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Carlos Gi 1 Arbiol

COLEÇÃO BIBLLA E H ISTÓRIA

• Cuho e comércio imperiai no apocaJip e de João - }. elson Kraybill


• Jesu exorci la: e tudo exegético e hermenêutico de M 3.20-30 -
lrineu }. Rabuske
• ~'l etodologi a de exegese bíblica - Cássio Murilo Dias da ili:a
• O projeto do êxodo - Matthias Cren::er
• O evangelho inótico : formação. redação, teologia - Benito Marconcini
• O rei refonnadore : cuJ to e ociedade no J udá do Primeiro Templo -
NA ORIGEM DO CRISTIANISMO
Richard H. ÚJwery
• Para compreender o livro do Gê ne i -Andrés lbaflez Arana
• Profeti mo e in tituição no c ristiani mo primi tivo - Guy Bonneau

i;RJE M AIOR
Biblioteca Padre Vaz

l ~H I~~ l l~llm ~I
• morte do Me ias: comentário das narrati vas da Paixão no quatro Evangelho
(2 vol .) - Raymond E. Brown 1

• njo e 1e ias: me iani mo judaico e origem da cri tologia - ú úgi chiava 20190075
• Entre o céu e a terra. comentário ao ·· m1ão da Montanha·· (M t 5-7) - Paulo na origem do cristianismo
Fram Zeilinger
• Fa ri e u . e c ribas e saduceu na ociedade pale tinen e -Antlwny aldarini
• introdução ao 1ovo Te lamento - Raymond E. Brown
• O nascimento do Me ias: comentário das narrativas da infânc ia no evangelho de
Mateu e Lucas - Ra)mond E. Brown
• Rei e fo ias em ísrael e no ntigo Orie nte Próximo - John Day (Org. )
• Re u c itado egundo as Escritura - Willibald Bol.sen
• Tobia e J udite - José VClchez Undez
• PauJo na origem do c ri tiani mo - Carlos Gil Arbiol tini nas
0 3dOS lnlernacionais de Cau.logação 03 Publicação (QP)
(Câmara Brasileira do ü vro, P, Brasil)

Cil Arh10L Carlos J.. 1970.


Paulo na origem do .-nstiani~mo I Carlos Cil Arb1ol : 1raduçilo Paulo
F. \ alúio. -São Paulo: PauLnas. 20 18. - (Blblia e hislónJL ~rie maior)

Tílulo original: Pablo en d nac1en1e cri!111amsmo


Bibliografia
1 e 978-85-356-4398-5

1. Cri.tianismo ·Origem 2. lp-eja • Hi.1ória 3. Paulo. Apóslolo. San10


1. Teologia 1. Tflulo li. ~rie.

18-14369 CD0-270.092

(odice pu• a!Jlogo lisiemático:


1. Paulo. Apóstolo : Cm tianismo : Origem : Hi516ria 270.09"2

T fl ulo original: Pablo en e/ nacienu cristianümo


Q Editorial Verbo Di•·ino, (Na••arra). Esp ai\a. 2015.

J •ed~ão- 201 8

Dife\"ão-geral: F/dr:io Reginatto


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C Pia Sociedade Filh.. de São Poulo - SOO Paulo. 2018
Sumário

Apresentação ................................................................................................................... 11
lntrodução ........................................................................................................................ 15

P1m1EJR \ Pl\RTE
Como e h ga mo a lé aqui ?

Capítulo 1 ·Como ler Paulo, hoje .................................................................................... 19


1. Perspectivas atuais nos escritos paulinos.................................................................. 20
2. Como ler Paulo hoje ................................................................................................. 35
Bibliografia .................................................................................................................. 39

EGL ~D . \ P,\RTE
Quai ão o a pe Lo centrai do tema?

Capítulo 2·A vocação de Paulo e a origem de sua vocação ........................................ 45


1. Ojudaísmo de Paulo ................................................................................................. 45
2. Os judeus messiânicos (helenistas) de Damasco ....................................................... 49
3. Encontro de Paulo com os helenistas de Damasco .................................................... 52
4. Cronologia ................................................................................................................ 59
Bibliografia .................................................................................................................. 60

Capítulo 3 ·A cosmovisão de Paulo ................................................................................ 63


1. Ojudaísmo de Paulo relido apartir de Damasco....................................................... 63
2. Anovidade teológica que amorte de Jesus traz para ojudaísmo ............................. 67
3. As consequências desta nova visão teológica para a identidade judaica ................... 78
4. Oolhar retrospectivo eprospectivo de Paulo ............................................................ 82
Bibliografia .................................................................................................................. 84
4. Paulo como modelo da Igreja no início do segundo século ..................................... 186
Capítulo 4 ·O início da ekklê5ia ....................................................................................... 87
Conclusão ................................................................................................................... 190
1. Apreparação de sua missão ..................................................................................... 88
Bibliografia ................................................................................................................ 191
2. Oinício da ekklêsia ................................................................................................... 94
Bibliografia ................................................................................................................ 103
QL i\RT\ Pi\H.TE
Para aprofundar
Capítulo 5 ·A identidade da ekklêsia ........................................................................... 105
1. Primeiros conflitos edesafios da ekklêsia ............................................................... 105 Capítulo 9·Relevância atual de Paulo e sua tradição ................................................ 195
2. Anova identidade na ekklêsia ................................................................................ 109 1.Oprojeto de Paulo no marco do judaísmo de seu tempo edo cristianismo nascente ....... 197
3. O"gênio" de Paulo .................................................................................................. 125 2. Arelação de Paulo eseu projeto com o Império eo mundo .................................... 201
4. Arelação da ekklêsia paulina com outros ............................................................... 127 3. Aestratégia da autoestigmatização e aimagem de Deus ....................................... 205
Bibliografia ................................................................................................................ 132 Bibliografia ................................................................................................................ 208

TER EIR PARTE


Bibliografia comentada ................................................................................................. 209
Que Lõe aberla ao debate a lua]

Capítulo 6·A pseudoepigrafia e ocorpus paulino ...................................................... 135


1. Aatividade literária na ekklêsia paulina ................................................................. 135
2. Arecopilação das cartas originais de Paulo ............................................................ 150
3. Onascimento do corpus paulino ............................................................................. 158
Bibliografia ................................................................................................................ 161

Capítulo 7 ·Paulo e a memória de Jesus ...................................................................... 163


1. Paulo eJesus em seu(s) tempo(s) ........................................................................... 164
2. Oconhecimento que Paulo teve de Jesus ............................................................... 169
3. Importância de Jesus na história de Paulo .............................................................. 173
Bibliografia ................................................................................................................ 175

Capítulo 8 ·A reconstrução de Paulo no cristianismo nascente ................................. 177


1. Os silêncios de Lucas sobre Paulo............................................................................ 177
2. As coincidências e as discrepâncias sobre Paulo em suas cartas enos Atos ............. 179
3. Areconstrução de Paulo......................................................................................... 182
Apresentação

Por mai que e tenha pe qui ado inquirido, e crito e debalido obre Paulo.
ua pes oa, sua formação, ua ideia , eu papel no cri tiani mo nascente e as
diversas interpretaçõe de eu e critos mulliplicam- e com incrírel velocidade.
Gil Arbiol, apó ano de inve ligação obre a figura paulina, oferece-no uma
obra um tanto diversa de outras com a quai e tamo babituado . Primeiramente,
ua obra integra uma pre tigio a coleção e panhola denominada Qué se sabe de.... "O
que e abe de...", pu blicada por Editorial Verbo Divino. O escopo de sa coleção é
oferecer Jjvro que de cortinem o e tudos bíblico e hi tórico-bíblico mai recente
a um público não especializado; portanto, trata-se de uma obra de divulgação que
erá útil tanto ao mai iniciado no e tudo bíblico quanto àqueles que de ejam
obter uma vi ão geraJ de como es e a sunto é compreendido no tempo atuais.
Em egundo lugar, Arbiol não e concentra em temas propriamente teológi-
cos de Paulo; eu objetivo é outro. Em eu livro, ele demon trará que a Igreja. tal
como se organizou a partir da de truição de Jeru além em 70 d.C., não era aquela
imaginada e pregada pelo apóstolo do gentio , como ficou conhecido. O projeto
hi tórico de Paulo era renovar o judaí mo, enxertando nele novo ramo não judai-
co . conforme exprime em Rrn 11,16-24. Algo, aliás, muito próximo ao pretendido
também por Jesus de azaré. No entanto, Paulo não logrou êxito com seu projeto.
Doi fatore foram determinante , egundo Arbiol: ''a progre iva e, às veze . trau-
mática penetração do crente em Cri to nas estruturas do Império [romano]. .. e
eu progre sivo distanciamento do judaísmo rabínico. muito meno pro elili ta que
durante o período helenístico". E e fatores, aliado à nece sidade de encontrar
uma identidade para o cri tiani mo, levaram o cri tão a recorrer ao escrito de
Paulo, mas não da maneira como e te teria pretendido.
O cri tiani mo urgirá, especialmente após o Edito de Te alônica por parte
do imperador Teodósio (380 d.C.), como uma nova religião, algo bem di lante daquilo
que de ejara Paulo. l so fará com que a obra paulina eja utilizada pelo cri tão ,
especialmente pelo Padres da Igreja. como antagoni la ao judaí mo: '·os cristão
criam na graça como condição de salvação e no indivíduo como ujeito receptor

11
Paulo na origem docristianismo Apresentação

des e dom divino inaJcançáve1 de outro modo: o judeus criam no e forço e no mérito Paulo é a paradoxal centralidade da cruz, do Crucificado, diante de outras imagen
próprios, as im como o povo de I rael como ujeilo coletivo do favore divino ". de Jesu (cf. Fl 2,6-8); a revelação ocupa lugar centraJ em sua "teologia"; f) utilizar
Lutero, com sua reforma. aprofundará e a per pectiva opondo ju tiça humana à outra abordagen além da teológica. como a histórica, a sociológica ele.
gratuidade da justiça divina. Nascerá, daí, uma opo ição: lei (Torá • judaf mo) e Ne e entido. o autor deste livro deixa claro que não adotará um ponto
Evangell1o (graça • cri tiani mo). Es a caricatura da teologia pauJjna redundará de vista doutrinal, mas afi rma que u ará · as perguntas e recurso conceituais do
em uma interpretação ridícula do judaísmo e bloqueará as con equências que essa método hi tórico-crítico e, sub idiariamente, de outras disciplina ( ociologia, an-
teologia poderia·ter para o próprio cri tianisrno. l o durou, con tala Arbiol, até tropologia cultural, p icologia...). incluindo a teológica, que no dará in trumenlo
os éculos XIX e XX. para de cobrir tanto as imagen de Deus que aparecem nas cartas de Paulo como
Portanto. este livro que agora chega às mão do estudio o brasileiro bus- a propo ta que Paulo faz ao leitor de seu tempo".
cará recolher as contribuições que foram dada pelas di ferentes formas de abordar Carí imo leitor, você tem em mão um livro que o re peita e bu ca forne-
Paulo e eu e crito : a ' per pectiva tradicional" (BAUR, WEBER, BOU SET. cer-lhe o instrumentos nece ários para ler e compreender Paulo em eu tempo,
B LTMAN , BOR KAMM et al.); a "nova perspectiva• (SA DER , D NN et em sua religião em suas a pirações e projeto . Obviamente, Paulo pode no dizer
al.): a "nova per pectiva radical" (STENDAHL, GA TON, THOM ON, A OS. muito nos tempo atuais, nos quai vivemos desorientados por uma globalização
TOWERS. EISE BAUM et ai.); a abordagem "pó -coloniaJ" (HORSLEY, GEOR- que provocou uma cri e nas identidades nacionais e étnicas, fazendo re surgir o
GI, KOE TER, FlORE ZA, ELLIOIT et ai.); e a abordagem levando em conta a apetite nacionali ta e tribali ta, bem como di tanciou o centros de deci ão do
ciência ociai , como a antropologia culturaJ~ a ociologia, a p icologia ociaJ ele. cidadão comun , que torna o poder algo mais ah trato e sem um rosto ma nem
(ELLJOTT. THEI EN, MEEK , ESLER et al.). egundo Arbio1, todas as forma por is o menos opressor e repre sor. Por is o, mais do que nunca, Paulo é bem-vindo
de abordagem trazem ua contribuição e ajudam, de um modo ou outro a melhor para no fazer compreender que a fé nasce do vazio de garantias e é a sensibili-
conhecer a pe oa, o pen amenlo e a atuação de Paulo. Contudo, o leitor de Paulo dade para de cobrir o entido de no sa existência. Deus é graça e dom a um povo
deverá empre escolher de qual per pectiva de ejarl interpretar o pensamento que bu ca fugir do mal para iniciar uma nova vida (BAGETTO, Luca. an Paolo:
paulino. Um lugar hermenêutico é fundamental, poi nã exi te leitura i enla de um l'interruzione della legge, 2018, p. 14).
determinado ponto de vi La, ou eja, com a preten ão de total objetividade. lnclu ive,
A A ociação Brasileira de Pesqui a Bíblica (ABIB) é honrada por poder
de laca Arbiol, "não há leituras inócuas; todas têm consequência , algumas mai
contar com a pre ença de Cario Gil Arbiol em eu VIII Congresso Internacional
que outra (e mai profunda )".
de Pe quisa Bíblica (27-30 de ago to de 2018, P C-Paraná, Curitiba), bem como
Por i o, Arbiol detecta ei critério que lhe parecem útei para alguém por promover a publicação desta ua primeira obra em nos o paí .
e ituar criticamente diante da hi tória da interpretação de Paulo: a) uperar a
oposição judaí mo-cri tiani mo, compreendendo melhor o judaísmo do tempo pau- ão Paulo, 8 de março de 2018
lino: b) situar Paulo em seu lugar, como alguém que intentava renovar o judaf mo e Dia lnternacionaJ da Mulher
não fundar uma nova religião; e) aceitar a ambiguidade e incoerências de Paulo, Pe. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo
afinaJ, o e crito dele ão " ituacionai .., dependem do contexto; d) h.ierarquizar Presidente da ABlB
as afirmaçõe , ideias e opçõe de PaLLlo; é bom recordar que as cartas paulina ão
apenas uma parte talvez nem a mais importante, de eu projeto mes iânico; por-
tanto, nem tudo aquilo que Paulo diz em uas cartas tem valor igual; e) enquadrar
os dado em uma visão teológica correta· taJvez aquilo que eja mai "originaJ" em

12 13
Introdução

Paulo de Tar o é uma das figura mai contraditórias, influente e arredias


da hi lória da humanidade; e uma das mai incompreendida . Ele leve papel in-
ub Liluível na origem do cri tiani mo. mas foi interpretado frequenlemenle como
um e pelho do preconceitos e de ejo de eus intérprete , que o apre entaram,
às veze , ou como o fundador do cri tiani mo ou como traidor do judaísmo; outra
veze , como revolucionárío romano; outra veze ainda, como grande pensador,
filó ofo ou teólogo; e outras mai . como um mi ógino digno de o tracismo. A maioria
dessa imagen e apoia em algum dado hjstórico. ma também deixa transparecer
pre supostos que apena permitem ver a complexidade e a riqueza, a genialidade
e a limitação. o êxito e o fraca o de alguém que onhou um mundo novo em um
tempo difícil.
Como e percebe no titulo. e te livro não e concentra na figura hj tórica de
Paulo, mas principalmente em sua contribujção para o momento conturbado que lhe
coube viver. Paulo foi um judeu de eu tempo que pretendeu restaurar o judaí mo
voltando a sua raízes, tal como o havia de coberto no paradoxal acontecimento da
morte de outro judeu. Je us de Nazaré. O entído que Paulo conferiu àquela morte
na cruz foi teológico: lahweh revelava- e de modo novo. E as consequência foram
políticas, ociai e religiosas (sem que se po am eparar umas da outra ): renovar
o judaí mo mediante a transformação das relações ociais e perante a imjnência
do final da história. No entanto, eu projeto, concretizado na criação da ekklêsia,
ofreu uma profunda tran formação depoi de ua morte, de modo que nem Israel
aceitou ua propo ta nem o tempo chegou a seu fim. E ta recon trução é o que
deu lugar, juntamente com outra érie de acontecimentos, à origem do cri Liaru mo
como religião.
Este livro pretende oferecer uma leitura hi toricamenle plau ível e teologi-
camente coerente da contribuição de Paulo para o surgimento do cri tianj mo, e da
tran formação de eu legado apó ua morte. Não di cute, portanto, alguns tema
que mereceriam atenção, ca o e tratasse de um livro somente obre ele. como
sua cristologia, por exemplo. O primeiro capítulo oferece uma visão de conjunto
das perspectivas e corrente que mais influenciaram na pesquisa hlstórica atual
15
Paulo na origem docristianismo

obre Paulo de Tarso. O quatro capítulo eguinte (2, 3, 4 e 5), agrupado ob


o lftuJo do aspecto centrais do tema, desenvolvem o projeto de Paulo, enraizado
em sua própria experiência religiosa e de dobrado em uma estratégia de criação de
assembleias de fiéis. Os três capítulos ub equentes (6, 7 e 8), dentro do parágrafo
de que tõe abertas, mostram o de envolvimento e a transformação daquele projeto
paulino, aparentemente fraca ado, mediante a recon trução de sua memória. de
ua imagem e de eus texto . Por fim, o dois último capítulos (9 e 10) oferecerem
reflexões sobre a importância atual de alguns temas desenvolvidos no livro, assim
como uma eleção bibliográfica comentada para aprofundar.

PRIMEIRA PARTE

Como chegamos até aqui?

16
Capítulo 1
Como ler Paulo, hoje

A figura de Paulo de Ta r o revela- e uma da mais paradoxai . atraente


e e quiva da hi tória da humanidade, não tanto pela personagem hi tórica, ma
pela leitura e interpreLaçõe que e fizeram dele, por eu eguidore e detra-
tore . que con truíram uma imagem caleido cópica de infinidade de core , mai
do que um retrato reconhecível. A eu re peito, Friedrich Nielz che e creveu que
era ·'uma das alma mai ambicio as e inoportunas. de mente tão upersticio a
quanto astula··, um homem ··muito atormentado e mi eráve~ tão de agradável para
o outro quanto para i me mo·'. O paradoxo de Paulo. tal como o capta Nietz che.
é que, de um lado. ·· em e ta hi tória ingular, em o de vario e arroubo de
uma cabeça emelhante. de uma alma a im. não existiria o cri tiani mo: apena
Leríamos tido noticias de uma pequena eita judia, cujo mestre morreu na cruz·'.
No entanto, continua. " e e tive e lido (Paulo]. e tive e ido realmente lido...,
há muito tempo leria de aparecido o cri tiani mo'· (Aurora, 68). A linguag m
exagerada de Nietz che não no d ve impedir de ver a porção de verdade que ua
leitura contém: Paulo teve um papel de monumental importância na origen do
cri tiani mo, ma foi lido dema iada veze como um espelho do preconceito e
do de ejo de eu intérprete .
Um do livro recente obre Paulo que a pira a er um manual de referência
(WESTERHOLM. 2011) abriga, em ua introdução, uma opinião extremi ta: que
a exege e histórico-crítica que dominou a interpretação bíblica no último éculo
e meio fi ndou por tornar irrelevante a Bíblia. de modo geral , e particularmente
Paulo. porque di tanciou da preocupaçõe do leitor o ignificado do texto . De te
diagnó tico deriva uma e pécie de retorno à preocupaçõe teológicas da leitura de
Paulo. perceptívei . como veremo , em diversas obras atuai . Entretanto, curio a-
menle, faz- e um diagnó tico radicalmente diferente a partir de in Lância meno
teológicas (MATE, 2006): no momento em que e regata Paulo do confinamento
dogmático no qual algun teólogo o enclau uraram. é pos ível de cobrir a impor-
tância de eu pen amento e de ua visão. De cobre- e tal influência na dimen ão
19
Pli!MeaA FW ·Como chegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje

filo ófica e política de ua luta para enconlrar a relação enlre a ju tiça e a lei, de teria feito do ano que e egufra!11 à ua morte. mas não resta dúvida de que a
ua bu ca da ho pitalidade e do uni\'ersali mo ele. De modo. muito recuperaram gradativa eparação entre o judaf mo rabíruco e o crentes em Cri to, juntamente
a relevância de Paulo também hoje. com o po terior urgimento do cri Liani mo como religião ante o judaí mo, está muito
di Lante de corre ponder ao onho de Paulo. É preciso bu car outro atore hi tó-
rico , muito ano depoi , para entender como e tran formou a memória de Paulo.
1. Perspectivas atuais nos escritos paulinos
Primeiramente Tertuliano de Cartago (160-220 d.C.) e, po leriormente,
No proce o de criação de identidade do que creem em Cri to que e 1ruc1ou
go Linho de Hipona (354-430 d.C.) a entaram as bases para uma leitura de Paulo
no fi m do éculo I de no a era, foi deci ivo o recurso à figura de Paulo. Quando
marcada por um antagoni mo: o cristão acreditavam na graça como condição de
este conjunto de fiéi uperou a cri e da e perada parú ia, que não chegou depoi
alvação e no indivíduo como ujeito receptor de e dom divino inalcançável de
do ano 70 d.C., começou a crescer exponencialmente e mudou radicalmente de
outro modo; os judeu acreditam no e forço e no mérito próprio , as im como no
e lratégia: de um conjunto de grupo de re i tência pa ou a er uma organização
povo de Israel como ujeito coletivo do favore ruvino . A djsputa de Ago tinho com
cada vez mai in Litucionalizada, que foi penelrando pouco e pouco nas estruturas
Pelágio, que defendja er po ível viver uma \rida em pecado porque as pe oa
do Império Romano, em um proces o de mútua influência, marcado pela acolhida
estavam dotadas de liberdade e de vontade. determinou para os éculo po teriores
e rejeição mútua .
a leitura hegemônica de Paulo, principal argumento de Ago tinho para defender
E ta ituação e viu afetada definitivamente por um fenômeno em grande que todas as pe oas ão pecadoras e que omenle Deus detem1ina quem é alvo
medida inverso: a deterioração da imagem do judeu depoi da duas guerra e quem não. A partir de e momento. Paulo foi lido como o apó tolo da graça que
perdidas (ano 67 e 135 d.C.) fez diminuir o número de pagãos intere ado no deu identidade ao cri Liaru mo diante do judaí mo que e apoiava em ua própria
e tilo de vida judajco. Ambo o proce o - a progre iva e à vezes traumática forças e e tava de tinado à perdição.
penetração do crente em Cri Lo na e !rutura do Império, de um lado, e eu
Quando Lutero entra em cena no éculo XVI, a ituação não havia mudado
di tanciamenlo gradual do judaísmo rabínico. muito meno pro el itista do que du-
muito. Sua leitura de Paulo, especialmente de algumas passagen como Rm 1,17
rante o período helenf lico, de outro - criaram uma ituação ab oluLamenLe nova,
("Oju to viverá pela fé"). permitiu-lhe e tabelecer um princípio básico: a graça de
que mudou para empre a configuração do mundo conhecido, e que as enLaria a
Deus é primeira, gratuita; a açõe boa vêm depoi , como consequência daquela,
ba e da con lrução da Europa ( AND. 2011). Em fin do éculo IV de no a era.
nunca como condjção para ganhá-la. E la interpretação leve em Lutero um forte
ambo o proce o e haviam concluído: com o Edito de Te a.Iônica, por parte de
componente biográfico. Parece-me bastante e clarecedor permitir que Lutero fale um
Teodó io (380 d.C.). confirma-se a nova religião. o cri tiani mo. única religião oficial
momento: no prólogo da erução latjna de uas obras completa escreveu o eguinle:
do Império. Durante e e ano , as interpretaçõe de Paulo foram fundamentai no
proces o de identificação da origem do cri tiani mo djante do judaí mo rabínico.
enli-me in Ligado por um e tranho desejo de conhecer Paulo na carta ao Ro-
Contudo. este não foi o propó iLo de Paulo, cujo projeto era renovar a árvore do mano ; minha dificuJdade radicava- e não no cerne. mas em uma só palavra que
judaí mo, enxertando nela novo- ramo não judaico (cf. Rm 11,16-24). Poderíamo se encontra no capítulo primeiro: "A ju tiça de Deu e-tá revelada nele". Odiava
dizer, portanto, que o cri lianj mo, como religião. foi. contrariamente à opinião maj a expressão ··ju liça divina". que empre havia aceitado. seguindo ou o e oco -
difu a, a con equência do fraca o do projeto hi tórico de Paulo, como veremo ao lume de todo o doutore . em um enlido filo ófico da chamada "ju tiça formal e
longo de ta página . Aqueles ramo de oliveira ilve lre enxertado na oliveira ativa". em virtude da quaJ Deu é justo e castiga o pecadores e inju to . Ape ar
cultivada para mo Lrar o projeto de Deu (uma árvore na qual haveria ramo de de minha vida monacal er irrepreen fvel. entia-me pecador diante de Deu , com
qualquer procedência). não lograran1 eu objetivo. 1 ão abemo que balanço Paulo a con ciência mai perturbada. e minhas satisfações revelavam- e incapaze de

20 21
PillMBF..1 pgft • Como chegamos até aqui?
Como ler Paulo, hoje

conferir-me a paz. 1ão o amava. ma dele lava cada \ez o Deu ju lo. ca tigador iniciativa de Deu . que pede urna aceitação sem condiçõe . Para defender e la
de pecadore . Indignava-me contra e e Deu . alim nlando ecrelamente e não leitura de Paulo com o brilhanti mo n e ário. preci ava- e de um pano de fundo
uma bla fêmia. pelo meno uma violenta murmuração (.. .). ob curo, de um contexto no qual contra tas e uficientemente: a im, cultivou- e
lé que. enfim, por piedade divina. e depoi de meditar noite e dia. percebi a no ambientes acadêmico cri tão uma vi ão implificada e di torcida do judaf mo.
concatenação das duas passagen : .. justiça d Deu ·e revela nele-...corúorme E ta leitura via o judaf mo como uma religião do passado e. talvez. do futuro,
e tá escrito: o ju to vive da fé... Comecei a dar-m conta de que a ju tiça de Deu ma não do pre ente. Para a teologia Liberal. Deu havia intervindo no pas ado atra-
não é outra enão aquela pela qual o ju lo vive o dom de Deu . ou seja. da fé, vé da muitas açõe com a quai tinha mo trado ao povo de I rael eu projeto de
e que o ignilicado da frase era o eguinle: por meio do E\1angelho e revela a alvação que e cumpriria em um futuro que ainda não havia chegado. O pre ente.
ju liça de Deu , i lo é, a ju Liça pas iva, em virtude da qual Deu mi ericordio o de acordo com e ta per pectiva, revelava- e um parênte e que ó tinha entido
no ju lifica pela fé. conforme e lá e crito: ..o ju lo vive da fé'·. enti-me, enlão, como uma e pera na qual Deu recompen ava a obra de ju Liça: a pe oa devia
um homem rena ciclo e vi que e me haviam aberto as comporta do paraf o. A alcançar a fidelidade de Deu e a e perança de e lar, no final, entre o eleito . E te
E critura inteira apareceu-me com aspecto novo (L TERO: EGIDO, 2001. p. 370). judaí mo hav; a ub tituído a piedad por um i tema legali ta de controle, fazendo
com que a vida cotidiana e tive e dominada por conceitos totalmente anacrônico
Este te temu nho mo Ira-no tanto a paixão de Lutero em ua interpretação que. longe de oferecer o que prometiam, redundavam ridículo . Adernai . dado que
de Paulo como a parcialidade com a qual o leu: a opo ição entre a impo ível toda a e perança dependia do cumprimento de cada crente. e toda pe oa fiel é
ju Liça humana (baseada no de cumprimento da Torá judaica) e a gratuila ju Liça falível e continuamente transgride o preceito de Deus. o único destino de quem
divina (oferecida no Evangelho d Cri to). Para Lutero, que ni to é devedor de uma punha ua esperança neste i tema religio o era a morte. Agindo a im. cada crente
tradição herdada a função da Torá lm ria ido temporal, até à vinda de Cri lo, que e convertia em uma ofen a ao próprio projeto de Deu . A conclu ão óbvia de ta
e tabeleceu o verdadeiro mecani mo de alvação: o Evangelho. De tarte. a contra- leitura era que o judaí mo é uma religião inferior, uma preparação para a religião
po ição entre lei (Torá) e Evangelho (graça) determinará a opo ição entre judaísmo e ab oluta, perfeita, que é o cri tiani mo.
cri tiani mo. Lnfeliz e urpreendentemenle, e la leitura de contextualizada de Paulo
Neste pano de fundo ob curo. a "per pectiva tradicional" permitia de tacar
tornou- e hegemônica até há muito pouco tempo e, entre outra con equências. fez
Paulo como um relâmpago na noite. Paulo de cobriu e mo trou em ua cartas
do judaí mo uma caricatura, wna religião ridícula e impo ível.
que a Torá (e. portanto. a obra de ju Liça) apena dão conhecimento do pecado,
da própria limitação da pe oa. E ta interpretação de Paulo ublinhava, além do
1.1. As perspedivas tradicionais esuas alternativas mai . que a Torá. em vez de alcançar a vida, conduz e. inclu ive. incita ao pecado,
A im chegamo ao éculo XIX e XX na hi lória da interpretação de Paulo. à tendência da pe oa ao mal e à morte. e ta ituação. Paulo afuma que omente
a qual e chegou a chamar de '"perspectiva tradicional,., defendida por autore como a fé em Cri to liberta de tal amarra. mo trando a vontade salvífica de Deu : a
Ferdinand Chri tian Baur, Ferdinand Weber. Wilhelm Bou sel. Rudolf Bultmann e ju tificação pela fé, pela confiança em ua ação redentora. Cri to oferece uma
Gunther Bornkamm. entre outro (cf. ZETIERHOLM , 2009). Bultmann propô - e. nova aliança no Evangelho que deixa antiquada e caduca a anterior. a da lei. E ta
no marco da teologia li beral da primeira metade do éculo XX, libertar a fé cri lã nova aliança permite o ace o a Deu de um povo que tran cende a fronteira de
de eu mito e milagres, de tudo aquilo que a tornava irracional e inaceitável para l rael. Trata- e de uma oferta de caráter universal. med iante a prorne a gratuita do
a compreensão liberal. Parte importante deste programa de "de mitologização., era Evangelho para todo . Portanto, Paulo aparece, ne la perspectiva, fora do judaf mo;
livrar- e da obra ju las como condição n ce ária para a alvação, de modo que ua propo ta do Evangelho mostrn- e como contrária à Torá. Paulo. o "convertido
fica e evidente, com toda a ua radicalidade. a "ju tificação pela fé". a gratuita do judaf mo'·. é o "fundador do cri Liani mo".

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PICME.IRA PARTI · Como chegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje
Mesmo que eu tenha feito uma apresentação simplificada, pois, obviamente, Como tenho confiado em tua bondade,
esta perspectiva oferece muito mais nuances, o leitor percebeu claramente o pro-
e esperado tua graça (hasadim),
blema fundamental desta leitura de Paulo: precisa defender uma visão negativa e
.,.. assim me libertaste de minhas calamidades
equivocada do judaísmo. Isto é o que desmoronou com o trabalho de um exegeta
que mudou o panorama dos estudos paulinos, dando início à chamada "nova pers- conforme tua misericórdia;
pectiva" (citada geralmente em inglês como "new perspective"). e em minha aflição me confortaste

Ed Parish Sanders estudou o judaísmo do tempo de Paulo e apresentou um porque me apoiei em tua misericórdia (GARCÍA MARTÍNEZ, 2000, p. 390).
resultado surpreendente (SANDERS, 1977): compreende-se melhor o judaísmo
Neste pano de fundo judaico, muito menos obscuro do que aquele mostrado
quando concebido como uma religião centrada na aliança, não na lei. A teologia
pela "perspectiva tradicional", a contribuição de Paulo também se mostra diferente.
da aliança permite acessar o núcleo da identidade judaica do tempo de Paulo:
Longe de descobrir o "fracasso" do judaísmo, Paulo compreendeu o tempo em que
Deus havia feito com seu povo uma aliança por iniciativa própria, gratuitamente.
vivia: o tempo final (eschaton, em grego). Os acontecin1entos vividos (a morte do
Ou seja, esta perspectiva mostrava que a aliança não era senão uma amostra da
Messias, assim corno sua exaltação à direita de Deus) faziam-no pensar que Deus
graça do Deus de Israel que havia decidido oferecer a um povo a salvação por pura
havia antecipado o final prometido para o tempo presente: Paulo estava vivendo o
misericórdia (hesed ou hasadim, em hebraico). Neste contexto, o cumprimento da
final da história. A tradição pós-exílica contida no Segundo e no Terceiro Isaías
Torá para um judeu era a resposta agradecida a Deus ao aceitar essa oferta gra-
(até os séculos VI e V a. C.) havia concebido o projeto de salvação de Deus como
tuita, misericordiosa. A lei, as obras de justiça, não obtinham nada para o crente
um projeto inclusivo ao qual estavam chamadas todas as nações no tempo final:
judeu, apenas o mantinham dentro da aliança que Deus oferecia gratuitamente,
'·As nações caminharão na tua luz, e os reis, no clarão do teu sol nascente. Ergue
por graça. Logicamente, esta perspectiva contava também com a possibilidade das
os olhos em torno e vê: todos eles se reúnem e vêm a ti. Teus filhos vêm de longe,
transgressões, falhas e injustiças; por isso mesmo, a lei incluía um sistema de sa-
tuas filhas são carregadas sobre as ancas ..." (Is 60,3-4). Visto que Paulo acreditava
crifícios que devolvia ao crente o caminho da aliança. Sanders citou uma multidão
que o tempo final se antecipara, a morte de Jesus devia significar a união de judeus
de textos do judaísmo do tempo de Paulo que provavam a centralidade da graça
e pagãos, a destruição das fronteiras entre uns e outros, a abertura das portas de
(Mekiltá Bahodesh 5-6.9; Mixná Berakot 2,2; lQM col. XI,3-5; lQH coLIV, 11-12;
Jerusalém para todos os que acreditaram na nova oferta. A lei, portanto, que havia
col. V,19-25; coL IX,7-33, etc.). Cito um dos hinos encontrados em uma coleção de
servido para conservar na aliança os judeus (e somente os judeus), fora superada por
Qumrã (lQH col. XIX,29-32):
um novo acontecimento: o Evangelho oferecido a todos por Cristo em sua morte. A
Torá, nesta visão de Paulo, era sinônimo de exclusivismo e etnocentrismo, situações
Bendito ejas,
abolidas com a morte de Cristo. A nova marca de identidade dos que aceitavam
ó Deus de misericórdia e compaixão, esta nova aliança não era a lei, mas a fé em Cristo (DU N, 2005).
pela força de teu poder
Esta "nova perspectiva" ofereceu, portanto, uma nova visão do Deus da
e pela grandeza de tua verdade. aliança, assim como da história da salvação, tal como se havia visto até então. A
e pela multidão de tua graça (hasadim) criação, a partir desta leitura, é percebida como um dom de Deus, que fez bem a
e por todas as tuas obras! terra e tudo o que ela contém ("muito bom", Gn 1,31). No entanto, apesar disso,
algo saiu errado, porque o ser humano não respondeu ao plano inicial e truncou a
Que se aJegre a alma de teu servo com tua verdade.
vontade de Deus, deixando à mostra sua tendência à desobediência {Gn 3). Deus,
limpa-me com tua justiça.
uma vez mais, gratuitamente, ofereceu a Abraão uma aliança que queria evitar esta
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PRiMeRA PWI ·Como chegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje

tendência da pe oa ao mal; entretanto, também de ta vez algo deu errado porque acima de tudo, Deu benruto pelo éculo " (Rm 9.4-5). E te autores e propõem
o povo eleito de obedeceu e não re pondeu à lei (Ex 32). Em vez de obediência à a ler o texto de Paulo obre a lei. buscando uma coerência com e la afirmaçõe .
lei, o povo utilizou-a como motivo de orgulho, de elitismo. de separação do restante A ideia-chave de la perspectiva é que Paulo continuou pen ando toda a vida
dos povos: foi idolatrada. Perante e te novo erro, Deu decidiu intervir gratujtamente que a Torá conduzia à ju tificação todo aquele que e mantinham oba aliança.
outra vez, de ta feita de modo definitivo, e e·crever o último capítulo da história todo o circuncidado . Como o pagão não estavam dentro da aliança, Paulo
na morte e res urreição de Je us, renovando a aliança de modo inclu ivo, sem ne- ru rigiu- e a ele para oferecer-lhe um caminho alternativo de alvação. 1o entan-
nhuma condição étnica que eparasse judeus de pagão . A partir desta leitura, a to, não podia pedir-lhe o cumprimento da lei (a não er que e circuncidas em),
contribujção paulina pode erre umida como a redefin ição da identidade judaica porque Deu a havia dado omenle para eu povo eleito (Rm 3,19). ao pa o que
e da eleição em torno de um novo critério: Cri to, a fé nele (WRlGHT, 2005). para o demai se convertia em instrumento de condenação (Rm 9.22-23): i to é o
Embora eja verdade que esta ·'nova perspectiva" e tenha generalizado e que, egundo e la perspectiva. Paulo chama ' as obra da lei' que levam à morte
estendido obre a leitura tradicional. ela merece dua considerações. Em primeiro (Rm 3.20). Portanto, Paulo criou uma alternativa para o pagão (a ju Lificação
lugar, e ta nova Leitura de Paulo provocou certa reação em algun exegetas que e pela fé), e omente para ele , vi lo que o judeu já tinham o modo de alvar- e
reafumam na leitura traruciona l, oferecendo dela vi ões renovada (por exemplo: (con ervando- e no cumprimento da lei). De e modo, Paulo entende que Cristo
GATHERCOLE, 2002). Em egundo lugar, e la vi ão não acaba de livrar- e de ofereceu, egundo e la leitura, uma olução para o dilema do pagão : o judeu
determinado preconceito are peito do judaísmo que, na opinião de muüo estu- tinham a lei e o pagão , a fé em Cri to.
ruoso ' continua padecendo de uma visão dominada pelos pressupostos cristão . E ta "nova per pectiva radical" entende que Paulo permaneceu dentro do
Precisamente por i o, urgiu uma per pectiva que quer corrigir esta limi- judaf mo de eu tempo e que rurigiu ua mi ão omenle aos pagãos. Por con e-
tação. a chamada ' nova perspectiva radical" (citada em inglê como "radical new gujnte. é preciso entender eu texto como dirigido a estes, e não a judeus; nada
per pective"). Boa parte do promotore de ta leitura de Paulo (não todo , porém) do texto de Paulo deveria afetar, poi , o modo de compreender o judaí mo de
provém de tradiçõe judajca (Krister tendahl, Lloyd Gaston, Peter J. Thom on. eu tempo, que, con oante e ta per pectiva, não oferece nenhum problema para
Mark D. Nano . Stanley K. Stowers, Pamela Ei enbaum). o que explica a ensibi- ele. De a maneira, Paulo aceitou sem problemas os judeus crente em Cristo,
lidade para corrigir os preconceitos mencionados e, como direi em seguida, talvez oh ervante da lei; eu problema era esclarecer o lugar do crentes em Cri to não
também a tendência a fazer leituras paulina condicionada por vi õe moderna judeu dentro de I rael.
do judaí mo (em e panhol e podem ler EI ENBA M, 2014, e EGOVIA, 2013).
E te ponto é o que apre enta mai dificuldades em uma leitura crítica de ta
O ponto de partida para compreender esta leitura é colocado, geralmente, em per pectiva, uma vez que Paulo parece enfatizar a adoção dos batizados como fi lhos
alguns textos de Paulo nos quais ele afuma categoricamente a vigência e a vai idade de Abraão (Gl 3) e o enxerto do ramo pagãos no tronco de Israel (Rm 11). 1 to
da Torá e nos quais valoriza a perspectiva judaica da aliança com grande apreço: obrigaria a uma reflexão profunda obre o alcance destas in1agens na cosmovisão
"Que vantagem há então em er judeu? E qual a utilidade da circuncisão? Muita e de Paulo: é po ível afirmar que Paulo não modificou o mecani mo de manuten-
de todo os ponto de vi ta. Em primeiro lugar, porque foi a ele que foram confiado ção na aliança para o judeus, quando a identidade de 1 rael é transformada tão
os oráculos de Deus" {Rm 3,1-2); "Então eJjmi namos a Lei através da fé? De modo profundamente (tornando os pagão filho de Abraão)? E ta perspectiva tende a
algum! Pelo contrário, a con olidamos" (Rm 3.31): "De modo que a Lei é anta e ignorar ou omitir aquele textos no quai Paulo fala da justificação pela fé: neles,
anlo, justo e bom é o preceito" (Rm 7,12); "São o israelitas, ao quais pertencem sistematicamente, Paulo rurige- e a judeus e pagãos: 'Agora, porém, independen-
a adoção filial, a glória, a aliança , a legi lação, o culto a promes a , ao quai temente da Lei, se manifestou a justiça de Deu , te temunhada pela Lei e pelos
pertencem o patriarcas, e do quais descende o Cristo, segundo a carne, que é, Profetas, ju tiça de Deus que opera pela fé em Jesu Cri to, em favor de todos o

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PR:NIJRA PAR!l ·Comochegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje

que creem - pois não há diferença, visto que todos pecaram e todos estão privado para formar uma coleção de "textos completo de Paulo". Re peitar a ambiguidade
da glória de Deus" (Rm 3,21-22); "pois há um só Deus, que justificará os circun- (e. inclu ive. a arbitrariedade). que alguns ociólogos e historiadores explicaram
cisos pela fé e também os incircuncisos através da fé" (Rm 3,30). No pen amento como parle do carisma de certos líderes, é requi ito fundamental para evitar ana-
de Paulo, não parecem caber dois mecanismos de justificação ou dua aliança : cron ismos. exageros ou apologia suti .
circunci os e incircuncisos são justificados do mesmo modo. 4. Hierarquizar as afirmações, ideias e opçõe de Paulo. Talvez por uma
Em minha opinião, poder-se-iam fazer algumas considerações em torno leitura excessivamente apres ada ou preocupada com atualizar a cartas de Paulo,
destas três perspectivas em seu conjunto; cada uma, separadamente, contribuiu, às vezes com um interesse moralizador, tomaram- e as cartas de Paulo como um
por certo, para melhor conhecimento de Paulo, destacando aspectos de enorme compêndio de princípio apienciais, eclesiológicos ou político , descuidando-se
valor; por outro lado, porém, também mostram limitações que favoreceram visões o contexto literário e ócio-hi tórico no qual e encontravam. Em minha opinião,
parciais, distorcidas ou exageradas de alguns aspectos das cartas de Paulo. Talvez re ulta muito saudável lembrar que as cartas de Paulo são apenas uma parte (tal-
se possam extrair de tudo quanto foi dito até agora alguns critérios que permitam vez não a mais importante) de seu projeto messiânico; Paulo acre centava-lhes sua
ao leitor situar-se criticamente diante da tarefa de compreender o projeto de Paulo e presença pessoal, a de seus colaboradores enviados, o conhecimento em primeira
interpretar melhor seus textos. A seguir, enumero os seis critérios que me parecem mão da situação de seus destinatários. a estratégia dos lídere locais etc. em tudo
mais úteis para situar-se criticamente diante da história da intepretação de Paulo: o que Paulo diz em suas cartas tem o mesmo peso, nem tudo tem o mesmo valor:
1. Superar a oposição judaísmo-cristianismo. Este tem sido (e continua sendo) há afirmações imprescindíveis que servem de sustento a todo o arcabouço de seu
o ponto de partida e o horizonte em muitos estudos de Paulo: mostrar a distância pensamento e missão, assim como outras menores, muito limitadas a determinadas
entre judaísmo e cristianismo (o valor do segundo acima do primeiro) ou, com outras circunstâncias particulares ou que se chocam com aquelas, e que devemos matizar,
palavras, desligando Paulo de seu contexto original. É preciso rigor e respeito às e clarecer ou atualizar. Não devemos absolutizar o texto para compreender o projeto
fontes, evitando que os preconceitos (sejam eles indignos ou louváveis) condicionem e a missão de Paulo; é fundamental referi-lo a seu contexto e a sua vida.
o resultado. Devolver à Torá seu lugar no judaísmo do tempo de Paulo e apresentar 5. Situar os dados em uma visão teológica correta. As três perspectivas
uma visão rigorosa da chamada "História sagrada" são condições fundamentais que vimos {tradicional, nova e radical) convivem atualmente nos estudos sobre
para não forçar nossa compreensão de Paulo. Paulo; não é difícil encontrar representantes das três nas estantes de novidades
2. Situar Paulo em seu lugar. Os estudos recentes sobre a figura histórica de de livrarias especializadas. As três enquadram-se entre as abordagens teológicas
Jesus têm dado como resultado, entre outros, a recuperação do projeto histórico de que estudam Paulo procurando descobrir sua originalidade teológica, seja esta a
Jesus no marco do judaísmo de seu tempo, como um projeto de renovação intrajudaico "justificação pela fé", a "nova aliança", o "lugar da lei no novo Israel'', ou o ' vi-
(AGUIRRE et al., 2009). Nesse mesmo contexto, salvando as diferenças, devemos ver em Cristo". Como veremos posteriormente, não é fácil responder à pergunta
situar Paulo: seu projeto nasce como uma tentativa de renovar o judaísmo, de dar a acerca da "originalidade teológica" de Paulo, supondo-se que exista uma resposta
Israel toda a dimensão que adquire, aos olhos de Paulo, depois do acontecimento satisfatória para tal pergunta. Em todo caso, como desenvolverei nos capítulos
histórico de Jesus. subsequentes, creio que essa busca deve levar em conta a paradoxal centralidade
3. Aceitar a ambiguidade e imprecisão de Paulo. Um dos erros mais comuns da cruz, do Crucificado, ante outras imagens de Jesus (Fl 2,6-8) e, portanto, creio
na hora de estudar Paulo é querer fazer com que seu pensamento e seu projeto que se deve buscar a "novidade teológica" de Paulo na imagem de Deus que ele
sejam lógicos e coerentes conforme os parâmetros do pesquisador. No entanto, suas descobre na cruz (2Cor 3,12-4,6). A "teologia de Paulo", se se pode falar de tal
cartas não têm essa pretensão: são "cartas de situação", escritas a destinatários coisa, deve estar marcada pela centralidade da ' revelação" (apocalypsis) de Deus e
diferentes, em situações diversas, sem a ambição de que um dia fossem reunidas de sua atuação na história, que se explica como reconciliação gratuita (2Cor 5,19),

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PJlwap..1 M E· Como chegamos atêaqui? Como ler Paulo, hoje
não como reconciliação expiatória. e te me mo entido. dever- e-á entender seu cultura é mi lura de tradições e de que não existem cultura ou povo pw·o . O
projeto ele "con trução da ekk/,êsia" (!Cor 14,4), bem como a urgência e catológica ca o é que esta reflexões trouxeram uma conclu ão de concertante: a Bíblia foi
e sua cosmovi ão apocalíptica, que conferiram a e~ e projeto uma radical novidade utilizada como instrumento de colonização e de dominação; fora u ada como arma
ru tórica (Gl 3,28). ralaremo a re peito de tudo is o mai adiante. contra todo "pagani mo'', como ferramenta da "mi ão cri tã" que entendeu e ta
6. Recorrer a outra análi e (históricas, ociai ...), além da teológica. Uma mis ão, ao meno em parte, como contribuição à "civilização" do "Oriente".
leitura atualizada e justa de Paulo não pode limitar-se, como fazem preferente- Diante de te diagnóstico, urge a leitura pó -colonial que bu ca atingir
mente a três per pectiva dominantes hoje, ao aspecto teológico . É importante vário objetivo : em primeiro lugar, pretende de construir leitura , ideologias,
uperar as vi õe luteranas e antiluteranas, as perspectivas novas, tradicionais ou prática , ímbolos etc., dominante na cultura (talvez seja neces ário esclarecer
radicais que impeçam de cobrir outros aspecto igualmente importante de Paulo que "desconstruir" não é "destruir", mas desmontar cognitivamente os elementos
de Tarso. de sua mis ão, de ua maneira de er no mundo, de eu projeto, de seu que contribuíram para a aceitação acrítica daquelas ideologias, a fim de estudar
diálogo cultural, de ua forma de enfrentar problema cotidianos, de sua relação po ibilidades inéditas); em segundo lugar, lenta deslegitimar a relaçõe de
com o dinheiro, com a minorias ociai , com a natureza, com o poder e a autori- poder entre dominadores e dominado e, a im, tratar o dominado como ujei-
dade etc. Entre e tas novas abordagens, é oportuno destacar dua : a pó -colonial, Lo hi tórico , capaze de oferecer a própria voz ao proces os de con trução da
que inclui contribuiçõe da perspectiva de gênero ou da filosófica, e a abordagem ociedade; em terceiro lugar, procura rejeitar todos o dualismo ou "binari mo "
ociocienúfica, que inclui várias di ciplinas. Vejamos alguns traços. po sibilidades que estabelecem fronteiras artificiais entre o de dentro e o de fora, e resguardar
e limite de ambas as abordagen . a hibridação ou eja, defender as realidade múltiplas, complexas, que contêm
empre muitas outras possibilidades e virtualidades do que as que os instrumentos
1.l. Aabordagem pós-colonial de controle estabelecem; em quarto lugar, além dessas técnicas de deslegitimação
e de de con trução, de eja também oferecer e tratégias de libertação do povo
A abordagem pó -colonial itua-se no fim da época colonial e HO início de colonizado , favorecendo alianças entre grupo diferente ou opo to e reabilitando
uma reflexão que upere a consequências fatais que deixou na bistória. Acade- origen de legitimada ou marginalizada ; e em quinto lugar, à guisa de projeto
micamente, tem ua origem em uma obra já clás ica de Edward aid ( AID 1990; profilático, a pira a elaborar um discurso de resi tência contra todo imperiali mo.,
original inglês de 1978), na qual, baseando- e nos trabalho de Michel Foucault eja do passado (que deixou vesúgio no presente), eja do futuro. Todo estes
obre o poder, sua legitimação e a construção do "outro", mo trava como o Ocidente objetivo cri talizam frequentemente a criação de uma linguagem coerente com
elaborou uma imagem do "Oriente'' determinada pelo princípio de dominação (deve e te princípio que permita compreender adequadamente conceito e termos como
haver alguém que imponha ua autoridade e alguém que e submeta para que o ·'império' "raça" e "etnicidade", "diáspora ', "marginalidade ' ou "hibridação" ele.
equilíbrio e mantenha). Para uperar esta ideia da dependência, Homi Bhabha (cf. STA LEY, 2011).
elaborou. em 1985. um trabalho obre os mecanismo que determinam a relação No estudo sobre Paulo de Tarso, tal abordagem está sendo utilizada a
entre o colonizado e o colonizador, e mostrou que e ta relação não é omente de partir de duas perspectivas diferentes, ainda que não excludentes. A primeira
dominado e dominador, mas está marcada por três características: em primeiro lugar, busca recuperar as chaves paulinas de determinada posição diante do Império
a ambivalência ou eja, a relaçõe entre colonizado e colonizador são marcadas, Romano, ou seja, pergunta-se como Paulo agiu perante o Império e como resi tiu
imultaneamente, pela atração e pela repulsa, pela re i tência e pela cumplicida- (ou desafiou) às uas intenções de a imilá-lo culturalmente e como con eguiu
de; em segundo lugar, o mimeti mo, isto é, o colonizado tende a intemalizar e a manter uma identidade que abriu caminho ao oferecer uma alternativa que e pode
replicar a cultura do colonizador, mesmo que frequentemente inclua a zombaria; recuperar hoje. Esta primeira corrente tem em Richard Horsley seu representante
e, em terceiro lugar. a hibridação ou me tiçagem isto é, a convicção de que toda mais famo o (HORSLEY, 1997), embora po sarno citar também Dieter Georgi,
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PRLIW PAm • Como chegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje

Helmut Koe ter. Elisabeht chü ler Fiorenza (e la última, por sua vez, faz uma maneira. concluem o eguidore de ta abordagem. nem Paulo d ixou o Império
leitura crítica desta perspectiva) etc. Todo eles, de um modo ou de outro, deixaram como o encontrou. nem vice-versa. E La perspectiva mai matizada evita projetar
em evidência a limitação do enfoque tradicionai ("perspectiva tradicional" ou em Paulo a imagem de um rebelde moderno ou a que o próprio exegeta quer dele.
"nova perspectiva") e pleitearam di tanciar- e do debate agostino-luterano. a fim que podem ser leitura utilmenle apologética de Paulo. para torná-lo atual e re-
de uperar o duali mo judaísmo-cri tiani mo que dominou a leitura teológica de levante. Entretanto. também mo tra que. combinando todo o fato de ubmi ão.
Paulo e deslocar o foco de atenção para o Império. De e modo. mo traram que aceitação. adaptação e con trução alternativa de e paço noro . o texto de Paulo
alguns conceito paulinos, estudados a partir do ponto de vi la exclu ivamente adquirem uma luz nova, que ilumina ituaçõe pa ada e pre ente .
teológico, mostram- e como empréstimos culturais que têm origem na teologia
imperial (Evangelho, cruz, salvação, senhorio, parúsia, ekklêsia etc.). 1.3. Aabordagem apartirdas ciências sociais
A segunda per pectiva as ume o objetivos da abordagem pós-colonial para Ao lado de ta perspectiva pó -colonial, go Laria de mencionar brevemente a
ituar- e em um contexto hermenêutico de comunidades atualmente marginalizada abordagem a partir das ciência ociai (antropologia cultural. ociologia. p icologia
ou que se encontram sob o poder colonizador, com o fito de oferecer resistência ao ocial etc.), vi to que produziu, como a anterior, notáveis fruto que ajudaram a
domínio cios novo impérios; em outras palavra , defende um deslocamento decidido captar melhor dua dimensõe das cartas de Pau lo.
a partir do enfoque hi tórico-crftico até o hermenêutico. O lema que orienta e ta De um lado, a abordagem a partir das ciência ociai mo lrou com mai cla-
interpretação poderia er este: para que Paulo seja libertador, é preci o libertá-lo reza o mundo social em que na ceram estes texto , bem como a inter-relação que seu
de seu enclau uramento na antidade (ELLIOTT, 1994). O melhor contexto para autores e leitor originai tinham com ele. A carta de Paulo foram crita como
ler Paulo é, portanto, o geopolítico, aquele que parte de determi nada realidade: o lexto de ituação. i to é, como respo Las concretas às circunstâncias de determinado
aumento da distância entre ricos e pobres, a guerras políticas (amiúde legitimadas de tinalários que vivem problemas e pecffico , que e faziam pergunta particu-
religiosamente), as políticas imperiali tas dos paf es podero os, as relações de poder lare , que tinham, enfi m, nece idade própria . Diante de a ituação particular.
e de dominação (de pes oas, pafse , culturas ele.). Portanto, esta abordagem lê PauJo cada carta de Paulo está de enhada para enfrentar tais neces idade . pergunta e
de construindo leituras coloniai , mostrando as interpretações que justificaram a problemas peculiare , e oferece respo la a e a ituação, e não a outra (ELLIOT,
opressão de determinado grupo humano e buscando estratégias de resistência 1995, p. 11-56). Para compreender e ta per pectiva, foram e pecialmenle útei o
aos novos impérios (SCOTT, 2003; original inglês de 1990). trabalho hi tórico e ociai que revelaram o contexto e as circun Lância no quai
No entanto, os teórico da abordagem pó -colonial (SUGIRTHA RAJAH, e iniciaram e e desenvolveram o grupo que Paulo formou em alguma cidade
da co ta norte do Mediterrâneo (THEI E l, 1985). Foram de utilidade e pecial
2009) ublinharam um aspecto que estas perspectivas mencionadas ocasionalmente
o estudos obre in tituiçõe e e !rutu ra do Império Romano (a ca a/família, a
esqueceram: a hibridação (ou me tiçagem). Tal como vimos antes, colonizados e
associações voluntárias, o culto mi térico . a organização da inagoga na diáspora,
colonizadores tendem a misturar suas visõe e legitimações, de modo que fica difícil
o culto ao imperador etc.), bem como o e tudo obre valore , prática e crença
estabelecer uma linha divisória. No caso de Paulo, i lo igni.fica que também ele teve
domi nante na área do Mediterrâneo (honra e vergonha, sacrifício , relação patrão
de compartilhar tal ambiguidade: nenhuma po tura nem opção de Paulo é somente
e cliente, personalidade corporativa ele.). Tudo i o permitiu interpretar a carta
anti-imperial e pró-imperial : dá-se uma combinação de re i tência e submissão {ou
de Paulo em seu contexto original e evitar a leitura anacrônicas (MEEK , 1988).
inculturação), um proce o de criação de uma identidade "intermediária" (lúbrida-
ção) que, no entanto, pode alterar o statu quo. Esta mestiçagem situa Paulo entre Por outro Lado, a abordagem das ciências ociai pennitiu compreender me-
a opre ão e a oportunidade (e aí se cria uma transformação mútua), permitindo lhor a função que tiveram as carta de Paulo (a sim como ua viagens e vi itas, o
que tanto colonizado quanto colonizador po am gerar novas realidades. De a envio de colaboradores, a coleta etc.) no proce o de con trução do mundo ocial a

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P~MW ~ ·Como chegamos até aqui? Como ler Paulo, hoje

que pertencem o autor e os destinatários originais. Um dos objetivos da missão de 2. Como ler Paulo hoje
Paulo, quando não o mais importante do ponto de vista sociológico, foi elaborar uma
Diante deste panorama plural e complicado, cabe perguntar-no como
identidade coerente. unificada e satisfatória para aqueles que faziam parte dos grupo
podemos ler hoje os texto cuja paternidade paulina (real ou suposta) remonta ao
que criou; i to upôs um processo de desconstrução parcial das identidades passadas
primeiro século de nossa era, um tempo e um lugar que não no são absolutamente
e de construção de uma nova identidade que integrasse a pluralidade em uma visão
familiares. Todas as perspectivas e abordagens que vimos nas páginas anteriores
de conjunto coerente. Do mesmo modo que, hoje. se pode observar o processo de
oferecem pistas e dados úteis, assim como limitações. O leitor deve e colher uma
desmoronamento da identidade de pessoas em crise, que vivem conflitos de vários
perspectiva, um lugar hermenêutico, porque não se pode interpretar levando-se em
tipos, também acontecia (po to que de modo diferente) que muitos dos destinatários
conta todas as perspectivas. Esta pode ser a primeira consequência importante do
das cartas de Paulo tinham sua valorização pessoal e grupal sob séria ameaça, geran-
que foi dito até agora: todo leitor é responsável por e colher o ponto de vista sob o
do-se mecanismo de segregação e marginalização. Paulo não era ignorante de tudo
qual ler as cartas de Paulo. Geralmente, esta tarefa é feita inconscientemente, mas
isso, e se pode descobrir em suas cartas e tratégias de construção de identidades
empre se faz: todo exegeta, intérprete ou leitor adota um ponto de vista, um lugar
pessoais satisfatórias que buscavam elevar a própria valorização de cada indivíduo
a partir do qual interpretar Paulo; não se pode não fazer (e quem acredita não optar
(aos olhos de Deus e dos demais) e eliminar ten ões internas e externas, mitigar por nenhum lugar hermenêutico, que é totalmente objetivo, adota acriticamente o
confrontos, refazer relações mediante a proposta de uma identidade corporativa ponto de vista hegemônico em seu contexto). Por isso, ao longo da história, houve e
capaz de integrar a diferença em uma visão sublimada do grupo (ESLER, 2006). haverá tantas leituras diferentes de Paulo. Isto significa que só é válido um ponto
São duas perspectiva diferentes que o leitor atual pode adotar ao usar as de vista? Não o creio, tampouco. Contudo, este debate, geralmente em âmbitos
ciências ociais para interpretar os textos; ambas têm ferramentas e metodologias eclesiásticos e não limitado a Paulo, mas abrangendo toda a Bíblia, deu ensejo a
diversas, mas podem ser úteis na medida em que se ajustem ao objeto de estudo e acalorados confrontos e a poucas conclusões.
respeitem sua idiossincrasia. Uma das críticas que se têm feito a esta abordagem é Uma segunda consequência do que foi visto nas páginas anteriores é que
o perigo de projetar no texto esquemas mentais, teorias ou ideias próprias do intér- não há leituras inócuas; todas têm consequências, algumas mais que outras (e
prete moderno, que são alheais ao objeto de estudo. o entanto, o risco de forçar o mais profundas). Embora a objetividade do estudioso seja desejável acima de todo
texto para que se encaixe no modelo do intérprete é comum a todas as abordagens, posicionamento ideológico, sabemos que isto é impossível (PESCE, 2011, p. 25-29).
inclusive as mais tradicionais, como a teológica (que por vezes constrangeu o sentido Por isso, é crucial o ponto de vista que alguém adota, o horizonte hermenêutico em
dos textos de acordo com a visão teológica pessoal do intérprete) ou a literária (que que se situa; este exercício não está desprovido de responsabilidade ética. Não é a
fragmentou ou manipulou ocasionalmente as cartas para que se inserissem no mo- mesma coisa ler os textos paulinos a partir da comodidade de uma poltrona de um
delo de evolução de fontes e de tradições que se pressupõem nelas). Não obstante, gabinete de universidade ou de uma empresa, e lê-los no penoso solo de um campo
convém levar em conta este perigo, e o melhor modo de evitá-lo é interpretar as de refugiados ou sob a ameaça de condenação ou marginalização por ser diferente.
cartas de Paulo fazendo um esforço prévio para explicitar os pressupostos com os No primeiro caso, lê-se Paulo pensando que a explicação vai ser lida por colegas
quais são lidas, o lugar social e histórico a partir do qual são interpretadas, o ho- que examinarão a qualidade do texto, a exatidão da tenninologia, a amplitude das
rizonte hermenêutico e o objetivo ou fim a que tal leitura serve. Levando em conta citações e referências bibliográficas ou a justificação dos argumentos. Isto é per-
essa limitação, a abordagem das ciências sociais permitiu descobrir a importância feitamente legítimo e produz um tipo de resultado. No segundo caso, lê-se Paulo
atual de textos antigos que mostram uma grande capacidade de adaptação a um pensando que a explicação que se faz de seus textos vai ser lida por pes oas que
ambiente complexo, enquanto trazem a própria visão da realidade e sua proposta experimentaram o abuso e a opressão (legitimada, às vezes, com textos paulinos}
de um mundo melhor. e buscam libertar-se de estigmas e recuperar a dignidade e a identidade; ou por
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PDalRAPAi!I ·Como chegamos atéaqui? Como lerPaulo, hoje

pe oas que lutam pela ju Liça e que examinarão as po sibilidade de sua carta Cri lo, o que dá ideia de eu valor como testemunho do nascimento de algumas
para erem criativas e pen ar novamente a realidade bu cando po ibilidade comunidade urbanas no ocidente da Palestina. Excetuando- e a Carta aos Hebreus,
inéditas; ou por fiéi que bu cam um ro to crível de Deus, me mo sabendo que a que já ninguém considera paulina, as outras 13 se dividem em uma margem de
verdade empre se encontra mais além. Isto, também, é perfeitamente legílimo e aproximadamente 80 ano da eguinte maneira:
produz outro Lipo de re ullado.
Aqui é onde o leitor de Paulo, não omente o autor deste Livro, ma todo a. Carta originais de PauJo: lTs, Gl, lCor, 2Cor, Fl, Fm e Rm,
leitor de Paulo. tem uma pa lavra inescapável. uma responsabilidade élica; deve escritas na década dos anos cinquenta do primeiro sécuJo.
perguntar- e: quais ão as con equência e efeito de minha leitura? Inclusive o b. Cartas deuteropaulinas: Cl, Ef e 2Ts, escritas na década dos
exegeta ou hi toriadore mais receosos deste princípio (em benefício da supo ta ano oitenta do primeiro éculo.
objetividade) terão de reconhecer que sua interpretação de Paulo produz alguns c. Cartas pa torai : 1Tm, 2Tm e Tt, escritas em algum momen-
re ultado e efeito que convém avaliar. Este ponto, em minha opinião. é crucial to da primeira metade do segundo éculo.
na exegese bíblica. porque erve corno critério de discernimento. Urna boa leitura
eria a realizada a partir de Dt 30,19: "Eu te propu a vida ou a morte, a bênção 2. Necessidade de contextualizar. A cartas paulinas (tanto as originai
ou a maldição. E colhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência". Na quanto as p eudoepígrafa ) foram compo ta para er lidas (escutada ) na circun -
páginas que se seguem, portanto, vou combinar, da melhor maneira po sível, uma tâncias hi tóricas e ociai dos deslinatários imediatos, e não por outros destinatário
aplicação rigoro a da metodologia crílica com uma preocupação iguaLnente exigente não previ Los por seus autores. Isto obriga o leitor atual a fazer um esforço para
com as con equências de nossa leitura. recuperar aquela situação original e de cobrir a estratégia com a qual querem
enfrentar aquelas circun tância . "Situação'· e "estratégia" são doi conceito útei
Quanto à metodologia (a ferramentas e disciplinas a erem uLiJizada ), para distinguir os dados que aparecem nas cartas.
neste livro não adotarei um ponto de vi ta doutrinal, ainda que Legítimo; u arei
basicamente as perguntas e recurso conceituais do método histórico-crítico e. sub- 3. Teologia em situação. As cartas originais de Paulo (em menor medida as
idiariamente, de outras di ciplinas {sociologia, antropologia cultural, psicologia .. .), deuteropaulinas e pastorais), como dissemos, foram escritas em razão de determi-
incluindo a teológica, que nos dará ferramentas para de cobrir tanto as imagens de nadas circunstâncias histórica que podemos identificar com bastante segurança.
Paulo desenvolve suas ideias teológicas conectando-as estreitamente com essas
Deu que aparecem nas cartas de Paulo quanto a propo ta que Paulo faz ao leitor
circunstâncias. Longe de ser um teólogo sistemático (o que não equivale a renun-
de seu tempo. Trata-se, portanto, de um ponto de vista aberto, que não pressupõe
ciar a urna busca de coerência em seu pensamento), Paulo foi desenvolvendo suas
resultado e que não se fecha à proposta que Paulo faz ao leitor.
respostas em relação dialética com seu ambiente. As ideias teológicas que nelas
Isto se concretiza em uma séria de pressupostos e opções metodológicas aparecem, portanto, não caíram do céu, mas foram e formulando para aquelas
que estão desde o começo deste livro sustentando-lhe as páginas, e que não posso circunstâncias, não para outras quaisquer.
explicar detalhadamente agora, conquanto espere que se justifiquem na coerência
4. Uso das ciências sociais e hi tóricas, juntamente com as teológica .
do conjunto. Fazem parte do que considero um crescente consenso em torno do
Para enfrentar os desafios colocados nos três pontos anteriores, há um crescente
estudo de Paulo {que nunca é total e é, em algum ponto, inclusive questionado, mas,
consenso em torno da conveniência de combinar diversas disciplinas na exegese
no geral, cada vez mais aceito). Em concreto, são cinco pressupostos:
das cartas de Paulo. As leitura exclusivamente teológicas ou exclusivamente
1. Três gerações de cartas. O conjunto de catorze escritos atribuídos a Paulo literário-históricas têm mais limitações do que as perspectivas interdisciplinares
são, na realidade um corpus composto, ao longo de três gerações, de crentes em (mesmo que estas tenham corno dissemos antes, seus próprios problemas). Por
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PRllW Pl.RlI ·Como chegamos até aqui?
Como ler Paulo, hoje
is o, mostra-se mais rico incorporar, com prudência e perspectiva crítica, as identidades até então excludentes. Assim, Paulo viu-se na necessidade de redefinir a
ferramentas e princípios das ciências sociais {antropologia cultural, p icologia identidade judaica incorporando o acontecimento histórico de Cristo, o que o levou a
social, sociologia, etc.) e históricas (história, arqueologia, papirologia etc.), além abrir-se culturalmente ao helenismo até certos limites nunca antes apresentados por
das literárias e teológicas. um judeu. Foi um projeto an1bicioso que não se circunscrevia às ideais religiosas,
S. Peso da tradição e das leituras de Paulo. Todo leitor, como dissemos, tem mas abarcava sua concepção do mundo, de Israel, do Império Romano, do futuro.
seus próprios pressupostos de leitura; no caso das imagens de Paulo, dada a sua das relações pessoais, do exercício da autoridade e da liberdade etc.
popularidade e importância na configuração do cristianismo do Ocidente, elas têm 3. Uma opção inicial marginal e minoritária. Este projeto foi , inicialmente,
um peso ainda maior. Além da imagem lucana (que aparece no livro dos Atos dos um projeto marginal no contexto do nascente movimento de seguidores de Jesus
Apóstolos), santo Agostinho, Lutero e uma ampla lista de intérpretes marcaram o (crentes em Cristo). Poucos seguidores de Jesus da primeira geração aceitaram e
imaginário dominante da figura de Paulo. As duas imagens de Paulo mais influen- apoiaram este ambicioso projeto de reformular Israel como o fez Paulo. No entanto.
tes e ainda presentes na arena das discussões acadêmicas e eclesiásticas (como com a ajuda de circunstâncias histórias alheias a este processo, paulatinamente foi
apontei nas páginas anteriores) são a de Paulo judeu e a de Paulo cristão. Neste ganhando adeptos até o ponto de converter-se, com as modificações que introduziram
livro assumimos um princípio {por outro lado, óbvio) ainda surpreendente para os discípulos de Paulo (os autores das cartas deuteropaulinas) e Lucas, no modelo
alguns: Paulo não foi cristão. Paulo foi judeu toda a sua vida; sua vocação o levou hegemônico do cristianismo emergente.
a viver uma forma de judaísmo diferente da que ele havia recebido e vivido, mas, 4. As consequências que teve sua compreensão particular do acontecimento
em sua opinião, um judaísmo mais radical (de raiz). O cristianismo como religião histórico de Jesus. o núcleo deste projeto está sua vocação e o significado que
se define muitos anos depois da morte de Paulo. Portanto, embora a missão e o Paulo lhe conferiu (a identidade daquele crucificado). o entanto, as necessárias
legado literário e teológico de Paulo tenham sido fundamentais para o nascimento consequências teológicas, históricas e sociais a que isso o levou obrigaram-no a
do cristianismo, seria um erro metodológico grave retroprojetar em Paulo a definição revisar profundamente grande parte de seus próprios pressupostos. Assim, como
da identidade cristã, que se alcançou mais tarde. O cristianismo, como indiquei, é veremos no capítulo terceiro, teve que redefinir o papel da Torá no passado, o que
muito mais resultado do fracasso do projeto histórico de Paulo. Para finalizar, quero provocou profundas repercussões no devir da tradição a que ele deu início. Mesmo
indicar quatro características que nos ajudam a situar Paulo no lugar que ocupa que seja um tema muito discutido, a relação da fé com a lei, reflexão iniciada por
nas origens do Cristianismo, a entender a que se deve sua importância e por que ele, continua sendo um ponto em torno do qual se têm acaloradas discussões e se
foi sempre objeto de tanta controvérsia e estudo. definem identidades excludentes.
1. A vocação. O acontecimento histórico da vida de Paulo que mais influen- Com isso concluímos nossa primeira etapa. Nos capítulos seguintes vamos
ciou no devir do cristianismo é, sem dúvida, o de sua vocação, tanto porque Lucas ver os temas centrais para entender a figura histórica de Paulo de Tarso: o aconte-
fez dele um relato memorável {At 9) quanto porque marcou biográfica, ideológica e cimento de sua vocação, sua cosmovisão (a visão de mundo que teve de formular
praticamente sua vida. No entanto, Paulo, diferentemente de Lucas, não fez deste a partir dela), o projeto que surgiu dali e, por último, a estratégia que adotou para
episódio um modelo de conversão; ele, que jamais descreve o fato, referiu-se às con- construir uma identidade de crente em Cristo coerente com sua própria experiência
sequências históricas e teológicas que teve para ele e para o judaísmo de seu tempo. e com o contexto no qual se encontrava.
2. O diálogo criativo entre helenismo, judaísmo e sua própria experiência de
ambos. Aquela experiência mencionada no tópico anterior foi o fator desencadeador Bibliografia
de uma reflexão que levou Paulo a reformular grande parte de seus próprios pressu-
AGUIRRE, Rafael; BERNABÉ UBIET~ Carmen; GIL ARBIOL, Carlos, ) eslis de Nazaret,
postos religiosos, culturais e históricos, obrigando-o a pôr em diálogo realidades e Verbo Divino, EsteUa, 2009.
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