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O que é cristianismo?

(Conceito e significado)

Se for preciso dizer o que é cristianismo em uma frase, ela deverá afirmar pelo menos os seguintes
pontos: o cristianismo é a fé em que Deus se revelou em Jesus de Nazaré e que, por meio deste, a
humanidade é presenteada com a possibilidade de viver em plena comunhão consigo mesma, com o
mundo e com Deus.

Em termos técnicos, o cristianismo é uma religião monoteísta que há cerca de dois mil anos se
derivou do judaísmo na região do Oriente Médio. Sua figura central é a de Jesus, que se acredita ser
o Filho de Deus, a encarnação humana da própria Divindade.

Trata-se da maior religião do planeta (reunindo cerca de 30% da população terrestre), e da mais
influente no mundo ocidental. Precisamente essa influência é tanto um auxílio como um entrave
para compreendermos o seu significado. Como expressa Fabrice Hadjadj:

“[…] temos uma tendência a opor paraíso e história; contudo, a ideia de História, com H maiúsculo (e
até com uma bomba H), deriva do paraíso tal como pregado por judeus e cristãos. Não temos
consciência disso por se tratar de algo que nos é extremamente familiar: desdenhando do judaísmo e
do cristianismo, somos, apesar de tudo, seus herdeiros, e vamos vivendo graças ao que cai de sua
mesa.”

(O Paraíso à Porta – Ensaio sobre uma alegria que desconcerta, p. 42)

O exemplo evocado pelo autor – do papel exercido pela ideia de paraíso sobre a noção ocidental de
História – é um entre vários que mostram ser o cristianismo (ao lado do judaísmo, de que descende)
o solo em que se desenvolveu a civilização ocidental.

Daí a importância de estudarmos sua história, suas crenças, seus símbolos, suas festas e suas
ramificações. É tudo isso o que este post lhe oferecerá. Continue a leitura se você quer saber mais
sobre o que é cristianismo!

[Foto: Victoria and Albert Museum]

História do cristianismo: origem e desenvolvimento

Judaísmo e helenismo

O surgimento do cristianismo se deu no contexto da religião judaica e da cultura helenista.

Jesus foi entendido pelos primeiros cristãos como a pessoa em quem se cumpriu a promessa divina
(por cuja realização esperavam os hebreus) de um profeta, sacerdote e rei que possibilitaria ao povo
de Israel concretizar a sua vocação – a de ser o povo por intermédio do qual todas as nações
poderiam conhecer a Deus.
Ao mesmo tempo, os judeus se achavam sob domínio do Império Romano, que por sua vez tinha por
maiores forças intelectuais as ideias importadas do pensamento grego – àquela altura, repaginadas e
debatidas por diferentes escolas, como o estoicismo, o epicurismo e as várias modalidades de
ceticismo.

Filon de Alexandria. [Foto: Internet]O encontro entre a religião judaica e o pensamento grego está
exemplarmente sintetizado na vida de Fílon de Alexandria, filósofo médio-platônico contemporâneo
de Cristo. De sua autoria, há duas importantes obras traduzidas para o português: Questões sobre o
Gênesis e Da Criação do Mundo – E outros escritos.

Por um lado, a conjugação de judaísmo e cultura helênica é um dado fundamental para


compreendermos adequadamente o que é cristianismo.

Mas, por outro lado, corre-se permanentemente o risco de atribuir a um dos termos dessa base um
destaque que acabe por obscurecer a relevância do polo complementar.

Uma teóloga contemporânea que tem se destacado por traçar uma origem mais profundamente
judaica, e menos dependente da influência grega, do que habitualmente se supõe ser o caso para o
cristianismo é Margaret Barker, autora de Introdução ao Misticismo do Templo e Introdução à
Teologia do Templo.

Em seus livros, a estudiosa apresenta a hipótese segundo a qual a autoimagem de Jesus e a maneira
como os primeiros cristãos o compreenderam estavam diretamente enraizadas nas práticas e
crenças que o hebraísmo antigo, a despeito da religiosidade hebraica oficial, desenvolveu em torno
do Primeiro Templo de Jerusalém.

Igreja primitiva

Dos vários resultados alcançados por essa abordagem consta a descoberta de que o
desenvolvimento orgânico da religião dos hebreus pode ter manifestado tendências antissacrificiais
que contrastavam com as prescrições da Lei para o oferecimento de holocaustos.

Qualquer que seja o nível de acurácia histórica desse palpite, o fato é que os primeiros cristãos
(segundo Barker, conscientemente continuadores daquele hebraísmo popular) entenderam a
crucificação de Jesus como o ato que a um só tempo concretizou, julgou e redimiu nosso ímpeto
religioso natural.

Ou seja: o legalismo religioso levou ao contrassenso de condenarmos e sacrificarmos a própria


Divindade; mas, exatamente ao cometermos esse que foi o maior dos pecados, Deus demonstrou a
perversidade das ações humanas baseadas no orgulho e nos concedeu a possibilidade de trilhar um
caminho de verdadeiro amor a ele e ao próximo.

São Paulo Apóstolo. [Foto: Renata Sedmakova/Shutterstock]Uma análise detalhada das epístolas do
apóstolo Paulo foi feita sob essa perspectiva pelo teólogo Robert Hamerton-Kelly no livro Violência
Sagrada – Paulo e a hermenêutica da cruz.
Os efeitos concretos dessa consciência no âmbito da Igreja primitiva (como se denomina a
comunidade cristã do primeiro século) foram o esforço de se exercitar o auxílio mútuo e a disposição
a anunciar a todo o mundo conhecido a boa-nova (literalmente, evangelho) de que, em Cristo, Deus
estava redimindo os seres humanos.

O relato desse período, cuja principal fonte é o livro de Atos dos Apóstolos, dá conta de que o
cristianismo, sendo visto como uma seita dissidente da religião judaica, foi alvo de grande
perseguição política e religiosa.

Martírio de Estevão.

Patrística

Mas os problemas enfrentados pelo cristianismo não foram exclusivamente de origem externa. Entre
os próprios grupos cristãos, surgiam deturpações do ensino transmitido pelo colégio apostólico, que
viriam a se consolidar em doutrinas heréticas.

Já nas cartas do Novo Testamento, vemos o combate a ideias como as de que Jesus não era
realmente humano e de que Jesus não ressuscitou corporalmente de fato.

Esses desvios doutrinários eram frequentemente motivados pela intenção de tornar a mensagem
cristã mais palatável aos padrões de pensamento estabelecidos.

A Patrística – período que comportou a atuação dos chamados Pais da Igreja, pensadores que pela
primeira vez trataram de maneira sistematizada as alegações cristãs – caracteriza-se por escritos
polêmicos que alvejavam tanto as heresias internas como as escolas de pensamento adversas.

Isto é: em vez de abdicar, mesmo que parcialmente, do ensino apostólico, os Santos Padres valeram-
se das críticas vindas do pensamento influente como oportunidades de pensarem com profundidade
sobre os fundamentos do cristianismo.

Exemplo disso é o eloquente discurso de Clemente de Alexandria, disponível em edição bilíngue


(grego-português), Exortação aos Gregos. Para conferir as primeiras páginas gratuitamente, é só
clicar no título do livro!

Idade Média

À Patrística se seguiu o período medieval, durante o qual o pensamento cristão se desenvolveu sob a
forma da Escolástica. Para saber mais sobre ela, basta clicar no último link, que o redirecionará a uma
página deste blog dedicada exclusivamente ao assunto!

Entre os pensadores representativos dessa época estão São Bernardo de Claraval, autor de As
Heresias de Pedro Abelardo; Santo Tomás de Aquino, autor das Questões Disputadas sobre a Alma e
da Questão Disputada sobre as Criaturas Espirituais; e Duns Scot, autor do Tratado do Primeiro
Princípio.
Assista abaixo à palestra de lançamento deste último livro, ministrada por Sidney Silveira, autor do
texto de apresentação da obra e coordenador da Coleção Medievalia:

Afora o aspecto intelectual da Idade Média, um evento de primeira importância ocorrido nessa era
foi, em meados do século 11, o Grande Cisma.

Com o acontecimento, radicalizou-se uma oposição que vinha sendo contornada desde o século 4,
com a cisão entre o Império Romano do Ocidente, cuja capital era Roma, e o Império Bizantino, cuja
capital era Constantinopla.

A insubordinação da cristandade oriental ao papado romano – junto a divergências doutrinárias


abordadas abaixo, em seção sobre o catolicismo ortodoxo – inaugura a divisão que ainda hoje vigora
no seio do cristianismo.

Reforma

[Foto: tela de Ferdinand Pauwels]Outra fragmentação com resultados que continuam em curso foi a
acontecida no decorrer do século 16, com a eclosão e os desdobramentos da Reforma Protestante.

Igualmente, suas propriedades doutrinárias serão vistas de mais perto na seção sobre o
protestantismo, abaixo.

Do ponto de vista teológico, o movimento pode ser entendido como um redespertamento


agostiniano entre pensadores cristãos. Para saber mais sobre as ideias do bispo de Hipona, e a
diversificada influência desempenhada por elas, confira o texto dedicado a Santo Agostinho clicando
aqui!

De um ponto de vista cultural, mais amplo, a Reforma foi o efeito, sobre o cristianismo ocidental, do
Renascimento, vigente na Europa a partir do século 14. Grosso modo, essa tradição consolidou-se, de
um lado, no humanismo secular e, de outro lado, no humanismo cristão, do qual é expressão a
Reforma.

O livro Fé e Razão na Renascença – Uma introdução ao conceito de Deus na obra filosófica de


Marsílio Ficino, de Talyta Carvalho (e com prefácio de Luiz Felipe Pondé), investiga a teologia
filosófica subjacente às ideias de um humanista católico – anterior à Reforma, mas contado entre os
renascentistas que proporcionaram solo a ela.

Contemporaneidade

[Foto: Johan Vlok Louw, “Golgotha”]Atualmente ramificada em catolicismo romano, catolicismo


ortodoxo e protestantismo, a religião cristã enfrenta novos desafios, e conta com novas
possibilidades, para anunciar a sua mensagem e vivenciar, sempre de novo, o que é cristianismo.

Desafios e possibilidades que surgem tanto em situações prósperas como em circunstâncias de


privação, tanto nos debates filosófico-teológicos como na experiência concreta do cotidiano.

Com frequência, a espiritualidade cristã aparece como um elemento essencial a compor um fato ou
uma cultura historicamente relevantes – e isso nas condições sociopolíticas mais variadas.
Entre diversos acontecimentos marcantes na história do Brasil, a Guerra de Canudos, no fim do
século 19, é um exemplo paradigmático de evento catalisado pelo fervor religioso, mantido com
espontaneidade por uma comunidade de cristãos.

Documento indispensável para compreendermos a mente do líder espiritual daquele povoado é o


texto Apontamentos dos Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Salvação dos
Homens, de autoria do próprio Antonio Conselheiro.

A obra – contendo o fac-símile do manuscrito original, e acompanhada de um livro-comentário do


pesquisador responsável pela redescoberta do escrito, Pedro Lima Vasconcellos – está disponível no
box Antonio Conselheiro por ele mesmo, que conta com prefácio de Leandro Karnal e pode ser
conferido por meio do último link.

Precisamente a relevância do evangelho cristão para os vulneráveis, percebida com agudeza por
alguém como o Conselheiro, é o tema motivador dos trabalhos teológicos do dominicano Carlos
Mendoza-Álvarez.

Desse autor já estão publicados em português os volumes O Deus Escondido da Pós-Modernidade –


Desejo, memória e imaginação escatológica: ensaio de teologia fundamental pós-moderna e Deus
Ineffabilis – Uma teologia pós-moderna da revelação do fim dos tempos, obras incontornáveis na
discussão teológica contemporânea.

Como referenciais teóricos do pensador mexicano aparecem autores como Emmanuel Levinas, Paul
Ricoeur e, em especial, René Girard, erudito que concebeu a teoria mimética.

Essa escola de pensamento tem sido de importância capital para a reflexão hodierna sobre a fé
cristã. Entre os seus corolários, está a tese de que a oposição moderna ao cristianismo é possibilitada
por ele e conduz inadvertidamente a que retornemos a ele. Para entender as ideias que estão por
trás dessas afirmações, é só clicar no último link acima!

O filósofo Alfonso López Quintás é autor de O Conhecimento dos Valores e A Tolerância e a


Manipulação, ambos publicados pela É Realizações.

Obviamente, as expressões cristãs no mundo contemporâneo não se limitam a construções teóricas


e mobilizações populares, ainda que estes certamente estejam entre os indícios mais significativos da
relevância continuada do cristianismo.

Outro sinal disso – e, neste caso, mais visível – é o vigor da arte sacra atual, e o impacto que é
deixado por ela nas manifestações estéticas como um todo.

Cláudio Pastro, brasileiro que chegou a ser considerado um dos maiores artistas sacros do mundo,
responsável por obras expostas pelo Vaticano e pela restauração da Basílica de Aparecida, proferiu
na É Realizações Espaço Cultural, dois anos antes de falecer, uma palestra a que você pode assistir
agora mesmo:

Pastro é o ilustrador das capas dos livros Além das Palavras – Vivendo o Credo Apostólico, do Irmão
David Steindl-Rast; O Paraíso à Porta – Ensaio sobre uma alegria que desconcerta, de Fabrice Hadjadj;
Encarnação – Uma filosofia da carne, Eu Sou a Verdade – Por uma filosofia do cristianismo e Palavras
de Cristo, de Michel Henry; e O Diário da Felicidade, de Nicolae Steinhardt.

Principais crenças do cristianismo

Trindade

Sem dúvida, a doutrina nuclear do cristianismo, que o distingue até mesmo das demais religiões
monoteístas – sendo, portanto, determinante ao investigarmos o que é cristianismo –, é a afirmação
de que a essência de Deus é trina.

Para o cristianismo, Deus não é uma substância autocentrada, mas, antes, uma Família, uma eterna
comunhão interpessoal.

Assim, ao mesmo tempo que é um ente uno (pois de outro modo se trataria de politeísmo), Deus
subsiste em três diferentes Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Nos termos da metáfora tornada clássica por Santo Agostinho e por Ricardo de São Vitor: o Pai ama
eternamente o Filho, o Filho é eternamente amado pelo Pai e o Espírito Santo é o amor com que as
duas outras Pessoas estão eternamente seladas.

As imagens e ênfases empregadas na descrição da fé trinitária variam conforme as épocas e as


tradições religiosas, mas há uma base permanente para semelhante crença.

A noção fundamental a esse dogma é que o Pai é a perfeita invisibilidade do Divino, o Filho é a
perfeita manifestação do Divino e o Espírito Santo é a perfeita atuação do Divino no mundo e nos
seres humanos.

Mais que uma doutrina entre outras, a afirmação de que a Divindade é triúna subjaz a todas as
crenças cristãs e determina seus contornos.

Por exemplo, a doutrina cristã sobre a origem do universo embute a especificação de que no Pai está
a ideia criadora, no Filho a atividade concretizadora e no Espírito a comunicação vivificadora, todas
igualmente imprescindíveis para que a realidade se sustente.

A escritora britânica Dorothy Sayers aplicou esse esquema à crítica literária, advogando que todo
esforço criativo depende da harmonia entre ideia, atividade e poder. Essa teoria está exposta com
detalhes no livro A Mente do Criador, que você pode adquirir clicando no título da obra.

Pecado original

O pecado original e a expulsão do paraíso, retratando a perdição de Adão e Eva no Jardim do Éden,
1508-1512, Michelangelo, Teto da Capela Sistina, Vaticano.

Um corolário da doutrina da Santíssima Trindade é que no fundamento da realidade está o amor. O


que dizer, então, de todo o mal e sofrimento que assolam o mundo?
A resposta cristã consiste em reputar tais adversidades como perversões da ordem do mundo,
essencialmente boa, e em identificar a pecaminosidade humana como sua causa. O mal é visto,
assim, como efeito de um uso inadequado da liberdade.

Essa explicação é sintetizada no símbolo da queda, segundo o qual a revolta contra a bondade divina
é uma escolha, se bem que certa tendência à rebeldia compõe a própria estrutura humana.

A crença em tal inclinação natural à malícia constitui a doutrina a que se chama pecado original.

Como expressou o filósofo cristão Blaise Pascal, o ser humano é apto a nutrir um amor infinito, que
só está bem empregado quando dirigido a um objeto igualmente infinito – o que é o mesmo que
dizer: a Deus.

O pecado original consiste, assim, em dirigirmos o amor infinito a nós mesmos, que somos finitos.
Este tema é minuciosamente explorado por Andrei Venturini Martins no livro Do Reino Nefasto do
Amor-Próprio – A origem do mal em Blaise Pascal.

A inspiração para que Pascal desenvolvesse a sua teoria do pecado veio de Cornelius Jansenius,
teólogo de que se derivou o chamado jansenismo, uma escola que exerceu influência decisiva sobre
a rica tradição do moralismo francês.

Enfatizar a reeducação das atitudes e dos desejos como meio de aprimorar a moralidade é uma
consequência natural da afirmação de que o mal se deve ao pecado e o pecado é um mau uso da
liberdade.

Jansenius escreveu uma primorosa exortação a tal mudança de postura, intitulada Discurso da
Reforma do Homem Interior. A palestra de lançamento da tradução da obra em português, proferida
por Luiz Felipe Pondé e Andrei Venturini Martins, pode ser conferida clicando no título do livro!

Vida de Jesus: nascimento virginal, ressurreição corporal

Se na base do cristianismo está a fé trinitária, em seu centro – como no centro da Trindade – está a
Pessoa de Cristo, o Filho de Deus.

Não é à toa que o título “Cristo” determina o nome desta religião. A maneira mais concreta de
sintetizar o que é cristianismo é defini-lo como a confiança em que Jesus de Nazaré, reconhecido por
seus seguidores como o Cristo (o Messias, o Ungido), seja o próprio Deus encarnado homem.

Ele é, como ensina a doutrina da Trindade, a perfeita manifestação do Divino, o que significa que é
somente por meio dele que os humanos, habilitados pelo Espírito Santo, podem ver o Pai (que é,
afinal, a perfeita invisibilidade do Divino).

Conforme expressou São Paulo Apóstolo:

“[Cristo] é a Imagem do Deus invisível, / o Primogênito de toda criatura” (Colossenses 1,15).

O filósofo, matemático e físico francês Blaise Pascal (1623 – 1662). [Foto: Terra]Também observou
Pascal que a espécie humana, uma vez acometida pelo pecado original, só pode ter preenchido o
vazio infinito ocasionado pela negação do amor devido a Deus por alguém que seja a um só tempo
semelhante a nós e infinito, isto é, divino. Nos termos pascalianos, trata-se do Cristo Mediador.

A demonstração de que Jesus de Nazaré era, afinal, o Cristo foi dada com sua própria vida: os ensinos
que transmitiu, os milagres que realizou, o sofrimento que padeceu.

O relato biográfico-teológico disso é oferecido pelos Evangelhos, dos quais os quatro canônicos
(reconhecidos pela Igreja como legitimamente cristãos) são os de Mateus, Marcos, Lucas e João.

À luz do que Jesus cumpriu, uma nova vida torna-se possível ao ser humano; portanto, é também à
luz dele que todas as demais afirmações cristãs devem ser avaliadas. Isso é o que é explorado pelo
ensaio O Pecado Original à Luz da Ressurreição – A alegria de descobrir-se equivocado, do teólogo
inglês James Alison.

Como evocado no título do livro, um acontecimento-chave na revelação de Deus em Jesus Cristo é a


sua ressurreição dentre os mortos. De fato, no início e no fim da vida do Nazareno há um grande
milagre que aponta para o fato de a sua vida consistir no paradoxo da encarnação de Deus, a
manifestação finita do infinito.

Além da vitória sobre a morte no terceiro dia a partir da crucificação, há a vitória sobre o pecado já
na concepção de Jesus. A narrativa cristã conta que sua mãe permanecia virgem quando ele foi
gerado, sendo então miraculosamente concebido pelo Espírito Santo.

Com o dogma do nascimento virginal se garante que Jesus não foi afetado pela queda, e não herdou
o pecado original.

A centralidade da Pessoa de Cristo, ao mesmo tempo que implica um caráter de exclusividade à sua
obra, permite ao cristianismo estabelecer diálogo com outras confissões religiosas.

Afinal, a reivindicação cristã é que em Jesus de Nazaré se cumprem as expectativas e os anseios mais
profundos da alma humana, por sua vez expressos de diferentes maneiras na história das religiões e
das culturas.

O monge Bede Griffiths é autor de Rio de Compaixão – Um comentário cristão ao Bhagavad Gita.
[Foto: Internet]Um caso concreto de iniciativa de diálogo é o livro Rio de Compaixão – Um
comentário cristão ao Bhagavad Gita, escrito por Bede Griffiths, monge beneditino que viveu na Índia
cultivando o modo de vida hindu. Para assistir à palestra de lançamento da edição brasileira,
proferida por Dom Laurence Freeman e Swami Nirmalatmananda, clique aqui.

Principais símbolos do cristianismo

Podemos falar sobre símbolos em dois sentidos. O primeiro, mais óbvio, é o sentido visual: imagens
que sinalizam um significado pretendido. O segundo sentido é conceitual: em nosso caso, trata-se de
textos, ou práticas, que sintetizam o que é cristianismo.

Os símbolos visuais mais conhecidos da fé cristã são a cruz e o ΙΧΘΥΣ (ICHTHYS, que em grego
significa “peixe”). Os símbolos conceituais – ou, mais exatamente, litúrgicos – também podem ser
resumidos em dois: a oração do Pai-nosso e o Credo Apostólico.
Cruz

Encontrada tanto sobre a cúpula dos templos como sobre o peito de muitos fiéis, a cruz é o símbolo
mais concreto da religião cristã. Afinal, ela remete a um fato objetivo, que foi tornado o
acontecimento central dessa fé.

A cruz é o símbolo mais concreto da religião cristã. [Foto: Freepik]Foi uma crucificação a forma de
morte por que passou Jesus, e com ela, segundo o ensino cristão, ao mesmo tempo se cumpriu uma
condenação humana e se propiciou a salvação vinda de Deus.

De acordo com São Paulo Apóstolo (2 Coríntios 5,14-15.18-19; Efésios 2,16; Colossenses 1,20), o
sacrifício de Jesus, embora resulte da violência extrema de que é capaz a espécie humana, é o evento
que reconciliou a criação e Deus – por meio do qual a Divindade oferece paz aos seres humanos.

A cruz é a própria imagem do paradoxo, pois ilustra o cruzamento do eixo horizontal com o eixo
vertical. Assim também, conforme o cristianismo, a lembrança da crucificação proporciona o
encontro do humano com o divino.

Ela ensina, de uma só vez, o amor a Deus e o amor ao próximo: “a largura, o comprimento, a altura e
a profundidade” do verdadeiro amor (Efésios 3,18).

Mas isso só é possível porque ainda outro dado radicaliza o paradoxo representado pela cruz, a
saber: o fato de ela se encontrar vazia.

Os cristãos creem que Jesus ressuscitou; deste modo, a cruz vazia é um lembrete de que a morte
conheceu a sua derrota.

De fato, “carregar a cruz” – não se deixando dominar pelas próprias inclinações ruins – se torna o
modo de vida dos seguidores de Cristo. Conforme ele expressou: “Se alguém quer vir após mim,
renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lucas 9,23).

Peixe (ΙΧΘΥΣ)

O símbolo do peixe também é um dos principais símbolos do cristianismo. [Foto: Internet]O símbolo
do peixe foi utilizado pelos primeiros cristãos como um código de reconhecimento mútuo.

Se uma pessoa desenhasse uma meia-lua curvada para baixo e outra pessoa completasse o desenho
com uma meia-lua curvada para cima (formando o contorno de um peixe), a primeira saberia que a
segunda também era cristã.

Essa maneira secreta de dizer “Sou cristão” foi muito proveitosa nas circunstâncias em que a
declaração pública disso poderia desencadear represálias.

O peixe também foi inscrito nos túmulos de vários dos cristãos primitivos.

A razão de se usar essa imagem é que “peixe”, em grego, se diz ΙΧΘΥΣ (ICHTHYS), termo que serve de
acrônimo para:

Ἰησοῦς (Iēsous)

Χριστός (Christos)
Θεοῦ (Theou)

Υιός (Yios)

Σωτήρ (Sōtēr)

O que quer dizer: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.

Pai-nosso

A Oração do Senhor está registrada em Lucas 11,2-4 e, numa versão levemente estendida, em
Mateus 6,9-13.

Esta última passagem integra o registro do Sermão da Montanha, e nisso está a importância do
símbolo: ele é o modelo de oração ensinado pelo próprio Jesus.

“Sermão da Montanha” – Carl Heinrich Bloch – Pintor dinamarquês (1843-1890)

Diz o Evangelho de São Mateus:

Pai nosso que estás nos céus,

santificado seja o teu Nome,

venha o teu Reino,

seja feita a tua Vontade,

na terra, como no céu.

O pão nosso de cada dia

dá-nos hoje.

E perdoa-nos as nossas dívidas

como também nós perdoamos aos nossos devedores.

E não nos exponhas à tentação

mas livra-nos do Maligno.

O mais importante comentário à Oração Dominical é o de Santo Agostinho, que a abordou em sua
obra a respeito do Sermão da Montanha.

Para conferir esse texto em edição bilíngue (latim-português), basta clicar no título a seguir: Sobre o
Sermão do Senhor na Montanha – Incluído o Pai-nosso!

Assista abaixo à palestra de lançamento do volume, ministrada pelo professor Carlos Nougué:

Credo Apostólico
Uma das mais antigas profissões de fé da tradição cristã, o Credo Apostólico foi por muito tempo
atribuído aos doze discípulos de Jesus.

Hoje se sabe que sua formulação é posterior ao primeiro século, mas ainda assim se trata de um
texto muito fiel ao que foi crido pela Igreja primitiva.

Assim ele declara:

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra;

E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor,

Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria;

Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;

Desceu aos infernos, ressuscitou ao terceiro dia;

Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,

De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo,

Na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos,

Na remissão dos pecados,

Na ressurreição da carne,

Na vida eterna.

Amém.

Para quem de fato quer saber o que é cristianismo, mais importante que decorar as palavras do
Credo é viver o que ele ensina. Pensando nisso, o Irmão David Steindl-Rast – monge beneditino
empenhado no diálogo inter-religioso, especialmente com o budismo – escreveu Além das Palavras –
Vivendo o credo apostólico.

Se quiser ler um trecho do livro, é só clicar no título acima!

Principais festas do cristianismo

Natal

O Natal celebra a Encarnação, ou seja, o nascimento de Jesus.

“Natividade” – Gerard van Honthorst – Pintor holandês (1592-1656)


No calendário gregoriano – adotado pela igreja latina e seguido pela maioria dos países –, a data é
identificada com o dia 25 de dezembro.

Já no calendário juliano, o Natal é celebrado em 7 de janeiro. Há ainda uma terceira data,


estabelecida pela Igreja Ortodoxa Armênia: 6 de janeiro.

Nessa época do ano, presépios e cantatas representam o evento inspirador da festa: a Natividade,
ocorrida em Belém da Judeia há pouco mais de 2 mil anos. Celebração que está no cerne da questão
sobre o que é cristianismo.

O acontecimento é evidentemente central para a fé cristã e tem servido de fonte inspiradora a


incontáveis criações artísticas e intelectuais.

Por exemplo, o filósofo Michel Henry dedicou o principal volume de sua Trilogia Cristã à crença que é
celebrada na festa do Natal.

Encarnação – Uma filosofia da carne é o livro em que ele apresenta mais extensamente a sua famosa
Fenomenologia da Vida, partindo de uma reflexão sobre a carne humana como “lugar” que sediou a
manifestação de Deus.

Páscoa

Na Páscoa comemora-se a ressurreição de Jesus, ocorrida, segundo a tradição cristã, no terceiro dia a
contar desde a crucificação.

“Sepulcro Vazio” – Fra Angelico

Sua data varia, no Ocidente, de 22 de março a 25 de abril, e no Oriente, de 4 de abril a 8 de maio (se
contarmos segundo o calendário gregoriano, utilizado pelos ocidentais).

Os cristãos compreendem sua Páscoa como continuação da Páscoa judaica, a qual celebra a
libertação dos hebreus da escravidão no Egito, em 1446 a.C.

A palavra hebraica Pesaḥ (‫ )ֶּפ סַח‬significa “passar por cima”, e faz menção ao modo como os hebreus
foram imunizados da décima praga do Egito de acordo com o relato da Torá.

Essa praga consistiu na morte de todos os primogênitos da terra, por ação de um anjo enviado por
Deus. Os hebreus, no entanto, foram instruídos a que cada família sacrificasse um cordeiro e
marcasse com sangue os umbrais da porta de sua casa.

O anjo “passou por cima”, isto é, poupou a vida dos primogênitos cujas casas exibiam a marca de
sangue nos umbrais.

No Novo Testamento, Jesus é reiteradamente chamado “o Cordeiro de Deus”. Isto porque se


entende que ele cumpre, com a própria vida, o sacrifício do qual a oferta de animais no judaísmo
antigo servira como uma espécie de sinal antecipador. Este é um dado primordial para
compreendermos o que é cristianismo!

“A Ressurreição de Cristo” – Paolo Veronese


A Páscoa cristã faz memória da culminância e superação da prática do sacrifício: de acordo com os
Evangelhos, Jesus derrotou a morte – isto é, ele ressuscitou.

Principais ramos cristãos: quais são suas características?

Catolicismo romano

A vertente do cristianismo sediada em Roma é dita católica porque preserva a vocação da fé à


universalidade (katholikos, em grego, significa universal) e é dita apostólica porque afirma que os
seus bispos são os continuadores legítimos da sucessão apostólica, iniciada pelos discípulos
imediatos de Jesus.

O bispo de Roma é também o papa, autoridade máxima da Igreja, em comunhão com o qual estão
todas as igrejas particulares que se podem dizer integrantes da Igreja Católica Apostólica Romana.

Como apostolicidade e catolicidade estão conjugadas – e são, de fato, igualmente essenciais para
determinar o que é cristianismo –, a homogeneidade administrativa e confessional da Igreja Católica
não impede que haja nela uma pluralidade litúrgica e até mesmo doutrinária.

Ao redor do mundo se congregam aproximadamente 3 mil sés episcopais, entre as quais há a adoção
de mais de 20 ritos particulares, que são diferentes maneiras de conduzir a celebração da missa e de
administrar os sacramentos. Os ritos latinos, no entanto, correspondem à prática da esmagadora
maioria das igrejas católicas.

O caráter plural (ao mesmo tempo que uno) do catolicismo romano é também conferido na
diversidade de ordens e congregações em que se reúnem seus clérigos e alguns de seus leigos.
Normalmente inspirados em diferentes pensadores e místicos, esses institutos de vida religiosa
refletem a riqueza da tradição católica.

Um exemplo muito admirado é a Ordem dos Carmelitas Descalços, resultado de uma reforma na
Ordem do Carmo promovida por São João da Cruz e Santa Teresa d’Ávila. Conhecer a espiritualidade
desses místicos é certamente um dos caminhos mais profícuos para entender a natureza da fé
católica.

As Moradas do Castelo Interior, principal obra de Santa Teresa, tornou-se um clássico tanto da
espiritualidade cristã como da literatura espanhola. Há em português a edição comemorativa dos
500 anos de nascimento da santa.

O volume conta com apresentação exclusiva de Frei Patrício Sciadini, prefácio do filósofo Ernest Hello
e tradução do premiado escritor Antonio Fernando Borges. Conheça o livro As Moradas do Castelo
Interior aqui e aprofunde-se na espiritualidade católica!

Catolicismo ortodoxo

Com a mesma ênfase na vocação da Igreja à universalidade, o catolicismo ortodoxo se distingue


contudo do catolicismo romano por certas doutrinas e práticas que o cristianismo do Oriente
considerou, no decurso dos séculos, mais próximas ao espírito dos cristãos primitivos.
O cristianismo ortodoxo constitui-se, assim, da religiosidade desenvolvida sob o Império Bizantino.
Não se organiza, como o catolicismo romano (herdeiro do chamado Império Romano do Ocidente),
pela submissão das igrejas particulares a uma diocese superior.

As dioceses autônomas que se reúnem sob a Igreja Ortodoxa atribuem ao patriarca de


Constantinopla uma primazia honorária, mas não uma superioridade administrativa.

A infalibilidade papal, assim como a Imaculada Conceição de Maria, e na verdade todos os dogmas
proclamados do Concílio de Constantinopla IV (870) em diante, são rejeitados pelos cristãos
ortodoxos, que só reconhecem a legitimidade dos sete primeiros concílios gerais, de Niceia I (325) a
Niceia II (787).

Istambul, antiga Constantinopla. [Foto: Nevit Dilmen-cc]Uma discordância teológica mais antiga diz
respeito à interação do Espírito Santo com as demais Pessoas da Trindade. Enquanto para o
cristianismo ocidental o Espírito procede do Pai e do Filho, para o cristianismo ortodoxo o Espírito
procede exclusivamente do Pai.

Outras diferenças notáveis em relação ao catolicismo romano abrangem a aceitabilidade do divórcio


e a atenuação da regra do celibato dos clérigos.

De maneira geral, a Ortodoxia se caracteriza por uma postura menos intelectualista e mais voltada à
piedade. Em relação às ciências e à cultura, essa vertente do cristianismo adota uma atitude de
neutralidade, presumindo que a fé compõe um âmbito de vida autônomo.

O catolicismo ortodoxo é amplamente conhecido por sua tradição pictórica, com ícones que, além da
beleza, comunicam grande significado. De fato, o papel litúrgico e didático das imagens é valorizado
pelo cristianismo ortodoxo tanto quanto a própria Escritura.

Um célebre pintor de ícones ortodoxos é o russo Andrei Rublev, que viveu entre os séculos 14 e 15.
Outros cristãos ortodoxos importantes são o filósofo Nikolai Berdiaev, o escritor Fiódor Dostoiévski,
o cineasta Andrei Tarkovski, o teólogo Vladimir Lossky e, atualmente, o bispo John Zizioulas.

Entre as igrejas particulares ortodoxas, as duas maiores são a russa e a romena. Um dos grandes
nomes da Igreja Ortodoxa Romena é o monge e erudito Nicolae Steinhardt, autor de um clássico da
literatura local e da espiritualidade cristã: O Diário da Felicidade.

O monge Nicolae Steinhardt é autor de O Diário da Felicidade, publicado pela É Realizações.

O livro, escrito por Steinhardt enquanto mantido preso pela ditadura soviética, compila reflexões
sobre teologia, literatura, ciência e política, sempre sob a forma de notas autobiográficas, concebidas
ao estilo de um fluxo aleatório de memórias.

Steinhardt, que se converteu e foi batizado na prisão, fala muito sobre as doutrinas e a
espiritualidade do cristianismo oriental. Lê-lo é uma maneira prazerosa, além é claro de instrutiva, de
imergir nessa tradição religiosa.

Protestantismo

O cristianismo protestante é o resultado da Reforma havida no século 16.


O evento habitualmente considerado inaugurador dessa fase da Igreja é a divulgação das 95 teses de
Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517.

Nelas, o teólogo alemão se opõe principalmente ao hábito da venda de indulgências, que então se
disseminava na Europa.

O debate que se desenvolveu a partir daí abarcou, no entanto, um espectro muito maior de assuntos
– o que faz do protestantismo uma confissão que deve ser considerada quando se tenta
compreender o que é cristianismo.

As reivindicações centrais dos primeiros protestantes foram resumidas, décadas após o início do
movimento, nos chamados cinco solas: sola fide (somente a fé), sola Scriptura (somente a Escritura),
solus Christus (somente Cristo), sola gratia (somente a graça) e soli Deo gloria (glória somente a
Deus).

Do ponto de vista teológico, a reclamação focal entre as erguidas pelos reformadores é que a
redenção humana deveria ser entendida como uma pura oferta graciosa de Deus, à qual cabe ao ser
humano simplesmente responder com fé.

Gravura de um panfleto protestante de 1568: Lutero e outros protestantes suportam os ataques da


igreja católica sob o Papa Leo X.

Dessa alegação foram inferidas consequências ainda mais contundentes por outro reformador,
atuante na Suíça: João Calvino.

O calvinismo, corrente inspirada em suas ideias, tem sido resumido em cinco lemas soteriológicos
(ou seja, que dizem respeito ao modo como Deus salva os seres humanos): depravação total, eleição
incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos.

Eric Voegelin, filósofo alemão que recebeu formação luterana, dedica alguns capítulos do volume 4
de sua História das Ideias Políticas à análise do pensamento de Lutero e Calvino. Se quiser saber
mais, clique no título do livro, a seguir: Renascença e Reforma!

Um desdobramento tardio da Reforma foi o ocorrido na Grã-Bretanha, que deu origem ao


anglicanismo.

Congregando a Igreja da Inglaterra e outras denominações afiliadas, essa vertente cristã preserva
muito da liturgia católico-romana, porém adota a perspectiva teológica protestante. Face aos ramos
derivados da Reforma, promove, também neste caso, um meio-termo – nomeadamente, entre
luteranismo e calvinismo.

Sua principal diocese é a da Cantuária (ou Canterbury), sé em que convergem as diferentes igrejas da
Comunhão Anglicana. Um hábito que também unifica a comunidade anglicana ao redor do mundo é
o emprego litúrgico do Livro de Oração Comum.

Anglicanos notáveis incluem o escritor C. S. Lewis e os teólogos John Stott, J. I. Packer, Rowan
Williams, Alister McGrath e N. T. Wright.

C. S. Lewis.
No interior do protestantismo, surgiu no século 20 o movimento evangélico, que se destaca por
enfatizar a importância da conversão individual e da piedade pessoal – incentivando seus adeptos
particularmente aos hábitos da leitura da Bíblia, da oração e do evangelismo.

Intimamente atrelado ao evangelicalismo é que se tem desenvolvido o movimento pentecostal,


vertente cristã que mais se expande na atualidade.

Sua alegação característica é que continua sendo possível vivenciar as manifestações sobrenaturais
que a Bíblia relata terem sido experimentadas pelos primeiros cristãos, e que esses dons
permanecem relevantes na atividade evangelística assim como na edificação dos fiéis.

No Brasil, algumas das denominações protestantes mais expressivas são a Igreja Luterana, a Igreja
Presbiteriana, a Igreja Metodista, a Igreja Batista e a Assembleia de Deus, que por sua vez estão
organizadas em diferentes convenções ministeriais.

Livros para entender o que é cristianismo

Além dos diversos livros que são citados ao longo deste texto, são leituras imprescindíveis para
compreender o que é cristianismo as seguintes obras:

A Formação da Cristandade – Das origens na tradição judaico-cristã à ascensão e queda da unidade


medieval, de Christopher Dawson. Ensaio que esboça o surgimento do universo cristão a partir dos
primórdios hebraicos e helenísticos e chega à ruína da cristandade medieval.

Estruturado em três seções, o livro expõe a finalidade e as bases teóricas desse estudo; apresenta as
raízes da cultura cristã na Idade Antiga; e aborda o nascimento, o percurso e a decadência do
cristianismo na Idade Média.

Para assistir ao book trailer, clique no link a seguir: Christopher Dawson ajuda a entender o que é
cristianismo!

A Divisão da Cristandade – Da Reforma Protestante à era do Iluminismo. Aqui Dawson exibe um


painel primoroso das razões que ocasionaram uma das mais traumáticas rupturas do Ocidente, cujos
efeitos são perceptíveis até a nossa época.

Os temas, abordados com simplicidade e clareza, incluem a fragilização da unidade medieval, o


Renascimento, os movimentos que compuseram a Reforma, as culturas da cristandade fracionada, a
tradição iluminista e as sementes da Revolução de 1789 na França.

Leia gratuitamente as primeiras páginas do livro clicando neste link!

Helenismo, Roma e Cristianismo Primitivo – História das Ideias Políticas, vol. I, de Eric Voegelin. O
autor evidencia que a “desintegração espiritual” do mundo helênico iniciou um extenso período de
transição no autoconhecimento dos habitantes da Europa e do Mediterrâneo.

Os debates que emergem são preocupações permanentes a respeito da ordem da existência humana
situada na história e na sociedade. E a religiosidade então nascente – o cristianismo – apresentou a
sua própria resposta a isso.
Um trecho deste livro também está disponível para leitura gratuita no próximo link: para entender o
que é cristianismo, leia Eric Voegelin!

Fé e Filosofia Política – A correspondência entre Leo Strauss e Eric Voegelin (1934-1964), que inclui o
ensaio “Evangelho e cultura”, de Voegelin.

Esse texto começa por fazer uma apreciação histórica do uso da filosofia pelo cristianismo patrístico,
que conclui serem eles (filosofia e cristianismo), ao contrário de rivais, companheiros na oposição à
crença morta em meras doutrinas.

Embora hoje a Igreja não seja capaz de auxiliar a razão, nem os filósofos de fazer ao evangelho as
perguntas corretas, originariamente elas se complementam, uma vez que o evangelho demanda
ouvidos interessados e a filosofia demanda uma razão bem orientada.

Voegelin procede à análise de um poema egípcio anônimo do fim do terceiro milênio a.C., em que há
primeiros sinais da concepção de uma consciência individualizada, e à interpretação de algumas
passagens do Novo Testamento à luz da sua relevância para a audiência grega.

Eric Voegelin: todo legítimo conhecimento resulta de um ato de confiança. [Foto: Divulgação]Com
isso, recupera-se a dimensão de acontecimento que é própria ao evangelho, prioritariamente ao seu
caráter de mensagem, e evidencia-se como ele se previne da deturpação em gnosticismo.

Confira a resenha do livro publicada no jornal O Estado de S. Paulo clicando aqui.

Idade Média até Tomás de Aquino – História das Ideias Políticas, vol. II. A narrativa que Voegelin
concebe para as reflexões medievais sobre a política parte de uma reconstrução da estrutura vigente
na época e continua com um exame das invasões germânicas, da queda de Roma e da emergência do
cristianismo monástico e imperial.

Contempla, ainda, o direito romano e as figuras de João de Salisbúria, Joaquim de Fiore, Frederico II,
Sigério de Brabante, São Francisco de Assis e, com especial destaque, Santo Tomás de Aquino.

Para ler as primeiras páginas, é só clicar no título do livro, a seguir: Idade Média até Tomás de
Aquino.

Idade Média Tardia – História das Ideias Políticas, vol. III. Aqui, Voegelin prossegue examinando uma
das mais relevantes épocas da história da reflexão política – e cuja fonte principal de ponderações
ainda são os ensinos do cristianismo.

Ele investiga as ideias de grandes pensadores medievais, como Guilherme de Ockham, Dante, Egídio
Romano, Marsílio de Pádua, Piers Plowman e Cola di Rienzo, associando o significado histórico da
modernidade aos símbolos centrais da civilização cristã.

Leia um trecho gratuitamente clicando no título do livro acima!

Religião e a Ascensão da Modernidade – História das Ideias Políticas, vol. V. À medida que explora a
emergência do pensamento moderno no âmbito das discussões políticas e filosóficas do século 16,
Voegelin recupera o exame da “grande confusão” detalhada no volume 4 desta coleção (que é
mencionado por este texto na seção sobre protestantismo).
Aquela época, polêmica e agitada, testemunhou uma sequência de eventos ocasionados pelas 95
teses de Martinho Lutero.

As 95 Teses de Martinho Lutero são o marco inicial da Reforma Protestante.[Foto: Internet]Embora


se trate de um período complexo, o autor clarifica sua relevância e identifica caminhos de mudança
que se encontram em um ponto futuro: a ideia medieval de um cosmos fechado e divinamente
criado estava sendo trocada por uma modalidade de consciência que presumia ser o homem a
origem imanente do significado do universo.

Clique neste link e adquira agora o seu exemplar!

As Provinciais, de Blaise Pascal. Redigidas no tenso ambiente religioso do século 17, estas são dezoito
cartas anônimas distribuídas clandestinamente em Paris e tardiamente publicadas sob o pseudônimo
Louis de Montalte.

Foram escritas em defesa do jansenista Antoine Arnauld, amigo de Pascal que se achava sob
julgamento dos teólogos parisienses por contender com os jesuítas. O livro tornou-se célebre por sua
ironia fina e por sua lógica implacável, que geraram danos permanentes na reputação da Companhia
de Jesus.

Para adquirir esta obra, é só clicar no próximo link: Pascal é um pensador fundamental para
entendermos o que é cristianismo!

Eu Sou a Verdade – Por uma filosofia do cristianismo, de Michel Henry. Continuando o método da
Fenomenologia da Vida – apresentado no livro Encarnação, que já apareceu na seção deste post
sobre o Natal –, Henry investiga e estabelece (filosófica, e não apologeticamente) o que, afinal, o
cristianismo considera ser a verdade.

As primeiras páginas do livro estão disponíveis para consulta gratuita na livraria virtual da É
Realizações.

Palavras de Cristo. Mais um livro de Fenomenologia da Vida, em que Henry inquire a dupla natureza
de Cristo – divina e humana – e medita sobre como é possível a nós, seres humanos, experimentar a
divindade e a humanidade de Cristo por intermédio de suas palavras.

Leia um trecho do livro clicando no link a seguir: a Trilogia Cristã, de Michel Henry, vai ajudá-lo a
entender o que é cristianismo!

Conclusão

O que fica claro, depois deste passeio pela história, pelas crenças e pelas facetas principais da religião
cristã, é que, ao mesmo tempo, todos sabemos e todos precisamos saber ainda mais o que é
cristianismo.

Nós o conhecemos porque o mundo em que vivemos foi construído baseado em seus valores. Mas
justamente o desconhecemos porque as instituições e os hábitos culturais, com o passar dos séculos,
perdem, a nossos olhos, a vivacidade da fé religiosa.
A boa notícia é que o cristianismo congrega uma pluralidade de tradições, ensinamentos e símbolos
que fazem dele um depósito inesgotável de riquezas. Assim, refletir sobre o seu significado é um
exercício tão desafiador quanto fascinante!

São dois mil anos de história, todos eles repletos de realizações – ao lado, é claro, de hesitações –
civilizacionais, intelectuais e espirituais.

Depois de ter lido este post e se inteirado sobre as épocas, os ramos e as doutrinas do cristianismo,
você está apto a ponderar sobre o papel dessa religião no mundo contemporâneo.

Uma boa maneira de efetuar essa nova etapa da reflexão é ler e discutir os argumentos de T. S. Eliot
(poeta e crítico vencedor do Nobel de Literatura) em A Ideia de uma Sociedade Cristã – E outros
ensaios.

Pensar sobre o cristianismo é uma aventura sem fim! Se você estiver cogitando encará-la, é melhor
se preparar lendo bons livros.

Fontes

Bernard Lonergan, Método em Teologia. São Paulo: É Realizações Editora, 2013.

Fabrice Hadjadj, O Paraíso à Porta – A alegria de descobrir-se equivocado. São Paulo: É Realizações
Editora, 2015.

Irmão David Steindl-Rast, Além das Palavras – Vivendo o Credo Apostólico. São Paulo: É Realizações
Editora, 2014.

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