Você está na página 1de 54

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.'■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questdes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
|L vista cristáo a fim de que as dúvidas se
. dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar. este trabalho assim como a
equipe de Verítatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
responderemos
00

5 SUMARIO
i-

< "Guardei a Fé"

uj Está próximo o f im do mundo?


o
t_ Os terrores do ano 1000
C/J
u "A Igreja e os divorciados" por Michel Legrain
D
O "Amanhecer"

w "Um sentido para a vida" por Viktor Frankl


<
2 "Um homem perplexo" por Mario de Franca Miranda
UJ
-i Livro em Estante
OD
O
ce
o.

ANO XXXI FEVEREIRO 1990 333


PERGUNTE E RESPONDEREMOS FEVEREIRO- 1990
Pubhcacáo mensal N? 333

Diretor-Responsável: SUMARIO
Estéváo Betiencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia "Guardei a Fé" 49
publicada neste periódico Os tempos sugerem:
Está próximo o fim do mundo? 50
Oiretor-Administrador:
Na proximidade do ano 2000:
D. Hildebrando P. Martins OSB
Os terrores do ano 1000 62

Adminisiracao e dittribuipao: Reivindicando nova Pastoral:


Edicoes Lumen Christi "A Igreja e os Divorciados" por Michel
Dom Gerardo, 40 - 5? andar S/501 Legrain 66

Tel.: (021) 291-7122 Um projeto de expansac protestante:


Caí xa Postal 2666 "Amanhecer" 78
20001 - Rio de Janeiro Rj
Logoterapia:
Improssflo a Encaderna;áo
"Um sentido para a vida" por Viktor
Frankl 88

0 cristáo na atual sociedade:


"Um Homem Perplexo" por Mario de
"MARQUES-SA/tAJVA" Franca Miranda 94
GRÁFICOS E EDITORES S.A. Livro em Estante 96
Tela.: (02D273-949S -273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

334- MARCO- 1990

A Igreja ante o Racismo. - As Espórtulas de Missa. — A Cremacao de Cadá


veres. — "O fascinante Poder da Mente" (G. de Nováis}. - Feminismo e
Feminilidade. - A Cruz de Carayaca.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números): NCzS 150,00 - Número avulso: NCzS 15,00
. Pagamento lá escolhal

1. VALE POSTAL a agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicoes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINALCRUZADO. afavor de Edicoes"Lumen Christi" (enderego ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento. pagável na agencia Praga Mauá/RJ N° 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo - A identificacao é difícil).
"Guardei a Fé" (2Tm 4,7)

No fim de sua vida, encarcerado em Roma, Sao Paulo pode fazer um


balanpo do seu passado... E verificou: "Combatí o bom (belo, em grego)
combate, terminei a minha carreira, guardei a fé" (2Tm 4,7). Na vtrdade, to
da a vida do Apostólo havia sido urna nobre luta em prol da fé: os judeus o
impugnavam como traidor de Moisés (At 21,20-22), os pagaos o escarneciam
por causa do anuncio da ressurreicao de Cristo e dos cristaos (At 17,32s); em
conseqüencia, ele se vira freqüentemente em perigo de morte; fora flagelado
oito vezes, apedrejado, náufrago (tres vezes), passara um dia e uma noite em
alto mar... (2Cor 11, 23-29). Mas nunca recuara, como nao recuava o atleta
no estadio, ao correr em demanda da coroa de louros, de pinho ou de olive
ra (cf. ICor 9,24-27). Restava, pois, ao Apostólo a coroa imperecível, que o
Senhor Jesús já I he havia reservado. Ele o justo Juiz. - A coroa era na anti-
guidade o si'mbolo da vitóría e também da imortalidade; os gregos a coloca-
vam sobre a cabeca ou em torno do pescoco de seus heróis falecidos, para
significar o premio que Ihes tocava no além.
Sao Paulo, ao refletir sobre isto tudo, ainda acrescentava: "(A coroa
será concedida) nao somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado
com amor a sua Aparicio" (2Tm 4,8). Isto quer dizer: todo cristáo que
guarde a fé até o extremo, em meio a todos os desafios que ela suscita, pode
estar certo de que tem, reservada para si, uma corea imperecível. Sao Paulo
assim deixava um programa a todos os discípulos de Cristo até hoje: comba-
ter o belo combate para nao trair ou deteriorar a fé, correr o pareo até o fim
intrépidamente... Sao simples e poucas, mas muito densas, as palavras do
Apostólo: "GUARDEI A FÉ"; a mentalidade contemporánea tende a "sua
vizar" tal programa, mesclando a fé ou tirando-lhe o sabor, as características
transcendentais, as vezes aparentemente loucas (cf. 1Cor 1,23). "Se, porém,
o sal perder o seu sabor, com que se hade salgar?", pergunta o Senhor em
Mt 5, 13. Precisamente tendo em vista a oscüacao dos fiéis de Filadélfia. o
Senhor Jesús Ihes dizia no Apocalipse: "Guarda com firmeza o que tens, pa
ra que ninguém arrebate a tua coroa" (Ap 3, 11). O que quer dizer: nao se-
jas como o atleta que, tendo corrido 90% do pareo, alega nao ter mais forcas
e joga fora o seu ideal; esquece que tem uma coroa de indizível valor depen
dente dos 10% fináis da corrida.
De resto, o exemplo de S. Paulo nao era se nao o do próprio Cristo,
que foi até a morte, e morte de Cruz, para nao trair o plano do Pai, e, por
isto, se viu exaltado ácima de todas as criaturas (cf. Fl 2, 5-11). O modelo de
Cristo, ilustrado pelo do Apostólo, paire ante os olhos dos cristaos no perío
do de Quaresma, que se abre a 28/02 pf. "GUARDEI A FÉ!": estas tres pa
lavras constituem uma meta a atingir..., sao o segredo da verdadeira alegría!
E.B.

49
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXI - N9 333 - Fevereiro de 1990

Ostempos sugerem:

Está Próximo o Fim do Mundo?

Em síntese: Os tempos inclementes sempre suscitaran) nos bomens a


expectativa de ¡mínente fim do mundo, marcado por urna grande catástrofe
e o juízo universal de Deus. Os cristios, através dos sáculos, expressaram fre-
qüentemente essa expectativa, mas em vio... O próprio Senhor Jesús se recu-
sou a indicar a data da consumacio da historia (cf. At 1,7; Mt 24, 36), de
modo que nSo há por que afirmar o fim do mundo para o ano 2000. É de
notar também que o Senhor predisse que os tempos seriam ingratos e os seus
discípulos "dese/a/iam ver o Día do Filho do Homem, mas nao o veriam"
(Le 17, 221, isto é, desejariam a vinda do Filho do Homem como Juiz e nao
a presenciarían!; ficar-lhes-ia, porém, o recurso á o racáo instante para obter
a/ustica de Deus no mundo (cf. Le 18, 1-8).

A proximidade do ano 2000 e a inclemencia dos tempos atuais suge


rem a tnuitos contemporáneos nossos a idéia de que o fim do mundo está
¡mínente. Varias correntes e seitas pretendem basear esta concepcao na S.
Escritura; outras a fundamentam em profecías de Nostradamus, S. Mala-
quias, autores esotéricos... Isto gera um clima de inseguranca e inquietacao
em muitas pessoas; sem necessidade, porém, dado que nao há como fixar
urna data para o fim do mundo, nem aos olhos da ciencia nem á luz da fé.

Visto que os argumentos religiosos sao os mais freqüentemente aduzi-


dos para se "profetizar" a catástrofe final, examinaremos, a seguir, os dados
da fé atinentes ao assunto.

50
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO?

1. "Quando se darao essas coisas?" (Mt 24,3)

A pergunta dos Apostólos, desejosos de saber quando se daría a consu-


mapao da historia, é muito espontánea na mente do homem. Desgranas e ca
lamidades que acometem periódicamente os individuos e as nacdes, lem-
bram a instabilidade do mundo presente e tém incitado, átravés dos séculos,
a conjeturar, mediante a combinacao, ora mais, ora menos arbitraria, de "si-
nais", urna catástrofe próxima definitiva para o mundo.

Nao será inútil percorrer a lista das principáis "profecías" já proferidas


sobre o assunto. Esta vi sao de conjunto facilitará um jui'zo sobre o que se de-
va pensar no tocante á época do fim do mundo.

1) Na Antíguidade paga

O mundo pagao, nos decenios que cercam o nascimento de Cristo, es-


tava impregnado de forte expectativa de catástrofe e renovacao; isto em
muitos individuos produzia acentuado pessimismo; em outros, ao contrario,
esperanca jubilosa.

O brilho e a prosperidade que o Imprério Romano atingirá sob Augus


to (i 14) e Tiberio (t37), comecaram a declinar rápidamente sob Calígula
(+41), monarca pouco idóneo; Claudio (f 54) permitiu que mulheres depra
vadas (Messalina, Agripina) e seus cortesSos cometessem crimes de ambicao
e vinganpa, que muito infelicitavam a vida pública. A isto pareciam associar-
se estranhos fenómenos na natureza; falava-se de cometas de mau agouro re-
cém-avistados, chuvas de sangue, partos monstruosos, pestes, ¡nundacoes,
raios que espedacavam estatuas de Imperadores e templos da divindade. Em
conseqüéncia, julgava-se que o mundo caminhava para o seu fim. Nao falta-
vam, porém, vozes que procuravam reerguer os ánimos abatidos; do Oriente
soprava urna onda de expectativa otimista; pelos oráculos das Sibilas {figuras
mitológicas e proféticas dos orientáis) propalava-se a idéia de que viria urna
nova fase da historia; um ser divino-humano, nascido de urna virgem, apazi-
guaría a cólera da divindade provocada pelos homens e introduziria no
mundo urna era de bonanca, era de Saturno ou de ouro. Esta crenca, recebi-
da da Sibila de Cuméia, foi adotada e elegantemente formulada pelo poeta
romano Virgilio (+19 a.C) em sua famosa quarta écloga:

"Bis que vém os últimos tempos marcados pelo oráculo de Cumes:


A tonga serle dos séculos recomeca,
Bis que volta a virgem, voita o reino de Saturno,
Eis que desee do céu urna raca nova.
Ao menino recém-nascido, que eliminaré a geracao de ferro

51
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

E suscitará por todo o mundo umagerafao de ouro,


Dai acolhida..."

Aos olhos da fé, esta expectativa de renovacao no Mmiar da era crista


tem caráter providencial. Suscitando-a, Deus preparava os ánimos para rece-
berem o Salvador, que haveria de ser apregoado ao mundo como a resposta
auténtica ao género humano; poria, de fato, um fim e um novo inicio na
historia universal.

2) Entre os judeus antigos

Contemporáneamente ao que se dava entre os pagaos, também no po-


vo judaico era forte a crenga de que próximo estava o "dia do Senhor", ou
seja, a vinda do Messias, que havia de se tornar o Chefe religioso e político
de seu povo. Libertaria a este e exerceria julgamento punidor sobre os pa
gaos que o oprimiam, restaurando, por fim, a era paradisíaca (cf. 4Esdr 5,
1-20; 6, 35-7, 45). Donde o grande número de falsos Messias que surgiram
pouco antes e depois de Cristo. Cf. At 5, 36s; Flávio José, Antigüidades Ju
daicas 20, 5, 1; S. Justino, Apología 1, 31; Eusébio, Historia Eclesiástica,
4. 6, 2.

3) Entre os cristaos do século I

Nao há dúvida de que as ¡déias ventiladas por pagaos e judeus concor-


riam para avivar entre os fiéis a expectativa de que o Senhor Jesús nao tarda
ría a voltar; tenhamse em vista as epístolas aos tessalonicenses, aos hebreus
e a 2Pd (6?/8? decenios d.C), em que os Apostólos procuraram reanimar os
pusilánimes, que, diante da demora de Cristo, perdiam a esperance, e tam
bém a fé, no Evangelho. Em Tessalónica, os cristaos, esperando o Senhor de
um dia para outro, já nao trabalhavam, entregando-se ao ocio e ás divagacoes
da fantasía; isto disseminava a inquietude entre os irmaos e acarretava graves
desordens moráis (cf. 2Ts 3, 10-12).

4) No Cristianismo até o inicio da Idade Media

A tensáo escatológica chegou ao extremo em fins do séc. II e inicios


do III, na Asia Menor. Montano e suas duas profetisas, Priscila e Maximila,
apregoaram a vinda iminente do Paráclito, prometido por Jesús em Jo 16;
acabar-se-ia entá"o o mundo presente para dar lugar ao Reino de Deus. De-
monstracSes de fanatismo se produziram em conseqüéncia.

Eis o que refere Hipólito Romano em inicios do séc. III:

"Um bispo da Siria persuadía muitos irmaos a irem para o deserto ao

52
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO?

encontró de Cristo, com suas esposas e seus filhos; estes vaguearam pelas
montanhas e ao longo das estradas; pouco faltou para que o Gobernador os
mandasse prender como salteadores... No Ponto, outro bispo. homem pie-
doso e humilde, mas demasiado confiante em suas visoes, teve tres sonhos e
pds-se a profetizar: 'Acontecerá isto e aquilo'. E, por fim: 'Sabei, irmaos, que
o juízo se realizará dentro de um ano, e, caso nao aconteca o que vos digo,
nao deis mais fé ás Escrituras, masprocedei como bem quiserdes'. Ora,nada
do previsto se verificou; o bispo se viu confuso, os irmaos se escandalizaran!,
as virgens se casaram e os que haviam vendido seus campos foram obrigados
a mendigar" (\n Danielem 3, 18s).

Todavía, a expectativa de ¡mínente fim do mundo se foi dissipando


com o decorrer dos tempos. Isto nao ¡mpedia que certos cristaos procuras-
sem, por cálculos e conjeturas, perscrutar a época da catástrofe final, que, .se
nao estava ás portas, ná"o podía tardar muito... Assim:

O Pseudo-Barnabé, em fíns do séc. I ou ¡ni'cios do II, afirmava que o


ano 6000 após a criacáo do mundo seria o ano terminal da historia. Razao
alegada: conforme Gn 2, 2, Deus consumou o mundo em seis días; ora um
dia para Deus equivale a mil anos dos homens. segundo SI 89, 4. Donde
se seguía que, no seu ano 6000, a historia deste mundo deveria estar consu
mada <cf. epist. 15, 4). Sto. Ireneu ("¡'cerca de 202) repetía a mesma tese; cf.
Contra as Heresias 5, 23, 2.

S. Hipólito de Roma (:235), partindo dos mesmos principios, ainda


precisava que o ano final seria o de 500, já que entre Adao e Cristo haviam
decorrido 5500 anos; cf. In Danielem 4, 23.

S. Ambrosio (v397) e S. Hilario de Poitiers (*367) apoiavam a tese do


Ps. Barnabé sobre o fato de que Jesús se transfigurou sobre o Tabor seis dias
depois de ter dito aos discípulos: "Em verdade vos digo: há alguns aquí pre
sentes que nao provarao a morte antes de ter visto o Filho do homem vindo
em seu reino" (Mt 16, 28 e 17, 1.) A Transfiguracao, produzida seis dias
mais tarde, significaría, no caso, a volta do Cristo glorioso.1

S Gaudencio de Bréscia {< após 405) indicava o ano 7000 após a cria-
cao como data para a ressurreicao universal. Apoiava-se no preceito da Lei mo
saica que manda cessem todas as obras deste mundo no sétimo dia da sema
na e entrem os fiéis no repouso de Deus (cf. Ex 12, 16); ora, já que um dia

1 Cf. S. Ambrosio, In Le 7, 7;S. Hilario, In Mt 17, 2. ,

53 i **
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

de Oeus equivale a mil anos dos homens {cf. SI 89,4), o ano 7000 seria o da
cessacao definitiva das obras deste mundo e o da ressurreipao dos corpos.1

No séc. V a idéia da iminéncia do f im do mundo foi de novo avivada pe


lo desenrolar dos acontecimentos: ¡nvasSes dos Godos assolavam o Imperio
Romano e sua capital, até que, em 476, Odoacre se apoderou de Roma, des-
tituindo o último imperador, Rómulo Augusto. A queda da cidade que até
entao fora um foco de civilizacao, uniao e bemestar entre os povos, parecía
ser prognóstico eloqüente de que o mundo nao subsistiría; como poderia
continuar a historia sem a orientapao de Roma? Estes anseios sao calorosa
mente testemunhados por S. Jerónimo (Í420), S. Joao Crisóstomo (!407),
S. Lefio Magno (+461).2

Aínda nos séc. VI/VII, S. Gregorio Magno (+604), em suas pregacoes,


indicava como próxima a vinda de Cristo, já que as guerras e as miserias da
época parecíam ser os sínais precursores da parusia.3

5) Na Idade Media

No séc. X fizeram-se ouvir pressentimentos de próximo fimdo mundo,


pressentimentos cujas proporcdes tém sido por vezes exageradas por histo
riadores e romancistas. Ver pp. 62-65 deste fascículo.

Em fins do séc. XII, o Abade Joaquim de Fiore (f 1202) distinguía


tres idades do mundo: a do Pai, correspondente ao Antigo Testamento; a
do Filho, que duraría desde o inicio da era cristl até 1260, já que 42 sao as
gerapoes indicadas na árvore genealógica de Cristo em Mt 1, 17 (geracoes
a cada urna das quais Joaquim de Fiore atribuía trinta anos); em 1260 come-
paria nova fase, a do Espirito Santo, caracterizada por um entendimento
mais profundo e espiritual das Escrituras Sagradas; seria a era definitiva, nor
teada pelo "Evangelho eterno" de que fala Ap 14, 6. Estas idéias encontra-
ram larga difusao, principalmente em círculos dados á alegoría e a um espl
ritualismo unilateral.

1 Serm. 10.
1 Cf. S. Jerónimo, ep. 71, 11 (o Santo Doutor comenta 2Ts 2, 5); Latan-
cío (fapós 317) jé antes escrevera: "Esta {Roma) é a cidade que aínda tudo
sustenta." ("Divinae Inititutiorws 7, 25,5.)
Vejam-se também S. JoSo Crisóstomo, In Mt /j. 20, 6; In lo 34,3;S.
LeSo Magno, serm. 19, 1.

3 Moralia, 17,9, 11.

54
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO?

Das obras de S. Tomás (f 1274), colhe-se a informacao seguinte: alguns


doutores medievair julgavam que os astros cessarao de se mover no f'im dos
tempos, para ocupar exatamente a mesma posicao que tinham no inicio do
mundo, de sorte que nenhuma trajetória astral ficará incompleta. Ora, os sa
bios atribuiam entao a duracáfo de 36.000 anos á revolucao de alguns corpos
celestes. Donde se previa que a historia ainda duraría mais 30 mil anos apro
ximadamente! A S. Tomás um futuro tao extenso parecía pouco provável...
Ver Suma Teológica, Suplemento III, 91, a. 2, ao 8?

O séc. XV foi mais urna vez marcado por expectativas de consumagao


¡mínente. O desejo de nova era, lancado ao público por Joaquim de Fiore e
seus numerosos amigos, encontrava terreno propicio para grassar em meío ás
desordens religiosas e políticas dos séc. XIV e XV (transferencia dos Papas
para Avinhao, grande Cisma do Ocidente cristao; novas teorías relativas ao
governo da Igreja e do Estado). A evocagao do fim do mundo servia freqüen-
temente de tema aos pregadores para excitar os homens á penitencia e ao
mutuo entendimento. S. Vicente Ferrer {t 1418), talvez mais por artificio
oratorio, assinalava-lhe o ano de 1412. Principalmente em fins do séc. XV
esperava-se urna intervengáo apocalíptica de Deus; oráculos e profecías ater
radores se difundiam febrilmente; as numerosas narrativas de fenómenos
portentosos excitavam ñas imaginapSes o desejo de os ver, mesmo á custa de
arduas peregrinacSes e penitencias; falava-se de um Papa angélico, etc. Os
ánimos fermentavam cada vez mais... A explosao deu-se realmente em 1517,
nao por urna catástrofe cósmica (fim do mundo), mas pela irrupgao do lute-
ranismo e da reforma protestante. Esta, sem dúvida, pos fim a muitos valo
res venera veis da Idade Media, e deu ocasiao a que novos valores surgissem
por obra da auténtica Reforma, empreendida pelo Concilio de Tremo
(1545-63).

6) Na Idade Moderna

Nao faltam igualmente individuos e correntes de pensamento que pro-


poem prever a data final. Assim:

Pico de Mirándola (t 1494), humanista famoso,colocava a volta de


Cristo no ano de 1994, baseando-se em pressupostos de mística neoplatóni-
cae cabalística;

Tiago Nacchiante O.P. (+1569), bispo de Chioggia, predizia o fim do


mundo para o ano de 1800;

Cornélio a Lapide (+1637), exegeta católico, em 1626 julgava que pró


ximo estava o fim do mundo, apelando, entre outras razoes, para um orácu
lo comum entre os turcos: a religiSo de Maomé haveria de durar mil anos;

55
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

ora, pouco faltava para se preencher esse prazo; o Islamismo, pois, haveria
de mover em breve a última perseguidlo contra a Igreja e sofrer o seu golpe
mortal pela vinda de Cristo. Ver Commentarius ¡n Apc 20, 5. Lugduni 1626.

Joáb Bengel (i 1752), exegeta luterano da córreme pietista, propunha


o seguinte cálculo, todo baseado em presumidas indicapdes cronológicas da
Biblia:

Desde a criacao do mundo até o nascimento de Cristo decorreram


3.943 ou, redondamente, 3.940 anos. Ora, segundo IPd 4, 7, "o fim de to
das as coisas está, próximo"; o que significa que a era iniciada por Cristo deve
ser de menor duracao que a anterior. Esta nossa era crista, porém, certamen-
te há de compreender, antes do juízo universal e da consumagao do mundo,
os 2.000 anos de que fala Ap 20 (um milenio, durante o qual Satanás perma
necerá ligado no abismo, e outro milenio, em que os santos reinar ao com
Cristo sobre a Térra); por conseguinte, o inicio do primeiro milenio nao po
día distar muito da época em que Bengel vivia (1.740 + 2.000 = 3740; a era
crista" devia durar menos de 3.940 anos!). Ulterior precisao: o número 7 tem
preponderancia ñas indicapSes cronológicas da Sagrada Escritura, donde
Bengel julgava poder concluir que a duracao total da historia será de 7.777
anos. Ora, se esta é a duracao total da historia, nao se poderia atribuir á era
crista extensSo maior do que 7.777 - 3940, isto é, 3837 anos; o que impli-
cava que o primeiro milenio devia comecar no ano 3837 — 2.000 ou seja, em
1837. Por conseguinte, vivendo no séc. XVIII Bengel esperava para 1837 a
próxima vinda de Cristo, que inauguraría urna nova ordem de coisas, provi
soria, até a consumapao definitiva da historia no ano de 3837 (7.777, a par
tir da criacato do mundo).

Os adventistas foram fundados por Guilherme Miller (11849), que, de-


pois de aderir ao racionalismo de sua época, se convertera á corrente protestan
te dos batistas. Partia do principio de que todas as profecias bíblicas referentes
ao Messias se devem cumprir ao pé da letra. Ora, já que o Messias foi pobre e
mal recebido em sua primeira vinda, há de voltar urna segunda vez á Térra, e
estabelecerá um reino glorioso milenario, que será a realizacao verbal da era
messiánica profetizada pelo Antigo Testamento; terminado o milenio, verifi-
car-se-á o juízo final (cf. Ap 20).

E quando se dará a vinda inaugurativa do reino milenario?

Miller lia em Dn 8, 14: "(A abominacáo durará) até duas mil e trezen-
tas tardes e manhas; a seguir, o santuario será purificado." Neste texto mui
to enigmático, tomando as "tardes e manhas" por anos, julgava que Cristo
viria instaurar o milenio no ano 2300 a partir da data do oráculo, ou seja, a
partir de 457 a.C; o que equivalía a dizer que o Senhor voltaria para instau-

56
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO?

rar justica e paz no ano 1843 da nossa era ou, mais precisamente, entre mar
go de 1843 e marpo de 1844. Quando em 1831 a profecía de Miller come-
cou a ser propalada, suscitou muí tos adeptos entusiastas, principalmente en
tre batistas e metodistas, os quais passaram a ser chamados adventistas (urna
chuva de asteroides, em 1833, parecia ser o abalo de estrelas — prenuncio do
fim). Todavia, o ano de 1843 trouxe a grande decepcao aos 50.000 discípu
los! Miller continuou a afirmar que o Senhor nao tardaria; S. Snow refez os
cálculos, anunciando o fim do mundo para 22 de outubro de 1844; em con-
seqüéncia, em certas regioes dos EE.UU. da América do Norte, camponeses
e operarios abandonavam o trabalho, e passavam as noites ao retento, espe
rando com impaciencia febril a vinda de Cristo; a desilusao sofrida aínda foi
mais amarga. Os adventistas até hoje conservam a crenca no próximo regres-
so do Senhor; alguns dizem que o prazo previsto por Daniel de fato termi-
nou em 1844, mas que Cristo ainda está a purificar o santuario; vira logo de-
pois de completar esta obra.

Os Serios Estudiosos da Biblia ou, a partir de 1931, as Testemunhas


de Jeová, fundados por Charles Russel (+1916), sofreram a influencia dos
adventistas. Conforme os cálculos fantasistas de Russel, os sete dias da cria-
cá"o (cf. Gn 1) significam que o mundo durará 49.000 anos; ora, a cronología
bíblica revela que nao estamos longe de findar este período. Pois que deve
haver um paraíso terrestre de 1.000 anos antes da consumacao, Russel afir-
mava que a sua geracao nSo passaria sem ter visto o Reino de Deus. Aguarda-
va, pois, a segunda vinda de Cristo, espiritual e invisível, para 1874; a partir
deste ano até 1914, o Senhor faria a colheita dos seus fiéis; em 1914 inaugu
raría o reino milenario, ao qual no ano de 2914 se seguiriam os céus novos e
a Térra nova. O dito exegeta repartía a historia do mundo em tres fases: a
antiga, desde a criacao até o diluvio: a atual, subdividida em período patriar
cal (do diluvio até o Patriarca Jaco), período judaico (de Jaco até Cristo),
período cristao (desde Cristo até o inicio do milenio); a fase futura compre-
endería o milenio (1914-2914) e a era do mundo renovado, definitivo.

Em 1917, já que as profecías nao se cumpriam, Alexandre Freytag


(t 1947) separou-se da seita e fundou o ramo dissidente dito "dos Amigos
do Homem" ou "dos Amigos do Eterno" ou "dos Discípulos de Cristo".
Pós-se a pregar e escrever, anunciando a vinda próxima do Reino de Deus,
no qual todos os homens habitariam em vitas dotadas de todo o conforto
e higiene; nao haveria nem proprietários nem patrSes; tudo seria dado a to
dos gratuitamente...; haveria vegetacao abundante, temperatura amena e uni
forme em tddo o globo, etc.

Ainda em época mais recente, o fenómeno dos discos voadores susci


tou reacSes semelhantes ás dos homens de tempos passados. Eís o que no
artigo "O que sáb os discos voadores". o repórter da extinta revista "O Cru-

57
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

zeiro", aos 20 de novembro de 1954, verificava á pág. 60 (note-se no trecho


abaixo, mais urna vez, o recurso á Sagrada Escritura para interpretar os tem-
pos):

"Todos os grandes profetas da antigüidade, inclusive Nostradamus, as-


sim como certas passagens da Biblia, fa/am de urna grande catástrofe deno
minada o fim dos tempos, a acontecer no ano de 1999. Estranhos sinais apa-
recerio nos céus... Do céu vira um grande re!, chefe de um poderoso exérci-
to... Em outubro de 1999, depois de um eclipse total do Sol, urna grande
translacao se produzirá de tal modo que ¡u/gario a Térra fora da órbita e
abismada em trevas eternas... A Térra será despedazada em grandes abertu
ras. Será agitada e cambaleará como um embriagado... Isso tudo quererá di-
zer que um astro qualquer passará próximo de nos bastante para influenciar
a nossa marcha através do espaco? Ou que a inclinacao da Térra sobre o pro-
prio eixo se modificará a ponto de ocasionar tal catástrofe, como alguns ci-
entistas predizem e como alguns temem que as expiosoes atómicas estejam
precipitando?

Espiritas e videntes modernos confrmam tudo isso com um quase fa


natismo. Tenho recebido ¡numeras comunicacoes acerca dos futuros aconte-
cimentos, da natureza dos discos, da vida em outros planetas. Respeito-as,
mas como njpórter tenho de me ater a fatos.

Astrólogos predizem fatos estarrscedores. Um deles, o Professor Ru-


bens Peiruque, previa urna nova onda de discos para este ano em que esta
mos. Coincidencia ou nao, isso está acontecendo. Ele também afirma que.
em 1956, marcianos farSo urna invasao pacífica na Térra. Só nos resta es
perar".

Em verdade, até 1990 os homens esperam, na base de novas e novas


previsdes, o fim do mundo para breve ou para o ano 2000. Em nossos días,
sao varias as profecías atinentes a tal assunto...

Diante das multas teorías tao bem arquitetadas no decorrer da histo


ria, mas fragorosamente desmentidas pela experiencia, torna-se difícil dar
crédito a alguma nova conjetura. Nem há fundamento para se afirmar que a
época posterior a Cristo durará ao menos tanto quanto a antecedente, ou
seja, 4 ou 6 mil anos, correspondentes, como créem muitos, á historia do
Antigo Testamento; tal computagao nao se funda sobre algum texto da
RevelacSo. - As profecías sobre a data do fim do mundo constituem um
auténtico fenómeno sociológico, urna especie de mal crónico que acompa-
nha as grandes sacudidelas da historia.

58
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO? 11

Vejamos, pqis, as conclusdes que resultam de urna leitura atenta dos


escritos do Novo Testamento.

2. A incerteza do Día do Senhor

O estudo dos Evangelhos deixa no leitor a impressao de que Jesús, em-


bora tenha indicado alguns sinais precursores de sua vinda, em última análise
quis deixar a época da parusia velada ao conhecimento humano; é de crer
que, mesmo para os homens que a ela assistirem, a segunda vinda do Senhor
terá o caráter de acontecimento imprevisto, surpreendente:

"Verificar-se-á por ocasiao da volta do Filho do homem o que se deu


nos dias de Noé. Pois, assim como no tempo que precedeu o diluvio, os ho
mens comiam, bebiam, tomavam e davam em matrimonio, até o día em que
Noé entrou na arca, e de nada suspeitaram até que veio o diluvio, que levou
a todos, assim se dará quando o Filho do homem voltar. Entao, de dois ho
mens que estiverem num campo, um será tomado, o outro deixado; de duas
muiheres que estiverem junto á mó, urna será tomada, a outra abandonada"
(Mt 24. 37-41).

O estilo desta passagem é apocalíptico e simbolista; por isto nao se po


de m tomar ao pé da letra os pormenores das afirmacoes.

O caráter imprevisto da parusia é inculcado ainda por duas compara-


c5es que o Senhor propSe no seu discurso escatológico: assim como o raio se
desencadeia repentinamente, recobrindo logo toda a extensao do horizonte
(Mt 24, 27), assim como o salteador surpreende o pai de familia em casa du
rante a noite (Mt 24,43s), assim também o Filho do homem inesperadamen
te descera dos céus em Sua Majestade.

S. Paulo desenvolve em colorido vivo a imagem do ladrao:

"Sabéis muito bem que o dia do Senhor vira como um ladrio durante
a noite. Quando os homens disserem: Paz e segurancal, justamente entao
urna ruina repentina os acometerá, como a dor sobrevém é muther que está
para dar á luz, e nSo escaparao. Vos, porém, irmSos, nao viváis ñas trevas de
modo que aquele dia vos surpreenda como um ladrio" (1Ts 5, 2-4).'

1 S. Paulo inculca bem que, para os cristaos fiéis ao Senhor, nao há trevas,
nSo há noite ou cegueira espiritual; por isto a vinda do Senhor, por repenti
na que seja, nSo Ihes acarretará os terrores de um assafto maléfico, mas será
a última fase de urna Ionga gestapao, será dar á luz urna vida oculta com Cris
to em Deus (cf. Cl 3,3).

59
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

A ¡magem do ladrao ocorre também em 2Pd 3, 10; Ap 3,3.

É justamente a consciéncia da incerteza do grande día que motiva, lo


go a seguir, tanto no vaticinio de Cristo como na epístola de S. Paulo, seria
admoestapáo á vigilancia; Jesús insiste nesta atitude, ilustrando-a por meio
de parábolas; cf. Mt 24, 45-25, 13; Le 12, 35-40; 1Ts 5, 5-10.

De resto, o próprio Cristo declarou explícitamente nao pertencer á


Sua missao revelar aos homens o dia da parusia; tal conhecimento ser-lhes-ia
pernicioso mais do que vantajoso. Assim, em seu sermao escatológico, dízía:

"Quanto aquele dia e agüela hora, ninguém os conhece, nem mesmo


os anjos do céu. nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pal só" (Me 13,32).

A exegese deste texto já fez correr ríos de tinta desde os primordios da


Igreja. Provém de S. Agostinho a interpretado hoje geralmente aceita pelos
exegetas católicos: é na qualidade de Mestre dos homens que o Filho diz
ignorar a época do juízo universal; o Filho nao a sabe porque nao pertence
á sua missao de Doutor e Salvador comunicar este segredo de Deus aos ho
mens, ou seja, porque está fora do depósito de verdades a serem reveladas
(cf. S. Agostinho, in Ps 36 Migne 36, 3555).

Ainda aos Apostólos que perguntavam quando se consumariam as suas


expectativas messiánicas, respondeu o Senhor:

"NSo toca a vos ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai
fixou por Sua própría autoridade" (At 1,7).

A Igreja deseja que se respeite o plano divino de deixar oculta aos ho


mens a época da parusia; admoesta a que nao se pergunte á fantasía humana
o que o próprio Deus explícitamente recusou revelar. Diante de tudo o que
se tem propalado sobre o assunto, ela será sempre um baluarte de paz, exor-
tando os homens a que, sem se deixar perturbar por rumores, se empenhem
com zelo por fazer a cada momento o que é, certa e ¡ndubítavelmente, da
vontade de Deus. Foi para assegurar essa tranqüilidade que a Igreja mais de
urna vez se viu obrigada a se pronunciar contra os arautos de "novidades".

Assim, por exemplo, um Concilio regional de Milao em 1365 admoes-


tava os pregadores do Evangelho:

"NSo apregoem como coisas certas a época de vinda do Anticristo e a


data do juteo final, ¡á que pelos labios do Senhor foi dito: 'Nao toca a vos ter
conhecimento dos lempos e momentos'. Nem ousem, a partir das Escrituras
Sagradas, procurar adivinharo futuro e indicar determinado dia para deter-

60
PRÓXIMO O FIM DO MUNDO? 13

minado acontecimento. Também nao afirmem temerariamente ter-lhessido


isso revelado por Deus."

O 5? Concilio universal do Latrao, em 1516, decretsva:

"Mandamos a todos os que estao, ou futuramente es tara o, incumbidos


da pregafio, que de modo nenhum presumam afirmar ou apregoar determi
nada época para os mates vindouros, para a vinda do Anticristo ou para o día
do juizo. Com efeito, a Verdade diz: 'Nao tocaavóster conhecimento dos
tempos e momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade.' Consta
que os que até hoje ousaram afirmar tais coisas mentiram e, por causa deles,
nao pouco sofreu a autoridade daqueles que pregam com retidSo. Ninguém
ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que
quer que se/a, como se o tivesse recebido do Espirito Santo ou de revelacSo
particular, nem ouse apoiar-se sobre conjeturas vas ou despropositadas. Cada
qual deve, segundo o preceito divino, pregar o Evangelho a toda criatura,
aprender a detestar o vicio, recomendar e ensinar a prática das virtudes, a
paz e a caridade mutua, tSo recomendada por nosso Redentor".

A respeito das profecías de Nostradamus ver PR 217/1978, pp. 23-35;


269/1983. pp. 325-42.

Sobre as profecías de S. Malaquías, cf. PR 227/1978, pp. 451-56.

Ver também o Curso por Correspondencia sobre o Ocultismo, da Es


cola "Mater Ecclesiae", Caixa postal 1362,20001 Rio (RJ).

(continuacao da p. 96)

Tem-se a impressao de que Torres Pastorino recua diante da ousada


afirmacSo de que somos Deus, mas a mantém afirmando que há urna única
substancia da qual somos urna parte. Ademáis á p. 71 compraz-se em distin
guir entre o eu pequeño eoeu divino que há em nos:

"O eu pequeño pensa em reiacSo a si mesmo; o eu divino pensa em re-


lacSo ao todo.

O eu pequeño age em funció de si mesmo; o eu divino age em funcao


do cosmo ilimitado.

O eu pequeño raciocina segundo seu interesse próprio; o eu divino ra


ciocina para beneficio geral" (p. 71J. (continua á p. 77)

61
Na proximidade do ano 2000:

Os Terrores do Ano i ooo

E m síntesa: Os historiadores modernos ¡ulgam que a proximidade do


ano 1000 foi de grande pavor e pánico para os cristaos ocidentais, que esta-
ríam esperando o ¡ufzo final para o fim do primeiro milenio. Ora toda a do-
cumentacao que se tem relativa ao sáculo X, revela o curso normal de vida
dos homens da época; mesmo quando os cronistas se referem ao fim desse
sáculo e ao ano 1000, nada dizem dos presumidos apavoramentos das popu-
lacoes medievais.

A lenda dos terrores do ano 1000 deve-se aos historiadores modernos,


especialmente a Jules Michelet (i 1874), que tinham a intencao preconcebi
da de denegrir a Idade Media, tida como período de obscurantismo, igno
rancia e simploriedade. Ora tal imagem é falsa, pois a Idade Media, ao lado
dos traeos de fragilidade humana inerentes a qualquer período da historia,
teve suas facanhas geniais no setor da Filosofía, da Teología, das artes e tam-
bém das ciencias.

Há quem descreva os tempos próximos do ano 1000 como época de


apavoramento devido á expectativa de ¡mínente fim do mundo: os homens
teriam deixado de trabalhar, tomados pelo pánico. O escritor portugués Au
gusto Fuschini diz que os cristaos esperavam o juízo final para o último dia
do sáculo X:

"Nesse dia um pinico profundo envolveu todos os espfritos. As igrejas


encheram-se de fiáis, que esperavam a catástrofe entre cantos e rezas; ora,
por urna doce ironía da natureza, a aurora do primeiro dia do sáculo XI
raiou espléndida" (A Architetura Religiosa da Edade Media. Lisboa 1904,
pp. 105 s).

Vejamos, pois, o que nos refere

1. A documentadlo

Numa vi sao objetiva dos fatos, pode-se crer que realmente houve
tal pánico?

62
OS TERRORES DO ANO MIL 15

Respondemos que no sáculo X, como em outros tempos, houve quem


julgasse ¡mínente o fim do mundo. A expectativa de urna solene ¡ntervengao
de Deus na historia dos homens tem voltado periódicamente á tona, especi
almente quando o curso das coisas ná"o é feliz (como, alias, acontece em nos-
sos días). No sáculo X nao se pode dizer que a historia fosse táo ingrata para
os homens do Ocidente; por isto também nao há indi'cios documentados de
especial apavoramento e grande pánico. Os historiadores modernos é que
conjeturam tenha havido grande espanto e terror, possivelmente movidos
pelo preconceito de que a Idade Media foi um período de obscurantismo,
ignorancia e simploriedade.

A fim de recompor a imagem fiel da historia, nada há de mais útil do


que a consulta das fontes ou dos documentos que nos ficaram do sáculo X.
Ora verifica-se o seguinte:

Alguns escritores e pregadores medievais julgavam que no ano 1000 o


Anticristo seria desencadeado sobre o mundo e, em breve, se daría o jui'zo
universal; a sentenca se baseava principalmente em Ap20, 1-15, texto que fa-
la de um reino milenar de Cristo, após o qual se daria a ressurreicáo final. -
Nada, porém, aconteceu no ano mil. O texto de Ap 20, 1-5 será explicado á
p. 64 deste fascículo.

Muito significativo á o episodio abaixo:

Na Lorena (Franca) corría o rumor de que o mundo terminaría em


970, pois nesse ano a sexta-feira santa cairia a 25 de marco, data da Anun-
ciacao do Anjo a María; ora certos cristSos nao podiam compreender que o
mesmo dia assinalasse simultáneamente a conceicfo e a morte do Senhor.
Felizmente, porém, houve quem demonstrasse que o mesmo "paradoxo" já
se verificara mais de urna vez, particularmente em 908, sem que o mundo,
por ¡sto, tivesse cessado de existir!

Os arquivos daquele período nos conservaram diplomas de contratos,


processos, atos de compra e venda, doacSes, trocas, como ocorrem em tem-
pos tranquilos; ninguém parecia imaginar que a historia acabaría no ano
1000. Os cronistas do sáculo X relatam batalhas, prodigios, fundacfies de
mosteiros e outros fatos que Ihes chamam a atencáo e, quando chegam á
historia do fim do sáculo (em que a humanidade deveria estar apavorada),
nao dizem urna palavra dos presumidos terrores. Escreve Goncalves Cerejeira
na sua obra sobre a Idade Media:

"Os nossos velhos cronistas mencionam algumas datas referentes ao sé-


culo X e anteriores; nada dizem, porém, sobre os terrores do ano mil...
Numa carta de venda do ano de 999, estipula o vendedorque o comprador

63
16 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

(que acaba de pagar em boa moeda urna propriedade... de que nSo tiraría
proveíto, na hipótese de terrores) a possua firmemente por todos os sáculos
afora" (A Idade Media. Lisboa, p. 80).

2. Reflexao final

A lenda dos pavores do ano 1000 parece ter-se originado no inicio do


sáculo XV; foi desenvolvida pelos escritores dos sáculos XVII e XVIII e atin-
giu toda a sua exuberancia sob a pena do pensador francés Jules Michelet
(1798-1874), que era preconcebidamente avesso á cultura medieval e a de-
negriu sem respeito á objetividade.

Deve-se mesmo observar o seguinte: na península ibérica (Espanha e


Portugal), estava em vigor a era de César, que era 38 anos anterior á era cris
ta. Isto quer dizer que lá nem sequer podia haver os pavores do ano 1000
atribuidos por Michelet ao mundo cristao ocidental.

Quanto ao texto de Ap 20, 1-15, eis o que se deve observar:

Este texto foi na antigüidade, e ainda hoje é, entendido como se anun-


ciasse um reino de Cristo em paz e bonanca durante mil anos ¡mediatamente
antes do fim dos tempos. Tal é a tese dos milenaristas (S. Justino, S. Iré-
neu. Tertuliano no sáculo II...) como também de denominacoes cristas re
centes. Haveria o acorrentamento de Satanás, a ressurreicao dos justos ape
nas (ressurreicao primeira), mil anos de felicidade tranquila sobre a térra e,
finalmente, a ressurreicao segunda (para os demais homens) e o juízo final.

A tradipá"o crista, a partir do sáculo V, rejeitou decididamente o mile


narismo. E com propósito. Para entender Ap 20, 1-15, é necessário recorrer
a Jo 5, 25-29 (que é do mesmo autor); neste trecho Jesús fala de duas ressur-
reipdes (5, 25.28): a primeira se dá agora ("vem a hora — e é agora") e a ou-
tra é futura. Ora a primeira ressurreicao, agora, é a sacramental, a que se dá
pelo Batismo e a vida da grapa (que S. Joa"o muito estima em seu Evange-
Iho): a segunda ressurreicüo se dará no fim dos tempos, quando ressuscitar-
mos corporalmente. — é, pois, na perspectiva deste trecho do Evangelho
que se deve entender Ap 20; os mil anos de reinado de Cristo simbolizam to
da a historia da Igreja inserida entre a ressurreipáo batismal (no inicio da vi
da de cada cristao) e a ressurreipío final dos corpos. Mil é símbolo de bo
nanca e paz, porque a primeira ressurreipá*o nos comunica a grapa santifican
te, que á o antegozo da felicidade eterna. Está, portanto, afastada a hipótese
de um reino milenar material de Cristo no fim dos tempos.

64
OSTERRORESDO ANO MIL 17

Pódese ler urna apreciado positiva e serena da Idade Media na entre


vista concedida. por Leo Moulin, ateu, e publicada em PR 310/1988, p.
115-120.

Ver também:

PR 289/1986, pp. 263-273 e PR 297/1987, pp. 70-81 (dois artigos so


bre a Idade Media, inspirados pela historiadora Régine Pernoud).

(continuacao da p. 93)

ra, na velhice, me volta cada vez com maior frequerida á mente. Eu a diría
urna definicao operacional. É assim: Deus é o parceiro de teus soliloquios
mais íntimos. Cada vez que tu falas contigo mesmo com a máxima sincerida-
de e em absoluta solidao, aquele a quem te diriges pode ser legítimamente
chamado Deus. Tal definicao evita a dicotomía entre concepcoes teísticas
e ateísticas do mundo. A diferenca entre estas aparece só mais tarde, quando
a pessoa sem religiao insiste em afirmar que seus soliloquios sao apenas mo
nólogos solitarios, e a pessoa religiosa, ao contrario, interpreta os seus como
diálogos verdadeiros com alguém real. Pensó que o que conta ácima de tudo
e mais que qualquer outra coisa, se/a a maior sinceridade e honestidade. Se
Deus verdadeiramente existe, ele com certeza nao irá discutir com aqueles
que nSo tém religiao porque eles o confundem com o próprio eu eo deno-
minam de mane ira inadequada" (pp. 56s).

V. Frankl nao deu o passo do meramente subjetivo para o objetivo


ou do Imánente para o realmente Transcendente. Na verdade, Deus nao é
apenas 0 íntimo do sujeito pensante, mas é o grande Tu transcendente, que a
Biblia apresenta como o Criador e o Consumador do homem. Firmada sobre
este conceito de Deus, a Logoterapia toma valor e vigor que nao tem quando
se reduz á procura de um genérico sentido de vida. Como quer que seja, a
obra de V. Frankl é meritoria, pois liberta o homem dos horizontes dos valo
res meramente materiais; abre-lhe novas perspectivas, ajuda-o a ser indepen-
dente dos altos e baixos da vida presente, para levá-lo á Transcendencia...,
Transcendencia que, em última análise, é o próprio Deus. Com razao dizia S.
Agostinho: "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coracao en-
quanto ná"o repousa em Ti" (Confissoes I 1).

A propósito assinalamos aínda o livro de Elisabeth Lucas: Logoterapia.


A forca desafiadora do espirito. Métodos de Logoterapia" (Ed. Loyola, Sao
Paulo 1989). Esta obra completa a de V. Frankl, entrando na área da Clíni
ca prátíca.

65
Reivindicando nova Pastoral:

"A Igreja e os Divorciados"

por Michel Legrain

Em síntese: O Pe. Legrain faz-se porta-voz dos casáis nao sacramental-


mente unidos que desejam freqüentar os sacramentos em parídade de condi-
coes com os fiéis casados na Igreja. - Argumenta a partir do arrepentí¡mentó
sincero desses casáis e da copiosa graca de Deus, que nao deve ser limitada
pelas leis da Igreja.

Em contraparte, obsérvese que toda a questio depende de saberse o


matrimonio sacramental é indissolúvel por leí divina expressa no Evangelho
ou apenas por leí da Igreja. Ora verifícase que os escritos do Novo Testa
mento incutem a indissolubilidade do casamento de maneira clara, e neste
sentido foram entendidos pela TradicSo católica. Em conseqüéncia, nao é
licito é autoridade eclesiástica retocar tal lei, como também é inconveniente
aos teólogos pleitear sua alteracSo, como se dependesse do beneplácito da
Igreja.

A Igreja, porém, sabe que Deus tem múltiplos recursos para atender a
seus fiéis fora dos trámites objetivos e institucionais. Por isto Ela exorta os'
divorciados "recasados" a que continuem a rezar e confiar em Deus, certos
de que Ele vé a sinceridade e as boas disposicoes dos coracoes; Ele pode dar
feliz desfecho aos dramas que as criaturas sao incapazes de resolver.

Michel Legrain, nascido em 1929, é sacerdote da Congregacao missio-


nária do Espirito Santo. Divide o seu tempo entre o magisterio no Instituto
Católico de París e as funpdes de capeláo dos Centros de PreparacSo para o
Casamento na Franca. Escreveu o livro "A Igreja e os Divorciados",1 em que
faz eco ás instancias de muitos fiéis católicos que, tendo-se casado civilmen
te após o divorcio, pleiteiam a admissao aos sacramentos, especialmente á

' Traducao de Alvaro Cunha a partir do original francés "Les Divorcés rema-
riás", Ed. Paulinas, Sffo Paulo. 130 x 200 mm, 196 pp.

66
"A IGREJA E OS DIVORCIADOS" 19

S. Eucaristía. — Dada a atualidade do tema, proporemos abaixo algo da argu-


mentacSo do autor; ao que se seguirá a resposta da Igreja ao problema.

1. Divorciados "recasados": por que nao?

O livro comepa apresentando testemunhos de pessoas católicas que, di


vorciadas, contrairam novas nupcias civis; dizem-se felizes e esperam receber
a legitimacSb da Igreja (pp. 11-24). Em seguida, percorre os textos bíblicos
referentes ao matrimonio (pp. 25-40). Estuda a historia da praxe da Igreja
frente aos casáis ¡nfelizes (pp. 41-113). Considera a atitude dos ortodoxos
orientáis (pp. 126-135) e dos protestantes (pp. 135-143). E finalmente per-
gunta se a Igreja Católica pode pensar em mudar sua prática pastoral, que
nao permite segundas nupcias após matrimonio sacramental válido e consu
mado (pp. 143-196).

Os argumentos em favor de concessao de novo casamento sacramental


a quem já tenha contraído validamente o sacramento do matrimonio, sao,
conforme Legrain, os seguintes:

1.1. Pessoa "versus" leí

As pessoas devem estar ácima das instituirse; ou das leis. Em conse-


qüéncia, se um homem e urna mulher foram infelizes num primeiro enlace
(com ou sem culpa de um deles) e desejam refazer sobre novas bases a sua vi
da conjugal, nao se Ihes deve recusar tal anseio. A misericordia de Deus é
mais eficaz e ponderosa do que as leis ou as instituigdes, de modo que ne-
nhum canon deve impedir o derramamento da graca de Deus sobre a nova
uniío. Sao palavras de Legrain:

"Desde a morte e a ressurreicSo de Jesús de Nazaré, a última palavra


nSo pertence mais ao fracasso, mas sim é ressurreicSo e é vida. Embora nSó
seja diretamente o sinal de um amor primeiro e único, á imagem e imitacSo
do amor de Deus por seu povo, esse novo casal, no entanto, é sinal de que um
homem e urna mulher, para além do fracasso que experimentaram, tém sufi
ciente esperanca em Deus e acreditam o suficiente na humanidade para ousa-
rem empreender um novo projeto de vida, onde será vivido e partilhado algo
do verdadeiro amor de Deus" (p. 170).

"A tentativa de encerrar a graca e o amor de Deus nos limites das me


didas de ordem pública da Igreja é urna forma de imperialismo teocrático"
(p. 184).

O autor chega a transcrever certas normas destinadas a orientar a ceri-

67
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

mónia de béncao e oracSo em favor de um enlace que nao possa ser sacra
mental:

"A expressao 'ir á igreja' é tSo comum para expressar a celebracSo do


casamento que qualquer ato público de oracao em urna igreja ou urna cápe
la acarretaria riscos de confusao. A residencia da familia ou urna sala comum
en'taesse risco...

Seria desejável que o número de participantes nesse momento de ora-


gao /he dé o Justo tom, nem clandestino nem solene: os íntimos (familia,
amigos crentesl e, se possível, alguns representantes da comunidade crista.
Pode ser útil alertar os casáis a propósito de sinais que poderiam alimentar
um equívoco, como envió de convites, fotos, etc.

0 conteúdo da cerimdnia deve expressar com exatidio a ¡ntencao da


Igreja: ela nao abandona as pessoas em urna situacao como essa, embora nao
a possa aprovar. É por isso que a oracao deve expressar urna intercessao e
nao urna acao de gracas" (pp. 170s).

1.2. Perigo de apostasia

Os casáis nao reconhecidos pela Igreja poderao afastar-se desta e per


der toda relacao com Deus ou passar para o protestantismo ou a Ortodoxia
oriental, que fazem o casamento de divorciados:

"Nos sabemos que o discernimento das situacoes particulares é sempre


delicado, mas também constatamos que a aplicacao de certas regras sem
nuancas afasia da Igreja — e, ás vezes, leva ao desencorajamento total -
muitos cristSos convencidos de que carregam pela vida inteira as conseqüén-
cías de um ato ás vezes realizado em um momento de fraqueza. Privados da
sustentacáo normal de urna vida crista, que sao a Penitencia e a Eucaristía,
nSo é de surpreender que pouco a pouco eles abandonem todo vínculo com
a Igreja — vale dizer, toda relacao com Deus" (p. 175).

1.3. O Batismo implica chamado radical á Eucaristía

Todo cristao batizado tem um chamado radical á Eucaristía, mesmo


que a sua vida conjugal nao possa ser sancionada pelo sacramento do matri
monio:

"Existe para todo batizado um chamado radical á Eucaristía, mesmo


quando um setor particular — no caso, o setor nupcial — nio pode mais ser
portador da sacramentalidade. Para alguém que nao se pode separar de um
segundo cónjuge, a Penitencia e a Eucaristía podem ter sentido, sem signifi
car contudo urna aprovacSo ou urna consagrado do segundo casamento.

68
"A IGREJA EOS DIVORCIADOS" 21

Na verdade, pódese ser honesto e cristSo mesmo no seto de urna situacao de


anormalidade, da qual nSo se pode sair sem graves inconvenientes" (p. 175).

Ou aínda:

"Em nome de que lógica recusar a Eucaristía aqueles que reconhecem


seus erros em relacao ao primeiro cdnjuge, que se esforcam do melhor modo
posslvel para limitar as conseqüéncias nefastas ligadas ao divorcio e que se
dedicam seriamente a viver positivamente todos os deveres contraídos com a
formacSo de um novo lar?" (p. 194).

"Com que direito a hierarquia católica coloca barreiras intransponíveis


á misericordia evangélica? Como Deus nunca condena o pecador arrependi-
do, nSo vejo por que nao comer desse pao eucarfstico que o próprio Jesús
apresentou como indispensável" (p. 181).

Estes argumentos exprimem suficientemente o pensamento do autor.


Vejamos o que se Ihes há de responder.

2. Que dizer?

Abordaremos cinco aspectos importantes da temática:

2.1. O matrimonio é, por lei divina, indissolúvel ou nao?

Toda a problemática gira em torno de tal questao:se o matrimonio é,


por lei de Deus, indissolúvel, nao há como o anular em favor de novas nup
cias, mesmo que a indissolubilidade exija sacrificios por parte dos interés-
sados. Se, porém, consta da S. Escritura e da Tradicao que ele é solúvel, po-
de-se pensar em divorcio e nova uniao sacramental; entao as proposicSes de
Legrain tém seu alcance.

Ora consta dos textos do Novo Testamento que o matrimonio é indis


solúvel, como se depreende das citacSes seguintes:

Me 10, 11: Disse Jesús: "Todo aquele que repudiar a sua mulher e des
posar outra, comete adulterio contra a primeira; e, se essa repudiar o seu ma
rido e desposar outro, comete adulterio".

Le 16, 18: "Todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar outra,
comete adulterio; e quem desposar urna repudiada por seu marido, comete
adulterio".

1Cor 7, 10: "Quanto aqueles que estao casados, ordeno nao eu, mas o
Senhor: a mufher nSo se separe do marido; se, porém, se separar, nSo se case
de novo ou reconcilíese com o marido; e o marido nSo repudie a esposa".

69
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

Rm 7, 2s: "A mulher casada está ligada por leí ao marido enquanto ele
vive; se o marido vier a falecer, ela ficará livre da leí do marido. Por isso, es
tando vivo o marido, ela será chamada adúltera se for viver com outro ho-
mem. Se, porém, o marido morrer, ela ficari livre da leí, de sorte que, pas-
sando a ser de outro homem, nao será adúltera".

Como se vé, as afirmacdes sao peremptórias. Os dizeres de Jesús em


Mt 5, 32 e 19,9 híío de ser entendidos em consonancia com as demais afir-
macSes do Novo Testamento. Com efeito; lé-se nestas duas passagens urna
cláusula nova:

"Eu vos digo: todo aquele que repudia sua mulher — exceto por moti
vo de pornéia - faz que ela adultere; e aquele que se casa com a repudiada,
comete adulterio" (Mt 5, 32).

A cláusula de Mt 5, 32 e 19,9 se traduzida por "a nao ser em caso de


adulterio", reconhece um caso de separado legítima, mas ná"o de segundas
nupcias, pois logo acrescenta que quem se case com a repudiada comete
adulterio.

Muito provavelmente, porém, os textos de Mt 5, 32 e 19,9 traduziram


por pornéia (em grego) o termo aramaico zanut, que significa uniao inces
tuosa. No caso, compreende-se que a separacSo seja nao somente tolerável,
mas desejável. Jesús ter-se-ia referido a zanut, pois este termo significa a
uniao ¡legítima por motivo de parentesco proibido pela Leí de Moisés (cf.
Lv 18, 1-24).' É de crer que ñas antigás comunidades cristas houvesse

1 Eis os impedimentos que podem vir ao caso:

"NSo descubrirás a nudez da irmS de teu pai, pois é a carne de ten pal

NSo descubrirás a nudez da irmSde tua mié, pois 6 a própria carne de


tua mee.

NSo descobrirás a nudez do irmao de teu pai; nao te aproximarás,


pois, de sua esposa, visto que é a mulher de teu tío.

NSo descobrirás a nudez de tua ñora, é a mulher de teu filho e nSo


descubrirás a nudez déla.

NSo descubrirás a nudez da mulher de teu irmSo, pois é a própria nu


dez de teu irmSo" (Lv 18, 12-16).

70
"A IGREJA E OS DIVORCIADOS" 23

unioes matrimoniáis proibidas pela Lei de Moisés, mas toleradas pelos cris-
tSos provenientes do paganismo; estas unioes deviam causar dificuldades á
boa convivencia de cristSos provenientes do judaismo e do paganismo. Daí
a ordem — auténticamente atribuida a Jesús — de romper tais unioes irregu
lares, que nao eram senao falsos casamentos.

Positivamente, Sao Paulo afirma em Ef 5, 21-33 que as relacSes entre


marido e mulher devem reproduzir as que existem entre Cristo e a Igreja.
Portanto a uniao entre marido e mulher tem dimensoes transcendentais, pois
participa de outra grande uniao; é um sacramento (mystérion) dentro do
SACRAMENTO (MYSTÉRION), que ná"o conhece divorcio, por mais in
constante que seja a humanidade á qual Cristo se uniu.

A Tradicáfo crist3 ocidental assumiu a doutrina do Novo Testamento


com muita coragem, embora se tenham registrado hesitacSes por parte de
vozes ¡soladas. Os cristSos orientáis, separados da comunhao da Igreja de
Roma, admitem novas nupcias após adulterio e semelhantes violacdes da
fidelidade matrimonial. O mesmo se diga no tocante aos protestantes.

Nao há dúvida, a posicao de Jesús é exigente e causa serias dificulda


des a muitos cónjuges infelizes, especialmente em nossos dias, quando o ca
samento é, nao raro, contraído sem o desejável preparo. Jesús, porém, ensi-
nou a radicalidade da vocacao crista; esta náfo conhece meio-termo ou con
descendencia com a covardia e a incoeréncia. Tenha-se em vista o texto de
Mt 19, 12:

"Há eunucos que nasceram tais desde o seio materno. E há eunucos


que foram feitos eunucos pelos homens. E há eunucos que se fizeram eunu
cos por causa do Reino dos céus. Quem tiver capacidade para compreender,
compreendal"

Costuma-se entender o terceiro tipo de eunucos como sendo o das pes-


soas que voluntariamente abracam a continencia perpetua. Todavia esta in-
terpretagao nfo leva em conta os antecedentes, que tratavam de matrimonio
e divorcio. Com efeito; Jesús afirmou a indissolubilidade do matrimonio; os
Apostólos, entá"o, se espantaram: "Se tal é a condicáfo do homem em relapáo
á mulher, na*o vale a pena casar-se" (Mt 19, 10). Jesús nao confirmou esta
observacao negativa, pois o casamento é urna vocacáo santificada por um sa
cramento. Mas quis referír-se ¿s exigencias radicáis da vocacáo matrimonial
crista", lembrando que pode haver pessoas chamadas ao matrimonio, mas ¡m-
possibilitadas de o viver tranquilamente, de modo que se farSo eunucos ou
continentes por amor do Reino dos céus ou pelo fato de que nao há segun
das nupcias após um matrimonio sacramental válido e consumado. Sim; o
Senhor Deus pode pedir á criatura a renuncia a qualquer de suas prendas,

71
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

até as mais naturais e aparentemente ¡ndispensáveis (no sermao da montanha


Jesús fala metafóricamente de "cortar olho, mao, pé para ná"o perder o Rei
no dos céus"; (cf. Mt 5, 29s; 18, 8s).

Nao é, pois, estranha a radicalidade do Senhor no tocante as exigen


cias matrimoniáis; está na linha de toda a pregacao do Evangelho.

Após a averiguacao do genuino pensamento de Cristo, vé-se que já nao


podem ter grande peso as razdes pró-dissolucao do casamento; apesar das
boas ¡ntencoes e do valor das pessoas divorciadas que contrariam novas nup
cias, estas nao poderao ser legítimas nem se Ihes poderá dar alguma béncáo
ou fazer algo que sugira legalidade.1

Examinemos, porém, de mais perto os argumentos aduzidos por M.


Legrain:

2.2. Lei e grapa

"A grapa de Deus nao pode estar limitada pelai leis da Igreja. Esta
nunca sabe o que ocorre no íntimo das consciéncias ou diante de Deus!"

— Respondemos que, no caso, as leis da Igreja sao a lei do próprio


Oeus (lei da indissolubilidade); a Igreja recebeu de Cristo a missao de pregar
o Evangelho e apascentar o rebanho do Senhor (cf. Mt 28, 18-20; Jo 21, 15-
17), de modo que a legislacao canónica daf decorrente merece o respeito dos
fiéis católicos. - Verdade é que o Autor da grapa e dos sacramentos pode
agir no íntimo das consciéncias ou no foro interno, santificando os fiéis in-
dependentemente dos sinais que Ele instituiu; mas á Igreja compete seguir os
trámites visíveis e objetivos que Ela recebeu de Jesús Cristo; reconhecendo

1 Eis o que a respeito escreve o Papa Joio Paulo II na sua Exortacao Fami-
liaris Consortio n? 84:

"O respeito devido tanto ao sacramento do matrimonio quanto aos


própríos conjugas e aos seus familiares, como aínda á comunidade dos fiéis,
proibe os pastores, por qualquer motivo ou pretexto mesmo pastoral, de fa-
¿er em favor dos divorciados que contraem urna nova uniao, cerímdnias de
qualquer género. Estas dariam a impressSo de celebracao de novas nupcias
sacramentáis válidas., e conseqüentemente induziríam em erro sobre a indis
solubilidade do matrimonio contraído validamente.

Agindo de tal maneira, a Igreja professa a própria fidelidade a Cristo


e é sua verdade" (n? 84).

72
"A IGREJA E OS DIVpRCIADOS" 25

que Deus pode operar diretamente nos coracoes, a Igreja se abstém de julgar
as consciéncias, mas Ela nao pode deixar de julgar os atos, as atitudes, os
comportamentos como objetivamente se apresentam á sociedade. Nisto nao
há "imperialismo teocrático", mas cumprimento fiel da missao confiada por
Cristo; a Igreja nao intercepta a agao de Oeus ñas almas ou no foro interno,
mas, com a assisténcia prometida por Cristo, cuida do foro externo ou das
leis que devem reger a comunidade dos seguidores do Evangelho.

Pode haver, sem dúvida, pessoas que, sem culpa previa (ou mesmo ar-
rependidas de sua culpa), contrairam segundas nupcias após divorcio, porque
eram jovens ou nao sentiam disposip6es para levar adiante a sua vida solita
ria... Safo pessoas que sofrem por nao poderem receber a grapa dos sacramen
tos e conservam a fé e o amor a Deus... A Igreja as estima profundamente;
reza por elas; está disposta a fazer por elas tudo que esteja ao seu alcance;
convida-as para freqüentarem a Liturgia e as reunioes paroquiais, mas nao
pode fazer o que Jesús Cristo nao Ihe permite. — Isto nos leva a considerar
novo argumento de Legrain:

2.3. "A vocaclo ao Batismo incluí um chamado radical á Eucaristía"

— A propósito observamos:

A Eucaristía é um sacramento que só pode ser recebido por quem este


ja em estado de grapa (cf. Código de Direito Canónico, canon 916). Ora urna
nova un¡á*o ilegítima, sendo contraria á lei de Deus, tira o estado de grapa;
esta só pode ser restituida mediante urna Confissao sincera e o propósito
de por termo a esse enlace ilegal. Dado, porém, que os cónjuges nao casados
sacramentalmente nao tém o propósito de se separar, ficam o obstáculo á
grapa de Deus e a impossibilidade de receber a Eucaristía. — Embora o sacra
mento do Batismo implique a tendencia á Eucaristía, nao se pode dizer que
todo cristao batizado tenha o direito de a receber, independentemente do ti
po de vida que leva; o estado de grapa é indispensável para o conveniente
acesso á S. Eucaristía.

De resto, nao se entende que em nossos días, quando tanto se fala con
tra urna "sacramentalizacao excessíva e estéril", haja pastores que pleiteiem
a sacramentalizacao de pessoas que evidentemente nao tém condicoes de re
ceber os sacramentos. - Nesse afa de sacramentalizar, parece estar latente a
¡ntencao indi reta de nivelar o casamento sacramental e a uniao ilegitima ou
de apagar as diferenpas extrínsecas existentes entre urna e outra.

Legrain insiste em dizer que os cónjuges divorciados e recasados reco-


nhecem seus eventuais erros e estSo sinceramente arrependidos, de modo a

73
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

poderem receber a Eucaristía. - Deve-se responder que todo arrependimen


tó implica o propósito de nao recair ñas mesmas faltas; se, porém, os conju-
ges arrependidos nao tém a intencSo de por termo á sua uniSo ilegítima, nao
estao adequadamente arrependidos. Nao basta que se arrependam de ¡nfeli-
zes atitudes assumidas em relapao ao primeiro cdnjuge; faz-se necessário que
nao se oponham á Lei de Deus.

2.4. Pessoa a instituicao

Legrain manífesta a tendencia a opor entre si pessoa e instituicao.


Aquela é viva, rica, sempre nova em suas opcoes, ao passo que a instituicao é
cega e esmagadora.

- Respondemos que nao deve haver anti'tese entre pessoa e ¡nstituicáo


eclesial. Esta existe para.coma assisténcia do Senhor, incentivar aquela a se
desenvolver na sua auténtica linha ou na sua verdadeira identidade. É por is-
to que a instituí gao eclesial ás vezes reprime certos avancos da pessoa; esta
é, nao raro, atormentada por impulsos ou paixdes que a desfiguram e que a
instituicao santamente coibe.

É verdade que as instituicñes, ás vezes, estao defasadas e requerem re-


modelamento. Este deve ocorrer, solicitando a coragem dos responsáveis;
nao é o caso, porém, da instituicao do matrimonio indissolúvel, cuja origem
é divina e, por isto, tica intocável ao homem.

2.5. Vínculo natural e vínculo sacramental

Ás pp. 84-99 Legrain aborda a questáo dos chamados privilegio petri-


no e privilegio paulino. Para entendé-la devidamente, ponderemos o seguin-
te:

O matrimonio é, por si, urna instituicao natural ou decorrente da natu-


reza humana. Há, pois, um vínculo conjugal natural quando o homem e a
mulher se unem maritalmente.

Cristo elevou essa vinculacáo natural a dignidade de sacramento, fa-


zendo-a participar da uniáto de Cristo e da Igreja, através da qual se realiza a
obra da RedencSo. 0 vínculo natural se torna enta*o sacramental.

A indissolubilidade jé compete ao vínculo natural, poisécondicao para


que a adocao no amor seja verdadeira (urna doacao condicional nao é plena;
nao corresponde á uniá"o de corpos, que é a mais plena e íntima possível).
Todavia a Igreja admite graus de indissolubilidade; esta so é absolutamente
inextinguível quando ocorre o matrimonio sacramental contraído valida-

74
"A IGREJA EOS DIVORCIADOS" 27

mente e consumado.1 Há, portanto, casos em que o vínculo natura! cede ao


sacramental. Tais sao:

1) quando duas pessoas nao batizadas se casam validamente, existe en


tre elas o vínculo natural. Admitamos, porém, que urna délas se converta ao
Catolicismo e receba o Batismo. - Se a outra parte continua nao batizada e
torna insustentável a vida conjugal,3 a Igreja reconhece a dissolucSo desse
vínculo natural, para que a parte batizada possa contra ir novo matrimonio,
devendo este ser necessariamente sacramental. Esta praxe se baseia no cha
mado privilegio paulino, pois o Apostólo Sao Paulo mesmo a fundamenta
em 1Cor7, 12-16:

"Digo.eu, nio o Senhor: se algum irmao tem esposa nSo crista e esta
consente em habitar com ele, nao a repudie. £, se alguma mulher tem mari
do nSo cristSo e este consente em habitar com ela, nSo o repudie. Pois o ma
rido nio cristSo é santificado pela esposa, e a esposa nio crista é santificada
pelo marido cristSo. Se nSo fosse assim, os vossos filhos seriam impuros,
quando na realidade sSo santos. Se o nSo cristSo quer separarse, separe-sel
0 irmSo ou a irma nio estao ligados em tal caso; foi para viver em paz que
Deus vos chamou. Na verdade. como podes ter certeza, ó mulher, de que sal
varás o teu marido? E como podes saber, ó marido, que salvarás tua mu
lher?"

Ver a respeito cánones 1143-1147.

2) 0 matrimonio nao sacramental pode ser dissolvido em favor de


nova uniSo, esta sendo sacramental, em casos especiáis que o Direito Canó
nico designa sob o rubrica in bonum fidei (em favor da fé), isto é, desde que
o vínculo natural ceda ao vínculo sacramental. Tais casos sao sempre levados
ao juízo da Santa Sé, que pode entao exercer o que se chama "o privilegio
petrino" ou o privilegio de Pedro. Notemos, porém, que nunca se trata da
dissolucSo de um matrimonio sacramental validamente contraído e consu
mado. Ver canon 1150.

1 A exigencia de consumacao carnal para que um matrimonio sacramental


validamente contraído se/a indissolúvel, aflorou paulatinamente á conscién-
cia dos teólogos. Estes até o sáculo XII discutiam a respeito. Finalmente o
Papa Alexandre III ('\ 1181), pela primeira vez, pronunciou a.ruptura de um
casamento nSo consumado. A praxe foi-se firmando de tal modo que ho/e
pertence á Jurisprudencia da Igreja.

2 Deve ficar evidente em foro jurídico que a parte nio batizada nSo quer
coabitar pacificamente com a parte batizada. Se esta provocar as difículda-
des de coabitacao, perde o direito de separacSo judiciária.

75
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

Em apéndice, observamos que o matrimonio sacramental validamente


contraído, mas nao consumado carnalmente, é tido como incompleto e, por
conseguinte, pode ser dissolvido também por ¡ntervencao da Santa Sé ou
por exercício do privilegio petrino.

Na prática, esta casuística pódese tornar minuciosa e sutil. Legrain


tende a caricatúrala, pois quer insinuar que a Igreja Católica, embora profes-
se a indissolubilidade do matrimonio, anula casamentos. Seria falso pensar
assjm; toda a jurisprudencia da Igreja é perpassada por um principio solene e
impreterível: o matrimonio sacramental'validamente contraído e consuma
do é indissolúvel.

Como se compreende, porém. para que o casamento seja validamente


contraído, requer-se que esteja isento de qualquer dos impedimentos catalo
gados pelo Código de Direito Canónico; ver PR 303/1987, pp. 338-357. Se
um matrimonio é contraído sem que se tenha conhecimento da existencia
real de um desses impedimentos, tal casamento é nulo e pode (ou mesmo de-
ve) ser declarado tal, desde que as partes interessadas tomem conhecimento
desse impedimento.1
Infelizmente Legrain, movido por seu intuito de provocar a modifica-
cao da atual legislacáío da Igreja, é, por vezes, um tanto sarcástico e unilate
ral ao aprésentela. As suas apreciacóes e os textos que transcreve, nao sao
sempre objetivos.

3. Conclusao

A pressáfo para que a Igreja aceite o divorcio e novas nupcias sacramen


táis nao é inspirada pelo Evangelho nem pela Tradicao crista. Ela é de fonte
heterogénea: provém, sim, da realidade da vida contemporánea, em que o ca
samento é freqüentemente vilipendiado ou tomado como urna experiencia
que poderá ser revogada, se desagradável. Em última análise, a mentalidade
hedonista ou a recusa de renuncia e sacrificio (tio característicos do Evan
gelho) entáo latentes sob essa pressao. O crista o nao é um masoquista ou,
com outras palavras, o cristao n3o procura o sacrificio pelo sacrificio; ele
sabe que este nao é um fim; é um meio, mas um meio indispensável para
qualquer auto-realizacSo humana; nenhuma personalidade se faz sem renun
cia; nenhum herói existiu sem sacrificio; conseqüentemente também nao há

1 Isto ocorre, por exemplo, quando se verifica que urna das duas partes é im
potente desde o período pré-matrimonial e nSo tem possibilidade de cura de
tal impedimento. Se este so vem é tona após a cerimónia matrimonial, deve-
se dizer que nao houve casamento. Note-se bem: o impedimento de impo
tencia nao ó o de esterilidade, mas é a incapacidade física ou psicogénica de
realizar a cópula carnal.

76
"A IGREJA E OS DIVORCIADOS" 29

cristao que se torne digno deste nome sem a aceítacao da Cruz; Cristo nao
veio salvar os homens da Cruz, mas através da Cruz. Fugir ossta em nome de
um humanismo mais aberto e compreensivo equivale a esvaziar a fé e sua
mensagem; é o total desvirtuamento do Cristianismo.

Consciente disto, a Igreja nao pode deteriorar a doutrina que recebeu


de Cristo no Evangelho. Todavía Ela quer ser Mae e Mestra também dos fi
lhos ilegalmente unidos, estimulándoos á prática da oracáo e da confianca
em Deus, como se depreende das palavras do Papa Joáo Paulo II na Exorta-
cao FamiliarisConsortio:

"Juntamente com o Sínodo exorto vivamente os pastores e a inteira


comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade so
lícita que eles nSo se considerem separados da Igreja, podendo, ou melhor
devendo, enquanto ba tizados, participar da sua vida. Sejam exortados a ou-
vir a Palavra de Deus, a frequemar o Sacrificio da Missa, a perseverar na ora-
cSo, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade em
favor da justica, a educar os filhos na fé crista, a cultivar o espirito e as obras
de penitencia para assim implorarem, dia a día, a graca de Deus. Reze por
eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se MSe misericordiosa e sustente-os na fé e
na esperance" (n? 84).

No final deste trecho o S. Padre considera a hipótese de que duas pes


soas nao casadas legitimamente vivam juntas sem ter relacoes sexuais ou co
mo irmao e irma; reconhece-lhes entao o direito de receber os sacramentos,
contanto que o facam discretamente em igreja distante ou evitando escanda
lizar a sua comunidade paroquial.

Deus vé o drama das consciéncias dos que estafo privados dos sacra
mentos. Ele tem recursos invisíveis para sálvalos; em sua Providencia Ele sa
be responder ao arrependimento e as boas intencSes dos divorciados recasa
dos. Por isto a Igreja os exorta a nao se afastar do Senhor, mas a procura-Lo
de todo modo, aínda que nao por meio dos sacramentos. Todo drama pode
acabar bem, pois para Deus nada é impossível e sua misericordia excede de
longe as súplicas e os méritos daqueles que 0 invocam sinceramente.

(continuacao da p. 61)

O livro, portanto, nSo se concilla com a doutrina crista, por mais que
o autor cite o Novo Testamento, é lamentável que a Editora Vozes publique
tal obra na mesma colecSo em que se encontram escritos de Freí Anselmo,
Frei Almir, Gertrud von Le Fort... A confusio e o relativismo sSo o efeito
de tal serie de livros de meditacao. E.B.

77
Um projeto deexpansao protestante:

"Amanhecer"

Em ífntesa: 0 CELAM entregou a certo público um documento elabo


rado pelos protestantes, que refere as estrategias missionárias concebidas pa
ra tornar o mundo intelro protestante. Tratase do projeto AMANHECER,
estruturado de maneira muito sagaz e inteligente para animar a acao proseli-
tista de denominacóes e seitas protestantes, preocupadas com seu cresci-
mento numérico e um tanto relativistas quanto ao Credo. Desse projeto des
tacamos, ñas páginas seguintes, os traeos principáis, muito reveladores do
afinco que anima as estrategias evangelfsticas.

Tal documento há de avivar nos fiéis católicos o estrito dever mis-


sionário que Ibes incumbe a partir das palavras do Senhor Jesús: "Ide
e fazei que todas as nacoes se tornem discípulos, batizando-as em no-
me do Pai, do Filho e do Espirito Santo e ensinando-as a observar tuu-
do quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os días até a
consumacSó dos séculos" (Mt 28, 19s). Cristo fundou urna única Igreja
confiada a Pedro, dotando-a desse fmpeto missionério, que decorre da cons-
ciencia de que o Evangelho é a Boa-Nova destinada a todos os homens e, por
isto, nSo pode ser guardado indolentemente nem relativizado (como se to
dos os Credos fossem iguais) nem confundido com promocao económica e
social dos mais carentes. O Evangelho é a Boa-Nova religiosa que tem vigor
único para estruturar o ser humano no plano espiritual e, conseqüentemente,
também no material.

0 CELAM (Conferencia Episcopal Latino-americana), mediante o seu


Departamento de Ecumenismo e Diálogo Religioso, deu a conhecer um do
cumento de 48 páginas, protestante, escrito em castelhano, com o título
AMANECER (Amarillecer) e o subtítulo "Estrategias evangélicas para la
toma misionera del mundo y de América Latina" (Estrategias Evangélicas
para a Tomada Missionária do Mundo e da América Latina). Trata-se de nor
mas destinadas a difundir o protestantismo no mundo inteiro e, especial
mente, nos países latino-americanos. O documento é um tanto sigiloso, co-

78
"AMANHEC.ER" 31

mo se depreende da Apresentagao do mesmo redigida pelo CELAM e publi


cada logo a seguir em traducáo portuguesa. Desse documento destacaremos
posteriormente os trapos principáis.

1. Apresentagao de AMANHECER

Eis a página introdutória a cargo do CELAM:

"As Táticas da Missiologia Proselitista

Com a devida prudencia, colocamos em su as maos um documento ex


cepcional, que explica multas das nossas preocupacóes a respeíto da prolife-
racao das 'Sertas' (neste caso, 'Seitas' de índole nítidamente evangélica).

Trata-se de um documento singelo, mas que pretende reunir toda a


fundamentacüo bíblica, a eclesiologia, os objetivos, os métodos e as estrate
gias para a 'tomada evangélica' do mundo inteiro.

Chegou as nossas maos de maneira confidencial. Reconstituímos o


texto a partir de fotocopias muito deterioradas. Respeitamos o estilo, a re-
dacfio, a pontuacSb e a ortografía. Animamo-nos a publicá-lo por varias ra-
zoes:

1) É necessário que nos preocupemos, tomando conscifincia do impul


so missionário - para nao dizer proselitista1 - das seitas cristas, impulso
voltado nao somente para a América Latina, mas também para o mundo. A
leitura e o estudo deste documento devem fazer sentir a nos, como católi
cos, o chamado para redescobrirmos o fervor missionário daqueles que se-
mearam a fé entre nos. Como diz o Santo Padre, é necessário promover urna
nova evangelizarlo e — por que nao o dizer? - urna renovacáo pastoral.

2) O documento oferece urna explicacfo complementar da prolifera-


ca"o de seitas. Muitas vezes nos detemos na hipótese de que esta avalancha
de 'igrejas' é fruto de política estrangeira. O documento nos mostra o por
qué, o objetivo e o como do impulso missionário das seitas Cristis. É neces
sário também que tomemos consciéncia da existencia de urna estrategia
evangélica bem arquitetada para a tomada missionária da América Latina,
pafs por pafs. Essa estrategia combina elementos diversos inspirados por um
fervor cegó para a implantacao de igrejas: motivacóes bíblicas e teológicas,
testemunhos populares, metodología de planejamento e avaliacao.

1 Proselitísmo é a conquista de adeptos mediante promessas e beneficios


temporais. Isto constrange o próximo indignamente — (Mota do Tradutor).

79
32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

3) O documento nos lava tambám a descobrir o tipo de ecumenismo


que está ocorrendo entre as comunidades evangélicas náb históricas;1 julgam
que se podem unir a outras comunidades desde que náb suscitem problemas,
náb levantem questó*es, nao alimentem o senso crítico em relacab ás verda
des professadas por cada denominacSo crista. O que importa únicamente, é
crescer em número de fiáis e templos.

É para desojar que cada um de nos tire as conjeqiiencías de tal leitura.

Atenciosamente

Seccáb de Ecumenismo e Diálogo Religioso do CELAM"

Em vista de crescer numéricamente, sem dar relevo primordial ao Cre


do de cada denominacao crista, eremos que o projeto AMANHECER nao foi
elaborado por determinada denominacao protestante (luterana, calvinista,
batista...), mas se deve a algum movimento de Evangelizacao protestante e
difusao da Biblia, desligado de qualquer comunidade eclesial. Alias a p. 4 do
documento em pauta, abordando observares preliminares, nos diz que tal
texto foi publicado por Dawn Ministries, Jim Montgomery, Presidente, com
sede na California. Jim Montgomery é o gerente-editor de GLOBAL CHUR-
CH GROTH BULLETIN, e diretor de análise e estrategia da missao OVER
SEAS CRUSADES; foi o responsável por urna profunda investigacao de
crescimento da Igreja efetuado na Guatemala.

Vejamos agora.

2. Alguns traeos de AMANHECER

2.1. Que é AMANHECER?

Utilizando palavras do próprio documento, dizemos:

"AMANHECER é urna estrategia de servico executado na base do


mandamento de Nosso Senhor Jesús Cristo de fazer todas as nacdes discípu-
las (cf. Mt 28, 19). É o desenvolvímentó de urna estrategia adequada com a
finalidade de mobilizar o Corpo de Cristo para fazer todas as nacdes discípu-
las.

1 Nao históricas significa recentes ou contemporáneas. Alusao ás denomina-


(des protestantes que se veém multiplicando nos últimos tempos (Nota do
Tradutorj.

80
"AMANHECER"- 33

Segundo o Dr. Pedro Wagner, é o melhor e ma'ts eficiente sistema para


conseguir o crescimento das Igrejas em escala internacional...

AMANHECER aspira a mobilizar o Corpo de Cristo em todos os paí


ses... para cumprir a grande tarefa, tendo por meta levantar urna congrega-
ció evangélica em cada vila e em cada povoado, de todas as classes, catego
rías e condicoes sociais em cada país por inteiro.

A maior preocupacao de AMANHECER é ver encarnado o Senhor Je


sús em toda a sua beleza, compaixSo, poder e mensagem em cada grupo de
pessoas - entre 500 e 1.000 - ou, a mais longo prazo, em cada país.

Portanto, a máxima aspiracao de AMANHECER é ver em cada igreja


refletir-se o Senhor Jesús Cristo e ver essas igrejas multiplicadas de tal modo
que nao fique ninguém em país algum fora do alcance prático e cultural do
Cristo vivo.

Se houver urna congregacSo dando testemunho em cada pequeña


comunidade, será possível comunicar o Evangelho, de maneira direta e fe
cunda, a cada habitante da térra. Cada pessoa em cada país terá entao a me
lhor oportunidade de poder ver o Evangelho vivido e apregoado em seu
ambiente por pessoas que falam a sua respectiva Ifngua. Assim cada indi
viduo terá urna excelente oportunidade de tomar urna decisSo inteligente,
favorável ou contraría ao Senhor Jesús Cristo; cada qual terá urna igreja é
qual poderá comparecer e, no futuro, quando se tiver convertido, poderá
ser instruido e feito discípulo" (p. 7).

Eis algumas realizares concretas desse plano:

"Em 1966, Hugh Linton e seus colegas na Coréia fizeram um meticu


loso exame de sua área e tracaram um plano de sete anos para implantar
urna congregacSo em cada vila de mais de cem casas, distantes 4 km da igre
ja evangélica mais próxima.

Em 1974, cerca de 75 igrejas e líderes missionários ñas Filipinas com-


prometeram-se a trabalhar de modo a conseguir construir urna igreja em ca
da bairro de todo o país para o ano 2000. Isto significaría um crescimento
do número de 4.000 igrejas para 50.000 igrejas nos próximos 25 anos. Quan
do trezentos líderes se reuniram num Congresso em fevereiro de 1985, re fe-
riram que a fé tinha dobrado o número de seus templos fundados na década
anterior e que a meta final era atingir 50.000 no ano de 2000.

Tendo ouvido narrar tal experiencia, cerca de 350 líderes da Guatema-

81
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

la tomaram por meta a conversio de 50% da populacSo de seu pafs para o


evangelismo ató o ano de 1990, ou se/a, num período de seis anos.

Em abril de 1985 algumas centenas de líderes se reuniram num Con-


gresso sobre o Evangelismo no Zaire e tomaram por objetivo fundar ao me
nos uma igrej'a em cada vila de 10.000 habitantes no pafs, num período de
cinco anos. Também fizeram o propósito de construir 5.000 igrejas a mais
na cidade de Kinshasa.

Na Indonesia existe um programa muito bem planejado dito: 'Um,


um, um' -o que quer dizer: uma igreja em cada vila de cada geracao, O pla
no está sentó executado segundo títicas muito proveitosas de modo a atingir
sua meta em 2015. Isto implicará a fundacao de milhares de templos por
meio de homens e mulheres tremados em centenas de Seminarios durante
dois anos para ser espalhados por toda a térra.

Líderes em países tais como o JapSo, a india. El Salvador, Colombia,


Gana, Nova Zelandia, Zimbawe e muitas outras nacdes comprometeram-se a
desenvolver semelhantes programas ou Jé estffo seriamente comprometidos
com isto...

Conforme varios dirigentes de Missiologia, a maneira mais direta de


completar a Grande Tarefa é encher a térra, as áreas rurais, as regides e os
povoados de congragacdes evangélicas.

Ao mesmo tempo, um número crescente de missionários estrategistas


que estSo trabalhando nos diversos setores do mundo, vém desenvolvendo e
levando a termo programas tendentes á mesma meta.

Parece existir o potencial para desenvolver o projeto AMANHECER


num movimento de alcance mundial... Pode ser que Deus esteja fomentando
tal movimento para apressar a sua segunda vinda. Esta vai sendo preparada
pela evangelizacSo mundial" (pp. 8s).

2.2. Finandamento da AMANHECER

Eis o que se lé ás pp. 37s do fascículo:

"O modelo AMANHECER ú relativamente económico e de financia-


mentó simples.

Financiar o evangelismo e a funció de templos nSo é problema para o


projeto AMANHECER, porque estas atMdadessao sustentadas pelas Igrejas
e as próprias denominacSes cristas.

82
"AMANHECER'-' 35

Urna vez que sSo motivadas petas atividades de AMANHECER, as co


munidades podem por si mesmas financiar seus gastos para atingir as metas
tracadas. Deve ser obvio que os pastores e líderes de ¡greja levantem fundos
muito mais rápidamente para um projeto que ajudará o desenvolvímentó de
seu ministerio do que para atividades cooperativas que nao ¡garantam o
acréscimo de membros és suas congregacoes e o aumento de templos ñas
denominacoes cristas.

Financiar um Congresso de acordó com a experiencia previa é muito


mais fácil do que fazer urna grande reuniSo interdenominacional...

A índole do profeto AMANHECER parece tambám apelar para as or-


ganizacoes para-eclesiásticas nacionais e internacionais que este/am em con-
dicoes de ajudar o respectivo financiamento".

2.3. 0$ Treza Passos para o Éxito

As pp. 39-44 o documento em pauta expóe treze passos ou atitudes e


medidas consideradas penhor de éxito para qualquer programa de expansao
do Evangelismo. Ei-los:

Passo n? 1: "Tenha sonrio* fantásticos e grandes visoes".

As comunidades em crescimento devem ter urna visao mais ampia do


que elas mesmas. Alimentem o grande anseio de ver todo o seu país conquis
tado para Cristo ou de fundar urna igreja em cada bairro. Quem nutre tais
aspiracñes, t rabal ha persistentemente até ver a plena realizagao das mesmas.
Diz o livro dos Proverbios: "Quando na"o há visio, o povo perece" (29,18).

Passo n° 2: "Desenvolva, mantenha e utiliza urna solida base de infor-


macoes".

Diz o sabio: "É vergonha e confus3o responder antes de escutar" (Pr


18, 13). É preciso, pois, pisar no chao, evitando devaneios irreais, fantasías
emocionáis e sentimentais. Em lugar disto, que os arautos do Evangelho:
a) ponderem quais as pessoas mais receptivas do Evangelho e como melhor
podem ser conquistadas; b) avaliem seus recursos, as cotas de crescimento
dos mesmos; c) observem as outras comunidades e seu crescimento a fim de
adoptar o que Ihes for conveniente.

Passo n? 3: "Trace metas desafiadoras, realistas a comensurávais".

As metas desafiadoras mobilizam as pessoas e as fazem trabalhar para


além de suas expectativas. Sejam metas realistas, pois as idealistas demais po-

83
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

dem desapontar as pessoas. Metas comensuráveis, ¡sto é, que possam ser tra-
duzidas em números e datas concretas, pois a veríficacao matemática do éxi
to é sempre motivo de regozijo. Sao citados os textos de Hb 11,1.5.

Passo n? 4: "Assumir as metas tragadas ná"o como algo imposto de fo-


ra, mas algo voluntariamente abracado pelo evangelista".

Sejam, pois, discutidos os objetivos e as etapas sucessivas de determi


nada estrategia; naja o consenso de todos os interessados, para que todos se
identifiquem com os propósitos do grupo.

Passo n? 5: "Dar no me — e nome significativo — ao programa".

O nome é um estímulo ao traba I ho e á criatividade, se ele é adequado.


Assim, por exemplo, "Estrategia 100, 1985", "Expansfo 100..."...

"Como se sentiriam os seus filhos, se vocé nao Ihes tivesse dado nome?
Ignorados e insignificantes!" Da mesma forma todo programa necessita de
um bom nome.

Passo n°6: "Desenvolver urna estrutura funcional".

Isto quer dizer: é preciso organizar o movimento dando-lhe um bom


organograma, uma zelosa gerencia e urna solícita administragao. Nos Atos
dos Apostólos, cap. 6, verificase que o surto e a expansao da Igreja provoca-
ram um problema de governo ou administragao, que foi logo resolvido me
diante a instituicSo de novos servidores ou diáconos. Muitos leigos deverao
sair da sua inercia e tomar parte ativa na missao da Igreja; isto será penhot
de crescimento numérico e espiritual. Haja, por exemplo, líderes para acorrí-
panhar o programa na sua globalidade, líderes para coordenar comissoes, su
pervisores dos programas de oracao, guardas de arquivos e estatísticas, pro
motores de publicagSes, organizadores de momentos de recreagSo e lazer...

Passo n? 7: "Confiar na oragáo e no poder do Espirito Santo".

Há quem se preocupe com números e com a sabedoria humana a pon


to de esquecer a obra do Espirito Santo. Ora isto é erróneo. Os programas
bem sucedidos sSo precisamente aqueles que tém sólido respaldo na oragao.
O livro dos Atos dos Apostólos abona esta ver¡f¡cacao: para receber o Espi
rito Santo no dia de Pentecostés, cento e vinte discípulos se prepararam pelo
¡ejum e a oragSo (cf. At 1, 15; 2, 1-4); assim também receberam de Deus a
graga da conversao de tres mil pessoas no mesmo dia (cf. At 2, 41).

A Alianga CristS Missionária concebeu o programa "Blanco 400", no

84
"AMANHECER" 37

qual havia uma Di retora Nacional de Oracao, que era membro do Comité
Executivo. Ela ajudoü a organizar centenas de células de oracao, que se man-
tiveram muito vivas sob o seu estímulo. Dessas células sairam novos e novos
grupos de obreiros leigos dedicados á oracao e ao trabalho.

Passo n? 8: "Manter os membros do Movimento ativos e bem informa


dos".

Descobriu-se que é importante publicar um Informativo que noticie os


resultados obtidos, os progressos no curso da evangelizado, o atendimento
as orapoes. Ponham-se em relevo as fapanhas de homens e mulheres que obti-
veram éxito notável na obra missionária. Também se recomendam anuarios
portadores de fotografias, marca-livros, agendas, cartazes... Faz-se, pois, ne-
cessário mostrar que de mes a mes e de ano a ano a evangelizarlo faz
progressos. Nada há de mais estimulante do que apresentar o éxito obtido
até o momento presente.

Passo n? 9: "Treinar os membros".

Esta é uma tarefa indispensável em todo programa de crescimento. In


cluí o treinamento para fundar igrejas, para pastoreá-las, para iniciar e cultivar,
estudos bíblicos, para formar líderes de pesquisa e análise, para animar gru
pos de oracao, administrar finanpas, desenvolver comunicapoes, etc.

O treinamento pode ser efetuado em escolas. Seminarios, Jornadas


apropriadas, de maneira formal e informal.

Passo n? 10: "Estabelecer normas financeiras prudentes".

É claro que o crescimento de uma comunidade crista exige gastos ex


traordinarios, que devem ser precisamente avaliados de antemáo. Freqüente-
mente haverá que transferir fundos destinados a projetos de menos impor
tancia para atender aos desafiadores apelos da expansSo evangélica. Será ne-
cessário também recorrer á arrecadapSo de meios financeiros, o que exigirá
esclarecimento e doutrinacao para que os crentes se disponham á generosi-
dade.

Passo n? 11: "Enviar missionários".

Uma comunidade que nao consiga expandir-se, deverá ser reforcada


pelo envió de missionários de fora. Isto significa que as diversas igrejas te-
nham os olhos abertos para as demais a fim de poder atender as suas caren
cias, quer nos bairros vizinhos, quer em cidades distantes. A pregacao deve-

85
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

rá, para tanto, dar especial énfase á índole missionária do Evangelho, do


qual cada crente é um representante.

Quando os Batististas conservadores viram cair suas taxas de cresci-


mento de 20% em 1974 para 12,1 e 12,8 nos anos seguintes, tomaram cons-
ciencia de que o programa de expansao corría perigo e era necessário definir
serias providencias a respeito. Daí o recurso a misionarios.

Passo n? 12: "Avahar o progresso regularmente".

Só pederemos aspirar a metas realistas e concretas, se tomarmos o cui


dado de averiguar a relacao existente entre as etapas da caminhada e os obje
tivos da evangelizacáo. Os Batistas conservadores nunca teriam superado o
perigo de retrocesso que os ameagava, se nao tivessem verificado que o seu
éxito era frustrado; eles tinham urna meta prefixada, matemáticamente esta-
belecida, e averiguaram matemáticamente que estavam longe de tal objetivo;
foi isto que os alertou e levou a procurar reforpo.

Os líderes de cada programa devem também estar abertos para os pro


blemas que surjam na execucio de cada um dos treze passos aqui relaciona
dos; procurem diagnosticá-los e resolvé-los, utilizando, se for o caso, novas
oportunidades e tendencias da respectiva comunidade.

A aval ¡apio será feita em circunstancias muito oportunas se se Ihe de-


dicarem dois ou tres dias por ano, em que os interessados se debrucarSo con
juntamente sobre programas, estati'sticas, relatónos, observaedes, etc.

Passo n? 13: "Fazer novos planos".

Um dos aspectos mais alvissareiros para o crescimento até o ano 2000


ñas Filipinas é a sucessüo de programas de evangelizacáo; mal se está termi
nando um, devidamente executado, já se tem outro programa, ainda mais
grandioso, pela frente.

Sejam recordadas as atividades da Alianca CristS Missionária: executou


o programa "Blanco 400"; depois o programa "Blanco 100.000", que deu
lugar ao projeto "Dois, dois, dois" - o que significa: 20.000 igrejas e
2.000.000 de membros para o ano 2000. Outros exemplos poderiam ser ci
tados.

Em cada final de ano, ao se avaliar o projeto de expansSo em curso,


devem-se tragar normas concretas para o ano seguinte na base de tal avalia-
cáo. O mesmo ocorra ao cabo de cada quinquenio e de cada decenio de exe-
cucao dos programas de expansSo. Desta maneira o evangelismo passa a ser

86
"AMANHECER" 39

parte integrante e'.dinámica da vida das comunidades, em vez de ser urna ati-
vidade esporádica ou rotineira.

Conclusao

O projeto AMANHECER, com suas estrategias, interpela vivamente os


fiéis católicos, pois neles deve avivar o zelo missionário que Cristo incutiu a
todos os seus discfputos desde que estejam em comunhao com Pedro e a
sucessao apostólica. Muito oportunamente diz o CELAM: "A leitura e o es-
tudo do projeto evangelista deve fazer que nos, católicos, descubramos o fer
vor missionário daqueles que semearam a fé há quase quinhentos anos na
América Latina. Como diz o S. Padre, trata-se de impulsionar urna nova
evangelizacáfo" (ver p. 79 deste fascículo).

A nossa época na*o é pós-religiosa ou ná"o é época que rechance os valo


res religiosos. Muito pelo contrario; o testemunho do protestantismo e das
novas seitas nos transmite a certeza de que o homem contemporáneo é so
fregó de valores transcendentais, pois as promessas do cientificismo, do pro-
gresso material e da técnica tém falhado; deixam o cidadSo de nossos dias
frustrado, a bracos com serias crises, das quais a mais grave é a do sentido
da vida. Saber por que e para que alguém vive é necessidade premente e in-
contornável de todo ser humano; ora o materialismo nao atende adequada-
mente a tais anseios, pois as suas promessas sao mesquinhas demais para o
homem feito com abertura para o Infinito. Somente os valores religiosos po-
dem preencher cabalmente as lacunas do ser humano. Daí a oportunidade
que se oferece á Igreja Católica para pregar o Evangelho com a garantía dada
por Cristo: "Estare¡ convosco até a consumacao dos séculos" (Mt 28, 20).

É claro que a pregacao da Boa-Nova e os métodos missionários nao


de assumir as formas mais apropriadas para falar ao homem de hoje sem pre-
juízo para o seu conteúdo doutrinário e também sem cair no proselitismo
constrangedor; hSo de recorrer aos meios de comunicacao modernos, que se
tornaram habituáis entre os homens, as cidades e os patees de nossos tem-
pos. Nao pode haver timidez a tal propósito. Pregar o Evangelho com efica
cia e eloqüéncia é nao somente ato de obediencia ao Senhor Jesús, mas tam
bém serví go de caridade prestado ao próximo, pois o bem é difusivo de si,
como diz a antiga sabedoria grega (a caridade manda que transmitamos aos
nossos irmatos todas as coisas boas, entre as quais sobressai a Boa-Nova de
Cristo).

Possam, pois, os sinais dos tempos atuais ser apreendidos devidamente


pelos fiéis católicos, que assim se deixarSo renovar em seu zelo missionário,
"a fim de que o mundo creía" (Jo 17,21)!

87
Logoterapia:

"Um Sentido para a Vida"

por Viktor Frankl

Em síntese: Viktor Frankl afirma que a necessidade fundamental do


ser humano é a de conhecer o sentido ou o porqué e para qué de sua existen
cia. Quem descobre isto, é capaz de sentir-sé feliz e auto-realizado, mesmo
na penuria de bens materíais ou até mesmo... no careere. Assim Frankl afir
ma o primado dos valores moráis sobre os bens materíais. Em última análise,
o sentido da vida humana se deduz de Deus, o Bem Supremo, para o qual
o homem foi feito. V. Frankl, poróm, é sobrio em relacao a Deus, que ele
admite possa ser o fnt'tmo mesmo (mM) do homem. A Logoterapia de Frankl
adquire seu pleno vigor se conjugada com a profissao de fé em Deus Criador
e Consumador do homem. Caso nSo chegue a tanto, aínda é válida, mas há
de ser completada pelo paciente que a aplica a si mesmo.

Viktor Emil Frankl é médico psiquiatra, judeu, professor universitario


em Viena (Austria) e nos Estados Unidos; é o criador da terceira escola de
psicoterapia de Viena — a da Logoterapia —, que existe ao lado da psicanáli-
se de Sigmundo Freud (t 1939) e da psicología individual de Alfred Adler
(t1937>.

Tem publicado varios livros em que propóe a sua teoría, dos quais já
foi apreciado o intitulado "Psicoterapia e Sentido da Vida" em PR 281/
1985, pp. 329-340; ver também PR 278/198S, pp. 61-65 e PR 310/1988,
pp. 131-138. Acaba de sair em portugués a obra "Um Sentido para a Vi
da",1 que em poucos capítulos expSe mais urna vez as idéias do autor. Tra-
ta-se de urna concepcao de ser humano e da vida que muito se aproxima da
concepcao crista e, por isto, importa divulgar. É o que taremos ñas pá
ginas subseqüentes, delineando alguns elementos mais típicos do livro em
foco.

1 Ed. Santuario,CaixaPostal4,12570Aparecida (SP), 135x20Smm, 159pp.

88
"UM SENTIDO PARA A VIDA" 41

1. A Necessidade de Sentido para a Vida

Para Sigmund Freud, o impulso fundamental que a tudo move o ser


humano, é o éros ou o apetite sexual. Para Alfred Adler, é o desejo.de po
der... Viktor Frankl julga que estas duas escolas nao atingem o ámago do
problema; a necessidade mais profunda do ser humano seria a de saber o
porqué ou o sentido de sua vida; quem n3o vé o significado de sua existen
cia, cai num vazio existencial, que pode levar ao suicidio. Viktor Frankl
quer recuperar tais pessoas mediante a Logoterapia ou o tratamento ligado
ao logos ou ao raciocinio, ao pensar sobre os valores da vida. V. Frankl es-
creve: "Urna traducao literal do termo 'logoterapia' é 'terapia através do
sentido' " (p. 13).

Essa forma de tratamento distingüese da de Freud pelo fato de que


este julga ser necessário que o paciente primeramente resolva seus proble
mas edipianos e seus temores de castrapáo para ser feliz e se realizar plena
mente. Viktor Frankl, ao contrario, afirma que alguém pode resolver suas
neuroses, ligadas ou nao ao sexo, e, nao obstante, sentir grande vazio dentro
de si; é, pois, mais fundamental do que qualquer outro anseio o de encon
trar sentido para a vida; descoberto este, o individuo tem condicóes de resol
ver seus outros problemas psicológicos; o inverso, porém, nao se dá:

"Albert Camus afirmou urna vez: 'Há um só problema verdadeiramen-


te serio e é... estabelecer se vafe ou nao a pena viver' fThe Myth of Sisyphus,
New York, Vintage Books 1955, p. 3). Recordei-me recentemente desta afír-
macio quando me fo¡ comunicada urna noticia na qual vejo a confirmacao
de que o problema de dar sentido para a vida ó coisa que hoje obsessiona os
individuos mais que seus problemas sexuais. Um professor de instituto
médio-superíor convidou seus alunosa apresen tar-lhe qual problema deseja-
vam eventualmente apro fundar, com a permissao de fazi-lo de forma anóni
ma. As questdes que Ihe foram apresentadas, iam desde a toxicodependéncia
ao sexo até a vida em outros planetas. Mas a questSo mais freqüente - quem
acreditaría? - foi o suicidio" (pp. 17s).

Diante das muitas propostas de prazer que a sociedade de hoje ofere-


ce, o homem permanece insatisfeito enquanto ná"o vislumbra a raza*o de ser
de sua existencia.

V. Frankl encara a tese dos que dizem: "Primeramente é necessário


realizar um padrfo de vida satisfatório, só depois os homens pensam em des
cubrir o objetivo e o significado da sua existencia". Responde o psicólogo,
observando que os bens materiais e a saúde do corpo sao meios,... meios diri
gidos a um objetivo ou a um fim; nao sio a meta. Sejam almejados, sim, mas

89
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

sempre como algo de relativo, algo que só tem sentido se o homem descobre
o significado geral da sua vida: "Aínda que o alimento seja urna condicao ne-
cessária para a sobrevivencia, ele nao é condicao suficiente para dar sentido á
nossa vida e superar a sensacao de vazio e de inutilidade da nossa existencia"
(p. 27).

Frankl insiste sobre o caráter relativo dos bens materiais, que muitos
almejam como se preenchessem todas as aspiracSes do psiquismo humano:

"Sonhamos que bastava fazer progredir as condicoes sócio-econ&micas


de urna pessoa para que tudo caminhasse bem, para que ela ficasse feliz. A
verdade é que a luta pela sobrevivencia nSo se acaba, e ponto. De repente
brota a pergunta: 'Sobreviver? Mas para qué?' Em nossos dias um número
cada vez maior de individuos dispde de recursos para vt'ver, mas nio dispde
de um sentido para o qual viver.

Por outra parte, vemos pessoas que sSo felizes em condi$6es adversas,
mesmo se terriveis. Permitam-se citar um trecho de carta que recebi de Cíe-
ve W., que me escreveu quando era o número 049246, numa prisao america
na: 'Aquí na prisSo... há multas e muito agradáveis ocasioes de ser útil e de
crescer. Na realidade sou mais feliz agora do que em qualquer outra ocasiao,'
Note-se: mais feliz do que nunca na cadeial" (p. 15).

Na nota 3, ao pé da mesma página, observa Frankl:

"Como um de meus amigos asistentes na Universidade de Harvard


pode demonstrar, entre os diplomados daquela escola que chegaram a urna
vida de sucesso aparentemente feliz, urna porcentagem significativa queixa-
va-se de um profundo senso de futilidade e se perguntava para que servia to
do o éxito obtido. Isto nao sugere que aquilo que hoje com freqüéncia é de
nominado 'crise de meia-idade' se/a básicamente urna crise de sentido?".

Mais adiante ainda escreve Frankl, insistindo na mesma experiencia:

"De um lado, encontramos pessoas que, apesar do sucesso, sao levadas


pelo desespero — basta recordar os estudantes do Idaho, que tentaram o sui
cidio apesar de suas condicdes de bem-estar... De outro lado, podemos en
contrar pessoas que, apesar do fracasso, chegaram ¿ auto-real'izacao e á feli-
cidade, porque descobriram um sentido para o próprío sofrimento... A titu
lo de conclusao, citareí duas outras cartas, entre tantas recebidas. Unta de
Frank £., que era o número 0206-40 em urna prisSo federal americana:

'Exatamente aquí na prisSo encnntrei o sentido de minha existencia.

90
"UM SENTIDO PARA A VIDA" 43

Encontró urna razSo em minha vida e este tempo que tenho diante de mim,
é apenas urna breve espera da oportunidade de fazer melhor, de fazer mais'.

E de outro detento, de número 552022:

'Ilustre Dr. Frankl,

Nos nSo poucos meses aqui passados, um grupo de companheiros de


desventura tem compartí/hado as idéias que o senhor expós em seus livros e
em suas licdes gravadas... Estou constantemente mortificado pelas lágrimas
de meus companheiros de grupo quando eles podem compreender que final
mente estSo tomando consciéncia do sentido que jamáis imaginavam possl-
vel. As mudancas sao milagrosas. Vidas que antes eram desesperadas e sem
ajuda, agora tém sentido. Aqui, na prisSo de seguranea máxima da Florida, a
cerca de 500 ¡ardas da cadeia elétrica, estamos rea/izando os nossos sonhos...
Do calvario de Auschwitz surgiu nossa manhS pasca/. Do árame farpado e da
cámara de gas de Auschwitz nasce o sol..." (p. 36s).

A prevaléncia do desejo de sentido de vida sobre qualquer outro apeti


te do homem (como, por exemplo, o de alimentadlo) é ilustrada por Frankl
mediante o seguinte episodio:

"No gueto de Theresienstadt foi publicada urna lista com o nome dos
cerca de mil jovens que na manhS seguinte seriam retirados do gueto. Quan
do amanheceu o día, era do conhecimentó geral que a livraría do gueto fora
esvaziada. Cada um daqueles rapazas — que estavam condenados a morrer no
campo de concentracao de Auschwitz — pegara um par de livros do poeta,
do romancista ou pensador preferido e o esconderá na mochila. Quem vai
entao me convencer de que tinha razio Bertold Brecht quandó proclamava
em sua 'ópera dos tres Vintens': 'Em primeiro lugar, vem a panca para en-
cher, depois a moral' (Brst Kommt das Fressen, dann kommt die Moral;?"
(p. 27).

Coma outrossim Frankl:

"Numa ocasiao tive como alunos tres oficiáis americanos que presta-
ram servico por um longo tempo — até sete anos — em um campo de prísio
neiros de guerra norte-vietnamitas. Pois bem; eles também haviam observado
que os prísioneiros que pensavam que havia alguém ou alguma coisa que os
esperava, eram os que tinham maior probabilidade de sobreviven A mensa-
gem ou significado que captamos é que a sobrevivencia dependía da capad-
dade de orientara própria vida em direcao a um 'para que coisa'ou um 'para
que pessoa'. Em outros termos, a existencia dependía da capacidade de

91
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

transcender o próprío eu, que é o conceito que introduzi na logoterapia des


de 1949" (p. 29).

Reciprocamente, o vacuo existencial leva ao crime (p. 89), ao sexo li-


vte e desenfreado (p. 76), ás drogas (p. 21).

A falta de ocupagao gera tal vazio no íntimo do homem, que se senté


inútil e, por isto, cai no desespero. Muito interessantes sao as seguintes pon-
deracdes:

"A riqueza geral da sociedade reflete-se nao apenas nos bens materiais,
mas também no tempo dedicado ao ocio. A este propósito escutemos o que
escreve Jerry Mandel: 'A tecnologia privou-nos da necessidade de fazer uso de
nossas capacidades de sobrevivencia. Desenvolvemos um sistema de bem-es-
tar que garante que podemos sobreviver sem fazer algum esforco em nosso
próprío interesse. Do momento em que apenas 157o da forca de trabalho de
urna nacao poderiam de fato prover ás necessidades de toda a populacao gra
pas ao emprego da tecnologia, devemos enfrentar dois problemas: quais 15Yt
deveriam trabalhar, e como os demais enfrentarSo o fato de nao serem ne-
cessários, com a conseqüente perda do significado de suas vidas. Talvez a lo
goterapia deverá dizer é América do sáculo XXI maisdo que ¡á tenha dito
équela do secuto XX" (p. 18).

Eis outro trecho notável de V. Frankl, que vé na fartura e no bem-es


tar materiais fatores que abafam no ser humano a necessidade de lutar e, por
conseguinte, de procurar um sentido para a sua vida; estas circunstancias sao
nocivas, em vez de ser valiosas para a pessoa:

"Hoje muita gente nao consegue mais encontrar o sentido e o objetivo


da vida. Em contraste com as descobertas de Sigmund Freud, o homem nao
é mais, em primeiro lugar, um frustrado sexual, mas um 'ser existencialmen
te frustrado'. £ em contraste com as descobertas de Alfred Adler, sua queixa
maior nio 6 mais o sentimento de inferioridade, mas sim a sensacao de futili-
dade, a sensacSo de falta de sentido e de vazio, que eu denominei 'o vazio
existencia!'. Seu síntoma mais sensfvel é o tedio. Arthur Schopenhauer, no
secuto passado, afirmou que a humanidade precisa de estar condenada eter
namente a vacilar entre os dois termos da necessidade e do tedio. Hoje che-
gamos a este último extremo. A sociedade afluente deu a vastos segmentos
da populacSo os recursos, mas as pessoas nio conseguem perceber um objeti
vo, um sentido pura o qual viver. Acresce que vivemos em urna sociedade do
ocio. Cada vez mais as pessoas tém mais tempo livre. mas nSo há nada que
possua um sentido peto qual valha a pena gastá-to. Tudo isso leva é conclu-
sSo obvia de que, na medida em que o homem economiza tensdes e empe-
nho, ele perde a capacidade de suporté-tos. Mais importante:... perde a capa-

92
"UM SENTIDO PARA-A VIDA" 45

cidade de renuncia. Mas Hoetderlin estava certo quando disse que, lá onde o
perigo ameaca, ali asalvacSo está próxima" (p. 87).

2. Refletindo...

Em última análise, V. Frankl valoriza tanto a necessidade de sentido


da vida, colocando-a ácima dos apetites de bens materiais, porque ele admite
no ser humano algo que transcende a corporeidade. e .que ele chama "o eu
espiritual".1 Precisamente a "presenca e a forca desafiadora do espirito" sao
os elementos-chaves da Logoterapia, que Ihe permitem o exercício otimista
de suas atividades. É ainda V. Frankl quem narra:

"Recordo-me de um episodio que me aconteceu quando eu tinha tre-


ze anos. Um día meu professor de ciencias passeava entre os bancos da classe
e ensinava aos alunos que, no fundo no fundo, a vida nao era senao um pro-
cesso de combustao, um processo de oxidacao. Eu levantei-me e sem pedir
permissSo, como era ainda eos turne, lancei-lhe a pergunta: 'Que sentido tem
entSo a vida?' Naturalmente ele nio podía responder-me porque era um re-
ducionista"2 (p. 31).

Com outras palavras: V. Frankl soube afirmar o primado dos valores


espirituais e moráis sobre os bens meramente materiais. É o fato de que no
homem existe urna alma (psyché) espiritual que permite á pessoa ultrapassar
os bens materiais e encontrar sua plena realizacáb mesmo quando estes fal-
tam. A linguagem de Frankl é lacónica quando se refere aos valores transcen-
dentais, capazes de dar sentido á vida humana; certamente é Deus, o Ser Ab
soluto (a Verdade e o Bem Supremo) e Deus só, quem pode responder ple
namente ás aspiraedes do ser humano.

Frankl, porém, é reservado quando trata de Deus: nao quer definir se


é diferente do próprio t'ntimo do homem ou se identifica com este. Eis as
suas ponderales:

"0 conceito de Deus nSo há de ser necessariamente tefstico. Quando


eu tinha qu'mze anos ou por ai, cheguei a urna defin¡cao de Deus que ago-
(continua na p. 65)

1 "Na morte... a pessoa nada mais tem é sua disposicSo: nem mente, nem
corpo; ela perde seu ego psicológico. O que Ihe resta, é o *alf. o eu espiri
tual" (p. 101).

2 Reducionista é aquele que reduz a verdade ao mínimo ou ¿quilo que os


sentidos podem apreender ou talvez áquilo só que a razSo pode perceber.

93
O cristao na atual sociedade:

"Um Homem Perplexo"


por Mario de Franca Miranda

1. 0 autor do livro é sacerdote jesuíta, professor no Teologado da


Companhia de Jesús em Belo Horizonte. Apresenta os síntomas de seculari-
zacá"o, materialismo e relativismo da sociedade contemporánea. As antigás
instituicoes e afirmacSes do Catolicismo podem parecer defasadas; novas
crencas cristas e outras grandes correntes religiosas (islamismo, budismo...)
penetram no Ocidente cristao, de modo que o fiel católico pode ser tentado
a se sentir "um homem perplexo na atual sosiedade". O livro termina sem
urna perspectiva alvissareira ou sem urna resposta á suposta perplexidade do
católico contemporáneo; acumula interrogares e dificuldades, usando,
alias, de muita erudicao, mas sempre num tom propenso a ver problemas e
impasses. A leitura do livro pode deixar o leitor ¡nsatisfeito, pois oferece um
panorama incompleto, visto unilateralmente ou a partir de um pessimismo
acentuado demais.

2. 0 contato com as páginas de Franga Miranda sugere as seguintes


considerares:

2.1. Sem dúvida, vivemos nema época marcada por grandes


apostasias: o ateísmo, o indiferentismo religioso, o utilitarismo e o consu-
mismo... tém afastado muitas e muitas pessoas da tradicional crenca católi
ca. Tal fenómeno, porém, apresenta-se como urna experiencia dolorosa que
o mundo de hoje vem fazendo; os homens nao tém encontrado maior felici-
dade apartando-se de Deus; ao contrario, sentem o vazio dentro de si, de¡xa-
do pela ausencia do Absoluto (que dá o sentido á vida humana, como ensina
Viktor Frankl ás pp.88-93 deste fascículo); esta ausencia, nenhuma criatura
(dinheiro, prazer, gloria...) a pode preencher. Um testemunho muito vivo desta
verdade é o caso da Rússia Soviética: o ateísmo e a zombaria dos valores reli
giosos lá se instalaram com grande aparato, tentando erradicar por completo
a fé dos coracSes; a experiencia, porém, resulta hoje malograda; o cidadao
soviético é um homem diminuido em sua überdade, empobrecido em sua
economia, menosprezado como pessoa e supreendentemente (apesar das es
colas de ateísmo por que passou) voltado para algo de novo ou para o Trans
cendente, que coincide com os tradicionais valores cristaos da Rússia. — F«-
nómeno semelhante, embora de proporcoes muito menores, se dá na Hungría
e na Polonia; a emigracSo dos cidadSos da Alemanha Oriental para o Ociden-

94
"UM HOMEM PERPLEXO" 47

te é outro síntoma do desgaste do ateísmo instaurado como cosmovisao


oficial.

2.2. Verifica-se que muitos e muitos homens no Ocidente, desi


ludidos das solucoes "científicas" e materialistas, procuram no mundo
transcendental a resposta para os seus anseios. É o que explica o surto e a
proliferacao de tantas e tantas correntes religiosas em nossos dias; sao exube
rantes, tocando o fundo dos sentimentos humanos e despertando o interesse
de multidSes; infelizmente, porém, estao desligadas do raciocinio; as emo-
c6es e a ¡maginacao ai preponderam sobre a lógica — o que redunda muitas
vezes em frustracao, explorapao financeira e maior desatino dos "devotos".
A proposta de solucSes mágicas é fácil e eloqüente, mas o cumprimento é
difícil, impossível,... decepcionante.

2.3. Ora é precisamente este contexto que aviva no fiel católico


a convicclo de que a eterna mensagem do Evangelho é, mais do que nunca,
atual; ela tem um papel importante a exercer em favor do homem insatisfei-
to, mas desbussolado, de nossos dias. É preciso apregoá-lo com parrhesia
(expressao paulina; ver 1Ts 2,2; 1Tm 3, 13; At 9, 27s), istoé, com liberda-
de, franqueza e destemor, em toda a sua pureza, sem Ihe tirar nada do que
Ihe é característico (inclusive a mensagem da Cruz salvífica). Foi essa men
sagem que transformou os homens do Imperio Romano em declínio e que
salvou do desespero os cidadaos cansados da filosofía pré-crista decadente.
Tal mensagem tem o vigor de Páscoa ou da vitória da Vida sobre a morte ou
da utopia que Deus concebeu para os homens;é a RESPOSTA perene para os
homens de todos os tempos.

2.4. É necessário, porém, que os arautos do Evangelho creiam


realmente nele; se alguém professa algo ou realiza urna atividade sem ter
confianca no que diz ou faz, desvirtúa ou sufoca a sua palavra ou o seu tra-
balho. — Nao faltam motivos ao fiel católico para crer inabalavelmente na
forca do Evangelho (cf. Rm 1, 16$); a vitória da Boa-Nova sobre o Imperio
Romano perseguidor outrora até 313, o fracasso do materialismo ateu em
nossos dias e o conseqüente surto de novas e novas afirmacSes religiosas ca
rentes de orientacio e luzes s3o o sinal mais eloqüente de que há um lugar
de escol para o Evangelho hoje e urna tarefa de importancia capital para
os católicos de nossos tempos. É mister, porém, que estes nao percam o seu
sabor e sua identidade típica; se os perderem, será*o os mais desgranados de
todos os homens e os responsáveis (em grande parte) pela inquietacao e a in-
felicidade dos contemporáneos: "Vos sois o sal da térra. Se o sal perder o
seu sabor, com que o salgaremos? Para nada mais serve senSo para ser langa-
do fora e pisado pelos homens... Brilhe a vossa luz diante dos homens para
que, vendo as vossas boas obras, glorifiquen-! o vosso Pai que está nos céus"
(Mt 5, 13.16). Estávab Bettencourt O.8.B.
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 333/1990

Livro em Estante
SugestSes Oportunas, por C. Torres Pastorino. - Ed. Vozes, Petrópo-
lis, 1989 (3a. edicSo). 90x130 mm, 174 pp.

O autor já escreveu "Minutos de Sabedoría", obra pan teísta da qual já


sairam mais de tres milhóes de exemplares, espalhados por todo o Brasil; ver
PR 271/1983, p. 524. O opúsculo "Sugestdes Oportunas", que agora apre-
sentamos, foi publicado pela "Livraria Espirita Brasil Central" com sede em
Brasilia, em favor do Sanatorio Espirita de Brasilia. - É estranho que a Edi
tora Vozes. tida como católica (embora já há muito tenha recusado este tí
tulo),1 edite tal obra de cunho panteísta (mais do que kardecista). Numa
linguagem simples e atraente, o autor instila proposicdes de filosofía pante-
ista misturadas com versículos do Novo Testamento e referencias a Jesús
Cristo,^ o leltor pouco iniciado em linguagem religiosa poderá absorver tais
sentencas como se fossem cristas, quando na verdade nao o sa"o: identifícam
a Divindade com o íntimo do homem. Eis alguns espécimens tfpicos do pen-
samento do autor:

"O próximo é a mesma substancia que nos, porque todos temos a mes-
ma centelha divina do mesmo Deus, que é a alma de tudo" (p. 44).

"Assim ñas criaturas a luz que netas existe, é a mesma, e todos somos
urna só luz, porque todos vivemos da mesma e na mesma substancia divina"
(p. 4).
"Inegavelmente toda boa obra provém de Deus, pois a inteligencia in
finita, vlvendo em nos, determina o impulso inicial, para a realizacao do
bem. Somos impulsionados para a conquista do bem pelo próprio Primum
Mover», que constituí nossa substancia íntima" (p. 121).
A submissSo é vontade divina ó "movimento ativo de sincronizacSo vi
bratoria, que nos coloca em freqüéncia harmónica com a ¡rradlacao divina.

Passamos entSo a reproducir os sons e as formas que déla chegam tal


como os aparelhos de radio e televisad: quando estio repetindo os sons e
imagens da estacSo transmissora, esses aparelhos nSo estio esclavizados á
fonte emlssora" (p. 51).

'Tudo é um, tudo é a mesma substancia, já que a única substancia


com realidade objetiva é Deus" (p. 45).

O autor entio pergunta: "Entáo somos Deus?". Responde que nSo,


pois "temos a centelha divina como o espelho tem a centelha do sol e a re
flete se está limpo" (p. 45).
(continua á p. 61)

1 Ver PR 280/1985. p. 268.

96
RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA PARA 1990
NCz$ 150,00

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO 1989:

Encadernado em percatina, 590 págs. com índice de 1989.


(Número limitado de exemplares) NCz$ 400,00

ACABA DE SAI R:

SAO BENTO E A PROFISSAO DE MONGE, por D. Joao Evangelista


Enout O.S.B. - 190 págs.

O genio, ou seja a santidade de um monge da Igreja latina do sáculo VI


(480-540) - SAO BENTO - transformou-o em exemplo vivo, em mestre e
em legislador de um estado de vida crista, empenhado na procura crescente
da face e da verdade de Deus, espelhada na trajetória de um viver humano
renascido do sangue redentor de Cristo. — Assim, o discípulo de S. Bento
ouve o chamado para fazer-se monge, para assumir a "profissao de monge".

Riquezas da Mensagem Crista, D. Cirilo Folch Gomes OSB (f),


2a. edicao.
"... A doutrina proposta pelo Autor é profunda e segura, e
muito ao dia quanto á problemática atual; a documentacao
é rica e bem dominada e a apresentacao clara e ordenada,
faz do livro ao mesmo tempo urna excelente obra de inicia-
cao á fé, de aprofundamento em seu estudo, e de meditacáo
sobre as riquezas da mensagem crista" (V.M. Leroy, na
"Revue Thomiste" 78, 1979, p. 350)." 690 págs. (23 x 16).
NCz$ 180,00

DIÁLOGO ECUMÉNICO: Timas controvertidos - 3a. edicáo, com acrésci-


mo de quatro capítulos - 304 páginas NCzS 90,00
Seu Autor, D. Estévao Bettencourt, considera os principáis pontos da clássi-
ca controversia entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a dis-
cussao no plano teológico perdeu muito de sua razffo de ser, pois nao raro,
versa mais sobre palavrás do que sobre conceitos ou proposicSes.
Cap. I O Catálogo bíblico: Livros canónicos e Libros apócrifos. - II Soman
te a Escritura? - III Somente a Fé? Nao as obras?- IV A Santíssima Trin-
dade: Fórmula paga? - V O Primado de Pedro - VI Eucaristía: Sacrificio
e Sacramento - Vil A ConfissSo dos pecados - VIII O Purgatorio - IX As
Indulgencias - X Maria, Virgem e Mae - XI Jesús teve irmaos? - XII O
Culto aos Santos - XIII E as imageñs sagradas? - XIV Alterado o Decálo
go? - XV Sábado ou Domingo? - XVI 666 (Ap 13,18) - XVII Vocé sabe
quando? - XVIII Seitas e espirito sectario - Apéndice geral: A era Constan-
tiniana - Epilogo - Bibliografía.

Atende-se pelo reembolso postal. (Prego sujeito a alterapSo).


EDigOES LUMEN CHRISTI

A 3? edicao em latim-
portugués, com anota-

REGR\
coes por 0. Joao
Enout. Acaba de apa
recer esta nova ¡mpres-

DE
sao, após varios anos
esgotada. A Regra que
Sao Sentó escreveu no

SAO sáculo VI continua


viva em todos os mos-

BENTO
teiros do nosso tem-
po, aos quais nao fal-
tam vocacoes para

monges e monjas.
LAT1M / PORTUGUÉS 210 págs.
NCz$ 100,00

O HUMILDE E NOBRE SERVICO DO MONGE, TRECHOS


ESCOLHI DOS das cartas aos Mosteiros da congregagao de Su
bí áco. D. Gabriel Brasó. Traduzido por Alceu Amoroso Lima
e suas filhas. 1983, 232 p NCzS 50.00
APOFTEGMAS, a sabedoria dos amigos monges do deserto.
Breves sentencas sobre a oracao e ascese. Traduzido e anota
do por D. Estévao Bettencourt. 1972 NCzS 40,00

HISTORIA:

OS MONGES BENEDITINOS NO BRASIL, esboco histórico.


Dom Joaquim Grangeiro de Luna OSB. 1947, 162 p NCzS 60,00
A ORDEM DE SAO BENTO NO BRASIL QUANDO PRO
VINCIA. (1582-1827), 240 p NCzS 91,00
FREÍ DOMINGOS DATRANSFIGURACÁO MACHADO.o
restaurador da Congregado. 1980 NCzS 78,00
HISTORIA DE SAO BENTO E SEU TEMPO, D. Alfredo Car-
deal Schuster. 468 p. 1956 NCzS 142,00
O MOSTEIRO DE SAO BENTO, Texto de D. Marcos Barbo
sa e desenhosem bico de pena por Bruno Pedrosa (Álbum) . NCzS 69,00

(Prego sujeito a alterapao)!

Você também pode gostar