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HE R ME NÊ UT I CA P E N T E CO STA L

Fundamentos da Interpretação Bíblica

Aula 7

IMAGINÁRIO
SOCIAL DO
PENTECOSTALISMO

Cosmovisão
Ao estudarmos hermenêutica, nos deparamos com o conceito de cosmovi-
são, que tem a ver com a luz ou a lente com que o indivíduo enxerga todas
as questões ao seu redor. Existem muitas questões que podem ser discuti-
das a partir desse termo e através dele se chegar a inúmeros pensamentos
diferentes. No quadro abaixo, há um breve resumo de como surgiu esse
conceito.

O conceito de cosmovisão surgiu na Alemanha entre os séculos


XVIII e XIX. A palavra “cosmovisão” é traduzida do alemão Wel-
tanschauung (visão de mundo), e usada pela primeira vez pelo fi-
lósofo iluminista Immanuel Kant, em 1790, na sua obra Crítica do
Julgamento.

Posteriormente, vários outros pensadores usaram o conceito de


cosmovisão e o termo se popularizou no meio acadêmico e inte-
lectual. Normalmente, qualquer conceito teórico sofre mudanças e

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interpretações, e isso foi o que aconteceu com o conceito da cosmo-


visão, quando autores começaram a acrescentar nele outros senti-
dos. O termo, então, começou a se transformar com o decorrer do
tempo. Os pensadores e filósofos (da Alemanha, Suécia, Polônia e
Rússia) que utilizaram o termo weltanschauung (cosmovisão) e
deram mais peso à sua definição e uso:
Fichte (1762 – 1814);
Feuerbach (1804 – 1872);
Schelling (1775 – 1854);
Friedrich Schleiermacher (1768 – 1834);
Hegel (1770 – 1831);
Goethe (1749 – 1832);
Alexander von Humboldt (1769 – 1859).

A primeira citação do termo na língua inglesa foi por William


James, em 1860 (exatamente, 70 anos depois do primeiro uso do
termo). Durante esse período de 70 anos o termo “cosmovisão” já
era consagrado entre os grandes filósofos da Europa. Qualquer
um que estivesse lidando com alguma área do conhecimento, se
quisesse ser levado a sério, precisava entender e utilizar o termo
weltanschauung. Esse termo ainda precisava ser discutido naquele
momento, por isso, passou a ser mais comum vê-lo nas obras da
época.
Ele foi cunhado por Immanuel Kant, para ser utilizado em uma
de suas obras, Críticas do Julgamento, em 1790. Que, basicamen-
te, significa percepção do mundo e é ‘’a capacidade humana de
intuir o mundo exterior à medida que é apreendido pelos senti-
dos’’.
“Cosmovisão (ou visão de vida) é uma estrutura ou conjunto de
crenças fundamentais pelas quais enxergamos o mundo e nossa
vocação e futuro nele. Essa visão não precisa estar articulada por
completo; pode estar tão internalizada a ponto de permanecer
quase inquestionada; pode não estar aprofundada, em sentido te-
órico, sob a forma de uma filosofia; pode nem sequer estar codifi-

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cada na forma de um credo; pode ter sido bastante refinada pelo


desenvolvimento histórico-cultural. Não obstante, essa visão é um
canal das crenças últimas que orientam e dão significado à vida. É
uma estrutura integradora e interpretativa para julgar a ordem e a
desordem; consiste no padrão da direção e do almejo da realidade;
representa o conjunto de dobradiças em que giram todos os nossos
pensamentos e afazeres cotidianos.” – James H. Olthius

O pentecostalismo não chega a ser uma cosmovisão, pois existem várias


áreas da vida que ele não consegue alcançar como uma forma diferente
de pensamento. Ou seja, as diversas ciências, tecnologias e muitas outras
coisas não podem ser diretamente afetadas pela linha de pensamento pen-
tecostal. Ainda assim, exerce influência sobre diversas outras áreas e situa-
ções do cotidiano, moldando pensamentos sobre questões mais específicas
ao assunto.
Por isso, apesar de não ser possível o conceito de cosmovisão pentecostal,
existe a possibilidade de um imaginário social pentecostal. Isso é possível
porque o pentecostalismo atua diretamente em diversas esferas práticas,
mas também interiores daqueles que professam essa linha de pensamento.
Alguns desses imaginários são fundamentais para definirmos o pensamen-
to pentecostal, mas também para entendê-lo. Por isso, destacamos e anali-
samos alguns deles:

O sobrenatural
O pentecostalismo leva o indivíduo a acreditar além do que é possível se
observar neste mundo. A ação de Deus, de forma direta, se manifesta atra-
vés de milagres, curas e eventos sobrenaturais. Esses eventos vão além do
racional, pois não podem ser explicados pela ciência humana e outras di-
versas áreas de pensamento, principalmente desenvolvidas pela influência
do Iluminismo.
Esse imaginário pentecostal permite que, exclusivamente através dessa
linha de pensamento, haja uma vivência quase que comum ou até mais

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exaltada para essas questões sobrenaturais. Todo cristão de verdade acre-


dita nas ações miraculosas de Deus, mas através dessa linha de pensamen-
to, pode-se experimentar muito mais tais experiências do que em outras
linhas.
O pensamento de que Deus é poderoso para fazer qualquer coisa em qual-
quer momento é o que permite que se experimente, mais do que outros,
tais questões. Apesar de todos os cristãos acreditarem no poder de Deus,
os que mais experimentam são aqueles que buscam ver a todo tempo o agir
miraculoso divino.
Milagres, sonhos, visões, curas físicas e outras coisas que estão fora dos
padrões normais da humanidade acabam por moldar a forma que a pessoa
vive. Isso molda também o imaginário social do indivíduo.
O pentecostal nunca irá acreditar e nem será influenciado pelo cientificis-
mo que é uma ideia vinda do Iluminismo que define ser a ciência a fonte de
explicação da verdade, ou seja, aquilo que a ciência não explica não é real.
O Vocabulaire de Lalande (1938: II, 740) deu a seguinte definição de cien-
tificismo:

“É a ideia de que o espírito e os métodos da ciência deveriam ser


estendidos a todos os domínios intelectuais e morais da vida
[social], sem exceções.”

“Doutrina filosófica que afirma ser a ciência superior a qualquer outro


saber ou conhecimento usado para compreender a realidade.
Doutrina filosófica que considera definitivos os conhecimentos científicos.
[Filosofia] Filosofia que nega a importância dos problemas que estão
fora do alcance da investigação científica.
[Popular] Valorização excessiva da ciência ou do que é científico.”¹

1 www.dicio.com.br

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Um pentecostal nunca seria, portanto, um cientificista, pois ele acredita no


que a ciência não consegue comprovar. A ciência nunca irá limitar o ima-
ginário pentecostal devido aos limites que ela possui. Muitas atrocidades
foram feitas na história, principalmente no século XX, por irem além do
limite da ciência na busca das verdades e por tentarem determinar cienti-
ficamente fatos que ela não poderia responder.
A partir do Iluminismo, a questão sobre como ou se seria possível conhe-
cer Deus, começa a ganhar proeminência. Neste período, a razão se torna
detentora da verdade e a régua de medir a realidade de todas as coisas. Os
filósofos iluministas elevavam a razão à categoria de princípio universal,
sendo ela a juíza absoluta da verdade. Assim, nada que não pudesse ser
apreendido a partir de um método racional, poderia ser considerado como
verdadeiro.
Alguns elementos bíblicos importantes, por não poderem ser respondidos
pela razão, passaram a ser desconsiderados, como por exemplo:
• A Ressurreição de Cristo;
• Nascimento virginal de Jesus;
• Milagres;
• Inspiração divina das Escrituras;

Logo, tudo aquilo que necessita da fé para ser considerado como verdade,
era desacreditado pelo racionalismo iluminista. Na visão iluminista, então,
Deus não poderia ser conhecido, pois não era demonstrável pela simples
razão. Eles ainda acreditavam ser Deus o criador, já que não tinham até
aquele momento uma explicação melhor para a existência de todas as coi-
sas. Mas entendiam que conhecer esse criador era impossível, uma vez que
ele não estaria dentro dos limites da razão. Essa doutrina iluminista é cha-
mada de Deísmo - a crença de que Deus está completamente inacessível ao
conhecimento humano.
Porém, o cristianismo, mas principalmente o pentecostalismo, contradiz
essa visão de que não seria somente por meio da ciência ou da razão que se
encontraria as respostas das questões da vida.
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Comunidade
O pentecostalismo traz o pensamento de fortalecimento das comunidades.
Nesse quesito restringe-se ao pentecostalismo clássico, pois o neopente-
costalismo age de maneira diferente. Então, o pentecostalismo surgiu a
partir de pequenas comunidades. Eram congregações com poucos mem-
bros e à medida que iam crescendo, iam abrindo novos locais para que o
número de membros continuasse baixo. Não eram como outras denomina-
ções que visavam crescimento em apenas um local.
Isso fez com que a tendência social moderna ao individualismo fosse que-
brada no meio dessas comunidades. Na atual condição da sociedade em
que vivemos, o ser humano está em uma busca pessoal pelos seus próprios
interesses. Toda sociedade está sendo moldada por isso. Apartamentos
menores, famílias menores, onde o número de filhos é determinado pelo
tamanho do carro. Ou pior, muitos nem mais desejam ter filhos, pois os
fariam sair do centro para terem de atender a necessidade de outros. E,
portanto, os animais domésticos substituem a falta que há no ser humano
de serem sociais.
O conceito de indivíduo ou individualismo passou a ser mais importante
do que o de comunidade. Porém, esse pensamento moderno é totalmente
antibíblico, pois em diversas narrativas na Bíblia são apresentadas histó-
rias em que a comunidade se sobressai em relação ao indivíduo. Muitas
vezes todo o povo era punido pela maldade de seu rei. E o contrário era
igual, quando um rei era bom, todo o povo prosperava. Veja os exemplos:

“No décimo oitavo ano do rei Jeroboão, filho de Nebate, Abias


começou a reinar em Judá; e reinou três anos em Jerusalém. Sua
mãe se chamava Maaca e era filha de Absalão. Ele seguiu todos os
pecados que seu pai havia cometido antes dele; não foi íntegro para
com o SENHOR, seu Deus, como foi seu pai Davi. Mas, por amor
a Davi, o SENHOR lhe deu uma lâmpada em Jerusalém, levan-
tando seu sucessor e dando estabilidade a Jerusalém; porque Davi
fez o que era reto aos olhos do SENHOR e não se desviou de tudo
o que lhe ordenou durante toda a sua vida, a não ser no caso do

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heteu Urias. E houve guerra entre Roboão e Jeroboão todos os dias


da vida dele. Os demais atos de Abias e todas as suas realizações
estão escritos no livro das crônicas dos reis de Judá. Também houve
guerra entre Abias e Jeroboão. Abias descansou com seus pais, e o
sepultaram na Cidade de Davi. Asa, seu filho, reinou em seu lugar.
No vigésimo ano de Jeroboão, rei de Israel, Asa começou a reinar
em Judá, e reinou quarenta e um anos em Jerusalém. Sua avó
se chamava Maaca e era filha de Absalão. Asa fez o que era reto
perante o SENHOR, como Davi, seu pai. Porque tirou da terra
os prostitutos e removeu todos os ídolos que seus pais haviam feito.
Destituiu até sua avó Maaca da posição de rainha-mãe, porque ela
havia feito um objeto abominável para servir de ídolo sagrado. Asa
destruiu esse ídolo e o queimou perto do ribeiro de Cedrom.” (1Rs
15.1-13)

O conceito bíblico de comunidade, então, é que por causa da atitude de


cada indivíduo, todo o povo é afetado.

“Portanto, assim como o pecado entrou no mundo por um só ho-


mem, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, pois todos pecaram. [...] Portanto, assim como por uma
só transgressão veio o julgamento sobre todos os homens para a
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação que produz vida. Porque,
assim como pela desobediência de um só homem muitos foram feitos
pecadores, assim também pela obediência de um só muitos serão
feitos justos.” (Rm 5.12,18-19)

O pecado de um homem afetou a toda humanidade. Russel P. Shedd, fala


sobre isso em seu livro A Solidariedade da Raça: o Homem em Adão e em
Cristo, escrito em 1958, primeiramente como sua tese de doutorado onde
demonstra que os ensinos de Paulo sobre diversos temas são influenciados
pelo conceito hebraico de “personalidade coletiva”.

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No pensamento judaico, o indivíduo é peça de uma construção, ou parte


de um todo. O indivíduo é, portanto, parte de uma comunidade. Cada ato
individual interfere no geral e vice-versa.
A modernidade e a pós-modernidade têm vendido o engano de que é pos-
sível viver de forma isolada, e quanto mais solitário e individual, melhor é
a vida. Porém, isso é uma ilusão e contrário à verdade da vida. O pentecos-
talismo, porém, ainda que muitas vezes visto como simplório, resgata essa
verdade sobre viver em comunidade.
Nas igrejas pentecostais, principalmente em locais mais pobres, existe
grande ajuda mútua de seus membros em diversas áreas. Existe essa ques-
tão comunitária bem forte nessas congregações. A visão de mundo pente-
costal auxilia muito na construção dessas comunidades, tanto que vemos
que a maioria das igrejas dessas regiões mais miseráveis adotam a linha
pentecostal.

Missões
O imaginário social pentecostal tem uma forte ênfase missional. Ou seja,
apesar da questão de comunidade, tem uma forte busca pela conversão e
transformação dos indivíduos. Essa linha se preocupa com que os indiví-
duos conheçam e se relacionem com Deus.

Essa característica tem influência direta do Movimento Pietista.

Pietismo²
“O termo ‘’pietismo’’ deriva da palavra ‘’piedade’’, que em nosso contex-
to, embora tenha a conotação de misericórdia ou compaixão, seu signifi-
cado original está próximo de “santidade”, ou “ser semelhante a Deus”.
O movimento que nasceu na Alemanha, especificamente dentro do lute-
ranismo, ia contra a frieza espiritual da época e enfatizava a conversão
como uma experiência real (e também emocional) e a busca por santidade.

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Teólogos e historiadores analisam o surgimento do pietismo devido ao


desprezo, por parte dos luteranos da época, da dimensão subjetiva da fé e
da salvação. Era possível encontrar uma teologia correta com uma espi-
ritualidade errada. Ou seja, o contexto era de “bons” teólogos que sabiam
debater, conheciam as confissões, eram dogmáticos, mas não dotados de
um coração que buscava santidade e amor a Deus.

Características e ênfases:
• Não romperam ou dividiram as confissões e igrejas luteranas.
• Ênfase na experiência pessoal com Deus (especialmente arrependimento
e santificação).
• Crítica à ortodoxia morta.

Pontos positivos Pontos negativos


do Movimento Pietista do Movimento Pietista

Trouxe um reavivamento da fé no
Crítica à teologia (e confissões de fé)
contexto frio do luteranismo. Reavi-
em detrimento de uma experiência
vou os temas como: arrependimento,
emocional da fé.
conversão, vida de santidade.

Desapego e visão negativa do mun-


Incentivou estudo devocional das
do material fizeram muitos pietistas
Escrituras e desenvolvimento na área
se isolarem do mundo tendendo ao
de educação cristã.
gnosticismo.
Apesar de ser um movimento voltado A ênfase excessiva na religião como
à subjetividade da fé, teve uma expres- experiência mística e emocional do
são social ao favorecer missões protes- pietismo será associada ao surgimento
tantes da teologia liberal.

2 Apostila de História da Igreja III.

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Observando os pontos e valores do pietismo conseguimos ver que mui-


tas de suas características foram adquiridas pelo Movimento Pentecostal.
Muitas delas estão claramente presentes no pensamento moderno pente-
costal. O pietismo foi fonte direta de teologia e doutrina para o pentecos-
talismo.
A questão da conversão e transformação é uma das fortes características
dos pentecostais. Muitos testemunhos são contados sobre a transformação
de vida que a pessoa teve ao converter. Faz praticamente parte da liturgia
pentecostal essas histórias pessoais de mudança de vida. Aquilo que a pes-
soa era e os pecados que cometeu no passado e como deixou de fazer ao se
tornar cristã faz parte do que é falado nas igrejas. A transformação radical
feita na pessoa é algo extremamente exaltado.
Essa transformação ou os testemunhos dos outros dão uma nova perspec-
tiva de vida à pessoa. A própria roupa ou maneira de andar, ao ser trans-
formado e se tornado cristão, leva ao indivíduo um senso de dignidade que
transforma sua mente e altera diretamente o seu imaginário social e até
da sua localidade. O avanço da igreja nesses locais causa diretamente uma
transformação social, pois muitas pessoas que viviam no meio da violência
ou no uso de álcool e drogas, deixaram de exercer tais práticas.

Evangelismo
Além da mudança interior na questão missional do próprio indivíduo, o
imaginário pentecostal leva a um olhar evangelizador, ou a um olhar ao
próximo com o objetivo direto de conversão à sua fé.
Cada indivíduo se torna um missionário ou evangelizador. Além das trans-
formações externas, ou, seja em outros indivíduos, isso muda também a
própria pessoa. Por ser de origem humilde, possivelmente ela tenha difi-
culdade de falar em público ou problemas em se socializar. Mas é parte do
movimento pentecostal que cada indivíduo tenha sua participação pessoal
na liturgia, em dar seu testemunho, ou falar, ou cantar, etc. Todos têm
direito à oportunidade nas reuniões. Pessoas que nunca teriam essa liber-
dade em nenhum outro lugar, têm a possibilidade de descobrir até talen-
tos desconhecidos. Muitas pessoas famosas hoje foram descobertas dessa

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maneira. A igreja se tornou um berço de músicos talentosos, professores,


políticos e muitas outras carreiras que nunca teriam a oportunidade de
serem descobertas.
A influência social e cultural do meio cristão pentecostal é muito grande,
principalmente nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Um retrato
disso é que expressões pentecostais como “misericórdia” ou “está amarra-
do” e tantas outras, fazem parte do linguajar comum do brasileiro. Isso é
influência direta do pentecostalismo. Outra influência é a música, muitas
músicas evangélicas são conhecidas em ambientes não cristãos. Muitos
cantores não cristãos já gravaram músicas “gospel”. E isso é uma forte
influência do meio pentecostal na cultura de hoje.
Pode haver a discussão de o quanto isso é bom ou ruim, mas a verdade é
que o pentecostalismo consegue entrar na cultura de uma forma que nun-
ca nenhuma outra linha cristã conseguiu. Mesmo comparando ao catoli-
cismo medieval, a questão era diferente. O cristianismo havia se tornado
a cultura da época e não as pessoas não cristãs por vontade própria eram
influenciadas pelas tradições e pensamentos.
Não que o Brasil ou os Estados Unidos tenham se tornado totalmente
pentecostais, como disse certa vez o crítico Harold Bloom sobre o país do
Norte da América. Mas muitas culturas hoje têm certas influências desses
irmãos e isso tem levado a grandes mudanças.
Uma onda de ateísmo ainda não é tão forte e influente nesses países, como
é na Europa, devido ao fato dessa força cristã, principalmente, pentecostal.
Portanto, podemos afirmar que o pensamento pentecostal e seu imaginário
social, levam o indivíduo a uma forma completamente diferente de encarar
o mundo, possibilitando ainda uma forte transformação pessoal, mas tam-
bém social e local.

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