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Espiritualidade Cristã
Introdução
Nesta disciplina, estudaremos alguns fundamentos que fazem parte do estudo da história da
espiritualidade e da teologia do cristianismo. Nesta aula, abordarei os seguintes temas:
a) Conceito de espiritualidade
Objetivos
Este tema é tão rico que é impossível esgotar o assunto, mas nesta aula você poderá
compreender, de forma objetiva, os principais conceitos de espiritualidade.
Vamos começar com uma pergunta básica:
O que é espiritualidade?
Este vídeo é um Trecho da entrevista do documentário Somos Um Só. Parceria entre SESC e TV
Cultura. Produzido pela DIP -- Digital Produções. O consultor Sérgio Cortella fala da
espiritualidade e da existência do ser humano, da vida, dos sentidos e da conexão com o sócio
ambientalismo e com a beleza.
Se você analisar as pessoas a sua volta, perceberá que o mundo pós-moderno reencontrou a
espiritualidade. Mas observando a história da humanidade perceberá que o iluminismo - com
seu mecanicismo “dogmático” - havia “profetizado” o fim da vida religiosa relegando-a ao nível
da infantilidade, já que a razão madura não necessitava mais da cosmovisão cristã para
explicar o mundo e a vida como um todo. Todavia, como podemos claramente constatar, o
sonho idílico dos iluministas foi frustrado pelo vazio ético e existencial gerado pelas guerras e
pela intolerância a vida humana referente ao gênero, etnia e credos, como foi o caso do
advento do Nazismo e das duas grandes guerras.
Logo após a crise da Modernidade surge, obviamente, o que costumeiramente ficou conhecido
como “pós-modernidade”, com as seguintes características:
1. Pluralidade
Não há uma verdade estabelecida como referência comum à sociedade civil como era, por
exemplo, numa sociedade tradicional como a Idade Média. Esse relativismo epistemológico e
subjetivo pode ser expresso no ditado: “o que é verdade e certo para você, não é verdade e
certo para mim”. Levando em consideração que a Bíblia é a norma para a construção de
valores éticos e morais, sob esse prisma ela é simplesmente relegada ao descrédito! Essa
tolerância em relação à filosofia de vida do outro é ideológica, ou seja, parece bom, mas
mascara a realidade do que de fato é bom. É inegável que o direito de dizer o que se pensa
deve ser mantido. O fato não está em proibir, mas em não se saber onde se pode encontrar a
“verdade” para se viver bem com Deus, já que até mesmo a ideia de Deus foi diluída nesse
caldo cultural-religioso conhecido como Nova Era, como veremos no momento propício.
2. Consumo sexual
3. Individualismo
Egocêntrico, narcisista e insensível à dor do outro. Nós nos tornamos o centro, ou melhor, “Eu”
me torno o centro. Como tudo é consumo, como o caso do sexo citado acima, também os
“bens simbólicos” vendidos nas igrejas são mais um produto na vitrine da fé para se adquirir
mediante uma “oferta” (ou pagamento?) que objetiva a satisfação pessoal, e caso o esperado
não acontece, como por ex. o milagre, muda de “igreja” (loja) e vai à procura de outra que
possa suprir seus desejos. Ou o caso de frequentadores de igrejas que não criam vínculos com
1
SAYÃO, Luiz. Cabeças feitas: filosofia prática para cristãos. Ed. Hagnos. P. 37,38 (Essa tabela não foi
citada na íntegra, mas adaptada para fins dessa aula.)
nenhuma denominação, mas absorve o melhor de cada uma delas, em busca de satisfação.
Quando voltamos os olhos para a Bíblia vemos claramente que Cristo buscará uma Igreja e não
uma pessoa! É necessário resgatarmos urgentemente a ideia de igreja do Novo Testamento,
como ajuntamento solene que como Corpo de Cristo tem autoridade sobre nós.
4. Misticismo
Ao contrário do que supôs o Iluminismo, como já mencionado acima, a religião não foi
superada e está atuante e ativa na realidade brasileira, seja o cristianismo em seus
desdobramentos, ou o esoterismo da Nova Era. Porque num mundo com tanta tecnologia a
espiritualidade está tão em voga? Segue algumas considerações que intenciona responder a
pergunta:
2
BERGER. L peter. O rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural. Ed. Vozes.
p. 55
Bom, Pessoal, o que fizemos até o momento foi “ler os sinais do tempos”, a partir da
metodologia do teólogo Albert Nolan, como se segue:
Ler os sinais do tempo não é uma questão de olhar para o mundo a partir de fora, como se não
fizéssemos parte dele. Nós estamos inseparavelmente integrados na sua rede de relações. É o
nosso mundo, e nós só poderemos ter qualquer tipo de espiritualidade séria inseridos no
nosso mundo.3
Espiritualidade encarnada
Qualquer espiritualidade que não esteja envolvida com a vida, com as pessoas e com o mundo
não é espiritualidade cristã, antes é uma “fuga” e demonização da existência como
pressuposto para uma vida de santidade.
“Nos últimos anos, tem crescido notavelmente o interesse pelo estudo geral da
espiritualidade. Um cinismo ressurgente sobre o valor dos bens materiais levou a uma atenção
maior às dimensões espirituais da vida. Um número crescente de evidências sugere que a
espiritualidade pessoal tem efeito terapêutico positivo sobre nós indivíduos, demonstrando
maior reconhecimento da importância da espiritualidade para satisfação e bem estar
humanos. Juntamente com um declínio gradual generalizado ao apego às formas
institucionalizadas de religião na cultural ocidental, há um aumento caro no interesse popular
pela espiritualidade, incluindo as várias formas de espiritualidade cristã.”4
Podemos agregar ao “conceito de espiritualidade” seu aspecto “Terapêutico”, pois é por meio
do relacionamento com Deus que somos curados e tratados por sua presença graciosa.
Observamos isso claramente na práxis ministerial holística de Jesus. (Veremos isso de maneira
especifica na aula? – a espiritualidade de Jesus)
A partir do que discorremos até o momento podemos sugerir uma definição, dentre tantas
devido as suas vertentes, do que é “espiritualidade cristã, que “significa viver o encontro com
Jesus Cristo. (...) Refere-se como a vida cristã é entendida e às práticas devocionais explícitas
desenvolvidas com vistas a nutrir e sustentar esse relacionamento com Cristo. A
3
NOLAN, Albert. Jesus hoje: uma espiritualidade radical. Paulinas. p.17
4
McGRATH, Alister. Uma introdução à espiritualidade cristã. Ed.Vida. p. 19
espiritualidade cristã pode, então, ser compreendida como a maneira pela qual indivíduos ou
grupos cristãos buscam aprofundar sua experiência com Deus.”5
Ao voltarmos os olhos a Jesus vemos que o Homem – Deus Espiritual por excelência não fazia
tal distinção, antes fazia da vida uma celebração a Deus, da natureza extraia exemplos, de uma
festa de casamento, faz um milagre. Como bem expressou Caio Fabio:
O que me espanta, no entanto, é o fato de que Jesus não fala uma única vez, nos quatro
Evangelhos, a palavra “espiritual”. Esse chavão não passou pela sua boca, por uma razão muito
simples: para Jesus, não havia uma vida espiritual; para Jesus a espiritualidade era a vida.
Sobre a vida ele falou muito, e o tempo todo; sobre espiritualidade, não.7
Portanto “ser espiritual” é viver a vida conforme Jesus a partir das práticas devocionais ou
exercícios espirituais que Ele mesmo deixou-nos como modelo. No bojo disso tudo haverá
crenças doutrinárias diferentes a partir de cada tradição religiosa8, valores éticos em comum e
um modo de ser no mundo, então cabe a vocês alunos absorver o que há de melhor em sua
tradição religiosa e confrontá-la com a espiritualidade de Jesus.
Turma, no início desta aula assistimos a um vídeo com um breve conceito de espiritualidade,
na perspectiva de um filósofo. Agora, assista a um outro vídeo, e veja a opinião de
espiritualidade numa perspectiva pastoral.
https://www.youtube.com/watch?v=nYQdWtSMcTQ
5
Op. Cit. McGRATH. p. 21
6
MARASCHIN, Jaci. O que é formação espiritual? p. 8. Ed. Aste. 1990.
7
FABIO, Caio. Um projeto de espiritualidade integral. Sião. 1988, p. 30
8
Sobre o valor e a contribuição de cada tradição religiosa Richard Foster escreveu um livro volumoso
“Rios de águas vivas.”
Espiritualidade no Antigo Testamento
O Nome do Livro
Para que você possa se situar, vamos apresentar a origem do nome do livro. Êxodo - do grego
ἔξοδος, composto de ἐξ "fora" e ὁδός "via, caminho" - significa partida. Na tradição hebraica,
chama-se Sh'moth (שמות, literalmente "nomes").
O termo "Êxodo" deriva da versão Septuaginta Grega (LXX), que procurava intitular os livros a
partir do seu conteúdo. A sua autoria foi atribuída ao profeta Moisés, pela tradição judaico-
cristã. Esse livro – que dá continuidade ao livro de Gênesis - relata como Moisés conduziu os
israelitas do Egito até o Monte Sinai, onde Javé (YHWH) se revela para fazer uma aliança,
entregando a Moisés os dez mandamentos, ou seja, a lei, que deve ser obedecida, e como
recompensa Javé lhes daria Canaã (a Terra Prometida).
Há muitos relatos bem conhecidos no Êxodo, como a passagem pelo mar vermelho, a
revelação no Sinai, a entrega das tábuas da lei, Bezerro de ouro e o aparecimento de maná no
deserto.
5. Instituição do Sábado.
6. Construção do Tabernáculo.
A Espiritualidade no Antigo Testamento: o Êxodo como modelo de espiritualidade
paradigmático
Você que está estudando sobre a Bíblia há de concordar que ela é um livro rico em
experiências religiosas.
Utilizaremos como referência para nossa aula o livro de Êxodo. Elegê-lo não foi por gosto
pessoal, mas por decisão acadêmica, já que os eruditos em Teologia Bíblica concordam que a
espiritualidade desenvolvida no livro citado é emblemática, ou para utilizar um termo
teológico constantemente utilizado em livros, “fundante”, “paradigmática”, “modelo”, ou em
linguagem psicológica “arquetípica”. “Paradigmática” e “fundante” referem-se à experiência
primeira, que serve de modelo para a posteridade. O relacionamento entre Deus e seu povo
no êxodo foi tão poderoso que “normatizou” uma via de espiritualidade.
De imediato podemos constatar que a presença de Deus em meio ao seu povo é algo original
quando comparado com a espiritualidade pagã dos povos vizinhos. Esses necessitavam de
objetos visuais (o deus deles também estava presente, mas não presentificado no ser!), o que
levou Moisés a abominar a idolatria dos “ídolos mudos”. Os deuses pagãos eram distantes,
antropomórficos e sublimados do inconsciente coletivo corrompido pelo pecado, ou seja, eram
apenas representações dos próprios desejos. Veja abaixo apenas alguns desses deuses, e o
tipo de espiritualidade que eles geravam:
A espiritualidade é pratica e tem a ver com a vida, como já observamos na aula 01, portanto se
na jornada estivermos cansados podemos beber da Palavra que nos sacia a vida toda, e se já
estamos bebendo podemos tomar muito mais até transbordar a tantos corações sedentos de
9
Para uma lista mais completa do panteão do mundo bíblico ver “Enciclopédia, de Bíblia Teologia e
Filosofia” do R. N. Champlin.
vida ao nosso redor. Por isso, o relacionamento de Deus com o seu povo no livro de Êxodo é
paradigmático para desenvolvermos nossa espiritualidade.
Precisamos ter em mente que Deus se relaciona com seu povo na história. A palavra-chave é
“relacionamento.” Ele se deixa conhecer em meio ao sofrimento do seu povo desde a
libertação do Egito até a peregrinação a Terra Prometida. Não importa onde eles estavam indo
como nômades Ele estava lá entre eles! Seja, na nuvem durante o dia, na coluna de fogo à
noite, no Tabernáculo, esse Deus se relacionava com seu povo.
Nos cap. 1-14 encontramos o primeiro paradigma: Um Deus libertador. A ação de um Deus
que se importa com o sofrimento do seu povo e intervém concretamente (historicamente) na
libertação do jugo opressor de Faraó. Esse paradigma é rememorado hoje, pois Deus também
está interessado em libertarmos de todo tipo de opressão social, política, econômica ou
espiritual.
2. Ele luta em favor dos mais fracos e os livra da opressão, seja qual for, conforme diz
êx.2:23-25 – “Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam
sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu até a Deus. V.24
Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abrãao, com Isaque e com
Jacó. V.25 E viu Deus os filhos de Israel e atendou para a sua condição.”
Terceiro paradigma. Espiritualidade de esperança. Após a libertação do Egito Deus leva seu
povo para uma nova terra onde maná leite e mel: Canaã. Esse lugar é o descanso tão almejado
do cansaço acumulado da escravidão do Egito e da peregrinação no deserto que durou 40
anos!
Quarto paradigma. É um Deus que elege os seus. Uma vez eleito Deus não abandona seu povo.
Ele os enlaçou com amor eterno e mesmo diante dos seus pecados, como infidelidade e
10
OTTO, Rudolfo. O Sagrado. Ed. Est. P?
idolatria com outros deuses, Ele manteve sua fidelidade até que suas promessas fossem
cumpridas. Moisés não entrou na terra de Canaã, mas com certeza encontrou descanso na
Canaã celestial. Todos esses paradigmas serão rememorados e atualizados na história bíblica.
A experiência em Ex.3 de Moisés na sarça ardente é um marco histórico e linear que liga a
espiritualidade dos patriarcas ao longo do restante da Bíblia, como foi descrito nos termos que
segue, pelo teólogo bíblico do Antigo Testamento, Gerhard Von Rad:
Na cultura bíblica o nome revelava o caráter e a essência da pessoa. Nesse caso Deus se revela
a Moisés como o Grande Eu Sou! O libertador poderoso que caminhará constantemente com
seu povo no Egito e no deserto. Até aqui temos visto que a espiritualidade do livro de Êxodo é
paradigmática para o povo de Deus.
Espiritualidade Profética
Nos dias de hoje todas as vezes que a Palavra de Deus é lida e pregada denunciando algum
tipo de prática pecaminosa, injusta e opressão estamos sendo profetas do Senhor.
Os atos de Deus no passado era a referência ética que capacitava o profeta a discernir o certo
do errado. Moisés era porta voz de Deus, e os profetas subsequentes reproduziam
criativamente o modo de ser de Moisés, mas o modelo primário permanecia: intimidade com
Deus e convicção ao anunciar a mensagem divina. Interessante que alguns estudiosos sugerem
que a palavra profeta em hebraico é “Nabi”, literalmente “alguém que ferver pela mensagem
divina.” O biblista Aldir Crocoli, oferece uma síntese preciosa da espiritualidade profética:
“Os profetas não criam uma espiritualidade nova, eles bebem da grande experiência
paradigmática de todo o povo bíblico e a atualizam. Denunciam tudo quanto contradiz a
mística que conferiu identidade e se concretizou na aliança de Deus com seu povo.
Cada profeta segundo seu contexto retoma a experiência bíblica fundante e confronta-a com a
realidade em que a nação está imersa. Cada profeta olha para a realidade que vive, compara-a
com a experiência “canônica” e depois fala em nome de Deus.12
11
RAD, Gerhard von. Teologia do antigo testamento. Vol.1 Ed.Aste. p. 186
12
http://www.estef.edu.br/arno/wp-content/uploads/2011/06/Espiritualidade-b%C3%ADblica-
Crocoli.pdf
Em suma os profetas:
2. Estão altamente comprometidos com o seu povo, por isso denunciam tudo aquilo que
pode contaminá-los.
Salmos. A grosso modo, o objetivo dos Salmos é lembrar os feitos do Deus vivo e libertador,
visando fortalecer a fé dos seus contemporâneos, estreitar a intimidade com o Deus dos
patriarcas, conscientizar que o Deus que fez uma aliança com eles os manterão firmes na
jornada dessa vida. É uma espiritualidade que brota do mais íntimo do ser, seja da dor ou da
alegria da vitória.
Jó. Considerado a Teologia subversiva porque não se encontra nos seus relatos o referencial
paradigmático.
Cânticos dos cânticos. Espiritualidade alegórica entre o amor poderoso de Deus por seu povo,
ou por sua igreja, a noiva.
Místico – Alguém que tem experiência pessoal com Deus sem intermediários.
Normalmente tem visões, revelações, e êxtase espetaculares;
Teologia espiritual – Utiliza-se da razão para sistematizar suas experiências com Deus;
Não há problema algum em utilizar os termos acima desde que definidos previamente.
Podemos concluir que o Deus que é apresentado no Antigo Testamento é visto como Aquele
que livrou Israel da escravidão e da idolatria no Egito e libertou o povo e o conduziu para um
lugar de destaque.
Introdução
Olá, alunos e alunas!
Nesta aula, vamos tratar acerca da espiritualidade de Jesus. Faremos também um
resgate histórico da espiritualidade cristã pontuando os principais momentos do seu
desenvolvimento.
Objetivos
Esta aula foi elaborada de forma que você possa
13
PETERSON, Eugene h. Espiritualidade subversiva. Ed. Mundo cristão.
14
NOLAN, Albert. Jesus hoje. Ed. Paulinas. p. 86
considerados, e os que nada tinham, desprezados, Jesus ensina que “Bem- aventurado
vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Lc.6:20).
Bom, agora faça um breve exercício: imagine Jesus nos dias de hoje passeando pelas
ruas das grandes cidades ou passeando pelos “shoppings”. Qual a imagem que teria da
nossa sociedade? Provavelmente ele diria: “Eles são escravos do luxo, da vaidade, e do
dinheiro. Eles não são felizes. Os pobres é que são felizes”, conforme Lc.6:24 “Ai de
vós, os ricos”. Jesus estava relativizando o status da época e redefinindo o conceito de
felicidade. Segundo Jesus, precisamos ter compaixão e misericórdia dos ricos e não dos
pobres, são eles que sofrem com suas riquezas e não o pobre com sua pobreza.
Como isso pode acontecer? “Eles (os ricos) terão muita dificuldade em viver no mundo
do futuro (o Reino de Deus), onde tudo será partilhado.”15
O sermão do monte é a base para a revolução do mundo! Citamos apenas um exemplo
do impacto dessas palavras de Jesus, caso a vivamos constantemente. Poderíamos
mencionar: dar a outra face quando o mundo exige retribuir o mal. Exercer
misericórdia quando a sociedade prefere o ódio contra os que praticaram o mal,
enfim.
Se não pudesse ter filhos por problema de saúde era substituída pela escrava;
15
Ibid., p.87
Era obrigada a tolerar a poligamia. 16
As mulheres às quais Jesus deu atenção:
3. A lei do amor
Jesus reinterpretou a lei a partir do amor!
A religiosidade judaica dos fariseus e saduceus era “estéril”, mecânica e teatral. Jesus
confrontou esse tipo de espiritualidade vazia em seus diálogos travados com os
“mestres da Lei.” Eles estavam interessados no aspecto ritual da lei e nos
desdobramentos das várias correntes de interpretação acerca da mesma que imposta
sobre o povo leigo os sobrecarregavam com o “jugo dos rabinos” (Código de
Santidade). Jugo é interpretação, por isso o “jugo” de Jesus é leve, porque não é
baseado em tradições humanas, mas em vida de intimidade com Deus. As palavras de
Jesus são “espírito e vida”, ou seja, transforma o ser, e não mera alteração
comportamental.
A espiritualidade de Jesus diz: “o sábado foi feito para o ser humano, não o ser
humano para o sábado” (Mc.2:27). As leis existem para nos direcionar e não para nos
escravizar. Na cultura judaica havia separação entre o sagrado e o profano, puro e
impuro. Em Jesus essa distinção dicotômica não existe. Enquanto a religiosidade
judaica excluía os leprosos e prostitutas, considerados ritualmente impuros, ele os
incluía no seu reino. “Não é aquilo que entra pela boca que torna o ser humano
impuro. O que sai da boca é que torna o ser humano impuro.” (Mt.15:11).
A religião coloca as leis e rituais acima das pessoas, Jesus coloca as pessoas acima da
leis e dos rituais. O primeiro gera modificação comportamental, o segundo é
consciência transformada.
16
http://www.abiblia.org/ver.php?id=1623&id_autor=66&id_utente=&caso=artigos (Sugiro que leiam
esse artigo por inteiro)
A espiritualidade do Reino de Deus
A compreensão corrente na época de Jesus é que o Messias seria de ordem política e
poderoso o suficiente para destronar qualquer poder de dominação contra o povo
judeu, Roma por ex. Na prática, o messias seria político e ascenderia ao trono com
poder e os judeus regidos por ele, seriam os novos dominadores do mundo!
Ao contrário da expectativa messiânica - politica, Jesus não fez nada disso. Em vez de
impor seu poder em dominação optou por se entregar e revelar o Deus de amor,
inaugurando poderosamente o conceito relacional de Deus como Abba - “paizinho
querido”. Deus na tradição judaica era o Deus Santo que castigava todos aqueles que
não vivessem sob a lei.
Em Jesus é revelado a interpretação correta, que libertou do “jugo” (interpretação),
muitas pessoas que puderem relacionar-se com Deus como Pai amoroso. O Reino de
Deus não era um poder de dominação de massa, mas uma família baseada no amor.
Essa expectativa sobre Jesus ser o messias político esperado confirma-se a partir do
seu poder milagroso. Na tradição judaica três sinais eram imprescindíveis para
confirmar a identidade messiânica. Jesus, realizou os três, os quais são:
a) A cura de um leproso;
b) A expulsão de um demônio mudo;
c) A cura do cego de nascença.
Por isso, por vezes Ele ordena que diante dos seus milagres os beneficiários ficassem
quietos e nada contassem. Ele queria desbaratar a ideia equivocada de que era o
messias político esperado, ou um mero curandeiro que atraia multidões. No tempo
oportuno Ele se revelaria como o Messias que salvaria o povo dos seus pecados, não
os libertando da opressão política, mas da opressão do pecado, morrendo na cruz, e
que a partir disso poderiam, por meio do avanço do Reino de Deus que já está aqui e
“ainda não”, na transformação de todos os tipos de opressões.
Atividade profética
Os profetas no Antigo Testamento eram homens levantados por Deus para denunciar
o pecado, chamar ao arrependimento e trazer uma solução para o povo. Jesus
denunciou o sistema religioso opressor do seu povo conclamando-os ao
arrependimento e ofereceu a si mesmo como solução: “Eu dou a minha vida…” (Jo
10:17).
Qual a consequência desse agir profético de Jesus? Conflito!
“Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da
sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do
Filho do Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai; porque grande é o vosso
galardão no céu; pois dessa forma procederam seus pais com os profetas.” (Lc.6:22,33)
Jesus, enquanto profeta, não estava vinculado à instituição religiosa judaica nem era
oficialmente seu representante. O profeta era audacioso em sua mensagem, tal como
Jesus, porque foram especificamente chamados para esse fim. Não é algo que se
aprende em uma “escola de profeta”, mas está relacionado com sua experiência
profunda com Deus a partir de um dialogo entre Eles. Deus fala! O profeta reproduz, e
as vezes interpreta: “Assim diz o Senhor!” (Jesus era ousado. Ele diz: “Eu, porém vos
digo”) Mesmo diante das maiores adversidades e perseguições o profeta não se cala.
Ele continua a proclamar libertação aos cativos e uma nova vida em Deus. O profeta lia
os sinais dos tempos ou estava antenado nos fatos mundiais. Sobre isto “ler os sinais
do tempo” ver a aula nº01.
Vida de oração
Conforme Henri Nouwen: “A oração só tem significado se é necessária e indispensável.
A oração só é oração se podemos dizer que sem ela não poderíamos viver.”17
Abaixo segue o roteiro da vida de oração de Jesus:
17
NOUWEN, Henri. oração. ed. ? p.? Livro pequeno, mas vale cada página. Na aula ? abordaremos um
tópico especifico sobre “oração.”
Amigo importuno (Lc.11:5-10)
18
Encontrar a fonte
19
Encontrar fonte
Todavia, a espiritualidade desenvolvida paralelamente pelos rabinos que iniciaram o
processo de racionalização transformou a experiência com o Deus Vivo em mudança
comportamental, ou seja, a tradição tornou-se maior que a revelação, a mudança de
exterior maior que a transformação interior. Quando essa acontece, a outra tem
sentido, e nunca o inverso! Nós não mudamos para sermos transformados, mas por
sermos transformados, nós mudamos.
Para compreender um pouco sobre a cultura judaica, ouça Ed René Kivitz falando a
respeito dos conceitos fundamentais da espiritualidade cristã, tendo como referência a
relação de Jesus de Nazaré com os seus talmidim. Clique em:
https://www.youtube.com/watch?v=4USgdgNto24
20
FABIO, Caio. Um projeto de espiritualidade integral. Ed. Sião. p.20. Ver. SHEDD, Russell. Avivamento e
renovação. Ed. Shedd. Pgs. 23-56.
21
Problemas e perspectivas da espiritualidade. p.70
Espiritualidade dos Pais da Igreja
Esse período da história da Igreja ficou conhecido como “patrística”. (sec II ao VI). Os
teólogos precisavam expor o Evangelho em linguagem inteligível. A sociedade da
época, então absorveu nos sistemas teológicos, as filosofias gregas. Eles tentaram
cristianizar tais sistemas filosóficos aproveitando aquilo que era compatível com o
Cristianismo, e combatendo as discrepâncias, os quais são:
Policarpo - Escreveu uma carta aos Filipenses e foi discípulo do apóstolo João.
Irineu - Ele conectou a teologia grega e a latina com a ajuda de outro teólogo,
Tertuliano. Especificamente se dedicou a combater o gnosticismo
Espiritualidade Medieval.
É caracterizado por uma espiritualidade mágico-religiosa. Objetos carregam em si o
sagrado e são vendidos justamente pelo poder que neles residem para um fim
proveitoso baseado em sacrifícios. A relação do homem medieval com Deus é a partir
de penitências e autoflagelação como meio de conquistar o favor divino ou evitar o
castigo por parte Dele.
Monasticismo.
No sec. IV os monásticos compreendiam que uma vida cristã autentica estava baseada
na santidade e essa por sua vez consistia em: fugir do mundo, celibato, vida intensa de
oração, jejum e contemplação. Essa vida ascética objetivava encontrar a união mística
com Deus, ou seja, a alma torna-se um com Ele, seria uma espécie de perfeição
interior. Posteriormente, começaram a viver em comunidade para fortalecimento
mutuo e um princípio regulador e organizacional começa ser estabelecido, agregam-se
então outras práticas ascéticas, tais como: obediência a regra do mosteiro, silêncio,
jejuns longos e privação de carne e vinho.
Catolicismo romano
Alister E. McGrath, pontou a espiritualidade católica nos seguintes termos:
Altamente litúrgica;
Fortemente sacramental;
Ênfase nos santos e na Virgem Maria como intercessores seja dos vivos ou dos
mortos;22
Oração a Jesus. “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de mim.”
É apologética;
22
Op., cit. McGrath. p.37-42
23
Ibid., p.44
Não separaram profano e sagrado, ou secular e sagrado;
Vídeo
Os pilares da reforma protestante - Rev. Hernandes Dias Lopes. Trata-se de uma
mensagem do Programa Verdade e Vida Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=zf8Lv2GF-Fk
24
Ibid., p. 44,45 e Op. cit., p. 22,23
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da aula de hoje, queridos alunos!
Vimos de maneira muito breve sobre a espiritualidade controversa e provocadora de
Jesus e também sobre a história da espiritualidade cristã.
Em nosso próximo encontro falaremos sobre a história dos avivamentos.
Até a próxima aula!
Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o
funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas ao curso
serão disponibilizadas pela coordenação.
Grande abraço e sucesso!