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OSVALDO DE LIMA FERREIRA

ESTRATÉGIA ADVENTISTA PARA ALCANÇAR PESSOAS SECULARIZADAS


NO DISTRITO DE COSTA E SILVA – ASSOCIAÇÃO CENTRAL
SUL RIO-GRANDENSE

Londrina
2012
OSVALDO DE LIMA FERREIRA

ESTRATÉGIA ADVENTISTA PARA ALCANÇAR PESSOAS SECULARIZADAS


NO DISTRITO DE COSTA E SILVA – ASSOCIAÇÃO CENTRAL
SUL RIO-GRANDENSE

Tese apresentada em cumprimento às exigências do curso


de Pós-graduação Latu Senso, Doctor of Missiology da
Faculdade Teológica Sul Americana.

Orientador: Dr. Wander de Lara Proença

Londrina
2012
Ficha catalográfica elaborada por

G1100c Ferreira, Osvaldo Lima

Secularismo, Estratégias Evangelizadoras e Missão / Osvaldo de


Lima Ferreira. – Londrina, 2012
76 f. : il. ; 30 cm

Tese (Doutorado em Missiologia – Faculdade Teológica Sul


Americana - Londrina, 2012
Orientador: Wander de Lara Proença

1. Missiologia. 2. Missão urbana. 3. Plantio de Igrejas –


Missiologia . 4. Evangelização urbana. 5. Estratégias de
Evangelismo. I. Título. II. Faculdade Teológica Sul Americana.

CDD 267.010
DEDICATÓRIA

À minha amada esposa, Sueli Masson Nardes Ferreira, por sua paciência,

compreensão, incentivo e apoio desprendido a minha pessoa e ministério. Possa Deus sempre

iluminar o seu caminho, com saúde, sabedoria, graça e discernimento.


AGRADECIMENTOS

Ao Deus todo poderoso, por Sua infinita bondade e misericórdia para comigo. Pelas vitórias e
alegrias obtidas ao longo de todo o curso. Pelo maravilhoso dom da vida.

À Faculdade Teológica Sul Americana, em sua visão de preparar vidas para servir o Reino de
Deus e pelo seu comprometimento com a excelência acadêmica.

À (ANP)Associação Norte Paranaense e a (ACSR) Associação Central Sul Rio-Grandense da


Igreja Adventista do Sétimo Dia, por providenciarem os recursos e meios para mais este
avanço acadêmico, bem como as condições necessárias para tal.

Ao Professor e Dr. Wander de Lara Proença, meu orientador, por sua amizade e inspiração
através de sua vida, suas aulas e seus escritos, além de sua compreensão e sugestões
oportunas e correção na construção desta pesquisa.

Ao companheiro de ministério, Dr. Erico Tadeu Xavier, por me proporcionar a oportunidade


de estudar na FTSA recebendo um subsidio financeiro parcial.

Ao amigo, Prof. Luís Gonçalo Silvério, por seu comprometimento em servir, sua atenção e
amizade.

Aos meus pais, Osório Clementino Ferreira (In Memorian) e Valdenice de Lima Ferreira, pelo
amor, carinho, orientação e experiência de vida transmitida a mim, além das constantes
orações de intercessão.

À minha esposa, por seu carinho, amor e apoio irrestrito ao ministério a nós confiado por
Deus e por sua paciência em meio às muitas horas empregadas na pesquisa e estudo.

Aos meus filhos, Celise e Hanniel, que desde a mais tenra idade foram pródigos em participar
com entusiasmo do meu ministério.

Ao meu querido mano, Dr. Otoniel Lima Ferreira e família fonte de constante inspiração, pelo
incentivo aos estudos, exemplo de vida e contínua entrega nas mãos de Deus.

Ao amigo, meu Presidente Pastor Moisés Mattos, pela compreensão em permitir me ausentar
do distrito ao longo de 2 anos nos 8 módulos semanais, viajando de Porto Alegre a Londrina
para o Seminário.

Ao amigo, Prof. Dr. Emilio Abdala, pelo incentivo, sugestões e constante apoio e inspiração
em prol do avanço do Reino de Deus.
RESUMO

Este trabalho analisa e define os termos relacionados ao secularismo, focando o pós-


modernismo e suas implicações para a igreja no século XXI. Além disso, apresenta uma
análise do secularismo dentro do Distrito Pastoral de Costa e Silva em Porto Alegre-RS.
Discorre sobre as diversas metodologias utilizadas na Bíblia para o cumprimento da Missio
Dei, delineando o papel desempenhado por Cristo, Paulo e Ellen G. White, destacando o fato
de que Deus fala com as pessoas numa linguagem compreensível ao seu contexto. Em sua
parte final, a pesquisa indica uma proposta contemporânea de alcance apontando as
metodologias encontradas em Mateus 5:13-16 e destacando o trabalho realizado no Distrito de
Costa e Silva, com os sete pilares da esperança e o plantio de igrejas intencionais. Em resumo,
este trabalho mostra que o secularismo pode ser um desafio para a igreja, mas se a igreja
utilizar os métodos apropriados para cada época e cultura, com humildade e muita oração, os
princípios da Palavra de Deus poderão ser mantidos e alcançar estes corações para Deus.

Palavras-chave: 1. Secularismo 2. Pós-modernismo 3. Evangelização 4. Plantio de igrejas

ABSTRACT

This work analyzes and defines the terms related to secularism, with enfasis in post-
modernism and it implications to the Church in twenth first century. Besides, it also shows a
analisis of secularism into the Pastoral District of Costa e Silva in Porto Alegre-RS. It talks
about several methodologies employed in the Bible for the fulfillment of the Missio Dei,
focusing the work of Jesus Christ, Paul and Ellen G. White, giving relevance for the fact that
God speaks whit people where they are in a language of their context. In its final part, the
research indicates a range of contemporary proposal pointing out the methodologies found in
Matthew 5:13-16 and highlighting the work done in the district of Costa e Silva, with the
seven pillars of hope and intentional church planting. In summary, this study shows that
secularism can be a challenge for the church but if the church is using the appropriate
methods for every age and culture, with humility and prayer, the principles of God's Word
may be kept and achieve these hearts to God.

Keywords: 1. Secularism 2. Postmodernism 3. Evangelization 4. Planting churches


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10

I. PÓS-MODERNIDADE E SECULARIZAÇÃO (CONCEITOS GERAIS


E A EXPERIÊNCIA ESPECÍFICA DOS MEMBROS DAS IGREJAS
ADVENTISTAS DO DISTRITO COSTA E SILVA)................................................ 14
1. Secularização e Pós-Modernismo......................................................................... 14
2. Pós-Modernismo no Distrito de Costa e Silva...................................................... 24
3. Pesquisa sobre o mundo pós-moderno do Costa e Silva..................................... 27

II. METODOLOGIAS DE EVANGELIZAÇÂO: FUNDAMENTAÇÃO


BÍBLICA DA EVANGELIZAÇÃO EM CRISTO E A PERSPECTIVA
EM ELLEN G. WHITE............................................................................................... 34
1. Missio Dei............................................................................................................... 35
2. Métodos de Evangelismo de Cristo....................................................................... 37
3. Deus Fala com as Pessoas na sua Linguagem e onde Elas Estão....................... 39
4. Métodos de Evangelismo em Paulo....................................................................... 41
5. Métodos de Evangelismo indicados por Ellen. G. White.................................... 44

III. PROPOSTA CONTEMPORÂNEA DE ALCANCE: COMO DEVE


SER A EVANGELIZAÇÃO E A IGREJA................................................................ 47
1. Modelos Bíblicos de Alcance em Mateus 5:13-16................................................ 48
2. Os Sete Pilares do Evangelismo no Costa e Silva................................................ 52
3. O Plantio de Igrejas Intencionais no Distrito de Costa e Silva.......................... 59

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS…………………………………………….…….. 66

ANEXOS............................................................................................................................... 68

REFERENCIAS………………………………………………………………………….... 71
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Dois modelos bíblicos para alcançar o mundo pós-moderno.................. 50

Tabela 2 - Índices (Distrito Costa e Silva).............................................................. 57


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Sete Estágios para Fazer Discípulos...................................................... 41

Figura 2 - Ciclo Paulino.......................................................................................... .63


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Crescimento populacional da cidade de Porto Alegre........................... 24

Gráfico 2 - Igrejas Pesquisadas............................................................................... 28

Gráfico 3 - Sexo dos Pesquisados........................................................................... 28

Gráfico 4 - Grau de Instrução................................................................................ 29

Gráfico 5 - Faixa Etária......................................................................................... 29

Gráfico 6 - Prática da Oração Diária...................................................................... 30

Gráfico 7 - Frequência do Estudo da Bíblia........................................................... 30

Gráfico 8 - Ausência á Escola Sabatina................................................................. 31

Gráfico 9 - Veracidade da Bíblia........................................................................... 32

Gráfico 10 - Negação da Existência de Deus.......................................................... 32

Gráfico 11 - Relação entre Verdade e Igreja......................................................... 57

Gráfico 13 - Devoção Pessoal............................................................................... 58

Gráfico 14 - Oração intercessora............................................................................ 58

Gráfico 15 - Duplas missionárias............................................................................ 58

Gráfico 16 - Pequenos grupos................................................................................. 59


LISTA DE ABREVIATURAS

ACSR Associação Central Sul-Rio-Grandense da Igreja Adventista do 7º Dia

ANP Associação Norte Paranaense da Igreja Adventista do 7º Dia

AT Antigo Testamento

CA Califórnia

IASD Igreja Adventista do Sétimo Dia

IL Illinois

MI Michigan

NT Novo Testamento

SALT Seminário Latino Americano de Teologia

UCB União Central Brasileira

USB União Sul Brasileira


10

INTRODUÇÃO

“Enquanto a igreja está evangelizando o mundo, o mundo está secularizando a

igreja” (Froom, 1997, p. 131). Com essas palavras, Froom sintetiza tudo o que é preciso ser

dito a respeito do confronto entre o secularismo e o evangelho de Jesus Cristo.

Jesus já previa a condição de apego aos assuntos seculares num panorama

escatológico quando indagou “Porventura, quando o Filho do Homem vier, achará fé na

Terra?” (Lc 8:18) À medida que entramos para o século 21, nos deparamos com mentes

secularizadas que estão profundamente impactadas por uma condição pós-moderna: escolhas

sendo tomadas através da avaliação da tecnologia, ausência de experiências para compartilhar,

relacionamentos transitórios, pluralidade de expressões e aproximações sexuais, aumento

econômico desenfreado com alto grau de desemprego, espiritualidade pessoal sem a

necessidade de uma religião organizada, aumento de violência e confronto entre culturas com

sentimentos de ira e ressentimentos (Guder, 1998, p. 37).

É neste cenário que a igreja tem que agir. Através do curso “Faith and mission in a

secularized World”, ministrado pelo Departamento de Missão Mundial da Andrews

University, (Oosterwal, 1993, 5 Abril) coloca que nossa geração a partir de 1990 se defronta

com o desafio de comunicar uma antiga mensagem para um mundo novo. Este novo mundo

pode ser descrito pelo termo secularização.

A igreja tem que ser hábil para transmitir a antiga mensagem do evangelho para um

mundo em constante transformação. Além do crescente aumento do urbanismo e do pós-

modernismo, há de se pensar no grande fenômeno do “pluralismo religioso.” (Douglas, 1999,

p. 69).

O pluralismo religioso oferece não uma única maneira de salvação (At 4:12) mas

muitas opções. Assim sendo, Cristo e o cristianismo, que deveriam ser o centro da salvação

conforme apresentado pela Palavra de Deus, passam a girar em órbita juntamente com outras
11

propostas e crenças. Centenas de outras propostas de fé podem envolver Mulçumanos

Budistas, Hinduístas, Cientologia, Unitarianos, Universalistas, Testemunhas de Jeová,

Nativos americanos, Bah’ai, Sikh, Wiccan, Eckankar e uma variedade de propostas da Nova

Era (Roof, 1993, p. 15-17).

Esta gama de alternativas religiosas, presentes no mundo, tem atraído os pós-

modernistas que apesar de serem altamente secularizados, estão também abertos para assuntos

espirituais. Pós-modernistas estão em busca de uma visão mundial satisfatória e são

denominados de espiritualistas seculares (Guder, op.cit, p. 44). Apresentam intensa busca por

significado espiritual para a vida. O problema não é a falta de interesse por assuntos

espirituais, mas sim a falta de interesse pelos antigos paradigmas da igreja tradicional.

Pessoas pós-modernas acham a igreja chata, irrelevante, fraca em oferecer amizade e

faminta por dinheiro. Alguns chegam a pensar que a igreja padece do mal de falta de

inteligência. George Barna afirma que 91% dos sem religião olham para a igreja como uma

instituição insensível para com as suas necessidades (Barna, 1992, p. 69).

Bill Hybels (Vassallo, 1998, p. 279), antes de iniciar a Igreja Comunitária de Willow

Creek em South Barrington, Illinois, fez uma pesquisa numa comunidade onde as pessoas

não frequentava nenhuma igreja, perguntando sobre qual a razão para tal e a resposta unânime

apresenta quatro razões básicas: (1) viam a igreja sempre preocupada com o dinheiro, (2)

viam os sermões sem graça e a rotina da igreja muito chata, (3) não viam nenhuma relevância

entre a religião e a vida real, (4) e viam que os pastores os faziam se sentir ignorantes e

culpados.

A pergunta que se faz é: O que poderia a igreja estar fazendo em termos de missão e

evangelismo para alcançar as pessoas secularizadas no mundo de hoje? Como pode a igreja

alcançar as pessoas pós-modernas para Cristo? O evangelho realmente faz sentido? Tem o

evangelho algo a dizer para a vida? Ser cristão, realmente faz alguma diferença?
12

Marcos Orison escreve o capítulo 8 do livro “Missão Integral Transformadora”, de

Manfred W. Kohl e Antonio Carlos Barro. Orison afirma que “o cristianismo se viu

diretamente afetado pela cultura urbana pós-moderna e aparentemente demonstra-se perdido

sem saber que rumos tomar, que atitude assumir” (Kohl & Barro, 2006, p. 217).

Quando a igreja se dispõe a alcançar pessoas sem religião, deve fazer o melhor

possível para encontrar caminhos relevantes para compartilhar as verdades do evangelho,

porque as pessoas não apenas desejam aprender sobre Deus, desejam experimentar a Deus. O

fato é que querem não apenas a verdade, mas o que for relevante (Wright, 1995, p. 23,24).

O Dr. Erman A. Norman, renomado professor da IASD no Atlantic Union Colllege,

em seu livro “A Strategy For Reaching Secular People” sugere uma estratégia que torne a

igreja intencional em seu ministério e missão para alcançar os homens e mulheres pós-

modernos e os sem religião (Norman, 2007, p. 3).

Na introdução da sua tese de doutorado em Missão Urbana e Crescimento de Igreja

da Faculdade Teológica Sul Americana, Aguinaldo Guimarães, afirma que a IASD tem tido

seu maior crescimento nos grandes centros urbanos, o que pode ser considerado natural em

relação ao quadro de urbanização nacional. Essa é uma realidade inegável, mas muitas dessas

igrejas continuam despreparadas para atender e suprir a necessidade de uma população cada

vez mais urbanizada (Guimarães, 2010, p. 10).

Tendo em vista uma igreja despreparada para o imenso desafio que a espera, cumprir

o mandato da Grande Comissão (Mt 28:18-20; Ap 10:11; 14:6) que implica em pregar o

evangelho não apenas para as terras estrangeiras e para os que estão na Babilônia, mas

também para as pessoas secularizadas da sociedade onde está, é propósito desta pesquisa

definir o que foi o secularismo ao longo da história cristã e o que é hoje com sua mais nova

cara o pós-modernismo. Dentro desta perspectiva, a pesquisa trará uma breve análise da

expansão do pós-modernismo, através dos dados de uma pesquisa dentro do território do


13

distrito de Costa e Silva em Porto Alegre, Rio Grande do sul, tanto dentro da igreja quanto

fora dela.

O segundo capítulo, trará um estudo das metodologias de evangelização apresentadas

na Bíblia, no ministério de Cristo e de Paulo, demonstrando as suas principais abordagens em

cada contexto e realidade que viviam, finalizando com os principais pensamentos da autora

cristã Ellen G. White, mensageira da IASD (Igreja Adventista do Sétimo Dia) a respeito da

maneira de apresentar e viver o evangelho.

O último capítulo discorrerá sobre uma proposta contemporânea de alcance

demonstrando como deve ser a evangelização e a igreja, apresentando um relato dos 7 pilares

do evangelismo aplicados no distrito do Costa e Silva, desenvolvidos através do plantio de

igrejas intencionais.

Essa pesquisa persegue uma visão adventista do sétimo dia, com o propósito de

atender primeiramente o público adventista do sétimo dia sem, no entanto, perder seu papel

inclusivo, científico e relevante para o meio acadêmico e cristão. Sua pressuposição básica é

que a Bíblia é a Palavra de Deus, embora que não seja um compêndio de estratégias para

alcançar os secularizados, ela é o resultado da Missio Dei, ou seja, o Antigo e o Novo

Testamento possuem um contexto e dimensão missionários (cf. Bosch, 2007, p. 584-592).

Os textos bíblicos citados são da versão de João Ferreira de Almeida, edição revista e

atualizada, fazendo-se menção caso outra versão seja utilizada, sendo a metodologia da

pesquisa histórico-gramatical com o apoio da investigação bibliográfica e da fundamentação

bíblica.
14

I. PÓS-MODERNIDADE E SECULARIZAÇÃO (CONCEITOS GERAIS E A


EXPERIÊNCIA ESPECÍFICA DOS MEMBROS DAS IGREJAS
ADVENTISTAS DO DISTRITO COSTA E SILVA)

A maneira como as pessoas determinam o que é verdade a respeito de seu mundo

tem a ver com a cosmovisão que recebem, por isso não é a mesma sempre. De uma geração

para outra a sociedade entra num novo mundo e as pessoas que dele fazem parte têm

dificuldades para entender a forma de pensar das gerações que o antecederam. Por isso, é

muito difícil compreender mesmo os próprios pais.

Essa realidade é experimentada diante da quebra de paradigmas do modernismo para

o pós-modernismo. Mudanças drásticas estão ocorrendo na maneira de pensar e tais fatos

exercem profundo impacto sobre a igreja e sua missão.

1. Secularização e Pós Modernismo

O avanço dos ideais do secularismo tem passado por diversos períodos básicos. Do

ponto de vista religioso, o secularismo tem aberto fronteiras dentro da igreja tornando-a

vulnerável e um dos principais questionamentos tem relação direta com a definição do que

vem a ser a verdade. Como as pessoas determinam o que é a verdade? A resposta a esta

pergunta tem mudado nos últimos 500 anos.

Segundo Jon Paulien (2004, p. 10-13) Diretor do Departamento de Religião da

Universidade Adventista de Loma Linda, EUA, existem quatro momentos históricos que

determinam o secularismo:

1.1. Período Pré-moderno: Durante a idade média surge o período pré-moderno, onde

a verdade é encontrada em grupos privilegiados como o bispo da igreja. Para conhecer a

verdade, alguém tinha que buscar o sacerdote.

1.2. Modernismo Cristão: Com a reforma, a confiança nesta classe privilegiada foi

quebrada. A verdade agora não reside mais na Igreja ou no Estado, mas num estudo acurado

das Escrituras Sagradas. A busca da verdade passa a ser um ato da razão e da lógica; qualquer
15

pessoa com estudo diligente e com algum talento pode descobrir a verdade por si mesmo

através do estudo da Bíblia. Esta visão do modernismo cristão predominou na América

durante todo o século dezenove. Foi neste milênio que surgiu o Movimento Adventista que se

espalhou por todos os territórios onde o modernismo cristão havia se instalado.

1.3. Modernismo Secular: Com a chegada do iluminismo, o mundo experimenta uma

transformação, passando do modernismo cristão para o modernismo secular. Enquanto os

círculos intelectuais da Europa estavam já se movimentando no século dezoito, o modernismo

secular passava a dominar a América do Norte já nas primeiras décadas do século vinte. As

controvérsias dos fundamentalistas liberais por volta de 1920 passam a ser vistas como pontos

decisivos de mudanças de pensamento. O cristianismo conservador perde forças diante da

sociedade americana.

O secularismo moderno despreza a idéia de que a verdade possa ser encontrada

através da igreja e da Bíblia e deposita sua inteira confiança nas observações e experimentos

do processo científico. A verdade pode ser encontrada através do método científico, sendo

este aplicado para responder a todas as questões, inclusive as questões religiosas. O século

vinte passa a compartilhar o sonho do paraíso da tecnologia. O progresso científico, contudo,

passa a oferecer um grande aumento de poluição e criminalidade.

1.4. Secularismo Pós-moderno: De acordo com (Wikipedia, 25/08/11): “Pós-

modernidade é a condição sócio-cultural e estética que prevalece no capitalismo

contemporâneo após a queda do Muro de Berlim e a consequente crise das ideologias que

dominam o século XX.”

Paulien (1993, p. 39-43), cita que Langdon Gilkey em seu livro “Naming the

Whirlwind”, descreve quatro características principais do secularismo:


16

(1) Contingencia: Acreditar que todas as coisas acontecem a partir de uma causa

para um efeito dentro de um ciclo histórico. Em outras palavras, tudo que acontece na vida,

ocorre sem a intervenção sobrenatural.

(2) Autonomia: Uma pessoa secularizada nunca aceita a intervenção de Deus ou

de quem quer que seja em questões de sua vida. Eles se julgam autônomos, ou seja, eles

fazem as leis.

(3) Relativismo: Se não existe o sobrenatural, e se os seres humanos basicamente

decidem a respeito do seu destino, então a razão do ser, os valores e a verdade dependem de

cada situação. O que é verdadeiro para uma pessoa, pode ser errado para a outra.

(4) Temporalidade: Significa que chegamos nesta Terra, vivemos por breve tempo

e partimos. Não há significado para nada do que fazemos, não há nenhuma recompensa ou

acerto de contas depois da vida. Assim sendo, não importa o que alguém escolha ou faça,

tudo acabará bem, desde que ninguém se machuque.

O que significa ser uma pessoa secularizada? “Uma pessoa secularizada é alguém

que vive dia após dia com pouco ou nenhum relacionamento com Deus e as práticas de uma

religião formal.” (Paulien, 2004, p. 4). Eles podem crer em Deus, mas envolver-se com Deus

nas decisões de cada dia e nas ações da vida não é prioritário para eles. As pessoas, tanto

dentro como fora da igreja, estão famintas por entender o conteúdo que está por trás das

doutrinas, das instituições e formas nas quais a fé tem se expressado.

Os secularistas não se constituem num grupo simples e homogêneo. Ramificam-se

em muitos variados grupos com diferentes etnias, culturas, idades, necessidades, educação e

classes sócio-econômicas (Hunter, 1992, p. 41). Nem todas as pessoas secularizadas pensam

de forma semelhante, são tão diferentes como os flocos de neve. Esta diversidade de

pensamentos é fruto da sua autonomia e relatividade, com crenças pessoais e estilo de vida

peculiar (Paulien, op. cit, p. 47-48).


17

Norman ( op. cit., p. 47) cita que Mark Finley, ex vice Presidente da Associação

Geral dos Adventistas do Sétimo Dia categoriza quatro tipos de secularistas: (1) materialistas

seculares – posses e coisas materiais, são a razão de sua existência (2) sem religião -

dificilmente participam de serviços religiosos, têm seus próprios valores e se interessam

profundamente em questões sociais e causas filosóficas (3) secularistas - alegram-se com

páginas esportivas, televisão, não querem ser incomodados com o tema de religião. Cada um

pensa em si mesmo (4) secularistas filosóficos – são introspectivos e pensadores. Não vêem o

cristianismo como sendo uma opção viável. Têm uma visão naturalista do mundo. Crêem em

Darwin e Freud.

O que Paulien (2004. p. 5) conclui estudando o tema do secularismo é que as pessoas

secularizadas hoje em dia, se limitam a duas formas distintas, com algumas similaridades e

com muitos contrastes:

(1) Secularismo Tradicional: Compõe-se de pessoas que não oram antes dos

alimentos e não assistem a programas religiosos na TV. Não pensam a respeito de Deus e

raramente lêem a Bíblia ou outras literaturas religiosas. Práticas religiosas pessoais e

corporativas se tornaram irrelevantes para eles. A marca registrada do secularismo tradicional

é a convicção de que a verdade é governada pela realidade onde a vida é fruto dos cinco

sentidos: visão, paladar, tato, audição e olfato. Compartilham da idéia de que o sobrenatural

não pode ser percebido pelos cinco órgãos do sentido, tornando-se, portanto, irrelevante para

a vida.

Se porventura, em alguma instância, uma situação anormal acontece, o secularista

tradicional normalmente não atribuirá tal fato como uma ação de Deus, ao invés disto,

assumirá que tal evento tem uma causa que será explanada cientificamente. Milagres são

produtos da ignorância e não da fé. A ciência, que trabalha com base no sensorial passa a ser
18

vista como a autoridade primária em termos de conhecimento. Todos os valores são relativos

e qualquer sistema moral será viável apenas para o grupo que o criou.

Se o conhecimento está limitado aos órgãos sensoriais apenas, então a vida é tudo

que há e recompensa e juízo finais são resultados naturais da causa e efeito. Eles crêem que

nascem, vivem e morrem e tudo acaba finalmente, não havendo assim um significado último

para a vida. O que é surpreendente neles é que de alguma forma estão envolvidos com a

igreja, mas só para agradar alguém da família, mas a experiência de ir à igreja não afeta sua

existência.

(2) Secularismo Pós-moderno: As bases da consciência pós-moderna, segundo

(GRENZ, 1996. p. 30) se fundamentam em quatro raízes ideológicas: (1) pessimismo, (2)

holismo, (3) espírito de comunidade, e (4) pluralismo relativista.

Como o pensamento pós-moderno aparece e ganha força? O avanço tecnológico,

como a internet, prova ser a base para um incrível aumento do stress e tudo mais. As duas

grandes guerras mundiais, o holocausto e outros genocídios, destruição em massa combinado

com o terrorismo levam a um aumento da desconfiança do ser humano no modernismo

científico.

O termo pós-moderno talvez tenha sido cunhado e empregado pela primeira vez na

década de 30 para se referir a uma importante transição histórica que já estava em andamento,

todavia, o pós-modernismo não ganhou atenção generalizada até a década de 70.

“Embora o termo tenha sido cunhado na década de trinta, o pós-modernismo como

fenômeno cultural não ganhou impulso senão três ou quatro décadas mais tarde. Sua primeira

aparição foi na periferia da sociedade... Entre os seus maiores pensadores encontram-se

Michel Foucault, Jacques Derrida e Richard Rorty” (Grenz, 1996, p. 12,13, 31).
19

Começando com a “Geração X” (nascida em 1964-1980 nos EUA) uma visão

mundial de desconfiança no processo científico aumenta cada vez mais. No mundo pós-

moderno, a verdade não é encontrada primariamente na ciência, na Bíblia ou na Igreja.

A nova geração passa a proclamar que o deus do modernismo secular é um deus

falso. A humanidade está pronta para deixar de buscar a verdade na ciência e caminhar para

outras direções. “Pós-modernismo é anti-cosmovisão.”(Veith, 1994, p. 49).

Em algumas circunstâncias, pessoas pós-modernas pensam totalmente o contrário do

secularismo tradicional. Enquanto os tradicionais vivem uma vida totalmente distante de

Deus, os pós-modernos, buscam ser pessoas espirituais, empregando bastante tempo em

orações pessoais. Eles se alegram com a experiência de adoração, especialmente quando estão

presentes os elementos da música e estilo contemporâneos.

Apreciam a leitura de livros que falam sobre Deus e gostam de conversar com as

pessoas cuja jornada de fé é diferente da deles. Gostam de freqüentar reuniões informais de

pequenos grupos desde que isso não acarrete em nenhum comprometimento. O que de fato os

torna seculares é a total aversão à institucionalização e às formas da religião.

Jair ferreira Santos, afirma que:

Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e


nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o
modernismo (1900-1950). Ele nasce com a arquitetura e a computação nos anos 50.
Toma corpo com a arte Pop nos anos 60. Cresce ao entrar pela filosofia, durante os
anos 70, como crítica da cultura ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na
moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência +
tecnologia invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até
microcomputadores), sem que ninguém saiba se é decadência ou renascimento
cultural. (Santos, 1986, p.10).

O pós-modernismo consiste no abandono da noção de um mundo objetivo, através da

rejeição do entendimento do conhecimento da verdade e a adoção de um entendimento não

realista (Grenz, op cit, p.40).

A verdade é encontrada nos relacionamentos e no conto de histórias. A verdade se

torna alusiva, em vez de verdade com letra maiúscula. O pós-modernista prefere pensar em
20

“muitas verdades”, uma “variedade de verdades.” Sentem que ninguém, nem mesmo a ciência

ou a teologia têm uma verdade clara para apresentar. “A verdade é simplesmente o que

funciona para você.” (Demar, 2001, p. 299).

Cada ser humano tem uma parte do quadro da verdade, mas este pedaço é muito

pequeno no vasto campo da ignorância. A construção de uma comunidade é a chave para

encontrar a verdade. À medida que cada um compartilha a parte do quadro que tem em mãos,

todos passam a ser beneficiados.

Paulien, (op. Cit, p. 13) define três aspectos exclusivos dos pós-modernistas: (1)

Rejeitam as grandes narrativas e histórias que tentam explicar todas as coisas, como “O

Grande Conflito Cósmico”. Afirmam que ao tentar explicar todas as coisas as grandes

histórias promovem um exclusivismo que leva à violência, tipo a Al Qaeda ou o Papado

Medieval. (2) Rejeitam a verdade institucionalizada (igreja), principalmente quando esta

instituição pensa ser a única, ou seja, melhor que as outras (a igreja verdadeira). Assim, a

idéia dos adventistas de ser a igreja verdadeira ou remanescente é um problema na visão pós-

moderna. (3) Tendem a rejeitar a verdade da Bíblia. Consideram a Bíblia como um livro cheio

de violência, com o inferno final e a exploração da mulher e das classes minoritárias.

Eles desejam se relacionar com Deus, mas, não estão nada interessados em se

relacionar com a igreja ou a denominação. São contrários á autoridade das instituições

religiosas, pois acreditam que elas mentem e fantasiam para controlar um grande número dos

membros para captar os recursos financeiros deles e manterem a instituição funcionando sem

ao menos atender as reais necessidades espirituais do grupo. “Secularismo pós-moderno é, em

primeira instância, um avanço de uma variedade de secularismo moderno e científico.”

(Paulien, op. cit. p. 8).

Segundo Stewart na cultura pós-moderna, a espiritualidade, do ponto de vista prático,

implica numa busca por saúde e não necessariamente pela resolução da decadente condição
21

espiritual – a queda da natureza humana e a necessidade de Deus. É por isso que para muitos

hoje, não importa qual seja a fonte da espiritualidade, pois ela pode vir tanto de uma paz

psicológica, da harmonia com a natureza, do contato com guias espirituais, quanto de um

relacionamento com o Deus Criador da Bíblia. Os promotores das terapias alternativas

geralmente advogam que as pessoas devem estar abertas para tentar qualquer coisa que possa

oferecer iluminação espiritual. Por isso, Stewart é enfático em defender que o cristianismo

deve confrontar tais idéias e discorda da ideologia de que a espiritualidade seja definida pelo

que cada crente pense ou deseje (Stewart, 1998, p. 73).

Para os cristãos maduros, a apostasia na igreja contemporânea não é difícil de ser

identificada, pois tem a ver com a rejeição da autoridade religiosa e eclesiástica, contagiando

os relacionamentos humanos. “Na cultura pós-moderna, este fenômeno passa a ser

aumentado, porque as pessoas passam a rejeitar a autoridade em qualquer instância e acabam

por se tornar licenciosos.” ( Waltner & Charles, 1999, p. 244).

A essência do pós-modernismo está na adoção de um mundo pluralista com

diferentes centros de autoridade (Lind, 1996, p. 137). Lipovetsky define o mundo pós-

moderno como um mundo onde “a felicidade se sobrepõe à ordem moral, os prazeres à

proibição, a fascinação ao dever” (Lipovetsky, 2005, p. 29)

Pessoas secularizadas não são ateus, o que ocorre é que para eles, a religião

simplesmente se tornou irrelevante no contexto das questões práticas do dia a dia.

Poderia Deus estar conduzindo a humanidade a pensar de forma que se aproxime de

Seus ideais e princípios eternos? Paulien, profundo estudioso adventista do tema do pós-

modernismo acredita que sim. Ele afirma: “Estou convencido de que a mão de Deus está por

trás dessas mudanças... Eu encontrei oito razões porque creio que o pós-modernismo é um ato

de Deus no sentido positivo” (Paulien, 2004, p. 3):


22

(1) Um Sentido de Indignidade: Os pós-modernos não depositam confiança nos

pensamentos do secularismo moderno. Eles vêm de lares desfeitos, ou lares onde o conflito e

tristeza são constantes. Eles sentem uma profunda necessidade de serem restaurados. Isto é

uma realidade tanto no contexto adventista quanto em outros grupos. Enquanto o sofrimento

pode conduzir ao desespero, pode também abrir um caminho para os refrescantes ventos do

evangelho. Portanto, a mão de Deus parece estar agindo aqui.

(2) Humildade e Autenticidade: Vivendo numa época onde a imagem reina,

pessoas pós-modernas valorizam a humildade, a honestidade e a autenticidade nos

relacionamentos interpessoais. Quando mostram suas debilidades e sofrimentos, o fazem com

toda honestidade para aqueles a quem consideram verdadeiros amigos. Humildade e

autenticidade estão presentes nas raízes da fé cristã. A confissão nada mais é do que contar a

verdade a respeito de si mesmo de forma honesta. Na cultura moderna, ser humilde depunha

contra os valores humanos. Os pós-modernos pelo contrário, vêem a autenticidade como um

alto valor. Deus está trazendo a cultura para o lugar onde a veracidade se constitui uma das

maiores virtudes da tradição cristã (Jo 3:19,20).

(3) Busca de Identidade e Propósito: Estar quebrantado corresponde bem próximo

a dizer que perdeu a identidade pessoal. Pós-modernos almejam por um claro senso de

identidade pessoal, embora que questionem se são capazes de obtê-la por si mesmos. Eles vão

se espelhar em diversos tipos de identidade, mas no fim, vão ter dúvidas sobre qual realmente

é a deles. Isso abre grandes portas para o modelo positivo de identidade quando se lhes mostra

que foram comprados por preço. Um Cristão fiel pode ajudar a compreenderem porque está

aqui, de onde veio e para onde está indo. Buscam desesperadamente por identidade e as

Escrituras, corretamente entendidas e apresentadas, vão prover o tipo de identidade que os

pós-modernos estão procurando. Conectado a isso, está o intenso interesse para um

significado de vida. Eles buscam um senso de missão e propósito para suas vidas a fim de
23

fazerem diferença no mundo. A Bíblia apresenta a cada pessoa qual o propósito de Deus para

o ser humano (Jr 1:5).

(4) Senso de Comunidade: Os pós-modernistas têm grande necessidade de

estabelecer relacionamentos em comunidade. Comunidade (Koinonea) é a base de

fundamental dos cristãos no Novo Testamento, e ainda hoje, a maioria das comunidades

cristãs conseguem isso. Se as comunidades cristãs aprenderem a experimentar e a expressar o

tipo de comunidade que igreja do Novo Testamento proclamava, elas descobrirão que os pós-

modernos estarão interessados no que têm a oferecer. Uma vez mais, Deus parece estar se

movimentando para integrar a sociedade ao modelo bíblico ideal.

(5) Inclusão: Existe um senso animador de inclusão e aceitação nas atitudes dos pós-

modernista em relação às demais pessoas. E isso é um caminho aberto pela mão de Deus aos

adventistas, a fim de que partilhem os ensinamentos e conceitos que os têm beneficiado

durante mais de um século.

(6) Espiritualidade: Os pós-modernos estão abertos para discussões espirituais com

qualquer pessoa que conheça a Deus e que saiba ensinar como conhecer a Deus. Não consigo

imaginar que isso se deva apenas a uma questão de mudança de mentalidade. Deus está

trabalhando aqui.

(7) Tolerância dos opostos: Uma das características fantásticas dos pós-modernistas é

a capacidade de tolerar os que defendem idéias opostas. Filosoficamente, os gregos viam o

oposto de verdade como falso. O modernismo científico foi caracterizado pela lógica grega.

Mas, a lógica hebraica, muitas vezes aceita idéias contrastantes, não em termos de falso e

verdadeiro, mas em termos de tensão entre dois pólos. Assim sendo, a natureza de Cristo não

é divina ou humana, mas sim, 100% divina e 100% humana. Somos salvos inteiramente pela

fé embora que ninguém será salvo sem as obras. Rejeitando as idéias da filosofia grega, os
24

pós-modernistas podem ter uma melhor compreensão da Bíblia do que as gerações anteriores.

Esta é a maneira que Deus deseja que seja.

(8) Histórias: Para os pós-modernos, a verdade não se encontra na igreja, na Bíblia

como tradicionalmente é entendido, ou na ciência, mas na comunidade e suas histórias. O

conceito de verdade como história provê uma poderosa correção à maneira tradicional de uso

da Bíblia. A Bíblia não foi escrita em forma de teologia sistemática, por isso não se pode

forçar a Bíblia a dizer o que se quer ouvir e sim, buscar entender o que ela fala a respeito de

Deus. Se Deus escolheu fazer com que a Bíblia fosse uma coleção de histórias, então os pós-

modernistas podem ter a melhor chance para explorar completamente as implicações sobre o

caráter e propósitos de Deus. Talvez eles venham a compreender a Bíblia com mais facilidade

do que outros no passado.

2. Pós Modernismo no Distrito de Costa e Silva

Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do sul tem uma população estimada

em 1.365.039 habitantes segundo o censo 2010 (IBGE, censo 2010).

Gráfico 1
Crescimento populacional da cidade de Porto Alegre

Dados do IBGE, apontaram em 2009, Porto Alegre como a capital brasileira com a

menor taxa de desemprego, Também tem uma cultura qualificada e diversificada, O início da

formação da cidade se deu a partir da chegada de casais açorianos em meados do século


25

XVIII. No século XIX contou com o influxo de muitos imigrantes alemães e italianos,

recebendo também espanhóis, africanos, poloneses e libaneses. Desenvolveu-se com rapidez.

A cidade enfrenta muitos desafios, entre eles a grande população ainda vivendo em

condições de pobreza e sub-habitação, um alto custo de vida, deficiências sérias no tratamento

de esgotos, muita poluição e degradação de ecossistemas originais, índices de crime elevados

(embora indicando uma tendência de queda e crescentes problemas de trânsito.

Quanto à religiosidade do Rio Grande do Sul, pode-se dizer que existem todas as

religiões possíveis e imagináveis. Devido à colonização européia, temos cidades "alemãs"

com grande número de cristãos protestantes: luteranos, e anglicanos. Os adventistas, os

batistas, os presbiterianos e metodistas são em número considerável. Porto Alegre, a capital

gaúcha tem uma comunidade judaica numerosa, com supremacia sobre as religiões

tradicionais.

O espiritismo, ou kardecismo, que não é religião, está presente em todas as cidades,

com grande número de centros nas regiões metropolitanas de Porto Alegre e Caxias do Sul

(Serra). De igual forma, as igrejas neo-pentecostais também crescem a cada dia, destacando-

se a Assembléia de Deus. Basicamente, o RS não tem religião predominante. Todas as

religiões, de todos os lugares aparecem, enfim, Porto Alegre é um caldeirão religioso.

(Yahoo).

Cláudia Sales Alcântara, teóloga pelo Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos

ICEC/Fortaleza, afirma que a religião continua a existir na pós-modernidade nos ritos, crenças

e atividades, grupos e projetos não explicitamente religiosos. As tradições continuam atuando

conforme a subjetividade de cada indivíduo. A religião passa a existir na intimidade, produto

da construção pessoal subjetiva e autônoma que não necessita prestar contas a uma

instituição. É o fim da religião totalizante da sociedade, contudo, não significa o fim da

religião na particularidade de cada indivíduo (Alcântara, 2010, p. 8)


26

Na sociedade pós-moderna, o ser humano não serve a Deus, mas serve-se de Deus

para realizar seus desejos. Por isso sua fidelidade a uma única igreja ou a uma única crença

lhe é prejudicial e insuficiente. O resultado disso é uma oferta religiosa grande e variada e

uma fé superficial e sem consistência (Fontes, 2012, p. 12).

Este sincretismo religioso presente na capital gaúcha, afeta de alguma forma a Igreja

Adventista do Sétimo Dia, tornando-a vulnerável às correntes seculares do mundo pós-

moderno.

Jon Paulien salienta que o processo de secularismo na Igreja Adventista do 7º. Dia

acontece gradualmente da seguinte forma: continuam crendo nas crenças básicas da igreja,

mas pouco a pouco vão deixando de se envolver nos assuntos espirituais.

Existem seis passos básicos no caminho da secularização: (1) Negligência da oração

particular (2) Negligência do estudo da Bíblia (3) Abandono dos padrões pessoais de

comportamento (4) Negligência em freqüentar aos cultos de sábado de manhã (5) Dúvidas

sobre a veracidade da Bíblia, sobre a vida além da morte e a respeito da existência de Deus (6)

Aumento de desconfiança nas instituições: Ninguém deve me dizer no que crer e o que fazer.

O processo se inicia na desconfiança em instituições e culmina na desconfiança das

autoridades institucionais (Paulien, op. Cit., p. 65).

O Dr. Otoniel de Lima Ferreira, em sua tese doutoral Reigniting the Lifecycle of

Plateauing Churches in Brazil through a Prayer-based Intensive Growth, defendida em maio

de 2011 na Andrews University, EUA, cita algumas informações pessoais obtidas por

correspondência de email em 23 de Abril de 2010 com Herminia Guido, secretária da igreja

Adventista do Sétimo Dia de Terra Roxa-PR, sobre as razões da falta de saúde daquela igreja

as quais chamam a atenção.

Guido pondera sobre alguns fatores que impedem o crescimento da igreja: (1) Falta

de consagração espiritual dos membros (2) Falta de compromisso com as atividades da igreja
27

(3) Pouca frequencia aos cultos da noite (apenas 15 a 20% dos membros freqüentam os cultos

de oração e as reuniões de planejamento para o evangelismo (4) Infidelidade na entrega dos

dízimos e ofertas (5) Problemas de casamento e outras questões familiares.

Ferreira faz seu comentário conclusivo, afirmando que “todos estes fatores, impedem

o crescimento físico e espiritual da igreja” (Ferreira, 2011, p. 90,91).

Diante das colocações de Guido e das conclusões do Dr. Ferreira, pode-se dizer que

esta igreja foi afetada pelo secularismo. A Igreja Adventista do Sétimo Dia de Terra Roxa tem

sido afetada por uma herança deixada através dos ventos soprados pelo secularismo pós-

moderno. Esta significante descoberta a respeito da igreja de Terra Roxa corresponde à

realidade das igrejas do distrito do Costa e Silva em Porto Alegre.

3. Pesquisa sobre o Mundo Pós-moderno do Costa e Silva

Rubens R. Muzio, citado pelo Dr. Jorge Henrique Barro no livro O Pastor Urbano,

faz a seguinte colocação: É importante lembrarmos que Deus mesmo está urbanizando o

mundo. Deus está formando imensas cidades urbanas, policulturais e cosmopolitanas,

inserindo a Sua igreja nelas. A igreja está em mix com a sociedade (Barro, 2003, p. 23).

Segundo Hickel et alii, Porto Alegre pode ser dividida em dez macrozonas de

organização espacial urbana, "cada uma com diferentes padrões de desenvolvimento urbano,

espaços públicos de natureza e funções diversas, tipologia de edificações e estruturação viária

distintas, além de aspectos socioeconômicos, paisagísticos e ambientais e potencial de

crescimento próprios". Ao norte situa-se o Corredor de Desenvolvimento, área de potencial

econômico e localização privilegiada pela presença de vias de ligação com os principais pólos

da Região Metropolitana, mas é uma área pouco residencial e vem sendo ocupada por favelas

(Gellner).

As igrejas do Distrito de Costa e Silva estão localizadas na região norte de Porto

Alegre, sendo sete igrejas dentro da região metropolitana (Costa e Silva, Safira, Timbaúva,
28

Santa Fé, Parque dos Maias e Rubem Berta) e 3 igrejas na cidade de Alvorada (Vila

Americana, Sumaré e Beira Rio).

Tendo em vista verificar a evolução do pensamento pós-moderno nesta região da

capital gaúcha, uma pesquisa foi elaborada e aplicada na Comunidade Adventista. (Ver anexo

1).

A pesquisa apresenta os seguintes resultados:

Num universo de 1200 membros do Distrito de Costa e Silva em Porto Alegre-RS,

uma amostra foi colhida envolvendo 170 pessoas, representadas no gráfico abaixo.

Gráfico 2
Igrejas Pesquisadas

115 pessoas (67%) dos que responderam a pesquisa eram do sexo feminino e 56

(33%) do sexo masculino.


29

Gráfico 3
Sexo dos Pesquisados
Quanto ao grau de instrução, 83 (48%) estão no nível de ensino médio e 68 (40%) no

ensino fundamental, compondo uma grande maioria dos participantes, sendo que apenas 20

membros (12%) obtiveram uma escolaridade superior.

Gráfico 4
Grau de Instrução

Faixa Etária: 99 pessoas (58%) tem entre 16 a 45 anos de idade, representando uma

ala jovem, inovadora, formadora de opinião e dinâmica em sua performance, enquanto que 71

pessoas (42%) tem entre 46 a 61 anos de idade, representando a ala mais conservadora da

igreja, que se firma com mais facilidade aos fundamentos antigos.

Gráfico 5
Faixa Etária
30

Quanto à prática da oração, o gráfico apresenta uma constante em todos os níveis de

graduação, com uma prevalência das mulheres sobre os homens. Tanto homens quanto

mulheres tem destacado a prática de orar duas a três vezes por dia, demonstrando que a oração

é relevante para sua vida e família.

Gráfico 6
Prática da Oração Diária

Quanto a leitura da Bíblia, a maioria dos entrevistados aponta um fraco contato com

a Bíblia, lendo-a casualmente algumas vezes por semana. Apenas poucas mulheres do ensino

fundamental estudam a Bíblia todos os dias, mas num curto período de 10 a 15 minutos. Com

certeza o fraco desempenho em estudar a Bíblia, resulta em decréscimo de comprometimento

com a religiosidade e aumento de idéias pós modernistas.


31

Gráfico 7
Frequência do Estudo da Bíblia
Quanto á frequência a Escola Sabatina, ambiente que gera aprofundamento espiritual

através do conhecimento da Palavra de Deus, relacionamento e envolvimento na missão, 67

pessoas (39%) responderam que nunca faltaram, enquanto que 63 pessoas (37%)

demonstraram pouco interesse ausentando-se numa ausência entre 3 a 10 vezes por ano, num

universo de 53 encontros anuais.

Gráfico 8
Ausência á Escola Sabatina

Quanto á veracidade da Bíblia, 153 pessoas (90%) acreditam em sua inspiração total,

havendo confiança no livro como sendo a Palavra de Deus.


32

Gráfico 9
Veracidade da Bíblia
Quanto á crença na existência de Deus, 125 pessoas (72%) mostraram total

confiança em Deus, nunca duvidando de sua existência.

Gráfico 10
Negação da Existência de Deus

Na questão da relação da verdade com o que a igreja pensa e faz, 136 pessoas (80%)

continuam crendo no que a igreja prega e um número considerável de 34 pessoas (20%) tem o

pensamento de desconfiança no que a igreja advoga e faz.

Gráfico 11
Relação entre Verdade e Igreja
33

91 pessoas (53%) estão satisfeitos com a posição atual e tradicional da igreja no que

se refere aos seus princípios fundamentais de conduta e modéstia cristãs (uso de jóias,

frequência ao cinema, sexo antes do casamento, moda, casamento homossexual, jugo

desigual) e 79 pessoas (57%) estão insatisfeitos e desejosos de ver mudanças na igreja.

Gráfico 12
Igreja Precisa Mudar sua Posição

A conclusão que se pode chegar ao analisar os resultados desta pesquisa

demonstrados nos gráficos acima é que a igreja vai aos poucos cedendo terreno para os

pensamentos secularizados e gradativamente se afastando dos princípios fundamentais da

Bíblia, defendidos pelos pioneiros deste movimento.

Cada nova geração, vai experimentando um afastamento de suas raízes espirituais e

se transformando à medida que se aproxima dos pensamentos pós-modernos, tornando se

mais fragilizada e consequentemente mais incapaz de transformar a sociedade onde está

inserida.
34

II. METODOLOGIAS DE EVANGELIZAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA


DA EVANGELIZAÇÃO EM CRISTO, E A PERSPECTIVA DE ELLEN
WHITE

A Bíblia contem uma coletânea de histórias que mostram o poder do secularismo

sobre as pessoas. Uma delas, no VT é a história da família de Ló: “E a mulher de Ló olhou

para traz e foi transformada numa estátua de sal.” (Gn 19:26). O verbo hebraico usado aqui

para “olhar” tem o significado de “olhar com intenção”, poderia ser “virou-se para olhar”.

Aos poucos, Ló foi armando sua tenda mais próximo da cidade até que finalmente foi morar

em Sodoma. Gradativamente, toda a família foi se acostumando com as coisas que viam

naquela cidade. A mulher de Ló estava aparentemente bem identificada com a ímpia cidade e

no gesto de olhar para traz, demonstrou desprezo para com a salvação provida por Deus. Ela,

semelhantemente a suas duas filhas, logo depois, tinha permitido que seus pensamentos

fossem influenciados pela cultura de Sodoma (The NET Bible, 2006).

Outro exemplo está na história de Demas, narrada por Paulo no NT: “Pois Demas

me abandonou, tendo amado o mundo presente” (2Tm 4:10). Demas abandonou a Paulo

quando foi aprisionado e partiu para a Tessalônica. A linguagem usada é escatológica (cf.

1Tm 4:8; Ti 2:12; Gl 1:4; Ef 1:21) contrastando o presente século com o século vindouro. O

contraste nesse caso acontece entre Paulo, Timóteo e outros que amam o aparecimento de

Jesus Cristo (2Tm 4:8) e Demas, que rompe com Paulo e se apostata do cristianismo

(Freedman, 1996, p. 134).

Comentando a expressão “tendo amado o presente século” John Calvin afirma que

esta frase pode ser aplicada ao tipo de pessoa que prefere amar ao mundo no lugar de amar a

Cristo e sofrer por Sua causa... Demas resolveu cuidar de seus próprios interesses. Sem

dúvida nenhuma, Demas retrata os que apreciam os confortos deste mundo (Calvin, 2000,

2Tm 4:9).
35

Pode se afirmar que, a mulher de Ló e Demas, foram profundamente afetados pelo

secularismo. Eles fazem parte de um grande grupo de pessoas, bem intencionadas e sem a

pretensão de se apegar a este mundo, mas que gradualmente se distanciam do primeiro amor

(Ap 2:4) e se transformam segundo os parâmetros ditados pela cultura (1Jo 2:15-17).

Mas tais pessoas não devem ser negligenciadas. Deus deseja salvá-las e deseja que

Sua igreja aja a favor delas do mesmo modo que Abraão intercedeu por Sodoma (Gn 18:20-

24).

A pregação do evangelho deve ser relevante para a geração onde está inserida – cuja

abordagem apresente diferentes perspectivas e diferentes metodologias para alcance das

pessoas. Analisando esta realidade no contexto do Movimento Adventista, (Paulien, 2004, p.

5) afirma que “a Igreja Adventista do 7º. Dia, com suas estruturas rígidas e métodos

tradicionais de alcance, certamente não conseguirá obter sucesso num mundo pós-moderno.”

Erman A. Norman (op. cit., p. xiv), vai na mesma linha quando diz: “Ao passo que

nossa paixão pelo evangelismo público deve permanecer forte ... é necessário haver uma

mudança no presente momento para alcançar as pessoas pós-modernas... a utilização de novos

métodos, novas idéias e novas e inovadoras estratégias”.

Faz se necessário definir melhor o que é missão e o significado da Missio Dei.

1. Missio Dei

Thorne E. Norman afirma que Karl Barth foi um dos primeiros teólogos a escrever

sobre a Missio Dei, declarando ser a missão uma atividade de Deus (Thorne, 1998, p. 101).

David Bosch citado por Erman A. Norman (2007) compartilha desse mesmo

pensamento: “A idéia é que a missão tem sua origem no coração de Deus. Deus é a fonte do

amor que envia... Só existe missão porque Deus ama as pessoas”. Bosch ainda estabelece que

“a doutrina clássica da missio Dei como Deus, o Pai, enviando o Filho, e Deus, o Pai e o
36

Filho, enviando o Espírito foi expandida no sentido de incluir ainda outro movimento: Pai,

Filho e Espírito Santo enviando a igreja para dentro do mundo” (Bosch, 2007, p. 467)

“A Missio Dei (Missão de Deus) é uma expressão do eterno e infinito amor de Deus

em procurar e salvar o mundo perdido” “A missio Dei é inclusiva, abrange todos os seres

humanos, em todas as idades, em cada cultura e certamente isto inclui também a missão de

alcançar as pessoas secularizadas.” Concluindo, Norman afirma que “o reconhecimento da

missão como sendo de Deus e não do homem, acarreta em implicações cruciais através do

desenvolvimento de um programa bíblico/teológico para alcançar pessoas secularizadas”

(Norman, op.cit., p. 91).

Numa fantástica declaração sobre a Missio Dei, Gerhard F. Hasel afirma: “Na

maravilhosa história da queda vemos o infinito amor de Deus pelo homem... “Foi no inferno

da vida de adão e Eva que Deus prometeu o Redentor” (Gn 3:15). “Ninguém neste mundo,

nem mesmo as pessoas secularizadas, podem ficar fora deste projeto de Deus” (Hasel, 1982,

p. 13).

De acordo com (Mittelberg & Hibells, 2000, p. 66), a missão deverá ser realizada

através de uma estratégia específica visando alcançar as pessoas onde elas se encontram, ou

então a missão fracassará.

Warren (2007, p. 80,81) cita que Bill Hull (1993, p. 32) diz que “precisamos ensinar

os líderes a terem uma teologia de missão. Então, eles poderão desenvolver uma imagem

mental de como cumprir a missão através de modelos funcionais”. Os “treinamentos para a

igreja devem ser sobre princípios de liderança, crescimento populacional e evangelismo”

( Hull , 1993, p. 32).

Fica claro que a missão é um atributo divino, da qual a igreja é convidada a fazer

parte como um instrumento para a mesma.


37

2. Métodos de Evangelismo de Cristo

Para alcançar os seres humanos e resgatá-los para Deus, Jesus Cristo veio ao mundo

e se encontrou com as pessoas onde elas estavam. Na verdade, Deus mesmo, desceu em forma

humana à Terra e se encarnou (tornou-se homem) na forma de um homem judeu e não de um

africano do século XX ou um francês da era medieval. Jesus estava implantando o princípio

evangelístico denominado de “Princípio Encarnacional”.

“A encarnação de Jesus demonstra o profundo envolvimento de Deus para encontrar

os seres humanos onde eles estão, no seu tempo, lugar, linguagem e circunstâncias” (Paulien,

2004, p. 20). O Dr. Jorge H. Barro, falando sobre a encarnação de Jesus afirma: “A

encarnação de Jesus nos revelou Deus. Assim também deve ser com a igreja. A igreja ao se

encarnar (literalmente, colocar sua tenda no meio de), revela Deus ao mundo”. Ele ainda

acrescenta: “Não confunda encarnação com fazer aquilo que os outros fazem. Encarnação é

compaixão que se identifica, que revela que somos um povo próximo, que ama, que busca o

perdido” (Barro, 2003, p. 205).

Barro vê a encarnação de Jesus como a única maneira de Deus expressar a

profundidade de Seu amor pelo homem perdido:

“Tanto a compaixão como a solidariedade foram marcas importantes no ministério


de Cristo. A própria presença de Cristo no mundo é fruto da compaixão de Deus em
favor dos povos. Alienada do Criador e entregue aos seus prazeres, a raça humana
recebe de Deus um ato concreto de compaixão: Vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou Seu Filho” (Gl 4:4). A encarnação do Filho de Deus é o ato ultimo do Deus
amoroso e compassivo. Não havia nenhuma outra maneira que Deus pudesse
expressar de forma mais vívida e intensa o quanto ele estava disposto a fazer para
criar uma nova humanidade que pudesse espelhar as suas virtudes na terra. Portanto,
a vinda de Cristo para habitar entre nós é a expressão inequívoca de que Deus é
solidário com a sua criação (Barro, op.cit. p. 130).

A credibilidade do ministério de Jesus é encontrada exatamente na Sua empatia com

a raça humana. (Carson, 1998, 17 de janeiro) “afirma que Jesus não tem nenhum rival entre os

muitos líderes religiosos que já existiram e que poderão surgir”. Jesus se tornou um judeu do

primeiro século: vivia na Palestina, falava na linguagem e cultura local, sentia sede, fome,
38

cansaço, algumas vezes ficava frustrado, zangado e triste (ver Mc 1:40,41; 3:4,5; 6:6;

10:13,14).

Num mundo pós-moderno e filosoficamente pluralista é muito fácil querer colocar

Jesus como alguém sem nenhum valor. Contudo, só existe uma pessoa no mundo que é o

Criador e que se tornou um de nós. Ele é o Senhor da glória e dos homens, Ele morreu uma

morte vergonhosa e experimentou a vergonha da cruz e está assentado á direita da Majestade

nos Céus, retornando á glória que sempre teve, junto ao Pai antes de criar o mundo.

Jesus executou a missão em Pessoa. Em Lucas 14:28-33, Jesus apresenta dois

princípios básicos de ação evangelizadora para edificar a igreja apostólica e torná-la uma

igreja contagiante e relevante: (1) Desgastar-se completamente com a missão confiada por

Deus (2) Ter uma clara visão dos custos necessários para cumprir a missão.

A esse respeito Paulien diz:

Jesus Cristo não se limitou a permanecer isolado em Sua confortável posição no céu
esperando que nos salvássemos por conta própria. Ele desceu à Terra, tornou-se um
de nós, alcançou-nos em nosso contexto – um mundo que era hostil a tudo que Ele
estabelecera. Ele fez por nós o que nós nunca poderíamos fazer por nós mesmos”
(Paulien, 1993, p. 75).

O ministério de Jesus se fundamentava em sete valores indicados por Mittelberg e

Hibells como: (1) Pessoas são importantes para Deus, (2) Pessoas estão espiritualmente

perdidas, (3) Pessoas precisam de Cristo, (4) Pessoas precisam de respostas, (5) Pessoas

precisam de comunidade, (6) Pessoas precisam de uma relevância cultural, (7) Pessoas

precisam de tempo (Mittelberg & Hibells, op. cit. p. 35-62).

A base da Missio Dei no ministério de Jesus fica evidente em Suas palavras descritas

por Lucas em (Lc 4:18). A idéia que Cristo deixa transparecer é que todos em todos os

lugares, em todas as épocas e em qualquer contexto devem receber o evangelho de Sua graça.

Foi por isso que quebrou todas as barreiras (culturais, políticas, sociais ou religiosas) que

havia em Seus dias.


39

Norman (Ibdem) coloca dois exemplos clássicos encontrados no ministério de Jesus

que demonstram como a igreja deve agir: (1) Seu encontro com a mulher cananita (2) Seu

encontro com a mulher samaritana junto ao poço.

A escritora Ellen G. White, comentando o incidente do encontro de Jesus com a

mulher cananéia, fala sobre os verdadeiros objetivos de Jesus: “A razão deste incidente era

que os discípulos compreendessem no futuro que Ele veio para o mundo para salvar todos os

que O aceitassem” “ Jesus desejava retirar Seus discípulos do seu exclusivismo judaico para

que se interessassem em trabalhar com outros povos ao redor deles” (White, 1940, p.

400,401).

3. Deus Fala com as Pessoas na sua Linguagem e onde Elas Estão

De vital importância é ter a capacidade de apresentar o evangelho para qualquer

cultura de forma que entendam em sua própria linguagem. A nomenclatura correta para esta

habilidade denomina-se contextualização. Hasselgrave e Rommen, citam uma das definições

apresentadas por Nicholls. Segundo ele, “contextualização é a tradução dos assuntos do

evangelho do reino para a forma verbal tornando-a compreensível para as pessoas em sua

cultura e dentro de sua situação existencial particular” (Hasselgrave & Rommen, 1989, p.

149).

Paulien (op. cit., p. 19) ainda salienta um dos grandes princípios da ação de Deus na

história da humanidade: “Deus encontra as pessoas onde elas estão”. A escritora americana

Ellen G. White reconhece que os autores bíblicos, pela inspiração do Espírito Santo, fizeram

uso deste princípio:

As Escrituras foram dadas aos homens, não em uma cadeia contínua de ininterruptas

declarações, mas parte por parte através de sucessivas gerações, à medida que Deus, em Sua

providência, via apropriada ocasião para impressionar o homem nos vários tempos e diversos

lugares (White, 1968, p. 19).


40

Norman (Op. cit. p. 101-111) enumera alguns exemplos encontrados nas Escrituras

que nos ajudam a estabelecer as bases bíblicas e teológicas para alcançar as pessoas

secularizadas. Estes exemplos estão na área da linguagem utilizada por Deus – Ele falou na

linguagem compreensível para cada um, onde se encontrava. Tais exemplos são: (1) O uso da

palavra “logos” no prólogo do evangelho de João, (2) A deusa grega “hekate” em Apocalipse

1:17,18, (3) O uso do “koine grego” na escrita do NT e (4) Os sonhos, os animais e os

símbolos utilizados em Daniel 2 e 7.

Sem entrar numa análise mais profunda sobre cada um destes exemplos pelo limitado

espaço desta pesquisa, pode-se afirmar que:

A essência de todos estes exemplos é o fato de que Deus sempre encontra as pessoas
onde estão e se comunica com elas numa linguagem que possam entender... Novos
métodos e novas abordagens deverão ser desenvolvidos onde nosso auditório secular
se encontra. Isto pode não ser tão fácil quanto pareca. Mas o mesmo Deus dos
apóstolos, que inspirou e guiou suas mentes na escrita do NT, é o mesmo Deus que
nos concederá a sabedoria que precisamos em nossos esforços para alcançar pessoas
secularizadas hoje (Norman, Ibid. p. 109).

“Precisamos primeiramente buscar entender as pessoas que estamos procurando

alcançar” (Mittleberg, 2000, p 35). O que se pode dizer a este respeito é que devemos

entender a linguagem das pessoas secularizadas para poder se comunicar de forma relevante

com elas. A única maneira de isso acontecer é através do relacionamento.

W. Oscar Thompson Jr. escreveu um livro fantástico sobre o poder do

relacionamento entitulado “Concentric Circles of Concern”. Neste livro o autor apresenta sete

estágios para formar discípulos. Sua tese tem a ver com puro relacionamento.

Sua visão sobre o poder da influência de um cristão é retratada em seu livro em

forma de um espiral, um circulo concêntrico, onde o centro de tudo começa com o “eu” (eu

devo estar bem relacionado com Cristo) e habilitado a atingir os que estão em volta dele. Daí

sua argumentação segue uma sequência de sete estágios: (1) Sinta-se bem (Com Deus,

consigo mesmo e com o próximo); (2) Pesquise seus relacionamentos; (3) Ore – trabalhe com

Deus em oração; (4) Construa pontes – pontes de relacionamentos com as pessoas; (5)
41

Demonstre amor – demonstre o amor de Deus atendendo as pessoas em suas necessidades; (6)

Faça discípulos – e ajude-os a crescerem; (7) Recomece o ciclo – Ajude os novos crentes a

fazerem discípulos (Thompson, 1999, p. 30-31).

Thompson coloca neste espiral uma sequência lógica na seguinte ordem: eu, familia,

parentes próximos, amigos, vizinhos, conhecidos e finamente, uma pessoa qualquer. Pode-se

ver isso no gráfico abaixo:

Figura 1
Sete Estágios para Fazer Discípulos

4. Métodos Evangelísticos de Paulo

Numa narrativa apaixonante, Hesselgrave descreve Paulo como o principal expoente

do NT em termos de missão: “O homem especialmente encarregado da responsabilidade de

levar o evangelho aos gentios, e em cujo ministério missionário o NT se focaliza, é o apóstolo

Paulo. Seu ministério, portanto, é de especial importância para uma compreensão da nossa

missão” (Hesselgrave, 1995, p. 19).

John L. Nevius aponta Paulo como um missionário de sucesso em curto espaço de

tempo: “Em pouco mais de dez anos S. Paulo estabeleceu a igreja em quatro províncias do

Império: A Galácia, a Macedônia, a Acaia e a Ásia” (Nevius, 1958, p. 8).

Qual o segredo de tão grande sucesso? Hasselgrave responde dizendo que muitos

são os fatores, mas na sua visão, duas são as razões principais: Paulo considerava (1) a
42

pregação do evangelho e (2) o estabelecimento de igrejas como sua tarefa primária

(Hasselgrave, op. cit., p. 19).

Paulo é o apóstolo dos gentios e seu ministério está sumarizado em Rm 15:15-33:

15 Mas em parte vos escrevo mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto
à memória, por causa da graça que por Deus me foi dada,16 para ser ministro de
Cristo Jesus entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que sejam
aceitáveis os gentios como oferta, santificada pelo Espírito Santo.17 Tenho,
portanto, motivo para me gloriar em Cristo Jesus, nas coisas concernentes a
Deus;18 porque não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo que Cristo por
meu intermédio tem feito, para obediência da parte dos gentios, por palavra e por
obras,19 pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo; de modo
que desde Jerusalém e arredores, até a Ilíria, tenho divulgado o evangelho de
Cristo;20 deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo
houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;21 antes, como
está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram,
entenderão.22 Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter
convosco;23 mas agora, não tendo mais o que me detenha nestas regiões, e tendo
já há muitos anos grande desejo de ir visitar-vos,24 eu o farei quando for à
Espanha; pois espero ver-vos de passagem e por vós ser encaminhado para lá, depois
de ter gozado um pouco da vossa companhia.25 Mas agora vou a Jerusalém para
ministrar aos santos.26 Porque pareceu bem à Macedônia e à Acaia levantar uma
oferta fraternal para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém.27 Isto
pois lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios
foram participantes das bênçãos espirituais dos judeus, devem também servir a estes
com as materiais.28 Tendo, pois, concluído isto, e havendo-lhes consignado este
fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha.29 E bem sei que, quando for visitar-
vos, chegarei na plenitude da bênção de Cristo.30 Rogo-vos, irmãos, por nosso
Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas
vossas orações por mim a Deus,31 para que eu seja livre dos rebeldes que estão na
Judéia, e que este meu ministério em Jerusalém seja aceitável aos santos;32 a fim
de que, pela vontade de Deus, eu chegue até vós com alegria, e possa entre vós
recobrar as forças.33 E o Deus de paz seja com todos vós. Amém.1

Earl P. W. Cameron, com muita propriedade faz um resumo das atividades

ministeriais de Paulo:

Paulo pregou para muitos auditórios. Realizou três extensivas viagens missionárias
pelas principais cidades na provincia do oeste da Ásia, Macedônia, Grécia,
culminando em Roma, a renomada capital do mundo. Nas cidades de Icõnio, Listra e
Antioquia, Paulo pregou nas principais sinagogas judaicas e muitos judeus e gentios
creram no evangelho (At 14:1, 21, 220) (Cameron, 1996, p. 23).

Sendo assim, Paulo encontrou vários e diferentes grupos de pessoas. Para cada um,

utilizava um método diferente e uma abordagem apropriada de alcance. Seu ministério se

1
Biblia sagrada . electronic ed. Brazil : JUERP/Imprensa Biblica Brasileira, 2000, c1967, c1974, S. Rm 15:15
43

tornou rico e diferenciado. O texto clássico que retrata a visão paulina de aproximação e

estratégias múltiplas é 1 Corintios 9:12-22:

Logo, qual é a minha recompensa? É que, pregando o evangelho, eu o faça


gratuitamente, para não usar em absoluto do meu direito no evangelho. 19 Pois,
sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos para ganhar o maior número possível:
20 Fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão
debaixo da lei, como se estivesse eu debaixo da lei (embora debaixo da lei não
esteja), para ganhar os que estão debaixo da lei; 21 para os que estão sem lei,
como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei
de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. 22 Fiz-me como fraco para os fracos,
para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a
salvar alguns.2

O ministério de Paulo foi marcado por um princípio denominado “Princípio

Encarnacional” que significa que Paulo incorporou Cristo em Sua própria vida e se dedicou

para que o bem que recebeu de Cristo, pudesse ser passado aos outros, de modo que Cristo

fosse incorporado também neles. Paulo se doou para as pessoas:

“Quando Paulo age, pela causa do evangelho, procura trazer para os perdidos as
grandes bênçãos que Cristo lhe havia concedido. À luz da grande salvação que havia
recebido é movido a agir. Assim sendo, em 1 Corintios 9, Paulo convida os cristãos
a seguirem seu exemplo em alcançar os perdidos utilizando estratégias radicais e
diferenciadas” (Paulien, op. cit., p. 75).

Em sintonia com Paulien, Cameron estabelece que “Paulo não utilizava sempre a

mesma e única estratégia em seu labor missionário. Ele adaptava seus métodos para atingir

seu alvo - seu auditório em particular. Seus objetivos incluíam todas as pessoas e era sensível

para com suas diferenças culturais” (Cameron, op. cit. p. 24).

Será que Paulo conseguia ser tudo para com todos sem ferir algum princípio da

Palavra de Deus? Evidentemente que sim. Na visão de Norman “Ele (Paulo) se tornou tudo

para com todos, sem sacrificar princípios”. O erro fatal que precisamos evitar é a tendência de

tratar os descrentes como inimigos em vez de olhá-los como vítimas do inimigo. Temos que

ter o cuidado de não colocar barreiras desnecessárias entre nós e os que planejamos alcançar

(Norman, op. cit. p. 114).

2
Biblia sagrada . electronic ed. Brazil : JUERP/Imprensa Biblica Brasileira, 2000, c1967, c1974, S. 1Co 9:18
44

A principal característica que se podia encontrar em Paulo era a adaptabilidade. Ele o

fazia com o objetivo principal de salvar.

Francis D. Nichol afirma:

Adaptabilidade é uma das mais importantes qualidades que devemos cultivar. Ela
nos ajudará a trabalhar como Jesus trabalhou: na casa do pobre e ignorante, no
comércio entre os financistas e comerciantes, nas festas e entretenimentos e em
conversação com os homens sábios. Deveríamos estar desejosos para ir a qualquer
lugar e usar qualquer que seja o método que desejarmos para conquistar homens e
mulheres para o reino eterno de paz e glória (Nichol, 1980, v. 6, p 734, 735).

Mesmo que Paulo em cada lugar por onde passava se adaptava à realidade, mantinha,

afirma Hasselgrave (op. cit. p, 39), “um plano mestre de evangelização” composto por 10

elementos (passos) básicos: Este plano será discutido com mais detalhes no próximo capítulo.

“Encontramos no ministério de um só homem, em uma mesma geração, diferentes


abordagens e estratégias. Paulo fala a multidões, mas também visita de casa em casa.
Ele prega aos judeus na sinagoga, mas também o faz fora da sinagoga. Utiliza praças
e mercados jamais deixando de proclamar às multidões, mas se devota a indivíduos
para discípulá-los e treiná-los para a liderança local. Devemos, portanto,
primeiramente compreender que não há estratégias fixas para a proclamação do
evangelho. Há apenas princípios fixos (Lidório, 2007, p. 59).

A metodologia adotada por Paulo é fascinante e relevante para uma sociedade pós-

moderna. A questão fundamental é saber ler o ambiente e implantar o evangelho no coração

de cada pessoa, em conformidade com a Palavra de Deus e encontrando a melhor avenida

para isso.

5. Métodos de Evangelismo indicados por Ellen G. White

Entre muitas declarações encontradas nos escritos de Ellen G. White existem

diversas que se aplicam à comissão evangélica de alcançar cada classe de pessoas existentes

no mundo. Ela fala sobre se aproximar das pessoas, encontrando-as onde elas estão.

Muitas de suas colocações estão em completa harmonia com o tipo de missão que

deve ser realizado para se alcançar os secularizados. Relacionamos alguns:

(1) Convite do evangelho a todo o mundo:

O convite do evangelho deve ser compartilhado para todo o mundo – cada nação,
tribo, língua e povos (Ap 14:6). A última mensagem de advertência e misericórdia
45

deve iluminar toda a Terra com sua glória. Deve alcançar todas as classes de
pessoas, ricos e pobres, altas classes e classes humildes. Saia para os caminhos e
valados, Cristo ordena e obriga-os a entrarem, para que minha casa fique cheia (Lc
14:23) (White, 1952, p. 202).

(2) Cada alma deve ser alcançada:

Na ordem para sair pelos caminhos e valados, Cristo indica qual deve ser o trabalho
de todos os que Ele chama para ministrar em Seu nome. O mundo inteiro é o campo
para os ministros de Cristo. Toda a família humana se faz representada na sua
congregação. O Senhor deseja que Sua obra de graça seja apresentada para cada
alma (White, ibid).

(3) Caminhos e valados:

Ao comentar a frase “caminhos e valados” Ellen G. White aplica isto à necessidade

de alcançar diferentes classes de pessoas. Assim ela se expressa:

Que os mensageiros do Senhor tenham isto em mente. Para os chefes do rebanho, os


professores divinamente apontados, esta ordem deveria ser recebida como ordem a
ser atendida. Aqueles que pertencem as mais altas fileiras da sociedade devem ser
procurados com terna afeição e respeito fraternal. Homens de negócios, em altas
posições de confiança, homens com grandes capacidades de criatividade e espírito
científico, gênios, mestres do evangelho cujas mentes ainda não tenham sido tocadas
pelas verdades especiais para este tempo – estes deveriam ser os primeiros a ouvir o
chamado. Para eles o convite deve ser dado. Há um trabalho a ser feito pelos ricos
(White, ibid, 203).

Ellen G. White também faz uma solene declaração a respeito do trabalho com as

classes pobres:

Cristo instrui Seus mensageiros a irem também àqueles que se encontram nos
caminhos e valados, os pobres e os menosprezados desta terra. Nos tribunais e nas
calçadas das grandes cidades, nos caminhos solitários se encontram famílias e
pessoas – talvez peregrinos em terras estrangeiras – sem relacionamentos com
igreja, e que, na sua solidão, pensam que Deus deles se esqueceu. Eles não entendem
o que precisam fazer para serem salvos. Muitos deles estão afundados no pecado.
Muitos em tristezas. São oprimidos pelo sofrimento, miséria, desconfiança,
desânimo. Doenças de todo tipo os aflige, tanto no corpo como na alma (White,
1983, p. 205).

(4) Judeus e Gentios:

O Salvador, Ele mesmo, durante Seu ministério na Terra, espalhou o evangelho


entre os gentios. Na parábola da vinha, declarou para os impenitentes judeus, “o
reino de Deus será tirado de vós e dado aqueles que produzem frutos”(Mt 21:43) E
depois de Sua ressurreição, comissionou Seus discípulos a irem a todo o mundo e
ensinar todas as nações”. Eles não deveriam deixar ninguém sem ser advertido, mas
deveriam pregar o evangelho a toda criatura (Mt 28:19; Mc 16:15) (White, 1911, p.
27, 28).
46

(5) Usar diferentes métodos

“Pregar o evangelho significa mais do que muitos pensam... Alguns serão atraídos

por uma frase do evangelho e alguns por outras. Somos instruídos pelo Senhor de tal maneira

que todas as classes possam ser alcançadas. A mensagem deve alcançar o mundo todo”

(White, 1974, p. 536).

“O convite do evangelho deve ser dado ao rico e ao pobre, ao de alta classe e ao de

classe baixa, e nós devemos apresentar o evangelho da verdade em novos lugares e para todas

as classes de pessoas” (White, op. cit., p. 549).

Alguns dos métodos usados na obra hoje devem ser diferentes dos métodos usados
no passado, mas ninguém, por causa disso deve permitir ser dominado pelo espírito
do críticismo.. Que cada obreiro da vinha do senhor, estude planos, descubra
métodos para alcançar as pessoas onde elas estão. Devemos fazer aquilo que esteja
fora do curso comum das coisas (White, op. cit., p. 124, 125).

(6) Usar os métodos de Cristo

“Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo.

O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem.

Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança.

Ordenava então: "Segue-Me." (João 21:19) (White, 1905, p. 219). “Jesus obtinha acesso junto

às pessoas através das associações familiares” (White, 1974, p. 55). “Jesus aceitava a

hospitalidade das pessoas. Dormia na casa de outros e comia a comida deles. Ele os ensinava

nas ruas e os tratava com bondade e cortesia” (White, 1942, p. 26).

Ellen G. White deixa claro que a missão deve ser cumprida através da utilização de

vários métodos e estratégias para alcançar as diferentes pessoas.


47

III. PROPOSTA CONTEMPORÂNEA DE ALCANCE: COMO DEVE SER A


EVANGELIZAÇÃO E A IGREJA

Se uma igreja deseja obter crescimento saudável e alcançar sua comunidade para

Deus, precisa identificar metodologias de alcance e preparar líderes capazes de implantar

novos processos de evangelismo.

Emilio Abdala, Doutor em Ministérios pela Andrews University nos EUA, escreveu

um livro prático sobre o evangelismo entitulado “Manual para Evangelistas”, explorando

diversas estratégias modernas para séries de colheitas e plantio de igrejas, acredita que “o

evangelismo precisa se adequar à mudança dos tempos. É preciso constante avaliação para

saber se não estamos usando os sermões e métodos dos anos 60 e 70 no século 21” (Abdala,

2009. p. 15).

Robert Brewer afirma que para se conseguir êxito ao evangelizar pós-modernistas

tem que se pensar em estratégias atuais e deixar de pensar que aquilo que funcionava por

volta de 1950, continuará funcionando nos dias de hoje:

Evangelizar pós-modernistas é mais que apenas cantar corinhos sacros no lugar de


hinos tradicionais, utilizar-se de power points na hora do sermão e se vestir de forma
casual. Também é pensar que evangelismo é muito mais que um programa ou
produção. Significa que a igreja se tornou missional e necessitada de constante
treinamento em evangelismo pessoal afim de que como igreja local alcance
efetivamente a sua comunidade (Brewer, 2002, p. 63).

No livro “Engaging the Closed Minded”, Story coloca os desafios de se evangelizar

com sucesso num mundo pós-moderno, pluralista e de uma moralidade relativa. Story afirma

que é preciso estar preparado para apresentar mais do que a mensagem do evangelho. É

necessário defender as doutrinas do cristianismo desafiando os incrédulos e demonstrar que o

cristianismo não é constituído apenas de uma experiência emocional e espiritual, mas de

aspectos relevantes para a cultura moderna. Mais importante ainda é demonstrar que o

cristianismo é verdadeiro. Em outras palavras, se Deus existe, e se Ele tem se revelado para a
48

humanidade, isto tem sido possível apenas através do cristianismo. Não existem outras opções

(Story, 1999, p.9).

“O pós-modernismo precisa ser confrontado e não acomodado. Devem-se desafiar

suas pressuposições deixando claro que existe uma verdade e que esta verdade pode ser

compreendida” (Colson, 1999, p. 56).

Um programa evangelístico capaz de alcançar a mente do pós-moderno, necessita

responder as suas principais perguntas, tais como: não é arrogância dos cristãos o fato de

afirmarem que Jesus é o único caminho? Uma vez que uma pessoa é verdadeiramente sincera,

que diferença isto faz se pensa diferente dos cristãos? O que dizer das pessoas que morreram

sem nunca ouvirem falar de Cristo, estarão elas perdidas? Será que a Bíblia não está cheia de

erros, sem mencionar que é um livro desatualizado? Por que o cristianismo é homofóbico e

oprime a mulher? Como o cristianismo explica o fenômeno da ufologia? e outras questões

mais (Brewer, 2002, p. 76-100).

Ed Stetzer (2011), Presidente do Centro de Pesquisas Missiológicas da LifeWay e

treinador de pastores e plantadores de igrejas em cinco continentes, fala a respeito de 4 ações

específicas utilizadas pelas 100 maiores igrejas que apresentam um crescimento acelerado na

América do Norte: (1) desenvolvimento de líderes em potencial, (2) uso múltiplo de sites com

abordagens ministeriais, (3) crescimento saudável por meio dos pequenos grupos, (4)

emprego diversificado de métodos evangelísticos para envolvimento com a comunidade.

1. Modelos Bíblicos de Alcance em Mateus 5:13-16

Os estudos do Dr. Paulien (2004, p. 8) diretor do centro de estudos em religião da

Universidade Adventista de Loma Linda nos EUA, argumenta a favor de dois tipos de

comunidades cristãs extraídas dos ensinos de Jesus em (Mt 5:13-16). Os dois modelos são

denominados por ele como (1) CIDADE/FORTALEZA e (2) SALT.

Paulien aponta para algumas mudanças básicas:


49

(1) Passar do evangelismo público para o evangelismo relacional.

(2) Sair de uma abordagem evangelística de resultados rápidos para uma abordagem

de resultados a longo prazo.

(3) Abandonar a agenda pessoal e aderir a uma agenda sustentada nas necessidades

sentidas.

(4) Deixar de se basear nas necessidades da igreja e passar a se concentrar nas

necessidades do local de trabalho e da comunidade que se quer alcançar.

(5) Sair de uma única estratégia e utilizar-se de múltiplas abordagens.

(6) Deixar de medir o sucesso do evangelismo através do aumento do número de

conversão/batismo e passar a ver o sucesso do evangelismo através de um processo de

crescimento gradativo e consistente, como Jesus fez com Pedro e Judas ao mesmo tempo.

(7) Partir da idéia de comunidade como sendo o prédio da igreja para o

estabelecimento de outros tipos de comunidade tais como cafés, centros de saúde, ginásios e

igrejas casas.

(8) Movendo-se da idéia de uma igreja controladora onde o primeiro contato de um

converso é a classe bíblica e logo o batismo para um processo onde quem controla é Deus,

enquanto um semeia e o outro colhe.

(9) Partir de uma igreja exclusiva para uma inclusiva, aberta a novas abordagens com

o mesmo objetivo, a salvação de outros.

Estes dois modelos bíblicos podem ser visualizados de forma mais clara através da

tabela abaixo:
50

Tabela 1
Dois modelos bíblicos para alcançar o mundo pós-moderno

Cidade/Fortaleza Sal Bases Bíblicas

Público Um por um – relacional Mt 28:19-20

Pouco Tempo Longo Tempo Ministério de Jesus

Nossa Agenda Necessidades sentidas 1 Co 9:19-23

Baseado no local de
Baseada na Igreja Paulo fazendo tendas
trabalho e vizinhança
Uma única abordagem Baseado nos diferentes dons
1 Co 12-14
(Simpson in 1902) espirituais

Conversão Processo (escala de Engel) Pedro, Judas

Comunidade como Igreja Novos modelos de Comunidade Não havia igrejas templos
(igreja = prédio) (casas, bares, lanchonetes) até o IV século

Controlado pela igreja Controlado por Deus 1 Co 3:5-7

Exclusivo Inclusivo Lu 9:50; Mc 9:40

O primeiro (CIDADE/FORTALEZA) segue uma linha tradicional de evangelização,

metodologia utilizada pelo povo adventista ao longo de sua história.

O segundo (SAL), que consiste num modelo encarnacional, modelo mais apropriado

para se trabalhar com o mundo pós-moderno, onde os cristãos entram em contato com a

sociedade e procuram torná-la um lugar melhor através de sua presença.

No modelo de evangelismo de cidade/fortaleza, os crentes são colocados em

segurança dentro de uma parede cercada por muros e fortes portões. Eles se cuidam para não

serem influenciados pelo mundo e salvaguardarem a integridade da comunidade cristã. De

tempos em tempos, eles realizam uma cruzada evangelística, abrindo seus portões e enviando
51

um exército e recuperando uns poucos cativos. Os cativos são trazidos de volta para a

fortaleza, os portões são novamente fechados e tudo volta ao normal dentro dos seus muros.

Como resultado, a conquista de cativos através desta estratégia está diminuindo cada vez mais

e as conversões vão se tornando cada vez mais casuais.

No modelo SAL de evangelismo, o sal se derrete e penetra de tal maneira no meio

dos alimentos que se torna impossível descrever o que é sal e o que é alimento. Como

resultado, todo o prato de alimento se torna saboroso. Assim devem os cristãos sempre marcar

sua presença na comunidade fazendo uma grande diferença.

O Sal é a figura de um discípulo. Sempre há algo de admirável a se dizer a respeito

de uma pessoa cuja vida é devotada em sacrifício para Deus. Mas o relato de Lucas afirma

que o sal pode perder o seu sabor. Registros modernos afirmam que o sal não pode perder o

seu sabor porque é composto de puro sal. Mas, nos tempos bíblicos, o sal era muitas vezes

inserido em muitas formas de impureza. Assim, era possível que porções do sal se perdesse

em conteners, mas quando encontradas, tais porções eram sem sabor. Poderiam ser utilizadas

para fertilizar a terra, por isso deveriam ser descartadas (MacDonald & Farstad, 1997, Lc

14:33).

Paulien (op. cit. p. 5) crê no uso dos dois modelos, mas conclui que enquanto o

modelo de cidade/fortaleza obteve extremo sucesso na época do modernismo cristão e ainda

continua funcionando em locais onde existe grande número de cristãos modernistas, o modelo

SAL apresenta uma maneira de alcançar o mundo pós-moderno e unir a igreja e a sociedade

numa interação produtiva.

O desafio dos Adventistas num mundo secular não está limitado apenas ao fato de

serem conhecidos como pessoas de boa reputação. “Isto envolve muito mais, significa

saberem como se envolver com os vizinhos e até mesmo com familiares – irmãos, irmãs, pais,

filhos e avós que não vêem o mundo da forma como os adventistas vêem”. Talvez eles vivam
52

na porta da frente e os Adventistas sejam para eles meros estranhos. “O evangelho não será

compreendido a menos que seja apresentado ao povo no seu contexto”. Segundo (Paulien,

1993, p. 11,13): “Temos que estar atentos para as necessidades peculiares de cada auditório.

A utilização deste princípio é essencial quando trabalhamos com pessoas secularizadas”.

2. Os Sete Pilares do Evangelismo no Distrito de Costa e Silva

O projeto “Sete Pilares de Esperança” (Lopes, 2011, p. 1-16) reúne sete principais

frentes missionárias da Igreja visando desenvolver o discipulado.

Primeiro Pilar - Jornada Espiritual: Andar com Deus diariamente é viver um

cristianismo real e autêntico, pois o recebimento diário da unção do Espírito Santo traz poder.

A história da Igreja primitiva está marcada pela ação constante do Espírito Santo, e isto de

fato foi o resultado da compreensão que ela teve de quem iria movê-la (At 1:8; 2 Co 4:16).

Desta forma, acontecimentos extraordinários tomaram conta do dia a dia desta Igreja. Ela

estava ligada com Deus e dEle recebia o poder para avançar cumprindo a missão. Hoje a

prática da Jornada Espiritual diária é incentivada a princípio através dos Seminários de

Enriquecimento Espiritual (SEE), onde o participante desenvolve o hábito de buscar a

presença de Deus na primeira hora do dia. Desenvolvido o hábito, cada membro continua sua

comunhão pessoal com Deus na primeira hora do dia através da oração, leitura da Bíblia,

estudo da Lição da Escola Sabatina, do Espírito de Profecia e do livro anual “Meditações

Diárias”, este último, especialmente para o Culto Familiar, que também é parte integrante da

Jornada Espiritual.

“Quem usa a completa armadura de Deus e separa algum tempo cada dia para

meditar e orar, e também para estudar as Escrituras, estará ligado ao Céu e terá uma influência

transformadora e salvadora sobre os que o rodeiam. Terá importantes pensamentos, nobres

aspirações e claras percepções da verdade e da obra de Deus. Anelará pela pureza, pela luz,

pelo amor, e por todas as graças celestiais” (White, 1882, vol 5, p. 112).
53

Segundo Pilar: Oração Intercessória: Interceder é a parte mais importante da vida

espiritual do cristão e da dinâmica da Igreja. A mão de Deus se move quando seus filhos oram

e torna possível o impossível. O propósito da Oração Intercessória é orar pelos outros e fazer

pedidos específicos a Deus (Tg 5:16), baseados em Suas promessas. Jesus deixou o exemplo

da Oração Intercessória (Jo 17:9-21). Ela é tão essencial ao trabalho evangelístico como é a

respiração para a vida. “Todos os que aceitam a Cristo como seu Salvador, o fazem em

resposta a oração de alguém.” (Smith, 2005, p. 40).

A Oração Intercessória quebra o poder de Satanás na vida daqueles por quem se ora

(Lc 2:31-32) e remove o “véu” da cegueira espiritual que repousa sobre os pecadores (2 Co

4:4).

Terceiro Pilar: Recepção: “Igrejas que crescem também dedicam significativa

quantia de tempo se preparando para receber companhia – os visitantes. Para elas, isso

envolve atividades como preparar um culto atrativo, organizar equipes de recepção, limpar as

dependências do templo, oferecer refrescos e, principalmente, criar um ambiente acolhedor.

Essas igrejas acreditam que só tem uma chance de causar uma primeira impressão, e querem

que os visitantes sintam uma atitude amistosa de boas-vindas.” (Dias, 2010, p. 9)

Uma igreja receptiva com atendimento organizado para todos os programas e que

estabelece um contato posterior com os amigos visitantes, dá a melhor impressão do amor de

Cristo.

“Se todo o nosso povo - professores, pastores e membros leigos - cultivasse o espírito

da cortesia cristã, encontraria muito mais facilmente acesso ao coração do povo; muitos mais

seriam levados a examinar e receber a verdade.” (White, 1913, p. 20).

Quarto Pilar: Pequenos Grupos: De acordo com o Velho e o Novo Testamento, a

base bíblica para toda a organização da Igreja é o Pequeno Grupo. Desta forma as

responsabilidades de pastoreio são compartilhadas, os membros se tornam comprometidos


54

com o ministério para todos os crentes, onde viverão o real e magnífico estilo de vida em

comunidade, o qual proporcionará: crescimento espiritual, fortalecimento dos

relacionamentos, compartilhamento de experiências espirituais, discipulado e evangelismo.

“A formação de Pequenos Grupos como base do esforço cristão foi-me apresentada

por Um que não pode errar.” (White, 1946, p. 115).

Um dos fatores que proporcionaram um grande crescimento numérico/espiritual e

capacidade de liderança do distrito de Costa e Silva nos últimos dois anos foi o treinamento

sistemático de líderes através de reuniões quinzenais de líderes de pequenos grupos com o

pastor. De fato, este se tornou o pequeno grupo pastoral.

Somente através de treinamento contínuo e compromissado um líder dotado de um

determinado dom poderá descobrir o caminho a seguir para a plena utilidade. Russill Burrill

afirma: “Quando pessoas são colocadas em áreas específicas não significa que funcionarão

sem treinamento. Um programa regular de treinamento precisa ser adotado pela igreja para

todas as pessoas que entram no ministério”. Ele acrescenta: “se um líder não for treinado

adequadamente, ele não estará apto para fazer o que deve de forma correta e nós mesmos

acabaremos por criticá-lo, levando-o ao desencorajamento e ao abandono do ministério”. É

por isso que “o treinamento básico para qualquer ministério é uma necessidade absoluta”

(Burrill, 2004, p. 87, 88).

Quinto Pilar: Duplas Missionárias: Por intermédio da Bíblia e do Espírito de Profecia

Deus mostra claramente a Seu povo que haverá muito êxito na evangelização com o trabalho

em duplas. Jesus veio para restaurar a comunidade através do Evangelho, não enviou os

discípulos individualmente, mas em duplas, pois, somente uma comunidade pode restaurar

outra. A formação das duplas deve ocorrer nas Igrejas, nos grupos e nos Pequenos Grupos.

Homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças: amigo com amigo, marido e mulher,

irmão com irmão e um mais experiente com um menos experiente.


55

“Ninguém foi mandado sozinho, mas irmão em companhia de irmão, amigo ao lado

de amigo.” (White, 1940, p. 350).

Sexto Pilar: Classes Bíblicas: “E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse

carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele

disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar?” (At 8: 29-31)

Esse clamor ainda está no coração de milhares de pessoas que buscam diariamente

encontrar o verdadeiro sentido para a vida. Muitos leem a Bíblia, fazem suas orações,

frequentam suas igrejas, fazem obras de caridade, porém, ainda buscam uma compreensão

maior da vontade de Deus.

A classe bíblica tem se revelado como um dos meios mais eficazes para levar o

conhecimento de Jesus às pessoas. Uma Igreja que demonstra amor pelas pessoas por quem

Cristo morreu, não excluirá do seu programa semanal a realização das classes bíblicas.

Sétimo Pilar: Evangelismo: Cristo e os apóstolos enfatizaram a Igreja nascente a

importância do evangelismo com as seguintes palavras: “Ide por todo o mundo e pregai o

evangelho a toda a criatura” (Mc 16:15). O apóstolo orientando o jovem evangelista Timóteo

disse: “Prega a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4:2).

As palavras de Ellen G. White reforçam o compromisso da igreja com o

evangelismo: “É meu dever afirmar que Deus está apelando insistentemente para que se faça

grande trabalho nas cidades. Novos campos devem ser abertos” (White, 1974, p. 37).

O Dr. Russell Burrill define o evangelismo na igreja dizendo: “Não pode haver igreja

sem evangelismo. Tire o evangelismo da igreja, e ela se torna um clube social. A igreja é um

poderoso movimento missionário, motivado para a ação pelo Senhor Jesus Cristo, com o

propósito expresso de ganhar pessoas para Cristo. A igreja não tem outra razão de existir

senão a de alcançar as almas perdidas” (Burril, 2004, p. 11).


56

O que se pode dizer a respeito dos sete pilares, projeto oficial da USB da IASD no

Sul do Brasil e aplicado no Distrito de Costa e Silva em Porto Alegre, por meio do seu pastor,

Osvaldo de Lima Ferreira, é: (1) Os sete pilares compõe-se de uma estratégia diversificada de

alcance; (2) Esta estratégia é relevante para o contexto da sociedade e da igreja no século

XXI; (3) O Projeto dos sete pilares permite que cada crente se envolva na missão em

conformidade com o seu dom, seu gosto e sua capacidade; (4) Os sete pilares promovem um

envolvimento na missão diretamente proporcional ao envolvimento na comunhão com Deus

(quanto maior for a comunhão com Deus, maior será o envolvimento com a missão); (5) Os

sete pilares permitem que a igreja ministre na sociedade através de um evangelismo integrado

(6) Quando compreendido, os sete pilares promovem a união da igreja e dos seus

departamentos; (7) Os sete pilares, trabalham o discipulado e a permanência dos novos

crentes na igreja.

Os Sete pilares da Esperança foram trabalhados do Distrito de Costa e Silva durante

dois anos e os resultados foram extraordinários: Criou-se um clima missionário em todas as

congregações do distrito, aumento da espiritualidade da membresia, o plantio de 1 nova

congregação, a formação de 35 sólidos Pequenos Grupos, o treinamento constante de 64

duplas evangelizadoras e o batismo de 360 pessoas, com um índice de apostasia inferior a 20

por cento.

Destaque principal dessa estratégia está no fato de desafiar a igreja a ser missional,

organizar o trabalho, estimular ao crescimento de forma planejada e acompanhar o seu

desenvolvimento, com avaliações periódicas a cada inicio do novo trimestre.

Uma análise mais detalhada sobre os Sete Pilares da Esperança pode ser vista através

dos dados encontrados nos gráficos abaixo:


57

Tabela 2
Índices (Distrito Costa e Silva)

Números Totais do Distrito


Membros envolvidos em Devoções Pessoais
397
Membros envolvidos em Oração intercessora
483
Membros envolvidos em Duplas missionárias
128
Número Pequenos grupos
35
Classes bíblicas realizadas no ano
18
Evangelismos realizados no ano
47
Número total de membros
1223

Gráfico 13
Devoção Pessoal (100% Alvo = 40% dos membros participando)
58

Gráfico 14
Oração intercessora (100% Alvo = 70% dos membros participando)

Gráfico 15
Duplas missionárias (100% Alvo = 20% dos membros participando
59

Gráfico 16
Pequenos grupos (100% Alvo = 25 membros por PG)

3. Plantio de Igrejas Intencionais no Distrito de Costa e Silva

O que podem os adventistas como igreja fazer para exercer um profundo impacto no

mundo secularizado?

Ronaldo Lidório, pastor presbiteriano e plantador de igrejas em Gana, na África

durante 9 anos, aposta no plantio de igrejas. Ele afirma: “Creio que não há forma mais

duradoura de se estabelecer o evangelho em um bairro, cidade, clã ou tribo a não ser por meio

da plantação de uma igreja local, bíblica, viva, contextualizada e missionária”

O plantio de igrejas, segundo Anderson, citado por Lidório tem um alvo baseado em

4 áreas: (1) a conversão dos perdidos; (2) sua organização em igrejas locais; (3) promoção e

treinamento de líderes em cada comunidade; (4) fomentação de independência espiritual e

organizacional em cada comunidade (Lidório, op. cit. p. 12, 19).

De fato a contribuição de Lidório é muito relevante, porque suas sugestões decorrem

da sua experiência prática em plantar igrejas. As estratégias adotadas por ele são (1) Pesquisa
60

e compreensão da sociedade local; (2) Abundante evangelização: “igrejas não são plantadas

em gabinetes pastorais ou centros de reflexão missiológica. São plantadas nas ruas”; (3)

Comunicação de um evangelho cristocêntrico: “a Bíblia é antiga, o evangelho é antigo e a

Grande Comissão é antiga”; (4) Oração: mobilize pessoas para orar pelo seu projeto de

plantio de igrejas; (5) organização de igrejas locais; (6) Discipulado e treinamento de líderes

locais; (7) Envolvimento social que promova ações sociais; (8) Desenvolvimento do perfil de

plantador de igrejas: ter uma boa teologia, cultivar um coração apaixonado pelos perdidos,

encarnar seu projeto ministerial, identificar-se com o povo e aproveitas as oportunidades

(Lidório, op. cit, p. 75-97).

Muitos modelos são sugeridos, mas Emilio Abdala, evangelista da UCB e ex-

professor de evangelismo e crescimento de igreja no campus da Faculdade Adventista da

Bahia, orienta que é preciso tomar cuidado para não se dar mal: “Existe hoje uma variedade

de modelos, elaborados por experientes plantadores de igrejas, disponíveis na literatura

especializada....uma seleção incorreta para determinadas situações pode resultar em confusão

e frustração” (Abdala, 2007, p. 55).

Paulien (op. cit. p.88-94) sugere algumas estratégias básicas de alcance, tais como:

(1) Educar a Igreja:

(2) Ministérios Diversificados:

(3) O Papel do Trabalho:

(4) Fazer Mudanças Construtivas na Adoração: a) usar a linguagem comum do dia

a dia, b) Aplicar os valores cristãos em casa; c) Buscar a excelência; d) Cativar a atenção das

pessoas; e) Forte ênfase espiritual; f) Autenticidade.

(5) Fazer a Transição das pessoas secularizadas para a igreja:


61

Bill Hybels, fundador e pastor da mega igreja americana Willow Creek em South

Barrington, Illinois em 1992, juntamente com seu evangelista Mark Mittelberg, ressalta que

não há nada que possa se igualar à igreja local, quando trabalha corretamente.

Para eles, o segredo está no envolvimento da igreja na sociedade onde está inserida.

Quando a igreja se envolve completamente na sua potencialidade de redimir, os perdidos são

encontrados, os espiritualmente confusos encontram a verdade e vidas são transformadas

neste mundo e para a eternidade (Mittelberg & Hybells, 2000, p. 11). Uma pessoa se encontra

com Cristo através da influência de um ou dois cristãos dedicados que lhe proporcionam um

relacionamento verdadeiro. Todos os crentes podem e devem ter este tipo de impacto sobre as

pessoas ao seu redor.

Hybels e Mittelberg, classificam o evangelismo como o mais alto dos valores que a

igreja tem, mas ressaltam que infelizmente é o menos praticado. Então, nós precisamos mais

do que entusiasmo e mais do que crentes equipados. Precisamos de igrejas contagiantes por

duas razões: (1) por causa da dificuldade que existe em realizar um evangelismo eficiente

quando a igreja está estagnada e (2) pela vantagem e alegria que se têm de alcançar pessoas

através de uma igreja contagiante. (Mittelberg & Hybells, op. cit, p. 20-22).

Outro segredo apontado por estes dois lideres religiosos para que a igreja seja

relevante na sua comunidade está na “mudança de visão de seus líderes”: devem saber onde

querem chegar e para alcançarem bons resultados, se desprenderem do egocentrismo. “Uma

igreja se torna contagiante quando os seus líderes sabem o que estão tentando construir e

quem eles estão tentando alcançar e então trabalham incansavelmente com incessante oração

para alcançar seus objetivos”. O maior pecado que Satanás leva os crentes a cometerem contra

o evangelismo é o pecado do egocentrismo (Mittelberg & Hybells, op. cit, p. 26,27).


62

Então, de acordo com esta visão, a maior necessidade que temos como crentes para

erguermos uma igreja contagiante é travar uma batalha espiritual contra as forças do mal,

contra as hostes de Satanás. E o melhor método para vencer esta batalha é através da oração:

Se negligenciamos a oração, se deixamos de lutar na vida espiritual, se não


dobramos os joelhos e nos habilitamos para a batalha espiritual, perderemos o poder
e as bênçãos de Deus. Se desejamos ser cristãos contagiantes e edificar uma igreja
contagiante, a oração deve ser tecida na produção de tudo o que faremos.
(Mittelberg & Hibells, 2000, p. 27).

De fato, atingir a sociedade pós-moderna é tarefa que requer a implantação de igrejas

em áreas novas, rompendo com o egocentrismo, gerado pela fraqueza espiritual, decorrente da

secularização. Tal proeza se conquista através de uma postura de oração.

Joel Comiskey escreveu um livro denominado “Church planting for Reproduction”

onde explora o tema de plantio de igrejas, defendendo os grupos celulares como sendo o

poder explosivo para alcançar o mundo pós-moderno. Ele cita uma declaração de

Hesselgrave:

“A celebração das igrejas células tem um grande apelo para jovens pós-modernos
que tem se afastado do convívio de igrejas tradicionais e tem desejado encontrar
relacionamentos íntimos e liderança compartilhada. Igrejas-délulas estão de forma
inigualável posicionadas para alcançar a próxima geração para Cristo por três
razões: (1) não se tratam de instituições e propriedades mas salas de estar e pessoas;
(2) possuem um forte programa de evangelismo e discipulado, focados na colheita;
(3) uma rápida assimilação de novos crentes na vida da igreja; (4) Liderança e
ministério são acatados por todos os crentes (Comiskey, 2009, p. 109).

De todos os modelos encontrados, o Dr. Abdala (2007) colocou em prática na IASD

no contexto brasileiro o “Ciclo Paulino” indicado por Hesselgrave. O modelo tem sido

utilizado com muito sucesso pelos estudantes de teologia em todo o nordeste brasileiro.

O ciclo paulino indicado por Hesselgrave consta de 10 passos: (1) Os missionários

são comissionados (At 13:1-4; 15:39,40); (2) O auditório é contatado (At 13:14-16; 14:1;

16:13-15); (3) o evangelho é comunicado (At 13:17ss;16:31); (4) Os ouvintes convertidos (At

13:48; 16:14,15); (5) Os crentes congregados (At 13:43); (6) A fé confirmada (At 14:21,22;

15:41); (7) Os líderes consagrados (At 14:23); (8) Os crentes recomendados (At 14:23;
63

16:40); (9) Os relacionamentos continuados (At 15:36; 18:23); (10) As igrejas Missionárias

convocadas (At 14:26, 27; 15:1-4). Esses passos podem ser visualizados e melhor

compreendidos no gráfico abaixo:

Figura 2
Ciclo Paulino

Abdala no seu livro “Guia de plantio de Igreja” analisa vários modelos e como

resultado, adapta o modelo de Faircloth que usa um programa de Avaliação e Revisão Técnica

(PERT) no qual o autor desenha 45 eventos e programas divididos em 4 períodos:

preparatório, pioneiro, organização e reprodução (Faircloth, 1991). Os fundamentos para este

modelo brotam das raízes de Hesselgrave e Wagner.

Abdala coordenou os estudantes de teologia, treinou-os e os desafiou a plantar 70

novas igrejas a cada ano. O sucesso do projeto foi e continua sendo extraordinário. O

processo de plantio de igrejas segue esses seis estágios: (1) planejamento; (2) preparação; (3)
64

pioneirismo; (4) proclamação; (5) pós-evangelismo; (6) pós-maturidade. O próprio professor

Abdala recomenda que este modelo deve passar por adaptações. O modelo sugerido por

Abdala passa a ter seis estágios com 63 eventos e programas.

Na verdade Abdala segue o modelo de evangelizar utilizado por Paulo. Portanto, o

que Paulo quer nos dizer sobre evangelismo é o que importa. O que Paulo deixa claro para a

evangelização nos dias de hoje é que “missões e evangelização eficazes requerem

planejamento e estratégia com cuidado e com oração” (Hesselgrave, op. cit. p. 43). No

empenho por salvar pessoas, temos que seguir um processo que culmine com a maturidade

plena dos novos conversos.

Outro modelo idealizado pelo Dr. Kleber Gonçalves e implantado recentemente na

cidade de São Paulo para atender uma sociedade pós-moderna é o projeto de missão urbana

da Igreja Adventista do Sétimo Dia denominado “Nova Semente”.

O Dr. Gonçalves, no ano de 2005 concluiu seus estudos em Ph.D. em Religião, com

ênfase em Missiologia Urbana pela Universidade Andrews, EUA, onde defendeu a tese:

“Uma Reavaliação da Missão Urbana da Igreja à Luz de uma Emergente Condição Pós-

Moderna.”

O modelo da Nova Semente (http://www.novasemente.org/conheca/nossos-valores/)

comunidade adventista diferenciada, implantada no coração da cidade de São Paulo, adota os

seguintes valores: (1) Deus é real e se importa conosco: nós valorizamos a existência de Deus,

seu interesse e propósito por nós; (2) Cristo é o caminho para o crescimento espiritual: Nós

valorizamos o crescimento espiritual em Cristo; (3) A Palavra de Deus transforma: Nós

valorizamos a difusão, o estudo e a aplicação das Escrituras; (4) Aceitamos as pessoas como

são: nós valorizamos relacionamentos de amor entre as pessoas, aceitando e respeitando a

diversidade humana: (5) Fiéis aos princípios, sensíveis à cultura: Nós valorizamos a

contextualização dos princípios bíblicos à cultura da comunidade que servimos; (6) Liderança
65

baseada no serviço ao próximo: Nós valorizamos a disposição em servir ao nosso próximo;

(7) Deus é honrado pelo nosso melhor: Nós valorizamos a excelência ministerial; (8)

Crescendo em Pequenos Grupos: Nós valorizamos a formação e desenvolvimento de

pequenos grupos.

A Nova Semente trabalha forte a questão do discipulado. O pastor principal

recepciona cada interessado apresentando os passos iniciais da caminhada. À medida que o

envolvimento vai acontecendo, os dons vão sendo desenvolvidos de acordo com as

habilidades profissionais de cada um.

Não há cobrança inicial sobre a conduta dos interessados, todos podem participar na

adoração como estão e irem se adaptando ao novo estilo de vida. O serviço de louvor é

diferenciado, adaptado à realidade da sociedade, com uso de instrumentos musicais

contemporâneos, tais como bateria e outros.

O ministério da Nova Semente está se desenvolvendo e ainda em fase de

implantação, mas sem dúvida é um grande modelo de alcance numa sociedade pós-moderna

como a cidade de São Paulo.


66

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

Lya Luft, escritora gaúcha secular, autora de mais de uma dezena de livros, num

artigo da Revista Veja de 21 de dezembro de 2011 com o título “Pós-modernos de Tacape”3,

apresenta o perfil sociológico da sociedade pós-moderna em que vivemos: “estamos em

forma, visitamos os melhores resorts, temos vários cartões de crédito e dívidas que se

acumulam, mas quem liga? Marido um gatão, mulher uma gatinha, os filhos olhando (Luft,

2011, p. 26).

A análise de Luft apresenta um aspecto triunfalista do mundo pós-moderno. É o

homem abastado, realizado, dono de si, como apresentado por Jesus a João em Patmos: “rico

sou e de nada tenho falta” (Ap 3:17). Mas, mesmo sendo uma escritora secular, Luft, percebe

que o homem pós-moderno não sabe como resolver os seus problemas. Tem sido dominado

pelo stress que utiliza como desculpa para quase tudo.

No trânsito, continua ela, o número de loucos cresce assustadoramente, nos

condomínios não há paz, nas ruas cotoveladas pedem caminho, nos ônibus os idosos viajam

em pé enquanto jovens insensíveis permanecem atirados nos bancos. No cinema, comilança,

conversa e arrotos, nas salas de aulas, celulares indiscretos avançam adiante. Greves trancam

a educação, transportes, aeroportos, hotéis, precários, tudo parando. Os seres humanos cada

vez mais irritados, agressivos. É o retrato do pós-moderno de tacape. Viver e conviver é

difícil. Por fim, lança o seu desabafo: “Eu queria que a gente fosse um pouco mais

construtivo, mais aberto às possibilidades boas. Queria que em vez de hostis e agressivos

fôssemos mais gentis e civilizados” ( Luft, Ibid).

3 Tacape - Arma ofensiva, espécie de clava usada pelos indígenas, nos sacrifícios. humanos.http://www.dicio.com.br/tacape/ Acessado em
10/01/2012.
67

A presente pesquisa revela que os princípios de evangelismo e crescimento de igreja

são estáveis, mas as estratégias podem mudar de tempos em tempos conforme as necessidades

da sociedade onde serão desenvolvidas, visando alcançar e salvar a todos.

Foi isso que Jesus propôs quando veio a este mundo: “Vinde a Mim todos os

cansados e oprimidos... aprendei de Mim... Eu sou manso e humilde... e achareis descanso

para vossa alma” (Mt 11:28-30). O evangelho de Jesus continua sendo relevante para a

sociedade de hoje, porque é o mesmo, não muda, é “um evangelho eterno” (Ap 14:6).

A sociedade sofre constantes alterações, os costumes se transformam a cada nova

cultura, mas a maior necessidade humana continua sendo sempre a mesma: o homem precisa

de Deus. Diante desta realidade, o que a igreja precisa fazer é: ser uma igreja relevante para a

sociedade que está diante dela, mantendo os princípios da Palavra de Deus, revestindo-os de

uma roupagem adequada para cada cultura para desfrutar de uma real aproximação dos

sofredores. O evangelho é o mesmo, mas as estratégias devem ser diferentes.


68

ANEXOS

Anexo 01: Pesquisa de Campo

1) Igreja:

( ) Costa e Silva ( ) Santa Fé ( ) Safira ( ) Beira Rio ( ) Sumaré


( ) Americana ( ) Rubem Berta ( ) Timbaúva ( ) Parque dos Maias

2) Grau de instrução:

( ) Ensino fundamental 1 ( ) Ensino Fundamental 2 ( ) Ensino médio


( ) Superior ( ) pós Graduação

3) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

4) Idade: ( ) De 15-20 anos ( ) De 21-30 anos ( ) De 31 – 50 anos


( ) De 51-65 anos ( ) Mais de 66 anos

5) Quantas vezes você ora por dia?

( ) Não oro todos os dias

( ) Oro 1 vez por dia

( ) oro 2 vezes por dia

( ) Oro 3 vezes por dia

( ) Oro 4 vezes por dia

( ) Oro 5 vezes por dia

( ) Oro 6 ou mais vezes por dia

6) Com que freqüência você lê a Bíblia?

( ) Nenhuma vez por semana

( ) Algumas vezes por semana


69

( ) Algumas vezes por mês

( ) Todos os dias por 5 minutos

( ) Todos os dias por 10 minutos

( ) Todos os dias por 15 minutos

( ) Todos os dias por 20 minutos

( ) Todos os dias por 30 minutos

( ) Todos os dias por 40 minutos

( ) Todos os dias por 1 hora

7) Durante o ano com que frequência você falta á Escola Sabatina?

( ) Nenhuma vez

( ) 1 vez

( ) 2 vezes

( ) 3 vezes

( ) 5 vezes

( ) 10 vezes

8) Quanto á Bíblia, você:

( ) Tem dúvidas sobre sua veracidade

( ) Tem dúvidas sobre a veracidade de algumas passagens

( ) Aceita tudo que ali está como sendo inspirado

9) Já lhe ocorreu o pensamento de que Deus não existe?

( ) 1 vez

( ) Algumas vezes

( ) Nunca

( ) Deus de fato não existe


70

10) Em relação aquilo que se tem como sendo a verdade você:

( ) Crê que apenas aquilo que a igreja prega é a verdade

( ) Acredita que em algumas coisas a igreja está enganada e nessas você tem a sua
própria opinião

( ) Em tudo você tem opiniões diferentes da igreja do que seja a verdade

11) Em que assuntos (pode ser escolhido mais de um) você acha que a atual posição da
igreja precisa mudar:

( ) Uso de jóias

( ) Frequencia ao cinema

( ) Sexo antes do casamento

( ) Moda: uso feminino de calça comprida na igreja, vestidos mais curtos e


decotados

( ) Casamento homossexual

( ) Jugo desigual

( ) Nenhuma das alternativas anteriores


71

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