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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz SAo Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no·la
podir(1Podro 3,15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que oulrora.
'~ ' . . visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste sita Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas. elucidando-as do ponlo de
vista crismo a 11m de que as dúvidas se
. . .; dissipem e a vivência católica se fonaleça
.-1 _ no Brasil e no mundo. Que ira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. E6tevão Senencourt, aSB

NOTA DO APOSTOLADO VERrTATlS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencourt e


passamos a disponibilizar nesta área. o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica · Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publicação .
A d. EstévAo Bettencourt agradecemos a confiaça
depositada em nosso Irabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Sumário

OLHAR PARA o HOMEM COM o OLHAR DE CRISTO ... , , •• ,. " . 177

No Irl õ
UM ESTADO ISLÂMICO .......... .. ... . . . .... . ..... . ... .. .... 179

Alnd. em mira :
A.S FINANÇAS 00 VAnCANO <I) : QUADRO Q;ERAl ... ......... . 194

AInda UI mIra :
AS FINANÇAS DO VATICANO ( li) ! OBJECOES E RESPOSTAS . .. . 211

Sim ou Nlo1
" CA,UCE" de ChIco Bu.rque • Gilberto Gil •........ •. . •. .. • . .• 217

LIVROS EM ESTANTE .........•.....................••..• • .. • 220

COM APROVACÃO ECLI!:aLlSTICA

• • •
NO PRÓXIMO NOMEIOI

A Santa Sé entre a Argentina e o Chile. - Puebla : uma


assembléia em foco. - A encfcllca "Redemptor Homlnls".

--- x
.PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Número avulso de qualquer mês . ... . ...... Cr$ 18,00
Assinatura anual : . ,. , . , . .. . . . . ,... .. .. .. ... Cr$ 180,00

Direção '8 Redação de Estêvão Betteneoort O .S,B.

AD~IJN)STRACAO
Llvn:rla I'Dssionirla Editor-a REDAÇAO DE PR
nu ,lhlco, 181J.B (Castelo)
20.091 RIo de "anelro eRJ) Calx.. POI!ItaI 2.666
Tel.: 2U-OG6O 20 . 000 Rio de Janeiro (RJ)
--,,2:.;:0 (
OLHAR PARA O HOMEM COM O OLHAR DE RISIO PI<
.HJ /-/'1
Vivemos uma fase agitada também em nosso B
as campanhas reivindicatórias e as greves se sucedem ...
Alguns serviços ptibllcos do assim paralisados.' os anImos se
Rcendem em diálogos que nem sempre são amistosos.
o cristão não pode deixar de acompanhar isso tudo com
muita etencão ... Que dizer diante dos fatos: ?
Tentaremos refietir sobre o assunto :
1) Antes do mais, será precl90 reconhecer que o crlst:ã.o
(empregado ou empregador) tem compromisso com a justiça.
Embora seja vão 1ulgar que algum dia ela venha a se realliar
de modo perfeito neste mundo, é preciso, não obstante. tender
à ImplantacAo sempre mais coerente da mesma.
Os Apóstolos, que por sua prega~o sacudiam a cIdade
de Jerusalém. foram Intimados a se calar. Responderam então
aos membros do trlbunal que 08 julpva: cVede se é ,usto,
aos olhos de Deus, obe"ecer a vós mais do que a Deus. Pois
é Jmposslvel deixarmos de faJar das coisas que temos vfsto e
ouvido" CAt 4,19s). Com efeito, a evidêncla de certos valores
postos em perigo impõe-se ao crlstlo e leva-o a clamar, a des·
peito de todas as InjunçÕes de silêncIo. AntêS morrer do que
trair a vC'rdndé ou ~Ileneli-IR quandO as clrrunstAnclas a
exig~m .

2) Verifica·se, porém, que nem sempre as situações so·


cials nas quais o cristão vive e trabalha, sio lücldas e unlV()CQS.
Ao lado de problemas cuja SOlUçA0 justa e digna se impõe com
toda a evidência, exis~m situaeões nas quais se torna muJto
difícil distinguir o qu~ haja de errado e o que de certo, pois
são altamente complexas. Quem -nelas está envoMdo, corre o
rlsoo de se deixar Impressionar por detennlnado aspecto em
detrimento de outros ou de ver um só lado da questão, sem
levar em conta o conjunto com todas as suas facetas. Não raro
a solução de um problema depende da soluçio de outros pro-
blemas Que afetam enonnemente toda'" con'lunidadt".

3) Nesta conjuntura. vem ft propósito a endclica cRe·


demptor HominiSlo (O Redentor do Homem) assinada pelo S.
Padre João Paulo rI aos 4/03179. Este belo documento ' apre-
senta Cristo como o Salvador ou como Deus fetto homem, que
vem ao encontro do homem, oferecendo.Jhe a verdade. Esta
liberta ... (.108,32); liberta, antes do mais, das palx6es e dos
preconceitos (n' 12) . Ora Cristo confiou à sua Igre'a a tarefa
-177 -
de continuar a sua missão. Todos os caminh<lS da Igreja levam
ao homem e. fim de levar o homem a Deus (Df U. 14). A Igreja,
portanto. procura olhar para O homem com o <Ilhar do próprio
Cristo, consciente de que Ela ' traz <I tesouro Inestlmé.vel da
Boa-Nova (n' 18).
Eis a atltude que nos interessa realçar neste momento
conturbado: olhar para. o bomem oom o olhAr do próprio Cristo.
Isto compete à Igreja e, por conseguinte, compete a cada cris-
tão, envolvido como ' esteja nas estruturas do seu trabalho
cotidiano.
Ter o olhar do próprio Cr.isto significa Identificar-se Inti-
mamente com o Cristo ou, como dizia São Paulo, cter em si os
sentimentos do Cristo Jesus» (F1 2,5). Quem se dlspõe a atin-
gir esta meta, val.se libertando de atitudes passionais e obses·
Slvas, escaIona (lS valores segundo 8 reta hierarquia e tenta
agir como o Cristo Jesus agiria. Ta] é a vocação grandiosa do
cristão: fB2er, nas circunstâncias do século XX em Que se acha,
o que o Cristo Jesus faria, pois na verdade o cristão ~ outro
Cristo; é a mão de Cristo prolongada até nossos tempos e nos·
sas terras, a fim de santificar as tâbrlco,s, as escolas, os hospi.
tais. os escritórios, em suma.. . todos os setores que hoje são
sacudidas por reivlndlcaçõcs. e oompanhAs.
Tal perspet..1.iva pode parecer um pouco distante da reali.
dade, ... realidade na qual se calculam percentuais de aumento
de salmo, prazos para reajuste, "Ulx8S de Juros, etc. A distAn-
cia é apenas aparente: o cristão - empree:ado ou empregad<lr-
é outro Cristo tambl!m quando tem que calcular os justos ter-
mos da sua convivência soclal ou as linhas do seu contrato de
trabalho . . . , quando tem que participar das assembléias de
classe ou das deliberações de sindicato ... Procure sentir o que
o Cristo Jesus sentia, nio somente quando se volta para o PaI
na oração, mas também quando se volta para os homens (reu-
nIdos. às vezes, em sessões tumultuadas) na procura de cons·
trulr um mundo mais digno do Evangelho e, por isto. mais
humano e cnstio. .
Ainda estamos dentro do tempo pascoal. _. Tempo no qual
celebramos a · vitória de Cristo sobre o pecado, a violência e a
morte . . . Que Ele, o Senhor, dê aos seus fiéis - empregados
e empre~adores - a graça de olhar para os homens com o
olhar e o coração que Ele mesmo trazia como homem! E, desta
maneira. conceda a o nosso Brasil dias mais pacatos, em que
todos se esforcem harmoniosa e fraternalmente por construir
a civilização do amor!
E. B.

- 178 -
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS-
Ano XX - Nt 233 - Mola d, 1979

'No Irl :

um estado islâmico
Em ,IRIoM; o Ira eSl6 IDb regime polfllco !sllmlço - laia este
qUI te m c hl mado li alençlo.

Na vlllrd,d., o Isll, lundado por Miam' e m 622 d. C., vem a I.r um


movlml!lnto religioso cule, norma. 510 Ina.",ravels da realidade polnlca
do povo árabe p lr. o qual Mlom6 legislou, Juloando ser o Cllllmo dos pro--
retas enviado por Ali la mundo. Mlom6 tentou reunir a POPUl8Çlo da A.rábla,
dlspel'!lls 8 dividida, om tomo d. um r6 Credo rIIlQlo!o: asle 6- assaz sim-
pite em seUl poucoa artigo', mas vem apr... ntado como o Credo • ar
"Implantado no mundO Inteiro mediante li gue"a santa; o m.em.lImo que
morta em c:ompo de bala!ha unta, lem a promeua do par,fllo pÓSlumo.
Foi I!I consciência desta prom.'" que çomunlcou lOS 'Iguklor•• da Mlom6
li coragem 11 o l",tusJalmo p.r•• 1 difundir em emplas plrt" do mu ndo.

o Isll, da'6a o sée. VII lrI.,mo. dlYldlu-se em duas principais IlcçOes:


• d os lunl., malorlll Ir.dletonall. ta, a ao d08 xII"', mlnorl. mullo atuanta
junto ao povo • • poutlca.

Ora precisamente os xlii.. , na pes.soa 6, Khomalny, subiram 10 podlll


no 111, tencIonando 111 Implante, um reglmll Isllmlco. Tal empreendimento
• dll .xllo duvldolO, vis to que certas normal maometanl' I' nlo comI·
pondem ao llpo dll cultura dllll ocidental que 'a vai Im planta ndo no mundo
Inlelro_ Levem-se em conta os protestos d.. m\llherea Ir.nlanas, que se
Julgaram lallda. am saus direitos pelas exl.gOnclas do Govtlrno tsrOmlco.

Como quer qua iaJa, chama • a'anClo o podllr da do povo Jra-


nlllno, qUII, numa IIncruzllhada da IUII hlaI6r1a, quandO podia optar paio
I.
malerlellamo lovl6trco, deu origem a um Governo religiosa e m seu pais.
Vt-se assim (lulo arraigado e nalural é o MnUme nto rallglol o no glnero
numeno, apesar das seduçDes do materialismo conlemportneo.

• • •
Comentário: Os jornais têm noticiado o movimento do
",yatolla.h ]Otomeiny no Irã em prol da criação de wn Est.'ldo
Jslâmico_ O fato tem chamado a. atenção porque, entre outros

- 179 -
4 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS.. 233/1979

fatores. põe em foco uma corrente rellgioso-politica que se


afinna ardorosamente numa êpoca tendente ao materialismo;
propôe-se assim a w1ião de Estado e Religião quando as ten-
dências contemporAneas visam. antes, à separação de um e
outra.
São estes dados que nos levam a estudal', nas páginas
subseqüentes, a figura e a mensagem de Maomé, assim como
alguns tracos interessantes da atual er1se iraniana. Tais ele·
mentos projetarão certa luz sobre a questão político-religiosa
do Irã.

1• Maomé e sua obra

Antes do mals, importa reconstituir o fundo de cena geo-


-histórlco sobre o qual apareceu Maomé.

1 . 1. O pano d. fundo

A Aribja do sêculo Vil era habitada prIncipalmente por


beduInos, agrupados em numerosas tribos, que viviam de
pequeno comércio e de pilhagem dos bens de trlbos vizinhas
e de caravanas. Os elementos culturais dessa população eram
assaz pobres. Do ponto de vista religioso, essa gente era um
tanto indiferente; voltava sua atenção para as coisas deste
mundo; todavia admitia um polidemonlsmo, ou seja, o culto
de seres superiores que rêglam as forcas da natureza. Apenas
uma minoria mostrava preocupações religiosas, devidas à
influência de judeus e cristãos; alguns chegavam mesmo a
aderir ao judalsmo ou ao Cristianismo.

A cidade de Meca era ponto de cruzamento de duas im·


portantes estradas da penlnsula árabe. Nela se achavam o
santuário da Kaatia e a Pedra Negra dedicados ao culto do
deus Hubal, que muitas caravanas de peregrjnOs iam reve-
renciar na Meca, suscitando grande lucro financeiro aos habi-
tantes da cidade.
Em suma, o ambiente da penlnsula arâbica era o de- uma
população desagregada em si, destituida de aspirações eleva-
das, voltada para o comércio e o lucro e dotada de rudimen-
tares tendências religiosas, não raro associadas a interesses
comerciais. Foi nesse ambiente, dominado pelo . clã dos Curai.

-180-
_U",M"-"ES'",",,rADO"""",-,lSLAMI"""""",,,CO,,- _ _ _ _--'S

xitas, que nasceu Maom~. o profeta Que deveria envolver.se


nas lutas do seu povo e tentar reuni-lo em torno de wn
Ideal mais elevado, ou &ejs. rell.l{ioso.

1.2. A figura de Moomi

Muhammad (Maomé) ihn •Abdallah nasceu em Meca


por volta de 571. como membro do clA Banu Hashlm. dos
CUMbdtas.

Desde cedo órfão de pai e mãe, entrou, como adoles·


cente. para o 5ervlçO da rica viúva Gadija, quinze anos mais
velha do que ele; casou·se finalmente com esta. e teve nume-
rosos Íllhos. Gadija deu precioso apolo a Maomé nas suas
horas difíceis.

Maomé narra o InIcio da sua missão religiosa', atribuin.


do-o a uma aparlcão ,do arcanjo Gabriel ocorrida po[' volta de
615. O anjo terã ROS poucos ditado todo o CorA0 (Qar'au) I
a Maomé. que assim se convenceu de sua vocação profética:
Maomé seria o último e consumador de todos os profetas,
entre os quais são enume1'8.dos Adão. Moisés. Jesus Cristo ...
Maomé mesmo era analfabeto. O CorA0, que resulta. du IUBI
cvlSÕC'S., retoma a rtigos do judalsmo e do Cristianismo sem
grande originalidade, sem elevadas considerações teológicas.
~ ponto!l doutrinários são ai predominantes:

- o nronO'klsmo, Incutido freqUentemente pelo texto do


Corão: cDeu$ é Allah. o único, AlIah, o eterno. Não gerou
nem foi gerado. E a Ele ninguém se Iguala. (SUra 112).
Assim a SS. Trindade, revelada pela mensagem cristã sem
violar a unidadl:' c unicidade de Deus, é exctulda pelo Credo
maometano;
- a'1 ooncep!;lÕeY eseatol6g1cas ou relativas ao fim dos
tempos: a ressurrelc;ão dos mortos e o juizo universal, que
assinalará aos bons estupenda recompensa (concebIda em
lermos materiais) e aos maus duro castigo;
- a total submis.'IÃo (ls1am) a Deus. Donde vem o nome
.m1lllllm (= muçulmano), que signlfloa cSubmlsso •. Muéul-
. l A palavra arabe Qur'an 6 de origem Incerta; posalvelmante v.m do
:sI/lo e .ISlnltlca orllflnatlemenle "'Iu'L

-181 -
• <PERGUNTE E RESPONDERE MOS!....233/ 1919

mano é, pois. aquele que se professa totalmente submisso a


DeU&

Maomé encontrou seus primeiros adeptos na própria faml·


lia, assbn como entre pessoas humildes e escravos. Todavia
a grande maioria dos habitantes da Meca lhe era hostil, pois
receavam safrer perdas econõmicas em conseqüêncIa da pre-
gação de Maomé, que contradizia ao culto de idolos existente
na cidade. Teve, pois, que fugir para a localidade de Yatrlb
(100 km ao N da Meca) . Esta fuga (heglra) se deu no ano
de 622. que se tornou assim o lnlclo da era maometana.
Y'atrib aos poueos foi sendo chamada Madinat a n·nabl ou
a1 Madioa ou Medina..

Nesta cidade Maomé se impôs; orga nizou a sua comuni.


dade religiosa e começou a atacar as earavanas destinadas à
Meca. Entre 622 e 630 o profeta lutou contra a sua cidade
natal; finalmente conseguiu entrar nesta sem encontrar resis·
têncla. visto que os habitantes da Meca se haviam conven·
cido de que era do seu Interesse aderir a Maomé e às suas
idéias conquistadoras. Penetrando na Meca, o proteta obteve
uma de suas mais importantes vitórias politicas. Como se
vê, cedo a obra de Maomé tomou caráter politiCOj as idéias
religiosas apregoadas pelo vidente tiveram Imediatamente con ·
!Jeqüênelas nacionalistas e étnicas. O bom êxito da ação sobre
a Meca slgnlflcou o fortalecimento do infiuxo de Maomé sobre
as tribos irabes e novo Impulso para que se unissem sob li
chefia e a pregação do profeta. A fim de ve ncer qualquer
resqUÍcio de resistência, Maomé proclamou a necessidade da
guerra santa, . . . tão santa que o maometano morto em com·
bate podia estar certo da recompensa paradisíaca.
O proCeta faleceu dois -anos após ter tomado a Meca.
Procurou ainda nesse fim de vida corroborar sua autoridade,
lutando contra os árabes das fronteiras sír ias, que se haviam
colocado sob o protetorado de BizAnclo.
Os contemporâneos e os p6steros assumiram atitudes.
opostas frente a Maomé : os dIsC'lpulos o veneram de maneira
quase IdolAlrica, ao passo que os adversários o odJararD. 1;
Isto que leva o historiador a uma atitude critica diante das.
tradições referentes a Maomé; não raro são lnsplradas por
esp1rito passIonal. Em suma, porém, pode·se dizer que, afas·
tadas todas as versões errôneas, a rlgura de Maomé aparece-
como a de um caudilho ou chefe politlco~ rel1gloso de enorml!!

-182-
UM ESTADO ISLJ.MlCO
--- - - - ~~""'-'="""'------ - -- '7
prestigio. Tal caudilho traz bem nitldas as marcas da sua
época. Ele mesmo reconhecia ser wn homem pecador i!" cheio
de defeitos. Não era um teólogo nem um filósofo, mas homem
dotado de calorosa têmpera religiosa, capaz de exercer pro·
funda jnf)uência. sobre grandes e pequenos, sobre individuas
e massas humanas. Maomé parece nunca ter chegado a con·
ceber a separação de religião e politica, a. dlferenoa entre a
Palavra de Deus e as interpretações que lhe dão O!l seus
arautos ou OS lideres políticos.
Para entender o islamismo contemporâneo, faz·se mister
estudar, ainda que sumariamente, a evolução da obra de
Maomé em seus primeiros decênios.

2. Um pouco de bist6ria
Ao morrer Inesperadamente em 632, Maomé não deixou
SUCESSOr nem disposição sobre a maneira de se continuar o
seu movimento religioso.

Em conseqüência, os colaboradores Imediatos elegeram


Abu Bakr, sogro e amigo do proteta, o qual tomou o tltu10
de califa. .(= representante do profeta). Abu Bakr seria o
continundor político da obra de Maomé; todavia não atribula
U 51 qualidades cndsmátlcns como, allils, nenhum dos califas
subseqüentes fez. Para o mucu.lmano ortodoxo a morte de
Maomé plls fim à época profética. O primeiro callta Abu
Bakr, em seu breve período de governo, tratou de consolidar
e ampliar o dom[nio conquistado por Maome.
Por ocasião de sua morte, designou como sucessor Umar
(Omar) Ibn al-Hattab (634·644), outro grande conquistador,
que levou (l islamismo à Síria, à. Pérsia e a(l Egito.
De então por diante, a unidade do islamismo estaria
para sempre rompida, pois duas aJas se defrontariam dentro
do Islão:
- a dos Sunitu, que constituem a maioria. Admitem 8
tradição de Abu Bakr. dos três primeiros califas e dos Omla-
das, seus sucessores. Não associam ca.1tfado e parentesco com
Maomê;
- a dos xntu (:da. = parte ou grupo) . São os parti.
dárlos de Ali, desejosos de vincular o califado com o paren.

-183 -
tesco de Maomê. Aceitam o Carão, mas têm 5U05 tradições
. próprias.. Só admitem como sucessor do profeta seu genro
Ali, casado com FaUma_ Em vez de um califa, têm por
chefe um Iman, descendente direto do proCeta. Julgam que
sã Ali e seus descendentes têm o direito de guiar e ensinar
os fiéis. Visto que o décimo segundo descendente de Ali
morreu sem filho, os xiitas aguardam um imnn rnlsterloso e
invisivel, que, ro hora aprazada por {)rus, aparecerá na qua·
Iidade de h-amdl (gula), para restabelecer o Islã na sua pureza
primitiva. Embora os xiitas sejam minoria no Islã, são os
mais bullcosos dos maometanos, sempre dispostos a mover o
povo em campanhas de reivindicações. Ora precisamente os
mentores da nova situação poJitlco-religlosa do Irã são xiitas!

Os xiitas. por sua vez, estão divididos em erupos meno·


res, dos quais alguns são fanáticos, como os qa.nnats e os
hashasashin (consumidores de haxixe); outros são modera-
dos, como Os zaldatu e os Isml\tlltas.
Vejamos agora as grandes linhas do Credo maometano.

3. O Credo isl6mico
A profissão de fé dos muçulmanos é extremamente sim-
ples, resumindo·se em duas frases: cCreio que não hã senão
um Deus: A1â. Creio que Maoml! é o enviado de Alh.
Eis os dois componentes da fé islâmica: a doutrina sobre
Alá e a profctologia. A primeira se associam as questões rela·
tivas ao juizo final e à retribuição definitiva. À segunda se
prende a questão da sucessão do profeta ou o do califado.
1 . A te em Alá exige apenas que o fiel creia na exis·
tência de Deus, em SUa unicidade e onipotência. Nada pro·
fessa a respeito da natureza e dos atributos de Alá. Foi esta
simpllcldade que garantiu ao Islã ampla . difusão e aceitação
por parte de nwnerosos povos. Os doutos vêem em Alá. o
fundamento de sabedoria e ordem universais, AO passo que os
simples consideram nele o fundamento da justa ordem social.
A pregação do juizo final era de importância capital para
M&om~. O juizo serâ precedido pela vinda do Anticristo, que
Induzirá os homens ao erro até que venha Jesus de novo à
terra. Quando soarem as trombetas pela prim~ira vez, mor-
-184 -
UM ESTADO O~_ _ _ _ _-"9
1Su...\f.IC,~

remo todos os seres vivos; quando soarem pela segunda vez,


ressuscitarão para ser levados ao lugar da reunião final, oneJe
esperarão com grande temor o julgamento universal. Du-
rante este. ler-se·ão os livros nos quais estão inscritos o bem
e o mal praticados por cada homem. Alá Interrogará cada
um; em casos de duvida sobre o valor dos atos humanos,
pesor-se-ão as ações duvidosas. Os profetas e as pessoas pie.
dosas intercederão pelos homens postos em perigo de conde-
nação. Depois do lUízo as pessoas serão encaminhadas para
uma ponte muito estreita. Os bons a atravessarão a salvo.
de modo a chegar ao paralso. Os maus, porém, nâo conse·
guirão atravessar, mas cairão no inferno. Paraiso e inferno
têm duração Ilimitada.

A atitude do homem diante de Deus é, antes do mais, a


de submissão (islarn) diante da grandeza e majestade do Se-
nhor. Mesmo que o Corão raJe da misericórdia do Altíssimo,
não acentua 'O amor d.? Alá para com o homem ; este é, pois,
chamado a um ato formal de submissão ao Senhor ~US.

2. Não há dúvida, o Islã produziu grandes misUcos no


decorrer da SUB história, pois cm todo ser humano existe a
consciência do mlstérto e do transcendente e a aspiração
inata de unir-se à Divindade tão intimamente q\lanto possível.
O Credo maometano, mesmo em sua singeleza, pode perfeita-
mente fomentar o -cultivo da vela mistlca de seus adeptos.
Por conseguinte, desde as primeiras gerações maometanas,
houve homens e mulheres que, aJém de observar os manda·
mentos de Deus, se abstiveram de bJdo o que os pudesse
distrair da oração e dos valores sagrados. Viveram solitários
ou em comunidades, trazendo uma simples veste de lã (sul);
donde o nome de swlt.a.s que lhes foi dado. Entre os grandes
lTÚStlCOS do Islã, citam-se Rabl'a al·AdawlJa (t 801), Bayaz1d
a)·Bistani (t 875), Al·Gunald (t 910), Abul-Mugit ai Hallag
(858·922), AI-Gauali (t 1111), An·Nizami ( i 1202) " '

Interessa-nos outrossim reproch.l%ir em sintese

4. A Moral maometana

A Moral maometana é, em parte, baseada nos preceitos


blbllcos e, em parte. tributária dos costumes da época de
Maomê.

-185 -
10 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 233/ L97tJ

1. Na medida em que se Inspira nas Escrituras Sagra.


das, apresenta·se assaz rigorosa : condena os crimes de roubo,
assassinlo, adultério, como também as m,ustiças soci~ a
exploração dos camponeses, o mau trato dos escravos, o aban-
dono dos órfãos c das viúvas... Os califas se empenharam
pela construção de hospitais c escolas, que prestaram bons
serviços à humanidade. Para tanto, a Lei de Maomé pres-
creve a todo fiei o pagamento de um tributo (zakat); a apli-
cacão deste dinheiro ~rre tanto em vista de fins pollticos
como de fins caritativos. A prática da esmola é multo cio.
giada pelos mestres muçulmanos.
O empréstimo a juros foi condenado por Maomé. Em
breve, porém. verlficQu-se que era insustentável a proibi cão
de 1uros (o que aconteceu também no Cristianismo) .

2 . Todavia a Moral islâmica pode surpreender o homem


ocidental por outros de seus téplcos :

a) Assim, por exemplo, a poUgarnla. foI praticada por


Maomê e continua sendo lic ita no islamismo. :t pennitido ao
muçulmano ter simultaneamente quatro esposas (se as pode
sustentar financeirnmente) , ao lado das quais lhe é licito ter
número ilimitado de escravas concubinas. O matrimônio é
contraIdo mediante o pagamento de dote por parte do esposo
(resquicio do qUe a,ntigamente era a compra da mulher por
pa'rte do pretendente). O pai pode obrigar suas rilhas sol-
teiras a contrair casamento. A mulher nlio se casa Irem que
tenha um tutor. O homem pode divorciar-se sem apresentar
razões, mas apenas exprimIndo a sua resolução de deixar a
esposa: é-lhe facultado tornar a casar-se tantas vezes quan-
tas queira (procure, porém, mulheres da mesma classe sodal
e de té islâmica). Quanto à mulher, pode obter o divórcio,
desde que se evidencie que o marido é incapaz de sustentá. la.
Todavia Maomé procurou suavizar as condicôes da mulher
casada, aflrmando: cA fé mais perfeita, tem-na aquele que
com mais amor trata a sua esposa:..
De modo geral, no DIreIto Islâmico, a mulher se acha
em condições de inferioridade frente ao homem. Com efeito,
somente 0.0 v3rão livre é reconhecida a plena posse dos direi·
tos civis. A mulher fica excluIda dos cargos públicos; o seu
testemunho perante um tribunal vale apenas a metade do
testemunho de um homem: o preço que se paga pejo seu
sangue, é a metade do preço dado em favor de um homem ;

-186 -
UM ESTADO lSL4MlCO
------------ - -""-"'''-''''''-'''''''''''''''--- 11

a herança que ela recebe vale a metade da herança do varão~


Contudo no plano religioso são plenamente reconhecidos os
valores mora1s da mulherj por lsto os muçulmanos apregoam
A santidade e o saber teol6gico de vArias mulheres.

b) A escravatura. existente nos tempos de Maomé não


foi abolida pelo islamismo. Todavia Maomé tentou alIviar 8
sorte dos escravos, e proibiu que um muçulmano seja tomado
escravo por um credor nlio satisfeJto ou na quaUdade de
prisioneiro de guerra ou a.lnda vendido par seus pals. Desta
forma o quadro dos escravos se manteria tão somente atra-
ves de filhos de escravos e mediante prisioneiros de guerra
não maometanos. - A libertação de escravos, segundo o Di-
reito muçulmano, é obra religiosa meritória que serve para
a expiação dos JX!'cados.
c) A guerra santa, destinada a propagar O Islã, ê alta-
mentemclltc apreciada. O Islã, originariamente, supõe o
mundo dividido em duas putes: terra muçulmana (d&r &1-
-lslnm )e terra não muçulmana (dar aJ-~larb); estas duas
facções estariam em perpétua luta, sendo o Islã o agressor
consclente. Todo cidadão muçulmano, fisicamente capaz, é
incitado pela sua religião a participar da guerra santa : caso
morra ncsta ( = no caminho de Alá). pa~ por mártir e
vai para o paraiso. A guerra santa (que hoje em dia já não
ocorre como outrora) era movida pelo call!a: antes de come·
çar a atacar com as annas, este intJmava a populaçâ.o do
território agre.dido a que adotasse o Islã; caso, porém, se
tratasse de território de judeus ou de cristãos (adeptos de
uma das religiões do Livro. a Bíblia), o califa os exortava a
que se pusessem sob a proteção do Islã e pagassem impostos
às autoridades muçulmanas; deveriam usar roupa diferente
dos trajes mulçumanos e ficariam proibidos de andar a cavalo.
Desde que aceitassem tais condições, os judeus e os cristãos
eram tolerados pelo govemo muçulmano, podendo dedicar-se
livremente à prática das suas crenças religiosas. A existência
de numerosas comunidades judaicas e cristãs em territórios
muçulmanos durante séculos a fio (tenha.se em vista a penin-
suIa ibérica) atesta que tal tolerância realmente se exerceu.
apesar dos excessos de govemos. funcionários e cidadãos faná-
ticos; a história mostra que ;judeus e cristãos puderam mesmo
ascender 8 altos cargos da magistratura muçulmana.
d) A todo muçulmano de maior Idade incum be a obri-
gação de peregrin.a.r, ao menos uma vez durante a vida, até

-]87 -
12 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS .. 233/1979

Meca (supondo·se que possua os meios para viajar e para sus·


tentar a faroUia durante a sua ausência). Quem tenha cum·
prido o dever da peregrinaçãO, recebe o titulo honorifico de
ltaggi (peregrino). Se alguém está impedido de peregrinar,
pode enviar um substituto em seu lugar.

e) E outrossim obrigatório a todo muçulmano de maior


idade e sadio o jejwn de Ranm.da.n (nono mês do ano, durante
o qual se ~rê tenha sido o Corão revelado a Maomê). Tal
jejum consiste em não comer nem beber nem fumar desde o
nascer até o pôr do sol durante um mês inteiro; a quem
jejua, ê vetado também todo consórcio carnal durante as
horas diurnas. A observância do jejum supõe o conhecimento
do calendário muculmano: o ano islAmlco é lunar, compon.
do·se de doze meses, dos quais seis têm vinte e nove dias, e
seis contam trinta dias. t: o que explica possa o mês de
Ramadan cair em qualquer êpoea do ano SOlar; sendo assim,
o jejum é peculiarmente penoso quando o mês de Ramadan
ocorre durante o verão.
f) A lei mu!,:ulmana obriga ouh'ossim os seus adeptos
à prática da. oração cinco vezes ao dia: ao meio·dla, de tarde,
ao pôr do sol, ' de noite e de madrugada. Para rezar, nâo ~
exige nem detennlnado lugar nem veste própria, contanto
que lugar e veste sejam puros. A oração ê feita em direção
da Meca, direção que em todas as mesquitas é assinalada por
um nicho próprio (mlhrnd). Nas mesquitas um chefe espe·
clal (lmam) dirige as preces. Para convocar os fieis à ora-
ção, existe em eada templo um oficial chamado mu'addlm.
A rigor, não existe, no calendário muçulmano. dfa de
guardo corrt.>spondente ao sábado judaico ou ao domingo
crlstão. Todavia Maomé exortou os seus seguidores a que se
dedicassem â. ora(ão especialml!nte nas sextas-feiras, Inter-
rompendo mesmo O comércio. Em conseqüência, todo maG-
metano maior de Idade e sadio sente·se obrigado a tomar
parte na oração do meio-dia às sextas· feiras. A absten-;ão de
trabalho não é rigorosamente p~scrlta para esse dia. A pro.
tica compassada da oraçoão assim concebida pelo Islã exerce-
prorunda influência educativa sobre os fiéis.
São estas, em grandes linhas, as principais normas da
Moral e do Direito Islâmicos.
Para concluir a exposição, digamos ainda aJgo sobl"c

-188 -
UM ESTAOO ISLAMICO

5. A aventura do Irã h06-r.rno


Os dados até aqui propostos evidenciam claramente que
o Islã procura integrar numa síntese densa os valores reli-
giosos e os políticos. Com outras palavras: a ordem pOlItica
e a civil, paro o Islã, são iluminadas estritamente peJa ordem
religiosa. :t; esta síntese que comunicou e comunica ao Islã
até hoje enonne poder de expansão e de conquIsta. Não
obstante, em nossos dias existem poUCOs Estados islâmicos,
embora o mundo conte cerca de 400 milhões de mucuImanos I.
Atualmente no Islã a seita xiita, que sempre foi ardorosa,
tenta impla.ntar tal tipo de Estado.
Examinemos alguns traços da crise religioso· politlca
do Irã.

S. 1. A cri,. Iraniana

Na verdade, desde 1977 o Irã estA sendo agitado por


uma -crise de crescente gravidade.

Aos 7·9/ 01/ 1978, houve um motim na cidade santa de


Qom, motim repetido um mês mais t arde em Tabriz durante
a comemoração dos mortos de Qom. .. Em mala, agosto e
setembro de 1978 renovou· se a sedição do povo, sendo que
em 20 de ai:osto pereceram cercu de 400 pessoas num cinema
de Abadan, entregue às chamas de um Incêndio. O dia 8 de
setembro de 1978 foI tido como ca sexta.felra negra de
Teerã" quando maJs de 700 viUmas cairam sob a rep~o
(Ia pollcla e do exército lre.nlanos.
As respostas de xá Mohamed Reza Pahlevi a estas manl·
festações populares foram de indole ditatorial: imposição da
lei marclaJ, ordem de recolher.se durante a noite, nomeacão
de chefes militares ma1s duros, etc. O monarca prometia
reformas, que não chegava a executar ou que só executava
em favor de uma elite.
Entrementes o Uder reUgioso Khomelny, dito a,yB:toUah
(= inspirado por Deus), estimulava o povo a não aceitar
l Registramos que 101 11/02/ 1979 o Paqullllo S8 conslllulu em R...
pObUca lalAmlca. Logo reconheceu o Governo do Irl chefiado por Buarg.n
• Insplnldo pelo ~aloUah.

-189 -
14 .pERGUNTE E RESPONDEREMOS, 233/1979

qUalquer fónnula de solução que mantivesse a dinastia no


poder. ExIlado no Iraque durante treze anos e, a partir de
meados de outubro de 1978, em Neauphle·le-ChAteau (perto
de Paris), Khomelny emitia ordens precisas em favor de uma
reviravolta da situação política de seu pais; preconizava uma
República jslâmlca - o que empolgava as multidões irania-
nas. tornando-as dispostas a morrer antes que ceder algo
9.0 regime do xá.

Em diversas entrevistas concedidas A imprensa no ano de


1978, Khorneiny queJxava-se do monarca, como se depreende
das suas próprias palavras:

"Para afastar a Juvenlude de c:er1o, problemas essenclall do pall. o


xi favorece Pl'01ilrama. de cinema embrul&cedore, e aviltante.. .. O povo
muc:ulmano eon.ldara esae Ilpo de lllma. contrArio aOS Inlar..... do pai•
• • taça u salas que OI exibam. O mHmo .. diga a r8spello dOI Banco..
fator.. d. U$ura e da .specula~1o na dlltrlbulçlo da noua economia.
t por tais ru:6e. qUa alguna Ineendlarlm ..... InllrumanlM de tmpobrwcl-
minto e de tal6nol. oconOmlca ... O xt d.clarou numa entrevl"a a um
jomall.ta Italiano que a mulher nlo deve ler mal. do que um objeto de
alr.ç1.o .exual. ~ elte um concaUo que leve a. mulheres 111 proslllulc:lo •
a. loma coisa,".
"Nenhuma aoluslo do problema polltlco ser6 passlvel .am o desapa-
recimento da dlnasl1a Pahtevl. quer se Irale do alual x6. quer dos lellS
descendenles ... Quelquer projelo que Implique a sobrevlvtncla do regime
",o poder6 ser aceito nem por nós, nem pelo povo" (Irecho. Ir.nec11101
do artigo de G. Rulll cllado na blbllograll. de.le f.sclculo. p . H~3) .

E como se configurariR um Estado islâmico?

5 .2 . Tra~1 de UM Eatado id6mlco

Khomeiny publicou, fora do IrA, dois livros pl'Ogramáti·


coa; «Governo Isllmlco:to, em árabe (1970), e «Khomeiny~
em persa (1975). Ai falava das penas previstas pelo Corão
para os crimes de furto (amputação de mão ou ~), pRra
quem tome bebidas a1coóUcas (flagelaçio em público), para o
adultério ou a violência sexual (morte por apedrejamento) ...
Tais penas foram postas em vjgor no Paquistão a partir de
11/02/ 1979, logo após 8 instituição da República islâmica do
Paquistão. Segundo o presidente deste pais, 'Molrammed Zla
tn-Haq, tais penas são necessárias para dissuadir as pessoas
mal tntendonadas e foram aplicadas com sucesso em outros
pelses, como a Arábia Saudita. Conforme o .presldente do

-190-
UM ESTADO ISLAMlCO 15

Paquistão, as leis do COrão instituídas neste país têm a apro-


vação de todas as seitas reUgtosas e dos partidos paquista-
nenses e correspondem à expectativa dos fiéis muçulmanos!

A tese central do programa de um Estado islâmico im-


pUca exclusividade do poder. sem pluralismo de partidos. sem
colaboração nem participação de quem não seja muçulmano;
na verdade, um maometano. por prlncipios de fé, não pode
aceitar a hipótese de ser governado por não maometanoS. Esta.
posição se depreende claramente do artigo do líder sunita Hus-
sain KonaU,y, publicado no jornal A.uI.flr de 18/ 08/1975 no
primeiro periodo da crise libanesa.

o povo Iraniano, quc em grande matorla professa as


Idéias xIItas, parece ter-se tomado mais progresslsta e aberto
noS tlltlmos cem anos. O a)"atollah Khomeiny prometeu plena
liberdade 8 todas as mInorias elo pais religiosas, polltteas,
sociais e culturais. Estaria disposto a abrir mio de princi-
piOS rlgidos ou exclusivistas. . . Todavia perc:ebe-se qUe está
muito arraigado nas massas populares o ressentimento con·
tra as InstituC6es monárquicas; a assocIação de valores reli-
giosos e políticos é Indissolúvel na filosofia de vida de um
muçulmano convicto.

Deve-se dizer também que os mentores religiosos do povo


iraniano - os ayatollah e os mollah _ exercem notivel
innuênela sobre o mesmo.

Os ayatoUab são os dnspirados por Deus» e, por c:onse-


guinte, Os gUias mais seguros, os intérpretes oficiais da von·
tade de Maomé expressa no Corão. Existem em número
d. 3 . 000.

Os mollah são apenas peritos em teologia. Esmiuçam


para o povo 8 doutrina e as normas práticas do comporta-
mento religioso.
Nem uns nem outros foram gravemente afetados pela
repressão exercida pelo xá. Por isto as suas mesquitas e
UniversIdades se tornaram aut~nticos centros de constestação
do poder institui do.

Olhemos: agol'a para ...

-191-
16 .,PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 233/ 1979

5 . 3_ . _. O futuro
A situação poUtlca do Irã até hoje é confusa.
Aos 16/ 01.n9 o xá deixou o país, e a 1'/02/79 Khomelny
foi recebido triunfalmente na.c; ruas de Teerã, após quase
quinze anos de exiJio. Dez dias mais tarde, o Governo Bakh.
tiar, estabelecido pejo xá. antes de partir, foi deposto peJo
povo e substltwdo pelo Governo provisório da Revolução Islâ·
mica. que tem à frente o Prlmelro·Mlnlstro Mehdl Bazargan.
Este ainda não conseguiu controlar por completo a situação.
Os comunistas do pais, reunidos no parUdo Tudeh (isto ó,
Massas) . divulgaram, primeiramente, um comunicado no quaJ
falavam de resistência armada a Khomeiny. Todavia alguns
dias depois proclamaram solidariedade ao chefe religioso num
gesto que surpreendeu a opinião pública,
As razões para se pôr em duvida o êxito do movimento
de Khomelny são várias: em grande parte, derivam-se do
contraste existente entre a cultura ocidental (que sob o xá
Mohammed Reza Pahlevl se adentrou no Irã) e as normas
de vida islãmlcas; principalmente no tocante à posl-;:ão da
mulher na sociedade, as dileren-:8s são grandes, a ponto de
terem provocado sérios protestos por pRrte das mulheres Ir,,·
nianas. como noticiaram os jornais:
"Pelo terceiro dia consecutivo mllh.,e, de Iranlana••alram 's ruas
de T..rI vestidas t ocldent'l para prot"lar conlra a reslauraçlo bl4mlca
de Obtlga10rledade do uso do véu negro e al9umal foram apedrajadas. Ao
final du manlfe.taçO.n. um telefonema lemlnlno anOnlmo .. egêncle France
preaa anunciou Que as mult\eras com.carlem •• ulcldarol. pelo fogo conl.a
a nova Ofdam.
A mulher que telefonou li agltnela, dlsu 'alar em nome de 15 mil
Iranlanll organizadas numa entldada cuia d881gnaçlo nlO llIvelou a e,cla·
receu que, como opçlo, multas dalas panlam convarta,· .. ao C,l stlanlsmo
pe,.. fugir ao uso obtlgalórlo do ch.or, o manto p,elo e &em co. lutas
que vai di! cabeca aos péI, com • parta correspondente ao v6u presa
entra O. dentas,
Emborll grupo. da muçulmano,. lan"lco. IIve"em atacedo a pau'"
du, lacada. e -ptdradu as rnulnerq que, em nOmaro calculado em cl"co
mil ••e concanlrenlm ne Unlvertklade e dlente do Mlnla"rlo de JUltlça,
nenhuma delas 101 ferIda com gravloeda. Alguns muJeldln.. (combatantas
Isl~mlcOl) armadOI Impediram que a egrudo llvease maio,.. con •• qOêncla ••

No pa16clo d. JustlÇc8. onde no melo d. muttld40 el~ • femlnlsla


noria-amerteana KaU M11I8r, .. mulheru, ai"" de repudiarem o uso do
cfIl8dor, p8<llam lambêm a Iguardade enlre homena a mUlhare., Inctependtn.
ela, democrecla a liberdade.

-192-
_ _._ ._. . ___ -"U"'' ' 'ES'' 'T"ADO'' ' -' IS'' l..\MI'' ' ' 'CO'' '______2!'7
o movimento 6 cootdenado pela Frente Comum d, Llbon8ç:1o da
Mulher, Intellrada por dlvena organlzaçOet temlnil"', entre e'a. 'Mull'lerea
em Lut.' (trotskistas) • 'Mulheres em AleM' (comunistas)" (Jomal do
8'.11, 11/3/19, 19 caderno) .
Não há dúvida, as mulheres IranIanas têm razão aos
olhos da fé cristã c da sã razão. A figura da mulher e seus
valores MO mais preservados e acentuados se se reconhece à
mulher o direito de se autoafirmar com dignidade ao lado do
h.omem na sociedade. Os trajes usuais entre as mulheres
muçulmanas nâo são necessariamente mais puros e decentes
do que os trajes da mulhér no Ocidente. Pode-se crer que
ainda outras normas do Islã entrem em conflito com as cate·
gorias e o ritmo sadios da vida moderna. Eis por que nos
parece Instável o regime do a,yatoll.ah, a menos que se dispo-
nha a renunciar a. c~rtos traços do Islamismo acidentais que
conflitam com a realidade contemporânea.
Como quer que seja, merece atenção o fato de que mesmo
no século XX a cren;a religiosa de um povo manifeste tal
poder de influência na vida pública. Embora o movimento do
a.yatoYah Khomelny tenha sido motivado por abusos do poder
Imperial do xá, verifica-se que a opção do povo Iraniano nio
se deu em favor dos comunistas (que o queriam dominar),
mas, sim, em prol de um Uder religioso. Isto Significa que o
ser humano contlnuil r eligioso ntravés dos séculos e apesar
das seduçôes do materialismo. Realmente pode-se repetir com
S. Agostinho: «Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e Inquieto é o
nosso coração enqua nto não repousa em Th (Connssões I 1).
Eram estas as ponderações que no!"; ocorria propor a
respeito dA atual situação poJitlca do Irã.
Blblh'lI:rllla :
OATALA, V. H., La upre.1Ón de lo Divino en I.. r.lIgla... no c,.
Ilan.., BAC aJ04. Madrid 1972.
OAMBO RIENA. P.. LI aalvlel6n en lu rellglone. no crftUln ...
BAC 3.43, MadrId 11173.
GAADET, L.• COn"l!!rl l'I.llm. Col. "Je . als-Je erol." n' 113. Paris.
"58.
KONIG, FR., Ln Itenglone. de Ii nu,., 3' vaI. BAC roa, Madrid 1950.
PIAZZA, W. O., Aellll56" de IMNnIcIMe. Ed. Loyola, 510 Paulo 19n.
RULlI, G.• Lunga • c:.onlu. . cri" nell'lrl", in la Clwllll C.lloUe. n'i' 3089.
03/03/1979, pp. 501-509.
PR 118/1974, pp. 392·40'.

193 -
Ainda em mira:

as finanças do vaticano (I)


quadro geral

Em .Int.u : Com.nlam-se fre qOenleme nle as finanças do Vaticano,


mas poucos slo os que conhecem a eSlrutura .dmlnlstrallva e as linha. da
polltJca econômica da Santa Sé. O presenta artigo expOe o tama, apresen-
tando 011 diversos (llg'o, que administram os bens do Vallcano, ...Im como
ai fontes de renda de que drs~8m • algumas cifras Indlcallv• • da dinheiro
q ue assim • movlmantado. - A aegu lr, do refI/Ides três diretrizes d • •<fml-
nlstr8y10 do Vatlc.no, Eata poliul fUndos monetllltlO$ pagOl 111 Santa S6
pelo Estado It.liano em 1029 em t~u8rcrm.nlo dos bens conllac.do. em
187t1; ora o Vallcano ,"olveu ultimamente nlo Invesllr em IInna. I.rm.~
d utlcas, em companl'llu produtoras de .rmas ou em empresas cll'l8malo-
grállcas. _" • fim de ....It. r problemas de ordem mo ral que dai pOSllm resul-
tar, Resolveu outrossim nlo Invesllr majoritariamente 811'1 empresa alguma,
flcando, pois, • 51nll S6 . p8nas com 1 %, la mAxlmo, do capita l das IIrmas
de que é aclonlsla (111m de .... llIr participar C!os conselhos da p.trOee) ,
Decidiu ainda Investir preferent.mente to... di! '1"'., atendendo IS5lm •
critérios dMlrsos, anl' 8 oa que'a o da Internac lonaUzeçAo da CClrla Romana,

Em su ma, vermea-sa que o Vaticano, longe de S8 praocupar com


lucros IInancelros, lem aSlumlcfo e ncargos e.cfa vez mais onerosos ns Cúria
Rom. n. pare poder ra,ponO'er 8S 8Klgenc:llS da pas tor81 conltmporlna.,
Esta atllude .... m d.sequlllbrando as IInanças do VaUcano. que l i vê em
.puros crescenle$ pll. dasenvolver I sua minA0 .epost6I1ce.

• • •
Content4rlo: N.ão é raro lel'em-se noUelas referentes às
finanças do Vaticano, noticias que, em última anãJise, afiro
mam ou sugerem ,$er este uma das maiores potências eco-
n6micas do mundo.
A mais ,recente campanha deste tipo deu-se duran~ o
breve pontificado do Papa J oão Paulo I: o semanãrJo italiano
.TI mondo~, filiado ao diário cCorriere della Sera~, e voltado
para assuntos de economia e polltlca, dirigiu ao Papa recém-
-eleito. em setembro de 1978. um . pro.memoria:. ou um rela-
tório acerca dos ben s da Santa Sé, dando a entender ao Pon-
tífiCe e ao público em geral que a administração dos bens do
Vaticano ê corn.l'pta e, por conseguinte, ne~ita de severa

- 194 -
FINANÇAS 00 VATICANO: QUADRO GERAL 19

intervenção por parte do Papa, Com isto o referido periódico


tencionava depreciar a Santa Igreja católica aos olhos. do
mundo, precisamente quando a figura do Papa João Paulo 1
lhe merecia especlaJ atenção e simpatia dos homens em geral.

Vamos, pois, nas pAginas seguintes, voltar 80 assunto,


já abordado em PR 226/1978, pp. 435.448, trazendo novos da.dos
e esclarecimentos aos nOSSOS leitores.

Logo de inicio, compete observar o seguinte:

1) Quem estuda a questão das financas do Vaticano,


verifica q'ue as noüclas apresentadas peJa Imprensa são. fre·
qUentemente, levianas e tendenciosas; repetem Indiscriminada-
mente o que certos jornalistas ou cronistas dissenúnam, multo
mais no sentido de difamar a S. Sé do que de dIfundir a
verdade. Eis aqui um espécimen de tal procedimento, retirado
de um jornal paulista:
"O Banco da Cldada do VatiCino, chamado de InstUulo para ." Obru
ReJlglDSls, tem um 101., de d.pOsltol de cerCI d. dole bllhOeI d. dolara,
aegundo Inlolma a revl.ta 'li Mondo',

A Igr.Ja CaMIJca Romana tem 'amb6m Investimentos .xtenslvos em


ouro e Ululos nos Estadoa Unidos, Incluindo aç.olltl em corporaçõ.s como
• Gel'leral Molon, • Gan .... 1 Eleclrlc, a Sh.n • Gulr 011, a Belhleh.m SI8el,
a IBM TWA, • na .mpresa aérea Pan IAm.rlcan.

'Como um Vilrdadelro Estado', disae a tovb1a semanal ,edlada em


MUlo, 'o VatIcano pode •• r con.Id....do oum do. malor.a propriet6rloa do
mundo', ExClu.'vam.nle em Rome, a Santa Sé possui cinco mil apartamen-
tos alugados, que rend.m por vona d. quatro mllhOes de dOlare, ror .no.

o arUGo de 'U Mondo' Inclt. o novo papa Joio Paulo I a Impor


'ordem • moralldada' na, tr.maça" financeiras do Vaticano • pergunta :
'Serlli eo,r8'0 que as operaç08s d8 marll:atlng do VatIcano se assemelhem a
aspeculaçOn?' ..
(O IMPARCIAL)

2) t: preciso distingUir entre a santa Sé e a Igreja Uro-


versal. A Santa Sé é a sede episcopal de Roma, à qual está
confiado o Estado do Vaticano, cuja extensão nao ultrap8S5a
0,44 km:t i a Santa Sê tem suas finanças próprias. A Igreja
Universal compreende todas as outras sedes episcopais, assim
como as Ordens e Congregações Religiosas, esparsas pelo
mundo inteiro; estas também têm suas finanças próprias, que
não podem ser contundidas com as da Santa Sé. Ora no pre-

-195 -
20

sente artigo abordaren:os apenas as finanças da Santu Sê,


não le\o-a.nt!o em conta os bens diocesanos c religiosos que
escapam à gestão daquela.
o pl'esente artigo apresentará o <Iuadl'o gemi das C1mw-
ças do Vaticano em qual'rO etapas: 1) Vlsüo de conjunto dos
ól"i'ãos administrativos dos bens da Santa Sé; 2) Instituto
pare as Obras de ReJlglão; 3) óbulos; 4) A política econômica
da Santa Sé. - Em artigo subseqüente, abordaremos explici-
tamente as 8rusnçõcs ultimamente levantadas contra a admi ·
nlstração dos bens do Vatic!lno.

1. Os órgãos administrativos
Pela Constituição Apostólica cRcgimini Ecclcslne Uni·
versae'" , de 15/ 08 .'1967, o Papa Paulo VI recstruturou oi;
órgãos administrntlvos dos bens da Santa Sê, dando.lhes regime
novo. Em conseqüêncio. existe hojc, como suprema instância
administrativa, a ehanmda .:Prefejturn dos Assuntos Econô-
micos» (PAEl. cujas principais atribulcões vêm a ser:
1) exercer um controle geral sobre todos os demais
órgãOl'l administrativos ;

2) coordenar e controlar as o~nlt.'Ões financeinls c 0:1


Investimentos da Santa Sé:
3) realizar o balanço de cadn ono findo e a previsão de
orçamento para o ano subseqüente, 11 serem submetidos à
aprovação do Sumo Pontirtce.
A frente da PAE acha·se uma OOrnlSSél.'l de trl:s Car·
deals, cujo presidente é atualmente o Cardeal Ef5idlo Vognozzi,
e cujo Secretãrlo ~ Mons. G. A. Abbo. Sob o controle da
PAE acham·se os órgãos discriminados no e3qUl.!ma nbaixo:
1) Adminlstracão do Patl'lm6nlo da Sé Apostólica
(APSA) ;
a) Secção Ordinãria ;
b) Sectão Extraordinária .
2) Governatorato (Prereltura) do Estado da Cidade tio
Vaticano:

- \96 -
_____ . ~~~ANCAl) 00 VATICANO: QUADRO GER.\~_~

a) Secretaria Geral
b) Direção Geral dos Monumentos
c) Museus e Galerias
d) Direção Geral dos Serviços Técnicos
.) Rádio Vaticana
f) Serviços Econ6mlcos
g) Serviços Sanitários
h) Observatório Vaticano
I) Vilas Pontlflclas

3) S. Congregação para a Evangelização dos Povos


4) Fábrica de São Pedro
5) Clm.ra Apostólica
61 Outros Departamentos menores.
Examinemos mais precisamente 8S competências de cada
um de tais órgãos.

1.1. APSA

Tinha como presidente o Cardeal J ea n VlIIot. Sccretárto de


Estado to, como dito, compreende duas secções:

1.1.1. APSA : Secção ordinálGa


€ este o Departamento que administra o nucleo originá-
rio dos bens da Santa Sé, ou sela, todos os bens pertencentes
às diversas Congregações (quase Ministérios da Igreja), aos
Tribunais e a outras Instâncias (feitas as exeecões explicita-
mente mencionadas nestas páginas) . Em síntese, tal Depar.
tamento administra todo o património imobiliário da Santa Sé.
Deste patrimônio. parte é const1tuida por Imóveis não
produtivos. e parte por imóveis produtivos.
Os imóveis não produtivos são os edifícios ocupados. como
sedes, pelas Congregações e os Oficios administrativos da
Santa Sé.

-197 -
22 cPERGUNTE E RESPONDEREMOSa 233/ 1979

Os imóveis produtivos são as casas e os apartamentos


utilizados para residência e aluguel. O periódico cD Mondoa
mencionava cinco mil apartamentos da Santa Sé, quando na
verdade se trata apenas de aproximadamente mil, situados
nas cercanias do Vaticano. em território Itali<mo. A respeito
deve·se observar o seguinte:
Tais apartamentos são alugados, quase todos, (l funcio·
nários e dependentes da Santa Sê, aos quais o Vaticano cobra
preços módicos de locação, visto que não lhes pode pagar ele·
vados salArlos. Esses apartamentos estão sujeitos a paga-
mento de Impostos por parte da Santa Sé ao Estado Italiano
(inclusive 80 imposto sobre o chamado valor adicional, de
dez em dez anos). Além disto, note-se que os aluguéis fica-
ram eongelados na Itália por muito tempo, até época recente.
Em conseqüêncIa destes diversos Catores, os apartamentos,
em vez de serem Conte de lucro para a Santa Sé. tornam·se
ocasIão de despesas, pois exigem gastos de manutenção e
conservação sempre crescentes.
De modo geral. as despesas que Q Secção Ordinária da
APSA tem de enfrentar. são motivadas pelos seguintes titulos :
Pagamento dos funcionários. manutenção dos prédios da
Santa Sé, fundonamento ordinário de todos os organismos
da Cúria Romana (exeetuada a Congregação para a Evange.
Uzação dos Povos), administração do Palácio Apostólico, rea-
lização do Sinodo periódico dos Bispos e, ao menos em parte,
despesas da diocese (3e Roma (Vlcariato, Universidade do
Latrão .•• ) .
Para avaliar de mais perto o montante de tais despesas,
tenha.se em vista o nOmero de organismos que Integram a
Cúria Romo,na:
Secretaria de Estado, Conselho para' os Neg6c1os Públi.
eos da Igreja;
Congregações para a Doutrina da Fé, para os Bispos,
para as Igrejas Orientais, para a Disciplina dos Sacramentos.
para o Clero, ' para os Religiosos e institutos Seculares. para
as Causas dos Santos, para a EducaçãQ Católica;
Tribunais da Penitenciaria Apostólica. da Signatura Apos.
tólica. da Sacra Rota Romana;
SecretarIados para a União dos Cristãos, para os Não
Cristãos, para os Não Crentes;

-198 -
FINANÇAS DO VAT1CANO ~ QUADRO GERAL 23

Conselho dos LeIgos e Comissão para a Família;


Comissão . Justiça e Pa:u , Comissão para a Revh.ão do
C6dlgo de Direito Latino. Comissão para a Revisão do Có-
digo de Direito Oriental, Comissão para a lnt~rpretação dos
Decretos do Concilio Vaticano U, Comissão para as Comuni.
cações: Sociais, Comissão para a América Latina, Comissão
para a Pastoral das Migracões e do Turismo;
Comissão . Cor Unuma, Comissão Internacional de Teo·
logia, Comissão Bibllca e mais oito Comissões de menor
porte;
Oficios: CAmara Apostólica. PAE. APSA. Prefeitura da
Casa Pontificia. SelViço Assistencial do S. Padre, Ofício para
as Relaeões com o Pessoalj
Arquivo do Vaticano lI;
DePllrtamento Central de Estatística.
Quanto ao Palãclo Apostólico, compreende, além da FA-
brica de São Pedro. a Biblioteca Apostólica YaUcana, o M-
qulvo Secreto, a Escola de Paleografla e DlplomlLt1ca, a Tipo-
grafia Poliglota, a Livn.rla Editora Vaticana, o jornal . L'0s-
servatoro Romano:o.
P assemos agora a novo subtitulo administrativo:

1 . 1.2 . APSA: SecSão extraordinário

~ a continuadora da chamada «Administração Especla1


da Santa Sé_, constitulda por Pio XI em 1929, para admi·
nistrar o. importância que o Governo italiano pagou à Santa
Sé a titulo de indenização pelos bens confiscados em :t.87O.
O Tratado do Latrão, assinado em 1929 por Benito MussoUni
e o Cardeal Gasparrl, estipulou que à Santa Sé seriam pagos
750 milhões de liras em dinheIro e um bilhã.o de Urss em
tltulos do Estado italiano aos juros de 5%. Visto que essa
quantia foI paga pelo Estado Italiano, Pio XI julgou opor-
tuno apllcã-la parcIalmente na própria ltálla, ou 5eja, em prol
da construção de Sem1n6.rlos regionais e casas paroquiais no
Sul do país. Antes da segunda guerra mundial (1939-1945).
a Santa Sé conseguiu transferir boa parte da quantia res-
tante para os Estados Unidos - o que lhe permitiu salvar
importante porção desse patrimônio.

-199 -
~PERGUNTE E RESPONDEREMOS:t 233/1979

Tal dinheiro rol convertido em titulos (at6es, obrigações)


e em dep6sitos bancárlos, a critério de peritos assessores.
Como se julga, equivaJe hoje em dia a cerca de 120 milhóes
de dólares (aproximadamente 2,5 bilhões de c.l'Uz~lros) .
As rendas que u. Santa Sê possa arrecadar do uso de tais
bens, é destinada a sustentar as despesas da Secção Ordiná-
ria da Administracão vaticana. Com o passar do tempo, po.
rém, tais emolumentos são cada vez menos l:IuClclcntes para
tanto, não só em virtude da crise mundIal e da alta geral
do CU5to de vida, mas também porque, como se dirá. adiante,
a Santn. Sé tem criado, na Cúria Romana, organismos e Se-
cretariados para atender a novas situações do mundo con·
temporâneo, aumentando assim progressivamente as suas
despesas.

1.2 . Governatorato (Prefeltu,al do Eltado da adacf.


do Vaticano

o Governatorato tem à sua. 1'rente uma Ccrnissão CanH·


nallcia. cujo presidente era o Cardeal Jean Villot e cujo pro-
. presidente é o Cardeal S. Guerrl.
As despesas respectivas são devidas ao pacamentC) dos
funcionãtios, à manutenção dos imóveis, ao abastecimento, a
que se somam OS serviços prestados à Rádio Vaticana e aos
Museus.
As fontes de l"enda PI"ópda são a emissão de selos, I a
venda de ingressos aos Museus "'. a cunhagem de moedas', a
I O valor nominal dos Silos emitidos nos ultlmos anos 101 de pouco
mais de T bllhOoes de !lru em 1974, quase 4 bllh6es em 1975 a po1JCO mais
da e bllh61S em 1976. - A Quanto consta, os ..los .... ndldos com o timbre
"Sedl vacanll" entra a morte de Palllo VI •• alalçao da Joio Paulo I em
1978 produziram UI anl'fld.. de 3 bllhoe. da lir.s, "ecessirlol pera la:zer
',..nl ••• dupeus Ixtreordln6rlas 8,,110 ocorrlnl...
• em une foram vendidos carea di 1.3110 mil Ing101l0a no. Muaeu.
do VaUceno. Cede bllhlte custa mUllras (I"ttllda gratuita no último domingo
d. cada ml.) . Oi Museus têm bllanço próprio, que dificilmente .. equili-
bre : oa glslos com a conslJlleçlo, a rea'lurll!ilo e e 9uarda da. obras de
arte • com os I.boratórlo, anexos ao, Muaeu, ultrapanam Iong. os pro-
.... ntos obtidos pela venda d. l~rIlS(ls_
a A moeda do E,tado da Cldada do Vallcano ast' vlnc:uleda à moeda
Itellana, O Valleano podl cunhar moeda, dantro de certos llmllll!l3, a qual
é 'Jlnqueado o curso no terrlt6rlo lIaUarlO. Parlodlcamente o Vaticano amlte
moada, comemorativa. com valo r numl,m"lco.

- 200-
FINANCAS 00 VATICANO: QUADRO GERAL 25

venda de produtos alimenticios, vestuário, fwno, combustiveJ,


produtos das Vilas Pontificias de Castel GandoUo, atividades
comerciais na Cidade do Vaticano em faror de pessoas que
tenham direit o a Isto.

o ol'çumcnto do Govematonlto equilibra-sI! bem, podendo


leI' algum 5uptmvit.

1 _3 _ Sagrada Convreto'São para o Eva"sonzaSão do. POVOI


Através das retonnas por que passou a admlnlstra!,;lo
vaticana, a S. Congregação para a Evangel1z9.tão dos Povos
pôde manter administracão autônoma. DIspõe de titulos e de
propriedades imoblllarlas (urbanas e rurais), que o zelo dos
fiéis doou à Santa Sé no decorrer dos séculos em favor das
missões. Tais bens são suficientes para as despesas do fun-
cionamento da própria Congregação, da Universidade Urba-
nlana e do Colégio Urbanlano, deixando mesmo um saldo
positivo.

1 . 4. Fábrica d. São P.dro


Este Departamento atende à guarda e à conservação da
basílica de SáG Pedro. assim como à disciplina de acefiSo a
dependências desta. Administra também o arquivo da basi-
IIC3, o «estudo do mosaico» e as escavacóes no subsolo (necró-
pole) da mesma. O orçamento é equUlbrado, pois, para aten-
der às suas despesas, dispõe dos emolumentos arrecadados no
acesso à cúpula da basilica e à necrópole, assim como das
rendas de fundos de dotação da basilica, ao que se soma
parte das ofertas dos fiéis.

1 ,S. camata Apost611ca


Em teoria, cabe-lhe administrar todos os bens da Santa
Sé cm caso de- morte do Sumo Pontlflce. O Camcrlengo ou
presidente respectivo era G Cardeal VlIIGt.

1 .6 . Outros órgãos
Como Insinuado à p. 1963, ainda devem apresentar o seu
or(:amento c o seu balanco ao controle da Prefeitura 09
-201-
26 ",PERGUNTE E RESPONDEHEMOSa 233/ 1979

seguintes órgãos da Santa Sé: capitules das basílicas patriar-


cais de Sã() Pedro, São J()âo do Latrão e Santa Mana Maiori
aàministração da basilica de São Paulo fora dos Muros e
das basílicas do Latrão e de S. Maria Maior; Vicariato de
Roma, Unlversidade do Latrão, Obra para a Preservação da
F é, ao menos na partc não controlada pela APSAi santuá·
rios de Loreto, Pompéia e S. Antônio de Pádua; Instituto de
Arqueologia Cristã. Academia Romana de Arqueologia; Co.
missão de Arqueo1ogla Sacra; Casa. de Amparo ao SOfrimento
e obras anexas em S. Giovanni Rotondo na Apúlia e outros
Departamentos menores.
Passemos agora a uma instituição do Vaticano que não
é órgão administraUvo dos bens da Santa Sê.

2. O Instituto para as Obres de Religião (lOR)

o Instituto para as Obras de Religião é comumente con-


siderado o Banco do Vaticano, embora não o seja I1ropria·
mente. Foi fundado por Pio XlI aos 21/06/1942 e reformado
aos 24/ 01/ 1944 como instituição destinada a guardar e admi-
ni~ lrar os capitais «' m titulos c em dinheiro) e os Imóveis
transCeridos ou confiados ao próprio Instituto por pessoas físi·
cas ou jut"ídlcas e destinados a obras de religião e de cristã
piedade.
As pessoas fis lcns ou jurldicas em pauta süo: os organis-
mos da Santa Sé, dioceses e paróquias, ou ainda Ordens e
Congregações Religiosas, como também pessoas particulares
devidamente credenciadas. como funcionãrlos da Santa Sé,
leigos que destine m seus fundos, ao menos parcialmente. a
obras religiosas . . . Tais pessoas podem depositar suas pró-
prias economias no IOR. para que sejam custo dia das como
num Banco ou mesmo para que sejam transferidas a paises
estrangeiros ou convertidas em outras moedas.
As quantias depositadas no IOR nio pertencem à Santa
Sé, mas àqueles que efetuam tals depósitos. A finalidade
desse quase Banco é servir às Instituições; católicas é, de ~odo
especial, às obras de apostolado que estas exercem.
Segundo fontes abalizadas. o IOR conta milhares de . depo-
sitantes (pessoas físicas e jurldlcas) e cerca de dois bilhões
de d6lares em dep6sitos e contas interbancárias. Sofreu recen-

- 202-
FINANCAS DO VATICANO: QUADRO GERAL 27

temente notável prejuIzo no caso Slndona: numa atitude de


confiança excessiva, o IOR depositou na flnna do empresârfo
siciliano Michele Slndona importantes quantias, que foram
postas em perigo quando desabou o edifício econ6mico de
Slndona; o rOR perdeu assim cerca de 200 milhões de dólares.

Em suma, o rOR é uma Instituição que funciona rigoro-


samente dentro dos normaS que ~gem qualquêr instituitã,o
bancária, respeitando naturalmente as leis internacionais. Na
medida em que o Vaticano ê um Estado clvU, tem dlreito a
possuir esse tipo de organismo, atualmente administrado por
Mons. Paulo Marclnkus. As criticas feitas ao IOR devem-se
não a pretensa desonestidade de suas operações, mas ao fato
d~ que através do IOR se evadem para o estrangeiro capitais
existentes na IUUa. - A esta observação pode-se responder
que tal transferência de capitais se dá em grau limitado,
visto que são ~n\ definidos OS usuários dos servitos do IOR,
bem como os tipos de servif;O que este pode prestar; ademais
ocorre em funçAo da unlversaUdade da Igreja CatOUca.

3. Óbulo.
A S<1Il1n Sc.' 1"t'CI' bc t\bulru; do mundo intciro e os redis-
trilJui mn favOl' dc obl'as apostólicas ou assistenciais.

Distinguiremos, a seguir, alguns tipos de esmola e de


úrcãos distribuidores de esmolas da Snnta Sé.

3 .1. O óbulo de São Pedro


Após a queda do Estado Pontlficlo em 1870, os catóUcos
do mundo inteiro, tendo à frente os franceses, começaram a
enviar anualmente ao Papa um subsídio financeiro destinado
a sustentar as atividades da Santa Sé. Assim reStauravam um
costume que vIgorara desde o séc. Vil! na Inglaterra e que
passara daí para outros palses (Escandlnãvia, Inglaterra, Po·
10nla, Hungria). Tal coleta ê chamada cObulo de São Pedro~,
senàC) geralmente efetuada no dia de São Pedro (29/06) ou
em domingo imediatamente anterior ou posterior a esta data.

Dura.nte o pontificado de João xxnr (1958·1963), o Obulo


de São Pedro chegava a doze ou quinze milhões de d61aTeS

-203 -
28 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 233/ 19'1!....-_ __

por ano. Caiu nos últimos tempos 80 lÚveL de quatro milhões


de dólares. Tal quantia é apUoada, em parte, à manutenção
das Nunclaturas e Delegações Apostólicas (representações da
Santa Sé em dezenas de palses esparsos pelo mundo Inteiro).
A mor parte do óbulo é destinada à beneficência do Papa,
que costuma enviar quantias monetárias às popuJaÇÓes fla.
geladas por gul!rras, terremotos, Inundaçõcs, cnchrmtes e ma·
les semelhantes.
A caridade pessoal e ordinária do Papa se exerce me·
diante a cElemoslnaria Apostólica., atualmente dita cSeryiço
Assistencial do Santo Padre,.. O Sumo Pontlflce reccbe a.nual~
mente uma média dI! cinco mil pedidos de subsIdios, prove·
nlentes. em maioria, de Roma e da Itália; além do atendi.
mento dado a estes casos, o Papa mantém em Roma algU.
mas instituições antigas abert.as a moças e senhoras em difi·
euldade. Os meios para exercer essa caridade provêm das
modestas taxas cobradas pOr ocasião das bênçâos apostólicas
a nubentes, sacerdotes que se ordenam, .instituições cu peso
soas beneméritas que aniversariam. Os interessados não pa·
gam a bênção, mas o pergaminho e a ajuda de custo correia·
tlva (verdade é que OS lntermediãrios às vezes merecem criticas
por causa de suas especulações comerci ais).

3.2. Pontlflclas Obras MI..lanóriol e Funda «Et:cle"ae SondO&»

a) São três as Obras Missionârias da Santa St! desti.


nadas a sustentar as missões: 1) 8 Pontlricia Obra para a
Propagação da Fé; 2) a PontiRcla Obra de São Pedro Após.
tolo; 3) 8 Obra da Santa Infância (cuja sede central fica em
Paris) . Recebem os resultados de coletas efetuadas mundial·
mente no dia das missões (3' domingo de outubro) como em
outras ocasiões do ano. O dinheiro assim arrecadado ó enviAdo
aos postos rnlsslonbios mais necessitados em qualquer parte
do mundo (8 S. Co~gaçãà para a Evangelização dos Po.
vos basta às suas despesas administrativas, como rol dito).
Para se ter Idéia das quantias que assim ctreulam, note· se:
Em 1975, foi distribuldo um total de mais de 63 milltões
de dólares pelas três Obras Mlsslonâr1as. As doações arreca·
dadas pCl3 Obra parn li Propagação da F6 subiram de 27 mio
lhões de dólares em 1965 para quase 49 milhóes em .1975.
Este aumento nominal pouco significa, se se leva em conta a

-204 -
FJNANCAS 00 VATICANO: QUADRO GERAL 29

crise Jnfiaclonãrla por que vem passando o mundo. Os mais


Importantes doadores. em ordem decrescente, são atualmente
os Estados Unidos, 8. Alemanha, a ltAlla, a Espanha, a
França. a Bélgica. a Holanda e a Austrália.
Todas as Informações re1atlvas à coleta l' distribuição dós
fundos missionários são publicadas no Anuário cAttivJtà deUa
Santa Sede'.
Deve-se registrar outrossim que certos auxillos financei-
ros a dioceses e postos m.1sslom\rios pobres são, enviados dlre·
tamente por dioceses mais aquinhoadas (tenha-ae em vls~..a
Instituição dgrcjas Irmis1t) ou por organl%8.cões qUe efetuam
eoJetas próprias na Qual'esma ou em outras épocas do ·anO
(<<Mlsereor1t. «Advenfab na Alemanha, cEntr'Aide et Fra:
temlté" «Cnrême en Partage» na Bélgica., ,),
b) o fundo cEccleslae Sanctae1t tem origem remota no
Moto propno cEccleslae Sanclae1t de Paulo VI com data de
6/ 08/ 1966. em aplicacão do Decreto cAd Gentes, n' 38 (rela-
tivo às MIssões) do Concilio do Vaticano n. I!: constitu!do
por contribuições lixas pagas anualmente por dioceses e paró-
quias do mundo inteiro e destina-se a obras mlsslonárias
extraordiDárt.a.s. Na Pâscoa de 19TT, o total desses fundos
atingia melo milhão de dólares.
3,3 , S. Congregação para as Isr.lo, Oriental,
A esta Congregação estão conrladas as comunIdades de
rllo oriental, que a Santa Sê auxilia na constru;ão de igre.
jas, escolas, hospitais, asilos, orfanatOs. bem como em obras
missionárias. bolsas de estudos. ,. Principalmente o Oriente
Médio é assim beneficiado. Para prover a tais subsídios, exis-
t em algumas organizacões como a cCatholic Np.ar East
Wclfarc ASSOClation» de Nova Iorque, a "Oeuvre d'Orienb
de Paris, il ccalholica Unlo, da Sulca e da Alemanha e outras
entidades, principalmente alemãs e holandesas,
Em 1975, a S. Congregação para as Igrejas Orientais
distribuiu pouco mais de seis mUhões de dólares e, em 1976,
quase seis milhões.
3.4. Ponliflda ComlSJáo po."a Q Am&lca Latina
Este Departamento redlstrlbul fundos às comunidades
mais necessitadas da América Latina.

- 205-
3() .PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 233n979

3 . S. Pontifido Comissão para o Pastoral dos Mlgrosões


e do Turismo

Entre outras funções, esta Comissão desempenha a de


auxiliar financeiramente a pastoral dos emigrantes, a assis-
tência espiritual aos nômades e o apostolado do mar e do ar.

3 .6. eCor Unum.

Este instituto tem por tarefa não propriamente distribuir


sUbsidlos, mas, sim, coordenar a ação dos numerosos orga·
nismos internacionais, nacionais e particulares que trabalham
no setor da assistência e da caridade e que, em última aná-
lise, dependem da Igreja Católica. O seu atual presidente é
o Cardeal Bernardo Gantl~.

4. A política econômica da Santa Sé


Para fuer frente às despesas crescentes, assim como para
evitar os percalcos Que toda aplicacão de fundos acarreta, a
Santa Sé, nos 111timos anos, houve por bem estabelecer algu-
mas normas aptas a administrar sabiamente o patrimônio que
lhe tocou em virtude do Tratado do Latrão de 1921. Ej-Ias:

4 . 1. Nóo Irwedlr em ...

1) Excluir investimentos que possam acarretar proble.


mas do ponto de vista moral. Assim, os que se referem a
- Ílrmas farm acêuticas, as quais produzem ou podem
produz.1r anticoncepcionais;
- flnnas fabrieadoras de annu, as quais podem con·
trlbulr para del'rogar 80 programa de desannamento e paz
mundiais apre~ado pela Igreja i
- empresas cinematográficas, cujas produções são fre-
qUêntemente ImoTals ...
- firmas construtoras, visto que estas estio sujeitas a
critê'rlos de especulação imobiliária, contra a qual se têm
levantado Cortes campanhas na Itália e no mundo Inteiro.

-206-
FlNANCAS DO VATICANO: QUADRO GERAL 31

Em conseqüência, os investimentos da Santa Sé dão pre-


reréncia às chamadas c:uUlidades~1 ou seja, sociedades de ser-
viços públicos (telefone, eletricidade, gás, etc.), empresas bano
cárias. companhias de seguros, Indústrias químIcas, nlimentl·
clas e petroliferas.

4 .2 . Niio InvlHHr majoritariamente . ..

As participações majoritá1'las levaram o Vaticano a tris-


tes experiências no passado. Com ereito, os acionistas do Va-
ticano tiveram que assumir seu lugar em Conselhos de admi-
nistração de empresas e enfrentar representantes de Sindica-
tos e liquidações de setores de trabalho (como ocorreu, por
exemplo, no caso da fábrica de massas Pantanella).
Além do mais, a participação majoritiuia obriga a fazer
face a imprevistas neeessidades financeiras, caso a. firma passe
por dificuldades repentinas. Ora o Vaticano não possui capi.
tal para tanto.
Por Isto 8 nonna vigente no Vati~no manda repartir a
participação acionária da Santa Só por grande número de
empresas, não assumindo, em CRdA. qual, maiiiõ do que 1% do
capital.

4,3 . Investir taro da itália

Verifica-se que os investimentos na Itália são hoje me-


nos rentãveis, parecem menos seguros, como também menos
protegidos pelo segredo, além de sofrerem maiores taxações.
Eis por que a Santa Sé tem procurado liquidar boa parte das
suas ações na Ilâlia, B fim de assumir particjpaçóes aciona.-
rias e fazer depósitos bancários nos Estados Unidos, na Suica.
na Alemanha, no Japão, no Canadá, na Franca, na Espa-
nha .. . e, de modo geral, em todos os países que pennitam a
livre exportação dos lucros. Esta medida corresponde, aliás,
~ tendência a internacionalizar a Cúria Romana.

A Santa Sé tende também a liquidar certas propriedades


JmobiUárlas, tanto por causa da sua baixa produtividade como
por efeito de campanhas movidas em Roma contra as pro-
Priedades eclesiásticas.
- 2(f1-
32 _. _ (P~~PYm:E E RESPONDEREMOS. 233/1979

S, Observação final
O próximo artigo deste lasciculo abordarã, ponto por
ponto, as acusações feitas à Santa Sé a respeito das finanças
do Vaticano. No rinal da presente exposiçãO, interessa ape-
nas registrar quanto segue:
Observa-se que as tomadas de posição e as opções da
Santa Sé nos últimos tempos não somente não tém sido
Influenciadas por preocupacõcs financeiras e interesses eco·
nômicos, mas, ao contrário, têm criado noves encargos finan-
ceiros. Com efeito, a Santa Sé tem empreendido todas as
tarefas pastorais que lhe pareçam oportunas, com oneração,
cada vez mais penosa, de suas finanças.
Tenha·se em vista. por exemplo, a descentrallzacão da
CliMa Romana, executada por Paulo VI após o Concilio do
Vaticano fi; reconhecendo aos bispos diocesanos certas facul-
dades que, durante séculos, foram reservadas à Santa Sé, o
Sumo Pontífice l-enunciou, III.CiO fneto, às taxas outrora arre-
cadadas por ocasião dos Tcspectivos despachos na Cúria,
HOje em dia, rcstllm apenas algumas taxas a sc-rem pagas à
Cüria Romana, geralmente por ocaslúo de nomeações, dis-
pensas, processos de canonização, de decJaração de nulidade
de casamento ", Calcula-se, porém, que atualmente as partes
interessadas nos processos <::obrem apenas 205'0 das despesas
dos tribunais romanos, fi cando 80 $'(. a cargo da Santa Sé,
Entre os recentes encargos assumidos pela Santa Sê, ê
de se mencionar outrossim a criação de novos organismos da
Cúria, em correspondência às aspira(Ões do ConclUo do Va-
Ucano 11: assim os Secretariados para a União dos Cristãos.
para 1) Diá logo com os Não Cl'istãos, para o Diálogo com os
Não Crentes, o Conselho dos leigos, a Comissão "Justiça e
Paz_, a Comissão para as Comunicações Sociais. .. Como se
compreende. estes Departamentos são os mais dispendiosos
da Cúria Romana, dado que os seus membros precisam de
manter contatos Internacionais, partidpando de encontros e
Congressos nas mais diversas partes do mundo.
Mencione-se ainda a InternacIonalização progressiva da
Cúria Romana: a Santa Sé tem solicitado os serviçOs de peri-
tos e consultores de diversos palsesj chamou para Roma
vArios bispos estrangeiros - o que tem multiplicado as via-
gens aéreas e seu orçamento,

- 208-
lo'INANÇAS 00 VATICANO: QUADRO GERAL 3.1

Mais: a Santa Sé tem procurado elevar o nivel salarial


dos seus servidores, reconhe«ndo as exigências de nossos
tempos. _ Em fins de 1976, o Vaticano tinha 3992 funcioná-
dos na ativa e 1500 aposentados. Os saJãrlos continuam não
sendo altos - o que causa dificuldade aos oficiais oriundos
de países cuja moeda é rorte. Acontece, porem, que o leque
saJa'rlal da Santa Sé é daqueles que menor disparidade ofe-
recem no mundo inteiro. Com efeito, o sa1ário mãxlmo em
fins de 1971 era de 600 mil liras mensais, oferecido a quem
ocupasse o posto supremo da carreira administrativa do Va-
ticano após vinte anos de serviço (por exemplo, um Substi-
tuto da Secretaria de Estado), ao passo que o salário mínimo
era de 400 mil liras mensais, pago a auxiliares, continuas e
agentes (mais ou menos equiparados entre si). -e preciSO
lembrar, de resto, que os funcionários da Santa Sé, além
dos beneficios concedidos aos de qua1quer pais (a.ssistêncla
médica, Indenização por Inatividade, salário-fam!lla .. . ), usu·
fruem de certas vantagens: aluguéis mais baratos, acesso ao
oomérclo do Vaticano, jsen~ão fiscal (reconhecida pelo art. 17
do Tratado do Latrão).

Quanto aos Religiosos que trabalham no Vaticano, têm


tratamento diferente [lO1' haverem (cito voto de pobreztl:
l'C('(!bcm 425 ou 400 mil liras mensais (conforme sejam licen-
ciados ou não), mas não percebem indenização por inatividade
(em lugar disto, têm direito a um dêclmo quarto salârlo) .

Entendc-se que, cm conseqüencia do aumento do quadro


da CÍlria Romana, as despesas desta sejam cada vez mais
vultosas, precisamente numa época em que as rendas tendem
a diminuir.

Hil jã mul s de cinco anos, o or, am(!nto anual do Vati-


cano i! deficitário.
Estimado em 30 btlht)cs de liras. deixa
um soldo negativo de 10 a 12 bilhões.

Em 1974. a previsão de orçamento para 1975 foi l'ejei-


tnda pelo Papa Paulo VI. que pediu contenção de- despesas.
Foi então constitui da a Comissão Gngnon, encarregada de
estudar n supl'f:ssão de postos de trabalho tidos corno men~
necessários, redistribuir o pessoal, diminuir as des~as com
viagens, convites, etc. A Comissão fez suas propostas minu-
ciosas ao Papa.
- 209-
34 cPERGUNTE E RESPONDEKEMOSa 233/ 1919

Apesar disto, o balance da Secção Ordinária da APSA


(que provê às despesas da Cúria Romana) continua defici-
tário desde vários anos, deixando o balanço global da Santa
Sê desequlllbrado; as fontes de renda da Secção Extraordi-
nária da APSA já nâo bastam para assegurar a normalidade
das finanças, de modo qUe a Santa Sé se vê cada vez; mais
Obrigada ft contar com os emolumentos provenientes do rOR
e do óbulo de São Pedro.
Estes dados, concretos e fundamentados como são, des·
razem a im3gem de um "Vaticano rico., falsamente proje-
tada por pessoas Que lalam B nspeito sem o necessário conhe.
cimento de causa ou repetindo cs)ogans. forjados precipita.
damente. A Santa Sê não pode dispensar recursos materiais,
embora exerça missão espiritual; é certo, porém, que cs bens
materiais de que ela dispõe, são parcos ou mesmo insuficien-
tes para a nalizacão de todos os projetos que o curso da
história contemporânea parece sugerir, Se o Vaticano con·
segue desempenhar a sua missão, isto se deve à austeridade
do seu estilo de trabalho. como também, c principalmente, à
assistêncIa da Pl'ovidénda Divina, que não deixa de apoiar a
"ua Igreja mediante a generosidade dos fiéis,
Este artigo vem a ser a slntesc d~ grande parte do tra·
balho publicado por Giovanni Cereti com o titulo cRecursos
e atividades financeiras do Vaticano. em cConclllum. n 9 137,
1978/7. pp. 8(808) - 24(824).

A propósito aInda :

C0N3AR, V.-M., La, bllns IttnpOrl'- da I'EglIse d',prts I I Iradltlon


Ih6Ologlque et c.nonlqu., In EglIsa 1i P.Utttl"'. Plrls 19115, PIl. 2~·258.

J . l.., Le VaUe.n '"rlgnota' son eapllal, In In(orm.llons e.lhOU"u ..


IntemaUOIII'ft rllI 592, novembr. 107B, pp. 49·46,
SARTORI L E CERETI O., A CO,la I "r'I'lça di ..... Papado Rlno'tldo.
In Conellllllft "' 108, 1976/ 8, pp. 998·1007.

ZIZOLA, GIANCARLO, Qual. Pipi? Ed , Borl., Roma 1978.

- 210 -
Ainda em ml,.. :

as finanças do vaticano (11)


objeções e respostas

Em slntn.; Continuando o artigo anterior, que expOt o lunclo....•


menlo da admlnlstraçio \lalleana, as p6glnas a.gulnl" apres.ntam as .....
postas dadas pela S. 56, alrav6s do seu órglo L'Os..rvalora Romano, a
Jornalistas que ulllmamente divulgaram lallel nolCelas sobre el finanças do
Val1cano.

Tais ,upostas mostram que multas noticias publlead .. a respeHo


carecem da fundamenlo; nlo poucos daqullas qua as publicam ou tlsnaml-
lem, lazem-no lem o devido conhecimento de caula, repatlndo alog... lna.
pirados por prac::oncellos ou por tntenç(lea difamatórias mais do que pelo
amor" verdade.

Ditia Paulo VI ao vlsllar a Slcllla: "O Papa 1'110 é rieo. Tamos dificul-
dades para sUllanla r as despesas decouenlas dos serviços nacess6rlos i.
admlnlstraçJ.o cenlral de tod• • Igr.j....

o pre.onle artigo Itusu., a sau modo, tais palavras e contribui para


evldanclar que a campanha difamatória das finanças do Vaticano .ó con-
corra p'fa desonrar aqueles que a movem, 1'110, porém, aquelas qua • sofram.

• • •
ColUcntia.ri~: Após a BPl'I..'Sentação do quadro geral das
linhas diretrizes das finanças do Vaticano, importa conside-
rar algumas objeções que nos últimos tempos foram levanta-
das eontra tal sistema. Oriundas na Europa, tais acusa.;ôes
(oram repetidas no BrasIl, seja por escrito, seja por via oral.
sem que o público tivesse referenciais para poder avaltar 8
fundament ação e o alcance das mesmas.
Na$ pliginas subseqUentes, vamos retomar o caso, levando
em conta as in(onnações fornecidas n respeito pela própria
Santa Sé através do seu periódico L'05servatDre Rom&1lo.
TencionamoS assim oferecer ao leItor brasileiro a ocasião de
se esclarecer em fonte limpa a propôsito de uma campanha
que se toma desonrosa tão somente para quem a move, e não
para Quem D sofre.
- 211-
~i_ .. ' _ ' ._::!,!:!~Ç_U.~TE .E RESPONDEREMOS," 233/ 1919

1. Imediato funda de cena


o escritor Nino Lo BeIJo publicou o livro L'Or du Va.ttcan
(ed. Robert Laffont Paris 1969), exIbindo noticias e nÚme·
I'OS que tendem a caracterizar o Vaticano como grande
potênda rUlan~il 'a interessada em especula:;õcs IUCI'atlvas
pouco <."Ondrzcnles com o id eal de simplicidade e pobreza do
l:.vangelho.

o livro de Nino Lo Bello deu matéria a um artigo do


jornalista Blaise Evard no periódico Tribwle de Lausanne de
13/03/ 70, artigo pouco slmpáHco a Santa Sé. O mesmo livro,
publicado em U'adução alemã, rnCl'eC\.'U um comentario do
jornal WocbenpJ'tSSC de Viena aos 8/ 04/ 1970. Finalmente o
Carnoso semanârio alemão Der Spiegcl (ed. de 25/ 05/ 1970)
divulgou , por sua vez, trechos do mencionado livro que, nos
três casos, passava por fonte fidedigna de informa:;ões.
Diante de tal campanha, o jornal L'Osservntorc Romano
do Vaticano foi solicitado por leitores suíços a prestar escla·
recimentos. Em resposta intitulada PrccIsazionl (22/ 07/ 1970),
mostrou como levianas e inconsistentes sâo as inrormu~-õ~
de Nino Lo BeJlo e da imprensa que as acolheu. Tais escla·
recimentos, que visam diretamente às noticias do jornal '.fri-
btUle de Lausanne, de 13/03170, scri'io precisamente a maW·
ria das páginas subseqüentes.

2. Desfazend·o falso imagem


São treze os pontos abordados na rêpllca :
1. Afirma o periódico Tribune de Lau.<mnne: cO Vati·
cano vendeu à FlAT 30% das ações da LANCIA que ele pos-
suiu. A mesma noticia apareceu outrossim no jornal Thc
Eeonom1st de 1./11/ 1969, já tendo sido desmentida por L'Os-
serva:oorc Romano de 19/ 11/ 1969. - Na vet'dade, a Santa Sê
jamais possuiU ações da LANCIA; por conseguinte, nunca as
pôde vender a quem quer que fosse.
2 . Assevera a TrlbtUle do IAl.u5anne que <a Santa Sé
soube especular habilmente com a revalorização do marco».
- Também Isto ê falso. pois a Santa Sé jamais possuiu mar-
cos alemães.
- 212-
FJNANCAS DO VATICANO : RESPOSTAS 31

::J. A Santa Sé. dizem, possui ações ITALCEMENTI.


ALFA ROMEO e IRI. - Ora quem conhece um pouco a
situa~.ão Italiana, sabe que o IRI é wna companhia financeira
de direito público, e não uma sociedade fundada sobre ações;
por conseguinte. não tem acionistas; é. pois. impossível que a
Santa Sé seja um dos principais acionistas do mI, como
afirma n Tribunc de Lausannc.

4 . Diz ainda este jorp.al sulço que a Santa Sé possui a


maioria das ações da lTALGAS, da SNIA VISCOSA e da
MONTEDISON. - Ora essa maioria não vai além de 0,92%
no caso da ITALGAS, e não chega a 1 % no das duas outras
Compa'nhias.

5. O mesmo periódico insinua outrossim. sob O t:lulo


Le Saint-Slêge: de l'immoblHer aux assuranecs, a Santa
(]UI!
Sé dispõe de elevadas cotas de acões de Companhias imobl·
liárlas e de Seguros. - A propósito, observe.se Que a Santa
Sé não tem participação majoritária em Companhia alguma.
No tocante às Companhias de imóveIs em partlcular, como é
a Società Generale bnmobUiare, o Vaticano se desfez das ações
respectivas. Os motlvos de ta l atitude são expostos â p. 207
deste Cascieu1o.
6. Ê falso que a Santa se tenha ~ o conla'ole das sete
principais Instituições bancárias da Itállu.

7. It verdade que o Vaticano possui atualmente depó·


sitos cm Bancos da AmérIca do Norte c da Suiça. Isto, po·
rém, é plenamente normaJ, dado o caráter internaclcnal da
ação da Igreja, a qual desenvolve sua missão evangelizadora
e promocional em todos os continentes da terra.

Nos Bancos italianos. a Santa Sé dispõe de depósitos.


IIquidos. cujo montante é proporcional às operações finan·
ceiras que ela tem de reo.lizar na Itália.

8. cO capital produtivo do Vaticano, afirma a Tribune


de Lausanne, pode ser avaliado entre 50 e 55 bilhões de fran·
cos suiCos~, ou seja, 7 ou 8 trilhões de liras. - Pois bem; tal
quantia é slmplesmente fantástica. Na verdade, o capital pro·
dutivo da Santa Sé, incluindo tanto os depósitos como os
investimentos colocados na Itália e fora da Itália, estã longe
de atingir a centésima parte de tal soma.
-213 -
.!L... .Pl:!Rt,;UN'fE J:; RI::SPONDEREMOS» 233/ 1m

9. A Importância de 7 ou 8 trilhões de liras serJa fan·


tasticamente exagerada mesmo na hipótese de se considerar
o dinheiro depositado no clnstituto para as Obras de Reli·
gião, ou em outras instituições congêneres, dotadas de fina·
lidade especial. - Na realidade, a Santa Sê não pode dispor
de tais quantias para atender a seus interesses administra·
tivc:JS, visto que não lhe pertencem e são destinadas às obras
missionárias e assistenciais da Igreja universal. Para fazer
Crente às suas despesas adminIstrativas, portanto, a Santa Sé
só pode contar com os rendimentos do capital produtivo men·
cionado no inciso 8 a1ms.

10. segundo a :rrtbune de Lau.sanne, ca Igreja dlstriblÚ


anualmente mais de dois trilhões de francos sulços aos paJses
em via de desenvolvimento».

A prop6slto cabem duas obseIV8cóes:

a) 1: necessário distinguir sempre entre a Igreja e a


Santa Sé. Esta vem a ser a diocese principal de toda a
Igreja, na qual estão centralizadas diversas funções da Igreja
universal. Quanto à Igreja, é a comWlhão de todas as dioceses
do mundo inteiro; compreende paróquias e instituicÕeS multo
numerosas e varicgadns.

b) Sabe·se que em vários paises desenvolvid()5 existem


instituições católicas destinadas a ajudar as regiões subde·
senvolvldas c a atender às ncccssidadcs de popular;ões Indi·
gentes ou flageladas (I\liscreor. Advenlat. Ch3ritas Interna.-
tlooalis ... ). Ora ê certo que tais sociedades distribuem anual·
mente quantias de dinheiro. Resta saber donde vem a Jnfor.
mação de Que se trata de mais de dois bilh6cs de francos
suíços . . . Não resultaria de conjetura exagerada? Caso seja
fiel, atestu o Jnteresse dos fiéis católicos pelo bem de seus
innãos necessitados e, em vez de suscitar criticas. é- apta a
provocar tão somente os aplausos do público.

Não há dintlda. porém, de que a mencionada quantia


não pode sair dos rendimentos da Santa Sé, que lhe são de
todo inadequados. .Verdade é que a Santa S~ distribui aos
palses subdesenvolvidos parte dos donativos que a Igreja Uni-
versal destina aos mesmos: tenham·se em vista, por exemplo,
as obras missionárias pontificlas já referidas Ià p. 204s deste
fasclculo. Anualmente a S. Congl"ega~iío para a Evangeliza.
- 214-
• • ._.: FINAN(;AS DO VATICI\NO ~ RESPOSTAS . _.. ----ª.?:

ção dos Povos publica minuciosa prcstaçAo d(' conl.8S i\ tal


respeito.

11 , Nilo::te devem confundir com os bens da Santa Sé


as subvenções que, na base da Concordata Itália-Vaticano
(art. 30), o Estad o italiano paga aos bispos e aos párocos (e
não -o todos os eclesiásticos residentes na Itália», como pode
insinuar a Tribnne dr! Ls.u.sanne). - Note·se, allãs, qUe a
subvençli.o ou côngrua aos ministrOs do culta não é peculia-
ridade do regime Italiano. mas é prestada também @m outros
pnises, mesmo não oricialm!'ntc católicos.

12 . Ainda assevera a Trlbune de lansanne: cA Con-


cordata isenta de todos os Impostos os membros do clero e
os cidadãos da cidade do Vabcano:.. - Ora isto não é exato.
A Concordata não trata de tal isenção. Todavia o Tratado
do Latrão (que se distingue da Concordata, embora tenham
sido ambos assinados no mesmo dia), em seu artigo 17, prevê
não a Isenção de todos os impostos. mas apenas a isenção dos
tributos que recaem sobre os paga.mentos e-fetuados pela Santa
Sê aos seus dependentes. Este artigo, portanto, beneficia ape-
nas os assalariados da Santa Sé, e não os membros do eJero
em geral, como também não os cidadãos da cidadP do Vati·
C1lno como t.-lis (pouco mais de 500 pessoas J.

Diga.se ainda que os dependentes da Santa Sé constituem


poucos milhares de individuas, em maioria leigos responsâ-
veis por suas rami1l as. O beneficio que o Tratado do Latrão
lhes reconhece em materia tributária, não ê senão uma con·
~üênciR do reconhecimento da sober,mia da Santa Sé.

13 . .f; verdade que, por ocasiâo da reconciliação entre


o Vaticano e o Estado Italiano, este pagou àquele, a titulo
de ressarcimento, a quantia de 40 milhões de dólares em
especie e 50 milhões de dólares em tltulos do Tesouro a 5 5ê .
Enlenda·se isto, porém, no contexto do ano de 1929, quando
o dólar valia 19 liras, e não no contexto de hoje. Em 1929.
a Itália pagou 750 milhões de liras em espécie e um bilhão
em titulos. Hoje pagaria quantias que girariam em torno de
50 e 60 bilhões de liras.

Uma vez examinados os treze pontos atraso rt5ta·nos


passar A uma

- 215-
40 ,,-PERGUNI'E E RESPONDEREMOS_ 233/1919

3. Conclusão

A resposta dada ao jornal Tribune de Lausanuc, a pedido


de leitores sutços, bem mostra não somente quão Inescrupu-
losas eram as noticias deste jornal, mas também quão pouco
tldedignas são os dados oferecidos por Lo Bello aos seus lei-
tores. De modo geral, verlCica-se que são pouco honestas as
Informaç:jes ministradas a o grande público por periódicos que
pretendem conhecer e bisbilhotar as finanças do Vaticano.
Dir-se-ia que são inspirados por preconceitos e por IntenCÕti
difamatórias multo mais do que pelo amor à verdade.

Em conclusão de quanto acaba de ser ponderada, poc1e-se


d1zer que a Santa Sé possui um patrim6nlo, como, aliás, qual-
quer sociedade possui o seu património, desde que tencione
construir rugo neste mundo em ravor dos homens. Cristo
não condenou a posse de bens materiais como tal, pois sabia
que estes sào indispensáveis à difwão da verdade e do bem.
a que o Senhor rejeitou, foi a posse gananciosa e egolsta
das riquezas.
Sendo assJrn. entende-se que o Vaticano possua recursos
materiais. Estes vêm a ser modesto Instrumental para o
desempenho da missão religiosa da S. Igreja. Dado Que tal
missão é cada vez mais exigente e complexa em nossos dias,
esses recursos se tomam cada vez mais inadequados para
tanto. :t o que levava o Papa Paulo VI a dizer por oca.c;ião
de sua visita a Cagl1ari na Sicilia em 1970:
"O Papa nlo , rico, como dizem muitos, Temol dUlculdlde, plr. IUS-
tlntlr as despeul decorrantes dOI serviçal nec:eslirlol /li Idmlnlltraç'o ceA-
Irll de toda I Igreja_ Poder-$8·la lacllmant. domon,!ra! que ai 'abulO!lls
riquezas que, de vez em quando, algumas vozes da oplnllo publica atribuem
l 'grela. alo multo mels exlguas I. nlo IIro, 'n' ullclen". para ., neceul-
dedes modest •• li leg!Umh d. vld. ordln'rll Ilnlo de ecle.lbtlco, e Rel i-
glolos qu.nte de 'n.lllulções de beneficêncl. li pulara'''.

Possam estas palavras do grande PontIrlce @ os dados


anteriores contribuir para lançar luz sobre assunto a respeito-
do qual multas pessoas (cristAs e não cristãs) facilmente terem
comentários. mas do lJual poucos têm o devido conhecimento!

- 216 -
Sim ou NIo?

.. (áli(e "
de Chico Buarque e Gilberto Gil

Em alnto •• : A cançlo "CtiUce" causou Impaeto nos ouvlnl". Tenla


para',.."a, a oraçlo de Cristo no horto das Oliveira•. TOdavia 'oi ral.llada
por autorldad.. da Igr.ja cemo Inoportuna e Irr..... r.nle ... 1510 .. explica
nlo aO pela linguagem vulgar da respectiva lelra, mal lambém pelo laia da
qUII só exprime amlrgura li desespero. 0111 a elllude crista dlanta do mal e
da clor, embora seja do repulsa, W!m a S'f, em "lIlma anlllll.., de confiança
e esperança. Nio h6 seIl18·1.lr. santa sem domingo d. puco•. Parti o
crls,lo, nlo h' dor .em perspectiva de alegria suscllada pela vllórla de
Crislo sobre a çruz e I mOlte.
Ademais , nolOrl1 I Influ'nela das canç6e1 populares na rOlmaçlo
ou delormaçlo da gente slmplll•• e o q ue expllça as res.rvas da paslo.e.
da Igreje Irente e lol,e de "C,llc....
• • •
Comentálio: Causou certo Impacto no pUblico a canção
de Chico Buarque c Gilberto Gil intitulada _Cálice:.. Alude
de mnneil'a extremamente realista aos males da sociedade
contemporãnea. parafraseando a oração de Jesus no horto
das Oliveiras; cPai, ... afasta de mim este cáliee~ (Me 14,16).
A ean~ão teve pcnetra('ão em ambientes católicos, que nela
vh"am a ocasião dI: provocar a reflexão sobre a realidade dos
nossos tempos c 05 a~los Que eles dirigem aos cristãos. Con·
tudo foi rejeitada em alguns pontos do Brasil por autoridades
da Igreja como sendo inoportuna e irreverente. - A opinião
pública pergunta: por que foi condenada tal canção? Que há
nela de inoportuno?
I!; o QUe vamos tental' explanar.

1. A letra da ca~õo

Antes do mais, eis o texto em causa:


CÁLICE
"Pat, alullI da mim e580 cillce
De vinho IInlo de ungue I
Como beber des$&. bebida amargl,

- 217-
""-_ _ _,,,P,,E,,R,,G,,,U,,,N,,,,rE,,-,E,,-".!:R"ES""PO"",N~D"E"R"E"·'''''''''"",".,-,,233=",,97,,9,,- .. _ . _ __
Tragar a aor, '"51011' a labull?
Mesmo calada • boca, fllSl. o peUo.
Sntoclo. na cidade nlo .8 I.euta.
Oa que me vI'e ser filho da lIanla ?
Malhor seria IIr !IIho da oulr. I
Outra realidade menos morta,
lanla mantlr• . tinia força bNla'
Como é dlllcll açord.r calado,
Sa na calada da noU. eu me dano.
Ouero lançar um grilo desumano,
Ou. é uma manalra de ser esculado.
ell. sll'nclo todo ma atordoa.
Atordoado continuo alento
Ne arquibancada pra qualquer momento
Ver emerslr o monstro da 'agol.
De multo gorda . porea lê nlo anda,
De multa Iluda (I faca J' " Jo corta,
Como é durell, pai, abrir a porta '
eu. palavflI P"SI na ga rganla,
Esse pn.~u. homérico no mundo .. .
De que adl. nta te' boI vonlade ?
Mesmo calado o peito. 'es'l 11 CUCI
Doi bêbados do Cl nlro da cidade.
Talvez o mundo nl o soja. pequeno.
Nem seJa a vida um falo consumado.
Ouero i.we ntar o meu próprio pacado.
Ouero morra r do meu próprio ve neno.
Oue,o perder de ve. lua "beça.
Minha cabeça perder. ter JuIzo ...
Ouero cheirar fumaça de óleo [)lesel,
Ma embriagar alê que alguém me esqueç,," .

Passemos u algurnus reflexões sobre tal texto.

2. Comentando . .

Pl'oporemos (lu:J.tro tópicos:


1) O texto tenciona desenvolver a oração de Cl'isto
proferida no jardim das OJiveiras em consideração das dores
de xua PaJxão e em vista do pecado do mund(). Propõe então
a amargura de Quem considera a sociedade de hOje. usando
linguagem metafórica e popular (ou mesmo VUlgar). que,
aliás, nem sempre ê clara c concatenada. O ouvinte pereebe,
sem dúvida. que o cantor exprime amargura e desdém :
" Tanta manU.. . Ilnll torça bru ta . . . Ú S8 pilequa l'Iomarlco no
mundo .,. Relia I cuca dos baba dos /Ia ca ntfO da cldadtt .. , "

Note-se, pol-ém , que em loda a canção não hâ uma pala-


vra de eSperant:;a ou de confinnca num futuro melhor; não

- 21R-
f.CALICb DE CHICO BUARQUE

se faz alusão a algo de bom ou valioso na realidade contem·


porânea. Ao contrario, o texto tennina po desespero: czQuero
inventar o meu próprio pecado... Quero morrer no meu pró.
prio veneno. .. Quero cheirar fumaça de óleo Diesel, me em.
brlagar até que alguém me esqueça».
2) Ora tal a titude não ê cristã, ou .seja, es1il longe de
interpretar o pensamento de Cristo. O Senhor Jesus conti·
nuava sua oraçâl) ao Pai, dizendo: eFaça·se, porém, a tua
vontade, e não a minha:.; exprimiu, desta tOnn&r serenidade
e conClança, superando a dor que lhe enchia o coração. Além
disto, venceu a própria morte, ressuscitando. Assim Cristo
deixou aos seus discipulos a consciência de que n ão há sexta·
.feira santa sem domingo de Páscoa, não há cruz e morte
sem ressurreIção, não há tristeza. sem perspectiva de alegria.
Esta convicção é essencial para o cristão; este jamais se pode
deixar submergir pela dor a ponto de só descrever a fa'Ce
sombria da vida; antes, para o cristão, já a cruz é gloriosa,
pois é o penhor da restauração do homem como nova cria·
tura (cf. 2Cor 5,17f.
t:. pois. o fato de interpretar erroneamente o pensamento
de Cristo e a mensagem cristã que, antes do mais. suscita
sêrias reservas Q canção da parte de pastores da Igreja. A
expressão de tanta amargura, sem menção de esperança,
defonna a mentalidade do publico, especialmente da gente
simples, que costuma ouvir tal tipo de muslca.
3) Alêm disto, chama a atenção o teor da linguagem
adotada; não somente a giria, mas a irreverência ai apare-
cem: cDe que me vaJe ser tilho da santa? Melhor seria ser
filho da outra!~ (lU cQuero Inventar meu próprio pecado,
Quero morrer do meu própriO veneno... Evidentemente, tal
expressionismo nio se coaduna com o estilo de uma assem-
bléia litúrgica ou paralltúrgtca. Talvez ocasionalmente tal
canção possa ter signlficado em ambientes seletos; através
de sua letra poderiam ser levados a uma reflexão sobre o
contraste ex.istente entre a realidade de hoje e o mundo ideal
que, apesar de tudo, os cristãos devem procurar construir.

4) Deve-se ainda realçar a enonne influência que exer-


cem as canções populares, principalmente quando diwlgadas
pelos meios de comunicação social. Tornam.se, não raro,
meios de deformação ou também . .. de formação das massas.
Isto explica a atenção que a Igreja dispensa a tal fator da
-219-
'" cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 233/19'19

vida moderna. Os cantores populares podem realizar grande


bem em prol da gente simples apresentando músicas de teor
religi050 sadio; tal foi o caso de ..Jesus Cristo, estou aqui»
e de ..A Montanha. de Roberto Carlos (cf. PR 135/19TI.
pp. 116.121). Podem, porém, desfigurar as atitudes do nosso
povo simples se recorrem a temas religiosos sem a devida
sensibilidade e reverência (o que não ra.ro oc!Orre). Eis O
que fustlfcB um apelo a tais _astros» do povo para que utill·
%em a sua força de infiuéncla em prol da !onnacio dos
ouvintes. e!tpeclalmente quando resolvem abordar a.ssuntos
rellgioso~ .
Estêvão Bettenoourt O . S . B .
--X

livros em e:s t a nt e
s.c:r1Irn.nlo da PenN6nela. O perdlo de Deu. na comunld.e ecte. laI,
POl'" MArio de França Miranda. Coleçlo '''eologl• • EvangelllaçAo" - 11.
- Ed. Loyola. SIo Paulo 1978. ,., x 210 mm, 100 pp.
E$la livro j6 101 aprennlado ao pUblico em PR 225/1978. 31. capa.
Eis, porem. que PR recebeu carta do Pe. Carloa Furbelle. Nova Venécla (ES).
dalada d. 13/001/79, portadora de ludlclos •• obseNaç&as ao relerldo livro.
EI. por que, • Ululo de honeslldade, Ir.nsmlUremos aqui ao. noss~ Ielto,l.
o leO( da..... reparOl :
1) "O capitulo 8, ..... Sint.. a Hlstórln nlo ma parlca nada lucldo".
NIo mostra que a Igreja "desde o principio racorreu lambém fio modo de
confeslar-se secratamant." (cl. Concilio da Trento cano 6, e G Pap4 Sle
Leio M'gno. 't 481, que afirma aer a coMI.alo particular uma regra Irana-
mltlda pelos Apóstolo • • Igreja) .
2) A conllsslo Individuai dos pecados' necas"rla para que o ...
cardole, como Jull.. POIIII av.llar se é Helio ou nlo. no caso dar a absolvi·
çlo sacramenlal. - Ora nlo é bem Iste o que la 16 às pp. 53 li 69 do II . . ro
de França de Miranda.
3) Em caso da obsolvlçl() coletiva devidamenta auto rll.ada pel() Sr.
9 1spo flca 80s penltanles reconciliados a ob,lgaçlo de procurarlm o sacer·
dOIa, 80 menoll dentro de um ano. pare confessarem per1lcularmenle os
pecado. ,Inda nlo acu:lados. Ora o Pe. Franç. da Miranda. 68 pp, e9s.
Julga que ". exlgêncl. da conflnlo Individuai pCl1arlor • de ordem dl. clo
pllnar, nlo dogmitlca: dai a. Normas Pastora is de 19n. como o Novo Rllo
(lnlrod, 31). ref.rlr'/II-'. sempra, .0 e.'lb.'ec.r ai normas para a abse»-
vlç'o col.II.... sam conlllSlo Individuai p"'vla . .. llceld-.:f• • n"o ......tld.z
d() .10 em .1. o qua allnge Ilmbem • exlglncla da ccnflnlc Individuai
poatll,lo,", - Na verdade. porém. tal pollçAo nlo corre.ponde • norma ,.'a·
bel_cid. p.t. S. CongreglçAo para a Ooulrln, dI Fé- em SUl citada Inalruçlo
de 18/08172 , norma asllm reprodu%lda pelo Novo Rltu.1 da Panllêncll "' 33 :
"Para que o. 'lil. possam banenelar-u da ebaolvlçlo .acram.nl.' dada
Ilmullaneam.nt., ' · ,ndl.pe....vol que "leJam conv,nlenlemente dlspo. loa.
Ilto 6, qUII. a".p.ndldotl d••Uh culp... tenham o prop6alto da nlo 10'lUIr
a co"......., ••• de r'parar OI d.nol • "cindalGS (Ioau..dOa • de con'....'

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IndIYklu.lrn.nI., em Mmpt) OpOI1ImO, OI pecado. 8'.... que no momento
"lo podem conf".ar, O•• _rdotes '",lnIlrlo dlllgentemenle os fl6l • .obre
"I.. dl.poslçha e coneflÇl6" nqu.,IeI.. P'" • V.IeI.... do .&CnlmenlO",
") Ouanlo" necessld.de d. eonllsslo Inlegr. e IndividuaI, é consI-
derada "nlo apenas dlsclpIlR'f, mas dogm6uca" iI. p. 70 do livro, ao pa.ao
que'" p. 71 .. lida como "disciplinar enio dogm61Ica" , - A contradlçAo
enlr. . .sas duu PM. .gens .. resolva em favor da primeira .lIrmaçlo.
Somos gr,'os ao Pe. Furbella pai.. auu valiosa ponder.ç5es, que
eonlribuem p.r. que nlo se perca entre os 11161, e no clero 8 consciência
di necess idade da conll••lo IndivIduai, especifica. Inlagr. dos pecado.
gravas.
Teologle do Novo TeslalMnto, po' K.rl Herman" Schellde, Vol. IY:
Elhol _ Compol1amenlo mOfal do hom.m. Traduçio de SlIvlno Amhot,' S.J.
- Ed. Loyola, Slo Pauto 1878, 140 li. 210 mm, 358 pp.
K. H. Sehelklfl. doutor em Filosofia e em Teologia, á profalSOf de Teo-
logia do Noya TMtam.nlo n. F.culel.de C.IOUca de Teologle d. Universidade
d. TGblngen (Alemanha): 8UII obrts di caré'er 'aol6gleo, exegétlco-blbllco
e petrls llco I' foram tr.duzldas pare mais de du Idiomas .
"Teologia do Novo Testamenlo". com".eendendo elneo volum". , a
mala alanlada a prolunda obra no gênero publicada até hoje. O volume I
aprel enta uma Introduçlo hlalÓrlca. IItlllr6rla I teol6glca a todo o Novo Tes-
lamento. O volume 11 'r.ta da Crlaçlo. consldef1lndo o mundo, o te mpo e
o homem. O voluml 111 tem por l ublfluto "oIUI estava em Cristo" (Crlato-
logla). ao paliO que o IV aborda o Etnoe, ou .eJa. o eatllo da vida pr6prlo
do CIIIlio. O volume V (em preparaçlo) abrangeré. a temática "Reino de
Deus. Igrela, RevelaçAo" . Como .. vii, .m ....z d. seguir. ordem crono-
16glca dos escrllos dO Novo Testamento, o autor prefarlu estudar OI temas,
conceitos e palavlas Important.. do Novo Teatamlnto de maneira .ISlemá-
llca e IJntétlc•.
O volume IV é rico em ..pec:tOI do Elhoe crlallo: convar"o a penl-
tlnela, 11. amor de Oeu. e do próxImo. llberd.de••antldade. )ostlça, malr"
mOnlo e celibato, Impudlclcla, verdade e menUra .. . O aulor COltuma abor-
dar clda lema aobre o pano de tundo da cullura helenl.Uca e da teolog"
do "'nUgo Te.tamento - o que mullo valollza as .uas explan.çOes.
Marece "ançlo a mana Ira como Schelkle encar. a doutrina di Indl.-
solubilidade malllmonll1 no Novo Tastamlllnlo. Em Ml 5, 32 diz JeJum: "Todo
aquele que repudia a .ua mulhar, a nlo ser por motivo de pornel•. faz com
que el. adul tere. e aquele qUI .e c:asa com a repudiada, comele adultério"
(cI. MI 19.9) . Schelkle nlo aceita a Inlerpralaçlo de Bonslrven, que enlende
porn.l. como eendo unllo lleglllma: pretera traduzir lal voet!ibulo por adul-
Ifllo (cf. p. 25as). A nota 5 de p. 259" obscura. redigida com Improprie-
dades de linguagem ( delicllncla de traduçlo?) , principalmente Quando
trata da declaraçlo de nulidade pOf talt. de forma, Em l uma, • abordagem
do tama nlo . all.laz.
Quanto la. eunuçgs de !.tt 18, 10-t2. Schelkle nAo eU. a Inte rpretaçlo
que Duponl d' '" expresslo "eunuco. por cau.. do Aelno dos eéus". Este~
nlo ..nam OI que abreçam o clllbelo dlral8mente, mas, sim, os homlns
qu., tendo-se casado, elo Infelizes no m.trlm6nlo e, por lalo, devom aep.-
rar...e da lU" ..po••• aem ter direito 8 . egund•• nupclas (f8l.am·.e assim
eunuco. por &mOI" do Reino) . Es la Inlerpretaçl o de Dupont • mal. condi-
zente eom o contexto de MI 19, que 'ala da vld. matrimonial e dllt exigên-
cia. da Indllaolubllldade do calamento n. Nova leI. CI. pp. 260s.
Esles observaçCe. nlo slgnlllcam que o volume em paula nlo selri
inter.uanta e úlll ao estudioso. é geralmanle SÓlido e . ubs ta nclo.o em
su•• e xplan.ç68s.
E,a.
ORAÇÃO DO PEREGRINO

DESDE QUE VI
A LUZ QUE TU CAIASTE,
OS DIAS E AS NOITES SE SUCEDEM,
E A CAMINHADA,
TANTAS VEZES ALEGRE.
SE TORNA AS vezes TRISTE,
TALVEZ COMO AQUELA QUE FIZESTE,
E, PASSO A PASSO CAMINHANDO CONTIGO
COMPANHEIRO ESCONDIDO,
VOU NA CERTEZA DO ENcaNmo PROMETlOO
PARA VER A TUA FACE
LA NO FIM DA JORNADA.

TANTOS ANOS CAMINHEI A TUA PROCURA


BUSCANDO·TE EM TODA PARTE . . .
E A QUANTOS NO CAMINHO ENCONTREI
POR TI EU PERGUNTEI,
MAS TODOS, COMO EU, PEREOAINA.VAM.
HOJE.
PEQUENO E POBRE NO MEIO DO CAMINHO,
NO CORAÇÃO DO PRESENTE
LANÇO UM OLHAR AO PASSADO E AO FUTURO ...

o CAMINHO DO PASSADO
T1.0 PISADO •..
ENVOLVESTE COM A TUA MISEAICI)RDIA
PARA FAZE·LO ENTRAR
NO SEGREDO DA TUA ETERNIDADE.

NO CAMINHO DO PRESENTE,
QUERO IR COM A Mlo EM TUA Mola,
CERTO DO TEU AMOR,
E DIZER CADA DIA, MEU AMIGO:
" OBRIGAOO, SENHOR I"

o CAMINHO DO FUTURO
96 A TI PERTENCE.
POR ISTO. CONFIANTE .E INDIGENTE,
QUERO OEPOSITA-LO

EM TUAS MAOS, SENHOR.

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