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A 405347

University of

Michigan

Libraries

1817

ARTES SCIENTIA VERITAS


!
Tenente-Coronel AURÉLIO DA SILVA PY

(Chefe de Policia do Rio Grande do Sul)

A 5 COLUNA

NO BRASIL

A CONSPIRAÇÃO NAZI
NO

RIO GRANDE DO SUL

2." EDIÇÃO
12.° MILHEIRO

1 C 6
ED RE
ALEG

Edição da Livraria do Globo


Pôrto Alegre
F
2621

•558

1942

EDIÇÃO N. 1376-A

1942
OF. GRÁF. DA LIVRARIA DO GLOBO BARCELLOS, BERTASO & CIA.
PORTO ALEGRE
FILLAIS: SANTA MARIA, PELOTAS, RIO GRANDE E RIO DE JANEIRO
57277636 1 2676

INTRODUÇÃO

Quando em 1937, como Chefe de Polícia Militar, ini-


ciámos a campanha contra o partido nacional-socialista,
convencido estávamos de que íamos "espetar o capeta com
uma taquara”, porém, com conciência do dever cumprido,
palmilhávamos, com prazer e serenidade, uma trajetória
de asperezas e incertezas.
Devidamente amparado pelo então chefe do Estado-
Maior da 3.ª Região Militar, Coronel Osvaldo Cordeiro
de Farias, e pelo inesquecível Comandante da Região,
General Daltro Filho, começámos a campanha de desar-
ticulação de todas as alas do partido nacional-socialista,
que em pleno e florescente desenvolvimento se encon-
travam .
Já, então, contava com a cooperação dinâmica e in-
teligente do Delegado Plinio Brasil Milano, bem como
com o auxílio inicial e valioso dos irmãos Vitor e Gaston
Englert e do dr. Franz Metzler.
Naquela época, dois extremismos, essencialmente pe-
rigosos e infensos às nossas tradições, ameaçavam trans-
formar a estrutura político-social do Estado , buscando
subverter os fundamentos cristãos sobre os quais ela re-
pousa.
Em três correntes principais se grupavam os homens
preocupados com os destinos do Brasil : a da direita, a da
esquerda e, finalmente, a do centro, sendo que esta não
representava um conservadorismo estático, mas dinámico,
no sentido de prosseguir a nossa natural evolução histó-
rica, sem perder de vista as tradições nacionais e a reali-
dade universal.
Imbuído dos ideais cristãos desde tenra idade, era
6 AURELIO DA SILVA PY

natural que nos incorporássemos a esta última corrente,


de vez que ela procurava resolver a crise atual dentro das
nossas tradições, onde o cristianismo aparece em primei
ro plano.
E tais são as transcendências dos problemas que afli-
gem a humanidade que só orientados por uma elevação
moral muito grande, poderemos encará-los de frente, sem
vacilações.
E não acreditamos que outra arma exista para com-
batê-los senão os verdadeiros princípios do cristianismo.
E' evidente a excelência dos princípios da moral cris-
tã, na formação dos caracteres, na preparação do homem
para a luta pela vida, sendo que, aos negativistas, basta
apontar-lhes os dois caminhos pelos quais marcha a hu-
manidade dividida : de um lado, aquele em que a grande
maioria continua a sua cruzada de fé, amando os ideais
de fraternidade, prégando o bem e a concórdia; e, de
outro, um pequeno cortejo que se deleita em espalhar o
luto, a miséria e a fome.
Se há males sobre a terra e dissidio entre os homens,
não é que a doutrina cristã não tenha procurado evitá-los.
Se a sua filosofia justifica a luta pela existência,
quando em perigo ou comprometida, como sinal de vita-
lidade, desautoriza a violência como dogma na solução
dos problemas;
Se exalta o heroísmo, que é a expressão mais per-
feita do dever civico, condena a truculência, como meio
de conquista;
Se aplaude o sacrificio pela Pátria, na defesa da
Grande Família, exprobra o demagogo e o déspota,
quando, sob falsos princípios, conturbam os espíritos e
lançam a discórdia entre os homens;
Se preconiza o respeito às instituições lícitas, préga e
defende a paz, pratica e estimula o sentimento de solida-
riedade, a moral cristã recrimina a humilhação e a sub-
serviência, por incompatíveis com a dignidade humana .
A 5. COLUNA NO BRASIL 7

te Com a mentalidade cristã, temos combatido e com-


bateremos, sem dar tréguas, os extremismos quer da di-
reita, quer da esquerda.
A esses decantados sistemas de “salvação da humani-
dade", ou a quaisquer outras organizações que se lhes
do assemelhem nos métodos violentos e amorais, enfrentare-
mos com decisão e energia, porque todos visam subverter
os fundamentos da moral cristã.
A moral cristã será a argamassa que dará consistên-
10. cia e forma à humanidade que se debate desarvorada em
15
pleno oceano de um materialismo estúpido, nefasto e dis-
solvente, açoitada pela guerra que, como um verdadeiro
flagelo, tudo devora e avassala.
No setor comunista, temos encontrado relativa faci-
lidade, graças à clarividente política do Presidente Var-
gas, ditada por notável espírito de equilíbrio, atitude rara
e elogiável neste século de lutas e antagonismos e mercé
da qual o Brasil não mais oferece campo às explorações
esquerdistas.
Sem lutas, sem sangue e sem ódio, o problema traba-
05. lhista foi equacionado, entre nós, segundo a fórmula na-

cional, surtindo imediatos e animadores efeitos.
Atendidas as justas pretensões dos operários e preve-
nida a nossa juventude contra as artimanhas dos agita-
dores, o esquerdismo ficou sem mercado para o seu co-
59. mércio subversivo.
10
Como acentuámos, porém, além dessa doutrina, visce-
ralmente contrária à nossa índole política, ainda nos
1.
achamos à frente de um perigo atualmente mais grave e
agressivo - o chamado extremismo da direita, como o
evidenciam cabalmente as páginas que se seguem .

Fazendo a presente publicação ― não será demais


assinalar ainda - temos em vista unicamente prestar
um serviço à coletividade brasileira.
8 AURELIO DA SILVA PY

Não alimentamos a pretensão de apresentar um tra-


balho, não diremos original, mas exclusivamente nosso,
individual. Tudo quanto se encontra neste livro é o re-
sultado de uma ação coletiva, intensa, tenaz e que, infa-
tigavelmente, se vem desenvolvendo desde vários anos,
orientada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul
e realizada pela Repartição Central de Polícia, sob
nossa Chefia.
E - convém salientar, igualmente, não visamos,
com esta publicação, lucros ou vantagens de qualquer na-
tureza, pois mesmo o produto que, porventura, venha a
resultar dêste livro reverterá em benefício da patriótica
obra de nacionalização, em tão boa hora iniciada e tão
acertadamente levada a efeito pelas nossas autoridades
governamentais.

Ten.-Cel. Aurélio da Silva Py


Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul.
Do plano pangermanista ao
programa de Hitler

"A Alemanha é uma ameaça perma-


nente para as nossas livres instituições
e para a nossa independência nacional ."
Graça Aranha.

E' possível que o leitor brasileiro, ao chegar ao fim


da leitura dêste livro, ainda guarde restos do ceticismo
com que nos habituáramos a considerar a questão do
objetivo nazista de conquista do mundo. Não agirá
assim por acreditar nos reiterados e irônicos desmenti-
dos de Hitler, mas talvez porque é essa uma tendência
do comportamento universal em face da enormidade
das ambições do nazismo e porque felizmente --- a
penetração nazista em nosso pais não tocou às fases cul-
minantes e espetaculares que facilitaram a conquista e
a subjugação de quasi tôda a Europa . Mas foi exata-
mente esta atitude de ceticismo, de indulgência, de
desprevenção, que permitiu ao hitlerismo implantar so-
lidamente suas quintas-colunas nos territórios imediata
ou mediatamente visados, as quais têm mostrado ser, na
prática, verdadeiras vanguardas militares. E por mais
evidente que seja, é necessário lembrar, àqueles leitores
incrédulos, que o fracasso de uma conspiração não signi-
fica que essa conspiração seus objetivos imediatos, seus
meios de ação e, no caso, seu esquema futuro de opres-
são quando o Herrenvolk, "a raça de senhores”, já não
fôr uma simples quinta-coluna não tenha existido,
ou que não haja deixado remanescentes e obsedados.
E bem sabemos qual é o esquema nazista de dominação.
10 AURELIO DA SILVA PY

Através de livros e artigos de imprensa, filmes e outros


documentos, ficaram e ai ainda estão os exemplos da
Polônia, da Noruega, da Tchecoslováquia, dos Paises-
Baixos, da Sérvia, da própria França que nos acostuma-
mos a considerar um patrimônio universal, por sua cul-
tura e por suas tradições gloriosas.
Se essa fase não nos tocou, e provavelmente não nos
tocará, foi em parte por uma simples questão cronoló-
gica: a nossa vez, na escala de Hitler, estava mais abaixo
do que a vez daquelas nações . Mas, de qualquer forma o
perigo não está conjurado. Pelo contrário: aproximou
se de nós no dia em que o Eixo declarou guerra aos Es-
tados-Unidos. E só desaparecerá quando a base levan-
tada em Berlim fôr desmontada até o seu alicerce.
Mas, ainda que o mundo se veja finalmente livre dês-
te pesadelo tremendo, precisamos, nós também, aprovei-
tar a lição, não esquecer a experiência.Um povo apren-
de à custa de suas experiências; os ensinamentos que fi-
cam são os que êle colhe na prática diária da sua exis-
tência como povo. Através daquelas, progride, amadu-
rece, preserva o seu bem-estar presente, garante a sua
segurança no futuro . Não se trata, pois, de sermos ape-
nas patriotas, mas de sermos práticos também . Sob a
ameaça nazi, não está em jógo apenas algo mais ou me
nos ideal como uma cidadania, uma nacionalidade, mas
cousas reais, cotidianas, domésticas e primárias, como
a liberdade de residir aquí ou ali, o direito de casar e
ter filhos, a liberdade de alimentar-se cada um segundo
seus gostos pessoais.
Vamos, pois, considerar as provas dos fatos que
ocorreram à sombra, entré nós, e aprender, através delas,
a lição que tão caro saiu a outros países, inclusive aos
Estados Unidos, onde os acontecimentos mostraram fi-
nalmente que os crentes em isolamentos geográficos não
passavam de sabotadores, embora inconcientes muitas
vezes.
A 5. COLUNA NO BRASIL 11

O PLANO PANGERMANISTA

O pangermanismo tem por fim o do-


mínio dos territórios e povos, mesmo
não germanos, cuja exploração possa
dar ao povo alemão vantagens milita-
res, políticas e econômicas.
(André Chéradame "Dias decisi-
vos", pág. 75).
Muita gente há que entende que o plano alemão de conquista
do mundo em que o Brasil é incluído como uma das presas mais
cobiçadas - é criação do nazismo e só surgiu, mesmo, do cérebro de
Hitler. Entretanto, o que o nacional-socialismo alemão começou a
pôr em prática e vem executando em condições. tão assombrosas nada
mais é do que um plano de longa data elaborado e carinhosamente
acariciado pelas gerações alemãs que se sucedem.
Há, mesmo, quem faça remontar suas origens à época do impe-
rador Frederico II, cujas idéias e atitudes o apontam, desde 1740,
como o "pai do pangermanismo", ou, melhor, como o grande criador
e primeiro executor da doutrina de que a Alemanha pode apoderar-
se do que lhe aprouver, desde que, para tanto, disponha da fôrça
necessária.
1
Ora, êsse plano de domínio universal tinha de exigir, fatalmen-
´te, conquistas de povos e nações . Daí, então, o tornar-se o povo ger-
mânico conhecido através dos séculos não apenas como um "povo
de rapina" senão também, como o "povo-invasão". Quem o afirma ,
magistralmente, como sempre, é o grande escritor brasileiro Graça
Aranha, no prefácio ao livro de André Chéradame “O plano panger-
manista desmascarado". Eis o que êle diz:

"O povo alemão não é somente um povo de 1apina


ad predam instigantes (Germano conserva na sua etimologia
a raiz ger, rapace, gerfault em francês, gerifalte em português,
ave de rapina. ) E' também o povo- invasão. A crítica his-
tórica já assinalou que a história da raça alemã durante os
seus dez primeiros séculos se resume em um só fato : invasão.
Nesse período ela invade continuadamente o império romano.
E quando não pode invadir pela violência, ela se mascara e
se põe ao serviço de Roma para depredar a Gália, a Itália e a
Espanha. A invasão se torna uma instituição germânica, e
se Carlos Magno a detém, ela não é abandonada totalmente
e a história da Europa se pode caracterizar como a perma-
nente repulsa dos povos do Ocidente e do Mediterrâneo à
invasão alemã, mais tenaz, mais temível que tôdas as outras
invasões bárbaras”.
Longo, seria, porém, passar em revista o plane pangermanista
através de sua história . Para o objetivo que procuramos, bastará
12 AURELIO DA SILVA PY

acentuar que sua elaboração coordenada se verifica depois da guerra


de 1870, quando se estabeleceram também as bases fundamentais de
sua execução na prática. Observa-se, desde então, um moviment●
intelectual intenso em tôrno das idéias nucleares do plano : escrito-
res, filósofos, professores, jornalistas, militares de nomeada e chefes
de Estado germânicos não perdem nunca oportunidade de insistir
sôbre o assunto, cuja pedra de toque era sempre, como ainda hoje,
a necessidade de uma "luta suprema, tendo por base a existência e a
grandeza da Alemanha".

UM FOLHETO DE 1895 E AS IDÉIAS DE TANNENBERG

" O Sul do Brasil, o Paraguai e o Uru-


guai são regiões de cultura alemã :
alí, o alemão será a língua nacional."
Tannenberg.

Aparece, todavia, em Berlim, no ano de 1895, um folheto sem


assinatura, mas publicado com o apoio da Alldeutscher Verband
(União Pangermânica) , associação pangermanista poderosa, presidida
pelo Dr. Hasse, deputado ao Reichstag, por Leipzig. Seu título já
nos dá uma indicação de sua finalidade: "A Grande Alemanha e a
Europa Central em 1950" ("Gross-Deutschland und Mitteleuropa um
das Jahr 1950 " -- Thormann e Goetsch, Berlim S. W. Bessel : Strasse
17 - 1895) . ---
Uma idéia rápida e sumária da doutrina contida nesse folheto
encontra-se, sem dúvida, nesta frase simples, mas expressiva:
"Quem não quiser ser expulso, deve saber expulsar" ("Wer nicht
vertrieben sein will, muss vertreiben" .)
Diversos fatos históricos, ocorridos depois de 1895, têm eviden-
ciado claramente que o sonho da "Grande Alemanha" vinha pas-
sando ao terreno das realidades, sempre animado por doutrinado-
res de valor e com apôio nas altas esferas governamentais germâni-
cas. Assim é que, em 1911 , Otto Richard Tannenberg lança em
público uma edição atualizada do plano pangermanista, no seu
livro "A Grande Alemanha, a obra do século XX" (Gross-Deutsch-
land, Die Arbeit des XX Jahrhunderts Bruno Volger, em Leipzig
- Gholis).
Tôdas as antigas idéias de expansionismo e domínio alemão
aparecem, então, nessa obra, reeditadas e ampliadas, abrangendo
o universo inteiro, pois que "o povo alemão luta pelo império do
mundo".
No que toca à América do Sul, a Alemanha, segundo Tannen-
berg, tomará sob sua proteção as repúblicas da Argentina, Chile,
Uruguai, Paraguai, o têrço meridional da Bolívia e a parte sul do
Brasil.
A 5. COLUNA NO BRASIL 13

Mappa
da America do Sul
em 1950

Extrahido do livro
de R. Tannenberg ,
Gross Deutschland .
-Publicado em Lep-
zig em 1911. - Tra-
duzido em francez.
Publicado por Payot Territorio Allemso .
& Cia
Inglez
Paris-Lausanne
" dos Estados Unides .. U

"A Alemanha, diz textualmente Tannenberg, toma sob


a sua proteção as Repúblicas da Argentina, do Chile, do Uru-
guai e do Paraguai, o têrço meridional da Bolívia, na parte
integrante da bacia do Rio de la Plata, e a zona meridional
do Brasil onde a cultura alemã domina".
11
"A América meridional alemã, conclue Tannenberg, dar-
nos-á, na zona temperada, um terreno de colonização, onde
os nossos emigrantes poderão fixar-se como agricultores. 0
Chile e a Argentina conservarão a sua língua e a sua auto-
nomia. Mas exigiremos que, nas escolas, o alemão seja con-
siderado como a segunda língua . O Sul do Brasil, o Para-
guai e o Uruguai são regiões de cultura alemã ; alí o alemão
0 será a língua nacional".

E mais adiante:
1.

"Sobretudo a partir de 1900, os alemães foram inten-


0
samente trabalhados pelas sociedades pangermanistas. Deu-
14 AURELIO DA SILVA PY

se preferente atenção a países que, como a Argentina e


Brasil, especialmente, estavam destinados a ser os principais
protetorados alemães da América do Sul".

Podemos assim, facilmente, avaliar o acêrto do comentário do


mesmo André Chéradame :

"Quando Hitler chegou ao poder em 1933 , encontrou


tudo preparado pelos seus antecessores, especialmente por
Stresemann, para um rearmamento intensivo. Eis por que
o führer pôde, então, atacar as cláusulas militares e territo-
riais do tratado de Versailles. Obstinado e audaz, empreen-
deu a série de operações que o tornaram virtualmente senhor
da Europa, Ásia e África.
Na marcha que as coisas levam, facilmente se compreen-
de que, se a América não faz agora o necessário para uma
defesa eficaz, ela, por seu turno, também será subjugada mes-
mo antes de 1950 , prazo máximo previsto pelo folheto de
1895 para a realização integral do plano pangermanista."

OUTRAS PROVAS DAS INTENÇÕES DE DOMÍNIO


ALEMÃO

66
a Alemanha, a Itália e o Japão
fazem a guerra à América há perto
de seis anos, mas os Americanos ainda
não viram esta guerra ... a guerra in-
visível desencadeada por Berlim."
(André Chéradame - "Dias decisi-
vos”, pág. 219) .

A idéia de dominação sôbre grande parte do Brasil não é, por-


tanto, invenção do nazismo. Além das provas irrefutáveis que já
apresentamos, a respeito, novos documentos ainda podemos enu-
merar, evidenciando esse aspecto perigoso do plano pangermânico
para o nosso País. Assim, pelo livro de Wilhelm Sievers, professor
da Universidade de Giessen, intitulado "Südamerika und die deu-
tschen Interessen" e publicado em 1903, vemos "como a Alemanha
deve colocar sob o seu protetorado os países sul-americanos":

"De tal maneira se acha dividido o poder político no


globo que, atualmente, as únicas potências verdadeiramente
mundiais são a Grã-Bretanha, a Rússia e os Estados-Unidos.
Elas são as que se apropriam ou se podem apropriar de gran-
des extensões de território. A Alemanha e a França só vêm
em segundo plano . Se o império alemão quiser readquirir
a sua ameaçada situação, de uma das potências diretoras da
terra, deve tratar de alcançar influência onde é ainda possível
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 15

obtê-la, isto é, na América do Sul, e não sob a forma de


anexação, como em Kiao-Tcheu, o que nos inimizaria com
êsses povos, mas sob a forma de um apoio econômico, indus-
trial e mesmo militar, se fôr preciso, nos Estados sul-ameri-
canos, contra as crescentes ambições dos Estados-Unidos. Nes-
se intuito, deveria o império alemão adquirir a fôrça neces-
sária para contrariar as pretensões dos Estados-Unidos, resig-
nar-se à hostilidade comercial da Grã-Bretanha, que já é
considerável, e buscar o resoluto apôio de um Estado que,
por assim dizer, não tem interêsse algum na América do Sul,
isto é, a Rússia, à qual, como compensação, seria concedida
tôda a liberdade na Asia. Essa política é tanto mais reco-
mendável quanto a Rússia é a inimiga natural da Inglaterra
e dos Estados -Unidos. De todos os modos, chegou o mo-
mento de tomar posição para ocupar a única parte da Terra
que ainda está disponível, porque os acontecimentos se sucedem
hoje mais rapidamente, na história política do globo, do que
há um século, e os grandes Estados se desenvolvem e decaem
com mais presteza do que até agora se supunha” .

Alfred Funke, em um trabalho também de 1903, sob o título


"Die Einsiedlung der Oesterreicher Südamerikas in Hinblick der
Deutschen Interessen ", (A adaptação dos austríacos da América do
Sul em relação aos interêsses alemães) afirma categoricamente os
direitos da Alemanha sôbre o Rio Grande do Sul:

- "A influência política que os alemães deveriam, sem


dúvida, possuir, dado o seu número, no Rio Grande do Sul,
tem sido, até agora, aniquilada pelo governo brasileiro, me-
diante fraudes eleitorais. E' raro encontrar um nome ale-
mão nas listas de candidatos e, no entanto, o número de ale-
mães deveria justificar o seu desejo de ver representadas, por
pessoas da sua raça, no Congresso e no Senado, as suas aspi-
rações e as suas vontades. O Rio Grande do Sul, deve con-
verter-se num feudo do capital e da imigração da Alemanha.
O DIREITO HISTÓRICO E A FORÇA estão conosco e
nada se poderá opor a nós, se não nos deixarmos levar por
aspirações políticas inoportunas".

Em um livro sobre " Reines Deutschtum", (Germanismo puro)


Outro pangermanista, Friedrich Lange propugna pelo que atualmen-
te se poderia chamar “emigração dirigida” :

"Uma política previdente deveria empregar os meios


adequados para dirigir a emigração , de tal modo que os inte-
rêsses vitais dos particulares estivessem de acordo com OS
do Estado. Essa política é a que, mediante a resoluta apli-
cação das fôrças de que dispõe, deve estipular, com os demais.
Estados, as convenções necessárias, para que os nossos emi-
grantes sejam acolhidos nas condições que correspondam aos
16 AURELIO DA SILVA PY

intentos do nosso governo. Os Estados interiormente dividi-


dos, como a República Argentina, o Brasil e, pouco mais ou
menos, TÔDAS ESSAS REPÚBLICAS MENDIGAS da
América do Sul, deveriam ser levadas PELA BRANDURA
OU PELA FORÇA a ouvir palavras muito significativas".

No tocante à emigração, porém, o escritor E. von Liebert tam-


bém se manifesta na sua obra "Ziele der Deutschen Kolonial-und
Auswanderungspolitik", -Alldeutsche Blätter, 1907, (Objetivos da
política colonial e emigratória alemã), dizendo o seguinte:

"Cumpre promover, sistematicamente, a emigração


alemã, afastando -a na América do Norte e dirigindo-a para as
colônias alemãs, assim como para a Argentina e o sul do
Brasil, isto é, para os pontos onde se acham zonas fechadas
de imigração alemã. Nesse intuito, devem intervir os gran-
des meios de que o Estado dispõe. Antes de tudo, cumpre
revogar a lei de 1.º de Junho de 1870 , relativa à perdida
nacionalidade e substituí-la por disposições mais liberais. A
Alemanha que vive no estrangeiro, é hoje ainda a nossa me-
lhor, mais importante colônia. Um dos trabalhos mais re-
muneradores da política alemã consiste em retirar dessa Ale-
manha que vive em país estranho, os maiores proveitos para
a causa nacional. Contamos 60 milhões de almas no impé-
rio alemão e cêrca de 30 milhões que falam a nossa língua
no estrangeiro. Essa massa poderosa, que está unida a nós
por vínculos de sangue e de língua, deve estreitar ainda mais
os seus laços conosco, mediante interêsses étnicos, literários
e econômicos, e, assim compenetrada de uma maneira cada
vez mais íntima, formará êsse grande império alemão de que
fala o nosso imperador desde 1896".

Aliás, a êsse respeito ainda, mais incisiva é a teoria de Johannes


Unold, que se refere à " missão civilizadora da Alemanha na Amé-
rica Latina":

"As tristes condições políticas e financeiras que leva-


ram êsses países extremamente ricos à ruína e à miséria pela
revolução, pela má gestão econômica, pela concussão e pelo des-
perdício, reclamam imperiosamente da honestidade e do espírito
refletido dos alemães um remédio e um saneamento que fariam
sentir os seus efeitos, ao princípio na administração dos mu-
nicípios, depois nas províncias e finalmente no Estado ....
Mas para que os alemães possam preencher a alta e preciosa
missão civilizadora de INSTRUIR E DIRIGIR os povos da
América latina, duas condições preliminares são indispensá-
veis. Em primeiro lugar, é preciso que procurem manter
com energia e inteligência as suas qualidades e vantagens físi-
cas e morais, evitando cair nos vícios e nas fraquezas dos ha-
bitantes do país. Nesses países, as grandes qualidades dos
alemães são postas em perigo pelos vícios sexuais e pelas mo-
A 5. COLUNA NO BRASIL 17

léstias que, em consequência do clima e dos costumes rela-


xados dos habitantes do lugar, se propagam com particular
1 facilidade e aniquilam a virtude primordial dos alemães : a
vida de família, sã, bela e sólida, o lar da disciplina, da mo-
ralidade alemã , da alma alemã e do sentimento do ideal ale-
mão. Em segundo lugar, para a realização da missão civi-
lizadora da Alemanha na América latina, é necessário que a
emigração seja organizada pelo Império Alemão . A emi-
gração e a colonização (no interior como no exterior) de-
vem ser consideradas e tratadas como serviço importante do
Estado" .

Finalmente, para encerrar esta farta documentação , uma evi-


dência de que nem mesmo a prática da infiltração de técnicos cons-
titue novidade no plano de conquista germânico.
Joseph Luidwig Riemer, no livro "Ein pangermanisches Deu-
tschland" (1905), aconselha os alemães a que enviem aos Estados
sul-americanos uma multidão de técnicos: engenheiros, sábios, co-
merciantes, administradores, etc. , e acrescenta:
"Não se deve supor que seria mal acolhida por êsses
Estados a intervenção da fôrça e do capital alemães. Os
mais discretos receberiam, não só com prazer, como com
regozijo, êsse auxílio material e moral, pois nele veriam um
apôio efetivo contra o seu inimigo natural, os Estados- Unidos,
inimigo que pretende obrigá-los, não só a uma dependência
econômica, como também a cessões de território e ainda a
uma perda da sua nacionalidade, se lhe fôr possível conse-
guí-lo ".

CUIDADO ! A ALEMANHA E' UMA AMEAÇA PERMANENTE

" A crítica histórica já assinalou que a


história da raça alemã, durante os seus
dez primeiros séculos, se resume em um
só fato : invasão".
Graça Aranha.

Mais ainda: depois do que recordamos, dando testemunhos


autorizados e insuspeitos, podemos também verificar a veracidade
dos fatos mencionados por Rauschning, ex-presidente do Estado de
Dantzing, no seu livro "Hitler me disse":

"No início do verão de 1933 , fui testemunha, neste


terraço, duma conversa de?? Hitler, bem característica das suas
idéias sôbre a América . . . "Edificaremos, dizia Hitler, uma
nova Alemanha no Brasil. Alí encontraremos tudo o que
nos fôr necessário" . (p. 78 ) "Hitler expôs novas idéias sô-
bre as probabilidades da Alemanha na América do Sul. A
Argentina e a Bolívia interessavam-no sobremaneira. Havia,
2-5 . C.
18 AURELIO DA SILVA PY

afirmava, boas razões para crer que o nacional-socialismo en-


contraria um terreno favorável de influência nesses países.
As idéias que Hitler exprimira, então, foram realizadas mais
tarde por Bohle e Ribbentrop' .

E, sem esfôrço concluiremos acompanhando Graça Aranha,


cujas palavras, escritas há 25 anos, têm, agora, maior oportunidade
do que a da época em que o saudoso escritor as lançou :

"Cuidado! A Alemanha é uma ameaça permanente pa-


ra as nossas livres instituições e para a nossa independência
nacional. Ela procurará jugular a nossa energia e nos redu-
zir à escravidão econômica. Desconfiai da sua filosofia, do
seu socialismo e da sua democracia. Todo o pensamento
alemão é um pensamento de conquista. Tôda a Alemanha
está hoje na guerra e amanhã estará na invasão pacífica. O
pangermanismo não é uma criação moderna, uma invenção
da Prússia guerreira. E' uma aspiração longinqua, que vem
peregrinando no sangue da raça e intensificando - se de gera-
ção em geração. Sempre germinou no cérebro alemão e já
no século dezoito tomava fórmulas lapidares para os seus de-
sígnios. Assim, o publicista Moeser escrevia : "Com uma
organização melhor o negociante de Hamburgo dará as suas
ordens nas margens do Ganges. " Não é a singular anteci-
pação do plano pangermanista de hoje? Não é a indicação
do famoso caminho de ferro de Hamburgo a Bagdad, instru-
mento da conquista do Oriente? Antes dêsse grito precur-
sor, a política da invasão comercial estava apregoada como
uma necessidade e um desabafo da raça . E quem foi o seu
insigne patrono e pregoeiro? Leibnitz! O filósofo do idea-
lismo alemão, ao enviar o seu "Codex diplomáticus" ao prín-
cipe de Windischgraetz, propõe -lhe empreender contra a Fran-
ça uma guerra comercial "mais nefasta do que dez exércitos" .
Será êsse o programa da Alemanha vencida, democrática e
socialista. A guerra nefasta do comércio ! A guerra de Leib-
nitz ! é o perpétuo espírito invasor da Hansa que a república
alemã reencarnaria. Acautelai-vos !".

**

A título de indicação, para os leitores que desejarem conhecer


o plano pangermanista, enumeramos a seguir as obras citadas por
André Chéradame e que contêm os textos alemães desde 1893 ,
essenciais para a compreensão do plano de Berlim e dos seus pro-
cessos de realização .
Devem ser incluídos nesta lista os trabalhos daquele escritor
cujos títulos constam do volume "Dias decisivos - A defesa das
Américas", um dos mais preciosos repositórios sôbre a trama das
ambições germânicas de dominação mundial . Eis a relação :
A 5. COLUNA NO BRASIL 19

"A Grande Alemanha e a Europa Central em 1950"


1895 - Thormann e Goetsch ― Berlim S. W. Bessel: Strasse 17".

"A Europa e a questão da Austria no limiar do século XX”
- André Chéradame ―― 1901 ― 452 pgs .
- "A Grande Alemanha, a obra do século XX" xx Otto Ri-
chard Tannenberg - 1911 and 280 pgs. -- Bruno Volger Leipzig
- Gholis.
-"A Europa Central" - Frederico Naumann - 1915.

"O plano pangermanista desmascarado André Chérada-
me 1916 356 pgs . - Edição brasileira da Livraria Garnier,
1917 358 pgs. e diversos mapas. Prefácio de Graça Aranha
sobre "Brasil e pangermanismo ”.
- "A Alemanha anexionista” ---
textos coligidos por Grum-
bach 1917 - 408 pgs.
"A mistificação dos povos aliados" --- 440 pgs
1922 .
"Minha luta" - Adolf Hitler ― 1925 782 pgs .
"Dias decisivos - A defesa das Américas" -- André Chérada-
me -- Edição brasileira de Atlântica Editora - Rio -- 1941
338 pgs. e diversos mapas.

O PROGRAMA DE HITLER

Foi em 1937, dois anos depois que Hitler criou a verba de 262
milhões de marcos para a ação nacional-socialista no estrangeiro,
que a campanha nazista no Brazil entrou em uma fase de intensa
atividade e perfeitamente organizada.
Para desenvolver essa ação, entretanto, foi cuidadosamente es-
tabelecido um plano de conjunto, para cuja execução, infelizmente,
contribuíram diversos elementos que aquí se radicaram e que, in-
concientemente muitas vezes, se prestaram a fazer o jôgo dos in-
terêses nazistas, sob as ordens e a orientação direta dos dominado-
res atuais da Alemanha.
E' geralmente sabido que o Brasil possue riquezas incalculá-
veis e, já em pleno desenvolvimento econômico, apresenta possibi-
lidades de um florescimento sem limites. Apontado como celeiro
potencial do mundo, a princípio esporadicamente e, depois, com
uma frequência crescente, não podia ficar o nosso País, como é na-
tural, sem atrair os olhares cobiçosos do imperialismo germânico .
Tanto assim que, como vimos, vasta região de nosso território já
vem incluída no plano pangermanista de Tannenberg. E o próprio
Hitler, em suas maquinações secretas, faz referência aberta ao nosso
Brasil, como o campo ideal para edificar uma "nova Alemanha".
Ora, terra farta, de solo ubérrimo e prenhe de filões inexhaurí-
veis, sempre o Brasil recebeu de braços abertos aqueles elementos,
20 AURELIO DA SILVA PY

que, forçados a emigrar de países super-industrializados e super-po-


voados, aquí vinham procurar um espaço para viver que nunca
faltou a ninguém, estabelecendo novas condições de vida e mais
facilmente construindo fortuna. Mais do que isso, nosso Governo
sempre auxiliou tais elementos com terras, instrumentos agrários e
gêneros, de modo a proporcionar tôdas as facilidades aos emigran-
tes na sua pátria de adoção.
E, conquanto mais e mais se acelerasse o ritmo da corrente imi-
gratória, nada deixava se suspeitasse do imigrante. O estrangeiro
que se estabelecia no Brasil parecia só se preocupar com a produção
de seus braços. Formando seus núcleos mais importantes nos Es-
tados de S. Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
cujo clima mais se aproxima do da Europa Central, os nossos imi-
grantes iam mais ou menos se integrando na massa da população
nativa e nos costumes da gente do Brasil.
Mascarados por êsses elementos, porém, sempre estiveram os
doutrinadores e apologistas do pangermanismo, de modo que, não
raro, sua influência aparecia, entre nós, até na questão da dis-
tribuição dos imigrantes pelos diferentes pontos do território na-
cional e sempre sua ação se fez sentir no seio das comunidades que
se formavam, a princípio sôbre os estrangeiros e, mais tarde, sôbre
os próprios brasileiros, descendentes de estrangeiros.
As teorias absurdas propagadas pelo nazismo vieram acentuar
decisivamente essa influência, tomando, mesmo, como ponto de
partida o Rio Grande do Sul, o mais meridional dos Estados do
Brasil, de grande valor econômico e não menor importância estra-
tégica. A princípio, essas teorias se desenvolveram à vontade . Ape-
nas centelhas de desconfiança cruzavam o espírito dos homens en-
carregados de velar pelos destinos do Brasil e, em particular, do
Rio Grande do Sul . Mas, os sinais da penetração organizada, e
muito espaçados no comêço, levantavam uma inquietação cada vez
maior quando passaram a aparecer mais ostensiva e prolongada-
mente, sob formas que pressagiavam graves perigos. A arrogância
nazista os traía. Infiltrações hesitantes e medrosas ganhavam fir-
meza e audácia. Solidificavam-se os focos de propaganda da idéia
expansionista e de organização do nacional-socialismo alemão, e
êsses focos em virtude da benignidade do meio, irradiavam-se, for-
mavam novos quistos, que corroíam a unidade da nação .
E' oportuno, portanto, acentuar mais uma vez o perigo que
encerram essas teorias para o nosso País, bastando, para isso, enun-
ciar algumas de suas teses fundamentais. Vamos buscá-las nas cé-
lebres cartas circulares do Círculo Teuto-Brasileiro de Trabalho,
de Berlim, por ocasião do 3.º Congresso Anual realizado em Benne-
ckenstein, de 19 a 22 de março de 1937.
A 5. COLUNA NO BRASIL 21

Antes, porém, esclareçamos um ponto: o Círculo Teuto-Brasi-


leiro de Trabalho foi fundado em 1935 por um grupo de brasilei-
ros de origem alemã que foram à Alemanha para dedicar-se a estu-
dos profissionais . O Círculo é presentemente dirigido pelo dr.
Karl-Heinrich Hunsche, tendo como principais colaboradores Ger-
hard Dohms, Fritz Sudhaus, Dr. Karl Oberacker, Gottfried Dohms,
Gottschaldt, todos êles brasileiros, nascidos no Rio Grande do Sul.
O Círculo é constituído de 44 membros dos quais 29 são teuto-
brasileiros, 13 alemães e 2 teuto-paraguaios.

PROBLEMAS E TAREFAS DA NOVA GERAÇÃO


TEUTO-BRASILEIRA

Vejamos, agora, as teses principais do Círculo, começando pela


que se intitula "Problemas e tarefas da nova geração teuto-brasi-
leira", da autoria de Rudolf Batke.

Logo de início, o autor se refere aos membros do Círculo Teu-


to-Brasileiro, aproximadamente 40 pessoas, reunidas na Alemanha
não apenas para "estudos profissionais” e, sim, como " delegados de
uma nova geração teuto-brasileira, aos quais foi reservado resolver
uma questão de relevante importância ― uma questão cuja impor-
tância é decisiva e que se estende, além de seu Círculo, sobre todo
o grupo étnico alemão no Brasil”.
Essa questão de importância decisiva - qual a atitude em fa-
ce das impressões da concepção do nacional-socialismo na Alema-
nha? — deu ao autor oportunidade para realizar um vasto inqué-
rito entre os estudantes do Círculo Teuto-Brasileiro, demorando-se
êle próprio, por sua vez, em dissertações e explicações sôbre os prin-
cípios fundamentais do nacional-socialismo e a concepção étnica
alemã. E divulga, então, conceitos como estes :

"A todos nós reuniu aquí uma tarefa comum. Ser-


virmos à totalidade do nosso teuto-brasileirismo para poder-
mos criar neste grupo étnico uma comunidade do nosso povo.
Este objetivo que naturalmente só pode ser realizado no
Brasil, deve ser a linha de conduta dos nossos pensamentos
e das nossas ações" .

"Uma coisa porém, é de importância capital e me-


rece ser sempre lembrada : já devemos realizar aquí neste Cír-
culo o que pretendemos criar no Brasil, isso é, a formação
de uma comunidade étnica com igual conduta espiritual, ina-
balável em tôdas as questões fundamentais, que siga disci-
plinada a uma chefia e lute num espírito de camaradagem
22 AURELIO DA SILVA PY

mútua, mas rigorosamente e sem tréguas pelos seus princi-


pios básicos".

"A fôrça unificadora de um povo não se revela na infi-


nidade de clubes e associações que ela consiga fundar, mas
sim no fato de ser êle capaz de esclarecer as grandes questões
do seu destino, colocando -se como um todo atrás dessas ques-
tões. Já temos no nosso povo influências suficientes para
cisão, de modo que dispensamos as cousas banais. Há tan-
tas cousas que estão em condições de motivar novos dissídios
nas nossas fileiras, que a nossa única preocupação agora e
para o futuro será unir o que nos separa e conseguir uma
união estreita a custa de contrastes aparentemente eternos,
estabelecendo uma idéia comum no teuto -brasileirismo que
não permitia uma cisão interna, si é que ela deva ter uma
razão de ser” .

― "A lei fundamental do nosso mundo conceitual étni-


co é e continua a ser, por isso, a fé no nosso povo, nas suas
faculdades que permanecem vivas tanto no Brasil como aquí
na Alemanha, mas que somente podem ser nele despertadas
pela confissão de fé. A fé na existência perene do nosso
povo em terra brasileira deve, portanto, ser intangível para
nós. E a grande tarefa que o destino nos reservou, é mo-
bilizar todas as faculdades e fôrças na nossa etnia, para que
a nossa fé se torne realidade. Não somos de convicção que
por meio de desistência acanhada e vís profecias cassandrea-
nas, possamos provar ao Brasil que temos um direito de
existência étnica, cuja legalidade insofismável não está regis-
trada aquí na terra, mas sim no céu. Cremos, porque con-
fiamos no nosso povo. Com esse credo nós somos tudo, e
sem êle nada. Iremos pregar e ensinar êsse credo e espalhá-
lo alí onde êle se acha abalado, e fazemos isso de um modo
mais eficiente, apresentando nós próprios como os seus mais
fiéis adeptos. Nada consegue estimular mais a fé de outros,
do que o exemplo forte da própria convicção inabalável."

C "Nós acreditamos, com a mesma firmeza, que a exis-


tência da nossa etnia no Brasil pode e será duradoura, desde
que o nosso grupo étnico nutra, no seu íntimo, essa fé na
sua existência, se declare, sem compromissos, como membro
integrante da etnia alemã e transmita ambas as cousas como
um legado permanente de geração para geração. Para isso .
porém, é premissa indispensável que essa confissão se torne
entre os teuto-brasileiros uma convicção geral, clara e ditada
pela vontade . E' nosso dever cuidar da propagação dêsse
credo, de modo que êle encontre adeptos em tôdas as cama-
das do teuto-brasileirismo . A propagação de uma tal con-
vicção ditada pela vontade e a modificação daí resultante da
interpretação e conduta espiritual, são as premissas indispen-
A 5. COLUNA NO BRASIL 23

sáveis para o caminho político do teuto-brasileirismo, que


deve defender uma exigência fundamental ao lado das demais
questões políticas, sociais e econômicas, isso é, conseguir que
o Estado brasileiro reconheça oficialmente a confissão etnica
e a liberdade cultural do teuto-brasileirismo . Esse objetivo,
porém, somente pode ser alcançado si os teuto -brasileiros esta-
belecem dentro das suas próprias fileiras, determinados princí-
pios básicos e exigências e os adotarem como de conduta para
tôdas as suas ações. Eles devem reconhecer que a segurança
política da sua existência não pode ser conquistada por nin-
guém mais do que por êles próprios. Por isso é indispensável
criar uma comunidade de todos aqueles que estão dispostos a
pugnar por êste objetivo e traçar, neste sentido, a sua norma
de ação para o futuro".

Mais adiante, Rudolf Batke aborda mais demoradamente o


problema da "etnia alemã no Brasil", bem como o seu conceito
sui-generis sôbre povo e nação, valendo a pena reproduzir-lhe as
próprias expressões :

"Existe no Brasil uma etnia alemã que compreende


um grupo de homens de sangue e cultura alemães. Essa etnia
alemã existente no Brasil se divide quanto à sua cidadania
em alemães natos, quando êles são cidadãos alemães, e teuto-
brasileiros, si êles possuem a cidadania brasileira. Teuto- bra-
sileiros são para mim e espero que futuramente também para
os senhores, somente aqueles cidadãos brasileiros que se con-
fessam no nosso sentido, adeptos da sua etnia.
O conceito "alemães- brasileiros" , é, segundo a minha
convicção, indefinível e sou de opinião que se devia prescrevê-
lo no sentido de uma indispensável simplificação de concei-
tos. Conheço no Brasil alemães natos e teuto -brasileiros,
ambos fazem parte da étnia alemã e pertencem, portanto, ao
mesmo conceito de povo".
ོ། ་ ། མ།
"O povo alemão não é somente um conceito de Es-
tado, válido para a Alemanha, e que abrange, os súbditos do
Estado alemão, mas sim um conceito de homens, independen-
tes da cidadania, e que se deriva do sangue, da espécie, da
cultura e da língua. Quem fôr de sangue alemão e congê-
nere, se confessar adepto da nossa cultura e língua e do povo
alemão quanto à espécie, êsse também pertence ao povo ale-
mão, embora êle seja cidadão de um outro país. Assim
como a religião, o fato de se pertencer a um povo também
é um conceito confessional, com a diferença, apenas, que êste
último fica restrito aos laços do sangue e da espécie. Um
negro nunca pode, portanto, ser considerado como fazendo
parte do povo alemão, embora êle seja o mais fervoroso adep-
24 AURELIO DA SILVA PY

to da cultura alemã e fale o alemão mais correto dêste mun-


do. Dêste modo este conceito ultrapassa as fronteiras do
Estado alemão e se converte numa confissão de espécie e de
cultura puramente humana e superestadual" .
+
Com relação ao Brasil, contudo, o autor da tese não é nada
delicado :

— “O que, porém, não existe é um povo brasileiro.


Nisso todos nós estamos de acordo. O que há é um Estado
brasileiro, no qual vivem diversos povos, a saber, para ape-
nas citar alguns, lusitanos, alemães, italianos, japoneses, ín-
dios, negros, etc. Destas diferentes raças e povos surgiram
novamente mestiços, que não podem ser classificados entre
nenhum povo e para os quais não existe um conceito étnico
definido. Todos eles, porém, formam o conteúdo étnico do
Estado brasileiro, e ambas as cousas reunidas, conteúdo étnico
e Estado, constituem o conceito mais geral da nação brasi-
leira".

Depois de longas e fastidiosas considerações, o autor lança um


apêlo aos estudantes do C. T. B. T., concitando-os a que "confiem
em si próprios, nas suas próprias fôrças e alterem o curso da roda
do tempo, já que ela não quer seguir para onde nós queremos”,
pois "o povo alemão é autor de feitos admiráveis, muitos homens
ilustres dêle surgiram e o nacional-socialismo chegou mesmo a for-
necer aos senhores os apetrechos em matéria de concepção étnica do
mundo para tal obra ”.
E finaliza a tese sôbre "Problemas e tarefas da nova geração
teuto-brasileira" com as seguintes palavras, dignas da maior medi-
tação :

"Nenhum outro povo tem uma concepção étnica


do mundo ; somente o nosso. Nenhum outro povo lutou
com tão admirável energia e consequência contra tôda influên-
cia destruidora da etnia , como o nosso na Alemanha. Esta-
mos no início e não no fim! O povo alemão está começan-
do a viver e a fazer história como unidade étnica. Temos
motivo para capitular diante de outros povos, quando faze-
mos parte de um povo tão jovem ? Não, nós temos a gran-
de missão de também iniciarmos no Brasil o nosso rumo como
grupo étnico. Os senhores, porém, foram eleitos para cons-
tituir a vanguarda e aplainar o caminho , a sua geração inicia-
rá com passo firme e vontade férrea a nova época da história
étnica no Brasil. Deposito toda a minha confiança na jo-
vem geração teuto-brasileira. Os senhores devem ser os arau-
tos de uma nova aurora de feitos étnicos no Brasil".
A 5. COLUNA NO BRASIL 25

A LÍNGUA - FATOR DECISIVO DO IMPERIALISMO


NAZISTA

Outro importante assunto debatido perante o Círculo Teuto-


Brasileiro de Trabalho consta da tese subordinada ao título “os tra-
balhos de ensino teuto-brasileiros e a questão da sua existência" ,
apresentada por Fritz Sudhaus .
Neste estudo, o autor começa por salientar como tarefa primor-
dial a de definir, de modo preciso e categórico, a posição dos teu-
to-brasileiros, caracterizando perfeitamente a sua posição como
"homens alemães no Brasil", de modo a estabelecer uma "nova
norma de conduta teuto-brasileira, a qual regerá a nova vida alemã
no espaço brasileiro".

E, salientando a necessidade imperiosa de moldar sôbre essa


conduta básica todos os ramos da vida teuto-brasileira, o autor en-
carece como exigência particularmente pronunciada,
66 decisiva mes-
mo, a referente ao ramo do ensino, por isso que a escola teuto-
brasileira tem a elevada missão de dar ao teuto-brasileiro aquela
moldagem íntima e aquela configuração de caráter, com as quais
êle é capaz de se manter no ambiente teuto-brasileiro. Assim cabe
à escola a grande e nobre missão de não somente ministrar o saber,
mas de se tornar o instrumento mais importante para a conserva-
ção étnica" .

Pouco adiante, explana o seu ponto de vista dizendo :

"A primeira grande ofensiva do Estado nesse sen-


tido constituiu a perseguição dos alemães em 1919 e a segun-
da começa a se esboçar agora. Em face disso dizemos :
luso-brasileiro reclama também para si a brasilidade no cam-
po da instrução, igualando brasileiros e portugueses, êle so-
mente reconhece a escola brasileira na portuguesa, entenden-
do por portuguesa apenas a língua. Segundo o nosso con-
ceito de brasilidade, porém, a nossa escola teuto-brasileira é
tão brasileira quanto a escola oficial de língua portuguesa e
nós a consideramos equivalentes e equiparadas. A nossa exi-
gência vai ao ponto de reclamar do Estado que êle auxilie
não só financeiramente, mas em todos os sentidos a escola
teuto-brasileira como sendo a escola de milhares de seus súb-
ditos. Como cidadãos brasileiros que somos, exigimos a equi-
paração da nossa escola, a qual tem o mesmo direito de
se chamar brasileira como o tem a oficialmente chamada luso-
brasileira. Ao lado da escola luso-brasileira queremos a esco-
la teuto-brasileira" .

"Assim nos levantamos, justamente hoje, no mo-


mento em que se pretende extirpar a escola de língua alemã ,
ante a exigência da escola brasileira, adaptada ao país e a
26

PY
SILVA
DA
AURELIO
26

seus habitantes. Para nós, alemães, porém, essa escola bra-


sileira não é outra senão a escola teuto-brasileira, isto é, a es-
cola de língua alemã adaptada ao homem alemão e ao espaço
brasileiro. Assim não nos limitamos a exigir a escola par-
ticular teuto-brasileira, mas reclamamos também consequen-
temente a escola oficial teuto-brasileira para os cidadãos teuto-
brasileiros" .
"Aquí devemos reparar uma grande omissão. E'
muito importante que o teuto -brasileiro saiba como se origi-
nou o conceito teuto-brasileiro, qual é a sua tarefa e quais
Os seus direitos. Ele deve conhecer a sua evolução até os
dias atuais, e tirar daí um conhecimento de si próprio. De-
pois então, deve dirigir as suas justas pretensões ao Estado
Brasileiro, como sua pátria, à qual êle se dedica com fidelida-
de e abnegação. Por isso, é de muito mais valor para o co-
lono teuto-brasileiro que êle inicie a sua história com a che-
gada dos primeiros alemães em solo brasileiro, do que com
os antigos egípcios, porque somente então êle se reconhecerá
como um fator que faz história, e saberá se libertar da sua
posição de inferioridade, empregando as fôrças construtoras
que nele repousam para o bem de sua pátria.”
― "Por isso perguntamos : Por que a história do Bra-
sil deverá ser ensinada ao homem alemão em vernáculo? E'
isso possível ? Tornar-se-á ela com isso mais brasileira ? As-
sim como precisamos de uma história teuto-brasileira, necessi-
tamos também de uma história brasileira alemã . Essa exi-
gência em nada afeta a necessidade do perfeito conhecimen-
to do vernáculo. Queremos também aquí ser verdadeiramen-
te brasileiros, e não cair no êrro de igualar brasileiro com
luso-brasileiro. Não é o idioma que faz a pátria".

Vem muito a propósito, porque nos permitirá avaliar clara-


mente quão valiosa seria para o Brasil a escola teuto-brasileira, tão
ardentemente preconizada pelo nazismo, transcrever as instruções
baixadas pela Sociedade Beneficente Alemã de Pôrto Alegre em
1.º de dezembro de 1937, já em pleno Estado Novo, portanto, sô-
bre a nacionalização da "Escola Hindenburg", transformada então,
como uma deferência às leis brasileiras, em Ginásio Teuto-Brasi-
leiro "Farroupilha".
Essas instruções são assinadas pelo próprio diretor da Escola
Hindenburg, H. Kraemer, e pelo dr. F. G. Falk, diretor do Ginásio.
Divulgamo-las a seguir em tradução vernácula, para que possam os
leitores verificar a perfeita unidade de vistas entre os teuto-brasi-
leiros de todos os quadrantes :

"A Escola Hindenburg é uma escola teuto -brasileira.


Ela é reconhecida pelo govêrno alemão como única escola
no Estado do Rio Grande do Sul com o título "Escola Ale-
A 5. COLUNA NO BRASIL 27

mã Superior no Estrangeiro" . A frequência foi, no último


ano, de 390 alunos e alunas, que 17 professores e professo-
ras instruem em 13 classes ( 9 anos escolares) . Todo o pro-
fessorado prestou na Alemanha exames especiais, para as ma-
térias da língua vernácula no Brasil . O idioma em que se
ensina é o alemão e o português. A aprovação no exame
final faz jús à entrada sem exame de admissão no curso su-
perior de qualquer escola alemã superior, como também na
da escola em S. Paulo e Rio de Janeiro."

PROBLEMAS BRASILEIROS SOB O PRISMA


TEUTO -BRASILEIRO .

Não podemos encerrar esta referência aos temas apresentados


ao Círculo Teuto-Brasileiro de Trabalho sem mencionar a tese do
dr. Karl Heinrich Hunsche, teuto-brasileiro presidente do Círculo,
sôbre "Problemas brasileiros sob o prisma teuto-brasileiro".
O dr. Karl Heinrich Hunsche, como vimos há pouco, é o diri-
gente (Chefe) do C. T.. B. T. e, pois, sua autoridade sobe de vulto
em relação aos demais membros do Círculo. Talvez por isso mes-
mo êle comece seu trabalho por salientar a falta de um "programa
teuto-brasileiro” , cujo âmago, para êle, reside na questão de “como
nós, teuto-brasileiros concientes que somos, definimos a nossa po-
sição em face da nação brasileira" (!!!)

"Essa questão ―― diz êle - é tanto mais importante por-


quanto hoje em dia novamente surgem as correntes nativis-
tas no Brasil de uma maneira mais intensa, pregando a in-
compatibilidade dos teuto-brasileiros e da nação brasileira" .

Aborda o autor diversos pontos : Bases fundamentais: concep-


ção dinâmica do mundo e da história. -- Complexo de questões : a
exigência da Brasilidade. - O nacionalismo brasileiro . Unita-
rismo e regionalismo. -- A questão das etnias e das raças .
E seus conceitos são, como os de todos os outros "teuto -brasilei-
ros concientes", verdadeiramente desprimorosos para com o Brasil e
os brasileiros. Vejam os leitores estes, por exemplo:

"Si hoje em dia o elemento germânico se dedicou


nos cem anos de sua existência brasileira demasiadamente à
vida econômica, em compensação êle pode reclamar para si
o grande mérito nacional de ter criado, em primeiro lugar,
as bases da prosperidade atual do sul do Brasil. E si agora
o elemento germânico também pusesse as suas fôrças criado-
ras à disposição da vida política do Brasil? Mas seja como
fôr, nós somente teremos probabilidade de tomar parte ativa
no cenário político e espiritual brasileiro, si deixarmos de
interpretar a história como uma cousa imutável, rígida, in-
28 AURELIO DA SILVA PY

terpretação essa que é comum ao alemão, sempre amante


da ordem e da tranquilidade . Não queremos, porém, apenas
uma simples participação, mas sim uma remodelação funda-
mental da vida política que colocará o Brasil finalmente
sôbre uma base capaz de resolver tôdas as questões da vida
nacional, mesmo as mais difíceis como sejam os problemas
das raças e das etnias. Para isso, porém, devemos nos con-
fessar adeptos da concepção criadora de que nada há , neste
mundo, que não tenha sido criado pelos homens e mesmo
que no momento pareça solidamente construído - nada há
que não possa ser do mesmo modo construído pelos homens
e novamente ser reconstruído pelos mesmos. Também a
vida política brasileira foi moldada por homens, por luso-
brasileiros, e dependerá de nós, si queremos ainda conservar
para o século XX a forma lusitana da política brasileira já
há muito inadequada, ou si devemos avançar para novas formas
baseadas na nossa própria iniciativa e fôrça criadora, formas que
melhor correspondam ao Brasil atual e aos seus problemas" .

"Só pode haver uma etnia onde há um povo. Mas


o Brasil é um país tipico de imigração, isso é, um país que,
por fôrça do destino , deve servir de pátria para tôdas as raças
e todos os povos desta terra. O Brasil, por isso, também
não possue um "povo" no sentido europeu da palavra, no
que os próprios integralistas concordam perfeitamente. O
Brasil somente possue um povo no sentido de uma popula-
ção. E é isso que é preciso frisar bem: No Brasil não há
um povo, a não ser no sentido de população” .

— "Depois de tudo isso que foi exposto e baseados na


nossa interpretação dinâmica e criadora da história, voltada
para o futuro, devemos chegar a uma retificação fundamen-
tal do conceito de brasilidade. Devemos eliminar tudo do
conceito até então em vigor que seja lusitano e somente lusi-
tano. Pertence aí, em primeiro lugar, a idéia de que somen-
te se pode ser um brasileiro 100 % : 1 ) quando se fala o por-
tuguês como língua de berço, 2 ) quando se tem o nome
José de Souza Mello ou João Caetano de Andrade e Silva
e 3 ) quando se possue pelo mínimo, um antepassado luso-
brasileiro ou mixto no seu pedigree. Essa idéia é errônea e
não está de acordo com a realidade brasileira, portanto, ela
não é brasileira. Brasilidade é e somente pode ser o senti-
mento de profunda união com o solo brasileiro e a nação
brasileira, ambas as cousas porém, sem nenhuma tendência
de imperialismo etnico por parte de qualquer etnia isolada.
Pois o Brasil como país de imigração que é, e onde ainda
hoje aportam levas e levas de imigrantes, deve servir de pá-
tria não somente para uma etnia isolada, mas sim para todas
as raças e todos povos representados no país" .
A 5. COLUNA NO BRASIL 29

- "Reflitamos um momento : falta ao Brasil o povo e


falta-lhe também a tradição (tradição no sentido da palavra
que pode ligar o fascismo ao Imperium Romanum ) . Res-
tam, portanto, apenas os homens. Estes, porém, estão divi-
didos em etnias, chegaram ao Brasil como etnias e vivem ain-
da hoje mais ou menos nessa separação, mesmo que não se
queira confessá - lo . As reservas de sangue das etnias existen-
tes no Brasil como valores a elas inerentes, representam , por-
tanto, as verdadeiras e únicas fôrças criadoras da nação bra-
sileira".

Trata, depois o dr. Karl Heinrich Hunsche da questão racial,


dizendo :

"Uma solução da questão racial como ela é preconi-


zada pelo luso-brasileiro, talvez teria sido ainda possível na
época da vinda da Casa Real Portuguesa para o Brasil
( 1808 ) . Desde, porém, que se processou a forte imigração
alemã e italiana no tempo do Império e mais recentemente,
no século XX, a tão intensa imigração asiática, mormente
japonesa, a possibilidade de uma tal solução fica prescrita
de uma vez por tôdas. Isso pode ser trágico para o Brasil,
principalmente para o luso-brasileiro. Mas a tragédia só se
tornará maior pelo fato de ainda se querer aplicar a solução
lusitana para o caso, embora a história tenha progredido du-
rante todo êsse tempo".

E, fazendo uma síntese de seu estudo, o autor conclue da se-


guinte maneira a sua longa tese:

- “E assim nós chegamos durante o estudo dos princi-


pais problemas brasileiros, encarados sob um prisma concien-
temente teuto-brasileiro, simultaneamente aos últimos proble-
mas da nação brasileira em geral. Esse resultado aparente-
mente casual tem um sentido profundo e revela o que nós
sempre propugnamos nas nossas discussões político-espirituais,
isso é o fato de que um teuto -brasileirismo conciente, assim
como nós o compreendemos, não exclue de modo algum um
legítimo e genuíno brasileiro. Nós mesmos o constatamos
no decorrer dêste trabalho que, ocupando-nos com todas as
nossas energias com a questão da nossa etnia alemã no Brasil,
nós chegamos ao mesmo tempo a resultados gerais brasileiros.
Os nossos resultados, os quais consideramos como acertados
e razoáveis no sentido do nosso teuto-brasileirismo, eram si-
multaneamente também soluções válidas para o Brasil em
geral. Dêste modo creio que encontramos finalmente a base
sólida que nos livrará, para sempre, daquela maldição de
pertencermos a duas pátrias, que sempre pairou, como uma
tragédia, sôbre o teuto-brasileirismo enquanto êle existe. E'
30 AURELIO DA SILVA PY

aquela maldição que sempre paralisava a nossa ação quan-


do, do fundo da alma, procurávamos nos pôr à disposição
da nação brasileira, para entrar numa relação mais positiva
com ela, e si nunca lográvamos alcançar êsse objetivo, foi
porque sempre nos lembrávamos ao mesmo tempo da obri-
gação tão sagrada quanto a outra, de defendermos a conser-
vação das nossas qualidades étnicas. Assim foi um eterno
brincar de esconder que custou as melhores fôrças ao teuto-
brasileirismo. Uns - e estes constituem a maioria - pas-
saram com resignação para o lusitanismo, nem sempre por
debilidade de caráter, faziam-no frequentemente com as mais
árduas lutas de conciência, --- mas simplesmente porque en-
contaram uma saída do eterno dilema. Outros resolveram
a questão de uma maneira muito mais simples, evitando o
conflito : voltavam para a sua pátria alemã ou então conti-
nuavam a conservar uma orientação absolutamente alemã .
Os primeiros são renegados étnicos, os segundos renegados
políticos. Nós teuto-brasileiros de hoje, porém, não quere-
mos ser uma cousa nem outra . Queremos continuar a ser
o que somos, teuto-brasileiros !"
**

Conhecidos, assim, estes capítulos interessantes das novas dou-


trinas do pangermanismo, que Hitler adaptou à época e propagou
por todos os meios a seu alcance, não admira que, como dissemos,
se irradiassem entre nós os focos de propaganda da idéia expansio-
nista e da organização nacional-socialista.
Foi, para isso, elemento decisivo, além dos indicados e outros
que aparecerão a seu tempo, neste livro, o órgão político a que o
Estado Nazista confia, particularmente, a ação nacional-socialista
no estrangeiro, isto é, a Gestapo, que em outras palavras, se encar-
rega da formação, equipamento, acionamento e controle das quin-
tas-colunas nazistas.
A "Geheime-Staats-Polizei" ou, abreviadamente, Gestapo, é
a polícia secreta alemã. Organização conhecida, atualmente, em
todo o mundo, tanto pela sua eficiência, como pela sua sangrenta
crônica de crueldade, tem como chefe Heinrich Himmler. Sua
sede central é em Berlim ------- na Prinz-Albrecht Strasse, n.º 8.

Para o pagamento dos vencimentos dos agentes da Gestapo no


estrangeiro foi destinada a verba fixa de 20.000.000 de marcos, a
ser distribuída entre os 2.450 agentes efetivos. Outra parcela da
verba geral tinha por fim atender ao pagamento dos agentes " ho-
norários", gente recrutada em tôdas as camadas sociais dos países
cobiçados. Esses agentes honorários, informadores de todas as es-
pécies, estão na proporção de 20 para cada agente efetivo . Sua re-
A 5. COLUNA NO BRASIL 31

muneração depende do maior ou menor valor das notícias que for-


necem e que são canalizadas para a Prinz-Albrecht Strasse n.º 8.
A missão mais importante confiada aos agentes da Gestapo é
a de propagar a ideologia nacional-socialista alemã no estrangeiro
e estabelecer, assim, os pontos de apoio que permitam, quando
chegar o momento crítico, enfraquecer a resistência do país eleito
para a invasão militar e econômica.
Quando, pois, observamos um incremento das atividades sub-
reptícias dêsses elementos indesejáveis, conhecendo-se, como os co-
nhecemos, seus planos sinistros de dominação e de extermínio, não
resta dúvida de que se trata de um recrudescimento da infiltração
totalitária. E eis por que vimos aparecer, em 1937, aquela verba
fabulosa de 262 milhões de marcos, a que fizemos referência no
comêço dêste capítulo e com a qual a Gestapo empreendeu a con-
solidação das quintas-colunas nazistas, já formadas ideologicamen-
te. Do que ela fez em nosso Estado é que nos vamos ocupar,
através de documentos incontestáveis, sôbre cuja importância nunca
será demasiado insistir, pois êles são a história viva das atividades
nazis no Rio Grande do Sul.
Duas cartas que espelham o panorama
do nazismo no Brasil

" Sou de opinião de que é mais barato alguém se


preparar antes dos acontecimentos do que ficar pros
trado, imóvel, a esperá-los e, depois, ficar pagando
ao país estrangeiro."
(Hitler~- "Minha Nova Ordem").

Antes de entrarmos na narrativa objetiva da atividade nazista


no Brasil e no Rio Grande do Sul, achamos de utilidade a transcri-
ção de duas cartas escritas por um nazista eminente, desiludido da
organização nacional-socialista alemã no estrangeiro, o qual viveu
e exerceu cargo político de importância para o hitlerismo no Rio
de Janeiro. A naturalidade, a clareza com que êsse homem, que se
assina Guss, comenta as coisas, projetam luz viva sôbre ligeira cisão
ocorrida durante os anos de 1934 e 1935 entre os agentes nazistas
que agiam subterraneamente na capital da República.
A-pesar-de essas cartas terem sido escritas há sete, oito anos pas-
sados, não deixam os seus conceitos de possuir atualidade ainda
hoje, pois que as principais personagens nelas referidas continuam
a figurar em posições de destaque no cenário político internacional
da Alemanha Nacional-Socialista .
Outrossim, comprova o conteúdo dessas cartas a justa razão de
ser da proibição das atividades políticas estrangeiras no Brasil, proi-
bição esta declarada no texto da Constituição brasileira de 1937 .
A atividade do Partido Nazista do Brasil não era compatível com
o espírito político do Brasil, nem mesmo com o do Brasil dos re-
gimes passados.
Provam as cartas, que a seguir transcrevemos em fiel tradução,
que também no Brasil já se estava criando um " Estado dentro do
Estado", cujos organizadores não trepidavam em recorrer a todos
os expedientes no afã de preparar o terreno para uma possível fu-
tura invasão nazista, que, conforme se poderá verificar por docu-
mentação e texto mais adiante, começaria com a criação artificial
das chamadas "minorias alemãs perseguidas" ."
Para melhor compreensão do assunto, necessário se torna es-
clarecer, antes de tudo, a situação dos principais protagonistas de
então e de hoje . São êles :
A 5. COLUNA NO BRASIL $3

HERBERT GUSS -- Principal acusador - Ex-chefe nazista do Brasil


e Confidente Supremo para todo o território brasileiro junto
à Chefia Nazista na Alemanha, ― Foi demitido do cargo e
excluído do partido por não se ter sujeitado às determinações
dos maiorais nazistas e ainda por ter denunciado graves irre-
gularidades cometidas por seus superiores, envolvendo até o
chefe da "Organização Exterior" , sr. Ernst Wilhelm Bohle.
Juntamente com Guss, foram excluídos mais cincoenta
partidários que se tinham solidarizado com êle .
WILLY KOEHN Foi primeiramente chefe nazista do Chile, tendo
sido depois promovido a "Comissário Geral para tôda a Amé-
rica do Sul". Procedeu nesta qualidade à exclusão do sr.
Guss e dos demais partidários. Após êsses acontecimentos,
foi destacado para a Espanha como Cônsul Geral, sendo, po-
rém, pouco tempo depois, transferido para o "Departamento
de Propaganda" , onde continua ainda hoje num elevado pôs-
to. Willy Koehn é o principal acusado e tido pelo acusa-
dor como o principal responsável pelas irregularidades escan-
dalosas havidas no seio do Partido Nazista do Brasil, junta-
mente com Hans Henning von Cossel e Ernst Wilhelm Bohle.
HANS HENNING VON COSSEL ― Sucessor de Herbert Guss na chefia
do nazismo no Brasil, ocupou êste pôsto até à proibição das
atividades do Partido em nosso território. Após a proibição
viajou para a Alemanha, voltando em seguida para ocupar o
pôsto de "attaché" à embaixada alemã do Rio de Janeiro.
ERNST WILHELM BOHLE Chefe geral de tôdas as organizações
nazistas no Exterior. E' acusado de ter sufocado o inquérito
contra os responsáveis pelas irregularidades, protegendo os
implicados e aniquilando os acusadores com a pena máxima
dentro do Partido : a expulsão.
Quanto às demais personagens, são elas secundárias e sua si-
tuação se explica através das próprias cartas.

Rio de Janeiro, 9 de agosto de 1936.

Prezado Dr. M-r.

Fui informado pelo nosso comum amigo de que o sr.


desejaria obter alguns comprovantes da maneira pela qual
foi procedida, em dezembro do ano passado, a exclusão de
54 partidários no Rio. As cópias anexas ilustram suficien-
temente a vil interpretação do direito que aquí ocorreu . Es-
tá fora de tôda e qualquer dúvida que tudo isso é, para al-
guns parasitas, mais uma questão de poder do que de direi-
to, a-fim-de que não sejam ameaçados nos seus vencimentos.
Não tenho nada em comum com uma causa que, inter-
namente, se firma em base tão imoral e jamais desejo ter qual-
quer ligação com isto . A Suprema Justiça Partidária nem
sequer respondeu a alguma das cartas. Com isto, ficou re-
35. C.
:
34 AURELIO DA SILVA PY

conhecido oficialmente o método de inquirição judiciária de


Koehn, e desta maneira qualquer homem idôneo, que gran-
des sacrifícios tenha prestado ao Partido, poderá ser coloca-
do, sem sequer ser ouvido, na categoria de alemães de 2.ª
classe, por decisão de vagabundos e vigaristas.
A minha opinião pessoal sôbre a "A-O" ("Auslands-
Organisation" - "Organização Exterior" ) é espelhada mais
ou menos claramente pela cópia anexa de uma carta dirigida
por mim ao Dr. H. K. Walper, Chefe da Secção "Além-Mar"
do Departamento Político -Exterior. O sr. W. comunicou-
me, em sua resposta de 15-4 do corrente ano, na qual me
distingue com o título de "PG" ( "Parteigenosse" "Parti-
dário" ) , que o Departamento tinha entregue meus documen-
tos primeiramente ao Ministério do Interior e, após uma con-
ferência com o respectivo relator, os havia remetido à Chan-
celaria Particular do "Fuehrer" , às mãos do "Reichsleiter"
Bohrmann.
Nós nos podemos consolar somente com a esperança de
que um dia chegue a tapeação Bohle-Koehn automaticamente
ao fim . Não é possível que uma estrutura de base tão fictí-
cia tenha longa duração. Nem mesmo, contudo, o afasta-
mento ou castigo dos culpados poderá nos reavivar a fé num
sistema em que foi possível a consumação de semelhantes
acontecimentos. Somos como crianças que se queimaram e
que agora temem o fogo. Não fôsse assim e mereceríamos
duplo castigo. Verificamos, também, que tudo isso nada tem
que ver com a alegada finalidade de servir a Alemanha. Nós,
que temos uma profissão e aprendemos alguma cousa, pode-
mos fazer isto muito melhor à nossa própria maneira, e não
necessitamos para tal sermos " guiados" por um grupo de
fracassados, que afinal só vive à custa dos "guiados" . E'
uma seleção errônea esta, que não se manterá por muito tem-
po. Preconceitos não podem ser alterados por nenhum pa-
pel impresso, nem com relatórios truncados. Este é o meu
consôlo.

Saudações cordiais
(a.) Guss.

Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1935

Prezado Dr. M-r.

Muito agradecido pela sua amável carta de 27 de 8 .


As cópias que lhe enviei não necessito mais, e o Sr.
as poderá usar como bem entender, da mesma forma que o
material anexo . O Sr. também poderá citar a origem, por-
que não receio ser prejudicado mais ainda por Bohle, Koehn
e pelos outros. Encaminhei a minha naturalização no Bra-
A 5. COLUNA NO BRASIL 35

sil, e não pretendo, depois de todos êsses acontecimentos, con-


servar a minha cidadania alemã. Koehn, aliás, já anunciou
aquí, há ano e meio atrás, que a minha cidadania alemã iria
ser cassada, o que naturalmente não aconteceu . De minha
parte, não a quero possuir mais, em vista da atual jurispru-
dência do Estado Alemão . Prefiro subordinar-me à jurisdi-
ção de um negro aquí no Brasil do que à de um nacional-
socialista alemão. A prática deu-me esta convicção de ma-
neira bem dolorosa.
Não acredito que um dia seja obrigado a escrever a uma
alta autoridade brasileira, acusando-a de me ter ludibriado de
-y. maneira tão estúpida e vergonhosa, como nenhum negro,
judeu, armênio ou grego o teria feito . Mas o "Gauleiter"
Bohle, ao qual escarrei desta forma bem na cara, engoliu
tudo em silêncio, porque tudo isso era a expressão da verdade,
e só depois foi agir contra mim, com argumentos descabidos.
Ainda não ouví durante a minha vida que mesmo um ju-
deu da Galícia se tivesse portado ante seu representante da
‫כ‬
maneira como o fez o "Gauleiter" Bohle com referência a
mim. E além de tudo um judeu galício não mercadeja com
ideologias como o faz o " Gauleiter" Bohle, e o representan-
te de um judeu ainda lucra com êste e não necessita fazer
desembôlso como eu o fiz. Como o Sr. verifica pelas car-
tas e material anexo, levei mais de um ano para chegar à
compreensão de que tamanha estupidez poderia ser mesmo
realizável. Por isso é que eu deveria ser aniquilado de qual-
quer maneira. Então, agiram contra mim por todos os
meios, e por fim fui excluído. (Já fôra excluído por duas
vezes. A primeira vez em maio de 1934, por intermédio
do Chefe do núcleo local. Esta exclusão foi revogada pela
Chefia Máxima, porém não me foi dada a satisfação exigi-
da. Depois fui excluído em junho de 1935, temporaria-
mente, por uma determinação de Bohle, e definitivamente
pelo "Landesschlichter" . ) Nunca fui inquerido para efeito
de exclusão . Parece que a palavra de um excluído nada
mais vale dentro do Partido Nacional -Socialista. O Sr. de-
verá compreender que o mesmo material que o Sr. agora pos-
sue já se encontra de há muito nas mãos do Departamento
Político Exterior, da Chancelaria Particular do "Fuehrer" , do
Supremo Tribunal Partidário, da Chefia do Serviço de Se-
gurança e do “Gauleiter" Julius Streicher. Uma boa parte
foi igualmente entregue ao Chefe do Corpo de Ligação.
Resultado : nenhum .
Por isso lhe desejo pedir que não crie a si próprio ain-
da maiores inconvenientes, intrometendo -se em tôda esta ques-
tão. Tome o dinheiro desta gente, tanto quanto puder ob-
ter, e quando o não mais obtiver, diga - lhes : Adeus. De
nada vale se chegar a essa gente com argumentos de honra e
de moral ; êles só conhecem um único objetivo : garantir ma-
terialmente sua subsistência própria. Hoje já estou conven-
*
36
AURELIO DA SILVA PY

cido de que Bohle, Koehn, Schagen, o homossexual Kamps


verdadeiro nacion socialis
e outros são os s al- tas, enquanto que
nós, que levamos a teoria nazista a sério, somos os falsos.
Em tôdas as épocas se excluía da Igreja os homens que me-
diam o Evangelho por si próprios.
mos teoria com prática, e não sabíamosInque homens com tão
fe
bela lábia poderiam agir de modo tão vil.lizmente confundi-
ainda não conhecíamos o " homem político" , e isto foi justa-
mente o nosso êrro . Mesmo porque
era capaz um hre omem ap srabsi inst
tru
amíd
p pa
N ós
ã
sponsabili o te í a
dom o s oou c oradonãoquanpos-
to
suir nenhuma dade para “ baixo".
mos constatado também que todos êsses " chefes " , com tal
teoria, julgavam um direito natural seu o patearNã oso inha
tevi
rês-
a-
ses dos outros.
e lá passarão com Êloeslosmóboprcu
ecrv amo,depo
isad feisnder-se
todo aq paue cima"
rale “qu e se,
encontra "em cima" se firma sôbre o chefe político inferior.
Ele o necessita. Só se precisa de instrumentos servís. Daí
a criação de uma legião de “ ciclistas" que pedalam para baixo
e curvam o lombo para cima . Por isso, todo subchefe ofe-
rece presentes ao superior, supostas doações do "cortejo " .
Por isso também são todos os cargos políticos
to é possível se verificar no Exterior
mentos que fracassaram na vida particular e não pto anto quas- n-
pr nchido dceom su
tentar-se a si próprios. Estes é que são, nessee e sistemsa polí mtiel
coe-,
os chefes ideais, os que são colocados à frente daqueles que al-
guma cousa conseguiram na vida e se podem manter à sua
própria custa.
homeco competpr tes insco po
manter o luxo de Os um a nnv s icçã o enóp s,a ; esos
teri im,mpet endte
ems
dependente nã
e s, o.
Pode acreditar- me, Sr. Dr. , que nada vale meter
dedos dentro dessa engrenagem .
serviremos ao povo alemão muito mais mant enen afasta
Serão impr sano
do- doss. O-S
se gu in condigname no ss at iv id ad prof is si on
Nó al.
dos e do nte a a e s
Pois possuímos uma profissão a que podemos atender e com
Alemanha .
a qual podemos conquistar o respeito perante a
Isto nos torna diferentes dos parasitas e bonzos , que não têm
nenhuma profissão, ou , se tiverem, naufragaram nelas. Julgo
que ninguém tenha sofrido intimamente mais do que eu até
chegar à conclusão da inutilidade de todo êste sistema.
fatos é que me convenceram , e ninguém me poderá dizer que
a Matriz esteja em ordem quando na filial ( e não soment Oes
sistematicam
numa ! ) acumulam-se sujeiras , ente, por anos
fio.
a
O Sr. pergunta por que motivo eu tomei posição con-
tra os srs. Bohle e Koehn .
minha carta dirigida a Bohle Aa re 3 spde outu
osta a br
isto se en
o de 19
co34
ntrae n naa
que enviei ao Dr. Kraneck a 7 de outubro de 1934 .
verá, já en tão foi us ada co ntra mim a me sma tática posta em
prática depois contra o Dr. Brand em Buenos - Aires. Como
que trabalhar para essa gente e ainda pagar as despesas do
Tive
A 5. COLUNA NO BRASIL 37

meu próprio bolso. Ao mesmo tempo, deveria a oposição


ainda remunerar Bohle e Koehn para que eu fôsse demitido.
O mais vil e vergonhoso no procedimento de Koehn foi, po-
rém, o de ter êle aceito diariamente a hospitalidade da minha
casa, o de me ter deixado levá-lo de auto por tôda a parte,
o de me ter pedido dinheiro emprestado, etc., e contudo ter já
antecipadamente a intenção de se deixar gratificar por meus
adversários. Porque, já de início, não tinha êle o plano de
saldar as despesas com fatiotas etc. por meio dos cofres do
Núcleo Nazista. E aí está justamente o auge da cretinice,
pois a intenção inicial era deixar a “Câmara do Comércio",
nossos então adversários, saldar as despesas de seu novo guar-
da-roupa. Só depois de aquela gente lhe dar uma banana,
foi que êle se viu obrigado a "limpar" os cofres do núcleo.
Durante todo esse tempo eu lhe vinha adiantando dinheiro,
como o Sr. poderá verificar pelas declarações minhas perante
a Uschla e as quais incluí no material enviado ao Sr. E'
lógico que o inquérito por " crime de injúria a Koehn" não
chegou a ser concluído, visto que, a julgar pelos fatos, não
podia haver condenação por injúria. A questão foi resolvida
então de outra forma, como o Sr. verificará pelo motivo da
determinação assinada por Bohle. Merece especial atenção o
zelo de Bohle em deixar a si próprio e a seu amigo Koehn fora
do jôgo. Aparte, está em andamento o caso Keetman. Não
tinha eu razão, então, de tratar da minha defesa, sendo como
era injuriado por um patife assim e tratado como inadmis-
sível para o cargo de " Confidente" nacional-socialista neste
país? Invertí então a cousa, e fiz o sr. Bohle engolir du-
rante anos aquilo que êle mesmo preparou. Isto êle notou,
afinal. Além disso, organizei um lindo álbum de poesias,
com fotografias e documentos, sôbre todo o caso Keetman,
e o remetí, por intermédio de um emissário especial, ao sr.
Julius Streicher, o qual queria publicar tudo no "Stuermer” ,
tendo sido, porém, impedido de o fazer somente à última
hora por causa dos pedidos encarecidos de Bohle. Além dis-
to, havia o "Fuehrer" determinado, em maio de 1935
pelas afirmações de Koehn o encerramento do caso Rio
de Janeiro. Isto naturalmente só poderia ter sido arranjado
naquela época pelo Streicher, e o objetivo ao liquidar o caso
era por certo bem outro do que o visado por Bohle e
Koehn. Por isto é que êles necessitaram de tempo (até de-
zembro de 1935 ) · para torcer a cousa à sua maneira.
Do exposto se deduzirá que o sistema todo é uma es-
trutura completamente falida. O êrro fundamental denomi-
na-se "princípio de totalitarismo" ou sua interpretação. O
motor que aquí gira não possue válvulas. Seus gases não têm
escape. Um dia virá êle a explodir ou a parar. Quando
isto, enfim, fôr reconhecido, será inútil o trabalho de regular
o carburador. Para lidar com um material falho só existe
38 AURELIO DA SILVA PY

uma ferramenta: um bom martelo de forjador. Depois há


que se iniciar uma construção nova.
Como o Sr. vê, continua, enquanto isto, a "fita" da
boa disposição . Ontem escutei pelo rádio o Koehn dizer em
uma entrevista que todos os partidários no Exterior deveriam
respeitar as leis do país de que eram hóspedes, etc. O Sr.
von Cossel relatava que havia no Brasil um milhão de ale-
mães, e dêstes já 100.000 estavam sob a alçada do Reich.
O Partido Nacional-Socialista tinha a seu encargo no Brasil
especialmente o patrocínio das escolas alemãs, das quais havia
no Brasil 2.000. Tudo isso é uma enorme idiotice !
No Brasil vivem mais ou menos 800.000 elementos da raça
alemã. 30.000 no máximo são alemães natos e dêstes nem
2.000 são partidários. Há aquí mais ou menos 1.120 esco-
las alemãs, mas com as quais nada tem que ver o Partido
Nacional-Socialista, e que foram fundadas e organizadas por
outras pessoas, que levariam seriamente a mal ao Partido Nacio-
nal-Socialista o meter o nariz em suas questões. Tudo isso
não passa de pequenas e grandes mentiras para fortalecer a
existência própria, comprovando a necessidade da existência
de chefes políticos remunerados no Exterior. Mas qual será
o efeito de tais telegramas? Uma reação muito forte de parte
dos brasileiros. O povo brasileiro ainda há de se admirar
do que está germinando aquí no Brasil em segrêdo. No Sul
do Brasil, na sede da comunidade alemã enraizada, a influên-
cia do partido é ainda de pouco valor. Em Pelotas , por
exemplo, só há 5 partidários. A maioria dos teuto-brasilei-
ros está em franca oposição ao partido. Foi fundada aquí
a "Federação 25 de Julho " , que congrega os brasileiros de
raça alemã de todo o Brasil . Ela deve ser considerada como
um movimento defensivo contra o Partido. ( * ) Exigiu -
e com razão que só e unicamente a ela fôsse confiada a
educação da juventude teuto-brasileira, para que dela pudesse
fazer bons cidadãos brasileiros. A Federação declara ainda
com razão que os teuto -brasileiros estão cansados de serem
isolados automaticamente de tôda a atividade influente no
Estado brasileiro, devido à sua preparação falha para cidadãos
brasileiros, desfrutando por isto de uma posição subalterna.
A influência se conquista aquí no Brasil não com o levantar
a mão direita e gritando "Heil Hitler" , mas sim com o domí-
nio da língua do país, com o seguir os caminhos prescritos de
educação do país e com o se enquadrar na sua estrutura na-
cional. A criação de um Estado dentro de outro, ocasiona
também dificuldades para si próprio. Até a escola alemã do
Rio, que pela formação da colônia alemã local tem talvez
a maior porcentagem de alemães natos, possue somente 1/3
de alunos puramente alemães no seu total.

(*) A " Federação 25 de Julho", bem como a "Câmara do


Comércio", aderiram em seguida ao Nazismo, sob a pressão do
Partido Nacional-Socialista.
A 5. COLUNA NO BRASIL 39

Outro absurdo é a "Frente Alemã do Trabalho" no


Exterior. Quanto tempo ainda levará para que os países sul-
americanos estabeleçam, em face disto, leis com o imperativo :
A organização do Trabalho no País só é da alçada do seu
govêrno. Idênticas leis hão de vir certamente também para
as organizações juvenís. Seria possível na Alemanha uma
Frente de Trabalho estrangeira? E quem tira proveito dis-
to ? Só alguns parasitas, de cargos remunerados. Dos po-
bres diabos tira -se o dinheiro e não pouco - a título de
contribuições. (Para o Instituto de Previdência se lhes des-
conta ainda por cima um tanto do ordenado. ) A Caixa
Beneficente da "Frente Alemã do Trabalho" já chegou ao
máximo de sua capacidade produtiva. A "Stellenvermittlung"
(Secção para promover empregos ) só se orienta contra os inte-
rêsses do empregado, porque o empregador está bem informa-
do a respeito do número de desempregados existentes e à base
disto estipula êle o ordenado a oferecer. Na verdade, a si-
tuação é tal que os parcos cobres economizados pelo partidá-
rio menos favorecido para fazer frente a compras extraordi-
nárias a si e sua mulher, lhe são desviados agora para con-
tribuições ao Partido, à Frente Alemã do Trabalho, à Caixa
Beneficente, a festas partidárias, a coletas, etc. Em troca
disso, aos partidários se concede a satisfação de verificar como
para os seus chefes a cousa vai mil vezes melhor do que an-
tes, e talvez ainda o prazer de vangloriar-se com a argumen-
tação de terem contribuído, pelo seu servilismo "popular"
para o bem-estar material de seus superiores, os quais, além
disso, ainda os tratam desdenhosamente. Irá isto acabar bem?
Lamento muito o ser tão pessimista, mas acho melhor
a gente tirar proveito de suas " experiências" do que conservar-
se incorrigível. Em todo o caso, tive uma lição bem dura
e suponho que as minhas observações estarão de acordo com
as de todo aquele que tem olhos e quer enxergar. Só fan-
toches é que podem ainda achar belo tudo que há dentro da
"A-O." Julgo que as minhas conclusões se enquadram com
as suas, pois, tanto quanto sei, a tática (tapeação ) de Bohle-
Koehn tem sido em tôda a parte a mesma. As modalidades
é que poderão ser diferentes.
Quantos esforços desenvolveram Landstede e outros para
afastar o Dr. Klemmer, e agora está sendo citado êste colabo-
rador do "Argentinische Tageblatt" em lugar de grande des-
taque no acordo comercial teuto- lituano.
A falsidade intrínseca dêsses superiores se manifestará
por tôda a parte. Disse-me um amigo, de gênio muito cal-
mo e objetivo: Se o sr. tivesse visto uma só vez à distân-
cia de três passos a cara de malandro dêsse " Gauleiter" Bohle,
compreenderia tudo. Pois trata-se de um homem inidôneo,
que nunca possuiu valores morais e que permaneceu como
"Senador de Polícia" após a destituição de Nieland pelo seu
constrangimento com a " A-O" . Ele é agora por todos os
40 AURÉLIO DA SILVA PY

meios, mantido por Goebbels, em virtude dêste aliciar todos


os elementos ao seu alcance para a sua luta contra Goering.
Tal é o valor ideológico que distingue a comunidade
alemá no Exterior, de que se diz representante o sr. Bohle.
Goering está bem informado sôbre a corrupção existente den-
tro da organização do Exterior, e preferia dissolver tudo isso
quanto antes melhor. Em resumo, pois, ficará tôda a ques-
tão em pendência até que os extremos Goebbels-Goering se
tenham chocado definitivamente. Pela situação geral, encon-
tra-se êste ajuste de contas adiado para uma época, muito,
muito distante.

Nosso amigo B. disse-me ter sido informado, de fonte


muito segura, de que após a Olimpíada, haveria uma grande
“limpeza" dentro do Partido. Respondí-lhe que estava enga-
nado. Após a Olimpíada, viria o "Dia do Partido", após
o "Dia do Partido" realizar- se -ia a "Festa da Safra" , após
a “Festa da Safra” começaria a coleta para o "Auxílio de In-
verno" , e, entrementes, daria Deus ainda de vez em quando
um acontecimento político internacional e então seria nova-
mente Natal, e haveria novamente outras preocupações, e des-
ta maneira protelada enfim a "limpeza" dentro do Partido.
Outrossim, encontram-se os alemães do Exterior muito distan-
tes, e há problemas muito mais urgentes para serem resolvi-
dos. Enquanto os alemães do Exterior contribuírem, estará
tudo bem para aquela gente de Berlim. Só quando deixar
de vir o dinheiro é que a ideologia entrará em ação. Mas
até lá decorrerão ainda alguns anos. Tudo precisa de tempo .
Enquanto isto, firma-se cada vez mais a comunidade alemã
no Exterior. Nunca foi adquirida pela colônia alemã daquí
tanta propriedade como nos últimos dois anos. Todos sa-
bem que o regresso à Alemanha, o reviver dos velhos dias na
pátria, é hoje completamente impossível. Disto se encarrega
a propaganda daqueles que vêm de além-mar. Não a dos
que estiveram na Alemanha a passeio, mas sim daqueles que
lá tiveram de trabalhar. Êles é que esclarecem ao alemão
do exterior, de forma iniludível, como se vive bem no Exte-
rior, coisa que estes até então não tinham percebido. Não me
refiro aquí aos emigrantes judeus, mas aos próprios alemães
arianos.
Escrevo-lhe tudo isso para o resguardar de desilusões se-
melhantes às que eu sofrí. A situação ainda não está ma-
dura para nós. Se Koehn fôsse hoje afastado do pôsto de
"Comissário do Exterior" , viria êle a ser com tôda a certeza
o sucessor do agora falecido relator sul-americano no Minis-
tério da Propaganda, de quem êle fez o necrológio, e então
poderia "pisar-nos" mais ainda do que na sua atual posição.
Tôda essa gente deve ter seu desgaste. Eles têm primeiro
que amadurecer antes de ser temidos pelos que se julguem
ameaçados nas suas posições. Razão nós nunca teremos, por-
A 5. COLUNA NO BRASIL 41

que só se faz justiça baseado em motivos políticos, isto é,


oportunistas, e não no direito.
Agradeço-lhe mais uma vez a amável carta. Caso eu
tenha esquecido alguma cousa e o Sr. ainda esteja em dúvida
a respeito de algo, escreva-me, por obséquio. Estou ao seu
inteiro dispor.

Seu criado
(a.) Guss
A imprensa de Pôrto Alegre denuncia
atividades nazistas

66
" O povo alemão empregará, com entusiasmo, todos
os meios contra os seus inimigos. Nós tornaremos
às épocas selvagens em que homem era um lôbo
para o homem."
Maximilien Harden.

Em meados de 1933, a imprensa de Pôrto Alegre chamou a aten-


ção dos poderes competentes sobre certas atividades do nazismo, que
se revestiam de aspecto grave. Conquanto naquela época os partidos
estrangeiros, e por conseguinte o nacional-socialismo alemão, agissem
mais ou menos livremente, as atividades em referência causavam
surpresa e até um sentimento de revolta pública. Como testemunho
de que a opinião pública, alerta, já então pressentia a seriedade do
problema que o Brasil devia enfrentar mais tarde, vamos transcre-
ver, a seguir, algumas reportagens de autoria do jornalista Nestor
Ericksen, publicadas pelo "Correio do Povo", jornal independente
local.
Trata-se, como se vê, de matéria amplamente divulgada então,
porém a trasladamos para aquí, já pela época um tanto recuada em
que foi dada à publicidade, já, ainda, por serem tais documentos
muito expressivos, revelando, em amplos pormenores, a extensão do
movimento nazista em nosso Estado. E isso quando Hitler apenas
ascendia ao poder na Alemanha ...

GUERRA SEM TRÉGUAS AOS INIMI-


GOS DE HITLER.
O GRUPO HITLERISTA DESTA CAPITAL
DENUNCIAVA AO GOVERNO DO REICH OS
ELEMENTOS TEUTO -BRASILEIROS QUE NÃO
COMUNGAM COM AS IDÉIAS NAZISTAS.
E, POR ISSO, IMPORTANTES FIRMAS DESTA PRAÇA,
QUE COMERCIAM COM A ALEMANHA, ESTAVAM SENDO
PREJUDICADAS NO SEU CREDITO NAQUELE PAÍS.
A 5. COLUNA NO BRASIL 43

COMO FOI DESCOBERTA A TRAMA URDIDA


PELOS AGENTES DE HITLER UMA REUNIÃO
QUE ACABA NO XADREZ ...
Hitler não magnetiza apenas as multidões, em marcha,
nas ruas de Berlim, quando a sua palavra eletrizante prega
a ressurreição de uma Alemanha Nova, pela integração de
seu ritmo nos destinos do mundo.
Não !
A sua personalidade de estadista conciente, que mede,
como um geômetra, valores indeterminados no campo dos
fenômenos sociais e políticos, projeta-se para fora das fron-
teiras de seus domínios, procurando injetar novos métodos
de ação nos governos de outros povos.
Se Mussolini afirmava ainda ontem não ser o fascismo
um produto de exportação, a pátria de Goethe, na atualidade,
sob a ilusão dos niebelungs, nega exatidão ao conceito em
aprêço.
Zombando das fronteiras e dos obstáculos, a bandeira
nacional-socialista, desfraldada hoje em tôda a parte, inter-
nacionaliza-se e avança .
Hitler está no apogeu de sua grandeza.
Leaderando as suas tropas de assalto, dirige, firme, afron-
tando as tempestades e as derrotas, o govêrno de seu país.
No Brasil, cujo território abriga uma grande parcela
de filhos da Germânia, que vão cooperando com o seu traba-
lho e com a sua inteligência, pelo nosso engrandecimento
econômico, o Nacional-Socialismo possue também soldados
e admiradores.
Em todos os grandes centros do nosso país aquela dou-
trina política arregimenta, entre os elementos da colônia ale-
mã, numerosos adeptos, e vai fundando os seus círculos e
os seus clubes.
Pôrto Alegre, como é natural, não podia escapar à in-
fluência magnética daqueles princípios que revolucionam a
Alemanha na hora presente e, ainda há poucos dias, como
um espetáculo inédito, se realizou em nossas ruas um desfile
dos disciplinados partidários de Hitler.
Anteontem, porém, uma agitação anormal naqueles cír-
culos políticos desta capital, movimentou a nossa reportagem,
que iniciou as suas diligências para sindicar ocorrências de
certa gravidade que alí estavam se registando, quasi que im-
perceptivelmente.

UMA CAMPANHA DE DESCRÉDITO

Logo que iniciamos as nossas pesquisas, conseguimos apu-


rar, preliminarmente, que determinados elementos estreita-
mente radicados ao Grupo Hitlerista, desta capital, estavam
promovendo secretamente uma campanha de descrédito con-
tra diversos comerciantes e industriais de destaque na colônia
alemã de Pôrto Alegre.
44 AURELIO DA SILVA PY

Utilizando-se de meios pouco recomendáveis - certos


indivíduos procuravam comprometer a reputação de tais fir-
mas na Alemanha, fato êsse que vinha criando uma situação
desagradável em nosso meio.
Denúncias gravíssimas foram veiculadas, com relativa
discreção, no seio da sociedade teuto -brasileira , denúncias es-
sas que, pelos seus efeitos prejudiciais, foram, ao que se afir-
ma, transmitidas para Berlim e levadas ao conhecimento do
governo do Reich, objetivando prejudicar os alemães que,
atualmente residentes em nosso país, não fôssem adeptos das
doutrinas pregadas pelo Partido Nacional- Socialista chefiado
pele sr. Adolf Hitler.

UM DIA DE FESTA

O dia 8 de abril transato foi, como se recordam os nos-


sos leitores, um dia de festa para os nazis domiciliados em
Pôrto Alegre.
Pela manhã, quando a cidade iniciava já os seus movi-
mentos dinâmicos de trabalho renovador, os hitleristas mili-
tarmente arregimentados, com os distintivos de seu partido,
dirigiram-se ao consulado alemão, à rua Coronel Vicente, para
apresentar os seus cumprimentos de estilo ao representante de
seu país.
Içada a bandeira daquela nação, num minuto de respei-
to e reverência, os nazis se perfilaram numa saudação mar-
cial, enquanto se executava o hino sagrado.
Aquelas solenidades, pelo seu ineditismo e aparatosida-
de, constituíram um espetáculo expressivamente patriótico.

DOCUMENTO COMPROMETEDOR

Há diversas semanas chegou a esta capital, procedente


de Berlim, um documento interessante e, ao mesmo tempo,
comprometedor, endereçado a importante comerciante alemão
domiciliado entre nós.
O referido documento, que era apenas uma cópia do
original, conforme depois ficou amplamente apurado , e que
foi transmitido ao governo do Reich, continha acusações gra-
víssimas contra certos elementos destacados da colônia teuto-
brasileira.
Pessoas que gozam de grande conceito social em Porto
Alegre foram denunciadas ao governo da Alemanha como
elementos traidores à sua pátria, somente porque não pro-
fessam as doutrinas hitleristas que lá vigoram.

ATITUDE VIGILANTE

Os srs. Alberto Bins, Beno Mentz, Willy Wallig, A. J.


Renner, elementos que desfrutam de grande conceito na co-
lônia teuto-brasileira desta capital, nominalmente atingidos
A 5. COLUNA NO BRASIL 45

por tais acusações comprometedoras, entraram em entendimen-


to e, com tôda a habilidade, puseram-se a sindicar afim de
saber quais os encabeçadores de tal campanha de descrédito.
Depois de diversas pesquisas conseguiram aqueles senho-
res apurar que os seus detratores gratuitos eram elementos
diretamente ligados ao Círculo Hitlerista de Pôrto Alegre.

CONFIRMANDO AS SUSPEITAS

Há dias, porém, por especiais circunstâncias, um dos


filiados ao Grupo Hitlerista desta capital, cuja identidade ain-
da não foi devidamente apurada, levou ao conhecimento da-
queles comerciantes ofendidos diversas cópias fotográficas de
documentos existentes nos arquivos daquele centro político,
cópias essas que confirmaram serem os autores de tais denún-
cias os srs. Ehricht e Anuscheck, representantes do Partido Na-
cional-Socialista nesta capital.
O sr. Ehricht, conforme informações que obtivemos,
trabalhou nas oficinas da firma Wallig & Cia. e depois no
estabelecimento da firma A. J. Renner & Cia.

EM OUTUBRO

Precisamente em outubro do ano passado, os srs. Ehricht


e Anuscheck, de parceria, pois que o primeiro exerceu a presi-
dência do Grupo Hitlerista desta capital e o segundo é seu
atual dirigente, dirigiram ao governo da Alemanha denún-
cias escritas comprometendo a reputação política daqueles co-
merciantes.
Visando malquistar aqueles senhores em sua pátria, não
titubearam aqueles dois agentes de Hitler, aquí domiciliados,
em apresentar denúncias inconsistentes às autoridades do Reich .

UM CONFLITO

Anteontem, como de costume, os hitleristas reuniram-


se no restaurante A B C, à noite, para alí trocar idéias sôbre
a situação política de seu país.
A discussão foi, pouco a pouco, se acalorando entre
os presentes, até o momento em que um dêles convidou os
seus colegas a descobrirem os traidores que tinham violado
criminosamente o arquivo do Círculo Hitlerista, levando ao
conhecimento de seus inimigos, por meio de cópias manus-
critas e fotográficas, documentos secretos e confidenciais diri-
gidos ao governo dos "nazis", fato êsse que degenerou imedia-
tamente em conflito.
Chamada a polícia , foi efetuada a prisão de mais de
trinta partidários do nacional-socialismo alí presentes, sendo
todos êles conduzidos para a Chefatura de Polícia.
46 AURELIO DA SILVA PY

EM CONFERÊNCIA

Ontem, conforme soubemos, o cônsul da Alemanha, nes-


ta capital, Walbeck, conferenciou longamente com o dr. Da-
rio Crespo, Chefe de Polícia do Estado, e com o interventor
federal, general Flores da Cunha, sôbre o fato, nada porém
transpirando .
Por sua vez o prefeito Alberto Bins, e diversos repre-
sentantes da colônia alemã aquí domiciliada, foram solicitar
ao general Flores da Cunha providências no sentido de que
sejam destruídas tais acusações malévolas e tendenciosas con-
tra êles levantadas por aqueles elementos.

A reportagem acima foi publicada no dia 17 de maio de 1933.


No dia seguinte, o mesmo jornal estampou outra, que se segue :

EM PORTO ALEGRE , UM GRUPO DE


NAZISTAS DECLARAVA UMA GUERRA
SEM TRÉGUAS AOS INIMIGOS DE HI-
TLER.
O GRUPO HITLERISTA DESTA CAPITAL
DENUNCIA AO GOVERNO DO REICH OS ELE-
MENTOS QUE NÃO COMUNGAM COM AS SUAS
IDÉIAS.

UM CASO POLÍTICO DE SENSAÇÃO QUE TEVE O SEU


EPILOGO NA CHEFATURA DE POLÍCIA.
COMPLETA E SENSACIONAL REPORTAGEM
DO "CORREIO DO POVO"
Repercutiu intensamente no espírito da população de
Pôrto Alegre, a sensacional reportagem que ontem focaliza-
mos, com importantes detalhes e pormenores, sôbre as ativida-
des secretas de dois elementos filiados à bandeira do Partido
Nacional-Socialista da Alemanha, nesta capital.
Se ontem conseguimos, por um "tour de force" jorna-
lístico, projetar algumas luzes sôbre a complicada questão
política que, há meses, vem agitando os círculos nazistas es-
tabelecidos entre a colônia alemã aquí domiciliada, hoje os
elementos por nós colhidos em autorizadas fontes de informa-
ção destróem tôdas as dúvidas, porventura existentes, sôbre
o ruidoso caso, definindo exatamente as suas proporções.
Movimentadas as nossas investigações para um campo
mais amplo de atividade, delineados os rumos preliminares
para a descoberta definitiva de todos os seus detalhes mais ínti-
mos, cremos ter, nesta hora, restabelecido tôdas as circunstân-
cias que promovem essa campanha de descrédito contra diver-
sos elementos que desfrutam de bom conceito no seio da co-
lônia teuto-brasileira desta capital.
A 5. COLUNA NO BRASIL 47

Prevalecendo-se da posição política que ocupavam no


Grupo Hitlerista desta capital, dois elementos nazistas, de ido-
neidade moral duvidosa, iniciaram, há meses, uma campanha
tenaz e dissolvente de difamação e de intriga contra seus cor-
religionários e, mais tarde, seus inimigos, objetivando com-
prometer o seu crédito junto ao governo do Reich.
Essa campanha, conforme passamos a relatar, cujos mo-
tivos já estão neste momento perfeitamente esclarecidos, pos-
sue traços interessantíssimos que, se demonstram o instinto
perverso de dois indivíduos sem escrúpulos, magnetizados por
um ideal político, confirmam, por sua vez, processos de ação
e de combate ainda ignorados em nosso país.

LONGE DA PÁTRIA

Há algum tempo, chegou a esta capital, procedente da


Alemanha, o técnico Gustavo Ehricht, especialista em esmalte
de fogões, e, após alguns dias de sua estada em nosso meio,
procurou obter colocação que pudesse garantir a sua manu-
tenção.
Percorreu a cidade em diversas direções e, depois de ter
solicitado emprêgo nos escritórios de diversas fábricas de ca-
mas de ferro esmaltado, entre nós existentes, os serviços de
Ehricht foram contratados pela firma Wallig & Cia.
Trabalhando com relativa habilidade, aquele profissio-
nal ia tranquilamente cumprindo com os seus deveres quan-
do, por questões de ordem interna da citada firma, Gustavo
Ehricht foi despedido .
Isto, porém, não o desencorajou.
Despedido pela fábrica de camas dos srs. Wallig & Cia. ,
Gustavo passou a trabalhar nas oficinas da fábrica Berta, de
propriedade do major Alberto Bins.

UMA AMIZADE FUNESTA

Nas horas de lazer, Ehricht, recém-chegado ao nosso país,


desambientado ainda de nossos costumes, procurou frequen-
tar a sociedade teuto -brasileira aquí domiciliada ; e, pelas
suas crenças políticas adepto disciplinado da bandeira des-
fraldada em sua pátria por Adolfo Hitler, o ditador dos na-
zis aumentou o círculo de suas relações.
Há meses, por intermédio de seus conterrâneos conhe-
cidos, Gustavo Ehricht teve a oportunidade de ser apresentado
a Ervino Carlos Germano Anuscheck, travando com êste re-
lações de estreita amizade.
O novo amigo, também chegado recentemente de Ber-
lim a esta capital, além de adotar os princípios do Partido
Nacional-Socialista de sua pátria, era um fervoroso propa-
gandista da personalidade de Adolfo Hitler.
Ligados pela amizade que, à proporção do tempo trans-
corrido, foi se fortalecendo gradualmente, Gustavo Ehricht e
48 AURELIO DA SILVA PY

Ervino Anuscheck começaram imediatamente a desenvolver no


seio da colônia germânica desta capital uma intensa propagan-
da em favor dos postulados políticos nazistas.

CONFERÊNCIAS EM SEGREDO

Animados pelo entusiasmo de organizar entre nós um


núcleo político que pudesse representar condignamente os
ideais que atualmente dirigem o governo do Reich, os dois
indivíduos começaram a arquitetar os seus planos.
Um dia, por fôrça da amizade que se ia cada vez mais
estreitando, Gustavo Ehricht convidou Ervino Anuscheck a
residir numa pensão de propriedade de sua sogra.
Em conversa que diariamente costumava entreter com
Gustavo Ehricht, Ervino Anuscheck dizia possuir instruções
do Partido Nacional-Socialista alemão para realizar entre os
seus patrícios aquí domiciliados uma intensa campanha de
propaganda em favor do programa daquela agremiação, afir-
mando por mais de uma vez que aguardava a remessa de cinco
mil marcos que seriam aplicados em tal empreendimento.

PROJETO QUE SE REALIZA

Iniciada, por meios hábeis, a campanha de propaganda


nazista em Pôrto Alegre, Gustavo Ehricht e Ervino Anu-
scheck não mediram fôrças para realizar o seu projeto má-
ximo : a fundação de um núcleo político em condições de
prestigiar, em nossa terra, o governo que seu chefe pôs em
prática na Alemanha.
Ervino Anuscheck, bom observador e dotado de um
poder excepcional de astúcia, conforme se comprovará mais
adiante, percebeu imediatamente que o seu amigo Ehricht,
por estar melhor relacionado no seio da colônia, se achava
em condições de dirigir a futura entidade.
Congraçados alguns elementos simpatizantes e admira-
dores do nacional-socialismo, os dois técnicos, depois de al-
guns meses de intensa atividade, conseguiram inaugurar em
Pôrto Alegre um Grupo Hitlerista, em outubro do ano pas-
sado.
FRUTOS DE MA DIREÇÃO

Inaugurado o núcleo nazista, Ervino Anuscheck promo-


veu imediatamente entre os seus filiados um movimento no
sentido de que fôsse entregue ao seu amigo Ehricht a pre-
sidência do novel círculo partidário.
Feita a eleição e regularmente apurados os votos, em
escrutinio especial, Gustavo Ehricht na presidência pôs ime-
diatamente em prática o seu programa.
A 5. COLUNA NO BRASIL 49

"
Há um brocardo que diz : "não vá o sapateiro ...
sua filosofia rude tem, como agulhas de aço, um fundo, ain-
da que infinitesimal, de verdade.
Bom esmaltador de fogões, Ehricht demonstrou desde
os seus primeiros atos à frente do Grupo Hitlerista ser um
mau administrador e um péssimo político.
Sob a influência poderosa da autoridade de Anuscheck
aquele operário foi, pouco a pouco, insensivelmente, se sub-
metendo aos seus caprichos de vingança ...

CARTA PARA BERLIM

Enquanto os trabalhos partidários prosseguiam anima-


damente, Gustavo Ehricht e Ervino Anuscheck resolveram,
de comum acôrdo, dar início a um trabalho de grande respon-
sabilidade : afim de neutralizarem a ação de elementos que
não eram simpáticos à causa de Hitler, nesta capital, come-
çaram a enviar cartas e documentos para Berlim, em que
faziam graves acusações contra o procedimento de diversos
elementos de destaque na colônia teuto-brasileira.
As acusações mencionadas, que caracterizavam diversas
atitudes antinazistas assumidas por certos comerciantes e in-
dustriais alemães aquí domiciliados, visando incompatibilizá-
los com o governo de Hitler, eram endereçadas à comissão
central do Partido Nacional - Socialista, com sede em Berlim.
Tal campanha política de descrédito foi, dia a dia, assu-
mindo aspectos graves, até o momento em que

GUSTAVO EHRICHT ROMPE COM SEU AMIGO

Há pouco tempo, porém, diversos elementos atingidos


pela insólita campanha que lhes era movida secretamente pelos
dirigentes do Grupo Hitlerista, conseguiram, depois de inten-
so trabalho de investigações, descobrí-la.
Tal fato criou imediatamente uma situação insustentá-
vel para Gustavo Ehricht no seio daquela agremiação, a ponto
de ser, em outubro, deposto da presidência do Grupo Hitle-
rista pelos seus correligionários e expulso das fileiras nazistas.
Rompendo Gustavo as relações que vinha mantendo há
longos meses com seu conterrâneo Ervino Anuscheck, êste
lhe declarou guerra, derrubando -o violentamente daquela po-
sição política.
Caíra a primeira máscara, mas uma nova luta se inau-
gurava.
UMA DEFESA PREMEDITADA
Ervino Carlos Anuscheck, quando ainda mantinha re-
lações com Ehrichte residia na pensão da sogra dêste, por
meios ilícitos, conseguiu fotografar as cópias de numerosos
documentos secretos enviados por aquele para Partido Na-
cional-Socialista, em Berlim.
4. 3. C.
50 AURELIO DA SILVA PY

Entre tais documentos se encontravam as denúncias a


que já nos referimos, que visavam comprometer a reputação
e o crédito de alemães ou teuto-brasileiros que, por motivos
especiais, a seu juízo , não poderiam continuar a merecer a
consideração do governo de Hitler.
De posse dessas cópias, Anuscheck substituiu Ehricht
na presidência do Grupo Hitlerista, para evitar qualquer gol-
pe de seu novo adversário, e procurou há algum tempo o
sr. Beno Mentz, da firma Frederico Mentz & Cia. , desta ca-
pital, comprometendo-se alí as fornecer, mediante o paga-
mento de certa importância, afim de comprovar ser apenas
aquele ex-presidente o responsável pelas denúncias gratuitas
enviadas para o governo do Reich.
O major Alberto Bins, ciente de que era o seu empre-
gado Gustavo o promotor de tal campanha insidiosa, demi-
tiu-o de sua fábrica.

CAI A SEGUNDA MÁSCARA

Os acontecimentos, porém, assumiam aspectos singu-


lares.
Gustavo Ehricht, logo que foi expulso das fileiras do
Grupo Hitlerista, por insinuações de seus inimigos, resolveu
vingar-se de Ervino Anuscheck.
Sabedor de que aquele possuía um passado tenebroso
na Alemanha, onde fôra envolvido em vigarices e chantagens,
começou a atacá- lo com violência, conseguindo, dentro de
breve espaço de tempo , desmoralizá-lo .
O Grupo Hitlerista não tardou também a conhecer as
credenciais do seu dirigente e, num belo dia, decidiu -se a de-
pô-lo e a expulsá-lo de suas fileiras, como ainda ontem fize-
ra com Ehricht.
A segunda máscara caiu ao chão, violentamente. Anu-
scheck ausentou-se de Pôrto Alegre.

UM PARÊNTESE POLICIAL

Em maio do corrente ano, o dr. Carlos Machado, dele-


gado do 4.º distrito, recebeu das autoridades da cidade de
Rio Grande um telegrama solicitando a prisão de Ervino
Anuscheck, que, a bordo de um vapor costeiro, voltava para
esta capital. Efetuada a prisão de Ervino, a imprensa local
publicou a seguinte nota de reportagem :
"No decorrer do mês de julho do ano passado, chegou
a esta capital, procedente da Alemanha, o indivíduo Ervino
Anuscheck, que logo obteve excelente colocação com O sr.
Walter Hornig, do comércio local e residente à rua dos An-
dradas n. 144 .
Em pouco tempo, aproveitando-se das boas relações de
seu patrão, Ervino ampliou o seu reduzido círculo de rela-
A 5. COLUNA NO BRASIL 51

ções. Cativou a confiança e a simpatia de inúmeras pes-


soas, mormente no seio da colônia alemã.
Preparava o terreno, pacientemente, para dar um "gol-
pe " ousado.
Chegada a ocasião desejada, Ervino lesou as seguintes
pessoas: E. F. Schmelling, residente no Novo Hotel Jung,
em 500 $ 000 em dinheiro e numa máquina de escrever, mar-
ca "Remington" ; engenheiro Alberto Bins, em 900 $ 000 so-
nante ; o dono do restaurante "Polo Norte" , localizado à rua
Cristóvão Colombo, em determinada importância, cujo valor
ainda não foi apurado ; Paulo Fröhlich, morador à rua Ramiro
Barcelos n.º 227 , em 900 $ 000, além de outras pessoas.
O total das falcatruas e vigarices de Ervino Anuscheck
atinge a cêrca de quinze contos de réis.
O delinquente evadiu -se desta capital, a bordo do va-
por "Itatinga" , consoante fomos informados."
O nosso colega "Neue Deutsche Zeitung" , em sua edi-
ção de ontem, tratando de Anuscheck, transcreveu o seguinte
atestado do delegado do 4.° distrito :
"Atesto que no arquivo desta delegacia se acham regis-
tadas cinco ( 5 ) queixas contra Ervino Carlos Germano Anu-
scheck, cujo nome consta do cadastro de detentos, sob n.º ses-
senta e nove ( 69 ) , a fls. dezesseis ( 16 ) , qualificado e iden-
tificado como vigarista e escroc. - (ass. ) C. Machado, dele-
gado judiciário".

QUEIXANDO-SE A POLÍCIA

O Grupo Hitlerista, afim de neutralizar os movimentos


de combate que Gustavo Ehricht e Ervino Anuscheck vinham
lhe promovendo, nesta capital, ultimamente, solicitou provi-
dências da polícia no sentido de serem os mesmos metidos
no xadrez .
A autoridade que atendeu os representantes daquele cen-
tro nada fez contra aqueles elementos, alegando que se tra-
tava de uma questão política na qual não podia intervir.

UMA EXCURSÃO A SANTA CRUZ

Há quatro dias, porém, regressando de Santa Cruz di-


versos elementos nazistas que alí foram em propaganda de
suas doutrinas, ao desembarcar na gare da Viação Férrea alí
encontraram Ervino Anuscheck que, em atitude agressiva, co-
meçou a provocá-los.
Diante disso, os hitleristas resolveram chamar um guarda-
civil para prendê-lo , pondo -se Ervino nesse momento a cor-
rer desabaladamente, conseguindo penetrar no interior do Ho-
tel Savóia, situado no Caminho Novo.
52 AURELIO DA SILVA PY

Percebendo que o mesmo fugia, os nazistas em movi-


mento saíram em sua perseguição e, em tumulto, entraram
também naquele estabelecimento.
Chamada a polícia, foram todos conduzidos à Chefa-
tura, em companhia de Anuscheck.
O delegado de plantão mandou recolher os nazistas ao
xadrez e pôs em liberdade Ervino Anuscheck. Os partidá-
rios de Hitler passaram a noite cantando hinos patrióticos,
ao que nos referiram .
Afirma-se até que um dêles chegou a dizer que, costu-
mando jejuar um dia por semana, escolheu o dia da prisão
para êsse jejum ...
No dia seguinte ao da prisão, o cônsul da Alemanha
nesta capital conferenciou com o dr. Dario Crespo, chefe de
Polícia, sôbre o caso, obtendo a liberdade dos nazistas presos.

ALGUNS MOMENTOS DE PALESTRA COM


O MAJOR ALBERTO BINS

Conforme dissemos em nosso último número, Gustavo


Ehricht em suas comunicações enviadas à direção do Partido
Nacional-Socialista, chefiado pelo sr. Adolfo Hitler, fazia acu-
sações desabonatórias aos srs. major Alberto Bins, A. J. Ren-
ner, Beno Mentz e Willy Wallig.
Por isso, achamos conveniente ouvir na tarde de ontem,
a respeito do assunto em foco, o major Alberto Bins, que
recebeu gentilmente o representante do " Correio do Povo" .
Disse-nos que, no momento, não só falava em seu nome,
como no de seu amigo, sr. A. J. Renner.
Devo começar dizendo que, antes de tudo, somos bra-
sileiros, motivo por que nada temos a ver com o movimento
em favor da divulgação das idéias pregadas pelos partidários
do sr. Adolfo Hitler.
E' verdade que, desde o início não deixei de externar a
minha simpatia pelo hitlerismo, pelos seus conhecidos fins.
E disso não faço segrêdo, porque minhas declarações, mais
de uma vez foram conhecidas em público, como há poucas
semanas ainda o fiz, numa comemoração realizada no "Tur-
ner Bund."
Mas, isso de ter simpatia ao de ser partidário do hitleris-
mo, há uma grande diferença, mormente tendo também dado
a conhecer os inconvenientes em se trazer para o estrangeiro a
opinião de um determinado credo político. Por isso repito :
sempre achei que a propaganda hitlerista ficava bem na Ale-
manha, mas nunca no Brasil. Guio-me pelas palavras de-
masiadamente conhecidas do sr. Benito Mussolini, chefe do
governo italiano, de que o "fascismo não é artigo de expor-
tação." A mesma frase desejo empregá-la quanto ao hiele-
rismo.
A 5. COLUNA NO BRASIL 53

Ora, sendo o elemento germânico constituído de 75


por cento de brasileiros, não se pode admitir que os nazis
sejam os guias dêsses elementos, missão que todos nós julga-
mos competir, há longos anos à Liga das Sociedades Germâ-
nicas.
E' isso que tenho ainda dito publicamente, não poden-
do ser tomada a minha opinião como contrária ao hitleris-
mo. E, como eu, pensa também o elemento germânico e o
descendente dêste.
Ainda devo dizer que sempre achei que a questão polí-
tica só poderá trazer desharmonia entre o citado elemento,
que há mais de cem anos vive aquí tranquilamente, na maior
harmonia, preocupado em trabalhar para honrar a pátria de
seus ascendentes e para cooperar pela grandeza da pátria ado-
tiva, e, portanto, do Brasil.
Admiro, como outros também admiram, o movimento
agora surgido na Alemanha sob a chefia do sr. Hitler, como
também ainda apreciamos o que vem fazendo, na Itália, o
sr. Mussolini com o seu fascismo .
Quanto às informações que foram enviadas para a Ale-
manha, soubemo-las por intermédio de terceiros, sendo que
uns nos contavam de uma e outros de outra forma.
Não tomamos nenhuma medida, porque mesmo isso não
podíamos fazê-lo, pois, como lhe disse no início da palestra,
acima de tudo somos brasileiros. Deixamos que tudo se re-
solvesse lá entre os componentes do Grupo Hitlerista, cuja
atitude é de todos conhecida.
Ainda mais tarde soubemos que Gustavo Ehricht, o au-
tor da carta, bem como Ervino Carlos Anuscheck, tinham sido
expulsos pelos próprios nazis da associação da qual faziam
parte.
Quanto às prisões efetuadas, são provenientes de diver-
gências surgidas entre os nazis e os expulsos do Grupo Hi-
tlerista e não a pedido de qualquer das pessoas atingidas pelas
informações daquí enviadas para a Alemanha.
E' o que tenho a declarar - concluiu o major Alberto
Bins - quanto ao caso de tanta repercussão.
Soubemos que, ontem, o major Alberto Bins esteve, à
tarde, na Chefatura de Polícia, em conferência com o dr.
Dario Crespo, nada transpirando dêsse encontro com o Chefe
de Polícia.

OUVINDO O CÔNSUL DA ALEMANHA


Gustavo Ehricht chegou também, nas suas informações
enviadas ao Partido Nacional -Socialista da Alemanha, a fazer
algumas acusações ao cônsul geral neste Estado, dr. Walbeck.
Ontem, pela manhã, no edifício do consulado, à rua
Coronel Vicente, procuramos o representante da nação amiga.
Fomos ouvi-lo a respeito do assunto que nos últimos dias
tem preocupado os elementos germânicos.
AURELIO DA SILVA PY

Recebendo-nos, em seu gabinete, logo nos disse:


Acabo de ler a notícia publicada pelo " Correio do
Povo". Era natural que houvesse falta de algum detalhe,
mas em geral a notícia exprime todo o ocorrido.
Devo antes de tudo dizer que, ao ter conhecimento do
que se passava, não procurei o interventor federal como se
falou, mas sim o dr. Dario Crespo, Chefe de Polícia.
Por parte dessa alta autoridade policial logo encontrei
boa vontade para uma solução do que se passava, obtendo
que anteontem, às 16 horas, fôssem postos em liberdade os
sócios do Grupo Hitlerista que tinham sido presos.
Agora trabalho, aliás como é meu dever, para que se
resolva tudo na melhor harmonia, pois ela existiu e sempre
existirá entre a colônia.
E quanto às acusações feitas por Ehricht?
A essa pergunta o cônsul da Alemanha nos respondeu :
- Foi, mais ou menos, no mês de outubro que Ehricht,
estando na presidência do Grupo Hitlerista, enviou informa-
ções desabonatórias, não ao Reich como se disse, mas sim à
direção do Partido Nacional-Socialista .
Agiu nesse caso "sponte sua" , pois, a -pesar-de presiden-
te, não consultou nenhum dos companheiros de diretoria. Es-
tes, descoberto o que Ehricht fizera, logo o demitiram tanto
de chefe do seu grupo, como de sócio.
E, vendo-se os documentos por êle enviados, logo se
constata que êle faltou à verdade, pois, ocupando-se de elemen-
tos de antiga e conhecida atuação na colônia, prestou sôbre
os mesmos informações inverídicas. Demonstrou , nas suas
informações, desconhecer completamente as pessoas das quais
se ocupava.
Sei ainda concluiu o cônsul da Alemanha - que
Anuscheck, outro envolvido no assunto em questão, foi ex-
pulso também do Grupo Hitlerista.
E, a ajuizar pelas providências tomadas pelo sr. dr. Wal-
beck, parece que tudo se acalmará dentro de poucos dias.
Rio Grande do Sul, espaço vital nazista

“ Quando o território do Reich contiver todos os


alemães, ver-se-á que não poderá alimentá-los por si
só; então, da necessidade dêsse povo nascerá o di-
reito moral a adquirir terras estrangeiras. A char-
rua dará lugar a espada e as lágrimas da guerra
hão de preparar a colheita do futuro mundo."
(Hitler - “Minha luta”).

Voltemos, porém, agora, à ação da Gestapo no Rio Grande do


Sul. Inicialmente, ela se caracterizou por uma campanha de pro-
paganda intensiva, compreendendo a atenuação e o esmagamento
das manifestações anti-hitleristas, além da difusão das idéias nacio-
nal-socialistas alemãs.
Essa ação desenvolvia-se com a habilidade e a falta de escrúpulo
com que o nazismo combate seus adversários, notadamente na zona
colonial germânica do grande Estado sulino, terreno naturalmente
fértil, em que produziu frutos rápidos e fartos.
Há mais de um século existe no Rio Grande do Sul a coloniza-
ção alemã. A-pesar-de grande, ela se localizou apenas nos municí
pios de São Leopoldo, Novo Hamburgo, Taquara, Cachoeira, São
Sebastião do Caí, Estrêla, Lajeado, Arroio do Meio, Candelária,
José Bonifácio, Passo Fundo, Cruz Alta, Ijuí, Santa Rosa, Santa
Cruz, Palmeira e São Lourenço.
O colono alemão radicado no Brasil a princípio não possuía
outros interêsses, conforme já foi declarado, que o trabalho e a edu-
cação dos filhos.
Lamentavelmente, nem uma nem outra dessas questões mere-
ceu dos governos passados a menor atenção. Embrenhado na mata,
longe da pátria de origem, isolado da civilização pela absoluta falta
de meios de transporte e desamparado pelos poderes públicos do
nosso país, o colono viu-se entregue à própria sorte e sujeito aos
parcos recursos que lhe oferecia a lavoura.
Assim, de iniciativa exclusivamente particular foi que nasceu
a maioria dos empreendimentos da zona colonial em benefício da
vida coletiva local. Escolas, hospitais, sociedades de beneficência,
56 AURELIO DA SILVA PY

etc., surgiram dessa forma. Era natural, portanto, que fosse de na-
tureza germânica a civilização que preparavam.
A língua predominante na colônia continuou sendo a alemã.
Os jornais que apareceram foram editados no mesmo idioma, como
nele eram redigidas, ainda, tôdas as publicações oficiais da região.

Documento n.º 1

GARTHAS

FUNCTIO

34330

O
IC
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GABRIEL
BACAPAIA
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PAT

ZMANTO A A
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LA 00 T
A

SCHEMA DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL CONVENÇÕES
CIDADES
WILLAR
GATH OF FEODA
2

DEPARTAMENTO ESTADUAL DE ESTATISTICA


UPDGA 00estitute ASLENGDEGEOGRAPH ESTANCA
E
PALM

ROGRANDE DO SLA

Mapa indicando os principai ácles de colonização alemã no Estado.

Como consequência dêsses fatos, tivemos o dissabor de assina-


lar, muito recentemente, a existência de cidadãos brasileiros, filhos
e netos de brasileiros, que, no entanto, não articulavam uma só
palavra no idioma vernáculo.
Não deve causar grande espanto, portanto, a facilidade que a
GESTAPO encontrou para o cumprimento de sua missão. Os agen-
tes alemães enviados para a América do Sul vieram em maior nú-
mero para o Brasil, para o Rio Grande do Sul, cujas condições esta-
A 5. COLUNA NO BRASIL 57

vam detalhadamente cadastradas nos arquivos do Departamento


Estrangeiro do edifício da Prinz-Albrecht Strasse.
Quasi imediatamente, é preciso consignar êste fato, a ação dês-
ses elementos, conquanto muito cuidadosa e hábil, teve a repulsa
de muitos brasileiros filhos de alemães. Mas enquanto a Gestapo se
circunscreveu ao trabalho de base, que por ser menos ostensivo não
era de modo algum o menos perigoso, ela conseguiu escapar à aten-
ção dos que, mais tarde, deram o alarma, originando as contra-medi-
das do governo nacional. Note-se, contudo, que o Fuehrer muito
cedo se preocupou com o domínio da América, tirando o maior
partido da falta de aparelhamento então ocorrente nos países ame-
ricanos em geral.
E note-se, sobretudo, que não estamos concluindo “a priori”,
baseados em atividades desmascaradas pela polícia rio-grandense,
ou partindo dos exemplos que enchem a Europa, que essa campa-
nha de propaganda e organização teria um objetivo mais avançado,
o da conquista territorial, como já ficou amplamente evidenciado
no capítulo inicial dêste livro. Foi o próprio Estado nazista, por um
dêsses descuidos que têm servido de advertência ao mundo, que de-
clarou o nosso território parte de seu ilimitado Lebensraum, de seu
espaço vital. Efetivamente, nos documentos públicos do Partido
Nacional-Socialista, editados por órgãos oficiais do Reich, o Estado
do Rio Grande do Sul aparece como dominio alemão! E os agentes
do nazismo que aquí aportaram propagavam os princípios da pre-
ponderância da etnia ariana, pedra fundamental da ideologia racista
da Grande Alemanha.
Propugnar pela conservação do espírito germânico foi o passo
inicial. E nesse terreno, a princípio, os embaixadores do Partido
obtiveram ótimos resultados, pois que nada o Brasil tinha ainda
feito em prol da nacionalização do imigrante e de seus descendentes.
O colono alemão, de um modo geral, cultuava livremente as tradi-
ções alemãs, principalmente no que dizem respeito à vida social,
religiosa e esportiva.
Não é de admirar, pois, e muito menos se considerarmos o las-
tro congênito de “superioridade racial” do alemão, que os colonos,
nas condições em que se encontravam, se tenham deixado imbuir
logo pela ideologia pregada pelos agentes da Gestapo e seus cola-
boradores, cerrando fileiras ao lado dêles e dando lugar, assim , ao
aparecimento das primeiras células do Partido Nacional-Socialista
Alemão entre nós.

COMO SE FAZ UMA 5.ª COLUNA

Formadas essas células, entrou em franca atividade entre nós


a N. S. D. A. P. (National-Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei),
58 AURELIO DA SILVA PY

cuja fase de pura doutrinação no Rio Grande do Sul se caracterizou


pela brandura dos meios empregados na conquista de adesões.
O elemento doutrinado devia alistar-se voluntariamente. Os
que não aderiam eram então, apenas, tachados de hesitantes. Mas
a ação nazificadora em nosso Estado ia aos poucos se transformando
num movimento de massa, que, por fôrça, tinha finalmente de absor-
ver estas ilhotas vacilantes, perdidas no seio da população teuto-
brasileira. Para isso, muito concorreram as Escolas Particulares, es-
palhadas às centenas pelo Rio Grande do Sul, graças às subvenções
distribuídas pelo Consulado Alemão de Pôrto Alegre.
As provas de nossa afirmação estão contidas na farta documen-
tação colhida em diligências da Polícia do Rio Grande do Sul, orien-
tadas pela Delegacia Especial de Ordem Política e Social, a cuja
atividade incessante se deve, aliás, em grande parcela, o desmante-
lamento do surto nazista que chegou a nos ameaçar com uma verda-
deira inversão dos métodos democráticos vigentes no Brasil, quando
mais não fôsse. Os documentos de prova em referência ilustram to-.
dos a presente narrativa.
Controladas as escolas, eram catequizados os alunos. Através
dêstes, os agentes pardos obtinham o apôio das mães. E as mães
arrastariam os pais.
Foi êste o instrumento empregado nos primeiros tempos. Para
reforçá-lo, entretanto, fazia-se necessário o contrôle de todas as so-
ciedades recreativas, esportivas ou puramente beneficentes.
Já havia número suficiente de PG (Parteigenossen-correligioná-
rios) para que fôsse determinada a "marcha sôbre as sociedades".
Para isto, o Kreisleiter - chefe do Partido no Estado ― dispunha
que seus adeptos arregimentados se tornassem sócios da Sociedade
visada. Sempre a mesma técnica: um pequeno cavalo de tróia, ou ,
em linguagem moderna, uma pequena quinta-coluna, um grupo de
"turistas"... O Partido pagava as jóias e as mensalidades. Quando
chegassem a constituir maioria absoluta no meio social ou quando,
mesmo antes disto, houvesse uma boa oportunidade, pela ausência
ou desinteresse dos sócios, seria feito o "Anschluss". Convocava-se a
assembléia, fazia-se a votação e a Sociedade passava a ser proprie-
dade do Partido.
Desta forma, o nazismo conquistou um precioso patrimônio em
Pôrto Alegre. Este foi o caso da " Deutscher Schuetzen-Verein" (So-
ciedade dos Atiradores Alemães), com mais de 70 anos de existên-
cia na capital gaúcha, a qual se viu transformada de uma hora para
outra em centro nazista. Nos terrenos dessa Sociedade tinha o Par-
tido Nacional-Socialista resolvido edificar o palacete da "Deutsches
Haus" (Casa Alemã) .
Como a "Deutschen Schuetzen-Verein", tôdas as demais socieda-
des constituídas por elementos alemães ou de descendência alemã fo-
A 5. COLUNA NO BRASIL 59

ram anexadas pelo Partido, exceção feita da “Turner-Bund", Caixas


Beneficentes dos Navegantes e mais dez sociedades, entre elas algu-
mas de Santa Cruz, das 350 existentes no Rio Grande do Sul.
As sociedades anexadas, depois de sua filiação, passaram a cons-
tituir uma federação denominada "Verband Deutscher Vereine" (Li-
ga de Sociedades Alemãs), que, contra as nossas leis, ficavam imedia-
tamente ligadas e subordinadas à "Verband Deutscher Vereine im
Ausland " (Liga das Sociedades Alemãs no Estrangeiro), fato de que
a polícia possue documentos de prova.
As sociedades de canto - "destinadas ao cultivo e propaganda
do bom canto alemão" - constituíram o Círculo dos Cantores Ale-
mães no Rio Grande do Sul, entidade que foi filiada à União dos
Cantores Alemães do Brasil, com sede em São Paulo. A União, por
sua vez, filiou-se à “Verband Deutscher Vereine im Ausland" (Ber-
lim).
0
Após esse verdadeiro assalto ao patrimônio moral e material
de milhares de brasileiros, vítimas da própria origem étnica, dentro
das sociedades conquistadas todos os atos sociais eram praticados
3 em nome de Hitler e para honra e glória do Fuehrer alemão, “O
Grande e Único Chefe ".
Em seu trabalho de penetração, os agentes da Gestapo utiliza-
1 ram ainda os pastores da Igreja Evangélica Alemã, os quais se pres-
taram admiravelmente à nova missão, intercalando os sagrados tre-
chos da Bíblia com a doutrina nacional-socialista alemã. A polícia
sul-rio-grandense surpreendeu muitos dêsses pastores em plena ati-
vidade política. Escolas, Sociedades e Igreja, eis as três armas mo-
bilizadas pelos agentes de Hitler, neste Estado, para a formação da
5.a coluna, que devia facilitar o acesso a um território assinalado
pela suástica, em documentos secretos nazistas, como “espaço vital”
alemão, e destinado assim a tornar-se, algum dia, um mero " Prote-
torado" da Grande Alemanha.

12
A estrutura do Partido Nacional- Socialista

Alemão no Rio Grande do Sul -

Um "tribunal" local da justiça nazi. -


— Um “processo”.

* O Partido é para sempre o grão de mostarda da


idéia nacional -socialista, o mestre da arte da orga-
nização nacional-socialista, a escola da propaganda
nacional-socialista.”
(Hitler Discurso de 10-9-1934, em Nüremberg).

Completado o trabalho de penetração, estava o nazismo em


condições de estender a rêde partidária de modo aberto, ostensivo.
Os agentes da Gestapo e seus sub-agentes procederam, neste caso, de
acôrdo com as normas de ação já postas à prova em outros países.
As armas utilizadas foram os jornais (indiretamente) , os filmes
cinematográficos e os livros . Era a fase, inclusive, de desagregação
da população nativa. A campanha antissemita. A desmoralização
dos emigrados políticos. A difusão de panfletos . O contrabando de
armas e explosivos, para quando se tornasse oportuna a sabotagem.
A realização de tarefas já múltiplas e complexas como estas, eviden-
temente só é possível se existir uma organização de larga enverga-
dura, perfeitamente estruturada. Os agentes da Gestapo haviam-na
montado aquí .
Era o " Kreis", o Círculo, que é o Partido do Estado, chefiado
por um "Kreisleiter". O Kreis do Rio Grande do Sul, que teve
como primeiro Kreisleiter Herr Walter Hornig, tomou o n.º 5 den-
tro da organização do N. S. D. A. P. do Brasil.
O Círculo é composto de Grupos, que constituem a represen-
tação do Partido nas cidades, os quais, por sua vez, são formados de
células. A direção partidária compreende os seguintes departamen-
tos: Chefia, Subchefia; Propaganda, Patrimônio, Instrução, Im-
prensa.
A Chefia compete a direção geral : orientação e coordenação.
O Chefe do Círculo é sempre a maior autoridade local, superior
mesmo aos representantes oficiais do governo alemão. A ordem
A 5. COLUNA NO BRASIL 61

emanada da Chefia é a lei do Partido. O Subchefe é o substituto


legal do Chefe e tem atribuições de auxiliar imediato. Pelo depar-
tamento de propaganda, faz o nazismo a divulgação de sua ideolo-
gia e de seus programas. O departamento do patrimônio trata das
finanças partidárias, dos serviços de socorro e beneficência; para
êle convergem tôdas as fontes de renda do Partido . Entre estas
contam -se:

a) as mensalidades dos " Parteigenossen ; "


b) a contribuição das sociedades filiadas;
c) o produto do "Winterhilfe";
d) o produto dos "Eintopfessen";
e) as coletas especiais.

Winterhilfe (socorro de inverno) é uma campanha que o N. S.


D. A. P. promove, por meio de festas cujo produto reverte em be-
nefício de verbas especiais. Da mesma espécie são os Eintopfessen,
refeições constantes de um só prato, promovidas pelos Parteigenos-
sen. Quando se torna necessário, é o próprio Fuehrer e Chanceler
do Reich quem apela para os contribuintes no sentido de que estes
correspondam à espectativa partidária. Para ilustração e prova
desta afirmativa, encontra-se anexo a êste livro um documento (n.º
2) autografado pelo chefe do governo alemão.
O departamento de instrução ocupa-se com os assuntos da edu-
cação da juventude. E ao departamento de imprensa ficam subor-
dinados os jornais oficiais do nazismo, que dêle recebem orientação
direta.
Em cada Círculo existe ainda outro órgão, a "Uschla", cuja
importância avulta entre a dos demais pela função a que se destina.
Através da Uschla exerce o Partido todo o seu poder coercitivo. A
ameaça dos hesitantes e o "boycott" às firmas adversárias foram di-
rigidas por êsse órgão especial , que "julgava" as atividades dos cor-
religionários suspeitos, pois, na realidade, era um tribunal perante
o qual compareciam os alemães suspeitos de infidelidade à causa
nazista. Sempre que o Partido tinha necessidade de levar um cida-
dão qualquer à prática de atos contrários à sua vontade, mas favo-
ráveis à organização, era através da Uschla que exercia a sua pressão,
intimidando o cidadão recalcitrante.
São testemunhos eloquentes dêsses fatos os documentos anexos
(ns. 3 e 4) assinados pelo senhor Hugo Müller, chefe da Uschla do
Círculo do Rio Grande do Sul, cuja estrutura é completada por
mais três suplentes e um representante oficial do Partido (geral-
mente o chefe do Grupo local) .
Qualquer atitude partidária do Parteigenossen julgada con-
trária aos interêsses do Partido era imediatamente submetida a in-
62 AURELIO DA SILVA PY

quérito. Esse inquérito corria sempre dentro da Uschla, que tinha


a função não só de investigar, como de punir. Vamos apreciar, atra-
vés de "notificações" e "autos ", um "processo" perante a Uschla.

Documento n.º 2

Der Führer und Reichskanzler

Zu dem bevorstehenden 90. Geburtstag

Hindenburgs ruft die der Unterstützung von Kriegs-

beschädigten und Kriegshinterbliebenen dienende


Hindenburg - Spende zu einer neuen
Sammlung auf. Ich hoffe , dass viele Volksgenossen
sich an ihr beteiligen werden .

Berchtesgaden , den 13.August 1937 .

by In

Tradução do documento n.º 2

O Führer e Chanceler do Reich.

Para o próximo nonagésimo aniversário de Hindenburg,


a Coleta de Hindenburg, destinada ao auxílio dos mutilados
A 5. COLUNA NO BRASIL 63

e vítimas da guerra, solicita novas dádivas. Espero que mui-


tos compatriotas contribuam para ela.

Berchtesgaden, 13 de agosto de 1937.

HITLER.

Tradução do documento n.º 3

Pelotas, 22 de janeiro de 1938.

CONVITE
Sr. Friedrich Ruge.
Pessoa de confiança do consulado alemão em Rio Grande
PELOTAS. Rua Marechal Floriano .
O abaixo-assinado, devidamente autorizado pelo Juiz
Distrital de Berlim, I Câmara, solicita vosso comparecimen-
to, segunda -feira, 24 de janeiro, às 11 horas da manhã, no
Hotel do Comércio, quarto número 21 , afim de assinar um
documento como pessoa de confiança do consulado alemão.
Heil Hitler!

(a. ) Hugo Müller.

Tradução do documento n.º 4


Pelotas, 24 de janeiro de 1938.

Sr. Friedrich Ruge


Pessoa de confiança do consulado Alemão em Rio Grande
PELOTAS . Marechal Floriano.

O convite que lhe foi feito para comparecer no dia 22


de janeiro, às 11 horas da manhã , a -fim-de assinar um docu-
mento, não foi atendido por V.S. Levo ao seu conhecimen-
to que se trata de obter a sua confirmação, como pessoa de
confiança do consulado alemão, de que o Pastor Alfred Si-
mon, no dia 15 de novembro de 1937, mandou retirar a
bandeira alemã do edifício da Sociedade Germânia, em Pelo-
tas. A indignação de V.S. já foi manifestada no protesto
que V.S. dirigiu à Germânia . A justiça deseja, entretanto ,
protocolar sua declaração.
Renovo o meu convite, para quarta- feira às 10 horas
da manhã, e, caso V.S. não comparecer, ver-me-ei obrigado
a consignar, em protocolo, que V. S. não honra a sua assi-
natura.
Heil Hitler!
(a . ) Hugo Müller.
O
64 AURELI DA SILVA PY

Documento n.º 5
Pelotas , den˚ 24. Jmuar 1938

Vor dem Beauftragten des Schlichters, Pg . Hugo Xueller , sysøks%


erscheint heute un als Zenge in den Verfahren gegen den Pfarrer
der deutschen evangelischen Gemeinde in Pelotas , Pg . ALFRED SIMOL
im Auftrage des obersten Parteigerichtes in Berlin - Kammer X.
vernommen su werden , der Vertrauensmann des Deutschen Konsulate
in Rio Grande , Herr PRIEDRICH HUGE , wohnhaft in Pelotas.
Mit dem Gegenstand der Vernehmung vertraut genaoht und zur hu
sage der Wahrheit ermahnt , lasst er sich vernehmen wie folgt :
Ich verslohere auf Ehre und Gewissen :
Zur Person: Ich heisse Priedrich Ruge , bin Reich deutscher ,
Vertramenɛmann des Deutschen Konsulates seit 2 Jahren u.59 Jahre
alt.
Zur Saphe : Ion bestastáze hiermit als Vertrauensaann des Deut-
sahen Konsulates , dass Her Pfarrer Alfred Simon am 15. November
1957 die Deut sohe "ahne , welche sur Feier dieses Tages am Hause
des Vereins "Germania " in Felḥtas gehisɛt war , eigenmaschtig ent-
fernen lie83.gine boeswillige Handlung lag a . Bracht . nicht vor.
Ich habe gegen diese Heilungsweise bereits in der an die "Ger-
mania" gerichteten Protenfliste meina rillen darumber sum Ausdr
druck gebrachat.

Vorgelesen , genehmigt pas unterschieben:

Friedrich Rüge
feŸttaishañain'
dea Deutschen Konsulater
in Rio Grande .
·

Geschehen wie oben : Things prices .


Beauftragter des Schlichters

Tradução do documento n.º 5


Pelotas, 24 de janeiro de 1938.

"Ante o representante do árbitro, partidário Hugo Mül-


ler, comparece hoje o confidenciário do consulado alemão do
Rio Grande, sr. Friedrich Ruge, residente em Pelotas, para
ser ouvido, em conformidade com a autorização do Tribunal
Superior do Partido de Berlim I Câmara como teste-
munha no inquérito contra o pastor da comunidade teuto-
evangélica, partidário Alfred Simon.
Cientificado do assunto do interrogatório e advertido de
que deve dizer a verdade, submete-se a êle, declarando:
Declaro sob minha honra e conciência:
A 5. COLUNA NO BRASIL 65

Sobre minha pessoa : Chamo-me Friedrich Ruge, sou


alemão nato, confidenciário do consulado alemão, há 2 anos,
com 57 anos de idade.
Sôbre a questão : Confirmo, como confidenciário do
consulado alemão , que o sr. pastor Alfred Simon mandou
retirar, sem autorização, no dia 15 de novembro de 1937,
a bandeira alemã do mastro da Sociedade Germânia de Pelo-
tas, a qual alí estava hasteada em homengem ao dia. A meu
ver, não houve nisso uma intenção maldosa. Em uma lista
de protesto, dirigida à Germânia, já firmei a minha indigna-
ção contra êsse fato.
Lido, aprovado e assinado.
(a.) Friedrich Ruge
Confidenciário do consulado
alemão de Rio Grande.
(a.) Hugo Müller
Representante do árbitro.

Documento n.º 6

Pelotas, den 24. Januar 1938

An Pg. HAES JUNGE,


Pelotas, Rua 15 de Bovembro 616

Sie haben gegen die einstweilige Verfuegung Ihres Ausзohlusses aus


der SDAP vom 24. Juli 1937 inspruch an das Gaugericht der AO in
Berlin am 4. August 1937 erhoben , demzufolge ich auf Anordnung des
Gaugerichtega su Ihrer Vernehmung vom 18. Januar ab bis heute in Pe-
lotas anwesend war .
In Ihrer Angelegenheit sind verschiedene Belastungsgeugen von mir
protokollarisch vernommen wurden .
Da ich Ihre laøngere Abwesenheit von Pelotas feststellen musste ,
stelle ich Ihnen anheim , bei Gel -genheit ihrer Rueckreise nach hier,
in Porto Alegre bei mir in Deutschen Haus in der Menstseit zwischer
10 und 11 thr vormittaga vorsusprechen , falls Sie nach dem Stand der
Angelegenheit noch Vert darauf legen vernémmen zu werden .
He 11 H 11 ori

Der Beauftragte des Schlichters:

ThingsJitter

5-5.a C.
66 AURELIO DA SILVA PY

Tradução do documento n.° 6

Pelotas, 24 de janeiro de 1938.

Ao partidário Hans Funck.


PELOTAS Rua 15 de Novembro, 616

"V.S. protestou em 4 de agosto de 1937 junto ao Gau-


gericht (Tribunal Provincial do Partido - Uschla de Ber-
lim) pela sua exclusão provisória do N.S.D.A.P. (Partido
Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ) , efetivada em
24 de julho de 1937.
"Por êste motivo estive eu em Pelotas desde o dia 18
de janeiro até hoje, para ouvir as suas declarações, por deter-
minação do Tribunal Provincial.
"No seu caso, já foram ouvidas diversas testemunhas,
agravante, cujas declarações protocolei.
"Constatando a sua ausência prolongada de Pelotas, par-
ticipo-lhe que, após o seu regresso, pode procurar-me em Pôr-
to Alegre, na "Casa Alemã " , nas horas do expediente, entre
10 e 11 horas da manhã, caso ache ainda conveniente ser ou-
vido, dada a atual situação do seu caso.
Salve Hitler!
(a. ) Hugo Müller."
Representante do árbitro

Tradução do documento n.° 7


Pelotas, 19 de janeiro de 1938 . E

Ante o representante do árbitro, partidário Hugo Mül-


ler, comparece hoje o partidário- chefe de núcleo, Gustav Wen-
der, que declara ao Tribunal Superior de Berlim, I Câmara i
- - Dr. Scho Ne, conforme carta de 30 de novembro de 1937,
o seguinte:
a) O partidário Wender falou com o partidário Simon,
na presença de todos os partidários, sôbre os pon-
tos da divergência, em março de 1937 , e declara,
ainda mais, que nunca tornou público estes aconteci-
mentos. Ao contrário, foi justamente o partidário
Simon que, por si próprio, agitou imensamente a
opinião pública : que, após isto, o partidário Wen-
der tomou publicamente medidas contra as afirma-
ções errôneas de Simon .
b) A "Sociedade Teuto-Brasileira de Senhoras" é cons-
tituída de 75 % de teuto-brasileiras e de 25 % de
alemãs-natas ; das últimas, porém, só poucas são ale-
mãs verdadeiras; encontram-se alí também algumas
espôsas de partidários, que nem sempre andam no
caminho correto .
A 5. COLUNA NO BRASIL

c) O caso do mastro quebrado da bandeira é de pou-


ca importância ; quem quererá servir de árbitro quan-
do a juventude está se desabafando ? Haverá nisto
má intenção ou somente criancice? Não é possível
dar-se a esta questão uma resposta exata.

Documento n.° 7
Pelotas , den 19. Januar 1938

Vor dem Beauftragten des Schlichters , Pg . Hugo Kueller , erscheint


heute der Pg . OGL . GUSTAV WENDER und erklaert auf die Frage des Gau-
gerichtes , Berlin , I. Kammer - Dr. Soho/ Ne , laut Brief vom 30. No-
vember 1937 wie folgt :
a) Pg. Wender hat mit Pg . Simon ueber die Streitpunkte in Anwesen-
heat aller Parteigenossen gesprochen und zwar Ende Maerz 1937 und
erklaert weiter dasu , dass von ihm niemals derartige Angelegenheiten
der Oeffentlichkeit uebergeben worden sind . Im Gegenteil war es aber
Pg. Simon , der die Oeffentlickeit von sich aus auf das Schwerste be-
unruhigte ; sodass nach diesem Geschehen Pg . Wender offen in der DAP.
Stellung gegen Simons unwahre Behauptungen nahm .
b) Der deutsch-brasilianische Prauenverein besteht su 75$ aus dux!
Deutsch-Brasilianern und su 25% aus Reichsdeutschen , von welch Letz-
nur en Frau
Par
teren #88.figen Freightя nossen Danish 528¹thas¹ £ Arsh+ IU-
ker den rechten Weg wissen .
c ) Die Angelegenheit der abgebrochenen Pahnenspitze ist eine Sach● ,
der wenig Bedeutung beisumsssen ist ; wer will entscheiden , wenn die
Jugend sich herumtobt ? Liegt da nun wirklich boeser Wille vor oder
handelt es sich um eine reine Kinderei ? Eine entscheidende Antwort
war in dieser Angelegenheit nicht herbeizufuehren.
d ) Hierbei handelt es sich nicht um ein Schreiben der Kreisleitung
an Pg. Vender , „ ondern umgekehrt um ein Schreiben des Pg . Wender an
die Kreisleitung , aus welchem er dem Vorsitzenden des Schulvereins ·
in Tres Vendas , Herrn Otto Passbender einige Saetze in Bezug auf die
Sahul -Unterstuetzungssache fuer die Schule in Tres Vendas vorgelesen
hat . Das Schreiben selbst aber 80 erklaert Pg . Wender - habe er
nicht aus der Hand gegeben .

Pg. Wender nacht diese vorstehenden Angaben auf Ehre und Gewissen
und hat diese eigenhandig unterschrieben .

Wander
....
Unterschrift : 34 5
e
i

Best actigt : Beauftr. des Schlichters ;


p
a

IngoMonter
L
68 AURELIO DA SILVA PY

d) Neste caso não se trata de uma carta da chefia, diri-


gida ao partidário Wender, mas, ao contrário, de
uma carta do partidário Wender, dirigida à chefia
do círculo, da qual êle leu alguns trechos, referen-
tes ao auxílio para a Escola de Três Vendas, para
o presidente da Sociedade Escolar de Três Vendas,
sr. Otto Fassbender. A carta em questão, porém
assim declara o partidário Wender não saiu
de suas mãos.
O partidário Wender faz estas declarações sob sua
honra e conciência, e assina de próprio punho .

(a. ) G. Wender

Confere: O represen-
tante do árbitro

(a. ) Hugo Müller.

O sr. Hugo Müller, que também já foi o chefe do Departamen-


to do Patrimônio (a Secretaria da Fazenda do Partido) chamado,
certa vez, a prestar declarações na Delegacia de Ordem Política e
Social, em maio de 1938, disse o seguinte:

"Que é um dos chefes do Partido Nacional -Socialista Alemão ;


que as atividades do Partido cessaram por ocasião do fechamento
da casa Alemã, em janeiro dêste ano ;
“Que se dedicava aos serviços de socorro-beneficência ;
"Que recebeu do Banco Transatlântico Alemão, por ordem do
Consulado Alemão de Pôrto Alegre, 5 contos de réis, de uma vez, e
10 contos de réis de outra, porque, depois de proibidas as ativida-
des, essas transações passaram a ser feitas por intermédio do Con-
sulado;

“Que, de fato, foi encarregado de fazer um inquérito em Pe-


lotas."

A palavra do Chefe nazista, dêste modo, vem corroborar e ilus-


trar o texto dos documentos que acompanham o presente trabalho.

AS ALAS DO PARTIDO NAZISTA

Como complemento da organização partidária e como outras


tantas malhas da rêde de camisas pardas que o nazismo estendeu
na América, existiram no Rio Grande do Sul a D. A. F. , Deutsche
Arbeitsfront (Frente Alemã do Trabalho); a Arbeitsgemeinschaft
A 5. COLUNA NO BRASIL 69

der deutschen Frau im Ausland (União das Mulheres Alemãs no


Exterior); a D. B. J. (Deutschbrasilianischer Jugendring) ; a Bund
deutscher Maedchen im Ausland (Sociedade de moças alemãs no
Estrangeiro) e a Deutscher Kriegerverein (Liga dos ex-combatentes).
De tôdas essas entidades, eminentemente políticas, destacou-se
por sua atividade a primeira delas, isto é, a Frente Alemã do Tra-
balho. Pelos numerosos arquivos que a polícia apreendeu, verifi-
ca-se como ela agia neste Estado.
Essa atuação saliente foi conseguida graças à notável organi-
zação que lhe imprimiram os chefes Dorsch e Strackajan.
Mau grado a intensa atividade política desenvolvida, sobeja-
mente comprovada com os documentos apreendidos, por baixo da
e placa oficial da Deutsche Arbeitsfront os dirigentes mandaram ins-
crever a seguinte tradução: "União Beneficente e Educativa" (Doc.
n 8 ).

Documento n.° 8

Fechado

DIE DEUTSCHE ARBETSFRONT

CUNIAN BENEFICIENTE & EDUCATIVE YO

E, a princípio, tentaram convencer as autoridades policiais de


que a referida tradução ―completamente desvirtuada - exprimia,
em verdade, o sentido exato da organização.
A D. A. F. tinha direção autônoma, embora dependesse do
Partido em tudo e por tudo.
Assim, fazia sua propaganda àparte e tinha seus núcleos no in-
terior do Estado, constituídos paralelamente aos Grupos do Partido.
E' possivel formar uma idéia nítida dêsse fato pela leitura da
circular aquí transcrita e em cujo original, (Doc. n.º 9) nota-se a
assinatura do sr. Ernesto Dorsch:
70 AURELIO DA SILVA PY

Tradução do documento n.º 9

CIRCULAR N.º 1

DEPART. 1 Chefia

Expedido em relação ao
E.D.

Pôrto Alegre, 7 de fevereiro de 1938 .

A todos os chefes de núcleo


do Círculo V.

Minha última circular do ano passado foi a de n.º 51 .


Não recebí de tôda parte confirmação, como pedira, e peço
que as secções em falta o façam agora.
Desde a circular em questão, não se verificaram modi-
ficações fundamentais, a-pesar- de constatado um alívio na
situação geral, na esperança de que, em tempo não muito re-
moto, se possam realizar reuniões, como antigamente. As
medidas necessárias para isto serão tomadas pela chefia cen-
tral, e VV.SS. devem aguardar proximamente o resultado das
mesmas. Importante é que aquí estejamos informados de
tôdas as dificuldades de natureza local, existentes ou que se
verificarem, afim de, caso se torne necessário, apelar para o
consulado, que procurará removê-las. Permanecem de pé as
instruções da minha última circular. E' dever de todos os
chefes agir com a máxima cortesia em todos os atos, insistin-
do com os companheiros para que façam o mesmo. Nada
deverá surgir de nossa parte que, sem o ser, possa ser tido
como provocação.
Em linhas gerais, posso registar com satisfação que nos-
sa gente se portou bem nas dificuldades surgidas. Em alguns
lugares, todavia, parece terem causado profunda impressão as
notícias da imprensa a respeito da proibição do movimento,
a qual por vezes até mereceu crédito. Por isso, torna -se opor-
tuno esclarecer nossa gente sôbre a verdadeira situação. E'
dever de todos os chefes, em princípio, não tomar por base
boatos e notícias de imprensa. Notícias importantes ser-lhes-
ão sempre comunicadas de nossa parte. Deve-se instar em
tôda a parte para que os companheiros façam o mesmo. E'
mesmo imprecindível que os chefes e seus auxiliares, mais do
que nunca, se esforcem por permanecer em contacto perma-
nente e em intercâmbio de idéias com cada partidário.
A 5. COLUNA NO BRASIL 71

Porque o perigo a que estamos expostos atualmente é


êste : nossa gente, devido à falta de reuniões, pode perder o
contacto mútuo, paralisando -se o interêsse individual.
Para evitá-lo existem muitos meios, cuja escolha fica
a critério dos chefes locais, devendo estes orientar-se segundo
as situações que se apresentarem. Assim, por exemplo , pode-
se fortalecer o espírito de coleguismo e comunidade, adotan-
do-se um empreendimento coletivo, um trabalho que benefi-
cie a coletividade (construção de uma sede social, de um
campo esportivo, piscina, etc. ) , auxiliar com trabalho coleti-
vo um compatriota indigente ou apoiar eficientemente as fes-
tas promovidas por outras organizações idênticas às nossas.
Ainda existem outros meios, e compete aos chefes locais apro-
veitá-los, segundo as possibilidades, porque, em hipótese al-
guma, deve acontecer que, por causa de dificuldades momen-
tâneas, venha a afrouxar a nossa união e romper-se o espí-
rito de comunidade e coleguismo . Os meses passados e fu-
turos são um período de prova, durante o qual deve compro-
var-se a vitalidade e o valor prático do espírito da nossa co-
munidade. Espero que, no retrospecto que fizermos no fu-
turo, possamos orgulhar-nos de nós mesmos.
O supradito pode dirigir-se também às formações da
"Frente Alemã do Trabalho ". Peço discutir com os chefes
seccionais o conteúdo desta circular, tendo ainda um especial
cuidado para que êles, em todo sentido, trabalhem intima-
mente convosco.
Ainda quero frisar aquí que acabamos de receber um
novo filme: diversos atos do "Eco da Pátria" , 5 partes ; 2
atos "Excursões na Albânia” , e 1 ato " Sinaleiro Z à frente"
(filme das manobras de marinha ) , um programa que dura
aproximadamente uma hora e meia. Ös filmes passaram
pela censura do Rio, com letreiros em português, sobrepostos,
e com a exibição permitida para reuniões cerradas. Em Pôr-
to Alegre, a exibição será feita em fins dêste mês ou em prin-
cípios do mês próximo. Peço comunicar-me sôbre a possi-
bilidade de exibição nos diversos lugares, para poder atender
a eventuais pedidos de programação a ser feita .
Outrossim, chamo a vossa atenção para o fato de que
futuramente tôda a correspondência seja enviada não mais
a W. Hornig, e, sim, exclusivamente, a Ernst Dorsch, Caixa
Postal 158, Pôrto Alegre. Os envelopes com o enderêço
de Walter Hornig, impresso, não deverão ser usados, devido
às dificuldades que poderão surgir na entrega, principalmente
em se tratando de registados.

Saúdo-vos como companheiro.

Salve Hitler!

(a. ) E. Dorsch.
72 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.° 9

Treisleitung.
Rundschreiben No.1.

Abt.: 1 · Leitung.
Brlassen auf Grund voc: .. PORTO ALEGRE, den 7.Februar 1938.

An alle Dienststellmleiter
im Kreis V.
❤❤❤❤-------------- ❤- d

Mein letztes Rundschreiben im vergangenen Jahre war No.51 . Ich


habe nicht von allen Seiten eine Empfangsbestaetigung erhalten, wie erte-
ten und bitte die Stellen, welche des versaeumt haben, die hel dung nachsu-
bol on.
Seit dem erwachten Rundschreiben haben sich keine grundlegenden
Veraenderungen ergeben, wenn auch in der allgemeinen Lage eine Entspannung
eingetreten ist, Es besteht die Aussicht, dass in nicht allzu former Zeit
Zu saumenku en fte wieder vie frusher durchgefuehrt werden koennen. Die.hier
fuer noctagon Schritte verdon zentral unternommen und Sie muessen zunaj: hst
das Ergebnis derselben abwarten. Wichtig dabei ist, dose wir hier uebor
alle draussen etwa bestehenden der sich noch erzəbərim.. Schwierigkɔ´ ^ en
Oertlicher Natur informiert sind , um natfalls das Konsulat zu deren Behebung
in Anspruch nehmen zu koenr.en. Die Anordnungen raines letzten Rundschreibena
bleiben nach wie vor bestehen , Ich mache es allen Leitern zur Pflicht , nich
bei ellen udlungen des groesster Taktes zu hefteissigen und auch ihre
Kameraden dazu anzuhalten. Es derf von unserer Seite aus bichts erfolgen,
vas, chne es zu sein, 218 Prevokation ausgelegt werden koennte.
Im Grossen und Ganzen kam ich mit Genugtuung feststellen , dass
unsere Leute sich unter den gegebenen Schwierigkeiten gut gehalten haben .
An einzelnen Stollen allerdings scheinen die Pressemeldungen vom Verbot der
Bewegung staten Eindruck gemacht und sogar Glauben gefunden zu haben . Es
ist daher angebracht, sero Lut3, 30weit sie nicht informiort, ueber den
wahren ,Sachverhalt aufzuklaoren, Pflicht der Leiter ist es, auf Geruechte und
Pressemeldungan sich grundsaetzlich richt su verlassen. Wichtige Nachrichton
werden Ihnen immer von hier aus unverzueglich zugestellt werden. Dies ist
auch den Kameraden ueberall einzuschaerfen. Es ist ueberhaupt notwendig.
dass mehr als je der Leiter und seine Mitarbeiter sich bemuehen, mit dem
Einseinen draussen in roger Verbindung und Gedankenaustausch zu bleiben.
Der die Gefahr, die wir gegenwaertig laufen, ist die, dass unsero
Leute durch das Ausfallen aller Versammlungen den Kontakt untereinander ver
lieren und dann auch des interesse beim Einzelnen erlahat . Es gibt vielv
Mittel, um dies zu verhindern , deren Wahl den oertlichen Leitern ueberlassen
bleiben und je nach Lage der Verhaeltnisse erfolgen muss. So lassst sich
1.B. der Geist der Kameradschaft und Gemeinschaft sehr leicht dadurch staer-
ken, Cass Gemein schaftsarbeit angesetzt wird, ein Arbeitsdienst an irgend
einer der Allgemeinheit zugute kommenden Sache ( Bau eines Vereinshauses ,
Anlage eines Sportplates, eines Badestrandes usw. ) oder Arbeitsdienst fuer
einen notleidenden Volksgenossʊn , oder dass KdF-Veranstaltungon, Eintopf-
essen usw,, die von anderen Organisationen durchgefuehrt werden, tatkraefti-
ge Unterstuetzung durch Eincetz unsorer Kameradon findon. Es gibt diesur
Kittel noch mehr, und es ist die Aufgabe der oertlichen Leiter, sie nach
Moeglichkeit zu erschoopfen , dom es darf unter keinen Umstaenden eintre-
ten, dass durch die augenblicklichen Schwierigkeiten der Zusammenhalt ge-
A 5. COLUNA NO BRASIL 73

Kreisleitung Rundschreiben No.1 Seite 2.


7.Februar 1938.

lockert und der Geist der Gemeinschaft und Einsatzbereitschaft gestoert


wird. Die Monate hinter und vor uns sind eine Zeit der Pruefung, in der
sich der Geist unserer Gemeinschaft auf seine Lebensfaehigkeit und seinem
praktischen Wert hin bewahren muss. Ich will hoffen, dass wir spaeter
beim Rueckblick auf diese Zeit vor uns selbst bestehen koennen.

Das oben gesagte gilt sinngemaess auch fuer die Gliederungen der DAF. Ich
bitte, den Inhaltudieses Rundschreibens mit den Gebietswaltern su bespre-
shen und ueberhaupt in jeder Beziehung darauf zu achten, dass von denselben
aufs Engste mit Ihnen zusammengearbeitet wird.
Ich moechte hier noch erwaehnen, dass wir soeben ein neues Fimprograms er-
halten haben, verschiedene Akte Echo der Heimat V.Teil , 2 Akto "Fahrten-
buch Albanien " und 1 Akt . " Stander 2 vor " ( ein karineman overfilm) , ein Pro-
gran von gut 1.1 /2 Stunden. Die Filme sind durch dio Zensurst alle in Rio
gegangen, portugiesisch beschriftet und fuer geschlossene Vorstellungen zu-
gelassen , Die Vorfuehrung in Porto Alegre wird Ende diesos oder Anfang des
naechsten Monats stattfinden. Ich bitte Sie um Bericht , wie us an den einsol-
nen Plaetzen mit den Vorfuchrungsmoeglichkeiten steht , damit etwaige Wuen-
sche in dem noch festzusetzenden Laufplan boruecksichtigt werden konnen.

Ich mache forner darauf aufmerksam, dass der gesamte Briefwechsel keunftig
nicht mehr an W. Hornig, sondern ausschliesslich an " Ernst Forsch, Caixa Postal
158 , Porto Alegre" zu adresci eren ist. Vargodruckte Umschlaege mit der
Aufschrift "Walter Hornig " sollen keine Verwendung mohr finden , da sonst
bei der Auslieferung, besonders bei eingeschriebenen Sendungen Schwierig-
keiten entstehen.

Mit kameradschaftlichen Gruessen und


Heil Hitler ¦

No13ch

Através dessa circular verifica-se como os nazistas se prepara-


ram a-fim-de resistir às sanções legais do nosso govêrno, em relação
às atividades políticas .

Eles estão sempre preparados, à espera da "HORA DECISIVA”.


E esta luta, "o próprio conteúdo de nossa vida", na expressão
usada pelo Dr. Ley, está contida nos dez mandamentos da D. A. F.
abaixo transcritos:

.1 - Saudemos o Fuehrer pela manhã e agradeçamos à


noite a nova fôrça de vontade e esperança de viver
que nos deu.
2 - Devemos competir em contribuir para que nossos ir-
mãos de baixo e de cima sejam bons companheiros,
porque queremos ser socialistas verdadeiros e leais.
3 Nunca exigiremos demais da comunidade, senão aquilo
que cada um possa dar-lhe.
74 AURELIO DA SILVA PY

4 - A luta deve ser o conteúdo de nossa vida, porque


sabemos que o céu só dá liberdade àquele que estiver
disposto a dar tudo por ela.
5 - O trabalho será a nossa honra e a nossa produção :
distinguirá um do outro.
6 A honra da Nação será a nossa honra pessoal.
7 Da felicidade e do bem- estar da Nação dependerá
nosso próprio bem-estar.
8 Só quem produzir terá o direito de exigir.
9 Uma representação leal de nossos interêsses é necessá-
ria. Os interêsses pessoais, porém, cessarão quando
em conflito com os interêsses da comunidade.
10 --- Sêde leais e sinceros uns com os outros. Exterminai
de vossas colunas a covardia e a traição.

As credenciais do sr. Dorsch, como chefe da Deutsche Arbeits-


front, foram conferidas em documento público do govêrno alemão,
como seja o seu passaporte .
O chefe da D. A. F. não devia exercer outra profissão estranha
à política alemã no Brasil .
A fotocópia do verso e reverso de seu passaporte atestam niti-
damente essa situação .

RACISMO PRÁTICO

Como é sabido e já foi muitas vezes frisado, o racismo


é a pedra fundamental da ideologia nacional-socialista alemã . Não
apenas os chefes e figuras principais, como todos os filiados ao Par-
tido, no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo, só merecem
a confiança do Estado alemão se forem "de puro sangue ariano ” .
Vejamos as instruções baixadas a êste respeito pelo govêrno de
Berlim à Associação dos Cartórios de Registo Civil da Alemanha :

"A convicção arraigada na mentalidade nacional-socia-


lista de que é dever supremo de um povo conservar imune
de influências estranhas o seu sangue e procurar eliminar as
influências sanguíneas que conseguiram infiltrar-se no povo,
baseia-se nas verificações científicas da doutrina da heredita-
riedade e das pesquisas sôbre as raças. Compete à mentali-
dade nacional -socialista fazer justiça a qualquer outro povo,
de maneira que jamais se cogite de raças superiores ou infe-
riores, porém, unicamente, de influências motivadas por es-
tranhas raças .
"De acordo com os resultados obtidos com a doutrina
das raças, o povo alemão, além da influência determinante
da raça nórdica, contém partículas raciais, em volume infe-
A 5. COLUNA NO BRASIL 75

rior e não mais ponderável , de outras raças mais ou menos


aparentadas, que igualmente têm sido os elementos constru-
tivos dos povos europeus vizinhos, de modo que, para a tota-
lidade das raças contidas no povo alemão, foi criado o prin-
cípio superior denominado de ARIANO ( divergente no sen-
tido filológico) e com isto ficou congregado, como unidade
racial, o sangue alemão e o sangue bem aparentado do mesmo.
"Portanto, é de descendência ariana todo aquele que está
isento de influências de sangue estranho sob o prisma ale-
mão. Como estranho, aquí, antes de tudo, se deverá com-
preender o sangue dos judeus e dos ciganos residentes no
"habitat" europeu, o sangue das raças asiáticas ou africanas
e aquele dos autóctones australianos e americanos (índios) ,
enquanto, por exemplo, um inglês, um suéco, francês ou
tcheco, polaco ou italiano, quando êle próprio está isento
de tais influências sanguíneas estranhas, deverá ser considera-
do como aparentado e portanto como ariano, quer proceda
de sua própria pátria, resida na Ásia Oriental ou na Amé-
rica, seja cidadão dos E.E.U.U. , ou de República Sul-Ame-
ricana. Para nós, no matrimônio, o indivíduo alemão, a
moça de descendência puramente alemã, nos são muito mais
próximos do que outros descendentes arianos de afinidade
racial mais distante.

"O governo e o povo, observando o princípio básico


reconhecido como verdadeiro, desenvolveram sistematicamen-
te êste desideratum (Lei para Reorganização dos Funcioná-
rios Profissionais de 7 de abril de 1933, tomo I, páginas
175, § 3 ) , criando esta Lei dos funcionários profissionais
e seus regulamentos, tratando de eliminar os erros cometidos
pelo sistema anterior e purificar a profissão de funcionário
público, tão importante para o Estado, de todos os portado-
res de partículas sanguíneas de raças estranhas, que se tinham
infiltrado no funcionalismo durante a vigência do Estado de
Novembro. Semelhantes leis federais em continuação foram
promulgadas para regular outras profissões importantes na
vida do povo (os advogados, notários, registos de patentes,
médicos e outros) que igualmente como os funcionários pro-
fissionais, continham certas medidas transitórias ( exceções li-
mitadas) para as pessoas que já exerciam ditas profissões.
"As leis que vigoram para o futuro, e portanto, que
prevalecem para a admissão nos referidos cargos, natural-
mente, são muitíssimo mais severas, visto que se intenta a
eliminação absoluta de qualquer influência estranha na Con-
dução do Povo e do Estado. Igualmente, para a defesa na-
cional ativa e para o serviço de trabalho, a hipótese funda-
mental é a descendência ariana. As leis de Nurenberg (de
1935) , trouxeram a aplicação de princípios raciais nacional-
socialistas para a totalidade do povo alemão.
"Para qualquer caso, será obrigação e dever de tôda
pessoa apresentar as provas sôbre sua descendência ariana,
76 AURELIO DA SILVA PY

correspondentes à regulamentação que prevaleça para o inte-


ressado, e também, em muitos casos, sôbre a descendência do
consorte.
"Esta prova, cuja regulamentação e métodos serão apli-
cados nos parágrafos seguintes, será limitada temporariamen-
te, porque, em princípio, apenas interessará abranger a mis-
tura de raças que houve mais ou menos desde a época da
Revolução Francesa.
"A Revolução Francesa ( 1789) , primeiramente na
França e depois em outros Estados, manifestou a orientação
pública liberal. O princípio essencial dessa doutrina é o pri-
vilégio do indivíduo sôbre a coletividade. Seus ideais foram
a "liberdade" ( descomedimento ) e a "igualdade" (tudo que
tem face humana é igual ) . A tais doutrinas deverão ser
atribuídos a emancipação dos judeus e a grande maioria dos
casamentos mixtos, e igualmente, o relaxamento da família,
da raça e do povo, o que, na atualidade, é considerado ex-
traordinariamente prejudicial.
"Unicamente a revolução intelectual do nacional-socia-
lismo conseguiu dominar tal doutrina na Alemanha.”

O RACISMO ALEMÃO NO RIO GRANDE DO SUL

Paralelamente com a expansão da propaganda nazista, tomou


incremento a difusão das idéias raciais alemãs no Rio Grande do
Sul . As palavras "judeu", "mulato" e "negro" começaram a surgir,
em sentido depreciativo ou insultuoso, com estranha frequência em
certas rodas de conversação . Nestas, quasi sempre, havia um ale-
mão. Eram frutos venenosos da teoria da superioridade da raça
"ariana", que germinava em território brasileiro, onde não houve
jamais questões raciais. O racismo em nosso Estado entrara fran-
camente para o terreno prático, conforme o provam documentos
cuja cópia e tradução abaixo seguem:

Texto de uma carta da direção da DAF (Deutsche Arbeits-


front ― Frente Alemã do Trabalho) aos seus representantes no
Rio Grande do Sul:

"Auslandsamt der Deutsche Berufsgruppen.

Hamburg, am 1. Juli 1935.

An alle Amtswalter !

Betr.: Mitglieder mit nichtarischen Frauen.


Der Leiter des Organisationsamtes der DAF, pg Claus
Selzner, erliess folgende Anordnung :
A 5. COLUNA NO BRASIL 77

"Volksgenossen, die rein arischer Abstammung und mit


einer Nichtarierin verheiratet sind (Volljuedinnen , Halbjue-
dinnen, usw., koennen als Einzelmitglied in die Deutsche
Arbeitsfront angenommen werden. Der nichtarische Eheteil
und die Nachkommen aus einer solchen Ehe werden nicht
angenommen. Ausgenommen von der Aufnahme in die
DAF sind diejenigen Volksgenossen, die nach die Machter-
greffung mit einer Nichtarierin im obigen Sinne die Ehe
eingingen oder eingehen . Volksgenossen, die wegen ihrer
Verheiratung mit einer Nichtarierin bereits aus der DAF
ausgeschieden sind, koennen unter Nachzahlung der Beiträge
von ihrem Ausscheiden wieder die ununterbrochene Mitglied-
schaft erwerben" .
Damit wird die von uns am 12.April 1935 unter Mit-
teilung n. 32 veröffentlichte Anweisung endgültig berichtigt.
Wir bitten alle Gruppenwalter, im Sinne der oben angeführ-
ten Neuordnung zu verfahren”.

TRADUÇÃO FEITA NA POLÍCIA

"Sede oficial, no estrangeiro, do Grupo Profissional Ale-


mão.
Hamburgo, 1 de julho de 1935.

A todos os administradores :

65.ª referência : sócios casados com mulheres não-arianas,


O dirigente da sede da organização da DAF (Frente do
Trabalho Alemão pg . ( correligionário) Claus Selzner, bai-
xou a disposição seguinte :
"Os compatriotas com descendência puramente ariana,
casados com não-arianas ( judias, meio judias, etc. ) , podem
ser aceitos isoladamente, como sócios da DAF. O cônjuge
não-ariano e os filhos desta união não serão aceitos . Não
serão aceitos na DAF os compatriotas que, depois da ascen-
são do NSDAP, no sentido acima, tiverem casado ou casa-
rem-se com uma não-ariana. Compatriotas que tiverem sido
demitidos da DAF por serem casados com não- arianas, podem
tornar-se sócios, pagando, posteriormente, as mensalidades a
contar da data da demissão ."
Com isto ficam definitivamente corrigidas as nossas ins-
truções de 12 de abril de 1935, sob comunicação n. 32 .
Solicitamos a todos os dirigentes de Grupos a seguirem as
disposições acima."
A ação ilegal do consulado alemão
de Pôrto Alegre

" A diplomacia deve ser praticada de tal maneira


que um povo não seja levado, por heroísmo, à sua
perda ... Ela deve tender, eficazmente, para a sua
conservação. Para se chegar a êste resultado, todo
meio é legítimo e não o aproveitar deve ser consi-
derado como uma criminosa deserção do dever."
(Hitler - "Minha luta").

A propaganda e organização dos camisas pardas se transforma-


ram numa rêde cuja complexidade e amplitude exigiam, como con-
dição de segurança de funcionamento, um reduto central a cavaleiro
das medidas defensivas do nosso governo. Os agentes do nazismo
montaram êsse mecanismo no Consulado Alemão de Pôrto Alegre,
recurso, aliás, de que a Gestapo lançou mão em todos os países onde
operou.
Era cônsul alemão o sr. Frederico Ried, ou Friedrich Ried como
êle exigia que o chamassem. Esse nome é bem conhecido e deve estar
ainda na memória de muitos. Herr Ried, transferido de Pôrto Ale-
gre para os Estados Unidos, foi considerado “persona non grata" pelo
Departamento de Estado em Washington . Por que? Simplesmente
porque Herr Ried conquistou fama internacional como agitador e
organizador nazista, tornando-se um elemento dos mais perigosos
que o 3.º Reich espalhou pelo mundo.
As prerrogativas de território estrangeiro, conferidas pelo di-
reito internacional, dão à sede de uma representação diplomática
ou consular a segurança de que o Partido Nazista no Rio Grande
do Sul necessitava para agir intensivamente. A polícia não podia
dar buscas, nem fazer apreensões num Consulado. Aproveitando-
se do fato, Herr Ried, cônsul do Reich, assumiu a chefia geral do
Partido. Tornou-se, simultaneamente, cônsul e Kreisleiter.
O atestado a seguir traduzido revela as funções políticas ilegais
que eram exercidas pelo cônsul alemão .

"CERTIFICADO (Doc. n.º 10)


Certifica-se por êste que o sr. WILHELM DAUMER,
nascido a 10 de junho de 1896 em Munich, é sócio da DAF
A 5. COLUNA NO BRASIL 79
-

desde 1.º de setembro de 1936. As mensalidades foram pa-


gas até junho de 1938, conforme carteira de sócio e cartão
de pagamento.
Nada consta aquí em desabono do sr. Wilhelm Daumer.
Pôrto Alegre, 29 de março de 1939.
(Carimbo do (a) Schmillenkamp
consulado) Secretário consular" .

Como pode, pergunta-se justificadamente, o cônsul alemão


atestar a efetividade de um sócio da DAF, uma vez que as ativida-
des dessa organização cessaram no Brasil em virtude de proibição
legal? Agindo assim, êle nos dá uma prova formal do trabalho
clandestino da "Deutsche Arbeitsfront", bem como de sua ingerên-
cia nesses assuntos.
Na ocasião em que a polícia apreendeu êsse documento, tam-
bém deteve o seu titular, em poder do qual foi ainda encontrada a
carteira de sócio da DAF, com os recibos das mensalidades pagas

Documento n.º 10
Deutsches Konsulat Porto Alegre, deb 193
•Consulado de Alemanhal Rua Uruguay 91
Staat Rio Grande do Sul (Brasilien) Camo Postal 20
Naz 3b
Nr..
Es wird gebeten, bei Antworten
Sut verstehende Mr, hinzuweisen

Bescheinigung .

Es wird hiermit bescheinigt , dass Herr


Wilhelm Daumer , geb. an 10. 5. 1896 in

Muenchen seit den 1. September 1936 Mitglied der


DAF ist .
Beitraege sind laut Mitgliedsbuch und Konto-
karte bis einschliesslich Buni 1938 gezahlt .
Nachteiliges ueber Herrn Wilhelm Daumer ist
hier nicht bekannt geworden .

Porto Alegre , den 29. Maerz 1939


Der Deutsche Konsul
7.4

Mither
aus

Konsulatsekr
etiv
80 AURELIO DA SILVA PY

até junho de 1938. (O fac-símile dêstes documentos encontra-se


anexo, sob n.º 11) .
Interrogado na Delegacia de Ordem Política e Social, Daumer
informou que sua carteira estivera na sede do consulado alemão,
de onde a recebeu juntamente com o seu atestado de membro efe-
tivo. Estamos, pois, à frente de mais uma prova material irrefutá-
vel. A-pesar-de se encontrar a carteira social em poder do cônsul ,
vinha ela sendo munida dos selos correspondentes às mensalidades .
Mais tarde, a 2 de junho de 1939, o cônsul Friedrich Ried di-
rigiu ao dr. Gustavo Kuhlmann, em Pindorama, Município de
Cruz Alta, uma carta em que comunicava àquele facultativo ter en-
caminhado à DAF o pedido de dois jovens teutos (documento n.º
12). Eis a tradução dessa carta:

Documento n.º 12

Deutsches Konsulat Porto Alegre, den 2. Junt 193 9 ·


(Consulado da Alemanha Rua Uruguay 01
Staat Rio Grande do Sul ( Brasilien) Cairo Posta: 20

Nr. Nas 2 ·
Es
aut wird gebeten,Nrbeihinzuweisen
vurstehende Antworten

Auf Ihr Schreiben von 24.v.Mts .

Sehr geehrter Herr Dr. Kuhlmann !


Die Gesuche un Lehrstellenvermittlung
für Luitpold DOETH und Artur FOCKINK sind heute
befürwortet an die DAF weitergeleitet worden ·
Heil Hitler !

Deutscher Konsul

An Berrn
Dr. Gustav Kuhlmann
in Pindorana
A 5. COLUNA NO BRASIL 81

"Muito prezado sr. dr. Kuhlmann .


Os pedidos de colocação, como professores, dos srs .
LUITPOLD DOETH e ARTUR FOCKINK foram hoje
encaminhados à DAF .
Salve Hitler.
(a ) Ried
Cônsul alemão ."
No dia 9 do mesmo mês e ano, o consulado alemão solicitava
ao pastor SILLE, de Lajeado, informações de caráter político sôbre
a pessoa do dr. LUDWIG BAYLER (documento n.º 13) . E' esta a
tradução da carta em referência :

Documento n.º 13

Deutsches Konsulat Porto Alegre, den 9. Junt 1939.


(Consulado de Allemanha) Rua-Uruguay 91
Steet Rio Grande do Sul (Brasilian) Caixa Postal 20

· Nr. Bil 7/Ba .


Es wird gebeten, bei Antworten
But vorstehende Nr. hinzuweleon

Sehr geehrter Berr Pfarrer !


Herr Dr. Ludwig BAYLER in Conventos ,
Munisip Lageado • hat die Absicht ? nach Deutson .
land surïoksukehren . Ich väre Ihnen dankbar ,
wenn Sie mir eine charakterliohe und politische
Beurteilung über ihn geben und gleichzeitig ait -
tellen würden · welche Staatsangehörigkeit Zerr
Dr. Bayler besitzt .
Ein Pretuschlag für die Rückantwort
liegt an ·
Retl Hitler !
In Auftrag

Manang
in Herrn
Pfarrer Stile
in Lageado

6-5. C.
82 AURELIO DA SILVA PY

"Muito distinto senhor Pastor.


O sr. dr. Ludwig BAYLER, em Conventos, Municí-
pio de Lajeado, pretende voltar à Alemanha. Ficar-lhe-ia
muito agradecido se pudesse apresentar-me uma opinião polí-
tica e característica sôbre êle, e, ao mesmo tempo, comuni-
car-me de que nacionalidade o sr. dr. Bayler é.
Acompanha esta um envelope franqueado para a res-
posta.
Salve Hitler !
Autorizado : Assinatura ilegível”.

Também a censura policial nos Correios e Telégrafos assinalou


grande número de boletins endereçados aos maços ao consulado
alemão de Pôrto Alegre (reprodução fotográfica àparte. Documen-
to n.º 14) . Esses boletins ora continham propaganda partidária na-
zista, ora simples ataques à Inglaterra. Discursos de Hitler, im-
pressos em forma de folhetos, também chegavam em grande nú-
mero ao consulado . E o mesmo ocorria em relação aos vice-cônsu-
les do Reich no interior do Estado .
O cônsul alemão movimentava também as contas do Partido,
obtidas com fundos enviados diretamente de Berlim por intermé-
dio da "Auslands-Organisation " (Organização do Exterior), um dos
departamentos de maior importância do nacional-socialismo alemão,
embora Hitler tenha declarado que o nazismo “não é uma ideologia
de exportação". O Banco Alemão Transatlântico creditava o di-
nheiro à disposição do consulado ou das pessoas por êste indicadas.
Reproduzimos duas fôlhas de lançamento e um cheque contra o
Banco Alemão Transatlântico. As primeiras creditam cinco e dez
contos, respectivamente, a N. S. V. Kreis (Círculo das Sociedades
Nacional -Socialistas), (docs. ns . 15 e 16) aos cuidados do sr. Hugo
Müller (chefe do Círculo), e o segundo fornece quatorze contos de
reis à Auslands-Organisation (doc. n.º 17) . (No canto direito do
cheque, ao alto, podem-se ver escritas a tinta as palavras "Souder-
konto AO", isto é : "Contra extra : Auslands-Organisation") .
Da mesma forma, era o cônsul alemão que movimentava as
contas do Winterhilfe (Socorro de Inverno) e de outras organiza-
ções alemãs aparentemente apolíticas, onde o Partido, declarado
ilegal, se acoitou . E era ainda o cônsul alemão que auxiliava os
nazistas alemães presos pela polícia de Pôrto Alegre. Esse auxílio,
naturalmente, saía da verba da N. S. V. Veja-se, como prova, êste
recibo, cujo original está anexo (documento n.º 18) :

"Pôrto Alegre, 28-8-938.


Rs. 400$000

Recebemos, hoje, dos fundos da N.S.V. , por motivo da


nossa prisão:
A 5. COLUNA NO BRASIL 83

4 dias de despesas de hotel a 128000 por dia,


por pessoa 96$000
2 passagens para Cruzeiro, a 100 $000 . 200$000
Para mais despesas 104$000

Rs. 400 $000


(assinaturas) ".

Todo o exposto, pois, vem provar de modo cabal a atividade


ilegal do cônsul alemão de Pôrto Alegre, como chefe político na-
zista em território estrangeiro.

HERR RIED ALISTA, NO RIO GRANDE DO SUL, COMBA-


TENTES PARA O EXÉRCITO NAZISTA

Desdobrando-se em atividades que, aos poucos, vamos revelar,


o cônsul Ried não hesitou também em proceder ao aliciamento mi-
litar no Rio Grande do Sul, imediatamente depois da declaração
alemã de guerra. Logo, porém, foi êle surpreendido pela polícia,
que também o impediu de instalar uma estação transmissora clan-
destina de rádio-telegrafia, que, evidentemente, tinha por fim prin-
cipal, no momento, a espionagem de guerra contra os países demo-
cráticos envolvidos no conflito.
A respeito dêsses dois casos, a Delegacia de Ordem Política e
Social abriu inquérito, tendo sido apresentados à Chefia de Polícia
à Interventoria Federal os dois relatórios seguintes :

Exmo. Sr. Capitão Chefe de Polícia.

Levo ao conhecimento de V. Excia. que o cônsul alemão


de Pôrto Alegre está aliciando elementos para a guerra, infrin-
gindo dessa forma o que dispõe o art. 4.° da chamada Lei
de Neutralidade.

Art. 4.° E' VEDADA A FORMAÇÃO, EM TER-


RITÓRIO BRASILEIRO, DE CORPOS
DE COMBATENTES PARA SERVI-
REM A QUALQUER DOS BELIGERAN-
TES, BEM ASSIM A INSTALAÇÃO
DE ESCRITÓRIOS, AGÊNCIAS OU
OFÍCIOS DE ALISTAMENTO, QUER
DOS PRÓPRIOS NACIONAIS BELIGE-
RANTES, QUER DE BRASILEIROS OU
NATURAIS DE OUTROS PAÍSES .

O fato foi apurado pela forma seguinte :


A censura postal tomou conhecimento do teor de uma
carta que o sr. cônsul Ried dirigiu a Walter Borngräter, em
84 AURELIO DA SILVA PY

Cachoeira, e na qual o representante da Alemanha intimava


o referido senhor a fazer o exame médico-militar.
Junto uma fotografia da carta do cônsul e outra do
questionário por êle enviado.
Em virtude dêsse fato, esta Delegacia tomou as necessá-
rias providências no sentido de se apurar a forma pela qual
o consulado estava procedendo e a verdadeira extensão dessa
atividade.
De início ficou apurado que muitas pessoas estavam
comparecendo, durante o dia e à noite, no Edifício Bier &
Ullmann, sito à rua Uruguai, onde funciona o consulado,
afim de se apresentarem ao cônsul para o alistamento militar.
Sôbre êsse fato falaram os jornais, como se vê pelos
recortes inclusos.
Determinadas algumas prisões e buscas, foram encon-
trados, em poder dos presos, atestados de alistamento forne-
cidos pelo Consulado.
Junto dois dêsses documentos. (Fotocópias, n.º 19
e 20) .
Poder-se-ia alegar que o consulado estava fornecendo os
atestados apenas para provar um comparecimento espontâneo.
sob a forma de oferecimento pessoal.

Documento n.º 19

Deutsches Konſulat
Dorto Ulegre
Bescheinigung.

Der Deutsche Reichsangehörige


Eyon Becker

in Berlin
geb. am 14.10.1920

wohnhaft in
PorisMegre
hat fich bei Kriegsausbruch hier gemeldet

Porto Alegre, den S. September 1939


.
Be? Deutschenful
S.
Ale
gre
A 5. COLUNA NO BRASIL 85

Documento n.º 20

Deutsches Ronfulat
Borto Alegre
GOIDS
Bescheinigung.

Der Deutsche Reichsangehörige Helut Glium

geb, am
1:1 10.1904
0 . Hamburg
wohnhaft in •
wobabettim Porto Alegre
hat sich bei Kriegsausbruch hier gemeldet.

18.10.19
Porto Alegre, den 39
.
Ronfula
Deutsche
pocie

Isso, no entanto, deixa de ser acreditável após a leitura


da carta dirigida a Walter Borngräter, onde se contém uma
intimação e, mais do que isso, uma ameaça . (Doc. n.º 21 ) .

Há, ainda, o questionário médico-militar, distribuído


pelo consulado aos que não podem comparecer " espontanea-
mente". (Doc. n.º 22 ) .

Junto, também, um exemplar do jornal local "Neue


Deutsche Zeitung" , onde se encontra uma nota do Consu-
lado Alemão . Acompanha a respectiva tradução. (Doc .
n . 23 ) .
Êsses documentos constituem a prova material de que o
Consulado Alemão em Pôrto Alegre possue um pôsto de alis-
tamento militar, em flagrante oposição ao dispositivo do de-
creto acima citado.

Esta Delegacia tem mais a notícia de que estão sendo


também aliciados, pelo mesmo pôsto, brasileiros descendentes
de alemães.
Disto ainda não possuímos uma prova cabal.
86 AURELIO DA SILVA PY

Acreditamos, no entanto, conseguí-la em breve, visto


como, em face de informações idôneas, podemos acreditar seja
o fato verdadeiro .
Dada a gravidade do assunto, apresso-me em levá -lo ao
conhecimento de V. Excia.
(a.) Plinio Brasil Milano
Delegado de O.P.S.
18 de novembro de 1939.
Documento n.º 21

Deutsches Konsulat Porto Alegre, den 12.September 1910 39


(Consulado da Allemanha) Rue Uruguay Of.
Staat Rio Grande do Sul (Brasilien) Caixa Postal 29

Nr M13/BO
So wird gebeten, bei Antworten
auf verstehende Mr. Ninzuweisen.
1 Anlage

Wie das Konsulat feststellen mußte , haben


Sie sich gelegentlich Ihrer Anwesenheit in Porto Alegre ,
trotz erhaltener Aufforderung , i ch´t von Herrn
Dr. Steidle militärärztlich untersuchen lassen. Ich
fordere Sie nunmehr dringend auf , sich von einem in
Cachoeira ansässigen reichsdeutschen oder deutsch-
I-- stämmigen diplomierten Arzt , an Hand des anliegenden
Fragebogens militārāṛztlich untersuchen zu lasseḥ und
erwarte , daß Sie meiner Aufforderung unverzüglich Folge
leisten. Sollte das ärztliche Zeugnis nicht bis zum
20. September hier vorliegen, würde ich mich gezwungen
sehen ,weitere Schritte zu unternehmen.
Der Deutsche Konsul

An Herrn
Walter Borngrāber
Cachoeira
a/c Casa Augusto Wilhelm
A 5. COLUNA NO BRASIL 87

Documento n.º 22

Name: Walter Borngräber geb. am 25.okt . 1914

Untersuchung an
Größe :
Gewicht :
Halsumfang:

Brustumfang :
Puls:
Herz :
Lungen:
Mund und Gebiß :
Glied:
Füsse :
Haut :
}
Körperform :
Seh-Leistung:
Sehschärfe :
Farben :
Nase:
Ohr:
Hämorrhoiden :
Reflexe :

Bruchpforten:
Urinuntersuchung auf Eiweiß und Zucker:

Befund:

"Pôrto Alegre, 18 de novembro de 1939 .

Exmo. Sr. CORONEL CORDEIRO DE FARIAS


D.D. Interventor Federal neste Estado.

Devidamente autorizado pelo dr. Miguel Tostes, passo


às mãos de V. Excia. , com o presente, dois processos da Dele-
gacia de Ordem Política e Social, um relativo a aliciamento
de elementos para a guerra, promovido pelo cônsul alemão
AURELIO

SILVA

PY
DA
888

nesta capital, e o outro referente à instalação frustrada de uma


estação emissora de rádio a bordo do cargueiro alemão “Rio
Grande", surto no pôrto do mesmo nome, neste Estado,
fato êsse em que também se acha envolvido aquele represen-
tante consular.
Em face da documentação constante de ambos os pro-
cessos, poderá V. Excia. avaliar facilmente a gravidade dos
fatos a que um e outro se referem, caracterizando atos fla-
grantemente violadores da nossa lei de neutralidade.
Entretanto, relativamente ao primeiro caso, tomo a li-
berdade de chamar, especialmente, a atenção de V.Excia. para
a informação que se contém no respectivo relatório, no que
diz respeito ao aliciamento de "teuto-brasileiros”.
Como é sabido, o moderno Direito Alemão, fundado no
"jus sanguinis" , considera alemães êsses nossos patrícios.
A inclusa fotocópia de uma carta do consulado explica
satisfatoriamente o conceito germânico de nacionalidade ( doc.
n.° 24 ) .
Isso é tanto mais importante quanto sabemos como foi
intensificada a colonização alemã neste Estado e quão entu-
siasmados eram êsses elementos ao tempo em que funcionava
aquí o Partido Nacional-Socialista.
Quanto ao caso da tentativa de instalar, clandestinamen-
te, uma estação de rádio a bordo do cargueiro alemão "Rio
Grande", parece-me conveniente ressaltar desde logo a cir-
cunstância de que o técnico vindo dessa Capital trouxe daí
apenas a " ordem" de se apresentar ao cônsul alemão , e êste,
sem falar claramente, foi quem lhe disse para o que tinha
vindo, apresentando-o ao agente da Cia. Hamburguesa , pro-
prietária do navio em aprêço.
Peço vênia para encarecer a V. Excia. a conveniência das
medidas sugeridas nos relatórios da Delegacia de Ordem Po-
lítica e Social, como indispensáveis ao melhor e mais comple-
to esclarecimento dos fatos em questão. E adianto desde já
a V. Excia. que o cônsul alemão não foi ainda ouvido, nem
por esta Chefia, nem pelo Delegado da Ordem Política e So-
cial, por me parecer estar êle investido de poderes mais am-
plos que os de simples representante consular, pelos termos
da nomeação que possue, na qual constam, além de outras, as
atribuições de:
"Salvaguardar e intensificar os interêsses do Reich, espe-
cialmente com referência ao Comércio, Viação e Navegação,
zelar pela observância dos tratados Estaduais, aconselhar e
conceder assistência aos cidadãos do Reich, como também aos
de outros Estados amigos, em assuntos de seus interêsses. ”
Encaminhando ao conhecimento de V. Excia. os fatos em
apreciação, espera esta Chefia que, examinados conveniente-
mente, dentro do alto senso de equilíbrio que lhe é peculiar,
há de V. Excia. dignar-se transmitir a orientação que se torna
indispensável no caso, afim de que a ação das autoridades
A 5. COLUNA NO BRASIL 89

estaduais, tendo de prosseguir, não se desvie do rumo seguro


e acertado que lhe é absolutamente necessário.
Prevaleço-me desta oportunidade para reiterar a V. Excia.
os meus protestos de elevada estima e alta consideração.

(a.) Capitão Aurélio da Silva Py


Chefe de Polícia".
Documento n.º 24

Deutsches Konsulat. Porto Alegre, den 22. Juni 193 1.


Bel Antworten wird um Pingabe der
Tgh. Mr. Sta 8 gebeten.
auf das gefällige Sohreiben
von 9. Juni d. gs.

Nach den hier geltenden Gesetzen aussen alle in


Brasilien vorkommenden Geburts- und Todesfällen den
suständigen Standesant angemeldet werden . Zwecks nachho❤
Jung unterbliebener Geburtsanzeigen hat die Regierung
vor einiger Zeit ein Dekret erlassen , dass gevisse 8r.
leichterungen in derartigen Fällen vorsah und die àn-
gedrohten Strafen erliess.
Die brasilianische Staatsangehörigkeit wird naor
brasilianischem Recht durch die fatsache der Geburt in
Brasilien erworben und ist von der Eintragung in Geburts-
register an sich unabhängig . Das Register dient nur den
Nachweis dieser Tatsache.
Die Deutsche Reichsangehörigkeit wird durch Abstan❤
aung von einem Deutschen erworben, ohne Rücksicht auf
die Zugehörigkeit des Landes, in den die Geburt erfolgt.
Infolgedessen besitsen die Kinder eines peutschen
Retohsangehörigen , die in Brasilien geboren werden, die
Deutsche Reichsangehörigkeit und die brasilianischė
Staatsangehörigkeit.
An Herrn
PAUL KOPLIN
1 Bello centro - Hun. Santo Angelo
B35-458868
AURELIO DA SILVA PY

PROVAS
Afirmativas da gravidade das que acabam de ser feitas não po-
dem deixar de ser plenamente provadas . Os documentos que se
encarregam
seguem -se disto:

Tradução do documento n.º 19 :

A TESTADO
O cidadão do Reich Alemão : EGON BECKER .
. . nascido a 14 de outubro de 1920 , em Berlim .
residente em Porto Alegre .
apresentou -se por ocasião do rompimento da guerra.
Pôrto Alegre, 8 de setembro de 1939 .
O Cônsul da Alemanha
(assinatura ilegível ) .
(Traz o carimbo oficial do Consulado da Alemanha
em Porto Alegre) .
Tradução do documento n.º 20 :

" ATESTADO
O cidadão do Reich Alemão : HELMUT GLIMM ..
..nascido a 1 de 10 de 1904, em Hamburgo .
residente em Pôrto Alegre . . .
apresentou-se por ocasião do rompimento da guerra.
Pôrto Alegre, 18 de 10 de 1939 .

O Cônsul da Alemanha.
(Traz o carimbo oficial do Consulado da Alemanha em
Pôrto Alegre) .

Tradução do documento n.º 21 :


"CONSULADO DA ALEMANHA
Rio Grande do Sul, Brasil
Nr. Mi. 3/Bo.
Solicita-se mencionar o número
acima na resposta.
Pôrto Alegre, 12 de setembro de 1939.
Conforme êste Consulado verificou , por ocasião da vos-
sa estada em Pôrto Alegre, a-pesar-do convite recebido, não
vos apresentastes ao médico militar, sr. Dr. Steidle, afim de
serdes examinado.
Convido-vos, portanto, a vos deixardes urgentemente
examinar, em Cachoeira , por um médico genuinamente ale-
mão, ou por um médico diplomado , descendente de ale-
mão, preenchendo o questionário médico-militar incluso, Es-
pero que o meu convite seja, imediatamente, satisfeito .
A 5. COLUNA NO BRASIL 91

Caso o atestado médico não esteja aquí até 20 de setem-


bro, serei forçado a tomar as providências necessárias.
O cônsul alemão
(a.) RIED ” .

Tradução do documento n.º 22 ( Ficha médica) :


Ao SR. WALTER BORNGRÄBER
CACHOEIRA
Aos cuidados da Casa Augusto Wilhelm .
Nome: Walter Borngräber, nascido a 25 de outubro
de 1914.
EXAMINADO EM :
ALTURA :
PÊSO :
DIMENSÕES DO PESCOÇO :
DIMENSÕES DO TÓRAX :
PULSO :
CORAÇÃO :
PULMÕES :
BOCA E DENTES :
NERVOS:
PÉS:
PELE :
CONSTITUIÇÃO DO CORPO :
PODER ÓPTICO :
AGUDEZ VISUAL:
CÔRES :
NARIZ:
ORELHAS :
HEMORRÓIDES :
REFLEXOS:
EXAME DA URINA, ÁCIDO ÚRICO E AÇÚCAR.

Tradução do documento n.º 23 :

(Edital publicado no jornal porto-alegrense "Neue Deutsche


Zeitung” , n.º 159, de 8 de julho de 1939) .
"Consulado Alemão de Pôrto Alegre

Comunicação

para conhecimento dos súbditos alemães no estrangeiro


sôbre o serviço ativo militar, para os aptos a prestar serviço
no ano de 1939 e para o alistamento de voluntários.
No ano de 1939 serão convocados, pelas autoridades
alemãs, no estrangeiro, todos os súbditos alemães aptos para
o serviço ativo, pertencentes à classe de 1920 , e os reservistas
ativos para o serviço militar.
Os reservistas residentes no Estado do Rio Grande do
Sul terão de se apresentar imediatamente, o mais tardar até
94 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 25
Muster C
(

Ausweis

über die Anmeldung im Ausland zur Erfüllung

der aktiven Dienstpflicht und Arbeitsdienstpflicht


19.3.2.

Der Deutsche Staatsangehörige des Jahrgangs 19 01


wehrpflichtige freissillige
Der- und Zuname.. August Berns mü 1 1

Beruf Landwirt (früher Kaufmann)

geboren am
...... 5. Juni 19.01

Ju. Elberfeld ... Untere Derwalt -Behörde


Regierungs -Bezirk ………. Düsseldorf

Land Rheinland .

hat sich zur Erfüllung der aktiven Dienstpflicht und Arbeitsdienstpflicht im Jahre 19-37 gemeldet.

Entschel........ bis auf weiteres zurückgestellt

Porto Alegre den 23. Juni 19. 37


(Ori)
HID

Stempat
DE

ulats (Unterschrift des Konfuls)

Bernsmiller
Que
(Eigenhändige unterschrift des Dienstpflichtigen oder Freiwilligen)

Aile Eintragungen in den Auswels find mit Schreibmaschine oder Tinte auszuführen.
Espionagem marítima nazista

"A medida mais urgente de defesa, a tomar pelos


diversos Estados da América, consiste em aniquilar,
o mais de-pressa possível, as suas quintas-colunas".
66
(André Chéradame ― Dias decisivos”).

Nos relatórios que precedem êste capítulo há, como se verifica,


referência a um fato de extrema gravidade: a instalação clandestina
de um aparelho de radiotransmissão a bordo do vapor alemão “Rio
Grande".
Ficou amplamente provado, no decorrer das diligências da po-
lícia, que êsse aparelho serviria para informar os navios de guerra
de superfície (corsários) e os submarinos alemães em ação na costa
sul do Brasil, sôbre a existência de navios inimigos, seus movimen-
tos dentro e fora dos portos, etc. Um dêsses corsários, o couraçado
de bolso "Graf Spee", se tornou famoso pelo desfêcho de seu cru-
zeiro em águas do sul, episódio que também conduziu à descoberta,
pela polícia uruguaia, de uma estação clandestina de radiotrans-
missão que auxiliara as unidades alemãs encarregadas da guerra de
corso. Essa espionagem de guerra frustrou-se também graças à rá-
pida e decisiva intervenção das autoridades encarregadas de salva-
guardar a neutralidade do Brasil.
De como a polícia do Rio Grande do Sul agiu, dão conta de-
talhada o relatório enviado ao chefe de polícia pelo dr. Plínio Bra-
sil Milano, delegado da Ordem Política e Social, e os termos de de-
claração de pessoas envolvidas no caso, acusadas de participação,
ou simplesmente na qualidade de testemunhas.
Resultou das investigações o pedido de prisão dos srs. Otto
Ernst Meyer, diretor da VARIG (Viação Aérea Rio-Grandense) ;
von Studnitz, chefe do Trânsito do Sindicato Condor; do vice-côn-
sul da Alemanha no pôrto do Rio Grande e do comandante do
vapor "Rio Grande".
Foram, ainda, responsabilizados o cônsul da Alemanha em
Pôrto Alegre, sr. Friedrich Ried, e o agente da Companhia Ham-
burguesa em Rio Grande, sr. Wiltgens.
Seguem-se o relatório e os termos de declaração, cuja transcri-
ção na íntegra dispensa quaisquer comentários:
996

96 AURELIO DA SILVA PY

Exmo. Sr.
Cap. Chefe de Polícia.

Ainda não estava completamente concluído o último in-


quérito que a D.O.P.S. enviou a essa Chefia sôbre atividades
ilegais do cônsul alemão de Pôrto Alegre, e eis que outro
fato, de importância maior que todos os que se tem conheci-
do, envolve novamente a responsabilidade do representante da
Alemanha.
E' que há dias o inspetor Domingos Lopes Machado, da
Secção de Ordem Política Subsecção da Polícia Marítima
e Aérea comunicou a esta Delegacia o desembarque de dois
volumes suspeitos, chegados por um avião “ Condor" .
Na mesma nota de serviço, o referido inspetor informa-
va que, sindicando entre funcionários, chegou à conclusão de
que se tratava de dois aparelhos de radiotransmissão que se
destinavam à cidade de Rio Grande.
Coincide com êsse fato a passagem por esta capital, com
destino àquele pôrto, do radiotelegrafista, técnico do Sindica-
to Condor, Mucks.
Logo após, um ex-funcionário da mesma companhia
procura o inspetor João Pessoa Tavares, a quem confirma a
informação acima referida, detalhando , conforme se vê pelo
têrmo de declaração posteriormente tomado, a maneira pela
qual foi executado o plano.
Desta sorte foram tomadas providências no sentido de
acompanhar o técnico Mucks, na cidade de Rio Grande, e ve-
rificar a atividade que porventura aí desenvolvesse.
Acontece que nada foi observado naquela cidade além
da estada de Mucks a bordo do cargueiro alemão "Rio
Grande".
Em face dessa situação de incerteza, esta Delegacia apro-
veitou a passagem de regresso do mencionado técnico para
detê-lo e interrogá-lo.
De princípio, Muks pretendeu justificar sua estada em
nosso pôrto de mar, onde a Condor não tem linhas nem
interêsses, com o argumento infantil de que fôra a chamado
de um amigo, cujo aparelho de rádio-recepção necessitava re-
paros.
Percebendo, após ligeiro interrogatório, a fragilidade do
argumento apresentado, deliberou narrar a verdade, que se
resume no seguinte:
Êle, Mucks, é rádio-técnico do Sindicato Condor, onde
exerce o cargo de mestre das oficinas.
A 9 do mês corrente, von Studnitz, que é o chefe do
trânsito da companhia, deu-lhe ordem de embarcar para Pôr-
to Alegre e apresentar-se, aquí, ao sr. cônsul alemão.
No Rio, não recebeu outras informações se não estas.
Tendo interpelado seu chefe com respeito aos motivos
da viagem, obteve a seguinte resposta: "Consertar um apa-
A 5. COLUNA NO BRASIL 97

relho de rádio-receptor e executar outros serviços rádio-tec-


nicos."
Nesta capital, obedecendo às ordens recebidas, apresen-
tou-se ao sr. cônsul Ried.
Este, por sua vez, apresentou-lhe o sr. G. Wiltgens,
agente da Cia. Hamburguesa, em Rio Grande, que se achava
presente na ocasião.
Por ordem do cônsul, Mucks deveria ficar à disposição
do sr. Wiltgens, em Rio Grande, para onde seguiria pela
VARIG, que já tinha instruções a respeito da passagem.
Até aquí, o técnico continuava ignorante de sua verda-
deira missão.
No ponto de destino, o agente da Cia. Hamburguesa, que
viajava com êle, levou -o diretamente para bordo do cargueiro
acima referido, que se acha ancorado naquele pôrto por mo-
tivo de Guerra.
Aí foi apresentado a um oficial de bordo que, mostran-
do-lhe uma estação emissora de radiotelegrafia, disse-lhe que
deveria providenciar na instalação e consequente funciona-
mento da mesma.
Em cumprimento, mais uma vez, à ordem recebida,
Mucks fez os necessários estudos, após os quais concluiu que
não era possível a instalação porque a corrente elétrica forne-
cida pelo navio não se adaptava à que o aparelho exigia.
Por isso mesmo, depois de algumas tentativas, regressou ,
sendo detido de passagem por esta capital.
A estação que deveria ser instalada a bordo do "Rio
Grande" é da marca Lorenz e vem descrita no croquís e
instruções anexos.
Do Rio, como foi dito, ela veio pela própria "Condor"
e foi desembarcada aos cuidados da VARIG.
Com a estação ficou o original do croquís e das instru-
ções mencionadas, de sorte que para seu funcionamento é
necessário apenas um transformador de corrente.
Aquí é necessário esclarecer que se trata de uma só esta-
ção e não de duas, conforme supôs o inspetor Domingos,
em virtude dos dois volumes que a constituem .
Após a detenção de Werner Mucks, esta Delegacia solici-
tou a Rio Grande a apreensão do aparelho, por intermédio
da Capitania do Pôrto e a prisão do agente da Cia. Ham-
burguesa.
Na primeira busca nada foi encontrado.
O comandante e os oficiais de bordo nada adiantaram.
Ainda por instruções da D.O.P.S. foi levada a efeito
mais uma busca a bordo, sempre com a assistência da Capi-
tania, desta vez mais feliz, pois o aparelho apareceu.
Apenas o responsável eclipsou-se.
O comandante, segundo declarou, nada sabia.
Os oficiais de bordo, da mesma forma.
7-5. C.
36
98 AURELIO DA SILVA PY

O sr. Wiltgens protestou, também, pela sua inocência


no caso .
Apenas o radiotelegrafista, depois de muito instado, re-
solveu dizer que o aparelho era propriedade particular e se
encontrava para experiências quanto à sua prestabilidade.
A respeito das diligências da Delegacia de Polícia de
Rio Grande e da Capitania do Pôrto, vai anexo o relatório
policial, acompanhado de perícias realizadas no local.
Há ainda a ressaltar a conivência do Sindicato Condor
e da Viação Aérea Rio -Grandense nesse ato ilícito.
Trata-se de uma emprêsa subvencionada pelo Governo
da República e de outra constituída de capitais nacionais, go-
zando de favores dos poderes públicos e dirigida por um
estrangeiro naturalizado.
Estamos diante de uma manobra de potência beligerante,
francamente comprovada pela ingerência de seus representan-
tes oficiais, em flagrante desrespeito às nossas leis.
Pois outra cousa não pode ser esta série de atos prati-
cados no sentido de montar clandestinamente uma emissora
de radiotelegrafia, forçosamente destinada ao serviço de infor-
mações que o vapor em aprêço estava impossibilitado de rea-
lizar pela interdição da estação própria, de acordo com as
regras de neutralidade do nosso país.
Em nossa opinião, são responsáveis por ela os srs. VON
STUDNITZ, chefe do Trânsito do Sindicato Condor ; o
diretor da VARIG, OTTO ERNST MEYER ; 。 cônsul
alemão de Pôrto Alegre, sr. FREDERICO RIED ; o agente
da Cia. Hamburguesa, sr. WILTGENS ; o vice-cônsul alemão
na cidade de Rio Grande e o Comandante do vapor "Rio
Grande".
Continua preso Werner Mucks.
Foi determinada a detenção de Wiltgens.
E torna-se necessário, para o perfeito esclarecimento do
caso, que sejam também presos os srs. OTTO ERNST
MEYER; o sr. VON STUDNITZ e o sr. vice-cônsul em
Rio Grande que, ao que sabemos, é brasileiro de nascimento.
E, finalmente, tomo a liberdade de sugerir que seja le-
vado ao conhecimento dos Governos do Estado e da Repú-
blica, o procedimento das empresas Sindicato Condor, Cia.
Hamburguesa e Viação Aérea Rio - Grandense, cujas atitudes
estão em choque com a neutralidade do Brasil.

Plinio Brasil Milano


Delegado da O.P.S."

Fala o rádio-técnico

"Aos quinze dias do mês de novembro do ano de mil


novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre,
Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de
A 5. COLUNA NO BRASIL 99

Ordem Política e Social, presente o Delegado, Dr. Plínio


Brasil Milano, comigo Ewaldo Bergmann , inspetor de 1.ª
classe, servindo de escrevente ad-hoc, aí compareceu WER-
NER RICHARD WILHELM MUCKS, de nacionalidade ale-
mã, natural de Berlim, Alemanha, filho de Richard Mucks e
de dona Luise Ema Anna Mucks, de profissão rádio-técnico,
com trinta e sete anos de idade, branco, casado, residente na
Capital Federal, à rua Moncorvo Filho, número dezessete,
apartamento número vinte e três, sabendo ler e escrever, de
passagem nesta cidade, hospedado no Novo Hotel Jung, quar-
to duzentos e quinze, declarando o seguinte : que chegou ao
Brasil a vinte e um de março de mil novecentos e vinte e
quatro, a bordo do paquete "General Belgrano" , desembarcan-
do no Rio de Janeiro ; que é portador da Carteira mod. 19,
sob o número 20.888 , fornecida pela Polícia Civil do Distri-
to Federal, tendo permanência legal no País ; que desde esta
época até vinte e três de março de mil novecentos e vinte e
oito, exerceu sucessivamente atividades de sua profissão nas
firmas Siemens, Schuckert & Cia. e A.E.G., sendo admitido
nesta última data, no Sindicato Condor Ltda., da Capital
Federal, como mestre das oficinas de rádio-técnica, e, por-
tanto, é funcionário do referido Sindicato, há quasi doze
anos ; que, no dia nove do corrente mês, o declarante rece-
beu ordem do chefe de trânsito da Companhia citada, sr.
von Studnitz, para embarcar no dia seguinte, por via aérea,
para Pôrto Alegre, onde deveria apresentar-se ao sr. cônsul
da Alemanha ; que o declarante absolutamente não recebeu
instruções sôbre o serviço que lhe seria cometido, motivando
uma sua interpelação ao sr. von Studnitz, a quem solicitou
que ministrasse esclarecimentos ao menos com respeito à na-
tureza do serviço, sendo -lhe explicado que iria "consertar um
aparelho receptor" e executar outros serviços rádio-técnicos ;
que no dia seguinte, dez, efetivamente voou para Pôrto Ale-
gre como passageiro do hidro -avião "Moré" , chegando às de-
zessete horas aproximadamente ; que o declarante, em cum-
primento às instruções recebidas, dirigiu-se imediatamente ao
Consulado Alemão, sendo recebido, aí, pelo respectivo titu-
lar, sr. Cônsul Ried, que estava acompanhado de um cidadão;
que o sr. Cônsul lhe apresentou êste cidadão, chamado Wiltgens,
agente da Cia. Hamburguesa em Rio Grande, esclarecendo que
deveria ficar às suas ordens ; que o sr. Cônsul, ao despedir-se,
disse ao declarante que fôsse aos escritórios da VARIG, onde
já encontraria reservada a sua passagem para Pelotas, ficando
combinado o seu encontro, no aeroporto, com o sr. Wiltgens ;
que, ao chegar a êsse escritório, recebeu a passagem sem a
menor dificuldade ; que até então o declarante continuava sem
orientação quanto à sua verdadeira missão ; que, no dia onze,
em companhia do sr. Wiltgens, o declarante seguiu para Pe-
lotas pelo avião de carreira, em combinação com a ferrovia,
pela qual seguiram para Rio Grande ; que, aí chegando, in-
continente o declarante foi levado a bordo do navio mer-
100 AURELIO DA SILVA PY

cante alemão "Rio Grande", internado naquele pôrto, em


virtude da Conflagração Européia ; que foi recebido por um
oficial do navio, que lhe mostrou uma estação emissora de
radiotelegrafia, dizendo-lhe que deveria providenciar sôbre a
instalação consequente funcionamento da mesma ; que fi-
cou hospedado no próprio navio ; que, como medida preli-
minar de rádio- técnica, o declarante procurou examinar a es-
pécie de corrente existente na nave, verificando ser ela "cor-
rente contínua" , enquanto a estação emissora estava calibra-
da para " corrente alternada", sendo-lhe impossível executar a
instalação; que, depois de comunicar o fato ao Comandante
do navio, o declarante recebeu ordens para consertar um apa-
relho receptor de rádio, o que fez ; que êste aparelho estava
ligado por meio de um cabo à cabina de radiotelegrafia do
aludido navio, a qual se acha interditada pela Capitania do
Pôrto, em observância às leis da neutralidade ; que mudou duas
válvulas dêste receptor ; que, em palestra mantida com o ra-
diotelegrafista de bordo , êste narrou ao declarante ser de on-
das longas o emissor interditado , e que como as possibilidades
dêste fôssem diminutas, havia vantagem na instalação da já
aludida estação emissora de radiotelegrafia, pois esta última é
de ondas curtas, com a potência de quarenta watts, o que
permitiria um campo de ação muito maior ; que o mesmo
radiotelegrafista adiantou que pretendiam utilizar a estação,
cuja instalação falhou , em alto mar, segundo as necessidades ;
que o radiotelegrafista lhe disse que iriam devolver a esta-
ção à Agência da Companhia Hamburguesa , em Rio Grande ;
que o declarante soube da presença de funcionários alfande-
gários no navio , com quem chegou a tomar café, sem com
êles palestrar e identificar-se, ignorando se tiveram conheci-
mento da sua missão ; que no dia da partida , isto é, treze,
segunda -feira última , o radiotelegrafista , depois do café mati-
nal, declarou achar impossível não possuir o navio "corrente
alternada " , indo à casa das máquinas , onde, segundo disse,
operou uma transformação, providência que não solucionou
o impasse, visto a estação necessitar de 200 volts para traba-
lhar, enquanto a corrente alternada obtida não ultrapassou
de 160 volts ; que o radiotelegrafista insistiu junto ao decla-
rante na provável possibilidade da voltagem em corrente al-
ternada aumentar quando o navio estivesse em marcha ; que
o radiotelegrafista , na opinião do declarante , não possuía apti-
dão suficiente para executar o trabalho que fôra confiado ao
declarante ; que, pela VARIG , regressou a Pôrto Alegre , va-
lendo -se da passagem de volta que, conforme disse acima .
recebeu no escritório da Companhia por determinação do sr.
Cônsul da Alemanha ; que ontem o declarante procurou o
referido titular na sede do Consulado , para fazer-lhe um rela-
to dos acontecimentos, não o encontrando ; que, como insis-
tisse em falar-lhe, lhe foi esclarecido que o mesmo estava no
Chalé da Praça Quinze de Novembro, para onde se dirigiu ,
encontrando -o e pondo -o ao corrente de tudo ; que o sr. Côn-
A 5. COLUNA NO BRASIL´ 101

sul lhe respondeu, após ouvir a exposição, que infelizmente


nada se podia fazer; que foi ao Novo Hotel Jung e provi-
denciou, logo após, sôbre a passagem do seu regresso, ama-
nhã, à Capital Federal, pelo avião da Condor ; que nada
mais tem a declarar. Perguntado : se o Sindicato Condor
Ltda, mantém relações, e, na afirmativa, de que natureza,
com a Embaixada Alemã no Rio de Janeiro ? Respondeu :
que, de fato, o Sindicato Condor Ltda. mantém estreitas rela-
ções com a referida Embaixada, cuja natureza ignora, poden-
do adiantar que já viu alí o respectivo Embaixador. Per-
guntado : se os pilotos da referida organização, de naciona-
lidade alemã, se apresentaram à Embaixada, por motivo da
declaração de guerra? Respondeu : que não, pois todos êles
são brasileiros naturalizados. Perguntado : se o declarante,
cuja nacionalidade alemã surge através da Carteira mod. 19,
porventura fez sua apresentação, naquela ocasião, na Embai-
xada ? Respondeu : que desconhece qualquer disposição que o
obrigue a isso. Perguntado : qual a marca da estação emissora
que pretendeu adaptar no navio "Rio Grande" ? Respondeu :
que a estação emissora é da marca "Lorenz" , usada no Sindi-
cato de que é empregado, tanto que ainda há, no Rio de Janei-
ro, três aparelhos em depósito, porém de menor potência, isto
é, de 200 watts, para aviões. Perguntado : se o Sindicato Con-
dor Ltda, usa, também, aparelhos idênticos àquele de 40 watts
e, na afirmativa, onde e para que fim ? Respondeu : que sim ,
sendo empregados somente em estações de aeroporto como,
por exemplo, na Baía, etc. , cuja aquisição fez na firma Her-
mann Stoltz & Cia., representante daquela marca. Pergunta-
do : quem paga as despesas de hospedagem do declarante?
Respondeu: que é o aludido Sindicato. Perguntado : se o
declarante, alguma vez, já fez serviços estranhos aos interês-
ses do Sindicato, de que é colaborador, e, na afirmativa, para
quem e onde? Respondeu
Respondeu:: que não. Perguntado : se foi a
primeira vez, durante os quasi doze anos de exercício de suas
funções de rádio-técnico, que lhe foi determinado serviço es-
tranho ? Respondeu : que foi pela primeira vez. Pergunta-
do: se ao receber, pela primeira vez, semelhante ordem, ou
seja, a de executar serviços estranhos ao Sindicato, isso não
lhe causou surpresa? Respondeu : que não, pois o declaran-
te viajou sabendo apenas que ia consertar um aparelho recep-
tor e transmissor, desconhecendo o local. Perguntado : se a
Companhia Hamburguesa mantém relações com o Sindicato
Condor Ltda .? Respondeu : que presume que há relações.
Perguntado : quanto o declarante percebe como funcionário
graduado da secção técnica, que é, do Sindicato em causa?
Respondeu: um conto quinhentos e setenta mil réis. Per-
guntado: quais as pessoas que têm conhecimento desta ques-
tão? Respondeu : que as pessoas, de quem sabe, que estão
ao par da missão do declarante, são: sr. von Studnitz, na
Capital Federal, sr. Cônsul Ried, desta Capital, sr. Wiltgens,
da cidade do Rio Grande e o cônsul alemão na cidade do
102 AURELIO DA SILVA PY

Rio Grande. E como nada mais houvesse, mandou o dele-


gado encerrar o presente têrmo, que, depois de lido e achado
conforme, vai por todos devidamente assinado.
(a.) Plinio Brasil Milano
(a . ) Werner Richard Wilhelm Mucks
(a.) Ewaldo Walter Bergmann. ”

Depoimento do radiotelegrafista do vapor


"Rio Grande"

"Aos dezessete dias do mês de novembro do ano de


mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade do Rio Grande,
Estado do Rio Grande do Sul, a bordo do vapor alemão
"Rio Grande" , atracado no Pôrto Novo desta cidade, pre-
sente o Sr. Sub-Delegado em exercício, Major Izídio Corrêa
da Fonseca, comigo Antônio Alves de Oliveira, escriturário
de seu cargo, aí foi ouvido HANS GEORG EHRHARDT,
branco, alemão, solteiro, com 30 anos de idade, natural de
Coburg, Alemanha, filho de Emílio Ehrhardt e de Rosa Ehr-
hardt, de profissão terceiro oficial e telegrafista do vapor
"Rio Grande" , sabendo ler e escrever. Perguntado: como
explicava a entrada, a bordo, do aparelho radiotransmis-
sor. Respondeu : que o mesmo foi trazido a bordo por Wer-
ner Richard Wilhelm Mucks com seu auxílio. Pergunta-
do : se sabia a procedência dêsse aparelho ? Respondeu : que
não, tendo Werner apenas o colocado a bordo, ensinando-
The como se poderia pôr em movimento, e que a seguir fê-lo
funcionar a título de experiência. Perguntado : quando foi
que Werner esteve a bordo? Respondeu : que foi no dia
11 do corrente, permanecendo por espaço de dois ou três dias.
Perguntado : qual a explicação dada por Werner, com refe-
rência ao radiotransmissor? Respondeu : que era um apare-
lho radiotransmissor de ondas curtas e que servia para ser usa-
do em alto mar, recomendando -lhe todo sigilo, pois se tra-
tava de um aparelho clandestino. Perguntado : se o Coman-
dante do navio tinha conhecimento da permanência do dito
aparelho a bordo ? Respondeu : que não, e que só ontem,
às 16 horas, o Comandante teve conhecimento, após ter che-
gado o Agente da Cia. Hamburguesa, que perguntou ao Co-
mandante se existia a bordo um aparelho radiotransmissor, e
que só então o Comandante o chamou e interrogou a respeito,
tendo êle confessado o que sabia ; que, após a confissão, o Co-
mandante mandou que êle mostrasse onde se encontrava êsse
aparelho, o qual estava no porão de mantimentos, donde foi
retirado por ordem da Polícia local e lacrado na cabina da
estação telegráfica do vapor, por determinação do Coman-
dante dos Portos. Perguntado : se o Agente da Cia. Ham-
burguesa tinha conhecimento da existência dêsse aparelho a
bordo? Respondeu : que não. Perguntado : o que mais sa-
bia a respeito do rádio? Respondeu : que, após ser experi-
A 5. COLUNA NO BRASIL 103

mentado durante uns 15 minutos, foi o mesmo recolhido e


guardado no local já indicado. Perguntado : como fizeram
a instalação para pôr em funcionamento êsse aparelho ? Res-
pondeu: que foi feita uma ligação provisória no gabinete da
estação telegráfica do vapor; que é só. E, como nada mais
havia a declarar, mandou o Sr. Sub-Delegado em exercício
encerrar o presente têrmo, que, depois de lido e achado con-
forme, vai por todos devidamente assinado .

(a. ) Sub-Delegado em exercício - Izídio Corrêa


da Fonseca
(a. ) Declarante Hans Georg Ehrhardt
(a. ) Escriturário Antônio Alves de Oliveira".

O comandante do " Rio Grande" nega tudo

"Aos dezessete ( 17) dias do mês de novembro do ano


de mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Rio Grande,
Estado do Rio Grande do Sul, a bordo do vapor alemão "Rio
Grande", atracado no Pôrto Novo desta cidade, presente o
Sr. Sub-Delegado em exercício, Major Izídio Corrêa da Fon-
seca, comigo, Antônio Alves de Oliveira, escriturário de seu
cargo, aí foi ouvido JOHANNES HEINS , Comandante do
referido navio alemão, casado, branco, com 43 anos de ida-
de, natural de Vegesack, Alemanha, filho de Heinrich Heins
e de Gezine Heins, sabendo ler e escrever. Perguntado : como
explica a entrada, no aludido vapor, de um aparelho radio-
transmissor? Respondeu : que de nada sabia a respeito . Per-
guntado: como veio a saber que o dito aparelho se achava
a bordo ? Respondeu : que foi por intermédio do telegrafis-
ta, Hans Georg Ehrhardt, do mesmo vapor, o qual não lhe
explicou a procedência do aparelho. Perguntado : se conhe-
cia Werner Richard Wilhelm Mucks? Respondeu : que o
ficou conhecendo na ocasião em que o mesmo viera consertar
o aparelho de rádio do vapor. Perguntado : se Werner se
hospedou no vapor? Respondeu : que sim, por uns dois ou
três dias. Perguntado : que mais sabia a respeito da perma-
nência do dito aparelho a bordo? Respondeu : que só ontem,
às 14 horas, mais ou menos, é que teve conhecimento da
existência do mesmo no vapor, isto é, na ocasião em que es-
teve a bordo o Agente da Cia. Hamburguesa. Perguntado :
em que dia Werner esteve a bordo? Respondeu : que foi
no dia 11 do corrente mês; que é só. E, como nada mais
houvesse a perguntar, mandou o Sr. Major Sub-Delegado em
exercício encerrar o presente têrmo que, depois de lido e acha-
do conforme, vai por todos devidamente assinado.

(a.) Sub-Delegado em exercício Izídio Corrêa


da Fonseca
(a. ) Declarante Johannes Heins.
(a. ) Escriturário Antônio Alves de Oliveira.
104 AURELIO DA SILVA PY

O depoimento do 1.° oficial de bordo

"Aos dezessete ( 17) dias do mês de novembro do ano


de mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Rio Gran-
de, Estado do Rio Grande do Sul, a bordo do vapor alemão
"Rio Grande" , atracado no Pôrto Novo desta cidade, pre-
sente o Sr. Sub-Delegado em exercício, Major Izídio Corrêa
da Fonseca, comigo, Antônio Alves de Oliveira, escriturário
de seu cargo, aí foi ouvido HEINRICH VON ALLVORDEN,
primeiro oficial de bordo, alemão, casado, branco, com 39 anos
de idade, natural de Gauensek, Alemanha, filho de Heinrich
von Allvorden, já falecido, e de Rebeca von Allvorden, também
falecida, sabendo ler e escrever. Perguntado : como explica-
va a entrada, a bordo, de um radiotransmissor? Respondeu:
que ignora. Perguntado : como veio a saber que o dito apa-
relho se encontrava a bordo? Respondeu : que somente on-
tem é que teve conhecimento dessa alteração, visto a Polícia
ter estado a bordo. Perguntado : se conhecia Werner Richard
Wilhelm Mucks? Respondeu : que o ficou conhecendo quan-
do o mesmo esteve a bordo. Perguntado : se Werner se hos-
pedou no vapor? Respondeu : que somente no dia 13 do
corrente segunda-feira foi que o viu consertando um
aparelho de rádio a bordo. Perguntado : se nada mais sabia
a respeito da existência dêsse aparelho a bordo? Respondeu :
que não ; que é só. E como nada mais houvesse a declarar,
mandou o Sr. Sub-Delegado em exercício encerrar o presente
têrmo, que, depois de lido e achado conforme, vai por todos
devidamente assinado.

(a . ) Sub-Delegado em exercício --- Izídio Corrêa


da Fonseca
(a. ) Declarante Heinrich von Allvorden
(a. ) Escriturário - Antônio Alves de Oliveira”

Ouvindo o agente da Companhia Hamburguesa

"Aos dezoito dias do mês de novembro de mil novecen-


tos e trinta e nove, nesta cidade de Rio Grande, na Dele-
gacia de Polícia, presente o delegado Dr. Rodolfo Pierri,
comigo Antônio Alves de Oliveira, escriturário de seu car-
go, aí foi ouvido FRIEDRICH WILHELM WILTGENS,
de nacionalidade alemã, natural de Bremen, filho de Heinrich
Adolf Wiltgens e de Margarete Luebkemann, de profissão co-
mércio, com trinta e seis anos de idade, casado, residente nesta
cidade, no " Casino" , portador da carteira modêlo 19, n.°
991 , registo n.º 685, fornecida pela S.S.R.E. de Rio Grande,
e declarou o seguinte : que nada sabia quanto a uma esta-
ção de rádio clandestina que se dizia estar instalada a bordo
do navio alemão "Rio Grande" , ancorado no pôrto e aquí
A 5. COLUNA NO BRASIL 105

permanecendo em virtude da guerra na Europa ; que só teve


conhecimento da existência de dito rádio na própria Delega-
cia e, como agente da Cia. Hamburguesa, que é, prontificou-
se a acompanhar os funcionários da polícia a bordo do refe-
rido vapor, para indagar da oficialidade da existência ou não
da estação em questão ; que chegado a bordo em companhia
do Sub-Delegado em exercício e do Inspetor Krause, pediu
para falar em particular ao comandante do vapor "Rio Gran-
de" , o que lhe foi permitido, pois, assim sendo e podendo
explicar ao comandante o caso em si, mais facilmente po-
deria obter dêste a declaração da existência ou não da refe-
rida estação emissora ; que o comandante do vapor, Johan-
nes Heins, declarou não ter conhecimento da existência de
qualquer aparelho a bordo e, incontinente, mandou chamar
à sua presença o radiotelegrafista de bordo, Hans Georg
Ehrhardt, para dêle indagar se algo sabia ; que o referido
radiotelegrafista, depois de conversar com o declarante, afir-
mou encontrar- se efetivamente a bordo um aparelho de ra-
diotransmissão, não sabendo quem o havia levado para lá, pois
o encontrara em frente à porta do seu camarote ; que, depois
disso, tendo comunicado o resultado das conversações ao Sub-
Delegado e Inspetor, presentes, desceram todos para o porão
de carga do navio, com exceção do declarante e do coman-
dante do navio, onde, segundo informou o radiotelegrafista,
se achava o aparelho em questão ; que, encontrado o apare-
lho, o declarante, em companhia dos funcionários de polícia
indicados, foram à Capitania do Pôrto comunicar o ocorrido,
tendo, então, o Capitão do Pôrto mandado recolher o apare-
lho à cabina radiotelegráfica do vapor e lacrado a mesma.
Perguntado: se é exato que o declarante esteve em Pôrto Ale-
gre, há umas duas semanas, e lá se avistou com o sr. Cônsul
Ried, com quem palestrou no aeroporto da VARIG, e, caso
afirmativo, quem eram as outras pessoas que lá estavam e que
foram apresentadas ao declarante? Respondeu : ser exato ter
estado em Porto Alegre sexta -feira da semana passada e regres-
sado, sábado, no avião "Mauá" , tendo ido o sr. Cônsul Ried
despedir-se do declarante no aeroporto da VARIG ; que, nessa
ocasião, estavam presentes um tal sr. Mucks e o gerente da
VARIG, sr. Otto Ernst Meyer, sendo que o sr. Mucks foi
apresentado ao declarante no dia anterior e não no aero-
porto . Perguntado : se é verdade que o Cônsul Alemão em
Pôrto Alegre declarou que o sr. Werner Richard Wilhelm
Mucks vinha para Rio Grande e que ficaria à disposição do
declarante ? Respondeu : que o sr. Cônsul Ried, aproveitan-
do a presença casual de Mucks e do declarante no aeroporto,
disse ao declarante que Mucks viria a esta cidade fazer um
serviço a bordo do vapor "Rio Grande" e, como Mucks não
conhecesse a cidade, pediu o referido cônsul ao declarante que
lhe servisse de cicerone. Perguntado : se é verdade que acom-
panhou Mucks a bordo do vapor "Rio Grande" , logo após
ter desembarcado do trem que tomaram em Pelotas? Res-
108 AURELIO DA SILVA PY

a negativa declarada à polícia rio-grandina? Respondeu :


que o Comandante Heins lhe disse que, ao regressar a bordo
de terra, já empenhara a sua palavra de honra ao patrão-
mor, da Capitania do Pôrto, pela aludida negativa, a qual
sustentaria, por isso, em qualquer terreno. E, como nada
mais houvesse, depois de lido e achado conforme, mandou
o sr. Delegado encerrar o presente têrmo, que vai devidamente
assinado.

(a.) Plinio Brasil Milano


(a.) Friedrich Wilhelm Wiltgens
(a.) Ewaldo Walter Bergmann."

Terceiro depoimento de Wiltgens

"Aos vinte e seis dias do mês de novembro do ano de


mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Ale-
gre, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia
de Ordem Política e Social, presente o respectivo Delegadu
Doutor Plínio Brasil Milano, comigo Ewaldo Walter Berg-
mann, inspetor, servindo de escrevente na forma da lei, aí
compareceu FRIEDRICH WILHELM WILTGENS, já quali-
ficado, a quem foi perguntado o seguinte: Perguntado : se
é verdade, conforme declarações do engenheiro Franz Loebel,
da tripulação do vapor "Rio Grande" , que o declarante Wilt-
gens, levou para bordo dêsse navio, em pacotes, o aparelho
transmissor marca "Lorenz" , posteriormente apreendido pela
polícia ? Respondeu : que, de fato, levou ao pôrto os paco-
tes aludidos, determinando a um dos tripulantes do navio
que os fizesse chegar ao navio ; que fez duas viagens para
completar o transporte ; que o fez para servir o sr. Vice-
Cônsul Fraeb, que o pediu, a sete ou oito do corrente mês;
que recebeu os pacotes na agência da VARIG, por interme-
dio do porteiro de seu estabelecimento comercial ; que a refe-
rida autoridade consular apenas lhe esclareceu que os pacotes
eram destinados ao radiotelegrafista de bordo, porém o decla-
rante logo imaginou tratar-se do transmissor. Perguntado:
se o declarante, como agente da Cia. Hamburguesa, que é,
em Rio Grande, não deu conhecimento ao comandante do
navio da chegada dêsses pacotes a bordo? Respondeu : que
sim, tendo aquele oficial contestado "está bem". Pergunta-
do: si a Cia. Hamburguesa, por sua direção responsável, teve
Conhecimento do que estava ocorrendo em Rio Grande, já
que o declarante, seu agente, prestou auxílio no caso do
transmissor? Respondeu : que a Companhia nada tem que
ver com isso, visto o declarante haver operado por conta pró-
pria e não da Companhia. Perguntado : se o declarante é
sabedor de que o Comandante do navio "Rio Grande" , sr.
Johannes Heins, determinou à tripulação rigoroso sigilo sôbre
o assunto? Respondeu : que não sabe, porém, bem ima-
A 5. COLUNA NO BRASIL 109

gina e compreende. Perguntado : quais os oficiais do navio


que, por ocasião da chegada do declarante e de Mucks, se acha-
vam na Sociedade Germânia, assistindo à apresentação do rá-
dio-técnico ao sr. Vice-Cônsul Fraeb? Respondeu : que se
lembra da presença do Comandante Johannes Heins e do pri-
meiro engenheiro Franz Loebel. Perguntado : se o declaran-
te, ontem, ao desembarcar do avião que o trouxe a Pôrto
Alegre, procurou o Cônsul Alemão, sr. Ried, ou foi por êste
esperado? Respondeu : que foi recebido pelo próprio Côn-
sul, no aeroporto da VARIG, e no automóvel do mesmo se-
guiu até o pórtico da R.C.P. Perguntado : se não teve oca-
sião de tratar, durante a viagem do aeroporto à R.C.P. , com
o sr. Cônsul sôbre o assunto em que se acha envolvido ? Res-
pondeu : que expôs ao mesmo a sua situação, inclusive a nega-
tiva de sua coparticipação dada à polícia rio-grandina e o
seu propósito de mantê-la, tanto quanto possível, na Polícia
Central, tendo o sr. Cônsul dito que fazia votos no sentido
de tudo correr bem. Perguntado : onde o declarante costu-
ma hospedar-se, quando nesta Capital ? Respondeu : que se
hospeda no Novo Hotel Jung. Perguntado : se, desta vez,
ao contrário, o declarante resolveu ser hóspede do sr. Cônsul
Alemão? Respondeu que foi o sr. Cônsul Alemão quem
ontem, por ocasião da chegada do declarante, o convidou a
residir em sua casa, o que aceitou. Perguntado : se é verdade
que essa autoridade consular obsequiou, com farto almôço e
bebidas, hoje, nesta Repartição, o declarante ? Respondeu :
que sim. Perguntado : se o transporte do transmissor de Pe-
lotas a Rio Grande foi feito pela VARIG? Respondeu : que
sim, lembrando- se o declarante de que a VARIG mandou um
conhecimento, no qual exigiu o recibo do sr. Vice -Cônsul.
Perguntado: se na opinião do declarante, aliás, muito valiosa,
por ser profissional no assunto de transportes, houve trans-
porte clandestino do transmissor, por parte da VARIG, já
que a sua linha termina em Pelotas, e o declarante recebeu os
respectivos volumes, em Rio Grande, de quem representa a
VARIG? Respondeu : que não, pois, se não lhe falha a
memória, tratava-se de um documento de curso legal, isto é,
de taxas pagas . E, como nada mais houvesse, depois de lido
e achado conforme, mandou o sr . Delegado encerrar o pre-
sente têrmo, que vai devidamente assinado.

(a. ) Plinio Brasil Milano


(a.) Friedrich Wilhelm Wiltgens
(a.) Ewaldo Walter Bergmann.”

O depoimento do 1.º maquinista do vapor

"Aos vinte e cinco dias do mês de novembro do ano


de mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Porto Ale-
gre, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia
110 AURELIO DA SILVA PY

de Ordem Política e Social, presente o respectivo Delegado


Doutor Plínio Brasil Milano, comigo, Ewaldo Walter Berg-
mann, servindo de escrevente na forma da lei, aí compareceu
FRANZ LOEBEL, branco, casado, de nacionalidade alemã,
nascido em vinte e dois de julho do ano de mil oitocentos e
noventa e quatro, na cidade de Hamburgo, Alemanha, filho
de Franz Loebel e de Dona Dora Beck Loebel, de profissão en-
genheiro marítimo, residente a bordo do cargueiro alemão "Rio
Grande" , surto no pôrto da cidade do mesmo nome, de
passagem por esta Capital, declarando o seguinte : que é pri-
meiro maquinista do navio mercante alemão "Rio Grande" ;
que, como tal e por ciência própria, afirma que o aparelho
radiotransmissor, marca "Lorenz” , foi levado a bordo da-
quele navio, acondicionado em pacotes, pelo sr. Wiltgens, agen-
te da Companhia Hamburguesa ; que o comandante do vapor.
sr. Johannes Heins, ao saber que a polícia investigava o caso,
determinou à tripulação, inclusive ao declarante, rigoroso si-
gilo sôbre o assunto, tanto que, na primeira busca, nada en-
controu a polícia, pois ― como é sabido somente na se-
gunda vez teve êxito em seu trabalho ; que a imposição do
comandante, convém acentuar, deu lugar ao segrêdo que ain-
da existe, entre a tripulação, sôbre o acontecimento ; que o
declarante conheceu Mucks, quando êste chegou à Sociedade
Germânia, no dia onze do corrente mês ; que o transmissor,
segundo soube, é de propriedade do Sindicato Condor Ltda.
e foi transportado pela VARIG, tendo sido dirigido ao Vice-
Cônsul Alemão ; que, por ocasião da chegada do referido
Mucks, o declarante estava acompanhado pelo comandante do
navio ; que foram os srs. Wiltgens e Fraeb quem o apresenta-
ram ao técnico enviado para instalar o radiotransmissor ; que
Wiltgens visitava diariamente o barco, palestrando com o co-
mandante; que é interessante esclarecer ter o comandante, cer-
ta feita, ponderado ao sr. Wiltgens ser necessário notificar pre-
viamente a instalação do aparelho, sem providências cabíveis
de sua parte ; que o declarante veio a passeio a esta Capital
para ver amigos, entre os quais o sr. Willy Herzfeldt, em cuja
residência se acha hospedado ; que é verdade ter almoçado na
dita sociedade, por ocasião do regresso de Mucks, em compa-
nhia dêste e do sr. Wiltgens, tendo após acompanhado o técnico
à estação. Perguntado : se o declarante almoçou, esta tarde,
na residência do Cônsul Alemão, sr. Ried? Respondeu que
sim. Perguntado : se o sr. Wiltgens, alguma vez, falou ao
declarante a respeito do transmissor? Respondeu : que sim,
por duas ou três vezes, a bordo do navio. Perguntado : quais
os comentários feitos pelo sr. Wiltgens sôbre os acontecimen-
tos? Respondeu : que o sr. Wiltgens se limitava a informar
ao declarante nada haver de maior, devendo o caso solucio-
nar-se favoravelmente. Perguntado : se há oito semanas, apro-
ximadamente, o declarante e o Comandante do navio estive-
ram nesta Capital, vindos de avião ? Respondeu : que sim,
em objeto de serviço. Perguntado: quem tem pago ao de-
A 5. COLUNA NO BRASIL 111

clarante as despesas de viagem? Respondeu : que foi a VA-


RIG, por sua agência de Pelotas, quem lhes forneceu passa-
gens. Perguntado : o que ambos, naquela ocasião , vieram fa-
zer nesta Capital? Respondeu : que vieram receber instruções
do sr. Cônsul Alemão, local, atinentes à próxima partida do
navio. E, como nada mais houvesse, mandou o Delegado
encerrar o presente têrmo, que, depois de lido e achado confor-
me, vai por todos devidamente assinado.

(a. ) Plínio Brasil Milano


(a.) Franz Loebel
(a.) Ewaldo Walter Bergmann."

O N. S. D. A. P. EM SANTA CRUZ

Santa Cruz, município sul-rio-grandense, conta com uma das


mais densas populações alemãs e teuto-brasileiras do país . Foi nas
zonas onde se encontram estas "minorias" compactas --- tal como
vimos, antes de estalar a guerra, na região tchecoslovaca dos Sude-
tes, no período ainda das conquistas territoriais pacíficas de Hitler
que o National-Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei deitou
entre nós raízes profundas, difíceis de extirpar. Quando a polícia
entrou em ação, realizando diligências e efetuando prisões que de-
sarticularam em parte a organização local do Partido, êste conse-
guiu salvar a maior parte de seus arquivos, transferindo-os para a
sede do vice-consulado, onde os garantiria a imunidade diplomática.
Isto é, a mesma técnica seguida em tôdas as localidades em que pro-
liferava o nacional-socialismo alemão.
Obsedados, como "bons alemães”, pela idéia da superioridade
da raça alemã e pela infalibilidade do Fuehrer, ainda hoje os na-
zistas de Santa Cruz não se dão por vencidos, procurando congre-
gar-se em tôrno do vice-cônsul Germano Becker e levar avante a
sua obra de quinta-colunismo.
As atividades dos camisas pardas em Santa Cruz estão fielmen-
te espelhadas em um memorial enviado ao delegado de polícia lo-
cal por um cidadão brasileiro descendente de alemães pela linha
materna. Eis aquí o memorial :

"Santa Cruz, 25 de fevereiro de 1938.


Ilmo. Sr. Paulo Acosta Rodrigues,
D.D. Delegado de Polícia - Nesta Cidade.
Atendendo à solicitação de V.S. , venho prestar as in-
formações a respeito da infiltração nazista nesta cidade e da
filiação das sociedades locais à Alemanha.
Antes de entrar na narrativa dos fatos ligados à filia-
ção das sociedades locais ao "Verband Deutscher Vereine im
112 AURELIO DA SILVA PY

Ausland" , preciso contar os fatos anteriores a essa ligação


e os quais com ela têm ligação, o que faço da maneira seguinte:
Após a ascensão de Adolf Hitler ao governo da Alema-
nha e à fundação lá do Partido Nacional- Socialista, Santa
Cruz, a-pesar- de ser uma colônia em que predomina o ele-
mento de origem germânica e a qual, portanto, cultiva o idio-
ma e os costumes trazidos da Alemanha pelos imigrantes,
mas que, mesmo assim, estava integrada mais ou menos no
espírito da nacionalidade brasileira, passou a ser assediada por
novos imigrantes que vinham cheios de ideais nazistas e pro-
curavam espalhar aquí estes sentimentos, tentando também
a desnacionalização dos habitantes de origem germânica.
Não lhes foi demasiado árdua a tarefa. Num meio em
que o espírito de brasilidade não era ainda completo, foi com
facilidade que os nazis, tendo à frente Oscar Agte (Doc. n.º
26) , Paulo Ellwanger e Walter Schreiner, êste nascido no
Brasil, passaram a minar a população local. Assim, em pou-
co tempo, de um número reduzido que eram, os partidários
foram aumentando até formarem algumas dezenas, conseguin-
do chamar para o seu seio diversos cidadãos aquí nascidos.
Pessoas, na maioria cheias de lábia e tendo como arma a men-
tira, foram da cataquese à ameaça. Assim, aqueles que não
queriam seguí-los eram perseguidos, sofrendo um "boycott"
às escuras, mas sistemático e em todo o sentido. Sôbre isto
podem informar os srs. Alfredo Heim, Henrique Frohwien,
Arno Seer e Eugênio Feil, que foram perseguidos por tenta-
rem naturalizar-se brasileiros. A espôsa dêste último sofreu
tantas ameaças, dichotes e manifestações de desprêzo, que
hoje se encontra num hospital de alienados.
Conseguiram mais, êsses elementos, converter o cida-
dão Ernesto Germano Becker para o seu credo, atendendo à
alta posição social e ao prestígio de que êsse cidadão goza
no município de Santa Cruz. Oscar Agte, cunhado de Be-
cker, encarregou-se do serviço de catequese, conseguindo fa-
zer dêle um nazista exaltado. Atualmente desempenha o sr.
Becker o cargo de vice-cônsul da Alemanha em Santa Cruz,
com o nome de Hermann Becker, a -pesar- de ser brasileiro.
Escudados, através dêsse valiosíssimo esteio, no meio so-
cial santa-cruzense, alargaram êles ainda mais o seu serviço
de propaganda e desnacionalização, procurando convencer os
que aquí nasceram de que, a-pesar- disto, eram alemães. Nes-
se sentido, promoviam festas e comemorações de acontecimen-
tos da Alemanha, principalmente de novidades introduzidas
com o advento do nazismo.
Foi assim que, sempre amparados pelo poder do atual
vice-cônsul, passaram à posição de orientadores da quasi maio-
ria da população da cidade e algozes de muitos daqueles que
não os seguiam.
Agindo sempre ardilosamente e com cautela, procurando
onde fôsse possível deixar o rastro apagado, tomaram conta
da Turnverein Santa Cruz, depois transformada em Socie-
A 5. COLUNA NO BRASIL 113

dade Escolar de Santa Cruz para o fim de conseguir a oficia-


lização de um curso de guarda-livros, o que, de fato, obtive-
ram . Tornaram-se então essas duas sociedades, juntamente
com a Deutsches Haus ― Casa Alemã sede do Partido
Nazista, o alicerce do nazismo em Santa Cruz.
Na Turnverein Santa Cruz - Sociedade de Ginástica
elegeram para presidente Paulo Erath. Na Ortsschulve-
rein --- Sociedade Escolar fizeram presidente Ernesto Ger-
mano Becker, e na Deutsches Haus Casa Alemã Oscar
Agte, que hoje desempenha o cargo de secretário, ou coisa
que o valha, do vice-consulado. Numa sociedade denomina-
da Deutsche Arbeitsfront (Frente Alemã do Trabalho) , fi-
zeram presidente Paulo Ellwanger, diretor da Usina Muni-
cipal. Assim organizados, e já desfrutando de prestígio en-
tre grande parte do elemento de origem germânica, passaram
a agir a fundo.
Para a Sociedade de Ginástica conseguiram que alguém
(digo alguém porque até agora êle não explica êste fato)
mandasse para cá, gratuitamente, um professor de ginástica
da Alemanha, que aquí só tem se limitado a incutir no espí-
rito da juventude o ideal nacional-socialista, tanto que fun-
dou uma associação denominada Wartburg-Jugend, à qual dá
instrução militar em alemão, exigindo a saudação hitlerista.
Além disto, são-lhe remetidos da Alemanha livros de propa-
ganda nazista, que, colocados na biblioteca da sociedade, fo-
ram mais tarde dalí retirados. Sabem disto o bibliotecário
Lauro Werlang, o sr. Alfredo Simonis, o sr. Avelino Wer-
lang e outros. Recebia também aparelhos de ginástica e ou-
tras vantagens, fato que confessou verbalmente na sessão de
assembléia geral realizada a 8 do corrente e da qual, mais
adiante, vou me ocupar. Para a Ortsschulverein consegui-
ram uma subvenção, que, em 1936, se elevou a 35 : 000 $ 000,
segundo informou ao declarante, aos srs. Avelino Werlang
e Frederico G. Bartholomay, o sr. Helmuth F. L. Dreher,
membro da diretoria daquela instituição.
Passarei agora a descrever como foi feita a filiação das
sociedades locais às alemãs. Antes, porém, é preciso que res-
salte que me apoiarei em poucas provas documentais :
1.0 porque dificilmente os nazistas deixam prova pro-
vada de algum fato por êles praticado, e
2.º porque parte da prova que tinha em meu poder
ficou no Quartel-General da 3.ª Região Militar
e na Repartição Central de Polícia em Pôrto Ale-
gre.
Mas, mesmo assim, vejamos:
Já notava o que linhas acima ficou dito e já mantinha
uma luta íntima com a minha conciência, sopitando os meus
sentimentos de brasileiro, quando, em maio, mais ou menos,
de 1937, o dr. Artur Germano Fett recebia de Pôrto Alegre
uma notícia alarmante, que lhe era fornecida por pessoa de
8-5. C.
114 AURELIO DA SILVA PY

sua intimidade. Esta pessoa informava que os nazistas pro-


curavam filiar à Alemanha tôdas as sociedades do Estado,
compostas por elementos de origem germânica. A notícia
nos alarmou, e então constituímos uma espécie de comissão
que passou a se movimentar no sentido de evitar essa filia-
ção, que considerávamos atentatória dos nossos brios de bra-
sileiros. Dessas conversações e reuniões participaram os srs.
dr. Artur Germano Fett, Arnaldo O. Scherer, Leopoldo Cas-
per, Frederico G. Bartholomay, L. F. Stahl, Filipe J. G. Be-
cker, irmão do vice- cônsul da Alemanha, o declarante, e, pos-
teriormente, também o sr. Afonso Simonis. Estávamos no
início das combinações, para resolver qual o melhor modo
de agir, quando tivemos notícia de que na casa comercial do
sr. Hugo Decker, alemão nato e antinazista, era mostrado
confidencialmente um livro em que se diziam coisas incríveis
do Brasil. Decidí-me a arrostar tôdas as consequências e apo-
derar-me dêsse livro. Fui feliz . Cheguei à casa do sr. De-
cker e encontrei- o mostrando o livro a um patrício seu .
Pedí para vê-lo e o embolsei, retirando-me a-pesar-dos pro-
testos do sr. Decker, que assim agia pelo temor às represálias
contra si e seus parentes.
Esse livro foi por mim entregue ao sr. major Benjamim
Rodrigues Galhardo, no Quartel-General da 3.ª Região, ofi-
cial a quem, linhas adiante, irei referir-me. O livro a que
faço alusão intitulava -se "Als deutscher Pfarrer und Schullei-
ter in Suedbrasilien" (Doc. n.º 27) , sendo seu autor o pas-
tor Siegfried Heine. Este cidadão, entre muitas coisas vexa-
tórias ao Brasil, chama os brasileiros de "negros e mulatos”
e diz textualmente que, fazendo -se abstração dos alemães do
Sul do Brasil, "resta apenas uma mísera carcassa" . Logo
depois dos nossos protestos públicos, os nazistas dirigiram-se
ao consulado, que comunicou aos jornais que havia sido proi-
bida na Alemanha a venda do mencionado livro, como tam-
bém estava proibida a sua saída para o estrangeiro ( o livro
trazia na primeira página a autorização do governo alemão
para sua impressão) . Entretanto, em outubro de 1937, qua-
tro meses após, comprei um dos seus exemplares numa das
livrarias de Pôrto Alegre, no qual tinham apenas colado um
pedaço de papel sôbre as palavras que se referiam à autori-
zação do governo alemão. Com a apresentação dêsse livro,
mais se exaltaram os nossos sentimentos de brasilidade, já agui-
Ihoados pela filiação que pretendiam os nazistas fazer à Ale-
manha.
Resolveram então os componentes da comissão antes ci-
tada que se interpelasse o sr. Erath sôbre se estava a Ginás-
tica filiada a alguma Associação na Alemanha. Foi assina-
da por mim a carta em que se pediam essas informações e
cuja cópia nesse momento entrego. Dessa carta não obtive
resposta ; apenas o sr. Erath procurou o dr. Artur Germano
Fett e lhe disse que, se eu desejasse alguma informação, êle
ma daria verbalmente numa sessão de diretoria da Ginástica,
A 5. COLUNA NO BRASIL 115

Documento n.º 27

Als deutscher Pfarrer

und Schulleiter

in Südbraſilien

Don

Siegfried Heine

Tie Schrift bat der porteiamtlichen Prüfungs.


kommiſſion zum Schuße dės nationalfogialiſtiſchen
Scriittuns vorgelegen.

Drud und Berlag H. Richter, Buchbruckerei, Fürſtenwalde, Spree.

não ficando consignado em ata o que se falasse a respeito


(resposta bem nazista) . Essa proposta, eu a repelí. (O sr.
Erath, até hoje, procura sempre discutir qualquer assunto
que se refira ao nazismo e filiação de Sociedades ao estran-
geiro verbalmente, e nunca por escrito) . Estavam os acon-
tecimentos nessa altura, quando resolví ir pessoalmente ao
Quartel-General da 3.ª Região Militar em Pôrto Alegre pe-
dir, ao então executor do Estado de Guerra no Rio Grande
do Sul, as providências que nós, por estarmos em minoria,
não podíamos tomar. Foi no Quartel-General que descobrí
que as Sociedades de Santa Cruz estavam, em sua quasi tota-
lidade, filiadas ao "Verband Deutscher Vereine im Ausland" ,
com sede em Berlim, pois alí me foi mostrado um folheto,
publicado oficialmente na Alemanha, do qual possuo foto-
grafias e no qual estavam relacionadas, como filiadas, quasi
tôdas as sociedades locais. Esse folheto contém também os
estatutos da Sociedade, que são de caráter político . Já nesse
tempo, os jornais de Porto Alegre também se referiam a so-
ciedades locais, que estavam filiadas a uma associação na Ale-
manha. De regresso a Santa Cruz, a maioria das sociedades
AURELIO DA SILVA PY
116

estavam revolucionadas com a notícia da filiação porque, se-


gundo alegavam, não tinham autorizado ninguém a filiá-las
no estrangeiro, mas, entretanto, a única que protestou publi-
camente contra a filiação foi a Aliança Católica, tendo tôdas
as demais seguido ainda os conselhos do sr. Erath, que então
lhes dizia que isso não tinha a menor importância porque
era apenas um intercâmbio cultural. A-pesar-de me ter dado
o trabalho de enviar a cada um dos presidentes das mesmas
sociedades um folheto assinado pelos srs. Arnaldo Bercht,
Gaston Englert e J. A. Friedrich, combatendo a filiação de
sociedades daquí ao estrangeiro, nenhuma delas, ainda assim,
quis protestar contra a filiação. Um dêsses folhetos, neste
ato, foi entregue ao sr. Delegado.
Esses são fatos públicos e notórios nesta cidade e po-
dem ser atestados por todos os presidentes das sociedades refe-
ridas que tiverem honra e dignidade. Entretanto, os srs.
Leopoldo Casper, Avelino Werlang, Arnaldo O. Scherer e
L. F. Stahl, entre outros, sabem disso.
A alegação de dois dêles, que agora já ouví, de que
ignoravam a filiação, não cabe, porque em Santa Cruz não
há criança que não tenha conhecimento dêsses fatos.
Haviam as cousas chegado a êsse ponto porque nós não
tínhamos fôrças para combater os nazistas e o governo não
nos auxiliara. Ficaram orgulhosos do poderio que possuíam
e arrogantes ao ponto de Oscar Agte ter ameaçado o sr. Afon-
so Simonis, ordenando-lhe que ficasse quieto porque, senão,
veria o que lhe aconteceria ; isso porque o sr. Simonis come-
tera o grande crime de não se querer conformar com a pre-
potência do nazismo em Santa Cruz.
Estávamos já no gôzo dos nossos direitos, após o golpe
de 10 de novembro, quando Paulo Erath, no dia 8 do cor-
rente, num gesto de audácia e desafôro, convoca uma sessão
de assembléia geral da Sociedade Ginástica. Propôs, então,
que fôsse aprovado o seu ato, e continuasse a sociedade com
"ligação de intercâmbio cultural com o "Verband Deutscher
Vereine im Ausland" , com sede em Berlim" . Depois de,
jeitosamente, embrulhar a assistência, conseguiu a aprovação
de seu ato com apenas 11 votos contrários. Lástima é, sr.
delegado, que até funcionários públicos se tenham deixado
levar pelo canto de sereia de Paulo Erath, mistificando a filia-
ção política realmente existente, com declarações de que se
tratava apenas de um intercâmbio cultural de somenos im-
portância. Nessa sessão, os srs. Afonso Simonis e Edgar
Hauschild combateram a idéia do sr. Erath, mas nada con-
seguiram , dada a verbosidade e o talento mistificador dêste,
que o tornam perigoso . Num dos momentos em que a assis-
tência estava vacilante entre o sr. Erath e os que o comba-
tiam, interveio nos debates o vice-cônsul Becker que, auxi-
liando o sr. Erath, fez com que fôsse vencedor o seu ponto
de vista. Nessa sessão, ainda correu uma coleta cujo pro-
duto devia ser enviado para a Alemanha, em recompensa dos
A 5. COLUNA NO BRASIL 117

muitos favores e benefícios de lá recebidos, segundo declara-


ções do próprio Erath. Atestam isso os srs. Avelino Wer-
lang, Afonso Simonis, Alberto Timm, Edgar Hauschild e
outros.
Passando a outra ordem de considerações, tratarei da
filiação propriamente dita . Em 1934 ou 1935, o governo
do Estado decretou feriado o dia 25 de julho, em homena-
gem ao colono . Esse fato veio ao encontro dos desejos
dos chefes nazistas locais. Aproveitaram a data para lem-
brarem a necessidade de se fundar uma Associação que con-
gregasse tôdas as sociedades locais para festejar aquela data,
alegando que assim ficaria menos dispendioso a todas elas e
aproveitariam a associação para outras festividades. Nenhu-
ma sociedade viu nisso inconveniência e tôdas acederam ao
convite de Erath e Becker, com exceção do Clube União, que,
convidado, não acedeu, porque aqueles pretendiam, como fi-
zeram, batizar a Sociedade com o nome de "Verband Deut-
scher Vereine Santa Cruz” . Mas os fins dêsse "Verband"
não eram os apresentados, e sim o de filiar essa "Verband" ,
composta de tôdas as sociedades locais, à Alemanha, visto
que com cada uma em separado seria mais difícil conseguir
o seu intento político. Tanto assim que o F. B. C. San-
ta Cruz, que nessa época era dirigido pelo signatário, foi
a única sociedade não convidada para fazer parte do "Ver-
band" , e, mais, o sr . Erath bateu-se para não ser a nova
sociedade batizada com o nome de "Deutschbrasilianische",
porque isso prejudicaria o seu plano de filiação. E tanto
assim era que, em seguida, a "Verband Deutscher Verei-
ne Santa Cruz" foi filiada ao "Verband Deutscher Vereine
im Ausland", com sede em Berlim, pelo seu presidente Paulo
Erath, sem que a maioria das sociedades a ela filiadas tives-
sem no momento ciência dêsse ato, o que só vieram a saber
mais tarde. Podem informar a respeito os srs. Avelino Wer-
lang, Luiz Letz, Helmuth F. L. Dreher, Ernesto C. Iserhard,
Elíbio Vailaender e Dr. Artur Kierann.
São estás, em linhas gerais, as atividades nazistas em
Santa Cruz. Entretanto, se V.S. assim o entender, poderei
ainda descer a maiores pormenores .
Estarei pronto, também, a ser acareado com qualquer
pessoa que pretenda negar os fatos aquí relacionados. Faço,
de antemão, essa declaração, porque, sendo o lema nazista
sair-se sempre pela negativa, é possível que algum dêles isso
pretenda fazer.

Atenciosas saudações

(a) Luiz Beck da Silva" .


B
O consulado e as sociedades alemãs

" A guerra invisível teve como auxiliares a ignorân-


cia e a traição ... mas o seu sucesso foi, sobretudo,
a consequência da perda do bom senso, que facil-
mente se pôde observar nos Estados ameaçados de
morte pela Alemanha."

(André Chéradame - "Dias decisivos").

E' interessante assinalar mais uma vez, embora já demonstrado


cabalmente, que Hitler e seus colaboradores, criando o racismo,
a teoria das "minorias" de sangue alemão, o esquema da Grande
Alemanha, não fizeram muito mais que sistematizar tendências já
existentes no espírito germânico. Aquí mesmo, em Pôrto Alegre,
o consulado alemão manifestou sempre especial interêsse pelas
sociedades constituídas por descendentes de alemães no Rio Grande
do Sul.
Como não envolvesse assunto propriamente político, êsse inte-
rêsse não era julgado perigoso pelas nossas autoridades. Entretanto,
após a ascensão do nazismo, não tardou que, de simples relações
amistosas, as ligações entre o consulado e as sociedades passassem a
tomar um caráter de protetorado, com a distribuição de verbas e
do material considerados necessários à sua vida social . O resultado
de tal manobra é agora conhecido : quasi tôdas as sociedades termi-
naram filiadas à "Verband Deutscher Vereine im Ausland", sedia-
da em Berlim.
Exercendo o domínio absoluto dessas sociedades, o cônsul ale-
mão passou a desempenhar o papel de dirigente supremo, perante
o qual tinham de ser resolvidas tôdas as questões sociais importan-
tes. A polícia apreendeu documentos comprobatórios das afirmati-
vas acima, os quais vão neste livro reproduzidos .
A "Verband Deutscher Vereine im Ausland” é uma organização
de grande importância política para o nacional-socialismo alemão
exercido no estrangeiro. Dum livreto intitulado “ Que deseja a V.
D. V.?" extraímos os seguintes tópicos relativos aos seus projetos e
finalidades :

"Com o tratado de Versalhes, a Alemanha sofreu uma


enorme crise passional e o seu consequente desmembramento,
até que Adolf Hitler, como chanceler, assumiu o governo do
Reich; êste acontecimento trouxe para a Alemanha a concep-
ção da grande necessidade de unificar a "raça e cultura" de
todos os alemães espalhados pelo universo.
A 5. COLUNA NO BRASIL 119

"Mesmo depois da guerra, o trabalho na pátria não con-


seguiu evitar os insultos e as palavras chistosas dirigidas aos
alemães no estrangeiro. Tornou-se uma mania convocar con-
gressos e assembléias, de uma infinidade de sociedades, nas
quais muito se falava, porém pouco se trabalhava.
"A melhor parte do elemento alemão no estrangeiro ali-
mentava a firme vontade de reconquistar o valor da Alema-
nha ; entretanto, os dirigentes das sociedades regionais muitas
vezes viam-se impossibilitados de ter entendimento com OS
partidos políticos e com o govêrno, o que impedia a realiza-
ção de um trabalho fecundo e confidencial com a melhor
parte do elemento alemão no estrangeiro. Faltava no Reich
uma organização que se preocupasse menos com a reconquis-
ta do valor, porém, que tivesse dirigentes que alimentassem
o firme propósito de, resolutamente, ajudarem os alemães no
estrangeiro a darem ao último alemão, no mais distante re-
canto do mundo, a convicção de que o Reich não o aban-
donou.
"Depois que a centelha do nacional-socialismo inflamou
também as minorias alemãs no estrangeiro, muitos alemães
natos fundaram núcleos de movimento e de idéias de Adolf
Hitler. Do mesmo modo como aquí, as organizações da N.S.
D.A.P. , os núcleos no estrangeiro formam a guarda avançada
da nova Alemanha, os soldados do nacional- socialismo que
também recuperaram o seu lugar entre os alemães no estran-
geiro.
“A organização onde se concentram tôdas as informa-
ções sobre a N.S.D.A.P. , espalhadas pelo mundo inteiro, com
o intuito de formar os milhares de alemães no estrangeiro
num bloco poderoso, é a V.D.V. ( União das Sociedades Ale-
mãs) , a única que de fato une a pátria às sociedades alemãs
existentes no estrangeiro. A V.D.V. se encarrega de pro-
mover a união dos alemães no estrangeiro, conservando o seu
instinto alemão e repelindo a influência da cultura de outros
povos. Ela interessa -se pelos INSTITUTOS, COLÉGIOS
e IGREJAS ; põe à disposição das bibliotecas e dos sócios pe-
ças teatrais, filmes, revistas alemãs e livros, grande parte gra-
tuitamente ; protege todos os sócios nos assuntos COMER-
CIAIS e particulares. Todo o alemão, no estrangeiro, de
qualquer profissão, deve ter a convicção de que a V.D.V. é
para êle, na pátria, uma organização que o auxilia e que por
êle trabalha.
"Quando se oferecer ocasião, a V.D.V. a aproveitará
para auxiliar as sociedades, no estrangeiro, remetendo o neces-
sário material, o qual dará uma idéia da Nova Alemanha e
aprofundará a compreensão do Nacional -Socialismo. O ale-
mão no estrangeiro deve ter o espírito voltado para a pátria,
que lhe mostra, claramente, o caminho a seguir; ou êle se
inspira na reivindicação, da qual a pátria está imensamente
AURELIO DA SILVA PY
120
compenetrada, ou êle a despreza, perdendo a ligação íntima
com a Alemanha , correspondendo-se com povos estrangeiros .
"Em vista dêstes conhecimentos, no curto espaço de
tempo de existência da V.D.V. (fundada em 11 de abril de
1934) até 15 de outubro de 1936, já se lhe associaram cêrca
de 1.150 associações, sociedades beneficentes, escolas e comu-
nidades situadas no estrangeiro.

har
Todos os partidários alemães devem trabal

“A V.D.V. põe, gratuitamente, à disposição das asso-


ciações alemãs no estrangeiro jornais, revistas e livros que as
orientarão sobre os acontecimentos na Alemanha. Durante
os anos de 1935/6, a V.D.V. distribuiu entre as associações
no estrangeiro 25.000 livros, brochuras e calendários, mi-
lhares de exemplares dos discursos de Hitler, em alemão e em
outros idiomas, 58.000 revistas e jornais, e mais de 100.000
exemplares da revista intitulada "Heimatbrief" (cartas da pá-
tria) .
"Assim como os chineses carregam na parte ôca da sola
dos sapatos um pouco de terra chinesa, símbolo do solo sa-
grado da China, também o livro alemão no estrangeiro re-
presenta uma parte da pátria alemã .
"Somente o livro alemão orienta os partidários, no es-
trangeiro, sôbre a vida espiritual da Alemanha. Sociedades
alemãs, no estrangeiro, que cultivam a sociabilidade, os can-
tos alemães, os jogos e esportes, necessitam de livros alemães
escolhidos.
"A V.D.V. envia também aos seus associados no estran-
geiro livros sôbre literatura, teatro, e presta-lhes, em caso de
necessidade, auxílio judicial, dando-lhes conselhos sôbre as-
suntos comerciais e particulares.

"Nós alemães, perante o mundo”

Edição anual da V.D.V.

"As sociedades associadas à V.D.V. podem adquirir o


livro intitulado "Nós alemães, perante o mundo " , dirigindo-
se à V.D.V. O livro anual, correspondente aos anos de
1935/36, oferece uma visão do trabalho dos diversos nú-
cleos alemães no estrangeiro. No prefácio do livro editado
em 1936, o general presidente do ministério prussiano, Goe-
ring, transmite um agradecimento da Nova Alemanha ao ele-
mento alemão no estrangeiro , a saber:
A 5. COLUNA NO BRASIL 121

"Declaro, afim de que traspasse as fronteiras e seja não


somente ouvido e entendido pelos nossos irmãos no estran-
geiro, como por todo o mundo : proteção à cultura alemã e
ao elemento alemão são as principais preocupações do Reich.
Êste programa da conciência nacional, que também represen-
ta os nossos maiores desejos de paz, é condicionado aos com-
promissos que assumimos, justamente, para com o elemento
alemão no estrangeiro. Todos devem compenetrar-se com
convicção e sacrifício de que a pátria deve dar ao elemento
alemão no estrangeiro o que puder ser exigível."

Estatutos da V.D.V. (esquema)

1 - A V.D.V. tem sua sede em Berlim e acha -se re-


gistada.
2 ---
- Fins :
Os fins da V.D.V. no estrangeiro são intensificar
o contacto dos alemães no estrangeiro com a pá-
tria, unificá-los e auxiliá-los com conselhos e atos.
3- Dos sócios :

Poderão ser sócios da V.D.V.:


a) ― associações alemãs no estrangeiro ;
b) - alemães natos no estrangeiro;
c) alemães natos no país.
4.- Mensalidade.
5 - Órgão da União.
6 ― ·Assembléias.
7 - · Diretoria.
8- Conselho Fiscal.
9. Trata da dissolução da sociedade."

Um exemplo típico

Um exemplo típico da interferência do consulado na vida das


sociedades alemãs do Rio Grande do Sul, é constituído pelo fato
abaixo narrado, extraído da fôlha de serviço de um inspetor da
nossa polícia. Refere-se às observações colhidas durante os festejos
de 1.0 de maio na Sociedade de Tiro Alemã (Schuetzenverein) :

"Os festejos de 1.º de maio na sede dos atiradores (Chá-


cara Mostardeiro) tiveram início às 11,50 da manhã, hora
em que lá cheguei.
122 AURELIO DA SILVA PY

"Foram assistidos por umas 500 pessoas, aproximada-


mente. Dentre estas havia umas 50 crianças e muitos teuto-
brasileiros.

"Um alemão fez um rápido discurso, após o qual fez-


se ouvir o hino alemão. Todos os presentes ficaram de pé,
fazendo a saudação nazista. Notei as crianças que, como bem
disciplinadas, não desviaram a atenção antes que findasse. Con-
tava certo ouvir o Hino Nacional, o que não aconteceu .

"Com um microfone instalado na sala principal, as mú-


sicas e canções eram levadas a todos os recantos da sede (gra-
vações Telefunken ) .

"As mesas, em grande número, para comportar tôda a


vasta assistência, estavam distribuídas tanto no interior, como
na parte externa do prédio.
"Cêrca da meia hora da tarde chegou o cônsul alemão,
sendo festivamente recebido pelos presentes, que o cumularam
de gentilezas. Mais uma vez verifiquei gozar êle de um
prestígio excepcional entre os elementos teutos.
"Foi servido o "prato único" (Eintopfessen) , constan-
do de uma sopa, pão e chope. Os cartões de ingresso e que
davam direito ao almoço estavam sendo vendidos por um
alemão, que ao mesmo tempo oferecia emblemas pelo preço
de 1 $, sendo de 3 $ o almôço. Quanto aos emblemas, sua
finalidade era o auxílio de inverno (Winterhilfe) .

"Comentando na presença do encarregado da venda a


excelência do espírito de colaboração dos alemães, obtivemos
algumas informações sôbre ditos distintivos. Disse- nos o ale-
mão que as pedras que trazem são extraídas no município de
Soledade, de onde são enviadas para a Alemanha para sua
confecção. Quanto ao boneco de madeira, é uma sobra da
coleta de Natal feita em 38 .

"Também estavam sendo vendidas, por um particular,


gravuras coloridas do chanceler alemão. Não sei precisar o
nome da pessoa que as vendia, nem mesmo insistí, afim de
evitar suspeitas, visto ter me apresentado como jornalista.
Mas, "admirando" uma dessas gravuras, verifiquei tratar-se
de uma impressão dos Irmãos Siegmann. A pessoa em alu-
são é magra, de óculos e tamanho médio.
"Cêrca das três horas da tarde foram anunciadas as dan-
sas. Retirei-me, então, mesmo porque muitos já se encon-
travam alcoolizados.

"O que mais estranhei é que não haviam convidado au-


toridades, nem representantes, o que faz crer tivesse a recep-
A 5. COLUNA NO BRASIL 123

ção do sr. cônsul, em sua residência, como finalidade, a cria-


ção de um ambiente mais íntimo na sede dos Moinhos de
Vento.

"Num canto da sala estava instalada a tenda da " Haus-


buecherei" , dirigida pelo sr. E. Rudolff, antigo chefe da
DAF .

Nada mais presenciei" .

Teria, porventura, uma festa como essa a finalidade de come-


morar, exclusivamente, a data nacional? Por que, então, o “Ein-
topfessen?" Por que a venda de distintivos e postais com retratos
do Fuehrer? Por que a exposição da "Hausbuecherei" ? Não; a data
nacional não passou de pretêsto. O Partido viveu aquelas horas
apoiado na proteção do cônsul.

A respeito de todos êsses fatos, há ainda as declarações de Wal-


ter Nast, convidado para chefe local da "Bund der Schaffenden
Reichsdeutschen" (Doc. n.º 28), declarações prestadas no Cartório
da Delegacia de Ordem Política e Social, e nas quais o declarante,
com a própria culpa, confessa as atividades políticas ilegais do
cônsul alemão.

Vejamos o que disse Walter Nast:

..que suas atividades, como chefe do núcleo da DAF


e das células de São Leopoldo, Sapiranga e Estância Velha,
foram exercidas até o mês de maio do ano de 1938 , conti-
nuando, porém, a exercer suas atividades junto aos seus corre-
ligionários, por determinação do consulado alemão, mas que,
Se não tivesse recebido tais ordens, não teria continuado o
trabalho, em virtude das leis baixadas pelo governo brasileiro
e as quais proibiram atividades políticas; que deseja deixar
êste fato consignado e que uma carta encontrada no arquivo
de sua correspondência, dirigida ao cônsul alemão, e datada.
de 1.º de julho de 1938, foi escrita tão somente para salvar
a sua responsabilidade e provar mais tarde, o que faz agora,
perante as autoridades brasileiras, que assim agira em virtude
de instruções expressas do sr. cônsul Ried.
"
que, diante da carta que o declarante recebeu de
Kurt Steffin, procurou imediatamente o sr. cônsul Ried, a
quem mostrou a carta referida, mostrando-se o sr. cônsul mui-
to admirado com êste procedimento, pois achava que quais-
quer instruções sobre tais assuntos só poderiam ser dadas por
124 AURELIO DA SILVA PY

intermédio dêle, cônsul, motivo por que recomendava ao de-


clarante que não tomasse nenhuma providência sem autoriza-
ção dêle, cônsul .
66
que, quanto ao material da DAF, queimou-o quasi
todo, com exceção, apenas, da documentação apreendida pela
polícia no dia 11 do corrente mês ; que assim agiu, em virtude
das instruções que recebeu do sr. cônsul, no sentido de evitar
que fosse encontrado pela Polícia qualquer documento com-
prometedor; que dos documentos encontrados em seu poder,
os livros foram guardados para seu uso particular e os demais
papéis para provar, em qualquer época, que assim agiu de
acôrdo com as ordens que recebia do sr. cônsul Ried.”

Documento n.º 28

Kurt Steffio a
27.August 1938.
Rio dePostel
Cose 1170 am
Janeiro,
Herrn
Walter Nast ,
Novo Hamburgo C/4 St/
Est.do Rio Gr.do Sul

Sehr verehrter Kamerad Nast !


Ich moechte mich heute mit Ihnen in folgender Angelegenheit in
Verbindung setzen.
Hier in Rio ist im Anschluss an das Ihnen bekannte Dekret vom
18.4. der " Bund der schaffenden Reichsdeutschen" gegruendet und nun-
mehr durch das zustaendige Justizministerium genehmigt worden, wie
aus dem Diario Oficial vom 17.8.38 Seite 16.459 hervorgeht . Ueber
die vorgeschichte der Gruendung ueberreiche ich Ihnen einliegend ei-
nen an 31.5.38 in der hiesigen "Deutsche Rio-Zeitung" erschienenen
Artikel, der Ihnen ueber alles Aufschluss gibt .
Es handelt sich jetzt darum, zu wissen , ob wir nach Ihrem Da-
fuerhalten an Ihrem Platze einen "Bund" bilden koennen und ich wende
mich an Sie mit der Anfrage , ob Sie bereit sind , die dortige Leitung
zu uebernehmen , in welchem Falle ich Ihnen das erwaehnte Diário so-
wie die ordnungsgemacss eingetragenen Statuten , welche die Gruendung
von Filialen von Rio aus vorschen , zugehen lassen wuerde,
Ich moechte als besonders wichtig hervorheben , dass es gar kei-
nen Zweifel darueber geben kann , dass die Rechte unserer Arbeitska-
meraden in jeder Beziehung gewahrt bleiben . Ebenso selbstverstaend-
lich ist , dass dem Bund , dem obengenannten Dekret zufolge , nur Heichs-
deutsche angehoeren duerfen , d.h. , dass Naturalisierte und hier gebo-
rene Kinder reichsdeutscher Eltern nicht Mitglieder sein koennen.
Wir haben bereits neue, sehr handliche kleine Mitgliedsbuecher,
sowie das notwendige rucksachen-Material in Auftrag gegeben, doch
moechte ich Sie heute in der Hauptsache bitten, mir Ihre Stellung-
nahme moeglichst bald zukommen lassen zu wollen .
Soute Ihnen die Ubernahme aus irgendeinem Grunde nicht moeglich
sein, so waere ich Ihnen dankbar , wenn Pie sich dieserhalb mit einem
Ahnen geeigneten erscheinenden dortigen Arbeitskameraden in verbin-
dung setzen wollten.
Hier in Rio koennen wir sagen , was ja auch aus beiliegendem
Artikel zu ersehen ist dass das gesamte Reichsdeutschtum zusammen
steht, um unter allerstrengster seachtung der Landesgesetze unsere
Aufgaben zu erfuelien. Es ist jetzt naturgemaess groesste Bile gebo-
ven, damit die Beitragszahlungen nicht noch mehr in Mueckstand gerator
ich hoffe daher, recht bald von ihnen zu hoeren und , indem ich
Tanca im voraus fuer ihren Einsatz danke , gruesse ich Sie mit
Einschreiben Heil Hitler!
Anlage
A 5. COLUNA NO BRASIL 125

Tradução do doc. n.º 28 :

"Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1938.

Ilmo. Sr.
Walter Nast
NOVO HAMBURGO
Rio Grande do Sul.

Muito prezado camarada Nast.

Desejo tratar, hoje, com o senhor, do assunto seguinte:


em vista de o decreto de 18.4., que conhece, fundou-se aquí
no Rio a "Bund der Schaffenden Reichsdeutschen" "Associa-
ção dos Trabalhadores Alemães) com permissão do Minis-
tério de Justiça, conforme se vê no " Diário Oficial" de
17.8.38, página 16.359 . Sôbre os antecedentes da fun-
dação, remeto-lhe, incluso, um artigo do "Deutsche Rio Zei-
tung" (jornal alemão do Rio) publicado em 31.5.38, o
qual o orientará sôbre tudo.
Trata-se, portanto, agora, de saber se podemos criar aí
uma “Associação" , pelo que me dirijo ao senhor para saber
se está disposto a assumir a direção aí, e , no caso afirmativo,
lhe remeteria o mencionado "Diário Oficial" , assim como os
respectivos estatutos, devidamente registados, os quais per-
mitiriam a criação de filiais do Rio.
Desejo especialmente realçar, por ser de grande impor-
tância, que não pode existir a menor dúvida de que os direi-
tos dos nossos camaradas de trabalho ficam, em todos os sen-
tidos, protegidos. Do mesmo modo, naturalmente, somente
poderão pertencer à Associação alemães natos ; nascidos aquí,
não poderão ser associados, em conformidade com o decreto
acima mencionado.
Já encomendamos livros de associados novos, pequenos
e práticos, assim como o necessário material impresso e soli-
cito-lhe, com insistência, comunicar-me com brevidade se acei-
ta a nossa incumbência.
Caso, por qualquer motivo, não lhe seja possível acei-
tar a nossa incumbência, solicito-lhe ter um entendimento
com algum dos nossos camaradas de trabalho que julgar em
condições de ocupar o cargo.
Aquí no Rio, podemos dizer, conforme se depreende do
artigo incluso, que todos os alemães estão coesos para preen-
cher as nossas aspirações, sob a mais rigorosa observância
das leis do país. Naturalmente, pede-se agora a maior pressa
afim -de que as mensalidades não fiquem ainda mais atrasa-
das.
126 AURELIO DA SILVA PY

Espero, portanto, receber em breve notícias suas e ante-


cipando os meus agradecimentos, saúdo-o com
Salve Hitler!
(a.) KURT STEFFIN".
Registado

Anexo.
Cópia de outro documento :
"Caixa Postal N.º 51
8. September 1938.
Herrn
Kurt Steffin
RIO DE JANEIRO
Lieber Kamerad Steffin!
Ihr Schreiben vom 27.8. ist in meinem Besitz und dan-
ke ich ihnem recht herzlich dafür. Gleichzeitig beglück-
wünsche ich Sie zu dem schönen Erfolg. Ich war heute bei
dem zuständigen Konsulat in Porto Alegre und habe mich
dort mit Herrn Konsul Ried über die Sache unterhalten und er-
warte nähere Nachricht von dort. Das heisst, sobald die
Nachricht von Rio (Botschaft ) an das hiesige Konsulat
kommt, wird Herr Konsul Ried die geeigneten Schritte un-
ternehmen, da, wie Ihnen sicher bekannt ist, zuerst bei der
Regionalbehörde, und das ist Porto Alegre, die Schritte dazu
unternommen werden müssen.
Kameradschaftliche Grüsse und
Heil Hitler !"

Tradução :
8 de setembro de 1938.
"Caixa Postal n.° 51 .
Ilmo. Sr.
Kurt Steffin
RIO DE JANEIRO
Caro camarada Steffin.
Acuso o recebimento de vossa carta de 27.8 . e muito
vos agradeço. Ao mesmo tempo, felicito-vos pelo completo
êxito alcançado.
Estive, hoje, no Consulado, em Pôrto Alegre, tratando
do assunto com o sr. cônsul Ried e aguardo notícias mais
minuciosas daí, isto é, logo que as notícias do Rio (Embai-
xada ) chegarem ao Consulado daquí, o sr. cônsul Ried dará
os passos necessários, pois, como com certeza sabeis, as de-
marches neste sentido serão primeiramente iniciadas junto às
autoridades regionais em Pôrto Alegre.
Com saudações de camarada
Salve Hitler !"
A 5. COLUNA NO BRASIL 127

O documento n.° 29 oferece prova concreta das afirma-


ções de Walter Nast.
Documento n.º 29

WALTER NAST NOVO HAMBURGO


TELEPHONE, 93 RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

NOVO HAMBURGO , den 1. Juli 1939 .

da das
Deutsche Konsulat

Porto Alegre

Beifolgend überreiche ich Ihnen fünf Mitgliedsbücher der


früheren DAF, O.G . Novo Hamburgo .
Es sind ; Albert Walter H. Mitglied º 30 29671 .
Boner Rudolf " N° 30 29674
Martin Walter 69 N° 30 38487
Schall Wilhelm 10 N° 30 358 59
Tubs Johannes " N° 30 26851
Von folgenden Akk . fehlen mir immer noch die Mitgliedsbücher:

Zelle: São Leopoldo : Dalibor Hermana N° 3032879


Obermeyer Faul roch keine No
Vachenfeld Albert N° 30 32269
Wacker Friedrich 1° 301 3504
Volff Eduard 25860

Zelle: Sapyranga : Berngräber Walter N° 30 35062

" Heil Hitler

Tradução do doc. n.º 29 :


WALTER NAST NOVO HAMBURGO
Telefone, 93 ―― Rio Grande do Sul --- BRASIL

Novo Hamburgo, 1.º de julho de 1938 .


Ao Consulado da Alemanha Pôrto Alegre
Incluso, transmito-vos cinco carteiras de sócios da anti-
ga DAF, G. Novo Hamburgo,
128 AURELIO DA SILVA PY

São as seguintes:

Albert Walter M. Sócio N.º 3029611


""
Boner Rudolf 3029674
11
Martin Walter 3038487
27
Schall Wilhelm 3035859
" 3026851
Tups Johannes

Dos Akk. abaixo faltam-me ainda as carteiras de sócios:


Célula: São Leopoldo:
Daliber Herman N.° 3032879
Obermeyer Paul ainda não tem número
Wachenfeld Albert N.° 3032269
Wacker Friedrich 3013604
Wolff Eduard 3025860

Célula : Sapiranga :

Borngräber Walter N.° 3035862

Heil Hitler !"

E os vice-cônsules do interior do Estado afinaram sua conduta


pelo mesmo diapasão.
Esta polícia está certa, também, de que a correspondência po-
lítica do nazismo caminha pelas malas consulares.

As declarações do industrial Walter Nast

"Aos doze dias do mês de maio, do ano de mil novecen-


tos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre, capital do
Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de Ordem Polí-
tica e Social, presentes o respectivo Delegado, bacharel Plínio
Brasil Milano, inspetor Indio Duarte, comigo, José Galvão
Sarti, escrevente de seu cargo, servindo de escrivão na forma
da lei, compareceu WALTER NAST, branco, com 36 anos
de idade, casado, natural da Alemanha, industrial, filho de
Jacob Nast e de Paula Feiber, residente no município de
Novo Hamburgo. Perguntado : quando aportou ao Brasil e
que veio aquí fazer? Respondeu : que aportou ao Brasil no
ano de 1924, vindo como imigrante, exclusivamente para tra-
balhar, residindo no Estado do Rio Grande do Sul, primeira-
mente, em Hamburgo Velho e, ultimamente, em Novo Ham-
burgo, onde é industrial, negociando com couros ; que a 21
de fevereiro do ano seguinte, isto é, em 1925, contraiu núp-
cias na cidade de Lomba Grande, com dona Elza Matte, de
nacionalidade brasileira, possuindo três filhos, todos nascidos
neste Estado. Perguntado : se, depois de estar residindo no
A 5. COLUNA NO BRASIL 129

Brasil, o declarante fez alguma viagem para o exterior, e no


caso afirmativo, para qual país viajou e qual o motivo dessa
viagem ? Respondeu : que, a 30 de novembro de 1934, o
declarante viajou para a Alemanha, exclusivamente para o
fim de preencher o direito do voto como cidadão alemão, na
cidade de Neunkilchen, nas eleições do Saar, regressando no-
vamente para o Brasil a 22 de fevereiro de 1935, aquí che-
gando nos primeiros dias do mês de março do mesmo ano.
Perguntado : se o declarante seguiu para a Alemanha exclu-
sivamente para exercer o direito do voto, como justifica en-
tão o fato de alí haver permanecido pelo espaço de dois me-
ses, mais ou menos ? Respondeu : que durante o tempo de
dois meses, que permaneceu na Alemanha, depois de ter vo-
tado, realizou diversas viagens para conhecer a nova Alema-
nha, permanecendo, ultimamente, oito dias em Berlim com
a intenção de visitar o "Fuehrer" Adolf Hitler, o que não
conseguiu a-pesar- dos esforços que empregou . Perguntado :
em que data o declarante passou a ter contacto ou ligação
com o Partido Nacional-Socialista Alemão e qual a sua ver-
dadeira situação dentro das fileiras dêsse mesmo Partido?
Respondeu : que ingressou no Partido Nacional-Socialista no
ano de 1936, por ser cidadão alemão, passando então a fa-
zer parte do núcleo com sede no município de Novo Ham-
burgo, dirigido pelo sr. Oto Riebes ; o declarante era sócio
contribuinte. Perguntado : qual a contribuição que dava o
declarante para a caixa do Partido e se pode adiantar como
era distribuída a verba arrecadada? Respondeu : que o de-
clarante contribuía com a importância de cinco mil réis men-
sais, o que também supõe ser o que pagavam os demais só-
1
cios, podendo adiantar que as verbas arrecadadas eram em-
pregadas em auxílio aos associados mais necessitados. Per-
guntado: até que data o declarante contribuiu para a caixa
do Partido Nacional-Socialista Alemão ? Respondeu : que,
precisamente, não se pode recordar, supondo todavia que o
último pagamento tenha efetuado em princípios do ano de
1938, já que o declarante não chegou a receber o livro de
sócio, o que só poderia se verificar depois de contribuir por
dois anos consecutivos. Perguntado : se além do núcleo a
que pertenceu em Novo Hamburgo, o declarante ainda não
fez parte de qualquer outra organização estrangeira de cará-
ter político? Respondeu : afirmativamente, que ainda fez
parte da organização D.A.F. (Frente Alemã do Trabalho) ,
contribuindo com a importância mensal de sete mil e quinhen-
tos réis, sendo as importâncias arrecadadas pela caixa dessa or-
ganização igualmente distribuídas, como a do Partido Nacional-
Socialista, em auxílio aos sócios necessitados da mesma orga-
nização. Perguntado : quais as funções ou cargos de diretoria
que o declarante exerceu, quer no núcleo do Partido Nacional-
Socialista de Novo Hamburgo, quer na D.A.F. ? Respondeu :
que no núcleo de Novo Hamburgo do Partido Nacional-Socia-
lista o declarante não exerceu cargo algum, sendo apenas só-
9- 5.1 C.
130 AURÉLIO DA SILVA PY

cio contribuinte ; que na D.A.F. o declarante exerceu as fun-


ções de chefe dirigente do grupo sediado em Novo Hambur-
go. Perguntado : se o declarante pode precisar o número
de sócios que existiam no núcleo da D.A.F. ? Respondeu:
que o número de sócios da D.A.F. atingia a um total de no-
venta sócios, mais ou menos, divididos em três células, situa-
das em S. Leopoldo, Sapiranga e Estância Velha, tôdas su-
bordinadas ao núcleo dirigido pelo declarante ; que quer adian-
tar ainda que as contribuições mensais não eram fixas, sendo
cobradas de acordo com as possibilidades de cada um. Per-
guntado : se o declarante pode precisar até que época foram
as suas atividades como chefe dirigente do núcleo da D.A.F. ,
com sede em Novo Hamburgo, bem como com as células de
S. Leopoldo, Sapiranga e Estância Velha? Respondeu : que
as atividades dêle, declarante, como chefe do núcleo da D.A.F.
e das células a que se refere a pergunta, foram exercidas até
o mês de maio ( meados) do ano de 1938 , continuando po-
rém a exercer suas atividades junto aos seus correligionários,
por determinação do Consulado Alemão, pois se não tivesse
recebido tais ordens não teria continuado trabalhando, em
virtude das leis baixadas pelo Govêrno Brasileiro, que proi-
biu atividades políticas ; que quer deixar consignado, em vir-
tude de uma carta encontrada no arquivo de sua correspon-
dência, dirigida ao Consulado Alemão e datada de 1.° de
julho de 1938, que foi tão somente para salvar a sua res-
ponsabilidade, e provar mais tarde o que faz agora, perante
as autoridades brasileiras, que assim agira em virtude de ins-
truções expressas do sr. Cônsul Ried. Perguntado : se o de-
clarante pode informar qual a pessoa que ficou encarregada
dos negócios da D.A.F. depois de seu fechamento? Respon-
deu: que foi o próprio Consulado que baixou instruções sô-
bre o fechamento da D.A.F. , continuando ainda êle, decla-
rante, como intermediário na arrecadação de livros e liquida-
ção de contas, de tudo dando ciência ao referido Consulado,
que avocou a si tôdas as responsabilidades da D.A.F.. Per-
guntado : como explica o declarante o fato de terem sido
encontradas, no arquivo de sua correspondência, cópias de fa-
turas, pelas quais se constata que diversos sócios da D.A.F.
pagaram, adiantadamente, mensalidades até o fim do ano de
1938? Respondeu: que, efetivamente, regular número de só-
cios pagaram mensalidades adiantadas, não só pelo fato de
se acharem em situação financeira de assim proceder, como
também por julgar passageira a proibição de suas atividades
políticas, alimentando desta forma a esperança de poderem
continuar suas atividades decorrido algum tempo . Pergun-
tado : se de fato pretendiam sócios da D.A.F. organizar uma
outra sociedade ou núcleo, dando outro feitio na sua orga-
nização e, no caso afirmativo, que pode adiantar a respeito?
Respondeu : que em agosto de 1938 recebeu do sr. Kurt Stef-
fin, residente no Rio de Janeiro, uma carta, pela qual era
comunicada ao declarante a reabertura da D.A.F. sob a de-
A 5. COLUNA NO BRASIL 131
1

nominação de BUND DER SCHAFFENDEN REICHS-


DEUTSCHEN ; que ainda na mesma carta consta um rela-
tório sôbre a instalação da primeira sessão, realizada no Rio
de Janeiro, o que é fácil de se verificar, já que o referido
documento consta da correspondência apreendida pul poli-
cia; que a referida carta adianta ainda que a diretoria dessa
nova sociedade providenciava no Rio de Janeiro junto a quem
de direito para a legalização de tal organização ; que ainda
no mesmo documento Steffin solicitava ao declarante que
procurasse organizar um núcleo na cidade onde reside. Per-
guntado : em face da carta que recebera de Kurt Steffin, quais
as providências que êle declarante tomou ? Respondeu : que
diante da carta que recebera de Kurt Steffin o declarante ime-
diatamente procurou o sr. Cônsul Ried, a quem mostrou a
carta em referência, mostrando -se o sr. Cônsul muito admi-
rado por êste procedimento, pois achava que quaisquer ins-
truções sobre tais assuntos só poderiam ser feitas por inter-
médio dêle, Cônsul, motivo por que recomendava ao decla-
rante que não tomasse nenhuma providência sem autorização
dêle, Cônsul. Perguntado : se recebeu instruções do Sr. Côn-
sul Alemão para inutilizar os materiais que tivessem relação
com as atividades políticas do núcleo do Partido Nacional-
Socialista e da Frente Alemã do Trabalho, com sede em No-
vo Hamburgo, e, no caso afirmativo, de que maneira deveria
o declarante proceder? Respondeu : que quanto ao núcleo
do Partido Nacional -Socialista o declarante nada fez , já que
nenhum cargo exerceu na sua diretoria, o mesmo não aconte-
cendo com o material da D.A.F., que queimou quasi todo,
com exceção apenas da documentação apreendida pela Po-
lícia no dia 11 do corrente mês ; que assim agiu em virtude
das instruções que recebeu do sr. Cônsul no sentido de evi-
tar que fôsse encontrado pela Polícia qualquer documento
comprometedor; que, dos documentos encontrados em seu po-
der, os livros foram guardados para o seu uso particular, e
os demais papéis para provar, em qualquer época, que assim
agia de comum acôrdo com as ordens que recebia do sr. Côn-
sul Ried. Perguntado : se efetivamente o declarante e pessoas
de suas relações se reuniam no café Bar, de propriedade de
Paulo Blanke, situado no município de Novo Hamburgo, in-
variavelmente às quintas-feiras à noite, e no caso afirmativo,
quem foi o idealizador de tais reuniões e quais os assuntos
que nelas tratavam? Respondeu : que tais reuniões tiveram
início numa roda de cartas, denominada DOPPELKOPF-
KLUB, às têrças e quintas-feiras de cada semana ; que mais
tarde, tais reuniões se realizavam nas residências dos integran-
tes do núcleo, dr. Guenther Schinke, Hermann Gerstl e do
declarante ; que, mais tarde, por julgarem inconveniente que
tais reuniões se efetuassem nas residências já mencionadas,
resolveram transferí-las, novamente, para o café Bar, do sr.
Paulo Blanke, o que passaram a fazer tôdas as quintas-feiras ;
que ressaltava notar o declarante, o dr. Guenther e Hermann
132 AURELIO DA SILVA PY

foram os iniciadores; convém acrescentar que também parti-


cipavam das mesmas reuniões a maioria das espôsas dos que
compareciam ; que tinham como principal objetivo beberem
chope e tratarem de assuntos referentes à atualidade mundial,
e, muito principalmente, sôbre o progresso da Nova Ale-
manha. Perguntado : se o declarante pode informar se efe-
tivamente os discursos proferidos por Adolf Hitler eram ou-
vidos por êle declarante e por seus amigos, reunidos ou iso-
ladamente? Respondeu : que, como bom alemão que se con-
siderava ser, ouviu pelo rádio todos os discursos proferidos
pelo Fuehrer Adolf Hitler, podendo informar também que
no café Bar, de Paulo Blanke, diversos alemães lá foram
com o mesmo fim. Perguntado : o que o declarante pode
adiantar sobre a frase "Esta noitada exclusivamente para o
auxílio de inverno" (Dieser abend war ausschliesslich für
das WHW bestimmt) , contida no tópico de uma carta da-
tada de 23 de setembro de 1938 e dirigida à Estação de On-
das Curtas Alemã, em Berlim, carta essa apreendida pela Po-
lícia na correspondência encontrada em poder do declarante.
Respondeu : que, como alemães, resolveram todos de comum
acordo contribuir com uma noitada para a campanha de
auxílio que nessa época estava se realizando em benefício dos
alemães pobres ; que o produto total do auxílio, a que vem
de se referir, o declarante ignora, podendo porém adiantar
ter sido tal quantia entregue ao sr. Cônsul Ried, para os
fins convenientes. Perguntado : por que razão usa o decla-
rante nas cartas que escreve das expressões : "camarada e par-
tidário" (Parteigenossen e Arbeitskameraden ) , conforme se
verifica pelas cópias das cartas apreendidas em seu poder?
Respondeu : que tais expressões eram usadas pelo declarante
desde o início da organização do núcleo que dirigiu, conti-
nuando a usá- las pelo hábito, sem qualquer outra intenção.
Perguntado : por intermédio de quem o declarante veio a ter
conhecimento da ida de funcionários da polícia da Reparti-
ção Central, ao município de Novo Hamburgo, onde reside?
Respondeu que há 15 dias, mais ou menos, o declarante
foi avisado pelo dr. Guenther Schinke, que muito breve
iriam receber uma visita da Polícia, deixando o declarante de
tomar qualquer medida de precaução por não ter acreditado
no que lhe dissera o dr. Guenther; que, finalmente, deixa
consignado em suas declarações, não mais exercer qualquer
atividade política, passando a viver exclusivamente para O
seu trabalho e para a sua família. Nada mais tendo a dizer,
mandou o Delegado encerrar o presente têrmo que, depois
de lido e achado conforme, vai devidamente assinado.

(a. ) Plinio Brasil Milano


(a. ) Indio Duarte
(a . ) Walter Nast
(a. ) José Galvão Sarti."
A 5. COLUNA NO BRASIL 133

Depois do exame desta prova será ainda possível acreditar-se


na sinceridade dos propósitos testemunhados pela " Bund der Schaf-
fenden Reichsdeutschen" ao Ministro da Justiça?
Certamente, não.
Está evidenciado que a sua verdadeira finalidade é política e
não beneficente e que o seu objetivo não foi organizar uma socie-
dade dentro dos moldes da Constituição e, sim, incorporar um ver-
dadeiro instituto, congregando todos os órgãos ativos do Partido
Nacional- Socialista.
Se isso não é verdade, como então conciliar as afirmações dos
responsáveis pela nova sociedade relativamente ao atraso de mensa-
lidades de sócios que ainda nem sequer estavam inscritos, e a enco-
menda de novos livros, se a sociedade apenas começava a viver?
Não precisamos ir além; basta lembrar o seguinte trecho do
discurso do sr. Paul Bremer, atual presidente da "Bund der Schaf-
fenden Reichsdeutschen", em sua sessão inaugural:

"Com a publicação do decreto colocamo-nos na emer-


gência de tomar uma decisão rápida, clara e exata para po-
der cumprí-lo, pois teremos dois caminhos a seguir: ou per-
der tudo o que foi construído durante longos anos de sacri-
fícios por mais de 1.700 sócios, ou tentar um entendimento
que, de qualquer modo, permita a possibilidade de defender
e garantir os interêsses dos sócios. (Deutsche Rio Zeitung
— 31.5.1938 ) ."

Mais claro não é possível. E' a confissão oficial.

Tradução do doc. n.º 30 :

"BUND DER SCHAFFENDEN REICHSDEUTSCHEN

(Associação dos Trabalhadores Alemães )


Secção: C/11

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1938.


Ilmo. Sr.
Walter Nast
Caixa Postal, 51
NOVO HAMBURGO (RIO GRANDE DO SUL)

Caro camarada Nast.

Agradeço a sua comunicação de 8 dêste mês a qual


muito me alegrou . As notícias pedidas devem ter chegado
134 AURELIO DA SILVA PY

ao consulado daí. Como é necessário o registo local, preen-


chendo, em todos os sentidos, tôdas as formalidades previs-
tas em lei e, para a respectiva instalação, o necessário con-
sentimento da polícia, e para evitar ainda maior perda de
tempo, anexo os estatutos registados e remeto-lhe, sob regis-

Documento n.º 30

N K
a
Ba
LaB Bund der schaffenden Reichsdeutschen
Unido Beneficente e Educativa Alema

Rio de Janeiro, am 19.September 1938.


Herrn
C/11 Walter Nast ,
Caixa postal , 51
Umjere Zeichen (Angabe unerlässlich) Novo Hamburgo ( Rio Gr.do Sul),
Ihre Nachricht vom Ihre Zeichen

Lieber Kamerad Na sti


Ich danke Ihnen fuer Ihre Mitteilungen vom 8.ds.Mts.ueber
die ich mich sehr gefreut habe. Die fraglichen Nachrichten sind
inzwischen gewiss beim dortigen Konsulat eingetroffen. Da auch
eine oertliche Eintragung erforderlich sein wird, um auch in jeder
Beziehung allen gesetzlichen Vorschriften zu genuegen, und um bei
Veranstaltungen die erforderliche polizeiliche Genhemigung ein-
bolen zu koennen and
Um nicht noch weitere Zeit zu verlieren, lege ich Ihnen heute
die eingetragenen Statuten bei und sende Ihnen als eingeschriebene
Drucksache das Diario yom 17.8.zu, in dem Sie auf Seite 16.459
die Eintragung finden.
Ich hoffe,dass Sie recht bald werden an die Arbeit gehen koen-
nen und stehe zu jeder Auskunft , die Sie benoetigen , selbstverstand-
lich gerne zu Ihrer Verfuegung. Nachdem die von unseren alten Ar-
beitskameraden erworbenen Rechte in jeder Beziehung gewahrt bleiben ,
laeuft hier alles wie am Schnuerchen.
Ich hoffe, recht bald wieder von Ihnen zu hoeren und gruesse
Sie mit den besten Wuenschen fuer guten Erfolg
Heil Hitler!
Luser's
coente
Be•FUnneifat.vresting Kurn
Einschreiben . Abori
Anlage .

en aw 3:10.??
schach
am 3.10. 88
beauts.

Verwaltungsstelle Rue de Alfandega 74, 2.º fernsprecher 23-1232 Postanschrift: Caixa Postal 1170
A 5. COLUNA NO BRASIL 135

to, como impressos, o Diário de 17.8 no qual, na página


16.459 , encontrará a notícia sôbre o registo efetuado.
Espero que o senhor inicie o serviço com a maior bre-
vidade e estou, naturalmente, com o maior prazer, à sua dis-
posição para qualquer informação que necessitar. Depois
que os nossos velhos camaradas de trabalho tiverem conse-
guido os direitos, correrá tudo aquí às mil maravilhas.
Espero receber em breve, novamente, notícias suas e
saúdo-o com os melhores votos de completo êxito .

Salve Hitler !

(a.) Kurt Steffin".


Registado

Anexo.

Recebida em 3.10.38 .
Respondida em 3.10.38.

Cópia de outro documento :

"Caixa Postal n.º 51


3. Oktober 1938.
Herrn
Kurt Steffin
RIO DE JANEIRO
Betr.: 6/11
Ihr Schreiben vom 19.9.38
Lieber Kamerad Steffin!

Ihren Brief habe ich heute dankend erhalten , ebenso


erhielt ich dieser Tage auch das Diario Oficial vom 17.8.38.
Auch hierfür herzlichen Dank.
Sie schreiben in Ihrem Brief: "ich lege Ihnen heute die
eingetragenen Statuten bei ..." leider vermisse ich diese, es
ist nichts im Brief drin gewesen und der Brief ist auch nicht
geöffnet worden, ich bitte Sie daber mir postwendend die
Statuten senden zu wollen.
Nun verschiedene Fragen :
Wie wird die Beitragszahlung gestaffelt?
Gilt der früher festgelegte Sotz?
Gibt es Quittungsmarken?
Müssen die Beiträge nachgezahlt werden?
Was macht man mit den Ak die nicht nachzahlen
wollen?
136 AURELIO DA SILVA PY

Gibt es eine Zeitschrift?


Es gibt noch so viele Fragen, aber im Moment komme
ich auch nicht drauf. Die eine oder andere welche ich ver-
gessen habe, werde ich Ihnen später übermitteln .
Kameradschaftliche Grüsse und

Heil Hitler!

(ass. ) Walter Nast".

Tradução :

3 de outubro de 1938.
"Caixa Postal, 51
Ilmo. Sr.
Kurt Steffin
RIO DE JANEIRO Referência : C/ 11
Sua carta de 19.9.38.
Caro camarada Steffin .

Recebí, hoje, agradecido, a sua carta, assim como, há


dias, o Diário Oficial de 17.8.38, pelo que muito agradeço .
O senhor escreveu-me : anexo os estatutos registados ..
porém, infelizmente, não os encontrei dentro da carta e esta
também não foi aberta ; solicito-lhe, portanto, remeter-me os
estatutos pelo correio.
Agora, diversas perguntas :
Como será feito o pagamento das mensalidades?
Vigora a antiga mensalidade?
Existem selos de recibo?
As mensalidades devem ser pagas posteriormente?
Como se deve proceder com os sócios que não quiserem
pagar posteriormente?
Existe uma revista?
Existem muitas outras cousas a perguntar e que, no
momento, não me ocorrem .
Uma outra cousa que esquecí, perguntarei mais tarde.
Com saudação camarada
Salve Hitler !
(a. ) Walter Nast."

Notícia publicada pelo "Deutsche Rio Zeitung"

BUND DER SCHAFFENDEN REICHSDEUTSCHEN

Wir erhielten nachstehenden Bericht :


Am vergangenen Donnerstag, am 26. ds. Mts , batte
das Deutschtum von Rio de Janeiro einen grossen Tag, sei-
nen grossen Tag.
A 5. COLUNA NO BRASIL 137

Als am 18. April ds. Js. das Dekret erschien durch


welches die Brasilianische Regierung in einschneidender Weise
die Taetigkeit der in Brasilien bestehenden auslaendischen Ve-
reine und sonstigen Organisationen einschraenkte und regel-
te, da draengte sich uns als erste und schwerste die Frage auf:
Was wird aus der Deutschen Arbeitsfront? Es ist wohl kei-
ner unter den vielen ihrer Mitglieder, der sich nicht in den
Wochen seit Erscheinen des Dekrets immer wieder mit dieser
Frage beschaeftigt haette, und es ist wohl auch keiner, der
nicht mit Unruhe und Spannung auf eine Klaerung wartete.
Fuer den 16. Mai war von der Leitung eine Generalver-
sammlung einberufen worden, aber sie musste verschoben
werden . Am Mittwoch, dem 24. Mai, wurde die behoerdli-
che Erlaubnis erteilt. Nur 24 Stunden blieben fuer die Vor-
bereitungen.
Schon lange vor Beginn der auf 8,30 Uhr angesetzten
Veranstaltung fuellen sich die grossen Raeume des Deutschen
Heimes mit einer erwartungsfrohen Menge. - Kein Platz ,
kein Stuhl mehr frei und immer noch Neuankömmlinge.
Die beliebte Kapelle spielt schnittige deutsche "Weisen und
sorgt dafuer, dass die Zeit zum Beginn wie im Fluge dahin-
geht." Reicher Beifall lohnt die in kuenstlerischer wie in
technischer Hinsicht glänzenden Leistungen des Orchesters.
Noch ein kurzer flotter Marsch und jetzt tritt Herr Paul
Bremer hinter das Rednerpult, und eroeffnet die Versamm-
lung. - In atemloser Stille und mit groesster Aufmerksam-
keit folgen die Anwesenden dem Vortrage des Redners.
Schon nach den ersten Worten fuehlt man, dass der Kontakt
zwischen der Versammlung und dem Vortragenden hergestellt
ist, der in fesselnder, lebendiger und überaus klarer Weise
zu den uns alle beschaeftigenden Problemen Stellung rimmt
Haeufig von spontanem Beifall unterbrochen, fuehrt Herr
Bremer in einstuendiger Darlegung ungefaehr folgendes aus :
Es kann nicht mehr der geringste Zweifel darueber bes-
tehen, dass durch das Dekret vom 18. April die DAF direkt
betroffen wird und dass sie daher, ebenso wie verschiedene an-
dere Organisationen, vom Tage der Veroeffentlichung des De-
kretes ab aufgeloest ist. - Fuer die Liquidation standen ihr 30
Tage zu und diese Zeit ist auch zweckentsprechend verwen-
det worden, sodass am 17. Mai die gesetzlich vorgeschrie-
bene Abwicklung vollzogen war . Es ist wichtig daran zu
erinnern, dass als vor nahezu zwei Jahren, die hiesige Deut-
sche Arbeitsgemeinschaft durch den Redner in die Heimator-
ganisation der DAF eingegliedert wurde, dieses in Uebereins-
timmung mit dem allgemein geltenden Rechte begriffen in
vollkommen legaler Weise unter den Augen und mit Dul-
dung der brasilianischen Behoerden geschah. - "Schon da-
mals vollzogen wir" , so sagte der ehemalige Kreiswalter der
DAF. "eine reinliche Scheidung zwichen Reichsdeutschen und
denjenigen Volksdeutschen, die nicht den deutschen Pass be-
138 AURELIO DA SILVA PY

sitzen. Damals mussten wir sehr gegen unseren Willen, ei-


nen scharfen Trennungsstrich ziehen zwischen uns und unse-
ren oesterreichischen Bruedern . ― Diesen Strich hat Adolf
Hitler in der Zwischenzeit weggewischt, doch bestand die
Auffassung, dass die doppelstaatlichen Arbeitskameraden un-
beschadet der DAF weiter angehoeren koennten." Dass
dies nicht der Fall ist, geht aus dem wiederholt erwaehnten
Dekret einwandfrei hervor. Herr Bremer benutzte die
Gelegenheit, um allen seinen treuen, unverdrossenen Mitarbei-
tern oeffentlich zu danken, die bis zur Aufloesung der DAF
in vorbildlicher Einsatzbereitschaft fuer das Gesamtwohl tae-
tig waren und hob besonders die Verdienste hervor, die sich
der ehemalige Ortsgruppenwalter Herr Steffin, sowie die Her-
ren Albrecht und Winterstein erworben hatten.
Mit dem Erscheinen des Dekrets vom 18.4.38. sahen
wir uns vor die Notwendigkeit gestellt, schnelle, klare und
richtige Entschluesse zu fassen und zur Durchfuehrung zu
bringen, denn es handelte sich darum, entweder alles zu ver-
lieren, was in jahrelanger opferwilliger Aufbauarbeit von den
ueber 1.700 Mitgliedern geschaffen worden war, oder aber
unter Anpassung an die neue Lage zu versuchen, die Interessen
der Mitglieder so weit als moeglich wahrzunehmen und zu
sichern . --
Herr Bremer teilte der Versammlung dann mit,
dass unter Heranziehung von erstklassigen Anwaelten ein
Statut ausgearbeitet worden sei, welches in jeder Weise den
brasilianischen Gesetzen entspricht. ― Unter Berufung auf
das Recht, welches der Artikel 3 des Dekrets vom 18. April
1938 den Auslaendern gibt, schlaegt der Redner der Versamm-
lung vor, eine Vereinigung von Reichsdeutschen zu bilden,
fuer welche die Bezeichnung Bund der Schaeffenden Reichs-
deutschen gewaehlt wird. Fuer die Dauer des ersten Ge-
schaeftsjahres wird folgender Vorstand vorgeschlagen :

1. Vorsitzender: Herr Paul Bremer.


2. Vorsitzender: Herr Willi Wolfram.
Schriftfuehrer : Herr Adolf Coustol.

Beide Vorschlaege wurden von der Versammlung eins-


timmig genehmigt. Es gelangt nunmehr durch Herrn Cous-
tol das Statut zur Verlesung. Danach ergreift wieder Herr
Bremer das wort und gibt eine interessante Uebersicht ueber
die gegen frueher eingetretenen Aenderungen : In erster
Linie hat die neue Vereinigung, entgegen der aufgeloesten
DAF, keinerlei direkte oder indirekte Bindungen nach Deut-
schland. Wir sind also wieder ganz allein auf uns und un-
sere Kraft gestellt, ein Grund mehr, treu und fest zueinander
A 5. COLUNA NO BRASIL 139

und zur Gemeinschaft zu stehen. Ferner wird der neue Bund


nicht nach dem Fuehrerprinzip geleitet werden, sondern die
Beschluesse werden auf Vorschlag des Vorstandes durch die
Generalversammlung gefasst. Ueber Zweck und Ziel des
"Bundes der schaffenden Deutschen" liess sich der Vortragen-
de dahingehend aus, dass derselbe seine Hauptaufgabe darin
sieht, in erster Linie dafuer Sorge zu tragen, dass dem ein-
zelnen schaffenden Deutschen diejenige soziale Fuersorge zu-
teil wird, deren er durch die Aufloesung der DAF verlustig
geht, also hauptsaechlich Invaliden- und Erwerbslosenunters-
tuetzung . - Das Arbeitsgebiet des Bundes ist aber nicht hie-
rauf beschraenkt, sondern soll, mit moeglichen Aenderungen,
Einschraenkungen oder Erweiterungen, wie folgt gegliedert
werden :

1 ) Soziale Leistungen ;
2) Stellenvermittlung (bedeutend erweitert) ;
3) Berufsausbildung und -beratung durch geschulte
Fachkraefte (Lehrkurse fuer Maschinenschreiben,
Stenographie, Deutsch, Portugiesisch, Englisch, Tech-
nisches Zeichnen, Gewerbeunterricht) ;
4) Kunst und Kultur ( Herausgabe der Bundeszeitung,
Musik, Theater, Bibliothek, Veranstaltung von Kon-
zertabenden und Vortraegen bildender und wissen-
schaftlicher Natur) ;
5) Rechtsberatung (Arbeitsrecht) ;
6) Geschaeftsordnung.

Der Redner gibt weiter bekannt, dass beabsichtigt ist,


eine Kommission von drei Mitgliedern zu ernennen, die mit
fuer die richtige Verwendung der eingehenden Beitraege sorgt.
Ferner soll ein Ausschuss gebildet werden, welcher in From
von "Richtlinien" die Pflichten und Rechtedes Bundes und
seiner Mitglieder genau festlegt.
Durch Einlegen einer Pause von 10 Minuten wurde den
Anwesenden Gelegenheit gegeben, sich in Form von schrif-
tlichen Anfragen Klarheit ueber bestehende Zweifel zu ver-
schaffen und man darf es als Zeichen von grossen Interesse
werten, dass von dieser Moeglichkeit recht stark Gebrauch
gemacht wurde. Nach Wiederbeginn verlas der Redner
die einzelnen Anfragen und gab gleichzeitig die esforderlichen
Auskuenfte und Erklaerungen . Mit einem Gedenken an
den Fuehrer aller Reichsdeutschen wurde der ofizielle Teil der
Gruendungsversammlung "Bund der schaffenden Reichsdeut-
schen geschlossen. Bei Musik, Tanz und froher Unterhal-
tung verbrachten die Anwesenden dann noch einige Stunden
in kameradschaftlichem Beisammensein, mit dem Bewusstsein,
einen historischen Augenblick im Leben der Deutschen Kolo-
nie von Rio de Janeiro miterlebt zu haben."
140 AURELIO DA SILVA PY

Tradução :

BUND DER SCHAFFENDEN REICHSDEUTSCHEN


(Associação dos Trabalhadores Alemães)

Recebemos a notícia seguinte:


Na quinta-feira passada, 26 do corrente, os alemães do
Rio de Janeiro viveram um grande dia. Quando, em 18 de
abril dêste ano, foi baixado o decreto pelo qual o governo
brasileiro, de uma maneira positiva, ordenou o fechamento
de sociedades e outras organizações, surgiu, para nós, como
44
principal e difícil, a pergunta : o que será da Frente Alemã
do Trabalho?" Não houve um, entre os seus numerosos
sócios, que, na semana em que foi baixado o decreto, não
se preocupasse com esta pergunta e não houve quem não
aguardasse, com ansiedade e curiosidade, um esclarecimento
sôbre o assunto . Para 16 de maio foi convocada uma as-
sembléia geral dos sócios, a qual foi transferida. Na quarta-
feira, 24 de maio, o governo concedeu licença para realizá-la.
Dispúnhamos, apenas, de 24 horas para os preparativos. Já
muito antes das 8,30, hora marcada para a assembléia, as
grandes salas da Casa Alemã estavam repletas de uma mul-
tidão ansiosa. Depois que a orquestra executou diversas pe-
ças e marchas alemãs, o sr. Paul Bremer assomou à tribuna
e abriu a assembléia. No maior silêncio e com a maior aten-
ção, os presentes ouviram a palavra do orador. Com pala-
vras claras e precisas, explicou a situação que a todos tanto
preocupava. Interrompido por diversos apartes, o orador
prosseguiu no seu discurso da maneira seguinte : não pode
existir mais a menor dúvida de que, em conformidade com
o decreto de 18 de abril, a Frente Alemã do Trabalho foi
diretamente atingida, assim como diversas outras organiza-
ções, as quais deverão ser dissolvidas a contar da data da
publicação do decreto. Para a dissolução, tínhamos o pra-
zo de 30 dias, de modo que, em 17 de maio, a lei estivesse
inteiramente cumprida. Torna-se importante recordar que,
há quasi dois anos, as classes trabalhadoras alemãs, por inter-
médio do orador, ligaram-se à Frente Alemã do Trabalho,
na Alemanha, em conformidade com os direitos, então legal-
mente em vigor, fato êste que se realizou sob as vistas e tole-
rância das autoridades brasileiras. "Já antigamente" , disse o
então dirigente da Frente Alemã do Trabalho, "existia uma
separação completa entre os alemães natos e os alemães que
não possuíssem o passaporte alemão. Antigamente, muito
contra a nossa vontade, éramos obrigados a manter uma rigo-
rosa separação entre nós e os nossos irmãos austríacos. En-
trementes, Adolf Hitler removeu esta separação, existindo a
compreensão de que os camaradas, possuidores de dupla na-
cionalidade, podem pertencer à Frente Alemã do Trabalho.
O sr. Bremer aproveitou a ocasião para agradecer aos seus
A 5. COLUNA NO BRASIL 141

fiéis e infatigáveis auxiliares, que o ajudaram na dissolução


da Frente Alemã do Trabalho, e elogiou , especialmente, o
ex-dirigente do núcleo, Sr. Steffin, assim como os srs. Al-
brecht e Winterstein pelos relevantes serviços prestados. Com
a publicação do decreto de 18.4.38, encontramo-nos na ne-
cessidade de tomar uma decisão rápida , clara e exata, para
poder cumprí-lo, pois somente tínhamos dois caminhos a se-
guir: ou perder tudo o que foi construído, durante longos
anos de sacrifícios, por mais de 1.700 sócios, ou tentar um
entendimento que, de qualquer modo, permitisse a possibili-
dade de defender e garantir os interêsses dos sócios. O sr.
Bremer comunicou à assembléia que, por uma comissão pre-
viamente nomeada, foram redigidos os estatutos, os quais, sob
todos os pontos de vista, satisfazem às leis brasileiras. Am-
parado nos direitos que o artigo 3 , do decreto de 18 de abril
de 1938, concede aos estrangeiros, o orador propôs à assem-
bléia a criação de uma associação composta , exclusivamente,
de alemães natos, sob a denominação de "Bund der Schaffen-
den Reichsdeutschen" (Associação dos Trabalhadores Ale-
mães) . Para dirigir a associação, durante o primeiro ano,
foi proposta a diretoria seguinte:
1.º Presidente sr. Paulo Bremer
2.º Presidente sr. Willi Wolfram
Secretário Adolf Coustol

sendo ambas as propostas aprovadas por unanimidade de vo-


tos. Em seguida, o sr. Coustol procedeu à leitura dos esta-
tutos. Depois, o sr. Bremer tomou novamente a palavra e
fez uma interessante exposição sôbre as alterações ocorridas.
Em primeira linha, a nova associação, ao contrário da Frente
Alemã do Trabalho, não tem absolutamente ligação nem
direta nem indiretamente com a Alemanha. Isto constitue
um motivo para que nós nos esforcemos para tornar-nos
unidos e fiéis à comunidade. Além disto, a nova Associa-
ção não se regerá pelos princípios do Fuehrer, ao contrário,
as resoluções serão propostas pela Diretoria e apresentadas à
aprovação da assembléia geral. Sôbre os fins e finalidade da
Associação dos Trabalhadores Alemães, o orador informou
que a preocupação principal seria, em primeira linha, assegu-
rar a cada trabalhador alemão os mesmos auxílios sociais
prestados pela Frente Alemã do Trabalho, principalmente
aos inválidos e aos desamparados. O campo de ação da As-
sociação não é limitado ; pelo contrário, com possíveis altera-
ções, abrangerá mais o seguinte :
1. auxílio social ;
2. intermediária de empresas (amplamente desenvolvi-
da) ;
3. ensino profissional e conselhos por pessoa idônea
(curso de dactilografia, estenografia, alemão, portu-
guês, inglês, desenho técnico e profissional ) ;
142 AURELIO DA SILVA PY

4. arte e cultura, jornais do Rio, música, teatro, biblio-


teca, concertos e conferências científicas;
5. direito do trabalhador ;
6. parte comercial .

O orador informou que era intenção nomear uma CO-


missão de três sócios para estudar o verdadeiro destino a dar
às mensalidades cobradas. Além disto , será nomeada uma
comissão para " em linhas gerais" determinar os deveres e os
direitos da Associação e dos sócios. Aos presentes foi con-
cedido um intervalo de 10 minutos para, por escrito, pedirem
esclarecimentos, caso tivessem alguma dúvida, devendo todos,
como prova de interêsse, fazerem o mais intensivo uso possí-
vel do prazo. Prosseguindo, o orador respondeu a tôdas as
perguntas e deu, ao mesmo tempo, as necessárias informações
e esclarecimentos. Com uma homenagem ao Fuehrer, por
parte de todos os alemães, foi encerrada a sessão de fundação
da Associação dos Trabalhadores Alemães. Com música e
dansas, os presentes divertiram-se durante mais algumas ho-
ras, concios de que a colônia alemã do Rio de Janeiro viveu
um momento histórico."
Teuto-brasileiros lutam contra o

Partido Nazista

“ Estamos atravessando dias de completa obscurida-


de. Mas, é precisamente em tais ocasiões que deve-
mos todos apegar-nos, resoluamente, à fé que a
todos nos anima, à fé no destino de homens livres
e no supremo valor da moral Cristã."

Cordell Hull.

Dentro da Alemanha e, até certo ponto, dentro da maioria dos


países atualmente ocupados pelos exércitos alemães, graças a estes
dois implacáveis instrumentos de execução imediata e a longo pra-
zo: - a decapitação a machado e o campo de concentração - o nazis-
mo não deixou margem para a formação de uma oposição organi-
zada ponderável . Porisso, o panorama político nacional do III
Reich oferece o impressionante aspecto de uma unanimidade mono-
lítica. Só a queda de Hitler e do nacional-socialismo dirá um dia
até onde vai a apregoada coesão do povo alemão em tôrno do
Fuehrer.
Fora da Alemanha, porém, e não só da parte dos refugiados,
entre os quais se encontram os maiores expoentes da cultura alemã,
como também da parte de antigos emigrantes e seus descendentes,
o nazismo defrontou com uma oposição lúcida e decidida, distinta
pelos elementos que a compõem e numericamente forte para per-
mitir a formação de um movimento de "alemães livres" no exterior,
hoje centralizado no Canadá, sob a direção do jornalista Otto Stras-
ser. Estes homens, em sua luta contra a tirania nazi, embora prote-
gidos pelas instituições dos países democráticos onde residem, não
trilharam um caminho fácil. Em virtude da onipresença da Ges-
tapo, êles, com mais razão ainda, tiveram de lutar duramente e al-
guns tombaram às mãos dos agentes dessa sanguinária polícia polí-
tica. Mesmo em Pôrto Alegre, tornou-se notório o caso do proprie-
tário da Confeitaria Jan, antinazista levado à auto-eliminação pelo
"boycott" de sua casa de negócio e ruína comercial consequente.
Fizemos estas considerações como um tributo à dignidade de
milhares de imigrantes alemães e teuto-brasileiros que, fiéis à sua
nova pátria, lutaram e lutam, contra a ação antinacional e desagre
gadora do nazismo, expondo-se a tôda a sorte de riscos que sua ati-
tude envolve. A essa legião pertence o dr. Franz Metzler, ex-pro-
prietário e diretor do jornal teuto-brasileiro "Deutsches Volksblatt",
e de cuja atuação, como dirigente antinazista, serve de testemunho
144 AURELIO DA SILVA PY

o memorial que dirigiu ao dr . Miguel Tostes, secretário do Interior


em nosso Estado, e que a seguir transcrevemos:

"Se tomei a liberdade de exprimir a V. Excia., em au-


diência que gentilmente me concedeu, alguns pontos de vista
relativos à integridade e unidade do povo brasileiro, os quais
deixo aquí exarados, é porque me sentia a isso autorizado,
pois, como jornalista brasileiro que consagra seus serviços à
comunidade nacional, do que, aliás, um bom brasileiro não
se pode eximir, tenho sustentado, já há anos, ou melhor,
desde que se tornaram perceptíveis essas correntes que, por
meio de uma desnacionalização conciente intentada na parte
da população brasileira descendente de alemães, desenvolviam
sua atividade visando o dissídio da família brasileira, uma
luta que o público descendente de alemães acompanha com
vivo interêsse e a qual posso, sem exagêro e sem falsa mo-
déstia. considerar como um serviço que presto à pátria bra-
sileira.
Sejam-me permitidas, desde já, algumas palavras sôbre
a referida luta, que se trava nos meios teuto-brasileiros e a
qual, sob a designação "O dissídio na colônia alemã” , foi
também em casos isolados comentada nos jornais impressos na
língua do país. Acho esta exposição preliminar necessária,
visto as escassas publicações na imprensa, em língua verná-
cula, não serem suficientes para se apresentar um quadro exa-
to das íntimas conexões do caso e do atual aspecto da questão.
Já as epígrafes publicadas pela imprensa ( "O dissídio na co-
lônia alemã" e outras) e as notícias relativas às ocorrências
em aprêço dão lugar a mal -entendidos e a equívocos, pois
se trata não tanto de uma cisão no seio da "colônia alemã",
constituída de cidadãos alemães domiciliados entre nós, mas
da defesa empreendida por brasileiros da etnia alemã contra
a infiltração nazista. Trata-se, para me servir de uma ex-
pressão bem concreta, da reação do verdadeiro sentimento
patriótico dos descendentes dos imigrantes alemães de antigas
gerações contra as transgressões da organização , em país es-
trangeiro, dum partido político de nacionalismo exótico, par-
tido que, com o equipamento intelectual do racismo totali-
tário, quer por conseguinte dominar todos quantos em suas
veias possuem sangue alemão. Da colônia alemã propria-
mente dita, só parte e, pode-se dizer, a minoria apóia
o partido e milita em suas fileiras. A maioria dos imigran-
tes alemães considera-se ainda hoje, como dantes os nossos
ascendentes, nada mais que imigrantes, pois vieram para o
nosso país a-fim- de procurar trabalho e pão, bem como aquí
encontrar para seus filhos uma pátria em que pudessem, com
tôda a dedicação, desenvolver suas energias. Não querem
portanto saber de vínculos políticos que os prendam à sua
pátria de origem no que concerne à organização criada para
A 5. COLUNA NO BRASIL 145

a Alemanha e extensiva aos alemães no estrangeiro, a qual


é conhecida por Partido Nacional - Socialista.
Por motivos de tática, negam os corifeus do partido na-
zista veleidades de mando sôbre os seus compatriotas no ex-
terior, e particularmente de expansão entre cidadãos brasilei-
103, mediante frases inspiradas ; mas suas ações são uma elo-
quente negação do que apregoam . Basta lembrar as ocorrên-
cias em numerosas associações de brasileiros de etnia alemã,
das quais foi exigida categoricamente a incorporação a ligas
sediadas em Berlim e as quais são indicadas por estadistas do
Terceiro Reich como portadoras de problemas políticcs. Tam-
bém se poderiam coligir numerosas opiniões, que valem por
programas, de estadistas alemães que informam, dum modo
autêntico, irrefutável, dos verdadeiros objetivos da política
nazista, bem como sôbre a missão ambígua da organização
nacional-socialista para os países estrangeiros. Em lugar de
muitas, seja aquí reproduzida uma alocução do ministro ale-
mão dr. Frick, a qual tem a vantagem de ser de data recente.
Segundo o jornal "Deutsche Allgemeine Zeitung" , de 28 de
novembro de 1937, publicado em Berlim, é do mencionado
discurso o seguinte trecho :

"Povo da Mãe- Pátria e Alemães em geral


Discurso do Dr. Frick, em Gleiwitz.

Gleiwitz, 27-11 .

Em seu discurso à noite de sexta-feira, em Gleiwitz, o


ministro dr. Frick expendeu idéias gerais sobre a situação
histórica e política do povo alemão. Ao fazer considera-
ções sobre os grandes sucessos da política externa, o dr. Frick
ocupou-se do problema colonial, que, declarou, está, já desde
muito, como questão vital, no cartaz da nação alemã .
Em seguida, o ministro, tratando dos assuntos políticos
de particular importância para as zonas limítrofes da Alta-
Silésia, assim se exprime :

"Preciso lembrar que o povo alemão não é constituí-


do tão somente pelos 65 milhões que vivem no Reich,
e sim dos 100 milhões de alemães que vivem espalhados
por tôda a Terra. E' lamentável para o povo alemão o
fato de não se ter até hoje conseguido reunir êsses ale-
mães, que se reconhecem como partes integrantes do
povo alemão, em uma única nação, como corresponde-
ria aos sentimentos e caracteres nacionais.”

Diz o orador que o programa do Partido Nacional-


Socialista esposa notadamente o princípio :

105. C.
146 AURELIO DA SILVA PY

"Reunir tôda a gente alemã , sôbre a base da autodeter-


minação dos povos, em uma Grande Alemanha."

Seja êsse, conforme o orador, o ideal que nos acena.


Aduz que conhecemos as dificuldades que se opõem à sua
realização, pois os limites estabelecidos entre o povo, tais
como hoje existem , já nô -los legaram os séculos ; que há.
nas massas, fraccionamentos , e que há aglomerados onde difí-
cil se tornaria determinar as raias. Que êsse ideal continua-
ria a ser, para nós, um "ideal".

"Mas o fato com que jamais nos conformaremos é o


de se perseguirem e hostilizarem alemães, sob domínio
estranho, por motivo de suas convicções raciais. Não
é êste um caso de mera política interna do Estado que
exerce o seu poderio sôbre nossos compatriotas germâ-
nicos ; é êste um caso que igualmente afeta mui de perto
a mãe-pátria."

A doutrina nazista é um caso de política interna na


Alemanha até o ponto em que se refira a questões inerentes
à constituição política do Reich. As teorias, porém, prega-
das por um racismo totalitário e que representa uma parte
integrante, senão francamente a parte fundamental, do mun-
do nazista, interessam a todos os Estados e a todos os povos
que em qualquer tempo acolheram em seu seio indivíduos
de etnia alemã . Também o Brasil deve meditar sôbre se,
dentro dos limites de seu poder, pode tolerar ou aprovar
uma doutrina que considera integrados na comunhão nacio-
nal alemã , sob o domínio do Reich, a todos os indivíduos
de sangue alemão, dentro e fora das fronteiras da Alema-
nha, inclusive, conseguintemente, os brasileiros descendentes
de alemães.
Está claro que o Brasil não poderia consentir na gene-
ralização ou propagação de tal doutrina em seu território,
no seio de sua população, e era de prever, já desde antes,
que os poderes competentes da nação brasileira tomariam
mais cedo ou mais tarde medidas drásticas contra o esfacela-
mento, que assim se preparara e encaminhara, do povo bra-
sileiro. Essa oportunidade parece- me já ter chegado com
o advento da nova Constituição, promulgada a 10 de no-
vembro de 1937. Na Carta Magna, que incentiva a con-
centração das energias nacionais, não se poderia imaginar to-
lerância ou atitude passiva ante as correntes antinacionais.
E já se apresentam os sinais precursores da definitiva liqui-
dação do episódio que, por uma hesitação mais dilatada e
sem a sadia reação da própria parte afetada do povo brasi-
leiro, poderia facilmente assumir desastrosas proporções.
Senhor Secretário do Interior, eu bem sei que é das atri-
buições dos estadistas enfrentar os problemas de ordem pú-
blica pelos trâmites de legislação e por medidas técnico-admi-
A 5. COLUNA NO BRASIL 147

nistrativas. Ainda assim, ou melhor, justamente por isso,


terá V. Excia. , pessoalmente, como todos os estadistas que
merecem êste nome, o desejo de conhecer exatamente o en-
cadeamento intrínseco da infiltração nazista e a natural reação
do povo contra essas influências exóticas e perniciosas.
A doutrina do racismo totalitário encontrou completa-
mente desprevenidos os brasileiros descendentes de alemães.
Assim é que a fundação, já ocorrida em 1931 , dum núcleo
partidário nacional -socialista em nossa metrópole foi acolhida
com relativa simpatia por parte do público teuto-brasileiro,
sem suscitar receios, conquanto o jornal "Deutsches Volks-
blatt" , por mim orientado, já naquela época, numa breve
notícia (edição de 30 -X- 31 ) , reprovasse essa estranha orga-
nização partidária e política, considerando-a nociva. O sur-
to do movimento partidário nacional - socialista no Brasil coin-
cidiu com uma época em que o Partido Nazista na Alema-
nha não firmara ainda o seu poder. As suas atividades só
mereciam, pois, pouca atenção, embora, desde o início, se
realizassem com entusiasmo e petulância.
Após o nacional-socialismo assumir o poder na Alema-
nha, o que facultou a oficialização da facção partidária entre
nós sediada, pôs-se o partido ao lado do consulado alemão
como segunda representação do governo do Reich, com a
tarefa especializada e ampliada de tratar de todos os interês-
ses políticos do povo alemão. Chegara a fase da doutrina-
ção (Schulung ) , ministrada não só aos cidadãos alemães que
vivem entre nós como também aos brasileiros descendentes de
alemães e da etnia alemã sob o ponto de vista da " comunhão
alemã" nacional - socialista. O partido nazista fundou, para
êsse fim, um hebdomadário "Fuers Dritte Reich" -;
celebrou suntuosas festas, a que convidou tôda a colônia
alemã. Grupos luzidos de brasileiros de etnia alemã toma-
ram parte nessas festividades, deixando -se sugestionar pela pa-
lavra dos oradores. O Partido chegou a ponto de efetuar
um plebiscito simbólico em favor do chanceler alemão Adolf
Hitler e apelar para o voto de cidadãos brasileiros. Em 1 .
de maio de 1934 conseguiu -se, a poder de todos os meios
de propaganda, para a consagração pública do "Dia do Tra-
balho Nacional Alemão " , concentrar na sede dos esportes da
sociedade "Turner-bund" (segundo o jornal "Neue Deutsche
Zeitung" ) 6.000 pessoas, entre as quais se contavam apro-
ximadamente 5.000 cidadãos brasileiros, aos quais o repre-
sentante oficial do governo do Reich pediu a " promessa de
fidelidade e obediência incondicional ao "Fuehrer" e chan-
celer alemão Adolf Hitler" . E isto à vista de representantes
das autoridades brasileiras, tanto civís como militares.
E' claro que eu, côncio da minha responsabilidade como
jornalista brasileiro, e que, como cidadão de etnia alemã,
tivera ensejo de acompanhar bem de perto essas cousas, logo
reprovei, nas colunas de minha fôlha e à vista do desenrolar
dos fatos, os esforços antinacionais, desnacionalizadores e en-
148 AURELIO DA SEVA PY

Bravadores do processo de nacionalização sadia da parte do


Poro a que pertengo Numa série de artigos-programa, por
M # procados em janeiro de 1934 e os quais mais tarde
*** **** Xcochera, sob o titulo " Deutsche-brasilianische
Podigne Crockemas Teuto-Brasileiros ) , abandonei a táti-
* de veu egporadica, encetando combate sistemático, o que
180 i vez por insinuações de representantes locais do
Parup Nazusta, a interdição do meu jornal em território
concomitantemente o infame " boycott" de anúncios
As locais dependentes da Alemanha e do favor do
A alemão.
Em 1936, para intensificar o interesse da população
que fala o alemão pelo conflito que a ação do exótico parti-
do espalhava nas almas brasileiras de etnia alemā , instituí um
concurso sobre os seguintes temas :

Que é comunhão nacional?


Que é etnia?
São conceitos idênticos?

Há comunhão nacional brasileira?


Há etnia brasileira?

E' possível a um indivíduo pertencer simultaneamente


e da mesma forma à comunhão nacional brasileira e à
comunhão nacional alemã ?

O resultado dêsse concurso foi sobremodo satisfatório .


Os trabalhos recebidos, que em parte eram de extraordinária
transcendência científica e apresentavam testemunho de acri-
solado amor pátrio entre os brasileiros descendentes de ale-
mães, demonstraram-me que eu não me achava isolado na
luta em que me empenhara e na qual ainda prossigo, ao con-
trário do que eu já estava quasi inclinado a acreditar, visto
que de todos os lados os restantes jornais, que também se
apresentam como jornais brasileiros em língua alemã, silen-
ciaram onde os casos isolados não se faziam porventura pio-
neiros da concepção étnica e política racista nacional-socialista
e tomavam a meu respeito uma atitude infensa . Não quero
dar muita importância a esta última circunstância, pois sabia
que os aludidos jornais não queriam expor-se ao bem organi-
zado "boycott" de que o partido nazista me fizera vítima
pelo fato de eu ter ousado perturbar-lhe os trabalhos. No
entanto, não deixa de merecer reparos o fato de um partido
estrangeiro " orientar" jornais brasileiros.
Terminando aquí a exposição a que aludí no começo
do presente memorial, posso modéstia àparte ―― dizer
com a maior satisfação que, no prélio empenhado pela con-
quista da alma dos brasileiros de etnia alemã , foi derrotada
a ideologia nazista. Mas a luta prossegue . O Partido Na-
cional-Socialista não desiste do seu intento. De várias ma-
A 5. COLUNA NO BRASIL 149

neiras continua a sua propaganda em prol da comunhão na-


cional alemã. Mediante uma organização de jovens bem
dirigidos, procura atrair a si a mocidade brasileira que ainda
não possua capacidade julgadora ; procura insinuar-se nas es-
colas ; aguarda nas associações o momento oportuno. Em
suma, o perigo que ameaça a unidade nacional do Brasil,
da parte do racismo totalitário, não está removido e nem se
removerá enquanto o nosso honrado e benemérito governo
não vier em auxílio da reação de ordem privada partida de
dentro do povo .
A ocasião para a ação do governo parece, como eu já
afirmei, ter agora chegado . Pelo exposto, pode V. Excia .
estar certo de que os brasileiros descendentes de alemães aguar-
dam , confiantes e com satisfação , sérias medidas contra a in-
vasão e a prática da doutrina do racismo totalitário. O
mesmo se pode dizer de não pequeno número de imigrantes
alemães, os quais são, semelhantemente aos nossos ancestrais,
verdadeiros imigrantes, e não agentes políticos.
Entretanto, perguntam todos de si para si , tanto os bra-
sileiros de etnia alemã como os imigrantes alemães bem orien-
tados, o que trarão as leis nacionalistas . Receiam que êles
todos, por uma circunstância qualquer, possam sofrer por
fôrça de disposições legais, as quais por justiça só devem
atingir e procurar remover excrescências já consolidadas, das
quais só o partido nazista é responsável. Procurarei concre-
tizar alguns dêsses receios .
Seria, por exemplo, imaginável que o legislador, na
intenção de enfrentar eficientemente as atividades dos círcu-
los já aludidos , procurasse privá-los dos meios de que, even-
tualmente, se pudessem servir e em parte já se serviram?
Seja um dêsses meios a IMPRENSA em língua alemã . Já
é bem notória a conjetura de que a imprensa em língua alemã ,
ou por outra, a imprensa em língua estrangeira em geral,
esteja ao serviço de nações estrangeiras e constitua, só por
sua existência, um sério obstáculo para a nacionalização da
parte da população em que ela possue campo de ação. Por
isso, não faltarão vozes que exijam inadiavelmente a proi-
bição de circularem todos os jornais em língua estrangeira.
A tese em favor de semelhante medida radical tem suas
razões em parte, pois pode haver jornais em língua estran-
geira subvencionados por estrangeiros, como poderiam tam-
bém existir jornais em língua vernácula que cedessem às ten-
tações do subôrno. Se a possibilidade se converteu em rea-
lidade é o que deveria ser examinado individualmente pelas
autoridades competentes . Tão justificada pareceria a inter-
dição de jornais que se achassem subvencionados por corren-
tes desnacionalizadoras e antinacionalistas estrangeiras, quão
injustamente ela se exerceria se, extensiva de um modo bem
geral a certa e determinada categoria de imprensa, recaísse
sôbre os órgãos que não fôssem passíveis de pena visada por
aquela medida.
150 AURELIO DA SILVA PY

Mas, êsse não pode ser o sentido da legislação : o de


fazer sofrer o inocente pelo culpado, gerando assim injustas
medidas.
Caso, todavia, se formassem conjeturas de que jornais
em idioma estrangeiro, pelo simples fato de existirem, fôs-
sem um entrave aos progressos de um sadio processo de na-
cionalização , haveria o seguinte a contrapor : O Brasil tem
sido muito procurado por imigrantes, e assim continuará por
muitos decênios, mau grado as disposições legais que restrin-
gem a imigração . Daí resulta o fato, lamentável, talvez,
sob o ponto de vista nacional, mas inegável e fartamente co-
nhecido, de viverem no Brasil indivíduos que não falam a
língua do nosso país correntemente. Além disso, acontece
em nosso país haver no interior camadas sociais que, poden-
do em si e por sua índole passar já por nacionalizadas, não
dominam, por motivos de ausência ou escassez de escolas e
de vias de comunicação, a língua vernácula, ou a conhecem
mui imperfeitamente. Todos êsses agrupamentos, na hipóte-
se de uma interdição dos jornais em língua alemã , não pode-
riam ser contemplados pela imprensa que circula na língua
do nosso país. Mas, significa isso praticamente que êles fica-
riam privados de sua participação intelectual na vida da na-
ção, participação essa que até então lhes era proporcionada
por jornais em língua alemã . E o mal, que assim surgisse,
agravar-se- ia com o fato de que as mencionadas populações
não desistiriam naturalmente do hábito da leitura e , na falta
de órgãos nacionais redigidos em sua língua materna, recorre-
riam à aquisição de jornais publicados em países estrangeiros .
De tais considerações se deduz claramente que não seria
de nenhuma vantagem nacional a proibição sem diferença
e sem exceção, da imprensa em língua estrangeira no Brasil e
concomitantemente dos jornais escritos no idioma alemão no
nosso Estado. Uma solução justa e criteriosa do problema
criado por fôlhas antinacionais em língua estrangeira não se
poderá, pois, efetivar mediante a proibição incondicional, ir-
restrita, da imprensa em língua estrangeira , caso se pretenda
evitar maiores inconvenientes. O governo preferirá, neste
caso, o meio mais incômodo : submeter à rigorosa censura
os jornais suspeitos, isto é, terá de fazer distinção entre os
jornais estrangeiros e jornais nacionais escritos em língua es-
trangeira. Sôbre como tal se daria eficazmente na prática ,
sem a necessidade de se criar um novo aparelhamento de fis-
calização para êsse fim, tomarei a liberdade de apresentar,
mais adiante, um alvitre.
Imagine-se mais uma possibilidade de agir contra a
"imprensa estrangeira" no país, possibilidade que sei que tam-
bém está sendo tomada em consideração em meios autoriza-
dos. Partindo do fato de que o Brasil, com a interdição es-
trita de todo e qualquer jornal em língua estrangeira , criaria
uma inovação política que não teria igual nem nos países
em que não existe liberdade de imprensa, sugere-se a ruína
A 5. COLUNA NO BRASIL 151

econômica das empresas de jornais em língua estrangeira pela


sua exclusão das vantagens concedidas à imprensa nacional
em relação à importação de papel. Contra esta proposta e
sua realização nada quero objetar, caso o critério relativo ao
conceito "jornal estrangeiro" não se vá buscar em “língua
estrangeira" , mas sim na atitude politicamente estranha e an-
tinacional dos respectivos jornais. Caso não fôr esta a in-
terpretação, o efeito do remédio indicado será o seguinte :
os jornais nacionais publicados em língua estrangeira, os quais,
como empresas autônomas, se mantêm com os valores aufe-
ridos em sua receita própria, ver-se-iam, com o acréscimo de
cuas despesas, forçados a cerrar as portas de seus estabeleci-
mentos. Porém os órgãos estrangeiros antinacionais e de pro-
paganda política estrangeira, bem como os subvencionados
ou comprados, cuja existência não se prende intimamente a
cálculos econômicos estes jornais, que justamente se pre-
tendiam atingir, continuariam a viver. Só dependeriam de
requerer a elevação do "quantum " de sua subvenção . Deve-
se compreender que êsse apêlo seria logo atendido com a pers-
pectiva de se eliminarem assim, da liça, os jornais nacionais,
independentes, publicados em língua estrangeira, ficando dêsse
modo completamente livre o campo de ação para os órgãos
verdadeiramente estrangeiros de propaganda . Como se vê,
seria lamentavelmente contraproducente a medida a que por
último me referí e que visa obstar a publicação de jornais
estrangeiros.
Ante essa hipótese, um jornal brasileiro de idioma estran-
geiro, tal como o " Deutsches Volksblatt" , que é editado em
alemão, existe já há 68 anos e, por seu amor pátrio gra-
ças ao são patriotismo da população brasileira descendente
de alemães tem sido um forte baluarte contra a infiltra-
ção do racismo totalitário antibrasileiro, seria forçado a sus-
pender a sua publicação, enquanto continuaria a circular um
órgão oficial nazista como o semanário "Fuer's Dritte Reich" !
E não é só isto : o jornal estrangeiro desenvolver- se-ia,
passaria a publicar-se diariamente e por fim, no gôzo duma
situação especial, de monopólio (em virtude de um decreto) ,
captaria a opinião pública entre os que dominam a língua
alemã . Não seria absurda essa prática ? E, ainda assim,
poder-se-á tornar realidade, uma vez que um decreto do go-
vêrno brasileiro, na intenção de obstar a circulação de jor-
nais estrangeiros, exclua tôdas as fôlhas que não sejam re-
digidas na língua do país do favor facultado relativamente à
importação do papel.
Estas ponderações, já tive ensejo de expendê- las num
relatório apresentado ao então deputado federal sr. Dr. Wolf-
fenbüttel, o qual se interessava pelas questões que acabo de
abordar. Tornei a falar, há um ano, sôbre o assunto com
o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, sr. Her-
bert Moses, pedindo-lhe inserisse onde melhor conviesse o se-
152 AURELIO DA SILVA PY

guinte dispositivo : Jornais em língua estrangeira que dese-


jarem gozar das vantagens concedidas à imprensa nacional
devem declarar no cabeçalho: "Jornal brasileiro publicado em
idioma alemão (italiano, polonês, etc. ) ."
À pergunta do sr. Herbert Moses sôbre qual a finali-
dade e vantagem de tal declaração , expliquei : órgãos decla-
radamente partidários da política estrangeira não ousariam
exarar em seu frontespício semelhante declaração. Quanto,
porém, às outras fôlhas em idioma estrangeiro, a possibilida-
de de uma atitude ambigua ficaria reduzida ao mínimo, quan-
do coagidas a se definirem. E' de prever que os leitores de
tais publicações se encarregariam do contrôle, assim que, pela
declaração exarada , se vissem no caso de exigir uma atitude
brasileira do jornal de que tomassem assinatura . Sei que lei-
tores de jornais em idioma alemão e de atitude ambígua
fizeram protestos veementes, pela simples razão de se julga-
rem no direito de censurar a sua orientação alheia e ausência
de brasilidade.
Não sei se as minhas sugestões foram contempladas pelo
sr. presidente da A.B.I. Em todo caso, tomo a liberdade
de respeitosamente pedir-lhe que mande V. Excia. encaminhar
essa idéia, caso ache viável sua realização .
Eu não desejaria concluir êste desenvolvido memorial
a cuja elaboração me forçaram o grande amor que consagro
à pátria brasileira e o empenho com que antegozo a felicidade
de ver integrados na família brasileira meus patrícios de etnia
alemã sem algumas palavras sôbre as escolas particulares
nos municípios do nosso Estado . E' notório que essas esco-
las se servem da língua alemã no ensino, o que concorre para
que elas, semelhantemente aos jornais em idioma alemão,
sejam arguidas de constituírem um sério obstáculo à nacio-
nalização dos indivíduos de etnia alemã em nosso país. Exa-
minaremos, pois, se se justifica, e até que ponto, essa recrimi-
nação. Também neste particular se me afiguram contrapro-
ducentes as medidas radicais que se adotassem, ao passo que
restrições ponderadas no tocante à eliminação de influências
estranhas facultariam um são desenvolvimento, no sentido da
nacionalização e mesmo da completa aprendizagem do ver-
náculo entre os habitantes de etnia alemã .
Já por vezes foram ridicularizadas as escolas dos colo-
nos por funcionarem algumas delas em pobres cabanas e se-
rem servidas por professoras às quais não raro faltava todo
e qualquer preparo profissional ; foram censuradas, em rodas
nacionalistas (que não haviam tido ensejo de penetrar mais
a fundo no respectivo conjunto de circunstâncias ) por terem
admitido outrora professores que não dominavam o idioma
do nosso país. Uma crítica justa, que não formula sua opi-
nião à vista de observações externas e superficiais, não dei-
xará, todavia, de, gratamente e com admiração, reconhecer
que o veículo representado nas escolas particulares das zonas
rurais, sem falar na deficiência de seu aparelhamento, tem
A 5. COLUNA NO BRASIL 153

prestado um trabalho cultural bem brasileiro . Sem elas, na


falta de aulas públicas, a infância teria ficado imersa nas tre-
vas do analfabetismo ; sem elas, a zona colonial não teria
alcançado o grau de prosperidade e progresso que ora apre-
senta.
E' sabido, e já foi confirmado frequentemente por che-
fes de govêrno, que os imigrantes alemães em nosso Estado
se integraram na comunhão nacional como amigos da ordem
e do progresso . Se, até há bem pouco, os colonos chamados
"alemães" ocupavam e ainda hoje ocupam uma posição tôda
especial na comunidade nacional por se servirem, entre si, do
idioma dos seus antepassados e muitos dêsses ainda não sai-
bam exprimir-se na língua vernácula, não se deduza daí que
êles se opõem à aprendizagem da língua do país. Sou, a
bem da verdade, o último a negar que o brasileiro de etnia
alemã, por um são respeito a si mesmo, sempre gostou de
cultivar a língua e os costumes de seus antepassados ; sim,
tenho até prazer em afirmá-lo por estar firmemente conven-
cido de que não conseguirá a realização do elevado ideal de
brasilidade quem não possua a dignidade individual e cole-
tiva. Mas duvido, baseado na experiência adquirida como di-
retor responsável e chefe de redação de um jornal brasileiro
em idioma alemão, duvido, repito, e nego que os imigrantes
alemães e seus descendentes não tenham querido aprender
o português. Dá-se justamente o contrário, provam-no os
progressos que neste sentido foram alcançados nos últimos
decênios, com recursos escolares primitivos, mas criados por
iniciativa própria .
As escolas das colônias representam uma obra cultural
de primeira ordem ; e os esforços culturais empenhados em
prol da pátria brasileira têm suas bases nesses modestos esta-
belecimentos, organizados por gente singela, a poder de enor-
mes sacrifícios . Êles nos são úteis, conquanto não possam
ser apontados como instituições modelares ; preenchem uma
lacuna que o Estado e o Município , até hoje, deixaram aberta.
Por isso não se deve, a bem da justiça, ao formular um
juízo sôbre as escolas dos núcleos coloniais, examinar como
deveriam ser organizadas para passarem por institutos-modêlo ;
deve-se, ao contrário, perguntar o que seria de certas regiões
coloniais se não existissem essas escolas. Se quisermos, por
exemplo, responsabilizar as escolas particulares das zonas ru-
rais pelo fato de, 115 anos após o início da imigração e co-
lonização alemã , não haver a língua portuguesa alcançado o
predomínio entre os descendentes dos imigrantes, surge logo
a pergunta : Pensar-se-á porventura que, sem as escolas par-
ticulares, a língua brasileira teria entrado em uso nas famí-
lias da região colonial ? Não é difícil responder a esta per-
gunta. Pior seria, quanto ao conhecimento do vernáculo en-
tre os analfabetos, que continuassem estes a se criar sem fre-
quentar escola alguma . Sim, é preciso que se saiba que as
comunidades escolares, à medida que aumentava a prosperi-
154 AURELIO DA SILVA PY

dade de seus componentes, se ocuparam sempre, e por inicia-


tiva própria, de introduzir nelas melhoramentos, dedicando
sua constante e máxima atenção a que os professores, por
elas angariados, estivessem também habilitados a lecionar a
língua do país. As escolas particulares rurais, em que não
se ensina o vernáculo, já são raras. Mas o problema con-
cernente ao uso geral da língua portuguesa é não só uma
questão que interessa às escolas, como é igualmente uma ques-
tão que se prende ao problema das comunicações. Se não
atendermos ao mesmo tempo à abertura das regiões isoladas,
por meio de boas estradas e vias de comunicação que venham
trazer o intercâmbio material e social, a melhor escola não
será capaz de resolver o problema referente à língua pátria .
Nas zonas integradas dêste modo na vida nacional, porém,
a escola particular tem dado, pari-passu, satisfatoriamente,
conta da sua tarefa, o que é atestado por numerosos exem-
plos. Em Santa Cruz, Lajeado, Estrêla se encontravam há
20 ou 30 anos poucas pessoas que conheciam o português ;
hoje, porém, não há aí quasi ninguém que não saiba falar
correntemente a língua do país.
Quem, ante estes fatos, seria capaz de nutrir a suspeita
de que as escolas particulares rurais se desenvolvem num am-
biente antinacionalista? Deve-se justamente à sua existência
o reconhecer-se a necessidade de se generalizar, lentamente,
sim, mas com segurança, o conhecimento do nosso idioma!
Não será um grande mérito dessas escolas o fato de os colo-
nos, como coletividade de gênero especial, não figurarem
como um órgão atrofiado ou uma excrescência exótica no or-
ganismo nacional ? Pois, permita- se-me dizer, nesta conje-
tura, que a índole patriótica não depende do conhecimento
e uso exclusivo da língua pátria. Podemos imaginar traido-
res entre o povo que não conhece outro idioma senão a lín-
gua pátria, enquanto, por outro lado, um nacionalismo que
esteja alheio a preconceitos vem registando, com prazer e
júbilo, o espontâneo patriotismo entre os descendentes de
alemães, que têm o Brasil como sua pátria, consagrando só a
êle a sua dedicação cívica e todos os seus esforços.
Com esta minha exposição outro intuito não tenho que
o de esclarecer os amantes da justiça e da verdade sobre as
escolas particulares nas zonas rurais, criadas com sacrifício,
conservadas com cuidado e aperfeiçoadas no correr dos anos
com dedicação. Julgo ter demonstrado que tôdas elas, sem
exceção, se encontram no caminho que todos nós trilhamos
a serviço da brasilidade e do amor à pátria. Se em qualquer
parte e em qualquer tempo quisermos seguir aquele sábio
conselho expresso nas palavras "Conservar melhorando" , de-
vemos fazê-lo no terreno das escolas rurais. Instigado pelo
meu amor à comunhão brasileira é que venho instar junto
ao nosso honrado governo para que as atuais correntes des-
nacionalizadoras, partidas não de dentro das escolas parti-
culares, mas de fora delas, e em casos isolados, não sirvam
A 5. COLUNA NO BRASIL 155

de motivo precipitado para duras e inexoráveis medidas re-


pressivas contra as escolas particulares. Pois nada fere tão
profundamente a alma honesta e digna como a repulsa im-
ponderada que sofre a boa vontade manifestada por corações
sinceros e puros . Nada poderia, no presente momento na-
cional de evolução cívica, entre a parte do povo constituída
por brasileiros de etnia alemã, abrir tão profunda ferida como
a brusca destruição duma obra da qual essa parte tanto se
ufana e a qual, como os respectivos processos o demonstram,
essa população criou para o bem da pátria brasileira . Te-
nho a certeza de não errar se adianto que uma projetada re-
forma do ensino pretende enfrentar e anular o espírito per-
turbador que visa o dissídio na família brasileira. Outros-
sim, não nos deve causar admiração se o nosso benemérito
governo, nesse louvável intento, começar pelos domínios es-
colares, quando se sabe que recentemente, por ocasião de um
congresso partidário nazista na Alemanha, 'as 1.500 escolas
alemãs no Brasil" foram objeto de discussão, e não quere-
mos fechar os olhos ante o fato de que a doutrina nacional-
socialista desenvolve tôdas as suas atividades no sentido de
se apoderar das escolas particulares da parte da população com-
posta de brasileiros de etnia alemã.
Se eu, como jornalista brasileiro e diretor dum jornal
brasileiro em idioma alemão, enristei a lança ante o avanço
duma corrente antibrasileira, a qual nada tem que ver com a
natural fidelidade do indivíduo à sua herança étnica - Ou-
tra cousa não fiz que cumprir um dever de patriotismo. Nem
pretendo outra cousa mediante a presente exposição, que te-
nho a honra de submeter à valiosíssima apreciação de V.
Excia. Correm por aí rumores de que futuros decretos, em
face da situação criada pelas atividades de elementos nazistas,
visam solucionar o caso, vedando o funcionamento de "esco-
las alemãs". Ante o perigo de combater contra moínhos,
como o fez o herói manchego dado o caso de se tratar de
simples boatos --- e também ante o perigo de ser forçado a
recolher-me às minhas barreiras, fui impelido a expor a
V. Excia., e por intermédio de V. Excia. aos outros órgãos
do nosso benemérito govêrno, a concatenação de todos os
fatos, tais como os tenho presenciado em meu contacto direto
com os brasileiros de etnia alemã e com diversas rodas da
cindida colônia alemã .
A interdição das chamadas "escolas alemãs", as quais,
na realidade, são escolas particulares de associações brasileiras
de descendentes de alemães, não alcançaria o seu objetivo,
isto é, a eliminação da doutrina racista totalitária, cujos pro-
gressos importariam na cisão da comunhão brasileira e na dis-
solução da unidade nacional. E' verdade que se removeria
assim uma entidade a cuja posse os apóstolos dum povo ima-
ginário de cem milhões de habitantes aspira, porém a comu-
nidade nacional brasileira ficaria, por fôrça de uma proibi-
156 AURELIO DA SILVA PY

ção, privada da mesma forma de um fator que até então lhe


era de tanta utilidade e do qual, mediante uma ponderada
reorganização, sem dúvida auferirá vantagens ainda maiores.
Ou querem , talvez, dizer os boatos que não se proíbem
as escolas particulares rurais como tais, mas somente o uso,
nelas, da língua alemã ? Também esta medida teria de re-
velar-se contraproducente , visto que os pais, a quem a nova
Constituição de 10 de novembro de 1937 , no artigo 125,
garante o direito de educarem os seus filhos, poderiam pensar
de si para si, com razão, que seus filhos, que falam o alemão
aprendido na casa paterna, não poderiam , numa escola que
não se articule no cabedal existente da língua que os alunos
falam , ter o desejado aproveitamento em nenhuma disciplina,
nem mesmo no aprendizado do vernáculo .
Nem o abandono dum ensino particular sem unidade,
mas bem distribuído , das zonas de população brasileira de
etnia alemã , nem
o rompimento forçado com sua tradição
podem ser considerados necessidade de momento ; porém, pro-
tegidas eficientemente as aludidas escolas contra a infiltração,
não desejada pelo povo, da doutrina antibrasileira, por meio
duma fiscalização concienciosa do corpo docente e dos pro-
gramas de ensino, bem como pela reorganização gradativa das
escolas em relação à regularização de suas finalidades didá-
ticas, teríamos, sem atritos, a solução do problema, sem o
perigo de efeitos negativos. Seja- me lícito adaptar às neces-
sidades do momento o lema : "Não vedar, mas sim auxiliar” .
Se nas esferas das possibilidades acabo de referir-me a
efeitos negativos, não quero, ao concluir, deixar de manifes-
tar em que direção os avisto. Os brasileiros descendentes de
alemães são hoje, sem exceção, concordes em que, por mo-
tivo do seu apêgo ao que lhes é paterno e da sua predileção
pela língua de seus progenitores, não formam, de modo al-
gum , uma minoria nacional no seio da família brasileira,
como na velha Europa, onde há minorias entre os vários po-
vos, cuja existência dá constantemente margem a graves ten-
sões na política interna e até externa. O Brasil não possue
minorias nacionais. Seria, entretanto , infalível ver-se nossa
pátria em face dum insolúvel problema de minorias, caso a
teoria totalitária racista conseguisse arraigar-se de forma tal
no mundo imaginário dos brasileiros de etnia estrangeira, que
estes, como o quer a doutrina nazista, não mais se conside-
rassem filhos do país e , por um pernicioso processo de desna-
cionalização , se declarassem integrados no povo de onde são
oriundos os seus ascendentes.
Peço vênia para acrescentar que, ante a minha exclama-
ção "Não torne o nosso povo infeliz em sua própria pá-
tria" , um nazista, a quem eu fizera sentir o delito que come-
tia com a sua propaganda política e racista , retrucou -me tran-
quilamente que se devia sofrer pela comunhão nacional ale-
mã ; que o sofrimento purifica a conciência nacional alemã ;
e que as leis nativistas, que por nossa etnia alemã nos crias-
A 5. COLUNA NO BRASIL 157

sem condições de exceção, seriam de desejar, para que aque-


les que sonham com a comunhão nacional brasileira abram os
olhos e pensem na sua comunhão nacional alemã .
Não estou no caso de afirmar e provar que estas idéias
sejam partilhadas por todos os partidários do nazismo que
entre nós vivem. Mas o certo é que elas se enquadram per-
feitamente na doutrina nacional -socialista ; e disto ninguém
duvidará se tiver presentes as palavras, já citadas noutro lu-
gar, de um ministro alemão, e pensar nas atividades do ra-
cismo totalitário transplantado para o nosso país.
Por esta razão, repito, é que a divisa serve para a im-
prensa escrita em idioma alemão, assim como para as escolas
particulares rurais da população brasileira de etnia alemã :
Não oprimir ou destruir, mas, sim, auxiliar e defender. Eis
os ditames nacionais para o momento nacional .

Pôrto Alegre, fevereiro de 1938."


O "boycott" nazista no Rio Grande do Sul

"Devemos ser cruéis, afirmou Hitler,


e devemos sê-lo com a conciência tran-
quila".
(Hitler, a Rauschning) .

O "boycott" foi uma das grandes armas de "catequese" e agi-


tação do nazismo dentro da Alemanha, nos tempos da república de
Weimar, isto é, quando as tropas de assalto dominavam apenas as
ruas das grandes cidades alemãs, preparando a ascensão de Hitler.
Instrumento de coação terrível pelos seus efeitos desastrosos para a
pessoa ou a firma comercial visada, seu uso foi posteriormente rele-
gado pelo nazismo aos países estrangeiros onde a Gestapo formava
suas 5.a colunas. E' que o Estado nazista colocara nas mãos da sua
polícia secreta, já então soberana no terreno da repressão, o campo
de concentração e o machado. Vamos, assim, encontrar o "boycott"
no Brasil e no Rio Grande do Sul, onde, manejado com eficiência
e disciplina pelos agentes da cruz gamada, deixou sinais bem mar-
cados.
Empregado especialmente contra os judeus e seus descendentes,
o que, aliás, já é totalmente condenável num país como o Brasil,
onde existe liberdade de culto religioso e não há prevenções raciais,
o “boycott" é feito também contra firmas ou indivíduos que não
simpatizam com a barbárie hitlerista, mas que são, "estrategica-
mente", tachados de judaicos ou judaizantes.
Em Pôrto Alegre, por exemplo, sofreu terrível perseguição eco-
nômica a firma editora Metzler Ltda. Note-se que esta emprêsa não
tinha um só empregado de sangue judaico, não porque ela não
quisesse admitir israelitas, mas simplesmente porque estes nunca
The solicitaram emprêgo. O "boycott" foi motivado porque a Metz-
ler Ltda. mantinha um jornal em idioma alemão, o "Volksblatt",
que combatia valentemente o nacional-socialismo, apontando-o
como inimigo dos imigrantes alemães e seus descendentes. Essa per-
seguição é retratada em linhas gerais no relatório publicado no ca-
pítulo anterior e de autoria do próprio sr. Metzler, proprietário do
jornal e chefe da firma editora. Outro exemplo que entrou nos do-
mínios da tradição, razão por que insistimos em assinalá-lo, foi o
A 5. COLUNA NO BRASIL 159

caso da Bonbonnière Jan, cujo proprietário procurou um refúgio


no suicídio.
A perseguição de que as empresas "marcadas" eram vítimas
abrangia não só o "boycott" propriamente comercial por parte das
firmas de além-mar e das firmas alemãs aquí estabelecidas e em
ligação com o nazismo, como também o "boycott" social, isto é, o
bloqueio do indivíduo no seio da sociedade.
Tratando-se do nazismo, não surpreende, embora revolte, êsse
procedimento criminoso de comerciantes alemães. O que, porém,
admira é que uma instituição oficial, a Câmara de Comércio Teu-
to-Brasileira, se haja prestado para um papel dessa natureza . Mas
assim agia o nazismo, levando a corrupção, através de braços de suas
raízes estranhas, a setores que a presença de compatriotas nossos nos
levava a considerar estanques . Não se prestaram acaso outros brasi-
leiros do nosso melhor cruzamento racial, ou por candidez ou por
pura decomposição moral, a vestirem a camisa da traição nacional,
já então camuflada numa das côres do nosso pavilhão?
Pelas transcrições que abaixo publicamos poder-se-á formar
idéias do "boycott" que se desencadeou no Rio Grande do Sul.

"DELEGACIA DE ORDEM POLÍTICA E SOCIAL

Pôrto Alegre, 12 de maio de 1939 .

Ilmo. Sr. Capitão Chefe de Polícia.

RELATÓRIO

"I E' suficientemente conhecido o processo de "boy-


cott" de que lançam mão os nazistas para atacar comercial-
mente o adversário.
Desconheciam-se, apenas, os meios adotados para o em-
prêgo dessa tática política.
Isso ficou agora bem claro depois das últimas investi-
gações policiais em tôrno das atividades do N.S.D.A.P. entre
nós.
II Existe no Rio de Janeiro uma organização comer-
cial com o título de "Câmara de Comércio Teuto-Brasileira"
e cujas finalidades são as seguintes :
1.º) Fomentar o intercâmbio comercial entre o Brasil
e a Alemanha ;
2.º) Publicar um Boletim Semanal no qual são trans-
critos, para conhecimento dos associados, os decretos e leis pu-
blicados no Brasil, com os indispensáveis comentários ;
3.º) Dar conhecimento aos associados através do Bole-
tim, da procura dos artigos brasileiros por parte de firmas ale-
mãs, como das ofertas destas sôbre produtos que interessam
ao Brasil:
160 AURELIO DA SILVA PY

4.º) Indicar, no Boletim, firmas estrangeiras que pro-


curam representações no Brasil como de firmas nacionais que
desejam representações na Alemanha ;
5.º) Colhêr, tanto no Brasil como na Alemanha, as
informações que forem requeridas sôbre situação financeira,
idoneidade moral, etc ...
No Rio Grande do Sul existe uma associação denomina-
da "Verband Deutsch-Brasilianischer Firmen" (União de Fir-
mas Teuto-Brasileiras ) , filiada à “ Câmara" do Rio.
A organização comercial Teuto -Brasileira local tem sua
sede nos escritórios da firma Frederico Mentz & Cia ., à qual
compete a direção da “Verband" .
III Através de um incidente havido entre um dos
sócios da firma Frederico Mentz e o sr. Rudolf Gerson, da
firma R. Teixeira & Cia., também desta praça, veio esta De-
legacia a saber que aquela firma procedia a investigações de
caráter político nos meios comerciais de Pôrto Alegre.
Mais tarde soube-se que a pessoa do sr. Henrique Tad-
day, do comércio local, também havia sido objeto de investi-
gações de caráter político por parte da firma Frederico Mentz
& Cia., como dirigente da associação que representa a “Câ-
mara de Comércio Teuto-Brasileira".
Após serem ouvidos nesta Delegacia os srs. Rudolf Ger-
son e Henrique Tadday, fez-se luz clara em tôrno do caso
de "boycott" .
Suas declarações foram reduzidas a têrmo é se encontram
no inquérito.
IV Convidada a esclarecer o assunto, a firma Fre-
derico Mentz & Cia. informa que, nos pedidos de informações
de firmas alemãs à "Câmara" e distribuídas à sua represen-
tante neste Estado, se contêm, frequentemente, quesitos sô-
bre a origem racial, o que não é possível evitar.
Assim foi o caso da firma R. Teixeira & Cia., como
também o de Henrique Tadday.
Junto uma fotocópia da carta que a firma alemã G. E.
Habichs Söhnneveckerhagen dirigiu à "Câmara de Comércio
Teuto-Brasileira" , acompanhada da respectiva tradução, onde
a referida firma pede informações referentes à raça do sr. Ru-
dolf Gerson.
V Está, assim, provado que a "Câmara de Comércio
Teuto-Brasileira" encaminha os pedidos de informações de
natureza política solicitados por firmas alemãs.
Foge, pois, à sua finalidade estritamente comercial e
burla os dispositivos legais que vedam atividades políticas no
Brasil.
VI Tomo a liberdade de sugerir a V. Excia. que
seja o presente processo remetido à Polícia do Distrito Fede-
ral para que sejam ampliadas as presentes investigações no sen-
A 5. COLUNA NO BRASIL 161

tido de esclarecer, plenamente, a situação da "Câmara de Co-


mércio Teuto-Brasileira" , dando-se posteriormente ao caso o
destino conveniente.

Saúde e fraternidade.

(a) Plínio Brasil Milano


Delegado da Ordem Política e Social. "

0 "BOYCOTT" NO COMÉRCIO DO FUMO

(Reportagem do " Correio do Povo" em 27-8-1939 . )

"AS FIRMAS BRASILEIRAS EXPORTADORAS DE


FUMO REPRESENTAM AO MINISTRO DO EX-
TERIOR CONTRA O "BOYCOTT" EXERCIDO
PELOS IMPORTADORES ALEMÃES .

UM CASO SENSACIONAL NO COMÉRCIO BRASI-


LEIRO

Teve forte repercussão a reportagem do "Correio do


Povo" sôbre as manobras nazistas exercidas contra firmas ge-
nuinamente brasileiras A íntegra da representação feita ao
ministro Osvaldo Aranha.

Teve grande repercussão nos meios comerciais locais a


reportagem publicada ontem pelo "Correio do Povo", sôbre
a representação que firmas genuinamente brasileiras fizeram
ao governo federal contra a atitude de agentes alemães que
vêm promovendo contra aquelas sério "boycott" por parte
do comércio importador da Alemanha, a ponto de serem sis-
tematicamente afastadas dos mercados daquele país.
Acrescentamos que, numa roda de exportadores de fumo,
foi possível saber que a ação desenvolvida pelas repartições
alemãs de controle, sob imediata inspiração do governo na-
zista, representa no setor do fumo um verdadeiro movimento
de infiltração econômica, com reflexos prejudiciais sôbre os
mercados internos.
Ao que se fala no comércio, no caso em foco não se trata
somente de casas exportadoras de fumo. Há também casas
que se dedicam a outros ramos de negócio.
Mas, como estão no cartaz os exportadores de tabaco,
procuramos ouvir alguns dêles.

COM O SR. MANLIO AGRIFOGLIO

Na tarde de ontem estivemos ouvindo o sr. Manlio Agri-


foglio, chefe da firma Viúva Alípio Cezar & Cia. E' uma
antiga firma exportadora de fumo, que muito tem contri-
11-5.2 C.
162 AURELIO DA SILVA PY

buído para a colocação de nosso produto nos mercados na-


cionais e estrangeiros.
Disse-nos logo o conhecido comerciante:
"Antes de mais nada, há uma retificação a fazer quan-
to ao título que encabeçou a sensacional reportagem do “Cor-
reio do Povo". E' que não se trata de " boycott" de pro-
dutos rio-grandenses, mas, o que é mais grave, de firmas
genuinamente brasileiras, cujo único crime consiste em não
estarem no caso de merecer a confiança política do atual regi-
me alemão. Quanto ao mais, devo declarar que infelizmen-
te tem absoluta procedência a notícia ontem publicada pelo
seu jornal.
Nenhuma das minhas ofertas, pelo menos, foi aceita
pela repartição de controle alemão, a- pesar- de que os meus
preços, ao que estou seguramente informado, eram muito in-
feriores aos preços por que foram adquiridos lotes de idêntica
qualidade e sortimento. A única diferença é que estas per-
tenciam a elementos teuto-brasileiros fiéis ao nazismo ...
Aliás, eu propriamente não tinha o direito de manter nenhu-
ma ilusão a respeito da sorte das minhas ofertas, porquanto
havia sido advertido, por um dêsses elementos, de que eu não
venderia fumos para a Alemanha nem a preço de custo ...

COM O SR. SÍLVIO TÔRRES

Deixando a firma Viúva Alípio Cezar & Cia. , fomos


à dos srs. C. Tôrres & Cia. , onde nos avistamos com o sr.
Sílvio Tôrres, um dos sócios.
Firma de mais de meio século de existência, desde a
época de seu saudoso fundador, sr. Cristiano Tôrres, vem
empregando ingentes esforços na colocação, no país e no es-
trangeiro, de produtos rio-grandenses.
Entre êles figura o fumo, do qual sempre foi uma das
maiores exportadoras, devendo - se aos srs. C. Tôrres & Cia. a
conquista de alguns mercados do velho mundo para a venda
do fumo .
Recebendo o nosso representante, o sr. Sílvio Tôrres
logo nos disse :
A reportagem do "Correio do Povo", a propósito da
situação criada para o comércio exportador de fumos rio-
grandenses, é a expressão mesma da verdade. Nota-se, en-
tretanto, uma ligeira inadvertência, que deve ser esclarecida
desde logo. O "boycott" movido pelo contrôle alemão atin-
ge não o produto, como diz o cabeço da notícia em referên-
cia, mas certas e determinadas casas brasileiras.
A nossa firma, na qualidade de uma das mais antigas
no comércio de fumos, mantém as melhores relações com im-
portantes firmas alemãs, às quais faz normalmente diversas
ofertas, tôdas elas rigorosamente enquadradas dentro das con-
dições exigidas pelo mercado alemão. Não podiam, por isso,
deixar de interessar a freguesia, a qual, conforme contas em
A 5. COLUNA NO BRASIL 163

meu poder, as acolhe com a maior simpatia, mesmo com


calor, chegando uma das firmas importadoras a pedir que
devolvêssemos a quantidade oferecida, tal a vantagem de nos-
sas cotações.
Infelizmente, tudo não passou disso, pois ao mesmo
tempo que essa firma acolhera com a abertura dos contingen-
tes, estavam sendo outras firmas, segundo pude verificar de-
pois, prodigamente contempladas pela repartição de contrôle
do governo alemão.
Até aí nada haveria a estranhar se não ocorresse a cir-
cunstância, verdadeiramente singular, de que as firmas pre-
feridas tivessem sido exatamente aquelas cujas ofertas chega-
ram a exceder às nossas em mais de 25 %.
Só posso atribuir o fenômeno às atividades equívocas
de certos elementos daquí junto à repartição de contrôle do
governo alemão e que teriam tido como consequência a eli-
minação das firmas genuinamente brasileiras do nosso inter-
câmbio comercial com a Alemanha.
Espero, entretanto, que as autoridades alemãs venham
a modificar sua atitude, pois não seria justo afrontar sem mo-
tivo as boas relações comerciais que sempre mantivemos com
aquele país.

A REPRESENTAÇÃO AO GOVERNO FEDERAL

Descoberto o estratagema pôsto em prática pelos agen-


tes nazistas contra firmas nacionais, era natural que estas to-
massem suas providências.
Resolveram, por isso, enviar ao Rio de Janeiro um re-
presentante para dar conhecimento dos fatos ao governo fe-
deral.
Primeiramente, o emissário avistou-se com o dr. Osval-
do Aranha, ministro do Exterior, que ouviu com muito inte-
rêsse a representação dos exportadores de fumo rio-grandense.
Sua missão estendeu-se ainda junto ao Conselho Federal
do Comércio Exterior que, em uma de suas reuniões, teve
amplo conhecimento de tudo o que se passava contra as fir-
mas nacionais.
Assim, em pouco tempo, os altos poderes da República
se encontravam amplamente ao par, esperando- se agora, natu-
ralmente, certas medidas a serem postas em prática contra
aqueles que vêm trazer mal-estar ao comércio genuinamente
nacional.

O MEMORIAL AO MINISTRO DO EXTERIOR

O emissário de firmas rio-grandenses, avistando-se com


o dr. Osvaldo Aranha, fez-lhe entrega de um memorial que
publicamos a seguir, vindo êle esclarecer perfeitamente o sen-
sacional caso.
164 AURELIO DA SILVA PY

"Exmo. Sr. Dr. Osvaldo Aranha


D.D. Ministro do Exterior.
Nós signatários, antigos comerciantes, especializados na
exportação de fumos em fôlha, pedimos vênia para submeter
à alta atenção de V. Excia. o fato que a seguir expomos
e que nos parece ser de suma gravidade.
À vista de uma tradição inalterável, e dadas as velhas
ligações que mantemos com o comércio alemão importador
de fumos, não podíamos deixar de estranhar que, de algum
tempo a esta parte, estejamos sendo sistematicamente preteri-
dos na distribuição dos contingentes feita pela repartição de
contrôle do governo alemão (Ueberwachungstelle ) , relativa-
mente à importação de fumo do nosso Estado.
Tanto mais estranhável nos pareceu o fato quanto é
indiscutível que dispomos dos maiores recursos, temos sólidas
e antigas relações com as principais firmas importadoras ale-
mãs e somos conhecedores profundos do ramo.
E' exato que vínhamos sendo até o presente contempla-
dos com promessas que nos pareciam idôneas, e aguardávamos,
tranquilos, a abertura dos contingentes, que, segundo nos in-
formava a freguesia, ia sendo adiada para mais tarde ...
Enquanto nos mantínhamos nessa espectativa, ativáva-
mos nossas ofertas para a Alemanha, reservando - nos uma
margem mínima de lucro, em virtude mesmo das condições
do mercado interno.
Não demorou, porém, que as causas reais das delongas
na distribuição de contingentes por parte da Ueberwachung-
stelle, antes objeto de simples suspeitas, aparecessem claramen-
te. E' que a distribuição estava sendo feita subrepticiamente
em favor de firmas sem tradição no comércio exportador, mui-
tas recentemente estabelecidas, tôdas com nomes alemães e
o que é mais singular - localizadas em sua maioria no inte-
rior, em contacto, portanto, direto e permanente, com a po-
pulação de origem germânica.
E' possível, Sr. Ministro, que nossa situação de interes-
sados na questão não nos aconselhasse a vir diretamente à
presença de V. Excia.
Sentimo-nos, porém, à vontade neste procedimento, não
só porque a êle somos impelidos por um dever patriótico,
diante do qual desaparecem os nossos interêsses, como porque
foi a própria filial do Banco do Brasil que, movida pelo mes-
mo sentimento superior, e suficientemente documentada, cha-
mou a nossa atenção , em caráter reservado, para o inexpli-
cável "boycott" que vínhamos sofrendo por parte das auto-
ridades alemãs.

A PRETERIÇÃO DE FIRMAS BRASILEIRAS

O que sobretudo é alarmante em tudo isso é que a nossa


preterição não se resolve em face de um conjunto de ofertas
em igualdade de condições quanto aos preços. Nesta hipó-
A 5. COLUNA NO BRASIL 165

tese, nada haveria a reclamar, embora pudéssemos estranhar


nossa eliminação pura e simples de um mercado que sempre
servimos a pleno contento da freguesia.
O fato para o qual não encontramos explicação, e que,
para nós, reveste o caráter de uma gravidade excepcional, é
que as nossas ofertas feitas à base de 56, 57 e 58 pfennings
por quilo fob, foram repudiadas em benefício de ofertas que
montavam até 72 pfennings fob!
Representantes das firmas beneficiárias de tais favores,
se procuram, de um lado, ocultar o montante dos contin-
gentes com que foram contemplados, são, por outro lado,
os primeiros a afirmar sem rebuços que outras firmas, que
não as dêles, não conseguiriam vender para a Alemanha mes-
mo a preço de custo ...
E' que essas firmas privilegiadas, que já haviam arre-
dado do mercado alemão os velhos exportadores do Rio Gran-
de, mediante ofertas superiores às dêstes em mais de 25 %.
sabiam perfeitamente que as normas, que passaram a regular
• nosso intercâmbio com aquele país, não pertenciam mais
à ordem comercial ou econômica.
Queremos dizer, Sr. Ministro, que só as conveniências
ou interêsses políticos do Reich, só algum plano secreto de
infiltração econômica, poderá justificar o escandaloso regime
de favor instituído em benefício de exportadores improvisa-
dos, os quais têm sôbre nós a única vantagem de merecer a
confiança política do atual regime alemão.
Se os fatos que ora submetemos à consideração de
V. Excia. não revestissem, por si mesmos, sentido tão con-
cludente, acrescentaríamos que nossa suspeita se funda ainda
nas atividades equívocas de um ex-combatente alemão, sabi-
damente nazista, frequentador assíduo dos meios interessados
no comércio exportador de fumos.
E' certo que o volume de nossa exportação de fumo
para a Alemanha (cêrca de 15.000 fardos por ano) , consi-
derado em si mesmo, pouco representaria em face do mon-
tante geral de nossas vendas.
Tão desconcertante, porém, foi a

INTERFERÊNCIA DA “UEBERWACHUNGSTELLE”

na seleção das ofertas, por tal modo aquele órgão do con-


trôle inverteu as leis mais comezinhas do comércio - que
se torna fácil a qualquer leigo compreender a repercussão
maléfica que essa política de ostensivo protecionismo vem
tendo no mercado interno. E' a influência direta de uma
nação estrangeira, através de uma quota de importação rela-
tivamente insignificante, nas atividades econômicas de uma
vasta zona do nosso país.
Se as fartas diferenças cotadas em favor das firmas bafe-
jadas pela política alemã fôssem canalizadas, ainda que em
166 AURELIO DA SILVA PY

parte, para a colônia, vindo assim a estimular a produção


rio-grandense de fumos, seria possível, sob êsse aspecto, enca-
rar sem temor a inesperada munificência dos importadores de
Bremen e Hamburgo .
Mas, Sr. Ministro, os preços de aquisição de fumo estão
estabilizados desde a abertura do mercado e, se alguma alte-
ração sofrerem, é mais provável que seja para a baixa e não
para a alta, devido ao excesso da presente safra sôbre a ante-
rior. Será fácil comprovar que as firmas que fecharam ne-
gócio com a Alemanha já estavam de posse de seus " stocks" ,
adquiridos ao preço do mercado.
Nestas condições, cabe indagar se realmente o destino da
enorme diferença paga espontaneamente a certas firmas é en-
riquecer meia dúzia de alemães ou de teutos fiéis ao Reich,
ou financiar, por intermédio dessas pessoas, atividades polí-
ticas clandestinas entre nós.
Qualquer que seja a interpretação que dermos aos es-
tranhos fatos que nos trazem à presença de V. Excia., uma
cousa é certa: as firmas rio-grandenses exportadoras de fu-
mo, que não inspiram especial confiança ao governo alemão,
estão sendo tratadas por êste como se devessem desaparecer
dos mercados ...
Não é, porém, apenas o comércio estabilizado de fumo
que está sujeito aos riscos da capciosa intervenção do Reich.
Casas brasileiras que importam artigos alemães em larga
escala podem, de um momento para outro, ser surpreendidas
por prejuízos capazes de arrastá-las à própria falência, e isto
em virtude de uma nova modalidade do intervencionismo ger-
mânico em nossa economia interna.

INTERVENCIONISMO GERMANICO

A Ueberwachungstelle, a pretêsto do que chama "troca


direta", condiciona a compra de produtos nossos à venda de
artigos de fabricação alemã. Estes são faturados pelos pre-
ços dos mercados internacionais, enquanto os nossos produ-
tos são aceitos por preços muito superiores aos vigentes. O
negócio realizado em tais condições seria grandemente van-
tajoso para o nosso país, se não encobrisse uma manobra de
graves consequências. Suponhamos que se trate de uma tro-
ca de fumo por arame farpado. Este artigo, segundo pro-
posta recente, foi cotado pelo preço do mercado. O fumo
seria recebido a título de permuta, com a majoração de
28,6% sôbre as ofertas normais. Esta considerável margem
de lucro permite ao seu beneficiário fazer concorrência simul-
tânea aos compradores de fumo e aos importadores de arame.
Tendo em vista que tal expediente é estendido a todos
os negócios que interessam à Alemanha, fácil é aquilatar a efi-
ciência das casas distinguidas pela Ueberwachungstelle, e come
A 5. COLUNA NO BRASIL 167

esta repartição estrangeira opera diretamente em nossa econo-


mia, implantando a balbúrdia e ameaçando de ruína o co-
mércio que vem sofrendo a concorrência desleal dos que se
encontram ao serviço do regime alemão.

GUERRA AINDA DOS FORNECEDORES

E' assim que as firmas genuinamente brasileiras que se


abastecem de artigos de procedência germânica e são mui-
tas - sofrem a guerra surda de seus próprios fornecedores ...
Poder-se-ia alegar que assiste àquelas o recurso de se
suprirem em outros mercados, se não fôsse certo que as dife-
renças arbitrariamente feitas pela Alemanha não pertencessem
a um jôgo oculto, de todo ignorado dos demais fornecedo-
res. Nessas condições, um vendedor honesto, diante dos pre-
ços de seu colega, fica inteiramente perplexo, sem nada com-
preender. Como há de êle imaginar que seu concorrente
pode dar-se o luxo de vender o artigo alemão mesmo abaixo
do custo, se nada sabe da excepcional margem de lucro que
os caprichos da Ueberwachungstelle lhe asseguraram, na im-
portação de produtos brasileiros ?
Assim se explica que firmas do mesmo ramo, que se su-
prem nas mesmas fontes, em aparente igualdade de condições,
firmas estabelecidas em uma pátria soberana, colham, pela
interferência desabusada de um governo estrangeiro, os resul-
tados mais desiguais . . .
Casas do Rio, distinguidas pelo nazismo, cujos negó-
cios se tornaram cada vez mais consideráveis entre nós, po-
dem, mediante a ajuda insólita do governo alemão , dominar
os mercados nacionais em puro detrimento do comércio bra-
sileiro.
Ao denunciar a V. Excia. as manobras pelas quais um
país estrangeiro procura tomar pé firme na vida econômica
brasileira, estamos certos de que fazemos obra de são patrio-
tismo e protestamos nossa inteira confiança em que V. Excia.
encontrará, nas inspirações de sua inteligência privilegiada,
nas prerrogativas de suas altas funções e sobretudo em suas
invulgares virtudes cívicas, os meios capazes de nos resguar-
darem da perigosa interferência alemã no comércio brasileiro."
A propaganda nazista e o controle da

imprensa teuto-brasileira

" Aspiramos não à igualdade de direitos, mas 20


domínio".
(Hitler, a Rauschning).

Faz parte da propaganda nazista um controle inteligente dos


órgãos de imprensa editados em língua alemã.
Da mesma forma por que dosam o desenvolvimento cultural
através da leitura de livros (Deutsche Hausbücherei e Deutsche Buch
Gemeinschaft), imprimem os nazistas a orientação que lhes convém
à imprensa, através da distribuição de noticiário telegráfico e de
material de ilustração .
E' sabido que a "Trans-Ozean" distribue exclusivamente ma-
terial de propaganda . Essa distribuição é bem mais cômoda que a
das demais agências, pois geralmente não traz ônus para quem a
recebe.
Entre nós, todos os jornais de orientação nazista inserem quasi
exclusivamente matéria fornecida pela T. O. E ' de lamentar que
organizações nacionais, como a Agência Brasileira, tenham empres-
tado o seu nome para camuflar a propaganda distribuída pelo na-
zismo. Quanto à matéria ilustrada, não há organizações propria-
mente oficiais, e, sim, semioficiais.
Há emprêsas, como Erich Zander e Dr. Selle-Epsler, S. A., que
fornecem páginas ilustradas já reduzidas a clichê, mediante uma
mensalidade módica. O "Neue Deutsche Zeitung", de Pôrto Alegre,
paga 50 marcos (RM. 50.-) por mês e recebe os clichês para um
suplemento ilustrado que aparece semanalmente. (Doc. n.º 31) .

Tradução do doc. n.º 31 :

"Dr. Selle-EPSLER S.A., BERLIN S.W. rua Zossener


n. 55 .
Secção Clichês de Imprensa.

Assinamos o clichê de imprensa da firma Dr. Selle-Epsler


S.A., Berlin S.W. 29 , sob as condições seguintes :
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 169

1. A Dr. Selle- Epsler S.A. nos fornece (semanalmente)


clichês 3-4, contra o pagamento mensal de R.M.
50.
2. Serviço especial, aos domingos e dias feriados, assim
como a correspondência e material auxiliar depen-
dem de combinação especial, à vista da lista de pre-
ços.
3. O preço mensal, assim como as despesas com portes
postais, da Dr. Selle-Epsler S.A. , devem ser pagos
no dia 5 do mês seguinte ao da entrega.
4. Comprometemo-nos a empregar os clichês e o ma-
terial auxiliar somente na edição do nosso jornal de-
nominado "Neue Deutsche Zeitung" , na edição se-
manal.
5. O uso no tôpo dos jornais e nas edições suplemen-
tares depende de combinação especial.
6. A assinatura começa em 1.º de agosto de 1935 e
termina em 1.º de agosto de 1936. Continuará,
entretanto, em vigor, se não fôr suspensa com um
aviso de 6 semanas de antecedência.
7. Com a suspensão da assinatura, desaparece o direito
de usar os clichês e material auxiliar fornecido pela
Dr. Selle-Epsler S.A. Comprometemo - nos, decor-
rido o tempo combinado, a devolver os suportes etc.,
desde que tenham sido tomados por empréstimo e
não possam ser vendidos.
8. Os casos judiciais serão resolvidos em Berlim.

Berlim, 13 de novembro de 1935 .

(carimbo) Dr. SELLE-EPSLER S.A.

Secção Clichês de Imprensa


(ass. ilegível)

Os clichês nos deverão ser entregues: SEGUNDA-TERÇA-


QUARTA-QUINTA-
SEXTA-SABADO

(Os dias não solicitados deverão ser riscados) ."

A matéria é escolhida pela emprêsa fornecedora, o que vale di-


zer que é pura propaganda nacional-socialista.
O serviço de censura da D. O. P. S., assim que foram proibidas
as atividades políticas, começou a cortar o material dessa prove-
niência, inutilizando, tanto quanto possível, a propaganda nazista .
Os jornais esperaram até o momento em que a situação pare-
ceu definida para êles, começando, então, a reclamar a Berlim con-
tra a natureza dos fornecimentos.
170 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 31

Dr. Belle Epsler A.G., Berlin SW 29, Zollener Str. 55

Abteilung
Prette- Ritchees

Me odonatrem de Bek-Cabot der Firma Dr. Selle-Eysler A.G., Berlin SW 29, unter

Are A defert und werkäglich (wöchentlich) 3-4 Klischees gegen


anh von Weissmart. 50.-
2 tabbed asAlbam und Feſttagen sowie das übrige Korreſpondenz- und Hilfsmaterial
Ako tobater Arvindarung auf Grund der Preisliste.
teh angle Nogspreis nebſt den von der Dr. Selle-Eysler A.G. verauslagten Porto-
puhuko mď Niviens bis zum 5. deß auf die Lieferung folgenden Monats beglichen ſein.
deep and der Betrag durch Nachnahme erhoben .

A dhe messtigin uns, die Klischees ſowie das Hilfsmaterial nur für die in unserem Verlag
Seitung Neue Deutsche Zeitung und Wochenausgabe
zu verwenden.
De ravndung in Kopfölättern und Nebenausgaben bedarf beſonderer Vereinbarung.
& Out Wonnement beginnt am 1. August 1935. und läuft zundcft bis zum
August 1936.
Es läuftjewelld weiter, ſofern es nicht mit fechswöchiger
Po zîm Quartalultimo gekündigt wird.
7. Mit dem Aufhören des Abkommens erliſcht das Vervielfältigungs- und Benutzungsrecht der
von der Firma Dr, Selle-Eysler A. G. gelieferten Klischees und Hilfsmittel. Wir verpflichten
uns nach Ablauf der Bezugszeit zur Rückgabe der Unterlagſlege und Biegemaſchine, ſofern
Re lethweise übernommen worden sind und kein Anlauf erfolgt.
8. Erfüllungs- und Gerichtsort iſt Berlin-Mitte.

Berlin ,ben 13 · November 193 5

DR. SELLE EYSLER


AKTIFNGESELLSCHAFT
PRESSEKUSCHELABTEILUNG

Die Kilmers follen bet und eintreffen: Montag - Dienstag Mittwe - Donnerstag Frettag Sennabend
(Die nicht gewünschten Tagefind zu durchstreichen.)
A 5. COLUNA NO BRASIL 171

Disso temos uma nítida impressão através da seguinte carta da


direção do "Neue Deutsche Zeitung" a Erich Zander:

"Neue Deutsche Zeitung" 20. April 1938.

Firma
Erich Zander
Druck-und Verlagshaus
Zossener Str. 55
BERLIN SW 29

Mit Heutigem muessen wir uns wieder einmal bezueg-


lich der Auswahl der uns von Ihnen zugehenden Klischees an
Sie wenden.
Wie wir Ihnen bereits vor laengerer Zeit einmal mitteil-
ten, benoetigen wir fuer die von uns woechentlich veroeffen-
tlichte Seite "Die Welt im Bild" stets eine groessere Anzahl
Klischees ueber internationale Angelegenheiten. Wir waeren
Ihnen dankbar, wenn Sie bei Ihrer Auswahl darauf Rueck-
sicht nehmen wollten.
Hinzu kommt noch, dass wir uns infolge der jetz hier
erlassenen Gesetze veranlasst sehen, das uns zugehende Mate-
rial darauf hin zu sichten, dass nichts zur Veroeffentlichung
gelangt, das uns als eine Propagierung auslaendischer Parteien
ausgelegt werden konnte.
Ein Teil der uns bis jetzt zugehenden Klischees ist aus
diesem Grunde nun auch gar nicht verwendungsfaehig. Damit
wir aber keinen allzugrossen Ausfall haben, bitten wir das
fuer uns bestimmte Material auch schon gleich nach diesem
Gesichtspunkt auszuwaehlen.
In der Hoffnung, dass es Ihnen moeglich sein wird, unse-
ren heutigen Wuenschen nachzukommen, zeichnen wir.
hochachtungsvoll . "

Tradução :

"Neue Deutsche Zeitung" 20 de abril de 1938.

A firma Erich Zander, Casa Impressora e Editora Zos-


sener Str. 55 ―― BERLIN SW. 29.

Formulamos a presente para nos dirigir a V.S. , nova-


mente, com relação à escolha de clichês que nos vem en-
viando.
172 AURELIO DA SILVA PY

Como já lhe comunicamos, tempos atrás, necessitamos


sempre, para nossa página publicada semanalmente e denomi-
nada "O mundo ilustrado" , um número maior de clichês re-
lativos a assuntos internacionais. Ficar-lhe-íamos pois gra-
tos se, em sua escolha, V.S. tomasse em consideração esta
circunstância.
Devemos acrescentar que, em virtude de leis agora em
vigor, nos vimos na contingência de exercer uma seleção no
material que nos é enviado, afim- de que nada seja publicado
que possa ser interpretado como propagação de doutrinas po-
líticas estrangeiras. Por isso, uma parte dos clichês que V.S.
nos enviou não poderemos, por forma alguma, aproveitar.
Assim, pois, no intuito de evitar desperdícios, queira
V.S. fazer a escolha do material a nós destinado, tendo em
vista a nossa situação, ora exposta.
Na esperança de que lhe seja possível corresponder a
nossos desejos, firmamo-nos,

de V.S.
Amos. Atos. Obdos."

A Central-Verlag der N. S. D. A. P. distribue gratuitamente


matrizes de clichês. Mais do que um comentário, o simples título
de órgão do Partido Nazista dá uma idéia nítida das pretensões da
propaganda alemã. (Doc. n.º 32).

Tradução do doc. n.º 33 :

"Obedecer às leis da vida é compreender um grande des-


tino." - Alfred Rosenberg Epígrafes semanais da N.S.
D.A.P./30 de julho até 5 de agosto de 1939 .

"A Nação é algo mais poderoso do que a posição, des-


cendência, classe e profissão" - Adolf Hitler - Épígrafes
semanais da N.S.D.A.P./30 de julho até 5 de agosto de
1939.
"Acima da liberdade individual, está a liberdade do nos-
so povo". ― Adolf Hitler - Epígrafes semanais da N.S.
D.A.P./13 até 19 de agosto de 1939.

(Distribuídos pela Chefia Regional de Propaganda da


N.S.D.A.P. - Editora Central da N.S.D.A.P., Suc . Franz
Eher, Munich) .

Hoje, êsse controle exercido sôbre os jornais editados em lín-


gua alemã no Estado já não favorece os nazistas, que, por isso, inten-
sificaram a sua propaganda pelo
A 5. COLUNA NO BRASIL 173

REICHS-RUNDFUNK

que é a poderosa Emissora Alemã de Ondas Curtas.


A quantidade enorme de correspondência enviada dêste Estado
para a Rundfunk de Berlim fornece-nos uma preciosa idéia do que
ela já conseguiu em nosso meio.
Milhares de cartas passam mensalmente pela Repartição dos
Correios com destino à Estação que mantém unidos os alemães do
exterior.
A Reichs-Rundfunk faz questão cerrada de saber ao certo como
é ouvida, onde o é e por quem.
Está visto que os questionários que a rádio alemã recebe, de-
vidamente respondidos, são uma maneira muito eficiente de con-
trolar à distância. Na Alemanha, os ouvintes da BBC e emissoras
estrangeiras são enviados para um campo de concentração e até para
o cepo. Quanto a nós, naturalmente, limitamo-nos a interceptar a
correspondência, evitando que se fortifiquem os vínculos estabele-
cidos pelo ar. Basta deter a atenção em qualquer dos programas da
emissora alemã para se ter uma visão exata do seu objetivo. Pelo
rádio, têm hoje os nazistas a instrução que não lhes pode ser mi-
nistrada no lugar onde residem. O texto das cartas adiante transcri-
tas traduz bem o efeito produzido na população de origem germâ-
nica pela estação de Berlim. Outro sistema eficaz de propaganda
do N. S. D. A. P. é o difundido através

DO LIVRO, DA REVISTA E DO JORNAL

E' verdadeiramente surpreendente o número de publicações


alemãs que circulam neste Estado. Mais surpreendente ainda é que
a maioria dessas publicações são distribuídas gratuitamente. Livros
de propaganda política, finíssimas revistas e jornais de tôda a es-
pécie chegam de graça às mãos de sôfregos leitores. A Delegacia de
Ordem Política e Social colecionou 1.714 títulos diferentes de pu-
blicações alemãs circulantes no Rio Grande do Sul .
Existe atualmente na Alemanha uma organização intitulada
"DEUTSCHER AUSLÄNDER-DIENST" que se encarrega de der-
ramar milhares de boletins pelo mundo inteiro contendo propa-
ganda dos atos do Govêrno Alemão e críticas severas aos seus adver-
sários. A “D. A. D." começou a intensificar sua distribuição neste
Estado após a declaração da guerra . As malas postais que contêm
essa propaganda são encaminhadas via Itália.

CARTAZES

Como se não bastasse êsse verdadeiro derrame de propaganda


a que nos vimos referindo, o N. S. D. A. P. joga para este lado do
174 AURELIO DA SILVA PY

Atlântico milhares de cartazes nos moldes dos que se vêem nas ilus-
trações. (Doc. n.º 33) , contendo reclame político do regime alemão.
O destino dêsses papeluchos é enfeitar as paredes das salas das casas
alemãs de sangue e origem, ladeando os mais bizarros quadros onde
se vê o retrato do Fuehrer.

DISTINTIVOS

Outra característica do Partido Nacional-Socialista consiste no


extenso uso dos distintivos partidários.
O partido tem uma quantidade enorme de alas, cada uma delas
com seu distintivo diferente, embora dentro de um mesmo estilo.
Além dêstes, outros foram instituídos, como por exemplo para co-
memorar o dia do trabalho e para o Winterhilfe. A polícia cole-
cionou 133 tipos diferentes de distintivos alemães, conforme se pode
verificar pela fotografia (doc. n.º 33-A) de um quadro que se acha
exposto na Delegacia de Ordem Política e Social. O distintivo,
como o uniforme, exerce uma influência acentuada no espírito ale-
mão e vale, muita vez, mais que intensa propaganda escrita. Daí,
o nazismo ter apelado para êle de modo tão abundante.
Com essas armas de propaganda e difusão política Adolf Hi-
tler exibe, aos alemães do estrangeiro e aos seus descendentes, "uma
Alemanha que se tornou grandiosa pelo regime nacional-socialista.”
De resto, da propaganda foi que nasceu o orgulho nacional alemão
que mantém o prestígio do nazismo. E com ela o nazismo procura
alimentar agora as suas 5.as colunas perdidas na América .
Neste Estado foram tomadas as necessárias providências no sen-
tido de pôr côbro a êsse venenoso processo de desagregação nacio-
nal, apreendendo-se tudo o que diz respeito à propaganda totali-
tária.

Tradução :
Deutsche im Ausland:

Alemães no Exterior:
Frill
er
!
COM

HITLER ! "
A 5. COLUNA NO BRASIL 1-75

Documento n.º 34

Erith Zander Druck und Verlagshaus


VORM.DR. SELLE - EYSLER AG.
BUCHDRUCK · OF SETOR CK LITHOGRAPHIE CHEMIGRAPHIE FARBENPHOTOGRAPHIE BUCHBINDEREI
FERNRUF: TELECRARESE: POSTSCHECKKONTO: BANKKONTO COMMERZ-u. PRIVATBANK AG. REICHSBANK.
6453 01 SELLEDRU BEREN BERLIN 46482 . 13330 DEPOSITEN-KASSE O, FRIEDRICHSTRASSE 1 GIROKONTO
resseabteing ./Gr .

Neue deutsche Zeg BERLIN SW29,


ZOSSENERSTR. SS den 28. April 1938.
Porto Alegre,
Recebido am 1415188
Rua Voluntarios Patria , 51 espendido em

Sehr geehrte Herren,


ich muss le der zugeben , dass mein Dienst in der letzten
Zeit in besonderen deutsche Ereignisse enthielt und das internationale
Geschehen etwas in den Hintergrund rückte . Das lag jedoch vor allem
an den politischen Vorgängen in Deutschland und Österreich , da sänt-
liche deutsche und auch die in Deutschland vertretenen ausländischen
Bildberichterstatter ihre Redaktion allein aus diesen Geschehnissen

zusammengestellt hatten . Sie können jedoch versichert sein , dass Sie,


nachdem der Führerbesuch in Italien in Italien vorbei ist , das politi-
sche Geschehen in aller Welt wieder zahlreicher in meinem Dienst vor-
bei
finden werden und Ihnen Bilder zugehen , deren Erscheinen man Ihnen
nicht Gen Vorwurf der Propagierung ausländischer Parteien machen kann.
Ich empfehle mich Ihnen

ait vorzüglicher Hochachtung


EKICH ZANDER
Duck- und Verlagshops
Wenow
176 AURELIO DA SILVA PY

Tradução do doc. n.º 34 :

"Erich Zander Casa Tipográfica e Editora

Suc. Dr. Selle -Epsler A.G.

Departamento Imprensa W/Gr.

Neue Deutsche Zeitung Berlim SW 29 , abril 1938.


PORTO ALEGRE Zossenerstr. 55
Rua Voluntários da Pátria, 51

Muito prezados senhores:


Infelizmente tenho que confessar que o meu serviço con-
tinha especialmente, nos últimos tempos, fatos da Alemanha,
pondo em plano secundário o movimento político internacio-
nal . E' isto, porém, principalmente devido aos acontecimen-
tos políticos na Alemanha e Austria, porque todos os repór-
teres fotográficos alemães e estrangeiros na Alemanha organi-
zavam suas reportagens somente com estes fatos. O senhor po-
derá estar certo, porém, que encontrará com mais frequência,
uma vez realizada a visita do "Fuehrer" à Itália, os aconte-
cimentos políticos de todo o mundo em meu serviço e rece-
berá fotografias em face de cuja publicação ninguém lhe po-
derá fazer a acusação da propagação de ideais políticos es-
trangeiros.

Ao inteiro dispor de V.S.,


com a máxima estima,

(carimbo) Erich Zander

Casa Tipográfica e Editora


(Ass. ) ilegível".

Tradução dos outros cartazes :

"Uma política covarde trará sempre desgraça." Otto


von Bismark ― Epígrafe semanal do Partido Nacional-Socia-
lista 23 até 29 de abril de 1939.

"Só uma tempestade de paixão dolorosa poderá desviar


os destinos dos povos." - Adolf Hitler ― Epígrafe semanal
do Partido Nacional-Socialista 6 até 12 de agosto de 1939.

(Distribuído pela Chefia Regional de Propaganda do Partido


Nacional-Socialista --- Editora Central do N. S. D. A. P. Franz
Eher, Suc. Munich) .
A 5. COLUNA NO BRASIL 177

A PROPAGANDA PELO RÁDIO

Reichs -Rundfunk

G.M.B.H. BERLIN

Deutscher Kurzwellensender
Berlin - Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Herrn
Abílio Albin Hollweg
a/c Emílio H. Streck ,
Linha Ávila Rio Gde. do Sul
Brasilien.

Ihr Schreiben vom : Unser Zeichen : Tag:


13/10.38 A7 . d/415/LK 22-5-39

Lieber Volksgenosse :

Ihrem Wunsche haben wir gern entsprochen und Ihrem


Brotgeber, Herrn Emilio H. Streck, einen Geburtstagsglueck-
wunsch am 14.11 ueber den Sender durchgehen lassen. War
er recht erfreut ueber diesen Gruss aus der alten Heimat ?
Den Urheber des Ganzen wird er wohl unschwer erraten
haben.
Wir nehmen an, dass auch Sie regelmaessig unsere Ue-
bertragungen hoeren und werden Ihnen, damit Sie stets im
Voraus ueber unsere Darbietunger unterrichtet sind, mona-
tlich das Brasilien-Programm zugehen lassen. Bitte teilen Sie
uns auf anliegendem Fragebogen gelegentlich mit, wie Sie die
19,63 Meter-Welle (DJQ) empfangen und ob Ihnen das Pro-
gramm in der neuen Zusammenstellung gefaellt. Fuer Ihre
freundliche Mitarbeit im Voraus besten Dank.

Mit deutschem Gruss

Heil Hitler!

Reichs-Rundfunk G.m.b.H.
Deutscher Kurzwellensender
i.A

Sep: Fuehrerrede v. 28 /4.39


Zeitungsschau."
125. C.
178 AURELIO DA SILVA PY

Tradução :

"Emissora Alemã de Ondas Curtas

Berlim Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Sr.
Abílio Albin Hollweg
a/c Emílio H. Streck,
Linha Avila ---- Rio Gde. do Sul
Brasil

Sua carta de : Nossa Referência: Dia:


13/10.38 A7. d/415/LK 22-5-39

Caro compatriota:

Com prazer satisfazemos os seus desejos, transmitindo,


em 14,11 uma saudação de aniversário dirigida ao seu chefe
sr. Emílio H. Streck. Alegrou-se êle com esta saudação pro-
cedente da velha pátria ? Com facilidade êle descobrirá o
autor.

Supomos que o senhor ouve, regularmente, as nossas ir-


radiações, e no intuito de o orientar lhe remeteremos, antecipa-
da e mensalmente, o programa do Brasil. Solicitamos o obsé-
quio de nos informar, oportunamente, preenchendo o ques-
tionário anexo, como o senhor recebe o (DJQ) com uma
onda de 19,63 e se o programa, com a nova orientação, lhe
agrada. Antecipamos os nossos agradecimentos pela sua coo-
peração.

Com a saudação alemã :

Salve Hitler!

Emissora Alemã de Ondas Curtas.

Em separado: Discurso do Fuehrer de 28 /4.39,


Publicação do Jornal."
A 5. COLUNA NO BRASIL 179

OUTROS DOCUMENTOS

"Reichs - Rundfunk
G.M.B.H. BERLIN
Deutscher Kurzwellensender

Berlin ― Charlottenburg 9
Kaiserdamm , 77

Herrn
Walter Kanitz
a/c C. Hillesheim,
Santo Angelo
Est. do Rio Grande do Sul,
BRASILIEN.

Ihr Schreiben vom : Unser Zeichen : Tag:


14/10.39 A7. d/433 /LK 30-5-39

Lieber Volksgenosse :

Ihrer Bitte nachkommend riefen wir Ihnen am 25. No-


vember einen Geburtstagsgruss ueber den Sender zu . Wir
hoffen, dass unser Durchspruch gut gehoert wurde und Ihnen
viel Freude bereitet hat.
Da wir annehmen dass auch Sie zu unseren eifrigen
Hoerern zaehlen, haben wir veranlasst, dass Ihnen von jetz
ab unser gedrucktes Brasilien - Programm regelmessig zuge-
sandt wird. Als Drucksache geth Ihnen in den naechsten
Tagen die Julisendefolge, sowie die Rede unseres Fuehrers
vom 28/4.zu. Bitte teilen Sie uns auf anliegendem Fra-
gebogen gelegentlich Ihre Empfangsbeobachtungen, Wuen-
sche und Anregungen mit. Jeder Hinweis dient zur Wer-
besserung unserer Arbeit und wir sind Ihnen sehr dankbar
dafuer.
Wir wuenschen Ihnen noch viele schoene Stunden in
Verbundensein mit der alten Heimat und verbleiben

Mit deutschem Gruss

Heil Hitler!

Reichs-Rundfunk G.m.b.H.

Deutscher Kurzwellensender

i. A".
180 AURELIO DA SILVA PY

Tradução :

Emissora Alemã de Ondas Curtas


Berlim - Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Sr.

Walter Kanitz
a/c C. Hillesheim,

Santo Angelo
Est. do Rio Grande do Sul,

BRASIL.

Sua carta de: Nossa Referência : Dia:


14/10.39 A7. d/433 /LK 30-5-39

Caro compatriota :

Satisfazendo o seu pedido, irradiamos, em 25 de no-


vembro, uma saudação de aniversário. Desejamos que a nos-
sa irradiação tenha sido bem ouvida e que lhe tenha causado
alegria.

Como supomos que é um fervoroso ouvinte nosso, pro-


videnciamos para que, de hoje em diante, o nosso programa
do Brasil, impresso, lhe seja remetido regularmente. Nos
próximos dias lhe será remetido o programa de julho, assim
como o discurso do nosso Fuehrer pronunciado em 28/4.
Solicitamos nos transmitir, preenchendo o questionário inclu-
so, as suas impressões, desejos e sugestões. Qualquer indica-
ção coopera para melhorar o nosso desejo e muito lhe agra-
decemos.

Desejando-lhe muitas horas de contacto com a velha pá-


tria, subscrevemo-nos com a saudação alemã,

Salve Hitler!

Emissora Alemã de Ondas Curtas


A 5.' COLUNA NO BRASIL 181

Cópia :

"Reichs - Rundfunk
G.M.B.H. BERLIN
Deutscher Kurzwellensender
Berlin - Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Herrn

W. Kuhn,
Caixa Postal, 42
Santa Cruz
Est. do Rio Grande do Sul,
BRASILIEN.

Ihr Schreiben vom : Unser Zeichen : Tag:


15/11.38 A7. d/430/LK 30-5-39

Lieber Volksgenosse:

Wir danken Ihnen fuer Ihr freundliches Schreiben, dem


wir die uns fuer den Fotowettbewerb uebersandten Bilder
entnahmen. Die Teilnahme unserer werten Hoerer aus Ue-
bersee an diesem Wettbewerb war so rege und es wurde soviel
gute Arbeit geleistet, dass eine Verdoppelung oder Verdrei-
fachung der Preise noetig gewesen waere, um sie entsprechend
belohnen zu koennen . Unser Bildarchiv ist durch Ihre inte-
ressanten Fotos wesentlich bereichert worden, wir bedauern
es nur, Ihnen den erhofften Preis nicht melden zu koennen .
Wir nehmen an dass es auch Ihnen Wilkommen sein
wird, regelmaessig mit unsere gedruckten Sendefolge belie-
fert zu werden und haben unsere Versandabteilung deshalb
engewiesen, die entsprechende Matrize anfertigen zu lassen.
Beiliegend ueberreichen wir Ihnen einen Fragebogen, der zur
Angabe Ihrer Empfangsbeobachtungen, Wuensche und Anre-
gungen dienen soll. Als Drucksache erhalten Sie die Rede
unseres Fuehrer vom 28/4., eine Zeitungsschau und 2 Arti-
kel. Das Juliprogramm folgt in den naechsten Tagen.
Mit deutschem Gruss

Heil Hitler!

Reichs-Rundfunk G.m.b.H.
Deutscher Kurzwellensender

i. A."
182 AURELIO DA SILVA PY

Tradução :

Emissora Alemã de Ondas Curtas


Berlim - Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Sr.

W. Kuhn,
Caixa Postal 42
Santa Cruz
Est. do Rio Grande do Sul.
BRASIL.

Sua carta de: Nossa Referência : Dia:


15/11.38 A7. d/430 /LK 30-5-39

Caro compatriota :

Agradecemos a sua atenciosa carta, da qual retiramos


as fotografias destinadas ao concurso. A cooperação dos
nossos ouvintes de além-mar foi tão animada e foram apre-
sentados tão bons trabalhos que se tornou necessário dupli-
car ou triplicar os prêmios afim de poder ser conferida uma
recompensa compensadora. O nosso arquivo ficou enrique-
cido com as suas interessantes fotografias, entretanto, senti-
mos lhe comunicar que o senhor não obteve o prêmio espe-
rado.
Supomos que lhe será agradável receber, regularmente,
os nossos programas impressos e demos instruções à nossa
secção de expedição para que lhe faça a respectiva remessa.
Anexo lhe remetemos um questionário afim de ser preenchi-
do com as suas observações, desejos e sugestões. Como im-
presso, lhe remetemos um discurso pronunciado pelo nosso
Fuehrer em 28/4, recortes de jornais e 2 artigos. O pro-
grama de julho, nos próximos dias.

Com a saudação alemã ,

Salve Hitler!

Emissora Alemã de Ondas Curtas


A 5.ª COLUNA NO BRASIL 183

Cópia :

Deutscher Kurzwellensender Berlin


CHARLOTTENBURG, 9 - KAISERDAMM 77

FRAGEBOGEN

Auf welchen Wellenlängen hören Sie den Deutschen


Kurzwellensender?

Hören Sie regelmässig oder nur gelegentlich?


Wie ist der Empfang ?

1. im allgemeinen :
2. Welche Wellenlänge und zu welcher Zeit hören
Sie am besten im :
a) Frühjahr:
b) Sommer:
c) Herbst:
d) Winter:

Welche anderen Sender hören Sie besser als den Deutschen


Kurzwellensender?

Welches Empfangsgerät benutzen Sie ?


(Möglichst auch Type und Baujahr nennen )

Was für eine Antenne benutzen Sie?

Treten örtliche Störungen durch Motore, elektrische


Apparate usw. auf?

Treten Störungen durch andere Sender auf


1. Rundfunksender (Standort und Wellenlänge )
2. Telegraphiesender (Standort und Wellenlänge)

Entspricht unsere Sendezeit Ihren Wünschen?

Welche Sendungen unseres Programmes gefallen Ihnen


am besten
184 AURELIO DA SILVA PY

Verso da cópia :

Wird unser Programm in den örtlichen Tageszeitungen


und Funkzeitschriften abgedruckt und in welchen ?

Wird unser Programm von Ortssendern ubernommen


und von welchen ?

Findet Gemeinschaftsempfang unseres Programmes statt


und wo?

Sonstige Bemerkungen :

Anschriften anderer Hörer des Deutschen Kurzwellen-


senders, die Ihnen bekannt sind :

NAME : Anschrift:

Unterschrift:
Anschrift:
Datum :
A 5. COLUNA NO BRASIL 185

Tradução :
Emissora Alemã de Ondas Curtas, Berlim

CHARLOTTENBURG, 9 - KAISERDAMM 77

QUESTIONARIO

Qual o comprimento das ondas com as quais ouve as


irradiações alemãs de ondas curtas?

Ouve regularmente, ou ocasionalmente?

Que tal é a recepção?


1. em geral:
2. qual o comprimento das ondas e a que horas ouve
melhor na :
a) Primavera :
b) Verão:
c) Outono :
d) Inverno :

Quais as outras irradiações que ouve melhor do que as


irradiações alemãs de ondas curtas?

Quais os aparelhos receptores que usa?


(Se possível mencionar o tipo e o ano de construção) .

Que antena usa ?

Existem ruídos locais de motores, aparelhos elétricos,


etc.?

Existem ruídos de outros irradiadores ?


1. Irradiador (localidade e comprimento das ondas ) .
2. Telegrafia ( localidade e comprimento das ondas) .

A nossa hora de irradiação satisfaz aos seus desejos ?

Quais as irradiações do nosso programa que mais lhe


agradam ?
186 AURELIO DA SILVA PY

Tradução do verso :

O nosso programa é publicado nos jornais diários locais,


em revistas de rádio e em quais?

O nosso programa é captado por estações locais e por


quais?

Existem recepções em conjunto dos nossos programas


onde?

Mais observações:

Endereços de ouvintes das irradiações alemãs, de ondas


curtas, seus conhecidos ;

Nome: Endereço:

Assinatura :
Endereço :
Data:
A 5. COLUNA NO BRASIL 187

Cópia :

"Reichs - Rundfunk
G.M.B.H. BERLIN

Deutscher Kurzwellensender
BERLIN Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Frauelein

Herta Kuba
Cruz Alta
Est. do Rio Grande do Sul,
BRASILIEN.

Ihr Schreiben vom: Unser Zeichen : Tag:


22/11.38 A7. d /434/LK 30-5-39

Liebes Frauelein Kuba !

Wir danken Ihnen vielmals fuer Ihr liebes Briefchen


und heissen Sie noch nachtraeglich im Kreise unserer Hoerer
herzlich willkommen.
Ihre Wuensche konnten wir leider nur zum Teil erfuel-
len, d.h., es war uns moeglich, Ihrem kleinen Neffen am 24 .
Januar ueber den Sender zu gratulieren, da unser Briefkasten
fuer den Heiligenabend bereits vor Eintreffen Ihres Schrei-
bens ueberfuellt war. Sie versprachen, uns zu berichten wie
Sie die Gruesse empfangen haben, doch haben wir bis jetzt
nichts darueber gehoert.
Damit Sie unsere Sendungen besser verfolgen koennen.
werden wir Ihnen regelmaessig unser gedrucktes Brasilien-
Programm zugehen lassen. Vielleicht berichten Sie uns ein-
mal, welchen Empfang Sie auf der DJQ-Welle haben und ob
unsere Darbietungen auch weiterhin Ihren Beifall finden. Wir
legen zu diesem Zwecke einen Fragebogen bei, den Sie uns
bitte gelegentlich ausgefuellt zuruecksenden wollen.
- Das Juliprogramm kommt in den naechsten Tagen
zum Versand. Sie erhalten gleichzeitig die Rede unseres Fueh-
rers vom 28/4. , die Sie sicher gern noch, eimal nachlesen
werden.
Mit deutschem Gruss

Heil Hitler!

Reichs-Rundfunk G.m.b.H.

Deutscher Kurzwellensender
i. A." .
188 AURELIO DA SILVA PY

Tradução :

Emissora Alemã de Ondas Curtas

Berlim - Charlottenburg 9
Kaiserdamm, 77

Senhorita

Herta Kuba
Cruz Alta
Est. do Rio Grande do Sul,
Brasil

Sua carta de: Nossa Referência: Dia:


22/11.38 A7. d/434/LK 30-5-39

Prezada senhorita Kuba !

Agradecemos a sua cartinha e todos nós, no círculo de


nossos ouvintes, lhe desejamos boas-vindas.
Infelizmente nos foi possível satisfazer os seus desejos
somente em parte, isto é, somente nos foi possível felicitar
o seu sobrinho, em 24 de janeiro, pois as encomendas para
o Natal, já muito antes de recebermos a sua carta, estavam
excedidas. A senhorita prometeu-nos informar como foi re-
cebida a saudação, entretanto, até à presente data nada rece-
bemos a respeito.
A-fim-de que a senhorita possa acompanhar melhor as
nossas irradiações, lhe remeteremos, regularmente, o nosso pro-
grama do Brasil, impresso. Talvez a senhorita possa nos
informar qual a irradiação que deseja pela onda DJQ e se
as nossas irradiações continuarão tendo os seus aplausos. Ane-
xamos um questionário, o qual lhe pedimos, oportunamente,
preencher e nos devolver. Nos próximos dias lhe remetere-
mos o programa de julho. Receberá também, na mesma oca-
sião, o discurso do nosso Fuehrer, pronunciado em 28/4.,
qual a senhorita provavelmente relerá com prazer.

Com a saudação alemã ,

Salve Hitler!

Emissora Alemã de Ondas Curtas.


A 5. COLUNA NO BRASIL 189

Cópia :
"Max Henze
Rio de Janeiro
Caixa Postal, 650
Zt. Blumenau, den 4.Juli 1989.
An den deutschen Kurzwellensender
Reichsrundfunk G.m.b.H.
Berlin

Ihr Zeichen /A7 . d/405/LK. 15-5-39

Ich danke ihnen fuer Ihr frld. Schreiben vom 16. vor.
Mts. Die von Ihnen angekuendigten Lektueren sind bis heute
zwar noch nicht eingetroffen und es ist auch wohl kaum
anzunehmen, dass dieselbe noch eintreffen werden da sie
hoechstwahrscheinlich der Censur anheim gefallen sind. Sol-
ten dieselben jedoch noch eintreffen, so werde ich Ihnen die-
selben gerne bastätigen . Mein Kuenftiger Wohnsitz ist ab
15 Juli in Porto Alegre und ich bitte Korrespondenzen an
die Caixa Postal 169 kuenftig zu senden.
Fuer regelmaessige Uebersendung eines Rundfunkpro-
grammes bin ich Ihnen sehr dankbar. Es wird Sie interessie-
ren zu hoeren, dass Rundfunkprogramme in Blumenau den
ueblichen Weg der Censur gehen und nie ihren Adressanten
erreichen.
Das mit beigefuegte Zirkular enthaltend eine Reihe von
Fragen bezgl. Empfang werde ich Ihnen leider erst beant-
worten koennen, sobald ich Gelegenheit habe den Empfang
auszuprobieren nach Eintreffen in Porto Alegre.

Mit deutschem Gruss.

Heil Hitler !

(ass. ) Max Henze".

Tradução :
"MAX HENZE
Rio de Janeiro
Caixa Postal, 650
(ocasionalmente) Blumenau, 4 de julho de 1939
A
Emissora Alemã de Ondas Curtas.
Berlim
Sua Referência /A7. d/405/LK 15-5-39.
Agradeço a sua carta de 16 do mês próximo passado.
Os livros de leitura, que menciona, até hoje não chegaram e
190 AURELIO DA SILVA PY

é pouco provável que ainda cheguem, pois muito provavel-


mente caíram nas mãos da censura. Caso êles ainda cheguem,
acusarei, com prazer, o seu recebimento. De 15 de julho
em diante, a minha moradia será em Pôrto Alegre, de modo
que lhes solicito remeter a minha futura correspondência para
a Caixa Postal 169. Agradeço-lhe a remessa regular dos
programas de rádio. E' do seu interêsse saber que os impres-
sos de programas de rádio, para Blumenau, seguem o mesmo
caminho de censura e nunca alcançam os seus destinatários.
À sua circular, contendo uma série de perguntas, somen-
te poderei responder depois de ouvir as suas irradiações ao
chegar a Pôrto Alegre.

Com a saudação alemã,

Salve Hitler!

(ass.) Max Henze.”


1

O púlpito como instrumento da propaganda


política As escolas protestantes

66 nós somos bárbaros e queremos


ser bárbaros : é um título de honra” .
(Hitler, a Rauschning).

O nazismo criou êsse bárbaro sistema de fazer a guerra conhe-


cido pela expressão de "guerra total", e a cuja conta correm em
larga parte os triunfos que os exércitos alemães alcançaram na
Europa. Mas, a técnica total não é exclusiva da maneira nazista de
fazer a guerra. Os dirigentes nazistas a aplicaram a tôdas as suas
atividades e se valeram de todos os meios e veículos para levá-las
avante, inclusive da religião.
E' conhecido, desde tempos imemoriais, o papel importante
que os religiosos podem desempenhar na doutrinação política. Ten-
do êste fato em vista, o Nacional-Socialismo Alemão lançou mão dos
pastores luteranos, enviando-os como agentes indiretos aos países
em cuja penetração estava interessado.
A Igreja Evangélica Luterana é representada oficialmente en-
tre nós pelo Sínodo Rio-Grandense, constituído de cem comunida-
des entregues à direção espiritual de outros tantos pastores, em sua
grande maioria alemães natos.
Após o advento do nacional-socialismo na Alemanha e sua con-
sequente influência nos destinos da religião evangélica, todos os
pastores chegados ao Rio Grande do Sul se mostraram partidários
fanáticos do nazismo. Daí, a revolução política que se operou en-
tre os evangélicos do Sínodo.
De início, a idéia nacional-socialista frutificou ; se não venceu
em tôda a linha, foi isso devido à precipitação dos inovadores.
Houve uma reunião do Sínodo em Santa Cruz, em que os na-
zistas propuseram fôsse renovado, inicialmente, o juramento de to-
dos os pastores, mas feito então apenas sôbre o Novo Testamento.
O Velho Testamento disseram êles tinha origens semíticas
e deveria ser abandonado em definitivo , de conformidade com a
teoria do Novo Estado alemão.
192 AURELIO DA SILVA PY

Houve viva discussão e, afinal, por hábil interferência do pre-


sidente, o bispo dr. Herrmann Dohms, renovaram-se os juramentos
sôbre as duas escrituras. Foi um revés para o nacional-socialismo.
Os agentes nazistas não desanimaram. A luta política não ficou
paralisada. Tomou novo rumo, norteando-se pelo trabalho indivi-
dual de cada pastor correligionário. De quando em vez, êsse traba-
lho visava a presidência do Sínodo, jogando-a em campanhas disfar-
çadas, como ocorreu na questão das prédicas. Mas, desde então, os
pastores passaram a ser enviados ao Rio Grande do Sul com a mis-
são de “ trabalhar por conta própria”, isto é, fora dos laços do Sí-
nodo. O número destes elementos já anda em cêrca de sessenta e
èles representam um grande perigo, difícil de anular. Em todo o
Estado existem perto de 200.000 pessoas de religião evangélica. Está
visto, portanto, que a situação criada coloca êsse imenso núcleo de
população sob a orientação dos pastores nazistas, pastores de enco-
menda, que se ocupam muito mais de uma política nociva do que
da religião.
A policia sul-rio-grandense, preocupada com esta faceta da
questão nazista, mandou proceder a vários inquéritos, um dos
quais, para ilustração, é transcrito abaixo. Trata-se das atividades
antibrasileiras exercidas pelo dr. OLDERICH FRANZMEYER, ex-
diretor do Ginásio Sinodal de São Leopoldo. Cumpre esclarecer
que, positivada a ação nazista do dr. Franzmeyer, foi êle afastado
imediatamente de seu cargo, tendo o dr. Coelho de Souza, secretá-
rio da Educação, mandado substituí-lo por um professor nacional.
Eis os resultados do inquérito em referência :

"Porto Alegre, 14 de julho de 1938.


Exmo. sr. Cap. Chefe de Polícia.

RELATÓRIO

Assunto: Atividades nazistas. Localidade: São Leopoldo:


Venho, por intermédio dêste, apresentar a V. Excia. uma
sintese de minhas observações e notas tomadas na vizinha
cidade de São Leopoldo, no tocante às atividades nazistas.
Como é do conhecimento geral, residem nessa cidade
muitos alemães, e o nacional- socialismo, portanto, conta com
grande número de adeptos e simpatizantes. A expansão e o
desenvolvimento sempre crescentes da propaganda do Partido
N.S.D.A.P. encontram em São Leopoldo um campo favorá-
vel. Prova isto o núcleo da Frente Alemã do Trabalho ,
uma das organizações estrangeiras do N.S.D.A.P., que lá era
assaz forte. Até bem pouco, as mensalidades eram pagas re-
gularmente e talvez ainda continuem a sê-lo às ocultas, não
obstante ter a policia fechado o escritório central que fun-
cionava na Casa Alemã , aquí em Porto Alegre .
A 5. COLUNA NO BRASIL 193

Chegado a São Leopoldo, fui informado de que um


austríaco, de nome LUCIAN, dono de uma fiambreria à rua
da Independência, sofrera considerável "boycott" por parte
dos alemães nazistas. Procurei-o a-fim -de colhêr algumas in-
formações. Esse senhor, que há vários anos reside naquela
localidade e é reconhecidamente probo e trabalhador, afir-
mou-me que a razão dêsse " boycott" que contra êle se movia
era resultado de, apenas, ter êle elogiado o atual governo
brasileiro e feito referências desabonadoras à pessoa de Hitler.
Disse, mais, que por várias vezes avisara as autoridades da
viagem que um certo senhor MURBAK estava por fazer à
Alemanha, aonde fôra, segundo consta, a chamado do Parti-
do Nazista Alemão.
Êsse senhor Murbak viaja com visto de retôrno. La-
mentável descuido, êste. Procurei saber o nome dos de-
mais nazistas, a-fim-de tomar as medidas necessárias. Assim ,
deixando a casa do austríaco, fui dar uma busca à casa do
Pastor Knapper, que mora no pró- seminário Evangélico . En-
contrei correspondência trocada entre êle e diversos departa-
mentos do N.S.D.A.P. , em Berlim .
Esta correspondência, apreendida em seu poder, bem
prova o papel saliente que representa o pastor Knapper den-
tro do N.S.D.A.P. aquí no Brasil. Se não vejamos :

Documento n. 1

Refere esta carta ( passagem assinalada ) que " nada cons-


ta contra o pastor P. Grabs, porquanto êste sempre se tem
mostrado ótimo correligionário, trabalhando muito pelo N.S.
D.A.P. aquí no Brasil" .

Documento n. 2

O pastor aquí fala da situação precária em que se en-


contra o Centro 25 de Julho . Êste Centro foi fundado
por elementos teuto-brasileiros, que apenas pretendiam come-
morar a data do aniversário da imigração alemã no Rio Gran-
de do Sul e cultivar assim a tradição. Todavia sofreu a pe-
netração nazista, estando agora sob o contrôle do Partido
de Hitler. No mesmo documento n.° 2 , o pastor diz ainda :
"Necessitamos de 3.000 marcos para cobertura das despesas
do movimento que estamos fazendo dentro do Centro 25 de
Julho. A hora é grave e o dito Centro necessita dêsse auxílio
para a conservação do espírito e da comunidade alemã. Para
isto será nomeado administrador dos negócios o sr. Saft, dire-
tor dos Colégios de Pelotas" .

Documento n.º 3

Mais adiante: "Recebí há dias uma carta do sr. Fritz


Rotermund, em que êle se admira da participação da equipe
13-5.ª C.
194 AURELIO DA SILVA PY

porto- alegrense nos jogos olímpicos em São Leopoldo, pois


o Turner Bund só tem procurado estabelecer desordem e con-
fusão em nossas fileiras .
(Note-se
brasileiro e até o momento nada que cont
constava Frit Rote
z êle
ra . rmund é
de uma importante livraria em São Leopoldo, a qual E' dono
gira
com vasto capital ) .
Em continuação, o pastor Knapper assim se expressa,
elogiando a atuação de elementos teuto-brasileiros :
"Eduardo Springer, de Novo Hamburgo, muito desen-
volveu o atletismo e conseguiu que a organização teuto - bra-
sileira em suas marchas formasse com a bandeira da CRUZ
SUÁSTICA .

"Fritz Rotermund, o pai do movimento 25 de Julho,


é um homem que sempre produz muito .
"O pastor Pomer tem mostrado extraordinária atividade
e feito muito pelas escolas alemãs .
"Como bom alemão ( também êste é brasileiro) nunca
teme ameaças e age mesmo com perigo da própria vida.
"O professor Waslawick, de Santa Cruz, é considerado
um dos melhores professores. Defende sempre o direito das
escolas alemãs e tem-se oposto à frequência das crianças às
escolas públicas brasileiras .'
Êsses senhores mencionados, como já dissemos, são teuto-
brasileiros .

Documento n.º 4

Esta carta é dirigida ao pastor Knapper e é assinada per


Walter Hornig, ex -chefe do Partido Nazista aquí no Rio
Grande do Sul e antecessor de Ernst Dorsch. Hornig assim
se expressa : "Conto como certo que o senhor pastor estará
presente aos festejos, em Stuttgart, do dia da AO ( Organi-
zação dos Alemães no Estrangeiro) como também em Nueren-
berg, no dia da Concentração do Partido .”

Documento n.º 5

O mesmo Hornig escreve (Doc . N.º 5 ) , ainda ao pas-


tor: “À coleta por mim feita durante três semanas, para
a Casa Alemã, alcançou a soma de 230 contos de réis. Esta
coleta foi feita entre elementos teuto-brasileiros."
E' a prova de que, contrariamente às negativas dos ale-
mães, os teuto -brasileiros eram obrigados a contribuir com
5 % dos lucros de seus negócios para a Casa Alemã , sob
pena de sofrerem um "boycott" .
Fica, assim, perfeitamente comprovado que êsse pastor
Knapper, como muitos outros, tem desvirtuado seu verda-
deiro ofício, preocupando-se com ideologias importadas. A
tolerância que os governos têm tido, e o prestígio que os pas-
tores gozam junto às famílias, fazem com que êles tomem
A 5. COLUNA NO BRASIL 195

estas liberdades tão perniciosas à educação dos jovens teuto-


brasileiros.
Após a minha visita à casa do pastor Knapper, dirigí-
me à residência do professor Franzmeyer, no colégio Seminá-
rio de que é diretor, sendo exaltado nazista.
Com surpresa, êste senhor declarou ter nascido no Bra-
sil e ter-se registado alemão no Consulado. Expressou -me
todo o seu fervor pelo partido de Hitler e, ainda mais, o ha-
ver concorrido para o " boycott" feito ao austríaco Lucian,
por ter-se êste declarado antinazista e usado de termos pouco
elogiosos à pessoa de Hitler. E' que isto vinha ferir seus
brios de alemão. Era, portanto, a confirmação do que dis-
sera o austríaco.
Em seu arquivo, no próprio colégio, foi encontrada co-
piosa correspondência trocada com o cônsul alemão desta
capital e a embaixada alemã no Rio de Janeiro.

Documento n.º 6

Escreve a embaixada ao dr. Franzmeyer : "O ministro


da Educação, de combinação com o V.D.A. (Liga dos Ale-
mães no Estrangeiro) , resolveu custear os estudos de aperfei-
çoamento dos professores teuto -brasileiros. Assim é que, ini-
cialmente, 6 irão fazer êsse curso, primeiro em Kiel e depois
em outras cidades alemãs.”
Em resposta, o dr. Franzmeyer escreve ao consulado
alemão desta capital : "Com satisfação recebí a comunicação
da embaixada alemã do Rio de Janeiro, de que o governo
alemão pretende custear os estudos de aperfeiçoamento dos
nossos professores. Há muito que no círculo dos professo-
res se esperava esta oportunidade, pois que o teuto-brasileiro,
quando tem ocasião de visitar a Alemanha e ver com os olhos
a pátria e o povo de seus pais acorda e passa a representar
aquí a terra e a cultura de seus pais."
Mais adiante, êle frisa : "Essa medida será de real van-
tagem, pois êste estudo lhes mostrará o progresso da nova
Alemanha e promete trazer ótimos proveitos para o futuro
trabalho nesta terra" .
Franzmeyer escreve ao pastor Knapper (Doc. n.º 6) :
"Atendendo à sua solicitação estou disposto a dar algumas
aulas sôbre a doutrina do Fuehrer, no morro de Spiegelberg" .
Tôdas as cartas trazem o clássico Heil Hitler ! E é o
diretor de um colégio nacional quem escreve .

Documento n.º 9

O Cônsul escreve ao dr. Franzmeyer , em janeiro de


1938:
"Como ainda não fui honrado com uma respos'a à mi-
nha carta de 15 de dezembro de 1937 , referente à remessa
de filmes de doutrinação, solicito fazê-lo o quanto antes.
196 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 10

A Intendência Geral do Estrangeiro solicitou (Doc. N.°


10 ) uma confirmação do recebimento dos aparelhos de pro-
jeção e dos filmes enviados."

Documento n.º 11

Ainda é o cônsul que escreve : "Frequentes têm sido


os pedidos de auxílio que nos fazem os pais de filhos nasci-
dos no Brasil, a -fim- de que estes possam fazer um curso na
Alemanha . Dupla seria a vantagem : I) afastar êsses jo-
vens do ambiente estranho em que vivem ; II ) conhecer a
nova Alemanha.
Para isso, já conseguí prospectos dos internatos da Prús-
sia, onde se faz curso de Política Nacional-Socialista".

Documentos ns. 12 , 13 e 14

Os Doc. n.º 12 , 13 e 14 provam que os colégios do


interior recebem, por intermédio do consulado, prêmios e
regras para o ensino alemão nos colégios.

Documento n.º 15

E' uma professora ( Monica Hahn ) que escreve ao dr.


Franzmeyer, solicitando-lhe uma viagem à Alemanha, "pois
como brasileira, sem conhecer a Alemanha, durante minha
atividade sempre tenho encontrado muita dificuldade para
um resultado eficaz na difusão do verdadeiro sentido alemão,
em minhas preleções, e vejo a necessidade que tenho de lá
adquirir novos conhecimentos para nosso trabalho ."
A mesma professora diz ainda :

Documento n.º 16

"Espero algum dia ver a juventude brasileira no Reich. "

Documento n.º 17.

Do sr. cônsul ao dr. Franzmeyer: "Para conservação


do espírito alemão é necessário que o Consulado tenha em
mão um fichário completo sôbre as "tendências políticas" do
Corpo docente dos colégios."
Tudo isso prova o trabalho faccioso que êste diretor,
dr. Franzmeyer, responsável por centenas de alunos brasilei-
ros, tem desenvolvido. Êsse professor fala o nosso idioma
com extrema dificuldade e é escandalosa sua atitude de con-
correr a um "boycott" só por ter alguém falado mal de
Hitler.
A 5. COLUNA NO BRASIL 197

O dr. Franzmeyer afirmou-nos mais (estava presente o


tenente Nestor Guimarães, do 8.º B.C. ) temer tão somente
um castigo por parte da Alemanha, e disse: "O que será
de nós se souberem que aquí no estrangeiro não cumprimos
com o nosso dever de nazistas? Sofreremos certamente um
castigo por parte da Alemanha e é isto que procuramos evitar.”

E' êste, sr. Capitão, o panorama político de São Leo-


poldo, em seus traços gerais. As medidas por tomar são
tanto policiais como da alçada da Secretaria de Educação.
S Se, dêsses documentos, alguns datam de um ano ou mais,
outros são recentes. A exiguidade do tempo não me per-
mitiu dar uma busca em mais de duas casas, e talvez em ou-
tras tivesse eu encontrado correspondência comprovando ain-
da mais a propaganda disfarçada de que o nazismo agora
lançou mão, após as dificuldades que polícia lhe têm
oposto.
Pesa-me dizer que o delegado de São Leopoldo pouco
interêsse tem mostrado pela questão, pois uma vigilância às
casas dêsses senhores provar-nos-ia se continuam, ou não, fa-
zendo reuniões políticas.
Fui informado também de que o sr. cônsul faz frequen-
tes visitas ao colégio, onde se reúne com o corpo de profes-
sores, principalmente aos domingos.
Atualmente, é difícil apreender correspondência vinda do
Reich, pois os delegados do Partido não mais recebem ins-
truções pelo correio, e sim, vão recebê- las verbalmente. E'
o caso de Murbak, que atualmente se encontra na Alemanha.
E, para verificação, junto a êste relatório os originais
dos documentos citados.

(a) Armin Walter Bernhardt - Inspetor- Chefe


Encarregado do Inquérito."
7
As prédicas em língua estrangeira

" O direito alemão que nós queremos criar será o


direito dum povo de soldados e o direito dum povo
de senhores."
(Franck, ministro da Justiça do Reich).

Um pormenor curioso da infiltração nazista no estrangeiro é que


certos setores das chamadas minorias alemãs na Europa ou das co-
lônias de imigrantes na América, acolheram com mais entusiasmo
a ideologia nazista do que seus correspondentes dentro da Alema-
nha. Sem falarmos na Igreja Católica, que até hoje faz resistência
passiva, às Igrejas alemãs, dentro da Alemanha de Hitler, foram
dos últimos baluartes onde se entrincheirou a resistência. Esta luta
manteve certa expressão até cair um dos seus dirigentes, o famoso
pastor Niemoeller, depois de repelir várias tentativas de subôrno
da Gestapo . Hoje, como milhões de outros homens, êle definha
num campo de concentração, pagando o crime de ter combatido
Hitler, a peito descoberto, até o último momento .
Este contraste, evidentemente, não é um testemunho em abono
do racismo. Mas, foi sempre assim: o espaço suavisa as asperezas das
cousas na razão direta da distância. E fomos encontrar no Rio
Grande, pois, um forte reduto da 5.ª coluna nazi justamente den-
tro das igrejas protestantes e, em muitos casos, católicas, mas nes-
tas já sob a forma nacionalizada do integralismo. E' aquela que
neste livro nos interessa.
No dia 6 de novembro de 1939, com a finalidade de melhor
fiscalizar a ação dos pastores evangélicos, a chefia de polícia do Rio
Grande do Sul baixou a seguinte portaria :
"O CAPITÃO AURÉLIO DA SILVA PY, Chefe de
Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, no uso das atribui-
ções que lhe são conferidas, e
Tendo em vista orientar de maneira uniforme a ação das
autoridades da Repartição Central de Polícia, no tocante à
execução do Decreto-Lei n.º 1.545 , de 25 de agosto de 1939,
relativamente às prédicas ou sermões religiosos, nos termos do
artigo 16 do mencionado Decreto -Lei, resolve baixar, para fiel
cumprimento em todo o Estado, as seguintes instruções :
I -- Em face do disposto no Decreto -Lei n.º 1.545, de
25 de agosto de 1939, sem prejuízo do exercício público e livre
do culto, as prédicas religiosas deverão ser feitas na língua
nacional.
A 5. COLUNA NO BRASIL 199

II Após realiza
da a prédica em vernáculo é permitido
aos sacerdot o m d c r
es u inistros o ulto epetirem a mesma no
idioma das pessoas estrang p r e s entes à cerimônia religiosa ,
se o número delas fôr ebiarsatsan
te elevado e se o julgarem
oportu .
no
III -- A permissão concedida nos termos do inciso an-
terior somente prevalecerá para as sedes distritais (vilas e
núcleos coloniais afastados, onde existam fiéis estrangeiros que
ainda não saibam bem o português ) .
IV - Todo o sacerdote ou ministro de culto religioso
que, em suas prédicas ou sermões , cometer infração de qual-
quer lei, ou das presentes instruções , além de sujeito às sanções
legais que no caso couberem, não poderá usar da faculdade
ora concedida , devendo falar a seus fiéis, exclusiva e obrigato-
riamente, na língua nacional .
Pôrto Alegre, 6 de novembro de 1939 .
(a.) Aurélio Py
Chefe de Polícia" .

A portaria, naturalmente, provocou imediata reação entre os


meios interessados, tendo o Sínodo dirigido à chefia de polícia um
ofício sôbre a questão. Eis o texto dêsse ofício :
"Cap. Aurélio da Silva Py, M. D. Chefe de Polícia

Pôrto Alegre.
"Inteirado, pelos jornais de hoje, das instruções baixadas
por V. Excia. sôbre o uso de línguas estrangeiras em prédicas
religiosas, e em vista dos muitos problemas a resolver, baixei
as seguintes ordens aos srs. pastores da Igreja Evangélica Rio-
Grandense, das quais tenho a honra de dar conhecimento a
V. Excia .:
"Considerando que as instruções baixadas pelo sr. Chefe
de Polícia sôbre o uso de línguas estrangeiras em prédicas reli-
giosas exclue o uso da língua de nossa igreja em prédicas e
sermões;
"Considerando que essa solução imperiosamente exige as
decisões dos dirigentes da Igreja, que terão o fim de garantir,
após novos entendimentos com os poderes públicos, uma nova
ordem da vida eclesiástica ;
"A diretoria do Sínodo Rio-Grandense ordena que os
pastores do Sínodo Rio- Grandense não façam prédicas ou
sermões. Os cultos dominicais, dos quais, na Igreja Evangé-
lica Luterana, a prédica faz parte integrante, não serão reali-
zados, a não ser que os pastores recebam novas instruções.
200 AURELIO DA SILVA PY

"As presentes instruções também são motivadas pela res-


ponsabilidade de salvaguardar os pastores contra possíveis in-
frações das leis, frisadas no item n.° 4 das instruções do sr.
Chefe de Polícia, infrações que os srs. pastores poderiam prati-
car em desconhecimento das referidas leis e da alçada das ins-
truções policiais.

Atenciosas saudações

(a.) Dr. H. Dohms,

Bispo da Igreja Evangélica do Rio Grande do Sul".

Poucos dias depois, o presidente do Sínodo enviou-nos um me-


morial em que expôs a ação e finalidades da Igreja Evangélica. Vale
a pena reproduzir êsse documento :

"São Leopoldo, 13 de novembro de 1939 .

Caixa Postal, 14

Exmo. Sr. Capitão Aurélio Py

D. D. Chefe de Polícia

Pôrto Alegre

Chegamos à presença de V. Excia . para expor o seguinte :


O Sínodo Rio -Grandense é aquela parte da Igreja Evan-
gélica Luterana à qual está confiada, há mais de cem anos, a
cura espiritual dos imigrantes alemães e dos seus descendentes,
primeiro no município de São Leopoldo e, no decorrer dos
decênios, em todo Rio Grande do Sul e partes de Sta. Cata-
rina, abrangendo o Sínodo , somente no Rio Grande do Sul,
190.000 membros, além de muitos aderentes não alcançados
pela estatística.
Segue o Sínodo Rio-Grandense , conforme a Constituição
da Igreja, doutrina, disciplina e ordem eclesiástica da Igreja
Mãe, da qual proveio por imigração e com a qual, na quali-
dade de igreja organizada e constituída independentemente,
mantém os laços espirituais e fraternais, quase tão indispensá-
veis a cada parte da Igreja de Wittemberg, como, de sua parte,
os diversos bispados católicos necessitam da conexão com a
Igreja de Roma.
A unidade da Igreja Evangélica Luterana tem a sua ex-
pressão na bíblia luterana, tradução original de M. Lutero , no
catecismo escrito por M. Lutero, nos hinos luteranos e na
obra doutrinária de M. Lutero e dos mestres luteranos.
A 5. COLUNA NO BRASIL 201

Concretiza-se a unidade da Igreja, simbolizada nestes ele-


mentos, na Ordem da vida eclesiástica, da qual juntamos um
exemplar da edição portuguesa, no ritual dos cultos dominicais
e nos formulários da agenda para o uso dos pastores em atos
solenes de batismo, confirmação, casamentos, encomendações e
outras solenizações.
Sendo o Sínodo Rio-Grandense aquela parte da Igreja
Evangélica Luterana à qual está confiada a cura dos imigran-
tes alemães e dos seus descendentes, o Sínodo, sob o regime
das garantias constitucionais, do público e livre exercício de
cultos, conservou os textos originais, na língua alemã , que
desde os tempos da Reforma constituem o ritual e os livros
doutrinários da nossa Igreja.
Rendemos graças a Deus pelo fato de terem as consti-
tuições e governos subsequentes da nossa pátria garantido am-
pla liberdade, permitindo desta maneira a existência de uma
pequena igreja luterana, que em todo o Brasil abrange meio
milhão de membros.
Mesmo agora, tendo o benemérito Governo Federal de-
cretado a lei n.º 1.545 , de 25 de agosto de 1939 , o artigo 16
da referida lei , legislando sôbre a prédica, expressamente reco-
nhece o livre exercício do culto .
Da mesma maneira as instruções baixadas por V. Excia.
no dia 6 de novembro, no tocante à execução da referida lei,
exclusivamente dizem respeito à prédica, de modo que fica
garantido o público e livre exercício do culto quanto ao uso
dos rituais e agendas das diversas Igrejas.
Ingratamente, a respeito do uso dêsses rituais e agendas
no Sínodo Rio-Grandense, temos que declarar a V. Excia .
o seguinte:
A-pesar-do respeito comumente prestado ao nosso ritual
pelos patrícios filiados a outros credos, sabemos, por dolorosa
experiência, que há quem, arbitrando superficialmente e igno-
rando princípios e a história da nossa Igreja, contraria-lhe a
atividade, promovendo falsas denúncias.
Baseia-se tal procedimento em certos fatos mal com-
preendidos.
a) A grande maioria dos pastores da nossa Igreja ainda
são estrangeiros, porque a evolução natural das comunidades
só no ano de 1921 permitiu a fundação de um seminário
menor, pelo atual chefe da Igreja, faltando ainda hoje a facul-
dade teológica, a ser fundada em um futuro muito próximo,
como esperamos. Conduz essa circunstância às vezes à inter-
pretação errônea de que os nossos pastores estão trabalhando
como estrangeiros, porquanto, na verdade, chamados por nós
temporariamente em auxílio da Igreja, estão empenhados ex-
clusivamente na tarefa árdua da cura das almas, entregues nas
colônias longinquas a tôda sorte de privações, doenças, mal-
entendidos, recebendo, aliás, na grande maioria, um ordenado
insignificante, muitas vezes insuficiente para custear a vida,
202 AURELIO DA SILVA PY

b) Em segundo lugar, o ritual da nossa Igreja, pelos


leigos no assunto, é interpretado como sendo estrangeiro, por-
quanto é o ritual do Luteranismo usado desde o século XVI
em todo o mundo, introduzido na América no século XVII
e no Brasil desde os princípios do século XVIII .
Diante das suspeitas levantadas em relação ao exposto
nos incisos acima, confessamo-nos, na hora presente, seria-
mente preocupados com o futuro da Igreja e, especialmente,
com a sorte dos nossos pastores, pelos quais assumimos tôda
responsabilidade. Achamos, nesta situação angustiosa, de nos-
so dever solicitar a V. Excia. , antes de darmos novas instru-
ções sobre o prosseguimento desembaraçado da vida eclesiástica
quanto à ordem, ritual e agenda, queira tomar prévio conhe-
cimento e conceder consentimento a uma carta -circular, con-
forme a minuta anexa, do chefe espiritual da nossa Igreja.

Respeitosamente

(a.) Dr. H. Dohms" .

A carta-circular a que se refere o memorial é a seguinte :

"SÍNODO RIO-GRANDENSE

Circular

N.° 2466/39

São Leopoldo, 17 de novembro de 1939.

Caixa Postal, 14

Aos senhores pastores


do Sínodo Rio-Grandense

Sobre os cultos divinos e atos solenes devem ser obser-


vadas as seguintes instruções, expedidas com conhecimento
prévio e consentimento do Senhor Chefe de Polícia.
1.º - Os senhores pastores devem tomar devidamente
em consideração o artigo 16 do decreto-lei 1.545 e as ins-
truções baixadas pelo Senhor Chefe de Polícia no tocante à
execução dêste decreto, relativamente às prédicas ou sermões
religiosos.
2.º São prédicas ou sermões todos os discursos dirigi-
dos à comunidade presente na celebração do culto divino re-
gulamentar.
As breves alocuções pronunciadas comumente por oca-
sião de atos solenes, como por exemplo a pronunciação de
palavras confortadoras no ato de encomendação dos mortos,
A 5. COLUNA NO BRASIL 203

nunca proferidas do púlpito , não chamamos prédicas. Decla-


rou-nos o Sr. Chefe de Polícia a respeito dessas alocuções que
em casa podem ser feitas na língua oficial da Igreja, vigorando
quanto às alocuções feitas na Igreja ou em lugares públicos as
instruções do Sr. Chefe de Polícia relativas às prédicas.
3.º - As autoridades estaduais não submetem o ritual da
Igreja a restrição alguma, nem a respeito da língua original
do ritual luterano . Os cultos litúrgicos, incluindo respon-
sórios, hinos, cantados pela comunidade ou pelo côro, leitura
do Evangelho, da epístola e de textos clássicos dos patriarcas
da Igreja, orações, serão celebrados conforme os textos origi-
nais do ritual.
Do mesmo modo serão usados os formulários da agenda
relativas aos atos solenes do batismo, confirmação, casamento,
celebração da Santa Ceia , encomendação de mortos e outras
solenizações regulamentares, tais como inaugurações de igre-
jas, ordenação e introdução de pastores, etc.
4.º ― No tocante à prédica dominical , o Sr. Chefe de
Polícia nos declarou que, excluídas as sedes de município , em
todos os outros lugares a prédica em português pode ser repe-
tida em alemão , a juízo do pastor .
5.º Oportunamente expedirei instruções mais detalha-
das sôbre as prédicas.
Saudações fraternais" .

Essa circular foi aprovada e distribuída a todos os pastores.


Não ficou, entretanto, o caso definitivamente solucionado, pois
nos foi enviado mais o seguinte memorial :

"SÍNODO RIO-GRANDENSE

N. ° 2447/39

São Leopoldo, 13 de novembro de 1939

Caixa Postal, 14

Exmo. Sr. Capitão Aurélio Py,

D. D. Chefe de Polícia.

Pôrto Alegre.

Peço vênia para dizer a V. Excia. , em referência às prá-


ticas nas igrejas do Sínodo Rio-Grandense, o seguinte :
1.º - Na Igreja Evangélico-Luterana a prédica tem uma
significação especial, conforme elucida a ilustração anexa.
Sem prédica não pode existir igreja nem comunidade evan-
gélico-luterana.
204 AURELIO DA SILVA PY

2.° "A fé vem pela prédica" (Rom. 10, 17) . A


prédica só pode promover a fé quando entendida. E', pois,
dever do predicador cristão de todas as confissões cristãs pregar
na língua que os ouvintes entendam e na qual são edificados.
3.º - As instruções baixadas por V. Excia. reconhecem
êste dever, permitindo ao sacerdote repetir a prédica na língua
dos estrangeiros presentes, que ainda não saibam bem o por-
tuguês.
4.º Esta permissão é, pelas instruções referidas, res-
trita às vilas e aos núcleos coloniais afastados. Estão, pois,
os respectivos estrangeiros residentes em número maior nas ci-
dades, na situação de não poderem ouvir uma prédica que
entendam, excluídos da possibilidade de obedecer ao manda-
mento de Deus, que lhes prescreve ouvir a Palavra de Deus,
não podendo satisfazer uma condição essencial para a conser-
vação da sua vida cristã .
O Sínodo Rio-Grandense, por sua vez, no seu trabalho
urbano, se acha na contingência de não poder realizar o seu
mandato especial de pregar aos imigrantes luteranos alemães
a Palavra de Deus.
5.º E' um fato lamentável, vastamente conhecido,
que nem todos os brasileiros sabem bem o vernáculo . A Igreja
não poderá inverter a sua missão evangélica pregando aos es-
trangeiros e negando aos filhos da terra a prédica que entendem.
6.º Aliás, também aqueles membros da nossa Igreja,
que falam e entendem perfeitamente a lingua nacional, neces-
sitam, para edificação da sua fé, da prédica pronunciada na lín-
gua do ritual da Igreja.
Não devemos esquecer que homens e mulheres, membros
da nossa Igreja, desde a sua juventude aprenderam os elementos
do ritual, isto é, partes da Bíblia, hinos, catecismo, etc., nos
textos originais.
Cada pessoa entendida em questões de educação religiosa
e pregação do Evangelho reconhece o valor fundamental reli-
gioso dos conhecimentos adquiridos durante os primeiros vinte
anos da vida em matéria de religão e o embaraço extraordiná-
rio produzido pela impossibildade de o predicador ativar os
elementos do ritual, que formam, por assim dizer, o capital
religioso, do qual vivem os fiéis. Uma prédica, que não pode
citar as preces e hinos originais, rezados e cantados pelos fiéis
no íntimo dos seus corações desde a infância, é ineficiente.
Pelo que acima ficou exposto, em conformidade com a
doutrina aceita não somente pela Igreja evangélico - luterana,
mas por todos os verdadeiros cristãos, solicitamos do espírito
justiceiro de V. Excia., insistentemente, queira reconsiderar as
instruções baixadas sôbre o uso de línguas estrangeiras em pré-
dicas religiosas, concedendo a permissão de, após realizada a
prédica em vernáculo, repetirem os predicadores a mesma na
língua que os fiéis melhor entenderem, não estabelecendo di-
A 5. COLUNA NO BRASIL 205

ferença entre estrangeiros e brasileiros ou entre cidades e vilas e


núcleos coloniais afastados.
E' êste o nosso pedido, ditado pela conciência do nosso
dever com a pátria e pela responsabilidade eclesiástica que im-
periosamente nos é imposta pelo mandato que recebemos do
Senhor da Igreja, Jesús-Cristo.

Respeitosamente

(a.) Dr. Hermann Dohms,

Presidente do Sínodo Rio-Grandense" .

Em conclusão e esclarecendo, por fim, o ponto de vista do Sí-


nodo, a respeito desta questão, transcrevemos o memorial do mesmo
Sínodo, sôbre "a conservação pura do ministério do predicador”.

A CONSERVAÇÃO PURA DO MINISTÉRIO DO


PREDICADOR, SEGUNDO O SÍNODO

"Na "Ordem da Vida Eclesiástica nas Comunidades do


Sínodo Rio-Grandense" a primeira frase do artigo I é a se-
guinte: "O culto de todos os domingos é a ação cardeal
da vida Eclesiástica? " Cristãos evangélicos sabem, a êsse res-
peito, que a ação cardeal do culto é a prédica. Como se
justifica essa importância do culto para a comunidade, e com
isso a significação pública do ministério do pregador?
De acordo com a Escritura Sagrada, existem vários en-
cargos e vários ofícios na comunidade. Mas o principal ofí-
cio, que nunca deve ser desconsiderado, é, na comunidade
original, o ofício do apóstolo, predicador da Palavra de Deus.
Quando, na comunidade de Jerusalém, o amparo aos pobres
e às viúvas onerou sobremodo os apóstolos, criou -se o cargo
dos diáconos. Os apóstolos, porém, motivaram a institui-
ção do novo ofício com a importância de seu apostolado.
"Não é justo que nós abandonemos a palavra de Deus e sir-
vamos às mesas ... E nós atenderemos de contínuo à ora-
ção e ao ministério da palavra." (Atos 6 , 2-4) . O após-
tolo S. Paulo, também, antepõe a prédica da Palavra como
obrigação a tudo aquilo que, nas nossas comunidades, cha-
mamos de "serviços de culto " , mesmo ao ato de batismo .
Diz : "Pois não me enviou Cristo a batizar, mas a pregar
o Evangelho". (1 Cor. 1 , 17) .
O Ofício do pregador, o ministério da palavra, a prédi-
ca, devem estar, hoje, como antigamente, no ponto cardeal
da vida da comunidade. A comunidade vive da fé. Onde
não há fé ativa, também não existem nem comunidade nem
igreja. "A fé vem pelo ouvir" (Rom. 10 , 17) . Por isso
é indispensável para a existência da comunidade e igreja que
o ministério do predicador seja conservado puro e livre.
206 AURELIO DA SILVA PY

Para êste efeito, sobretudo, devemos saber precisamente


e segurar, sem vacilar, por ordem de quem o ministério do
predicador é exercido e qual é seu mandato.
O ministério do predicador é instituído por Cristo mes-
mo para a anunciação da palavra Divina : “Ide, pois, e fa-
zei discípulos de tôdas as nações" (Mat. 28 , 19 ) . "Assim
está escrito que o Cristo padecesse e ressurgisse ... e que em
seu nome se pregasse" (Luc. 24, 46 seg. ) . Por isso diz
o apóstolo S. Paulo que foi " constituído ministro segundo
a dispensação de Deus, que me foi dada para convosco, afim
de cumprir a Palavra de Deus" (Col. 1 , 25 ) . O apóstolo,
assim , não deixa dúvida que não recebeu êsse seu ministério
de homens, mas sim do próprio Deus: "Pois procuro eu
agora o favor dos homens, ou de Deus? Ou busco agradar
aos homens? Se ainda buscasse agradar aos homens, não
seria servo de Cristo " (Gal . 1 , 10 ) .
O ministério do predicador é instituído pelo próprio
Cristo, e por sua ordem é conferido, pelos órgãos da Igreja,
por êle estabelecida . Eis a resposta da Igreja Cristã à per-
gunta de quem confere o mandato ao predicador. Eis a res-
posta da Igreja, e nesta resposta perseverará ; pois é baseada
na palavra inconfundível da Escritura Sagrada.
E' evidente, pois, que ninguém, sejam quaisquer outras
pessoas ou instituições, nem sequer o Estado, pode prescre-
ver ao predicador o que êle, na qualidade de predicador, deve
fazer ou deixar. Não é, também, essa a intenção do Estado,
enquanto a sua constituição estiver vigente. Diz de si e de
seus órgãos, expressamente, que os mesmos não são compe-
tentes para estabelecer culto de qualquer maneira, como, por
exemplo, dar ordens ao predicador a respeito das suas pré-
dicas. "E' vedado à União, aos Estados e aos Municí-
pios: " . estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício
de cultos religiosos" ( art. 32 da Constituição de 10 de no-
vembro de 1937 ) . Dêste modo o Estado faculta a realiza-
ção livre da doutrina cristã referente à proveniência e auto-
ridade exclusivamente eclesiásticas do ministério do predicador.
Preserva, pois, quanto a êle, o ministério do predicador duma
intervenção de órgãos sem competência entre o ministério e
a igreja e a sua direção .
O Estado, com as definições da Constituição, fez o pos-
sível para manter pura a proveniência eclesiástica do minis-
tério do predicador, o que, aliás, deve fazer para conservar
a ordem, uma vez que demonstra a compreensão pela Igreja.
Se não quiser desleixar e perecer, deve ela fundar e referir o
ministério do predicador em todos os respeitos e a qualquer
tempo ao Senhor da Igreja, que estabeleceu, devendo conser-
var em si a compreensão pela ordem disso resultante, sem-
pre dela cuidando, mesmo no Estado, não só por sua pró-
pria causa mas também pela causa do Estado, afim de que
sua Constituição permaneça em vigor.
A 5. COLUNA NO BRASIL 207

A Igreja, aliás, refere o ministério do predicador ao Se-


nhor da Igreja, perguntando, em segundo lugar, pelo seu
encargo. Êste é descrito de modo inequívoco e bem sim-
ples no mandato de Cristo em Marc. 16, 15 : "Ide por to-
do o mundo e pregai o Evangelho a tôda a criatura".
O conteúdo da prédica, portanto, será o Evangelho . Re-
sulta disso para a Igreja a necessidade de dedicar-se à teolo-
gia. O mandato de Cristo ao predicador diz que deve pre-
gar o Evangelho . Êste, porém, se encontra unicamente na
Escritura Sagrada. Daí, o predicador e a Igreja sempre de-
verão pesquisá -la , para que possa ser pregada sem adultera-
ção e para que o ministério do predicador fique conservado
puro e livre. A Igreja, porém, investiga a Escritura à luz
de sua história e das doutrinas de seus mestres. Vai às fon-
tes da Bíblia e às dos seus mestres e de sua história. Não
fazendo isso, não resistirá ao perigo da falsificação da pré-
dica, e perecerá. Quem a impedir, por exemplo, quem im-
pedir a Igreja Luterana a procurar conexão imediata com
as obras de Lutero e a perseverar nas mesmas, destrói a Igreja.
A Igreja, para viver, indispensavelmente precisa de liberdade
da teologia e da doutrina, afim de conservar a união ininter-
rupta com sua origem.
O mandato, porém, dado por Cristo ao ministério do
predicador, não só fala do Evangelho, mas também diz que
deve ser pregado a todos. As palavras "Evangelho " e "to-
dos" , pois não só figuram juntas como a definição do con-
teúdo e duma forma do mandato, mas também são ligadas
inseparavelmente.
A obrigação para todos é uma parte do Evangelho e
da mesma importância como o próprio Evangelho . Dei-
xando fora a palavra "todos", o Evangelho ficará sem vi-
gor." Deus nosso Salvador deseja que todos os homens se-
jam salvos, e que cheguem ao pleno conhecimento da ver-
dade" ( 1. Tim. 2 , 4 ) . A Vontade Divina de salvação,
extensiva a todos, impede qualquer limitação, que exclue ex-
pressamente uma parte da humanidade. Isto não significa
que todo predicador deverá predicar o Evangelho a todos.
São Paulo foi aos pagãos, à cuja Igreja estabeleceu sua or-
dem . Outros ficaram em Jerusalém, instituindo outra or-
dem . A obrigação para todos, porém, significa que nin-
guém deverá ser excluído da audição da prédica e que o mi-
nistério do predicador deverá ser executado livre e publica-
mente. Assim Jesús disse de si : "Eu tenho falado aberta-
mente ao mundo" ( S. João 18, 20 ) . Também os após-
tolos usaram e exigiram, a qualquer tempo , a liberdade e pu-
blicidade da prédica (Atos, 5, 17-33 ) .
Também a respeito dessa exigência da Igreja, de poder
pregar a todos livre e publicamente, sem impedimentos, as
Constituições dos Estados costumam opinar. A Constitui-
ção Brasileira, de 10 de novembro de 1937 proíbe, no art.
208 AURELIO DA SILVA PY

32, qualquer impedimento do culto, e declara, no art. 122 ,


4: "Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exer-
cer pública e livremente o seu culto. " Mais do que isso, re-
petimos, o Estado não pode fazer, mas tem a obrigação de
fazê-lo, se demonstrar compreensão pela Igreja Cristã. Fa-
culta pregar a todos o Evangelho, pública e livremente. To-
do o precedente e seguinte compete à Igreja . Ela deverá tra-
zer o Evangelho a todos, e isto fará cada parte da Igreja
àqueles aos quais é enviada , e a cada um na forma em que
poderá aceitá-la. Se a Igreja não se desincumbir desta sua
obrigação, ela abandonou seu mandato e com isto a si mesma.
Eis o que, em poucas palavras, podemos dizer sôbre a
conservação pura do ministério do predicador. Como apli-
car essas determinações do Sínodo Rio-Grandense e à sua si-
tuação atual, diremos mais tarde.
Antecedemos só o seguinte : a Igreja, enviada a todos,
por princípio, não poderá renunciar a dirigir-se a cada um
no idioma que entende e lhe significa edificação espiritual.
Ao contrário, justamente agora é obrigação do Sínodo Rio-
Grandense de, mantendo sempre alto o respeito profundo ,
que evangélicos-luteranos devem à Constituição , às leis do
Estado e aos poderes constituídos, perseverar nos princípios
eclesiásticos do ministério do predicador e de seu mandato, de
conservá-los puros e trazê- los à compreensão de todos.”
Religião, um trampolim nazista

66
Americanos, se não quereis perecer, fixai bem esta
idéia na cabeça : os pacifistas são mais perigosos que
os pangermanistas - abrem-lhes o caminho."
(André Chéradame - "Dias decisivos", pág. 163)

E' sabido e ficou amplamente provado que um dos instrumentos


do Partido Nacional-Socialista é a Igreja Evangélica Alemã . Ela
se especializou, porém, na sustentação do Partido no estrangeiro;
entre nós, isto se verifica com facilidade pela leitura dos órgãos ofi-
ciais das organizações nazistas.
Quando o govêrno do Estado do Rio Grande do Sul começou
a preocupar-se com as atividades ilegais dos pastores protestantes,
a revista "Deutsche Arbeit" (" O Trabalho Alemão” ), editada em
Berlim, lançou o brado de alarma, afirmando que o nazismo come-
çava a perder seus dois esteios no Brasil, “O Lar e a Igreja" (N.º
39, de 4 de abril de 1939, pág. 182).
Os agitadores nazistas não distinguem entre os meios, não res-
peitam êsses territórios de evasão sentimental do homem que a sa-
bedoria universal por assim dizer havia fechado ao Estado . Muito
pelo contrário, insinuam-se neles, degradam-nos, adaptam-nos aos
seus propósitos . Deus e família a Igreja e o lar. Não é por idea-
lismo que esta associação foi inscrita nas bandeiras de todos os
partidos fascistas, originais ou importados. E que melhor instru-
mento para atingir diretamente a família do que a Igreja, o púl-
pito, o cura de almas? O pastor protestante, em geral, há muito
foi transformado em tribuno político, pregando muito mais pelo
"Fuehrer" que por Deus. Ele misturou os princípios religiosos com
postulados de natureza estritamente política, entremeou o Evange-
lho com o programa do N. S. D. A. P.
E' que, indiscutivelmente, a fé religiosa une muito mais os
homens que os programas partidários. Segundo a lição da história,
a vida dêstes é efêmera, ao passo que a religião resiste ao tempo. E
Hitler sonhou estabelecer o destino da Europa (leia-se : do mundo)
por mil anos ...
14-5.a C.
210 AURELIO DA SILVA PY

No estrangeiro, há mais um fator preponderante : a Igreja, pela


situação a que nos referimos acima, está mais ou menos colocada
a salvo da ação vigilante das autoridades e, portanto, das restrições
de censura.

No púlpito é admissível predicar em idioma estranho à língua


oficial . Não eram os Apóstolos poliglotas?
"O Colono Alemão" "Der Deutsche Ansiedler" - insere
maior quantidade de matéria política que religiosa, conforme se
pode verificar pela documentação anexa .
Por ocasião da entrada do ano de 1937, o dirigente da Igreja
Evangélica para o exterior, o Bispo D. Heckel, enviou aos alemães
do estrangeiro, por intermédio das comunidades que lhe são subor-
dinadas, a seguinte saudação :

"Na manhã do ano novo, saúdo as Comunidades Evan-


gélicas no estrangeiro.
E' um ano mais do nascim
ento de Cristo e, porisso ,
começamos esta nova etapa sob a bênção e com a fôrça que
nos é oferecida por Nosso Senhor às nossas Igrejas e Comu-
nidades .
Na época em que passa pelo mundo um temporal espi-
ritual e de dissolução, nós, homens e mulheres evangélicos,
deixemo-nos ficar mais unidos, fiéis à fé dos nossos pais,
fiéis à nossa Igreja, que sempre anuncia um novo Evangelho,
fiéis ao nosso povo e prontos para a nossa missão.
Permaneçamos, embora longe e isolados da nossa Pá-
tria Alemã, fiéis na oração para com a nossa Comunidade,
nossa Igreja, nosso povo e nosso FUEHRER.
Firmemo-nos sôbre o fundamento que serviu de base à
vossa fé: Jesús- Cristo, ontem, hoje e para tôda a eterni-
dade .
Quais são as fôrças que hoje mantêm a Alemanha?
Deve-se mencionar, em primeiro lugar -- a família de
origem e conhecimento, que traz consigo a cultura alemã, que
será transmitida de geração em geração .
Vemos, porém, que os filhos de famílias alemãs afun-
dam-se na cultura alheia (do País) .
Para evitar isso, temos o colégio alemão , com os fun-
damentos da educação alemã.”

Esta foi a diretriz do colégio colonial alemão, através dos tem-


pos: educar os filhos dos alemães como alemães.
Reconhecemos que, antes de 1933, foi esta a orientação da
Alemanha.

E, como é natural, essa educação, para surtir seus efeitos bené-


ficos, deve ser iniciada na juventude e não na maturidade.
A 5. COLUNA NO BRASIL 211

A maior ajuda dos círculos alemães para a cultura germânica


é o trabalho de diversas Sociedades Alemãs, visando esta sociabili-
dade e o estreitamento dos vínculos que unem e convocam a comu-
nidade . (Doc. n.º 35).

Documento n.º 35

Deutsches Konsulat
Bai Antworten wird´um Angabe der
FOD ME....Ion 3, gebetan. Porto Alegre, den …………………… . f.........19.34.

Sehr geehrter Herr Pfarrer!


Die Reichsstelle für das Auswanderungenezen in Berlin
beabsichtigt, das Merkblatt Hr. 46 0 Deutsche Vereine, Schulen, 4
Etrchengemeinden und sonstige Anstalten und Einrichtungen in Süd
aaerika " in neuer Auflage erscheinen zu lassen. Da es svechlos
ist, den völlig veralteten Abzug zur Änderung einzusenden, ist et-
ne Neuaufstellung für den Kreis Alto Jaouhy der Rio Grandenser
Synode erforderlich. Die Aufstellung umfasst:
8. Deutsche Hotels.
11. Deutsche Ärzte.
III. Deutsche Sahnärste und Sahnteeliniker.
IV. Deutsche Apotheken.
V. Deutsche Krankenhauser.
VI. Deutsche Buchhandlungen.
FII. Deutsche evangelische Kirchengemeinden der Rio Grandenser Sy
node.
8.8. Krets gahy.
LerrEDESCO Alt Badenserberg, Alto Felis: Pfarrer Artkur
Becker, Postanschrift gão Vendelino , Montenegro,
B651
Baza
VIII. Deutsche katholische Kirchengemeinden und Pfarreien in Staat
Rio Grande do Sul.
11. Deutsche Veretne.
Unter " deutsch " utró reichsdeutsch und deutschstänaig
verstanden.
Als letstor Einsendetermin 1st der 2. August 1934 VOP-
gesehen, es dar¡ dechaid un beschicuntgte Forsendung gebeten

In Berrn Berden
Pfarrer Seraann Buchs
in Sarandy
212 AURELIO DA SILVA PY

erden.
Für Ihre freundliche Nuhesaltung darf toh Ihnen sehor
ta foraus seinen verbinalioksten Dank aussprechen .
Zetl Ittler!

ried

Letter des Deutschen Ionsulats.

O indiscutivelmente reconhecido trabalho alemão, com os seus


objetivos esclarecidos, ganhou uma nova arma com as irradiações,
cujo barateamento veio com o N. S. D. A. P.

"Quando o Govêrno Alemão reunir a fôrça de todos


os alemães esparsos pelo mundo, levantar-se-á um eco de agra-
decimento, mais especialmente dos descendentes de alemães
no estrangeiro, pois nós, sem adjutório algum, representamos
no mundo o povo alemão.” ("Der Deutsche Ansiedler",
junho de 1937) .

A MISSÃO DA IGREJA ALEMÃ

Neste ponto é lícito indagar: qual é a missão da Igreja Alemã:


política ou religião?
Isso é a palavra do Chefe da Igreja Evangélica para o exterior,
contida em um dos órgãos oficiais do protestantismo. Quer a fonte
originária, quer o veículo de divulgação não podem ser mais auto-
rizados.
Diante disso, pode-se afirmar que a Igreja Evangélica Alemã
se transformou em ala do N. S. D. A. P. , ocupando lugar saliente
em sua estrutura.
E foi completa essa transformação . O sacerdote perde aos pou-
cos todos os característicos de sua missão apostolar. A serenidade
de espírito que lhe emprestou a fé para distinguí-lo entre os mor-
tais é trocada pelo fanatismo violento, pelo atrevimento faccioso.
Vejamo-lo na leitura dos seguintes trechos, todos do "Der Deutsche
Ansiedler", órgão da Igreja Evangélica Alemã :

"Torna-se cada vez mais claro que as providências


antigermânicas do governo brasileiro contra os teuto-brasilei-
ros foram efetuadas sob a pressão dos Estados Unidos da
América. Estas leis , que se fazem sentir dura e injustamen-
te, não são feitas no Rio, e sim em Washington.
A 5. COLUNA NO BRASIL 213

Na imprensa brasileira, que até agora seguidamente pu-


blicava terríveis artigos de intrigas, uma reflexão mais calma
está tomando posição . No " Jornal do Brasil" o ilustre es-
critor brasileiro Barbosa Lima Sobrinho escreve: "Um teuto-
brasileiro queixou -se para mim numa carta sôbre a circuns-
tância, que a êle, cidadão brasileiro de nascimento, se afigu-
rava uma contradição, de ter nome alemão. Ele está sendo
apontado como membro de uma " minoria alemã do Brasil" ,
a-pesar-de a lei brasileira não conhecer semelhante definição,
sendo visto como um estrangeiro, um nazista, um espião, etc.
Apagam-se todos os méritos notórios dos homens de sangue
alemão com um único movimento de mão e são oprimidos com
violência, numa espécie de complexo de inferioridade , no qual
o brasileiro de descendência alemã preferia finalmente ser re-
gistado oficialmente em nome de Deus como alemão, pois
assim ao menos êle saberia qual a sua situação, a -pesar-de só
conhecer a Alemanha "por ouvir dizer" .
"Não podemos assim continua fechar-nos ante o
direito dêste protesto. Nós fomos muito além em nossa cam-
panha de nacionalização . Os méritos do elemento teuto-
brasileiro em nossa terra são um fato histórico . Não só em
tempo de paz, mas também em tempo de guerra encontra-
mos nomes alemães em nossa história . O que os teuto - bra-
sileiros produziram , devem-no à sua própria capacidade. O
Brasil nada fez para formar êste elemento numa substância.
integral da nação. Eles construíram suas próprias escolas,
porque nós não nos importávamos com isto. Deixamos sem-
pre correr as coisas à vontade , até que daí surgiu um proble-
ma pelo qual não podemos responsabilizar os teuto -brasileiros .
Errôneo é também destacar alguns casos excepcionais,
nos quais teuto -brasileiros se esqueceram de seu dever como
cidadãos brasileiros e se puseram contra as leis do país, para
agora suspeitar de todos os cidadãos de sangue alemão, de-
nunciando -os sem exceção como inimigos do país e espiões.
Enquanto isto, continua a "Nacionalização" no Brasil.
No Rio de Janeiro foram "nacionalizados" O velho
clube alemão, "Clube Germânia" , com 120 anos de existên-
cia, e o novo grande Hospital Alemão.
Em Santa Catarina, tôda a imprensa de idioma alemão
do Estado foi obrigada a suspender suas publicações. Ao
"Urwaldsboten" , ao "Kolonie Zeitung" , ao "Volkszeitung"
e ao "Blumenauer Zeitung" o Ministro da Justiça permitiu
reaparecerem novamente.
Devido ao "perigo alemão" , foram destacados para Blu-
menau dois batalhões de caçadores !
Como os portugueses também se metiam na vida religio-
sa, mandou a diretoria da "Associação das Comunidades Evan-
gélicas de Santa Catarina e Paraná", um telegrama ao Presi-
dente da República : "Nós confiamos na continuação da li-
berdade do culto evangélico como um fator da ordem e da
214 AURÉLIO DA SILVA PY

paz e garantimos que vossa Excelência poderá contar com o


nosso apôio inabalável no caminho traçado para a grandeza
do Brasil."
No Rio Grande do Sul, foi demitido de seu cargo como
diretor da escola o Pastor Th. Dietschi, o qual, em muitos
anos de incansável trabalho, elevou a escola de Novo Ham-
burgo à sua altura, e do qual soubemos que, como rio-gran- ·
dense de nascimento, ama e honra a sua pátria.
Também no Rio Grande do Sul foi fechado um número
de escolas, entre outras o Internato de Elsenau, Nova-Wuert-
temberg. Êste procedimento contra as escolas alemãs no Bra-
sil se reflete ainda melhor numa comunicação feita pelo escri-
tor brasileiro Dr. Mário Pinto Serva, de que, p . e., em São
Paulo, dois terços das crianças habilitadas ao ensino, isto é,
650.000, se desenvolvem sem instrução ; em todo o Brasil,
mais ou menos 80 por cento está sem instrução.
No Rio Grande do Sul, em geral, as escolas teuto -evan-
gélicas estão registadas, e por isto reconhecidas pelo govêrno
estadual : 400 de mais ou menos 600 escolas teuto -evangéli-
cas. Uma aula de alemão , diariamente, foi tolerada. Tam-
bém a instrução religiosa poderá ser feita na língua materna.
Com isto é dada às escolas a possibilidade do ensino em ale-
mão. Esta atitude do governo rio-grandense, que sobressai
distintamente em comparação com os outros Estados brasilei-
ros, “merece, nesta época de tormentosa transformação, espe-
cial reconhecimento" , diz a "Allgemeine Lehrerzeitung", de
São Leopoldo. ”
Êle continua : Nesta nacionalização sentem os teuto-
brasileiros dolorosamente a desconfiança que o Estado tem
com os professores particulares de descendência alemã, quer
sejam cidadãos do país ou não, embora cumpram os seus
deveres com a sua pátria, e à revelia de sua preparação e de
suas grandes habilidades demonstradas há anos.

RETROCESSO CULTURAL COM A SUPRESSÃO


DA LÍNGUA ALEMÃ
O jornal diz mais adiante :

"Se agora usamos a língua materna alemã e nos segu-


ramos a ela, fazemos isto não por falta de patriotismo, e sim
por convicção de nós próprios. E' um fato inegável, de
clara compreensão, que com os bens culturais da língua ma-
terna é conservada uma fôrça educacional dos costumes. A
língua portuguesa é a língua do país, porque a maioria dos
brasileiros, netos dos grandes lusitanos, encontram nela os
valores educacionais que servem de base para o seu desenvol-
vimento pessoal.
Para nós, teuto - brasileiros, ainda se admite que acolha-
mos e deixemos produzir efeito os bens culturais que nos são
transmitidos pelas duas línguas. E que nós queremos isto,
A 5. COLUNA NO BRASIL 215

só isto, prova-o o trabalho realizado por muitos anos, SO-


mente em benefício dêste país. Acresce ainda, que a afeição
à língua materna corresponde a uma necessidade cultural, que
é procurada antes de tudo na língua do país. Uma afeição
tal não se pode chamar de vaidade, muito menos usá-la poli-
ticamente. Isto traria, verdadeiramente, uma terrível confu-
são. Nós somos brasileiros e nos adaptamos politicamente
sempre, de tôda forma, à organização estadual e nunca fo-
mos, a-pesar-dos nossos interêsses culturais próprios, que até
agora podíamos salientar livremente, elementos de discórdia
no seio da família brasileira.
A supressão da língua alemã materna, que é falada por
quasi todos os teuto-brasileiros juntamente com a língua do
país nas localidades de instrução mais adiantada, seria um re-
trocesso cultural, que possivelmente, até com certeza, se fará
sentir economicamente.
Todos êstes motivos nos incitam a perseverar resoluta-
mente na nossa língua materna . Nós sabemos que esta ati-
tude nos abençoará a nós próprios e a êste país, no qual te-
mos a nossa pátria, e desejamos que nossos desejos sejam aten-
didos totalmente . O governo prometeu nacionalizar e não
destruir o que já existe há um século em benefício do País.
Não para destruir. Nós agradecemos estes bens mate-
riais e espirituais, que possuímos em nossa pátria, à fôrça
de vontade de nossos pais, que vieram para cá como trans-
portadores de uma cultura elevada.
Nestas condições estavam êles aptos a cultivar o País e
se achavam na obrigação de transmitir estes seus bens cultu-
rais às gerações seguintes.
Assim surgiram as primeiras obras de dedicação aos inte-
rêsses culturais : as escolas, as igrejas, as sociedades, todos de
incalculável valor para o País e seus habitantes. Estas obras
de cultura deverão permanecer, como sempre e ainda acen-
tuam os homens responsáveis de nosso País. Porém não
poderão continuar, se fôr exilado delas o espírito que lhes deu
existência e vida.
Nossa vida cultural e nossa fôrça de costumes para o
bem do País está fortemente ancorada nos bens culturais da
língua materna e, para trazê-la ao completo desenvolvimento,
devemos zelar por nossa língua materna alemã . Por isto,
precisamos de igrejas, que falem a nós em idioma alemão,
nas quais usemos a língua alemã como língua materna ; esco-
las, nas quais usemos a língua materna alemã , livre e sem
restrição, mas também sob a condição de que será usada sufi-
cientemente a língua do país no sentido do pensamento na-
cional.
Este é o nosso ideal como brasileiros sinceros, e o pro-
cesso de nacionalização estará encerrado, sem dureza e perse-
guições, se a pátria souber proteger-nos no nosso pensar ideal,
com dignidade nacional, para a glória imortal de seus gran-
des homens."
216 AURELIO DA SILVA PY

Numa carta do Rio Grande do Sul, lemos:

"Só posso remeter-lhes estas linhas por um repatriado ;


nos correios tôdas as minhas cartas são violadas ..
Nos 26 anos de permanência aquí, o Brasil ficou sen-
do a minha segunda pátria ; também eu cheguei a amar o
Rio Grande do Sul com suas grandes belezas naturais. Por
isto, eu o serví com trabalho honesto e nunca infringí as leis
do país hospitaleiro. Mas, agora, quero ir para casa ..
Tudo aquí se modificou. Pela nacionalização das es-
colas, a mocidade teuto-brasileira crescente deverá esquecer
rapidamente a língua, os costumes e as tradições dos nossos
antepassados. A nossa sociedade de cantos está desfalecida,
reuniões teatrais e de comunidade são proibidas ou terão que
ser realizadas em brasileiro, e acima disto ainda vêm os altís-
simos impostos de diversões.
Como consta, também a Hindenburgschule de Pôrto Ale-
gre não abrirá mais as suas portas no próximo ano ; os pro-
fessores alemães retornam ao Reich ...
Todos voltam ; muitas fábricas e oficinas estão paradas,
porque lhes faltam operários especializados .
Também os italianos estão retornando à pátria . No
Consulado Italiano, acham-se propostas de mais de 10.000
pessoas para serem repatriadas, as quais terão grandes vanta-
gens para a sua viagem.
Isto já está se fazendo sentir. No ano de 1937, a emi-
gração para o Brasil foi de 62.579 pessoas ; a repatriação de
64.132 pessoas ; repatriaram-se assim 1.535 pessoas mais,
principalmente alemães, italianos e espanhóis."

Duma outra carta rio-grandense :

"O Pastor N. esteve em maio duas vezes preso : uma


vez, três horas ; depois, quatro dias. Seu substituto foi mais
tarde ameaçado de revólver por dois oficiais."

Agora uma ameaça :

"Em geral também para o Brasil se tornará verídica a


palavra : "A política de ódio é mal paga". (Der Deutsche
Ansiedler" , junho, 1939 ) .

NO CAMINHO DA ETERNIDADE ...

Continuemos transcrevendo :

"O nosso Fuehrer ______ Adolf Hitler deseja que o nos-


so povo seja um povo eterno ! Como nós, na Alemanha,
temos fé e convicção, é dever de todo o alemão, assumir a res-
A 5. COLUNA NO BRASIL 217

ponsabilidade de trilhar o caminho da eternidade. Isto é:


tu e eu, somos obrigados a responder à pergunta seguinte:
"Com ou sem Cristo ? Com ou sem Deus? O trabalho do
fundador do "Reich" , Otão o Grande, compõe-se de quatro
palavras, a saber: "Cristo reina, Cristo vence!"
46
as irmãs de caridade deverão aperfeiçoar-se para
prestarem os seus serviços à mocidade, aos doentes, aos po-
bres, aos miseráveis, às mães e ao nosso povo.” ("Der Deut-
sche Ansiedler" , dezembro de 1938 ) .
"O Colono Alemão". Comunicações da Sociedade
Evangélica para os protestantes alemães na América do Sul.
Ano 77 1939 ― janeiro março ( "Der Deutsche An-
siedler' ) (Doc. n.º 36) .
66
... Suportamos as nossas dôres, orando perante Deus.
Deus nos deu paz e o regresso de 3 1/2 milhões de alemães.
Agradecemos também ao nosso " Fuehrer" e aos homens que,
como êle, evitaram que o mundo fôsse envolvido em cha-
mas. Glória a Deus nas alturas.
46
... Uma onda de ultraje contra os alemães atravessa
alguns Estados do Brasil, notadamente os centrais, perturban-
do também, indiretamente, o serviço da igreja evangélica ale-
mã. Existem também no Brasil os atiçadores, intrigantes,
incendiários e envenenadores que trabalham, ativamente, para
tornar suspeito tudo o que é alemão. Para os luso -brasilei-
ros, que odeiam os alemães, isto é muito agradável.”
44
Os Estados Unidos da América do Norte procu-
ram a todo transe conquistar os brasileiros. O Congresso
Norte-Americano criou o departamento cultural para inten-
sificar as relações culturais com a América Latina e evitar
influências estrangeiras . Em outubro, o Ministro do Exte-
rior, Aranha, inaugurou festivamente uma linha de navega-
ção entre os Estados Unidos e o Brasil, com vapores brasilei-
ros e norte-americanos. A mentira foi sempre o melhor meio
empregado. Por ocasião do assalto contra o dr. GETÚLIO
VARGAS, afirmou - se, imediatamente, que o movimento par-
tira dos alemães. Entretanto, a Polícia do Rio divulgou que
isto, absolutamente, não era verdade.
“ ... As relações entre o Ministro Brasileiro do Exte-
rior, ARANHA, que até há bem pouco tempo exerceu
elevado cargo de Embaixador brasileiro nos Estados-Unidos,
e o Embaixador Alemão Dr. RITTER, no Rio, tornaram-
se cada vez mais estremecidas a ponto de, em outubro, êste
estremecimento ter atingido o ponto culminante. O embai-
xador brasileiro em Berlim, Muniz de Aragão, deixou a Ale-
manha. A-pesar- dêste estremecimento entre a Alemanha e
o Brasil ter somente indiretamente atingido aos teuto-brasi-
leiros, somos forçados a perguntar apreensivamente : para on-
de nos conduzirão estas inimizades, para as quais nem a Ale-
manha nem os teuto-brasileiros deram motivos?"
218 AURÉLIO DA SILVA PY

Em Blumenau e arredores foram fechados jardins


de infância. Dizem até que em certos lugares nas igrejas
somente é permitida a prédica em português ... tal qual
como na guerra.”
“ ... Professoras lusitanas recriminam e censuram as
crianças teuto -brasileiras na frente de seus colegas, somente
""
porque estas crianças têm cabelos louros e olhos azues.'
"... Em Santa Catarina e Paraná, todos os Clubes de
ginástica, sociais e culturais, foram obrigados a elegerem para
presidente um oficial brasileiro ou teuto-brasileiro ; em caso
contrário seriam dissolvidos. Os portadores dêste sentimen-
to nativista de açuladores são, especialmente, tenentes. Em
vista disto, fala -se no Brasil em "Tenentismo". Enquanto
que, em Santa Catarina, de 450 escolas particulares somente
cinco foram registadas, no Rio Grande do Sul, até fins de
agôsto, foram registadas 1.113 ".
46
... Por que, então esta "nacionalização " das escolas
teuto-brasileiras que educam a mocidade para o Brasil, como
cidadãos, que tanto na paz como na guerra, estão prontos a
servir a Pátria? "
"... Se o conhecimento da língua do País é indispen-
sável, o teuto -brasileiro nunca se recusou a aprender a lín-
gua do País, porém êle se defende quando consideram a sua
língua materna alemã como estrangeira".
“ ... Os lusos emigraram de Portugal, pouco antes dos
alemães ; durante 300 anos, época em que o Brasil era colô-
nia portuguesa, não progrediram, não se desenvolveram e con-
servaram-se em atraso. Viveram como caudilhos, elementos
de destruição, revolucionários, bandeirantes, paulistas, mame-
lucos em francas aventuras e rapinagens, movimentando as
suas indústrias com o auxílio de escravos. Da França, rece-
bem ainda hoje as suas idéias : as idéias das revoluções france-
sas, misturas de raças, sendo París, para êles, o centro da cul-
tura mundial. ”
44
O espírito dos franceses empolga os lusos no
Brasil. Tudo o que é francês é imitado ; justamente por isto
tornam-se ridículos ( imitando os modos, modas e costumes) .
Contra os comunistas estavam os integralistas, que queriam
formar no Brasil uma política e um partido unido e forte, es-
tranho a ideologias e crenças estrangeiras” .
46
'... Na nova constituição foram adotadas diversas idéias
do programa integralista, porém nenhum membro do partido
integralista tomou parte do novo govêrno ; pelo contrário, o
partido foi dissolvido" .
66
A revolta integralista no Rio de Janeiro, em 10 de
maio de 1938 , foi imediatamente abafada ; demonstrou , en-
tretanto, que o dr. Getúlio Vargas ainda tem muitos inimigos,
A 5. COLUNA NO BRASIL 219

tanto no exército como na marinha, os quais, atualmente, so-


mente são contidos com violência. Foram efetuadas muitas
prisões, porém o perigo de perturbações no Brasil, ainda não
está removido. Enquanto a constituição não se consolidar e
não fôr adotada uma política firme de união, o Brasil não terá
assegurado sua paz e seu futuro".

NACIONALIZAÇÃO - PALAVRA DE COMBATE

46
A palavra de combate do govêrno é “nacionaliza-
ção" e êste programa de nacionalização atingiu especialmente
os teuto-brasileiros, elemento são, calmo e de confiança. Com
isto, a mais séria crise no Brasil não será dissipada, porque os
franceses infiltram com eficiência ideologias francesas. Que
oferece o exemplo francês? ”
"... Com a mistura de tôdas as raças, que se encontram
no Brasil, querem formar a nova raça brasileira. E' forçoso
perguntar se os lusos acreditam, sinceramente, que uma tal
mistura de raças constitua o seu mais elevado ideal. A ciência
tem demonstrado que a mistura com raças semelhantes só traz
resultados negativos. Contra esta sensibilidade dos brasileiros
afrancesados, protestam os teuto -brasileiros, assim como contra
a pretensão dos lusitanos de dominarem totalmente o Brasil.
A êste nacionalismo devem se curvar todos os habitantes do
Brasil? Não somente os teuto-brasileiros, porém também os
italianos, poloneses, (quanta gentileza para com os poloneses,
cujo destino seria a extinção por meio da esterilização e outros
meios preferidos pela Gestapo ! ) japoneses, etc. , que, em grande
número, vivem no Brasil e que honram a sua nacionalidade,
1

protestarão. Os poloneses em Campo Largo, por exemplo,


já protestaram contra a nacionalização de suas escolas e como
nada conseguiram, incendiaram as escolas. Outros poloneses,
e um grande número de japoneses do Amazonas, abandonaram
o Brasil e emigraram para o Paraguai. O ex-embaixador
THADDAEUS GARNOWSKI recomendou aos seus patrícios
que emigrassem para outros países sul-americanos, aonde não
são molestados" .
66
'... Como a Itália está repatriando os seus súbditos, os
italianos, cada vez em maior número, abandonarão o Brasil" .
46
A emigração de alemães e de outros estrangeiros
para os quais o tratamento no Brasil não convém, cessou. A
indústria no Brasil já está sentindo a grande falta de profis-
sionais alemães" .

SEM OS IMIGRANTES, O BRASIL NADA SERIA


"
O Brasil é um País de imigrantes. Os imigrantes
ajudaram a construí-los ; sem êles, o Brasil nada seria. Todos
estes povos no Brasil, que reconhecem a terra que os chamou
como sua pátria, têm direito à sua precedência e a agir contra
220 AURELIO DA SILVA PY

êste fantástico sonho de uma futura raça brasileira ; os teuto-


brasileiros, do mesmo modo, têm o desejo de que o Brasil se
torne unido, grande e livre".
" ... Em 12 de setembro , o diretor do Pro-Seminário
Evangélico alemão em São Leopoldo, FRANZ MEYER, foi,
pelo Secretário da Educação, destituído do cargo de professor,
unicamente por ter em uma palestra particular se externado em
termos elogiosos a Adolf Hitler" .
"A divisão, em 1934, do florescente município de Blu-
menau em cinco pequenos municípios constituiu um ato errô-
neo ; entretanto , o novo Governador do Estado, Dr. NEREU
RAMOS, deseja unificar o velho município de Blumenau, o
qual um ex-Presidente da República denominou de municí-
pio modelar.
"Por êste motivo, reina intenso júbilo entre os alemães
de Santa Catarina” .
"Os estudantes teuto - brasileiros fundaram um centro de
trabalho, do qual até agora foi dirigente o filósofo H. DOHMS
e, de 1.º de novembro em diante, o filósofo K. J. HUNSCHE,
Berlin, 20 rua Heidebrimker, número 171".
"Nas reuniões que se realizam regularmente, cada dois
meses, os estudantes mostraram interêsse em conhecer-se mu-
tuamente, auxiliar-se e estudar os problemas sociais daqueles
que vivem no Brasil. Nós os felicitamos cordialmente com
os melhores votos de êxito".

"A igreja São Paulo, da comunidade evangélico -alemă ,


tem progredido satisfatoriamente: nela prega, regularmente,
o pastor KOLB, de General Osório. Ela conta agora com 65
famílias. Também os soldados da guarnição de Cruz Alta
assistem ao serviço divino. Para êles foi instalado, especial-
mente, um centro aconselhador. O edifício que mantemos
em Pôrto Alegre, rua Cel. Carvalho 344 , que oferece um lar
aos alunos, estudantes, empregados no comércio e operários,
está sempre repleto. Isto prova quanto era necessário tal es-
tabelecimento " .

"No Rio de Janeiro, foi fundada a "Sociedade 25 de


Julho" . Podem ser sócios todos os brasileiros com sangue
alemão. Dêles é exigido : 1 ) reconhecimento pelo Brasil; 2 )
representação de todos os interêsses teuto -brasileiros ; 3 ) inten-
sificar e cultivar a amizade entre o Brasil e a Alemanha".

"Em lugar dêle foi nomeada a professora brasileira CE-


CÍLIA VARGAS. O diretor FRANZ MEYER, que decla-
rou respeitar as leis brasileiras e que sempre procurou incutir
no espírito da mocidade o verdadeiro sentimento de brasilidade,
regressou para a Alemanha. Êle atuou durante quatro anos
no Seminário, como professor, com lealdade e êxito".
A 5. COLUNA NO BRASIL 221

Com o navio-motor "Monte Rosa" partiram de


Hamburgo em 11 de novembro, com destino ao Rio Grande
do Sul, os pastores BERGSMULER ATKINSON, KOLB e
G. ENGELBRECHT” .
Os ativos, trabalhadores e valorosos homens de
diversas nações da Europa, alimentam muito pouco interêsse
pela imigração, porque as suas pátrias oferecem trabalho e
sustento em boas condições de vida, e também porque o tra-
tamento de seus patrícios da América do Sul não é convida-
tivo. Para a Alemanha regressaram, do Brasil, grande número
de repatriados, pois na Alemanha não existem os chamados
sem-trabalho . Homens ativos encontram, imediatamente, co-
locação" .

70.000 R.M. PARA AUXILIAR O TRABALHO


ALEMÃO NO SUL DO BRASIL

"O Colono Alemão" Comunicações da " Sociedade


Evangélica" para os protestantes alemães da América do Sul
sôbre a situação dêstes : "Sociedade Evangélica Alemã
Diáspora HAMBURGO "A Sociedade acima, sediada
em Hamburgo, à Mühlenstrasse 40, obedece à seguinte dire-
ção : Diretor, Pastor B. Bode ; Diretor- Honorário, Pastor H.
Schwieger, Hamburgo Bergerdorf, Schlebuschweg".
"Nos últimos 35 anos, a nossa sociedade contribuiu para
auxiliar o trabalho alemão no Sul do Brasil com a quantia de
RM 70.000 , aproximadamente . Esta valiosa ajuda permitiu
especialmente a construção das sedes das Comunidades de Rio
Grande, Pelotas e Ijuí . No ano findo, a Diretoria remeteu à
comunidade de Novo Hamburgo a importância de RM 1.200
( 8 : 000 $ 000 ) para o pagamento de dívidas urgentes. Esta
última agremiação que, com grandes sacrifícios, construiu uma
escola estadual para 132 alunos, está resolvida a edificar uma
igreja, com moradia para o pastor, e receberá êste ano um
novo auxílio da Diáspora” .
"... No Brasil, a implantação do Estado Novo atingiu
atrozmente a imigração . A-pesar-disso, vieram ainda alguns
colonos da Alemanha por intermédio da Vereinigung für
deutsche Siedlung und Wanderung (Sociedade para a imigra-
ção e colonização alemã) com destino à colônia Nova Trento,
Estado do Paraná. No entanto, o novo estado de coisas me-
lhorou a situação dos colonos, sendo atendidas diversas re-
clamações”
44 .
A diversos pastores que seguiram para a América
do Sul entregamos bons livros sôbre literatura alemã. Além
disto, remetemos regularmente revistas aos pastores residentes
nas imediações da mata virgem".
“... Especial importância tem a educação dos estudan-
tes teuto-brasileiros, que se aperfeiçoam na Alemanha e vêm,
222 AURELIO DA SILVA PY

depois, transmitir os seus conhecimentos aos patrícios no


Brasil".
46
No Centro de Trabalho Brasileiro-Alemão
("Deutsche-Brasilianische Arbeits Kreise" ) , sob a direção do
dr. K. H. HUNSCHE, em Berlim, estudam-se séria e ativa-
mente os problemas que mais interessam aos teuto-brasileiros" .
"... Certas famílias transmitem aos seus descendentes a
cultura alemã. Agremiações alemãs cultivam a sociabilidade
germânica e repelem a influência estranha".
“ ... O mais forte esteio que sustenta e protege os ale-
mães da América do Sul é, indiscutivelmente, a Igreja Evan-
gélica e as escolas por ela mantidas. E' êste um fato reconhe-
cido por todos os que estão ao par do que seja a questão da
colonização alemã no Brasil, no Prata e no Chile. Nela se
ministram aos homens e mulheres da Alemanha o conhecimen-
to e a observação das virtudes da fé, contração ao trabalho,
fidelidade e espírito de sacrifício. Na igreja , são sempre usa-
dos o idioma e o canto alemães. A Igreja Evangélica não é,
absolutamente , internacional, pois ela é o mais forte susten-
táculo dos núcleos alemães. E hoje, mais do que nunca, é
necessário que, na América do Sul, haja uma firme e indes-
trutível união dos que são alemães e querem ficar alemães" .
“... O empolgante ato da Alemanha, anexando a Áus-
tria, revoltou não só os inimigos do " Drittes Reich" (Tercei-
ro Reino ) como também os sul-americanos. E como nada
podem fazer contra a Alemanha, êles lançam o seu ódio contra
os nossos patrícios, especialmente contra os que se acham no
estrangeiro" .
"... No Brasil, cêrca de um milhão de teuto-brasileiros
e alemães são intensamente perseguidos e maltratados pelo Go-
vêrno e, até, chamados "nativistas" .
"... No Rio Grande do Sul, parece-nos que o governo
não alimenta a intenção de agir tão energicamente contra as
escolas alemãs e temos a mesma impressão no que se refere ao
combate às nossas sociedades e à nossa imprensa" .
“... O secretário do Interior declarou que as escolas das
colônias não serão fechadas desde que preencham as seguintes
formalidades: lecionar o idioma do país, educar a juventude
de acordo com o espírito de brasilidade e suspender tôda a
atividade relacionada com a propaganda de ideologias con-
trárias ao regime constitucional do País" .
"... A extinção de todos os partidos políticos no Bra-
sil atingiu também a N. S. A. (Organização Nacional-Socia-
lista do Estrangeiro ) . O dr. Getúlio Vargas externou -se a
respeito, no seu discurso transmitido pelo rádio em 2 de abril" .
.. Os pastores evangélicos receberam, do Governo do
Estado, permissão para regressar à pátria. A União dos Pro-
fessores Evangélicos Alemães foi autorizada, pelo Estado, a
continuar a funcionar" .
A 5. COLUNA NO BRASIL 223

"Também continua trabalhando o Sínodo Rio-Granden-


se Evangélico Alemão" .
"Centenário da Comunidade Evangélica nas Duas Amé-
ricas. Modificou-se, também, o trabalho de comunidade.
O desenvolvimento da Igreja dentro da Alemanha dificultou
o envio dos pastores para o Brasil. Aliás, hoje já a comuni-
dade não disporia mais de recursos para o seu financiamento .
Não obstante, ela continua auxiliando as viúvas dos pastores,
os professores, e outras pequenas comunidades, quando estas
se encontrem em dificuldades. Porém e antes do mais, ELA
AUXILIA OS ESTUDANTES TEUTO-BRASILEIROS ,
OS QUAIS SE FORMAM NA ALEMANHA, PARA QUE
ENTÃO POSSAM NO BRASIL EXERCER O CARGO DE
"FUEHRER" JUNTO A SEUS PATRÍCIOS" .
"A Comunidade Evangélica tem também, como missão
importante, a ligação e contacto contínuo entre a Alemanha
(Pátria ) e o Germanismo da América do Sul, bem como in-
centivar o interêsse pela Diáspora no Estrangeiro, para que
esta não venha a se extinguir. Em muitas comunidades da
Alemanha Oriental, o encarregado dos negócios provou ao
povo alemão a importância dessa missão e o resultado obtido
com a conservação da comunidade alemã em todo o mundo" .
"Se, porém, nos reportarmos ao trabalho de 100 anos,
os resultados e as cifras nos mostrarão que mais de 2 milhões
de marcos ouro foram obtidos com coletas e estes aplicados
nos seus mais variados fins (sínodos, comunidades, escolas,
etc. . . . ) ".

UMA INCURSÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

"Foram visitados 14 municípios pelo pastor GRAETZ ,


que, em todos êles, rezou a missa, onde, depois, também fez
sermões".
66 PG (*) 48 N.º 5 Teremos a mais rica das colô-
nias que eu visitei, sendo que bem poucos dias lá pude perma-
necer. No entanto, tive a grata satisfação de assistir à fun-
dação de uma sede para o partido N. S. D. A. P. , de uma
escola alemã, que, quero crer, não virão a desaparecer tão
breve" .

"PG 53 N.º 6 NOTICIÁRIO GERAL.

"Teve lugar, de 19 de maio a 22, na sede da Liga dos


Alemães no Estrangeiro, a terceira reunião do Círculo dos
Trabalhadores Teuto-Brasileiros presidida pelo filólogo CARL
HEINRICH HUNSCHE . Estavam presentes 30 estudantes,
além de 40 visitantes. O elevado número dos presentes , que

(*) PG Parteigenossen, partidário.


224 AURELIO DA SILVA PY

cresce de ano a ano, bem mostra a importância e compreensão


que aos poucos vem tendo êste trabalho do citado círculo . Os
trabalhos principais são os que se ligam aos problemas teuto-
brasileiros" .
"DOHMS falou também aludindo à situação dêsses pro-
blemas no Brasil. HUNSCHE falou sôbre os problemas bra-
sileiros vistos sob o prisma teuto -brasileiro. O dr. TRAEGER
referiu -se à situação do Esp . Santo. FRITZ SUDHAUS
tratou do problema das escolas. Von PLOTHO sôbre a
Organização no Estrangeiro da N. S. D. A. P.” .
"E' com satisfação que se observa que os teuto- brasileiros
já não mais se deixam iludir com o imperialismo do povo
lusitano" .

Note-se que as expressões "povo lusitano", "lusos", são um cir-


cunlóquio para raça brasileira.

"A rádio-emissora de Blumenau atualmente atinge a todos


os Estados sulinos do Brasil e parte dos argentinos. Persiste,
porém, a dificuldade da compra de aparelhos radiofônicos, por
parte dos colonos, dado o elevado custo".
"No Brasil foram queimados 4 milhões de sacas de café,
que representam 30 % da produção” .
"No Chile, foram mortos 50.000 carneiros, visto não
haver mercado para a grande produção de lã e carne" .
"O Colono Alemão" Situação do germanismo na
América do Sul. Informações fornecidas pela Comunidade
Evangélica dos Alemães Protestantes da América do Sul.
Ano 1937".
" PG. 37 N.° 1 Algumas das felicitações dirigidas
à Comunidade Evangélica, Bispo D. Heckel, Berlim" .
"A Comunidade Evangélica para os protestantes da Amé-
rica do Sul pertence às primeiras instituições de caráter abso-
lutamente livre, tendo ela própria sido reconhecida como solu-
ção de um dos problemas mais importantes a serem soluciona-
dos pelos seus associados" .
"Dezenas de anos, foi ela quem enviou professores e pas-
tores que vinham à América do Sul a-fim-de trabalhar pela
manutenção do germanismo, e, por esta razão, a igreja sinodal
lhe é eternamente reconhecida e grata” .
"A Igreja Evangélica Alemã , que hoje dirige a grande
comunidade estrangeira, envia os mais calorosos votos de feli-
citações por essa grande data" .
"N. n. 2 (Escreve o diretor da missão do Reno, em
Barmen) .
"Por ocasião do Centenário da Comunidade Evangélica
dos Protestantes Alemães da A. do Sul, a missão do Reno
felicita sua dileta filha.
A 5. COLUNA NO BRASIL 225

Êsse é um dia em que mais recordamos a obra dos nossos


antepassados, que muito lutaram pela conservação dêsse credo
em território estrangeiro .
Agradecemos a Deus a bênção lançada sôbre nossa ini-
ciativa, começada com devoção e amor. Agradecemos , tam-
bém, ter êle inspirado nossos pais que incutiram no espírito
de nossos irmãos o dever da conservação do germanismo na
América do Sul.
Queira êle continuar abençoando-nos para que sempre
mais se desenvolva e cresça a nossa iniciativa e, afinal, nos
tornemos dignos dêle, a- fim - de que possa dizer-nos : Aben-
çoar-te-ei,
66 e tornar-te-ás minha bênção” .
PG. 39 N.º 3 (Escreve o Representante Geral
dos Alemães Protestantes da América do Sul, Vigário Marc-
zynski, em Buenos Aires ) .
"A Comunidade Evangélica enviando pastores, profes-
sores e mentores, contribuiu extraordinariamente para que
todos os pertencentes à comunidade alemã encontrassem no
estrangeiro, na pessoa da igreja, a sua pátria espiritual. As
dificuldades surgidas no campo da luta pela vida entre povos
estrangeiros, não obstaram a que perdessem nossos irmãos as
suas fôrças, pois a Comunidade lhes auxiliava com seu con-
fôrto espiritual, que lhes era trazido e ministrado através da
língua alemã” .

“SEMINÁRIO EVANGÉLICO ALEMÃO - Em


São Leopoldo. Dados extraídos do Calendário para os ale-
mães evangélicos residentes no Brasil. Ano de 1938
(Editado em alemão) .
"Em 1912 , foi lançado em tôda a Alemanha um apêlo
a-fim -de serem conseguidos os fundos necessários para a cons-
trução de um Seminário Alemão Evangélico no Sul do Brasil.
Êste apêlo tinha a assinatura de homens como D. ZOLLNER,
DRYÄNDER, conselheiro comercial STOLTZ, ( da firma
Hermann, Stoltz & Cia. ) e LAHUNSEN . Nestas condições,
pôde ser adquirido o indispensável para esta construção, se
bem que nada foi conseguido pelas fôrças dos alemães evan-
gélicos do Rio Grande.
"A primeira direção coube ao professor de matemática
FOGEL ou VOGEL, enviado pela Associação Evangélica da
" Alemanha . Em dezembro de 1913 , foi realizado o primeiro
exame (de quatro candidatos ) , assistido pelo então cônsul da
Alemanha, von STEIN, o qual, com isso, deu o seu reconhe-
cimento ao trabalho cultural do novo Seminário.
"Quando o diretor Vogel regressou à Alemanha em
outubro de 1913 , foi chamado para substituí-lo o sr.
STROHMANN, que então exercia a sua atividade em
Blumenau.
"O novo diretor esteve à frente do Seminário durante
treze anos, inclusive no período da guerra européia. Nesta
15-5. C.
226 AURELIO DA SILVA PY

gestão, o instituto começou a infiltrar-se nos círculos teuto-


brasileiros. O Sr. STROHMANN, que possuía um conhe-
cimento da literatura brasileira invulgar num alemão nato,
scrbe familiarizar os seminaristas com o mundo intelectual e
artístico nacional. Durante todo êste tempo, esteve o Semi-
nário sob a direção de um Conselho de Administração, em
Berlim, sendo as principais despesas carregadas pela sociedade
evangélica para os alemães protestantes do Brasil.
"A Conflagração européia e as suas consequências altera-
ram essa ordem de coisas, pois da Alemanha não se poderia
mais esperar a remessa de auxílios suficientes para a manuten-
ção do Seminário. Foi fundado, então, depois de inúmeras
dificuldades, o Conselho de Administração Rio -Grandense,
DO QUAL PARTICIPARAM COMERCIANTES ATA-
CADISTAS DA CAPITAL DO ESTADO, que se puseram
benemeritamente ao dispor dêsse Instituto para o engrandeci-
mento do trabalho cultural alemão".

"GINÁSIO EVANGÉLICO ALEMÃO BRASILEIRO,


SÃO LEOPOLDO

(Extraído do Calendário para os alemães evangélicos


residentes no Brasil, Edição de 1938 ) .
“Já há dezenas de anos que a fundação de um ginásio
protestante alemão brasileiro constituía uma necessidade. Fi-
nalmente, foi proporcionada a oportunidade para tal, com o
decreto do Govêrno Provisório, em 14 de abril de 1931 , que
regulamentou o ensino para todo o Brasil.
"O Sínodo Rio-Grandense, que desde a sua fundação
construía e custeava escolas municipais (teuto -brasileiras) , as-
sistia, com a consequente apreensão, o êxodo anual, cada vez
maior, de alunos protestantes que abandonavam os seus colé-
gios para ingressarem em outros estabelecimentos de ensino,
onde, as mais das vezes, ficavam perdidos para a nacionalidade
alemã e para a religião . E foi êle o primeiro a indicar aos
alunos de seus colégios, o caminho a seguir para as escolas
secundárias alemãs do país.
“Assim, com a construção do Ginásio Evangélico Ale-
mão-Brasileiro, abriram-se NOVAS POSSIBILIDADES à or-
ganização do ensino (alemão ) no Estado.
"Nenhum colégio ( alemão ) , no futuro, ver-se -á obri-
gado a enviar os seus alunos para fazer o curso de preparató-
rios em estabelecimentos de ensino estranhos. Todo o pro-
fessor tem, agora, a possibilidade de, no seu próprio colégio,
preparar os seus alunos para o exame de admissão ao ginásio.
"A direção do Ginásio, de bom grado, está à inteira dis-
posição dos professores interessados, a-fim-de orientá-los sôbre
o programa do ensino.
"Deve-se à confiança no espírito de sacrifício do povo
protestante do Rio Grande do Sul, o fato de se ter conseguido
A 5. COLUNA NO BRASIL 227

a fundação de uma instituição de tal natureza , a qual somente


poderia ter apôio dentro da Igreja alemã protestante do Estado,
dada a impossibilidade de auxílio direto vindo da Alemanha.
"Portanto, a obra do Ginásio Evangélico Alemão- Bra-
sileiro do Rio Grande do Sul, sustentada pelo povo evangélico
alemão-brasileiro e pela igreja evangélica alemã, foi tão ele-
vada quanto difícil. E' seu objetivo dar aos seus alunos
UMA FORMAÇÃO METÓDICA NA BASE ALEMA-
PROTESTANTE. E' de se esperar que a coletividade de
caráter alemão-protestante do Estado, que até agora prestou
com sacrifício o seu concurso, continue a fazê-lo, pois só assim
poderá ser realizada essa obra” .

A FUTURA IGREJA (KOMMENDE KIRCHE)

Para que se tenha uma impressão mais segura da verdadeira


orientação da Igreja Evangélica Alemã, basta folhear um jornal cujo
nome é bem sugestivo : "Kommende Kirche", "A Futura Igreja”.
E' um semanário editado em Berlim e tem como diretor e editor o
bispo dr. Heinz Weidmann.
No seu número de 6 de agosto de 1939 (Doc. 37) , o “Kommen.
de Kirche" insere um editorial bastante sugestivo, do qual extraí-
mos o seguinte trecho :

“A ideologia mundial do nacional- socialismo é uma rea-


lidade que não poderá mais ser afastada do pensamento alemão
no presente e no futuro . Ela ficou sendo o alicerce sôbre o
qual nós, no Terceiro Reich, desenvolveremos a nossa vida
popular, política e cultural.
“Êste fato muitas vezes não é compreendido pelo estran-
geiro, mas a nós pertence difundir a necessidade absoluta de
dedicação a esta ideologia mundial, instituída sôbre o valor
do sangue e da terra.
"Por esta ideologia todos são alcançados ; os homens, as
mulheres, a juventude ; tanto os alemães dentro das fronteiras
do Reich como os do exterior, em todo o mundo".

"O nazismo aboliu da Religião Evangélica o velho Testamento”,


a pretêsto de sua origem judaica.
Eis agora uma prova formal da intromissão do Estado nazista
na Igreja alemã. Ainda é o mesmo exemplar do "Kommende Kir-
che" que nos fornece material a êste respeito com o artigo intitulado:

"NOSSA FINALIDADE

"A Igreja cristã terá que se cristianizar novamente. Onde


nela viver o verdadeiro cristianismo, será antijudaica. O ver-
228 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 38

61. Jahrgang

Berliner
Olterzeit

Evangelisches Sonntagsblatt

HERAUSGEGEBEN VOM CHRISTLICHEN ZEITSCHRIFTENVEREIN


Bestellungen
und Bestellgeld.nehmen
Don alle Dostámter
5Stückan en. IErpedition
durchdie bis 4 Stüchis 40nurDig.monatlich
durch die Doftportoftel.
monatlidBringerlohn
le 40 Dig. Berlin,
iftnur jum (clubsulaffig und muß mindestens 6 Wechen vorher
Mt. 16 Quasimodogeniti blender . Abbestellung
bei uns ingehen, Erfüllungsort für Quartais
beide Teile Berlin. hachbruch aller Originalartikel verboten. 16. April 1939

Unser Dienst für Deutſchland


Ihm oollzieht sich nach den Geburtswehen der
Arlegs- und Nachkriegszeit ein (chöpferischer Neu-
anfang innerhalb des deutschen Dolkslebens, dem-
gegenüber unsere überkommenen Maßstäbe ein-
fach verfagen. In erdbebenartigen Stößen schreitet
In unferen Tagen die Geschichte Doran und gibt,
dem Geficht unferes Dolkes und Reiches und da-
mit auch feiner Umwelt für viele Geschlechter eine
neue Prägung.
Deshalb trägt heute jeder von uns eine ganz
befondere Verantwortung gegenüber der Zukunft.
Ganz anders als in Jeiten festgebahnter Entwic
lung muß sich in dieser Zeit das Tun und Loffen
jedes einzelnen für Kinder und Kindeskinder aus-
wirken. Wie felten vorher hat daher heute dis
Christenheit in Deutschland entscheidende Möglich-
keiten, ihrem Dolk in tausendfacher Weise mit
Kräften des Glaubens und der Liebe, der Zucht
Jurm 50. Geburtston und der Opferbereitschaft, der Gewissenhaftigkeit
und der Brüderlichkeit wirksam zu dienen, jo
biele Kräfte an tausend verborgenen Stellen in
ves führers die fundamente eines werdenden Reiches hinein-
Co. Bireseienst Juleben. Diese Möglichkeiten auszunuten, ist
In der kommenden Woche begeht der Führer feinen um Deutschlands und um des Evangeliums willen unfere
50. Geburtstag, zu dem auch wir Sonntagsblattlefer ihm heilige Pflicht.
dankbaren Herzens unfere aufrichtigen Segenswünsche dar So wollen wir als deutsche evangelische Chriften mit
bringen. Möge Gottes Gnade ihm zum Wohle unferes Volkes unferer Fürbitte und unferem ganzen Leben hinter dem.
noch alele Jahre, hindurch Kraft und Weisheit verleihen. führer und in unserem Dolke stehen. Gott der Herr legne
Dor unferen Augen wurde Adolf Hitler Anfahpunkt und führer, Dolk und Reich! Er helfe uns, daß auch unferes
Urheber einer lawinengleichen Kraftzufammenballung inner Lebens Dienst und Jeugnis für Deutschland zum Segen
halb des deutschen Volkes und einer ungeahnt starken und werde!
[chnellen Aroftentfaltung deutschen Defens in der Welt. In Moshe.
A 5. COLUNA NO BRASIL 229

dadeiro cristianismo deve auxiliar a luta de defesa do povo


contra o espírito judaico.
"O verdadeiro cristianismo está em posição de vanguarda
contra qualquer pretensão vaticana que joga política e religião
numa panela e tira daí exigências de poder. Isso é político,
mas não cristão .
"Entre o fogo cerrado da falsa Igreja, que se fez anti-
cristã em forma de confissões, deverá atravessar Futura Igreja
para o cristianismo verdadeiro, que não poderá ser separada
da questão de um Deus Alemão” .

"O jornal Kommende Kirche" é uma arma para a luta


contra o falso cristianismo e por um cristianismo verdadeiro.
"Êle mostrará ao nacional-socialista cristão o caminho
da fé por intermédio da palavra e da figura, no presente e na
história, no exemplo e na crítica" .

CONFUSÃO POLÍTICO-RELIGIOSA

Passaram pela polícia de Pôrto Alegre dois curiosos casos de


confusão político-religiosa .
Um dêles é o do diretor do Pró- Seminário Evangélico de São
Leopoldo, pastor Franz Meyer, que exercia simultaneamente um
alto cargo na polícia alemã e do qual já nos ocupámos.
O outro é o do pastor Hugo Kummer, que acumulava um dos
cargos de chefe local do Partido em Santa Cruz. Em poder dêsse
pastor foi apreendida regular quantidade de selos destinados a
substituir os recibos de mensalidades nas carteiras de membros do
Partido. E' lógico que tal material só pode estar em poder de al-
guém que tenha autoridade para receber dinheiro e controlar as
finanças do Partido.
Outro caso típico de entrelaçamento de religião com política
aparece no documento n.º 38, constante da primeira página do
"Berliner Evangelische Sonntagsblatt" . Trata-se de uma edição co-
memorativa do 50.º aniversário de Adolf Hitler, trazendo a seguin-
te manchette: "Nossa luta pela Alemanha".
Esse jornal religioso traduz com fidelidade a orientação polí-
tica da Igreja Evangélica Alemã .
A título de documentação suplementar dos fatos expostos, re-
produzimos ainda o original e tradução de uma circular do Diaco-
nato Alemão, com sede em Berlim, dirigida a todos os diáconos ale-
mães no estrangeiro: (Doc. n.º 39).

"Caros Irmãos !
"Neste dia difícil e indeciso, como nunca tivemos desde
o comêço da guerra de 1914, remetemo-vos, anexo, o último
número da nossa fôlha diaconal. Passamos semanas de afli-
230 AURELIO DA SILVA PY

ção e de tormentos pensando nos nossos irmãos e irmãs ale-


mães na Polônia. Pensamos também no diácono da nossa
aldeia Zinsdorfer, que com certeza também sofreu como nós.
Neste momento o nosso Fuehrer, em discurso pronunciado no
senado, externou os seus ardentes desejos de paz, porém, em
vão. O povo alemão está de novo com as armas nas mãos
para proteger os nossos aflitos irmãos na Polônia e para se
ver livre, definitivamente, do tratado de Versalhes. Também ,
nós diáconos, aquí na pátria e no front, saberemos cumprir
o nosso dever com fidelidade, como fizemos na guerra de 1914.
"Assim, nesta hora grave, enviamo-vos uma especial e
amistosa saudação de todo coração . Estais longe da pátria,
porém como alemães na vanguarda do nosso povo. A-pesar-
de não podermos combater diretamente no front, suplicamos
a Deus pelo nosso povo, pela nossa pátria e pela vitória das
nossas armas.
"Todos cumpram o seu dever, como fiel alemão, como
um legítimo diácono, tanto lá como aquí.

"Salve o nosso querido povo alemão e o nosso Fuehrer !


Deutsche Diakonenschaft, Berlim

Diaconato alemão, Berlim .

(a . ) FRANZ WEIGT

Chefe da União" .
A 5. COLUNA NO BRASIL 231

Documento n.º 39

3572

Deutsche Diakonenschaft &.s.


Berlin-Friedenau, Granachſtraße 3—4
Securuf: Berlin 83 4882 , DoRied.Bontor Berlin 105430 1 Bant Bonto: Dresdner Bant,
$ Depoßtenlaffe 80, Berlin Friedenau .:. Jar Bahusendungen : Güterbahnhof Beriin • Wilmersdorf

1. Sep. 1939
Berlin-Friedenau, den s………… . Kō………………………….......193....
Cranachstraße 3-4

An
alle deutschen Diakone des Aus an

Liebe Brüder!
In einem entscheidungsschweren Tage , wie wir ihn seit Beginn
des Weltkrieges 1914 nicht mehr erlebt haben , übersenden wir Euch
anbei die neueste Nummer unseres Diakonen- Blattes . Hinter uns liegen
Jochen der schwersten Bedrängnis und Drangsalterungen unserer deutschen
Brüder und Schwestern in Polen . Wir denken dabei auch an die Diakone
unserer Zinsdorfer Brüderschaft, die sicherlich mit ihren Familien der
gleichen Not ausgesetzt sind . Soeben hat der Führer im Reichstag sein
hetßes, aber vergebliches Bemühen um die Erhaltung des Friedens darge-
legt. Unser deutsches Volk ist wieder zum Abwehrkampf aufgerufen, aum
Schutze unserer bedrängten Brüder in Polen und zur hoffentlich endgül-
tigen Beseitigung des Versailler Schmachfriedens . Auch wir Diakone wer-
den hier in der Heimat und draußen an der Front, wo ein jeder hinge-
stellt ist, unsere Pflicht so treu und gewissenhaft erfüllen, wie wir
das auch im Weltkriege getan haben.
So senden wir Euch in dieser ernsten Stunde einen besonders
herzlichen Gruß brüderlicher Verbundenheit . Ihr seid zwar fern der
Heimat, aber als Deutsche doch auf Vorposten für unser Volk . Wenn Ihr
auch wohl nicht direkt kämpfend mithelfen könnt, sa wollen wir doch in
der Fürbitte für unser Volk und Vaterland zusammenstehen und unseren a
Gott besonders um den Steg unserer Waffen bitten . Jeder erfülle seine
Pflicht als treuer Deutscher wie als echter Diakon dort wie hier!
Hell unserm geliebten deutschen Volke und unserem Führer!
Euer

Say
/Weigt.
Bundesführer.
Alemães arianos antinazistas no Brasil

" Se as quintas-colunas não forem aniquiladas a bre


ve prazo, a América ficará submetida ao predomínio
da Alemanha" .
(André Chéradame - "Dias decisivos")

Já ficou dito que devemos fazer justiça aos numerosos membros


da colônia alemã do Rio Grande do Sul, que, como outros das co-
lônias alemãs de vários Estados do Brasil, resistiram tenazmente à
investida de nazificação, e que foram mesmo pioneiros da resistên-
cia em nosso país.
Também é nosso dever ressaltar sempre, com serenidade e bom
senso, o patriotismo de grande número de teuto-brasileiros que com-
bateram a infiltração nazista com tôdas as suas fôrças . Eles ajuda-
ram a deter a ação desintegradora dos "arianos" que procuravam
transformá-los em alemães, baseados na lei do Reich que, visando
a formação das chamadas "minorias alemãs", êsses cavalos de Tróia
ou 5.a Colunas do expansionismo nacional-socialista, considera ale-
mães os descendentes de alemães nascidos no estrangeiro. Com sua
atitude, muito se expuseram, sofrendo as tremendas represálias eco-
nômicas e morais representadas pelo "boycott" .
Rendendo justiça, estimulamos a combatividade dêsses nossos
compatriotas, que atrairão para seu meio os milhares de alemães e
teuto-brasileiros que se deixaram iludir pelos agentes do nazismo,
filiando-se ao Partido Nacional-Socialista Alemão, enganados por
falsas promessas e por uma propaganda ainda mais falsa, ou sim-
plesmente compelidos pelo mêdo do "boycott".
Considera-se, com razão, como principal causa da facilidade
com que o nazismo se impôs em certos núcleos coloniais o desinte-
rêsse das administrações passadas do Brasil em relação ao problema
do ensino rural e da nacionalização do ensino em geral. Consignan-
do êste fato, não visamos culpar ninguém, mas apenas apontar uma
das raízes de um mal que tanto se alastrou e que, por isso, agora
tanto nos tem custado debelar.
A 5. COLUNA NO BRASIL 233

Para melhor esclarecer a questão, reproduzimos a seguir um


estudo, relativamente breve mas muito objetivo, sôbre as origens
do nazismo em nosso Estado . Esse estudo traça a evolução da pro-
paganda nacional-socialista, reportando-se ligeiramente à história
da colonização alemã no Brasil.
Vejamos sua exposição :
"Desde os primórdios da colonização alemã no Rio Grande do
Sul, há cêrca de cento e quatorze anos, os imigrantes e seus descen-
dentes se acham radicados ao solo brasileiro e vêm processando,
sucessivamente, a sua assimilação, sem prejuízo de seu culto ao tra-
dicionalismo, procurando, através dêste, conservar as qualidades
inerentes à sua raça, para levá-las à formação da raça brasileira que,
no decorrer dos tempos, se formará pelo caldeamento do sangue dos
nativos e das várias correntes imigratórias.
"A nossa história política e econômica está repleta de exemplos
que demonstram a completa integração da corrente imigratória no
ambiente brasileiro e o pronunciado sentimento de brasilidade de
que se acha possuída.
"As suas igrejas, escolas, sociedades e agremiações servem para
cultuar o seu tradicionalismo e são, simultaneamente, a porta larga
pela qual o novo imigrante entra em contacto com a realidade da
vida brasileira, facilitando-lhe suportar as grandes dificuldades ini-
ciais, oriundas das diferenças do meio ambiente, de clima e de vida
em relação ao país de origem.
"O parco conhecimento do vernáculo em algumas regiões do
interior não é prova da falta do desejo de assimilação e do senti-
mento de brasilidade das correntes imigratórias e de seus descen-
dentes. Basta folhear a história da colonização alemã, para verificar
que, desde as primeiras levas de imigrantes, os seus leaders vinham
reclamando aos governos a instalação de escolas e que só na falta
destas é que, com grande sacrifício pessoal, foram organizando suas
próprias aulas. Servia de professor o mais letrado dentre êles ; se
bem que não conhecesse o vernáculo, êle não deixava de ensinar as
crianças na língua de origem, o amor à pátria adotiva, abrindo -lhe
pela alfabetização a possibilidade de aprender posteriormente o
que no mato e nas selvas, por falta de recursos, não lhes era possí-
vel conhecer melhor. A proporção que os parcos meios de vida e
as condições técnicas iam melhorando, também o ensino do verná-
culo, da história e da geografia pátria foram se acentuando e, hoje,
entre as mil e quinhentas escolas particulares disseminadas pelas
zonas de colonização alemã, está sendo ensinado, a cêrca de 45.000
crianças, o vernáculo, menos bem ou menos mal, de acordo com o
meio e as possibilidades materiais e técnicas. O que, porém, não
se encontra é falta de vontade de aprender.
234 AURÉLIO DA SILVA PY

"Com incalculáveis sacrifícios, os imigrantes e seus descendentes


vêm mantendo as suas organizações culturais e sociais, através das
quais se processa - lenta, mas seguramente a assimilação das
correntes imigratórias. A chamada "colônia germânica" tem vivido
sempre na mais perfeita paz, trabalhando incessantemente a bem
de sua família e de sua pátria, que é a brasileira, tomando parte
ativa no seu desenvolvimento material e cultural, sentindo-se en-
fim, perfeitamente integrada nos problemas nacionais, colaboran-
do com todo o ardor pela sua solução e pela grandeza da nova pá-
tria, sem prejuízo do culto do tradicionalismo, em homenagem a
seus ancestrais.

"Este ambiente de concórdia e de coesão na interpretação dos


sentimentos de brasilidade e de sua difusão, é verdade, sofreu, com
protestos, uma modificação, logo que começaram a surgir em nosso
meio as células do Partido Nacional- Socialista Alemão, pregando
suas doutrinas nazistas e de comunhão sanguínea.
"Tentaram os nazistas infiltrar-se nas sociedades chamadas ger-
mânicas e impor-se na sua direção . Com hábil serviço de penetra-
ção conseguiram mesmo assumir a direção de algumas delas, pro-
curando imprimir-lhes a orientação nazista . Não o fazem natural-
mente, de modo ostensivo e oficial através de suas células, mas por
intermédio de elementos próprios ou mesmo de brasileiros ade-
quadamente doutrinados, que, por ignorância, falta de compreen-
são, leviandade ou vaidade, lhes servem de instrumento. O modo
de agir é sempre discreto . Procura-se, com muito cuidado, não
expor o Partido Nazista e seus adeptos, mas "pelo rodar da carrua-
gem se conhece quem vem dentro", isto é, pelas medidas tentadas,
logo se conhecem os seus fomentadores.
"Os alemães aquí radicados e os brasileiros de origem germâ-
nica - salvo raras e lamentáveis exceções - entraram em franca
oposição à nova orientação que se tentava imprimir à sua vida so-
cial e cultural por meio de uma doutrina que, implantada na Ale-
manha, se procurava transferir para aquí e aplicar aos elementos
da mesma raça e sangue. O movimento de repulsa culminou quan-
do, por um golpe eleitoral em assembléia geral da Sociedade de
Ginástica "Turnerbund", a maior do gênero no Estado, foi resol-
vido pelos sócios nazistas e seus simpatizantes promover-se a filia-
ção da sociedade à respectiva Federação na Alemanha. Os sócios
contrários a esta deliberação antinacional promoveram imediata-
mente um movimento de protesto em reunião de assembléia geral
extraordinária realizada pouco tempo depois, sendo revogada, por
esmagadora maioria, a deliberação anterior. Não se consumou
assim a pretendida filiação dessa sociedade, o que não impediu que
outras o fizessem . Reconhecendo o elemento nazista, diante do re-
A 5. COLUNA NO BRASIL 235

sultado dessa assembléia geral, que o terreno na sociedade de gi-


nástica "Turnerbund" não lhe seria propício para implantação de
suas teorias nazistas, retirou-se em pêso, tendo pedido sua demissão
cêrca de 120 associados, ou sejam 10 % do quadro social, inclusive
Walter Hornig, chefe do nazismo local. Não cessou, porém, a-pe-
sar-desta derrota, o trabalho do nazismo no sentido de filiar as de-
mais sociedades à Alemanha. Tentaram a filiação da Federação
Rio-Grandense de Ginástica, o que também não obtiveram, a-pesar-
de terem conseguido anteriormente, por um golpe eleitoral, a filia-
ção da Federação Rio-Grandense de Cantores, da qual então se
retirou grande número de sociedades contrárias à deliberação.
"Assim se vem processando a desunião na chamada "colônia
germânica", encontrando-se em campos opostos, de um lado, os
alemães aquí radicados e os brasileiros de descendência germânica,
que se batem pela assimilação, defendendo seus sentimentos de
brasilidade sem prejuízo de seu culto ao tradicionalismo e, de outro
lado, o elemento nazista, obedecendo às ordens de seus chefes na
Alemanha, querendo implantar entre os elementos de origem ger-
mânica a doutrina do sangue e da raça, e procurando anular, com
suas novas teorias, o trabalho secular de assimilação que se vinha
processando lenta, porém, firmemente. Esta separação em campos
opostos e a repulsa das novas teorias por parte dos elementos de
origem germânica aquí radicados, não impedem que a organização
nazista em nosso Estado continue trabalhando ativamente, animada
pelo seu espírito de combatividade, fortalecida pelas refregas da
luta e impulsionada pelo fanatismo de que se acham possuídos os
adeptos da nova doutrina.
"Encontramo-los na sede da célula do Partido Nazista desta
Capital, no "Deutsches Haus" - Casa Alemã - à rua Voluntários
da Pátria, onde se reúnem com tôda a regularidade os "chefes” e
os "Pg" (Parteigenossen, correlegionários) agora intitulados " Ka-
meraden", camaradas, e mais simpatizantes . E' o centro irradiador
de todas as atividades nazistas, modelarmente organizadas nos seus
diversos departamentos de cultura, de propaganda, de imprensa, de
controle pessoal, de educação física, de doutrinação, de assistência
social, etc..., com seus subchefes e doutrinadores, seu jornal pró-
prio, "Fuers Dritte Reich" , e as organizações acessórias : a "Deutsche
Frauenschaft im Ausland (Associação das Mulheres Alemãs no Es-
trangeiro) ; o "Deutsche Arbeitsfront", oficialmente por êles deno-
minada "Sociedade Beneficente e Caritativa", se bem que a tradu-
ção literal seja "Frente Alemã de Trabalho" , e, ainda, o "Deutsch-
brasilianischer Jugendring" (União da Juventude Teuto-Brasileira),
erroneamente assim denominada, pois se trata de uma célula de " Hi-
tlerjugend", organização da Juventude Hitlerista Alemã, como aliás
era sua denominação inicial. Foi alterada em São Paulo, numa con-
236 AURELIO DA SILVA PY

centração alí realizada, pois soa melhor no Brasil o título "União da


Juventude Teuto- Brasileira ", do que "Juventude Hitlerista". Por
mais que o neguem os seus organizadores, inclusive o chefe local
KARL NEUBERT , a União da Juventude Teuto-Brasileira é uma
organização da juventude hitlerista . Se mais provas não existissem ,
bastaria a fotografia reproduzida no documento n.º 44-A represen-
tando o seu desfile na parada de 19 de novembro de 1937, em Pôrto
Alegre, onde se vêem as insígnias da Juventude Hitlerista no tam-
bor e no clarim, idênticas às que se observam nos clarins da juven-
tude Hitlerista da Alemanha, reproduzidas no documento n.º 45,
publicado numa revista alemã.
"Para provar quão perniciosa é para nossos sentimentos de bra-
silidade e cooperação das organizações nazistas no ensino e educa-
ção da juventude, assim como a própria convivência entre os adep-
tos desta doutrina, vamos reproduzir alguns conceitos emitidos por
membros do "Círculo Teuto- Brasileiro de Trabalho", com sede em
Berlim, publicados no relatório mandado imprimir pela referida
organização, da qual fazem parte jovens filhos do Rio Grande do
Sul, em estudos na Alemanha. Dos conceitos transcritos num dos
anexos dêste trabalho, nos quais se poderiam acrescentar muitos
outros emitidos pelos maiorais do movimento, pode-se avaliar o
que poderá sair do elemento teuto no Brasil, caso seja permitida a
livre doutrinação dos princípios pregados pelo nazismo alemão.
Justamente prevendo o mal que daí poderá advir, outros países, há
muito tempo, tanto na Europa como na América, inclusive os Es-
tados Unidos, proibiram as atividades das células nazistas, extin-
guindo-as por completo em seu território e impedindo, assim, qual-
quer propaganda de sua doutrina.
"A-pesar-de tôdas as manifestações emitidas nos conceitos trans-
critos no anexo a êste trabalho, continuam os nazistas a afirmar
que estão proibidos de fazer política no estrangeiro e que o nacio-
nal-socialismo não é mercadoria de exportação. Se procedesse essa
afirmativa, então para que as células nazistas no exterior? Não será
para reunir, no estrangeiro, os quarenta milhões de alemães que,
unidos aos sessenta milhões de alemães residentes na Alemanha, for-
mam os cem milhões de que tanto falam os maiorais do movimen-
to? Nestes cem milhões estão incluídos — quer queiram quer não
todos os descendentes dos imigrantes, considerados como perten-
centes à comunhão germânica e por isso intitulados "alemães de
nacionalidade estrangeira". E' o que dizem folhetos vindos da Ale-
manha em propaganda de associações que, no estrangeiro, procu-
ram associá-los. Para que então os chamados “Schulungsabende”
(Noites de doutrinação), que se realizam com tôda regularidade nas
células nazistas? Não será para consolidar sempre mais o espírito
da comunhão nazista dos cem milhões? E as festas dadas com tôda
A 5. COLUNA NO BRASIL 237

a frequência, muito visitadas pelo elemento teuto e mesmo por


grande número de latinos, não serão para atrair a simpatia geral e
o apôio tácito de maiores camadas sociais que servem de manto
protetor para as outras atividades doutrinárias? Tanto é assim, que
é muito comum os nazistas justificarem a inocuidade de seu movi-
mento com a participação de brasileiros de descendência teuta ou
não, nas suas festas e comemorações . Não os deixam, porém, entrar
como sócios da sua organização que, afirmam êles, não tem caráter
político partidário, nem os deixam tomar parte na vida íntima da
célula. Esta atitude aparentemente paradoxal é perfeitamente com-
preensível, atendendo-se que o partido está aí para fazer a propa-
ganda da doutrina que consiste em reunir sucessivamente, ao redor
da mesma bandeira (suástica) todo o elemento de raça e sangue ger-
mânico. As festas aparentemente inofensivas formam a fachada ex-
terna do edifício, dentro do qual se reúnem os chefes do movimento
para combinar as medidas adequadas à propagação de sua doutrina,
perniciosa aos interêsses brasileiros.
"Se continuar a ser permitida a propagação da doutrina nazista,
surgirão também entre nós, em tempo não muito remoto, as chama-
das "minorias", que tanto trabalho têm dado aos países europeus.
"Os brasileiros de descendência teuta, com o apôio eficiente do
"Deutsches Volksblatt", jornal brasileiro editado em idioma alemão,
têm procurado impedir a divulgação da doutrina nas suas socieda-
des e escolas, repelindo a intromissão e influência dos nazistas em
nosso meio. Infelizmente, porém, nem sempre nem em tôda a parte
o têm conseguido, porque os nossos governos, desconhecendo talvez
a gravidade do problema, ou não lhe emprestando a importância
que deveria merecer, não têm contribuído para extinção dêste mal,
como seria de desejar. A excessiva tolerância havida até há bem
pouco, por parte do govêrno, para com o nazismo, estimulava sua
ação e dificultava enormemente o trabalho perseverante de defesa,
iniciado e mantido pelos brasileiros de descendência teuta.
"Torna-se necessário adotar medidas imediatas, tendentes a im-
pedir a infiltração e a ação dos nazistas, assim como a propagação
de suas doutrinas. Nas providências que vierem a ser tomadas é im-
precindível que se distinga claramente entre as agremiações nazistas
e as de tradicionalismo germânico, pois, enquanto aquelas são fran-
camente nocivas aos nossos sentimentos de brasilidade, estas traba-
lham incessantemente pela sua difusão.

Entre as medidas de combate à propaganda nazista, recomenda-


ríamos:

1) O fechamento imediato de todas as células nazistas, com to-


dos os seus departamentos e suborganizações, inclusive a dis-
solução da chamada "Juventude Teuto-brasileira", ado-
238 AURELIO DA SILVA PY

tando-se medidas eficientes que evitem a sua reorganiza-


ção sob outro rótulo;
2) Proibição de divulgação da doutrina nazista e da comunhão
sanguínea, inclusive proibição da circulação de jornais, re-
vistas e publicações na imprensa nacional da mesma dou-
trina;

3) Nas escolas primárias o ensino só deve ser ministrado por


estrangeiros se estes residirem no Brasil há mais de 5 anos,
não pertencerem a partidos políticos e tiverem feito exame
de suficiência em português, história e geografia do Bra-
sil."
A Juventude Hitlerista no Rio Grande do Sul

" Nos meus burgos da Ordem, crescerá uma juven-


tude que fará tremer o mundo. Uma juventude vio-
lenta, imperiosa, intrépida, cruel”.
(Hitler, a Rauschning).

A Juventude Hitlerista (Hitlerjugend) cabe na Alemanha a


importante função de preparar as novas gerações, transformando-
as em nazistas cem por cento. Os jovens de ambos os sexos, desde
a idade do jardim-de-infância, começam a receber no Reich a edu-
cação teórica e prática julgada indispensável para a sua formação
como esteio futuro do Estado.
De acordo com o sonho nazista de reunir os alemães e seus
descendentes no estrangeiro na grande nação alemã, a organização
da Hitlerjugend estendeu sua jurisdição para além das fronteiras
da Alemanha, agindo com a mesma meticulosidade e precisão que
caracterizam a ação de todos os setores da máquina nacional-socia-
lista. Como aliás já vimos anteriormente, é claro o objetivo da
doutrinação dos jovens no estrangeiro : consolidar as chamadas "mi-
norias germânicas" que, oportunamente, desfecharão uma ação con-
junta de grande envergadura, ação de “Quinta Coluna", aplanando
o caminho para a invasão armada.
Quando a polícia sul-rio-grandense iniciou sua campanha de
repressão ao nazismo, extingiu naturalmente a Juventude Hitleris-
ta no Estado, a-pesar-das insistentes afirmativas de seus dirigentes
de que essa organização não tinha caráter político, não estando fi-
liada à Hitlerjugend da Alemanha, e a-pesar, também, do nome
aquí adotado pela mesma com a finalidade de camouflar-lhe o
objetivo real: "Juventude Teuto-Brasileira (Deutsche- Brasilianischer
Jugendring).
Ficou provado cabalmente:

1.0 - Que a Juventude Teuto-brasileira era uma organização


eminentemente nazista;
2.º - Que estava filiada à Juventude Hitlerista da Alemanha; e
3.0 - Que suas finalidades eram:
240 AURÉLIO DA SILVA PY

a) Manter o espírito germânico entre os jovens descendentes


de alemães ;

b) Incutir-lhes as idéias nacional-socialistas ; e


c) Mantê-los fiéis à Alemanha.

Quando, como as demais formações nazistas, a Juventude Hi-


tlerista foi proibida de funcionar aquí, retiraram-se do Estado o
dr. Karl Neubert, chefe, e seus companheiros de chefia. Pareceu ,
então, que a organização estava definitivamente extinta.

Não foi o que ocorreu, entretanto. A "Deutsche-Brasilianischer


Jugendring" passara apenas a agir clandestinamente, havendo assu-
mido a direção geral, por ordem do próprio dr. Neubert, o sr. Ar-
mínio Hufnagel .

Várias reuniões secretas foram realizadas no sentido de assen-


tar nova orientação. Havia de parte dos jovens nazistas uma de-
cisão firme e uma grande vontade de prosseguir.

Contudo, a polícia aparecia como terrível espantalho a vigiar-


lhes o caminho. E, após meio ano de debates e manejos secretos,
abandonaram a idéia de manter a organização tal qual era. Estava
perdida a D. B. J.

Era preciso, no entanto, salvar, ainda que em parte, o seu pro-


grama. Resolveram então a entrada em massa para a Sociedade Fi-
sicultura, onde poderiam, a salvo das aparições da autoridade, pros-
seguir unidos, assimilando os princípios, ainda que sem camisa,
sem tambores, sem clarins, sem acampamentos, sem passeatas. Era
aconselhável transigir, porque o pior, a derrota completa, seria a
dispersão.

Aconteceu, porém, que mal acabavam de tomar êsse caminho


a polícia os surpreendeu em plena manobra, prendendo-lhes o che-
fe e lhes confiscando o arquivo. Ficou, dessa forma, desmascarada
a Juventude, comprovados que foram os seus verdadeiros objetivos
com a apreensão do material de arquivo carinhosamente conservado.

ARMÍNIO HUFNAGEL confessou tôda a atividade desenvol-


vida e a que estava apenas projetada. Esclareceu os verdadeiros
fins daquelas excursões de jovens teutos à Alemanha e confessou a
filiação à Hitlerjugend.

Do arquivo apreendido constam as fichas de admissão à D. B. J.


que contêm, entre outras cousas, a afirmação da descendência e o
compromisso de fidelidade.
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Eigenhandige
Unterschrift
242 AURELIO DA SILVA PY

Tradução do Doc. n.º 40

"Preencher exatamente !
Escrever claramente !
Sócio N.:
Não escrever neste espaço!
Esta proposta não
pode ser emendada

"JUVENTUDE TEUTO-BRASILEIRA

Distrito: Sul Localidade:

Proposta de Admissão

Pela presente declaro a minha inclusão na D.B.J. Sou


de descendência alemã e prometo, com a minha assinatura,
promover o desenvolvimento da Juventude, com tôdas as
minhas fôrças, e seguir sempre as instruções dos meus chefes.
Comprometo-me a pagar:
uma jóia de:. uma mensalidade
de 1 $000 .
Nome: Kunze, Prenome : Nelson . Profissão : Escolar.
Moradia: Pôrto Alegre. Rua : Dr. J. Inácio, n.º 127.
Nascido : 20/1/27 . Em : Pelotas. Nacionalidade : Brasi-
leiro. Religião : católica. Nome dos Pais : Adolfo-Yolli.
Profissão : Viajante.
PORTO ALEGRE, 29 de setembro de 1937. Residência :
Pôrto Alegre.
(a.) Nelson Kunze
(assinatura do próprio punho) .

Tradução do Doc. n.º 41

"D.B.J.

Juventude Teuto-Brasileira
Núcleo de Pôrto Alegre
Ewaldo Rupnow
Nascido aos : 23 de maio de 1916
Em: Pôrto Alegre
Nacionalidade : Brasileiro
Religião : evangélica/sem
Profissão: comércio
Abonador:
Aceito em: outubro de 1935
Moradia : Rua Carlos v. Koseritz, 1528
Firma comercial : Bromberg S.A.
Nome do Pai: Wilhelm Rupnow
Profissão do Pai: marceneiro
A 5. COLUNA NO BRASIL 243

Tradução do Doc. n.° 42

"D.B.J.

Juventude Teuto-Brasileira
Núcleo de Pôrto Alegre
Hildegard Knack
Nascida em 23 de setembro de 1919
Em: Pôrto Alegre
Nacionalidade : Brasileira
Religião : católica
Profissão : afazeres domésticos
Abonadora : Hildegard Uhr
Aceita em: Março de 1936
Moradia: Sertório, 861
Firma comercial : .
Nome do Pai : Jacob
Profissão do Pai : segeiro."

Foram também apreendidas as fichas de inscrição de todos os


membros da Juventude Teuto-brasileira na Sociedade Fisicultura.
(Doc. n.º 43).
Perdidas todas as esperanças de poderem continuar ministrando
educação alemã nacional-socialista aos jovens de "sangue ariano",
os partidários do nazismo passaram a remeter seus filhos, nascidos
aquí, para receberem na Europa educação política dentro das nor-
mas da Juventude Hitlerista.
O que isso significa, sabemo-lo por informações de fonte ofi-
cial, através de publicações nazistas.
Jovens teuto-brasileiros recebem lá a necessária instrução para
poderem desempenhar mais tarde o papel de Fuehrer entre os seus
contemporâneos que não tiveram idêntica fortuna. (Doc. n.º 44).
Dêsse trabalho é encarregado, na Alemanha, o Círculo Teuto-
brasileiro de Trabalho dirigido pelo nosso patrício HANS HEIN-
RICH HUNSCHE.
A finalidade essencial do Círculo é, assim, germanizar comple-
tamente o teuto-brasileiro, capacitando-o para funções predomi-
nantes no território brasileiro, que, segundo afirmam, está a espera
de uma Nação.
Fazem parte do currículo discussões sôbre os chamados " pro-
blemas brasileiros sob o prisma teuto-brasileiro" . Nos acampamen-
tos da Hitler Jugend, através de conferências e exibições especiais,
realizam cursos práticos para se especializarem nos misteres de che-
fe político do grupo . (Doc. n.º 45).
Estes são os conhecimentos "indispensáveis" que vão buscar na
Alemanha os nossos jovens patrícios.
Documento n.° 48

Sociedade Physicultura de Porto Alegre


Naturheilverein
Fundada em 1894

Proposta admissão

Nr...

Nome ક
Name •.Hildegard Kuash..

Profissão
Haustorhter.
Berul

Nacionalidade внас An ......


Nationalität

Maioridade 19
Volljährig
Jahre
19. ...
Menoridade
(abaizo de 18 snaos).
Minderjährig
(unter 18 Jahre)

Residencia Rua Sertorio 16.1


. .....
H'ohnung

Cobrar Rua Rua Lutorio


. 861
Nr .
Einkassierung

ཐོབ་པ་་་་ བ་ བ་ པས་ ....-ཅོ u 、, ..........

Porto. Alegre . 2.2. September 193.8


.

Assignatura do Proponente Assignatura do Proposto

gard
. Thrac
h
Hilde
A 5. COLUNA NO BRASIL 245

Chegamos assim ao extremo de ver crianças brasileiras colo-


cadas sob o domínio alemão, primando em conservar a língua, edu-
cação e costumes estranhos à sua verdadeira pátria.
E' uma mocidade que pertence ao Brasil e que se torna estran-
geira em seu próprio país pela ação nefasta de uma ardilosa polí-
tica de penetração e conquista.
Felizmente, a ação enérgica e serena do Interventor no Estado,
General OSVALDO CORDEIRO DE FARIAS, coadjuvada com a
do sr. Coelho de Souza, tem anulado largamente essas campanhas
desagregadoras, quer fundando escolas nacionais por tôda a zona
colonial, quer orientando a Juventude por um caminho de sadio
patriotismo, quer imprimindo novos rumos ao ensino ministrado
nos colégios "teuto-brasileiros". A D. B. J. foi forçada a ceder o seu
lugar às organizações de escotismo eminentemente nacionais . E
assim não se permitirá, outra vez, que crianças brasileiras sejam
educadas sob a tutela de uma outra pátria que não seja a sua.

Mas, para tanto, não basta que se extingam essas organizações,


cujo escopo principal é a educação cívica do jovem. Faz-se mister
que o poder público exerça severa fiscalização no ensino particular,
especialmente no primário. Já sabemos a importância que os na-
zistas emprestam ao preparo do menino alemão, esteja ou não den-
tro das fronteiras geográficas do Reich.
A polícia possue documentos que provam à tôda evidência que
escolas dêste Estado eram subvencionadas pelo governo nazista.
Se não fôssem suficientes, bastaria um simples exame dos diagramas
e mapas estatísticos em nosso poder para se verificar que o ensino
particular alemão no Rio Grande do Sul teve um desenvolvimento
surpreendente nas zonas de colonização alemã. Seus mestres são os
zeladores da civilização alemã, conservada aquí através do idioma e
dos costumes .

O número de professores alemães que atravessaram o Atlântico,


rumo das colônias, atinge a 350 aproximadamente. Uma pléiade
de abnegados que para cá vieram no sentido de auxiliar, desinteres-
sadamente, o desenvolvimento cultural do nosso país, segundo afir-
mam aos nativos ... E êles insistem no exercício dessa caridade,
mesmo contra a vontade e as ordens da Secretaria da Educação.
Certamente, se fôsse aceito, pagariam ao Govêrno para continuar
lecionando, embora não tenham aprendido a nossa língua, a-pesar-
de alguns anos de vida no Brasil.

Quando se tornou mais tenaz a campanha de nacionalização,


alguns fugiram das escolas para as Igrejas, como nos dá notícia o
seguinte relato do Sub-Delegado em Pindorama, Município de
Cruz Alta.
246 AURELIO DA SILVA PY

"Sr. Dr. DELEGADO DA 5.ª REGIÃO

CRUZ ALTA

Em dias do mês corrente fui informado de que o pas-


tor Leopoldo Alberto STROTHMANN , da igreja luterana
local, costumava reunir em determinada casa situada na “linha ་
Madalena" , neste distrito, certo número de crianças, às quais
ministrava instrução religiosa em idioma alemão.
No intuito de apurar a exatidão da denúncia, uma vez
que tais reuniões se me afiguram uma transgressão à campa-
nha de nacionalização do ensino cuja esfera, penso eu, abran-
ge também o campo religioso, deliberei aguardar uma opor-
tunidade, tendo, no dia 23 , às 14 horas, comparecido ao
local indicado, distante 14 quilômetros desta vila.
Com efeito, em um chalé de madeira para exclusivo fim
cedido pelo respectivo proprietário, comerciante Willy Die-
derich, alí surpreendi o pastor STROTHMANN doutrinan-
do, em idioma alemão, um grupo de 15 crianças, de idade
variável entre 11 e 14 anos, tôdas brasileiras, embora filhas
de pais de origem teuta.
Penetrando na sala em que todos se encontravam, notei
que cada criança tinha ao lado, nos bancos de madeira em
que se assentava, uma bolsa com livros todos impressos em
idioma alemão.
Interpelei então o pastor STROTHMANN, indagando-
lhe da finalidade daquela reunião, isto é, que fazia êle alí
com aquelas crianças. Não logrei resposta porque o pastor
não entendeu a minha pergunta pela simples razão de não
compreender nem falar o idioma português, a-pesar-de se.
achar no Brasil há 12 anos, isto é, desde 1928 , como se vê
de sua carteira de identidade registada no S.R.E. de Cruz
Alta. Tive de recorrer a um intérprete para enfim ficar sa-
bendo que aquilo era uma aula, de há muito mantida pela
comunidade luterana dêste distrito, vindo a apurar também
que, como esta, muitas outras aulas existem nas diversas
linhas coloniais do município, nas quais, em determinados
dias, se reúnem as crianças da respectiva zona para se inicia-
rem no credo religioso do pastor Strothmann. Nesta aula
da linha Madalena a frequência é de 21 crianças, de ambos
os sexos, (matriculadas) , sendo que outras há com cêrca de
50, sendo tôdas atendidas pelo pastor Strothmann, uma em
cada dia da semana, inclusive uma aula, que funciona na
sede da própria igreja, nesta vila.
Examinando os livros das crianças que encontrei na aula
da linha Madalena — cuja relação nominal vai apensa a es-
tas informações reuní 13 exemplares do livro "Religions-
buch für Evangelische Schulen in Brasilien" e igual número
do "Gesangbuch für die Evangelische Kirche in Wuertten-
berg". Entendí que tudo isso era irregular, desrespeitoso
mesmo, ao decidido propósito do govêrno brasileiro de fazer
A 5. COLUNA NO BRASIL 247

que as crianças, nascidas no Brasil, sejam de fato brasileiras,


pelo idioma, pelo ambiente e pelos costumes.
Francamente nocivo a êsse almejado clima por que se
empenha o govêrno, se me afigura a pregação de doutrinas
ainda que de ordem cultural ou religiosa --- em idioma
estrangeiro, como no caso, onde vamos encontrar crianças que,
por circunstâncias de origem e do próprio ambiente em que
nasceram e convivem, de restrito círculo dispõem para exer-
citarem o idioma pátrio e que, ao receberem ensinamentos
sôbre religião, têm de os assimilar de um estrangeiro que or-
gulhosamente teima em não querer aprender o idioma do país
onde há 12 anos exerce a sua missão.
Devo ainda vos comunicar que, em consequência do ex-
posto, resolví dissolver aquela reunião e proibí-las, salvo or-
dem superior, encaminhando as crianças alí presentes às res-
pectivas residências; apreendí os livros em seu poder aci-
ma aludidos bem como diversos cadernos de apontamen-
tos também escritos em alemão, trazendo tudo para esta
subdelegacia ; e por fim intimei o pastor Strothmann a me exi-
bir a "autorização" que, segundo alegou , recebera de Pôrto
Alegre para aquele fim. Efetivamente, horas depois, foi-me exi-
bido por aquele pastor um exemplar da Circular n.º 2466/39
Ür. 2/40, assinada pelo Presidente do "Sínodo Rio-
Grandense", circular essa enviada a todos os pastores daquela
confraria pelo pastor D. H. Dohms. Apensa a essa circular
se achava uma cópia dactilografada de um ofício do Ga-
binete da Delegacia de Ordem Política e Social, assinado pelo
respectivo titular, dr. Plínio Brasil Milano, documento que,
em nome do sr. Major Chefe de Polícia, aprova a aludida
circular.
A experiência da minha vida funcional me aconselha
para prevenir dissabores a não interpretar, no seu es-
pírito, os textos de regulamentos baixados pela alta adminis-
tração policial .
O ofício do Dr. Delegado da D.O.P.S. não contém
instruções nem regula o assunto. Este é orientado pela co-
munidade, através da circular em questão ; e, tanto quanto
alcança o meu fraco entendimento, quer me parecer que as
instruções do pastor Dohms não incluem, explicitamente, a
prática que ora denuncio e nem creio que implicitamente
possa ser incluída nos diversos atos religiosos resguardados
pela tolerância policial .
A diligência foi realizada pela forma que acabo de rela-
tar resumidamente, sem escândalo ou violência, inspirada uni-
camente pelo propósito de fazer cumprir os objetivos do go-
vêrno de que sou humilimo agente, objetivos aprovados pela
minha conciência de cidadão brasileiro que, quanto mais ob-
serva o ambiente em que se encontra, mais convencido se
torna da necessidade de se "abrasileirar" recantos como êste,
onde quem chega tem a impressão de estar num território
248 AURELIO DA SILVA PY

estranho à pátria, tão grande é o número dos que, sendo bra-


sileiros, não sabem falar o idioma nacional.
Agora, tenho a honra de submeter o caso à vossa escla-
recida apreciação , desejoso de conhecer, sôbre êle, o VOSSO
parecer.
Sirvo-me do ensejo para reiterar-vos a segurança de mi-
nha alta consideração e votos de

Saúde e fraternidade.
O Sub-Delegado. "

Às vezes quer-nos parecer que o caso já não é, para êles, da


língua alemã e sim do português, que fazem questão de não apren-
der nem ensinar.
O relatório abaixo transcrito de uma das Delegacias Regionais
de Ensino da Secretaria de Educação, dirigido ao Sr. Dr. Coelho
de Souza, permite-nos uma idéia da sabotagem do esquema de na-
cionalização através do ensino particular nos colégios alemães, dei-
xa ver o que era visto como, mesmo como está agora, está mui-
tíssimo melhor e permite antever o trabalho que espera as auto-
ridades daquela Secretaria de Estado .

“RELATÓRIO DA 2.ª DELEGACIA REGIONAL DE


ENSINO REFERENTE AO ANO DE 1939.

Passo às mãos de V.S. o Relatório que representa nos-


sas atividades no ano que ora finda.
NOMEADA a 13 de abril de 1939 , tratamos logo de
auscultar o proceder dos professores, em relação ao trabalho
escolar.
Encontramos escolas fechadas, outras com frequência ir-
regular das professoras, enfim um abandono quasi completo .
De nossas observações, chegamos à seguinte conclusão:

1 ) Nas colônias, a língua obrigatória é a alemã , pelas


seguintes razões :

a) As crianças têm de permanecer nas aulas por es-


paço de 4 anos, para poderem receber a comu-
nhão solene ;
b) As aulas das comunidades têm o direito do turno
da manhã e as crianças, que frequentam o turno
da manhã, com dificuldade vão ao 2.° turno,
porque estão cansadas por terem percorrido, mui-
tas vezes, 4 quilômetros, e os pais precisam dos
filhos em casa porque são ótimos auxiliares no
trabalho do campo ;
A 5. COLUNA NO BRASIL 249

c) As crianças só vão às aulas do turno da tarde


quando as comunidades ordenam, ficando as es-
colas do Govêrno na dependência desta ordem ;
d) Os professores particulares primam, em geral, pelo
desconhecimento quasi completo ou completo da
língua vernácula .

V.S., lendo o Mapa dos exames finais, poderá ver como


é apavorante o número ínfimo dos que conhecem o por-
tuguês.

e) Duas professoras municipais em Caí declararam


francamente que ensinar o português é muito tra-
balhoso na colônia, motivo por que recorrem à
língua alemã ;
f) E' de notar que há ordem, por parte do nazismo,
de se ensinar o alemão ao colono desde os pri-
meiros balbúcios da criança ; porque, dizem êles,
só a língua irmaniza ; tanto é assim que há Jar-
dins de Infância clandestinos em todos os recan-
tos do Rio Grande, começando por Pôrto Ale-
gre;
g) Em mãos de V.S. está o problema mais sério
que se pode imaginar quanto ao trabalho da for-
mação de nossa raça . E' a convicção sincera
que nos faz falar assim a V.S. Nas colônias,
não por maldade, mas por ignorância premedita-
da dos chefes, há certeza de que esta parte do
nosso país é uma colônia alemã , e de que pre-
cisam arregimentar-se ao lado do chefe nazista ;
h) Era de grande interêsse que os poderes competen-
tes entrassem em comunicação com as comunida-
des para fecharem as suas aulas (o pior elemen-
to contra a Instrução Pública ) onde houvesse
Grupos Escolares ou escolas reunidas ;
i) Grande número de professoras públicas de origem
alemã fazem da língua estrangeira a língua pre-
ferida. Há professoras que falam português só
dentro da escola, o que ainda não cremos ; o há-
bito é uma segunda natureza : se falam cotidia-
namente o alemão, também o falarão nas aulas.

Apresento o nome de 3 professores públicos que, ainda


no ano de 1939 , só ensinaram alemão : GLÓRIA R. DA
SILVEIRA, da picada Belaú (São Leopoldo ) ; CARLOS A.
WIEST , do Morro Reuter ( S. Leopoldo ) ; JOÃO PERSCH ,
linha Olinda (Montenegro ) . Este último bateu o record,
pois apresentou 40 alunos que desconhecem completamente
o vernáculo.
250 AURELIO DA SILVA PY

j ) Não há necessidade de empregar línguas estrangei-


ras como auxiliares de ensino, como por aí se
propala. Temos várias professoras de boa von-
tade e patriotismo que ensinam o português em
colônia alemã sem nada saberem dêste idioma;
exemplo : CÉLIA S. ROCHA, na picada S. Jacó
(S. Leopoldo) , e ELCINA KROEFF que, na
fazenda do Paquete, ensinou português aos japo-
neses. Temos a certeza de que somente a ins-
trução e a educação bem orientadas nos salvarão
de dias amargos e lutuosos.

2 ) Agora entramos na parte mais dolorosa do quadro


que apresentamos a V.S. Há professores públicos
que em grande número não compreendem a causa
sagrada a que se destinaram. Nas colônias, há, em
geral, verdadeira ogeriza pelas escolas públicas, tanto
a infiltração da campanha contra nós é forte. E'
triste afirmar, mas os nossos professores cooperam
para êste descrédito ; principalmente os de escolas iso-
ladas.
Há tanto descaso, que não se importam de tra-
balhar nos mais sórdidos pardieiros. Têm um único
desideratum : pagar aluguel ínfimo e morar afastados
das escolas para poderem faltar com a maior fran-
queza. O mais ligeiro aguaceiro impede o funcio-
namento das aulas ; êste terrível hábito encontramos
também em Grupos e aulas reunidas.
Os professores devem viver, tanto quanto possí-
vel, no lugar onde trabalham. Só assim poderão con-
viver com os moradores do lugar, procurando atrair
os pais à escola, tratando de viver um pouco a vida
dos próprios alunos, fazendo da escola a continua-
ção do próprio lar.
3) As professoras casadas deviam ser aproximadas dos lu-
gares onde são obrigados a permanecer os maridos,
mesmo que não sejam funcionários públicos, para
que elas não estejam sempre preocupadas com o lar
distante.
4) Alarma o número de ignorantes de nosso idioma.
Precisamos evitar, (se V.S. me permite a sugestão)
tanto quanto possível, as escolas isoladas, que são,
em geral, fontes de largas despesas do Governo sem
nenhum resultado.

Atividades Desenvolvidas

A 10 de dezembro de 1939 , seguimos para as picadas


e Colônias do município de São Leopoldo, a-fim - de reali-
zarmos os exames finais de algumas aulas públicas e parti-
culares, cujas impressões passamos a relatar :
A 5. COLUNA NO BRASIL 251

1) Aula particular da Comissão Católica de Dois Irmãos.

Esta aula é dirigida pelo professor Fredolino


Piltz que, além de não estar registada, não preenche
as condições de mestre, deixando muito a desejar, da-
das as dificuldades que encontra para o ensino da
matéria. A maior parte dos alunos não o entende,
tornando-se, por isso, o ensino deficiente, incompleto.
Foi um verdadeiro fracasso a alfabetização dessa aula.
Dos 39 alunos matriculados, 22 apenas fizeram exa-
me, sendo todos reprovados. Não sabem cantar o
Hino Nacional ; a educação física é quasi nula ; a
escola não possue livros de matrícula e chamada.

2 ) Escola estadual isolada de Afonso Wolf ( Travessão) .

O professor Afonso Wolf é um esforçado, fal-


tando-lhe, porém, orientação própria.
A alfabetização é má, sendo a nacionalização
boa.
Seus alunos, em ciências, educação moral e cívi-
ca, estão bem preparados, sendo-nos feita uma boa
demonstração de educação física e uma ótima expo-
sição de trabalhos manuais.
Sua matrícula com 36 alunos está em boas con-
dições. Compareceram aos exames 31 alunos, sendo
12 aprovados.

3) Escola estadual isolada de Carlos Alfredo Wiest (Mor-


ro Reuter) .

E' péssima a nossa impressão sôbre essa escola


isolada. O professor é demasiado áspero e severo,
causando isso entre os alunos uma verdadeira situa-
ção de pavor.
Acreditamos que o professor só ensina aos alu-
nos leitura e nada mais. As crianças não sabem na-
da; pronunciam apenas: Brasil, Brasileiro, Getúlio
Vargas, a quaisquer perguntas que se lhes façam , se-
jam elas quais forem. Desconfiamos que, durante o
ano letivo, o professor Wiest tem se preocupado ape-
nas com o ensino da língua alemã. A alfabetização
é nula ; os discípulos não fazem trabalhos manuais
nem educação física, além de cantarem o Hino Na-
cional completamente modificado, com interpretação
gesticulada e ridícula.
Estão matriculados 52 alunos, tendo compare-
cido 23 aos exames, os quais foram reprovados. De-
vemos ainda acrescentar que as duas filhas do citado
252 AURELIO DA SILVA PY

professor, com 18 e 20 anos, conservaram-se sentadas


durante a execução do Hino Nacional, demonstran-
do completo desconhecimento do hino pátrio.

4) Escola isolada estadual de Helva Weidle (2 Irmãos) .

A alfabetização é nula ; no entanto mostram os


alunos muito desembaraço. Foram-nos apresentados
bons trabalhos manuais. O trabalho de nacionaliza-
ção vai bem, não só no meio infantil como também
na própria população.
Possue essa escola 23 alunos matriculados.

5) Aula particular da Comunidade Evangélica de Dois


Irmãos.

Professor: Arno Nienow.


Esta escola já estava fechada, sendo reaberta para que
os alunos fôssem submetidos a novo exame. Pelas pro-
vas apresentadas, pudemos verificar que foi uma das
melhores aulas visitadas, causando -nos ótima impres-
são. A matrícula atinge 49 discípulos. O professor
Arno é contratado pela Prefeitura Municipal.

6) Aula particular da Comunidade Católica da picada


São Paulo,

Este colégio é dirigido pelo professor João Ed-


wino Utzig, que é um esforçado, dando-nos uma de-
monstração completa do seu trabalho. Foi a única
aula que encontramos com bons resultados na alfa-
betização, muito embora esteja localizada numa ver-
dadeira grota, além de ser seu professor um aleijão.
Boa demonstração de educação física. A matrícula
dessa aula 73 alunos.

7) Escola particular de Jammertal.

Não conseguimos nesta escola examinar os alu-


nos, visto que todos já se encontravam no gôzo de
férias, estando ainda o seu professor, Artur Schnei-
der, ausente da localidade.

8) Escolas particulares de Gertrudes Borgmann e Albino


Frietsch.

Ambas estavam fechadas, por isso não nos foi


possível realizar os respectivos exames.
A 5. COLUNA NO BRASIL 253

9) Escola estadual em Joaneta.

Dirigida pela professora Islândia Vilanova. Es-


ta aula foi instalada em agosto, motivo por que sua
matrícula e frequência são muito reduzidas, prome-
tendo melhorar para 1940. A sua direção está con-
fiada a uma moça dedicada, que muito se salientou na
parte relativa à nacionalização.

10) Escola estadual isolada em picada Café.

E' professor dessa aula Afonso Schmitt, um es-


forçado na parte relativa à nacionalização, tendo
apresentado alguns alunos desembaraçados. Nota-
mos, porém, falta de orientação. E' muito estima-
do pelos alunos, cousa rara nas colônias.

11 ) Escola estadual isolada em São José do Herval.

Num ambiente verdadeiramente hostil a profes-


sora Jade Fagundes de Oliveira Freitas, não vem me-
dindo esforços no sentido de nacionalizar e alfabeti-
zar a zona a si confiada. Vive uma luta titânica,
sem resultados, sendo a segunda professora que soli-
cita encarecidamente o seu afastamento dêsse povoa-
do, habitado por pessoas sem escrúpulos e que não
vacilam em atacar qualquer um. Isso foi constata-
do. A frequência dessa aula é mínima. Enquanto
o ambiente hostil permanecer contra as professoras
dêsse povoado, nada se conseguirá. (Nota da Dele-
gada : Todo êste trabalho é do Padre Afonso Sche-
rer).

12 ) Aula particular da Comunidade Católica.

O professor dêsse colégio, Silfredo Beck, ao ser notifi-


cado de que uma comissão iria fazer os exames finais,
encerrou as portas da aula, dispensando os alunos e
afastando -se do lugar. A matrícula de alunos atinge
o número de 80. Lembramos a conveniência da cria-
ção de uma Escola Estadual nesse lugar.

13) Aula particular de Boa Vista do Herval.

Ao chegarmos a êsse lugar, verificamos que já estavam


encerradas as aulas, e que o respectivo professor, A.
Schaumlöffel , prestara um concurso para professor
municipal, sendo aprovado.
254 AURELIO DA SILVA PY

14 ) Aula particular do professor João Büttenbänder, em


Wallahay.

Em idênticas condições à do colégio de Boa Vista do


Herval.

Terminando o presente relatório, solicitamos a aprova-


ção do que acabamos de expor, esperando merecer a confian-
ça dos nossos superiores para que possamos continuar servin-
do à Instrução da futura geração .
(SILFREDO BECK trabalha para que as crianças não
aprendam o português. )

CÓPIA

ESCOLAS PARTICULARES DO MUNICÍPIO DE SÃO

Alfabetizados
Comunidade

LEOPOLDO
Distritos

ano
1.º

Nomes dos Professores

5.0 Frida Helena Lauer Católica 16 1


5.º Irmgard Schuch Evangélica 34 1
11.0 Margarida Augustin Evangélica ... 15 4
11.0 Léo Winterle Evangélica ... 1
11.0 Pastor Edmundo Neumann Evangélica 7 0
4.0 Arno Ninow Evangélica 12 1
2.0 Franklin Ott Luterana 11 4
2.9 Henrique Poll Luterana 13 11
3.0 Verno Drehmer Evangélica 4 4
4.0 Utzig Católica 19 10

(Aa. ) Camila Furtado Alves,


Delegada da 2.ª Região.

Serena P. Boeckel,
Secretária.

NOTA: Em São Leopoldo há 65 aulas particulares.


Só 25 apresentaram trabalho estatístico. As
outras escolas fecharam sem dar satisfação
e sem fazer exames.
A 5. COLUNA NO BRASIL 255

CÓPIA

ESCOLAS PARTICULARES DO MUNICIPIO

Alfabetizados
DE MONTENEGRO

Comunidade
Distritos

ano
1.º
Nomes dos Professores

៩៩៩៩៩

5004
6.º Irmãs São Francisco Católica 29
Augusto G. Kunnrath Católica 17
João Pedro Kochhann Católica 15
1.0 Erna Hack Evangélica ...
10.0 Nicolau Inácio Weber Católica 19
11.0 João Egídio Finkler Católica 13
1.0 Gilhermina H. Lerner Católica 0
3.0 João Wendlin Católica 33 1
1.0 João Koch Hahn Católica 32
9.º Oscar A. Konrath Católica 24
10.0 Wilibaldo Hoffmann Católica 17
Jacob W. Henzel Católica 18
José Brand Filho Católica 21
José Brand Filho Católica 25
José B. Gribeler Católica 9

CÓPIA
Alfabetizados

ESCOLAS PARTICULARES DO MUNICIPIO DE TAQUARA


Comunidade
Distritos

ano
1.º

Nomes dos Professores


Paul
30

2.º João Winterle Evang. Lut. 5


2.0 Margarida F. Scherer Católica 11
256 AURELIO DA SILVA PY

Alfabetizados
Comunidade
MUNICÍPIO DE CAÍ
Distritos

ano
1.º
Nomes dos Professores

0012 Omonoooooo
5.0 Armindo F. Haettinger Evangélica 15
5.0 Egidio Luft Católica 8
1.0 A. Nelson Wildgen Católica 19
9.0 Emilio Knack Particular 10
5.0 Ireno Buchmann Particular 24 0
Mário Beno Bohn Particular 18 3
9.º Otávio Gregory Particular 14 0
9.0 Zita Petry Católica 14
9.º Beno Bender Evangélica 9
9.º Severino Strocher Católica 10
1.0 Maria Wurzins Católica 9

274
5.0 Beno Eduardo Bohn Católica 12
5.0 Ida Stein Católica
3.0 Ervino Wedig e A. Kauster Particular 24

CÓPIA

AULAS PARTICULARES QUE NÃO PREENCHERAM AS


FOLHAS DE ESTATÍSTICA

Otto Bergmann 3.º distrito Fechou


Germano Zegur ― 3.º distrito Fechou
Otto Merker ---- 3.º distrito - Fechou
Werno Drehner - 1.º distrito Fechou
Oscar Carlos Ruth 4.º distrito - Fechou
Afonso Wolf 4.º distrito Fechou
Artur Klaudt 4.º distrito
Elisa F. da Silva 5.º distrito
Alfrida Bohrer 5.º distrito Za
João Seger 8.º distrito
Fredolino Alfredo Neis 8.º distrito
Avelino Andreis 8.º distrito
Alberto Meurer 8.º distrito
Wilibaldo Schuck 8.º distrito
Gertues Bergmann - 9.º distrito Fechou
Aloísio Anschau 9.º distrito ―ding Fechou
Augusto Hansem - 9.º distrito Fechou
Pastor Karl Bernsmuller 10.º distrito - Fechou
Germano Zingler 10.º distrito CO
Colégio Imaculada Conceição - 4.º distrito
Pastor Osvaldo Wilke - 7.º distrito
A 5. COLUNA NO BRASIL 257

Aulas Municipais:

Nelsy Mercker 3.º distrito


Antônio Hansen - 9.º distrito - Município de São
Leopoldo.
Artur Schneider ― 9.º distrito.

Apresentamos uma pequena parte do trabalho em au-


las particulares.
Nota-se a má vontade, ou melhor, um esforço persisten-
te para não ensinar o português e não conhecer os dados esta-
tísticos.
Peço sigilo, mas o informaremos de tudo que souber-
mos.
(a) Camila Furtado Alves.

NOTA - Alebrandt, professor particular católico, fechou as


aulas oito dias antes dos exames.
Não fala o português - Brochier (Montenegro) .
Informações do subprefeito Oscar Osório Duhl.

HUGO HEMBURGER feschou a escola, mas continua


a ensinar alemão dentro da igreja.
Informações do sr. Bonorino, esforçado Delegado de
Polícia de Montenegro .

O professor PILZ, da Comunidade católica de Dois


Irmãos, não diz uma palavra em português.

Em Bom Princípio as práticas continuam em alemão .


Sábado houve em São Leopoldo um casamento, sendo
todo o ofício em alemão."

Verifica-se através dêsses dados que a porcentagem de alfabeti-


zação atingiu apenas 7, 58 %, o que absolutamente não exprime o
esfôrço gigantesco e a boa vontade dos funcionários encarregados
da fiscalização, esfôrço e boa vontade por nós testemunhado inú-
meras vezes.

O ensino particular em Montenegro ofereceu 0 % de alfabeti-


zação, o que estabelece fora de qualquer dúvida o espírito reacio-
nário dos professores .

Repetidas vezes as autoridades policiais têm sido chamadas a


colaborar em diligências da Secretaria de Educação , e é desta cola-
175. C.
258 AURELIO DA SILVA PY

boração que resultou entrarmos no conhecimento da questão e


dêstes dados.
Referimo-los porque êles ultrapassam as esferas de competên
cia daquela Secretaria para interessar à própria segurança política
do Estado.
Em matéria educacional, o problema está pôsto e será resolvido
seguramente. Resta encararmos o assunto pelo seu aspecto político-
social.
Significará essa obstinação, revelada eloquentemente por aque-
le zero por cento de Montenegro (para só citar esse município),
apenas a dificuldade do ensino em nossa lingua?
Certamente não.
Nesta questão há motivos superiores, que envolvem não só
uma questão eminentemente política, como afetam, de certo modo,
a nossa estrutura social.
Essa afirmação poderá ser fantástica, à primeira vista. Não o
será, entretanto, à luz dos fatos. Demonstremo-la.

Onde está a questão política?


"A compreensão da idéia do Estado deve ser alcançada pela
escola, logo, com o começo do uso da razão (educação cívica)”.
(Do programa do N. S. D. A. P.).

a
.Depois, com o tempo, tratar-se-ia de desenvolver um sen-
timento de nacionalismo, por meio das escolas e da instrução”.
(Mein Kampf, Capítulo III) .
2
Encontra-se nestes dois extratos a resposta à pergunta acima
enunciada. E' na escola que o nazismo inicia a sua catequese. Ao
lado da cartilha maternal, o professor ensina os princípios rudimen-
tares da teoria racista, pedra angular do nacional-socialismo.
Antes da gramática, o pequeno aluno aprende que corre em
suas veiazinhas um "sangue melhor" ―― o puro sangue ariano, cuja
mistura com outros sangues é considerada crime.

O menino, em tenra idade ainda, aprende que, pelo fato de


possuir sangue alemão, é considerado parte integrante da "Gross
Deutschland" e o seu nascimento nestas terras selvagens confere-
lhe, apenas, uma dupla nacionalidade, onde o Brasil aparece em
plano secundário.
O cuidado dispensado à educação nestes moldes é inspirado
em um mandamento da bíblia nazista a "Minha Luta", de Hi-
tler - que reza :
A 5. COLUNA NO BRASIL 259

"O problema da nacionalização de um povo deve começar pela


criação de condições sociais sadias, como fundamento de uma pos-
sibilidade de educação do indivíduo.
Somente quem, pela educação e pela escola, aprende a conhe-
cer as grandezas culturais, econômicas e, sobretudo, políticas da
própria pátria, pode adquirir e adquirirá, certamente, aquele or-
gulho intimo de pertencer a um tal povo.
Só se pode lutar pelo que se ama, só se pode amar o que se res-
peita e respeitar o que pelo menos se conhece" .
O trabalho de educação coletiva do Estado nacionalista deve
ser coroado com o despertar do sentimento da raça, que deve pe-
netrar no coração e no cérebro da Juventude que lhe foi confiada.
"Nenhum rapaz, nenhuma rapariga, deve abandonar a escola
sem estar convencido da necessidade de manter a pureza da raça”.
Eis o motivo por que se obstinam os professores alemães em
conservar os nossos pequenos patrícios nacionalizados quanto à res-
pectiva origem, como o manifesta aquele eloquente zero por cento
que nos forneceu Montenegro.
E' um objetivo político o que é claramente visado.
E nem podia ser de outra forma, em face das condições atuais.
Já não é possível, em um Município próspero e rico como Monte-
negro, viver-se na completa ignorância do idioma nacional. Há
interêsse e, mais do que isso, há necessidade de aprendê-lo. Isto
não é feito apenas porque contraria os postulados políticos do
N. S. D. A. P.
Muitíssimos casos existem de alunos que vão aprender apenas
o catecismo ensinado nas Igrejas, porque a escola alemã foi fechada
e não convém o ensino no colégio público. O Grupo escolar ensina
a nossa língua, ao passo que o padre ou o pastor da zona colonial
ministram os ensinamentos da escritura na língua considerada ma-
terna para êles.
Vejamos agora o que se passa do ponto de vista social.
As teorias nazistas preconizam uma organização social diversa
da nossa. O espírito cristão, que inspirou e rege os destinos da so-
ciedade brasileira, é condenado e combatido pelo nazismo. Na
constituição da família, célula da sociedade, as questões referentes
à raça e à constituição física foram colocadas acima do afeto e dos
preconceitos de ordem moral que defendemos. Isto é ministrado
aos jovens nos bancos escolares.
O modo de vida que lhes é aconselhado e os costumes que lhes
são impostos divergem profundamente dos nossos hábitos e costu-
mes. Por exemplo: os jovens e meninas da D. B. J. periodicamente
eram levados a acampamentos em comum, como já dissemos. Sa-
be-se que os meninos praticavam livremente o nudismo, (Doc. n.º
45-A), condenado pela nossa formação espiritual. Diz-se que o mes-
260 AURÉLIO DA SILVA PY

mo acontecia com as moças, relevando que eram realizados, à noite,


espetáculos artísticos em que elas representavam absolutamente nuas.
Não possuímos, entretanto, prova documental dêsses espetáculos.
Certo é que, por êsse caminho e com êsses ensinamentos, ja-
mais será constituída uma sociedade dentro das bases da moral cris-
tã, como é a sociedade brasileira.
Como testemunho do que é o ensino na escola alemã, citamos
o depoimento de Sua Excia. Revma. o Arcebispo D. João Becker,
contido em sua última carta pastoral :

"A escola é o campo mais aberto à invasão da concep-


ção nazista da vida." .. "trata-se da concepção mate-
rialista e panteísta do racismo, acima indicada, a qual se ma-
nifesta em doutrina contrária ao cristianismo, especialmente
no livro imposto a tôdas as escolas: "O mito do século
XX" , de Rosenberg ."

UM MOVIMENTO PURAMENTE BRASILEIRO ..


AINDA A CAMUFLAGEM DA JUVENTUDE HITLERISTA

" E' um glorioso espetáculo o da nossa


loura juventude : sabemos que ela é a
Alemanha do futuro, quando não mais
existirmos. Aquilo que criamos e cons-
truímos será mantido pela juventude".
(Hitler -- Discurso de 8-9-1934, em
Nüremberg).

Vimos anteriormente que a tentativa de camuflagem da Ju-


ventude Hitlerista no Brasil fracassou com a apreensão dos seus
arquivos, em nosso Estado. Entretanto, seu esquema de ação apa-
rente, sua máscara brasileira dificilmente poderia ter sido mais bem
modelada, a-pesar-daqueles leves tons de desculpa de quem fala
sob a pressão de uma auto-acusação e que o leitor poderá perceber
na transcrição. E como escrevem o português todos estes dirigentes
de movimentos puramente brasileiros ! ... A gente está vendo sem-
pre, por detrás das frases, o original alemão, sendo forçoso fazer
pelo menos algumas correções, como temos feito, para compreen-
são dos textos .
Eis o documento :

"OBJETIVOS E OBRA DA UNIÃO DA JUVENTUDE


TEUTO -BRASILEIRA

A União da Juventude Teuto -Brasileira é uma agre-


miação de jovens masculinos e femininos brasileiros, filhos de
A 5. COLUNA NO BRASIL 261

alemães sediados no Brasil, fazendo assim parte da coletivi-


dade da grande nação brasileira.
A suprema tarefa da U.d.J.T.B. é a educação de seus
membros na base da camaradagem e da disciplina para
viço à Pátria, cumprindo assim o dever de cada cidadão pe-
rante a nação brasileira.
Os jovens aprendem que a obediência ao govêrno e às
leis não é somente um dever patriótico, mas sim que esta obe-
diência é ditada pelo amor ao bem-estar da Nação. Este
amor os leva até à morte e nem um dêles vacila em deixar
a vida e o sangue no campo de batalha em defesa da querida
Pátria.
Os ídolos desta juventude são os heróis da luta da guer-
ra do Paraguai, os valorosos bandeirantes e os pioneiros ale-
mães, simples colonizadores, mas que, com esta simplicidade
característica dos teutos, venceram as matas virgens dos esta-
dos sulinos, para transformá -las em terras férteis, fundando
cidades, organizando industrias e comércio, sendo assim, em
conjunto com os colonizadores italianos, a base da prosperi-
dade neste ramo, como o foram anos antes os gaúchos, va-
lentes conquistadores dos campos, coordenadores natos da
grandeza do Brasil. Estes antepassados teutos não só soube-
ram lidar com a pá e o machado, como também defenderam
a Pátria com a arma na mão contra os invasores estrangei-
ros, e mantiveram a ordem nos tempos de revolução.
Estas razões levaram a U.d.J.T.B. a despertar nos jo-
vens corações a memória dos antepassados vindos da velha
Alemanha, e lembrar que o sangue é o mesmo, e que êste
sangue os obriga a cultivar e respeitar os costumes e o idio-
ma dos pais e avós.
Se na história brasileira surgem homens importantes de
descendência lusa como germânica, é certo que cada um con-
tribue com as qualidades de sua raça, qualidades estas que de-
ram o valor para poderem servir desta forma extraordinária
a nossa querida Pátria. Bravura, fidelidade, camaradagem ,
modéstia, coragem, fôrça de ação, tenacidade, solidez, vera-
cidade e amor à Pátria são objetivos que queremos inculcar
nos jovens.
Acampamentos, raids, atletismo, educação teórica em
reuniões semanais, cultivo de música e cantos em geral, como
a arte de ofícios, são os meios eficazes desta educação . Os
acampamentos e raids nos fazem conhecer a grandeza do
Brasil, a sua magnífica natureza, nos levam ao interior para
travar relações com a população dos campos, da colônia e
conhecer seus costumes. O atletismo torna a juventude ro-
busta e sadia, preparada para a luta das armas e da vida .
Também temos em nossas fileiras alguns jovens alemães
natos, cujo supremo dever é de formar um laço de amizade
entre as duas grandes nações, e que, respeitando em tudo as
leis de nosso país, por gratidão à nação hospitaleira, servem
262 AURELIO DA SILVA PY

com o máximo prazer o nosso maior objetivo: trabalhar com


ardor para a grandeza da nação brasileira.
A U.d.J.T.B. compreende ser um dever natural come-
morar festivamente as grandes datas da nossa Pátria, como
já tem dado provas de assistência social - nossos camaradas
cooperaram nos "Chás da Pequena Cruzada" em favor da
Santa Casa local, cooperaram na colocação dos postes para
a linha de alta tensão ao Sanatório Belém, socorreram os fla-
gelados no arrabalde de São João, Navegantes, levando man-
timentos aos que estavam cercados pelas águas, ou auxilian-
do as mudanças dos necessitados, ou guardando as casas dos
mesmos.
A União da Juventude Teuto-Brasileira está organizada
em quatro regiões: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São
Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. As corporações locais são
divididas em grupos pequenos de 10 a 12 jovens, masculi-
nos ou femininos, nas idades de 8 a 14 e de 15 a 20 años.
O símbolo contido em nossa bandeira é para documen-
tar a nossa amizade com a velha Pátria dos antepassados, um
antigo emblema dos germanos, dos tempos antes de Jesús-
Cristo e que significa "Vitória”.
A U.d.J.T.B. é uma agremiação puramente brasileira.
Não tem ligações com quaisquer grupos políticos ou socieda-
des, e especialmente não é ligada a organizações alemãs.
Como mantemos relações muito amistosas e cordiais com os
"Escoteiros do Mar" , também as mantemos com outras agre-
miações de juventude, entre outras com os escoteiros da Ar-
gentina, do Uruguai e da Alemanha. Temos aproveitado
algumas experiências destas corporações, mas nunca tentamos
implantar em nossa estrutura cousas estranhas ao ambiente
de nossa Pátria.
A U.d.J.T.B. espera de seus membros que cultivem o
idioma alemão, porém exige que estudem e se dediquem à
língua brasileira, porque é um dever de cada cidadão conhe-
cer a fundo o idioma de sua Pátria.
A U.d.J.T.B. existe há 3 anos, restringindo -se sempre
ao campo cultural, sem orientação política, pois sabe da res-
ponsabilidade perante a Nação, que é de preparar os jovens
cidadãos para os serviços à Pátria, tendo sempre em vista não
objeções particulares, mas sim a grandeza da Nação.
Pôrto Alegre, 29 de novembro de 1937."

UM INQUÉRITO POLICIAL
DECLARAÇÕES DE ALGUNS CHEFES DA JUVENTUDE

São documentos curiosos, de reprodução imprecindível para


efeito de prova, as declarações feitas na polícia por alguns dirigen-
tes da "Deutsch-Brasilianischer Jugendring". Além das aquí repro-
duzidas, há muitas outras declarações que a falta de espaço numa
A 5. COLUNA NO BRASIL 263

publicação desta natureza não nos permite inserir, mas as quais es-
tão devidamente arquivadas na Repartição Central da Polícia.

DO JOVEM ARMÍNIO HUFNAGEL

"Aos oito dias do mês de maio do ano de mil novecentos


trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre, Capital do Estado
do Rio Grande do Sul, na Delegacia de Ordem Política e So-
cial, presente o Delegado doutor Plínio Brasil Milano, comigo
Ruderico Ribeiro Messias, inspetor de 3.ª classe servindo de
escrivão ad-hoc por designação superior, compareceu ARMI-
NIO HUFNAGEL, branco, com 23 anos de idade, brasileiro,
natural dêste Estado, solteiro, comerciário, filho de Otto Huf-
nagel e residente nesta capital à rua Santo Antônio n.° 347,
Apartamento n.° 5, que declarou o seguinte : PERGUN-
TADO: desde quando o declarante faz parte da "União da
Juventude Teuto-Brasileira”, e quais os cargos que vem exer-
cendo na sua diretoria desde o seu ingresso? RESPONDEU :
que a princípio, isto é, a contar do ano de 1932, o declarante
era apenas sócio ativo, gozando de todos os direitos que lhe
eram concedidos pelos regulamentos e participando de tôdas
as reuniões, festas e acampamentos realizados pela referida
"União da Juventude" , que, em junho do ano de 1935, O
declarante fez parte de um grupo de escoteiros, membros da
"Juventude Teuto-Brasileira” e em número de quinze rapazes,
todos chefiados pelo dr. Hans Neubert, para o fim de empreen-
derem uma viagem à Alemanha, atendendo a um convite do
chefe da "Juventude Hitlerista" ; que, para melhor orientar as
presentes declarações, o declarante resolve declinar os nomes
dos companheiros que participaram do grupo chefiado por
Neubert e que são: Rudi Wrasse, cabo do 7.º B. C., Arnoldo
Kaminski, atualmente em lugar incerto, parecendo ao decla-
rante se encontrar em Santa Catarina ou Paraná, Werner
Dressler, residindo em S. Paulo e funcionário da Aliança Co-
mercial de Anilinas, Hermann Otto Lauser, também em S.
Paulo, empregado da firma Reimann Ltda., Dietrich Schmidt,
residindo na Alemanha, Hans Bogner, também na Alemanha,
Hans Pupp, residindo nesta capital, parecendo ao declarante
que no arrabalde dos Navegantes ; que quanto aos demais
declarante não mais se recorda dos nomes, afirmando porém
residirem em diversos municípios do Estado ; que embarcados
daquí com destino ao Rio de Janeiro, lá se reuniram a outros
grupos de escoteiros, num total aproximado de cento e tantos
rapazes, os quais representavam outros Estados do Brasil.
PERGUNTADO: qual foi o objetivo principal desta viagem,
já que o convite foi dirigido a diversos grupos espalhados
pelo Brasil? RESPONDEU : que o objetivo principal da
viagem dos componentes da "Juventude Teuto-Brasileira", re-
presentada por grupos pertencentes a diversos ESTADOS DO
264 AURELIO DA SILVA PY

BRASIL, era o de estudarem e verificarem o progresso e os


melhoramentos da Juventude Hitlerista" , para assim pode-
rem dar uma demonstração perfeita do trabalho realizado
pelo governo alemão ; que, chegados à cidade de Berlim,
foram logo encaminhados para um grande acampamento de
batracas, onde permaneceram pelo espaço de quatorze dias,
recebendo as mais variadas instruções militares ; que o número
de escoteiros presentes em tal acampamento atingia a dois mil
e quinhentos mais ou menos ; que, decorrido o prazo a que
se referiu, o declarante e seus companheiros foram conduzidos
em vários caminhões, sendo que em cada um dêles viajava um
representante da "Juventude Hitlerista" , para lhes dar todos
os esclarecimentos indispensáveis sôbre o progresso da Alema-
nha e seu govêrno ; que essas viagens duraram pouco mais ou
menos quatorze dias, témpo suficiente para percorrerem as
cidades principais ; que, terminada tal viagem, se dirigiram to-
dos os componentes da "Juventude Teuto-Brasileira" para
outro acampamento, já então localizado nos Alpes alemães,
onde permaneceram dez dias para o necessário descanso ; que
ainda permaneceram em Berlim e em outras cidades os compo-
nentes da "Juventude Teuto -Brasileira" , pelo tempo de qua-
torze dias, completamente à vontade e com direito de visitarem
seus parentes e pessoas conhecidas ; que, decorrido o prazo a
que acaba de se referir, o declarante e seus companheiros, ainda
sob a chefia do dr . Neubert, retornaram ao Brasil, verdadeira-
mente encantados com o progresso da Alemanha e seu governo,
e cativos pela maneira cavalheiresca com que foram tratados
durante o tempo que naquele país permaneceram . PERGUN-
TADO : que atitude assumiu o dr. Neubert ao chegar a esta
capital , como dirigente do grupo da "Juventude Teuto-Brasi-
leira" ? RESPONDEU : que ao chegarem a esta capital o dr.
Neubert convocou uma reunião de todos os elementos perten-
centes à "União da Juventude Teuto-Brasileira" , e, com um
caráter oficial, fez um relato verbal de todos os fatos verifi-
cados na Alemanha , fazendo sentir aos presentes o progresso
dêsse país e do seu govêrno perante o mundo e declarando
também que voltaram todos cativos pela maneira cordial, ca-
valheiresca e hospitaleira com que foram tratados ; que, além
do dr. Neubert, outros companheiros da jornada fizeram uso
da palavra, dando amplas explicações de tudo o que verifica-
ram. PERGUNTADO : se depois desta viagem e levando
ainda em conta os bons serviços prestados pelo declarante à
"Juventude Teuto -Brasileira" , não foi êle designado para
assumir qualquer cargo na Diretoria ? RESPONDEU : que
depois desta viagem, ao declarante foram dados os cargos de
diretor de canto e música e professor de instrução física ; que
os demais cargos foram distribuídos entre os companheiros de
viagem ; que as aulas dirigidas pelo depoente, quer as de música
e canto, quer as de cultura física , eram moldadas nos regula-
mentos que receberam da " Juventude Hitlerista" , com peque-
A 5. COLUNA NO BRASIL 265

nas modificações , no sentido de procurarem adaptá -los ao


meio, já que a sociedade possuía um grande número de sócios
brasileiros ; que do mesmo modo agiam todos os demais com-
panheiros que faziam parte da diretoria ; que a " Juventude
Teuto-Brasileira" sempre teve por principal objetivo a con-
servação da tradição de seus antepassados, procurando a comu-
nhão de todos os alemães residentes no Brasil ; que esta era
uma das maiores preocupações do dr. Hans Neubert, que rei-
teradamente fazia recomendações neste sentido . PERGUN-
TADO: se o declarante sabe o local e a data em que se veri-
ficou , neste Estado, o último acampamento da "União da
Juventude Teuto -Brasileira" ? RESPONDEU : que a-pesar-
de não ter participado dêsse acampamento, já que se encon-
trava em gôzo de férias, percorrendo os municípios de Pelo-
tas e Rio Grande, o declarante pode afirmar que o último
acampamento teve como local a vila de Pindorama (Neu-
Wuerttemberg) , nos meses de dezembro e janeirò, respectiva-
mente dos anos de 1937 e 1938. PERGUNTADO : se o
declarante pode precisar a época em que foram interrompidas
as atividades abertas da "União da Juventude Teuto-Brasilei-
ra"? RESPONDEU : que as atividades abertas da "Juventu-
de Teuto-Brasileira" foram encerradas no mês de setembro do
ano de 1938. PERGUNTADO : se depois de encerradas as
atividades da "Juventude Teuto-Brasileira" , os elementos a
ela pertencentes não procuraram fazer novas reuniões e no
caso afirmativo de que modo eram feitos os convites aos ele-
mentos pertencentes à "União da Juventude" ? RESPON-
DEU : que de fato os quatro grupos pertencentes à Juventude
Teuto-Brasileira" se vinham reunindo secretamente em dife-
rentes pontos da cidade, quer em casa de ex-membros da dire-
toria, quer no Balneário Ipanema ; que os convites eram feitos
por intermédio dos quatro chefes de grupos, que se dirigiam
pessoalmente às residências dos associados , aos quais designa-
vam dia, hora e local ; que tais reuniões eram determinadas e
dirigidas por Hermann Lauser, chefe do núcleo com sede nesta
capital. PERGUNTADO : por que motivo o declarante con-
servava em seu poder o fichário da "Juventude Teuto - Brasi-
leira"? RESPONDEU : que o fichário encontrado em seu
poder, vinha o declarante conservando em virtude de instru-
ções que recebera do senhor Hermann Lauser, para, quando
necessitasse reunir todos os sócios pertencentes à " União da
Juventude Teuto-Brasileira" , dispor facilmente dos nomes e
endereços de cada um. PERGUNTADO : se o declarante
pode precisar a data da última reunião que fizeram secreta-
mente e qual o motivo determinante? RESPONDEU : que
tal reunião teve por motivo único uma homenagem que pres-
taram ao chefe da "União Teuto -Brasileira", nas vésperas do
Natal, sem que, entretanto, tivesse ela caráter secreto, reunião
essa levada a efeito em virtude de Hermann Lauser ter trans-
ferido residência para o Estado de São Paulo , onde emprega
266 AURELIO DA SILVA PY

as suas atividades como viajante, na firma Reimann Ltda.


PERGUNTADO: se o declarante sabe quem foi designado
para substituir Lauser, já que o mesmo transferira residência
para São Paulo? RESPONDEU: que o declarante ficou
dirigindo a "Juventude Teuto-Brasileira" como principal res-
ponsável pelos seus destinos, avocando a si a direção e orien-
tação para o futuro trabalho. PERGUNTADO : quais as
últimas atividades exercidas pelo declarante na direção da “Ju-
ventude Teuto-Brasileira"? RESPONDEU: que suas últi-
mas atividades se resumiram, como chefe da "União”, no
fornecimento de diversos atestados de permanência na “Ju-
ventude Teuto-Brasileira" . PERGUNTADO : se o decla-
rante pode declinar os nomes das pessoas a quem forneceu os
atestados referidos e por que motivo assim agiu? RESPON-
DEU: que não mais se recorda dos nomes das pessoas a quem
forneceu tais documentos, apreendidos pela Polícia juntamen-
te com o fichário ; que tais documentos eram fornecidos às
pessoas que se destinassem à Alemanha, com o fim exclusivo
de provarem até que data haviam feito parte da "Juventude
Teuto-Brasileira” , filiada à “Juventude Hitlerista" ; que muito
embora conste dos documentos, a que acaba de se referir, a
data de 20 de agosto de 1938, foram êles de fato fornecidos
entre os meses de janeiro e fevereiro do corrente ano. PER-
GUNTADO : como justifica o declarante o fato de haver
fornecido tais documentos durante os meses de janeiro e feve-
reiro do corrente ano, quando é certo, conforme dos mesmos
se verifica, que a data constante é 20 de agosto do ano pró-
ximo findo? RESPONDEU : que assim agiu para poder
provar perante a " Juventude Hitlerista", que os portadores
de tais atestados, de regresso à Alemanha, haviam de fato inte-
grado a " Juventude Teuto -Brasileira" , servindo tal documento
como prova legal para o ingresso sem mais formalidades e
protocolos na corrente dominante naquele país; que o decla-
rante quer ainda acentuar que assim agia em virtude das ins-
truções do chefe anterior, senhor Hermann Lauser, que por
sua vez as recebeu de Neubert ; que, além das pessoas cons-
tantes das cópias apreendidas pela Polícia, o declarante ainda
forneceu atestados à senhorita Elisa ou Luíza Ulrich. PER-
GUNTADO: para que fim se destinavam as propostas de
admissão dos membros da "Juventude Teuto-Brasileira" na
Sociedade de Fisicultura de Porto Alegre ? RESPONDEU:
que o ingresso de todos os sócios da " Juventude Teuto-Brasi-
leira" na Sociedade de Fisicultura de Pôrto Alegre outro fim
não tinha que o de continuar reunindo todos os seus elementos
em tôrno da mesma idéia e do mesmo pensamento, formando
um grupo juvenil dirigido pelo próprio declarante. PER-
GUNTADO : qual a saudação usada entre os componentes
da "Juventude Teuto-Brasileira"? RESPONDEU : que a
mais usual era a expressão Heil, mas que às vezes era acres-
eida ainda da palavra Hitler, ou seja, Heil Hitler, expressão
A 5. COLUNA NO BRASIL 267

acompanhada do gesto de elevar ao ar a mão direita. PER-


GUNTADO: para que fim se destinavam as pequenas flâmu-
las apreendidas em seu poder e se são elas idênticas às usadas
pela "Juventude Hitlerista" na Alemanha? RESPONDEU :
que tais flâmulas eram usadas como símbolo da "União da
Juventude" e que são idênticas às que usa, na Alemanha, a
"Juventude Hitlerista" ; que declara ainda que tais materiais
a "Juventude Teuto-Brasileira" recebia da "União Central',
com sede no Estado de São Paulo. PERGUNTADO : quais
as ligações existentes entre a "Juventude Teuto-Brasileira" e a
"Juventude Hitlerista " ? RESPONDEU : que tôdas as liga-
ções existentes entre a "Juventude Teuto-Brasileira" e a "Hi-
tlerista" eram feitas por intermédio da “União Central' , com
sede em São Paulo ; que tôdas as instruções destinadas ao
núcleo com sede nesta capital procediam da " Central" de S.
Paulo; que todo o material destinado à instrução dos núcleos
existentes no Brasil procedia da Alemanha e era diretamente
remetida à "União Central" de São Paulo, que por sua vez o
distribuía entre os núcleos sediados nos diferentes Estados do
país. PERGUNTADO: se além das instruções recebidas da
"Central" de São Paulo, a "Juventude Teuto-Brasileira" desta
capital nunca recebeu diretamente da Alemanha quaisquer ou-
tras instruções ou mesmo materiais destinados à propaganda
da "Juventude" , e, no caso afirmativo, como e por intermé-
dio de quem recebiam tais instruções e materiais? RESPON-
DEU : que sim, pouco porém podendo adiantar, pois o mate-
rial e as instruções referidas eram recebidas pessoalmente pelo
dr. Neubert, que por sua vez as distribuía aos grupos, de acôr-
do com a sua própria orientação ; que o declarante quer deixar
bem claro que a idéia de serem todos os sócios da "Juventude
Teuto-Brasileira " incluídos no quadro social da Sociedade de
Fisicultura desta capital partiu do ex-presidente Diehl, ex-fun-
cionário do Banco Alemão Transatlântico em Pôrto Alegre e
atualmente residindo no Rio de Janeiro. PERGUNTADO :
se a idéia apresentada pelo ex-presidente Diehl foi aprovada à
revelia da diretoria da "Juventude" , ou se pelo contrário foi
convocada uma sessão de assembléia geral para deliberar sôbre
a aprovação definitiva? RESPONDEU : que tal assunto foi
aprovado em sessão de assembléia geral, previamente organi-
zada e posteriormente levada a efeito, sendo aprovado unani-
memente. PERGUNTADO : se o declarante pode precisar a
data em que se verificou tal reunião, e se foi feito como deter-
mina a Lei um requerimento dirigido à Chefia de Polícia soli-
citando a respectiva licença para tal fim? RESPONDEU : que
tal sessão foi realizada em fins do mês de dezembro do ano de
1938, não podendo todavia informar se foi solicitada a devida
permissão ao sr. Capitão Chefe de Polícia, conforme deter-
mina a Lei. PERGUNTADO: se o declarante fez parte da
"Frente Alemã do Trabalho" (Deutsche Arbeitsfront) e, no
caso afirmativo, por intermédio de quem o declarante integrou
268 AURELIO DA SILVA PY

essa organização ? RESPONDEU : que foi animado a ingres-


sat na D. A. F. por intermédio da propaganda feita na Casa
Alemà pela chetia da "Frente Alemã do Trabalho " ; que,
a pesar de sua boa vontade para fazer parte dessa organização ,
não foi possivel ao declarante nela ingressar em virtude do
senhor Finest Dorsch he haver declarado que os brasileiros ,
raquela epoca, ja não podiam fazer mais parte da organização .
PERGUNTADO : como o declarante encara a sua nacionali-
exée se se considera cidadão alemão ou brasileiro ? RES-
CONDEU: que se considera cidadão brasileiro para todos os
o fato de haver nascido neste Estado , muito embora
: de alemães natos . PERGUNTADO : com que im-
a contribuíam o declarante e seus companheiros para
xa da " União da Juventude Teuto -Brasileira", e qual o
to que davam às quantias arrecadadas dos respectivos só-
RESPONDEU : que os menores de 17 anos contri-
a com a importância mensal de mil e quinhentos réis e
etores dessa idade, com a quantia de dois mil réis ; que o
cal das importâncias arrecadadas era distribuído em fins edu-
onais. PERGUNTADO: que pensa sôbre a união exis-
vente entre o governo alemão e os alemães e teuto-brasileiros
residentes no Brasil ? RESPONDEU : que a união existente
entre os alemães da Alemanha e os residentes no exterior, in-
cluidos os residentes no Brasil, assim com os de origem alemã ,
emotivada pelos laços de sangue e pela afinidade de raça .
Que, finalmente, encerra as suas declarações assumindo o com-
promisso de honra de não mais exercer qualquer atividade
contra os interêsses do Brasil, passando a trabalhar doravante
exclusivamente para a sua manutenção . E, como nada mais
disse e nem lhe foi perguntado, mandou o sr. doutor Delegado
encerrar o presente têrmo, que depois de lido e achado con-
forme, vai por todos devidamente assinado.

(ass. ) Plínio Brasil Milano


Arminio Hufnagel
Ruderico Ribeiro Messias" .

NÚ ARTÍSTICO PARA AS MOÇAS, LUTA DE LAMA


PARA OS JOVENS

"Aos três dias do mês de outubro do ano de mil novecen-


tos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre, Capital do
Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de Ordem Política
e Social, presente o respectivo titular Dr. Plínio Brasil Milano ,
comigo Ewaldo Walter Bergmann , inspetor de 1.ª classe, ser-
vindo de escrevente "ad-hoc" , aí compareceu ARMÍNIO
HUFNAGEL, branco, brasileiro, natural de São Luiz de Gon-
zaga, neste Estado, filho de Otto Hufnagel, com vinte e três
A 5. COLUNA NO BRASIL 269

anos de idade, de profissão comércio, solteiro, residente à rua


Santo Antônio número trezentos e quarenta e sete, sabendo
ler e escrever, e declarou o seguinte : que o declarante veio a re-
sidir em Pôrto Alegre no ano de mil novecentos e trinta e dois,
procurando imediatamente contacto com escoteiros e indo enfi-
leirar-se na "Deutsche Jungenschaft" , um departamento de
escoteiros do Turnerbund ; que em fins do ano de mil nove-
centos e trinta e três surgiu em Pôrto Alegre uma nova orga-
nização , que se denominava "Deutsche Jungenschaft" e à cuja
frente estavam um tal Hunscher e Werner Dressler, dos quais
o primeiro reside agora na Alemanha e o segundo em São
Paulo ; que a nova organização se distinguiu muito das asso-
ciações congêneres daquela época, porque pregava sobretudo a
conservação da raça e do sangue germânico e manutenção estri-
ta da língua e dos costumes dos antepassados ; que esta nova
organização juvenil não era outra cousa que um reflexo do
desenvolvimento do Partido Nacional-Socialista, que naquela
época estava se instalando na Alemanha e por todo o mundo
afora; que em princípios do ano de mil novecentos e trinta e
quatro a "Deutsche Jungenschaft" iniciou uma propaganda
forte, para atrair às suas fileiras os jovens que se encontravam
nas associações congêneres, principalmente os do Departamento
Juvenil do Turnerbund ; que foi Erwin Werner Becker, resi-
dente nesta Capital e então chefe de um grupo de escoteiros do
Turnerbund, um dos primeiros a aderir à "Deutsche Jun-
genschaft" ; que, devido à grande influência que Erwin Wer-
ner Becker exercia sôbre os escoteiros de seu grupo, conseguiu
arrastar para a "Deutsche Jungenschaft" mais ou menos qua-
renta escoteiros pertencentes ao Departamento do Turnerbund,
resultando o fechamento dêste Departamento por falta de
membros ; que foi por esta ocasião que se verificou o ingresso
do declarante na "Deutsche Jungenschaft" ; que, devido à
forte propaganda desenvolvida principalmente pelo referido
Erwin Werner Becker, a nova organização crescia rapidamen-
te; que em fins do ano de mil novecentos e trinta e quatro
surgiu em Porto Alegre o doutor Hans Neubert, vindo direta-
mente da Alemanha, o qual logo após a sua chegada tomou a
si a chefia da "Deutsche Jungenschaft" , procedendo em segui-
da a uma completa reorganização interna, instalação de diver-
sas secções e mudança do antigo título para "Deutsch-Brasilia-
nischer Jungendring" (Juventude Teuto-Brasileira ) , título
que permaneceu até a proibição da organização ; que em prin-
cípios do ano de mil novecentos e trinta e cinco foi organizado
dentro do D. B. J. um Departamento feminino dirigido por
uma senhorita Nietsche ; que na mesma época foi introduzido
o novo fardamento do D.B.J. que era de blusa e calção pardo,
enquanto até então o fardamento era de blusa branca e calção
amarelo ; que foram o doutor Hans Neubert e Hunscher os
introdutores do novo fardamento, que era o mesmo da Juven-
tude Hitlerista na Alemanha ; que foram introduzidas também
270 AURELIO DA SILVA PY

tôdas as vozes de comando usadas na Juventude Hitlerista, e


a saudação nazista, suprimindo-se as até então usadas ; que
em maio do ano de mil novecentos e trinta e cinco o chefe
geral, Hans Neubert, deu instruções aos chefes da Capital,
Erwin Werner Becker e Werner Dressler , para que fôssem esco-
lhidos dentro do D. B. J. os rapazes mais competentes, os quais
deveriam viajar à Alemanha , para tomarem parte num Con-
gresso Mundial da Juventude Hitlerista e se aperfeiçoarem na
matéria desta organização ; que, devido as boas relações que o
declarante mantinha com Erwin Werner Becker foi êle esco-
lhido por êste para compartilhar da excursão ; que no dia dez
de junho do ano de mil novecentos e trinta e cinco a represen-
tação do D. B. J., composta de mais ou menos vinte rapazes,
partiu de Pôrto Alegre, indo em primeiro lugar, por terra,
até Montevidéu , onde se efetuou o embarque no transatlântico
"La Coruña" ; que no Rio de Janeiro embarcaram no mesmo
vapor as representações de São Paulo e Rio de Janeiro, assim
como o doutor Hans Neubert e sua espôsa ; que em Recife
embarcou ainda a representação de Pernambuco, formando-se
então a bordo do transatlântico uma caravana de cem rapazes,
na maioria brasileiros, que, chefiados pelo doutor Hans Neu-
bert, se encaminhava à Capital da Alemanha para representar
o Brasil no Congresso Mundial da Juventude Hitlerista ; que
já durante a viagem os jovens recebiam instruções especiais
por parte do doutor Hans Neubert sôbre a maneira como deve-
riam se comportar durante a estadia na Alemanha ; que, nas
conferências a bordo, o doutor Hans Neubert fazia referências
lisonjeiras e exageradas ao valor e à superioridade da raça
alemã e que todos os jovens deveriam se orgulhar de pertencer
a essa raça ; que o declarante assistia a tôdas estas reuniões a
bordo, por ser isto obrigatório e fazer parte do programa da
viagem; que, na ausência do doutor Hans Neubert, era êste
substituído por Werner Dressler ; que ainda durante a viagem
foram ensaiados cantos oficiais nazistas e as vozes de comando
usadas dentro da Juventude Hitlerista ; que o declarante con-
fessa francamente que, ao chegarem a Hamburgo, todos os
jovens brasileiros tinham sido transformados em alemães per-
feitos, que em nada se distinguiam de um perfeito jovem hitle-
rista ; que, chegados a Hamburgo, foram os jovens da caravana
brasileira recebidos por um grupo hitlerista e uma banda de
música militar ; que a recepção foi calorosa e fantástica, tendo
sido assistida por milhares de pessoas ; que, ainda no Cais do
Pôrto de Hamburgo, o chefe da caravana brasileira, senhor
Neubert, fez um discurso, que foi irradiado por tôda a Ale-
manha; que o declarante não se lembra mais de todo o dis-
curso, mas sabe ainda que Neubert apresentou os jovens brasi-
leiros como jovens hitleristas, que vinham à Alemanha visitar
os companheiros do mesmo sangue e da mesma raça ; que após
a recepção foram todos os jovens levados ao "Krankenhaus
Zu Barnbeck" , um hospital de isolamento, onde ficaram todos
A 5. COLUNA NO BRASIL 271

internados por três dias ; que o declarante estranhou esta me-


dida, tratando logo de se informar a êste respeito; que o de-
clarante soube então, por parte de funcionários do hospital,
que a medida de isolamento era feita porque no Brasil "tudo
andava engalicado, com gonorréia e sífilis' , e se queria evitar
que esta febre fôsse implantada na Alemanha ; que após o pe-
ríodo de isolamento tiveram os jovens dois dias livres para
fazerem excursões pela cidade ; que, no sexto dia da estadia na
Alemanha, os jovens seguiram viagem para Berlim, onde almo-
çaram, para logo em seguida seguirem de trem para um acam-
pamento, onde eram recolhidos os jovens de todo o mundo;
que nessa localidade, denominada "Kuhlmuehle" , se realizou
a grande e fantástica "Concentração Mundial da Juventude
Hitlerista", que reuniu dois mil e quinhentos jovens vindos dos
mais distantes países do mundo ; que todos os jovens foram
internados em pequenas barracas, e de tal maneira que em
cada grupo estivesse um jovem hitlerista ; que êste acampameṇ-
to durou quatorze dias ; desenrolando-se um vasto programa,
que constava de preparação cívica, exercícios de campanha,
instrução militar, jogos e marchas, havendo ainda conferên-
cias sobre a ideologia nacional-socialista ; que cada hora dentro
do acampamento era aproveitada sistematicamente, tudo basea-
do num programa elaborado pela chefia do Partido Nacional-
Socialista da Alemanha ; que nos últimos dias de acampamento
apareceu uma companhia da "Tropa de Assalto", com mo-
tociclos e tanques, para fazer com a presença dos jovens
hitleristas uma demonstração da fôrça militar alemã, desen-
rolando-se uma manobra de guerra em pequeno estilo ; que
acampamento finalizou com a grande parada, na qual toma-
ram parte todos os jovens envergando o fardamento da juven-
tude hitlerista, e os soldados alemães ; que antes da parada
acampamento recebeu a visita do senhor Rudolf Hess, o subs-
tituto do "Fuehrer" , e de Alfred Rosenberg, ministro de
educação da Alemanha ; que o primeiro fez um eloquente dis-
curso aos jovens, transmitindo a êles as saudações de Hitler;
que a parada militar e hitlerista durou sete horas, terminando
às cinco horas da tarde ; que, no dia seguinte, quarenta e cinco
caminhões possantes conduziram os jovens para a cidade de
Berlim, sendo êles acompanhados por um contingente de mo-
tociclistas pertencentes à N. S. K. K.; que, chegando a Berlim,
um grupo de jovens depositou uma coroa no túmulo do
"Soldado Desconhecido" ; que, após êste ato, foram todos
conduzidos ao Ministério de Propaganda, onde foram rece-
bidos pelo Doutor Goebbels, Ministro da Propaganda da Ale-
manha, o qual fez um longo discurso patriótico para os jovens ;
que, nesse discurso, Goebbels declarou que todos os jovens
deviam observar atentamente a vida na nova Alemanha, que
era outra e diferente do que certos jornais no exterior dese-
javam demonstrar, e que os jovens, voltando ao exterior, de-
veriam contar a todos como é bela a Nova Alemanha, que
272 AURELIO DA SILVA PY

agora não conhecia mais a fome, o desemprego e a miséria,


sendo tudo isto resultado da nova orientação política do na-
cional-socialismo ; que ainda em Berlim foram os jovens leva-
dos para um campo de aviação, onde houve demonstrações
aeronáuticas militares ; que, após dois dias de estadia em Ber-
lim, fizeram os jovens uma excursão pelo interior da Alema-
nha, que durou sete dias, e durante a qual foram visitadas
diversas cidades, entre as quais a cidade de Munich, que era
a principal, e onde os jovens ouviram um discurso de Julius
Streicher, o chefe do antissemitismo na Alemanha e diretor
do célebre jornal antijudaico "Der Stuermer" ; que de Munich
todos os jovens foram conduzidos para os Alpes, onde se rea-
lizou mais outro acampamento ; que foi neste acampamento
que os jovens, entre os quais sempre estava o declarante, vieram
a conhecer o senhor Baldur von Schirach, o chefe da Juven-
tude Hitlerista Mundial, que veio fazer uma visita oficial aos
jovens; que em honra de Baldur von Schirach foi feita uma
grande parada, tendo o grande chefe hitlerista proferido nesta
ocasião um discurso ; que os jovens permaneceram neste acam-
pamento por dez dias, não havendo, porém, exercícios força-
dos ; que após êste acampamento os jovens fizeram uma via-
gem de vapor no rio Reno até Colônia, donde seguiram de
auto para Kiel ; que na cidade de Kiel foram todos embarcados
no navio de guerra "Deutschland" , que os conduziu a Ham-
burgo ; que de Hamburgo seguiram de caminhão até Berlim,
permanecendo uma noite aquartelados na Capital da Alema-
nha ; que no dia seguinte todos receberam a comunicação de
que estava finda a excursão, podendo agora cada um visitar
parentes ou conhecidos, para daí a quinze dias todos se con-
centrarem novamente em Hamburgo, para o regresso à casa
paterna ; que o declarante visitou no mesmo dia seus parentes,
que residiam em Berlim, ficando na casa dêstes durante as duas
semanas livres ; que, após três meses de estadia na Alemanha,
se encontrou o declarante novamente em Hamburgo junto com
os seus companheiros para iniciar a viagem de regresso ao
Brasil; que a viagem de retôrno foi feita no transatlântico
"Monte Sarmiento" , encontrando-se a bordo as representações
da Espanha, Argentina, Uruguai e Brasil ; que a caravana do
Brasil foi dividida de acordo com os Estados, lembrando -se o
declarante somente de que a sua turma vinha chefiada pelo Sr.
Erwin Werner Becker ; que durante a viagem de regresso ainda
existia uma rigorosa disciplina e instrução física ; que deixou
de voltar nesta ocasião para o Brasil o doutor Hans Neubert,
que ficou na Alemanha só por um mês ; que após o regresso a
Pôrto Alegre, houve no salão do "Gemeintziger Verein" uma
recepção festiva para os "Deutschlandfahrer " (como denomi-
navam os rapazes que foram à Alemanha) à qual comparece-
ram os pais, parentes e amigos dos jovens e todos os membros
da D. B. J. que tinham ficado em Pôrto Alegre durante êste
tempo ; que nesta festa Erwin Werner Becker pronunciou um
A 5. COLUNA NO BRASIL 273

longo discurso, historiando os acontecimentos de acampamento


e da excursão pela Alemanha , apresentando aos presentes ainda
um filme tirado por êle próprio na Alemanha ; que falaram
ainda na mesma noite Hermann Lauser e Bogner, e em caráter
oficial o doutor Hans Neubert, que já estava em Pôrto Alegre
quando a caravana regressou ; que nesta noite festiva Erwin
Werner Becker assegurou aos presentes que agora todos iriam
se dedicar com maior amor e mais ardor à atividade em prol
do D. B. J. , para fazer jus à preparação recebida na Alemanha ;
que o declarante deseja frisar ainda um fato inédito para Pôrto
Alegre, que se passou no dia da chegada da caravana : que di-
versos colégios foram receber os membros da caravana no cais
e, ao desembarcar, o doutor Hans Neubert proferiu um ardo-
roso discurso em alemão, finalizando com um vibrante "Heil" ,
saudação esta proferida entusiasticamente por tôda a multidão
presente ; que após a noitada de recepção houve algumas no-
meações ; o doutor Hans Neubert passou a ser chefe do Brasil,
Erwin Werner Becker passou a chefe do Sul do Brasil ( Santa
Catarina e Rio Grande do Sul) , Hermann Lauser passou a
chefe de Pôrto Alegre, enquanto que para chefes de grupo
dentro de Pôrto Alegre foram nomeados Bogner, Rudolfo
Wrasse, Werner Dressler, Arnaldo Kaminski e o declarante ;
que o declarante nesta época já dirigia o Departamento de
música e canto; que então o declarante alegou que só desejava
iniciar a sua atividade dentro do D. B. J. após ter conse-
guido um emprêgo, enquanto o doutor Neubert exigia que
fôsse iniciado imediatamente o trabalho , declarando que acima
dos afazeres particulares estava o compromisso assumido para
com o D. B. J.; Erwin Werner Becker iniciou as suas viagens
pelo interior do Estado como viajante da firma Siemens,
Schuckert Ltda . , aproveitando estas viagens para no interior
fazer propaganda para o D. B. J., conseguindo fundar núcleos
em Novo Hamburgo, Cachoeira, Ijuí e mais tarde em Pelotas
Rio Grande, Santa Maria, Neu-Wuerttemberg e Santa Cruz;
que daí em diante o desenvolvimento do D. B. J. foi rápido,
principalmente devido à invulgar propaganda desenvolvida no
interior do Estado por parte de Erwin Werner Becker e dentro
de Pôrto Alegre pelo doutor Hans Neubert ; que em meados
do ano de mil novecentos e trinta e seis, quando o D. B. J.
estava instalado na "Deutsches Haus" , foi resolvido a publi-
cação de uma revista oficial denominada "Die Kameradschft"
(A Camaradagem ) e que se publicava mensalmente ; que já
naquela época vinha muito material de propaganda da Ale-
manha, que servia como base para a instrução dos jovens ; que
em julho do ano de mil novecentos e trinta e seis foi prepa-
rada a representação para a segunda viagem à Alemanha ; que
esta representação, porém, foi muito reduzida, não sabendo o
declarante os motivos desta medida ; que compartilharam desta
excursão Gerhard Hahnefeld e Hertha Nebel, os quais ainda
residem nesta capital ; que o declarante soube, após o regresso
18 - 5.a C.
274 AURELIO DA SILVA PY

de Hahnefeld, que os dois representantes de Pôrto Alegre ti-


nham feito na Alemanha um Curso para Chefe da Juventude
Hitlerista, tendo para isto frequentado uma aula especialmente
instalada para esse fim ; que após o regresso a senhorita Hertha
Nebel passou a ser chefe da Juventude Hitlerista Feminina e o
Sr. Gerhardt Hahnefeld chefe-instrutor para os chefes de gru-
por; que após a volta da Alemanha, Hahnefeld foi um dos
mais fanáticos propagandistas do Hitlerismo, mais fanático
de que o próprio chefe do Brasil; que durante as aulas de ins-
tração, que Hahneteld dava aos chefes de grupos, se tratava
das teorias da raça e do sangue germânico, cuja conservação
era è devet mais sagrado de todos os alemães, visto que o
"Fuehrer" exigia isto de cada um ; que em fins do ano de mil
novecentos e trinta e seis passaram a ser chefes de grupos tam-
bém os membros Rudolfo Kaser e Heinz Rudolf Becker, que
tinham sido preparados para êste pôsto pelo chefe-instrutor
Gerhard Hahnefeld ; que, em dezembro do ano de mil nove-
centos e trinta e seis até princípios do ano de mil novecentos
e trinta e sete, realizou -se em Neu -Wuerttemberg, que hoje
se chama Pindorama, um grande acampamento, ao qual com-
pareceram aproximadamente quatrocentos jovens, entre me-
ninos e meninas ; que todos os preparativos para êste acampa-
mento juvenil, o maior até hoje realizado pelo D. B. J., foram
realizados pelo doutor Hans Neubert, Erwin Werner Becker
e Gerhard Hahnefeld ; que o acampamento em Pindorama se
desenrolou da mesma forma como o acampamento da Juven-
tude Hitlerista na Alemanha ; que o declarante, por motivos
particulares, não pôde participar do acampamento, não poden-
do dar por isto detalhes pormenorizados ; que o declarante
soube ainda, por parte das próprias meninas que tinham estado
no acampamento, que durante a noite se realizavam dansas
nudistas, dirigidas pela espôsa do doutor Hans Neubert, dansas
que se denominavam "Elfentanz" ; que estes fatos eram muito
comentados nas rodas dos chefes de grupo , não sabendo o de-
clarante precisar se algum dêles teria assistido a tais demonstra-
ções nudistas; que para os rapazes existiam, em lugar das dan-
sas, "Schlammschlachten" (lutas de lama) , durante as quais os
rapazes completamente nus, atiravam-se à lama ; que as dansas
e lutas desta categoria eram muito comuns na Alemanha, tendo
sido mais tarde proibidas, devido às complicações que surgiam
destas manifestações nudistas ; que acêrca da atividade nudista
dentro do acampamento de Pindorama poderão dar informa-
ções detalhadas os membros Erwin Werner Becker, Gerhard
Hahnefeld e a senhorita Nebel, que hoje está casada com Her-
man Wiedmann, um dos proprietários da Padaria Wiedmann ;
que o acampamento de Pindorana foi ainda filmado por Erwin
Werner Becker, sendo o filme focado mais tarde, durante uma
festa do Partido Nazista, no "Deutsches Haus" ; que em junho
do ano de mil novecentos e trinta e sete houve a "Terceira
Excursão para a Alemanha" , na qual tomaram parte Rudolfo
A 5. COLUNA NO BRASIL 275

Boeck, Ewaldo Rupnow e a senhorita Margot Huitzinger ;


que, após o regresso da Alemanha, Ewaldo Rupnow passou
a chefe de grupo, Rudolfo Boeck a auxiliar direto de Hans
Neubert, e Margot Huitzinger a subchefe das meninas; que
ainda no ano de mil novecentos e trinta e sete se realizaram
representações teatrais em Pôrto Alegre e em Novo Hamburgo,
acampamentos, excursões e festas; que em setembro do mesmo
ano o declarante passou a substituir interinamente o chefe de
Pôrto Alegre, Hermann Lauser, por êste ter que viajar segui-
damente para o interior, ficando o declarante, porém, com a
direção do departamento de música e canto ; que, em fins do
ano de mil novecentos e trinta e sete, o doutor Hans Neubert
passou a sua residência para o Rio de Janeiro ; que na sua des-
pedida o doutor Hans Neubert declarou que agora o D. B. J.
já estava tão bem preparado que não era mais necessária a sua,
do doutor Hans Neubert, presença aquí, motivo pelo qual
julgava conveniente a transferência para o Rio de Janeiro, de
onde continuaria, como chefe do Brasil, a transmitir instru-
ções; que a partida de Hans Neubert foi por todos os chefes
de grupo considerada como fuga, pois nesta época se ouviam
os primeiros comentários sôbre o provável fechamento da
organização da Juventude Teuto-Brasileira ; que foram chefes
máximos, após a saída de Neubert, os membros Erwin Werner
Becker, que ainda continuava como chefe do Estado , Hermann
Lauser e Gerhard Hahnefeld ; que no mês de abril do ano de
mil novecentos e trinta e oito os componentes do D. B. J.
tomaram parte na parada em comemoração do "Dia do Esco-
teiro" ; que foi após esta parada, durante o mês de maio do
ano de mil novecentos e trinta e oito, que surgiu a proibição
de tôda a atividade da Juventude Teuto -Brasileira ; que a
chefia do D. B. J., representado por Hermann Lauser, Erwin
Werner Beck e Gerhard Hahnefeld, resolveu não acatar esta
ordem de proibição ; que esta resolução foi comunicada aos
chefes de grupos pelo Sr. Hermann Lauser, que nessa ocasião
declarou que não era agora mais possível usar os fardamentos
nem fazer as costumadas reuniões semanais, mas era necessário
achar-se um meio para continuar a atividade do D. B. J .; que
Hermann Lauser ainda declarou que o pagamento das mensa-
lidades deveria ser efetuado ininterruptamente, até ser encon-
trada uma modalidade com a qual poderiam satisfazer as exi-
gências das autoridades , sem que no entanto fôsse prejudicada
a finalidade do D. B. J.; que Hermann Lauser considerava
esta proibição uma opressão e uma arbitrariedade do governo
brasileiro, e que êste estado intolerável não duraria por muito
tempo; que daí em diante as reuniões eram feitas secretamente,
em lugares diversos, fixando-se o local e a data de reunião em
reunião ; que em setembro do ano de mil novecentos e trinta
e oito Hermann Lauser, que dirigia então tôdas as atividades
clandestinas, entrou em contacto com a diretoria do "Natur-
heilverein" , para obter a licença da formação de um grupo
276 AURELIO DA SILVA PY

juvenil filiado a esta sociedade ; que foi esta a “ modalidade”


que Hermann Lauser encontrou para continuar a organização
do D. B. J. da forma acima especificada ; que Hermann Lau-
ser fez então uma seleção dos melhores elementos, que deve-
riam fazer parte do novo Departamento Juvenil, conseguindo
mais ou menos trinta membros que estavam dispostos a conti-
nuar: que em fins do ano de mil novecentos e trinta e oito o
Departamento começou a funcionar devidamente sob a orien-
tação de Hermann Lauser ; que em princípios de janeiro
Hermann Lauser embarcou para São Paulo, assumindo
declarante a direção do Departamento Juvenil ; que a última
reunião, assistida pelo declarante, foi em maio, sendo o decla-
rante logo após convidado a comparecer à polícia , para prestar
esclarecimentos sôbre a sua atividade nazista ; que durante o
tempo em que o declarante estava à disposição da polícia ,
substituía-o o companheiro Ewaldo Rupnow, que há muito
tempo estava cobiçando a chefia geral ; que em junho do cor-
rente ano, após ter esclarecido a sua situação junto à polícia,
o declarante procurou Ewaldo Rupnow para prevení-lo e
recomendar-lhe que não continuasse com as atividades, pois
que o declarante estava resolvido a abandonar tudo ; que
Rupnow criticou a atitude do declarante, enquanto Gerhard
Hahnefeld, que era ainda um batalhador fervoroso, chamou o
declarante de "cagão" e "medroso" ; que após isto o declarante
foi abandonado por completo por seus antigos companheiros ,
não sabendo o declarante precisar se ainda houve ou não
encontros, podendo o declarante afirmar, porém, que Hahnefeld
e Rupnow demonstravam com a sua atitude vontade de con-
tinuar a atividade . PERGUNTADO : o que foi feito com
o patrimônio do D. B. J. e em mãos de quem passou todo o
material que até a data da proibição se encontrava no "Deuts-
ches Haus" ? RESPONDEU : que o recolhimento do patri-
mônio do D. B. J. foi feito bem em segrêdo por parte do
doutor Hans Neubert , não sabendo o declarante qual o destino
dado ao material por parte do doutor Hans Neubert , julgando
o declarante, porém, que uma parte ficou em Pôrto Alegre,
enquanto outra parte teria sido entregue ao Consulado Ale-
mão ; que em poder do declarante só ficou o fichário e algum
material entregue ao declarante pelo sr. Hermann Lauser.
PERGUNTADO : quais as verdadeiras finalidades da Juven-
tude Teuto-Brasileira dentro do nosso Estado ? RESPON-
DEU: que as verdadeiras finalidades da Juventude Teuto-
Brasileira do nosso Estado , como de todo o Brasil, era a for-
mação de uma juventude germânica de elite na base da Juven-
tude Hitlerista da Alemanha, para conservação da raça e do
sangue germânico . PERGUNTADO : se era verdade que nas
reuniões do D. B. J. era proibido falar brasileiro ? RESPON-
DEU : que efetivamente existia a proibição do uso da língua
brasileira no seio do D. B. J., tendo o doutor Hans Neubert
dito por muitíssimas vezes que já era suficiente que os mem-
A 5. COLUNA NO BRASIL 277

bros falassem brasileiro nas horas vagas , não precisando falar


brasileiro dentro do D. B. J.; que, além disto, constava do
regulamento do D. M. J. como obrigatório o uso da língua
alemã . PERGUNTADO : como foi pelos chefes do D. B. J.
recebida a proibição da organização por parte da polícia?
RESPONDEU: que a proibição foi aceita com muito má
vontade e julgada uma arbitrariedade sem fundamento ; que
os mais fanáticos neste sentido foram Ewaldo Rupnow e
Gerhard Hahnefeld, que declaravam abertamente o seu descon-
tentamento, usando de palavras injuriosas e ofensivas contra
o Brasil e a sua instituição, tendo os mesmos ainda afirmado
que muito breve viria uma mudança na situação atual ; que no
interior do Estado residem ainda diversos ex-chefes do D. B. J.,
que pensam da mesma maneira, mas de cujos nomes o decla-
rante não se recorda ; que também muitos ex-partidários do
Partido Nacional -Socialista declaravam, ainda hoje, que viria
uma mudança na situação da política do Brasil com relação à
proibição dos Partidos.
E como nada mais houve, mandou o Delegado encerrar
o presente têrmo que, depois de lido e achado conforme, vai
por todos devidamente assinado .

(ass. ) Plínio Brasil Milano

Arminio Hufnagel

Ewaldo Walter Bergmann".

DECLARAÇÕES DE A. P. WALLAU

"Aos vinte e dois dias do mês de setembro do ano de mil


novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre,
Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de
Ordem Política e Social, presente o respectivo Delegado, Dou-
tor Plínio Brasil Milano, comigo, José Galvão Sarti, escre-
vente, servindo de escrivão na forma da lei, aí compareceu
ALFREDO PAULO WALLAU, branco, com 23 anos de
idade, solteiro, brasileiro, dêste Estado, de profissão comerciá-
rio, residente à rua dr. Flores, número 85 , e declarou o seguin-
te : que, efetivamente, conhece Ewaldo Rupnow há quatro
anos, mais ou menos ; que travou relações com Ewaldo no
Clube de Regatas Guaíba Pôrto Alegre, onde o depoente e
Ewaldo eram remadores ; que há cêrca de três anos, mais ou
menos, o declarante cortou relações com Ewaldo, por ser êste
muito NAZISTA; que em 1937 o declarante teve um encon-
tro acidental com Ewaldo, e nessa ocasião Ewaldo disse ao
depoente que iria à Alemanha tomar parte num congresso da
Juventude Hitlerista, "Hitler Jugend" , por conta da Juven-
278 AURELIO DA SILVA PY

tude Hitlerista desta Capital, de que era sócio, segundo decla-


rações dêle , Ewaldo , ao depoente ; que quer declarar ainda
que Ewaldo era assíduo frequentador da Casa Alemă ,
"DEUTSCHES HAUS" , situada à rua Voluntários da Pátria ,
esquina Câncio Gomes ; que nunca
Ewaldo a respeito do nazismo por ser man e pale
tevrio
contrá a essa s com
straideo lo-
gia alemá ; que Ewaldo era um grande propagandista do PAR-
TIDO NAZISTA, e sempre procurava conseguir adeptos para
seu partido; que Ewaldo é empregado da firma Bromberg, desta
Capital; que nada mais tem a informar a respeito das ativi-
dades de Ewaldo Rupnow. Nada mais tendo a declarar man-
dou o senhor Delegado encerrar o presente têrmo que , depois
de lido e achado conforme, vai por todos devidamente assinado.

(ass.) Plinio Brasil Milano


Alfredo Paulo Wallau
José Galvão Sarti” .

DECLARAÇÕES DE H. E. KNAPP

"Aos vinte e dois dias do mês de setembro do ano de mil


novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre, Ca-
pital do Estado do Rio Grande do Sul, no Cartório Especial
da Delegacia de Ordem Política e Social, presente o senhor
doutor Plínio Brasil Milano , titular da respectiva Delegacia ,
comigo, Wenceslau Braga, inspetor servindo de escrivão ad-hoc,
por designação superior, compareceu HORST EGON KNAPP,
brasileiro, natural dêste Estado , com vinte e dois anos de
idade, solteiro , de profissão comércio , residente à rua Ramiro
Barcelos n.° 700 , que declarou o esguinte : que conhece, há
já uns quatro ou cinco anos, a Ewaldo Rupnow, funcionário
da firma Bromberg , desta Capital ; que sabe estar Ewaldo
filiado à Juventude Teuto- Brasileira, à qual o declarante tam-
bém pertenceu, desfiliando-se entretanto antes da sua extinção ;
que ignora em absoluto que Ewaldo fôsse filiado ao Partido
Nacional- Socialista alemão, podendo todavia afirmar que era
simpatizante do nazismo ; que não obstante essa simpatia, era
um tanto reservado em certas ocasiões, principalmente depois
da proibição dos partidos políticos ; que referentemente às ati-
vidades de Ewaldo no seio da Juventude o declarante nada
pode adiantar, visto ignorar o papel que êle desempenhava,
nem mesmo sabendo se Ewaldo tinha algum cargo onde em-
pregasse serviços ; que nunca ouviu Ewaldo atacar o Governo
do Brasil ; que admite entretanto a hipótese de Ewaldo dirigir
algum ataque ao nosso Governo influenciado, talvez, por
alguma boa dose de nazismo que lhe houvessem aplicado no
passeio que fez à Alemanha, em junho de 1937, ao que se
recorda o declarante ; que é certo que Ewaldo, sempre que se
A 5. COLUNA NO BRASIL 279

referia à Alemanha, o fazia encomiasticamente, fazendo igual-


mente rasgados elogios ao govêrno nazista ; que de momento
nada mais ocorre ao declarante, podendo entretanto prestar
novas declarações à medida que se recordar de fatos que sejam
de seu conhecimento. E para constar, mandou o sr. dr.
Delegado lavrar o presente têrmo que, depois de lido pelo
declarante e achado conforme assina com êste, indo por mim
subscrito.

(ass.) Plinio Brasil Milano


Horst Egon Knapp
Wenceslau Braga”.

DECLARAÇÕES DE R. E. MARQUARDT

"Aos vinte e dois dias do mês de setembro do ano de


mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre,
Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de
Ordem Política e Social, presente o respectivo titular, sr. Dr.
Plínio Brasil Milano, comigo, Paulino Teixeira de Freitas,
inspetor, servindo de escriturário na forma da lei aí compare-
ceu o sr. RODOLFO EDUARDO MARQUARDT, brasilei-
ro, solteiro, residente à rua Cel. Vicente, 553 , nesta Capital,
filho de Roberto Marquardt e de D. Elfrida Marquardt, sa-
bendo ler e escrever, branco, nascido em Pôrto Alegre, decla-
rando o seguinte : que, efetivamente, conhece, mais ou menos
há três anos, o indivíduo Ewaldo Rupnow ; que suas relações
com o indivíduo acima referido foram travadas por trabalha-
rem juntos; que Ewaldo Rupnow é um grande fanático do
PARTIDO NAZISTA ; que o mesmo fez parte da Juventude
Hitlerista desta Capital, tendo ocupado um pôsto de destaque :
que, em fins de 1937 ou princípios de 1938 , Ewaldo Rupnow
foi à Alemanha tomar parte em um Congresso da Juventude
Hitlerista, que se realizou em Nürenberg ; que depois de ter
voltado da Alemanha o indivíduo já mencionado tem se des-
dobrado em atividades pelo progresso e desenvolvimento do
nazismo no Brasil ; que o mesmo, sempre que pode, faz pro-
paganda de suas idéias, mostrando os benefícios que trará o
nazismo no dia de sua emancipação ; que Ewaldo Rupnow,
sempre que há oportunidade, ataca a política do Brasil, falando
de sua má administração e de seus homens; que Ewaldo
Rupnow, tôda a vez que fala dos brasileiros, refere-se da se-
guinte maneira : os brasileiros de merda!; que agora, com o
início das hostilidades entre a Alemanha, Inglaterra, França
e Polônia, Rupnow tem trabalhado ativamente, dizendo que
a Alemanha é invencível ; que conhece muitos elementos per-
tencentes à Juventude nazista do Brasil que procuravam, segui-
damente, Ewaldo Rupnow, para tratarem de Política, mas
280 AURÉLIO DA SILVA PY

não pode dizer seus nomes por não sabê-los, podendo, todavia,
apontá-los à polícia no momento que fôr necessário. E,
como nada mais houvesse, depois de lido e achado conforme,
mandou o sr. Dr. Delegado encerrar o presente têrmo que
vai devidamente assinado.

(ass. ) Plinio Brasil Milanó


Rodolfo Eduardo Marquardt
Paulino Teixeira de Freitas" .

DECLARAÇÕES DE R. J. BOECK

"Aos vinte e dois dias do mês de setembro do ano de


mil novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre,
Capital do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de
Ordem Política e Social, presente o respectivo titular, Sr. Dr.
Plínio Brasil Milano, comigo, Paulino Teixeira de Freitas,
inspetor, servindo de escriturário na forma da lei, aí compa-
receu RUDOLFO JORGE BOECK, brasileiro, solteiro, bran-
co, nascido a 17 de janeiro de 1920, na cidade de Santa Cruz,
filho de Jorge Boeck e de D. Joana Boeck, residente à rua São
Pedro, número 541 , declarando o seguinte : que efetivamente
conhece, há mais ou menos dois e meio anos, o indivíduo
Ewaldo Rupnow ; que suas relações de amizade, como também
políticas, tiveram início pouco antes do declarante e de Rup-
now partirem para a Alemanha, para o grande Congresso da
Juventude Hitlerista realizado em Nürenberg, em princípios
de setembro do ano de mil novecentos e trinta e sete ; que o
Congresso foi realizado para mostrar ao mundo a grande
união do povo alemão, tanto dentro da Alemanha como no
estrangeiro ; que os chefes nazistas fizeram e fazem estes Con-
gressos inclusive para prestarem conta de seus atos e do desen-
volvimento do Reich; que em todos os Congressos é escolhido
um tema para discussão, tendo sido o preferido para 1937:
LIBERDADE DO POVO ALEMÃO ; que tudo o que está
se passando, atualmente, no Mundo, foi discutido e aprovado
pelo grande CONCLAVE ; que Ewaldo continua comandando
um grupo da Juventude Nazista ; que, seguidamente, fazem
excursões pelo interior do Estado para tirarem fotografias de
levantamento do terreno ; que eram os seguintes os elementos
que acompanhavam Ewaldo em suas excursões : Gustavo
Boeck, Armínio Hufnagel, um tal Mayer, atualmente na Ale-
manha estudando Engenharia, e outros, de cujos nomes não
se lembra de momento ; que Ewaldo faz, sempre que pode,
propaganda aberta do nazismo demonstrando os benefícios
que êste trará no dia em que chegar ao desenvolvimento na
altura desejada pelos seus chefes e principalmente pelo Fuehrer;
que Rupnow , tôda a vez que tem oportunidade, mostra aos
A 5. COLUNA NO BRASIL 281

seus companheiros como a Alemanha é grande, sendo gover-


nada pelo Fuehrer invencível. E, como nada mais houvesse,
depois de lido e achado conforme, mandou o Sr. Dr. Dele-
gado encerrar o presente têrmo que vai devidamente assinado.

(ass.) Plinio Brasil Milano


Rudolfo Jorge Boeck
Paulino Teixeira de Frietas".

MAIS DECLARAÇÕES DE BOECK

"Ao primeiro dia do mês de outubro do ano de mil


novecentos e trinta e nove, nesta cidade de Pôrto Alegre, Capi-
tal do Estado do Rio Grande do Sul, na Delegacia de Ordem
Política e Social, presente o respectivo titular, Dr. Plínio Brasil
Milano, comigo Ewaldo Walter Bergmann, inspetor de 1.a
classe, servindo de escrevente ad-hoc, aí compareceu RUDOL-
FO JORGE BOECK, brasileiro, solteiro, branco, nascido a
dezessete de janeiro de mil novecentos e vinte, na cidade de
Santa Cruz, filho de Jorge Boeck e de D.ª Joana Boeck, resi-
dente à rua São Pedro número quinhentos quarenta e um,
declarando o seguinte : que, em aditamento às declarações feitas
nesta Delegacia aos vinte e dois de setembro de mil novecentos
e trinta e nove, declara o seguinte : que se enfileirou na Juven-
tude Teuto-Brasileira em meados do ano de mil novecentos e
trinta e seis ; que, desde o ingresso no seio da Juventude Teuto-
Brasileira até a ida à Alemanha, o declarante exercia, inoficial-
mente, o cargo de auxiliar junto à direção administrativa da
organização, tendo tido como incumbência principal fazer
cópias pelo mimeógrafo e cuidar de cartoteca ; que neste tra-
balho estava o declarante subordinado diretamente a Erwin
Werner Beck, então chefe do Estado, de quem recebia ordens
e instruções ; que, no mês de junho do ano de mil novecentos
e trinta e sete, o declarante foi escolhido pelo doutor Hans
Neubert, chefe da Juventude Teuto-Brasileira do Brasil, para
fazer uma viagem gratuita à Alemanha, juntamente com mais
dois companheiros, para no Terceiro Reich tomar parte num
Curso de Especialização que se realizou em Laar, Baden, e
que foi organizado especialmente para chefes de grupos do
exterior; que, antes de embarcar para a Alemanha, o decla-
rante assinou uma declaração na qual se comprometia a tra-
balhar como chefe de grupo na "Juventude Teuto-Brasileira”
dêste Estado por dois anos ininterruptamente, isto é, de junho
do ano de mil novecentos e trinta e sete até junho do ano de
mil novecentos e trinta e nove ; que o ato da assinatura do
compromisso de fidelidade à Juventude se realizou na “Casa
Alemã" , "Deutsches Haus" , na presença do doutor Hans
Neubert e Erwin Werner Becker, respectivamente chefe do
282 AURELIO DA SILVA PY

Brasil e chefe do Estado ; que durante a estadia na Alemanha o


declarante assistiu a tôdas as conferências e manifestações, ins-
truções e paradas militares, acampamentos e viagens de recreio;
que o declarante voltou da Alemanha em dezembro do ano de
mil novecentos e trinta e sete, para imediatamente assumir a
chefia de um grupo da Juventude Teuto -Brasileira ; que no
cargo de chefe de grupo o declarante recebia ordens e instru-
ções por intermedio de Hermann Lauser, então chefe da Capi-
tal do Estado, enquanto este por sua vez recebia instruções
por intermedio de Erwin Werner Becker; que o declarante
como chefe de grupo tinha a incumbência de organizar reu-
nides, fazer conferências políticas e de interesse geral ; que nesta
epoca o declarante já não tinha mais dúvidas sobre o verda-
Seco fundo da Juventude Teuto -Brasileira, que não era outra
cousa que um departamento da Juventude Hitlerista da Ale-
manha, fato que vinha sempre sendo ocultado pelos então
chefes máximos, Erwin Werner Becker, Hermann Lauser e
doutor Hans Neubert ; que, em maio do ano de mil novecentos
e trinta e oito, o declarante soube pela primeira vez do fecha-
mento da Juventude Teuto-Brasileira, que em face da Nova
Constituição Nacional estava fora da lei ; que foi Hermann
Lauser, auxiliado por Erwin Werner Becker, quem mais se
bateu para que a Juventude Teuto-Brasileira continuasse a
trabalhar da mesma forma que até então ; que o declarante
fez parte de uma comissão encabeçada por Hermann Lauser e
Erwin Werner Becker, que logo após a proibição procurou o
senhor Tenente Rolim, presidente da Liga de Defesa Nacional,
para conseguir dêste alto oficial uma interferência junto à auto-
ridade competente para que a Juventude Teuto-Brasileira pu-
desse continuar a funcionar, sem se reorganizar; que, a-pesar-de
todos os esforços, a proibição da polícia tinha se mantido de
pé; que os chefes da Juventude Teuto-Brasileira, a-pesar-disto,
resolveram continuar com a organização, que de nenhuma for-
ma deveria ser extinta e tinha que trabalhar, mesmo clandes-
tinamente; que logo em seguida houve uma pequena mudança
na chefia superior da Juventude Teuto-Brasileira : o chefe
geral, doutor Hans Neubert, partiu para o Rio de Janeiro,
transferindo para alí o centro da chefia do Brasil, o chefe do
Estado, Erwin Werner Becker, pediu dispensa por tempo inde-
terminado, enquanto Hermann Lauser continuava como chefe
da Capital com poderes fortemente ampliados, entrando ainda
na chefia superior Gerhard Hahnefeld, como substituto provi-
sório de Erwin Werner Becker; que o chefe Hermann Lauser,
em setembro do ano de mil novecentos e trinta e oito, fez uma
seleção dos "melhores" elementos da Juventude Teuto-Brasi-
leira, que deveriam ingressar em massa na "Naturheilverein",
onde deveriam formar um Departamento autônomo ; que
projeto de Hermann Lauser obteve sucesso, tendo sido orga-
nizado o Departamento na forma projetada, podendo a Juven-
tude Teuto-Brasileira, camuflada em Departamento Juvenil,
A 5. COLUNA NO BRASIL 283

gozar agora da proteção da lei ; que, em princípios do ano de


mil novecentos e trinta e nove, Hermann Lauser se transferiu
para São Paulo, passando a chefia às mãos de Armínio Hufna-
gel; que êste estado de cousas durou até junho do ano de mil
novecentos e trinta e nove ; que em maio dêste ano o decla-
rante resolveu não mais participar das reuniões que se reali-
zavam na chácara do "Naturheilverein" , no Menino Deus;
que acusa como principais responsáveis por tôda esta atividade
ilegal os chefes Hermann Lauser, agora residente em São Paulo,
Erwin Werner Becker e Gerhard Hahnefeld, residentes em
Pôrto Alegre. E, como nada mais houvesse a declarar, man-
dou o delegado encerrar o presente têrmo, que, depois de lido
e achado conforme, vai por todos devidamente assinado.

(ass.) Plínio Brasil Milano


Rudolfo Jorge Boeck
Ewaldo Walter Bergmann" .

"O nacional-socialismo não é um mo-


vimento de culto um movimento de
adoração : é exclusivamente uma dou-
trina étnico-política baseada em princí-
pios raciais".
(Hitler Discurso de 6-9-1938, em
Nüremberg) .
Prisão e expulsão de espiões nazistas
Um caso com sabor de aventura

o que, em todos os tempos, tem agido mais


eficazmente é o terror, a violência...
O terrorismo não pode ser vencido senão por
um terrorismo maior" .
(Hitler - "Minha luta").

A estação termal de Iraí está localizada na convergência das li-


nhas de ônibus que ligam os pontos mais importantes da região no-
roeste do Estado, as quais fazem tráfego mútuo com outras linhas de
Santa Catarina e com as emprêsas internacionais de transportes que
cruzam o território das Missões e conduzem ao Paraguai . De Iraí
também saem estradas para Barracão, na fronteira argentina, de
onde parte uma " carretera" de primeira categoria, que leva a Po-
sadas. Sua favorável situação geográfica e sua condição de estân-
cia de águas termais, ideal para cobrir idas e vindas suspeitas, con-
tribuíram, entre diversos outros motivos, para a escolha da locali-
dade para sede de um considerável centro de espionagem nazista
no Rio Grande do Sul.
A Delegacia de Ordem Política e Social, de posse de indícios
acumulados através de um longo período de observação, prendeu
em Iraí os alemães Wolfgang Eberhard Ludwig Neise e Bernardo
Guilherme Maahs. Ficou apurado, em exhaustivo inquérito, que
ambos eram espiões a serviço da Alemanha Nacional-Socialista e,
convenientemente processados, receberam êles ordem de expulsão
do território nacional . Como, porém, em consequência da guerra,
não pudesse ser executada a expulsão, Neise e Maahs continuam
presos em Pôrto Alegre.
Para justificar a expressão "sede de um centro de espionagem
nazista", bastará dizermos que em Iraí, localidade à primeira vista
sem importância, residiam, além de Neise e de Maahs, (e ainda
continuam residindo), o dr. Martin Fischer, ex-chefe do D. N. B.
(Deutsche Nachrichten Bureau) em Buenos Aires ; o dr. Antônio
Pauly, ex-contratado especial da embaixada alemã de Buenos Aires;
dona Anita Matilde Amanda Scheinewind de Pauly, ex-tradutora
A 5. COLUNA NO BRASIL 285

oficial da mesma embaixada; Bruno Dombrowski, ex- mecânico de


aviação do exército alemão, e Willi Meyer, ex-funcionário da polí-
cia de Hamburgo, Alemanha. E em Porto Feliz, Estado de Santa
Catarina, em frente a Iraí, reside o coronel Karl Gaihser, ex-chefe
da polícia de Stutgart, Alemanha .
Não é de admirar que essa curiosa coincidência tenha desper-
tado a atenção da polícia sul-rio-grandense . Esse congregado seleto
de homens públicos alemães não estaria alí senão para exercer ati-
vidades políticas de alcance. Nossa polícia agiu meticulosamente,
tendo sido entregue a direção do inquérito ao bacharel Teobaldo
Neumann, delegado, que agiu orientado pelo dr. Plínio Brasil
Milano.
E' impossível reproduzir aquí todos os detalhes dêsse inquérito,
tão extenso que se desdobrou em cinco grossos volumes. Também
exigiria demasiado espaço para um livro da natureza dêste, a pu-
blicação de cópia fotográfica de todos os documentos de prova
contidos no inquérito . Assim, extraímos dêle os elementos essen-
ciais, deixando consignado que a respectiva documentação se en-
contra arquivada na Repartição Central de Polícia, em Pôrto
Alegre.
O inquérito teve início em julho de 1940 e, depois de reduzi-
das a têrmo as declarações dos acusados e das numerosas testemu-
nhas e cumpridas as outras formalidades da lei, foi encerrado a 4
de dezembro de 1940, com o decreto de expulsão de Maahs e Neise
assinado pelo presidente da República.

O QUE DECLARAM OS PRÓPRIOS ESPIÕES

Para que se possa formar uma idéia da personalidade dos dois


espiões nazistas, seguem-se, abaixo, resumos do que êles declararam
em cartório policial :

Bernardo Guilherme Maahs ( Doc. n.° 46) disse ser :


Atividades políticas : membro do Partido Nacional-Socia-
lista dos Trabalhadores Alemães (N.S.D.A.P. ) , ex -oficial do
exército do Reich, atualmente "pessoa de confiança" do con-
sulado alemão desta capital, mantendo íntimas relações, tam-
bém, com o coronel Karl Gaihser e o dr. Ulrich Kuhlmann,
agentes consulares alemães. Confessou ter fornecido relató-
rios políticos, por escrito e verbalmente, ao consulado alemão
desta capital, referentes a atividades antinazistas. Declarou
ter passado atestados de vida e de residência, fornecido tôda
sorte de informações e indicado ao consulado alemão os nomes
de pessoas que deviam ser distinguidas com a Cruz de Honra
Alemã. Confessou ter realizado reuniões destinadas à escuta
da Rádio-Alemã e promovido festas e solenidades para come-
morar acontecimentos políticos na Alemanha, sendo o seu ora-
286 AURELIO DA SILVA PY

dor. Recebia material de propaganda nazista, como jornais


e revistas, e fazia sua distribuição. Promoveu coletas para
a organização do Partido Nacional- Socialista, denominada
"Winterhilfe" (Auxílio de Inverno) , e era depositário de
distintivos do N.S.D.A.P.
Alistamento Militar: disse ter promovido o alistamento
militar de alemães, no que foi auxiliado por Wolfgang Neise,
a quem acusa de não ter procurado pessoalmente alguns dos
alistados. Disse que fez ver aos interessados as consequên-
cias a que estavam sujeitos no caso de não atenderem à con-
vocação, sem considerar isso, entretanto, uma ameaça.
Injúrias e ofensas : declarou ter conservado, durante dois
anos, versos altamente injuriosos ao Brasil e suas cousas, prin-
cipalmente às classes armadas, não apresentando justificativa
para tal ato. (Doc. n.º 47) . Tachou as autoridades locais
de judeus, por contrariarem os seus interêsses, levando ao co-
nhecimento do Consulado alemão suas queixas contra as refe-
ridas autoridades .
Falsificação de Documento Público : confirmou ter pres-
tado falsas declarações no cartório do Registo Civil de Iraí,
dizendo ter nascido em Santa Cruz, neste Estado, para con-
seguir o competente registo de seu nascimento, tendo, após,
utilizado a respectiva certidão para fins eleitorais.
Naturalização de estrangeiros: confessou ter procurado
naturalizar alemães os imigrantes russos residentes em Iraí, en-
trando em entendimentos com o consulado alemão, que o
mandou aguardar oportunidade .
Referências a Neise : deu Wolgang Neise como sendo
seu empregado, sem remuneração, prestando pequenos servi-
ços em troca de sua alimentação . Disse ter fornecido peque-
nas importâncias em dinheiro a Neise, o que, todavia, não
correspondia a um ordenado . Confessou ter Neise lhe pro-
porcionado incômodos que justificariam sua demissão , o que
todavia ainda não fez. Disse que pouco lhe interessa o que
pensem os habitantes de Iraí a respeito de suas relações com
Neise.
Relações: Concluiu dizendo que, além das relações que
mantinha com os cônsules já citados, conheceu os drs. Mar-
tin Fischer, advogado e ex-funcionário do D.N.B. , Antônio
Pauly, engenheiro, Hermann Heintz Hell, jornalista, Frede-
derico Ebertz e outros, pessoas que estão arroladas como tes-
temunhas no presente processo ou às quais se referem os indi-
ciados.

Wolfang Neise (Doc. n.º 48) declarou :


Identidade: Ser filho de um alto funcionário da jus-
tiça alemã e sobrinho de um general e de um almirante ale-
mães. Afirmou ter viajado por tôda a Europa, grande parte
da África, América do Norte, Central e do Sul, conhecendo
também a Ásia Menor e já tendo visitado três vezes o Brasil,
A 5." COLUNA NO BRASIL 287

voltando sempre dessas viagens ao seu ponto de partida: Ale-


manha.
Situação econômica: disse ser possuidor de uma fortuna
correspondente em dinheiro brasileiro a uma soma superior
a 2.500 contos de réis. Quando veio pela última vez ao
Brasil, trouxe 6 contos de réis em dinheiro, os quais deposi-
tou no Banco Germânico de São Paulo, a -pesar-de se destinar
diretamente para o Rio Grande o Sul. Declarou estarem já
esgotadas as suas reservas. Disse não receber ordenado de
Maahs, a quem prestou pequenos serviços. Procurou dar ex-
plicações sobre os pagamentos que fez ao professor Ficker, ao
chauffeur Bruno Dombrowski , a Virgilio Oliveira e a outros,
os quais sobem a alguns contos de réis. Explicou como custeou
suas viagens e despesas. Declarou ter pago sempre suas des-
pesas.
Relações: apresentou-se como amigo pessoal dos côn-
sules Ried, Cel . Geihser e dr. Kuhlmann , além das relações que
possuía com o dr. Martin Ficher ; dr. Antônio Pauly; pro-
fessor Martins Ficker, de São Paulo ; von Cossel, adido da
embaixada alemã no Rio ; Hermann Heintz Hell ; além de
altas personalidades e dirigentes do N.S.D.A.P. na Alemanha.
Atividades Políticas: Confessou sua paixão política na
qualidade de nazista fervoroso e pertencente às Tropas de As-
salto (S.A. ) do N.S.D.A.S.P. Recebeu revistas e jornais ale-
mães de propaganda nazi. Confirmou ser de sua proprieda-
de o fardamento das Tropas Motorizadas da S.A. e explicou
o significado dos distintivos e insígnias apreendidas. (Doc.
n.º 49 ) . Declarou ter sido detido por mais de uma vez,
devido à sua exaltação na defesa de seus ideais políticos. Na
Alemanha foi condenado por ter se envolvido num conflito
com comunistas, tendo também participado do "expurgo" de
1934 (revolta do Cap. Roehm) . Informou que teve diver-
gências com os diretores nacional-socialistas dêste Estado, che-
gando a ameaçar denunciá-los em Berlim. Referiu-se às reu-
niões radiofônicas promovidas por Maahs, às quais, disse, com-
pareciam mais de trinta pessoas. Confessou ter sido de quem
colheu as informações necessárias para o relatório político
que Maahs enviou ao consulado alemão sôbre atividades de
Ervino Anuscheck.
Alistamento Militar : confirmou ter auxiliado Maahs no
alistamento militar, tomando nota dos dados de identidade
dos alistandos, fazendo êsse serviço até mesmo à revelia dos
interessados.
Naturalização de estrangeiros : Informou que realmente
Maahs tentou naturalizar alemães os colonos de nacionalidade
russa residentes em Iraí. (Não sabemos qual o interêsse do
consulado alemão nesse assunto . )

Profissão indefinida: disse pertencer ao comércio, tendo


mesmo cursado uma escola dessa especialidade. Confessou,
porém, que apenas prestava aquí alguns serviços a Maahs, a
288 AURELIO DA SILVA PY

quem não considerava seu patrão e sim um segundo pai, não


tendo outra ocupação definida.

Impressões: Deu suas impressões sôbre várias persona-


lidades alemãs, residentes ou visitantes de Iraí.

PROCESSO ENGENHOSO DE PROPAGANDA

A 8 de junho de 1940, o dr. Plínio Brasil Milano, delegado da


Ordem Política e Social, dirigiu à chefia de Polícia um relatório
sôbre as atividades de Maahs e de Neise, aproveitando a oportuni-
dade para também denunciar um processo engenhoso , utilizado
pelos nazistas, para a distribuição de sua propaganda pelo correio.
E' o seguinte o texto do relatório :

"Exmo. Sr. Major Aurélio Py


DD. Chefe de Polícia.

PROPAGANDA ESTRANGEIRA

Mais uma vez, a Delegacia de Ordem Política e Social


traz ao conhecimento de V. Excia. fatos relativos à propa-
ganda política estrangeira em choque com a neutralidade do
Brasil.
Do Rio de Janeiro, onde são impressos, (oficinas gráfi-
cas Alba Rua do Lavradio, 60 ) , são remetidos ao Con-
sulado alemão os folhetos que acompanham êste expediente.
Ressalta que essas encomendas não fazem curso pela
Repartição dos Correios, visto como a Censura não toma co-
nhecimento delas.
Aquí são distribuídas e, então, colocadas no Correio
porque a Mala da Capital não é censurada.
Aliás o próprio subscrito o indica e , se não fôra isso,
ainda haveria comprovantes no sêlo não carimbado e no pró-
prio tipo da máquina bem conhecido aquí.
A simples juntada dos impressos dispensa quaisquer co-
mentários.
NAZISMO EM IRAÍ

Há mais de seis meses, esta Delegacia acompanhava as


atividades do alemão WOLFGANG NEISE, residente em Iraí.
Em todo êsse tempo não foi possível encontrar uma ex-
plicação plausível para a permanência alí do referido estran-
geiro, já que a sua ocupação aparente não era remunerada.
Neise realizou, durante êsse período, inúmeras viagens
de automóvel, destacando-se entre elas as que empreendeu a
Ijuí e Cruzeiro, onde fez contacto com o dr. Ulrich Kuhl-
mann e com o cel. Karl Gaihser, vice- cônsules alemães nesses
lugares, respectivamente .
A 5. COLUNA NO BRASIL 289

Agora, o delegado regional de Cruz Alta deliberou pren-


dê-lo e remetê- lo para esta Capital, onde se encontra recolhi-
do à Casa de Correção .
Interrogado, prestou as declarações que junto por cópia,
para melhor esclarecimento de V. Excia.
Inclusos acompanham, também, as fotocópias de diver-
sos documentos, assim como as respectivas traduções.
Ao mais leve exame dêsses documentos já se pode con-
cluir o seguinte :

1.°) Wolfgang Neise pertenceu, na Alemanha, a um ser-


viço policial de grande responsabilidade.
2.°) E' filho de um alto funcionário da justiça e ho-
mem de grande influência política (v. carta diri-
gida ao cônsul) .
3.º) E' pela terceira vez que vem ao Brasil.
4. ) Quando aquí esteve em 1936, apresentou -se como
emissário secreto, consoante se verifica de uma car-
ta de Ernst Dorsch, ex-chefe nazista do Círculo V
(Rio Grande do Sul ) .
5.º) Não tem profissão definida e nem recebe remune-
ração de espécie alguma no local onde reside.
6.º) Sua família, inclusive espôsa, encontra-se em Ber-
lim.

Essas, em síntese, são as conclusões a que se pode chegar


pelo que há de concreto junto ao expediente.
No entanto, pode-se afirmar, por tudo, que Wolfgang
Neise é um agente nazista cuja principal finalidade é manter
a ligação entre os círculos de Santa Catarina e Rio Grande do
Sul e fronteira argentina de Corrientes.
Em virtude do que foi apurado com relação a Neise,
foi determinada a prisão de Bernardo Guilherme Maahs, pro-
prietário do Hotel Descanso, em Iraí, em cuja companhia
Neise reside. Maahs estava , de momento, nesta Capi : al, após
haver viajado para Ijuí, em companhia de Frederico Sander,
com o objetivo de apenas visitar o vice- cônsul Kuhlmann.
Sander prosseguiu viagem até Posadas, na Argentina, onde re-
side.
Em poder dêste novo preso, foi encontrada nova e curio-
sa documentação. Destaca-se entre ela um relatório dirigido
ao Consulado Alemão e referente ao nosso agente secreto
E.A. , brasileiro naturalizado .
Maahs, como acima foi dito, é hoteleiro e apenas isso.
Contudo, fornecia atestado de vida e residência, conforme
comprova o documento anexo. Ora, certamente isso não é
função própria de hoteleiro.
Pelo que foi apreendido, verifica-se que Maahs é um
informante político de confiança ou, melhor dito, um espião.
19 - 5. C.
290 AURELIO DA SILVA PY

Em seu relatório êle se refere a encontros e conferências com


partidários, como se aquí houvesse ainda Partido.
A correspondência encontrada em seu poder revela que
êle também tinha os seus informantes, que, periodicamente,
lhe enviavam notícias, solicitando cautelosamente a incinera-
ção do documento, após a leitura.
Em matéria de nazismo , de momento, êste é o único caso
que preocupa a nossa atenção . MAAHS e NEISE são os
únicos presos alemães recolhidos nesta data.
No mais, as informações são boas, indicando um am-
biente calmo.
Saúde e Fraternidade.

(a.) Plinio Brasil Milano


Delegado de Ordem Política e Social" .

HISTÓRICO DO CASO IRAI

As atividades nazistas em nosso Estado têm suportado uma


autêntica campanha de aniquilamento desenvolvida pela Repartição
Central de Polícia, por intermédio da Delegacia de Ordem Po-
lítica e Social, destinada a extinguir os gânglios da ideologia
fascista que se contrapõem aos objetivos visados pelo atual mo-
vimento de nacionalização e assimilação dos elementos aliení-
genas. E' evidente que pouco valeria o fechamento de escolas es-
trangeiras, a proibição de jornais escritos em línguas estrangeiras
e tantas outras medidas, se não fôsse rigorosamente observada a
proibição de atividades políticas por parte de estrangeiros que
em vez de colaborarem na construção de uma pátria nova alheia à
inquietação reinante no Velho Mundo, e que não só muito recebe
do imigrante, mas que também muito lhe dá ― aquí aportam com
o escopo determinado de preparar o ambiente favorável à implan-
tação de um regime de ódio e opressão, abrindo caminho para um
futuro expansionismo territorial.
Se, de um lado, é intensa essa campanha policial, que é a pró-
pria defesa das nossas perspectivas futuras como nação, de outro
lado, não é menor o trabalho subterrâneo dos elementos indesejá-
veis e fanatizados que nunca se consideram vencidos. E, a-pesar-da
campanha governamental, a-pesar-da ação policial, a-pesar-do re-
púdio da opinião pública, aquí e alí repontam os casos, obrigando
a polícia a uma vigilância constante e a medidas repressivas enér
gicas e prontas. Foi êste, de certo modo, o caso de Iraí, onde, não
obstante mesmo a polícia ter-se em parte antecipado às medidas
legais de repressão, os recalcitrantes exigiram uma atenção muito
particular. A leitura do relatório do delegado Neumann, que re
A 5. COLUNA NO BRASIL 291

sumiremos, revela episódios curiosos e permite um relance de olhos


aos bastidores da organização nazista de espionagem montada na-
quela zona.

UM HOTELEIRO SEMIFALIDO E UM MILIONÁRIO QUE


TRABALHA POR CAMA E MESA

Maahs e Neise, pelas suas personalidades e pelas atividades


desenvolvidas, apresentam em tôrno de si uma série de circunstân-
cias que, mesmo em um exame superficial, nos convencem não se-
rem êles simples adeptos de uma ideologia política, mas agentes
ativos de propaganda nazista, que não mediram sacrifícios para a
divulgação ilegal de suas idéias, acobertados pela proteção que lhes
dispensava o consulado alemão desta Capital.
BERNARDO GUILHERME MAAHS é proprietário do "Ho-
tel Descanso", em Iraí, local de concentração de alemães que vão
utilizar (é uma das justificativas apresentadas) as qualidades curati-
vas das termas locais . E' alemão nato, tendo chegado ao Brasil em
1925, como imigrante. Estabeleceu-se em Iraí, após uma rápida es-
tadia em Santa Catarina . O proprietário do "Hotel Descanso" sem-
pre esteve em dificuldades financeiras, como nos relatam quasi tô-
das as testemunhas, chegando mesmo, em certa ocasião, a ser ampa-
rado por amigos.
Entretanto, a-pesar-dessas circunstâncias ao menos aparentemen-
te difíceis, dedicava a maior parte de seu tempo aos extraordiná-
rios serviços que prestou aos consulados alemães, como o prova vo-
lumosa correspondência apreendida. Eram serviços gratuitos e
mesmo com desembôlso de Maahs, levando êle seu patriotismo ao
ponto de empreender viagens para tratar de assuntos consulares,
arcando com tôdas as despesas. Foi oficial do Exército Alemão na
1.a Guerra Mundial. Chegado a Iraí, procurou logo conseguir a
liderança da colônia alemã, abrindo mesmo luta contra certos ele-
mentos para criar e manter o desejado prestígio. As testemunhas
ouvidas informam-nos que as intenções de Maahs nem sempre eram
bem aceitas pelos seus patrícios, custando-lhe algumas inimizades.
Sôbre a sua deshonestidade nos dizem ARTUR EISEN, que o
tacha de vigarista; Jorge Schellemberger; as empregadas do Hotel,
Amália Hergenraether e Martha Minnikel, que há dezenove meses
não recebem seus vencimentos regularmente, e outros.
A esposa de Maahs, entretanto, viajava seguidamente para a
Alemanha, sem ter aquele conseguido dar explicações razoáveis sô-
bre tais vilegiaturas. Antes, tornou-as suspeitas, afirmando que por
ocasião de uma dessas viagens recebeu quatro contos de réis do
consulado alemão desta capital para custeá-la, justificando-se, in-
292 AURELIO DA SILVA PY

genuamente, com a alegação de que emprestara tal importância


àquele consulado.
A vida passada de Maahs permanece na penumbra e a atual,
como se vê das peças constantes das indagações policiais, está cheia
de atos ilegais e deshonestos, suspeitos e obscuros.
WOLFGANG EBERHARD LUDWIG NEISE é, como vimos,
o segundo personagem envolvido no caso.
Descendente de família ilustre, Neise é ligado a altas persona-
lidades do govêrno alemão e, por conseguinte, do partido nazista.
O pai de Wolfgang, dr. Franz Ferdinand Neise, Primeiro Pro-
motor Público ou chefe do Ministério Público de Berlim, é pessoa
estreitamente ligada ao Ministro da Justiça do Reich, dr. Franck,
e provavelmente do próprio Fuehrer. E' Neise quem afirma, ainda,
possuir um tio general do exército alemão e outro almirante da
marinha de guerra de sua pátria. Diz-se casado, levando, porém,
uma vida de orgias e bacanais; o elemento feminino parece ser seu
lado fraco. Veja-se a coleção de fotografias apreendidas em seu po-
der e chegar-se-á logo à conclusão de que Neise é um verdadeiro
devasso, sem dignidade, despido de qualquer moralidade. Isto res-
salta ainda mais à vista de um desenho encontrado em seu poder,
cuja publicação nos é impossível fazer.
WOLFGANG NEISE tem instrução, possue certa cultura, de-
monstra inteligência e argúcia e a quem o interroga convence de
que sempre levou uma vida de “bon vivant”, não parecendo jamais
ter trabalhado honestamente para seu sustento . Já veio três vezes
ao Brasil, sendo a última em 1936, com destino direto a êste Estado,
fazendo, porém, antes, rápida estadia em São Paulo .
Apresenta-se como empregado de Bernardo Maahs, desempe-
nhando as modestas funções de " chauffeur" do "Hotel Descanso",
apenas trabalhando pela alimentação, a-pesar-de sua fortuna e
descendência ilustre. E, pois, um milionário que se empregou por
cama e mesa ...
Seu modo de viver, numa pequena localidade como Iraí, des-
perta a atenção geral, e a população em pêso, como o afirmam as
testemunhas, não atinava com uma explicação ou justificativa para
as enormes despesas que êle fazia .

Devido ao seu mau comportamento, chegou Neise a ser repelido


e mal visto por muitos. A testemunha Ernst Rudolf chama-o de
“vigarista e extravagante, cuja vida é das mais suspeitas". Otto Kru-
menauer, que tem Neise por um ótimo freguês de seu bar, tacha-o
de elemento pernicioso .
Todos são unânimes em afirmar que são incompreensíveis e mis-
teriosas as relações existentes entre Neise e Maahs .
A situação econômica de ambos, a nosso ver, é o primeiro ele-
A 5. COLUNA NO BRASIL 293

mento que causa espécie, tendo-se em conta os elevados gastos, as


verdadeiras dissipações a que se entregavam.
Em primeiro lugar, Bernardo Maahs é proprietário de um hotel
que anda sempre mal. E' êle próprio que o confessa, chegando a
queixar-se aos cônsules Ried e Gaihser de sua aflitiva situação finan-
ceira. Certa ocasião, amigos salvaram-no da ruína. A Prefeitura lo-
cal lhe cortou a luz, e todos o consideram falido ou quasi falido.
As empregadas Amália Hergenraether e Martha Minnikel in-
formam que Maahs tem o estranho costume de somente pagar os seus
ordenados quando lho pedem, e ainda assim em pequenas parcelas.
Suas dívidas sobem a dezenas de contos, conforme nos informa a tes-
temunha Josef Krause.
A situação econômica de Wolfgang Neise é mais obscura do que
a de Maahs. Alega ser possuidor da apreciável fortuna de 2.500 con-
tos de réis, na Alemanha, a qual diz ter conseguido por meio de uma
herança e com um negócio de automóveis a que se dedicou durante
dois ou três anos em Berlim.
Entretanto, chegou ao Brasil com apenas seis contos de réis, os
quais afirma que deram, mais ou menos, até agora, para suas des-
pesas.
Não percebe ordenado e não possue fonte de renda no país,
nada também lhe podendo ser enviado de sua pátria, em consequên
cia do estado atual em que se encontra a Alemanha. Neise, informa-
nos a testemunha Walter Niemann , vive solicitando empréstimos
aos amigos. Mas isto só aconteceu agora, quando passou a ter esta ca-
pital por menagem .
Em oposição a êsse estado de cousas, Maahs e Neise, um mais
que o outro, fazem gastos extraordinários.
A esposa de Maahs, como já dissemos, viaja seguidamente para
a Alemanha, não estando bem esclarecido o objetivo dessas viagens.
Ele próprio, em vez de procurar aumentar sua renda com alguma
outra ocupação, principalmente na época em que paralisa o movi-
mento do seu hotel de veraneio, dedica-se aos dispendiosos misteres
consulares, chegando a escrever duas a três cartas ao consulado ale-
mão no mesmo dia. Também viaja, especialmente para atender a tais
serviços.
Os gastos de Neise estão comprovados não só pelos depoimentos
de quasi tôdas as testemunhas arroladas, como também por inúmeras
notas de despesas.
Somente numa noite de Ano-Bom gastou perto de um conto de
réis em champanha, como afirma a testemunha Josef Krause. Até ao
"jôgo do bicho" Neise dá sua contribuição, a-pesar-de proibido, che-
gando a jogar 50$000 num só dia, conforme lista assinada por Otto
Krumenauer. A testemunha Bruno Hermann Druschel nos conta
que Neise comprou, certa vez, seis sabonetes, pagando por êles
294 AURELIO DA SILVA PY

45$000. Tôda sua correspondência era registada. Em São Paulo hos-


pedou-se num dos melhores hotéis, o "Terminus ". Enfim, os docu-
mentos dizem melhor sôbre os gastos de Neise.
E' estranho o que expomos acima . Os dois agentes alemães ex-
pulsos não explicam razoavelmente essa situação. O que é evidente,
porém, é que deve existir uma fonte de renda, que não lhes convém
desvendar. Sôbre êsse assunto, parece-nos que as ligações dos indicia-
dos com o consulado alemão levantam uma ponta do véu.

PERMANENCIA ILEGAL NO PAÍS E PROFISSÃO INDEFINIDA

O passaporte de Wolfgang Neise mostra que o mesmo entrou


no país em 1936, estando incluído na alínea ƒ do artigo 8.º do Re-
gulamento aprovado pelo decreto n.º 24.258 , de 16 de maio de 1934,
o que significa ter-se, há muito tempo, esgotado o prazo de sua per-
manência legal no país, que era de 6 meses .
Além disso, Neise na realidade não possue profissão definida:
seria necessário ser ingênuo para acreditar ser êle um simples chauf-
feur profissional, prestando, nesta qualidade, seus serviços a Maahs .
Por outro lado, enquanto explica o que fez aquí nas suas outras
permanências no Brasil, desde que chegou pela última vez não teve
ocupação clara, capaz de garantir seu sustento.

RELAÇÕES E ATIVIDADES SUSPEITAS

As relações existentes entre Maahs e Neise, pelo que ficou dito


acima, são não só estranhas, como misteriosas, segundo diz uma das
testemunhas.

Além disso, as pessoas que faziam parte do círculo de relações


de Maahs e Neise são, por uma coincidência interessante, de um
destaque suspeito.
E' bastante enumerá-las :
DR. MARTIN FISCHER -- Formado em leis, ex-diretor de
uma empresa de emigração na Alemanha, ex-diretor do "Deutsche
Nachrichten Bureau" (D. N. B.) em Buenos Aires, primo do ex-pre-
sidente do Senado de Dantzig e atualmente fabricante de aguar-
dente de cana ...
DR. ANTÔNIO PAULY - Engenheiro civil. Participou de
várias comissões de governos sul-americanos para estudos hidrográ-
ficos. Ex-funcionário da embaixada alemã na Argentina, ex-diretor
de assuntos técnicos de "La Prensa" de Buenos Aires, amigo e aju-
dante do falecido Dr. Hugo Eckener, da Cia. Zeppellin, e ex-sócio
da fábrica de aguardente do Dr. Fischer.
HERMANN HEINTZ HELL - Representante da revista ale-
mã "Die Woche", para a América do Sul, e funcionário da embai-
xada alemã do Rio de Janeiro.
A 5. COLUNA NO BRASIL 295

DR. OTTO VON ORTENBERG ― Médico . Entrou para o


serviço do finado ex-Kaiser, após tomar parte na invasão da Ho-
landa pela Alemanhã, como médico das tropas invasoras.
HANS HENIG VON COSSEL - Ex-chefe do N. S. D. A. P.
no Brasil, hoje adido comercial à embaixada alemã do Rio.
DR. MARTIN FICKER -- Professor alemão contratado pela
Faculdade de Medicina de São Paulo .
DR. ULRICH KUHLMANN Vicecônsul alemão em Ijuí,
neste Estado .
CORONEL KARL GAIHSER - Ex-chefe de polícia de Stut-
tgart e comandante da Fôrça Estadual de Wuertemberg, na Alema-
nha, hoje cônsul alemão em Cruzeiro (Santa Catarina) .
DR. FRIEDRIC RIED - Ex-cônsul geral da Alemanha nesta
capital.
WALTER HOSSFELD - Da química Bayer do Rio; WI-
LHELM LORCH, redator do "Textil Zeitung", de Berlim; GEORG
HANSEL, engenheiro da Cia. S. K. F. do Brasil, e muitos outros.
Um detalhe típico : A testemunha Bruno Druschel diz que Nei-
se temia a censura que Maahs talvez fizesse em sua correspondência.
Desconfiar de si próprio é da técnica da Gestapo.
As testemunhas Arthur Eisen, Ernst Rudolf, Dr. Martin Fi-
scher, Dr. Darcí Silva Azambuja, Dr. Antônio Pauly, Sibila Roelli
(amante de Neise) e Walter Niemann são unânimes em afirmar que
Wolfgang se dedicava a atividades obscuras, positivamente suspeitas.
As viagens que Neise diz ter feito através de quasi todos os
continentes, voltando sempre ao ponto de partida, a Alemanha, e
as três vezes que já esteve no Brasil, a-pesar-de seu espírito aventu-
reiro, exigiram grande numerário, o que êle não possuía antes de
1932, quando diz ter entrado na posse de uma herança .
A testemunha dr. Martin Fischer refere-se aos comentários de
que Maahs e Neise se dedicam a atividades secretas. O dr. Antônio
Pauly e Eugênio Otto Schoppet suspeitam serem espiões alemães.
A prova das atividades suspeitas de Wolfgang Neise, porém,
reside na circular n.º 51 do N. S. D. P., círculo V, de 11 de junho
de 1936, assinada por Ernst Dorsch, subchefe do aludido círculo, a
qual diz que êle se apresentou como agente secreto do partido.
Também é interessante a carta da firma Johann Juergues & Cia.,
datada de 23.4.32 e dirigida ao pai de Wolfgang, a qual dá como
perigosa a amizade dêste com Rudolf Huenig, que já cumpriu pena
por espionagem .
A testemunha Geraldo Clebesch informa ter combinado com
Neise, e êste o confirma, duas senhas: "Estandarte Castelo " para
significar os companheiros políticos, e "os pertences da caixa de
porcelana" para significar "máximo cuidado". Estas senhas foram
298 AURÉLIO DA SILVA PY

Maahs demonstra perfeitamente o que pensa a respeito de nossa


pátria nos versos altamente injuriosos encontrados em seu poder.
Em sete estrofes estão expressos os seus verdadeiros sentimentos pela
nossa causa e nossa gente. Publicamos o poema para se fazer um
conceito mais exato sôbre o juízo de Maahs a nosso respeito. Diz
êle que não é seu autor, mas confessa que
guardou os versos durante
dois anos e quer convencer-nos de que não o fez por mal. Note-se
que o papel é próprio para a tiragem de cópias e, como foi escrito à
máquina, supõe-se que tenham sido distribuídos vários exemplares,
para deleite dos frequentadores do "único hotel alemão de Iraí".
Admitamos, para argumentar, que realmente Maahs não seja o
autor dessas ofensas ; assim sendo, porém, o simples fato de conservá-
las carinhosamente durante muito tempo em nada o recomenda, mas
só o compromete, servindo-lhe de agravante.

FRAUDE

BERNARDO GUILHERME MAAHS também é autor de seu


falso registo de nascimento, obtido do cartório do Registo Civil de
Nascimentos de Iraí. Para isso, aproveitando-se da vigência de um
decreto federal que facilitava os registos, prestou declarações inverí-
dicas, dizendo-se nascido em Santa Cruz, neste Estado . Este crime de
falsificação de documento é agravado com o de sua utilização para
fins eleitorais.
Maahs expediu, telegraficamente, ordem de pagamento ao Ban-
co Pfeiffer S/A., sem ter fundos para tal fim. Wolfgang Neise foi
mais longe: emitiu cheques com data antecipada e sem possuir, igual-
mente, fundos no Banco Germânico, de São Paulo, a quem eram
dirigidos .
ALISTAMENTO MILITAR

Outro desdobramento das atividades ilegais de Maahs e Neise


foi o alistamento militar para o exército alemão.
Neste setor, Maahs e Neise colhiam os dados de identidade dos
interessados, forneciam-nos ao consulado, de que recebiam, depois,
os respectivos atestados de apresentação (Bescheinigung), entregan-
do-os aos alistados . Em certos casos, forçavam ao alistamento os
que não queriam fazê-lo espontaneamente, como aconteceu com as
testemunhas José Krause e Artur Eisen, que foram ameaçados por
Maahs de perderem a cidadania alemã, caso não se alistassem. A
atitude de Krause foi levada ao conhecimento do consulado em
carta de 12 de novembro de 1939. Bernardo Maahs confessa que
advertia seus patrícios quanto às consequências a que ficavam su-
jeitos no caso de uma negativa, acrescentando, porém, que isso não
constituía uma ameaça . Neise foi o diligente auxiliar de Maahs,
A 5. COLUNA NO BRASIL 299

neste rumo, realizando alistamentos sem sequer dar conhecimento


aos interessados, como fez com Augusto Heelfeldt.
Estas atividades são confirmadas por quasi tôdas as testemu-
nhas arroladas, inclusive pela amante de Neise, Sibila Roelli. Re-
ferem-se a elas as cartas de 29-9-39 e 28-11-39, do consulado alemão
para Maahs.
Ao lado do alistamento militar para fins de guerra, também o
sorteio militar para o serviço normal do exército alemão, ou o sim-
ples voluntariado, mereciam as atenções do hoteleiro de Iraí, como
se depreende da carta de 17-6-38, que dirigiu ao consulado alemão,
e as dêste para Maahs, com datas de 13-11-37, 30-11-37, 16-4-38 e
17-6-38.

MAAHS E NEISE PERANTE A LEI

Sob o ponto de vista exclusivamente legal, Bernardo Guilherme


Maahs e Wolfgang Neise incorreram em extenso número de san-
ções, que, a título de curiosidade, passamos a enumerar :

I - BERNARDO GUILHERME MAAHS incurso nas sanções :


1) Do Decreto-Lei n.º 479, de 8-6-1938 (Dispõe sôbre a expul-
são de estrangeiros) :
No artigo 1.0: por ser nocivo à tranquilidade pública e à
ordem política e social;
No artigo 2.0, letra a) : por atentar contra a dignidade da
pátria;
Letra c: por cometer crime eleitoral de caráter doloso.
2) Do Decreto-Lei n.º 383, de 18-4-1938 (Veda a estrangeiros
a atividade política:
No artigo 1.0: por exercer atividade de natureza política:
No artigo 2.º, inciso 2.0: por exercer ação individual junto
a compatriotas no sentido de obter adesão para partido
político;
Inciso 3: por usar distintivos de partido político estrangeiro;
Inciso 4: por organizar reuniões (de radiodifusão) com o
fim de propaganda, entre os seus compatriotas, de idéias,
programas ou normas de ação de partido político de origem
estrangeira, a-fim-de obter adesão .
3) Da Lei da Neutralidade:
No artigo 4.0: por ter realizado alistamento militar a favor
de país beligerante .
4) Do Decreto n.º 22.213, de 14-12-1932 (Consolidação das Leis
Penais) :
No artigo 97 : por aliciar, sem autorização do govêrno, gente
para serviço militar de um país estrangeiro;
300 AURELIO DA SILVA PY

No artigo 165, § 1.º : por fazer falsa declaração para fins


eleitorais;
§ 2.0: por usar documento falso para fins eleitorais;
No artigo 253 : por afirmar falsamente ao oficial público
a própria identidade ou estado.
II - WOLFGANG NEISE incorreu nas sanções:
1) Do Decreto-Lei n.º 479, de 8-6-1938 (Expulsão de estran-
geiros):
No artigo 1.0: por ser nocivo ao país, pelo seu procedimento;
No artigo 2.0: letra d : por falsificar papéis de crédito de
estabelecimento bancário;
Letra g: por ser vagabundo, visto não ter profissão defi-
nida, nem fonte de renda para seu sustento .
2) Do Decreto-Lei n.º 383, de 18-4-1938 (Veda a atividade po-
lítica a estrangeiros) :
No artigo 1.0: por exercer atividades de natureza política;
No artigo 2.º, inciso 2 : por exercer ação individual junto
a compatriotas, no sentido de obter adesão para partido
político;
Inciso 3 : por usar distintivos e uniformes de partido polí-
tico estrangeiro;
Inciso 4: por organizar reuniões radiofônicas, com o fim
de propaganda entre seus compatriotas, de idéias, progra-
mas ou normas de ação de partido político, a-fim-de obter
adesões.
3) Da lei de Neutralidade:
No artigo 4.0: por haver realizado alistamento militar a
favor de país beligerante.
4) No Decreto n.º 22.213, de 14-12-1932 (Consolidação das
Leis Penais):
No artigo 338: por emitir cheques sem ter suficiente pro-
visão de fundos;
No artigo 368, letra b: pela contravenção denominada
"Jogo do Bicho";
No artigo 404, § 3.0: por emitir cheques com data falsa.
5) Do Decreto n.º 24.258, de 16-5-1934 (Regula a entrada de
estrangeiros):
No artigo 8.º, alínea f, do respectivo Regulamento: por ter
ultrapassado o prazo de 6 meses que lhe foi concedido para
permanecer no país.
6) Do Decreto-Lei n.º 406, de 4-5-1938 (Dispõe sôbre a entra-
da de estrangeiros no território nacional):
No artigo 1.º, inciso VII : por não provar o exercício de
profissão licita ou possuir bens suficientes que lhe assegu-
rem a manutenção.
A 5. COLUNA NO BRASIL 301

FARDAMENTOS E DISTINTIVOS

Entre os objetos apreendidos pela polícia em poder de Neise


e de Maahs foram encontrados um fardamento completo de mem-
bro da S. A. (Secções de Assalto, Sturm Abteilungen) e numerosos
distintivos e insígnias nazistas . Reproduzimos, para melhor ilustra-
ção, os textos dos autos de apreensão lavrados a 27 de junho e 26
de julho de 1940 respectivamente, em Iraí, no Hotel Descanso:

AUTO DE APREENSÃO (NEISE)

"Aos 27 dias do mês de junho do ano de mil novecen-


tos e quarenta , nesta cidade de Iraí, no Hotel Descanso, de
propriedade de Bernardo Maahs, no quarto de dormir de
Wolfgang Neise, presente o subdelegado da primeira zona
dêste município, inspetor João Francisco de Borba, testemu-
nhas Carlos Werkhaeuser Júnior, Adolfo Schnell, Nereu de
Freitas Ribeiro e Martha Minikel, encarregada do referido ho-
tel, comigo, Sérgio Nogueira Neto, escriturário da subdelega-
cia de Polícia, passou a referida autoridade a fazer uma vistoria
nos objetos pertencentes a Wolfgang Neise, tendo encontrado
e apreendido o seguinte material : - UMA CAMISA KAKI,
tipo americana, tendo na manga esquerda um bracelete com a
cruz gamada, um distintivo metálico e os dizeres "K.W.Z.
2 /II/30". (Fardamento de membro da Central Motorizada
das Secções de Assalto ( S.A. ) de Brandenburg, secção de
Berlim ) ; UM TALABARTE ; UM GORRO PĂRA ÀVIA-
DOR, tipo rêde ; UMA GRAVATA KAKI ; UMA MEDA-
LHA DE BRONZE ; UMA PASTA DE COURO, contendo
cartas particulares, folhetos, cartões de visita, etc. , em número
de 160 ; UMA “CHATELAINE" para relógio, com o distin-
tivo do N.S.D.A.P.; UM DISTINTIVO DA AVIAÇÃO
ALEMA ; UM DISTINTIVO DE METAL, com os seguin-
tes dizeres : "Das Deutsche Volk muss ein Volk von flie-
gern werden Hermann Goering" , cuja tradução é a se-
guinte: "O POVO ALEMÃO DEVERÁ SER UM POVO
DE AVIADORES Hermann Goering" ; UM DISTIN-
TIVO DE METAL, Luftsport Helft Deutschland (Aviação
de Desporto auxilia a Alemanha) ; UM DISTINTIVO DE
METAL AMARELO, do N.S.D.A.P. , Deutschland ist er-
wacht (A Alemanha despertou ) ; UM DISTINTIVO do
Partido Comunista Russo, com a foice e o martelo no inte-
rior de uma estrêla vermelha ; UM DISTINTIVO DA
N.S.D.A.P.; UM LIVRO (Mit Hitler in die Macht ) de au-
toria de Otto DIETRICH. Traduzido : Com Hitler no Po-
der; UM LIVRO intitulado HITLER --- Eine Deutsche Be-
wegung, de autoria de E. CZECH-JOCHBERG ; UM LIVRO
intitulado KAMPF UM BERLIN (Luta por Berlim ) , da au-
toria de Goebbels ; UM LIVRO sob o titulo: VOM KAI-
SERHOF ZUR REICHSKANZLEI (DA Côrte do Impera-
302 AURELIO DA SILVA PY.

dor à Chancelaria do Reich ) , de autoria do dr. Joseph Goeb-


bels; UM LIVRO intitulado "ESPIONAGE" , de autoria de
H. R. Berndorff. E, para constar, mandou o sr. Sub-Dele-
gado lavrar o presente têrmo que, lido e achado conforme
pelas testemunhas, depois do respectivo confronto, assina com
estas, indo por mim subscrito.

(Ass. ) João Francisco de Borba


Carlos Werkhaeuser Júnior
Adolfo Schnell
Nereu de Freitas Ribeiro
Martha Minikel
Sérgio Nogueira Netto."

AUTO DE APREENSÃO (MAAHS )

"Aos vinte e seis dias do mês de julho do ano de mil


novecentos e quarenta, nesta cidade de Iraí, no Hotel Des-
canso, de propriedade de Bernardo Guilherme Maahs, nos
seus aposentos particulares, presentes o senhor subdelegado
de polícia da primeira zona, inspetor João Francisco de Bor-
ba, e as testemunhas Carlos Werkhaeuser Júnior, Adolfo Sch-
nell, Nereu de Freitas Ribeiro e Martha Minikel, esta encar-
regada do referido hotel, comigo, Sérgio Nogueira Neto, es-
criturário da subdelegacia de polícia, passou aquela autoridade
a proceder a uma vistoria nos objetos de Bernardo Guilherme
Maahs, tendo encontrado e apreendido o seguinte material de
sua propriedade : UM LIVRO sob o título DER BOL-
SCHEWISMUS ALS TOTENGRAEBER (O bolchevismo
como coveiro) ; UM LIVRO intitulado VOLK UND HEI-
MAT (Povo e Pátria ) , editado em São Paulo ; UM LIVRO
intitulado DEUTSCHES LAND AM RHEIN UND MOSEL
UN SAAR (Terra alemã no Reno, Mosela e Sarre) ; UM
FOLHETO sob o título MORGEN (Manhã ) , publicação da
Juventude Nazista ; UM LIVRO ilustrado e intitulado DIE
SCHOENE HEIMAT ( A bela Pátria ) ; UMA BROCHU-
RA intitulada DER SUDETENDEUTSCHE (O alemão-
sudete) ; UM LIVRO intitulado BILDER AUS SOVIET-
RUSSLAND ( Ilustrações da Rússia Soviética) ; UM LI-
VRO ilustrado sob o título DEUTSCHLAND ZWISCHEN
TAG UND NACHT (Alemanha entre dia e noite) ; SEIS
MAPAS do Estado do Rio Grande do Sul ; UM MAÇO de
boletins de propaganda em língua alemã ; QUATRO EXEM-
PLARES da revista de instrução nacional- socialista DER VOR-
POSTEN (A Sentinela Avançada) ; CINCO EXEMPLA-
RES da revista oficial de instrução nacional-socialista DER
SCHULUNGSBRIEF (A Carta de Instrução ) ; QUATRO
EXEMPLARES da revista oficial do N.S.D.A.P. e D.A.F. ,
DER AUFBAU (Estrutura) ; UM EXEMPLAR da revista
oficial marítima DER DEUTSCHE SEEMANN (O maríti-
A 5. COLUNA NO BRASIL 303

mo alemão) ; UMA REVISTA de turismo, sob o título


DEUTSCHLAND IBERO-AMERIKA ; UM DISTINTIVO
do N.S.D.A.P. E para constar mandou o senhor subdelega-
do lavrar o presente têrmo, que, depois de lido e achado con-
forme pelas testemunhas, depois do respectivo confronto, assi-
na com estas, sendo por mim subscrito.

(Ass. ) João Francisco de Borba


Carlos Werkhaeuser Júnior
Adolfo Schnell
Nereu de Freitas Ribeiro
Martha Minikel
Sérgio Nogueira Neto".

Encerramos aquí o caso da espionagem em Iraí. A seguir, pro-


cederemos à narrativa de outros casos importantes do mesmo gê-
nero. Através da leitura ver-se-á como se desenvolvia a ação dos
agentes do Partido Nazista e da Gestapo no Estado do Rio Grande
do Sul, a qual a polícia, por meio de seu serviço de contra-espiona-
gem, conseguiu neutralizar.

" Eu necessito do povo alemão na luta que dirijo


para a sua própria salvação, na luta pela Igualdade
da Alemanha, na luta contra a insolência de outros
que ainda consideram a Alemanha inferior em seus
direitos ou que procuram agir de acordo com esta
opinião".
(Hitler Discurso de 20-3-1936, em Hamburgo).
"Minorias" e " Maiorias" alemãs
no Rio-Grande

66
Tôdas as correntes de sangue alemão fluem para
o Reich e aquí se unem com as suas passadas tra-
dições, seus símbolos e padrões e, sobretudo, aos
grandes homens dos quais os alemães de passados
períodos têm razão em se orgulhar ..."
(Hitler "Minha Nova Orden " ).

Um dos lugares comuns preferidos pelo nazismo para se ames-


clar na vida interna de um país estranho é a suposta libertação das
minorias alemãs cujos interêsses poderão ser "defendidos e atendi-
dos unicamente pela Alemanha". Secundário é para os nazistas se
naquele ou naqueles países há efetivamente uma minoria alemã
do ponto de vista do direito internacional.
No Brasil, como nos demais países da América do Sul , não há
e nunca houve minorias de espécie alguma. Para a compreensão
dêste ponto, no nosso caso, talvez nos baste aquí dizer que somos
um país de imigração, com uma raça ainda em formação, mas já
com tendências definidas, e na qual entram proporcionalmente con-
tingentes de tôdas as correntes imigratórias. Tal como se formaram
as outras raças, inclusive a alemã, que é uma raça composta, como
será a nossa .

Demais, pelo nosso direito, que é automaticamente aceito por


quem livremente apela para a nossa hospitalidade (o que também
acontece na Alemanha), aquí só há duas espécies de cidadãos : o
nacional e o estrangeiro. O primeiro é o que nasce no Brasil, indi-
ferentemente à origem dos pais. O segundo é o que imigra para cá,
indiferentemente ao motivo que o traga.
A nova constituição da República deixa bem clara esta defini-
ção. As disposições que regulam a lei são publicamente conhecidas
e não deixam lugar a dúvidas.
Os nazistas, porém, se especializaram numa tática inversa do
"fair play" : o "jôgo sujo". O que vale para êles, não vale para os
A 5. COLUNA NO BRASIL 805

outros povos, e muito menos para as "sub-raças de mestiços ". Para


isto , êles são o Herrenvolk, a raça de senhores .
E assim pretendem êles criar entre nós uma minoria alemã,
orientada e dirigida pela chefia nazista da Alemanha. A questão
foi muito mais longe do que geralmente se imagina . Para a Alema-
nha nazista existe uma minoria alemã no Brasil.
Vamos prová-lo.

ONDE APARECE UM MAPA DEMONSTRATIVO

Em Leipzig, no "Institut fuer Auslandskunde, Grenz-und Aus-


land-deutschtum ", foi organizado um mapa da América do Sul de-
monstrativo das minorias e maiorias alemãs existentes neste hemis-
fério. (doc. N.º 50) .
O Rio Grande do Sul é um dos Estados que mais atraem a
atenção alemã. Subtraindo-se dêle as minorias e maiorias, veremos
com surpresa que pouco sobra para o Brasil.
Uma questão sempre oportunistamente desmentida e rebatida
aparece neste mapa como uma verdade alarmante.
As cidades com minorias alemãs são em grande número. Ve-
mos entre elas: Candelária, Carasinho, Cruz Alta, Passo Fundo,
Ijuí, Roca Sales, Triunfo, Bom Retiro, São Pedro, Santa Maria,
Pindorama, Gramado, Canela, e os nossos portos : Pelotas e Rio
Grande. A capital do Estado possue igualmente uma minoria alemã.
O mapa demonstrativo nos oferece, porém, um fato completa-
mente ignorado ainda por todos os brasileiros: o de QUE EXIS-
TEM LUGARES EM NOSSO ESTADO COM MAIORIA ALE-
MÃ. A minoria é, portanto, de brasileiros.
Entre as cidades com maioria alemã temos : Novo Hamburgo,
Caí, Santa Rosa, Santa Cruz, Serro Azul, Cachoeira, José Bonifácio,
Teutônia, Monte Negro, Marcelino Ramos, Agudo, São Leopoldo,
Cêrro Branco, Taquara, Igrejinha, etc.
Os nomes dos lugares acima enumerados não são todos os que
constam do mapa. Tiramos exemplos. Para ver até onde vão as
minorias e maiorias basta examinar o mapa reproduzido neste livro.
Há interferência oficial da parte dos dirigentes da Alemanha
na questão da criação de minorias em países estranhos?
Sem vacilar, podemos responder afirmativamente.
Em primeiro lugar, êsse mapa saiu de um instituto oficial da
Alemanha e notório é que não há, na Alemanha atual, nenhuma
organização que não seja controlada e dirigida pelo Partido Na-
zista . Por conseguinte, trata-se de um mapa oficial e a responsabi
lidade de sua publicação cabe totalmente ao govêrno alemão .

20 5. C.
806 AURÉLIO DA SILVA PY

OUTRAS PROVAS INCONTESTAVEIS

Há ainda outras provas para concretizar esta acusação. No


anuário do Partido Nacional-Socialista, de 1940, há um artigo de
autoria do Conselheiro da Justiça do " Reich", Dr. Horst Lubbe,
Chefe do Departamento de Direito da Organização do Exterior do
Partido Nacional- Socialista, o qual trata de maneira especial do di-
reito do alemão nos países estranhos.
Num outro capítulo dêste livro, sob o título “Panorama geral do
Nazismo na América do Sul ", estão reproduzidas as partes essenciais
dessa publicação do anuário.
Em síntese, o tratado do eminente conselheiro nacional -socia-
lista, em tom arrogante, quer prevenir os países cujas normas regu-
lamentares da situação dos estrangeiros são inconvenientes à Ale-
manha de que tratem de mudar sua orientação, pondo-a de acordo
com o "direito internacional do estrangeiro" do ponto-de-vista na-
cional-socialista.
Há entre a publicação do anuário nazista e do mapa demons-
trativo uma afinidade que não deixa dúvidas sôbre o fundo da
questão, O ESPAÇO VITAL ALEMÃO, cuja conquista não res-
peita leis, nem fronteiras, nem constituições.
Exagêro? Absolutamente não.
O anuário nacional-socialista de 1938, tão oficial como o de
1940, acima citado, traz uma publicação sob o título "Alemães no
Universo", cujo assunto gira em tôrno dos alemães do Exterior que
representam as minorias alemãs. O artigo cita, à página 322, uma
declaração do estadista brasileiro Melo Franco, segundo a qual o
espírito dos tratados da “Liga das Nações”, com respeito às mino-
rias, é o da assimilação gradativa destas à estrutura da nação. Con-
tra isto, o autor do artigo sustenta que, após 1933, surgiram as me-
lhores fôrças racistas defensivas dentre os grupos alemães, que, em-
bora não sendo ainda uma organização juridicamente reconhecida
para combater aqueles rumos, criaram uma situação nova, impos-
sível de ser desmentida e perante a qual os aproveitadores de trata-
dos terão um dia de prestar contas.
Entre as nações atingidas pela ameaça e as insinuações do ar-
ticulista desta publicação oficial alemã figura de maneira saliente
o Brasil. Por duas vezes há alusão a nós : uma vez, na mesma pá-
gina, quando se declara que os colonos rio-grandenses, nascidos
aquí mas descendentes de alemães, são considerados alemães, e a
outra vez, no caso acima relatado.
E os exemplos desta natureza são inesgotáveis. Vamos apresen-
tar mais alguns.
A 5. COLUNA NO BRASIL 807

"UM PEQUENO PEDAÇO DA ALEMANHA", NO BRASIL.

Em 1933, foi impresso em Stuttgart uma brochura sob o título:


"Neu-Wuertemberg ―― Eine Siedlug Deutscher in Rio Grande do
Sul, Brasilien", a qual, em sua introdução, assinada por Manfred
Griesebach, se referia a Pindorama do seguinte modo :

"Neu-Wuerttemberg é o centro espiritual e econômico


de tôda a região colonial serrana do Rio Grande do Sul. Ela
representa, como bem diz o "Deutsche Post" de São Leopoldo
de 11 de maio de 1928:

"Um pequeno pedaço da Alemanha, que, mesmo com


uma existência de quase 40 anos, ainda possue a vida, costu-
mes e maneiras alemãs" . Com o seu desenvolvimento, deve
encorajar-se e fortalecer-se tôda a comunidade alemã do Brasil”.

Esta mesma publicação, que é todo um conjunto de germanis-


mo exaltado, traz em seu prefácio, como apresentação, o seguinte
trecho realmente impressionante :

"Com a publicação dêste opúsculo sôbre a nossa linda


Neu-Wuerttemberg, tencionamos duas cousas: primeiro, que-
remos mostrar ao povo alemão, no qual há cada vez maior
interêsse pelos alemães do Exterior, como foi criada e desen-
volvida aquí no distante Brasil, sob grandes sacrifícios e tam-
bém sob organização alemã ideal e ativa, uma colonização
que com todo o seu amor à nova Pátria conserva seu caráter
puramente alemão, e onde vivem hoje felizes cêrca de 12.000
alemães" .

São dois casos onde se pretende focar a existência de uma


maioria alemã, embora Pindorama, o "pivot" do assunto, esteja
assinalado no mapa como “minoria”.
Antes de encerrar êste capítulo, vamos dar a palavra ainda ao
sr. Hans Henning von Cossel, ex-chefe nazista do Brasil e atual-
mente membro do corpo diplomático da embaixada alemã do Rio.
Eis o que êle afirma numa reportagem sua no anuário "Wir Deu-
tsche in der Welt", ano 1935, página 49, sob o título “Uma viagem
pela comunidade alemã no Brasil":

"Quando a gente chega da velha Pátria e se aproxima,


pela primeira vez, do continente sul-americano ― geralmente
é a Capital Federal, Rio de Janeiro -- as ilhas cheias de pal-
meiras, na entrada, nos causam uma impressão deveras estra-
nha, tão tipicamente tropical, que nem sequer por um mo-
mento há uma reflexão sobre como é grande a influência ale-
mã em outras partes do Brasil” ,
308 AURELIO DA SILVA PY

E êste mesmo leader nazista, o verdadeiro organizador do na-


zismo no Brasil, que logo após a proibição conseguiu embarcar para
a Alemanha para depois voltar "imunizado " por um cargo diplomá-
tico, descreve o predomínio alemão em Blumenau, à página 55 do
mesmo anuário, da seguinte maneira:

"Blumenau é certamente a cidade do Brasil cujo nome


é mais conhecido na Alemanha. E' difícil imaginar o que
significa encontrar no centro da América do Sul uma cidade
onde há dificuldade para se ouvir ao menos uma palavra em
português, onde tôdas as casas fazem recordar uma cidade da
Alemanha Central e onde tôdas as casas de negócios e seus
letreiros são alemães. Vêem-se, lá e cá, algumas palmeiras,
mas elas nos parecem deslocadas num lugar em que até os pou-
cos negros falam o alemão e se sentem bons patrícios alemães. "

Exemplos como estes há em quantidade, desde os " inofensivos"


até os "ofensivos". A literatura nazista destinada ao Brasil é repleta
de tais enxertos oriundos de mentes exóticas.
Um mapa dividindo o Brasil já não nos causa mais tanta es-
tranheza, nem admiração, depois de termos lido estes exemplos de
fontes oficiais.

COMO SE TENTOU " FABRICAR" EM NOSSO


ESTADO UMA MINORIA ALEMÃ

"Todos os alemães desta terra " (Brasil) " são teuto-brasileiros,


isto é, já nascidos aquí."
Esta frase sugestiva, que exprime o ponto-de-vista nacional-
socialista, encontra-se no número especial da revista "Der Deutsche
im Ausland", dedicada especialmente ao Brasil e editada pelo "De-
partamento Exterior do Instituto Central de Educação e Instrução. ”
Temos aí uma declaração oficial. Quem nasce no Brasil bem
pode ser também alemão .
Pela fórmula "Sangue e Raça", pretende o nacional-socialismo
desviar do seio de nossa nação milhares e milhares de cidadãos, que,
embora descendentes de alemães, nem sequer sonham com uma li-
gação com a Alemanha . Todos, sem exceção, mesmo os de quarta,
quinta ou sexta geração, o nazismo os engloba num Reich alemão
fictício.

OS DESCENDENTES DE ALEMÃES PASSAM A SER


"ALEMÃES DO EXTERIOR"

Os descendentes de alemães nem sempre foram designados como


teuto-brasileiros; nestes últimos tempos, receberam de parte da Ale-
A 5. COLUNA NO BRASIL 309

manha uma nova qualificação, "Auslandsdeutsche", ou seja


"Alemães do Exterior." Folhemos o anuário nacional-socialista de
1938. A página 320, sob o título "Os Alemães no Universo ", lemos
o seguinte:

"O termo "Auslandsdeutscher" é complexo. No uso


comum da língua, quer se designar com isso os alemães natos
do "Reich" , numa forma de abreviação não aceitável, por-
tanto. "Volksgenossen" são os que possuem a cidadania
alemã e se dedicam a um mister, dentro de país estranho,
como técnicos ou comerciantes, e os quais em geral têm a in-
tenção de regressar novamente à Alemanha. Contrariamente
a êles, os verdadeiros alemães do Exterior são os "Volksge-
nossen” , alemães de nacionalidade estranha, como por exemplo
os colonos alemães do Rio Grande do Sul, que por sua cida-
dania são brasileiros."

A-pesar-de um pouco confusa, é esta uma técla em que batem


todos, os grandes e pequenos nazistas, os educadores germânicos, os
chefes nazistas, e, lamentavelmente, também muitos teuto-brasilei-
ros, uns por conveniência, outros por ignorância e, ainda aiguns, por
ingratidão .
Como quer que seja, a moda pegou.
Numa publicação de Curitiba, do ano de 1926, cujo criador é
o dr. Ernesto Niemeyer, vemos à página 75 :

Nós, os teuto-brasileiros, somos os herdeiros do espírito


alemão. A língua materna e as recordações dos nossos ascen-
dentes nos inspiram um amor à Alemanha que é quase pro-
fundo como um acontecimento pessoal."

Argumento idêntico é usado pelo escritor dr. Karl Heinrich Obe-


racker numa publicação de 1928, sob o título "A situação política
da comunidade alemã no Rio Grande do Sul" . À página 29, sob o
título “ Raça e Língua”, lemos :

"Na expressão Comunidade Alemã Rio-Grandense se su-


bentendem todos os rio-grandenses que diferem de seus con-
cidadãos por sua descendência alemã , isto é, por sua ligação
à comunhão do sangue germânico, pelo uso da língua mater-
na alemã e por seus costumes alemães. E' , em tal caso, indi-
ferente se os seus ascendentes foram da Alemanha, da Suíça,
Austria, Rússia ou de outro país qualquer.”

Este é o ensinamento dado aos nossos compatriotas de origem


alemã e êste, o espírito da educação nazista ministrada nos colégios
alemães do nosso Estado.
310 AURELIO DA SILVA PY

A germanização do indivíduo deve começar em casa, pois os


dez mandamentos do "Auslandsdeutsche" determinam, em dois de
seus ítens:

Zelar para que teus filhos falem e pensem em alemão,


pois êles usam o teu nome ;
Zelar para que em teu lar e nas reuniões de tuas socie-
dades se fale alemão entre alemães.

Cumprindo a determinação procedente do " Reich ", alemães e


teuto-brasileiros daquí educam seus filhos num espírito essencial-
mente germânico, sufocando todo e qualquer sentimento de bra-
silidade.
Nos colégios, a educação segue a mesma orientação .
A igreja alemã não é menos politiqueira, como provamos nos
capítulos dedicados aos pastores alemães e à sua atuação em nosso
Estado.
O adolescente sai do colégio bem germanizado e sabe que per-
tence à raça ariana. Quando se casa, trata de procurar uma compa-
nehira de sangue igual, seguindo os conselhos dos educadores na-
zistas.
Associa-se, já moço, às sociedades existentes, onde tem ocasião
de cultivar os costumes e tradições alemães. Essas sociedades, com
raras exceções, são filiadas à VDA ou VDV, com sede em Berlim .

LEGENDAS E CASOS EXPRESSIVOS

Para que não haja dúvida sôbre a posição política definida


destas organizações, citamos estas legendas da VDA:

"Por que a VDA é forte?


Porque a VDA se funda decididamente no terreno do
pensamento germânico, isto é, no terreno nacional-socialista;
Porque os chefes da VDA são, sem exceção, nacional-
socialistas de espírito e não só de filiação;
Porque o verdadeiro membro da VDA é um verdadeiro
nacional-socialista, isto é, pela VDA êle se dirige confiante-
mente para o nacional-socialismo."

Isto pode ser lido na publicação oficial dessa organização, edi-


tada sob o título "Sinn und Wesen des VDA", de autoria do dr.
Phil. Otto Schaefer, chefe regional da VDA.
O teuto-brasileiro é, assim, completamente desviado de seu ca-
minho patriótico . Considera-se alemão e defende cegamente a
causa germânica, sem refletir e sem pensar. Se houvesse reflexão,
não haveria casos como o que vamos narrar.
A 5. COLUNA NO BRASIL 311

Por ocasião dos preparativos para a comemoração do primeiro


"Dia do Colono", em homenagem ao centenário da imigração ale-
mã no Brasil, um grupo de orientadores teuto-brasileiros se dirigiu
ao governo alemão para que o então presidente Hindenburg desse
apôio moral ao acontecimento .
O pedido foi atendido. O velho marechal Hindenburg reme-
teu aos teuto-brasileiros uma curiosa mensagem, assinada pelo pró-
prio punho e concebida nos seguintes termos :

"Amor à nova Pátria,


Fidelidade à velha Pátria-Mãe .
Este deve ser o sentimento de união de todos os brasi-
leiros de sangue alemão.

(Ass. ) Von Hindenburg.


Berlim, 3 de fevereiro de 1933."

Esta mensagem, é lógico, foi redigida em alemão, e a tradução


que reproduzimos é estritamente literal.
Os leaders teuto-brasileiros, entretanto, ao receberein esta men-
sagem, não se sentiram muito bem com a expressão "fidelidade" à
Alemanha. Não porque não estivessem satisfeitos pessoalmente e
de acordo com Von Hindenburg, mas porque sabiam muito bem
que isto, publicado, traria complicações ou ao menos a reação da-
queles descendentes de alemães que não sentem nem amor, nem
fidelidade à Alemanha, simplesmente porque são brasileiros bons
e concientes.
O assunto foi resolvido então de maneira bem simples. А A
mensagem de Von Hindenburg foi substituída por uma proclama-
ção teuto-brasileira, feita pela “ Associação 25 de Julho", da qual
era presidente em nosso Estado o sr. Fritz Rotermund, de São Leo-
poldo. Eis a redação :

"Em memória de nossos pais!


A nós, como doutrina!
A bem de nossa Pátria !"

Também esta legenda apareceu em alemão e foi distribuída


aos milhares em forma de cartazes.
A saudação original de Hindenburg foi vista só “internamen-
te", enquanto em público aparecia apenas a proclamação local.
E' esta uma página lamentável da história dos descendentes de
alemães, vítimas de uma propaganda tenaz de desvirtuamento do
espírito cívico realizado pelo nacional-socialismo alemão, que, com
a sua doutrina, visava claramente a formação de uma miñoria ra-
cial e política entre nós,
312 AURELIO DA SILVA PY

A tempo, o Brasil despertou para sanar o mal, já bastante en-


cravado. A nacionalização foi uma medida de urgência, pois nos
encontrávamos à beira do abismo.

PRECONIZADO O RECONHECIMENTO DA "NOVA GRANDE


PATRIA ALEMA

O nacional-socialismo, porém, não perde oportunidade para


demonstrar seu descontentamento para com a nova orientação na-
cionalista do Brasil . A medida do nosso govêrno foi encarada como
"política de desnacionalização de uma minoria. ”
O " Guia Industrial e Comercial Alemão-Brasileiro", editado
em 1939 pela "Hansiatische Verlagsanstalt" de Hamburgo/ Berlim,
e compilado pelo dr. Karl Trucksaess, é uma publicação comercial
que visa estreitar os laços de amizade entre o Brasil e a Alemanha.
Uma série de artigos de homens proeminentes na vida política, eco-
nômica e pública da Alemanha enriquece a obra. Entre êles há
uma colaboração, redigida em português, sob o título “ As relações
nacionais e culturais", de autoria do dr. O. Quelle, professor da
"Escola Politécnica Superior de Berlim-Charlottenburg" . O artigo
enaltece os grandes feitos culturais, artísticos e econômicos dos ale-
mães no Brasil e sua participação no progresso do nosso país . Até
aí, tudo bem.

Mas, o autor, no final de sua dissertação, toca numa questão


interna do país, as medidas de nacionalização, esquecendo-se por
completo de que o Brasil é uma casa alheia.
Vamos repetir as palavras do autor, para que o leitor faça o
seu próprio julgamento :

"Os teuto-brasileiros dos centros urbanos já estão mos-


trando bastantes indícios de desnacionalização.
A isso vem juntar-se mais uma cousa. De alguns anos
para cá sente-se no Brasil, como aliás em outros Estados sul-
americanos, uma forte corrente nacionalista . O lema é: re-
pressão e quasi completa supressão da língua alemã como
língua de ensino nas escolas. Depois, veio a dificuldade de
os alemães não poderem participar livremente, como até en-
tão, do desenvolvimento da vida econômica do Brasil. Os
dispositivos da Constituição Brasileira de 1937 foram duma
importância decisiva nesse tocante. Não resta dúvida que a
posição dos teuto-brasileiros e também a conservação do seu
caráter, foram profundamente influenciados por estas medi-
das. Ainda é impossível julgar dos efeitos dêsses dispositivos
sôbre o total da população de língua alemã. Uma coisa,
porém, é certa : a quantidade infinita de bens culturais leva-
dos da Alemanha ao Brasil, que vieram enriquecer a sua vida
econômica e intelectual em tão larga escala, nunca será per-
A 5. COLUNA NO BRASIL 313

dida se os alemães QUE NASCERAM NO BRASIL e acha-


ram aí sua nova pátria, se dirigirem em tôdas as suas ações
por um profundo sentimento de reconhecimento pela terra on-
de nasceram e pela NOVA GRANDE PÁTRIA ALEMÁ,
de que, antigamente, emigraram os seus antepassados e na
qual está enraizada a sua vida intelectual."

A linguagem é clara. Diante desta verdadeira conspiração


branca sucumbiram inúmeros patrícios nossos que, a-pesar-de todos
os pesares, continuam supondo que são bons brasileiros e grandes
patriotas.
Ainda a questão dos pastores protestantes

" Não podemos admitir que esta autoridade (a do


govêrno) , que é a autoridade do povo alemão, seja
atacada por qualquer outro poder. Isto também se
aplica a tôdas as Igrejas. Enquanto se ocuparem
com os respectivos problemas religiosos, o Estado
não se imiscuirá nos negócios eclesiasticos" .
(Hitler - Discurso de 1-5-1937, em Berlim).

A época atual, tormentosa e sensacional, traz com frequência ao


nosso conhecimento fatos que dantes nos pareceriam inacreditáveis .
Já não nos surpreende que até a religião seja levada pela tor-
rente do nazi-fascismo, servindo de instrumento para sua ação polí
tica.
Outrora, usavam-se as vestimentas e as credenciais do sacerdote
para mascarar um espião que não tinha relação alguma com religião.
Um sacerdote verdadeiro dificilmente se prestaria para semelhante
missão.
Hoje, já não é assim. Sacerdotes autênticos dedicam-se, ao lado
da profissão eclesiástica, a atividades políticas em favor de seu país
de origem. Trata-se, lamentavelmente, de um fato verídico e pro-
vado. Nosso próprio Estado não deixou de ser visitado por muitos
dêsses agentes político-religiosos.
Se os referidos sacerdotes se limitassem a servir a pátria de ori-
gem, auxiliando os cônsules como confidenciários e agentes de in-
formação, não podíamos ser tão rigorosos na sua acusação . Não foi,
porém, isso que aconteceu . Houve por parte dessa espécie de reli-
giosos uma ingerência culposa e inconveniente na vida política in-
terna de nosso país, com o pleno conhecimento do governo alemão.
Examinemos o testemunho eloquente dos fatos.
Nos dias 6 e 7 de junho do ano de 1939, houve na cidade de
Potsdam , Alemanha, um Congresso da "Associação dos antigos e
atuais pastores protestantes no exterior", cuja sede é em Koenigs-
berg. Dirigia os trabalhos o presidente da organização, pastor Blied-
ner. Estavam presentes 30 pastores protestantes e certo número de
convidados de honra.
A 5. COLUNA NO BRASIL 315

Durante o Congresso, diversos problemas foram ventilados, ten-


do havido discursos, dissertações e debates. Entre as questões deba-
tidas houve esta:

"QUE DEVEMOS FAZER NOS CASOS EM QUE


UMA DESGERMANIZAÇÃO SE APRESENTE INEVI-
TÁVEL ?"

Tratou do assunto, numa longa palestra, o pastor Dedekind,


natural de Elberfeld, que, com expressões "impressionantes", focou
o problema em sua forma moderna.
Uma reportagem, que se encontra na revista "Der Deutsche
Ansiedler", publicação da " Ordem evangélica dos protestantes ale-
mães da América do Sul”, faz a seguinte referência sôbre o espírito
da conferência do pastor Dedekind :

"Ele apresentou uma vista geral da situação dos alemães


evangélicos no Brasil, que estão sendo atingidos seriamente
pela pressão de uma violenta perseguição antialemã em diver-
sos Estados daquele país. O caminho, adotado pelo Brasil
para criar um povo brasileiro integral, NOS PARECE ER-
RADO. O procedimento brutal de alguns luso-brasileiros
exaltados contra tudo que é estranho e contra os povos imi-
grados no Brasil SÓ PODE REDUNDAR EM PREJUÍZO
DO PRÓPRIO BRASIL".

Problemas internos do Brasil debatidos num congresso alemão


na Alemanha!
Mas não é a primeira vez que essa ordem evangélica se intro-
mete em assuntos internos de nossa pátria. O "Deutsche Ansiedler",
o porta-voz da referida organização, quase que em todos os números
traz referências desabonatórias ao Brasil e até ataques pessoais ve-
xatórios a membros do nosso govêrno, dentre os quais o mais pre-
ferido, como alvo, é o Ministro Osvaldo Aranha.
Ignorará a censura alemã, célebre pela sua precisão de controle,
estes fatos?
Um outro pastor protestante, Max Strauss, publicou em 1935
uma brochura sob o título "Vista da atividade colonial alemã no
Estado do Rio Grande do Sul", onde é exposta a teoria racial aria-
na, da qual o referido autor se apresenta como brilhante defensor.
O pastor Max Strauss é inimigo da mistura de raças e, sem dúvida
seguindo ordens superiores, combate tenazmente tôda a política de
assimilação.
Vamos citar um trecho da obra dêsse pastor, à página 31 :

"O colono alemão não quer trair, nem jamais trairá,


seus bens culturais. Ele sabe que conseguiu progredir unica-
mente por causa das virtudes e valores de seu ser germânico.
316 AURELIO DA SILVA PY

Ele verifica em diversos exemplos reais que onde o colono ale-


mão se absorve pela assimilação, onde trai a origem, surge
uma queda moral profunda. Os descendentes de tão triste
mistura de raças são indivíduos impotentes, não são mais
aqueles homens vigorosos, trabalhadores e disciplinados que
sempre vencem e resistem a tôdas as crises, progredindo sem-
pre. São geralmente uma espécie humana infetada com os
vícios das duas raças."

Outro exemplo que merece citação é o da obra do pastor Sieg-


fried Heine : "Als deutscher Pfarrer und Schulleiter in Suedbrasi-
lien", que traz a seguinte nota à guisa de apresentação :

"ESTA PUBLICAÇÃO PASSOU PELA COMISSÃO


OFICIAL DE CONTROLE EM DEFESA DE PUBLICA-
ÇÕES NACIONAL- SOCIALISTAS" .

Trata-se, portanto, de uma publicação oficializada pela referi-


da Comissão. Vamos nos ocupar agora de seu conteúdo, que é, todo,
um verdadeiro atentado ao Brasil. Página por página, deparam-se-
nos referências insultuosas ao Brasil ou ao seu povo.
Negros, mestiços, mulatos, preguiçosos, impotentes, fracassados ,
estes e outros são os termos usados pelo pastor Heine com referên-
cia aos brasileiros. O povo brasileiro não existe para o pastor Heine.
Se, na opinião dêste homem, se tirassem os alemães do Brasil, pou-
cos valores humanos sobrariam aquí.
Não podemos compreender como um homem de posição, de
responsabilidade e que conhece o Brasil, porque aquí viveu tantos
anos, pôde redigir tais absurdos, sem que a vergonha lhe estacasse
a pena .
Não vamos repetir tôdas as monstruosidades do pastor Heine.
O que queremos fazer constar claramente é que êle é, e foi aquí
no Brasil, um agente nazista. Na página 48, escreve como título de
um capítulo: "Minha luta política e o início do nacional-socialis-
mo".
Estamos à frente, pois, de uma confissão que deverá servir de
exemplo para aqueles que duvidam dessas cousas. Veja-se o que
diz o "religioso” nazista no prefácio :

"Que esta obra seja finalmente de utilidade para os jo-


vens nacional-socialistas que, como profetas do nome alemão,
vão pelo mundo afora."

Para satisfazer a curiosidade do leitor, transcreveremos mais


alguns trechos, que vêm fortalecer a nossa opinião:
A 5. COLUNA NO BRASIL 317

Pág. 9: "O número de teuto-brasileiros, portanto dos ALEMAES


QUE NASCERAM NO BRASIL como descendentes dos emi-
grados da Alemanha , é calculado em 700.000” .
Pág. 21: "Grande é o entusiasmo quando ouvem os sons da canção
"Horst Wessel" (hino oficial nazista ) . Pois merece obser-
vação que também em Santa Cruz existe um núcleo do Par-
tido Nacional - Socialista. O alemão no Exterior está plena-
mente convicto de que uma nova Alemanha só pode ser cria-
da com Adolf Hitler" .
Pág. 22 : "Existem diversos jornais alemães. O mais importante é o
“Kolonie" , que já nos anos de luta, antes da ascensão de Hi-
tler, se achava no terreno do nacional-socialismo e merecera
por isso o desagrado do então cônsul alemão Walbeck, con-
trário ao nazismo ."
Pág. 57: "O objetivo histórico dos alemães é EDUCAR OUTROS
POVOS."

Aí fala um representante da "raça de senhores" .

Pág. 57: "Se não conseguirmos a nossa liberdade cultural, repatriare-


mos os descendentes ao reino dos alemães ."

Tôda esta doutrina que inspirou o pastor Heine encontramos


também em outras publicações, que, entretanto, usam um tom mais
discreto.
Quanto à ameaça do pastor de que os alemães serão repatria-
dos, ela já foi, em parte, posta em execução.
E' interessante que, como executor do repatriamento, figure
também um leader nazista, que conseguiu fugir antes do encerra-
mento das atividades nazistas em nosso Estado . Trata-se de Walter
Hornig, o técnico e organizador das formações nazistas no Rio
Grande do Sul, o qual, pelos grandes serviços prestados aquí, foi
colocado num alto pôsto em Hamburgo, como chefe da "Organiza-
ção Exterior" . Dois telegramas procedentes de Hamburgo, publica-
dos no "La Plata-Post" de Buenos-Aires, ano de 1938, o confirmam :

"Hamburgo, 6 de julho. A bordo do "Monte Olívia” ,


chegaram hoje aquí 600 alemães vindos do Brasil. Como
representante do "Gauleiter" Bohle, foram os recém-vindos
recebidos pelo chefe da Organização Exterior em Hamburgo,
sr. Walter Hornig, e pelo chefe de Repatriamento, sr. Go-
peli. Os repatriados foram distribuídos em lares instalados
pela "Secção de Repatriamento" de Hamburgo, Berlim, Stutt-
gart, Priem em Chiemsee. Nesses lares ficarão os repatria-
dos até se conseguir trabalho para êles."
"Hamburgo, 6 de julho. Os 600 alemães do Brasil
que voltaram para a Alemanha se declararam contentíssimos
por se encontrarem novamente na Alemanha. Muitos se quei-
xaram das perseguições a que estão expostos os alemães no
318 AURELIO DA SILVA PY

Brasil. Um repatriado conta que, em diversas cidades, é proi-


bido se reunirem mais de 10 alemães num recinto. Outro
afirma que, em cidades de menos de mil habitantes, traba-
lham seis e mais policiais secretas, cuja única ocupação é es-
pionar os alemães. Um pedreiro narra que foi pôsto no xa-
drez somente porque cantou uma canção alemã, que até no
rádio se canta. A-pesar-de sofrer de hérnia, foi obrigado a
carregar água para cima de um morro, assim como tirar su-
jeira das cocheiras e das barracas dos lusos. Quando pergun-
tou por qual motivo tinha sido preso, foi-lhe feita a obser-
vação de que calasse a bôca, do contrário voltaria para o
xadrez. Certos jornais promovem uma campanha antialemã,
o que resultou em providências de categoria inferior, embora
o declarante julgue que o governo central não esteja de acôr-
do com essas providências antialemãs.”

Este trecho pode parecer sem relação com o tema principal,


referente aos pastores. Mas há relação : entre êsses 600 alemães se
encontravam muitos pastores que regressavam com as vítimas de
suas doutrinas.
Eles se foram, mas, infelizmente, outros vieram tomar seus lu-
gares. Entre êles encontram-se dois recentemente processados por
atividades nazistas públicas em Novo Hamburgo.
"ORDEM E PROGRESSO"

66
ou o alemão é o primeiro soldado do mundo,
ou deixa absolutamente de ser soldado. Deixar de
ser soldado nós não podemos e nem queremos. Por-
tanto, temos que ser os primeiros."
(Hitler - "Minha Nova Ordem" ) .

Uma família de Pôrto Alegre recebeu da Alemanha uma revis-


ta em que, segundo o remetente, há um "belo" artigo sôbre o Bra-
sil. O destinatário leu e achou "interessante", mas em sentido in-
verso do que nós costumamos usar êste adjetivo. A revista foi de
mão em mão, e, finalmente, veio parar na polícia.
Trata-se da revista oficial para o exército, marinha e aviação
alemães, intitulada "Wolk unr Wehr", publicação de junho de
1938. (Doc. n.º 51 ) . O artigo traz como título : "Ordem e Progres-
so", e como subtítulo : "Soldados de descendência alemã no Brasil".
Diversos instantâneos ilustram a dissertação e pretendem de-
monstrar quão grande é a harmonia entre o soldado de descendên-
cia alemã e o soldado "luso-brasileiro".
O artigo não traz assinatura. Portanto, é responsável a reda-
ção da revista militar alemã.
Feita esta apresentação, vamos transcrevê-lo na íntegra, em
tradução: (Doc. n.º 52).

"ORDEM E PROGRESSO "


Soldados de descendência alemã no Brasil
"Os pomeranos conquistaram do Brasil a Província do
Espírito Santo !"

"Nesta frase, gravada pelos brasileiros, se confessa o


grande respeito que têm os senhores do poderoso reino dos
Estados Unidos do Brasil por seus imigrantes alemães. ÊS-
ses pomeranos, que vieram ao Brasil pelo ano de 1850 e fo-
ram encaminhados, pelo então Imperador Dom Pedro II, ao
Estado de Espírito Santo ainda completamente bravio, tra-
varam uma luta de várias gerações contra a mata virgem e
320 AURELIO DA SILVA PY

as demais dificuldades do país, até conseguir transformar sua


nova pátria num exemplo perfeito de labor e tenacidade ger-
mânica. Dom Pedro, muito breve, concedeu aos seus novos
súbditos os direitos de cidadania, mas como brasileiros lhes
impôs também deveres. E assim é que, para os filhos dos
colonos alemães, representa um nobre dever prestar o servi-
ço militar no exército brasileiro.
"Esses jovens pouco sabem da Alemanha, muito pouco
também da vida de seus ascendentes. Mas uma coisa êles
sabem :

Que são alemães pelo sangue

"Eles estão, como os alemães de tôda a parte, bem ar-


raigados na terra conquistada das matas pelos braços incan-
sáveis de seus pais e avós e sempre prontos para defender,
até o último, essa terra conquistada pelas armas da paz.
"E' uma particularidade especial dos colonos alemães de
Espírito Santo, relativa ao seu caráter, a de êles terem vivido
completamente isolados desde sua imigração. Eles , por ve-
zes, perdiam todo o contacto com a grande pátria de todos
os alemães, mas também não encontravam, pessoalmente, no-
vas relações e ligações com os habitantes da terra. Esta orien-
tação foi, naturalmente, favorecida consideravelmente pelos
costumes do País, adversos a tôda e qualquer comunicabili-
dade. Considera-se, ainda hoje, pessoa muito viajada e ex-
periente quem alguma vez na vida esteve na Capital do Es-
tado, Vitória, ou foi até a Costa distante uns 60 quilôme-
tros. Quando, pois, uma classe militar é chamada, verifica-
se primeiramente que os jovens alemães quase não sabem falar
o português.
"A maior parte vem a conhecer automóvel, trem e uma
cidade pela primeira vez, durante a viagem ao quartel. Esta
obrigatoriedade de ter que sair da mata caseira para atender
o serviço militar lhes desvenda o mundo pela primeira vez
e lhes amplia o horizonte. Desta maneira, possue o serviço
militar um grande valor educativo . Mas, embora seus cos-
tumes sejam excelentes e bem alemães é tão cerrado o círculo
de sua vida particular, que esta gente, nas mais das vezes, an-
da um século atrás da época moderna. Isto provém em
parte do fato de o Estado brasileiro os ter deixado pratica-
mente com auto-administração . Só havia escolas alemãs,
onde os professores tentavam com sacrifício conservar-lhes não
somente a língua alemã, como também administrar-lhes pelo
menos alguns princípios fundamentais da língua brasileira.
"Por suas excelentes qualidades de caráter, por sua dig-
nidade e suas altas virtudes soldadescas, são os RECRUTAS
ALEMAES altamente apreciados no exército , Brasileiro.
"Alguns entre êles permanecem na tropa após o ano re-
gulamentar e são promovidos rapidamente.
"Ouve-se sempre afirmar por êles que feliz aconteci-
A 5. COLUNA NO BRASIL 321

mento foi quando, pela primeira vez em sua vida, vinham


a conhecer alemães do "Reich" na sede do Regimento, pois
não há quase nenhuma localidade grande no Brasil onde não
estejam radicados alemães. Desta maneira lhes oferece jus-
tamente, êste serviço prestado ao Estado brasileiro, uma nova
e aprofundada compreensão da comunidade alemã.

“E' O GERMANISMO dêsses filhos de colonos, NÃO


ABANDONADO EM TEMPO ALGUM, que os
torna cidadãos exemplares de sua pátria atual.
"São êles tão bons ALEMÃES conservando sua língua,
costumes e cultura, como são bons brasileiros, cidadãos de
um dos países de maior futuro do mundo.
"Ordem e Progresso" "Ordnung und Fortschritt"
êste lema do ANTIGO ESTADO FEDERAL BRASILEI-
RO, TRANSFORMADO HOJE em ESTADO UNITÁRIO
após a nova Constituição de 10 de novembro de 1937, este-
ve em data bem recente seriamente ameaçado por tentativas
de subversão por parte dos integralistas. Foi o exército bra-
sileiro, nesse momento, o único apôio do presidente brasilei-
ro, Getúlio Vargas. Se fracassou a revolta da segunda me-
tade de maio, foi só porque o exército brasileiro se conser-
vara fiel e foi possível mobilizar as tropas rapidamente, nu-
ma prontidão urgente e eficaz. Esta prova de segurança e
hombridade interna do exército brasileiro encontrou, porém,
em tôdas as épocas, seus melhores representantes entre os ele-
mentos de descendência alemã, embora CERTAS PROVI-
DÊNCIAS do presidente, assim como uma MANOBRA IN-
COMPREENSÍVEL de grupos estranhos ao povo, tenham
permitido a mal-intencionados professar justamente o contrá-
rio. Também nas fileiras do exército brasileiro havia um
grande número de adeptos ativos do chefe Salgado, de inte-
gralistas, e deve dar-se por isto maior importância ao fato
de a tropa ter permanecido fiel ao presidente, A-PESAR - DAS
DIFERENÇAS EXISTENTES" .

Tecer comentários sôbre um assunto desta espécie torna-se com-


pletamente desnecessário. E' assim que se desvirtuam os fatos e se
orienta a opinião pública na Alemanha. Não podemos acusar di-
retamente os diretores da revista militar, pois êles estão muito lon-
ge para examinar a procedência do artigo que lhes foi remetido.
Acusamos, porém, mesmo lhe ignorando a identidade, êsse es-
critor QUINTA-COLUNISTA que se encontra entre nós, usando
de tais meios de propaganda nazi .
Mas, não se trata de um caso excepcional, inédito.
Existem publicações análogas . Vamos reproduzir um “conto"
do livro "Os alemães no Brasil ", editado em alemão , em 1926, na
cidade de Curitiba e de autoria do dr. Ernesto Niemeyer.
Recorda o referido escritor a participação dos alemães na vida
21-5.ª C.
322 AURELIO DA SILVA PY

em geral do Brasil e enaltece a grande fidelidade dos alemães para


com os respectivos governos brasileiros. Conta fatos da Revolução
Federalista e cita um episódio histórico :

"Um oficial dos federalistas, portanto dos revolucioná-


rios, chegou com sua tropa a Joinville, cujos habitantes se
conservaram fiéis ao govêrno e nada queriam saber do conflito .
A tropa foi acampar fora da cidade. Adversários políticos
eram mortos, roubavam-se cavalos e vacas. O coronel revo-
lucionário necessitava, porém, de mais soldados. Ordenou
aos ginastas e atiradores de Joinville que se apresentassem ar-
mados com suas espingardas e carabinas. Pretendia incluí-los
à fôrça na sua tropa.
Depois de se acharem perfilados os 300 jovens, foi-lhes
ordenado que marchassem ao acampamento .
"Um brado deu a resposta :
"Nós ficaremos aquí, para nós mesmos mantermos a
ordem na cidade. Não necessitamos nem de vocês nem do
outro partido!"
E as carabinas se levantaram, prontas para o tiro.
O coronel bem sabia que os JOVENS ALEMÃES
ACERTAM NO ALVO quando atiram. Isto, seus mulatos,
negros e mestiços NÃO SABIAM FAZER.
De cara zangada, êle se retirou ...
E, contudo, tinha 1000 homens e três canhões à dis-
posição" .

Bonito juízo farão de nós os alemães no "Reich", ao lerem se-


melhante cousa, publicada no Brasil, por um escritor residente no
Brasil.
Objetivos da espionagem nazista

" O programa do nacional-socialismo substitue a con-


cepção liberalística do indivíduo pela concepção de
um povo ligado ao solo pelos laços do sangue. De
tôdas as tarefas que enfrentamos, a maior e mais
sagrada é a de preservar a própria raça.”
(Hitler - "Minha Nova Ordem" ) .

E' volumosa a matéria que poderia caber neste capítulo. Por si


só, encheria um livro. Temos assim que comprimí-la, adaptando-a
aos moldes do presente trabalho. Dos inúmeros casos de espionagem
nazista que passaram pela polícia sul-rio-grandense selecionamos al-
guns, para dar ao leitor uma idéia de quão alastrada se encontrava
a obra dos espiões pagos pela Cruz Gamada para semear o germe da
discórdia, do derrotismo e da revolução político-social em nosso meio.
Não se encontrará aquí o sensacionalismo romanesco que sem-
pre se espera em descrições de espionagem ; tão pouco nos ocupa-
remos com estudos de técnica de polícia secreta . Fiéis à intensão
dêste trabalho, trataremos de expor concretamente as manobras da
espionagem nazista entre nós, desarticuladas pelo serviço de contra-
espionagem da organização da polícia do Estado do Rio Grande
do Sul.
Foi uma luta tenaz, travada nos bastidores da pacata vida
gaúcha, além dos horizontes alcançados pelo público.

HIMMLER AOS ALEMÃES DO EXTERIOR

Evidentemente, não há no mundo organização alguma de espio-


nagem que não tenha um objetivo determinado. Do contrário, ela
perderia tôda a razão de ser. Muitas vezes é difícil desmascarar a
ação de um agente de espionagem, o que não impede que se obte-
nha um quadro preciso do objetivo por êle visado.
Seu objetivo pode ir até a mudança do regime político-social
do país que serve de campo à espionagem. Não há hoje, talvez, país
algum no mundo que não tenha surpreendido tentativas de agita-
ção, lançadas, como no nosso caso, pelo nacional-socialismo alemão.
324 AURELIO DA SILVA PY

A ação dos nazistas encarregados de espionagem no exterior é


traçada, conforme já o dissemos, pela Gestapo, de que é chefe Hein-
rich Himmler, um dos "Dez Poderosos" do Reich nazista. Vejamos,
para começar, os termos com que Himmler saudou em 1936 os na-
zistas do exterior:
Documento n.º 53

ic Nationalsozialißten im Ausland kämpfen heute denselben Kampf, den



wir Nationalsozialiſten in Deutſchland die langen Jahre vor Erreichung der

Macht gefämpft haben. Ihr Ziel ist dasselbe, was unser Ziel war :, Deutschland

erwache! Jeder Parteigenoffe der Auslands - Organiſation ſei gewiß, daß

hinter ihm, er mag in der weiten Welt ſichen wo er will, die geſamte Bewegung

mit ihrem Willen ſicht. Er ist nicht allein in feinem schweren Kampf, denn er

ist ein Zeil der großen Gesamtbewegung, die ihn niemals vergißt und ifin

mit ihrem Willen ſtårft.

Tradução do Doc. n.° 53

"Os nacional- socialistas no exterior desenvolvem hoje


a mesma luta que nós, nacional -socialistas da Alemanha, de-
senvolvemos durante os longos anos que precederam a nossa
ascenção ao poder. Seu objetivo é o mesmo que foi o nosso :
"ALEMANHA, DESPERTA ! " Esteja todo partidário da
"Organização Exterior" certo de que por trás dêle, seja qual
fôr a parte do mundo em que se encontre, ergue-se todo o
edifício nazista com o seu poder. Êle não se acha a sós na
luta tenaz, pois é apenas uma parcela da organização, que
dêle jamais se esquece e que o impulsionará para a consecução
da finalidade comum".
H. Himmler.
A 5. COLUNA NO BRASIL 325

Não há necessidade desta forma de incentivo utilizada por


Himmler em relação aos seus subordinados. Eles estão algemados
num círculo de férrea disciplina e ligados por sagrado juramento
ao movimento nacional-socialista. Eis o juramento:

"Juro fidelidade inquebrantável a Adolf Hitler e obediên-


cia incondicional aos chefes por êle designados" .

Ai daquele que romper o juramento ou se afastar do movimen-


to! Em outro capítulo, relatamos um caso desta natureza e suas
consequências para o homem que ousou afrontar a vingança na-
zista.
Por mais longe que o nazista se encontre, num país europeu ou
numa remota ilha do Pacífico, está sempre a par dos trabalhos do
nazismo. Mensalmente lhe vão parar às mãos os livros e jornais de
catequese e preparação. Entre estas publicações, destaca-se o "Na-
tional-Sozialistische Monatshefte" , que, desafiando a censura, sem-
pre consegue alcançar os destinatários.
Esboçando os objetivos da espionagem nazista, vamos mostrar
o que esta conseguiu no terreno prático.

CONSPIRANDO EM BERLIM CONTRA O BRASIL

Um grupo de teuto-brasileiros residentes na Alemanha teve em


1935 a idéia de se reunir em um círculo cultural, primitivamente
com a finalidade de cultivar o idioma português. Com o decorrer
do tempo, êsse círculo foi crescendo. Aumentou em número de só-
cios e, de acordo com as circunstâncias, também em campo de ação.
Do terreno cultural, passou para o político.
Em 1936, portanto apenas um ano depois da sua fundação, o
círculo já debatia abertamente problemas políticos brasileiros, lan-
çando a idéia de movimentar as suas hostes para uma ação genera-
lizada "em favor dos interêsses teuto-brasileiros" .
A iniciativa tomou vulto, pois nada lhe obstava o desenvolvi-
mento e o campo em que florescia era bastante fértil e generoso.
Foi assim que, já em 1937, se considerava em Berlim um fato con-
tado a breve mudança política no Brasil sob os auspícios da dou-
trina nacional-socialista e à base da superioridade da raça ariana.
Para assentar todos os planos de ação a serem desenvolvidos,
foi promovido um congresso do Círculo, o qual se realizou na ci-
dade de Berlim em maio de 1937. De tôda a parte do Brasil com-
pareceram elementos representativos das organizações nazistas lo-
cais para participar dos trabalhos dêsse congresso. Entre os que re-
presentaram o Estado do Rio Grande do Sul figuravam: o pastor
Knaepper, enviado do Sínodo Rio-Grandense ; o professor Kraemer,
diretor do "Colégio Farroupilha" de Pôrto Alegre e mais tarde fun-
326 AURELIO DA SILVA PY

cionário do consulado alemão da capital rio-grandense; o pastor


Schuetze, sacerdote protestante de Candelária; Gerhard Dohms,
brasileiro, filho do pastor Dohms, de São Leopoldo, diretor do Sí-
nodo Rio-Grandense; Karl Heinrich Hunsche, filho de conhecido
médico de Caí, o dr. Hunsche, e irmão do comerciante porto-ale-
grense Werner Hunsche; o conselheiro Praeger, ex-diretor do “Se-
minário Evangélico de São Leopoldo "; o pastor Lechler, que serviu
em Santa Cruz, Walter Nast, do Seminário de São Leopoldo, hoje
residente em Bagé; o dr. Pagel, ex-membro do Pró-Seminário de
São Leopoldo; o professor-viajante Unterleider, da Associação dos
Professores Católicos do Rio Grande do Sul, e pessoas representati-
vas de outros Estados .
Dentre todos os Estados, porém, a respresentação melhor e
maior era a do Rio Grande do Sul, em que não faltaram as figu-
ras oficiais do nacional-socialismo, como diversos altos funcionários
do "Verbander Deutschen im Ausland", da "Forschungstelle fuer
das Ueberseedeutschen", da "Evangelischen Gesellschaft fuer die
Protestantischen Deutschen in Sued-Amerika ", da "Mittelstelle fuer
Auslandsbuechereiwesen ", e outros departamentos de destaque.
Entre os nomes de maior projeção do mundo oficial nazista e
alemão, figuravam: Von Plotho, representante de Bohle, chefe da
organização nazista mundial ; embaixador Knipping, que represen-
tou a Alemanha no Brasil ; dr. Steinnacher, chefe geral do VDA, e
dr. Hillebrand, chefe da " Reichsjugendfuehrung".
O número total dos participantes foi de 74, sendo 44 membros
ativos e 30 convidados. Dos membros ativos, 29 eram teuto-brasilei-
ros, 13 alemães e 2 teuto-paraguaios. O número de congressistas
era, portanto, bem apreciável .
A abertura do congresso foi solene, tendo a ela o relator oficial
se referido da seguinte maneira:

"Quinta-feira, 20.5. , foi o primeiro dia oficial do con-


gresso. O companheiro Hunsche procedeu à abertura solene
dos trabalhos. Achávamo-nos reunidos sob o pavilhão da
"Cruz Suástica" , que é o símbolo do pensamento patriótico” .

Os problemas discutidos foram os mais diversos, mas todos gi-


raram em tôrno da posição que o movimento teuto-brasileiro deve-
ria assumir para se impor, baseado na sua superioridade racial, à
estrutura política do Brasil.
Foi o " companheiro" Hunsche que mais claro falou neste sen-
tido, fazendo ampla exposição da situação interna do nosso país.
Entre outras coisas disse Hunsche (Relatório do Congresso, pági-
na 44):
"Nós não queremos, porém, "apenas" uma simples par-
ticipação, mas sim UMA REMODELAÇÃO FUNDAMEN-
A 5. COLUNA NO BRASIL 327

TAL DA VIDA POLÍTICA DO BRASIL, que o colocará


finalmente sôbre uma base capaz de resolver tôdas as questões
da vida nacional, mesmo as mais difíceis como sejam os pro-
blemas das raças e das etnias" .
"A vida política brasileira foi moldada por luso-brasi-
leiros, e DEPENDERA DE NÓS o querermos conservar ain-
da, para o século XX, a forma lusitana da política brasileira
já há muito inadequada, OU AVANÇARMOS PARA NO-
VAS FORMAS, formas que melhor correspondam ao Brasil
atual e aos seus problemas" .
"Quem , porém, duvidará de que também o Brasil se
encontra na véspera de uma mudança política ? Todos os
indícios se encaminham neste sentido".

Quanta semelhança existe entre o objetivo dêste Congresso e


as palavras de Hitler:

"Farei dêsse continente de mestiços um domínio alemão”!

Quão verídicas nos parecem, agora, as afirmativas de Rausch-


ning, o senador de Dantzing, em seu livro "Gespraeche mit Hitler",
repetindo as palavras de Hitler, ao receber um emissário secreto da
América do Sul com referência ao Brasil : "No Brasil, iremos criar
uma nova Alemanha. Nele temos tudo que necessitamos."
A conspiração de Berlim estava pronta para entrar no terreno
da ação. Deviam mover-se os agentes secretos, para minar a situa-
ção e preparar a opinião pública em nosso Estado e em todo o ter-
ritório brasileiro.

O INÍCIO DA ESPIONAGEM NAZISTA NO RIO GRANDE


DO SUL - O CASO EHRICHT

Um pormenor curioso da espionagem nazista em nosso Estado


é que ela aquí se iniciou muito antes de o Patrido Nacional - Socia-
lista ter assumido o poder na Alemanha.
Cabe o título de espião - pioneiro a Gustavo H. Ehricht, do-
miciliado em Pôrto Alegre, à rua Cristóvão Colombo n.º 643. Ehri-
cht foi o protagonista principal do primeiro caso de espionagem
nazista no Rio Grande do Sul, no ano de 1932. A imprensa local
tratou do assunto amplamente, conforme o recordámos em outro
capítulo.
O caso é simples, Ehricht era chefe do núcleo local do Partido
Nazista, e como tal enviava temporariamente relatórios aos chefes
na Alemanha, fiel ao juramento prestado. Nos relatórios não se li-
mitava a falar da vida interna do núcleo. Fazia também referências
à situação interna do Rio Grande do Sul e, o que é mais grave, de-
nunciava numerosas firmas de destaque local ao Partido, por se-
328 AURELIO DA SILVA PY

rem contrárias ao nazismo. Mesmo a firma em que Ehricht era em-


pregado não escapou à denúncia.
Mas, um dia a bomba esturou.
Um dos relatórios foi desviado misteriosamente dos arquivos
do núcleo local e utilizado pelos elementos antinazistas.
O escândalo foi enorme, resultando dêle a ida de Ehricht à
Alemanha e a vinda para cá de Walter Hornig, que reorganizou a
atividade nazista e a desenvolveu por todo o Estado . Ehricht retor-
nou ao Brasil mais tarde.
O escândalo do " Caso Ehricht" não deu cabo da espionagem
comercial em nosso Estado. Ela continuou e de modo cada vez
mais intensivo, como o prova o "boycott" organizado oficialmente
contra todas as firmas cujos chefes se negavam a acompanhar os na-
zistas, fato êsse também já mencionado em outra parte dêste livro.
O suicídio de Jan, proprietário da Bombonnière Jan, e o "boy-
cott" do "Deutsches Volksblatt" são dois exemplos graves da ativi-
dade da espionagem comercial em nosso Estado , e demonstram até
que ponto vão os agentes para conseguir o seu fim.
Em assuntos de espionagem comercial, temos ainda o caso da
"Câmara de Comércio Teuto-Brasileira", que fazia indagações se-
cretas sobre a "arianidade" de firmas, implantando com isto, em
nosso comércio, os princípios do racismo nacional-socialista.
Tropas de assalto e mais espionagem

“ ….. Assim e pela terceira vez, as S. A. provaram


que são minhas, bem como eu haverei de provar, em
qualquer momento, que pertenço aos meus homens
das S. A." .
(Hitler ---- Discurso de 137 - 1934, perante e
Reichstag).

Ao lado da espionagem comercial, os agentes nazistas tomavam


outras medidas. Seu campo de ação deve ter sido muito vasto, pois,
já em 1932, o núcleo julgou necessário criar uma "Tropa de Assal-
to" em Porto Alegre, organizada nos moldes da da Alemanha e fi-
gurando sob a mesma designação.
No boletim n.º 5 do Núcleo, de junho de 1932, vimos uma
menção à Tropa de Assalto :
"Pela primeira vez realizou-se em nosso núcleo local,
promovido pelo Departamento Feminino Nacional - Socialista
e pela nossa "S-A" , "Tropa de Assalto" , um dia de propa-
ganda diferente, na forma, dos realizados até hoje. Quero
expressar, aquí, a todos os colaboradores e àqueles que nas
horas livres nos auxiliaram desinteressadamente, que estou sa-
tisfeito com o sucesso e que a todos posso louvar por excep-
cional cumprimento do dever.
O efeito do dia será grande para nós, que nos certifica-
mos mais uma vez de que nós, os nazistas, somos bem dife-
rentes do que nos querem apresentar.
Avante assim, e alcançaremos o nosso objetivo."

Estas palavras eram subscritas por Ehricht, já apresentado ao


leitor.
Mesmo depois da proibição, apareceram no Rio Grande do Sul
membros da " Tropa de Assalto". Wolfgang Neise, o espião que
agia em Iraí, era membro da referida Tropa e em seu poder foi en-
contrado o fardamento completo daquela milicia alemã. Isto, em
1939! (Doc. n.º 54).
Depois da proibição, muitos agentes da espionagem nazista pi-
saram solo gaúcho, mas pouco sossêgo lhes deixou a polícia local.
Entre êsses espiões havia, como já o dissemos um oficial da po-
330 AURELIO DA SILVA PY

lícia alemã, cujos documentos se encontram em poder das nossas


autoridades ; um major da reserva; um hoteleiro; um "chauffeur."
Em muitos casos, sua confissão foi ampla, em outros, a polícia
só pôde guiar-se pelas provas circunstanciais. Esboçaremos mais al-
guns casos.
O "CASO BOCK"
Um dos casos, embora dos menos graves, que mostram a "per-
sonalidade dupla", a flexibilidade do nazista , uma reservada à si
e outra ao Partido, é o do sr. Hermann Bock.
Este cidadão alemão veio de Berlim com uma boa recomendação
do adido comercial brasileiro naquela capital , dirigida ao chefe de
polícia do Rio Grande do Sul e datada de agosto de 1932. Seu teor
vai transcrito no documento n.º 55) Era, pois, de se esperar que o
Documento n.º 55

Berlim , 25 de Agosto de 1932 .

Exmo . Senhor Dr. Chefe da Policia do Estado do Rio

Grande do Sul .

Tenho o grato prazer de apresentar a Vossa Excellen-

cia o portador desta , Senhor Hermann BOCK, representante

de firmas allemas , que se destina ao Rio Grande do Sul ,

onde pretende fixar residencia.

O Senhor Hermann. BOCK foi recommendado a esta Lega-

ção pelo Ministerio do Commercio da Prussia.

Sem outro motivo , apresento a Vossa Excellencia os

protestos da minha perfeita estima e distincta considera-

ção .

воб
wie
( erghati

Altide Commercial.
A 5. COLUNA NO BRASIL 331

sr. Bock fôsse aquí um grande amigo do Brasil e que não só cum-
prisse as nossas leis, como também auxiliasse a compreensão das
mesmas pelos seus patrícios.
Achava-se o sr. Bock ainda em situação comercial vantajosa e
desfrutava uma posição que, na sua pátria, dificilmente lhe pode-
ria ter sido oferecida.
Um dos primeiros atos do sr. Bock foi participar da fundação
de uma “Deutsche Gemeinschaft" (Doc. n.º 56) para as cidades de
Documento n.° 56

Deutsche Gemeinschaft Livramento · Rivera

(União Allema)

Illmo. Sur. Hermann Bock

Livramento

Wir erlauben uns, Ihnen milzuleiten. dass Sie ajk klund Ahma
wwmdesan als Mitgrånden unsere Gemeinschaft
aufgenommen worden sind.

Have an
Prezado Senhor Hans
Temos o prazer de communicar-lhe que foi acceito como Socio
nessa união conforme sua solicitação do dia XXXXXXX

Directoria

Livramento e Rivera. Passou também a exercer funções de ligação


entre o consulado alemão de Pôrto Alegre e os nazistas de Livra-
mento. Tomou parte ativa na organização do núcleo nazista da-
quela cidade da fronteira, surgindo daí relações diretas entre êle e
o Partido Nacional-Socialista da Alemanha.
Tôdas estas atividades seriam compreensíveis, pois o sr. Bock
foi major na Grande Guerra de 1914 e, sem dúvida, teria sido le-
vado por um alto grau de patriotismo ao fomentar aquí a chama
nacional-socialista. O que não é justificável, porém, é a ação do
sr. Bock após a probição . Ele exerceu a espionagem comercial a
favor do Reich, após o rompimento da guerra entre a Alemanha e
os Aliados, embora o Brasil estivesse neutro e tivesse sido aquí proi-
bida qualquer demonstração pró ou contra qualquer beligerante.
332 AURELIO DA SILVA PY

Documento n. 57

Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartet

Die Leitung der Auslands -Organiſation


Bankkonto: Girokonto 2400, bet ber SOZIAL Fernsprecher: Sammelnummer 867381
Berliner Stadtbank,
Otrokaſſe 131. Postanschrift: Berlin-Wilmersdorf, Poſtfach 20
Vohschedkonto: Berlin 69 55 Drahtanschrift: Elhob, Berfin

Rechtsamt Hae/Sp .. BerlinsWilmersdorf, ben 4. August 1939


Beftfälische Straße 1 C
3d .: RB. 779/39
Jdr Zerchens
Orgenfland:
Diliatzeichen a Abteilung
am Animostichreiben angebeü Herrn
Hermann Beck
z.Zt. Kissingen
Alleehaus , Bismarckstr . 11 .

In Ihrer Forderungsangelegenheit gegen Dr. €


chem. Richard Lehmann bitte ich, mir dessen
Anschrift bekannt zu geben .
Heil Hitler !
OVORG ཨ་

tbe Im Auftrage :
l
ITAY་

fanta
bee (Haesler)
Fritans

Form 11

As informações do sr. Bock, conforme êle mesmo declarou,


eram dirigidas diretamente ao Ministério das Relações Exteriores
da Alemanha.
Assim agradeceu êle a boa vontade e a confiança brasileira.
O CASO HUGO MUELLER

Este cidadão residiu em Pôrto Alegre por muitos anos, tendo


tido filhos brasileiros e desfrutado uma existência boa e cômoda.
Quando surgiu o núcleo nazista, Mueller ocupou , talvez graças aos
seus " excelentes serviços" prestados ao nazismo, alto pôsto na che-
fia local, tendo sido até chefe de Círculo, o pôsto supremo local.
Na vida privada, dedicava-se ao comércio e sua principal fonte
de renda era o "Guia Público", bastante conhecido, que editava.
Munido de credenciais comerciais, tinha Mueller acesso a tô-
das as repartições públicas e municipais e visitava continuamente
A 5. COLUNA NO BRASIL 333

tôdas as firmas. Isto foi de grande vantagem para o Partido Nazis-


ta, de que Mueller era informante secreto.
Sua atividade não cessou com a proibição das atividades polí-
ticas em nosso país. Ainda a 27 de março de 1938, época em que
todos os núcleos estavam sendo fechados pela polícia e seus chefes
detidos quando não acatavam as ordens, o sr. Mueller continuava
as suas atividades de agente informador, remetendo um levanta-
mento sôbre os jornais de Pôrto Alegre à chefia nazista do Brasil,
com sede em São Paulo, conforme se pode verificar pelo documen-
to que contém esta referência : (n.º 58) .
Documento n.º 58

Presse
A - 7p/B.W. 27. Maers 1938
Ihr Schreiben : H2 1090 vom 7. 2. 38 .

An die Landesgruppe Brasilien


der NSDAP
Sao Paulo.

Betrifft Ausstellung der wichtigsten und groessten Zeitungen in Porto Alegre.

Fuer das Presseant nenne ich Ihnen nachstehend :

1) Correio do Povo groesste Auflage hier und im Staate • unparteiisah

2) Journal do Estado · Regierungsblatt


3) Diario de Noticias · grosse Auflage hier und im Staate - unparteilsch
4) Neue Deutsche Zeitung · verbreitetste Deutsche Zeitung hier und im Staato
Tendenz: freundlich bis gut , aber nicht kaempfend .
5) Deutsches Volksblatt- ale unversoehnliches Betsblatt ueberail bekannt , in
land verboten - Auflage hier in der Stadt bedeutend go.
ringer als die Neue Deutsche Zeitung, iş Saate als Woche
ausgabe unter den Katholiken weit verbreitet . Besitzer :
Familie Metzler als Erben. Mitinhaber : Dr. Hofius.
Bemerkungen : Correio do Povo ist meines Wissens im Besitz der w. des Gruenders :
Caldas Jun . Ob noch weitere Besitzer vorhanden sind , ist mir nicht be-
kannt .
Ueber die Besitzverhae ! tnisse des JOURNAL DO ESTADO und des Diario de
Noticias ist mit nichts bekannt, jedenfalls ist hier ein Consortium
vorhanden .
Puer den Besitzer der Neuen Deutschen Zeitung zeichnet die Firma ;
Germano Gundlach & Co.

Deutsch Heil Hitleri


Der Kreisleiter :

1. A. Hinge finder
Kreis (Hugo Mueller )
stellv. Kreisleiter
336 AURELIO DA SILVA PY

Todos os partidários deverão ser prevenidos contra êle,


e, caso aparecer em algum lugar, deve-se informar disto a
chefia central do país."

O agente Koetter teve a coragem e o cinismo de afirmar, em


suas declarações à polícia, que não havia instruções para propagan-
da nazista, NEM ÎNTENÇÕES POLÍTICAS NACIONAL-SOČIA-
LISTAS NO BRASIL.
Esse homem, ex-funcionário do "Banco Alemão Transatlânti-
co", ocupava naquele tempo igualmente o cargo de redator-chefe
do jornal oficial nazista "Fuer's Dritte Reich", publicado em P.
Alegre e impresso nas oficinas do " Neue Deutsche Zeitung" . Acu-
mulava, portanto, diversos cargos de responsabilidade na organiza-
ção nazista do Rio Grande do Sul.
E, como Koetter, há outros que mereceriam ser desmascarados
publicamente, para que o povo brasileiro os pudesse identificar.
Elementos nocivos, êles aquí vieram explorar a boa fé pública, des-
frutar de uma vida excelente, para, depois, regressar à Alemanha
cheios de glória pela agitação que provocaram .

NOVAMENTE OS CONSULADOS ALEMÃES

Todos aqueles que se dizem bem informados e ainda tomam a


si encargo de defender os nazistas "tão injustamente acusados",
talvez ignorem que a atividade partidária, assim como a atividade
secreta do nazismo, nunca cessou no Rio Grande do Sul. Só pela
ignorância disto e de outros fatos êles poderão escapar à classifica-
ção de "quislings".
Como não tratamos neste capítulo da propaganda e atividade
partidárias do nazismo e, sim, de seu trabalho secreto, vamos referir
mais um dos casos que demonstram a existência de tais atividades
após a proibição do nazismo no Brasil.
A carta-circular que nos serve de prova foi escrita em Pôrto
União, a 1.º de junho de 1939, mas é autenticada pelo carimbo do
consulado alemão de Rio Grande, o qual, por sua vez, a remeteu
aos agentes consulares do interior do Estado, cujos nomes e locali-
dades de ação figuram em rodapé .
A circular é dirigida contra um pastor protestante, de nome
Brepohl, pessoa vastamente conhecida na colônia alemã tanto dês-
te Estado como de Santa Catarina e Paraná, autor de vários livros
e muito ligado à imigração teuto-russa aquí no Brasil.
O pastor Brepohl alimenta, entretanto, extremado patriotismo
germânico e suas expansões já o puseram em choque com as auto-
ridades políticas do nosso Estado.
A 5. COLUNA NO BRASIL 337

Mesmo assim, talvez por não se ter submetido totalmente ao


nazismo, acabou na " Lista Negra" .
Eis o conteúdo da circular em referência: (Doc. n.º 60) .
Documento n.º 60

C III 131/39 A bac rift

WALTER BACH
(Vertrauensmann des Konsulats) Porto União , 1.6.39

Betr: Pastor BREPOEL

Wie ich hörte , inseriert Pastor Brepohl in Zeitungen in


Staat Rio Grande do Sul und bietet sich als Vermittler, Besorger
usw. sur Erħangung von Renten, Pensionen usw. an. Dieser, um bib-
lisch zu sprechen, Wolf in Schafskleidern wird also auch dort vor-
suchen, was er hier in Übermaß verübr hat , und auch die dortigen
16. um ihre ehrlich verdienten Ansprüche auf Renten betrügen.
Sollte Ihnen etwas Neues über die gegen P.Brepohl laufenden
Prosesse wegen Unterschlagung bekannt sein, so bitte ich um Ihre
Mitteilung, da an den beiden hiesigen Plätzen Geschädigte wohnen.
Es wäre doch Zeit , diesem Schädling mal das Gaunerhandwerk zu le-

Heil Hitler !
gez. . Bach
‫גחןו‬

GEOR

An die Berren Christel Vogt, Pelotan


GE

Carl Albers, Bagé


Frans Krensinger, Rio Negro
Carl Beding, Jaguarão

Tradução do Doc. n.º 60


"Ref.: Pastor Brepohl.
Como é de meu conhecimento, publica o pastor Bre-
pohl anúncios nos jornais do Rio Grande do Sul, oferecendo-
se como intermediário e procurador em assuntos de rendas,
pensões, etc. Este "lôbo em vestes de cordeiro" , para se
falar biblicamente , está, pois, tentando fazer o que aquí fez
em demasia, isto é, ludibriar os patrícios em suas honestas
e merecidas pretensões de rendas.
22 ---5 . C.
340 AURELIO DA SILVA PY

da direção da Côrte do "Kaiser" para ocupar o cargo de


médico-particular, e, por intermédio de uma autoridade mi-
litar, conseguí também um " Visto de Passaporte ad -hoc” .
Assim é que cheguei para cá e exerço minhas funções junto
ao ilustre e idoso senhor. Estão aquí na Côrte mais diver-
sos senhores idosos, o Conde Schwerin, Conde Moltke, Con-
de Sedan (defensor das obras da Embaixada de Pequim) .
Sua Alteza e a ex-imperatriz Hermine são ambas pessoas bon-
dosas. A gente sente-se cuidado e resguardado, como na
casa de um "Grand Senhor" da velha e boa tradição, e estou
bastante contente que o destino me destacou, mais uma vez,
para êste pôsto verdadeiramente satisfatório e interessante. O
"Kaiser" é, a-pesar-dos seus oitenta anos, ainda muito vivo
e interessado, e possue uma memória e um saber ativo para
tôdas as questões da vida. Basta somente tocar de leve num
assunto e já começa êle a contar. Por quanto tempo per-
manecerei aquí, depende de diversas circunstâncias. Por en-
quanto, tenho permissão até fins de dezembro, provavelmen-
te conseguirei renovar meu passaporte. O senhor, entretan-
to, poderá, se quiser responder-me pelo que lhe peço mui-
to - ajeitar isto de tal maneira que a carta me alcance aquí
ainda antes de Natal ; assim ela desviará o "Interior" inte-
ressado, vai pela França, onde não é censurada. O senhor
agora desejaria ouvir algo da Alemanha. Minha Senhora e
Hannemie estão em Wiesbaden --- esta está lá já no 6.º ano
ginasial, e acompanha bem o curso. O endereço da minha
senhora é: Wiesbaden , Rua Fritz Kalle n.º 18. Minha se-
nhora cuida lá da casa pessoalmente e lida com todos os
aborrecimentos e maçadas, que uma dona- de-casa alemã tem
hoje com a imensidade de cartões-de-alimento. Já há falta
de muita cousa e muita cousa é racionada . Liselotte está em
Stuttgart no "Lar das Meninas Alemãs do Exterior" . A
cidade de Stuttgart organizou isto muito bem. Alí ela fre-
quenta um ginásio e pretende fazer o Curso Superior. A
nossa grande guerra não iniciou e não continua com muito
entusiasmo, como a “Grande Guerra" . Em tôda a parte
critica-se e a situação é uma prova-de-nervos para o povo
alemão. Esperamos que êle a aguente, se não vierem recaí-
das. A guerra na Polônia foi, naturalmente, um brilhante
feito militar e uma obra-de -mestre da estratégia alemã. Mas,
atualmente estamos, para o lado oriental, numa guerra- de-
posição incalculável e nunca vista, com frentes trancadas,
o que, justamente, era para ser evitado. Um acompanha
o outro . Em resumo , uma grande guerra de nervos com
desfecho incerto. O senhor ouve agora rádio? E' necessá-
rio ler-se entre as linhas e pesar-se mutuamente. Muitas ve-
zes tenho saudades das margens silenciosas do Rio Uruguai
e invejo o senhor pelo sol e pelo repouso. Aquí, na Holan-
da, a situação é climaticamente já um tanto desagradável.
Do Heinz já desde muito tempo que não ouço nada. Nós
A 5. COLUNA NO BRASIL 341

nos preocupamos e pensamos muito nele. Espero que êle


continue firme e fiel. Peço escrever-me tudo sobre êle e
faça o possível para que também ele me escreva. Trans-
mita-lhe, por favor, muitas lembranças, e se êle escrever,
receberá logo resposta. Durante a viagem tôda recebemos
uma única carta dêle. Se lhe faltar roupa, então peço ao
senhor, encarecidamente, tomar as providências necessárias. E
agora, meu caro sr. Dr. , como vai a Srta. Wollermann? O
que faz a fábrica? Provavelmente o senhor poderá mandar-
nos informações agradáveis a êste respeito. Neste momento ,
fui chamado para escutar o último discurso de Hitler. Êle
disse: "e se a guerra durar mesmo cinco anos, por fim ain-
da venceremos" . Quem poderá afirmar como estará o mun-
do daquí a cinco anos? Em todo o caso, não bonito. Ago-
ra, desejo pedir ainda ao senhor, meu caro Dr., usar desta
carta com o máximo cuidado possível e destruir o original.
Também lá não estamos livres de denúncias, que se poderão
tornar aquí bem desagradáveis, como no meu caso. Que
eu travei relações com a sra. irmã da Srta. Wollermann, já lhe
foi comunicado. ― E, agora, muitas felicidades. Peço man-
dar-me breve resposta. Fins de dezembro ela poderá estar
aquí. Transmita saudações ao Heinz ; também êle deverá
escrever. Ao senhor e à srta . sua sobrinha desejo pessoal-
mente muitas felicidades. Seu muito subordinado

Dr. O.

NB- O núcleo de Santa Cruz não necessita saber, de ne-


nhuma maneira, que o seu golpe contra mim teve
efeito."

Encerramos com esta carta sugestiva o capítulo sôbre espio-


nagem nazista no Rio Grande do Sul.
Citamos apenas alguns dentre os muitos casos ocorridos, mas
êles bastarão para convencer. Não podemos mais viver alimentando
uma ilusão. Já sabemos o que pretendeu o nazismo no Brasil .
"Quislings " brasileiros

" O perigo não provém de Hitler, que não é uma


causa, mas uma resultante. Não marca senão um
instante na história da Alemanha. E' a prolonga-
ção de Frederico II, de Guilherme I, de Bismarck,
de Guilherme II , de Stresemann. O desaparecimen-
to de Hitler não suprimiria o perigo pangermanista."
(André Chéradame - "Dias decisivos").

Estamos convencidos, desde muito, que, para não sermos tra-


gados na voragem nazista, precisamos tanto de nossas maiores re-
servas de patriotismo, como, também, de tôdas as nossas energias,
de nossa inteligência e de tôda a nossa capacidade de ação .
Por isso mesmo, resolvemos dar à publicidade êste livro do-
cumentário, que constitue não apenas uma obra de rude franqueza,
de completa sinceridade e de verdade absoluta, como, ainda, do
mais puro patriotismo . Em tais condições nada pode ser nela ocul-
tado aos nossos patrícios, embora nos entristecendo a conciência
de brasileiro, como nos aconteceu em face dos casos de que agora
vamos tratar.
E, divulgando êsses dolorosos fatos, um único propósito nos
anima: o de alertar sempre e sempre mais a conciência da nacio-
nalidade, apelando para os sentimentos cívicos de todos os brasilei-
ros, para que se congreguem e se unam num bloco de coesão graní-
tica em tôrno da Bandeira da Pátria . Porque, em todos os casos de
colapso de nações e de derrota de povos, a vitória só foi possível,
até hoje, onde os usurpadores encontraram brechas no seio das po-
pulações e onde o sentimento nacional não se apresentou solida-
mente coeso, inspirado por completo nos supremos interêsses das
pátrias que, desgraçadamente, sossobraram ao jugo dos invasores .
No presente capítulo, condensamos as páginas mais lamentá-
veis da história da atividade nazista em território brasileiro. Nosso
relato anterior focalizou as manobras de um inimigo de origem es-
trangeira. Este apresentará o auxílio que lhes prestaram filhos do
Brasil, merecedores do nome de "quisling", que equivale, confor-
me a terminologia moderna, ao de traidor.
A 5. COLUNA NO BRASIL 343

O mundo inteiro tem assistido, estarrecido, aos maiores exem-


plos de infâmia da parte do quinta-colunismo. E talvez ainda haja
quem tache de mera fantasia novelesca a divulgação dessa obra
subterrânea e repelente.
Foi preciso que povos incrédulos pagassem bem caro a sua boa
fé para que se desse mais cuidado a êsse processo de traição.
A atividade da Quinta-Coluna no Rio Grande do Sul data de
1931. Foi também nesse ano que começou a atividade nazista em
geral, com a reunião de um punhado de alemães no salão do “ Ge-
meinnuetziger Verein" para ouvir os discursos do dr. Bruno Kuehne,
então o profeta de um novo horizonte político .
Já então, brasileiros de descendência alemã, eram atraídos a
êsses comícios nazistas em que se ministrava a doutrina da dupla
nacionalidade. A diretoria do "Gemeinnuetziger Verein", porém,
não concordou com essa teoria estranha e subversiva e, muito bre-
ve, procedeu ao despejo de seus profetas. Em consequência, a so-
ciedade foi considerada antinacional, como se pode verificar por
uma notícia publicada pelos nazistas em seu boletim informativo
da época. As reuniões passaram a ter lugar na Confeitaria Rocco e,
depois, em outros salões. Finalmente, instalaram-se na Casa Ale-
mã, à rua Voluntários da Pátria. Com o progresso do nacional-
socialismo também cresceu o número dos teuto-brasileiros simpati-
zantes do nazismo. Na festa pública que o Partido Nacional- Socia-
lista Alemão realizou no ano de 1937, no campo do Grêmio Espor-
tivo Renner, já os participantes se compunham na maioria de teu-
to-brasileiros. A Quinta-Coluna assumiu, então, forma escandalosa ,
tendo enfileirado elementos de tôdas as camadas sociais sul-rio-
grandenses.
Veio o conflito europeu e, com êle, uma propaganda belige-
rante em avalanches. Mais do que qualquer outra propaganda,
conseguiu a do dr. Goebbels, Ministro alemão da Propaganda atur-
dir os espíritos . -1
Já não eram mais apenas os descendentes de alemães que inte-
gravam a "Quinta Coluna". Muitos "lusos", como êles nos chamam
a nós, descendentes dos portugueses e outras raças, e que até então
nunca haviam mostrado tendências germanistas, se levantaram co-
mo defensores da "Nova Ordem" de Hitler, uns discretamente, ou-
tros com mais violência.
Propagando uma idéia exótica, talvez muitos dêles não perce-
bessem que estavam sendo usados como instrumentos contra o pró-
prio Brasil.
Muitos protestavam sua condição de brasileiros e se mostra-
vam seriamente ofendidos se alguém duvidasse de sua brasilidade
e de seu patriotismo. Eles iam ao extremo de se considerar os “pu-
ros" , os únicos "bons brasileiros", os esteios da família e da pátria.
344 AURELIO DA SILVA PY

Muitos agiram por ignorância e, quando abriram os olhos, despi-


ram espontaneamente a camisa política, se a haviam vestido . Mui-
tos, porém, continuam ainda a sua obra de traição conciente, entre
nós. "Quislings" de vocação, êles sonham com um pôsto de mando
e opressão no futuro "Protetorado do Brasil”.
Relatamos, a seguir, um caso concreto para que o leitor forme
um juízo mais seguro da questão. Outros há, com nomes "lusos " ,
e a polícia bem os conhece. Conservemos, entretanto, sôbre êles o
manto da discreção. E' possível que ainda alguns estejam iludidos.
Deixemo-lhes mais uma oportunidade de volta ao caminho da de-
cência.
O caso que vamos narrar é de domínio público no Rio Gran-
de do Sul . Seu protagonista tem um lugar especial entre os nossos
"Quislings".
WILLY LUEDERITZ

Num atestado cuja fotocópia acompanha êste livro, temos uma


curta biografia do homem que serve como exemplo de "quisling"
gaúcho.
Pelo atestado, verifica-se que não se trata de uma pessoa de
pouca preparação intelectual, e, portanto, facilmente vulnerável às
investidas da propaganda nazista. E' um homem arraigado nos
costumes brasileiros, membro de família muito considerada na mais
alta sociedade gaúcha. Mas, o veneno ideológico nazista fê-lo descer
ao mais baixo grau a que um brasileiro poderia chegar.
Muitas oportunidades teve Willy Luederitz para abandonar o
caminho perigoso que trilhava. Não lhe faltaram conselhos amigá-
veis nem , ainda, a benevolente tolerância da nossa polícia política.
Luederitz, porém, continuou no seu rumo . Afirmando ser um pa-
triota extremado, um grande admirador da orientação política do
govêrno brasileiro, um "bom brasileiro", continuou a servir de ins-
trumento à mais vergonhosa traição que poderia cometer para com
a sua pátria.
Também reproduzimos o fac-símile de uma procuração passa-
da na Alemanha, em que êle se acha qualificado como alemão.
(Doc. n.º 62) . Dito isto, parece-nos não ser necessário mais nada
para evidenciar o caráter dêsse homem. Ele está retratado na re-
produção dos documentos e relatórios encontrados em seu poder.
Através dessas provas, verificamos ter sido Willy Luederitz um
dos maiores instigadores do movimento antibrasileiro e da agitação
dos teuto-brasileiros do Rio Grande do Sul, de parceria com o con-
sulado alemão de Pôrto Alegre.
As ordens e instruções, procedentes do Consulado Alemão,
eram verbais e por escrito.
Quanto às verbais, eram obtidas no próprio Consulado ou nos
A 5. COLUNA NO BRASIL 345

Documento n.º 62

Procuracão .

Pelo presente instrumento de procuração , reve-

stido de todas as formalidades legaes deste paiz , o abaixo assi-


gnado GUIDO SCHUETZENDORF constitue seu bastante procurador

na republica dos Estados Unidos do Brasil o anr . WILLY LUE DE

RITZ , commerciante , allemão , domiciliado em Porto Alegre , Estado

Rio Grande do Sul ( Brasil ) , com escriptorio a rua Uruguay No.91 .

para o foro em geral e especialmente para alegar e defender to-


dos os seus direftos e interesses constantes do contracto de 16

de junho de 1936 celebrado entre elle outorgante e os snrs . Dr.

Richard Lehmann ● Pedro Becker , ambos em Porto Alegre , podendo


rehaver as tres fitas " Der Läufer von Marathon " , " Der Schungel

ruft " e " Gross reinemachen " , representar o outorgante em quaes-

quer acções ou procedimentos judiciaes em que for autor ou réo ,

reservando para si as citações iniciaes , cobrar amigavel ou ju-

dicialmente tudo quanto lhe for devido , dar recibos e quitações .


transigir em Juizo ou fora delle , desistir , jurar suppletoria e
decisoriamente , promover arrestos e sequestros , usar de qualquer

recurso legal seguindo o até ulterior instancia , fazer execuções


substabelcer esta em quem convier e revogar os substabelecimento

e praticar todos os actosem direito permittidos , que julgar ne

cessario para o desempenho fiel do presente mandato .


Berlim , 22de novembro de 1937 .

Zelen .
Juridi

repetidos encontros que Luederitz mantinha com o então cônsul


Ried, o que, aliás, acontece também com o cônsul atual .
E a carta abaixo transcrita dá notícia exata das instruções es-
eritas que êsse agente recebia. (Doc. n.º 63).
346 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 63.

S255
Deutsches Konsulat
TOO. Mr. Deu 6 Porto Alegre, den ..... 29.Oktober
(Es wird gebeten, in dem Antwortschreibes de
vorstehende Tgh. No ensugeben)

Sehr geehrter Herr Lüderitz!


Für Ihr gefl . Schreiben vom 25.de.ts. spreche
ich Ihnen seinen besten Dank aus . Sollte es Ihnen mögl : eb
sein, Herrn Coronel Maia über seine jetzige Gesinnung
Deutschland und der Nationalsozialistischen Regierung
gegenüber persönlich auszuforschen , so wire ich Ihnen
für eine Kitteilung über das Ergebnis außerordentlich
verbunden.
Former darf ich Sie bitten mir noch Geburts-
datum , Religion , Staatsangehörigkeit und Anschrift der
Herren João Pinto da Silva und Mario de Sá bekannt
zu geben sowie eine nähere Erläuterung der deutschen-
freundlichen Einstellung und Gesinnung dieser Herren
und ihrer evtl. Verdienste um die deutsche Sache .
Kit nochmaligen Dank im voraus und
ergebensten Grüßen

Deutscher Konsul

AD Herrn

Willy Liderits
Hier

Tradução do Doc. n.º 63


"Porto Alegre, 29 de outubro de 1935.
Muito prezado sr. Luederitz.
Os mais sinceros agradecimentos por sua amável missiva
de 28 do corrente. Caso lhe seja possível indagar pessoal-
mente do sr. Coronel M. acerca da sua atual orientação para
com a Alemanha e o Governo Nacional-Socialista, imensa-
mente grato ficaria por uma informação sôbre o resultado.
Outrossim, desejo pedir-lhe, ainda, comunicar-me os da-
A 5. COLUNA NO BRASIL 347

dos referentes à data de nascimento, religião, nacionalidade e


enderêço dos srs. J. P. S. e M. S. , assim como uma especifi-
cação da atitude e orientação pró-alemã dêstes senhores e dos
seus méritos eventuais pela CAUSA ALEMA.
Novamente agradecido de antemão e com saudações cor-
diais.
(a . ) RIED "
Cônsul alemão . '
Temos aquí não só uma prova da atividade subterrânea e
secreta de Luederitz, como, mais que isso, uma das provas mais
graves da utilização de agentes "brasileiros" pelo próprio Consu-
lado Alemão com o objetivo de preparar terreno para a CAUSA
ALEMA.
Os pedidos do cônsul Ried eram atendidos com presteza. Na
carta acima, observamos o agradecimento do cônsul por uma infor-
mação recebida anteriormente.
Em público, Luederitz era expansivo, declarando-se, aberta-
mente, um apaixonado nazista, até à hora da proibição.
A atitude que manteve o colocou em choque com os círculos
de suas relações, situação que, muitas vezes, chegou a vias de fato.
No conhecido "CASO TURNERBUND", Luederitz fez papel
importante, conquanto subterrâneo. Manteve vasta correspondên-
cia e, em suas cartas, encorajava e atacava, respectivamente, os sim-
patizantes do nazismo e seus adversários.
Luederitz usava o nome de guerra de "JACOB SPAETH ".
Quem identificaria , nesse nome de feição semita, o quinta-colunista
nazi Willy Luederitz?
Como bom agente, empregava a manha com senso de oportu-
nidade. São típicas as cartas de solidariedade escritas por Luederitz
com a intenção oculta de fazer o destinatário voltar-se contra o
Brasil. Reproduzimos uma delas, enviada ao sr. A. B., pessoa de
merecido prestígio nos nossos meios sociais : (Doc. n.º 64) .
Tradução do Doc. n.º 64
"Pôrto Alegre, 5 de janeiro de 1938.
Meu caro senhor Bins.

Neste momento encerro a leitura, no "Diário de No-


tícias" , de sua defesa e seu esclarecimento do caso do "CO-
MISSARIADO FARROUPILHA .”
Outra cousa não tinha esperado do meu velho amigo
Bins.
E' devéras triste que homens criteriosos e honestos, que
se sacrificaram pelo bem da coletividade, estejam agora ex-
postos a ataques tão estúpidos e maléficos, o que certamente
se deve atribuir aos inimigos de tudo o que é germânico, ele-
mentos de orientação nativista-jacobinista .
Assim como eu, pensam nesta hora centenas, talvez mi-
348 AURELIO DA SILVA PY

dhares, de seus patrícios da raça germânica; disto o senhor


poderá estar assegurado.
Com a fiel saudação alemã
Heil Hitler!"
Documento n. 64.

Porto Alegre , 5 Januar 1938

Mein lieber Herr Bins .

Soeben beende ich die Lektuere im


" Diario de Noticias " - Ihrer Verteidigung und
Klarstellung in Sachen :
Commissariado Farroupilha .

Nichts anderes habe ich von meinem alten

Freund Alberto Bins erwartet .


1

Es ist traurig , dass anstaendige , ehrbare


Menschen , die sich fuer das Allgemeinwohl opferten
solch niedertraechtigen , gemeinen Angriffen aus-
gesetzt sind - was man aber bestimmt nativistisch-
Jakobinisch eingestellten

Hassern alles Germanischen

zuschreiben muss .

So wie ich , denken zur Stunde hunderte , gar


tausende von Ihren Landsleuten

Germanischen Stammes

dess , duerfen Sie versichert sein .

Mit treudeutschem Gruss

Willy isdett
A 5. COLUNA NO BRASIL 349

Causa admiração a capacidade combativa de W. Luederitz.


Ele tinha ligação direta e íntima com os chefes nazistas de todo o
Brasil, mantendo-a mesmo quando êles retornaram para a Alema-
nha. Com o ex-chefe oficial nazista do Brasil, o sr. Hans Henning
von Cossel, mantinha Luederitz um contacto contínuo, assim tam-
bém com Walter Hornig, ex-chefe nazista em nosso Estado, agora
na Alemanha.

A todos Luederitz satisfazia plenamente. Muito bem informado


sôbre todo o movimento social e político em nosso Estado, podia
fornecer as informações desejadas . Até dados sôbre situações topo-
gráficas e quedas-d'água êle enviou à Alemanha. Um relatório
abaixo transcrito nô-lo atesta, do mesmo modo que a seguinte carta :

"Buenos Aires, 29 -XI-37 .


Willy.

Aquí chegando ontem de manhã , após agradável via-


gem, telefonei imediatamente ao nosso amigo Adolfo Nie-
buhr, ao qual tínhamos mandado, há cêrca de 20 dias, aí
de Pôrto Alegre, as informações que êle solicitara sôbre as
quedas de Ijuí.
Disse-me êle, entretanto, que nada tinha recebido,
que estranho, porque a carta ficou pronta no teu escritório
para ser expedida. Será que o teu "factotum" a tivesse es-
quecido?
Sei, pelo que me disseste, que tinhas mandado uma eó-
pia da mencionada informação ao sr. Eng. Walpert na Ale-
manha por intermédio do sr. Hornig.
Não vá com esta manobra ter ficado ne esquecimento
a carta ao colega Niebuhr aquí em Buenos Aires.
Deves ter cópia aí e seria indispensável mandar imedia-
tamente uma cópia por avião ao Engenheiro Adolf Niebuhr,
Echevaria 3725 , Buenos-Aires."

O engenheiro Walpert, a quem faz referência a carta acima, era


pessoa de ligação de Luederitz, e um dos endereços para onde Lue-
deritz enviava seus relatórios .
Numa das respostas dêste engenheiro, viemos a saber que foi
Luederitz quem ARRANJOU PARA O JORNAL "DEUTSCHES
VOLKSBLATT", A PROIBIÇÃO DE CIRCULAR NA ALEMA-
NHA.
350 AURELIO DA SILVA PY

Tinha ainda Luederitz ligação com o Ministério das Relações


Exteriores da Alemanha por intermédio do referido engenheiro. Em
certo caso êste esperava somente comunicação de Luederitz para en-
caminhar uma causa àquele Ministério.
A carta do referido engenheiro dirigida a Luederitz vai repro-
duzida aquí na íntegra. (Doc . n.º 65).

Tradução do Doc. n.º 65


"Prezado sr. Luederitz .

Só hoje me é possível responder sua carta de 17 de ju-


nho do corrente ano.
Por causa das minhas férias e da Olimpíada, fiquei um
tanto atrasado.
O livro de Koseritz, remetido a mim por intermédio
de Hornig, foi entregue ao "Reichsleiter" e foi lido com
grande interêsse. Como êle se acha de momento fora de
Berlim, não me é possível transmitir ao senhor suas impres-
sões. Isso farei em princípios de setembro. Não julgue,
não, que nos seja desconhecida a situação no Brasil. Eu
mesmo viví lá durante sete anos e só posso compartilhar inte-
gralmente sua opinião. Como falo o português, poderá re-
meter os recortes de brochuras, jornais etc. diretamente no
original. Eu mesmo arranjo depois a tradução.
Com relação ao "Projeto Jacuí, nada posso lhe respon-
der agora, porque quero tratar êste assunto com uns senho-
res brasileiros que se encontram atualmente na Alemanha, bem
informados sôbre o caso.
Caso o senhor desejar que eu comunique ao Ministério
das Relações Exteriores o caso do "Colégio São José" , em
virtude da atitude errônea do Cônsul Ried, então peço uma
comunicação a respeito. Por enquanto, nada empreenderei
até a chegada de sua resposta.
A proibição do "Deutsches Volksblatt" continuará em
pé, com absoluta certeza. MAIS NÓS NÃO PODEMOS
FAZER DAQUÍ, INFELIZMENTE.
Muito obrigado pela remessa inclusa.
O senhor não me cansará com suas correspondências, ao
contrário, elas são para mim INFORMAÇÃO VALIOSA .
nos vem confirmar sempre o que nos é informado sôbre a
situação de lá por outras fontes.
Aguardando uma resposta breve de sua parte, firmo-me
com saudações cordiais

Salve Hitler!
(a.) Walpert".

Merecem muita atenção os trechos assinalados, principalmente


aquele que se refere "a outras fontes".
Documento n.º 65
Ing. H.K. alper. den 20.August 1936.
Berlin .35. Herrn
Margaretenstr.17.
Willy La t &

Porto A
caiza postal 489
Brasilíen-Sul .

Sehr geehrter Herr Lüderi 1

Erst heute komme ich dazu , Ihr Schreiben vom


17.Juni ds . Js.zu beantworten .
Durch meinen Urlaub und die Olympiade bin ich
etwas in Verzögerung geraten .
Das mir durch Hornig übersandte Buch von Kose-
ritz hat der Reichsleiter erhalten und mit grossen Inte-
resse gelesen.Da sich derselbe zur Zeit für längere Zeit
ausserhalb Berlins befindet ,kann ich Ihnen seine Stellung
nahme noch nicht übermitteln . Dieses wird erst Anfang Sep-
tember geschehen . Glauben Sie ja nicht , dass uns die Ver
hältnisse in Brasilien unbekannt sind. Ich selbst habe
dort 7 Jahre gelebt und kann Ihre Ansicht nur voll und
ganz teilen . Da ich selbst portugiesisch spreche ,können
Sie mir immer Ihre Broschüren , Zeitungs-Ausschnitte usw.
im Original zusenden. Ich besorge mir dann die Übersetzung
selber .
Wegen des Jacuhy-Projektes möchte ich Ihnen beu-
te noch nicht antworten , da ich die Sache mit brasiliani ·
schen Herren , die sich zur Zeit in Deutschland befinden .
besprechen will , die darüber genaue Kenntnis desitzen .
Wenn Sie wunschen , dass ich die Angelegenheit der
Josef-Schule wegen des falschen Verhaltens des Konsula
Ried dem Auswärtigen Amt zur Kenntnis geben soll , so bitta
ich um Ihre gefl . Mitteilung . Ich werde vorläufig nichts ca-
ternehmen ,bevor Ihre Antwort hier ist . Das Verbot des Volks
blattes wird bestimmt aufrecht erhalten bleiben . Mehr kön-
nen wir ja leider von hier aus nicht tun. Für die mitüber-
sandten Anlagen danke ich Ihnen bestens .
Sie langweilen mich durchaus nicht mit Ihren Brie
fen,in Gegenteil , sie sind mir eine wertvolle Information

und bestätigen immer wieder das , was mir auch von


anderer Seite über die Verhältnisse dort berich
tet wird .
In Erwartung einer baldigen Antwort von Ihnen , var-
bleibe ich mit den besten Grüssen und

Heil Hitler
Ihr

Walper.
352 AURELIO DA SILVA PY

Outro endereço para a remessa de informações e relatórios era


W. Martens, em Bremen. Também a êste as informações enviadas
eram múltiplas e abrangiam assuntos de tôda a espécie.
Não desejando estender demasiado êste assunto, vamos reprodu-
zir somente as partes principais de duas destas cartas, endereçadas a
Luederitz em data de 12 de agôsto e 16 de setembro de 1937:

"Recortes de jornais: Os recortes de jornais citados


não se encontram, infelizmente, junto a esta carta. Não sei,
agora, se o senhor esqueceu de os colocar ou se o Correio
simulou experteza também desta vez.
Instigações contra a Alemanha : Bem sei que o sr. tem
nesse "estado negro" do Rio Grande do Sul uma posição
difícil contra os Jesuítas. A referida Ordem foi atingida em
suas partes mais sensíveis.
Leitura: O caminho indicado pelo senhor, para abas-
tecer os jovens moços com literatura , tem de ser pôsto em
prática logo e, quanto à minha parte, movimentarei tôda a
engrenagem .
Viagens com abatimento à Alemanha para jovens:
Também isto se deveria realizar com o auxílio do "Reich"
e eu pensei desde logo nos novos vapores da organização
"Kraft durch Freude" , que poderiam levar primeiramente jo-
vens alemães que terminaram seu tempo de serviço no acam-
pamento de trabalho . Se é aconselhável trazer jovens bra-
sileiros pelo mesmo caminho, à Alemanha, é uma questão que
deveria ser estudada maduramente, pois isto poderia provo-
car um grande berreiro no Exterior.
Publicação : Estranho muito que o "Neue Deutsche
Zeitung" fizesse tanta objeção para publicar o artigo refe-
rido. Aquela outra fôlha jesuíta, que se chama "Deutsches
Volksblatt" tem de comum com a Alemanha e com a comu-
nidade alemã só a língua em que é publicada.
Jesuítas: Acalme-se ; na Alemanha está surgindo uma
nova geração, que não ficará devendo a resposta a estas "ba-
tinas pretas" , disto o senhor poderá estar certo."

Estes tópicos, traduzidos literalmente, dizem bastante dos assun-


tos tratados entre o remetente e o destinatário .
São inúmeras as cartas dêste gênero . E' pouco compreensível a
fraqueza, num agente como Luederitz, de guardar tôda esta docu-
mentação . Seria para fazer um dia uma "prova de títulos” , quando
o sonho e o objetivo se transformassem em realidade, isto é, a subor-
dinação de nosso país à chefia nazista da Alemanha?
A carta abaixo, dirigida por Luederitz ao ex-chefe nazista do
A 5. COLUNA NO BRASIL 353

nosso Estado, Walter Hornig, permitirá ao leitor fazer um juízo


mais amplo sôbre o "pivot" dêste capítulo :

Domingo, 16 de outubro.

Bela manhã de domingo . As 6 horas da manhã , já


andava de pijama lá por baixo e achei o que procurava : o
"Deutsches Volksblatt " , edição de domingo "uma lamba-
rice especial". De fato, lá estava : "Retrospecto da sema-
na", com o comentário dos fatos de maior projeção da sema-
na, por Franzel, Franzel Metzler, o homem boicotado de
Berlim :

"Foram proibidas, na Alemanha, tôdas as produ-


ções literárias do sr. Dr. F. M." .

Sim, sim - contra isso teve o Franzel que dizer algo


e êle disse mais do que se esperava .
Também você deve alegrar-se com isto, caso você, como
"pensador" ainda o possa, isto é, alegrar-se.
Eu lhe mando a página completa, porque vemos nela
que, ao contrário do que nós esperávamos, "continua-se fu-
rungando" .
Com isto êle se prejudica mais do que talvez julgue
mas êle se acha obrigado a tomar essa atitude, "noblesse
oblige".
Não mais pode voltar para trás, a-pesar- de o desejar,
pois já lamenta hoje esta sua ação tôla, esta intromissão, esta
implicância contra tudo que é nacional-socialista na Alema-
nha.
Que grande idiota!
Eu acho que êle continuará no "Volksblatt" unicamente
como colaborador - pois êste jornal, com tôda a certeza,
navegará de janeiro em diante sob orientação completamente
nova.
Nesta semana saberei algo de certo sôbre isto e lho rela-
tarei imediatamente .
De muito interêsse será para você êste " retrospecto da
semana", porque depois de muito tempo aparece em foco no-
vamente o seu nome e se ataca severamente a sua função de
repatriador. Você agora é um tal Walter Hornig, que se
experimentou, com sucesso duvidoso, como chefe de círculo
e de núcleo .
Só me admiro porque êle derrama tanta tinta nestas his-
tórias bestas, que nada lhe importam, em vez de "cultivar"
com mais eficiência o caso “Innitzer - Juventude Hitlerista
--- Viena" e defender, como bom católico, aquele velhaco
traidor da Pátria. Isto séria mais interessante. Mas, de acôr-
o sistema jesuíta, êles preferem esperar. Mas será
pior, pois, como parece, aquele velho tem ainda mais “su-
jeira".
23-5, C.
354 IO
AURÉL DA SILVA PY

Correm aquí certos comentários, também nos círculos


católicos, após o discurso de Buerckel em Viena, em tôrno
da leitura da carta do Cardeal e as expressões do arcebispo
de Salzburgo , donde se conclue que Roma alimenta a opi-
nião de que não há motivo para se apressarem as cousas, por-
que não se sabe ainda como vai terminar êste caso com a
Tchecoslováquia , etc. etc.
Com tôda a certeza os Englerts, Aloisius, Steidles e com-
parsas, em sua visita à redação do Metzler, preveniram o pes-
soal para que sejam mais cautelosos, porque não se pode
saber se ...
Eu acho, meu caro Hornig, que o mais acertado em
todo o assunto é:

"Que nada mais poderá ser empreendido contra êste


bloco Alemanha - Itália, contra esta união fraternal
de armas. Só resta fazer-se as pazes, uma vez ver-
dadeira, baseada no exemplo dado em Munich” .

Isto me parece a quintessência de tôda aquela conversa


fiada na Europa .
Como os hebreus, Baruchs, Malz & Co. Ltda. e como
mais se chama aquela canalha, andam intrigando, berrando
de raiva e instigando a guerra após êste fracasso ! E isto êle
chama de humano.
Todo aquele capital judaico metido nas gigantescas fá-
bricas de armas de Schneider-Creusot, Armstrong, na Inglater-
ra e em USA, lamentam os judeus. Todo o nosso belo ca-
pital se irá, se não houver mais guerras !"
Com isto também o prestígio judaico irá para o diabo
que o carregue, e tudo "por causa daquela conversa fiada, lá
em Munich, dos quatro grandes homens" , como êles dizem.
Mas neste caso nada se pode fazer para êles.

Jornais: Agora quero pedir-lhe alguma cousa, sr.


Hornig. Pouco a pouco volta aquí a calma (mas nunca
a paz) .
As sociedades, as escolas estão agora nacionalizadas, com
exceção das de alguns pastores sinodais, contrariadores firmes,
algumas irmãs protestantes, que dirigem alguma casa de edu-
cação e também hospitais.
Mas para que fazer barulho por causa desta nacionali-
zação ?
Para que?
O Brasil alcançou o seu objetivo e obteve sua finalidade.
Tudo está nacionalizado. Foi atingida a comunidade alemã,
especialmente o movimento nacional -socialista, portanto : "ergo
bibamo" . As autoridades estão dando para os estrangeiros
uns passaportes especiais e carteiras de identidade.
Existe aquí a idéia de se construir um "Deutsches Haus"
sob os auspícios da DAF (Frente Alemã do Trabalho) .
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 355

As autoridades daquí pensam : "Deixa-os, que esta gen-


te não nos prejudica em nada ... agora não nos poderão fa-
""
zer mal algum . .."
E assim, pouco a pouco, pode-se pensar novamente na
leitura de "jornais alemães decentes" , do que temos tanta sau-
dade aquí. Sem êles, se decai aquí espiritualmente.
Mas onde é que a gente vai conseguir tais jornais ? Tal-
vez no Kniestedt, lá no abrigo de Bondes da Praça Parobé?
Talvez o "Deutscher Weg" , a fôlha predileta do sr. A. F.,
pela qual, conforme declarou no mercado ao sr. A. B. , êle
se poderá orientar sôbre a verdadeira situação na Alemanha.
Ou o senhor acha que devo comprar o " Argentinisches
Tageblatt"?
Por isto, Hornig, se você quer que eu continue ser o
velho nacional-socialista de sempre, terá que jurar que me
enviará regularmente os seus jornais "Der Angriff" , "Schwarze
Korps" e o "Stuermer".
Para não lhe causar muitos incômodos, nem despesas,
o que não seria justificado e o que também não desejo, pro-
ponho-lhe o seguinte :
Você certamente é um assíduo leitor dos referidos jor-
nais. Em vez de se servir dêles, depois da leitura, como
papel de embrulho, dê um pequeno impulso ao seu coração
(talvez era melhor dirigir-me, nesta questão, à senhora Hor-
nig ) , selecione tudo o que tiver em casa em matéria de lei-
tura, faça um pacote disto e, como você aparece em todos os
navios da Companhia Hamburguesa para controlar os passa-
geiros ou tem para isto um homem de confiança, entregue
êste pacote ao comandante, ou mesmo a marinheiros do navio
que seguir diretamente a Pôrto Alegre, dirigindo -o para a se-
guinte endereço:

Willy Luederitz
by Fraeb & Cia.
(Consulado Dinamarquês )
Pôrto Alegre
Praça Quinze n.º 68
Tel. 47-52.

Com isto você dará uma grande alegria não só para mim,
como também para um grande número de alemães, os quais,
assim que souberem que eu tenho comigo números do "Sch-
warze Korps" e "Stuermer", me levarão de ombros ao Chalé
da Praça Quinze ou ao nosso centro mais novo, o Hubertus-
Bar, (que veio substituir a Sociedade Germânia, para onde
ninguém mais pode ir) . Lá êles me carregarão de chopp e,
quando menos esperar, um dos L. ou B. W. , ou qualquer
outro, daqueles que tanto apreciaram o "Eintopfessen" na " Casa
Alemã", desaparecerá com a pasta de jornais. Talvez venha
a haver uma pequena rixa por isto, mas, contudo, ficarei sem
os jornais.
356 AURELIO DA SILVA PY

De vez em quando recebo alguma cousa do sr. Moebus


do Consulado, mas isto é pouco, pois o sr. Moebus tem um
vasto círculo de fregueses de leitura. Possue uma bela biblio-
teca nacional-socialista, da qual se servem todos os visitantes.
Desejo também jornais ilustrados para os meus "patrí-
cios rebeldes", os quais deixo quase loucos com as explica-
ções que lhes dou . O meu velho amigo A. W. é então o
homem que leva estas revistas ao "Círculo de Jovens Teuto-
Católicos" da Igreja São José, o que deixa o pessoal quase
doido de raiva, e o bispo V. E. já teve certa vez um ataque
epiléptico quando deparou com tais revistas "hereges." Êle
é também o controlador do H. e do K.
Pelo primeiro, o da Livraria H. , eu ainda sinto alguma
simpatia.
A última firma, porém, não tem nenhum valor, por-
que lá há, como você bem sabe, "ar israelita " , a -pesar- das
visitas anuais à Feira de Leipzig, para onde foi enviado em
janeiro dêste ano o sr. H. B.. O ano passado esteve lá o
gordo Kuli -bolchevista e soberano comunista R. K. , amigo
íntimo do judeu Epstein, também conhecido seu, frequenta-
dor do Liliput, onde a “ Mischpoche" tem suas mesadas.
Lá no K. uma "Berliner Ilustrierte" custa agora 2 $ 500
e a " Gruene Post" 2 $ 700 . Quem poderá pagar isto ?
Mais você não encontra aquí em Pôrto Alegre, porque
ninguém tem mais coragem de mandar vir jornais da Ale-
manha e expô-los nas vitrinas.
Em resumo, nós todos, educados por você para o nacio-
nal-socialismo, nos achamos em sêco, e por isto é o meu
pedido a você para prover os alunos estudiosos com alimento
espiritual.
Mandar os jornais pelo navio julgo o meio mais prá-
tico e basta que o comandante, oficial ou algum marinheiro
telefone ao n.º 47-52 , anunciando : "Que o sr. Luderitz ve-
nha a bordo do navio !"
Eu me ajeito com meu amigo G. da Alfândega, convi-
do-o para um trago a bordo e imediatamente passarei o con-
trabando, sem operação dolorosa, sem narcótico e nem anes-
tesia local.
Para você isto será de pouco custo e se a prezada senho-
ra Hornig der uma mão, a cousa estará em ordem e eu rece-
berei os pacotes. Sei que você, como homem ocupadíssimo,
que nem para respirar tem tempo, nem tão pouco para tomar
um chope lá no seu "Siechenbräu" ( isto me contou o sr .
Ernst Rudolf Becker) , não devia ser incomodado com tais
bagatelas. Por isto, apelo à bondade da sra. Hornig.
Encerrando, transmito cordiais saudações e Heil Hitler."

Esta tradução amenizada, saiu muito a favor de Luederitz, pois


a sua carta foi um verdadeiro atentado contra tôdas as normas lin-
guísticas. Usou de termos intraduzíveis.
A 5. COLUNA NO BRASIL 357

Tais eram as atividades "patrióticas" dêsse Luederitz.


Ele enviava, ainda, nomes de semiadversários nazistas para a
Alemanha, para que fôssem saudados pela Emissora de Ondas Cur-
tas Alemãs, pretendendo-se, com esta atenção e surpresa, firmar a
adesão e simpatia para o nazismo. A mesma cousa era feita quando
alguém viajava para a Alemanha, e convinha a sua "nazificação ".
Citamos um caso para exemplo, extraído duma das cartas de
Luederitz enviadas à direção da "Emissora de Ondas Curtas Ale-
mãs":

"Trata-se no caso presente de um homem que desde


algum tempo se mostra adverso ao nacional -socialismo e à
Alemanha , igualmente instigado . No íntimo, porém, admi-
ra êsse grande país e o seu "Fuehrer” .
Na primavera de 1938 , êle deseja visitar a Alemanha
via Itália e seria oportuno que lhe fôsse feita uma saudação,
talvez no dia 4 de agosto, dia de seu 50.º aniversário, dedi-
cando-lhe algumas palavras, o que não fará nenhum mal e
só poderá ser de vantagem .
Trata-se nesta pessoa do sr. Ezequiel Maristany Júnior,
a quem o "speaker" português deveria se dirigir numa sauda-
ção de aniversário, lembrando-lhe, nesta ocasião , que não dei-
xe de visitar a Alemanha em sua viagem à Europa, para se
certificar de que na Alemanha absolutamente não se passa
fome, o que poderá constatar "in loco " quando atravessar a
fronteira italiana no Brenner, e que êle levará da terra do
grande "Fuehrer" Adolfo Hitler as mais belas impressões ."

Eis aí como se prepara uma viagem de visita à Alemanha já


no lugar de partida do visitante . Este, ignorando o movimento se-
creto em tôrno dêle, vai certo de que não se deixará guiar por nin-
guém para não ser influenciado . Regressa depois, entusiasmado,
mas, na realidade o seu entusiasmo foi obra de um esquema exe-
cutado desde que teve a idéia de visitar a Alemanha. Desta manei-
ra preparam-se propagandistas neutros e desinteressados.
Haveria ainda muito a contar sôbre o caso de Luederitz, que,
em matéria de correspondência, é inesgotável . Mas, o leitor deve
estar satisfeito com o que aquí mostramos sôbre a atividade dêsse
"quisling".
Apenas não deve esquecer-se de que vivem entre nós muitos
“Luederitz”, talvez não menos perigosos, pois estão vendidos a uma
causa contra o Brasil e, pessoalmente, já se subordinaram a chefes
e ordens estrangeiras . São elementos perdidos, com os quais o Bra-
sil não conta mais, e dos quais tem de se defender.
O homem que apanhou a luva lançada

pela Gestapo

66
Acima de nós paira o lema : “ ninguém no mundo
nos ajudará, se nós mesmos não nos ajudarmos" .
Esta decisão de lutarmos por nós mesmos é uma
decisão orgulhosa e viril''.
(Hitler - Dicurso de 5-10-1938, em Berlim) .

Como já dissemos, a Polícia do Rio Grande do Sul , depois que


se manifestaram, no Estado, as primeiras atividades de espionagem,
instalou um departamento de contra-espionagem na sua Delegacia
de Ordem Política e Social . Desde então, travou-se entre o nosso
serviço secreto e os agentes da Gestapo uma luta silenciosa, anôni-
ma, na qual, podemos afirmar, temos levado a melhor. Se o Rio
Grande do Sul, e com êle o Brasil, se encontra atualmente em ordem
e calma, se os brasileiros podem olhar com confiança os destinos de
sua pátria, é porque êsses heróis anônimos congregados na polícia
política trabalharam sem descanso para desfazer a teia sinistra te-
cida já com bastante extensão pelos representantes de uma organi-
zação estrangeira cuja ambição se concentra na conquista territorial.
Ao escrevermos os últimos capítulos dêste livro, realizava-se no
Rio de Janeiro a Conferência dos Chanceleres das Repúblicas Ame-
ricanas. Só então ficou decidido, oficialmente, o rompimento do
Brasil com as potências do Eixo, o que representou o marco inicial
de uma luta aberta contra a infiltração totalitária nazi-fascista. E'
justo, portanto, assinalar que a Delegacia de Ordem Política e So-
cial da Polícia do Rio Grande do Sul se antecipara neste rumo, en-
tregando-se desde muitos anos à dura tarefa de colher os dados
referentes a essas atividades subversivas da unidade nacional, reali-
zando inquéritos, aconselhando e punindo. Foi uma demonstração
de aguda visão das coisas.
E' esta a primeira vez que, através da leitura de um livro, o
grande público toma conhecimento dos detalhes da nossa luta con-
tra os agentes do totalitarismo alemão. E podemos afirmar que o
A 5. COLUNA NO BRASIL 359

momento significa, também, a vitória do Brasil sobre essas fôrças


da destruição .
Desperto e alerta, cheio de orgulho, o Brasil proclama a rejei-
ção de quaisquer ideologias importadas e a vontade de seguir o seu
caminho dentro da unidade panamericana.
Tendo sabido livrar-se do perigo interno e conciente do perigo
externo, o Brasil declara-se pronto a pôr-se ao lado das repúblicas
irmãs do Continente para uma luta conjunta em favor da extirpa-
ção das últimas raízes do nazi-fascismo.
Os problemas criados no Brasil, especialmente no Estado do
Rio Grande do Sul, pela atividade dos agentes nazistas, são os mes-
mos contra os quais lutam hoje os outros países sul-americanos . A
gravidade e magnitude dêsses problemas está sempre em relação
com a densidade de população ou riqueza econômica das zonas em
que surgem . Não é de estranhar, portanto, que Buenos Aires, o
maior centro do continente sul-americano, albergue um foco mais
importante do nazi-facismo que qualquer outra cidade sul-ameri-
cana. O caso que a seguir vamos expor, a título de ilustração, de-
monstra que a tática nazista é a mesma em tôda a parte. Interna-
mente, um rigor e uma disciplina cruéis ; externamente, a adapta-
ção ao meio, a flexibilidade.
Willy Koehn, o antigo chefe nazista da América do Sul, foi o
organizador do nazismo na Argentina ; auxiliado por outros ele-
mentos de destaque, entre êles um oficial da reserva do exército ar-
gentino, fixou as bases para uma atividade em grande escala da
Gestapo, primeiramente em Buenos Aires e, após, por tôda a Amé-
rica do Sul.
O trabalho da Gestapo foi de tal maneira detalhado e perfeito,
que aos seus agentes foi possível até controlar telefones e censurar
correspondência, sem que tivessem sido sequer uma vez impedidos
ou, ao menos, importunados nesse serviço secreto .
Willy Koehn, oficialmente adido à embaixada alemã de Bue-
nos Aires, viajava com passaporte diplomático por todos os países
sul-americanos e por onde passava deixava uma rêde da Gestapo
organizada .
Deve-se compreender que, já antes, existia a espionagem nazis-
ta, e que ainda continua, mas que essa nada tem de comum com a
ação da Gestapo, de que estamos tratando . Aquí, topa-se com agen-
tes ligados diretamente à Polícia Política Alemã, cuja potência nos
é bastante conhecida através das notícias sôbre a ação de Himmler
e Heydrich nos países ocupados pelas tropas alemãs.
Um dos principais trabalhos dos agentes da Gestapo na Amé-
rica do Sul é o controle de pessoas de responsabilidade. Sem consi-
deração à sua posição, a vítima é assediada permanentemente. Nem
os próprios cônsules e embaixadores podem fugir a esta ação . Foi
360 AURELIO DA SILVA PY

o que também aconteceu com o dr. Martin Fischer, ex-diretor do


"Deutsches Nachrichten Bureau" em Buenos Aires, a conhecida
D. N. B., agência noticiosa alemã . Embora ocupando um cargo im-
portantíssimo e de grande responsabilidade, êle não pôde fugir à
suspeita da Gestapo, que o controlava assiduamente até nas con-
versações telefônicas. Para isto, a Gestapo destacou um amigo ín-
timo do referido diretor, além de outros agentes inferiores.
Conhecedor profundo das táticas da Gestapo e de suas mano-
bras, o diretor resolveu reagir na forma possível, para desfazer a
ação desta organização , mas sem resultado.
Mas, poderá perguntar o leitor, que suspeita teria a Gestapo
daquele funcionário destacado em tão alto pôsto?
Existia um motivo.
O referido dr. Martin Fischer é primo-irmão de um dos ho-
mens mais odiados por Hitler, do inimigo n.º 2 do nacional-socia-
lismo: o dr. Herrmann Rauschning, antigo senador da cidade-livre
de Dantzig, autor de vários livros internacionalmente conhecidos,
entre êles o célebre " Gespraeche mit Hitler", traduzido para o por-
tuguês sob o título de "Hitler me disse".
A pressão em tôrno da pessoa do referido diretor do DNB to-
mou tais proporções que só lhe restava uma alternativa : dobrar-se,
o que seria uma prova de receio e fraqueza para a Gestapo, ou re-
tirar-se das fileiras nazistas e colocar-se à margem e contra a corrente.
Embora conciente de que uma resignação traria consequências
ulteriores e que, daí por diante, não poderia estar seguro de sua
existência, o diretor resolveu dimitir-se remetendo ao Partido Na-
zista de Buenos Aires a seguinte carta : (Doc. n.º 66) .

Tradução do Doc. n.º 66

"Buenos Aires, 31 de dezembro de 1936 .


"Conforme pude constatar fiel e irrefutavelmente, tomou
o Partido Nacional-Socialista , aquí na Argentina e também
nos outros países da América do Sul, formas que de nenhuma
maneira podem ser comparadas com a interpretação da idéia
do nacional-socialismo em que fui educado, durante os anos
de luta na Alemanha, e que é para mim a única que posso
considerar como verdadeiramente acertada. Como me vejo
colocado, por isto, num inevitável conflito de conciência, de-
claro aquí a minha demissão do Partido Nacional-Socialista.

(a.) Dr. Martin Fischer".


A 5. COLUNA NO BRASIL 361

Documento n.º 66

Dr.Martin Fischer. Buenos Aires, den 31.Dezember 1956 .


Paseo Colón 315 .
COPIA

An die
Nationalcosialisticebe Deutsche Arbeiterpartei ,
Auslands-Organi cation , landesgruppo Argentinien,
Ortsgruppe Lontra
Впедо A 1 80 8

Die Entwicklung der Eationalsozialistischen Deutschen Arbeiter-


partei hat hier in Argentinien und aush in andern Ländern Sidamerikas ,
wie mir zuverlässig und einwandfrei bekannt geworden ist , formon ange-
nommen, die sich in keiner Weise mehr in Einklang bringen lassen mit der
Auffassung von Rationalsozialismus , die sir in Deutschland in der Kampf-
zeit anerzogen worden ist und die lab als die ausschliesslich richtige
anzuerkennen vermag . Da ich Gafurch in uzibervindlicho Cowisconskonflik.
te gerata , erkläre ich hiermit meinen Austritt aus der Nationalsozieli-
stischen Deutschen Arbeiterpartei .
Bell Hitler!

gez.Dr.Martin Fischer .

O motivo de demissão está claramente exposto, embora o autor


da carta não tenha dado detalhes . A demissão foi aceita e, algum
tempo após, veio a resposta da chefia do Partido : (Doc. n.º 67).
Tradução do Doc. n.º 67
"Buenos Aires, 12 de fevereiro de 1937.
Acuso o recebimento de sua declaração de demissão do
NSDAP, dirigida ao grupo central do Partido Nacional- Socia-
lista na Argentina.
Para sua orientação, o senhor deve tomar conhecimento
de que a demissão do Partido Nacional- Socialista é definitiva ;
quer dizer que uma readmissão é impossível sob qualquer hi-
pótese, tanto aquí como na Alemanha .
Heil Hitler!

O chefe do grupo" local :


"
(a) Bauer
Talvez analisássemos o sentido fundamental desta resposta, se
não tivéssemos um documento que muito melhor o permitirá. O dr.
Fischer, sem o ter solicitado , recebeu de um dos chefes mais desta-
cados do DNB uma carta bem explicativa das consequências de
sua demissão. Assina-a um Conselheiro Ministerial do "Reich",
362 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 67

Nationalsozialiſtiſche Deutſche Arbeiterpartei


Auslands.Organisation
LandesgruppSe Argentinien
OZIAL
ISE
Oeftöfrelle. Moreno 970 9. Orod
Origruppe: Buenos Aires Zentrum Fernfrrocher, U. T. 57, (R.) 1854

Cucusi Uired. Den 12. Februar 1937

Ar Va. 15.3.37
7
Dr. Martin Pischer
Paseo Colon 315
Rier.
Hiermit bestätige ich Ihre an die Ortsgruppe
Zentrum der Landesgruppe Argentinien der N.S.D.A.P. gerichtete Aus
trittserklärung aus der N.S.D.A.P.
Zu Ihrer Unterrichtung wollen Sie davon
Kenntnis nehmen , dass der Austritt aus der N.S.D.A.P. endgültig ist,
das heisst , dass eine Wiederaufnahme unter keinen Umständen weder hier
noch drüben in Frage kommt . kile
j.ali
hallo . Til Hitler !
gruppenleiter
Urge Baner
ntin koa Kassenlelter
ian jaz

figura de destaque do Ministério de Propaganda da Alemanha, com


quem o dr. Fischer mantinha ótimas relações de amizade:

"Prezado dr. Fischer.

Em resposta à sua carta, na qual me comunica sua inten-


ção e os motivos para se demitir do Partido Nacional- Socia-
lista, tenho a comunicar o seguinte :
Todo partidário alemão tem a obrigação de prestar o
juramento de fidelidade ao "Fuehrer" e aos superiores por êle
designados. Quem não faz isso se põe, ao meu ver, fora
das fileiras da comunidade do povo germânico. Eu lhe per- 1
gunto : teria o senhor, como velho oficial alemão, negado
também o juramento à bandeira do seu comandante supremo?
Errar é humano, e se em qualquer parte houver decisões
erradas em casos pessoais, existe o Supremo Tribunal Parti-
dário do NSDAP para examinar tais questões e providenciar
no sentido de restabelecer a justiça e a ordem. Se houve in-
justiça para com os partidários no Brasil e se êles se dirigi-
ram na devida forma ao Supremo Tribunal Partidário, terão
A 5. COLUNA NO BRASIL 363

a justiça tal como a merecem . A mim é que não cabe dar


qualquer opinião a respeito. O senhor talvez tenha sido
informado parcialmente e não tenha visto os autos do Tri-
bunal Partidário. Por isto, não pode saber se a decisão foi
ou não tomada com justiça . E', portanto, uma leviandade
falar de comédias num caso dêste.
Aquí não se trata de verificar se algumas pessoas em si
tenham razão ; trata-se de salvaguardar, por todos os meios
e sem consideração para com o indivíduo e seus sacrifícios,
a unidade da comunidade alemã e especialmente do Partido
Nacional-Socialista no Exterior. Se o senhor não estiver dis-
posto a cooperar neste sentido, então sinto bastante o termos
sido companheiros. Há um velho provérbio inglês : "Right
or wrong my country" . Talvez lhe convenha meditar um
pouco sobre o sentido dêste provérbio. Certamente não en-
contrará no exterior nenhum inglês que se coloque à margem
de sua comunidade.
O senhor necessita saber que demitir-se do Partido e ne-
gar o juramento ao "Fuehrer" representa exclusão imediata
das funções dentro do DNB e que o senhor, para sempre, se
tornará inaproveitável como colaborador em qualquer em-
prêsa alemã. Colocar-se-á na categoria de emigrantes, que
volveram as costas à Alemanha porque para êles coordenação,
subordinação e disciplina foram sempre concepções terríveis.
Agora mesmo, eu tinha proposto o senhor para a DNB
no Rio de Janeiro, mas, nestas condições, sou naturalmente
obrigado a retirar, por enquanto, a minha proposta. Se eu
não conhecesse a sua grande dedicação dentro do nosso mo-
vimento, teria entregue a sua carta ao Tribunal Superior,
para que êste agisse. Por isto lhe peço comunicar- me, com a
máxima urgência, se ainda permanece em sua resolução e nos
dispositivos de sua carta, ou se reconhece ter cometido um
êrro e está disposto para o futuro a se subordinar sem restri-
ção e, muito principalmente, a prestar o juramento, o que é
uma obrigação natural de todo alemão. Caso contrário, nos-
sos caminhos se separarão imediatamente.
Salve Hitler!"

Subordinação ou aniquilamento, eis os dois caminhos para a


Gestapo no tratamento dos "Parteigenossen".
Foi pelas declarações do ex-diretor do DNB que tivemos con-
firmação da atividade organizada da Gestapo dentro da América
do Sul e do Brasil . Desligado, ameaçado e desprestigiado pela
facção a que por tantos anos serviu fielmente, o ex-diretor do DNB
teve que mudar completamente de vida e foi nestas circunstâncias
que surgiu o seu contacto com nossas autoridades. As perguntas
que lhe foram formuladas, respondeu o dr. Fischer de maneira pre-
cisa e clara. Suas respostas merecem o destaque que a elas daremos
em seguida, reproduzindo-as juntamente com as perguntas:
364 AURELIO DA SILVA PY

P.: "Durante o tempo em que esteve em pôsto de destaque


numa agência noticiosa alemã, teve o senhor oportuni-
dade de conhecer de perto, as atividades secretas do Par-
tido Nacional- Socialista e há fundamento na afirmação
de que a Alemanha Nacional- Socialista envia agentes se-
cretos para a América do Sul, para espionarem e vigia-
rem pessoas contrárias à ideologia nacional-socialista?"
R.: "Efetivamente, há bastante fundamento nesta afirmação
e, para comprovar esta afirmativa, posso relatar fatos
presenciados pessoalmente. Na qualidade de diretor da
DNB em Buenos Aires, eu tinha uma dependência para
meu trabalho na própria embaixada alemã , onde tam-
bém se achava instalado, em diversas e vastas salas, o Par-
tido Nacional- Socialista Alemão da Argentina, que, desta
maneira, aproveitava e gozava da imunidade que é con-
ferida às embaixadas. Foi aí, no ano de 1935 , que
assistí aos preparativos para a organização da Gestapo
em Buenos Aires. O sr. Willy Koehn, hoje alto fun-
cionário do Departamento de Propaganda da Alemanha
e, naquele tempo, chefe da organização nazista de tôda
a América do Sul, estava encarregado dos trabalhos pre-
paratórios, que resultaram em muitas conferências a por-
tas fechadas, assistidas somente por um reduzidíssimo nú-
mero de chefes nazistas. Foi, enfim, escolhido para as-
sumir a direção da Gestapo em Buenos Aires o sr. Emí-
lio Tjarks, proprietário do jornal "La Plata-Post" , ar-
gentino nato e oficial da reserva do exército argentino,
pessoa de alto destaque social, de quem nunca se pode-
ria desconfiar que desempenhava secretamente tão impor-
tante cargo conferido pela Alemanha. Depois de ter
Emílio Tjarks aceito o cargo, seguiram-se as conversa-
ções para fixar a base da nova sucursal da Gestapo .
Tive oportunidade de assistir à última reunião prepara-
tória, com a qual foram encerradas as conferências ; esti-
veram presentes nessa ocasião o sr. Willy Koehn, o sr.
Emílio Tjarks e o sr. Gottfried Brand, êste, membro
da chefia nazista da Argentina. Nesta última reunião,
ficou resolvido que o sr. Emílio Tjarks tornasse efetiva
a organização prática da Gestapo na Argentina, ficando
a seu cargo, igualmente, a escolha e seleção dos agentes.
De fato, a nova Gestapo entrou em ação, o que pude
verificar pela ação dêsse serviço secreto, de cujo controle
nem mesmo eu, a-pesar-do alto pôsto que ocupava, es-
capei. Para me vigiar e controlar foi destacado um
engenheiro marítimo, oficial da Marinha alemã , homem
de ótimas qualidades e excelentes maneiras, muito comu-
nicativo e agradável, que daí por diante vivia rodeando
a minha pessoa, procurando aprofundar cada vez mais
nossa amizade que já datava de longe. Mas o meu ami-
go não conseguiu o seu objetivo. Algum tempo depois,
fui prevenido por um amigo de que o meu telefone esta-
A 5. COLUNA NO BRASIL 365

va sob censura . Achei isto primeiramente impossível e


inacreditável, mas, muito breve, tive a confirmação de
que efetivamente era assim, pelo que pude verificar pes-
soalmente. Como eu, muitos alemães e pessoas ilustres
de tôdas as camadas sociais estavam sob vigilância perma-
nente da Gestapo, que tinha estendido sua rêde por tôda
a parte. As informações e os relatórios dos agentes eram
entregues à Embaixada, lá reunidos, seguindo após, por
intermédio de agentes confidenciários dos navios alemães,
para a Alemanha. Somente em casos de menor impor-
tância era usada a mala comum, pois bem sabiam os
agentes da Gestapo que ela estava sob a censura argen-
tina. Assim como na Argentina, foi organizada a Ges-
tapo no Uruguai e Paraguai, o que pude verificar em
pessoa quando viajei por êsses países em missão da DNB,
pela qual me foi possível chegar aos segredos do Partido
Nacional-Socialista pelo livre acesso que tive a tôdas as
embaixadas e Consulados alemães.
P.: "Como nos outros países citados, havia também no Bra-
sil uma organização secreta da Gestapo?"
R.: "Disto não tenho dúvida alguma . Entretanto , nunca es-
tive em contacto direto com a Embaixada do Rio de Ja-
neiro e os consulados alemães, pois para o Brasil havia
um diretor especial da DNB. Sei, por intermédio de
um amigo, ex-alto funcionário do Partido Nacional- So-
cialista e hoje adversário do nazismo, residente atualmen-
te em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que a Ges-
tapo também no Brasil está perfeitamente organizada e
age da mesmíssima forma como nos outros países, pois o
referido amigo esteve, por muito tempo, sob o mais se-
vero controle da Gestapo. A-pesar- de eu me achar afas-
tado de qualquer atividade pública, não tenho dúvida
de que ainda estou sendo vigiado pelos agentes da Polí-
cia Alemã . Considero a existência da Gestapo dentro de
um país estrangeiro uma afronta contra tôdas as leis e
disposições internacionais, o que é ainda mais agravado
pelo fato de as embaixadas alemãs, abusando da imuni-
dade a elas conferida pelo país amigo, darem abrigo e
prestígio à organização, permitindo aos chefes nazistas
preparar o serviço secreto de espionagem em seus edifí-
cios".
P.: "O senhor nunca teve oportunidade para desconfiar, pes-
soalmente, por qualquer circunstância, da atividade da
Gestapo dentro do nosso Estado, podendo talvez citar
algum agente secreto?"
R.: "Também neste ponto me é possível satisfazer à sua per-
gunta. Em Buenos Aires, tive oportunidade de travar
relações com um senhor de nome Hermann Heinz Hell ,
representante do Scherl-Verlag, organização de publici-
dade idêntica à DNB. Em 1937 ou 1938, êste sr. Hell
retornou à Alemanha e de lá escreveu a mim comunican-
366 AURELIO DA SILVA PY

do sentir-se muito satisfeito agora. Pela redação da car-


ta, tive a conclusão de que meu amigo abandonara a car-
reira jornalística e que tinha fixado residência definitiva
em sua pátria. Com grande surpresa para mim, recebí
certo dia uma carta de Hell, na qual êle exprimia o forte
desejo de reanimar os laços de nossa amizade e de fazer
uma visita a mim. Antes ainda de lhe ter respondido,
êle apareceu, em fins de 1939, no local de minha resi-
dência, acompanhado por sua espôsa . Recebí-o com
grande desconfiança, pois êle trazia consigo grande soma
de dinheiro, o que não estava de nenhum modo de acôr-
do com o seu meio de vida. Mais forte ainda se tor-
nou minha suspeita quando Hell pretendeu, durante as
nossas palestras, dar demonstrações de ser um antinazista
e fervoroso adversário do regime nazista. Mas, a minha
opinião sôbre seu objetivo se concretizou no dia em que
êle me pediu o endereço de Hermann Rauschning, ex-
presidente do Senado de Dantzig, atualmente refugiado
na Inglaterra, o qual é primo -irmão meu, isto é, seu pai
e minha mãe são irmãos. Isto Hell sabia muito bem e
sua incumbência era justamente a de descobrir o verda-
deiro paradeiro de meu primo, pelo qual muito se " inte-
ressava" a Gestapo . Hell usou de todos os golpes e ar-
timanhas para me fechar dentro de uma cilada e o assun-
to tomou tais proporções , que fui obrigado a declarar,
ao meu suposto amigo, que êle nada mais era do que
agente da Gestapo, que suas palestras se estavam tornan-
do desagradáveis e inconvenientes . Isto chocou O sr.
Hell e, vendo frustrado o seu intento, resolveu partir
para o Norte. Durante o trajeto, esteve algum tempo
em Blumenau, onde usou como endereço a gerência do
jornal "Urwaldsbote." De Blumenau seguiu Hell para
o Rio de Janeiro e ignoro onde êle se possa encontrar
atualmente e qual sua atividade. Mais tarde, fui infor-
mado de que Hell tinha feito sindicância sôbre a minha
vida particular e a minha atual posição para com o na-
cional- socialismo, tendo procurado para isto um agente
confidencial do Consulado alemão de Pôrto Alegre, des-
tacado no Interior do Estado" .
P.: "O sr. Hans Henning von Cossel, ex-chefe nazista do
Brasil e atualmente adido à Embaixada Alemã do Rio
de Janeiro, pode ser considerado o chefe da Gestapo no
Brasil?"
R.: "De nenhum modo. Pela organização do serviço secre-
to nazista e pelos métodos empregados pela chefia da
Gestapo, isto não poderia acontecer. O chefe nazista
de um país auxilia, sim, a organização da Gestapo, mas
para dirigí-la se designa sempre pessoa desconhecida, co-
mo ocorreu na Argentina. Como chefe nazista dêste
A 5. COLUNA NO BRASIL 367

país e adido à Embaixada alemã, bem poderia Cossel ter


preparado o terreno da Gestapo, nomeado após, para
chefe, qualquer pessoa de destaque e de real competên-
cia, que, porém, está oculta, como o estão os agentes.
Descobrir o chefe da Gestapo no Rio de Janeiro não
será difícil para um bom agente de contra-espionagem .
Para isto, basta dedicar-se com inteligência à tarefa, pro-
curando fontes bem informadas e destas não há falta na
Capital da República."

Com esse diálogo algo sensacional encerramos esta parte de


nosso livro, para nos ocuparmos, com mais pormenores, da organi-
zação da máquina nazista na América do Sul.
Temos em mão, ainda, inúmeras provas da atividade da Ges-
tapo no Brasil, mas o espaço não nos permitiu mais que escolher e
apresentar casos típicos. Os arquivos da polícia rio-grandense re-
gistam dezenas de episódios curiosos, que revelam o sentimento
próprio de segurança com que a Gestapo, como se estivesse em sua
casa, agia entre nós . Tal é, por exemplo, o caso de certa pessoa
procurada por um agente que lhe determinou, amavelmente, que
abandonasse o nosso Estado, porque sua presença era inconvenien-
te. Faltou apenas o prazo de 48 horas para termos um caso igual
ao da expulsão de estrangeiros do território do Reich, caídos em
desagrado, antes da guerra.
1
Panorama geral do Nazismo na
América do Sul

"Garanto-lhes, meus senhores, que, no momento pre-


ciso, farei da vossa América o que me apetecer e
ela será o nosso melhor apôio no dia em que a Ale-
manha saltar da Europa para os espaços ultramari-
nos ... Temos na mão todos os meios para desper-
tar êsse povo, quando nos aprouver."
(Hitler, a Rauschning).

No presente capítulo, que se compõe na íntegra de um rela-


tório secreto, são passados em revista os aspectos gerais da conspi-
ração nazista no Rio Grande do Sul dentro do panorama sul-ame-
ricano das atividades da 5.a Coluna . Pela sua própria natureza, o
impressionante informe que vamos transcrever dispensa quaisquer
comentários de nossa parte. Cabe-nos apenas assinalar que o autor
dessas revelações era figura destacada da máquina nacional-socia-
lista alemã no exterior, como chefe de um dos departamentos de
propaganda nazista numa época em que o nazismo alemão estava
no apogeu das suas atividades no estrangeiro . Eis o documento a
que nos referimos:

HISTÓRICO

"O fascismo não é artigo de exportação".

Este dogma de Mussolini também Hitler quis adaptar ao seu


programa nacional-socialista . É, entretanto, verdade que, em 1926,
foi por êle negada aprovação a um memorial substancioso de auto-
ria de um sr. Bruno Fricke, que estudava e idealizava a congrega-
ção organizada de todos os alemães no exterior, por intermédio do
Partido Nacional- Socialista.
Bruno Fricke, natural de Berlim, e que, em 1919, após o ar-
mistício, lutara, conforme consta, como voluntário num Corpo Li-
vre no Báltico ou na Alta Silésia juntou-se ao partido Nacional-
A 5. COLUNA NO BRASIL 369

Socialista quando êste surgiu . Teve atividade acentuada nas lutas


políticas daquela época, resultando ficar envolvido num crime po-
lítico e ser condenado a uma pena de prisão. Concluída a pena,
veio para o Brasil. Dirigiu-se ao Rio Grande do Sul e administrou
por algum tempo uma pequena granja nas proximidades de São
Leopoldo, cujo proprietário se encontrava na Alemanha . Dentro
de seu pequeno círculo de relações, Fricke procurava atrair adeptos
para o movimento nacional-socialista, que, naquela época, estava
se reorganizando, novamente, com a libertação de Hitler da prisão
correcional, motivada pelo fracassado "Putsch " de 1923. Fricke,
porém, obteve pouco êxito, pois a comunidade alemã do Rio Gran-
de do Sul não estava ainda madura para aceitar as novas idéias po-
líticas, e Hitler, por sua vez, era ainda muito desconhecido.
Daquela época data o memorial acima referido .
Bruno Fricke transferiu-se, em 1927, para o Paraguai . Fez todo
o trajeto, de São Leopoldo a Vila Rica, completamente só e a-cava-
lo. Časou-se no Paraguai, mas não conseguiu firmar pé e, por isso,
regressou em 1928 à Alemanha. Fixou residência na Alemanha
Central, onde desempenhou imediatamente papel saliente nas fi-
leiras do Partido Nacional-Socialista, que tenazmente lutava pela
conquista do poder. Sua permanência, porém, foi curta e muito em
breve teve de abandonar o país por encontrar- se envolvido num
caso um tanto obscuro. Na Cidade Livre de Dantzig, encontrou
asilo e campo de ação, exercendo funções de chefe da SA (Secção de
Assalto) no núcleo nacional-socialista daquela cidade, já bem de-
senvolvido.
Nessa posição, entrou em conflito com Hitler devido ao “Caso
do Cap. Stennes", e, seguindo o exemplo do próprio Stennes, de
Otto Strasser e de outros, juntou-se às fileiras dos adversários do
Nacional-Socialismo. Perseguido pela polícia alemã e com a exis-
tência econômica abalada na Cidade de Dantzig, teve de partir,
voltando mais uma vez ao Paraguai, onde logrou obter humilde
colocação de professor escolar. Alí conseguiu reatar a ligação com
Otto Strasser, o chefe da "Frente Negra Alemã” . Passou a ser o
"confidente" dessa organização antinazista e, nesta qualidade, pro-
curou reunir e congregar os membros dispersados da " Frente Ne-
gra".
Em 1935, Fricke transferiu -se para Buenos Aires, onde iniciou,
com ardor, capricho e inegável competência, a organização de um
círculo político da " Frente Negra", que incorporava todos os mem-
bros da Argentina, Uruguai e Paraguai e ligava externamente os
círculos do Brasil e do Chile. Editou um jornal de combate, inti-
tulado "Die Schwarze Front" (A Frente Negra), de que publicou so-
mente dez números e desapareceu em definitivo em março de 1934,
por dificuldades financeiras. Devido a alguns erros de tática e ain-
24-5. C.
370 AURELIO DA SILVA PY

da por outros motivos, Fricke perdeu sua posição de "leader" e, re-


signado, refugiou-se novamente no Paraguai. Consta atualmente
encontrar-se novamente em Buenos Aires, onde redigiu, em setem-
bro de 1940, o prefácio do último livro de Otto Strasser, intitulado
"Hitler und Ich" (Hitler e Eu").
Bruno Fricke foi, como se vê pelo exposto, o pioneiro do na-
cional-socialismo e também do antinazismo no Rio Grande do Sul,
senão em todo o Brasil.
O início da atividade nacional-socialista no Rio Grande do Sul
e, por conseguinte, no Brasil, data de 1926. Três anos após, notam-
se atividades análogas em Blumenau e em outras cidades do sul
do Brasil, tudo, porém, ainda desagregado e sem organização .
E, interessante a coincidência de que, justamente em São Leo-
poldo, onde os primeiros colonos alemães iniciaram o seu labor,
teve também início a atividade nazista do Brasil.

Na Argentina, foi um sr. Reinhold Gerndt, de Buenos Aires,


(naquela época redator do "Deutsche La Plata-Zeitung" ), que, em
1930, reuniu em tôrno de si os alemães adeptos do nazismo e com
êles fundou uma associação, de início sem ligação externa .
Foi naquela época que surgiram, na América do Sul, outras
associações nazistas, igualmente dispersas, cujos associados se de-
dicavam a cultivar a ideologia nazista, concebendo sua filiação di-
reta ao Partido Nacional-Socialista da Alemanha, que progredia
cada vez mais. Tal filiação era desejada, principalmente, pelas as-
sociações das cidades de pôrto, como Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Montevidéu e Buenos Aires. Estas já mantinham, com relativa fa-
cilidade, contacto com o movimento nazista na Alemanha por in-
termédio dos tripulantes dos vapores alemães filiados ao Partido
Nazista, dos quais recebiam material de propaganda, de instrução
e de leitura. As diferentes associações não possuíam, porém , una
ligação oficial entre si .
O desenvolvimento contínuo e progressivo das formações na-
zistas no Exterior (não só as da América do Sul) exigia, porém, uma
atitude qualquer por parte da chefia nazista na Alemanha. Deixar
cssas associações à mercê de sua sorte, independentes e sem orienta-
ção, não era admissível. Havia, para a Chefia, duas soluções : dis-
solver as organizações (o que era impossível sem sacrificar o prestí-
gio do Partido) ; ou introduzi-las oficialmente na organização má-
xima do Reich. Optou-se por esta e, desta maneira, realizou-se a
fundação do " Gau Ausland un Seefahrt" (Setor Exterior e Maríti-
mo), com sede em Hamburgo, e em cuja chefia foi colocado o dr.
Walter Myland, na qualidade de "Gauleiter" (Chefe regional) .
A 5. COLUNA NO BRASIL 371

Mas, não havia na suprema chefia nazista o interêsse suficiente


e necessário pelo novo Departamento, que, por isso, não conseguiu
desenvolver-se. Também era pouco sólida a ligação dos alemães no
exterior com a Alemanha e grande o número de adversários.
Só com o aparecimento do sr. Ernst Wilhelm Bohle mudou a
questão e mudou muito de-pressa.
Bohle, igualmente "Auslanddeutscher" (alemão do Exterior),
conseguiu convencer Rudolf Hess e, por intermédio dêste, Adolf
Hitler, de que tais formações nazistas, dispersas como estavam, não
tinham não só nenhum valor para o Nacional-Socialismo, como
também se tornavam prejudiciais ao movimento. E que, uma vez
solidamente congregadas e bem organizadas, poderiam trazer gran-
des vantagens, tanto sob o aspecto financeiro e de propaganda,
como politicamente.
Com a permissão de Hitler, foi o "Gau Ausland und Seefahrt"
ampliado para uma “Auslands-Organisation " " A-O ” (Organiza-
ção Exterior) , tendo por chefe o sr. Ernst Wilhelm Bohle, que ain-
da hoje continua nessa alta posição.
Foi assim que a tese adotiva de Hitler, de que o Nacional-So-
cialismo não era artigo de exportação, perdeu tôda a sua razão
de ser .

ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO INTERNA

Como qualquer das formações do Partido Nacional-Socialista,


também a "A-O" (Organização-Exterior) tem como base o princípio
ditatorial ou totalitário . Segue cla, em tôda a estrutura, os exem-
plos do "Reich", admitindo exceções somente onde circunstâncias
especiais as determinam. O Chefe da "A-O", o " Gauleiter" Bohle,
só é responsável perante Hitler.
A sede da "A-O” é Berlim, de onde partem tôdas as diretrizes
e instruções para todos os pontos do mundo onde se encontrem ale-
mães.
A finalidade da "A-O" abrange : congregação organizada e am-
paro coletivo de todos os alemães residentes além das fronteiras do
"Reich" e de todos os marítimos alemães, mesmo quando estes se
encontrem nos portos pátrios.
A subdivisão administrativa da organização abrange um "De-
partamento Maritimo" e um "Departamento Exterior", que, por
sua vez, tem tôdas as subdivisões necessárias, como veremos na ex-
planação seguinte sobre a organização interna.
A divisão interna do "Departamento Marítimo" é, em parte,
bem simples. Os grandes transatlânticos, como por exemplo o
"Cap. Arcona", são considerados de " Ortsgruppen" (grupos locais),
372 AURELIO DA SILVA PY

chefiados por um "Ortsgruppenleiter" (chefe de grupo) . Os Gru-


pos locais de bordo subdividem-se em " Bordzellen" (células de bor-
do), umas para o pessoal marítimo (oficiais e marinheiros) e outras
ainda para o pessoal auxiliar (Garçon de bordo, camareiros, ser-
ventes) . Navios pequenos figuram somente como células, não pos-
suindo subdivisões. Nos portos pátrios acham -se instaladas as
"Zentralen" (Centrais) dos grupos e células marítimas, onde, após
a chegada de cada embarcação, são entregues os relatórios, vindos
das diferentes partes do mundo; onde são pagas as mensalidades; e
onde ainda os superiores de bordo recebem ordens, instruções e di-
retrizes. As referidas " Centrais", por sua vez, é que mantém o con-
tacto com Berlim, com a chefia da "A-O”.
A subdivisão do "Departamento Exterior" já é mais complica-
da. Quase em todos os países do mundo, onde se encontrem ale-
mães e seja possível atraí-los ao Partido Nacional-Socialista, se or-
ganizam "Landesgruppen " (Grupos-países), chefiadas por um "Lan-
desgruppenleiter" (chefe-de-país) . A atividade de tais grupos estende-
se por todo o território do respectivo país. Nos países onde o círculo
de atividades é demasiado pequeno para a existência de uma “Landes-
gruppe" , devido ao reduzido número de alemães alí residentes, exis-
tem somente " Selstaendige Kreise" (Círculos Autônomos), ou então
somente "Ortsgruppen" (Grupos locais) . Os chefes dos Grupos-países,
dos Círculos-Autônomos e Grupos-Locais estão subordinados direta-
mente ao "Gauleiter" Bohle.
Na América do Sul, foram organizadas "Landesgruppen" (Grupos
Países) nos seguintes países:
Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Perú e Bolívia. No Uru-
guai, existia inicialmente somente uma "Ortsgruppe" (Grupo lo-
cal), com sede em Montevidéu . Em 1936, quando o movimento
nazista progredia cada vez mais e se estendia por todo aquele país,
foi criado o "Kreis Uruguai" (Círculo Uruguai), com administra-
ção autônoma, tendo sido, então, seu chefe o "Kreisleiter" Félix
Schmidt. Na Venezuela, existia, até 1937, somente uma organiza-
ção avulsa de alemães residentes em Caracas. A-pesar-de ser ainda
pequeno o número de alemães que vivem na Venezuela, é bem pro-
vável que já haja, agora, uma organização partidária de maior ex-
tensão.
A "LANDESGRUPPE BRASIL" (Grupo-País Brasil) teve por
sede inicialmente o Rio de Janeiro. O primeiro "Landesgruppen-
leiter" foi o dentista dr. Herbert Guss. Seguiu-se-lhe na chefia, em
1934, Hans Henning von Cossel, que transferiu a sede da organi-
zação nazista do Brasil para São Paulo. Logo após a proibição dos
partidos políticos no Brasil, o chefe nazista von Cossel viajou para
a Alemanha, voltando, em seguida, como "adido " à Embaixada
A 5. COLUNA NO BRASIL 373

Alemã do Brasil . Atualmente, figura a capital da República nova-


mente como a sede do Partido, como veremos no penúltimo trecho .
A "LANDESGRUPPE ARGENTINIEN " (Grupo-País Argen-
tina) tem a sede em Buenos Aires. Foi seu primeiro chefe Reinhold
Gerndt, após ter sido transformada a associação avulsa, por êle fun-
dada, em uma organização definitiva. Logo após esta transforma-
ção, Reinhold Gerndt, que gozou só por pouco tempo do título de
"Landesgruppenleiter", foi substituído pelo dr. Gottfried Brandt,
proprietário de uma Casa Importadora de artigos farmacêuticos e
químicos em Buenos Aires . Mas, também o dr. Brandt não conse-
guiu fixar-se. Teve de deixar o pôsto, por não ter sido considerado
mais como "persona grata" para o Partido Nacional-Socialista . Se-
guiu-se o sr. Kuester, ex-viajante comercial no Chile, chamado dêsse
país especialmente para assumir o alto pôsto de " Landesgruppen-
leiter" na Argentina. Kuester conservou-se no pôsto até 1938, sen-
do então substituído por Alfred Mueller, funcionário comercial em
Buenos Aires, muito conhecido nos meios desportivos platenses e
que se tornou conhecido também no Brasil pela publicidade do
"Caso da Patagônia", cuja denúncia ocorreu na gestão de Mueller.
A sede da LANDESGRUPPE CHILE" (Grupo-País Chile) é
em Santiago. O seu primeiro chefe foi Willy Koehn, anteriormen-
te um simples empregado do comércio, que tinha vindo para o
Chile após a Grande Guerra, chegando a tornar-se proprietário de
uma pequena oficina mecânica de automóveis. Em 1934, Kohen
foi transferido para Buenos Aires, afim de ocupar o alto pôsto de
"Auslandskomissar " der NSDAP fuer Suedamerikanisch Staaten"
(Comissário do Exterior da NSDAP para os países sul-americanos) .
A "LANDESGRUPPE PARAGUAI" montou sua sede em
Asuncion e teve por chefe o major von Reitzenstein, que, em 1936,
foi transferido para a Alemanha, onde foi trabalhar temporaria-
mente como chefe-seccional na "A-O" de Berlim .
A sede do "Kreis Uruguai” é em Montevidéu . Foi destacado
para seu chefe, na qualidade de " Kreisleiter" (Chefe do Círculo),
Félix Schmidt, anteriormente funcionário do Banco Alemão Tran-
satlântico de Buenos Aires e já também "Ajudante de ordens" e
secretário da "Landesgruppe Argentinien" em Buenos Aires.
Pôsto único no seu gênero e espécie, e que também só havia
na América do Sul, foi o de "Comissário do Exterior" . Pretendia-
se justificar esta "criação" com a afirmativa de que a grande dis-
tância entre o continente sul-americano e a Alemanha dificulta
muito a manutenção de um sistema organizado, de controle abso-
luto e de uma administração sistemática, tornado-se, por isto, ne-
cessário um pôsto que servisse de "ponto intermediário" entre a
“A-O” e as “Landesgruppen" . Buenos Aires foi escolhido como sede
dêste "ponto intermediário". (Na Asia Ocidental e na Austrália,
374 AURELIO DA SILVA PY

assim como na África do Sul, onde as distâncias são igualmente


um fator preponderante, não havia nenhum "Comissário do Exte-
rior", talvez porque o número de alemães lá fôsse muito inferior
ao da América do Sul).
O "Comissário do Exterior" estava subordinado diretamente à
"A-O". Tinha autoridade absoluta sôbre as "Landesgruppen" e
sôbre o "Kreis Uruguai", exercia um controle geral autorizado pela
"A-O" e dava tôdas as instruções necessárias, podendo, ainda, em
certos casos, tomar resoluções decisivas por si próprio. Em objeto
de suas funções, o "Comissário do Exterior" percorria assiduamen-
te todos os países da América do Sul e visitava regularmente tôdas
as "Landesgruppen" . Esse pôsto, porém, se tornou desnecessário
quando, com a ampliação do serviço aéreo alemão pela "Condor"
e "Luft-Hansa", os países sul-americanos ficaram tecnicamente mais
próximos da Alemanha.
O sr. Willy Koehn, ex-chefe da "Landesgruppe Chile", foi o
único "Comissário do Exterior", até esta data, que possuía a con-
fiança absoluta e total do "Gauleiter" Bohle. Trabalhava Koehn
ainda na Embaixada Alemã de Buenos Aires na qualidade de
"adido" e, como tal, gozava da " extraterritorialidade " (imunidade
consular). Viajava munido de um "Passaporte Diplomático", que
para êle era de enorme vantagem nas excursões pelos países da
América do Sul.
Concluímos com isto a divisão do continente sul-americano, tal
como tinha sido feito pelo Partido Nacional-Socialista, e continua-
mos agora com a análise da organização nazista interna de cada
país, representada pela "Landesgruppe".
Cada "Landesgruppe " (Grupo-País) subdivide-se em "Orts-
gruppen" (Grupos-locais), cada um com seu "Ortsgruppenleiter"
(Chefe do Grupo local) . Em países onde o número de alemães é
muito grande, há ainda "Círculos" (Kreise), que, na hierarquia
administrativa, figuram entre a "Landesgruppe" e as "Ortsgruppen”.
Estes "Círculos", porém, não são autônomos, como, por exemplo, o
"Círculo Uruguai", pois dependem da chefia da "Landesgruppe ".
Círculos desta natureza os há no Brasil e no Paraguai. No Brasil,
os "Círculos" acompanham a divisão estadual do país, isto é : para
cada Estado, um Círculo.
As "Ortsgruppen" (Grupos-locais), por sua vez, subdividem-se
em "Zellen" (Células), dirigidas por um " Zellenleiter" (Chefe de
Célula). Nas grandes cidades, há células em cada bairro e, no in-
terior do país ou Estado, figuram como células as pequenas locali-
dades. Somente grandes centros, como Buenos Aires, possuem den-
tro de si mais de um "Grupo local" com grande número de células.
As "Zellen" (Células) , finalmente, dividem-se em "Blocks" (Blo-
cos), com um chefe de bloco para superintendê-las. Nas grandes
A 5. COLUNA NO BRASIL 375

cidades, reúnem-se em tais " Blocks " os grandes blocos de edifícios


ou ruas extensas e, no interior do Estado, figuram como "Blocos"
as localidades longinquas e afastadas com reduzido número de
alemães.
Tôda a organização nazista do Exterior se baseia no sistema
estrutural-político da Alemanha Nazista, êste, aliás, copiado da or-
ganização política da União Soviética.
O grosso dos partidários fica reunido dentro dos Blocos e, por
intermédio dêstes, acham-se êles ligados às células, aos Grupos lo-
cais, aos Círculos, aos Grupos-Países, e finalmente à “ A-O ” .
Em algumas e raras exceções, para o que existem geralmente
motivos muito especiais, devido à personalidade do respectivo mem-
bro, por exemplo sua posição social, ou devido à missão a êle afeta
pode um partidário ser filiado diretamente à “Landesgruppe" ou
até diretamente à "A-O". Tais filiações são registadas em listas se-
cretas, principalmente quando isso se torne necessário por motivos
e questões políticas.
Como é notório, exige a NSDAP o totalitarismo. Isto quer di-
zer: a ela pertence todo alemão. Isto é, também, e sem diminuição
alguma, a lei para o Exterior. Quem, por motivo qualquer, não fôr,
não puder ou não quiser ser partidário, deverá filiar-se indiretamente
por intermédio de uma das suborganizações do Partido e por esta fi-
cará o "não-partidário " ligado ao Partido. Para êste fim, existem
no Exterior organizações semelhantes às existentes na Alemanha.
As principais entre elas são:

"Opferring" ― "Circulo do Sacrificio" destinado unica-


mente a satisfazer a grande ganância monetária
do Partido. As contribuições para o "Opferring"
são pagas mensalmente e os contribuintes figuram
como membros .
" DAF" "Deutsche Arbeits-Front" "Frente Alemã do
Trabalho". Abrange todo o funcionalismo do co-
mércio e indústria, intermedeia empregos, promo-
ve decisões judiciárias entre patrão e empregado,
resolve questões de salário, auxilia desempregados
e atende a todos os assuntos trabalhistas.
"NSV" - "National-Sozialistische Volkswohlfarht" "Pre-
vidência Popular Nacional-Socialista". Institui-
ção para auxiliar partidários doentes e desempre-
gados, subvencionar escolas e reembolsar despesas
feitas por partidários em serviço do Partido.
TN
-

238 AURELIO DA SILVA PY

tando-se medidas eficientes que evitem a sua reorganiza-


ção sob outro rótulo;
2) Proibição de divulgação da doutrina nazista e da comunhão
sanguínea, inclusive proibição da circulação de jornais, re-
vistas e publicações na imprensa nacional da mesma dou-
trina;

3) Nas escolas primárias o ensino só deve ser ministrado por


estrangeiros se estes residirem no Brasil há mais de 5 anos, Juven
ver
não pertencerem a partidos políticos e tiverem feito exame
de suficiência em português, história e geografia do Bra-
sil."

AJu
tante
naz
aded
o teór
30este
De a
nder
Hitler
Alema
acteriz

SatriCno
a
as ge
ata de
camin
Qua
pressã
no F
que
A Juventude Hitlerista no Rio Grande do Sul

" Nos meus burgos da Ordem, crescerá uma juven-


tude que fará tremer o mundo. Uma juventude vio-
lenta, imperiosa, intrépida, cruel" .
(Hitler, a Rauschning).

À Juventude Hitlerista (Hitlerjugend) cabe na Alemanha a


importante função de preparar as novas gerações, transformando-
as em nazistas cem por cento. Os jovens de ambos os sexos, desde
a idade do jardim-de-infância, começam a receber no Reich a edu-
cação teórica e prática julgada indispensável para a sua formação
como esteio futuro do Estado.
De acordo com o sonho nazista de reunir os alemães e seus
descendentes no estrangeiro na grande nação alemã, a organização
da Hitlerjugend estendeu sua jurisdição para além das fronteiras
da Alemanha, agindo com a mesma meticulosidade e precisão que
caracterizam a ação de todos os setores da máquina nacional- socia-
lista. Como aliás já vimos anteriormente, é claro o objetivo da
doutrinação dos jovens no estrangeiro: consolidar as chamadas "mi-
norias germânicas" que, oportunamente, desfecharão uma ação con-
junta de grande envergadura, ação de "Quinta Coluna", aplanando
o caminho para a invasão armada.
Quando a polícia sul-rio-grandense iniciou sua campanha de
repressão ao nazismo, extingiu naturalmente a Juventude Hitleris-
ta no Estado, a-pesar-das insistentes afirmativas de seus dirigentes
de que essa organiz ão tinha caráter político, não estando fi-
liada > jug Mlemanha, e a-pesar, também, do nome
aquí pe com a finalidade de camouflar-lhe o
obj Teuto- Brasileira (Deutsche-Brasilianischer
Ju
ent

le sileira era uma organização


na
la le Hitlerista da Alemanha; e
id
"Minorias" e "Maiorias" alemãs
no Rio-Grande

" Tôdas as correntes de sangue alemão fluem para


o Reich e aquí se unem com as suas passadas tra-
dições, seus símbolos e padrões e, sobretudo, aos
grandes homens dos quais os alemães de passados
períodos têm razão em se orgulhar ..."
(Hitler - "Minha Nova Ordem ").

Um dos lugares comuns preferidos pelo nazismo para se ames-


clar na vida interna de um país estranho é a suposta libertação das
minorias alemãs cujos interêsses poderão ser "defendidos e atendi-
dos unicamente pela Alemanha". Secundário é para os nazistas se
naquele ou naqueles países há efetivamente uma minoria alemã
do ponto de vista do direito internacional.
No Brasil, como nos demais países da América do Sul, não há
e nunca houve minorias de espécie alguma. Para a compreensão
dêste ponto, no nosso caso, talvez nos baste aquí dizer que somos
um país de imigração, com uma raça ainda em formação, mas já
com tendências definidas, e na qual entram proporcionalmente con-
tingentes de todas as correntes imigratórias. Tal como se formaram
as outras raças, inclusive a alemã, que é uma raça composta, como
será a nossa.

Demais, pelo nosso direito, que é automaticamente aceito por


quem livremente apela para a nossa hospitalidade (o que também
acontece na Alemanha), aquí só há duas espécies de cidadãos : o
nacional e o estrangeiro . O primeiro é o que nasce no Brasil, indi-
ferentemente à origem dos pais. O segundo é o que imigra para cá,
indiferentemente ao motivo que o traga.
A nova constituição da República deixa bem clara esta defini-
ção. As disposições que regulam a lei são publicamente conhecidas
e não deixam lugar a dúvidas.
Os nazistas, porém, se especializaram numa tática inversa do
"fair play": o "jôgo sujo”. O que vale para êles, não vale para os
A 5. COLUNA NO BRASIL 805

outros povos, e muito menos para as "sub-raças de mestiços". Para


isto, êles são o Herrenvolk, a raça de senhores.
E assim pretendem êles criar entre nós uma minoria alemã,
orientada e dirigida pela chefia nazista da Alemanha. A questão
foi muito mais longe do que geralmente se imagina. Para a Alema-
nha nazista existe uma minoria alemã no Brasil.
Vamos prová-lo.

ONDE APARECE UM MAPA DEMONSTRATIVO

Em Leipzig, no "Institut fuer Auslandskunde, Grenz-und Aus-


land-deutschtum", foi organizado um mapa da América do Sul de-
monstrativo das minorias e maiorias alemãs existentes neste hemis-
fério. (doc. N.º 50).
O Rio Grande do Sul é um dos Estados que mais atraem a
atenção alemã. Subtraindo-se dêle as minorias e maiorias, veremos
com surpresa que pouco sobra para o Brasil.
Uma questão sempre oportunistamente desmentida e rebatida
aparece neste mapa como uma verdade alarmante.
As cidades com minorias alemãs são em grande número. Ve-
mos entre elas : Candelária, Carasinho, Cruz Alta, Passo Fundo,
Ijuí, Roca Sales, Triunfo, Bom Retiro, São Pedro, Santa Maria,
Pindorama, Gramado, Canela, e os nossos portos : Pelotas e Rio
Grande. A capital do Estado possue igualmente uma minoria alemã.
O mapa demonstrativo nos oferece, porém, um fato completa-
mente ignorado ainda por todos os brasileiros : o de QUE ÉXIS-
TEM LUGARES EM NOSSO ESTADO COM MAIORIA ALE-
MÃ. A minoria é, portanto, de brasileiros.
Entre as cidades com maioria alemã temos : Novo Hamburgo,
Caí, Santa Rosa, Santa Cruz, Serro Azul, Cachoeira, José Bonifácio,
Teutônia, Monte Negro, Marcelino Ramos, Agudo, São Leopoldo,
Cêrro Branco, Taquara , Igrejinha , etc.
Os nomes dos lugares acima enumerados não são todos os que
constam do mapa. Tiramos exemplos. Para ver até onde vão as
minorias e maiorias basta examinar o mapa reproduzido neste livro.
Há interferência oficial da parte dos dirigentes da Alemanha
na questão da criação de minorias em países estranhos?
Sem vacilar, podemos responder afirmativamente.
Em primeiro lugar, êsse mapa saiu de um instituto oficial da
Alemanha e notório é que não há, na Alemanha atual, nenhuma
organização que não seja controlada e dirigida pelo Partido Na-
zista. Por conseguinte, trata-se de um mapa oficial e a responsabi
lidade de sua publicação cabe totalmente ao govêrno alemão.

20 - 5.a C.
806 AURELIO DA SILVA PY

OUTRAS PROVAS INCONTESTAVEIS

Há ainda outras provas para concretizar esta acusação. No


anuário do Partido Nacional-Socialista, de 1940, há um artigo de
autoria do Conselheiro da Justiça do " Reich", Dr. Horst Lubbe,
Chefe do Departamento de Direito da Organização do Exterior do
Partido Nacional-Socialista, o qual trata de maneira especial do di-
reito do alemão nos países estranhos.
Num outro capítulo dêste livro, sob o título "Panorama geral do
Nazismo na América do Sul” , estão reproduzidas as partes essenciais
dessa publicação do anuário.
Em síntese, o tratado do eminente conselheiro nacional - socia-
lista, em tom arrogante, quer prevenir os países cujas normas regu-
lamentares da situação dos estrangeiros são inconvenientes à Ale-
manha de que tratem de mudar sua orientação, pondo-a de acordo
com o "direito internacional do estrangeiro" do ponto-de-vista na-
cional-socialista.
Há entre a publicação do anuário nazista e do mapa demons-
trativo uma afinidade que não deixa dúvidas sobre o fundo da
questão, O ESPAÇO VITAL ALEMÃO, cuja conquista não res-
peita leis, nem fronteiras, nem constituições.
Exagêro? Absolutamente não.
O anuário nacional-socialista de 1938, tão oficial como o de
1940, acima citado, traz uma publicação sob o título " Alemães no
Universo", cujo assunto gira em tôrno dos alemães do Exterior que
representam as minorias alemãs. O artigo cita, à página 322, uma
declaração do estadista brasileiro Melo Franco, segundo a qual o
espírito dos tratados da “Liga das Nações", com respeito às mino-
rias, é o da assimilação gradativa destas à estrutura da nação . Con-
tra isto, o autor do artigo sustenta que, após 1933, surgiram as me-
lhores fôrças racistas defensivas dentre os grupos alemães, que, em-
bora não sendo ainda uma organização juridicamente reconhecida
para combater aqueles rumos, criaram uma situação nova, impos-
sível de ser desmentida e perante a qual os aproveitadores de trata-
dos terão um dia de prestar contas.
Entre as nações atingidas pela ameaça e as insinuações do ar-
ticulista desta publicação oficial alemã figura de maneira saliente
o Brasil. Por duas vezes há alusão a nós : uma vez, na mesma pá-
gina, quando se declara que os colonos rio-grandenses, nascidos
aquí mas descendentes de alemães, são considerados alemães, e a
outra vez, no caso acima relatado.
E os exemplos desta natureza são inesgotáveis. Vamos apresen-
tar mais alguns .
A 5. COLUNA NO BRASIL 807

"UM PEQUENO PEDAÇO DA ALEMANHA", NO BRASIL .

Em 1933, foi impresso em Stuttgart uma brochura sob o título :


"Neu-Wuertemberg - Eine Siedlug Deutscher in Rio Grande do
Sul, Brasilien", a qual, em sua introdução, assinada por Manfred
Griesebach, se referia a Pindorama do seguinte modo :

"Neu-Wuerttemberg é o centro espiritual e econômico


de tôda a região colonial serrana do Rio Grande do Sul. Ela
representa, como bem diz o "Deutsche Post" de São Leopoldo
de 11 de maio de 1928 :

"Um pequeno pedaço da Alemanha, que, mesmo com


uma existência de quase 40 anos, ainda possue a vida, costu-
mes e maneiras alemãs" . Com o seu desenvolvimento, deve
encorajar-se e fortalecer- se tôda a comunidade alemã do Brasil” .

Esta mesma publicação, que é todo um conjunto de germanis-


mo exaltado, traz em seu prefácio, como apresentação, o seguinte
trecho realmente impressionante :

"Com a publicação dêste opúsculo sôbre a nossa linda


Neu-Wuerttemberg, tencionamos duas cousas : primeiro, que-
remos mostrar ao povo alemão, no qual há cada vez maior
interêsse pelos alemães do Exterior, como foi criada e desen-
volvida aquí no distante Brasil, sob grandes sacrifícios e tam-
bém sob organização alemã ideal e ativa, uma colonização
que com todo o seu amor à nova Pátria conserva seu caráter
puramente alemão, e onde vivem hoje felizes cêrca de 12.000
alemães".

São dois casos onde se pretende focar a existência de uma


maioria alemã, embora Pindorama, o "pivot" do assunto, esteja
assinalado no mapa como “minoria”.
Antes de encerrar êste capítulo, vamos dar a palavra ainda ao
sr. Hans Henning von Cossel, ex-chefe nazista do Brasil e atual-
mente membro do corpo diplomático da embaixada alemã do Rio.
Eis o que êle afirma numa reportagem sua no anuário "Wir Deu-
tsche in der Welt", ano 1935, página 49, sob o título “Uma viagem
pela comunidade alemã no Brasil" :

"Quando a gente chega da velha Pátria e se aproxima,


pela primeira vez, do continente sul-americano ― geralmente
é a Capital Federal, Rio de Janeiro - as ilhas cheias de pal-
meiras, na entrada, nos causam uma impressão deveras estra-
nha, tão tipicamente tropical, que nem sequer por um mo-
mento há uma reflexão sobre como é grande a influência ale
mã em outras partes do Brasil" ,
308 AURELIO DA SILVA PY

E êste mesmo leader nazista, o verdadeiro organizador do na-


zismo no Brasil, que logo após a proibição conseguiu embarcar para
a Alemanha para depois voltar "imunizado" por um cargo diplomá-
tico, descreve o predomínio alemão em Blumenau, à página 55 do
mesmo anuário, da seguinte maneira :

"Blumenau é certamente a cidade do Brasil cujo nome


é mais conhecido na Alemanha. E' difícil imaginar o que
significa encontrar no centro da América do Sul uma cidade
onde há dificuldade para se ouvir ao menos uma palavra em
português, onde tôdas as casas fazem recordar uma cidade da
Alemanha Central e onde tôdas as casas de negócios e seus
letreiros são alemães. Vêem-se, lá e cá, algumas palmeiras,
mas elas nos parecem deslocadas num lugar em que até os pou-
cos negros falam o alemão e se sentem bons patrícios alemães. "

Exemplos como estes há em quantidade, desde os "inofensivos"


até os "ofensivos". A literatura nazista destinada ao Brasil é repleta
de tais enxertos oriundos de mentes exóticas.
Um mapa dividindo o Brasil já não nos causa mais tanta es-
tranheza, nem admiração, depois de termos lido estes exemplos de
fontes oficiais.

COMO SE TENTOU " FABRICAR" EM NOSSO


ESTADO UMA MINORIA ALEMÃ

"Todos os alemães desta terra "(Brasil)" são teuto-brasileiros,


isto é, já nascidos aquí."
Esta frase sugestiva, que exprime o ponto-de-vista nacional-
socialista, encontra-se no número especial da revista "Der Deutsche
im Ausland", dedicada especialmente ao Brasil e editada pelo "De-
partamento Exterior do Instituto Central de Educação e Instrução. ”
Temos aí uma declaração oficial. Quem nasce no Brasil bem
pode ser também alemão .
Pela fórmula "Sangue e Raça", pretende o nacional-socialismo
desviar do seio de nossa nação milhares e milhares de cidadãos, que,
embora descendentes de alemães, nem sequer sonham com uma li-
gação com a Alemanha . Todos, sem exceção, mesmo os de quarta,
quinta ou sexta geração, o nazismo os engloba num Reich alemão
fictício .

OS DESCENDENTES DE ALEMÃES PASSAM A SER


"ALEMÃES DO EXTERIOR"

Os descendentes de alemães nem sempre foram designados como


teuto-brasileiros ; nestes últimos tempos, receberam de parte da Ale-
A 5. COLUNA NO BRASIL 309

manha uma nova qualificação, "Auslandsdeutsche", ou seja


"Alemães do Exterior." Folhemos o anuário nacional-socialista de
1938. A página 320, sob o título "Os Alemães no Universo", lemos
o seguinte:

"O termo "Auslandsdeutscher" é complexo. No uso


comum da língua, quer se designar com isso os alemães natos
do "Reich" , numa forma de abreviação não aceitável, por-
tanto. "Volksgenossen" são os que possuem a cidadania
alemã e se dedicam a um mister, dentro de país estranho,
como técnicos ou comerciantes, e os quais em geral têm a in-
tenção de regressar novamente à Alemanha. Contrariamente
a êles, os verdadeiros alemães do Exterior são os "Volksge-
nossen", alemães de nacionalidade estranha, como por exemplo
os colonos alemães do Rio Grande do Sul, que por sua cida-
dania são brasileiros."

A-pesar-de um pouco confusa, é esta uma técla em que batem


todos, os grandes e pequenos nazistas, os educadores germânicos, os
chefes nazistas, e, lamentavelmente, também muitos teuto-brasilei-
ros, uns por conveniência, outros por ignorância e, ainda aiguns, por
ingratidão.
Como quer que seja, a moda pegou.
Numa publicação de Curitiba, do ano de 1926, cujo criador é
o dr. Ernesto Niemeyer, vemos à página 75 :

Nós, os teuto-brasileiros, somos os herdeiros do espírito


alemão . A língua materna e as recordações dos nossos ascen-
dentes nos inspiram um amor à Alemanha que é quase pro-
fundo como um acontecimento pessoal."

Argumento idêntico é usado pelo escritor dr. Karl Heinrich Obe-


racker numa publicação de 1928, sob o título “A situação política
da comunidade alemã no Rio Grande do Sul” . À página 29, sob o
título “Raça e Língua", lemos :

"Na expressão Comunidade Alemã Rio-Grandense se su-


bentendem todos os rio-grandenses que diferem de seus con-
cidadãos por sua descendência alemã, isto é, por sua ligação
à comunhão do sangue germânico, pelo uso da língua mater-
na alemã e por seus costumes alemães . E', em tal caso, indi-
ferente se os seus ascendentes foram da Alemanha, da Suiça,
Austria, Rússia ou de outro país qualquer."

Este é o ensinamento dado aos nossos compatriotas de origem


alemã e êste, o espírito da educação nazista ministrada nos colégios
alemães do nosso Estado .
310 AURELIO DA SILVA PY

A germanização do indivíduo deve começar em casa, pois os


dez mandamentos do "Auslandsdeutsche" determinam, em dois de
seus ítens:

Zelar para que teus filhos falem e pensem em alemão,


pois êles usam o teu nome ;
Zelar para que em teu lar e nas reuniões de tuas socie-
dades se fale alemão entre alemães.

Cumprindo a determinação procedente do "Reich", alemães e


teuto-brasileiros daquí educam seus filhos num espírito essencial-
mente germânico, sufocando todo e qualquer sentimento de bra-
silidade.
Nos colégios, a educação segue a mesma orientação.
A igreja alemã não é menos politiqueira , como provamos nos
capítulos dedicados aos pastores alemães e à sua atuação em nosso
Estado.
O adolescente sai do colégio bem germanizado e sabe que per-
tence à raça ariana. Quando se casa, trata de procurar uma compa-
nehira de sangue igual, seguindo os conselhos dos educadores na-
zistas.
Associa-se, já moço, às sociedades existentes, onde tem ocasião
de cultivar os costumes e tradições alemães. Essas sociedades, com
raras exceções, são filiadas à VDA ou VDV, com sede em Berlim.

LEGENDAS E CASOS EXPRESSIVOS

Para que não haja dúvida sôbre a posição política definida


destas organizações, citamos estas legendas da VDA:

"Por que a VDA é forte ?


Porque a VDA se funda decididamente no terreno do
pensamento germânico, isto é, no terreno nacional-socialista;
Porque os chefes da VDA são , sem exceção, nacional-
socialistas de espírito e não só de filiação;
Porque o verdadeiro membro da VDA é um verdadeiro
nacional-socialista, isto é, pela VDA êle se dirige confiante-
mente para o nacional-socialismo."

Isto pode ser lido na publicação oficial dessa organização, edi-


tada sob o título "Sinn und Wesen des VDA", de autoria do dr.
Phil. Otto Schaefer, chefe regional da VDA.
O teuto-brasileiro é, assim, completamente desviado de seu ca-
minho patriótico. Considera-se alemão e defende cegamente a
causa germânica, sem refletir e sem pensar. Se houvesse reflexão,
não haveria casos como o que vamos narrar.
A 5. COLUNA NO BRASIL 311

Por ocasião dos preparativos para a comemoração do primeiro


"Dia do Colono", em homenagem ao centenário da imigração ale-
mā no Brasil, um grupo de orientadores teuto-brasileiros se dirigiu
ao governo alemão para que o então presidente Hindenburg desse
apôio moral ao acontecimento .
O pedido foi atendido. O velho marechal Hindenburg reme-
teu aos teuto-brasileiros uma curiosa mensagem, assinada pelo pró-
prio punho e concebida nos seguintes termos :

"Amor à nova Pátria,


Fidelidade à velha Pátria-Mãe.
Este deve ser o sentimento de união de todos os brasi-
leiros de sangue alemão .

(Ass. ) Von Hindenburg.


Berlim, 3 de fevereiro de 1933."

Esta mensagem, é lógico, foi redigida em alemão, e a tradução


que reproduzimos é estritamente literal .
Os leaders teuto-brasileiros, entretanto, ao receberein esta men-
sagem, não se sentiram muito bem com a expressão "fidelidade" à
Alemanha. Não porque não estivessem satisfeitos pessoalmente e
de acordo com Von Hindenburg, mas porque sabiam muito bem
que isto, publicado, traria complicações ou ao menos a reação da-
queles descendentes de alemães que não sentem nem amor, nem
fidelidade à Alemanha, simplesmente porque são brasileiros bons
e concientes.
O assunto foi resolvido então de maneira bem simples. A
mensagem de Von Hindenburg foi substituída por uma proclama-
ção teuto-brasileira, feita pela “Associação 25 de Julho", da qual
era presidente em nosso Estado o sr. Fritz Rotermund, de São Leo-
poldo. Eis a redação:

"Em memória de nossos pais!


A nós, como doutrina !
A bem de nossa Pátria !"

Também esta legenda apareceu em alemão e foi distribuída


aos milhares em forma de cartazes.
A saudação original de Hindenburg foi vista só “internamen-
te", enquanto em público aparecia apenas a proclamação local.
E' esta uma página lamentável da história dos descendentes de
alemães, vítimas de uma propaganda tenaz de desvirtuamento do
espírito cívico realizado pelo nacional-socialismo alemão, que, com
a sua doutrina, visava claramente a formação de uma miñoria ra-
cial e política entre nós ,
312 AURELIO DA SILVA PY

A tempo, o Brasil despertou para sanar o mal, já bastante en-


cravado. A nacionalização foi uma medida de urgência, pois nos
encontrávamos à beira do abismo.

PRECONIZADO O RECONHECIMENTO DA “NOVA GRANDE


PÁTRIA ALEMÃ

O nacional-socialismo , porém, não perde oportunidade para


demonstrar seu descontentamento para com a nova orientação na-
cionalista do Brasil . A medida do nosso govêrno foi encarada como
"política de desnacionalização de uma minoria."
O “Guia Industrial e Comercial Alemão-Brasileiro " , editado
em 1939 pela " Hansiatische Verlagsanstalt" de Hamburgo/Berlim,
e compilado pelo dr. Karl Trucksaess, é uma publicação comercial
que visa estreitar os laços de amizade entre o Brasil e a Alemanha.
Ūma série de artigos de homens proeminentes na vida política, eco-
nômica e pública da Alemanha enriquece a obra. Entre êles há
uma colaboração, redigida em português, sob o título "As relações
nacionais e culturais", de autoria do dr. O. Quelle, professor da
"Escola Politécnica Superior de Berlim-Charlottenburg". O artigo
enaltece os grandes feitos culturais, artísticos e econômicos dos ale-
mães no Brasil e sua participação no progresso do nosso país. Até
aí, tudo bem.
Mas, o autor, no final de sua dissertação, toca numa questão
interna do país, as medidas de nacionalização, esquecendo-se por
completo de que o Brasil é uma casa alheia.
Vamos repetir as palavras do autor, para que o leitor faça o
seu próprio julgamento :

"Os teuto-brasileiros dos centros urbanos já estão mos-


trando bastantes indícios de desnacionalização.
A isso vem juntar-se mais uma cousa. De alguns anos
para cá sente-se no Brasil, como aliás em outros Estados sul-
americanos, uma forte corrente nacionalista . O lema é : re-
pressão e quasi completa supressão da língua alemã como
língua de ensino nas escolas. Depois, veio a dificuldade de
os alemães não poderem participar livremente, como até en-
tão, do desenvolvimento da vida econômica do Brasil. Os
dispositivos da Constituição Brasileira de 1937 foram duma
importância decisiva nesse tocante. Não resta dúvida que a
posição dos teuto-brasileiros e também a conservação do seu
caráter, foram profundamente influenciados por estas medi-
das. Ainda é impossível julgar dos efeitos dêsses dispositivos
sôbre o total da população de língua alemã . Uma coisa,
porém, é certa : a quantidade infinita de bens culturais leva-
dos da Alemanha ao Brasil, que vieram enriquecer a sua vida
econômica e intelectual em tão larga escala, nunca será per-
A 5. COLUNA NO BRASIL 313

dida se os alemães QUE NASCERAM NO BRASIL e acha-


ram aí sua nova pátria, se dirigirem em tôdas as suas ações
por um profundo sentimento de reconhecimento pela terra on-
de nasceram e pela NOVA GRANDE PÅTRIA ALEMA,
de que, antigamente, emigraram os seus antepassados e na
qual está enraizada a sua vida intelectual."

A linguagem é clara. Diante desta verdadeira conspiração


branca sucumbiram inúmeros patrícios nossos que, a-pesar-de todos
os pesares, continuam supondo que são bons brasileiros e grandes
patriotas.
Ainda a questão dos pastores protestantes

"Não podemos admitir que esta autoridade (a do


governo) , que é a autoridade do povo alemão, seja
atacada por qualquer outro poder. Isto também se
aplica a todas as Igrejas. Enquanto se ocuparem
com os respectivos problemas religiosos, o Estado
não se imiscuirá nos negócios eclesiasticos" .
(Hitler Discurso de 1-5-1937, em Berlim).

A época atual, tormentosa e sensacional, traz com frequência ao


nosso conhecimento fatos que dantes nos pareceriam inacreditáveis.
Já não nos surpreende que até a religião seja levada pela tor-
rente do nazi-fascismo, servindo de instrumento para sua ação polí
tica.
Outrora, usavam-se as vestimentas e as credenciais do sacerdote
para mascarar um espião que não tinha relação alguma com religião.
Um sacerdote verdadeiro dificilmente se prestaria para semelhante
missão.
Hoje, já não é assim. Sacerdotes autênticos dedicam-se, ao lado
da profissão eclesiástica, a atividades políticas em favor de seu país
de origem. Trata-se, lamentavelmente, de um fato verídico e pro-
vado. Nosso próprio Estado não deixou de ser visitado por muitos
dêsses agentes político-religiosos.
Se os referidos sacerdotes se limitassem a servir a pátria de ori-
gem, auxiliando os cônsules como confidenciários e agentes de in-
formação, não podíamos ser tão rigorosos na sua acusação. Não foi,
porém, isso que aconteceu . Houve por parte dessa espécie de reli-
giosos uma ingerência culposa e inconveniente na vida política in-
terna de nosso país, com o pleno conhecimento do governo alemão .
Examinemos o testemunho eloquente dos fatos.
Nos dias 6 e 7 de junho do ano de 1939, houve na cidade de
Potsdam, Alemanha, um Congresso da "Associação dos antigos e
atuais pastores protestantes no exterior", cuja sede é em Koenigs-
berg. Dirigia os trabalhos o presidente da organização, pastor Blied-
ner. Estavam presentes 30 pastores protestantes e certo número de
convidados de honra.
A 5. COLUNA NO BRASIL 315

Durante o Congresso, diversos problemas foram ventilados, ten-


do havido discursos, dissertações e debates. Entre as questões deba-
tidas houve esta:

"QUE DEVEMOS FAZER NOS CASOS EM QUE


UMA DESGERMANIZAÇÃO SE APRESENTE INEVI-
TAVEL ?"

Tratou do assunto, numa longa palestra, o pastor Dedekind,


natural de Elberfeld, que, com expressões "impressionantes", focou
o problema em sua forma moderna.
Uma reportagem, que se encontra na revista "Der Deutsche
Ansiedler", publicação da " Ordem evangélica dos protestantes ale-
mães da América do Sul” , faz a seguinte referência sôbre o espírito
da conferência do pastor Dedekind :

"Ele apresentou uma vista geral da situação dos alemães


evangélicos no Brasil, que estão sendo atingidos seriamente
pela pressão de uma violenta perseguição antialemã em diver-
sos Estados daquele país. O caminho, adotado pelo Brasil
para criar um povo brasileiro integral, NOS PARECE ER-
RADO. O procedimento brutal de alguns luso-brasileiros
exaltados contra tudo que é estranho e contra os povos imi-
grados no Brasil SÓ PODE REDUNDAR EM PREJUÍZO
DO PRÓPRIO BRASIL” .

Problemas internos do Brasil debatidos num congresso alemão


na Alemanha!
Mas não é a primeira vez que essa ordem evangélica se intro-
mete em assuntos internos de nossa pátria. O “Deutsche Ansiedler” ,
o porta-voz da referida organização, quase que em todos os números
traz referências desabonatórias ao Brasil e até ataques pessoais ve-
xatórios a membros do nosso govêrno, dentre os quais o mais pre-
ferido, como alvo, é o Ministro Osvaldo Aranha.
Ignorará a censura alemã, célebre pela sua precisão de controle,
estes fatos?
Um outro pastor protestante, Max Strauss, publicou em 1935
uma brochura sob o título "Vista da atividade colonial alemã no
Estado do Rio Grande do Sul", onde é exposta a teoria racial aria-
na, da qual o referido autor se apresenta como brilhante defensor.
O pastor Max Strauss é inimigo da mistura de raças e, sem dúvida
seguindo ordens superiores, combate tenazmente tôda a política de
assimilação.
Vamos citar um trecho da obra dêsse pastor, à página 31 :

"O colono alemão não quer trair, nem jamais trairá,


seus bens culturais. Ele sabe que conseguiu progredir unica-
mente por causa das virtudes e valores de seu ser germânico.
316 AURELIO DA SILVA PY

Ele verifica em diversos exemplos reais que onde o colono ale-


mão se absorve pela assimilação, onde trai a origem, surge
uma queda moral profunda. Os descendentes de tão triste
mistura de raças são indivíduos impotentes, não são mais
aqueles homens vigorosos, trabalhadores e disciplinados que
sempre vencem e resistem a tôdas as crises, progredindo sem-
pre. São geralmente uma espécie humana infetada com os
vicios das duas raças."

Outro exemplo que merece citação é o da obra do pastor Sieg-


fried Heine: "Als deutscher Pfarrer und Schulleiter in Suedbrasi-
lien", que traz a seguinte nota à guisa de apresentação :

"ESTA PUBLICAÇÃO PASSOU PELA COMISSÃO


OFICIAL DE CONTROLE EM DEFESA DE PUBLICA-
ÇÕES NACIONAL-SOCIALISTAS".

Trata-se, portanto, de uma publicação oficializada pela referi-


da Comissão. Vamos nos ocupar agora de seu conteúdo, que é, todo ,
um verdadeiro atentado ao Brasil. Página por página, deparam-se-
nos referências insultuosas ao Brasil ou ao seu povo .
Negros, mestiços, mulatos, preguiçosos, impotentes, fracassados,
estes e outros são os termos usados pelo pastor Heine com referên-
cia aos brasileiros . O povo brasileiro não existe para o pastor Heine.
Se, na opinião dêste homem, se tirassem os alemães do Brasil, pou-
cos valores humanos sobrariam aquí.
Não podemos compreender como um homem de posição, de
responsabilidade e que conhece o Brasil, porque aquí viveu tantos
anos, pôde redigir tais absurdos, sem que a vergonha lhe estacasse
a pena .
Não vamos repetir tôdas as monstruosidades do pastor Heine.
O que queremos fazer constar claramente é que êle é, e foi aquí
no Brasil, um agente nazista. Na página 48, escreve como título de
um capítulo: "Minha luta política e o início do nacional-socialis-
mo".
Estamos à frente, pois, de uma confissão que deverá servir de
exemplo para aqueles que duvidam dessas cousas . Veja-se o que
diz o "religioso" nazista no prefácio:

"Que esta obra seja finalmente de utilidade para os jo-


vens nacional- socialistas que, como profetas do nome alemão,
vão pelo mundo afora."

Para satisfazer a curiosidade do leitor, transcreveremos mais


alguns trechos, que vêm fortalecer a nossa opinião :
A 5. COLUNA NO BRASIL 317

Pág. 9: "O número de teuto-brasileiros, portanto dos ALEMAES


QUE NASCERAM NO BRASIL como descendentes dos emi-
grados da Alemanha, é calculado em 700.000 ”.
Pág. 21: "Grande é o entusiasmo quando ouvem os sons da canção
"Horst Wessel" (hino oficial nazista ) . Pois merece obser-
vação que também em Santa Cruz existe um núcleo do Par-
tido Nacional-Socialista. O alemão no Exterior está plena-
mente convicto de que uma nova Alemanha só pode ser cria-
da com Adolf Hitler" .
Pág. 22: "Existem diversos jornais alemães. O mais importante é o
"Kolonie", que já nos anos de luta, antes da ascensão de Hi-
tler, se achava no terreno do nacional-socialismo e merecera
por isso o desagrado do então cônsul alemão Walbeck, con-
trário ao nazismo ."
Pág. 57: "O objetivo histórico dos alemães é EDUCAR OUTROS
POVOS."

Aí fala um representante da "raça de senhores" .

Pág. 57 : "Se não conseguirmos a nossa liberdade cultural , repatriare-


mos os descendentes ao reino dos alemães."

Tôda esta doutrina que inspirou o pastor Heine encontramos


também em outras publicações, que, entretanto, usam um tom mais
discreto.
Quanto à ameaça do pastor de que os alemães serão repatria-
dos, ela já foi, em parte, posta em execução.
E' interessante que, como executor do repatriamento, figure
também um leader nazista, que conseguiu fugir antes do encerra-
mento das atividades nazistas em nosso Estado . Trata-se de Walter
Hornig, o técnico e organizador das formações nazistas no Rio
Grande do Sul, o qual, pelos grandes serviços prestados aquí, foi
colocado num alto pôsto em Hamburgo, como chefe da "Organiza-
ção Exterior". Dois telegramas procedentes de Hamburgo, publica-
dos no "La Plata-Post" de Buenos-Aires, ano de 1938, o confirmam:

“Hamburgo, 6 de julho. A bordo do "Monte Olívia”,


chegaram hoje aquí 600 alemães vindos do Brasil. Como
representante do "Gauleiter" Bohle, foram os recém- vindos
recebidos pelo chefe da Organização Exterior em Hamburgo,
sr. Walter Hornig, e pelo chefe de Repatriamento, sr. Go-
peli. Os repatriados foram distribuídos em lares instalados
pela " Secção de Repatriamento" de Hamburgo, Berlim, Stutt-
gart, Priem em Chiemsee. Nesses lares ficarão os repatria-
dos até se conseguir trabalho para êles."
"Hamburgo, 6 de julho. Os 600 alemães do Brasil
que voltaram para a Alemanha se declararam contentíssimos
por se encontrarem novamente na Alemanha. Muitos se quei-
xaram das perseguições a que estão expostos os alemães no
318 AURELIO DA SILVA PY

Brasil. Um repatriado conta que, em diversas cidades, é proi-


bido se reunirem mais de 10 alemães num recinto. Outro
afirma que, em cidades de menos de mil habitantes, traba-
lham seis e mais policiais secretas, cuja única ocupação é es-
pionar os alemães. Um pedreiro narra que foi pôsto no xa-
drez somente porque cantou uma canção alemã, que até no
rádio se canta. A-pesar-de sofrer de hérnia, foi obrigado a
carregar água para cima de um morro, assim como tirar su-
jeira das cocheiras e das barracas dos lusos. Quando pergun-
tou por qual motivo tinha sido preso, foi-lhe feita a obser-
vação de que calasse a bôca, do contrário voltaria para o
xadrez . Certos jornais promovem uma campanha antialemā,
o que resultou em providências de categoria inferior, embora
o declarante julgue que o governo central não esteja de acôr-
do com essas providências antialemãs.”

Este trecho pode parecer sem relação com o tema principal,


referente aos pastores. Mas há relação : entre êsses 600 alemães se
encontravam muitos pastores que regressavam com as vítimas de
suas doutrinas.
Eles se foram, mas, infelizmente, outros vieram tomar seus lu-
gares. Entre êles encontram-se dois recentemente processados por
atividades nazistas públicas em Novo Hamburgo.
"ORDEM E PROGRESSO"

66
ou o alemão é o primeiro soldado do mundo,
ou deixa absolutamente de ser soldado. Deixar de
ser soldado nós não podemos e nem "" queremos. Por-
tanto, temos que ser os primeiros.'
(Hitler "Minha Nova Ordem”) .

Uma família de Pôrto Alegre recebeu da Alemanha uma revis-


ta em que, segundo o remetente, há um "belo" artigo sôbre o Bra-
sil. O destinatário leu e achou "interessante", mas em sentido in-
verso do que nós costumamos usar êste adjetivo. A revista foi de
mão em mão, e, finalmente, veio parar na polícia.
Trata-se da revista oficial para o exército, marinha e aviação
alemães, intitulada "Wolk unr Wehr", publicação de junho de
1938. (Doc. n.º 51 ) . O artigo traz como título : "Ordem e Progres-
so", e como subtítulo : "Soldados de descendência alemã no Brasil".
Diversos instantâneos ilustram a dissertação e pretendem de-
monstrar quão grande é a harmonia entre o soldado de descendên-
cia alemã e o soldado "luso-brasileiro " .
O artigo não traz assinatura. Portanto, é responsável a reda-
ção da revista militar alemã.
Feita esta apresentação, vamos transcrevê-lo na íntegra, em
tradução: (Doc. n.º 52).

"ORDEM E PROGRESSO"

Soldados de descendência alemã no Brasil


"Os pomeranos conquistaram do Brasil a Província do
Espírito Santo !"

"Nesta frase, gravada pelos brasileiros, se confessa o


grande respeito que têm os senhores do poderoso reino dos
Estados Unidos do Brasil por seus imigrantes alemães. ÊS-
ses pomeranos, que vieram ao Brasil pelo ano de 1850 e fo-
ram encaminhados, pelo então Imperador Dom Pedro II, ao
Estado de Espírito Santo ainda completamente bravio, tra-
varam uma luta de várias gerações contra a mata virgem e
320 AURELIO DA SILVA PY

as demais dificuldades do país, até conseguir transformar sua


nova pátria num exemplo perfeito de labor e tenacidade ger-
mânica. Dom Pedro, muito breve, concedeu aos seus novos
súbditos os direitos de cidadania, mas como brasileiros lhes
impôs também deveres. E assim é que, para os filhos dos
colonos alemães, representa um nobre dever prestar o servi-
ço militar no exército brasileiro.
"Esses jovens pouco sabem da Alemanha, muito pouco
também da vida de seus ascendentes. Mas uma coisa êles
sabem :

Que são alemães pelo sangue

"Eles estão, como os alemães de tôda a parte, bem ar-


raigados na terra conquistada das matas pelos braços incan-
sáveis de seus pais e avós e sempre prontos para defender,
até o último, essa terra conquistada pelas armas da paz.
"E' uma particularidade especial dos colonos alemães de
Espírito Santo, relativa ao seu caráter, de êles terem vivido
completamente isolados desde sua imigração . Eles, por ve-
zes, perdiam todo o contacto com a grande pátria de todos
os alemães, mas também não encontravam, pessoalmente, no-
vas relações e ligações com os habitantes da terra. Esta orien-
tação foi, naturalmente, favorecida consideravelmente pelos
costumes do País, adversos a tôda e qualquer comunicabili-
dade. Considera-se, ainda hoje, pessoa muito viajada e ex-
periente quem alguma vez na vida esteve na Capital do Es-
tado, Vitória, ou foi até a Costa distante uns 60 quilôme-
tros. Quando, pois, uma classe militar é chamada, verifica-
se primeiramente que os jovens alemães quase não sabem falar
o português.
"A maior parte vem a conhecer automóvel, trem e uma
cidade pela primeira vez, durante a viagem ao quartel. Esta
obrigatoriedade de ter que sair da mata caseira para atender
o serviço militar lhes desvenda o mundo pela primeira vez
e lhes amplia o horizonte. Desta maneira, possue o serviço
militar um grande valor educativo . Mas, embora seus cos-
tumes sejam excelentes e bem alemães é tão cerrado o círculo
de sua vida particular, que esta gente, nas mais das vezes, an-
da um século atrás da época moderna. Isto provém em
parte do fato de o Estado brasileiro os ter deixado pratica-
mente com auto-administração . Só havia escolas alemãs,
onde os professores tentavam com sacrifício conservar-lhes não
somente a língua alemã, como também administrar-lhes pelo
menos alguns princípios fundamentais da língua brasileira.
"Por suas excelentes qualidades de caráter, por sua dig-
nidade e suas altas virtudes soldadescas, são os RECRUTAS
ALEMÃES altamente apreciados no exército Brasileiro.
"Alguns entre êles permanecem na tropa após o ano re-
gulamentar e são promovidos rapidamente.
"Ouve-se sempre afirmar por êles que feliz acontect-
A 5. COLUNA NO BRASIL 321

mento foi quando, pela primeira vez em sua vida, vinham


a conhecer alemães do "Reich" na sede do Regimento, pois
não há quase nenhuma localidade grande no Brasil onde não
estejam radicados alemães. Desta maneira lhes oferece jus-
tamente, êste serviço prestado ao Estado brasileiro, uma nova
e aprofundada compreensão da comunidade alemã.

"E' O GERMANISMO dêsses filhos de colonos, NÃO


ABANDONADO EM TEMPO ALGUM, que os
torna cidadãos exemplares de sua pátria atual.
"São êles tão bons ALEMÃES conservando sua língua,
costumes e cultura, como são bons brasileiros, cidadãos de
um dos países de maior futuro do mundo.
"Ordem e Progresso" "Ordnung und Fortschritt"
êste lema do ANTIGO ESTADO FEDERAL BRASILEI-
RO, TRANSFORMADO HOJE em ESTADO UNITÁRIO
após a nova Constituição de 10 de novembro de 1937, este-
ve em data bem recente seriamente ameaçado por tentativas
de subversão por parte dos integralistas. Foi o exército bra-
sileiro, nesse momento, o único apôio do presidente brasilei-
ro, Getúlio Vargas. Se fracassou a revolta da segunda me-
tade de maio, foi só porque o exército brasileiro se conser-
vara fiel e foi possível mobilizar as tropas rapidamente, nu-
ma prontidão urgente e eficaz. Esta prova de segurança e
hombridade interna do exército brasileiro encontrou, porém,
em tôdas as épocas, seus melhores representantes entre os ele-
mentos de descendência alemã, embora CERTAS PROVI-
DÊNCIAS do presidente, assim como uma MANOBRA IN-
COMPREENSÍVEL de grupos estranhos ao povo, tenham
permitido a mal-intencionados professar justamente o contrá-
rio. Também nas fileiras do exército brasileiro havia um
grande número de adeptos ativos do chefe Salgado, de inte-
gralistas, e deve dar-se por isto maior importância ao fato
de a tropa ter permanecido fiel ao presidente, A-PESAR- DAS
DIFERENÇAS EXISTENTES" .

Tecer comentários sôbre um assunto desta espécie torna-se com-


pletamente desnecessário. E' assim que se desvirtuam os fatos e se
orienta a opinião pública na Alemanha. Não podemos acusar di-
retamente os diretores da revista militar, pois êles estão muito lon-
ge para examinar a procedência do artigo que lhes foi remetido.
Acusamos, porém, mesmo lhe ignorando a identidade, êsse es-
critor QUINTA -COLUNISTA que se encontra entre nós, usando
de tais meios de propaganda nazi .
Mas, não se trata de um caso excepcional, inédito.
Existem publicações análogas . Vamos reproduzir um “conto "
do livro "Os alemães no Brasil", editado em alemão , em 1926, na
cidade de Curitiba e de autoria do dr. Ernesto Niemeyer.
Recorda o referido escritor a participação dos alemães na vida
21-5.ª C.
AURELIO DA SILVA PY
332
em geral do Brasil e enaltece a grande fidelidade dos alemães para
com os respectivos governos brasileiros . Conta fatos da Revolução
Federalista e cita um episódio histórico :

"Um oficial dos federalistas, portanto dos revolucioná-


rios, chegou com sua tropa a Joinville, cujos habitantes se
conservaram fiéis ao governo e nada queriam saber do conflito.
A tropa foi acampar fora da cidade. Adversários políticos
eram mortos, roubavam-se cavalos e vacas. O coronel revo-
lucionario necessitava, porém, de mais soldados. Ordenou
aos ginastas e atiradores de Joinville que se apresentassem ar-
mados com suas espingardas e carabinas. Pretendia incluí-los
à força na sua tropa.
Depois de se acharem perfilados os 300 jovens, foi-lhes
ordenado que marchassem ao acampamento .
Um brado deu a resposta :
Nos ficaremos aquí, para nós mesmos mantermos a
ordem na cidade . Não necessitamos nem de vocês nem do
extro partido !"
E as carabinas se levantaram, prontas para o tiro.
O coronel bem sabia que os JOVENS ALEMAES
ACERTAM NO ALVO quando atiram . Isto, seus mulatos,
gros e mestiços NÃO SABIAM FAZER.
De cara zangada, êle se retirou ...
E, contudo, tinha 1000 homens e três canhões à dis-
posição".

Bonito juízo farão de nós os alemães no "Reich", ao lerem se-


whante cousa, publicada no Brasil, por um escritor residente no
Objetivos da espionagem nazista

" O programa do nacional-socialismo substitue a con-


cepção liberalística do indivíduo pela concepção de
um povo ligado ao solo pelos laços do sangue. De
tôdas as tarefas que enfrentamos, a maior e mais
sagrada é a de preservar a própria raça.”
(Hitler - "Minha Nova Ordem").

E' volumosa a matéria que poderia caber neste capítulo. Por si


só, encheria um livro. Temos assim que comprimí-la, adaptando-a
aos moldes do presente trabalho. Dos inúmeros casos de espionagem
nazista que passaram pela polícia sul-rio-grandense selecionamos al-
guns, para dar ao leitor uma idéia de quão alastrada se encontrava
a obra dos espiões pagos pela Cruz Gamada para semear o germe da
discórdia, do derrotismo e da revolução político-social em nosso meio.
Não se encontrará aquí o sensacionalismo romanesco que sem-
pre se espera em descrições de espionagem; tão pouco nos ocupa-
remos com estudos de técnica de polícia secreta . Fiéis à intensão
dêste trabalho, trataremos de expor concretamente as manobras da
espionagem nazista entre nós, desarticuladas pelo serviço de contra-
espionagem da organização da polícia do Estado do Rio Grande
do Sul.
Foi uma luta tenaz, travada nos bastidores da pacata vida
gaúcha, além dos horizontes alcançados pelo público .

HIMMLER AOS ALEMÃES DO EXTERIOR

Evidentemente, não há no mundo organização alguma de espio-


nagem que não tenha um objetivo determinado. Do contrário, ela
perderia tôda a razão de ser. Muitas vezes é difícil desmascarar a
ação de um agente de espionagem, o que não impede que se obte-
nha um quadro preciso do objetivo por êle visado.
Seu objetivo pode ir até a mudança do regime político-social
do país que serve de campo à espionagem. Não há hoje, talvez, país
algum no mundo que não tenha surpreendido tentativas de agita-
ção, lançadas, como no nosso caso, pelo nacional -socialismo alemão.
AURELIO DA SILVA PY

1 ada dose masistax encarregados de espionagem no exterior é


at punto me já o dissemos, pela Gestapo, de que é chefe Hein-
A Muniça, wa dox “Der Poderosos " do Reich nazista. Vejamos,
want youngan ox temos que que Himmler saudou em 1936 os na-

MwenẨụ m“ 33

häßen im Ausland kämpfen heute denselben Kampf, den

6441 len in Deutschland die langen Jahre vor Erreichung der

2 daben. Ihr Ziel ist dasselbe, was unser Ziel war: , Deutschland

Feder Parteigenoffe der Auslands - Organiſation ſei gewiß, daß

palaka iðan er mag in der weiten Welt ſtehen wo er will , die gesamte Bewegung

theem Willen steht. Er ist nicht allein in seinem schweren Kampf, denn er

ijk ein Teil der großen Gesamtbewegung, die ihn niemals vergißt und ifin
si ihrem Willen stärkt.

Tradução do Doc. n.° 53

"Os nacional-socialistas no exterior desenvolvem hoje


a mesma luta que nós, nacional-socialistas da Alemanha, de-
senvolvemos durante os longos anos que precederam a nossa
ascenção ao poder. Seu objetivo é o mesmo que foi o nosso :
"ALEMANHA, DESPERTA! " Esteja todo partidário da
"Organização Exterior" certo de que por trás dêle, seja qual
fôr a parte do mundo em que se encontre, ergue-se todo o
edifício nazista com o seu poder. Êle não se acha a sós na
luta tenaz, pois é apenas uma parcela da organização, que
dêle jamais se esquece e que o impulsionará para a consecução
da finalidade comum".
H. Himmler.
A 5. COLUNA NÓ BRASIL 325

Não há necessidade desta forma de incentivo utilizada por


Himmler em relação aos seus subordinados . Eles estão algemados
num círculo de férrea disciplina e ligados por sagrado juramento
ao movimento nacional-socialista. Eis o juramento :

"Juro fidelidade inquebrantável a Adolf Hitler e obediên-


cia incondicional aos chefes por êle designados" .

Ai daquele que romper o juramento ou se afastar do movimen-


to! Em outro capítulo, relatamos um caso desta natureza e suas
consequências para o homem que ousou afrontar a vingança na-
zista .
Por mais longe que o nazista se encontre, num país europeu ou
numa remota ilha do Pacífico, está sempre a par dos trabalhos do
nazismo. Mensalmente lhe vão parar às mãos os livros e jornais de
catequese e preparação. Entre estas publicações, destaca-se o " Na-
tional- Sozialistische Monatshefte", que, desafiando a censura, sem-
pre consegue alcançar os destinatários.
Esboçando os objetivos da espionagem nazista, vamos mostrar
o que esta conseguiu no terreno prático.

CONSPIRANDO EM BERLIM CONTRA O BRASIL

Um grupo de teuto-brasileiros residentes na Alemanha teve em


1935 a idéia de se reunir em um círculo cultural, primitivamente
com a finalidade de cultivar o idioma português. Com o decorrer
do tempo, êsse círculo foi crescendo. Aumentou em número de só-
cios e, de acordo com as circunstâncias, também em campo de ação.
Do terreno cultural, passou para o político .
Em 1936, portanto apenas um ano depois da sua fundação, o
círculo já debatia abertamente problemas políticos brasileiros , lan-
çando a idéia de movimentar as suas hostes para uma ação genera-
lizada "em favor dos interêsses teuto-brasileiros".
A iniciativa tomou vulto, pois nada lhe obstava o desenvolvi-
mento e o campo em que florescia era bastante fértil e generoso.
Foi assim que, já em 1937, se considerava em Berlim um fato con-
tado a breve mudança política no Brasil sob os auspícios da dou-
trina nacional-socialista e à base da superioridade da raça ariana.
Para assentar todos os planos de ação a serem desenvolvidos,
foi promovido um congresso do Círculo, o qual se realizou na ci-
dade de Berlim em maio de 1937. De tôda a parte do Brasil com-
pareceram elementos representativos das organizações nazistas lo-
cais para participar dos trabalhos dêsse congresso . Entre os que re-
presentaram o Estado do Rio Grande do Sul figuravam: o pastor
Knaepper, enviado do Sínodo Rio-Grandense; o professor Kraemer,
diretor do "Colégio Farroupilha " de Pôrto Alegre e mais tarde fun-
326 AURELIO DA SILVA PY

cionário do consulado alemão da capital rio-grandense; o pastor


Schuetze, sacerdote protestante de Candelária; Gerhard Dohms,
brasileiro, filho do pastor Dohms, de São Leopoldo, diretor do Sí-
nodo Rio-Grandense ; Karl Heinrich Hunsche, filho de conhecido
médico de Caí, o dr. Hunsche, e irmão do comerciante porto-ale-
grense Werner Hansche; o conselheiro Praeger, ex-diretor do "Se-
minário Evangélico de São Leopoldo"; o pastor Lechler, que serviu
em Santa Cruz, Walter Nast, do Seminário de São Leopoldo, hoje
residente em Bagé: o dr. Pagel, ex-membro do Pró-Seminário de
São Leopoldo , o professor-viajante Unterleider, da Associação dos
Professores Catolicos do Rio Grande do Sul, e pessoas representati-
vas de outros Estados.
Dentre todos os Estados, porém, a respresentação melhor e
major era a do Rio Grande do Sul, em que não faltaram as figu-
ras oficiais do nacional -socialismo, como diversos altos funcionários
de Verbander Deutschen im Ausland", da "Forschungstelle fuer
das. Vebersoodeutschen", da "Evangelischen Gesellschaft fuer die
Protestantischen Deutschen in Sued-Amerika", da "Mittelstelle fuer
Auslandsbuechereiwesen ", e outros departamentos de destaque.
Face os nomes de maior projeção do mundo oficial nazista e
alemão, figuravam : Von Plotho, representante de Bohle, chefe da
ganização nazista mundial; embaixador Knipping, que represen-
fou a Alemanha no Brasil; dr. Steinnacher, chefe geral do VDA, e
dr. Hillebrand, chefe da " Reichsjugendfuehrung ".
O número total dos participantes foi de 74, sendo 44 membros
svos e 30 convidados. Dos membros ativos, 29 eram teuto-brasilei-
13 alemães e 2 teuto-paraguaios . O número de congressistas
, portanto, bem apreciável.
A abertura do congresso foi solene, tendo a ela o relator oficial
referido da seguinte maneira:

"Quinta-feira, 20.5. , foi o primeiro dia oficial do con-


gresso. O companheiro Hunsche procedeu à abertura solene
dos trabalhos. Achávamo-nos reunidos sob o pavilhão da
"Cruz Suástica" , que é o símbolo do pensamento patriótico”.

Os problemas discutidos foram os mais diversos, mas todos gi-


raram em tôrno da posição que o movimento teuto-brasileiro deve-
ria assumir para se impor, baseado na sua superioridade racial, à
estrutura política do Brasil.
Foi o "companheiro" Hunsche que mais claro falou neste sen-
tido, fazendo ampla exposição da situação interna do nosso país.
Entre outras coisas disse Hunsche (Relatório do Congresso, pági-
na 44):
"Nós não queremos, porém, "apenas" uma simples par-
ticipação, mas sim UMA REMODELAÇÃO FUNDAMEN-
A 5. COLUNA NO BRASIL 327

TAL DA VIDA POLÍTICA DO BRASIL, que o colocará


finalmente sôbre uma base capaz de resolver tôdas as questões
da vida nacional, mesmo as mais difíceis como sejam os pro-
blemas das raças e das etnias" .
"A vida política brasileira foi moldada por luso-brasi-
leiros, e DEPENDERA DE NÓS o querermos conservar ain-
da, para o século XX, a forma lusitana da política brasileira
já há muito inadequada, OU AVANÇARMOS PARA NO-
VAS FORMAS, formas que melhor correspondam ao Brasil
atual e aos seus problemas" .
"Quem, porém, duvidará de que também o Brasil se
encontra na véspera de uma mudança política ? Todos os
indícios se encaminham neste sentido".

Quanta semelhança existe entre o objetivo dêste Congresso e


as palavras de Hitler:

"Farei dêsse continente de mestiços um domínio alemão”!

Quão verídicas nos parecem, agora, as afirmativas de Rausch-


ning, o senador de Dantzing, em seu livro "Gespraeche mit Hitler",
repetindo as palavras de Hitler, ao receber um emissário secreto da
América do Sul com referência ao Brasil : "No Brasil, iremos criar
uma nova Alemanha . Nele temos tudo que necessitamos ."
A conspiração de Berlim estava pronta para entrar no terreno
da ação. Deviam mover-se os agentes secretos, para minar a situa-
ção e preparar a opinião pública em nosso Estado e em todo o ter-
ritório brasileiro.

O INÍCIO DA ESPIONAGEM NAZISTA NO RIO GRANDE


DO SUL O CASO EHRICHT

Um pormenor curioso da espionagem nazista em nosso Estado


é que ela aquí se iniciou muito antes de o Patrido Nacional-Socia-
lista ter assumido o poder na Alemanha.
Cabe o título de espião pioneiro a Gustavo H. Ehricht, do-
miciliado em Pôrto Alegre, à rua Cristóvão Colombo n.º 643. Ehri-
cht foi o protagonista principal do primeiro caso de espionagem
nazista no Rio Grande do Sul, no ano de 1932. A imprensa local
tratou do assunto amplamente, conforme o recordámos em outro
capítulo .
O caso é simples, Ehricht era chefe do núcleo local do Partido
Nazista, e como tal enviava temporariamente relatórios aos chefes
na Alemanha, fiel ao juramento prestado. Nos relatórios não se li-
mitava a falar da vida interna do núcleo. Fazia também referências
à situação interna do Rio Grande do Sul e, o que é mais grave, de-
nunciava numerosas firmas de destaque local ao Partido, por se-
328 AURELIO DA SILVA PY

rem contrárias ao nazismo. Mesmo a firma em que Ehricht era em-


pregado não escapou à denúncia.
Mas, um dia a bomba esturou .
Um dos relatórios foi desviado misteriosamente dos arquivos
do núcleo local e utilizado pelos elementos antinazistas.
O escândalo foi enorme, resultando dêle a ida de Ehricht à
Alemanha e a vinda para cá de Walter Hornig, que reorganizou a
atividade nazista e a desenvolveu por todo o Estado . Ehricht retor-
nou ao Brasil mais tarde.
O escândalo do " Caso Ehricht" não deu cabo da espionagem
comercial em nosso Estado. Ela continuou e de modo cada vez
mais intensivo, como o prova o "boycott" organizado oficialmente
contra todas as firmas cujos chefes se negavam a acompanhar os na-
zistas, fato êsse também já mencionado em outra parte dêste livro .
O suicídio de Jan, proprietário da Bombonnière Jan, e o "boy-
cott" do "Deutsches Volksblatt" são dois exemplos graves da ativi-
dade da espionagem comercial em nosso Estado, e demonstram até
que ponto vão os agentes para conseguir o seu fim.
Em assuntos de espionagem comercial, temos ainda o caso da
"Câmara de Comércio Teuto-Brasileira", que fazia indagações se-
cretas sobre a "arianidade" de firmas, implantando com isto, em
nosso comércio, os princípios do racismo nacional-socialista.
Tropas de assalto e mais espionagem

66
" ... Assim e pela terceira vez, as S. A. provaram
que são minhas, bem como eu haverei de provar, em
qualquer momento, que pertenço aos meus homens
das S. A." .
(Hitler - Discurso de 137 1934, perante
Reichstag).

Ao lado da espionagem comercial, os agentes nazistas tomavam


outras medidas. Seu campo de ação deve ter sido muito vasto, pois,
já em 1932, o núcleo julgou necessário criar uma "Tropa de Assal-
to" em Porto Alegre, organizada nos moldes da da Alemanha e fi-
gurando sob a mesma designação .
No boletim n.º 5 do Núcleo, de junho de 1932, vimos uma
menção à Tropa de Assalto:

"Pela primeira vez realizou-se em nosso núcleo local,


promovido pelo Departamento Feminino Nacional - Socialista
e pela nossa "S-A" , "Tropa de Assalto" , um dia de propa-
ganda diferente, na forma, dos realizados até hoje. Quero
expressar, aquí, a todos os colaboradores e àqueles que nas
horas livres nos auxiliaram desinteressadamente, que estou sa-
tisfeito com o sucesso e que a todos posso louvar por excep-
cional cumprimento do dever.
O efeito do dia será grande para nós, que nos certifica-
mos mais uma vez de que nós, os nazistas, somos bem dife-
rentes do que nos querem apresentar.
Avante assim, e alcançaremos o nosso objetivo."

Estas palavras eram subscritas por Ehricht, já apresentado ao


leitor.
Mesmo depois da proibição, apareceram no Rio Grande do Sul
membros da "Tropa de Assalto". Wolfgang Neise, o espião que
agia em Iraí, era membro da referida Tropa e em seu poder foi en-
contrado o fardamento completo daquela milícia alemã. Isto, em
1939! (Doc. n.° 54).
Depois da proibição, muitos agentes da espionagem nazista pi-
saram solo gaúcho, mas pouco sossêgo lhes deixou a polícia local.
Entre êsses espiões havia, como já o dissemos um oficial da po-
330 AURELIO DA SILVA PY

lícia alemã, cujos documentos se encontram em poder das nossas


autoridades; um major da reserva; um hoteleiro; um "chauffeur.”
Em muitos casos, sua confissão foi ampla, em outros, a polícia
só pôde guiar-se pelas provas circunstanciais. Esboçaremos mais al-
guns casos.
O "CASO BOCK"
Um dos casos, embora dos menos graves, que mostram a "per-
sonalidade dupla", a flexibilidade do nazista, uma reservada à si
e outra ao Partido, é o do sr. Hermann Bock.
Este cidadão alemão veio de Berlim com uma boa recomendação
do adido comercial brasileiro naquela capital, dirigida ao chefe de
polícia do Rio Grande do Sul e datada de agôsto de 1932. Seu teor
vai transcrito no documento n.º 55) Era, pois, de se esperar que o
Documento n.° 55

Berlim , 25 de Agosto de 1932 .

Exmo . Senhor Dr. Chefe da Policia do Estado do Rio

Grande do Sul.

Tenho o grato prazer de apresentar a Vossa Excellen-

cia o portador desta , Senhor Hermann BOCK, representante

de firmas allemas , que se destina ao Rio Grande do Sul ,

onde pretende fixar residencia .

O Senhor Hermann. BOCK foi recommendado esta Lega .

ção pelo Ministerio do Commercio da Prussia .

Sem outro motivo , apresento a Vossa Excellencia os

protestos da minha perfeita estima e distincta considera-

ção .

zie
( Cergladi

Addide Commercial.
A 5. COLUNA NO BRASIL 331

sr. Bock fôsse aquí um grande amigo do Brasil e que não só cum-
prisse as nossas leis, como também auxiliasse a compreensão das
mesmas pelos seus patrícios.
Achava-se o sr. Bock ainda em situação comercial vantajosa e
desfrutava uma posição que, na sua pátria, dificilmente lhe pode-
ria ter sido oferecida.
Um dos primeiros atos do sr. Bock foi participar da fundação
de uma "Deutsche Gemeinschaft" (Doc. n.º 56) para as cidades de
Documento n.° 56

Deutsche Gemeinschaft Livramento - Rivera

(União Allemă )

Illmo. Snr. Hermann Bock

Livramento

Wir erlauben uns, Ihnen mitzuteilen. dass Sie Takjk Lưng làng
immdesaan als MitgründeryAllahdan unsere Gemeinschaft
aufgenommen worden sind.

Prezado Senhor Haves


Temos o prazer de communicar-lhe que foi accento como Socio
nessa união conforme sua solicitação do dia XXXXXXX

Directoria

af

Livramento e Rivera. Passou também a exercer funções de ligação


entre o consulado alemão de Pôrto Alegre e os nazistas de Livra-
mento. Tomou parte ativa na organização do núcleo nazista da-
quela cidade da fronteira, surgindo daí relações diretas entre êle e
o Partido Nacional- Socialista da Alemanha.
Tôdas estas atividades seriam compreensíveis, pois o sr. Bock
foi major na Grande Guerra de 1914 e, sem dúvida, teria sido le-
vado por um alto grau de patriotismo ao fomentar aquí a chama
nacional-socialista. O que não é justificável, porém, é a ação do
sr. Bock após a probição. Ele exerceu a espionagem comercial a
favor do Reich, após o rompimento da guerra entre a Alemanha e
os Aliados, embora o Brasil estivesse neutro e tivesse sido aquí proi-
bida qualquer demonstração pró ou contra qualquer beligerante.
335 AURN TO DA SILVA PY

Pocumento n.º 37

Maliomaliagiottiche
de Deutsche Arbeiterpartei
Testene Per Semiosds-Organiſation

Fernsprecher: Sammelnummer 867381


Postanschrift: Berlin-Wilmersdorf. Poftfach 20
Drahtanschrift: Elhob, Berkku

Berlin-Wilmersdorf, den 4. August 1939


Beftfälische Straße 1
J

Herrn
Hermann Boek
z.Zt. Kissingen
Alleehaus , Bismarckstr . 11 .

In Ihrer Forderungsangelegenheit gegen Dr. €


chem. Richard Lehmann bitte ich , mir dessen
Anschrift bekannt zu geben .
Heil Hitler !
Sherpa The
TOIO

Smile Im Auftrage:
RGIT

ckel
AY

faurla
Britans (Haesler)

Form 11

As informações do sr. Bock, conforme êle mesmo declarou,


eram dirigidas diretamente ao Ministério das Relações Exteriores
da Alemanha.
Assim agradeceu êle a boa vontade e a confiança brasileira.
O CASO HUGO MUELLER

Este cidadão residiu em Pôrto Alegre por muitos anos, tendo


tido filhos brasileiros e desfrutado uma existência boa e cômoda.
Quando surgiu o núcleo nazista, Mueller ocupou, talvez graças aos
seus "excelentes serviços" prestados ao nazismo, alto pôsto na che-
fia local, tendo sido até chefe de Círculo, o pôsto supremo local.
Na vida privada, dedicava-se ao comércio e sua principal fonte
de renda era o "Guia Público", bastante conhecido, que editava.
Munido de credenciais comerciais, tinha Mueller acesso a tô-
das as repartições públicas e municipais e visitava continuamente
A 5. COLUNA NO BRASIL 333

tôdas as firmas. Isto foi de grande vantagem para o Partido Nazis-


ta, de que Mueller era informante secreto .
Sua atividade não cessou com a proibição das atividades polí-
ticas em nosso país. Ainda a 27 de março de 1938, época em que
todos os núcleos estavam sendo fechados pela polícia e seus chefes
detidos quando não acatavam as ordens, o sr. Mueller continuava
as suas atividades de agente informador, remetendo um levanta-
mento sôbre os jornais de Pôrto Alegre à chefia nazista do Brasil,
com sede em São Paulo, conforme se pode verificar pelo documen-
to que contém esta referência : (n.º 58).
Documento n.º 58

Presse
A - 7p/B.W. 27. Haors 1938
Ihr Schreiben : H 1090 vom 7. 2. 38 .

An die Landesgruppe Brasilien


der NSDAP
São Paulo.

Betrifft Ausstellung der wichtigsten und groessten Zeitungen in Porto Alegre.

Fuer das Presseant nenne ich ihnen nachstehend :

1) Correio do Povo ❤ groesste Auflage hier und im Staate · unparteiisah


2) Journal de Estado - Regierungsblatt
3) Diario de Noticias - grosse Auflage hier und in Staate - unparteiisch

4) Neue Deutsche Zeitung · verbreitetste Deutsche Zeitung hier und im Staate


Tendent: freundlich bis gut, aber nicht kaempfend .
5) Deutsches Volksblatt als unversoehnliches Betsblatt ueberail bekannt, in
land verboten - Auflage hier in der Stadt bedeutend go.
ringer als die Neue Deutsche Zeitung, is Saate als Woche
ausgabe unter den Katholiken weit verbreitet . Besitzer :
Familie Kotzler als Erben. Mitinhaber : Dr. Hofius .
Bemerkungen : Correio do Povo ist meines Wissens im Besitz der w. des Gruenders :
Caldas Jun . Ob noch weitere Besitzer vorhanden sind, ist mir nicht be-
kannt .
Ueber die Besitzverhae ! tnisse des JOURNAL DO ESTADO und des Diario de
Noticias ist mit nichts bekannt, jedenfalls ist hier ein Consortium
Vorhanden .
Puer den Besitzer der Neuen Deutschen Zeitung zeichnet die Firma :
Germano Gundlach & Co.

Deutsche A Heil Hitler !


Der Kreisleiter :

1. A. Huge Finder
Kreis (Hugo Mueller )
stellv. Kreisleiter
AURELIO DA SILVA PY
334

"1) Correio do Povo - de maior tiragem aquí e no inte-


rior do Estado . - Imparcial.
2) Jornal do Estado. - Fôlha do Governo.
3) Diário de Notícias --- de grande tiragem aquí e no inte-
rior do Estado. Imparcial.
4) "Neue Deutsche Zeitung". — Jornal alemão de maior
circulação aquí e no Interior do Estado. Tendência :
pró- germânica , até boa, mas não combativa.
5) Deutsches Volksblatt" ― Conhecido em tôda a parte
como pasquim intrigante, proibido na Alemanha . Ti-
ragem aquí na cidade e no Interior muito inferior à do
"Neue Deutsche Zeitung " ; como semanário, tem gran-
de circulação nos círculos católicos do Interior” .

Seguem-se informações sobre os proprietários dos referidos


jornais.
Casos como estes, há-os até com datas mais recentes, como ve-
remos adiante.
O agente Mueller foi deportado e se encontra, agora, no pa-
raíso nazista.
O CASO FRIEDRICH KOETTER

A atividade política dêste agente tem muita semelhança com


a do agente Hugo Mueller. Também Koetter era informante, mas
o seu trabalho era de maior responsabilidade , pois chefiava a secção
de controle dos elementos considerados adversos ao nazismo .
Observemos a engrenagem do Partido Nazista neste ponto.
Quando o nome de um elemento antinazi entrava para a
"Lista Negra" nazista, remetiam-se imediatamente circulares aos
núcleos de tôda a parte, prevenindo os partidários contra o fichado.
As ordens eram severas e tinham por fim isolar e liquidar o adver-
sário com uma tenaz perseguição indireta.
Vamos reproduzir uma das centenas de circulares confidenciais
apreendidas pela nossa polícia política : (Doc. n.º 59) .

Tradução do Doc. n.° 59


CIRCULAR N.º 39 ( 1/35)

A todos os grupos locais e pontos de apôio do Círculo V.


Ref.: Rudolf Hinze, de Zeitz.

"O acima referido, representante da firma Adolf Schul-


ze, de Rathenow, encontra-se atualmente no Brasil e se apre-
senta como membro do Partido e membro da "SS" ( Tropas
de Elite Nazistas) , sem poder legitimar-se. Tem aparência
semita. Todos os partidários deverão ser prevenidos contra
êle.
A 5. COLUNA NO BRASIL 335

Documento n .° 59

Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei

S
Landesgruppe Brawlien

AL
Auslands Organisation

ON
Kreis Rio Grande do Sul
UN
Personal D 29. Januar 1938
Abteilung: Porto Alegre, den
59 (1/35)
Rundschreiben No.
fx.
Unser Zeichen:
Rund schreiben 2/35 und 3/35 der Landesgruppe Brasilien .
Erlassen auf Grund von: An alle Ortsgruppen und Stuetzpunkte des Kreises V

Betz, Rugolf Hinse aug Zei


Obengenannter , Vertreter der Mirma Adolf Schulze, RathC-
now, haelt sich 8.28 . in Brasilien auf und gibt sich als Pg. und
SS.Mann ana, ohne sich ausweisen su koemen . Ar hat juedisches
Aussehen. Alle Pggs . sind vor iha su warnen.
Betr . Ehemaliger Gessadaghafturus Mackeben
Obengerannter war esan dechafterat bei der Deutschen
Gesandschaft in Guatemala, von welchen Pesten ihn das Auswaerti-
go Amt enthoben hat , da er versucht hat, der SDAP in Guatemala
in seiner Eigenschaft als Gesandschafterat und auch in seiner
Eigenschaft als Stahlhelmmaxx Schwierigkeiten zu bered ten.
Er ist gen die ESDAP feindlich eingestellt , und tart
seine gegen dieselbe gerichteten Nachsnschaften durch eine in
dea Bational sosialissus abtrasglichen sims ausgewebte Propagan-
de fuer den Stahlhelm.
Seit seiner Amtsenthedeg trangt er sich mit der Ab-
sicht, in se damerika berunsureisen und in obige Sinne su wir-
kan sprich su wushlen.
Alle Parteigenossen sind ver ik warnen, und sofern
er irgendwe muftauast A , ist dies m die landesgruppe su melden .
he rbel
sc ler Beil Hitler
ut
De s
parlon

1. கல்லை
Personalabteilung
Krew
•RIDGI.

Ref.: Mackeben, ex-conselheiro de legação.


O supracitado foi conselheiro da legação alemã de Gua-
temala, pôsto de que foi exonerado pelo Ministério das Rela-
ções Exteriores pelo motivo de ter tentado criar dificuldades
para a NSDAP em Guatemala, na qualidade de conselheiro
e também na de membro da organização “ Capacete de Aço" .
"E' adversário do NSDAP e disfarça suas manobras con-
tra a mesma com uma propaganda para o “ Capacete de Aço" ,
prejudicial ao sentido nacional-socialista. Desde a exonera-
ção, alimenta a intenção de viajar pela América do Sul e tra-
balhar, diga- se agitar, a favor do acima exposto .
336 AURELIO DA SILVA PY

Todos os partidários deverão ser prevenidos contra êle,


e, caso aparecer em algum lugar, deve-se informar disto a
chefia central do país."

O agente Koetter teve a coragem e o cinismo de afirmar, em


suas declarações à polícia, que não havia instruções para propagan-
da nazista, NEM INTENÇÕES POLITICAS NACIONAL-SOCIA-
LISTAS NO BRASIL.
Esse homem, ex-funcionário do "Banco Alemão Transatlânti-
co", ocupava naquele tempo igualmente o cargo de redator-chefe
do jornal oficial nazista "Fuer's Dritte Reich", publicado em P.
Alegre e impresso nas oficinas do " Neue Deutsche Zeitung". Acu-
mulava, portanto, diversos cargos de responsabilidade na organiza-
ção nazista do Rio Grande do Sul.
E, como Koetter, há outros que mereceriam ser desmascarados
publicamente, para que o povo brasileiro os pudesse identificar.
Elementos nocivos, êles aquí vieram explorar a boa fé pública, des-
frutar de uma vida excelente, para, depois, regressar à Alemanha
cheios de glória pela agitação que provocaram.

NOVAMENTE OS CONSULADOS ALEMÃES

Todos aqueles que se dizem bem informados e ainda tomam a


si o encargo de defender os nazistas " tão injustamente acusados" ,
talvez ignorem que a atividade partidária, assim como a atividade
secreta do nazismo, nunca cessou no Rio Grande do Sul. Só pela
ignorância disto e de outros fatos êles poderão escapar à classifica-
ção de "quislings" .
Como não tratamos neste capítulo da propaganda e atividade
partidárias do nazismo e, sim, de seu trabalho secreto, vamos referir
mais um dos casos que demonstram a existência de tais atividades
após a proibição do nazismo no Brasil.
A carta-circular que nos serve de prova foi escrita em Pôrto
União, a 1.º de junho de 1939, mas é autenticada pelo carimbo do
consulado alemão de Rio Grande, o qual, por sua vez, a remeteu
aos agentes consulares do interior do Estado, cujos nomes e locali-
dades de ação figuram em rodapé.
A circular é dirigida contra um pastor protestante, de nome
Brepohl, pessoa vastamente conhecida na colônia alemã tanto dês-
te Estado como de Santa Catarina e Paraná, autor de vários livros
e muito ligado à imigração teuto-russa aquí no Brasil.
O pastor Brepohl alimenta, entretanto, extremado patriotismo
germânico e suas expansões já o puseram em choque com as auto-
ridades políticas do nosso Estado.
A 5. COLUNA NO BRASIL 337

Mesmo assim, talvez por não se ter submetido totalmente ao


nazismo, acabou na "Lista Negra".
Eis o conteúdo da circular em referência: (Doc. n.º 60).
Documento n.º 60

C III 131/39
WALTER BACH
(Vertrauensmann des Konsulats) Porto União , 1.6.39

Betr: Pastor BREPOHL

Vie ich hörte , inseriert Pastor Brepohl in Zeitungen in


Staat Rio Grande do Sul und bietet sich als Vermittler, Besorger
usw. sur Eriangung von Renten, Pensionen usw. an. Dieser, um bib-
lisch zu sprechen, Wolf in Schafskleidern wird also auch dort ver-
suchen, was er hier im Übermaß verübr hat , und auch die dortigen
Veg. um ihre ehrlich verdienten Ansprüche auf Renten betrügen.
Sollte Ihnen etwas Neues über die gegen P.Brepohl laufenden
Prozesse wegen Unterschlagung bekannt sein, so bitte ich um Ihre
Mitteilung, da an den beiden hiesigen Plätzen Geschädigte wohnen.
Es wäre doch Zeit , diesem Schädling mal das Gaunerhandwerk zu le-

Heil Hitler
gez. . Bach

An die Herren Christel Vogi , Pelotan


Carl Albers, Bagé
Frans Krensinger, Rio Negro
Carl Beding, Jaguarão

Tradução do Doc. n.º 60


"Ref.: Pastor Brepohl.
Como é de meu conhecimento, publica o pastor Bre-
pohl anúncios nos jornais do Rio Grande do Sul, oferecendo-
se como intermediário e procurador em assuntos de rendas,
pensões, etc. Este "lôbo em vestes de cordeiro" , para se
falar biblicamente, está, pois, tentando fazer o que aquí fez
em demasia, isto é, ludibriar os patrícios em suas honestas
e merecidas pretensões de rendas.
22 - - 5. C.
338 AURELIO DA SILVA PY

Caso chegar ao seu conhecimento qualquer novidade


acêrca de processo de desfalque movido contra o referido pas-
tor Brepohl, peço uma informação imediata , pois residem
aquí nas duas localidades diversos prejudicados. Já está em
tempo de se acabar com as vigarices dêsse parasita . ”

Por que, em se tratando de um elemento prejudicial, o sr. Wal-


ter Bach não recorreu à justiça brasileira, para que esta tomasse as
devidas providências?
A resposta é simples: para o nacional-socialismo não existe a
nossa justiça : êle não lhe dá valor e, por isso, não a respeita. Basta
lembrar as atividades da " Uschla" em nosso Estado para se ter uma
prova disto.
Uma circunstância interessante do caso é que um filho do re-
ferido pastor, residente em São Leopoldo e funcionário da Livraria
Rotermund, é partidário nazista, tendo sido elemento de destaque
no núcleo nazista de São Leopoldo .
Para orientação dos simples simpatizantes do Partido Nazista
convém frisar, à vista dêste caso, que ser somente germanófilo nada
vale. E' necessário obedecer cegamente, ser também COMBA-
TIVO, como dizia o agente Mueller na informação sôbre o jornal
"Neue Deutsche Zeitung" .
A "Lista Negra” nazista é extensa. Figuram nela nomes desde
os mais destacados até os mais humildes . Mas, nem sempre os fi-
chados são efetivamente o que se quer dizer dêles . Num caso, ocor-
rido no Rio Grande do Sul e relativo ao agente Wolfgang Neise,
êste foi colocado na "Lista Negra" e figurou numa das circulares
de prevenção. Era uma tática ardilosa usada contra os próprios
partidários, que, julgando tratar-se efetivamente de um "adversá-
rio", o apontavam aos conhecidos, facilitando assim a infiltração
do referido indivíduo nos meios antinazistas .
Em verdade, Neise, como o sabemos, era um nazista fanático e
membro da coluna motorizada da " Tropa de Assalto” .

AS CONSEQUÊNCIAS DAS DENÚNCIAS DOS AGENTES


SECRETOS NAZISTAS

A palavra do agente nazista vale muito para a chefia nazista


na Alemanha e não admite controvérsia.
Infeliz do que, ignorando a denúncia e o resultado da ativi-
dade da espionagem em tôrno de sua pessoa, regressar à Alemanha .
Sua sorte poderá ser um pouco pior da que teve o ilustre médico
dr. Von Ortenberg, que, por muitos anos, viveu em Santa Cruz,
gozando de amplas simpatias em todos os círculos, com exceção dos
nazistas, porque era contrário às suas atividades.
Vamos transcrever uma carta do referido médico, enviada a
A 5. COLUNA NO BRASIL 339

um amigo no Rio Grande do Sul e pela qual se verifica, mais uma


vez, que os agentes secretos em nosso Estado estão ligados à Gesta-
po. Essa carta é uma das provas mais eloquentes da existência da
espionagem nazista no Rio Grande do Sul . Ei-la na íntegra:
Tradução do Doc. n.º 61
"Haus Doorn/Doorn Província Utrecht
Holanda 8-11-39.
Prezado sr. dr. Fischer. Sem dúvida, o senhor ficará
agora um pouco admirado, ao receber esta minha carta da
Holanda, que deverá alcançar seu destino por via neutra. E,
mais ainda, da Casa Doorn. Mas, isto é realidade e me apre-
sento ao senhor e à Srta. Wollermann, pela primeira vez,
como médico-particular temporário do ex -Kaiser alemão.
Como veio a ser tudo isso, quase não é possível relatar em
poucas palavras. Mas, desejo comunicar-lhe os fatos e es-
crever-lhe rapidamente, depois de concluída uma semana de
muito trabalho, afim de que o senhor aproveite a oportuni-
dade de poder remeter-me urgentemente uma carta aérea para
cá, via exterior. Assim poderemos conversar sem obstáculos.
Infelizmente, não mais podemos voltar. Os ingleses revistam
todos os navios neutros e retiram os alemães, e, outrossim,
não deixa a Alemanha sair, atualmente, seus médicos sem
mais nem menos, para garantir a necessidade futura. Para
vir à Holanda recebí, enfim, uma dispensa militar do co-
mando da "Wehrmacht" para fins especiais. Isto, porém,
não foi tão fácil assim. Quando rompeu a guerra, estáva-
mos justamente passeando comodamente em Allgäu e já pen-
sávamos em arrumar as malas. Começou então a dansa.
Como ex-oficial sanitário, julguei necessário e honroso pôr-
me novamente à disposição e apresentei-me ao comando da
"Wehrmacht" em Wiesbaden . Mas, para ser novamente ofi-
cial da "Wehrmacht" da Alemanha, torna -se necessário preen-
cher diversos questionários. Um dêles trata da idoneidade
política. E aí começou para mim o "chôro". A organi-
zação exterior do Partido Nacional-Socialista teve, desta ma-
neira, ocasião de ocupar-se com minha ilustre pessoa e foram
então reviradas pastas e desenterradas e postas à luz do dia
certas denúncias, aparentemente sem importância, feitas con-
tra mim por certas personagens da "Ortsgruppe" (núcleo na-
zista ) de Santa Cruz. Resultado : Não posso ser readmi-
tido como oficial. Outro resultado : Intimado pela Gestapo
de Berlim, lá foi-me cassado o passaporte. Tratamento um
tanto robusto. Faltava semente a última consequência. ( * )
Isto evitei com minha boa vontade. Diversas queixas foram
inúteis. A gente não consegue chegar onde se quer. Ago-
ra, em tempo de guerra, muito menos. Veio-me, então em
Berlim, a oportunidade de receber um oferecimento por parte

( * ) A decapitação pelo machado ( N. do A. )


340 AURELIO DA SILVA PY

da direção da Côrte do "Kaiser" para ocupar o cargo de


médico-particular, e, por intermédio de uma autoridade mi-
litar, conseguí também um "Visto de Passaporte ad-hoc" .
Assim é que cheguei para cá e exerço minhas funções junto
ao ilustre e idoso senhor. Estão aquí na Côrte mais diver-
sos senhores idosos, o Conde Schwerin, Conde Moltke, Con-
de Sedan (defensor das obras da Embaixada de Pequim ) .
Sua Alteza e a ex-imperatriz Hermine são ambas pessoas bon-
dosas. A gente sente-se cuidado e resguardado, como na
casa de um "Grand Senhor" da velha e boa tradição, e estou
bastante contente que o destino me destacou, mais uma vez,
para êste pôsto verdadeiramente satisfatório e interessante. O
"Kaiser" é, a-pesar-dos seus oitenta anos, ainda muito vivo
e interessado, e possue uma memória e um saber ativo para
tôdas as questões da vida. Basta somente tocar de leve num
assunto e já começa êle a contar. Por quanto tempo per-
manecerei aquí, depende de diversas circunstâncias. Por en-
quanto, tenho permissão até fins de dezembro, provavelmen-
te conseguirei renovar meu passaporte. O senhor, entretan-
to, poderá, se quiser responder-me- pelo que lhe peço mui-
to - ajeitar isto de tal maneira que a carta me alcance aquí
ainda antes de Natal; assim ela desviará o "Interior" inte-
ressado, vai pela França, onde não é censurada. O senhor
agora desejaria ouvir algo da Alemanha. Minha Senhora e
Hannemie estão em Wiesbaden esta está lá já no 6.º ano
ginasial, e acompanha bem o curso. O endereço da minha
senhora é: Wiesbaden, Rua Fritz Kalle n.º 18. Minha se-
nhora cuida lá da casa pessoalmente e lida com todos os
aborrecimentos e maçadas, que uma dona-de-casa alemã tem
hoje com a imensidade de cartões-de-alimento. Já há falta
de muita cousa e muita cousa é racionada. Liselotte está em
Stuttgart no "Lar das Meninas Alemãs do Exterior" . A
cidade de Stuttgart organizou isto muito bem. Alí ela fre-
quenta um ginásio e pretende fazer o Curso Superior. A
nossa grande guerra não iniciou e não continua com muito
entusiasmo, como a "Grande Guerra". Em tôda a parte
critica-se e a situação é uma prova-de-nervos para o povo
alemão. Esperamos que êle a aguente, se não vierem recaí-
das. A guerra na Polônia foi, naturalmente, um brilhante
feito militar e uma obra-de-mestre da estratégia alemã. Mas,
atualmente estamos, para o lado oriental, numa guerra- de-
posição incalculável e nunca vista, com frentes trancadas,
o que, justamente, era para ser evitado . Um acompanha
o outro. Em resumo, uma grande guerra de nervos com
desfecho incerto . O senhor ouve agora rádio ? E' necessá-
rio ler-se entre as linhas e pesar- se mutuamente. Muitas ve-
zes tenho saudades das margens silenciosas do Rio Uruguai
e invejo o senhor pelo sol e pelo repouso. Aquí, na Holan-
da, a situação é climaticamente já um tanto desagradável.
Do Heinz já desde muito tempo que não ouço nada. Nós
A 5. COLUNA NO BRASIL 341

nos preocupamos e pensamos muito nele. Espero que éle


continue firme e fiel. Peço escrever-me tudo sobre ele e
faça o possível para que também ele me escreva. Trans-
mita-lhe, por favor, muitas lembranças, e se êle escrever,
receberá logo resposta . Durante a viagem tôda recebemos
uma única carta dêle. Se lhe faltar roupa, então peço ao
senhor, encarecidamente, tomar as providências necessárias. E
agora, meu caro sr. Dr. , como vai a Srta. Wollermann? O
que faz a fábrica ? Provavelmente o senhor poderá mandar-
nos informações agradáveis a êste respeito . Neste momento,
fui chamado para escutar o último discurso de Hitler. Ele
disse : "e se a guerra durar mesmo cinco anos, por fim ain-
da venceremos" . Quem poderá afirmar como estará o mun-
do daquí a cinco anos ? Em todo o caso, não bonito . Ago-
ra, desejo pedir ainda ao senhor , meu caro Dr., usar desta
carta com o máximo cuidado possível e destruir o original .
Também lá não estamos livres de denúncias , que se poderão
tornar aquí bem desagradáveis , como no meu caso. - Que
eu travei relações com a sra. irmã da Srta. Wollermann , já lhe
foi comunicado . - E, agora , muitas felicidades . Peço man-
dar-me breve resposta . Fins de dezembro ela poderá estar
aquí. Transmita saudações ao Heinz ; também êle deverá
escrever. Ao senhor e à srta. sua sobrinha desejo pessoal-
mente muitas felicidades. Seu muito subordinado

Dr. O.

NB--- O núcleo de Santa Cruz não necessita saber, de ne-


nhuma maneira, que o seu golpe contra mim teve
efeito."

Encerramos com esta carta sugestiva o capítulo sôbre a espio-


nagem nazista no Rio Grande do Sul.
Citamos apenas alguns dentre os muitos casos ocorridos, mas
êles bastarão para convencer. Não podemos mais viver alimentando
uma ilusão. Já sabemos o que pretendeu o nazismo no Brasil .
"Quislings " brasileiros

" O perigo não provém de Hitler, que não é uma


causa, mas uma resultante. Não marca senão um
instante na história da Alemanha. E' a prolonga-
ção de Frederico II, de Guilherme I, de Bismarck,
de Guilherme II , de Stresemann. O desaparecimen-
""
to de Hitler não suprimiria o perigo pangermanista.'
(André Chéradame - "Dias decisivos” ).

Estamos convencidos, desde muito, que, para não sermos tra-


gados na voragem nazista, precisamos tanto de nossas maiores re-
servas de patriotismo, como, também, de tôdas as nossas energias,
de nossa inteligência e de tôda a nossa capacidade de ação .
Por isso mesmo, resolvemos dar à publicidade êste livro do-
cumentário, que constitue não apenas uma obra de rude franqueza,
de completa sinceridade e de verdade absoluta, como, ainda, do
mais puro patriotismo. Em tais condições nada pode ser nela ocul-
tado aos nossos patrícios, embora nos entristecendo a conciência
de brasileiro, como nos aconteceu em face dos casos de que agora
vamos tratar.
E, divulgando êsses dolorosos fatos, um único propósito nos
anima: o de alertar sempre e sempre mais a conciência da nacio-
nalidade, apelando para os sentimentos cívicos de todos os brasilei-
ros, para que se congreguem e se unam num bloco de coesão graní-
tica em tôrno da Bandeira da Pátria. Porque, em todos os casos de
colapso de nações e de derrota de povos, a vitória só foi possível,
até hoje, onde os usurpadores encontraram brechas no seio das po-
pulações e onde o sentimento nacional não se apresentou solida-
mente coeso, inspirado por completo nos supremos interêsses das
pátrias que, desgraçadamente, sossobraram ao jugo dos invasores.
No presente capítulo, condensamos as páginas mais lamentá-
veis da história da atividade nazista em território brasileiro. Nosso
relato anterior focalizou as manobras de um inimigo de origem es-
trangeira. Este apresentará o auxílio que lhes prestaram filhos do
Brasil, merecedores do nome de "quisling", que equivale, confor-
me a terminologia moderna, ao de traidor.
A 5. COLUNA NO BRASIL 343

O mundo inteiro tem assistido, estarrecido, aos maiores exem-


plos de infâmia da parte do quinta-colunismo. E talvez ainda haja
quem tache de mera fantasia novelesca a divulgação dessa obra
subterrânea e repelente.
Foi preciso que povos incrédulos pagassem bem caro a sua boa
fé para que se desse mais cuidado a êsse processo de traição.
A atividade da Quinta-Coluna no Rio Grande do Sul data de
1931. Foi também nesse ano que começou a atividade nazista em
geral, com a reunião de um punhado de alemães no salão do "Ge-
meinnuetziger Verein" para ouvir os discursos do dr. Bruno Kuehne,
então o profeta de um novo horizonte político.
Já então, brasileiros de descendência alemã, eram atraídos a
êsses comícios nazistas em que se ministrava a doutrina da dupla
nacionalidade. A diretoria do " Gemeinnuetziger Verein", porém,
não concordou com essa teoria estranha e subversiva e, muito bre-
ve, procedeu ao despejo de seus profetas. Em consequência, a so-
ciedade foi considerada antinacional, como se pode verificar por
uma notícia publicada pelos nazistas em seu boletim informativo
da época. As reuniões passaram a ter lugar na Confeitaria Rocco e,
depois, em outros salões. Finalmente, instalaram-se na Casa Ale-
mã, à rua Voluntários da Pátria. Com o progresso do nacional-
socialismo também cresceu o número dos teuto-brasileiros simpati-
zantes do nazismo. Na festa pública que o Partido Nacional - Socia-
lista Alemão realizou no ano de 1937, no campo do Grêmio Espor-
tivo Renner, já os participantes se compunham na maioria de teu-
to-brasileiros. A Quinta-Coluna assumiu, então, forma escandalosa,
tendo enfileirado elementos de tôdas as camadas sociais sul-rio-
grandenses.
Veio o conflito europeu e, com êle, uma propaganda belige-
rante em avalanches. Mais do que qualquer outra propaganda,
conseguiu a do dr . Goebbels, Ministro alemão da Propaganda atur-
dir os espíritos . 1
Já não eram mais apenas os descendentes de alemães que inte-
gravam a "Quinta Coluna". Muitos "lusos", como êles nos chamam
a nós, descendentes dos portugueses e outras raças, e que até então
nunca haviam mostrado tendências germanistas, se levantaram co-
mo defensores da "Nova Ordem" de Hitler, uns discretamente, ou-
tros com mais violência.
Propagando uma idéia exótica, talvez muitos dêles não perce-
bessem que estavam sendo usados como instrumentos contra o pró-
prio Brasil.
Muitos protestavam sua condição de brasileiros e se mostra-
vam seriamente ofendidos se alguém duvidasse de sua brasilidade
e de seu patriotismo. Eles iam ao extremo de se considerar os "pu-
ros", os únicos "bons brasileiros", os esteios da família e da pátria.
344 AURELIO DA SILVA PY

Muitos agiram por ignorância e, quando abriram os olhos, despi-


ram espontaneamente a camisa política, se a haviam vestido . Mui-
tos, porém, continuam ainda a sua obra de traição conciente, entre
nós. "Quislings" de vocação , êles sonham com um pôsto de mando
e opressão no futuro "Protetorado do Brasil".
Relatamos, a seguir, um caso concreto para que o leitor forme
um juízo mais seguro da questão . Outros há, com nomes "lusos" ,
e a polícia bem os conhece. Conservemos, entretanto, sôbre êles o
manto da discreção. E' possível que ainda alguns estejam iludidos .
Deixemo-lhes mais uma oportunidade de volta ao caminho da de-
cência.
O caso que vamos narrar é de domínio público no Rio Gran-
de do Sul. Seu protagonista tem um lugar especial entre os nossos
"Quislings".
WILLY LUEDERITZ

Num atestado cuja fotocópia acompanha êste livro, temos uma


curta biografia do homem que serve como exemplo de " quisling"
gaúcho.
Pelo atestado, verifica-se que não se trata de uma pessoa de
pouca preparação intelectual, e, portanto, facilmente vulnerável às
investidas da propaganda nazista. E' um homem arraigado nos
costumes brasileiros, membro de família muito considerada na mais
alta sociedade gaúcha. Mas, o veneno ideológico nazista fê -lo descer
ao mais baixo grau a que um brasileiro poderia chegar.
Muitas oportunidades teve Willy Luederitz para abandonar o
caminho perigoso que trilhava. Não lhe faltaram conselhos amigá-
veis nem, ainda, a benevolente tolerância da nossa polícia política.
Luederitz, porém, continuou no seu rumo. Afirmando ser um pa-
triota extremado, um grande admirador da orientação política do
governo brasileiro, um " bom brasileiro ", continuou a servir de ins-
trumento à mais vergonhosa traição que poderia cometer para com
a sua pátria.
Também reproduzimos o fac-símile de uma procuração passa-
da na Alemanha, em que êle se acha qualificado como alemão.
(Doc. n.º 62) . Dito isto, parece-nos não ser necessário mais nada
para evidenciar o caráter dêsse homem. Ele está retratado na re-
produção dos documentos e relatórios encontrados em seu poder.
Através dessas provas, verificamos ter sido Willy Luederitz um
dos maiores instigadores do movimento antibrasileiro e da agitação
dos teuto-brasileiros do Rio Grande do Sul, de parceria com o`con-
sulado alemão de Pôrto Alegre.
As ordens e instruções, procedentes do Consulado Alemão,
eram verbais e por escrito.
Quanto às verbais, eram obtidas no próprio Consulado ou nos
A 5. COLUNA NO BRASIL 345

Documento n.º 62

Procuracão .

Pelo presente instrumento de procuração , reve-

atido de todas as formalidades legaes deste paiz , o abaixo assi-

gnado GUIDO SCHUETZENDORF constitue seu bastante procurador

na republica dos Estados Unidos do Brasil o anr . WILLY LUE DEJ

RITZ , commerciante , allemão , domiciliado em Porto Alegre , Estado

Rio Grande do Sul ( Brasil ) , com escriptorio a rua Uruguay No.91 .

para o foro em geral e especialmente para alegar e defender to-


dos os seus direftos e interesses constantes do contracto de 16

de junho de 1936 celebrado entre elle outorgante e os snrs . Dr.

Richard Lehmann Pedro Becker . ambos em Porto Alegre , podendo

rehaver as tres fitas " Der Läufer von Marathon " , " Der Schungel

ruft " e " Gross reinemachen " , representar o outorgante em quaes-

quer acções ou procedimentos judiciaes em que for autor ou réo ,

reservando para si as citações iniciaes , cobrar amigavel ou ju-

dicialmente tudo quanto lhe for devido , dar recibos e quitações .

transigir em Juizo ou fora delle , desistir , jurar suppletoria e


decisoriamente , promover arrestos e sequestros , usar de qualquer

recurso legal seguindo o até ulterior instancia , fazer execuções


substabelcer esta em quem convier e revogar os substabelecimento

e praticar todos os actosem direito permittidos , que julgar ne-


cessario para o desempenho fiel do presente mandato .
Berlim1,22de
, novembro de 1937 .

JindaPelin ay
Gomally
Jend

repetidos encontros que Luederitz mantinha com o então cônsul


Ried, o que, aliás, acontece também com o cônsul atual .
E a carta abaixo transcrita dá notícia exata das instruções es-
critas que êsse agente recebia. (Doc. n.º 63) .
346 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 63.

5255
Deutsches Konsulat
Tob. Nr. Deu 6 Porto Alegre, den ..... 29.Oktober
(Es wird gebeten, in den Antwortschreiben un
vorstehende Tgh. Ni ansugeben)

Sehr geehrter Herr Lüderitzi


Far Ihr gefl . Schreiben vom 25.de.Nts . spreche
ich Ihnen einen besten Dank aus. Sollte es Ihnen mögl: eb
sein, Herrn Coronel Maia über seine jetzige Gesinnung
Deutschland und der Nationalsozialistischen Regierung
gegenüber persönlich auszuforschen , so wäre ich Ihnen
für eine Kitteilung über das Ergebnis außerordentlich
verbunden.
Fermer darf ich Sie bitten mir noch Geburts-
datum , Religion , Staatsangehörigkeit und Anschrift der
Herren João Pinto da Silva und Mario de Så bekannt
zu geben sowie eine nähere Erläuterung der deutschen-
freundlichen Einstellung und Gesinnung dieser Herran
und ihrer evtl. "
Verdienste um die deutsche Sache.
Kit nochmaligen Dank im voraus und
ergebensten Grüßen

Deutscher Konsul

AD Herrn
Willy Lüderitz
Hier

Tradução do Doc. n.º 63


"Pôrto Alegre, 29 de outubro de 1935.
Muito prezado sr. Luederitz.
Os mais sinceros agradecimentos por sua amável missiva
de 28 do corrente. Caso lhe seja possível indagar pessoal-
mente do sr. Coronel M. acêrca da sua atual orientação para
com a Alemanha e o Governo Nacional-Socialista, imensa-
mente grato ficaria por uma informação sobre o resultado.
Outrossim, desejo pedir-lhe, ainda, comunicar-me os da-
A 5. COLUNA NO BRASIL 347

dos referentes à data de nascimento, religião, nacionalidade e


enderêço dos srs. J. P. S. e M. S. , assim como uma especifi-
cação da atitude e orientação pró-alemã dêstes senhores e dos
seus méritos eventuais pela CAUSA ALEMA.
Novamente agradecido de antemão e com saudações cor-
diais.
(a. ) RIED "
Cônsul alemão . ”
Temos aquí não só uma prova da atividade subterrânea e
secreta de Luederitz, como, mais que isso, uma das provas mais
graves da utilização de agentes " brasileiros" pelo próprio Consu-
lado Alemão com o objetivo de preparar terreno para a CAUSA
ALEMĀ.
Os pedidos do cônsul Ried eram atendidos com presteza . Na
carta acima, observamos o agradecimento do cônsul por uma infor-
mação recebida anteriormente.
Em público, Luederitz era expansivo, declarando-se, aberta-
mente, um apaixonado nazista, até à hora da proibição.
A atitude que manteve o colocou em choque com os círculos
de suas relações, situação que, muitas vezes, chegou a vias de fato .
No conhecido "CASO TURNERBUND ", Luederitz fez papel
importante, conquanto subterrâneo. Manteve vasta correspondên-
cia e, em suas cartas, encorajava e atacava, respectivamente, os sim-
patizantes do nazismo e seus adversários.
Luederitz usava o nome de guerra de "JACOB SPAETH”.
Quem identificaria , nesse nome de feição semita, o quinta-colunista
nazi Willy Luederitz?
Como bom agente, empregava a manha com senso de oportu-
nidade. São típicas as cartas de solidariedade escritas por Luederitz
com a intenção oculta de fazer o destinatário voltar-se contra o
Brasil. Reproduzimos uma delas, enviada ao sr. A. B., pessoa de
merecido prestígio nos nossos meios sociais : (Doc. n.º 64) .
Tradução do Doc. n.º 64
"Pôrto Alegre, 5 de janeiro de 1938.
Meu caro senhor Bins.

Neste momento encerro a leitura, no "Diário de No-


tícias" , de sua defesa e seu esclarecimento do caso do "CO-
MISSARIADO FARROUPILHA."
Outra cousa não tinha esperado do meu velho amigo
Bins.
E' devéras triste que homens criteriosos e honestos, que
se sacrificaram pelo bem da coletividade , estejam agora ex-
postos a ataques tão estúpidos e maléficos, o que certamente
se deve atribuir aos inimigos de tudo o que é germânico, ele-
mentos de orientação nativista -jacobinista.
Assim como eu, pensam nesta hora centenas, talvez mi-
348 AURELIO DA SILVA PY

dhares, de seus patrícios da raça germânica; disto o senhor


poderá estar assegurado.
Com a fiel saudação alemã
Heil Hitler!"
Documento n. 64.

Porto Alegre , 5 Januar 1938

Mein lieber Herr Bins .

Soeben beende ich die Lektuere im


" Diario de Noticias" - Ihrer Verteidigung und

Klarstellung in Sachen :
Commissariado Farroupilha .

Nichts anderes habe ich von meinem alten

Freund Alberto Bins erwartet .

Es ist traurig , dass anstaendige , ehrbare


Menschen , die sich fuer das Allgemeinwohl opferten
solch niedertraechtigen , gemeinen Angriffen aus-
gesetzt sind - was man aber bestimmt nativistisch-
Jakobinisch eingestellten

Hassern alles Germanischen

zuschreiben muss .

So wie ich , denken zur Stunde hunderte , gar


tausende von Ihren Landsleuten

Germanischen Stammes

dess , duerfen Sie versichert sein .

Mit treudeutschem Gruss

WillyCideritz
A 5. COLUNA NO BRASIL 349

Causa admiração a capacidade combativa de W. Luederitz.


Êle tinha ligação direta e íntima com os chefes nazistas de todo
Brasil, mantendo-a mesmo quando êles retornaram para a Alema-
nha. Com o ex-chefe oficial nazista do Brasil, o sr. Hans Henning
von Cossel, mantinha Luederitz um contacto contínuo , assim tam-
bém com Walter Hornig, ex-chefe nazista em nosso Estado, agora
na Alemanha.

A todos Luederitz satisfazia plenamente. Muito bem informado


sôbre todo o movimento social e político em nosso Estado, podia
fornecer as informações desejadas. Até dados sôbre situações topo-
gráficas e quedas-d'água êle enviou à Alemanha. Um relatório
abaixo transcrito nô-lo atesta, do mesmo modo que a seguinte carta:

"Buenos Aires, 29 -XI-37.


Willy.

Aquí chegando ontem de manhã, após agradável via-


gem, telefonei imediatamente ao nosso amigo Adolfo Nie-
buhr, ao qual tínhamos mandado, há cêrca de 20 dias, aí
de Pôrto Alegre, as informações que êle solicitara sôbre as
quedas de Ijuí.
Disse-me êle, entretanto, que nada tinha recebido,
que estranho, porque a carta ficou pronta no teu escritório
para ser expedida. Será que o teu "factotum" a tivesse es-
quecido?
Sei, pelo que me disseste, que tinhas mandado uma eó-
pia da mencionada informação ao sr. Eng. Walpert na Ale-
manha por intermédio do sr. Hornig.
Não vá com esta manobra ter ficado no esquecimento
a carta ao colega Niebuhr aquí em Buenos Aires.
Deves ter cópia aí e seria indispensável mandar imedia-
tamente uma cópia por avião ao Engenheiro Adolf Niebuhr,
Echevaria 3725, Buenos-Aires."

O engenheiro Walpert, a quem faz referência a carta acima, era


pessoa de ligação de Luederitz, e um dos endereços para onde Lue-
deritz enviava seus relatórios.
Numa das respostas dêste engenheiro, viemos a saber que foi
Luederitz quem ARRANJOU PARA O JORNAL "DEUTSCHES
VOLKSBLÄTT”, A PROIBIÇÃO DE CIRCULAR NA ALEMA-
NHA . .
350 AURELIO DA SILVA PY

Tinha ainda Luederitz ligação com o Ministério das Relações


Exteriores da Alemanha por intermédio do referido engenheiro. Em
certo caso êste esperava somente comunicação de Luederitz para en-
caminhar uma causa àquele Ministério .
A carta do referido engenheiro dirigida a Luederitz vai repro-
duzida aquí na íntegra. (Doc. n.º 65) .

Tradução do Doc. n.º 65


"Prezado sr. Luederitz.

Só hoje me é possível responder sua carta de 17 de ju-


nho do corrente ano .
Por causa das minhas férias e da Olimpíada, fiquei um
tanto atrasado .
O livro de Koseritz, remetido a mim por intermédio
de Hornig, foi entregue ao "Reichsleiter" e foi lido com
grande interêsse. Como êle se acha de momento fora de
Berlim, não me é possível transmitir ao senhor suas impres-
sões. Isso farei em princípios de setembro. Não julgue,
não, que nos seja desconhecida a situação no Brasil. Eu
mesmo viví lá durante sete anos e só posso compartilhar inte-
gralmente sua opinião. Como falo o português, poderá re-
meter os recortes de brochuras, jornais etc. diretamente no
original. Eu mesmo arranjo depois a tradução .
Com relação ao "Projeto Jacuí, nada posso lhe respon-
der agora, porque quero tratar êste assunto com uns senho-
res brasileiros que se encontram atualmente na Alemanha, bem
informados sôbre o caso.
Caso o senhor desejar que eu comunique ao Ministério
das Relações Exteriores o caso do "Colégio São José" , em
virtude da atitude errônea do Cônsul Ried, então peço uma
comunicação a respeito. Por enquanto, nada empreenderei
até a chegada de sua resposta.
A proibição do "Deutsches Volksblatt" continuará em
pé, com absoluta certeza. MAIS NÓS NÃO PODEMOS
FAZER DAQUÍ, INFELIZMENTE.
Muito obrigado pela remessa inclusa.
O senhor não me cansará com suas correspondências, ao
contrário, elas são para mim INFORMAÇÃO VALIOSA .
nos vem confirmar sempre o que nos é informado sôbre a
situação de lá por outras fontes.
Aguardando uma resposta breve de sua parte, firmo-me
com saudações cordiais

Salve Hitler!
(a.) Walpert".

Merecem muita atenção os trechos assinalados, principalmente


aquele que se refere "a outras fontes".
Documento n.º 65
Ing. H.K. alper. den 20.August 1936.
Berlin W.35. Herrn
Margaretenstr.17.
Willy La

Porto A
caiza postal 489
Brasilien-Sul .

Sehr geehrter Herr Lüderitz

Erst beute komme ich dazu , Ihr Schreiben vas


17. Juni ds .Js.zu beantworten.
Durch meinen Urlaub und die Olympiade bin ich
etwas in Verzögerung geraten .
Das mir durch Hornig übersandte Buch von Kose-
ritz hat der Reichsleiter erhalten und mit grossen Inte-
resse gelesen.Da sich derselbe zur Zeit für längere Zeit
ausserhalb Berlins befindet , kann ich Ihnen seine Stellung
nahme noch nicht übermitteln . Dieses wird erst Anfang Sep-
tember geschehen . Glauben Sie ja nicht , dass uns die Ver
hältnisse in Brasilien unbekannt sind . Ich selbst habe
dort 7 Jahre gelebt und kann Ihre Ansicht nur voll und
ganz teilen. Da ich selbst portugiesisch spreche ,können
Sie mir immer Ihre Broschüren , Zeitungs-Ausschnitte law .
in Original zusenden. Ich besorge mir dann die Übersetzung
selber.
Wegen des Jacuhy-Projektes möchte ich Ihnen heu-
te noch nicht antworten , da ich die Sache mit brasiliani ·
schen Herren , die sich zur Zeit in Deutschland befinden.
besprechen will , die darüber genaue Kenntnis besitzen .
Wenn Sie wünschen , dass ich die Angelegenheit der
Josef-Schule wegen das falschen Verhaltens des Konsula
Ried dem Auswärtigen Amt zur Kenntnis geben soll , so bitta
ich um Ihre gefl . Mitteilung . Ich werde vorläufig nichts ca
ternehmen , bevor Ihre Antwort hier ist . Das Verbot des Volks
blattes wird bestimmt aufrecht erhalten bleiben . Mehr kön-
nen wir ja leider von hier aus nicht tun . Für die mitüber-
sandten Anlagen danke ich Ihnen bestens .
Sie langweilen mich durchaus nicht mit Ihren Brie
fen, in Gegenteil , sie sind mir eine wertvolle Information

und bestätigen immer wieder das , was mir auch von


anderer Seite über die Verhältnisse dort berich ·
tet wird.
In Erwartung einer baldigen Antwort von Ihnen, ver-
bleibe ich mit den besten Grüssen und

Heil A 1 tler
For

Wayner
352 AURELIO DA SILVA PY

Outro endereço para a remessa de informações e relatórios era


W. Martens, em Bremen. Também a êste as informações enviadas
eram múltiplas e abrangiam assuntos de tôda a espécie.
Não desejando estender demasiado êste assunto, vamos reprodu-
zir somente as partes principais de duas destas cartas, endereçadas a
Luederitz em data de 12 de agôsto e 16 de setembro de 1937:

"Recortes de jornais: Os recortes de jornais citados


não se encontram, infelizmente, junto a esta carta. Não sei,
agora, se o senhor esqueceu de os colocar ou se o Correio
simulou experteza também desta vez.
Instigações contra a Alemanha: Bem sei que o sr. tem
nesse "estado negro " do Rio Grande do Sul uma posição
difícil contra os Jesuítas. A referida Ordem foi atingida em
suas partes mais sensíveis.
Leitura: O caminho indicado pelo senhor, para abas-
tecer os jovens moços com literatura, tem de ser pôsto em
prática logo e, quanto à minha parte, movimentarei tôda a
engrenagem .
Viagens com abatimento à Alemanha para jovens:
Também isto se deveria realizar com o auxílio do "Reich"
e eu pensei desde logo nos novos vapores da organização
"Kraft durch Freude" , que poderiam levar primeiramente jo-
vens alemães que terminaram seu tempo de serviço no acam-
pamento de trabalho . Se é aconselhável trazer jovens bra-
sileiros pelo mesmo caminho, à Alemanha, é uma questão que
deveria ser estudada maduramente, pois isto poderia provo-
car um grande berreiro no Exterior.
Publicação : Estranho muito que o "Neue Deutsche
Zeitung" fizesse tanta objeção para publicar o artigo refe-
rido. - Aquela outra fôlha jesuíta, que se chama "Deutsches
Volksblatt" tem de comum com a Alemanha e com a comu-
nidade alemã só a língua em que é publicada.
Jesuítas: Acalme-se ; na Alemanha está surgindo uma
nova geração, que não ficará devendo a resposta a estas "ba-
tinas pretas' , disto o senhor poderá estar certo."

Estes tópicos, traduzidos literalmente, dizem bastante dos assun-


tos tratados entre o remetente e o destinatário .
São inúmeras as cartas dêste gênero . E' pouco compreensível a
fraqueza, num agente como Luederitz, de guardar tôda esta docu-
mentação. Seria para fazer um dia uma "prova de títulos ", quando
o sonho e o objetivo se transformassem em realidade, isto é, a subor-
dinação de nosso país à chefia nazista da Alemanha?
A carta abaixo, dirigida por Luederitz ao ex-chefe nazista do
A 5. COLUNA NO BRASIL 353

nosso Estado, Walter Hornig, permitirá ao leitor fazer um juízo


ra mais amplo sobre o "pivot" dêste capítulo :
S
Domingo, 16 de outubro.

Bela manhã de domingo. As 6 horas da manhã , já


andava de pijama lá por baixo e achei o que procurava : o
46
"Deutsches Volksblatt" , edição de domingo -- "uma lamba-
rice especial" . De fato, lá estava : "Retrospecto da sema-
DS na", com o comentário dos fatos de maior projeção da sema-
na, por Franzel, Franzel Metzler, o homem boicotado de
Berlim :
0
"Foram proibidas, na Alemanha, tôdas as produ-
11 ções literárias do sr. Dr. F. M.".
0
11 Sim , sim - contra isso teve o Franzel que dizer algo
e êle disse mais do que se esperava.
Também você deve alegrar-se com isto, caso você, como
11 "pensador" ainda o possa, isto é, alegrar- se.
a Eu lhe mando a página completa, porque vemos nela
que, ao contrário do que nós esperávamos, "continua-se fu-
rungando" .
Com isto êle se prejudica mais do que talvez julgue
0 mas êle se acha obrigado a tomar essa atitude, "noblesse
oblige".
Não mais pode voltar para trás, a-pesar-de o desejar,
pois já lamenta hoje esta sua ação tôla, esta intromissão, esta
e implicância contra tudo que é nacional-socialista na Alema-
nha.
Que grande idiota !
Eu acho que êle continuará no "Volksblatt" unicamente
como colaborador ― pois êste jornal, com tôda a certeza,
navegará de janeiro em diante sob orientação completamente
nova.
Nesta semana saberei algo de certo sôbre isto e lho rela-
tarei imediatamente.
2 De muito interêsse será para você êste "retrospecto da
semana" , porque depois de muito tempo aparece em foco no-
vamente o seu nome e se ataca severamente a sua função de
repatriador. Você agora é um tal Walter Hornig, que se
experimentou, com sucesso duvidoso, como chefe de círculo
e de núcleo.
Só me admiro porque êle derrama tanta tinta nestas his-
a tórias bestas, que nada lhe importam, em vez de "cultivar”
com mais eficiência o caso "Innitzer Juventude Hitlerista
0 -- Viena" e defender, como bom católico, aquele velhaco
traidor da Pátria. Isto séria mais interessante. Mas, de acôr-
do com o sistema jesuíta, êles preferem esperar. Mas será
pior, pois, como parece, aquele velho tem ainda mais “su-
jeira".
23-5, C.
354 AURELIO DA SILVA PY

Correm aquí certos comentários, também nos círculos


católicos, após o discurso de Buerckel em Viena, em tôrno
da leitura da carta do Cardeal e as expressões do arcebispo
de Salzburgo, donde se conclue que Roma alimenta a opi-
nião de que não há motivo para se apressarem as cousas, por-
que não se sabe ainda como vai terminar êste caso com a
Tchecoslováquia , etc. etc.
Com tôda a certeza os Englerts, Aloisius, Steidles e com-
parsas, em sua visita à redação do Metzler, preveniram o pes-
soal para que sejam mais cautelosos, porque não se pode
saber se ...
Eu acho, meu caro Hornig, que o mais acertado em
todo o assunto é:

"Que nada mais poderá ser empreendido contra êste


bloco Alemanha - Itália, contra esta união fraternal
de armas. Só resta fazer-se as pazes, uma vez ver-
dadeira, baseada no exemplo dado em Munich” .

Isto me parece a quintessência de tôda aquela conversa


fiada na Europa .
Como os hebreus, Baruchs, Malz & Co. Ltda. e como
mais se chama aquela canalha, andam intrigando, berrando
de raiva e instigando a guerra após êste fracasso ! E isto êle
chama de humano.
Todo aquele capital judaico metido nas gigantescas fá-
bricas de armas de Schneider-Creusot, Armstrong, na Inglater-
ra e em USA, lamentam os judeus. Todo o nosso belo ca-
pital se irá, se não houver mais guerras!"
Com isto também o prestígio judaico irá para o diabo
que o carregue, e tudo " por causa daquela conversa fiada, lá
em Munich, dos quatro grandes homens" , como êles dizem.
Mas neste caso nada se pode fazer para êles.

Jornais: Agora quero pedir-lhe alguma cousa, sr.


Hornig. Pouco a pouco volta aquí a calma (mas nunca
a paz) .
As sociedades, as escolas estão agora nacionalizadas, com
exceção das de alguns pastores sinodais, contrariadores firmes,
algumas irmãs protestantes, que dirigem alguma casa de edu-
cação e também hospitais.
Mas para que fazer barulho por causa desta nacionali-
zação?
Para que?
O Brasil alcançou o seu objetivo e obteve sua finalidade.
Tudo está nacionalizado . Foi atingida a comunidade alemã,
especialmente o movimento nacional-socialista, portanto : "ergo
bibamo". As autoridades estão dando para os estrangeiros
uns passaportes especiais e carteiras de identidade.
Existe aquí a idéia de se construir um "Deutsches Haus"
sob os auspícios da DAF (Frente Alemã do Trabalho) .
A 5. COLUNA NO BRASIL 355

As autoridades daquí pensam : "Deixa-os, que esta gen-


te não nos prejudica em nada ... agora não nos poderão fa-
zer mal algum ...
E assim, pouco a pouco, pode-se pensar novamente na
leitura de "jornais alemães decentes" , do que temos tanta sau-
dade aquí. Sem êles, se decai aquí espiritualmente.
Mas onde é que a gente vai conseguir tais jornais ? Tal-
vez no Kniestedt, lá no abrigo de Bondes da Praça Parobé ?
Talvez o "Deutscher Weg", a fôlha predileta do sr. A. F. ,
pela qual, conforme declarou no mercado ao sr. A. B., êle
se poderá orientar sôbre a verdadeira situação na Alemanha.
Ou o senhor acha que devo comprar o "Argentinisches
Tageblatt" ?
Por isto, Hornig, se você quer que eu continue ser o
velho nacional-socialista de sempre, terá que jurar que me
enviará regularmente os seus jornais "Der Angriff" , "Schwarze
Korps" e o "Stuermer" .
Para não lhe causar muitos incômodos, nem despesas,
o que não seria justificado e o que também não desejo, pro-
ponho-lhe o seguinte :
Você certamente é um assíduo leitor dos referidos jor-
nais. Em vez de se servir dêles, depois da leitura, como
papel de embrulho, dê um pequeno impulso ao seu coração
(talvez era melhor dirigir-me, nesta questão, à senhora Hor-
nig) , selecione tudo o que tiver em casa em matéria de lei-
tura, faça um pacote disto e, como você aparece em todos os
navios da Companhia Hamburguesa para controlar os passa-
geiros ou tem para isto um homem de confiança, entregue
êste pacote ao comandante, ou mesmo a marinheiros do navio
que seguir diretamente a Pôrto Alegre, dirigindo -o para a se-
guinte endereço :

Willy Luederitz
by Fraeb & Cia.
(Consulado Dinamarquês)
Pôrto Alegre
Praça Quinze n.º 68
Tel . 47-52 .

Com isto você dará uma grande alegria não só para mim,
como também para um grande número de alemães, os quais,
assim que souberem que eu tenho comigo números do "Sch-
warze Korps" e "Stuermer" , me levarão de ombros ao Chalé
da Praça Quinze ou ao nosso centro mais novo, o Hubertus-
Bar, (que veio substituir a Sociedade Germânia, para onde
ninguém mais pode ir ) . Lá êles me carregarão de chopp e,
quando menos esperar, um dos L. ou B. W., ou qualquer
outro, daqueles que tanto apreciaram o "Eintopfessen" na "Casa
Alemã", desaparecerá com a pasta de jornais. Talvez venha
a haver uma pequena rixa por isto, mas, contudo, ficarei sem
os jornais.
356 AURELIO DA SILVA PY

De vez em quando recebo alguma cousa do sr. Moebus


do Consulado, mas isto é pouco, pois o sr. Moebus tem um
vasto círculo de fregueses de leitura. Possue uma bela biblio-
teca nacional-socialista, da qual se servem todos os visitantes.
Desejo também jornais ilustrados para os meus "patrí-
cios rebeldes" , os quais deixo quase loucos com as explica-
ções que lhes dou . O meu velho amigo A. W. é então o
homem que leva estas revistas ao "Círculo de Jovens Teuto-
Católicos" da Igreja São José, o que deixa o pessoal quase
doido de raiva, e o bispo V. E. já teve certa vez um ataque
epiléptico quando deparou com tais revistas "hereges." Êle
é também o controlador do H. e do K.
Pelo primeiro, o da Livraria H. , eu ainda sinto alguma
simpatia.
A última firma, porém, não tem nenhum valor, por-
que lá há, como você bem sabe, "ar israelita", a-pesar-das
visitas anuais à Feira de Leipzig, para onde foi enviado em
janeiro dêste ano o sr. H. B.. O ano passado esteve lá o
gordo Kuli-bolchevista e soberano comunista R. K. , amigo
íntimo do judeu Epstein, também conhecido seu, frequenta-
dor do Liliput, onde a "Mischpoche" tem suas mesadas.
Lá no K. uma "Berliner Ilustrierte" custa agora 2 $ 500
e a "Gruene Post" 2 $ 700 . Quem poderá pagar isto?
Mais você não encontra aquí em Pôrto Alegre, porque
ninguém tem mais coragem de mandar vir jornais da Ale-
manha e expô -los nas vitrinas.
Em resumo, nós todos, educados por você para o nacio-
nal-socialismo, nos achamos em sêco, e por isto é o meu
pedido a você para prover os alunos estudiosos com alimento
espiritual.
Mandar os jornais pelo navio julgo o meio mais prá-
tico e basta que o comandante, oficial ou algum marinheiro
telefone ao n.º 47-52 , anunciando : "Que o sr. Luderitz ve-
nha a bordo do navio !"
Eu me ajeito com meu amigo G. da Alfândega, convi-
do-o para um trago a bordo e imediatamente passarei o con-
trabando, sem operação dolorosa, sem narcótico e nem anes-
tesia local.
Para você isto será de pouco custo e se a prezada senho-
ra Hornig der uma mão, a cousa estará em ordem e eu rece-
berei os pacotes. Sei que você, como homem ocupadíssimo,
que nem para respirar tem tempo, nem tão pouco para tomar
um chope lá no seu " Siechenbräu" (isto me contou o sr.
Ernst Rudolf Becker) , não devia ser incomodado com tais
bagatelas. Por isto, apelo à bondade da sra. Hornig.
Encerrando, transmito cordiais saudações e Heil Hitler."

Esta tradução amenizada, saiu muito a favor de Luederitz, pois


a sua carta foi um verdadeiro atentado contra tôdas as normas lin-
guísticas. Usou de termos intraduzíveis.
A 5. COLUNA NO BRASIL 357

Tais eram as atividades “patrióticas" dêsse Luederitz.


Ele enviava, ainda, nomes de semiadversários nazistas para a
Alemanha, para que fôssem saudados pela Emissora de Ondas Cur-
tas Alemãs, pretendendo-se, com esta atenção e surpresa, firmar a
adesão e simpatia para o nazismo. A mesma cousa era feita quando
alguém viajava para a Alemanha, e convinha a sua "nazificação” .
Citamos um caso para exemplo, extraído duma das cartas de
Luederitz enviadas à direção da "Emissora de Ondas Curtas Ale-
mãs":

"Trata-se no caso presente de um homem que desde


algum tempo se mostra adverso ao nacional-socialismo e à
Alemanha, igualmente instigado. No íntimo, porém, admi-
ra êsse grande país e o seu "Fuehrer" .
Na primavera de 1938 , êle deseja visitar a Alemanha
via Itália e seria oportuno que lhe fôsse feita uma saudação,
talvez no dia 4 de agosto, dia de seu 50.º aniversário, dedi-
cando-lhe algumas palavras, o que não fará nenhum mal e
só poderá ser de vantagem.
Trata-se nesta pessoa do sr. Ezequiel Maristany Júnior,
a quem o "speaker" português deveria se dirigir numa sauda-
ção de aniversário, lembrando-lhe, nesta ocasião, que não dei-
xe de visitar a Alemanha em sua viagem à Europa, para se
certificar de que na Alemanha absolutamente não se passa
fome, o que poderá constatar "in loco" quando atravessar a
fronteira italiana no Brenner, e que êle levará da terra do
grande "Fuehrer" Adolfo Hitler as mais belas impressões."

Eis aí como se prepara uma viagem de visita à Alemanha já


no lugar de partida do visitante. Este, ignorando o movimento se-
creto em tôrno dêle, vai certo de que não se deixará guiar por nin-
guém para não ser influenciado. Regressa depois, entusiasmado,
mas, na realidade o seu entusiasmo foi obra de um esquema exe-
cutado desde que teve a idéia de visitar a Alemanha. Desta manei-
ra preparam-se propagandistas neutros e desinteressados.
Haveria ainda muito a contar sôbre o caso de Luederitz, que,
em matéria de correspondência, é inesgotável . Mas, o leitor deve
estar satisfeito com o que aquí mostramos sôbre a atividade dêsse
"quisling".
Apenas não deve esquecer-se de que vivem entre nós muitos
"Luederitz", talvez não menos perigosos, pois estão vendidos a uma
causa contra o Brasil e, pessoalmente, já se subordinaram a chefes
e ordens estrangeiras . São elementos perdidos, com os quais o Bra-
sil não conta mais, e dos quais tem de se defender.
O homem que apanhou a luva lançada
pela Gestapo

" Acima de nós paira o lema : ' ninguém no mundo


nos ajudará, se nós mesmos não nos ajudarmos" .
Esta decisão de lutarmos por nós mesmos é uma
decisão orgulhosa e viril" .
(Hitler - Dicurso de 5-10-1938, em Berlim) .

Como já dissemos, a Polícia do Rio Grande do Sul, depois que


se manifestaram, no Estado, as primeiras atividades de espionagem ,
instalou um departamento de contra-espionagem na sua Delegacia
de Ordem Política e Social. Desde então, travou-se entre o nosso
serviço secreto e os agentes da Gestapo uma luta silenciosa, anôni-
ma, na qual, podemos afirmar, temos levado a melhor. Se o Rio
Grande do Sul, e com êle o Brasil, se encontra atualmente em ordem
e calma, se os brasileiros podem olhar com confiança os destinos de
sua pátria, é porque êsses heróis anônimos congregados na polícia
política trabalharam sem descanso para desfazer a teia sinistra te-
cida já com bastante extensão pelos representantes de uma organi-
zação estrangeira cuja ambição se concentra na conquista territorial.
Ao escrevermos os últimos capítulos dêste livro, realizava-se no
Rio de Janeiro a Conferência dos Chanceleres das Repúblicas Ame-
ricanas. Só então ficou decidido, oficialmente, o rompimento do
Brasil com as potências do Eixo, o que representou o marco inicial
de uma luta aberta contra a infiltração totalitária nazi-fascista. E'
justo, portanto, assinalar que a Delegacia de Ordem Política e So-
cial da Polícia do Rio Grande do Sul se antecipara neste rumo, en-
tregando-se desde muitos anos à dura tarefa de colher os dados
referentes a essas atividades subversivas da unidade nacional, reali-
zando inquéritos, aconselhando e punindo. Foi uma demonstração
de aguda visão das coisas.
E' esta a primeira vez que, através da leitura de um livro,
grande público toma conhecimento dos detalhes da nossa luta con-
tra os agentes do totalitarismo alemão. E podemos afirmar que o
A 5. COLUNA NO BRASIL 359

momento significa, também, a vitória do Brasil sobre essas fôrças


da destruição .
Desperto e alerta, cheio de orgulho, o Brasil proclama a rejei-
ção de quaisquer ideologias importadas e a vontade de seguir o seu
caminho dentro da unidade panamericana.
Tendo sabido livrar-se do perigo interno e conciente do perigo
externo, o Brasil declara-se pronto a pôr-se ao lado das repúblicas
irmãs do Continente para uma luta conjunta em favor da extirpa-
ção das últimas raízes do nazi-fascismo.
Os problemas criados no Brasil, especialmente no Estado do
Rio Grande do Sul, pela atividade dos agentes nazistas, são os mes-
mos contra os quais lutam hoje os outros países sul-americanos. A
gravidade e magnitude dêsses problemas está sempre em relação
com a densidade de população ou riqueza econômica das zonas em
que surgem. Não é de estranhar, portanto, que Buenos Aires, o
maior centro do continente sul-americano, albergue um foco mais
importante do nazi-facismo que qualquer outra cidade sul-ameri-
cana. O caso que a seguir vamos expor, a título de ilustração, de-
monstra que a tática nazista é a mesma em tôda a parte . Interna-
mente, um rigor e uma disciplina cruéis; externamente, a adapta-
ção ao meio, a flexibilidade.
Willy Koehn, o antigo chefe nazista da América do Sul, foi o
organizador do nazismo na Argentina; auxiliado por outros ele-
mentos de destaque, entre êles um oficial da reserva do exército ar-
gentino, fixou as bases para uma atividade em grande escala da
Gestapo, primeiramente em Buenos Aires e, após, por tôda a Amé-
rica do Sul.
O trabalho da Gestapo foi de tal maneira detalhado e perfeito,
que aos seus agentes foi possível até controlar telefones e censurar
correspondência, sem que tivessem sido sequer uma vez impedidos
ou, ao menos, importunados nesse serviço secreto .
Willy Koehn, oficialmente adido à embaixada alemã de Bue-
nos Aires, viajava com passaporte diplomático por todos os países
sul-americanos e por onde passava deixava uma rêde da Gestapo
organizada.
Deve-se compreender que, já antes, existia a espionagem nazis-
ta, e que ainda continua, mas que essa nada tem de comum com a
ação da Gestapo, de que estamos tratando. Aquí, topa-se com agen-
tes ligados diretamente à Polícia Política Alemã, cuja potência nos
é bastante conhecida através das notícias sôbre a ação de Himmler
e Heydrich nos países ocupados pelas tropas alemãs.
Um dos principais trabalhos dos agentes da Gestapo na Amé-
rica do Sul é o controle de pessoas de responsabilidade. Sem consi-
deração à sua posição, a vítima é assediada permanentemente. Nem
os próprios cônsules e embaixadores podem fugir a esta ação . Foi
AURELIO DA SILVA PY
360

o que também aconteceu com o dr. Martin Fischer, ex-diretor do


"Deutsches Nachrichten Bureau" em Buenos Aires, a conhecida
D. N. B. , agência noticiosa alemã . Embora ocupando um cargo im-
portantíssimo e de grande responsabilidade, êle não pôde fugir à
suspeita da Gestapo, que o controlava assiduamente até nas con-
versações telefônicas. Para isto, a Gestapo destacou um amigo in-
timo do referido diretor, além de outros agentes inferiores.
Conhecedor profundo das táticas da Gestapo e de suas mano-
bras, o diretor resolveu reagir na forma possível, para desfazer a
ação desta organização, mas sem resultado.

Mas, poderá perguntar o leitor, que suspeita teria a Gestapo


daquele funcionário destacado em tão alto pôsto?
Existia um motivo .
O referido dr. Martin Fischer é primo-irmão de um dos ho-
mens mais odiados por Hitler, do inimigo n.º 2 do nacional-socia-
lismo: o dr. Herrmann Rauschning, antigo senador da cidade-livre
de Dantzig, autor de vários livros internacionalmente conhecidos,
entre êles o célebre " Gespraeche mit Hitler", traduzido para o por-
tuguês sob o título de "Hitler me disse".

A pressão em tôrno da pessoa do referido diretor do DNB to-


mou tais proporções que só lhe restava uma alternativa : dobrar-se,
o que seria uma prova de receio e fraqueza para a Gestapo, ou re-
tirar-se das fileiras nazistas e colocar-se à margem e contra a corrente.
Embora conciente de que uma resignação traria consequências
ulteriores e que, daí por diante, não poderia estar seguro de sua
existência, o diretor resolveu dimitir-se remetendo ao Partido Na-
zista de Buenos Aires a seguinte carta : (Doc. n.º 66).

Tradução do Doc. n.º 66

"Buenos Aires, 31 de dezembro de 1936.


"Conforme pude constatar fiel e irrefutavelmente, tomou
o Partido Nacional-Socialista, aquí na Argentina e também
nos outros países da América do Sul, formas que de nenhuma
maneira podem ser comparadas com a interpretação da idéia
do nacional-socialismo em que fui educado, durante os anos
de luta na Alemanha , e que é para mim a única que posso
considerar como verdadeiramente acertada. Como me vejo
colocado, por isto, num inevitável conflito de conciência, de-
claro aquí a minha demissão do Partido Nacional-Socialista.

(a.) Dr. Martin Fischer".


A 5. COLUNA NO BRASIL 361

Documento n.º 66

Dr.Martin Fischer. Buenos Aires , den 31. Dezember 1936 .


Paseo Colón 315 .
COPIA

An die
Bationalsozialisticahe Deutsche Arbeiterpartei ,
Auslands-Organisation , landesgruppe Argentinien ,
Ortsgrupps Entran
Bue

Die Entwicklung der Eatiemisorialistischen Deutschen Arbeiter-


partel hat hier in Argentinien und aush in andern Ländern Sidamerikas ,
wie mir zuverlässig und einwandfrei bekannt geworden ist , Formen ang9-
nommen, die sich in keiner Weise mehr in Kinklang bringen lassen mit der
Auffassung von Rationalsozialiswas , die sir is Deutschland in der Kampf-
zeit anerzogen worden ist und die iah als die ausschliesslich richtige
anzuerkennen vermag . Da ich datureh in umfibervindlicho Cewisconskonflik.
te gerats, erkläre ich hiermit meinen Austritt aus der Fationalsozieli-
stischen Deutschen Arbeiterpartei .
Bell Hitler!

gez.Dr.Martin Fischer.

O motivo de demissão está claramente exposto, embora o autor


da carta não tenha dado detalhes. A demissão foi aceita e, algum
tempo após, veio a resposta da chefia do Partido : (Doc. n.º 67) .
Tradução do Doc. n.º 67
"Buenos Aires, 12 de fevereiro de 1937 .
Acuso o recebimento de sua declaração de demissão do
NSDAP, dirigida ao grupo central do Partido Nacional - Socia-
lista na Argentina.
Para sua orientação, o senhor deve tomar conhecimento
de que a demissão do Partido Nacional - Socialista é definitiva ;
quer dizer que uma readmissão é impossível sob qualquer hi-
pótese, tanto aquí como na Alemanha.
Heil Hitler!

O chefe do grupo local :


(a) Bauer
Talvez analisássemos o sentido fundamental desta resposta, se
não tivéssemos um documento que muito melhor o permitirá. O dr.
Fischer, sem o ter solicitado, recebeu de um dos chefes mais desta-
cados do DNB uma carta bem explicativa das consequências de
sua demissão . Assina-a um Conselheiro Ministerial do "Reich",
362 AURELIO DA SILVA PY

Documento n.º 67

Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei


Auslands.Organisation
Landesgruppe Argentinien

Selgröftelle. Moreno 970 9. Orod


Drißgruppe: Buenos Aires Zentrum

CHE
Fernforocher, U. T. 37, (Rs.) 1854

Borusi Vired. Den 12. Februar 1937

Ar va.
15.3.3
Br, Martin Pischer 77
Paseo Colon 315
Hier.
Hiermit bestätige ich Ihre an die Ortsgruppe
Zentrum der Landesgruppe Argentinien der N.S.D.A.P. gerichtete Aus
trittserklärung aus der N.S.D.A.P.
Zu Ihrer Unterrichtung wollen Sie davon
Kenntnis nehmen , dass der Austritt aus der N.S.D.A.P. endgültig ist ,
das heisst , dass eine Wiederaufnahme unter keinen Umständen weder hier
noch Idrüben in Prage kommt . Rile
jiali
nalfo Til Hitler !
truppenleiter

rgen Baner
Wir

2/ tinienko Kassenleiter
se

‫ן‬ ‫כ‬

figura de destaque do Ministério de Propaganda da Alemanha, com


quem o dr. Fischer mantinha ótimas relações de amizade:

"Prezado dr. Fischer.

Em resposta à sua carta, na qual me comunica sua inten-


ção e os motivos para se demitir do Partido Nacional-Socia-
lista, tenho a comunicar o seguinte :
Todo partidário alemão tem a obrigação de prestar o
juramento de fidelidade ao "Fuehrer" e aos superiores por êle
designados. Quem não faz isso se põe, ao meu ver, fora
das fileiras da comunidade do povo germânico. Eu lhe per-
gunto : teria o senhor, como velho oficial alemão, negado
também o juramento à bandeira do seu comandante supremo?
Errar é humano, e se em qualquer parte houver decisões
erradas em casos pessoais, existe o Supremo Tribunal Parti-
dário do NSDAP`para examinar tais questões e providenciar
no sentido de restabelecer a justiça e a ordem. Se houve in-
justiça para com os partidários no Brasil e se êles se dirigi-
ram na devida forma ao Supremo Tribunal Partidário, terão
A 5. COLUNA NO BRASIL 363

a justiça tal como a merecem. A mim é que não cabe dar


qualquer opinião a respeito. O senhor talvez tenha sido
informado parcialmente e não tenha visto os autos do Tri-
bunal Partidário. Por isto, não pode saber se a decisão foi
ou não tomada com justiça. E' , portanto, uma leviandade
falar de comédias num caso dêste.
Aquí não se trata de verificar se algumas pessoas em si
tenham razão ; trata-se de salvaguardar, por todos os meios
e sem consideração para com o individuo e seus sacrifícios,
a unidade da comunidade alemã e especialmente do Partido
Nacional-Socialista no Exterior. Se o senhor não estiver dis-
posto a cooperar neste sentido, então sinto bastante o termos
sido companheiros. Há um velho provérbio inglês : "Right
or wrong my country". Talvez lhe convenha meditar um
pouco sôbre o sentido dêste provérbio. Certamente não en-
contrará no exterior nenhum inglês que se coloque à margem
de sua comunidade.
O senhor necessita saber que demitir-se do Partido e ne-
gar o juramento ao "Fuehrer" representa exclusão imediata
das funções dentro do DNB e que o senhor, para sempre, se
tornará inaproveitável como colaborador em qualquer em-
prêsa alemã . Colocar-se-á na categoria de emigrantes, que
volveram as costas à Alemanha porque para êles coordenação,
subordinação e disciplina foram sempre concepções terríveis.
Agora mesmo, eu tinha proposto o senhor para a DNB
no Rio de Janeiro, mas, nestas condições, sou naturalmente
obrigado a retirar, por enquanto, a minha proposta. Se eu
não conhecesse a sua grande dedicação dentro do nosso mo-
vimento, teria entregue a sua carta ao Tribunal Superior,
para que êste agisse. Por isto lhe peço comunicar-me, com a
máxima urgência, se ainda permanece em sua resolução e nos
dispositivos de sua carta, ou se reconhece ter cometido um
êrro e está disposto para o futuro a se subordinar sem restri-
ção e, muito principalmente, a prestar o juramento, o que é
uma obrigação natural de todo alemão. Caso contrário, nos-
sos caminhos se separarão imediatamente.
Salve Hitler!"

Subordinação ou aniquilamento, eis os dois caminhos para a


Gestapo no tratamento dos "Parteigenossen" .
Foi pelas declarações do ex-diretor do DNB que tivemos con-
firmação da atividade organizada da Gestapo dentro da América
do Sul e do Brasil. Desligado, ameaçado e desprestigiado pela
facção a que por tantos anos serviu fielmente, o ex-diretor do DNB
teve que mudar completamente de vida e foi nestas circunstâncias
que surgiu o seu contacto com nossas autoridades. As perguntas
que lhe foram formuladas, respondeu o dr. Fischer de maneira pre-
cisa e clara. Suas respostas merecem o destaque que a elas daremos
em seguida, reproduzindo-as juntamente com as perguntas:
364 AURELIO DA SILVA PY

P.: "Durante o tempo em que esteve em pôsto de destaque


numa agência noticiosa alemã, teve o senhor oportuni-
dade de conhecer de perto, as atividades secretas do Par-
tido Nacional- Socialista e há fundamento na afirmação
de que a Alemanha Nacional- Socialista envia agentes se-
cretos para a América do Sul, para espionarem e vigia-
rem pessoas contrárias à ideologia nacional-socialista ?"
R.: "Efetivamente, há bastante fundamento nesta afirmação
e, para comprovar esta afirmativa, posso relatar fatos
presenciados pessoalmente. Na qualidade de diretor da
DNB em Buenos Aires, eu tinha uma dependência para
meu trabalho na própria embaixada alemã , onde tam-
bém se achava instalado, em diversas e vastas salas, o Par-
tido Nacional-Socialista Alemão da Argentina, que, desta
maneira, aproveitava e gozava da imunidade que é con-
ferida às embaixadas . Foi aí, no ano de 1935, que
assistí aos preparativos para a organização da Gestapo
em Buenos Aires. O sr. Willy Koehn, hoje alto fun-
cionário do Departamento de Propaganda da Alemanha
e, naquele tempo, chefe da organização nazista de tôda
a América do Sul, estava encarregado dos trabalhos pre-
paratórios, que resultaram em muitas conferências a por-
tas fechadas, assistidas somente por um reduzidíssimo nú-
mero de chefes nazistas. Foi, enfim, escolhido para as-
sumir a direção da Gestapo em Buenos Aires o sr. Emí-
lio Tjarks, proprietário do jornal "La Plata-Post" , ar-
gentino nato e oficial da reserva do exército argentino,
pessoa de alto destaque social, de quem nunca se pode-
ria desconfiar que desempenhava secretamente tão impor-
tante cargo conferido pela Alemanha. Depois de ter
Emílio Tjarks aceito o cargo, seguiram-se as conversa-
ções para fixar a base da nova sucursal da Gestapo .
Tive oportunidade de assistir à última reunião prepara-
tória, com a qual foram encerradas as conferências ; esti-
veram presentes nessa ocasião o sr. Willy Koehn, o sr.
Emílio Tjarks e o sr. Gottfried Brand, êste, membro
da chefia nazista da Argentina . Nesta última reunião,
ficou resolvido que o sr. Emílio Tjarks tornasse efetiva
a organização prática da Gestapo na Argentina, ficando
a seu cargo, igualmente, a escolha e seleção dos agentes.
De fato, a nova Gestapo entrou em ação, o que pude
verificar pela ação dêsse serviço secreto, de cujo controle
nem mesmo eu, a-pesar-do alto pôsto que ocupava, es-
capei. Para me vigiar e controlar foi destacado um
engenheiro marítimo, oficial da Marinha alemã , homem
de ótimas qualidades e excelentes maneiras, muito comu-
nicativo e agradável, que daí por diante vivia rodeando
a minha pessoa, procurando aprofundar cada vez mais
nossa amizade que já datava de longe. Mas o meu ami-
go não conseguiu o seu objetivo . Algum tempo depois,
fui prevenido por um amigo de que o meu telefone esta-
A 5. COLUNA NO BRASIL 365

va sob censura. Achei isto primeiramente impossível e


inacreditável, mas, muito breve, tive a confirmação de
que efetivamente era assim, pelo que pude verificar pes-
soalmente. Como eu, muitos alemães e pessoas ilustres
de todas as camadas sociais estavam sob vigilância perma-
nente da Gestapo , que tinha estendido sua rêde por tôda
a parte. As informações e os relatórios dos agentes eram
entregues à Embaixada, lá reunidos, seguindo após, por
intermédio de agentes confidenciários dos navios alemães,
para a Alemanha . Somente em casos de menor impor-
tância era usada a mala comum, pois bem sabiam os
agentes da Gestapo que ela estava sob a censura argen-
tina. Assim como na Argentina, foi organizada a Ges-
tapo no Uruguai e Paraguai, o que pude verificar em
pessoa quando viajei por êsses países em missão da DNB,
pela qual me foi possível chegar aos segredos do Partido
Nacional-Socialista pelo livre acesso que tive a tôdas as
embaixadas e Consulados alemães.
P.: "Como nos outros países citados, havia também no Bra-
sil uma organização secreta da Gestapo ? ”
R.: "Disto não tenho dúvida alguma . Entretanto , nunca es-
tive em contacto direto com a Embaixada do Rio de Ja-
neiro e os consulados alemães, pois para o Brasil havia
um diretor especial da DNB. Sei, por intermédio de
um amigo, ex-alto funcionário do Partido Nacional- So-
cialista e hoje adversário do nazismo, residente atualmen-
te em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que a Ges-
tapo também no Brasil está perfeitamente organizada e
age da mesmíssima forma como nos outros países, pois o
referido amigo esteve, por muito tempo, sob o mais se-
vero controle da Gestapo . A-pesar-de eu me achar afas-
tado de qualquer atividade pública, não tenho dúvida
de que ainda estou sendo vigiado pelos agentes da Polí-
cia Alemã . Considero a existência da Gestapo dentro de
um país estrangeiro uma afronta contra todas as leis e
disposições internacionais, o que é ainda mais agravado
pelo fato de as embaixadas alemãs, abusando da imuni-
dade a elas conferida pelo país amigo, darem abrigo e
prestígio à organização, permitindo aos chefes nazistas
preparar o serviço secreto de espionagem em seus edifí-
cios" .
P.: "O senhor nunca teve oportunidade para desconfiar, pes-
soalmente, por qualquer circunstância, da atividade da
Gestapo dentro do nosso Estado, podendo talvez citar
algum agente secreto ?"
R.: "Também neste ponto me é possível satisfazer à sua per-
gunta. Em Buenos Aires, tive oportunidade de travar
relações com um senhor de nome Hermann Heinz Hell,
representante do Scherl-Verlag, organização de publici-
dade idêntica à DNB. Em 1937 ou 1938 , êste sr. Hell
retornou à Alemanha e de lá escreveu a mim comunican-
366 AURELIO DA SILVA PY

do sentir-se muito satisfeito agora. Pela redação da car-


ta, tive a conclusão de que meu amigo abandonara a car-
reira jornalística e que tinha fixado residência definitiva
em sua pátria. Com grande surpresa para mim, recebí
certo dia uma carta de Hell, na qual êle exprimia o forte
desejo de reanimar os laços de nossa amizade e de fazer
uma visita a mim . Antes ainda de lhe ter respondido,
êle apareceu, em fins de 1939 , no local de minha resi-
dência, acompanhado por sua espôsa . Recebí -o com
grande desconfiança, pois êle trazia consigo grande soma
de dinheiro, o que não estava de nenhum modo de acôr-
do com o seu meio de vida. Mais forte ainda se tor-
nou minha suspeita quando Hell pretendeu, durante as
nossas palestras, dar demonstrações de ser um antinazista
e fervoroso adversário do regime nazista. Mas, a minha
opinião sobre seu objetivo se concretizou no dia em que
êle me pediu o endereço de Hermann Rauschning, ex-
presidente do Senado de Dantzig, atualmente refugiado
na Inglaterra, o qual é primo - irmão meu, isto é, seu pai
e minha mãe são irmãos. Isto Hell sabia muito bem e
sua incumbência era justamente a de descobrir o verda-
deiro paradeiro de meu primo, pelo qual muito se "inte-
ressava" a Gestapo . Hell usou de todos os golpes e ar-
timanhas para me fechar dentro de uma cilada e o assun-
to tomou tais proporções, que fui obrigado a declarar,
ao meu suposto amigo, que êle nada mais era do que
agente da Gestapo, que suas palestras se estavam tornan-
do desagradáveis e inconvenientes . Isto chocou o sr.
Hell e, vendo frustrado o seu intento, resolveu partir
para o Norte. Durante o trajeto, esteve algum tempo
em Blumenau, onde usou como endereço a gerência do
jornal "Urwaldsbote ." De Blumenau seguiu Hell para
o Rio de Janeiro e ignoro onde êle se possa encontrar
atualmente e qual sua atividade. Mais tarde, fui infor-
mado de que Hell tinha feito sindicância sôbre a minha
vida particular e a minha atual posição para com o na-
cional- socialismo, tendo procurado para isto um agente
confidencial do Consulado alemão de Pôrto Alegre, des-
tacado no Interior do Estado" .
P.: "O sr. Hans Henning von Cossel, ex -chefe nazista do
Brasil e atualmente adido à Embaixada Alemã do Rio
de Janeiro, pode ser considerado o chefe da Gestapo no
Brasil?"
R.: "De nenhum modo. Pela organização do serviço secre-
to nazista e pelos métodos empregados pela chefia da
Gestapo, isto não poderia acontecer. O chefe nazista
de um país auxilia, sim, a organização da Gestapo, mas
para dirigi-la se designa sempre pessoa desconhecida, co-
mo ocorreu na Argentina. Como chefe nazista dêste
A 5. COLUNA NO BRASIL 367

país e adido à Embaixada alemã, bem poderia Cossel ter


preparado o terreno da Gestapo, nomeado após, para
chefe, qualquer pessoa de destaque e de real competên-
cia, que, porém, está oculta, como o estão os agentes.
Descobrir o chefe da Gestapo no Rio de Janeiro não
será difícil para um bom agente de contra-espionagem.
Para isto, basta dedicar-se com inteligência à tarefa, pro-
curando fontes bem informadas e destas não há falta na
Capital da República."

Com esse diálogo algo sensacional encerramos esta parte de


nosso livro, para nos ocuparmos, com mais pormenores, da organi-
zação da máquina nazista na América do Sul.
Temos em mão, ainda, inúmeras provas da atividade da Ges-
tapo no Brasil, mas o espaço não nos permitiu mais que escolher e
apresentar casos típicos. Os arquivos da polícia rio-grandense re-
gistam dezenas de episódios curiosos, que revelam o sentimento
próprio de segurança com que a Gestapo, como se estivesse em sua
casa, agia entre nós. Tal é, por exemplo, o caso de certa pessoa
procurada por um agente que lhe determinou, amavelmente, que
abandonasse o nosso Estado, porque sua presença era inconvenien-
te. Faltou apenas o prazo de 48 horas para termos um caso igual
ao da expulsão de estrangeiros do território do Reich, caídos em
desagrado, antes da guerra.
Panorama geral do Nazismo na
América do Sul

66
Garanto-lhes, meus senhores, que, no momento pre-
ciso, farei da vossa América o que me apetecer e
ela será o nosso melhor apôio no dia em que a Ale-
manha saltar da Europa para os espaços ultramari-
nos ... Temos na mão todos os meios para desper-
tar êsse povo, quando nos aprouver.”
(Hitler, a Rauschning) .

No presente capítulo, que se compõe na íntegra de um rela-


tório secreto, são passados em revista os aspectos gerais da conspi-
ração nazista no Rio Grande do Sul dentro do panorama sul-ame-
ricano das atividades da 5.a Coluna. Pela sua própria natureza, o
impressionante informe que vamos transcrever dispensa quaisquer
comentários de nossa parte. Cabe-nos apenas assinalar que o autor
dessas revelações era figura destacada da máquina nacional-socia-
lista alemã no exterior, como chefe de um dos departamentos de
propaganda nazista numa época em que o nazismo alemão estava
no apogeu das suas atividades no estrangeiro. Eis o documento a
que nos referimos:

HISTÓRICO

"O fascismo não é artigo de exportação".

Este dogma de Mussolini também Hitler quis adaptar ao seu


programa nacional-socialista. É, entretanto, verdade que, em 1926,
foi por êle negada aprovação a um memorial substancioso de auto-
ria de um sr. Bruno Fricke, que estudava e idealizava a congrega-
ção organizada de todos os alemães no exterior, por intermédio do
Partido Nacional-Socialista.
Bruno Fricke, natural de Berlim, e que, em 1919, após o ar-
mistício, lutara, conforme consta, como voluntário num Corpo Li-
vre no Báltico ou na Alta Silésia - juntou-se ao partido Nacional-
A 5. COLUNA NO BRASIL 369

Socialista quando êste surgiu. Teve atividade acentuada nas lutas


políticas daquela época, resultando ficar envolvido num crime po-
lítico e ser condenado a uma pena de prisão. Concluída a pena,
veio para o Brasil . Dirigiu-se ao Rio Grande do Sul e administrou
por algum tempo uma pequena granja nas proximidades de São
Leopoldo, cujo proprietário se encontrava na Alemanha . Dentro
de seu pequeno círculo de relações, Fricke procurava atrair adeptos
para o movimento nacional-socialista, que, naquela época, estava
se reorganizando, novamente, com a libertação de Hitler da prisão
correcional, motivada pelo fracassado "Putsch" de 1923. Fricke,
porém, obteve pouco êxito, pois a comunidade alemã do Rio Gran-
de do Sul não estava ainda madura para aceitar as novas idéias po-
líticas, e Hitler, por sua vez, era ainda muito desconhecido.
Daquela época data o memorial acima referido.
Bruno Fricke transferiu-se, em 1927, para o Paraguai. Fez todo
o trajeto, de São Leopoldo a Vila Rica, completamente só e a-cava-
lo. Casou-se no Paraguai, mas não conseguiu firmar pé e, por isso,
regressou em 1928 à Alemanha. Fixou residência na Alemanha
Central, onde desempenhou imediatamente papel saliente nas fi-
leiras do Partido Nacional-Socialista, que tenazmente lutava pela
conquista do poder. Sua permanência, porém, foi curta e muito em
breve teve de abandonar o país por encontrar-se envolvido num
caso um tanto obscuro. Na Cidade Livre de Dantzig, encontrou
asilo e campo de ação, exercendo funções de chefe da SA (Secção de
Assalto) no núcleo nacional-socialista daquela cidade, já bem de-
senvolvido.
Nessa posição, entrou em conflito com Hitler devido ao "Caso
do Cap. Stennes", e, seguindo o exemplo do próprio Stennes, de
Otto Strasser e de outros, juntou-se às fileiras dos adversários do
Nacional-Socialismo. Perseguido pela polícia alemã e com a exis-
tência econômica abalada na Cidade de Dantzig, teve de partir,
voltando mais uma vez ao Paraguai, onde logrou obter humilde
colocação de professor escolar. Alí conseguiu reatar a ligação com
Otto Strasser, o chefe da "Frente Negra Alemã". Passou a ser o
"confidente" dessa organização antinazista e, nesta qualidade, pro-
curou reunir e congregar os membros dispersados da "Frente Ne-
gra".
Em 1935, Fricke transferiu-se para Buenos Aires, onde iniciou,
com ardor, capricho e inegável competência, a organização de um
círculo político da " Frente Negra" , que incorporava todos os mem-
bros da Argentina, Uruguai e Paraguai e ligava externamente os
círculos do Brasil e do Chile. Editou um jornal de combate, inti-
tulado "Die Schwarze Front" (A Frente Negra), de que publicou so-
mente dez números e desapareceu em definitivo em março de 1934,
por dificuldades financeiras. Devido a alguns erros de tática e ain-
24-5. C.
370 AURELIO DA SILVA PY

da por outros motivos, Fricke perdeu sua posição de “leader” e, re-


signado, refugiou-se novamente no Paraguai. Consta atualmente
encontrar-se novamente em Buenos Aires, onde redigiu, em setem-
bro de 1940, o prefácio do último livro de Otto Strasser, intitulado
"Hitler und Ich" (Hitler e Eu").
Bruno Fricke foi, como se vê pelo exposto, o pioneiro do na-
cional-socialismo e também do antinazismo no Rio Grande do Sul,
senão em todo o Brasil.
O início da atividade nacional-socialista no Rio Grande do Sul
e, por conseguinte, no Brasil , data de 1926. Três anos após, notam-
se atividades análogas em Blumenau e em outras cidades do sul
do Brasil, tudo, porém, ainda desagregado e sem organização .
E, interessante a coincidência de que, justamente em São Leo-
poldo, onde os primeiros colonos alemães iniciaram o seu labor,
teve também início a atividade nazista do Brasil.

Na Argentina, foi um sr. Reinhold Gerndt, de Buenos Aires,


(naquela época redator do " Deutsche La Plata-Zeitung"), que, em
1930, reuniu em tôrno de si os alemães adeptos do nazismo e com
êles fundou uma associação, de início sem ligação externa.
Foi naquela época que surgiram, na América do Sul, outras
associações nazistas, igualmente dispersas, cujos associados se de-
dicavam a cultivar a ideologia nazista, concebendo sua filiação di-
reta ao Partido Nacional-Socialista da Alemanha, que progredia
cada vez mais . Tal filiação era desejada, principalmente, pelas as-
sociações das cidades de pôrto, como Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Montevidéu e Buenos Aires . Estas já mantinham, com relativa fa-
cilidade, contacto com o movimento nazista na Alemanha por in-
termédio dos tripulantes dos vapores alemães filiados ao Partido
Nazista, dos quais recebiam material de propaganda, de instrução
e de leitura. As diferentes associações não possuíam, porém, uma
ligação oficial entre si.
O desenvolvimento contínuo e progressivo das formações na-
zistas no Exterior (não só as da América do Sul) exigia, porém, uma
atitude qualquer por parte da chefia nazista na Alemanha. Deixar
cssas associações à mercê de sua sorte, independentes e sem orienta-
ção, não era admissível. Havia, para a Chefia, duas soluções : dis-
solver as organizações (o que era impossível sem sacrificar o prestí-
gio do Partido) ; ou introduzi-las oficialmente na organização má-
xima do Reich . Optou-se por esta e, desta maneira, realizou -se a
fundação do "Gau Ausland un Seefahrt" (Setor Exterior e Maríti
mo), com sede em Hamburgo, e em cuja chefia foi colocado o dr.
Walter Nyland, na qualidade de " Gauleiter" (Chefe regional) .
A 5. COLUNA NO BRASIL 371

Mas, não havia na suprema chefia nazista o interêsse suficiente


e necessário pelo novo Departamento, que, por isso, não conseguiu
desenvolver-se. Também era pouco sólida a ligação dos alemães no
exterior com a Alemanha e grande o número de adversários.
Só com o aparecimento do sr. Ernst Wilhelm Bohle mudou a
questão e mudou muito de-pressa.
Bohle, igualmente "Auslanddeutscher" (alemão do Exterior),
conseguiu convencer Rudolf Hess e, por intermédio dêste, Adolf
Hitler, de que tais formações nazistas, dispersas como estavam, não
tinham não só nenhum valor para o Nacional-Socialismo, como
também se tornavam prejudiciais ao movimento . E que, uma vez
solidamente congregadas e bem organizadas, poderiam trazer gran-
des vantagens, tanto sob o aspecto financeiro e de propaganda,
como politicamente.
Com a permissão de Hitler, foi o "Gau Ausland und Seefahrt"
ampliado para uma "Auslands- Organisation" "A-O" (Organiza-
ção Exterior), tendo por chefe o sr. Ernst Wilhelm Bohle, que ain-
da hoje continua nessa alta posição .
Foi assim que a tese adotiva de Hitler, de que o Nacional-So-
cialismo não era artigo de exportação, perdeu tôda a sua razão
de ser .

ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO INTERNA

Como qualquer das formações do Partido Nacional-Socialista,


também a "A-O" (Organização-Exterior) tem como base o princípio
ditatorial ou totalitário. Segue cla, em tôda a estrutura, os exem-
plos do "Reich", admitindo exceções somente onde circunstâncias
especiais as determinam . O Chefe da “A-O ”, o “Gauleiter " Bohle,
só é responsável perante Hitler.
A sede da "A-O" é Berlim, de onde partem tôdas as diretrizes
e instruções para todos os pontos do mundo onde se encontrem ale-
mães.
A finalidade da "A-O" abrange: congregação organizada e am-
paro coletivo de todos os alemães residentes além das fronteiras do
"Reich" e de todos os marítimos alemães, mesmo quando estes se
encontrem nos portos pátrios.
A subdivisão administrativa da organização abrange um "De-
partamento Marítimo" e um "Departamento Exterior" , que, por
sua vez, tem tôdas as subdivisões necessárias, como veremos na ex-
planação seguinte sôbre a organização interna .
A divisão interna do "Departamento Marítimo" é, em parte,
bem simples. Os grandes transatlânticos, como por exemplo o
"Cap. Arcona", são considerados de " Ortsgruppen" (grupos locais),
372 AURELIO DA SILVA PY

chefiados por um "Ortsgruppenleiter" (chefe de grupo) . Os Gru-


pos locais de bordo subdividem-se em " Bordzellen " (células de bor-
do), umas para o pessoal marítimo (oficiais e marinheiros) e outras
ainda para o pessoal auxiliar (Garçon de bordo, camareiros, ser-
ventes). Navios pequenos figuram somente como células, não pos-
suindo subdivisões. Nos portos pátrios acham-se instaladas as
"Zentralen" (Centrais) dos grupos e células marítimas, onde, após
a chegada de cada embarcação, são entregues os relatórios, vindos
das diferentes partes do mundo; onde são pagas as mensalidades ; e
onde ainda os superiores de bordo recebem ordens, instruções e di-
retrizes. As referidas " Centrais" , por sua vez, é que mantém o con-
tacto com Berlim, com a chefia da "A-O".
A subdivisão do "Departamento Exterior" já é mais complica-
da. Quase em todos os países do mundo, onde se encontrem ale-
mães e seja possível atraí-los ao Partido Nacional-Socialista, se or-
ganizam “Landesgruppen " (Grupos-países), chefiadas por um " Lan-
desgruppenleiter" (chefe-de-país). A atividade de tais grupos estende-
se por todo o território do respectivo país. Nos países onde o círculo
de atividades é demasiado pequeno para a existência de uma “ Landes-
gruppe", devido ao reduzido número de alemães alí residentes, exis-
tem somente "Selstaendige Kreise" (Círculos Autônomos), ou então
somente "Ortsgruppen" (Grupos locais) . Os chefes dos Grupos-países,
dos Círculos-Autônomos e Grupos-Locais estão subordinados direta-
mente ao "Gauleiter" Bohle.
Na América do Sul, foram organizadas "Landesgruppen" (Grupos
Países) nos seguintes países :
Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Perú e Bolívia. No Uru-
guai, existia inicialmente somente uma "Ortsgruppe" (Grupo lo-
cal), com sede em Montevidéu. Em 1936, quando o movimento
nazista progredia cada vez mais e se estendia por todo aquele país,
foi criado o "Kreis Uruguai" (Círculo Uruguai), com administra-
ção autônoma, tendo sido, então, seu chefe o " Kreisleiter" Félix
Schmidt. Na Venezuela, existia, até 1937, somente uma organiza-
ção avulsa de alemães residentes em Caracas. A- pesar-de ser ainda
pequeno o número de alemães que vivem na Venezuela, é bem pro-
vável que já haja, agora, uma organização partidária de maior ex-
tensão.
A "LANDESGRUPPE BRASIL" (Grupo-País Brasil) teve por
sede inicialmente o Rio de Janeiro. O primeiro " Landesgruppen-
leiter" foi o dentista dr. Herbert Guss. Seguiu-se-lhe na chefia, em
1934, Hans Henning von Cossel, que transferiu a sede da organi-
zação nazista do Brasil para São Paulo. Logo após a proibição dos
partidos políticos no Brasil, o chefe nazista von Cossel viajou para
a Alemanha, voltando, em seguida, como "adido " à Embaixada
A 5. COLUNA NO BRASIL 373

Alemã do Brasil. Atualmente, figura a capital da República nova-


mente como a sede do Partido, como veremos no penúltimo trecho.
A "LANDESGRUPPE ARGENTINIEN" (Grupo-País Argen-
tina) tem a sede em Buenos Aires. Foi seu primeiro chefe Reinhold
Gerndt, após ter sido transformada a associação avulsa, por êle fun-
dada, em uma organização definitiva. Logo após esta transforma-
ção, Reinhold Gerndt, que gozou só por pouco tempo do título de
"Landesgruppenleiter", foi substituído pelo dr. Gottfried Brandt,
proprietário de uma Casa Importadora de artigos farmacêuticos e
químicos em Buenos Aires. Mas, também o dr. Brandt não conse-
guiu fixar-se. Teve de deixar o pôsto, por não ter sido considerado
mais como "persona grata" para o Partido Nacional-Socialista. Se-
guiu-se o sr. Kuester, ex-viajante comercial no Chile, chamado dêsse
país especialmente para assumir o alto pôsto de "Landesgruppen-
leiter" na Argentina. Kuester conservou-se no pôsto até 1938, sen-
do então substituído por Alfred Mueller, funcionário comercial em
Buenos Aires, muito conhecido nos meios desportivos platenses e
que se tornou conhecido também no Brasil pela publicidade do
"Caso da Patagônia", cuja denúncia ocorreu na gestão de Mueller.
A sede da LANDESGRUPPE CHILE" (Grupo-País Chile) é
em Santiago. O seu primeiro chefe foi Willy Koehn, anteriormen-
te um simples empregado do comércio, que tinha vindo para o
Chile após a Grande Guerra, chegando a tornar-se proprietário de
uma pequena oficina mecânica de automóveis. Em 1934, Kohen
foi transferido para Buenos Aires, afim de ocupar o alto pôsto de
"Auslandskomissar" der NSDAP fuer Suedamerikanisch Staaten"
(Comissário do Exterior da NSDAP para os países sul-americanos).
A "LANDESGRUPPE PARAGUAI" montou sua sede em
Asuncion e teve por chefe o major von Reitzenstein, que, em 1936,
foi transferido para a Alemanha, onde foi trabalhar temporaria-
mente como chefe-seccional na "A-O" de Berlim.
A sede do "Kreis Uruguai" é em Montevidéu . Foi destacado
para seu chefe, na qualidade de "Kreisleiter" (Chefe do Círculo),
Félix Schmidt, anteriormente funcionário do Banco Alemão Tran-
satlântico de Buenos Aires e já também "Ajudante de ordens" e
secretário da "Landesgruppe Argentinien" em Buenos Aires.
Pôsto único no seu gênero e espécie, e que também só havia
na América do Sul, foi o de "Comissário do Exterior". Pretendia-
se justificar esta “criação” com a afirmativa de que a grande dis-
tância entre o continente sul-americano e a Alemanha dificulta
muito a manutenção de um sistema organizado, de controle abso-
luto e de uma administração sistemática, tornado-se, por isto, ne-
cessário um pôsto que servisse de "ponto intermediário" entre a
“A-O” e as “Landesgruppen ". Buenos Aires foi escolhido como sede
dêste "ponto intermediário". (Na Asia Ocidental e na Austrália,
374 AURELIO DA SILVA PY

assim como na África do Sul, onde as distâncias são igualmente


um fator preponderante, não havia nenhum "Comissário do Exte-
rior", talvez porque o número de alemães lá fôsse muito inferior
ao da América do Sul).
O "Comissário do Exterior" estava subordinado diretamente à
“A-O”. Tinha autoridade absoluta sôbre as "Landesgruppen " e
sôbre o “Kreis Uruguai" , exercia um controle geral autorizado pela
"A-O" e dava tôdas as instruções necessárias, podendo, ainda, em
certos casos, tomar resoluções decisivas por si próprio. Em objeto
de suas funções, o " Comissário do Exterior" percorria assiduamen-
te todos os países da América do Sul e visitava regularmente tôdas
as " Landesgruppen" . Esse pôsto, porém, se tornou desnecessário
uando, com a ampliação do serviço aéreo alemão pela " Condor"
"Luft-Hansa ", os países sul-americanos ficaram tecnicamente mais
e
próximos da Alemanha .
O sr. Willy Koehn, ex-chefe da "Landesgruppe Chile", foi o
único " Comissário do Exterior", até esta data, que possuía a con-
fiança absoluta e total do "Gauleiter" Bohle. Trabalhava Koehn
ainda na Embaixada Alemã de Buenos Aires na qualidade de
"adido" e, como tal, gozava da "extraterritorialidade" (imunidade

consular). Viajava munido de um " Passaporte Diplomático", que


a
par êle era de enorme vantagem nas excursões pelos países da
América do Sul.
Concluímos com isto a divisão do continente sul-americano, tal
o do Nacional -Socialista , e continua-
como tinha sido feit pelo Parti
e ização nazista interna de cada
mos agora com a anális da organ
d a p pe
senta sgru
país , repre pela " Lande ".
Cada "Landesgruppe" (Grupo-País) subdivide-se em "Orts-
gruppen" (Grupos-locais), cada um com seu "Ortsgruppenleiter"
(Chefe do Grupo local) . Em países onde o número de alemães é
muito grande, há ainda "Círculos" (Kreise), que, na hierarquia
administrativa, figuram entre a “Landesgruppe" e as “Ortsgruppen”.
Estes "Círculos", porém, não são autônomos, como, por exemplo, o
"Círculo Uruguai ", pois dependem da chefia da "Landesgruppe".
Círculos desta natureza os há no Brasil e no Paraguai. No Brasil,
os "Círculos" acompanham a divisão estadual do país, isto é: para
cada Estado, um Círculo.
As "Ortsgruppen" (Grupos-locais), por sua vez, subdividem-se
em "Zellen" (Células), dirigidas por um "Zellenleiter" (Chefe de
Célula) . Nas grandes cidades, há células em cada bairro e , no in-
terior do país ou Estado, figuram como células as pequenas locali-
dades. Somente grandes centros, como Buenos Aires, possuem den-
tro de si mais de um "Grupo local" com grande número de células.
As "Zellen" (Células), finalmente, dividem-se em "Blocks" (Blo-
cos), com um chefe de bloco para superintendê-las. Nas grandes
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 375

cidades, reúnem-se em tais " Blocks" os grandes blocos de edifícios


ou ruas extensas e, no interior do Estado, figuram como " Blocos"
as localidades longinquas e afastadas com reduzido número de
alemães.
Tôda a organização nazista do Exterior se baseia no sistema
estrutural-político da Alemanha Nazista, êste, aliás, copiado da or-
ganização política da União Soviética.
O grosso dos partidários fica reunido dentro dos Blocos e, por
intermédio dêstes, acham-se êles ligados às células, aos Grupos lo-
cais, aos Círculos, aos Grupos-Países, e finalmente à “A-O ”.
Em algumas e raras exceções, para o que existem geralmente
motivos muito especiais, devido à personalidade do respectivo mem-
bro, por exemplo sua posição social, ou devido à missão a êle afeta
pode um partidário ser filiado diretamente à “Landesgruppe" ou
até diretamente à " A-O". Tais filiações são registadas em listas se-
cretas, principalmente quando isso se torne necessário por motivos
e questões políticas.
Como é notório, exige a NSDAP o totalitarismo. Isto quer di-
zer: a ela pertence todo alemão. Isto é, também, e sem diminuição
alguma, a lei para o Exterior. Quem, por motivo qualquer, não fôr,
não puder ou não quiser ser partidário, deverá filiar-se indiretamente
por intermédio de uma das suborganizações do Partido e por esta fi-
cará o "não-partidário" ligado ao Partido . Para êste fim, existem
no Exterior organizações semelhantes às existentes na Alemanha.
As principais entre elas são:

" Opferring" - "Círculo do Sacrificio" destinado unica-


mente a satisfazer a grande ganância monetária
do Partido. As contribuições para o "Opferring"
são pagas mensalmente e os contribuintes figuram
como membros.
" DAF" "Deutsche Arbeits-Front" "Frente Alemã do
Trabalho". Abrange todo o funcionalismo do co-
mércio e indústria, intermedeia empregos, promo-
ve decisões judiciárias entre patrão e empregado,
resolve questões de salário, auxilia desempregados
e atende a todos os assuntos trabalhistas.
"NSV" "National-Sozialistische Volkswohlfarht" "Pre-
vidência Popular Nacional-Socialista" . — Institui-
ção para auxiliar partidários doentes e desempre-
gados, subvencionar escolas e reembolsar despesas
feitas por partidários em serviço do Partido.
376 AURELIO DA SILVA PY

" WHW" -- "Winter-Hilfs-Werk" "Auxílio de Inverno".


- Coleta individual e coletiva em benefício dos
cofres do Partido, organizando -se para isto festas
internas e públicas.
" NSF" - "National Sozialistische Frauenschaft" - "Orga-
nização Nazista Feminina". Concentra tôdas as
mulheres do Exterior. -- Anexo, a obra-de-auxí-
lio "Mutter und Kind" (Mãe e Filho).
"HJ" - "Hitler Jugend"
"Juventude Hitlerista".
Reúne todos os jovens alemães e descendentes de
alemães de ambos os sexos, sem instrução política
e física.

A maioria dos partidários é, muitas vezes, ligada como mem-


bros ativos a diversas destas organizações . Existe, em regra, certa
pressão, nem sempre agradável para a filiação simultânea. E' uma
verdadeira rêde que enleia todo alemão, mesmo contra a sua von-
tade. Por meio desta rêde é que o Partido Nazista consegue imis-
cuir-se, totalmente, no seio do elemento germânico e subordiná-lo
a todos os seus propósitos . Quem se esquivar ou se tornar suspeito
de se opor à adesão expor-se-á a muitos dissabores e inconvenientes ,
principalmente se, algum dia, regressar à Alemanha ou lá fôr em
visita . As subdivisões nazistas são as " tropas auxiliares", as reservas
da organização política, isto é , do Partido, a NSDAP. Nos países
onde o Nacional- Socialismo é proibido, tôdas as subdivisões acima
referidas, para continuar a trabalhar, mudam de "rótulo", abando-
nando as denominações oficiais, substituem-nas por outras que se
enquadrem na nova situação. Detalhes sobre isso, há na parte final.
O "Gauleiter", o chefe máximo da “A-O ", assim como os che-
fes de países e de Círculos Autônomos, são funcionários oficiais e
recebem vencimentos, além de diárias para as viagens, o que lhes
garante uma vida bem agradável . Os demais cargos inferiores, como
o de chefe de Círculo, Grupos-locais, Células e Blocos, são cargos
honoríficos e, portanto, não são remunerados. Estes chefes são obri-
gados a manter sua existência por outros meios de trabalho e exer-
cer suas funções em benefício do Partido, nas horas de folga. Dêstes
elementos exigem-se verdadeiros sacrifícios em tempo e esforço e,
muitas vezes, até em dinheiro .
Os chefes de países, Círculos e Grupos-locais têm à sua disposi-
ção grandes "Corpos" de auxiliares, remunerados e honoríficos.
Nestes "Corpos", há especialistas para as mais diferentes questões.
Há, entre outros, relatores periodísticos, relatores econômicos, con-
selheiros jurídicos , contabilistas, chefes de propaganda, instrutores,
administradores e, ainda, chefes da "USCHLA" ("Untersuchungs-
und-Schlichtungs-Ausschuss" "Junta de Investigação e Concilia-
A 5. COLUNA NO BRASIL 377

ção") . Além disto, há um grande número de auxiliares para o ser-


viço comum, como dactilógrafos, organizadores de listas e fichá-
rios, etc.
O " Corpo de Auxiliares" da " Landesgruppe Argentinien", por
exemplo, ocupava um andar inteiro de grande edifício do Banco
Germânico e, para localizar seus funcionários, necessitava de tantos
compartimentos quantos possuía a Embaixada Alemã nos dois an-
dares superiores do mesmo edifício. E tratava-se somente da insta-
lação da "Landesgruppe " propriamente dita. Os diversos "Grupos-
locais" de Buenos Aires O. - Gr. Centro, O. - Gr. Belgrano,
O. Gr. Doc Sul etc. ---- possuíam escritórios independentes em
outros locais.
Em muitas cidades, principalmente no Brasil, existem as co-
nhecidas "Casas Alemãs", intituladas "Deutsches Haus", onde se
concentrava tôda a administração nazista da região ou do Estado.
Em Pôrto Alegre, por exemplo, havia uma " Casa Alemã" instalada
na rua Voluntários da Pátria, que era o centro de tôda a atividade
nazista no Rio Grande do Sul . Após a proibição dos partidos, as
sedes do Partido Nacional-Socialista foram montadas nos consu-
lados.
Isto basta para ilustrar a extensão e complexidade da organi-
zação administrativa.
O "Fuehrerprinzip " (Princípio Ditatorial), que entrelaça todo
o NSDAP e também as formações no Exterior, encerra dentro de
si uma condição muito séria: Não existe responsabilidade para bai-
xo. Responsabilidade só existe para "cima", para com os superio-
res mediatos e imediatos. Esta parte merece ser detalhada, pois mos-
trará uma modalidade nazista ainda pouco conhecida.
Iniciamos de "cima”. O “ Gauleiter" Bohle só é responsável di-
retamente perante o supremo chefe do Partido . Os chefes dos Gru-
pos-Países e dos Círculos-Autônomos são responsáveis diretamente
perante Bohle e só indiretamente perante Hitler, que, desde a
ascensão do Partido Nacional-Socialista ao poder, se fez represen-
tar nas questões internas do Partido por Rudolf Hess, até seu vôo
para a Inglaterra. Isto, porém, não exclue a responsabilidade pe-
rante o "Fuehrer".
Os chefes dos Círculos são responsáveis diretamente perante os
chefes dos Grupos-Países. Os chefes dos Grupos-locais são responsá-
veis diretamente perante os chefes dos círculos, ou aos dos Grupos-
Países, se não houver Círculos. Os chefes das Células, por sua vez,
são responsáveis diretamente perante os chefes dos Grupos-locais.
E os chefes dos Blocos, por fim, diretamente responsáveis perante
Los chefes das Células, Indiretamente, cada categoria é responsável
perante os dirigentes mais superiores.
Mas nunca um chefe, mesmo o mais simples chefe do Bloco,
378 AURELIO DA SILVA PY

deve satisfações ou responsabilidade ao subalterno inferior. Qual-


quer chefe mesmo, como já foi dito, o mais simples chefe de
Bloco é autoridade absoluta e soberana sôbre os chefes inferio-
res e partidários, com poderes ilimitados. Para tôdas as ordens exi-
ge se sempre obediência incondicional e irrestrita. Criticar as ins-
truções, resoluções e ordens dos superiores é interpretado como
grave falta contra a disciplina partidária, que é mantida por todos
os meios. Nos casos de faltas leves, há pequenos castigos e repreen-
sões, enquanto, em casos graves, entra em ação a "USCHLA", com
processos disciplinares e sumários, resultando geralmente na expul-
são do partidário indócil.
O regime interno do Partido é de completo absolutismo. Não
existe nenhuma responsabilidade para "baixo". Nenhum chefe é
obrigado a explicar e motivar suas ordens e resoluções perante os in-
feriores, ou ainda justificar os motivos, por mais absurdas que se-
jam as determinações. Deve-se ter sempre em mente que o Partido
Nacional-Socialista e suas formações não pretendem ser um conjun-
to de homens do "mesmo ponto de vista", no sentido do direito co-
mum. Muito ao contrário, o Partido Nacional-Socialista quer ser
uma organização construída sob disciplina férrea de molde militar,
com o rótulo de " espontaneidade " só para efeitos externos.
No absolutismo nazista, o chefe só reconhece a responsabilida-
de para "cima". Praticamente , isto representa ausência completa
de responsabilidade, irresponsabilidade total. Não haverá, para um
chefe inferior, nenhuma dificuldade para "tapear" seu superior,
que geralmente desconhece a situação da camada inferior. E, quan-
do houver de sua parte casos de faltas graves, ou mesmo em casos
de resoluções e determinações ilegais e inadmissíveis, justifica a
medida como sendo em beneficio dos interêsses do Partido. Os
superiores de tais chefes estão, mesmo nos casos mais graves, pron-
tos a sufocar a questão e a razão em prejuízo da justiça e da ver-
dade. O provérbio nazista " Gemeinnutz geht vor Eigennutz" (0
bem coletivo antes do individual) é, em tais casos, invertido.
Assim continua o jôgo da irresponsabilidade até a chefia da
organização.
“E Hitler? Por suas próprias palavras, êle é responsável peran-
te o povo alemão. E que é isto, praticamente? Que a irresponsabi-
lidade termina onde ela começa: um verdadeiro " circulo vicioso".
O “principio ditatorial" é, na prática, o “principio da absoluta
responsabilidade”. Ninguém é responsável por ninguém .
Para que não haja nenhuma dúvida sôbre a questão e para
tornar ainda mais compreensível o assunto, citamos o seguinte fato
como exemplo:
O sr. Herbert Guss, quando ainda chefe da "Landesgruppe
Brasilien", em 1934, entrou em desacordo com a orientação nazista,
A 5. COLUNA NO BRASIL 379

que já entrava no terreno da ilegalidade. Nesta luta pela razão,


chocou-se o sr. Guss com a “A-O” e foi, finalmente, excluído do
Partido Nazista. (* ) Diversos partidários no Rio não concordaram
com esta medida sumária e protestaram , entre êles alguns filiados
ao Partido havia muitos anos e que tinham prestado relevantes ser-
viços ao nazismo. Não ocultaram o justo descontentamento pela
medida e, para reforçar isto, demonstraram sua simpatia para com
o chefe demitido . O que os feria mais era a vil injúria lançada pelo
Partido contra a pessoa do sr. Guss e a difusão de mentiras desmo-
ralizadoras para aniquilá-lo completamente. Chegava-se a proibir
a todos os "Parteigenossen" todo e qualquer contacto ou relações
com o sr. Guss, que se tornara vítima de um tenaz "boycott" moral
e econômico. A coerção e as ameaças, porém, não puderam abafar
o descontentamento dos partidários bem intencionados e criterio-
sos. Resultou daí a vinda do "Comissário do Exterior", Willy
Koehn, ao Rio, com ordem, do "Gauleiter" Bohle, de fazer um
"expurgo" completo. De avião, Koehn dirigiu-se de Buenos Aires
para o Rio de Janeiro e, já dois dias depois da chegada, mais de 40
membros da "Ortsgruppe" do Rio de Janeiro eram expulsos do
Partido sumariamente, sem sindicância nem processo disciplinar,
sendo-lhes vedado, categoricamente, o direito de defesa e apelação,
o que é ilegal e contraria por completo a jurisprudência do Partido
Nacional-Socialista.
Koehn não devia satisfação a ninguém no Rio e era responsá-
vel somente perante o " Gauleiter" Bohle . Este amparou o "Co-
missário do Exterior", a-pesar-de êle ter cometido uma falta grave
não só por efetuar a exclusão dos Partidários sem o devido processo
da "Uschla", como também por negar aos excluídos o direito de
defesa. Mais de cem memoriais de protesto e queixa foram envia-
dos para a Alemanha, pelos partidários implicados injustamente .
Nada, porém, houve nem aconteceu. A " Gestapo" de Berlim che-
gou a obter tôda a documentação referente ao caso do Rio, mas
ela foi parar no "cêsto". Um memorial, fartamente documentado,
provando a culpabilidade de Willy Koehn e também a do "Gau-
leiter" Bohle, como de outros altos chefes nazistas, conseguiu che-
gar (isto está provado) até à Chancelaria particular de Adolfo Hit-
ler. Mas, Hitler silenciou .
Para se ter uma idéia das consequências de uma exclusão é
necessário saber o que a mesma significa na teoria nazista, que é
bem diferente do senso comum . Ela é, nem mais nem menos, um
anátema político e privado, que cria para o indivíduo, seja qual

(*) A situação do sr. Guss ficou esclarecida no início dêste livro, atra-
vés de cartas de sua autoria.
380 AURELIO DA SILVA PY

for a parte do mundo em que se encontre, as maiores dificuldades


econômicas e representa uma deshonra total dentro dos círculos
nazis.
Só quem conhece a situação e saiba definir as consequências,
pode medir o que significava para os 50 partidários do Rio de Ja-
neiro a exclusão sumária, mais ainda sendo ela ilegal . O respon-
sável por esta arbitrariedade era Willy Koehn, que, contudo, go-
zava da proteção de Bohle e de Hitler. Desta maneira, a arbitrarie-
dade tornou-se legalidade, a ilegalidade uma justiça. No caso do
Rio, que envolveu perto de 50 correligionários nazistas, alemães do
Exterior, Hitler não fez uso da sua responsabilidade perante o po-
vo alemão.
O caso, porém, levantou muita poeira e Bohle, para acalmar
os espíritos agitados, achou mais oportuno terminar com o cargo de
"Comissário do Exterior", já que as comunicações entre Berlim e a
América do Sul, com a ampliação do serviço aéreo, eram então mais
rápidas, não havendo por isto necessidade de tal cargo.
Willy Koehn, por sua vez, ainda foi gratificado com uma pro-
moção. Após a extinção do cargo de "Comissário do Exterior", foi
nomeado Cônsul- Geral na Espanha. Mas, devido à sua incompe-
tência, teve de ser retirado dêste alto pôsto, transferindo-se para a
Alemanha, onde ocupa agora um cargo elevado .
"Fidelidade incondicional e irrestrita", quer dizer obediência
absoluta e cega (servilidade cadavérica) , e nenhuma responsabili-
dade para “baixo", eis os dois pilares que sustentam a estrutura do
NSDAP, tanto na Alemanha como no Exterior.
Desconhece-se geralmente o perigo que encerra esta modalida-
de e interpretação do dever. E' um perigo não só dentro da Alema-
nha, não só para o partidário individual, como também no Exte-
rior, no país estranho e hospitaleiro .
Teoricamente, existe a legislação de que só alemães natos po-
dem ser filiados ao Partido Nacional-Socialista . Na prática, porém,
também esta disposição, como tantas outras, é contornada quando
convém e são filiados como partidários certos "Volksgenossen" (des-
cendentes de alemães) . São, na maioria das vezes, personalidades
de descendência alemã, mas que, por sua nacionalidade, pertencem
a outro país. Desta maneira foì, por exemplo, em 1934, filiado ao
Partido o sr. Emilio Tjarks, proprietário do jornal alemão “Deu-
tsche La Plata-Zeitung", de Buenos Aires, o qual é argentino de
nascimento e, conforme declaração própria, até oficial da reserva
do exército argentino. No caso do sr. Tjarks, há ainda a circuns-
tância interessante de êle ter ocupado um "posto de confiança”
dentro do partido. Não estava ligado a nenhum núcleo ou grupo,
e só figurava numa lista secreta.
Temos outro exemplo na pessoa de Otto Schinke, nascido no
A 5. COLUNA NO BRASIL 381

Brasil, que chegou a ocupar o pôsto de "Kreisleiter" em Santa Ca-


tarina . Também um sr. Walter Herwig, que vivia em Rosário,
Província de Santa Fé, Argentina, hoje morador e industrial em
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, acha-se filiado ao Partido Na-
cional-Socialista, a-pesar-de ser argentino nato. O sr. Herwig pos-
sue, ainda, juntamente com a nacionalidade argentina, a cidadania
alemã (exemplo de dupla nacionalidade), tendo sido oficial alemão
na guerra de 1914. No Corpo Administrativo da "Ortsgruppe" de
Rosário, Herwig desempenhava o cargo de relator em questões
econômicas.

DOS PARTIDARIOS

A massa dos " Parteigenossen" ("partidários") no exterior é


constituída de elementos de todas as camadas sociais . Os membros
e funcionários das embaixadas, legações e consulados, todos são
hoje partidários, tendo havido, em diversos casos, certa pressão nes-
te sentido. Externamente, tudo está "gleichgeschaltet" (nazificado) .
Na orientação interna, porém, tanto do Partido como entre os
partidários, notam-se debilidades. As discordâncias entre os parti-
dários não merecem atenção nesta parte. Elas sempre existem onde
há concentração de homens que se reúnem ou são reunidos para um
mútuo fim e têm seu germe, geralmente, na antipatia pessoal de um
pelo outro, no antagonismo dos temperamentos e do grau de cultura,
nas diferenças de posição social e material, etc. A inveja e intriga,
como em tôda a parte, são também aquí as verdadeiras razões das
divergências e dos choques .
Muito maiores são as fendas do próprio Partido e de suas ins-
tituições . Elas são mais profundas do que exteriormente parece. Mui-
tas vezes, são as maquinações imundas e vís de certos superiores na-
zistas que abrem os olhos dos partidários, mostrando-lhes que nem
tudo corresponde aos seus ideais. Sobretudo quando tais superio-
res, em vez de castigados, são amparados de "cima", como se verifi-
cou no caso do Rio. Os partidários, atônitos, ficam de olhos e ou-
vidos atentos, vêem e descobrem cada vez maiores "imundícies".
Desiludidos e enojados , afastam-se, intimamente, cada vez mais do
Partido.
Há, ainda, outros fatos dentro do Partido que dão motivo a
que os partidários fiquem decepcionados com o movimento. Por
exemplo, a maneira como foi e é resolvida a questão judaica, a exi-
gência de uma obediência automática, as contradições entre o pro-
grama teórico e sua interpretação prática e muitas cousas mais. Não
raro, chegam êsses conflitos íntimos ao grau da insustentabilidade,
sem que, contudo, a maioria dos partidários seja capaz de tomar
uma decisão honrosa e digna. E' que êles estão de tal maneira opri-
384 AURELIO DA SILVA PY

na Alemanha, e servilmente juntou-se às fileiras de Koehn. Este


dominou Tjarks por completo, transformando-o num instrumento
totalmente submisso às suas vontades. Tjarks, naturalmente, foi
gratificado. Koehn soube muito bem satisfazer a vaidade de Tjarks.
Por ocasião de uma viagem de Tjarks à Alemanha, conseguiu-lhe,
por intermédio de Bohle, uma audiência privada com Hitler.
Sem reserva, pode-se afirmar que também no Brasil existia, e
aliás ainda existe, uma organização de espionagem, como acontece
com o Chile, Paraguai e Uruguai . Quanto ao Brasil, os exemplos
falam por si.
O trabalho mais assíduo dentro da organização secreta é o de
observação, controle e vigia dos partidários e dos adversários . Onde
se verificar dubiedade política ou faltas contra a disciplina ou o
espírito partidário, o epílogo é quasi sempre um processo perante
a "Uschla", a "justiça oficial partidária", terminando, geralmente,
com a exclusão do partidário. As consequências de tal exclusão já
foram detalhadas anteriormente. A maneira mais preferida para
aniquilar o excluído social , moral e materialmente, é a difamação
e a ignomínia. Em Buenos Aires, por exemplo, faziam-se denún-
cias às mãos da polícia, tachando os perseguidos de " comunistas" .
Isso trazia grandes embaraços e dificuldades para a vítima. Ainda
que ela se justificasse plenamente, alguma cousa ficava sempre.
Consequências bem desagradáveis surgiam, também, quando esta
denúncia era feita igualmente ao patrão . Qual o patrão que não
fica "desconcertado" quando o informam, confidencialmente, que
seu empregado é um sujeito perigoso, que não merece nenhuma
confiança, que está fichado na polícia, e outras cousas idênticas?
A todos os partidários é vedada qualquer relação social com o ex-
cluído, sob pena de expulsão . Com isto conseguem o aniquilamento
social. Um relatório sôbre a ocorrência vai, por intermédio da “A-O ”,
para a Gestapo, e lá é guardado até a ocasião em que o "condenado❞
se atrever a viajar para a Alemanha ou para lá pretender reimigrar.
O dentista Herbert Guss, do Rio de Janeiro, foi um dos alvos
mais sacrificados, na América do Sul, pela terrível infamação na-
zista. Procuraram apresentá-lo como alcoólatra, como portador de
graves vícios e defeitos morais. Tôda esta campanha era feita à
surdina. Guss perdeu quasi tôda a sua clientela dentária. Quando
certo número de partidários que ainda não haviam perdido a ver-
gonha e o caráter, resolveu fazer oposição às ordens absurdas do
Partido que mandava cessar tôdas as relações com Herbert Guss, e
persistiu no contacto amigável e solidário com o ex-chefe nazista no
Brasil, pretendendo desta maneira forçar a interferência da Uschla" ,
foi-lhes feito um processo sumário de exclusão, sem direito de de-
fesa nem apelação . Passaram todos êles, então, a compartilhar a
degradação de Guss, e foram estigmatizados como "Staatsfeinde"
A 5. COLUNA NO BRASIL 385

("inimigos do Reich") . São " Staatsfeinde", aliás, todos aqueles que


não abonarem incondicionalmente tudo que o Partido faz e resolve.
A "espionagem partidária” não se limita somente aos partidá-
rios, mas se estende a todos os alemães e seus descendentes. Os re-
sultados e as informações são remetidas regularmente para a Ale-
manha e alí selecionadas cronologicamente dentro do fichário da
"Geheime Staats Polizei " (Gestapo) . Expressões irrefletidas sôbre
o regime nazista, feitas às vezes com ânimo agitado, divergências
com a organização e discussões com partidários destacados, tudo é
relatado para a Alemanha, e lá fica até o momento " oportuno". O
perigo que esta manobra representa para a vítima, quando ela al-
gum dia voltar à Alemanha, não necessita de esclarecimento . Mas
não é demais uma ilustração explicativa extraída da realidade. Va-
mos, para exemplo, recapitular o caso do dr. Heinz von Ortenberg.
Por muitos anos médico em Santa Cruz, Rio Grande do Sul,
e por muito tempo médico de confiança do consulado alemão de
Pôrto Alegre, o dr. Von Ortenberg teve em 1933 uma forte diver-
gência com o núcleo nazista daquela localidade . O motivo essen-
cial foi sua prometida nomeação para Vice-Cônsul honorário em
Santa Cruz, por indicação do então cônsul geral de Pôrto Alegre,
dr. Walbeck. Devido ao afastamento do dr. Walbeck do pôsto de
Cônsul em Pôrto Alegre, não foi a questão resolvida durante sua
gestão. O seu sucessor, o cônsul Friedrich Ried, deu andamento ao
caso, aceitando a iniciativa do seu antecessor e também a indicação
existente. Mas, contra isto se opôs o núcleo nazista. Como o dr.
von Ortenberg não somente não era partidário, como também se
tinha mantido, embora não adverso, à margem do Partido, o nú-
cleo resolveu mover uma forte campanha de desprestígio contra o
médico, encabeçada por alguns pastores evangélicos . A já conhe-
cida e muito preferida tática do nazismo foi utilizada também con-
tra o dr. von Ortenberg, que de um momento para outro foi acusa-
do de deshonestidade, incompetência profissional e de estar explo-
rando os clientes de poucos recursos . Foram postas em circulação
as mais incríveis histórias para provar que o dr. von Ortenberg era
incompetente para o pôsto de vice-cônsul alemão. A-pesar-de não
ter sido difícil para o ilustre médico desfazer as acusações como in-
justificáveis e de pura fantasia, provando que tudo não passava de
invencionices maliciosas, êle não foi nomeado vice-cônsul . Conti-
nuou sendo "moralmente incompetente".
E' que, a-pesar-de haver ficado patente que nada tinha funda-
mento, e que só se pretendia guardar o pôsto de vice-cônsul para
um nazista, não deixou o núcleo nazista de Santa Cruz de enviar
para a Alemanha diversos relatórios sôbre o caso, dando tudo como
fatos comprovados e verídicos. Quando o dr. Ortenberg foi , em
1939, para a Alemanha, em visita a parentes, teve de sofrer uma
25-5.ª C.
386 AURÉLIO DA SILVA PY

série de bem desagradáveis inquéritos da "Gestapo ". O caso teria


ido até o extremo se não fôsse o atenuante de ter o dr. von Orten-
berg participado de duas guerras, em ambas como oficial. Mas o
resultado final foi que negaram ao dr. Ortenberg a readmissão como
oficial do exército alemão, por ocasião de sua apresentação antes
do rompimento da atual guerra. Tudo isto consequência dos rela-
tórios de Santa Cruz. O dr. Heins von Ortenberg, quando jovem,
fôra oficial sanitário na guerra colonial de 1904 na África do Sul,
e durante toda a guerra de 1914/18 foi cirurgião-mor do corpo Sa-
nitário do Exército na qualidade de major. Agora em 1939
graças à vigilância dos nazistas da cidade brasileira de Santa Cruz,
êle é declarado politicamente insuficiente e incapaz para ser readmi-
tido no exército alemão .
O caso do dr. Von Ortenberg é típico . Mas, a Gestapo vai, às
vezes, mais longe, como nos raptos de adversários do NSDAP para
a Alemanha, levados a efeito dentro de países onde as vítimas ti-
nham procurado e encontrado proteção : Suíça, Holanda, França
Deve-se levar em conta ainda que entre os nazistas os tiranos
são regra, e em seu fanatismo estão prontos para tudo, inclusive
para considerar os adversários do Partido como inimigos pessoais
seus . E o Partido possue muitos inimigos e adversários. Ña Ale-
manha isto não é tão aparente, pois lá todo o povo está de tal ma-
neira oprimido e é mantido debaixo de tal pressão, que a oposição
não se atreve a vir à tona. E' o que sucede em todos os países onde
um regime de violência pretender ou fôr obrigado a se manter pela
força .
No exterior, é diferente. Notam-se muito bem as correntes
adversárias, ainda que não disponham dos instrumentos de propa-
ganda do NSDAP. Os adversários considerados mais perigosos para
o regime, e que são por isso perseguidos com mais tenacidade, são
os que já pertenceram ao Partido. São considerados "os mais peri-
gosos " para o Partido, porque conhecem muito bem os métodos de
trabalho do nazismo e podem enfrentar a luta com as próprias ar-
mas do Partido .

Mais feroz é a perseguição quando se trata de homens que já


tenham desempenhado um papel importante dentro do Partido.
E' essa a razão por que os membros da "Frente Negra", que na sua
maioria foram filiados ao Partido, são considerados os primeiros
inimigos do NSDAP . Eles são vigiados constantemente e denuncia-
dos onde forem encontrados.
O sr. Bruno Fricke, mencionado inicialmente, organizador da
"Frente Negra" em Buenos Aires, foi, certa ocasião, preso pela po-
lícia secreta da capital portenha, porque havia uma fundamentada
denúncia de que êle desenvolvia atividades comunistas. A denún-
cia viera, como foi informado ao sr. Fricke pela polícia, da "Calle
A 5. COLUNA NO BRASIL 387

Leandro Allem". Nesta artéria encontra-se o edifício do Banco


Germânico, onde está localizada a embaixada alemã e onde a "Lan-
desgruppe Argentinien" do Partido Nacional-Socialista possue suas
instalações. A pergunta de Fricke de quem partira a denúncia, foi-
lhe dada a resposta: "de seus patrícios, naturalmente".
O Partido Nazista de Buenos Aires estudou o plano de atrair
o sr. Fricke para alguns dos navios alemães, ancorados temporaria-
mente no pôrto de Buenos Aires, fazê-lo desaparecer no porão e
transportá- lo para a Alemanha preso. Mas Fricke foi prevenido a
tempo, evitando assim a viagem forçada. O Partido usou então de
outros meios para conseguir o fim desejado, a aniquilação comple-
ta da vítima, pois a atividade de Fricke já se lhe tornava irritante.
O plano foi muito bem estudado. Por intermédio de um tal Juer-
ges, fez-se chegar um documento falsificado à redação do “Argenti-
nisches Tageblatt", jornal alemão de combate a Hitler e seu Par-
tido. Segundo êsse documento, Fricke deveria ser desmascarado
como "agente e espião nazista" , que se dizia antinazista somente
para trair e espionar os adversários. O jornal e seu editor, dr. Ale-
man, caíram completamente na esparrela, tornando pública a in-
fâmia. A posição de Fricke ficou com êste fato tão abalada que êle
teve de abandonar finalmente o terreno. O falsificador Juerges de-
sempenhou, depois, em outra falsificação, no caso da Patagônia em
1938, um papel não menos triste do que no caso Fricke .
Eis outro caso de denúncia falsa e estúpida. Aquí no Rio Gran-
de do Sul, em 1938, foi preso pela polícia gaúcha o chefe da "Fren-
te Negra" dêste Estado, sr. Erwino Anuschek, que igualmente tinha
sido denunciado como "agente nazista". Anuschek pode provar o
contrário, mas não escapou a vários dias de detenção .
Outro caso, talvez menos conhecido , é o do sr. Teodoro Putz,
ex-cônsul austríaco de São Paulo e adversário do nazismo, que foi
denunciado por motivos diversos, inclusive de comunista, à polícia
paulista.
Todos os meios , por mais vís, estúpidos e vergonhosos que se-
jam, são lícitos para o Partido, desde que consiga a finalidade es-
sencial: o esmagamento do adversário.
A "Frente Negra" é para o NSDAP talvez o adversário mais
perigoso no Exterior, mas não é o único . Como adversários impor-
tantes são considerados ainda : a Igreja Católica, pequena parte da
Igreja Protestante, as Lojas Maçônicas Internacionais, os Judeus, a
Social-Democracia e o Comunismo (êste utilizado como grande es-
pantalho para justificar a ação do nazismo) . Não há necessidade
de perder palavras sobre a oposição das organizações citadas contra
o nazismo, algumas de extensão mundial, pois ela é demasiado co-
nhecida. A NSDAP sente o efeito dessa oposição e tenta enfrentá-la
também no Exterior.
388 AURÉLIO DA SILVA PY

FINALIDADES E MODALIDADES DE APROVEITAMENTO


DA ORGANIZAÇÃO NAZISTA DO EXTERIOR

Como finalidade primordial da "A-O" e de suas funções, apre-


sentam-se sempre dois objetivos : a Congregação e o Amparo de todos
os alemães natos residentes no Exterior . Os Estados modernos reco-
nhecem essencialmente o direito de cada nação amparar e proteger
seus súbditos no Estrangeiro e confiam o seu exercício aos seus con-
sulados.
Mas no caso é o Partido Nacional -Socialista que toma a si êsse
dever que, normalmente, pertence aos consulados alemães.
Por que só a Alemanha tem paralelamente dois órgãos diferen-
tes para "amparar" seus súbditos residentes no Extrangeiro : os con-
sulados e a "A-O"?
Para obtermos uma resposta definida a esta interrogação basta
um olhar “para trás dos bastidores". Os setores de ação dos consu-
lados e da “A-O" quanto ao "amparo" dos alemães, não estão clara-
mente separados . Seus limites são, ao contrário, confusos e se cru-
zam às vezes. Quando se trata de questões oficiais, entra em ação o
Consulado, a parte acreditada dentro do país. Mas quando uma
questão pode ser resolvida na surdina, e não convém aparecer em pú-
blico, toca a vez ao Partido . Enquanto isso, um observa o outro, e
os Consulados passam às vezes por grandes embaraços com os impe-
tuosos representantes do Partido. As relações entre os representantes
diplomáticos de um lado e os representantes partidários do outro,
são em regra péssimas, embora exteriormente parecer tudo "nazifi-
cado", como já foi dito anteriormente. Denúncias contra embaixa-
dores, legados, cônsules e membros diplomáticos são moeda corrente .
Outra finalidade da "A-O" e de suas formações é a de arranjar
dinheiro. Os alemães no Exterior são, em geral, com algumas exce-
ções naturalmente, elementos de boa situação, por vezes ricos. Em
tôdas as ocasiões, estão prontos a auxiliar e fazer sacrifícios pela ve-
lha Pátria. Isso foi provado repetidas vezes por ocasião das grandes
coletas do Partido . A comunidade alemã do Exterior é uma boa
fonte de dinheiro, bem o sabem na Alemanha. Uma fonte que, bem
trabalhada, jorra com abundância. A necessidade monetária da
NSDAP, sempre além do imaginável, torna sempre urgente procurar,
tanto quanto possível, novas modalidades para reanimar as suas fi-
nanças. Benvinda era pois a comunidade alemã do Exterior. E se
as somas, provenientes das mensalidades dos partidários, contribui-
ções “espontâneas” e coletas (auxílio de inverno, cruz vermelha, pra-
to único, etc.) , que são remetidas regularmente para a Alemanha,
não são tão vultuosas como os observadores leigos as julgam, mesmo
assim elas pesam .
Outra finalidade importante da "A-O" é a Propaganda. Neste
A 5. COLUNA NO BRASIL 389

terreno oferecem-se como é natural, vastas modalidades de aprovei-


tamento para as subdivisões da "A-O" . Quase todo o navio alemão
transporta toneladas de material de propaganda, que é distribuído
pelas organizações partidárias situadas até nas mais longinquas para-
gens. Este material de propaganda é, em parte, impresso na língua
do país de destino e endereçado a nacionais . O enorme número de
visitantes, atraídos à Alemanha nas Olimpíadas de 1936, foi em
não pequena parte devido à propaganda desenvolvida no Exterior
pelas formações nazistas.
A atividade de propaganda das organizações nazistas não se
limita à distribuição de cartazes, jornais e boletins. Um grande
ramo de propaganda nazista é a orientação da imprensa. A seu lado
está, em posição de destaque, o filme e o rádio. Cada grupo nazista
do Exterior possue um relator-de-imprensa, a quem compete estu-
dar minuciosamente a matéria dos jornais. Tôda matéria, que pos-
sa interessar, política, econômica, social-política e culturalmente, a
qualquer repartição superior da Alemanha, é recortada, selecionada
e remetida regularmente às secções superiores do Partido. Estas
secções possuem igualmente relatores, já especializados, que selecio-
nam o material recebido novamente e fazem-no seguir adiante. As-
sim chega à "A-O" em Berlim, cujos funcionários por sua vez o
distribuem pelos diversos Ministérios. Com tão farto e abundante
material em mão, os Ministérios ficam mais capacitados para exa-
minar os relatórios oficiais dos representantes diplomáticos, e to-
mar decisões e providências de acordo com a situação interna de
cada país .
O trabalho dos relatores -de-imprensa, desde o Departamento
mais elevado do Partido até ao Grupo-local, é exhaustivo, mas traz
resultados valiosos. Os relatores do Exterior têm, porém, ainda
outra obrigação : a de levar sua influência para dentro da imprensa
local do seu círculo de trabalho. Temos em primeiro lugar a im-
prensa em língua alemã . Aquí não lhes é difícil atingir o alvo pre-
tendido. Não é necessário usar, para isto, uma pressão como a que
foi usada para o "Deutsch La Plata-Zeitung" de Buenos Aires.
Basta às vezes uma leve pressão sôbre os anunciantes , para que os
proprietários dos jornais compreendam a indireta.
Os diversos jornais oficiais do Partido, existentes na América
do Sul, como o "Fuer's Dritte Reich" (que suspendeu sua publica-
ção em 1938) , o "Deutscher Morgen " de São Paulo, o "Trommler"
de Buenos Aires, e o "Westkuesten- Beobachter" de Santiago do
Chile, têm para a propaganda nazista pública apenas uma impor-
tância relativa. Servem mais para satisfazer a ganância de dinheiro
do Partido, e são, comparados com outros jornais, instrumentos
sempre lucrativos. Os anunciantes são recrutados quasi exclusiva-
mente entre os partidários, que são simplesmente forçados a anun-
265. C.
390 AURELIO DA SILVA PY

ciar com taxas elevadas, e, em segundo lugar, o círculo de leitores


consta na sua quasi totalidade de partidários, isto é, “assinantes
forçados". São, pois, de pouco valor para a verdadeira propagan-
da. A imprensa alemã "neutra " já é mais importante, porque se
dirige a um círculo de leitores alemães fora do Partido. Os jornais,
que cedem às exigências das subdivisões partidárias e se põem ao
serviço das organizações nazistas, são gratificados com anúncios,
abundante material de publicação gratuito e com trabalhos para
suas tipografias. A estes jornais se entrega geralmente a confecção
do jornal oficial . Mas não recebem subvenções fixas em dinheiro.
Estas existem somente para jornais editados em língua não-
alemã. O jornal " El Crysel " de Buenos Aires, por exemplo, recebia
regularmente importâncias fixas de uma verba especial. Atualmen-
te, também o " La Plata-Zeitung" recebe, para seu suplemento diá-
rio em língua argentina, uma subvenção de 10.000 pesos, segundo
dados fornecidos a respeito. Também a fôlha "El Pampero", pu-
blicada em Buenos Aires, é subvencionada fartamente. Em tôdas as
grandes capitais há jornais subvencionados, seja Buenos Aires,
Montevidéu ou Rio de Janeiro. O jornal subvencionado, por sua
vez, está na obrigação de publicar, entre outra matéria de propa-
ganda, todo o serviço de informações da agência noticiosa alemã
"Transozean" (T-O), pôsto à sua disposição.
Além da imprensa, o filme e o rádio servem à propaganda na-
zista. Há espetáculos cinematográficos em grande estilo, para o que
se movimenta todo o maquinário partidário. Estes espetáculos,
assim como as transmissões de rádio (as "Horas de Recreio" e "Ho-
ras Alemãs" ), preparadas pelas organizações nazistas, servem de um
lado para despertar a simpatia para a Alemanha e sua cultura, e de
outro lado para propagar o nacional-socialismo como "ideologia
mundial". Esta última finalidade é a decisiva. O Nacional -Socia-
lismo inverteu-se em "artigo de exportação" , isto é, exatamente no
que afirma não ser. O que, de resto, é comum em tal sistema. E'
necessário frisar que o nacional-socialismo, a-pesar-de sua marcha
infernal, ou por isso mesmo, sempre trabalha com longa visão.
Além das finalidades já citadas, tem outras ainda a “A-O ” e
suas formações no Exterior. Para identificá-las e analisar seu valor
e sua significação para o estrangeiro, torna-se necessário estar fa-
miliarizado com os métodos do nacional -socialismo . Chama a aten-
ção do observador crítico do nazismo a eterna excitação e o cons-
tante desassossêgo que reina dentro do movimento. E' um fenô-
meno natural . O dinamismo do movimento não é controlável. A
grande revolução dos espíritos, posta em movimento por Mussolini
na Itália e por Hitler na Alemanha, continua girando. Não é
possível fazê-la estacar com uma ordem soberana . Na Alemanha ela
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 391

escapou das mãos de Hitler e seus paladinos, continua a ferver e,


se não fôr contida à fôrça por fora, terminará no niilismo .
Até o fim, porém, um constante desassossêgo será a caracterís-
tica externa do movimento . Hitler e a NSDAP têm que acompa-
nhar êste desassossêgo e, mais, são obrigados a fomentar o contínuo
avanço da idéia com grandes e pequenas agitações, para manterem
sua posição sôbre êsse mar agitado e não serem devorados por êle.
Também no exterior torna-se necessário provocar agitações para
produzir motivos para a excitação da alma do povo germânico, des-
viando-se assim a atenção popular da situação interna. Para a agi-
tação no Exterior prestam as formações da "A-O" ótimos serviços.
Para ilustrar esta afirmação, citaremos uma ocorrência típica
havida em Buenos Aires.
No mês de dezembro de 1934, num pequeno teatro de Buenos
Aires, no Teatro Cômico, Calle Corrientes, foi representada uma
peça denominada “Las Razas ”, tradução para o espanhol de uma
criação teatral de Von Bruckner. Ela revive o conflito espiritual
de um jovem estudante, que se filiou ao Partido Nacional - Socialis-
ta involuntariamente, enquanto era ainda noivo de uma estudante
judia, a quem devia grandes obrigações. A peça continha fortes
ataques contra o Partido Nacional-Socialista e era francamente fi-
lossemítica.
Se o Embaixador alemão, o barão von Thermann, tivesse re-
clamado pessoalmente junto ao prefeito de Buenos Aires, dr. Vedia
e Mitre, a peça teria desaparecido do programa. Mas com isto não
estava de acôrdo o Partido Nazista, pois a questão lhe oferecia uma
bela oportunidade para provocar escândalo. Esta resolução foi to-
mada pelo já diversas vezes citado Willy Koehn, e para pô-la em
prática foi escolhido o " Ortsgruppe Zentrum" (Grupo -local Cen-
tro) de Buenos Aires. Durante um espetáculo, numa noite de sá-
bado, um grupo de partidários, dispostos a tudo, tomou conta de
cêrca da metade do salão. Mal subiu o pano ouviram-se assobios e
gritos, que tornavam impossível compreender-se os artistas. O pú-
blico foi tomado de pânico e fugiu em confusão . A polícia compa-
receu e prendeu os principais perturbadores da ordem, os nazistas,
que ficaram detidos por tôda a noite e todo o dia seguinte de do-
mingo. Só na segunda-feira pela manhã lhes foi restituída a liber-
dade. Era justamente esta detenção o que desejavam os agitadores,
para o que haviam escolhido o sábado. Os papéis se inverteram .
Espalhou-se: "Inacreditável insulto contra o "Fuehrer"! "Vil in-
júria à Alemanha” "Por êste motivo são súbditos alemães encar-
cerados durante 36 horas, por não tolerarem isso” e assim por
diante.
O Embaixador alemão, naquela época ainda Legado, que não
tinha sido pôsto ao corrente dos planos nazistas, por ser considerado
392 AURELIO DA SILVA PY

"frouxo" pelo Partido, viu-se em apuros quando verificou que o


eco do ocorrido tinha sido transmitido para a Alemanha. Agiu en-
tão e conseguiu, para felicidade sua, uma desculpa oficial de parte
do governo argentino e ainda que o teatro fôsse fechado tempora-
riamente. Quando a peça foi , mais tarde, representada, já a cen-
sura havia feito sensíveis cortes. Com êste desfecho poderia ter sido
encerrada a questão . Mas não o foi.
No Banco Germânico de Buenos Aires trabalhava um pequeno
funcionário, que já fôra filiado ao Partido, mas se encontrava ex-
cluído por falta de disciplina. Willy Koehn, o "Comissário " da
América do Sul, convidou êsse rapaz, certo dia, ao seu Gabinete de
Trabalho e lá lhe prometeu a reinclusão no Partido, se êle se dis-
tinguisse com quaisquer atos de interesse para o Partido. O rapaz,
um certo Wilke ou Wilkens, cheio de entusiasmo e disposição, teve
a idéia de ascender explosivos dentro do Teatro Cômico durante a
representação da peça. Na primeira vez alcançou êste resultado: o
público, acometido de pânico, abandonou o teatro . O rapaz con-
seguiu escapar sem ser descoberto.
Na segunda vez, porém, pegaram-no. Não trazia consigo sim-
ples explosivos, mas bombas incendiárias, que, conforme declarara,
êle próprio teria fabricado . O castigo foi alguns anos de prisão em
Ushuaya. O Partido Nacional-Socialista abandonou-o e declarou
nada ter com o fato. Contra Koehn nada pode ser provado, e, mes-
mo na pior das hipóteses, êle estava amparado por sua posição di-
plomática como adido à Embaixada Alemã.
Dentro da Alemanha a ocorrência deu novamente margem a
uma campanha jornalística, que com alarde pretendia pintar o
"ambiente de hostilidade" que existia na Argentina contra a Ale-
manha. A Argentina, por sua vez, interessada em não deixar sur-
gir tal "ambiente de hostilidade" concluiu o "Acôrdo Comercial
Teuto-Argentino ", de relativa importância para a parte interessada
alemã.
O caso do Teatro Cômico de Buenos Aires é típico . Houve
ocorrências idênticas, talvez de menor projeção, em tôda a parte do
mundo onde o Nacional-Socialismo necessitou forçar um objetivo,
que por bem não lhe era possível conseguir. Vejamos um fato bem .
recente ocorrido na capital do Chile em janeiro do corrente ano .
Um grupo de quinze a vinte nazistas invadiu um teatro, onde era
apresentado o " Ditador" , de Carlitos, provocando distúrbios, com
o fim de forçar o cancelamento da apresentação do filme. Também
lá jogaram bombas. Conforme comunicou a "Associated Press ", os
nazistas só tomaram esta resolução após ter fracassado a tentativa
da Embaixada Alemã para conseguir a não apresentação do filme
de Charles Chaplin .
A 5. COLUNA NO BRASIL 393

Em Pôrto Alegre, em 1935, houve igualmente um caso de dis-


túrbios provocados pelos nazistas num salão do bairro dos Nave-
gantes, onde havia um comício antinazista. A esta reunião compa-
receram, incorporados, os nazistas mais destacados. A desordem te-
ve início no meio do ato, o qual, em face disto, teve de ser suspenso.
No Rio de Janeiro houve, no ano passado, um escândalo du-
rante uma festa em benefício da Cruz Vermelha Inglesa . Durante
essa festa alguém deu um tiro, houve naturalmente tumulto e in-
tervenção da polícia, resultando a prisão de certo número de
alemães.
A coleção de fatos podia ir longe, mas estamos dando exemplos.
Se a execução de qualquer plano não é possível, a questão fi-
cará pendente para uma ocasião mais oportuna. Nunca deverá ser
olvidado que "Hitler nunca esquece” !

APÓS A PROIBIÇÃO

Nos seguintes países da América do Sul o Partido Nacional-So-


cialista foi interditado e dissolvido: Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai. Cessou, com a proibição, a atividade nazista, em qual-
quer um dêsses países? A resposta é a mesma para todos êles : a ati-
vidade nazista nunca cessa.
No Brasil, temos o "Bund der Schaffenden Reichsdeutschen",
cujo título em português é "União Beneficente e Recreativa", indu-
bitavelmente uma capa da organização nazista proibida.
Na Argentina, os nazistas que esperavam a proibição do Par-
tido, prepararam com antecedência uma organização sucessora. A
situação lá era mais favorável, pois existia o "Deutscher Volksbund",
até então uma associação germânica puramente cultural, com gru-
pos distribuídos por todo o território argentino. Nesse " Deutscher
Volksbund" se assentou o Partido logo após a proibição, tratando
imediatamente de afastar todos os sócios não-partidários. Ele con-
tinua hoje com o rótulo de "Union Alemana de Gremios" . A ati-
vidade nazista na Argentina é, atualmente, a mais franca de tôda
a América do Sul, tanto interna como externamente.
E' de supor-se que também no Uruguai e no Paraguai foi re-
solvida a continuação do Partido Nacional-Socialista da mesma for-
ma e da mesma maneira que nos outros países sul-americanos.

DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS

Muito fica por dizer sôbre as atividades nazistas na América


do Sul. Mas, o que foi dito parece-nos suficiente para servir de pre-
venção àqueles que não querem vêr, talvez por se tratar de uma
394 AURELIO DA SILVA PY

verdade amarga . Estes comodistas devem ler com mais atenção os


documentos que se seguem, de data bem recente.
Não há, efetivamente, nada mais a dizer sôbre o ser ou o não
ser da atividade nazista na América do Sul.
O Continente sul-americano está incluído no "Universo Nazis-
ta". As provas são do conhecimento público. Por vezes, os próprios
representantes do nazismo deixam entrever alguma cousa neste sen-
tido. O embaixador alemão, ao regressar recentemente da Alema-
nha, disse: "Depois da vitória da Alemanha e da Itália, se estabele-
cerá no mundo uma nova era para a humanidade.”
A era da raça de senhores dominando os povos inferiores.
Eis a ambição máxima do Nazismo . Sua realização depende
unicamente da tolerância e da cegueira com que os países estran-
geiros encararem a sombria ameaça.
A vitória nazista na Europa só foi possível pela inqualificável
tolerância dos governos caídos, que não reconheceram o valor do
inimigo interno, e o deixaram preparar ambiente e terreno .
E a América do Sul, que fará?

DOCUMENTAÇÃO

1.0 documento :

PINTOR DE QUADROS E AGENTE NAZISTA

A "Ibero-Amerikanische Korrespondenz", de 17 de setembro


de 1940, traz sob o título “ Quadros do Brasil, por um artista ale-
mão" a seguinte notícia para jornais alemães :

"IAK. - Haverá na Academia de Belas Artes de Koe-


nigsberg-Ratslinden, de 15 de setembro a 5 de outubro, uma
exposição de Quadros do pintor Julius Schmischke, da Prús-
sia Oriental, que após a Grande Guerra trabalhou em Pôrto
Alegre, mas que em 1938 teve de abandonar o Brasil, devido
às suas atividades para a " Organização Exterior" da Alema-
nha Nacional-Socialista. Em sua exposição , apresentará pro-
duções dos anos passados no Brasil, juntamente com os de
1939 na Prússia Oriental."

O texto é em alemão . A notícia se encontra na pág. 2 do "Bo-


letim Informativo " daquela Agência noticiosa alemã , de 17 de se-
tembro de 1940.
Deve-se informar, para dar valor às datas, que o Partido Na-
A 5. COLUNA NO BRASIL 395

cional-Socialista foi proibido no Brasil pela Constituição de 10 de


novembro de 1937.

2.º documento:

UMA ADVERTÊNCIA E UMA AMEAÇA

A "Ibero Amerikanische-Korrespondenz" traz, em seu Boletim


Informativo de 24 de setembro de 1940, sob o número 39, uma
apreciação sobre a atual situação dos alemães no Brasil, comparada
com a de tempos passados . O articulista vê a nacionalização do
Brasil pelo prisma nazista, prevendo más consequências com a ori-
entação política do Brasil. Esta tática jornalística já é muito batida
e pretende focar a grave situação em que se encontraria a "minoria
alemã" que o nazismo teima em ver em nossos colonos. Note-se que
êles sempre tudo dão aos “lusos", sem nada receber, nem mesmo
essa eterna boa disposição de nossa gente para acolher a pessoa es-
tranha.
Eis a tradução da notícia :

“Brasileiros de sangue alemão, na opinião de oficiais luso-


brasileiros outrora e hoje.

No ano de 1850 , conduziu o dr. Blumenau os primei-


ros dezessete colonos alemães às margens do Rio Itajaí, que
hoje se tornou o símbolo duma região de cultura teuto-brasi-
leira. Dez mil alemães vieram no decorrer dêsses anos loca-
lizar-se na zona povoada por Blumenau, penetrando quilô-
metros e quilômetros para dentro da mata virgem e criando
fértil lavoura. Éles presentearam ao País seis vezes mais fi-
lhos do que seu próprio número. E esta gente alemã pres-
tou ainda mais outro sacrifício ao País : renunciou à sua
cidadania alemã pela cidadania da nova Pátria. Uma cou-
sa, porém, êles podiam e queriam exigir, e era que os deixas-
sem conservar livremente sua comunhão alemã, ` sua língua e
seus costumes alemães como cidadãos do Brasil . Quanto mais
progredia, porém, a colonização, quanto mais ela conseguia
produzir econômica e culturalmente, tanto mais crescia o ódio
e a inveja. De início havia pequenos círculos chauvinistas
incorrigíveis, que não podiam deixar de pintar com as côres
mais berrantes o perigo alemão na tela do cenário político.
Implantava-se o germe de uma política que durante a Guerra
Mundial trouxe inquietação, desordem e até miséria e priva-
ção espiritual a um mundo até então dedicado à construção
pacífica e dinâmica, e a qual alcançou seu apogeu na atual
política de repatriamento. A propósito, Theo Kleine cita,
em sua revista mensal germano -política "Deutsche Arbeit" , o
que afirmou no fim do século passado o sr. Vieira da Rosa,
396 AURÉLIO DA SILVA PY

oficial luso-brasileiro de Santa Catarina : "E' uma realidade


patente, que não admite contestação, que devemos aos ale-
mães e italianos todo o progresso de nosso Estado. Para nós
está fora de dúvida que o imperialismo americano representa
um perigo muito maior do que o orgulho alemão, de que tan-
to se fala". Quão diferente soam os discursos e manifestos
de certa camada de oficiais brasileiros de hoje, que tomou a
si a tarefa de realizar, por todos os meios, a nacionalização
da população, o que significa, porém, a aniquilação de tôda
a comunhão não - portuguesa. Quando se iniciou a campa-
nha de nacionalização, no primeiro semestre do ano de 1938 ,
Blumenau foi um dos alvos de ataque preferidos por certos
oficiais. Um dentre êles assim se externou : "E' notório
que os descendentes de alemães neste país só puderam levar
avante seu trabalho em prol de sua comunidade por achar-se
êle apoiado sôbre quatro colunas importantes : as escolas teuto-
brasileiras, as sociedades teuto -brasileiras, a Igreja em língua
alemã e a família de fala alemã . Pela natureza da questão
deve, portanto, a campanha de nacionalização, organizada pelo
Estado -Maior do Exército, estabelecer como dever essencial a
destruição destas quatro colunas" . Depende dos luso-brasi-
leiros, assim finaliza Kleine o seu artigo, que o futuro do
Sul do Brasil seja florescente ou decadente."

3.º documento :

EXIGÊNCIAS NAZISTAS PARA O MUNDO EXTERIOR

Para encerrar êste informe sôbre o nazismo na América do Sul,


vamos descrever o que se encontra no Anuário da "Organização
Exterior" do Partido Nacional-Socialista, publicado em 1940, num
artigo redigido pelo Conselheiro da Justiça do Reich, dr. Herst
Lubbe, chefe de "Departamento de Direito" da "A-O", no qual é
analisado o "direito de estrangeiro " em geral e, principalmente, os
direitos do alemão dentro de um país estranho durante a atual si-
tuação mundial e na base do nacional-socialismo . O autor detalha
e retalha o assunto amplamente, tachando de insuportável e into-
lerável a interdição do Partido Nacional-Socialista em alguns paí-
ses. O autor do artigo resume o seu ponto de vista e suas pretensões
dentro de cinco capítulos, que servem de conclusão para o assunto
e a questão. Por sua fonte, tomam as conclusões um caráter oficial.
A arrogância nazista fala, nestes cinco pontos, uma linguagem
muito clara. E' o mesmo espírito da “raça de senhores" que se nota
nas palavras do Embaixador Alemão de Buenos Aires, citadas an-
teriormente, e nas notícias da "Ibero-Amerikanische Korrespondenz"
transcritas. Note-se que o colono mudou de posição : é, agora, um
hóspede do país a que pediu acolhida.
A 5. COLUNA NO BRASIL 397

Vamos transcrever os cinco pontos da conclusão sôbre "as exi-


gências nacional-socialistas na base do direito internacional do Es-
trangeiro", tal qual se encontra no Anuário da “A-O” :

" 1. O mundo precisa compreender, de uma vez para sem-


pre, que ser alemão e ser nacional-socialista hoje é a
mesma cousa. Se um país admitir em seu território,
alemães na qualidade de estrangeiros, é-lhe forçoso reco-
nhecer também que abriga, desta maneira, nacional- so-
cialistas em suas fronteiras. E' contraditório pretender
uma nação que está dentro da concepção do "Direito
de estrangeiro", quando deseja a presença de alemães,
mas lhes proíbe serem nacional - socialistas.
2 . Deve-se permitir ao alemão do exterior congregar- se em
associações para cultivar o espírito de comunidade po-
pular alemã, conservar a ligação com a Pátria e auxi-
liar-se mutuamente . A organização é a NSDAP ( Par-
tido Nacional- Soicalista Operário Alemão) , que não é
mais um Partido no sentido em uso nos demais países,
mas um movimento de sustentação de um só povo, ao
qual pertence o alemão no Exterior. Não vemos , por-
tanto, motivos que justifiquem a proibição do Partido.
Incompreensível é, ainda, à medida de impor dificulda-
des à realização de reuniões em recintos fechados , muito
mais quando se sabe que os estrangeiros não comparti-
lham da vida do país onde fixaram residência. Ou
êles são transformados em indivíduos destituídos de to-
dos os direitos, como em tempos passados, ou dá- se-lhes
oportunidade para conservar a ligação íntima com a sua
Pátria.
3. E' , ao nosso ver, obrigação dos países de imigração pro-
videnciar no sentido de que o estrangeiro-hóspede não
seja vítima indefesa da imprensa agitadora, nem fique
exposto à baba infamante da canalha judaica , às tenta-
tivas de calúnia e às campanhas falseadoras dos imigran-
tes criminosos. O conceito do " direito do estrangeiro"
exige não somente que se tolere a presença do hóspede,
como também que êle seja protegido contra injustiças,
levando-se em conta que entre homens cultos não se con-
sidera sinal de hospitalidade permitir que um hóspede
seja ofendido, caluniado e importunado, quebrando - se-
The as vidraças da janela, pondo -o no xadrez por denún-
cias reconhecidamente falsas e deportando-o sem motivos
justificáveis.
4. Assim como, em parte, compreendemos que em época
de crise um ou outro estrangeiro seja visto com descon-
fiança, da mesma forma julgamos atitude descortês tra-
tar todo homem e mulher alemã de conduta impecável,
até a véspera tidos como idôneos, como espiões, e, ain-
da mais, quando se recorre a semelhantes pretestos para
O
8 ELI VA
39 AUR DA SIL PY

prejudicar a economia da comunidade germânica em pro-


veito de concorrentes econômicas. Vai de encontro a
todo o princípio de igualdade confiscar as propriedades
de estrangeiros ou roubar-lhes a existência econômica.
5. Possuímos, ainda, uma série de exigências, as quais, ao
nosso ver, deveriam ser atendidas antes de se falar numa
situação satisfatória do "direito do estrangeiro" . Lem-
bro, por exemplo, o direito de mostrar o pavilhão na-
cional e de usar distintivos. Somos hoje bastante mo-
destos em não exigir tais cousas a qualquer preço, pois
bem sabemos que a formação interna de certos países
não lhes permite serem liberais neste sentido . Limita-
mo-nos a lembrar que, entre nós, a nenhum estrangeiro
é proibido mostrar seu pavilhão e não se lhe arrancam
os distintivos" .

Finda aquí o informe secreto, que conseguimos obter, sôbre o


nazismo na América do Sul.
O dever de todos os brasileiros :
Conservar a unidade nacional !

"A Alemanha realizou os nossos sonhos afinal e é


tarefa nossa fazer com que ela venha a ser aquilo
que delineamos em nosso programa de há dezenove
anos, neste mesmo recinto. E que isto se realizará é
tão certo como o estar eu aquí diante de vós."
(Hitler - Discurso para a " Velha Guarda” (Mu-
nich), em 24-2 - 1939).

Chegamos, agora, ao fim de nosso trabalho. Muita coisa pode-


ríamos ainda enumerar, a respeito da conspiração nazista no Rio
Grande do Sul, assim como sôbre a ação nefasta e perigosa da 5.ª
Coluna no Brasil. Os arquivos da Polícia dêste Estado, em suas
inúmeras secções especializadas, contêm documentação fartíssima,
material de prova abundantíssimo e incontestável, que nos permi-
tiriam escrever diversos livros, em vez de um só. Mas, para que mais?
O que registamos nas páginas anteriores parece-nos suficiente para
deixar desmascarada, por completo, tôda a trama de processos in-
fames em que nos procuraram envolver e absorver — e procuram
ainda ― os adeptos intransigentes dos regimes totalitários, que já
fizeram a ruína de outras nações, a desgraça de tantos outros povos .
E julgamos, também, ter colecionado documentos bastantes para
dar ao povo brasileiro uma idéia da enormidade do perigo que, in-
felizmente, ainda pesa sôbre nossa Pátria. Sim, ainda pesa sôbre
nossa Pátria, porque, a despeito de todos os esforços até ago-
ra realizados para desmontar a máquina da dominação nazista, em
nosso País, a verdade é que muito ainda é necessário fazer para se
alcançar êsse objetivo.
Pela própria estrutura da organização do nazismo e, bem assim ,
pelos seus métodos violentos e condenáveis de usurpação e de con-
quista, de que tôdas as páginas dêste livro refletem aspectos caracte-
rísticos, formando um testemunho insofismável, verifica-se, desde
logo, que não é fácil o combate que se vem travando e ainda nos
achamos longe de um final vitorioso.
A luta é árdua, sem trégua, sem alto e sem repouso, exigindo
400 AURELIO DA SILVA PY

de todos os bons patriotas, como já o acentuámos, tôdas as suas re-


servas de energias, tôda a sua capacidade de ação.
Ainda mais : a abundante documentação que coligimos nos re-
vela, desgraçadamente, que não são apenas estrangeiros que se ar-
regimentam para esta campanha de morte contra a nossa Pátria.
Brasileiros descendentes de estrangeiros e suprema miséria!
brasileiros de pura origem "cabocla", como diriam os "arianos”
puros, também se empenham, nesta luta, ao lado daqueles que, ven-
cedores em seus sonhos de predomínio e de ambição, tornar-se-ão ,
sem dúvida, os delegados da imediata confiança dos "grandes se-
nhores", outros tantos Seyss Inquart, Quislings ou Heidrichs ...
E é possível, mesmo , que muitos dêsses, ainda depois de todas as
provas que aquí reunimos, continuem com suas idéias antipatrió-
ticas, alimentando ilusões que, nesta hora, já não são mais admis-
síveis, porque estamos em face de duras realidades. E o qualifica-
tivo de traidores ainda é fraco para caracterizar, em tôda a sua he-
diondez, o crime que cometem.
Por êsses e outros motivos, exatamente, é que entendemos que
o perigo permanece ainda vivo e precisamos lutar, lutar incessante-
mente, denodadamente, patrioticamente, sob pena de sermos todos
tragados na voragem terrível e devastadora.
E' sabido, aliás, que, em consequência da própria campanha
empreendida em alguns Estados contra os elementos propagadores
da agitação nazista, muitos dêles se refugiaram na Capital da Re-
pública, onde, à sombra protetora das imunidades diplomáticas,
foram reforçar, consideravelmente, os órgãos da espionagem nazi-
fascista já instalados na metrópole brasileira.
E era natural que assim acontecesse. O Rio de Janeiro, como
Buenos Aires, sempre foi e será sempre, no Continente Sul-Ameri-
cano, um centro de importância capital, cujo poder de atração é
extraordinário. Pulsa alí, indiscutivelmente, o coração de nosso País;
alí vive e palpita, inteira, a própria alma da nacionalidade, em
seus anseios mais altos, em suas vibrações mais puras, refletindo fiel-
mente os anseios e as vibrações de todos os recantos da grande Pá-
tria. Não é de admirar, portanto, em tais condições, que a metró-
pole nacional se tornasse, como dissemos, o refúgio seguro dos agi-
tadores nazistas batidos e escorraçados de outros setores, até mesmo
de países vizinhos. E, sem dificuldade, como acontece, em geral,
nos grandes centros de população densíssima, foi possível ao nacio-
nal-socialismo germânico instalar, na Capital da República, um
verdadeiro quartel-general, de onde começaram a ser irradiadas as
instruções e diretrizes para os agentes ainda não identificados em
outros pontos do nosso território.
A 5. COLUNA NO BRASIL 401

Em diversos capítulos do presente livro, mostramos, documen-


tadamente, a verdade incontestável sôbre a conspiração nazista no
Rio Grande do Sul; deixamos evidente, em outros pontos, a exten-
são incomensurável das atividades perniciosas e perigosas da quin-
ta-coluna no Brasil; finalmente, pudemos apresentar um relato im-
pressionante do panorama nazista na América do Sul.
Os fatos aí estão, indiscutíveis e a desafiar quaisquer contesta-
ções, evidenciando claramente, na sua veracidade absoluta, que não
nos enganamos ao afirmar que um grave perigo paira, ainda, sôbre
nossa Pátria, como sôbre as demais nações do Hemisfério Ociden-
tal. Conhecemos alguma coisa a respeito das proporções do ataque
iminente e, por isso, precisamos preparar uma defesa à altura dêsse
mesmo ataque, não ficando parados, à espera de seu desembocar
impetuoso e irresistível.
As palavras proféticas de Graça Aranha, já citadas anterior-
mente, não cessam nunca de ressoar em nossos ouvidos :
“A Alemanha é uma ameaça permanente para as nossas livres
instituições e para a nossa independência nacional”.
E isso porque, além de muitas outras afirmações que foram
cumpridas à risca, temos também sempre presentes estas declara-
ções de Hitler, que permitem avaliar, perfeitamente, quais sejam
suas insaciáveis pretensões :

"Desde o primeiro dia, proclamei como princípio fun-


damental: " ou o alemão é o primeiro soldado do mundo,
ou deixa absolutamente de ser soldado" . Deixar de ser sol-
dado nós não podemos e nem queremos. Portanto, temos
que ser os primeiros. ”

"Há países no mundo nos quais, ao invés de 135 pessoas


para cada quilômetro quadrado, como acontece na Alema-
nha, há apenas entre cinco e onze, países em que vastas exten-
sões de terra fértil jazem abandonadas, nos quais todos os
minerais imagináveis podem ser encontrados. Há países que
têm tudo isso e um tesouro natural de carvão, ferro e metais
em bruto e, contudo, não são capazes sequer de solver seus
próprios problemas sociais, de acabar com o desemprego ou
de vencer outras dificuldades.”

Para fazer face a êsse enorme perigo - não tenhamos a menor


ilusão — é indispensáve l , é absolutamen te indispensável - como
já o acentuamos mais de uma vez — que o Brasil inteiro forme um
bloco só, de coesão granítica e impermeável à penetração estrangei-
402 AURÉLIO DA SILVA PY

ra, dissolvente e desagregadora dos laços de unidade, desta unidade


nacional que tantos esfôrços e tanto sangue exigiu de nossos ante-
passados gloriosos e que temos o dever imprescritível de conservar
através dos séculos.
Porque é na preservação de nossas tradições de liberalismo e
de espiritualidade cristã, cerrando fileiras e formando em massa na
defesa de nossas instituições e da nossa organização social ; é com
todo êsse admirável patrimônio moral, que constitue, por assim
dizer, o próprio substrato cultural da Pátria; é na unidade nacio-
nal, na reunião de todos os nossos patrícios em tôrno da Bandeira
que o Governo da República desfralda e defende intransigente-
mente: é com tudo isso, enfim, que haveremos de construir o
Brasil com que sonham todos os bons brasileiros : um Brasil
forte e respeitado, um Brasil grandioso e imperecível .

FIM
ÍNDICE

Introdução ...... Pág. 5


Do plano pangermanista ao programa de Hitler 99 9
O Plano Pangermanista 11
Um folheto de 1895 e as idéias de Tannenberg 99 12
99 14
Outras provas das intenções de domínio alemão
Cuidado! A Alemanha é uma ameaça permanente 17
O Programa de Hitler 99 19
.....
Problemas e tarefas da nova geração teuto-brasileira 99 21
99
A língua - fator decisivo do imperialismo nazista 25
Problemas brasileiros sob o prisma teuto-brasileiro 99 27
39
Duas cartas que espelham o panorama do nazismo no Brasil .. 32
▲ imprensa de Pôrto Alegre denuncia atividades nazistas ..... " 42
Como foi descoberta a trama urdida pelos agentes de Hitler
"9 43
Uma reunião que acaba no xadrez
99 43
Uma campanha de descrédito
Um dia de festa ..... 29 44
Documento comprometedor 99 44
Atitude vigilante 99 44
Confirmando as suspeitas 99 45
Em outubro 99 45
Um conflito 29 45
Em conferência 99 46
39 46
Completa e sensacional reportagem do " Correio do Povo"
Longe da Pátria 19 47
Uma amizade funesta 19 47
Conferências em segredo 39 48
99 48
Projeto que se realiza
Frutos de má direção 99 48
99 49
Carta para Berlim
Gustavo Ehricht rompe com seu amigo "9 49
99 49
Uma defesa premeditada
99 50
Cai a segunda máscara
" 50
Um parêntese policial
99 51
Queixando-se à polícia
Uma excursão à Santa Cruz 99 51
" 52
Alguns momentos de palestra com o major Alberto Bins
5565

Ouvindo o cônsul da Alemanha 53


99
Rio Grande do Sul, espaço vital nazista
Como se faz uma 5.ª coluna .... 57
A estrutura do Partido Nacional- Socialista Alemão no Rio Grande
do Sul ...... 60
2

As alas do partido nazista 68


Racismo prático ..... 74
O racismo alemão no Rio Grande do Sul "9 76
404 AURELIO DA SILVA PY

A ação ilegal do consulado alemão de Pôrto Alegre "9 78


Herr Ried alista, no Rio Grande do Sul, combatentes para o
exército nazista ...... 99 83
Espionagem marítima nazista 99 95
Fala o rádio-técnico 99 98
Depoimento do radiotelegrafista do vapor " Rio Grande" "9 102
O comandante do " Rio Grande" nega tudo 99 103
Ouvindo o agente da Companhia Hamburguesa 99 104
Wiltgens é ouvido novamente 99 106
Terceiro depoimento de Wiltgens 99 108
99 109
O depoimento do 1.° maquinista do vapor
O N. 8. D. A. P. em Santa Cruz "" 111
O consulado e as sociedades alemãs 99 118
Todos os partidários alemães devem trabalhar 99 120
99 120
"Nós almães, perante o mundo"
99 121
Um exemplo típico .....
...
99 143
Teuto-brasileiros lutam contra o Partido Nazista
Povo da Mãe-Pátria e alemães em geral. Discurso do Dr.
99 145
Frick em Gleiwitz ....
99 158
0 "boycott" nazista no Rio Grande do Sul
99 161
O "Boycott" no Comércio do Fumo
Com o sr. Sílvio Tôrres ..... 162
99 163
A representação ao governo federal
99 163
O memorial ao ministro do exterior
99 164
A preterição de firmas brasileiras
99 165
Interferências do "Ueberwachungstelle"
99 166
Intervencionismo germânico
99 167
Guerra ainda dos fornecedores
99 168
A propaganda nazista e o controle da imprensa teuto -brasileira
"9 173
Reichs-Rundfunk
99 173
Do livro, da revista e do jornal
99 173
Cartazes ....
99 174
Distintivos ...
99 177
A propaganda pelo rádio
?? 179
Outros documentos
O púlpito como instrumento da propaganda política - As escolas
99 191
protestantes ....
Relatório .... 29 192
99 198
As prédicas em língua estrangeira
A conservação pura do ministério do predicador, segundo o
99 205
sínodo
29 209
Religião, trampolim nazista
99 212
A missão da igreja alemã
29 214
Retrocesso cultural com a supressão da língua alemã
No caminho da eternidade 216
A 5.ª COLUNA NO BRASIL 405

Palavra de combate 29 219


Nacionalização
99 219
Sem os imigrantes, o Brasil nada seria
99 221
70.000 R. M. para auxiliar o trabalho alemão no sul do Brasil
Uma incursão do Estado de São Paulo 99 223
"PG. 53 N.º 6" - Noticiário geral 99 223
99 226
Ginásio evangélico alemão brasileiro São Leopoldo
99 227
A futura igreja (Kommende Kirche) ....
Nossa finalidade ...... 227
99 229
Confusão político-religiosa
29 232
Alemães arianos antinazistas no Brasil
A Juventude Hitlerista no Rio Grande do Sul 99 239
"3 242
Juventude teuto -brasileira
Relatório da 2.ª delegacia regional de ensino referente ao ano
de 1939 248
Atividades Desenvolvidas 250
99 254
Escolas particulares do município de São Leopoldo
"" 255
Escolas particulares do município de Montenegro
15 255
Escolas particulares do município de Taquara
39 256
Município de Caí ......
Aulas particulares que não preencheram as fôlhas de estatís-
99 256
tica ........
Um movimento puramente brasileiro Ainda a camuflagem
99 260
da juventude Hitlerista
99 260
"Objetivos e obra da União da Juventude Teuto-Brasileira
"" 262
Um inquérito policial. Declarações de alguns chefes da juventude
29 263
Do jovem Armínio Hufnagel .......
99 268
Nu artístico para as moças, luta de lama para os jovens
99 277
Declarações de A. P. Wallau
99 278
Declarações de H. E. Knapp
39 279
Declarações de R. E. Marquardt
99 280
Declarações de R. J. Boeck
"9 281
Mais declarações de Boeck
Prisão e expulsão de espiões nazistas -- Um caso com sabor de
29 284
aventura .......
99 285
O que declaram os próprios espiões
99 288
Processo engenhoso de propaganda
29 288
Propaganda estrangeira
29 290
Histórico do caso de Irai
99 288
Nazismo em Iraí
Um hoteleiro semifalido e um milionário que trabalha por
39 291
cama e comida .....
"9 294
Permanência ilegal no país e profissão indefinida
99 294
Relações e atividades suspeitas
39 297
Injúrias e ofensas ao Brasil
406 AURELIO DA SILVA PY

99 297
Fraude
99 298
Alistamento militar
29 299
Maahs e Neise perante a Lei
99 301
Fardamentos e Distintivos
"Minorias" e "Maiorins" alemãs no Rio Grande 99 304
29 305
Onde aparece um mapa demonstrativo
33 306
Outras provas incontestáveis
29 307
"Um pequeno pedaço da Alemanha" , no Brasil
99 308
Como se tentou "fabricar" em nosso Estado uma minoria alemã
Os descendentes de alemães passam a ser "Alemães do Exte-
rior" 19 308
29 310
Legendas e casos expressivos
Preconizado o reconhecimento da "Nova Grande Pátria Ale-
99 312
mã ” ...
Ainda a questão dos pastores protestantes 314
" Ordem e Progresso" 99 319
Objetivos da espionagem nazista 323
Himmler aos alemães do exterior 99 323
Conspirando em Berlim contra o Brasil 99 325
O início da espionagem nazista no Rio Grande do Sul 0
99 327
caso Ehricht
19 329
Tropas de assalto e mais espionagem
99 330
O "Caso Bock"
99 332
O caso Hugo Mueller 22 334
O caso Friedrich Kostner 29
Novamente os Consulados Alemães 336
As consequências das denúncias dos Agentes Secretos Na-
"" 338
zistas
99 342
"Quislings" brasileiros 99 344
Willi Luederitz 39
O homem que apanhou a luva lançada pela gestapo 358
39 368
Panorama geral do nazismo na América do Sul 99 368
Histórico 39 368
"O facismo não é artigo de exportação " 99 371
Estrutura e organização interna "" 381
Dos partidários 99 393
Após a proibição 39 393
Documentos comprobatórios 99 394
Documentação 99 394
Pintor de quadros e agente nazista 99 395
Uma advertência e uma ameaça 99
Exigências nazistas para o mundo exterior 396
O dever de todos os brasileiros conservar a unidade nacional 399
ÍNDICE DOS DOCUMENTOS
(NO TEXTO )
Mapa da América do Sul em 1950, extraído do livro de R. Tan-
nenberg: " Gross- Deutschland " Pág. 13
Documento n.° 1 99 56
29 62
29 99 5 99 64
99 99 6 39 65
99 99
78

67
99 99
" "

69
99 9 99
72/73
99 99 10 99 79
39 99 12 29 80
39 99 13 99 81
99 99 19 99 84
29 99 20 29 85
99 99 21 99 86
མི་

99 97
རྒྱུ་མ

22 87
29 24 29 89
99 25 99 94
29 99 27 99 115
99 99 28 99 124
99 99 29 99 127
99
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99 335
59
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99 39 62 99 345
99 99 63 "9 346
99 99 64 99 348
29 99 65 99 351
""
36

29 66 361
99 67 99 362

Os documentos restantes , bem como as gravuras que ilustram o livro,


se encontram no fim do volume.
EDIÇÃO
1376 A

Para pedidos telegráficos dêste livro, basta indicar o número 1376 A


antepondo a êsse número a quantidade.
Exemplo : para pedir 5 exemplares do presente livro basta indicar :
GLOBO - Porto Alegre - 51376 A
Quando a quantidade a pedir fôr 10 ou mais
exemplares não é necessário transmitir a letra A
Peletae , den 22. Januar 1938

Herra I 2IED RICH RUGB


Vertrauenemun des Deutschen Konsulates in Rio Grande
* 1 * * 2, Rua Mal . Floriano.

Der untorse: hnete bevollmaechtigte Sohlichter to Auf-


traje se oberalen Oaugerichtes in Berlin
ersucht um Ihr Erecheinen Kontag, den 24. janvar vore
mitta um 11 Uhr , Hotel de comori ) , Jamar 21 , beck
Unterzeichness in Tatbestandes' in Tarer 21 yanschert
al Vertraueneaul

11 :

Doc.
n. 3

HUGO MÜLLER
ALEGRE RUA LAURINDO 198 Pelotas , den 24. Januar 1938
TELEPHONE 7741

Herrn FRIEDRICH RUGE •


Vertrauensmann des Deutschen Konsulates in Rio Grande ,
Pelot a s, Rua Mal . Floriano

Der Ihnen am 22. Januar zugestellten Vorladung zur Unter-


zeichnung eines Tatbestandes , welche fuer den 24. Januar vor-
mittags um 11 Uhr anberaumt war , haben Sie nicht entsprochen .
Ich mache Ihnen deshalb bekannt , dass es sich um die Bestaeti-
gung Ihrerseits als Vertrauensmann des Deutschen Konsulates in
Rio Grande handelt , dass Herr Pfarrer Alfred Simon am 15. No-
vember 1937 die Deutsche Fahne vom Gebaeude des Vereins "Ger-
mania" in Pelotas eigenmaechtig entfernen liess. Ihren Unwillen
darueber haben Sie bereits in der seinerzeit an die "Germania"
gerichteten Protestliste zum Ausdruck gebracht . Das Gericht
braucht aber Ihre Erklaerung zu Protokoll .
Ich wiederhole meine Vorladung fuer Mittwoch, den 26. Januar
vormittags 10 Uhr und sehe mich veranlasst , bei Ihrem Nichter-
scheinen zu Protokol zu nehmen, dass Sie Ihre Unterschrift
verweigern.
Heil Hitler !

Doc.
n. 4

Cidadãos alemães suspeitos por qualquer motivo eram convocados para serem julgados pelo
Tribunal do Partido Nazista no Brasil, a famosa " Uschla" . As cartas acima, assinadas
pelo sr. Hugo Mueller, chefe da " Uschla" no Rio Grande do Sul, provam essa prática in
crível da pressão nazista no estrangeiro,
Documento n.º 11

Daumer, Nigel

CAPA

Qatagoners wab Genderungen in Belem Bo , Barles nuc burd


19
Januar Janner
Die Deutsche Arbeitsfront
ebeust

10
www
24 18 A41936

341
இகர் SPRE
2
Bugah gu Bugat
$2
Gebieter September
30 また M
Arbeit ist Schöpfung, rwbet
40
Arbeit ist Disziplin! Kamber ETID
45
Beebit tombu
50

Frontespício Página do interior da caderneta


Facsimiles tirados da Carteira da D.A.F. pertencentes a Wilhelm Daumer.
BANCO ALLEMÃO TRANSATLANTICO Porto Alegre.
CASA MATRIZ Calve postal 27
Deutsche Weberseeische Bank, Berlim.
FILIAES
Banca CURITYBA, PORTONO BRASILRIO DE JANEIRO
ALEGRE
SANTOS, SÃO PAULO .
FENURUGUAY HGENTINA, H PAMU
* 4. CHELE
Teteg ammax: BANCALEMAN
em qualquer cucin

AVISO DE LANÇAMENTO
Effectuamos es conta o* *eguintes lançamentos :
DEVE VALOR HAVER
Cloco costos de reis --
portada que lhes credit.sc. en sk
a cofreate, code orde do Deutcher
lat , este, de 7 do corr.
Somos com toda estima

at Ams Venus
Banco Allepa Transatlantico
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O sello devido do Rs.


$700 fol aplica
oc. na segunda v
deste: 8. *
15 poder do Banco.
Curr. 11 1000-997

BANCO ALLEMÃO TRANSATLANTICO Sim. Porto Alegre . 2 de março de 1938.


CASA MATRIZ Caixa nastal 27
Deutsche Ueberseeische Bank, Berlim
ILIAES NO BRASIL
BAHIA CURITYDA,SANTOR.
PORTOSAO
A PAUL AD JASENO
* ES UNDBUSY
NA ARGENTINA, CHILE PENC
& HEL***
Telegrammas BANCALEMA X S V Kreis Rio Grande do Sul ,
am qualquer codigo
a/c . Hugo Mueller,
Nesta .

AVISO DE LANÇAMENTO
Effectuamos em s** Conta o seguintes Lançamentos :
DEVE VALOR RAVER

De ordem do Deutsches Konsulat, de 25 @ 10:0005000


de fevereiro ppdo. hoje
--DEZ CONTOS DE REIS--

Somos com toda estima


D. S
Are Cut Vin*
All Transatlantis

Ose'sdecido deR$
fut spucave a 23 via
em poder do Banco,
16

Docs. n.ºs 15 e 16 Provas dos subsídios fornecidos pelo Consulado Alemão de Pôrto
-
Alegre às organizações nazistas do Rio Gran Sul.
B
Doc. n

Boletins d
ganda nazi
reçados ao
do Alemão
Alegre, par
de distri

Doc. n.
BANCO ALLEMÃO TRANSATLANTICO
45
R A G U 14: 00 % or Prova do
AGUE POR R*
C fornecido p
. 5.JUL1939 ON ASUN ORDIN
20170 00BAND C sulado Ale
ALLEMAUKRAJISATLATICO
Porto Alegr

PORTO ALEGRE een 25 full er ganizações :


25 de
de ful . DE
LASO les unt no Rio Gr

Consulde Illeandé Sul.

As 40070.

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.F. haben
Verhaftung erhalten fü
968
12

2. Fahrterken nachbrugere Doc. n.º


хладата 2008.
1049

Rs. Nota de gas


tos por dois
257438 tas presos,
pensas do Co
roben Hells
Center Alemão de
Alegre
Documento n.º 23

Deutsches Konsulat
PORTO ALEGRE

Bekanntmachung

über die Erfassung der deutschen Staatsangehörigen im


Anslande für den aktiven Wehrdienst und den Reichs-
arbeitsdienst im Jahre 1939 und über die Einstellung von
Freiwilligen.
Im Jahre 1939 werden durch die deutschen Auslandsbehör-
den die dienstpiliantigen deutschen Staatsangehörigen im Au*-
lande, die dem Geburtsjahrgang 1920 angehören, für den Reichs-
arbeitsdienst und den attiven Wehrdienst erfaßt. Sie können
vom 1. April 1940 bis 30. September 1940 zum Reidkarbeits-
dienst und vom 1. Oftober 1940 ab zu alten Wehrdienſt beran-
gezogen werden.
Die im Staate Rio Grande do Sul anfaffigen Dienstpflich.
tigen haben sich unverzüglich), spätestens bis zum 31. Juli 1989
durch Einreichung des vorgeschriebenen ordnungsgemäß ausge
füllten Knmeldeblattes bei dem Deutschen Monfulat in Borto
Alegre oder bei den für ihren Wohnfig zunterbigen Ceutiden
Wahlforiulaten anzumelden. Jeder Dieniviliatige bat fich das
Anmeldeblatt selbst zu belchaffen. Er erhält es bei den Deutforen
Kontulaten in Porto Alegre und Rio Grande sowie bei den
Deutschen Bizetoninlaten in juhy, Boa Vista de Erechim. Santa
Cruz und Uruguanana. Schriftliden Anträgen auf Ueberiendung
eines Anmeldeblattes fit das Rüdporto belzufügen,
Die zurüdacirellten Dienstuflichtigen aus überen Sabr-
gängen, deren Aufstellungsfrist im Jahre 1939 ablaai , baben
fich ebenfalls bis ivateitens 31 Juli 1939 bei dem Deutschen
Neuhulat au melden Wer diejer Aufforderung nicht oder nicht
'bünftlich nowfenuut wird wenn tenie bodere Sirate nad 36 140.
142 und 143 des Reidstračgeiegtudies veripirtt lit, mit vield-
itrafe bis zu 150 Seidemark oder mit Gait befraft.
3ur frenvilligen Ableitung de altiver Wehrwantes - ten-
nen tid für die Emstellung im Serbi 1910 britatige deuf-
ide Staatsangehörige melden, die aur 15. Cher 1910 dae 17.
Lebensjahr vollendet und das 23. Vebensjahr noch nicht uzer
schritten baben Die Freiwilligen des Geburtsjahrgange: 1921
and jüngerer Geburtsjahrgänge millen ver dem anden Wehr-
dienst den Reichsarbeitsdienst ableiten. Die Julwelding ben
Freiwilligen bat gleichfalls bis spätestens 31 Jull 1939 in der
für die Tienfroiliitigen vorgedriebeuen Germ zu erfolgen; dem
Anmeldeblatt der freiwilligen und ein ausfuncita er vil ge
jdyriebener Lebenelauf und bei Vogliatbilder begligen.
Porio Alegre, den * Jull 1939.
Der Deutide Monjul
ges. Rird.

Convocação, mandada proceder pelo Consulado Alemão de Pôrto


Alegre, dos alemães residentes no Rio Grande do Sul para efeito
de serviço militar na Alemanha,
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Documento n.º 26

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Documento n.º 32

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Vorsichtig
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Maternbrie

Neue Deutsche Zeitung


ERICH ZANDER Germano Gundlach & Cia.
Brack-and Ferlagshaus s da Patria , 51 .
Rua Voluntarioe
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Zeitungssachel

A "Central- Verlag" do Partido Nacional- Socialista Alemão distribue gra-


tuitamente matrizes de clichés de propaganda como o que ilustra esta página.
406 AURELIO DA SILVA PY

Fraude 99 297
Alistamento militar 99 298
Maahs e Neise perante a Lei 29 299
Fardamentos e Distintivos 29 301
"Minorias" e "Maiorias" alemãs no Rio Grande 99 304
99 305
Onde aparece um mapa demonstrativo
39 306
Outras provas incontestáveis ...
39 307
"Um pequeno pedaço da Alemanha ", no Brasil
99 308
Como se tentou "fabricar" em nosso Estado uma minoria alemã
Os descendentes de alemães passam a ser " Alemães do Exte-
rior" .... 308
29 310
Legendas e casos expressivos
Preconizado o reconhecimento da "Nova Grande Pátria Ale-
mã" 99 312
39 314
Ainda a questão dos pastores protestantes
99
"Ordem e Progresso " 319
99 323
Objetivos da espionagem nazista
Himmler aos alemães do exterior 99 323
99 325
Conspirando em Berlim contra o Brasil
O início da espionagem nazista no Rio Grande do Sul
caso Ehricht 39 327
37 329
Tropas de assalto e mais espionagem
O "Caso Bock" "" 330
99 332
O caso Hugo Mueller ....
O caso Friedrich Koetner 334
33 336
Novamente os Consulados Alemães
As consequências das denúncias dos Agentes Secretos Na-
zistas 99 338
99 342
"Quislings" brasileiros
Willi Luederitz "" 344
"" 358
O homem que apanhou a luva lançada pela gestapo
99 368
Panorama geral do nazismo na América do Sul
Histórico 99 368
39 368
"O facismo não é artigo de exportação"
22 371
Estrutura e organização interna
"" 381
Dos partidários
Após a proibição 393
99 393
Documentos comprobatórios
39 394
Documentação
99 394
Pintor de quadros e agente nazista
"9 395
Uma advertência e uma ameaça
29 396
Exigências nazistas para o mundo exterior
conservar a unidade nacional 39 399
O dever de todos os brasileiros
ÍNDICE DOS DOCUMENTOS
(NO TEXTO)
Mapa da América do Sul em 1950, extraído do livro de R. Tan-
nenberg : " Gross -Deutschland " Pág. 13
Documento n.° 1 39 56
99 99 2 99 62
29 99 5 99 64
93 99 6 99 65
99 7 67
99 39 8 99 69
99 99 9 39 72/73
99 "" 10 99 79
99 39 12 99 80
39 99 13 99 81
29 "9 19 99 84
29 99 20 99 85
99
" " " "

21 86
99 22 99 87
99 24 99 89
99 25 99 94
99 99 27 99 115
99 28 99 124
99 99 29 99 127
99 99 30 99 134
99 99 31 "" 170
99 59
" " " "

34 175
39 35 211/212
99 38 99 228
39 39 99 231
99 99 40 99 241
‫وو‬ 99 43 29 244
59 22 53 97 324
29 99 55 330
39 99 56 39 331
66

99 57 99 332
99 99 58 99 333
99 59 29 335
99 99 337
:35

60
99 29 62 99 345
99 22 63 99 346
99 99 64 99 348
99 99 65 99 351
99 99 66 "" 361
99 99 67 99 362

Os documentos restantes, bem como as gravuras que ilustram o livro,


se encontram no fim do volume.
Documento n.º 33

sen
Den Gefet Die Nation
s
Des Leben ge ist etwas
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Schi Alaſſe liberal freih
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TTb VON BIS.
M

Doc. 33 Sugestivos cartazes de propaganda nazista . Vide tradução dos dizeres nas
páginas 172 e 176.
45
Documento n.º 33-A

Tr
D.D.AC.

Polícia
Sul
Grande
Rio
do
nazistas
.pela
,cn
133
de
total
olecionados
um
Fotografia
distintivos
quadro
um
Documento n.º 36

Der

Deutsche Ansiedler

Mitteilungen der Evangelischen Gesellschaft für


die proteftantifchen Deutschen in Südamerika " über die Lage
des evangelifchen Deutschtums in Südamerika

Juli-Sept, 1939 77. Jahrgang

Deutsches Evangelisches Lehrerseminar in São Leopoldo mitdem


Jahrhundertdenkmal deutscher Einwanderung in Südbrasilien.

" O Colono Alemão" , jornalzinho por meio do qual o Sínodo Evangélico instruía seus re-
presentantes no Brasil a respeito da melhor maneira de se devotarem à causa nazista.
Documento n.º 37

Dr.52 / 6. Augußt 39 Einzelpcela 15 Dis.

Rommende Rieche

Wochenblatt für eine chriftliche KirchedeutscherNation

Hierausgeber: fandesbischof fic. Dr. Kring Weidemann, Bremen Ju besichen outer den Straßenbandet, Die Doff und den Desion

Und

jawohl, und

Ein rundes Ja zu Volk und Glaube

Bit rigen humor , 269 alle

Dao runde Jo jur Religion


Shear (4)set Kauppias estas hasi mate in a chester Gehe bot me t
den gelens , mueand
sarāsausgeset fushiggreenchen Pecigsung Kontsu Reiter im Gebet
ego ne volen soms bruner i Mirimi diqusngsaimes in Buscabees, the ba Suger 1911 August 1979
2001600 harudi 1 byderenee mypred
Vienzetustout une hen sobrete mandi
se eskrevetvistica
sabech aber Eden geglaubt, bes
Mer is drug, fagen, in deven wit den Volkanalenism ein 25 lira alem,
so wirdLantindiesul kaeenon
Whism ,inas she the late is diebut we test beten
Tettipruch gegenerheben
Fulored, de pabrlass
zu alive,Festi nail vier
sms unvandesVerkiais
Verndung, iredieColationen
vases in der St, Matisse Been
Poses Rosub, Hic allem se tice einen Übergrift, grabe ash in sit 1- In seitesignal
trenundanddesfreienforcame
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in Mentengen taloripish: thein Tron Teras Mas Ro- e die melauben
hiess stormische Begeisionssayfiskosam
undfreistiges indasforge.
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singer , tarde, l
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Bach200Berece ezt to water , but
von gants sonsde
chit, asaoftmalsteles
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Reiglen, asbordenat,
vol anGlaubes
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weres Berangs Jeans Tissue
Rechtigkeit die Verbode vs Chounend deurthem Kong
the lens die ste nasies Dewalt tenett wan then wie di mate wetkest totIwwert
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derbeislichen Tagouten,wiebases man
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Dher, the thest in the cen The Melésiastes le cum duties
anfmasung as 103 qumile first glesben
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Weit-
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Krieg and Kring where
Valdes tradeWiris when
distiche shown
christych obraauchdeand lligstder mit Methen ster
Jane bere "Bongson wann sichubertë- tart an Estné, Destibians sro Krieg hat es habere semproti foss weis ist the stone Free wak dem Wind
ters
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mcht that is testanalesialit
1st Melt We desTodes
blishes wiedesChrisin Millim
Coples , kollitate,
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ያው ሰው1 ጋር Disse ወደClips, bea
ich , the hitting people Secolitung SenateSuidst Welikringen durftedes Valleher Venta
Hals hoy. Die hohet se es mi utanben und manche meists, deb
Bather,
feineherken leute beresfung izel DeneSecoupt tene
BC amenn Theoction net felarm Buchselstedigende
manon white
se teinen
den Bessen gabein. beiden in einemeinig
Layera wat
Meni uns Gar als Bitte
tois en Soolish
Gotics Insit talen uns faben Romero-
Jesmwalls
24Setungende corona
fießen nedi betaden, mußer to mi fasdern Slechtit und Wahrzeit. Der Wochencuf
Dare free on in China 3 - in Midsung, die beinteng ablig if the aber
Test the in benden E

O " Kommende Kirche" (Futura Igreja) , jornal berlinense semanário, órgão da Igreja
Evangélica Alemã . Também servia de propaganda nazista entre os pastores evangélicos em
nosso país.
Documento n.° 41

D. B. J.
Standort Porto Alegre swald Rupnow

Geboren am : 23 Mai 1916

in: Porto Alegre

Staatsangeh .: Brasilianer
Bekenntnis : evangelisch / Ohne

Veruf: Handel

Bürge:
Aufgenommen : Oktober 1935

Wohnung :Rua Carlos v . Koseritz 1528

Geichäft: Bromberg S.A.

Vatername : Wilhelm Rupnow


Zimmermann
Beruf des Vaters :

Documento n.º 42

D. 8.3.
Staubert Borio Zlcgrc
Hildegard Knack
Geboren am: 23 September 1919

in : Porto Alegre

Staatsangeh .: Brasilianerin

Bekenntnis: Katholisch
JUGENDRING

Beruf: Haustochter

Bürge : Hildegard Uhr

Aufgenommen : Maerz 1936

RE
Wohnung : Rua Sertorio , 861 " FO

Geschäft

Matername : Jacob

Beruf des Vaters : Meister der warenfabrick

Fichas de membros da Juventude Nazista no Rio Grande do Sul. Vê-se a nacioną.


lidade brasileira dos jovens.
Documento n. 44

CORURA

Documento n.° 45

Ao alto : Membros da Juventude


Hitlerista do Brasil seguindo para
a Alemanha, afim de aperfeiçoar-
se. Foto tirada a bordo do " La
Coruña".

Em baixo: O " clarim" da Juven


tude Hitlerista, convocando os jo-
vens nazistas durante um acampa-
mento no interior do Estado do Rio
Grande do Sul.
Documento n.º 44 A

Desfile da Juventude Nazista na praça da Alfândega a 19 de novembro de 1937. Observe-se o s


pintado no tambor e na flâmula do clarim.

Doc. 45 A

A Juventude Nazista do
Brasil, composta de teuto-
brasileiros de menos de 20
anos, realizava, a exempla
da sua congènere da Ale-
manha, festas campestres e
praticava nelas o nudismo.
Documento n.° 46

Maahs na Werhmacht,
Documento n.° 47

1) Du hast schwarze Bohnen und Milho


Hast Xarque und Speck nach Begehr
Du hast ja die dicksten Bataten
Brasilien was willst du noch mehr!

2) Du hast Nationalwein in Menge


Fabriken fuer Bier und Likoer
Christoffel , Bopp , Becker Campanie
Brasilien was willst du noch mehr:

3) Wie waeren die Wege so herrlich


Fiel nur nicht der Regen so schwer
Doch jetzt sind es Suempfe und Pfuetzen
Brasilien was willst du noch mehri

4) Du hast zwei Parteien o ' Jammer


Die machen das Leben dir schwer
Du hast ja den " Silbernen Martin"
Brasilien was willst du noch mehri

5) Die kleinen Halunken , die henkt man


Die grossen , die laufen umher
Und fuchren ja herrliche Titel
Brasilien was willst du noch mehr:

6) Es wimmelt von Gaunern und Dieben


Die heisst man auf Deutsch Militaer
Die sollen das Vaterland sebuətzen
Brasilien was willst du noch mehri

7]
71 Und Schulden und Schulden und Schulden
Die machen den Saeckel dir leer
Und bist du zugrunde gerichtet
Brasilien was willst du noch mehri

Versos altamente injuriosos ao Brasil, encontrados em poder de Maahs, o hoteleiro nazistą


de Irai. (Tradução na página ac lado).
6
Tradução do Documento n. 47 :

1 ) Tu tens feijão preto e milho,


Xarque e toucinho em abundância,
Tu tens as maiores batatas.
Brasil, que desejas mais ?

2 ) Tu tens vinho nacional à vontade,


Fábricas de cerveja e licor:
Cristofel, Bopp, Becker & Cia.
Brasil, que desejas mais?

3 ) Que espléndidas seriam as estradas,


Se não chovesse tanto .
Mas agora são charcos e banhados .
Brasil, que desejas mais?

4 ) Tens dois partidos que lástima !


Que te amarguram a vida.
Tens ainda o Silbernen Martin (?)
Brasil, que desejas mais?

5) Os pequenos patifes são enforcados


Os grandes andam por aí
E usam títulos pomposos
Brasil, que desejas mais ?

6 ) Pululam os vigaristas e gatunos


Êsses chamam-se, em bom alemão , militares.
Êsses é que deverão defender a Pátria.
Brasil, que desejas mais?

7) E dívidas, dívidas e mais dívidas,


Que te esvaziam o saco
E tu ficas em bancarrota.
Brasil, que desejas mais?

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HORD
Documento n.° 50

B
ZEICHENERKLÄRUNG

Mapa demonstrativo das " Minorias e Maiorias" alemãs na América do Sul,


Documento n.° 51

Volk und Wehr

Zeitschrift für

Wehrmacht

Seegeltung

Luftfahrt

Königsberg
Hamburg Stettin
Wilhelms
haven Berlin
Münster O
*Hannover IV
XI Dresden
Kassel VIII O
IX Breslau
Wiesbaden
Nürnberg
Oxi
Stuttgart
VII
OMünchen Wien
Salzburg
XV

Verlag für Volkstum, Wehr und Wirtschaft, Berlin W30


7. JAHRGANG Heftpreis 40 Rpf zuzüglich ortsüblichen Bestellgeids Postveringsort Berlin JUNI 1938

Capa da Revista " Volk und Wehr" em que se encontra o artigo sôbre os "Recrutas
Alemães" no Brasil.
Documento n.º 52

wesentliche Rolle zugedacht ist, sind doch die Welt. Unterkunft dient zwar eine alte Bioniertaserne, boch
tample, jei es nun hier auf der Sportſchule zwischen ist hier durch goedmäßigen Umbau alles betart mo
den einzelnen Riegen, lei es bei der Truppe zwischen dernisiert, daß man bas Banjahr diefer Majerne ganz
den Kompanien oder den größeren Berbänden, immer vergißt. Chräume, Räume für die Unterhaltung,
ein besonders bevorzugtes Tätigkeitsfeld.. Spiel- und Leleräume uſm. find behaglich ausgestattet,
Diele furze und feineswegs vollständige Aufzählung Wandmalereien geben ihnen ein frohes Bud, turg
wigt ben, wie umfangreich die Arbeit in der Luft um, die Bioniere von ehemals würden sich vermutlich
waffen-Sportidule ist. Mit Befriedigung aber fönnen lehr wundern, was aus ihrer alten Rajerne geworden
rach jedem Lehrgang die Teilnehmer auf das zurück. ist. Für die Ausbjibung stehen allen zur Ber
bliden, was sie hier in Spandau vriebten und er fügung, bie nach haunt Gefichtspunkten ge
lernen, und mit Befriedigung wiederum jehen auch Haltet er binans verfügt die Gdule über
Kommandeur und Lehrer, wie sich die der Sportſchmi ichnete Sport und Zurnpläge im Freien. Bei
anvertrauten Offigiere und Unteroffiziere hi allen diesen musterhaften Einrichtungen wird in
mal ein wenig eingerohet pas appe tamen, Spandau nie das eine vergehen, daß der Sport Hier
zu guten Sportlern caben. Über die Mus nicht Selbstzwest, sondern boh Mittel zum Zwed
bildung hinaus geht alles, um den Aufenthalt in it und boh bas Ziel ift, burch brin port der jungen
der Sportſchule jo gut wie möglich zu gestalten., His deutſchen Luftwaffe zu dienen. Walter hous

»Ordem e Progresso <<


Deutſchſtämmige Soldaten in Braſilien
Bommern haben Brafilien die Broving lpirito natürlich in weitgehenbem Maße begünstigt durch di
Santo erobert!" 3n biefem non brafillanischer jedem Berkehr feindlichen Berhältnisse bes Banbes
Seite geprägten Sag ist die hobe Richtung ausge Bill es doch heute noch als ein Zeichen der Bett-
sprochen, die die Herren des gewaltigen Reubes der gereiftheit und Weiterfahrenheit, wenn jemand einmal
Bereinigten Staaten von Brasilien vor ihren deut in feinem Leben inder 60 km entferntenHauptſtadt des
ichen Einwanderern haben. Dule Bommern, die in Staates Bictoria an der Rüfte gewefen ist. Wird alle
den Jahren um 1850 ins Band tamen und vom dog ein militärpflichtiger Jahrgang einberufen, dana ſtellt
maligen Kaifer Dom Pedro II in den noch völlig un fich zunächst heraus, bah die jungen Deutschen faft
erichloffenen Stoat Espirito Santo geschicht wurden, tein Wort portugiesisch (preden tönnen; bie meiſten
baben einen generationenlangen Kampf mit dem Ur von ihnen erleben auf der Sahrt zu ihrer Barnijon
wald und den sonstigen Schwierigkeiten des Landes zum erstenmal Auto, Eisenbahn, Stadt. Diefer Jmang.
geführt, bis heute ihre neue Heimat ein Musterbeispiel zur Ableistung des Soldatenbientes einmal aus dem
fur beutichen Bleiß und deutsche Zähigkeit geworben beimischen Urwald heraus zu müſſen, erschlieht Ihnen
it. Dom Pedro verlich einen neuen Untertanen erstmalig die Belt, weitet ihren horizont. Eo toment
balb die Bürgerrechte und gab ihnen damit als Bra dem Dienstjahr eine hohe erzieherische Bedeutung bei.
tianern auch Blichten. Und ja gilt es heute als eine Denn so deutsch und gut auch die Sitten zu Haule
der vornehmsten Aufgaben für die Söhne der deut find, la geschloffen der heimilde Bebenstreis ist, diele
ichen Subler, ihrer Wehrpflicht im brasilianischen Heer Menschen hinten oft um mehr als ein halbes Jahr
u genügen. Diese jungen Männer
willen wenig von Deutschland, menig
auch von dem Leben ihrer Borfahren;
aber he willen eins: daß hie Deutsche
And dem Blute nach. Sie find, wie
Deutche Überall, feft vermurgelt mit
der Erde,die die nimmermüden Fäuste
threr Eltern und Großeltern dem Ur
wald abgerungen baben, und find be
reit, für biefe mit den Waffen bes
Friedens eroberte Grbe auch bis zum
legten einzutreten.
Es ift eine im Charafter begründete
Gigenart der deutschen Bayern in
Ofpirito Santo, daß sie sich leit ihrer
mwanderung fast vollig abgeschloffen
hielten. Sie verlaten oft den Romtalt
mit der großen Heimat aller Deutiden,
landen aber auch – periönlich – teme
neuen Beziehungen zu den Einwohnern
des Bandes Diele Einitellung wurbe

34

Página interna da revista " Volk und Wehr' onde vimos reproduzido o artigo " Ordem
e Progresso" .
Documento n.° 54

O FARDAMENTO PARA OS NAZISTAS NO RIO GRANDE DO SU

DIENSTHEMD für Politische Leifer


Verkaufsrielle Nr.
Herstellerfirma N25
Gesetz vom 20. Dezember 34. Uniformfeile müssen sichtbar
das Schurzeichen der R.Z.M. der NSDAP tragen.
Bekanntmachung vom 16. Januar 1935
Reichszeugmeistere
i
der N. 1. D. A. P.
BN 37083

HOSE Nach Vorschrift der RJF


Verkaufsstelle Nr.
RZ
Herstellerfirma Nr.:
Gesetz vom 20.12.1934 Schutzzichen
Uniformtelie müssen bichtbar das
der RZM der NSDAP tragen . Bekanntm. v. 16.14935.
Reichszeugmeisterei der N. S. B.A.2.203734
3
4/0
694

Marca de fábrica alemã encontrada no forro das camisas pardas e calças apreendidas aos
nazistas rio-grandenses. Elas provam que o Partido enviava diretamente da Alemanha o far.
damento destinado acs scus membros no Brasil,
Documento n.º 61

Hensdoren .( Dorin PrinzUtreet Holland 7.


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Original da carta escrita pelo conhecido dr. von Ortemberg relatando como foi pre-
so e quase executado quando em viagem à Alemanha, em consequência de uma de-
Documento n.º 61 ( continuação )

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núncia dos nazistas de Santa Cruz que o acusavam de não simpatizar com o hitle-
rismo.

G
Ô NAZISMO EM PORTO ALEGRE
COMEMORAÇÕES DO 1. DE MAIO ( 1937 ) 1 CAMPO DO RENNER

193
7

três da frente são membros das S. A. (Secções de "MAIBAUM"


Assalto) . A Árvore de Maio

EHRET-DIE-ARBEIT

MAI 193

A "Juventude". Os que estão só de camisa são nazistas. Atrás dêles os ex-combatentes


reunidos na " Kriegerverein".
O NAZISMO EM PORTO ALEGRE
COMEMORAÇÕES DO 1.0 DE MAIO ( 1937) 1 CAMPO DO RENNER

55

Ao alto: os nazistas desfilam com o pavilhão da cruz gamada ; ao centro: aspecto da forma-
CERIMÔNIAS NAZISTAS EM PORTO ALEGRE

Ao alto: funeral de um membro do Partido Nazista em Porto Alegre ; em baixo : desfile comemorativo
do 1.º de maio no campo do Renner em Porto Alegre,
DESFILE DA JUVENTUDE HITLERISTA
PORTO ALEGRE - PRAÇA DA ALFANDEGA

Na fotografia ao alto, assinalado com um X, Erwin Becker, o chefe da Juventude.


A OFICIALIDADE DO NAZISMO EM PORTO ALEGRE
(FOTO TIRADA NA ,, CASA ALEMA " )

Ao alto, à esquerda, assinalado com um X, Ernst Dorsch, chefe do Partido Nazista no Rio
Grande do Sul. Fugiu para a Alemanha. Ernst Dorsch evitava aparecer fardado, para
melhor cumprir a sua missão fiscalizadora.

Célula Nazista de Hamburgo Velho. Festa da " Consagração da Bandeira" realizada em


14 de outubro de 1933.
O NAZISMO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL

TICIE

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FOT
O!
55

1, 2, 3, 4, 5 e 6 indicam respectivamente : Reunião dos nazistas de Novo Hamburgo na residência


Schinke; cerimônia em Novo Hamburgo ; festa nazista junto ao monumento da imigração alemã em
rgo Velho ; funeral nazista numa localidade do interior; demonstração nazista na Igreja Evangélica
Leopoldo e recepção, no Seminário de São Leopoldo, ao Dr. Kossel, da Embaixada Alemã do Rio
do
aspecto
Outro
Nazismo
Museu
"'de
de
Nazismo
M
'do
" useu
aspecto
cutro
Ainda
Wolfgang Eberhard Lu-
dwig Neise, "o mais sa-
gaz agente do Serviço
Secreto Alemão" , preso
em Iraí por ocasião de
uma diligência efetua-
da em setembro de 1941
pela Polícia do Rio
Grande do Sul.

Sigrid, amante de Nei-


se, que também teria
agido em Iraí. Ela era
natural de Berlim e se
fazia acompanhar da tra-
dutora oficial da Em-
baixada Alemã em Bu
enos-Aires.
Bernardo Guilherme Maahs em seu Hotel Descan-
so, em Iraí. Também está preso.

Material de propagan-
da alemão enviado do
Reich para o Consula-
do Alemão de Porto
Alegre, que 0 distri-
buía na capital e inte-
rior do Estado,
UNIVERSITY OF MICHIGAN

3 9015 05951 2106

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