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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatls Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Benencourt. osb
(In mamariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LINE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razlo da
nossa esperança a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.
.......
" .
\listo Que somos bombardeados por
numerosas correnles filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofUndamonto do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda QuestOes da atualidade
controvertidas, eluddando-as do ponto de
vista criatAo a lim de que as dúvidas se
'-<1':.11 ~ .• dissipem e a vivência católica se fonaleça
- ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splenclor que se
encarrega c::Io respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Esr.vIo Bettfmcourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATlS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica ·Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publicação.
A d. Eslêvão Bettencourt agradecemos a confiaça
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zalo pastoral assim demonstrados.
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TEOLOGIA OA lIBERTAÇAO .. , ........ . ... , ... •......... ,.. . ... . 10 ' ~" .
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PROGRESSO E TRADIÇA.O NO CRISTIANISMO ,.... . ..... . .. ..... ti
MaIt 11m 'imOlO Olme:
"O St!rIMO SELO" •..... .. ... . . , . . , .... , . .. .......... . . •.. • ....

EST.-\NTE DE LIVROS . . ... ".•. . ..... ..... . ..... . ......... • ,. .. . .


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ceM APROVAClO EClESIJ.8TICA

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NO PRÓXIMO NOMERO 1
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"Cristãos para o Socialismo" ? - Adventlstas do Sétimo 018. :. X J
- Casa mal-assombrada? .~
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.PERGUNTE E RESPONDEREMOS.
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Assinatura! anual , .. . .. .. . . "", .. . , . ..... . . . . . ... . .... . Cr$ 50,00 .
Núme['o avulto de qualquer mêl ., .. . . , . .. . ", .. "...... Cr$ S.OO .:/
Volumes encadernado/j de 1958 e 1959 (preço unltArlo) ... Cri as,oo
Indlcc Geral de 1957 a 1964 ... .. . ........ . .... , . .... . " .. Crt 10.00 ,'. ' ~: .~

EDITORA LAUDE8 S. A. '.'


,. . " ,.

REDAQAO DE PR
Cdu. Postal 2.8M
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!O.OOOIUo de Janeiro (GB)
-
N. OB. à Rua Real Oranaeza 108, a Ir. Mari&~-"bi&I~i.l!l'
tem um aepó5lú> d. PR • recebe pe<lJd.. ele _
....-. ToL: ZZ6·1822.
R E C O NCI L I A ç
Em vista d. Inauguração do Ano Santo de 1975, o S. Pa·
A,....o--
dre Paulo VI pubUcou aos 8/XIl/ 74 uma Exortacão Apost~Uca
à reconclllação... no Interior da Igreja. A mensagem de
Natal de S. Santidade, completando essa Exortação. tratou da
união dos povos e da paz universal.
. Reconclllatão dentro da. Igreja... Propondo esta meta
com palavras incisivas, o S. Padre Paulo VI unha em mira
certas atitudes que hoje em dia são cultivadas por fiéis cató-
licos com grande prejulzo para o bem pessoa} e o bem oomum
do povo de Deus.
E quais seriam essas atitudes?
As próprias palavras de S. SanHdade pennltem ossIm
responder:
1) HA aqueles que hoje em dia se afastam abertamente
da Igreja, criando ou não grupos religiosos Independentes.
Aliás, sempre houve quem assim procedesse no decorrer da
história. Tal atitudll, po~ não é nova. Mais surpreendentes
são as seguintes:
2) ExIstem os que nlio se afastam fisicamente da Igreja,
mas, nela permanecendo corporalmente, vivem fora dela por
seu modo de pensar, falar e agir. Dtntro da Igreja. impug·
nam os seus legttimas Pastores como se estivessem sendo
infl~1s a Cristo. Entre os rléis leigos. disseminam 8. contusão
mediante teorias estranhas ao Esplrito de Cristo; utlllzando $I
palavras do Evangelho, alteram o sentido das mesmas. Plante
de tais fatos, dlz S. Santidade:
-Oburv.noe com po.ar .... "11Ido de ccls._ . _ Hlo pode"'9S
dob:ar da nos HOua' com IJ .rgor d. 810 P.,.lo conto. . . . . 'altll d. I....
dada li dll JUltl98- DlllOllII" um apelo • todos OI crl.tlos de boa VOm.d1l
pn qlle nIo •• dellCWfl tmpreNlanar nem cSasolranla, fal .. Indevida p ...-
t6aa. de Irmle» que Im.llzmenla .. d_laram • qu... 1110 obtlDnI., pM.
manaeem ..mpre pce..nta... Mil. pr.ce li p:6xJmos 10 I\OSSO eo:~o".
Possam l1'SSeS dJssidentes restâurar a sua comunhão lo6ma
e profunda com a Igreja!
3) Há ainda aqueles que afirmam não haver difClrença
entre «estar dentro. e cestar fora. da Igreja. BastarIa estar
com CrIsto no intimo do coracão e entregar-se aos innáos.
principalmente aos mais pobres. anl1nclando-lhes a Boa·Nova
da UbertaçáO'. A Igreja de Cristo não serla a Igreja Institu-
elona1, mas a Igreja cdo mlstêrio:t. lnvis1vel
_1_
A quem ass..im pensa, o ConclUo do Vaticano fi deixou u
seguintes ponderacõe5:
"O Sanlo Concilio volla o .tu pemamenlo, em primeiro lugl', pIII'
"' fUI, c.l16I1cOt. Apoiado n. S81JI'lIda Elcfllul'll • N Trad$~, .......
qw ula Igre,a IMlegrlnl 6 n~"'rla par. I allv891o. O OnJc:o 1hcl1acIo,
I o caminho da a1l1l8;lo , Clillo, que .. no. loma pra,ante no IM! corpo
que , • Igr.Ja" (Co".t. "Lumen Genllnum" ,,' 14).

o C<lnclllo tem em m1ra a Igreja peregrina. isto él aquela


em que o joio cresce ao IDdo do trigo; não se trata de umQ
Igreja espiritual, tnvisivel, desvinculada das vicissitudes da hIs-
tória. . . Pois bem; o Concilio afirma ser essa Igre'a lndis-
pc:nsAvel à salvação dos que n conhecem como tal. Por qul!!
- Porque Cristo é o único Medladol' entre Deus e os homens;
ora Cristo está presente a nós em seu corpo prolongado que é
• Igreja.
4) Por último, o S, Padre menciona a atitude daqueles
que modo especial se dedicam ao estudo das proposlçOes da
(~ e julgam poder rclol'mulâ-las ou .redescobr1-las~ segundo
critérios heterogêneos ou pcssce.isj não levam em conta a Tra-
dição cristã e o magistério da Igreja, Que goza da promessa
de assistência do próprio Cristo (cf. Mt 28,20; Mt 16,1&1).
A esses estudiosos lembra o S. Padre quc cada desvIo da
lUlldade da fé implica também \Una baixa no amor ao pró-
xlmOj a procura da vã glória se substitui 80 cultivo da comu-
nhlio fraterna. Mais: o csplrilo de oraQio sofre sempre que
a fé é arbitrariamente reformulada.
Depois de haver enunciado tn.ls aUtudes de desmembra-
mento da unidade da Igreja, obselVa o S. Padre Que elas 560.
em parte, o rcncxo do que se dâ na sociedade civil de nossos
dIas, fracionada. em grupos que se opõem entre si. Todavia
acentua Paulo VI que a Igreja deve conservar a sua originali-
dade de famllia unida na diversidade de seus membros; ela.
deve ser o fennento que ajude n sociedade a reagir, reall2ando
o que se dizia a respeito dos prírnciros cristãos: .tVede como
eles se amam!,
A intcrvcn;ão de Paulo VI em prol da l.'econclliaçiio,
abrindo o Ano Santo, não pode deixar de calar fundo no cora-
çá() de todos os fléls católicos. Ê hem de concebennos o
Inquebl'antável propú;lto de nos reconclliannos.. . reconci-
liarmos com Deus e com nossos Irm5.os, qualqU4~r que tenha
sido o tipo de ruptura Infllgida à unidade!
E.B.
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XVI - Nt 181 - Jan.lro de 1975

o. curso. se muHlpllcam:

que é parapsicologia?
Em ,Int-t Um ... multiplicado os cursol dltol "di P.rapslcol~
gl.·.. que prop6em ou I",tnuam oflcl.lmenle tes., .lpl,I!I' (oper6;&M
tMdlllnlcU, ~omunlcaçlo com a. morto. . . • ) em nome de'luola clêtIClI.
Ore a Par'pllcolOgla, apÓl • erlenlaçlo qUI lhe dlu o '.1,1grande
meetre JOMph alnks Rhlne Im 193-4, . . . cl6ncla qUI ••Iuda o compor-
tamento patIInormll (par' ~ lO lido di, em prego) ou comportamenlo
dO pllqu"mo humano qUI ocor,. .o '-do do n.o:mal, sob • Inlluêncla eM
'atONS IInQule'" cotno hlpno.., t rans. , lugeaUonemanto, etc. . Na .... rdade;
o nr humano 'em Im lua coRlc16ncla vive Ipanu 1/ 8 do. conhecimentos
qUe ela ..,.. adquirindo desde • InlAncla; 7/8 lIc.lm no lnCOna<:lonta ou no
eubc~cl'nt. ; d, moda I nlo Inllulr no conduta da pesSOI; podlm, por"".
Influir podero..meritl neuI comportamenlo datei, qUI saJam provocacto..
em c:I!'Cunatlnc,-* IxtraordlMfll_, pela suga_tio oLi por de,conlrol. pSlqulco.

S. algu6m prop6ll, par..... cornponamM110 paranonn.l, axpUctÇOM


qUI IM.lponham Intetvençlo d •••plrltas d• •ncarnadoa ou do Além, ~Il
éullMndO nIo a Par.ptk:CIloal.. ma • MetlPllqulca. A pal . ... r. grega
""lI. slgnlflc. preclsament. .16m. - A M8tlpalqulca se cOlllt,61 lobre I
~ .... de que exlslam la11 Intet1erênelaa habltuelmente l'Ia história dos
nóma" por parte de esplrlloa desencamadoa - pramb ••••ta que 1'110
.omant. nlo I.ti provada, m.. , cada YfI% menos prov6vtl, pois que 081
Iel'lOmenoa di!" ·'metapslqulcOl" têm aldo mais I ma!1 produzidos Im
Jebotal6rl0, .. m ritual, untcamante por IÇIo de fatore' parapslcoI6glca-.

• • •
Comentário: Nos últimos meses têm-se multJpllcado no
Brasil cursos ditos cde Parapsicologia.. Essas InlclatJvas sus-
citam geralmente grande Interesse por parte do público; os
freqUentadores de ·tais cursos procuram-nos com as mais varia-
das prem.IsMs e intenç6es: wgJJns são propriamente estudiosos.
que Querem saber ma.l.t em nlvel de estrita ciência, ao passO
q\1e O\ltl'os: . ~jam associar a Parapsicologia com fenômen<?S
3-
4. cPERCUNTE E RESPONDEREMOS. 18Ul975

espfrftas, umbandistas ou outras manl!esta~ões reUglosas. Os


mestres que ministram tais cursos e os programas respectIvos.
fogem por vezes ao setor da ciência empirica proprlrunente
dita; sendo adeptos de determinadas concepções filosóficas.
permitem que estas Inspirem as suas aulas e a matéria apre-
sentada. A titulo de ilustração, vai aqui reproduzido um anun-
cio publicado no cJornal do Brasil_ de 12/ XI/74:

PARAPSICOLOGIA

HOJe
HoJ. (terça) - Fllm. a cotes dll op.raçoOn clrdrglcu de mildluM
Que Ibr.m as lacltjos d. aeus paelanl.a usando apenas as mica (Europe).
Filme dai. peaqullas lobro .enslbllld.de a "V010'" das plantas (EIJo'J.
Documentos e ...lId.... do Museu das AIm.... do Vallç,ano. ol\da • Ig,.la
c<I_lona pec;u d. l.nOmanO! Que ela pr6pda alrlbul • comunlcaço.. dos
"phlloL Fita magntUc:a das vozes Rludlv8 (Europa).
Atnenhl (quarta) _ Avançadas axpe,ltnclas KlrUan (e Aura HumeM
L'tIlOiIrellda) em mal. ela 10(1 "slldes" colOlloos. A fotografia Kllllan de
t 'OllIITIbs60 de energr. de uma pessoa viva par. o COlpO de ume pNlOl
nlOltI (avançada experl.ncla do IBIP·SP no Instituto Mtdk:o Legal).
Local: Instituto de Educaçlo, na rue Mariz e Berl'Ol 273, TijUCL
Hor6,lo: 20 hotas. Taxa "nlea de Lnacrlçlo para &li duas noll.s: 60 (se.
..nt.) cruz.lros. lr\SCrlçe.. no loc.r, e partir du 19 horas de tIo)a.
0bI.: nlo se,la dada Informaçôes 1""6n'cu. Raallzaçlo do IBIP -
lnallluto 8rl&IIelro de Inlormaç,o e P"qulsa P.rapllcol6glcll, de S. PaulO.

Como se vê, sob o titulo de ~arapslcologJa sáo apresen-


tadas operações medhlnlcas, são insinuadas comuniea.cões dos
mortos com os vivos e vice-versa. são propostas fotograflas da
caura humana., etc., eoisas est.a.s que correspondem exata-
mente a quanto ensina a filosofia esplrita.
Em vista de maior clareza sobre o assunto, procuraremos
abal"o desenvolver a noção de Parapsicologia eomo ciência
estritamente dlta.

1. Parapsicologia: origem
L Em i848 deu-se o surto do espiritismo, que tinha nas
suas origens as irrnru Fox em Hydesville, N. Y., U .S .A.. Os
fenOmenos esplrltas incitaram os estudiosos a analisar e tentar
expUcar os acontecimentos maravilhosos Que lnslnuam inter--
venç6es do AMm na vida dos homens. Tais acontee!mentol
-4-
QUE t PARAPSICOLOGIA' 5

ni. eram novos ou Inédltos na história da humanidade; multo


ao contrArio, desde os tempos mais remotos eram conhecidos
e Interessavam os homens. Todavla nunca se havia pensado
Im considerá-los de maneira slstemAtlca e segundo critérios
propriamente elentlficos.
Em 1882 tundou~ em Londres. para atender ao novo
Inle..... clentil1oo. a .Soclety for Psyohlcal R .......h, (So.
eiedade de Pesquisa. PsIQulcas). Em breve. essa SocIedade
teve sua fillal nos EE.UU. e congêneres em outros paises. ( b
lebraram-se Congressos internacionais de estudiosos de taJs
lenemenos em Vanóvl. (1923). Paris (1927). Atenas (1930).
Oslo (1935). Utrecht (1953). Srunt Paul de Venca (1954).
Combrldge (1955). Assim nasceu uma nova clência, que se
interessava pelos fenômenos dItos cmediúnlcos., pelos milagres
e outros fatores portentosos.

Essa nova ciência suscltou sem demora um clima de


disputa entre os pensadores. De um lado, os cultores do saber
clAssico julgavam Imposslvel Qualquer fenômeno extraordlná-
no porque o consideravam contrário à ciêncIa e 80 seu deter-
mIniamo. Mais: a reel1dade do psiquismo que direta ou indi-
retamente era assim focalizada, parecla refutar o materia-
lismo total de certos sistemas fUosóflcos dos sécu10s XIX e xx.
De outro lado, os C!Studlosos do novo ramo de p-ber despre--
zavam a ciência clássica; calam em erros flagrarites devidos l
lUa precipitação e lmpericla.
2. Os nomes dados: a essa nova dêncla osclJaram a
principio.
Na Inglaterra e nos Estados Unidos prevaleceu InJclal·
mente o nome de Psychlcal Researeh (Investigações Pal:qulc::aa).
que não se deve Identificar com Psyehologfcal Baearch (In-
vestigações PSicológicas). Estas têm wn caráter cl6sslco, que
" certamente de grande valor.
Charles' R10het em 1905 propOs O nome de <Metatlslca••
nome que encontrou aceitação nos pa1ses latinos.
, Na Alemanha teve origem o nome de Parapslco1ogla, for--
~ulado pela primeir4' ·vez, e. quanto parece, po~ ,Max. Dessolr
em·. l889. Jules Bois tornou·se 'o prlncip.a..l arauto desse . ·~a·
tlv.o r.Que, com · o passar do .. tempo, . foi .~dot:ado tam~· : nos
EIIadoO UnidO&. ', ',<' "

- '5_
:6 ePERCUNTE E RESPONDERmOS'. 181/1975

HoJe ·costuma·se usar quase exeIWilvamente o nome cPa"


·rapsloolog1a:a para designar o estudo cientifico dos fenômenos
portent030s relacionados com a psiquismo humano. Principal·
mente desde 1934 - ano em que Joseph Banks Rh1ne pubUcou
o seu livro tWldamental cExtra-sensory Perceptlon:. ·-...; pre-
valece tal apelativo. eParapsicologla.. atualmente designa um
saber caracterizado pela orientação experimental e Cientlflca
que Rh1ne quis dar aos seus estudos. Pode-se dizer que é em
1932 Que nasce a Parapsicologia no sentido hodierno, . .. nasce
med1ante a reforma e o aperfelcoamento dos antigos métodOs
·dl! pesquisa. Joseph Rhine, realizando as suas experlêncl~
com o baralho de Zenner e a percepção extra-sensorial, tar-
·nou-se a pai da nova ciência. .
. A Paropslcologia é geralmente reconhecida como ~ncln
nos palses cultos - o que se deve especialmente ao Congresso
,InternacJonal de Parapsicologia rea.llz.ado em U"trecht (1953) .
Resta agora pl'OCUrar definir essa ciência.

2. ParapsicologIa I definIção
.Não é dlficil defInir a nova ciência, desde que se anallse
o seu nome.
A palavra grega pará. slgnUlca eao lado de., enquanto
psyebé quer dizer ealmu. Donde se deduz que Pnrapalcologla
vem a ser a ciência que estuda as manifestações da alma ocor.
rentes eao lado das que a Psicologia estuda.. .
Em outros tennos: o ser humano costuma .uWfzar ape-
nas 1/8 dos conhecimentos que ele possui, adquiridos dcsd&
que começou a usar os sentidos: 7/8 dessas noções lhe fIcam
·latentes no inconsciente c no subconclente e não Infiuem em
seu comportamento. Chnma-se, pois, comportamcn to normal
de alguém o qUe é Insplrtldo por esse 1/ 8 de conhecimentos
nelle existentes •.. Acontece, porém Que a pessoa humana,
sob a InfluéncJa de fatores como a sugestão, o sono hipnótico.
a agitação nervosa. . .. pode perder o controle que nonnal-
mente ela exerce sobre O seu Inconsel.ente e O leU suboQns.
ciente; em tais casos, a sua conduta será. iAspirada por a1gu.
ma(s) das n0ÇÕC5 que habitualmente ficam latentes e inope-
rantes no seu intimo. Tais noções são despertadas no incons-
ciente e trazidas à baila do consciente segundo eomblnaçães
-6-
~ i: PARAPSICOLOGIA!

Ol'bltrár!as, sel'lÚn/enl<! sugeridas por outra ' pessoa ou pelas


clreun.stAnclas em que o paciente se acha. Provocam BSSlm
wn comportamento paranonnal (= ao lado do normal), I': a
eote que • Parapok:ologt. se dedica como clêncla.
Tal comportamento - tr1semos bem _ é dito paDIlo~
ma). •. Nio é nonnal, porque foge à rotina das eXpressóel
da pessoa; nem é anormal, porque não é doentio nem é con-
trirlo ao que estA contido nBa vlrtualJdades sadias da pessoa.
,I':, pois, pal'1ll1OnnaI porque ocorre ao lado do nonnal; aupõe
no paciente um tunclonamento pslqulco mais amplo do que o
· normal. Tal é, por exemplo, o caso do tenOmeno ~psk:O­
lógico da cpercepção extra~ensorlab: quando alguém tem a
intuição de que seu pai ou sua mie estA morrendo em cidade
d1sYnte e depo.1s comprova a veracidade deSsa intuição, n40
est6. "realizando algo de doentio, mas algo que é autêntico .na
"Unha do «conhecer», . . . algo que 6 mais agudo, mais persplcar
do que 8. perspicácia normal do paclente.
Vke, pois, que a Parapsicologia não estuda fenômenos
.Iu'Oduzldos por esplrltos do Além ou por forças invbiveJs que
não sejam deste mundo mesmo. Se algUém pretende expllcar
os fenOlllImos maravUhosos do psiquismo humano por inter-
venção de espirttos desencarnados ou do Além, nA.o estA. cultJ~
vando a Parapsicologia, mas, sim, a Metaps{qulca. Tal é real~
mente o nome que se deve atribuir 80S estudo! reallzados pelos
csp1r1tas e umbandistas, que admitem Interferências de seres
do .AWm na vida dos homens na terra: metá quer dizer ai.
de. enquanto p5fquleo é o Que se relaclona com a alma btl·
mana. lfetap3fquJoo é. pois, o que está
relacionado com wna
causa posta além ou fora do psIquismo humano.
0bservHe bem a ênfase com que Robert Amadou. um
cios maiores pnrapslc6Iogos hoje existentes, acentua a lndole
· tenestJe ou cdeste mundo» dos fenOmenos paraps.Icológlcos:
"A exprelllo d ••" mundo repousa por Inlalro numa hlpóleH que
bem .18 poda chamar a teoria gerol da ParapalcologlL Parece fORl da
d4vlda que • hlpót... de bal e da PaRlpl lcologla • que .,tal forç .. M'lo
em rellçlo com o 819lrllo hum.no. Se algum "1.Aglo poa"rIor di Invel·
IIg.çIo exlglsao outro llpo de ulVálolO, c melaflaJco, a Ipt8ÇII~40 di
ooncludo d_'e "!Umo nlo . erla do campo da Per.pslcologla como tlr'
r'La P.rap~hologl." . Pari., 19M, p. 45).
Asslm se compreende que um curso no qual se abordem
questões como operações mediúnicas e comunicaç6es aos espl-
·ritos do Além, não se deveria Intltular cCurso de Párapslco-
· logIa., mas, sim, cCurso de Metapslquica». Para favore-
, - '7,-
8 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 18V1975

cer a clareza de ld~ln! no grande púbIlco, seria ~rto


observar-se a distindo éntre cParapsicologib e cMetapsl-
quica>. A ParapsIcologIa, por deflnJ;ão, estuda o que a ' alma
humana mesma. sob hipnose ou sugestão, pode produzir em
seus comportamentos mais amplos ou dilatados, eRO lado do
normab. A MetapsIqulca, ao contrário, estué2a o que espíritos
desencarnados ou do Além possam produzli' na alma humana
_ ·hlpótese esta. que os metap5íqwcos admltem gratuitamente,
mas. não pro.vam, embora, antes do mais, devessem demor&
trã-la. Note-se bem: hoje em dia essa prova ~ cada vez mais
difícil. Com efeito, os fenômenos extraordinários (moção de
copos, ruJdos suspeitos, leitura do subconsciente alheio, escrita
automáUca ou psIcografia ... ), qUe! os metapsiquicos conslde-
raYM1 como provas de Intervencôes do Além, sio produzidos
em laboratório, sem evocaClo de esplrltos desencamados; oh-
têm-se por sugestão e desencadeamento das forças ps:qulcas
do paciente devidamente condIcionado; correspondem, como
dissemos, a um estado paranonnal (= mais amplO ou 'cUIa-
tado) do psiquismo do paciente,
A confuslio entre Parapsicologia e eoncepções espirltas é
lreqUente. Parece Insinuada, mais uma vez. numa noUcla que
colhemos em nossa bnprensa aos 28/XI/74. Sim; referlooo.se
.8 Qm fenômeno de ccasa-mal-assombrada. nos EE.UU., um
telegrama da UPI comunica o seguinte:
"08 moradorea da casa decIdIr*" onlem chamar um casa1 de pesqui-
sadores da fen6manoa par.pllcoI6glcoa. Lonalne a Edward War/'8n, que J'
testemunhou 38 axordsmol. O. Wlrl1ln sugeriram que a causa de tudo 6
O Mp/rito IMIOIO do mho de Goodln, morta Inl.1 da MaredlUl "r Ido--
\ada cinco InOl ente," (*'OlIlma Hora" . 271X1174, p. ti).
Neste texto, eomo se vê o casal de parapslcó1ogos propõe
uma expl1cacão do fel'lÕménO pot recurso ao Além ou a um
I!SJ)lrito de.sencamado, Não é, pois. na Qualidade dê parapsi-
cólogos, mas de metapslqulcos (ou esp~ritas). que o ca.sal WBI'*
ren assim fala.
VerUlca·se também Que a Parapsicologia por definlCio
nlio julga os milagres e as profecias que 8 teologia reconhece
depois de apUcer s eus crltér:los. Esses milagres e profecias São
Palavras de Deus aos homens: .a Parapsicologia nio os nega,
..... respelta-os wrque. ultrapassam o Amblto de suas posquJsas.
A! aprep;oâ.das '1ntervenç6es de éSP!rltos desencarnados na.
hIStória dos homen!!, taLs como do supostas pela Metapsl·
quica, nA<> passam de hlpó..... gratultamente aceitas pejos
_8_
_ _ _ _ _-'QUE li: PARAPSICOLOGIA? ·9

leUS arautos. As operaçOes cil'1lrglcas atrlbuldas a «médicos


do espaCO:t e realIzadas sem anestesIa nem apepsla, são algo
que não foI até 6gora submetido 80 controle c:entlflco dos
médicos em geral (como, de resto, slo submetidas as curas
obtidas em Lourdes) i nem se sabe exatamente de que mal
pndec1a propriamente o enfermo nem como se sentiu após a
operação nem Que tipo e duração de sobrevida teve após 8
Intervenção . . . As fotografias da ..aura humana» siG 19ual~
mente aJgo que deveria poder ser contro!ado por perItos de
qualquet " escola de filosofia ou l'éllglão para que pudessem
~ere«!r a atencâo dos pensadores do mWldo em geral.
Quarito ao chamado ..Museu das Almas:t em Roma, note-se
o seguinte: a igreJa admite que possa haver comunicação das
almas dos defWltos com os vivos na terra. Todavia afinna
que essa comunJC8~fio não pode ser provocada por rituais;
nada hâ · que nos cnranta de o.ntemlo a comunlc:açáo com os:
mortos. M~.o depois que alguém julgue ter ~bldo uma
mensagem (não provocada) do Além. a Igreja é bastante cau-
telosa diante da notlda; não lhe dá fãc1l crédito, mas C<lSIuma
.,rocurar nas clênclo:s humanas a expllca~o para o apregoado
teriOmeno; somente quando as ~nda.s !K!: dão por insuficientes
dlante de determInado fenômeno, pode a Igreja .pensar . em
lntenrenCãIl extraordl.nêr1a e esporádica de uma alma ou de
anjo ou do pr6prio Deus na vida dos homens.
No próximo n' de PR trataremos de assunto Ugado aos
do prellente artigo: ccasas-mal-assombradab. .

• • •
, . LEITOR AMIGO,
SE ESTA REVISTA LHE ESTA SENDO OTlL, COLABORE
CONOSCO, PAGANDO QUANTO ANTES A SUA ASSINATURA
(SE AINDA NAO O FEZ) E OBTENDQ.LHE NOVOS ASS~
NA!lTES.

·GRATOS.
A DIREÇAO DE PR
Atuai • .and<onlo:

teologia da libertação

Em .In.... : Por " teologl. da IIMr1aç.lo n .nllnd.... , fan.do eo-


brt o combata" Injustiça .oclal, ren'l\lo l ugerld. plt'q noçe.. da Reino
da Deus, Justiça, fraternidade, amor •• , eonUdl' nu Escritura. Sagl'lld...
Tom .Ido cultivada especlalmante por t.ólogo. latino-americanos em vblt
da altu.çlo do nosio contln.ntl, . ' .
A tlologla da IIblrtaçlo plr10 da r••lldada vlgante a Indaga: QUI
1azer par. ,Intlaur.r um. ordam ' aóclo-econOmlca mais ptó:dma do Eva,..
g811'.o1 A ",p(ll'a h' dI Itr neea•• rlamanla um. dlmendo hlslóriea •
pollllca. O. ,.Ofogo. da IIbtr1lçlo a/llmam nlo I' Idenlllicar com, kleo-
logla marxl.I" ambor. reconheçam que o pansamanto de Marx ••llmLjlou I
a'aborap&o da teologia da IlbartaçAo. Apontam par. os fundamenlol blblJ.
eos daa lUas , .... : O êxodo de IlIrael cativo no Egito 8 IIb81Ud'o por
Moisés .. ria o protÓllpo da obra que atu.lmente , apregoada em lavor. da
Am'rlca Ullna; .ua obra I.rl. t.ImWm sua dlmando rnlstlca, pois •
Ilgura d. Cri_lo te prolong. n. doa luftlOl pobres • oprlnlldOl cuja
. Clua• • al4 aondo propu.gned••

NUlnl reflexlo ..ren. IObr• • t'olOGla da Ilbertaç.lo. pode--M di.,


qu.:

a) InegllVelmenle O R.lno . de Deus 'pregoa • JusUço lOel81 • •


fr.ternldade a eer lna'.uradas duo. Ji .ntr. OI homena.

bl TOdavl. , pr.clso nlo abuSar do bln6mio "rleoa e pob,.....


IdenUt1cando .quel .. com opressor., I MIIS com oprimidOS. Pode ........
com'ler grave InJuallça medl.nll \81 gonorallZ. çlO.
c) V.rd.d. , que 1..401... e OI profetas blbllcOB .. emp.nherem
pela llbertaçlo pollllca do povo da 111'01 oprimido. Fáoram-no, por""'.
em virtude O. axpllclla ordem de Daus. de- modo que nlo podiam Itr
duvldu aobr. a autenticidade da I UO mlsdo: todavl. nem por Isto opel...
rem par. a rovoluçlo "IIlol.nlo. Ot. aalu duu caraclerlaUcas b/bllca.
nam sempre •• realizam .nlra oa .raulo. modernos d. llbartaçlo. Ser•
• ampro preciso, nos movlmenlO3 sociais contemporlnooa, evitar quo ••
Inftlt",m Id.ologla•••tranhal ao Crl.llonlamo.

d) O S. p.dre Pa ulo VI Iam lombrado que Ilber1lçlo o lalvaçlo


lêm I'U fundo do ctn. dlClllvo na qu.da Iniciai do hom.m • na obra
IIb.rtadora d. Cristo, que I' prOlOngA no Batismo o na Eucarl.II.. O
cIlstlo qua a. .nll1llilu, ao dom do Crlsto • se converta Ina.,lormenta,
saboli tarnb'm corworte, .. socledado ..m excitar pl'llx~s nem 6dloa.

-10 -
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO 11
. Donde.se vê que "lIbertaçto" corresponde a autênllca u plraçlo
cmU. Apenu o onloque lhe dlo modernos 11610gO$, arrisca... a aer
unilateral ou mesmo fonl. da noVAI Inluallças. Entenda... "lIbertaçlo" no
••olldo lJlobel qUI • " cristA lhe cemunlca.

• • •
Comentário: A teologia. ou . seja. o estudo da Palavra de
Deus tem-se voltado para novas situações e interrogações que
a humanidade contemporA.nea vai experimentando. Prindpal-
mente as questões sociais têm suscitado o interesse de 'teólo-
gos que procuram penetrá-Ias e Iluminá-las com os critérios do
Evangelho; assim tem-se falado de «teologia política. (= teoa
logia da arte de reger a p6lis ou a cidade). (teologia do
desenvolvimento:t, _teologia da revoluçã.o" deologla da liber-
tação:t . . . Esta última vem-se avultando espcclalmente na
bIbliografia mais recente, rewJtante de estudos pessoais e. de
congrcSSOSj aborda tema delicado, frente ao qual há posIções
divergentes. :Jt o que nos impele a encarar o assunto no
intuito de informar com serenidade os nossos leItores.
Visamos a orerecer uma exposição sucinta e fiel do pen-
samento dos teólog()S da Iibertacão que éneararrt a situação da.
América Lntlna. Embora estes autores tenham, por vezes,
seus matizes de pensamento pessoais (ora mais veementes,
ora mais brandos), podem-se depreender de seus escrItos algu-
mu linhas comuns e caracterlstlcas. Nas duas primeiras par-
tês do' presente artigo, procuraremos ser objetivos ao mbtmo,
reproduzindo lClD comentários o conteúdo da teologIa da l1be~­
tação. Feito Isto, refletiremos sobre o 8SSWlto na terceJra
parte do nosso estudo.

1. Teologia da lib.rto\ão: qllO é ,1


1) «Libertação., na tónnula em foco, sJgn1tlca a eman-
dpação do homem oprfm.ldo no campo social pelos poderosos.
(empresários, potrões, capitalistas, governantes ... ). Esse ho-
mem, que vive em condições Infra-humanas de higiene, salAria,
educação, instrução . . . , vem a ser um nlo--homem; ele tem
ôJreitos que as estruturas sociais e os maiorais praticamente
não lhe reconhecem. Ora o Evangelho, que á contrário a toda
J.rtjustlça, pois vem anunciar o Reino de Deus e a restauração.
dá· ordem 'violMa pelo ~ado, não pode doixar. de . 1rJ,sp~ar.
~11-
12 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS» 18U197S

concepções e atitudes prãticas que concorram para ·remover u


JnjusUcas presentes, libertando os pequenos e humUdes da inl-
qllidade opressora. Tais concepções destinadas a uma prâUca
(ou práxis) libertadora I constituem o que se chama cteologla
da Ubertação' j a cpr!xis histórica da libertação» vem a .ser a
versão cancreta do amor lIbertádor- de Jesus Cristo.

2) A teologia da Ubertoçio assim entendida dIstlngue-ee


de:
a) teologia do desenvolvimento. Esta visa a· justificar.
promoçAo dos povos e dos individues subdesenvolvidos. Toda-
via, 1á que supõe o auxUio financeiro dos povos ricos aos
povos pobres, sujeita estes últimos a novas formas de depen-
dência escravítadora; a Alianoa para o Progresso ofereci~
pelos Estados Unidos aos palses da Am~rlea Latina sob o ~
sidente John Kennedy em 1960 era um espkImen desse tipo
de auxillo, Que nio logrou o almejado êxJto.

Nos quJnze ou mais anos que se segulram à segundl.


guerra mwulial, a palavra cdesenvolvlmento.» cr1stalIzava u
esperanças .dos povos pobres; estes, porém, acabaram compre-
endendo que o auxilio financeiro para o desenvolvimento era
dado em perspectiva economista e não t-ocava as raizes do mai
social que os acometia. O subdesenvolvimento dos pobres,
segundo esta concepção, seria subproduto do desenvolvimento
dos pa1ses ricos; o que importava então, era Ubertar-se de
Qualquer forma dê ccmstrangimento .imposto pelos paf8es
ricos;

I" palavra p....... multo u.ual no vocabuljrra ma"d.la. $~nll1ça


o conlunlo da allvrdlld .. humanu tandenl" a crIar condlç6et Inct"pen-
.'vel. l exlllltncla ou .. reforma da sociedade; ....Im .. prúJ. • produçlo
mala,lal, da qual depende a Ulsllnc:la bulca do. home,... "Um dOI ....
mentoe. cotdI~llullvo. mar. Impol1enle. da pr'Uca !lo • atividade revoluebo
ni rra da cl ....., doa grupo. eoelals, de. Unada a l uprlmlr oe "'glmes
aocllra ceducoa e lubltlM·loa por IlsteMa. novos, avançadoe, favo' ....."
10 progrnlO di loclld.d.. A axplrltncla clenllllca conatltul larnbtm
uma forma da praia. . . Sem prblt nlo pode haver teorfa . cienlf1lCII"
(M. Ro..nlal e P. Judln, "Pequlno Clclonjllo FUoeóflco". 510 "ulO.
~- . .
f: Ctllto que OI 10610;oa da llbertaçlo nlo prof._am o m.~O
como til. Ao emptltg.rem o yoc6bulo prUls, lenclonam designar l.lIM
atividade que, com Inlplraçlo cIIIII, poua aUnglt a ,ertOVaçlo &oc1aI qu.
o rnanlflmo Julga Ii.r ·a lua lerefa por ·.xcasanela.
TEOLOGIA. DA LIBERTACAO 13

. · b) . teologia da~. Esta aflrma O caráter pr0-


fano e a autooomla da sociedade secular em relação li. Igreja
e ·aos valores cristãos; o Cristianismo, dizem, deve renunciar
a qualquer Intluênc1a social e qualquer ação transformador.
do mWlISo clvlJ, para Umltar-se a uma fé nutrida Interiormente
pelos crentes. . Ora - comentam os teólogos da Ubertação .....;",
uma tal concep;lo secularfzante, embora seja revolucionária.
peca por confonnlsmo com as sociedades lIberais e capitalIstas
do OcIdente; Indiretamente, portanto, corrobora a situação,
injusta e opressom, em que vivem OS pobres dos pâ1ses latino-
-americanos'
-' . '
c) I<>ologla poUUca (Moltmann e escola aleml). Esta
Insiste nas responsab1lldades da Igreja perante o mundo mo-
demoj os cristãos têm que ser a consciência critica da socle--
dade contemporânea. Mas tal corrente de pensamento "fica
sendo alnda multo abstrata, pois recusa pronunciar-se sobre
o "d.Dema cCapltallimo ou Socialismo?», alegando que qualquer
opçio polltlea. tem valor meramente relativo; o Reino de DeuI
IÓ se realizará adequadamente nos tempos escatológicos ou na
conswnaCio da história: os crtstãos só esperam para o !ün
dos sêculos o bem absoluto e, por isto, cedem a certo cet1..
clsmo em relação aos sistemas poUtlcos que marcam a hlst:6-
ria passageira dos povos 1.
Oro a teoloda da libertação quer mostrar que o aspeéto
escatol6gico do Reino de Deus, longe de relatlvi'zar o ~te,
llga este ao Absoluto, e, por conseguinte, dã·lhe mals valor,
suscltando o mAxlmo empenho dos tiêl.s cristãos. A neutrali-
dade da teologia diante das opções poUtlcas concretas seria
~glo da . tese iuterana segUndo a auaJ a fé santifica (justl-
t1ca) sem as obras: os te61ogOs dtt lIbertacão rejeitam a neu.-
tralidade polltlca. ainda Que esta seja InspIrada pela consclên·
ela de que toda optlo poUtka "te", valor meramente relaUvo
em tomparaçfio com os bens definitivos, que ainda do futu-
fOI; e. neutrarrdade poUtlca da teologia, dlzem, serve 1 causa
dos s~temas capltallstas ocidentais. Os teólogos europeus
(princfpalmente os alem~es), concebendo a sua teologia pol1.
Uca, julgavam estar elaborando Idéias válidas para a Igreja.
inteira. Ao contrário, dizem os teólogos latino-americanos da.
1IbertaçIo, a teologia elaborada én\ um continente nem sem.
pro pode ..r assumida tal Qual em outros, pois a teologia tem

1 Jt f,lamos de "CrlsloJogl. pollUce" em PA 174/1974, pp. 239-24S.


T,.t.M, em Qltlm, an6llse, da meoma lInha d. ponsarMnto.
14 . • PERCUNTE E R~PONDEREMOS» 18V1975

quE! pnrtir de uma práxis hlstórlca concreta ou, no "seu


caso,
da situação sóclo-econõmica vigente nos pa1ses da AmérIca La..
tina; não pode haver, portanto, uma teologia politica universal.
Velamos agora as notas caracteristlcas da teologia da
libertação concebida pelos teOlogos latino-americanos para o
nosso contmente.

2. "Teologia da libertação: tópico. principal.


Distinguiremos quatro notas características da teologla da
libertação: " "

2 .1 . Olmentlo fortemente hl,t6r1ca


Classicamente, entendMe por «teologias a penetracio
raelonal do depÓSito da fé : assim, por exemplo, se o. Novo
Testamento nos ~ que Deus é Uno e Trino (cf. Jo 16,145;
Mt 28,19; 2 Cor 13,13), a teologia clésslca. procura. penetrar
nesta. verdade mediante um instrumental filosófico ou radonal
(elaborando os conceitos de natureza, pessoa, reJaçáo . ... e
aplicandO-OS a Deus), a fim de Ilustrar as proposições da
fé. . . Se o Novo Testamento nos revela que . Deus Sf: fez
hl3mem em Jesus Cristo, a teologia se esfor;a por ·tomar o
mistério da Encarnação tio próximo li. ra2ão humana quanto
Posslve1.
. Ora a teologJ.e. da libertação, .sem contestar esse método
ge. trabalho Intelectual, apresenta-se de outro modo: ela se
define como uma reflexão critica sobre a pritlca hist-órica à
luz da fé. Mais: n i o se detém no plano teórico, especu~t1vo.
mas vJsa a responder A pergunta: que fazer? Importa·lhe
preencher o hJato entre a fé e a prâtiea soda}.
Em outros termos : a sItuação histórica da América La-
tina vem a ser considerada um «lugar teológico., ou seja, um
Instrumental para se penetrar mnIs 8 fundo a mensagem do
~angelbo e assim suscitar-se uma participação mais radical
dos cristá.os .na transformação da sociedade latino-amerjcana ~
A enclência prAtica ou os resultados concretos assim obtidos
serão o critério para se Julgar a veracidade da ~eologla da
libertação. Passamos a palavra aos próprios teólOios dessa
escola:
-14-
TEOWGIA. DA LIBERTACA,O ' , 15 '

,AssIm se exprime, por exemplo, Gustavo GutleITez, pe-


ruano, professor de teologia e ciências socIals na Universidade
Católica de LIma:
"A comunldada crl,tl pOllul uma 16 que opera pela carldada, Ela
, - a deve Nr - caridade eRcaz, açlo, tnga]lImento da amor e .ervlço.
Ao teologia vem da por" em .to segutldo, PodlHl dizer d. laologll que
., H'-oel ,armava da ltIoscAa: ela s6 .. lannta no C18p08cu10, A açlo
pulorlll da Ig,.,. nlo .. ded~ como \lma concluslo a partir da premia ...
MoI6glcal •••

Ra'aUvlundo u ,..allzaç3es hlsl6rfcu. a taologla quer preseMlr a


aoeled,de • a lareJa d••e Ins'elar no que 6 apenas provla6rlo ... Uma
toologla ~ua nAo tenha como ponto, de rel.r'6ncla I.nllo "verdadea' .,u.
pula".. uma vez por todo - a nlo a Verdade, que' tamb6m , um camI-
nho - , IÓ pode .ar .Iüllca I, -com 'O tampo, es16,II" . A t80logla con-
liderada de:l1e modo, 1110 .. em Jlgaçao com. prixa.. reana um. 'funç80
pro"'!ca nl medida am qua faz uma raUur. dos acontecimento, hl,lórlcoa.
com • 'Inlen;lo da revelar • pfoclema, o ,enlldo profundo dot mesmos"
(tuto t,al'llCflto do an1ao de Françol, Malley, cllado na blbllogflfl.l. '

, ,' Enrlque 'DUs8eI, boliviano, professor de Histótla e FilOSQoo


tia em QuIto (Equador) e professor de Moral 'na Unlvers1·
dade Nacional de Cuyo (BoUvla), assim apresenta suas con·
co]>ÇÕeS:
"I. teologia da IIblrtaçio aperece como uma rellexlo aobre li pftd.
de IlbertaçAo do, oprlmldoll. Essa ren.xlo .. obra d. crl,'lo. engaJ.dos
poClllc&m.nte, , . No tlu. lhe diz re!lpollo. li leologla da llbertaçlp uplra
a lueMe a Int6rpr.te da voz dOI oprimidos a 11m de tenlar liberta,..... li
partir da pr4xls, t uma re!lexAo, .. lobre li passagem ou li caminhada ,
a'rlva do delIerto da hl.tórla humana; fllledo lobre o pecado com..
lido peloa dl.... l"lo. .lIlam" dcmlnldoraa .. . para chegar • Ineveref\tel
eelvaçlo am JeaUl Crl,lo na ,eu reino (escatOlogia)" (Iranec"lo do miamo
artigo).

Em suma: a teologia da IIbertaçlo não visa tanto à pene-


traçio das verdades da fé, mas, sim, e muito mala, l ' com--
preensão do agir ' que Cristo dese1a. dos seus fiéis no presente
momento laUno-amerJcanoj ela procura discernir as ,formas
que • caridade deve revestir nessa situação concreta. assim
como os novos meios de evangeUzação.

o enralzamento da teologia da libertação nas sltuaCóeS


concretas dos povos latino-americanos faz que a mt!Sm8 não
preensão do agir que Cristo deseja dos seus fiéis no presente
a todos os povos e todas as épc)CaS: nUm futuro próximo os
teólogos da .Afrlea e da , ÁSia elaborarão seus tipos de teo.
-15-
logIa da libertação a partir das sltuat6es lXIIICI<b&.quo ....
verem vfvendo, e ..... ~pos poderão loglcamente cllferlr "".CoI
latlncramerlcano(s). if"":J
Passemos agora A

2.2. DI....... poIU••


. .. ,
. . ,' .~

.1i .~

Na base de quanto foi dito, compreendM8 Que a ' teologla


da libertação tenha Indol. polltlca. AIII.s, dizem, lOdo tlpo 'dá
teolog1a é político, mesmo aqueles que afirmam nlo o ler.
Sim; 05 pretensos capoUtlsmos. slgnUlcam, prat1cam.en~.
apolo ao sbtu quo; os que desejam que a Igreja se eonflntl
em suas tarefas espirituais, alheiando-se A poUtlca, estão atri-
buindo • Igreja uma posIção de apolo l altuaçlo vigente. o.a
a açio poUtlca que a teologia da llberta'' 'lo apregoa, visa ..
transfonnaç!o da sociedade; jamais colncldlri eom a ,,)!,ser,
vaçl.o da ordem atual.

Dlnl. alguém: m... CrI3ttl nlo Quis aceItar .. concepçCes


de mess1anLsmo polftJco e naclonal1sta que os lsraeUte.s de su~
época alimentavam; fugiu da mulUdIo quando esta o quli
aclamar rei e Ubertador de Israel oprimido pelo jugo romano
(cf. Jo 6,15). Respondem 08 teólogos da llbertaçio:' 'essa
recusa mesma de Cristo tem sentido poUtlco i apenas slgnlftca
Que Jesus nio quIs propor um modelo concreto de PoUtlca de
Hbertaçio, mas deixou aOS séUS cUsclpulos B responsabWdade
de enc:onttar 65 caminhos mais eficientes para transtonnar . a
sociedade e o mundo segundo os deslgnlos de Deus. Isto s&
depreende do fato de que Jesus não pregou um Reino de Deus
meramente Interior ou urna salva';io em tennos abstratos -e
genéricos. Sa\)e..se que a pregação de Jesus o fez entrar _em
conruto com a ordem &6cll>polltlca vigente em seu tempo e a
morte do Senhor foi resultado de Um processo poUtlco_ --;
De resto, dizem os teólogos da Uberta':ão, nenhuma ação
humana. é de foro meramente privado; todo ato -h wnano tem
sua dimensão soclal e poUtlca.
Quanto à Imagem de Cristo que a teologia da Ubertaçlo
prop6e, não é a das devoções sentimental5 e adocicadas, que
só se detêm na paixão dolorosa de Jesus (como se Ele ·nlo
tivesse vencido a morte), mas também não ~ a imagem do
Cristo revoluclonârlo dos guerrilheiros; esta. IÓ considera o
lado humano de Jesus, silenciando a reaJld!uIe transcendental
-16_
TEOLOC[A DA Lmm'T'ACJ..O 11

do SCnhor. Na ve rdad~, os citados re6logos latlno·americanos


procuram reconhecer as duas faces do Cristo: a misteriosa e
divina, ao lado da humana, comprometida com a histórla e
os homens.
Estas concepeões pennltem caracterizar melhor a libero
tacão preconizada por tais autores. Ela se realiza em três
planos ou JÚvcls, que não são etapas cronológicas, mas que,
mesmo q u a n d o sirnultAneos, não devem ser confundidos
entre si:
a) o primeiro n~ve:l
é o a6c1o-polltlco, que inclui os valo--
res polfticos. eeonórnIcos, sociais
é culturais; visa a construir
uma sociedade nova, na qual os oprimidos deixarão de ser
oprimidos;
b) o segundo nlvel é o da fonnação de um homem. novo.
OS homens, no decorrer da hlstórla, têm procurado dominar
a natureza; mas, mesmo conseguindo o donúnio sobre a natu~
reza, O gênero humano 0:10 está livre de allenaçées. 1:; pre-
ciso, pois, levar o homem a tomar-se agente da sua própria
hls;tórJa mediante a conquista de uma liberdade criadoro: éo o
que se obtém atravé-$ de uma revol0ci0 cu1tnral pUmaDeu.t3;
c) o terceiro uivei éo o daUbertaç.io frente a.o peeado.
Diz respeito ao mal que estê. no coração do homem e o torna
Injusto e opressor. O pecado sempre tem conseqüências s0-
ciais; é ele que gera as socledades in"quas, nas quais se dá a
dominação do homem pelo homem. A libertação radical
frentl! ao pecado se de-ve a CrJsto, que Q outorga como dom
grntulto.
Estes três n[ve!s de liberta cão se eon(llclonam mutua·
mente e encontram seu sentido profundo na obra de Cristo
Salvador.
A quem perguntasse se tais concepções não vêm a ser
uma cteo!ogia marxista. ou um marxismo camuflado, os te().
logos da libertação responderiam negativamente. Dlrlam, sim,
que o marxismo estimulou a sua teologia, levando-os a cref1e.
tIr sobre o sentido da transtonnaçio deste mundo e sobre a
acii.o do homem na história.. Reconheceriam também que o
método milrxista de análise da sociedade tem sido aplicado ao
caso da América Latina, constribulndo para mostrar a sltuacão
de dependência desta em rela~lio aos Estados Unidos e a cer-
tos paIscs da Europa: .. • dependência poUtica, milltv. cultu-
-17 ~
18 cPERGU!~TILE_RESPONDt!:REMOS:t 181/1975

ral, reUgiosa. Mas aflnnariam que as concepções e as meta


da teologia da libertação têm sua tonte na Blblla, de modo a
corresponder ao genulno pensamento bíbli~ristão.
Eis por que novo titulo se coloca· nesta seqüência:

2 .3 . In.plraçlo blbllca

A Biblia tem comõ fundo de cena da sua mensar;em um


processo de llbertação empreendido pelo Senhor Deus em favor
do seu povo reduzido à servidão no Egito: é "o chamado
c:êxodo.. de Israel sob a direção de Moisés. Javé MO fluis
apenas exortar o povo a se llbertar da escravidão esplrltual
do pecado e retormar a sua vida interior; quis também eman-
cipar Israel do jugo de opressão a que Fara6 o submetia. As
promessas messll.nlcas que Deus fez ao seu povo durante tode
a hJst6ria de Israel, tinham aspectos terrestres, socla1s; o
aguardado Reino de Deus teria expressões concretas, como a
instauração da paz, da justiça, o respeito aos direitos dos p0-
bres, a punlçfio dOs opressores e, em suma, uma nova ordem
de coisas espiritual e materlal. Tenha-se em vista, "entre
outros, o texto de Is 65,19-22:
"NIo t. ""1.
ouvir• ., Im Jlr\lulêm choro! nlm "Iam.nto•• ". NIG
hawl'fl ali menino que morr, çom oouçoa di", nem .nollo Q\Itt 1110 çorn-
pllle OI MUI dl_. ".. Conltrulrlo cu.. e hlblt.rlo nell.: pllnterlo
vlnh" e comlrlo o .IU truto. Nlo Idlncarlo clsa !Ulf. outrem habitar,
RIm pllntarlo p.,.. outrem recolher".

Tais promessas, diz li teologia da libertaçãO, foram espIrl-


tualizadas indevidamente. Na verdade. a Salvação e a fellcl-
dade prometidas pelo Senhor Deus aos homens, além de ter
significado Jntimo, espiritual, tem também suas conseqüências
e expressões l1l3teriais e sensíveis: o encontro do homem com
Deus se realiza através dos acontecimentos da história; Deus
chama o homem a caminhar dinamicamente em demanda de
algo de melhor, que se deve real.1zar mediante transformacões
hlstórlcas; não há. ordem definitivamente estabelecida aqui na
temj a B!blla inspira o senso critico frente a todas as socie-
dades e todos os sistemns eco nO micos. Em outros termos: a
salvação prometida pela Biblia não é abstrata, a-temporal, des.-
ligada do tempo e da hIstória, estática, essenclallsta, mas ê
temporal, histórIca, dlnAmlcs, abrangendo o homem todo (espí.
rito e matéria). e não apenas a alma do homem.
_18_
TEOLOGIA DA UBERTACÁÓ

"O cll.fAo 6 tIIft homem Imerao no devenlr histórico, mu • tarTIlMm


o homem da In:a,UII.çAo CONtante, di! 'revoluçlo pe.manenl" I empr..~
der. O crJstio nlo poda, ou nlo deva ria Jamais, ser um homem 'Inata-
lado' " (FI. M.lley, art. clt.do, p. 2e).
Ailrmnndo O cunho blbllC() da teologia da llbertaç1o, OI
seus arautos também afinnam o seu

2.4. Aspecto miaUco

Os teólogos da libertação proCessam compreensAo da ne-


cessidade que incumbe ao cristão de se dedicar à oração e à
contemplação. Julgam, porém, que essa contemplacão nlo se
faz (ora do mundo, mas, sim, no mundo e na luta por um
mundo novo. Para o afirmar, ba.seiam-se no texto evangé--
1100 em que Jesus se identilica com os Irmãos pequeninos e
necessitados. Dirâ Ele um dia: cO que fizestes ao m1n1mo de
meus Innãos, foi. mim que o lIzestes, (Mt 2;,40) . O encon-
tro com o Irmão necessitado e o serv!:o que se lhe preste, pro--
porcionam wna experiência de Cristo, exPeriência que tem o
seu valor contemplativo.
O encontro direto com Ct1sto na oracão expllc1ta lembra
o absoluto e o transcendental da pessoa de Jesus Cristo. O
encontro com o irmão lembra que esse Cristo pro!ollla a sua.
presença em cada homem, de sorte ql,Ie o amor ELO próximo é
1nseparâvel do amor a Deus. O serviço aos lnnios dA il cons--
ciência cristã a sua dimensão social, evitando que se torne
pw-amente Individual, cprivada., platônica.
Ora na ~riea Latina os cpequeninos. são nio apenas
pessoas Individuais, mas tamb!m grupos humanos, culturas
marginais, classes e setores socbús. . . Existe nestes uma pre-
sença coletiva de Jesus ; experimentA-ia çonsUtul autêntico ato
contemplativo.
A contemplação assim entendtda dá um conteúdo sóclo-
-político à fé; esta adquire urna dimensão hlst6rico-.soclal, sem,
porém, se reduzjr a esta. O CrIsto encontrado e contemplado
na oracão cprolonga..se. no encontro com o innão; o .OUtro.
experimentado na oração contemplativa é experimentado tam-
bém no encontro com .os outros.. Assim a Óústlea cristã é
essencialmente uma mlstica de compromisso ou engajamento.
Para o homem político da América La.tina. o êxodo de
Israel detido no Egito vem a ser um acontecimento tlpico.
_19_
20 dlERCUN'I'E E RESPONDER~MOS. 181/1975

Moisés apareCê ~omo o grande modelo que inspira a esplrltua·


lIdadeo do compromisso polltlco. Com efeIto, Moisés sempre
teve multo vivas ante os olhos as grandes notas da. sua mI&-
são. Sabia que a libertação política de Israel cativo no Egito
fazia parte de um 'plano de Deus multo mais amplo, que envol·
via a salvação d~finitiva do povo de Deus. Sabia também que
os seus esforços ficariam sempr.e incompletos, algumas vezes
seriam frustrados ou rejeitados, porque o Libertador único c
definitivo do povo não era ele, mas Aquele cujo reino não terá
fim. Com esta consciência ele se entregou à sua tarefa firme--
mente até o fim, pois a c-sperança Que o animava não lhe
vinha dele mesmo, mas lhe era renovada diarJamente no
encontro com o Senhor.
Os trutos de tal compromisso sBo assim apontados pelo
teólogo chlleno Segundo Galllca:
"Muitos fi". fazem a exporl6ncla ele uma colaboraçlo com o S.nhor
em I.relu redenloras, que do parie d3 eonstruçlo do Reino. CoMa·
grandH8 8 uma mlsslo de Indolo !lOclo-pollllclI, mulloa deles pusam por
uma e.... oluçlo. Tendiam a questionar a sua" e mesmo a pereS""a; agora
alntem... lortalecldos na fé, reencontram a oraÇlo e descobrem d. novo
o valor da,ta. MulW 'lUes mal preparadol p.ra .". mlldo .. . , ....10
ducobrlndo profunda aflnldada enlre a 16 e U lU" opçGe• .
Como crlstlos, reagem contra uma salvaçll.o a·h}sIÓrlca. V6am a ....
vaçAo mall ligada a engajl1menlo, lam,oral~ I POIlUCOI, a. bem qUI nIo
• reduzam a um. Ilbertaç60 temporel . .. O 'IU engajamento mMmo, por
vel81 multo I'IIdlca1. leyou em muitos c ••o, • lU. 16 ... elevado grau de
mrstlcl crlstl" (S. Galllea, "L.a IIb6rallon .n 1anl que rencontro de 'a polj.
tique oi de 'a contamplatlon", em "Concl1lum" 96 (Junho 1914], p. 22).

A propósito, costumam os autores citar o caso de Nestor


paz Zamora (Francisco, segundo o seu nome de guerra), fale-
cldo hé. pouco mais de quatro anos como guerrilheiro cristão
na BoliYla; deixou um eJornal~, que exprime profunda espi-
rituaJldade, no dizer de alguns leitores. Assim se vê que nio
há oposição entre vida espiritual e compromisso poUtlco.

Propusemos estas linhas t1pJcas da teologia da I1bertaçio


.. guisa de Informação do leitor, sem tencionar endossã-laa.
Compete-nos agora refletir sobre Quanto foI dito.

3. Ponderando Q temática
DIstlngu1remos traços positivos e negativos.
-20 -
TEOLOGIA DA LmERTAÇAQ 21

S.1. O lido poo",vo


1) 1: certo que a salvação proposta pelas Escrituras Sa-
gradas atinge o homem todo (alma e corpo) e todo homem;
por conseguinte, nio se reduz ao plano do esp1rlto e do lnvl-o
slvel apenas. mas tem repercussões na matéria e no bem-estar
tislco de todos os homens. A doutrina socla1 da Igreja tem
'proclamado esta verdade de maneira cada vez mais expHclta.
desde Leão xnr a Paulo VI; tenham·se em vista de modo
especial a enciclloo. cPopulorum Progresslo:. e a Carta «Octo-
geslma Advenlens> de PauJo VI.
2) Também é certo que o Reino de Deus, prometido pelos
Protetas e nnunclado por Cristo, nIo , rea.!Jdade meramente
futura ou posterior 'à histórIa dos homens na terra: ao cem-
trirlo, ele tem InIcio antes da segunda vinda de Cristo e tende
a desabroçhar-se nos tempos atuais. inspirando e penetrando
todas as insUtuiçóes da sociedade como uma semente qUe ex·
pande a sua vitalidade. Por conseguinte, é para desejar que
a in1ustiça. o amor e o senso de fraternidade, Uplcos do Reino
de Deus, vão debelando desde ji a injustiça, o ódio e as divI·
sões que o primeiro pecado introduziu na terrL
1: necessârlo, porem, acrescentar que, m.una autêntica
visão cristã. a isenção de todos os males f1s1cos e morais MO
se Clbterã jamais na hist6rIa deste mundo; enquanto a huma·
nldade for peregrina sobre a terra, deverá lutar sempre con-
tra o pecado e suas conseqUências; poderá mesmo acontecer
que o pecado se torne mais requintado com o decorrer dos
tempos nesta ou naquela região. O ReIno de Deus só será.
plenamente instaurado quando n últirrut inlrnlga, a. morte, esti-
ver totalmente vencida pela ressurreição dos mortos (cf. 1
Cor 15, 25-27) . Ê a consciência destas verdades que impede
o cristão de O\!Ie Iludir quanto à utopia de uma csalvaçlo con·
sumada" sobre a terra; é Isto também que o conserva sempre
anslosamente aberto à transcendência ou às realidadE:S defini-
tivas.
3) Não M dúvida, o c _ traz bo& parte da _ _
bWdado pela implantação da ordem social. A pollUca (na
medida em que significa a erte de comunicar harmonia e pros-
perldade à sociedade) não é alheia ao cristão. Pode haver
mesmo vocações políticas, como 'hA a do médico, a do advo-
gado. a do engenheiro, etc. Pelá tato de milltar na politlca.
(com reta intenção e consclência pura, como se compreende),
-21-
22 cPERCtJNn:l E Rl!!SPONDEREMOS. 18U19'7S

o erlstão não se deve sentir alheio à vida de oração e D. ele-


vada esplrJtualldade; ao contrArio, ê através mesmo das suas
atividades seculares que ele se deve santificar; unindo-se aos
lnnã05 com autêntico amor cr1stão. une-se cada vez ma!s a
CrIsto e vice-versa.
Estabelecidos estes prlnclp!os, bnportaJJlOS verlficar os
pontos em que a teologia da libertação merece ~rias restri-
ções.

3 •2 • Enfoque dlverao
Procederemos por et8pBJ:
1) Embora o problema. da Injustiça social .seja inegável
e premente, pode-se dizer que os teólogos da libertação o colo--
cam de maneira unllateral. Jt o que os leva a conclusões. por
vezes, inaceitáveis.
Com efeito. Em algum.. das teses atrás propostas, trans-
parecla o primado do homem em relação e Deus; o Cristia-
nismo aparece como um :dstema de retonna social. Nesse sis-
tema, em termos expllcltos ou lmpUeltos (de maneira eons·
dente ou subconsciente). Deus está. presente, sIm. mas pre-
sente maJs como catal1sador e motivador da refonna do que
como Alfa e Omega de todo o processo. O CrlstJanismo assim
concebido torna·se antropoc! ntrlco, fazendo de Deus (ao me-
nos, Implicitamente) uma função do homem ou redu7.indo Deus
à sua lmanêncla no homem: donde facUmente se chega a um
cCrlsttantsmo sem Deus. ou cCrlstlanlsmo ateu:J. Neste con-
texto. Cristo é concebido como o chamem para os outI'01:J,
como se toda a missão de Cristo se resumisse no seIVIço à
humanidade, sem se levar em conta o amor e a glorlfica-;:lo
ao PaJ que foram o segredo intimo de toda a missão terrestre
de Jesus.
2) Também não se pode esquecer que o agi? do crlstio,
embora. esteja voltado para sltua0;õe5 concretas. não visa ape-
nas a remediar a ess3S situações segundo critérios de antro-
pologia, economia, sociologJa ou fiJosorta poUtlca .. • , mas a.
SOlUçA0 a que o Cristianismo visa estA. envolvida em um plano
maior de salvação concebido por Deus; em eonseqUêncla, o
crlstJo depreende os seus critérios de ac:ão (práxlll) não so-
mente das clênclas humanas, mas também. e prlmelramente.
da fé e das proposições que se prendem a esta. A teok>gla,
_22_
TEOLOGIA DA LlBERTACAO 23

portanto, não pode deixar de ser. antes do mais, 8 penetracia


das verdades da fé ou da Revelação DIvina.; em segunda iJ1s.
tAncla( () que nAo quer dizer: desinteressadamente), 6 teologia
aponta ao crlstlo as Unhas-mestras do seu agir.
Em outros tennos: os critérios da ética cristã são dedu~
%Idos da fé, que tem valores perenes a encarnar dentro d~
situações contingentes e mom~tAneas. Disto se segue que a
6tica cristA não aceita nem legitima qualquer melo de aeio
(co fim não justlflca os meios,.) nem o es(or; o do cristão
I

pode ser valorLzado apenas em função dos resultados sócio--


--econômIcos que ele atinja (embora estes sejam Importantes) i
mas a tarefa do dlsclpulo de Cristo ti de ser avaliada na
medida em que corresponde a uma lde:1tlf1cação Intima do
c::r1stio com CrIsto. Ora Cristo expulsou, sim. Os vendllMes do
templo, mas ensinou a mansidão da coração (cf. Mt 11.28-30)
e a transcendêncla do seu Reino (cf. Jo 19,36).
3) A fundamentacão da teologia da libertação na l3lblla
merece atenção mais detida:
_ A obra de Moisés, homem de Deus e m'stlco. teve
realmente sua ft!pel'CUSSfio sóclo--poUtlca; Moisés se empenhou
ardorosamente por emancipar seu povo da opresslio egfpcla.
Note-se, porém. Que o tez em virtude de expUclta ordem de
DeuJ, '" qual Moisés • principio queria subtrair-... O Senhor
a encorajou e Incitou a come"ar a perseverar. dando-lhe sJnals
evidentes de sua santa vontade.
O mesmo aconteceu com os profetas blbUeos (Jeremias.
Am6s, Osélas ... ), que costumam ser apontados como protó-
tipos do profeta crlst10 em nossos dias 1. Observe-se que os
profetas blbllcos:
a) desempenharam sua mlssAc por expUclto mandato do
Senhor Deus, não raro depois de haver relutado (d. Jeremlas,
.AmO. .. o);
b) embora recriminassem severamente os vlcios e as
injustiças dos malorals de Samaria ou de Judi, nunca 1nclta·
ram o povo à violência ou à rebeUio annada pB.I'8. lnstaur&r
nova ordem soclal.
I T.nh • ...ae .m '111at., .nlre outr.. mufl... • .. gulnla p.... gem de
Am6s: "J' que oprimia o pobre 8 d.le 8)1(191, tributos d. trigo, nlo habl·
tartla NlUH plllicloe d. p.dra que COnstrullles. Nlo beberei. o vinho
da vinha excelent•• que plant••I.... (Arn 5,11).

-23-
N cPERGTJIffE_E_~PONDEJtEL.tos. 18Vl975

Pois bem. l!; dlficll a um cristão em nossos dias, diante


das sltuacÕeS polltlcas com Que se defronte, ter certeza abso-
luta de que Deus o chama para um empreendimento seme-
lhante ao de Moisés. Com efeito; as conjunturas poliUcus hoje
em dln são complexas, perpassadas por muitas correntes, lns·
plrade.:s por numerosas tendências que as tornam às vezes am~
blguas. Pode acontecer que os mesmos programas sejam pro-
postos por fac;Oes antagônicas entre si. Em tais clrcunstAn~
das, não é fácU a um cristão dizer sem hesita;áo alguma que
somente tal ou tal apeio polltlca é certa ou é fiel ao Evan-
gelho e que Qualquer outra vem a ser covardia ou tralçio.
Também da parte de quem faz sua opção poUtlca requer-ae
grande isencão de palxôes. asslm como racloc'JÚo sereno e
objetivo, para que possa dizer que descobriu a soLução cristã
e pretender que outros a sigam. l!:: certo que existe não pe-
queno risco em identificar detenninada op~o polltlca com
Cristianismo e Evangelho, pois em multos casos pode haver
manipulação do Evangelho e redução deste a partIdarismo
polltlco.
Verdade é que os teOlogos da llberta"ão dizem estar ecns.
.dentes deste perlgo e respondem que o Esplrlto Santo inspiro
a comunidade crIstA. e faz descobrir aos cristãos os autêntlC03
alvitres da caridade evangéUea em tal ou tal situacáo. Diante
de tal afirmação, pode.se observar que, não há dúvida, o ~
pirita guia os seus fiéis, mas nem sempre é fácU cUstlngulr
as genu~ Inspirações do mesmoj como em todoS 05 temp03,
também hoje h6 carismas e ccar1smas~.
4) O binômio copressores e oprim.ldos:., designando res·
pect1vamen te ricos e pob...., pode ser simplório e Injusto. PoIs,
na verdade, bã pessoas de posses honestamente «dquiridas que
têm apurado senso de jUstiça social, como pode também haver
pessoas indigentes que oprimam . .. a quem possam e como
possam. Não é licito, pois, rotular pejorativamente a pe.!:SOa
humana pelo Simples fato de pertencer a determinada cnte-
goria soclo.l. Não se deve Calar de pecado oolet:vo senão dcpoh;
de se ter certeza de que cada um das membros dess3.S coletl~
. vidades é pessoalmente réu desse pecado; cada pessoa hwnana
merece atenção em si mesma, e não deve ser rotulada por
erl.tér:()$ Impessoals ou coletivistas. Leve-se, poIs. em conta
a maneira como cada pessoa vive o momento e · as oportwú-
dados que Deus lhe dã.
Náo se pode esquecer t.amMm que b vezes certas pes-
soas se vêem a contra· gosto envolvidas em situações que lhes
_24_
TEOLOGIA DA L1BERTAC.\O 25

desagradam profundamente e 8S fazem sobra no seu Intimo;


todavia tais pessoas no momento não têm solução para essas
'sltuaÇijes, visto Que e. solução não dependeria apenas de um
ou dol5 responsáveis, mas de um conjunto de pessoas e clr·
"CUnstAnclas que em tal momento nlio são propicias. F.reqUen·
temente, o cristão, preso nos 10;05 de sua dolorosa situação,
esforça--se por dar-lhe o remédio, preparando 03 e&mnhos da
"justiça. Quem assim procede, não pode ser acusado de 1niqill-
'dacJe e opressão; somente Deus vê o inUmo das consclências e
julga o grau de sinceridade com que o cristão procede para
debelar a lnjustlca e Implantar a ordem social. Um observa-
dor cr!tlco que não queira calr, ele mesmo, na injustiça, não
pode 19porar que se dão realmente tais casos.
De resto. o ap6stolo cristão é devedor a ricos e pobres.
gl'nIldes e pequenos .. . Há ricos que se diz.em cristãos e que-
rem ser fiéis à sua M. A estes o al)6stolo ou o pastor pro-
curará ajudar para qUe tomem conscl~nclll dos selO deveres
de cristãos abastados; é peln palavra IntelIgente e bgnévola ou
pelas etapas de autêntica fonnBcão cristã que se cr:am men..
talldades e comportamentos duradouros, e não pela hostllt-
dade de lingwlgem ou pelo distanciamento preconcebido. Ao
apOstolo cristão compete exercer um servl·o de reconclllação
dos homens entre si e com Deus, à imitação de Cristo e dos
primeiros apOstolos; essa rcconcllJa;ão há de ser tentada, antes
do mais, peja apresentação de valores hwnanos e cristlos (8
verdade, o amor, o testemunho (1.3. vIda) ; somente se este pro--
cesso é infrutIfero, pode-se tomar-se UcIto aQ cr1stAo pensar
~m debelar o mal por outros métodos.

A radlcallzaçao da disUnção entre ricos e pobres, gran-


des e pequenos, e o atlçamcnto da luta destes contra aqueles
nlio somente podem redundar em novas formas de lnjustl(8.,
ma1s também podem dar ocasião à infiltração do marxismo
em fJlelras cristãs. pois é o marxismo que propugna catego-
l"icnmente tal luta.
5) Em última anãllse, o enfoque cristão do problema
social é Insepará.vel do fundo de cen<l bIbUco mais remoto e
decls1vo do que qualquer outro, fundo de cena Que se exprime
por estas palavras: queda Inicial, sa.lva ~lo pela Cruz de Crlsto~
Batismo e Eucaristia. Se hoje o homem oprime o homem ou
se Ca1m matou (e continua a matar) Abel. é porque o prl·
melro homem ae afastou de Deu!!, tomando--se auto-suflc~ente
e egocêntrIco. Para livrar o homem da. servidão do pecado e
-25 -
2G cPERCUNI'E E RESPONDEREMOS. 18Ul97S

da morte (assim introduzida no mundo). Cristo tomou..se o


novo Adão. obediente até a morte de Cruz; assim cancelou a
desobediência do primeiro Adão. :e
mediante a participação
na morte e ressurreição de Cristo pelo Batismo e a EucarlsUa
que o homem hoje consegue o princípio de sua liberta;iioj esta
é, antes do mais, Ubertacão frente à morte, à qual o pecado
condenou o homem. A libertação cristã é, antes do mala.
libertação frente ao pecado pessoal de cad:l homem; na me-
dida em que esta se realiza, pode-se crer que i ) pecado co1e-
tivo também vá sendo debelada. Libertando-se lnt&rlormente
do pecado~ o Cl'istão em sua aelo social sabem oombater a
InJust1('8., sem ódio nem paixão desrograda, num autêntico
amor a seus irmãos.

Esta poslcão genuinamente cristã é formu'ada pelo S. Pa-


dre Paulo VI num discurso proterldo dIante do Grupo ltallano
cLalcl per I'Amerlca Latina>, grupo vinculado 11 Comissão
Episcopal Italiana para a América Latina (CEIAL); este
grupo Interessa-se e~ialmente pelas questões sociais do nosso
continente, ao qual tendona ser útil. Oro o grupo cLatc.l per
l'Amerlca Latina.. realizou em julho pp. a sua assembléia
anual. que versou sobre o tema cO homem novO» (tema que
encontra ra.Szes e ressonâncias tanto nas cartas de São Paulo
Quanto nos documentos do marxismo). Ao tenno da assem-
bléia, o grupo foi recebido pelo S. Padre Paulo VI a08
31/VII/74. que, sabedor das dificuldades e dlvergên<:1os oriun-
das nos dias anteriores entre os membros da assemblêla.
houve por bem pronunciar as seguintes palavras:
"A obra da Crllto , uma llbertaçlo. Llbertaçlo de quM _ Ube,.
11010 di morte, • qUII o pecado (qua • aepatl;llJ da no... vIda, da
lont. p,lml',., verdadalra e n.can.rla d. VIda dMna) nClt hlVl. dest).
nado. Crlaro • par. nól. numa ordem emInente, nova cllaclo (cl. Oi' 6,115:
2 Cor 5,17). A r6COnclllaçlo com o6UI, qua nos 101 obllda por CrI.to.
no, laz revl't'tlr, hoje na graça, amanhA na gl6rla, .. IIvtfmol • IOrte
"TOmatlda desta dalln1tlva a trIunfante IIbartaçlo.
A teolDgl1 d. lalvaçAo pedI, poli, ser vlstl atrav" da"a prlam.
da ru' UDartaÇlO... QrJnde ,abedorrl • compraender I IIbartaçlo .qua
,. noaa r•• temb6m ca,t. axpatltncla no••a not dizem ocorrar am vlr-
luda da • ...,.;10 ,.alluda por C,lslo. Eua IIban.çIo .I"nlnca lMn'noa
admltld03 tr reconclllaÇio '011 com OIUI • axonerado. dOI 'rlala dllll-
~ 40 pacado, allvladoa do puadelo da ,. lllIdade do mal a da obscurl-
dada da mona, tranqDlllzados aC9n:a da natUfeu e da IInalldada nIo
mallincI, mil prO\lldancllla, di dor, .... nlm.do. - Ip6. I IfJlcçlo de»
d"'l~ro a a dâvlda ' obre « 'alte; de tlsnlrlcado dll nona exl.ttnela -
pala "pe,ança ..• a ainda tetmos tido IdmlUdos n. economIa. n. tIOOI.
do amor. lato' um. ventura tAo "rande, tio Imensa novlcladt ••• qui

-26-
TEOLOGIA DA UBERTACAO 27

m.rece da nouI Plrtt uma rene)(IG !ealÓQlcl, lobratudo porqlJe ..bemOl


que , • Verdade qUI nOl torna livrei (Cf, Jo 8,32).

Ma. hi mala. A llbertaçlo crlstl tem poder regen.rador: tOma-t'lOll


bonl, otlmlslal, 6gel•• Intlllgentes Im luar o bem, ~ra .l6m do noaao
Intl,..,. .DlSp,.nd~noa dOI vlnc,dos do ego/amo. do medo, da prw-
9ulçe, • permitI l nau. Ilvr. personalldad., exptndlt1e no . .ntlmento I
na atlvJcS.d, eoclal: OI homenl Ipras.ntam-se-noa nlo 16 como m....
esmagado,. dI "tllnhOS, coneor""I" ou Inlmlgol, ma como mullldlo
at,.,nte formada por Ntntthanl", comptnhelro" Itmlot nosto., OI qual•
• um dever • um. honf'fl limar. prestar-Ih" •• rvlço. O vlllor ltOCIaI da
I1b.rta~1ocrlstl bfott da carldad., quI" tomou prec.ello • he~ do
.eguldor dt Cr1810. Por Isto uma concepçlo nova da vida locllll prolbe-
-not. crtltall%l' o •• peclo •• titlco dI. condlç60s humanas. qUlndo . . .
lomentam • (I'lloullda<lo • • riqueza agol.ta; a, por oullo lado, analne-
·nos que o dinamismo .oelal, . . . premevldo pelo ódio. pela vlollncll •
pela vlngan~, nlo not leva l Ilbtrdade desejada. nem ao verdacltlro pro-
grena humano.

Dever·. .·!. pota, aalar alanto, a fiM cI6 que a tlberta9l0 que Nlsc.
da f6 ·crlall, lal como 6 prole... da pela Igreja Cttil611ca, COMaM • IUI
IOglca darlvaçlo 8 a . ua da.ll na"lo poUvalanta, ma. aultnllca: Nlba tra'
duzlr's, em eKSHast;II01 fecundas e ollglnal,. com novo vigor e Intellglnte
Inlulçlo d"l necessidade, que o dlllenvolvlmento da clvlllzaçlo. 101'1'" d.
aplacar, loma mal. 6bvla. ,exlg8ntes. O..... ,....·, "tar atanto - .cru-
centamoa - para qUI • IIDerelada ellatl nlo lIela Instrumentalizada. pari
IIn. provavelment8 polfucoa. nlm Coloc8da ao aaNI~o da Idaologla tRl·
calmante dlscordanl'" da eonc.pçlo rellg[osa da 1'10511 vida, nem ainda
lubJugada por movlml ntOll aOclo-polftlcol contra rios a nosaa f.
I .. noua
Igrela. como Infellunanla a uperlfncla mundIal hoje demene.!llI. Nlo ..'"
mOI cego,'

A IlbarlaçAo cflstA nlo deve assumir um .lgnIReado dlverao ou ""amo


lalvez contr'rlo ao . eu genulno \"Ilor; e que, mullo provavelm8nl., aco~
leeerla caao tamb6m ala .. 10m. . . alnOnlmo da luta apllorfatlca e pro-
OrlmiUca anlra u classes ICc[ala, hoje mab do que nunca convldad..
pelll pr6pllas 101. do ptogros.so ecol'lOmlco a coneabaram u aua rei ••
ç68$ em .ermos da complemenlarledede, da c~ ..tlclpaçlo • de cola.
raçlo, tem ..tem esllmulad.. pela obceCAnte miragem da uma revoluçlo
Joelel radicar. dullnada a transformar-se em pnt!ulzo comum, multo dHf.
cllm.nle re.,.r'vel. As "Iruluru IUlldlc.. que •• heJam tornado op,....
alvas • Inlu.ta•• deva rio. . Im, .ubmeter·a. nIo a 'an'IISl$' materialistas
a em grande parte cientificam ante ultrapassadas, como .. tais 'an"lses'
louam de f.to libertador.. a Inlegralmenle humanas, mu, antes, 1 Nbl.,
coerenl. li aUva critica do. principio. aDclal. e religioso. crl.tloa, anti-
nados e prOClamados com coragem 8van;61IclII. ~ Isto o que lambtm •
Jgreja. com I colaboraç60 de aiblOll maslrel, poda e deve lazer, pel. voz
do. . .u. PaslOIM e do pO\lO rlal... "'quel.. estrutural jurldfc.. de .... rlo
ser ralormad.. mac!lanl. uma açlo esclarecida e forte do. cldadla. beln.
8 livres, pera o. qual. '(lu.le, meSll'\os pllnclploa cII.tlo., lonae de ..rem
olJ5t.tculos qUI NtOIVan'I, podem constituir Iw: Inspiradora • IncompI.6vo1
oallmulo para a "g.n"I;lo tenaz da uma aocl.dad8 modlrna e paclnea,
otelenada segundo uma lustlça con,tanlemenle atualluda e um emor Mm-
pIe tratemo • c/vlco".

-27_
28 .PDtCUN1:E_E RESPO@EREMOS. 181/1975

Como se vê, Paulo VI identifica entre si cUbertacio. e


csalvatão:t. Acentua, porém, que esta não deve servir a fIna-
lidades pollticas nem deve ser Identificada com luta precon-
cebida e programât1ca entre as classes sociais. Com isto, fica
dissipada a concep;ão de que a libertação crl.stA nlo toma seu
verdadeiro sentido senão no plano econômico e social. Na
verdade, a llbertação cristã já foi adquIrida por Cristo; ela
tende a se desenvolver e apllcar através dos séculO! para
atingir a sua plenitude na escatologia ou na consumação doe:
tempos. Quanto As análises da, ,Ituações ,oelals apregoadu
por arautos caMUeos da libertação, o Papa as quall!lca de
·materlallstas e clentltlcamente superadas. Estas verdades, p0-
rém, não querem dizer que 8 salvação cristã nada tem que
ver com a renovação da ordem sóc;o-econômlca de nossos
palses; com efeito, o ressurreição de Cristo tem projeção no
mundo Inteiro; este não é o reino do diabo: mas ht de ser
mais e mafs penetrado e regido pejos princlpios da. justiça e
do amor que o Evangelho apregoa. .
1:: para desejar Que a fé e n sabedoria InspIradoras das
'palavras de PaUlo VI se comuniquem a todos os homens!

IIbRogr.:JII:
Aevlsu. "Conc1l1um" 1974: '-prexlt de I1b6ratlon el foi chr6Uenn. (111M-
b4tm em portuguét).
ltIonardo BolI, "Jesu. CrIsto LIbertador", Pet~ópol1t, 1972.
Idem, artlgot mensalt na revista "Grand.e Sina'" ano 28 (1974).
Enrfa ue Dusael. "Para una e!loa de la Ilber.crÓn l.tlnoamarlceM".
BU8not Alroa 1973--1974 (lomos I. 11 a 111).
V'rlos. "LlbenllcI6n : Olalogos en el CEW.M". Bogot! 1914.
Hugo Asemann, "Opra,Ion-UberacI6n. desafio a los crlaU.noa". Mon--
kwld6u 1871.
Rubem Alve.. "EI pueblo de Olos y la IIberacl6n deI hombre", A·
chu de ISAL Montevidéu 3 (1970).
Eduardo Plronlo. "Teologll da la IlOOrlcI6n". em " CII'IOrlo", Bue-
"OI AI,e. 1608 (1970),
Idem, "Eaollloa Pulorlln". Madrid 197-3,
Ju6n L Segundo, "De ka .ocledad • I. 1001001.". Baenot AI .... HI70.
Pr. Malrey. "Ln chr6t1ens d'Am6,lquI Latlne om red.covwut J ..tpo
oChrlat IIbtr.tau,", am "Crol... nc8 des Jeunos n.Uon .... n' 151. . .pl HJ74,
pp. 1~28.
. J. MaJI.. "EI tem. d. I. IlbaraclOn y 81 P.p .... em "Crll.rlo" nt 1088.
22/Vlllt74, pp. 45......SII. .

-28-
Entre Ii tln86.s dOI nOhM lempol ~

progresso e tradição no cristianismo

Em 'In'-•• : o artigo .balxo resllme D adllplll Idéias do Prol. Pe.


HeM PIe", da Universidade de Bamberga (Alemanha) expoelaa no ..tudo
"FOr und wlder das T,edltlonschllslenlum", esludo que o m"l,. d...Jou
fou. divulgado no Brull.
Enl,. doi. IIpos de C,lstlanl,mo (Calollcllmo) - o extremamente , .
ctt.do ou COl\Iervedor e o radicalmente ,,'ormllra ou Inovador - colo--
c....... Im.gana do Crlstl.nlsmo qua . abe ,"oclar entra . 1' t.annonlot...
m.nte TraCUç'o e ProgreSlo, Essa Imagem procede da conse/'ncle. de que

- ti. elemenlOll e"ancl.1I , Imu""e" ne. IgreJa: lal, OI artiGOS


da t6. d'dtttldol d. S. Escrltu,a • d. Trldlçlo e "ulanlleamanta 81111nldOl
~.Io magistério da Igreja. ~ lambém Imu' ...... 1 a consl1tulçlo ' eplscopal da
Ig'eJa, lIndo l frente o bispo ele Romo 011 o Papa, • quem Crllto pro--
me'eu a.llstAncla Infal/vel para conllrmar aauI IrmAOI na fé, cf, t.41 18.181;
te 2U2j Jo 21,15-17;
- ~ alamanlol acldenl'" , mil"""na Igreja. ra'! ·tIo çtrt_
,xp,..l6.. do verdades da r. que devam .er fOlmuladas (Iem pre)ulzo
do leu contaodo) de maneira Int.lIglvel aos homens de clda época. Tala
110 também certos costume, e clrta! normlS dllclpnnares., IItOrgICII. )url-
dl~, que dependem de certa cultura, • nlo podem aer ' unlrormement.
Impost•• ao. homens que nlo compartlltMIm a mesma cullu,., .
e Intvl16vel certa renovaçlo eles lonnu tcldentals da 'IIreJ', Qu....'
Impedi-Ia .lgn1flca contradizer .. reelldada da vide, TOdavia • preciso q\Ie'
essas fefennas acldenlels. pila .. , frutuosas, preancham duaa condlç&8J:
.. jam IIcllll (alttando aptnal o acld.nlal) 8 oportuna (condll.nltl com
as nec83sldadea da Igreja na ,0glAo e na populaç.lo em quo .. dA a
reforma. I m focol , Nem tudo que é licito' oportuno e de..)'-vel, em ma-
I.rla d, ronovaçlo da IgreJa.
I": alllm que .e poda conngura, a Ifnte.. entre Tradlçlo , ProgrHlO
na 'greJI de hoJe. .

• ••
OoIDcotárlo: De 14, a 20 de 1ulho de 1974 realizou-se a n
Semana Internacional de Filosofia em Petrópolis CRJ), de que
particlparam grandes mestres naclonaJs e estrangeiros. entre
os quais estava o Prot. Pe. Hans Prel), de Bamberga na
Alemanha. Este pensador, em palestras e escritos, exp& o seu
penaamento a respeito da influência de correntes fllosóflcas DO
-29-
30 cPERGUN'I"F. E RESPONDEREMOS~ 18111975

Cristianismo de nossos dias, exprlmindo o desejo de que


ePergunte e Responderemos, se Interessasse por dlwlgar u
refiexões do mestre . J!: o que vamos fazer abaixo, servindo-
-nos de \DI1 escrito de Hal15 PfeU intitulado t:Für und w1der
das Trad1tlonschristendum ~ ' (sem data), Esse estudo, distrl-
b\Údo pelo Prof, Hans Ffeil aos semanistas, serã por nós
abreviado e devidamente adaptado ao público brasileiro, n·
cando, porem, incólume o pensamento do autor alemão,
Tratar-se-ã das rela.cÕes entre Cristianismo e Tradição,
entendendo-se e'n'adicáo, em sentido amplo; abrange, no ca-
iO, tudo aquilo que vinha sendo transmitido de geracAo a ge.
raçAo no Cristianismo (ou, mols precisamente, no Catolicismo)
até o ConclUo do Vaticano 11 (1002-1965): verdades de fé, sen-
tenças comuns entre os teOlogos, preceItos morais, costumes
e usos disciplinares, jUl'idicos, litúrgicos, etc. O objetivo do
presente estudo será averiguar os critérios aptos para se re-
solver e ,tensão hoje vigente entre cconservadorlsmo~ e cpro-
gresslsmo~ e se conceber a autêntica face do Cr:stianismo em
nOSSOS dias, - COmo se vê, o problema é candente.

1. Dois tipos de Cristianismo


Embora toda esquematlzaçAo corra o rlsco de ser uni·
lateral, distinguiremos, por moUvos metodológicos, dois tipos
de Cristianismo Q se defrontar: o tradicionalista e O p:ro-
gressl.sta .

1. 1. Tradlclonalllmo
lIA hoje em dia cr1stlos que desejam conservar 6em dia-
tlnCfi.o todo o patrimônio da Tradição e, conseqüentemente,
recusam toda e qua1quer inovação, seja no modo de falar.
seja no modo de se comportar da Igreja, Rejeitam, por exem-
plo, qualquer tentativa de se relormularem as verdades da f~
(guardancfo.se tncólume o seu conteúdo), a fim de expriml-
-las no contexto do mundo de hoje ou aprofundã-Ias em vista
de problemas colocados pelo pensamento contemporâneo; de.
fendem todas a:I opiniões Q!ltem vigentes entre os moralistas.
sem d1st1ngu1r entre a Lei de Deus e as normas contingente-
mente impostas aos cristãos em conseqUência de deternunada
1 "Ao favor ou em contrArio cio Crlalllnlsmo d. Tradlçlo",

-30-
PROGRESSO E TRADlCÁO

fase de cultura ou detenninBda estrutura da socledadej


opõem-.. outrosslm às Inova;ões Utúrg" cas, considerando
mesmo alguns ritos ou livros Iltíarglcos posterIores ao Concllio
do Vaticano n como heréUcos • .•

Esses crlstios sofi'em profundamente ao verem que certas


express6es da Igreja em nossos cUas se alteram; têtn a lmpres.
são de que o pecado e
o sacrilégio se instauram cada vez
mais no santuário de Deus. 1:: por isto que se mostram insa-
tisfeitos e desgostosos. - Toma-se necessário que OS d~
crl.stA.os, mesmo qu/! não eompartllhem as coneepcões dos
tradJc1onallstas, reconheçam o zelo csubjetiyo ~ qU2 os move, e
saibam prestar-lhes o S!U tesllm1unho de amor fraterno e de
respeito, que são a única atitude concebtvel entre crlItAos I,

1 .2. 'Refonn!.mo r.dlcal


Frente aos incondicionais adeptos da Tradição. existem
os cristãos que, movidos por esp'rlto de reforma incondicio-
nal ou pelo gosto da novidade, desdizem o que lhes foi entre-
gue, e propõem alterações radicais no testemunho que o Qis.
tianlsmo deve dar aos homens de hoje. A fim de poder enoon.
trai' audiência por parte dos nossos contemporâneos, exp6em
as verdades da té de maneira que muda essencla1mente o seo
sentido origlnãr1o. ou questionam essas verdades de modo 8
lhes esvaziar o conteúdo. Desejosos de não .assustar.. 05 que
se poderiam interessar pelo Cristianismo, atenuam ou mesmo
cancelam certos preceitos da Moral cristã. Para tomar mala
fltraentes 8$ celebrações da Liturgia, menosprezam os ritos
oficiais e tomam a Uberdade de fazer experiências de culto
divino que confundem ou mesmo escandalizam multa gente.
Reconhecemos Que em muitos casos o erro objetlvo pode
ser sustentado com boa fé e candura subjetlvas; só Deus jul-
ga a consclêncla de Quem diz ou faz algo de errlmeo. Não h6
dúvi~ em muitos dos Inovadores radicais existe boa Inten-
ção e sincero desejo de acertar e tornar o Cristianismo cadll
vez mais atuante na sociedade contemporânea. Não ê menos
verdade que em nlio poucos outros casos existe mais levian--
dade e superficialidade do que insplração teológica e mo-
tivação profunda para as lnovacOes. Como os seus irmãos do
101111 Jesus: "Nlalo reconheceria todOl que aole meu. dlaclpu!OI,
amardea UM BO' outroe. ,. Alllm como eu Y08 am.I, tamIMm 'YOI
M .... 0.
devei. etnar UIW 101 outroe" (Jo 13,34.).
_ 31-
12 cPERGUNT'E E RESPONDEREMOS, lBl)1!J75

extremo oposto. muitos Inovadores também sofrem. pois sen-


tem que nem sempre são compreendidos, passando por infiéis
e traidores, ,. - Ê. pois, para desejar que os demais cristlos.
ainda que alheios ao seu modo de pensar, (lS saibam tratar
com amor sobrenatural. procurando imitar o Servidor de Javé.
que, conforme o profet.. Isaías, cnão quebraria o can1:o ra-
chado nem apagaria o pavio Ilindn fwncgantelJ (Is 42,3),

1 .3. Que dizer?

Não há quem não sinta a problemática atrlls exposta. Na


realidade, todo Ciel católico encontra irmãos que defendam,
total ou parcialmente, uma ou outra das duas posições ex~
tremas:,
Ambas labutam em erro'. como é fácil reconhecer,
a) COm eíelto, aos conservadores extremados pode-se
lembrar que os tempos mudam, acarretando no\'as culturas e
novos tipos de clviliza~ão. Em particular, os tempos atuala
são marcados por nottwels transformações n05 mais varia-
dos setores; fala-se mesmo da cidade do átomo e da auto-
mação,. Om a Igreja que se compõe de homens (embora
não somente de homens., .) seria a única sociedade a não
querer sentir a realidade dessas mudanças? Poderia. Ela pre-
tender Ignorar que os homens, a quem Ela deve dirIgir a
mensagem do Evangelho, trazem pressupostos, preocupaCóes e
anseios diversos daqueles que caracterIzavam as gerações ante-
rlores?' Poderia Ela deixar de levar em conta as novas clr-
cunstAncJas, Que exigem não mudanca da mensagem, mas n
das formas de expressão dessa eterna mensagem? .
Ademais todo ser vive está em contInuo desabrochar. U·
rando de suas vlrtuaJldades novas energias e :me.nlfestações ...
Quem tenciona impedir o ser vivo de se desenvolver, condena~
a definhar e a morrer. Ora a Igreja é uma ~aJidade viva.
sujeita às leis da vida temporal, embora nela haja, sem dúvida,
elementos eternos: a lei da Encarnaç§.o, que afe!aYa o Filho
de Deus feito homem 1, afeta tambl!m o Corpo Mistlco de
Cristo ou a S. Igreja,
1 Falamoa de erro obJ.Uvo, erro de matór la ou ele contetlelo. ·
, Dizia o Imperador LolArlo (840.055): "Temporll mullnlur, nOI .,
mutemur In 11111, - Oa tompos mudam, • nos mudamos Imerlol n.,a ....
• "Jalus crelcla em sabedoria, em el tatura e em graça dlant. d.
O.UI! • dOI l'Iomen," (Lc 2,521.

- 32 ~
PROGRESSO E TRADICÁO

b} Aos inovadores extremistas deve-S2 recordar que em


Qualquer setor (na socledade, na cultura. como também na
Igreja) as revlravollas bruscas e as guInadas de 180' são g ..
ralmente perigosas ou mesmo mortais. Na doutrina e na vida
da Igreja existem limites que não é Uclto violar t porque o p~
prlo Dew 05 estabeleceu . Quem queira cvender~ o Crlstla·
nlsmo a preço sempre mais barato e em roupagem sempre va·
rlante, contradiz ao Esp:rlto de CrIsto e não conseguIrA o :In.
tento, pois suscltarâ em tomo de si ou tristeza e anJçlo OU
escámIo e derlsio; rldIcuJo viria a ser tal CrIstIanismo.
Mala: seria leviano e utópIco pretender derrubar o legado
do passado para recome;e.r a construir o Cristianismo. Quem
o pretendesse, já não construiria Crlstlanismo, mas, sim. obra
humana, inspirada por fUosotlas humanas e transitórias. O
CrIstianismo remonta necessariamente B. Cristo e aos Ap&.
tolos, de "modo que qualquer ruptura (violenta cu suave e ceIe-
gante,., pouco importa) com o passado é morte para o CrJs.
ttanlsmo.
Antes que se derrube qualquer coisa, ~ preclso que le
pense bem nas possibilidades e nas d ificuldades de cónstnilr
algo de melhor em seu lugar. Se este problema não estA.resol·
.vida; a sabedoria. manda que não se toque na realldade ~
tente.
. . Dlante. das duas posleões extremas que acabam de ser
esbo~d8S, preconiza-.se um Cristianismo que associe, ao · mes-
mo tempo, Tradlçlo e Progresso, adesão aos valores antigos
e abertura para novos valores . - l!: esse tipo de CrlstJanlsmo
Que as pAgInas seguintes apresentarão.

2. O Crl,tlanbmo renovado
Para descrever o Crlstlanlsmo assim apregoado, dlstin·
ganwe na Igreja elementos essenciais e elementos ac1dentals.

2.1. Elomontos o_nelala


1:1 essencial na Igreja o depósito da Revelação Dlv1ne.. ~
munlcada aos homens desde os tempos do Patriarca Abralo,
até Jesus CrIsto e a geração dos Apóstolos. Esta Revelacáo
se encontra nas EscrIturas Sagradas e na Tl'adlção oral, am·
baa autmlttcamente Interpretadas e trammlttdas pelo magia,
- .33_
34 cPERCuNTE E RESPONDEREM6s~ 18111975

têrlo da Igreja, a quem Jesus CrIstO prometeu. sua assistên-


cia Infallvel (cf. Mt 16,l8s; 18,18; 28,18-29). .. ..
Diz o ConclUo do Vaticano Ir na sua ConstltulCio" ..Lu-
men Gentium:t referente ê. Igreja:
" "0II'1II ele modo' pettlcvllr Ilr presl8CII ~1I!lo'l . ubmllalo "da YOfIo
..... I di Int8hglncla 110 lulAntko mllglslj.lo do Romano pontmca, _
(Ulndo "lo fali IX c.thed,a, E 1110 de tal foma qUI o NU "mll~rIo
IUprlmo "la reve,.nta_ml "ccMac1dO, llJU ..mlnpa aI_r......MiI
IICORlId ... . . mp,.' d. aco "do com a .ua mlnll I vontadl. 1Ee'-: 'mem. I
vontade con.. pllnclpllmenll di Indo" dOll doeum"'lOt ou ela .,...
qüente proposlçlo di um. mesma doutrina ou de SUl m....JI'I di r.. .,....
r 'Lumen Glfttlum" '" 25).

Quanto aos demais bispos, declara o Concilio "que. indivi-


dualmente considerados, nlo gozem de lnfallbUidade; todavia",
.. mesmo quando dlspersos pelo mundo, guardando, porém, a
comunhão entre si e com o SUCMSOr de Pedro, podem ensinai
autenticamente sobre assuntos de fé e de moral; é o que acon-
tece gu~do, "concordes, propõem aos fiéjs a1guma sentença
em tennos definitivos; então enunciam Infallvelmente a dou-
trlna de Cristo, Isto aparece ainda mais claramente quando,
reunidos em Conemo Ecumênico, são ~estres e juizes ~ f~
e da moral para toda a Igreja . Nestes casos é necessàrlo ade-
rir às suas definições com o obséquio da fé:t (ib.) .
. .
. A Infalibilidade do bispo de Roma (S. S . o Papa) e. cio
"colégio dos bispos: urudos ao Papa não se estende a todas ' u
proposlCões que deles procedam; mas c.ela vai tão longe quanto
o exige o depósito da Revelacâo Divina. que deve ser conser-
vaclo Integro e transmitido com fldeUdade> (lb.).
Visto que tal doutrina nos últimos anos vinha sentio dls-
cutida e contestada, a Congregação para a Doutrina da Fé.
órgão oficial da Santa Sé, pubUcou aos 5jVII/ 1973 uma I)e..
dançA0 em que reafirma a assistência do Espírito Santo ao~
pastores da Igreja no desempenho das suas funções pasto.
ra1s. Eis a passagem desse documento que mais interessa ao
presente estudo:
" "O , Eaplflto Santo, com providente ..b.dorl. • com • u~Jo di
lU. a-aça, lula. ta reJa para a vtlrdadl plena al6 a "VInda glOfloea do
I IU IcthDr, .,

Pcr 'MUlulçao IIIMn.. 1I'\IIIIIIIr oa n... flUtenllcementl, Ilta 6, com


.. autorldMII de Crl.to, plrtlclpada di di....... manelr.., , da compeli,..

-34-
PROGRrns<) E TRADICÃO
--~--~~~~~~~---
ela exel",IYa dos Palor... IUCIHIONS d, Ped;'O , dos 0I11II:I' Ap6!11010L
Por 1"0 tamWm "os f1tb nIo podem IImll...... _ ouvl.l08 . . . .MI8ftIIt
como perito. da doutrlnl C11611C1, m., .tlo obrigados a acatllr " MUI
e,.lnamlnlos. mlnlslrado. " ' norne d. Crl.to, com um g ' lu de adtalo
propo~lo"'do .. aUCorldllCla de que ••111 nllo fewastkloa • que ten-
clorwn .Ire.r .. ,

. Embora o ""Irado Mqlll6rto d. IIIN'. l i ~n. da com.mp'"


~Io, cio compol11/M1110 • du IlWIItIg. . . doe ""'•• lU. fu~o ,.,
.. reduz slmplesm.nte • conRrmar o come""""'nlo JI 8Xp",-o pelOl
fI_ ; ma. ma do fIU. 1110. o m.arno MaglaNrto pode .~,.,.... •
. .. .. co...nllmento ou exJg!-fo, na ,,,IcII~o .........rpNblçto da , .
I..,,. de DIUI escrlll OU tl'lnsmlllda d. oulrDl modo., O Povo d. Dlu!,
'U", l.m nec.n1Cl1dt dlll Inl''''''910 I do auxilio do Magllt6rfo, p.rtr.
culannantl quando no .IU .Ilo n levantam I .e dltund6fft dtvlrglncfll
a N.pello d. um. doub'nl que d.v. , Ir acrodllld. ou prol... .rL Attlm
li. 'IntelYlnç6el do Maplllirto 18m por nnalldedl 8Y1lar que, no "li
rior, o (lnlco Corpo d. Cristo v.nha • IJcar prl,Mio da comunhlo numl
Inte-
én~. .... (texto t:anlctUo da rcwlsll RElI, '0'01. 33, .et.mbl'O de 1In,
pp. '.'.).

,. Por conségUlnte, quem se t)roCessa membro da Igreja ca·


tóUca não pode deixar de aceitar o magistérIo da mesma e O
Que este ensina como objeto de fé (há, sem dúvJda, prdposl·
çães da Igreja que orientam apenas e não definem proprla·
mente, ao lado de proposições que têm caráter defln1Uvo e
irrefonnâvel). Por conseguinte, não Sem falta de earld8.de
.fraterna, mas slmples verificação de um fato, dl%er-se que se
separou da Igreja, ao menos em sua consclência ou em seu
Intimo, o cristão qUe não aceite O magistérIo da Igreja nos
tennos atrás assinalados ou recuse professar, por exemplo, ~
Unidade e Trindade de Deus, Jesus como Deus e Homem, ·a
ylrgtndade da Santa Mãe de Deus, o pecado dos primeiros
pals, a morte expiatória e a ressurreição corporal de ~esus. . a
fundação "e a constituição hlerirquica da Igreja por obra de
Jesus, a real presença. de Cristo na Eucaristia, a existhlcla
dos ajas, , , . Tais proposições, entre outras, integram o depó-
sito· da Revelação confiado por Deus g, sua Igreja; esta as
transmite aos fiéis em nome do próprIo Deus. . . '
Como se compreende, nem todas as verdadeS da fé são
da mesma pujança e Jmportânciaj dentre elas, atcumas sjo
prlAlordJals (assim, as que se referem ao mistério da ~da
divIna e ao seu plano salvffico realizado em Cristo), a ponto
de servirem de esteio ou Uustração para outras vel'dades da
M (8 existência dos anfos, o culto elos santos ... ) . l!: o que
d~' o citado documento da S, Congregação para a Doutrina
da Fê publlcado aos 5/1fII173: " . '
=35~
, "b:l1tt ceru.tl\te uma otdt!m 8 uma como que hfe,.,....... cf.,
INI da Igr"" Udo que • dlvt,.o o nelO dOi me_OI OOIWI o fUMIo
mento d. ,6. EIII "'t:.rqul., porn, . tgnt.lca apeno qutI ....... . . .
dogm . . . . fundam 1Gb•• Qut:oa, como princIpal.. a por ........ lbrmIo
NdOl. Ma OI dogma. I1IdOI, porquao te. elldos, d8..... l i ' IgUlill'leftllt
8OrM'''dOl com uma mal..,' " dJ,lna" (REB, liGa. 33, ..lembro d. tl7l.
pp. IISW,

Também se coloca em contradIção ao maglstêrlo da .rça,


Ja quem adere a posIções flIosóllcas relativistas, agnclotlcal,
modern1st:as,. . • recusando a existêncJa de verdades e norma
absolutas, rejeitando a esplrituaUdade da alma e o Uvre arbI-
trio, ou ainda a posslblUdade de se reconhecer Deus medJanti
a ' razAo humana.
Estã Igualmente em oposIção .., magistérIo da Igrej& .é
teparado desta (ao menos Interiormente) quem entende a :re-
noViCio e atualização da Igreja em nossos tempos como J'f!YOa
luçAo em sua estrutura hlerârquIca, como transrormaçAo da
f6 em ccsmovlsão humanltário" como troca do culto çie Deus
na'liturgia por ação social, em suma , . .. quem protessa a lnter~
pretacto dos valores transcendentais ' segundo crjtérlos mera:-
mente irnanentlstas, como taz a cteologJa da morte de Deus~
.)(pOSta em PR 99/1968, pp. 101-110 ; 103/1968, pp. 282-291:
112/1969, pp. 137-147; 115{7969, pp. 275-286. .
Todavia a exlg!ncla de se conservarem os valores eaeD-
daIs do Cristianismo nos termos atrás propostos nada tedl
que ver com estagn ação o,u lmobllisrn,o ; como tol dito, tod.
estagnação de valores vivos signitlca ru!:na e morte . Para que
o CrIstianismo seja fi el a Cristo e autêntlco. exlge-se outroe:-
slJh que esteja aberto às novas Interpelações dos tempol!ll : e
pl'Oelae tirar de sua vIrtuaJId.de ... respostas a~equadaa
~~ .

lt por isto que não se poderia deixar de acrescentar aqui


um navo subtltuIo:
2.2. Elemento. muloele
Distingamos o setor das verdades da fé e o da dIscIpllna
da Igreja.
2",2.1. Verd• •, da .é
Nó tocante às verdades da fé, .10 se pode conceber qUe
ae multiplIquem ou que se proclamem novos artigos da fé,
PROGRESSO E TRADIC.lQ

visto Que a RevelacAo Divina Sê encerrou com CrIsto e a ge-


racão dos ApóstoloS. Todavia pode-se e deve-se desejar Que
sejam mais e mais penetrados e esclarecidos mediante a me-
dJtação e o estQdo dos cristãos. It o que afIrma o ConcWo
do Vaticano n em sua Constltu1(jão sobre a Divina Revelaçio:
. "A T,..I;tio, otlund. dOi ap6lllolol, progrida n. Ia .Ja eob ......
IInela do Etplrfto •• ..to: CfHCe. cem e'ello, a cGmpt'.....1o tanto . .
,.aDdadel como da pai_li transmlUdu. . .la pell contempla;lo • •
.al_ dos que c ·...... u qua" .. mecHlam em .eu coraplo (cf. Lo 2.1I.1t).
••J. pala InUma Intellalnel. qua uperlmentam d81 COhM ..,tltvall.. ..,a
pifo proc:6nto daque'" quI, eom • aucenio do epheopldo, receberlM ·.
cadlml áullnUco da "rdadl. li! qu. I Igrell, no decorrer dOI . . . . .
.... eontlnu.....,... para a pllnllud.i da verdade dtwln.. até ... lIÍt
~am MIl . . palavr.. dI 0. ..." ("Del Val1Mlm" n9 1).
Em nossos dias, sabemos que as clênclas naturais (Ftllca.
Quúnlca, COsmologia . .. ), as ciências históricas (arqueologia,
pal~af paleontoloe1a ... ) e a flJosofla apresentam novu
e novas lnterrogaC6eS à teologia; o mesmo acontece por Parte
dos ateus e dos tléls de outras crenças religiosas. Tenham...
em vista as questões referent!!s A origem do mundo, à· sua
idade, as dúvidas ' concernentes · à . aparicão do homem e dai
racas humanas",. concernentes à hist6ria do povo blbUeo ê
às suas relações com a histórIa da civilizaÇão (Egito, Assiria, .
Babilônia ... ) . .. Para essas lndegações ou objeções. a teolo.
gia tem que encontrar em seu depósito a resposta ou a tenta-
tiva de solução adequada (na medida em que tais assuntos
tócam a fel . Também em rélação aos cristãos (c:at611COl,
protestantes ()u ortodoxos) o teólogo c:alóllc:o tem que exprl.:
rnlr .. verdades da lé de maneira lúcida e Intellg\vel para o
homem de hoje . Esta tarefa, por certo, não é lácll, pc" exI",
_ de linguagem tal que não altere em absoluto o _tido
das Pl"OpoalçOes da fé, como lembrava o S. Padre PaulD VI &.OI
bispos do mundo inteiro ao. 8,IXII{1970:
"'T."," que nos empenur daddldtINn" para que a doutff... da ti
OOllH,.,. O 11ft pllno conteúdo I o PU ,Ignftlcado genvlno ainda que
HUncJad.... modo a poda, atlnalr o .. plllto • o corqio doe ...,...
• quem..... 6 4l;1g1dI". .
Esta exortacio de S. SanUdade não exclui, por exemplO.
q\le se reconhecem na S. Escritura diversas gêneros llterArlol
lA realmente existentes,' nem exclui que os teólogos procurem.
1 Em cDn,.qDlncla, expllcam-aa ca primeiros eapltuloa do OI,""la
(referen'.... ertaçlo do mundo, do homem, da mulhet, lO pllallO. 10
cllIOVlo, .. tOlra dlt B.bel. . . ) de m.nalr. dlver18 da 4:lIAsalça. Tal mudança
.x.~t1ca nlo .omen'l 6 ,lIella, mUi • nece8l6rla para •• gu.rdar RdIIJ..
dada., ao .te)l10 originai I . do lhe .alrlbulr o que o autor ..arado filo
qui. dtler. ..

•....•.. 37 .-.-
38 cPERCuNTE E RESPONDERi:MOS. 181119'75

investigar questões Q respeito das quais a Igreja nio tenha pro-


fessado alguma definição (a exlstência do limbo, 8. sorte das
c.rfanças que morrem sem batismo, a conswnação do univeno,
com céua novos e terra nova, a existência de habitantes em
outros planetas ... ) nem proibe que dêem nova ênfase Q. 'ver-
dades sempre professadas pela Igreja, mas menos realçadas
no próximo passado: tais as proposlcÕes concernentes 80 sacer-
dócio comum dos fiéis, à vocação de todos à santidade,: ao
valor da leitura da Biblla ...
Mas não somente a teologia deve progredir no esclarecl..
mento das verdades da fé. .. Também cada crlstAo há. que
empenh~se por adqulrJr uma té mais lúcida. e consciente.
:e-Ihe. necessário estuda.r mais a fundo as verdades que o ca-
tecismo propOe de maneira esquemitica; procure perceber a
harmonia dessas verdades no conjunto da Revelação e o signi-
ficado das mesmas no mundo de hoje frente a outras corren-
tes de pensamento religioso ou filosófico . Não Séja a fé um
tardo pesado que o cristão arrasta como heranca tradicional
sem apropriar ou assfm1lar à sua vIda pessoal.

2.2.2. Disciplina da Igreja


Nem tudo o que na Igreja, antes do Concilio do Vat1c:a-
no n, .era proterido c praticado, pertencia ao imutável de~
alto da fé. Muitas normas disciplinares, jurídicas, IItúrgleas
eram. contingentes; haviam sido concebIdas em vista da cUl-
tura e das necessidades de wna época, de tal modo que, ces-
sando tais circunstâncias, poderiam ser retocadas. lt por isso
que nos últimOs decénios vimos assisUndo a mudancas na orga-
nização, na disciplina e no Direito da Igreja: tenham-se em
vista a lnstltuição das Conferêndas Episcopais. dos Sfnodos
Pastorais, dos Conselhos pastorais diocesanos, as tran5t'orma·
ções na arq1.Úteture. das igrejas · (altar-mor de frente para oS
fiéis, ppucos altares laterais, menos Imagens de santos), na
liturgia (lntroduçio do vernãculo, participação mais Intensa
dos. fiéiS), as celebrações ecumênJcas (oracões, leituras, e pre-
gao6es sem Eucaristia .. . ).
Sabemos Quanto essas Inovações têm interessado os fiéis
católicos e nio católicos, não raro dividindo os 4n1mos; en-
quanto alguns só aceitam tais reformas, outros só ~ltam.
tais outrasj alguns as julgam precipitadas demais, outros aa
Um por lentas e morosas ...
- . 38_
PROGRESSO E TRADIC.lO

Na verdade, cada uma dessas Inovações. consIderada em


51 mesma, não afeta o essendal da. Igreja e da sua mensagem.
Por que então tanto dividem os fléls, provocando por vezes
acirradas dIvergências?
A razão disto ~ que náo raro essas Inovações vl!m a ser a
e-xpressão de novas atitudes de éspírito, Que através de tais
prá ticas tendem a exprimir-se e difundir-se; assim diversar
mentallcla.des ou ooneepcÕeS se defrontam por ocasião de certu
reformas disciplinares . Lembremos, por exemplo, a prjUca
da confissão .sacramental, que alguns mestres"querem espaçar
mais e mais, enquanto outros desejam mantê-Ja freqUentei a
solução· dependeré dos conceitos de pecado, reconclllaçio ecle-
&181, gra.ca sacramental, ascese e mortificação que 09 mestres
tenham em mente'. . . Outro exemplo é a instituição de con-
selhos assessores do Swno PonUflce, dos bispos diocesanos ou
dos párocos; envolve de certo modo os conceitos de autori..
dade, responsabUidade pessoal, corresponsabllldade comunltúia
na Igreja, conceIto .que os mestres nem sempre entendem do
mesmo modo. .. Mais outro exemplo são as inovações na c:a-
tequese ministrada a crianças e adultos; dependem não s0-
mente de técnk:as pedagógicas modernas multo vfilldas, mas
também de certa tllosofl~1 de certa dosagem de sobrenatural
e natural, de teologia e antropologia, que os mestres nio rea·
Uzam sempre Identicamente .
2. Que dizer do valor de tais reformas cllsclpl1nàres e
contingentes na Igreja?
Deve-se responder Que mudanças meramente dIsclplinares
sã'o necessãr1as de modo geral ou em tese na Igreja, pois esta
é uma .realIdade vIva que existe no tempo e na sociedade; a.
coexistência da Igreja com as InstituiçõeS deste mundo exige
adaptação das expressões ela Igreja para que possa haver d1ã.
logo cOm o mundo e comunicação dos valores eternos aos ho-
mens de nossos dias.
Todavia qualquer Inovação, para preencher autenticamente
a sua flnaUdade, deve sa~azer a duas" condições: 1) seja
l:1cita; 2) seja oportuna. O respeito a estas duas exigências
~erá tranqllillzar os Animos e evitar as divisões na Igreja.

.. .'1 Seja ,lIcllO acreacenar que. Santa S" com bo•• ra2~.a. 1I'IIIsla
am qu. ' . conll...o Noram8nl81 (auricular) Ilmludada tom plono ..ntldo
o mullo 10 recomonda como molo de tondor 111 poirfolçlo ·..plrIlUIL

-39-
~ cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 18Ul975

a) Seja licita.. . A llceldade de determinada roloma


na Igreja dependem da confomldade da mesma com u leis
canOnicas vigentes. Assim são llcltos o uso do vernâallo na
lltlu'gla, a redução do prazo do jejum eucar1st1co, a celebra0-
ção da Missa vespertina (mesmo que a Uturgia do domingo
seja antecipada para o sâbado à tarde).
Isto, porém, nio quer dizer que qualquer alteraçto · do
acidental na Igreja seja desejável. Leve-se em conta ou~
sim o critério seguinte:
b) Seja oportuna... Para Que se proce:la à reloma de
determinada dlsclpUna na Igreja, é preciso, antes do mais;
que se tenha certeza de que os usos vigentes são ineptos 0\1
inadequados e de que se poderão estabelecer em seu lugar
outras nonnas mais consentãneas com a santificação dos tl41s
e a m1ssáo da Igreja. Diz muito sabiamente Cl Constituiçio
c:Sacrosanetum Concillum, do Vaticano U, referindo-se à U-
turgta: eNio se introduzam lnovacÕes a não ser Que as exJja
o autêntico proveito da Igreja. (SC 23) .
Caso não se observe este critério, pratloar-se-io reformu
1ev1anas, aptas a causar descontentamento e divisões entre 011
fiéis. Constantes refonnas, empreendidas unicamente para sa-
tisfazer a um mal entendido cdlnamismo dos tempos», sem
Que exista finalidade que justifique tais alterações, contribuem
para a autodestnLlcão da Igreja, à qual se referiu, eom exato
conhecimento de causa, o S. Padre Paulo VI. Toda reforma
na Igreja deverã ser avaliada segundo as suas possibilidades
de tornar 8 avivar 8. fé, a esperança e O amor nos tléll, tor-
nar o Evangelho mais compreendldo e vJvldo dentro das cir-
cunstâncias da época e do lugar em que se deseje Introduzlr
tal retonna. Pode mesmo acontecer que em determinada re--
giAo em nossos dias uma reforma parcial da disciplIna da
Igreja se torne necessâna para que haja mais fldelldade a
Cristo, ao passo que em outra região a mesma retonna sem
totalmente desaconselhável: assim 8 entrega da S. Eucariatla
nas mãos do comungante pode ter sentido lúddo e poslt1vo em
certu regiões, ao passo Que poderia ocasionar aac:r!légloa •
profanações em outros ambientes,., O uso do hãbito clerical
ou rel1g1oso em certos territórios, em que o ate:smo ou· o li!-
cularismo Impera. não seria recomendável, pois provocaria &
tranheza, se não escámlo, ao passo que em outros território.
o PQV<O crlstlo pode desejar ver o hA.bito próprio du pessoal
cOnlaiP"8.das a Deut.
-410-
PROCRESSO E TRADICJí.O

Quanto li autoridade oficial da Igreja, tem....lhe objeta-


do ser demasiado conservadora, a ponto de frear indevIda·
mente o desenvolvImento da vida da. Igreja. _ Tal objeção,
porêm, carece de fundamento. Sejam apontadas os riumero-
saa mudanças empreendidas por iniciativa da Santo. ~ tanto
na Liturgia como no Dlrelto da Igreja. Registre-se também
a paciência com que as autoridades eclesiásticas suportam a
exposl; io de teses chocantes antes de as condenar, ou com que
toleram certas injUrlns feitas à. autoridade na Igreja . . . A
Uberdade de que têm usufruído os teólogos vem ocasionando
náo somente o pluralismo teológlco, mas até mesmo a plura-
lidade de teologias. em conseqüência da qual numerosos fiéis
estão inseguros quanto à sua fé, arrefecem em seu fervor, a
catequese ou o ensino da religião está em crise, etc. ~,pols,
para desejar que se dê o mâxlmo de atenção às autoridades
oficiais da Igreja, a fim de se conservarem os valores essen-
cIals do Cristianismo e promover a autêntica evolução de suas
expressões, sem prejulzo para a fé e o fervClr do povo de Deus.
Em ~ ' vê-se"que ~' Cristlanismo em nOsSos"dias tem de
saber associar entre si Trad1çAo e progresro, evitando qual-
quer radicalismo ou extremismo. As fónnu!as eSomente a tn..
·d1çio. e «Somente o progresso. são falsas e noc1vas à autên-
tica missão da IgreJa; · cedam à fórmula .cTanto· a. Tradlçio
como o progresso». A teologia multas vezes repele o eSQ.
mente» e lhe substitui o ctanto .. . comCl . .. »; ela ensina, por
exemplo, Que depreendemos as verdades da fé não somente
da Escritura Sagrada, mas da Escritura, da Tradição e do
magistério da Igreja; . .. qUe somos santificados não somente
pela fé, mas pela fé e as boas obras .. . Conseqüentemente ela
apregCla: leve-se em conta não somente a Tradição, mas tam-
bém o progresso e a evolução dos tempos, de modo que as
perenes verdades do Cristlanismo possam ser encarnadas,
transmitidas e vividas dentro das circunstâncias próprias de
cada época da histórIa! '

-41-
Ainda um famoso filme:

"o sétimo selo"

Em IJnta.; o !tImo " O Sê limo Selo" (In Ingmar Borgmen apre-


~rMa um cavaleiro medieval, Ant6nlo Dlock. que passou dez 8I'l0l na
Torre. Santt como cf\.l.tlldo. Ao voUar ao OcJdente. entra am crieo d. · M,
poli JulOa ter perdido &eu tempo na cruz~dll; .. morte, QlJ8 sobmsatlaYl
03 medleveb, tIImbém o preocupOi quisera obter uma patav,.. de DeuI
q\lo o Humlneae, mIIl apenai 58 delronla com o silêncIO do Senhor. Em
luma, o IlIme moelra o vaz!:, di vida pte!lenla desde que alguém JulGUI
Deua Incerto I 'Iça da mOt1& I (mica grande corlGza da vida do homem.

"O Sétimo Selo" mOJtra Clnae da pladade pesalmlala lXIa rnedlev....


quo .. lentlam conetlntemante ameaçedol peta peite. EMal o.p~
raJlglos. IA "ao atraem o cavolelro Block. - Ao lado dos quadrot de
pavor, Ingmllr BargmM t...l roc! uz. um c81'el de 8altlmbancol, que , feliz
o tranqDllo em .ua ré, vivendo em contato com a natuntz.a: Block. en-
contr.ndo ell .. cfl,llos, un,.·so all.ldo por IOU ti po da vida. DeIcre-
vendo ..,. cual, Bergm3n parece Insinuar a re8posta 80 quostlonam..,to
do c8\18le1ro Block : • 16 nlio acabf\.lnha "Im .!Iufoca OI homent, ma
o.u.
deve lev6-101 111 uma vida lellz, l/l.Jorlda nas real1dldea cotidianas;
responda a QU8m o Ilfocura !lnl:o!lIImenle, e dá·lha a ver que a morta
. n60 6 ruptura apovor-.ntl, mas 6 planltude ou OOmlumaçlo de vld.
presente.
• • •
Comeoti-rlo: O e1ncm3 tem sido ocasião de questiona·
mcnto e reflexão até mesmo entre os pessoas mab despOjadas
de 'pretensões filosóficas. Em vista disto, não nos furtamos.
em nossas páginas. 3 comentar filmes de certa projeçlo n.o
setor da fé e da fllosofia. Entri! outros, tem Interessado ao
púbUco a peHcula . 0 Sétimo Selo~ de Ingmar Bergman. um
dos mais famosos produtores cinematográficos de JlOSSOI dias,
que se volta sempre pllro temas sérios e Importantes. O tume
suscita realmente nlgumas Questões, que vamos abaJxo abordar.

1. .$'''_ Se""_, que enredo?


O titulo derfva-sc de umll passagem. do Apocallpse asstm
c:oncehlda:
"Ouando o Cordol ~o cbrlu o dUmo saio, fez-se s ilêncio no c6"
duranle cerca dI mela·hora" (Ape 8,1).

- '12 ,,-
cO SI.:TIMO SELO~ '43

Na verdade, o Apocalipse, em seu fund-o de cena, -apre-


senta o Coit1elro (Cristol. que tem em mias um Uvro fechado
'por sete selos. Cada selo que se abre, correspondc a aconte-
'cimentos calam.Jtosos na terra. O sétimo selo dá lugar a .Uên-
"cio, ao qual se segue uma série de sete toques de "trombeta,
que também são de mau agouro. De passagem dlga~: as
'calamIdades descrltas pelo Apocalipse representam apenas (e
'slmboUcmnente) um lado da ree.llda.de, ou seja, a h.lst6rla v1sl-
vcl dos homens na terra; o autor sagrado Intercala, entre as
s l~cCS$lvo.s calamidades deserltas. eenas que incutem a paz e
:" confiança existentes na corte celeste; os males que acome-
'tem os homens na terra, estão envolvidos em um plano sábio
"de Deus que encaminha todos os aconteclmentos para a vitória
final" do Bem sobre o Mal. - Ingmar Bergman, dando ao seu
"filme O titulo 4:0 Sétimo Selo~. tenciona realçar o aspecto
sombrIo e austero Que cnrncteriza essa peUcula.

o fUme abre-sc com a apresentação de um cavaleiro me-


"iilevaJ, Antônio Block, que voltou da Terra San~ onde pas-
'sou dez anos como eru.zado, Ainda não retomou ao seu caJ..
telo: encontra-se à beira-mar. . . Tornou-fi<;! cético ou de&-
; crente, pols a expertênc!a da Cruzada o frustrou, dando-lhe a
"sensacão de ter perdido o tempo: fez a guelT8., sotreu rlsco:a e
"pcrlgos pol' causa de um sepulcro! ., . Não vê sentido russo.
"Na. sua 'crise tem a impressão de que Deus se cala; estA longe
"e mátlnglVel. Aparece-lhe então a Morte. que o quer colher
ali mesmo, onde está, à beira-mar, pois, havia multo, ela o
"pro.curava. O cavaleiro Block, porém, reluta e prop5e à Morte
',ttn;l:a partJda de xadrez; caso ele perdesse. entregar-se-la às
garras ,da Adversária.

" -Enquanto essa partida se desenrola, vai continuando a


vida de Block, sempre angustiado li. procura de um sinal de'
Dew. Defronta-se com amas contrastantes:

- ora são expressões da pIedade dos cristãos medievais,


QUe viviam sob o impacto da peste e da Morte. Realizavam
" e~o procissões, carregando a cruz e fIagelando--se a fim de
; se preparar para o juizo de Deus. O cllma era de temor e
terror;

- ora são cenas da vida de um casal de saltimbancos; o


"marido é malabarista, jovial" . Ambos são felizes, vivendo
nma fé tranqillla, em contato com a natureza sorridente,
- ,43-
'" cPERGUNI'E E RESPONDER~IOS. 181/1.975

AntônJo Block, deparanda.se com essas diversas cenas· ou


eJq)ressóes rellgiosas, manifesta sua angústia amstante. Quer
crer em Deus, mas julga que não o pode. Onde estaria Deus?
A fé lhe pal'ece ser um tormento, pois Deus nas trev8f. nIo
lhe responde. Certa vez encontra uma cbruxb que estA para
ser executada e pergunta-lhe onde estaria o Diabo, pois este
deveria saber onde Deus está. Não quer morrer; pretende
~ncer a Morte em seu jogo de xadrez. Desejaria fazer ao
menos uma obra meritória antes de deixar este mundo.
, Finalmenb! Block volta para seu castelo C<lm amigos de
jornada. Encontra n esposa, que o acolhe carinhosa. Põem. .
a cear. Mas a Morte aparece a todos j venceu a parUda de
xadrez, esgotou-se o prazo concedido, de sorte que ela os leva
consigo para terras sombrias. Enquanto são assim conduzi-
dos. o casal de saltimbancos, tranqüilo e feliz. os vê desapa-
recer.
o filme geralmente deixa seus espectndores pensativos e
Questionados. Aliás, o prólogo mesmo do enredo diz ao pt1bUcO
que Ingmar Bergman quis representar o drama do homem
de todos os tempos: este estã sempre à procura de Deus, mu
só tem uma certeza - a da morte. O homem medieval sentia
o pavor dessa morte certa. e iminente pelo fato de se ver cons-
tantemente ameaçado de peste. O homem moderno já. nio
receia tanto a peste, mas apavora-se pela perspectiva da bomba
atOmlca. Deste modo a morte continua sendo para ele um
obstAculo ou um enigma, que lhe obscurece o sentido da vida.
Não haveria uma fonte de luz que dissipasse tal enigma? Deus
não falaria? Estaria Ele amortecido pelas trevas que parecem
envolvê-lo!
Procuraremos, em dois Itens. renettr sobre estas e oubu:
perguntas sugeridas pelo fUme cO Sétimo Selo».

2. O sentido de «vida e mortel


O filme parece ntlnnar. antes do mals, que a vida é va.zla
ou absurda se não temos outra certeza metafísica senio a da
Morte. Esta é vIolenta, brutal, Incompreenslvel. Somente" a
consclênclo. de que Deus existe c, por conseguinte, hA uma
vldà "Póstuma com Dew, pode vencer a angústia que decorre
câ perspectiva de vivermos uma vida quebrada ou condenadâ
A morte.
-44-
cO S~TIMO SELO~

o erl.stão não terá dificuldade em compreender esta COJlo-


c1usão; ele conhece as palavras de S. Agostinho: «'lU nos
fizeste para n, senhor, e inquieto é o noSSo coracão enquanto
nAo repousa em Tl:t (Confissões I 1), A morte é, sem dúvida,
para ele, uma realidade certa, não, porém, deflnltlvai a Yfda
presente vem a ser um encaminhamento para o encontro decl..
Ilvo com a Verdade e a Vida que é Deus, após transpor o
limiar da morte,

Para o ateu ou o agnóstico. a pergunta de Ingmar Berg.


man ê, por certo, vâUda. A resposta. porém, não é evidente.
Todavia a crença na existência de Deus e, por conse,iUlnte, na
de uma vJda póstuma se lhe pode tomar 80S poucas patênte,
dado o absurdo de uma vida que esteja entregue lnexorave1..
mente 80 im~rio da morte. - Aliás, nota-se que «Deus estA
de volta" como têm lnslnuado revistas e jornais através · de
lriqu~tos recentes. Destacamos aqui a noticia pubUcada pelo
domaI do Brasll:t de 16/XI/74. caderno B. pg. 1:

"Deus eslé de vollll. 7 Sim i li (I reepolta dada por .,esqulta sob...


o aenUm.nlo rellglo,o do I'IomerTÍ contemporln.o. A. revista 'PlI)'cholog)'
ToeiaY' enviou aOI leUI leltorb norte-americanos, com o número d. dezetn-
bfOot9n, um quesllonArlo sobra rellgllo. "Ungimos, ao que pareci, um
n.rvo .xpOSIO', diz. o editor eMrles Glock; 'Quarenta mil penou ~
ponderam'. Oestas a revl,ta lelaclonou duu mil par. uma pesqulla maJe.
detalhade. .

'LJeU8 nlo morreu: " a conclusllo (lua 18 poderia IImr de"a pesquisai
mUdou de roupa a!mpleamenta, e pessQu • aIIr "I,to com outrot olho&.

"sslm, ~ela a peloulsa. enquanlo uma peQUllna minorIa d. mlaf..


vIstas via • Igre,a "Qul.rmente, a maioria conllnua a acredllar nca
principio' rallglosot funcJamentals : lorça ou ente aobrenaluta[, utilidade
cfa oraplo, poselbllldeda de uma vida de poIs da mort._ 'alo au~r. qUI
o alual abllndono das pr611cas uadlclonaJ, nlo s.gnlllca nec....'IM\IInllt
"Jalçlo d.a própria "lIgllo'"

. Ingmar Bergrnan, no seu filme cO Sétimo Selo:t, pôs em


t~ a morte e 8 repulsa que ela suscita no homem .• ,. Não
atlnnou ex)llc1tamente alguma resposta para o problema,
seguindo nJsto, aUb, a praxe dos clnematógrafosj mas nas
entre--lInhas o espectador depreenderá que o sentido da vida
e.da morte do homem estâ intimamente associado ao problema
de Deus.

Todavia fica • pergunta: ,.


-45-
3. MbS o .silêncio .de Devs?
O cavaleirO' Block f Di formadO' na piedade de sua época,
cujas expressões eram cxuberantesj o pessimismo e o medo em
rclacão à vida presente c à morte dominavam grupos popu-:.
lares prIncipalmente no fim da Idade Mêdia. Block. ao voltar
da cruzada, jã não se Id(!ntifica com essas expressões; rejel·
la-as, não por descrer de Dew propriamente, mas porque,. pf'Ooo
eura uma vivência religiosa mais adulta e teológica. Ele se
pée à procura da palavra e da autêntica face de Deus. dis-
posto a recorrer, para IstQ, até ao demônio. - Ingmar Berg~
man retrata nesse cavnlejro o homem sincero de nossos te.m~.
poso Pode ocontecer que multos entrem em crise de fé, 11m-
plçsmente porque j60 não se contentam com as fOnnulas rcll..
glosas que aprenderam na infància; têm necessidade de um
conceito de Deus e de relacionamento com Deus que responda
àS novas interrO'~açóes c aspirações que os estudos ou a expe..
l'iência cotidiana lhes incut~m.
cQueremos crer, mas nOo podemos crer!>, exclama a certa
allura o cavaleiro. Quanto é freqüente esta cxdamacão ainda
em nossos dlas ~ Pode-se-Ihe dizer em resposta:

A fé não vem por estalo, nem em conseqüência de algum


sinal extraordinário de Deus . ' . Mas quem quer ter té. jã tem
fê; quem quer crer, já está crendoj procure tomar conhccl-
mento exato daquilo que a. fé prflfessa propriamente (distinga
R fé de crendices ou de sentimento religioso cego ou de devo-
ções pessoais) c comece a pautar a sua vida por essas propc;
sições. PerceUerá então que a fé, de pálida que era, se lhe vai
tornando cad<l vez m.lis viva e significativa. D~us não se
furta a quem O procura com sinceridade nem se envolve em
silêncio ou nuvem escura.

Os saltimbancos do filme. vivendo a fé descontralda e ale':


gre, fazem contraste com os seus contemporâneos apavorados.
O cavaleiro Block. enquanto rejeita a religlão pessimista, sen-
te-se cada vez ma is à vontade no convivio dessa gente, que.
por ser religiosa, nem por 15to deixa de ser satisfeita e feliz.
O ma~abarista sofre seus reveses na vida, mas sabe superã~lo9
com bom Animo. Pois bem; através dessas figuras de salUm·
bancos, Ingmar Bergman parece sugerir uma renovação do
conceito de Religião; esta não sufoca os valores humanos, mas
elcva~ os, burila-os e manifesta no homem O' sentido dos demais
valores que n vida presente lhe oferece.
-46 _
cO stTIMO SEI...t» .7
M fonnas da piedade medieval tiveram signlfleado e en·
ciêncla na sua época; correspondiam a uma fase da história
e da cultura da humanidade. 1'ambém as Cruzadas hão de se..
vistas em seu contexto medlevn1j a sua Inspiração Inicial era
de fé entusiástica e ardorosa (cC. PR 167/1973, pp. 4~502).
Não critiquemos essas exPI'eS$Ões da vida medieval, aplicando-
-lhes critérios heterogêneos. Mas é certo que a Igreja. j! não
promove do mesmo modo llS expressões que caracter1z.nram a
religião popular medieval. Sem tocar na integridade da fé e
da moral reveladas por Deus, 11 Igreja procura hoje exprimir
esse depósito sagrado em termes condizentes com as preocupa·
côes do homem contemporâneo; este cultiva o esperança e de&.
cobre cada vez . mais o seu papel de continuador da obra que
o Criador lhe entregou eheIa de virtuoJldades ainda nAo explo-
radas. Tamb<lm para o homem do séc. XX Deus tem uma face,
wna palavra, WD:r. vIda n comunicar; basta que os Interessados
na procurem não em rnllagrcs ou sinais extraordinárlos, mas
nas suas autêntlros fontes (dlr1amos:. . . nos documentos e
na vida da Igreja sadiamente renovada pêlo ConellIo do Va-
ticano ll). Aceitando com fé e,!;S3 mensagem. o homem con·
temporlneo podê encontraI' a resposta para as perguntas Jan-
cadas pejo filme "0 Sétimo Selo, ; tomam. con6CI.ênc1a de que
a morte não é ave de rapina, nem Quebra, mas simplesmente
tr3.ll51çio para Q plenitude c conswnação da vida.
EstAváo Botlc"""urI O.S.B.

estante de livros
Eatuc:los sobre os AI" de. A~6eloIOll, por Jaeques Duponl. Traduçlo
dai monJa beneditinas da Abadia de Santa Maria. CoI&Çlo ''BIblIça''
"'17. - Ed. Paulln.., 510 Paulo 1974, 147x222mm, 574 pp.
EII mil, um livro que vem efltlqueeer I nossl blbllografll brullefra
OOncefMnle • Ese,lh..lr1 Segreda. O l uter 6 'amOlO meltre de Exao ...
do Novo Teslamento. Recolheu "a ob,a acima quatro térlM ~ • .tudo.
lotn c livro dos AIOS, esludoa publicados entr. 1950 e 1se3 li ecreeci-
dos de mal, um, ln6dlto, redigido ~m H!8S. A primeira d,le apresenta
uma vldo de conjunto das pesquisas reaHzadas sobre o livro dOi Atos
enl,. 1940 a 1950; ao que se seguo uma anAIII. de Irêl obraI particular-
mente .Ignlllclltvu, publlcadq: depois. A sl!gunda série compreenda cinco
asludOl C:c)ncementes ts vlagans de 56.0 Paulo a Jorusalém e eu.. rape ...
.cUM6$s na deHumlnaçJo da cronologll paullna. A farealr. ""e encara
• "..nelrl eotnl) slo citados, nos At03, corlos to:xtoa do Antigo Tealamento
.ptOl • Ituatrar o mlst6.to de Pucoe. Por fim, I quarta parte do livra se
volta diretamente para as pel'lpectlvlIS teológlcu doa Atol : a • .....,.çlo
do. ge,nlloa. arrependimento e cDnversAo, o primeiro Panleco.tu crllllo•
• comunl)lo 6e beM nOI prlmórdl03 da IgreJa... .
O livro do. Atoll é do laltura f6cll ou mesmo cativante. Todavia nem
l.mp~ .. PI.rcebe o .au valor clentlllco e taológlco; trlta.t.e .:s. ~

- 47-
48 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 18111975

livro qUI rlI1811 S mentalidade dos primeIros crlstAos • o Important.


perfodo de 1"n$lçAo do EVlngelho, que, ro/.lIsdo pelos ludlUl, 101 ..ndo
mlla e mal. Ipregoldo Ias glnllos, Dada a ImportAnel. do livro, OI cri·
tbos modarnos lhe têm dedicado apaelal IlençAo, movidos li veleS por
preconceitos filosóficos rselon.U!lu qUI tentam destruir o valor hLslórloo
do livro do, AlotI, Jaequn Oupont, e quem ' I deve reeonheclr eompttoo
I'nela . Ingular, ls,quad,lnha minuciosamente os problema. I as .anlenç..
Itnçldas ptl. crlUea blblie •. A, IUU conclua~. valorltam I obra dt SIo
Lucas .como hblorlador e leólClgo.
O lellor te,6 prazer .m tom.r contato com ua. livro d. Dupemt.
que l8.be coloear a. pas.agen, da Bfblis no contoxto da cullul"II grlco--
·lom.na do .OC. I; é desta forma que o lutor Ilustra os c.pltulos doa
AtOl e mo.lre u riqueza. de algnlflcado de Vlrafculos que, l primeira
vl.ta, pouco ou nsde dizem ao IIUor nlo IniciadO.
O homem nlo IS'" .6, por Abraham J. Heachet. Traduçlo do InQ\"
por Edwlno Aloyslua Aoyer. - Ed. Paullnl., SII) Paulo 1'974, 110 )lIGO mini
soa pp.
O aulor do livro J6 foi apresentado Im PR 17911974, p. 459, onde
.e Inconlf. uma Ipreclaçlo de outra obra de Hesçhel: "O homem l.
procura de Oeu,", Judeu, mlstlco, multo aber10 .0 pel\llmento moderno.
A. Heschel deixou escrllO$ teológicos prOlundo. • Illel, tsmb6n\ para
crlltlo.,
No livro acima descrito, o lulor aborda o problema d. Deu, (Parte I'
I o da vldl (Psr1a 11), O qUI o ceraClerlza, antre OUlr.. coisas, 6 •
lIcentuação da InlulçAa e da exporl6l'1cla como melas de conhecermos •
Oeul. Para Huchll, Oeus, que é o Inelr!.vel e Irenseendanta! deve ser aU"..
gldo manos paio discurso flclonal do que pel. experiência IntuUlvl. MIJa:
dl1 HHcI\II qua ". memória • a fonla d. f•. Tar 16 é raeord,," (p. 1&7).
Em rellçao .0 Credo li 10$ dogmas, o aulor 18 mCII" re,erv~o, p,a-
lerlndo raalçar I lê, qUlsa em IntUes.a ao Crido li 80S dogmas: "Um
mlnlmo de Credo e um m'xlmo de '6 , 8 alnlesa Ideal" CP. 175),
Tomando essa pos.lçAo, Haschel deseja eXllta( a grandeza e lnela-
bllldada de Deus - o qua ••iblo. O lutar nlo prelenda neg.r o vllor
da mio me.mo frenl. a OeuI. ToeIavla algumas da lUas aflrmaç8M
IUp08m um conceito de f6 e d. Credo qUII nlo 6 calóllco. N. yu.rdadt.
nlo te deve menosprezar o papel da rszlo humana. ainda que ela ..
valle para OalSS; ouelque, allllll:1a anlllnleleelua\ ou Irracional acarreta o
risco da deixa, o homem Intrigue 111 fanlasla puramel'lle .subJellva e lIu-
,6-Ia, criando "m'ltlcas" Ineonslllanles; a 16 lem um conteúdo objetiVO
e Intelec1ual .
. Feita Mil obsarvaçlo. dew·s. reconhecar que o livro "O homem
nlo ' .,ti .ó·' t.m belas p'glnas I "Ipello de Oeu& e rllIollo. podltndo
I/udar o Ja.ltor • l i elevll 10 senhor como lamb6m a genetrar um .pouco
mais na allu renglosa de I".el (visto que o Itvro freqOanlemenle ·voltl .'
falir das tradlç.oea '. concepções de Israel),
Fo-maçlo de :clltequl.l.. , por Frei eernardo Cansl O .F. M. Cap, _
Ed. Paulln.s, PelrO'Polls 1974, 135 x 210 mm, 153 pp. '
O ObJel1vo dest. livro 6 valioso, visto que a faita de callqu"t e
eatequlltas Impede que '0 dlulpe a Ignor6rlcl. reUglosa d. boa part.
do pO\'o 'da Deu,: A catequ.s. moderna .. ,.......8. sem dllvtde, d8 recu",
80S palcolólllCOl, . ped.gÓglcos, blbllcoa e Itológlc03 que oulrOI"ll eram
Ignorsdotl; I utlllzaçAo deue. melas modernos ê Indllpenelve' ao bom
'xllo da catequ.... Frei Bernardo, que lem Irabalho neuI lotar em- Br...
aUla,' propôs ao ' pQbllco. no livro menclonldo. u lUIS reflexOea e ' expe-.
r1tncl.. de formador de cllequlsl... O lulol eacreveu plglnu I(lc!daa.
-48-
que podem recomendar 11 obra. Todavia, ao lado desta" h4 outras qua
maracom resll'çOes, pois nelas se enconlrem allrmaç6ea uageradas e
..,enerallzadas qua mereCI/Iam ser ratocadas e matizados.
Asilm, por exemplo, ê p. 95 do IIlIro IHa que " Lutero Ins's1lu na
ISlraJ' m'-t"'o. ao palso que o Concmo de Tr-ento Insistiu na Igreje
Inslllulol o". Ora concordamos em qu-e o ConclUo de Tranlo (1545-1563)
lenha ecentuado o lado Inslltuclonal da Igrela par. evlla r AI atbllrarleda-
des da epoca ; todavia nlo 18 poda dIzer que Lutero apregoasae o mllt'rlo
da IgrllJa se por "mistério" se entendI o aspecto a.cramental da Igrela;
o luttranlsmo conald.r. oi IgraJa como comunidade de nêla animados pela
" a pelo amor. véllda excluslvamanla n. proporçlO daa. fé a dessa
amor ; o "mlat6r1o da Igreja" suporl. a açlo do próprio Crftto .travá
da fraqueza dos membros da IgraJ• .
MaIs: a Inalllulçlo da fesle de Ctlato-Rel algnlflc.rlll o ponto alto
do trIunfalismo da Igraja após o Concilio de Trenlo (p. 97). Ora li Idéia
de que Cristo (o l\1a58ll1) 6 FIei, 6 noçlo btbllca e clustca: li 'aata da
Epifania, multo antiga, li professa. A lnatUulçlo da festa d. Cristo-Rei
por PIo XI nlo li senlo e reallrmaçlo do uma noçAo qUe o. crl.tlol
sempre tiveram. Tenha-eo om vista também o lalo de que melmo após o
Concilio do Vallcano 11 a festa de Crll lo-Rol conllnua no calendtrlo Ho-
turg lco.
Em suma, quem lê o cap. XVII da obra em foco, tam a Impresalo
de que li Igreja pó,-lrldanl1na S8 desfigurou • desfigurou til mensagam
de Crlslo - o que nlo corresponde • realidade. - JI. le 16m realçado
baatanle 8S dlferenç•• enlre as faca' da Igrela na hlst6rla, por qua "Ao
mostrar com ênfase também a continuidade da mesma Igreja?
MINe. Frutc,"anu no B,asll, por Frei Venanclo WllIeke O.F.M.
PubllcaçGes CID, Hlst6rla/3. - Ed. Vozu, Petrópolis 1974, 135 x 210 mm,
200 pp.
Em 1915 comemorar..,.lo trezentos anos de existêncIa da Provlncla
Francl.cana da Imaculada Conoelçlo no BrulJ. Celebranclo eata data.
Frei Wlllall:e, do Instituto Hlslórlco e aaog"flco Brasileiro, publica o livro
acima, que releta a história das mlnõet franciscanas desde 1500 • 11175
em nosaa terra. O livro é meticuloso a culdado.amente elaborado. A 8ua
Imporltmcla 8a Impõe nlo somente a quem estudll • hlSl6rla de Ordem
Franciscana ou a da Igreja, maa também eOl esludlosol de hl.tórla do
Brasil. Desda OI tampos de Pedro Álva,e. Cabral, os mlsllon6r1os fran-
ciscanos cumpriram um lama da pollllca externa portuguna : "Dllatar e
fe e o Império". t40 ral da Portugal compalla a "Iurlsdlçlo npl,ltua''',
cu}o, negócios eram traledos no Conselho Ultramarino, que regulellleA-
laV8 quese lodo o tlab.alho mlsslon6r1o. Ta' era a coneeqO'ncl. a que
levavam a unllo da Igreja a do Estado. a lei do padroado nas tempoa
do Br.sll colonial. Vke, pola, que o estudo d. história das rnlasõea
(lranclscanas, jasultaa, oermalllu ... ) multo contribui pera esclarecer a
história do Brasil.
Slo estas premissas que dia atualidade e valor ao livro de FAli
VenAnclo que, .em duvida, mereee os aplaU801 do publico brullalro.
E. I .
UVROS RECE8100S
Recebemos a agradecemos:
Velei conh.ce DI'" 7, por Maria da Lourdes Ganzarolll de Oliveira.
Ed. Agir, Rio de Janalro 191-3, 140 x 210 mm, 22-4 pp.
A via de Chuanll Tzu, por Thomn Mlrton, ~ edlçlo. - Ed. Vous,
Petrópolis 1974, 125 x 180 mm, 203 pp.
Um novo Nalal, por Pe. Adallblo Barth, - Ed. Paulln.. , SIo Paulo
1974, 125x1BOmm, 94 pp.
Quem ama •• oomprometa, por Pa. C.rloe Afonso Schmlll. Colaçlo
"Compromltao" nO 7. - Ed. Paullnas, 810 Paulo 1974, 110x 190mm, n pp.
DÁ:M~, .SEN~OR, A CORAGEM DE UMA MAE
. ' E.-À; OEDICAÇÁo" ' OE UM BOM PAI.

DÁ.ME, SENHOIt, A SIMPLICIDADE DE UMA CRIANÇA ,. .,,.


"

'.,
E . A CONSCII:NCIA DE UM ADuno. , '
. .
DÁ.ME, . SENHOR, A PRUD~NCIA DE . UM : AS~.R~NAUTA . '.
e : A: CORAGEM DE UM 'SAlYA-VIDÀS.

. . . " ... ....... , " . -


E A ' PACI~CIA DO ENFERMQ,. ",: : " ..
• • "0 ,_
. .' . , " .... \ . . ." '
~ ..
DA. ME, SENHOR, O IDEAlISM(!), DE 'UM d(!).VEM
.. ~A . S"!'~DORIA DE 4'(VÉl~!:i._ :· .': : : ' .
. - ! ." ., . - . . . ... , . .
. DÁ. ME, :SENHOR,' A DISPONIBllIDAD·E , ·DC? ~. BO~ . SAMARITANO
" .
E' A' 'GRATIDÃO DO ACOLHIDO:'"' o" ' :

.', -'
: OA· ~E. ; S;~HOR: TUDO DE BOM QU~ EU ,VEJA, EM MEUS IRMÃOS,

..... ;:cuEí.l TANTAS DÁDIVAS DESTi.


.. : ( ,
. QUE~ ~~Sl~; ,'SEH'lioR;
EU ME APROXIME CE UM SANTO,
.. , ',
.
. OU . MELHOR; SElA EU COMO TU QUERES :
. . ..'

PERSEVÊRANTE COMO O PESCADOR


'E 'ESPERANÇOSO COMO O CRISTÃO.

QUE PERMANEÇA NO CAMINHO DO TEU FILHO

"E: NO" SERViÇO DOS IRMÃOS I

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