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GOIÂNIA
2020
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GOIÂNIA
2020
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 4
2. ESTRUTURA ......................................................................................................................................... 5
2.1 Esboço da obra .................................................................................................................................. 5
3. CONTEXTOS ......................................................................................................................................... 6
3.1 HISTÓRICO GERAL ............................................................................................................................. 6
3.1.1 Autoria e destinatário; local e data; ocasião e propósito; ............................................................. 6
A. Autoria............................................................................................................................................. 6
B. Destinatário ..................................................................................................................................... 6
C. Local e Data ..................................................................................................................................... 9
D. Ocasião .......................................................................................................................................... 10
E. Propósito ....................................................................................................................................... 10
3.1.2 canonicidade e características do texto ....................................................................................... 11
F. Canonicidade ................................................................................................................................. 11
G. Características do texto ................................................................................................................. 11
3.1.3 Natureza, gênero e título da obra ................................................................................................ 12
H. Natureza e Gênero ............................................................................................................................ 12
I. Título da obra ................................................................................................................................ 14
3.2 Histórico Específico ......................................................................................................................... 14
3.2.1 Sociocultural ................................................................................................................................. 14
3.3 Literário ........................................................................................................................................... 17
3.3.1 Natureza literária/Tipologia ......................................................................................................... 17
3.3.2 Contexto remoto e imediato ........................................................................................................ 18
REMOTO ................................................................................................................................................ 18
IMEDIATO .............................................................................................................................................. 19
3.4 Textual ............................................................................................................................................. 19
3.4.1 Delimitação da passagem............................................................................................................. 19
3.4.2 Texto original................................................................................................................................ 20
3.4.3 Texto traduzido ............................................................................................................................ 20
3.4.4 Crítica Textual (se houver variante) ............................................................................................. 21
3.4.5 Semântica ..................................................................................................................................... 21
3.4.6 Diagramação ................................................................................................................................ 23
4. Argumentação Teológica................................................................................................................... 24
4.1 Análise histórico-contextual-gramatical-teológica-literária............................................................ 24
5. Síntese Teológica ............................................................................................................................... 31
5.1 Visão geral da passagem ................................................................................................................. 31
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INTRODUÇÃO
2. ESTRUTURA
3. CONTEXTOS
A. Autoria
Não há nenhuma dúvida que de fato foi o apóstolo Paulo quem escreveu a primeira carta
aos Coríntios. Há evidência interna em (1. 1,2), que comprova essa verdade. De acordo com
(CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 291), quase nenhum dos estudiosos têm questionado
essa afirmação. Portanto, não há motivos para duvidar da autoria paulina.
As evidências internas sugerem que ao todo Paulo tenha escrito quatro cartas aos
Coríntios (A, B, C e D). Uma carta inicial que fora perdida (A) (1Co 5.9); a carta que
conhecemos como 1Coríntios (B); a carta severa (C) (2Co 2.4; 7.8) e a carta que conhecemos
como 2Coríntios (D). (MORRIS, 1981, p. 15-18).
Por conta da carta inicial ter sido perdida, nunca teremos conhecimento do seu conteúdo.
Segundo Tenney, existe uma hipótese que diz que “fragmentos dessa carta, foram preservados,
na coleção manuscrita em Corinto e que 1Co 6.12-20 e 2Co 6.14_.7:1, são partes dessa carta,
integradas no corpo da última epístola”. Entretanto, essa hipótese apoia-se numa impressão
subjetiva, mas não há provas externas suficientes. (TENNEY, 1995, p. 307).
Além das evidências internas, alguns pais da igreja confirmaram a autoria da carta à
Paulo. A veracidade dessa correspondência tem sido confirmada desde 95 d.C. de acordo
Macharthur (2011), Clemente de Roma atesta essa verdade ao escrever para a igreja em
Corinto. Também são incluídos na autenticação da autoria paulina, Inácio (c. 110 d.C),
Policarpo (c. 135 d.C) e Tertuliano (200 d.C). (MACHARTHUR, 2011, p. 5).
B. Destinatário
A carta em estudo, foi destinada aos crentes residentes na cidade de Corinto (1.2). Ao
que tudo indica, eram cristãos imaturos, pois deixaram-se levar por grupinhos que estavam
causando divisões na igreja. Contudo, esses cristãos foram alcançados pela graça de Deus, e
apesar de suas falhas eram santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos (1.2).
(CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 293).
Tenney ressalta que um grande número das pessoas que faziam parte da igreja de
Corinto, eram “gentios pouco familiarizados com os escritos no Antigo Testamento, e cujos
antecedentes religiosos e morais, eram o oposto dos princípios cristãos”. Por conta disso, para
conduzi-los à maturidade espiritual, era necessário muito esforço (1Co 3.1-3). Entretanto, a
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igreja também era composta por judeus que conheciam bem o Antigo Testamento. (TENNEY,
1995, p. 306). Gordon Fee, vai ressaltar que Paulo em (12.13), destaca a diversidade dos que
pertenciam a igreja em Corinto, ou seja, judeus, gentios, escravos, livres. Entretanto, concorda
com Tenney, dizendo que a comunidade era predominantemente gentílica e apesar de haver
poucas famílias ricas, a maioria eram de classe média baixa. (FEE, 2019, p. 5).
A cidade que Paulo propagou o evangelho como mensageiro de cristo, não é mais a
antiga Corinto da era clássica, agora, a cultura muito se expandiu por meio de Alexandre o
Grande, como meio de dominação. De acordo com Boor, quando Paulo chega, em 50 d.C,
encontra uma nova cidade, que experimentava um rápido desenvolvimento e atraia pessoas de
todos os países. (BOOR, 2004, p. 3). Nesse período, de acordo com Fee, Corinto se torna
“colônia romana”. (FEE, 2019, p. 1).
A cidade de Corinto tinha uma localização estratégica para o comércio. Segundo João
Calvino, pelo fato de estar situada próximo ao mar Egeu e do mar Jônio, e por ficar numa
estreita faixa de terra que ligava a Ática ao Peloponeso, era adequada para a importação e
exportação de mercadorias. (CALVINO, 2003 p. 15). Assim, por conta de sua localização
estratégica, Corinto torna-se o local mais importante para a navegação de mercadorias entre o
ocidente e o oriente do mediterrâneo. Como os romanos eram quem dominava, eles acabaram
trazendo à Corinto tanto suas leis, como cultura e religiões, assim, a cultura predominante era
a romana. Porém como Fee vai tratar, por conta da helenização do mundo romano, e por ser
uma cidade “historicamente grega” (língua falada era grega), Fee, ressalta que muitos desses
laços foram mantidos (religião, filosofias, artes), bem como as religiões de mistério, vindas do
oriente (Egito e Ásia), e também os judeus com sua crença num único Deus. (FEE, 2019, p. 2).
Diante dessas informações, percebe-se uma grande mistura cultural e religiosa.
Havia uma variada gama de habitantes. Fee (FEE, 2019, p. 2), vai salientar que a maioria
dos moradores de Corinto eram artesãos e escravos, Morris aponta, que ali chegara raças
orientais, judeus, pois tinha uma sinagoga (At 18.4), muitos romanos e muitos gregos. Ele diz:
“era uma cidade em que gregos, latinos, sírios, asiáticos, egípcios e judeus, compravam,
vendiam, trabalhavam e folgavam, brigavam e se divertiam juntos na cidade”. (MORRIS, 1981,
p. 12). Simone Rezende, em consonância com Fee, vai dizer que em corinto havia uma sinagoga
e, evidentemente uma comunidade judaica estava presente. Lucas comprova essa afirmação
quando menciona em At 18. 4-8 a conversão de Crispo e sua família. (MENDES, 2012, p. 116).
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Assim, conclui-se que em Corinto, habitavam pessoas das mais diversas regiões, e
consequentemente trouxeram tradições culturais particulares. (MENDES, 2012, p. 116).
Simone argumenta que o patronato esteve sempre presente na cidade de Corinto. Havia
muitos “símbolos arquitetônicos, que representavam as benfeitorias, a honra e o poder” dos que
ocupavam a mais alta escala social. Ela ainda enfatiza que abaixo dos deuses, o imperador era
reverenciado em todos os espaços do império romano. Escavadores encontraram estátuas que
foram erigidas por pessoas ricas da cidade, templos foram construídos para honrar “deuses
patronos dos imperadores, a exemplo, o templo de Vênus em homenagem à deusa divina da
família dos júlios e considerada mãe dos romanos. (MENDES, 2012, p. 112).1 Simone também
vai citar a prática acentuada do evergetismo (doações de pessoas da alta classe social, a fim de
obterem prestígio perante a cidade). Assim a moral do mundo romano estava em relações
patronais e segundo ela, estava presente “nos sacrifícios, ofícios sacerdotais, refeições cívicas
e em todos os aspectos da vida antiga”. (MENDES, 2012, p. 113-115).2 Dessa forma, é muito
provável que essas relações também estavam presentes na igreja de Corinto.
1
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História do Centro de Ciências Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo. PAULO E A EKKLESIA DE CORINTO: CONFLITOS
SOCIAIS E DISPUTAS DE AUTORIDADE NO PERÍODO PALEOCRISTÃO.
2
Ibid.
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C. Local e Data
Há unanimidade por parte dos estudiosos quanto ao local exato aonde Paulo escreveu a
primeira carta aos Coríntios. De acordo com Walter e Robert, Paulo escreveu na cidade de
Éfeso, perto do fim da sua estada por lá. Paulo havia permanecido em Éfeso por dois anos e
meio, pregando o evangelho de Cristo. Essa afirmação é comprovada em At 19.10; 1Co 16.
8,19. Isso aconteceu durante a sua terceira viagem missionária. (WALTER; ROBERTT, 1998,
P. 290).
A maioria dos estudiosos dizem que Paulo escreve essa carta em Éfeso, provavelmente
entre o outono de 52, até a primavera de 55 d.C . Tenney vai dizer que é muito provável que
a carta tenha sido escrita no inverno de 55 d.C, “no auge do sucesso do seu trabalho em
Éfeso”. (TENNEY, 1960, p. 308). Kistemaker caminha na mesma direção, dizendo que
“mesmo não sendo possível especificar uma data com exatidão, todavia, ele declara que 55
d.C, é uma data bastante próxima”. (KISTEMAKER, 2003, p. 23). Werner de Boor vai dizer
que a menção de Paulo referente ao cordeiro pascal em 5.7, é um forte indício de que Paulo
escreve a carta na época da páscoa, ou seja, 55 d.C . Ele ainda vai dizer, como apontam
Ducan e Kennedy (GUTHRIE, 1961, p. 326), que é possível se pensar em um acréscimo a
essa data, pelo fato da oportunidade que Paulo encontra em Éfeso, de pregar o evangelho,
ele poderia ter ficado por mais um espaço de tempo, ou seja, além da páscoa, talvez por mais
um ano, todavia, segundo ele, a hipótese de Ducan e Kennedy, entra em conflito com o relato
de At 19.21. (BOOR, 2004, p. 4-5).
De acordo com (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 315), os judeus uniram-se para
atacar Paulo no início do proconsulado de Gálio, provavelmente no outono de 51 d.C. (At
18.12). Paulo permaneceu em Corinto durante algum tempo e depois seguiu para a Síria, isso
aconteceu provavelmente na primavera do ano 52. Em Éfeso, Paulo passa uma temporada
de dois anos e meio, assim, estaria ocupado até o outono de 55. Na certeza de que Paulo
escreveu essa carta quando estava em Éfeso algum tempo antes do Pentecostes (At 16.8),
tudo indica que foi no último ano em que estava na cidade, então, Carson vai dizer que isso
só pode ter ocorrido no início de 55. Gordon Fee caminha na mesma direção, segundo ele a
carta foi escrita em 55 d.C. (FEE, 2019, p. 5.).
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D. Ocasião
A igreja de Corinto havia sido plantada por ele mesmo durante a sua segunda viagem
missionária (At 18). Segundo Carson e outros estudiosos, Paulo plantou essa igreja durante um
ano e meio, onde “lançou o único alicerce’, a saber, Jesus Cristo (1Co 3. 10-11). Durante a sua
terceira viagem missionária em Éfeso, Paulo é informado pelos da casa de Cloé, a respeito de
vários problemas que igreja estaria enfrentando. Nessa ocasião, apesar de serem considerados
pelo próprio Paulo “santificados, chamados para ser santos” (1.2), os coríntios ainda eram
“espiritualmente imaturos, formavam grupos sectários que afirmavam seguir esse ou aquele
líder” (1Co 1.11). (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 293). Nessa época, a igreja não estava
satisfeita com a liderança de Paulo (autoridade apostólica) (1Co 4.3). A honestidade da igreja
estava posta em cheque por conta da má administração da mesa do Senhor (11.17-34),
imoralidade (5. 1-5), conflitos públicos entre os membros (6.1-8), dúvidas sobre o casamento
(cap.7), dúvidas sobre comer ou não comer alimentos sacrificados a ídolos, obsessão pelos dons
espirituais, pelos dons mais espetaculares, porém, sem se importar com o amor, ideias
totalmente equivocadas a respeito da ressurreição (cap. 15). Foi exatamente nessa ocasião,
diante de tantas dúvidas e problemas, que Paulo escreve a sua carta aos coríntios, a fim de
responder os questionamentos da igreja. (CARSON; DOUGLAS; MORRIS, 1997, p. 293-294).
E. Propósito
Paulo escreve a sua primeira carta a fim de resolver vários problemas na igreja de Corinto
que foram apresentados pelos da casa de Cloé (1.11), Estéfanas, Fortunato e Arcaico (16.17), e
também uma carta enviada pela própria igreja (7.1). Gordon Fee, confirma essa afirmação ao
dizer que “essa carta é uma resposta circustancial e ad hoc à situação que havia se desenvolvido
na igreja de Corinto no período que Paulo saiu da cidade”. (FEE, 2019, p. 5).
2014, p. 19). Além disso, Gordon Fee ainda diz que a maior preocupação do apóstolo Paulo ao
escrever essa carta era a “posição teológica por trás do comportamento” dos coríntios. (FEE,
2019, p. 5).
F. Canonicidade
De acordo com os estudiosos, nunca houve dificuldade quanto a aceitação da primeira Carta
aos Coríntios no cânon. Segundo (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 316) essa carta já fora
citada na última década do século I por Clemente de Roma (1 Clemente 37.5; 47. 1-3; 49.5) e
na primeira década do século II, (por Inácio: Eph. 16.1; 18.1; Rom. 5.1; Phil. 3.3).
Conforme Morris, pouquíssimos autores duvidam seriamente da autenticidade dessa carta
aos Coríntios. Ele ainda ressalta que as evidências internas e externas a favor da autoria paulina
são tão consistentes, que facilmente se prova a incompetência dos críticos. (MORRIS, 2014, p.
20). Assim, sem preocupações, ele apresenta o testemunho externo e interno que comprovam a
consistência da autenticidade da carta. Testemunho externo. “É citada em 1 Clemente, por
Inácio e Policarpo”. (MORRIS, 2014, p. 20). Depois disso é citada com frequência e de acordo
com Morris, ninguém tem dúvidas a respeito da sua autoria. Testemunho interno. Quanto ao
testemunho interno, ele aponta os escritos e a linguagem que são próprios dos escritos paulinos.
Um outra evidência interna é a carta se harmoniza com a situação vivenciada em Corinto. Ele
ainda salienta que a própria comunidade dos Coríntios aceitou a carta como autêntica, e, ainda
a preservou, a prova disso é que ela não se perdeu como aconteceu com as outras. (MORRIS,
2014, p. 20).
Diante dessas evidências internas e externas, a não aceitação da autenticidade e canonicidade
dessa carta torna-se equívoco ou incompetência dos críticos.
G. Características do texto
Quanto às características do texto, Carson diz, que a mesma transmissão são usadas nas
cartas aos Coríntios. Ele ressalta, que “o texto é do tipo alexandrino, representado pelo papiro
Chester Beatty p46 (com algumas formas textuais ocidentais), Pelos unciais א, B e C e alguns
minúsculos”. “O texto ocidental é representado por D, F, G, Antiga Versão Latina e pais
ocidentais da igreja; o texto bizantino, pela grande maioria dos manuscritos posteriores”.
Carson explica o fato de que em 1 Coríntios 14.34-35, existia a ideia que fosse uma glosa,
porém, essa ideia era aceita por poucos e mesmo assim, depois da defesa feita por Fee, o ponto
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de vista tornou-se ainda mais aceitável. Carson destaca, que apesar de alguns manuscritos
apresentarem os versículos 34-35, depois do verso 40, nenhum os omite. Um outro argumento
de Fee, apresentado por Carson, é que são poucos os manuscritos que apresentam dessa forma
e que o texto deve ser entendido dentro do seu contexto. (CARSON; DOUGLAS; MORRIS,
1997, p. 316).
H. Natureza e Gênero
O gênero literário da carta aos coríntios é o epistolar. Fee, vai dizer que as epístolas não
são uma “coletânea homogênea”. (FEE, 1984, p. 68.). Assim, podemos concordar que existem
distinções com relação à escrita. Conforme argumenta Manuel Alexandre, a epistolografia no
mundo greco-romano, tinha como base cultural, a retórica. Ele atribui a Agostinho a definição
de epístola ou carta. Definição: “Qualquer peça de escrita, contendo uma saudação, o nome do
emissor e receptor, independentemente de ser ou não enviada”. (JUNIOR, 2015, p. 1663).
Segundo Carson, Adolf Deissmann, faz uma distinção entre epístola e carta. Para Adolf,
epístolas são “peças de literatura pública cuidadosamente redigidas”, e cartas são
“comunicações particulares redigidas sem maior preocupação”. Carson vai enfatizar que
Deissmann, colocou todos os escritos de Paulo, na categoria de cartas. Ele baseou sua afirmação
nas características que percebe nos escritos paulinos, ou seja, “redação apressada e pretensões
literárias que se veem nas cartas-papiros gregas”. (CARSON; DOUGLAS; MORRIS, 1997, p.
263).
Gordon Fee, também cita essa distinção de Deissmann. Fee aponta, que Deissmann
denomina as cartas como “cartas de verdade”, não literárias, destinada a uma pessoa ou às
pessoas. Entretanto, diferentemente da carta, a epístola, era uma forma literária, destinada para
o público. Ele enquadrou todas as cartas de Paulo às “cartas de verdade”. (FEE, 1984, p. 68.).
A maioria dos estudiosos, não concordam com essa distinção. Embora Fee concorde que a
determinação da categoria (epístolas e cartas) é incerta, para ele, não deixa de ser válida. Ele
enfatiza a importância de observar as características de uma carta antiga, pois, assim como hoje,
são padronizadas. (FEE, 1984, p. 68.). Assim, ele cita a forma de uma carta antiga: (1) A carta
3
ALEXANDRE JÚNIOR, MANUEL. Argumentação retórica na literatura epistolar da Antiguidade.
EID&A - Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, Ilhéus, n. 8, p.166-187,
jun.2015.
Pode ser acessado por meio do link: < http://periodicos.uesc.br/index.php/eidea/article/view/612/554 >
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antiga tinha o nome do escritor e algumas delas contém, uma pequena descrição a respeito dele,
podemos observar o nome de Paulo (1.1); (2) nome do destinatário, Paulo é enfático nesse ponto
(1.2); (3) saudação, praticamente em todas as cartas, Paulo faz uma saudação (1.3); (4) Oração,
na maioria das cartas, Paulo faz menção de suas orações (1.4), todavia com algumas exceções
(3Jo 2); (5) corpo da carta (toda a carta); (6) saudação final e despedida (16. 19-24), Paulo
sempre faz uma saudação final. (FEE, 1984, p. 69.). Ao que parece, a primeira carta aos
coríntios contém tais características.
Osborne vai dizer que a única semelhança entre carta e epístola, é a “orientação prática
dos conteúdos”, ou seja, em ambas a mensagem ou tema principal são os problemas que cada
igreja enfrenta em particular. (OSBORNE, 2009, p. 404.). Fee, faz a mesma afirmação, dizendo
que tanto as cartas quanto as epístolas, “surgem de uma ocasião específica e visam essa
ocasião”, e também são todas do primeiro século. (FEE, 1984, p. 70.). Diante dessas
informações, percebe-se que diferentemente da distinção abordada por Deissman, cartas e
epístolas são semelhantes, e por esse motivo podemos dizer que o gênero em questão é
“epistolar”, e que seus escritos são em forma de carta. Também é importante observar como diz
Simone Rezende, que muitos estudiosos preferem tratar os escritos de Paulo como uma
categoria intermediária “retendo aspectos de ambas as classificações” (carta e epístola).
(MENDES, 2012, p. 434).
Fee vai argumentar que as cartas (epístolas) são de natureza ocasional, ou seja, são
ocasionadas “por alguma circunstância especial, ou da parte do autor, ou do leitor”. (FEE, 1984,
p. 70.). Porém, segundo ele, “quase todas as cartas do Novo Testamento, foram ocasionadas
por causa do leitor” (FEE, 1984, p. 70.), provavelmente às exceções de Filemom, Romanos e
talvez Tiago. Elas eram ocasionadas por algum erro doutrinário, ou um mal entendido que
necessitava ser esclarecido, ou comportamento que precisava ser corrigido. Para Fee, essa é a
dificuldade na interpretação, pois, a carta contém as respostas, todavia, não apresenta as
perguntas. (FEE, 1984, p. 70-71.).
Diante das afirmações analisadas, conclui-se que o gênero a que se refere o texto em
estudo, é epistolar, e os escritos paulinos podem ser chamados de cartas públicas (direcionadas
à igreja), e ao mesmo tempo pessoais (direcionada à pessoas).
4
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História do Centro de Ciências Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo.
PAULO E A EKKLESIA DE CORINTO: CONFLITOS SOCIAIS E DISPUTAS DE AUTORIDADE NO
PERÍODO PALEOCRISTÃO.
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Paulo escreveu suas cartas em um tom de autoridade apostólica, o que segundo Moisés
Silva, dá a elas um caráter único. De acordo com ele, as cartas foram escritas para dar instrução
direta a uma igreja específica ou a um grupo de igrejas, (SILVA; KAISER, 2002, p. 118).
I. Título da obra
Dificilmente um comentarista vai tratar a respeito do título da carta aos Coríntios, tendo
em vista que as cartas foram reconhecidas no cânon como carta de Paulo a..., de Pedro a...
e, assim sucessivamente. Portanto, todas as cartas de Paulo foram nomeadas dessa forma:
com o nome do autor e destinatários (carta de Paulo aos coríntios). Quando um autor
escrevia mais de uma carta eram identificadas como primeira, segunda etc. Com respeito a
carta aos Coríntios ficou conhecida como a “primeira carta de Paulo aos Coríntios”5.
3.2.1 Sociocultural
Percebe-se dois temas fortes nessa passagem (16.13,14), fé e amor. Não há nenhuma
dúvida de que esses, mas principalmente o amor, estava longe de ser evidenciado na
comunidade cristã de Corinto. Alguns estudiosos afirmam que a comunidade de Corinto era
composta por membros de camadas ricas, mas a maioria eram pobres e entraram em choque
entre si. “As diferenças entre ricos e pobres, senhores e escravos, homens e mulheres”
(MENDES, 2012, p. 116),6 despontavam entres os membros. Os ricos por serem patronos,
depois de ingressarem no corpo de Cristo não pararam de frequentar os banquetes cívicos que
aconteciam na cidade e que “eram servidas carnes sacrificadas aos deuses romanos”.
(MENDES, 2012, p. 116). Assim, a maioria dos problemas em Corinto emanava dos patronos,
membros da ekklesia.
Além dos conflitos internos entre os membros, havia divergência por parte de alguns
integrantes da comunidade com relação ao pensamento do apóstolo Paulo referente a aceitação
ou não, de algumas práticas “culturais” vivenciadas no meio dos irmãos, o que evidentemente
também causava conflitos internos. Crossan e Reed acreditam que todos os problemas da
comunidade “tinham ligação com a visão igualitária de Paulo, que contrastava com a posição
5
As informações contidas nesse tópico pertencem ao seminarista Rafael de Souza Bastos.
6
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História do Centro de Ciências Humanas e Naturais
da Universidade Federal do Espírito Santo. PAULO E A EKKLESIA DE CORINTO: CONFLITOS SOCIAIS E
DISPUTAS DE AUTORIDADE NO PERÍODO PALEOCRISTÃO.
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social dos membros”. (MENDES, 2012, apud CROSSAN; REED, 2007b, p. 306).7 A partir
dessa introdução, abordarei alguns problemas vivenciados em Corinto que demonstram uma
falta de amor gigantesca e que faz parte desse contexto específico.
O grande embaraço que revela a falta de amor entre os irmãos, são as divisões internas.
Segundo Fee, “a maior preocupação é a posição teológica por trás do comportamento”. (FEE,
2019, p. 5). O comportamento das pessoas revelava a ausência de amor, principalmente
havendo tratamento diferenciado de um grupo para com outro, o que estava acontecendo no
momento. Conforme Carson, Morris e Moo vão mostrar, “cada grupo se jactava da sabedoria
superior de seu escolhido”. (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 287). Fee argumenta que
alguns coríntios menosprezavam Paulo dizendo que ele não possuía habilidades retóricas que
acompanhem a sophia (cf.1.17; 2. 1-5). (FEE, 2019, p. 10). Esses, desprezavam a mensagem
de um homem escolhido por Deus (At 9.15; cf. 1Co 4.3), pois estavam se orgulhando de Apolo
e desqualificando Paulo. É sabido que uma parte da membresia de Corinto apoiava os ensinos
paulinos, mas outra parte rejeitava-os, isso porque Paulo não concordava com muitas de suas
práticas, inclusive a participação deles em festas a ídolos que eram praticadas em santuários
pagãos. (MENDES, 2012, p. 122). Segundo Fee, um outro fator que ofendia essa parte da igreja
era o fato de Paulo trabalhar para obter o seu próprio sustento não dependendo da ajuda deles
para o mesmo, eles já praticavam a patronagem fora dos limites da igreja e estavam ofendidos
pelo fato de Paulo pessoalmente não aceitar. (FEE, 2019, p. 11). Indubitavelmente Paulo foi
um homem escolhido e enviado por Deus para propagar o evangelho da salvação, assim, teve
uma visão totalmente divina na condução da igreja. Dessa forma, a oposição da igreja de
Corinto constituiu-se numa falta de fé e amor para com o próprio Deus. A esse respeito Fee
argumenta, que eles não estavam apenas questionando a autoridade de Paulo, mas “modificando
o evangelho para torná-lo mais próximo do helenismo”. (FEE, 2019, p. 11).
Um outro elemento que demonstra falta de fé e amor entre eles, é quanto à participação
na Ceia do Senhor. Simone ilustra bem o conflito existente nessa participação. A mesma
conduta praticada pelos patronos da cidade de Corinto era cometida dentro da igreja. Era
costume naquela sociedade:
Durante o jantar festivo oferecido pelo patrono em sua casa: a comida e o vinho
superiores era servido ao anfitrião e a seus amigos mais honoráveis. O lugar de honra
ou a terceira posição na mesa do meio, às vezes bem próximo do anfitrião, estava
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História do Centro de Ciências Humanas e
Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo. PAULO E A EKKLESIA DE CORINTO: CONFLITOS
SOCIAIS E DISPUTAS DE AUTORIDADE NO PERÍODO PALEOCRISTÃO. p. 123.
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Uma terceira demonstração da falta de amor entre os membros de Corinto, era o descaso
que alguns crentes tinham com outros por conta de questões espirituais ou dons espirituais.
Conforme Fee (2019, p. 11), era um grande problema o entendimento que os Coríntios tinham
a respeito do significado de ser “espiritual” (pneumatikos), o que consistia num problema
teológico. Por causa de seus dons, alguns sentiam-se superiores aos outros e outros se sentiam
inferiores por não tê-los. Fee vai dizer que eles mediam sua espiritualidade pelos dons que
possuíam. (FEE, 2019, p. 12). Simone corrobora dizendo que no meio da comunidade de
Corinto havia uma hierarquia relacionada aos dons, i.e., a glossolalia (falar em línguas) estava
acima de todos os outros dons. (MENDES, 2012, p. 145). Ela ainda argumenta que para os
coríntios o falar em línguas significava que o indivíduo estaria possuído pelo Espírito Santo de
Deus e assim era visto como detentor de poder e prestígio. A ênfase dada à glossolalia, acabou
ofuscando o sentido comunitário do culto, o que estava causando um isolamento por parte
daqueles que não apresentavam esse dom. (MENDES, 2012, p. 146).10 Diante disso, alguns
crentes eram comparados como sendo mais valorosos que outros.11 Na realidade, aqueles que
não demonstravam possuir tal dom eram desqualificados pelos outros ou por si mesmos,
causando conflitos e mais uma vez demonstrando inexistência do amor mútuo.
Durante toda a carta, Paulo combate esses e outros conflitos existentes em Corinto,
porém nesse contexto específico ele exorta os coríntios a realizarem tudo, levando em conta o
amor. O amor é o dom supremo, sem ele nada que a comunidade pudesse fazer adiantaria (1Co
8
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em História do Centro de Ciências Humanas e Naturais
da Universidade Federal do Espírito Santo. PAULO E A EKKLESIA DE CORINTO: CONFLITOS SOCIAIS E
DISPUTAS DE AUTORIDADE NO PERÍODO PALEOCRISTÃO. p. 123.
9
Ibid., p. 123.
10
Ibid., p. 146.
11
Ibid., p. 146.
17
13). É muito provável que o fundamento de Paulo para enfatizar o amor tenha sido o amor de
Deus demonstrado na morte e ressurreição de Jesus Cristo.
3.3 Literário
12
Não foi encontrado nenhum autor na literatura portuguesa que trate da natureza literária dessa passagem.
18
REMOTO
A passagem em estudo está inserida em um grande bloco que pode ser fatiado em onze
partes, e esta, encontra-se na décima primeira (última).
A primeira parte trata das divisões internas dentro da igreja. Paulo foi informado que
estava havendo discórdia, divisões, i.e., grupos de dentro da ekklesia, passaram a identificar-se
com líderes específicos demonstrando orgulho diante da “sabedoria” do seu líder (1.10-17).
Obviamente, Paulo não compactuava com essas coisas. A segunda confronta a imoralidade
praticada. Aqui nos deparamos com um caso de incesto (5. 1-13) onde alguém estava mantendo
relações sexuais com a própria madrasta; litígio (6. 1-11), onde levavam causas que deveriam
ser julgadas e resolvidas em amor e entre a comunidade, para não crentes deliberar.
Semelhantemente homens da membresia de corinto pensavam estar livres para se relacionarem
sexualmente com prostitutas. Eles faziam isso, cogitando de forma equivocada que esse ato
envolvia apenas o corpo e o corpo nada era para Deus. A terceira tem a ver com problemas
relacionados ao casamento. A quarta etapa trata de comida sacrificada a ídolos (8. 1-13), pois
havia divergência de opiniões sobre comer ou não comer alimentos sacrificados a ídolos e isso
deveria ser resolvido em amor. A quinta refere-se aos direitos do apóstolo (9. 1-27), pois uma
parte da igreja rejeitava os ensinos paulinos por conta dele não concordar com muitas práticas
vivenciadas por eles, como por exemplo, a participação em festas dedicadas a ídolos realizadas
em templos pagãos, e porque Paulo não dependia da ajuda de alguns membros que segundo
Fee, praticavam a patronagem (FEE, 2019, p. 11), na realidade eles sentiam-se ofendidos pelo
fato de Paulo trabalhar para obter seu próprio sustento. A sexta temos exemplos do Antigo
Testamento (10.1-13), onde Paulo enfatiza o exemplo negativo de Israel, pois eles não haviam
perseverado, pelo contrário, deram péssimo exemplo e, por conta disso receberam o juízo de
Deus. A sétima trata dos limites da liberdade cristã (10. 14—11.1). Paulo deixa claro que a
liberdade em Cristo tem limites, pois eles não deveriam participar da adoração nos templos
pagãos, mas adorar somente a Deus. A oitava aborda a questão do culto (11.2—14.40). Aqui
Paulo trata a respeito do relacionamento entre homens e mulheres, do embate sobre as mulheres
cobrirem ou não a cabeça, sobre os excessos na administração da Ceia e o descaso que alguns
crentes tinham com outros por conta de dons espirituais. Tudo isso caracteriza uma expressiva
falta de amor. A nona fala sobre a ressurreição (15. 1-28), Paulo enfatiza que o fundamento da
nossa ressurreição é a ressurreição de Cristo que nos conduz ao triunfo final. A décima parte
19
(16. 1-4) vai tratar da coleta recolhida para ajudar os irmãos de Jerusalém e a última parte,
aonde o texto estudado se encontra (16. 5-24), Paulo traz uma exortação final e a conclusão da
carta.
IMEDIATO
Sabemos que o contexto imediato busca conectar a passagem em estudo com os textos
que antecedem e seguem. (PINO; BATISTA; SAHIUM, 2005, p. 69). Todavia, percebe-se
nessa passagem (16. 13,14) que “Paulo interpõe uma breve e incisiva exortação”. (MORRIS,
1986, p. 195). Isso indica que o texto se conecta muito mais com o restante da carta (toda a
carta) do que os textos mais próximos que a antecede. O apóstolo indica um caminho melhor à
igreja por meio de “uma série de imperativos compulsivos”. (MORRIS, 1986, p. 195). Dessa
forma como já abordado no contexto específico, além de ter uma aproximação com toda a carta,
destacam-se três episódios mais íntimos: As divisões internas, o desprezo praticado entre os
irmãos no dia da Ceia e a ênfase dada à glossolalia que acabou ofuscando o sentido comunitário
do culto, ambas caracterizam uma falta de amor considerável no seio da igreja e Paulo escreve
a carta justamente a fim de exortá-la à resolução de todos esses conflitos.
Entretanto, não podemos dizer que essa passagem está desconexa com o texto anterior,
pois é muito provável que Paulo envia Timóteo esperando o seu retorno justamente porque a
sua ida à Corinto objetivava a resolução dos conflitos existentes. Morris vai dizer que Timóteo
tinha “tarefas específicas” recomendadas por Paulo. (MORRIS, 1986, p 194). Assim, o contexto
imediato começa no capítulo 16. 10-12, que trata da ida de Timóteo para deliberar a respeito
dos conflitos enfrentados na ekklesia e estende-se até o final da carta (posterior ao texto),
quando Paulo fala da crucialidade de amar ao Senhor (vss 21) e conclui falando do seu amor
para com os irmãos (vss 24).
3.4 Textual
Como vimos anteriormente e de acordo com o esboço proposto nessa pesquisa, podemos
dividir a primeira carta de Paulo aos Coríntios em onze partes: (1) divisões internas na igreja
(1.10—.4.21); (2) imoralidade e litígios (5. 13—.6.20); (3) problemas referentes ao casamento
(7. 1-40); (4) comida oferecida a ídolos (8. 1-13); (5) os direitos do apóstolo (9. 1-27); (6)
exemplos do antigo testamento (10.1-13); (7) os limites da liberdade cristã (10. 14—11.1); (8)
20
o culto (11.2—14.40); (9) a ressurreição (15. 1-28); (10) coleta para ajudar os irmãos (16. 1-4);
(11) exortação final e conclusão (16. 5-24); (13).
Apresento algumas versões que expõe essa passagem como uma unidade: Revista
Almeida e Atualizada; Nova Almeida Atualizada; Nova Versão Internacional; Nova Tradução
na Linguagem de hoje; dentre outras. Assim acredito que a passagem (16. 13,14), pode ser
considerada uma unidade (perícope).
13
HOLMES, M. W. (2011–2013). The Greek New Testament: SBL Edition (1Co 16.13–14). Lexham Press;
Society of Biblical Literature.
14
BÍBLIA, Português. A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Edição rev. e atualizada no Brasil. Brasília: Sociedade Bíblia do Brasil, 1969.
21
Vigiai, permanecei na fé, sejam corajosos, tornem-se fortes. Tudo que tiver que ser feito,
façam em amor.15 (1Co 16. 13,14).
3.4.5 Semântica
15
Tradução dinâmica por Rafael de Souza Bastos.
16
Thayer, J. H. (1889). A Greek-English lexicon of the New Testament: being Grimm’s Wilke's Clavis Novi
Testamenti (p. 4). New York: Harper & Brothers.
17
Ibid., p. 588.
18
Bloomfield, S. T. (1840). A Greek and English Lexicon to the New Testament (p. 406). London: Longman,
Orme, Brown, Green, & Longmans.
19
THAYER, 1889, p. 513.
20
Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.
22
qualidade de homem ou se portar como homem. (SOUTER, 1917, p. 22). Logo compreende-
se que no texto, o termo indica ser corajoso, ser valoroso, possuir as qualidades condizentes
de um homem.
πάντα (tudo) – Esse adjetivo é importante, pois indica totalidade. (VINE, 2002, p.716).
Paulo sempre usa esse termo para indicar totalidade das coisas, ou seja, completude. Coenen
argumenta que muitas vezes pode referir-se a “cada coisa”. (COENEN; BROWN, 2000, p.
2522). Thayer corrobora dizendo que denota o “todo de qualquer tipo”. (THAYER, 1889, p.
491). Logo conclui-se que o adjetivo πάντα (tudo) no texto, refere-se a cada atitude a ser tomada
e, ou cada coisa a ser realizada em qualquer esfera ou área da vida.
ἀγάπῃ (amor)- O apóstolo Paulo usa esse termo referindo-se ao amor eletivo de Deus
que foi revelado através da obra de Jesus Cristo. É o amor sacrificial, que motivou Deus a
entregar o seu próprio Filho para salvar pecadores que não mereciam. Esse amor de Deus
implica em amor ao próximo, i,e., estando em Cristo, o indivíduo foi transformado em uma
pessoa amorosa, por meio da habitação do seu amor. Dessa forma o amor de Deus implica em
amor pelo próximo. Coenen e Brown dizem com base em 1Co 13 que esse amor é “tanto o amor
de Deus quanto o amor do homem” (COENEN; BROWN, 2000, p. 120). Eles ainda frisam que
em 1 Coríntios, ἀγάπῃ é o maior dos dons do Espírito e portanto, esse amor “é a força que
conserva a vida em conjunto”. (COENEN; BROWN, 2000, p. 120). A igreja é edificada nesse
amor, a comunhão entre os irmãos tem como fundamento esse amor (ἀγάπῃ) e sem ele “não
pode haver relacionamento com Deus”. (COENEN; BROWN, 2000, p. 121).
21
Bloomfield, S. T. (1840). A Greek and English Lexicon to the New Testament (p. 228). London: Longman,
Orme, Brown, Green, & Longmans.
23
Semelhantemente, Bloomfield vai dizer que ἀγάπῃ denota o amor de Deus ou de Cristo
para os cristãos, o amor demonstrado em benefício de alguém. E ainda cita 1Co 11. 17-27, ao
dizer que as refeições públicas fornecidas pelos mais ricos de uma comunidade, devem ser
comuns a todos independentemente da condição social, evidenciando o amor. (BLOOMFIELD,
1840, p. 2).22 Thayer contribui argumentando que esse amor também tem a ver com a resposta
de gratidão que o cristão tem para com Deus em face do seu grande amor praticado através de
Cristo Jesus. Citando 1Co 13. 1-4, ele diz que é um amor visto e expresso. Amor de Deus para
com os homens e dos crentes uns para com os outros. (THAYER, 1889, p. 4). Portanto, no texto
em estudo o termo refere-se ao amor (o maior dos dons) evidenciado na vida de cada crente,
i.e., o cristão diante da grandiosa obra da redenção em Cristo, obedece (responde) aos
mandamentos de Deus com um coração grato, assim ele ama a Deus acima de tudo e ao próximo
com a si mesmo.
O termo ἀγάπῃ é usado 33 vezes nas cartas paulinas com o mesmo sentido, ou seja, o
amor de Deus ao seu povo implicando no amor mútuo (entre os irmãos). Só na primeira carta
aos Coríntios o termo é usado 7 vezes: 1Co 4.21; 8.1; 1co 13. 4 ; 1co 13.8; 1co 13.13; 1Co
16.14; 1Co 16.24; e assim em todas as suas epístolas: Rm 5.5; 12.9; 13.10; 2Co 5.14; 6.6; 8.7;
13.13; Gl 5.22; Ef 1.4; 3.17; 4.2; 4.15; 4.16; 5.2; 6.23; Fl 1.9; Cl 2.2; 1Ts 3.12; 5.13; 2Ts 1.3;
1Tm 1.5; 2.15; 4.12; 2Tm 1.13; 3.10; Tt 2.2; Filemom 7.
3.4.6 Diagramação23
Γρηγορεῖτε,
στήκετε
1Co 16.13 ἐν πίστει,
ἀνδρίζεσθε,
κραταιοῦσθε
πάντα γινέσθω
22
Ibid., p.2.
23
Diagramação baseada no Software Bible Works.
24
Explicação da diagramação
4. Argumentação Teológica
A passagem em estudo (16. 13,14), contém uma série de imperativos. Totalizam cinco
ordens independentes entre si, por conseguinte trata-se de uma passagem exortatória, isto é,
marcada por exortações que devem ser seguidas. É característico do apóstolo Paulo utilizar
admoestações ou exortações ao final de suas cartas. Semelhantemente é natural do apóstolo,
apresentar indicativos para depois expor os imperativos necessários à igreja. Os indicativos
referem-se a obra de Cristo imputada a nós e os imperativos denotam a luta que enfrentamos
contra o pecado (RIDDERBOS, 2013, p. 2088). Logo no início da carta o autor apresenta um
indicativo importante à compreensão do texto. Paulo se refere à igreja não como pessoas
incrédulas ou não salvos, mas aos que foram santificados em Cristo, chamados para serem
santos (1Co 1. 2,4). Sabendo que a justificação precede a santificação e a eleição redentiva
precede ambas, concluímos que a carta é dirigida a cristão eleitos, regenerados, justificados em
Cristo e agora caminham em santificação progressiva, portanto as admoestações contidas em
toda a carta bem como os imperativos do texto em estudo dizem respeito aos conflitos existentes
na igreja de Corinto.
Para uma melhor compreensão a respeito das exortações paulinas, faz-se necessário
apontar as dificuldades existentes na igreja. Havia discórdia e divisões entre os irmãos, alguns
líderes específicos se orgulhavam da “sabedoria” de Apolo (1.10-17); é identificado
imoralidade sexual praticada por membros da ekklesia, (um membro mantinha relacionamento
sexual com a sua madrasta) (5.1-13); litígio (6.1-11) causas que deveriam ser resolvidas em
amor dentro da comunidade cristã, eram levadas para não crentes julgar; homens se
relacionavam com prostitutas pensando equivocadamente ser normal (diziam que Deus não se
importava com o corpo); vários problemas relacionados ao casamento; divergência sobre comer
25
ou não comida sacrificada a ídolos (8.1-13), e alguns participavam de banquetes cívicos dessa
natureza; uma parte da igreja questionava os ensinos paulinos bem como sua autoridade
apostólica (9.1-27), provavelmente porque ele não concordava com as práticas vivenciadas por
eles (participação em festas dedicadas a ídolos realizadas em templos pagãos) e porque Paulo
fazia questão de não depender deles para o seu sustento (eles se sentiam ofendidos pois
praticavam a patronagem); tinha a questão do culto (11.2__14.40), pois havia um embate sobre
as mulheres cobrirem ou não a cabeça, também sobre os excessos na administração da Ceia e o
descaso que alguns crentes tinham com outros por conta de dons espirituais; e ainda, a respeito
da ressurreição, pois alguns questionavam se Jesus de fato havia ressuscitado. Categoricamente,
Paulo não compactuava com essas discórdias, e por isso, depois de uma série de posições a
respeito desses assuntos, ele se utiliza dessa perícope para fazer algumas admoestações finais
sobre a vivência eclesiástica. Dessa forma, focaremos nas exortações imperativas feitas à igreja
de Corinto na passagem em estudo.
I. Vigiai
II. Permanecei na fé
de pé para não cair no pecado. Assim como o primeiro verbo, é um imperativo, presente, ativo.
Levando em consideração o sentido de πίστει (fé) no texto, ou seja, o recebimento da mensagem
da salvação e da conduta baseada no evangelho, concluímos que a expressão denota uma
permanência na fé em Cristo (algo duradouro), estabilidade. Tudo o que se ouviu e creu a
respeito do evangelho salvífico de Cristo, não deveria ser desperdiçado, por conta de práticas
ilícitas, mas a membresia de Corinto deveria buscar manter-se firmes nessa fé que foi o meio
para sua justificação. Vivei, acima de tudo, de modo digno do evangelho de Cristo, para que,
ou indo ver-vos, ou estando presente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um
só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica (Fl 1.27). A igreja precisa
confiar no evangelho de Cristo e lutar juntos por isso. Logo, não deve haver divisões, pelo
contrário, união entre irmãos.
Essa é a única menção desse termo na carta aos Coríntios, entretanto em outras cartas
ele faz uso também com esse sentido e praticamente todas no modo imperativo, vejamos: “Para
a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo,
a jugo de escravidão” (Gl 5.1). “vivei, acima de tudo, de modo digno do evangelho de Cristo,
para que, ou indo ver-vos, ou estando presente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes
em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica (Fl 1.27). “Portanto,
meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, desse
modo, firmes no Senhor (Fl 4.1). “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições
que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2Ts 2.15). Portanto fica
claro que esse termo já fazia parte do vocabulário de Paulo. Os conflitos existentes, estavam
obstruindo a unidade que a igreja deveria nutrir. No início da carta, Paulo já os lembrava de que
eles deveram ser apresentados no dia do Senhor “irrepreensíveis” e que foram chamados para
a comunhão do Senhor Jesus Cristo (1Co 1.8,9), logo não deveria haver divisões, pelo contrário,
deveriam viver “inteiramente unidos na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1Co
1.10). Assim, a mensagem de Paulo é que a igreja precisava manter-se firme na fé em Cristo,
não perder a comunhão com o Senhor, não permitir que esses problemas os afastassem da fé,
deveriam vencer tudo isso, lembrando que foram eleitos, justificados e santificados, chamados
à santificação (1Co 1. 2), e por isso precisam resistir ao pecado. “Portanto, meus amados
irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 5.58).
27
24
Wallace, D. B. (2009). Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento. (E. C. Matos & M. P.
Soares, Orgs., R. N. Albuquerque, Trad.) (Primeira edição em português, p. 410). São Paulo, SP: Editora Batista
Regular.
28
que não se anule a cruz de Cristo”. (1Co 1.17). O que de fato eles precisavam não era de
“sabedoria humana”, mas do amadurecimento que é obtido através da santificação progressiva
e mesmo adquirindo tal amadurecimento, tudo é dado através de Cristo e fora dele somos
insignificantes, os coríntios precisavam reconhecer isso. De acordo com Morris (1986, p. 195),
os coríntios deveriam fazer o papel de homens responsáveis.
IV. Fortalecei-vos
O verbo κραταιοῦσθε (tornar-se forte), refere-se a alguém que busca o fortalecimento ou
a capacitação para uma vivência em união como comunidade cristã, ou seja, o fortalecimento
mútuo. Esse verbo encontra-se na voz passiva indicando que esse fortalecimento não dependia
exclusivamente dos coríntios. Paulo também utiliza esse verbo em outras cartas: “ Quanto ao
mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10); “E qual a suprema
grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder” (Ef
1.19). “Sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória em toda a
perseverança e longanimidade; com alegria” (Cl 1.11). Dessa forma, concluímos que o
fortalecimento exortado por Paulo aos coríntios vem de Deus em Cristo Jesus. “... Quando sou
fraco é que sou forte” (2Co 12.10); “Deus é meu refúgio e força...” (Sl 46.1). A comunhão da
igreja implica em força. Não há uma igreja forte se houver divisões, conflitos ou falta de amor,
pelo contrário, uma igreja conflituosa torna-se frágil. Por conseguinte, a recomendação do
apóstolo é para que houvesse um fortalecimento mútuo, e como isso não vinha deles,
precisavam buscar essa comunhão em Cristo, pois sem ele não há vida em comunidade.
V. Tudo que tiver que ser feito, façam em amor/ cultivem o amor
Nessa expressão se faz necessário enfatizar o adjetivo (πάντα), pois denota o ‘todo”, a
totalidade das coisas ou qualquer coisa. O apóstolo Paulo costumeiramente se utiliza do
termo referindo-se a totalidade, são 85 usos nas epístolas paulinas. A exemplo, cito alguns
textos em que ele utiliza esse termo: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente”. Amém! (Rm 11.36); “Mas Deus no-lo revelou
pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de
Deus (1Co 2.10); “seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte,
sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso” (1Co 3.22); “Todas as coisas me
são lícitas, mas nem todas convêm...” (1Co 6.12); “Tudo faço por causa do evangelho, com
o fim de me tornar cooperador com ele” (1Co 9.23). Portanto, Paulo refere-se a qualquer
atitude a ser tomada ou qualquer coisa a ser realizada. De acordo com Fee (2019, p. 1049),
29
o termo (panta) “provavelmente inclui as brigas em nome de líderes (caps. 1-3), a atitude
deles com o apóstolo (caps. 4-9), as ações judiciais (6.1-11), o relacionamento entre marido
e mulher (cap. 7), o abuso contra os fracos por parte daqueles com “conhecimento”
(8.1__10-22), o abuso contra os pobres por ocasião da ceia do Senhor (11.17-34), e o
fracasso por falta de edificação da igreja no culto (caps. 12-14)”. É evidente que numa igreja
conflituosa e recebendo várias exortações do seu líder fundador, muitas coisas ou iniciativas
deveriam ser tomadas para a resolução das discórdias existentes. Dessa forma, podemos
parafrasear a expressão de Paulo da seguinte maneira: tudo que vocês farão a fim de manter
a unidade em Cristo, deve ser feito com amor. Assim percebe-se que se todas essas coisas
tivessem sido feitas em amor, os conflitos eram inexistentes.Portanto, ἀγάπῃ é um termo
crucial para a interpretação dessa passagem.
a. Cultivem o amor
Nas epístolas paulinas o termo (ἀγάπῃ) é utilizado trinta e duas vezes sendo que na carta
em estudo (1Coríntios) ele utiliza nove vezes, veremos: “Que preferis? Irei a vós outros
com vara ou com amor e espírito de mansidão?” (4.21); “No que se refere às coisas
sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber
ensoberbece, mas o amor edifica” (8.1); “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde
em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,” (13.4); “O amor jamais acaba; mas, havendo
profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará” (13.8);
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o
amor” (13.13); “Todos os vossos atos sejam feitos com amor” (16.14); “O meu amor seja
com todos vós, em Cristo Jesus” (16.24).
No texto, ἀγάπῃ refere-se ao amor eletivo de Deus, amor que foi manifestado na pessoa
e obra de Jesus Cristo, amor sacrificial, pois motivou Deus a enviar o seu próprio filho para
morrer no lugar de pecadores indignos. “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação
do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para
ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”
(Ef 1.4,5); “ Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos
amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela
graça sois salvos,” (Ef 2.4,5). O substantivo está no caso dativo exercendo a função de
objeto indireto do sujeito (vós). Isso indica que tudo que a igreja de Corinto tivesse que
30
fazer não apenas para a resolução dos conflitos existentes, mas em toda vivência em
comunidade cristã, deveria ser feito em amor.
até ficavam sem comer. Logo é gritante a falta de amor no seio da igreja e Paulo repreende
duramente essa atitude (1Co 11.18-22).
(3) Mais uma inexistência de amor entre os membros de Corinto era o tratamento
diferenciado por conta dos dons espirituais. Pelo fato de possuírem dons, alguns sentiam-se
superiores em relação aos outros a ponto de muitos se sentirem inferiores por não tê-los.
Havia um hierarquia relacionada aos dons onde eles colocavam o “falar em línguas” acima
de todos os outros. (MENDES, 2012, p. 145). Aqueles que falavam em línguas eram vistos
como detentores de poder e prestígio, enquanto os demais estavam abaixo. Por conta dessa
ostentação, o sentido do culto era camuflado e muitos por não possuírem o dom de línguas
distanciavam-se dos demais por se sentirem em posição menos elevada. (MENDES, 2012,
p. 146). Assim, alguns eram vistos como mais valorosos que outros, o que causava conflitos
internos e uma tremenda demonstração de falta de amor mútuo. Por conta dessa situação o
apostolo coloca o dom de línguas bem como os demais no seu devido lugar, enfatizando
qual é o dom supremo. Apenas no capítulo treze de 1Coríntios, Paulo menciona o termo
(ἀγάπῃ) 6 vezes. Aqui Paulo afirma que tudo o que a igreja fizer, se não for em amor nada
adiantará, será em vão (1Co13), logo se justifica a expressão “todos os vosso atos, sejam
feitos com amor” (16.14). Essa expressão pode ser relacionada com o principal de todos os
mandamentos ou o resumo deles: “... Amarás (ἀγάπῃ) o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27), pois segundo Thayer, ἀγάπῃ é
um amor visto e expresso, provado por Deus através de Cristo, (THAYER, 1889, p. 4).
Portanto da mesma maneira, deve ser demonstrado de uns para com os outros.
5. Síntese Teológica
6 Considerações finais
Diante do que foi estudado, proponho algumas implicações práticas para nossas vidas:
(1) Não podemos esquecer que fomos eleitos antes mesmo da fundação do mundo, justificados
por intermédio de Cristo e chamados a viver em santificação diária; (2) devemos buscar o
amadurecimento na fé em comunhão com o Senhor; (3) devemos refletir a respeito da nossa
vivência enquanto comunidade cristã identificando as nossas deficiências; (4) precisamos
buscar a capacitação para essa vivência em união, ou seja, o fortalecimento mútuo,
33
reconhecendo que apenas Deus pode nos capacitar para isso; (5) devemos tomar atitudes
fundamentadas no amor para reparar as falhas detectadas na vivência eclesiástica.
REFERÊNCIAS
BARCLAY, Wiliam. The First Letter to the Corinthians. Asociación Ediciones La Aurora.
Buenos Aires, Argentina, 1983.
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