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A

PRÁTICA
da
SUBSCRIÇÃO
CONFESSIONAL

David W. Hall, Editor

© 2021
The Practice of Confessional Subscription editada por David W. Hall entrou na
minha vida no início de janeiro de 2015 de maneira inusitada. Estava
visitando o Rev. Douglas Leaman e sua família em Recife, quando me
deparei com essa obra, entre os seus livros (talvez, o primeiro no Brasil). Ali
mesmo comecei a ler, solicitei o empréstimo para continuar lendo e, dias
depois, terminei a leitura desse magnífico livro. Leitura muito proveitosa,
elucidativa, motivadora e revigorante; ao mesmo tempo em que revela o
generalizado desconhecimento a respeito do tema. Em 2018, tivemos a
oportunidade, eu e o Sem. Miguel Azevedo, de conversar sobre a tradução
dessa importantíssima obra para o bem do Presbiterianismo no Brasil. Se
havia uma obra que julgava fundamental para o Brasil, eis que The Practice
of Confessional Subscription estaria entre as cinco mais importantes.
Resolvemos entrar em contato com o Dr. David Hall e solicitar a licença
para traduzirmos para o português e disponibilizá-la no Brasil. O que nos
foi concedido com alegria e generosidade no dia 08 de novembro de 2018.
No entanto, mercê de Deus, não foi possível concretizarmos o projeto na
época - o Senhor tinha um plano diferente. Graças a Deus, o Rev.
Christopher Vicente apresenta, hoje, em português, a magnífica e marcante
obra editada pelo Dr. David Hall, um dia trazida ao Brasil pelo Rev. Douglas
Leaman e segundo a boa providência do Senhor foi conhecida por mim.
Espero que esse seja um “livro cabeceira” para os pastores e presbíteros
reformados no Brasil.

Rev. Renan de Oliveira Pereira


Ministro do Evangelho na Segunda Igreja Presbiteriana de Linhares, Linhares, ES

Mais uma obra grandemente necessária à Igreja brasileira para despertá-la


quanto à importância da confessionalidade reformada. Uma arma para a
preservação da nossa ortodoxia e da nossa fé histórica, mas também para
nos encorajar a inculcá-la em todos os lugares e por todas as gerações; uma
munição em nossa batalha contra o vazio doutrinário e moral do
evangelicalismo pragmático de nossos dias. Dr. David Hall qualifica
muitíssimo esta obra.

Presb. Manoel Canuto


Cofundador e Coordenador do Projeto Os Puritanos e Editor da Editora Os
Puritanos
David W. Hall

Coerência é um conceito que muitas vezes nos falta, especialmente na igreja.


Incoerência confessional se torna ainda mais perigoso, principalmente em
uma denominação oficialmente confessional. O livro “A Prática da
Subscrição Confessional” nos traz de volta a essa coerência. Que todos os
crentes descubram o valor do tesouro confessional por meio desta obra.

Rev. Rodrigo Brotto


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Litorânea, João Pessoa, PB
Coordenador da Pós-Graduação em Educação Cristã Clássica na Faculdade
Internacional Cidade Viva.

Muita confusão ainda prevalece quanto à prática da subscrição confessional


nas igrejas de herança reformada. De um lado, há quem pense que tal
prática (ao menos potencialmente) atenta contra a autoridade das Escrituras
e a liberdade de consciência dos oficiais eclesiásticos. De outro, há os que
tratam a subscrição como um xibolete, uma fonte constante de
controvérsias e divisões. Os credos e confissões, porém, foram escritos como
instrumentos para promover a unidade da igreja visível, a qual não existe
plenamente sem comunhão de doutrina, governo e culto. Eles não são
fontes infalíveis de doutrina — apenas a Bíblia o é —, mas depósitos da
verdade que a igreja crê com coração e confessa com a boca. A prática da
subscrição confessional, portanto, expressa o compromisso com uma
unidade que não se fundamenta no carisma pessoal de um líder ou no mero
compartilhamento histórico de uma tradição, mas numa apreensão comum
da verdade ensinada nas Escrituras. Minha esperança e oração é que este
livro contribua para um melhor entendimento do significado e importância
da subscrição confessional para a integridade, unidade e maturidade das
igrejas reformadas.
Presb. Vinícius Silva Pimentel,
Presbítero regente na Igreja Presbiteriana do Brasil e professor de Cosmovisão Cristã e
Filosofia Reformada

No outono de 2002, David Searle esteve no Brasil e contou a um grupo de


pastores e seminaristas que o início da decadência da sua denominação, a
Igreja Presbiteriana da Escócia, começou quando foi dada a possibilidade
de pastores, no ato da ordenação, apresentarem reservas ao capítulo XXV
da Confissão de Fé de Westminster, quanto ao que é dito sobre o Papa. A
partir dali, mais reservas e exceções começaram a ser aceitas e o processo de
degradação da igreja acelerou-se ao ponto de, atualmente, ser permitida a

3
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

ordenação de pastores homossexuais. Não apenas naquela denominação,


mas em outras igrejas do Ocidente, é notório que o afrouxamento das
exigências confessionais gera o colapso da ortodoxia. Nesse sentido, esta
monumental obra editada por David W. Hall vem em boa hora aos leitores
de fala portuguesa. Estes são tempos de rejeição dos padrões confessionais
por parte de uns, e de tentativas de reinterpretação dos Símbolos de Fé por
parte de outros. O riquíssimo conteúdo dos textos publicados neste livro
ajudará presbíteros docentes e regentes a compreenderem a necessidade de
uma subscrição confessional integral e a importância da fidelidade e
cumprimento dos votos feitos pelos oficiais da Igreja, diante do Senhor, no
dia da ordenação.

Rev. Ageu Magalhães


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana de Vila Guarani, São Paulo, SP
Diretor e Professor do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da
Conceição

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A
PRÁTICA
da
SUBSCRIÇÃO
CONFESSIONAL

David W. Hall
Organizador

Nadere Reformatie Publicações


Por uma Reforma Mais Profunda

Natal, RN
Copyright © 2018 de David W. Hall.
Direitos autorais na versão inglesa pertencentes a David W. Hall.
Publicado originalmente em inglês sob o título The Practice of Confessional
Subscription pela The Covenant Foundation, 648 Goldenwood Court, Powder Springs,
GA 30127. Traduzido para o português e publicado sob sua autorização.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados pela


Editora NADERE REFORMATIE PUBLICAÇÕES
59078-000, Natal, RN, Brasil.
www.naderereformatiepublicacoes.ml

1ª edição, 2021

Editor: Christopher Vicente


Tradução: Amarílis Romagna
Revisão: Christopher Vicente e Daniel Medeiros
Capa: Silton Macedo

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer formato
ou por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico) sem a autorização e permissão por escrito
do editor, exceto para citações em trabalhos, artigos e afins com indicação de fonte.

Todas as citações bíblicas foram extraídas da


Versão Almeida Revista e Atualizada (ARA),
salvo indicação contrária.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

A Prática da Subscrição Confessional. HALL, David W. (Org.);


tradução Amarílis Romagna Timóteo — 1. ed. — Natal, RN: Nadere
Reformatie Publicações, 2021.

Título Original: The Practice of Confessional Subscription.


Vários autores.
ISBN: 978-65-996029-0-0

1. Confissão de Fé de Westminster; 2. Doutrinas – Subscrição; 3. Igreja


Presbiteriana – Doutrinas; 4. Igreja Reformada – Doutrinas. I. Hall, David.
W.
21-81490 CDD–238.5
SUMÁRIO

Prefácio do Editor – Rev. Christopher Vicente ........................................ 9

Prefácio Especial – Rev. Ewerton B. Tokashiki ...................................... 13

Prefácio Original – Dr. David W. Hall .................................................... 25

Capítulo 1: Sobre a Hermenêutica da Subscrição – David W. Hall ....... 29

Capítulo 2: Base Bíblica e Pastoral para Credos e Confissões – Robert S.


Rayburn....................................................................................................... 53

Capítulo 3: Subscrição Confessional entre os Reformadores do Século


XVI – Peter A. Lillack ................................................................................ 67

Capítulo 4: Subscrição na Tradição Reformada Holandesa – W. Robert


Godfrey ..................................................................................................... 109

Capítulo 5: Assumindo a Confissão: Subscrição na Tradição Presbiteriana


Escocesa – J. Ligon Duncan, III ............................................................... 119

Capítulo 6: História Constitucional da Igreja Presbiteriana nos Estados


Unidos da América – Charles Hodge ..................................................... 135

Capítulo 7: Subscrição à Confissão de Fé e aos Catecismos de Westminster


– George W. Knight, III ........................................................................... 153
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

Capítulo 8: O Caso de Heresia de Samuel Hemphill (1735) e o Método


Histórico de Subscrição aos Padrões de Westminster – William S. Barker
................................................................................................................... 189

Capítulo 9: O Conteúdo Doutrinário da Confissão – Robert Lewis Dabney


................................................................................................................... 213

Capítulo 10: O Caso da Subscrição Total – Morton H. Smith ............. 231

Capítulo 11: Um apelo pacífico sobre a Subscrição: para evitar divisões


futuras – James E. Urish .......................................................................... 257

Capítulo 12: “Subscrição Honesta”: Antigo Seminário de Princeton e a


Subscrição aos Padrões de Westminster – David B. Calhoun .............. 291

Capítulo 13: Subscrição do Credo na Igreja Presbiteriana nos EUA – John


Murray....................................................................................................... 301

Capítulo 14: Reexaminando os reexaminadores do Ato de Adoção –


David W. Hall ........................................................................................... 319

Capítulo 15: O Poder da Igreja: sua relação com a Subscrição – T. David


Gordon...................................................................................................... 355

Capítulo 16: Confiança em nossos irmãos: a Subscrição do Credo na Igreja


Presbiteriana Ortodoxa – John R. Muether ........................................... 363

Capítulo 17: Os Benefícios Práticos e os Perigos da Subscrição – L. Roy


Taylor ........................................................................................................ 375

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 389

8
PREFÁCIO DO EDITOR
DA EDIÇÃO BRASILEIRA

Rev. Christopher Vicente

A subscrição confessional no meio presbiteriano, infelizmente, tornou-


se palco de uma dolorosa batalha. Entre oficiais e ministros, encontra-se
todo tipo de posição: há os que subscrevem integralmente o documento que
juraram, diante do Senhor, subscrever como expressão e exposição fiel das
doutrinas da Escritura (“a confissão de sua fé” e “porque são fiéis à
Palavra”); há os que subscrevem com reservas mentais, achando que, com
isso, não estão mentindo; há os que têm se esforçado por relativizar o
conceito de subscrição ou o sentido das palavras e doutrinas ali expressas a
fim de que os Padrões se adequem às suas próprias opiniões ou ao espírito
da época.
Há também os que criticam ou possuem escrúpulos para com os
Padrões de Westminster — alguns por ignorância, outros por compromissos
filosóficos e ideológicos alheios à Escritura. Há os que, ingenuamente,
afirmam: “minha confissão é apenas a Bíblia” (curiosamente, isso não é
bíblico); no entanto, em seguida, pregam e ensinam e, consequentemente,
(conscientes ou não) passam a tecer sua própria confissão, como uma ilha,
isolados da Igreja de Cristo e da profissão histórica dela. Em tudo isso, o
fruto da subscrição e a finalidade dos Credos e das Confissões não têm sido
alcançados em maior ou menor grau. Ou seja, por causa desse contexto
difuso, não se tem alcançado o bem da Igreja de Cristo, a unidade e a
maturidade, a segurança e a estabilidade doutrinárias para frutificação.
Por isso, alegramo-nos e louvamos a Deus pela existência de um
material como este, organizado e editado pelo Dr. David W. Hall. Agora,
nossa alegria é maior, em razão do material estar sendo publicado em
português. A equipe da Nadere Reformatie Publicações, estando envolvida
nesse esforço, alegra-se, também, por poder cumprir um de seus objetivos,
a saber: a promoção da sã doutrina e o encorajamento à subscrição
confessional total e estrita, por meio de um conhecimento sólido do que é
subscrito, visando uma fé madura, convicta e fundamentada nas Escrituras.
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

Buscamos fazer isso recorrendo aos clássicos puritanos e presbiterianos que


argumentaram e defenderam o que, em nossos Padrões, é professado como
nossa fé.
Com sinceridade, julgamos que esse material será mui útil para a Igreja
de Cristo no Brasil — em especial, para os presbiterianos. Até onde sabemos,
tínhamos apenas duas publicações robustas nessa área (além de alguns
artigos e capítulos isolados). Agora, com esse riquíssimo material,
esperamos uma contribuição proporcional e à altura, tanto em razão da
própria obra, quanto do tema; esperamos, no Senhor, um amadurecimento
do debate e da prática da subscrição confessional no Brasil.1
O Senhor sustenta a Sua Igreja e a sorte dela. Ele usa meios para isso.
Então, considerando esses meios, não seria errado dizer que o futuro de
uma denominação depende da visão e da prática de subscrição confessional
defendida e mantida por ela. A História tem ilustrado isso. Você verá, neste
livro, que há muito em jogo; que a luta pela confessionalidade é uma
importante frente de batalha (senão a mais importante) pela ortodoxia e
pela preservação da Igreja.
Esta obra possui uma madura reflexão sobre o tema. Seu foco não é
tanto argumentar em favor da prática da subscrição confessional a partir das
Escrituras (embora “de passagem” encontremos isso). Mas, pressupondo
que é uma prática bíblica e ordenada, os inúmeros artigos que compõem
esta obra propõem uma reflexão do significado e das implicações da
subscrição aos padrões doutrinários; analisam, extensivamente,
documentos históricos em favor da subscrição confessional nas Igrejas
Presbiterianas e Reformadas, desde a Reforma até aos nossos dias (com
ênfase no caso norte-americano); expõem-nos alguns casos de
desconsideração ou consideração errada da subscrição; e propõe algumas
preciosas reflexões pastorais (como é o caso do excelente capítulo do Dr. L.
Roy Taylor).2 Então, em suma, esta obra é uma reflexão sobre a trajetória
histórica de nossa identidade presbiteriana como subscritores.

1
Se esse tema interessa você (e, caso não o tenha, espero que, após a leitura desta obra, passe a se
interessar), fique atento. A Nadere Reformatie Publicações possui uma de linha editorial focada neste
tema: os Padrões de Westminster e a subscrição confessional. Estamos preparando inúmeros
materiais nessa linha. Acompanhe nossas publicações pelas redes sociais (Instagram, Grupo de
Telegram, YouTube, Facebook, lista de e-mails etc.) e pelo site. [N. do Editor].
2
Todos os capítulos são mais do que excelentes. Porém, se tivesse de fazer um destaque (limitado a
apenas um capítulo), eu ressaltaria o capítulo 17 (o último) de Rev. L. Roy Taylor. Ele é escrito em
um tom marcadamente pastoral. É muito útil tanto contra o que erroneamente se opõem à prática

10
David W. Hall

Nem todos os autores compilados neste livro possuem exatamente a


mesma posição quanto a subscrição. Particularmente, como ministro do
evangelho que pratica a subscrição, discordo ligeiramente de alguns. 3
Porém, todos, absolutamente todos, como o próprio Hall destaca em seu
prefácio, estão comprometidos com a prática da subscrição confessional;
todos lutaram ou lutam por isso. Leia sabendo que esse é o espírito. Há
maturidade e sabedoria em considerar os argumentos históricos destes pais
e irmãos mais maduros na fé.
Agradecemos, profunda e imensamente, ao Dr. David W. Hall, por ter-
nos concedido o direito de publicarmos seu excelentíssimo trabalho e
pesquisa — uma indizível e sem igual contribuição à igreja brasileira.
Agradecemos, também, aos irmãos (do Greenville Presbyterian Theological
Seminary, Califórnia do Sul-EUA) Sem. Presb. Vinícius Pimentel e Lic.
Miguel D’Azevedo por nos ter contactado e encorajado, de todas as formas
possíveis, a publicação do material. Agradecemos, ainda, ao Rev. Ewerton
B. Tokashiki, um sempre-constante encorajador da Nadere Reformatie
Publicações e soldado fiel nessa batalha pela confessionalidade, somos
gratos tanto pelo prefácio, quanto pelos encorajamentos. Agradecemos aos
presbíteros (docentes e regentes) Rev. Renan Oliveira, Presb. Manoel
Canuto, Rev. Rodrigo Brotto, Presb. Vinícius Pimentel e Rev. Ageu
Magalhães pelas recomendações à obra. E agradecemos a todos os irmãos
que investiram na publicação dela.
Encorajo que todos os oficiais presbiterianos leiam este livro;
recomendo-o como um dos livros-texto da disciplina: “Credos e Confissões”
ou disciplinas afins que tratem dos Padrões e da Confessionalidade.
Dedicamos a tradução e publicação deste título, no Brasil, aos ministros e
presbíteros que, há anos, vêm labutando pela confessionalidade, cujo fruto
desse labor ainda é colhido na geração atual (e oramos para que sejam
colhidos ainda mais).
Presbíteros, diáconos, candidatos ao Sagrado Ministério e ao oficialato
em igrejas locais: que este trabalho nos encoraje à convicção da subscrição
confessional e à hombridade e à honestidade em nossos votos de ordenação.

da subscrição (ao expor os piedosos e excelentes benefícios da Subscrição) quanto como freio e alerta
para as tentações comuns que envolvem os defensores da subscrição integral. [N. do Editor].
3
Quando julgamos que um dos textos, ainda que excelente em contribuição, extrapolou além do
que cremos que pode ser considerado uma pequena nuança ou divergência e do que cremos como
editora, por questão de consciência e de linha editorial, colocamos uma nota em respeitoso
contraponto. Isso ocorreu apenas uma vez e em contexto de admiração e de loas por outros pontos
do capítulo em questão.

11
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

Lembremos, irmãos: “importa que sejamos fiéis” (1 Coríntios 4.2); que


sejamos encontrados guardando o bom depósito da sã doutrina por meio
do Espírito que habita em nós (2 Timóteo 1.14); que a boa doutrina de
nossos pais na fé (puritanos-presbiterianos) seja recebida de forma madura
e confiada a homens fiéis (2 Timóteo 2.2); que batalhemos pela fé
evangélica confiada aos santos (Judas 3-4). E que Cristo abençoe a Sua Igreja
no Brasil e nos dê a graça de vermos a geração de nossos filhos e netos ainda
professando a sã doutrina e brilhando como luzeiros em meio de uma
geração perversa (Filipenses 2.15)! Amém!

Rev. Christopher Vicente, Editor.


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Manancial do Natal
14 de setembro de 2021, Natal-RN.

12
PREFÁCIO ESPECIAL
À EDIÇÃO BRASILEIRA

Rev. Ewerton B. Tokashiki

A produção de documentos confessionais é essencial à tradição das


igrejas reformadas.4 Esses textos definem a identidade calvinista, rejeitam as
doutrinas e práticas heterodoxas ou heréticas, orientam nos princípios de
adoração e preservam a unidade das igrejas reformadas por meio de um
critério objetivo. Assim, podemos definir, preservar, defender e apresentar
o que cremos por meio de declarações doutrinárias verificáveis e
compartilhar da mesma fé com irmãos de diversos períodos da História e
de diferentes países.
Devemos aprender com a História e evitar o nocivo erro cometido pela
Presbyterian Church in the United States of America.5 Esta denominação que
outrora foi o bastião da ortodoxia reformada nos EUA, uma das principais
igrejas no impedimento do avanço de diversos desvios teológicos, veio a se
tornar em uma denominação moral e teologicamente impura. Mas, como
isso aconteceu? O processo de corrupção confessional, na PCUSA, ocorreu
em quatro etapas.
Primeiro, alguns presbitérios, sem a autorização da denominação,
começaram a permitir abertamente a subscrição com escrúpulos,6 ou seja,

4
Esse fato é evidenciado pela quantidade de confissões e catecismos produzidos nos séculos XVI
e XVII. Veja James Dennison Jr., Reformed Confessions of the 16th and 17th Centuries in English
Translation (Grand Rapids, Reformation Heritage Books), 4 volumes.
5
A denominação responsável pela implantação do presbiterianismo no Brasil. Doravante citada
apenas como PCUSA.
6
Neste período, temos o absurdo exemplo da ordenação de Charles G. Finney ao ofício de pastor.
Esta ocorrência é uma séria advertência contra casos em que a confessionalidade é negligenciada.
O próprio Finney relata, em suas Memoirs, que “inesperadamente eles me perguntaram se eu
recebia a Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana. Eu não a tinha examinado; ela é uma grande
obra contendo os Catecismos e a Confissão presbiteriana. Isto não tinha feito parte de meu
estudo. Eu repliquei que a recebia pela substância da doutrina, tanto quanto eu a entendia. Mas,
eu falei de uma maneira que claramente implicava, eu acho, que não fingia conhecer muito sobre
ela. Contudo, eu respondi honestamente, como eu entendia naquela época” (Charles Finney, The
Memoirs of Charles Finney: The Complete Restored Text. Grand Rapids: Academie, 1989, p. 53-54).
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

ele poderia ser ordenado desde que o subscritor qualificasse as suas


discordâncias e exceções de crença quanto aos Padrões de Westminster.7 A
segunda etapa, ocorreu com uma nociva decisão conciliar. Enquanto a
subscrição ampla se tornava uma prática crescente em seus presbitérios, e
antes mesmo de corrigir esse problema, a Assembleia Geral da PCUSA, em
1924, aprovou a Auburn Affirmation, vindo a causar um irreversível dano
doutrinário.8 Em seguida, ocorreu a terceira etapa, ela permitiu
oficialmente que os seus presbitérios decidissem pela subscrição ampla,
conforme a conveniência ou decisão conciliar regional. Simultaneamente,

Sabe-se, pela biografia e da sua Teologia Sistemática, que Finney era pelagiano, todavia, em 1824, o
presbitério não teve o mínimo de cuidado ao examiná-lo em suas convicções para a ordenação
pastoral!
7
O movimento de subscrição ampla influenciou alguns presbitérios dos EUA reagindo ao
documento The Act and Testimony que intencionava reafirmar a legitimidade da subscrição integral
dos Padrões de Westminster. Ele foi escrito em 1834, sendo produzido pelo grupo Old School, mas
provocou uma forte reação na ala New School. Infelizmente, o prejuízo causado pela divisão se
arrastou, aumentando o ataque mortal contra a prática da subscrição integral entre os
presbiterianos norte-americanos. Para uma leitura histórica detalhada deste assunto, veja: Morton
H. Smith, “The Old School - New School Division” in: Morton H. Smith, The Case for Full
Subscription to the Westminster Standards in the Presbyterian Church in America (Greenville, GPTS,
1992), pp. 57-80; e, também, George W. Knight III, “Subscription to the Westminster Confession
of Faith and Catechisms”, David W. Hall, org., The Practice of Confessional Subscription (Oak Ridge,
Covenant Foundation, 2001), pp. 119-148.
8
Gary North explica que “este documento, divulgado ao público em 26 de dezembro de 1923, foi
oficialmente intitulado ‘An Affirmation designed to safeguard the unity and liberty of the Presbyterian
Church in the United States of America’, mas tornou-se popularmente conhecida como Auburn
Affirmation, uma vez que foi publicado por um grupo que se reuniu durante um período em
Auburn, New York, era um texto possuindo 1.800 palavras. Originalmente, trazia os nomes de
149 ministros; mas, durante a realização da Assembleia Geral, em 1924, atingiu um total de 1.274
ministros subscritores do documento. Isso era cerca de 14% dos ministros na denominação. Essa
era uma grande porcentagem, pois poucos homens, em qualquer organização, estariam
normalmente dispostos a tomar partido publicamente em um confronto ideológico” (Gary North,
Crossed Fingers - How the Liberals Captured the Presbyterian Church (Tyler, Institute for Christian
Economics, 1996), p. 9). No início da controvérsia entre confessionais e liberais, J. Gresham
Machen afirmou acerca da Auburn Affirmation que “outro ataque foi feito pela modernista
‘Affirmation’ de cento e cinquenta ministros, pela qual se fez uma propaganda ativa, de modo que
se conseguiram muitas outras assinaturas. A Affirmation realmente usa uma terminologia cristã e,
enganados por essa terminologia, não há dúvida de que cristãos estejam entre os seus subscritores.
Mas, o próprio documento é radicalmente hostil à fé cristã. É dirigido (1) contra o caráter de credo
da igreja presbiteriana e (2) contra todo o verdadeiro fundamento do Cristianismo” (J. Gresham
Machen, “The Parting of the Ways - Part II” in: The Presbyterian (April 24, 1924), p. 7). A. H.
Freundt conclui que “a Assembleia Geral de 1924 abriu o caminho para um pluralismo teológico
maior ao declarar que o presbiterianismo admite uma diversidade de concepções” (A.H. Freundt,
“Auburn Affirmation (1924)” in: D.G. Hart, ed., Dictionary of the Presbyterian & Reformed Tradition
in America (Phillipsburg, P&R Publishing, 1999), p. 23).

14
David W. Hall

a PCUSA passou a reinterpretar declarações doutrinárias dos Padrões de


Westminster que conflitassem com a unidade institucional da
denominação enquanto aumentava o pluralismo teológico. 9 E, por último,
a PCUSA redefiniu-se teologicamente aprovando a Confissão de 1967, em
uma ruptura final com o uso dos Padrões de Westminster como norma
confessional.10 A consequência necessária foi a anulação da obrigatoriedade
da subscrição em qualquer sentido, quer ampla ou integral, eliminando a
aplicação de penas nos tribunais conciliares, mesmo em caso de negação de

9
George S. Hendry foi professor de teologia sistemática no Princeton Theological Seminary, era
barthiano e escreveu um comentário da CFW. Ele verifica que, a partir da decisão da PCUSA de
permitir a subscrição ampla, ou subscrição de sistema, se criou mais conflitos quanto à prática de
sua confessionalidade. Hendry, percebendo a confusão em sua denominação, declarou que a
subscrição ampla “não responde à questão prática de como a aceitação da Confissão de Fé pode
ser combinada com exceção a algumas de suas declarações, ou como a linha entre aceitação e
exceção deve ser traçada. A esta pergunta, várias respostas foram oferecidas. Uma opção é sugerida
na forma de subscrição exigida dos ministros da United Presbyterian Church in the USA, aos
quais se questiona se aceitam a Confissão de Fé ‘como contendo o sistema de doutrina ensinado
nas Sagradas Escrituras’; tem sido sustentado que a aceitação do sistema não implica a aceitação
de todas as doutrinas individuais nele. Mas, seria difícil dizer, precisamente, como a distinção
entre o sistema e as doutrinas deve ser traçada e, talvez, isso seja apenas uma reafirmação do
problema, e não uma solução para ele. Uma distinção semelhante é indicada na forma de
ordenação da Igreja da Escócia, que requer a aceitação das ‘doutrinas fundamentais da fé cristã
contidas na Confissão de Fé desta Igreja’, sendo explicado que isso é compatível com ‘o
reconhecimento da liberdade de opinião sobre pontos de doutrina que não entrem na substância
da fé’. Pode-se admitir que a distinção sugerida, aqui, é exequível até certo ponto, mas é provável
que surja dificuldade quando houver diferença de opinião quanto a se um ponto específico da
doutrina ‘entra ou não na substância da fé’ - ou quanto ao que exatamente o que significado esta
frase” (George S. Hendry, The Westminster Confession for Today - A Contemporary Interpretation
(London, SCM Press Ltd, 1960), p. 12-13). Os liberais, neo-ortodoxos e evangelicais na PCUSA
lutaram para eliminar a subscrição integral por se verem em conflito com o que ela exigia, mas
descobriram que a subscrição ampla igualmente oferecia conflitos com a prática da
confessionalidade. Então, a última etapa no processo de diluição confessional se tornou inevitável.
10
Joel Beeke observa que o processo de rejeição da prática confessional integral, na maior
denominação presbiteriana dos EUA, ocorreu recentemente, neutralizando a autoridade
confessional dos Padrões de Westminster. Ele afirma que “na última metade do século vinte
surgiu uma nova forma de resolver qualquer problema dos presbiterianos contemporâneos
relacionado com os Padrões de Westminster. A PCUSA produziu um novo Livro de Confissões.
A Confissão de Fé de Westminster e o Breve Catecismo foram dois dos muitos documentos que
foram descartados da história da Igreja e organizados na forma de um álbum como uma espécie
de museu da história da doutrina. A coleção foi coroada com uma nova declaração conhecida
como a Confissão de 1967.” Extraído de
https://www.christianstudylibrary.org/article/westminster-confession-faith-history acessado em
06/07/2021.

15
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

doutrinas essenciais à fé cristã.11 Assim, qualquer oficial ou concílio poderia


assumir crenças e práticas completamente discordantes dos Padrões de
Westminster, sem o risco de sofrer intervenções ou disciplina eclesiástica.
A PCUSA ainda preserva a Confissão e os Catecismos de Westminster
entre os seus documentos históricos.12 Entretanto, estes textos não têm
qualquer efeito legal ou doutrinário naquela denominação, porque
anularam a prática da subscrição confessional como critério normativo. Se
não nutrirmos uma convicção fundamentada em critérios claros e coerentes
sobre a prática da subscrição confessional, então, os nossos Padrões de Fé
correrão o risco de se tornarem apenas documentos inúteis para qualquer
propósito regulador. A história testemunha o processo de apostasia.
A denominação americana continuou enviando missionários para a
implantação de igrejas e manutenção das instituições do presbiterianismo
no Brasil. A igreja brasileira, apesar da autonomia denominacional,
continuou tendo certa dependência e cooperação da igreja-mãe até décadas
recentes. Não podemos negar que, com a presença de pastores (e até
pastoras) e missionários norte-americanos, houve em alguma medida certa
influência da PCUSA sobre o presbiterianismo que herdamos. Mesmo os
missionários mais conservadores enviados pela PCUSA, durante as décadas
de 1950 a 1990, em sua maioria eram mais evangelicais do que
confessionais, de modo que a pluralidade teológica era aceita em nossas
instituições acadêmicas.13
11
R. Scott Clark observa que “com a adoção da Confissão de 1967, que suplantou qualquer
autoridade remanescente que os Padrões de Westminster ainda tinham até aquele momento,
todos os documentos confessionais foram reduzidos, nos segundos votos realizados na ordenação
ministerial, como uma mera ‘orientação’, a ‘históricas e fiéis testemunhas da palavra de Deus’.”
R. Scott Clark, Recovering the Reformed Confession - Our Theology, Piety, and Practice (Philadelphia,
P&R Publishing, 2008), p. 167.
12
Veja em https://oga.pcusa.org/section/mid-council-ministries/constitutional-
services/constitution/ acessado em 17/07/2021.
13
Um exemplo do nível pluralidade teológica em que se encontrava a IPB, nas décadas de 1960 a
1970, se vê na publicação do manual de dogmática de Júlio Andrade Ferreira, Antologia Teológica
(originalmente publicado pelo CEIBEL) usado como livro-texto nos nossos seminários e institutos
bíblicos. Neste mesmo período, a presença de Millard Richard Shaull na história da formação dos
nossos pastores revela outra parte da prejudicial influência teológica da PCUSA na IPB. Veja
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/07/o-jovem-mestre-rev-richard-shaull.html.
A influência da PCUSA sobre a IPB é um tema que exige pesquisa. O rompimento das relações
fraternas entre a PCUSA e a IPB somente ocorreu tardiamente em 2010. Uma coisa é certa, a IPB
não aprendeu sobre subscrição integral, porque essa era uma prática inexistente em nossa nossa
igreja-mãe. Entretanto, em anos recentes, estamos redescobrindo por contato e influência de
textos antigos e oficiais da Orthodox Presbyterian Church e Presbyterian Church in America. Dentre
eles, um dos teólogos mais influentes é Morton H. Smith que escreveu vários textos sobre

16
David W. Hall

As decisões mais recentes da PCUSA revelam que há muito ela deixou


a sua identidade reformada. As contínuas decisões ocorridas em seu
concílio maior, abandonou até mesmo as doutrinas bíblicas essenciais da fé
cristã. Mas, enquanto percebemos a apostasia da nossa igreja-mãe, não
deveríamos temer a possibilidade de trilhar o mesmo infeliz caminho?14 Por
esse motivo, deveríamos ser firmes defensores da subscrição integral,
sabendo que ela é essencial para a preservação da nossa herança reformada.
Pois, se viermos a substitui-la pela subscrição ampla, daí o próximo passo é
anularmos a prática confessional, perdendo qualquer critério objetivo para
a preservação da nossa identidade reformada.15 Não podemos seguir os
mesmos passos da PCUSA.
Os concílios das igrejas reformadas sempre exigiram dos candidatos a
subscrição integral no processo de ordenação ao oficialato. A prática
comum entre os reformadores era a adoção não somente do sistema de
doutrinas, mas o compromisso com cada declaração doutrinária presente
no texto. A subscrição pública, tanto escrita e, por vezes, apenas verbal,
deveria ser no sentido claro e simples das palavras, sem reserva mental por
parte dos que prestavam juramento solene diante do exame das autoridades
e concílios. A honradez entre homens que invocam a autoridade de Deus é
um pressuposto básico na ordenação para a recepção dos ofícios
eclesiásticos.16

subscrição integral. [Um deles - The Holding Fast to the Faith: A brief history of subscrition to creeds and
confessions with particular reference to presbyterian churchs - está publicado, em Kindle, pela Nadere
Reformatie Publicações, sob o título: “Apegando-se à fé: Uma breve história da subscrição dos
Credos e Confissões com particular referência às Igrejas Presbiterianas”, Nota do Editor].
14
A irreversibilidade do desvio confessional da PCUSA se consumou ao redefinir, em sua
Assembleia Geral de 1972, o entendimento sobre “Lealdade Doutrinária”, tornando-a ampla e
relativizada. Nessa decisão, ela também redefine o significado e lugar da Escrit ura Sagrada como
“regra de fé e prática”, negando a sua infalibilidade e declarando que o ato de se submeter aos
Padrões de Westminster é “na situação atual, muito mais ambígua e se ainda pode ser útil
dependerá em parte do grau de unanimidade teológica agora desejada pela igreja” (Morton H.
Smith, How is the gold become dim - The decline of the Presbyterian Church, U.S., as reflected in its Assembly
Actions (Greenville, Southern Presbyterian Press, 3ª ed., 1973), p. 226).
15
É acerca disso que Carl R. Trueman nos adverte que “vivemos em tempos estranhos: as correntes
mais vibrantes do protestantismo conservador e ortodoxo estão se afastando do confessionalismo
eclesiástico clássico, embora ainda adotem o nome de ‘confissão’ para sua causa” (Carl R.
Trueman, O imperativo confessional (Brasília, Editora Monergismo, 2012), p. 253. Recomendo a
leitura de Morton H. Smith, Holding fast of the Faith - A brief history of subscription to Creeds &
Confessions with particular reference to Presbyterian Church (Brevard, 2003) que está publicado pela
Nardere Reformatie Publicações [ver nota de número 10, Nota do Editor].
16
É nesse sentido que William G.T. Shedd observa que “a honestidade e a sinceridade são
fundamentadas numa clara convicção e uma clara convicção é firmada no conhecimento e no

17
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

A subscrição confessional é um ato exigido na recepção de membros e


ordenação de oficiais da igreja.17 Isso significa que a subscrição é ipsissima
verba18 dos seus documentos confessionais e não apenas uma aceitação geral
do sistema geral de doutrina. Por isso, não é aceitável adotar apenas um
geral “sistema de doutrina” e rejeitar arbitrariamente algumas declarações
doutrinárias. O esforço por impor “qualificações” pessoais apenas resultou
progressivamente em impureza doutrinária. A história testemunha que a
prática da subscrição ampla favoreceu desvios, de modo que líderes
promoveram a diluição confessional de suas igrejas, resultando em apostasia
da identidade reformada; e, posteriormente, do evangelho. O relativismo
confessional cria uma confissão particular dentro da confissão normativa a
partir de critérios e motivos meramente arbitrários.
Por que ler este livro? Algumas boas razões justificam a leitura de uma
obra dessa natureza. Primeiro, os autores são reconhecidamente homens
competentes no ambiente acadêmico. David W. Hall conseguiu reunir
excelentes teólogos que produziram excelentes artigos que oferecem a

reconhecimento da verdade. A heresia é um pecado e é classificada por São Paulo entre as ‘obras
da carne’, juntamente com ‘adultério, idolatria, assassinato, inveja e ódio’, que excluem do reino
de Deus (Gl 5.19-21). Mas, a heresia não é um pecado tão grande quanto a desonestidade. Pode
existir uma heresia honesta, mas não uma honesta desonestidade. Alguém que reconhece ser um
herege, é um homem melhor do que aquele que finge ser ortodoxo enquanto subscreve um credo
que despreza, e que ele finge sob pretexto de melhorá-lo e adaptá-lo ao tempo presente. O herege
honesto deixa a igreja com a qual ele não concorda, mas o subscritor insincero permanece dentro
dela para realizar o seu plano de desmoralização” (William G.T. Shedd, Calvinism: Pure and Mixed
- A Defense of the Westminster Standards (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1986), p. 152).
Pode-se, atualmente, verificar essa triste desmoralização doutrinária consumada e estabelecida na
PCUSA.
17
Phillip Schaff esclarece que “tem havido muita controvérsia sobre o grau de força vinculatória
dos credos e sobre as formas de subscrição quia ou quatenus. Toda a autoridade e uso de livros
simbólicos tem sido contestado e negado, especialmente por socinianos, quakers, unitaristas e
racionalistas. Objeta-se que obstruem a livre interpretação da Bíblia e o progresso da teologia; que
interferem com a liberdade de consciência e o direito de julgamento privado; que eles geram
hipocrisia, intolerância e fanatismo; que eles produzem divisão e distração; que perpetuam a
animosidade religiosa e a maldição do sectarismo; que, pela lei da reação, produzem
indiferentismo dogmático, ceticismo e infidelidade; que a simbolização das igrejas luterana e
calvinistas estatais, no século XVII, é responsável pela apostasia do século XVIII. As objeções têm
alguma força naquelas igrejas do Estado que não permitem liberdade para organizações
dissidentes, ou quando os credos são virtualmente colocados acima das Escrituras, em vez de
serem subordinados a eles. Mas os credos, como tais, não são mais responsáveis por abusos do
que as próprias Escrituras, das quais eles professam ser meramente um resumo ou uma exposição”
(Phillip Schaff, Creeds of Christendom: with a History and critical notes (Grand Rapids, Baker Books,
6ª edition revised and enlarged), vol. 1, p. 4).
18
Do latim “as próprias palavras”, ou seja, literalmente cada sentença.

18
David W. Hall

posição de fidelidade confessional sobre difíceis temas. A maioria deles são


docentes de seminários teológicos nos EUA e conhecidos entre os leitores
brasileiros, como David W. Hall, W. Robert Godfrey, George W. Knight
III, John Murray, Morton W. Smith, outros menos familiares aqui, mas de
respeitável competência, como William Baker, James E. Urish, David B.
Calhoun, T. David Gordon, John R. Muether e L. Roy Taylor; e, dentre
eles há alguns diretores de seminários reformados de influência como Peter
A. Lillback, J. Ligon Duncan III e Luder G. Whitelock Jr, e ainda contando
com artigos de Charles Hodge e Robert L. Dabney, antigos campeões da
ortodoxia reformada do século XIX.
Segundo, precisamos admitir que não aprendemos corretamente sobre
a prática da subscrição confessional. A humildade nos exige que
reconheçamos que ainda estamos iniciando no entendimento da prática da
subscrição confessional. Provavelmente, poucos dentre os oficiais de
denominações reformadas brasileiras saberiam explicar questões sobre
termos como normanda & normata, quia e quatenus, as implicações da
subscrição integral e ampla, a possibilidade e espécie de escrúpulos, casos
de exceção circunstancial etc., além de também ignorarmos como a
confessionalidade originou no século XVI e se desenvolveu até nós, bem
como ela é um elemento essencial da nossa identidade reformada. É tempo
de estudar, compreender e corrigir o que for necessário. Parece-me que o
tema nunca foi abordado, estudado e ensinado de modo tão detalhado
como ele é oferecido nesse livro. A compreensão superficial de tão solene
tema induz ao perigo da prática leviana. Os membros de denominações que,
documentalmente, adotam a subscrição confessional encontrarão nesse
livro um guia para consolidar as suas convicções e reforçar a sua prática.19

19
Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, Art. 1 declara que ela é “uma federação de igrejas
locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo
Testamentos e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os
Catecismos Maior e Breve”. E, também, na reunião ordinária do Supremo Concílio de 2014 no
Doc. XL: Quanto ao documento 193 - Consulta para que se envide esforços para melhor definição sobre
confessionalidade em nossa Igreja. Considerando que [...]. O SC/IPB 2014 Resolve: 1. Quanto à
pergunta “Há diferença nos termos lealdade e fidelidade, como alguns argumentam?”, responder
que não há diferença; 2. Quanto à pergunta “O juramento de lealdade aos Símbolos de Fé
adotados pela IPB, feito pelos oficiais, se refere a cada capítulo e seção, ao sistema geral, como um
todo, tal qual apresentados por eles?”, responder que a reafirmação no momento da ordenação
implica na aceitação integral, em todos os seus termos, dos Símbolos de Fé, conforme CI- IPB
Artigo 119, parágrafo único; 3. Quanto à pergunta “Qual é o exato significado da expressão ‘fiel
exposição do sistema de doutrina’ contido no juramento prestado por todos os oficiais
presbiterianos no momento de sua ordenação?”, responder que o significado da expressão “fiel

19
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

O entendimento sobre a prática da subscrição confessional não pode ser


mais ignorado. Antes não tínhamos textos que oferecessem tamanha
clareza, agora, possuímos em nosso idioma a melhor obra escrita sobre o
assunto.
Terceiro, uma nova reforma e a pureza doutrinária entre as igrejas
reformadas somente será possível com o retorno à prática da subscrição
integral. O pragmatismo e o relativismo fomentam a tendência de desvio,

exposição do sistema de doutrina”, significa uma correta interpretação das Escrituras Sagradas,
Antigo e Novo Testamento, com uma apresentação sistematizada. A Igreja Presbiteriana
Conservadora do Brasil, em seu livro de ordem, declara que “Art 41. § 3º - O Presbitério fará
organizar e manter, pelo seu Secretário Permanente, um livro especial em que será lavrado um
termo de compromisso que deverá ser assinado pelo ministro, ao ser admitido, a não ser que já o
tenha feito perante outro Presbitério da Denominação. Esse compromisso, que será assinado
publicamente, terá o seguinte teor: ‘Eu .............. ao ser investido nas funções de Ministro do
Evangelho, ao serviço deste Presbitério, declaro solenemente, diante de Deus e deste concílio,
que, se, no exercício dessas funções, vier a ter dúvida quanto à inspiração da Bíblia na sua
integridade e aos Símbolos de Doutrina desta Igreja, ou aos seus princípios e práticas, os quais
firmemente aceito e prometo divulgar e defender (Introdução Geral, incisos 2 e 3; e Título I,
Preliminares, Art. 6º), deixarei espontaneamente todos os cargos que estiver ocupando, sejam de
eleição, sejam de nomeação, e renunciarei às funções ministeriais no seio desta Organização’. Essa
declaração, lavrada no livro competente, deverá ser lida em voz alta perante o concílio, em sessão
pública, pelo próprio signatário, no ato da subscrição.
Mutatis Mutantis Presbíteros e Diáconos assinam o mesmo termo no ato da ordenação”. De igual
modo, a Igreja Reformada do Brasil exige a subscrição de seus oficiais do seguinte termo “Forma
de subscrição para os Ministros da Palavra: Nós, pastores da Igreja Reformada do Brasil em
.................., subscrevendo este documento, declaramos o seguinte perante a face do Senhor, com
sinceridade e em boa consciência: Estamos plenamente convictos de que a doutrina reformada,
expressa nas Três Formas de Unidade - a Confissão de Fé Belga, o Catecismo de Heidelberg e os
Cinco Artigos de Fé contra os Arminianos -, está em plena conformidade com a Palavra de Deus,
em todas as suas partes. Por isso prometemos que nós ensinaremos esta doutrina com dedicação,
e a defenderemos fielmente. Prometemos que não ensinaremos ou publicaremos nada, o que
diretamente ou indiretamente esteja em conflito com esta doutrina. Prometemos que não
somente rejeitaremos qualquer ensino que esteja em conflito com a doutrina reformada, mas que
também ajudaremos a contestar e refutar tal ensino. Prometemos que, caso fiquemos com uma
objeção contra esta doutrina ou mudemos de pensamento, não ensinaremos ou defenderemos
nosso pensamento, nem publicamente nem de outro modo, seja por escrito ou não, mas
apresentaremos nosso pensamento ao Conselho para que seja investigado por ele. Prometemos
que sempre estaremos dispostos a submetermo-nos à sentença do Conselho, de boa vontade. Se
agirmos de forma contrária, seremos suspensos imediatamente, em consequência do nosso ato.
Prometemos que sempre estaremos dispostos a explicarmos melhor o nosso pensamento a respeito
de qualquer parte da doutrina reformada, caso o Conselho exija isto por motivos fundamentados,
a fim de preservar a unidade e a pureza da doutrina. Se quebrarmos esta promessa, também
seremos suspensos, embora fique preservado nosso direito de apelar contra decisões consideradas
injustas. Mas durante o período de apelação nós nos conformaremos com a sentença do
Conselho. Assim declaramos e prometemos agir para a glória do Senhor e para a edificação da
sua Igreja”.

20
David W. Hall

diluem doutrinas no sincretismo e provocam o abandono da identidade


reformada. O pluralismo de doutrinas heterodoxas se infiltra em uma igreja
reformada, quando não há adoção de um critério objetivo para regular e
proteger a sua identidade confessional. A subscrição das confissões nos livra
do subjetivismo, porque um documento confessional é o meio mais seguro
de adotar de modo coerente e verificável o que é a fé reformada.
Este livro lhe será esclarecedor sobre a relação entre a piedade, a
honestidade dos votos e a fidelidade confessional. Creio que é tempo de
resgatar uma postura lúcida de temor a Deus diante dos juramentos de
recepção de membros e ordenação de oficiais. A negligência e a ignorância
não honram a Deus. Boanerges Ribeiro em seu discurso de posse como
presidente do Supremo Concílio da IPB, declarou que

somos presbíteros desta Igreja. Presbíteros docentes; presbíteros regentes.


Somos presbíteros pela vocação divina, na chamada do Espírito Santo,
reconhecida pela Igreja do Senhor e estabelecida no ato solene da
ordenação, em nome da Santíssima Trindade. Ao sermos ordenados
perguntaram-nos aqueles que constituíam o Presbitério que nos ordenava,
fosse Conselho local ou Presbitério regional, se aceitávamos as Sagradas
Escrituras como a Palavra de Deus e única regra infalível de fé e prática,
ao que respondemos que sim. Aliás, não poderíamos responder que não.
Perguntaram-nos, também, se aceitávamos os Símbolos de Fé da Igreja
Presbiteriana do Brasil como uma exposição sistemática fiel do ensino das
Sagradas Escrituras. Em perfeita e sã consciência, respondemos que sim e
se assim não tivéssemos respondido não teríamos sido ordenados
presbíteros. Em seguida, perguntaram-nos se aceitávamos e se poríamos
em prática a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, havendo
também recebido de nós resposta afirmativa.

Em meu caso pessoal, isso já foi há algum tempo. Eu tinha pouco mais
que 22 anos de idade. No caso dos meus companheiros, em circunstâncias
variáveis e em lugares diversos. Esses Presbitérios jogavam em nossa
honradez, na seriedade de nossa palavra. Quando aceitavam nossos votos,
faziam-no em uma honrada confiança, porque eram integrados por
homens honrados também, e não conviria a homens honrados negarem
confiança a outros que de boa-fé compareciam perante eles para
proferirem os votos sagrados da ordenação.

A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil não é a Palavra de Deus,


infalível. Ela é trabalho humano que pode ser alterado, desde que o seja
pelos meios estabelecidos na própria Constituição. A Confissão de Fé e

21
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

os Catecismos não são Palavra de Deus. Eles podem ser reformulados


pelos meios estabelecidos na Constituição da Igreja. Contudo, aqueles
Presbitérios aceitaram nossos votos de que nós os subscrevíamos e os
praticaríamos, entendendo, evidentemente, que só admitiríamos a sua
alteração pelos processos constitucionais vigentes. Aqui, assumimos a
Presidência do Supremo Concílio; meus companheiros assumem a Vice-
Presidência e as Secretarias, na força e na segurança daqueles votos de
ordenação.

Os senhores têm diante dos senhores os mesmos homens honrados que


foram ordenados presbíteros há dez, vinte e trinta anos atrás e declararam
aceitar a Palavra de Deus como única regra de fé e prática, e não entendem
uma Igreja Presbiteriana do Brasil que apostate dos ensinos das Escrituras
Sagradas. Os senhores têm diante dos senhores um grupo de homens que
aceita os Símbolos de Fé da Igreja Presbiteriana, acata a Constituição,
pratica-a e a praticará. Nós jamais fomos infensos à compreensão e ao
entendimento com nossos irmãos, ainda aqueles que de nós divergissem
em qualquer ponto. Não fomos atingidos, em ocasião alguma, por ofensa
pessoal alguma. De maneira alguma, em nenhuma ocasião, dominou-nos
ressentimento pessoal, seja da parte do Presidente ou de qualquer de seus
companheiros de Mesa. Contudo, meus irmãos, (não creio que fosse
necessário dizê-lo, mas perdoai se o repito), a Mesa que elegestes, vós a
elegestes porque a conheceis e conheceis os seus compromissos e a
segurança com que está disposta a cumpri-los. Ela os cumprirá com toda
certeza.

Não há, na Igreja Presbiteriana do Brasil, lugar para insubordinação que


desborde daqueles planos de lei que nós aceitamos com liberdade.
Ninguém nos obriga a ser presbiterianos. Mas, se queremos sê-lo, sejamo-
lo honradamente. Ninguém nos obriga a aceitar a Constituição da Igreja.
Mas, se prometemos aceitá-la e acatá-la, sejamos honrados e cumpramos
esses votos da ordenação. Ninguém nos obriga a aceitar esses Símbolos de
Fé. Mas, se os aceitamos; se, ao ser ordenados declaramos aceitá-los,
sejamos honestos.20

O vigor com que essas palavras foram declaradas há tantos anos, ainda
nos constrangem a corar o rosto e a tremer diante de Deus. Que o Senhor
forje entre nós homens que vivem com essa convicção e fidelidade, e “que
a palavra de vocês seja: Sim, sim; não, não. O que passar disto vem do

20
Jornal Brasil Presbiteriano, Ano XIII, nº 8, agosto de 1970, p. 3.

22
David W. Hall

Maligno” (Mt 5.37). Tendo isso em mente, desejo sinceramente que esta
lhe seja uma proveitosa leitura.

Rev. Ewerton B. Tokashiki,


Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana de Teófilo Otoni, MG.

23
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

24
PREFÁCIO ORIGINAL

David W. Hall

Richard Webster se referiu a cinco perspectivas completamente


diferentes a respeito da subscrição na igreja presbiteriana colonial, a saber:
“os protestantes, os excluídos, os silenciosos, aqueles que estavam
insatisfeitos com ambas as partes e os ausentes”. A igreja moderna pode se
encontrar em uma posição semelhante. O assunto desses ensaios nem
sempre foi tido em acordo. Mesmo que ao longo dos anos tenha havido
muito debate sobre a maneira de aderir à Confissão de Fé, não obstante,
discussões inteligentes nem sempre são apresentadas. Embora Charles
Hodge tenha buscado oferecer muito da história dessa questão em seu livro
“The Constitutional History of the Presbyterian Church in the United States of
America” [A História Constitucional da Igreja Presbiteriana nos Estados
Unidos da América], de 1851, ele, às vezes, é acusado de um favorecimento
partidário da Velha Escola. É certo que os liberais também têm manifestado
seus pontos de vista sobre a maneira correta de subscrição confessional.
O que falta na literatura, no entanto, é uma discussão bem-informada
de participantes que exibam uma diversidade de pontos de vista, ao mesmo
tempo que se apegam à confissão. Em 1995, publicamos, pela primeira vez,
um volume para atender a essa necessidade. Várias décadas depois, esses
ensaios ainda estão entre os melhores, e as questões continuam a exigir a
reflexão de um grupo competente de estudiosos. O original com certeza não
chegou a conclusões definitivas com certeza, mas levantou as questões e
procurou reunir vozes bem-informadas sobre a matéria. Nossas
denominações ainda precisam lidar com esses assuntos.
Esperamos que várias igrejas sejam desafiadas por esses ensaios.
Diversos interesses denominacionais, por vezes, irão transparecer; ainda
assim, os contribuintes buscaram evitar uma abordagem estritamente
sectária. Juntos, eles apresentam um forte argumento para aderir a uma
Confissão Reformada — o que é algo odioso para alguns. Isoladamente, há
alguma discordância quanto ao método; entretanto, há muito mais
concordância do que discordância. Tendo pedido aos autores que debatam
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

vigorosamente, mas com um espírito de caridade, estou feliz em anunciar


que eles obtiveram sucesso em ambos os casos.
Recentemente, nas páginas de A Place for Truth [Um Lugar para a
Verdade], declarei que, embora nosso ambiente secular atual se irrite com
os limites de uma confissão, muitos de nós ainda pensam que ter, manter e
exigir uma é bom para nós. Em suma, uma confissão é saudável, mesmo
que, às vezes, exija remédios que, a princípio, podem não ter um gosto bom.
Os tratamentos alternativos geralmente geram caos, adoração da vontade,
cultos de celebridades que se autopromovem, confusão, metodolatria ou
fluxo contínuo.
Eu sustento isso com três ressalvas: (1) primeira, se a confissão é,
totalmente, bíblica e, portanto, atemporal e não provincial; (2) segunda, se
a confissão for usada, corretamente, como um padrão subordinado, não
como um padrão ordenado; e (3) terceira, se a confissão é usada por homens
pastorais e espirituais para servir à unidade e à clareza.
Sobre a primeira ressalva, nenhuma confissão merece qualquer
respeito se não for totalmente bíblica. Uma confissão, se é um eco fiel do
que Deus já diz, pode nos guiar e nos proteger das deficiências de uma época
ou de um lugar. As confissões que repetem e amplificam, levemente, os sons
das Escrituras perduram, ao mesmo tempo que equipam a família de Deus
com força e perspectiva para evitar os fossos de cada modismo ou heresia.
As confissões bíblicas, felizmente, salvam-nos de reinventar cada roda. As
confissões que repousam sobre os ombros dos santos exegetas de outrora
são os cursos AP21 que resolvem certas questões e proporcionam uma
vantagem inicial — isto é, para aqueles que são humildes o suficiente para
aprender com os outros.
Sobre a segunda ressalva, um “padrão subordinado”, deve ser
entendido, exatamente, o que esse termo implica: tanto subordinado
(sempre às Escrituras) quanto um padrão. Um padrão secundário ainda é
um padrão; muitos campos usam padrões secundários para auxiliarem seus
profissionais no controle de qualidade. Uma confissão é projetada para isso.
É, simultaneamente, abreviação e sabedoria comprovada; é ortodoxia e
ortopraxia ao mesmo tempo. A menos que a expectativa de vida seja
infinita, quando oramos a Deus para “nos ensinar a contar nossos dias a
fim de que possamos aplicar nossos corações à sabedoria”, as confissões,
muitas vezes, nos ajudarão a remir o tempo, bem como nos protegerão do

21
Advanced Placement, isto é, um tipo de curso norte - americano e canadense. [N. do Editor].

26
David W. Hall

idiossincratismo incapacitante. Um padrão subordinado pode auxiliar a


saúde.
Sobre a terceira ressalva, o telos de uma confissão é servir à unidade e
à clareza. Muitos de nós aprendemos da maneira mais difícil que as leis e os
padrões mais contundentes são aqueles não escritos. Os fariseus, antigos e
modernos, são mestres em usar os padrões não escritos para levar os não
iniciados a um coma. Uma confissão bíblica explícita, por outro lado, não
sujeita a comunidade de crentes a essas leis secretas; em vez disso, ela nos
liberta de autopadrões e, também, torna a igreja aberta a todos sob os
mesmos padrões. Assim, uma confissão sólida limpa das doenças e fortalece
o sistema imunológico com uma unidade salutar.
Manter uma confissão declarada é bastante bíblico e prescritivo.
Outrossim, isso se encaixa bem com o testemunho das Escrituras. Os
cristãos primitivos publicamente concordavam (a palavra do NT para
“confessar” significa dizer as mesmas palavras) com uma doutrina fixa.
Todos os crentes se apegam a certos conjuntos doutrinários; a única questão
é quais conjuntos estão mais ou menos de acordo com as Escrituras. Manter
a doutrina não é ruim, a menos que a própria doutrina não seja bíblica.
A sã doutrina era um grampo da igreja antiga e primitiva. Longe de ser
uma má palavra — isso pode ser visto quando Paulo exortou um líder da
igreja a observar sua vida e doutrina de perto (1 Timóteo 4:16). Ele
prometeu que os ouvintes seriam salvos se isso fosse feito; ninguém,
certamente, desejaria fazer algo contraditório para a salvação dos ouvintes.
Mais tarde, Paulo também estipulou que os presbíteros deveriam se apegar,
firmemente, à sã doutrina e ser capazes de refutar aqueles que não o
fizessem (Tito 1:9; 2:1). Algum reconhecimento público da sã doutrina já
era pressuposto na igreja antes de 65 d.C. Essa maturidade e habilidade,
também, são apresentadas como um pré-requisito para os presbíteros (1
Timóteo 3:9). Os oficiais da igreja de Cristo não podem cumprir este
mandato se a doutrina não for fixada, definida e reconhecida.
Judas 3 fala de “a fé que foi transmitida de uma vez por todas a todos
os santos”. Deus, em sua misericórdia, não fundou uma igreja em evolução
sobre uma plataforma imperfeita que precisa de atualizações em série. A
doutrina é uma fortaleza, conquanto seja bíblica. Além disso, ambos os
testamentos evidenciam o uso de resumos de credo. O conhecido Shema
(Deuteronômio 6:4-5) foi usado, repetidamente, como um resumo da
crença. Israel deveria recitar a natureza de Deus como um e digno de todo
o nosso foco. O próprio Jesus pediu aos discípulos que fizessem confissões

27
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

e, em uma instância (Mateus 16), Pedro respondeu com percepção


incomum. Lá, Pedro confessou que Cristo era o Filho de Deus, e Jesus o
abençoou por essa confissão correta.
Longe de ser proibido, manter confissões fixas é pouco mais do que
seguir o padrão do NT (Romanos 10:9; 1 Coríntios 12:3; Filipenses 2:5-11;
1 Timóteo 3:16). Em vez de contradizer, uma confissão é, na verdade, um
assistente médico para o sola scriptura.
Esses ensaios não responderão a todas as perguntas sobre a prática da
subscrição confessional, e são reconhecidamente limitados em seu foco
principal ao domínio do presbiterianismo continental e americano. É,
apenas, um começo, mas deve, no entanto, estimular um reavivamento da
seriedade sobre a maneira como a igreja mantém sua confissão. Há alguma
diversidade de opinião entre os autores; essa diversidade não foi atenuada
ou redigida. No entanto, deve-se notar que todos concordam em aderir à
Confissão de Fé de Westminster. Finalmente, se a gama de diversidade não
fosse maior do que a entre esses autores, a igreja seria de fato forte.
As páginas a seguir devem ser vistas como um debate. Deixe o debate
começar com esta proposição: Resolvido:

A Igreja é mais saudável conforme sabe o que crê, tem tais crenças
codificadas em uma confissão e, formalmente, tem um mecanismo
robusto para perpetuar tal ortodoxia. As igrejas, crescendo a partir da
Reforma, dependeram — em parte — da subscrição confessional para
realizar a parte final dessa resolução e, antes de descartá-la, essa tradição
deveria ser completamente examinada e repudiada antes de se rejeitar
qualquer parte dela. Assim, o ônus da prova, à luz do histórico desta
questão, recai sobre aqueles que desejam dispensar a subscrição
confessional.

Um debate construtivo, embora vigoroso, se seguirá. A fim de ouvir os


oradores primitivos sobre este assunto (aos quais se faz referência
frequentemente), capítulos de expoentes do passado sobre adesão
confessional também foram agrupados em locais apropriados.
Deixemos a discussão começar, mas só depois de afetuosamente
dedicarmos este livro às nossas esposas, por sua longanimidade e apoio
neste e em muitos outros projetos. Não poderíamos fazer isso sem elas.
Embora sempre tentemos.

28
CAPÍTULO 1

SOBRE A HERMENÊUTICA DA SUBSCRIÇÃO

David W. Hall

A interpretação é uma arte difícil — quase tanto com relação à


hermenêutica da história quanto com relação à hermenêutica das
Escrituras. Certamente, a primeira é regida por princípios mais claros e,
também, mais recompensadora. Ainda assim, muitos dos debates históricos
nas comunidades eclesiásticas estão majoritariamente entrelaçados com
certas decisões hermenêuticas. Esse é o caso de qualquer um que busque
uma compreensão do conjunto crucial de questões discutidas neste
trabalho.
Várias questões hermenêuticas serão de suma importância. Este livro
pode ser considerado um sucesso se, ao menos, começar a resolver algumas
dessas questões hermenêuticas. Diversas ocorrerão, tais como:

1. Qual o significado do próprio termo “subscrição”?


2. O que outros cristãos, antes do Ato de Adoção de 1729, queriam
dizer por “subscrição”?
3. O que aqueles contemporâneos queriam dizer por “subscrição”
com e após o Ato de Adoção de 1729?
4. O que, se houver algo, dessas primeiras correntes da tradição,
temos justificativa para aceitar ou rejeitar?

Este ensaio servirá para introduzir alguns desses assuntos, que serão
amplamente discutidos nos capítulos seguintes.
1. Primeiramente, quanto ao significado do termo “subscrição”, parte
da dificuldade é que essa palavra, como muitas outras, tem uma diversidade
de significados. Parte da dificuldade em chegar ao significado desse termo
crucial surge porque ele possui várias conotações distintas. O
reconhecimento da diferença de nuances é imperativo para a compreensão
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

do próprio significado da subscrição. Isso pode e é usado para significar


qualquer um dos seguintes itens na literatura eclesiástica revisada.
a) Para simplesmente assinar; para afixar, publicamente, a assinatura
e a reputação de alguém a um documento; para fornecer
autenticidade, como em um depoimento legal ou protesto. Por
exemplo, Charles Briggs se refere a vários exemplos dessa prática
na época da Assembleia de Westminster.22 Também durante os
colóquios da Reforma, vários proponentes, frequentemente,
assinavam seus nomes em suas teses como um sinal de
autenticidade.23
b) Para formalmente comprometer-se com uma causa ou para
arrecadar fundos, conforme a prática, no antigo presbiterianismo
americano, de subscrever para pagar pensões de viúvas de
ministros. Nesse caso, a subscrição indicava uma promessa sincera
de contribuir com fundos para uma instituição de caridade ou
ministério.
c) Para assinar como indicação de adesão a alguma comunhão
ministerial. No presbiterianismo americano, quando os
candidatos, licenciados ou ministros assinavam o livro do
presbitério era dito que eles “subscreviam”. Ainda hoje, isso é
feito em alguns presbitérios.
d) Para endossar um credo ou denotar acordo. A subscrição durante
o tempo dos últimos arcebispos elisabetanos — em sua tentativa
de processar qualquer um que não endossasse os Trinta e Nove
Artigos — é um exemplo disso.

Portanto, se alguém fizesse uma busca no computador em todo o


corpus existente do presbiterianismo e listasse, mecanicamente, todas as
ocorrências do termo “subscrição”, ainda restaria uma tarefa hermenêutica:
o que é subscrição à confissão? No entanto, no início, uma (ou mais) das
nuances acima está mais no centro do nosso foco do que as outras. Deste
modo, a interpretação é essencial, assim como o reconhecimento da
diversidade de nuance.

22
Charles Briggs, American Presbyterianism [Presbiterianismo Americano] (New York: Scribner’s,
1885), p. 63, refere-se a certos teólogos cujos nomes foram assinados em um tratado em 1643. Cf.
também p. 342.
23
Jill Raitt, The Colloquy of Montbeliard [O Colóquio de Montbeliard] (New York: Oxford, 1993),
p. 30-31, p. 74-76.

30
David W. Hall

2. Isso sendo entendido é também necessário levantar a questão: o que


os cristãos, antes do Ato de Adoção de 1729, entendiam por subscrição?
Houve uma pré-história definida, decorrente, pelo menos, da Reforma. Os
próprios credos da Reforma eram, frequentemente, subscritos, mesmo que
esse termo técnico não fosse usado. Por exemplo, na Genebra de Calvino,
o próprio Calvino advogou a adoção formal de um Catecismo (1536) por
todos os cidadãos. Os Ministros do Presbitério (Companhia dos Pastores),
frequentemente, assinavam documentos indicando tanto sua autenticidade
quanto sua homologação. Numerosos outros credos e confissões da
Reforma foram assinados. Mais tarde, a Primeira Confissão Escocesa — e,
subsequentemente, até mesmo documentos de governo —foram subscritos.
Beza e outros subscreveram a Confissão de Fé Francesa no Sínodo de
Emden em 1571.24 A tradição luterana de subscrição, na Reforma, ficou
clara quando é lembrado que certos líderes luteranos não foram autorizados
a subscrever a Confissão de Augsburgo (1530), porque eles contestaram um
artigo específico sobre a visão exclusivamente luterana do sacramento.
James R. Payton Jr. observa: “O pedido deles para subscrever com uma
cláusula foi negado: a subscrição tinha que ser à confissão in toto [de forma
total] ou de nenhuma forma. O rigor com que essa defesa de uma subscrição
confessional não qualificada foi mantida em meio a circunstâncias,
excepcionalmente, perigosas diz muito acerca da atitude dos primeiros
protestantes quanto a uma confissão”.25
Os luteranos subscreveram os Artigos de Esmalcalde (1537).26 A
Primeira Confissão Helvética era formalmente lida perante cada
congregação, anualmente; e os ministros dessas congregações ainda são
obrigados a prometer “ensinar de acordo com a direção da Palavra de Deus
e a Confissão da Basiléia derivada dela”.27 A subscrição era tão popular que,
em 1573, os formados em Oxford eram obrigados a subscrever, antes de
colar grau, enquanto, em 1576, a subscrição era aplicada até mesmo a

24
Robert Kingdon, Geneva and The Consolidation of the French Protestant Movement, 1564-1572
[Genebra e a consolidação do Movimento Protestante Francês, 1564-1572] (Madison, WI:
University of Wisconsin Press, 1967), p. 125.
25
James R. Payton Jr., “The Background and Significance of the Adopting Act of 1729”, Pressing
Toward the Mark [“A base e significado da adoção do Ato de 1729”, pressionando em direção ao
marco]. (Philadelphia: Orthodox Presbyterian Church, 1986), p. 134.
26
The Creeds of Christendom, [Os Credos da Cristandade], ed. Philip Schaff (Grand Rapids: Baker,
1983), vol. 1, p. 254.
27
Ibid., p. 388.

31
A PRÁTICA DA SUBSCRIÇÃO CONFESSIONAL

alunos ingressantes com mais de dezesseis anos.28 É bem conhecido que os


cristãos escoceses subscreveram pactos nacionais, em 1581 e em 1638, e
participaram da subscrição da Solene Liga e Aliança (1643) com os teólogos
de Westminster (“No qual todos nós subscrevemos, e cada um de nós, por
si mesmo, com as mãos levantadas para o Deus Altíssimo, juramos”).29
Assim, mesmo que a partir dessas poucas referências, é claro que a
primeira geração das igrejas reformadas — comprometidas com a verdade
bíblica — não hesitaram em compor, abraçar, exigir e subscrever as
reafirmações bíblicas da fé. Isso foi tão aceito, que houve muito pouco
debate entre os protestantes sobre a propriedade da subscrição ao credo,
exceto entre os anabatistas e outros grupos marginais da Reforma. Os
debates, porém, surgiriam mais tarde.

Subscrição na Grã-Bretanha antes do Ato de Adoção

A natureza abomina o vácuo. Assim também ocorre com a


interpretação da História da Igreja. O Ato de Adoção de 1729, um evento
crítico para o presbiterianismo americano e o ponto focal de muitos desses
capítulos, não surgiu ex nihilo [do nada]. Teve uma rica pré-história e um
contexto que nos auxiliou na compreensão de seu significado e propósito.
Certamente, uma pesquisa sobre implementações reformadas nos cenários
europeus, antes do Ato de Adoção Americana, será útil. Concentrando-se,
principalmente, nas práticas ou tentativas de subscrições na Inglaterra,
Escócia e Irlanda, este estudo pode preencher o contexto do período
anterior ao Ato de Adoção. O foco primaz no ethos da subscrição, no Reino
Unido, é justificado por dois motivos: (1) Nossa própria Confissão estava
enraizada no solo da Grã-Bretanha, tendo sido produzida pela Assembleia
em Westminster, Londres (1643-1648); e (2) A maioria de nossos
antepassados coloniais eram de origem britânica, escocesa ou irlandesa. A
tese implícita, é claro, é que o próprio Ato de Adoção adotou algumas das
práticas e ideologias deles — não brotando, por assim dizer, da cabeça de

28
Ibid., p. 618-619.
29
John L. Carson and David W. Hall, eds. To Glorify and Enjoy God: A Commem-oration of the
Westminster Assembly [Glorificar a Deus e deleitar-se nEle: Uma Comemoração da Assembleia de
Westminster] (Edinburgh: Banner of Truth, 1994), p. 295. [Tenha acesso ao document da Solene
Liga e Aliança traduzido para o português pela plantaforma Minha Biblioteca Westminster, Nota
do Editor].

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David W. Hall

FIM DA AMOSTRA GRÁTIS

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