pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10:15).55 Apenas Cristo, ou alguém
comissionado por Deus com este propósito, tem autoridade divina para se
apresentar publicamente como arauto de Deus e proclamar em nome dele a
sua Palavra.42
1No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos
governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca
da região da Itureia e Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, 2 sendo sumos
sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no
deserto. 3 Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo
de arrependimento para remissão de pecados, 4 conforme está escrito no livro
das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o
caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
5 Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; os caminhos
vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras
Deus pode suscitar filhos a Abraão. 9 E já está posto o machado à raiz das
árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao
fogo. 10 Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de
fazer? 11 Respondeu-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem;
e quem tiver comida, faça o mesmo. 12 Foram também publicanos para serem
batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? 13 Respondeu-
lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. 14 Também soldados lhe
perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não
deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo. Lucas 3.1-14
Num contexto de aridez espiritual, onde o pecado exercia seu domínio desde os
palácios até as moradias humildes, João Batista surgiu para confrontar a nação de Israel com a
Palavra divina.
A Bíblia relata que pessoas de Jerusalém e de toda a Judeia foram ao deserto para
ouvi-lo pregar (Mateus 3.5), e ao serem impactadas pelo poder da Palavra de Deus, eram
batizadas (Mateus 3.6). João Batista atuava longe dos holofotes, não buscava a luz dos holofotes
do palco, mas escolhia o deserto como o lugar para disseminar os preceitos divinos. Apesar de
não estar num cenário sofisticado, o relato bíblico destaca que multidões expressivas acorriam
43 Ibidem, p. 40
25
ao deserto unicamente para escutá-lo, a ponto de o questionarem sobre como agir (Lucas 3.10-
14).
Jesus Cristo, como o Verbo encarnado de Deus (João 1.1), se destacou
inquestionavelmente no Novo Testamento. Embora Seu ministério terreno tenha abraçado os
necessitados, é irrefutável afirmar que a pregação ocupava um lugar central em Sua obra. Sendo
o Filho de Deus encarnado, Ele poderia ter iniciado Sua jornada terrena com uma série de
milagres – e, de fato, realizou muitos – visto que Ele próprio é a Palavra viva, tanto o
mensageiro quanto o conteúdo de Sua mensagem. No entanto, o evangelista Lucas relata a
trajetória de Jesus com estas palavras: “Ele ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por
todos” (Lucas 4.15).
Após resistir à tentação no deserto, Jesus dirigiu-Se à cidade de Nazaré, onde proferiu
Sua primeira exposição das Escrituras, conforme registrado no livro de Lucas:
Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar
onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar
o ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e
sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus
a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir (Lucas 4.17-
21).
Conforme Stuart Olyott45, Jesus lia, explicava e aplicava a Palavra de Deus. Sua
profunda compreensão das Escrituras fica evidente no Sermão do Monte e em Seus
ensinamentos a respeito da autoridade das Escrituras, como quando disse aos saduceus: “errais,
não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mateus 22.29). O conjunto de
ensinamentos de Jesus (Marcos 4.2) essencialmente cumpre o Antigo Testamento em Sua
pessoa, vida, ações, morte sacrificial e ressurreição46. Diferenciando-se dos rabinos
contemporâneos, Jesus não apenas ensinava com autoridade divina, mas também vivia de
acordo com Suas palavras.
48 DEVER, Mark. A Pregação da Cruz. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 17.
49 LLOYD-JONES, D. Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 1976, p. 93.
28
(Isaías 55.11). Desse modo, o autêntico crescimento da igreja só se concretiza por meio de uma
pregação sincera e direta, que não apenas edifica o corpo de Cristo, mas também promove a
expansão do Reino de Deus em todo o mundo.
52 MEYER, Jason C. Teologia Bíblica da Pregação: a mensagem que glorifica a Deus, honra as Escrituras e
edifica a igreja. São Paulo: Vida Nova, 2019, p. 239.
53 DEVER, Mark. A Pregação da Cruz. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.40.
54 PACKER. J.I. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã. São José dos Campos: Fiel, 2016,
p. 467.
30
Cumpre seus propósitos: “Porque, assim como descem a chuva e a neve dos
céus e para lá não tornam, sem que reguem a terra... assim também será a
palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que
me apraz, e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55.10,11).
Anula os motivos humanos: Na prisão, o Apóstolo Paulo se regozijava,
porque quando outros pregavam a palavra, “... quer por pretexto, quer por
verdade”, a obra de Deus seguia adiante (Fp 1.18)55
Não são as tendências do mercado religioso que conduzirá a igreja a um estado puro
e imaculado, mas sim os preciosos ensinamentos contidos na Palavra de Deus. Quanto à
relevância e centralidade das Escrituras na vida da igreja, sobre isso Hernandes Dia Lopes nos
diz:
A Bíblia é a escola do Espírito Santo em que o homem aprende tudo que é
necessário e prático para ter uma vida abundante. É o livro por excelência,
inspirado por Deus, escrito por homens, concebido no céu, nascido na terra,
odiado pelo inferno, pregado pela igreja, perseguido pelo mundo e crido pelos
eleitos de Deus. A Bíblia não só contém a Palavra de Deus, como também e a
Pala- vra de Deus (Jo 17:17). Seu autor e divino, seu conteúdo infalível, sua
mensagem eficaz, sua influência universal e seu poder irresistível.56
O alvo da pregação expositiva deve, e sempre deve ser, Cristo. Se o expositor não
cumprir o que lhe foi dado a fazer não se pode classificar como fiéis expositores. Mesmo que o
modo de expor seja diferente em seu formato, o objetivo final não pode ser diferente das
verdades bíblicas. Neste sentido Dario Cardoso nos diz:
55 CHAPELL, Bryan. Pregação Cristocêntrica. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 18-19.
56 LOPES, 2004, p. 67-68.
31
A prática da exposição bíblica é uma arte que desvenda os tesouros escondidos nas
páginas das Escrituras. No coração da exposição está a busca pela compreensão profunda das
verdades divinas e a habilidade de transmiti-las de maneira clara e impactante. No entanto, a
verdadeira excelência na exposição bíblica não apenas esclarece o contexto e os ensinamentos
das passagens, mas também ilumina a beleza da história de redenção que se desenrola através
das páginas da Bíblia.
A pregação reformada tem em seu cerne uma particularidade que é ser Cristocêntrica,
ou seja, tem como alvo Cristo. Paulo Anglada garante: “Os reformadores pregavam a Bíblia
toda. Mas Cristo, sua pessoa, morte expiatória, ressureição e reino eram o tema sempre presente
das mensagens deles58.”
Uma das abordagens mais ricas e edificantes na exposição bíblica é a pregação
Cristocêntrica. Isso significa que cada passagem das Escrituras é vista através da lente de Cristo,
revelando como ele é o cumprimento das promessas antigas e o centro da narrativa bíblica.
Como Jesus mesmo disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e
são elas mesmas que testificam de mim.” (João 5:39).
Ao adotar essa abordagem, a exposição bíblica Cristocêntrica reconhece que todas
as partes das Escrituras estão interligadas e convergem para o ápice em Cristo. Desde o Antigo
Testamento até o Novo, as figuras, eventos e ensinamentos apontam para o Salvador que estava
por vir e que veio. Como Paulo escreveu aos Coríntios: “Porque quantas são as promessas de
Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por
nosso intermédio” (2 Coríntios 1:20).
Joel R. Beeke em sua teologia puritana, nos diz que:
Desde Calvino, a cristologia reformada tem dado grande ênfase à relação
orgânica entre a pessoa de Cristo e a sua obra mediadora. Ele é profeta,
sacerdote e rei, e todos esses ofícios têm relação com o evangelho de Jesus
Cristo, tanto em sua humilhação quanto em sai exaltação. Quer dizer, o
evangelho é a totalidade de Cristo pela fé. Mais do que isso, historicamente a
cristologia reformada tem dado bastante ênfase ao papel do Espírito em relação
a Cristo. Por conseguinte, a cristologia permeia a pneumatologia e vice-versa59.
57 CARDOSO, Dario de Araújo. A Forma da Pregação Expositiva. Fides Reformata, São Paulo XXIII, n.2, p.25-
33. 2018, p. 26.
58 ANGLADA, 2005, p.123.
32
59 BEEKE, Joel R. Teologia Puritana: doutrina para a vida / Joel R. Beeke e Mark Jones. São Paulo: Vida Nova,
2016, p. 483-484.
60 PIPER, John. Supremacia de Deus na pregação. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 23.
61 CHAPELL, 2007, p. 23.
33
texto age para aprofundar nossa compreensão de quem Cristo é, o que o Pai o
enviou a fazer e por quê. O objetivo não é fazer uma referência específica a
Jesus aparecer de forma mágica a partir de cada pegada de camelo da narrativa
hebraica ou de cada metáfora da poesia hebraica (levando a erros alegóricos),
mas sim mostrar como cada texto contribui para o desdobramento da revelação
da graça de Deus que culmina na pessoa e obra de Cristo.62
Desassociar Cristo de sua palavra é o mesmo que retirar o ar e desejar viver. O alvo
do sermão expositivo deve ser Cristo. Se Cristo não for anunciado não se pode afirmar que
houve um sermão genuíno. Bryan Chapell citando Thomas F. Jones, fundamenta este conceito:
A verdadeira pregação cristã precisa centralizar-se na cruz de Jesus Cristo. A
cruz é a doutrina central dos santos escritos. Todas as outras verdades
reveladas, ou encontram seu cumprimento na cruz, ou são necessariamente
fundamentadas sobre ela. Portanto, nenhuma doutrina da Escritura pode
fielmente ser apresentada aos homens a menos que se torne manifesto o seu
relacionamento com a cruz. Aquele que é vocacionado para pregar, portanto
deve pregar a Cristo, pois nenhuma outra mensagem há que proceda de Deus.63
Na tradição reformada, a graça de Deus é como um fio dourado que permeia e une
toda a tapeçaria da pregação. O objetivo da pregação é revelar a glória da graça de Deus. A
graça é o coração da mensagem, e a pregação expositiva é a exploração profunda dessa graça.
Valdeci do Santos ao fazer considerações sobre a graça nos diz:
Graça não é uma entidade independente, com conteúdo próprio, separada do
seu Autor. Ela não é uma substância, uma mera força impessoal ou estática.
Ela também não é um princípio mecânico, um instrumento isolado, nem uma
benção independente. Graça é um dom de Deus, ela é um atributo divino, pois
Deus é gracioso. A graça só pode ser experimentada em comunhão e continua
dependência daquele que é a fonte da qual ela emana. A graça caracteriza a
maneira que o Senhor se relaciona com toda a sua criação, pois ela demonstra
o seu favor em relação a tudo o que ele criou [...] não é apenas um favor
imerecido, mas um benefício concedido aqueles que merece real condenação.64
62 CHAPELL, Bryan. O Sermão Cristocêntrico – Modelos para a pregação Redentiva. São Paulo: Cultura Cristã,
2017, p. 13.
63 CHAPELL, 2007, p. 294
64 SANTOS, Valdeci da Silva. O triunfo da graça na vida prática. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 17.
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redenção. A pregação reformada, impulsionada pela graça, convida os ouvintes a uma jornada
transformadora de descoberta e entrega à obra redentora de Deus.
A graça é o coração pulsante da pregação Cristocêntrica. Através da graça, a pregação
se torna mais do que palavras proclamadas; é uma manifestação viva do amor de Deus por meio
de Jesus Cristo. A graça conduz os corações incultos a olhar para Cristo, a entendê-lo como
redentor. Chester nos diz:
Sendo assim, a pregação busca cativar os sentimentos do nosso coração para
Cristo, a fim de que nossa confiança esteja fundamentada nele, e que o nosso
anseio seja conhecer a Cristo e vê-lo glorificado. (...) a função do pregador é
apontar o caminho para esse tesouro, para que as pessoas deem tudo quanto
possuem para tomar posse dele.65
A elevada visão que Calvino possuía acerca da pregação era sustentada por
uma visão elevada de Deus, uma visão elevada das Escrituras, e um visão
correta do homem. (...) Nas palavras de Calvino, a pregação é “a viva voz” de
Deus” em sua igreja. Seu raciocínio era o seguinte: “Deus cria e multiplica sua
igreja somente por meio de sua Palavra... É só pela pregação da Graça de Deus
que a igreja escapa de perecer.
Richard Baxter dizia que “é de doer o coração, ver pecadores, mortos e entorpecidos,
assentados para receber uma mensagem de vida, e não ouvirem do pastor nenhuma palavra que
os desperte”66. Por mais agradável, alegre e prazeroso que seja o culto, se não houver pregação
genuína da Palavra de Deus para transformação de vida, completamente por meio da graça, tal
culto é inútil. A Confissão de Fé de Westminster declara que “O arrependimento para a vida é
uma graça evangélica, doutrina esta que deve ser pregada por todo ministro do Evangelho, tanto
quanto a da fé em Cristo”67.
Infelizmente, pessoas têm ido para algumas igrejas em busca de Deus, mas ao invés
disso, têm encontrado muito do homem. O pregador precisa estar cheio da verdade de Deus,
cheio da graça de Deus; se a mensagem tem um pequeno custo para o pregador, também terá
um pequeno valor para a congregação68. A autêntica exposição bíblica, que também é
teologicamente embasada, não é uma tarefa simples. A disciplina rigorosa exigida para
interpretar as Escrituras de maneira precisa é um fardo constante, e a mensagem que somos
chamados a proclamar frequentemente pode ser desconfortável. Por essa razão, muitos
65 CHESTER, Tim e HONEYSETT, Marcus. Pregação Centrada no Evangelho. São Paulo: Cultura Cristã, 2017,
p. 15-16.
66 BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 126.
67 A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 118.
68 LOPES, 2008, p. 77.
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escolhem não confrontar os ouvintes com a Palavra de Deus, optando por pregar em suas igrejas
mensagens que acariciam o ego humano, mas que, em última instância, trazem palavras de
morte.
69 LOPES, Hernandes Dias. Fome de Deus. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 21.
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Ao olharmos para as Sagradas Escrituras nos apercebemos que o livro de Atos dos
Apóstolos relata a ação do Espírito Santo na vida dos Apóstolos e na propagação do evangelho.
Em Atos 16:6-9, por exemplo, Paulo é impedido pelo Espírito Santo de seguir em uma
determinada direção, e depois é conduzido pelo Espírito até a Macedônia.
6E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito
Santo de pregar a palavra na Ásia, 7 defrontando Mísia, tentavam ir para
Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu 8 E, tendo contornado Mísia,
desceram a Trôade. 9 À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão
macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos.
70 LOPES, Hernandes Dias. De Pastor a Pastor: Princípios para ser pastor segundo o coração de Deus. São Paulo:
Hagnos, 2008, p. 66.
71 Ibidem, p. 67.
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O ponto central de Calvino era que o Espírito fala pelas Escrituras. Não que o
Espírito estivesse restrito à Pregação da Palavra e aos sacramentos, mas sim
que Ele não pode ser dissociado de ambos. O Espírito havia sido dado à Igreja,
não para trazer novas revelações, mas para nos instruir nas palavras de Cristo
e dos profetas. De acordo com Calvino, o Espírito sela nossas mentes quando
ouvimos e recebemos com fé a palavra da verdade, o Evangelho da salvação
(Ef 1.13). Ele limita-se a guiar os crentes e a iluminar seus entendimentos
naquilo que ouviu e recebeu do Pai e do Filho, e não de Si mesmo (Jo 16.13).
Como o ensino divino se encontra nas Escrituras, a obra do Espírito consiste
em iluminá-las, fazendo com que esse ensino seja entendido pelos fiéis.72
72 LOPES, Augustus Nicodemos, O Teólogo do Espírito Santo: Um Estudo sobre o Ensino de Calvino sobre a
Palavra e o Espírito. Disponível em: <https://thirdmill.org/portuguese/6164~9_19_01_11-11-
33_AM~O_Teólogo_do_Espírito_Santo.html>. Acesso em 05 set. 2023.
73 LAWSON, 2012, p. 36-37.
74 Ibidem, p. 37.
75 MACARTHUR, John. O Pastor como Pregador. Eusébio: Editora Peregrinos, 2016, p. 158.
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Outro sim, há os que pensam que falar no poder do Espírito Santo ou depender
exclusivamente do mesmo, é a fala mansa no tom de sobriedade inferindo seriedade. Neste tom
MacArthur colabora de igual forma. Vejamos:
Há também os que pensam que a melhor abordagem seria uma fala quieta,
marcada por uma intensa sinceridade. O objetivo seria fazer o sermão soar
como uma conversa. Embora nosso estilo de comunicação deva ser uma
expressão natural de quem somos, não podemos pensar, por um momento
sequer, que nisto reside o poder de nossa pregação77.
Neste ponto podemos concluir que não são horas de estudo, técnicas, ou qualquer
método humano que tornam a exposição eficaz, e sim o poder do Espírito Santo. Como diria D.
Martyn Lloyd-Jones, “Podemos nos tornar facialmente profissionais do púlpito, em vez de
pregadores”79. Cabe aos expositores serem fidedignos a Palavra com total dependência do
Espírito.
CONCLUSÃO
Após uma análise deste tema de suma importância, chegamos a algumas conclusões
que destacam o papel e a relevância da pregação expositiva como caminho para pregação
76 Ibidem, p. 159.
77 Ibidem, p.159-160.
78 Ibidem, p.160.
79 MACARTHUR, apud D. Martyn Lloyd-Jones, 2016, p. 160.
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exposição fiel na igreja contemporânea. Não pode haver dúvida quanto à supremacia das
Escrituras, à prioridade da exposição da Palavra de Deus e à vitalidade de uma igreja saudável.
Concluímos, portanto, que a fiel exposição da Palavra de Deus é um catalisador para o
crescimento saudável da igreja, fundamentado em um compromisso inabalável com a
supremacia das Escrituras. A suficiência das Santas Escrituras é o alicerce que sustenta e
fortalece a pregação expositiva.
A exposição da Palavra de Deus emerge como a maior necessidade na
contemporaneidade da igreja. O principal encargo de um pastor não deve ser o acúmulo de
números em relatórios diários, mas sim o nutrimento do rebanho por meio de uma pregação
fundamentada na Bíblia. Um rebanho mal alimentado se torna presa fácil nas mãos dos astutos.
O objetivo fundamental da pregação é agradar a Deus. Haddon Robinson em seu livro a Arte e
o Ofício da Pregação Bíblica diz que “é uma convicção central da fé que Deus é soberano e que
todas as coisas precisam ser feitas para agradá-lo”80.
Ademais, torna-se evidente que o método expositivo de pregação da Palavra de Deus é
de extrema relevância para a vida cotidiana da igreja, para uma igreja cada dia mais voltada a
Cristo. Isso se justifica pelo fato de que heresias, secularismo e ideologias malignas
continuamente ameaçam o povo de Deus. Um compromisso profundo com a Palavra de Deus
prepara o rebanho para resistir a esses ataques.
A fiel exposição das Escrituras Sagradas é crucial para a igreja contemporânea, visto
que no passado, o equilíbrio, a pureza e o crescimento do rebanho de Cristo foram mantidos
por meio desse estilo de pregação. Na era apostólica, notáveis líderes adotaram o método
expositivo de pregação das Escrituras. Durante a Reforma Protestante, irmãos notáveis tais com
João Calvino restauraram a centralidade da Bíblia (Sola Scriptura). Os puritanos, conhecidos
por sua devoção e intelectualidade, foram fiéis expositores da Palavra de Deus. Atualmente,
alguns pastores amplamente reconhecidos continuam sendo expositores fiéis das Escrituras,
demonstrando que esse estilo de pregação é uma herança bíblica, não uma inovação para atrair
multidões.
Além disso, é importante destacar que o verdadeiro crescimento da igreja é um ato de
Deus (Atos 2.47; 1 Coríntios 3.6), porém, a exposição da Palavra de Deus desempenha um papel
indispensável no crescimento saudável do corpo de Cristo. Deus salva os pecadores através da
loucura da pregação (1 Coríntios 1.21). A edificação da igreja e a salvação dos perdidos
ocorrem por meio da fiel exposição das Santas Escrituras.
80 ROBINSON, Haddon. A Arte e o ofício da pregação bíblica. São Paulo: Shedd Publicações, 2009, p. 37
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Ao revisitar a história da igreja, fica claro que Deus sempre chamou seu povo ao
arrependimento por meio da exposição fiel da Palavra. Portanto, na igreja contemporânea, não
podemos esperar nada diferente.
Outro aspecto relevante é que, nos tempos atuais, a pregação expositiva perdeu espaço
para um estilo de pregação que enfatiza apenas o que Deus pode fazer pelo homem,
negligenciando o que Deus requer do homem. A verdadeira pregação expositiva não pode ser
centrada no homem, como frequentemente vemos, mas deve ser centrada em Cristo. Ela precisa
proclamar e defender a doutrina de que o propósito primordial do ser humano é glorificar a
Deus e desfrutá-lo eternamente, e não o contrário.
É lamentável constatar o reduzido número de pregadores comprometidos com a
exposição bíblica nos dias de hoje. No entanto, com a graça de Deus, essa realidade está
mudando. Embora a pregação expositiva exija esforço árduo, interpretação correta das
Escrituras e uma vida espiritual disciplinada, a igreja de Deus pode ser ricamente abençoada e
transformada por meio desses esforços. Portanto, em vista de que a fiel exposição da Palavra
de Deus é essencial para o crescimento saudável da igreja, podemos afirmar com confiança
que, tanto no Brasil quanto em todo o mundo, o que mais necessitamos são mensageiros
corajosos que proclamem fielmente todo o desígnio de Deus, em vez de serem meros
propagadores de um evangelho distorcido que priva o povo da verdade essencial. Como nos
lembra a Escritura: “Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, corrige, exorta,
com toda a longanimidade e doutrina” (2 Timóteo 4.2).
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