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DIREITO
Entre os cristãos parecia haver uma presença só sentida por eles, que os
inspirava o melhor comportamento e os acompanhava todos os dias.
Os cristãos tinham um Deus que se importava com cada ser humano,
individualmente, e cada vida recebia um significado eterno num plano cósmico,
dando forma à ideia de liberdade e de um amor sem fronteiras. Não se tratava
mais de cumprir ritos ou sacrifícios, mas de fazer sacrifícios pessoais, como o
Cristo fez para salvar a humanidade: era preciso oferecer-se ao Deus. Surge
uma fascinante e inesperada valorização do ser humano e um inédito
pensamento do amor (FERRY; JEPHARGNON, 2011).
Um dos motivos que se pode apontar para o pensamento cristão se
estabelecer com sucesso é ter preenchido os vazios deixados pela insuficiência
da filosofia grega em responder à questão da salvação. “A promessa cristã de
salvação é muito superior à promessa da salvação filosófica, o que fez o
cristianismo prosperar, exercendo uma tentação sobre os corações e não sobre
as mentes” (FERRY; JEPHARGNON, 2011, p. 97).
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2.2 Filosofia cristã
O desenvolvimento da chamada filosofia cristã acontece, portanto, num cenário
de desfacelamento do Império Romano. A ascensão da Igreja assume papel
religioso, econômico, social. A difusão do cristianismo ocorre na base da lógica
de que a fé é a fonte da verdade e que o importante é a salvação da alma, para
a vida eterna.
Alguns religiosos nem isso admitiam, pois a filosofia grega seria a porta para o
pecado e deveria ser evitada por completo, como os apologistas.
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A filosofia cristã trata, então, de questões eminentemente teológicas como a
trindade, a dualidade liberdade versus salvação, a relação entre fé e razão.
Corpo
Alma
O corpo do homem não é a prisão da alma, mas tornou-se a prisão da alma através do
pecado original. Por isso o primeiro objeto da vida moral deve ser a libertação do pecado
original. Os atos morais são exclusividade das criaturas racionais, que são livres, pois
atos morais dependem da razão. Então, erros morais são o mau uso do livre arbítrio. O
livre arbítrio pode falhar, porque não é um bem absoluto; é a condição do maior dos
bens, a beatitude, a felicidade, o querer apreender o soberano Bem. O pecado é culpa
do homem, só do homem, pois ao pecar o homem preferiu em vez de usar a liberdade
para buscar o bem, desviar-se de Deus para a busca de coisas inferiores e para desfrutar
de si (BITTAR, 2010).
Tendo sido criado por Deus, o homem depende, em última instância, da graça de
Deus. O homem pode optar pela prátca do bem, mas não tem o poder espiritual de
fazer o bem que escolheu. Ele precisa do auxílio da graça divina. Enquanto o mal é
causado por um ato de livre-arbítrio, a virtude é produto não da vontade humana, mas
da graça de Deus. Enquanto a lei moral pode dar a impressão de dizer ao homem o
que ele deve fazer, ao fim e ao cabo ela realmente lhe diz o que é errado que faça.
Onde a lei impera, a fragilidade humana se vê mais exposta (MORRISON, 2012, p.71).
Para fazer o bem é preciso a graça (dom de Deus) e o livre arbítrio. A liberdade
é o poder de utilizar corretamente o livre arbítrio. Assim, o homem que é mais
dominado pela graça de Deus, será o homem mais livre. A liberdade plena não
nos é acessível nessa vida, mas a busca, a aproximação da liberdade plena é
o meio de obtê-la após a morte (BITTAR, 2010).
A obra A Cidade de Deus se fez necessária para que Agostinho pudesse
justificar o cristianismo perante o povo romano, uma vez que surgiram
acusações de que a ruína de Roma teria sido causada pela recusa cristã de
manter as oferendas aos deuses da cidade, considerados pagãos, e que por
isso a cidade teria ficado desprotegida. Disso surge a indagação central: por
que o novo Deus cristão não salvou Roma? (MORRISON, 2012)
Os homens que amam a Deus são unidos a Ele pelo amor que tem por Ele e
entre si por esse amor em comum. Um povo é um conjunto de homens unidos
na busca pelo amor de um mesmo bem. Há povos temporais unidos na busca
por bens temporais e os cristãos vivem na terra no meio desses povos (Cidade
dos Homens). O povo formado pelos cristãos em busca da mesma beatitude,
sejam de que cidade temporal forem, é a Cidade de Deus. As duas cidades
estão misturadas na terra, mas serão separadas no juízo final.
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3.2 Jusnaturalismo
A definição de justiça de Agostinho é jusnaturalista: “disposição do espírito, que
respeitando a utilidade comum, que atribui a cada um seu valor” e que tem sua
origem na natureza. Direito natural é fruto de uma força inata. Lex temporalis é
a lei positiva; Lex aeterna é a eterna, da razão suprema; Lex naturalis é a
natural, racional (BITTAR, 2010, p. 215).
Direito e justiça têm lugar especial em sua obra, sendo abordados como parte
do conjunto de interesses dos homens. A justiça em Tomás de Aquino deve ser
estudada sob o ponto de vista da ação humana, da práxis, da virtude de dar a
cada um o que é devido (BITTAR, 2010).
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É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
conhecer o período dos padres apostólicos, bem no início do cristianismo,
nos séculos I e II;
aprender sobre os padres apologistas, nos séculos III e IV, quando é
iniciado o trabalho de apologia do cristianismo contra a filosofia grega,
considerada pagã a partir da perspectiva cristã;
estudar sobre o momento da patrística, indo de meados do século IV ao
século VIII, momento em que se faz importante buscar uma conciliação
entre razão em fé;
compreender a escolástica, entre os séculos IX a XVI, que fica com a tarefa
de sistematizar a filosofia cristã;
REFERÊNCIAS
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Bíblia Sagrada. Edição Claretiana. Tradução Mediante a versão dos Monges de
Maredsous (Bégica) pelo Centro Bíblico Católico. 119º ed. Revisada pelo Frei
João Pereira de Castro, O. F. M. e pela equipe auxiliar da editora. São Paulo:
Editora Ave Maria Ltda, 1998.
BITTAR, E.; ALMEIDA, G. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas,
2010.
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Universidade Católica Portuguesa, 2008.
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MORRISON, W. Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
NEMO, P. Histoire des idées politiques dans l’Antiquité et au Moyen Âge. Paris:
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SALGADO, K. A Filosofia da Dignidade Humana - Porque a essência não
chegou ao conceito? Belo Horizonte: Mandamentos, 2011.
VAZ, H. C. L. Experiência mística e filosófica na tradição ocidental. São Paulo:
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