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GEOSSÍTIOS: Cenários da Geodiversidade do Estado da Bahia

Book · September 2015

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Ricardo Fraga Pereira


Universidade Federal da Bahia
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ESTADO DA BAHIA
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
COMPANHIA BAIANA DE PESQUISA MINERAL – CBPM

GEOSSÍTIOS:
Cenários da geodiversidade da Bahia

Augusto J. Pedreira de Silva (in memoriam)


Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira
Dante Severo Guidice

Salvador – Bahia – 2015


S586 Silva, Augusto J. Pedreira da.
Geossítios: cenários da geodiversidade da Bahia / Augusto J.
Pedreira da Silva, Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira, Dante
Severo Giudice. – Salvador: CBPM: SICM, 2014.

88 p. : il. color. – (Série publicações especiais; 14).

ISBN 000-00-00000-00-0

1. Geossítio – Bahia (Ba). 2. Geodiversidade I. Augusto J.


Pedreira da Silva. II. Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira
III. Dante Severo Giudice. IV. Companhia Baiana de Pesquisa
Mineral. V. Título. VI. Série.
CDD 551.098132
CDU 504.062(813.8)
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

Rui Costa dos Santos


Governador

Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE

Jorge Fontes Hereda


Secretário

Companhia Baiana de Pesquisa Mineral

Hari Alexandre Brust


Diretor Presidente

Rafael Avena Neto


Diretor Técnico

Vinícius Neves Almeida


Diretor Administrativo e Financeiro

Sociedade Brasileira de Geologia – SBG

Simone Cerqueira Pereira Cruz


Presidente da Sociedade Brasileira de Geologia
Núcleo da Bahia e Sergipe

Augusto J. Pedreira da Silva (in memoriam)


Diretor de Publicações
APRESENTAÇÃO

E
m conjunto com a UNESCO e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral (CBPM) edita a presente publicação sobre o Geoparque de Morro do Chapéu – Bahia
como uma separata daquelas propostas no Geoparques do Brasil.
A propósito, vale mencionar que, a partir da última década do século passado, a Divisão de Ciências da
Terra da UNESCO procurou estabelecer um programa internacional de proteção ao patrimônio geológico,
decorrente dos estudos relativos à geoconservação, os quais foram desenvolvidos anteriormente.
Neste sentido, o termo GEOPARQUE, que surgiu no movimento geoconservacionista da Europa, passou
a ser referência da iniciativa do Programa Geoparques da UNESCO em meados da década de 90, e simboliza
desde então, a sua ligação institucional com os atuais (ou futuros) geoparques.
Evoluindo, chega-se ao longo desse processo-tempo, à Rede Global de Geoparques Nacionais – RGGN,
criada em 2004 pela UNESCO, “em reconhecimento de que o conceito de geoparques, de grande sucesso na Europa,
deveria ser incentivado em escala mundial”.
Por conseguinte, passou-se a compreender, para efeito prático, que um GEOPARQUE é uma estratégia de
desenvolvimento regional multidisciplinar, baseada em um pressuposto base: ocorrência de patrimônio geológico
de grande relevância. Consequentemente, são objetivos principais dos geoparques: a conservação do patrimônio
geológico; a educação da sociedade relativamente às geociências e ao meio ambiente; o desenvolvimento
econômico-social e sustentável; cooperação multicultural; investigação científica; interação ativa na Rede
Global de Geoparques.
Inspirado nessa experiência da UNESCO e visando a internalização desta iniciativa no País, o Serviço
Geológico do Brasil (CPRM) em muito boa hora, criou em 2006, o Projeto Geoparques, o qual “tem como
premissa básica a identificação, levantamento, descrição, diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial para
futuros geoparques”.
Operacionalmente, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) tem prestado mais esta relevante atividade,
liderando o processo de seleção de possíveis geoparques no território do País, cujo primeiro levantamento
aponta para 28 áreas potenciais.
Dentre essas áreas potenciais selecionadas destaque-se o GEOPARQUE MORRO DO CHAPÉU
– Bahia, objeto desta publicação, o qual é categorizado principalmente como um geoparque estratigráfico,
geomorfológico e histórico.
Nestas circunstâncias, a CBPM, ao tempo em que procura com esta publicação apoiar os esforços da
comunidade de Morro de Chapéu para viabilizar a implantação e a afiliação do seu geoparque à Rede Global
de Geoparques Naturais (RGGN), quer associar-se à liderança do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) na
mobilização em prol da política brasileira para implantação dos geoparques como uma alternativa válida de
desenvolvimento econômico-social sustentável.
Por tudo isso exposto, agradecemos ao Serviço Geológico do Brasil (CPRM) pelo apoio na viabilização
desta publicação, consubstanciada na integral reprodução dos capítulos aqui incorporados como uma separata
do Geoparques do Brasil – propostas (CPRM, 2012).

Hari Alexandre Brust


Presidente
PREFÁCIO

M
uito se comentou durante o século XX sobre biodiversidade, sem levar em consideração a
geodiversidade, que acabou por ser relegada a um mero substrato físico para suporte dos elementos
do meio biótico. Todavia, os elementos do patrimônio abiótico da Terra são também integrantes
importantes do meio natural e guardam informações importantes sobre a evolução geológica do planeta,
devendo também ser objeto de conservação. Assim, só no final do referido século a sociedade tomou consciência
dessa necessidade e essa vertente ganhou impulso.
A geodiversidade inclui, assim, a variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na
Terra. Em suma, a geodiversidade compreende todos os aspectos não vivos do planeta Terra, ou seja, a natureza
abiótica!
O Patrimônio Geológico é importante componente do Patrimônio Natural, e é definido como um georrecurso
não renovável, que, pelo seu valor cultural, estético, econômico, funcional, científico e educativo, deve ser
preservado para as gerações vindouras. Neste contexto, importa conhecer as ameaças a que está sujeito; definir
as ações que assegurem a sua proteção; implementar medidas de (geo)conservação e integrar ações políticas que
promovam, de forma integrada e sustentável, a valorização do Patrimônio Geológico e o seu usufruto por parte
da população. No Brasil e na Bahia, o Patrimônio Geológico encontra-se ainda pouco conhecido e muitas vezes
não é devidamente valorizado pelas políticas setoriais, designadamente do ordenamento do território.
A geologia está inserida na geodiversidade, e revela uma potencialidade que vai além do que vem sendo
trabalhado por muito tempo, focando-se apenas na extração de recursos naturais não renováveis, mas se inserindo
também no contexto de conservação da natureza, através da geoconservação, geoturismo e suas variáveis. A partir
desse novo paradigma, descortina-se a possibilidade de mostrar as belezas da geologia, traduzida muito bem nas
palavras do idealizador deste livro, o geólogo Augusto Pedreira, como GEOLOGIA MARAVILHOSA, que
foi a sua ideia inicial para o título desta publicação.
Entretanto, o idealizador não pôde dar prosseguimento ao seu trabalho, e a SBG/Base encampou a sua ideia,
resolvendo dar continuidade à obra, com integral apoio da CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.
Os colaboradores que estavam de alguma forma engajados no projeto decidiram se unir, e com o empenho do
geólogo Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira, que assumiu o papel de editor e co-organizador, procuraram
finalizar o trabalho aqui apresentado.
A presente obra GEOSSÍTIOS: Cenários da Geodiversidade da Bahia, com sua escrita clara, fluente e
marcada por forte coerência textual, pautada pelo rigor descritivo a que se propõe, brinda o público baiano e,
de modo mais amplo, os investigadores que lidam com a área de políticas públicas territoriais e do patrimônio
geológico, com uma obra destinada a ocupar lugar de destaque sobre tais assuntos. Trata-se de uma iniciativa
pioneira, que deverá servir de fomento a um inventário sistemático do patrimônio geológico do Estado.
Confio que tal obra possa suscitar aos leitores a esperança na possibilidade construtiva de alterações
substanciais capazes de transformar a relação com o território que ocupamos e os demais usos dos recursos
ambientais, em um processo reconstitutivo de Habitar a Terra, para empregar a feliz expressão de Foltz.

Dante Severo Giudice


Geólogo Sênior da CBPM
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
1 INTRODUÇÃO
2 RESUMO DA EVOLUÇÂO GEOLÓGICA DO ESTADO DA BAHIA
3 OS GEOSSÍTIOS
Geomorfológicos
Baixa do Chico-Rodelas
Buraco do Possidônio
Cachoeira do Ferro Doido
Cachoeira da Fumaça
Gruta dos Brejões
Inselberg das Tocas
Parque Municipal da Lagoa Azul
Pedra Furada-Banzaê
Serra do Geraldo
Sedimentares
Canyon do rio Sergi
Conglomerados diamantíferos do Serrano
Fazenda Arrecife
Fazenda Catavento do Achado
Morro do Pai Inácio e a estratigrafia da formação Tombador
Serra Branca das Araras
Socovão do Tonã
Toca Velha
Mineralógicos e Petrológicos
Granito Rosa de Calcita Laranja
Kimberlitos diamantíferos Braúna
Komatiítos com spinifex da Serra do Eixo
Safirina do Rio Vermelho – Salvador
Morro do Afonso (Associação Sienítica Lamprofírica Ultrapotássica)
Pillow lavas Maria Preta
Tectônicos
Duplex compressional
Falha de Santo Onofre
História da Mineração
Bairro Luís Santos
Vila do Ventura
4 REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO Um geossítio pode ser definido como a “ocorrência
de um ou mais elementos da geodiversidade, bem

O s 103 elementos representados na tabela


periódica combinam-se entre si, de modo a gerar
cerca de 3.000 espécies minerais (BRANCO, 1982).
delimitada geograficamente, com valor singular
do ponto de vista científico, pedagógico, cultural e
turístico” (Pereira et al., 2008). Para o estabe-
Estas por sua vez interagem em diversas proporções, lecimento de um geossítio, este deve ter seus limites
pressões e temperaturas, formando rochas ígneas, geográficos definidos e, de preferência, ser quantificado
sedimentares e metamórficas. Adicionem-se a isto por um dos diversos métodos disponíveis (p. ex.
as deformações tectônicas, os processos erosivos e BRILHA, 2005; PEREIRA, 2010). Os geossítios
deposicionais, o registro fossilífero, o intemperismo e reunidos nesta publicação estão classificados em
demais processos envolvidos na pedogênese e se terá a quatro categorias, que foram estabelecidas a partir
geodiversidade de um determinado território. das categorias propostas no SIGEP e são listadas e
De acordo com Gray (2011), a geodiversidade descritas a seguir:
compreende a base física do planeta: seus minerais, Geomorfológicos – consistem na categoria com
rochas, solos, topografias e processos físicos. Este autor maior número de geossítios e incluem locais com forte
designou mais de uma vintena de serviços prestados apelo ao público em geral, em função do seu aspecto
à sociedade pela geodiversidade do planeta, dentre estético. Tratam-se de geoformas, ou conjunto de
os quais, podemos destacar que sem a diversidade geoformas, que exemplificam a dinâmica recente do
de altitude, topografia, solos, hidrologia, litologia, planeta Terra.
etc., haveria pouca biodiversidade, isto é, animais e Sedimentares – compreendem geossítios que
vegetais. ilustram fenômenos e processos sedimentares.
Porém, a geodiversidade é mais do que apenas Mineralógicos e Petrológicos – reúnem geossítios
um substrato para a biodiversidade: ela também com ocorrências minerais raras ou com rochas ígneas
dá origem às camadas sedimentares porosas que ou metamórficas com características notáveis e
armazenam água, petróleo, gás e provêm uma peculiares.
oportunidade para o armazenamento do carbono; História da Mineração – consistem em geossítios
nós enterramos grande parte dos nossos rejeitos representativos do histórico da atividade mineira,
no interior da Terra; construímos as nossas cidades onde se pode observar a ação humana na extração de
com pedra, tijolos, aço, concreto, vidro e betume, recursos minerais, seus impactos sobre o meio natural,
todos derivados dos elementos abióticos da natureza; bem como o seu legado cultural.
nossos recursos energéticos – carvão, petróleo, gás,
urânio, energias geotérmica, hidroelétrica, das ondas e RESUMO DA EVOLUÇÃO GEOLÓGICA DO
eólica, são também derivados da natureza abiótica. O ESTADO DA BAHIA
conhecimento acerca da história geológica do nosso
País e da própria evolução da vida na Terra, deriva do As figuras a seguir (1 e 2) mostram as colunas
estudo dos registros impressos no substrato rochoso estratigráficas do estado da Bahia, tanto do Pré-
do nosso planeta. Cambriano como do Fanerozoico e complementam
Este conhecimento da geodiversidade provém dos o esboço geológico constante da Figura 3.
estudos relativos ao patrimônio geológico de diversas
regiões, representado em seus afloramentos de rochas,
fósseis, solos, geoformas, etc., que podem constituir
um geossítio, quando são bem delimitados e dotados
de algum valor ou aspecto de exceção.
Geossítios, portanto, são locais representativos do
patrimônio geológico de um território e compõem a
base da sua geodiversidade.
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GEOSSÍTIOS

Figura 1
Carta estratigráfica do Pré-Cambriano na Bahia, até a
idade mais antiga já determinada

A geologia do estado da Bahia é marcada por seguintes Províncias Crustais e as suas Coberturas
uma grande diversidade de rochas e estruturas Plataformais (Figura 3).
geológicas que se distribuem ao longo das colunas
estratigráficas mostradas nas Figuras 1 e 2, com Províncias Crustais Pré-cambrianas
ênfase especial para o Pré-Cambriano, em cujos
terrenos ocorre a maioria dos geossítios. Deve-se ARQUEANO A PALEOPROTEROZOICO
notar que as colunas estratigráficas apresentadas se
referem ao esboço geológico (Figura 3) e possuem As rochas arqueanas e paleoproterozoicas com idade
idades confiáveis até o nível de período. As rochas superior a 1.600 Ga. (bilhões de anos; Figura 1), ocu-
aflorantes no estado da Bahia compreendem as pam a maior parte do território baiano: a leste, nas
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CBPM

Figura 2
Carta estratigráfica do Fanerozoico no estado da Bahia.
Observação: não são conhecidas rochas de idade triássica
no estado.

regiões norte e centro-sul e em um pequeno enclave A crosta granítica/granodiorítica/migmatítica do


na região de Correntina, a oeste. Elas consistem em bloco Gavião-Lençóis é interpretada como produto
terrenos granito-greenstone distribuídos em quatro da fusão parcial da crosta continental antiga. Os
blocos: Gavião-Lençóis (Brito-Neves, 2011), greenstone belts de Contendas-Mirante, Umburanas,
situado a oeste das cidades de Vitória da Conquista Guajeru e Mundo Novo contidos nesse bloco, são
e Jacobina e regiões a sul e norte do estado; bloco compostos por rochas vulcânicas cálcio-alcalinas e
Jequié, delimitado pelas cidades de Itaberaba, Jequié ultramáficas, filitos e grauvacas.
e Vitória da Conquista; bloco Serrinha situado entre O bloco Jequié é composto de migmatitos com
a bacia de Tucano e o Orógeno/bloco Itabuna- enclaves de rochas supracrustais e intrusões graníticas
Salvador-Curaçá, balizado por estas três cidades. e granodioríticas. As rochas do bloco Jequié foram
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GEOSSÍTIOS

Figura 3
Esboço geológico do estado da Bahia (A. J. Pedreira, 2012).
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CBPM

intensamente deformadas e, durante uma colisão MESOPROTEROZOICO


paleoproterozoica, foram re-equilibradas na fácies
granulito (Barbosa & Sabaté, 2003). O em- Ao final do Paleoproterozoico, a trafogênese
basamento dos greenstone belts do rio Itapicuru e estateriana (1800 - 1600 Ma) abriu uma série de riftes
rio Capim, ambos proterozoicos, é constituído de direção sul-norte, desde a região de Belo Horizonte
pelos terrenos do bloco Serrinha, que consiste em (MG), até a norte do rio São Francisco. Na fase
ortognaisses graníticos-granodioríticos e tonalíticos. inicial da sedimentação, ainda no Paleoproterozoico,
O bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, consiste em esses riftes foram preenchidos por rochas vulcânicas.
tonalitos/trondhjemitos, interpretados como resultado No Mesoproterozoico a sedimentação se processou
de fusão da crosta oceânica. Ele também inclui corpos em pelo menos quatro episódios de formação de
de charnockitos e faixas de rochas metassedimentares, bacia (Guimarães et al., 2008; Loureiro
além de rochas básicas de fundo oceânico e/ou bacias et al., 2009). Uma vez abortado o rifteamento, a
retroarco (Barbosa & Sabaté, 2003). Todas sedimentação se expandiu formando uma bacia do
essas rochas, durante o Paleoproterozoico, foram tipo rifte-sag.
reequilibradas na fácies granulito. Os ambientes Essas rochas foram reunidas no Supergrupo
predominantes durante a construção do bloco Espinhaço, aflorando em dois domínios: Espinhaço
Itabuna-Salvador-Curaçá foram arcos de ilhas, Setentrional e Chapada Diamantina, esta dividida
bacias retroarco e zonas de subducção (Barbosa nos setores ocidental e oriental. As rochas vulcânicas
&Sabaté, 2003). apresentam evidências tanto de derrames como de
Analisando as evidências disponíveis (estruturais, vulcanismo explosivo, constantes de brechas e bombas.
metamórficas e radiométricas), Barbosa & Sabaté As rochas sedimentares do Supergrupo Espinhaço
(2003) sugeriram a colisão desses blocos durante representam sistemas deposicionais continentais,
o Paleoproterozoico, resultando na formação do transicionais e marinhos, que se alternam ao longo
orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Este orógeno da coluna estratigráfica. O geossítio do Serrano
constituiu uma importante cadeia de montanhas, representa um afloramento de conglomerados de
cujas raízes atualmente estão expostas entre as cidades leques aluviais – depósitos continentais – da formação
de Itabuna e Curaçá (Figura 3). Tombador, componente do Supergrupo Espinhaço.
Ainda no Paleoproterozoico depositaram-se as
bacias de Jacobina e Contendas-Mirante. A serra de NEOPROTEROZOICO
Jacobina, cuja estratigrafia foi estabelecida por Leo
et al., (1964) e, posteriormente, revisada por diversos O Neoproterozoico é representado no estado da Bahia
autores, é interpretada como um rifte intracontinental principalmente por carbonatos que ocorrem a oeste e
(Mascarenhas et al., 1998). A sequência metas- sudeste do rio São Francisco, e nas sub-bacias de Irecê,
sedimentar de Contendas-Mirante foi interpretada Campinas, Ituaçu, Una-Utinga e Rio Pardo. Nos dois
como uma estrutura do tipo greenstone belt. primeiros casos, afloram litologias pertencentes ao
A sequência da serra de Jacobina está situada grupo Bambuí, enquanto nos demais casos aflora o
entre o setor Salvador-Curaçá do orógeno e o bloco seu equivalente, grupo Una; com execução do da bacia
Gavião-Lençóis; a sequência Contendas-Mirante do Rio Pardo, cujas litologias pertencem ao grupo
está preservada entre os blocos Jequié e Gavião- homônimo (Guimarães et al., 2011).
Lençóis, em uma faixa móvel orosiriana (Brito-Neves, O grupo Una compreende duas formações:
2011). A preservação de ambas as sequências, deu-se Bebedouro, basal, e Salitre, superior. A formação
em um contexto da colisão completa e incompleta Bebedouro consiste em diamictitos, arenitos e
entre os blocos tectônicos (Pedreira& Marinho, 1981; pelitos diversos. Os diamictitos contêm clastos de
Pedreira, 1991). granito, gnaisse, pegmatito, xisto, filito, rochas básicas
O geossítio Inselberg das Tocas está situado na e ultrabásicas; sua matriz consiste em grauvaca e
transição entre as rochas arqueanas-proterozoicas. arcóseo (Guimarães et al., 2011).
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GEOSSÍTIOS

Os carbonatos, tanto nas sub-bacias (Irecê, conglomerados polimíticos (Souza et al., 2003;
Campinas, Ituaçu e Una-Utinga) como na bacia do São Brito Neves, 1998).
Francisco apresentam-se em cinco níveis distintos, da Durante a transição siluro-devoniana deposi-
base para o topo: dolomito vermelho (sobre a formação taram-se os arenitos, folhelhos e conglomerados
Bebedouro), calcário laminado, dolomito, marga e da formação Tacaratu, que afloram na borda
calcário oolítico negro (Guimarães et al., 2011). leste da bacia de Tucano e, a norte do estado, os
Quanto à deformação dessas sequências, existem duas conglomerados, arenitos e argilitos do grupo Serra
correntes: a primeira considera a existência de um ciclo Grande, na base da bacia do Parnaíba. Na região de
tectônico datado em torno de 1.200 Ma (Espinhaço), Santa Brígida afloram sobre a formação Tacaratu,
que deformou as rochas sedimentares do Supergrupo as formações Curituba (Carbonífero) e Santa
Espinhaço; esta deformação é amplamente exposta na Brígida (Permiano). O sistema deposicional fluvial
Chapada Diamantina (Brito Neves et al., 2012). entrelaçado da formação Tacaratu é substituído pelo
Os carbonatos depositaram-se nas depressões formadas ambiente glacial da formação Curituba, que dá vez
por este evento, tendo sido deformados durante o à deposição da formação Santa Brígida, depositada
Ciclo Brasiliano (1.000 - 630 Ma). A segunda corrente em um ambiente desértico, caracterizado por arenitos
considera que ambas as fases de deformação ocorreram com estratificação cruzada, às vezes de grande porte,
durante o Ciclo Brasiliano (1.000 - 630 Ma). folhelhos/argilitos vermelhos (redbeds) e sabkhas
Este evento Brasiliano deformou as bacias (Menezes Filho et al., 1988).
sedimentares que circundavam o denominado Cráton
do São Francisco, do qual o estado da Bahia ocupa Depressão Afro-Brasileira
um amplo setor, dando origem às faixas (fold and
thrust belts) Araçuaí, no sul do estado; Brasília, no A correlação entre rochas das formações Tacaratu,
seu limite oeste e aos Forel and Fold and Thrust Belts Curituba e Santa Brígida com as da bacia do
da borda norte do cráton. Estes compreendem os Parnaíba, respectivamente grupo Serra Grande,
domínios Rio Preto, Riacho do Pontal e Sergipano, formações Longá-Poti e Piauí-Pedra de Fogo, sugere
este último avançando pelo território baiano no seu a ligação pretérita entre elas. Esta bacia, de caráter
setor nordeste. semelhante à bacia do Parnaíba, foi denominada
Existem diversos geossítios associados às rochas de Depressão Afro-Brasileira e definida por Netto
neoproterozoicas: as fazendas Arrecife e Catavento (1978). Na Bahia, as rochas dessa bacia têm idades
nas sub-bacias de Campinas e Irecê e o geossítio entre o Siluriano e o Jurássico.
do Parque Municipal da Lagoa Azul, instalado nas
rochas neoproterozoicas do grupo Bambuí, dentro MESOZOICO
contexto da bacia do São Francisco.
O Mesozoico compreende os períodos Triássico,
Cobertura Plataformal Jurássico e Cretáceo. No estado da Bahia não são
reconhecidas rochas triássicas; e, na bacia do Recôncavo,
PALEOZOICO foi determinada a passagem discordante do Permiano
para o Jurássico (Aguiar & Mato, 1990).
As rochas paleozoicas mais antigas da Bahia, seriam Há cerca de 200 milhões de anos iniciou-
cambro-ordovicianas das formações Salobro, Palmares se a fragmentação da Pangea; o Brasil e a África
e Juá; a primeira aflora na bacia do Rio Pardo (sul da começaram a separar-se, ao longo de uma fratura
Bahia) e as demais sobre a Faixa Sergipana, a leste da de direção atual N-S, onde se implantaram as bacia
bacia de Tucano, na divisa com o estado de Sergipe. Recôncavo-Tucano e Potiguar (Nogueira, 2012).
A primeira consiste em metarcóseos, metagrauvacas
e conglomerados polimíticos e monomíticos (clastos
de carbonato); nas duas últimas predominam
17

CBPM

Bacias Terrestres CENOZOICO

As bacias do Recôncavo e Tucano (Cretáceo) O Cenozoico começou 65 milhões de anos antes


implantaram-se dentro da fratura supramencionada, do presente (Figura 2). Rochas desta idade ocorrem
depositando-se sobre as rochas sedimentares de idade em todo o estado, porém existem três concentrações
jurássica, que pertencem à denominada fase pré- principais: nas partes central e noroeste; na região de
rifte; nesta fase, as rochas das formações Afligidos Vitória da Conquista e na Chapada Diamantina. Essas
(Permiano), Aliança e Sergi ( Jurássico) se depositaram concentrações são caracterizadas por lateritas e estão
em ambiente continental; o geossítio Canyon do Rio relacionadas a um soerguimento regional ( Japsen
Sergi instalou-se sobre rochas desta última formação. et al., 2012). Na região costeira do sul do Estado, os
Na fase sin-rifte as bacias foram preenchidas por dois depósitos cenozoicos constituem principalmente o
sistemas progradacionais: o primeiro de norte para sul, grupo Barreiras.
flúvio deltaico, passando para folhelhos prodeltaicos Outros importantes depósitos cenozoicos são as
e turbiditos; o segundo, de leste para oeste, consiste dunas inativas do médio vale do rio São Francisco
de conglomerados provenientes do bloco elevado (Barreto et al., 2002).
do embasamento a leste do rifte, gradando para
turbiditos mediais e distais (Pedreira, 2010). Síntese
A fase pós-rifte começou em meados do Cretáceo,
com a deposição dos conglomerados e arenitos da A partir da evolução geológico-tectônica do estado
formação Marizal, sobre as rochas depositadas na fase da Bahia resumida nos itens anteriores, pode-se
sin-rifte. depreender a variedade de litologias produzidas
Os geossítios Pedra Furada de Banzaê e Serra do ao longo do tempo geológico: gnaisses, granitos,
Geraldo estão implantados sobre rochas da formação migmatitos, rochas vulcânicas, arenitos, siltitos,
Marizal. folhelhos e argilitos, carbonatos (calcários e
A bacia do Urucuia, também de idade cretácea, está dolomitos), metamorfisados ou não, além de
situada a oeste do estado (Figura 1). Trata-se de uma concentrações anômalas de minerais como calcita e
bacia intracratônica, depositada sobre as bacias do São outros. Juntamente com as deformações estruturais
Francisco (grupo Bambuí) e Espinhaço Setentrional impostas a essas rochas ao longo de sua gênese, e os
(grupo Rio Preto) A bacia do Urucuia compreende processos geomorfológicos ocorridos no Cenozoico,
um conglomerado basal com clastos de calcário e modelaram-se muitas estruturas e associações
sílex, lamitos e folhelhos da formação Geribá (Grupo litológicas, esculpindo os aspectos atrativos que
Areado), e o grupo Urucuia (formações Posse e Serra valorizam muitos dos geossítios considerados nesta
das Araras) ambas de fácies eólica (Barbosa et al, obra.
2011).

Bacias da Margem Continental

As bacias da margem continental do estado da Bahia


são: Jacuípe, Camamu, Almada, Jequitinhonha,
Cumuruxatiba e Mucuri; a bacia de Jacuípe limita-
se com a Bahia/Sergipe/Alagoas, e a de Mucuri,
com o Espírito Santo. Dessas bacias, apenas as
bacias de Camamu e Almada estão representadas na
Figura 1. Em todas as bacias da margem continental
estão representadas as três fases da sua evolução (pré-,
sin-, transicional e pós-rifte) (Mohriak, 2003).
18

GEOSSÍTIOS

OS GEOSSÍTIOS • Molina e Mercado (2003), consideram como


geossítios “porções espacialmente delimitadas

N a Figura 4 apresenta-se a localização dos


geossítios aqui descritos, que foram reunidos
como geomorfológicos, sedimentares, mineralógicos
da geosfera, com um significado geológico,
geomorfológico ou geoecológico especial, que
devem ser conservados para as futuras gerações”.
e petrológicos, tectônicos e história da mineração.
Esta classificação consiste em uma simplificação A valorização, divulgação e visitação dos geossítios
das categorias sugeridas pela Comissão Brasileira consistem em mecanismos importantes de difusão do
de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, de conhecimento geocientífico, que podem resultar em
maneira que algumas das categorias propostas pela retorno financeiro para os locais onde os mesmo estão
referida comissão foram agrupadas em uma única inseridos através do geoturismo, alavancando um
categoria. conjunto de serviços de suporte para esta atividade.
Considerando que o presente trabalho consiste O presente trabalho consiste em uma iniciativa
em uma primeiro esforço de coletânea de geossítios pioneira da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral
no estado da Bahia, optou-se pela simplificação das – CBPM, no levantamento e divulgação de cenários
categorias do SIGEP, que deverá ser revista e ampliada relevantes da geodiversidade da Bahia, servindo como
em trabalhos futuros, focados na inventariação um primeiro passo para a criação de políticas para a
sistemática do patrimônio geológico baiano. valorização e conservação do patrimônio geológico
A definição das categorias temáticas da geologia do estado.
da Bahia, agrupando os eventos e unidades de
destaque na história evolutiva deste território,
consiste em um esforço necessário para a elaboração
de um inventário sistemático da sua geodiversidade,
que deverá subsidiar a implementação de políticas
públicas para a conservação do patrimônio geológico
baiano. Na presente publicação foram selecionados
geossítios representativos de diferentes cenários da
geologia da Bahia através de uma metodologia ad hoc
(Wimbledon et al.,1999).
O termo geossítio refere-se a um local onde,
por razões naturais ou antrópicas, estão expostos
elementos notáveis da geodiversidade do território
onde o mesmo está inserido. Destacam-se aqui as
definições de três autores para este termo, que são
unânimes ao apontar a importância da conservação
desses locais, face ao legado de informações que
abrigam sobre a história da Terra:
• Wimbledon (1999) diz que “um geossítio pode
ser qualquer localidade, área, ou território,
onde é possível definir um interesse geológico-
geomorfológico para a sua conservação”;
• Gray (2004) define o termo como “elementos de
geodiversidade, delimitados geograficamente,
e que, pela sua peculiaridade ou raridade,
apresentam valor científico, pedagógico, cultural,
estético, econômico, ou outro”;
19

CBPM

Figura 4
Mapa de localização dos geossítios no estado da Bahia.
GEOMORFOLÓGICOS
22

GEOSSÍTIOS

Baixa do Chico – Rodelas

Bernardo Tavares Freitas preservados nos paredões, platôs, pilares, pináculos e


mesetas areníticas que jazem por ali. Soma-se a isso

O nome Baixa do Chico refere-se a um dos mais


proeminentes cânions escavados no interior do
Raso da Catarina, e também ao povoado remanescente
o ambiente da caatinga, onde se destacam diversas
espécies arbóreas, cactáceas e bromeliáceas, além de
aves, pequenos répteis e mamíferos.
da etnia indígena Pankararé que ali vive. Atualmente Os moradores locais dividem o cânion em cinco
há 13 famílias instaladas na Baixa, vivendo a maior trechos que, de sudoeste para nordeste, são o Letreiro,
parte dos Pankararés no povoado de Brejo do Burgo. que vai do Saco da Maria Preta até o Dedo de Deus,
O acesso à Baixa do Chico só pode ser realizado o Gato, o Urubu-Rei, a Igreja do Anjo e a Baixa
com veículo 4x4 ou motocicleta. A partir de Paulo Fechada. Na Baixa do Chico, os Pankararés contam
Afonso, a melhor opção é ir em direção ao povoado do do uso do bioma local na medicina tradicional e
Juá e então seguir para a Baixa, onde se pode acessar também na sobrevivência naquele ambiente hostil,
o cânion por sua entrada sudoeste. O caminho não quase desértico, além de histórias do tempo do
é simples. No entanto, em Paulo Afonso, há a sede cangaço e da passagem de Lampião e seu bando por
da FUNAI, onde podem ser obtidas informações e aqueles recantos.
autorização para a visita, além de diversas agências e
particulares que levam turistas até a Baixa do Chico,
que se insere no Raso da Catarina.
O Raso da Catarina é um planalto sustentado por
rochas sedimentares cretáceas, depositadas há 145
e 100 milhões de anos, entre os vales dos rios São
Francisco, a norte, e Vaza Barris, a sul, inseridos no
contexto geológico da Bacia de Tucano.
O cânion da Baixa do Chico tem aproximadamente
10 km de comprimento e faz parte de um grande
sistema de drenagem, atualmente seco, que é afluente
do rio São Francisco. Foi esculpido em arenitos fluviais
da formação Marizal. O geossítio aqui descrito foi
definido no segmento do Letreiro, dentro do cânion,
onde se pode ter uma visão geral deste vale encaixado.
Assim, a paisagem da Baixa do Chico registra
a história de um grande sistema fluvial cretáceo,
responsável pela deposição dos arenitos que
constituem os flancos do cânion e a história mais
recente, de um tempo relativamente mais úmido que
o atual, quando as cabeceiras de afluentes perenes do
rio São Francisco avançaram para dentro do Raso
da Catarina, escavando as formações antigas, dando Detalhe de pináculo em formação pela erosão preferencial
origem aos cânions e vales ali entalhados. de planos de fraturas.
No interior do cânion, além das notáveis
geoformas, podem também ser contempladas diversas
feições da geologia fluvial da formação Marizal, como
os depósitos de barras e dunas subaquáticas que estão
23

GEOMORFOLÓGICOS

Vistas panorâmicas do Cânion da Baixa do Chico. De cima para baixo a Baixa Fechada (visada para E-SE), o Gato
(visada para SW) e o Letreiro (visada para NE).
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GEOSSÍTIOS

O Buraco do Possidônio
– Morro do Chapéu

Antônio J. Dourado Rocha de Morro do Chapéu. O geossítio consiste em


Mylène Berbert-Born uma gigantesca depressão cilíndrica, instalada nos
Ivanara Pereira L. Santos siltitos da formação Caboclo, que foi formada pelo
José Amaral Santos abatimento de um amplo vazio subterrâneo. Tal
dolina alcança cerca de 120 m de diâmetro e 30 m

M orro do Chapéu é um município situado no


estado da Bahia, no setor norte da Chapada
Diamantina, cujo território engloba rochas arqueanas
de profundidade. A pilha de blocos e sedimentos
resultante do desmoronamento bloqueou o acesso
ao endocarste (meio subterrâneo), diferentemente do
que formam o embasamento de sequências deposi- que ocorre nas dolinas da Velha Duda e Barrocão, as
cionais meso e neoproterozoicas, relativas aos quais, a partir do tálus íngreme resultante do colapso
grupos Chapada Diamantina (formações Tombador, e injeção de sedimentos nos horizontes subterrâneos,
Caboclo e Morro do Chapéu) e Una (formações adentra-se às amplas cavernas que lhes deram origem.
Salitre e Bebedouro). As feições de colapso e subsidência presentes na
No domínio das rochas calcárias presentes na região sul do município de Morro do Chapéu retratam
região há uma extensa área cárstica localizada na o desenvolvimento e a modelagem de um relevo
parte sul do município, associada à dissolução de uma tipicamente cárstico; um processo geomorfológico
unidade carbonática com mais de 50 m de espessura, condicionado à litologia, à organização estratigráfica
subjacente a pacotes de siltitos, na base da formação e estrutural e à dinâmica climática e hidrológica
Caboclo. regional, desenvolvido essencialmente em locais
Trata-se de um carste encoberto onde as dotados de rochas solúveis.
dolinas, em diversos estágios evolutivos e categorias Terrenos desta natureza constituem um exemplo
morfogenéticas, são as feições mais comuns em onde a geologia é determinante para a gestão
superfície, via de regra estabelecidas nos siltitos e territorial, uma vez que a condição dessas dolinas e
associadas à cavernas formadas em profundidade. A cavernas acarreta limitações para a realização de obras
frequência, ampla distribuição geográfica e grandes de infraestrutura na região, como implantação de
dimensões dessas dolinas sugerem que a dissolução represas, abertura de poços subterrâneos, construção
dos carbonatos se deu em escala regional e em um de estradas, tudo enfim que gere sobrecarga, alteração
aquífero semiconfinado. A Gruta do Cristal é um hídrica e modificação do perfil da cobertura.
bom exemplo de caverna resultante de dissolução Estudos de maior detalhe, em especial ensaios
em zona saturada, com controle estrutural, repre- geofísicos voltados à avaliação de riscos geotécnicos
sentada por uma densa rede, com mais de 4,5 km de em terrenos cársticos, envolvendo gravimetria
desenvolvimento de galerias retilíneas, conformando terrestre, combinada com eletrorresistividade, são
um padrão labiríntico, cuja formação foi condicionada indicados para avaliar a situação/extensão, organização
por conjuntos de fraturas verticais. Com base em dados e magnitude da carstificação em profundidade nestas
de nível d´água obtido em poços tubulares ativos, regiões.
estima-se que o nível hidrostático local encontra-
se atualmente entre 50 e 100 m abaixo do intervalo
altimétrico em que as cavernas se concentram,
situando-se em torno da cota 950 m.
Dentre as feições mais emblemáticas deste carste
subjacente está o Buraco do Possidônio, uma dolina
de colapso, que fica situada a 17 km a SW da sede
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GEOMORFOLÓGICOS
26

GEOSSÍTIOS

Cachoeira do Ferro Doido


– Morro do Chapéu

Dante Severo Giudice métricas, da base da formação Morro do Chapéu,


Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira fonte dos diamantes que foram objeto de garimpos
Antônio J. Dourado Rocha neste local.
c) a unidade do topo, que também integra a

A Cachoeira do Ferro Doido está situada 18 km


a leste da sede municipal de Morro do Chapéu,
cerca de 500 m a norte da BA-052, na área da
formação Morro do Chapéu, constitui uma área
de afloramento, com cerca de 6 ha, de arenito
sigmoidal, de cor rosa, com cimento de sílica.
Unidade de Conservação do Monumento Natural As camadas possuem atitude horizontal, com
da Cachoeira do Ferro Doido, criado pelo governo estratificações cruzadas de médio porte, que
estadual no ano de 1988. podem ser vistas em planta e também em três
A cachoeira possui cerca de 80 m de altura e dimensões. É frequente o caráter erosivo entre
constitui um dos principais atrativos geoturísticos estratificações cruzadas acanaladas, marcado por
do município de Morro do Chapéu. No período alinhamentos bem definidos.
chuvoso, pode-se encontrar esta cachoeira com
quatro quedas d’água. As quedas formam uma A origem da cachoeira parece estar condicionada
espécie de escada, caindo depois em um canyon, por por um conjunto de fraturas subverticais, que são
onde segue até encontrar o rio Jacuípe. No entanto, observadas ao longo do caminho entre a BA-052 e o
não existe qualquer medida de controle de acesso ou mirante da cachoeira, bem como na trilha de acesso
infraestrutura de apoio ao visitante. à sua base.
Segundo Pereira (2010), a cachoeira apresenta
relevância turística, didática e científica, uma vez que,
para além de ser um importante ponto turístico, o local
também está incluído nos roteiros de excursões do
Centro Integrado de Estudos Geológicos do Serviço
Geológico do Brasil (CIEG - CPRM), sendo objeto
de visitas e estudos por equipes da CPRM, Petrobras
e diversas universidades brasileiras.
O geossítio está instalado em rochas da formação
Morro do Chapéu. A observação do perfil rochoso
presente na cachoeira permite a identificação de três
intervalos estratigráficos:
a) a unidade da base é constituída por inter-
calações de argilito com calcarenito peloidal
muito impuro, com estratificação plano-paralela
e ondulada, com manchas amareladas de
descoramento e de óxido de ferro, que efervescem
no HCl a frio. Estas rochas, que afloram com
espessura de 3 m, constituem o topo da formação
Caboclo;
b) a unidade intermediária é constituída por
conglomerados, cuja existência é comprovada pela
presença de blocos no leito do rio, com dimensões
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GEOMORFOLÓGICOS
28

GEOSSÍTIOS

Cachoeira da Fumaça, Caeté-Açu –


Palmeiras

Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira Ressalta-se que o local está próximo da zona de
contato das rochas do grupo Chapada Diamantina,

C om cerca de 400 m de queda livre, a Cachoeira da


Fumaça é a maior cachoeira do Brasil e a segunda
maior da América do Sul, constituindo um dos
com as rochas do grupo Una. Este contato é
marcado por um contraste de relevo, onde as rochas
siliciclásticas da formação Tombador sustentam
pontos mais monumentais da Chapada Diamantina. uma serra com altitudes de até 1.200 m, enquanto
Na maior parte do ano, a água não consegue atingir a as rochas do grupo Una ocorrem em um extenso
base da queda d´água, em função dos ventos que são planalto carbonático, com relevo cárstico suavemente
canalizados no interior do vale e acabam borrifando ondulado, com altitudes de até 400 m.
a água de volta para cima, na forma de gotículas, Esse contraste de relevo resultou na instalação
formando uma espécie de “fumaça”. Este fenômeno de um gradiente hidráulico que favoreceu a remoção
acabou por dar origem ao nome do local. do material de alteração das rochas da formação
Este geossítio está situado no município de Tombador, ao longo de zonas mais fraturadas,
Palmeiras, próximo do distrito de Caeté-Açu próximas ao contato.
(Capão), de onde parte uma trilha com cerca de A Cachoeira da Fumaça está inserida na área do
6 km de extensão que dá acesso à parte superior da Parque Nacional da Chapada Diamantina, sendo um
cachoeira e onde se tem uma visão panorâmica da dos seus pontos de maior visitação. Trata-se de uma
região. Existem outros acessos que levam até a base geoforma notável, passível de uma candidatura à lista
da cachoeira ou até a serra situada à sua frente. do Patrimônio Mundial da Unesco.
O local está instalado nas rochas mesoproterozoicas
da formação Tombador. Logo no início do percurso
da trilha de acesso, é possível observar o contato de
rochas areno-argilosas da formação Guiné (grupo
Paraguaçu), com arenitos branco-rosados da formação
Tombador (grupo Chapada Diamantina). No topo da
serra, ocorre uma zona onde os arenitos da formação
Tombador estão intensamente dobrados e fraturados.
As dobras são do tipo abertas, com dimensões decimé-
tricas a métricas, e as fraturas apresentam mergulho
subvertical.
Do alto da cachoeira observa-se, nos paredões
rochosos do vale, um conjunto de fraturas esvaziadas,
formando fendas. Algumas destas fendas estão
preenchidas com densa vegetação. Esse conjunto
de feições sugere que a cachoeira foi formada pelo
esvaziamento dessas fraturas pela água meteórica
que se infiltrou nas descontinuidades do arenito
Tombador, carreando parte do material de alteração
da rocha. Os vazios gerados no interior do maciço
rochoso colapsaram, culminando com a abertura do
vale escarpado.
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GEOMORFOLÓGICOS
30

GEOSSÍTIOS

Gruta dos Brejões –


Morro do Chapéu

Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira provavelmente revelarão os maiores volumes de


Fernando Verassani Laureano condutos e salões da América do Sul. Estudos
geomorfológicos e de cunho paleoclimático que

A Gruta dos Brejões está situada na área limítrofe


dos municípios de Morro do Chapéu, João
Dourado e São Gabriel e apresenta um dos maiores
se encontram em andamento na Gruta de Brejões,
poderão ajudar a elucidar a evolução do relevo da
Chapada Diamantina, bem como as condições
pórticos de cavernas do Brasil com 106 m de altura. climáticas nas quais esta evolução se deu. Todavia, os
A caverna, que tem cerca de 7.750 m de registros paleontológicos e arqueológicos lá existentes
desenvolvimento horizontal já mapeados (Auler et ainda carecem de estudos sistemáticos e publicações
al., 2001), encontra-se inserida na Área de Proteção científicas.
Ambiental – APA – Gruta dos Brejões/Vereda Este conjunto de fatores científicos, históricos e
de Romão Gramacho, que fica localizada em área culturais torna o geossítio passível de uma candidatura
remota, de difícil acesso e ainda não está totalmente à lista do Patrimônio Mundial da Unesco, conforme
implementada. O geossítio foi estabelecido na boca proposta de Pereira (2010).
principal da caverna, onde se tem uma visão da
monumentalidade do local.
A visitação na caverna deve ser feita mediante
acompanhamento de guias da Associação Comunitária
do Povoado de Gruta dos Brejões. Entretanto, não
existe ainda um controle sistemático desta exigência,
como também não existem medidas de controle do
número visitantes ao local. De maneira informal, o
presidente desta Associação Comunitária estima
que existe um fluxo irregular de grupos pequenos de
visitantes, com uma frequência média de dois a três
grupos por semana. Todavia, no mês de agosto, por
ocasião dos festejos de Nossa Senhora dos Milagres,
a caverna recebe um elevado número de visitantes que
participam de missa celebrada no seu interior.
A caverna foi entalhada pela ação erosiva das águas
do rio Jacaré nas rochas carbonáticas da formação
Salitre, estando inserida na bacia carbonática de
Irecê. A sua entrada fica situada em um vale cárstico,
formado pelo abatimento de um conduto subterrâneo
de grandes dimensões, que foi desenvolvido com forte
controle litológico. No seu interior já foram encontrados
diversos fósseis de megafauna pleistocênica e, na
sua parte externa, encontra-se um grande número
de painéis com pinturas rupestres, desenhados nos
paredões de calcário.
Trata-se de um sistema cárstico monumental,
cujos levantamentos topográficos futuros muito
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GEOMORFOLÓGICOS
32

GEOSSÍTIOS

Inselberg das Tocas


– Itatim, Bahia, Brasil

Geraldo Marcelo Pereira Lima geossítio está localizado na inflexão N110o-120o


Luiz César Corrêa Gomes de um grande sigmoide regional, com orientação
NS, gerado em um evento tectônico de cinemática

O Inselberg das Tocas está localizado no município


de Itatim, porção centro-oriental da Bahia, que
possui uma das maiores concentrações e variedades
sinistral. No local observa-se uma estruturação
geológica polifásica, típica de um paleo-orógeno, cuja
história evolutiva é marcada pela presença sequencial
de inselbergs do mundo (Lima et al., 2009). Estas de foliações suborizontais, parcialmente transpostas
geoformas foram esculpidas na transição de duas por foliações subverticais, que representam o principal
importantes unidades geomorfológicas: o Planalto trend de alinhamento atual dos inselbergs locais.
de Maracás (topo) e a Superfície Sertaneja (base). Posteriormente, sistemas conjugados de zonas de
O geossítio representa um imponente inselberg, do cisalhamento dúcteis a dúctil-rúpteis foram gerados,
tipo castelo, com aproximadamente 110 m de altura marcando o limite temporal das fases tectônicas
e altitude de 430 m, que se destaca pelo contraste orogênicas compressivas e, finalmente, são produzidas
da superfície plana ao seu redor, típica da paisagem foliações de baixo ângulo, com cinemática normal,
semiárida da Depressão Sertaneja, e pelas expressivas indicando um colapso extensional no paleo-orógeno.
cavidades (tafoni) na sua face norte. Essas cavidades Além do Inselberg das Tocas, outros imponentes
são resultantes do processo de esfoliação esferoidal, afloramentos podem ser encontrados na área do
cuja morfologia obedece às foliações magmáticas município de Itatim. Estas geoformas são do
primárias e fraturas horizontais. tipo bornhardt, castlekoppies e tors, em um cenário
A história de denudação do Inselberg das Tocas cinematográfico, que já foi utilizado na locação
foi iniciada no Permiano (295 Ma), na qual foram de filmes do Cinema Novo, dirigidos pelo baiano
denudados cerca de 3 a 5,6 km de rocha desde essa Glauber Rocha.
época até o presente. O processo de denudação se
dá com três episódios bem marcados, quais sejam:
Carbonífero-Jurássico Superior, Jurássico Superior-
Cretáceo Inferior e Cenozoico, que se alternaram
com períodos de estabilidade térmica. A partir do
Mioceno, o processo de denudação se intensifica na
região, ocorrendo exumação das rochas metamórficas
que constituem o inselberg propriamente dito, com
taxas mínimas e máximas variando, respectivamente,
entre 20 - 50 m.My-1 (Lima et al., 2012).
Do ponto de vista geológico o Inselberg das Tocas
é constituído de monzogranito (Santiago, 2010)
leucocrático, enriquecido com cerca de 30% em
quartzo, em comparação à superfície regionalmente
aplainada (Depressão Sertaneja), de composição
enderbítica.
A região do Inselberg das Tocas está situada na
zona de transição de dois importantes blocos crustais:
o Jequié (BJ) e o Itabuna-Salvador-Curaçá (BISC),
ambos de idades arqueano-paleoproterozoicas. O
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GEOMORFOLÓGICOS
34

GEOSSÍTIOS

Lagoa Azul – São Desidério

Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira dá, em parte, através da água meteórica que percola
Heros Augusto Santos Lobo os arenitos de idade mesozoica do grupo Urucuia
(Campos & Dardenne, 1997), ou se precipita

A Lagoa Azul está inserida no Parque Municipal


Natural da Lagoa Azul, criado pela Prefeitura
Municipal de São Desidério em janeiro de 2005,
diretamente sobre os terrenos cársticos.
O processo de abertura dos condutos foi
condicionado pela interseção de um conjunto de
com o objetivo de preservar os ecossistemas de fraturas subverticiais com o plano de acamamento
carste e hidrocarste da Lagoa Azul e Gruta do dos calcários, que se apresentam suborizontais, ou
Catão. O parque conta com mirantes, trilhas e visitas com ondulações suaves, podendo também apresentar
guiadas, permitindo ao visitante a apreciação das zonas com maior perturbação tectônica, manifestadas
geoformas geradas pelo colapso das amplas cavidades através de dobramentos, cavalgamentos e acamamento
subterrâneas, entalhadas na rocha carbonática pelo subverticalizado.
rio João Rodrigues. Entre a nascente e a última O geossítio da Lagoa Azul foi formado pelo colapso
ressurgência conhecida para este rio, no local do teto das amplas cavidades subterrâneas, entalhadas
denominado de Poço Surubim, alinham-se cavernas, pelo rio João Rodrigues. Com o represamento do rio,
abismos e dolinas de abatimento, que ilustram a formou-se o espelho d´água que hoje se observa no
transição de um regime de drenagem fluvial para um local.
carste poligonal e fazem parte de um sistema cárstico. A vegetação na região apresenta uma transição
O sistema cárstico formado pelo rio João Rodrigues entre a caatinga e o cerrado, com predominância deste
fica situado no oeste baiano, foi desenvolvido sobre último nas porções mais elevadas, acima dos 600 m
rochas carbonáticas com idade neoproterozoica, de altitude, onde afloram as rochas sedimentares
do Grupo Bambuí, e abriga fenômenos geológicos do grupo Urucuia. Nas zonas mais deprimidas,
raros no mundo, como a ressurgência do João Baio, onde afloram os calcários e as geoformas cársticas,
onde se observa a variação intermitente do fluxo de predominam espécimes da caatinga.
água, em intervalos regulares, com cinco minutos Na região ocorrem também um conjunto de
de duração, de modo que o nível d´água oscila em pinturas rupestres e sítios arqueológicos associados
torno de 0,50 m na vertical. Este fenômeno e mais a abrigos e grutas, ilustrativos da ocupação pré-
um conjunto de geoformas cársticas monumentais, histórica, que agregam valor arqueológico ao
representadas por amplas cavidades subterrâneas, patrimônio geológico da área.
sumidouros e ressurgências, conferem um elevado
valor científico, didático e turístico ao sistema como
um todo, que está, em parte, protegido com a criação
do Parque Municipal da Lagoa Azul.
Todo o sistema apresenta uma extensão linear de
cerca de 40 km, que é ramificado em um conjunto de
condutos amplos, ornamentados com espeleotemas
singulares, através do qual ocorre uma captura fluvial
de águas da bacia do rio Tamanduá, que são desviadas
para a bacia do rio São Desidério. Ambas as bacias
convergem para o rio Grande, que consiste em um
importante afluente da margem esquerda do rio São
Francisco e está situado na borda oriental do planalto
central do Brasil. A recarga hídrica do sistema se
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GEOMORFOLÓGICOS
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GEOSSÍTIOS

A Pedra Furada – Banzaê

Carolina Reis imaturas depositados por rios e dunas eólicas que por
ali passaram; b) uma camada formada por sedimentos

O relevo esculpido na formação Marizal, represen-


tado por platôs, mesas, mesetas, pilares, pináculos
e a formação de arcos, são geoformas bastante
mais finos que foram depositados em ambiente
lacustre, onde predominam silte e argila, e que fica
intercalada aos pacotes arenosos supramencionados.
expressivas na região entre Banzaê e São João da Ocupando uma cota específica, em torno de
Fortaleza. O ponto turístico e cartão postal mais 500 m de altitude, com cerca de 8 m de espessura
conhecido da região é a Pedra Furada, que fica e grande continuidade lateral, essa camada formada
localizada a 4 km a noroeste da sede municipal de por sedimentos finos é mais suscetível à erosão em
Banzaê. relação às camadas arenosas. Sendo assim, o vento e
As rochas sedimentares que sustentam a Pedra a chuva desenham o topo das mesas e mesetas deste
Furada pertencem à formação Marizal (Santos et local. Esses pacotes de rochas compostas de material
al., 2009). Estas rochas foram depositadas há cerca de fino também podem conter fósseis de peixes, conchas
100 milhões de anos, em um ambiente de clima árido, entre outros.
onde ocorriam dunas, juntamente com um sistema Diversas lendas e registros históricos são frequentes
de drenagem amplamente ramificado, que formava nessa região e achados arqueológicos indicam
lagos. Essa formação geológica representa a fase final a sua ocupação desde os tempos pré-históricos.
de preenchimento da bacia sedimentar Recôncavo- Documentos do século XVI comprovam a ocupação
Tucano-Jatobá, formada no processo de fragmentação indígena na área e outros documentos históricos
do supercontinente Pangea e, consequente, abertura atestam a passagem de Lampião e seu bando por esse
do oceano Atlântico Sul. território, além de Antônio Conselheiro que, com seu
A Pedra Furada é o resultado dos distintos movimento religioso, liderou um movimento popular
comportamentos ao desgaste associado às fraturas que culminou com a Guerra de Canudos. Esse
existentes nas rochas fluviais e eólicas. As fraturas conjunto de fatos históricos agregam um elevado
definem os paredões e as variadas quantidades de valor histórico-cultural ao geossítio.
sedimentos, mais finos ou mais grossos, determinam
diferentes resistências às ações do vento, chuva e
à erosão. A maior quantidade de argila presente na
rocha aumenta a predisposição dela em “desmanchar-
se” e assim a cavidade se desenvolve onde tem material
mais fino, pela remoção diferencial dos componentes
da rocha.
Nas proximidades do povoado São João da
Fortaleza ocorrem geomorfossítios de destaque,
representados por diversos platôs, mesas, mesetas,
pilares, pináculos e arcos, compondo extensos painéis
com apelo cênico peculiar, devido à erosão diferencial
também associada às fraturas da formação Marizal.
Na região entre a cidade de Banzaê e os povoados de
Betânia e São João da Fortaleza observa-se um relevo
especialmente moldado e com os topos arredondados.
Estas geoformas são resultantes da associação de dois
tipos de rocha: a) dois pacotes espessos de areias
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GEOMORFOLÓGICOS
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GEOSSÍTIOS

Serra do Geraldo – Novo Triunfo

Carolina Reis dessa pequena serra, pode-se observar os distintos


Caroline Couto Santos comportamentos das diferentes rochas da formação
Marizal à erosão e como são moldadas pelas fraturas

N o contexto das bacias do Tucano Central e


Norte, o relevo da formação Marizal é marcado
pela grande ocorrência de geoformas peculiares que
nelas presentes.
Assim como Ouricuri e Casinhas, outras loca-
lidades próximas de Novo Triunfo, além de possuírem
contempla, dentre outras coisas, a formação de arcos. belas paisagens, são comunidades quilombolas
Na localidade de Geraldo, a vista da Serra do Geraldo remanescentes e representam a resistência cultural
dá as boas vindas para quem chega à cidade de dos afrodescendentes da região.
Novo Triunfo. O acesso ao local se dá pela BR-396, A região de Novo Triunfo, que antigamente era
entrando para oeste no entroncamento de Antas na um povoado chamado de Guloso, é rica em lendas
BR-110. O geossítio aqui descrito está localizado no e registros históricos que remontam aos tempos do
final da trilha que parte da BR-396, de onde se pode cangaço. Evidências arqueológicas evidenciam sua
subir a Serra do Geraldo e ter uma vista privilegiada. ocupação desde os tempos pré-históricos, conferindo
A formação Marizal, cuja origem remonta a uma relevância histórica ao local que é ainda muito
100 milhões de anos atrás, representa a fase final pouco difundida no estado, elevando o seu potencial
de preenchimento da bacia sedimentar Recôncavo- geoturístico.
Tucano-Jatobá, formada no processo de fragmentação
do supercontinente Pangea e abertura do oceano
Atlântico Sul. A Pedra Furada foi esculpida nessas
rochas que foram depositadas em um ambiente de
clima árido, onde dunas de areia, trabalhadas pelo
vento, se associavam com um sistema de drenagem
amplamente ramificado, que transportava seixos,
cascalhos e areias, trazidos dos terrenos mais antigos,
localizados a norte, e associados a um conjunto de
lagos.
A erosão diferencial dessas rochas sedimentares,
associada à presença de fraturas, são os elementos que
moldam a Serra do Geraldo. As fraturas favorecem a
entrada de água contribuindo com o intemperismo
ao longo de seus planos e determinam o formato da
geoforma. Diferentes quantidades de sedimentos
mais finos ou mais grossos determinam resistências
distintas às ações dos agentes intempéricos, de modo
que há uma maior predisposição de desmonte da
rocha nos locais onde ocorre maior quantidade de
material mais fino.
Nos arredores de Novo Triunfo o relevo mostra-
se bastante desenhado. O Serrote do Bode (ou Serro
do Berro), por exemplo, localizado no povoado
de Ouricuri, tem sua forma determinada a partir
das fraturas que recortam os arenitos. De cima
39

GEOMORFOLÓGICOS
SEDIMENTARES
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GEOSSÍTIOS

Cânion do Rio Sergi – Santo Amaro

Augusto J. Pedreira da Silva b) fluvial entrelaçado de granulação grossa e


alta energia: canais largos e rasos, barras de

O cânion do rio Sergi está situado a cerca de sete


quilômetros a noroeste da cidade de Santo
Amaro-Bahia e o geossítio aqui descrito consiste no
granulação grossa, planícies de inundação e canais
abandonados; este modelo também compreende
antigos lagos efêmeros e playalakes.
local de melhor visibilidade do cânion. Este rio é um
afluente da margem direita do rio Subaé, que passa Essas evidências e a presença da superfície de stokes
na referida cidade. O presente texto acrescenta novos sugerem que a deposição da formação Sergi foi,
dados ao trabalho de Pedreira (2002), conforme novas consideravelmente, influenciada pela presença de
informações obtidas em Ribeiro & Borghi (2003). água.
Os arenitos encontrados no cânion foram descritos,
na década de 1940, com o nome de Arenito Sergi,
e constituem o principal reservatório de petróleo do
Recôncavo Baiano, o que confere uma relevância
científica ao geossítio. O modelo deposicional, até
então adotado para a formação Sergi, a interpretava
como um sistema deposicional que evoluía de um
ambiente fluvial entrelaçado para um ambiente eólico,
devido ao aumento da aridez ao longo do tempo,
quando campos de dunas teriam se desenvolvido nos
canais e barras fluviais, devido ao carregamento, pelo
vento, dos grãos de areia soltos.
Ribeiro & Borghi (2003) interpretaram a facio-
logia da formação Sergi no cânion, através do
fotomosaico de uma escarpa com altura superior a
30 m. A análise da arquitetura deposicional identificou
cinco elementos, sendo três deles associados a um
ambiente flúvio-lacustre e que corresponde a canais
fluviais preenchidos por sedimentos finos e grossos,
e planície de inundação ou preenchimento de canal
abandonado; além de outros dois elementos que
correspondem a um ambiente eólico, representado
por depósitos de interdunas, campos de dunas, ou
ainda dunas depositadas em canais abandonados.
Também foi possível identificar quatro superfícies de
stokes (super superfícies) resultantes da oscilação do
nível freático no interior da formação.
Baseados nesta interpretação e no estudo de
outros afloramentos da formação Sergi, Ribeiro &
Borghi (2003) propuseram um modelo integrando os
dois sistemas deposicionais:
a) flúvio-eólico de granulação fina: dunas, lençóis
de areia e uedes (rios efêmeros) e;
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SEDIMENTARES
44

GEOSSÍTIOS

Os conglomerados diamantíferos
do Serrano na Chapada Diamantina
– Lençóis

Rodrigo Valle Cezar A área de deposição pretérita das rochas


encontradas hoje no Serrano era formada por uma

O geossítio consiste em um trecho do rio Lençóis


onde existem diversos caldeirões (marmitas) de
águas negro-avermelhadas, que são muito utilizados
planície aluvial, com extensos campos de dunas,
cortadas por rios entrelaçados. Tais conglomerados
foram depositados em ambientes de leques aluviais,
para o banho, e representa um dos pontos mais localizados na borda da bacia sedimentar onde foram
visitados da cidade de Lençóis. acumulados os sedimentos que formaram as rochas
O nome Serrano vem da época em que os hoje encontradas na região da Chapada Diamantina.
garimpeiros, vindos de Minas Gerais e conhecidos A exposição das rochas no Serrano foi resultado
como “serranios”, garimpavam em seus caldeirões e da remoção do material de alteração pelo rio Lençóis,
em suas grunas, de onde tiraram grandes quantidades formando afloramentos polidos no leito rochoso
de diamantes. Em 1986, foi criado o Parque deste rio, e que são dotados de grande apelo estético.
Municipal da Muritiba, com o objetivo de proteger a Os caldeirões formaram-se devido ao desgaste
área recreativa do rio Lençóis e a captação de água da mecânico da rocha pela água, que fica girando em
cidade (FUNCH, 2007). seu interior, sendo acentuado pela abrasão dos seixos
As rochas presentes no geossítio pertencem à e demais sedimentos que se acumulam no fundo
formação Tombador, que é constituída por pacotes e acompanham este movimento. Existem ainda
de conglomerados, arenitos e pelitos, resultantes de diversos túneis e sumidouros (grunas) por onde o rio
150 milhões de anos de sedimentação fluvial e eólica corre subterraneamente (PEREIRA, 2010).
(SILVA FILHO, 2010).
O local é cortado por fraturas e falhas, fenômeno
que pode ser bem visualizado nos seixos partidos
dos conglomerados. Em meio às marmitas, a rocha
predominante é o conglomerado polimítico, composto
por grãos e seixos de diversas cores e tamanhos, que
estão imersos em uma matriz de arenito róseo e podem
ser, essencialmente, de dois tipos, quais sejam: seixos de
arenitos róseos-intraclastos com formas subangulosas
a angulosas; e seixos de quartzitos extraclastos com
formas arredondadas e subarredondadas denotando
maior transporte ao local de deposição. De maneira
subordinada, afloram também no leito rochoso do rio,
camadas métricas de arenitos rosados.
Esses conglomerados foram formados durante
o Mesoproterozoico, tendo sido depositados há 1,4
bilhão de anos atrás (SILVA FILHO, 2010), e nele
estão armazenados os diamantes que, depois de se
desprenderem dessa rocha, foram transportados pelos
rios e acumulados nos aluviões dos rios atuais da
Chapada Diamantina, de onde foram historicamente
explotados nos tempos áureos do garimpo.
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SEDIMENTARES
46

GEOSSÍTIOS

Teepes da Fazenda Catavento do


Achado – Irecê

Cícero da Paixão Pereira maduros, estruturas bem desenvolvidas e de fácil


reconhecimento, independente de seu tamanho; e

O geossítio Fazenda Catavento está localizado a


cerca de 1 km a leste do povoado de Achado,
município de Irecê. O acesso até o local se dá através
senis, aqueles cuja estrutura característica se encontra
bastante comprometida e quase irreconhecível.
No geossítio Catavento do Achado, predominam
de estrada não pavimentada, a partir do referido os teepes do tipo maduro, mas ocorrem também, de
povoado, que fica situado às margens da BA-052. maneira subordinada, os tipos embrionários e senis.
As rochas sedimentares expostas neste local são Ciclicamente, sobreposta e sotoposta aos níveis
carbonatos pertencentes à unidade informal Nova dos tepees, ocorrem níveis centimétricos de lama
América (Bonfim et al., 1985) da formação Salitre, carbonática, com cor cinza escura, sem feições
constituída por camadas de laminitos microbiais ou de ressecamento e com a base de cada nível se
microbiolitos, fortemente dobrados, com eixo de amoldando à superfície das estruturas dos tepees e seu
dobramento na direção, aproximadamente, E-W, topo, geralmente plano.
e com estruturas de tepees, empilhadas ciclicamente
com aspecto bastante característico.
O termo tepee foi criado por Adams & Frenzel em
1950 para descrever estruturas semelhantes a um tipo
de tenda de índios americanos e que são comuns na
retaguarda das barreiras recifais do grupo Carlsbad,
de idade permiana, nas montanhas Guadalupe, no
Novo México, próximo da divisa com o Texas, nos
Estados Unidos.
Essas estruturas de tepees são encontradas em
sequências carbonáticas de diferentes idades, em
plataformas carbonáticas. Feições análogas estão
sendo formadas, atualmente, em zonas de inter-maré
a supra-maré, em ambientes recentes como no Golfo
Pérsico.
Embora a origem dos tepees esteja relacionada
ao fraturamento superficial, por ressecamento dos
sedimentos carbonáticos, existem também outros
tipos de mecanismos para a formação dessas estruturas
que podem ocorrer em diferentes escalas de tamanho,
desde escalas centimétricas, como é o caso dos tepees
da Fazenda Catavento, até escalas métricas, como se
observa no grupo Carsbad, no Novo México. Além
das diferentes escalas de tamanho, essas estruturas
apresentam grande complexidade em termos de
deformação.
Dependendo de sua morfologia, os tepees
podem ser classificados como: embrionários,
estruturas pouco desenvolvidas e pouco deformadas;
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SEDIMENTARES
48

GEOSSÍTIOS

Fazenda Arrecife – Várzea Nova

Narendra K. Srivastava estromatólitos colunares são menores (altura de 6 cm


Antonio J. Dourado Rocha e diâmetro de 2 cm) e não formam biohermas ou
biostromas, mas são encontrados dispersos de maneira

A Fazenda Arrecife consiste em um geossítio onde


ocorrem afloramentos de estromatólitos, com
relevância nacional, e está situado no município de
esparsa, em biohermas dos estromatólitos maiores.
A Fazenda Arrecife possui uma das mais impres-
sionantes exposições de biohermas de estromatólitos
Várzea Nova, na Chapada Diamantina, no estado da colunares, associados a tempestitos. Devido a sua
Bahia. preservação, esses estromatólitos possuem grande
A partir de Morro do Chapéu (BA), o acesso importância para vários estudos: a) identificação
é efetuado pela BA-426 passando pela cidade de de paleoambientes deposicionais; b) datações; c)
Várzea Nova (58,2 km) e para oeste por estrada não- interpretações paleogeográficas; d) prospecção de
pavimentada (18,2 km). microfósseis.
Neste local, em uma área com cerca de 5 km2, A natureza e a beleza dos afloramentos, situados
existem belas exposições de biohermas, associados em uma área pouco povoada e de fácil acesso, aliadas a
a tempestades, que podem ser vistos em corte e em sua importância para a geologia e para a paleontologia
planta, formados por estromatólitos colunares, que do Neoproterozoico, reforçam a necessidade de
ocorrem na formação Salitre, do grupo Una, com adoção de medidas para a sua preservação.
idade neoproterozoica.
Estas ocorrências foram inicialmente descritas por
Cassedanne, em 1964, quando realizava pesquisas
sobre mineralizações de chumbo e zinco. O referido
autor descreveu as biohermas de Collenia, sugerindo
idade do Pré-Cambriano Superior ou Cambriano. Em
1990, Srivastava estudou os estromatólitos da região,
abrangendo a formação Caboclo (Mesoproterozoico)
e Salitre (Neoproterozoico), investigando a taxono-
mia, bioestratigrafia e paleoambientes. Em 2002,
Srivastava & Rocha publicaram, no livro 1o do
SIGEP, a descrição deste geossítio. Entretanto ainda
há carência de um trabalho sistemático e específico
sobre esses estromatólitos.
Os estromatólitos são estruturas biossedimentares
formadas através de atividades microbianas, encon-
tradas em todos os continentes, principalmente em
rochas pré-cambrianas.
Na área da Fazenda Arrecife existem dois
tipos principais de estromatólitos carbonáticos,
pertencentes a dois grupos taxonômicos: no primeiro
caso, os estromatólitos são maiores e formam
biohermas dômicas a subesférica isoladas, próximas
uma das outras, com até 5 cm de diâmetro, associadas
a calcirruditos intraclásticos, depositados sob influên-
cia de ondas de tempestades; no segundo caso, os
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SEDIMENTARES
50

GEOSSÍTIOS

Morro do Pai Inácio e a O limite inferior da segunda sequência ocorre na


estratigrafia da Formação base de arenitos médios/grossos sigmoidais, sobrepostos
Tombador – Palmeiras a arenitos finos com influência de ondas e siltitos,
inseridos em um trato de sistemas transgressivos.
Um espesso pacote de siltitos representa uma possível
Marília Rodrigues Castro inundação máxima. Sucede uma progradação de arenitos
Cláudio Riccomini com intercalações de siltitos marinhos dentro do trato
Joel Carneiro de Castro de sistemas de mar alto. As paleocorrentes estão para
oeste e apresentam direções variando de N220° a N300°.

O Morro do Pai Inácio, considerado um dos


maiores ícones do Parque Nacional da Chapada
Diamantina, apresenta uma das melhores e mais
A terceira e quarta sequências são semelhantes à
segunda, com arenitos sigmoidais intercalados com
siltitos e, subordinadamente, arenitos com estratificação
completas exposições da porção inferior da formação cruzada tabular, intercalados com ritimitos. Superfícies
Tombador, grupo Chapada Diamantina. Situa-se ao de reativação podem ocorrer no topo dos os arenitos
norte da rodovia BR-242 (Km 231), fora dos limites do sigmoidais, além de estruturas flaser e drapes de argila.
Parque Nacional. O topo do morro está a 1.150 m acima A quinta sequência inicia-se com depósitos
do nível do mar e apresenta um desnível de 250 m. essencialmente fluviais, contendo algumas inter-
A formação Tombador, com espessura de quase 600 calações marinhas (trato de sistemas de mar baixo),
m, pode ser dividida em duas porções. A porção inferior e sobrepostos por depósitos fluviais e estuarinos
apresenta depósitos eólicos, fluviais, estuarinos, praiais intercalados (trato de sistemas transgressivo). Nesse
e marinhos, enquanto na superior são encontrados intervalo é notável a abrangência de sedimentos finos
depósitos de leques aluviais, fluviais, eólicos, praiais e para o topo do morro, possivelmente ligados a uma
marinhos de ondas de tempestade, formados numa transgressão marinha.
época de tectonismo mais ativo (Castro, 2003). Por fim, um novo limite de sequências, que consiste
No recorte do Morro do Pai Inácio visualizam- na sexta superfície, marca a passagem de depósitos
se seis quebras litofaciológicas, representadas por estuarinos/marinhos, para depósitos fluviais e eólicos.
superfícies de descontinuidade e que representam A sexta superfície é formada devido a um importante
discordâncias limitantes de sequências. Em um rebaixamento do nível do mar, provavelmente de
perfil estratigráfico levantado junto ao morro, com ordem maior, diferente dos quatro últimos limites,
aproximadamente 170 m, podem ser identificadas caracterizando o final da sedimentação costeira
cinco sequências, possivelmente de alta frequência, com influência de marés e ondas e a passagem para
que serão descritas a seguir. um ambiente mais continental. As paleocorrentes
Na base do perfil observam-se arenitos finos a dos arenitos eólicos indicam sentido para noroeste,
muito finos com laminações horizontal e cruzada enquanto que os arenitos fluviais apresentam
ripple drift de frente deltaica, pertencentes à formação paleocorrentes para sudoeste.
Guiné, sobrepostos abruptamente por arenitos médios Em síntese, a análise faciológica vertical do
a grossos com estratificação cruzada e siltitos (fluvial Morro do Pai Inácio possibilitou a identificação
marinho), pertencentes à formação Tombador. O e interpretação de cinco sequências, demarcadas
limite discordante entre as duas unidades é formado por seis superfícies descontínuas e constituídas,
em resposta a um rebaixamento do nível do mar. essencialmente, por sistemas costeiros ou transicio-
Sobreposto a este intervalo inicial, ocorre uma nais. O limite da primeira sequência (ou 1a superfície)
superfície transgressiva sobre a qual se notam arenitos ocorre no contato entre as formações Guiné e
intercalados com siltitos/ritimitos, de barras de maré Tombador, marcando a passagem de sistemas
(associação estuarina), formados em resposta à subida deltaico-marinho para fluvial-marinho. O limite da
do nível do mar, e inseridos em tratos de sistemas última sequência (ou 6a superfície) marca a passagem
transgressivo e mar alto. de sistemas costeiros para sistemas fluvial e eólico.
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SEDIMENTARES
52

GEOSSÍTIOS

Serra Branca das Araras e a


estratigrafia cretácea da Bacia do
Tucano – Jeremoabo

Bernardo Tavares Freitas formam os pedestais de mesas e mesetas de escarpas,


relativamente, mais recuadas e íngremes, que foram

A Serra Branca das Araras é parte do conjunto


de afloramentos rochosos da cabeceira de
um grande vale que drena a escarpa meridional do
esculpidas nos arenitos, conglomerados e lamitos da
formação Marizal.
A Serra Branca das Araras se insere no bioma
Raso da Catarina em direção ao vale do rio Vaza- da caatinga e o local é ainda o lar de espécies raras
Barris. Sua diferenciação como “serra branca” se dá de pássaros como a arara-azul-de-lear, o papagaio-
pelo contraste com os demais conjuntos de serras, da-cara-roxa e o urubu-rei. O local se insere na área
no contexto das escarpas do Raso da Catarina e do da Estação Ecológica (ESEC) Raso da Catarina, de
vale do rio Vaza-Barris, que é dominado por “serras modo que o acesso ao local deve ser autorizado pelo
vermelhas”. O geossítio aqui descrito foi definido no ICMBio de Paulo Afonso.
vale onde se acessa o arco da Serra Branca das Araras, Há rotas alternativas de acesso através de
que é conhecido localmente como Portão. propriedades rurais no vale do rio Vaza-Barris,
No referido contexto, as “serras vermelhas” são, a meio caminho entre as cidades de Canudos e
a grosso modo, constituídas por depósitos fluviais Jeremoabo. Neste último caso o acesso também deve
e eólicos da formação São Sebastião, mais antiga, ser autorizado pelos proprietários de terra locais.
depositada aproximadamente entre 145 e 120 milhões Ressalta-se que, por ser uma estação ecológica, a
de anos atrás. Já as “serras brancas” são dominadas por visitação não é permitida, com exceção de atividades
depósitos fluviais da formação Marizal, de idade mais de pesquisa e educação ambiental.
recente, tendo sido depositada entre 120 e 110 milhões
de anos atrás. Aparentemente, os depósitos fluviais
dessas duas unidades podem ter sido transportados
e depositados pelo sistema fluvial que fluiu naquela
área, durante boa parte do período Cretáceo.
Na localidade da Serra Branca das Araras e
adjacências – além de notáveis paredões rochosos,
mesas, mesetas, pilares, pináculos e arcos –, é
possível observar o contato entre essas duas unidades
geológicas, caracterizado por um paleorrelevo
de grande amplitude. Isso significa que antes da
deposição da formação Marizal, os depósitos pré-
existentes da formação São Sebastião foram erodidos
até um nível em que se encontravam litificados, ou
seja, transformados em rocha pela cimentação natural
dos sedimentos.
Essa superfície erosiva irregular que caracteriza
o paleorrelevo é uma discordância geológica erosiva
e representa a passagem de milhões de anos entre
a deposição das duas formações, que podem ser
observadas naquelas imediações. Ali, a alteração dos
arenitos avermelhados da formação São Sebastião
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SEDIMENTARES
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GEOSSÍTIOS

Socovão do Tonã e os carbonatos


do Raso da Catarina – Macururé

Bernardo Tavares Freitas seco do rio é um lajedo que constitui bela exposição
em planta do calcrete da Serra do Tonã.

N o noroeste do Raso da Catarina há um platô


escarpado bem definido, na região de Macururé,
conhecido como Serra do Tonã. A Serra do Tonã é
Além da serra, a paisagem do local é marcada
pela rusticidade da caatinga, característica do semi-
árido nordeste brasileiro e agregam importância à
um pequeno planalto com aproximadamente 25 km necessidade de valorização e conservação do local.
de extensão no seu eixo norte-sul e 15 km no eixo
leste-oeste. Adjacente à Serra do Tonã, a sudeste,
fica o povoado de Salgado do Melão. Este povoado
pode ser acessado pela rodovia federal BR-423,
que liga Macururé a Paulo Afonso por trecho não
pavimentado.
A Serra do Tonã é sustentada por rochas
carbonáticas cretáceas que recobrem arenitos
fluviais da formação Marizal. A ocorrência de
carbonatos cretáceos na bacia sedimentar do Tucano
é exclusiva da Serra do Tonã. Esses carbonatos são
predominantemente calcários laminados e calcretes,
que compõem camadas de espessura métrica. Os
calcários são interpretados como depósitos de lagos
dominados por atividade microbiana. Até o momento
não há registro de descoberta de fósseis de organismos
macroscópicos nessas rochas.
Os calcretes são interpretados como solos antigos,
produtos da alteração dos calcários e precipitação de
carbonato de cálcio no subsolo raso, sob clima seco. É
muito comum no calcrete a presença de fragmentos
angulosos de calcário de tamanhos variados. Os
carbonatos da Serra do Tonã foram referidos como
parte da formação Marizal, depois como formação
Tonã e, mais recentemente, como formação
Santana, que foi definida na Chapada do Araripe,
entre Pernambuco e o Ceará, sendo descrita como
carbonatos e pelitos fossilíferos daquela região.
A localidade conhecida como Socovão do Tonã,
próximo de Salgado do Melão, é um dos melhores
lugares para se observar o empilhamento dos arenitos
da formação Marizal sobrepostos pelos carbonatos da
Serra do Tonã.
O Socovão, onde foi definido o geossítio aqui
descrito, consiste em uma cachoeira instalada em um
rio intermitente com cerca de 10 m de altura. O leito
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SEDIMENTARES
56

GEOSSÍTIOS

Toca Velha: um paleocampo de


dunas eólicas e atual repouso das
Araras-Azuis-de-Lear – Canudos

Felipe Torres Figueiredo sedimentar do Tucano, onde foram depositados esses


arenitos.

S ete quilômetros ao sul do município de Canudos,


no nordeste do estado da Bahia, estão preservados
cânions sustentados por rochas cretáceas, que foram
De acordo com estudos recentes, a gênese da
rocha ali presente está relacionada ao transporte e
deposição por processos eólicos. A principal evidência
depositadas entre 145 e 100 milhões de anos atrás. Sua disto é a interpretação das estruturas encontradas nos
área de abrangência é de aproximadamente 100 km2 paredões e em afloramentos no chão, onde podem
e o local está inserido dentro da Estação Biológica de ser observados estratos cruzados de grande porte e
Canudos (EBC), gerenciada pela “ONG Biodiversitas”, séries de estratificações plano-paralelas, que são o
que conduz um programa para conservação in situ da produto da migração de dunas, pela ação dos ventos.
arara-azul-de-lear (Anodorynchus leari). Deste modo, a área em questão representa um antigo
Os cânions constituem exuberantes cabeceiras de campo de dunas, semelhante àqueles que ocorrem
drenagem, hoje intermitentes, mas que entalharam atualmente em diversas paisagens desérticas.
a rocha num passado recente, formando vales Considerando a sua inserção na EBC, pode-
profundos e escarpas com paredões verticais de até se dizer que o geossítio se encontra protegido.
120 m de altura. A rocha encontrada no local consiste No entanto, pesquisas sistemáticas sobre a sua
em um arenito avermelhado, também conhecido formação são necessárias para a devida valorização
como “Arenito Cocorobó” em referência ao nome da do patrimônio geológico local, contribuindo para
vila que deu lugar a cidade de Canudos. Hoje esses agregar valor ao patrimônio natural desta unidade de
depósitos estão incluídos na formação São Sebastião, conservação.
do grupo Massacará.
O geossítio aqui descrito consiste no local
conhecido pelos habitantes da região como “Toca
Velha das Araras” e representa um importante sítio
geológico, porém mais conhecido atualmente por
servir de abrigo para a arara-azul-de-lear e também
por preservar uma vegetação de caatinga, característica
do semiárido brasileiro, que se apresenta com vários
tipos de cactáceas.
Ao olhar de um visitante leigo, os paredões
rochosos apresentam riscos e desenhos encantadores,
porém um tanto indecifráveis. Já ao olhar do geólogo,
cada paredão traduz sua gênese antes da erosão que
delineou suas formas.
Para entender esse capítulo da história geológica
é preciso voltarmos ao período da separação do
supercontinente Pangea, e consequente formação
do Oceano Atlântico, quando houve uma tentativa
de rompimento da crosta continental, na região dos
atuais estados da Bahia e Sergipe, dando origem a
uma depressão sedimentar conhecida como bacia
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SEDIMENTARES
MINERALÓGICOS E
PETROLÓGICOS
60

GEOSSÍTIOS

O “Granito Rosa de Calcita Laranja”


– Santa Luz

Débora Correia Rios Rochas carbonáticas são descritas como perten-


Ivanara Pereira L. Santos centes à unidade sedimentar do GBRI e a tendência
Antônio J. Dourado Rocha geral é associar a calcita laranja a este grupo de
rochas. O relevo aplainado e a cobertura vegetal do

O mercado de rochas ornamentais tem uma


nomenclatura própria, que divide os tipos de
rochas em três grupos: os “granitos”, os “mármores”,
tipo caatinga, em conjunto com a fácil alteração da
calcita em superfície, que tende a perder a cor laranja
e gerar solos argilo-arenosos de pouca espessura que
e os “arenitos e as ardósias”. No geral, estas recobrem os afloramentos, dificultam a identificação
denominações refletem os grupos de rochas: “ígneas”, das ocorrências. Em função disto, os contatos e
“metamórficas” e “sedimentares”. Contudo, grandes a relação com a geologia local são ainda pouco
discrepâncias podem surgir como chamar de granito investigados, sendo prematuro atribuir a esta rocha
uma rocha quase que unicamente constituída por uma origem sedimentar.
calcita. O “granito rosa de calcita laranja” que aflora Ocorrências similares em outros locais do globo
nos arredores da sede municipal de Santa Luz, no têm sido relacionadas a depósitos carbonatíticos
nordeste do estado da Bahia, é um bom exemplo. (ígneos) que ocorrem associados à rochas sieníticas,
Rochas carbonáticas podem ter origem sedimentar lamprofíricas e a importantes mineralizações de ouro,
ou ígnea. Nos carbonatos de origem sedimentar a calcita diamantes e elementos do grupo da platina (PGEs).
é geralmente o mineral mais abundante, ocorrendo A geologia regional no nordeste do estado da Bahia
frequentemente com coloração esbranquiçada, em é plenamente compatível com esta origem (Rios et
rochas praticamente monominerálicas. Quando me- al., 2009). Contudo, devido à cobertura de solo na
tamorfizadas estas rochas são transformadas em região, desconhece-se a amplitude desses depósitos
mármores. e a inexistência de estudos isotópicos impede a sua
A ocorrência em Santa Luz é uma rocha constituída caracterização como uma rocha ígnea. Veios de calcita
quase unicamente por calcita, com cor laranja intenso carbonatítica cortam as rochas sieníticas de Morro do
e exibindo faixas intercaladas na cor branca. A cor Afonso, localizadas a norte desta ocorrência.
intensa e incomum representa um forte atrativo para Adicionalmente, os primeiros estudos petrológicos
o mercado ornamental, conferindo-lhe o caráter e litogeoquímicos (Rios, com. oral) sugerem a exis-
de “tipo exportação”. O geossítio consiste em uma tência de flogopititos nos contatos da calcita laranja
pedreira com lavra a céu aberto, que utiliza a técnica com a rocha encaixante, reforçando a possibilidade de
do fio helicoidal no corte, a fim de minimizar a perda tratar-se de um carbonatito.
de material, que, devido ao caráter monominerálico e Além do trabalho artesão in situ, os visitantes
a baixa dureza da calcita, tende a se fraturar e quebrar, podem apreciar a aplicação dessas rochas em
dificultando a extração dos blocos (Rios et al., numerosas construções na cidade de Santa Luz. O
2005). Os resíduos da pedreira têm sido aproveitados interesse principal deste sítio está no caráter exótico
pela população local na confecção de pequenas peças e raro da sua mineralogia e petrologia, sendo possível
de artesanato mineral, como também para brita ou sua utilização para fins científicos e pedagógicos.
para a ornamentação de jardins.
A rocha aflora em uma área com ocorrência
de gnaisses e migmatitos do complexo Santa Luz,
nas proximidades do seu contato com as rochas
metavulcanossedimentares do greenstone belt do rio
Itapicuru (GBRI).
61

MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS
62

GEOSSÍTIOS

Kimberlitos Diamantíferos Braúna- O campo kimberlítico Braúna possui idade


Nordestina neoproterozoica de alojamento de 642 ± 6 Ma
(Donatti-Filho et al., 2012), provavelmente re-
lacionada à fragmentação do supercontinente Rodínia
José Paulo Donatti-Filho (Donatti-Filho et al., 2011). Essa idade
fornece a evidência de uma manifestação kimberlítica

O s kimberlitos Braúna estão localizados na porção


nordeste do Cráton do São Francisco, estado
da Bahia, no município de Nordestina. O geossítio
neoproterozoica no Brasil e, portanto, define o
kimberlito Braúna como sendo representante da fonte
primária de diamantes mais antiga conhecida no Brasil,
aqui proposto consiste no pipe que vem sendo alvo conferindo uma relevância científica nacional ao local.
de extenso trabalho de exploração mineral, incluindo Os kimberlitos Braúna possuem afinidade geo-
o estudo de minerais indicadores em solo e geofísica química com os orangeítos sul-africanos e com alguns
terrestre, conduzidos desde a década de 90 pelas kimberlitos transicionais descritos no mundo (e. g.
empresas De Beers Brasil Ltda., Majescor Resources Rússia, África do Sul e Venezuela). Esta relação,
Inc., Vaaldiam Resources Ltd., e, atualmente, Lipari somada às composições isotópicas enriquecidas
Mineração Ltda. Nesse local foram escavadas trin- de Sr-Nd, sugerem para o kimberlito uma origem
cheiras e, mais recentemente, um shaft com 100 m no manto litosférico cratônico, heterogeneamente
de profundidade. O conjunto de pesquisas realizadas metassomatizado, e com pouca influência direta
culminou no descobrimento do campo kimberlítico da astenosfera (Donatti-Filho et al., 2012).
Braúna, que é composto por três pipes e dezenove Entretanto, fluidos do manto convectivo mais profun-
diques alinhados na direção N30W, produto da do, ao longo de perturbações termais, podem ter pré-
reativação de falhas paleoproterozoicas durante o condicionado a região de formação dessas rochas na
Neoproterozoico (Donatti-Filho et al., 2012). base do cráton, antes do magmatismo kimberlítico neo-
Os corpos kimberlíticos encontram-se intrudidos, proterozoico ocorrer (Donatti-Filho et al., 2012).
exclusivamente, no batólito granodiorítico Nordes- A coleta de xenocristais de zircão, herdados
tina, que possui idades entre 2.155 a 2.132 Ma pelo kimberlito das rochas encaixantes durante sua
(Donatti-Filho et al., 2013), sendo este uma ascensão, revelou que apenas rochas paleoproterozoicas
das ocorrências volumetricamente mais importantes do greenstone belt do rio Itapicuru contribuíram com
de granodioritos sintectônicos do domínio litológico material xenolítico, sem qualquer contribuição da cros-
do greenstone belt paleoproterozoico do rio Itapicuru. ta arqueana (Donatti-Filho et al., 2010, 2013).
Testes de teor revelaram que tanto os pipes quanto
os diques são diamantíferos (Donatti-Filho et
al., 2008).
A rocha foi definida inicialmente como sendo
um flogopita kimberlito macrocristalino, de fácies
hipoabissal, em zona de raiz complexa (Pisani et al.,
2001). A variação faciológica é ampla e heterogênea,
sendo composta, basicamente, por textura afanítica,
porfirítica, segregacionária e brechada (Donatti-
Filho et al., 2012). A mineralogia primária dos
kimberlitos é composta por olivina, flogopita, espinélio,
ilmenita, perovskita, apatita, bem como fases tardias,
representadas pela cristalização de serpentina e
carbonato. Ademais, xenocristais de olivina, Cr-diopsídio
e granada piropo também compõem a mineralogia da
rocha (Donatti-Filho et al., 2012).
63

MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS
64

GEOSSÍTIOS

Safirinas do Rio Vermelho –


Salvador

Jailma Santos de Souza plagioclásio, biotita vermelha, além de espinélio


e cordierita formando simplectitos (estruturas de

A safirina é um aluminosilicato de magnésio, da


classe dos inossilicatos. De ocorrência relativa-
mente rara, é encontrada em rochas ricas em alumínio
descompressão). Nesta rocha, a safirina ocorre tanto
sob a forma de cristais isolados, como em simplectitos
com o ortopiroxênio e biotita vermelha.
e pobres em sílica, submetidas a metamorfismo Os estudos sobre as condições do metamorfismo
regional ou de contato, mas sempre associada a altas nas rochas de Salvador indicam que a granulitização
temperaturas. atingiu as condições de 7,5 - 9 kbar e 840 - 900ºC
Na praia da Paciência, situada no bairro do Rio e que o reequilíbrio metamórfico dessas rochas,
Vermelho, na cidade de Salvador, ocorre um geossítio, na fácies granulito, ocorreu concomitantemente às
de fácil acesso, onde ocorrem esses minerais. Nesse deformações dúcteis.
local aflora uma pequena parte do cinturão Salvador- Ressalta-se que, após as pesquisas realizadas na
Esplanada e apresenta uma notável diversidade de década de 60, somente em 2005 essas rochas voltaram
rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. a ser alvo de estudos científicos. Essa retomada deve-
Esse afloramento, em geral, apresenta uma se à importância da safirina na caracterização das
coloração cinza esverdeada e aspecto homogêneo, o condições do metamorfismo (pressão e temperatura)
que torna difícil visualizar o contato entre as rochas das rochas que afloram em Salvador, que contribuirá
metamórficas, assim como suas estruturas. No para o entendimento dos processos geológicos
geossítio observam-se dois litotipos metamórficos, envolvidos na orogênese paleoproterozoica na
um de composição tonalítica (plagioclásio, quartzo, Bahia, conferindo assim uma relevância científica ao
ortopiroxênio, clinopiroxênio e biotita) e o outro de geossítio.
composição kinzigítica (feldspato potássico, quartzo,
granada clinopiroxênio, ortopiroxênio, cordierita,
sillimanita, plagioclásio, biotita vermelha, espinélio
e minerais opacos). Ambos foram submetidos a
condições da fácies granulito e foram deformadas por,
pelo menos, três fases deformacionais dúcteis.
As rochas ígneas são representadas por inter-
penetrações de magma basáltico em granítico e
vice-versa, caracterizando uma mistura mecânica
heterogênea do tipo minglin.
As rochas sedimentares são constituídas por: (a)
conglomerados com matriz arenosa/carbonática,
com seixos predominantemente de granulitos, bem
arredondados e pouco esféricos e, (b) arenito médio a
grosso, amarelos e fraturados.
A rocha portadora de safirina consiste em uma
lente métrica encravada nos granulitos tonalíticos e, Fotomicrografia mostrando simplectito de ortopiroxênio
parcialmente, coberta pelo regolito (solo residual + e safirina
rocha alterada), geralmente de cor avermelhada. Sua
mineralogia contém mesopertita, quartzo, granada,
orto e clinopiroxênio, safirina, cordierita, sillimanita,
65

MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS

Localização da ocorrência de safirina (seta branca) e detalhe da mistura de magma (mingling).

Mapa esquemático do afloramento da praia da Paciência.


66

GEOSSÍTIOS

Associação Sienítico-Lamprofírica No geossítio proposto, localizado a 24,5 km da


Ultrapotássica de Morro do Afonso sede municipal de Queimadas, sentido nordeste,
– Nordestina a rocha corresponde à fácies sienítica-monzonítica
leucocrática porfirítica, que representa quase 80% das
rochas aflorantes. A rocha é composta prioritariamente
Débora Correia Rios (> 80%) por fenocristais centimétricos a decimétricos
Ivanara Pereira L. Santos de feldspato alcalino, ligados por uma matriz máfica
Herbet Conceição melanocrática de natureza lamprofírica. Localmente,
Antônio J. Dourado Rocha podem ser observadas estruturas de fluxo magmático,
marcadas pelo alinhamento dos pórfiros de feldspato

G randes cristais têm se tornado uma das mais


importantes feições do patrimônio geológico
devido ao caráter geocientífico para reconstruções da
alcalino, acumulações centimétricas de minerais máficos,
localizadas entre estes pórfiros, e figuras de emulsão,
sugestivas de um processo de mistura entre dois magmas
história da Terra, bem como pelo interesse pedagógico, (mingling). Em contraste, onde filões lamprofíricos
como parte importante para o desenvolvimento de se fazem presentes, os fenocristais são arrastados pelo
conceitos geológicos básicos, e ainda pelo seu caráter magma máfico em condutos magmáticos, dispostos
único e exótico. Neste sentido, o plutão sienítico de segundo o alinhamento e direção deste fluxo.
Morro do Afonso (PSMA), é uma ocorrência única, Os fenocristais que são compostos por ortoclásio
extremamente didática, que favorece a apreciação (1-5 cm; ocasionalmente 15 cm), localmente amazo-
de magmas originados no manto terrestre, feições nita, apresentam forte zoneamento composicional, com
cumuláticas, texturas de exsolução, zoneamento e múltiplas zonas limitadas por inclusões cristalinas; são
mistura magmática, tudo em um único afloramento, euédricos, pertíticos e geminados segundo as leis Carlsbad
permitindo classificá-lo como um geossítio. e Manebach-Periclina. Possuem formas tabulares e
O PSMA é um pequeno corpo elipsóide com cerca prismáticas e se desenvolvem sobre fragmentos de
de 12 km2, ligeiramente alongado no sentido N-S, cristais precoces, zonados, corroídos, também de
que possui grande variação litológica e textural, que feldspato alcalino. Associada aos fragmentos de
reflete a complexa mistura, entre magma lamprofírico cristais e às feições de corrosão, ocasionalmente
e sienítico, que ocorreu na câmara magmática. Com presentes, essa textura sugere transporte e evidencia
2,11 Ga (Rios et al., 2007) o maciço possui estrutura uma dinâmica complexa na câmara magmática,
interna marcada por uma foliação de fluxo magmático envolvendo provavelmente a presença de convecções.
e com altos mergulhos (> 60º) em direção ao centro. As feições apresentadas por esses cristais são descritas
Seu formato circular-elipsoidal e a ausência de feições na literatura como de grande significado para o
deformacionais de suas rochas limitam o final da patrimônio geológico (Brocx & Semeniuk,
atuação da orogênese transamazônica no Cráton do 2010).
São Francisco (CSF). A matriz que liga estes pórfiros é de composição
As transições litológico-texturais podem ser lamprofírica ultrapotássica, mesocrática, apresentando
gradacionais ou bruscas, sendo reconhecidas granulometria fanerítica fina a média, com presença
quatro fácies petrográficas principais: (i) sienítica- de fenocristais milimétricos de clinopiroxênio zonado
monzonítica leucocrática porfirítica; (ii) sienítica- e flogopita. Veios sieníticos-lamprofíricos hospedam
monzonítica mesocrática porfirítica; (iii) sienitos a mineralização de ouro no greenstone belt do rio
ortocumuláticos; e um (iv) amplo cortejo filoniano, Itapicuru (GBRI).
que inclui lamprófiros de afinidade lamproítica, diques A disposição dos grandes cristais, acima referidos,
carbonatíticos, e veios graníticos tardios (Rios, seus tamanhos, formas, composições (ocorrências
1997). A quantidade dos fenocristais de feldspato de amazonita), zoneamentos, geminações, a clássica
varia gradualmente de 20% na fácies leucocrático, a associação sienito-lamprófiro-ouro, a presença dos
mais de 80% na fácies ortocumulático. veios carbonatíticos, as feições de mistura de magmas,
67

MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS

classificam este importante geossítio como de


interesse científico e didático, com especial atenção
para o seu conteúdo petrológico. Existe um forte
apelo à sua geoconservação, em especial por ser um
geossítio de fácil acesso a grandes grupos e a rocha
estar ainda exposta in situ.
A beleza e a singularidade das rochas do
PSMA resultam em sua explotação como pedra
ornamental, sendo comercializado com diferentes
nomes, recentemente como “Granito Café Royal”.
O atributo royal reflete a realeza e singularidade de
suas rochas e reiteram a necessidade de ações focadas
na sua conservação.
68

GEOSSÍTIOS

As Almofadas de Maria Preta


– Santa Luz

Débora Correia Rios classificação leva em consideração os seguintes fatos:


Ivanara Pereira L. Santos i) esse afloramento é o único exemplo conhecido
Antônio J. Dourado Rocha de pillow lavas no GBRI; ii) grau de conhecimento
científico; e iii) estado de conservação.

D errames basálticos em ambientes subaquáticos


resultam em uma textura peculiar conhecida
como pillow lavas, ou lavas em almofadas,
Apesar de sua importância, beleza e singularidade,
este geossítio não possui proteção e desde a sua
descoberta sofre intensa intervenção antrópica para
desenvolvidas quando o magma de alta temperatura fins científicos. A necessidade de proteção se faz
entra em choque térmico com as águas oceânicas. As urgente, devido à vulnerabilidade real, proporcionada
almofadas são caracterizadas por sua distribuição em pela sua limitada extensão e pelas condições favoráveis
sequências estreitas e descontínuas, com tamanhos de observação, mesmo sendo rochas de fragilidade
centimétricos, mas que podem alcançar diâmetros razoável.
métricos. Se o “sertão vai virar mar”, como propõe o dito
No sertão do estado da Bahia, no município de popular, não sabemos ainda, mas a presença dessas
Santa Luz, existe um afloramento típico dessa textura estruturas testemunha que, com certeza, o “mar virou
situado na região de Maria Preta. As almofadas sertão” nessa região da Bahia.
ocorrem de forma restrita e limitada ao longo das
margens do rio do Peixe, com acesso relativamente
fácil. Estas almofadas representam a parte superior
de uma crosta oceânica e sua formação é melhor
compreendida a partir da observação de vulcões
ativos.
De acordo com Kishida (1980), essas rochas
correspondem à unidade metavulcânica máfica basal
da sequência vulcanossedimentar do greenstone belt do
rio Itapicuru (GBRI).
Silva (1984) caracteriza estas pillows como um
basalto toleiítico do tipo E-MORB com cerca
de 2,2 Ga. As almofadas possuem diâmetro de
aproximadamente 15 cm a 2 m, apresentando feições
de resfriamento brusco, como margens afaníticas e
fraturas radiais. O material inter-pillow é composto
por basalto afanítico, tendo sofrido espilitização pelo
evento metamórfico de fundo oceânico.
O geossítio é objeto de interesse científico e
pedagógico, principalmente nas áreas da geoquímica,
petrologia e tectônica, sendo testemunho do vulca-
nismo paleoproterozoico, um dos poucos exemplos
bem preservados no estado da Bahia.
A quantificação deste geossítio, realizada através
do aplicativo Geossit, elaborado pela CPRM, revelou
que o mesmo possui relevância internacional. Essa
69

MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS

Visão geral do afloramento em almofadas às margens do rio do Peixe. (Foto cedida gentilmente por Burgos, C.M.G.)

Detalhe da textura das pillow da Fazenda Rêbolo. (Foto cedida gentilmente por Silva, M.G.)
70

GEOSSÍTIOS

Komatiítos com spinifex da Serra do


Eixo – Brumado/Tanhaçu

José Carlos Cunha sill ultramáfico; (ii) komatiíto maciço serpentinizado


ou talco-serpentina-tremolitizado, com pseudomorfos

A Serra do Eixo é um importante acidente


geográfico situado no limite dos municípios de
Brumado e Tanhaçu, na porção centro-sudoeste do
de cúmulos de olivina contendo, às vezes, intercalações
de níveis de granulação mais fina, com espessuras
centimétricas, presumidas de serem margens resfriadas
estado da Bahia. de topo e base dos derrames; (iii) leitos de vários
Com cerca de 7 km de extensão, a Serra do Eixo derrames de komatiíto intercalados, serpentinizados ou
delineia o contorno sul e sudoeste do greenstone serpentina-tremolitizados, geralmente com duas fácies
belt Umburanas, um testemunho de sequências texturais bem definidas, sendo uma delas com textura
vulcanossedimentares arqueanas, com idades variando spinifex laminar, tipo plano-paralela e triangular com
entre 2,7 a 3,15 Ga (CUNHA & FRÓES, 1994), lâminas de tamanhos variados, desde alguns milímetros
afetadas por intensas deformações e metamorfismo até mais do que vinte centímetros e a outra fácie apresenta
com intensidade variando da fácies xisto-verde a textura grosseira, com aparente textura fragmentar, ou
fácies anfibolito e intrudidas por granitos arqueanos e mesmo constituindo brechas de fluxo e auto-clastitos
paleoproterozoicos. de zonas de topo de derrames; e (iv) komatiítos finos,
Nos flancos da extensão sul da Serra do Eixo tipo margens resfriadas, intensamente deformados,
estão situadas as principais ocorrências dos derrames serpentina-clorita-tremolitizados ou cloritizados e
de komatiítos do greenstone belt Umburanas (GBU) xistificados.
(CUNHA et al., 1994). O geossítio aqui descrito está
situado na porção central desses flancos, onde foram
observadas as melhores exposições desses derrames,
com texturas spinifex e estruturas de almofadas bem
preservadas.
A Serra do Eixo é uma zona periclinal na porção
sul do GBU, em arranjo sinformal e com orientação
E-W. Os derrames de komatiíto afloram em ambos
os flancos da serra, formando faixas com largura
entre 300 e 600 m, limitados e atravessados, nos
níveis mais inferiores, por lâminas bastante cisalhadas
dos maciços graníticos Umburanas e Serra do
Eixo. No topo, ao longo da cumeada desta serra, os
derrames são limitados pela sequência de quartzitos,
metaconglomerados e metacherts recristalizados, da
unidade inferior do GBU.
As observações realizadas sobre os afloramentos da
faixa de komatiítos da Serra do Eixo apontaram que,
em uma progressão da base para o topo, tentativamente
reconstituída, observa-se a seguinte sucessão: (i)
serpentinito (peridotito/dunito) e metagabro associados,
com vestígios de textura cumulática, caracterizando uma
fácies de diferenciação e acumulação basal de um derrame Figuras A e B - Seção geológica e coluna estratigráfica
idealizada da Serra do Eixo.
komatiítico, ou uma fase intrusiva diferenciada de um
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MINERALÓGICOS E PETROLÓGICOS

Foto 1 - Vista de sul para norte da Serra do Eixo em imagem de satélite.

Fotos 2 (A-B-C-D) - Imagens de exposições de komatiítos com textura spinifex e com almofadas.
TECTÔNICOS
74

GEOSSÍTIOS

Duplex compressional – Salvador

Simone Cerqueira Pereira Cruz de formação com temperaturas acima de 750ºC e


Luiz César Corrêa Gomes pressões acima de 7 kbar, nesse caso compatível com
profundidades maiores do que 21 km.

D uplexes compressionais são estruturas geológicas


associadas com a edificação de cadeias de
montanhas que, dentre outros contextos geológicos,
Um aspecto relevante do geossítio da Vila Brandão
é a presença de estruturas geológicas que vêm se
somar às muitas outras já relatadas na literatura
podem estar relacionadas com colisões entre placas nacional e internacional e que sugerem a existência
tectônicas continentais, ou seja, com a formação de de correlações geológicas importantes entre Brasil e
orógenos. A cidade de Salvador, bem como toda a África. Os duplexes, envolvendo os litotipos dos CISC
porção leste do estado da Bahia, foi edificada sobre e CSE, mostram a continuidade desses orógenos
um arcabouço geológico que guarda registros da em direção ao continente africano. Desta forma, tal
existência de um orógeno de idade em torno de 2,2 - como também sugerido por Feybesse (1996), o Brasil
2,05 Ga (BARBOSA et al., 2012). Este orógeno, que e África estiveram, e estão, unidos não só por raízes
pode ser subdividido em dois compartimentos, culturais, mas também em cenário geológico que
denominados de Itabuna-Salvador-Curaçá (CISC) remonta os tempos de 2,2 - 2,05 Ga atrás.
e Salvador-Esplanada (CSE), apresentam elementos Além da bela exposição do duplex no geossítio
geológicos que sugerem uma forte semelhança com da Vila Brandão é possível encontrar um rico acervo
exemplos recentes, tais como a cadeia de montanhas de estruturas deformacionais que servem como
dos Himalaias, que se encontra hoje em plena elementos didáticos e de curiosidade para demonstrar
atividade tectônica. como “nasce” uma cadeia de montanha em um
Para a formação desses orógenos pelo menos orógeno. Além disso, o exuberante afloramento está
quatro placas tectônicas com núcleos arqueanos diante de um dos mais belos cartões postais da cidade
estiveram envolvidas nas colisões continentais, de Salvador, que é a vista para o pôr do sol na Baía de
denominadas por Barbosa & Sabaté (2002) como: Todos os Santos e para a região do Recôncavo Baiano.
Serrinha, Gavião, Itabuna-Salvador-Curaçá e Jequié.
Nesse orógeno, as deformações iniciais são marcadas
pela formação de estruturas compressionais, dentre
elas, os duplexes. Na cidade de Salvador, o principal
afloramento que registra essa estrutura consiste em
um geossítio que está localizado na Vila Bandão,
cujo acesso, por terra, se dá pelo Largo da Vitória.
Por mar também é possível ter acesso ao local, seja
saindo do Porto da Barra, ou da Gamboa, no bairro
Comércio. Os registros estruturais desse afloramento
sugerem que, não só as quatro placas já reconhecidas
por Barbosa & Sabaté (2002) estiveram envolvidas
na estruturação dos CISC e CSE, mas uma quinta
placa colidiu com as demais. Com a separação
entre o Brasil e a África essa placa está, atualmente,
localizada na África, mas, em torno de 2,2 - 2,05 Ga,
ela colidiu com a placa Serrinha, no sentido sul para
norte. A mineralogia encontrada no afloramento, e
associada com a formação do duplex, sugere condições
75

TECTÔNICOS
76

GEOSSÍTIOS

A falha de Santo Onofre na mina


Escurial – Ibotirama

Herman S. Cathalá Loureiro produção de brita. A brechiação desse material na


Reginaldo Alves dos Santos mina facilita seu desmonte.
Sondagens verticais realizadas até 50 m de pro-

A falha de Santo Onofre é a estrutura mais


proeminente ao longo da serra do Espinhaço
Setentrional no estado da Bahia. Essa designação foi
fundidade, comprovam a continuidade da lente até
essa profundidade, cujos teores aproximados são da
ordem de 18,2% de MgO e 28,59% de CaO.
mantida para atender a vários trabalhos anteriores A lavra é feita em bancadas e o material é
que assim a denominaram e a classificaram como transportado para a usina de beneficiamento, situada
falha inversa, de vergência para oeste, limitando a nas proximidades de Ibotirama. A produção da
leste os metassedimentos do grupo Santo Onofre, mina é comercializada, principalmente, na região de
de idade meso a neoproterozoica, das rochas do Barreiras-BA e no sul do Piauí, onde o dolomito é
embasamento gnáissico-migmático arqueano a oeste. empregado, principalmente, como corretivo de solo e
Entretanto, cartografia geológica na escala 1:100.000 como filler na construção de estrada asfaltada.
realizada pela CPRM (2008), definiu a falha como A mina de dolomito de Escurial, por conter
uma zona de cisalhamento transcorrente, na direção informações cinemáticas e também por representar um
NWW-SSE, dúctil-rúptil, com atitude subvertical ponto onde a falha coincide com a zona do lineamento
e indicadores cinemáticos definindo movimento Espinhaço, constitui um importante geossítio. A área da
transcorrente oblíquo-sinistral. mina é cortada longitudinalmente pela falha, alterando
A importância metalogenética da falha de Santo a concentração do minério, que passa a apresentar uma
Onofre está no potencial de circulação e concentração composição de dolomito silicoso, com menor teor de
de fluidos mineralizantes, nas proximidades das Mg, que não possui interesse comercial como corretivo
zonas de cisalhamento, provocando transformações de solo. Este fato permitiu a preservação de um
relevantes nas litologias cortadas por esta estrutura, domínio da mina que constitui um geossítio dotado de
a exemplo do que ocorre em diversos locais, como grande relevância didática e científica.
na região de Ibotirama, onde metapelitos brechados
são cimentados por minério de manganês; ou no
aproveitamento da pedreira de rochas ornamentais
hornfélsicas, da formação Pajeú; e também na
variação dos teores da mina de dolomito da
Mineração Dolomito Indústria e Comércio de
Calcário Ltda.
A mina de dolomito é conhecida como Jazida de
Escurial, que fica situada no município de Ibotirama e
está em atividade desde 1992. A lavra é desenvolvida
em uma lente de metacarbonato da formação Serra
da Garapa, do grupo Santo Onofre, com cerca de
5 km de comprimento, aproximadamente, por 200 m
de largura. A rocha tem cor bege a cinza e possui
foliação N-S e mergulho subvertical.
A lente de dolomito possui uma faixa milonitizada,
com cerca de 10 m de largura, que modificou o teor
da rocha para um dolomito silicoso, utilizado na
77

TECTÔNICOS
HISTÓRIA DA
MINERAÇÃO
80

GEOSSÍTIOS

Bairro Luís Santos, Xique Xique de


Igatu – Andaraí

Ricardo Galeno Fraga de Araújo Pereira a serra. Ao longo do rio ocorrem boas exposições do
conglomerado polimítico da formação Tombador,

T rata-se de um antigo bairro da vila de Xique


Xique de Igatu, distrito do município de Andaraí,
que nos tempos áureos do garimpo representava um
que abriga os diamantes, mais tarde transportados
pelas drenagens e formando os depósitos aluvionares
recentes, em função da alteração intempérica destas
dos locais mais povoados da região. Estima-se que a rochas.
vila de Igatu chegou a abrigar, no final do século XIX, O Bairro Luís Santos é um local onde os tempos
uma população de mais de 7.000 pessoas (Centro histórico e geológico se entrelaçam e a paisagem
Cultural Chic Chic, 2009), das quais grande parte resultante serve como um ícone da necessidade de uso
residia no Bairro Luís Santos. responsável dos elementos da geodiversidade.
Com a escassez do diamante na região e a saída
da população, o bairro foi abandonado e passou a
ser minerado. Atualmente, o geossítio concentra
um conjunto de ruínas de casas construídas com os
arenitos rosados da formação Tombador. Desse local,
é possível avistar o leito assoreado do rio Coisa Boa,
no planalto situado no sopé da serra do Sincorá,
instalado sobre a bacia geológica Una-Utinga.
Este cenário ilustra uma paisagem cultural, onde
é possível observar a interação do homem com o
meio natural, extraindo recursos da geodiversidade
e “moldando o relevo” conforme a sua necessidade,
constituindo um ícone da paisagem tecnogênica na
Chapada Diamantina, representativo da história da
mineração no estado da Bahia. O assoreamento do
rio Coisa Boa, resultante da atividade pretérita de
garimpo, registra os resultados dessa interação cerca
de 200 anos depois.
Esses fatos conferem uma importância histórica ao
local, que somada à sua relevância turística e didática,
fazem do Bairro Luís Santos um local de destaque na
paisagem da Chapada Diamantina.
Com o objetivo de proteger este geossítio, a
Prefeitura de Andaraí criou o Parque Urbano de
Preservação Histórico Ambiental e de Lazer de
Igatu. Está prevista a construção de um centro de
visitantes, a instalação e aparelhamento de percursos
para pedestres, a exposição de artefatos do garimpo e
a valorização das ruínas garimpeiras.
Através de um conjunto de trilhas ali presente é
possível percorrer o leito rochoso do rio Coisa Boa,
ou ter acesso a outros bairros abandonados em meio
81

HISTÓRIA DA MINERAÇÃO
82

GEOSSÍTIOS

A Vila do Ventura – Morro do


Chapéu

Antonio J. Dourado Rocha dos Correios, duas escolas, estadual e municipal,


Associação dos Empregados no Comércio, com uma

N o período entre 1841 e 1932, o garimpo de


diamante teve grande influência socioeconômica
no município de Morro do Chapéu. Os principais
boa biblioteca, clube de futebol, teatro e capela, com
invocação de N. S. da Conceição. Em tempos também
já teve uma sociedade philarmônica. O distrito já
locais de garimpagem foram a sede municipal, a serra chegou a dar 10 contos de renda municipal, sendo
do Martim Afonso e, destacadamente, os arredores que hoje está reduzido à metade, assim como está o
da vila do Ventura, que é hoje um ícone dos tempos seu desenvolvimento. Tem uma população de 5.600
áureos dessa atividade na região e abriga o geossítio habitantes, dos quais 1.600 na sede do distrito.
aqui descrito. A produção era, principalmente, de Edição de 07.04.1929 ­­­­­­­­­­­­­­­­– Tipos às vezes capazes
carbonado, que, por sua dureza, era utilizado em de enfrentar qualquer empresa, vão para os garimpos
diferentes países para a fabricação de ferramentas de a pelejarem, durante meses e anos nessa triste vida,
cortes e coroas para sondas de perfuratriz de rochas. perdendo o tempo e a mocidade, que deveriam ser
Os garimpos eram trabalhados nos aluviões melhor aproveitados. Os fornecedores por sua vez se
dos rios e em barrancos nos morros, sendo que no queixam do grande prejuízo pelo capital fundeado.
Ventura existia um grande número de túneis, alguns O garimpo em nosso município, pode se trabalhar
ainda passíveis de visitação e servindo de exemplo dos uma semana por outra, quando por acaso estiverem
métodos empregados no passado. desocupados dos afazeres profissionais, e não como
Qualquer pessoa podia ser o fornecedor de um faz muita gente, que se ocupa eternamente nessa
garimpeiro. Quando o garimpeiro encontrava um enganadora vida.
diamante, o ganho era dividido. Era o sistema meia- Edição de 30.08.1931 – Os grandes negociantes
praça, em que o dono da terra tinha direito a 10% da estão desvalorizando o carbonado, ora é porque é uma
produção. Também existia o sistema meia-praça de pedra chata, ou porque não tem boa densidade, ou
caldeirão, em que o garimpeiro não recebia dinheiro porque é grande demais. Os estrangeiros dão maior
algum, somente gêneros alimentícios. valor aos carbonados de 4 a 7 grãos. Os capangueiros
A hierarquia social dessa atividade compreendia, estão com muito capital empregado e em dificuldades.
além do garimpeiro, as figuras do faiscador (comprador Um carbonado de 15 grãos, que alcançava 300$ o
de diamante ou carbonado, que dispunha de recursos grão, atualmente só alcança 100$ o grão.
limitados e eventuais) e do capangueiro (comprador No ano de 1932, a descoberta de um substituto
regular de diamante ou carbonado e revendedor para industrial para o carbonado e uma grande seca
grandes firmas). decretam a decadência da vila do Ventura. O
O jornal Correio do Sertão, fundado em Morro patrimônio arquitetônico ali presente hoje em dia,
do Chapéu em 1917, realizou, em diferentes juntamente com a rede de túneis encontrados nos
oportunidades, uma abordagem critica sobre a questão arredores da vila, ilustram o apogeu e o declínio
do garimpo, conforme pode ser acompanhado nas do garimpo naquela região, constituindo assim um
três notas transcritas a seguir: geossítio importante para a história da mineração no
Edição de 03.07.1921 – A edificação (vila do estado, retratando as interferências tecnogênicas do
Ventura) compõe-se de umas 500 e tantas casas, em homem sobre a paisagem natural.
sua maioria de ordinária construção, existindo porém
alguns prédios de estilo moderno, formando seis ruas e
duas praças. O comércio é ativo e as feiras se realizam
aos sábados, na praça Dias Coelho. Possui agência
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HISTÓRIA DA MINERAÇÃO
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GEOSSÍTIOS

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