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TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste, 2000, 2 ªEdição.

O livro História do Pensamento Cristão trás uma abordagem sobre os conceitos mais
abstratos e complexos que permearam o pensamento cristão ao longo de sua história. Nesse livro
Paul Tillich explora suas temáticas com maestria, dentro de uma linguagem cujo conteúdo é de
sensível entendimento, frutos de suas aulas ao longo da cátedra de professor de teologia.

O livro trás em sua introdução uma dissertação sobre o conceito de Dogma, neste ponto
pode-se destacar a visão e necessidade do autor ao tratar do tema, para que os tópicos que se
seguem no livro possam ter uma compreensão plausível do leitor. A exposição sobre Dogma,
conforme as palavras do próprio autor, são expressões aceitas da vida da igreja. Além dessa
temática, o livro divide-se em seis capítulos, os quais, ao decorrer de toda a obra o autor trata de
diversos temas dentro da abrangência da história do pensamento cristão.

No primeiro capítulo temos a preparação para o Cristianismo. O autor trata do Kairós, tempo
oportuno, o universalismo do Império romano e sua influência sobre a Igreja, a filosofia helênica e
suas correntes de pensamento, tais como Ceticismo, que, para o autor, foi um dos importantes
elementos para a preparação do cristianismo. Na tradição platônica destaque para o divino
apresentado por Aristóteles. Estoicismo, conforme o autor relata, rival do cristianismo, mas que
herdara o conceito do Lógos. Do Ecletismo o cristianismo trouxe algumas possibilidades entre
muitas. O período intertestamentário é apresentado pelo autor como um momento repleto de ideias,
das quais temos o conceito de anjos, demônios e o advento da piedade como um dos pilares do
cristianismo. Dentro do conceito de religião de mistério o autor faz uma ligação entre o misticismo
das religiões de mistério e o cristianismo, fato esse que pode ser considerado controverso, pois
trata-se de conceitos diferentes para o mesmo significado, em uma análise epistemológica,
poder-se-á alcançar tal verdade da diferença. No final deste capítulo é tratado da metodologia do
novo testamento, com base nos tópicos anteriores deste capítulo.

O segundo capítulo começa com o desenvolvimento da teologia na Igreja. Diversos temas


são tratados neste capítulo. Passando pelos pais apostólicos e terminando em Agostinho, o autor
traça um rumo dentro da teologia do cristianismo. A apresentação de cada tema traz o contraditório
revelado e discutido sobre cada ponto tratado. O cristianismo valeu-se do conhecimento e
protagonismo dos pais apostólicos e sua apologia. Dentro dessa desconstrução criada por uma
filosofia helenística, temas como Deus, logos, princípio das gerações de Deus. A abordagem acerca
da encarnação, quando tratada sob os aspecto do contraponto da mitologia, onde o divino “desce”,
encarna em uma forma humana ou não, cumpre uma missão e retornada à divindade, se opõe ao
pensamento do cristianismo sobre a encarnação de Cristo, onde os pontos não eram aceitáveis ao
cristianismo. O maior desafio enfrentado pela Igreja, conforme o autor, foi o Gnosticismo. Os ataques
externos foram bem defendidos pelos apologistas, mas, um mal de caráter maior estava surgindo no
seio da Igreja, e isso poderia levar o cristianismo a afundar dentro da filosofia e religião helênica.
Cristo, conforme o autor destaca, permanecia no centro da história como autor da salvação mas
esqueceu-se na moldura da visão dualista do mundo helênico. A saída encontrada pelos pais
antignósticos foi o Logos. Irineu e Tertuliano enveredaram na Doutrina do Logos para combater o
gnosticismo. Vencido essa etapa, surge um novo desafio à Igreja denominado neoplatonismo. Assim
como no desafio dos gnósticos levantaram-se homens para defenderem a fé cristã, não fora diferente
nesse ponto. Destaques, conforme o autor, Clemente e Orígenes. Baluartes da defesa da fé. Como
todo impasse teológico esse caminhou e levou a Igreja a novos desafios que surgiram, motivados por
questões mal resolvidas. Nesse impasse surge a doutrina da Trindade, muito questionada e atacada.
Daí vem novos questionamentos até culminar no concílio de Niceia. O autor traz um breve relato das
decisões do concílio, tais como a superação das heresias cristãs, a confissão de Nicéia, a
consubstanciação e outras implicações. Ao final do capítulo II nos deparamos com Agostinho, o autor
dedicou um espaço considerável a este teólogo e filósofo medieval. De Agostinho herdamos os
principais pensamentos de defesa da fé cristã. Conceitos sobre Deus, doutrina do homem, Filosofia e
Doutrina da Igreja permeiam os escritos agostinianos. Deus é summa essentia, ser supremo, além
das categorias. Agostinho tem sua filosofia por base a de Aristóteles, porém, segue seu próprio
caminho, como destaca o autor: “Agostinho expressou com muita clareza a doutrina da criação”.

O terceiro capítulo mergulha no mundo medieval. O autor passa pelo escolasticismo,


misticismo e biblicismo e culmina nos pré-reformadores. Inúmeros conflitos tomaram a igreja
medieval. O Cristianismo, a exemplo dos seus primeiros trezentos anos, passou por diversos
movimentos contrários à forma de pensar, o Conciliarismo, curalismo, sectários e leigos, enfim, a
hierarquia enquanto realidade universal no movimento da reforma. E os Sacramentos do ponto de
vista religioso, foram o elemento mais importante da história da igreja medieval. Diversos teólogos
são citados pelo autor desde Abelardo de Paris até Guilherme de Ockham. Este notabilizou-se mais
como filósofo, pois seus escritos são explorados ainda hoje.

O quarto capítulo, o menor, traz pontos voltados para o catolicismo romano. A abordagem do
autor em referência às principais problemáticas surgidas nessa visão do cristianismo até o século
vinte, com temas cujo cunho doutrinário e teológico, mexeu com a cristandade ao longo desses
séculos. O autor apresenta diversas doutrinas tais como a do pecado, justificação, sacramentos,
doutrinas controversas como a infalibilidade papal, culminando no catolicismo atual. O autor passa
levemente, dentro deste capítulo, sobre o tema da reforma, e, como o próprio diz: “ Não vamos nos
demorar muito no estudo da Reforma”.

O quinto capítulo é dedicado ao movimento dos reformadores protestantes. Martinho Lutero,


Zwinglio e João Calvino, merecem o destaque do autor por representar uma ruptura ao conceito de
cristianismo que se pregava. A reforma é apresentada pelo autor, tendo como ponto de partida a
experiência de um monge, em sua cela monástica. O grande diferencial desse monge, conforme o
autor, é a ruptura que este provoca ao sistema até então. Outros reformadores surgiram antes dele,
porém, o peso da pregação de Martinho Lutero é o grande marco diferencial da Reforma. A critica de
Lutero à igreja, seus conflitos teológicos com Erasmo e os evangélicos radicais e as doutrinas
apresentadas e defendidas por ele, são pontos altos destacados pelo autor. Dentre os conceitos
doutrinários defendidos por Lutero temos a doutrina do pecado. Conforme o autor expressa, para
Lutero, pecado é a falta de fé. A ideia de Deus para Lutero, discorre o autor, está mais próxima de
nós do que nós mesmos. Em Zwinglio destaque para a Lei do Evangelho, que para este, era a base
para a Lei do Estado. Em Calvino o tema de maior impacto está na Doutrina da Predestinação.
Predestinação é providência relacionada com o fim último do homem, relata o autor em referência a
Calvino.

O sexto e último capítulo encerra-se tratando do desenvolvimento da teologia protestante,


entrando na ortodoxia, passando pelo pietismo e terminando no iluminismo. Para o autor a teologia
ortodoxa ainda é a base sólida de emanação e desenvolvimento do cristianismo. Dentre as doutrinas
ortodoxas, o autor fala do pietismo, termo que vem de “piedoso” e “pietista”, mas, alerta o autor, que
os significados tendem a ser diferentes entre a América e Europa. Nesta o sentido que se espera,
naquela porém, o efeito é contrário. O autor termina este capítulo e, por fim, o livro, tratando sobre o
iluminismo. A ideia central dessa doutrina é o racionalismo. O movimento iluminista rebateu diversos
dogmas, levantando a bandeira da desconstrução e provocando novas rupturas dentro do
cristianismo.

O livro História do Pensamento Cristão, de Paul Tillich é rico em detalhes da formação do


Cristianismo ao longo dos séculos. O autor procurou tratar os principais pontos em que a Igreja
esteve envolvida e esteve sobre ataques, sejam externos ou internos. Alguns pontos colocados pelo
autor podem ser alvos de controvérsias argumentativas. Dentre os variados argumentos em prol da
existência de Deus, o argumento ontológico oferecido por Anselmo de Cantuária tem uma posição
peculiar, por estar independente dos conceitos herdados da filosofia helenística. Ademais, o livro é
um compêndio dos diversos pensamentos que nortearam a História do Pensamento Cristão.

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