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Se você tivesse que contar algo pra alguém e soubesse que esse alguém

não estaria disposto a acreditar em você, o que faria? Talvez esta seja uma
pergunta para inúmeras respostas e todas elas, com certeza, passariam
por diversas considerações. Você mesmo poderia pensar em um monte.
Sim! Convenhamos que esta questão é por demais genérica. Até em filmes
já ouvi perguntas semelhantes (no filme “Dejavu”, estrelado pelo ator
Denzel Whashington, onde o agente federal Doug viaja para investigar a
causa de uma explosão fatal que ocorreu em Nova Orleans e descobre um
meio de viajar no tempo e, consequentemente, evitar que a tragédia
aconteça, esta pergunta é feita, no final do filme, pelo Doug). Obviamente
teríamos que nos ater a pontos específicos e deixar de considerar uma
grande variedade de situações, desde aquela mais simplória em que a
criança, com medo de castigo, treme ao pensar em como contar aos seus
pais que acabou de quebrar algum objeto ou, acidentalmente, enquanto
brincava, haver derrubado água sobre as teclas do notebook deles, que o
estavam utilizando em seus trabalhos, tendo interrompido apenas para ir
atender a um chamado do vizinho no portão, assim como aquela até um
pouco mais grave (bem mais grave), na qual revelou o segredo de um
amigo(a), que prometera guardar, ou mesmo, sobre algo muito
importante que necessitasse de uma resposta urgente da pessoa que te
ouvisse. Talvez uma reação da qual dependesse a sua própria vida... Me
lembro de uma história, talvez você também já a tenha ouvido, em que
uma mulher desesperada entra num hospital com uma criança nos braços
pedindo para ser atendida pelo médico porque esta estava passando mal
e precisando de atendimento urgente. O médico, ao ser informado,
responde que deveriam aguardar a vez, pois estava ocupado. Quando ele,
finalmente sai para atender, encontra a criança em seus últimos suspiros.
É então que ele recebe um choque e se desespera, quando descobre que
aquela mulher era a sua empregada e aquela criança era o seu filhinho.
Você, talvez não tenha assistido e, portanto, convido-o a assistir ao filme
“O Menino do Pijama Listrado”, que tem uma história um pouco parecida
com esta. (é melhor preparar um lencinho). Vejo que o assunto, que a
princípio só tinha uma ideia, agora começa a se desenrolar numa direção
que até eu, que escrevo aqui, começo a ficar curioso para saber o final.
Estou dizendo isto porque me veio na lembrança um episódio bíblico, em
que Jesus, numa parábola, falava sobre dois homens, O Rico e o mendigo
Lázaro. Este vivera sua vida a mendigar as migalhas que caiam da mesa do
rico, enquanto os cães lambiam o seu rosto. Ao morrerem, um foi para o
tormento e o outro para o seio de Abraão. A parte que me chama a
atenção é a que mostra o diálogo do Rico com Abraão: “Diante disso,
suplicou: ‘Pai, então eu te imploro que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho
cinco irmãos. Permite que ele os avise, a fim de que eles também não venham para
este terrível lugar de sofrimento’. (Lucas 16: 27,28)
... No entanto Abraão lhe responde:
“Contudo, Abraão lhe afirmou: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam!’. Mas
ele insistiu: ‘Não, pai Abraão! Se alguém dentre os mortos for ter com eles, certamente
se arrependerão’. Abraão, concluindo, lhe afirmou: ‘Se não ouvem a Moisés e aos
Profetas, tampouco se permitirão converter, ainda que ressuscite alguém dentre os
mortos!’.” (Lucas 16: 29,30,31)

... Imagine a cena e o que ela pode nos dizer. Primeiro que os dois
estavam mortos, ou melhor, este mundo tinha findado para eles. Como se
trata de uma ilustração, penso eu, pois, que em se tratando das coisas
espirituais, a gente não pode dizer ou afirmar e concluir como certezas
sobre algo que se sabe ter sido dito como alegoria, comparação, como são
os casos das diversas parábolas de Jesus. Na bíblia há muita coisa sobre as
quais podemos afirmar com convicção, e estas estão muito claras,
enquanto outras precisam ser compreendidas como já disse,
figuradamente. No entanto, isto de forma alguma as invalidam, pois nelas
o que de fato importam são os princípios que estão contidos. Logo, não dá
para sair afirmando que, após a morte, vai acontecer exatamente aquilo
que ocorreu ali no cenário daquela parábola, uma vez que não me parece
que o objetivo principal ali fosse este. Sem me alongar mais, gostaria de
chamar sua atenção para o que eu vejo como coisas relevantes que ali são
mencionadas. 1) Os olhos de todos os que saem desta vida para o além, se
abrem de um modo a compreender o que realmente fizeram de bom ou
de ruim enquanto viveram. 2) Não há possibilidade de misericórdia e
perdão para os que desperdiçaram sua oportunidade enquanto aqui
viveram. “E, além do mais, foi colocado um grande abismo entre nós e vós, de
maneira que os que desejem passar daqui para vós outros não consigam,
tampouco passem de lá para o nosso lado”. (Lucas 16: 26) Lembra um pouco a
(Arca de Noé que Deus fechou por fora, impedindo que, diante das súplicas dos que
batiam chamando por Noé, pudesse este se apiedar e tentar abri-la para eles: “Os
animais que entraram eram um macho e uma fêmea de tudo o que é considerado
ser vivo, de acordo com o que Deus ordenara a Noé. Então o SENHOR fechou a
porta por fora.” (Gen.7:16)
“Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de
misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.” (Tiago 2: 13)
3) Há um remorso, um arrependimento (mas já não serve mais a não ser para pesar
em suas consciências que, pelo que consta nesta parábola, não há de morrer. Mas
será mais forte do que nunca foi antes. Em Lucas 9: 48 está escrito: “Onde o seu
bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” Meu pai costumava dizer que esse
bicho é a consciência. Pode ser que ele tivesse razão, apesar de que, quando a bíblia
se refere a ele, chama-o como sendo o bicho do inferno. Compare lendo Marcos 9:43
e 44 (É bem sabido, diga-se de passagem, que, no final de tudo, até o inferno será
lançado no lago de fogo de enxofre.) Bem, então, queria concluir aqui, dizendo que
talvez, dentre as angústias daqueles que morrem perdidos, a maior seja, talvez, não
ter ninguém para lhes fazer essa indagação sobre o que gostariam de dizer, caso
pudessem, sobre o que estão experimentando ali, sobre a impossibilidade de ter
alguém que acredite a ponto de avisar aos seus para não virem para o mesmo lugar,
ou para lhes mostrar os erros que cometeram, os quais podem fazer com que muitos
dos seus ente queridos, filhos, pais, irmãos e amigos, tenham os seus destinos
comprometidos, deixando-os à beira do abismo, quando poderiam ir para o paraíso. E
o pior é que estes estarão conscientes disso, ainda antes dos seus chegarem ao
mesmo lugar de sofrimento. Mas, talvez se a eles fizéssemos a mesma pergunta, suas
respostas não seriam semelhantes às que poderíamos ter encontrado quando a
fizemos logo no início deste texto, mas, sinceramente, acho que a resposta não seria
tão simples e poética como a que é dada no filme (“Não sei, mas acho que tentaria!”),
ao invés disto: - Não sei... Mas eu lamento muito!

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