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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatls Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in mamariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz $ao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razao da
nossa esperança a lodo aquele que no-Ia
pedir (1 Pedro 3,15) .
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
, .. visto que somos bombardeados por
., numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim Incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste slte Pergunte e
Responderemos propOe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristão a fim de que as dúvidas se
.c.<I1"" . . dissipem e a IIIvêncla católica se fortaleça
- __ I ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Ventalls Splendor que $8
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro. 30 de julho de 2003.
Pe. &tev'" Settencourl, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATlS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica ~ Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicaçlo.
A d. Estêvão Beltencourt agradecemos a conllaça
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
P.. rtlelpaçflo d .. !grej.. nlI Atualld ..de
Brasllelr.

Teologia da Uber1açllo: Amblgllldadn

" Ac1.raç6.. Acerca de Alguns


Tem.. d e Teologia"

Ainda " Em nome de Oe-us" , outro • ...

o Senlldo da Vld.

Imp, n.s6e. Colhld. . ... U. R .S . S.

Roub.r em E.llr,m. Neceuldade?

Jan~i,o .F".verelro - '985


PERGUNTE E RESPONDEREMOS JANEIRO-FEVEREIRO - 1985
Putlllcaçio blmHtnl N~ 278

Olretor-Rnpon.....I:
SUMARIO
O. EsI&vJo 8ellencour1 osa
Autor a Redalor de lode a materla
publicada nesta periódico A RODA DA VIDA
DI,.tor. AdmlnhlnuSor Narrações que filam peMllr:
O. Hlldabfando. P. Martins 058 A EUCARISTIA, MISTeRIQ DA Fe 2

Uma an~.u.e da :
Admln~ I ' dlalrlbur~;
PARTICIPACAO DA IGREJA NA A TUA·
Edlç61S Lumen Chrl&tI lIOAOE BRASILEIRA .... . .... . .. . 13
Dom Ger.reto, -40 . 59 Indlt, S/501 R.rIeUndo . . .
Tal.: (021 ) 2Q1.71.22 TEOLOGIA DA LIBERTACÁO : AMBIGOI·
caiu postal 266SI CAOES ....... . ............... • • . 27
20001 - Rio da Jatllito • RJ Pouco divulg ada:
"ACLARAÇÕES ACERCA DE ALGUNS
TEMAS DE TEOLOGIA- •.•. -43
P.ara Pagamento da asslnat",ra l:Ie t9&5
queira depositar a importêncla no Banco Livro. da aensaçao sobre o Valleano:
do Bresll pare credito na Conta Cqrrtonla
"' 0031 . 304-1 em nome do Moste iro de AINDA "E M NOMe DE DEUS" E OU·
Sl.o Benlo, do Rio de J.anelro. IMgiv.1 TROS ...... .... . 57
!UI AJIttdI d. Praça Ma'" (nf 04351
ou VALE POSTAL na Agência Canlral Qu.allo lundam.nl.':
do Rio dê Janalro. o SENTIDO DA VI DA .. .• •. . .•. 61
Mais uma v.z a,,... da Cort ina de Ferro:
IMPRESSOES COLHIDAS NA U . R . S. 5 . 66
Se,.. licito ...
,.
ASSINA.TURA ANUAL PARA. lMS

A parlir de ,1;1 da Janeiro - CrS 20 .000


ROUBAR EM EXTREMA NECESSIOAOE?
lIVAOS EM ESTANTE .. . ...... . . •. . .
NO PROXIMO NOMERO
RENOVE QUANTO ANTES 279 Março-Abril 1985
Ao SUA ASSINATURA
Vida em 001105 planetas" _ ~ ... S.o\ho.a
Apareclda- d e "nlbal Pe le .... ReÍl . _
- Marltlsmo fi Socl8lismo Rea l ~. di P ·E
Chlrbonneau. - ~ M inhll Vidu- de Sh;,I,.,
COMUNIQUE-NOS OUALOUEA
MacUine. - - ESCO l" livre e \lr8\1;la · de P.
MUDANÇA DE ENDEREÇO
cam a poucas
Ollçio de JoAo
boa.·
Nae e a reUo . - - QuondO coiS8S 'u~ns aconle·
de H. 1(1Ish ner
XXlfl pelos jUdI Ill ?
Compoa~ • 1. . . .10: Depolmen10 do "Rei do ... borIO·
~Marqu •• Sa.r.aiva-
Santos Rodrigues, 240
Rio da Ja""iro Com aprovaç ão e clesiastica
A RODA DA VIDA
~tamos entrando em novo ano. _. Isto nos recorda uma
imagem habitual entre os antigos pensadores gregos pré-cris-
tãos. a saber: a roda da vida (ho tr6cbos tes genéseos). Tal
imagem foI reassumida por S. Tiago na sua ep:sto)a: ..A lingua
põe em chamas o ciclo da existêncía ou a roda da Yida ~ (3,6) .
Por que comparavam os antigos a nossa vida com uma
roda?
Três são as expllca~cs possiveis:
1) Na roda que se move, o Que estâ na parte superior
vai para baixo, e vice-vena. Assim a roda seria o símbolo da
sorte, que exalta e rebaixa sucessivamente OS homnes.
2} A roda é a imagem da sucessão e da mudanca. Sim.
boIiza, pois. a sucessão das gerações que perfazem a trama da
história.
3) A roda é um circulo. .. Os antigos usavam tal ima-
gem para designar a história e tudo o que ela contém.
Compreende-se que, a tantos titulos, a roda se tenha tor-
nado o. figura da existência humana.
Observamos, porém, que tal Imagem traduz um certo pes-
simismo. Com efeito, a roda significa 1lIII rolar monótono, insI·
pldo, algo de fechado em si, sem saidaj lembra tambêm o
cetemo retorno» ou o preti!nso ciclo das reencarnações, que
sufoca e agrilhoa o homem e do qual os antigos tanto queriam
libertar-se! - Por isto o Cristianismo prefere, para designar
a vida, uma outra imagem: a do cone. Este é uma fliPlra que
SQ vai abrindo e dilatando cada vez mais, como se estivesse
para abarcar o Infmito. Exprime assim multo adequadamente
a dlnAmlca da vida cristã, Que é uma semente de eternidade
(a graça santlficante é o gênnen da glória), a qual se vai
desabrochando sucessivamente até chegar ao encontro face· a-
-face com a Beleza Infinita de Deus.
Ora o ano de 1985 é um segmento desse cone; deve assi-
nalar, para o cristão, uma fase de crescimento Interior i! de
aproldmacão da plenitude dos valores definitivos. Deus, que
chama o homem para o consórcio de sua vida, o acompanha
nessa caminhada e o aguarda J)ar& o COnsumar.
Senhor, no novo ano Que agora iniciamos, possamos reco-
nhecer todos Os dias o teu $anto desIgnio e a tua reconforta.
dora presença! Peregrino com os peregrinos. 6s tamMm a
Grande Mercê dos que tennlnam a caminhada!
E.n.
-1 -
·PERGUNTE E RESPONDEREMOS.
Ano XXVI - N9 278 - Janeiro-fevereiro de 1985

Narraç6•• que fnem pensar:

A Eu<aristia, Mistério da Fé
E;m .Int... : o pr... nl. aflige Ipresenta o relalo de milagres ,ueal/$-
tlcos ocorridos n8 1lAlla alra'IM dO$ séculos. Tais falos, embora nIo cons-
tituam objeto de 'e. nlo podem Uf delpreudos.. Observe.... que Investlga-
ç6as clentlll~ I'm sido feitas sobra as rallqulas remanaclntes do tais
milagres, de modo a Incutir o carAl., aobrenatural dos fatos . Embora I 16
posu dftpensar milagres, ela em muitos casos se beneficia por consldar4·1ofI,
anconlrando nelel apolo para • lua adedo 80 "mistério da "- (Eucarillllal .

• • •
Na revista «Jesus» das Edições PauUnas de Roma, o escri.
tor Antonio Gentili publicou, em abril de 1983, pp. 64-67, uma
breve resenha de milagres eucarlsticos, que seriam apt'OS a
comprovar a real presença de Cristo no. sacramento do altar.
O artigo revela dados pouco conhecidos ao público brasileiro
- Utulo pelo Qual PR os divulga neste seu número. Assim
procedendo, reconhecemos que
- a fé dos católicos na real presenca eucaristica de Jesus
não depende de mllagra, mas tem sobeja fundamentação nos
dizeres da S. Escritura, da Tradição e do magistério da 19reja;
- pode ser discutida a autenticidade dos fat<Qs relatados
ou, ao menos, de alguns fatos relatados, visto que outros fo-
ram submetidos a exames clentlfiCOS, que parecem muito signi.
flativos;
_ não se pode, porem, de antemão excluir que Deus tenha
manifestado o crnistérlo da fé~ mediante fenômenos extraor-
dinãrfos. Os milagres estão na. linha da revelação e dlspensa-
tão da graça de Deus aos homens; são palavras mais fortes
e eloqUentes que Deus pode oportunamente proferir perante
os homens. para levA-los a eflnnar a sua fé de maneira mais
convicta e frutuosa.
Sobre estas premissas, publicamos em tradução brasileira
o texto do artigo.
-2-
______________~,,,!~ffiT~~~~~O~D~A~F~E~_____________ 3

«QUANDO A EUCARISTIA REVElA O SEU MISURIO

'Eu não seria cristão sem OS milagres', gostava de repe lir


o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662)}... Deixemos os
teóiogos discutir se a Eucaristia deve ou não ser tida como
milagre. O fato é que os .episódios correlacionados com ela
podem ser considerados como mUagrosos.

1. Eucaristia e s.aúde do corpo

Quando São Paulo exprimia o seu desapontamento, veri·


ficando que, apesar da prá.tica da Eucaristia. havia ainda na
comunidade de Corinto 'muitos fl'8.cos e enfermos e um bom
número de mortos' (cf. lCor 11,30), dava a ver claramente
que, para ele, a cela do Senhor devia produzir efeitos de cura.
não diferentes daqueles que se registravam ao longo das estra·
das da Palestina, onde o povo se aglomerava para captar. ao
contato do corpo de Cristo. 'energias divinas que curavam li
todos' .. .
As primeiras gerações cristãs alimentavam, de modo muito
vivo, a consciência de que a Eucaristia emitia energias que
curavam. c S~ apenas o contato COm a sua santa carne resti~
tuia a vida à matéria já deteriorada, quão grande proveito não
haveremos de tirar da sua Eucaristia vivificante, quando a
recebemos., visto que cnão é possivel que a .Vida não faca viver
aqueles aos quais ela se infunde:.. Quem assim se exprimia, é
S. Cirilo de Alexa ndria (370444). Fazem-lhe eco outros Pa·
dres da Igreja, como S. João Crisóstomo (344.407), que convi·
dava 0$ fiéis a _aproximar_se da EucarisUa com fé_, _cada
quaJ com as suas doenças:., e S. Errem Sino (306--372), que
exclamava: «Glória ao remédio da vida!c Na verdade, Cristo
«corta uma parte do seu próprio corpo; apllca·a à ferida, e
cura, como a sua carne e o seu sangue, as chagas».
Um renexo de ta1 convicçio encontra-se no rito da Comu-
nhão em vigor no século IV junto às comunidades da Pales-
tina. 't São CIrilo de Jerusal~m (315-386) quem disto nos
fala:
_No c:ovidode do meio ffl:ebe o corpo de Cri,tol dite Amém •
com zelo santifico OI olho, 00 contato do r=orpo santo ... Depoll
cploximo.te do cálice. Dize Amém e santifico-te tomando (I sangue

-3-
• ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 278/1985

de Crislo. A se,guir. loca de le .... os teus lábios, gindo úmidos. com


luas miios, e santifica os olhos, o testa e os outros sentido. (ouvidos.
gargonta, elc.):..

Se a Eucaristia nâo encontra em nós uma sensibUldade


tão viva e receptividade tão intensa, ela é depauperada dos seus
efeitos; estes não são apenas espirituais - nada há que seja
apenas espiritual no homem! -; basta lembrar Que a nossa
vocaCão del'1"àdelra é para a ressurreição da carne, ou seja,
para a plena e perfeita restauracão do nosso ser, que é corpo,
psiqué e espírito 1.

I!: preciso, pois, reconhecer à Eucaristia o realismo que


inspirou a sua instltulcão: cEste pão é verdadeiramente corpoj
este vinho é verdadeiramente sangue. Quem deles come e bebe.
viverá eternamente (Jo 6.55.58):. 2.

2. Os milGgres eucaristicos

Os milagres eucarísticos encaixam.se nesta ordem de coi·


sas. Vêm a ser o fruto de uma fé muito Intensa ou a resposta
a situações de grave incredulidade. A .sua finalidade parece .ser
a de pÔr em evidência o realismo e a eticãcla da presença de
Cristo sob os sinais do pio e do vinho.
Uma ininterrupta tradição, que vai desde as origens do
Crlstfanismo até os nossos dias, atesta a existência de mila-
gres eucarísticos. De modo geral, revelam a prese~ do corpo

1 Os antigos crlstiOl, com mil. freqüência do que nó" alrlbuN.m •


Eucarl.lIa afellol benéUcos tlmbém para o corpo do comunganle. enquanla
par8gdno na vfda preMnle. Esle coalume hoje perdeu um tlnlo do II8U
vigor; coMerva-se, porém, Inabalalvel I crença de que e Eucarlatla • o
pl'linn.akoft athannln ou o 'emédlo da Imortalidade ou, ainda, o penhor da
, ... uu.'çao dos corpos doe crlllloe. A carne de Cr.to, que IM'deceu •
r_usc:llou, colocada dentro 40 corpo mortal do comunganl., pTepl.r8-o para
• teuumiçkl glMIosa 011 paT. o ttlunfo $Obre I morte. - Em vhta da
.voIVÇlo di piedade crlstl, tvlgemO$ que nlo se deve lnalatlr hO}e com
demullda énlUe aobre os el.ltos corporal. di recepçlo da S. Eucart.lla
na vida presenle. (Nota do lradulor) .
I A trlcotoml. ·corpo (IIOma) , lima (payçh6) e esplrlto (pna:ImMI)-
• da origem paulln.; cl. 1n 5,23. Ta,., origem na fII0t0fla plat6nlca. A
teolOgle católica, baseada no a,IIIOI811.mo, distingue apena GOI'pO • alma,
•• ndo a lime eaplrltuaf • a.óe d.. faculdadea espiritual. do homem (Intelecto
• vonledel. (Note do tradutor).

- 4-
_________________M~IS~TE~R~I~O~D~A~F~,EC_______________~5

de Cristo no sacramento e manifestam a natureza c os efeitos


da mesma. Neste artigo não falaremos de milagres de curas
realizadas peja Eucaristia. Ainda recentemente foram colecio-
nados alguns testemunhos a propósito na obra de A. Enge,
O SiLngue do Cordelro cura o universo, Milão. 1983. T.lmbém
não se deve esquecer que o momento culminante e decisivo de
muitos milail'eS rlSicos. psIquicos e espirituais registrados em
Lourdes é o da Comunhão ou o da procissão com o Santíssimo
em meio dos doentes. _ Nas paginas subseqüentes considera·
remos os mltagres que evidenciam a realidade da presen;a de
Cristo oculta sob os sinais da Santa Ceia.
Há tempos, Cal traçado um 'mapa cucaristico', que regis.
tra o local e a data de mais de cento e trinta milagres, metade
dos quais ocorridos na I tália. Escolhemos dentre estes sete.
dlstribuidos pelo Norte, o Centro e o Sul do país, .. . milagres
verificados no arco de um milênio, isto ê. de 700 a 1700. Sele-
cionamD-!os dentre os mais bem documentados e os mais clo-
qüentes, visto que não há para todos, como se compreende. um
abono de provas históricas e clentitlcos Igualmente rigOl'OSO e
persuasivo.
No passado as peregrinnções se dirigiam quase exclusiva-
mente aos túmulos dos Apóstolos e dos mó,rtires ou aos san-
tuãrlos marianos; eis, porém, que, a partir do século XIX, o
mapa geogrãflco da piedade popular itinerante inclui também
os santuârlos eucarlstlcos. A primeira peregrinação eucaristlcn
ocorreu na Páscoa de 1874: teve como inspiradora Santa Maria
Marta Emllia Tamlsler (8 quem se deve também a iniciativa
dos Congressos Eucarlsticos inlernacicnais) e como termo de
chegada o santuârio de Avlnháo (França), no qual o SS. Sa-
eramento ern exposto dia e noite em recordação do prodígio
verificado em 1443, quando uma enchente poupou o altar c
os espaCOS adjacentes da C8J)1!la da Confraria dos Penitentes
Cinzentos.
Dadas a explosão do turismo de massa e 11 nova demanda
religi()SD;, os santuários eucarísticos estão sendo objeto de cres-
ccnte interesse.
3. Um rápido percurso
Tornemo-nos, também nós, peregrinos atrnvés da Itáli.a,
iniciando a nossa caminhada Ideal na cidade Que é definida por
antonomásia como ca cidade do SS. Sacramento:.: Turim.
-- 5 -
G "PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 218/1985

Nesta, entre outras cOisas, Nali2aram·se o n e () XIV Con-


gressDS Eucarlsticos Nacionais Italianos, respectivamente em
1894 c 1953.

3. 1. &11 Turim

Se o ano de 1453 assinala a queda do Império Romano


do Oriente, com a tomada de Bizâncio por parte de Maomé fi,
no Ocidente, e precisamente na Alta ltâlia, registrava-se uma
guerra furIosa em disputa do Ducado de Milão. Francesco
Sforza, wn dos contendentes, soUcitou em seu favor a inter·
venção de Renato, duque de Anjou e de Lorena.
Renato foi vencido em batalha multo sangrenta, após a
qual os plemonteses saquearam as residêncIas da cidade; che-
garam então à Igreja, e forçaram o tabernáculo. Tendo reti-
rado o ostensórIo de prata, no qual se guardava o corpo do
Senhor, ocultaram.no dentro de uma carruagem juntamente
com outros objetos roubados, e dlrlgiram-se para Turim.
Crônicas antigas referem que, na altura da igreja de
S. Silvestre, o cavalo parou bruscamente a carruagem - o que
ocasjonou a queda, por terra, da presa capturada. Dizem que
então o ostensório se levantou nos ares ccom grande esplen.
dor e com ralos que pareciam os do sob. Os espectadores
mandaram logo chamar o bispo da cidade, Ludovico Romag-
nano: este foJ processionalmente ao lugar do prodigio. Quando
chegou, co ostensório caiu por terra, ficando o corpo do Se-
nhor nos ares a emlUr raios refulgentes.. O Bispo, diante do&
fatos. pediu que lhe levassem um cálice (identificado pela tra-
dição com aquele que se conservava na catedral de Turim até
a última guerra). Dentro do cáliCC!, desceu a hóstia, que foi
levada para a catedral com grande solenidade. Era o dia 9 de
junho de 1453.
Existem testemunhos contemporâneos do acontecimento
(A.tti Capltolart de 1454 a 1456) . No século seguinte, a Câ-
mara Municipal mandou construir uma capela ou ora tório
sobre o lugar do milagre. O oratório foi destruido para ceder
• construção da igreja de cCorpus Oomlnb (1609), que até
hoje atesta o prodigio.
:t: dificll reconstituir com plena objetividade um aconteci-
mento tão distante no tempo. O mais recente pronunciamento
de um grupo de historiadores designados pela autoridade dio-
-6-
MISttRlO DA FÊ 7

cesana (1977) sustenta - tal .é a posicão minlmlsta - Que


enâo se pode negar _. _ o tato de uma descoberta da Euca-
ristia, tida pelos contemporâneos como milagrosa e digna de
cu1to ~ .

3.2. Em Ferrara

Se de 'l\u"im nos deslocamos para Ferrara, verificaremos


que o milagre eucarístico de que é testemunha a basilica de
S. Maria in Vado se funda não só sobre depoimentos históri-
cos, mas também sobre dados empíricos.
Estamos no século XII, atormentado pelas doutrinas de
Bcrengãrio de Tours (t 1088), que negava a real presença de
Cristo na EucarJstia_ Aos 28 de março de 1171, o Padre Pe-
dro de Verona, assistido por três outros sacerdotes, celebrava
a M'ISSB de Pãscoa; no momento de partir o pão, a hóstia se
transfonnou em carne, da qual saiu um nuxo de sangue. que
atingiu a parte superior do altar, na qual ainda hoje existem
manchas visiveis da ~Ol' do sangue.
Os documentos Quc atestam tal milagre, eram até alguns
anos atrãs wn 'BreVe' do cardeal :Mlgliorati (1404) e a Bula
de Eugênio IV (1442), cujo original foI encontrado em Roma
em 1975. Mas a descoberta mais importante deu-se em 1981,
quando se encontrou um manuscrito de Londres datado de
1197 - vinte e cinco anos depois do milagre _ . no qual se lê
que em Ferrara, no dia de Páscoa, a hóstia se transformou
em carne. Á documentacão histórica, sustentada por ininter-
rupta tradicão e por documentos insofismáveis, seria para dese-
jar que se acrescentasse a prova cienUfica ou o exame qulmico
dos restos de 8aIlguc: há cen:a de trinta anos, isto foi solici-
tado à autoridade competente, a qual. porem, não o concedeu,
dado o carátel" sagrado de tais resQuiclos do acontecimento.
Todavia a prova científica ocorreu repeUdamente no caso
de um dos mais famosos milagres eucarísticos; o de Sena.

3.3 . EM Seno
Transportamo-nos para o centro da Itália, onde entramos
em Sena, pátria de Santa Catarina. Aqui, na basllica de São
Francisco, durante a noite de 1'1 para 15 de agosto de 1730.
foram jogadllS na chão 223 hóstias por malvados dQSCOnheci-
-7_
8 "PER.GUNTE E RESPONDEREMOS" 278/1985

dos, que queriam apropriar~se do cibório de prata no qual elas


se achavam.. Dois dias depots, as hóstias foram encontradas
numa caixa de esmolas, misturadas com dinheiro, poeira e teias
de aranha. Oportunamente reconhecidas e limpadas, foram as
hóstias solenemente levadas de novo para a basilica de São
Francisco; ninguém as consumiu, fosse em consideração da
prodigiosa descoberta, fosse por motivos hlgjênicos.
O milagre não tardou a evidenciar-se, visto que, com o
passar do tempo, as hóstias nâo apresentavam sinal algum de
decomposição.
No inicio do século XX, foram realizados repetld8.fI'Wnle
os mais diversos exames quimicos, dos quais se tiraram as
seguintes conclusões:
- trata-se de pão em perfeito estado de conservaçio;
- tal conservação, que hipoteticamente começa em 1730,
foi bem acompanhada no arco dos anos que se sucederam entre
um exame e outro; por conseguinte, o milagre é tal, ao menos
ti. partir do primeiro exame científico, que data de 1914. A
contra-prova foi efetuada com hóstias de confe~ão recente e
nAo consagradas: verificaram·se nestas ú1timas, em lapso de
tempo muito menor, os habituais sinais de deteriorização qui-
ml~ ao passo que as hóstias do milagre conservaram a nalu~
ral composição do pão.

3.4. Ainda em Seno

Sena foi também O berco de outro milagre eucarlstieo,


atualmente celebrado cm Casela, pAtrla de Santa Rita. Em
1330, pediram e. um sacerdote que morava nas proximidades
de Sena, fosse levar o viático a um enfermo. Procedendo de
maneira apressada e irreverente, o padre colocou a partlcu1a
no Breviário e foi à casa do doente. No momento da Comu-
nhão, abriu o Brevlãrlo e verificou que a hóstia, liquefeita e
quase reduzida a sangue, tinha manchado as pâginas do livro.
Apressou-se então a entregA-Ia a um frade agostiniano de
Sena, o qual levou para Perúgla a páglna manchada de sano
gue e para caseia aquela à qual a hóstia ficara presa: a pri-
meira perdeu·se em 1866 com a supressão das Ordens Reli-
giosas; mas a 'reliqula Corporis Domln!', como foi chamada, é
atualmente venerada na basillca de Santa Rita.

-8 -
MIsttRIO DA FÊ 9

3 .5 . Em Orv1.lo

Retrocedendo no tempo, deparamo-nos com outro milagre


eucarlstico, multo conhecido pôr ter sido perpetuado pelo pai-
nel de Raffaello Sanzlo nos Museus do VaticanO_

Em resposta às heresias cátaro-patárias, que negavam a


p~~ reaJ, a bem-aventurada Juliana de CornlUon (t 1258)
recebeu do próprio Cristo, em revelações particulares, a ordem
de conseguir a introdução da festa de «Corpw Domini» no
calendário da Igreja. De Liêge (1246), diocese à qual perten-
cia Juliana, a festa se estendeu a toda a lareja (1264), por
obra de Tlago de Troyes, arquidiácono daquela cidade, que se
tornou Papa com o nome de Urbano IV. Este se encontrava
em Orvieto, onde ele assinou e. SuJa cTranslturus. (8 de setem-
bro de 12M) , relativa ao o,rptU Dominl. no ano seguinte a
um fato milagroso.

Com efeito. Um sacerdote chamado Pedro de Praga, ator·


mentado por dúvidas sobre B real presença eucaristica, tinha
empreendido uma peregrinação a Roma ; deteve-se então em
Bolsena (1263), onde celebrou a Missa. No momento da con-
sagração, a hóstia destilou sangue, que se espalhou pelo cor-
poral, pequena toalha que se estende sobre o altar durante a
celebração da Eucaristia. A reUquia foi levada a Orvieto aos
19 de junho de 1264, e esta guardada na catedral, na capela
do Corporal.

3 .6 • Em 0ff1dc1
Aproxlmamo-nos do Sul, detendo-nos primeiramente em
Oftida, uma aldeia das Marcas, não longe de Lanciano_ Nesta
cidade, no ano de 1273 uma hóstia consagrada se transformou
em carne sangrenta sob o olhar estupefato de uma devota im-
prudente, chamada RicclareUa Stasio; esta, por sugestão de
uma feiticeira, tinha empreendido práticas supersticiosas com
a Eucaristia. A hóstia translonnada em carne, um pedaço de
telha côncava que recolheu o sangue e a toalha que envolveu
uma e outra, foram . _. entregues ao frade agostiniano Qja~
como Dlotallevi, de Offida. Desta maneira é que as reUqufas
eucarlsticas chegaram a Offida, que as conserva em preciosos
reUc6.rios.

-9-
10 ,PERCUNTE E RESPONDEREMOS:. 278(1995

Também no tocante a este milagre os testemunhos histó·


ricos são numerosos e acima de qualquer duvida, mas não nos
consta tenha havldo exames de laboratório.
OCfida, como notam06, lembra Landano.

3 .1 . Em Landono

Nesta cidade, cinco séculos antes tinha-se verificado o mi-


lagre eucaristico mais antigo e clamoroso que se conheça na
história da piedade cristã.
Estamos em data MO claramente definida do século vm.
Um monge da Ordem de São Basílio estava celebrando na
igreja dos santos Degonciano e Domiciano. Terminada a çon-
sagração, que ele realizara provavelmente em estado de dúvi-
das interiores, senão de incredulldade. a hOstla transformou-se
em carne e o vinho em sangue depositado dentro do cálIoe.
Ao ver isto, O monge, perturbado e atônito, procurou ocultar
o fato; mas, depois, reagindo à emocão, manlfestou-o aos fiéis,
que, feitos testemunhas do mUagre, espalharam a noticia pela
cidade. - O exame das relíquias, segundo critérios rigorosa-
mente clenUflc05, ocorrido pela última vez em 1970, levou aos
seguintes resultados multo significativos:
1) A hóstia, que a tradição diz ter-se transfonnado em
carne, é realmente eonstitulda llOr fibras musculares estrladas,
pertencentes ao miocárdio. Ac~nte-se que a massa sutil de
carne humana que foi retirada dos bordos, deixando um am-
plo vazio no centro, ê totalmente homogênea. Com outras pala-
vras: não apresenta lesões, como os apresentaria se se tratasse
de um pedaco de carne C'Ortada com uma IAmina.
2) Quanto 80 sangue, trata-se de genuino sangue hu-
mano. M8is: o grupo sangülneo a que pertencem os vestiglos
de sangue, o sangue contido na carne e o sangue do cálice
revelam tratar·se sempre do mesmo sangue do grupo AB.
Este ê também o grupo que o Prot. Pierlui~ Baima Bollone,
da Universidade de Turim, Identificou na Sagrada Mortalha
(ver 18uII& Saem Slndone n ~e di nn vero uomo'. em L'0s-
serva.tore Romano, de 12/01/83).
3) Apesar da sua antigüidade, a came e o sangue se
apresentam com uma estrutura de base Intata e sem sinais de
altel'8cões substanciais; este fenômeno se dã sem que tenhâm
-10 -
MISTÊRlO DA FÉ 11

sido utilizadas substâncias ou outros fatores aptos a conservar


a matéria humana, mas, ao contrário, apesar da ação dos mais
variados agentes fisicos, atmosféricos, ambientais e biológicos.

A linguagem das rellquias de Lanciano é clara e Casei·


nante: verdadeira carne e verdadeiro sangue humano, na sua
inalterada composição que desafia os tempos; trata·se mesmo
da carne do co['a,ção. daquele coração do qual, conforme a fé,
jorrou o sangue que dá a vIda.

4. Conclusão
Independentemente dos aspectos e dos problemas peculia·
res a cada um dos milagres eucarlsticos, uma coisa é evidente.
Em coWieqüêncla e através desses fatos, o público tem tido
- e ainda tem - a ocasião de penetrar a linguagem de um
Deus que se faz pio. No estudo desses fatos, a razão - recor·
rendo a critérios históricos e cientificos - desempenha um
papel importante, mas não exclusivo. Na verdade, são dois os
excessos a evitar, como nos lembraria Pascal: 'Excluir a razão
e sO admitir a ra2ão' ».

• • •
Sem comentário propriamente dilo ao artigo de A. Gen·
tili atrás transcrito, desejamos citar outro artigo, desta vez
referente ao mUagre de Lanciano apenas.

Escrito por Odoardo Llnoli, traz o Ululo .Studio latokt·


glco e BioehimJoo au1J6 reJ1qule deI mira.colo cuea.ristico di
I.ncl.no. e foi publicado na revista cSclenza e Fede» n' 7,
gennaio--aprile 1983, pp. 53-67.

o autor. citando vasta bibliografia, refere que as reliquias


eucarísticas de Lanclano Coram submetidas a exame eclesiás·
tlco nos anos de 1574, 1637, 1770 e 1886. Em 197(}'71, houve
exame cienUtlco de três elementos, renovado, em parte, no ano
de 1981. O artigo exibe doze fotografias e um gráfico, que
muito ajudam o leitor a penetrar dentro da temática. Na base
das pesquisas realizadas sobre as reliquias do mJlagre cuca·
ristico de Lanciano, O. Linoli afinna. em conclusáo (p. 58):

-11-
12 ~ PERGUNTE E RESPONDEREMOS ~ 27811!)S5

« 1) A carne milagrasa foi idenlifkada como CORAÇÃO, dados


os seUl componentes rniocórdicol, endocárdicol. vasculares hemélticos
e n~rvosas.

21 O sangue foi reconhecido como outêntico sangue, a inda


~ ueprofundamente modificado om seus ospectos, na base do identifi.
coçõo da hemoglobina mediante cfomotogrofio em camada sutil.

3) Após idenlificac;õo serc l6gico, pode-so di:z:er qUle a carne e o


sangue milagrosos pertencem à espécie humana.

4, E idêntico nOI dUal reliquias (I grupo sangüineo IAS}, ide nli-


ficCldo polo método d. Flori. co1. 119631.

51 O troOC;oOdo eletroforélico das prolelnos sencos, oblido por


concenlrocão do liquida resultonto da liqvefolõão da songue milagroso,
pode .er tido como normoOl; o.tão-Iho protenles todas as devIdas fro~es
prolelcas no proporcão próprio dC:II pessoos sadion.

1:: realmente digno de nota o artigo de O. Linoli pela pre-


cisão com que descreve as caracterísUcas anatômicas das relí-
quias de Lanciano: o vocabuJãrJo técnico próprio da linguagem
médica significa que os pesquisadores não se furtaram aos mais
exigentes critédos clentlficos para Identificar as reUqulas em
pauta. - Não M duvida, o mila gre de Lanclano não é de fé,
ou seja, nâo é considerado pela Igreja como objeto de fé uni-
versal, mas, como quer que seja. proposto em tais termos rigo-
rosamente cientlficos. é algo que se impõe à consideração dos
cstudiosos e dos fiéis em geral, deixando-lhes a pergunta
Rberta: não se pode dizer que, através de tal sinal, o Senhor
Jesus quis realmente indicar que E1e está presente sob as apa-
rências d o pão e do vinho !

- 12 -
Uma análl .. di

Participação da Igreja
na Atualidade Brasileira'
Em .Inlll.: o pre.ente afllgo parle ao principio de que o Reino de
Deus nlo é mer.mente Inv/s/val nem .Impl..mente futuro, mas já começou
e deVê Impregnar as aslrUlu...s d••oclt<lade lerrestre. E: o que JUSUllca l i
InlelV8nç6e1 da 1;,--" na vida pObI/CI sempre que estejam em Jogo valores
"Icos; nIo compele • Igreja mlnUa lar... sobre quest6e. técnicas lSe
economl. ou admlnlstraçio pública. No a'ull os pronunciamentos éticos
da Igreja lêm sido r.latlvamente Iroqúentea, dado que vlvémos numa .ItUlçlo
de tef180el enlr. o homem e a méquln. ou num. tua de utilitarismo pragm4-
tlco e hedonllta: tenhIm-N em vista as declaraçnes doa Bispos lobre o
divórcio, a deleu da vld.I (nalclluII ou terminal), • dlt trlbulçlo e • posse
d. le«as, a escol. plr1lculaf ... e de reconhecer. porém, que certes exlre-
pOlaçoes ttm ocorrido da parte de elgumes figuras do clero; enlta asla,
se" asslnaled• • T.ologla da Ubertaçl.o em lua lorm. extremad•.
Em vez de se 'lIcltaram dlvls6n • ruptura•• para deseJ.. qua, nnta
hora dlllcll do Otasll, o dlilogo enlre • IgI'la li o Ealado contribua pata
aproJllma' um e outro enlle si, em vllla de maior bem~tar espiritual •
tamporal do povo brasileiro.

• ••
Quem considera a face do Brasil desde 1500 até nossos
dias. não pode deixar de perceber o papel desempenhado pela
Igreja na história do país. Esta função se torna assaz rele-
vante se levamos e m conta OS nossos tempos. quando mais
complexa parece tornar-se a atividade do clero no Brasil.
1!: precisamente tal análise que tencionamos empreender atra-
vés destas páginas.
Dividi remos a exposição em quatro pa.r tes: 1) Fundamen-
tos doutrlnãrios e tópicos históricos da missão social da Igreja;
2) Implantação desses princlplos nos campos social e político
do Brasil contemporâneo: 3) Uma pergunta [)Crplcxa; 4) Con-
clusão e perspectivas.

1 Conlerençla proferida pelo Pe. &I"'ao Bettencourt, O. S .8 . na Escofa


Superior do Gue"e ao. 23/08/84.
-13 -
14 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS ,. 27a!1985

1. Fundamentos doutrinários e tópicos históricos


da missão social da Igreja

1. O Evangelho diz que o Reino de Deus se assemelha a


um grão de mostarda, que, minú.scu.lo corno é, se toma uma
grande árvore depois de lançado à terra (el. Mt 13,31s). Esta
Imagem descreve, a seu modo, a história do Reino de Deus
iniciado por Jesus Cristo, e continuado pela Igreja que Ele
fundou; tal Reino SÓ esta.rã consumado no fim dos tempos
(cf. ICor 15,23.28), mas já se acha em realização dinâmica
desde as origens da pregação evangélica: a ordem, a harmonia,
a vitória sobre o mal, que caracterizam o Reino de Deus, devem
jmplantar-se sempre mais neste mundo atrav~s dos séculos.

Esta verdade foi compreendida pelos antigos cristãos, prin-


cipalmente depois que em 313 cessou a era das perseguições:
o Reino de Deus não é simplesmente Jnvisivel, intimo e lndi·
vidual, mas é também visivel, manltesto e social. O mWldo
material não é mau, mas, criado por Deus, foi redimido por
Cristo quando Este redJmlu o homem (rnlcroscosmos x ma·
croscosmos) i por conseguinte, deve ser penetrado em suas
diversas áreas (social, política, econOmica, educacional ... )
dieval conceberam o ideal da cCldade de Deus::t.

2. Conscientes disto, OS escritores da Igreja antiga e me-


dieval conceberam o Ideal da .Cidade de Deus~.

Tal foi o caso de S. Agostinho (t 430), que de 413 a 426


escreveu os vinte e dois Jivros da obra «De Civitate Dei~. Esta
constitui o primeiro esboço de uma fUosofia da história, cujas
diretrizes se tornara m a base da orientação da Igreja neste
mundo até o fim da Idade Média; S. Agostinho consJdera a
cCidade de Deus. e e. c:Cidade do demónio. como duns realida-
des que se acompanham mutuamente por todo O decorrer da
história. OS livros cOe Clvltate Deb tomaram-se uma das
obras mais lidas na antigüidade e na Idade Média, pois deles
temos 382 manuscritos nas grandes bibliotecas da Europa.

As idéias de S. Agostinho contrlbuiram para que se for-


massem conceitos sempre mais apurados nos séculos posterio-
res: os canonlstas e teólogos medievais falavam de dois pode-
res - o Sa.~rdóclo e o Império - que se deviam entrelacar
- 14 -
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 15

no regime da Cidade de Deus: ao Imperador tocaria a solicI-


tude da ordem temporal inspirada pelos principias do Re ino de
Deus; ao Papa competiria a construção do edifício espiritual
encarnado nas estruturas da sociedade; ao Sumo Pontifice am-
buia-se tambêm o direito de se pronunciar sobre as realidades
temporais, desde qu e estivessem em causa os valores éticos.
Muito significativo é o episódio seguinte:

o rei João sem Terra (1199-1216) da Inglaterra apelou ao


Papa Inocêncio m (1198-1216) pedindo-Ihe que julgasse entre
elc, João, e {) rei FllIpe da Franca; este era senhor feudal de
João no tocante às posses da Inglaterra no continente. O Papa
Inocêncio m respondeu-lhe que não pronunciaria :fulgamento
entre um senhor feudal e seu vassalo, mas sim sobre matéria
em que pudesse entrar o pecado (ratlone peccati): cNon enlm
Intendimus iudicare de feudo . .. sed decernere de peccato cuius
ad nos perUnet slne dubltalione censura quam in quemllbet
exercere possumus et debemus. (lnocéncio m, Eplstolae vn
42, PL 215,326) '.

O Papa Bonifácio VIII (1294-1303) repetiria tal concep-


ção na bula Unam &andam de 1302. Cf. Denzinger-SchOn-
metzer, EnchirldIon SymboJorum et Defialtlonum n' 875 (469).

3. Saltando séculos, passamos para a hisltlria do Brasil.

A intima colaboracão da Igreja e do Estado refletiu-se na


instituicão dita «do Padroado. ou do cVicariato régio•. Com
cfeUo, desde 31/ 05/1493 os Papas, em bulas sucessivas até a
Cedula !Ia.gna. de 1'/06/1574, foram concedendo aos reis de
Espanha e Portugal numerosos privilégios sobre as terras das
Indias Ocidentais: assim lhes pertenceriam todos os dizimes do.
Igreja, direitos patronais sobre as igrejas novas, direito de apre-
sentação dos prelados, dos abades e dos portadores de títulos
cch~siástleos ...

o dit'1'!lto de padroado pertencia diretamente ao rei, que o


exercia por intennédio de um Conselho apropriado, o qual, por
sua vez, se valia das Audlênclaa estabelecidas nas várias par·
tes da América. Tais privilégios foram outorgados pelas Pon-

1 "'N80 Inlanelonamos arbllraf a fa.pelto de assunlos faudals ... • mas. no


caso, discernir o pecado, qU I. sem dú"kla. nos toes cens urar. como nOl
compete o direito e o dever de cenlurlr qUllquer pecado".
- 15 -
1G .PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 27811985

tlfices aos monarcas da península ibérica, porque se tratava de


reis profundamente católicos, aos quais a Santa Sé confiava o
encargo missionário em relação às novas terras, encargo que
os PonUlices não poderiam desempenhar com recursos e apa-
rato próprios.

Em canseqüência desse estado de coisas, entende-se a


est.reita colabor-acão registrada entre a Igreja e o Estado no
perlodo colonial de nosso pais: pode·se dizer que não somente
a Igreja a desejava, mas também o Estado a exigia (verdade
é que nem sempre com intencães puramente religiosas) . A cul·
tura e a civiliZação no Brasil não foram implantadas senão com
a iniciativa ou o aUxllio dos missionária; jesuitas, franciscanos,
capuchinhos, cannelitas, beneditinos, mercedârios, agostinia-
nos .. . , aJém dos membros do clero diocesano. Os trabalhos
desses homens heróicos marcam tanto a vida do Brasil colo-
nial que o Imparcial historiador Capistrano de Abreu pôde aflr--
mar: cf: atrevimento escrever-se a história do Brasil antes de
estar escrita a história dos jesuítas».

Grande seria o número de figuras beneméritas que se pode-


riam citar para ilustrar a participação dos clérigos na fonna·
ção da nossa cultura. seja apenas mencionada a obra educa-
dora que tocou, em primeiro plano, aos jesuítas, a tal ponto
que a expulsão dos mesmos em 1759 por decreto do Marquês
de Pombal dividiu a história do Brasil em duas fases: a pri-
meira, de ascensão cullural; a segunda, de declínio e obscuran·
tismo (como afirmou Pedro Calmon): «No Brasil (Pombal)
desorganizou o ensino existente, sem o melhorar, sequer subs·
titul-lo por outros sistemas Que o suprissem. Fechados os colê-
gios dos jesuitas, as aulas de filosofJa e gramática, em grande
número, ainda em 1760, logo decairam e se encerraram:. (Cal·
mon, citado por Bihlmeyr-Tuechle. HIstória da Igreja. vol. In,
São Paulo 1965, p. 413) .

Atesta ainda o Pe. Gala.nti: cEra depl~>rável o estado das


escolas em todas as capitanias do Brasil; poucas existiam, e
estas exercidas por homens ignorantes. Não havIa sistema nem
norma para a escolha dos professores, e o subsidio literãrio
não bastava para pagar o professorado público» (Ib).
Em 1795 o governador do Maranhão, Fernando AntOnio
Noronha, afirmava: cNão era conveniente houvesse mais do
que a cadeira de gramática latina, ler e escrever, porque o
-16 -
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA ~

abuso dos estudos superiores só serve para nutrir o orgulho


próprio dos habitantes ... :t A Câmara de Sabará pedira em
1768 uma aula de cirurgia. E o procurador da Coroa, negan·
do-a, respondeu _que se lembrava de ter lido que algumas das
nações européias se arrependeram, mais de uma vez, de artes
estabelecidas nas suas colônias da Amérlca ~ .

Lembremos outrossim as partes importantes que tocaram


ao clero nos movimentos pro-independência do Brasil colonial
e pro-aboUção da escravatura.

4. Uma vez instaurada a República no Brasil (1889),


deu~ a separacão da Igreja e do Estado. Com Isto, é claro.
acabaram-se a lei do padroado e 8 colaboracão oficial da Igreja
e do Estado na implantação do Reino de Deus. Todavia é de
notar que a Igreja foi beneficiada pela separaCão, visto que a
surocava o Imperador moyido pelos principias da Maçonaria
(tenha-se em vista a Questio Religiosa, 1872-1875). Não ces·
sou, porém, a ação evangelizadora da Igreja no perfodo repu-
blicano; mediante pregação e outras atividades apostólicas. o
clero contribuiu poderosamente para a ulterior construção da
nação brasileira, como atestava o Ministro das Relações Exte·
rlores, o Dr. FelLx Pacheco. em 1924:

. Posso lembrar que ainda reçentemente foram as pcutorail dOI


arc;ebilpol e blspoI que levonlarom o e'plrito brasileiro à altura da
grClve situacao em que nos vlamos envolvidos e precisávamos enfrentar
corajosamente::..

E o Ministro salientava .. essa continuação de nobre esforço


do clero patricio sob a orientação esclarecida 00 seus c.hefes
supremos::..

Vale a pena realçar de modo explicito ainda o nome do


Eminente Cardeal D. SebasUão Leme da Silveira Cintra, que
em 1931-2 se empenhou por Introduzir na Constituição do Sra·
sil OS sinais minimos da presença do Reino de Deus em nossa
pâtria: o nome de Deus no cabeçalho da Magna Carta, a ins-
trução religiosa nas escolas. a assistência religiosa às Força....
Annadas ... e aos estabelecimentos oficiais de internação cole-
tiva, a indissolubilidade do matrimônio. Foi também o patro-
cinador do projeto de se colocar a estãtua do Cristo Redentor
no Corcovado.
- 17 -
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 278/1985

2. Atuaçõo da IgreJa nos campos social e político


do Bras:!1 contemporâneo
1 . Nos dois últimos decênios a atuacão da Igreja no foro
eivil tem.-5e feito sentir com particular intensidade. provocando
reações contradlt6r1as. - O assunto é delicado e merece ser
tratado por -etapas:
a) O que move as intervenções da Igreja no foro civil. é
o aspecto ético das questóes sociais. como dito atrás; não são.
portanto, as facetas técnicas da economia, da sociologia, da
administração ... ;
b) Acontece que nos últimos tempos O aspecto ético tem
tomado fonnas novas: vem a ser ditado especl.a.lmente pelo con·
flIto entre a máquina (ou as coisas) e o homem. O pragma.
tismo e o utilitarismo tentam nio raro desvalorizar a pessoa
humana (especialmen~ a menos aquinhoada rlSies ou espiri-
tualmente) em favor da mAquina ou das coisas, que, à pri·
melra vista, são multo mais produtivas e Interessantes do que
o ser humano. Ora toca à Igreja o dever - Jmposto pela sã
filosofia e pela fé - de defender o homem diante da mã-
quina, qualquer que seja a condição social ou Intelectual desse
homem. A Igreja há de ser a porta-voz da dignidade humana
ou de autêntico humanismo. com todos os seus valores. ainda
que pouco utilitários ou mesmo Incômodos. ~ o que explica os
pronunciamentos da Igreja
- em favor da vida nascltura encerrada no seio matemo.
O feto Jã é pessoa humana. pois desde a fecundação do 6vulo
pejo espermatozóide há todos os elementos constitutivos de
novo ser sob fonna embrlonárla. Eliminá·lo redundo. em homl-
cidlo cometido contra um Indefeso, em burla das leis mais
rudimentares do convivia social;
- em favor da vida tenninal, ameaçada pela eutanásia
direta; nenhum homem estA apto a julgar o valor OU desvalor
da vida de outrem ;
- em favor da famma dilacerada pelo div6rclo e por suo
cessivas uniões. das quais as maiores vitimas são OS filhos;
- em favor do planejamento familiar entregue l l'eSpon-
sabilidade dos cônjuges, gem imposições ou Interferências da
parte de qualquer autoridade. O lar é indevasslvel. O que
toca às autoridades govemamentals, é instruir ou esclarect!r
-18 -
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 19

as pOpulações, especialmi!nle as mais carentes. a respeito da


explO5áo demográfica e no tocante aos deveres da paternidade
responsâveJ: ninguém deve colocar no mundo criancas que não
possam receber digna educação;
- em favor do justo uso da terra, de modo a evitar espe-
etllacôes financeiras que reduzam as familias mais humildes a
condiÇões sub·humanas de miséria e abandono. Multo sabia-
mente observava Paulo VI que em nossos dias os ricos se tor-
nam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres;
- em favor da escola particular e do direito de educação
que compete soberanamente aos pais. O Estado tem, neste
particular, uma função subsidiária; compete-Ihc ajudar os ta-
sal$ a cumprir seu dever de educar, mas não o deve fazer de
modo a apagar a tarefa dos pais ou impor aos educandos wna
cosmovisão ou ideologia que os pais não aceitem.

Empreendendo estas e semelhantes campanhas, a Igreja


tenciona fazer as vezes daqueles que não têm vez nem voz.
Ela seria digna de censura se passasse ao largo de tais pro-
blemas com indiferença ou displicência, pois Cristo quis iden-
tlnoar-se com todo homem sot~or e Indigente (cf. Mt 25,
31-46) e recrimina aqueles que friamente o contemplam fa-
minto, doente ou desnudo... Doutro lado, é Inegável que
também seria digna d.e censura a Igreja, se se esquecesse do
seu dever primordial de pregar e tentar implantar no mundo
os valores definitivos, anunciando aos homens a palavra da
fé inseparável da vida sacramental. Foi precisamentne para
escalonar estas duas tarefas - a de ordem espiritual (.' d.efl-
nitiva e a do plano temporal - que o S. Pàdre João Paulo II
escreveu importante carta BOS Bispos do Brasil em 10 de
dezembro de 1980:

cl: «rio que a missõo da Igreia não se ccnfina nas atlvidados


de cullo • no interior dos templos . .• Mas não 4: menos certa que CI
19,ela perderia suo identidade mais profundo - e, com CI identidode,
o sua credibilidade e a ,uo efic6cia verdadeira em todol OJ campol -
se sua legitima ateneãa lu quest&u socioil a distralsle daquela mina0
essencialmente religiosll que não' primordialmente a ccnslrução de
um mundo moterial perfeito, mos a edificação do Reino que com~
oqu1 poro monifestOf-", plenamente no 1Iorulio. Muitos oulros instân-
cias têm o objetivo, o dever e a copaddode de velar pelo bem-eltof
das peuoCls, pelo equilrbrlo sodal. pela promocão do lustil:oJ CI Igrela

-19-
20 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 278/ 1985

ntio se esquiva à sua partidpoctio neno tarefa e allume com freqiiên -


cia mesmo atividades de wplinda. Não pode fod·lo, porém, em
detrimonto do minão .que é suo e que nenhumo oulro im'tincia ,ealizará
se ela não fizer: transmitir, como depositário outêntiC(l, o Polavra
revelado; anunC;(1r o Absoluto de Deus; pregar o nome, o mistério, a
pessoa de Jelus Cristo; proclamar CII bem·oventuranÇaI e OI valores
evan,g&licos e convidar à conversão, comunicar aos homens o mistério
da Gro~o de Deus nos SOCfarllCn'OI da fé e cOn5olldar esto fé - em
umo polavra, evan!jllellzor e, evanvelizando, condruir o Reino de Deus.
A Igreio cometeria uma froicCib 00 homem se, com os melhores inl.n·
cõcs, lhe oferecesse bem-edol sociol, mos lhe sonegasse ou lhe dene
escauamenle oquilo o que mais aspira (por vexes oté lem o perceber I.
aquilo a que tem direito, que esperg do Igrejg e que ,6 010 lhe pode
dar. In' 11 .
2 . Não há dúvida, no seu afã de defender a pessoa hu-
mana alguns eclesiásticos têm cedido a atitudes extremadas.
extrapolando das suas funCÕE!S. Embora se lhes possam atri·
bulr boas intenções, nem sempre são felizes em seus pronun-
ciamentos e gestos.
3. Em outros casos, parecem os Bispos estar divididos
entre si, pois se manifestam de maneira aparentemente con·
traditória. A propósito observam.os:
a) Não se trata de divergências no tocante l fé ou às
linhas essenciais da Moral católica, mas, sim, de divergências
no plano dl.sclpllnar ou, melhor, no plano sócio-polltlco.ero-
nOmico.
b) Estas divergências bem se entendem se recorremos a
uma imagem: quando a 1l.12 de um seml'lforo é verde, todos os
interessados entendem unanimemente que podem avançar;
Quando é vermelha, também entendem que devem estacionar.
Mas, quando é amarela, surgem hesitações; há aqueles que,
por prudência, se recusam a ultrapassar, receando ser vitimas
de um desastre, como há aqueles que, também por prudência,
ousam avançar receando prejudicar o seu roteiro futuro (a pru-
dência não é mera virtude de recuo) . Pode·se perguntar quem
tem razão: os que se detêm oU os que avançam! - Ninguém
está habiJilado a responder; apenas se pode dizer que. por
baixo de atitudes contraditórias, existe a mesma virtude de
prudência: os que ficam. fazem-no por prudência; os que se
vão, podem estar agindo também por prudência. Esta é a vir-
tude mais subjetiva que existe: depende da escola, da expe-
riência de vida, da idade, do temperamento . . . de cada. um.
-20-
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 21

Ora podemos di2er que a situação sócio-politica do Brasil


contemporâneo é tão complexa e polivalente Que se asscme·
lha à de um semáforo de luz amarela: enquanto alguns cldS:·
dãos (Inclusive Bispos) por prudência dizem Sim ao Governo,
outros cidadãos por prudência dizem Não ao mesmo. Não dis-
cuto o valor objetivo dessas posições contraditórias; apenas
desejo considerar o aspecto subjetivo das mesmas. Há, POis.
uma lnten~ão bâsica comum em nossos Bispos, mas há 13m·
bém diversos modos prudenclals de pôr em prática essa Inten·
tão comum.
4 . Neste contexto não podemos deixar de fazer alusão à
Teologia da Libertação.

Esta é uma cosmovisão Inspirada a alguns teólogos pela


sltuacão sóclo-econ6mica da América Latina e dos palses do
Terceiro Mundo em geral. Os seus principais representantes
sio o peruano Gustavo Gutierrez, o uruguaio Juan Luis Se-
gundo, os brasileiros Hugo Assmann, Leonardo e Clodovis Bofr,
o salvadorenho Jon SObrlno, o chileno Pablo Rlchard ... Denh'O
da vasta corrente da Teologia da Libertação, há diversos mati·
zes; vamos propor a (arma mais extremada da mesma, que
assim pode ser resumida :

A primeira etapa do raciocinio é a do VER. Estl! con·


siste numa análise da sociedade latino·americana realizada
segundo os princIplos do marxismo. Isto resulta em dizer qUI!
a sociedade consta de opressores e oprimidos postos em luta
reciproca. NAo há quem se possa dizer neutro diante do con·
fiito, que tem em mira a posse dos bens de producão.
Julgada segundo os eritcrios do Evangelho, numa segunda
etapa do raciocinlo. tal situação se apresenta como iníqua. Os
teólogos da libertação evocam a propósito os textos biblicos do
1!:xodo, Que apresentam o povo de Deus cativo no Egito e me-
recedor da comiseração do Senhor Deus. Citam também os
profetas biblicos (especialmente Amós). Que censuram os pode--
I'OS{)S e ricos de Israel. Objeto da justica punitiva de Deus.

Em terceira instância, o raciocinio conclui que é preciso


partir para a praxis ou 8 ação. Esta não pode consistir em
fomenlar o desenvolvimento, como se fazia na década de 50
(pois este teri. conlrlbuido apenas para favorecer os privilegia.
dOS), mas se Identifica eom a aeão transformadora da socle·

- 21-
22 cPERGONTE E RESPONDEREMOS. 27&11985

dade OU com a mudanea das estruturas, que pode tOmar even-


tualmente as caracteristJcas da aeão revolucionária. Para
fundamentar este processo transfonnador, os teólogos da liber-
tação procedem a urna re-Ieitura dos Evangelhos, de modo a
descobrir em Jesus CrIsto o protótipo e mestre da nova praxis
social: a fé seria o compromisso político; o pecado seria a
recusa do engajamento político; a Igreja seria a comunidade
dos pobres dispostos a lutar por seus direitos de ordem tempo-
ral; a Eucaristia, a cela frcltema dos pobres... A releltura
assim instituJda implica adaptação da mensagem cristã ao pro-
grama da transfonnaçâo soclaJ, a tal ponto que, segundo os
referidos teólogos, o critério da verdade é a torça transfonna·
dora de uma proposição;' as proposições religiosas são julgadas
à luz das normas sócio-polítlcas. Uma proposição que não
incida diretamente sobre a transformação da sociedade, é alie-
nante c deve ser desprezada.
Numa palavra. diriamos: a teologia clássica ou slmples~
mente dita parte da Palavra de Dêus revelada (o logos); apro-
funda o conteudo desta e deduz as conseqüências práticas da
mesma na t:tlca (f;tica individual e ~ca soclal). 11.: precisa-
mente esta apresentação das conseqüências prãticas socIals da
mensagem evangélica que as encicllcas papais propõem, cons-
tituindo o que se chama ca doutrina social da Igreja • . - Ao
contrário, a teologia da libertação parte da realidade s6cio-~
nômica (e não da Palavra de Deus) j deduz dai a necessidade
da praxis transformadora e. por último, formula o logos ou a
doutrina da lé. Por causa disto. !Ste sistema de pensamento
já não merece a qualificacão de teologia. que ê sempre
lides quaerens lnteJleetum (a fé que procura compreender).
Como sabemos, o S. Padre João Paulo Ir em suas alo-
cuções feitas no México e no Brasil condenou claramente tal
cosmovi.sã.o, enfatizando especialmente que é inepto e falso o
uso da anMise marxista na elaboração da teologia. Podemos
dizer que a teologia da libertação, em seu sentido extremado,
não somente nAo representa o pensamento oficiai da Igre'a,
mas vem a ser a traição do mesmo: usando palavras do voca-
bulário da f~, atribui-lhes sentido oposto àquele que o Evan-
gelho e a Igreja sempre lhes atrlbulram.
5. Quanto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
notemos o seguinte: a direçãO da CNBB não tem jurisdição
sobre as dioceses ou sobre os Blspos em particular; com outras
palavras: a CNBB não é uma lnstAncia superior que medeie

-22-
A IGREJA NA ATUAUDAoe bRASlu!lRA ~

entre cada Bispo e o Papa, mas eada Bispo responde direta-


ml!nte ao Papa no tocante ao governo da sua diocese. À CNBB
toca apenas o papel de facilitar o interdmblo entre os Bispos.
promover a sua unidade de ação, suprir às deficiências de peso
soai ou de material que afetem alguma dIocese.
Por isto os pronunciamentos dos Bispos da cúpula da CNBB
não exprimem nêCeSSalÍamente o modo de pensar do episco-
pado brasileiro; pode haver Bispos que legitimamente discor-
dem de tais declarações.
Mals: notemos que a Igreja não é a soma dos homens que
a compÕem, mas é, como diz São Paulo, «o corpo de Cristo»
(d. lCor 12,12-27; CI 1,24). Isto quer dizer que, por detrás
da face humana da Igreja, existe o Cristo indefeetlvelmente
presente atuando através dos homens que Ele chama a si;
mesmo quando os homens falham, o Cristo continua presente
em sua Igreja e assegura a esta a eficácia da sua ação santi-
ficadora. f': esta certeza que transmite aos fiéis católIcos con-
fiança no presente e no futuro da Igreja; para o cristão, des-
dizer à Igreja ou trai-la seria o mesmo que, para um pel;dnho,
sair da Agua onde nasceu, a titulo de dornar-se mais e melhor
ele mesmo». A propósito diz muito sabiamente o Concilio do
Vaticano fi:
cA lorela avanço peregrino, on"nciondo o cr,,~ e G morl. do
Senhor olé q". Ele venha liCor 11 ,261. Mos é fortal.cido pela
forca do Senhor ressuscilodo, (I fim de vencer pelo podlncio fi o amor
lUas aflições e dificuldades lonto internos quanto externos, e poder
revelor 00 mundo o mistério de Cristo. emboro enlre lombros, mas com
fidalidada, alé que no fim seio monifeslado em plena lu%» IConst.
lum"" Gentium nt 81 .
cIJcet sub umbris, fideliter tamiln . . . Embora entre som-
bras, mas com fidelidade . • . " Estas palavras caracterizam
bem o que chamamos «o mistério da Igreja», humana e pere-
grina, mas, ao mesmo tempo, divina ~ Indefecllv@} no essen-
elal da sua missão.
Passemos agora a uma pergunta.

3. «Revolus:áo na Igreia?»
O jornal cA FOlha de São Paulo». em sua edição de 18 de
junho de 19M, pág. 4, pubUcou um artl~ intitulado «Revolu-
ção na IgrE:ja?» da autoria do Pro!. Luciano Martins, socI6-
-23-
24 c PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 278119S5

logo, pesquisador na Escola de Altos Estudos em Ciências S0-


ciais de Paris. Este autor parecê reproduzir a mentalidade de
multas que de longe acompanharam a recente atuação da Igreja
no Brasil (Ludano Martins diz que fo[ aluno do Colêgio Santo
Inâclo «século a trás:t e não mais freqüenta a Igreja). Eis por
que lhe reservamos um espaço próprio nesta nossa exposição.

o autor, que não é perito em assuntos da Igreja, diz c0-


lher suas Informações num artigo redigido JKlr Thomas Sheehan
(Rovolution In tbe Church) e publicado por New York Rev:lew
01 _ ... 16/06/84.

As premissas da explanação de Luciano Martins estão


resumidas no seu primeiro parágrafo:

cAs IrondormoçéSes nas atitudes da Igreja Calólica lornaram-Ie


vislveis, de un, tempos poro 1:&, sobretudo no plano do ,.u engala·
menlo sodol e polltico la"", dos lIIodlflcaeêi.' no liturgia!. Sempre
me perguntei . .. quais ~riam OI verdadeiras raizes sotiológicQi desse
f.nÔmeno. Agora surgiu uma pista. . . a, junto com ela, ... uma
eatraordinário J\I1"preso: (I descoberla de que há uma fonlâ,lica re·
vis&o histórico em curso, no ..ia do ,práprio Igreja, sobre o vida, os
feitos. 0$ d1tol do personagelft Jesu. Crillo. Uma verdad.ira r.voluçõo
cullural, por ossim dizer, qve nega, põe em dúvida ou r.formulo
alguns do. milenarmenle difundido. orligos de C1.I1IO, senão de fé.
Fou o ena revisõo, ai ousadia I do leolOOla da libertocão, que lonlo
celeuma têm (oulado, 'or"om-se de UlftO modéstia Ironcis«tna :t.

A seguir, o autor expõe os pontos que seriam o objeto da


revoluciio cultural: Jesus nunca se teria considerado a 2' Pes-
soa da SS. Trindade nascida na carne humana; nem pretendia
ser o Messins ou fundar a Igreja confiada a Pedro, nem terã
ressuscitado dos mortos. Estas verificaeões Inovadoras t el"ão
decorrido do «emprego de métodos cientificos no exame do
texto sagrado. dOs Evangelhos - o que é «uma aparente con·
tradi~ão em termos.. O fato é que, segundo Luciano Martins,
a Igreja, abala da em sua fé tradici(mal, procurou ocupar o
lugar da mes ma com atividades sóclo-políticaSj estas terão sido
valorizadas pal"a compensar o esvaziamento dos artigos do
C ......

As insinuações de Luciano Martins. que podem ter calado


no grande publico, sugerem as seguintes renexões:
- 24 -
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 25

A Bíblia ê um livro divino-humano. Por ser humano, esse


livro deve ser examinado segundo os critérios da lingüistica
oriental antiga. da arqueologia, da histôria. . . Ora estas cien.
tias tiveram surto ou tomaram vulto especialmente no sê-
culo XX. Em conseqUêncla, foi possível reler a Biblia com mais
luminosidade e penetração : disto se deduziram muitas concluo
sões novas e sábias, como, por exemplo, as que se referem à
criação do mundo. do homem, ao dilúvio, etc. Nisto nada há de
estranho, nada que contradiga ao caráter sagrado das Escri-
turas: a Bíblia hA de ser estudada clentlflcamente, sim, como
também penetrada pejo olhar da fê. Muitos autores, porém,
católicos ou liberais protestantes, têm fonnulado conclusões
hipotéticas, que destoam da reta fé ; tais conclusões nunca fo-
ram adotadas pela Igreja Católica, que conUnua inabalavel-
mente a professar a Divindade de Jesus Cristo, a sua ressur-
reição dentre os mortos. a fundação da Igreja entregue por
Cristo a Pedro, etc. Por conseguinte, não se pode falar de
«revolução cultura], dentro da 19reja; não houve mudanca do
Credo nem dos principios éticos do catolicismo, mas houve.
sim, aprofundamento e melhor compreensão das perenes ver-
dades da mensagem cristã.
A atuação prática da Igreja no campo social hã de ser
entendida simplesme nte como tentativa de aplicar coerente-
mente as nonnas morais do Evangelho ã realidade de nOSSOS
tempos; novos e complexos problemas sociais sugeriram novas
atitudes da parte da Igreja Católica, especialmente na Amó-
rica Latina, que é um campo intensamente visado por id~
logias diversas.

4. Conclusão
Encerrando esta exposição, resumiremos nosso pensamento
em três .itens:
1) À Igreja toca o direito e o dever de considera r a
ordem temporal ou das realidades terrestres não para substi-
tuir ou sobrepor.se aos técnicos e especialistas. mas para fazer
as vezes de consciência moral da sociedade ou para avivar
(c não permitir seja su(ocada) aquela voz que fala no intimo
de todo homem bem formado, em favor da jusUça. do altruismo
e do senso de fraternidade; compete-lhe contrabalançar a ten-
dência que faz. do homem um lobo para o homem (homo homlnl
lupus). Tal tarefa é dura e, 'às vezes, pouco slmpãtica, mas a
-25-
26 .,PERCUNTE E RESPONDEREMOS,. 27811985

Igreja a quer executar com fidelidade e amor, como serviCO


prestado aos homens. A justiça, a fraternidade, a mútua com-
preensão vêm a ser notas constitutivas do Reino de Deus. que
a Igreja deve t1nunclar e promover neste mundo. Se não se
interessar por elas, a Igreja tralrã o Cristo e o homem.

2) A l&reja também trairia o Cristo e o homem se não


anunciasse e transmitisse os vaJol"eS espirituais da fé e da graça
ou se não os transmitisse em primeira iDstáDcla, no desempe.
nho de uma tarefa que é especifleameJlte sua Por conseguinte.
deve haver uma escala de funções. sendo a missão espiritual e
transcendental prioritária nos horizontes da Igreja.
3) Reconhecemos que, na execução concreta da tarefa
de ordem ética e t emporal, não é fiei) discernir os ditames da
autêntica prudência, de tal modo que, em certos casos, os ho-
mens da Igréja podl!m ter sido Infelizes em seus pronuncia-
mentos e gestos.

Suposta boa intencão da parte do Estado e da Igreja, o


diálogo pode contribuir para dissipar equ[vocos e consertar as
falhas. 1: do interesse do povo brasileiro que as autoridades
civis, militares e religiosas colaborem entre si, visando a unir
forças em atitude de complementaridade, e jamais l!m hostl1l-
dade ou rixas. Ê esse entrelaçamento de valores e essa soma
de potenciais que preconi2amos para o futuro do nosso Brasil.

-26-
Ro'leUndo .. ,

Teologia da Libertação: Ambigüidades


Em a'"IeM: Os debates l obr. Teologia da Llbertaçlo ITL) têm lido
aUmenta60l por equivocas ou amblgiildadel ; .llés, repetidas veles na hiatO.
ria da 'O"'" verlllcou-se que as dlaputa. teológicas .ram fomentadas pelo
filo de que os contendentes 'atavam linguagem pollvalente. Assim, por
8lC8mplo, Julgam multol que. n , • respoIla cristA *
quesllo social - o
que " tallo, pala • TL envolYt o marxismo, que é materialista li ateu.
Entendem multol que o pobre IallrlO'-amerlcano poda ser Idenllflcado com
O protelArlo Imaginado por Karl Marx, o que também. falso, pois o pobre
'allno-amerlc.no , pro'IIndamente religiOso, • dllererIÇII do lmaglni rlo prol811:-
rio da Marx. Mal&: uma 'eologla que taça da prb:. ou de açlo l'flYOluclon6rla
o critério ~r. Interpretar o Evangelho, lã "lo " 'eologll, mas uma doutrina
IIÓClo-pollUc. qlHl conserva rOlu!oa de Crlstlanb mo .plos li iludir o públko.

SIo ..tas 11 culru ambigüidades que o artigo abaixo procura pôr am


,.181/0.

• • •
o tema orTeologia da Libertaçãoá (TL) esÜl sempre em
foco ... Quem consldera os respectivos debates, não JXXIC' dei·
xar de verificar que são alimentados por equiv()(;OO e ambigüi-
dades. Alh\.s, também em outraS ~pocas da história da Igreja
as disputas teológl~ foram freqUentemente entretidas por
equívocos. Assim, por exemplo, no século IV os candentes
debates sobre o Arianismo I, Que moviam as populaçôes mais
simples nas praças públicas, eram favorecidos por termos-cha·
ves utilizados ambiguamente: homo-ousios e iJlomoi-Ouslos ' , gcn·

I Arfan",",o = dOUlrl". de Alio de Alexendrla, qlHl, a parUr de 315.


animava 8ar o Filho de Deu.. criatura do Pai ou "o &egundo DeUl ~ .
Ne!llva assim • Dlwlndlde do Filho ou do Logoa.
fi Ho_u.kIs quer dllttr " da meSma &tlballncle ou da mnma naluraza". -
Homolouslos significa -de sub$llnc;!a ou natureza semelhante, enio
Id,"tlca-,

-'Il-
28 ,PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 27&11985

netós e genetó8 I. Dikalnon e Dlkenon 1_ Algo de análogo se


deu na controvérsia jansenista do século XVil: aos 31/05/1653,
o Papa lnocêntlo XI. pela bula c:Cum occasione~, condenou
cinco proposlçOes extraIdas da obra . Angustinus:t de Corné-
Iio Jansénlo. Os jansenlstas, em resposta, reconheceram que o
Papa procedera corretamente, mas não quiseram considerar-se
atingidos pela censura, pois diziam que o Papa condenara tais
sentenças supondo um sentido que Jansênio e os jansenlstns
não IDes atrjbuiam: ronseqüentemente, o Papa tinha razão e
os jansenlstas também «tinham razão»! Estes quiseram distin-
guir entre cquestão de direito. e «questão de fato.: diziam que
a Igreja é infallvel ao decidir a respeito de uma doutrina teo-
lógica tomada em si (é herética ou não?), mas não é infalivel
ao decidir sobre um fato concreto (terá tal teólogo efetiva-
mente professado tal doutrina herética?) . Na base desta dis-
Unção, 8S discussões sobre o lansenismo se prolongaram calo-
rosamente mesmo após a. Sêntenca cOndenatória da Santa
Sé . .. De modo geral, podemos aflnnar que multas das rixas
ocorrentes entre os homens se devem a mal-entendidos e 8mbi-
güJdades, que dlflcultam a autêntica compreensão dos valores
postos em causa.

1.: em vista disto que vamos, nas pAginas subseqüentes,


fixar nossa atenção sobre alguns tópicos da problemática da
TO, pende em evidência os equivocos que entretêm a discussão.

1. n: a resposla cristã à queslão social?

Todas as argumentações em prol da TL evocam sempre a


situacão de injustiça social de que são vitimas as populações
Jatlno-amerJcanas, e apresentam a TL como sendo a resposta
autêntica e necessária do cristão a tal estado de coisas. Dir-
-se-ia que ser fautor da just1(a impllea adotar a TL: quem nio
é partidário desta, parece ser insensível à miséria de seus
irmãos. - Ora nisto há. grave equivoco.

1 OenMl6s . Igollle. - ger.do, na.cldo". - GenIII6Ii quer dlzar "'elto,


criado".
2 Nlkalnon 6 NlcenOj dellgM.... a o Concilio de Nlcfle Que em 325 lormulou
• doulrl"a or1odollll. - Nlkemm elgnlllca o Conclllo de Nl08, que em 359
profanou a tIo.resla arla" •.

-28-
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 29

Não existe cristão que não reconheça a necessidade Impe-


riosa de justa renovação da sociedade; o S. Padre João Paulo 11
tem apregoado Insistentemente o respeito à pessoa humana e
aos seus direitos, tirando dai conclusões concretas para a rees-
truturação da nossa sociedade. Todavia sabe-se que a TL não
é a resposta cristã para a problemãtica social, pois, Infiltrada
pelo marxismo, não pode ser solução evangélica. Existe, sim,
uma genuina resposta da fé ao desafio social ... e esta se
chama _Doutrina Social -da Igreja •. Verdade é que alguns
menosprezam a esta, alegando que, por ser doutrina, não é
práxb ou não é a!i:ão forte e eficaz; tal alegação ê baseada em
premissas gratuitas, como veremos adiante.
A Doutrina SOcial da Igreja está contida nas enclclicas
papais que, desde a .Rerum Nova.nun de Leão xm (1891) até
a Laborem Exercens de João Paulo n (1981), têm considerado
a questlo social de maneira cada vez mais precisa. Encon-
tram-se nesses documentos as conclusões éticas que decorrem
do Evangelho lido Objetivamente; viver o Evangelho Implica,
pois, atender a tais normas e procurar configurar as sociedades
nacionais e a comunhão entre os povos segundo tais prlncl·
pios. A propósito oCOr~m oportunas palavras do Papa João
Paulo II aos Bispos do CELAM I reunidos no Rio de Janeiro
aos 2/07/ 1980:
_Na Conferindo de Pueblo ... eu vos fi;t natal como o Igrejo
nõo neceuito de recorrer a sistema. e ideologios porCJ gmor, defender
e coloboror no libertoçõo da "omem . No voriedode dos tratadas e
co"enles de libarlocão, é indlspensáyel distinguir entra (I que implico
uma rela concepcão cristêi do liberfocõo, em seu sentido inte9ral c
profundo como anunciou JesU't, aplicando leolmenle os crilérios que
o Igre ja oferece, ti outrol formos de libertocõo distintos e 016 confli-
lonte. o:om o compromisso c.i,lõos IPronunclamentQ1 do Papo no
Brolil, Ed. Loyolo, n' 261'.
Não se poderiam pleitear palavras mais claras para des-
fazer o equivoco apontado.

2. n e análise marxista
A TL., ao verificar a situação de miséria das popu'aÇÔ('!s
latino.amerlcanas, procura outrossim discernir as causas da
mesma, a fim de lhes opor o remédio adequado. Ora, aftrmam

1 CELAM _ Conlerlncla EpllCop.1 LaUno-amerleaNl.

-29-
------_.
30
__.- - - - .
... PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 278/1985
-----
alguns teólogOS que o instrumental cientifico para discernir tais
causas é o mOdo como Karl Marx analisava as injusticas sociaiS,
Para este pensador, a iniqüidade se deve ao lato de que alguns
poucos çidadãos detêm em &eu poaer os meios de proa~oi em
conseqüencia, a massa da população depende deles para conse-
guir trabalho e ganha-pão, Haveria, pois, uma eXPlOração dos
muitos pobl'es por parte dos poucos ricos. Ora a TL extremada
taz seu este julgamento, tirando dele conclusoes concretas como
a necessidade de que Os pobres lutem contra os ricos, a cano-
nizacão dos pobres e a condenacão dos ricos, a coletivização
dos meios de produCAo, etc.
Ora a tal propósito observamos:
1) :e impossiVêI assumir o método marxista de análise
da sociedade sem adotar conjuntamente a ideologia e as demais
posi!;ÕeS do marxismo. Todos os marxistas rejeitam a d1stin-
ção entre análiSe marxista. de um lado. e visão do mundo ou
os principios de ação marxistas. de outro lado. Não é possivel
adotar a anãlise marxista sem aceItar o materialismo histó-
l'lco e a estratégia da luta de classes generalizada. A análise
da sociedade deixaria de ser marxista se não propugnasse o
materialismo ateu. - Os Bispos latino-americanos reunidos em
Puebla, fazendo eco a J-oão Paulo n, observaram a incon-
gruência de quem tenciona adotar «tão somente» a análise mar·
xlsta para elaborar sua teologia:
c Alguns c.lom poulvel separar diversas aspec:tos da marxismo,
em parlicular sua daulrina li sua análise. Recordamo., com o Magislé·
rio ponlifldo, que se,io ilusório e perl,gosa chegor G esquecer o nexo
ifltimo que OI une radicalmente; aceitor os elementos da análise
marxista s.m reconhecer suas ,elacões com a ideologia, entrar na prá-
lica da 11,110 d. cloues e de suo inlerprelação marxista, dei .. ando de
perceber o lipo de I.ociedode lololilá.io e violenla a ~l,Ie conduz 101
prGeesso.
Cumpre salientar aqui a ,iSCa de ideologizacão o que le expõe
a ,eflexão leol6;i(,(l. quando le realiza partindo de umo próxi, qUe
retorre ô análise mo,xil.lo, Suas conseqüências são a total palilizaçãa
do existência crisla, a dissolução do lingua;em da ff, na das dlndos
sodais " o esvaziamento da dime nl.õa transcendental da solvaçõa
crislã,. IDocumento de Pueblo S~~I).
Verdade é que alguns teólogos da libertação não reconhe-
cem esta proposição, alegando que o marxismo atual não é um
bloco monolltico, mas admitem matizes varlegados, como são o
-30-
A IGnEJA NA ATUALIDADE BRASILI:!.UtA 31

eurocomunismo. O pensamento de Gramsei, o de Togliati. ..


- Respondemos que, embora hoje em dia haja diversas face·
tas de marxismo. elas procedem todas das mesmas premissas
- materialismo e atelsmo -, Que as Impregnam visceralmcnle.
Tudo no marxismo supõe que o homem seja mera matéria,
sem valores transcendentais; todas as conclusões do marx1smo
exprimem e Impõem esta concep;ão erronea. Donde se vê que
ê Impossível construi.r algum sistema teológico baseado em pos-
tulados do marxismo.

2) As diversas tentativas de as:sociar marxismo e Cris-


tianismo, seja de maneira teórica, seja de maneira concreta ou
priUca, sempre redundaram na opção por uma das duas con-
cepçõeS: muitos católicos Que o tentaram, acabaram tornan-
do-se simplesmente atell9 e marxistas; tal foi o caso, entre
outros, do famoso Pe. Giulio Girardi, professor universl tárlo
em Roma. De resto, em nenhum pais católico onde o milr-
xismo tenha sido Implantado (como são Cuba e a Nlcará~a),
se nota alguma atenuação da índole anticristã do respectivo
regime. O marxismo pode propor WipectOS conciJiaL6l'ios com
a religião quando tenciona ascender 80 poder; uma, vez. po-
rém, Instalado no regime de uma na~ão, é sempre hipocrita-
mente anti-religioso.

3) Se a anâlise marxista da sociedade fosse veridica ou


cientiflca. ela atingiria o seu propósito, que é o de descobrir
as causas das InjlLSUças sociais e contribuir para evitã-las; ela
se prestaria à edificacão de uma sociedade justa e fraterna.
Ora não é isto que OCQrn! nos países em Que o marxismo (com
sua análise da socIedade) foi implantado. Com efeito; sabe·se
que na R(assla SoviéUca existe uma elite, que é 8 classe .. capi-
talista e burguesaa: consta dos administradores e govet'nantes
do pais. aos quais se di o nome de Nomenkiatura. (cerca de
150.000 pessoas) . Para estes cidadãos, existem privilégios rela-
tivos à habitação, ã COmpra de mercadorias, ao gl7m de férias,
00 tratamento hospitalar, etc. Para a grande massa, porém.
as condl';ÕeS de vida são penosas, pois os direitos humanos e a
liberdade lhe são cerceados; estão sujeitos a duras discrimina-
ções, à marc:lnalização, às filas do mercado, aos campos de
concentração, aos chospitals psiquiãtricosa... A corrup:oão
dos governantes, a aquisição desonesta de privilégios C! favo-
res são fatos notórios na U. R.S.S. Ver a l'espeito o livro de
Michael .v06Jenky: cÁ NOmenk1atura. Como vivem as classes
-31-
32 "PERCUNTE: E RE:SPONDEREMOS ~ 27811985

privilegiadas na União SOviética» I. A propósito da Iugoslávia


notava algo de semelhante Milovan Djilas, ex-membro do G0-
verno nacional. em seu Uvro IA Nova Classe» (ed. Agir).
CI. PR 265/1982, pp. 483-498.
As penosas condições de vida a que leva a instauração
de regime marxista, são vivamente apontadas pela Instru<;iio
Libertatts Nunüus (XI, 10):
c Um falo marcante do nono época deve ocupar o reflexão de
lodos aqueles que delejam sinceramente o verdadeiro libertaci'io de
seul irmãos. M.ilhões de nanai contemporâneos aspiram legitimamente
o reencontrar os liberdades fundamentais de que estõo privados por
regimes totalit6rios e ateus, que tamarom a poder por caminhas revolu-
óonõrios e violenlol, exoloM'fI'e em nome da Ubertocão do povo.
Não le pode de~nhlK.' esto vergonha de nosso têmpO l prelendendo
proporcionar-lhes liberdade, monlf:m-se nocões inteiros em condici5CI
de escravidão indigna. do homem. A.queles que, tol"8Z por incons-
ciência, Je lornom cUmplices de semelhantes escravidõe,_ troem os
pobr•• qUe eles querem servir».

A escravização de povOs aos quais se prometeu a liberdade


e o bem-estar, é, n!>ta o Documento, uma «vergonha de nosso
tempo:t.
4) E':: de notar ainda que não se pOderia esperar outro
resultado da aplicação dos prlncipios marxistas: visando ape-
nas às estruturas da sociedade, não tocam o coração do homem,
que é precisamente o responsãvel pela prática da justiça e da
fraternidade; o marxismo se prende 80s efeitos das injustlças,
e não atinge as causas das mesmas; tais causas são o egolsmo
e a selvageria do coração humano; se este nâo se converte do
ódio para o amor e do egoismo para o altrulsmo, não adianta
modificar as estruturas da sociedade; as novas estruturas serão
ainda e sempre o receptAculo do egoismo. do ódio e da explo-
ração do homem pe)o homem (apenas os personagens opresso-
res e oprimidos terão mudado de nome). Tenha-se em vista a
Instrução IJbertatls Nnn.Uus XI, 7-9;
«pa, a confion.ço em ",eiol violentol, na esperança de instaurar
!"IIaior juslieo é ser vitima d. ilusão falaI. Violência gero violência e
degrada o homem. Rebaixo o dignidode do lIomeOl na peuoo dOI
vllimas e ovillo esta mesmo dignidade noqueles que o pfCltieom.

Editor. Rocord, RUI Argentina, 171 - 20921 - Alo (RJ) .

- 32-
A IGREJA NA ATUALIDADE altAS[LEIRA 31

A urgência de reformas rodic;ois que incidom sobre edruturas que


seg,ellam a mitêria e constituem, por ti melmas, formas de vialêndo,
lIão pede fa:r:er perde, de vista que Q fonte da injusllç(l se encontro
no coração dOI homens. Não se obterão, pois, mudanças sociais que
estejam realmente ao serviço do homem senao fazendo apelo in
capatidades éticas da pessoa e li constanle necessidade de convcuãa
interior. Poli na medida em que colaboraram livremenle, por sua
própria iniciativa e em solidariedade, neslas neceuórial mud(lnc;cu, os
h(lmens, despertados no sentido da lua responsabilidade, descerão
em humanidade. A inversão enlre moralidade e estruturas. ê própria
de Ull'la antropologia materialista, incompatlv.1 com o "erdade do
homem.

1:', pois, itijuolmente ilusão fatal crer .q ue novas estruturos darõo


origem por si mesmas o um homem "OVO, no sentido do verdade do
homem . O crislão não pode desconhecer que o Esplrito Sonlo que nOI
foi dado, é o fonte de lodo verdadeira novidade e qUe Deul é °
Senhor da hist6ria:..

3. n: O primado do pr6xis
1. Práx.ls (prática, ação, em grego) é palavra freqüen-
temente repetida pelos teólogos da lIbertação_ Sicnlfica a ação
revolucionárIa transfonnadora da realidade.
A TI.. extremada assume a necessidade da prâxis como
ponto de partida das suas reflexões; é afirmada dogmatica·
mente. Em função desse principio Indiscutido, os autores re-
lêem a Blblla e a mensagem cristã em nova ótlea. Afinnam
que SÓ pode ser veridica uma proposição que tenha força trans·
Connodora. Em conseqüência, todo o Credo cristão é refeito;
os vocábulos da fé e da mensagem católica. continuam .a ser
proferidos, mas com sentido totalmente diverso daquele que
lhes toca na autêntica teologia. Eis alguns significativos teste--
munhos:
cO ponlo de partida do nono reflexão não é algo 'cristão' ...
A bale de noua r.flexõo é o pr6xis revolucion6ria, Q ocupação do
povo revolucion6rio que luto poro alcançar uma IiberIClC;ÕO socialista.
Assim fçu:e,"os teo1ogia sem partir do ·crislão'. E$la base pareça
incom pall"el com .0 Evangelho e com (I trodição da Igreja. Porém no
fundo é o único cominho fiel ao Evangelho e à fradiçõo . Porque 5Ó
h6 refluão «istã e," torno li lula dos oprimidos po1" IUtl lib"ttaçêoJ.
10iego Irorro:r.6"el, Crlstianalllft el ProCtlSO Sacialldo, 1972, p. 420).

-33-
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 278/1985

cO ponte de portida · não é (I fé, o evangelho ou um


ponto de porlida edesiol ou teol6gico. Tal ponto de pClrtida nlia
fOfAc~e nenhuma lu~ para esclarecer os elementos constitulivos do
consciindo pol!llca das cristãos, Deve·se partir da infraestrutura, do
luto polllica, do consci' ncio de clanes:D> (Poblo Richard. CristJClftlano,
lucho Ideologl.:a e Rac10nalldad Socialista. 1975, p . :20).

A propósito de critério de verdade. escreve Mario Peres-


son, referindo.se e téólogos da libertação:

deu aitéria de ultilftCl verdade não estará em suo (Oncordândo


ou n60 com doutrlnos preexistentes, mas em sua eficácia poro tron1'
formar a hist6ria e poro a libertação das oprimidos (ortopr6Kil) ~
(elllrClldo do Ii'lfo de Frei Booventuro Kloppenburg, Igreja PopulaT,
1983, p. 581.

Donde se vê que . concordar com doutrinas preexistentes.


ou com os artigos do Credo não tem ImportAncia; seria cteo--
logia européla., a qual deve ser substituída por uma ",teologia
latino-americana.. _ A propósito observamos que pode haver
modalidades de teologia adaptadas às circunstâncias de vida
dos cristãos da América Latlna, da Europa, da AIri-ca . .. ; toda·
via qualquer dessas modalidades há de conservar fidelidad e
integral ao Credo comum a todos os fiéis católiCOS ; se não,
deixa de ser teologia, pois teologia é o . soletrar a fé:».
Eis alguns Hpéclmens das novas conclusões a que checa
a TL concebida em moldes de ortopráxls latlno--americana:
«Algun s ~hesom 00 exlremo de identificor o próprio De us com
a hill6ria e definir o fé como "fidelidode à hislóriCl', o que significo
fidetidade comprome lido com uma pr6tico polit1co, ofitlodo com o
concepç60 do devlr dCl humCltlidode concebido tiO ,,~ntido de um
messionismo puramente 'emporal.

Por conse9ulnl., a fé, a etperonc;o e a caridado recebem um


novo conleudo : 'fidelidade 6 hlsl6rio', 'çonfianço no fuluro', 'opção
pelol pobres', E o mesmo qUe dizer que sõo negadas em sua realidode
teologClI.

Desta novCl conce pção detivo Inevitavelmente urno polilizoção


radicai dos ofirmações do fê e dos julzol teológicos. J6 não le trato
lamente de chomor ti at...cão "ora os conseqüências e lncidindos
pollticas dai verdades d. f6 .q ue se:r1om respeitados ante. d. ,,,do

-34-
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA 35

em seu valor transcendente. Toda e qualquer afirmação de fé ou de


teologia se 'lê subordinada a um cril ~rio político, que, por sua '1el,
depende do teoria da luta de clones, çomo motor da história.

Apresenta.,o, por conseguinte, o ingre-sso no lula d. classes como


unia exigência do próprio caridade; denuncia·se çomo atitude desma·
bilizadora e conlrório 00 amo, pelos pobres a vontade de tlmor, de
saída, todtl home m, qUtlJquer que seio O dane o que pertença, e d e
ir tia seu encontro peltls 'lIas não-violentos do diálogo e da pe rsuasão.
Mesmo afirmando que ele não pode ser abjeto de ódio , cfirma-Ie com
CI mesmo forto que, pelo fato de pertencer objeti"omente ao mundo
dos ricos, ele é, ante s de tudo, um inimigo de dasse Q combQter, Como
con seqüência, o uni"eualidade do amor 00 próximo e o fraternidade
tronsformam-se num principio escatológico que t8r6 valor somente paro
a 'homem novo', que surgirá da revolucôo vitoriosa.

Quanto li Igrelo , a tendência " de encar6·lo simplesmente como


uma realidade dentro da história , sujeito e la tombám às leis que,
segundo se pe"'a, governam O de\ilt histórico na l ua iman' ncia. E,ta
reducao e''1orla a retllldade especifica da Igrelo, dom da graça d e
Deus e mistério da fé. Contesto-5e', igualmente, quo a participação na
melma Mesa e"carídic:o de cristãos que, por oc:aso, pe,lencom a clones
opostos, tenha a lndo algum sentido. (Uheriatls Nuntius, IX, 04 · 8).

2 . Diante destas afinnaç6es, evidencia·se mais uma vez


que a TL extremada jã não é teologia, mas um sistema sócio--
.politico marxista que se reveste de aspectOs de teologia. Com
e feito; teOlogia propriamente dita é lides quaerens lntellectwn,
a fé que procura comprender. Ora a fé professa o Credo como
lhe é entregue pela Igreja, e parte dos artigos deste para te n·
tar ilustrar e penetrar as verdades reveladas. Tal compreen·
são certamente deve inspirar .uma pri.xis (Êt.lea cristã) que
seja conseqüência da doutrina da fé.
Como se vê, a TI.. inverte a reta ordem: faz da práDs um
principio absoluto, em função do qual são formuladas as pro·
posições da té; estas já não são a verdade, mas são artigos con~
cebidos para firmar e connnnar a urgência dogmt\tica da ação
revoluelona,rla transformadora da sociedade, Jã nao se trata
de fieles quacrens inteJlectum, jã não se trata da fê procurar
soletrar as verdades reveladas pelo Senhor Jesus. Com outras
palavras: a práxis deixa de ser um objeto de estudo da teologia
para tornar-Sê o ponto de partida da teologia e o principio her~
menêutico da Revelação Divina.
- 35-
36 ",PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 278/1985

4, T1.; luto de classes


A luta de classes, inspirada pelo pensamento marxista,
tornou·se um ingrediente fundamental da TL extremada. $e-
gundo este concel.to, a Igreja é dividida em Igreja dos PObl"CS
oprimidos e Igreja dos ricos opressores ou em Igreja popular e
Igreja hiernrqulca, Institucional.
O amor aos pobres, assim entendidos, implica luta contra
os ricos; tal luta vem a ser uma fonna de amor p::lra com eles.
lt o Que afirma João Batista Llbãnlo:
cO anor de Deus manifesto 'le no mediação daquole c:onflilo que
novo o negotividode. Isto é, pOSICI pela fOt'Ça dO' luta da pala opri.
mldo contra o elemento opreuor do paio dominante. ,.oi, lomente
combatendo o, ellrvhrros dominantes podemos liberlar a ,on~ci6n<io
do dominador. Pois os conlcl&ndos hvmanal se objetIvam nos e,tru·
lurol de clane. A lula conlro lois e,trulural é medio(õo de caridade,
pois pouibililu 00 opreuor o entrada em liberdade penca) e portanto
optar pelo ornar. (Paltoral numo Sodltdcde de ConDilo" 1982,
p. 2211 .
Ora a luta de classes não se coaduna com as conceP';ÕeS
cristãs nem pode integrar o programa de ~rorma social dos
riéis catól icos. como notava o Santo Padre no falar aos Meta-
lúrgiCOS em São PauJo:
c Á luta de clanel nõo Ó o cominho que levo ô ordem social.
porqoe 010 Ira;t em 5i o rhco de elevar as desfavorecidol a privilegia·
do" criando 110"01 situaçõel de iniusliç.a poro OI que até aqui detêm
OI vanlagenl. Não 5e conshói com ódio 011 (om ti: destruição dos
Olltrou IPronunda..... nta' do Papo na Brasil, Ed. loyolo, nt A03).
A propósito de luta de classes, observa sabiamente o. Ins·
truçáo IJbcrtatis NuntilU expondo o pensamento de autores
extremados da TL:
cÁ leI fundamental do hht6rla. que é o lei da luto de clOI~el.
implico que o sociedade esteio fundado sobre o violando. À violhcia
qye constitui a relação de dOnlinoçõo dOI ricos lobre os pabre" deverá
responder a contra-violência ravolucionária, medlonhl a qual esta re-
lação será invertido.
A luto de clolles é, poli, aprelentada como u"'o lei obietivo e
neco:uá rlo. Ao entrar no seu pro(ellO, do lado dOI oprimidol, 'faz-Ie~
a verdade, age·~e 'dentifkamonle'. Em conseqüôncio, a concepção da

-36-
A IGREJA NA ATUALIDADE BRASILEIRA

verdade vai de par com a afirmacão da violência necenória ., par


ina, c;om a do omorolisrno polill«l. Nesta perspectiva, g referência a
exigências étic;as. que prescrevom reformos estrulurais e institucionais
radicais e corajosos, perde tatalment. a sentido.

Quando se assu,"e'" estas teses d. origem marxista, é, em par-


ticular, a próprio natureJ.(l do ético que é radico"nente questionado.
De foto, o caróler t,an Ke ndenle do distinção enlre o bem e o mal,
prindpio da moralidade, enconl,o-se implicitamente negado na ótico
da luta de closseu (VIII, 5-91.

Ademais: na raiz do conceito do pobre apregoado pela TL,


hâ um equivoco: o pobre da TL ê identificado com o proletjno
marxista. Ora o proletãrio, segundo Marx, seria um homem
sem religião ou materialista , ao passo que o pobre latino-ame-
rloano ~ profundamente religioso, como foi observado fi. p. 453s
de PR 277/1984. Por conseguinte, não se podem aplicar ao
pobre Jatino-amerleano as teorias que Marx apregoava com
referência ao IIproletariado».

5. n: 5ecularismo

Nos últimos decênios tem·se Calado Creqüentetn<!ntc de


csccularizacão:t e . secularismo».
Secularimç.io é o processo que devolve às realidades ter·
restres a sua justa autonomia. Implica uma desmitização autên·
tica: assim, por exemplo, a medicina não deve reçQrrer ã. mís-
tica e ao curandeirismo para realizar suas larefas terapêuticas;
não é com artes mágicas que se curam doenças «() que não
exclui a oração pelos enfermos, que todos devemos praticar):
8 astronomia (ciência) nada tem que ver COm astrologia (falsa
crença no destino) : o rei não é um semi-deus nem dcve ser
endeusado; & economia, as viagens, os casamentos, os negó-
cios ... não devem ser orientados por sortilégios, adivinhações,
búzios, ordálias ... - A secularização assim entendida é sadia
c mesmo necessária. Nio queremos com isto dizer que 8 fé
sejn simplesmente um valor ao lado de outros, na vida do cris-
tão; ela C, sem dúvida, o valor supremo que ilumina lodos os
outros valores e lhes dá sentido; mas a. fé não tem resposta
pronta e técnica para os problemas que a vida profana sus-
cita diariamente ao cristão.
- 37
38 ePERCUNTE E RESPONDEREMOS~ 278/1985

SecularisaKt, porém, é a extinção de todas as manifesta~


ções religi(lsas e sagradas mesm<l dentro dos ambientes <Inde
elas deveriam ocorrer. O secuJarismo apaga o nome de Deus
e o substitui pe-Io do homem, Amar ao bomem e servir a este
seria o programa de toda rellgiá(lj não haveria necessidade de
culto sagrado nem de expl1cltação dos valores especificamente
religiosos, Tem-se assim o que se chama co CristianJsmo sem
religião., «a religião sem ~us. , .. , eO Crlstitmismo posleista. ,
ca teologia da morte de Deus», . , O nome de Deus morreu,
dizem; em conseqüência, é preciso que o cristão viva como se
Deus não existisse (ac 11 Deus DOa. daretur, Dietrich Bonhoef-
l er ) - o que significa que o cristão só se deve Interessar por
tarefas seculares ou deste mundo.

Ora a TL extremada ê a expressão derradeira da teologia


da morte de Deus, Relega Deus e o sa~ado para um plano
secundArio ou mesmo invlslvel ; o serviCO ao homem seria a
única tarefa 8lribulda ao cristão.
Clodovis Boff, por exemplo, assim se exprime através de
dois personagem fictlclos (o militante Luis e o teólogo Car-
los ) do seu livro eDa Libertação, O teológico das Iibertaçôes
sócio-hist6rlcan :
d",rs {mllitantel : Eu acho que a coisa mais imporlonte da fé
cris1ã fláo é a parle religioso =oração, miS$O, sacramentos, etc. Coisas
clSsim os fariseus também faziam. E muitos fariseus de heie continuam
falendo. Para Jesus, o .q ue cantava mesmo .ra o amor, a justiça, a
sinceridade, Cristianismo" prólica. Isso ele a deu o ~nlender mais de
uma veL 'Quero o misericórdia. nõo o sacrificio', E depois= 'Nõo
é o que dil: Senhor, Senhor, quo .nlrarÓ no Reino dos Céus, mos oquele
que fal a vontade do meu Pai» Ip. 1021.
c Carlo. It"togol ; A porticipação dos cristõos no lula da poyo
Soeboseia no valor inlrinseco dessa Ivlo, que ..• poro um cristão tem
dime nsão divino ohjetiyo ,. . Não é o fé que confere um sentido
sobrenolural ou divino à luta. t: o inverw que ocorro: é e"e sonlido
objetivo inlrlnseco que ccnf'n à " lUa forco . Nõo é porque o cristão
vai à lula animado pelo fé sobrenatural, E o canlrórla ~ue acanlec:e:
é porqvo a próprio lula ló lem em si mesma uma grandeza ,obrenatural
que o crlslao voi o elo anlmodo pelo fé. (P. 1071 ,
cCarlos (teólogo) I O esforco pastoral do Igreja não visa direta-
mente o batizar, .antlflcar ou lobronolurali:r:cu o liberlacêio humano,
acrelc.nlondo~ lh. auim uma slgnlficat50 sobrenatural. Nao, Essa

-38-
________~A~I~C~R~EJ:oA~N~A~A~T~U~A~Lt~D~A~D~E~·~D~R~A~S~ILE~·1~R~AC______'39
IClrefa campeie o Deus, que desde sempre elevou a história dos homens
ao nlvel da história divino. E os homens flode O homem) respondem
G auCI proposto de Salvação sendo jus las e bons. A tarefo primeiro
do Igreja ê Qulre... e gorontir na histório o ospecto sócio- religioso
do libertação, que é onde se manifesto a salvaçõo d. Deu$, Suo
missão tem bose portanto no Rlv.' do tlj ' tÕrio. em boro objetive finol-
mente o salvação Irons-histÓrico.

Vicente (vigário); A posição COMum hoje, 101'110 no Magistério


como enlre os 18610;01, é que a libertação s6 é integral se inclui o
comunh80 com Deus, sendo que esso comunhão com De"" é obro do
palavra e do açõo sacramental do Igre1a.

Cada, lleólogol: Eua posição deve ser submetida a um ellome


mais rigarolO. Com ·. feito ; ela elquece de duas coisas fundamentais ,
1) que a comllnhão com Deul Igro<o) • lima possibilidade intrinsoco
à pr6prio sociedade, õ história, ô prático polltico, podenda.se dar
também onlel e fora da Igreja. Quer di:rer, a liberlacõo sodol i6
integrCl (I Salvociiio, onles ainda e lem que ° Igreja IntervenhCl; 21
que o pClpe' do I,greio em termos de conferir uma dimensão integral
à libertação hiu6rica consilte e~otom.nte nísso: em garantir a aspecto
s6cio. rellglolo I!I libertacâo humono, em garantir assim a mística cristã
da política e, finalmente, em garontir auim CI prelonco positivo da
graco no corocão do libertação histórica. Portanto, o papel dG Igreja,
como sacramento de Salvacão, no história da libertocão, não é a pro·
dução do groca, mas sua goronl1Q.

Vi,..,I. (vig6r1oJ: Nesse caso (I Igreja não seria necelSário para


(ISalvacão. Ela poderio ler muito bem dispensado. Tal pOlição é
contrõria à doutrina tradicional, bou!:oda no Escritura.

Carlos lleólogoJ: A presen(o do Igreja na história não é ne-


cenório de moda absoluto. Elo é moralmente necenõrio. historica·
mente necessário, dada ° ~ndi<Eio concreto em que °
homem vive do
ponto de vista do Salvacclo. Eua .ituacõo de necenidClde moral de
Salvação via Igreja se prende finalmente ao que se chomou 'pecado
original'. A Igrejo 6 necen6ria no nlvel dOI condiçiSel hiltó ricas do
'predição' do ,gro(o e não tonto no nível dO$ instrumenlOI c!es~o
' predicão':. Ipp. l1011 .

Tal atitude é assim ~mt'!ntada pelo Pt'!. Al'lnando Dan-


dera O.P.• professor do Instituto Teológico de San Esteban
(Salamanca) :
-- 39 --
40 «PERGUN'rE E RESPONDEREMOS» 278/ 1985

c Oa ponlo de visla da n, oquele que protica obrol de justiça,


.aquele que é juslo à luz dOI crilérios do opção .5ociolislo. eue conh~ce
Deus. Pouco importa que nunco O Invoque, que não linto necessidode
dele, .que mesmo o negtH, e qve persiga os q .... confessam o nome de
Del,ls. Se proti co os obros d. justi<a exigidos pelo opc;ão socialista, se
luta poro in"Ol,lror no mundo ISSO opcõo, conhece Deus e o confeuo,
ainda que com OI lábios (I rene;ue, pois, suposto que pratique aquelos
obros, o negoc;iio não se dirige a Deus, CIO oel,ls verdadeiro, mos às
falsificoc;ões de Deus e oos ídolos fntrodulEido5 pal.ol cristãos, 'lua.
opondo-se â opcão sodalitlo. deformam o Cristianismo e dedigurom
o roslo de Deus. A única formo de negar Deus é comeler inJuslitos
c;onlro o próximo e não Ih. atender de acordo com os poslulodos do
opção socialisto» (La Iglesia oMe el proc...o de Ilberod6n. Madrid
1975, p. 831 .

Como se vê, tem-se ai o que se pode chamar «conhecimento


ateu de Deus»_ Alêm de contraditória, tal atitude não chega a
ser fiel à justiça. pOis quem impede o próximo de cultuar a
Deus, pe~guindo o nome de Deus, comete traição e injustlca
para com esse próximo.
o secularismo estã, sem dúvida. em frontal oposição ao
Que sempre pensou a mensagem da fé cristã. Esta ensina que
Deus há de ser sempre o primeiro servido e que o homem deve
ser scrvloo em função de Deus e por amor a Deus. Isto em
nada desmerece! o homem e o serviço a este; ao contrário.
assegura motivação mais sólida e dinâmica a quem deseja ser-
vir a seus irmãos; o serviço por amor a Deus ê certamente mais
eficaz do que o servh;o por amor ao homem apenas.

6. Conclusão

De quanto foi dito, não é dlfictl deprender que a TL favo-


rece a causa do comunismo. E Isto não s6 por seu conteUdo
marxista. mas também pelas ambigüidades que caracterizam
suas posiCÕes: dá a Impressáo de ser a forma ma.1s atualizada
e aberta de ser cristão na América Latina. quandO na ver-
dade solapa os fundamentos do Cristianismo, propiciandO o
ateIsmo e o materIalismo. O marxismo adota premeditada-
mente a táUca da amblgUidade ; assim tenta confundir ou dei-
xar perplexa a opinião pública; enquanto esta não sabe o que
julgar. os marxistas avançam e tomam o poder. Esta tática
faz parte do programa de implantação do comunismo redigido
- 40 -
A IGREJA l'lA ATUALIDADE BRASILEIRA .
-por Li-Whei-Han: trata-se de um livrinho vermelho, que tem
servido aos revolucionários da América Latina c que reza o
seguinte:

cUma açõa precipitado, lem le"'or em conta a ogude:r. delSe


conflito psicológico, podo isolar o partido das mossas. S. OI laças
entre o. massa. o a Igr.ja lõa muita estreitas, importo seguir o princi·
pia de dois pastos poro a frente e um paro trÓ.. Ao dor o pano
poro trãs, o ga....rna populor de.... afirmar que edó defend.ndo o
liberdade religiosa e que é pela vonlade das manas que estabelece
comitê, de reformo dos associo(ões, paro que as manos palrióticos
ponam e.prenar·se mois diretamente na direção dos assuntos do
Igreja:.,

Não é, pais, de admirar que os comentaristas politlcos de


Moscou estejam acompanhando com interesse o desenrolar dos
acontecimentos em torno da TL. Pode-se a propósito citar
Valentina Andronova. que assim se exprime:

cOs renovodorel declarllm .q ue ti Igreja não tem hole tarefa


mais el."ado e nabre do que parlicipar no re"oluc;õo sodal do Améric:o
Lotlno, Formulam "árias missões eanerelas: ealaboror no for/olec:l·
m.flta da unidade e da solidariedade dos ma$Stl$ populares; denen·
volver entre os ailtêíos, com base no leologia da liberla(co, a cons·
ciência da I.U de"e, re ...olucionário; conduzir 0$ líderes cristãos olé a
Clli...idode prátiGCI da lib.flac;êío; apoiar moral, espiritual e material.
mente todos os p.rs~uldo., reforçando neles ° fê na iustiça da suo
caulo; in!e,..,;r conlra qualquer ",arma de opressão; consolidClr 0$
vinculOI com todos o. pailes em desenvol"imento't (ducha por la
teolooia de lo liberodón. Jn ~ Amenco Latina, Moscou, Academia di
Gendas da URSS, 34 (10] 57, 1980, p. 481.

Em outra passagem escreve a mesma Valentina Andro-


nova:
cAui", a leologio do liberlotão, inlerpretatão leôriCCl da p'õlic:a
de protelto social "0 A"u'rica latino o partir de posições cristãs radi·
cai, lem dois Iro(ol caraderísllcol substanciai.: orientocõo exclusivo·
mer:te soelal e nexo direto c:om a pr6tica:. (ib. p. -451.

José Grigu1ev:1ch observa o papel instrumental que a teo-


logia da libertação c a Igreja progressista representam na
estratégia de penetração sovléUca no continente latino-ameri·
cano:
-41-
42 "PERCUNTE E RESPONDEREMOS:. 278/1985

c Á ellperiêncio dellel quatra lustros ensina qtJe, apesar de par.


ticipar ativamente na lula popular contra as forcol raacionGrias, o
Igreja não tem possibilidades para se converter em folor delerminonle
do procel5o de mlldanl;ial na AlllériCG Latina o imagem e semelhança
do ISlã, que se larnou força reitara do dinamilmo revolucion6rio
iraniano • .. Isso ê compreendido perfeitamente pelos comunistas, que,
alheios a um antidericalhma ostensivo, tim promovido sempre umo
politica de col(lboracao com G Igreja e OI colól1c(ls em prol da paz,
do democracia e dOI mudanças IOdois indi:spensl!vGiu· l.da I"l•• ia
lotinoamericana en el umbral de las aneu 80», ir. : Am.nco Latina,
Moscou, Academia de Ciêncios da URSS, Ins,ilulo de Americ:a Latino
341101 : 19120, 1980, p. 31).
Como se vê, os soviéticos compreenderam bem que a TL
tem importante caráter potitlco-revoluclonário c que se pode
tornar valioso Instrumento para a infilttacão do marxismo em
nossO eontinent~.

Mediante as observações até nQul proposta0;. não quere-


mm atribuir aos nossos teólogos da Iibertacão mA fé ou man-
oomunagem com Moscou. Pessoalmente não querem ser ateus
nem comunistas. J!: certo. porém. que aR Rualli posições. enver·
nizadas de linguagem teol6gica. são valiosa cabeça de ponte
para a introdu~o de regime comunista nos palses da América
Latina. AJiãs, vários desses teólogos talvez SRudassem com
bom ânimo o advento de um governo soclaUsta marxista entre
nós {como, aliás, o saúdam na Nicarágua) .
Eb; por Que Re torna dever dos fiéls cat6lico~ esc]nrccidos
expor a seus irmãos e ao público o que é Ao TL: não haja
Quem se preste a ~r exnlorado como cinoccnte úlib! Mas. ao
L'Ontrário. proeurem os fiéis católicos estudar e praticar a Dou-
trina da Igreja!
A Drf)f\Ó,ItO:
BANOERA. A.• l.tI to"'le e"'1 el " - di Uber.c:16n. MI\drld 111175.
BAC n' 373. LlYT1Ir" l"'r()oArTIfIr~ ..... RlII Henneneglldo de BarTOl. "O.
caiu POIIIII 816 - 20 . 2.1 - Rio IRJl .
CeLAM. DOCIImemo ele Pu,blll, EeI'. VOZ", Paullnls, loyole 1975.
JO~O PAULO li, DIKuI'lOl pronUftdlclOl no Brun, Ed. Vozes, Paulln.. ,
loyolll 19110.
KLOPPEN8URG. B. , IV..... PojMder. Ed, AGIR. Cala. poli., 3 . 211 , Rio
de janeiro (RJ).
SAGRADA CONGREGAÇ.l.O PARA A DOUTRINA DA Ft, Instrvçlo
Uberteltt NunU_ IOW. I'IUM ..,.etoe de "Teotogle de Uberhlçlo", Ed.
Vozes, Plullnes, loyo", 19M.

-42-
Pouco dlvulgadal:

"Adarações Acer(a de Alguns


Temas de Teologia"
por Leonardo Dolf, O . F . M.

Em .Inl. .: Em JulhO de 1982 a revlsla "Grande Stnal~, detUnadl •


Rellglosu, publicou "Aclaraç6e.. . ... ou Relralaç6es de Frei Leon.rdo IkIfI
referentes a pontol doutrf"'rlos de IlvrOll seUl, que o .utor reconheceu
como Incurso. em erros teolÓglcot. Eua Relr.taçlo resulla de .dvertêncla
d. Santa Sf ao tlÓlogo franciscano. ToeIavla verlllca4e que o grande publico
no Brall nlo tomou ccnhecknento adequado de tal texto. Tambdm ..
(lMeMI que l i obr.. port.do.... de 6ITOS taológlcOI nlo fera m davldamenl'
corrlgld.., ma canllnu.m a lef publicadas sam que a aulor lhes tenha feito
alguma rellllcaçlo.

• • •
1. A controvérsia. ~ tornO de Frei Leonardo BofC OFM
conUnua a merecer atenção. Sabe-se que o teólogo francis·
cano é argüido não somente por defender a utilização do mar-
xlsmo na elaboração da teologia da libertação, mas tambCm
por Cormular teses destoantes da fê da Igreja niversal. ~ sobre
este segundo ponto Que se deterão as páginas seguintes.
A ortodoxia das obras de Leonardo Baff vem sendo ques-
tionada em duas etapas: 1) a. primeira prendia.se às obras
«Jesus Cristo Llbertador:t (1972); cpaixão de Cristo - Paixão
do Mundo» (lm) e cEclesiogênese:t (1977); 2) a segunda
disse respeito ao livro dgreja: Carisma e Poder:a (1981), em
virtude do qual o autor foi chamada a Roma para responder
a questões suscitadas por tal escrito.
Na primeira etApa., 011 três livros indicados foram objeto
de indagaf.."Ões por parte da Santa Sé, indagações que terml·
naram com uma retratação redigida par Frei Leonardo, a fim
de retificar posições errôneas assumidas em tais escritos. Essa

-43-
44 , PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 278/ 1985

retratação foi publicada na revista de esplntuaUdade para Rt'-


Iigiosas intitulada «Grande Sinal,», de julho 1982, pp, 357.369,
como também na revista espanhola _Sal Terrae, . d e maio 1982.
No Brasil o público nâo tomou o devido conhecimento dI!
tal retratação; esta apareceu num fasclculo destinado a enal-
tecer a figura de Frei Leonardo Bafl; entre diversos aruges
de elogio a o teólogo, podem-se ler as eAclarações» de Le0-
nardo, cujo alcance é diluldo pelo quadro em que aparecê (6:a1-
tação de Frei Leonardo numa revista para Religiosas!) . Mai\:;:
dado que as três obras indicadas contirruam a ser publicadas
sem retoque algum da parte do autor (como se a retrataç\o
não devesse ter Influência na apresentação do pensamento de
Frei Leonardo Boff), julgamos oportuno publicar essa retra-
taçáo_ Quem a conhece, toma consciência de que não pode
8o:!Itar integralmente o conteúdo dos três livros citados sem
Incidir em. erros teológicos ou mesmo em hereslas.

2. São três os pontos que Leonardo Botr retifica nas


suas páginas de c:Aclarações • • ,.:

1) Com relação à ciência humana e i. consciência psico-


lógica de J esus, L. 80ff afinnava que Jesus até o fim ignorou
o desfecho da sua. missãOj Ignorou o sentido salvifico c expia-
tório da sua mortej Jesus nem sequer sabia claramente que
ele era o próprio Filho de Deus feIto homem! Vejam-se os
seguintes textos :

«Um teólogo moderno diz com ocerto~ 'Com lodo a probobilidade


o pesquis(l 011,1(11 neoleslo..,enlório p6do dizer: Jesus nóo entendeu sua
morle <omo soO'iUcio expl(ltó,io. nem como satisfação. n~lIn como res-
g"I., Nem e .lavo em suo intençêia precisame nte mediante $1,'0 morte
redimir os homenl. A redenção dos homens dependia, no menle de
JOIUS, do "c;:.iloçõo de seu Deul e da modo de viver poro os oulros,
camoole Ih., prooa\'o e mesmo vivia. , .' IH. Keuler, 251:. (Poixão
d. Crilfo - Paixão do Mundo, I' ediçõo, p_ 82).

«o imporlonle paro JeulS nôo é fa.r.er o suo próprio vontade,


mal a vonlade do Pai, que ole n60 conheçe ellolamon'o .até o fim,
se imlJlico somenl. Gronde. difICuldades ou mesmo o morle_ Suo
último Grando lonlocôo no Gel.'",oni mostro o anglÍJlia, o incerte:r.a,
mal também o r..oluc;Cia fundamenlol de fazer sempre (I \'ontod. de
Deul __ . IMe 1",36 por_', Jesus onlrevia o ponlbilidado do morte,
ma, nco tinha a certe:r.a absolula delo_ O brado derradolro, no alto

-44 -
ACLARAçOES DE LEONARIX> BOFF .5

da cruz: 'MelJ Deus. ptU que me abandonaste?' (Me 15,341 pres-


supõe a fé e a esperanto inabalóvei~ da que Oeul não iria deixá-to
morrer. mos que, mesmo no illtimo instante. iria enfim 5Otvá - to J (Je~,
Cristo Ubertador, I' ed., p . 130) .

_ Jesus , originário de Noz:aré na Galiléia. A fomilio pertence


aos piedosol d. luael. observontes da le i e dos $Qgradal tradições.
Eles iniciaram Jesus no Slronde ellperiênda de Deus. Se Jesus' o quo
foi o nos é dodo a conhecer, devemo·lo não somente 00 desígnio do
Mistério, mas também o sua família ...

Foi num ambienle assim que Jesus oprendeu a interpretar teologica_


mente OI sinais de sva époco . ..

Em suo idade adulto Jesus de Nazaré le sentiu interpelado pala


pregação de João. Esta 111 centrava sobre o juizo iminente de Devs ...
Nóo 1& pode dizer que Jesus lenha sido discípulo de João, nem entro-
tanta pode-se negar a contrário . .. Certo' o aceitação" apoio de
Jesus c!I mensogem cenlral do 80t;sto, há que se fazor penitência ...

Por OCQsi(io do seu batismo por porte de J060 lo alual relalo


elt6 cheio de teologia, com relroprojecões do glória do Rossus.citadol.
Jesus teve uma experiência profélica decisivo. ficou-lhe cloro que a
história da solvacõo estava ligado a ele. Com ele SII decidir6 tudo ... »
(Palxõo de Cristo - Paixão do Mundo, 11 ed., 74-761.

2) Em conseqüência - dizia Frei Leonardo - Jesus, ao


cear pela ultima vez, não sabia estar instituindo a Eucaristia
como a Igreja :a entendeu posteriormente, isto é, como perpe·
tuação do seu sacrlflcio sob ronna sacramental. Veja-se. por
exemplo:
cOentro do linho de refluâa trocodo por Is 53, se interpretarom
OI gestos de JesuI no cela de despedido, ap6s. o morte e a reuvrreh;âo
entenderam que aquilo slgnificova reolmente um .oaificio a Deus.
Compreenderam que JesulS, que le doara todo a yida, aqui no ,"orle
se doara completament •. Dai OI 'extos eucorlsticol ollpres:sorem bem
esta compreensão teol60lco, '1.10 é o mev corpo que setá enlregue.
isto é o meu Jongua que lerá derramado'. Não ~eriam palavras
lesu6nicas, mas teologia iá bem eloboroda dos comunidades primiti-
vos, em con luto eucarlstico» t Paixão . ' . p. 65 I·
cCo,"o 16 dinemos anterlormenle, a úllimo ceia possui um
eminente senlido escaI016"lco. Simbolizo e antecipo CI grondo cela
de Deus, na nOva ordem d<bS coisas t Reino I. Como veremos mais

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46 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 278/1985

lorde, péio fi vinha ntio .imbolizovom, o esla (llIura, o (orpo fi o JonQue


de JeiUs que seriam sacrificados (isso descobrirá a GOmunidade plimi-
tiva, quando já viveu Q morte e a reuurreiçêío de Jesus), mal .simplel-
mente a ceia. Dentro d. uma c:;eia judaica, ande j6 havia o pão • o
vinho, ellel represenlom o banquele no c:;éu. Dal que, logic:;omente,
Jesus digo: 'Eu vos enlrega o Reino (ceig celestjgll", paro que
comal. e bebois', O p'êía fi o vinha simbolb:.avam o Ceio_Reino.
lib, p, 711.
Em conseqüência, a Igreja é que terá compreendido a
Eucaristiaj Jesus não a entendeu como tal.
3) No tocante à celebração da Eucaristia, def~nde L. Boft
a tese de que poderia ser funcã,o de um ministro leigo não
ordenado pelo sacramento da Ordem. TeAha-se em vista:
cA comunIdade, anim no. parece, celebraria verdadeira, rl'Ol e
sacramentalmente a Eucaristial Cristo presente, mos invi.lv.l, lar-se-ia
no pessoo do GOOrdenador nõo-orden.gdo, saaa",enlalmente vislve!. . ,
O celebranta nog-ordenado .etia ministro extraordinário do lacro·
menta do ·Eucaristia» IEdesJogine.., l' ed., p. 801.

Ora as Aclarações de Frei 80ff que se seguem, constituem


autêntica retratação de tais pontos errôneos ; infelizmente, p0-
rém, não foram Incluidas no teor dos livros indicados.
Passamos a transcrever o texto de Leonardo 80ft:

ACLARAÇÕES ACERCA DE ALGUNS TEMAS DE TEOLOGIA


Um dos campos privilegiados dg refluõo teolÓgica é a crislologia
que traia do verdade ele Jesu. de Nazaré. filho ete,notl de Deul ',"cor-
nado em noua pobreza, de lua !leito solvadora mediante sua pratica,
sual POIClVIOl, sua pai;dio, morte e ressurreição. Outro campo impor-
tanle é a eclellologio . Aqui Je Irato, fundamentalmente, da Igreja
como sacrallllenlo de salvação e de suo organização comunit6rio
alrov's dos 16<:ulol. Tania num campo como no outro hil gnlVes ques-
lões que o " raciononle deve abordar com devoçõo e cuidado para
deix.or dora CI ,eto cornpreensõo, nacel5il1i(l para gorOfltir nona
adesão ao mhtério d. Crista e nouo comunhõo com a comunidade
de fé,
A teologia .e ocupo com DI verdades fundamentai. da revelação,
mas também com a conexCio enlre todas a. verdodes no perlpeeti'Ya
do deslgnlo ,global de Deus revéledo em Jesul Cristo e no seu Elplrlta.

- 46-
ACLARAÇõES DE LEONARDO BOFF 47

Nesla diligêndo a 'ficlogia elabora visões e até sistemas Icomo OI


sumas teológicas dos meltres medievais) que moslnl/n a c;oerênc;io do
plano de Deus, Nestas visõel. olém de lodas (11 verdades do fi. ,e
iaum presenles lambém interpretacõu próprio, de cada teólogo.
Elias interpretações devlm guarde., referéncio õs verdades, õ Tradiçõo
e ao Maogistério viva da Igreja.

Hem sempre estai interpretações são correlamenle ccmprefindidos


por lados. Alguns vêlm nfilol elementos meramente subjetivoI do
leólogo, OUtrOI não conseguem ver sua concordôncia com o perspedivet
globol que loda leoloQia deve guardar c;om referincia oos dados
relluladores da fi do Igreja. H6 anos e"revi dois livros: Um. Palxêio de
Cristo - Palxêio do mundo (Pllrópolis 19771 e outro Edlhiogfnese.
As c;omunidades eclesiai, de baSfi fI!!-invenlam a Igreja (Petrópolis
1977). Ambos OI livrai tiveram ampla oceilaçiia, o que justificou lua
tradução poro v6rios Irnguas.

Entretanto, s.ja num seio no outro, houve questões qUfi não fOram
entendidas corretamentfi por lodos. Nem sempre o t061ogo alingo tal
g(OU de <;Iarela que çonsigo a compreensSo d. todos. Outros vezes
os formulações que empregou, permitem uma linho de interpreloc;õo
que vai além do intencionado quando e"re...ell leu livra. . Poro des-
fazer lais difiwldodes e p6r em I\lz mais claro sua doutrina em
consonância COm o doutrino comum da Igreia, passo D acloftH Irês
questiSel ligadas aos livros referidos acima. No entanto, convém
inicialmenle esclClr~er elguns pontos epislemol6gicos e metodol6gkol.

o cristianismo testemunha inlervencÕ8s hist6rlcas de OIUS, especial_


mente aquela que culminou de formo defi"iti ...o em Jesu. Crislo. Estas
irrupçõls divinos acontecem em falos e palavras reveladores.

Tudo o que é histórico eSlá vinculado a um tempo determinada


f1n 1110 tempo,.'. no qual as palovrol e os falos possue m UM .entido
definido. O sentido da reveloc;êio esl6 assim ligodo ao tempo hist6rico,
mas nêla se esgota em nlnhum tompo por (OUUI de seu caráter divino,
definUivo e esc.alológlco. POSlui um ,,"tido olual para lodos os
tempos. Este sentida perene '1 manlém sempre atual mediante os'
interpretações, particularmente, do Maoislério da Igreja.

A tarefa da 'eologia consiste, enlre outras fun(ões, Im oiuda.. o


Magist6rio neste .ervica histõ,lco·solvifico de Inlerprelaç60 otuolizadora.
Ademais devemos ConSlrvor a consciência de que semprl temos o 'lVr
com mistérios divinos. Cama toi., nunco poderão ser expressas fotol·
mente numa única férmulo, emboto as fórmulos aReiois do ré exprimam
a enenc1al ptlrQ O nOSla salvoc:ão.

- 47
os cPERCUNTE E RESPONDEREMOSs 218/1985

Por serem insor"ldóveis, os mistérios desafiam o busco religiosa do


fiel no sentido de deKobrir profundidades do verdade., do omor de
Deus. ~ aqui q'Ue se abro o espaço C. liberdade teológico de acentuor
.slo ov oquf!lo peupedivo da riquezo ine.gol6vol dos mistérios, se"'pre
considerando tombém outros perspectivas vólidos • <I tolalidade dCl
verdade.

Oulr(ll vezes, os próprios fonles dg fé apresentom dtldo$ ICio ricos


que permitem diferentes sidemoli:r:c(ões, dentro do marco fundamenta
do fé eomum e da tomunhão eclesiof. Existem até diferentes perspec-
tivas que não lO deixam, fedlmon'" orden<lf numa visõo unitário.

Clóssico é o exemplo dos Io dol escatol6gicos do Novo Tel'o-


mento. Em alguns, Jesu$ ospero o vindo do Reino e do Filho do Homem
como bem pr6~imos, embora com a recuso explícha de definir o exato
momento; em outros, se diz que ser6 no presente gerocao daquele
tempo.

A. duas "er,ões nos lão conlervodos nOl fonte, do fé . e


Ilnol
de que ela" de cerla formo, eltõo IigGdol 00 Jesus hilt6rico. Não
"iram erro nesta divergência , nem nÓs devemos ver ai erro. MOI elo
desafio o refle~õo leológico 110 bUlca de Ulna compreensão moil
profundo na qual apareço o unidade do verdade. Nesla diligência,
um grupo pode volori&or moi I uma lérie de lulos, oulro !Jrupo a oulra
seTle. E mui'Gs vezel nãG hó unanimidade na solu(ão, sem prejl,lixo
da fé e da unidade da 19reio.

1. Jesus. teve dora consciência messi8nico que nunca p.rdeu


Algo semelhante aos le)(los escalológicos ocorre com OI diferentes
perspectivas crillol6g1col. Podemol di:ter que e ..islem predominante-
mente duos gt<:Jndel landindos na ,.flexão sobre o mistério d. JelUI
Cristo.
A primeira se inspira nos eVQnoelhos sinó,ica" come(o na tempo,
com Jesus, pregador do Reino e vai alé a suo plena revelt!caa pelo
mort.1 e ressurreição. A segunda s. inspira em S. João : começa no
eternidade, com o Cristo, Verbo eterno e filho Unigênito do Poi que
se encarna, nos re.,elt! e realizo o dCITgnlo redeMor d. Deus.

Ambos os lendlnciO$ lão legItimas, o porlir dos pr6prios fontes


da fi mos l;"plicom acenlos diferentes. A primeira enfoli:r.aró principal.
ment~ <CI humo.,idad. d. Jelus, a ~ol'llplexidode da existência hist6rlCG
que lentamente vai entreganda à nona compreensão o mistirlo de

-48 -
ACLARACOes DE LEONARDO BOFF

Jesus. A segundo sUblinhcmí, particularmente a divindade de Jesus,


seu coráler incomparóvel, suo relação únicg com O Pgi, sua consciência
messiánico .q ue nunca perdeu.
Tania o primeira quanlo o segundo lendéncio denm ser fiéis aÓ
Ctisto tolol, yale db:er, 00 Jesus-hol1lem e ao Jesus- Deus. Aquele que
acentuo o divindade de Jesus deve d i!..r, em Seu devido Iv.var, quo
erefaitentado IMe 1,13; lc", 1.1 3;MI",l - 111 e que «Iofreuoo ser
tentado » tHb 2,181, panondo <pe los mesmO$ le nlações que nó ..
tHb ",151 e que no alto da cruz grilOU ao Pai , . Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste? 'Me 13 ,341. Nõo deverô apresentar uma
Imagem de Je",, - Deus·en~rnodo que lorne impossível o .que o s Evan.
gelhos nos referem de Jesus, em 5UCl humonidode histórica .
A I~unda lendf ncio que subtinho a humanidade de Jesus deve
afirmar, em leu de vido lugar, que todo eslo humanidade c:onerelo ~
a humanidade assumido por Deus, que quem vê Jesus vê o P.o.
icf. Jo 104,91 e que Jes us eslá no Pai e a Pai em Je sus (cf. Jo 1",111
°
o que Cristo é preuistente à criação porque é filha Unigênito e
eterno do Poi Icf.lo 1,3. 141 . Esta tendência não deveril apre!entor
uma figura dlL!l Jesus que esvclJ:ie °
que OI lextos fundadores da noua
fé nOI dizem acerca de suo tronscendlincia e diVindadlL!l.
o equilibrio enhe umtl e outro d eve ler :sempre b\l5Ctldo. embo rtl
se trtl'. de um equillbrio ne m f6cil nem lem dificuldades pot.g codd
uma dos le"d&neitls.

Jesus teve em suo consciência humana D expenencio


Inefável de ser o Unigênito do Pai celeste. Sua vida inteiro
estavo impragnoda dessa autoeonsciência, embora devamos
admitir que tenha havido um crescimento, consoante o
desenvolvimento lhumano de Jesus, desde criancinha até a
plena luz da idode madura.

Todo minha produçóo criSiol6gico dOI últimos dez onol se situo


dentro da tendência sin6lico. fia 11 caroc!erlltiCQ lambém da elcota
franciscana da expedindo pessoal de S. Fronc;-isco de AlSi s, de
$. Boaventura, de Dunl 5coluI e dOI grande. medres froncisc.anos
medievais. Enfatizo forle mente 0$ traçai da Itlnto humanidodlL!l de
Jelul, lua fé, na fin ho do ephloto .001 HebrlL!lUS 11 2. 11 . a conflitividodo
que IUO mlL!lnsogem e pesloa provocou. e suo paixão e mode. """'
primeira plano, vidca como corueqüênda do tipo de vida que levou
e das exJgincial de con .... ersóo que fel .

- 49 -
50 cPERGUNTE E RESPONDeREMOS,. 278/1985

Em nenhum momento Se ,quis ficor apenai nesta dimensão hi116.


,ica. Em leu de.,ido lugar sempre se afirmou claramente a divindade
de Jesul; suo humanidade nunca existiu foro de sua união hipostálica
com a Segundo PessOQ do Sanlislimo Trindade. fode I., havido 'rales
que pocecellem ignorar Q consciência meuiõnica de Jesus; enlretonlo
há que entendi. los denlro do contexto global do livro, especialmente
em r.f.rindo com oquelo5 porles onde se afirmo explicitamente lonlo
a contcilncio meuiõ"ico de Jesus quanto lua divindade.
Seria realment. estranho se (I subsistincia divina do homem Jesus,
Isto é, O elemento decisivo de suo personalidade (Verbol "Cio enlroue
em suo consci'ncio, e portanla o 6"'i,0 (encornoçiio do V.rba) nõa
se traduziue no aspecto ontológico h:onsciêncio messi6nico e de ser
o Filho Unigênito do Pai).

JeSUI teve em IU«l cansc:iéncia humana o cJliperiincia in.fável d.


ser () Unlgenifo do Pai celeste. Sua vida lntflira •• tovo Impregnado
deuo autoccnldincl«l, I!mbora devomos «ldmllir que lenha havido t,lm
crescimento, con'CIonl. o deleftvolvimento humano de Jeuu., d.sde
criancinho ai' ô pleno luz do Idad. moduro.
Mos em cada fase de lUa vida teve o mó.imo (onlciêntia poHive'
de suo realidad. d ivino.

Pr.cilom.nte por iuo Jesus p6de dizer, s.gundo o lelteml.lnho


de MI 11,251$, que ninguém conhece o PCli seRCio o Filho fi ninguém
conhece o filho senão o PQi. Em virtude deuo singular .~periincia
I.Ugiola de Oeul, p6de Jelu. dor uma r.....elol;ão divina reveJlida de
car<.:tler abloluta e escatológico.
MGS edG clori .... idência nôo es ....azia (I fl!alidode dOI lenlQ1,;ões e a
.~periin(ia de abandono no alto da cruz. A rozão re,ide no leguint.,
li encarnação do filho le .... e também um corá ter r.dentor e 10crifidGI.
·eKpialórlo. Je'IoII, o verdadeiro Servo 'CIfredor, c fo; caltigado por
nOll05 ulme, e elmagado por nOIlO$ iniqüidad... .• O Senhor cor-

Na agonia da cruz, Je5U5 sofreu como representante da


humanidade pecadora, sofreu, a55umindo Ii ....rem.nte a
solidão que o pecado provoca. expiou pelo5 pecadores de
toda o história.

regou sobre Ele a iniqüidode de lodos nÓI .. . foi morto pelol pecados.
de leu povo_ (lI 53,5.6.8'. O Verbo eterno tomou ecarno_
(cf. Ja 1,"'; Rm 8,'" quer dizer, Cluumiu a vida humano com suo

-50-
ACLARACOES DE LEONARDO BOFF 51

silUGção de dor e de morle; CI 1'II0lle do pee.odor é vivida como solidõ<I,


abandona, ousincia da groça da i"t.vroçõa pela qual o esvaziamenl0
das forças vitais seria ine.orporodo na amor Q Deul.

Na o,gonia da cruz Je'u5 sofreu como represenlonlo do humanidade


pecodorg, loflou, assumindo livrem ente, Q solidão que o pecado pro-
voco, ellpiou pelai pecadores do todo a história. Coma diz mulla bem
Michael Schmaus IA. fé do Igreio, 3, Pelrópolis 19n, p. 601 cno morle
de Jesus, como r.presentonte da nurnClnidade pecadora, fica revelada
Q situação do homom aUl6nomo, ofCl5'odo e abandonado por Deus
e centrado unicamente em si mesl'llo. Pelo morle de Jelus na cru%,
Deus evidencio o homem pecador como um perdido, um aMndanado,
desgraçado o impolenle. Que Jesul 'ivesse que elllóperimentar o aban-
dono de 001,11 (Me 15,34; Mt 27,4:61, longo de ser uma encenaçõo
pura e simples, se conllilui umo autêntica reolidade, cuto sombrio misté-

A solklóo de Jesus na CruI, expressa no grito «Meu


Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Me 15,34;
SI 22 [211, U, revela a solidariedade do Jesus inoc.ente com
a solidão dos homens pecadores.

,ia pai Ó incompreensível. Precisamente po elllópeflenda do abgndono


de Deus se evidenóa que Jesul, emboro isento de todo pecado, mOlTeu,
opt!lar dilSC, o morte do pecador em lua formo mais crtlel; pois é
mone"do como pecador que o culpodo elllóperimenla suo lotai solidão.
O fato de Jesvl t.r luporlado doeilrne:nte este último e mais terrlvel
pavor deve ser enle ndido pela fOnlenCa em suo formo de elllópressão
dialético. ' Pai, em tuos mãos entrego o meu espírito' Ile 23,461 .
Superou Q suprema solidão com 1,11'11 amor lõo incomensuróvel de modo
que esro se lhe 1000nou em Inllo.. a companheiro. Podemos dizer do
Crucificado, eCCe h4Hfto, porticulormenfe no sentido de , ecc. homo
fleccater» .
A solidão de Jesus na (fUI. elllóprena no grilo eMeu De us, meu
Deus, por que me abandonaste? IMc 15,341 revela a solidariedade
de Jesus inCKente com (l lolidão dOI homens pecadores. O filho
encarnado quis auumir eslo linistra situaçêío para redimi·lo e lns-
tCluror o reino do graCa como comunhão" lolidarledade.

Neste sentido podemos dizer que Jesus sempre leve a consciincia


messiânica de Servo sofredor .que passa p'elo pavor da solidão em
elllópiação pelo pe cado, pradulor de soUdão e em comunhão com 05 que
sofrem por COUSCI da solidão gorada pelol pecados dos homeM.

- ó1-
52 . PERCUNTE E RESPONDEREMOS. 278/1985

2. A presença reat de Cristo lKI Eucaristia está garantido


nClS mesmas polciVrus do Institui,ão da Oltimo Ceia
Co", referência o instituição do Eucoristia como presença perene
de Jesus Crislo e d. seu loc:rifido redentor deve·se tomar em conto,
especiol",e nte, duas questões : o dimenlão histÕl"ico e o dimensão
teológico .

al Dimensão histórica da instituiç:õo da Eucaristia


Pom,imo5 qualro textos do Novo Telfamenla que nos referem (I
institlliçao do Eucarjstia ; ICor 11,17-34; Lc 22,7-23; MI 26,17-30;
Me 14,12-26. Bosta uma observação superficial poro constatar que
Mateu. e MarCaI em IUOI formulações ~e aproximam muito; o mesmo
ocorre com lucal • PGulo. Allim o p.olavro sobre o cólica em lucos
• Paulo pOllui o seguinte formulação: «Este cidic. é o novo olionço
no meu longue.; em Marcos e Maleul, 00 contrário, soa onim l cEste
é o meu langue do Testom.nto •. Qultouim OI palayral: «Faloi 1'10
em minha memória. le encontram uma vez em Lucas e dual velei em
Paulo, enquanto que em MarCai li! MoleUI faltam.
Existe umo pesquiso imensa histórico·exegético lobre OI palavras
eucaristicas' . .Conforme o tendindo do pesquisa poderiomos nos
represenlar ouim o codlflcaeõo dos ledos: O evangelista M.orcos
assumiu o releio .lJcari,tko da trodicâo d" Jerusalém (chamada
também de trodiçõo peltinal. Antes de SlU! fixaçiia esc:rita, circ:ulau
orolmento om muilos comunidadn que celebravam o <:oio do Senhor.
a evangelista Mateus depende de Marcos; seu relato do instituição
do Eucaristia revelo !.Im le...e ret,abolhomento e$lilistico e teológico do
texto de Marcos.
Considero·se o1uolmonle como seguro que Lucas Ique escreve
depois do Paulo I literariomente 1\60 depende de lCor 11. Poulo e
Lucas indepe ndentemen te um do outro se reloc:tonom com uma mesmo
tradição. Provavelmente 0110 tredição dotada dOI anal "O depois de
Cristo tem leu lugar em Antioquia . ~ I\esto tradição comum o Paulo
e o Lucas que le conservou a palavra de Jesus: eFozei islo e m minha
memória . !

I Na perapaethla católica seguimos e&peclalmenle a H. SchQrmann, Der


PlScfIarn.hlberlchl Lk 22 (1-141 15-18 (NTA XIX, 3), Münstor 11153:
O... Eln..tzunllbedcht Lk 22,19-20 (NTA XX, 4). MOn,ter 1955; J .....
Ablehl.....d. Lk 22.21-38 (NTA XXI, 5), MOnste, 1957. Um bom ,aumo
se .nçoRlr. em UrlpNng ultd Getleet, Do.seldorf 1970, n-HI6. Ba.l8nle
compl.ta 6 • bibllografl. que ol.feçe R. Feneberg, ChrilUlcI'Ie P....'.I.r
und AbendlNlhl (SI ANT XXVII), f.Aünchen 197', ' ....-149.

-52 -
ACLARAÇÕES DE Lc.'ONAROO DOFF

Leva nta·1ft Clgara a quUIÕO: ca mporando .se os duas tradições _


aquela de Jerulolém e aquela de Antioquia - poder.so-ia c:heglOt
(I uma fórmula primitivo, qv~m sabe até, â formulo d o próprio Jesus
hislórico? Reua /lClmas qu'CI se ,rolo de um problema hislórko, paro
O quol não se c:hegou ° um (on.enso c:ompleto. O teólogo c:atólica
Ale.ander Gerken, QFM resumindo (I pesquiso exegético a cerco c!este
ponto conclui , cOevemos nos cont enlar com Isto, podemos chegar às
(armulociSes primitivo, do r. IClto do inltituiçõo da Euc:aristio. mal a
formulaçõo original nos escapa :. : .

A presença real de Cristo na Eucaristia estõ, portanto,


assegurada pelas palavras de Jesus proferidas na derradeira
Ceia que fez: com seus apóstolos, pafovras conservadas em
duas tradições litúrgicos.

b' Dimensão teológica da instituição da Eucaristia


A conclusão hill6rica não é de decisiva imporl(lnciCl poro 10 di-
mensão teológico porque os texlos, por seu caróter 'radicionol,
a centuada por lCor 11 ,23 Icrecebi do Senhor o quo vos Ifo nsmi ti, na
noile em que (oi entregue, o Senhor Jesus .. . 11 1. pOlSue m um coróler
historicamente fidedigno. Podemos ver iuo especialmente no falo de
que tanto os Sinoticol como Pa ulo indicam com toda cerlez:a O ocasiõa
histórica em que Jesus pronunciou o s palavras e ucarislicell. Apé$Or
de seu caróter litúrgico-cultuai, o valor histórico dos I... Ios nlio pode
ser negado. FundclI'I'Ienta-se em sua procedê ncia de testemunhos quali-
ficadas, a saber, dos próprios parlicipantcs do Olti,"o Ceio de Jesus
anles de suo morte.
A presença reClt d. úido RCI Euc:orillio eslá. porlanla, a uegurodo
pelas palavrol de Jes us proferidas. no derradeira Ceia que fez: com OI
S"vs Clpóstolol, polo'llras conservadal em duas lrodicÕ8s IiIÍlr~ic:a s, a de
JerusCl16m e o de Antioquia . As diferenças existentes .ão m'nimos. O
cerne essencial •• reporto ao Jes ul hist6.-lco. Na fé sabemos qUe é
por força de suas palavro. que Ele se foz: preJen'e sempre que a Igreja
celebro o seu Me morial e ucorislico .

Assim como toelo a Igreja á apostólica, podemos dizer


com o Vaticano 11 que toda a Igrela é o sacramento de Cristo.

t A. a.rken, TMaIogIe der Euc"'rlltle, MOnlõhe" 1973, 19.

-53 -
54 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS. 278/1985

3. A sucessão apostólica da Igreio supõe, entre outros


elementos, a sucessão histórica • o poder SGcromentol,
por iUG Ye%, ~põe ., SQcromenlo da Ordem

Como o Credo manda reZar, exlsle vma apollolicldode de todo o


Igreia. 1110 sisnifica que o co",,"unllas fidelium (o Isreia I elli".
porquo Cl colhe o f6 dos Apóstolos em Jeslls como o Crlslo, o Filho
Unigênito do Pai, o Solvodof do mundo medionl. sua vida, paillão,
morte e reuurreiçõo. A Igreja ~ op05t6lica, porque loda elo' en.,iodo
em missão 00 unIverso. t: opost6lico, por fim, porque pouui uma
opoltoliddode de mlnlsté,iC) em continuidade histórica, lem perder a
identidade origin6rio, com o mini'lério dos Doze Ap6stolo, dos quais
o Corpo Episcopal é: sucessor. fita conlinvidade histórico nóo é uma
mero eltruturo fOmlal, mcu significo a continuidode de uma comunhão
que so inldou com os A.póstolol 00 redor de Jesus histórico e após
a renurreição ao redor do comunhõo, no forca do Esplrllo, com o
Senhor sentado lJ direito do Pai; elto comunhõo do Corpo Episcopal
.,em do poltodo e se manlAm, e!ll lua eulnda, fiel ofé a preleft'e,
oorontindo o opodolicldade de doutrina e de governo poro lodo a
comunidade ededal.

Assim como teda a lo'ela é oposl6lica, podemos dizer cem o


Vaticano 11 que Ieda a Igreja é o sac;ramento d. Cristo. Os lacro·
menlol, tomados individu<llrnente, reolizom de modo especifico e pr6prio
o :fCI....emenlo totel do Igreio poro OI di.,ersal situoc;iSel seja do
comunIdade selo dai pessool. A 19relo é a portedoro de lodos 05
sOC1'omenlos. Assim C,islo confiou o ela o socrjfldo da cruz poro que
o atualizasse con stontemente. A Igrelo ensina que lodo CI t=omunidade
eelesial , suielto oU"o do ação euc<lft,tica . Nãa contradiz a eslo tese
.o afi,,,,cu;ão lolene do melmo l,grejo legundo a quol somente o :occr-
dote 'f(Jlidament. ordenado ou o bispo têm o pode, de conlogror
(DS 1739.; 1752; 1771). Isto sIgnifica • • omenle ° sacerdote oficial,
denlro do Ordo da Igrela, pade. como ministro ordinório, pronunciar
eficaunente oquelol palavras em virtude dOI qual. se torno presente
o vllimo evcorTstico,° corpo e o lon9ue de Jesus.

Que valQt possue", os cel.braçÕes eucorlstlcas doquelol comuni.


dad.s ou iorejos que n<io possuem moh (li aut6nliCCl tradiciio do
mlnlsl"i01 Esta é uma questão muito discutido ao nlvel e~rnin.co
e não se t=hegou alndo a um CClnsenlo definllivo, Segundo o doutrina
tradicional mediante o votvm oblectiwm, estai comunidade, não ficam
Privadas dOI b."enciol do Sacramento. Par caulO do 'midade de f'

-54-
ACLARACOES DE LEONARDO .•BO=F.:.F_ _ _ _...:5S

e de amor na quo I se e ncontram Itlis igreias, Crislo e O Espírito, o causo


eficiente úllimCl do f01(0 d e todos os IClclomentos, suplem a falta do
ministério e ,ao comunicados os benefícios do Sacramenlo eucarístico.
De todos os formos, devemos reco nhecer qlJe não h6 celebração
eucorhtica proPl"iamenle dita no sentido canônico como o entende a
Igreja Cal61icCl quando o celebranle nõo é ministro ordinório. valida·
menle ordenodo com o sacramento da Ordem.
Penso q ue ellas precilões deixorom nloil doros ",inhos posições
exp05lo1 nos IivlOs Polxóo d. Cril,o-Polxáo do Mundo e Edesloglnese.

OBSERVAÇÃO FINAL
A respeito da f1nneza da Igreja na preservação da reta
doutrina, são oportunas algwnas ponderações.
1) Existem verdade e erro não somente em ciências r:x:a·
tas, mas também em matérIa de fé. Esta não é um sentimento
'Cego ou vago; também não é apenas confiança, entrega ou
abandono, mas um ato de inteligênc ia movida pela vontade.
Ora a Inteligência foi feita para a verdade, de modo que o
erro a violenta.
A Palavra de Deus revela ao homem verdades a ser acei-
tas na fé, sto é, de maneira inteligente o obsequiosa da parte
do fiel.
2) M verdades da té (o mistério da 55. Trindade, o da
Encarnação, o d a Eucaristia ... ) nunca poderão ser compreen·
didas pelo intelecto hwnano, pois ultrapassam o alcance deste.
Como quer que seja, elas podem ser penetradas , até -certo ponto.
pela inteligência, que lhes dá uma formulação verbal. Esta é
importante. pois nossos conceitos estão sempre ligados n pala-
vras (dada a constitulcão psicossomática do homem). - Por
isto pode-se dizer que há formulações fiéis à verdade. como hâ
outras que são amblguas, Ineptas, insuficientes ou mesmo err6-
neas. O pluralismo teológico ou- enfOQUes diversos das verda·
des da fé são legitimos, contanto que respeitem o autêntico
teor dos artJgos da fé.
3) À Igreja quis Jesus confiar a função de guardar e
transmitir Jtenuinamente o depósito da fé. Vejam.se as pala-
vras do Senhor a Pedro: ("Simão, Simão, eis que Satanás vos
pediu Insistentemente para V06 peneIrar como trigo; eu, porém,
orei por ti. a fim de que tua fé não desfaleça. Tu, Quando vol·
tares de novo para mim, confinna teus Innáos. (Le 22,31s) .

-55-
56 .PERCUNTE E RESPONDEREMOS:. 278/1985

OJ ainda aos doze Apósto}as: dde. e fazei Que todas as nacÕcs


se tornem disclpulos, llaUzando-as em nome do Pai. do Filho
e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto
vos ordeneI. E eis que estou convosco todos os dias até a con.
sumação dos séculos, (Mt 28.195).
O Senhor outorgou à sua Igreja um carisma próprio para
ser mensageira da fé: cO Paráclito. o Espirito Santo que o
Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará
tudo o que eu vos digo:. (Jo 14,26); cQuando vier o Espírito
da verdade, ele vos conduzirá i verdade plena, pois não falará
de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anun-
clarã as coisas futuras. Ele me glOrificará porque receberá do
que é meu e vo·lo anunciarã. (Jo 16.13s) .
A fê tem por objeto um patrimônio sagrado de verdades
entregues por Cristo à sua Igreja e, por isto, Irrefonnâveis, à
diferença das ciências humanas ou da filosofia, que professam
proposições concebidas por homens e, por isto, reformáveis por
homens.
4) Ao desempenhar-se da sua tarefa. a Igreja não te.n-
ciona ser cdona da verdade" mas executa um serviço árduo
em favor de todo o povo de Deus. Os fiéis que levam a sério
a sua fé, têm o direito de ser esclarecidos peJo magistério da
Igreja. Eis por qUê a esta toca o dever de zelar pela preser-
vação da reta fé e pela sadia orientacão doutrlnârla do povo
de Deus (do qual fazem parte também os teólogos).
5) A teologia é lides qu&eftIIlS Intellectum õ é a fé que
procura compreender. Por conseguinte, o teólogo é um homem
de fé ou um homem que aceita integralmente as verdades reve-
ladas tais como lhe chegam através do magistério da Igreja.
Procura penetrar no sentido de tais verdades sem se afastar
do magistério. mas. ao contrário, colaborando com o magis.
tério (cuja palavra nem sempre é definitória, mas por vezes é
apenas orientadora).
6) Os teólogos não estão acima do magistério, apesar de
sua eventual erodIcão, mas estão subordinados ao magistério,
pois só este possui o carisma da verdade, como lembra o Cair
dUo do Vaticano TI: cA Tradição progride na Igreja ... peja
pregação daqueles que, com a sacessio do eplsoopado, rece-
beram o oarbm& ....." da WII'dade. (Constituição Del Ver-
bum nt 8).
São estas verdades que explIcam o interesse da Santa Sê
pelas obras de Frei Leonardo Borf, que, como reconheceu o
próprio autor, são portadoras de proposlC6es teológiCas el'l'6nea5.
-56-
Livros de sensaçio sobre o Vlllcano:

Ainda "Em nome de Deus" e outros ...


Em alnlne: Abaixo ....1 traMerl1. uma noticie publicada pelo Jome'
O GLOBO, que comenl. e 1II.,alura aensaclonallala pubUcacia e reapelto do
Vaticano nos úlllmo, dec6nloa. Em virtude do . 'gllo mantido durante SÓCUI08
IObre c arquivo da Santa se, muitos escritor. 16m proçurado e,;pktrar 1116a
que parecem permlllr penalrar dentro da realidade inlerna do Vaticano.
Ttm-no feito, ponAm, lanla. losamente, recorrendo nlo raro • lI'Ienllra ...
c.rlcaiura. A Santa Sé nio coalUma respondar I Ills 5nvecU...al, embora
ultimamente o lenha 1.110 da modo perempl0rlo em ralaçlo ao livro "Em
Nome de Deus" do David Yallop.

• • •
TranscrevemOs a seguir uma noticia do jornal O GLOBO.
edição de 16/ 08/84. p. ao. que se retere ao livro .. Em Nome
de Deus~. de David Yallop, e a semelhantes obras concernentes
à vida interna da Santa Sé. Visto que se trata de apreciação
assaz lúcida e equilibrada, merece atenção; poderá ser útil
para se aferir o signlClcado de tal literatura.

Vaticano: Sfculos de sigUo, um filão para Q imaginação

ROMA - Pelqui.odore, ,ério, Ou 5imples ovenlureirol in/eresltldos


no senloclonalilmo. CQdo '101. mais escrilorel de todo ti mundo le dedi·
com a explorol o filão de ouro das hisl6rios que envolvem o Igreja
Cat61ica . As Vlllel juntando dados avaromente dhlribuldos, quale
sempre ulando apenas o máquina d. el(l'eVer • mui.o imQginoçao,
eues escriloras descobrirom que devolsar OI segredos ciosomenle ,guor-
dQdos no Voticono ê um dos meios mois eficole, de {lonhor muito
dinheiro COnl ne"hum risc;o.

Obleuivo",.nte preocupodo em resguardor seus arquivos, que


encerram a história do "'linda 00 longo de quole dois mil anos, o
Sonlo Sé cu:aha por conseguir o co.,'r6rio do que prelende. f exclo-
menle ene espesso fIKInfo de sigilo que excilo °
imoglnoção, fOI.ndo
tom que periodicamente surlom livrai com verl~s moi, ou menOI

- 57-
58 cPERGUNrE E RESPONDEREMOS. 278/1985

fantasiosos d. fotol ligados à Igreja. E que também ncito os leitores,


Jev(lndo·os a consumir milhões de exemplares vertidos para pralicCl-
mente todos os idiomos, tornando seul aulores codo vez mais riCOI
e famosos ,

Ao Vaticano, pouco reslo fozer poro enfrentor a gíg(lntesCG moré


lilor':'110. QUGndo o livro s. fundamento em dados inqueltiano.,.)·
mente corretos e pauluisos cuidadosos, of.recendo uma imagem pouco
critico, o Igreja quose sempre silencio. Q",ando, 00 contrário, a imogi-
"oeGO forja menliros e .. deSloCO, lem provo I, o semsacionol é o
eSCClndoloJO, lombém 01 , melhor o silinao. Vez pot outra SUtil' um
desmentido, mais ou menol .",ótico, dependendo do noturno do 'ema.
Mas OI procenos judiciais nunca s(io opresen'odos porque eles exigem
documenlação e iuo a Va,itano nõo estó interessado em tornar público.

lNESGOT.AVEL

H-á séculos se eSCfeve sobre o que acontece por Irós dos pe$Odol
mures do Sanlo Sé, ma. de alguns ono. poro cli (I ovide-z do púb lko,
es,imvlodo pelo aumen'a de permbsivldade, tornou. se muito maior.
Com iuo, explorando eue filão Inesgolóvel, surgiram dezenos de estrl.
tores, to ntando hililório. baseados em pesquisas pouco sério. ou
criando siluocãel que ...ôo do imoginocão desenfreado (, -fonlaslo
de/iron'e.

Em 1982. o 101no11IIQ omeric:Qno Ridlord Hommer publicou «A


conell50 do VQticano». q .... Irolo ...o dos operoç3es finall ceiros do Máfia
nOI Estados Unidos e do suposla porliclpacão da Sanla S. nos negócios.
Baseado .m declaracões do el,elionotárlo OU llrloco Leopold Ledl,
Hommer ••creveu que ° administrador do Banco da Vaticano, Paul
Marcinkul, 'en'ou comprar o preços baixos fol:o l bônus do Telouro
ame ricano poro compensar alguma. operocée. desastrosas que
realireno. Não fai aprt5enlcdo nenhuma pravo. mos o livro foi um
suceua de vendas.
Oulro c besl .elle'~ foi c A balino .... rme l ho~. do escritor e ex·
diploma'o francês Rog.r Peyreritte, um hábil especialista em literatura
religiosa de ficc;go. Em l ua obra, o Pt:lpO, polonês, é um ooente comu·
nisto e as duvidosos manobras financeiras de um cerlo Arce.bilpo
la",Ink"s mbluram· ~e com delalhados de5crições de orgias ,"o
Vaticano .••

Em c O somarilono~. do tanod.".e de arige", "croniolla Philippe


Vandl Rind', o '{tulo do copo é desenhado de forma a porMer o
emble",o do Ilndictllo polonês Solidariedade e o Popa palonls

-58 -
cEM NOME DE: DEUS. E OUTROS ,. , 59

Inocinclo I t.m trocos s.m.lhontes aos de Korol Woitylo. No história,


o Pape é iudeu sem sober (sua idll!nlidade hovia sido trocada quando
criança no campo de conc;cntracôe de Ausc;hwitzl. CCllaboro ellrcita-
mente com os Serviço. Seaetos de tsroel e acoba conseguindo lour
emigrar da URSS lodos o. judeul soviéticos.

o escritor froneil G4:rord de Villien, em . A conexõo búlgaro ••


amparo-se em Jupollas pesquisas sobre ° atentado comelido pelo
turco Meh""el Ali Agco contra o Papo Joóo Poulo 11 em 1981. Mal,
acimo d. tudo, dó desttlque às mafotonos sexuais promovidas na
Bulgória pelo principal personagem, um certo Plincipe Molko, ignorando
os aspedoJ IUlXlltoment, mais sérios dez história.

o MAIOR GOlPE

Denes livrai inofenilvos, frulos de mero imoginacão, o Votieono


lam.als 5e- ocupou, Não foi o que oconeu, porém, com O recenle cEm
nome de DeuslI, no qual o inglês David Yollop tento demonstrar, Jem
prOYOI, que o Popo Joôo Paulo I (Albino Lucia"i) foi aSlosslnodo apól
exercer o Pontificado por menos d, um mil. No v.não d. Yollop, o
Popa pretendia reorgoniz.or o fechodillimo Cúria Romano e exercer
maior controle lobr. OI finon(CI ' da Sonto Sé. Por euo ro%oo, foi
env.ne nodo num conluio de socerdotel c:om financistas ligo dos à Laia
MClcónlco Propogondo.2,

Quando o livro ganhou lama e foi condensado por revistas.


jornais de lodo o mundo, o Vaticano veio .o público com o porto·voz
Romea Poneiroli poro desmentir categoricamente o $eU leor. O resul.
todo foi quase nulo porque ot6 hoje cEm nome de Deus» freqüenta OI
IIltOI demail vend ido, • transformou leu Guiar num milionãrio.

No momento, ° pallmico á sobre o livro cO ono do Arlnogedon :


° Popa. a bom6o», dos In;le"l Gordon lhamas e Ma.x MClrgan·
.Wills. O Valicano, segundo e les, colabora ativamente com o AgênciCl
Cenlral de Informacões (CIA) dos ruA e dela recebe, lodos Olledos·
.feiral, um boletim com informes que lhe inlerenam.

No COlO, o Sonto 56 não esperou, reagindo com rapidez incomum,


logo no dia se,guint e 00 do opresentaçõo do liwo, o porto .voz do
Igreja qualificou OI verlõel de coblurdos e desprovidos de quolquer
fundamento» , E. o cada réplica dos autores, vem novo desmentido.
ElSe procedimento 10'10 acre' que, conlodo de insinuQcõel e ataques,
o Vaticano d.eidlu agir ti não pretende d.lxor nada sem '.'poIICl,

-59 -
GO .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 778/ 1985

À guisa de conc:lusão, podemos lembrar famosos axiomas


que, proferidos em épocas passadas, conservam seu pleno va-
lor em nossos dias. Assim, por exemplo, dmam os romanos:
cVulgus vult decipl. - O povo (o público) quer ser enganado,..
Com outras palavras: a veroade, chá e incolor como multas
vezes é, não atrai, não provoca ressonância no grande público ;
não raro, somente a mentira imaginosa e caricatura I provoca
o interesse das massas. Voltalre (t 1778), por sua vez. escre-
via: cMentez, mente!; il en restera toujours quelque chose.
_ Menti. menti, sempre ficará alguma coisaa; com efeito, a
menUra forjada de maneira fantasiosa e picante tende a se
impregnar nas mentes mais facilmente do que a verdade lisa
e neutra. l!: o que se verifica precisamente no tocante à
literatura vaticanesca e, em particular. com respeito ao livro
.. Em Nome de Deus. de David Yallop.
• • •
CURSO BmUCO POR CORBESPOND2NCIA
A Escola de Fé e Catequese 4:Maler EcclcslaelD lançou um
Curso Bíblico por Correspondência destinado a agentes de pas-
.toral e ao laicato em geral.
Compreende quatro etapas: 1) Introdução Geral à S.
Escritura (12 lições) ; 2) Introdução Especial ao Novo Testa-
mento; 3) Introducão Especial ao Antigo Testamento; 4)
Exegese de textos seletos.
As Jnscrlções podem ser feitas em qualquer época do anO.
O cursista recebem. llcões acompanhadas de questionário
atinente à matéria. Depois de estudar, responderá às questões
e enviarâ a resposta à Escola. Esta as dev()lverâ corrigidas,
com novo bloco de lições. se, ao fim das quatro etapas, obtivel'
75% de acertos, receberá certificado da Escola cMater
Ecclesiae•.
As Inscrlç6cs podem ser feitas desde iã. com indicação do
nome e do endereco do curslsta e o pagamento de Cr$ 3 .000,00
pela primeira etapa (1.2 llCÕCS) . Enviar inscrições E PAGA-
MENTO ao seguinte ende~:
Escola cMater Ecclesiae,. - Rua Benjamin Constant 23.
3' andar _ 20241 - RIO DE .JANEIRO (RJ) .
Depositar na cOnta 070-739-2 do BRADESCO, Agênela
3019. catete. RJ.
Pede-se a todoa queiram fazer a possível diwlgação desta
Iniciativa pastoral.
-60-
Questio fundamental:

o Sentido da Vida
Ent sfnl... : o psicólogo Judeu Vlktor Frankl, pesqulssndo o com-
portlmento de jovens e edullOl nort.americanos, verificou o alio teor de
neurQM que os afela. Tal &1'0 , autprtendanla, $8 levamos &In conte as
leorlas da S!gmund Freud a Allred Adler. que a!lrmam se, a n.urOM con-
aeqülncla de ~ Atlslaçlo do apama sexual (Freud) ou do apaUte de
autoallrmaçlo (Adler); na verdade. oa adolelcentes e os 10veM norte-a.meri-
canos gozam da numerosaa opor1unidades da raall18ç1o de um 11 oulro
apetite. - Em conseqü6ncla, Vlklor Franld a"rme qua em 1000 Nr humano
e.'sle alnde outro apallte ou deMJo, que, le nlo • Slllalelto, leva. neurose:
, O d..ejo de "'ilUdo da vida: 11m, o ler hUllllno quer nl o ap.nu ur
compreendido, mas quer tambtm yl"....lmenl. compre.nder o lenlldo da
vida. Mais: tel apeUte nlo lO contenla com a proposta de valorel pas ..-
gelrol ou fugazes, como do OI da moda ou mesmo os do amor meramente
humano, mas s6 .e aquieta medlente • proposta da yelores est6.ve1:ai ore
e,les alo, "lIundo frankl, DeUI (que nlo tem principio nem flm), o aaprrllo
(que nIo se desintegra), a alernldade (perpetuidade ou Ininterrupto hoje).

A doutrina de Frankl, que RIo IA crlsllo. mas fala "Irltamenle como


Pllcoterapeuta, IA altamente slllniflcallva para os crlsllos. Est., do dlam.
dOI e corroborar sua adesAo .os .... Iores da. fé e • tradull..(ol em vida
coerente para atender nlo só aos seus enselos pessoais, ma, para prestar
.0 mundo um serviço, . .• serviço que, na v-erdade, nenhum terapeute,
munido apenas do conheclmentoa clenlllk:o:s. pode prestar.

• •

Vlktor Frankl é um psicOlogo e psiquiatra judeu nascido


na Austria. Foi perseguido pelo nacional-sociallsmo, que o
encerrou no campo de concentra.ção de Auschwi~, donde cem-
seguiu escapar com vida.. Passou então a residir nos Esta-
dos Unidos. onde leciona e pesquisa como professor univer-
sitário. l: professor honoririo de Universidades de diver-
sos palses. Escreveu. uma dezena de livros sobre o ser humano.
entre os quais se salientam : cO homem em bU9Ca do sentido»,
cPsicoterapia e sentido da vida:J, cPslcoterapia e existencia-
lismo:. . .. Vilrtor Frankl foi o sucessor de Sigmund Freud na
cátedra de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universi-
dade de Viena e é o criador do método pslcoterapéutico cha-
mado cLogoter8pia:t.

-61-
62 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 27811985

Jt precisamente este aspecto original de Viktor Frankl que


nos Interessará nas pAginas seguintes.
O presente artigo se baseia estritamente na apresentação
de V1ktor Frankl feita pelo Pe. João Mohana em seu livro
cEscolhidos de Deus~ . Ed. Loyola 1984, pp. 109-123. - Em
próximo artigo, analisaremos diretamente tópicos do livro .PsI-
coterapia e Sentido da Vjda~ de Vlktor Frankl.

,. A tese de Vlktor FrankI

1.1. O de-sejG de sentido da vida

Viktor Frankl estudou a cultura norte-americana. carac-


terizada pelo puerocentrismo ou pelos cuidados dispensados à·
criança.
Verificou, entre outras coisas, que, embora a juventude
norte-americana tenha liberdade para praticar o sexo, o indice
de neuróticos entre os cidadãos norte-americanos é multo ele-
vado. Na verdade, a descontração sexual nos Estados Unidos
é I1vremente vivenclada pelos jovens; a vontade de prazer é
contentada nos rapazes e nas moças ncrte-americanos. Ora,
segundo as concepeães freudianas, a neurose é o produt.Q da
repressão do sexo; a frustração sexual é mecanismo desenca-
deador de doenças. Foi o que levou VOdor Frankl a pergwttar
como se explicava a neurose de tanta gente livre para praticar
o seJro.

Mais: o mesmo pesquisador verlfico.u que nos Estados Uni-


dos o Impu1so de auto.aflnnacão ou a vontade de poder encon-
tra ampla realização e satistação; 80s jovens são dadas chan-
ces que a juventude de outros pa1ses ignora. Ora, segundo
.Alfred Adler, a neurose decorre da frustraçlo da auto·a!ir-
mação pessoal; é doenca da personalidade cujo impulso de auto-
-afinnacão ou cuja vontade de poder é reprimida.
Perguntou então Frankl: como se expUcam os numerosos
casos de neurose exlsstente nos Elrtados Unidos se lã a juven-
tude soza de liberdade sexuaJ, de garantias profissionais e faci-
lidades sociais? Em outras pala.vras: se o desejo de praur e
o desejo de poder encontram a sua satisfação, como entender
que pululem os msos de neurose entre os jovens norte-ame-ri-
canoo!
-62-
o SENTlOO DA VIDA 63

o pesquisador austriaco respondeu: o vazio e a angústia


existenciais que afetam o homem, decorrem multas vezes de
outra frustração, não levada em conta por Freud e Adler; com
efeito, dizia Frankl, em todo homem há também uma cvontade
de sentido:. ou o desejo de saber o significado da vida, o por
que e o para que viver. Ta] necessidade de sentido da vida é
um Impulso especificamente humano, arraigado nas camadas
mais profundas do psiquismo.
Os animais irracionais existem como os homens. Mas
somente os homens querem saber por que existem e ....... que
existem: estes aspiram não apenas a ser compreendidos, mas
também a eompreender a vida; tal aspiracão é inata, imperiosa
e Incoercivel. Em conseqüência. todas as vezes que deIxa de
ser atendida, entra em frustracão e causa neurose, ... neurose
que Vlktor Frankl chama no6gen& (de DOas, espirito), pois
ela decorre, em última InstAncla, do fato de que o homem é
mais do que matéria i é dotado de wna alma espiritual, que é
capaz de se elevar acima das situações momentAneas e de pro·
curar os porquês ou as grandes premissas de cada realidade
contingente.
~ a falta de resposta para a vontade de sentido que explica
muitos dos casos de suicidio em nossos dias. Em 1978 houve
14 . 600 sucldios de jovens entre 17 e 20 anos na França; todos
deixaram sinais de Que haviam perdido o sentido da existência.
Não basta o amor dos pais para curar este tipo de neurose.
Por Isto jã estA superado o slogan: cAme seu filho e você o
Uvrart da neuro5e:' j é pre<:lso Que os pais apresentem a seus
filhos também o sentido da vida.

1.2. Valo,," Insfówk e .t6veis


Viktor FrankJ, em suas pesquisas, descobriu ulterlonnente
que o sentido da vida só se revcla quando o homem eReon-
tra valores estAvels. Isto bem se compreende. Valores instã-
ve1s e passageiros não Impedem a insegtlranca; quando se vio,
esvai·se aquilo que parecia dar sentido à. vida.
Muitos são os exemplos de valores efêmeros. nos quais ilu-
soriamente o ser humano pode prccurar a resposta para as
suas aspiraç6es congênitas:
Tais sAo os bens de consumo, que são sempre substituidos
por outros. cmals modemos. cu «mais funcionais:.. Tais são
também a glória, o poder, o prestigio, que não duram sempre,
-63-
64 cPERCtlNTE E ResPONDEREMOS,. 278/1985

mas têm suas fases. Tal é outrossim o prazer sensual, pois o


corpo e a sensibilidade se esmaecem e desintegram. Até mesmo
o amor humano tem o carâter da finitude e da limitação.
Feita esta anâllse, Vlktor FrankI chegou ã condusão de
que três sio os valores estáveis cap82eS de dar ao homem o
sentido da vida : Deus (que náo tem principio nem fim), o
esplrito (que não se desintegra nem desaparece), a e ternidade
(que significa perpetuidade ou o não-acaso).

A saúde mental requer a descoberta desses três valores


estáveis e 8 adesão aos mesmos. Sempre que FrankI tentou
usar a psicoterapia freudiana (que supõe ser a neurose de
fundo sexual meramente) ou a adleriana (que atribui a neu-
rose à nio consecução da auto-afirmaçãol, fracassou. Dai ter
criado novo método psicoterãplco - a Logoterapia -, que
tenta levar o paciente à descoberta dos valores estáveis, capa-
zes de o saciar. Segundo Frankl, o médico que não ajuda o
paciente a encontrar o sentido da vida e a descobrir os vaio-
res estáveis, fracassa em sua missão. - Wllfrled. Dalm, discl-
pulo de FrankJ, chega & afirmar que co pslcoterapeuta que não
instala no paciente o confilto de Deus (primeiro dos valores
estáveis), não o liberta da neurose:..
As conclusões de Frankl, que fala tão somente como psi-
cólogo, e psicólogo não vinculado ao Cristianismo, são alta-
mente significativas; convergem com o conteúdo da mensagem
cristA. Dal a conveniência de uma reflexão sobre o assunto.

2. RelleHndo ...
A tese de Viktor Frankl interpela vivamente os cristãos
em dois níveis:
1) A todos o psicólogo austriaco lembra que os valores
apregoados pela fé sêo os únicos aptos a responder ao homem.
Jã bem dizia S. Agostinho (t 430) , depois de ter percorrido
algumas escolas de filosofia da sua época: cSenhor, Tu nos
fizeste para Ti, e InQuieto é o nosso coração enquanto não
repousa em Ti:. (Con!. I 1). Diante da avalanche de propostas
materialistas para responder ao homem de hoje, os bens espi-
rituais - tidos por muitos talvez como meramente poéticos e
inconsistentes - avultam-se como os únicos valores capazes

-64-
o SENTIDO DA VIDA 65

de satisfazer aos anseios mais profundos 'do homem, Isto se


compreende bem: qualquer promessa de felicidade transitória
só pode deixar decepcionado o homem. cujas aspiraçóes se vol-
tam para a felicidade sem fimj qualquer bem que passa, por
mais fascinante que se:ja, ê pequeno demais para a capacidade
do ser humano,
2) De modo especial, as conclusôcs do psicólogo austriaco
recomendam a tarefa dos sacerdotes e Religiosos que, além de
consagrar toda a sua vida ao servIço dos valores definitivos,
procuram transmiti.los aos seus innâos. Viktor FrankI. em-
bora não seja cristão, apela para o serviçO dos ministros reli-
giosos, julgando que o ministro de Deus está partlcula:nnente
credenciado para transmitir à humanidade a nocão dos valores
estáveis, O psicoterapeuta não pode fazer Isto sozinho.
~ verificação de V, Frankl projeta luz sobre o que se
chamaria «a crise de IdenUdade. de certos Religiosos. Na
verdade. alguns destes. julgando que o mundo moderno se des·
cristianizou e materializou quase por completo. poderiam ser
propenSOS a crer Que não têm mais fu~ão a desempenhar em
nossos dias, pois os valores religiosos estariam em grande baixa.
Enganar-~Ia quem assim pensasse, induzido talvez por opi-
niões precipitadas e superfIciais de falsos cprofetas:., - Aos
Religiosos cabe hoje um papel tão urgente e necessário como
nunca, Alguns, por sua palavra e sua ação, tentam despertar
em seus irmâos a no;-ão dos valores estâvels para os quais o
homem foi feitoj são os que pregam e ensinam as verdades da
fé em Sua pureza não seculari2ada ou com toda a pujança do
transcendental que as impregna. Outros procuram viver no
sUéncio contemplativo e na clausura esses valores estáveis.
demonstrando praUcamente aos seus irmãos que tais valores
podem preencher a vida de uma criatura e comunicar a esta
a paz, a felicidade e a liberdade que (l mundo não é capaz d~
dar (cf. Jo 14.27); pelo fato mesmo de viverem fielmente a
sua vocação contemplativa, são sinal e testemunho para os
seus semelhantes, . . , sinal que indica o sentido da vida, . ..
sinal que fala até mesmo aos casais, ajudando-os 8 viver mais
crlstámente a sua vida conjugal (a qual ê um sacramento
pennanente).
Na época materialista em que vivemos, presenciando tan-
tos casos de neurose existencial, a doutrina de Viktor FrankJ
é certamente luz e solução para muitos dos que se debatem
na angúsUa e no desespero,

-65-
MIIs urna vaI atrAI da COrtina de Feno:

Impressões Colhidas na U. R. S. S.
Em • .,. .... : As ptglnu aubteqOenlet apresentam ImprelS6es colhi·
do por um vtajante habituado . . .ter na Rúsall SovIética a r.. pelto da vtda
de " "aquere pais. Da um lado, o cronista mosha o peso da pe"agulç1o
ao.. M il, que Mtllam o amedrontamento e o RIlpelto humano. Doutro lado,
eyldencla o fervor com que muitOl observam suas prjtlc:a. rellglo • .., (Jejum,
IreqGlncla ao culto) a dlo o l..temunho de honestidade num pari que se
vai eoNompando cada vez mais. Em auma, a fé 11516 Ion ...e de ter mOfl'klo
na U.R.S .S.; ala !'tn..e. ..peclalmanta nu geraç6tl ma" JOveM, onda ..
ancontra bom número de ,ectm~vertldOl,

• • •
A revista PR tem publicado relatórios e informações a
respeito da vida de fé na U.R.S.S., Infonnaçóe8 que chegam
ao Ocidente por via clandestina ou pelo testemunho de via·
jantes. Neste número tomamos a apresentar crônica e im-
pressões da U. R . S. S., cientes de que se trata de noticias
geralmente desconhecidas, como desconhecido é ao estran-
geiro quase tudo O que se realiza no cotidiano da U. R. S . S.
O cristão do Brasil, através de tais páginas, tomará consciên-
cia do heroismo do Animo de seus Irmãos na Rússia, dos per-
calços que os amooçam e da necessidade de pedir perseverança
e magnanimidade por quantos são assim perseguidos. Mais e
mais a leitura de tais noticiál'ios incute a convicção de que o
mundo precisa de santos ou de homens que saibam viver a sua
fé até as últimas conseqüências, não s6 na U .R .R .S., mas
também no Brasil.
O autor do documento que se segue, fez prolongadas via-
gens através da U. R.S.S. por motivos profissionais, deten·
do-se em alguns pontos importantes, inclusive em Moscou, que
o cronista bem conhece. Em 1981 permaneceu vArlos meses
na ltússia. Como resultado de suas experiências, houve por
bem redigir a8 suas impressões, que foram publicadas pelo
Boletim SOP, do Comitê Inter.Eplscopal Ortodoxo da França,
n' 65, fevereIro 1982, IIp. 19-23. l!: desta fonte Que traduzimos
o relatório. Por motivos evidentes, o autor quis guardar o
anonimato. Fazemos ainda notar que o cronista se rEfere sem-
pre à Igreja Ortodoxa. não unida a Roma.
-66-
lMPRESSOES DA V .R .S.S.

o RELATÓRIO

nve recentemente a ocasióo de residir alguns meses em Mo sc;ou,


o que me deu a pOSlibilidode d e partid por peuoalmenle do .,ido dos
mas lambém me privou dos illformaçóes que nobltuolmenle
crililÕOS,
re<:obo em Paris e que sEio qvQse inacesliíveis na U . R. S. S ... A
'delinforma~ão' f01 por'. d e todo um ,onjunlo de re.strições que tornam
o Rúuia um poIs lokllitário.

Eis por que o lei'or enconlrará o.qui um rolo'o d e viagem concrelo,


e não uma O'an1.:o sobro a situação aluol dos fiéi s na U , R.S . S. MinhCl
nOlfocáa baseia·se sobre observações pe ssoais, conveUOI forluhOl,
encontros imprevistos, comparoçi5es co'" minhas ellodas anleriores no
poIs., •

1. Nas paróqutGs I

Qui.era começor por falar do 'lida cotidiana nOI paróquia. que


frequentei. Um sábado iJ noite, o I,grejo relalivamenle grande eslava
toda C!pinhada. N6s lias comprimlamol lI:omo no metrõ. Mal não
e l16vomOl no metrô; haviamos deixado os aborrecimentos do lula
cotidiana O cu filas; hovlomol elquecido ludo isso e , dentro do igre!a
replela de genle, é ramos arroslados pe lo climó de oração que 1"101
envolvia e pela harmonia própria do ri'mo do Ofício :l, Coma lugar
de culto ou de rei ira, a iOfeja como lal le torna um oasis de serenidClde
e d e oração, onde cada vm pode fozer a svo expeliind a da Terra
Prometida e do expectaliva do Pala Iso.

 meu ver, OI criança). sõo mais numerOS(:I$, espKialmenle nOI


Ofícios da nalte, do q\Je há du anos, Multai vezel são vistos em p6
no fr.nle, perto da iconos'ose e o alguns metros do d e ra. Que m os
leva o igreja? Jó não são os a",ós como outrora, poil estes oluol",en'e-
foum parle do gerocão lolol",enl. otéia dOI anos de 1925-1930,
nascidos e educados no olellmo militClnle e tololmenle alheios à
,el~l áo , A, crlancas vão sós à igreja ou acontece que ,eul jovens
aenitor.s, muitas veIes redm·converlidol, as levam . Contudo a opod.
çõo à religiõo nas cidades ! fone. Num domingo de manha onlrel no
r.clnto de um mosteiro d. lubúrbio Iransformado em muse u, no Inlerior

I Os sublflulos aRo do IradU1oc.


\I O Ollclo Dtvlno é 18 ofOçlo onclal da Igreja, col'lSlIturda de salmol, hinos
e preces. (Nola do tradutor) .

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.PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 278/1985

do qual havia uma igreja (lberla. Uma mulher segura ... a seu filho pe la
mão, um garoto de cerca de dez anol. A multidão enlro... o persignan·
do·se_ O garo'o, ao ...'.10, fez o mesmo; observei então quo SUei mije
foi duramon'o r"riminoda por 11m guordo que e'la...a perlo. __

~ preciso dlur que OI i;ondiçÕf!. de vida de uma paróquia sôo


bastanle dHlce's, sendo um do. problemas fundamenlais a falta d e
catequese. O ce'-bronte da lIturg;.a pade ser (etlsurodo pelos agenles
do Governo se o leu sermão procuro oluoliz.or um pouco mais os temos
evangélicos. Não h6 catequese para uianças, não h6 liyros o comprar
em livrarias especializado. ou o empresteI( em bibliolecol pGroquia Íl,
pois nem aquelas nem edas exlslem.

Por islo 6 que .urgiram os csemin6rio. de trabalho •• reuniões de


pequenos grupol fechado. , nos .quoi. ol9u",o, pe$lO(l, procuram com·
pre.nder a lUa f6 e ""lrulr.lfI, o fim do Clprofundar o vida e.pirilua I. . -
A forca moral dos fiéi, explica, em parte, as perseguições; o Governo
nao pode talcr.ot Que OI hOmens falem do Reino de Deus, que tenham
fé nesle, C que ...ivam para clle. Por islo ' ai. seminóriol foram d"copi.
lados (perderam seu. dirigenle,) e vi ...em atualmenle no clondestlnl-
dode. Se bem que .oubo"e pola imprensa oddental que exislem lall
.eminários, nao procurei informa(êSes (] respeito durante a minho viagem
poro não acarretar perigo poro olguém.

Os sacerdotel 11m que fazar elcalhas_ Alguns vêio visilor OI


doentes nos hospitais ou a domicilio; confessam·nos e levam·lhes o
Comunhõo. Oulrol prefe rem não o fozer, e ilto sem que lofram alguma
critico. Trolo-.e de sacerdotel que lêm filho. de POU(O idade e nCio
q uerem correr o risco de ser encor(erodos. Nõo se atribuem (I direilo
de p6r suo familiCl em perigo e de dehlo r os filho. sem pão. Aqueles
cuias fi lhos i6 sõo crescidos, correm hobituolmente mais rlI<OI.

2. Batizados
f preciso dize r que 0$ balizodol de ai.clnçal e d e odullos lO
multiplicam. Não possuo dodol numéricos, mas posso referir o que vi
numa Igreja periférico de Moscou num domingo comum. Havia multidõo
de gente, como sempre, e eu me pusera em nave lolerol . .. Vi chogor
dezenal de (donca., desde bebis c:.orregodol no. braços olé os de
sei. ou .ele anos oproximodomente. Contei mais de ISO. Eram ,ec'm·
.bolizados, fi devia m ser Iflvados Ô cerimônia que ocorre depois do
batismo. Terminado esta, Iodo essa assembléia de crlancas foi ler (Clm
seus poil e se pOs em fila para agucudar o Comunh 50.

-68 -
IMPRESSõES DA U,R .S .S. G9

Em oulra igreja . .. o padre me diue com ufania que lá 5. baliza-


vam geralmenle deI ou quinu bebis de <oda ver:, Quanto oos adultos,
ele contava cerca de duzentos botizados por ono.

3, Confissão sacramental
Um dOI problemas mais graves que atualm ente se põem poro os
fiéis orlodoxos, Ó o do Confiuõo. Sobe-se que no prólica orlodOJlo
russo' costume confessor_se lodos as "'zesque o fiel vai comungar.
Um falo recente, e certamente alarmante pora CIS autoridades, , o
aumento do número de Comllnhões nos g randes cidades. Mais de umo
'leI assisti Q dislribuiçoo da Comunllêio aos fiéis : durovo de 12 o 13
minutos e hovio dois cólices, se nôo mais ; verifiquei em Igreja. dife.
renles que o número de comungontel ero muito maior do que por
oeosi<ío de estados onl.riores.

Oro os socerdohtl nõo bOltom poro o tarefa; são poucos demais


I apesar dislo, alguns bispoJ incorreram em sanções utVeros porque
.ordenavam podres 'em demasia'). A vido cotidiana d. um Klcerdote
de paróquia pode comparar-se à de um médico clinico numo revlão
do interior Isolado, mos sem corroi Muilos levantom'le dasde a aurora,
e em alguns domingos às cinco horol do manhã, poro 16 terminar o
iornodo à meio-noite ou mais lorde. Os neo-con'olertidol s60 muitos
vezes muito ignoronles; é preciso cotequiz6· los um por um durante o
conflssõo. t: por ista que, ne correr do" anos, se propagou o prõtic.o
do tonfiuõe comunitõrio, q-ue Qulrera Qcerrja elCepdanolmenle nos
dios de grande afluênda. Diante da POVQ 'eunido Icem 011 duunto$
pessoas de coda 'tul , o SQcerdol. recila as. orações penlte nciols, os
queis se seglle lima lislo de culpos de acordo com o ordem do. dez
mondamenlos. Feilo isto, todo fie! vai receb.r CI obsolviçõo. e
preciso
proceder com rapide%, pois há muila ve nte i Mal eu m. smo aullll â
cena seguinte: o sacerdote come(ou CI dor o ab"olvicão individual-
mente . .. Dez minulol depois, ele interrompeu Q fluxo de pessoas e,
voltando-se poro lodos (om scrrilo, disse: cHão vos preocupei,; cado
vm de vós d ....e aproximar." em paz; se lem algo G d izor, digo _mo
calmamfl1'e, sem presso; nSo esquecerei ninguém •. Estas palavras
apaziguaram os 6nimos Inquietos. dissiparom (I aparência de filo de
.spera diarlle d. uma loja, transformondo a mullldão Impacient. em
povo de Deus.

A prático da confissão comunitõria, t:llios vantagens sôa evidente. ,


opresenla lam"ém dois int:on.... "i.nles importantes. Ocorre dvronte o
celebracêio. Os fiéis que vãa à confinão no início da LlIur,via, falIam

-69 -
cPI:RGUNTE E RESP.ONDEREMOS~ 2781.1985

a grande parte do 0fício. O segundo inconveniente" o ousência,


nessas condições, de direção espiritual t_ Contaram-me que cerlos
habitonle, do inlerior, vivendo em regiêSes onde não hâ uma só igreio
aberto, ficaram por 'Yexes 'Y6rios anos sem se canfenar c .em comungar·
c:n neo-convertidos sõo tol'Yez os mais infelizes porque nem sempre
sobem o quem se dirigir, não tim ' •• '01 à dispo,i(õo • preciselm espe·
cialmente de ser gvlados. Por vezes, os amigo. ou vl:r.inhos lie encar-
regam de os Inllrvir qvanto podem. Mais; eltiste, desde anos, a prótico
da dire(iio elpiritval pcr correspondência: eltisle também a consulta
001 monges nOI poucos mosleiro, que ainda ficam (lberlos no pais;
essa procure de mosleiros lorno-'e 016 em dOI posslveia obfeliYOs de
viagens de "riol.

4. Renascimento religioso

e preciso não iQeoli:a:or o ,enoscimenlo atuell, Falo_se muito disto


TIO OcIdente, em ambientes informadol, e ele exl,te, po, certo; mal na
Rússia ouvem-li a re'peito ted.muntiol de gr(lnd e possimismo. Aliás,
elte e normal do parte ae peslOCs qtJe eltão peuoahnenfe envolvidas
num processa e, por conseguinte, menos conscientes êlol ospedos posi-
tivos elo movimento religioso . O que aqui refiro, observei-o eu mes"'o
em MOlCOU. Ao confró,io, nas regiões bolaêlos e I'IOS pequenas ddades
00 provfnda o situa<õo ti dramático, di:r.em; fola·se de 'd.serto 10tol'I
ti not6rio o mis..!Jria êfo inlerior eta Rússia com .evs corol6riOI: o
alcoolismo, o corrup(ão e o violindo; 01 reina o medo. Aconlece, por
exemplo, qve, numo pe9ueno cidade onde hoio (lpt'nas uma Isr.ia
abertel, as penoos que nella enhom nem ousom fo~e' o s1nol da crUL
Preferem ouidir 00 0fício como tvr1stas e passar par 'curioso,' que lá
tenham entroeto por ocaso, antel gue ser identificados e drixor tro"s·
parecer que são CIentes.

1 Na tgre'l católica, • pr6tlca da conrrsslo Slcramantllll comunlt6rla


" parmlUda csetde q"
1) o bispo dk)cesano a autorlUl, devendo o mllSmo IndIcar também os
diu em que .ela licito pratlcé·lei
n o n.1 qUI receM. a abllo1vlçla Im conllsslo com,,"I"r'. dftVe astar
dtaposto • eonfener na prlmell'll 0",110 OI peçe.dos absolYlcSoa. NIo lha
, licIto receber nova ablolvlç.lo camunH'rie sem ter flHo prevlamente a
davl41 connaalo auricular dos pecados lbaolvldoe comunHarlemente. (Note
do lnIdulor).

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IMPRESSOES DA U. R.S.S. 71

5, Perseguições
/lo. relpello das pICueguições nado pano dizer. Nõo loi se se
intensificaram no decorrer dos semanas que ponei no Rúnia, pois, como
eu dizio ahás, os 'n'ormações na V. R.5 . S. circulam dificifmente. MOI
o que é novo porei mim e de lodb lurpreend<enle, é Unia mudan(o de
atitude das pessoal polias ti'" pro",ocão. Oulroro, quando ~nia o
delgroca - interrogatórios, perquisicões, encarceramentos - formo-
\'a-se Uln muro de $illndo em torno dos penoas afetados. Agora
parece que, sem ",iolor as regras da prudência, os uistõos procuram,
°
00 conlr6rio, espalhar o noticio, fim de aiudor os penoal, dor_llle.
coragem e vencer o medo. Desde gue se saiba que alguém preciso de
roupas quentes, de vitamina., de uma Bililia, de um cale ndário litúr-
gico, . .. os amigos percorrem a ddade inleiro poro descobri, lois
objetai, lem indagar ou sem procurar saber quem é que preci.o diuo:
cé neceJl6rio»; por conseguinte, tudo fozem parCl enCOntrClr eue
necenário com o mól{imo ""Vêncio pOl$ivel.

No locanle aOI encarcerados e lu suas famltias, os necessidades


são e",ldentel' cu crianças lão muitol ",ezes os vitimas mais desprovidos.
Mos quanto mClior é o despojamen'o, lonlo maior é também o partilho.
Observei, entre OUIrClI COllOl, uma e;xtroordinária drculaçõo de li",os
em MOKOU ' um bom livro, principalmente UMa obra de leologio, el16
e m perp4!iluo voi·e-veM: lanlol penoos precisam de 101 livro .que, se
al91.16m consegue um exemplar, nôo pode recu~r a portilhCl'

6, Honestidade
De modo .geral, creio que OI costumes dos fiéis mudaram , a penúria
parece ter gerado generosidade e solidClriedade. Potot<e também que
o rigor da ",ido litúrgico é acompanhado por ocrelcida austeridade no
seio da fomltia,
Por exemplo, OI casoIs de fiéis parecem nõo praticaI" controle dOI
no.dmenlolt por COnseg",nte, "m muitol filhos e Qg"d05 corénciol
mateliois lo sistema dos aluguéis d. (elldindos poro faml'lias na Rúuia
chega lu roial do ,idieulo I. Vi calais mui'a io",enl com cinco ou seil
filhos; alguns sacerdoles com os quais conveuei, .ram 'odol oriundos
de fomltial onde havia entre cinco. quinze filhos!
"16m do número de filhos, observei também mais disciplino peuool
num pois onde o corrupçllo se alO'dro de maneiro monstruoso e a
inflaçõo é gO'loponle. Vi pessoas a recuSClr o mercado negro ou o

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72 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 278/1985

sistema 'O' ; nõo querem ser tragados. pela avidez e a cotrupCão gorais
c, por iSlo, redu;r;em as suas ne<essidades o um minimo mais do que
.,t,ilo,
Eu .,10'1(1 na Rússia durante o Advento _, apesar dOI dificuldadel
d. olimenlaeão já conhecidos, os prescric;õel d. lejum erom obscrYCldoJ
por complelo. Mois: os fiéil ,"aliam a praticor o jejum eucarístico d.,d.
a véspera do dia em que comungam; pelo que sei, a abstinência nOI
perlados d. preceito' guardado habitual",ente. Torno. s. diflcil obler
informoc;6•• ,obr. loi. OI1U"'OI, que costumam ficor sob o li,gilo da
discrição. Ma. d e modo geral pode· .. dizer .q ue os fiéis que võo li
igreja, "50 se conlenlam com uma ortodoxia 'dominic.al', ml:U procurom
viver (I vida cristã no cotidiano e no seio dQ fgmllia.

7. Igreja. Estado
No tocante ao modo de ver a Igreia no contexto sovietica atual,
a atitude moi. freqüente parece ser a ~umle; a Igreja é um baluarte
que.e faz mi.ler d.fender. Apesar dislo, 01'll'l,In5 pergunlam com certo
angústia se a necessidade de receber as soaomenlol e viver uma vida
lilufgica na Igrelo nôo é paga CI preco demasiado alio; uma hierarquia
comprometido, O duvide, a suspeita, a menliro e a linguagem dupla,
c;amo o. que .ão corrente. no paÍl, são loleráveis no selo mesmo da
Igreja?
 'lida da l"rClia reuenle·se forlemenle do pressão do Estado ateu,
que se o.gro'lOu no U. R.S . S. na dec;orrer dos últimas anos. Entre o.
sinais dello fe<rude.d:ncio, nalo·se o linguoior dCl imprensa, que .e
lornou cada vez mo;. violento em assuntos de ordem internacional como
lias de pol/'ico externa: por elllemplo, 00 denuncicH um olluso social
quolquer, os jornais voltom a falar de 'inimigos do povo'.
Tem ••• a impreuão de que (I Cortina de ferro se larnou muito
denso. A. penuriq et;On6nr.ico alimento IQdol OI dios. A vida cotidiana
é dvro. H6 um conhade chocante entre tudo o que OI cidadão. nõo
tl m o direito de fOller e tudo o que conseguem feuer conaelomente. O
número de prDibiçõel é grande demais pClro que o Cavemo consiga
controlar o vida dOI ddodãol. Âs malhol do rede le afrouxam às
Yelles, porque o própria rede , demcniedo grande.

8. O medo
Nao ob:llanto o que j6 diue, de,elo ainda ocrescentClr que e formo
maIs requinlado de ' Iorturo' que eu I."ho visto duranle .,te outono no
RÚllio, , o medo. Observei pessoas de,figuradas, cujo Icmblonltl era
dKomposlo e cuia comporia menta era artifldol por <oule do medo·

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IMPRESSõES DA V.R.S.S. 73

cAgara, mais do que oulroro?, pergunlar-me.ão. Não posso respon-


der. Será que as pessoas sofrem mais, de modo que o seu medo seja
mgis Irgn.pgrenlo, Ou serô que comeÇaram °dominar o medo e f por
islo, oceilom moi. facilmenle os riscas? Afinal medo de quê? De falar
0110 nUnlo sala em q ue haja um telefone, medo de referir_se a cerlos
pessOQI (ninguém profere, diante de deKonhecidol, OI nome, doqueles
que lião considerados como heróili ou quase .anlo., Soljenitsin. Sakhoro...
e, depoil deles, Ogourlzo.... Yokounine, que, opesar d. ludo, estSo
prelentel na mente e no orocão de cada um), medo de ler chamado
00 KGB, de ser inlerrogodo fi de Irair alguém, medo de ser separado
dos próximas 11 gmi;os.
O medo é deoradonte e destruidor. Vem a ser, certomente, uma
daI mois ...eementes impreuÕ<ts qUe Me ficClm da minha última visita à
Ruuio.
No primeiro serão em MOlicou, .q uando eu assistia às Vi,gllias
"uma igreja do periferia, campreendi que, aos olhos do Estada, (I Igreja
devia lier destruido. Âs oUloridade. não podem nem poderão Jamais
tolerar .que, no seio de um poIs 100011110 e tatolitário, existo força tão
grande, 160 vivo 11 160 bósica.
Disse um clássico enlre os dissidentes russos: .. Poro sobreviver em
nono pois, , preciso obedecer o Ir,h imperativos; não ter medo de
coi.o 019"mo, nodo eguardar, não to, esper~nli:as. Creio que' preciso
Irandormar esta prescricão omorgo om otimisma cristCio e relar especial.
mente poro '1UO, a todas 0 $ que lofrem, seio pGupodo o medo; sela
elle Iran,formado em temor de Deus, o fim de que os homens vi ...om
no expectotiY(l do Reino e no e$peronço do sol...ação .
CanlofClm-me que. no ano penada, no manh ã da Páscoa, um
sacerdole moscovita idOsa e doenle auim falou em suo pridico:
cOuronte a minha doença, muito refleti e compreendi que," preciso
n60 ler medo. Nado receei" meus filhos bem,onlodcu, no vida nodo
nOs pode incl,Itir medo, pois o Cristo ressuscito".!
o texto assim transcrito é eloqüente por si. Dã a uer quão
arraigado e espontâneo é o senso religioso do ser humano;
ressurge e reafirma-se mesmo quando submetido ã escola do
ateísmo militante. Artificial ou desumano, portanto, é querer
extirpar a crença religiosa de alguma população. Sem Deus
não há grandeza humana.
Queira a Providencia Divina continuar a fortalecer seus
fiéis na U . R. S. S., dando-Ihes ânimo para testemunhar a vlt6-
ria de Cristo! Quem tem consdencla desta, não se deixa intl·
midar.
-73 -
serA licito . . .

Roubar em Extrema Hecessldade1


Em a'n'''': SIo Toma de Aqulno e oe mor.'llla • .católicos anllNlm
Que. em caso d. axtrema nec88,klado. leto •• dlanl. do perigo Imlnanla de
morte .• lIçllo ... um Ind19tlnte aproprll'-18 de bens alheios na medld. em
que esta lhe aelam Incnspena6ve1l para .. Ivar a l ua vld. (ou a vida do
pr6xlmo). Note·.. que • llrave necenldade nlo basta para Jualll'c&r tal pro-
cedimento, ma. requer... a aJdfWIUI . • . naquer-se tambéM que o Indigente,
ao retirar benS do próximo PIIr. nIo morrer, RAo rallra mell do quo o
Nçeu.6rlo nem açarrata para o proprlel6rto lmlnente perigo d. morta •. .
Tal. prlnclpiol da Moral, lembrado!! pela Clmpanl\a da Fralemldade/OS.
nlo deveriam .. rvlr para a.tl,,",lar roubos e ....,Ioe. A Camp.nha da Fratar·
nldllde foi Insl1lulde para fomentar entendimento e banevoltnela mOlua antre
os homeM, IIlhos do mesmo Pai cala.te, ... nlo para Incitar una conl,a os
outro,.

• • •
A Campanha da Fraternidade 1985 adotará por tema
«Pão para quem tem fome:t. Nos comentârias a tal slogan,
Jê·se que é licito «tirar coisas dos outros:t em casos especiais,
sem Que isto se constitua em furto eu roubo. Esta afirmacão
é apoiada em dizeres de S. Tomás de Aquino (t 1274), grande
doutor da Igreja. Ora a temática assim formulada tem sus·
citado dúvidas e ansiedades. Pergunta·se: que disse propria·
mente S. Tomás de Aquino? Como definir os limites do Ucito
e do lUcito no «tirar as coisas dos outros:t ?
J:: precisamente a tais questões que dedicaremos as pàgi.
nas seguintes. Deve-se notar que tal temâtica era mais estu-
dada pelos autores antigos do que pelOS contemporâneos. Na
explanação subseqüente, valer·nos-emos da obra de Doml·
meus PrUmmer O . P., um dos melnores moralistas da primeira
metade do século XX. Em seu «Manuale Theologlae Moralls
secundum principia S. TIiomae AQUlnat1s:t, ed. nona, tomo II,
Friburgl Brisgoviae 1940, pp. 82-84, o autor propõe conside-
rações que podem ser tidas como tlpicas da doutrina comum
nessa matéria.
-74 -
ROUBAR EM EX'I'RmA NECESSIDADE?

UM PRINCIpIO
.Em caso de exlrem& pen1Íl'l& Ó Helio _ .... boas
aIheicJe a quao.tia IRIficleo.te para. que o bullgmto 80livro de
tal penúri&».

Assim pensam os moralistas catôlieos t!m gC!ral, como tam-


bém os Códigos Civis de vários palses.
1. A fundamentação da tese ê a seguinte:
Deus concedeu a. terra a todos os homens para que a habi·
tem e ge sirvam dos seus bens. Ora todo homem inocente tem
o direito natural de viver; e, como só pode viver se utiliza os
bens da terra, toma-se-lhe licito, em caso extremo, apropriar-se
dos bens Que lhe sejam necessârlos para escapar da morte e
garanUr a sua sobrevivência. Em tais circunstãnclas, o indi-
gente não está roubando ou não está injustamente retirando
a propriedade alheia. - Esta proposição não nega. o dIreito à
propriedade particular, pois tem em mira apenas os casos
extremos.
2. O princípio assim enunciado requer algumas explica·
o;iies:
a) Somente os casos de erlrema néCeSSidade, não os de
grave ou grande penúria, justificam o c:retlrar bens alheios •.
E que se entende por extrema. uooe5s'dade? - Os autores
não são unAnimes a respeito: geralmente apontam . próximo
perigo de morte» ou também . proximo perigo de perder um
membro importante de respectivo COJ"P.O». O motivo de res-
tringir a Jlceidade aos casos de extrema penúria é ób."io: os
moralistas e legisladores querem evItar furtas e assaltos lnd1s·
criminados, que violariam o principio da propricaade particular
e a paz da sociedade. Donde se segue que aos mendigos, como
geralmente ocorrem nas ruas das grandes cidades. nâo é licito
retirar bens alheios sem licença. do respectivo -proprietário. O
Papa Inocêncio XI condenou a seguinte propQsiçãQ de autotes
laxlstas: . :t licito roubar não só em extrema ~sidaae. mas
também em grave penúria. (Denzlnger-ScH6nmetzer, Enqui-
ridl. .. 2136 [1186]).
S. TomAs de Aquino, em sua Suma Teológica II/ n. quo 66,
art. 7, interroga: . Se é licito furtar por necessldade~. E res·
ponde:

-75-
7G cPERGUNTE E RESPONDEREMOS" 2'18/1985

c.Se ti I'IKessidade- for de tal modo evidente e impe,iosa que seja


indubil6vel o dever de obviá·lo com as coisas ao no5SO al<anc;e -
por exempl(l, .quondo corremos porigo iminente de morle e nCio é
polslvel nrl ...armo·nos de oulro modo - enlCio podemos licilomenle
aolidozer o nona necessidade com a. coisas alh. iCls, apoderando· nos
delos manifelta ou ocull<lmenle. Nem 101 alo lem propriamenle o
natureza de furfo ou rClpina • .

o S. Doutor acrescenta que não somente em caso de a-


trema necessidade do sujeito, mas também em extrema indi-
gência do próximo, é licito a alguém retirar os bens alheios
sufIcientes para que não morra: assim a mãe que não tenha
alimento para seu tllho POSto na iminência de morre[' de fome,
pode apropriar-se do alheio na medida do necessário para sal-
var da morte o seu filho: cEm caso de semelhante necessl·
dade, também podemos apoderar-nos da coisa alheia para socor·
rennas ao próximo assim necessitado" (lb. ad 3) .

b) Não é licito retirar mais do que o nccessArlo para que


a pessoa indjgente se salve da morte ou salve o seu próximG.

Por conseguinte. se, para escapar da morte, baste a alguém


tomar de empréstimo um bem alheio, não lhê é licito apro-
priar-se desse bem. Uma vez passada a extrema necessidade,
é preciso restituir o bem alheio, c:aso ainda exista. Caso não
mais exista I, os moraUstas julgam que não hã estrita obriga-
ção de restituir o equivalente ou de ressarcir o proprietário
(a inda que o indigente tenha condições de o fazer).

c) Mesmo em extrema necessidade não é licito tirar bens


alheios, se o propri(!tárlo cair também ele em extrema neces·
sidade em decorrência de tal gesto.

Esta proposição se explica pela principio 4:melhot' é a con·


dição de quem está de POSS(!:t (meUor est conditio possldentis).
Donde se segue que, se duas pessoas sofrem naufrãgio, mas
uma só (mais fraca e Inexperiente) possui um salva-vidas, não
é licito à outra pessoa. arrebate,r...lhe o salva.vldas, pois isto
colocaria o próximo em extremo perigo.

lOque G".lmente ocorre, pol. te trata, n. malorla dos caos, de


raUrt.r allmanloe pal1l matar e Ioma.

-76 -
ROUBAR EM EXTREMA NECESSIDADE? 77

REfLEXÃO FINAL

Vcrifica-se que o principio firmado por S. Tomãs de Aquino


e adotado pelos moralistas em geral tem fundamento lógico e
plausível. Para corroborar esta observação, podem·se citar OS
Códigos de Direito Civil que fo.rntulam o ml'!smo principio,
reconhecendo o cturto famêlloo, I.

~ preciso, porém. que o fato de se trazer à tona tal norma


da Moral e do Direito não se torne ocasião de maior número
de furtos e assaltos em nossa sociedade. Não sirva de justln·
cativa para que pivetes, ctrombadlnhas» e outros tipos de
ladrões recrudescam na prática. do mal. recorrendo falsamente
ao prlnclpio de S. Tomás evocado pela CNBB. A Campanha
da Fraternidade, por seu nome mesmo, tenciona avivar (lS sen.
timentos doe fraternidade entre todos os homens, fomentando
o perdão mútuo e a reconciliacão; jamais poderã servir para
Incitar uns contra os outros ou para estimular o furor das
ondas de assalto.

I A pallvrl ·furto· I' ocorre Improprllmenta. Tnlta.... de 11m roubo


mllerlalmlnle falindo, nlo, por,,", em .."Udo foJ'i'MlI ou ... ,Ito da pallvra.
Com efe"o, ,., "1vr10· nlo " algo da Injusto, RIo fara a justiça: por " lo nlo
" roubo p,op,lamanta dito.

-Tl-
NOTAS E COMENTÁRIOS

I. MISSA SEGUNDO O RITO PRe-CONCILlAR


Sabe-se que na Igreja existem grupos que se recusam a
celebrar a S. Missa segundo o rito promulgado pelo S. Padre
Paulo VI em 1970, de &cordo com os anseios do Concilio do
Vaticano n: o uso do vernáculo na Liturgia, a colocaçlo do
altar de frente para os fiéis, a maior participação destes no
rito sagrado . .. foram InovacÕes valiosas e sadias (inspiradas.
aliás, em rUos antigos) . que nem todos os cristãos entenderam
devidamente.
Ora, a fim de evitar a cisão desses fiéis, o S. Padre João
Paulo II lhes fez uma. concessão, que não derroga às verdades
da fé nem aos principios da Moral, mas visa a tranqUilizar as
consclênclas de quem está perturbado. Observemos que o que
está em causa nâo é o uso do latim na Uturgla, pois esta IIn·
gua é licita também no rito de Paulo VI, mas é o cerimonial
litúrgico promulgado por S. Pio V no sêculo XVI e vigente
até a época do Concilio Vaticano n.
Eis o texto transcrito de cL'Osservatore Romano», ed. por-
tuguesa:

Indulto para usar o Missal Romano 1962


No dia 3 de outubro. Sagrada Ccngregaçla pafll o Culto DMno enviou
uma carta aos Presidentes do Conlert~1u Episcopais, a respeito da cete-
braçto da Senta Missa legUndO o MINai Romano edlçlo de 1562, em vlr1tJde
do Indulto concedido pelo Santo Padre Joio Paulo '1:
Ramo, J de outubro de 1914
Prol. CO 68618"

excellncia Reverend'ssimo
Há quatro onOl, por vontade do 50nlo Podre Joóo Paulo li, OI
lIispol do Igrelo lodo foram convidados o oprel_nlor um relal6rlol
- lobre o modo como sacerdote. e fi'ls dos respectivos dlou".
tinham racebiefo <O Minol promulgado _m 1970 pelo Papo Paulo VI,
de acordo com OI decl.ões do Concilio Voticono 11;
- .obre OI dificuldades lurgldas na aluat;ao do reformo lilúrgico,
- lob,. os eventuais reslstênclo. que de .... rlom ler superadol.

-78-
RITO EUCARJS'l'ICO PRÊ-CQNCILIA R 79

o resllltgdg da C<lnsultgçõo foi en...iado o todos os Bispos Id.


No.lfloe, n' 185, dezembro de 19B1). Com base nos , uos respostas,
parecia que esla ...g resol ...ido quase- completamente o problema de
socerdotel e fiéis qUe tinham permonecldo ligados 00 rito trrdentino.
Pl:!rdurando o problema, o Santo Podr., no desejo de ir ao enconrro
também deS5es 9'Upo" oferece 001 Bispos diocesanos ti pouibilidcde
de ulufruirem de um indulto, pelo CJ1.Icl se concede aos sacerdotes e
também àqueles fiéis, qUe ,erôo Indicados no carla de pedido o ..r
apres.ntado ao pr6prio Bispo, poder.m celebrar (I Santo Mino, usando
o Missal tomano segundo a edição de 1962, observados po,ém os
seguinlas normas:
01 CGm toda a clareIa deve consttlr lambém publicomente que
eues Socerdah!1 e os respectivos fiéis de nenhum modo compartllholll
dos poslcões daqueles que põem em dúvldo o le.gilimldode e a exandao
do Minai lomano promulgodo pelo Papo Poulo VI em 1970.
bl Tal celebração seja feito somente para a utilidade daqueles
grupos qUe a pecam; nas igreios e orat6rios Indicados pelo Bispo I n60,
porém, nos igrejas poroqulob, ti nõo ser que o Bispo o tenho concedido
em COlai .xlroordinÓriosll e no. diol • n05 condicões aprovados pelo
pr6prlo Bispo, lo"to d. modo hoblluol como poro cada caiO.
eI EliaS celebrações d .....m ser feitos segundo o Missal de 1962
e em IInguQ lotino,
d I Deve ser e ...itoda qvolqu.r fusão e"lre os textos e OI ritos
dos dois Mlssois.
e' Cada Bispo informe a.la Congregacõo das conceuÕl!. pai
.Ie dados e, lranlCorrido um a"o da (oncenôo do indulto, ,efiro sobre
o bilo da suo aplicação.
E,to concenao, sinal do solicitude que o Pai comum lem por todos
os seUl filhos, dever6 ler usada de modo que nao c<luse pre1uizo à
observ6ncio fiel da reformo litúrgiça no vida dos respectlyos Comunl.
dades eclesiais,
De bom grado aproveito o opo't.. nldade para me confirmor, com
os senlimento! de diJtinlo estimo.
De Vono Ellc.l~ncio Re ... erendluima
de.,. mo no Senhor
t AUGUmN MAnR
Pró-Prefelto

., VlRGtuO NO'
5e<ro\Ó<io

-79-
80 .PERCUNTE E RESPONDEREMOS _ Z78J1985

Este texto dâ testemunho do profundo senso pastoral que


anima o Papa João Paulo n. O S. Padre revive, a seu modo,
a atitude do Apóstolo São Paulo, que dizia:
((Ainda qUe livre e'" relacõo a todo" fiz-me o servo de todos,
a lim de gonhar o moior número poulvel. Para os judells, fiz· me como
iudeu, o fim de ganhar OI judell'. Poro ol .q ue e$lão sujeitol à Lei,
fiz·me como se estiven. IUJeito li Lei. .. POfa aqueles que vivem sem
e lei, fiz-me como se vi....ue sem o lei. . . Para 0$ fracos, fiz-me fraco,
a fim de Qonhor OI fracos. Torn.i· me tudo para todos, o fim d. salvar
alguns o todo custo» liCor 9,19. 221.

11. CASTA MERETRIZ OU ESPOSA INCORRUPTA?


Entre os debates provocados pelas obras de Frei Leonardo
Botr, veio à tona a afirmação de que o escritor Onganes de
Alexandria (t 254) chamou a Igreja ((casta meretriz, : queria
assim significar que a Igreja é santa em si e COmo tal (pois
é O Cristo prolongado), mas carrega os pecados que os homens
cometem à revelia da mesma S. Igreja.
Como se vê, a metMora «casta meretrlu, como toda me-
urora, é deficiente; chega a ser paradoxal ou contraditória.
Ora existe nas obras de wn escritor contemporâneo de Orige-
nes precisamente a afinnação contrâria: São Cipriano (t 258).
bispo de Cartago, repele da Igreja toda corrup;ão e toda trai·
ção a Cristo, num dos mais belos textos que a literatura antiga
tenha produzido sobre o assunto:
cA igr.jo do Senhor . . . é uma 16 mãe imensamente fecunda·
Nascemos todas do seu ventre, somos nutridos com seu leite e onimo·
dos por I.U esplrito .
A espola de Cristo não pode ser odulterodo. ela ~ incorrupta e
puro, não conh.c. mais que uma s6 caso, guardo com cosIa pudor a
santidade do único t610rno. Ela nOI conserva pora Deul, enlrego ao
Reino os filhos que oerou. Que"".e oporto de Igreja e se junto o umo
adúltero, separo-se das promenas da Igrejcl. Quem dei,;o o Igrela
de Crista, nõa 0lconçar6 OI primios de Cristo. E um estranho, um
profano, um tni",~o. Nf50 pode ter D.ul por Pai quem não lem o
IsreJo por Mõ._ ISobre a Unidade da latejai.
Dita passagem relaUviu a expressão «casta meretriz_, qut'
jA por si é Incoerente, e põe em releve o aspecte mais genu(no
da Igreja: confonne o Apóst<Jlo, Ela é a Esposa sem mancha
nem ruga, santa e Irrepreenslvel (cf. Ef 5,27) , a qual não
desdenha trazer em seu selo homens pecadores, que podem des-
figurar a sua santa e bela face.
-80-
DESMENTIDO DO PADRE GERAL 81

111. COMUNGAR MAIS VEZES AO DIA


Em PR 277/1984 (oi publicado um artigo que analisava
o advérbio i~rum do eânon 917 do atual Código de Direito
Canônico. Após: minucioso estudo, concluia que tal partícula
não significa cde novo indefinidamente. , mas apenas cpela
segunda vez». Ficaria pcnnitida, portanto, tão somente uma
segunda Comunhão Eucarística por dia a quem participasse
de uma segunda celebração eucarlstica.
Pois bem. O teor de tal artigo foi confirmado por decisão
da Santa Sé. O jornal cL'DSSERVATORE ROMANO •• edição
semanal portuguesa de 11/11/ 84, p. 2, traz a seguinte noticia :

Pontifícia Coml ...&o para o Inferpretação out'ntico

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE O CODIGO


DE DIREITO CANONICO
Os Padres do 'ontlndo Comina0 poro o Inte-rpreloo;:ôo autêntico
do Código de Diroito Conônico considero,om que se de"a responder
como 5~ue, a cada uma dos dú"idas que lhes foram apresentadas na
reunião plen6ria de 26 d e iunho de 1984 :

I.
P. - Se. conferme o cânon 917, o fiel .que já , eube u a Sonti.-
simel Eucaristia, pode recebê-Ia na mesmo dio só urna segundo "el: ou
fodeu ai "el:es que participa da Celebração Eucarística_
R. - AOrmalivamente 00 primeiro ca~o . Negati"oment4! ao
Seglundo colO.

t Ros611a Costillo lora


Are. nf. de Prec..;nn;a, Pr6-P .... f.ilo
Juli~" Hemanz, Secretário

IV . DESMENnOO DO PADRE GERAl DOS JESUITAS


Correu o rumor, entre nós, de que o Padre Geral da Conl-
panhia de Jesus tomou posição contrária à da Santa S6 a pro-
pósito da Teologia da Libl!rtacio. Ora o jornal tLa Crolx. de
Paris publicou a 1/11/84 a seguinte noticia:
-81-
82 . PERGUNTE E RESPONDEREMOS» Z78/1985

cO Pe. Pe'e,.Hans Kalvenboch, Geral da Companhia d. J"US,


de volto CI RomCl ap6s uma via,gem CIO Brasil, à Venezuela e aos Estados
Unidos, dumentiu formolmente ter falado com um jornalista de New
Yorlt n_ o respeito dos 'aspectos negativos do. decloroçÕes romanos
concernente. o alguns ospectOI da teologio do libertação' ILa Ctolx.
de 30/ 10/ 8.(). Ao contr6rio, no .ua entrevisto o Pe. Kolve nbodl co·
menlou 0$ ospectos negativos do leologio do libertoçõo de ~ue Irolo
o Instrução do Sanlo Sé dotado de 3 de setembro pp., manifestando
suo expeda'iva de outro documento ,eferen'. ao anunloJ.
O JORNAL 00 BRASll., por sua vez. publicou a noUcia
deste desmentido em suas edicôes de 23 e 25/11/84.
Para melhor ainda elucidar o caso, a redação de PR
escreveu à Cúria. Geral da Companhia de J6US em Roma, pe-
dindo esclarecimentos sobre a posicão assumida pelo Padre G4....
ral Peter-Hans Kolvenbach diante dos debates sobre 8 teologia
da libertaçio. Eis a resposta enviada a tal solicitação:
Roma, 22111 / U
Coro D. Est1v80. o pOl': de Cri.tol

Estou autorizado a enviar.lhe, em nome do nono Superior Gerol,


a dedoroç80 por ele felta acerco do Inslruçtio da Sagrada Congrega-
ção pilHa o Doutrina da Fé sobre alguns aspedos da teologia da
libertação. Sempre COI'll a tlpravaeõo do Pe. Geral envio-lhe ainda
fotocópia de um artigo do Pe. Virginio Rotondi S . J., publicada h6
poucos dias num dOI moio rel jornais de Romo, 11 Tempo, e que o Pe.
Geral, ... sub"r.ve inteiramenle.
Com o envio deste mOlo:rial, creia ter satisfeito 00 seu pedido .•.
101 Pe. AlucmderA. Madntyrt" 5 . J.
O artigo. atrlls mencionado, do Pe. Vlrginlo Rotondl S . J .
lnclui, em sua pam final , a Declaração do Pe. Kolvenbach a
respeito da Instrução da Santa Sé relativa à teologia da liber·
tação. Transcrevemos, pois, aqui os trechos prindpals de tal
artigo:
Em QQ dos .. otlcios • das enh'ewlllas. da Agindo .\DISTA.
QUANDO A INfORMA:ÇAO , DADA EM SENTIDO ONIOO
Pe. Vi'1llnla Ratondl

Convido os cat61icos o ler as noticias da A.gincio ADISTA ... =


tefão em todo. OI exemplares, sem exceção, o amostragem de como
.e pode lomor partida por uma frenle contra outro frente bem re·
conheclv.!, donde ,•• ulla a Querra ...
-82-
DESMENTIDO 00 PADRE CERAL B3

A Allcncia ADISTA ... não é amblgu(li é I(ltalmenle, e em todol


os sentidos, partidório de uma frente; é, 'e quisermos 58r precisai, uma
revbta cotidiana dos calo.comuni,tas .. que Paulo VI, sem cerim6nial,
chamavCl 'traideres '. Em ADISTA há sempre e'paco pel'o católicos dCl
dissensão : sacerdotes, meio-.ocerdotes e eX-$Ocerdoteli; besta que falem
mCl! do Igreio uno, IClntCl, cCllólicCl. aposlólica e romana; aqui o ten-
denciosidode dos informocães se torna tão evidente quonlo - com
a devida v'nio _ infantil e adolescente. A própria tendendo,idade,
141 quer entanlror aceilocãa, lem os seUl IimUes. O Papa Clluol, por
exemplo, é - paro APISTA - um 'JOPO' que elos nõo conseguem
e"ielir. Em conleqülncio, hár o lillncio, o elColha sogo!:, o manipulo-
cão propriomente dito com ref.r6neio 00 mesmo: citam textol foro dOI
respecllvol contedos, contom pormenores extraídos do conjunto dOI
fotos .

A Agindo ADISTA aprenau-se em resumir nOl nl. 5· 6·7 novembro


uma entrevista concedida pelo Podre Geral da Companhia de Jesus ao
New -York Tlllftes, propondo o seguinle leafl

'O Pe. Pute,· Hon. Kolvenboch, Preposto Geral da Companhia de


Jesus, em enlrevisto concedido ao New Yorit Times de 28 d. outubro,
expressou pleno .olidoriedode 6 o~ão dos iesuilos no América Cenlrel!
• latino, como referem OI Agincios noticiosas. O. iesurtos que Ito-
bolhom naquelas regiões lulando lPelo igualdade social 00 lodo dos
faixos mais pobre. do populClcão, são frequenlemenle tachados de
filo-comunislos . O Pe. lColwnboch enfatizou que o Igreio nCio teria
concebido amor preferencial pelai pobres UI na América Lolino OI
i_IUIIOI nao livessem lornCldo evidente a neceslidade do libertacão.
Ne"e conle.. lo ele chamou O ole nção paro o imporlõncio do teologia
do liberlocão, cujo. ensinomenlos devem :ler reconhecidos co,"o
possiveis e necessários. O mesmo Pe. Gerol declarou-se desiludido
pela recente tomado d. posição do Vaticano que critico o recurso do
t8Ol0910 do liberlatão à análise mor..;sla. Pois, upli~. pode haver
,ituoci5es nOI quais 'eja absolutamente nKeuário fozet uso do termi·
nologia II'IClrxillo o fim de iluslror os condições econômicos e sociais'.

Devo dit.., qve quase- nunca confio nos colegas iornolistos entre-
vislodores lo menos que os enlrevistados dêem por escrito o. suas
resposlo', exigindo Miam publico dos lem cortes nem ocr4iscimosl.
Quando a .ntreviltodo 'e limito a .folor enquanto o jornalista tClmo
nola, d6·se o risco de ter .q ue recorter à relificação; eslo gerolmenle

I Cel0-e0muoltUl = Çltõlloo comunliltl. (NoC. do ",.dutor).

-83-
84 . PERCUNTE E RESPON'DEREMOS:. 27811985

é publicada, mas - salvo roros exceções - com a acréscimo de uma


resposta dada pe lo enfr.vistCldor para fa~er crer oCl leilor que ele lo
jornolillal foi fi.1 • qve o m.ntirosa é o entrevistado.

Se fito pode ocontocer em uma enlrevisto genuina, imagine o


leitor o que OCOfre quando li rOlumido nõo pela Agindo ANSA. nam
pele:. ITAlIA. nem pala AOH-Kronos, mas por ADI$TA. Segundo e,Io,
o Pe. Kol"onbach _ oleito f.,lminantemente (no primeiro OSCI'utlniol e
imprevistamente Gerol do Companhia de la.su! - aparece pratica.
mente de aalrda com o 'confusionario' le610go que f,a~ o nome de
Po. 8off, favorQvel 6 an61ise m~mtilla na açQo e na I.,ta - cri,'ã -
contra a inlustico soda I que reino: na América lOlino e, infeli:r.mento,
também alhures,

Todos o. 26 mil leluhol - inclu$i"e eu - receberam e leram


a Dec!oroç&o que o Padre Geral elerevou o propó.Ito, o s(lbo..,

'Todos aqueles que, olraldo, pelo opçiio preferencial pelos po-


bres, sofreram no!;tos últimos anal por COUIO de confusões doutrinórias
e de desvios ideológicos na luto cristã pela justiça, acolherõo COm
grotldao este documento do Santo Sé I .
Purificando com clare~o apostólica o discurso de alguns IleÓlogol
do liberlaçgo. o documento contribuiu positivamenle para a elabora-
çõo de autlntico leola",ia da libertação humano (I ser praticado na
boso de e"polilndo sócio-pastoral,
o documento niio le esquoce de fazer apolo â comp~lênd(l dos
especialistas em economia. financoI li! político sacio I. Juntamente com
o esforço dos 'o6log0l, é necess6ria (I contribuicõo d~Hes especialistol
,e não qver qve os pobres (orrom o risco de permanecer pobrel',

Eil a I o "ordgdeiro Pe. Kolvenboch. As 'entrevistos' au, piOf


oinda, OI 'relumol' niio me interellom em ob$olulo:.,
Como se vê, a própria Companhia de Jesus. por sua Cúria
Geral, desmente as declaracões Que tendenciosamente a Agên-
cia. ADIST A - conhecida como parcial e preconceituosa
atribui ao Pe, Peter-Hans Koivenbach S.J.
Estã assim dissipado o doloroso mal-entendido.

I Trata... da Inllluçlo Ubert.etls NunUUI, publicada a 3/09/84 sobre alguns


e l peclot de Ttologll ds Llbart.~o,

- 84-
PlSOTEAMENTO DE CRUZ?

V. PISOTEAMENTO DE CRUZ?

A imprensa. tem publicado amplamente comentArios de


personalidades a respeito de incidente ocorrido a 15/ 11/84 em
Santa Cruz do Sul (RS), por ocasião da celebração dos vinte
e cinco anos da respectiva diocese: terã sido então pisoteada
uma cruz. tida como simbolQ do sistema sócio-politico vigente
no BrasU'! - Se a cruz; foi assim profanada, a indignação mais
veemente não pode deixar de se apoderar dos corações de
todos os fiéis cristãos; mereceriam séria punição OS que tives-
sem assim procedido.

Eis, porém. que o boletim _Noticias> da CNBB. em sua


edicio de 29/11/84, n' 756, p. 2, publicou um desmentido, que
vem a ser a palavra oficial do Sr. Bispo de Santa Cruz do Sul.
Eis a noUeia :

NAO HOUVE CRUZ, NEM PROfANAc;AO: declarou o Bispo de


$anla Cruz do Sul, Dom Alberlo EIges, esclarecendo a repercussão do
celebra~o jubilar do, 2S ano, da Instalacão da diocese e posse do
primeiro &i,po, a 15 de novembro de 1984, no e,'6dio de fut ebol da
cidade, com dez mil participantes. li) - cOs quadrol representativoI
da vida do povo da dioce.e foram umQ dedlõa do Conlelho Pre.bilerol
Diocesano, nCl reuniao de 24 e 2S de selembro, qUClndo diversos co·
marcas OJlumiram a apresenlatào; (2) - No segunda quadra, pre-
parado e opresenlada pelo comarca de Lajeado, não havia crvz p'"
sente, multo menos o '""-'são, de quem quer que sela, de profo"6-IQ;
(31 - A divulgoc6o Infundada do nOllcia, pela imprenla, de que
houve profanação de umo cruz, bem moslro a malignidade do liltemo
que se quis condenar: 141 - O Bispo conlinuo no lua mina0 de
.,Preporar Utll Povo Penelto_ e leVOf o bom lor ... o OI cono:!."õe. dQ A'
As.emb"ia OioeesClna de Pastorob, diz o cDedara~o 00 Povo de
OeuIJ d. Dom Alberto Elge, .

Diante de tal declaração assaz categórica e proveniente


da fonte mal, limpa, podemos crer que nâo foi plsoteada a cruz
(slmbol0 da Redençio e da esperança dos homens), mas con.
tinuamos a julgar que houve manifestações sóclo-pollticas inde-
vidas numa solenidade religiosa. Tem-se assim a poUtizacáo
que o Documento de Puebla e a Instru~o «Llbertatls: Nuntius ~
condenam categoricamente: cCumpre salientar aq\11 o risco de
ldeologização a que se expõe a reflexão teológica, quando se
realiza partindo de uma praxis que reeorre à análise marxista.

-85-
""',-_ _-,."P-"ERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 278/1985

Suas conseqUenclas são a total polltimção da existência cristã,


a dissolução da linguagem da ré na das cIências sociais e o
esvaziamento da dimensão transcendental da salvação crlstã~
(D? n' 545).

LIVROS EM ESTANTE
Cllncla e FI Face • Face, pOf O. estAria Pl8rantonl, O.S.B. - Ed.
5anlu61lo, Rv. Pe. Claro Monteiro 3-42 - 12570 - Aparecida ISP ) . 11184,
155 X 220 mm, 2M pp.

o aulor 6 monge beneditino eamaldulense, que h! ano. axalee o


mlnlltérlo ..eerdotal em Mogl das CnlDI 11 se tem dedicado a08 estudos
com grande zelo. Procura defenda, I fé católica das objeções lavantadas
pela ellne" ma.arlalls". Para tinto COMldor. I. obras de aulo'es. que, Im
nome di cllnc~. Impugn.rlllm I doulrlnl católica ti aponta as 'alhas ou ai
Incoerlnelas d. tlll ..tudlosos. Entre 1.les, acham-se Edgar Morln, Edwerd
O. Wll3on, von Dll1urth, O8wal<1 Loretz. Rlchard leakBy, Gari Sagan . . .

A Intençlo do .ulor • •I... mente louv.vel . O livro contém pjglnu


Intarllunte. que expõem o penlamanlo da clenUslas dl\/BflIOfI. e oulral que
moatram • Inellcltncla da alu, argumento.: em v6rlos ca.os ae r' ~UI aft
r.llor. Tod.... I••Igum.' oba.arvaçCIIs parecem Impor-sa:
1) "ri. per. dueJer que o autor focalizasse de maneira mall ampla
cada qual dos pontOI esludados (o !anOmlno religioso, I evoluçlo da
matéria I dos vl ..... nt ••• a alml I .uas lunções espirituais .•. ): nlo se restrln·
gw apenu a considerar um clenUst. nAo crlsllo fi 8 relut6-lo.
2) A ,.Iut.çlo plrdl um tanto da sua força palSuas..... porque Vllad.
num. linguagem por veHlllr6nlca, .gress..... : cl. PP. 20. 165. 18()..183. 207 •.•
Logo no Inicio, pp. VIII-XIII, o aulor parlC' depr.clar os ubloe • eruditos
por proflnlo, os prolessorel catedr'lIcos. À p. 165 IHa: ·Os axegeta.
progressistas . .• f.um mult. confuslo 11 comem gato por lebre" - o que
nlo li linG uagem de um cientista.
3) O livro col'ltém v"I., Impr.cls6es o... nrmacl5es Inexalas do pon.o
de vllla da prOprla doutrina católica: assrm, por exemplo, as pp. 2105 admite
Inteligência. racloclnlo no (104'111 • no chlmperu:ê (o que li tnaceltAval, po'-
"lO l uporl. em ta" ",Ivanlea um•• Ima Inlelectlva espiritual; equllo que 1.18
a nlmala pouuem, , um (nstlnlo muito dassnvoMdo I. A p_ 204, I....
"PonUflclo InsUtulo B/bllco· Im vez de "Ponllllcla CominA0 Blbllca". li.
p. 164 o toml,mo é tido como ·um tipo de revelaçlo dMNI pare a Igr.).",
o que li sQgerad(), A p. 164 o autor allrma que "[)eus com o seu próprio
dedo .screveu • C&11I Magn., Que é o Dec6logo, nll$ du.. Il.bu .. d. pedra
de Molde. cllou um código IItOlglco. morar e eM/, 8 até normas IIlgltnlea.":
ora tais conc.pç6es nlo correspandem • lIIoç1o de Insprra~lo blbllea QUI
11 .. doutrina clUóllca prof.....
4) Em relaçlo" Blblla • li cultura, anllgas, o .ulor parece um pouco
simplório. A..lm, por exemplo, nlo •• ri como aUMe",vl' • tio clttgórlca ,
aflrmaçlo: "fiar. e)(prlmlr conceitos rellgloa.os ti d.scr ..... r •• obr.. da Deus

-86 - '
(por exemplo, a criaçaol, a IIngua hebraica nAo precisava absolutamente de
flguras IlIerulu lomadas de outr'l IIngu.. ~ CP. 165); ora labemol que u
verdade exlslem "lo poucas figura, Iftar'rl.s de idiomas ~Irangelros dantro
do hebraico blblfeo! a figura do ovo do mundo (Gn 1,2), • flgura do Deu.-
-O/elro (Gn 2,7), • Ilgur. cs. 6rvore sagrada (Gn 2,17} ...

Multai outras observaç6es poderiam ser tecidas a respallo do conte(ad.o


do livro em loco. Cremos qua am v~rlos pontos ele atinja o seu objetivo,
mae jutglmol que. obra nlo 'r UM o eami...ho mais adequado e persllUivo.

R e Compn:i(lnillo, pot Fr. 81111511ni. - Ed. pr6prr., Ce.iq pos-


1.1193830 - 25900 - Mao. (RJ), 120 X 180mm. 1n pp.
Ela mais um 1IYf"0 d8 grande pastor e catequista, preocu~do com •
formaçlo doufrln'rl. do povo d. Deus. As ebras da Fr. BattisllnJ apresentam
.empre as noçOes b'sk;a da lé • da Moral crista, visando b quealOel
concretas dos 11618 católicas 11 procurando aludé"'os B mante' viVI alUI
crença num mundo pluralista como o nobO.

o lI'no em pa..,t. apresenta prlmolram.nte uma slnt••• ÓII' verdades


do Credo, ...p"~d •• com ,lmpllc1dade e clareu (pp. 11-136); • Ngulr.
considera a 'lIca do crlsllo no lar, na prollsslo, na pollllca, lermlnando
com um resumo da doulrlna socIal d. IlIrela (PP. 137-176). Após cada
capitulo ou lIçlo hi um queJtlooérlo, que ajuda os. leitores a tester • aUII
aprendizagem. O auler sague, atraY4s de suas páginas, as dlretrfz.es di
Conferênela Nacional dOi Bispos do Brasil propostas no livro ~Catequese
Raoovada-. Multo oportunas slo el conslderaçOes do auter sobre o uso d.
Sibila, o putular das salta. , a Indol. da Igraja de Crie to, a 'aologl. da
llberiaçlo, etc.

Só podemos coollralular-nos com Fr. Battlst!nl por mate ula volume


de sua ji numerosa coleçio, lO masmo I.mpo que recomendamos vlvemanle
o 1150 da I.r livro por parte des fli" do pcIV(I de Deus.
... FOfÇI ela Cruz, pOI Eellth Steln. Coleçio "Oliaaleoa da &pirlt..,all-
dada-. - Ed. Cidade NOY1I, Rua Cel. Plullno Carlos 29 - 04008 - Slo
Plulo (SP) . 105 )( l60mm , 102 pp.
Edlth Sle!n e uma ligu,. Impnlllllonl"le do ...osso século. Judia 8 11mi.
Iom_ alha" 1 rellglJo da .. ..,1 pais, 11 passou a esludar filosofia na
escola lenomenológlca de Edmund Husserl, A08 poncos, pelo caminho da
I'IIclonettdade fll0a6t1ca, 101 dascobrlndo OI v.lo.... cristlos ali." ..,.ng6llca.
Pediu entlo o batismo. a faz"'e hellglosa carmallta com o nam. de. Irml
Tal"lrll. Benedlela a Cruea. Todavia, colhida pala parseguiçAo nazlsla, laleceu
1"10 campo de conr::entraçlo de AusellWllz..

O Pfallnta Il\Iro 6 uma a ntologia de 18..105 dessa grande Religiosa con-


lemplatlva, d.vlde eOll culÓlldos de outra Cannelita 0""1 Teresa da Mia de
Da",,) a .p..... n..da por Frei Pltrlclo Scladlnl, O.e . D. Varsa prlnelpalment.
sobre. Cruz, que lanlO mareou a vfda de Edith Sleln: trata lambAm de
eraç10 e medll.~lo, viver na Eucaristia, abandono" Provldencta Divina, .Ic.
).. guisa da amostragem, Iraolcrll\'8mos OS seguinlft t.xtos: -Oull seria a
oraçlo de Igfl!lJa ao 010 IOlse a anlregl pl.na dos grande, amloles da Deus,
quo é amor?~ (p. 78). "A oraçlo da Igre}a 6 a oraçlo do Crlslo vivo. Ela

- 87-
138 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 278/1985

lem seu modelo n. oAlçlo de CrlslO durante SUl. vida hum.n.- (p, n), - Nlo
•• aUvldada humana quI. nos pode ajudar, mas o sofrlmenlo de Cristo. "
meu ardoroso duelo lar palllclpaçio nele" (p. 1001.

o livro e mul10 lecundo corno 10nle de esplritualldade. Alem do ~,


• um "",rco Importante no dltlogo religioso entre judeus e crlallol.

o camlnllO. 51ft'... da OCII.trlfla emll plrII "dulla., s.ob I. responsa-


bilidade da Provlncla Eclesl6all<:a de Alagoas, - Ed. L.oyola, SIo P.ulo,
198", 116 )I. 170 ",m, .... 2 pp.

Estamos Mlmpl' • procura da um bom compêndio da doutrina cal6lla,


..}a. para a catequ... de crianças, seja para I. da oulras fal ltllS .'irias.
Muitos Ilvroa '6m sido publicados neste ••,or, mas portado.es de gnlves
lacun.. - o Que tam preoeúpado a Senil SiI.

o pr.senle livro tenciona ", um. tentati va de atendor .....teqU$$8 d.


I.dunos sob • responubl1ldade da Providência EclesluUca de Alagoas
(arqu5dlooeae d. Maceió, dloc.... de Penado e Palmah dos Indlos) . Nlo
Incida no horlzontallsmo de obras semelhantes, que omitem ou empalidocem
pontos Importantes da 16 católica. Todavia poderia ser mala elpllclto em
alguns pontos. Llmlllimo-noa . . .slnalar a abordagem do pecado o.lgln.'
(op. 59-62), que no. pareea auetnta demais: nllo lrala aullclentamenle da
JUltf9a orlgln.1 e do algnlllcado d. queda na história d. ..1....
~loi
Inserida num contexto de "direitos e liberdade do homem" (I'. 49-551, onde
"I'
do transcrito. os Irlnta ertl{lM d. o.ela,aç.lo d05 Direllos Humanoa prl>
mutilada pala ONU; 'Sll/n se misturam questões lundamentala da fé católica
eom quest6ea de Moral aoclal; Julgamos que t, ,am <:I(ivlda, Importante tralar
da Moral Individuai e .oclal: mas malhor seria dar e esta um lugar próprio
ólPÓI a con,lderaçlo expllclta. caUda e clara das vttrdades da r.. Seria
preciso qua O I crlsllos cont.ecesaem mais a fUndO as proposlçatla do Credo
como tall em SlIa graneMUI própria, e nlo apenas am funçlo de nOrmal de
'ttlcl.
Delajamos louvar, pCf'm, quanto nesle ateclsmo • dito a respeito de
.outros pontos de doutrina e da vida sacr.mental, espaclalmante no tocante
*
Reeonelllaçlo I EucarIStia, . . . a respeito da or.çl.o I do ele)o litúrgico .•.
*
O Aplndlea, ql.Il • um pequeno manual da piedade eatóllc. (c.om a ....1011-
uçlo do Rodr1o) • preeloso. - Fazemos volt.! pa... que ·0 Çamlnno" SI.'"
revl l to e completado, a fim d& pOder preencher plenamente. nobre rinalldada
que lho Idaallzaram o••eua reclalOras.
E.• .

-88-
EDIÇOES " LUMEN CHR "ISTI "
MOSTEIRO OE SAO BENTO
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TOdavia. pa" milho. conllole solicitamos a copia·.ero. cio recibo do


!Banco ou um .viso POI cartl . e logo remeleremos o nosso recibo.

Os pagamentos em V.le POSI.I 880110 cheganO'o nOlmalmente.

Agradecemos fi col.bolaçAo dos nossos teilores como estrmulO paI'


~\/ormos avante a mlsslo na Qual vem se empenhando. Aevist. 11' Quase
A Adminlttrlçi o

NOVO ANO LETIVO SE APROXIMA - '"5

Oue 1I\I'os .dolll pari os Cursos de Teologia fi liturgia?

RIOUEZAS DA MENSA.GEM CRISTA 12'" 00.1 . por Dom CIrilO Folcn


Gomes 0 . 5 . 8 . ".Iecldo I 21121831 . Teólogo cooceitlJldO , .. ulor de
um lIalado comp lelO de Teologl, Oogmaliea. comentando o Credo do
Povo de Deus, promulgado pelo Pilp;a Paulo VI, Um . Ien •• do volume de
700 p ., MS! seU,r ele nossas Ediç6es. cuja I,aduçlo espanhola Ulb
sendo p'epl/'d. pel. u niversidade de Valência - Cr$ 12 . 000

2 A DOUTRINA DA TRINDADE ETERNA, do mesmo Au 'or O signillcado d.


npr ....o " T,ls PIII0;8S", 1979 . .. '0 P. - CrS 6 . 000

:) o UISTIlAIO DO DEUS V IVO . P. Palllo" . O P. O AU lo, lo; eXllmin.dor


d a O. CirilO para li conqulUII d a léu.ea de Doutor am Taologia no
In5l1lulO PonlillclO Sanlo Tom,", de AQui/1O em Roma. Para Prol,ssor"
• Alunos de Teologia, e um Tralado de "Deus Uno e TrIno·, de Olle"'"
ç~ lom;"a e ÓI lnelo!. did6Iic. , 230 P. - CrS 6 . 000

.. UTURGIA PARA O POVO DE DEUS 13" ed .• 1984 1, pelo Saleal.no Dom


C.rlo FloUI, Irad uç'o de D. Hlleeb'-IIIncto P. Ma"lns. OS6. E<llçlo
IImpll.da e atu.liz.da, .pra' ln.. em llngu agem simpleS lode • oou"i".
d. Con.tltu~io Lilúrgies do Vlliclno U. ~ um breva manual piI'l uso
do Semlna,lo., NoviCiadOS, Col6gios. Grupos de rel1e.60. Relhos elc ..
216 P. - eis 4 .000,

ATENDE·SE PELO REEMBOLSO POSTAL


.'
MOSTEIRO DE sAO BENTO

NOvtDADEI Grande Álbum de luxo em eslo}o : formakJ 36,5 x 28


Obra da arte, com lexlo em portuguêS e inglês por Dom Mlrcos
BarbOM. O . S . B.
Delotfo fologr.nu .rllstlc.s (pteIC)obranco) por ~go leal. o ","mo
que fotogr afou 0111'0 Preto 11 Salvador - eahia.
Como nem todOl podam vir ao Rio de Janeiro ou peneirar n.
cl.Ulur., pOderio ço nludo admlr.r a belaJa .rqultet6nlca des.a
monumento colonial do Inlelo do s6culo XVII.
EdlçJo "lumen Chrl$tI - Cr$ 120.000.

NOMEAOS AVU LSOS DE P .R.:


11M: Janeiro/fevereiro; Maio/Junho; setembro/Outubro:
Novemb ro/Du8mbro - cada mImara . • ..... c., 2 .000
Ano. anteriClfM: ~ mensal •.•.••.••.•.. . •.• . •. .. COS 800
blme.tr al C<S 1.500
Indicai: de 1957 ,a l!i1n - em )(Irer _... . COS 3 .000
<N '978 • 1982 - ImP,..MO . . . ..... . .. . Co$ ..500
eoleçlo eompreta de 1983 ' . 1984. encardenedas em
pete.tlna ......... . ....... ,", . . C<S 25 . 000

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