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ISBN 85-87334-83-2
LS8733L
Onde o seu tesouro está
Eugcne H. Peterson
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200S
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Copyright © 199:'1 by Ellgene 11. Petersün. (cf o Alivc C:o[ll\lniccltions, Inc.,
7(J80 Gaddard StreeL Suite 200, Colorado Springs, CO .sO')20, USA)
l'ublished in :lssocialion wi(h th", lilerary agencies \'('illi.llll ~eill-Hall L(d, ofCornwalL
Fngland, and Alive Cornlllunicniolls !nc., Colorado Sprin~s, CO, USA
S'lIptrl/i.(tlO Dlitoria!
Alzdi Simas
Tmdllçâo
CLludia Ziller t-:aria
R{/Jisiio
Paulo Pancote
Dil1gmmaçt7o
Pedro Sirnas
Cf/pil
Oliveranclucas
As citações biblicas d",sLl obra são da Bíblia S;lgrada - I':OV;\ Ver<io Internacional
(g 199.'),2000 de lmernational Biblc Sociuy
Nenhuma pane deste livro pode ser reprodu/.ida sem () consentir]1t.:l1to pr{vio,
por escrilO, dn<; editores, exceto breves citações em livros e resenhelS.
G, K, Chesterton
Para Constance FitzGerald, O.C.O.
Sumário
Josué Rodrigues
Pastor da Igreja Presbiteriana Betãnia em Niterói
Prefácio
12
Capítulo 1
Acabando com o domínio
do ego
SALMO 2
14
Minha experiência e minhas observações me ensina-
ram a reconhecer o inimigo da humanidade nesta dege-
neração que leva a ver só o ego, crescendo sempre em/or-
ça durante toda a história, mas e,lpecialmente em nosso
tempo. Nada mais é do que o próprio espírito que, deser-
dado, comete pecado contra o Espírito Santo.
MARTlN BUBER I
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Onde o seu tesouro está
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Acabando com o domínio do ego
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Onde o seu tesouro está
A ação fundamental
Oração é ato político, energia social, bem público.
Ela molda a vida da nação muito mais do que a legislação.
O fato de não termos sido ainda dominados pela anarquia
deve-se muito mais à oração do que à polícia. É um ato
pennanente e intrincado de patriotismo no sentido mais
amplo da palavra - muito mais preciso, amoroso e prote-
tor do que qualquer patriotismo declarado em slogans. A
possibilidade de viver na sociedade e o renascimento da
esperança se devem à oração e não à prosperidade empre-
sarial ou ao florescimento das artes. O ato mais importante
para despertar toda saúde e força que há em nossa terra é
a oração. É claro que este não é o único meio, pois Deus
usa todas as coisas para realizar Sua vontade soberana, e
"todas as coisas" inclui, com toda certeza, policiais, artis-
tas, senadores, professores, terapeutas e operários. De toda
maneira, orar é a ação fundamental.
O erro mais comum quanto ao entendimento da ora-
ção é considerá-la ato privado. Falando de modo estrito,
segundo a Bíblia, isso não existe. Em sua raiz, privada se
refere a roubo. É furto. Quando privatizamos a oração, nos
apropriamos indevidamente da moeda comum, que pcr-
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Acabando com o domínio do ego
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On de o seu tesou ro está
A escola da oração
Ainda não surgiu escola de oração melhor do que os
Salmos, que também envolvem imersão na politica. As
4. Bamn Friedrich von IWgel, Lettcrsjimn Baron h'iedrich von Hü-
:;e/ to a Niece, editado por Gwcndolyn Grcenc (Londres: 1. M. Dent anel
Sons Lld., 1958), pág. 25.
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Acabando com o domínio do ego
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Onde o seu tesouro está
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Acabando com o domínio do ego
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Onde o seu tesouro está
Reunido e disperso
Essa destruição do domínio do ego vem aconteeendo
por toda parte. Muitas pessoas se reúnem para participar
da obra. Quando acaba a reunião, prosseguem com o que
começaram em conjunto. São persistentes, determinadas,
eficientes. Karl J aspers comentou:
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Acabando com o domínio do ego
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Onde o seu tesouro está
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Acabando com o domínio do ego
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Onde o seu tesouro está
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Capítulo 2
Feito por Deus
SALMO 87
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Onde o seu tesouro está
A maravilha do nascimento
O Salmo 87 é uma reação, surpreendente, gaguejante
e entusiasmada diante do nascimento, anunciado três ve-
zes: como se tivessem nascidos em Sião (v. 4); Todos estes
nasceram em SielO (v. 5) e Este nasceu ali (v. 6). Nasci-
mento. Nascimcnto. Nascimento.
Eruditos quc apreciam sentenças claras e em ordem
alegam que esse é o texto mais mutilado e desorganizado
dos Salmos.' As sentenças são incompletas, faltam conec-
tivos. As transições são abruptas, as imagcns, distorcidas.
No cntanto, os poetas (c os pais) sabem que não há como
evitar ambigüidade nas grandcs questões, nas grandes pas-
sagcns. Não apenas toleram, na verdade, cultivam a am-
bigüidade. Sabem que esclarecer c ordenar as coisas acima
do que estão sendo vivenciadas significa desinformar. Se-
gundo minha opinião, a confusão no texto do Salmo 87 não
se deve a perda e descolamento de sentenças durante sécu-
2. Mitchell DahoOll Tlle Psa/ms. 3 volumes. (Garden City, N.Y.:
Doublcday. 1975), 2:298.
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Feito por Deus
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Onde o seu tesouro está
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Feito por Deus
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Feito por Deus
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Onde o seu tesouro está
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Feito por Deus
A cidade de Deus
Significativamente, a cidade é o local dessas exclama-
ções de nascimento.
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Feito por Deus
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Onde o seu tesouro está
Mãe Sião
Cheguei a Jerusalém no final da tarde, em minha
primeira visita. Queria ir ao Muro Ocidental ao pôr-do-sol
para o começo do Sabá. Estava tarde, cu não sabia o cami-
nho. Apressei-me pelas ruas estreitas e apinhadas, pedindo
informações. Depois de errar algumas vezes e já sem fCJlego,
consegui chegar. O Muro. Do grande complexo do templo bí-
blico, só resta uma pequena parte de pedra na porção inferior
do Muro. Há um pátio em frente, onde as pessoas se reúnem
para orar. Para os judeus, é o lugar mais santo do planeta.
Em geral, os lugares santos são esplendores daarquitc-
tUfa: catedrais góticas, templos hindus, santuários budis-
tas, mesquitas muçulmanas. Não há nada de esplêndido no
Muro. Quem chega lá se depara com uma parede de pedra
sem qualquer formato especial. Os que oram ficam ao ar
livre. Não há beleza. Nem drama. Mas não se pode exigir
beleza nem entretenimento de uma mãe. Simplesmente de-
sejamos estar na fonte. Mãe Sião. O local do nascimento.
Isso, c apenas isso, responde pelas "coisas gloriosas" ditas
sobre ela. O fàto simples, embora imenso, da maternidade
supera todas as outras considerações.
Então chegou o pôr-do-sol, o sinal do inicio do Sabá.
Fiquei diante do Muro simples, sem atrativos, sentindo-me
profundamente comovido por causa da torrente de recorda-
ções que me vinha. Eu estava no lugar onde Davi governou,
onde Salomão construiu, Isaías pregou e Jeremias chorou.
Era o local em que Jesus ensinou, sofreu, morreu e ressus-
citou. Ouvi um cântico à distância, atrás de mim. Virei-me
e vi cerca de trezentos jovens (fiquei sabendo depois que
eram alunos da Universidade Yeshiva). Eles vinham com
os braços nos ombros uns dos outros, cantando enquanto se
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Feito por Deus
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Onde o seu tesouro está
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Capítulo 3 1
Centralizado em Deus
1
SALMO no
o SDVI{(}R disse ao meu Senhor: 1
"Senta-te à minha direita
até que eufaç'a dos teus inimigos um estrado
para os teus pés ". 1
o SENHOR estenderá o cetro de teu poder
desde Siao, 1
e dominarás sobre os teus inimigos'
Quando convocares as tuas tropas,
o teu povo se apresentará voluntariamente. 1
Trajando vestes santas,
desde o romper da alvorada
os teusjovens virão como o orvalho.
1
O SENHOR jurou
e mio se arrependerá:
1
"Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque".
1
o SI:.NHOR está à tua direita;
ele esmagará reis no dia da sua ira.
Julgará as naçàes, 1
amontoando os mortos
e esmagando governantes
em toda a extem'(/o da terra, 1
No caminho beberá de um ribeiro,
e então erguerá a cabeça,
1
1
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Onde o seu tesouro está
Equilíbrio perfeito
As duas sentenças mais importantes são oráculos de
discurso direto de Deus: O StNIIOR disse ao meu Senhor:
"Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimi-
gos um estrado para os teus pés" (v. I) e O SENIIORjUrou e
não se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segun-
do a ordem de Melquisedeque" (vA). Esses dois versículos
dominam o Salmo c o dividem em duas partes perfeita-
mente equilibradas. David Noel Freedman fez a observa-
ção surpreendente de que cada estrofe (em hebraico) tem
setenta e quatro sílabas - equilíbrio perfeito! 4
A estrutura - "O SENHOR disse ... O SENIIOR jurou"
- por cla mesma já respondc pela proeminência do texto
no século I. As pcssoas que conhecemos, através do Novo
Testamento, se interessavam acima de tudo, em ouvir o
quc Deus tinha a lhes dizer. A sede que sentiam por receber
mais do que sabiam ser as boas novas era insaciável. O
apetite pela Palavra de Dcus, incessante. Eles eram como
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Centralizado em Deus
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Centralizado em Deus
Deus falou:
o Sr'HoR jurou
e não se arrependerá:
"Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque".
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Centralizado em Deus
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Onde o seu tesouro está
Reunido
Então aconteccu outra coisa - se possivel, ainda mais
maravilhosa. Ao mesmo tempo em que descobriam essa
reunião e centralização de todas as coisas no Messias,
descobriram também que estavam centrados, ou seja, ha-
viam abandonado o domínio do ego, que, perturbado e en-
sandecido, pela tentativa de agradar centenas de deuses e
evitar milhares de demônios, agora estava livre dessa tarefa
impossível. A busca desesperada de encontrar respostas e
adquirir conhecimento, que estabeleceria uma segurança
parecida com a de um deus, havia acabado. A moralidade
obsessiva que as pessoas acreditavam que as prepararia
para irem ao Céu e que só conseguia fazê-Ias mais infeli-
zes fora abandonada. Todos os sistemas gnósticos, exercí-
cios morais e superstições foram jogados fora: "Senta-te à
minha direita até que eufaça dos teus inimigos um estrado
para os teus pés" - o governo foi estabelecido. "Tu és sa-
cerdote para sempre. segundo a ordem de Melquisedeque"
- a redenção está completa. O mundo também foi reunido
para que fizessc sentido. O Salmo 110 colocou as verdades
multifacetadas da Palavra de Deus, que cria o Messias em
forma de oraçào, que mantém a vida de fé atenta e pronta a
responder à grande variedade de obras que Deus realiza em
cada pessoa e no mundo todo. Sabendo isso, ninguém se
surpreende de ver que era o Salmo predileto no século I.
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Centralizado em Deus
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Capítulo 4
Governo de Deus
SALMO 93
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Onde o seu tesouro está
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Governo de Deus
o SE:'IHOR reina
Sete Salmos proclamam e celebram esse domíni0 2
Provavelmente, tiveram origem em uma festa de ado-
ração do Dia de Ano Novo em Israel, quando era cele-
brada a entronização soberana de Deus sobre o povo, as
2. Salmos 47.93.95-99.
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Onde o seu tesouro está
o SEiV!fOR reina!
Vestiu-se de majestade;
de majestade vestiu-se o StNIIOR
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Governo de Deus
e annou-se de poder'
O mundo está finne
c não se abalará.
O teu trono está finne desde a antigüidade;
tu existes desde a etemidade.
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Governo de Deus
Dilúvios de desgoverno
Precisamos descobrir como cles chegam a tais con-
vicções e lealdades e como as mantêm. Longos períodos da
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Onde o seu tesouro está
6. Amos Oz. Alr Alichael (Nova Iorque: Altrcd A. Knopt~ 1972), pág.
115.
7. Como nome em Cantares \.10 c como verbo em 1.5,2.14,4.3 c 6.4.
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Governo de Deus
Egotismo escondido
Assim, a oração é uma atividade subversiva. Envolve
um ato mais ou menos aberto de desafio contra qualquer ale-
gação de perfeição do regime corrente. "Egotismo escon-
dido", afirma Herbert Butterfield, "talvez seja, em todo o
planeta, a maior causa de conflitos e problemas políticos."
x Professor de história moderna na Universidade de Cam-
bridge, Butterfield dedicou sua carreira a pesquisar o pro-
cesso histórico que levou a civilização à situação presente.
Mas, para ele, o "egotismo escondido" é a maior influência.
Se ele está com a razão, o chamado para orar, ato que revela
o egotismo c começa a tomar providências contra ele, é um
remédio excelente para os problemas políticos.
Deus governa. A oração desenvolve em nós a percep-
ção disso: intenções, caminhos, estratégias e mandamentos
dEle. A afirmação clara de Jesus - "Quem ama seu pai ou
sua mãe mais do que a mim não é digno de mim" (Ma-
teus 10.37) - toma relativas todas as outras autoridades:
familiar, jurídica, cultural ou governamental. Ao fazer essa
oração, mudança interessante acontece em nós. Ao passo
que a lealdade deixa nação, clube, raça ou qualquer outra
filiação, a verdadeira capacidade de estabelecer a comuni-
dade cresce. Muitas vezes o patriotismo não passa de ego-
tismo insuflado. A oração reduz a estridência dos protestos
políticos mas aumenta nossa habilidade como cidadãos
- compromisso, envolvimento, valores, paixão pela justiça
social. Ao orar, tomamos consciência da grande soberania
de Deus. Descobrimos ainda inclinação cada vez maior á
obediência. Devagar, mas com certeza, nenhuma cultura,
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Capítulo 5
Ajudado por Deus
SALMO 46
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Na vida Cristà, nada, ahsolutamente nada, pode ser
comprado em lojas de artigos faça você mesmo,
HARRY BLAMIRES I
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Ajudado por Deus
Quem acha que olhar para Deus resulta em paz jamais per-
turbada, e alegria contínua, a ponto de não haver mais es-
paço na vida para a percepção da barbaridade, está errado.
A natureza é violenta. As pessoas também. Ler os Salmos é
uma experiência chocante. Orá-los é ato de coragem.
Mas, embora as imagens do Salmo 46 sejam violen-
tas, a violência não é o assunto principal. Deus é o ponto
central. Não importa as circunstâncias que cercam a ora-
ção, ela se relaciona a Deus. Por mais desafio e desolação
que exista no ambiente em que vivemos, a oração encon-
tra seu caminho até o Senhor, como se houvesse um radar
embutido nela. Nada pode ser mais real do que Deus, e a
oração é a ação fundamental, na qual cultivamos a cons-
ciência dessa realidade, esquecida no meio de tanto som e
tanta luz.
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Capítulo 6
Afirmado Por Deus
SALMO 62
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Talvez a vontade, em seu aspecto mais profúndo,
não denote auto-a{zrmação e autocontro!e, mas sim amor
e aquiescência, não vontade de poder, mas vontade de
orGl:
WlLLIAM BARRETT I
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Onde o seu tesouro está
Espera silenciosa
Uma repetição marca o tema central dessa oração. A
repetição tem dois focos, porque os versículos 1-2 e 5-6
são quase, mas nào totalmente, idênticos. A sentença con-
troladora é somente em Deus, ó minha alma, espera silen-
ciosa (RA).
Somente em Del/S. Ele não é um entre muitos. Ora-
ção não é forma de se proteger, nem caminho para conferir
a última novidade da auto-ajuda. Compreensivelmente,
queremos explorar todas as opções: escrever cartas, dar
telefonemas, visitar clientes em potencial, conseguir entre-
vistas. Não sabemos quem poderá vir a ser útil. Claro que
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Afirmado por Deus
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História e esperança
Duas razões, que se complementam, sustentam essa
ação eomo tema. A primeira é dele vem a minha salvaçâo
(v.l). A segunda, dele vem a minha esperança (v.S). A primei-
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Afirmado por Deus
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Sóbrio e sagaz
Ligadas a essas atitudes, para acabar com a neces-
sidade de auto-afirmação, colocam-se reflexões sobre as
condições no mundo da auto-afirmação. Pensamentos só-
brios e sagazes, que mantêm a oração em contato com a
sociedade predatória, que não ora e age com impeto, pois
a oração não se restringe à fonna como alimentamos nosso
relacionamento com Deus. Ela é também o caminho para
termos a visão clara, sem ilusões do mundo que está sem-
pre tentando nos encaixar em seus moldes.
A primeira reflexão diseerne a motivação básica ocul-
ta por trás do encorajamento falso dos que nos convidam a
buscar a prosperidade no mundo.
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Afirmado por Deus
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Afirmado por Deus
Abandonando o jogo
A auto-afirmação transforma a sociedade em jogo en-
tre a ganância corporativa e a indulgência privada. Diretrizes
políticas e econômicas restringem comportamentos extre-
mos e asseguram certos limites, mas o jogo é alvo da mesma
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Afirmado por Deus
Newman prossegue:
3. John Henry Ncwman, The ldea ola UniversitJ' (Notre Damc, Ind.:
University ofNotre Dame Press. 1982). pág. 156.
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Capítulo 7
Compaixão de Deus
SALMO 77
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Não celebramos a doença, celebramos a cura.
S. GREGÓRIO NAZIANZENO I
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Compaixão de Deus
A tirania do ego
A primeira metade do Salmo apresenta todos os ele-
mentos desagradáveis que caracterizam a autocom-
paixão. Por exemplo, os exageros. As linhas de abertura
apontam para a histeria do lamento: Clamo a Deus por
socorro; clamo a Deus que me escute. A repetição da
palavra clamo no início de cada frase dirige o enfoque
diretamente para o problema. A minha alma recusa con-
solar-se (RA). A recusa em aceitar o consolo revela a
motivação escusa do lamento: usar a tristeza para as-
segurar a tirania do ego. Todos devem reparar em mim,
porque estou sofrendo. Minhas dificuldades, proclama-
das em voz alta e com dramaticidade, exigem que todos
prestem atenção em mim. O psiquiatra Harry Stack Sul-
livan brincou ao comentar que a principal característica
dessas pessoas é que "nenhuma flor é bela o suficiente.
Há sempre necessidade de um pouco mais de tinta ver-
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Compaixão de Deus
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Exaltação da graça
Então, quando parece que não dá mais para supor-
tar, há uma mudança. De súbito, passamos a um mun-
do totalmente diferente. Esse tipo de coisa acontece na
oração, sem transição aparente. Em um momento nos
debatemos no lamaçal da autocompaixão. No instante
seguinte nos encontramos firmes sobre as montanhas,
tontos diante da maravilha da redenção. Tudo gira em
torno das sentenças abaixo:
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Compaixão de Deus
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Onde o seu tesouro está
Cantando a salvação
Dentro do panorama amplo da história, um evento
foi escolhido para consideração: a saída do Egito (versícu-
los 16-19). Foi uma época em que natural e sobrenatural,
Terra e Céus, pessoal e nacional foram orquestrados para
dar origem a um único ato de redenção. O acontecimento é
relembrado de fonna audiovisual e também dinãmica: sons
tremendos e clarões de luz tomam ritmo que nos 1cva a lou-
vor e reverência. Somos sacudidos para sair do redemoinho
de autopiedade que nos puxa para baixo e levados para a
marcha de louvor, o caminho da salvação de Deus.
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Compaixão de Deus
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Compaixão de Deus
o lugar certo
Por mais sem saida que seja a autocompaixão, a ora-
ção não a impede. Qualquer lugar é bom para começar a
orar, mas não podemos ter medo de ir parar em um lugar
totalmente diferente daquele em que começamos. O sal-
mista começou sentindo pena dele mesmo e fazendo per-
guntas insolentes. Terminou entoando um velho cântico
quc proclama o poder e a graça.
Meditamos em nossa humanidade ferida e introdu-
zimos o nome de Deus nos pensamentos de torma casual:
logo nossa imaginação é despertada pelas águas temerosas,
profundas e tremulantes, pela passagem de Deus através do
trovão que ressoa, pesando na Terra abalada e iluminada por
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Onde o seu tesouro está
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Capítulo 8
Justificado por Deus
SALMO 14
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Capítulo 9
Servindo a Deus
SALMD82
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Servindo a Deus
Inimigos improváveis
Ário era um inimigo improvável. Pastor cristão no
Egito, no século IV e, segundo todas as informações, um
homem respeitável. Charles Williams o descreveu como
"persuasivo, virtuoso e simples".4 Os ensinamentos dele
pareciam plausíveis e livres de todo mal. Pelo menos à
primeira vista. Ele simplesmente afirmava que a verdadeira
vida de Deus não podia ser compartilhada nem transmitida.
O raciocínio é lógico: Deus é tão completamente santo, tão
absolutamente "outro" que não há como essa santidade ser
compartilhada com a humanidade sem ser comprometida
ou maculada e Deus, é claro, jamais será comprometido ou
maculado. Como conseqüência, Jesus não era expressão
de Deus em forma direta ou pessoal. Era uma criatura mol-
dada com o propósito de nos ensinar sobre Deus. O Se-
nhor teria necessariamente que manter distância de nós
para continuar sendo Deus.
A relação entre Deus, homens e mulheres é, então,
um relacionamento de ensino: didático e moral. Recebemos
instruções, mandamentos e ordens, mas não há comparti-
lhamento da experiência de vida, nem amor, nem comu-
nhão. No mundo de Ário havia separação completa entre
Deus e humanos. Ele não se derramava em amor salvífico.
Era visto como um tirano benigno que empurra as pessoas
4. Charles Williams. The Descenl oflhe Dove (Nova Iorque: Living
Age Books, 1956), pág. 51.
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Encarnação em público
Uma oração contribui para a alegação notável e ousa-
da de compartilhar da própria natureza de Deus. Participar
da obra dEle lança cristãos e suas comunidades repetidas
vezes no centro da história mundial. É o Salmo 82. Ele co-
loca em risco o monoteísmo para nos atrair a percepções e
reações que praticam a encarnação em público.
A linha de abertura estabelece o precedente para Ire-
neu e Atanásio. Na companhia de toda sua parentela es-
quecida e não mencionada, cles sc aventuraram a deixar a
segurança dos santuários - não sem certo temor ~ e foram
para as ruas como "pequenos Cristos" (o significado origi-
nal de cristão).
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Servindo a Deus
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Servindo a Deus
Questionamento hostil
Jesus corroborou cssa interpretação do Salmo 82. No
inverno que antecedeu Sua paixão, foi questionado com
hostilidade: "Até quando nos deixará em suspense? Se é
você o Cristo, diga-nos abertamente ". Jesus disse: "Eu e
o Pai somos um ". A pena para esse desafio ao monoteÍs-
mo era apedrejamento, e os judeus pegaram pedras para a
execução. Jesus perguntou: "Eu lhes mostrei muitas boas
obras da parte do Pai. Por qual delas vocês querem me
apedrejar? ". Eles retorquiram: "Não vamos apedrejá-lo
por nenhuma boa obra, mas pela blasfêmia. porque você
é um simples homem e se apresenta como Deus". Jesus
conseguiu salvar sua vida com uma citação do Salmo 82:
"Não está escrito na Lei de vocês: 'Eu disse: Vocês são
deuses'? Se ele chamou 'deuses' àqueles a quem veio a
palavra de Deus (e a Escritura não pode ser anulada),
que dizer a respeito daquele a quem o Pai santificou e
enviou ao mundo? Então, por que vocês me acusam de
blasfêmia porque eu disse: Sou Filho de Deus?" (João
10.24-36).
Jesus atribuiu essa palavra a Ele mesmo, mas não com
exclusividade: "Se ele chamou 'deuses' a quem veio a pala-
vra de Deus... ". Essa é uma sentença interpretativa. Por Sua
Palavra, Deus transforma homens e mulheres em "deuses".
Pela ordem dEle, os juízes eram deuses, realizando seu traba-
lho. Aqui, como em Gênesis. "Ele.fàlou, e tudo sefá." (Salmo
33.9) O caos virou cosmos. Humanos se tornaram juízes que
participam da ministração divina da justiça e, com isso, pas-
saram a ser deuses. "Vocês são deuses" é uma atribuição cho-
cante do divino para o trabalho realizado por humanos. Soa
como blasfêmia aos nossos ouvidos, assim como foi com os
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Servindo a Deus
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Onde o seu tesouro está
De ver a dizer
Mas isso não é a visão completa. Há, bem no final,
urna transição de ver para dizer. Surge um clamor:
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Capítulo 10
Suficiência de Deus
SALMO 1I4
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2. lan L McHarg, Design lvith Nature (Gardcn City, N.Y.: The Natu-
ral History Press, 1969).
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Suficiência de Deus
Natureza em frangalhos
Essa é a acusação. Será verdade?
Dificilmcnte. Ela teve inicio em ignorância vergo-
nhosa e indesculpável sobre a mente bíblica e a história
moderna. É fato que homens e mulheres víolaram a Terra.
Nunca houve, em toda a história humana, um periodo em
que a destruição fosse tão severa quanto agora. O filósofo
francês Maurice Merleau-Ponty resumíu o resultado da
obstinação moderna com brevidade sombria: "A natureza
está em frangalhos".'
Mas a responsabilidade pela profanação não pode ser
atribuida à mente bíblica. É verdade que as Escrituras, fa-
zendo contraste com rcligiões primitivas e pagãs, não con-
sideram a natureza divina e, como conseqüência, objeto
de adoração. Ela é vista como criação: trazida à existência
pcla palavra de Deus e, assim, revelação de bondade e bên-
ção. Humanos não são servos do mundo natural (visão dos
pagãos e primitivos). Em decorrência disso, não sentem
terror nem êxtase diante dele. Mas também não estão, de
fonna alguma, acima dele, para poderem olhá-lo de cima,
sem cuidado ou em postura de condescendência.
Sendo as criaturas mais desenvolvidas, "à imagem de
Deus", podemos, por vont"de própria, participar dos pla-
nos dEle. Temos para com o jardim a imensa responsabili-
3. Citado ror Barrett, The l!!ltsiun oj'Teclmique, pág. 335.
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Antioração
O que mais chama atenção no Salmo 114 são as íma-
gens: o mar fugindo, o Jordão retrocedendo, montanhas e
colinas saltando como carneiros e cordeiros, pedras e ro-
chas esguichando correntes de água. Eis a oração imersa na
percepção da criação, familiarizada com a Terra, sensível à
vida nos aspectos não humanos do ambiente.
Olhando outra vez, vemos que a oração não trata da
natureza, e sim da história: um evento - a saida do Egito
- está presente nela. Examinando mais a fundo, descobri-
mos que não há, na Biblia, Salmos para a "natureza", ou
seja, sobre ou dirigidos a ela.
Há Salmos que tratam de nossa experiência e conhe-
cimento sobre céu, mar, animais e aves, usados como vo-
cabulário de oração, mas sempre se ora sobre Deus, não so-
bre a natureza. Os Salmistas louvam o ato divino da criação
(S1.33); expressam reverência díante de sua íncrível condes-
cendência ao incluir os humanos em posição de responsabi-
lidade (S1.8); justapõem as glórias gêmeas do céu c da lei na
revelação do plano de Deus (19); ficam maravilhados pelo
esquema de providência elaborado de forma impressionante
nas relações intríncadas entre luz, vendo, nuvens, oceanos,
fontes, pássaros, peixes, cegonhas, coelhos, pessoas traba-
lhando e pessoas louvando (S1.104). Entretanto, os Salmos
nunca eram sobre a natureza, sempre sobre Deus.
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o caminho da vitória
As linhas intermediárias da oração expressam a for-
ma como essa percepção sacramental molda nossa relação
com o ambiente.
O mar olhou e fugiu.
o Jordão retrocedeu;
os montes saltaram cu mo carneiros,
as colinas. como cordeiros.
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Suficiência de Deus
Estremeça, ó terra
A última estrofe expressa o pessoal que se encontra
no centro do natural.
Estremeça na presença do Soberano. ó terra,
na presença do Deus de Jacó I
7. Banctt. The llllfSioll olTechniquc. pág. ]73,
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Capítulo 11
Amar a Deus
SALMO 45
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Muitas vezes, quando dizemos "eu amo você ", usa-
mos um imenso "eu" e um pequeno "você ". Tomamos
"amo" como conjunçào em lugar de entender que é um
verbo que implica em açào.
ANTHONY BLOOM 1
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Amar a Deus
Do sagrado ao secular
O Salmo 45 é um hino de casamento. Como tal, in-
tegra pessoal e público na forma caracteristica das cerimô-
nias. No sentido estrito, não se trata de oração, mas de cân-
tico dirigido aos noivos na presença de Deus. Contudo, no
decorrer dos séculos de inclusão nos cultos em templos,
sinagogas e igrejas, acabou se tomando uma oração, espe-
cialmente poderosa para acabar com o domínio do ego no
amor.
A transição de secular a sagrado é bem comum na
oração. Palavras que se arranjam para tratar de assuntos
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Amar a Deus
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Onde o seu tesouro está
o amor é cego?
És dos homens o mais notável:
derramou-se graça em tcus lábios,
visto que Deus te abençoou para sempre.
Prende a espada à cintura, ó poderoso'
Cobre-te de esplendor e majestade.
Na tua majestade cavalga v'itoriosamentc
pela verdade, pela misericórdia e pela justiça;
que a tua mão direita realize feitos gloriosos.
Tuas flechas afiadas
atingem o coraçào dos inimigos do rei;
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Abrir e crescer
As linhas finais são uma promessa que se cumpre
quando a adoração (versículo I a 9) e o afastamento (10-
IS) se integram.
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Espontaneidade no amor
Para impedir a troca, o povo de fé ora. Oração é a
forma em que o amor pode ser praticado na sociedade e
no ego. Aqui também ela envolve adoração c afastamento.
O amor maduro se desenvolve no louvor generoso ao que
exíste e na recusa determinada a se apossar das coisas. Nis-
so, outros recebem afirmação e são libertos. A sociedade
recebe espaço para desenvolver em amor, sem ser desmo-
ralizada nem ter seu crescimento obstruído pela cobiça. A
oração desses egos louvados e libertos infiltra a sociedade
de fomlas que a libertam para a espontaneidade em amor,
tanto nos aspectos pessoais quanto nos públicos.
O casamento é a maneira normativa (embora não ex-
clusiva) em que as pessoas experimentam e praticam essa
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Amar a Deus
Arquétipo da liberdade
Todo casal parte para o matrimônio com essa expec-
tativa, mas nem sempre isso acontece. Separações aconte-
cem, parceiros se tornam rivais, se enchem de ciúme, sen-
tem-se ameaçados, rejeitam e sofrem rejeição. As traições
acontecem. Ainda assim, o ato de amor recorrente mais
significativo que acontece na sociedade é o casamento.
Ezra Pound era defensor radical: "Uma íàmília bondosa é
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