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ESCOLA ESTADUAL NORBERTO DE ALMEIDA ROCHA

Faz. Apóstolo Simão


Rio Pardo de Minas – MG
e-mail:escola.82333@educacao.mg.gov.br
“Filosofia da religião” é a parte da filosofia que se ocupa de examinar racionalmente as
explicações religiosas.
Podemos entender a religião, de uma forma ampla, como um sistema de crenças e as práticas a elas
referentes. Em quase todas as culturas há pelo menos uma expressão que possamos chamar de religiosa.
Essas expressões diferem entre si, quanto à origem e conceitos principais, mas costumam partir da
tentativa do homem de encontrar respostas a problemas para os quais a razão humana não seria
suficiente. Uma pergunta bastante inquietante e que ainda não podemos responder precisamente por
meio da ciência é a respeito da vida após a morte.

As religiões espiritualistas, ou seja, que acreditam na existência de um corpo mortal e de uma alma
imortal, podem enfrentar esse problema criando teorias baseadas em algum livro que se considera escrito
a partir de uma revelação de Deus, como o Alcorão para os muçulmanos, o Bhagavad Gita para os hindus e
a Bíblia para os cristãos, por exemplo, ou por meio da transmissão oral de revelações individuais feitas a
alguém que se considera capaz de se comunicar com o plano sagrado, como são os profetas, médiuns e
babalorixás.

Ou seja, na esfera da religião, não se necessita de uma demonstração racional para aquilo que se professa
como verdade, mas a fé não é necessariamente oposta à razão. O termo “filosofia da religião”, que
aparece a partir do século XIX, é a parte da filosofia que se ocupa de examinar racionalmente as
explicações religiosas. A existência ou não de Deus foi uma questão que movimentou o pensamento de
muitos filósofos desde a Antiguidade, como Tomás de Aquino, Agostinho de Hipona e Nicolau de Cusa.

Contexto histórico:

O cenário histórico que serve de pano de fundo para a discussão desses pensadores é o desenvolvimento e
ascensão do Cristianismo e grande influência da Igreja Católica como instituição social. Se o Império
Romano se esfacelava, a Igreja acumulou grande riqueza material. Se o Império Romano sofria ataques de
povos bárbaros, a Igreja desempenhava o papel de conciliadora entre a nobreza feudal.

A fé cristã, segundo a doutrina da Igreja Católica, era a verdade mais elevada. Qualquer ato que
discordasse do postulado pela Igreja era considerado uma heresia. Todas as investigações filosóficas e
científicas tinham que partir do pressuposto de que a verdade já havia sido revelada pelo próprio Deus. A
única tarefa possível à ciência e à filosofia era a comprovação racional da fé. Muitos pensadores cristãos
investiram nesse trabalho e tentaram, a partir da filosofia grega ou contra ela, convencer os descrentes.

Entre esses pensadores, podemos incluir os “padres apologistas”, ou seja, aqueles padres que mostravam a
superioridade da fé cristã em relação ao paganismo ou politeísmo. Esses padres, como Orígenes, Justino e
Tertuliano, rejeitavam o recurso às filosofias gregas. Importante lembrar que, nessa época, as obras de
Platão e Aristóteles estavam desaparecidas e o conhecimento que se tinha delas passava pelo prisma dos
filósofos estoicos e neoplatônicos e, por isso, apresentavam elementos místicos ou comportamentos que a
Igreja considerava “imorais”.

Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino


No entanto, as obras de maior destaque são as de Santo Agostinho, que pertencia à Patrística, e as de
Santo Tomás de Aquino, que pertencia à Escolástica. A Patrística é o nome que se dá ao conjunto das
produções intelectuais a respeito da revelação cristã, a maior parte delas de autoria de padres que
perceberam a necessidade de argumentação racional para consolidar os preceitos cristãos entre as
autoridades e o povo. Santo Agostinho, seu principal expoente, estabelece que a principal diferença entre
a fé e a razão é que, pela fé, conseguimos compreender coisas inalcançáveis por meio da razão. Mas isso
não torna fé e razão contraditórias: para o filósofo, a fé revela verdades de forma intuitiva, verdades que
são confirmadas pelo exercício racional. A alma humana só poderia conhecer a verdade das coisas se
iluminada por Deus.

A Escolástica é o nome que se dá à reunião das obras filosófico-teológicas escritas a partir do século IX por
consequência do projeto de organização do ensino promovido por Carlos Magno no século VIII, projeto
esse conhecido como “renascença carolíngia”. Nas escolas fundadas por Carlos Magno eram ensinadas as
seguintes matérias, submetidas à teologia: gramática, retórica e dialética (a reunião das três era conhecida
como trivium); e geometria, aritmética, astronomia e música (reunião conhecida como quatrivium). A
cultura Greco-romana passou a ser divulgada e isso permitiu que o pensamento aristotélico pudesse ser
considerado nas investigações filosóficas da época.

O período escolástico pode ser dividido em 3 períodos ou fases:

1. Primeira fase: do século IX ao século XII – caracterizada pela harmonia entre fé e razão;

2. Segunda fase: do século XII ao século XIV – considera-se que harmonia entre fé e razão pode ser
parcialmente obtida.

3. Terceira fase: do século XIV ao século XVI – caracterizada pela percepção das diferenças fundamentais
entre fé e razão.

A obra de Santo Tomás de Aquino pertence à segunda fase e pretendia retomar os pensamentos de
Aristóteles para explicar os pontos principais da fé cristã. Ao fazer isso, no entanto, criou um sistema
próprio, dentro do qual conseguiu elaborar cinco provas racionais da existência de Deus. Por esse motivo
foi proclamado Doutor Angélico e o Doutor por Excelência pela Igreja Católica. Sua extensa obra foi
considerada, inclusive, um argumento a favor de sua canonização. A importância dos argumentos de
Tomás de Aquino, apesar de serem refutados, para a questão da conciliação entre fé e razão é que eles
negam 1) a possibilidade de se conhecer a Deus sem passar pelo mundo sensível, ou seja, por meio de uma
experiência direta; e 2) que só se pode conhecer a Deus pela fé. A busca científica encontra legitimidade
também na filosofia tomista, pois, se o Criador deixa suas marcas em tudo o que cria, o interesse pela
investigação corresponde à necessidade intrínseca ao homem de conhecê-lo.

Nietzsche:
Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o cristianismo reforçou uma moral dotada de submissão,
pecado e culpa. A própria moral, dirá o filósofo, é um instrumento para o enfraquecimento dos fortes. Por
esse motivo, a tradição ocidental, resultado desse processo de enfraquecimento, é tão distinta do Estado
Grego que reunia, pelo espírito guerreiro de seu povo e de uma religião que não o tentava domesticar, as
condições para o aparecimento da tragédia, maior expressão artística dos helenos.

Sobre a religião grega, Nietzsche sublinha no parágrafo 114 de “Humano, Demasiado Humano” que os
helenos não se referiam aos deuses como se fossem acima de si, ou seja, não tinham uma relação de
submissão em relação a eles. Os deuses serviam como um exemplo do melhor que os humanos poderiam
alcançar, um ideal, diferente do cristianismo que, em suas palavras “esmagou e alquebrou completamente
o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal”. Um aspecto relevante da religião grega era
a inexistência de um livro sagrado. As crenças eram difundidas com uma visão não dogmática e sem uma
autoridade que teria o direito de proteger os dogmas.

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