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Teologia da

Espiritualidade Cristã

Caros alunos, as vídeo aulas desta disciplina encontram-se no AVA


(Ambiente Virtual de Aprendizagem).
Unidade 3
Aula 01 - Místicos Católicos e Modelos de
Espiritualidade em São João da Cruz e
Madame Guyon

Introdução

Bom, Pessoal, em conversas anteriores mencionamos que a utilização do termo “místico”


necessita de conceituação para uma melhor compreensão do sentido que se pretende, já que
pode ser identificado com facilidade com outras vertentes religiosas, como a Nova Era e a
espiritualidade secular da pós-modernidade. Como nosso curso está limitado à “Espiritualidade
cristã”, “místico” refere-se à totalidade da pessoa em busca de um relacionamento com Deus,
por meio de Jesus Cristo e do auxílio do Espírito Santo, de maneira subjetiva, ou seja,
experimentar Deus em seu ser. Místicos profundos marcaram a história da espiritualidade
cristã. Vários homens e mulheres que amaram a Deus acima de tudo. É sobre alguns deles que
falaremos nesta aula.

Objetivos

 Conhecer o conceito do termo místico

 Identificar outras vertentes religiosas

 Reconhecer a contribuição de alguns místicos

 Identificar e discorrer sobre modelos de espiritualidade


O místico utiliza-se de práticas devocionais ou exercícios devocionais no aprimoramento dessa
relação de atração fascinante com Deus. Nesta aula a aventura espiritual, como disse a mística
católica Madame Guyon, será “mantermos constantemente a intimidade com Deus”, porque
“até os muros de minha masmorra são queridos, pois o Deus que amo está aqui.”

Ao falarmos de espiritualidade católica não podemos esquecer da frase, muito famosa, do


teólogo Karl Rahner: “O cristianismo do século XXI será místico ou desaparecerá.” O pano de
fundo cultural dessa afirmação é a perca por sentido de vida e a relatividade moral da pós-
modernidade já vistos nesta disciplina. A sociedade como um todo está carente, e porque não
dizer abertamente, desesperada por vida, esperança, e busca de sentido como afirmou Viktor
E. Frankl:

Ouso dizer que nada no mundo contribui tão efetivamente para a sobrevivência, mesmo nas
piores condições, como saber que a vida da gente tem um sentido;

O que o ser humano realmente precisa não é um estado livre de tensões, mas antes a busca e
a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita
não é a descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial
à espera de ser cumprido;

O sentido de vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para o outro, de uma hora para
outra. O que importa, por conseguinte, não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o
sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento;

O sentimento de falta de sentido cumpre um papel sempre crescente na etiologia da neurose;

As pessoas têm o suficiente com o que viver, mas não têm nada por que viver; têm os meios,
mas não têm o sentido;

O niilismo não afirma que não existe nada, mas afirma que tudo é desprovido de sentido.

Portanto, o elemento místico da religião vem suprir e satisfazer a vida do homem, afinal o
Deus cristão se relaciona com seu povo, e relacionamento é intimidade e experiência. O
mundo de hoje está saturado de uma concepção de Deus meramente racional e
sistematicamente compreendido em tratados de teologia. Isso deve fazer parte da vida cristã,
mas sem ofuscarmos o elemento não-racional que não pode ser compreendido, mas
experimentado no coração. (Sobre isso trataremos mais adiante na aula sobre “Espiritualidade
e academia”)

Há um caminho a seguir em busca dessa experiência transcendental com Deus, Henri Nouwen,
o chama de “O Caminho do coração”. Você está preparado para penetrar o mistério e ser
imerso em Deus? Vamos progressivamente compreender os caminhos da mística cristã. “A
mística sempre foi considerada como a busca pela descoberta do caminho interior que conduz
o ser humano ao encontro pessoal com Deus.” 1 A mística cristã está fundamentada na Palavra
e no que revela acerca de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espirito Santo, e o modo como nos
tornamos um com a Trindade santa. A gnose combatida no evangelho de João é aquela dos
iniciados e herméticos relacionada ao conhecimento intuitivo e transcendental sem vínculo

1
http://renovare.org.br/
com a existência histórica. João fala da “gnose” enquanto relacionamento com a Palavra e a
concretude histórica do homem Jesus. Para nosso evangelista,

“a Escritura de Israel é para ela uma referência constante. Seu itinerário se inscreve na história,
que a gnose rejeita; o cuidado histórico aparece em numerosas passagens do evangelho e
notadamente no relato da Paixão. O que salva alguém não é conhecimento reencontrado de
sua natureza original, mas a adesão crente ao mistério do Filho. Decerto, João insiste no
conhecimento que é vida eterna, mas trata-se do conhecimento do Pai em continuidade com os
anúncios dos profetas. (...) O que ele propõe é a fé cristã, esclarecida por uma experiência
espiritual profunda, como entendeu a Igreja antiga que reconheceu João no cânones das
Escrituras.” (Xavier Leon Dufour. Leitura do evangelho segundo João. p.231)

Nós nos tornamos um com Cristo mediante a Palavra e o Espírito! Como já mencionado na aula
01 temos visto um retorno às práticas espirituais tradicionais. Uma busca por livros de
espiritualidade nas Livrarias tem aumentado significativamente, conforme gráfico abaixo:

(Fonte: Publicado na Folha de São Paulo)

O público é variado desde esotéricos, empresários e cristãos desigrejados. O fato é que o


desejo por Deus aumentou! A cultura pós-moderna está cansada de modelos estilos “5 passos
para a vitória” ou a religião institucionalizada que dita como se deve fazer, mas nem mesmo
seus representantes o fazem. O homem de hoje quer experimentar por si mesmo o mistério de
Deus. Conforme atesta o RENOVARE “a razão rumo ao retorno místico da fé cristã é o fato de
muitos estarem fartos, cansados, de uma vida espiritual que apenas crê no que os outros
dizem sobre Deus. Essas pessoas desejam, elas mesmas, terem suas próprias experiências
espirituais. E veem na mística o caminho que atende seus anseios mais profundos de união
divina.” Para que esse caminho se cumpra é preciso escolher o modo de ser um com Deus.
Abaixo segue alguns desses caminhos na experiência do o Eterno;
Contemplação. As palavras determinantes desse postura é: silêncio e reclusão interior. “Saem”
do mundo rumo a mosteiros e passam a vida em meditação em busca de tornar-se um com
Deus. Os principais representantes desse estilo de vida espiritual são os chamados “Padres do
deserto”.

Compaixão. Junção entre a contemplação e a atividade. Compaixão exige pratica! É como se


na contemplação sua vida religiosa é reabastecida pelo amor de Deus e o move a levar esse
amor em compaixão aos que sofrem. Na pratica Deus é experimentado no silêncio e no
próximo.

Santificação. Segregam-se do mundo em busca de tornar-se santo, a partir da imitação de


Cristo em sua pureza espiritual. Lutam contra as vontades da carne ausentando-se do mundo e
absorvem práticas ascéticas e vivem em recolhimento.

Intelecto. Esse tipo de espiritualidade é praticada por aqueles que utilizam o método da Lectio
Divina que baseia-se na leitura, meditação e orar a Palavra.

Cósmico. É a mística da contemplação do cosmos, da natureza e de toda a criação. Os que


adotam esse perfil de espiritualidade valorizam a “revelação geral” como meio de ir até Cristo
ou percebem Deus em toda a obra da Sua criação.

Todos esses caminhos foram abstraídos por questão didática apenas. Cada um deles se
entrecruzam com outro (ou outros) visando o tornar-se um com Deus. O sentido de buscar e
experimentar Deus é bem definido no livro do “Anselm Grun. Mística: descobrir o espaço
interior” na pág. 37, que diz:

“Em Cristo, Paulo encontrou uma nova identidade, passou a ser sua própria essência. Em sua
mística do Cristo, está expresso que não se trata apenas de chegar a um contato pessoal e
íntimo com Cristo, porém, mais que isso, alcançar um ser em Cristo, uma plena transformação
no Cristo, passando a ser Cristo o nosso verdadeiro ser, o cerne de nossa personalidade
interior, vivemos em função dele, e não mais em função do ego.” (Anselm Grun)

Modelos de espiritualidade

Vimos de maneira breve sobre os místicos e a espiritualidade católicos. Passamos agora a


conversar sobre os modelos de espiritualidade de São João da Cruz e Madame Guyon.

Modelos de espiritualidade: São João da Cruz e Madame Guyon

Místicos profundos marcaram a história da espiritualidade cristã. Vários homens e mulheres


que amaram a Deus acima de tudo. Diante de experiências tão vastas e profundas me deterei
apenas a dois modelos de espiritualidade que marcaram e continuam marcando as vidas dos
leitores em busca de um nível de vida cristã profunda, e para isso São João da Cruz e Madame
Gyoun serão nossos mestres espirituais nessa aula. Tê-los como nossos guias não desmerecem
tantos outros místicos. Sem mais delongas vamos à nossa aula...

São João da Cruz.

Nasceu em Fontiveros, em data desconhecida. Teve uma infância difícil e pobre e foi obrigado
a trabalhar como pintor e entalhador. Sua formação educacional desenvolveu-se no Colégio
dos Jesuítas, posteriormente vincula-se a concepção de vida religiosa dos carmelitas, e celebra
sua primeira missa em Medina em 1567. Em 1968 conhece Teresa de Ávila mantendo amizade
continua. Em 1577 ficou preso em Toledo durante 8 meses e depois fugiu de madrugada.
Nesse período da prisão escreveu seu poema mais conhecido “A noite escura da alma”, e
morreu em 1591. Viveu 49 anos.

Noite Escura da Alma

1. Em uma noite escura,

De amor em vivas ânsias inflamada,

Oh, ditosa ventura!

Saí sem ser notada,

Já minha casa estando sossegada.

2. Na escuridão, segura,

Pela secreta escada, disfarçada,

Oh, ditosa ventura!

Na escuridão, velada,

Já minha casa estando sossegada

3. Em noite tão ditosa,

E num segredo em que ninguém me via,

Nem eu olhava coisa,

Sem outra luz nem guia

Além da que no coração me ardia.

4. Essa luz me guiava,

Com mais clareza que a do meio-dia,

Aonde me esperava

Quem eu bem conhecia,

Em sítio onde ninguém aparecia.

5. Oh, noite que me guiaste!

Oh, noite mais amável que a alvorada!

Oh, noite que juntaste

Amado com amada,

Amada já no Amado transformada!


6. Em meu peito florido

Que, inteiro para ele só guardava,

Quedou-se adormecido,

E eu, terna, o regalava,

E dos cedros o leque o refrescava.

7. Da ameia a brisa amena,

Quando eu os seus cabelos afagava,

Com sua mão serena

Em meu colo soprava,

E meus sentidos todos transportava.

8. Esquecida, quedei-me,

O rosto reclinado sobre o Amado;

Tudo cessou. Deixei-me,

Largando meu cuidado

Por entre as açucenas olvidado.

São João da Cruz, depois de passar pela noite escura, fria e aterrorizante escreve esse poema
como expressão de sua experiência religiosa. A noite escura não é uma mera prova para testar
a nossa fé, mas a ausência completa de Deus de nossa vida para transformar existencialmente
o nosso ser. Na cruz Jesus bradou: “Deus meu, Deus meu porque me abandonastes”. Deus
estava sozinho na cruz! Aquele que é onipresente está completamente sozinho e abandonado
(a antinomia aparentemente permanece!). Deus não olhou para ele. A solidão de Jesus foi a
sua noite escura.

No livro de Cantares (5:3-8), a moça amada está deitada na cama com os pés e as roupas
limpas, quando seu amado bate a porta. Ela não levanta porque não quer sujar-se, e ele insiste
mais uma vez. Quando decide abrir a porta, ele já não estava mais lá, ela desesperada sai a sua
procura pelas ruas, acabando por ser presa pelos guardas. A alegoria é inevitável. Nós somos
essa moça amada em cujo coração o Senhor constantemente bate, mas por inúmeras
desculpas não abrimos a porta, e quando decidimos encontrá-lo ele já se foi. “sair pelas ruas”
é o equivalente a buscá-lo em oração, clamar, chorar, fazer de tudo para senti-lo e ser
encontrado novamente, mas Deus está ausente. Ai começa a noite escura da nossa alma, o
sofrimento de não sentir mais sua presença é desolador.

Nesses momentos, nada nos faz sentido e o que nos resta é tentar sossegar nossa alma e ouvir
Deus. A noite escura esmaga a nossa vida e a refaz por completo. Essa escuridão é a ausência
de Deus em nós, como diz o livro de Lamentações: “Deus me levou por caminhos de
escuridão... construiu um muro de sofrimento e amargura... grito pedindo socorro, mas ele não
quer ouvir a minha oração... ele esfregou o meu rosto no chão e quebrou os meus dentes nas
pedras... já não sei mais o que é paz... fico sempre abatido. (3:1-20)2. Nessas dias cabe apenas
isso: “deixa Deus trabalhar” “Quando Deus nos faz sofrer, devemos ficar sozinhos, pacientes e
em silêncio” (Ibid. 3:28)

Quantas vezes o Senhor quis juntar Israel sob suas asas como a galinha faz com seus pintinhos
e o povo de Deus não quis? Sempre fugindo, sempre em busca de outras coisas, e quase
sempre rejeitando a Deus. Mas o Eterno não desiste de nós e ele mesmo disse que “aquele
que começou a boa obra há de terminar”, portanto Deus nos conduz, às vezes, ao deserto e a
solidão de sua presença, ao vazio existencial do ser para recebermos o tratamento terapêutico
de suas mãos que extrai de nós os carrapichos impregnados em nossa vida, os hábitos
arraigados que escondemos dentro de nós e que nunca os encaramos, os quais fingimos que
não existem. O Senhor é o único médico que não usa anestesia, mas é o único que cura de
uma vez por todas.

Quando vivenciamos a noite escura ao longo de nossa caminhada sentimentos como “aridez
espiritual, solidão, sentimento de perda, medo”3 surgem em nosso íntimo. É Deus nos
tratando, a noite escura não vem para nos destruir, mas para nos libertar, para levar-nos a
maior intimidade com Deus. Normalmente quem vive isso é aquele que busca, clama, chora,
procura, decide levar a vida cristã a sério, mas não alcança sucesso e em seguida sofre uma
“queda inevitável”4. Essa tentativa de fazer e querer sair por forças próprias da noite sempre
acaba em fracasso, pois é o sinal de que não está deixando Deus trabalhar, e Ele não tem
pressa, e levará o tempo que for necessário para curar nosso ser. Na noite escura surge uma
sensação de “uma nuvem densa e deprimente que aflige a alma e a mantém afastada de Deus”
5
, é como buscar e não encontrar.

O próprio são João da cruz elenca três sinais da noite escura: 1) não ter mais prazer nas coisas
de Deus; 2) ter a sensação de que não está servindo a Deus; 3) agora você não consegue mais
orar e você deseja Deus desesperadamente. Há um desejo em meio a tudo isso de saudade e
busca por Deus, você quer experimentá-lo, mas não consegue, se angustia, mas ainda não é o
momento e a noite escura está apenas começando. Tem a sensação que não se considera mais
digno de Deus e do seu amor, e quando olha ao passado e vê o quanto Deus já fez sente mais
sofrimento e parece que tudo foi em vão. Surge a sensação de que toda a nossa vida é contra
Deus e que Ele é contra nós! Ele diz: “Com efeito, quando a contemplação purificadora aflige a
alma de verdade, a alma sente as [dores] sente-se sem Deus, castigada, rejeitada e indigna
Dele”.6 Não temas! Pois parece que o Senhor está ausente, muito pelo contrário, sua ausência
é a presença Dele de forma mais forte e profunda, é o seu amor e a sua luz levados as
entranhas do nosso ser a tal ponto que deseja mudar-nos por completo, e fazer-nos confiar,
descansar e viver somente Nele e para Ele.

2
Davi passou por isso: (salmos 88) (v.16) “ A tua ira e teu furos caem sobre mim;/ os teus ataques
terriveis acabam comigo. (17) O dia todo eles me cercam como uma enchente; eles me rodeiam por
todos os lados. (v.18) Tu fizeste com que os meus queridos e os meus vizinhos me abandonassem, e
agora tenho como companhia a escuridão”. BTLH.
3
Foster, Richard. Celebração da disciplina. Ed.Vida. p, ?
4
Ibid. p, ?
5
CRUZ, são João. Obra completa.
6
STINESSEN, Wilfried. A noite escura segundo são João da cruz. Loyola, p?
Que a noite escura, guie-nos a intimidade com Ele, a tal ponto que em nós não exista mais
nada a não ser Ele!

Vamos agora conhecer um pouco sobre Madame Guyon.

Madame Guyon

Jeanne-Marie Bouvier de la Motte-Guyon, conhecida na história como Madame Guyon, por


causa do sobrenome de seu marido, era francesa e nasceu em 1648. Embora tenha cresceu
sendo doutrinada na educação cristã havia uma luta interna entre fazer a vontade de Deus e a
vaidade da vida por ser muito bela. Tal luta foi superada em 1668 quando pode experimentar
Deus em seu coração e não meramente em sua mente. A varíola tirou sua beleza, mas
manteve sua paz interior permanente, já nessa época ela era toda de Cristo. O sofrimento da
morte da sua família, marido e filhos, a aproximou ainda mais de Deus e Dele tornou-se
completamente dependente. Seu estilo de vida gerou ciúmes e retaliação dos líderes católicos
levando-a para a prisão. Sua inteligência incomum e a sabedoria dada por Deus gerou 40
volumes escritos.

Morreu em 1717 em plena paz de espirito. Defendeu e praticou o “quietismo”, que era um
relacionamento com Deus a partir da intuição, que passivamente recebia a luz divina em seu
interior. Essa atitude nos leva a refletir o texto do evangelho de João 11:42a, que diz: “Eu sei
que sempre me ouves...”

Há dois exercícios espirituais bem conhecidos por todos nós: a leitura bíblica e a oração. Em
nossos cultos somos constantemente convidados a essas práticas. Desenvolver o hábito
saudável da leitura bíblica diária e a oração é aprofundar em intimidade com Deus. E quem
não gostaria de ser amigo de Deus como o foi o pai da fé Abraão e Jesus o Autor e consumador
da fé? Todos nós desejamos isso! Madame Guyon, esta francesa que amava a Jesus, pode nos
indicar o caminho para uma vida cristã plena da presença de Deus. Letra Viva e oração com
sentido inflama o coração desejoso de paz e poder de Deus!

Guyon, afirma que a Palavra de Deus é fundamental para alimentar a nossa alma. Sem ela é
como se faltasse algo. Assim como sentimos fome quando não nos alimentamos fisicamente.
Nosso desejo de ingerir a Palavra deve ser tão forte como alimentar o corpo. Se não comemos
morremos de fome. Se a leitura e a meditação na Palavra não for um hábito ficaremos
desfigurados espiritualmente e esqueceremos das promessas de Cristo e a consequência será
uma vida cansada, triste, insatisfeita e vulnerável a qualquer situação que se apresente. Ler e
saborear a Palavra são o caminho para uma vida de oração prazerosa. Guyon sugere meditar
em pequenas porções das escrituras; degustá-la calmamente, compreendendo-a com a mente
e o coração (Lectio Divina). Investir tempo com a Palavra é concomitantemente investir tempo
em oração. Antes de orar deveríamos meditar na Escritura e “orar a Palavra.” Não recitamos
os textos para lembrar Deus de suas promessas, mas para lembrar a nós mesmos. Quantas
vezes a angústia entra em nosso coração e tenta dominar nossa vida, nos faz até mesmo
pensar que Deus não está perto de nós e isso acontece porque “a maioria dos cristãos não
percebe que é chamado para uma relação mais profunda, interior, com o seu Senhor. Mas
todos nós fomos chamados às profundezas de Cristo, tão certo como fomos chamados para a
salvação" (Guyon)
Como homens e mulheres de oração precisamos dizer o que está em nosso coração a Deus.
Falar, clamar, interceder e depois ouvir o que Deus quer falar conosco. Falamos muito
enquanto oramos e até estranhamos não ouvirmos Deus. A palavra chave aqui é quietude.

Na presença santa Dele precisamos do silêncio para ouvir sua terna voz que esquenta nosso
coração e nos orienta em sua vontade, de forma intima e pessoal. “Aquietai-vos e sabei que
sou Deus.” E nesse instante “Não procure nada de Deus durante estes momentos quietos a
não ser amá-lo e agradá-lo.” (Guyon). Haverá momentos de silêncio por parte de Deus. Guyon,
menciona o recurso didático do deserto utilizado por Deus para aperfeiçoar nossa
espiritualidade. Ela menciona o silêncio divino e o seu não-falar, seu silêncio terrível é o seu
grito mais poderoso de amor por nós. Ele nos ensina berrando silenciosamente aos nossos
corações que nos ama e que esse momento “longe” é para nosso bem. E é quando estamos
fracos que “Ele aperfeiçoa seu poder”. Deus nos ensina a depender só Dele e não das nossas
forças, ou do tanto que fazemos afinal o Senhor está mais interessado no que somos do que
fazemos, pois quanto mais nos tornamos Nele mais faremos por Ele.

Guyon, fala que nas belas flores do jardim sempre cresce uma erva daninha, e às vezes esta
erva está tão junto a flor que temos receio de extrair achando que machucaremos a flor. A
metáfora é evidente, a erva está dentro do nosso coração! E o comodismo nos faz acostumar
com ela de tal maneira que se torna uma parte de nós, assim é o pecado, a angustia, o medo, a
falta de fé e tantas outras coisas mais são digeridas e mecanicamente reafirmadas em nosso
ser como parte integrante da nossa psique. Longe de nós continuarmos assim. Vamos
renunciar tudo o que nos prejudica em nosso relacionamento com Deus, como disse Lutero no
seu hino “Castelo Forte”:

Se temos de perder
Família, bens, poder,
E, embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu reino.

E a recompensa será obter as maravilhas da “vida futura” aqui no mundo. Confiantes no poder
de Deus derramado em nós pelo Espírito Santo podemos com sinceridade confessar nossas
culpas diante de Deus, não de maneira mecânica, mas analisando a maldade em nós
impregnada e lançando sobre Jesus nossos pecados, com a certeza absoluta que já somos
perdoados.

Creio que a oração nos faz íntimos de Deus. Ele se revela a nós com seus mistérios e
maravilhas, e gera no nosso coração por meio do Espírito Santo, dependência divina sendo
guiados por Ele conforme a Sua vontade aonde for o melhor lugar para realizarmos Sua obra.
Por fim temos que prosseguir sempre sem nunca olhar para trás, com a convicção gerada em
nós por Deus, por meio da obra de Cristo e pelo Espírito Santo que o Seu amor é o fundamento
existencial do nosso ser, enquanto somos diariamente transformados e mais parecidos com
Jesus, até poder dizer como Jesus: “Eu sei que sempre me ouves...” (Jo. 11:42)
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Bem, chegamos ao final da aula de hoje. Espero que os exemplos vistos tenham trazido grande
inspiração.

Na próxima aula falaremos sobre Disciplinas espirituais. Até lá!


Aula 02 - Disciplinas Espirituais Simplicidade,
Solitude, Submissão e Serviço.

Introdução
Vamos estudar, Turma!!
Nada melhor do que desenvolvermos uma espiritualidade sadia por meio do
relacionamento com Jesus. Hoje falaremos sobre as Disciplinas espirituais ou práticas
devocionais ou exercícios espirituais.
Pronto para começar?
Então vamos em frente!

Objetivos

 Conhecer o que são e quais são as disciplinas espirituais e seus


desdobramentos nos diferentes espaços da vida.

I - Disciplinas espirituais internas


Como introdução ao assunto, conceituaremos alguns termos para nossa melhor
compreensão. Vamos a eles:

 Disciplinas - Capacidade de mantermos no foco sem que nada impeça de


alcançar o objetivo;

 Práticas - Realizar algo com objetividade;

 Exercícios - Treino constante em busca do desenvolvimento almejado.

Disciplinas, práticas, e exercícios embora possam ser conceituados de maneiras


diferentes têm em comum uma ideia básica: constância.
Os exercícios espirituais são meios de graça oferecidos por Deus para nossa formação
espiritual.
Formação Espiritual é outro termo que também necessita de conceituação. Segundo,
Richard J. Foster (por várias vezes iremos recorrer a esse autor) “Formação Espiritual”
é:
 Transformação espiritual mediante um estilo de vida, ou uma regra de vida,
onde assumimos práticas espirituais que dão abertura para obra de Deus em
nossa vida para nos tornamos parecidos com Jesus Cristo.

 Formação espiritual é obra da graça de Deus em nós. O que fazemos conta


porque entrar e desenvolver uma amizade com Jesus Cristo é escolha nossa. Tal
escolha, que, esperamos, se tornará cada vez mais pura e partirá de um
coração íntegro, talvez precise de renovação, muitas e muitas vezes.

 Formação espiritual é contínua. É um processo que dura a vida toda. (Richard J.


Foster & Emilie Griffin. Celebrando as 12 disciplinas espirituais. Ed. Vida.
p.13,14)
Foster nos chama a atenção para o “idealismo” da impossibilidade quando ouvimos
sobre “disciplinas espirituais” principalmente na pós-modernidade onde tudo é rápido,
fugaz e imediatista. Então como podemos viver uma vida espiritual plena e
satisfatória? Ou desfrutar da comunhão com Deus na agitação da vida ou num
engarrafamento nas rodovias de São Paulo?
A proposta de Foster é sobre essa possibilidade de desfrutarmos de intimidade com
Deus e mergulhar nas profundezas do seu Amor! Somos chamados a vivenciar a
presença de Deus todo tempo, ou como disse, Irmão Lawrence, “praticar a presença
de Deus”, enquanto uma dona de casa lava louças ou um empresário gerencia sua
empresa. Sobre isso:
“Não devemos ser levados a crer que as Disciplinas são para os gigantes espirituais e,
por isso, estejam além de nosso alcance; ou para os contemplativos que devotam todo
o tempo à oração e à meditação. Longe disso. Na intenção de Deus, as Disciplinas da
vida espiritual são para seres humanos comuns: pessoas que têm empregos, que
cuidam dos filhos, que lavam pratos e cortam grama.” (Richard Foster. Celebração da
disciplina, versão digital)
O referido autor faz observações importantes acerca do prazer de praticar as
disciplinas espirituais. Em seu modo de pensar vivenciar as disciplinas como peso é cair
no legalismo seco e estéril da ritualidade mecânica. Nada que procede de Deus pode
trazer desassossego a alma!
O convite de Jesus é para experimentarmos suavidade e paz no ser, e se assim não for,
devemos pensar em duas possibilidades: Ou o evangelho é mais uma filosofia de vida
sem poder de mudar o homem ou estamos equivocados no modo como nos
relacionamos com Deus! Relacionamento com Deus é ter prazer Nele! Foster admite,
como veremos logo mais sobre a oração, o conflito daqueles que estão iniciando nos
exercícios espirituais como um processo de conquista motivado pela graça de Deus
que impulsiona os indivíduos para perto Dele, ou seja, o Espírito chama, mas a carne
recusa. Com a pratica dos exercícios iremos dominar nossos desejos e desejar
ardentemente a vontade de Deus e Sua presença. Como afirmou Foster:
“As Disciplinas Espirituais visam ao nosso bem. Elas têm por finalidade trazer a
abundância de Deus para nossa vida. É possível, contudo, torná-las em outro conjunto
de leis que matam a alma. As Disciplinas dominadas pela lei respiram morte. Quando
as Disciplinas se degeneram em lei, elas são usadas para manipular e controlar
pessoas. Tomamos ordens explícitas e as usamos para aprisionar outros. O resultado
de tal deterioração das Disciplinas Espirituais é orgulho e medo. O orgulho domina
porque chegamos a crer que somos o tipo certo de pessoas. O medo domina porque o
poder de controlar os outros traz consigo a ansiedade de perder o controle, e a
ansiedade de ser controlado por outros.” (Richard Foster. Celebração da disciplina,
versão digital.)
O convite de Foster é para a autoanalise das nossas motivações em nos relacionarmos
com Deus mediante as Disciplinas Espirituais. A motivação pode ser correta ou errada.
Correta se nosso desejo é ter comunhão com Deus e almejando parecer com Jesus.
Errada se nos relacionamos pensando nas bênçãos que podemos receber de Deus.
Qual a sua motivação quando ora? É sobre oração que trataremos agora.

Oração
“Orar é viver”, afirmou Henri Nouwen. É como o oxigênio da alma que a mantém
lúcida diante das paixões e das necessidades da carne. Orar é desnudar-se diante de
Deus e tornar-se um com Ele por meio do diálogo, e nesse dialogo falamos e ouvimos.
No conceito de Eugene Peterson “a oração é uma aventura ousada rumo à linguagem,
que coloca nossas palavras juntas com aquelas palavras cortantes, vivas, que penetram
e dividem alma e espírito, juntas e medulas e, impiedosamente, expõem cada
pensamento e propósito do coração”. (Eugene Peterson. Um pastor segundo o coração
de Deus. p.41). Essa aula ficaria imensa se fossemos oferecer todas os conceitos do
que é orar. Portanto, citaremos D. A. Carson, em seu livro “Reforma espiritual”, e os
empecilhos à prática da oração, como segue:

Sem tempo para orar. Estou muito ocupado.


Como já mencionado acima, nossa realidade é de tempo curto e apertado de agenda
cheia, Vivemos num corre e corre frenético e pouco tempo resta para dedicarmos à
oração. A exortação de Carson, sobre a importância da oração é: “Pouco importa se
você é uma mãe de crianças ativas que sugam a sua energia, um importante executivo
numa grande corporação multinacional, um estudante graduado preparando-se
apressadamente para exames abrangentes iminentes, ou um pastor de uma igreja
grande que trabalha noventa horas por semana; no final do dia, se você está ocupado
demais para orar, você está ocupado demais. Exclua alguma coisa.”
Espiritualmente esgotado.
Vai aqui uma sugestão de leitura para os espiritualmente esgotados. (“Malcolm Smith.
Esgotamento espiritual. Ed. Vida. Não vale nota! Apenas para apreciação). Segundo,
Carson a desculpa inerente por estarmos num estado de cansaço emocional, físico e
espiritual atrapalha nossa vida de oração. Lembre-se que o ser humano é holístico e
uma área afetada afeta a todas as outras. 1) Eu preciso estar bem para orar bem a
Deus.
Isso é um erro! Bem ou mal precisamos orar a Deus. O que garante a efetividade da
nossa oração não é a condição do nosso coração: cansado ou animado. Mas Aquele
que ouve nossas orações. Segue, “Deus insiste em que aprendamos a não nos
esconder atrás dos nossos sentimentos de esgotamento espiritual, incredulidade
crônica ou deslizes rumo ao desânimo. Ele quer que aprendamos a confiar nele, a
perseverar na oração. Resumindo, na oração, como em outras áreas da vida, Deus
quer que confiemos e obedeçamos.”

Não tenho desejo de orar.


Essa fraqueza espiritual pode estar intimamente vinculada à prática do pecado ou à
soberba do indivíduo. Se for ao que o pecado gerou uma não-necessidade por meio da
culpa instalada na consciência e a sensação de não ser digno de orar. Foi derrotado
espiritualmente. Se for a soberba, orgulho e autoconfiança não sente a necessidade de
orar, pois entende que a vida está boa do jeito que está, portanto orar para quê?! Para
Carson, Deus tem um meio interessante de chamar cada um de nós à vida de oração,
como segue, em suas próprias palavras: “Se os cristãos se abrigam sob essa presunção
não aprendem atitudes melhores por ouvir as Escrituras, Deus pode falar com eles por
meio da terrível linguagem da tragédia. Servimos a um Deus que se deleita em
manifestar-se ao contrito, ao humilde de coração, ao manso. Quando Deus nos
encontra tão inchados que não sentimos a nossa necessidade dele, baixar um pouco a
nossa crista é um ato de bondade da parte dele; deixar-nos na nossa autoestima
exagerada seria um ato de julgamento.” Grosso modo, embora Carson, não utilizou tal
termo, mas aqui expressa-se o princípio da “Noite escura da alma”, que vimos na aula
anterior. O teólogo luterano Gustaf Aulen, em seu livro “A fé cristã” disse que “Deus
fará de tudo para nos trazer de volta.” Esse “de tudo” é terrível! Carson, concluí:
“Precisamos pensar que não são apenas os pecados grandes e grosseiros que nos
impedem de orar. Muitas vezes, nós caímos nos pontos sutis.”

Estou amargo demais para orar.


Em Hb.12:15 - “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que
nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.”
A raiz de amargura é como uma árvore podre que não cresce e contamina tudo ao
redor. Normalmente, pessoas amarguradas desenvolvem auto piedade e comiseração
considerando-se o centro do mundo, e acostumam-se a esse tipo de vida azeda.
É como um pecado de estimação ou um meio de conseguir atenção da família e
amigos em prol da sua própria miserabilidade. “Muitos de nós não quer orar porque
sabemos que a oração disciplinada e bíblica nos forçaria a eliminar o pecado que
preferimos acariciar. É muito difícil orar com compaixão e zelo por alguém por quem
preferimos guardar rancor.” Carson. A libertação da amargura para uma vida de
oração satisfatória repousa da liberação do perdão aos ofensores, e em perdoar a si
mesmo caso tenha sofrido a ofensa. Deus já nos perdoou, mas para alguns, eles ainda
não se perdoaram! Segue, o conselho de Paulo em Ef. 4:31,32 - “Longe de vós, toda
amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes,
sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros,
como também Deus, em Cristo, vos perdoou.”

Não consigo orar porque tenho vergonha do meu pecado.


A pratica do pecado gera uma consciência culpada e sentimento de indignidade e
incapacidade. Na cruz de Cristo fomos livres da culpa, da opressão e da condenação do
diabo sobre nós. Ele nos libertou definitivamente para uma nova vida. A vergonha é
novamente instalada quando o ciclo não é rompido. Esse ciclo é pecado,
arrependimento, confissão e queda no mesmo pecado. Aquilo que era apenas um
deslize tornou-se uma pratica e a sensação de impotência diante da impossibilidade de
vencer tal situação envergonha e angustia mais intensamente a tal ponto de
simplesmente não termos forças para orar mais. Não há como vencer, por nossas
forças, aquilo que é mais forte que nós! Por isso precisamos recorrer a Cristo entregar
em atitude de fé, as nossas fraquezas, porque pertencemos a Ele, “se é, vão fugir de
Deus, o nosso sentimento de vergonha dificilmente seria uma base adequada para
desculpar a nossa falta de oração. Pelo contrário, ela deve ser um esporão que nos
leva de volta ao único que pode nos perdoar e dar-nos a absolvição completa, de volta
à liberdade de consciência e à ousadia na oração que seguem o despertar do alegre
conhecimento de que fomos aceitos por um Deus Santo por causa da sua graça.”
Carson. (Para uma leitura na fonte ver o cap.7 do livro citado, págs. 115 - 126)
Como minha intenção é promover o debate saudável em torno do tema: “oração”, fiz
questão de citar na primeira parte, um teólogo reformado conservador, e agora
esboçaremos o pensamento do teólogo Richard Foster sobre o mesmo tema, porém
nem tanto conservador assim. Depende do ponto de vista. Vamos lá…
Acima, Henri Nouwen disse que “orar é viver”. Já para Foster “Orar é mudar”. “Mudar”
implica em transformação e criação para algo mais elevado. Nosso intimo é
desconstruído, nossas paixões, e desejos da carne são amenizados, enquanto também
somos construídos mediante a atuação do Espírito Santo ao nos relacionarmos com a
Trindade por meio da oração, parecendo a cada dia com Jesus. A imagem de Deus é
formada em nós. Orar, para o referido teólogo não é uma possibilidade vez ou outra
praticada, mas “o negócio das nossas vidas”. Fomos chamados para esse
relacionamento constante com Deus via oração. Foster, cita muitos homens de oração
ao longo da história da igreja. Todos eles dedicaram-se incansavelmente a vida intensa
de oração, e após uma lista considerável de nomes ele concluí provisoriamente: “Tais
exemplos, contudo, em vez de estimular a muitos de nós, desanimam-nos. Esses
“gigantes da fé” acham-se tão distantes de qualquer coisa que tenhamos que
experimentar que chegamos a desesperar-nos.” Todavia, lembra ele, por isso é um
exercício iniciado aos poucos e com a pratica transforma-se em “hábito” (está entre
aspas porque não devemos entender hábito aqui como algo banal, mas tão natural
como respirar). A oração é um tema vasto. Uma busca rápida no Google com a palavra
“oração” indica 22.200.000 resultados! Muito já foi escrito sobre isso, e justamente
por isso não pretendemos esgotar o assunto, de fato não conseguiríamos, mas
podemos indicar um caminho para uma vida de oração bem sucedida.

Aprendendo a orar como Jesus.


“Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11.1). A vida de oração de Jesus foi tão impactante
que os discípulos queriam aprender a orar com Ele. Observe que nenhum deles pediu
para aprender a pregar, curar, ou a ensinar, mas sim a orar! A primeira lição aprendida
é que devemos orar a Palavra. Não sublimar nossos desejos em Deus, mas submeter
nossos desejos e todo nosso ser às Palavras de Jesus. Não oro para que Deus se mova
em meu favor, mas para ser transformado por ele, por isso a oração mais audaciosa
que podemos fazer é confiar na soberania de Deus sobre todas as coisas, como Jesus
disse: “seja feita a tua vontade.” “Aprender” é um processo. Ninguém aprende a falar
num único dia ou a resolver equações matemáticas em uma semana,
semelhantemente ocorre com a oração. A cada dia em relacionamento com Jesus
aprendemos como desenvolver uma vida prazerosa, e como ter nossas orações
respondidas!

Todas as nossas orações serão respondidas se orarmos segundo a vontade de Deus!


No processo de aprendizagem da vida de oração precisamos ouvir a Deus. Ouvir o que
ele tem a dizer. Ouvir o Espírito Santo e ser guiado por Ele.

Indicação de vídeo
Aprendendo a orar com Jesus
Assista à aula do Rev. Augustus Nicodemus sobre o tema oração.
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=PtpKoFvPuiw
Oração sem cessar. O dia todo!
Gratidão. Oramos com ações de graça reconhecendo a bondade de Deus em nossas
vidas, ou por uma bênção recebida;
Oração por cura. Normalmente por imposição de mãos clamando em nome de Jesus
que a cura seja estabelecida em alguma área da vida;
Intercessão. Quando colocamos uma ou mais pessoas diante de Deus orando por
salvação, cura, milagres ou outra bênção;
Oração de guerra. Diante de situações claras do ataque do inimigo. Pode ser num culto
de libertação, na expulsão de um demônio, ou quando evangelizamos. Uma guerra
espiritual mais forte está ocorrendo;
Confissão. Confessar pecado diante de Deus ou nossa pequenez diante da sua
majestade e santidade;
Clamor. Em situações limites diante de todas as possibilidades humanas esgotadas
clamamos pela interversão divina;
Adoração. Em reconhecimento do poder de Deus O adoramos pelo que Ele É.
Contemplativa. Nível mais profundo de oração. Nesse estado não pedimos e nem
desejamos mais nada a não ser, ser um com Deus em união mística. É o estado de
entrega total diante daquele que tem poder sobre todas as coisas.

Meditação
O termo “meditação” em latim “meditare” é um olhar para dentro de si. Uma auto
reflexão. Portanto, meditar na Palavra é fazer uma auto reflexão tendo como base as
Escrituras e permitir que nosso ser seja confrontado e transformado por Ela. Para,
Dallas Willard meditar é: “não só lemos, ouvimos e inquirimos, mas também
meditamos naquilo que está diante de nossos olhos. Isso significa que nos retiramos
em silêncio para, em atitude de oração e com intensidade, nos concentrarmos no que
estamos lendo, desta forma, o significado do que lemos pode emergir e nos formar
enquanto Deus trabalha no íntimo do nosso coração, mente e alma.” (Dallas Willard, O
Espírito das Disciplinas. Ed.Danprewan, p. 177. D. A.
Carson, compara a meditação nas Escrituras como o ruminar de um boi que morde a
grama, mastiga, engole, vomita novamente para sua boca, mastiga e engole de novo.
Embora, a ilustração seja um pouco desconfortável meditar na Palavra seria mastigá-la
até extrairmos todas as suas vitaminas para nossa alma e mente, porque de fato é
alimento vivo conforme disse Jesus em João 6:63 “minhas palavras são espírito e vida”.
Foster, propõe um ambiente preparatório para meditação na Palavra, ele sugere,
separar um momento do dia num lugar calmo, limpo e silencioso, estando em postura
adequada para não cansar o corpo. Depois para melhor aproveitar a meditação
imaginar a cena do texto bíblico lido, e ao divagar da mente ore em silêncio a Deus
para trazê-la novamente ao estado inicial do exercício; mantenha o ritmo da
respiração calma e constante.
Falaremos especificamente de maneira detalhada da Lectio Divina (Leitura Divina) que
consiste no exercício de leitura e meditação da Escrituras praticado ao longo da
história da igreja, com ênfase maior na Idade Média. Precisamos deixar claro de
imediato que a Lectio Divina não é um estudo exegético da Palavra que esteja pautado
em regras acadêmicas de interpretação, mas uma experiência com Deus mediada pela
Palavra viva do Senhor. Para realizarmos esse exercício deve-se seguir os passos
abaixo:
1. Leitura (Lectio). Leitura da perícope escolhida. Leia várias vezes até que o texto
esteja na sua mente e coração. Peça ao Espírito Santo iluminar sua
compreensão da leitura;
2. Meditação (Meditatio). Pense cuidadosamente no sentido do texto e aplique-o
ao seu coração. Deixe que a Palavra molde sua vida e transforme sua realidade
interior;
3. Oração (Oratio). Ore pedindo a Deus para que o auxilie a praticar a Palavra lida,
se for confrontado pelo texto, reconheça que precisa mudar, se o texto o
confortou, louve a Deus em gratidão;
4. Contemplação. (Contemplatio). Nesse momento permaneça em absoluto
silêncio e deixe Deus falar ao seu coração.

Jejum
Esse exercício espiritual provavelmente é o menos praticado entre os cristãos. As
referências que temos do jejum na história da igreja estão atrelados ao estilo de vida
ascética e dolorosa. Óbvio, que ao iniciarmos a prática do jejum certo desconforto
físico ocorrerá, mas como é um exercício, logo o corpo de habitua à fome. Na
sociedade de consumo como a nossa, ensinar sobre jejum é quase um paradoxo. O
mundo pós-moderno incansável em sua busca por satisfação e prazer a qualquer
custo, vê na prática do jejum algo relegado ao Antigo Testamento e sem uma
finalidade pratica. Aqui estou falando de cristãos! No A.T. o jejum estava relacionado
ao arrependimento e a humilhação como podemos ver o caso de Davi em 2Sm.2:16 -
“E Davi implorou a Deus em favor da criança. Ele jejuou e, entrado em casa, passou a
noite deitado no chão.” No Novo Testamento Jesus jejuou 40 dias (Mt.4) como
exemplo a todos seus discípulos e ensinando os benefícios de prática.
O jejum e oração estão unidos. Não há como praticar um sem o outro. O propósito do
jejum é a abstinência consciente total ou parcial (como fez Daniel) de alimentos como
modo de mortificar a carne e se submeter ao poder de Deus como sustentador da
nossa vida. Jesus disse que certos demônios são renitentes e só serão expulso com
“jejum e oração.” Segundo, Dallas Willard: “O jejum ensina a temperança ou o auto
controle e, portanto, ensina moderação e abstenção em relação a todos os nossos
impulsos básicos. Desde que o alimento tem grande influência em nossa vida, os
efeitos do jejum se difundirão por toda a nossa personalidade.” Foster, nos alertar
sobre a “arrogância espiritual” que a prática do jejum pode criar naqueles cujos
corações buscam o louvor dos homens. Não jejuamos para os homens, mas para Deus
e em consagração a Ele.

Estudo da Palavra
Vamos começar esse último tópico com algumas estatísticas alarmantes sobre o nível
de estudo dos pastores:

 72% dos pastores afirmaram que só estudam a Bíblia quando para preparar
sermões ou lições. Isso deixou apenas 38% que leem a Bíblia em devocionais e
estudos pessoais;

 70% disseram que só estudam a Palavra quando estão preparando sermões;


Fonte: http://diariodoreino.blogspot.com.br/2013/10/estatisticas-alarmantes-sobre-
o.html

Usando a lógica podemos deduzir que, se os nossos líderes espirituais, separados


exclusivamente para o ministério da Palavra, estão com esse nível tão baixo de estudo
e meditação, o que pensar então do rebanho em si? A estatística aqui é problemática!
Umas das razões apontados na pesquisa acima, referente ao déficit de leitura e estudo
da Palavra, está vinculado à sobrecarga de trabalho pastoral semanal, ou seja, esses
pastores vivem num ativismo religioso constante e não têm tempo para si mesmo ou
para a família. Foster, nosso mentor intelectual nessa aula, nos auxiliará mais uma vez
em como desenvolvermos o estudo diário da Palavra para benefício da nossa alma.
Enquanto estudamos, estamos sendo transformados (metanóia), uma mente renovada
pelo Espírito Santo e libertados de concepções ideológicas destrutivas, que nada tem
com Jesus. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” “Conhecer” é tornar-se
um com Jesus por meio da Palavra. Quanto mais a estudo, mais desconstruído de
velhos hábitos sou e muito mais a imagem de Cristo é formada em mim. Para Foster:
“Estudo é um tipo específico de experiência em que, mediante cuidadosa observação
de estruturas objetivas, levamos os processos de pensamento a moverem-se numa
determinada direção.”
Conformado ao livro, a Bíblia e permitindo que ela molde nossa consciência. Se lemos
assuntos que não elevam nossa mente a Deus com certeza será conformada a tal
ensino que não glorifica a Deus, e nesse processo de aprendizagem podemos absorver
qualquer coisa, e introjetá-la enquanto verdade e vivê-la como prática diária, sem
contudo nada disso ser de Jesus. Paulo disse: “Tudo que seja puro, bom, amável ocupe
o vosso pensamento.” Quem assim pensa foi dominado pelo poder da Palavra!
Foster, ao falar de “estudo” refere-se a característica analítica e exegética de explicar
com lógica determinado assunto. Para que isso aconteça propõe quatro passos:
1. Repetição do conteúdo;
2. Concentração;
3. Compreensão;
4. Reflexão.
Resumindo, o estudo da Palavra é tanto devocional (Deus fala direto ao seu coração)
quanto acadêmico (Deus fala a sua mente)!

II - Disciplinas espirituais externas


Pessoal, conversaremos agora sobre as disciplinas externas, as quais são:
simplicidade, solitude, submissão e serviço. Vamos comentar cada uma, ok! Pegue
papel para suas anotações e interferências!
1 Simplicidade
Foster argumenta o seguinte sobre nosso tema: “A Disciplina cristã da simplicidade é
uma realidade interior que resulta num estilo de vida exterior. Tanto o aspecto interior
como o exterior da simplicidade são fundamentais. Enganamo-nos a nós mesmos se
cremos que podemos possuir a realidade interior sem que ela tenha um profundo efeito
sobre nosso modo de viver. A tentativa de demonstrar um estilo de vida exterior de
simplicidade sem a realidade interior conduz ao legalismo fatal.”
Essa duplicidade de ser, isto é, como aparentar simplicidade sem de fato tê-la, gera o
vazio da vida religiosa mascarada apenas pela possibilidade de vivenciar a pratica
dessa disciplina.
O mundo pós-moderno carece de simplicidade e exalta o luxo como ideal de vida.
Notavelmente, aqueles que morreram para si mesmos, conforme condição de Jesus
para tornarem-se discípulos, são vistos como alienados e até mesmo ridicularizados.
Pense na Teologia da Prosperidade e seu discurso religioso atrelado a bens materiais
como sinal da manifestação de Deus nas vidas dos fiéis, e aqueles que não possuem
condição financeira considerável, são vistos como pessoas que ainda estão sob o jugo
do diabo.
A disciplina da simplicidade não é um convite de Jesus para extrema pobreza, mas um
negar-se a si mesmo em prol do outro! Quais as referências de um cidadão bem
sucedido?
Normalmente pensamos naqueles que saindo da miséria alcançaram posições de
destaque social, seja no futebol, como Ronaldo, o fenômeno (mesmo que se divorcie,
ou se envolva em escândalo com travestis), na política, (mesmo que sem ética), no
mundo empresarial (mesmo que o outro seja explorado), mas não pensamos no
inverso, como homens ricos que abriram mão de tudo pela simplicidade da vida, por
exemplo, São Francisco de Assis.

Indicação de vídeo
Consumismo e Materialismo Destroem a Sociedade
https://www.youtube.com/watch?v=yXaqZ6GBnhw

O centro da simplicidade é relativizar tudo por causa de Jesus e do seu Reino. Foster
oferece sugestões para uma vida em simplicidade, as quais são:
1) Compre as coisas pela sua utilidade e não pelo seu status (automóveis devem ser
comprados por sua utilidade e não pelo seu prestigio);
2) Rejeite qualquer coisa que o esteja viciando;
3) Não acumule coisas. Dê!
4) Não se deixe dominar por propagandas de nenhuma espécie “compre agora,
pague depois”. Não seja consumista;
5) Desfrute das coisas sem que elas o possuam;
6) Aprecie a natureza;
7) Seja sincero e gentil em suas opiniões, sem negligenciar a verdade;
8) O objetivo da sua vida é Cristo, então não deixe sua mente divagar em outras
coisas;
9) Recuse tudo o que gera opressão nos outros.
Resumindo. Você compra coisas por sua utilidade ou por status? Se Jesus fosse ao
shopping com você como acha que ele se comportaria? (Apenas para pensarmos!)

Solitude
Iniciaremos esse tópico assistindo o vídeo do Pr. Ricardo Agreste:

A solitude com Deus e a oração


https://www.youtube.com/watch?v=mT0Hq-b1SmE
Solitude é estar a sós com Deus. Solidão é estar sozinho sem Deus e sem pessoas!
Como disse Foster: “Solidão é vazio interior. Solitude é realização interior. Solitude não
é, antes de tudo, um lugar, mas um estado da mente e do coração.” Estamos tão
acostumados a barulhos e sons que em completo silêncio até ficamos amedrontados. É
como o medo do terror noturno! Foster, fala da “solitude do coração”. Uma disposição
interior para permanecermos calmos em todas as circunstâncias, seja diante da
agitação da vida de hoje, ou na calmaria do sitio.
A solitude é um chamado a vida relacional entre você e Deus somente, como fazia
Jesus constantemente, retirando-se para orar em lugares desertos, “De madrugada,
ainda bem escuro, Jesus levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto; e ali começou a
orar.” (Mc.1:35).
Para Foster, parafraseando Dietrich Bonhoeffer, só há solitude verdadeira em
comunidade, e só há comunidade em solitude. Um é preparação para o outro.
Iremos relacionar solitude e silêncio. Ambos estão interligados e para isso utilizarei
especificamente a compreensão do místico católico Henri Nouwen, que abordou o
“silêncio” de maneira profunda em seu livro: “A espiritualidade do deserto e o
ministério contemporâneo”, e depois retornaremos e finalizaremos com Foster
oferecendo sugestões práticas para o exercício da solitude. Segundo, Nouwen “O
silêncio é a solidão prática em ação.” O período inter-bíblico, espaço de tempo entre o
Antigo e Novo Testamento, durou 400 anos de silêncio da parte de Deus. Nesse
período o Senhor não falou por meio de nenhum profeta, e “a Palavra de Deus nasceu
do silêncio eterno de Deus, e é dessa Palavra vinda do silêncio que queremos ser
testemunhas.” (p.43). Esse silêncio é rompido pelo choro de uma criança nascida em
Belém: O salvador.

Para Nouwen há três aspectos do silêncio:


Peregrinos - O muito falar nos envolve constantemente em assuntos desse mundos e
que raramente edificam! Até mesmo nossas conversas sobre Deus e teologia
caminham para a via da discussão e do debate sem sentido. Nossas palavras na
maioria das vezes não constroem nada de bom, mas com senso crítico aguçado,
focamos no lado negativo da vida e principalmente de nossos irmãos, e no percurso da
peregrinação é fundamental a solitude e o silêncio. Nouwen, diz: “Nossas palavras nos
dão a sensação de sermos motivados mais pela curiosidade que pelo serviço. As
palavras quase sempre nos fazem esquecer que somos peregrinos chamados a
convidar os outros a se juntar a nós na viagem. O silêncio nos mantém peregrinos.”
Guardar o fogo interior - Nouwen, recomenda mantermos nossa boca fechada para
mantermos o fogo interior acesso. “Esse calor interior é a vida do Espírito Santo dentro
de nós.” (p.48) Faz uma crítica ao desejo frenético de tudo que queremos compartilhar
com outras pessoas, e para isso usa a metáfora da sauna cujo calor sai se a porta ficar
aberta. Pensemos nas redes sociais onde as pessoas expõe tudo de si. Esse “partilhar”
moderno não ajuda em nada na pratica da solitude e do silêncio. Nossa intimidade
deve ser compartilhada com Deus e com seu Espírito que conhece o mais íntimo de
nós. O silêncio é ouvir a Deus na quietude do nosso ser; é experimentá-lo por meio da
sua Palavra. Para Nouwen, o silêncio é a certeza de que nas poucas palavras Deus age
nos corações, e que as muitas palavras, soam como dúvida ou auxilio ao Espírito Santo,
como segue: “Às vezes, parece que nossas muitas palavras são expressão mais de
nossa dúvida do que de nossa fé. É como se não tivéssemos certeza de que o Espírito
de Deus toca o coração das pessoas; então temos de ajudá-lo e, com muitas palavras,
convencer os outros do poder dele. Mas é precisamente essa incredulidade prolixa que
extingue o fogo. Mas o silêncio é disciplina sagrada, é guarda do Espírito Santo.”
(p.49,50)
A pedagogia do silêncio nos ensina a falar - É por meio do silêncio que brota a Palavra
viva e recriadora. No silêncio divino irrompeu a Palavra que deu forma a todas as
coisas visíveis e invisíveis. O silêncio faz com que não desperdicemos as palavras com
futilidades, mas como fruto da meditação, a Palavra gera vida aos corações secos.
Abraão no caminho ao Monte Moriá, onde sacrificaria seu único filho Isaque, manteve-
se em silêncio, quebrado apenas por uma palavra de confiança gerada dessa
meditação: “Deus proverá”. A quietude de estar a sós enquanto caminhava deu-lhe a
certeza da providência divina. Nouwen, termina suas meditações como segue: “o
silêncio se revela como mistério do mundo futuro é nos ensinado a falar. A palavra
com poder vem do silêncio. A palavra que dá fruto surge do silêncio e a ele retorna.
Essa palavra nos faz lembrar o silêncio do qual ela vem e nos leva de volta ao silêncio.
A palavra que não está enraizada no silêncio é palavra fraca e impotente. (...) Tudo isso
é verdade quando o silêncio que dá origem à palavra não é vazio e ausência, mas
plenitude e presença, não é o silêncio humano do embaraço, da vergonha ou da culpa,
mas o silêncio divino no qual o amor repousa em segurança.” (p.50).

Agora, voltaremos às sugestões práticas, oferecidas por Foster, para exercitarmos a


disciplina da solitude e silêncio.
1) Aproveitar as pequenas solitudes durante o dia; Lapsos de tempo que não
estamos ocupados;
2) Separar um lugar tranquilo dentro da casa;
3) Encontrar um lugar tranquilo fora da casa: igrejas, parques;
4) Passe o dia sem pronunciar qualquer palavra;

Submissão - “Há uma crise de autoridade no mundo, desde o topo da pirâmide até sua
base. Desde os governantes até os governados. A crise mais aguda que presenciamos é
a de integridade. Há líderes fortes em influência, mas fracos em ética. Têm muito poder
nas mãos, mas nenhuma consciência moral. Líderes que se servem do povo em vez de
servi-lo. Líderes que se abastecem do povo em vez de usá-lo para promover o bem dos
liderados.” Rev. Hernandes Dias Lopes.
Indicação de música
Antes de darmos continuidade ao assunto medite na letra desta música do cantor João
Alexandre: https://www.youtube.com/watch?v=5MKNLndp-MM&list=RD5MKNLndp-
MM#t=12

Pra mim, essa música é extremamente atual, pois a inversão de papeis é evidente. Os
que detêm o poder, seja em qual esfera for, deveriam servir ao próximo, e não usá-lo
em benefício próprio. Se dermos uma rápida olhada nas páginas dos evangelhos,
perceberemos o maior líder da história servindo em submissão a Deus, seu Abba. A
disciplina da submissão é em primeiro lugar a Deus e ao próximo: expressa-se em
humildade e serviço.
A falta de submissão a autoridade de Deus iniciou-se com Lúcifer (Is.14) e a
maquinação em querer ser Deus (hybris=orgulho). A consequência foi sua queda
tornando-se o arquetípico de insubmissão, ou seja, de uma forma ou de outra os
rebeldes estão ligados a ele! Na Bíblia encontramos vários exemplos de rebeldia e
insubmissão, tais como: Adão e Eva, Cam (Gn.9:20-17), Nadabe e Abiu (não
respeitaram a autoridade de Arão), Arão e Miriã (criticaram Moisés), Corá, Datã e
Abirão (Nm.16:1-50).
Por outro lado devemos sempre olhar para o maior exemplo de submissão e
obediência a Deus: Jesus. O Texto clássico é Fl.2:1 - “E, sendo encontrado em forma
humana humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz.”
Watchamn Nee, fez um interessante comentário sobre a submissão de Jesus
contrapondo a queda de Adão: “Como último Adão ele coloca fim à velha criação caída
pelo pecado e a rebeldia, como segundo homem, ele dá começo a uma nova criação
submissa e obediente à autoridade de Deus. Assim, o princípio da autoridade foi
definitivamente estabelecido pelo nosso Senhor Jesus Cristo.” (Do seu livro:
Autoridade espiritual). Jesus nos ensinou a submissão em relação a:
Autoridade civis. Jo.19:11 - “Nenhuma autoridade teria sobre mim, se de cima não te
fosse dada.” O governo deve ser respeitado enquanto representa a vontade de Deus,
caso contrário podemos lutar por nossos direitos.
Autoridade no Corpo de Cristo. Obedecer a Cristo como nosso cabeça e guia.
Sujeitarmos aos nossos irmãos e irmãs, pois Deus delegou autoridade ao Corpo para
nos instruir e exortar.
Autoridade no trabalho. Obedecer mesmo quando o patrão não está perto, conforme
recomendação de Paulo: Ef.6:5 - “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a
carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo.”
Autoridade no lar. O marido amar a esposa como Cristo amou a Igreja, e a esposa ser
submissa como Cristo. Ef.5:22-25 - “Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao
Senhor, por o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja,
que é o seu corpo, do qual ele é o salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo,
também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos. Maridos, amem suas
mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela.”
Vamos fechar mais esse tópico com as palavras de Jesus sobre submissão e em seguida
o comentário de Dietrich Bonhoeffer sobre o mesmo texto: Mc.8:34,35 - “Então ele
chamou a multidão e os discípulos e disse: ‘Se alguém quiser acompanhar-me, negue-
se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a
perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará.” Essas
palavras são fortes e incisivas! É um chamado radical (John Stott tem um ótimo livro
sobre esse assunto) ao discipulado e a completa submissão à vontade de Deus. Veja o
comentário de Bonhoeffer: “Soa o chamado, e imediatamente segue o ato obediente
da pessoa que foi chamada. A resposta do discípulo não é uma confissão oral da fé em
Jesus, mas sim um ato de obediência.” A disciplina espiritual da submissão é um negar-
se por completo por causa da vontade de Deus!

Serviço - “Eu” e “autossuficiência”, fazem parte da natureza humana devido a


consequência inevitável da queda. Adão e Eva foram ludibriados pelo desejo de
tornarem-se deuses desvinculados de prestação de contas e submissão a Deus. Essa
postura de autossuficiência passou por toda a história e chegou a nós, e entre tantas
características (ou sintomas?) da pós-modernidade a busca individual por prazer e
satisfação submete àqueles que são imagem e semelhança de Deus, nossos próximos,
a coisas utilizadas como objetos descartáveis.
Vamos ilustrar o “Eu” da velha natureza com o “nós” da nova natureza a partir da
“parábola do Bom samaritano.” Há quatro personagens na parábola: Sacerdote, levita,
samaritano e o homem machucado. Qual foram suas atitudes? (Leia 10:30-37)

Homem machucado Sacerdote Levita Samaritano

Atitude do Atitude: O que é Atitude: O que é teu Atitude: O que é


assaltante: O que é meu é meu. é teu. meu é teu!
teu é meu.

O sacerdote e o levita carregam em si as drásticas marcas do pecado expresso em seu


egoísmo mais doente, pois como homens que representavam a Deus foram os
primeiros a se eximirem do “estender a mão” e servir o próximo. Ambos vinham de um
etnia pura dos judeus originais, enquanto o samaritano, considerado de raça inferior
demonstrou traços da sua nova natureza. O “Eu” e a “autossuficiência” são
incompatíveis com a nova vida! O único modo de vencermos o orgulho é servindo!
Sobre a disciplina do serviço expôs Dallas Willard, “Pelo serviço, nós engajamos nossos
bens e forças na promoção ativa do bem dos outros e da causa de Deus no mundo.
Aqui temos que fazer uma importante distinção. Nem todo ato que pode ser feito
como uma disciplina precisa ser feito como uma disciplina. Muitas vezes, eu serei
capaz de servir a outras pessoas simplesmente como um ato de amor e de justiça, sem
considerar como isso pode melhorar minha habilidade de seguir a Cristo. Certamente
não há nada de errado com isso, e pode até fortalecer minha vida espiritual. Mas eu
posso também servir a outras pessoas para me afastar da arrogância, do egoísmo, da
inveja, do ressentimento e da cobiça. Neste caso, meu serviço é empreendido como
uma disciplina para a vida espiritual.” (Do livro “O espirito das disciplinas, p. 183).
Devemos procurar discernir as intenções dos nossos corações ao servimos. Podemos
simplesmente fazer isso pensando no status aos olhos de outros, ou por expressão
apenas do lado de fora, sem a motivação correta do lado de dentro.
O motivo que me impele a servir é fator determinante no serviço, se o motivo for
equivocado “não vale a pena”. Obviamente, nosso modelo de serviço é Jesus e com Ele
devemos aprender. Ele abriu mão do seu tempo em benefício de outros, curou,
ensinou, e caminhou com seus discípulos, lavou-os seus pés, e deixou a sua glória para
tornar-se um de nós! Mt. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bom, chegamos ao final de mais uma aula! Creio que o aprendizado de hoje trouxe
crescimento espiritual a todos nós.
Grande abraço e até nosso próximo encontro.
Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o
funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas ao curso
serão disponibilizadas pela coordenação.
Grande abraço e sucesso!

Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o


funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas
ao curso serão disponibilizadas pela coordenação.
Grande abraço e sucesso!

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