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UM CHAMADO ÀS NAÇÕES

compreendendo a missão, capacitados à missão e cumprindo a missão

INTRODUÇÃO

Estou convencido de que o fator primordial para o despertamento missionário da Igreja está
centrado na Palavra. Estatísticas e testemunhos certamente nos sensibilizam, mas apenas o poder da
Palavra de Deus vocaciona obreiros e produz compromisso real com os desafios da missão.
Nesta noite queremos falar sobre a necessidade de buscarmos na Palavra a motivação para
cumprirmos a missão. Seu valor é inestimável pois nos leva a voltarmos para a fonte da verdade que
desperta, vocaciona, dirige e motiva. O desafio missionário é pouco valorizado, pois em tempos de
pós-modernidade, abrir mão do que se pode conquistar (“saudades do que nunca se viveu”) não faz
parte da agenda. Mas é exatamente na direção contrário que o missionário Jim Elliot (piloto da
missão Asas do Socorro, morto pelos índios da tribo Auca, no Equador): “Viva de tal forma que,
quando chegar hora da morte, nada tenha a fazer senão morrer”.

TEXTOS-BASE

“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
Judeia e Samaria e até aos confins da terra. Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma
nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões
vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas?
Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir”. At 1.6–11.

“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de
um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas,
como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras
línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”. At 2.1–4.

“Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os
habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras. Estes homens não estão embriagados,
como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia. Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta
Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e
vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as
minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais
embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o
grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. At 2.14–21.
DESENVOLVIMENTO

O texto de Atos dos Apóstolos é uma das mais fascinantes histórias da igreja a qual temos
registro, e não só pelo fato de ter sido a primeira, mas pela sua beleza literária e riqueza de detalhes.
Atos dos Apóstolos pode ser vista como uma obra de dois volumes, a primeira, “o relato de todas as
coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”1, e a segunda, “tudo o que Jesus continuou a fazer”.
Atos então é um livro a respeito da missão, não há nenhuma injustiça ou apelação exegética
dizer que o cap. 1.8 seria o resumo de todo o seu conteúdo: “mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra”2.
O Rev. Hernandes Dias Lopes faz um pequeno resumo da obra: “Nos sete capítulos iniciais
de Atos, vemos o avanço da igreja em Jerusalém e Judeia. No capítulo 8, o evangelho chega a
Samaria. E a partir do capítulo 9, avança para os confins da terra. A conversão de Saulo de Tarso,
o maior perseguidor do cristianismo, e o seu comissionamento como o maior bandeirante da fé
cristã são marcos decisivos na história da igreja. Mais da metade do livro de Atos dedica-se a
narrar suas viagens missionárias e descrever o avanço do cristianismo pelas diversas províncias do
império romano”. Ainda citando o Rev. Hernandes: - “O livro de Atos é o mais importante manual
de crescimento da igreja. Se quisermos vê-la crescer, não devemos começar com os manuais
modernos; devemos retornar ao livro de Atos e nele buscar os princípios que levaram a igreja de
Jerusalém a Roma em poucas décadas”.

Chegamos assim à conclusão de que o crescimento sadio, bíblico e eficaz da Igreja se dá pela
compreensão, capacitação e cumprimento da missão.

1. COMPREENDENDO A MISSÃO. – em 1.6-11, nos parece que os discípulos ainda estavam um


tanto confusos quanto ao que deviam fazer. Jesus havia estado com eles por 40 dias após sua
ressurreição ensinando-os ainda sobre o reino de Deus 3. Quando Jesus está sendo elevado aos céus,
os discípulos ficam estáticos olhando para cima, como se procurando compreender o que estava se
passando, este é o sentido do verbo “ver” no verso 11. Cabe-nos aqui uma importante indagação: já
compreendemos qual a nossa grande tarefa nessa geração?
O comissionamento de Jesus não está referindo-se apenas aos discípulos primitivos, ainda que
apenas eles que estavam ali. A ordem estende-se a todos os que foram alvo da sua intercessão em
Jo.17: – “Agora vou para tua presença. Enquanto ainda estou no mundo, digo estas coisas para que
eles tenham minha plena alegria em si mesmos. Eu lhes dei tua palavra. E o mundo os odeia, porque
eles não são do mundo, como eu também não sou. Não peço que os tires do mundo, mas que os

1
A Bíblia Sagrada Edição Revista e Atualizada, Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil (Barueri: 1993)., [s.d.], cap. 1.1.
2
Bíblia de Estudo Genebra, 2a. [s.l.]: Editora Cultura Cristã, [s.d.], liv. Atos dos Apóstolos.
3
A Bíblia Sagrada Edição Revista e Atualizada, cap. 1.3.
protejas do maligno. Eles não são deste mundo, como eu também não sou. Consagra-os na verdade,
que é a tua palavra. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu os envio ao mundo”. (Bíblia NVT)

Isto fica bem claro nos fatos que sucedem mais tarde, desde a conversão dos três mil após a
pregação de Pedro, estendendo a dispersão, até as viagens de Paulo, a pregação do evangelho é uma
ordem que precisa ser obedecido por todos o que são alcançados pela graça de Deus. Testemunhar de
Jesus a todas as pessoas não exige àqueles cristãos primitivos qualquer planejamento estratégico ou
aprovação orçamentária, eles simplesmente pregam o evangelho enquanto vivem suas vidas – Mt
28.18, expressa movimento em geral, frequentemente confinado dentro de determinados limites, ou
que dá proeminência ao comportamento; daí, a palavra normal para a marcha de um exército.
Parece-nos então, que de fato, os discípulos do primeiro século entenderam a prioridade da missão.
Muitos deles arriscaram a própria vida na proclamação do evangelho à todas as famílias da terra.

2. CAPACITADOS PARA A MISSÃO. – agora vamos para 2.1-4. Mesmo depois da


conscientização é imprescindível a capacitação. Os 120 discípulos estavam congregados no cenáculo
em unânime e perseverante oração, quando, de repente, o Espírito Santo foi derramado sobre eles.
Firmados na promessa anunciada por Jesus, havia no coração deles a expectativa do revestimento de
poder. Todos estavam no mesmo lugar, com o mesmo propósito, buscando o mesmo revestimento do
Espírito. Há pelo menos duas interpretações equivocadas neste trecho do livro de Atos que
precisamos observar: a) os discípulos não estavam amedrontados ou escondidos no cenáculo (uma
sala no andar superior da casa, usada geralmente para jantares ou reuniões), eles se reuniam em
obediência a ordem de Jesus (“E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de
Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes”. At 1.4). A
segunda está em 2.4 – “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras
línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”. A palavra grega usada para línguas é
“glossa” (a raiz da palavra glossário), significa que o ocorrido naquela situação é que os discípulos
foram capacitados de forma sobrenatural a falar os idiomas de todos os grupos étnicos reunidos em
Jerusalém por conta do Pentecostes (2.5-11). Essa informação é bem mais gloriosa do que a
conclusão que alguns grupos tentam defender, pois é a ação missionária mais extraordinária
registrada em qualquer Projeto Evangelístico na história da igreja. Hernandes Dias Lopes comenta
que o Pentecostes de Atos foi o oposto de Babel. Em Babel as línguas eram ininteligíveis; no
Pentecostes, não houve necessidade de interpretação. Em Babel houve dispersão; no Pentecostes,
ajuntamento. Babel foi resultado de rebeldia contra Deus; Pentecostes, fruto da oração perseverante a
Deus. Em Babel os homens enalteciam seu próprio nome; no Pentecostes, falavam sobre as
grandezas de Deus. John Stott escreve: “Em Babel, a terra orgulhosamente tentou subir ao céu,
enquanto, em Jerusalém, o céu humildemente desceu à terra” 4. O Espírito Santo foi derramado não
para conceder poder individual ao crente, mas capacitação para que a Igreja cumpra com a sua
missão, é esse deve alcançar a todos os povos da terra. Somos chamados a pregar o evangelho e
discipular as nações, congregando gente de todas as nações até o dia onde estaremos juntos adorando
ao Cordeiro (Ap.5.7-14).

3. CUMPRINDO A MISSÃO. – a partir de 2.14-21, percebemos a dinâmica em que o Espírito


Santo conduz a igreja. Pedro levanta-se em meio a multidão e explica-lhes a profecia de Joel, o
Espírito Santo prometido por Jesus inaugura uma nova fase da Aliança – A GRAÇA DE DEUS
ALCANÇA A TODOS OS POVOS – pois, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
A grande característica da missão, que por vezes é menosprezada, está nessa peculiaridade de
intensidade e alcance. A igreja não se limita a suas quatro paredes, ou às proximidades das suas
fronteiras, ao contrário, a missão capacita a Igreja a romper com as barreiras culturais, linguísticas ou
territoriais, ela transcende nossas riquezas, projetos, planilhas, estruturas e institucionalidade. Não
somos nós que definimos nossas metas, pois a missão é para os confins da terra. Toda igreja que não
olha para o horizonte corre o sério risco de tonar-se infrutífera ou irrelevante (não levantar os olhos
para os campos!).
Cumprir a missão é pregar o evangelho com fidelidade e clareza, a mensagem de Pedro está
estruturada pelo menos em quatro pontos:
a) nossa pregação é cristocêntrica em todos os sentidos;
b) a mensagem fiel do evangelho produz impacto, provoca resposta;
c) a pregação bíblica não esconde a punição para o pecado (métodos que insistem em promover o
bem-estar do ser humano põe em risco o arrependimento genuíno);
d) a mensagem apresenta a promessa de Deus para o coração arrependido, que não é poder,
satisfação pessoal ou prosperidade material, mas, remissão dos pecados e capacitação do Espírito
Santo.
CONCLUSÃO
A missão Portas Abertas convida a igreja brasileira a lembrar-se neste domingo da Igreja
Perseguida, meu objetivo na pregação foi o de apresentar as marcas do nosso chamado e a dinâmica
estabelecida por Deus a partir da Igreja Primitiva, para o cumprimento dessa missão. Crentes em
diversas partes do mundo estão neste momento sendo punidos apenas pelo fato de se declararem
cristãos, a intolerância religiosa, há séculos, é a responsável pelas maiores atrocidades contra a vida
humana. Diante dessa realidade, entretanto, a igreja de Jesus continua sendo ordenada e

4
LOPES, Hernandes Dias, Atos - A ação do Espírito Santo na vida da igreja, São Paulo, SP: Editora Hagnos, [s.d.], p. 55.
sobrenaturalmente capacitada a pregar o evangelho, ser fiel ao Deus que comissiona, e cumprir a
missão com intensidade e paixão.
A obra de Atos dos Apóstolos é muito mais do que uma narrativa testemunhal de Lucas das
primeiras obras da Igreja da Nova Aliança, para além disso, o Espírito Santo revela aos discípulos o
que deveriam fazer diariamente, mesmo que isso lhes custasse a vida. Hoje, dezenas de cristãos, na
Coréia do Norte, provavelmente foram presos ou torturados. Nós aqui podemos orar, suplicar a Deus
que os livre das mãos dos inimigos, e voltarmos para casa, dormir, e amanhã seguir a vida como se
nada mais estivesse acontecendo. Ou, podemos fazer um pouco mais, podemos assumir um
compromisso com a missão e sermos respostas das nossas orações em favor das nações.
Faz alguns anos, li um dos livros do Pr. John Piper, nele, Piper faz uma declaração aos
missionários da sua igreja. Lembrei-me dela ao escrever este sermão e tenho uma declaração a fazer
para todos os missionários que temos aqui em nossa igreja e aqueles que já passaram por aqui, ou de
alguma forma tocaram minha vida nos últimos anos:
- Sua devoção tem um poder colossal em minha vida. A ida de vocês aos campos, significa que eu
tenho muito o que fazer por aqui. Sua força supre minhas fraquezas. Suas ausências fortalecem
minha dedicação nesta comunidade. Por isso dou graças a Deus por vocês. Que Ele faça a
reciprocidade da nossa motivação cada vez mais eficaz nos próximos anos.
Creio que a vontade de Deus é levantar nesta igreja alguns missionários que vão gastar suas
vidas para ganhar outras vidas. Jovens, adolescentes, famílias, idosos podem ser comissionados pelo
Espírito Santo para deixar sua terra e sua parentela, ter a visão estendida para os povos não-
alcançados, e tenho certeza que não serão os recursos que podem impedir que isso aconteça. Deus
não depende de nós para salvar aqueles que Ele escolheu, mas Ele pode nos dar o privilégio de
participar dessa missão hoje. O que podemos fazer já está muito bem explicado por toda Sagrada
Escritura, lançar mão no arado, e não olhar para trás é o privilégio que nos cabe...

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