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A HISTÓRIA DA FILOSOFIA

MEDIEVAL E O CONTEXTO
HISTÓRICO
 Tradicionalmente, o capítulo da História da humanidade
relativo ao tema conflito entre razão e fé é atribuído a um
período medieval em que se travava um confronto entre os
adeptos da boa nova, isto é, a religião cristã, e seus adversários
moralistas gregos e romanos, na tentativa de imporem seus
pontos de vistas.
 Para estes, o mundo natural ou cosmos era a fonte da lei, da
ordem e da harmonia, entendendo com isso que o homem faz
parte de uma organização determinada sem a qual ele não se
reconhece e é através do logos que se dá tal reconhecimento.
 Já para os cristãos, a verdade revelada é a fonte da
compreensão do que é o homem, qual é sua origem e qual o
seu destino, sendo ele semelhante a Deus-pai, devendo-lhe
obediência enquanto sua liberdade consiste em seguir o
testamento (aliança).
 Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-
conflito-entre-fe-razao.htm O plano do saber racional, baseado
na clareza e evidência lógica, e o plano da doutrina teológica,
orientado pela moral e baseado na luminosa certeza da fé, são
planos assimétricos. A Teologia não é mais considerada
ciência, mas sim um complexo de proposições mantidas em
vinculação não pela coerência racional, e sim pela força de
coesão da fé?
ATIVIDADE VERIFICADORA DA
APRENDIZAGEM:
 No contexto social, a fé é vista com mais clareza na religião e,
neste caso, significa acreditar nos princípios difundidos por
determinada religião ou apenas a crença em Deus. Por muito
tempo acreditou-se que a religião perderia cada vez mais espaço
para a razão, mas isso não aconteceu. Na prática, ela permanece
e influencia decisões em diversas áreas como política, economia,
direito, educação e biociências, entre outras. Mesmo que uma
pessoa não tenha nenhuma influência religiosa, ela ainda terá
outras advindas da sociedade.
https://www.uninter.com/noticias/fe-razao-na-construcao-da-
sociedade Cite dois exemplos que podem comprovar a
importância da relação entre Razão e Fé no mundo
contemporâneo. Justifique sua escolha
ESTUDO DE CASO : CONFLITO ENTRE
RAZÃO E FÉ
 Tradicionalmente, o capítulo da História da humanidade relativo
ao tema conflito entre razão e fé é atribuído a um período
medieval em que se travava um confronto entre os adeptos da
boa nova, isto é, a religião cristã, e seus adversários moralistas
gregos e romanos, na tentativa de imporem seus pontos de vistas.
No entanto, pode-se levantar a questão de que esse conflito entre
fé e razão representa apenas um momento localizado na história,
ou permanece presente até os dias de hoje? Será possível
conciliar Fé e Razão? https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-
conflito-entre-fe-razao.htm Elabore em cinco linhas, no
mínimo, argumentos filosóficos que apresentem os desafios
da relação entre razão e fé na contemporaneidade.
CONCEITO DE FILOSOFIA MEDIEVAL
 A Filosofia medieval não foi apenas aquela pensada pelos
intelectuais cristãos!
 Também houve Filosofia medieval entre os pensadores judeus e
muçulmanos.
 As três correntes, contudo, tiveram a mesma estrutura
intelectual: a de um diálogo entre a respectiva escritura sagrada e
o pensamento grego platônico, neoplatônico e aristotélico
 Patrística :Com Santo Agostinho de Hipona (354 d.C.-430
d.C.). O termo é uma homenagem a líderes cristãos cuja
literatura floresceu a partir do ano 95 d.C. e que foram
considerados os “pais” da Igreja. Também se refere à Filosofia
cristã daqueles primeiros séculos, mesmo quando não escrita
por líderes religiosos (POLESI, 2014).
 Escolástica:Com Santo Tomás de Aquino (1225-1274).

 No estágio final, de transição para a Filosofia moderna – com o


Nominalismo, de Guilherme de Ockham (1285-1349), e a
Escolástica Ibérica, de Francisco de Vitória (1483-1546), em
Salamanca, e Francisco Suárez (1548-1617), em Coimbra –, a
razão filosófica foi se tornando cada vez mais independente
da revelação bíblica
 Nominalismo: Doutrina filosófica segundo a qual o conceito é
apenas um nome acompanhado de uma imagem individual,
sendo os universais (espécies, gêneros, entidades) puras
abstrações, sem realidade (opõe-se a realismo).
SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA COMO FORMA DE
PODER E O CONTEXTO HISTÓRICO
BIOGRAFIA
 Aurelius Augustinus, que passaria para a história como Santo
Agostinho, nasceu em 354, em Tagaste (hoje na Argélia), sob
o domínio romano. Embora sua mãe fosse cristã, Agostinho
não se interessou por religião quando jovem. Sentia-se atraído
pela filosofia romana. Antes dos 20 anos já tinha um filho, de
uma relação não formalizada. Em pouco tempo, abriu uma
escola na sua cidade natal. Tornou-se professor de retórica,
lecionando depois em Cartago, Roma e Milão. Nesta cidade,
tomou contato com o neoplatonismo e, aos 32 anos,
converteu-se ao cristianismo.
 De volta a Tagaste, decidido a observar a castidade e a
austeridade, vendeu as propriedades que herdara dos pais e
fundou uma comunidade monástica, onde pretendia se isolar.
Mas, sem que planejasse, foi nomeado sacerdote da igreja de
Hipona, função que manteve até a morte, em 430. Suas obras
principais são Confissões, Cidade de Deus e Da Trindade.
 Embora tenha vivido nos últimos anos da Idade Antiga - que se
encerrou com a queda do Império Romano, no ano de 476 -, Santo
Agostinho (354-430) foi o mais influente pensador ocidental dos
primeiros séculos da Idade Média (476-1453).
 A ele se deveu a criação de uma filosofia que, pela primeira vez,
deu suporte racional ao cristianismo.
 Com o pensamento de Santo Agostinho, a crença ganhou
substância doutrinária para orientar a educação, numa época em
que a cultura helenística (baseada no pensamento grego) havia
entrado em decadência e a nova religião conquistava cada vez
mais seguidores, mesmo se fundamentando quase que
exclusivamente na fé e na difusão espontânea.
 ORIGEM: Tagaste (354-430)
 CORRENTE FILOSÓFICA:Patrística

 PRINCIPAIS OBRAS: Confissões; Cidade de Deus; Sobre a


Doutrina Cristã; Sobre a Trindade
 FRASE-SÍNTESE: “É preciso compreender para crer, e crer
para compreender.”
 Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta (hoje Suk Ahras), na
Argélia. Estudou retórica em Cartago e seguiu várias linhas
filosóficas, como o maniqueísmo, corrente baseada no
conflito entre o bem e o mal, e o ceticismo. Sob a influência
do bispo de Milão, Santo Ambrósio, converteu-se ao
cristianismo e foi batizado em 387. Foi nomeado bispo de
Hippo (atual Annaba), na Argélia, onde morreu aos 75 anos.
 É considerado o maior teólogo do cristianismo e o maior
filósofo desde Aristóteles.
 Agostinho realizou a primeira grande sistematização do
pensamento cristão, incorporando as ideias de Platão ao
cristianismo.
 Seu sofisticado pensamento serviu como base para toda a
teologia cristã ocidental.
 À medida que a Igreja se tornava a instituição mais poderosa do
Ocidente, a filosofia de Santo Agostinho definia a cultura de seu
tempo.
 Educação e catequese praticamente se equivaliam - as escolas
eram orientadas para a formação de membros do clero, ficando
em segundo plano a transmissão dos conteúdos tradicionais.
 O conhecimento tinha lugar central na filosofia de Santo
Agostinho, mas ele se confundia com a fé.
 Diante disso, a educação daquela época - conhecida como
patrística, em referência aos padres que a ministravam -
estimulava acima de tudo a obediência aos mestres, a resignação
e a humildade diante do desconhecido.
 O objetivo era treinar o controle das paixões para merecer a
salvação numa suposta vida após a morte.
 Não é por acaso que a obra principal de Santo Agostinho seja
Confissões, em que narra a própria conversão ao cristianismo
depois de uma vida em pecado. Trata-se de uma trajetória de
redefinição de si mesmo à luz de Deus, culminando com a
redenção.
 O livro descreve a busca da salvação, ao mesmo tempo
psicológica e filosófica.
 Tal procura se transformaria numa espécie de paradigma da vida
terrena para os cristãos e vigoraria durante séculos como
princípio confessional.
 Santo Agostinho tratou o tema da educação mais de perto em
duas obras, De Doctrina Christiana e De Magistro, na qual
apresenta a doutrina do mestre interior.
 O professor mostra o caminho e o aluno o adota; assim, o saber
brota de seu interior.
 "A pessoa que ensina não transmite, mas desperta”.

 Para Santo Agostinho, “é desse modo que se conquista a paz da


alma, e esse é o objetivo final da educação."
PATRÍSTICA
 Foi uma corrente filosófica e período da filosofia, coincidindo
com os primeiros séculos da era cristã, em que o
desenvolvimento filosófico foi realizado por filósofos padres da
Igreja Católica.
 Tendo em Agostinho de Hipona seu principal filósofo, tinha
como um de seus principais objetivos a racionalização da fé
cristã.
 Agostinho surge como um reformulador da filosofia patrística,
explorando temas que estavam além das questões do platonismo
cristão e buscando na razão a justificativa para a fé.
 Explorou a questão do livre arbítrio, defendendo que a Graça
Divina seria o elemento garantidor da liberdade humana.
 Formulou ainda a doutrina do pecado original e a teoria da
guerra justa.
 No que concerne a sua teoria do conhecimento, contrariando
Platão, Agostinho defendeu que o testemunho de outras
pessoas, mesmo quando não nos traz uma informação
verdadeira ou passível de verificação, podem nos trazer novos
conhecimentos.
 Segundo Agostinho, os cristão deveriam ser filosoficamente e
pessoalmente pacifistas.
 Isto significa dizer que os cristãos deveriam defender a paz,
optando por ela por princípio, sempre que possível, mas permite
que, quando não for possível estabelecer a paz, faça-se a guerra.
 Entendeu que uma postura pacifica perante um mal que apenas
poderia ser parado pela violência é um pecado, uma vez que
permite a perpetuação deste mal.
 Nestes casos os cristãos deveriam considerar que uma guerra
só é justa se seu objetivo for a manutenção da paz, havendo
um comprometimento duradouro com a mesma..
 A guerra não pode ser preventiva, mas apenas defensiva, com o
objetivo de restaurar a paz, nunca de atacar aqueles que tem
potencial para violar a paz, pois isto seria equivalente a punir
antes do crime.
 Uma vez que nenhum humano é capaz de, com absoluta certeza,
garantir que um crime de fato ocorrerá é injusto punir antes que
o crime ocorra.
 Da mesma forma, a guerra só é justa quando defensiva
A FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO
 Santo Agostinho tinha particular interesse nos estudos sobre
como conciliar fé e razão.
 Sendo a mente humana mutável e falível, como atingir, a
partir dela, a Verdade eterna?
 Para Santo Agostinho, a filosofia antiga, apesar de pagã, seria
uma preparação da alma, muito útil para a compreensão da
verdade revelada.
 Afinal, sem o intelecto o homem é incapaz de compreender as
Sagradas Escrituras .
 Entretanto, tal como o olho necessita da luz do sol para
enxergar, o ser humano necessita da luz divina para chegar ao
conhecimento completo, não sendo suficiente (apesar de
importante) o uso da razão.
 Intellige ut credas, crede ut intelligas (“é preciso compreender para
crer, e crer para compreender”) e fides praecedit intellectum (“a fé
precede a razão”) são algumas de suas mais famosas máximas.
 A verdadeira sabedoria, com a qual vem a verdadeira felicidade,
não se encontra neste mundo, mas tão-somente em Deus, que é o
arx philosophiae (ápice da filosofia). Para alcançá-lo, não basta a
razão, é preciso entregar-se na busca da face incompreensível ou
inefável de Deus.
 Nossa mente, criada à imagem e semelhança de Deus, possui uma
centelha divina, a luz natural (lúmen naturale), que nos dá a
capacidade de entender as verdades eternas. Todo o homem possui
a centelha divina. Como diz São Paulo: “Não há judeus, nem
grego, nem escravo, nem homem livre, nem homem, nem
mulher: todos sois um no Cristo Jesus”.
 Essa é a Teoria da Iluminação de Santo Agostinho.
 Tal teoria é proveniente da doutrina da reminiscência de Platão,
segundo a qual as ideias já residiriam em nossa alma e caberia
ao filósofo despertá-las.
 Diante da perfeição de Deus, há um problema para esses
primeiros teólogos do cristianismo: se Deus é todo-poderoso,
criador de tudo, ele também seria criador do mal? Se Deus
criou o mal, como defender sua bondade infinita? Se ele é
onipotente, seria ele responsável pela miséria e infelicidade do
mundo?
 Para Santo Agostinho, o mal não tem realidade metafísica: todo
o mal não é mais que a ausência do bem, a ausência da obra
divina. Ou, para ser mais preciso, o mal não é algo que foi
criado, não é algo físico – o mal é o “não ser”.
A CIDADE DE DEUS
 Agostinho defende que uma sociedade se forma a partir do
amor de vários indivíduos pelo mesmo objeto.
 Ele exemplifica com os espetáculos: os espectadores ignoram-
se mutuamente, mas, ao admirarem a performance do ator,
também passam a nutrir simpatia uns pelos outros.Unida pelo
amor divino e que dirige sua existência temporal à glória de
Deus.
A CIDADE DOS HOMENS
 Unida pelo amor às coisas temporais, de costas para Deus.
 É por isso que Agostinho preocupou-se com a arte de governar,
pois, para ele, a política deve contemplar o homem em sua
plenitude constituída de corpo e de alma.
 Portanto, não haverá política verdadeira se esta não estiver ligada a
Deus.
 Nesse contexto, dirigia-se aos que pretendiam governar a “Cidade
dos homens” para que não se esquecessem desse princípio e, assim,
fizessem da cidade terrena uma antecipação da “Cidade de Deus”: a
Pátria Celestial.
 Se os que governam não pensarem na política como uma arte e que
esta não pode ser pensada sem a presença de Deus, não haverá
concórdia na cidade terrena.
 Assim, as virtudes não serão praticadas e os vícios reinarão
 Há um fim comum a toda sociedade, seja qual for, e este fim
é, segundo Agostinho, a “paz”.
 A paz que as sociedades desejam é pura tranquilidade de fato,
mas a paz verdadeira é a que satisfaz plenamente as vontades
de todos tão bem que, ao ser obtida, nada mais se deseja.
 Afinal, “uma coisa não é a ventura da cidade e outra a do
homem, pois toda cidade não passa de homens que vivem
unidos”
 A condição fundamental para que a paz seja permanente é a
ordem .
 Para que um conjunto de partes concorde na busca de um
mesmo fim, é preciso que cada qual esteja em seu lugar e
desempenhe sua própria função corretamente.
Assim:
 A paz do corpo é o equilíbrio bem ordenado dos apetites ou das paixões.
 A paz da alma racional é o acordo entre o conhecimento e a vontade.
 A paz doméstica é a concórdia dos moradores da mesma habitação quanto ao
comando e à obediência.
 A paz da cidade é a concórdia da família estendida a todos os cidadãos.
 A paz da cidade cristã é uma sociedade ordenada de homens que amam a
Deus e se amam mutuamente em Deus.
 Agostinho considera a paz da Cidade dos homens uma paz aparente, uma
desordem. Por essa razão, ainda que seus ensinamentos expressem a
transitoriedade da cidade terrena e a definitiva paz na cidade celestial, ele
chamava atenção daqueles que não praticavam as virtudes. Assim, promoviam
os vícios que desqualificam os sentidos da política terrena
 A justiça é a virtude que realiza a ordem, que dá a cada um o que é devido:
subordina o inferior ao superior, mantém a igualdade entre coisas iguais e dá a
cada um o que lhe pertence.
 A justiça deriva da lei eterna, que nos ordena conservar a ordem e impedir que
ela seja perturbada.
 Essa lei imutável ilumina nossa consciência moral como a luz do Mestre
interior — que é Cristo, “o Verbo que ilumina todo homem” — ilumina nossa
inteligência.
 Assim, também há em nós uma lei, chamada “lei natural”, que é como a
“transcrição” da lei eterna ou divina em nossa alma.
 A exigência fundamental da lei é que tudo esteja ordenado.
 E é a justiça que estabelece no homem a ordem pela qual o corpo submete-se à
alma e essa a Deus
SANTO AGOSTINHO HOJE

 Na atualidade, existem preconceitos de diversos tipos: se


existem, por um lado, grupos que discriminam minorias,
existem também, por outro, aqueles que associam “religião” à
ignorância. A densidade da obra de Santo Agostinho, rica tanto
do ponto de vista filosófico quanto do ponto de vista literário,
nos mostra que essa associação é absolutamente equivocada.

 https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/santo-agostinho/
SÃO TOMÁS DE AQUINO E A ESCOLÁSTICA COMO FORMA
DE PODER E O CONTEXTO HISTÓRICO
 ORIGEM:Roccasecca (cerca de 1224-1274)
 CORRENTE FILOSÓFICA:Escolástica

 PRINCIPAIS OBRAS: Suma Teológica; Suma contra os


Gentios; Contra os Erros dos Gregos; Comentários sobre
Aristóteles
 FRASE-SÍNTESE : “O objeto das virtudes teológicas é o
próprio Deus, que é a última finalidade de tudo e acima do
conhecimento da nossa razão. Por outro lado, o objeto das
virtudes morais e intelectuais é algo compreensível à razão
humana”
BIOGRAFIA
 Tomás de Aquino nasceu em 1224 ou 1225 perto da cidade de
Aquino, no reino da Sicília (hoje parte da Itália).
 Foi canonizado em 1323 e nomeado "doutor da Igreja" em 1567.

 Foi o maior expoente da filosofia escolástica.

 Membro da Ordem dos Dominicanos e professor da Universidade


de Paris,
 Foi aluno de Santo Alberto Magno (1206-1280).

 Fortemente influenciada por Aristóteles e Averróis, sua filosofia é


de suma importância para a Igreja Católica até os dias atuais.
 Durante o Concílio de Trento, sua obra foi colocada no altar ao lado
da Bíblia, sendo considerada fundamental para o combate e a
refutação do protestantismo.
 Durante a viagem a Roma, onde participaria do II Concílio de
Lyon, a convite do papa Gregório X, Aquino adoeceu, vindo a
falecer na Abadia de Fossanova, em 1274.
 Na posteridade, muito de seu pensamento, no entanto, foi
deformado e injustamente associado à ortodoxia e ao
conservadorismo.
FILOSOFIA ESCOLÁSTICA
 O termo Escolástica refere-se à produção filosófica que
aconteceu na Idade Média, entre os séculos IX e XIII d.C.
 A Escolástica está situada em um período de intensidade
do domínio católico sobre a Europa.
 Dada a necessidade de formação em larga escala de sacerdotes e
da forte implicação cultural e educacional para
a fé católica promovida pelo Império Carolíngio, a Igreja
Católica criou escolas e universidades para ensinar e formar
pensadores e novos sacerdotes.
 Essa criação das escolas motivou o nome do período.
 Depois de oito séculos marcados por uma filosofia voltada para a
resignação, a intuição e a revelação divina, a Idade Média cristã
chegou a um ponto de tensão ideológica que levou à inversão
quase total desses princípios.
 O personagem-chave da reviravolta foi São Tomás de Aquino
(1224/5-1274), o grande nome da filosofia escolástica , cujo
pensamento privilegiou a atividade, a razão e a vontade
humana.
 Tomás de Aquino realizou um trabalho monumental numa vida
relativamente curta.
 Sua obra mais importante, apesar de não concluída, é a Suma
Teológica, na qual revê a teologia cristã sob a nova ótica,
seguindo o princípio aristotélico de que cabe à razão ordenar e
classificar o mundo para entendê-lo.
 Eis o princípio operacional do Tomismo, como é chamada a
filosofia inaugurada por Tomás de Aquino.
 Cada ser humano, segundo ele, tem uma essência particular, à
espera de ser desenvolvida, e os instrumentos fundamentais
para isso são a razão e a prudência - esse, para Tomás de
Aquino, era o caminho da felicidade e também da conduta
eticamente correta."
A FILOSOFIA DE SANTO TOMÁS DE AQUINO
 Uma de suas ideias centrais é a rejeição do absoluto
antagonismo entre a razão e a fé.
 Para Aquino, existiriam as “verdades da fé”, atingíveis apenas
por meio da revelação cristã, às quais não poderemos chegar
através da razão.
 Porém, nem todas as verdades seriam alcançadas desse modo,
existindo também as “verdades naturais teológicas”.
 Sendo a razão obra de Deus, poderíamos alcançar essas
verdades tanto pela fé como pela razão.
 A fé e a razão seriam, muitas vezes, rios que desembocam num
mesmo oceano.
EM SUA SUMA TEOLÓGICA, O FILÓSOFO APRESENTA CINCO
VIAS PARA DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE DEUS,
ANCORADAS NA FILOSOFIA ARISTOTÉLICA:

1- O primeiro argumento, oriundo da Física de Aristóteles, crê


que, se tudo que move é movido por algo, não pode ser
admitida uma regressão ao infinito, devendo existir um
primeiro motor. Deus, assim, é o Primeiro Motor.
2- O segundo argumento, oriundo da Metafísica de Aristóteles,
defende a ideia de que, se perguntássemos a qualquer
fenômeno do mundo sua causa e continuássemos
sucessivamente perguntando as “causas de suas causas”, em
todos os casos chegaríamos a Deus.
3- O terceiro argumento, baseado nas noções de necessidade e
contingência de Aristóteles, acredita que, se tudo na natureza
fosse contingente, passageiro, é preciso que algo do que
existe seja eterno. Deus é o primeiro ser, origem de toda
necessidade.
4- O quarto argumento, inspirado na Metafísica de Aristóteles,
pensa que, se todas as coisas na natureza têm uma qualidade,
em maior ou menor grau (tamanho, força etc.), é preciso um
parâmetro, a perfeição, que é Deus, portador de todos os
atributos e qualidades em máximo grau.
5- O quinto argumento pensa que se, como observa Aristóteles, a
natureza possui um propósito, deve haver uma finalidade para
toda a criação, caso contrário o universo não tenderia para o
mesmo fim ou resultado. A causa inteligente do universo é
Deus.
 No campo da política, Santo Tomás de Aquino dividiu as leis
em:
 Lei natural (visando a preservar a vida);

 Lei positiva (estabelecida pelo homem, visando a preservar a


sociedade)
 Lei divina (que conduz o homem à vida cristã e ao paraíso,
guiando as outras leis).
 Para Aquino, como para Aristóteles, o homem é um animal
social e político: a família é a primeira associação, e o Estado,
sua ampliação e continuação.
 O Estado, assim, deve existir, desde que subordinado, no que
diz respeito à religião e à moral, à Igreja, a qual visa ao bem
eterno das almas.
 Essa foi a concepção dominante da Igreja Católica, que seria
depois combatida por Maquiavel.
 Santo Tomás de Aquino é o maior expoente do período escolástico
da teologia e Filosofia católica, cujo nome deriva das “escolas”
monásticas ou catedralícias, nas quais eram ensinadas a teologia e
as “artes liberais”.
 Assim como para Agostinho, para Aquino, a lei eterna de Deus é
participada à mente humana como “lei natural”, e o papel de tal lei
— como de todas — é orientar o homem à sua finalidade e
felicidade, que é Deus.
 Como conteúdo, essa lei é um hábito — que Tomás também
chama de “sindérese” — dos princípios da vida moral.
(no aristotelismo e na escolástica, capacidade espiritual inata,
espontânea e imediata para a apreensão dos primeiros princípios da
ética, capaz de oferecer intuitivamente uma orientação para o
comportamento moral.)
PRINCÍPIOS:
 “O bem é o que todos desejam”. Dele deriva o primeiro preceito
da lei natural: “O bem deve ser feito, e o mal, evitado”. A razão
prática apreende como bem as coisas para as quais o homem
tem uma inclinação natural: seguir vivendo, propagar a espécie
e educar os filhos, buscar a verdade e viver em sociedade.
 A virtude é definida por Aquino como “uma boa qualidade da
mente pela que se vive retamente, da qual ninguém usa mal,
produzida por Deus em nós sem intervenção nossa”.
 Em sentido lato, “virtudes” são aquelas humanas, que destinam-
se aos fins da razão humana e que podem ser obtidas pela
reiteração dos atos.
 Para Santo Tomás de Aquino a virtude em sentido próprio é a
“infusa”(adquirido naturalmente, sem estudo ou ensinamento),
inseparável da virtude teologal da caridade, com a qual Deus
incrementa as virtudes humanas ou cardeais — prudência,
justiça, fortaleza e temperança — para o cumprimento do fim
último e sobrenatural da vida humana, que é o próprio Deus
VIRTUDE CARDEAL
 PRUDÊNCIA: Esta é a virtude pela qual o homem aplica os
princípios da sindérese (hábito) ou lei natural à situação
concreta.
 Por ela, conhecendo a verdade dos princípios e da situação, o
homem atua com justiça.
 O querer e o agir devem ser conformes à verdade.

 A prudência não se refere ao fim último, mas às vias que a ele


conduzem, isto é, ela não decide o que é a felicidade, mas
apenas como chegar lá .
 A unidade viva de sindérese e prudência é o que chamamos de
“consciência”.
 JUSTIÇA: Esta é a constante e perpétua vontade de dar a cada um
o seu direito.
 A matéria da justiça é a operação exterior, enquanto esta, ou a coisa
que por ela usamos, é proporcionada à outra persona, à qual
estamos ordenados pela justiça.
 A justiça legal é a mais preclara (notável) entre todas as virtudes
morais, na medida em que o bem comum é preeminente sobre o
bem singular de uma pessoa considerada individualmente.
 A justiça particular também sobressai entre as outras virtudes
morais por duas razões: a primeira se toma pelo sujeito, porque se
acha na parte mais nobre da alma, na vontade; a segunda razão
deriva de parte do objeto, porque o justo comporta-se bem a
respeito de outro, e, assim, a justiça é, de certo modo, um bem de
outro.
 FORTALEZA: Sua essência não é se expor a qualquer risco,
mas entregar-se, de maneira razoável, ao verdadeiro valor do
real.
 A autêntica fortaleza supõe uma valoração justa das coisas,
tanto das que se arrisca como das que se espera proteger ou
ganhar.
 O bem do homem é a realização de si conforme a razão, e o
bem da razão vem da prudência.
 A justiça quer realizar esse bem.

 A fortaleza e a temperança o conservam (com primazia da


fortaleza).
 TEMPERANÇA: O sentido da temperança é realizar a ordem no
interior do homem, com absoluta ausência de egoísmo.
 Dela brota a tranquilidade do espírito.

 A tendência natural ao prazer sensível que se obtém na comida, na


bebida e no deleite sexual manifesta as forças naturais mais
potentes que atuam na conservação do homem.
 Essas energias vitais, que se puseram no ser para conservar no
indivíduo e na espécie a natureza, dão as três formas originais do
prazer e destroem a ordem interior quando se desordenam.
 Disso resulta que as funções mais específicas da temperança
sejam a abstinência e a castidade (ordenação do comer, do beber e
da sexualidade segundo a razão).
 Quando a exigência natural do homem de vingar uma injustiça
desemboca em desatada cólera, é destruído o que deveria ser
edificado à base de mansidão e doçura. Inclusive a natural ânsia
de conhecer pode degenerar, sem temperança, em ansiedade ou
em mania patológica.
 Santo Tomás de Aquino chama essa depravação de
“curiosidade” e a temperança que a modera, de “estudiosidade”.
 Castidade, sobriedade, humildade e mansidão, junto com a
estudiosidade, são formas da temperança.
 Luxúria, desenfreio, soberba e uma cólera irracional, junto com
a curiosidade, são formas da destemperança.
 POLÍTICA: Para Aquino (2011), o homem é um “animal
sociável e político”: desprovido de instrumentos que lhe
garantam automaticamente a sobrevivência, mas dotado de
razão para buscar os meios da existência, ele não pode, sozinho,
encontrar tudo que necessita. Portanto, a vida social lhe é
natural.
 A política é a arte de dirigir a multidão à consecução do bem
comum — e não meramente um jogo de luta pelo poder —, para
a qual é imprescindível a presença de um governante que saiba
harmonizar os interesses presentes na sociedade, subordinando-
os aos interesses mais gerais.
 Tomás de Aquino reconhece à sociedade o direito de destituir o
governante instituído ou de lhe refrear o poder, caso abuse
tiranicamente dele.
 Ao tirano, cujo governo só se sustenta pelo temor, Deus não
permite que reine por muito tempo.
 Para compreender este “princípio da rebelião”, destacamos os
dois princípios estabelecidos no Tratado da Lei:
 O primeiro, de que uma lei humana é injusta, contradiz-se à lei
natural;
 O segundo afirma que a autoridade política pertence ao povo (ou
a seus representantes).
Santo Tomás de Aquino apresenta as três condições exigidas
para uma boa vida da multidão:
 A unidade da paz.

 O procedimento virtuoso dos cidadãos, isto é, a ação em


conformidade com o bem moral que se expressa na lei natural.
 A abundância do necessário para o viver bem.
SANTO TOMÁS DE AQUINO HOJE
 Atualmente, são inúmeros os debates acerca das relações entre fé e
ciência. Alguns, por um lado, propugnam a separação absoluta dos
dois campos, pois, como disse Mário Sérgio Cortella, se, em ciência, é
preciso ver para crer, em religião, é preciso crer para ver. Por outro
lado, outros, como os deístas*, acreditam que é necessário não existir
contradição entre os dois campos para, assim, a fé ser confiável. A
obra de Santo Tomás de Aquino, pregando algumas convergências
entre fé e razão, pode iluminar esse debate.
 * Sistema que aceita a existência de Deus, mas não acredita na
autoridade de igrejas ou de práticas religiosas. Doutrina que tem a
razão como base para garantir a existência de Deus, negando a
influência da religião ou da igreja.
 https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/santo-tomas-de-aquino

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GUILHERME DE OCKHAM
 Com sua Filosofia “nominalista”, Guilherme (ou William) de Ockham
iniciou o processo fideísta (preconiza a superioridade da fé no conhecimento
das verdades inatingíveis)e racionalista que caracteriza a Modernidade, com
suas separações entre fé e razão, graça e natureza, Igreja e Estado, as quais
quebram a harmonia buscada por Agostinho e Tomás de Aquino.
 Ockham ensinou em Oxford, onde a investigação filosófica pendeu para o
conhecimento empírico da natureza, com as pesquisas de Roberto de
Grosseteste sobre a natureza da luz e as intuições de Roger Bacon sobre o que
seria posteriormente o método científico moderno.
 FIDEÍSTA Crença religiosa que não busca o diálogo com a Filosofia.
 RACIONALISTA Pensamento filosófico que não busca o diálogo com a
teologia.
 Nominalismo Não admite a existência do universal, nem do
mundo material, nem do mundo inteligível
FRANCISCO SUÁREZ
 Teólogo e filósofo jesuíta que ensinou na Universidade de
Coimbra.
 Para Suárez, no ato humano existe um tipo de bondade ou
malícia em função do objeto em si mesmo considerado,
segundo esteja ou não de acordo com a reta razão.
 E o ato humano recebe, de modo especial, o nome de pecado
ou culpa para com Deus por razão da transgressão de uma
verdadeira lei dada pelo próprio.
 Suárez interpreta essa específica malícia como a
“prevaricação” de que fala São Paulo: “onde não há lei,
tampouco há prevaricação [transgressão].” O ato humano
contrário à natureza racional não teria esse caráter de
“transgressão” ou “prevaricação”.
 O direito humano é de duas classes: escrito e não escrito. O
direito não escrito está formado por costumes, e, se foi
estabelecido pelos costumes de um só povo e a ele só obriga,
segue sendo Direito civil. Se, pelo contrário, foi estabelecido
pelos costumes de todos os povos e se a todos obriga, esse é o
direito “das gentes”
 Suárez distingue o direito “das gentes” do direito natural.

 O direito “das gentes” não manda nada que seja por si mesmo
necessário para a retidão ou a conduta, nem proíbe nada que
seja essencial e intrinsecamente mau. Tudo isso pertence ao
direito natural
 O direito “das gentes” não forma parte do direito natural
tampouco distingue-se dele por ser um direito específico dos
homens. O direito “das gentes” é simplesmente humano e
positivo, e seus preceitos diferenciam-se dos preceitos do
Direito civil pelo fato de não estarem formados por leis escritas
e sim por costumes, não deste ou daquele Estado, mas de todas
ou quase todas as nações.
FRANCISCO DE VITÓRIA
 Francisco de Vitória (1483-1546) estudou em Paris, dedicando-
se especialmente ao estudo da Antropologia tomista. Foi um
grande mestre universitário e criador de uma escola
filosóficoteológica que teria influência decisiva na Espanha e na
América
 Suas obras De potestate civili , De indis e De iure belli
expressam seu pensamento sobre a origem da autoridade civil, os
títulos legítimos e ilegítimos dos espanhóis para conquistar a
América, e o direito à guerra contra os nativos do novo
continente.
 O tomismo é a filosofia escolástica de São Tomás de Aquino (1225-1274), e
que se caracteriza, sobretudo pela tentativa de conciliar o aristotelismo com
o cristianismo. Procurando assim integrar o pensamento
aristotélico e neoplatônico, aos textos da Bíblia, gerando uma filosofia do Ser,
inspirada na fé, com a teologia científica.
 Sobre a justificativa da guerra, Vitória aplica os critérios do
“mal menor” e do “bem possível”. Isto é, nenhuma guerra é
justa caso verifique-se que se sustenta às custas de um mal
maior do que o bem e a utilidade da República, por mais que
sobrem razões para uma guerra justa.
 Vitória criou o direito das gentes (ius gentium ), precursor de
nosso Direito internacional, que justifica, sobre a base da
solidariedade internacional dos povos — e não sobre o direito
natural, como concebido classicamente por Agostinho e Tomás
de Aquino —, uma espécie de fraternidade universal dos
homens entre si.

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