Você está na página 1de 21

Cristianismo e Cultura 1

Apontamentos 2011/2012

Introdução
29. set

3 Pilares da Cultura Ocidental

Cultura grega clássica (matriz racional)

Cultura romana (estado de direito)

Cristianismo

3. out

(v. artigo P. Roque Cabral)

Cristianismo – termo que surge no séc. III por Inácio de Antioquia

Cristão – surge nos primeiros tempos: escrito pela primeira vez nos Atos dos Apóstolos, num
contexto de perseguição

Nos primeiros tempos, o Cristianismo não tem a percepção de que tem de cortar o
cordão umbilical com o judaísmo, que não era somente mais um grupo dentro do judaísmo.

Cristianismo – religião que surge há cerca de dois mil anos. É um dos fenómenos mais
universais do mundo; o ateísmo é um fenómeno recente e de pequena expressividade a nível
da população mundial (4%)

(saber que não se sabe é douta ignorância)

O que é uma religião?

É uma estrutura de mediação entre a realidade humana e o Transcendente, o Divino, a


Divindade, o Numinoso. A religião entende que as pessoas tendem a desligar-se do seu
fundamento e pretende ser a estrutura que auxilia no contato.

Re –ligare: juntar/ ligar outra vez

Aristóteles chamou a este fundamento “primeiro motor”

Religião: monoteísta ou politeísta

Muitas vezes acontece o Estado querer ser esse fundamento e único, substituindo-se à religião
proibindo-a e perseguindo-a, criando a religião de Estado

3 religiões monoteístas – Judaísmo/Cristianismo/Islamismo

33% da população mundial declara-se Cristã 13% Hinduísmo 0,2% Judaísmo

20% professa o Islamismo 6% Budismo


Cristianismo e Cultura 2
Apontamentos 2011/2012

As três religiões monoteístas têm pontos em comum:

• Um só Deus;

• Abraão é o pai da sua fé

• São religiões com livro sagrado

o Bíblia/Corão/Torah

É do Corão que se faz a leitura mais literal: há várias escolas, mas o texto é considerado ditado
por Deus, palavra de Deus, e não “inspirado por Deus”

A Torah não é bem o Antigo Testamento (AT), mas quase

A Bíblia tem duas partes (AT com 46 livros; Novo Testamento (NT) com 27 livros), num total de
73 livros de estilos muito diferentes; o cristão lê o AT a partir do conhecimento que tem de
Cristo e, para ele, a palavra de Deus é Alguém, é Cristo (há lugar para a interpretação)

(no tempo, não pode haver 0)

1900/1800 a.C. – Abraão

1300 a.C. – Moisés

1000 a.C. – David

600 a.C. – milagre grego (filosofia)

500 a.C. – Sócrates

400 a.C. – Platão e Aristóteles

CRISTO

600 d.C. – Maomé

Como referir-nos aos séculos?

Existe uma convenção: até ao 10, ordinal; depois, numeral

Século primeiro / século onze

Bento III (terceiro) / Bento XVI (dezasseis)

Nascimento da filosofia

séc. VI a.C. – o pensamento racional começa a ser estruturado (o milagre grego)


Cristianismo e Cultura 3
Apontamentos 2011/2012

O mito não se pode menosprezar – é um pensamento, só que não é racional, mas temos muito
a aprender com ele. Foi no século XVIII que se começou a desvalorizar o mito e hoje ainda não
recuperámos desse erro

O século VI a.C. é chamado pela fenomenologia das religiões o tempo axial, o eixo que estuda
a história da religião. Surge o caráter profético das religiões, passa-se de um caráter somente
místico para um dimensão profética (Isaías, p.e.). Sem perder a dimensão mística, abre-se a
janela para a preocupação com a justiça.

Quais são os ramos do Cristianismo?


- Catolicismo

- Ortodoxos

- Protestantismo

313 – édito de Constantino

Passa a ser uma religião oficial, isto é, permitida; até aí, tinha sido fortemente
perseguida. O seu fundamento é a ideia de igualdade das pessoas (Deus encarna), o que
chocava com a ideia vigente de então: “se todos somos filhos de Deus, não há diferença entre
nós”. Ainda hoje, o Cristianismo é das religiões mais perseguidas do mundo.

395 – Morte do Imperador Teodósio - Divisão Império

496 – cai o Império romano do Ocidente

A divisão do Império () deixa fora grandes escolas de então: Atenas, Jerusalém,


Alexandria, Antioquia. A queda do Império debilita ainda mais este lado do Mediterrâneo.

1054 – Cisma do Oriente

A divisão é fortemente motivada pela questão organizacional, ainda que a razão seja
outra: o “filioque”, será que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho ou procede do Pai
através do Filho. De fundo, há grandes diferenças culturais que se abismaram com a separação
dos impérios. O papel do bispo de Roma é fortemente contestado a Oriente.

Séc. XVI – Reforma

Aqui sim, há divergências teológicas de fundo. Calvino e Lutero querem mudar a Igreja
– práticas e doutrina – e acreditam que cortar com o sentido de grupo é o único caminho.

• Não aceitam a primazia de Roma;

• Não aceitam todos os sacramentos como tal;

• “sola scriptura”, leitura e interpretação pessoais dos textos bíblicos;


Cristianismo e Cultura 4
Apontamentos 2011/2012

Por não confiarem num mediador, há um atomismo muito forte nas igrejas cristãs
protestantes. Desde Paulo VI (década de 60, séc. XX) que se tem promovido o diálogo entre os
diferentes ramos do Cristianismo (Ecumenismo – movimento de aproximação dos três ramos
do cristianismo)

6.out

Protestantismo – movimento que nasce nos sécs. XV-XVI em contestação às práticas


da Igreja Católica, onde pontificaram Calvino e Lutero.

• Rejeição de alguns dos sacramentos da Igreja;

• “sola scriptura”, sem ter em conta a tradição: o catolicismo, tem em conta a


escritura e a tradição, o “como” se tem lido, que interpretação tem tido o
texto; o protestantismo começa por dizer “a escritura chega”… por trás desta
ideia é de ter em conta que eles tinham uma formação muito rica.

E o Anglicanismo? Não faz parte do movimento protestante. O que causou a separação


deste grupo de cristãos? Henrique VIII e a sua reiterada prática de anulação de matrimónios
para se unir a diferentes mulheres, tornando-se ele mesmo o chefe da Igreja, formalmente,
pelo menos. Como nalgumas matérias, ainda que pouco centrais, optaram por visões mais
identificadas com o protestantismo, surge muitas vezes a ideia de que este cisma da igreja
britânica é parte integrante do movimento protestante, o que não é verdadeiro.

Os três grandes períodos da história da Igreja


Cristo – séc V: Igreja Antiga

Séc. V – Séc. XV: Igreja Medieval

Séc XVI – (atualidade): Igreja Contemporânea ou Moderna

Igreja Antiga – Temos dois momentos distintos: durante dois terços do tempo, o Cristianismo
viveu como religião marginal, perseguido, um fenómeno maioritariamente de grandes urbes
com uma margem de expansão impressionante. Depois vem o édito de Constantino (313). A
prática da vida honesta e consistente dos cristãos atraia muitas pessoas a esta religião (p.e.
assistência aos moribundos empestados). A partir do édito de Constantino começa a granjear
alguns favores por parte do poder político.

Igreja Medieval – Com a queda do Império Romano do Ocidente toda a organização da cidade
desmoronou-se. Devido à incapacidade dos bárbaros em oferecer uma alternativa sólida,
acabam por ser estes a pedir aos líderes religiosos esse suporte, com a intenção de poder
eficazmente exercer o seu controlo. É por esta “delegação” que se vê surgir universidades,
hospitais, orfanatos.

Igreja Contemporânea – Reforma. Interesse dos príncipes e dos Estados. Separação de poderes

Caraterísticas Essenciais do Cristianismo (8)


Cristianismo e Cultura 5
Apontamentos 2011/2012

(que o distinguem de outras religiões)

Universalidade – a ideia de igualdade aqui é mais universal que a da Revolução Francesa:


nesta, assume-se a igualdade da pessoa perante o Estado; a paternidade de Deus proclama
que não há estrutura humana com poder para impor diferenças, a sua dignidade é intrínseca,
inviolável, intocável, não negociável. O cristianismo defende acerrimamente que a dignidade
não advém da função que desempenha na sociedade ou da sua utilidade ou premência. Esta
ideia é um contrapoder: dirige-se a todas as pessoas, em todas as situações, qualquer que seja
o povo ou a cultura.

Qual é o “big bang” do Cristianismo?

• a Incarnação de Deus;

• toda a humanidade é filha de Deus e, por isso, irmã; uma igualdade


baseada num Alguém que é Pai de todos.

“Potencialmente, qualquer pessoa é já um cristão anónimo” - autor século XX

Tal já foi dito por Jesus Cristo: “Ide por todo o Mundo” (Mt 28, 19) Para o cristianismo, a visão
do Pai é de tal forma universal que transforma qualquer um em irmão.

Historicidade – não há qualquer dúvida em relação à existência histórica de Jesus Cristo. Para
justificar a sua origem, o Cristianismo faz referência a um conjunto de acontecimentos
históricos ligados à pessoa de Jesus, à sua vida e à sua morte. Há, no entanto, dois episódios da
sua vida que não são objeto de investigação histórica: a incarnação e a ressurreição. Esta
crença tem impacto histórico, pois é por aqui que nascem os primeiros mártires da religião.

Pretensão de Absoluto – como se trata de uma comunicação direta e expressa de Deus como
pessoa (Deus que se faz homem para chegar aos homens) não há mais mediação ou
acrescento a fazer. As outras religiões são vistas pelo cristianismo como caminho de
preparação para chegar a Deus. Absolutamente, Deus já falou. Nada mais há a acrescentar.
Mas tal afirmação não é, não pode ser, uma pretensão elitista. É missão e abertura às
manifestações de verdade expressas e patentes nas outras religiões.

13.out

Dimensão Integral – não pretende chegar a cada pessoa de uma forma qualquer, mas em
todas as suas dimensões. Pretende atingir cada pessoa em todas as dimensões da existência
humana: agir querer pensar conhecer amar …

Dimensão Escatológica – a existência humana tem um


caráter de finalidade, de definitividade que está para lá
EXPERIÊNCIAS BÁSICAS DA PESSOA HUMANA
da história, que é meta-histórico. O fim último, a salvação
Conhecimento experiências e teorias
definitiva, estão para lá da história. O cristianismo diz-nos
que o tempo está fora do infinito: a morte não é o fim. O Estética beleza/fealdade das coisas

fim é atributivo de sentido e não sendo a morte o fim, o Amor


sentido está para lá da história. A finalidade do ser Transcendente/Espiritual

Ética Bem ou Mal moral


Cristianismo e Cultura 6
Apontamentos 2011/2012

humano é o seu máximo, a plenitude; no cristianismo, Jesus Cristo

(utopia = [topos (lugar)] em nenhum lugar; não é inalcançável, é alcançável em nenhum lugar)

(em grego, soter = salvação proton= primeiro eschaton = último, final )

17.out

Liberdade (humana) – como caminho de libertação: usando-a para o bem, estou a libertar a
minha liberdade. Para o Cristianismo, o estado maior de libertação humana é Jesus Cristo: a
liberdade, para o Cristianismo, acaba por ser um processo de identificação com Cristo. A
liberdade não está toda feita: a liberdade é um caminho que se faz com cada opção. Quando
não há vigilância/atenção, o poder maior impõe.

Uma autonomia dirigida para o Absoluto, o que é diferente de uma “libertrariedade”.

Responsabilidade – capacidade e obrigação de responder pelos próprios atos e pelos seus


efeitos, aceitando as suas consequências. Responde perante os outros (individualmente),
perante a sociedade (Direito e Ética), perante a minha própria consciência e perante o
Absoluto Pessoal. Como relacionamos direitos e deveres? O fundamento dos direitos está nos
deveres.

20.out

Relação com o Fundador – o mesmo é dizer com Cristo, com Deus, que se fez homem
(incarnou) e ressuscitou. A relação no cristianismo com o fundador é vivencial, existencial,
vital, pessoal, atinge a vida toda; é distinta da relação de um pai com um filho, é distinta da
relação de um Mestre com o seu discípulo, é mais. Não é uma teoria, não é uma moral, é uma
proximidade vivida: se Cristo é o máximo das potencialidades humanas, da liberdade humana,
a vida humana é um caminho de identificação com Cristo.

Conhecer

Amar ninguém ama

Servir quem não conhece

E o cristianismo não fica pelo conhecer: o conhecimento conduz ao amor que nos faz servir. É
um conhecer que não é uma qualquer coisa, mas uma conaturalidade (S. Tomás de Aquino).

24.out

Origem do Universo
(ler – “Porquê Deus se temos a ciência?”)

(visionamento do documentário: “The Universe – beyond the Big Bang”)

O Universo tem 13,7 mil milhões de anos.

O Sistema Solar tem 4,5 mil milhões de anos.


Cristianismo e Cultura 7
Apontamentos 2011/2012

125 mil milhões de galáxias formam o Universo visível

Mil milhões de anos depois do “big-bang”, formam-se estrelas. Antes do “big-bang”, o


Universo era inferior à menor parte do átomo: o átomo primitivo ou o ovo cósmico, do P.
Charles Lemaître.

O “big-bang” traz um grande problema: indica uma fonte. Até ao século XX, pensava-se
que o cosmos era infinito (espaço), que era eterno (não tinha um início temporal) e que era
estático (que sempre fora assim, e assim permaneceria inalterável): o estado estacionário.

Até ao século XV-XVI, vingava a teoria geocêntrica. Com Copérnico, Kepler, Galileu,
chegamos à teoria heliocêntrica. Desde Aristóteles que se pensava que as leis que regiam os
astros eram diferentes das que regiam os corpos na terra. Newton veio provar que não,
reformulando as leis de Kepler de uma forma mais geral. No seguimento disto, Einstein
evidencia que as leis de Newton não funcionam para velocidades muito grandes, próximas da
velocidade da luz. Einstein prova que a gravidade não é uma força mas uma deformação do
espaço, o que faz com que o caminho mais curto entre dois pontos não seja um segmento de
reta (sistema euclidiano) mas uma curva.

Em 1905 Einstein apresenta a Teoria da Relatividade Restrita e em 1916 a Teoria da


Relatividade Geral. Por não conseguir aceitar que a sua teoria contradissesse o estado
estacionário mostrando um universo em expansão, acrescenta-lhe a constante cósmica [a
mente humana tende para o dogmatismo]. Esta constante, que na altura foi um erro, é hoje
essencial para olhar para a matéria escura e a energia escura.

Teoria da Inflação Cósmica - uma das provas desta teoria é a uniformidade de


temperatura do Universo (2,7 klein ou -237ºC). Havia uma superforça concentrada que se
dividiu em quatro: gravidade; eletromagnética; nuclear forte; nuclear fraca. As teorias da
relatividade geral e da mecânica quântica explicam-nos isto.

A física fala de 4 forças, 12 partículas elementares mais 12 antipartículas elementares. E, com


isto, se explica toda a matéria que conhecemos, a que chamamos bariónica.

27.out

Em 1921/1922, um padre católico chamado Charles Lemaître avança com a teoria do


átomo primitivo e aponta as evidências da teoria de Einstein. Este elogia a Matemática
daquele cientista e vexa a sua Física.

Em 1929, Hubble constata que as galáxias se estão a afastar, graças ao efeito Doppler
(as estrelas tendem para o vermelho), a teoria do estado estacionário encaixa esse dado, mas
começam a acumular-se inconstâncias. Em 1965, prova-se a radiação de fundo. No ano
seguinte, 1966, a teoria do “big-bang” é aceite

31.out

A teoria do “big-bang” assenta em 2 teorias e 3 fatos experimentais:

2 teorias
Cristianismo e Cultura 8
Apontamentos 2011/2012

• teoria da relatividade geral (Einstein 1916);

o força gravítica

• mecânica quântica (aproximadamente 1927)

o força eletromagnética

o força nuclear forte

o força nuclear fraca

+ 12 partículas elementares e 12 antipartículas elementares

Tudo isto forma a Matéria/Energia Bariónica

(os 4% que conhecemos do Universo; o resto, 23% chamamos matéria escura e 73% energia escura)

3 fatos experimentais

• expansão do Universo (lei de Hubble);

• abundância relativa dos elementos químicos leves

o hidrogénio [H]/hélio [He]

• radiação cósmica de fundo (temp. aproximadamente 2,7 klein)

Idade do Universo – 13, 7 x 109 – 137 000 000 000

Pequeno/concentrado/denso maior/em expansão/menos denso

Temperatura/energia altas menos quente

Só aos 380 mil anos (380 000) é que a luz se separou da matéria

Tempo de Plank = 10 -43 – 0,00000000000000000000000000000000000000000001s

Aqui há um conflito entre as duas teorias em que assenta a teoria do “big-bang”: em


conceitos básicos como tempo e espaço, elas não são conciliáveis:

• A teoria da relatividade proclama a continuidade;

• A teoria quântica defende que há saltos.

O problema da origem é um problema limite: o zero não é físico, a física não pode
tratar totalmente deste ponto. Precisamos da metafísica (exemplo: Stephen Hawking). Ao
átomo primitivo chama-se agora singularidade inicial (mecânica quântica).

Se seguir a cadeia de causas, só tenho duas alternativas:

• Ou vai até ao infinito ( ), o que não resolve o problema da causa maior;


Cristianismo e Cultura 9
Apontamentos 2011/2012

• Ou pára (causa última!… ou causa primeira?)

A Causa Primeira (em Aristóteles, motor imóvel) é, por definição, uma causa
incausada. Se tiver sido causada, não é a primeira, é na melhor das hipóteses, a segunda. Esta
causa, que é a causa de todas as coisas e causada por nada, também se pode chamar a causa
real: o fundamento real das coisas reais. Esta causa é necessária, é imprescindível, não é
contingente: se ela não tivesse sido, nada era. É imutável: é causadora, incausada e, como tal,
imune às outras causas. É meta-temporal (eterna): está fora do tempo, porque o tempo é,
também, coisa segunda.

via real/ontológica

Causa Primeira Causa segunda

Dependência ontológica
Via lógica
7.nov

Cosmologia

Científica atual (“big-bang”): t=0 não se consegue chegar lá pela ciência

Ontologia/Metafísica

Causa Primeira

Cristianismo

Identifica esta Causa Primeira como Deus mesmo

Criação/Criador

História: linear

O melhor não está na história: é trans-temporal

Todo o mundo foi criado, é obra de um criador

Causa Primeira = Amor = Deus por liberdade em gratuidade

Princípio Antrópico: parece que o Universo se forma para albergar vida, e desta a vida humana
(não é científico)
Cristianismo e Cultura 10
Apontamentos 2011/2012

O Amor em geral é criador e fecundo, daí a necessidade de criar: não por estar obrigado a
criar, mas porque quis criar, por liberdade em gratuidade. É próprio do Amor sair de si, não se
centrar em si mesmo (este seria o egoísmo.)

A partir do nada, criou algo: Creatio ex nihilo – criação a partir do nada

(Deus não criou a partir de si, mas a partir do nada: nada é diferente de Deus)

(“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e este pagou na mesma moeda”)

Caraterísticas da Ação Criadora (4)


1. Criador é radicalmente Transcendente e Imanente

Transcendente é afirmar que Deus não se confunde com o mundo: é a causa


primeira. Mas, vendo isto, se ela é donde sai a(s) coisa(s) segunda(s), Deus tem de estar lá,
há uma presença, que não é espacial, nem direta… aí vemos a Imanência.

2. “Creatio ex nihilo” e seus dois aspetos

Criou para a liberdade (1º aspeto) e permanece no universo sustentando-o


(2º aspeto). Não é um Grande Arquiteto que criou um relógio e entregou-o ao seu regular
funcionamento, com suas leis e mecaninsmos (Deísmo – séc. XVIII). O Cristianismo
defende que Deus não só cria como continua a criar: não fomos entregues ao abandono.
(procurar no livro de Josué “deus não tem horror ao que criou, Deus é fiel”)

Com estes dois pontos formulamos a teoria da participação dos seres em Deus.
Criar a partir do nada implica não só o tempo inicial, mas também a sua existência agora.
“Creatio ex nihilo” implica estas duas dimensões. Há dois livros da Revelação: Bíblia e
Natureza. E nunca podem estar em oposição.

3. Ação Criadora não é controlo nem manipulação

Tem de ser potenciadora, habilitadora, capacitadora, dotando a coisa criada


de autonomia, de liberdade.

4. Dependência Ontológica (todas as coisas dependem ontologicamente de Deus para serem)

A autonomia humana é teónoma: o que temos é dom, do que vivemos é


dom, onde vivemos é dom. O dado científico é dom, foi-me oferecido.

CONSEQUÊNCIAS destas caraterísticas

a) Desdivinização do Mundo

O Mundo é diferente de Deus e só Deus deve ser alvo de adoração. É isto


que permite que a ciência moderna nasça; é em contexto cristão que se dá este salto que
permite a experimentação na natureza, usando animais ou até mesmo cadáveres humanos.
Cristianismo e Cultura 11
Apontamentos 2011/2012

b) Visão Otimista do Mundo

O Mundo está à nossa disposição e é no campo da liberdade que podemos


aferir do Bem e do Mal, e não uma perspetiva platónica de alma encarcerada pelo corpo, o
sublime espiritual e o conspícuo mundano.

10.nov

Pergunta tipo de exame

Apresente os traços gerais


da cosmovisão cristã e
discuta em que medida é
que ela colide ou não com a
cosmologia científica atual
da origem do Universo
baseada na teoria do “big-
bang”

Ciência fala do COMO (how questions); Teologia fala do PORQUÊ/PARA QUÊ (why questions)

Evolução é um conceito científico; Criação é um conceito metafísico/teológico

Cultura
Forma como um grupo de pessoas vive, pensa, sente, se organiza, celebra e partilha a
vida. A toda a cultura está subjacente um sistema de valores, significados e visões do mundo e
da pessoa humana, que se expressam exteriormente na língua, nos gestos, nos símbolos, nos
ritos, nas produções artísticas e nos estilos de vida.

A cultura é o húmus que permite à pessoa desenvolver a sua humanidade.

(ler Cap. 2 – Uma luz no meio das trevas)

313 – édito de Constantino (ou de Milão)

395 – morte do Imperador Teodósio (divisão Império Romano)

476 – queda Império Romano do Ocidente

1453 – queda Império


Romano do Oriente

Porque cai o Império?

Séc. II a IV dão-se as invasões bárbaras


Cristianismo e Cultura 12
Apontamentos 2011/2012

Corrupção política mina a confiança

Relaxação moral cai a coisa “comum”


fenece a justiça

O cristianismo já tinha uma relação com os povos invasores, por força de iniciativas
evangelizadoras, ainda que com muitas heterodoxias, como o arianismo. Os bárbaros eram
povos muito desorganizados e confiam na estrutura hierárquica da Igreja; por força disso, os
séculos VI a VIII são uma confusão: a Igreja ajuda o poder político, o que acaba por a tornar
centro de tensões, alvo de atenções. O cesaropapismo (estrutura de poder em que o político
quer subjugar o religioso) vai tendo forte expansão dos séculos V a X.

Os primeiros bárbaros a converterem-se ao cristianismo ortodoxo são os francos (Rei


Clóvis, 496). Seguiram-se os visigodos (Rei Recaredo, 589). A conversão do monarca equivalia,
então, à conversão de todo um povo.

Monges – construtores da cultura ocidental…


Até 313, o ideal máximo da vida cristã, a atitude mais radical de testemunho, era o
martírio: dar a vida recusando-se a negar a fé. Com o fim da perseguição, constata-se uma
acomodação, um determinado relaxe. No seio do Cristianismo surge o desejo de um
seguimento mais radical de Cristo: o desejo de sair das cidades procurando o Santo longe do
mundo – os eremitas.

Aparecem outros grupos com o mesmo desejo radical, mas expressando-o vivendo em
pequenas comunidades: cenobitas, é dizer “vida em comum” (Koinos bios, no grego).

Começam então a escrever as primeiras regras de vida (Santo Antão), umas bastante
equilibradas, outras nem tanto. O engenho de Bento de Núrsia permite a redação da Regra de
S. Bento (529), fundando os beneditinos, cujo lema é “Ora et labora”.

Os monges têm três votos: pobreza, pois Cristo também foi pobre e pretendem viver
sem luxo, sem excesso, sem o supérfluo; castidade, tal como Cristo foi casto; obediência,
reconhecendo no seu superior eleito – o Abade – a autoridade de Deus.

Para além dos três votos de perfeição evangélica, os beneditinos fazem um quarto
voto: o de estabilidade, comprometendo-se a ficar no mosteiro em que entram para a vida
religiosa, contrariando a tendência de então. Esta estabilidade do monge era essencial na
fixação da população rural, funcionando como garantia de continuidade dos aldeamentos
vizinhos, e era também útil nos verdadeiros centros de formação que os mosteiros eram na
arte de trabalhar a terra e na criação de pequena indústria. Dedicam-se também estes monges
à cópia de documentos antigos e livros que se estavam a perder, por força da volatilidade dos
tempos que se vivia. Todos os mosteiros são dotados de uma área a que se chama “scriptoria”.

Aos monges beneditinos chama-se justamente “pais da Europa” pelo impato que a sua
rede de mosteiros teve na história deste continente.
Cristianismo e Cultura 13
Apontamentos 2011/2012

Os concílios dos bispos tomam decisões que influenciam radicalmente a vida de então,
sendo uma destas a criação de escolas, ainda que não abundassem pessoas com fome de
saber porque a grande, vastíssima, quase universal maioria estivesse demasiado ocupada a
tentar sobreviver. Criam-se três tipos de escolas: paroquiais; catedralícias e monásticas.

17.nov

… erudita inteletual
Contexto histórico: meados séculos VI-VIII

Com a combinação do poder político com o poder espiritual, o bispo acaba por assumir
o papel de dirigente da cidade. Ainda assim, os invasores bárbaros não abdicam do controlo,
convocando inclusive alguns concílios de âmbito local para tratar de matérias do seu interesse
de forma que mais lhes conviesse. Eis o cesaropapismo.

São tempos de grande tentativa de renovação da Igreja, de educação dos povos num
quadro cultural muito desfavorecido, mas onde despontaram figuras insignes como S.
Martinho de Dume (séc. VI – a sua obra “sobre a correção dos rústicos” é uma delícia e está
disponível na biblioteca da nossa faculdade), S. Patrício (séc. VI), S. Bonifácio (séc. VIII).

O Islão

Começando a revelação em 611, a expansão desta religião começa em 622. Quando


entra nos reinos cristãos, dá-se um grande choque cultural. Na Península Ibérica dá-se um
avanço sucessivo e rápido, travado somente em 732 por Carlos Martel, na célebre batalha de
Poitiers (Pirinéus).

Foi a partir deste momento que se inicia a Reconquista Cristã, que só viria a terminar
em 1492 com a tomada de Granada. Foi uma tarefa que ocupou a cristandade ibérica durante
sete séculos, do séc. VIII ao XV.

Meados séculos VIII – X/XI

Fala-se da primeira fase da construção europeia, uma união baseada na cultura cristã,
um império cristão, concretizado na coroação de Carlos Magno (neto de Carlos Martel, filho de
Pepino, o Breve) pelo Papa em 800. Este ato liberta o Papa de funções políticas e sublinha a
subordinação teleológica do poder político ao primado espiritual

Quem reinava eram os merovíngios, e os carolíngios – onde se inscrevem Carlos Martel


e seus sucessores – eram uma espécie de ministros, governando os domínios daqueles. Vendo
o crescente desinteresse dos reis pelos assuntos do Reino, decidem tomar “de facto et de iure”
o poder, escudando-se num parecer interessado do Papa de então.

Alcuíno de York, monge beneditino em Tours, vai sugerir a Carlos Magno uma reforma
do Império que provocará o 1º Renascimento, ou renascimento carolíngio, tendo por base um
plano de estudos fundado nas 7 artes liberais.

21.nov
Cristianismo e Cultura 14
Apontamentos 2011/2012

1º Renascimento (sécs. IX-X) ou renascimento carolíngio

Criação da escola palatina em Aix-la-Chapell – intuição de Alcuíno – que explora o ideal


de educação da nobreza como forma de aumentar o nível cultural da Europa.

Um programa de estudos para todos, uma língua para todos (latim)

7 Artes Liberais – 7 ofícios que libertam o ser humano

Trivium – gramática/retórica/lógica

Quadrivium – Aritmética/Geometria/Astronomia/Música

Um grande avanço desta época é a descoberta da minúscula carolíngia por um


discípulo de Alcuíno, de seu nome Fredegiso. Anteriormente , as palavras encontravam-se
todas juntas, sem espaços nem pontuações.

Que obras estudar? Os autores clássicos

Latinos – Terêncio / Ovídio / Horácio / Virgílio / Séneca

Gregos – Homero / Platão / Aristóteles (traduzidos em latim)

Patrística – S. Agostinho / S. Ambrósio / S. Jerónimo / S. Gregório Magno (latinos)

S. João Crisóstomo / S. Atanásio / Cirilo de Alexandria / Cirilo de Jerusalém /

S. Gregórizo de Nazianzo / S. Gregório de Nissa (gregos)

Finais séc.s IX-X – 2ªs invasões bárbaras: magiares / árabes (pelo Oriente) / vikings

No meio deste caos, é particularmente importante a permanência dos monges, a sua


estabilidade; esta e a cultura permitem a consolidação que ao fim de dois séculos e meio
permitem a criação das universidades.

24.nov

Séc. X-XII são marcados pelo florescimento da cultura inteletual: nas escolas
monásticas dá-se a especialização do conhecimento em áreas como Medicina, Teologia,
Direito, Astronomia.

Chegando ao século X, algumas vozes ouvem-se em defesa do retomar do rigor inicial


da vida monástica, percepcionando sinais de afrouxamento. No mosteiro de Cluny nasce a
reforma com o mesmo nome, mais centralizadores na relação entre mosteiros e com vida
sobejamente centrada na liturgia. Esta reforma dará à Igreja papas notáveis quer pela sua
virtude, quer pelas suas letras.
Cristianismo e Cultura 15
Apontamentos 2011/2012

Séc. XI – reforma de Cister, onde irá pontificar S. Bernardo de Claraval, que pretende
recuperar a simplicidade da regra original, entendendo o enfoque na liturgia, no rito, pouco
conforme com a experiência original (p. 33-34)

28.nov

… artes práticas (p.37)


Agricultura (mosteiros = escolas agrícolas)

Com as guerras, as pessoas abandonam os campos e, mesmo antes dos tempos


agitados por guerras, muito do trabalho no tempo do Império Romano era assegurado por
escravos, o que fazia com que houvesse pouca mão de obra capaz.

Secagem de pântanos (fontes de pestilência)

Arroteamento de terras

Limpeza de florestas

Construção de diques, armazenando águas para rega

A agricultura fica muito associada ao ritmo da liturgia.

Suécia – Milho França – Queijo e vinho (champagne e Abade Pérignon)

Irlanda – Salmão e cerveja Portugal – Licores e Doçaria Itália – Queijo

Hol / Bel / Ale - Cerveja

Pecuária

Seleção artificial de raças (cavalo)

Fábrica

Uso das máquinas hidráulicas e eólicas na moagem dos cereais e produção de tecidos.
O uso da força das águas é uma das razões que justificam a localização dos mosteiros perto de
cursos de água.

Metalurgia

Indústria do ferro, do chumbo e do vidro. Com as escórias das fornalhas fertilizava-se a


terra (fosfatos) e usava-se os sulfatos nos vinhos. Também a extração de sal e de mármore
(minas) eram atividades.

Os mosteiros vão-se tornando unidades económicas sustentáveis, o que atraía e concentrava


pessoas.

Invenções / Feitos (de monges e/ou ordens religiosas)

Primeiros planadores (séc. XI, a pré-história da aviação)


Cristianismo e Cultura 16
Apontamentos 2011/2012

Primeiros estudo sistemático sobre o voo é feito por um jesuíta

Relógio – o relógio astronómico que permite prever eclipses

Genética (Mendel)

“big-bang” por Charles Lemaître

Sismologia (ciência começada pelos jesuítas)

Obras de caridade – hospedagem / “sino dos errantes” / “sino do flutuante” / hospitais

Cap. 4 – A Igreja e as Universidades


2º renascimento sécs. XII – XIII

Fatores que conduziram à criação das Universidades (9)

1. Progresso geral do saber (fruto do 1º renascimento)

2. Noção rigorosa da hierarquia dos saberes

Deus

homem

cosmos (trivium / quadrivium)

3. Rápido desenvolvimento de algumas disciplinas

Direito Romano Teologia

Direito Canónico Medicina

4. Grande necessidade de conhecimento do pensamento cristão devido à


propagação de heresias

5. Crescimento demográfico acentuado

6. Acelerado desenvolvimento comercial

5.dez

7. Nascimento de uma nova classe: burguesia

8. Criação das corporações / grémios / guildas

Ferreiros, sapateiros e outras profissões

9. Corporação dos mestres e dos alunos

Por junção de várias escolas, monásticas ou catedralícias


Cristianismo e Cultura 17
Apontamentos 2011/2012

As 3 vias de origem das Universidades

Via consuetudinária – união de escolas já existentes; “ex consuetudine”;


tradição/costume

Paris; Bolonha; Oxford

Por secessão – “ex secessione”; desmembramento, separação

Por força de conflitos entre a população e a comunidade académica de


Bolonha, esta mudou-se provisoriamente par Pádua. Serenados os ânimos,
deu-se oficialmente o regresso da comunidade a Bolonha. Alguns
preferiram ficar por Pádua, criando a universidade desta cidade.
Cambridge nasce de forma similar

Por privilégio – “ex privilegio”; carta régia + confirmação papal

Coimbra é junção da via consuetudinária e desta última (1290 é o ano da


carta régia e da confirmação papal)

A controversa cronologia das universidades

Bolonha 1100 Paris 1150 Oxford 1168

Cambridge 1209 (ou Montpellier) Salamanca Coimbra 1290…

No início há poucas estruturas materiais: as aulas têm lugar nos sítios que então
reuniam condições para albergar grandes grupos de pessoas, como mosteiros ou igrejas.
Surgem também as bolsas de estudo, concedidas por reis: D. Sancho I, por exemplo, vendo
em Coimbra gente muito capaz, envia-os a Paris obter graus académicos.

Surgem por esta altura os colégios, criados pelos nobres, providenciando aos
estudantes abrigo, refeições e, por vezes, até lições próprias. Os nobres sustentavam estes
dotando-os de rendas. Normalmente tinham nomes alusivos à fé (Trindade, Jesus, Maria,
outros santos, apóstolos), mas nem sempre; famosa é hoje a sucessora do colégio criado
por Sorbon, em Paris, cuja sala principal ganhou o título pela qual hoje a instituição é
conhecida: Sorbonne.

Caraterísticas que permitem distinguir uma universidade de qualquer outra escola


medieval

• Textos obrigatórios que servem de base às aulas (autores clássicos);

• Programas letivos definidos e número fixo de aulas;

• Concessão de graus académicos;


Cristianismo e Cultura 18
Apontamentos 2011/2012

Doutor (inicialmente, título honorífico concedido apenas a alguns mestres)

Mestrado

Licenciatura

Bacharelato

Exame de admissão

Faculdades (4 ou 5, quando Decretos se divide em Direito Canónico e Direito Civil)

Teologia

Decretos (passível de se dividir em 2)

Medicina

Artes – 7 artes liberais, a que se chamará filosofia natural, e de onde sairá


ciências naturais e as ciências humanas

Método de Ensino Escolástico

“Lectio” (leitura) – o docente lê as obras clássicas;

“Quaestio” – o docente comenta e lança questões;

“Disputatio” (discussões disputadas) – o docente lança uma tese à turma e esta é


dividida em dois partidos que defendem ou contrariam a tese; marca-se uma sessão
pública para o embate, tendo-se tempo para afinar a argumentação;

“Quodlibet” (questão livre) – abordar um tema não suficientemente tratado; foi daqui
que se evolui para o que conhecemos como teses de Mestrado ou Doutoramento.

12.dez

Importância do Papado no desenvolvimento da Universidade

1. Concessão de alvará pontifício – reconhecimento dos graus em toda a cristandade;

2. Privilégio “ius ubique docende” – direito de ensinar em qualquer lugar, donde


resulta a difusão do conhecimento, o estabelecimento de uma comunidade científica
internacional e a mobilidade (um “erasmus” primitivo);

3. Resolução de conflitos entre universidade e populações (poder local)

4. Privilégio da autonomia jurídica e pedagógica: a universidade assemelhava-se a um


Estado dentro do Estado, com leis próprias, tribunal próprio e cadeia própria; cada professor
determina o conteúdo da cadeira que lecciona, o que é garante da liberdade de pensamento;

5. Privilégio de “cessatio” (encerramento): em suma, greve


Cristianismo e Cultura 19
Apontamentos 2011/2012

15.dez

Centralidade da Lógica e da Razão

O Método Escolástico impõe um grande rigor racional. As pessoas eram educadas para
debater argumentos e não sentimentos ou “achismos”: ”achologia” e “sintologia” não têm
lugar na Universidade. Um aluno tem de estar muito bem treinado nas subtilezas da linguagem
e nas ciladas da argumentação.

Pedro Hispano (1226-1277), arcebispo de Braga, mais tarde João XXI, foi um
reconhecido matemático, lógico, médico, filósofo e teólogo. Do séc. XIII, fez estudos na
catedralícia de Lisboa (recordemos que a universidade de Coimbra só é criada em 1290), tendo
depois rumado a Paris onde foi aluno de S. Alberto Magno, e colega de S. Boaventura e S.
Tomás de Aquino. Até ao século XVIII, a sua “Summulae Logicales” conheceu 166 edições,
caindo apenas em desuso com o trabalho de Leibniz (quatro séculos depois dele).

Como se estruturam as sumas?

Teses – às vezes divididas em sub-teses a que chamam artigos;

Definição dos Termos

Argumentos – Contra e Favoráveis à Tese

Conclusão

Exemplo: “Pros Logion”, obra de Santo Anselmo. Este é o artífice do argumento


ontológico da existência de Deus, tentando prová-lo pela via racional. Também S. Tomás de
Aquino desenvolveu argumentos desta ordem: as 5 vias. Uma delas é a causa eficiente; outra é
o movimento. (temas aristotélicos)

5 e 9.jan

Caridade Cristã
Todos podemos reconhecer a ajuda e solidariedade por trás da caridade cristã, de um
dar sem receber que deveria estar inscrito em toda a ação de um cristão. Voltaire (p.185) fala
disso, e também Juliano, o Apóstata, apontando o dedo ao principal culpado: o primeiro
“legislador”, Jesus Cristo. Este é a base para o proceder cristão: imitar o amor de Cristo; atuar
de acordo com a Sua revelação de que somos todos irmãos porque temos o mesmo Pai.

Os gregos têm 5 palavras distintas para Amor: eros; filia; storgé; csenía; agapé.

• “Eros” – amor de paixão, deleite, sensualidade, sexualidade, beleza, possessão,


prazer, afetividade, desejo; pulsão humana básica (que deve ser orientada
para o bem da pessoa humana, construção da personalidade e da espécie
humana);

• “Filia” – amor de amizade; beneficência, benquerença, benedicência,


benevolência;
Cristianismo e Cultura 20
Apontamentos 2011/2012

• “Storgé” – amor de afeto natural (família);

• “Csenía” – amor que se traduz em hospitalidade; bem receber;

• “Agapé” – amor “puro”, ideal, próprio de alguns deuses, oblativo, altruísta,


sem segundos interesses, gratuito, oferecido sem ponderar recompensa. Com-
paixão, sim-patia (sin-tonia com os meus sentimentos), misericórdia (coração
inclinado à miséria do outro), padecimento (com-padece-se com os meus
sofrimentos);

Amor é acolhimento do outro e entrega ao outro. O Amor, quando o deixamos tocar,


transfigura, dá-nos uma figura nova; é um dinamismo tendente a mais, pois nenhuma pessoa
amou tudo o que já pôde amar nem foi toda, por inteiro e para sempre, amada.

Filantropia Estóica

Estoicismo (séc. III a.C. – séc. II): a origem da palavra é do grego “stoa” (pórtico),
lugares onde estes homens frequentemente se reuniam e promoviam as suas discussões.

A filosofia grega quer descobrir a sabedoria, mas também a felicidade: a alma (psyché)
sábia é a alma feliz, e esta é aquela que vive de acordo com o “Logos”, as razões da Natureza.
Cosmos é lugar de ordem, beleza, harmonia, sendo regido por um “Logos” universal,
estabelecido por uma razão divina.

O sábio deve viver em ataraxia e apatia, em imperturbalidade (acima das coisas, fora
da zona de impato) e sem paixões (emoções, sentimentos). Ainda hoje encontramos resquícios
desta sabedoria: “um homem não chora”. Defendem que o bem é um “a fazer”, mas para eles
a justiça é um dever intrínseco à condição humana, mas distanciado. A grande viragem
introduzida pelo Cristianismo é a implicação compassiva e gratuita com o que sofre.

A maior inovação da história é o perdão, porque é ação atributiva de futuro: tudo dar,
dar ao outro tudo o que ele precisa para não voltar a ofender, a história da relação não acaba
ali. O amor é perdão.

Hospitais
A partir do século IV começam a surgir os primeiros hospícios (não sendo bem o que
hoje chamamos de hospício, serve para não confundir com hospital, que tem outro alcance),
atendendo doentes (principalmente vítimas de doenças contagiosas, como a lepra, que eram
rejeitados pelas próprias famílias), órfãos (auxiliando quaisquer crianças), idosos, pobres,
peregrinos. Nos mosteiros, os monges assumem a tarefa de estudar as coisas da medicina.

Só no século XII é que surgem hospitais de acordo com a nomenclatura moderna,


destinados a atender quantidades maciças de enfermos. É no final da primeira cruzada a
Jerusalém, para atender os feridos, que vemos o primeiro hospital. A ordem religiosa que o
assumiu é conhecida por vários nomes: Ordem do Hospital, Ordem Hospitaleira de S. João,
Cavaleiros de S. João, Hospitalários. Actualmente, respondem pelo nome de Ordem de Malta.
Cristianismo e Cultura 21
Apontamentos 2011/2012

AVALIAÇÃO

3 valores pela assiduidade

EXAME - 4 perguntas de desenvolvimento (5 valores), de onde se devem escolher 3;

2 perguntas de resposta breve (1 valor cada).

Matéria: Carateristícas do Cristianismo

Cosmologia: científica atual e cristã – ponte entre as duas feita pela filosofia

Importância Monges: cultura erudita e artes práticas (ou sai uma, ou outra)

Universidades

Caridade Cristã e Filantropia Estóica

Você também pode gostar