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HISTÓRIA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Pastor Elinaldo Renovato de Lima

O Movimento Pentecostal, ao longo de sua história, tem passado pelos mais


variados testes. Na sua origem, puro, no Dia de Pentecostes, quando a Igreja Primitiva
recebeu o sopro divino de energia e poder sem igual; esse abençoado movimento tem
sofrido mudanças, mistificações, e deturpações, que o descaracterizam, em muitos
lugares e ocasiões, como um mover do Espírito Santo. Contudo, cremos que o Senhor
tem um propósito maravilhoso e objetivo com o Pentecostes, e que será alcançado no
kairós de Deus.

I - A ORIGEM DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

1. O MOVER DO ESPÍRITO NA BÍBLIA

1.1. ANTIGO TESTAMENTO - A promessa do Derramamento do Espírito

No Antigo Testamento, Deus prometeu derramar o Seu Espírito de modo


maravilhoso sobre Israel e sobre todas as nações, sobre pessoas de todas as idades,
de toda a condição social. (Jl 2.28,29; Is 44.3). No Novo Testamento, Jesus
proclamou essa gloriosa promessa em vários momentos em seu ministério (Mt 3.11; Jo
14.16,17; Lc 24.49; At 1.5-8).

1.2. NOVO TESTAMENTO - O cumprimento da promessa: A descida do Espírito


Santo

Sem dúvida alguma, o Movimento Pentecostal tem sua origem nos primórdios
da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando do cumprimento da promessa feita
através do profeta Joel, de que derramaria seu Espírito sobre toda a carne. E isso
começou a ocorrer de modo extraordinário, quando da descida do Espírito Santo, em
Jerusalém, após a ascensão de Cristo aos Céus (At 2. 1-21, 16-18, 37-38; e continuou
a se cumprir de modo eloqüente (At 8.17; 9.17; 10.44-48; 19.1-6 e refs.), com a
promessa de que haveria de alcançar

1) Evidências do Batismo com o Espírito Santo. A descida do Espírito Santo,


em cumprimento à promessa feita por Deus, no AT, ocorreu de forma clara e real,
quando os discípulos, cerca de 120, reuniram-se no Cenáculo, em Jerusalém. Diz o
texto: “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e
encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas
repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram
cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia que falassem” (At 2.1-4). O fenômeno de falar em “outras línguas”
chama-se “glossolalia”.

2) Poder para testemunhar o evangelho. Era o poder indispensável para a


Igreja levar a mensagem do evangelho por todo o mundo, a toda a criatura. Jesus lhes
exortou que permanecessem em Jerusalém, “até que do alto”, fossem “revestidos de
poder (Lc 24.49). Eles ficaram, em obediência ao Mestre. Mas, naquele dia de
Pentecostes (51° dia, após a comemoração da Páscoa pelos judeus). Naquele dia, o
revestimento do poder foi derramado sobre eles. Na Cidade, face à festa, havia nada
menos de 15 nações representadas pelos forasteiros que acorreram para lá, os quais
ouviam os discípulos de Jesus falar na língua de cada um (At 2.l7,8), de forma
sobrenatural, visto que para eles, os que falavam, eram “línguas estranhas”. Eles não
falavam em árabe, cretense, ou línguas asiáticas porque aprenderam em algum curso,
como dizem os “cessassionistas”. i Todos eles eram homem “sem letras e indoutos” (At
4.13). Foi uma prova de que o revsstimento de poder seria derramado para que o
evangelho fosse pregado com ousadia e poder dados por Deus.

3) Experiência distinta da conversão. O Senhor Jesus disse a seus discípulos,


antes de retornar aos céus: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele,
de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis
batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias (At 1.4,5 – grifo nosso).
Essa referência demonstra de modo inconfundível que o batismo com o Espírito Santo
não seria a conversão, como creem irmãos de igrejas históricas. Os discípulos já eram
salvos. Mas precisavam ser revestidos de poder para enfrentar os desafios terríveis à
evangelização, inclusive o martírio, como ocorreu com a maioria deles. O impacto foi
extraordinário. Uns perguntavam: “Que quer isto dizer? ” (At 2.12); outros diziam que
os discípulos estavam “cheios de mosto”, ou embriagados (At 2.13).

4) Outras ocasiões. O fenômeno do “falar em línguas estranhas” não se


esgotou ali, em Atos 2.

1) Em Samaria, Felipe pregou com tanto poder, que houve conversões e


milagres. Pedro e João foram enviados para lá, oraram pelos irmãos e eles foram
batizados com línguas estranhas (At 8.14,15, 17).

2) Em Cesaréia. Na casa do centurião Cornélio, houve o primeiro batismo com o


Espírito Santo entre gentios. “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito
Santo sobre todos os que ouviam a palavra.
E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro,
maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os
gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus.
Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não
sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?”(At 10.44-
46).
3) Em Damasco. Depois da dramática conversão de Saulo de Tarso, no
caminho de Damasco, ele se hospedou na casa de Judas. Ali, mandado por Deus,
Ananias, um desconhecido e humilde servo de Deus levou a mensagem de Jesus para
Saulo. Lá, impôs as mãos sobre o ex-perseguidor do evangelho, e ele foi “cheio do
Espírito Santo” (At 9.17)... “ e, levantando-se, foi batizado” (At 9.18). Ali, não havia
água. Subentende-se que foi batizado visivelmente com o Espírito Santo.

4) Em Éfeso. “...disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?


E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes,
então: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João. Mas
Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao
povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que
ouviram foram batizados (em águas) em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes
2
Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; E FALAVAM LÍNGUAS e
profetizavam” (At 19.2-6 – parágrafo e grifo nossos).

O fenômeno espiritual do batismo com o Espírito Santo não poderia ter cessado
em Atos 2. Após seu extenso discurso esclarecedor sobre o que ocorrera no Cenáculo,
Pedro diz aos judeus atônitos que indagavam o que fazer: “E disse-lhes Pedro:
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para
perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo;
Porque a promessa vos diz respeito a vós (os que estavam ouvindo), a vossos filhos
(descendentes dos judeus) , e a todos os que estão longe (judeus dispersos) , a tantos
quantos Deus nosso Senhor chamar” (gente de todas as nações do mundo). (At 2.38-
39 – parênteses esclarecedores acrescidos). .

II – MOVIMENTO PENTECOSTAL PRÉ-MODERNO

A História de Igreja registra diversos movimentos, em todo o mundo, com


características pentecostais. Tanto na Europa como nos Estados Unidos, grupos de
cristãos passaram a ansiar por uma mudança de caráter espiritual no seio das igrejas,
ora em face da decadência doutrinária e comportamental, que as avassalava, ora pelo
intenso desejo de ver o poder de Deus operando de modo marcante e maravilhoso,
ante o formalismo e o liberalismo religiosos.

Características comuns se verificavam nessa busca:

1) Um intenso desejo de buscar a presença de Deus;


2) Fervor na evangelização;
3) retorno aos princípios bíblicos que norteiam a igreja cristã;
4) a busca dos dons espirituais, incluindo os dons de curar, de operação de
maravilhas;
5) a busca do batismo com o Espírito Santo, com línguas estranhas;
6) a preocupação com a santidade em face da iminente Vinda do Senhor Jesus.

Além da experiência da descida do Espírito Santo, em Jerusalém, conforme o


Cap 2 de Atos, a História registra a ocorrência do derramamento do Espírito em vários
lugares, às vezes simultaneamente. É o que disse Jesus: “O vento assopra onde quer,
e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo
aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8).

Dentre esses movimentos, em resumo, destacamos os seguintes:

1. NA EUROPA

1) Avivamentos preparatórios

Na Inglaterra, com João e Carlos Wesley, entre 1703 e 1791, com grande fervor
missionário, busca do poder de Deus, e unção do Espírito Santo; no avivamento com
George Whitefield, entre 1714 a 1770; “somente com o surgimento desses três

3
grandes líderes”... “O Reavivamento Evangélico cresceu como poderosa maré”
(Walker, p 205).

Os irmãos Wesley foram notáveis exemplos de vida em comunhão com Deus.


John Wesley não se conformou com o estilo de vida da Igreja Anglicana, formalista e
sem poder. E pôs-se a pregar o retorno à vida esposada no Novo Testamento. Reuniu
jovens, na faculdade, chamados de “O Clube Santo”. Dedicavam-se a uma vida de
devoção e santificação. Não eram bem vistos pelos demais crentes. Andava 90
quilômetros a cavalo para levar a mensagem de Cristo. Viajou à Irlanda 4 2 vezes e 22
vezes à Escócia, para pregar o evangelho. Sua pregação era conservadora por
excelência. Falava sobre santidade, boas relações familiares, aversão aos vícios e ao
desregramento. Aos 37 anos, depois de ter estudado nos Estados Unidos, voltou à
Inglaterra, e tornou-se pregador fervoroso. Pregava às 05 horas da manhã aos
trabalhadores que iam para as fábricas; George Whitefield, amigo dos Wesleys
também foi pregador cheio do Espirito Santo. A história da Igreja não afirma que os
mesmos falavam em línguas, mas que eram grandemente avivados, e contribuíram
para uma busca maior do poder de Deus, numa sociedade que se dizia cristã, mas
vivia de modo frio, letárgico, e sem unção.

Na Alemanha, por volta de 1720, o Conde Zinzendorf liderou os morávios num


verdadeiro fervor missionário, que se espalhou pelo Continente , e chegou à América;
sua ênfase na “religião do coração”, levou os fiéis a desde atitudes infantis, até a um
grande despertamento na busca do poder de Deus, principalmente voltado para as
missões transculturais.

No País de Gales, em 1891, Evan Roberts, um jovem de 13 anos sentiu a


necessidade de um avivamento em sua vida e em sua terra. Ele reuniu seus colegas e
lhes falou da visão que Deus lhe dera, num domingo, 30 de outubro de 1904. .
Mostrou-lhes que Deus queria enviar um avivamento, mas todos precisavam
abandonar tudo o que era pecado, confessando-os diante de todos. Foi tão grande o
impacto daquela visão de Deus, que começou a espalhar-se pela cidade, pelo país, e
alcançou muitos países do mundo.

Em todos esses movimentos, pode-se dizer que Deus estava preparando o


ambiente das missões, no mundo, para o grande avivamento pentecostal que se
concretizou no início do Século XX, e continua até hoje, fazendo a diferença entre o
formalismo religioso e denominacional e o movimento do Espírito Santo, que começou
no Dia de Pentecostes, em Jerusalém, e nunca mais parou. De uma forma ou de outra,
Deus sempre levantou homens e mulheres para cumprir os seus desígnios e
propósitos.

III - O MOVIMENTO PENTECOSTAL MODERNO

1. Movimento de Vida Profunda – 1792-1875

Nos Estados Unidos, os ventos do avivamento tiveram grande impacto, no


século XIX. Charles Grandinson Finney foi usado por Deus para um grande
despertamento (1792-1875). Teve grande influência de G. Campbell Morgan, do
Movimento de Vida Profunda, que pregava um viver pleno da presença de Deus contra
uma vida morna que dominava muitas igrejas evangélicas. Charles Finney “também
4
aliou-se a esse movimento, e revela em sua autobiografia sua experiência do poder do
Espírito Santo, que incluía o falar em línguas”. 1 Mas esse avivamento não chegou a
ser o que depois se chamaria Movimento Pentecostal.

Na Nova Inglaterra, o avivamento pentecostal começou em 1854; Em 1890, o


pastor “Daniel Awrey recebeu o batismo com o Espírito Santo, em sua plenitude
pentecostal” em Delaware, Ohio (Hulburt, p. 222). Na cidade de Morehead, o poder
caiu em 1892.

2. Movimento de Fé Apostólica - 1900

No ano de 1900, Charles Fox Parham. obreiro leigo, e pregador itinerante, cheio
de amor pelo Reino de Deus, resolveu fundar o que foi chamado de “Movimento de Fé
Apostólica”. Ele sentia-se incomodado com a frieza espiritual das igrejas
estabelecidas. E fundou o movimento “com o objetivo de restaurar a fé da igreja
primitiva”. 2 Com o propósito de preparar obreiros leigos para evangelizar, fundou o
Instituto Bíblico Bethel College, na cidade de Topeka, no Kansas, EUA.

No final daquele ano, os alunos do Instituto começaram a estudar sobre o


batismo com o Espírito Santo, com base em Atos 2. Entre os alunos, estava a Sra.
Agnes Ozman, natural de Albany, Wisconsin, que frequentava com seus irmãos uma
igreja Metodista Episcopal. Mais duas amigas frequentavam aquele instituto. Naqueles
estudos sobre o batismo com o Espírito Santo, Agnes sentiu-se inclinada a buscar uma
experiência mais profunda com Deus. Ela testemunhou, depois, que “na escola de
Parham, na passagem do ano de 1900, ela e mais outras pessoas ficaram orando
juntas, quando falou três palavras em outras línguas. A isto ela declarou: “Foi uma
experiência sobrenatural”, que ela guardou em seu coração talvez para esperar uma
confirmação de Deus.

O batismo de Agnes Ozman. Mas, na noite do dia 1 de janeiro de 1901, ela


perguntou a Parham se podia impor as mãos sobre ela, como Paulo fizera sobre os
discípulos, em Éfeso, a fim de receber o batismo com o Espírito Santo. Parham
concordou e orou por ela. Ela declarou com alegria: “Falei em línguas, conforme Atos
2.1 e 19.6, de modo semelhante, quando o apóstolo Paulo impôs as mãos sobre os
discípulos em Éfeso, e o relato bíblico, acontecido no Cenáculo em Jerusalém, quando
foram vistas ‘línguas como que de fogo”. 3

3. O Avivamento De Galena - 1901

De Topeka, Kansas, Charles Parham 4 ficou conhecido por seu fervor na busca
pelo poder de Deus. E foi convidado para pregar na cidade de Galena, após a cura
milagrosa de uma senhora, de nome Mary Arthur. Ali, ele pregou durante vários

1
José de OLIVEIRA. Breve História do Movimento Pentecostal, p. 38.
2
Ibid., p. 43.
3
José de OLIVEIRA. Breve história do movimento pentecostal, p. 45.
4
NOTA: Charles Parham entendia que o fenômeno de falar em outras línguas seria mais que GLOSSOLALIA. Deveria
ser visto como XENOLALIA, a capacidade de falar em outros idiomas sem nunca ter aprendido, com finalidade
missionária. Ou seja: quem falasse um idioma de um país era sinal de que Deus o estava chamando para ir pregar àquele
povo. Ele ensinava que Jesus só voltaria quando todos os povos ouvissem o evangelho em sua própria língua. (Do livro
Metamorphosis e Necrosis, de João Bosto de Sousa).
5
meses, e houve muitas conversões. Alugou um salão para 2.000 pessoas sentadas.
Ele criou a “Banda da Fé Apostólica”, formada por jovens entusiastas, que viajavam,
tocando, desfilando pelas ruas, fazendo evangelização de casa em casa e cultos ao
ar-livre.

Em 1901, em Houston, Texas, o pastor negro, filho de escravos da Louisiana,


“W.J. Seymour, pertencente a um grupo ‘santidade’ (holiness), foi atraído pelo
Movimento da Fé Apostólica, iniciado por Parham, no Instituto Bíblico de Topeka,
Kansas. Ali, foi batizado com o Espírito Santo”, com línguas estranhas. Esse ano de
1901 é considerado o ano inicial do Movimento Pentecostal Moderno.

4. O avivamento na Bonnie Brae Street

Em 1906, Seymour se transferiu para a Califórnia. Ali, começou a pregar a


mensagem pentecostal, numa residência de uma família, na Bonnie Brae Street. Não
demorou e, por causa de seu sermão, foi expulso da igreja pela pastora. Como residia
na mesma rua, convidou pessoas interessadas para reunir-se na sua própria casa, na
Bonnie Brae Street, 216. Hoje, ali, é um memorial ao Movimento Pentecostal, mantido
por uma fundação que resgatou a história do movimento. Tornou-se um ponto turístico
para quem deseja pesquisar as origens do pentecostalismo nos EUA.

Num domingo, 9 de abril de 1906, Seymour e outros irmãos foram batizados


com o Espírito Santo, com a evidência do falar em línguas estranhas.

5. O avivamento na Rua Azuza, 312.

As reuniões, na Bonnie Brae Street atraíram tantas pessoas, que o prédio não
comportava mais os que para lá se dirigiam, na busca de um avivamento para suas
vidas. Procurando um novo prédio, Seymour descobriu um salão retangular, onde
havia funcionado uma igreja metodista, mas estava abandonado. Na Rua Azuza, 312.
em Los Angeles, Califórnia. O local, mais amplo, tornou-se mais adequado para as
reuniões. Ali, Seymour fundou a The Apostolic Faith Gospel Mission (Missão
Evangélica da Fé Apóstólica).

As pregações de Seymour não eram eloquentes. Eram de uma simplicidade


bem peculiar. Mas a unção do Espírito Santo era tão grande nas reuniões, que
pessoas eram curadas, outras batizadas com o Espírito Santo com tanto poder que
caiam prostradas sem que ninguém nelas tocasse. Pessoas de outras denominações
acorriam ao local, para conhecer o “novo movimento” evangélico. Dentre essas, foi
recebido o pastor batista, de nome William H. Durham, que, depois, teve papel
importante no pentecostalismo brasileiro. 5

Na Rua Azuza, começou o que os historiadores chamam de “Avivamento


Pentecostal no século 20” (Conde, p. 21). O movimento espiritual ali causou grande
impacto sobre a população. “Em 18 de abril de 1906, o Los Angeles Times noticiou
acerca de um novo e estranho reavivamento que estava sacudindo a cidade” O título
da matéria era “Estranha Babel de Línguas”. O artigo dizia:

5
José de OLIVEIRA. Breve história do movimento pentecostal, p. 58.
6
“Reuniões estão sendo efetuadas numa cabana da Rua Azusa, perto da
ria São Pedro. Os devotos da estranha doutrina praticam os ritos mais
fanáticos, pregam as mais loucas teologias e esforçam-se até à excitação
em seu zelo peculiar. Negros e um minguado número de brancos
perturbam a vizinhança devido aos uivos dos adoradores. Eles passam
horas balançando o corpo para a frente e para trás, numa atitude nervosa
de orações e súplicas. Eles afirmam que possuem o dom de línguas, e
dizem ser capazes de compreender semelhante Babel”. 6

Naquele mesmo dia, 18 de abril de 1906, houve o grande terremoto de S.


Francisco, que destruiu grande parte da cidade. Na Azusa, os crentes estavam
reunidos, orando, e sentiram mais ainda a presença de Deus. Ali, naquele galpão,
havia um clima de humildade, amor e santidade. Frank Bartleman, testemunha ocular
do Avivamento da Rua Azusa, diz, em seu livro “Azusa Street”, que, no princípio, não
havia qualquer hierarquia entre os presentes. O Pr. Seymour era um homem simples,
negro, caolho, sem aparência, mas cheio do poder de Deus. Ele se sentava sobre
duas caixas de madeira vazias. E orava com o rosto dentro de uma delas. Mas a
presença de Deus era fortíssima no lugar. Diz ele que não havia nenhum instrumento
ou grupo musical; sequer havia hinário; o louvor fluía espontaneamente, ao cântico de
hinos tradicionais bem conhecidos. O hino mais cantado era “The Conforter Has
Come” (O Consolador Chegou).

O irmão Seymour foi reconhecido como líder do trabalho de avivamento, na


Azusa Street. Mas não havia hierarquia, segundo Frank Bartleman. Não havia
plataforma ou púlpito. Tudo era informal mas muito espiritual. O lugar não era fechado
ou vazio nunca. O culto não dependia da direção humana, mas a presença de Deus
guiava toda a sequência dos trabalhos. Diz Frank: “Nós queríamos ouvir diretamente
da parte de Deus. ...Não havia respeitos humanos. Os ricos e educados eram o
mesmo que os pobres e ignorantes... todos éramos iguais...Aquelas eram reuniões do
Espírito Santo, dirigidas pelo Senhor”. 7 O clima espiritual, na Azusa era impactante.
“Alguém tinha que falar. De repente o Espírito Santo caia sobre a congregação. O
próprio Deus fazia o chamado ao altar.

Homens caiam por toda a casa. Parecia um cenário de árvores caindo , numa
floresta. Ninguém chamava alguém para pregar. Deus tocava em alguém para ir à
frente e falar. E cada um sabia a hora de parar de falar.... A glória de Deus estava ali,
diz Frank. Em seu livro, relata o caso de um pregador batista, de nome irmão Ansel
Post. Numa tarde, ele estava sentado no meio do salão. De repente, o Espírito Santo
veio sobre ele, que pulou da cadeira, e começou a glorificar a Deus em línguas
estranhas. Tempos depois, foi enviado para o Egito, como missionário. Foi nesse clima
de manifestações sobrenaturais, que o Avivamento da Rua Azuza espalhou-se pelo
mundo. Dos Estados Unidos, migrou para a Europa, para a Ásia, para a África e
América Latina, em poucos anos, como um fogo que queima uma seara de folhas
secas.

IV - O MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL

6
Ibid., p. 59.
7
Frank BBARTLEMAN. Azusa Street, p. 57.
7
1. Antecedentes

1.1. Gunnar Vingren

Quando jovem, Gunnar Vingren teve o chamado de Deus para sua Obra. Viajou
para os Estados Unidos, em 1903. Trabalhou como foguista, porteiro e jardineiro. Ali,
fez curso num seminário teológico sueco da Igreja Batista, concluindo seus estudos
em 1909. O movimento pentecostal, no Brasil, é fruto do Avivamento da Rua Azuza,
em 1906, em Los Angeles. Chicago foi uma cidade, onde o “fogo” do Pentecostes
incendiou muitas vidas. Em 1909, Gunnar Vingren, um ex-aluno do Seminário
Teológico Batista Sueco, tornou-se pastor da Igreja Batista Sueca, em Menomenee,
Michigan. A igreja decidiu que ele seria enviado como missionário para Assam, na
índia. Mas ele não sentiu paz no coração.

E comunicou que não poderia aceitar o chamado pois não sentia ser a vontade
de Deus. Por esse motivo sua noiva rompeu o noivado, e ele disse “Seja feita a
vontade do Senhor”. Indo a Chicago, numa conferência da Primeira Igreja Batista
Sueca, recebeu o batismo com o Espírito Santo com línguas estranhas. Em
conseqüência, foi rejeitado pela igreja onde servia. Em 1910, foi aceito pela Igreja
Batista de South Bend, Indiana, que se transformou numa igreja pentecostal. Ali, Deus
lhe falou que iria para um lugar de povo muito simples, chamado Pará. Fato
interessante é que, nesse meio tempo, Deus lhe falou que iria casar com uma jovem
chamada Sttrandberg. Anos depois, ele se casou com Frida Strandberg. Prova de
Deus dirige os passos de “um homem bom” (Sl 37.23).

1.2. Daniel Berg

Daniel Berg era um jovem cristão. Aos 18 anos, 1902, emigrou da sua terra, a
Suécia, para os Estados Unidos, por causa da crise econômica que assolou sua terra.
Sua viagem o fez passar pela Inglaterra, onde tomou o navio em Liverpool, em 11 de
março de 1902. Foram 14 dias de viagem, chegando aos EUA em 25 de março do
mesmo ano. Seu primeiro emprego foi numa fazenda, onde cuidava de animais e
carroças. Depois, foi para a Pensylvania, onde fez curso de fundidor e trabalhou numa
fundição. Durante oito anos, trabalho como fundidor para sua manutenção. As
saudades do lar o fizeram voltar à Suécia por algum tempo. Ali, encontrou um amigo
crente, com quem ouviu sobre o batismo com o Espirito Santo. Ambos conversaram
sobre isso, oraram, mas Berg estava decidido a voltar aos Estados Unidos. 8“No ano
de 1909, ao aproximar-se dos Estados Unidos, suas orações foram respondidas:
Recebeu o batismo com o Espírito Santo”. Sua vida mudou completamente. Cheio do
Espírito Santo, passou a pregar com mais entusiasmo acerca da salvação em Cristo
Jesus.

1.3. O encontro entre Vingren e Berg

Os dois jovens obreiros encontraram-se, na Igreja Batista de South Bend, onde


se realizava uma conferência evangélica. Compartilharam seus anseios e projetos, e
entenderam que Deus os chamava para sua Obra. Passaram a orar diariamente. Ali,
através do irmão Adolfo Uldin, que já os conhecia, souberam que Deus os enviaria a

8
Daniel BERG. Enviado por Deus, p. 2227.
8
um lugar chamado Pará. 9Mas não sabiam em que lugar se encontrava. Foram a uma
biblioteca pública e pesquisaram, constatando que o Pará era um estado, que ficava
no Brasil, na América do Sul. Em oração, sentiram que essa era a vontade de Deus
para suas vidas. Ao comunicarem sua decisão à igreja, não foram bem acolhidos.

A igreja comunicou que não tinha condições de os enviar ao lugar indicado.


Daniel Berg foi desestimulado pelo seu patrão a não ir para a missão, pois , na Cidade,
havia pessoas a serem evangelizadas. O que os dois tinham em dinheiro eram 90
dólares, o preço da passagem para o Pará. Mas, de modo incompreensível, ouviram a
voz de Deus que lhes ordenava que dessem os 90 dólares para um jornal pentecostal.
Acharam estranho, mas obedeceram. E ficaram esperando o que Deus havia de fazer.
Para ir ao Brasil, precisavam deslocar-se até Nova Iorque. Na despedida, os irmãos
lhes deram oferta que permitia chegar ali.

1.4. Em direção ao Brasil

Já em Nova Iorque, os dois missionários procuraram um navio que os levasse


ao Brasil. Foi difícil. Encontraram um navio, e compraram passagem de terceira classe
para sobrar algum dinheiro. No dia 05 de novembro de 1910, partiram dos Estados
Unidos em direção ao Pará. No navio, de nome “Clement”, começara sua missão.
Mesmo sem falar nada do Portugês, pregaram o evangelho aos tripulantes e
passageiros, e, para grande alegria deles, um dos passageiros aceitou a Cristo como
salvador. Era o primeiro fruto da missão, em pleno oceano, a bordo do navio. A viagem
durou 14 dias, e chegaram ao Pará, no dia 19 de novembro de 1919. 10 Vingren e
Berg foram verdadeiros apóstolos, no sentido real da palavra. Foram enviados por
Deus para uma missão que transcendia suas limitações humanas e culturais.

2. Morando no porão

Ao chegarem a Belém, aos 19 de novembro de 1910, os dois missionários não


conheciam ninguém, nem sabiam falar português. Cada um com sua mala,
caminharam e sentaram-se num banco, na Praça da República, onde fizeram a
primeira oração em terras brasileiras. Ali, souberam que a cidade estava cheia de
doentes, leprosos, portadores de febre bubônica, malária, e viram a pobreza do povo
que contrastava com a riqueza que viram na América.

Enquanto aguardavam , na Praça, uma resposta de Deus, passava por ali uma
família que viera no navio e falava inglês. Perguntaram se eles já tinham encontrado
hotel, e disseram que não. E os convidaram para ir ao hotel onde estavam. Ali,
encontraram outra pessoa que falava inglês e perguntaram se conheciam algum
protestante na Cidade. Indicaram o endereço de um pastor metodista, americano e
foram ao seu encontro. Era o irmão Justus Nelson. Este os apresentou ao pastor da
Igreja Batista Brasileira. Esse pastor permitiu que os missionários morassem no porão
da igreja. Era um ambiente úmido, sem janelas, infestado de mosquitos, no intenso
calor tropical. 11Nesse ínterim, conheceram o irmão Adriano Nobre, que era membro
da Igreja Presbiteriana no Pará, e comandante do Navio Port Of Pará, que navegava

9
Ivar VINGREN. Diário de um pioneiro, p. 20.
10
Gustavo KESSLER e outros. História das assembleias de Deus no Brasil, p. 13-18.
11
Daniel BERG. Encviado por Deus, p. 42.
9
pelo Rio Amazonas. Como falava inglês, Adriano começou a conversar com os
missionários e soube que vieram dos Estados Unidos.

3. No interior do Pará

O irmão Adriano Nobre acompanhou os primeiros passos dos servos de Deus


que vieram trazer o evangelho ao Brasil. Convidou-os para visitar as ilhas próximas ao
Pará. Na viagem, ficaram admirados com os macacos, os pássaros e os crocodilos,
que povoavam os rios. Em Boca de Ipixuna, Berg e Vingren hospedaram-se no mesmo
quarto , onde morava Adrião Nobre, irmão de Adriano Nobre. Este, depois, aceitou a
Cristo como salvador. Causou-lhe admiração a vida de oração dos dois missionários,
que se levantavam cedo para buscar a presença de Deus.

4. Retorno à Igreja Batista.

Após a viagem ao interior, conseguiam dizer algumas palavras em Português.


Não perderam tempo, e começaram a falar sobre a doutrina do Batismo com o Espírito
Santo. Como eram batistas, imaginavam que poderiam convencer aos irmãos que os
acolheram que podiam ser batizados com o Espírito Santo e continuarem em sua
denominação, como acontecia nos Estados Unidos. O interesse aumentou entre os
irmãos batistas, que passaram a frequentar as reuniões com os missionários. Durante
o dia, vários irmãos procuravam os missionários para se inteirarem melhor da “nova
doutrina”, que não era nova na Bíblia, mas estranha para eles.

1) Pregando a doutrina do batismo com o Espírito Santo e a cura divina.

A pregação dos missionários chamou a atenção das igrejas tradicionais, como


Batistas, Presbiterianas e Metodistas, e causou incômodo e preocupação. Eles não
foram bem aceitos pelos pastores das igrejas históricas. A irmã Celina de
Albuquerque, membro da Igreja Batista declarou que aceitava a mensagem do
Batismo com o Espírito Santo, e tomou a decisão de ficar em casa, orando a Deus
para que confirmasse se era doutrina certa.

2) A primeira pessoa batizada com o Espírito Santo.

E Deus ouviu a oração daquela humilde serva dele. A 01 hora da madrugada, do


dia 8 de junho de 1911, quando orava em sua casa, sita à Rua Siqueira Mendes, 79
(atualmente o número é 161), a irmã Celina de Albuquerque foi batizada com o Espírito
Santo. Uma amiga, de nome Nazaré, sabendo da novidade, foi à casa de um irmão,
igreja Batista, José Batista de Carvalho, dar a notícia do que ocorrera com a irmã
Celina. Ali, havia vários irmãos reunidos, que falavam dos últimos acontecimentos na
igreja. Entre eles, estava o diácono João Maria Rodrigues, o qual creu e foi batizado
com o Espírito Santo, com línguas estranhas. No dia seguinte, a irmã Nazaré também
foi atingida pelo batismo pentecostal. Vários irmãos foram à casa de Celina
Albuquerque par conferir o que ocorrera.

3) Desconfiança e expulsão

Como não podia deixar de acontecer, o assunto tomou conta de todos, na igreja
Batista, e causou preocupação à liderança. Dois grupos se formaram. Um, que
10
aceitava a “nova doutrina”, trazida pelos missionários. Outro, que não aceitava de
forma alguma aquele tipo de ensino e de prática, considerando heresia que não se
harmonizava com os ensinos da igreja Batista. Como resultado, houve reunião em que
o evangelista, auxiliar do pastor, muito jovem e sem experiência, propôs que os que
estavam de acordo com os missionários se manifestassem. Diz o Diário do Pioneiro:
“Ele somente disse: todos os que estão de acordo com a nova seita, levantem-se”.
Dezenove deles afirmaram que aceitavam aquele ensino. Num culto cheio de agitação,
o dirigente, um jovem seminarista, declarou a expulsão dos 19 membros que
aceitavam aquela inovação considerada herética.

No dia 13 de junho de 1911, foram excluídos, naquele culto, os seguintes


irmãos: “Celina de Albuquerque e seu esposo, Henrique de Albuquerque; Maria de
Nazaré; José Plácido da Costa (o dirigente da igreja). Piedade da Costa, Prazeres da
Costa, Manoel Maria da Costa e sua esposa; Jesusa Dias Rodrigues, Joaquim Silva,
Benvinda Silva, Tereza Silva de Jesus, Isabel Silva, Ana Silva, José Batista de
Carvalho, Maria José Batista de Carvalho e Antônio Mendes Garcia”. 12

V - O NASCIMENTO DA NOVA IGREJA

1. Primeiro local de pregação

Como ficaram sem local para cultura a Deus, os 19 irmãos resolveram criar uma
igreja local para poderem reunir-se. No dia 18 de junho de 1911, na residência do
irmão Henrique Albuquerque, sita à Rua Siqueira Mendes, 79, fundaram a nova igreja,
que recebeu a denominação de Missão de Fé Apostólica. Ficou acertado que a igreja
funcionaria na casa da irmã Celina de Albuquerque, até que encontrassem um local
apropriado para seu endereço próprio.

2. O primeiro prédio da nova igreja

Depois, estabeleceram a igreja num prédio que adquiriram, situado à Av. São
Jerônimo, 224. Inaugurado no dia 11 de maio de 1918, data considerada oficial da
fundação da Assembleia de Deus no Brasil, quando a mesma foi registrada como
pessoa jurídica. Dali, O Espírito Santo irradiou o movimento pentecostal para todo o
Brasil. Inicialmente, pelo Estado do Pará. Depois, pelos Estados do Nordeste; pelo
Sudeste, pelo Norte, Sul, e alcançou a todos os rincões brasileiros. O combustível para
que o fogo pentecostal se espalhasse não foram os estudos de Teologia de Vingren,
nem a rudeza do fundidor e quitandeiro, Daniel Berg; mas os efeitos visíveis da
doutrina pentecostal nos corações dos convertidos à fé cristã.

2. Crescimento e perseguição

Os missionários continuaram a obra, realizando cultos ao ar-livre, pregando em


muitos lugares. As perseguições eram grandes. “Os primeiros batismos no Pará foram
feitos todos em segredo, geralmente às 11 horas da noite, pois não tinham nem igrejas
nem tanques de batismos”. 13 Num batismo, à beira-mar, os inimigos cercaram o local,

12
Gustavo KESSLER et al. História das assembleias de Deus no Brasil, p. 26, 27.
13
Ivar VINGREN. Diário do pioneiro, p. 34.
11
e quiseram impedir o ato batismal. Um deles sacou de um punhal e investiu contra
Vingren. A irmã Celina jogou-se na frente e impediu o crime. O batismo foi realizado
sob ameaças, e, ao término, todos molhados, saíram às pressas sem trocar de roupa.
Foram muitos os inimigos. Em Mosqueiro, no interior, a casa onde pregavam foi
apedrejada. Teve que fugir, acossado por cães de caça. Mas Deus o livrou.

3. Curas divinas

Conta Ivar Vingren: “Um irmão foi curado de enfermidade muito grave na perna.
Uma irmã foi curada de uma enfermidade incurável no lábio. Um outro, que tivera dor
de cabeça durante dez anos foi curado. Um homem paralítico que estava moribundo, e
não podia mais falar, foi curado e veio depois para nossos cultos. Uma criança, que
estava moribunda com febre, foi curada. Um homem de idade, que sofrera com hérnia
por nove anos, foi curado. Um outro homem, que havia estado enfermo muitos meses
com febre e tinha todo o seu corpo inchado, foi tanto curado , como batizado com o
Espirito Santo. Ele também recebeu o dom de profecia”. O relato conta que uma irmã
que era cega foi curada. “Um homem que viu seu filho morrer, tomou-o imediatamente
nos braços e começou a invocar o nome do Senhor. Imediatamente a criança voltou à
vida. A esposa, quando viu o que aconteceu, se entregou ao Senhor”. 14

4. Por que a Obra cresceu

O batismo com o Espírito Santo, com línguas estranhas; a ênfase nos dons
espirituais; as curas divinas incontáveis, os prodígios e maravilhas operados por Deus,
através de homens e mulheres humildes; a ênfase na vida de santidade, que era bem
clara e indiscutível, na separação do mundo, não só em termos de doutrina , mas,
também, em termos de usos e costumes, os quais caracterizavam aos olhos dos
estranhos, que os pentecostais eram um povo diferente “por dentro e por fora”. Com
tais características, os crentes eram tachados de “bíblias”, de “bodes”, de “capa
verdes”, de “fanáticos”, não só por parte dos romanistas, como pelos crentes de outras
denominações.

Mas o revestimento de poder do alto foi a causa primordial do crescimento da


obra pentecostal no Brasil, em seus primeiros anos. E se espalhou como fogo, através
da evangelização dinâmica e cheia de amor pelas almas. Os pregadores, no início,
eram em sua maioria absoluta , pessoas simples, muitas indoutas, sem cultura formal,
mas cheias do Espirito Santo. E foram usados como instrumentos poderosos nas
mãos de Deus.

VI - A EXPANSÃO DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS

Segundo Burlton (p. 232-234), em 1960, as AD´s passaram a responder por


70% do evangelismo nacional, congregando 50% dos evangélicos brasileiros,
principalmente no interior e entre as camadas mais humildes da população. Sua
influência tem sido de tal monta, que grande parte das igrejas históricas, tradicionais,
se voltaram para a busca da fé pentecostal. Em 1970, as AD´s contavam com 62,6%
dos evangélicos brasileiros, que chegavam a 2.6 milhões (Kessler e outros, p. 11,12).

14
Ibid. p. 39.
12
Em 1980, o censo do IBGE dava conta de que, no Brasil, havia 7.885.846 evangélicos.
Os pentecostais participavam com cerca de 48%. Segundo os últimos dados do IBGE
(dados ente 1991 e 2001), os evangélicos são 26 milhões de adeptos, e as
Assembléias de Deus se constituem na maior denominação evangélica do Brasil,
passando de 2,4 para 4,5 milhões de fiéis; com 22.000 templos e 21.000 pastores. O
Jornal Mensageiro da Paz (Jun 2002), dá conta de que ao assembleianos contam com
mais de 8 milhões (dados atualizados), somando 32% dos evangélicos, ou 5% da
população brasileira. Tudo isso, não se deve esquecer, fruto das raízes pentecostais,
fincadas pelos pioneiros do Movimento Pentecostal no Brasil.

“Com a estimativa de 22,5 milhões de membros, a Assembleia de Deus no


Brasil é hoje a maior denominação pentecostal do mundo. Em segundo lugar
está a Coréia do Sul com 3,1 milhões. As Assembleias de Deus no Brasil
puxaram o crescimento dos evangélicos no país e, segundo projeções, deverá
ultrapassar os 100 milhões em 2020. As estimativas apontam ainda mais de 35
mil ministros e mais de 100 mil templos espalhados por todo o Brasil. Na
verdade, a Assembleia de Deus está presente até mesmo nos lugares onde as
estruturas governamentais não estão”.

“Ao todo, as Assembleias de Deus têm 64 milhões de membros espalhados no


mundo e 363.450 ministros, divididos entre 351.645 igrejas e presentes em
217 países. O Brasil lidera essa lista com 22,5 milhões de membros, de acordo
com as estimativas da igreja nos EUA. Veja a lista dos países com os maiores
números de membros (Tabela 1). “ 15

VI - OS NOVOS RAMOS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Sem querer nos deter em outros fatos históricos, ressaltamos que, depois que
as Assembléias de Deus se tornaram a maior denominação no Brasil, outras igrejas
surgiram, adotando as doutrinas básicas, e as idéias do pentecostalismo. Dos 26
milhões de evangélicos, segundo o IBGE, os pentecostais somam 18 milhões (67,6%),
o que demonstra a pujança desse movimento. De modo mais recente, nos últimos 20
anos, apareceram tantas denominações, ditas pentecostais, que o Movimento tornou-

15
A Assembleia de Deus no Brasil é a Maior do Mundo.
Disponível,em:https://fronteirafinal.wordpress.com/2011/07/02/assembleia-de-deus-brasil-maior-do-mundo/. Acesso em
05.05.2016.
13
se difuso e confuso, perdendo as características do movimento original, tanto bíblica,
quando historicamente. Esse é um grave perigo, pois o crescimento desordenado de
um corpo ou de um organismo pode resultar em sérias enfermidades incuráveis. Não
há dúvida quanto ao crescimento das igrejas evangélicas, que surgem às dezenas ou
centenas, diariamente. Mas carece de avaliação a qualidade desse crescimento,
quando confrontado à luz dos princípios bíblicos neotestamentários.

VII - AS INOVAÇÕES E DETURPAÇÕES DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

1. O MOVIMENTO CARISMÁTICO CATÓLICO

Nos últimos anos, tem crescido , no meio da Igreja Católica, o chamado


Movimento Carismático. Neste, muitos fiéis afirmam que receberam o batismo como
Espírito Santo, que possuem dons espirituais, que buscam a Deus em oração
fervorosa, que já receberam bênçãos diversas, curas, etc...Os carismáticos se dizem
cristãos verdadeiros, que retornaram à pureza das Escrituras. Quando são procurados
por evangélicos, em momentos de evangelização, os carismáticos são receptivos,
educados, mas não aceitam qualquer doutrinação, pois dizem já serem evangelizados.

A Igreja Católica nunca quis saber do uso dos dons. Recentemente, porém, no
seio do Catolicismo, surgiram muitos que passaram a buscar experiências
pentecostais, incluindo o Batismo com o Espírito Santo e os dons (carismas)
espirituais. Por isso, são chamados carismáticos.

Como surgiu. Na Universidade Católica de Notre Dame, em Pittsburg,


Pensylvânia, EUA, um jesuíta de nome Edward O' Connor incentivou alunos a
frequentarem "reuniões de poder" dos pentecostais na universidade. Ali, surgiu um
"movimento ecumênico", em que leigos católicos se reuniam com protestantes para
orarem juntos. Steve Clark e Ralph Martin Keiter destacaram-se como líderes do
movimento entre os estudantes. Leram os livros "A CRUZ E O PUNHAL", de David
Wilkerson e "ELES FALAM EM OUTRAS LÍNGUAS", de Elizabeth e John Sherrill, e
ficaram impressionados com o que Deus fez por meio das experiências dos autores.

O movimento carismático, que surgiu em l966, espalhou-se pela América do


Norte, passou à Europa e para o resto do mundo, chegando ao Brasil com muita
influência e impacto entre os católicos em geral. O clero, a princípio, reagiu com
desconfiança, mas , depois, verificou que os carismáticos poderiam ser usados para
fazer frente ao movimento pentecostal protestante, que, através de suas igrejas, tem
atraído muitos fiéis católicos. Hoje, os carismáticos são considerados a vanguarda da
Igreja Católica no Brasil, inclusive com o apoio do Papa.

Os carismáticos se dizem pentecostais, batizados com o Espírito Santo, mas


continuam com o “fermento velho” das doutrinas errôneas do romanismo, tais como o
Primado de Pedro, como o sucessor de Cristo; a missa, como repetição do sacrifício
de Cristo; o Purgatório; a confissão auricular; e, mais que isso, a ADORAÇÃO A
MARIA., considerando-a uma deusa, “Mãe de Deus”. Deus não é Deus de confusão”
(1 Co 14.33). Em nenhuma parte da Bíblia, encontra-se o endeusamento de Maria (ver
S. Paulo: Rm 16.27; 1 Co 1.1-3; 2.2; 1.1-3; S. Pedro (considerado o primeiro Papa): 1
Pe 1.1-2; 2 Pe 1.1-2; 3.18; S. João: 1 Jo 5.20; S. Judas 25). Nenhuma referência a
Maria!
14
2. OS FENÔMENOS NEOPENTECOSTAIS

Nestes últimos anos, certos fenômenos têm acontecido no seio de muitas igrejas
locais, , notadamente entre as neopentecostais, que intrigam, causam polêmica e até
divisões. Ultimamente, em igrejas pentecostais históricas, e até, em igrejas
tradicionais, esse e outros fenômenos têm sido experimentados. Tais fenômenos têm
afetado de modo marcante o movimento pentecostal, pois, via de regra, seus adeptos
fazem parte de igrejas que se abrigam sob o manto do pentecostalismo.

2.1. O CAIR NO ESPÍRITO

Há mais de 20 (vinte) anos que, nos EUA, e em outros países da outra América,
o fenômeno de “cair no Espírito” (“slain in the Spirit”) tem-se verificado, em muitas
igrejas, principalmente pentecostais. No Brasil, já faz alguns anos, o fenômeno se
repete, só causando maior polêmica mais recentemente, quando tem-se espalhado
num âmbito maior.

1) COMO O FENÔMENO OCORRE.

Geralmente, em cultos de avivamento, ou em cruzadas, pregadores avivalistas


convidam as pessoas a irem à frente do púlpito ou a subir na plataforma de pregação.
Ali, fazem uma fila, e as pessoas vão-se postando, uma a uma, diante do pregador.
Este, manda a pessoa olhar bem nos seus olhos; impõe as mãos (às vezes sem tocar
na pessoa), faz uma rápida oração próxima ao ouvido do crente, e dá uma palavra de
ordem, em voz alta, por exemplo, dizendo: “Poder de Deus!”. Ato contínuo, a
pessoa cai para trás, e fica estirada no chão, como se estivesse dormindo. Às vezes,
tocam a mão na testa e ás vezes até dão um empurrão para a pessoa cair. Pregadores
americanos dizem: “Power of God!” (Poder de Deus!); “Touch him” (Toca-o!). “Be
blessed!” (sejam abençoados!). Um pregador argentino diz: “Llena”! (Enche!). E
dezenas de pessoas ficam prostradas no chão, até serem levantadas pelos diáconos
ou diaconisas, conforme o caso. Já tive oportunidade de presenciar esse fenômeno em
igrejas ou em cruzadas, no Brasil e nos EUA, como também através de vídeo.

2) EXISTE BASE BÍBLICA PARA ESSE FENÔMENO?

Os defensores do “cair no Espírito” baseiam-se em alguns exemplos de homens


de Deus que caíram pelo poder do Espírito, como os que se seguem:

a) DANIEL. Teve uma visão, diante de si apareceu o anjo Gabriel, e ele caiu “com o
rosto em terra” (Dn 8.18); outra vez, “um homem vestido de linho...cujo rosto parecia
um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo...” (Dn 10.5,6) falou-lhe e ele caiu
“com o...rosto em terra, profundamente adormecido” (v.9).

b) EZEQUIEL. O profeta, na visão dos querubins, viu alguém com “semelhança da


glória do Senhor”, e caiu sobre o seu rosto...” ; o mesmo ocorreu nos Cap. 1.28;
3.23; 43.3.

15
c) JOÃO EVANGELISTA. Viu “um semelhante ao Filho do Homem...e o seu rosto era
como o sol, quando na sua força resplandece”. E diz: “E eu, quando o vi, caí a seus
pés como morto...” (Ap 1.13,16,17).

3) COMO VEMOS O FENÔMENO.

Nos casos em que ocorre o “cair no espírito”, que conhecemos, ou de que temos
informação, não há semelhança direta com os casos apresentados na Bíblia. Por
que?

a) Em todos os casos (Daniel, Ezequiel e João), eles caíram diante de seres


celestiais, que tinham uma aparência terrivelmente assustadora para o ser humano
(Eram anjos!). Cremos que qualquer pessoa tende a cair diante de uma visão
genuína de um ser celestial.

b) Todos eles caíram com o rosto em terra, e não para trás, prostrados diante dos
mensageiros celestes. Normalmente, quando as pessoas caem para trás, observa-
se que elas estão possuídas por demônios, ou são acometidas de algum tipo de
síncope, ou outro tipo de problema em sua estrutura psicossomática.

c) Em nenhum dos casos, absolutamente, o mensageiro deu qualquer palavra de


ordem, dizendo: “cai!”, “Poder de Deus”, etc. É só examinar a Bíblia para que se
constate essa observação.

4) O QUE CONCLUÍMOS? Que não vemos uma base bíblica consistente para afirmar-
se que tal fenômeno seja genuinamente espiritual; também não julgamos que seja de
ordem diabólica; ao que tudo indica, parece haver uma espécie de sugestão, pois todo
“um clima” emocional é criado em torno do pregador e da reunião.

É possível cair no Espírito, de fato? Sim. Na História das Assembléias de Deus e


dos avivamentos mundiais, como na Inglaterra, no Século XVIII, com John Wesley e
George Whitefield, muitas pessoas caíram, sob o poder de Deus. Porém, ninguém
tocou nelas nem lhes deu ordem para cair.

2..2. O SOPRO DO ESPÍRITO

1) COMO OCORRE O FENÔMENO.

Após o “cair no Espírito”, certos evangelistas internacionais, começaram a


soprar sobre as pessoas e elas caírem no chão, desacordadas. Um pregador, por
exemplo, numa reunião no Rio, soprou no microfone e as pessoas caíam umas sobre
as outras; além disso, jogou seu paletó e muitas pessoas caíram para trás.

2) QUAL A BASE BÍBLICA?

Sinceramente, não vemos nenhuma base nas escrituras para tal fenômeno. O
maior sopro do Espírito a que se refere a palavra de Deus foi dado por Jesus, quando,
de modo sobrenatural, após ressuscitar, apareceu aos 11 discípulos, “assoprou sobre

16
eles e disse-lhes: “RECEBEI O ESPÍRITO SANTO” (Jo 20.22). Foi um sopro
espetacular! No entanto, nenhum discípulo caiu!

2.3. A “BÊNÇÃO DE TORONTO”.

1) O QUE SIGNIFICA? A Seara (Fev 98), trouxe um artigo que nos informa sobre a
chamada “Bênção de Toronto”. Trata-se de um movimento neopentecostal, que
começou em 1994, na igreja “Toronto Airport Vineyard Fellowship” (Igreja Comunhão
da Videira do Aeroporto de Toronto), no Canadá.

2) O QUE OCORRE. Ali, desde aquele ano, as pessoas começaram a cair nos cultos,
aos risos e gargalhadas, tremendo, em êxtase. Em 1995, outros fenômenos estranhos
começaram a ocorrer. Um pregador passou a urrar como leão, engatinhando de
quatro, e gritando: “Deixem o meu povo ir!”. Indagado a respeito, disse que era o “leão
da Tribo de Judá”, que falava ao seu povo. Se isso não bastasse, há pessoas que
cantam como galo, mugem como boi, cantam como pássaros e emitem sons de outros
animais, dizendo-se cheias do Espírito Santo. Esses acontecimentos causaram a
divisão da igreja. A igreja do aeroporto passou a chamar-se “Comunhão Cristã do
Aeroporto”, desligada da “Comunhão da Videira”.

3) QUAL A BASE BÍBLICA? Não conseguimos encontrar, nas escrituras, algum apoio
para esse tipo de comportamento.

2.4. A DANÇA SANTA

1) O QUE SIGNIFICA? Em muitas igrejas, principalmente neopentecostais, é comum


os pastores mandarem retirar as cadeiras ou afastar os bancos, para que comece a
“celebração”, com movimento de danças, muitas vezes extravagantes, que causam
escândalo, no estilo chamado popularmente de “ré-té”té”. Por falta de ensino, fundado
na palavra de Deus, muitos crentes acham que tais movimentos são manifestações do
Espírito Santo. Mas não há qualquer respaldo na palavra de Deus para tais
comportamentos. Na realidade, são apenas manifestações de caráter emocionalista, e
muitas vezes carnal.

2) O QUE OCORRE. A começar dos líderes, todos começam a dançar, a pular, ao


som de músicas agitadas; alguém começa a segurar na cintura da pessoa da frente, e
é formado um “trenzinho”, com uma fila de pessoas dançando, e requebrando; em
alguns lugares, vêem-se pessoas correndo, com os braços abertos para os lados,
fazendo uma coreografia chamada “aviãozinho”. Em algumas igrejas, pessoas
começam a pular, a rodopiar, a sapatear, dizendo-se cheias do Espírito Santo.
Indagados sobre isso, dizem que é a verdadeira forma de se adorar a Deus. É um
momento de “celebração”.

3) HÁ BASE BÍBLICA PARA ESSE TIPO DE DANÇA? Os que defendem esse tipo
de “celebração” afirmam que Davi dançou; Miriam dançou; que o povo de Israel
dançou. Porém, um exame mais acurado da Palavra de Deus não nos dá base
doutrinária para que se dance nos templos, e muito menos, durante a celebração do
culto a Deus, que, hoje, deve fundamentar-se nos princípios neotestamentários. Os
pastores, nas igrejas locais, têm o dever de zelar pela pureza dos princípios bíblicos,
17
deixados por Cristo, e bem ordenados nos Atos e nas epístolas. Se quisermos justificar
o uso de comportamentos do AT, teremos que incluir, tam´bem, os sacrifícios, a
guarda do sábado, etc. Vejamos:

NO ANTIGO TESTAMENTO

a) A dança de Miriã. Diz o texto: “Então, Miriã, a profetisa, irmã de Arão, tomou o
tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com
danças” (Ex 15.20). Miriã e as mulheres dançaram num momento especial, único, de
significado extraordinário, que foi a passagem pelo Mar Vermelho. Era costume, no
Oriente, o povo dançar, em grande ocasiões nacionais. Não vemos base, aí, para as
danças, os “trenzinhos” e as coreografias que se fazem em muitas “celebrações”.
Danças (mwchôwlâh = forma feminina de mâchowl; girar alegremente numa roda –
Menezes Silva, p. 1-3); não há base neotestamentária para as danças desse tipo, no
culto cristão.

b) A dança das filhas de Silo: “E olhai, e eis aí, saindo as filhas de Siló a dançar em
ranchos, saí vós das vinhas, e arrebatai cada um sua mulher das filhas de Siló, e ide-
vos à terra de Benjamim” (Jz 21.21). Os filhos de Israel ficaram proibidos de dar
esposas aos filhos de Benjamim. Para evitar a eliminação da tribo, foram
aconselhados a seqüestrar (raptar) moças que dançavam em Siló. Essa dança (chîyl
= dançar em roda circulante, ibidem), de caráter folclórico, no campo, não serve de
base doutrinária, no Novo Testamento, para que se dance nos cultos, hoje, nas igrejas
locais.

c) A dança das mulheres. “Sucedeu, porém, que, vindo eles, quando Davi voltava de
ferir os filisteus, as mulheres de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei
Saul, cantando e em danças, com adufes, com alegria e com instrumentos de música.
E as mulheres, tangendo, respondiam umas às outras de diziam: Saul feriu os seus
milhares, porém Davi, os seus dez milhares” (1 Sm 18.6,7). Com essa dança
(Mechowlah) , e os cânticos improvisados, não vemos que as mulheres adorassem a
Deus. Portavam-se como de costume, no Oriente, ao ar-livre. Não estavam no templo.
Aliás, foi uma dança, acompanhada de uma cantiga que causou sérios problemas,
enciumando o carnal Rei Saul.

d) A dança de Davi. “E Davi saltava com todas as suas forças diante do SENHOR; e
estava Davi cingido de um éfode de linho. Assim subindo, levavam Davi e todo o
Israel a arca do SENHOR, com júbilo e ao som das trombetas. E sucedeu que,
entrando a arca do SENHOR na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando
pela janela e, vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do SENHOR, o
desprezou no seu coração” (2 Sm 6.14-16).. Esse é um texto muito utilizado pelos que
defendem as danças nas igrejas locais, buscando nele a base bíblica para os
folguedos das “celebrações”. Mais uma vez, vemos o povo, tendo à frente o rei,
cantando e dançando, num momento especial, de júbilo nacional. Não era no culto
propriamente dito, nem dentro do santuário. (“Saltava”, do verbo karar = torcer, voltear,
dançar – Menezes Silva, p.3-5).

Há outros exemplos de danças, no AT, mas nenhum no culto propriamente dito, no


interior do santuário, nem mesmo no Pátio, onde o povo ficava, durante a celebração a
Deus.

18
NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento é o guia doutrinário por excelência da Igreja Cristã, em todo o


mundo. Tudo o que se deve observar, do Antigo Testamento, está contido no Novo, de
maneira mais profunda, no sentido espiritual, ético e moral. Examinemos se o NT
fornece base para danças no culto cristão.

a) Na referência aos meninos flautistas. “E disse o Senhor: A quem, pois,


compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes
aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros e dizem: Nós vos
tocamos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes....( Lc
7.31,32). Jesus comparou os que rejeitaram sua mensagem a meninos flautistas, que
tocavam e os outros não dançavam. Isso não é base para dança nas igrejas
neotestamentárias.

b) A dança de Herodias. “Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a


filha de Herodias diante dele e agradou a Herodes” (Mt 14;6; Mc 6.22). Trata-se de
uma referência a uma dança, provavelmente sensual, que teve conseqüências trágicas
e macabras, com a decapitação de João Batista. Jamais servirá de base doutrinária
para se incluir danças nos cultos cristãos.

c) As danças na casa do filho pródigo. ““E o seu filho mais velho estava no campo;
e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças” (Lc 15:25). O
texto refere-se a um costume oriental, que não concede base para o uso das danças
na igreja local.

É possível, em ocasiões especiais, de genuíno avivamento, haver pessoas que


dancem “no Espírito”, mas sem nenhuma motivação de quem quer que seja. Já vimos
isso, em uma ocasião, mas havia muita decência, e sem nenhum escândalo. Mas não
se pode fazer dessa manifestação um modelo ou um modismo para o culto
pentecostal.

5) PALMAS TOMAM O LUGAR DA GLORIFICAÇÃO A DEUS

Quando era um adolescente, na década de 50, chegou à Cidade de Natal uma


nova igreja, de origem norte-americana, que atraiu muitas pessoas. Uma das
características que chamou a atenção de todos, é que os pregadores incentivavam os
presentes a bater palmas, durante o louvor, acompanhando os hinos. Era um
diferencial em relação às outras igrejas tradicionais ou pentecostais, as quais, no
entanto, mantiveram seu estilo de liturgia. As tradicionais, com o culto formal,
programado. As pentecostais, incluindo as Assembléias de Deus, continuaram a
expressar o louvor através de brados de júbilo, de “Glórias a Deus!”, “aleluias”, etc.

Com o passar dos anos, e de modo marcante, na última década, uma avalanche
de movimentos neopentecostais tomou conta do Brasil, trazendo um novo estilo de
liturgia, centrada em palmas e danças, incluindo no louvor os ritmos populares, tais
como forró, reggae, música axé (inspirada no terreiro de macumba), além do rock e
outros ritmos estrangeiros. Nessa liturgia, as palmas não servem apenas para

19
acompanhar os hinos, mas, de modo muito forte, para expressar o que o auditório
sente, durante a exposição da mensagem.

Quanto às igrejas tradicionais, as palmas foram uma inovação e tanto,


substituindo o tradicionalismo e o formalismo do culto. As danças completam a onda
da “nova liturgia”.

Contudo, para as igrejas pentecostais, incluindo-se a que deu origem ao


movimento, no Brasil, que é a Assembléia de Deus, as palmas entraram, substituindo
o louvor genuíno, pentecostal, marcado, desde sua origem pela glorificação a Deus, a
Jesus, com brados de “Glórias a Deus!”, “Glórias a Jesus!”, “Louvado Seja Deus!”,
“Aleluia!”, “Amém!”, “Bendito Seja o Teu Nome, Senhor!”. No nosso entender, isso foi
um retrocesso tremendo. Por que? Porque palmas são dadas aos cantores mundanos,
nos shows; palmas são dadas aos políticos, nos comícios; palmas são dadas aos
palhaços, nos circos; palmas são dadas aos oradores, em solenidades cívicas; etc.
Porém, a essas pessoas, não se dão glórias! As glórias só cabem muito bem àquele
que merece toda honra, glória, e poder, que é Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

Não queremos afirmar que bater “palmas para Jesus” seja pecado. Mas que as
palmas não substituem o louvor com expressões de júbilo, com maior significado
espiritual, não substituem. Palmas, no culto, ante a pregação, muito parece como
ovação ao pregador; palmas, após a apresentação de um cantor, ou de um grupo
musical, muito parece aplauso para o cantor ou para o grupo. É uma inovação, que
invadiu as igrejas pentecostais, que não trouxe mais espiritualidade à liturgia.

HÁ BASE BÍBLICA PARA AS PALMAS NO CULTO CRISTÃO?

Não existe base bíblica, no Novo Testamento, para que se batam palmas nos
cultos cristãos. Não há qualquer referência, direta ou indireta, clara ou por inferência,
que dê base à inclusão de palmas na liturgia cristã. Nem nos evangelhos, nem nos
Atos, nem nas epístolas, encontra-se o mínimo apoio para esse tipo de
acompanhamento, seja dos hinos, seja da pregação.

Só há referências a palmas no Antigo Testamento, mas, mesmo assim, nunca


durante o Culto a Deus, seja no Tabernáculo, seja no Templo, em Jerusalém!

Algumas palavras hebraicas indicam o bater palmas. Câphaq, com o significado


de bater as mãos em sinal de desagrado, de pesar, de indignação (Ver Jó 27.23;
34.37; Lm 2.15). Tâka, que tem o sentido de aplaudir com uma salva de palmas. É o
que se encontra no salmo 47.1, que tem sido usado como base para o bater palmas no
culto. No máximo, poder-se-ia dizer que daria base para que se dê uma “salva de
palmas para Jesus”, de modo bem claro. Não dá base para acompanhar ritmos de
hinos, nem para se aplaudir pregadores ou grupos de louvor. Nâkâh refere-se a bater
palmas, aplaudindo uma pessoa (2 Rs 11.12).

Um pastor norte-americano depositou, na Justiça, um prêmio de milhões de


dólares, para quem conseguisse provar que músicas, ou hinos, fossem acompanhados
por palmas, no Tabernáculo, no Templo, ou nas igrejas locais, nos primórdios da igreja
cristã. Até hoje, o prêmio está lá, e ninguém conseguiu ganha-lo (Silva, p. 3).

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Nota-se que, quando, nas igrejas locais, nos cultos, não há mais poder de Deus
evidente, as palmas e as danças ocupam o espaço vazio do mover do Espírito. É
inovação que não tem trazido qualquer benefício real para as igrejas pentecostais.

Nesta análise, não temos a intenção de julgar que crentes ou igrejas, que fazem
uso das palmas, nos cultos, estão em pecado, ou desviados. De modo algum. Há
coisas muito mais graves a se condenar. Tão somente estamos incluindo o assunto no
meio das inovações que descaracterizam o movimento pentecostal, quando
comparado com suas origens.

VII - COMO VER ISSO TUDO À LUZ DA BÍBLIA?

Há quem diga que tais fenômenos, ou inovações, são de ordem espiritual


legítima. Contudo, se os confrontarmos com a Palavra de Deus, não vemos como
harmonizá-los com a ética bíblica. S. Paulo, exortando os crentes de Corinto, quanto
ao uso dos dons espirituais, disse-lhes que fizessem tudo com decência e ordem (1 Co
14.40). O apóstolo doutrinou que se alguém falasse línguas estranhas o fizessem por
“dois ou, quando muito, três, e por sua vez”, havendo interprete. Se houvesse
revelação, que o primeiro se calasse. “Porque Deus não é Deus de confusão...” (1 Co
14.27-30,33). Ele disse que se indoutos ou infiéis entrassem na igreja e todos
estivessem falando línguas, haveriam de pensar que os crentes estavam loucos (1 Co
14.23). Imaginemos, agora, se entrarem descrentes, num culto, e houver alguém
urrando como leão, miando como gato, latindo como cachorro, etc. Quem vai pensar?
Em que isso glorificará a Cristo? Um culto na unção do Espírito Santo glorifica a Cristo,
o que é sua missão (cf. Jo 16.14).

1. A “JUSTIFICATIVA” PARA TODOS OS FENÔMENOS.

1) JOÃO 14.12, 25.

Em Natal, um famoso pregador, canadense, num estádio lotado, fez muitas


pessoas “caírem no espírito”. Ao final, perguntei-lhe com que finalidade as pessoas
caiam. Ele disse que era para demonstrar o poder de Deus. Indaguei, ainda, qual a
base bíblica para tal fenômeno. Ele respondeu que se baseava em Jo 14.12, em que
Jesus afirma que o que nele crê poderá fazer maiores obras que as realizadas por Ele.
Há quem cite Jo 14.25, onde está escrito que Jesus fez “muitas outras coisas...”. Mas,
será que alguém cair, dar gargalhadas, urrar como leão, constituem obras maiores que
as operadas por Jesus? Creio que não. Naquele estádio, havia diversas pessoas em
cadeiras de rodas, e nenhuma foi curada! Se fossem, seria uma demonstração
eloquente do poder de Deus. (Houve curas diversas, pois Deus opera por meio da fé
das pessoas no nome de Jesus. )

2) AS EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

Os que aceitam a genuinidade desses fenômenos costumam invocar as


experiências das pessoas por eles atingidas, dizendo que umas se tornaram mais
crentes, mais fervorosas, que mudaram de vida, etc. Acreditamos que, em alguns
casos, tais experiências contribuam para despertar as pessoas para uma vida mais
21
dedicada a Deus. Entretanto, as experiências pessoais, mesmo positivas, não servem
de base para firmar uma doutrina. É necessário o respaldo da palavra de Deus. Do
contrário, tudo poderá ser justificado em nome de “maiores obras” ou da experiência
de alguém.

2. COMO MANTER A PUREZA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

Com base na análise ora apresentada, não queremos ser dogmáticos, nem
temos o interesse em julgar pessoas ou igrejas. Entretanto, atendendo ao escopo do
estudo, cremos que algumas orientações ou sugestões são relevantes, se desejamos
depurar o que descaracterizou o movimento pentecostal, pelo menos em termos das
Assembléias de Deus no Brasil.

Reconhecemos que tais propostas, hoje, no início do Século 21, podem parecer
utopia, ante o avanço avassalador de ensinos, desvios, e práticas litúrgicas, que se
observam em meio ao grande (e desordenado) crescimento dos evangélicos, em
nosso País.

É importante ressaltar, com realismo, que as propostas para a manutenção da


pureza do movimento pentecostal, nas Assembléias de Deus, podem tornar-se
inócuas, em virtude da pluralidade de ministérios e visões em torno da obra, diante do
que falta unidade, e mesmo união, em torno dos “marcos antigos” do movimento
trazido por Gunnar Vingren e Daniel Berg. Parece-nos que não há mais o que manter
em termos de pureza do movimento. Talvez seja mais realista, ainda que
extremamente difícil, falar-se em como restaurar a pureza do movimento pentecostal
nas AD´s no Brasil.

Percebemos que não somente os usos e costumes estão totalmente


descaracterizados. Mas a pureza doutrinária está maculada. Já há igrejas que adotam
a Confissão Positiva, a Teologia da Prosperidade, além de aceitarem a Teologia
Liberal, e o modernismo como forma de comportamento eclesiástico.

Ainda assim, cremos que Deus, e somente Ele, pode fazer um milagre de
levantar uma Reforma do Movimento Pentecostal, reconduzindo-o aos princípios
bíblicos que lhe deram origem. “O vento sopra aonde quer...”. As convenções não têm
poder para fazer tamanha mudança. Os seminários e congressos, muito menos. Mas
Deus só faz milagres, quando damos lugar à operação do Espírito Santo.

O milagre da restauração da pureza do movimento pentecostal, nas


Assembléias de Deus, pode acontecer a qualquer momento, desde que aceitemos
revalorizar os princípios bíblicos que promovem o avivamento. Assim, algumas
propostas, à guisa de sugestão, apenas, são alinhadas a seguir:

a) Valorização da ortodoxia da Palavra de Deus;

b) A pregação e o ensino sobre o Batismo com o Espírito Santo, com a evidência


do falar em línguas, conforme Atos 2.

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c) A busca, na prática, do Batismo com o Espírito Santo, nas reuniões de oração,
nas igrejas pentecostais;

d) O ensino sobre os dons espirituais, mostrando sua atualidade e necessidade


para a igreja cristã, mormente nesses dias de frieza espiritual que assola o
mundo;

e) Clamar a Deus, em reuniões de oração, de vigílias e jejuns, pela operação de


sinais, prodígios e maravilhas, operados pelo Espírito Santo; esse é o maior e
mais eficiente “marketing” da igreja, no Século 21; esta é a estratégia mais
eficiente, com base nos evangelhos, nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas;
mais do que quedas, danças, palmas e risos, os milagres de Cristo têm o poder
de impactar vidas, comunidades e nações;

f) A busca dos dons espirituais, como manda a Palavra de Deus (cf. 1 Co 14);

g) Valorização da oração, como meio de revitalizar a comunhão com Deus, e meio


para a busca do enchimento com o Espírito Santo (Mt 26.41; Ef 5.18);

h) Valorização da vida de santidade, conforme os princípios e parâmetros da


Palavra de Deus, que nos manda ser santos em toda a maneira de viver, na
unção do Espírito Santo (1 Pe 1.15; 1 Ts 5.23);

i) O desenvolvimento da evangelização local, de modo dinâmico e agressivo (no


bom sentido), visando alcançar, em menor tempo, o maior número de pessoas
perdidas, em face da iminente Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo;

j) O incentivo à obra missionária transcultural, dentro dos padrões bíblicos de


chamada, preparo, envio e acompanhamento dos missionários enviados a terras
distantes;

k) O desenvolvimento de um trabalho de discipulado organizado, cuidadoso e


sistemático, que não apenas se limite a contar mãos levantadas, mas a zelar
pelos novos convertidos, com o ensino da Palavra, de modo que os mesmos se
tornem discípulos de Cristo, e ganhadores de almas para o Seu Reino;

l) A restauração de uma liturgia, que inclui os louvores, hinos e cânticos, de modo


santo e alegre, evitando-se os estilos que caracterizam as reuniões de cânticos
mundanas; nesse aspecto, devem-se valorizar os hinos que tenham impacto
sobre o espírito e alma, e não apenas do corpo das pessoas;

m) Promover a integração entre as igrejas locais e os lares, com vistas à


evangelização e o discipulado, com ênfase na transformação de vidas pelo
poder do Espírito Santo;

CONCLUSÃO

Com este trabalho, que pode equivaler a um ensaio, desejamos contribuir para a
discussão, necessária e oportuna, sobre a situação atual, e os rumos do movimento
pentecostal, de que as Assembléias de Deus no Brasil são pioneiras, e têm a
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responsabilidade, diante de Deus, de zelar pela sua pureza e autenticidade, com base
na Palavra de Deus. Talvez seja o desafio do Século!

BIBLIOGRAFIA

BARTLEMAN, Frank. Azusa Street. Whitaker House, Newkensington, 2000.

CONDE, Emílio. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio, CPAD, 2000.

CPAD, Bíblia de Estudo Pentecostal, Rio de Janeiro, 1995.

HULBURT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. Miami, Ed. Vida, 1979.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico


2000. Rio de Janeiro, 2002.

KESSLER e outros. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio, CPAD, 1982.

SILVA, Menezes. Palmas, Ritmos...Danças. Disponível em http://solascriptura. Acesso


em 06.07.2001.

SOMOS Mais de Vinte e Seis Milhões. Jornal Mensageiro da Paz, Rio de Janeiro,
junho de 2002.

WALKER, Williston. História da Igreja Cristã. São Paulo, ASTE, 1967.

i
Cessassionistas: corrente de intérpretes de igrejas históricas que ensina que o “falar línguas” ou “glossolalia” foi apenas
para aquela época dos apóstolos.

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