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Disciplina: Introdução à filosofia

Curso: Teologia Ministerial Professor: Antônio Carlos


Aluno: Gabriel Victor Rodrigues Ferreira
http://www.sebarsp.org.br/

Resenha crítica “Filosofia e fé Cristã – Colin Brown”


Introdução

Colin Brown foi um renomado teólogo e filósofo cristão. Ele é conhecido por
seu trabalho na área de teologia filosófica e sua abordagem em conectar a
filosofia com a fé cristã. Brown tem uma vasta experiência no campo acadêmico,
tendo lecionado em diversas instituições teológicas ao redor do mundo.
"Filosofia e fé Cristã" é uma obra fundamental escrita por Colin Brown, na qual
ele explora a relação entre a filosofia e a fé cristã. O livro examina como a
filosofia pode contribuir para uma compreensão mais profunda da fé e como a
fé cristã pode informar e moldar a abordagem filosófica e como o pensamento
foi progredindo através dos séculos e das eras.

Uma das principais contribuições do livro é sua capacidade de oferecer uma


perspectiva equilibrada sobre o assunto. Brown não apenas reconhece as
tensões e desafios entre a filosofia e a fé cristã, mas também destaca as
maneiras pelas quais essas duas áreas podem se complementar e enriquecer
mutuamente.

No geral, "Filosofia e fé Cristã" é uma obra abrangente e envolvente que oferece


uma valiosa contribuição para o diálogo entre filosofia e teologia a partir de 450
pensadores. Colin Brown apresenta uma abordagem equilibrada, que
certamente enriquece o conhecimento e a reflexão tanto de estudantes quanto
de leitores interessados na relação entre a fé cristã e a filosofia.

Desenvolvimento

No primeiro capítulo do livro "Filosofia e fé Cristã" de Colin Brown, há um


destaque especial dado à filosofia medieval e à influência do pensamento
filosófico grego, especialmente as correntes platônica e aristotélica, na teologia
da época. Durante a Idade Média, a filosofia grega antiga foi redescoberta e
teve um impacto significativo na teologia cristã. Os filósofos medievais
buscaram incorporar elementos do pensamento grego em suas reflexões
teológicas, acreditando que a razão e a fé poderiam estar em harmonia.

A filosofia de Platão desempenhou um papel importante nessa relação. A visão


platônica de um mundo das ideias transcendentais, além do mundo físico,
encontrou ressonância com a teologia cristã, que também enfatizava uma
realidade além do visível. Os filósofos medievais, como Agostinho de Hipona,
desenvolveram uma síntese entre o platonismo e o cristianismo, argumentando
que as ideias de Platão encontravam eco nas verdades reveladas pela fé cristã.

Por outro lado, a filosofia aristotélica também desempenhou um papel


fundamental na teologia medieval. Aristóteles enfatizava a importância da
observação e da razão como meios de compreender o mundo natural. Os
filósofos medievais, como Tomás de Aquino, procuraram integrar a filosofia
aristotélica com a teologia cristã, usando os conceitos e métodos aristotélicos
para explicar questões teológicas. Tomás de Aquino desenvolveu uma
abordagem conhecida como tomismo, que buscava harmonizar a fé e a razão
por meio da filosofia aristotélica.

A influência da filosofia grega na teologia medieval foi notável não apenas na


forma como os conceitos foram incorporados, mas também na metodologia
utilizada pelos teólogos. O método escolástico, caracterizado por debates
lógicos e análise rigorosa, foi fortemente influenciado pela tradição filosófica
grega.

A filosofia medieval desempenhou um papel de grande relevância para a fé


cristã, e um dos aspectos mais notáveis foi a formulação das chamadas "cinco
vias" por Tomás de Aquino. Essas vias, também conhecidas como os "cinco
argumentos" ou "cinco provas", são uma tentativa de fornecer fundamentos
filosóficos para a existência de Deus e têm sido amplamente discutidas e
estudadas ao longo dos séculos.

As cinco vias são argumentos racionais que buscam demonstrar a existência de


Deus com base na observação e na razão. Cada uma delas se baseia em
diferentes princípios filosóficos e observações do mundo natural. Esses
argumentos visam estabelecer uma conexão lógica entre a ordem do universo e
a existência de um ser supremo. As vias são as seguintes:

1. Via do movimento: argumenta que, uma vez que tudo no mundo está em
constante mudança e movimento, deve haver um "motor imóvel" que inicie e
sustente todo o movimento. Esse motor imóvel é identificado como Deus.

2. Via da causa eficiente: baseia-se na observação de que todas as coisas têm


uma causa. Se seguirmos uma cadeia de causas regressivamente, é necessário
que haja uma causa primária, não causada por outra coisa. Essa causa primária é
identificada como Deus.

3. Via da contingência: argumenta que tudo o que existe é contingente, ou seja,


depende de algo para existir. Portanto, deve haver uma realidade necessária e
independente que dê origem a todas as coisas contingentes, e essa realidade é
identificada como Deus.

4. Via dos graus de perfeição: parte do pressuposto de que existem graus de


perfeição e excelência em todas as coisas. Essa escala de perfeição só pode
existir se houver um ser supremo que seja o padrão máximo de perfeição, e
esse ser é identificado como Deus.

5. Via do propósito: argumenta que a ordem e o propósito encontrados no


universo apontam para a existência de um ser inteligente e intencional que
ordena todas as coisas. Esse ser inteligente é identificado como Deus.

No segundo capítulo o autor fala sobre o pensamento filosófico da reforma até


o iluminismo, e podemos ver grandes pensadores que viveram nesta época e
influenciaram a teologia. Descartes, Espinosa e Pascal foram filósofos do século
XVII. Descartes enfatizou a dúvida metódica e a separação entre mente e corpo.
Espinosa defendeu o panteísmo, afirmando que Deus e a natureza são a mesma
coisa. Pascal argumentou que a razão e a fé são necessárias para entender a
realidade. Suas ideias tiveram influência duradoura na filosofia.

Durante o período da Reforma Protestante até o Iluminismo, a filosofia


desempenhou um papel significativo no desenvolvimento da teologia cristã:

1. Martinho Lutero e a Filosofia da Fé: Lutero trouxe contribuições filosóficas


para a teologia através de sua ênfase na justificação pela fé. Ele enfatizou a
confiança pessoal em Deus, influenciado pela filosofia nominalista, que
questionava a capacidade da razão humana de alcançar o conhecimento de
Deus.

2. João Calvino e a Soberania de Deus: Calvino incorporou elementos da


filosofia estoica e agostiniana em sua teologia reformada. Sua visão da
soberania absoluta de Deus e da predestinação foi moldada por noções
filosóficas de ordem divina e determinismo.

3. Blaise Pascal e a Filosofia da Fé e Razão: Pascal defendeu uma abordagem


filosófica que buscava conciliar a fé e a razão. Ele argumentou que a existência
de Deus era mais razoável do que sua negação, e que a fé poderia coexistir com
a razão, embora transcenda suas limitações.

4. John Locke e a Tolerância Religiosa: Locke, um filósofo iluminista, defendeu a


tolerância religiosa e a liberdade de consciência. Sua filosofia política, baseada
no empirismo, influenciou a teologia reformada ao promover a separação entre
Estado e religião, permitindo diferentes crenças religiosas.
Esses são apenas alguns exemplos de como a filosofia contribuiu para a
teologia durante o período da Reforma Protestante até o Iluminismo segundo o
livro “Filosofia e fé cristã”. Os pensadores mencionados trouxeram perspectivas
filosóficas que influenciaram a compreensão teológica, moldando doutrinas e
abordagens para questões como a fé, a razão, a predestinação e a liberdade
religiosa. Essa contribuição perdura até os dias de hoje!

No terceiro capítulo de "Filosofia e Fé Cristã", Colin Brown aborda o surgimento


do ateísmo e o impacto do idealismo de Hegel, bem como a influência de
filósofos como Schleiermacher, Marx, Nietzsche, Comte e o positivismo no
século XIX.

O ateísmo emergiu como uma resposta crítica à religião organizada e à crença


em Deus. Filósofos ateus questionaram a existência de Deus e propuseram
visões materialistas e humanistas do mundo. O idealismo de Hegel, por sua vez,
influenciou profundamente o pensamento filosófico e teológico do século XIX.
Sua abordagem metafísica e dialética do Espírito influenciou a compreensão da
fé e da realidade.

Schleiermacher, por sua vez, procurou conciliar a teologia cristã com as ideias
filosóficas contemporâneas, enfatizando a dimensão subjetiva e experiencial da
religião. Marx e Nietzsche criticaram severamente a religião e a teologia,
considerando-as como formas de alienação e opressão. Marx enfatizou o papel
da religião como um "ópio do povo", enquanto Nietzsche proclamou a "morte
de Deus" e desafiou os valores cristãos tradicionais.

Auguste Comte, por sua vez, propôs o positivismo, uma abordagem filosófica
que enfatizava a primazia do conhecimento científico e rejeitava a religião como
uma fase superada da evolução humana. Essas correntes filosóficas e o
surgimento do ateísmo tiveram um impacto significativo na teologia do século
XIX. Muitos teólogos foram desafiados a repensar e reinterpretar sua fé diante
dessas críticas e mudanças culturais. A teologia da época teve que lidar com a
perda de influência da religião, a crítica à fé cristã e a necessidade de uma
resposta relevante aos desafios filosóficos e sociais do tempo.

No capítulo 4 de "Filosofia e Fé Cristã", Colin Brown aborda a relação entre


filosofia e fé no século XX. Ele discute movimentos filosóficos como o
positivismo lógico, o existencialismo e o novo radicalismo, bem como a filosofia
e teologia reformada de Cornelius Van Til, Karl Barth e Francis Schaeffer.

O positivismo lógico foi uma corrente filosófica que defendia a ideia de que
apenas as proposições científicas verificáveis têm significado. Isso desafiou a
teologia tradicional, que lida com questões de fé e metafísica.
O existencialismo, por sua vez, enfatizava a liberdade individual e a
responsabilidade pessoal, questionando as estruturas e instituições tradicionais.
Isso teve implicações para a teologia, que teve que enfrentar questões
existenciais e abordar a experiência subjetiva da fé.

O novo radicalismo, ou pós-modernismo, desafiou a ideia de uma verdade


absoluta e enfatizou a multiplicidade de perspectivas. Isso afetou a teologia,
que teve que lidar com a diversidade cultural e interpretativa.

Cornelius Van Til, Karl Barth e Francis Schaeffer foram teólogos que buscaram
responder a esses desafios filosóficos do século XX. Van Til defendeu uma
abordagem reformada da teologia, enfatizando a revelação de Deus como
fundamento para a compreensão do mundo.

Karl Barth, por sua vez, enfatizou a soberania de Deus sobre todas as áreas da
vida, desafiando a separação entre teologia e filosofia e buscando uma
abordagem mais contextual e relevante. Ele contestou a abordagem do
liberalismo, que enfatizava a razão humana e buscava adaptar a teologia à
filosofia moderna. Barth argumentava que isso levava a uma diluição da
mensagem cristã e a uma falta de ênfase na revelação divina.

Francis Schaeffer, um apologeta cristão, procurou responder às questões do


mundo contemporâneo por meio de uma abordagem filosófica e culturalmente
engajada como nas artes e na literatura com o livro “A morte da razão”.

Esses pensadores reformados contribuíram para o diálogo entre filosofia e


teologia, oferecendo perspectivas teológicas fundamentadas em suas análises
filosóficas do século XX. Eles buscaram reafirmar a relevância da fé cristã diante
dos desafios intelectuais e culturais da época.

Análise

Com base no livro, Colin Brown deixa uma crítica em relação à filosofia e sua
relação com a fé cristã. Ele aponta que os sistemas filosóficos são incompletos,
o que significa que não podem abarcar plenamente a totalidade da realidade e
da fé cristã. Portanto, há um perigo em vincular a fé cristã de forma muito
estreita a qualquer sistema filosófico específico.

Essa crítica sugere que é necessário ter cautela ao adotar uma abordagem
filosófica na compreensão da fé cristã, pois nenhum sistema filosófico pode
capturar totalmente a riqueza e a complexidade da experiência da fé. A fé cristã
deve transcender as limitações da filosofia e basear-se na revelação divina e na
autoridade das Escrituras.
Assim, Colin Brown destaca a importância de reconhecer as limitações da
filosofia e evitar uma fusão excessiva entre a fé cristã e qualquer sistema
filosófico. Isso nos leva a refletir sobre a necessidade de uma abordagem
teológica que seja fundamentada na Palavra de Deus e que se mantenha aberta
à possibilidade de diálogo com a filosofia, sem perder de vista a singularidade e
a transcendência da fé cristã.

Conclusão

Colin Brown não busca ser massivo em seu livro, não tenta elaborar um relato
abrangente de cada pensador e nem destrinchar todas as críticas que poderiam
ser levantadas às diversas correntes filosóficas, ainda assim, consegue exercer
um trabalho e uma influência fenomenal. Ele discute o pensamento de 450
pensadores nos trazendo um belíssimo panorama do pensamento dos últimos
séculos. Atualmente, com os constantes ataques feitos ao cristianismo por
diversas correntes filosóficas liberais, progressistas etc. Se torna cada vez mais
fundamental a leitura de livros como este.

O autor atribui grande valor a filosofia junto à fé cristã, ela é um exercício


intelectual que ajuda a abrir a mente. É também um estudo da história, como
um “exercício de navegação”, ajudando a identificar onde é que estamos e
como viemos parar aqui. E por último, a filosofia pode ser considerada em
grande estima pois através destes conceitos passados ela valida a “filosofia da
religião”, se estamos no caminho certo em nossos diálogos com a cultura da
nossa época ou se devemos reavaliar os nossos pensamentos à luz das
escrituras para não cair nos mesmos erros do passado.

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