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PRIMEIRAS
MUDANÇAS E OS
ESCRITOS
PÓS-APOSTÓLICOS
Aula 7
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HISTÓRIA DA IGREJA - I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo
A IGREJA “CATÓLICA”
No segundo século, diante dos crescentes desafios externos
(acusações e perseguições imperiais) e problemas internos (surgi-
mento de heresias e diversidade teológica), a igreja sentiu a neces-
sidade de definir mais claramente a sua identidade institucional e
teológica. Houve uma preocupação em organizar a igreja, fazendo
uma estruturação maior ao redor dos bispos, na tentativa de prote-
ger a igreja das falsas acusações e das heresias que surgiam em seu
meio. O objetivo visado era a obtenção de maior unidade estru-
tural e uniformidade doutrinária. Desse processo resultou a “igreja
católica”. A expressão “igreja católica” é encontrada pela primeira
vez numa carta escrita pelo bispo Inácio de Antioquia à Igreja de
Esmirna, por volta do ano 110. A palavra vem do grego katholikos
e significa geral, universal (de kata = “de acordo com” + holos = “o
todo”). A partir do segundo século, a expressão foi utilizada para
designar a igreja verdadeira, apostólica e ortodoxa, em oposição
aos movimentos dissidentes e aos grupos heterodoxos ou heréticos.
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1 GONZALEZ, Justo L., E até os confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo - Vol. 1 A era dos
Martires, São Paulo, Vida Nova, 1995, Pg. 96.
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Os Pais Apostólicos
O conjunto dos primeiros escritos cristãos posteriores ao Novo Tes-
tamento é conhecido pelo nome de “pais apostólicos.”³ Eles são
designados de “apostólicos” porque surgiram pouco depois dos
apóstolos e revelam uma certa conexão com eles. Os pais apostóli-
cos eram teólogos cristãos centrais para a Igreja que viveram nos
séculos I e II d.C, que se acredita terem conhecido pessoalmente al-
guns dos Doze Apóstolos, ou que foram significativamente influen-
ciados por eles. É importante observar que a expressão “pais apos-
tólicos” não designa somente indivíduos, mas também documentos
anônimos. O período aproximado em que foram produzidos vai de
95 a 150 DC. Os escritos dos pais apostólicos não contêm nenhuma
2 Neste primeiro módulo estudaremos mais profundamente apenas o primeiro grupo, visto que continua
remos a tratar da era patrística no próximo módulo.
3 Os alunos que desejarem ler na íntegra, em português, esses importantes escritos, poderão encon-
trá-los na Coleção Patrística (São Paulo: Paulus Editora), vols. 1 e 2.
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4 OLSON, Roger, História da Teologia Cristã, Editora Vida, São Paulo, 2003, pg 40.
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seus escritos era acerca da unidade da igreja para que ela se for-
talecesse contra os movimentos heréticos e cismáticos que estavam
surgindo no meio dela. Suas cartas falam sobre divisão na igreja,
contra o docetismo, enfatizando muito a necessidade de o bispo
cuidar e liderar a igreja. Nelas, vemos pela primeira vez a menção
acerca de um bispo local, que marcava uma transição de governo
da igreja. Antes víamos uma liderança mais plural e carismática.
Agora vemos o nascimento de uma organização que cada vez mais
se tornará hierárquica. Nessas cartas vemos também, pela primeira
vez, o uso do termo “Católica” para referir-se à igreja. Alguns autores
argumentam que quando Inácio usa esse termo, ele ainda não está
falando de universalidade (a igreja universal, no mundo), mas do
sentido de unidade, que é “inteiro” e “unido” que é claramente um
contraste em relação às seitas e facções, frutos de heresias. O seu
desejo era de preservar as bases essenciais do cristianismo.
3. Carta de Policarpo aos Filipenses (70-155 d.C)
Policarpo foi bispo de Esmirna, escreveu uma carta aos filipenses
por volta de 110, contendo exortações práticas. A Epístola de Poli-
carpo é uma resposta a um pedido vindo dos próprios filipenses, no
qual eles pedem a ele que os envie algumas palavras de exortação
de fé, que repassem adiante uma carta para a Igreja de Antioquia
e que os envie também quaisquer epístolas de Inácio que ele pu-
desse ter. Nesta carta, Policarpo enfatiza a humanidade de Cristo e
a salvação. Ele fala da fé em Cristo, e o desenvolvimento da mesma
através do trabalho para Cristo na vida diária. Também faz alusão à
Epístola de Paulo aos filipenses e usa citações diretas e indiretas do
Antigo e Novo Testamento, atestando-os como canônicos. Policar-
po exorta os filipenses a uma vida virtuosa, às boas obras e à firme-
za, mesmo ao preço de morte, se necessária, uma vez que tinham
sido salvos pela fé em Cristo. Ao contrário de Inácio de Antioquia,
Policarpo não estava interessado em administração eclesiástica,
mas antes em fortalecer a vida diária prática dos cristãos. Policar-
po foi martirizado no reinado do imperador Antonino Pio. Em um
dos escritos que trazem o seu nome nos é dada a narrativa de sua
morte por testemunhas oculares. Devido a sua idade avançada du-
rante a perseguição ofereceram-lhe a liberdade se amaldiçoasse a
Cristo, ao que ele respondeu: “Eu tenho servido a Cristo por oitenta
e seis anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar
contra meu Rei que me salvou?" Quando o colocaram na fogueira,
o fogo não o queimou, e então seus inimigos o apunhalaram até a
morte e depois o queimaram.
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como objetivo transmitir aos seus leitores uma gnosis perfeita (um
conhecimento especial), de modo que eles percebam que os cris-
tãos são os únicos herdeiros da verdadeira aliança, e que os judeus
nunca teriam tido uma aliança verdadeira com Deus. Sua polêmi-
ca é, acima de tudo, dirigida contra os cristãos judaizantes. Ele é
um oponente minucioso do legalismo judaico, embora não che
gue a ser um antinomista. A epístola tem 21 capítulos e está divi
dida em 2 partes: A primeira parte tem um caráter mais doutrinário,
apresentando uma interpretação do Antigo Testamento de forma
alegórica, usando vários textos para referir-se a figuras de Jesus. A
segunda parte é mais prática, apresentando uma espécie de com-
pilação da didaquê. Em questões doutrinárias, Barnabé parece
bem ortodoxo quando, por exemplo, fala do conceito cristão de
expiação, da eternidade e da encarnação de Jesus. Algo interes-
sante é que ele cria que Jesus irá voltar quando o mundo fizer seis
mil anos, fazendo uma ligação da segunda vinda com os dias da
criação.
8. Epístola a Diogneto (c. 130 d.C)
Essa epístola foi escrita por um cristão anônimo que atribui a si mes-
mo o nome de Mathetes (discípulo). Diferentemente dos outros
pais apostólicos que endereçavam seus escritos a outros cristãos,
a epístola a Diogneto foi endereçada a um erudito pagão. Ela é
uma exortação escrita por volta do ano 130 d.C., respondendo à in
dagação de um pagão que buscava conhecer melhor a nova reli
gião chamada “cristianismo”, que revolucionava os valores da época
e se espalhava com muita rapidez pelo Império Romano. O que
chamou a atenção de tal erudito foi a coragem com que os cristãos
enfrentavam os suplícios de uma vida de perseguições e o amor
intenso com que amavam a Deus e uns aos outros. Na carta o autor
descreve quem eram e como viviam os cristãos dos primeiros sécu-
los. É considerada a "joia mais preciosa da literatura cristã primitiva",
visto ser o exemplo mais antigo de apologética cristã. Por ter um
caráter apologético (defesa racional do cristianismo) ela é incluída
por alguns teólogos entre os pais apologistas. A Epístola a Diogneto
contém doze capítulos e aborda acerca da vaidade dos ídolos; a
superstição e rituais observados pelos judeus; os modos de vida dos
cristãos e a relação deles com o mundo; a manifestação de Cristo;
o estado miserável da humanidade antes da vinda de Cristo e por
que ele foi enviado tão tarde; as bênçãos que fluem da fé; o que é
válido ser conhecido e acreditado e a importância do Conhecimen-
to para a verdadeira vida espiritual.
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