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COSMOVISÃO
CRISTÃ
COSMOVISÃO CRISTÃ
TEXTOS: At 3.18-21; 2 Co 5.19
At 3.18-21: É necessário que ele permaneça no céu até que chegue o tempo em
que Deus restaurará todas as coisas, como falou há muito tempo, por meio dos seus
santos profetas.
2 Co 5.19: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo (Kosmos).
“Pensar cristãmente significa compreender que o cristianismo tem a verdade sobre
toda a realidade, uma perspectiva para interpretar todos os assuntos da vida” (Nancy
Pearcey).
O QUE É UMA COSMOVISÃO?
1 wikipedia.org/wiki/Weltanschauung.
UMA BREVE HISTÓRIA DO CONCEITO DE COSMOVISÃO CRISTÃ2
O termo alemão Weltanschauung foi cunhado por Kant e veio depois a ser uma
palavra chave na mentalidade do idealismo alemão e do romantismo, sendo transmitido
via Fichte para Schelling, Schleiermacher, Schlegel, Novalis, Hegel e Goethe. Por volta de
1840, segundo Albert Wolters, o termo tinha se tornado um item padrão no vocabulário do
Alemão educado (p.15). Na década de 30 ele penetrou em outras línguas, e desde
Kierkegaard os filósofos tem buscado relacionar a nova idéia ao conceito mais antigo de
filosofia.
Devido à sua origem, o termo traz uma carga idealista-romântica bastante forte.
Uma característica importante do período foi o nascimento da consciência histórica,
marcada pela oposição ao intelectualismo grego-iluminista e pela ênfase no particular,
temporal e concreto.
Assim enquanto o termo filosofia, de origem grega, pertence a uma mentalidade
orientada para o universal e essencial, o termo alemão weltanschauung pertence a uma
mentalidade dominada pela relatividade histórica.
O primeiro a utilizar a noção de weltanschauung para expressar a visão de um
cristianismo integral abarcando todas as dimensões da cultura foi o teólogo escocês James
Orr (1884-1913). Suas palestras nas Kerr Lectures para 1890-91 foram publicadas com o
titulo The Christian View of God and Things. Nessa obra Orr afirma que o modernismo
deve ser enfrentado através do desenvolvimento de uma cosmovisão abrangente, na qual
princípio deve ser ordenado contra princípio. Declara também que
... a visão cristã das coisas forma um todo lógico que não pode ser... aceito ou
rejeitado por partes, mas permanece ou cai em sua integridade, e que pode apenas
sofrer com tentativas de amálgama ou compromisso com teorias que se apóiam em
bases totalmente distintas. (p. 95)
I. CRIAÇÃO;
II. QUEDA;
III. REDENÇÃO;
IV. CONSUMAÇÃO
Stott divide a história bíblica em quatro temas principais, os quais devem ser
conhecidos pelos cristãos para capacitá-los a terem a verdadeira perspectiva de Deus
realizando seu propósito. Conhecer estas quatro realidades permite ao cristão entender
como se encaixam todas as coisas; uma forma de integrar à nossa compreensão a
possibilidade de pensarmos com clareza até mesmo sobre as questões mais complexas. Eis
aqui, portanto, os quatro eventos que correspondem a quatro realidades: primeiro,
Criação; segundo, a Queda; terceiro, a Redenção; e quarto, a Consumação.
REDENÇÃO
A história inteira da humanidade pode ser contada com apenas três palavras:
Criação
A Bíblia claramente requer que creiamos que Deus criou o universo do nada.
(Algumas vezes a expressão latina ex nihilo, “do nada”, é usada; diz-se então que a Bíblia
ensina a criação ex nihilo). Isso significa que, antes de Deus ter começado a criar o
universo, nada mais existia exceto o próprio Deus.
Essa é a inferência de Gênesis 1.1 que diz: “No princípio Deus criou os céus e a
terra”. A frase “os céus e a terra” inclui a totalidade do universo, O salmo 33 também nos
diz: “Mediante a palavra do SENHOR foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo
sopro de sua boca [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu” (Sl 33.6,9).
A idéia um tanto estranha de que o universo poderia ter sido criado de alguma coisa
que era invisível provavelmente não estivesse na mente do autor. Ele está contestando a
idéia de a criação ter vindo de alguma matéria preexistente, e para esse propósito o
versículo é inteiramente claro.
O CRIADOR E A CRIAÇÃO
Apesar da ausência dos termos Rei e Reino no relato da Criação (Gn.1,2), a idéia de
Reino está presente aqui e em toda a Escritura, principalmente no período da monarquia
em Israel (Sl 103.19). Evidentemente elas não apresentam nenhuma definição absoluta
para Reino de Deus. Mas se considerarmos o conceito mais básico de Reino, o que
implicaria na presença de um Rei que governa soberano seu Reino, então não há dúvidas
de que Deus Yahweh é o Rei absoluto e soberano sobre todas as coisas e nada escapa do
seu domínio.
Na criação, mais do que em qualquer outro registro bíblico, é possível perceber
Deus Yahweh usando suas prerrogativas reais. Em primeiro lugar como soberano
absoluto Deus Yahweh criou, não por constrangimento ou necessidade, mas por livre
vontade. Há muitos conceitos correlatos que poderíamos usar para identificarmos a
motivação de Yahweh para criar, sendo que, aquela mais inclusiva é a de que Ele criou
para revelar sua glória com vistas ao seu próprio deleite e adoração das suas criaturas
(Ef.1.11).
Em segundo lugar, o resultado da ação criadora do Rei foi o Reino Cósmico. A
diversidade dos elementos presentes neste reino e a maneira como eles se relacionam
harmoniosamente revelam a sabedoria de Yahweh. Deve-se lembrar que, ao criar este
reino cósmico, Ele iniciou um processo, o que implica num percurso linear, numa
consumação gloriosa onde o cosmos é o palco para Deus Yahweh se revelar cada vez mais
glorioso. Nesse particular devemos notar que Ele não apenas o criou, mas o mantém e
dirige de acordo com seus planos e projetos reais.
Em terceiro lugar este reino cósmico foi criado para funcionar a partir de leis e
modelos implantados pelo próprio Rei. Entre estes podemos destacar a maneira como este
Rei decidiu relacionar-se com seus súditos: o pacto. Introduzido divinamente pela
atividade monergística e unilateral, mas seguido pela responsabilidade do homem em
obedecer aos mandatos e as ordenanças presentes na estrutura da criação do reino
cósmico.
O primeiro é o mandato cultural. Nele o homem é convocado a se relacionar com
os cosmos e exercer o papel da sujeição e domínio (Gn 1.28), guarda e cultivo (Gn 1.17).
Extrair o máximo do cosmos para produzir, por meio das capacidades que foi dotado, o
habitat em que a vida humana deveria se desenvolver.
O segundo é o mandato social. Ao criar homem e mulher, Deus Yahweh ordenou
como deveria ser o relacionamento entre eles, forneceu princípios para o convívio social e
determinou-lhes a fecundidade.
O terceiro é o mandato espiritual. Nele, homem e mulher, deveriam responder ao
Criador num relacionamento de vida e amor. Para tanto eles foram criados com suficientes
condições (Imago Dei) para exercer este mandato. Desfrutando dos benefícios da
comunhão com o criador e alertados quanto às implicações da quebra deste vínculo
relacional com aquele que é Espírito (Gn 2.16,17).
Ravi Zacharias
Dignidade
O jurista português Jônatas Machado lembra que para a visão do mundo judaico -
cristã, essa dignidade especial de ser criado à imagem e semelhança de Deus manifesta-se
nas peculiares capacidades racionais, morais e emocionais do ser humano, na sua postura
física erecta, sua criatividade e na sua capacidade de articulação de pensamento e discurso
simbólico, distinta de todos os animais, por mais notáveis que sejam as suas
características. Jónatas destaca ainda que a teologia da imagem de Deus (imago Dei)
constitui a base das afirmações de grandes pensadores da história, a exemplo de Francisco
de Vitória, Francisco Suareza, Hugo Grócio, Samuel Pufendorf, John Milton, John Lock
James Madison e Thomas Jeferson, sobre a dignidade, a liberdade e a igualdade, as q uais
viriam a frutificar no mundo jurídico, especialmente o direito a liberdade individual e a
capacidade de autodeterminação democrática do povo. Ao contrário da cosmovisão cristã,
as demais cosmovisões não possuem uma base firme o suficiente na qual a defesa da
dignidade humana possa se apoiar. Qual é a justificativa pela qual as pessoas devem ser
tratadas com respeito e justiça se elas são meros acidentes biológicos?
Igualdade
Queda
Queda – Esse elemento da cosmovisão cristã explica o que houve de errado com o
homem e porque há tantas mazelas no mundo. O texto bíblico registra o seguinte:
“Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que
aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira
que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que
em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em
mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que
não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado q ue
habita em mim. (Rm 7.15-20).
Depravação Total
A depravação total quer dizer que o pecado permeou cada faculdade do ser humano
assim como uma gota de veneno permeia cada molécula de um copo de água. O pecado
urdiu cada faculdade no homem e assim ele polui todo ato seu.
1. A Alma - “Porque no dia em que dela comeres, morto morrerás” (Gn 2.17).
2. O Corpo - Não poderia comer da Árvore da Vida (Gn 2.17).
3. A Terra - Ele perdeu o domínio. A Terra foi amaldiçoada (Gn 3.17).
[KOSMOS].
“Cristo não morreu apenas a reconciliação dos homens, mas para a reconciliação do
Cosmo - κόσµον (2 Co 5.19)”.
Deus não seria o Criador de todas as coisas se não quisesse a Redenção de todas as
coisas.
Nem o céu nem a Terra serão aniquilados. Durante o Milênio, eles serão
“regenerados” (Mt 19.28) e no Estado Eterno - Reino Eterno, serão “santificados” (2 Pe
3.10-13). Por que causaria estranheza a idéia de a matéria existir para sempre? Se Deus
desejar que ela continue, então toda a opinião humana em contrário nada vale.
Observemos que, da mesma forma que a justiça reinará na Terra durante o Milênio,
habitará também na nova Terra (2 Pe 3.13). Alguns dos redimidos, sem dúvida, estarão no
lar - na Nova Jerusalém, mas mesmo os que habitarem na Nova Terra terão contato com o
Novo Céu (Ap 21.24).
Neste estágio chamado redenção, não é uma questão de acrescentar uma dimensão
espiritual à vida humana, mas é uma questão de dar nova vida e vitalidade àquilo que
existe, pois toda a criação esta incluída no escopo da redenção em Cristo Jesus. A
redenção significa restauração, ou seja, o retorno à bondade de uma criação original; a
restauração afeta toda a vida criacional e, não apenas uma área da vida. A renovação que é
direcionada para Cristo Jesus abrange renovações sociais e pessoais, sem dualidades
fragmentadoras do ser humano. Todas as coisas estão debaixo do domínio da graça de
Deus e, o sistema corruptor perpetrado pelo diabo não pode criar polaridade entre o
público e o privado.
“Esta Terra que tem sido consagrada pela ‘presença do Filho de Deus’, onde foi
feito o sacrifício mais custoso que jamais houve, no Calvário, a fim de redimir uma raça
perdida, e para a qual Deus tem reservado um grande futuro, é um lugar por demais
sagrado para ser extinta ou deixada de existir, porquanto é o planeta mais querido na
mente de Deus, dentre toda a Sua vastíssima criação” (Clarence H. Larkin).
O novo céu e a nova terra não resultarão de alguma catástrofe no fim do milênio.
Pelo contrário, são resultantes do processo de redenção e do reinado de Cristo durante mil
anos. É inconcebível que a obra redentora de Cristo, que culminará com o reinado milenar,
venha a resultar num fracasso caótico como a destruição do planeta.
Evangelho Equilibrado
Como explica Rodolfo Amorim, esses três elementos básicos [Criação, Queda e
Redenção] devem se manter em estado de constante equilíbrio, pois contém uma só
verdade. “Quando se enfatiza a Criação e seus potenciais, em detrimento da Queda, corre-
se o risco da adoção de uma visão utópica e romântica da realidade presente. Se o
contrário ocorre [a ênfase da Queda em detrimento da Criação], o cristianismo torna-se
uma religião pessimista com ênfase no abandono da realidade criada por Deus. Se a ênfase
estiver na redenção, em detrimento do pecado [Queda], corre-se o risco da adoção de um
cristianismo superespiritualizado”.
PRINCIPAIS COSMOVISÕES
Como já dissemos, cada indivíduo sobre a face da terra, quer esteja consciente disto
ou não, possui uma cosmovisão. Portanto, são várias as cosmovisões, pois são muitos os
elementos que as determinam. A cosmovisão é como uma fita cassete que fica tocando
uma música dentro da mente da cada pessoa. A maioria de nós ainda não se deu conta do
nível de influência que esta percepção da realidade tem em nosso comportamento, mas ela
está muito presente e produz efeitos em todas as esferas da vida.
Não só para realizar as tarefas básicas da igreja, evangelizando, discipulando e
defendendo a fé cristã, mas também para realizar o mandato cultural de forma efetiva e
transformadora, precisamos conhecer num nível profundo três cosmovisões: a nossa
própria, a daqueles a quem vamos servir, e a cosmovisão bíblica, que é aquela que
queremos transmitir, bem como a referência para a nossa própria.
Cada indivíduo possui a sua própria interpretação particular da realidade, como
vimos. Nesse sentido há tantas cosmovisões quanto são as cabeças. Mas há padrões que se
repetem na formação de qualquer cosmovisão. Assim, podemos tentar classificar as
cosmovisões.
Investigando o tema, percebemos que há diversas tipologias de cosmovisão, com
diferentes ênfases. Na verdade, temos razões para crer que até mesmo as diferenças
tipológicas refletem diferenças de cosmovisão!
a) A Tipologia Histórica Kuyperiana
Uma das primeiras classificações do ponto de vista cristão foi a realizada por
Kuyper, em suas Stone Lectures. Ele identificou quatro cosmovisões principais: o
Paganismo, o Romanismo, o Modernismo e o Calvinismo. O Paganismo corresponderia às
cosmovisões religiosas primitivas, anteriores ao advento da ciência. O Romanismo seria
uma tentativa de fundir o paganismo com o cristianismo. O Modernismo seria a
cosmovisão naturalista-científica da modernidade, e o Calvinismo a melhor expressão
moderna da cosmovisão cristã.
A tipologia de Kuyper foi posteriormente aprofundada e desenvolvida por
Dooyeweerd e Vollenhoven, na sua teoria dos Ground-Motives, ou motivos-base da
cultura ocidental. Vamos tratar dessa tipologia mais adiante.
A tipologia de Miller parece útil como análise dos padrões de pensamento que
encontramos na cultura ocidental hoje, tendo como vantagem principal a simplicidade. No
contexto brasileiro, ela retrata bem as tendências espiritualistas da religiosidade popular,
no caso da cosmovisão animista. Entretanto, por ser mais voltada para as estruturas atuais
de pensamento não fica clara a origem histórica desses padrões de pensamento. Nesse
sentido, a tipologia de Kuyper é claramente superior, ao indicar não só os padrões de
pensamento, mas também as origens de cada cosmovisão e as civilizações que cada
cosmovisão produziu.
Uma abordagem bem diferente é a seguida por James Sire, que identifica as
cosmovisões como movimentos intelectuais ou culturais que tiveram grande influência na
história, sem tentar forçá-los num padrão pré-definido. Assim, em concordância com o
título de sua obra principal sobre o assunto, Sire nos apresenta um catálogo, ou uma
listagem das cosmovisões principais, que também poderiam ser descritas como filosofias
de vida. Oito cosmovisões são apresentadas: o teísmo cristão, deísmo, naturalismo,
niilismo, existencialismo, monismo panteísta oriental, nova era e pós-modernismo. Vamos
apresentar abaixo cinco delas (excluindo o teísmo, o panteísmo e a nova era):
4) O Existencialismo: surge antes do séc. XX, mas se consolida após o niilismo deste
período. O existencialismo ateísta surge como resposta ao naturalismo que levou ao
niilismo, já o existencialismo teísta, como uma reação à ortodoxia morta do luteranismo.
O existencialismo ateísta aceita as seguintes proposições do naturalismo: A matéria existe
eternamente; deus não existe. O cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito
num sistema fechado. A história é uma corrente linear de eventos ligados por causa e
efeito, mas sem uma proposta abrangente. A ética está relacionada apenas aos seres
humanos. Porém, o existencialista muito mais, em relação ao naturalista, pelo ser humano,
bem como sobre como podemos ser significativos em um mundo insignificante. Assim,
mesmo sendo a realidade, primordialmente material, esta se apresenta ao ser humano em
duas formas: objetiva e subjetiva. A objetiva é exatamente como é no naturalismo, já a
subjetiva é a determinada pela apreensão do sujeito, onde o eu apreende o não eu e faz
deste parte de si mesmo. O sujeito apreende o conhecimento, não como uma garrafa, mas
como um organismo assimila um alimento. Nesta perspectiva, o ser humano faz o que ele
é, segundo Sartre: Antes de tudo, o homem existe, cresce, aparece em cena e, somente
depois, define-se a si mesmo. Somos autônomos, criamos nossos próprios mundo e os
governamos, os nossos valores segundo nós mesmos. Assim, o mundo objetivo parece-nos
um absurdo, por não se adequar às regras estipuladas por nós como o mundo subjetivo. É
aí que o existencialista vai além do niilismo, pois se revolta com o mundo objetivo ao
criar e priorizar o seu próprio mundo através da subjetividade.
Já o existencialismo teísta aceita as seguintes proposições do teísmo: Deus é infinito
e pessoal (triúno), transcendente e imanente, onisciente, soberano e bom. Deus criou o
cosmo ex nihilo para operar com a uniformidade de causa e efeito num sistema aberto. Os
seres humanos são criados a imagem e semelhança de Deus. Podem conhecer alguma
coisa de Deus e do cosmo e podem viver significativamente. Deus pode e estabelece
comunicação conosco. Fomos criados bons, mas agora estamos caídos e necessitamos ser
restaurados através de Cristo. Para os seres humanos, a morte é ou o portão para a vida
com Deus ou separada Dele. A ética é transcendente e baseada no caráter de Deus. Deste
modo, o existencialismo teísta é mais um conjunto de ênfases no teimo do que uma
cosmovisão separada, porém tais ênfases o colocam em desacordo com o teísmo,
principalmente devido suas relações com o existencialismo ateísta e com a teologia do séc.
XX. As ênfases estão mais relacionadas com a natureza humana e sua relação com o
cosmo e com Deus do que a natureza destes. Os seres humanos são pessoais e quando
estes chegam a sua consciência plena, descobrem-se a si mesmos num cosmo alienado. Se
Deus existe ou não isso não deve ser resolvido pela razão, mas pela fé. O início não se dá
a partir de Deus. No teísmo assume-se Deus com um dado caráter, e as pessoas são
definidas a partir Dele. No existencialismo teísta chega-se a mesma conclusão, contudo o
ponto de partida é o ser humano ao conscientizar-se de si mesmo. Deus sempre se revelará
ambiguamente, e mediante a isso somado ao conflito advindo do mundo objetivo e
subjetivo a indivíduo, em sua solidão, deve escolher dar um passo radical de fé em direção
a religião, de forma que tal atitude possibilitará as proposições do teísmo. No entanto a
subjetividade será a definidora do estilo de vida do sujeito nesta circunstancia. Toda a
primazia se dá pela subjetividade pessoal, pois a realidade é um paradoxo que só Deus
resolve, a nós cabe a escolha de confiar Nele e mediante nossa subjetividade partirmos
para a ação. A história em si é desprezível enquanto fato, mas como mito, ou significado
religioso é importante para o presente a ser vivido.
2) Dualismo Pagão
Nas formas pagãs de religião, a divindade é identificada com uma parte, aspecto
força ou princípio no universo criado. 4 A divindade é uma subdivisão da realidade, um
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Não é preciso dizer que esse tipo de religião produziu sérias consequências
práticas. Os gregos, embora amassem a filosofia, achavam que o trabalho material era
inferior. Assim, desprezavam a pesquisa empírica e o trabalho artesanal. Por essa razão
o mundo ocidental, enquanto esteve preso à influência grega, foi incapaz de produzir
pesquisa científica e tecnologia industrial. Só com a renascença e a Reforma essa
atitude dualista foi superada.
O dualismo grego afetou profundamente a religião cristã. Os cristãos gnósticos,
por exemplo, desprezavam o corpo físico. Sua espiritualidade era dedicada à reflexão e
iluminação. Assim eles não buscavam justiça social, não ajudavam os pobres, e
buscavam desligar-se de tudo o que consideravam terreno. Havia dois partidos: os
gnósticos ascéticos negavam os desejos do corpo e o maltratavam para ganhar a
iluminação. Os gnósticos libertários buscavam satisfazer todos os desejos do corpo,
raciocinando que isso não poderia tirar a pureza de seu espírito interior. Assim, caiam
na gandalha!. O que eles tinham em comum? Ambos eram dualistas: valorizavam o
espírito e detestavam tudo o que era material, terreno.
3) O Teísmo Bíblico
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As três cosmovisões acima são os tipos básicos de cosmovisão, examinadas sob o
ponto de vista da orientação religiosa fundamental. Elas também correspondem às três
grandes tradições filosófico religiosas do mundo: o panteísmo oriental, as diversas
formas de dualismo pagão, que dominaram no ocidente e também ocorreram no oriente,
e o teísmo encontrado no Judaísmo, no Cristianismo e no Islã.
Além dessas três cosmovisões primárias, temos uma série de variações
relacionadas aos diferentes contextos históricos em que elas se desenvolveram. Assim
há variedades de dualismo pagão, de panteísmo e de teísmo cristão, conforme a
consistência dos cristãos em manter sua própria cosmovisão.
O mundo ocidental viu dois tipos singulares de dualismo emergirem como forças
culturais de dominaram por séculos a civilização e até hoje exercem sua influência: o
dualismo Romanista Natureza/Graça e o dualismo Moderno Natureza Liberdade.
4) O Dualismo Natureza/Graça
Quando o cristianismo nasceu, a maior parte do mundo ocidental e médio -
oriental seguia algum tipo de dualismo. O mais influente era o dualismo grego, que
havia se espalhado por todo o império romano. Durante os primeiros séculos do
cristianismo, enquanto o evangelho se espalhava em todas as direções, o dualismo
grego foi penetrando nas igrejas e moldando a própria teologia cristã. Os filósofos
gregos que mais influenciaram o cristianismo foram Platão e Aristóteles. Inicialmente,
com a influência do platonismo, muitos cristãos começaram a entender a espiritualidade
como uma espécie de visão mística, e a salvação como uma libertação do mundo
presente. O cristianismo influenciado pelo platonismo não dava muita atenção às
questões terrenas. Nesse período surgiu o movimento monástico, que buscava se
aproximar de Deus afastando-se das coisas terrenas (sexo, alimento, política, diversão,
rotina de trabalho, etc). Essa é uma das razões porque até hoje o sacerdote católico não
pode se casar, devendo permanecer casto.
No final da idade média, o grande teólogo Tomás de Aquino realizou uma síntese
entre o dualismo grego forma/matéria e o teísmo cristão. Ele procurou adaptar a
perspectiva grega à perspectiva cristã, desenvolvendo o sistema natureza/graça.
Conforme esse sistema, a queda não teria corrompido totalmente a natureza, mas
apenas a enfraquecido, fazendo-a perder a graça sobrenatural. A salvação seria o
retorno do dom sobrenatural da graça ao mundo. Ou seja, para ele, a graça não era a
renovação da própria natureza, mas um complemento, um acréscimo à natureza.
A partir dessa teologia, Aquino considerou que a natureza funcionava
adequadamente, mesmo sem a graça. A razão humana, por exemplo, precisava da luz
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da graça para operar melhor, mas em si mesma não havia se corrompido. Assim, ele
concluiu que nossa visão sobre o que a natureza é poderia ser baseada numa filosofia
pagã, produzida pelo homem natural. A filosofia que Aquino usou para explicar o
mundo foi a filosofia de aristóteles. E o dualismo forma/matéria encontrou seu caminho
para dentro do cristianismo.
Diversos pensadores evangélicos apontaram que o sistema natureza/graça foi um
erro fatal para o cristianismo. Ao aceitar esse esquema, os cristãos aceitaram que as
realidades da criação, como o pensamento filosófico, a educação, a família, a política, e
até a moral, fossem consideradas parte da esfera da natureza, devendo seguir suas
próprias leis. E a fé em Cristo, a igreja, etc., seriam parte da esfera da graça, que é
adicionada à natureza. Sob influência dessa visão, os homens foram pouco a pouco
reivindicando em cada uma dessas áreas a liberdade de toda influência da esfera da
graça. A religião foi sendo tratada como uma questão de igreja, ou então de foro íntimo,
e sua influência sobre todas as questões naturais foi anulada. Na linguagem de Francis
Schaeffer, quando Tomás de Aquino deu liberdade à natureza, a natureza devorou a
graça.
5) O Dualismo Natureza/Liberdade
À medida em que a idade média findava, os pensadores europeus começaram a
buscar alternativas em relação à filosofia grega. Na Reforma, os protestantes rejeitaram
de forma decidida o dualismo grego forma/matéria. Afirma-se, por exemplo, que
Lutero disse o seguinte: Foi-me ensinado que ninguém pode entender Paulo sem
Aristóteles. Mas eu aprendi que é impossível compreender Paulo com Aristóteles!
No período renascentista desenvolveu-se o humanismo ocidental. A marca
principal do humanismo é a noção de que o homem encontrará sua realização plena por
meio de uma libertação plena de toda opressão. Os humanistas surgiram de um período
de intensa opressão política e religiosa (a idade média), e abominavam a limitação da
liberdade de pensamento, da ação, da liberdade política, e em muitos casos, da
liberdade moral e sexual.
Ao lado de uma valorização crescente do homem e da liberdade humana, os
humanistas defendiam um controle racional da realidade. Através da crítica racional, da
pesquisa científica e da tecnologia o homem poderia não só derrotar as forças que o
oprimiam, mas também ganhar o controle da criação, com o fim de satisfazer a todas as
necessidades humanas. Isso levou a uma perspectiva mecânica do mundo, como se ele
fosse uma máquina que podemos compreender e dominar por meio da matemática e da
indústria.
33
Surgiu assim no mundo ocidental outro dualismo que se tornou o princípio
dinâmico por trás da nossa cultura: o dualismo natureza/liberdade.
Conforme esse dualismo moderno, o homem é essencialmente um espírito
racional, ansiando por liberdade para se realizar. Mas o principal obstáculo a essa
realização é a natureza, que impõe limitações à liberdade. O homem entra então em luta
com a natureza buscando controlá-la por meio da tecnologia.
O dualismo moderno é profundamente contraditório. Um exemplo evidente disso
é o fato de ter levado o homem a um choque com a natureza. O que vemos, de fato, é
que após a etapa inicial da modernidade, quando a ciência evoluiu bastante, ocorreu a
revolução industrial. A busca do controle tecnológico de toda a natureza para fins
econômicos gerou uma destruição enorme do meio ambiente do homem. Assim,
chegamos ao princípio do século XXI metidos numa grave crise ecológica.
Para controlar a natureza, o homem construiu uma explicação mecanicista e
materialista da natureza. O evolucionismo darwiniano, por exemplo, é uma tentativa do
homem de explicar a origem da vida de forma naturalista, sem se apoiar na fé em Deus.
Nasceu assim o naturalismo filosófico, que buscam explicar a natureza a partir da
natureza, como se ela fosse um mecanismo com leis determinísticas.
Este é o problema principal do dualismo moderno. Para afirmar sua liberdade
absoluta, o homem moderno excluiu Deus. Para controlar a natureza em seu benefício,
explicou a natureza como um mecanismo determinista. Entretanto, o próprio homem é
parte da natureza! Assim, o homem também poderia ser explicado a partir das leis da
natureza, como um produto do mecanismo evolutivo. Mas se isso for verdade, o
homem não pode ser realmente livre!
Ou seja: na busca desenfreada por liberdade, o homem moderno construiu uma
ciência naturalista que a cada dia nega que o homem tenha qualquer liberdade. Assim,
no evolucionismo, o homem é meramente o produto da evolução biológica; no
socialismo marxista, o homem é meramente produto do sistema econômico; em várias
teorias sociológicas, o homem é produto da sociedade; para muitos psicólogos, o
homem é produto de seu subconsciente.
Os efeitos dessa perspectiva estão entre nós. Vivemos numa sociedade que
acredita ser possível construir a liberdade, e assim, a felicidade humana por meio da
ciência. Há vários exemplos disso. Nas relações afetivas, por exemplo. O homem
moderno considera o casamento e a família tradicional como obstáculos à liberdade.
Assim, a família tradicional foi bombardeada de todos os lados: mudanças na
legislação, ridicularização na mídia cultural, estudos acadêmicos que a consideram um
obstáculo para o desenvolvimento humano. Em lugar da família tradicional, propõe-se
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a liberdade para o indivíduo construir seus relacionamentos. Modelos novos de família,
como as famílias matriarcais, ou abertas, ou famílias compostas (fruto de vários
casamentos), famílias homossexuais, etc., são defendidos como formas válidas.
Temos assim uma reengenharia da família, na qual psicólogos, sociólogos,
sexólogos, e legisladores buscam construir artificialmente, por meio de controle
científico racional, sistemas humanos mais humanos. O efeito disso, no entanto, é
impossível de esconder. Os casamentos duram cada vez menos, e os filhos desses
relacionamentos desenvolvem distúrbios psicológicos e morais. O custo financeiro
desses divórcios é enorme, bem como o custo psicológico. As pessoas vivem cada vez
mais sós e assim tornam-se cada vez mais consumistas, favorecendo o sistema
capitalista de exploração. A quantidade de mães solteiras aumenta assustadoramente, e
a liberdade sexual dificulta o controle de doenças ao mesmo tempo em que alimenta
redes de prostituição e pornografia, geralmente associadas ao consumo de drogas.
As pessoas mergulhadas no sistema moderno de vida e pensamento vivem
existências intensamente contraditórias. Permanecem o tempo todo numa intensa fúria
libertária, buscando se livrar de tudo que as oprime: leis morais, família, tradições
religiosas, governo, leis da natureza, envelhecimento, dor, etc. Mas no processo, negam
sua própria liberdade; tornam-se elas mesmas parafusos da grande máquina.
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Os Fatores Essenciais de Uma Cosmovisao Crista
Esses 42 artigos de Afirmacao e Rejeicao – compreendem os fundamentos teologicos nos quais todos
da “The Coalition on Revivalis 17 Sphere Documents. Um manifesto para a Igreja Crista, Artigos de
Afirmacao e Rejeicao no Reino de Deus, e todos outros documentos oficiais devem basear-se neste
manifesto. Esses 42 artigos estabelecem que sao a essencia da Cosmovisao Crista e se baseiam no
fundamento da inerrante palavra escrita de Deus, a Biblia.
A Natureza de Deus
1. Afirmamos que existe apenas um Deus vivente que e infinito e perfeito, de puro espirito,
invisivel, e absolutamente distinto de Sua criacao.
o Negamos qualquer e toda visao de Deus que negue ou desvie do conceito de Deus
tradicional do sistema Judaico-Cristao, incluindo o Ateismo, Deismo, deuses finitos,
Panteismo e Politeismo.
2. Afirmamos que Deus e tanto Transcedente e Imanente em Sua criacao.
o Negamos que em Seu Ser Deus esteja identificado com Sua criacao.
3. Afirmamos que em determinados eventos Deus sobrenaturalmente intervem no curso dos
eventos naturais ou humanos para cumprir Seus propositos redentivos.
o Negamos qualquer visao naturalista que rejeite um Deus sobrenatural ou Suas
intervencoes miraculosas na natureza ou historia.
4. Afirmamos que Deus e um Ser pessoal, infinito, auto-existente, imutavel, indivisivel,
onipotente, oniciente, onipresente, e ser espiritual que e o criador e sustentador do Universo.
o Negamos que Deus seja impessoal, finito, temporal, mutavel, materia divisivel, ou seja
limitado em Seu poder, conhecimento, ou presenca no Universo.
5. Afirmamos que Deus e absolutamente santo, justo, bom, verdadeiro, amoroso, e
misericordioso em Seu ser e todas Suas atividades.
o Negamos que Deus seja algo menos que absolutamente e totalmente perfeito em todos
os Seus atributos.
6. Afirmamos que este Deus unico, exite eternamente em tres distintas pessoas (Pai, Filho, e
Espirito Santo), cada um compartilhando igualmente os atributos divinos.
o Negamos que Deus seja mais do que um Ser ou que Ele seja menos que as tres pessoas
eternas (como no Monoteismo, Arianismo, ou Modalismo).
Tragicamente existem alguns na igreja que esqueceram-se destas verdades elementares para a Fé
Cristã.
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o Temos que nos conscientizar que idéias produzem consequencias, especialmente
quando essas idéias de formas vãs expõe que governos humanos estão sobre o controle
do mundo.
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