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ESCOLA TEOLÓGICA DA ASSEMBLÉIA DE DEUS – PARNAMIRIM /RN – DOUTRINA DE DEUS

DOUTRINA DE DEUS

CURSO: BACHARELADO EM TEOLOGIA


CARGA HORÁRIA: 30h/a
PROFESSOR: Pr. Elinaldo Renovato de Lima

I – EMENTA

Estudo da Teologia, sua classificação necessidades e limitações; Existência de


Deus; Teorias Antiteístas; Revelação de Deus, incluindo a revelação geral e a especial;
estudo sobre a natureza de Deus, Sua Tri-Unidade e Seu Decreto.

II - OBJETIVOS

1) GERAL: Dar ao aluno uma visão geral da Doutrina de Deus, conforme a


revelação das Escrituras, e uma síntese do pensamento teológico a respeito do
assunto.

2) ESPECÍFICOS:

a) Conceder ao aluno conhecimentos fundamentais acerca de Deus;


b) Capacitar o aluno a apresentar argumentos bíblicos e teológicos em
relação à existência de Deus;
c) Dar ao aluno uma visão sintética das principais teorias antiteístas, e
como refutá-las à luz da palavra de Deus;
d) Propiciar ao aluno o fortalecimento da fé genuína quanto à pessoa de
Deus.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima Pá gina 1


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SUMÁRIO
EMENTA.......................................................................................................... 01
Objetivos
1) Geral.................................................................................................... 01
2) Específicos.......................................................................................... 01
Sumário.......................................................................................................... 02
INTRODUÇÃO ................................................................................................
03

I. O ESTUDO DA TEOLOGIA ........................................................................ 04


1. Definição..................................................................................................... 04
2. Classificação da Teologia........................................................................... 04
3. Necessidade da Teologia........................................................................... 05
4. Limitações da Teologia............................................................................... 06
II. EXISTÊNCIA DE DEUS............................................................................. 07
II.1. ARGUMENTOS RACIONAIS E EVIDÊNCIAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS 08
1. O Argumento da Crença Universal............................................................ 08
2. O Argumento Cosmológico....................................................................... 09
3. O Argumento Teleológico......................................................................... 11
4. O Argumento Antropológico...................................................................... 13
5. O Argumento Ontológico........................................................................... 14

III. TEORIAS ANTITEÍSTAS......................................................................... 14


1. Ateísmo..................................................................................................... 14
2. Agnosticismo............................................................................................. 15
3. Evolucionismo........................................................................................... 15
4. Materialismo.............................................................................................. 16
5. Politeísmo.................................................................................................. 16
6. Panteísmo................................................................................................. 17
7. Deísmo...................................................................................................... 17
8. Positivismo................................................................................................ 18
9. Monismo.................................................................................................... 18
10. Dualismo.................................................................................................. 18

IV. A REVELAÇÃO DE DEUS...................................................................... 19


1. Revelação Geral........................................................................................ 19
2. Revelação Especial................................................................................... 20
V. A NATUREZA DE DEUS..........................................................................
1. Atributos Naturais...................................................................................... 20
20
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2. Atributos Morais......................................................................................... 31

VI. A TRI-UNIDADE DE DEUS..................................................................... 35


1. Formulação Histórica da Doutrina da Trindade........................................ 36
2. Controvérsias teológicas e heresias a respeito da Trindade.................... 37
3. A Doutrina ortodoxa da Trindade vence as heresias................................ 39
4. A Trindade na Bíblia................................................................................. 40

VII. O DECRETO DE DEUS......................................................................... 43


1. Em relação ao universo............................................................................ 43
2. Em relação às pessoas, como agentes livres.......................................... 43

CONCLUSÃO.............................................................................................. 45
BIBLIOGRAFIA........................................................................................... 46

INTRODUÇÃO

Neste estudo, desejamos apresentar a doutrina de Deus de modo compreensível, com


base no que nos revela a palavra de Deus, com o apoio da visão de estudiosos no assunto, que é
tão vasto e profundo, por referir-se à pessoa do Supremo Criador do Universo.

Em todas as páginas, e em todos os livros, jamais poder-se-á abarcar o que de Deus se


pode conhecer. Temos que encarar o assunto com muita humildade e reverência, pois estamos
diante da tarefa de procurar entender quem é Deus, o Ser Infinito, dentro de nossas imensas
limitações, de nossa mente finita, limitada, e falível.

O Deus Todo-Poderoso, o Criador de todas as coisas, O Infinito, não pode ser apreendido
pela compreensão finita do homem. Entretanto, no seu amor, Ele se deu a conhecer aos homens
pelos meios que julgou conveniente. Neste módulo, meditaremos nessa assunto tão vasto, difícil,
porém maravilhoso e atraente.

Elinaldo Renovato de Lima - Pastor

Pr. Elinaldo Renovato de Lima Pá gina 3


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I – O ESTUDO DA TEOLOGIA

1. DEFINIÇÃO

Diz Strong: “Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo”. 1 Para
Chafer, “O termo Teologia, segundo seus aspectos etimológicos, é um vocábulo composto de
duas palavras gregas - ó (theos, ‘Deus’), e  (logos, ‘discurso’ ou ‘expressão). Tanto
Cristo, a Palavra Viva, quanto a Bíblia, a Palavra Escrita, são Logos de Deus. Eles são para Deus
o que a expressão é para o pensamento e o que o discurso é para a razão. A teologia é, portanto,
a  (Theo-logia) ou o discurso sobre um assunto específico, a saber , Deus”.2

2. CLASSIFICAÇÃO DA TEOLOGIA
Segundo Chafer 3, a Teologia pode ser classificada da seguinte forma:

“1. TEOLOGIA NATURAL. A teologia natura designa uma ciência que é baseada somente
naqueles fatos concernentes a Deus e seu Universo que estão revelados na natureza.

2. TEOLOGIA REVELADA. Este termo designa uma ciência que está baseada somente
naqueles fatos concernentes a Deus e seu Universo que estão revelados nas Escrituras da
verdade.

3. TEOLOGIA BÍBLICA. A Teologia Bíblica designa uma ciência que tem como alvo
investigar a verdade a respeito de Deus e seu Universo com seu desenvolvimento divinamente
ordenado e o ambiente histórico, como está demonstrado nos diversos livros da Bíblia. A
Teologia Bíblica é a exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia.

4. TEOLOGIA PROPRIAMENTE DITA (Teontologia). Este termo designa uma ciência


limitada que contempla somente a pessoa de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo, e sem referência
às obras de cada uma delas.

1
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 21.
2
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 47.
3
Ibid., p. 48-49.
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5. TEOLOGIA HISTÓRICA. Uma ciência que traça o desenvolvimento histórico da doutrina


e está preocupada , também, com as variações sectárias distintas e com os desvios heréticos da
verdade bíblica que têm aparecido durante a era cristã.

6. TEOLOGIA DOGMÁTICA. Verdade teológica sustentada com certeza.

7. TEOLOGIA ESPECULATIVA. Verdade teológica sustentada no abstrato e à parte de


sua importância prática.

8. TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO. Assim designada porque ela é restrita à


porção da Escritura indicada.

9. TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO. Assim designada porque ela é restrita à porção


da Escritura indicada.

10. TEOLOGIA PAULINA, PETRINA, JOANINA. Elas são designadas assim porque são
restritas aos escritos das pessoas indicadas.

11. TEOLOGIA PRÁTICA. Diz respeito à aplicação da verdade aos corações dos homens.

12. TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Uma ciência que segue um esquema humanamente


legado ou uma ordem de desenvolvimento doutrinário e que se propõe a incorporar em seu
sistema toda a verdade a respeito de Deus e seu Universo de toda fonte”.

Na Teologia Sistemática, normalmente, estudam-se os seguintes temas:

1) Doutrina das Escrituras (Bibliologia);


2) Doutrina de Deus (Teontologia);
3) Doutrina dos Anjos (Angelologia);
4) Doutrina do Homem (Antropologia);
5) Doutrina do Pecado (Hamartiologia);
6) Doutrina da Salvação (Soteriologia);
7) Doutrina de Cristo (Cristologia);
8) Doutrina da Igreja (Eclesiologia);
9) Doutrina do Espírito Santo (Pneumatologia);
10) Doutrina das Últimas Coisas (Escatologia).

Strong 4 tem uma classificação mais simples: “Comumente a Teologia se divide em Bíblica,
Histórica, Sistemática e Prática”.
Neste trabalho, estudaremos, basicamente, a Teontologia, ou Doutrina de Deus, ou
Teologia propriamente dita. A palavra teontologia deriva de três palavras gregas: “theós (Deus) +
ontos (ser) + logos (discurso), daí o discurso ou estudo do ser de Deus”. 5,

3. NECESSIDADE DA TEOLOGIA

É necessário estudar Teologia por várias razões. Strong 6 enumera as seguintes razões:

4
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 76.
5
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 71.
6
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 41.
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“1. No instinto organizador da mente humana”. Refere-se ao fato de que o homem necessita
organizar seus pensamentos em relação aos fatos em sua volta, visando evitar a confusão em
torno deles. Em relação a Deus, essa necessidade é ainda mais necessária.

“2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter. A verdade


integralmente digerida é essencial ao desenvolvimento do caráter cristão no indivíduo e na igreja”.

“3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador “. O
pregador precisa “imprimir a verdade nas mentes e consciências de seus ouvintes”. O estudo da
Teologia contribui para isso.

“4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder da igreja”. Ela é “coluna
e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15). O conhecimento teológico dá à igreja o entendimento correto
das verdades cristãs, e a capacita para combater as heresias e a imoralidade.

“5. Nas injunções diretas e indiretas da Escritura”. Com o apoio da teologia, a Bíblia pode ser
estudada numa visão abrangente da verdade, comparando as diferentes partes de seu ensino (1
Co 2.13; 2 Tm 4.2; Ef 4.11; 2 Tm 2.15).

4. LIMITAÇÕES DA TEOLOGIA

O estudo da Teologia não nos dá o conhecimento completo das coisas concernentes a


Deus. As razões dessa limitação são as seguintes: 7

1) “Na finitude do entendimento humano”.


2) “No estado imperfeito da ciência natural e metafísica”.
3) “Na inadequação da língua”. Há dificuldade em se expressar verdades divinas com
palavras humanas (ver 1 Co 2.13; 2 Co 3.6; 12.4);
4) “No nosso conhecimento incompleto das Escrituras”. A verdade bíblica não é só o que
está escrito, mas a sua interpretação (Hermenêutica) se faz necessária;
5) “No silêncio da revelação escrita”. Muitas verdades não foram reveladas (Jo 13.7; 1 Co
2.9; Dt 29.29);
6) “Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado”. A natureza humana,
atingida pelo pecado, impede uma visão completa da Teologia.

5. O MÉTODO DE ESTUDO DA TEOLOGIA

Há dois métodos de estudo científico:

1) O método dedutivo. O estudo de um assunto, ou de um problema, se faz do


Geral para o particular. Ex. “Toda mulher é pecadora”. “Joana é mulher. Logo,
Joana é pecadora”; “Todos os homens são mortais” (afirmação de caráter
geral); “Pedro é homem” (afirmação de caráter particular). Dedução: “logo,
Pedro é mortal”.

2) O método indutivo. O estudo se faz do particular para o geral. Ex. O homem é


um ser moral e inteligente. Deus, o criador, deve ter inteligência e ser dotado de
moralidade; “Júlio morreu”; “Paulo morreu”; “Mariana morreu” (constatações
particulares); logo, “todos os seres humanos são mortais” (afirmação de caráter
geral). ; Esse é o método utilizado no estudo da Teologia.
7
Ibid., p. 66.
Pr. Elinaldo Renovato de Lima Pá gina 6
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II - A EXISTÊNCIA DE DEUS

Deus existe? É a pergunta feita por muitas pessoas, em todos os lugares, em todos os
tempos. Se Ele existe, por que há o sofrimento de tantos, inclusive de inocentes crianças, e de
pessoas piedosas? Por que a injustiça? Por que tantos ímpios prosperam? Com tais perguntas, a
mente humana procura entender Deus, mas, ao mesmo tempo, há quem presunçosamente
busque afirmar sua não-existência, ou julgar Deus, culpando-o pelos males que há sobre a face
da terra.

No entanto, Deus existe, independentemente de alguém crer ou não em sua existência. A


existência de Deus é um postulado, do latim, postulatu, cujo significado filosófico é uma
“Proposição não evidente nem demonstrável, que se admite como princípio de um sistema
dedutível, de uma operação lógica ou de um sistema de normas práticas” (Dic. Aurélio). Deus é
fato que não se pode demonstrar com base na lógica humana. A existência de Deus é um
axioma , ou “uma proposição que se admite como verdadeira, sem exigência de demonstração”.

Assim, não há necessidade de prova da existência de Deus. Sua existência é a garantia da


lógica do Universo. Sem Deus, o universo não poderia existir. Se ele (o universo) existe, pois
todos o vêm, é porque Deus existe!

Não podemos provar que Deus existe porque nossos meios de prova são humanos. E
Deus não é humano. É espírito infinito. Nossa mente é humana, limitada. Assim, não há provas,
mas há evidências da existência de Deus. Ele, em sua infinita bondade, quis dar-se a conhecer
aos seres criados.

Deus revelou-se a Adão, a Abraão, a Jacó, a Moisés, A Davi, a Isaías, a Jeremias, a


Ezequiel, a Maria, a Pedro, a Tiago, a João. Ou seja, Deus fez uma revelação de si mesmo a
pessoas que foram vistas por Ele como receptivas ao conhecimento do Ser Supremo. Essas
pessoas são testemunhas da existência pessoal de Deus.

Segundo Joyner8 “Nossa maneira de compreender Deus não deve basear-se em


pressuposições a respeito dEle, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo contrário: devemos
crer no Deus que existe, e que optou por se revelar através das Escrituras. O ser humano tende a
criar falsos deuses, nos quais é fácil crer; deuses que se conformam com o modo de viver e com a
natureza pecaminosa do homem (Rm 1.21-25). Alguns cristãos até mesmo caem na armadilha de

8
Apud Stanley HORTON, Teologia Sistemática, p.125.
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se desconsiderar a auto-revelação divina para desenvolver um conceito de Deus que está mais de
acordo com as suas fantasias pessoais do que com a Bíblia, que é a nossa fonte única de
pesquisa, que nos permite saber que Deus existe e como Ele é”.

Na Bíblia, fonte maior da revelação de Deus, de sua pessoa, de seus atributos, não se vê
qualquer idéia que denote a intenção de provar a existência de Deus. Simplesmente, e de modo
direto, sem rodeios ou prelúdios literários, as escrituras começam afirmando: “No princípio, criou
Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Esse é o ponto de partida da História da Humanidade, da
origem de tudo, do homem, de todos os seres e coisas criadas.

Conforme Bancroft 9, “A existência de Deus é uma premissa fundamental nas Escrituras,


que não tecem argumentos para afirmá-la ou comprová-la. Por conseguinte, nossa principal base
para a crença na realidade de Deus se encontra nas páginas da Bíblia. A Bíblia, portanto, não se
destina ao ateu, que nega a existência de Deus, nem ao agnóstico declarado, que nega a
possibilidade de saber se Deus existe ou não. Também não tem valor para o incrédulo que rejeita
a revelação de Deus e, por isso mesmo, o Deus da revelação. O ateu rejeita o conceito de Deus
por não ser capaz de descobri-lo no universo material. Deus, porém, sendo Espírito, não pertence
à categoria da matéria e, portanto, não pode ser descoberto por investigações meramente
naturais ou materiais”.

Berkhof 10 afirma que “O cristão aceita a verdade da existência de Deus pela fé. Mas esta
fé não é uma fé cega, mas fé baseada em provas, e as provas se acham , -primariamente, na
Escritura como a Palavra de Deus inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na
natureza. A prova bíblica sobre este ponto não nos vem na forma de uma declaração explícita, e
muito menos na forma de um argumento lógico. Nesse sentido a Bíblia não prova a existência de
Deus. O que mais se aproxima de uma declaração talvez seja o que lemos em Hebreus 11.5, “... é
necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador
dos que o buscam”.

A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial, “No princípio criou
Deus os céus e a terra”. Ela não somente descreve a Deus como o Criador de todas as coisas,
mas também como o Sustentador de todas as suas criaturas, e como o governador de indivíduos
e nações. Ela testifica o fato de que Deus opera todas as coisas de acordo com o conselho da
Sua vontade, e revela a gradativa realização do Seu grandioso propósito de redenção. O preparo
para esta obra, especialmente na escolha e direção do povo de Israel na velha aliança, vê-se
claramente no Velho Testamento, e a sua culminação inicial na Pessoa e Obra de Cristo ergue-se
com grande clareza nas páginas do Novo Testamento. Vê-se Deus em quase todas as páginas
da Escritura Sagrada em que Ele se revela em palavras e atos. Esta revelação de Deus constitui a
base da nossa fé na existência de Deus,e a torna uma fé inteiramente razoável”.

II.1 ARGUMENTOS RACIONAIS E EVIDÊNCIAS DA EXISTÊNCIA DE


DEUS

1. O ARGUMENTO DA CRENÇA UNIVERSAL

Também é chamado de “argumento histórico ou etnológico”. Em todos os povos,


civilizados ou não, existe a idéia ou crença de que existe um ser supremo, que criou todas as
coisas,desde a mais remota era. Os índios brasileiros já criam em Tupã, que para eles seria

9
E. H., BANCROFT, Teologia Elementar, p. 19.
10
Louis BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 23.
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quem criou o homem, o rio, a floresta, os astros, e todas as coisas. Em todas as tribos (de modo
certo ou errado), há a idéia de que existe um criador de tudo. Isso aponta para Deus, mesmo que
de modo equivocado.

Segundo Strong 11, “É fato conhecido que a grande maioria dos homens na verdade tem
reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de quem eles supõem depender”... “As
raças e nações , a princípio, parecem destituídas de tal conhecimento, uniformemente, têm sido
encontradas como possuindo-o, de modo que nenhuma tribo de que temos conhecimento pode
ser considerada desprovida de um objeto de culto”.

Máximo Muller, apud Strong, p. 98 (ibdem), “Os vedas declaram: Há apenas um Ser – e
não um segundo” ... “Não se invocam os seres visíveis, sol, lua, estrelas, mas algo que não pode
ser visto”.... “As tribos inferiores têm consciência, têm medo da morte, crêem em bruxas, fazem
propiciação ou exorcizam os maus fados. Mesmo o adorador de fetiche, que chama a pedra ou a
árvore um deus, mostra que já tem a idéia de Deus”. David Livingstone, missionário inglês, que
passou a maior parte de sua vida no continente africano, e lá morreu, afirmou: “A existência de
Deus e de uma vida futura é reconhecida em toda a parte da África” (ibid., p. 99).

De acordo com Grudem 12 “Todas as pessoas em todos os lugares possuem o profundo


senso interior de que Deus existe, de que elas são suas criaturas e de que ele é o Criador delas.
Paulo diz que até os gentios conheceram Deus, mas ‘não o glorificaram como Deus, nem lhe
renderam graças” (Rm 1.12).

No antigo Egito, adoravam-se Rá, Osíris, Amon, e outros supostos deuses, indicando a
idéia de que um ser supremo é a única explicação para a origem de todas as coisas. Os povos
primitivos eram religiosos. Mas, atualmente, não se vê menos religiosidade no homem moderno.
Nunca houve tantas religiões no mundo, como agora, em pleno século XXI. São milhares e
milhares de religiões e seitas, as mais diversas, com crenças, doutrinas, rituais e mitos os mais
diversificados. Há religiões para todos os gostos e ocasiões, podemos dizer.

O mais curioso é que, nestes tempos pós-modernos, há pessoas que estão se voltando
para práticas religiosas muito antigas, acreditando em bruxas, duendes, fadas, e em outros seres
criados pela imaginação humana. As superstições, o animismo, o esoterismo estão em alta neste
início de milênio. Tarôs, cartas, búzios, pirâmides, e outros objetos místicos estão tomando conta
da mente dos povos ocidentais. O Movimento da Nova Era está infiltrado em todas as áreas, tanto
na religião, como na cultura, na educação, na medicina, em muitas outras partes do conhecimento
humano.

Embora tudo isso seja misticismo, primarismo religioso, de influência diabólica, não resta
dúvida de que, no coração do homem antigo, ou moderno, indica a necessidade que a alma do
homem tem de se encontrar com Deus, de encontrar o criador de tudo e de todos. É a imperiosa
noção de que, se tudo existe, é porque existe um criador. E este não é outro, senão Deus!

O argumento da crença universal, ou etnológico, deve ser apresentado apenas como uma
idéia, na tentativa de se provar a existência de Deus. Os que crêem em Deus não precisam dele.
Os descrentes certamente não vão ser convencidos pelo argumento.

2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

11
Augustus H STRONG, Teologia Sistemática, p. 98.
12
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p., 72.
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Bancroft 13 acentua que “é um princípio aceito que todo efeito deve ter uma causa
adequada. Por conseguinte, todos os elemento que são possuídos de qualquer efeito devem
residir , ainda que seja apenas potencialmente, dentro da causa. Há certos elementos que são
característicos no universo material e que indicam a existência de Deus conforme o conhecemos
por meio da Revelação Divina”. É o argumento de causa e efeito.

Nesse argumento, há, porém, um problema: Se tudo tem uma causa, então Deus teria uma
causa. Contudo, Strong 14 diz que “É impossível mostrar que o universo, no que tange à sua
substância, teve um começo. A lei da causalidade declara, não que cada coisa tem uma causa –
pois, então o próprio Deus teria uma causa – porém, ao invés disto, que cada coisa iniciada, ou
em outras palavras, que cada evento ou mudança tem uma causa”.

Concluindo sobre esse argumento, Strong (ibidem, p. 123) afirma que “O valor do
argumento cosmológico, é , pois, tão somente este; prova a existência de uma causa do universo
indefinidamente grande...”.

Admitir que tudo passou a existir sem Deus, a causa primeira de todas as coisas, de todos
os eventos iniciados, é tão ilógico quanto admitir que um Dicionário pode aparecer após uma
explosão de letras (Big-Bang) numa tipografia; é ter fé suficiente para crer que um edifício de 20
andares , com instalações hidráulicas, elétricas, estrutura de ferro, tijolo sobre tijolo, vigas, lajes,
etc., venha a surgir por acaso, da explosão de um monte de barro, tijolos, areia, água, sem que
alguém o planejasse e construísse. Seria admitir um relógio digital, ou mecânico, aparecer sem o
projeto de um relojoeiro inteligente; seria admitir que um computador possa surgir por acaso.

Chafer 15, comentando o argumento cosmológico, afirma que “O Universo é um fenômeno


ou um efeito que envolve uma causa adequada. O argumento cosmológico apresenta evidência
de que Deus existe e é a Primeira Causa de todas as coisas. Quatro teorias foram cogitadas pelos
filósofos e por especialistas em metafísica com relação à origem do Universo material: (a) que a
constituição da natureza é eterna e que suas formas têm existido sempre; (b) que a matéria existe
desde sempre, mas a sua presente constituição e forma estão sujeitas a um auto
desenvolvimento, que foi o que Epicuro afirmou, e é a crença admitida pelo ateísmo moderno; (c)
que a matéria é eterna, mas a sua disposição e ordem presentes é a obra de Deus, que foi o
ensino de Platão, Aristóteles e , e de muitos outros; (d) que a matéria é uma coisa criada, sendo
causada, para que viesse à existência do nada através do poder gerador de Deus, que é a
revelação bíblica”.

A última explicação é a única que se harmoniza com as Escrituras, que dizem: “No
princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1); “Pela fé, endentemos que os mundos foram
criados pela palavra de Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê” (Hb 11.3).

Chafer (ibid., p. 171) diz que “O argumento cosmológico depende da validade de três
verdades contribuintes: (a) que cada efeito deve ter uma causa; (b) que o efeito é dependente de
sua causa para a sua existência; e (c) que a natureza não pode produzir a si mesma. O caráter
fundamental e essencial dessas verdades contribuintes, assim como a dedução conclusiva de que
o Universo é causado por uma criação direta de uma Causa eterna e auto-existente, aparecerá à
medida que uma busca dessa forma de argumento progrida”.

De acordo com Hodge (apud Chafer, p. 171), “(1) Uma causa é algo, possui existência
real. Não é meramente um nome para determinada relação. É uma entidade real, uma substância.
Isso é evidente porque uma coisa inexistente não pode agir. Se o que não existe pode ser uma
causa, então nada pode produzir algo , o que é uma contradição; (2) Uma causa deve ser não só
algo real, mas deve ter poder e eficiência. Deve haver algo em sua natureza que responde pelo
13
E. H. BANCROFT, Teologia Elementar, p. 20.
14
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 121.
15
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 171.
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efeito que ela produz; (3) Tal eficiência deve ser adequada; isto é, suficiente e apropriada ao
efeito. Que essa é uma visão verdadeira da natureza de uma causa está claro”.... “Essa visão da
natureza da causação está inclusa na crença universal e necessária de que todo efeito deve ter
uma causa. Tal crença não significa que uma coisa deve sempre vir antes de outra; mas que
nada pode ocorrer, que nenhuma mudança pode produzir-se sem o exercício do poder ou
eficiência em algum lugar; do contrário algo poderia proceder do nada “.

Os filósofos, em todas as épocas, reconheceram o axioma Ex nihilo, nihil fit, ou seja, que
“do nada, nada pode surgir”. O ateísmo afirma que a matéria é eterna, auto-existente, sendo base
para afirmar que Deus não existe. O que nega o axioma filosófico acima. O teísmo, doutrina que
afirma a existência de Deus, conclui que o universo foi planejado e criado por Deus com
propósitos dignos e definidos.

Outros filósofos se pronunciaram numa visão cosmológica 16: Locke diz “Eu existo: eu nem
sempre existi: qualquer coisa que comece a existir dever ter uma causa: a causa deve ser
adequada: esta causa adequada é ilimitada; ela deve ser Deus”; Howe conclui: “(1) Alguma coisa
existiu desde a eternidade; daí (2) deve ser não causada; daí (3) independente; daí (4)
necessária; daí (5) auto-ativa; e daí (6) originalmente vital, e a fonte de toda vida”.

Com essas considerações, o argumento cosmológico “é enfatizado na prova de várias


qualidades que Deus tem, a saber, auto-existente, eterno, plenamente sábio, poderoso, ilimitado,
auto-ativo, vital e a fonte de toda a vida” 17

3. O ARGUMENTO TELEOLÓGICO

Vem de teleologia, que é composto de dois termos gregos,  (Teleos) e 
(Logos), ou doutrina dos fins ou o propósito racional. Tudo que Deus fez tem um propósito ou
finalidade; tudo possui uma ordem que pressupões fins previstos por uma mente planejadora e
inteligente.

“O fato de o desígnio, que é mostrado em cada coisa criada, demonstra a perspicácia e o


propósito racional do Criador. Esta intenção manifesta que caracterizou todas as obras de Deus é
ilustrada – tato quanto o finito pode ilustrar o infinito – pelo fato do desígnio e propósito que são
mostrados nas realizações dos homens, realizações essas que, por causa deste desígnio ,
demonstram a perspicácia e o propósito racional dos homens” ... “ O organismo humano com sua
relação ao ambiente no qual ele funciona é uma exibição desse projeto e, portanto, denota tanto a
existência como a perspicácia do projetista” ....”

Cícero (apud Chafer, p. 182), diz: “Pode alguma coisa ser feita pelo acaso que tem todas
as marcas do desígnio? Quatro dados podem por acaso cair com as mesmas faces para cima;
mas, você pensa que quatrocentos dados, quando atirados casualmente, vão ter os mesmos
lados virados para cima? As cores, quando jogadas sobre as telas sem propósito algum podem
deixar a semelhança de um rosto humano, mas você pensa que elas poderiam fazer uma pintura
tão bela como a Vênus de Coan?”; e acrescentamos: Será que as cores jogadas ao acaso sobre a
tela produziriam um quadro como o da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci?, Ou um quadro de
Picasso?, Ou será que as letras do alfabeto, jogadas ao acaso, produziriam uma enciclopédia?

O acaso não cria nada, a não ser coisas sem forma, sem estrutura, sem simetria, sem
ordem. O Dr. J. Swyingedaw, professor de Biofísica da Faculdade de Lile (França) refuta a teoria
do acaso, afirmando que os mais simples dos organismos, as bactérias, têm 4.000.000. de
nucleotídeos no seu ADN (Ácido desoxirribunucléico – a célula da vida) para garantir sua

16
Apud Chafer, p. 174.
17
Ibid., p. 175.
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reprodução. Para que elas surgissem ao acaso, diz ele que seriam necessárias tentativas na
ordem de 1 para 4 milhões , o que seria, em termos matemáticos e estatísticos, impossibilidade
total. A ordem do universo é evidência incontestável do criador, do planejador, do projetista
inteligente: DEUS.

Não só há uma causa primeira para o universo, incluindo a vida, o homem e todos os
demais seres, mas há também um propósito. É o argumento teleológico em favor da existência de
Deus. “Em toda parte o mundo revela inteligência, ordem, harmonia e propósito, e assim implica a
existência de um ser inteligente e com propósito, apropriado para a produção de um mundo como
este”. 18

É mais lógico crer na existência de Deus do que negá-la. Quem crê em Deus, crê no
Criador, que “se relaciona com este mundo como o artista se relaciona com seus artefatos: estes
dão testemunho da inteligência, da sabedoria, do carinho do seu autor, mas não se confundem
com ele. Assim como todo relógio traz a marca do seu relojoeiro, este mundo traz os vestígios da
ordem e da harmonia concebidas pelo seu criador. Esta posição é lógica e coerente, ao passo que
o recurso ao acaso vem a ser uma fuga ou capitulação da razão “ 19

As coisas criadas têm uma finalidade ou propósito. Tanto uma célula como uma galáxia. O
olho tem uma finalidade, assim como o ouvido, a boca, as mãos, os pés, etc., bem como todo o
ser. Isso é evidência de uma inteligência superior, ou de Deus, como diz a Bíblia. O acaso, como
querem os evolucionistas, jamais produziu qualquer coisa ordenada e planejada. Imagine-se uma
explosão (Big-Bang), sem um planejador, o que pode produzir. Jamais produzirá um livro, nem
mesmo uma frase com sentido lógico.

Temos visto através da mídia, a realização de explosões de prédios que ameaçam cair, ou
estão condenados pela Engenharia, por meio de implosões. Tudo é calculado, segundo técnicas
científicas; os explosivos são colocados em lugares predeterminados, segundo um plano bem
estudado. Ao implodir o prédio, o mesmo não deve danificar os prédios vizinhos. E isso só ocorre
porque há alguém que planeja a realização do evento. Sem um plano, tudo poderia voar pelos
ares, e causar mais danos do que soluções.

A Bíblia nos mostra que o universo evidencia o seu Criador: “Os céus manifestam a glória
de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1).

1) Há uma ordem que reina no universo.

Em tudo que existe ordem e harmonia, pressupõe a existência de uma inteligência, de um


ser inteligente. O universo não é um caos (desordem), mas é um cosmo (sistema ordenado).
Tanto no macrocosmo, no espaço sideral, nos planetas, incluindo a Terra, bem como no
microcosmo, há ordem em todas as coisas.

No homem, pode ser encontrado um verdadeiro “livro do corpo”, que evidencia a existência
do Criador. O próprio Darwin, pai do evolucionismo, admitiu que não sabia harmonizar sua teoria
com o funcionamento do olho. Se antes da evolução o olho não via, para que servia? Como a
córnea, a pupila, a Íris, a retina, os nervos óticos, os músculos e as veias evoluiriam todos ao
mesmo tempo, combinando entre eles? Darwin morreu e não soube explicar. Até a mais simples
antiga máquina fotográfica, que imita o olho, precisou de um fabricante de peças e de montagem.
Qualquer parte do corpo indica que Deus existe. S. Paulo afirma: “O que de Deus se pode
conhecer neles (nos homens) se manifesta para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.19 – grifo
acrescentado).

18
Louis BERKHOF, Teologia Sistemática, , p. 28.
19
Pergunte e Responderemos, p. 155.
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A natureza também compõe um verdadeiro “livro” que indica a existência do Criador.


Todas as coisas, desde as plantas, os pássaros, os mares, as nuvens, o espaço sideral, o ar que
se respira, os gases, as substâncias, os átomos, etc., “as coisas invisíveis, desde a criação do
mundo, tanto o seu eterno poder (de Deus), como sua divindade, se entendem e claramente se
vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles (os homens) fiquem inescusáveis” (Rm 1.20).
O salmo 19 proclama: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das
suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem
linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da terra, e as suas palavras,
até ao fim do mundo” (Sl 19.1-4).

- Numa célula como o neurônio, são feitas mais operações por ano que o mais sofisticado
computador; no cérebro, há cerca de 10 bilhões dessas células
- Uma bactéria, que é um pequenino organismo, só visto no microscópio, faz muito mais
operações que o maior laboratório inventado pelo homem;
- Os seres vivos possuem seu código genético (ADN), que contém todas as informações
necessárias à reprodução dos mesmos, com uma ordem admirável.
- No universo, há bilhões de galáxias, com milhões de planetas e outros corpos celestes.
Mas esses não colidem uns com os outros; nem mesmo os cometas, que sãos “astros errantes” ,
se chocam com outros corpos.

2) Uma Inteligência Superior

Essa ordem espantosa é evidência de que uma inteligência superior projetou e fez surgir
tudo isso de maneira maravilhosa e sobrenatural. INTELIGÊNCIA é característica de PESSOA,
assim como vontade e emoções. Não se pode entender uma inteligência sem uma pessoa. Essa
pessoa, que criou tudo não pode ser outra senão Deus. A Bíblia afirma desde seu início: “No
princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).

3) Há um poder criador no universo

O universo revela que só um poder sobrenatural e sobre-humano pode mantê-lo em


funcionamento. Desde a sua origem, evidencia-se que houve uma criação extraordinária, que
transcende a capacidade humana. As distâncias espaciais em milhões de anos-luz são um
testemunho de que todo esse universo só pode ter resultado de uma ação poderosa, fruto de uma
mente sobrenatural, inteligente e perfeita.

4. O ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO

Esse argumento suplementa os outros, dando mais consistência à argumentação em favor


da existência de Deus. Refere-se à natureza mental, moral e emotiva do homem.

Segundo esse argumento, deve-se considerar os seguintes aspectos:

1) Se o homem é um ser moral e intelectual, ele deve ser fruto de um Criador também
dotado de intelecto e moral.

2) “A natureza moral do homem prova a existência de um Legislador e juiz santo. Os


elementos de prova são: a) A consciência reconhece a existência de uma lei moral que tem
autoridade suprema. b) Os sentimentos de abandono do mal e temores do julgamento são
conseqüências das conhecidas violações dessa lei moral. c) Porque esta lei moral não é auto-
imposta e porque as ameaças de julgamento não são auto-executadas dependem

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respectivamente da existência de uma vontade santa que impôs a lei e do poder punitivo que
executará as ameaças de natureza moral”. 20

O homem possui mentalidade e moralidade. Portanto, essas qualidades devem estar


incluídas na causa que o produziu, ou seja, quem fabricou o homem deve ter as qualidades de um
Ser “intelectual, e moral, Juiz e Legislador”. Somente um ser dotado de bondade, poder , amor,
sabedoria e santidade, poderia produzir um ser capaz de ter essas qualidades, ou seja um Deus
Pessoal. Diz a Bíblia que Deus, ao criar o homem, proclamou: “E disse Deus: Façamos o homem
à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; ... E criou Deus o homem à sua imagem; à
imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.26,27 – grifo acrescentado). Essa
“semelhança” do homem com Deus certamente é de caráter moral e espiritual, e não física, pois
Deus, sendo Espírito, não tem forma física.

5. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Segundo Chafer 21, “A ontologia é a ciência ou a discussão sistemática do ser real; a teoria
filosófica da realidade; a doutrina das categorias ou as características universais e necessárias de
toda a existência”.
No estudo sobre Deus, a ontologia procura nos mostrar sua essência. “O argumento
ontológico no teísmo consiste num curso de raciocínio a partir de Deus como a Primeira Causa
absoluta de todas as coisas para as coisas que ele causou – especificamente , a idéia inerente de
que Deus existe” ... “Conforme este argumento, a existência de Deus é certificada pelo fato de
que a mente humana crê que Ele realmente existe”. Segundo Chafer, esse é um argumento a
priori, e que sempre causou discussão entre os especialistas em metafísica. “E que Foster declara
que nunca captou o significado ou a força do argumento”.

Trata-se de um argumento que visa provar a existência de Deus, a partir das idéias
intuitivas do ser humano. Enquanto os argumentos cosmológico, teleológico e antropológico , são
a posteriori, o argumento ontológico é formulado a priori. Com base nos argumentos a posteriori,
o homem é levado a conceber que o ser Criador deve ser infinitamente grande, Pessoal, Criador,
e Legislador, e ao mesmo tempo Infinito e Perfeito. “Assim, revestindo-o de toda a perfeição que a
mente humana pode conceber e esta na ilimitada plenitude, temos aquele que com justiça
chamamos Deus” 22

Para Anselmo, apud Chafer (p. 187), “Este argumento é a célebre prova ontológica. Deus é
aquele Ser além de quem nenhum outro maior pode ser concebido. Ora, se aquele de quem nada
pode ser concebido com o maior pode ser concebido como existente somente no intelecto, não
seria o absoluto maior, pois poderíamos acrescentar isso a existência na realidade. Segue-se,
então que o Ser de quem nada maior pode ser concebido, i.e., Deus necessariamente tem uma
real existência”.

III – TEORIAS ANTITEÍSTAS


O teísmo é a doutrina que prega a crença em Deus, a partir da revelação, e das
evidências da natureza. O ateísmo ( a teos, gr. Nenhum Deus) é o contrário do teísmo. A
Bíblia diz que o homem natural não entende o que lhe diz respeito, “as coisas de Deus” (1
20
?
Augustus STRONG, Teologia Sistemática, vol. I, p. 133.
21
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 186-187.
22
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 140.
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Co 2.14). “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são:
Não há Deus” (Sl 10.4). “Disseram os néscios no seu coração: Não há Deus” (Sl 14.1); o
estudo das teorias antiteístas serve para mostrar até que ponto o homem racional, em seu
orgulho, faz questão de livrar-se da idéia de Deus. Certamente, há um medo inconsciente
da existência do Ser Supremo, principalmente, por causa do aspecto moral, que é
revelado nas Escrituras, em relação a Deus, bem como pelo aspecto judicial, que
apresenta um Deus que vai julgar os atos de todas as pessoas. Algumas dessas teorias
são resumidas a seguir.

1. ATEÍSMO

Por definição, segundo Chafer 23 ateísmo é “Uma negação aberta e positiva da


existência de Deus” ... “É provável que um ateu consistente nunca tenha existido. Ele é
um indivíduo esporádico que forçou a intuição e a razão de uma atitude numa tentativa de
manter uma premissa suposta e negativa”... “Para um ateu consistente não pode haver
mente, consciência, moralidade, sensibilidade e vontade” ... “Para o ateu, o universo
material é somente um acidente e todas as suas maravilhas de coordenação e
desenvolvimento são fortuitas. Ele não reconhece uma causa para nada, mesmo para a
sua própria existência. Ele não possui esperança alguma para si próprio no tempo ou na
eternidade”. Já vimos, no argumento cosmológico, que tudo tem uma causa; e, no
argumento teleológico, que há um propósito em tudo o que foi criado. O ateísmo é uma
tentativa desesperada de o homem fugir de Deus. Negando Deus, procura tranqüilizar sua
consciência, atingida pelo pecado, de que não prestará contas a ninguém. Mas só os
loucos dizem: “Não há Deus” (Sl 14.1).

2. AGNOSTICISMO

Foi uma palavra cunhada por Huxley, em 1870. Hamilton, Dean Mansel e Herbert
Spencer foram expoentes dessa doutrina. Para o agnóstico, o que não se pode provar
racionalmente deve ser desacreditado. Pregam que há coisas que não se pode conhecer.
“Deus, a alma e sua imortalidade e – mais geralmente falando – as realidades últimas
das quais as coisas fenomenais, tais como as ciências estudam, são apenas
aparências” ... “Se sabemos que eles existem, não podemos conhecer o que eles são; se
podemos asseverar a existência deles, somos ignorantes com respeito à essência
deles” ... “Além disso, como a etimologia da palavra sugere, o agnosticismo é
simplesmente o não conhecer. Seu objetivo é desacreditar a certeza no campo do
conhecimento humano”.... “Toda ciência é reduzida a .... mera aparência” 24 .

Um filme famoso, Matrix, exibido recentemente, dá uma idéia do ateísmo e do


agnosticismo. Segundo o seu enredo, tudo o que somos e vemos é apenas virtual. Não é
real. É mais uma faceta da insensatez humana em relação às coisas de Deus. A
influência desse tipo de arte é tão perigoso, que um professor, após assistir o filme, disse
aos alunos, numa faculdade: “Quem pode provar que eu existo? Que vocês existem? Não
seremos nós apenas imagens de um grande computador”? Certo agnóstico nos dizia: “Eu
não nego a existência de Deus. Apenas não a aceito porque não se pode provar”.

23
Lews Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 191.
24
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 193-94.
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3. EVOLUCIONISMO

A chamada Teoria da Evolução foi elaborada pelo naturalista Charles Darwin,


inglês, que, depois de ter sido um cristão, apostatou da fé, e se tornou materialista. “A
evolução é tanto teísta quanto ateísta. A evolução teísta reconhece Deus como o Criador
dos materiais originais, mas afirma que a evolução é o método pelo qual todo o
desenvolvimento a partir de um estado primordial suposto para um estado de perfeição foi
trabalhado. A evolução ateísta rejeita a pessoa de Deus, nega sua obra na criação, e
afirma que a matéria é eterna ou que se auto desenvolve”. 25

Essa teoria é uma das mais bem trabalhadas mistificações do diabo para enganar
os seres humanos. É a ciência a serviço da condenação do homem. Os evolucionistas
ateístas não vêm qualquer necessidade de Deus na criação. Admitir que a matéria é
eterna torna-se um problema de fé. É a fé antiDeus. Mas é fé irracional. Tudo o que
existe, como vimos, tem um propósito. Como a matéria poderia surgir, e se transformar
em formas estruturais complexas, se não houvesse um propósito, um desígnio. Só uma
Inteligência superior poderia prever as finalidades das coisas que apareceram. O teísmo
tem de longe mais coerência sobre a evolução ateísta, pois baseia-se em evidências que
apontam para o Criador onipotente, onisciente e onipresente.

Os evolucionistas afirmam que a vida com toda a sua complexidade surgiu


de matéria não viva. Diz Chafer 26 que isso é “pura conjectura. Sem dúvida, ela é a melhor
solução da origem da vida que as mentes ímpias podem conceber”. E que o método
científico é jogado ao vento, pois este exige que as coisas sejam provadas. Na verdade,
para Chafer, a evolução é “uma inferência baseada em uma pura hipótese”. Diz a Bíblia:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1); “Pela fé, entendemos que cos
mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi
feito do que é aparente” (Hb 11.3). A Bíblia não especula, não faz inferências, não
apresenta hipóteses. Ela afirma: Deus criou, Deus fez. No livro Origem das Espécies de
Darwin, existem mais de 800 expressões que não podem ser científicas: “Provavelmente”,
“possivelmente”, “há tantos milhões de anos, deve ter havido”; “tudo indica...” . Isso não é
ciência. É hipótese.

Dr Miley, citado por Chafer (p. 198), diz: “A evolução , então, é uma inferência a
partir de uma mera hipótese. Este não é o método da ciência”. A Bíblia se cumpre: “O
homem natural não pode entender as coisas do Espírito de Deus” (1 Co 2.14).

4. MATERIALISMO

É caldo de cultura para o ateísmo, e deste se alimenta. É uma doutrina que afirma que
todos os fatos da experiência devem ser explicados a partir das leis físicas ou materiais.
Nega a realidade da alma, pois não é material; nega a existência de Deus, pois não pode
ser provado pelas leis da física. Tudo é matéria. Tudo é Física, diz a Enciclopédia
Britânica, citada por Chafer (p. 199): “O negócio do cientista é explicar cada coisa por
causas físicas que são comparativamente bem entendidas e excluir a interferência de
causas espirituais. Foi a grande obra de Descartes a de excluir rigorosamente da ciência
25
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 195-196.
26
Ibid., p. 196.
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todas as explicações que não eram cientificamente verificáveis”. O materialismo não


explica o que é intangível, e que só pode ser percebido pelo recurso da fé.

5. POLITEÍSMO

É a crença de que existem vários deuses, e não um só. A Bíblia nos mostra que os
homens começaram, crendo no único Deus. Mas, com o passar do tempo, deixaram de
se voltar exclusivamente para Ele, e criaram outros deuses. Diz S. Paulo: “Porque do céu
se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a
verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta,
porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo,
tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas
coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido
a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos
se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios,
tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem
de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1.18-23).

Nesse desvio do Deus verdadeiro, ao invés de se fixarem nas evidências da


natureza, e perceberem que “as coisas invisíveis”, o “eterno poder” de Deus, que se
“entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas”, os homens se
afastaram do Criador de tudo e de todos, e fizeram deuses “em semelhança da imagem
de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis”. Na Índia, são
adorados milhões de deuses, desde a vaca, até a mosca, a cobra, o rato, e tantos outros
animais, e também as coisas inanimadas. Na Caldéia e na Arábia, os astros e o fogo
eram adorados. Na Grécia, figuras de homens foram feitas deuses, e entronizados no
Panteão; hoje, na Ásia e na África, há povos politeístas, que adoram a pedra, o rio, o sol,
os astros, e criaram divindades falsas, orixás, guias, e tantos outros falsos objetos de
adoração. É mistura de politeísmo com panteísmo, que tem levados muitos povos para
longe do monoteísmo, que prega a existência do único Deus verdadeiro, Criador e
mantenedor da natureza.

6. PANTEÍSMO

É primo legítimo do politeísmo. Segundo Chafer, 27 “é a crença que Deus é tudo e


que tudo é Deus, confundindo assim Deus com a natureza, a matéria com o espírito, e o
Criador com as coisas que Ele criou. Duas abordagens amplamente diferentes têm sido
dadas à filosofia panteísta. Uma é que a matéria origina tudo e que Deus, vida e espírito,
sendo somente modos de existência do Absoluto todo-abrangente. A outra é que o
espírito é tudo e que a matéria não possui existência substancial além da impressão
mental, ou ilusão, de que ela existe. Em qualquer caso, Deus é tudo”.

A primeira forma é a do panteísmo idealista. A segunda, a do panteísmo realista.


“Como visto nas religiões antigas do bramanismo e do budismo, essa crença tem levado à
doutrina da transmigração da ama, que também afirma que a alma deriva toda a
existência de Deus e eventualmente, após reencarnações incontáveis, ela retorna a Deus
é é absorvida nele. Nos “vedas” é ensinado que todo o universo é o Criador, procede do
Criador, e retorna a ele. Semelhantemente, da mesma fonte lemos: ‘Tu és Brama, tu és
27
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 201.
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Vishnu, tu és Kodra, etc.; tu és ar, tu és Andri, tu és a luz, tu és substância, tu és Dijam; tu


és a terra, tu és o mundo! ...” 28 Lucano disse: “Qualquer coisa que tu vês é Júpiter”.
Sêneca pergunta: “O que é Deus?” e responde: “Ele é tudo que você, e tudo que você
não vê” (citado por Chafer, p. 201).

7. DEÍSMO

Essa filosofia prega a existência de Deus, como ser infinito, pessoal, santo e
Criador de tudo. Mas ensina que, tendo acabado sua obra, Ele a abandonou, deixando
todas as condições para que ela se auto-sustentasse. Para os deístas, Deus não é
imanente à criação, mas á transcendente a ela; que em tudo se pode ver o efeito da mão
de Deus, mas não há possibilidade de ninguém se comunicar com Ele. Segundo Carlyle,
citado por Chafer (p. 204), o deísmo prega “Um Deus ausente, sentado e sempre inativo
desde o primeiro sábado, que fica do lado de fora do Universo, a fim de contemplar as
coisas acontecerem”. A Bíblia põe por terra toda essa idéia, mostrando que Deus é ao
mesmo tempo imanente e transcendente.

8. POSITIVISMO

Chafer 29 resume o positivismo da seguinte forma: “A filosofia elaborada por


Augusto Comte (1798-1857), que é baseada na suposição de que o conhecimento do
homem é restrito aos fenômenos, e esses o homem pode conhecer somente em parte.
Ele rejeita toda consideração da metafísica ou da filosofia especulativa”. Para Champlin e
Bentes 30 “O positivismo lógico é a forma de ceticismo , que limita a filosofia ao método
científico empírico. Rejeita todas as proposições metafísicas como ‘destituídas de
significação’, porquanto não cabem no terreno da percepção humana”. O nome
positivismo vem da idéia de que seus filósofos procuraram dar uma significação positiva
ao mundo, visando livrar os homens das idéias absurdas da filosofia, da metafísica, e da
religião. Eles pretenderam tirar Deus da mente humana, e colocaram o homem em seu
lugar. Outros filósofos dessa idéia foram Saint-Simon, Schelling, Tain e Littre, Kelson,
Herbert Spencer Francis Bacon, e outros.

9. MONISMO

Segundo Chafer, 31“A doutrina que ser refere à explicação de todas as existências,
atividades e desenvolvimento do universo, incluindo os seres físicos, psíquicos e
espirituais, a um princípio último ou substância”. O termo vem de monos, gr., que significa
único. Essa “substância”, segundo os monistas, pode ser tanto divina como material. Para
Bertrand Russel, 32 haveria o “monismo neutro”, segundo o qual “uma única substância”
comporia a realidade, a qual poderia manifestar-se tanto em termos físicos como em
eventos mentais. Que substância seria essa, ele não explicou. Essa filosofia entra em
choque com o cristianismo, pois este admite a pluralidade das substâncias, observáveis
em fenômenos físicos e espirituais.
28
Ibid., p. 201.
29
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemtica, p. 204.
30
R.N. CHAMPLIN e J.M. BENTES, Enciclopédia de Teologia e Filosofia, Vol 5., p. 336.
31
Lewis Sperri CHAFER, Teologia Sistemática, p. 204.
32
R.N. CHAMPLIN e J.M. BENTES, Enciclopédia Bíblica, Vol. 4, p. 345.
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10. DUALISMO

Vem do latim, duallis, que significa duas coisas, ou que contém dois. Essa teoria
afirma que “existem duas forças opostas, a boa e a má, e que uma delas jamais destruíra
a outra, de tal modo que sempre existirão” ... “Esse é o sistema de zoroastrismo. Aquelas
duas forças, segundo esse sistema, finalmente haverão de separar-se, de tal modo que,
pelo menos durante algum tempo, deixarão de estar em conflito, embora o mal jamais
venha a ser eliminado como sistema”. 33 Essa idéia se manifesta no maniqueísmo, que vê
sempre duas forças em oposição, afirmando, por exemplo, que a matéria é má e que só o
espírito é bom; no confucionismo, e no taoísmo, há os elementos Yin e Yang, que
representam o frio e o quente, o bom e o mau, o masculino e o feminino, etc. Em resumo,
essa filosofia pode ser dividida em quatro vertentes: (1) O Dualismo teológico: ensina que
há duas forças que se opõem (mas nunca serão eliminadas); (2) O Dualismo Filosófico:
afirma que o que é universal é um elemento eterno, enquanto o particular é a sua
contraparte finita e material; (3) O Dualismo Psicológico: ensina que o corpo e a mente do
homem são existências diferentes; (4) Dualismo Ético: ensina que há necessidade de
uma conduta moral entre pessoas do mesmo grupo, e outra conduta para com outras
pessoas. A Bíblia reprova essa filosofia , pois afirma que um dia o mal será eliminado da
terra, o diabo será vencido para sempre.

IV – A REVELAÇÃO DE DEUS

Deus, em sua infinitude, é incompreensível à mente finita do homem. Zofar, diante de Jó,
exclamou: “Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-
poderoso?” (Jó 11.7). Isaías não encontrou resposta, e indagou: “A quem, pois, fareis semelhante
a Deus ou com que o comparareis?” (Is 40.18).Mas Ele mesmo resolveu revelar-se ao homem.
Através de Cristo, em Seu amor, Deus enviou o que de melhor se pode conhecer a seu respeito:
“E da vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a
quem enviaste” (Jo 17.3). É possível conhecer Deus, através da revelação, mas de modo limitado,
pois o finito não pode abarcar Aquele que é Infinito.

Revelação, em termos teológicos 34 “é o desvendamento que Deus faz de si mesmo,


girando em torno da pessoa de Jesus Cristo, através da criação, da história, da consciência
humana e das Escrituras. Ela é dada através de acontecimentos e de palavras”...”Duas palavras
gregas são mais comumente usadas: apocalúpstein e farenõun. ... A primeira significa
desvendamento, ao passo que a segunda aponta mais para o conceito de ‘manifestação daquilo
que fora desvendado’. Portanto, a idéia de revelação envolve o que antes era misterioso, oculto e
desconhecido”. A revelação refere-se à cognoscibilidade de Deus.

“Sem a revelação, o homem nunca seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de


Deus. E, mesmo depois de Deus ter-se revelado objetivamente, não é a razão humana que
descobre Deus, mas é Deus que se descerra aos olhos da fé”. 35 Há dois tipos de revelação: Geral
e Especial.

33
Ibid., p. 239.
34
Ibid., Vol. 5, p. 701.
35
Louis BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 36.
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1. REVELAÇÃO GERAL

É aquela em que Deus se revela através da natureza e da consciência humana, da


realidade em nossa volta. Ela se dirige a todos os homens, e pode ser absorvida pela razão. Diz a
Bíblia: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos” (Sl
19.1). “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho
manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder
como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para
que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.19,20). Através da consciência, Deus se revela ao homem:
“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não
tendo eles lei, para si mesmos são lei” (Rm 2.15). É também chamada Revelação Natural.

2. REVELAÇÃO ESPECIAL

É a revelação de Deus no seu caráter sobrenatural, e pode ser dada diretamente, ou por
meio de pessoas dotadas de capacitação sobrenatural (mensageiros, profetas); ela é dada
através da Palavra, e por meio de Jesus Cristo. Ela só pode ser absorvida pela fé. E tem por
escopo o plano da redenção. É dada ao homem na condição de pecador. Champlin diz que a
revelação especial “é o desvendamento que Deus faz de si mesmo, dentro da história da salvação
(revelação na realidade), e na palavra interpretativa das Escrituras (revelação na Palavra. 36 Essa
revelação só pode ser apreendida pela iluminação do Espírito Santo. O Objetivo da revelação
especial é “nos conduzir a Deus”. Não é apenas uma questão de estudos doutrinários. “A
revelação divina provê a resposta para o duplo dilema humano: 1. sua ignorância de Deus, e ,
portanto, de si mesmo; e 2. sua culpa diante de Deus. Portanto, isso envolve conhecimento e
santidade”. (Ibid., p. 702). A revelação especial de Deus foi dada ao homem pela Sua Palavra,
que é o mais completo meio pelo qual Deus se deu a conhecer; através de Cristo.

V - A NATUREZA DE DEUS

O ser humano sempre teve a idéia da existência de um ser superior, como já vimos em
relação a povos bem primitivos. Para os que crêem no Deus revelado nas Escrituras, há um
desejo até inconsciente de entender a pessoa do Ser Supremo, Criador de todas as coisas. É uma
busca que jamais será satisfeita no plano humano, pois a mente finita jamais abarcará o
significado daquele que é Infinito. Figuras de Deus, retratos, pinturas, na Arte, não conseguirão
demonstrar quem é Deus. Imagens de escultura já foram fundidas, numa imaginação tão distante
de Deus, quanto uma gota é distante do oceano. Quanto o Oriente está distante do Ocidente.

No entanto, podemos ter uma idéia, mesmo imperfeita, da natureza de Deus, através do
que a Bíblia nos mostra como sendo seus atributos.

Segundo Bancroft37, “A natureza de Deus se revela pelos Seus atributos. Precisamos ter o
cuidado de não imaginá-los como sendo abstratos, mas como meios vitais que revelam a natureza
de Deus”. Strong38 afirma que “Os atributos de Deus são as características distintivas da natureza
divina, inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e apoio das suas várias
manifestações às suas criaturas. Chamamo-los de atributos porque somos compelidos a atribuí-
los a Deus como qualidades ou poderes fundamentais ao seu ser a fim de dar um relato racional
36
R.N. CHAMPLIN e J.M. BENTES, Teologia Sistemática, p. 702.
37
Ibid., p. 23-24.
38
Ibid., p. 364.
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de alguns fatos constantes nas auto-revelações de Deus”. Neste trabalho, adotamos duas
categorias de atributos de Deus, conforme o fazem muitos estudiosos da teologia: atributos
naturais (ou imanentes) e atributos morais, de Deus.

1. ATRIBUTOS NATURAIS

São também chamados por Strong (ibdem, p. 370), de Atributos Absolutos ou Imanentes,
os quais “ se referem ao ser interior de Deus, envolvidos nas relações de Deus consigo mesmo e
pertencentes à sua natureza independentemente de sua conexão com o universo”. Grudem
chama esses atributos de “atributos incomunicáveis de Deus (isto é, os atributos que Deus não
compartilha ou ‘comunica’ a outros). 39

1) SUA VIDA

“A vida de Deus é Sua atividade de pensamento, sentimento e vontade. É o movimento


total e íntimo de Seu Ser que O capacita a formar propósitos sábios, santos e amorosos, e
executa-los” (Mullins, apud Bancfoft, p. 25). A Bíblia revela a vida de Deus de modo claro e
insofismável. “Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma
coisa; pois Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas “ (At 17.25). Ele é
a fonte da Vida, e tem vida em si mesmo: “O Pai tem vida em si mesmo” (Jo 5.26). “Ele mesmo é
o Deus vivo” (Jr 10.10); “como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e
verdadeiro” (1 Ts 1.9); “Eu sou...a vida” (Jo 14.6).

Os homens, em sua condição natural, atingidos em seu âmago, pelo germe do pecado,
não pode crer em Deus de modo pleno. Está escrito: “Ora, o homem natural não aceita as coisas
do Espírito de Deus, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14). E existem ainda os
que não tem o bom senso espiritual, os quais negam a existência de Deus: “Todos os seus
pensamentos são: Não há Deus” (Sl 10.4). Mas Deus existe independente da crença ou da
incredulidade dos homens naturais. A vida de Deus, ou o fato de Deus, é algo que é percebido
através de muitas evidências. Enquanto o néscio, em sua ignorância, ou em seu orgulho, diz
“Não há Deus”, “os céus manifestam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas
mãos” (Sl 19.1).

De acordo com Horton40 , “A Bíblia não procura oferecer-nos qualquer prova racional
quanto à existência de Deus. Pelo contrário: ela já começa tomando a sua existência como
pressuposição básica: ‘No princípio, Deus” (Gn 1.1). Deus existe! Ele é o ponto de partida. Deus
existe. Sua vida é fato inquestionável à fé. Só os ateus, ou os agnósticos, questionam a existência
de Deus.

2) Sua espiritualidade – Deus é Espírito!

Dr. Far, apud Bancroft41, diz que “Deus é algo mais que uma condição de existência, como
o espaço ou o tempo. Ele não só existem mas também age. Ele é agente, ator, Ser vivo e o
Espírito de Vida”. Diz Bancroft : “Deus, sendo espírito, é incorpóreo, invisível, sem substância
material, sem partes ou paixões físicas e, portanto, livre de todas as limitações temporais”. Assim,
Deus não pode ser apreendido pelos sentidos físicos, “mas antes pelas faculdades da alma,
vivificadas e iluminadas pelo Espírito Santo” (ibdem).

39
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 73.
40
Stanlley M. HORTON, Teologia Sistemática, P. 126.
41
E.H. BANCROFT,.Teologia Sistemática, p. 26
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Está escrito: “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e
em verdade” (Jo 4.24). No Antigo Testamento, Deus proibiu a fabricação de imagens de
esculturas, de ídolos, pois jamais alguém o viu (cf. Dt 4.15-20). No Novo Testamento, o ensino
sobre Deus demonstra que Ele é Espírito, incorpóreo, e que não pode ser apreendido pela visão
ou por qualquer outro sentido humano. Está escrito:

“O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita
em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que
necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as
coisas; e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra,
determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação, para que buscassem
ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de
nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas
disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de
cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e
imaginação dos homens” (At 17.24-29).

O homem semelhante a Deus?

Diante da espiritualidade de Deus, demonstrada nas Escrituras, há certa dificuldade em se


entender o que significa a semelhança do homem com Deus. Bancroft 42 diz que essa semelhança
pode ser “pessoal”, pois tanto Deus quanto o homem são pessoas; pode referir-se à “imagem e
semelhança triúna”, pois Deus possui uma triunidade, Pai, Filho e Espírito Santo, enquanto o
homem possui espírito, alma e corpo (cf. 1 Ts 5.23). E que, sem dúvida, essa semelhança refere-
se “à semelhança intelectual e moral”.

Sendo Deus Espírito, Ele tem partes semelhantes aos homens?

O salmista diz: “os céus são obra das tuas mãos” (Sl 102.25b). Essa é o que se chama
linguagem antropomórfica, que atribui forma humana a Deus. Na verdade, Deus não tem mãos,
nem pés, nem braços. Mas tais expressões são usadas na Bíblia para que haja melhor
compreensão do ser humano quanto à vontade de Deus a seu respeito. Ele usa linguagem
humana para comunicar-se com o ser humano. Diz S. Pedro: “Porque os olhos do Senhor estão
sobre os justos, me os seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os
que fazem males” (1 Pe 3.12). Aí, vemos o escritor referir-se aos “olhos”, aos “ouvidos” e ao
“rosto” de Deus. Ele é espírito incorpóreo, mas, ao relacionar-se com o homem, em sua
comunicação, adota a linguagem compreensível à mente limitada do ser humano.

A Bíblia diz que algumas pessoas viram a Deus. Pode parecer uma contradição, pois,
sendo espírito, é invisível. Vejamos alguns textos.

Moisés pediu a Deus que permitisse ver sua glória. Em resposta, disse o Senhor: “Não
poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá aa minha face e viverá. Disse mais o
SENHOR: Eis aqui um lugar junto a mim; ali te porás sobre a penha. E acontecerá que, quando a
minha glória passar, te porei numa fenda da penha e te cobrirei com a minha mão, até que eu
haja passado. E, havendo eu tirado a minha mão, me verás pelas costas; mas a minha face não
se verá” (Ex 33.21-23). Deus disse: “Tu me verás pelas costas”. O que temos aí é uma evidência
de que Deus manifestou-se a Moisés, de uma forma que ele pudesse contemplar a presença de
Deus, mas ele não viu propriamente ao Senhor.

42
Ibid., p. 29.
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Deus Espírito Santo foi visto por João, no Jordão, em forma de uma pomba (Jo 1.32). Mas
ele não viu o Espírito Santo em sua essência. Deus manifestou-se como um anjo, no AT, em
diversas ocasiões (Gn 16.7-10,13; Gn 22.11,12 e refs.). Mas não se apresentou como Ele é.

3. A PERSONALIDADE DE DEUS

Deus é um Ser pessoal. É uma pessoa. Esse atributo divino contraria o que prega o
panteísmo, que ensina que Deus é tudo e tudo é Deus. O Movimento da Nova Era, que é uma
miscelânea de religiões, filosofia, esoterismo, ocultismo, e outras idéias, adota os ensinos
panteístas, afirmando, inclusive, que o homem é deus, e que deus é o homem.

Segundo os panteístas, personalidade implica em limitação. É uma visão equivocada, pois


entende a personalidade com base na limitação humana. De fato, no homem, tudo é relativo. Mas,
em se tratando do Ser Infinito, que é Deus, só podemos admiti-lo com tendo personalidade
absoluta, ilimitada, e infinita.

1) Significado de personalidade

De acordo com Bancroft43, “Pode-se definir personalidade como a existência dotada de


auto-consciência e do poder de auto-determinação. Não se deve confundir personalidade com
corporalidade ou existência em corpo material, mas antes, corretamente definida, a personalidade
abrange as propriedades e qualidades coletivas que caracterizam a existência pessoal e a
distinguem da existência impessoal e da vida animal; pois encaramos os animais irracionais como
possuidores de natureza e não de personalidade. A personalidade, portanto, representa a soma
total das características necessárias para descrever o que é uma pessoa”.

2) ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA PERSONALIDADE

“São três os elementos constitutivos da personalidade: intelecto, ou poder de pensar;


sensibilidade, ou poder de sentir; e volição, ou poder de vontade. Associados a esses, temos a
consciência e a liberdade de escolha. (Ibdem, p. 31). Também se diz que esses elementos são
constitutivos da pessoalidade. Strong44 afirma que “Pessoalidade significa o poder de
autoconsciência e autodeterminação”.

Essas características são perfeita e absolutamente aplicadas a Deus.

a) Deus é um ser Inteligente. E tal característica de sua pessoa é o fato de ter criado todas
as coisas que existem no universo. A par do seu poder, a natureza evidencia uma inteligência
infinita e perfeita.

b) Deus é um ser que tem sensibilidade. Ele é um ser que tem sentimentos divinos,
próprios de sua natureza, diferenciados dos sentimentos humanos. Como o homem tem origem
em Deus, a sensibilidade do ser humano reflete a obra de Deus em sua criação. A sensibilidade
de Deus fazem parte de sua essência, ao lado da inteligência e da vontade divinas.

Dentre os sentimentos de Deus, destacam-se o seu amor e sua longanimidade, ou sua


paciência para com o ser criado. Está escrito: “Porque Deus amou o mundo...” (Jo 3.16); Jesus
falou, em sua oração ao Pai: “Porque tu me amaste antes da fundação do mundo” ( ); “Há
muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei; também com amável

43
E.H. BANCROFT, Teologia Elementar, p. 31.
44
Augustos H. STRONG,. Teologia Sistemática, p. 376.
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benignidade te atraí” (Jr 31.3); “...porque tu me hás amado antes da criação do mundo” (Jo
17.24b).

c) Deus é um ser auto-consciente. Envolvem mais do que consciência. Esta também é


encontrada nos irracionais. Porém a autoconsciência implica em reconhecer que é responsável
pelos seus atos, e também sujeito desses mesmos atos.

d) Deus é um ser que tem autodeterminação. Isso quer dizer que Deus decide o que fazer,
a partir de seu interior, de sua própria mente. Ele é a causa da sua ação.

e) Os nomes dados a Deus revelam sua personalidade. “Jeová”: Era o nome mais
conhecido no AT; significa “o Único Ser eterno e imutável, que era, que é e que há de vir”; “Eu
Sou” (Ex 3.14). Revela auto-consciência de Deus; “Jeová-Jiré” (O Senhor proverá): “revela
providência pessoal” (Gn 22.13,14); “Jeová-Nissi” (O Senhor é a nossa Bandeira); revela que
Deus dá vitória a seu povo (Ex 17.15); “Jeová-Rafá” (O Senhor que Sara); revela o Senhor que
cura, restaura, e dá saúde a seu povo (Ex 15.26); “Jeová-Shalom” (O Senhor é a nossa Paz);
revela o Deus que concede paz a seu povo (Jz 6.24); “Jeová-Raá” (O Senhor é o Meu Pastor);
refere-se ao Senhor que guia, protege e provê o de que seu servo ou seu povo necessita (Sl
23.1); “Jeová-Tsidequenu” (O Senhor Justiça Nossa); revela o Senhor que faz Justiça a seu povo
(Jr 23.6); “Jeová-Sabaote” (Senhor dos Exércitos); é o Senhor que lidera o seu povo; que lidera os
seres celestiais (1 Sm 1.3); “Jeová-Samá” (O Senhor está presente); revela a presença pessoal de
Deus no meio do seu povo (Ez 48.35); “Jeová Elion” (O Senhor Altíssimo); é o Deus dos deuses,
Transcendente, acima de tudo e de todos, diante de seu povo (Sl 97.9); “Jeová Micadiskim” (O
Senhor que vos santifica); revela o Deus puro e santo, que santifica seu povo (Ex 31.13). Todos
esses nomes são atribuídos a Deus, como pessoa, e não apenas como uma idéia, ou algo irreal.
45

3) Auto-existência de Deus.

Há quem diga que Deus é a sua própria causa; que Ele foi criado por si mesmo. Essa
afirmação é errônea em relação a Deus. Parte de um princípio de que tudo deve ter sua causa.
Porém, Deus nunca teve causa. É um ser incausado. Nunca teve início. Bancroft 46 afirma que “a
base ou razão (e não a causa) da existência de Deus é a sua própria perfeição imanente, isto é,
uma das perfeições de Deus é não ter sido Ele causado. Significa que Deus é absolutamente
independente de tudo fora de Si mesmo para a continuidade e perpetuidade de Seu Ser”.
Pendleton (apud Bancroft, p. 48), afirma que “A razão da existência de Deus encontra-se
exclusivamente nEle, e sua auto-existência é atributo inalienável de Sua natureza”... “ é mistério
que desafia a compreensão finita. Somente Deus sabe como é que Ele existe, porque Ele sempre
tem existido, e porque existirá para sempre”.

4) A eternidade de Deus

Eternidade “é a duração infinita, ou seja, duração sem começo e sem fim... – um


sempiterno presente. A eternidade é limitada em nosso pensar pelo tempo e pelo espaço. Deus
não tem começo nem fim. Não está sujeito à dimensão temporal, nem à dimensão espacial. Para
Ele, não existe passado, presente e futuro. Para o ser humano, faz-se necessária a sucessão do
tempo, de modo que cada acontecimento seja percebido um após o outro. Para Deus, no entanto,
todos os eventos ou acontecimentos ocorrem num momento só.

45
E.H. BANCROFT, Teologia Sistemática, p. 34
46
Ibid., p. 47.
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Na Bíblia, temos várias referências sobre a eternidade de Deus. “O Deus eterno te seja por
habitação, e por baixo de ti estejam os braços eternos...” (Dt 33.27); “Não sabes, não ouviste que
o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não há
esquadrinhação do seu entendimento” (Is 40.28); “Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo
é o Deus vivo e o Rei eterno” (Jr 10.10).

5) A imutabilidade de Deus

Disse Deus: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6). NEle, “há mudança nem sombra de
variação “ (Tg 1.17). Essa característica imanente de Deus indica que nEle não há mudança, seja
em sua natureza, seja em seus atributos, seja em sua vontade, pois são perfeitos. O homem pode
mudar para melhor ou para pior. Com Deus, isso não pode acontecer, pois Ele é absoluto em
tudo. Não pode melhorar nem piorar.

“Podemos resumir a significação da imutabilidade de Deus, dizendo que se trata de Sua


auto-coerência moral e pessoa, em todos os Seus tratos com Suas criaturas” (Mullins, apud
Bancroft, p. 51).

Se é assim, por que a Bíblia diz que Deus se arrependeu? Está escrito: “6 Então,
arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração”
(Gn 6.6). É uma expressão de caráter antropomórfico, que indica a mudança na relação com o
homem, ou mudança no tratamento, mas não implica em mudança do caráter de Deus. É uma
adaptação da ação de Deus, em função dos atos do homem. Ele não pode tratar o ímpio da
mesma forma que trata o justo. Seria contra o seu caráter. O homem arrepende-se de coisas mal
feitas. Deus muda seu relacionamento com o homem , em função das atitudes do homem. Se o
justo ser torna ímpio, Deus terá que mudar seu tratamento. Se o ímpio se torna justo, Ele muda
sua maneira de agir para com o indivíduo.

“Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa;
porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?” (Nm 23.19). Aqui, não há
contradição alguma. Deus não se arrepende como o homem, ou um filho do homem. Mas muda
sua relação em função do comportamento do homem. Quem muda, na verdade, é o homem. Deus
não muda.

6) A Unidade de Deus

Segundo Strong 47, “Significa : a) que a natureza divina não é dividida e é indivisível (unus);
e b) que há um só Espírito infinito e perfeito (unicus)”. Está escrito: “Ouve, ó Israel, o Senhor,
nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4); “do Deus único” (Jo 5.44); “único Deus verdadeiro” (Jo
5.44); “um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e pai de todos, o qual é sobre todos,
e por todos, e em todos” (Ef 4.5,6). Como veremos após, a unidade de Deus não conflita com a
doutrina da Trindade.

7) Onisciência de Deus

“Isto significa que Deus conhece perfeita e eternamente todas as coisas que são objeto do
seu conhecimento quer reais ou possíveis, passadas, presentes ou futuras” 48.

47
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 386.
48
Ibid., p. 421.
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A Bíblia nos mostra que Deus sabe tudo, de modo absoluto. Ele conhece tudo. Ele tem
conhecimento perfeito. O salmista teve profunda revelação da onisciência de Deus, em relação
ao homem, seus pensamentos e intenções, quando exclamou: “Senhor, tu me sondaste e me
conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento.
Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma
palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste
sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir”
(Sl 139.1-5)

O escritor aos hebreus escreveu sobre a onisciência de Deus, quando disse: “E não há
criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13). Deus conhece todas as coisas, antes mesmo que
elas existam ou aconteçam. Ele conhece os corações (At 15.8); “Até mesmo os cabelos das
vossas cabeças estão contados” (Mt 6.8); Ele vê todos os filhos dos homens, e contempla suas
obras (Sl 33.13-15).

No argumento cosmológico, como prova da existência de Deus, vimos que, se o homem é


inteligente, é porque seu Criador é Inteligente no sentido absoluto. Deus não só é perfeitamente
inteligente, mas é Onisciente. Ele tem onisciência, ou seja, ele conhece tudo, sabe tudo, percebe
tudo, num só momento. Nesse aspecto de Sua natureza, o seu conhecimento absoluto se
manifesta de duas formas, através da:

“(1) onisciência, que inclui todas as coisas concernentes a Si próprio e a todas as suas
obras; e (2) presciência, que pode ser restrita às coisas especificamente ordenadas... A mente
finita não pode captar a verdade completa a respeito da onisciência mais do que ela pode captar a
onipotência divina assim como a sua onipresença ou seu amor divino... para Deus, as coisas do
passado são tão reais como se fossem presentes e as coisas do futuro são como se fossem
passadas. Ele é quem ‘chama as coisas que não são, como se já fossem’ (Rm 4.17; cf Is 46.10)”
49
.

“Que Deus conhece todas as coisas futuras que são meramente possíveis, mas que nunca
se tornam reais está revelado na Palavra de Deus. Toda advertência de Deus é uma declaração
de perigo e de mal que Ele conhece, que se seguirá a uma escolha errada. ... Com a mesma
onisciência ou presciência, Deus conhece de antemão as ações de todos os agentes morais”
(ibdem, p. 218).

Muitos teólogos entendem que a presciência de Deus não é compatível com o livre-arbítrio,
ou com a moral livre do homem. Segundo essa visão, se Deus sabe de antemão tudo o que vai
acontecer com os homens moralmente livres para agir, os eventos e os fatos terão que acontecer.
O homem não pode deixar de agir ante o que é previsto por Deus. Aí, há um conflito entre a
liberdade do homem e os decretos divinos, segundo certos teólogos.

Chafer 50 , diante dessa questão, tece eloqüente comentário sobre o tema: “O Dr. Clarke
afirma: ‘Deus ordenou algumas coisas como absolutamente certas. Ele ordenou outras coisas
como contingentes. E estas, Ele conhece como contingentes’. “O Dr. Clarke, em defesa de sua
crença, assevera: ‘Como a onipotência sugere o poder de fazer todas as coisas, assim a
onisciência sugere a capacidade de conhecer todas as coisas, mas não a obrigação de conhecer
todas as coisas... Deus , embora possuidor da onipotência, evidentemente não a exerce ao grau
extremo – não faz tudo que poderia fazer – assim, embora Ele possa conhecer todas as coisas,
todavia Ele resolve ser ignorante de algumas coisas, porque Ele não acha próprio conhecer tudo
que Ele poderia conhecer”.

49
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 218.
50
Ibid., p. 220-21.
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Chafer (ibdem) argumenta que essas objeções dão a entender que Deus teme conhecer
algumas coisas, e que isso é uma “falácia insustentável”. Isto porque a onisciência de Deus “não é
mera capacidade de adquirir conhecimento, mas é a posse real do conhecimento. Criticando o Dr.
Clarke, Chafer diz que ele “propôs tornar Deus capaz de onisciência, mas não onisciente.

Com relação à onisciência de Deus e as ações livres dos homens (ações contingentes,
não ordenadas) , vê-se que Deus os torna responsáveis pelos seus atos, e tais ações são pré-
conhecidas por Ele. Chafer afirma 51 que “Se Deus for ignorante das ações futuras dos livres-
agentes, não poderá haver um controle divino seguro do destino humano como garantido em cada
pacto incondicional que Deus fez, e como garantido em cada profecia das Escrituras”.... “A
presciência divina não compele; ela meramente sabe qual será a escolha humana.”

Strong 52 afirma que “O fato de que nada há na condição presente das coisas a partir das
quais as ações futuras das criaturas livres necessariamente se seguem por lei natural, não impede
Deus de prever tais ações porque seu conhecimento não é mediato, mas imediato. Ele não só
conhece antecipadamente os motivos que ocasionarão os atos dos homens, mas diretamente
conhece os próprios atos. A possibilidade de tal conhecimento direto sem atribuir sua base á
aparente se admitirmos que o tempo é uma forma de pensamento finito a que a mente divina não
está sujeita”.

Com base nesse entendimento, poder-se-ia dizer que não é necessário Deus prever nada,
pois todas as coisas acontecem diante dEle como num momento, num “eterno agora”. Diz ainda
Strong (p. 426) que “A presciência não é em si mesmo causativa. Não dever ser confundida com a
vontade pré-determinante de Deus. As ações livres não ocorrem porque são previstas, mas são
previstas porque ocorrem”. Esta última citação nos dá uma idéia de como melhor podemos
entender o conflito entre a presciência de Deus e a liberdade do homem em agir.

A mente finita jamais vai entender em sua plenitude a mente infinita de Deus. O de que
precisamos ter convicção é de que Deus sabe tudo, vê tudo, pois “Os olhos do Senhor estão em
todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv 15.3). E a maior revelação de onisciência de
Deus, ao lado de sua onipresença , está no Salmo 139:

“Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar;


de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os
meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces.
Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim
maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir. Para onde me irei do teu Espírito ou para
onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali
estás também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão
me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: decerto que as trevas me encobrirão; então, a
noite será luz à roda de mim. Nem ainda das trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece
como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa” (Sl 139.1-12).

8) A Onipotência de Deus

Ominis e potentia (lat.) são dois termos que formam a palavra onipotência. Aplicada à
pessoa de Deus, diz-se que Ele é onipotente, porque ele tudo pode, é Todo-Poderoso. Nenhum
ser, no universo pode reivindicar para si tal atributo. O diabo tem muita força, ou mesmo, muito
poder, por permissão de Deus. Mas não é onipotente. Ele diz no Gênesis: “Eu sou o Deus Todo-
Poderoso” (Gn 17.1).

51
Ibid. p. 221.
52
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 424.
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Assim, por que Ele não pode mentir? “Pelo que, querendo Deus mostrar mais
abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com
juramento, para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos
a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual
temos como âncora da alma segura e firme e que penetra até ao interior do véu” (Hb 6.17-19).
Deus não pode mentir tão somente porque Ele não viola sua própria natureza, nem age de modo
contrário a Seu caráter. Mentir não faz parte de seus divinos propósitos. Ele, portanto, em sua
onipotência, Ele tem o poder de se auto-limitar, só utilizando sua onipotência para realizar tudo o
que estiver de acordo com seus propósitos ou decretos.

Da mesma forma, Ele não pode morrer, não pode pecar. Não pode fazer com que algo
errado, conforme a sua palavra, se torne certo; ou o que sua palavra diz que é certo, se torne
errado. Se o fizesse, seria uma contradição: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto,
descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg 1.17). Seu
poder é ilimitado, infinito, fazendo tudo o que desejar, em coerência com seu caráter, expresso em
Sua palavra. Sua onipotência lhe faculta o poder de não lhe fazer o que não lhe apraz. “Os seus
discípulos, ouvindo isso, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois, salvar-se? E Jesus,
olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt
19.26). Salvar o homem é algo que está no mais alto propósito de Deus. No entanto, segundo o
seu caráter, revelado nas Escrituras, Ele não vai tirar (salvar) um pecador do Inferno, se morrer
em pecado, pois isso contrariaria seu caráter. Na prática, Ele poderia faze-lo. Mas seria
moralmente contrário à sua natureza. Só faz o que está de acordo com seu propósito: “conforme o
propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).

Strong 53 , comentando a onipotência de Deus, diz: “Onipotência não implica o exercício de


todo o poder da parte de Deus. Ele tem poder sobre o seu poder; em outras palavras, o seu poder
está sob o controle da sábia e santa vontade. Deus pode fazer tudo o que ele quer, mas não quer
tudo o que ele pode. De outra forma seu poder seria mera força, agindo necessariamente, e Deus
seria escravo de sua onipotência” (grifo acrescentado) .... “A onipotência em Deus não exclui, mas
implica, o poder de auto-limitação” (grifo acrescentado).

Por que Deus não impede que o homem faça o mal? No tópico sobre a onisciência e
presciência de Deus, abordamos alguns aspectos dessa questão. Está em foco o livre-arbítrio,
concedido por Deus ao homem, para que este faça o que desejar, e puder faze-lo, até mesmo o
mal. Deus pode impedir o mal. Porém, pela sua vontade permissiva, faculta o homem escolher
entre o bem e o mal. Se não houvesse permissão para o mal, não haveria também liberdade
concedida. Seria uma contradição.

Quando algo é visto por Deus como uma coisa que deve ser impedida, e o deseja impedir,
Ele usa sua vontade diretiva: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou; me ninguém há que possa
fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” (Is 43.13). “E ao anjo da igreja
que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, go que é verdadeiro, o que tem a chave de
Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3.7).

Há quem se inquiete, e indague: Por que Deus não evita o mal, se Ele tem todo o poder?
Diante desse dilema, entre a permissão de Deus para a existência do mal, e seu poder para evitá-
lo, deve-se considerar que a longanimidade de Deus é a paciência para com os pecadores,
dando-lhes oportunidade para o arrependimento. Isso faz parte de sua relação com suas criaturas.
Em sua soberania, Ele pode alargar o tempo para que a humanidade tome conhecimento do Seu
amor, e não só de Sua Justiça.

53
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 428-29.
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A onipotência de Deus é manifestada em sua palavra, desde o início de tudo. Ele tem o
poder de criar. No Gênesis, Ele criou os céus, os mares, a terra, os astros, a luz, simplesmente
dizendo: “Haja” determinada coisa. E tudo apareceu. Ele não só criou o universo, mas o sustenta
e o mantém, segundo leis planejadas, e executadas segundo o seu poder infinito: “O qual, sendo
o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas
pela palavra do seu poder” (Hb 1.3a).
Deus manifestou sua onipotência, diante de homens que se julgavam invencíveis, como
Faraó, rei do Egito. Este, loucamente, resolvendo enfrentar e afrontar Deus, foi fragorosamente
abatido, humilhado, bem como seus deuses, quando resistiu à ordem de Jeová para que
libertasse seu povo. Mediante as dez pragas do Egito, Deus usou Moisés para tirar o seu povo do
cativeiro, e não houve quem impedisse (ver Ex 7.1-5).

Diante de seu arquiinimigo, Satanás, Deus tem absoluto domínio e controle de suas ações.
O diabo só pode agir por permissão de Deus, até o ponto em que Ele entender que o adversário
pode ir. Na experiência de Jó, vemos que o maligno resolveu testar a fé do patriarca, afirmando
que, se lhe fossem tirados todos os bens, inclusive os filhos, blasfemaria contra o Senhor. Deus
deu permissão ao diabo para tirar tudo o que o homem de Deus tinha, e com pressa o adversário
executou seu plano maligno. Mas Jó não blasfemou, nem atribuiu a Deus falta alguma.
Certamente perplexo, o diabo resolveu tentar mais uma vez fazer Jó blasfemar, e obteve
permissão de Deus para tirar sua saúde, no que foi atendido. Feriu o homem de Deus de uma
doença maligna. Mas Jó não blasfemou. Pelo contrário, enfrentando a tudo e a todos, inclusive à
sua própria esposa, que o aconselhara a se suicidar, Jó mostrou que a fé em Deus é suficiente
para derrotar o adversário. “Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e
se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o
Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor. Em tudo nisto Jó não pecou,
nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1.20-22).

Da experiência de Jó, podemos tirar algumas lições sobre onipotência. Primeiro, que o
diabo só pôde ferir o servo de Deus, após tirar seus bens, por permissão de
Deus. Segundo, que o adversário não é onipotente. Só pôde agir com permissão de Deus, que é
verdadeiramente o único ser Onipotente em todo o universo.

9) A Onipresença de Deus

É atributo divino, intimamente ligado à sua onipotência e à sua onisciência. Onipresença


vem de duas palavras latinas: omnis (tudo) e praesum (estar próximo ou presente). Significa que
Deus está em toda a parte, em todos os lugares. Essa presença não é material, corpórea. É
espiritual.

Um filósofo ateu perguntou a um cristão: “Onde está Deus?”. O cristão lhe perguntou:
“Primeiro, desejo perguntar-lhe: onde Ele não está?”. Deus está em todo lugar do universo, ao
mesmo tempo. É algo que a mente humana, em sua finitude, não pode alcançar. Deus está em
todos os lugares, apresentando-se de modos diferentes. No céu, Ele está em sua essência,
jamais visto por homem algum, em sua glória infinita; habitando no crente salvo, por meio de
Jesus e do Espírito Santo (cf. 1 Co 6.19), com seu amor, proteção e direção; onde está o pecador,
com seu amor ou com sua justiça; e até no inferno, com sua ira ou seu juízo. Uma ilustração
simples pode dar a entender essa grande verdade: o sol é um só; mas o mesmo sol que endurece
o barro, derrete o gelo, ao mesmo tempo. Mas a compreensão da onipresença de Deus exige
mais profunda reflexão.

Strong 54 afirma que onipresença “significa que Deus, na totalidade da sua essência, sem
difusão ou expansão, multiplicação ou divisão, penetra e ocupa o universo em todas as suas
54
STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática, p. 417.
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partes” ... “A onipresença de Deus não é a presença de uma parte, do todo divino em toda a parte.
– Isto se segue da concepção de Deus como incorpóreo. Rejeitamos a representação materialista
de que Deus é composto de elementos materiais que podem ser divididos e separados... A
essência uma de Deus está presente ao mesmo tempo em tudo”.

A Bíblia nos mostra algumas referências sobre a onipresença de Deus. “E não há criatura
alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele
com quem temos de tratar” (Hb 4.13); o salmo 139 é sem dúvida o texto mais apropriado para nos
mostrar esse atributo divino: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar
as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra
me susterá. Se disser: decerto que as trevas me encobrirão; então, a noite será luz à roda de
mim. Nem ainda das trevas me escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a
luz são para ti a mesma coisa” (Sl 139.7-12).

“Sou eu apenas Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-
ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura, não encho eu
os céus e a terra? diz o Senhor” (Jr 23.23,24). “Certo ateu escreveu: ‘Deus não está em lugar
nenhum”, mas sua filhinha leu: ‘Deus está agora aqui’, e isto o converteu” (Ibidem, p. 417). O
texto, em inglês, dizia: “God is nowhere”. A menina leu: “God is now here”.

Numa afirmação interessante A.J. Gordon disse: “Na matemática, o todo é igual à soma
das partes. Mas sabemos que, no Espírito, cada parte é igual ao todo. Cada igreja, cada
verdadeiro corpo de Jesus Cristo tem o tanto de Cristo como qualquer outra e que tem o Cristo
por inteiro” (ibidem, p. 420). Jesus afirmou: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20). Certo aluno da Escola Dominical disse: “Deus está
no meu bolso?” Alguém respondeu: “É claro que sim”. “Não”, disse o aluno: “Ele não está porque
eu não tenho bolso”. Realmente, Deus não está onde nada existe. Ele está onipresente onde
existe o universo, ou parte dele, “mas deixa de ser onipresente quando o universo deixa de ser” 55.

10) A imensidade de Deus

Strong 56 entende que “Isto significa que a natureza de Deus a) não tem extensão; b) não
está sujeita a nenhuma limitação de espaço; e c) contém em si a causa do espaço”. Isso porque
“Imensidade é infinitude em relação ao espaço. A natureza de Deus não está sujeita à lei do
espaço. Deus não está no espaço. É mais correto dizer que o espaço está em Deus. Contudo, o
espaço tem uma realidade objetiva para Deus. Com a criação, o espaço começou a ser e, porque
Deus vê segundo a verdade, ele reconhece as relações de espaço na criação”.

Um pouco diferentemente de Strong, Chafer 57 propõe que Onipresença e Imensidão são


termos que indicam “a relação que Deus mantém com o espaço”. “A concepção de Deus que é
mantida pelas Escrituras é a de que Ele está presente em toda parte. A apreensão dessa verdade
é, de fato, muito difícil de ser absorvida”. A dificuldade decorre do fato de que todos os seres da
criação, incluindo homens, anjos e coisas, só podem estar presente num determinado lugar em
determinado tempo. Mas, tal característica é inerente a Deus. Sua perfeição exige que Ele seja
onipresente e abranja todo o espaço, criado por Ele mesmo.

Biblicamente, a imensidade de Deus nos é apresentada através de alguns textos. “Mas, na


verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus e não poderiam conter” (1
Rs 8.27). Em outros textos, parece haver uma contradição, quando a Bíblia diz que o Pai está nos
céus (Mt 6.9); que Jesus está “à direita da majestade nas alturas” (Hb 1.3); que o Espírito Santo
55
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p.423.
56
Ibid., p. 415.
57
Lewys Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 243.
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habita em nosso corpo, que é o seu templo (1 Co 6.19); que o Espírito Santo mora no crente (Rm
8.9); está escrito que O Pai está no Filho e o Filho está no Pai (Jo 17.21), e que o Pai está “acima
de todos e em todos” (Ef 6.4).

Essas afirmações bíblicas não contradizem a onipresença ou a imensidade de Deus. Tão


somente elas se referem a momentos ou posições de Deus em relação à mente humana, que não
pode apreender que Ele esteja ao mesmo tempo em todo o lugar. Davi percebeu essa dificuldade,
quando afirmou: “Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir” (Sl
139.6). Mas, nessa imensidão insondável, há um conforto para o crente, pois diz o salmista:
“Todavia, estou de contínuo contigo; tu me seguraste pela mão direita. Guiar-me-ás com o teu
conselho e, depois, me receberás em glória” (Sl 73.23,24).
2. ATRIBUTOS MORAIS DE DEUS

São considerados atributos ou características próprias de Deus, no sentido absoluto de


Sua natureza. Grudem 58inclui esses atributos entre os chamados “atributos comunicáveis de
Deus”; e acrescenta que a divisão entre atributos “comunicáveis” e “incomunicáveis” de Deus “não
é uma classificação absoluta e existe algum espaço para diferenças de opinião a respeito da
distribuição em categorias”.

1) A santidade de Deus

Santidade é a qualidade daquele ou daquilo que é santo. Deus é absolutamente Santo.


Strong inclui a Santidade de Deus entre o que chama de “atributos transitivos” ou “relativos”, que
são aqueles com os quais Ele se relaciona com suas criaturas. Ao contrário dos “atributos
imanentes ou absolutos”, que se referem “ao ser interior de Deus” 59. No Antigo Testamento, a
palavra santo, ou ser santo, é qadosh (hb.), que deriva da palavra qad, com o significado de
“cortar ou separar”.

Bancroft 60 diz que “A Santidade de Deus é Seu atributo mais exaltado e destacado, pois
expressa a majestade de Sua natureza e caráter morais”. No aspecto negativo, a santidade de
Deus significa que Ele é separado de tudo o que é pecaminoso. No sentido positivo, entende-se “a
absoluta perfeição, a pureza e integridade de Sua natureza e Seu caráter” (ibidem, p. 66).

Segundo Berkhof 61 , a santidade de Deus não deveria ser considerada uma “qualidade
moral ou religiosa”, mas “uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa. ....
Em seu sentido original, denota que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é
exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, a santidade de Deus é um dos Seus
atributos transcendentais e às vezes é mencionada como a Sua perfeição central e suprema”.... “A
idéia fundamental da santidade ética de Deus também é de separação, mas, neste caso, a
separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em virtude da sua santidade, Deus não pode ter
comunhão com o pecado (Jó 34.10; Hc 1.13). Empregada nesse sentido, a palavra ‘santidade’
indica a pureza majestosa de Deus, ou a Sua majestade ética”... “Esta santidade ética de Deus
pode ser definida como a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e
mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas criaturas”.

A Bíblia mostra claramente que a santidade de Deus é atributo inerente à Sua majestade,
pureza e perfeição. “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a vexação não podes
contemplar; por que, pois, olhas para os que procedem aleivosamente e te calas quando o ímpio

58
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 80.
59
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 369.
60
E.H. BANCROFT, Teologia Elementar, p. 63-64.
61
Louis BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 75-76.
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devora aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1.13); “Porque Eu sou o Senhor, vosso Deus;
portanto, vós me santificareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44); Exaltai ao Senhor,
nosso Deus, e adorai-o no seu santo monte, porque o Senhor, nosso Deus, é santo” (Sl 99.9);
“Pelo que vós, homens de entendimento, escutai-me: longe de Deus a impiedade, e do Todo-
poderoso, a perversidade!” (Jó 34.10). No Apocalipse, vêem-se os quatro seres viventes,
adorando, e dizendo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é,
e que há de vir” (Ap 4.8).

2) O amor de Deus

Se formos ao Dicionário, veremos que amor é “1. Sentimento que predispõe alguém a
desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa: 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a
outro ser ou a uma coisa; devoção extrema...” . No primeiro significado, podemos aplicá-lo à
relação entre Deus e o homem. Ele, o Criador, sempre deseja o bem do ser humano. Na segunda
acepção, podemos entender a relação do crente, ou do fiel, com Deus, na sua devoção ao
Senhor.

A Bíblia nos revela quão grande é o amor de Deus para com o homem. “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16); Jesus, ao citar essa frase para Nicodemos,
revelou quão grande é o amor de Deus, a ponto de não encontrar palavras humanas para
expressar esse sentimento divino. Dizer “de tal maneira” significa que não houve termo na língua
que Cristo falou, para demonstrar o amor de Deus. “Nisto está a caridade: não em que nós
tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos
nossos pecados” (1 Jo 4.10); o termo caridade denota o amor na prática, em ação. S. Paulo
recebeu grande revelação do amor de Deus, quando escreveu aos efésios: “Mas Deus, que é
riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos
em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” – Ef 2.4,5.

A maior expressão do amor de Deus concretizou-se no Calvário, quando Seu Filho, Jesus,
morreu em nosso lugar. “Conhecemos a caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós
devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3.16); “Deus é caridade” (1 Jo 4.8). O amor de Deus, no
NT, é expresso na palavra ágape (gr.), que é o amor sublime, superior ao amor humano, em suas
formas mais belas, como o amor philo (gr.), que implica em doação de algo em favor do próximo,
principalmente dos carentes de bens materiais. Daí, a palavra filantropia. Só o amor de Deus, no
coração de uma pessoa, faz com que ela ame a seu próprio inimigo, como Cristo ordena em Mt
5.44.

Segundo Strong 62, o amor de Deus “não deve ser confundido com misericórdia e bondade
para com suas criaturas. Estas são suas manifestações e devem ser denominadas amor
transitivo”. De outro lado, Bancroft 63 inclui a Misericórdia e a Graça de Deus como manifestações
do amor de Deus. Para esse autor, “O amor é aquele atributo de Deus pelo qual Ele se inclina a
buscar os melhores interesses de Suas criaturas e a comunicar-se a elas, a despeito do sacrifício
que nisso está envolvido, ou, como definição alternativa, o amor de Deus é Seu desejo pelo bem
estar desses seres amados e o deleite que tem nisso”.

Tomásio (apud Strong, p. 392), nos dá um profundo conceito de amor, ainda que não seja
uma definição precisa: “No verdadeiro sentido da palavra, o amor é a viva boa vontade com
impulsos de comunicação e união; auto-comunicação (bonnum communicavun sui); devoção que

62
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 392-94.
63
E.H. BANCROFT, Teologia Elementar, p. 72.
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surge do ego num outro, para permear, encher, abençoar este outro consigo mesmo, e com este
outro, como no eu do outro, a fim de que possua a si mesmo sem abandonar a si mesmo ou
perder-se a si mesmo”. Com esse entendimento, Tomásio quer dizer que o amor só pode existir
na pessoalidade. Deus ama pois Ele é pessoa. E ama de modo absoluto, por ser absoluto, infinito,
perfeito.

Chafer 64 afirma que “Deus não obteve o amor, nem Ele por qualquer esforço mantém o
amor; o amor é a estrutura do seu ser. Deus é a fonte inesgotável do amor... Como nenhuma
outra virtude, o amor é a motivação primária em Deus, e para satisfazer o seu amor, toda a
criação foi formada”. Diz Chafer que o amor divino não começou a existir somente quando suas
criaturas foram criadas, mas que Ele já previra em si o seu amor para com elas. Porém, quando o
mal sobreveio à criação de Deus, houve um conflito “dentro dos atributos de Deus”. “A santidade
condena o pecado enquanto que o amor de Deus procura salvar o pecador” (ibdem, p. 230).

3) A verdade de Deus

“É o atributo da natureza divina em virtude do qual o ser de Deus e o conhecimento de


Deus conformam-se eternamente um com o outro” ... “A verdade de Deus não é simplesmente um
atributo da natureza divina. Deus é verdade, não só no sentido de que ele é o ser que
verdadeiramente conhece, mas também no sentido de que ele é a verdade conhecida. O passivo
precede o ativo; a verdade do ser precede a verdade do conhecer” (Strong, p. 388). Porque Deus
é a verdade, o homem pode confiar na sua revelação, através da Sua palavra.

A Bíblia nos fala acerca da verdade, ou da veracidade de Deus. “Deus não é homem para
que minta...” (Nm 23.19); “aquele que aceitou o testemunho, esse confirmou que Deus é
verdadeiro” (Jo 3.33); “... é impossível que Deus minta” (Hb 6.18).

Por causa da verdade de Deus, nós podemos confiar em Sua Palavra. Enquanto o que o
homem diz, mesmo bem intencionado, pode falhar, a palavra de Deus não falha. “A palavra de
Deus permanece para sempre” (Is 40.8);

4) Fidelidade de Deus

Deus é fiel! Esta é uma das mais ouvidas afirmações, nos dias presentes. É o slogan de
algumas igrejas, em seu marketing evangelístico. É a palavra que sai como um grito de vitória da
boca de muitos cristãos, quando são galardoados com bênçãos do Senhor. A fidelidade de Deus é
o atributo pelo qual Ele cumpre todas as suas palavras e suas promessas. Está intimamente
ligado ao atributo de sua verdade. Fidelidade e verdade são inseparáveis, principalmente em se
referindo à pessoa de Deus.

Diz S. Paulo: “Fiel é Deus” (1 co 1.9); “Fiel é o que vos chama” (1 Ts 5.24); Ele disse a
Jeremias: “Ainda veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Que é que vês, Jeremias? E eu disse:
Vejo uma vara de amendoeira. E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha
palavra para a cumprir” (Jr 1.11,12).

Deus comprova a sua fidelidade para com o seu povo, mediante o cumprimento de suas
promessas: “Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e
a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt 7.9). Diz o
salmista: “Tu confirmarás a tua fidelidade até os céus” (Sl 89.2). Moisés escreveu: “Deus não é
homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não
o faria? Ou falaria e não o confirmaria?” (Nm 23.19). Deus não muda os seus desígnios: “Se
formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13).

64
Lewis Sperry CHAFER, Teologia Sistemática, p. 229-30.
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5) Misericórdia, a graça e a e Bondade de Deus

“Misericórdia é o principio eterno da natureza de Deus qu o leva a buscar o bem temporal e


a salvação eterna dos que se opuseram à vontade dele, mesmo a custo do sacrifício próprio” 65
(grifo acrescentado). “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos;
porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).

Bancroft 66 diz que a misericórdia era mais enfatizada no Antigo Testamento, enquanto a
graça é mais apresentada no Novo Testamento. E que misericórdia é também sinônimo da
longanimidade de Deus. A misericórdia de Deus é a manifestação do seu sentimento para com os
que se acham angustiados, em miséria, seja pelo pecado, seja pelo sofrimento. A misericórdia de
Deus age no sentido de livrar o sofredor de seus problemas.

A Bíblia diz: “Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade”


(Sl 103.8); “Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia” (Sl 145.8);

A graça de Deus , ao lado da misericórdia, é um dos maiores traços de sua personalidade,


em relação ao homem pecador. Há quem diga que não há como definir bem o termo graça.
Segundo Champion (apud Brancfoft, p. 78), “A graça é amor operando a redenção; amor que
persiste apesar do pecado; amor descendo ao nível do indigno culpado”.

“A graça de Deus é Seu favor não merecido, contrário ao merecimento, mediante o qual a
penalidade merecida é conseqüente e suspensa, e todas as bênçãos são concedidas ao crente
arrependido” 67. A palavra graça vem do grego, charis, que tem o significado de favor sem
merecimento. A graça é a característica principal da era da Igreja, ou da Dispensação da Graça.

Está escrito: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom
de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9); “Porque a graça de Deus se
há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11);

A bondade de Deus. Segundo Strong 68 “Bondade é o princípio eterno da natureza de


Deus, que o leva a comunicar sua própria vida e bênção aos que são semelhantes a ele no
caráter moral. Bondade, portando, é quase idêntica ao amor da complacência; misericórdia ao
amor da benevolência”. Deus é bom, no sentido absoluto.

Diz a Bíblia: “Verdadeiramente, bom é Deus para com Israel, para com os limpos de
coração” (Sl 73.1); “E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que
é Deus” (Mc 10.1).

6) A Paciência de Deus (longanimidade)

Deus é paciente. É o mesmo que dizer que Ele é longânimo, diante de suas criaturas,
cheias de pressa, precipitações, e desespero. Longanimidade é a paciência para suportar as
ofensas. Nesse aspecto, Deus é perfeitamente longânimo em sua natureza.

A Bíblia nos revela esta característica de Deus. “Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de
compaixão, e piedoso, e sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Sl 86.15). Ele um
Deus “sofredor”, que suporta as afrontas e as transgressões dos pecadores. “O Senhor é
65
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 431.
66
E.H. BANCROFT, Teologia Sistemática, p. 77.
67
Ibid., p. 78.
68
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 432.
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longânimo e grande em beneficência, que perdoa a iniqüidade e a transgressão” (Nm 14.18). Se


não fosse a longanimidade de Deus, os pecadores não teriam tanto tempo para arrependimento.
Mas Ele não é o homem, que procura resolver as questões com pressa. Sua paciência o faz
esperar pela humanidade. Ele parece retardar sua vinda, mas é por sua longanimidade para que o
maior número de pessoas seja salvo: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a
têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que
todos venham a arrepender-se” ... “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor...” (2
Pe 3.9,15a).

7) Retidão e Justiça de Deus

Há teólogos, como Bancroft 69 que consideram a justiça e a retidão como aspectos da


santidade de Deus. Aqui, preferimos tratá-las como atributos distintos, embora intimamente
ligados à santidade, como a outros atributos.

“A retidão de Deus é a imposição de leis e exigências retas; podemos chamá-la de


santidAde legislativa. Nesse atributo, vemos revelado o empenho de Deus pela santidade que
sempre o impele a fazer e a exigir o que é reto” (ibidem, p. 69).

Segundo Bancroft, “A Justiça é a execução da retidão”. “É a execução das penalidades


impostas por suas leis. Essa pode ser chamada de santidade judicial. Nesse atributo, vemos
revelado Seu ódio contra o pecado, uma indignação tal que, livre de toda paixão ou capricho,
sempre o impele a ser justo e a exigir o que é justo”.

Horton 70 afirma que “Na Bíblia, a retidão é vista segundo um padrão ético ou moral”.
Strong (ibidem) afirma que “Santidade transitiva, como retidão, impõe a lei na consciência e na
Escritura e pode ser chamada santidade legislativa. Como justiça, executa as penas da lei e pode
ser chamada santidade distributiva ou judicial. Na retidão, Deus revela principalmente seu amor
de santidade; na justiça, principalmente sua aversão ao pecado”.

Na Bíblia, vemos a justiça e a retidão de Deus sendo retratadas em diversas ocasiões.


“Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Sl 145.7). “Por
isso, o Senhor vigiou sobre o mal e o trouxe sobre nós; porque justo é o Senhor, nosso Deus, em
todas as suas obras, que fez, pois não obedecemos à sua voz” (Dn 9.14). A justiça e a retidão de
Deus não estão dissociadas do seu amor e de sua bondade. “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9);
“O Senhor faz justiça e juízo a todos os oprimidos” (Sl 103.6). Com sua Justiça, Ele recompensa
os justos: “Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho da caridade
que, para com o seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis” (Hb 6.10).
É Deus quem justifica o pecador: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm
3.23,24).

VI - A TRI-UNIDADE DE DEUS

Refere-se à Doutrina da Trindade. Sem dúvida, é um dos pontos mais polêmicos, em


relação à pessoa de Deus. As seitas heréticas procuram usar a doutrina da Trindade como ponto
de partida para combater as igrejas que são trinitarianas. Mas, na Bíblia, as afirmações e

69
E.H. BANCROFT, Teologia Sistemática, p. 69.
70
Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática, p. 140.
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evidências corroboram a convicção desse entendimento bíblico-teológico. Strong 71 afirma que “Na
natureza de Deus há três distinções eternas que se nos representam sob a figura de pessoas e
estas três são iguais. Esta tripessoalidade de Deus é uma verdade exclusiva da revelação. Faz-se
claramente, apesar de não formalmente conhecida no Novo Testamento e podem achar-se
indicações dela no Velho Testamento. A doutrina da Trindade pode expressar-se nas seguintes
seis afirmações: 1. Há na Escritura três que são reconhecidos como Deus. 2. Estes três são
descritos de tal modo que somos compelidos a concebê-los como pessoas distintas. 3. Esta
tripessoalidade da natureza divina não é simplesmente econômica e temporal, mas imanente e
eterna. 4. Esta tripessoalidade não é triteísmo; pois, conquanto haja três pessoas, há apenas uma
essência. 5. As três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais. 6. Inescrutável, embora não
auto-contraditória, esta doutrina fornece a chave de todas as outras doutrinas”.

Segundo Grudem 72, “A doutrina da Trindade é uma das mais importantes da fé cristã.
Estudar os ensinos da Bíblia sobre a Trindade nos traz grande luz sobre a questão que é o centro
de tudo o que procuramos em Deus: o que Deus é em si mesmo? Aqui aprendemos que em si
mesmo, em seu verdadeiro ser, Deus existe nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

“O termo Trindade não se encontra na Escritura, apesar de que o conceito que ela
expressa é escriturístico. Atribui-se a invenção do termo a Tertuliano” ... “O termo ‘Trindade’ não é
metafísico; é apenas a designação de quatro fatos: 1) O Pai é Deus; 2) O Filho é Deus; 3) o
Espírito Santo é Deus; 4) Há um só Deus”. Park (citado por Strong, p. 453), diz: ”Por um lado a
doutrina da Trindade não afirma que as três pessoas estão unidas numa pessoa, ou três seres
num só ser, ou três deuses num só Deus (triteísmo); nem, por outro lado, que Deus simplesmente
se manifesta em três diferentes modos (trindade modal, ou de manifestações); mas, ao invés
disso, que há três eternas distinções na substâncias de Deus”. Sobre a Trindade, diz Joseph
Cook (citado por Strong): “Pai, Filho e Espírito Santo são um Deus; cada um tem a peculiaridade
incomunicável aos outros; nenhum é Deus sem os outros; cada um, com os outros é Deus”.

1. FORMULAÇÃO HISTÓRICA DA DOUTRINA DA TRINDADE

Segndo Horton 73 , nos quatro primeiros séculos da Igreja Cristã, o conceito cristológico do
Logos dominava as discussões teológicas. Quem seria o Logos? João, em seu evangelho,
respondia que era Cristo. Mas muitos tinham dúvidas a respeito do assunto. Havia pouco
entendimento quanto às duas naturezas de Cristo: divina e humana. Mas Deus permitiu que
homens sinceros, e até equivocados, estudassem o mistério da Trindade.

1) A contribuição de Irineu

Irineu, bispo de Lião, na Gália, era um estudioso próximo da era apostólica. Escreveu uma
obra Contra Heresias, em defesa da ortodoxia cristã. Combateu o politeísmo e o gnosticismo. Este
entendia que Cristo não era divino, mas um intermediário entre Deus e o Homem. Os docetistas
negavam a plena humanidade de Cristo, afirmando que nascimento e sua morte foram apenas
aparentes, e não reais. Irineu os combateu, insistindo que Jesus era “Filius dei filius hominis
factus: (O Filho de Deus tornou-se filho do homem), e Jesus Christus vere homo, vere deus:
(Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus). Sua teologia tinha os rudimentos do
trinitarianismo, mas pôde ser criticada pelos monárquicos ou unicistas, pois admitia que a relação
de Cristo com Deus era apenas no contexto da economia (plano) da salvação. 74.

71
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 453.
72
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 109.
73
Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática, p. 165.
74
Ibid., p 167.
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2) A contribuição de Tertuliano

Foi considerado o “bispo pentecostal de Cartago” (160-230). Lançou as bases da ortodoxia


trinitariana. Enfrentou um certo Praxeas, que ensinou uma doutrina chamada patripassianismo,
segundo a qual o Pai foi crucificado pelo mundo, numa visão monarquista, unicista-modalista. À
semelhança de Irineu, admite a “Trindade econômica”, mas “enfatiza a unidade de Deus, ou seja:
que existe uma só substância divina, um só poder divino, sem separação, divisão, dispersão ou
diversidade; há, porém, uma distribuição entre as funções, uma distinção entre as pessoas” 75.

3) A contribuição de Orígenes

Alexandria tornou-se o centro intelectual do mundo greco-romano. Escolas de teologia


cristãs floresceram na metrópole, dando lugar à “escola alexandrina”. Orígenes (185-254)
ultrapassou o conceito econômico da Trindade, de Irineu e Tertuliano, e avançou em direção a
uma doutrina ortodoxa mais consistente. Ele “propôs sua doutrina da geração eterna do Filho
(chamada filiação). Ligava essa geração à vontade do Pai. A conclusão da doutrina da filiação
aconteceu não somente pelas designações “Pai” e “Filho”, mas também pelo fato de o Filho ser
chamado, de modo consistente ‘ o Unigênito’ (Jo 1.14, 18; 3.16, 18; 1 Jo 4.9)” 76.

De acordo com Orígenes, o Filho é gerado eternamente pelo Pai, nunca estando sem Ele
(o Filho). Para Orígenes, O Filho é Deus, mas subsiste como pessoa distinta do Pai. Mais tarde , a
doutrina da Trindade afirmava (e afirma) que Deus subsiste em três Pessoas, e não em três
partes, ou três modos, como ensinam os modalistas. Ele usou duas expressões teológicas sobre o
relacionamento do Pai com o Filho: homoousios to patri: “de uma só substância com o Pai”, e
hypostases, com o significado de “distinção de Pessoas dentro da Deidade”. Daí, o conceito de
unidade na pluralidade, e pluralidade na unidade, em relação à Trindade. Mas, a doutrina de
Orígenes dava a entender a subordinação do Filho ao Pai. Mas explicou que “O Filho submete-se
á vontade do Pai e executa seu Plano (oikonomia), mas não é por isso inferior ao Pai na sua
natureza” 77. Os monarquistas se aproveitaram dessa dificuldade entre a unidade em substância,
mas distinção entre pessoas, e atacaram as idéias de Orígenes.

2. CONTROVÉRSIAS TEOLÓGICAS E HERESIAS A RESPEITO DA TRINDADE

Nos primórdios do cristianismo, a doutrina da Trindade sofreu terríveis ataques heréticos. A


partir da revelação de que Deus é um só Deus, no AT, houve discussões e debates duradouros
sobre a existência da Trindade. O termo Elohim foi o ponto de partida para o estudo desta
importante doutrina bíblica. Mas sua aceitação, até hoje, tem sido motivo de controvérsias
acirradas. Os judeus nunca aceitaram a Trindade. Seria admitir a divindade de Cristo. E eles até
hoje não conseguiram assimilar essa verdade. Para os judeus, só há um Deus, no singular,
baseados no que diz o AT: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). S.
Paulo diz: “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos” (1
Co 8.6 a). Como vimos, no entanto, a Bíblia admite a pluralidade na unidade (Elohim, plural de
Eloá). Heresias apareceram, que são as raízes de muitas falsas doutrinas, pregadas nos dias
presentes.

1) MONARQUISMO DINÂMICO

75
Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática p. 169.
76
Ibid., p. 168.
77
Ibid., p. 169.
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Segundo essa falsa doutrina, também chamada de Monarquismo Unitariano ou


Mornarquismo Adocionista, ou Monarquismo Ebionita, não haveria lógica em uma Trindade
pessoal. Deus seria o monarca, o “Único”. Para seus adeptos o Logos (Jo 1.1) não seria Cristo.
Seus defensores foram chamados de Alogi. Para eles, Cristo “não era Deus desde toda a
eternidade, mas que se tornara Deus em certo momento do tempo”... “ a exaltação do Filho
ocorreu, pois, no momento do seu batismo quando, então, foi ungido pelo Espírito”, e que Cristo
se tornou Filho adotivo de Deus (Adocismo), mas não seria o Filho eterno de Deus 78. Ensinavam
que Cristo “foi exaltado progressivamente, ou dinamicamente, à condição da Deidade”, e que seu
relacionamento com Deus era moral, e não em termos de existência, não sendo, assim, igual a
Deus.

2) MONARQUISMO MODALÍSTICO

É uma variante do monarquismo, que concebia o Universo como uma unidade, que se
manifesta de vários modos. Utilizavam uma analogia com o sol e de seus raios. Os raios são da
mesma essência do sol, mas não são o sol. Jesus seria “o raio” mais próximo de Deus, mas não
seria Deus. Jesus era visto como “uma emanação de primeira ordem da parte do Pai, reduzindo-o
a um nível abaixo do Pai no tocante à natureza de sua existência ou essência”, ainda que superior
aos anjos e ao homem. 79

a) Sabelianismo

Sabélio, teólogo cristão, que viveu no Séc. III D.C., nascido na Líbia, foi o principal
defensor do modalismo monárquico. Sua doutrina herética chamava-se sabelianismo. Ensinava
que só há um Deus (unicismo), e que Este se manifesta de três modos (modalismo) ou
manifestações temporárias. A Trindade era rejeitada por ele, pois seria uma forma de triteísmo, ou
politeísmo. Queria defender o monoteísmo, e terminou formulando uma heresia perigosa contra a
essência da natureza de Deus. Foi condenado à morte em 268, no Concílio de Antioquia 80.

“Tertuliano criticou essa idéia de forma bastante crua, sugerindo que a mesma expõe uma
espécie de Deus que ser veste com várias casacas , ora uma , ora outra... O modalismo começou
como um movimento asiático, na pessoa de Noeto de Esmirna. Dali a idéias imigrou para Roma,
tendo sido absorvida nas explicações de Noeto, Epógono, Cleômenes e Calixto” 81.

Sobre o modalismo, Grudem acentua que “Em várias ocasiões tem sido ensinado que
Deus não é realmente três pessoas distintas, mas somente uma pessoa que aparece aos seres
humanos de diferentes ‘modos’ em ocasiões diferentes. Por exemplo, no AT, Deus aparece como
‘Pai’. No tempo dos evangelhos, essa mesma pessoa divina apareceu como o ‘Filho’, da forma
como foi visto na vida e ministérios humanos de Jesus. Após o Pentecostes, essa mesma pessoa
revelou-se então como o ‘Espírito’ em atividade na igreja”. 82

b) Arianismo

O nome dessa heresia vem de Ário, seu formulador, que era um Presbítero de Alexandria
(256-336 D. C.). Segundo Champlin 83 “Crê-se que nasceu na Líbia. Era diácono, quando foi
78
Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática, p. 170.
79
Ibid., p. 172.
80
Cf. Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática, p.172.
81
R. N. CHAMPLIN, & J. M. BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol 4., p. 328.
82
Wayne GRUDEM, Teologia Sistemática, p. 118.
83
R.N. CHAMPLIN, & J.M. BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.,Vol. 1, p. 272.
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excluído em 313, por Pedro, patriarca de Alexandria, por haver dado apoio aos pontos de vista
cismáticos de Melétio de Licópoles” e que foi restaurado por Aquiles, sucessor de Pedro,
tornando-se presbítero. Segundo Ário, Jesus era um ser criado, e não possuía a mesma
substância do Pai. Teve o apoio de Eusébio, bispo de Cesaréia e de outros líderes cristãos. “Com
isso, dividiu a Igreja no Oriente, deixando desolado o imperador Constantino. O imperador
convocou o Concílio de Nicéia, em 352, onde Ário foi anatematizado e banido”. Mas ele fez sua
defesa de modo tão brilhante, que impressionou o imperador. Este ordenou a Atanásio, o relator
do credo niceno, que restaurasse o herege Ário. Atanásio não concordou, pois era um defensor da
Trindade, e foi deposto pelo imperador. Ário morreu no mesmo dia em que ia ser restaurado pelo
bispo de Constantinopla. A doutrina de Ário pode ser resumida da seguinte maneira:

“1. Deus é ímpar e não-gerado (agennetos). Fora de Deus, tudo o mais foi criado ex-nihilo
(do nada), através da vontade de Deus. 2. O Logos (Cristo) é um intermediário entre Deus e o
homem. Ele começou antes do tempo, mas não seria eterno, o que significa que houve tempo em
que o Logos não existia, embora Deus já existisse. 3. Segue-se daí que o próprio Logos foi criado
por Deus (genetos). Ele também nasceu (gennetos) , o que aponta para a filiação por adoção. 4.
O Logos encarnado (Jesus cristo), é assim inferior a Deus, embora seja objeto próprio da
adoração, por causa de Sua elevada posição, estando acima de todas as demais criaturas. Nessa
exaltação, Ele é tanto Senhor quanto redentor” 84 .

Com base em textos bíblicos que afirmam ser Jesus o “Unigênito de Deus” (cf. Jô 1.14;
3.16,18; 1 Jo 4.9), Ário afirmava que Jesus fora “gerado” por Deus. Logo, não poderia ser igual a
Deus. Firmando-se em Cl 1.15, que diz que Jesus “é imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação”, os arianos insistiam que Cristo foi trazido a existência pelo Pai, assim como o
Espírito Santo, que não existiriam antes. Se Ele era “primogênito” (gr. Prototokos), teria que ter
sido gerado primeiro, não sendo eterno, portanto. Para os arianos Jesus seria “semelhante”
(homoisios – de natureza semelhante) ao Pai, e não homoousios (da mesma natureza) ao Pai.
Uma letra só faz toda a diferença. Sem semelhante não é ter a mesma natureza. Jesus seria,
assim, “subordinado” ao Pai; daí a doutrina do subordinacionismo, negada pela igreja primitiva.
Como veremos a seguir, o Concílio de Nicéia colocou os termos ortodoxos da doutrina da
Trindade em evidência, suplantando os entendimentos equivocados a respeito da mesma. A
lógica ariana impressiona a pessoas incautas, a ponto de, nos dias presentes, haver muitas
igrejas e seitas que adotam a doutrina unicista-modalista, que nega a divindade de Cristo.

3. A DOUTRINA ORTODOXA DA TRINDADE VENCE AS HERESIAS

Diante das doutrinas heréticas de Sabélio, Ário, Praxeas, e outros, foi convocado um
grande Concílio, em Nicéia. Cerca de trezentos bispos das igrejas Ocidental e Oriental estiveram
presentes em um concílio ecumênico, com o objetivo de definir a doutrina da Trindade, em
contraposição às heresias em torno do assunto.

Compareceram Ário, com o apoio de Eusébio de Nicomédia, os quais apresentaram um


documento com suas idéias. Insistiam que, se o Filho era “gerado”, e “Unigênito”, fora criado por
Deus, e não poderia ter a mesma substância do Pai. Como negavam a divindade de Cristo, o
documento foi rejeitado. Em defesa da ortodoxia, outro Eusébio, de Cesaréia, foi encarregado de
elaborar o documento, em nome da Igreja Oriental. Esse documento se tornou a base do Credo
de Nicéia.

O bispo Alexandre argumentou que a condição de Unigênito, conforme Jo 1.14, significa


que o Filho “procede” do Pai, compartilhando da mesma natureza divina. Atanásio, outro bispo,
defensor da divindade de Cristo, demonstrou que Cristo tem a mesma essência (homoousios) do
84
Ibid., p. 271.
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Pai, e não apenas semelhança (homoiousios) quanto à sua essência. Muitos não ficaram de seu
lado, e alguém lhe disse: “Atanásio, o mundo todo está contra você”. Ao que ele respondeu:
“Muito bem. Atanásio contra o mundo!”.

Ao final do Concílio de Nicéia, prevaleceu a escola Alexandrina. Ário foi excomungado e


condenado. Fez uma contra-argumentação, que impressionou o imperador Constantino, o qual
ordenou a Atanásio, que o restabelecesse. Atanásio recusou, e foi deposto pelo imperador. Ário
morreu, no dia em que estava para ser restabelecido, pelo bispo de Constantinopla.

Daquele Concílio, emanou o Credo Niceno, no qual Jesus Cristo é o “Filho Unigênito de
Deus; gerado pelo seu Pai antes da fundação do mundo, Deus de Deus, Luz de Luz, Verdadeiro
Deus de Verdadeiro Deus; gerado, não feito; consubstancial com o Pai”. 85

Tempos após, a Igreja entendeu que o termo “gerado” deveria ser substituído por
“procedido” , indicando a “subordinação salvífica do Filho ao Pai. O Filho procede do Pai. Um tipo
de primazia ainda é atribuída ao Pai com relação ao Filho, mas essa primazia não é cronológica; o
Filho sempre existiu como o Verbo. Mesmo assim, o Filho foi “gerado” pelo Pai ou “procedeu” do
Pai, e não o Pai do Filho... Daí, a “procedência” do Filho estar eternamente no presente, um ato
que perdura, nunca terminado ... A filiação do Filho, certamente, não é no sentido de ter sido
gerada outra pessoa com a sua divina essência, pois o Pai e o Filho são igualmente Deidade e,
portanto, da “mesma” natureza indivisível”. O Credo Niceno, ou o Credo de Atanásio afirma: “Um
só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade”; “O Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo
é Deus. E , porém, não são três deuses, mas um só Deus”. Estava definida a distinção entre o Pai
e o Filho, mas considerando a identidade divina entre eles.

Entre os anos 361 e 381, a doutrina da Trindade foi ampliada. No Concíclio de


Constantinopla, a pessoa do Espírito Santo foi entendido como procedente do Pai e do Filho (Jo
15.26), e que “subsiste pessoalmente desde a eternidade dentro da Deidade, sem divisão ou
mudança quanto à sua natureza (Ele é essencialmente homoousios com o Pai e o Filho)”. 86 “o Pai
é ingênito; o Filho é gerado; e o Espírito Santo procede dEles”. Dessa forma, “As distinções entre
os membros da Deidade não se referem à sua essência ou substância, mas ao relacionamento...
São, portanto, três, não na posição, mas no grau; não na substância, mas na forma, não no poder,
mas na sua manifestação”. 87

4. A TRINDADE NA BÍBLIA

Na Bíblia, encontramos referências claras quanto à deidade de cada uma das pessoas da
Trindade. Vemos a Trindade no batismo de Jesus: O Pai, exclamando do Céu: “ E eis que ruma
voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17); o Filho, sendo
batizado por João (Mt 3.16); e o Espírito Santo descendo sobre Ele: “E, sendo Jesus batizado,
saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele” (Mt 3.16); na fórmula do batismo: “Portanto, ide, ensinai todas as
nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19); na Bênção
Apostólica: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo
sejam com vós todos” (2 Co 13.13). Na declaração de Pedro: “segundo a presciência de Deus Pai,
em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1.2).

85
R. N. CHAMPLIN, & J. M. BENTES, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol 4, p. 176.
86
Ibid., p. 177.
87
Ibid., p. 177.
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1) O Pai é reconhecido como Deus

Quanto a essa verdade bíblica, não há grande discussão entre os teólogos. Deus é Deus.
O Pai é Deus. As referências bíblicas são exaustivas a esse respeito. “Deus nunca foi visto por
alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” (Jo 1.18); “Por isso, pois,
os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também
dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18); “Trabalhai não pela
comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do
Homem vos dará, porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.27); “todavia, para nós há um só
Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos” (1 Co 8.6); ver 1 Co 15.24; 2 Co 6.18;
11.31; Gl 1.1,4 ; Ef 1.3, 17; 4.6; Fp 2.11; 4.20; 1 Ts 1.1; 3.11, 13; 2 Ts 2.16; Tg 1.27; 1 Pe 1.3, 17;
1 Jo 3.1; 4.14; 2 Jo 1.3; Ap 1.6; 14.1. Há outras referências que podem ser consultadas.

2) Jesus é reconhecido como Deus

Ao contrário do que ensinam algumas seitas, Jesus não é apenas uma pessoa criada por
Deus, mas Ele é Deus, sendo distinção eterna na substância de Deus. No Novo Testamento,
encontramos algumas indicações bem claras sobre essa verdade bíblica.

No evangelho de João: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus” (Jo 1.1). Quem estava com Deus? O Verbo. Quem era Ele? Ele era Deus. Ele era o
Verbo que “se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do
Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14), como João afirmou, acerca de Jesus. Após a sua
ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos, e Tomé exclamou, ao ver Jesus: “Senhor meu, e
Deus meu!” (Jo 20.28). “e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é
o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5.20); “aguardando a bem-aventurada esperança me o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo
por nós, para nos remir de toda iniqüidade” (Tt 2.13,14 a); Paulo diz que, em Cristo, “habita
corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9); “Porque há um só Deus e um só mediador
entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2.5)

3) O Espírito Santo é reconhecido como Deus

Em diversas partes das Escrituras, o Espírito Santo é apresentado como Deus.

“Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que
mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava
para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração?
Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3,4);

4) A Trindade e os atributos de Deus

Uma síntese bíblica pode ser vista, reunindo as três pessoas da Trindade, demonstrando
que cada uma tem os atributos da outra, indicando que cada uma É Deus.

Eternidade: Do Pai: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes
que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a
eternidade, tu és Deus”; Do Filho: “estava no princípio com Deus” (Jo 1.1); Ele é “o Alfa e o
Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir”; “Não temas; eu sou
o Primeiro e o Último” (Ap 1.8, 17); Do Espírito Santo: “quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9.14).

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Poder: Do Pai: “Eu sou o Deus Todo-poderoso” (Gn 17.1); do Filho: “E, chegando-se
Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18); do Espírito:
“pelo poder dos sinais te prodígios, na virtude do Espírito de Deus” (Rm 15.19);

Onisciência: Do Pai: “Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo
conheces” (Sl 139.4); Do Filho: “Isto diz o Filho de Deus... eu sou aquele que sonda as mentes e
os corações” (Ap 2.18, 23); Do Espírito Santo: “Assim também ninguém sabe as coisas de Deus,
senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.11).

Onipresença: Do Pai: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?”
(Sl 139.7); “Sou eu apenas Deus de perto, diz o SENHOR, e não também Deus de longe?
Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura,
não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor” (Jr 23.23,24); Do Filho: “Porque onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18.20); Do Espírito Santo:
“Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” (Sl 139.7).

Santidade: Do Pai: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos
sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2); Do Filho: “Mas vós negastes o
Santo e o Justo...” (At 3.14); Do Espírito Santo: O Seu Nome é Santo em toda a Escritura.

Verdade: Do Pai: “Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando e dizendo:... mas aquele
que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis” (Jo 7.28); Do Filho: “Isto diz o que é
santo, o que é verdadeiro” (Ap 3.7); Do Espírito Santo: “E o Espírito é o que testifica, porque o
Espírito é a verdade” (1 Jo 5.6).

5) A Trindade e as obras de Deus

a) Na Criação do Universo: Do Pai é dito: “Desde a antiguidade fundaste a terra; e os céus


são obra das tuas mãos” (Sl 102.25); De Cristo, é dito: “Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3); “E ele é antes de todas sas coisas, e todas as
coisas subsistem por ele” (Cl 1.17); Do Espírito Santo é dito: “o Espírito de Deus se movia sobre a
face das águas” na Criação (Gn 1.2); no princípio de tudo, vemos que Elohim, que é a pluralidade
na unidade de Deus, e a unidade na pluralidade, estava realizando as obras da Criação, cada um
com sua função, mas em uma unidade perfeita e divina.

b) Na Criação do homem: De Deus, o Pai, está escrito: “E formou o Senhor Deus o


homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma
vivente” (Gn 2.7); De Cristo, o Filho, está escrito: “porque nele foram criadas todas as coisas que
há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados,
sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16); Do Espírito está escrito: “O Espírito
de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida” (Jó 33.4).

c) Na Encarnação: A trindade estava presente na encarnação. O Espírito Santo gerou o


Filho; Este nasce no ventre da Virgem Maria; Deus, o Pai, envia o anjo Gabriel para anunciar o
nascimento de Jesus; Deus lhe dá o trono de Davi (Lc 1.26-32).

d) Na honra devida a Deus. Deus tem a honra em si mesmo; Jesus recebe a honra devida
ao Pai: “que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (Jo 5.23); O Espírito Santo recebe a
honra do Pai: “Vós sois o templo de Deus... o Espírito de Deus habita em vós” (1 Co 3.16), e isto
é dito para que haja honra e adoração a Deus.

Há muitas outras passagens bíblicas que demonstram a divindade de cada uma das três
pessoas da Trindade, respeitadas as distinções de cada uma delas, a unidade na pluralidade, e a
pluralidade na unidade de Deus.

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VII – O DECRETO DE DEUS

É também chamado de “O Conselho de Deus”, ou “o Plano de Deus”. Refere-se


aos propósitos de Deus em relação aos homens, ao universo, e a todas as coisas, e, de
modo especial, à salvação dos homens.

1. EM RELAÇÃO AO UNIVERSO

Segundo Brancroft 88, “Esse plano compreende todas as coisas que já foram ou serão;
suas causas, condições, sucessões e relações, e determina sua realização certa. O Plano de
Deus inclui tanto o aspecto eficaz como o aspecto permissivo da vontade de Deus. Todas as
coisas estão incluídas no plano de Deus, porém algumas Ele as origina e outras Ele as permite.
No aspecto eficaz do plano de Deus incluímos aqueles acontecimentos que Ele resolveu efetuar
por meio de causas secundárias ou pela sua própria agência imediata. No aspecto permissivo de
Deus, incluímos aqueles acontecimentos que Ele resolveu permitir que fossem efetuados por
livres agentes”. Nessa conceituação, vemos a vontade diretiva (ou decretatória), e a vontade
permissiva de Deus.

Concordamos perfeitamente quanto ao Decreto divino, no seu aspecto amplo e geral, em


relação ao universo e às coisas criadas, bem como aos acontecimentos que ocorrem, seja por
vontade diretiva, seja por vontade permissiva de Deus. A Bíblia tem inúmeras referências que
corroboram esse entendimento. “Este é o conselho que foi determinado sobre toda esta terra; e
esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o
determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?”
(Is 14.26,27); “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu. A tua fidelidade estende-
se de geração a geração; tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo
se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem” (Sl 119.90-91).

2. EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS, COMO AGENTES LIVRES

Neste aspecto, há desde a muitos séculos, grandes discussões teológicas sobre a


intervenção de Deus na vontade do homem, segundo seu decreto, sobretudo no que tange à
salvação. De um lado, há os que crêem firmemente que Deus predestinou algumas pessoas para
serem salvas, e outras, para serem condenadas. Dentre os ensinos teológicos sobre os decretos
de Deus em relação aos homens, destacamos os seguintes:

1) CALVINISMO

É a doutrina formulada por João Calvino (1509-1564). Foi teólogo protestante francês
formou-se em filosofia na Universidade de Paris. Estudou direito, mas não se dedicou à vida
jurídica. Mudou-se para a Suíça, onde escreveu sua grande obra Institutas. Sua doutrina pode ser

88
E.H. BANCROFT, Teologia Elementar, p. 82.
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resumida em cinco pontos: (1) Total depravação. O homem natural não tem condição de entender
as coisas de Deus; Jamais poderá salvar-se, a menos que Deus lhe infunda a fé. Sua depravação
faz parte de sua natureza (Jr 13.23; Rm 3.10-12; 1 Co 2.14; Ef 1.3); (2) Eleição incondicional.
Ensina que Deus elegeu somente alguns para serem salvos; Cristo morreu apenas pelos eleitos
(Mt 1.2,3; Jo 6.65; At 13.48; Rm 8.29; Ef 1.4,5; 1 Pe 2.8,9); (3) Expiação limitada (ou particular). A
salvação, ainda que para todos (sic!), só é alcançada pelos eleitos (Jo 17.6,9,10; At 20.28; Ef
5.25; Tt 3.5); (4) Graça irresistível. Para os eleitos, a graça é irresistível. Mesmo que pequem,
serão salvos; para os não-eleitos, a graça não lhes alcança; mas agem livremente (J3.3.3; 5.24;
Ez 11.19,20; 1 Co 4.7; 2 Co 5.17; Ef 1.19,20; Hb 12.2). (5) Perseverança dos salvos. O Espírito
Santo faz com que os eleitos perseverem. Não são eles quem têm a decisão de perseverar. Eles
não podem perder a salvação. É impossível um eleito se perder (Is 54.10; Jo 6.51; Rm 5.8-10;
8.28,32, 34-39; Fl 1.6; 2 Ts 3.3; Hb 7.25). Essas referências são usadas pelos calvinistas para
fundamentarem a doutrina da predestinação absoluta.

Strong 89 afirma que “Os decretos de Deus podem ser divididos em: relativos à natureza, e
aos seres morais. A estes chamamos preordenação, ou predestinação; e destes decretos sobre
os seres morais há dois tipos: o decreto da eleição e o da reprovação...”.

A visão de Strong é calvinista. Admite que Deus predestina uns para serem salvos,
queiram ou não; e outros, para a perdição eterna, queiram ou não. Parece-nos que essa doutrina
contraria diversos atributos de naturais de Deus, tais como o da justiça, do amor, e da bondade
divinos. A Bíblia diz : “Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores,
o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas”
(Dt 10.17); “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção
de pessoas” (At 10.34); “porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11).

O Deus que não faz acepção de pessoas também reprova quem o faz: “Meus irmãos, não
tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1);
“Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redargüidos pela lei como
transgressores” (Tg 2.9); “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças,
sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de
pessoas” (Ef 6.9). Assim, se Deus não faz acepção de pessoas, não podemos aceitar que alguns
já nasçam predestinados para a salvação, e outros, eleitos, já nasçam predestinados para a
salvação.

Strong, mesmo defendendo a predestinação, diz que “Nenhum decreto de Deus reza:
“Pecarás”. Porque 1) nenhum decreto é dirigido a você; 2) nenhum decreto sobre você diz: “você
fará”; 3) Deus não pode fazer pecar, ou decretar fazê-lo. Ele somente decreta criar, e ele mesmo
agir, de tal modo que você queira, de sua livre escolha, cometer pecado. Deus determina sobre os
seus atos prever qual será o resultado dos atos livres das suas criaturas e, deste modo, determina
os resultados”. (grifo acrescentado).

Ora, se Deus “não pode fazer pecar”, mas condena pessoas desde o ventre à condenação,
elas terão que pecar, para que se cumpra o decreto condenatório. Do contrário, se não pecarem,
como serão condenadas? Por outro lado, se as pessoas “de sua livre escolha”, podem cometer ou
não, o pecado, não vemos como harmonizar o livre-arbítrio com a doutrina da predestinação. De
fato, os que defendem a predestinação absoluta negam que Deus tenha dado livre-arbítrio ao
homem. Simplesmente, os homens se comportariam como se fossem marionetes do Destino,
traçado por Deus. Nos parece que a predestinação absoluta equivale ao fatalismo dos árabes,
que dizem “maktub”, “está escrito”. Sua aceitação conflita com os atributos morais de Deus, de
bondade, amor, e justiça. Por mais que os teólogos defensores dessa doutrina argumentem,
buscando embasamento bíblico, jamais poderão convencer que Deus discrimina uns em
detrimento de outros, com base no caráter de Deus, revelado nas escrituras sagradas.

89
Augustus H. STRONG, Teologia Sistemática, p. 525.
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2) ARMINIANISMO

Doutrina pregada por Jacobus Arminius (1560-1609). Foi sucessor de Calvino, e concluiu
que o teólogo francês se equivocara. Sua doutrina também pode ser resumida em cinco pontos:
(1) A predestinação de Deus é condicional (e não absoluta). Deus escolheu baseado em sua
presciência. Qualquer pessoa que crê pode ser salva (Dt 30.19; Jo 5.40; Tg 1.14; 1 Pe 1.2; Ap
3.20); (2) A expiação é universal. O sacrifício de Jesus foi em prol de todos os pecadores. Mas só
os que crêem nEle serão salvos (cf. Jo 3.16; 12.32; 17.21; 1 Tm 2.3,4; 1 Jo 2.2); (3) Livre-arbítro.
O pecado passou a todos os homens, mas as pessoas podem crer, arrepender-se, a aceitar a
Cristo como Salvador (Is 55.7; Mt 25.41,46; Mc 9.47,48; Rm 14.10, 12; 2 Co 5.10). (4) O pecador
pode eficazmente rejeitar a graça de Deus. Deus deseja salvar o pecador, e tudo provê para que
ele alcance a salvação. Mas, sendo eles livres, podem rejeitar os apelos da graça. (Lc 18.23;
19.41,42; Ef 4.30; 1 Ts 5.19). (5) Os crentes em Jesus podem cair da graça. Se o crente, uma vez
salvo, não vigiar e orar (Mt 26.41), e não buscar a santificação (Hb 12.14; 1 Pe 1.15), poderá cair
da graça e perder-se eternamente, se não tiver oportunidade de reconciliar-se com Deus. Por
isso, Jesus disse que “perseverar até ao fim será salvo” (Mt 10.22; ver também Lc 21.36; Gl 5.4;
Hb 6.6; 10.26,27; 2 Pe 2.20-22). A doutrina arminiana nos parece coerente com o plano de Deus
para com os homens, como seres livres. Podem aceitar, ou podem rejeitar a graça de Deus. Só
sendo livres, é que se justifica a semelhança moral do homem com seu Criador. E, também, a
única interpretação que se coaduna com o ser de Deus, e seu caráter, revelado na Bíblia
Sagrada.

3) UNIVERSALISMO

Essa doutrina ensina que todos os homens serão salvos, e que até os anjos caídos e o
diabo também serão redimidos. Interpretam erroneamente At 3.21, Rm 8.18-25; 1 Co 15.24-26; 2
Pe 3.13). Deus amou o “mundo”, ou seja a todos os pecadores, mas o alcance da salvação só se
concretiza para aqueles que crêem. A salvação está à disposição de todos. Mas só os que crêem,
arrependem-se e obedecem é que são salvos.

Posicionamento doutrinário

Segundo Horton 90 se a graça de Deus é irresistível, como enfatizou Calvino, “os incrédulos
pereceriam, não por não quererem corresponder, mas por não poderem. A graça de Deus não
seria eficaz para eles. Nesse caso, Deus pareceria mais um soberano caprichoso que brinca com
seus súditos que um Deus de amor e graça. Sua promessa: “todo aquele que quer” seria uma
brincadeira de inigualável crueldade, pois Ele é quem estaria brincando. Mas o Deus e Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo não brinca conosco”. Entendemos que a interpretação arminiana é a
mais consentânea com o caráter de Deus, que é ao mesmo tempo justo, soberano, bom, e que
não faz acepção de pessoas.

Quanto aos decretos de Deus em relação aos seres livres, deixamos para analisar mais
profundamente, no módulo sobre a doutrina da salvação.

CONCLUSÃO

A Doutrina de Deus não nos dá condições de conhecê-lo plenamente. É impossível. A


mente finita jamais abarcará o Deus infinito. Porém, com seu estudo, podemos perceber o que a

90
Stanley M. HORTON, Teologia Sistemática, p. 366-7.
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Bíblia nos revela acerca do Todo-Poderoso. E compreender que Ele é ao mesmo tempo imenso,
absoluto, eterno, onipotente, onisciente, onipresente, e ao mesmo tempo, santo, justo e bom. Em
lugar de nos orgulharmos por conhecer um pouco mais que a maioria das pessoas acerca de
Deus, devemos nos humilhar ante Seus pés e Sua grandeza, e amá-lo com mais convicção, ao
mesmo tempo que precisamos mais amar seus servos, e até os que nEle não crêem.

BIBLIOGRAFIA
BANCROFT, E.H. Teologia Elementar. S. Paulo: IBR, 1979.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. S. Paulo: Hagnos, 2003.
CHAMPLIN, R. N.; BENTES J. M.; Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol. 4. São Paulo:
Candeia, 1995.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo, Editora Vida, 2001.
_____. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Vol 1. São Paulo: Candeia, 1995.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: JUERP, 1977.
STRONG, Augustus H. Teologia
Sistemática. S. Paulo: Editora Teológica, 2002.

Pr. Elinaldo Renovato de Lima Pá gina 46

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