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PERTENCER [a Comunidade] 1

MISSÃO PÓS-MODERNA: CRISTIANISMO NO MUNDO CONTEMPORÊNO


1 DEUS NA PÓS-MODERNIDADE1

Jon Paulien2 é doutor em filosofia pelo Seminário Adventista do Sétimo Dia da Universidade Andrews.
É diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA). Ele é especialista na relação
entre fé e cultura contemporânea. Embora seja um estudioso sobre evangelismo aplicado ao pós-
modernismo, não possui muita experiência prática nessa área. Apesar disso, tem suscitado alguns
questionamentos que merecem ser analisados.
Com a chamada “pós-modernidade”, a igreja cristã foi levada para as margens da cultura ocidental. É
cada vez mais difícil alcançar a sociedade com a mensagem do evangelho de Jesus Cristo.
Quando percebemos essas tendências, é difícil ver como a ação de Deus poderia ser vista na pós-
modernidade. Mas seria a pós-modernidade uma estratégia do inimigo, ou é algo que pode ser usado
por Deus? Seria ele, talvez, um trampolim necessário para levar a humanidade para mais perto dos
propósitos de Deus?
Como alguém que acredita que Deus está presente e atuante no mundo, eu não consigo imaginar um
ambiente que deixe Deus “sem testemunho” (Atos 14:17). Eu tenho a convicção de que a mão de Deus
está por trás dessas mudanças e creio que estamos caminhando para o lugar que Ele deseja. Abaixo,
estão oito motivos principais pelos quais eu penso assim.

1. Senso de fragilidade
Pós-modernos definitivamente não possuem a autoconfiança dos modernos. Muito mais do que seus
avós, eles veem a si mesmos como pessoas frágeis e imperfeitas. Com frequência eles vêm de famílias
desestruturadas. Quando compartilham suas experiências familiares com os amigos, descobrem que
a situação destes não é muito melhor. Em consequência disso, pós-modernos possuem um senso
aguçado de fragilidade, uma profunda busca de cura interior. Embora o senso de fragilidade possa
levar ao desespero, também pode abrir caminho às refrescantes ondas do evangelho. Uma pessoa
precisa perceber que tem um problema antes que possa se interessar na solução.
2. Humildade e autenticidade
Vivendo numa época em que a imagem é dominante, pós-modernos valorizam bastante a humildade,
a honestidade e a autenticidade nos relacionamentos interpessoais. Considera-se melhor ser honesto
sobre suas fraquezas e dificuldades do que criar uma imagem falsa. Esse princípio está intimamente
ligado ao anterior. Pós-modernos desejam compartilhar honestamente esse senso com amigos que
consideram confiáveis.
Humildade e autenticidade, obviamente, estão no centro da fé cristã. A confissão dos pecados não é
outra coisa senão contar a verdade sobre si mesmo. No modernismo, a humildade era considerada
degradante demais para os valores humanos. O pós-modernismo, por outro lado, vê a autenticidade
como uma virtude muito valiosa. Deus está levando a cultura a um ponto em que seja valorizada uma
das grandes verdades da tradição cristã (João 3:19-20).

1
Gleydson Corrêa Barbosa. Pequeno grupo platinum: uma proposta para alcançar pessoas residentes em apartamentos ou casas em
condomínios. Dissertação (Mestrado em Missão Urbana) - SALT-IAENE, Cachoeira-Ba, 2014.
2
Jon Paulien, Ph.D., é diretor da Faculdade de Teologia da Universidade de Loma Linda (EUA).
Adaptado de Jon Paulien, “God’s mighty acts in a changing world (Part 1 of 2)”, Ministry, fevereiro de 2006, p. 10-12; idem, Everlasting Gospel,
Ever-changing World: Introducing Jesus to a Skeptical Generation (Boise, ID: Pacific Press, 2008), p. 57-64; idem, Reaching and Winning Secular
People: A Strategy Manual (General Conference Department of Personal Ministries), p. 15-21.
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3. Busca de identidade e propósito


Pós-modernos buscam um senso claro de identidade pessoal, embora questionem se podem obtê-la
sozinhos. Em sua experiência, as reivindicações de identidade feitas por outros com frequência se
mostram falhas ou inventadas. Com poucos ou com nenhum modelo de vida, pós-modernos tendem
a ter crises de identidade. Eles podem experimentar várias “identidades”, mas acabam sem qualquer
pista de qual identidade é realmente deles.
Essa abertura fornece oportunidade para o tipo de identidade que pode ser adquirida ao se descobrir
seu valor próprio. Uma fé cristã equilibrada ajuda as pessoas a descobrirem por que estão aqui, de
onde vieram e para onde estão indo. Pós-modernos desejam ter uma vida com senso de missão e
propósito, a sensação de que a vida deles faz diferença no mundo. De acordo com a Bíblia, Deus tem
um propósito para a vida de cada pessoa (Jeremias 1:5).
4. Necessidade de comunidade
Pós-modernos possuem uma intensa necessidade de comunidade. É incrível ver como os jovens e
adolescentes atuais se relacionam uns com os outros. Ao contrário da minha geração, é muito menos
provável que eles saiam em pares. Eles costumam sair em grupos de cinco (por exemplo, duas garotas
e três rapazes) ou de sete (por exemplo, cinco garotas e dois rapazes), sempre em rodas de amigos.
A comunidade (em grego, koinonia) é fundamental para a fé do Novo Testamento. Quando os cristãos
aprenderem a experimentar e a expressar o tipo de comunidade ensinada no Novo Testamento, eles
verão os pós-modernos bastante interessados no que eles têm a oferecer. Novamente, a mão de Deus
parece estar levando a cultura para mais perto do ideal bíblico.
5. Inclusão
Na atitude pós-moderna, existe um senso de inclusão por quem é exótico, fora do comum, ou apenas
diferente. As principais forças por trás da inclusão pós-moderna são a globalização e a urbanização.
As grandes cidades se tornaram o ambiente no qual uma variedade de etnias, culturas, gostos e
crenças entram em contato uma com a outra. E, para que exista uma boa convivência, é necessário
ouvir e respeitar os outros. De acordo com a Bíblia, o ideal de Deus é levar as pessoas da exclusão à
inclusão. A maior barreira contra a inclusão não é o coração de Deus, mas os corações humanos.
6. Espiritualidade
A geração mais nova tende a ser mais espiritualizada do que a anterior. Mesmo entre artistas, atletas
e acadêmicos, as pessoas estão se tornando mais abertas sobre sua fé e práticas. Embora exista forte
desconfiança em relação à religião tradicional e à Bíblia, os pós-modernos estão abertos ao diálogo
espiritual com alguém que tenha uma experiência espiritual prática e autêntica.
7. Tolerância de opostos
Uma das características mais fascinantes do pós-modernismo é a sua capacidade de tolerar os
opostos. Na área filosófica, os gregos defendiam que o oposto da verdade é algo falso. O modernismo
científico estava baseado na lógica grega ocidental. Mas o pensamento hebraico-bíblico pode com
frequência ver ideias contrastantes não em termos de verdadeiro ou falso, mas como uma tensão
entre dois polos. Por exemplo, segundo a Bíblia, Deus é imortal; contudo, Jesus Cristo, o Deus-homem,
experimentou a morte. A rejeição pós-moderna da lógica grega levou o mundo para mais perto da
lógica hebraico-bíblica. Isso significa que a era pós-moderna pode ser uma época melhor para se
compreender a Bíblia do que as gerações passadas.
8. Verdade como história
Para os pós-modernos, a verdade não se encontra na igreja, na Bíblia (como tradicionalmente
compreendida), ou na ciência. Eles buscam a verdade na comunidade e na história. O conceito de
verdade como história fornece um poderoso corretivo para a maneira como a Bíblia é usada

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tradicionalmente. Muitos se frustram com o fato de que a Bíblia não foi escrita como um manual de
teologia sistemática (uma apresentação lógica e organizada de doutrinas). Talvez você desejasse que
Deus tivesse sido um pouco mais lógico sobre a questão da verdade.
Mas como eu não sei exatamente em que Deus estava pensando quando escolheu que a Bíblia fosse
produzida da maneira como foi, eu só posso presumir que a Bíblia é precisamente o que Deus gostaria
que fosse. Em vez de forçar a Bíblia a dizer o que eu quero que diga, devo tomar a Bíblia tal como ela
é e buscar entender o que ela me diz a respeito de Deus. Deus decidiu que a Bíblia fosse uma coleção
de histórias em vez de ser uma apresentação coerente de doutrinas cuidadosamente definidas. Então,
o pós-modernismo pode ser nossa melhor oportunidade de explorar plenamente o que essas histórias
dizem sobre o caráter e os propósitos de Deus.
Há outro ponto importante sobre a verdade. O que os pós-modernos rejeitam não é tanto a existência
de uma verdade absoluta, mas a afirmação de que alguém possui um conhecimento absoluto. A Bíblia
concorda que nós não podemos afirmar que temos esse tipo de conhecimento (veja Jeremias 17:9; 1
Coríntios 13:9, 12). Na verdade, quando defendemos um conhecimento absoluto, não estamos
defendendo a Bíblia, mas o racionalismo modernista.

2 ATOS PÓS-MODERNO DE DEUS


Segundo Paulien (2006, p. 17),3 a pergunta que tem guiado a história é: como se pode determinar a
verdade? Como decidir o que é ou não verdade? Seguindo as sugestões de Tournier, ele se refere à
Idade Média como período pré-moderno, no qual as pessoas acreditavam que a verdade se
encontrava no clero ou na Igreja. Entretanto, com o advento da Reforma no período chamado por
Paulien (2006, p. 17) de Modernismo cristão, a fonte de referência última para a verdade passou a ser
a Bíblia e não mais as autoridades eclesiásticas.
Para Paulien (2006, p. 17), o Iluminismo trouxe à humanidade a transição do Modernismo cristão para
o Modernismo secular que se tornou uma cosmovisão mundial adotada até mesmo por algumas
igrejas protestantes na forma do liberalismo teológico. De acordo com ele, os modernistas seculares
acreditam que a verdade é encontrada ao se aplicar cuidadosamente o método científico a todas as
perguntas, inclusive as religiosas. A verdade não mais passou a ser encontrada nas Escrituras ou na
Igreja; é encontrada por meio do método científico através do qual a observação e experimentação
são empregadas, eliminando-se a fé em detrimento da razão. Esse novo “evangelho” transformaria o
mundo em um “paraíso” seguro. Entretanto, por ter-se decepcionado com a modernidade, a “nova
geração proclama a falsidade do deus do secularismo” (PAULIEN, 2006, p. 17), fazendo com que a
humanidade agora rejeite a busca da verdade na ciência e passe a procurá-la em outras fontes.
Segundo Paulien, para o homem pós-moderno, a verdade não é mais primariamente encontrada na
ciência, nem na Bíblia (como tradicionalmente entendida) ou na Igreja. É encontrada nos
relacionamentos e na narração de histórias. Para o Pós-modernismo, a verdade ficou sem definição,
de forma que, agora, se prefere pensar que a verdade é relativa. Por isso, Paulien acredita que, no
Pós-modernismo secular, a construção da comunidade é “um componente-chave da busca pela
verdade” (PAULIEN, 2006, p. 18).
Paulien (2006) advoga a ideia de que, embora o Pós-modernismo geralmente pregue a inclusão e a
aceitação, ele rejeita três aspectos geralmente associados à religiosidade tradicional: (1) há

3
Esta seção teve como fonte bibliográfica o artigo original em inglês publicado em 2004 cujo título é The post-modernactsofGod. Porém,
ainda na fase de conclusão, o referido artigo foi publicado na revista Ministério de Nov./Dez de 2006, de forma adaptada, sofrendo, assim,
uma pequena redução de conteúdo. Para que o leitor possa identificar as citações que não foram publicadas na revista, será feita a devida
referência ao artigo original, identificado pelo ano de 2004.
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primeiramente uma rejeição das metanarrativas 4 e grandes histórias que tentam explicar tudo.
Segundo ele, a dependência de metanarrativas foi o que levou às ações do papado medieval e
alimenta, hoje, as ações terroristas da Al Qaeda.
Paulien (2006) cita o relato do Grande Conflito, como exemplo que pode ser interpretado pelo homem
pós-moderno como uma metanarrativa;5 (2) rejeita-se também a crença em uma instituição (igreja),
especialmente se esta pensa que é a única que possui a verdade, ou acredita que é melhor que as
outras, ou ainda se considera a si mesma como uma igreja verdadeira ou remanescente. Segundo
Paulien (2006), essa ideia é bastante problemática no contexto pós-moderno, pois a igreja é associada
ao colonialismo e à opressão, em lugar de à generosidade e benevolência; (3) o homem
contemporâneo tende, também, a rejeitar a Bíblia como verdade, pois acredita que ela trouxe ao
mundo a violência, a ideia de inferno que arde eternamente em chamas e a sujeição da mulher e das
classes minoritárias. Enquanto essa concepção não for eliminada, de acordo com Paulien (2006),
haverá sérias barreiras até mesmo para uma investigação casual da Bíblia.
Embora o Pós-modernismo rejeite, segundo Paulien (2006), a ideia do drama do grande conflito, da
verdade em uma igreja que acredita ser a remanescente ou a Bíblia como fonte de verdade, ele
acredita que o Pós-modernismo é um ato positivo de Deus. Em outras palavras, Deus age através do
Pós-modernismo para salvar a humanidade. Paulien (2006, p. 18-19) menciona oito razões que o fazem
pensar assim: (1) um senso de quebrantamento que consiste na propensão de reconhecer as carências
e revelar uma necessidade de cura interior; (2) humildade e autenticidade são vistas pelos pós-
modernos como as mais altas virtudes; (3) a busca de identidade consiste na busca de resposta para
perguntas como: por que estamos aqui? de onde vim? para onde vou? e na busca de propósito para a
utilidade de suas vidas no mundo; (4) a necessidade de comunidade é valorizada; (5) a inclusão torna
o estilo de vida cristão uma opção; (6) a abertura do homem contemporâneo às discussões espirituais,
proporciona, assim, uma oportunidade para o conhecimento de Deus; (7) a habilidade de tolerar
pensamentos opostos é valorizador (8) a verdade é encontrada na comunidade e nas suas histórias.
Levando em consideração essas oito particularidades do homem contemporâneo, Paulien diz que “a
Igreja Adventista do Sétimo Dia, com a sua estrutura rígida e suas abordagens tradicionais de
evangelismo, certamente não será capaz de continuar operando, de maneira costumeira, em um
mundo pós-moderno” (PAULIEN, 2004)6. Ele, então, propõe que a IASD participe dos atos poderosos
de Deus chamados de pós-modernos e adote o modelo de evangelismo relacional,7 para isso, a IASD
deve adotar nove mudanças no seu modelo tradicional de evangelismo8. A saber:
(1) Mudança de evangelismo público para relacional: Paulien acredita que os pós-modernos são
mais eficazmente alcançados de forma individual, por amigos e mentores. Sobre esses últimos, ele

4
Jean-François Lyotard definiu a condição pós-moderna como um estado de incredulidade em relação às metanarrativas. A metanarrativa,
também chamada de metalinguagem ou metateoria, é a junção de duas palavras: (1) “meta”, neste contexto significa “sobre” e (2) “narrativa”,
uma história. Consequentemente, um metanarrativa é uma história sobre uma história, os amplos sistemas interpretativos como os que
foram produzidos por Max e Freud (HARVEY, 1996, p. 51). No caso adventista, a história do grande conflito entre o bem e o mau seria a
metanarrativa mais notável.
5
Oitava crença fundamental da IASD que relata a batalha cósmica entre o bem e o mal, entre Deus e Satanás. É sumarizada na seguinte
declaração: “Toda a humanidade está agora envolvida num grande conflito entre Cristo e Satanás, quanto ao caráter de Deus, Sua lei e Sua
soberania sobre o Universo. Esse conflito originou-se no Céu quando um ser criado, dotado de liberdade de escolha, por exaltação própria,
tornou-se Satanás, o adversário de Deus, e conduziu à rebelião uma parte dos anjos. Ele introduziu o espírito de rebelião neste mundo, ao
induzir Adão e Eva em pecado. Este pecado humano resultou na deformação da imagem de Deus na humanidade, no transtorno do mundo
criado e em sua consequente devastação por ocasião do dilúvio mundial. Observado por toda a criação, este mundo tornou-se o palco do
conflito universal, dentro do qual será finalmente vindicado o Deus de amor. Para ajudar Seu povo nesse conflito, Cristo envia o Espírito
Santo e os anjos leais, para os guiar, proteger e amparar no caminho da salvação” (NISTO CREMOS, p. 141).
6
Por algum motivo, essa citação foi omitida na Ministério.
7
Paulien compara este modelo ao sal (Mt 5:13-16). Os cristãos vão ao mundo em busca de se misturar com as pessoas e influenciá-las. Em
contraste, o “modelo fortaleza” enfatiza a segurança dos membros dentro das “paredes protetoras” de uma fortaleza (igreja) que evitaria
influências negativas do mundo.
8
O artigo na revista menciona apenas oito.
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afirma que fazer discípulos “é o coração da Grande Comissão (Mt 28:19-20)” e, ainda, que “o único
verbo no imperativo da Grande Comissão é ‘fazer discípulos’ e não ‘celebrar reuniões públicas”. Paulien
sugere que, para alcançar a mente secularizada, deve-se enfatizar a mudança de estratégia de
evangelismo público para o relacional. Os que resistem a essa mudança, sugerem que o discipulado
pode ser feito com metodologias diferentes, determinadas pelo ambiente sociocultural, incluindo
eventos de celebração e evangelismo público com ênfase relacional.9 de congregação são exemplos
de sucesso de evangelismo de massa que utilizam auditórios públicos apropriados para alcançar
pessoas secularizadas. Deste modo, tanto evangelismo relacional quanto eventos de celebração
podem ser usados para alcançar pessoas secularizadas.
(2) A duração do evangelismo deve mudar de um tempo curto para um mais longo: Paulien (2006,
p. 19) menciona que o programa tradicional de evangelismo da IASD é de curto prazo.10
(3) De programas para satisfação das necessidades: Segundo Paulien (2006), a abordagem
adventista tradicional depende da ideia de que os não-adventistas necessitam aprender com os
adventistas. Um contato mais eficiente seria ouvir antes de falar, e, assim procedendo, os adventistas
estariam descobrindo as necessidades das pessoas para, então, satisfazê-las. Uma das maiores
necessidades sentidas pelos pós-modernos é de encontrar um ambiente em que eles possam fazer
diferença na vida de outros. As igrejas que estão envolvidas com questões relevantes do seu contexto
social são muito mais apreciadas por pessoas secularizadas.
(4) Da igreja à comunidade: Para Paulien (2006), é pouco provável que os pós-modernos se dirijam a
um templo ou que tenham interesse nos assuntos ali apresentados. Por isso, ele propõe que o método
tradicional de celebrar reuniões no edifício da igreja seja alterado para uma estratégia mais centrífuga,
ou seja, deve-se levar a igreja e seus programas aonde as pessoas estão.
(5) De um método para uma multiplicidade de abordagens: A variedade de dons espirituais
conduzirá à utilização de vários métodos de contato pessoal que alcancem mais eficazmente a mente
pós-moderna.
(6) Da conversão por evento para a conversão por processo: Diz ele que o evangelismo adventista
tradicional focaliza a conversão e o batismo, mas, de fato, estes representam uma posição
intermediária em uma escala de espiritualidade. Entretanto, no processo, sugerido por ele, se
houvesse qualquer progresso na escala, o evangelismo poderia ser considerado bem sucedido,
mesmo que a pessoa não chegasse a se batizar. O processo, portanto, consiste na ideia de
continuidade, do discipulado do novo crente. Para ele, a chave para o processo é certificar-se de que
as pessoas estejam progredindo na direção de Jesus Cristo.
(7) De comunidade como igreja para comunidade sem identificação: Paulien (2004) advoga a ideia
de que os adventistas “cresceram acostumados à ideia que uma comunidade da igreja tem que ter um
edifício, chamado de igreja”. Para Paulien (2004), se a IASD deseja alcançar os pós-modernos, deverá
dispor de novos modelos de comunidade, tais como, cafeterias, centros de saúde, ginásios e igrejas

9
Como as cruzadas de Billy Graham e os eventos de congregação das igrejas de Saddleback e YellowCreek, ambos em um país sob forte
secularização. Um dos defensores dessa forma híbrida de evangelismo é o Pr. Emílio Abdala, professor de evangelismo do Seminário
Adventista Latino-Americano de Teologia, em Cachoeira (BA), conforme entrevista concedida em 14/11/2006.
10
Uma alternativa para corrigir esse problema seria encarar o evangelismo como um processo de discipulado, em que a igreja tenha uma
estratégia que inclua eventos evangelísticos como parte de um processo de discipulado, haja vista que a conversão é um processo. Por isso,
a campanha evangelística deve possuir estratégias de mover a mente secular com atitude hostil tornando-a receptiva, e isso pode levar
tempo. Biblicamente não se pode afirmar que uma pessoa levará três dias ou três anos no processo de conversão. Da mesma forma, não
existe nenhuma citação de Ellen White que sugira um tempo específico de preparo de pessoas para o batismo. Como exemplo, tem-se o
caso do eunuco (At 8:26-40) e do carcereiro (At 16:27-34). Embora existam casos de pessoas cuja conversão é mais demorada, Deus pode
usar pessoas, circunstâncias e eventos para amadurecer pessoas de forma rápida, ainda que este não pareça ser o caso mais comum.
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nos lares.11 Isso não significa, contudo, ocultar o nome da igreja, uma vez que a mentalidade pós-
moderna resiste a qualquer tipo de manipulação mental. O que se valoriza é a espontaneidade.
(8) Da preocupação com os resultados para uma preocupação com o controle de Deus:12 Segundo
Paulien (2004), o primeiro contato missionário no processo tradicional tem como interesse primário
levar o candidato a participar de séries de conferências e, logo depois ao batismo. Ele argumenta que
os adventistas devem trabalhar para Deus sem se preocupar com os resultados (batismos). 13 É
importante ressaltar que, neste caso, Paulien tem como contexto uma cultura muito mais
secularizada, que da América Latina.
(9) Do exclusivismo para inclusão: Por fim, ele sugere uma abordagem mais inclusiva. Para Paulien
(2004), a IASD tem enfrentado atualmente uma crise de identidade. Por um lado, os membros desejam
uma igreja pura doutrinariamente e um estilo de vida padrão. Nesse ponto mencionado por Paulien
(2004), a questão é saber o que é costume, norma, cultura e o que são princípios. O perigo de ser ter
muita flexibilidade é a perda de identidade, ou o liberalismo. Contudo, a IASD também pode ser
fechada nesse ponto, especialmente em itens que são meramente do campo cultural, impedindo com
isso o seu crescimento. Devemos buscar o equilíbrio, bem como não ofender a sensibilidades de
outros membros da igreja.
O entendimento da sociedade secularizada e pós-moderna é de grande valia para que se tenha uma
base mais sólida para que se possa evangelizá-la. Os conceitos apresentados neste capítulo procuram
mostrar as especificidades do homem pós-moderno. Na América do Sul, especialmente no Brasil, que
é um país religioso, as características do homem secularizado são mais claramente percebidas nas
pessoas de alto ou médio poder aquisitivo e/ou nível educacional mais elevado. Grande parte dessas
pessoas, pelo seu poder aquisitivo, é domiciliada em casas de condomínio ou apartamentos. Sabendo
disso, pergunta-se: de que forma podem-se aplicar as teorias acima mencionadas no referido grupo à
luz da dinâmica de pequenos grupos? Sugerir-se-á uma resposta para essa pergunta no capítulo
seguinte, em que será proposto uma abordagem através de um pequeno grupo que seja mais
eficiente para alcançar essas pessoas em seus lares.
Levando em consideração o estudo de Paulien em seu livro “Everlasting Gospel, Ever-changing World:
Introducing Jesus to a Skeptical Generation”, em que ele defende que os pós-modernos esperam
pertencer antes que estejam dispostos a explorar em que podem acreditar Paulien (2008, p. 130). No
quadro abaixo, propõem-se então uma abordagem dos interessados que contrasta com a tradicional:
Modelo tradicional x modelo Encontro Vida

Tradicional Platinum
Contato Contato
Estudo Pertencer
Convicção Comportamento
Escolha Escolha
Comportamento Convicção
Batismo Estudo
Pertencer Batismo
Fonte: Adaptado de Rudy Dingjan (2014).

11
Esse item foi omitido por algum motivo no artigo publicado na Revista Ministério. Paulien apoia essa mudança, argumentando que a
Igreja Cristã Primitiva floresceu sem edifícios, e que a estrutura eclesiológica atual foi um legado de Constantino. Para Abdala (2006), esse
modelo teria dificuldade de ser implantado no Brasil, devido ao fato de que a maioria dos membros não está preparada ainda para aceitar
tal mudança. É que, durante algum tempo ainda, provável alguns interpretaria como sendo uma negação às origens.
12
Da mesma forma que o anterior, esse item foi excluído na Ministério.
13
Paulien cita 1Co 3:5-7, destacando o verso 7, “eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus”, para embasar seus argumentos.
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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO:

1. Por que você acha que a transição para a pós-modernidade está acontecendo em nossa época? Em
que aspectos a sua igreja precisa mudar sua forma de atuação para falar de maneira relevante a essa
nova era?

2. Quais aspectos do evangelho podem promover o senso de comunidade entre pessoas que sentem
sua própria fragilidade? De que maneira o evangelho, como você o compreende, promove humildade
e autenticidade?

3. Resuma em suas próprias palavras as oito características positivas do pós-modernismo.

4. Enquanto você lê sobre essas oito características da pós-modernidade, quais estratégias pessoais
para alcançar pessoas seculares vêm à sua mente? Como você pode incorporar essas estratégias no
seu dia a dia? Que tipo de preparo você precisa para executá-las?

5. Em seu círculo de amigos e parentes, quem conhece melhor a mentalidade pós-moderna? Como
essa pessoa pode ajudá-lo em seu objetivo de alcançar pessoas seculares?

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