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Organização

Thiago Holanda Basílio


2020
Organização do texto e produção fotográfica
Thiago Holanda Basílio – tbasilio@ifes.edu.br

Realização
Núcleo de Educação Ambiental (NEA) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Espírito Santo (Ifes) – Campus Piúma
Escola Municipal de Ensino Fundamental José de Vargas Scherrer – Piúma/ES

Apoio
Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES)
Secretaria de Meio Ambiente e Educação do Município de Piúma/ES
Colônia de Pescadores Z 09 de Piúma/ES
Fundação TAMAR – Vitória/ES
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
Universidade de São Paulo (USP)
Instituto de Botânica
Núcleo de Bentos Marinho (NUBEM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Campus
São Mateus/ES
Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Registro/SP,
Instituto Histórico e Geográfico de Piúma (IHGP)
Empresa Júnior AP&P Soluções do Ifes, Campus Piúma

Patrocínio
Posto Eclipse Shell
Nauticola
Gabriela Papelaria
PK SUB
Material de Construção BICIATTI

Correções Ortográficas e Gramaticais


Celi Maria de Souza – cmsouza@ifes.edu.br
Ivan Almeida Rozário Júnior – ivan.rozario@ifes.edu.br
Silênia de Azevedo Silveira Rangel – sileniarangel@gmail.com

Integrantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental José de Vargas Scherrer – Piúma/ES


Jonaci Xavier Garcindo – Professor Tutor
Ana Luiza Martin Sales
Carlos Daniel Valério Oliveira Martin
Carlos Henrique Cardoso Benevides da Silva
João Vitor polonini Valiati
José Carlos Pacassinni Neto
Lorrany de Cássia Sobroza Brandão Leal
Lucas Silva Paulino
Ronan da Silva das Neves de Souza
Ruan Bona Miranda
Ryan Ancini Bourguignon

Editoração e Impressão
Lura Editorial
THIAGO HOLANDA BASÍLIO

Espírito Santo
2020
Sumário
PREFÁCIO................................................................................................... 07

APRESENTAÇÃO......................................................................................... 09

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS.................................................................... 11

COMO UTILIZAR ESTE LIVRO?...................................................................... 13

GLOSSÁRIO................................................................................................ 17

CAPÍTULO 01 - CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DAS ILHAS COSTEIRAS


DO LITORAL SUL CAPIXABA......................................................................... 24
Thiago Holanda Basilio e Carlos Eduardo de Araújo Barbosa.

CAPÍTULO 02 - METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA O MONITORAMENTO


SOCIOAMBIENTAL ..................................................................................... 48
Thiago Holanda Basilio.

CAPÍTULO 03 - ALGAS MARINHAS............................................................. 72


Thiago Holanda Basilio, Fungyi Chow, Talissa Barroco Harb, Luanda Pereira Soares,
Patrícia Guimarães Araújo, Levi Pompermayer Machado, Grace Real Hohn, Igor Lucas
Fontes dos Santos, Hanna Lima Mattos e Mutue Toyota Fujii.

CAPÍTULO 04 - INVERTEBRADOS: MOLUSCOS, POLIQUETAS E CRUSTÁCEOS...102


Karla Gonçalves da Costa, Paula Heloisa Santana Resende, Isabela Jabour e Silva, Felipe
Souza Cordeiro, Raynara Costa Pereira, Tâmara Fuzari, Joelson Musiello-Fernandes e
Thiago Holanda Basilio.

CAPÍTULO 05 - PEIXES............................................................................. 150


Jones Santander-Neto, Clayton Perônico, Marcelo Paes Gomes, Natalia Carriço Paulo,
Hanna Lima Mattos, Silvio César Costa, Grace Real Hohn e Thiago Holanda Basilio.

CAPÍTULO 06 - TARTARUGAS MARINHAS................................................. 182


Thiago Holanda Basílio, Gabriel Domingos Carvalho, Mylena Amorim de Souza, Nathan
Gonçalves Rosa Reis, Silvio Cesar Costa, Natália Carriço Paulo e Clayton Perônico.
CAPÍTULO 07 - AVES............................................................................... 196
Cecília Licarião Barreto Luna, João Rafael Gomes de Almeida e Marins, Nádia da Vitória
Amorim e Thiago Holanda Basilio.

CAPÍTULO 08 - RESÍDUOS SÓLIDOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ................. 222


Thiago Holanda Basilio.

CAPÍTULO 09 - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO...................... 236


Fabricio Ribeiro Tito Rosa, Thiago Holanda Basilio, Hanna Lima Mattos e Cassia Silveira Fim.
Prefácio

A biodiversidade é uma das propriedades fundamentais da natureza, envolvendo os or-


ganismos, as suas interações, como também os processos responsáveis pelo equilíbrio de
seus ecossistemas. Nesse contexto, o trabalho desenvolvido pelos autores é fruto da dedica-
ção árdua de uma equipe, por meio de uma abordagem interdisciplinar, com a participação
dos professores, técnicos administrativos e estudantes do Instituto Federal de Educação do
Espirito Santo (Ifes), em Piúma.
Essa obra apresenta uma realidade específica e enfatiza a necessidade da preservação
ambiental. Os assuntos apresentados possuem um valor inestimável para a ciência e para a
pesquisa nos municípios do litoral sul capixaba, principalmente quando tratamos da impor-
tância do papel das ilhas costeiras desses municípios.
O estudo das principais espécies propicia todo um conjunto de variáveis de vida aquáti-
ca ambiental necessária para seu crescimento e para sua reprodução, possibilitando, dessa
forma, abrigo e alimentação. Esses aspectos principais são fundamentais para que a manu-
tenção das cadeias alimentares possa coexistir de maneira satisfatória em seus domínios. O
trabalho apresenta, de forma clara e bem detalhada, a localização das ilhas, como também a
biodiversidade que habita nesses ecossistemas.
A característica principal das ilhas localizadas no litoral sul capixaba é ser ocupada pela
população pesqueira, por moradores locais e por turistas. Ressaltamos a importância desses
ambientes na medida em que são extremamente ricos em sua biodiversidade, de forma que
haja um equilíbrio ecológico ambiental não só para as espécies como também para a subsis-
tência das famílias que realizam suas atividades pesqueiras no entorno das ilhas.
A importância da vegetação presente nas ilhas costeiras da Região Sudeste tem um valor
agregado, pois os autores apresentam e ressaltam os diferentes ecossistemas que compõem a
Floresta Atlântica, caracterizando as espécies encontradas no continente, nas florestas, com seus
diversos gradientes presentes tais como: espécies pioneiras, plantas rupestres e manguezais.
É essencial entender, nesse contexto, a importância que cada espécie possui e seu valor,
pois cada uma contribui de forma singular para a manutenção de toda a biodiversidade que
a rodeia. A perda de uma espécie pode ser ocasionada pelas alterações biofísicas, pela des-
truição desmedida ou pela super exploração provocada por seus habitantes. Salientamos que

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essa é uma temática séria, principalmente nos dias de hoje. Portanto, é necessário tomarmos
consciência do fato, para refletirmos sobre a perda de nossos recursos naturais.
O texto nos convida a rever e a incentivar o conhecimento das nossas espécies litorâne-
as, seu potencial e sua riqueza. Elementos fundamentais na busca de incentivo para futuras
pesquisas em Universidades e demais Instituições de Ensino, de Pesquisa e de Extensão do
Estado do Espirito Santo.
Este livro expressa de forma perspicaz, ilustrada e descritiva a importância das deman-
das dos estudos na área da proteção ambiental. Sua contribuição científica vai do micro ao
macrocosmo: Planeta, País, Estado. O livro é um incentivo para futuros estudos e pesquisas.

Professor Dr. Juan Carlos Viñas Cortez

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Apresentação

Este livro é fruto do trabalho da equipe interdisciplinar do Núcleo de Educação Ambien-


tal (NEA), formada por servidores e estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) Campus Piúma, além de servidores, estudantes e pesqui-
sadores externos de outras Instituições de Pesquisa e Ensino.
As atividades realizadas para a escrita deste livro vem sendo desenvolvidas desde 2016. Ao
longo desses anos, foram escritos e desenvolvidos diversos projetos de pesquisa, ensino e exten-
são voltados para o levantamento da biodiversidade, das atividades pesqueiras e turísticas das
regiões costeiras do litoral sul capixaba, com ênfase nos Municípios de Piúma e de Itapemirim.
Esse trabalho gerou uma Tese de Doutorado publicada no Programa de Desenvolvimen-
to e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará (UFC), dois Artigos Científicos em
revistas especializadas, além de um livro sobre as Unidades Ambientais e a Pesca Artesanal
em Piúma (BASILIO et al., 2015, 2016; BASÍLIO 2016).
A partir desses esforços, o NEA recebeu, em 2016, o Prêmio “Biguá de Sustentabilidade”,
oferecido anualmente pela TV Gazeta Sul. Para essa premiação, as ações do NEA foram ava-
liadas entre as melhores práticas de educação ambiental e sustentabilidade dentre as Uni-
versidades e Institutos Federais do Espírito Santo, naquele ano.
De 2016 a 2018 foi realizado o projeto de monitoramento socioambiental, intitulado:
Diagnóstico Integrado para sustentabilidade das ilhas costeiras do litoral sul ca-
pixaba. Esse projeto foi aprovado no Edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito
Santo (FAPES), nº 04/2014, chamado de “Pesquisadores do Futuro”.
Para execução desse projeto, foram selecionados dez estudantes e um tutor da Escola
Municipal de Ensino Fundamental “José de Vargas Scherrer”, além de dois bolsistas do Cur-
so de Graduação em Engenharia de Pesca do Ifes Campus Piúma, apoiado pela Secretaria
de Meio Ambiente, Educação e de Cultura do Município de Piúma, Empresa Recicla Piúma,
Colônia de Pescadores Z 09, Fundação TAMAR, Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Botânica, Núcleo
de Bentos Marinho da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – São Mateus/ES,
Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Regis-
tro/SP e o Instituto Histórico e Geográfico de Piúma (IHGP).

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Dando continuidade a esse trabalho foram aprovados outros dois projetos em editais da
FAPES que foram importantes para a coleta das informações que são apresentadas neste li-
vro, sendo eles: Identificação de potenciais biotecnológicos e desenvolvimento sus-
tentável das ilhas costeiras do litoral sul capixaba, edital FAPES/CNPq Nº 04/2017
- PPP - Programa Primeiros Projetos e, 2017 e Ecologia e Conservação de Tartarugas
Marinhas (Chelonia mydas) nas Ilhas do litoral sul capixaba, edital FAPES/CNPq
Nº 13/2018 - Programa de Iniciação Científica Júnior (PICJr) em 2018.
As atividades envolveram ações voltadas para formação de Pesquisadores do Futuro
para a promoção de práticas de monitoramento socioambiental nas ilhas costeiras do litoral
sul capixaba. Essas atividades foram importantes para apresentar à população as caracte-
rísticas biológicas e sociais das ilhas e os impactos ambientais que estão sendo ocasionados
nesses ambientes. O projeto ainda foi importante para proporcionar uma visão holística dos
processos de gestão necessários à promoção da conservação e da manutenção das funções
ecológicas prestadas gratuitamente pelos ecossistemas costeiros a toda população.
Com isso, esperamos que este livro possa ser utilizado para promover a formação de pro-
fissionais envolvidos com a sensibilização ambiental tão necessária para praticarmos ati-
tudes corretas e para mantermos as relações ecológicas, sociais e econômicas em completa
harmonia, caminhando equilibradamente para garantir a sustentabilidade das ilhas e das re-
giões costeiras do litoral sul capixaba.

Professor Dr. Thiago Holanda Basilio

10
Agradecimentos
especiais

Agradecemos imensamente a tod@s que contribuíram e participaram deste projeto,


sobretudo à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES); a Se-
cretaria de Meio Ambiente e a Escola de Ensino Fundamental “José de Vargas Sherrer”, do
município de Piúma/ES.
Aos patrocinadores que acreditaram e investiram na realização deste livro, as empre-
sas Nauticola, Gabriela Papelaria, e Material de Construção BICIATTI de Piúma/ES, Posto
Eclipse Shell de Marataízes/ES e PK SUB de Guarapari/ES.
Um agrecimento especial aos colaboradores Carlos Eduardo de Araújo Barbosa, Gabriel
Domingos Carvalho, Fungyi Chow, Mutue Toyota Fujii, Karla Gonçalves da Costa, Paula He-
loisa Santana Resende, Joelson Musiello Fernandes, Jones Santander-Neto, Fabricio Ribei-
ro Tito Rosa, Augusta B. Real Hohn, Ana Maria, Grace Real Hohn, Francisco Joel, Joelson
Musiello Fernandes, Tamara Fuzari, Aline Morschel, Claudia Fontes que também contribu-
íram para a impressão deste material.
Nossos sinceros agradecimentos aos parceiros representantes das Secretarias de Meio
Ambiente e Educação do município de Piúma. Além dos pesquisadores do o Núcleo de Ben-
tos Marinho (NUBEM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Campus São
Mateus/ES, e das demais Instituições de Pesquisa que nos auxiliaram na identificação dos
organismos. Ainda agradecemos imensamente a todos os pescadores e marisqueiras que de
alguma forma contribuiram para a realização desse projeto.
Agradecemos especialmente também aos estudantes que participaram das atividades de
pesquisa e de educação ambiental promovidas pelo Núcleo de Educação Ambiental (NEA).
Importante ainda a participação dos servidores do Ifes (professores e técnicos administrati-
vos) no desenvolvimento e na organização das atividades relacionadas ao projeto. Agradece-
mos aos que contribuiram com seus esforços e tempo para planejar e para executar com todo
empenho as atividades propostas.

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Como utilizar
este livro?

Você vai notar que as espécies foram classificadas de acordo com algumas características que
dizem respeito à sua ecologia, ao seu habitat, à sua distribuição no ambiente, ao seu interesse eco-
nômico e ao seu status de conservação. Além da informação da alimentação no capítulo dos inver-
tebrados e do comprimento máximo reportado na literatura, no capítulo dos peixes.
Para facilitar na visualização das informações, apresentamos algumas imagens para que pos-
sam ser associadas às suas respectivas características, objetivando, assim, auxiliar a memorização
de cada uma delas. A descrição da definição de cada uma pode ser consultada no glosário.

Algas marinhas

Habitat:

Distribuição no ambiente:

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Invertebrados

Habitat:

Distribuição no ambiente:

Interesse econômico:

Status de conservação:

Peixe

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Peixes

Habitat:

Distribuição no ambiente:

Interesse econômico:

Status de conservação:

15
Aves

Habitat:

Sazonalidade:

Status de conservação:

Citações
As citações estão inseridas por meio de números, ao longo do texto. Portanto, quando você
ler algo e vir algum número entre parênteses (x), quer dizer que a informação foi retirada da
referência desse número (x) que consta na parte das referências, no final de cada capítulo.

Ex. Capítulo 1

Ilhas costeiras são porções relativamente pequenas de terras circundadas de água, locali-
zadas próximas ao litoral (1).

Na parte das referênicas do capitulo 1, você encontrará:

1. SUGUIO, K. Dicionário de geologia marinha. São Paulo, v. 15, 1992.

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Glossário

Capítulo Algas marinhas


Acetilcolinesterase: enzima responsável por hidrolisar o neurotransmissor acetilcolina,
possibilitando a transmissão de mensagens de um neurônio a outro.

Ágar (ou ágar-ágar): também conhecido como agaranas, por ser uma família de compostos
coloidais, hidrossolúveis e fortemente gelatinosos (polissacarídeos), estão presentes na pa-
rede celular de diversas espécies de algas vermelhas.

Alcaloide: conjunto de substâncias pertencentes ao grupo das aminas cíclicas, sintetizados


por diversas rotas metabólicas e com ampla ação terapêutica com ação anestésica, analgési-
ca, psicostimulante, neurodepressora, dentre outras.

Algicida: classe de pesticida usado para eliminar cianobactérias ou diversos tipos de algas.

Alginato (ou ácido algínico): composto coloidal, hidrossolúvel e fortemente viscoso,


como também emulsificante (polissacarídeo). Está presente na parede celular de diversas
espécies de algas pardas.

Antinociceptiva: ação analgésica.

Antihelmíntica: ação antiparasitária, vermicida ou vermífuga.

Algas arribadas: algas que se soltam do seu substrato e são levadas pelas ondas do mar e
pelos ventos para as praias.

Bentônicas: Seres vivos que vivem fixos ou associados a um substrato (solo marinho).

Bioativo: composto bioativo é aquele que tem um efeito sobre um ser vivo, sobre um tecido
ou sobre uma célula, ou seja, possui uma atividade biológica ou uma ação benéfica, ou uma
ação danosa.

Biofiltrador: ser vivo que remove impurezas, poluentes ou outros agentes por meio de fil-
tração.

Bócio: doença caracterizada pelo aumento do volume da glândula da tireoide, causada geral-
mente pela falta de iodo.

Bromofenol: substância fenólica associada a moléculas de bromo.

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17
Carotenoides: conjunto de pigmentos de coloração amarela à vermelha, lipossolúveis e que
atuam na fotossíntese e como antioxidante.

Carragena (ou carragenina, ou carregenano): composto coloidal, hidrossolúvel e for-


temente estabilizante e clarificante (polissacarídeo), presente na parede celular de diversas
espécies de algas vermelhas.

Citotóxica: propriedade nociva em relação às células.

Coágulo: massa viscosa-sólida formada pelo sangue, plaquetas e outras substâncias.

Corticação: camada mais externa do talo, formada pelas células pequenas, contendo pig-
mentos fotossintentizantes.

Dística: Ramificação para os dois lados do talo.

Epífita: relação biológica em que um ser vivo vive sobre outro, utilizando-se apenas de apoio
e sem causar nenhum tipo de alteração ao hóspede.

Eutrofização: processo pelo qual um corpo de água recebe níveis muito elevados de nu-
trientes (exemplo, nitrogênio e fósforo), provocando alterações no ambiente.

Fármacos: substâncias com ação farmacológica ou de interesse medicinal.

Fucoidano: carboidrato sulfatado (polissacarídeo) com inúmeras unidades de fucosa, pre-


sente especificamente em algas pardas.

Helmíntica: parasita, verme.

Herpética: lesão causada pela infecção com o vírus herpes simples que desencadeia um
processo inflamatório.

Hipoglicêmico: condição de baixa taxa de glicose no sangue.

Hipolipidêmica: condição de baixa taxa de lipídeos no sangue.

Incrustante: Que forma crostas.

Infralitoral: região costeira que fica permanentemente submersa, independente da flutua-


ção das marés.

Lectina: um tipo de proteína com propriedade de aglutinar hemácias.

Leishmania: protozoário parasita que causa a doença infecciosa leishmaniose transmitida


pela picada de insetos.

Mesolitoral (ou mediolitoral): região costeira entre-marés, a qual permanece submersa


durante a maré alta e parcialmente descoberta durante a maré baixa.

Metabólito: molécula ou substâncias geradas por algum processo biológico (metabolismo).

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Oligoelemento: bioelementos presentes em pequenas quantidades nos seres vivos, cuja
ausência ou excesso pode ser prejudicial para o organismo.

Oportunista: tipo de relação ecológica, no qual a espécie é resistente a diversos fatores am-
bientais adversos, de forma a apresentar vantagens para colonização.

Proliferação: condição de disseminação, propagação, multiplicação.

Protozoário: microorganismo eucarioto, geralmente unicelular e heterótrofo que se ali-


menta de outros seres vivos.

Recifal: ambiente de constituição calcária que resulta da deposição de carbonato de cálcio


por seres vivos.

Rodolitos: formações calcárias de algas calcárias não articuladas com elevada deposição
de carbonato na sua parede celular, estruturando-se em formatos geralmente arredondados.

Supralitoral: região costeira permanentemente emersa e exposta ao ar, onde chegam ape-
nas borrifos de água do mar, ou seja, fica descoberta mesmo durante a maré alta.

Terpeno halogenado (ou terpenoides halogenados): compostos do tipo isoprenoides


constituídos pela união de cinco átomos de carbono e que se organizam formado diferentes ti-
pos de terpenos. Por sua vez, possuem substituições de átomos de halogênio, da família do cloro.

Triterpenoides: classe de compostos químicos formados por três unidades de terpenos.

Capítulo Invertebrados
Bentônico: espécie que vive em relação íntima com o fundo (substrato), seja para fixar-se a
ele, seja para perfurar, seja para escavar e/seja para caminhar sobre a superfície.

Brânquias: órgão respiratório.

Carapaça: estrutura rígida que cobre e protege o corpo do animal.

Carnívoro: animal que se alimenta de outros animais.

Cerdas: estrutura em forma de feixes presente na extremidade dos parapódios.

Costão Rochoso: solo consolidado e rochas cristalinas de origem ígnea e metamórfica.

Detritívoro: animal que se alimenta de partículas orgânicas.

Filtrador: animal que retira alimento da água por filtração.

Habitat-Coral/algas: organismos encontradas em meio a corais, algas, banco de mexi-


lhões, dentro de esponjas marinhas, etc.

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Habitat-Manguezal: organismo encontrado nos galhos das árvores de mangue.

Habitat-Rocha: encontrado em costões rochosos, recifes de arenito, ou diversos tipos de


substratos duros

Habitat-Sedimentos: organismos encontrados enterrados ou sobre lama, areia ou cascalho

Herbívoro: animal que se alimenta de algas marinhas.

Massa visceral ou vísceras: são os órgãos como os sistemas digestivo, excretor, nervoso e
reprodutor.

Onívoro: animal que se alimenta de outros animais, vegetais ou qualquer resíduo orgânico.

Parapódios: projeções laterais de cada segmento que auxilia na locomoção.

Pé ventral: pé localizado na porção ventral, ou seja, na barriga/abdômen.

Rostro: rígida extensão da carapaça, como espinhos.

Sifão: estrutura modificada do pé, servindo para locomover por meio da expulsão de água.

Táxon: unidade de classificação científica.

Capítulo Peixes
Bentônico: espécie que vive em relação íntima com o fundo (substrato), seja para fixar-se a
ele, seja para perfurar, seja para escavar e/seja para caminhar sobre a superfície.

Costeiro: ecossistema estritamente marinho e litorâneo. Também enquadrado nessa defi-


nição os recifes de corais, costões rochosos, praias e ilhas.

Estuarino: massas de água costeiras semifechadas com uma ligação livre com o mar aberto,
sendo a transição entre um rio e um mar. Também enquadrados nessa definição os manguezais.

Oceânico: massa de água marinha distribuída após a quebra da plataforma continental. Ge-
ralmente, a plataforma possui uma extensão de 70 Km a 90 km, e profundidade de 200 me-
tros, até atingir a bacia oceânica.

Pelágico: espécie que vive na coluna da água, sem necessidade obrigatória de contato com
o fundo.

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Capítulo Aves
Ambiente aberto antrópico: ambiente modificado pelo homem (ex.: pastagem para gado).

Ambientes aberto natural: ambiente naturalmente sem ou com pouca vegetação de espé-
cies nativas (ex: restingas, campos de altitude ou campos rupestres).

Ambiente úmido: ambiente alagado continental (ex.: rios, lagoas, brejos).

Ambiente marinho costeiro: ambientes costeiros (ex.: praia, manguezais, bancos de


areias ou em ilhas costeiras).

Ambiente generalista: vários tipos de ambientes (ex.: abertos, naturais, antrópicos, úmi-
dos, costeiros).

Artrópodes: animais invertebrados que possuem um exoesqueleto (esqueleto externo) rígi-


do com vários pares de apêndices (pernas e antenas) articulados.

Cleptoparasitismo: é uma forma de interação em que um organismo rouba algum recurso


de outro, geralmente alimentos.

Colônias reprodutivas: áreas onde as aves se concentram para se reproduzirem.

Dimorfismo sexual: é quando o macho e a fêmea de uma mesma espécie possuem dife-
renças externamente, tal como, a coloração (nas aves, os machos têm cores chamativas) ou
algum ornamento chamativo, tal como, o rabo do pavão.

Espécie endêmica: espécie que ocorre somente em uma determinada área ou região geo-
gráfica.

Estuários: são locais onde os rios se encontram com o mar e podem ser definidos como áre-
as onde a água salgada é diluída com água doce.

Forrageio: é a ação de um animal de revirar estruturas em busca de alimentos.

Glândulas uropigianas: está presente na maioria das aves, situada próxima à cauda. Elas
produzem substância oleosa, que serve para impermeabilizar e dar elasticidade das penas.

Impactos Antrópicos / antropização: ações do ser humano capazes de modificar o ambien-


te de suas características originais (exemplo: transformar uma área de floresta em pastagem).

Insular: relativo à ilha.

Migratório: espécie que se desloca de uma região para outra em grandes distâncias.

Ossos pneumáticos: são os ossos ocos, com cavidades cheias de ar e revestidas por muco-
sa, portanto, mais leve do que os ossos de outros animais.

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Petrolatos: são derivados do petróleo e apresentam riscos à saúde humana e do meio am-
biente.

Polinização: é a transferência do pólen da estrutura reprodutiva masculina de uma flor


para a estrutura reprodutiva feminina de outra.

Predador generalista: animal capaz de se alimentar de um grande cardápio de presas, des-


de insetos, vertebrados ou até mesmo de origem vegetal.

Residente: espécie que não realiza grandes viagens de uma região para outra.

Saprofagos: são os seres vivos que se alimentam de cadáveres de plantas e de cadáveres de


animais.

Termorregulação: manutenção da temperatura interna ideal pelo próprio organismo.

Terraplanagem: técnica utilizada para modificar um terreno, com a colocação ou retirada


de terra, para deixá-lo plano.

Vermiforme: termo utilizado para dizer que algo tem o formato de um verme.

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23
Capítulo 01
Caracterização socioambiental das
ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Thiago Holanda Basilio


Carlos Eduardo de Araújo Barbosa

“Antes de iniciar o projeto, eu só via praticamente “mato”;


agora, eu sei o tamanho da dimensão ecológica nas ilhas”
J o ã o V i t o r P o l o n i n i V a l i a t i , 15 anos

24
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

1.1. Introdução

I
lhas costeiras são porções relativamente pequenas de terras circundadas de água,
localizadas próximas ao litoral (1). Caracterizam-se por serem cercadas de costões
rochosos, podendo apresentar vegetação em seu interior, geralmente em regiões mais
elevadas da porção terrestre da ilha. Essas pequenas formações rochosas garantem
um ambiente ideal para o desenvolvimento de diferentes espécies, pois possibilitam refúgio,
abrigo e fonte de alimento para que as cadeias ecológicas possam coexistir de maneira satis-
fatória em seus domínios e em seu entorno.
As ilhas costeiras do litoral sul capixaba são formadas por afloramentos rochosos e re-
presentam um elemento paisagístico e cultural que compõem um importante ambiente na-
tural para a região sudeste do Brasil. Essas ilhas fazem parte do conjunto de ecossistemas
(unidades ambientais) com características específicas as quais garantem a manutenção do
equilíbrio ecológico para toda região costeira (2).
No entanto, essas ilhas encontram-se mal conservadas, principalmente, devido à explo-
ração predatória de seus recursos e à visitação descontrolada (2,3). Tais fatores somados à
crescente especulação imobiliária, à falta de planejamento e à carência de unidades de con-
servação marinha vêm causando um acelerado processo de degradação local, o que compro-
mete no equilíbrio ecológico.
A ameaça à conservação dos ecossistemas típicos de mata atlântica pode interferir nos
valiosos bens e serviços ecossistêmicos providos pelas ilhas, comprometendo a manutenção
da biodiversidade, das pescarias, das atividades turísticas e recreativas e, consequentemen-
te, trazendo prejuízos em termos culturais, sociais e econômicos à sociedade local (4,5).
Existem diferentes parques naturais (Unidades de Proteção) no litoral sul capixaba
(2,6). Mesmo assim, a gestão ambiental local encontra-se severamente limitada pela ausên-
cia de informações básicas sobre a biodiversidade e as características socioambientais (2,6).
Alguns desses parques sofrem pressões antrópicas relacionadas ao desmatamento, à explo-
ração ilegal dos recursos e ao lançamento e acúmulo de resíduos sólidos em diferentes locais
(2). Soma-se a esse problema o persistente processo de uso e de ocupação desordenado da
zona costeira da região e o efeito cumulativo de múltiplos impactos socioambientais, como a
poluição aquática e a supressão de habitats (2,6).
Um importante avanço para a conservação da biodiversidade das ilhas e para os bens
e serviços por elas gerados será a criação de uma Unidade de Conservação (UC) Marinha

25
Capítulo 1

Federal que incluirá todas as ilhas do litoral sul capixaba. A criação dessa UC foi proposta ao
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2003. Infelizmen-
te, desde então, essa proposição está arquivada (6).
Os limites propostos desta Unidade de Conservação foram estabelecidos de forma a englo-
bar áreas representativas de diferentes tipos de substratos marinhos, circundando as ilhas do
litoral sul capixaba. Os estudos para a proposição dessa UC foram conduzidos por diferentes
pesquisadores do departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES) e da organização não governamental ‘Voz da Natureza’. A área para UC proposta con-
templa um trecho de mar territorial, incluindo seis ilhas que se distribuem na porção mais cos-
teira dos municípios de Piúma, de Itapemirim e de Marataízes (6). A UC proposta ainda não tem
categoria definida dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Contudo,
muitas pessoas da comunidade local dos municípios envolvidos desconhecem tanto a existência
das unidades de proteção já existentes, como a intenção de se criar uma UC no âmbito Federal (6).
Diante do exposto ações de levantamento da biodiversidade, dos impactos ambientais,
das formas de ocupação, das ações de turismo e das atividades pesqueiras desenvolvidas
nas ilhas podem ajudar no monitoramento e na gestão desses ecossistemas, na perspectiva
de promover a conservação e a sustentabilidade socioambiental para as presentes e futuras
gerações. Desta forma, é garantida a manutenção das relações ecológicas, da capacidade de
recuperação desses ecossistemas e de suas espécies, possibilitando a continuidade das práti-
cas culturais realizadas, a exemplo da pesca e do turismo.

1.2. Localização geográfica das ilhas do litoral


sul capixaba
O Estado do Espírito Santo, localizado na região sudeste do Brasil, é o quarto menor Es-
tado Brasileiro. Entretanto, possui diferentes formações terrestres associadas ao bioma da
Mata Atlântica. A exemplo dos manguezais, dos estuários, dos rios, dos vales, dos recifes cos-
teiros, dos costões rochosos e das ilhas costeiras (7).
Esse Estado apresenta dezenas de ilhas costeiras próximas ao litoral, principalmente na
região metropolitana de Vila Velha e de Guarapari (8), bem como nos Municípios do litoral
sul, tais como, Anchieta, Piúma, Itapemirim e Marataízes (2,6). Essas ilhas representam ex-
trema importância para a vida marinha, reunindo uma das maiores riquezas de espécies de
peixes recifais do Brasil (8).
O monitoramento socioambiental que deu origem a este trabalho, foi realizado nas
Ilhas do Gambá, do Meio e dos Cabritos no Município de Piúma, e na Ilha de Itapetinga no
Município de Itapemirim, localizadas na região sul do estado do Espírito Santo (Figura 1).  

26
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

27
Capítulo 1

Figura 1. Localização das ilhas costeiras no litoral sul capixaba.

28
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

1.3. Caracterização socioambiental das ilhas


costeiras do litoral sul capixaba
Todas as ilhas, do presente estudo, já foram tombadas como patrimônios naturais, ape-
sar de já terem sofrido interferências, por exemplo, a Ilha do Gambá, em Piúma, que possui
vias de acesso de pessoas a partir da construção de um istmo, que a conecta ao continente
(2,9) (Figura 2).

Figura 2. Imagens aéreas (drone) da Ilha do Gambá, localizada no município de Piúma/ES.

29
Capítulo 1

Essa ilha é bastante frequentada pelos turistas e pelos moradores, devido às modifica-
ções antrópicas realizadas que permitem o acesso de animais e de veículos (2,9,10). Contudo,
no ano de 2017, a Prefeitura Municipal de Piúma elaborou o Decreto Nº1.073, de 02 de janei-
ro, proibindo a entrada de veículos na ilha. Essa ação ajudou a evitar a degradação ambiental
do ecossistema proporcionada pelo fluxo de veículos em seu interior.
A Ilha do Gambá possui diversas trilhas. Uma delas leva os visitantes a um dos pontos mais
altos chamado de “mirante”, com aproximadamente 35 metros de altura (Figura 3). Esse local
possibilita uma vista panorâmica do litoral sul, especialmente os Municípios de Piúma e de Ita-
pemirim, com vista para as demais ilhas e o Monte Aghá, principal referência geológica da região.

Figura 3. Mirante localizado no interior da Ilha do Gambá, Piúma/ES.

O local de maior visitação da Ilha do Gambá chama-se “Prainha”, uma pequena faixa de
praia onde há possibilidade de banho. Por ser o local mais visitado do arquipélago, a Ilha do
Gambá é a que sofre as maiores consequências da ação antrópica irresponsável, possuindo
uma maior quantidade de resíduos sólidos espalhados pelas suas trilhas, na vegetação e nas
margens do seu costão rochoso.
Vale destacar que na Prainha estão localizadas pequenas piscinas naturais ou poças de
marés (Figura 4). Essas piscinas naturais são formadas quando a maré está bastante seca,
nos períodos de lua cheia e de lua nova, onde a água fica retida em seu interior. Nelas são
encontrados diversos organismos, a exemplo de algas, de crustáceos, de peixes, de ouriços do
mar, de pepinos do mar, dentre outros. Geralmente, os peixes encontrados em seu interior
estão ali em seus primeiros estágios de vida. Com isso, esses microecossistemas são muito
importantes para a manutenção das populações de peixes e de outros animais no entorno nas
ilhas e da região costeira como um todo.

Figura 4. Piscinas naturais formadas na prainha, Ilha do Gambá, Município de Piúma/ES.


30
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Na Ilha do Gambá pode ser encontrado também uma região chamada de “buraca”, loca-
lizada na região oeste da ilha. Nesse local, são encontradas grandes quantidades de resíduos
sólidos (Figura 5).
Nessa região da ilha pode ser observada também uma prática de limpeza dos mexilhões
(Perna perna, sururus) retirados por marisqueiras e por pescadores, nessa região (Figura 5).
Após a retirada dos mexilhões do costão rochoso, as conchas dos “sururus” são deixados em
meio a vegetação, ocasionando um acúmulo de resíduos orgânicos e de resíduos sólidos, por
restos de materiais para cozimento e para limpeza dos mexilhões.

Figura 5. Resíduos sólidos e acúmulo de conchas


de mexilhões na buraca, Ilha do Gambá, Piúma/ES.

A Ilha do Meio (Figura 6) localiza-se entre a Ilha do Gambá e a Ilha dos Cabritos. Em
algumas marés baixas, nas luas cheia e nova, é possível caminhar da Praia de Piúma até a Ilha
do Meio. Esta Ilha fica distante 586 metros da Praia de Piúma. A Ilha do Meio é a única Ilha
que não possui trilhas em seu interior, dificultando o acesso dos visitantes.

31
Capítulo 1

Figura 6. Imagens aéreas (drone) da Ilha do Meio, localizada no Município de Piúma/ES.

Algumas práticas pesqueiras são desenvolvidas nessas Ilhas, a exemplo da pesca de me-
xilhão, pesca com tarrafa, linha de mão, rede de espera e mergulho em seu entorno. Essas prá-
ticas são desenvolvidas, principalmente, pela comunidade local, embora nos meses de alta
temporada (dezembro a março) muitos turistas também visitam essa Ilha para desfrutar de
momentos de lazer e realizar atividades de pesca.
Existe um recife costeiro na região abrigada da Ilha do Meio, que fica voltada para o con-
tinente (Figura 7). Esse recife costeiro é caracterizado por pequenas formações rochosas
com presença de diferentes organismos incrustantes, tais como, ostras, algas marinhas, ca-
ranguejos, siris, peixes, tartarugas, dentre outros.
Essa região pode ser observada, sobretudo, nas marés secas das luas cheia e nova. Na
maré cheia, esse recife costeiro torna-se abrigo para diversas espécies que utilizam esse am-
biente para alimentação, abrigo e refúgio contra predadores.

32
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Figura 7. Recife costeiro da Ilha do Meio, localizada no Município de Piúma/ES.

Assim, como na Ilha do Gambá, a Ilha do Meio possui diversas piscinas naturais ou poças
de marés, na margem sudeste da Ilha (Figura 8). Suas características biológicas devem ser
conservadas para manutenção das relações ecológicas e para permanência da biodiversidade
desse ambiente.

Figura 8. Piscinas naturais na Ilha do Meio, localizada no Município de Piúma/ES.

A Ilha dos Cabritos (Figura 9) fica em torno de um 1.39 km de distância da costa e só pode
ser acessada com a utilização de embarcações ou a nado, para os mais aventureiros e espor-
tistas. Ela apresenta uma faixa de praia que é visitada por moradores e por turistas, principal-
mente, no período de alta temporada (dezembro a março) (2).
Na Ilha dos Cabritos existe uma trilha de acesso que corta a ilha de uma extremidade a
outra, passando por dentro da vegetação. Essa trilha leva os visitantes ao ponto mais alto da
ilha, com aproximadamente 30 metros de altura.

33
Capítulo 1

Figura 9. Imagens aéreas (drone) da Ilha dos Cabritos, localizada no Município de Piúma/ES.

Esta Ilha possui uma construção que funciona como restaurante (Figura 10) principal-
mente nos meses de Verão (dezembro a março). Essa obra é ilegal e está sendo utilizada de
forma indevida pelos visitantes, pois são observados muitos resíduos sólidos em seu interior.
Esse restaurante serve de apoio aos turistas e aos moradores locais, já que possui estrutura
coberta, mesas e banheiros.
No Verão, são realizados diversos passeios de barco que transportam turistas da Praia
para a Ilha. Essa conduta, sem a devida organização, gera diversos tipos de impactos negati-
vos, pois alguns turistas acabam deixando os resíduos sólidos produzidos espalhados no inte-
rior do restaurante, como latas de bebidas, garrafas de vidro, sacos de carvão e até utensílios
de pratica de churrasco, práticas proibidas nas ilhas costeiras.

34
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Figura 10. Estrutura de restaurante/quiosque construída na Ilha dos Cabritos, Piúma/ES.

Na Ilha dos Cabritos são desenvolvidos cultivo de mexilhões (Perna perna) pelos repre-
sentantes da Associação de Maricultores de Piúma e projetos de pesquisa para cultivo de
vieiras (Nodipecten nodosus) e cultivo de Algas marinhas (Hypnea pseudomusciformis). Esses
cultivos são desenvolvidos por professores e por estudantes do Instituto Federal de Educação
do Espírito Santo (Ifes), Campus Piúma (Figura 11). O cultivo de mexilhões já vem sendo re-
alizado desde 1986, sendo um importante gerador de economia para a comunidade local (2).

Figura 11. Estruturas de cultivo de vieiras, mexilhões e algas na Ilha dos Cabritos, Piúma/ES.

35
Capítulo 1

A Ilha de Itapetinga (Figura 12) caracteriza-se por ser a menor Ilha dentre as estudadas,
composta por pequenos afloramentos rochosos, sendo apenas o maior deles ocupado por ve-
getação rupestre pouco desenvolvida. Essa Ilha fica distante aproximadamente 860 metros da
Praia conhecida por Maria Neném, localizada entre os Municípios de Piúma e de Itapemirim.

Figura 12. Imagens aéreas (drone) da Ilha de Itapetinga, localizada no Município de Itapemirim/ES.

A Ilha de Itapetinga é pouco visitada por turistas e moradores locais para atividades de
lazer. Esses visitantes a utilizam como ponto de apoio para atividades pesqueiras em seu en-
torno. Também possui pequenas piscinas naturais compostas por diferentes organismos que
a tornam um importante refúgio da vida marinha (Figura 13).

36
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Figura 13. Piscinas naturais na Ilha de Itapetinga, localizada no Município de Itapemirim/ES.

Todas as Ilhas são cercadas por uma diversa fauna e flora aquática, principalmente nas
regiões de infralitoral e mesolitoral aderidas no costão rochoso. Essas regiões estão em conta-
to com a água do mar, banhadas constantemente, gerando condições para que os organismos
possam se fixar nesse ambiente. Essa fixação agrega diversos organismos invertebrados, tais
como, moluscos, poliquetas, crustáceos, e vertebrados, como peixes, aves, raias, tartarugas.
Além das algas marinhas, corais que habitam as regiões entremares das margens das ilhas
costeiras. Essa característica é conhecida como zonação, ocorrendo por meio da subdivisão da
região do costão em supralitoral (inferior e superior), mesolitoral (inferior e superior) e infra-
litoral (inferior e superior) (Figura 14). Cada zona dessa abriga uma determinada fauna e flora.

Figura 14. Representação das regiões Infralitoral (inferior e superior), Mesolitoral (inferior
e superior) e Supralitoral (inferior e superior) das ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

37
Capítulo 1

1.4. Vegetação das ilhas


O Bioma Mata Atlântica, também chamado de Floresta Atlântica, pode ser dividido em dois
blocos distintos de tipos de vegetação, um localizado no Nordeste do País, outro abrangendo Sul
e Sudeste (11). O Estado do Espírito Santo representa uma zona de transição entre estes dois
blocos (12), o que o torna um ponto da Mata Atlântica com alta diversidade de espécies (11).
A vegetação encontrada nas ilhas do litoral sul capixaba faz parte desse bioma, agregan-
do elementos dos diferentes ecossistemas que compõem a Floresta Atlântica, incluindo des-
de espécies encontradas no continente em florestas úmidas de diferentes gradientes altitu-
dinais, até espécies de formações pioneiras, formadas pelas primeiras plantas que surgem
e colonizam um ambiente, como restingas (que crescem principalmente junto aos cordões
arenosos da praia), plantas rupestres (que crescem em rochas) e manguezais (13).
Dado o tamanho relativamente reduzido das ilhas estudadas, não há fontes de água, como
nascentes ou rios, em nenhuma delas, o que, de certa forma, contribuiu para a conservação
desses habitats por não favorecer a ocupação por empreendimentos ou residências. A total
dependência hídrica, a partir das chuvas, aliado a solos muito rasos ou inexistentes (como
os costões rochosos) e a alta salinidade e insolação, tornam o ambiente nas ilhas desafiador
para a colonização por plantas. Estes gradientes ambientais estão distribuídos nas ilhas de
forma concêntrica, o que contribui para o estabelecimento de diferentes tipos de vegetação
das bordas para o interior das ilhas.
As Ilhas do Gambá, do Meio e dos Cabritos apresentam elevada formação vegetal em seu
interior, devido à grande área que elas possuem. Já a Ilha de Itapetinga é a única que apresen-
ta apenas a formação vegetal típica de costão rochoso, devido a seu tamanho reduzido.
Na porção mais externa de todas as ilhas, em contato direto com o oceano, há a presença
dos costões rochosos (2), que configuram os ambientes mais extremos em termos de condições
ambientais, sendo, portanto, ocupados por plantas adaptadas à vida sobre as rochas, com au-
sência de água, alta salinidade, grandes variações de temperatura e pobre em nutrientes. Den-
tre as plantas que ocupam essa área, destacam-se os cactos, especialmente os da espécie Cereus
fernambucensis (manacaru, figura 15) e bromélias, como a Quesnelia quesneliana (Figura 16).

Figura 15. Cereus fernambucensis (manacaru) em costão


rochoso (A) e seu fruto (B) na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

38
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Outra espécie que se destaca, nesse ambiente, é a Agave angustifolia (piteira-do-Cari-


be, figura 17), uma planta exótica invasora. Além disso, podemos encontrar espécies oportu-
nistas na interface entre o costão rochoso e a faixa arbustiva, como Lantana camara (camba-
rá, camará, figura 18) e Cyrtocymura scorpioides (erva-de-são-simão).

Figura 16. Exemplar da bromélia Quesnelia Figura 17. Exemplares de Agave angustifolia (pi-
quesneliana na interface entre costão rochoso e teira-do-Caribe) apresentando pendão floral em
formação arbustiva na Ilha do Meio, Piúma/ES. costão rochoso da Ilha dos Cabritos, Piúma/ES.

Figura 18. Lantana camara (cambará) em costão rochoso na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

39
Capítulo 1

A Ilha do Gambá apresenta as maiores faixas de ambiente de restinga, com representan-


tes arbustivos ou arborescentes de Schinus terebinthifolius (aroeira, pimenta-rosa, figura 19)
e Hibiscus pernambucensis (hibisco-da-praia, figura 20) encontradas em maior quantidade
no aterro (istmo artificial) que liga a Ilha ao continente.

Figura 19. Árvore de Schinus terebinthifolius (pimenta-rosa ou aroeira) na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Figura 20. Arbusto de Hibiscus pernambucensis (hibisco-do-mangue) na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Avançando mais ao centro das ilhas chega-se a uma faixa densamente ocupada por plan-
tas de porte arbustivo, com um a dois metros de altura, que formam um cordão no entorno
da formação florestal. O porte limitado das plantas nessas áreas pode ser explicado por solos
mais rasos, com menor fertilidade e grande incidência de ventos.

40
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

A largura da faixa arbustiva varia entre as ilhas (6), sendo muito representativa na Ilha do
Meio (tanto em área ocupada quanto em densidade de plantas) e em contrapartida bastante
reduzido na Ilha do Gambá, aparecendo como uma curta área de transição entre o costão ro-
choso e a formação florestal. A espécie Capparis flexuosa (feijão-bravo, figura 21) é observada
com frequência nesse ambiente.

Figura 21. Capparis flexuosa (feijão-bravo) (A) e seus frutos (B)


encontrada na faixa arbustiva na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

As áreas de formação florestal, localizadas nas regiões mais abrigadas ao centro das
ilhas, são as que apresentam a maior diversidade de espécies, com árvores de maior porte
e representantes em diferentes estratos, desde o sub-bosque até espécies epífitas no dossel.

41
Capítulo 1

A maior complexidade estrutural observada, nesse meio, relaciona-se a gradientes am-


bientais menos extremos, mais abrigados da salinidade, solo mais profundo e bem desenvolvido
(Figura 22), onde observou-se espécies arbóreas, como: Metrodorea nigra (pau-marfim ou gua-
rantã, figura 23), Lecythis lurida (sapucaiú, figura 24), além de cipós e trepadeiras, por exemplo,
Tetrapterys phlomoides (Figura 25), muito abundante ao longo das trilhas na Ilha do Gambá.

Figura 22. Ambiente florestal na Ilha do Gambá, Piúma/ES, com árvores de maior
porte. Na figura fica evidente o perfil de solo mais profundo e bem desenvolvido.

Figura 23. Metrodorea nigra em ambiente florestal na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

42
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

Figura 24. Lecythis lurida (sapucaiú) de ambiente florestal na Ilha do Gambá, Pìúma/ES.

Figura 25. Cipó, Tetrapterys phlomoides em ambiente florestal na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Na porção sudoeste da Ilha do Gambá, a formação florestal estende-se até muito pró-
ximo da área de costões, apresentando muitos representantes de Sideroxylon obtusifolium
(quixabá, figura 26). Nessa mesma região, encontra-se a única formação de mangue obser-
vada nas ilhas, ocupado por Rhizophora mangle (mangue-vermelho, figura 27) introduzidas

43
Capítulo 1

em uma ação de restauração do mangue original, formado, anteriormente, por Laguncula-


ria racemosa, e degradado pela ação antrópica, em meados de 2006.

Figura 26. Sideroxylon obtusifolium (quixabá) em ambiente florestal na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Figura 27. Área de manguezal colonizado por Rhizophora mangle


(mangue-vermelho) na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

44
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

1.5. Considerações Finais


As ilhas do litoral sul capixaba são ambientes extremamente ricos em biodiversidade
que garantem a subsistência de dezenas de famílias que realizam atividades pesqueiras e
aquícolas no entorno desses ecossistemas. As ilhas costeiras servem de berçário natural para
dezenas de espécies que encontram nesses espaços segurança e recursos para se alimenta-
rem e reproduzirem-se.
Além das atividades pesqueiras, as ilhas são utilizadas para realização de atividades de
lazer, de turismo, de práticas esportivas, de passeios marítimos, além da maricultura (2).
Suas praias, suas enseadas, suas piscinas naturais e seus costões rochosos garantem a diver-
são de centenas de pessoas, principalmente nos meses de verão (dezembro a março).
Apesar de muito próximas de Piúma e de Itapemirim e da facilidade de acesso (em espe-
cial na Ilha do Gambá e na Ilha do Meio), as Ilhas desses Municípios apresentam um relativo
bom estado de conservação, evidenciado pela ampla cobertura vegetal e elevada biodiversi-
dade associada a elas.
São poucas as áreas com impactos antrópicos significativos, algumas delas em estágio de
recuperação, como no caso do manguezal da Ilha do Gambá. As trilhas são causa de grande
parte dos impactos na vegetação, dando acesso às áreas mais remotas da Ilha, gerando o de-
pósito de resíduos sólidos em áreas que, de outra forma, estariam protegidas pela vegetação
arbustiva espinhenta. Contudo, foram identificados problemas, tais como, desmatamento,
queimadas e lançamento indevido de resíduos, que podem afetar o equilíbrio ecológico des-
ses ambientes (2).
Assim, faz-se necessário um esforço para o correto manejo desses ambientes, permitin-
do a compatibilização da preservação ambiental e atividades de pesca, aquicultura, lazer e
turismo. Apesar do bom estado de preservação geral das ilhas costeiras do litoral sul capixa-
ba, a realização de um monitoramento socioambiental torna-se de suma importância, pois
é uma solução para compreender o funcionamento dos ambientes ali instalados de maneira
integrada (geossistêmica) com a participação de diferentes sujeitos para a elaboração de pla-
nos de manejo coletivo e participativo junto ao poder público e comunidade.
Dessa forma, o presente trabalho contribui para o monitoramento integrado de informa-
ções sobre a ecologia, geografia, biologia, características sociais, tecnológicas, impactos nas
ilhas costeiras do litoral capixaba, a fim de subsidiar a continuidade do processo de criação
de uma Unidade de Conservação marinha no litoral sul o capixaba junto aos órgãos respon-
sáveis e demais envolvidos na criação dessa UC Marinha e, assim, garantir a sustentabilidade
para as presentes e futuras gerações.
Portanto, é preciso conhecer as características biológicas, geográficas, sociais e econô-
micas das Ilhas para cuidar melhor desses ecossistemas tão importantes para a manuten-
ção do equilíbrio ecológico das regiões costeiras de todo litoral sul capixaba, promovendo a
sustentabilidade para as cadeias produtivas das atividades de turismo e de pesca, principais
atividades econômicas dos municípios do litoral sul capixaba.

45
Capítulo 1

Referências
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171 p. 1992.
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rito Santo, Brasil. 1º ed. São Paulo: Laura Editorial, 2016.
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S.C.; JOYEUX, J.C.; DOXSEY, J.R. Profile of social actors as a tool the definition of
marine protected areas the case of the Ilha dos Franceses, Southern coast of Espírito
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versity of a southwestern Atlantic coastal island: aspects of distribution and conser-
vation in a marine zoogeographical boundary. Check List 11(2): 1615, doi: http://
dx.doi.org/10.15560/11.2.1615 ISSN 1809-127X. 2015.
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criação de uma unidade de conservação marinha. Associação Ambiental Voz
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rito Santo: conservação e preservação. Vitória: EDUFES, 2007.
8. GASPARINI, J. L. R. Peixes dos recifes e das ilhas de Vitória e adjacências:
Espirito Santo-Brasil. Vitória/ES: Fauna, 2017.
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RÃES, I.M. - História e Estórias de Piúma. Cachoeiro de Itapemirim, ES: Editora
Gracal, 2014.
10. BASILIO, T.H.; GARCEZ, D.S.; BODART, C.N. & SILVA, E.V. Análise Integrada de
unidades geoecológicas relacionadas as atividades pesqueiras no litoral sul do Espí-
rito Santo. Revista de Gestão Costeira Integrada. v. 16, n.2, p. 163 – 17, 2016.
11. THOMAZ, L.D. A Mata Atlântica no estado do Espírito Santo, Brasil: de Vasco
Fernandes Coutinho ao século 21. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão,
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A.R., JOAQUIM-Jr., G. O. 2017. The vascular flora and vegetation of Queimada Gran-
de Island, São Paulo State, southeastern Brazil. Biota Neotropica, v.17, n.4, 2017.

46
Caracterização socioambiental das ilhas costeiras do litoral sul capixaba

47
Capítulo 02
Metodologias utilizadas para o
monitoramento socioambiental

Thiago Holanda Basilio

“Eu confesso que antes eu não tinha toda essa preocupação, mas, depois que comecei o proje-
to, minha visão sobre ecossistema mudou por completo”
L u c a s S i lva P a u l i n o , 15 anos

48
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

2.1. Introdução

A
s informações relacionadas ao levantamento da biodiversidade e dos impac-
tos ambientais apresentadas, neste livro, foram coletadas a partir do monito-
ramento socioambiental desenvolvido em diferentes etapas expostas ao longo
deste capítulo.
Tal monitoramento foi realizado por meio de uma análise integrada da unidade ambien-
tal conhecida por “ilhas costeiras”(1). Esse monitoramento teve como base o conceito de pai-
sagem com um “todo sistêmico” em que se combinam natureza, sociedade, cultura e econo-
mia de uma dada região em um amplo contexto de inúmeras variáveis que busca apresentar a
relação da natureza com o sistema complexo e interligado em diferentes níveis. A abordagem
integrada visa a favorecer o estudo dinâmico da paisagem a partir das características locais
de cada região geográfica ou da unidade ambiental estudada (2).
Essa abordagem integrada é necessária para a efetivação de análises socioambientais
voltadas à conservação e à gestão ambiental, em particular, à resolução dos conflitos e dos
impactos (2,3,4). Nesse sentido, a abordagem integrada tem desempenhado um papel impor-
tante na descoberta e na construção do mundo multidimensional, como também dos varia-
dos níveis de complexidade dos sistemas ambientais relacionadas às atividades humanas,
sendo extremamente necessária para estudos dos fenômenos da natureza e da forma com
que a sociedade utiliza essas unidades ambientais (1,2).
Para entender a problemática ambiental, é necessária uma visão dinâmica e holística
do ambiente, provendo de métodos interdisciplinares de pesquisa para o levantamento de
informações históricas e atuais (1). Se as questões ambientais insistirem em ser abordadas
de modo fragmentado e isolado de um contexto integrado, ela deixa de ter a capacidade de
solucionar os problemas concretos e emergentes de uma maneira mais ampla e eficiente (5).
Um programa de monitoramento ambiental integrado objetiva que os resultados sejam
direcionados a resolução de problemas socioambientais locais e devem servir diretamente
à aplicação de atividades corretivas e/ou compensatórias dos impactos a incidirem sobre os
elementos naturais (6).
Portanto, é necessária a obtenção contínua de informações para formulação de politi-
cas públicas voltadas à gestão e à conservação desses ecossistemas tão importantes para a
vida marinha e para a população que usa as ilhas para lazer, turismo, pesca, aquicultura, bem
como para outras atividades econômicas.
A metodologia do monitoramento socioambiental utilizada para realização deste tra-
balho se deu por meio de várias etapas, desde cursos de formação e alinhamento das infor-

49
Capítulo 02

mações com a equipe do projeto, até campanhas de campo, atividades nos laboratórios para
identificação, triagem e registro das espécies coletadas, além da realização de ações de edu-
cação ambiental, tais como: trilhas, campanhas de coleta de resíduos, exposições ambientais
e apresentações do projeto para comunidade (Figura 1).

Figura 1. Quadro resumo das atividades realizadas no monitoramento socioambiental


das ilhas costeiras do litoral sul capixaba, durante o período de 2016 a 2018.

A seguir, serão apresentadas as principais etapas desse projeto com o intuito de oferecer
suporte metodológico para que estudantes e profissionais possam replicar esse trabalho em
outras regiões e até mesmo dar continuidade ao monitoramento realizado nas ilhas costeiras
do litoral sul capixaba.
Dessa forma, o material apresentado, neste livro, servirá para a formação de futuros pro-
fissionais de diversas áreas do conhecimento que poderão utilizar e desenvolver as metodo-
logias propostas para realização de monitoramentos ambientais integrados em diferentes
unidades ambientais.

50
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

2.2. Curso de alinhamento de práticas para


sustentabilidade de ilhas costeiras
Foi realizado, em 2016, um curso de formação (alinhamento) entre servidores (professores
e técnicos administrativos) do Ifes - Campus Piúma com estudantes do Ensino Fundamental
da Escola Municipal “José de Vargas Scherrer” e da Escola Municipal de Ensino Fundamental
“Manoel dos Santos Pedroza”, de Piúma. Participaram também dessa formação estudantes dos
Cursos Técnicos em Pesca e em Aquicultura e da Graduação em Engenharia de Pesca do Ifes
(Figura 2). Esse curso foi realizado para detalhamento e planejamento do monitoramento inte-
grado socioambiental desenvolvido nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Figura 2. Curso de formação e alinhamento com a equipe do projeto.

O curso proporcionou ao educando um amplo conhecimento sobre o ambiente das ilhas


e os métodos de pesquisa, despertando a criticidade quanto à preservação dos ecossistemas
marinhos, estimulando a vontade de progredir em seus estudos escolares e estímulo nas vo-
cações científicas. Esse curso teve carga horária de 90 horas, dividido em três módulos de 30
horas cada, distribuídos em atividades teóricas e práticas.

51
Capítulo 02

No primeiro módulo, foram abordadas informações sobre as unidades ambientais (1),


sobre a biologia e sobre a ecologia dos organismos marinhos, com temas relacionados aos
princípios das ciências ambientais e das características biológicas, geográficas, sociais, his-
tóricas, econômicas e culturais das ilhas costeiras do litoral sul capixaba.
No módulo II, foram apresentadas informações sobre noções básicas de segurança em
campo e em laboratório. Nesse módulo, foi enfatizado a necessidade dos equipamentos de
proteção individual. Também foi realizado um alinhamento das metodologias utilizadas em
todo o projeto, permitindo aos estudantes o protagonismo na realização das atividades de
campo e de laboratório com o auxílio dos monitores e dos professores.
Já o módulo III, foi abordado sobre a educação ambiental crítica, por meio de oficinas de
construção do planejamento das atividades do projeto de maneira participativa. Esse mó-
dulo teve como principal objetivo abordar a educação ambiental, suas vantagens no meio da
sociedade e sua importância. Para tanto, foram realizadas visitas às unidades ambientais,
trilhas ecológicas nas ilhas, oficinas e atividades para discussão coletiva dos conhecimentos.
Todo o curso foi realizado de maneira participativa de acordo com os princípios e me-
todologias dinâmicas interativas para promover a ampla participação dos envolvidos. Essas
metodologias visam à integração e à participação em atividades dinâmicas (7,8,9,10).
O curso foi importante para não limitar os estudantes a dominarem apenas um conteúdo,
mas, sim, pensarem, refletirem, solucionarem problemas de questões atuais e trabalharem em
equipe. Consequentemente, capazes de serem críticos, participativos e conscientes de seus pa-
péis nas mudanças socioambientais. Por esses motivos, foi peça fundamental no projeto, por
alinhar os estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental “José de Vargas Scherrer”
e os alunos de graduação do Curso de Engenharia de Pesca do Instituto Federal de Educação do
Espírito Santo (Ifes) - Campus Piúma, com conhecimentos básicos sobre ciências ambientais
e as características das ilhas costeiras.
Ao final do curso, os jovens apresentaram os resultados para os representantes da Fun-
dação de Amparo à Pesquisa e inovação do Espírito Santo (FAPES) e demais estudantes e
servidores do Ifes Campus Piúma (Figura 3). Nesse momento, todos receberam um certifica-
do de participação de 90 horas, emitido pela Pró-Reitoria de Extensão do Ifes.
Importante destacar que, para alguns estudantes, esse foi o primeiro certificado de con-
clusão de curso recebido por eles. No momento de apresentação e entrega dos certificados, es-
tavam presentes os seus familiares, mostrando a importância dessa formação em suas vidas.

Figura 3. Apresentação final do projeto de monitoramento a


comunidade acadêmica no auditório do Ifes - Campus Piúma/ES.

52
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

2.3. Campanhas de campo para monitora-


mento socioambiental
As atividades desenvolvidas pelo NEA Ifes - Campus Piúma foram devidamente regis-
tradas junto à Pró-reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação do Ifes e, como envolvem
animais silvestres, tiveram autorização para realização das atividades, concedida pelo Ins-
tituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio/Ministério do Meio Am-
biente – MMA, via Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBIO: nº
33313, 42928, 48559, 58042-1, 51235, 43135-1 e 43135-2.
A autorização para marcação das tartarugas está formalizada junto ao Centro Tamar/ES,
que capacitou os membros da equipe técnica do projeto, por meio de treinamento específico. Os
projetos do NEA possuem também aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA/
Ifes), respeitando-se a legislação vigente, atendendo às resoluções do Colégio Brasileiro de Ex-
perimentação Animal (COBEA) e do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Dessa forma, o monitoramento socioambiental foi realizado por meio de visitas a cada 15
dias nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba. Essas visitas ocorreram no período entre 2016
a 2018 pelos integrantes do projeto para realização de coleta dos organismos, identificação
dos impactos ambientais e levantamento das formas de uso de cada ilha visitada.
As campanhas foram realizadas nas marés mais baixas em períodos de lua cheia e/ou
nova, de acordo com informações da tábua de marés obtidas no site da Diretoria de Hidrogra-
fia e Navegação (DHN) e Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) (https://www.marinha.
mil.br/chm/tabuas-de-mare).
Para realização das campanhas de campo nas ilhas costeiras, utilizou-se embarcação
com capacidade de seis tripulantes do tipo Bote (Small Boat), do Ifes Campus Piúma (Figura
4), cuja propulsão se dá por meio de um motor com potência de 15 HP.

Figura 4. Equipe se preparando para a realização do monitoramento socioambiental.

Para realização das atividades de campo, foram utilizados diversos materias e equipa-
mentos com o objetivo de auxiliar nas coletas, tais como: caixa de primeiros socorros, caixas

53
Capítulo 02

plásticas, espatulas, facas, sacolas de lixo, sombreiro (guarda-sol), cordas, luvas, prancheta, fita
metrica, balança de mão, alicate de marcação, marcas (anilhas) para tartarugas, tesouras, ca-
netas, lona, lápis, papel vegetal, recipientes de plástico, botas de neoprene, garrafas de cinco
litros com água, caixa térmica contendo gelo, máquina fotográfica, Drone (Phanton 4 pro) para
captação das imagens aéreas. Foram utilizados ainda uma rede de arrasto picaré, três rede de
espera, uma tarrafa e um puçá para coleta dos organismos.
Ao chegar nas ilhas, a equipe do projeto se dividia em três grupos, denominados de : Cos-
tão, Água e Terra. Os estudantes eram auxiliados por servidores do Ifes - Campus Piúma e
um professor tutor da Escola Municipal “José de Vargas Scherrer” para correta aplicação das
metodologias de monitoramento (Figura 5).

Figura 5. Equipe do projeto em campanhas de campo.

2.3.1. Costão: coleta de invertebrados e algas marinhas

Para cada ilha monitorada, foram selecionados quatro pontos de coleta, sendo dois pon-
tos para a área abrigada, voltada ao continente; e dois pontos na área não abrigada exposta a
ondas do mar, voltado ao oceano (Figura 6).

Figura 6. Exemplificação dos locais de coleta nas Ilhas costeiras, evidenciando dois pontos
na área abrigada, voltada ao continente; e dois pontos na área exposta, voltada ao oceano.
54
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

As coletas dos invertebrados e das algas foram realizadas nos costões rochosos das ilhas
costeiras, durante as marés baixas. Para isso, um transecto (linha reta) de seis metros foi de-
limitado na região de mesolitoral (Figura 7), perpendicular à linha da maré e, a cada dois me-
tros, um quadrante de 30 X 30 cm foi lançado para coleta dos organismos, na parte interna do
quadrante (Figura 8).

Figura 7. Locais de coleta na região do costão rochoso na maré


seca, delimitanto áreas de infralitoral, mesolitoral e supralitoral.

A área em que o quadrante delimitou foi raspada (Figura 8) e o material foi colocado em
sacos plásticos etiquetados por local de coleta. Os organismos foram acondicionados em cai-
xas com gelo e transportados para o laboratório de Biologia do Ifes - Campus Piúma.

Figura 8. Transecto perpendicular à linha d’água e


raspagem dos organismos dentro do quadrante.

55
Capítulo 02

2.3.2 Água: coleta de peixes e outros organismos aquáticos

Os organismos, como peixes, tartarugas, crustáceos foram coletados com diferentes ape-
trechos de pesca, a saber: rede arrasto (picaré), puçá, tarrafa e rede de espera.
A rede de arrasto possuía as seguintes características: comprimento de 16 m com altura
de 2 a 2,30 m, malha de 8 mm a 2 cm entre nós opostos. As coletas foram realizadas em pro-
fundidades de 1 a 5 metros (Figura 9). Cada arrasto teve duração aproximada de cinco minu-
tos, sendo realizados dois arrastos em cada ilha, a cada campanha de campo.

Figura 9. Rede de arrasto sendo lançada na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Para facilitar a captura de alguns espécimes, utilizou-se um puçá (Figura 10) em locais
nos quais não era pertinente o uso da rede de arrasto picaré. O puçá possui aro de 6 cm de
diametro, cabo com 60 cm de comprimento e malha de 8 mm.

Figura 10. Puçá utilizado para auxiliar nas coletas dos peixes e das tartarugas.

Redes de espera (Figura 11) também foram lançadas em pontos aleatórios próximos a
uma mitilicultura (cultivo de mexilhões) localizada na Ilha dos Cabritos, e na região próxima
ao mangue da Ilha do Gambá, em Piúma/ES.

56
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

Figura 11. Rede de espera utilizada para coleta dos peixes.

Cada coleta com a rede de espera teve duração média de quatro horas. Essa arte de pesca
possui 60 m de comprimento, dois metros de altura e malha com cinco centímetros entre nós
opostos. A profundidade de captura nessas regiões variou de dois a seis metros de profundidade.
Uma tarrafa (Figura 12) foi utilizada a uma profundidade que variou de um a dois metros.
Os lances eram realizados no costão rochoso às margens das ilhas costeiras. A tarrafa possui
diâmetro de 3 metros e malha de 5 cm entre nós opostos.

Figura 12. Lançamento de tarrafa para coleta dos organismos.

Após a captura os organismos, eram acondicionados em caixas plásticas, contendo água


do mar para reduzir o estresse. Cada indivíduo foi identificado levando em consideração as
características morfológicas e merísticas. Também foi realizada a biometria, que consiste na
medição de comprimento e de peso dos animais (Figura 13).

57
Capítulo 02

Figura 13. Realização da biometria dos peixes em campo, utilizando o método não destrutivo.

As coletas foram realizadas utilizando preferencialmente métodos não destrutivos, ou


seja, após os procedimentos de biometria, pesagem, identificação e registro, os organismos
foram devolvidos ao mar ainda vivos (Figura 14).

Figura 14. Devolução dos organismos vivos ao mar,


após realização da biometria e identificação em campo.

58
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

2.3.3. Água: coleta e marcação de tartarugas marinhas

As tartarugas foram coletadas no ambiente marinho, nas proximidades dos costões ro-
chosos da Ilha do Gambá, Piúma/ES. As coletas foram realizadas quinzenalmente, em perí-
odos diurnos, nas marés secas e cheias. A captura intencional foi realizada por meio de redes
de arrasto picaré (Figura 15), que, em cada coleta, foram lançadas cerca de três a cinco vezes.
Após a coleta dos dados, os animais são imediatamente devolvidos ao mar.

Figura 15. Lançamento da rede de arrasto nas proximidades


do costão rochoso da Ilha do Gambá/Piúma/ES.

Depois da captura, cada animal foi submetido aos procedimentos de biometria, em que
são registrados data, hora, local, forma de captura, além da tomada de medidas de comprimen-
to curvilíneo da carapaça, largura curvilínea da carapaça e peso (11). Também foi realizado um
registro fotográfico de cada animal, como fotos de corpo inteiro em vista dorsal e ventral.
Para realização da biometria de tartarugas, são adotadas medidas padrão reconhecidas
internacionalmente: Comprimento Curvilíneo de Carapaça (CCC) e Largura Curvilínea de
Carapaça (LCC). Ambas são expressas em metro (m). Por se tratarem de medidas curvilíne-
as, elas são tomadas utilizando-se uma fita métrica flexível, que acompanha o contorno da
carapaça do animal.
- CCC: Medida de comprimento longitudinal curvilíneo da carapaça da tartaruga. A fita é
colocada diretamente sobre as placas superiores do casco do animal, tomando-se as medidas
da distância entre as extremidades anterior (borda da placa nucal/pré-central - não incluin-
do expessura do casco) e posterior da carapaça (ponto médio do segmento de reta que une as
extremidades das placas supracaudais) (Figura 16).
- LCC: Medida de largura transversal curvilínea da carapaça da tartaruga. A fita é colo-
cada diretamente sobre o casco da tartaruga na região mais larga da carapaça, perpendicular
à linha central, medindo da extremidade das placas marginais esquerdas à extremidade das
placas marginais direitas (Figura 16).

59
Capítulo 02

Figura 16. Forma de mensurar o comprimento (A) e largura (B) curvilíneo da carapaça (CCC).

Para a aferição do peso, as tartarugas foram contidas em uma lona com uma alça de cor-
da, que propicia que o animal seja suspenso pela balança de mão (Figura 17). As tartarugas
eram pesadas com uma balança com capacidade máxima para 50 kg.

Figura 17. Pesagem das tartarugas coletadas.

Os procedimentos de marcação seguem a metodologia adotada pelo Programa Brasileiro


de Conservação das Tartarugas Marinhas (11). Para garantir a identificação futura das tar-
tarugas marinhas, são aplicadas duas marcas com a sequência alfanumérica, uma em cada
nadadeira anterior, direita e esquerda (procedimento padrão internacional) (Figura 18).

60
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

Figura 18. Marcação das tartarugas marinhas.

Algumas tartarugas foram encontradas mortas nas praias e ilhas de Piúma. Nesses ca-
sos, elas foram coletadas e transportadas para o Ifes - Campus Piúma onde foram realizados
estudos de biometria e necropsia desses exemplares.
Após registro das informações, as tartarugas foram submetidas ao tratamento para reti-
rada e fixação das estruturas esqueletais como carapaça e plastrão, além da região da cabeça.
Essas partes foram fixadas com auxílio de verniz e expostas ao sol para eliminação do forte
odor exalado a partir do óbito da tartaruga.
Essas estruturas são utilizadas em atividades didáticas com estudantes dos Cursos Téc-
nico em Pesca e em Aquicultura, e da Graduação em Engenharia de Pesca do Ifes Piúma.
Ademais, essas estruturas foram utilizadas em atividades de educação ambiental por meio
de exposições para a população com o intuito de promover a sensibilização e de expandir os
conhecimentos acerca das tartarugas marinhas na região sul capixaba.

2.3.4. Terra: identificação de aves

A identificação das aves marinhas foi realizada nas atividades de campo com a utilização
de binóculos e máquinas fotográficas (Figura 19). Com essas ferramentas, os pesquisadores
identificavam as aves por meio de suas características morfológicas. Outra forma de identifi-
cação, proporcionando maior exatidão, foi pelo canto das espécies.

61
Capítulo 02

Figura 19. Identificação das aves nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

2.3.5. Terra: coleta dos resíduos sólidos

A coleta dos resíduos sólidos foi realizada de maneira seletiva em diferentes pontos es-
tratégicos nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba. Em todas as atividades de monitora-
mento, os resíduos sólidos eram coletados pela equipe de trabalho. As coletas foram reali-
zadas em toda a extensão de cada ilha (Figura 20). Os dados coletados foram agrupados em
planilhas, a fim de caracterizar o perfil dos resíduos encontrados nas ilhas por meio do tipo e
do peso total por ponto de coleta.

Figura 20. Coleta dos resíduos sólidos nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

62
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

Mutirões de limpeza foram organizados para a coleta dos resíduos na faixa de praia e
nas ilhas de Piúma. Esses eventos foram realizados entre os anos de 2013 a 2019, sendo pro-
movidos anualmente nos meses de junho e setembro. Os participantes eram recepcionados
no auditório para apresentação do evento (Semana do Meio Ambiente e/ou Dia Mundial de
Limpeza de Praias) e do procedimento experimental.
Todas as coletas eram realizadas de maneira seletiva, em que foram separados grupos
em diferentes locais de coleta, a saber: praia Doce, praia da Acaiaca; Ilha do Gambá; Ilha do
Meio, Ilha dos Cabritos, Ilha de Itapetinga e Canal de Itaputanga.
Cada grupo possuía uma cor específica e era responsável por um dos locais de coleta.
Dentro do grupo, cada participante portava crachás de identificação dos diferentes tipos de
resíduos que seriam coletados, entre eles o papel, plástico mole, plástico duro, papelão, vidro,
isopor, madeira, metal e outros que eram coletados em menor quantidade, como fraldas, ca-
misinha, bituca de cigarro, tecidos e borracha. As coletas tinham duração de uma hora a uma
hora e 30 minutos. Depois, era feita a pesagem dos resíduos por local de coleta.
Ao final das coletas, os dados da quantidade total de resíduos foram contabilizados e
apresentados aos participantes. Nesse momento, também houve sensibilização com relação
à destinação correta dos resíduos sólidos. Bem como, acerca do tema e da atividade.
Sabendo que a poluição marinha é atualmente um dos principais problemas nos ambien-
tes costeiros, em todo o mundo; em campo, houve troca de informação sobre a forma correta
de destinação dos resíduos sólidos entre alunos do ensino fundamental, do ensino médio e
de graduação (Figura 21), além dos professores e das comunidades no entorno. Ainda foram
realizadas explicações sobre a biologia e ecologia dos organismos coletados em campo.

Figura 21. Explicação sobre a fauna e a flora para os estudantes em atividades de campo.

2.4. Procedimento no laboratório


Os indivíduos de difícil identificação, no local de captura, foram imersos em água com
gelo, a fim de reduzir o metabolismo até o óbito, sendo, posteriormente, acondicionados em
sacolas plásticas com identificação do local e data da coleta, armazenados em caixas térmi-
cas de transporte, contendo gelo.

63
Capítulo 02

No laboratório, os estudantes se diviam nas atividades para a separação e para a organi-


zação do material coletado. As amostras coletadas foram trasferiadas e congeladas no Labo-
ratório de Dinâmica de Populações Marinhas (DIMAR) e no Laboratório de Biologia do Ins-
tituto Federal do Espírito Santo (Ifes) - Campus Piúma para posteriormente serem triadas,
identificadas e fotografadas (Figura 22). Os invertebrados foram transferidos para o Núcleo
de Bentos Marinho (NUBEM) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Campus
São Mateus/ES, para a realização da identificação em categoria taxonômica mais específica
possível, com auxílio de chaves de identificação especializada.

Figura 22. Prática em laboratório para triagem, identificação,


registro das características biológicas dos organismos coletados.

Em laboratório os organismos foram inicialmente retirados do congelador. Em segui-


da, separados em bandejas e triados por cada ilha e local de coleta. Ao serem descongelados,
passava por uma peneira que retirava o sedimento e que separava os organismos com menor
tamanho. Após esse procedimento, eram feitos os registros de comprimento, peso e identifi-
cação de cada indivíduo. Os organismos eram medidos com trenas e paquímetros. Já o peso
era observado em balança analitica com 1 g de precisão.

64
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

Os organismos foram identificados até o seu menor taxon, ou seja, mais próximo do nome
do gênero, ou espécie (nome científico) por meio chaves de identificação específica para cada
grupo (11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36).
A classificação dos organismos se inicia pelo Reino, em seguida, Filo, Classe, Ordem, Família,
Gênero e Espécie (Figura 23). Os dois últimos são indicados para melhor identificação, sendo
os menores taxon.

Figura 23. Ordem de classificação dos organismos.

Posteriormente a identificação, foi realizado o registro fotográfico das espécies. Os


exemplares coletados foram fotografados com câmera digital (Nykon modelo D3300 e Canon
modelo EOS Rebel) ou câmera HD (Leica) acoplada ao estereomicroscópio com LED, a fim
de elaborar as fotos que compõem os capítulos da biodiversidade deste livro.
Em seguida, os organismos foram fixados com solução de formaldeído 10% e posterior-
mente preservados sob o método de via úmida em vidrarias, contendo álcool 70% para com-
por a coleção zoológica didática do Ifes - Campus Piúma. Os organismos que compõem esse
acervo são utilizados tanto em aulas práticas como em exposições itinerantes (Figura 24).
O material biológico coletado foi doado aos acervos dos Laboratórios de Biologia do Ifes
- Campus Piúma e de Dinâmica de Populações Marinhas (DIMAR), do Núcleo de Educação
Ambiental (NEA) e ao Núcleo de Bentos Marinhos (NUBEM) da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES) - Campus São Mateus/ES. Os organismos fixados em formol e perten-
centes a esses acervos são utilizados em atividades científicas e didáticas pelos professores
do Ifes e da UFES.

65
Capítulo 02

Figura 24. Utilização dos organismos coletados e fixados em atividades


de exposições ambientais para divulgação dos resultados a população.

66
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

2.5. Resumo geral da biodiversidade das ilhas


costeiras do litoral sul capixaba
Como há uma grande quantidade de espécies nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba,
não foi possível a coleta de todas elas, no período deste estudo, nem a identificação de todas
espécies que as habitam. Portanto, a biodiversidade apresentada, nesta obra, refere-se a uma
parte de toda a biodiversidade das regiões costeiras do litoral sul capixaba.
Mesmo assim, foi possível, a partir do monitoramento ambiental realizado, a identifi-
cação de 266 espécies, distribuídas em 152 famílias (Figura 25). Os peixes foram a maioria
dos organismos identificados (31,6 %), seguindo dos invertebrados (31,1 %), algas marinhas
(23,3 %), aves (11,7 %) e por uma espécie de tartaruga (0,4 %).

Figura 25. Quantidade total de espécies registradas nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

A presença ou a ausência desses organismos nas ilhas (Figura 26) pode estar relacionado
às épocas do ano e aos níveis de impactos ambientais que podem prejudicar a permanên-
cia das espécies nesses ambientes. Importante destacar que a biodiversidade está associada
aos niveis de conservação; portanto, quanto mais conservado um ambiente está maior será a
quantidade de organismos presentes nesse determinado ecossistema.
Por outro lado, se um ambiente está sendo degradado, os organismos procuram outros
ambientes para viverem. Com essa migração, toda a cadeia alimentar é afetada, ocasionando
um desequilibrio que pode gerar perdas para a ecologia e também para a qualidade de vida e
de renda das comunidades do entorno das Ilhas.

67
Capítulo 02

Figura 26. Exemplares da biodiversidade das ilhas


costeiras do litoral sul capixaba identificadas neste estudo.

68
Metodologias utilizadas para o monitoramento socioambiental

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ponível em: http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/5516/ Acesso em: 7 dez. 2018.
35. RIOS, E.C. Compendium of brazilian sea shells. Rio Grande: Evangraf, 2009.
36. WORMS Editorial Board. World Register of Marine Species. 2018. Dis-
ponível em: http://www.marinespecies.org at VLIZ. Acesso em: 10 jul. 2019.
doi:10.14284/170.

71
Capítulo 03
Algas marinhas
Thiago Holanda Basilio, Fungyi Chow, Talissa Barroco Harb,
Luanda Pereira Soares, Patrícia Guimarães Araújo,
Levi Pompermayer Machado, Grace Real Hohn, Igor Lucas
Fontes dos Santos, Hanna Lima Mattos e Mutue Toyota Fujii

“Hoje vejo as diversas espécies que vivem


nas ilhas e a importância de protegê-las”
L u c a s S i lva P a u l i n o , 15 anos

72
Algas marinhas

3.1. Quem são e qual é a importância das al-


gas marinhas?

A
s algas marinhas são seres fotossintetizantes que habitam os ambientes aquá-
ticos de todo o planeta e possuem grande importância ecológica no meio ma-
rinho, sendo uma das principais responsáveis pela produtividade primária nas
regiões costeiras (1).
Elas podem ser microscópicas ou macroscópicas, com indivíduos que só podem ser vis-
tos com a ajuda do microscópio e outras que atingem mais de 60 metros de comprimento,
como é o caso de espécies de macroalgas da ordem Laminariales (Algas Pardas), conhecidas
como “kelps” (2). As algas são comumente classificadas com base na sua coloração, caracte-
rística que as distinguem em algas vermelhas (Filo Rhodophyta), algas verdes (Filo Chloro-
phyta) e algas pardas (Filo Ochrophyta) (3).
No ambiente marinho, as macroalgas incluem um grande número de espécies com uma
ampla diversidade de formas do talo, formam a base da cadeia alimentar e servem como fonte
de nutrientes para uma grande variedade de organismos aquáticos (4). As macroalgas ser-
vem também de abrigo, de berçário e de refúgio para várias espécies de invertebrados e pe-
quenos vertebrados. A importância das macroalgas em ecossistemas naturais aumenta com
a crescente eutrofização da biosfera, pois elas garantem oxigênio para a manutenção da vida
em praticamente todos os ecossietemas do planeta Terra.
O Brasil possui enorme biodiversidade aquática e terrestre (4). Na lista de espécies da
flora do Brasil, constam 818 espécies de macroalgas marinhas. Dessas, 491 espécies são re-
feridas para o Espírito Santo, com aumento considerável no número de espécies conhecidas
desde a última revisão do checklist. Nesse estudo, foram listados 308 táxons para o estado
(5). Os pesquisadores que chegaram a essa conclusão atribuem essa elevada biodiversidade
como resultado dos efeitos combinados da posição geográfica, das condições oceanográficas
e climáticas e da grande diversidade de habitats disponíveis no litoral capixaba.
Em quase todo o litoral brasileiro, em especial na região sudeste e nordeste, a riqueza e
a abundância dessas algas são capazes de deslumbrar e despertar o interesse econômico, so-
cial e ambiental (6,7). As macroalgas também apresentam relevante importância econômica,
pois sintetizam compostos bioativos, proteínas, vitaminas, minerais, carotenoides e ácidos
graxos com altos valores nutricionais e potenciais para produção de fármacos (8). Existem
diferentes substâncias extraídas de algas marinhas que são matéria prima para muitas in-
dústrias, um exemplo disso são os ficocoloides (ágar, carragenana e alginato), com ampla
aplicação na indústria de alimentos (9,10). De fato, em relação às macroalgas, muitas espé-
cies nativas são produtoras de substâncias de interesse comercial (11).
As algas marinhas compõem um grupo de elevado interesse comercial, contudo não são
exploradas na região sul capixaba. O inventário de espécies se configura como o primeiro passo
para a exploração sustentável desses recursos pesqueiros. Iniciativas de cultivo sustentável de
73
Capítulo 03

algas marinhas são promissoras em diversas regiões costeiras para oferecer alternativa de ren-
da à população local e para evitar a degradação dos bancos naturais desses organismos.
Vale destacar que as algas identificadas no litoral sul capixaba possuem várias formas de
uso e são amplamente utilizadas, sobretudo nos países orientais, por diferentes segmentos de
indústrias de cosméticos e fármacos, além de serem utilizadas como alimentos pela população.
A produção global de algas marinhas cultivadas cresceu de 13,5 milhões de toneladas em
1995 para mais de 30 milhões de toneladas em 2016 (12). O comércio de plantas aquáticas,
a maioria algas marinhas, foi equivalente a mais de US $ 1 bilhão em 2016 (12). Portanto as
algas constituem um importante recurso pesqueiro que pode e deve ser explorado de forma
sustentável, agregando informações sociais, ambientais, tecnológicas, econômicas e de ma-
nejo para que a exploração possa ser desenvolvida ao longo de varias gerações.

3.2. Algas marinhas bentônicas das ilhas cos-


teiras do litoral sul capixaba
Neste levantamento, foram identificadas um total de 62 espécies, pertencentes a 29 fa-
mílias, distribuídas nos três filos: Rhodophyta (algas vermelhas), Chlorophyta (algas verdes)
e Ochrophyta (algas pardas) (Tabela 1).
O filo Ochrophyta está representado por 3 famílias e 13 espécies (21 %), com destaque
para a família Dictyotaceae com 10 espécies. O filo Chlorophyta está representado por 8 fa-
mílias e 17 espécies (27 %), sendo a família Caulerpaceae a mais diversa com cinco espécies.
Já o filo Rhodophyta é composto por 18 famílias e 32 espécies (52 %) (Figura 1). As famílias
Corallinaceae e Rhodomelaceae são as mais representativas dentre as algas vermelhas, com
seis e cinco espécies, respectivamente.

Figura 1. Representatividade dos grupos de algas marinhas nas ilhas do litoral sul capixaba.

Neste livro, estão sendo apresentadas as familias e gêneros com as informações especí-
ficas das espécies mais comuns identificadas nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba. Es-

74
Algas marinhas

sas algas podem ser observadas principalmente durante as marés baixas, fixas aos substratos
consolidados (costão rochoso, por exemplo) nas ilhas, e nas poças de marés (piscinas natu-
rais) que se localizam na região entremarés das ilhas costeiras.
As algas coletadas nesse estudo se concentram principalmente nas regiões do mesolito-
ral e infralitoral dos costões rochosos das ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Tabela 1. Lista de algas que ocorrem nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Chlorophyta
FAMÍLIA ESPÉCIE

Caulerpa cupressoides

Caulerpa mexicana

Caulerpaceae Caulerpa prolifera

Caulerpa racemosa

Caulerpa sertularioides

Codium intertextum

Codiaceae Codium isthmocladum

Codium taylorii

Halimedaceae Halimeda cuneata

Udoteaceae Udotea flabellum

Anadyomenaceae Anadyomene stellata

Boodleaceae Cladophoropsis membranacea

Chaetomorpha antennina
Cladophoraceae
Rhizoclonium riparium

Ulva fasciata

Ulvaceae Ulva intestinalis

Ulva lactuca

Ochrophyta
FAMÍLIA ESPÉCIE

Canistrocarpus cervicornis

Dictyopteris delicatula
Dictyotaceae
Dictyopteris jolyana

Dictyopteris polypodioides

75
Capítulo 03

Ochrophyta
FAMÍLIA ESPÉCIE

Dictyota ciliolata

Lobophora variegata

Padina gymnospora
Dictyotaceae
Padina pavonica

Spatoglossum schroederi

Zonaria tournefortii

Scytosiphonaceae Colpomenia sinuosa

Sargassum cymosum
Sargassaceae
Sargassum vulgare

Rhodophyta a
FAMÍLIA ESPÉCIE

Bangiaceae Pyropia acanthophora

Arthrocardia variabilis

Corallina officinalis

Corallina panizzoi
Corallinaceae
Jania rubens

Amphiroa beauvoisii

Amphiroa rigida

Dichotomaria marginata
Galaxauraceae
Tricleocarpa cylindrica

Ceramium brevizonatum
Ceramiaceae
Centroceras clavulatum

Dasya rigidula

Delesseriaceae Heterosiphonia gibbesii

Caloglossa leprieurii

Acanthophora spicifera

Alsidium seaforthii

Rhodomelaceae Bryocladia thyrsigera

Laurencia dendroidea

Osmundaria obtusiloba

Spyridiaceae Spyridia filamentosa

76
Algas marinhas

Rhodophyta
FAMÍLIA ESPÉCIE

Wrangeliaceae Wrangelia argus

Gelidiaceae Gelidium floridanum

Cystocloniaceae Hypnea pseudomuscifornis

Phyllophoraceae Gymnogongrus griffithsiae

Rhizophyllidaceae Ochtodes secundiramea

Solieriaceae Solieria filiformis

Crassiphycus birdiae
Gracilariaceae
Gracilaria domingensis

Halymeniaceae Cryptonemia seminervis

Plocamiaceae Plocamium brasiliense

Champiaceare Champia parvula

Lomentariaceae Ceratodictyon variabile

Chlorophyta (algas verdes)

Família: Caulerpaceae Nome científico: Caulerpa cupressoides

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Alga comestível (com restrições).
• Extratos possuem potencial antibacteriano, antifúngico, antioxidante, anticoagulante, anti-inflamatório,
antitrombótico e analgésico.

77
Capítulo 03

Família: Caulerpaceae Nome científico: Caulerpina prolifera

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Apresenta um composto químico da classe dos sesquiterpenos, denominado caulerpenina.
• Este composto possui atividade anticarcinogênica, antiproliferativa e antimicrobiana.

Família: Caulerpaceae Nome científico: Caulerpa racemosa

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Algas comestíveis, como salada na Polinésia e na Ilha Marquesas, contêm compostos que funcionam
como leves anestésicos e na medicina tradicional das Filipinas é usada para baixar a pressão arterial e
tratar o reumatismo. Elas possuem propriedades antibacterianas, antivirais, antifúngicas, inseticidas, an-
tioxidantes, anti-inflamatórias, anticoagulante, analgésica, hipolipidêmica, hipoglicêmica, antitumoral e
larvicida (mosquito da malária, filariose, dengue e febre amarela). O alcaloide caulerpina detém atividade
antinociceptiva similar à dipirona.

78
Algas marinhas

Família: Caulerpaceae Nome científico: Caulerpa sertularioides

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Consumida pelo homem no Caribe e na América Central. Nas Filipinas, é usada para fins dietéticos e
medicinais. Seus extratos têm atividade antitumoral, anti-inflamatória e antinociceptiva, serve, também,
no tratamento de hipertensão.

Família: Codiaceae Nome científico: Codium intertextum

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Utilizada como alimento (com restrições), possui propriedades vermífugas, antidiabéticas, antibacteria-
nas, antivirais e antifúngicas.

79
Capítulo 03

Família: Codiaceae Nome científico: Codium isthmocladum

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Utilizada como alimento em Yucatán, possui atividade antitumoral, antiproliferativa e anticoagulante.
Importante fonte de polissacarídeos do tipo galactanas sulfatadas.

Família: Codiaceae Nome científico: Codium taylorii

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• É utilizada como alimento no Caribe e também para enfeitar pratos de saladas em alguns restaurantes,
inclusive no Brasil. Possui elevado teor de sódio e potássio em comparação a outras macroalgas. É o ali-
mento favorito de algumas lesmas do mar.

80
Algas marinhas

Família: Halimedaceae Nome científico: Halimeda cuneata

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui atividade antimicrobiana. Essa espécie é potencial candidata como novas fontes de antioxidantes
naturais e inibidoras da acetilcolinesterase. Devido à capacidade de biomineralização do carbonato de
cálcio, é importante no sequestro de carbono e na construção e sedimentação da formação organogênica
de recifes e sedimentos superficiais marinhos.

Família: Anadyomenaceae Nome científico: Anadyomene stellata

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Utilizada na alimentação (com restrições). Possui potencial de cultivo em laboratórios em tanques. Ex-
tratos possuem atividade anticoagulante e antifúngica.

81
Capítulo 03

Família: Boodleaceae Nome científico: Cladophoropsis membranacea

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui atividade antimicrobiana e antitumoral. É uma alga tolerante a impactos ambientais e pode ser
usada como bioindicadora de metais pesados.

Família: Cladophoraceae Nome científico: Chaetomorpha antennina

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Espécie comestível (com restrições). Possui propriedades antivirais, antibacterianas, atividade nemati-
cida, antiplasmodial, larvicida e antioxidante. A heparina de C. antennina é um potencial agente anticoa-
gulante. Espécie tolerante a hidrocarbonetos.

82
Algas marinhas

Família: Cladophoraceae Nome científico: Rhizoclonium riparium

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Espécie usada no tratamento de feridas. Também possui altos níveis de proteína como parte da sua
composição nutricional.

Família: Ulvaceae Nome científico: Ulva fasciata

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• São tolerantes a locais com influência de água doce e indicadora de ambientes eutrofizados. Possui
textura delicada, de sabor fresco e saboroso. Utilizada em saladas, como tempero, cozido ou em sopas.
Alga rica em nutrientes, com diversas propriedades ativas para uso em produtos cosméticos. Detém ação
antiviral, algicida, antifúngica, larvicida, citotóxica, anti-incrustante, antibacteriana, antioxidante e fitopa-
togênico. Os ambientes costeiros próximos aos portos, complexos industriais e residenciais com elevado
aporte de nutrientes favorecem o aumento rápido de espécies de Ulva (“blooms”).
83
Capítulo 03

Família: Ulvaceae Nome científico: Ulva intestinalis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Essa espécie ocorre em regiões que sofrem influência de água doce. Usada como tempero em saladas
e no preparo de diversos alimentos, além de ração animal. Possui alto valor proteico, com potencial para
produção de biocombustíveis, além de apresentar ação antibacteriana, anti-incrustante, antioxidante, an-
tifúngica, antitumoral e imunomoduladora. Algas desse gênero são utilizadas na agricultura em diversos
países como Portugal, Itália, França, Chile e Brasil.

Família: Ulvaceae Nome científico: Ulva lactuca

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Utilizada na alimentação de animais ruminantes, ou como fertilizante agrícola, ou como tempero na fabrica-
ção de diversos produtos alimentícios, tais como, queijos, saladas. Estende-se a sua utilização em hidratantes,
em remineralizantes e em cosméticos. Possui ação larvicida (mosquitos da malária, filariose, dengue e febre
amarela) e propriedades antioxidantes, antibacterianas, antitumorais, anti-inflamatórias, antifúngica e antivi-
ral. Eficiente biofiltrador, além de bioindicador de poluição. Popularmente conhecida como ‘alface-do-mar’,
muito comum na costa brasileira e cultivada comercialmente em tanques na região do Rio de Janeiro, usado
para a elaboração de diversos produtos alimentícios, tais como, tempero e molho pesto.

84
Algas marinhas

Ochrophyta (algas pardas)

Família: Dictyotaceae Nome científico: Canistrocarpus cervicornis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui ação leishmanicida, antiprotozoária, anticoagulante, antiviral, antiveneno de cobras, anti-incrus-
tante, antifúngica, antiproliferativa e antioxidante.

Família: Dictyotaceae Nome científico: Dictyopteris delicatula

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Usada como item alimentício (com restrições). Os polissacarídeos do tipo heterofucanos dessa espécie
possuem atividades anticoagulante, antioxidante, antivirais e antitumorais.

85
Capítulo 03

Família: Dictyotaceae Nome científico: Dictyopteris jolyana

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Encontrada frequentemente como alga arribada. Possui atividade anticoagulante, antioxidante e anti-
tumoral. Espécies de Dictyopteris se caracterizam por apresentar sesquiterpenos e meroterpenos, que
constituem cerca de 13% do total de produtos naturais estudados em Dictyotaceae.

Família: Dictyotaceae Nome científico: Padina gymnospora

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui ação anti-inflamatória, hemaglutinante, anticancerígena, antioxidante, antifúngica, antiviral e an-
tibacteriana. Espécies desse gênero acumulam grandes quantidades de metais pesados, hidrocarbonetos
e organoclorados, por isso, são utilizadas como bioindicadoras de ambientes poluídos.

86
Algas marinhas

Família: Dictyotaceae Nome científico: Zonaria tournefortii

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Essa espécie possui atividade antibacteriana e antifúngica. Além disso, apresenta elevado teor de cloro-
fila a, carotenoides e substâncias fenólicas com capacidade antioxidante.

Família: Scytosiphonaceae Nome científico: Colpomenia sinuosa

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Vive em colônias de indivíduos agregados. É comestível e usada como fertilizante e fonte de ácido al-
gínico. Possui ação antibacteriana, antifúngica, antioxidante, antitumoral, antileucêmica, antiprotozoária
e hipolipidêmica. Apresenta elevados conteúdos de fucoidano, um polissacarídeo com grande atividade
biológica, por exemplo, anticoagulante, antibacteriana e antioxidante.

87
Capítulo 03

Família: Sargassaceae Nome científico: Sargassum cymosum

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui ação antiviral. Suas propriedades podem ser semelhantes às citadas para a espécie Sargassum vulgare.

Família: Sargassaceae Nome científico: Sargassum vulgare

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Fonte de alginato. Possui atividade antihelmíntica, antimicrobiana, antifúngica, antitumoral, antilipêmi-
ca, anti-incrustante, antimicrobiana, anticoagulante, antitrombótica e anti-inflamatória. Espécies de Sar-
gassum representam cerca de 39% do total de produtos naturais estudados na Família Sargassaceae e
correspondem às algas pardas mais comuns em ambientes temperados, tropicais e subtropicais, repre-
sentando um importante recurso natural amplamente distribuído no nosso litoral. Espécies de Sargassum
são utilizadas na Ásia na alimentação e na medicina tradicional como expectorante e para tratar laringite,
hipertensão, infecções, febre e bócio.

88
Algas marinhas

Rhodophyta (algas vermelhas)

Família: Bangiaceae Nome científico: Pyropia acanthophora

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• No Brasil, a espécie é utilizada na alimentação. É muito apreciada e utilizada na culinária japonesa, popu-
larmente conhecida como “nori”. Em termos nutricionais, é uma espécie bastante rica.

Família: Corallinaceae Nome científico: Arthrocardia variabilis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Espécie de importância ecológica, servindo como local de abrigo para invertebrados marinhos. Impor-
tante fonte de fertilizante calcário.

89
Capítulo 03

Família: Corallinoideae Nome científico: Corallina officinalis L.

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Essa espécie é utilizada como ingrediente de cosméticos e produtos de higiene pessoal comercializados,
principalmente, nos Estados Unidos, China, Itália, França, Suíça e Alemanha. Possui propriedades antioxi-
dantes, anticâncer e antibacteriana.

Família: Corallinoideae Nome científico: Jania rubens

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui alto valor como fertilizantes devido à sua elevada composição de carbonato de cálcio, magnésio
e oligoelementos (ex. Fe, Mn, B, Ni, Cu, Zn, Mo, Se e Sr), sendo superiores a outros fertilizantes industria-
lizados. Apresenta ação antitumoral, bio-inseticida, antimicrobiana, antihelmíntica, citotóxica, anti-incrus-
tante e antifúngica. Espécies de algas calcáreas, por exemplo, Corallina, Jania e Amphiroa são utilizadas
como corretivo de solos ácidos (pH ácido). A calcificação em Jania é interpretada como uma defesa
contra animais herbívoros, entretanto, outras funções também são atribuídas. Essa espécie forma densos
tapetes, permitindo assim maior resistência ao embate das ondas.

90
Algas marinhas

Família: Lithophylloideae Nome científico: Amphiroa beauvoisii

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui atividade antioxidante e ação inibitória da enzima acetilcolinesterase, importante no tratamento
do Alzheimer.

Família: Galaxauraceae Nome científico: Dichotomaria marginata

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui propriedades antioxidantes.

91
Capítulo 03

Família: Galaxauraceae Nome científico: Tricleocarpa cylindrica

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui ação antiviral e antitumoral. Espécies desse gênero apresentam classes de triterpenoides com
ação biológica.

Família: Ceramiaceae Nome científico: Centroceras clavulatum

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui propriedades antioxidantes, anticâncer, antibacteriana, antifúngica, antiviral e anti-helmíntica. Estu-
dos sugerem o potencial da espécie para produção de nanopartículas metálicas para combater a dengue.

92
Algas marinhas

Família: Delesseriaceae Nome científico: Dasya rigidula

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Espécie com ação antibacteriana contra Escherichia coli. É fonte de ácidos graxos, podendo ser utilizada
como suplemento alimentar na dieta humana e na ração animal.

Família: Delesseriaceae Nome científico: Heterosiphonia gibbesii

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui atividade antileishmania e potencial antioxidante.

93
Capítulo 03

Família: Rhodomelaceae Nome científico: Acanthophora spicifera

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Utilizada no preparo de saladas (com restrições) e como fonte de carragenana nas Filipinas e no Vietnã.
Essa espécie possui propriedades antioxidantes, anticancerígena, antiviral, anti-inflamatória, antifúngica,
analgésica e antibiótica e proteção cardiorrespiratória. Estudos mostram seu potencial como fertilizantes
e na produção de biofilme biodegradável com ação antibacteriana para alimentos perecíveis. Espécie
indicadora de locais com alto conteúdo de matéria orgânica. É uma espécie exótica invasora no Havaí,
nas Ilhas Marshall e no México.

Família: Rhodomelaceae Nome científico: Alsidium seaforthii

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Até pouco tempo classificada como Bryothamnion seaforthii. Possui lectinas com propriedades anal-
gésicas e cicatrizantes. Essa espécie tem potencial anti-incrustante que pode ser aplicado em casco de
embarcações e plataformas de petróleo.

94
Algas marinhas

Família: Rhodomelaceae Nome científico: Laurencia dendroidea

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• O gênero Laurencia é uma das algas vermelhas mais estudadas, pois se destaca pela produção de diver-
sos metabólitos secundários com atividade biológica, como citotóxica, anti-herbivoria, anti-incrustante,
antibacteriana, antiparasitária, antiviral, antifúngica e antitumoral. Esses metabólitos têm sido relaciona-
dos como mecanismos de defesa contra herbivoria e anti-incrustante, sendo o elatol, um terpeno haloge-
nado, um dos mais estudados com potencial anti-inflamatório e antimicobacteriano.

Família: Rhodomelaceae Nome científico: Osmundaria obtusiloba

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Muito frequente entre as algas arribadas. Possui atividade antioxidante e aglutinante de bactérias, além
de ação antiviral, anti-inflamatória e antitumoral. Muitas das ações bioativas têm relação com seu elevado
teor de bromofenóis. A espécie possui potencial na aplicação como bioestimulante de germinação de
sementes e crescimento de mudas na agricultura.

95
Capítulo 03

Família: Cystocloniaceae Nome científico: Hypnea pseudomusciformis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• É uma das principais espécies explotadas, nos bancos naturais da costa nordeste do Brasil, como fonte
para carragenana. Possui atividades antioxidantes, anticâncer e larvicida, contra a larva do mosquito da
dengue. Espécie utilizada na alimentação humana no Vietnã e como complemento proteico na ração ani-
mal. Algumas espécies desse gênero são utilizadas em cosméticos como tratamento e coloração capilar,
xampus, condicionadores, géis de massagem e hidratantes da pele.

Família: Solieriaceae Nome científico: Solieria filiformis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Fonte de carragenana, importante devido às suas propriedades espessantes, estabilizantes e gelifican-
tes. Possui também uma lectina (glicoproteínas com ação aglutinante) com propriedades antinociceptiva,
anti-inflamatória, anticoagulante, citotóxica e antibacteriana.

96
Algas marinhas

Família: Gracilariaceae Nome científico: Crassiphycus birdiae

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Até pouco tempo classificada como Gracilaria birdiae. Possui propriedades antioxidantes, anticoagu-
lante e anti-inflamatória, além de apresentar aminoácidos do tipo micosporinas que podem ser utili-
zados como compostos fotoprotetores. Esse gênero se destaca por sua importância econômica como
matéria prima para produção de ágar, um coloide utilizado principalmente na indústria alimentícia. Entre
as décadas de 70 a 90, a explotação dos bancos naturais de Gracilariaceae na costa nordeste do Brasil,
especialmente das espécies Crassiphycus birdiae, C. caudatus e Gracilaria domingensis, representou um
importante papel na economia das populações costeiras. Atualmente, C. birdiae é cultivada em pequena
escala nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Família: Halymeniaceae Nome científico: Cryptonemia seminervis

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui propriedades antioxidantes e antiviral, especificamente para o vírus metapneumovírus humano
(HMPV).

97
Capítulo 03

Família: Plocamiaceae Nome científico: Plocamium brasiliense

Habitat Distribuição no ambiente

Aplicações e curiosidades:
• Possui atividade antiviral, anti-inflamatória, antiveneno de cobra. O gênero apresenta monoterpenos
halogenados com elevada ação bioativa.

3.3. Considerações finais


Os resultados indicam elevado número de espécies para as ilhas costeiras da região, des-
tacando a presença de espécies como Crassiphycus birdiae (sinônimo de Gracilaria birdiae)
com alto potencial na produção de ágar, utilizado como matéria prima em diversas indústrias
farmacêuticas, cosméticas e alimentícias. Outras espécies em destaque são Ulva fasciata, U.
lactuca e Caulerpa racemosa com grande utilidade na alimentação direta para o ser humano,
ou processadas, agregando valor à ração de animais, além de serem usadas na agricultura e na
medicina por apresentarem atividades antivirais.  
O elevado número de espécies presentes nas áreas estudadas corrobora a importância
do reconhecimento e da preservação das ilhas do litoral sul capixaba. Algumas espécies cha-
mam atenção pela abundância, estando presentes em todas as ilhas que foram abrangidas
neste estudo.
Espécies de grande porte, como as dos gêneros Sargassum, Cryptonemia e Laurencia são
também importantes em termos ecológicos. Estas algas costumam abrigar uma rica flora e
fauna associada que vivem aderidas ou próximas as algas, contribuindo para o aumento da
diversidade local. Os dados apresentados neste capítulo mostram que as ilhas exibem uma
flora de macroalgas composta por diversas espécies com potencial biotecnológico, sugerindo
a importância da conservação desses organismos nas ilhas costeiras.

98
Algas marinhas

Regiões pouco estudadas, como as ilhas do litoral sul capixaba, constituem uma fonte de
informação que enriquece o conhecimento da biodiversidade, propiciando a descoberta de
novas ocorrências de macroalgas marinhas.
Já foram desenvolvidos cultivos experimentais de Hypnea pseudomusciformis na Ilha
dos Cabritos. Esse cultivo faz parte das atividades da disciplina de Cultivo de Algas, oferecida
aos estudantes do 6º período do curso de graduação em Engenharia de Pesca do Ifes Piúma.
Foram obtidos resultados satisfatórios do cultivo dessa espécie na região das ilhas costei-
ras. Para isso, foi utilizado o sistema tipo balsa flutuante para o desenvolvimento do cultivo.
Dessa forma, são necessários mais estudos para definir os parâmetros ideais e os melhores
locais para que o cultivo de algas possa ser desenvolvido da melhor forma possível, atrelando
os princípios da sustentabilidade nessa prática de aquicultura.

Referências
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5. GUIMARÃES, S.M.P.B. A revised checklist of benthic marine Rhodophyta from
the state of Espírito Santo, Brazil. Boletim do Instituto de Botânica. v. 17, p. 143-
194, 2006.
6. PEDRINI, A.G. Macroalgas: uma introdução à Taxonomia. 1 ed. Rio de Janeiro:
Technical Book, 2010.
7. NASSAR, C. Macroalgas Marinhas do Brasil: guia de campo das principais es-
pécies. 1 ed. Rio de Janeiro: Technical Books, 2012.
8. KUMAR, C.S., GANESAN, P., SURESH, P.V., BHASKAR, N. Seaweeds as a source
of nutritionally beneficial compounds - A Review. Journal of Food Science and
Technology. Mysore v. 45, n. 1, p. 1-13, 2008.
9. SOUZA, G. C. C. F. Algas Marinhas. Dossiê Técnico. Paraná: Instituto de Tec-
nologia do Paraná, 2011.

99
Capítulo 03

10. NETO, J.A.; MUTUE, T.F. Guia Ilustrativo de identificação e utilização de


algas marinhas bentônicas do estado de São Paulo. São Carlos: Rima Editora,
184 p, 2016.
11. CASTELAR, B. Algicultura de espécies nativas: alternativas ao uso da
espécie exótica Kappaphycus alvarezii (Doty) Doty ex P.C. Silva (Rhodo-
phyta, Solieriaceae) em áreas de alto risco de invasão no Brasil. Rio de Ja-
neiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2014.
12. WYNNE, M.J. A check-list of benthic marine algae of the tropical and
subtropical western Atlantic: fourth revision. Nova Hedwigia, 202 p. 2017.
13. FAO. The State of World Fisheries and Aquaculture: Meeting the Sustai-
nable Development Goals. Roma, 227 p. 2018.

100
Algas marinhas

101
Capítulo 04
Invertebrados: Moluscos,
Poliquetas e Crustáceos
Karla Gonçalves da Costa, Paula Heloisa Santana Resende,
Isabela Jabour e Silva, Felipe Souza Cordeiro, Raynara Costa
Pereira, Tâmara Fuzari, Joelson Musiello-Fernandes e Thiago
Holanda Basilio

“Depois que eu entrei no projeto eu passei a perceber e ver coisas que eu não sabia nem que
existiam e que por menor que seja, continua tendo sua importância no meio ambiente”
J o s é C a r l o s P a c a s s i n i N e t o , 14 anos

102
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

4.1. Introdução

A
tualmente, existem cerca de 1.382.402 espécies de animais vivos, descritos e no-
meados (1). Dessas, cerca de 58.000 são de vertebrados e 1.324.402 são de inver-
tebrados, de modo que os invertebrados representam 96% dos animais descritos
no mundo (Figura 1), estando distribuídos em 32 filos do Reino Animal (Metazoa).

Figura 1. Porcentagem da quantidade de animais vivos,


vertebrados (4 %) e invertebrados (96%). Fonte: (1)

Assim como os vertebrados, os invertebrados também conseguem se locomover e cres-


cer, possuem formas bem variadas e ainda podem habitar todos os ambientes, tudo graças a
suas diversas adaptações, por exemplo, esqueleto hidrostático, endoesqueleto rígido, exoes-
queleto, entre outros, proporcionando um grande sucesso evolutivo.
Mesmo habitando todos os lugares do planeta, é no ambiente marinho que se concentra
a maior diversidade de espécies de invertebrados (1). Dos 30 filos viventes nos oceanos, 100%
habitam os ambientes bentônicos em alguma parte do ciclo de vida (2). Bentos são os orga-
nismos que vivem associados ao fundo do mar, também conhecido como ambiente bentônico
ou bêntico.
A fauna bentônica pode estar fixada aos substratos duros (i.e. esponjas, hidrozoários,
corais, briozoários, moluscos, equinodermos), enterrada nos sedimentos (i.e. moluscos, ane-

103
Capítulo 04

lídeos poliquetos), locomovendo-se sobre o fundo dos oceanos (i.e. moluscos, crustáceos,
equinodermos) ou mesmo em associações biológicas (animais sobre algas, animais sobre
animais). Dessa maneira, o tipo de substrato afeta diretamente a distribuição dos organis-
mos que compõem a comunidade bentônica (3).
Os costões rochosos são considerados um dos mais importantes ecossistemas litorâneos,
principalmente por se tratar de um ambiente bastante heterogêneo e complexo, o que possibili-
ta maior densidade e diversidade de invertebrados. Esses locais oferecem substratos adequados
para fixação de um grande número de larvas, fazendo com que haja um grande adensamento e
um número diverso de espécies. Nesses ecossistemas vivem um grande número de espécies de
grande importância ecológica e econômica, como mexilhões, ostras e crustáceos, e são locais de
alimentação, refúgio, crescimento e reprodução para diversas espécies (2;3).

4.2. Invertebrados das ilhas costeiras do lito-


ral sul capixaba
Neste capítulo, serão apresentados os invertebrados pertencentes ao filo Mollusca, a
classe Polychaeta (filo Annelida) e subclasse Crustacea (filo Arthropoda), encontrados nos
costões rochosos das ilhas costeiras de Piúma e de Itapemirim.
Dessa forma, foram identificados um total de 88 taxons de invertebrados distribuídos em
53 moluscos, 15 poliquetas (anelídeos) e 20 crustáceos (Figura 2). A seguir, estão apresenta-
das as características e as fotos desses invertebrados identificados.

Figura 2. Quantidade de táxons identificados dos invertebrados


que ocorrem nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

104
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

4.2.1. Moluscos

Os moluscos representam um dos maiores e mais diversos filos de todo o reino animal,
nas quais são conhecidas em torno de 80.000 espécies viventes e a mesma quantidade de
fósseis. No entanto, estima-se que somente cerca de metade das espécies viventes foram des-
critas até o momento.
Além das três classes Mollusca mais conhecidas, que incluem os mariscos (Bivalvia), os
caracóis e as lesmas (Gastropoda) e as lulas e os polvos (Cephalopoda), existem mais outras
cinco classes existentes e pouco conhecidas, como: quítons (Polyplacophora), conchas den-
te-de-elefante ou dentálios (Scaphopoda), Neopilina e seus parentes (Monoplacophora) e as
classes aplacóforas vermiformes – Caudofoveata (ou Chaetodermomorpha) e Solenogastres
(ou Neomeniomorpha) (1).
O nome do filo é derivado do latim molluscus, que significa “mole”, em alusão à similari-
dade de bivalves e gastrópodes com a “mollusca”, um tipo de noz do Velho Mundo, que apre-
senta polpa macia e casca fina e dura.
Embora os moluscos sejam muito diferentes em sua aparência superficial, existem algu-
mas características que definem esse grupo. Todos os organismos são constituídos por uma
cabeça, um pé ventral e muscular e vísceras, que é acomodada na massa visceral. Algumas
dessas características sofrem modificações dependendo da classe de molusco, como a cabeça
indistinguível em bivalves, o pé modificado em sifão nos cefalópodes e a massa visceral retor-
cida em gastrópodes e cefalópodes.
Mas são as conchas que mais chamam a atenção no grupo. As conchas podem estar pre-
sentes ou ausentes, serem externas ou internas, serem únicas e simétricas ou retorcidas,
serem duplas (bivalves) ou várias placas (poliplacóforas). Elas são utilizadas na fabricação
de botões, bijuterias, corretivo de solo, argamassa de casas e pavimentação de ruas, além de
serem aproveitadas como complemento de cálcio na alimentação humana (pó de ostra) (4).
No litoral sul capixaba, as conchas são extraídas desde a década de 1950, especialmente nas
regiões de Piúma e municípios vizinhos, para a confecção de bijuterias e artesanatos, conce-
dendo a Piúma o título de “Cidade das Cochas” (5, 13).
Evidências comprovam que os moluscos já tiveram diversas aplicações para o homem
desde a época da Antiguidade. Em diversas culturas as conchas já foram utilizadas como
ferramentas, moeda, decoração, símbolos religiosos, entre outros. São esses organismos que
produzem as famosas pérolas. Atualmente, tem grande importância principalmente no setor
alimentício, onde mexilhões e ostras são extraídos e comercializados como alimento (1,5, 13).
Quanto a sua distribuição, os moluscos são encontrados em diversos habitats, como em
rios e lagos, no mar e em terra. Alguns vivem aderidos a um substrato e outros são livres,
podendo rastejar, nadar ou se enterrar. Em costões rochosos são encontrados diversos mo-
luscos. Os bivalves, como mexilhões e ostras, vivem em grande quantidade, formando bancos
ou aderidos a rochas e até mesmo a outros organismos. Já os gastrópodes são os mais diver-

105
Capítulo 04

sos, apresentando várias espécies herbívoras, se alimentando de algas e microalgas que ficam
grudadas no costão, e até mesmo predadores, sendo considerados muito importantes para o
equilíbrio do sistema.
Um total de 53 táxons dos moluscos foram identificados nas ilhas costeiras do litoral sul
capixaba, distribuídos em 32 famílias e três Classes (Tabela 1). A Família Columbellidae foi
representada pela maior quantidade de táxons identificados, seguido da Fissurellidae, Litto-
rinidae e Mytilidae.

Tabela 1. Lista taxonômica de moluscos que ocorrem nas Ilhas costeiras do litoral Sul Capixaba.

Família Menor taxon


Classe Polyplacophora
Lepdochitonidae Lepidochitona rosea
Ischnochiton istriolatus
Schnochitonidae
Stenoplax sp.
Callistochiton righii
Callistoplacidae
Acanthochitona sp.
Classe Gastropoda
Fissurella nimbosa
Fissurellidae Fissurella clenchi
Fissurella rosea
Lottidae Lottia subrugosa
Tegulidae Tegula viridula
Astralium latispina
Turbinidae
Lithopoma tectum
Eulithidium affine
Phasianellidae
Eulithidium bellum
Echinolittorina ziczac
Littorinidae
Littoraria flava
Rissoinidae Phosinella cancellata
Caecidae Caecum sp.
Cerithium atratum
Cerithidae
Bittiolum varium
Calyptraeidae Crepidula protea
Velutinidae Lamellaria mopsicolor
Ranellidae Monoplex parthenopeus

106
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família Menor taxon


Classe Gastropoda
Cerithiopsidae Seila adamsii
Triphoridae Marshallora nigrocincta
Trachypollia turricula
Muricidae
Stramonita brasiliensis
Pisania pusio
Pisaniidae
Engina turbinella
Columbella mercatoria
Anachis lyrata
Costoanachis sertulariarum
Columbellidae
Costoanachis sparsa
Parvanachis obesa
Mitrella dichroa
Nassariidae Phrontis vibex
Melongenidae Pugilina morio
Fasciolariidae Leucozonia nassa
Classe Bivalvia
Lunarca ovalis
Arcidae
Anadara sp.
Brachidontes sp.
Mytilidae Perna perna
Modiolus carvalhoi
Pteriidae Pinctada imbricata
Isognomonidae Isognomon bicolor
Ostrea equestris
Ostreidae Ostrea puelchana
Crassostrea brasiliana
Lucinidae Divaricella sp.
Semele proficua
Semelidae
Semelina nuculoides
Veneridae Petricola bicolor
Corbulidae Caryocorbula cymella

107
Capítulo 04

Família: Callistoplacidae Nome científico: Acanthochitona sp.

Habitat Status de conservação Importância


econômica

Família: Fissurellidae Nome científico: Fissurella nimbosa (linnaeus, 1758)

Habitat Status de conservação Importância eco-


nômica

108
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Fissurellidae Nome científico: Fissurella clenchi

Habitat Status de conservação Importância


econômica

Família: Fissurellidae Nome científico: Fissurella rosea

Habitat Status de conservação Importância


econômica

109
Capítulo 04

Nome científico: Lottia subrugosa


Família: Lottidae
Nome Popular: Chapéu chinês

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Nome científico: Tegula viridula


Família: Tegulidae
Nome Popular: Rosquinha

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

110
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Turbinidae Nome científico: Astralium latispina

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Turbinidae Nome científico: Lithopoma tectum

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

111
Capítulo 04

Família: Phasianellidae Nome científico: Eulithidium bellum

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Nome científico: Echinolittorina ziczac


Família: Littorinidae
Nome Popular: Birosca, caramujo zebra

Habitat Status de conservação Importância eco-


nômica

112
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Littorinidae Nome científico: Littoraria flava

Habitat Status de conservação

Família: Rissoinidae Nome científico: Phosinella cancellata

Habitat Status de conservação

113
Capítulo 04

Família: Cerithidae Nome científico: Cerithium atratum

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Cerithidae Nome científico: Bittiolum varium

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

114
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Ranellidae Nome científico: Monoplex parthenopeus

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Cerithiopsidae Nome científico: Seila adamsii

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

115
Capítulo 04

Família: Triphoridae Nome científico: Marshallora nigrocincta

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Muricidae Nome científico: Trachypollia turricula

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

116
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Nome científico: Stramonita brasiliensis


Família: Muricidae
Nome popular: Saquaritá

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Pisaniidae Nome científico: Pisania pusio

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

117
Capítulo 04

Família: Pisaniidae Nome científico: Engina turbinella

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Columbellidae Nome científico: Columbella mercatoria

Habitat Status de conservação

118
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Columbellidae Nome científico: Anachis lyrata

Habitat Status de conservação

Família: Columbellidae Nome científico: Costoanachis sertulariarum

Habitat Status de conservação

119
Capítulo 04

Família: Columbellidae Nome científico: Costoanachis sparsa

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Columbellidae Nome científico: Costoanachis sparsa

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

120
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Nassariidae Nome científico: Phrontis vibex

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Melongenidae Nome científico: Pugilina morio

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

121
Capítulo 04

Família: Fasciolariidae Nome científico: Leucozonia nassa

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Arcidae Nome científico: Anadara sp.

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

122
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Mytilidae Nome científico: Brachidontes sp.

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Nome científico: Perna perna


Família: Mytilidae
Nome popular: Sururu, mexilhão, marisco

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

123
Capítulo 04

Família: Mytilidae Nome científico: Modiolus carvalhoi

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Pteriidae Nome científico: Pinctada imbricata

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

124
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Ostreidae Nome científico: Ostrea equestris

Habitat hábito alimentar Status de conservação

Família: Ostreidae Nome científico: Ostrea puelchana

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

125
Capítulo 04

Família: Ostreidae Nome científico: Crassostrea brasiliana

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Lucinidae Nome científico: Divaricella sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

126
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Semelidae Nome científico: Semelina nuculoides

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

Família: Veneridae Nome científico: Petricola bicolor

Habitat Hábito alimentar Status de conservação

127
Capítulo 04

4.2.2. Anelídeos

O Filo Annelida compreende os vermes segmentados e inclui as familiares minhocas


(Subclasse Oligochaeta) e sanguessugas (Subclasse Hirudinea), bem como diversos vermes
marinhos, representantes da Classe Polychaeta. Diferente das minhocas e sanguessugas, os
poliquetas possuem apêndices laterais locomotores e diversas estruturas cefálicas.
Polychaeta corresponde a uma classe do filo Annelida que inclui aproximadamente mais
de dez mil espécies descritas, 2/3 dos anelídeos, com a maioria dos representantes no am-
biente marinhos (6). Os poliquetas participam significativamente da cadeia alimentar das
comunidades bentônicas, contribuindo no volume de alimento ingerido por algumas espé-
cies de peixes de importância econômica (7). Além disso, as “minhocas marinhas” também
são usadas como iscas para a pesca esportiva, fonte de inseticida de origem biológica e indi-
cadores biológicos.
No geral, os poliquetas apresentam o corpo segmentado, sendo que em cada segmento
possui um par de estruturas laterais, chamados de parapódios, que podem possuir uma gran-
de quantidade de cerdas (Figura 3). É frequente a presença de brânquias distribuídas ao lon-
go do corpo desse animal.  

Figura 3. Esquema da parte anterior de um poliqueta (Fonte: 1)

Os poliquetas ocorrem em todos os sedimentos marinhos e bentônicos, sendo comuns e


abundantes em costões rochosos. Exercem grande papel ecológico, pela importante partici-
pação na cadeia alimentar e como bioindicador. O conhecimento das espécies de poliquetas
que habitam esse ecossistema ainda é pobre, sendo concentrado principalmente na região
mediolitoral, isso talvez pelo fato de ser a região dos principais trabalhos publicados nos últi-
mos anos com descrições ecológicas para a costa brasileira (8).

128
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Um total de 15 táxons dos Poliquetas foram identificados nas ilhas costeiras do litoral sul ca-
pixaba, distribuídos em cinco Famílias e três Ordens. A Família Nereididae foi a que possuiu o
maior número de táxons identificados. Seguidas das Famílias Eunicidae e Polynoidae (Tabela 2).

Tabela 2. Lista taxonômica de poliquetas que ocorrem nas Ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Família Menor táxon


Halosydnella sp.
Polynoidae
Harmothoe sp.
Sigalionidae Sigalionidae sp.
Perinereis sp.
Perinereis anderssoni 
Perinereis ponteni
Nereididae
Pseudonereis sp.
Pseudonereis palpata
Nereis riisei
Eunice sp.
Eunice kinbergi
Eunicidae Lysidice sp.
Marphysa sp. 
Nicidion cariboea 
Sabellariidae Phragmatopoma sp.

Família: Polynoidae Nome científico: Halosydnella sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

129
Capítulo 04

Família: Polynoidae Nome científico: Harmothoe sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Nereididae Nome científico: Perinereis sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

130
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Nereididae Nome científico: Perinereis anderssoni

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Nereididae Nome científico: Pseudonereis sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

131
Capítulo 04

Família: Nereididae Nome científico: Pseudonereis palpata

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Nereididae Nome científico: Nereis riisei

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

132
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Eunicidae Nome científico: Eunice kinbergi

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

Família: Eunicidae Nome científico: Marphysa sp.

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

133
Capítulo 04

Família: Eunicidae Nome científico: Nicidion cariboea

Habitat Hábito Status de Importância


alimentar conservação econômica

4.2.3. Crustáceos

Os crustáceos representam um dos grupos mais conhecidos de invertebrados porque in-


cluem alguns dos itens mais apreciados para alimentação humana, como lagostas, carangue-
jos e camarões. Crustacea corresponde a um subfilo do filo Arthropoda (= patas ou apêndices
articulados) que inclui aproximadamente 70.000 espécies descritas (1), com representantes
de diferentes formas corporais, habitando ambientes aquáticos, como camarões, lagostins,
lagostas, caranguejos e siris, ou terrestres, como tatuzinhos-de-jardim.
O nome Crustacea deriva do latim crusta, que significa crosta = pele grossa, se referindo
ao exoesqueleto, também chamado de carapaça, a qual é composta de uma proteína (um com-
plexo químico denominado quitina) e de carbonato de cálcio. O corpo dos crustáceos está
organizado em, pelo menos, duas divisões, cabeça e tronco, ambas formadas por diversos seg-
mentos. A parte anterior do tronco é chamada de tórax e a posterior, abdome. A unidade mais
terminal do corpo dos crustáceos chama-se télson (1, 4).
São pequenos crustáceos com mais de 6.000 espécies descritas, possuem corpo lateral-
mente comprimido com olhos compostos e sésseis, não possuem carapaça, primeiro seg-
mento torácico fundido à cabeça (9).
ORDEM ISOPODA: A ordem Isopoda possui representantes em ambientes marinhos,
salobros, de água doce e terrestres. A grande maioria das espécies é de vida livre, mas existem
algumas espécies parasitas. Têm o corpo dividido em cabeça, tórax e abdome (10).

134
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

ORDEM DECAPODA: É a maior ordem dos crustáceos, somam quase um quarto das
espécies conhecidas, em geral, essa ordem possui a carapaça fundida dorsalmente com todos
os oitos segmentos torácicos. As projeções da carapaça recobrem totalmente as brânquias.
A cabeça possui um rostro fixo, com olhos compostos pedunculados (9). Pertencem a este
grupo os camarões, siris, e os caranguejos.
ORDEM SESSILIA: O corpo é totalmente envolto por uma carapaça pétrea. Tem a for-
mato de cone formado por seis placas que se fixam nas rochas pela base (11). Antigamente
eram classificados junto dos moluscos.
Dentre os grupos que habitam os costões rochosos, os crustáceos possuem grande im-
portância nos processos ecológicos. Além disso, são importantes na caracterização de am-
bientes saudáveis, pois funcionam como bioindicadores de qualidade ambiental (12).
Um total de 20 táxons dos crustáceos foram identificados nas ilhas costeiras do litoral
sul capixaba, distribuídos em 24 famílias e três ordens. A Família Portunidae foi a que pos-
suiu um maior número de táxons identificados. Seguidas das Famílias Epialtidae, Mithraci-
dae, Pilumnidae e Panopeidae (Tabela 3).

Tabela 3. Lista taxonômica de crustáceos que ocorrem nas Ilhas costeiras do litoral Sul Capixaba

Família Menor táxon


Ordem Amphipoda
Amplilochidae --
Aoridae --
Bateidae --
Caprellidae --
Hyalidae --
Leucothidae --
Melitidae --
Phoxocephalidae --
Ordem Isopoda
Anthuridae --
Cirolanidae --
Janiridae --
Ordem Decapoda
Aetrhidae Hepatus scaber
Diogenidae Calcinus tibicen
Acanthonyx scutiformis
Epialtidae
Epialtus bituberculatus
Grapsidae Pachygrapsus transversus
Omalacantha antillensis
Mithracidae
Mithraculus forceps
Paguridae Pagurus brevidactylus

135
Capítulo 04

Família Menor táxon


Ordem Decapoda
Eurypanopeus abbreviatus
Panopeidae
Panopeus americanus
Pilumnus dasypodus
Pilumnidae
Pilumnus spinosissimus
Petrolisthes armatus
Porcellanidae
Pachycheles monilifer
Callinectes danae
Portunidae Callinectes ornatus
Callinectes sapidus
Ordem Sessilia
Balanidae Balanus amphtrite
Chthamalidae Chthamalus bisinuatus
Tetraclitidae Tetraclita stalactifera

Família: Aetrhidae Nome científico: Hepatus scaber


TAMANHO MÉDIO: 5 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

136
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Nome científico: Calcinus tibicen


Família: Diogenidae
Nome popular: Ermitão
TAMANHO MÉDIO: 5,9 MM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Família: Epialtidae Nome científico: Acanthonyx scutiformis


TAMANHO MÉDIO: 1,5 CM

Habitat Status de conservação Importância econômica

137
Capítulo 04

Família: Epialtidae Nome científico: Epialtus bituberculatus


TAMANHO MÉDIO: 1,5 CM

Habitat Status de conservação Importância econômica

Família: Grapsidae Nome científico: Pachygrapsus transversus


TAMANHO MÉDIO: 3 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

138
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Mithracidae Nome científico: Omalacantha antillensis


TAMANHO MÉDIO: 10 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Família: Mithracidae Nome científico: Mithraculus forceps


TAMANHO MÉDIO: 8 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

139
Capítulo 04

Família: Panopeidae Nome científico: Eurypanopeus abbreviatus


TAMANHO MÉDIO: 8 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Família: Panopeidae Nome científico: Panopeus americanus


TAMANHO MÉDIO: 8 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

140
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Família: Pilumnidae Nome científico: Pilumnus dasypodus


TAMANHO MÉDIO: 5 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Família: Porcellanidae Nome científico: Petrolisthes armatus


TAMANHO MÉDIO: 1,5 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

141
Capítulo 04

Família: Porcellanidae Nome científico: Pachycheles monilifer


TAMANHO MÉDIO: 1,5 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

142
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Nome científico: Callinectes danae


Família: Porcellanidae
Nome popular: Siri
TAMANHO MÉDIO: 12 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

143
Capítulo 04

Nome científico: Callinectes ornatus


Família: Portunidae
Nome popular: Siri
TAMANHO MÉDIO: 12 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

144
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Nome científico: Callinectes sapidus


Família: Portunidae
Nome popular: Siri
TAMANHO MÉDIO: 12 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

145
Capítulo 04

Nome científico: Balanus amphitrite


Família: Balanidae
Nome popular: Craca
TAMANHO MÉDIO: 5 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

Nome científico: Chthamalus bisinuatus


Família: Chthamalidae
Nome popular: Craca
TAMANHO MÉDIO: 3 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

146
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

Nome científico: Tetraclita stalactifera


Família: Tetraclitidae
Nome popular: Craca
TAMANHO MÉDIO: 3 CM

Habitat Hábito alimentar Status de conservação Importância econômica

4.3. Considerações finais


No levantamento de invertebrados realizado nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba,
foi constatada uma grande riqueza e diversidade de espécies, demonstrando a importância
ecossistêmica deste grupo para a conservação e manutenção da biodiversidade local. Neste
sentido, é importante frisar que estes grupos (poliquetas, moluscos e crustáceos) apresen-
tam importância na alimentação de diversos outros organismos, como os peixes e aves, além
da importância na alimentação humana.
Outro fator que demonstra a importância do grupo é relativo ao fluxo de energia no ecos-
sistema e manutenção da estrutura trófica, pois são considerados recuperadores de energia
do ambiente, como decompositores de matéria orgânica e detritos, proporcionando energia a
diversos níveis da cadeia alimentar, como pode ser observado no capitulo 6, dos Peixes.
Nas ilhas costeiras estudadas esses invertebrados estão expostos à ação direta do ho-
mem. Dentre as interferências dos seres humanos, podemos citar a extração da concha dos
moluscos para o artesanato e a captura, para a alimentação/comércio, de crustáceos (siris) e
moluscos (Perna perna), conhecidos por sururus ou mexilhões.
De fato, os mexilhões sofrem diretamente com as ações do homem, influenciando negativa-
mente o equilíbrio do ecossistema. Para reduzir o impacto da pesca desse recurso, foi criada um
período de Defeso, ou seja, a pesca fica proibida em um determinado período do ano para evitar
a redução das populações dessa espécie nos estados do litoral sudeste e sul do Brasil. Assim, a
Instrução normativa (IN) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

147
Capítulo 04

Renováveis (IBAMA), nº 105 de 20 de julho de 2006, proíbe a captura dos mexilhões Perna per-
na no período de 01 de setembro a 31 de dezembro, em consideração ao período reprodutivo da
espécie (13). Essa IN impede que o mexilhão seja extraído nos momentos mais importantes do
seu ciclo de vida. Caso haja a extração exagerada desses organismos nos meses de defeso, não
haverá recomposição da população de mexilhões naquela região. Portanto, precisamos ajudar a
respeitar esse período e não coletar mexilhões nos meses do defeso.
Vale ressaltar que a maioria das espécies não possui dados sobre a estrutura populacional
voltados à conservação desses organismos. Apenas uma espécie de crustáceo está enquadrada
da categoria de menor preocupação e as outras estão como deficiente de dados. Esse fato de-
monstra a necessidade de realização de estudos mais detalhados a respeito das características
biológicas dessas espécies de invertebrados, especialmente aquelas que possuem interesse co-
mercial, para possibilitar ações de gestão das explorações desses recursos pesqueiros.
Foi possível notar que as ilhas com menor diversidade são aquelas que mais têm efeitos
da presença direta do ser humano, o que demonstra a necessidade e a urgência de de medidas
de manejo e conservação dos invertebrados existentes nos costões rochosos, haja vista que
a poluição, as atividades de turismo e a coleta de moluscos nas ilhas e na faixa de praia sem
fiscalização são preocupantes e podem trazer problemas não só em níveis ecológicos, como
também econômicos para a população.

Referências
1. BRUSCA, R. C.; MOORE, W.; SHUSTER, S. M. Invertebrados. 3. ed. Rio de Janei-
ro: Guanabara-Koogan, 2018.
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Roca, 2016.

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da macrofauna demersal e epibentônica da região de Ubatuba.  Boletim do Instituto Oce-
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148
Invertebrados: Moluscos, Poliquetas e Crustáceos

8. MORENO, T. R.; ROCHA, R. M. Ecologia de costões rochosos. Estudos de Biologia, Am-


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10. CASTRO, A.L.; SILVA, J. L. Manual de identificação de invertebrados límnicos do


Brasil: isopoda. Fonte: Brasília: CNPq, 1985.

11. MARTIN, J. W. & DAVIS, G. E. An updated classification of the recente crus-


tacea. SCIENCE SERIES. Natural History Museum of Los Angeles County.2001.
12. MAGALHÃES C. Caracterização da comunidade de crustáceos Decápodos do
Pantanal. Boletim de Avaliação Biológica. p.175-182, 2000
13. BASILIO, T.H. Unidades ambientais e a pesca artesanal em Piúma, Espí-
rito Santo, Brasil. 1. ed. São Paulo: Laura Editorial, 2016.

149
Capítulo 05
Peixes
Jones Santander-Neto, Clayton Perônico, Marcelo Paes Gomes,
Natalia Carriço Paulo, Hanna Lima Mattos, Silvio César Costa,
Grace Real Hohn e Thiago Holanda Basilio

“Sensibilizar as pessoas com tudo que eu aprendi no projeto


é muito importante para a conservação das nossas ilhas”
R ya n A n c i n i B o u r g u i g n o n , 14 anos

150
Peixes

5.1. Introdução

A
primeira pergunta que devemos fazer quando falamos de peixes é:

O QUE É UM PEIXE?

Apesar de parecer uma pergunta simples, existe uma dificuldade de enquadrar todos os
organismos que denominamos como peixe em um único grupo com um ancestral comum ou
com um conjunto de características que os definam. Isso se deve à sua longa história evolu-
tiva que resultou em uma enorme diversidade e consequente variedade de formas (morfolo-
gia) e habitats.
Entre peroás, garoupas, cavalos-marinhos, lampreias, tubarões, quimeras, douraZdos e
outros considerados como peixes, existe um distanciamento evolutivo considerável que im-
pede o estabelecimento de características comuns entre eles.
Se quiséssemos restringir o termo peixe a um grupo monofilético (ou seja, que apresente
um único ancestral comum e com todos os representantes deste ancestral comum), iríamos
considerar apenas os peixes mais frequentemente vistos. Neste livro consideramos a classi-
ficação de peixes segundo o esquema apresentado abaixo:

• (do grego aktis, raio + pteryx, nadadeira),


• peixes ósseos com nadadeiras suportadas por “raios” ou
Actinopterygii
“espinhos”, esqueleto interno calcificado e aberturas bran-
quiais protegidas por um opérculo ósseo (Figura 1a)

• (do grego sarkos, carne + pteryx, nadadeira),


Sarcopterygii • peixes ósseos com nadadeiras lobadas pares ósseas
e carnudas (Figura 1b)

• (do grego chondros, cartilagem + ichthys, peixe)


• peixes com esqueleto cartilaginoso, presença de 5 à 7 pares
Chondrichthyes
de fendas branquiais e pele coberta por escamas semelhan-
tes a minúsculos dentes (dentículos dérmicos) (Figura 2)

• (do grego a, sem + gnathos, mandíbula),


Agnatha
• peixes cartilaginosos cuja mandíbula é ausente (Figura 3)

151
Capítulo 05

Figura 1. Diferença de peixes Actinopterygii (a) e Sarcopterygii (b).

Figura 2. Exemplos de Chondrichthyes da sub-classe Elasmobrânquios, Tubarão (A) e Raia (B).

Figura 3. Exemplos de peixes Agnatha (sem mandíbula), Feiticeira ou


Peixe-bruxa (A) e boca em destaque (B), Lampreia (C) e boca em destaque (D).
152
Peixes

5.2. Importância ambiental dos peixes


Os peixes constituem um pouco mais da metade do número total de Craniatas (animais
que possuem crânio) vivos que estão distribuídos em aproximadamente 60 mil espécies co-
nhecidas. Há descrições de uma estimativa de aproximadamente 32 mil espécies válidas de
peixes em comparação com cerca de 27 mil tetrápodes (animais que se sustentam em quatro
membros), que compreende os anfíbios, répteis, aves e mamíferos (Figura 4).
Os tetrápodes evoluíram dos peixes de nadadeiras lobadas há cerca de 395 milhões de
anos (1). Nesse sentido, destaca-se a importância dos peixes na escala evolutiva, uma vez que
eles habitam os mais diversos ambientes há milhões de anos e que diversas classes de or-
ganismos, inclusive nós como seres humanos, temos neles ancestrais comuns. Por exemplo,
peixes pulmonados, como a Piramboia, apresentam um pulmão funcional como os tetrápo-
des terrestres que lhes permite respirar usando o ar atmosférico.

Figura 4. Exemplos de Tetrápodes: Anfíbio (A), Réptil (B), Ave (C) e Mamífero (D).

Os peixes desempenham funções de manutenção nos ecossistemas em que eles habitam,


transferindo energia entre os elos das cadeias alimentares. Uma cadeia alimentar é formada
por organismos separados por níveis tróficos (do grego trophē, alimento ou nutrição), sendo
que o níveis mais básicos servem de alimento e fonte de energia para os níveis superiores.
A base da cadeia alimentar é composta por fitoplâncton, conjunto de organismos micros-
cópicos que, assim como as plantas, fazem fotossíntese para obter a energia dos nutrientes

153
Capítulo 05

dissolvidos na água (por isso são chamados de Produtores). O fitoplâncton é consumido por
animais chamados de consumidores primários (ou Consumidores 1°), como o zooplâncton.
Peixes são considerados consumidores secundários (ou consumidores 2°), por consumirem
os consumidores primários, ou acima desse nível trófico. Os tubarões, por exemplo, estão
normalmente no topo das cadeias alimentares por não serem alimento para praticamente
nenhum nível trófico acima do deles.
Os peixes adquirem energia através de organismos que ocupam a base da cadeia (ex: fito-
plâncton e zooplâncton) dos quais se alimentam e repassam energia para os organismos que
os utilizam como fonte alimentar (Figura 5). Desempenham, portanto, grande influência no
equilíbrio ecossistêmico das regiões costeiras, a partir das relações ecológicas que são esta-
belecidas entre os elos dessa teia alimentar.

Figura 5. Exemplo de cadeia alimentar apresentada como pirâmide de energia.

5.3. Importância comercial e conservação


A pesca artesanal é uma das mais antigas atividades humanas, sendo praticada desde
as sociedades primitivas até a atualidade (2). No Espírito Santo, a pesca é uma importante
ferramenta socioeconômica, contribuindo para geração de renda e para a oferta de alimen-
tos, principalmente, em pequenas comunidades do meio rural e litorâneas (3). Aproximada-
mente 15.674 pescadores estavam cadastrados no Registro Geral da Pesca (RGP) no Espírito
Santo em 2015 (4, 5). Os municípios do litoral sul apresentam expressiva participação dentre
os pescadores cadastrados, sendo estes: Itapemirim (2.026; 13%), Marataízes (1.912; 12%),

154
Peixes

Anchieta (806; 5%), Piúma (435; 2,7%) e Presidente Kennedy (362; 2,3%). A produção pes-
queira também é bastante elevada na maioria dos municípios do litoral sul capixaba (6).
Os peixes estão relacionados diretamente à economia local das comunidades pesqueiras
do litoral capixaba (4,5). Parte dessa economia é voltada à captura de peixes como peroás,
dourado, atuns e afins para o mercado interno e externo. Esses peixes garantem sustento e
renda para centenas de pessoas que sobrevivem direta e indiretamente da exploração dos
recursos pesqueiros (4, 5, 7, 8, 9). E, apesar dessas espécies de peixes terem grande represen-
tatividade na cadeia produtiva da pesca, são necessários estudos para garantir a conservação
e uso sustentável destes recursos.
Os recursos pesqueiros são capturados por diversas pescarias conforme o mês de safra/re-
produção das espécies e a procura por produtos pesqueiros na região, que aumenta, principal-
mente, no decorrer dos meses de alta temporada (dezembro a março) e na Semana Santa (4,5).

5.4. Peixes das ilhas costeiras do litoral sul


capixaba
O estudo possibilitou até o presente momento a identificação de um total de 84 espécies,
distribuídas em 41 famílias (Tabela 1). A Família Sciaenidae foi a que possui um maior núme-
ro de espécies (12), seguidas de Carangidae (oito) e Gerreidae (seis).

Tabela 1. Lista de peixes que ocorrem nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Família Espécie Nome popular


Achirus lineatus Linguado
Achiridae
Trinectes microphthalmus Linguado
Albulidae Albula vulpes Ubarana
Aspistor luniscutis Bagre
Ariidae
Genidens genidens Bagre-urutu
Atherinella blackburni Manjuba
Atherinopsidae
Atherinella brasiliensis Manjubinha
Belonidae Strongylura marina Agulha
Blenniidae Scartella cristata Maria-da-toca
Caranx latus Xaréu
Chloroscombrus chrysurus Palombeta
Oligoplites saurus Guaivira
Selene vomer Peixe-galo
Carangidae Trachinotus carolinus Pampo
Trachinotus falcatus Sernambiguara
Trachinotus goodei Pampo-galhudo
Trachurus trachurus Xixarro

155
Capítulo 05

Família Espécie Nome popular


Clupeidae Harengula clupeola Sardinha-cascuda
Dactylopteridae Dactylopterus volitans Coió
Chilomycterus reticulatus Baiacu-de-espinho
Diodontidae
Cyclichthys spinosus Baiacu-de-espinho
Anchoa januaria Manjuba
Anchoa tricolor Enchova
Engraulidae
Anchoviella lepidentostole Manjuba
Lycengraulis grossidens Sardinha-manjuba
Ephippidae Chaetodipterus faber Enxada
Diapterus auratus Carapeba
Diapterus rhombeus Carapeba
Eucinostomus argenteus Carapicu
Gerreidae
Eucinostomus gula Carapicu
Eucinostomus melanopterus Carapicu
Eugerres brasilianus Carapeba
Gobiidae Bathygobius soporator Emborê
Gymnuridae Gymnura altavela Raia manteiga
Anisotremus surinamensis Sargo-de-beiço
Conodon nobilis Roncador
Haemulidae Haemulon aurolineatum Cocoroca
Haemulon plumierii Roncador
Orthopristis ruber Cocoroca
Hemiramphus brasiliensis Agulha
Hemiramphidae
Hyporhamphus unifasciatus Peixe-agulha
Kyphosidae Kyphosus incisor Gordinho
Gobioclinus kalisherae Emborê
Labrisomidae Labrisomus nuchipinnis Moré
Malacoctenus delalandii Macaco
Lutjanus griseus Caranha
Lutjanidae Lutjanus jocu Dentão
Lutjanus synagris Vermelho
Malacanthidae Lopholatilus villarii Peixe-batata
Mugil liza Tainha
Mugilidae
Mugil curema Tainha
Narcinidae Narcine brasiliensis Treme-treme
Syacium papillosum Linguado
Paralichthyidae
Syacium micrurum Linguado

156
Peixes

Família Espécie Nome popular


Polynemidae Polydactylus virginicus Barbudo
Pomacentridae Abudefduf saxatilis Sargentinho
Pristigasteridae Pellona harroweri Olhuda
Rhinobatidae Pseudobatos percellens Cação-viola
Larimus breviceps Oveva
Menticirrhus americanus Papa-terra
Sciaenidae
Menticirrhus littoralis Papa-terra branco
Ophioscion punctatissimus Canguá
Stellifer naso Cangoá
Stellifer rastrifer Cangoá
Stellifer stellifer Cangoá
Cynoscion leiarchus Pescada-branca
Sciaenidae
Cynoscion acoupa Pescada-amarela
Paralonchurus brasiliensis Maria-Luísa
Macrodon ancylodon Pescada-foguete
Micropogonias furnieri Corvina
Scomberomorus brasiliensis Sarda
Scombridae
Scomberomorus cavalla Sarda-cavala
Scorpaenidae Scorpaena plumieri Peixe-pedra
Sparidae Diplodus argenteus Marimbá
Sphyraenidae Sphyraena barracuda Barracuda
Stromateidae Peprilus paru Gordinho
Syngnathidae Hippocampus reidi Cavalo-marinho
Synodontidae Synodus foetens Peixe-lagarto
Sphoeroides testudineus Baiacu
Tetraodontidae Sphoeroides greeleyi Baiacu
Lagocephalus laevigatus Baiacu
Trichiuridae Trichiurus lepturus Espada
Triglidae Prionotus punctatus Cabrinha
Uranoscopidae Astroscopus y-graecum Mira-céu

Abaixo segue um guia fotográfico para ilustrar as espécies com maior abundância. O guia
pode auxiliar a identificação prévia em campo. Nele, constam informações sobre os indivídu-
os abaixo tais como: nome científico; nome popular; tamanho máximo reportado na literatu-
ra; distribuição no ambiente; habitat; importância comercial e status de ameaça de acordo
com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

157
Capítulo 05

Para esta classificação a IUCN divide as espécies da seguinte forma, em ordem de ame-
aça: não avaliada; deficiente de dados; menor preocupação; próximo de ameaça; vulnerável;
em perigo; criticamente ameaçada; extinta da natureza (para extinções regionais) e; Ex-
tinta. As espécies são consideradas ameaçadas desde que sua classificação seja a partir do
critério Vulnerável.

Família: Atherinopsidae Nome científico: Atherinella brasiliensis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 16 CM

Habitat Distribuição no ambiente Status de Importância


conservação econômica

Família: Belonidae Nome científico: Strongylura marina


COMPRIMENTO MÁXIMO: 111 CM

Habitat Distribuição no ambiente Status de Importância


conservação econômica

158
Peixes

Família: Blenniidae Nome científico: Scartella cristata


COMPRIMENTO MÁXIMO: 12 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Carangidae Nome científico: Caranx latus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 80 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

159
Capítulo 05

Família: Carangidae Nome científico: Chloroscombrus chrysurus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 30,5 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Carangidae Nome científico: Oligoplites saurus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 35 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

160
Peixes

Família: Carangidae Nome científico: Selene vomer


COMPRIMENTO MÁXIMO: 48,3 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Carangidae Nome científico: Trachinotus carolinus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 64 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

161
Capítulo 05

Família: Carangidae Nome científico: Trachinotus falcatus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 122 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Clupeidae Nome científico: Harengula clupeola


COMPRIMENTO MÁXIMO: 19 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

162
Peixes

Família: Dactylopterida Nome científico: Dactylopterus volitans


COMPRIMENTO MÁXIMO: 59 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Diodontidae Nome científico: Cyclichthys spinosus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 28 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

163
Capítulo 05

Família: Engraulidae Nome científico: Anchoa januaria


COMPRIMENTO MÁXIMO: 8 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Engraulidae Nome científico: Anchoa tricolor


COMPRIMENTO MÁXIMO: 9 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

164
Peixes

Família: Engraulidae Nome científico: Anchoviella lepidentostole


COMPRIMENTO MÁXIMO: 13,1 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Engraulidae Nome científico: Lycengraulis grossidens


COMPRIMENTO MÁXIMO: 26 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

165
Capítulo 05

Família: Ephippidae Nome científico: Chaetodipterus faber


COMPRIMENTO MÁXIMO: 91 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Gerreidae Nome científico: Diapterus rhombeus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 40 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

166
Peixes

Família: Gerreidae Nome científico: Eucinostomus argenteus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 20 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Gerreidae Nome científico: Eucinostomus gula


COMPRIMENTO MÁXIMO: 23 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

167
Capítulo 05

Família: Gobiidae Nome científico: Bathygobius soporator


COMPRIMENTO MÁXIMO: 15 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Gymnuridae Nome científico: Gymnura altavela


COMPRIMENTO MÁXIMO: 220 CM (LARGURA DE DISCO)

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

168
Peixes

Família: Haemulidae Nome científico: Anisotremus surinamensis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 76 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Haemulidae Nome científico: Conodon nobilis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 33,6 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

169
Capítulo 05

Família: Haemulidae Nome científico: Haemulon aurolineatum


COMPRIMENTO MÁXIMO: 31 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Hemiramphidae Nome científico: Hemiramphus brasiliensis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 40,5 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

170
Peixes

Família: Kyphosidae Nome científico: Kyphosus incisor


COMPRIMENTO MÁXIMO: 90 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

não
avaliada

Família: Lutjanidae Nome científico: Lutjanus jocu


COMPRIMENTO MÁXIMO: 128 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

171
Capítulo 05

Família: Lutjanidae Nome científico: Lutjanus synagris


COMPRIMENTO MÁXIMO: 60 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômicA

Família: Malacanthidae Nome científico: Lopholatilus villarii


COMPRIMENTO MÁXIMO: 107 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

não
avaliada

172
Peixes

Família: Mugilidae Nome científico: Mugil curema


COMPRIMENTO MÁXIMO: 91 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Narcinidae Nome científico: Narcine brasiliensis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 54 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

173
Capítulo 05

Família: Polynemidae Nome científico: Polydactylus virginicus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 33 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Pomacentridae Nome científico: Abudefduf saxatilis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 22,9 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

174
Peixes

Família: Rhinobatidae Nome científico: Pseudobatos percellens


COMPRIMENTO MÁXIMO: 100 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Sciaenidae Nome científico: Menticirrhus littoralis


COMPRIMENTO MÁXIMO: 48,3 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

175
Capítulo 05

Família: Sciaenidae Nome científico: Stellifer stellifer


COMPRIMENTO MÁXIMO: 21 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Stromateidae Nome científico: Peprilus paru


COMPRIMENTO MÁXIMO: 30 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

176
Peixes

Família: Syngnathidae Nome científico: Hippocampus reidi


COMPRIMENTO MÁXIMO: 17,5 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Tetraodontidae Nome científico: Sphoeroides testudineus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 38,8 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

177
Capítulo 05

Família: Trichiuridae Nome científico: Trichiurus lepturus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 234 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

Família: Triglidae Nome científico: Prionotus punctatus


COMPRIMENTO MÁXIMO: 20 CM

Habitat Distribuição Status de Importância


no ambiente conservação econômica

178
Peixes

5.5. Considerações finais


As regiões costeiras desempenham um papel importante de transição ecológica entre os
ambientes terrestre e marinho, de caráter dinâmico e biologicamente diverso. Sua exposi-
ção a variados processos que ocorrem nesses ambientes interfere diretamente no padrão de
distribuição das comunidades de peixes (10). Muitas espécies marinhas utilizam diferentes
habitats costeiros a fim de atender suas distintas fases de desenvolvimento e as diferentes
demandas ecológicas em seus ciclos de vida.
As ilhas costeiras no litoral sul capixaba são o habitat de várias espécies de peixes em
pelo menos alguma fase do ciclo de vida dessas espécies, indicando essas zonas costeiras
como habitats essenciais e importantes para a manutenção das diversas espécies de peixes.
Das 84 espécies analisadas neste estudo, 61 são utilizadas economicamente pelos pes-
cadores locais, seja para fins de consumo ou para fins ornamentais. Isso evidencia a grande
relevância dos peixes para atividade pesqueira na região (4,5). Dentre as espécies de interes-
se comercial, a Raia borboleta (Gymnura altavela) e o Xixarro (Trachurus trachurus) encon-
tram-se enquadrados como vulneráveis de acordo com a IUCN.
Parte dos peixes identificados nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba está enquadrada
como Deficiente de dados, ou seja, não existem informações suficientes para a realização da
avaliação do estoque populacional dessas espécies, o que compromete a elaboração de estra-
tégias de conservação dos recursos pesqueiros. Logo, devem ser realizados estudos mais de-
talhados para levantamento de informações biológicas e ecológicas de todas as espécies para
que os gestores em conjunto com os pescadores possam elaborar medidas de conservação
das espécies que são exploradas comercialmente.
Vale a máxima: precisamos conhecer para conservar. De fato, devemos garantir a se-
gurança ambiental das ilhas costeiras para que os processos biológicos e ambientais sejam
mantidos e as populações de peixes possam continuar habitando as águas marinhas dessas
regiões, mantendo de forma sustentável as relações ecológicas entre as espécies e, conse-
quentemente, garantindo a continuidade das relações econômicas da atividade pesqueira
para uma grande quantidade de pescadores que realizam essa atividade no entorno desses
ecossistemas (4,5).
A busca da compreensão do papel de cada habitat para as populações de peixes deve ser
constante e não pode ser interrompida, pois as condições ambientais e as pressões humanas
variam com o tempo e afetam a forma como os peixes usam estes habitats.
O desenvolvimento sustentável de comunidades pesqueiras não se baseia apenas na
anulação das atividades humanas eventualmente impactantes, mas sim, na prevenção e na
mitigação dos impactos negativos presentes e na potencialização dos impactos positivos
equivalentes à estruturação das atividades de pesca, garantia do bem-estar social e econômi-
co e elaboração de unidades de conservação marinha (10).

179
Capítulo 05

Referências
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180
Capítulo 06
Tartarugas marinhas
Thiago Holanda Basílio, Gabriel Domingos Carvalho, Mylena
Amorim de Souza, Nathan Gonçalves Rosa Reis, Silvio Cesar
Costa, Natália Carriço Paulo, Clayton Perônico

“Foi uma vez que estávamos voltando da Ilha de Itapetinga, nós vimos
uma tartaruga presa na rede e com todo o cuidado nós a libertamos”
A n a L u i z a M a r t i n S a l e s , 15 anos

182
Tartarugas marinhas

6.1. Conhecendo as tartarugas marinhas

A
s tartarugas são répteis marinhos pertencentes à ordem Testudines, que
também englobam os cágados (de água doce) e os jabutis (terrestres). Esses
animais caracterizam-se por apresentar uma estrutura corporal notável, co-
nhecida como carapaça, formada pela fusão dos ossos e placas da pele (osteo-
dermas), das vértebras e das costelas, originando uma estrutura rígida, como uma armadura,
que protege o corpo do animal contra choques mecânicos e desidratação. Esta característica
é extremamente conservada, permanecendo em todos os animais pertencentes a esta ordem,
tendo sofrido pouquíssimas modificações durante 200 milhões de anos (1).
Os Testudines surgiram na Terra há mais de 200 milhões de anos e, inicialmente, ha-
bitavam apenas o ambiente terrestre. Com o passar do tempo, os descendentes desses ani-
mais primitivos evoluíram, se diversificaram e se adaptaram a diferentes habitats, passando
a serem encontrados nos ambientes terrestres (jabutis), dulcícolas (cágados, tigres d’água e
tracajás) e marinhos (tartarugas marinhas) (2).
As tartarugas, durante sua evolução, foram adquirindo características que possibilitaram
sua adaptação ao ambiente marinho (3). A carapaça ficou mais leve e achatada, ganhando hidro-
dinâmica e os membros passaram a funcionar como nadadeiras, promovendo uma melhor nave-
gação (4). A glândula de sal se desenvolveu, permitindo a excreção do excesso de sal do organismo
para o ambiente marinho. Junto a essas mudanças, as tartarugas marinhas perderam os dentes,
o que não comprometeu sua alimentação já que paralelamente foi desenvolvido um bico cór-
neo que possibilitou a adaptação aos diferentes tipos de alimentos que compõem a sua dieta (2).
Sobre o ciclo de vida das tartarugas marinhas, estima-se que a cada 500 filhotes nasci-
dos, apenas um chega à idade reprodutiva. Tal fragilidade é exacerbada tanto pelas mudan-
ças naturais do meio ambiente como pelas práticas humanas irresponsáveis. No Brasil, as
principais ameaças são: a ocupação irregular do litoral, o abate de fêmeas e a coleta de ovos
para alimentação, o trânsito na praia de desovas, a iluminação artificial nas áreas de desova,
a captura acidental em artes de pesca, a criação de animais domésticos nas áreas de deso-
va, a poluição dos mares, o trânsito de embarcações e a extração mineral em praias (5). São
necessários vários anos para que as tartarugas marinhas atinjam a maturidade reprodutiva,
podendo levar de 10 a 50 anos, dependendo da espécie (4).
Existem sete espécies de tartarugas marinhas conhecidas mundialmente, sendo que cin-
co delas ocorrem no Brasil: tartaruga-verde (Chelonia mydas); tartaruga-oliva (Lepidochelys
olivacea); tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta); tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata)
e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) (Figura 1).

183
Capítulo 06

Figura 1. Desenho esquemático da representação das cinco


espécies de tartarugas marinhas que habitam as águas brasileiras.

Essas tartarugas podem ser encontradas em praticamente todo litoral brasileiro, embo-
ra existam diferentes áreas de alimentação, crescimento, repouso, reprodução e desova para
cada espécie (6). As cinco espécies de ocorrência no Brasil estão incluídas na Lista Nacional
das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA, 2003) e na Lista Vermelha
de Animais Ameaçados de Extinção da IUCN, sendo consideradas como em perigo (Chelonia
mydas, Caretta caretta e Lepidochelys olivacea) e em perigo crítico de extinção (Dermochelys
coriacea e Eretmochelys imbricata) (7).
A tartaruga-verde (Chelonia mydas) é a espécie com maior número de relatos de encalhes,
avistamentos e capturas incidentais na região costeira no Brasil, apresentado igualmente o maior
número de espécimes juvenis mortos devido à atividade da pesca (8). Ela é também a espécie com
maior número de avistamentos no litoral do Espírito Santo. Um total de 643 tartarugas encalha-
das foram registradas no litoral capixaba entre os anos de 2013 e 2014. Neste estudo, as espé-
cies mais visualizadas foram Chelonia mydas (88%), Eretmochelys imbricata (5%), Caretta caretta
(3%), Lepidochelys olivacea (2%) e 2% sem identificação, sendo que o impacto com a pesca foi res-
ponsável pela morte de 51% das tartarugas-verdes observadas no litoral sul capixaba (9).

184
Tartarugas marinhas

6.2. Importância socioambiental das tartarugas


marinhas
As tartarugas marinhas são animais altamente migratórios e possuem um complexo ci-
clo de vida, utilizando uma grande área geográfica e múltiplos habitats (10). Esses organis-
mos ocorrem principalmente na faixa tropical e subtropical do planeta. Algumas populações
chegaram a ser compostas por milhões de indivíduos, porém, na atualidade, são poucas as po-
pulações que não estejam ameaçadas pela ação humana. Uma combinação de fatores, como
a pesca predatória, a destruição de habitats e a contaminação dos mares, têm determinado a
condição atual das tartarugas (5).
Por serem animais de vida longa, apresentando respiração aérea e mantendo-se na inter-
face ar/água, recebem cargas ambientais por meio da inspiração de produtos tóxicos e da po-
luição marinha, por isso são espécies indicadas como sentinelas da saúde ambiental (11). Os
programas de conservação de tartarugas têm trabalhado na importância do monitoramento
da saúde desses animais, devido ao risco imposto pelas ações antrópicas que levam ao desen-
volvimento de doenças, como a fibropapilomatose, considerada a doença mais importante
que ameaça a conservação desses animais, e até mesmo a sua morte(12).
As tartarugas marinhas representam um componente primitivo e singular da diversi-
dade biológica, sendo consideradas organismos chaves nos ecossistemas aquáticos (6). Es-
ses animais possuem papel importante no equilíbrio dos ecossistemas marinhos pois suas
funções ecológicas contribuem para a saúde e manutenção dos recifes de corais, estuários e
praias arenosas. Logo, protegendo-as, protegem-se os mares e as áreas costeiras. Além disso,
são importantes componentes da cultura de muitas comunidades costeiras no Brasil e em
outros países ao redor do mundo (13).
Elas estão associadas ao misticismo e simbolismo, sendo parte da vida de muitas pessoas
em expressões folclóricas e comemorações. Em muitas áreas, as tartarugas desempenham
um papel econômico e social, uma vez que através de atividades conservacionistas são gera-
dos empregos e o desenvolvimento do turismo local (4).

6.3. O contexto das tartarugas marinhas no


litoral sul capixaba
O estado do Espírito Santo representa 5% da costa brasileira e possui representatividade
significativa dos ecossistemas costeiros (14). No Espírito Santo, há basicamente duas cate-
gorias de pesca de emalhe: a oceânica (pouco praticada, ocorrendo em zonas mais afastadas
da costa) e a costeira (praticada ao longo de toda a costa capixaba) (15). A pesca no litoral
capixaba, ao longo dos quinze municípios costeiros, se revela como artesanal em sua grande
maioria, havendo também a pesca empresarial/industrial em algumas áreas da região cen-

185
Capítulo 06

tral e sul. Os aparatos mais utilizados na pesca artesanal são: rede (espera ou arrasto); linha
(nylon); bóia; anzol (espinhel) (16, 17,18). Tais artefatos oferecem grandes ameaças às tarta-
rugas marinhas, tanto de forma direta ou indireta. A pesca costeira, que utiliza rede de ema-
lhe, é a principal causa de óbito de Chelonia mydas no litoral capixaba (9).
De uma forma geral, no estado do Espírito Santo, a atividade pesqueira é desenvolvida
com a ausência de informações ecológicas e biológicas, o que impede a implementação de
qualquer manejo e aplicação de medidas de preservação para esses ambientes. Somam-se a
esse fato os impactos ambientais ocasionados nas ilhas costeiras, que podem influenciar nas
características desses ecossistemas. Além disso, outros fatores também se tornam relevan-
tes, como: a ampla extensão costeira (411 km de extensão); a elevada variedade de ambientes
costeiros existentes; a enorme diversidade de serviços ambientais proporcionadas por es-
ses ambientes; a importância socioeconômica da zona costeira, a qual reúne grande parte do
contingente populacional em aglomerados urbanos e industriais (17 e 18).
Embora existam informações sobre a ocorrência das tartarugas no litoral do Brasil, no-
ta-se que, apesar dos esforços do Projeto TAMAR - Tartarugas Marinhas, ainda faltam in-
formações locais específicas nos diferentes municípios costeiros ao longo do Brasil. Sendo
assim, é necessário realizar pesquisas para o levantamento de dados (espécies encontradas,
períodos e locais de avistamento, comportamento e a relação ambiental existente) para que
sejam utilizados em atividades de sensibilização das comunidades e a preservação, não só
das tartarugas mas de todo ecossistema marinho local. No Estado do Espírito Santo, estão lo-
calizadas algumas bases do Projeto TAMAR (Guriri, Pontal do Ipiranga, Povoação, Regência,
Trindade e Vitória), porém nenhuma na região sul do estado.
As ilhas costeiras de Piúma/ES formam uma área de preservação municipal (Processo da
Prefeitura Municipal nº19/85, resolução nº 03/86), tombado em caráter definitivo como bem na-
tural. Essas ilhas possuem grande importância ecológica para as regiões costeiras adjacentes (17).
Nestas ilhas, é frequente a visualização de tartarugas marinhas nadando nas margens
dos costões rochosos, sobretudo na Ilha do Gambá. Também são encontradas várias tar-
tarugas mortas nas praias de Piúma (17, 18). Entretanto, as causas da mortalidade dessas
tartarugas não estão totalmente elucidadas, no entanto, acredita-se que esses animais es-
tejam morrendo por causa da pesca de rede de arrasto e de rede de espera, (Figura 2) fre-
quentemente observadas na região, além da poluição ambiental (lixo urbano, plástico, etc.)
presentes nas praias do município. Contudo, dados científicos sobre a presença de tartaru-
gas nesta região são escassos e, devido à sua inserção local, o Núcleo de Educação Ambien-
tal (NEA) do Ifes - Campus Piúma realiza estudos da biodiversidade marinha dessa região
e ações permanentes de educação ambiental.

186
Tartarugas marinhas

Figura 2. Tartaruga-verde encontrada presa em rede de pesca, durante


as atividades de monitoramento das ilhas costeiras de Piúma/ES.

6.4. Resultados do monitoramento das tarta-


rugas marinhas nas ilhas de Piúma/ES
As capturas intencionais realizadas pelo Núcleo de Educação Ambiental (NEA) do Ifes
- Campus Piúma aconteceram nos anos de 2015, 2017 e 2018. Nesses anos, foram coletadas
informações referentes a 50 animais, em 2015, 17 animais, em 2017, e 50 animais, em 2018,
totalizando 117 tartarugas capturadas. Todas as tartarugas foram devolvidas vivas ao mar
após procedimento de pesquisa.
De outubro de 2017 a dezembro de 2018, foram marcadas 50 tartarugas com anilhas do TA-
MAR. Todas as tartarugas coletadas eram da espécie Chelonia mydas (tartaruga verde) (Figura 3).

Figura 3. Exemplares de tartaruga verde (Chelonia


mydas) capturadas na Ilha do Gambá, Piúma/ES.

187
Capítulo 06

Os dados de biometria (comprimento médio da carapaça, largura média da carapaça,


peso médio dos exemplares) dessas tartarugas estão apresentados na tabela 01 abaixo.

Tabela 1. Biometria de tartarugas verdes (Chelonia mydas)


capturadas na Ilha do Gambá, Piúma/ES, de 2015 a 2018.

Valor Médio
Parâmetros Mínimo Máximo
(n = 117)
Peso (Kg) 6,90 2,5 31,20
Comprimento Curvilíneo
37 25 56
do carapaça – CCC (cm)
Largura Curvilínea
34 23 53
do carapaça – LCC (cm)

Dos indivíduos coletados, 39,1% apresentavam fibropapilomatose, que é uma doença que
acomete as tartarugas, predominantemente a tartaruga-verde (Chelonia mydas) (3). A fibro-
papilomatose em tartarugas marinhas é caracterizada por tumores cutâneos múltiplos, sen-
do raro os casos de animais com apenas um único tumor (Figura 4).
Das tartarugas analisadas, foram registrados tumores nas seguintes regiões: nadadeiras
(30,4%), pescoço (17,3%), cabeça (8,6%), dorso (4,3%), ventre (4,3%), no olho (4,3%) e no ânus
(4,3%). Vale destacar que algumas tartarugas apresentam tumores em diferentes partes do
corpo. A presença desses tumores pode interferir na hidrodinâmica e motilidade desses ani-
mais, comprometendo a alimentação.

Figura 4. Presença de fibropapilomas na superfície corpórea


de um exemplar de tartaruga verde (Chelonia mydas).

188
Tartarugas marinhas

Foi verificada também a presença de ectoparasitas, epibiontes (cracas), algas, lesões ou


qualquer tipo de anomalia (Tabela 2). Das 82 tartarugas coletadas entre 2017 e 2018, 64,6%
apresentaram presença de cracas (Chelonibia testudinaria) na superfície corpórea (Figura 5);
17,1% apresentaram algas na superfície da carapaça (Figura 6); 20,7% apresentavam lesões
que variavam desde deformidades até ausência de nadadeiras, como outros tipos de anoma-
lias (Figura 7). Algumas tartarugas apresentaram anomalias em várias partes do corpo.
Quando possível, foi feita a retirada desses epibiontes que interferem na correta medição
do animal e no desenvolvimento normal da carapaça. Quando a retirada dos epibiontes apre-
sentava risco de injúria à tartaruga, este procedimento não era realizado.

Tabela 2. Anomalias observadas nas tartarugas


capturadas na Ilha do Gambá, Piúma/ES, de 2015 a 2018.

Número de
Anomalias Frequência % Observação
animais(n = 82)
Presença de epibion- carapaça, nadadeiras,
53 64,6%
tes (cracas) pescoço e cabeça
Presença
14 17,1% Dorso do carapaça
de algas
Presença de carapaça, nadadeiras,
21 25,6%
fibropapilomas pescoço e cabeça
Ausência de nadadeiras, lesão
Presença de no globo ocular, deformida-
17 20,7%
outras anomalias de nas nadadeiras, fratura na
carapaça

Figura 5. Presença de cracas (Chelonibia testudinaria), na superfície corpórea das tartarugas.

189
Capítulo 06

Figura 6. Presença de algas verdes na superfície corpórea das tartarugas

Figura 7. Lesão no globo ocular de uma tartaruga verde jovem (Chelonia mydas).

A tartaruga verde, devido aos seus hábitos alimentares durante a fase jovem, fica mais
próxima das áreas costeiras do que outras espécies de tartarugas (Figura 8). As algas são
atrativos para a espécie C. mydas que utiliza a região costeira, estuarina e oceânica para se
alimentar (19), sendo uma espécie essencialmente herbívora (20).

190
Tartarugas marinhas

Figura 8. Tartaruga verde (Chelonia mydas) sendo observada


nas margens do costão rochoso da Ilha do Gambá, Piúma/ES.

Apesar da Ilha do Gambá ser uma área de preservação municipal, tombada como bem
natural do município de Piúma, é comum observar a presença de lixo nesta região, princi-
palmente resíduos de plástico mole como sacolas e embalagens de produtos (Figura 9). A
presença de plástico na água coloca em risco a vida das tartarugas pois elas podem acidental-
mente ingerir plástico por confundi-lo com seus alimentos naturais, como algas ou águas-vi-
vas. O plástico no organismo das tartarugas causa obstrução no trato gastrointestinal, provo-
cando a obstrução do trânsito intestinal, levando o animal a óbito. O plástico é apontado em
alguns estudos como o principal resíduo antropogênico ingerido pelas tartarugas (21).

Figura 9. Resíduo de plástico observado nas margens


do costão rochosos da Ilha do Gambá, Piúma/ES.

191
Capítulo 06

De fato, já foram encontrados pedaços de plásticos em tartarugas encalhadas mortas na


praia de Piúma/ES (Figura 10).

Figura 10. Residuos sólidos (plastico e vidros) retirados do


estomago de uma tartaruga coletada morta na praia de Piúma/ES.

6.6. Registro de encalhes


Durante a realização deste estudo, registrou-se a mortalidade de 16 indivíduos que apre-
sentaram comprimento de carapaça entre 26 a 47 cm e de largura entre 22 a 39 cm. As cara-
paças foram utilizadas em atividades de educação ambiental para sensibilização da proble-
mática que envolve a mortalidade de tartarugas na região.
A mortalidade destes indivíduos, na maioria das vezes, está associada à interação antró-
pica, sendo que as praias com maior índice de mortalidade são aquelas que possuem maior
representatividade na atividade pesqueira e turística (9), como é o caso de Piúma.

192
Tartarugas marinhas

Atividades pesqueiras, como a pesca de arrasto e com rede de espera, além dos resíduos
encontrados na água, podem ser a causa da mortalidade desses indivíduos encontrados mortos
nas praias. Entretanto, não foi possível identificar a causa real destas mortes em função dos
exemplares terem sido encontrados em avançado estado de decomposição e deterioração.

Figura 11. Tartarugas encontradas mortas nas praias de Piúma/ES.

6.7. Importância da conservação e educação


ambiental
A sensibilização ambiental, não só da população litorânea nativa mas também de todos
aqueles envolvidos nas atividades turísticas e econômicas, poderá contribuir para a diminuição
dos impactos antrópicos nos oceanos e nas praias, auxiliando assim na conservação das espécies.
Para que haja conservação de ecossistemas e espécies em extinção, é necessária a reali-
zação de pesquisas científicas que busquem o levantamento detalhado de informações que
poderão subsidiar medidas de gestão e possivelmente a criação de unidades de conservação
da vida marinha, seja em nível municipal, estadual ou federal. Como não há informações sis-
tematizadas sobre as espécies de ocorrência nas ilhas e ambientes costeiros do litoral sul ca-
pixaba, torna-se fundamental o desenvolvimento dos trabalhos sobre o levantamento desses
dados, bem como a sistematização de um inventário das espécies de ocorrência na região, a
exemplo deste livro.
Com os dados coletados nos projetos do NEA, espera-se que a sociedade possa conhecer
a biodiversidade das ilhas costeiras do litoral sul capixaba bem como ampliar o conhecimen-
to científico sobre a biologia e ecologia das tartarugas na região.
As informações regionais produzidas nestes projetos compõem uma base de dados nacio-
nal e contribuirão para a conservação e preservação dos ecossistemas regionais, além de pro-
mover a publicação de materiais científicos e educativos referentes às especificidades das ilhas
costeiras. Essas informações regionais são importantes para subsidiar estratégias de manejo
ecológico das ilhas costeiras bem como a realização de campanhas educacionais e atividades

193
Capítulo 06

de Educação Ambiental que envolvam a sociedade local, comunidades pesqueiras, visitantes


e turistas, no intuito de promover o turismo ecológico e a pesca sustentável na região do litoral
sul do Espírito Santo, sensibilizando as pessoas acerca da problemática que envolve as tartaru-
gas marinhas e os impactos ambientais que as regiões costeiras estão sofrendo.
Portanto, por meio das informações levantadas, fica registrada a presença constante da
espécie Chelonia mydas nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba, sendo essa população com-
posta de tartarugas-verdes jovens, as quais estão associadas aos costões rochosos das ilhas
costeiras. Com isso, torna-se ainda mais imprescindível a responsabilidade de preservação
ambiental desses ambientes, uma vez que as atividades turísticas e pesqueiras são realiza-
das sem fiscalização e geram grande quantidade de resíduos (sacos plásticos, canudos, redes,
nylon, etc.) que colocam em risco a vida das tartarugas marinhas na região.

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194
Tartarugas marinhas

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195
Capítulo 07
Aves
Cecília Licarião Barreto Luna, João Rafael Gomes de Almeida e
Marins, Nádia da Vitória Amorim e Thiago Holanda Basilio.

“Eu aprendi que existe uma imensidão de espécies e que cada


uma é muito importante para a estabilidade dos ecossistemas”
R u a n B o n a M i r a n d a , 14 anos

196
Aves

7.1. Introdução

M
AS AFINAL, O QUE É UMA AVE?
As aves são animais encantadores. Todas as pessoas conhecem pelo
menos uma dúzia de espécies de aves diferentes. Elas chamam atenção pe-
las suas cores e pelo seu canto melodioso. As aves estão presentes no dia a
dia da maioria das pessoas. É quase impossível você ir para o trabalho ou para a faculdade e
não cruzar com uma delas, seja ela um sabiá, um canário ou um anu-branco. Todos já se ena-
moraram por uma ave. Mas afinal, quem são as aves?
As aves são animais vertebrados que evoluíram a partir dos répteis. Possuem bico, mas
não tem dentes, têm duas patas, colocam ovos e se comunicam através de diversos tipos de
sons e cantos. Para conseguirem voar distâncias longas, as aves têm algumas adaptações,
como por exemplo, ossos leves (pneumáticos).
Você deve estar se perguntando sobre as penas, afinal, não tem como pensar em ave e não
pensar em pena. Consideradas obras primas, as penas possuem diferentes formas e funções,
sendo indispensáveis para a sobrevivência das aves. As penas são responsáveis pelo voo, pela
termorregulação, pela camuflagem, além de ter um importante papel no período reprodutivo,
em que os indivíduos se exibem para suas parceiras, e aquele que tiver penas mais cuidadas e
vistosas consegue copular. Veja só como as penas são indispensáveis!
Apesar da grande diversidade de aves, cada espécie tem um conjunto de características
específicas que podem falar muito sobre elas, como por exemplo o formato do bico. Essa ca-
racterística nos informa qual o tipo de comida aquele animal ingere e até mesmo o tipo de
ambiente em que ele vive. As aves podem se alimentar de carne (carnívoras), de plantas (her-
bívoras) ou das duas coisas (onívoras), e para cada hábito alimentar há um formato de bico
diferente. O martim-pescador, por exemplo, tem um bico específico para capturar peixes, já
os maçaricos têm bicos especializados em capturar moluscos no solo.
Como podemos perceber, as aves têm inúmeras características o que permite que elas
se espalhem por todo o globo. Não importa para onde você viaje, você sempre vai se deparar
com uma ave cruzando os céus. Por isso é importante que estejamos sempre atentos, de olhos
e ouvidos ligados para não perder nenhuma delas de vista. Afinal, não tem quem não dê um
sorriso ao observar um beija-flor ou um bem-te-vi em pleno voo.

197
Capítulo 07

7.2. As aves do Brasil


O Brasil é o país com uma das maiores riquezas de aves do mundo, ficando atrás apenas da
Colômbia. Ao todo, 1.919 espécies de aves diferentes habitam o nosso país (1). Essas aves são
distribuídas ao longo do nosso território em seis biomas, como apresentado na figura abaixo.

Figura 1. Representação da quantidade de espécies de aves por bioma no território brasileiro.

Além dessa diversidade de biomas com características singulares, nosso país também
possui uma extensa faixa litorânea com aproximadamente 8 mil km. Essa enorme faixa de
litoral é a principal área de ocorrência das aves marinhas, que são aquelas adaptadas ao am-
biente marinho e que utilizam os recursos do mar para se alimentar e reproduzir. Essas aves
podem ser divididas em:
AVES MARINHAS
• são encontradas geralmente próximas aos continentes
COSTEIRAS

AVES MARINHAS
• costumam ser encontradas em alto-mar.
OCEÂNICAS OU PELÁGICAS

198
Aves

Por passarem a maior parte da vida no mar, essas aves passaram por algumas adapta-
ções que favoreceram sua vida nesse ambiente. As aves marinhas têm mais penas do que as
terrestres, além disso, suas penas são impregnadas por um líquido gorduroso que as torna
impermeáveis. Essas duas características permitem a elas viverem sobre as águas sem pra-
ticamente se molhar. Para auxiliar na natação, essas aves possuem membranas nas patas.
Como o ambiente em que vivem é cercado por sal, para excretar o excesso dele, elas possuem
pequenos tubos em cima do bico para auxiliar nessa função.
As aves marinhas não são muito diversas. No mundo, existem aproximadamente 320 es-
pécies delas. No Brasil, algo em torno de 150 espécies marinhas utilizam nosso território em
alguma parte do seu ciclo de vida (2). Mas poucas dessas espécies se reproduzem no país.
Apesar dos baixos números, o território brasileiro tem importância mundial para as aves
marinhas, uma vez que a maioria das espécies são migratórias e visitam nossa terra para se
alimentar e reproduzir depois de percorrer milhares de quilômetros de distância voando sem
parar. As aves marinhas de ocorrência no Brasil são distribuídas em quatro ordens:

Figura 2. Representantes das principais Ordens de Aves marinhas existentes:


A: Procellariiformes (Ex: Albatroz); B: Sphenisciformes (Ex: Pinguins);
C: Pelecaniformes (Ex: Atobá) e D: Charadriiformes (Ex: Fragata).

7.3. Aves do litoral sul capixaba


O litoral sul capixaba compreende os municípios de Presidente Kennedy, Marataízes,
Itapemirim, Piúma e Anchieta. Esses municípios são conhecidos por terem uma grande di-

199
Capítulo 07

versidade de habitat, o que favorece a diversidade de espécies de aves nessas áreas. Especial-
mente na região costeira, estão presentes diferentes unidades ambientais, tais como: monta-
nhas, vales, mata de tabuleiros, restinga, mata atlântica, manguezais, faixa de praia, costões
rochosos, recifes costeiros e ilhas costeiras (3).
Ilha do Gambá, Ilha do Meio, Ilha dos Cabritos, Ilha de Itapetinga, Ilha dos Franceses
e Ilha Branca são algumas das ilhas costeiras, que representam áreas de grande relevância
para as aves marinhas (4). Nessas ilhas é possível observar diariamente bandos de aves des-
cansando e se alimentando. O que pode caracterizar um local de repouso de aves migratórias.
Na Ilha dos Franceses foram registradas a ocorrência de 10 espécies de aves marinhas
costeiras, sendo 10 gêneros, distribuídas em sete famílias, com predominância da família La-
ridae com um representativo de quatro espécies (4). Lá também já foi registrado um grande
número de Atobás-marrom (Sula leucogaster) num total de 69 indivíduos, gerando inclusive
uma mancha de guano que poderia ser vista do continente.
A partir do trabalho de campo realizado, foram registradas um total de 31 espécies de
aves que habitam as ilhas costeiras do litoral sul capixaba (Tabela 1), destas 13 (41%) são ma-
rinho/costeiras, ou seja, dependem dos recursos marinhos.
Das espécies citadas, cinco são migratórias (batuíra-de-bando, vira-pedras, trinta-réis-
-boreal, trinta-réis-de-bando e trinta-réis-real), mostrando a importância dessas ilhas como
áreas de refúgio, descanso e alimentação para essas aves.

Tabela 1. Lista de aves que ocorrem nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

Família Nome científico Nome comum


Fregatidae Fregata magnificens Tesourão
Sulidae Sula leucogaster Atobá-pardo
Phalacrocoracidae Nannopterum brasilianus Biguá
Nyctanassa violacea Savacu-de-coroa
Ardea alba Garça-branca-grande
Ardeidae
Egretta thula Garça-branca-pequena
Egretta caerulea Garça-azul
Haematopodidae Haematopus palliatus Piru-piru
Charadriidae Charadrius semipalmatus Batuíra-de-bando
Scolopacidae Arenaria interpres Vira-pedras
Laridae Larus dominicanus Gaivotão
Sterna hirundo Trinta-réis-boreal
Sterna hirundinacea Trinta-réis-do-bico-vermelho
Sternidae
Thalasseus acuflavidus Trinta-réis-de-bando
Thalasseus maximus Trinta-réis-real
Cathartidae Coragyps atratus Urubu-de-cabeça-preta
Falconidae Caracara plancus Carcará
Strigidae Athene cunicularia Coruja-buraqueira

200
Aves

Família Nome científico Nome comum


Columbidae Patagioenas picazuro Pomba-asa-branca
Alcedinidae Megaceryle torquata Martim-pescador-grande
Picidae Picumnus cirratus Pica-pau-anão-barrado
Thamnophilidae Thamnophilus ambiguus Choca-de-sooretama
Todirostrum cinereum Ferreirinho-relógio
Pitangus sulphuratus Bem-te-vi
Tyrannidae
Tyrannus melancholicus Suiriri
Fluvicola nengeta Lavadeira-mascarada
Troglodytidae Troglodytes aedon Corruíra
Mimidae Mimus saturninus Sabiá-do-campo
Tangara cayana Saíra-amarela
Thraupidae Cyanerpes cyaneus Saíra-beija-flor
Dacnis cayana Saí-azul

Destacamos que foram selecionadas as 31 espécies mais comumente observadas nas


ilhas costeiras do litoral sul capixaba, especialmente nas ilhas de Piúma e Itapemirim. As
informações sobre os indivíduos abaixo são: Família (científica); nome científico; nome po-
pular; curiosidades e status de conservação de acordo com a União Internacional para a Con-
servação da Natureza (5) (IUCN, 2018).

Nome científico: Fregata magnificens


Família: Fregatidae
Nome popular: Fragata ou tesourão

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Essas aves não conseguem mergulhar pois encharcam suas penas, por isso roubam peixes de outras
aves. Por conta deste comportamento, conhecido como cleptoparasitismo, são apelidadas de “piratas do
mar”. Os machos têm uma bolsa vermelha no papo, já as fêmeas têm o papo branco.
201
Capítulo 07

Nome científico: Fregata magnificens


Família: Sulidae
Nome popular: Atobá-pardo

Foto: Eduardo Ferreira

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Excelentes mergulhadores, parecem mísseis quando mergulham no mar. Alçam vôos altos para ganhar
velocidade e profundidade no mergulho. Os peixes são o principal item do seu cardápio.

Nome científico: Nannopterum brasilianus


Família: Phalacrocoracidae
Nome popular: Biguá

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazolanidade Status de conservação

Curiosidades:
• Essa ave tem o hábito de mergulhar em busca de peixes, podendo ficar debaixo d´água por um bom
tempo. Como não possui as glândulas uropigianas na base da cauda, glândulas essas responsáveis pela
produção do “óleo” de impermeabilização de suas penas, necessita ficar exposta ao sol, de asas abertas,
para se secarem.
202
Aves

Nome científico: Nyctanassa violacea


Família: Ardeidae
Nome popular: Savacu-de-coroa ou socó-caranguejeiro

Foto: Cecília Licarião

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Essa ave se alimenta de forma variada, mas sua preferência por caranguejinhos de mangue faz com que
ela seja facilmente encontrada nessas regiões.

Nome científico: Ardea alba


Família: Ardeidae
Nome popular: Garça-branca-grande

Foto: Cecília Licarião

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• É comum à beira dos lagos, rios e banhados. A sua alimentação é composta predominantemente por
peixes, mas pode se alimentar de outros animais, como sapos, cobras, ratos, répteis e até lixo.

203
Capítulo 07

Nome científico: Egretta thula


Família: Ardeidae
Nome popular: Garça-branca-pequena

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Ela é também conhecida como “garça-sapateira”, por ter as pernas pretas e patas amareladas, aparen-
tando estar sempre usando calçados. É facilmente observada pescando peixes. Vive em bandos, normal-
mente, aglomerados em alguma lagoa ou à beira mar.

Nome científico: Egretta caerulea


Família: Ardeidae
Nome popular: Garça-azul

Foto: Cecília Licarião

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Habita regiões de manguezais e áreas costeiras. É facilmente encontrada nas praias, local que ela explora
nos períodos de maré baixa. Quando adulta apresenta uma plumagem cinzento-azulada, com cabeça e
pescoço violáceos e quando juvenil é branca, passando por um estágio de transição “malhado”.

204
Aves

Nome científico: Haematopus palliatus


Família: Haematopodidae
Nome popular: Piru-piru

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Anda em casais. No período reprodutivo coloca três ovos diretamente na areia, perfeitamente camufla-
dos. Emite sons que parecem dizer “piru-piru”, por isso seu nome popular.

Nome científico: Charadrius semipalmatus


Família: Charadriidae
Nome popular: Batuíra-de-bando

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Essa ave é da mesma família científica dos quero-quero, só que bem menor. Pode ser avistada em todo
o litoral brasileiro. Utiliza nossas praias para invernar e como ponto de parada quando migra de países
norte-americanos.

205
Capítulo 07

Nome científico: Arenaria interpres


Família: Scolopacidae
Nome popular: Vira-pedras

Foto: Eduardo Ferreira

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Seu nome popular está ligado a seus hábitos alimentares. É sempre vista revirando pedras e substratos
à de procura insetos, crustáceos, moluscos, vermes, equinodermos, peixes, carne putrefata e, algumas
vezes, ovos de aves.

Nome científico: Larus dominicanus


Família: Laridae
Nome popular: Gaivotão

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• É a maior gaivota e a mais comum no Brasil. Considerada uma praga em ambientes costeiros devido
ao impacto da predação de pequenos peixes e ninhos de outras aves, do cleptoparasitismo e do oportu-
nismo de alimentação de restos de lixo. O crescimento desordenado de sua população é favorecido por
ambientes alterados pela ação humana.

206
Aves

Nome científico: Sterna hirundo


Família: Sternidae
Nome popular: Trinta-réis-boreal

Foto: Cristine Prates

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Conhecida popularmente como andorinha-do-mar, essa ave é comum ao longo da costa, estuários e em
praias de rios e lagos. É vulnerável à presença humana, principalmente no período reprodutivo. Costuma
reunir-se em bandos sobre cardumes de peixes ou na praia, para descansar. Alimenta-se também de
insetos, camarões, caranguejinhos e outros pequenos animais marinhos. Ocasionalmente, rouba comida
de outras aves, costuma pescar à noite.

Nome científico: Sterna hirundinacea


Família: Sternidae
Nome popular: Trinta-réis-de-bico-vermelho

Foto: Alexandre Vidal

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Forma seus ninhos na Argentina de novembro a fevereiro e desloca-se para o norte. No Brasil, a re-
produção desta espécie tem sido descrita entre abril e setembro. Na estação reprodutiva a plumagem é
cinza-clara com uma longa coroa preta e o bico e as pernas vermelhas. Fora da estação reprodutiva, o
trinta-réis tem apenas a metade da cabeça preta.
207
Capítulo 07

Nome científico: Thalasseus acuflavidus


Família: Sternidae
Nome popular: Trinta-réis-de-bando

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Assim como a espécie anterior, essa espécie é migrante do hemisfério norte, presente no Brasil apenas
como visitante. É sempre vista aos bandos. Na maré seca é comum observar bandos descansando nas ilhas.

Nome científico: Thalasseus maximus


Família: Sternidae
Nome popular: Trinta-réis-real

Foto: Eduardo Ferreira

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Essa ave é um trinta-réis de grande porte, facilmente identificável por ser maior que as espécies anterio-
res. Vive em pequenos bandos sobre rochas costeiras. Possui muitas semelhanças com as gaivotas, tanto
na aparência quanto nos hábitos. Alimenta-se principalmente de peixes e pode roubar comida de outras
aves marinhas (cleptoparasitismo). Essa espécie está classificada como em perigo de extinção segundo
a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção Nacional (MMA, 2018) e global (IUCN, 2019). Re-
centemente essa espécie foi contemplada no Plano de Ação Nacional das Aves Marinhas com medidas
para evitar que ela seja extinta.

208
Aves

Nome científico: Coragyps atratus


Família: Cathartidae
Nome popular: Urubu-de-cabeça-preta

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Comumente encontrada em áreas urbanas, vive em grandes aglomerados, sendo facilmente vista em terre-
nos com grandes quantidades de lixo. Se alimenta de restos de outros animais, sendo importante na recicla-
gem de carcaças, hábito alimentar conhecido como saprofagia. Dentre os urubus, é o de menor envergadura,
no entanto, é um dos mais agressivos. Não possui o olfato apurado, localizando a carniça pela visão.

Nome científico: Caracara plancus


Família: Falconidae
Nome popular: Carcará

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Ele é, por muitas vezes, confundido com um gavião, pelo seu grande porte, mas na verdade o carcará é
um falcão. Vive solitário, aos pares ou em grupos. Se beneficia das modificações das paisagens de flores-
ta para áreas de pastagem. Pode se alimentar de carcaças ou caçar outros animais, sendo considerado
um predador generalista e oportunista, podendo consumir até alimentos de origem vegetal, como os
frutos de dendê.
209
Capítulo 07

Nome científico: Athene cunicularia


Família: Strigidae
Nome popular: Coruja-buraqueira

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• É chamada de buraqueira devido ao seu hábito de se reproduzir em buracos construídos no solo. Pode
cavar túneis de até 2 m de profundidade. Bota, em média, de 6 a 11 ovos. Costuma viver em campos,
pastos, restingas, planícies, praias, podendo ocupar ambientes alterados pela ação humana, tais como
aeroportos e terrenos baldios.

Nome científico: Patagioenas picazuro


Família: Columbidae
Nome popular: Pomba-asa-branca

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• É uma das maiores espécies de pombo do país. Alimenta-se de sementes e pequenos frutos geralmen-
te coletados no solo. É comum em ambientes alterados pela ação humana, podendo se reproduzir em
praças e centros urbanos. Essa ave inspirou Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira a compor uma das mais
conhecidas canções populares, Asa-Branca.

210
Aves

Nome científico: Megaceryle torquata


Família: Alcedinidae
Nome popular: Martim-pescador-grande

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Também conhecido como “guarda-rios” ou “ariramba”, nomes de origem tupi é encontrado próximo a
rios, córregos, lagoas, açudes, manguezais e à orla marítima. Vive a maior parte do tempo sozinho. Vive
aos pares no período reprodutivo e constrói seus ninhos em buracos feitos em paredões de barro.

Nome científico: Picumnus cirratus


Família: Picidae
Nome popular: Pica-pau-anão-barrado

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Pertence ao Gênero científico Picumnus que engloba as menores espécies de pica-paus do Brasil. A sua
língua é vermiforme e muito longa sendo um eficiente instrumento para a coleta de suas presas. Além
do seu canto, os pica-paus se comunicam por sons emitidos com o bater de bico nos troncos das árvores
– conhecido como “tamborilar” – que tem como função demarcar território além de servir de comuni-
cação entre macho e fêmea.

211
Capítulo 07

Nome científico: Thamnophilus ambiguus


Família: Thamnophilidae
Nome popular: Hoca-de-sooretama

Foto: João Rafael Marins (macho) e Cecília Licarião (fêmea)

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Espécie exclusiva da mata atlântica (endêmica), ou seja, esse é o único bioma em que essa ave ocor-
re. É uma ave que precisa de mata conservada para viver, por isso é uma espécie indicadora de áreas
preservadas. O macho é diferente da fêmea, com penas pretas e pintas brancas. Já a fêmea é mais parda
para se camuflar melhor na vegetação.

Nome científico: Todirostrum cinereum


Família: Tyrannidae
Nome popular: Ferreirinho-relógio

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Seu canto lembra um relógio dando corda, por isso o nome popular “reloginho”. Espécie comum em
áreas alteradas pelo homem é uma ave de fácil detecção, por cantar praticamente o dia inteiro.
212
Aves

Nome científico: Pitangus sulphuratus


Família: Tyrannidae
Nome popular: Bem-te-vi

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Pode-se dizer que o bem-te-vi é um dos pássaros mais populares do Brasil. A origem do seu nome é
devido a seu canto que parece dizer “bem-te-vi”. Ocorre em todo o país,mas é mais comum em áreas
abertas. Muito territorialista e valente, é comum vê-los atacando outras aves, inclusive gaviões.

Nome científico: Tyrannus melancholicus


Família: Tyrannidae
Nome popular: Suiriri

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Como o bem-te-vi, o seu nome popular é também devido à sua vocalização “si-ri-ri”. As semelhanças
não param por aí. Por seu tamanho e cor, pode ser confundido com o próprio bem-te-vi, por olhos desa-
tentos e leigos. É comum observá-lo empoleirado sempre no mesmo galho, de onde costuma partir para
capturar suas presas no ar. 213
Capítulo 07

Nome científico: Fluvicola nengeta


Família: Tyrannidae
Nome popular: Noivinha/viuvinha

Foto: Cecília Licarião

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Recebeu o nome “mascarada” em função de uma faixa negra que lhe atravessa os olhos. Associada a
ambientes alagados, tais como margens de rios, açudes e brejos, pois raramente deles se afasta. Pode ser
vista também em áreas urbanas arborizadas. Costuma andar em casal. Se alimenta de pequenos insetos
e artrópodes revirando o solo.

Nome científico: Troglodytes aedon


Família: Troglodytidae
Nome popular: Corruíra ou cambaxirra

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Ocorre em ambientes abertos e semiabertos, aparecendo rapidamente em clareiras abertas em regiões
florestadas. Habita também os arredores de casas e jardins, inclusive no centro de cidades, além desses lo-
cais, ocupa ilhas na costa marítima. Vocaliza incansavelmente durante todo o dia. É uma espécie muito ativa
e alimenta-se de insetos pequenos como besouros, além de pequenas aranhas e de filhotes de lagartixa.
214
Aves

Nome científico: Mimus saturninus


Família: Mimidae
Nome popular: Sabiá-do-campo

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conversação

Curiosidades:
• Conhecido por ser um grande imitador do canto de outras aves. Alguns indivíduos repetem o canto de
até 6 espécies diferentes. São onívoros, alimentam-se principalmente de invertebrados e frutos.

Nome científico: Tangara cayana


Família: Thraupidae
Nome popular: Saíra-amarela

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Se alimenta de frutos e de insetos como cupins e vespas. Costuma frequentar comedouros. Os machos (foto
acima) são mais coloridos do que as fêmeas, mais esverdeadas e sem a linha preta que vai do rosto ao dorso.

215
Capítulo 07

Nome científico: Cyanerpes cyaneus


Família: Thraupidae
Nome popular: Saíra-beija-flor

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Os machos são azulados com pernas laranja chamativas. Já as fêmeas são esverdeadas, o que lhes
propicia camuflarem-se facilmente na vegetação. Essa é uma excelente estratégia para evitar predação
quando elas estão chocando.

Nome científico: Dacnis cayana


Família: Thraupidae
Nome popular: Saí-azul

Foto: João Rafael Marins

Habitat Sazonalidade Status de conservação

Curiosidades:
• Apresenta acentuado dimorfismo sexual: o macho é azul e negro, com as pernas vermelho-claras (ca-
racterística que o diferencia da espécie saí-de-pernas-negras), enquanto a fêmea é verde, com a cabeça
azulada e as pernas alaranjadas. Seu canto é um gorjear fraco. É visto sempre em par, num casal. Alimen-
ta-se de néctar,de insetos e de frutas. Costuma frequentar comedouros de frutas.

216
Aves

7.4. Qual a importância das aves?


As aves têm diversos papéis nos diferentes ecossistemas. São responsáveis pela polini-
zação de inúmeras flores que se tornarão frutos, pelo plantio de florestas através da dispersão
de sementes e pelo controle de pragas (6). A cambacica, por exemplo, se alimenta de frutos,
engolindo as sementes sem quebrá-las, assim ao eliminá-las junto com as fezes em lugares
mais distantes, elas germinam dando origem a novas plantas. O fim-fim, é responsável por
transformar a flor em fruto através da sua eficiente polinização. Já a corruíra se alimenta
de centenas de insetos, sendo eficiente em controlar populações de possíveis pragas. Além
de todas essas, temos também as corujas que têm os roedores, grandes pragas em centros
urbanos, como um dos principais ítens de suas refeições. E, é preciso que nos lembremos dos
urubus, espécie abundante em Piúma, com o importante papel de eliminar as carcaças de
animais mortos, não permitindo que elas se acumulem no ambiente.
Quando se trata de aves marinhas, essas desempenham papel fundamental para o fun-
cionamento dos oceanos. Elas são consideradas um importante bioindicador de qualidade
do ambiente, uma vez que estão associadas a grandes cardumes e áreas com menos interfe-
rência humana (7). Anualmente, essas aves depositam toneladas de nitrogênio e fósforo nos
mares através de suas fezes – também chamadas de guano – tendo um papel chave na trans-
ferência de nutrientes do oceano para o continente.
Diante de tantas funções, é fácil perceber que pequenas alterações ambientais são capa-
zes de provocar mudanças no número de aves observadas em uma área. Existem espécies que
precisam de áreas muito conservadas para sobreviver, como a choca-de-sooretama (Tham-
nophilus ambiguus), e outras que se beneficiam de alguma forma das áreas alteradas como
as gaivotas (Larus dominicanus). Por esse motivo, as aves são excelentes indicadores do am-
biente. Basta que observemos quais espécies estão mais presentes em uma área para dizer
que nível de conservação temos ali.
Vamos à geografia: as ilhas são de grande importância para reprodução de diversas es-
pécies de aves, tanto marinhas quanto terrestres (Figura 3) (8), são um refúgio onde as aves
descansam, se reproduzem e se alimentam (4). As ilhas do Espírito Santo são tidas como
berçários para as aves marinhas. A exemplo das andorinhas-do-mar, como são conhecidos
os trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus), e dos trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna
hirundinacea). Mais de 15 mil indivíduos se concentram nas ilhas capixabas para se repro-
duzir. É uma cena emocionante. Para tentar preservar essas aves, existe uma resolução do
Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) que proíbe a entrada de pessoas nas ilhas,
de 15 de abril a 15 de outubro, para evitar pisoteio dos ovos. Além das andorinhas, também é
possível ver casais de piru-piru (Haematopus palliatus) se reproduzindo (4).

217
Capítulo 07

Figura 3. Filhotes de urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus)


encontradas na Ilha de Itapetinga, Itapemirim/ES.

7.5. Quais as principais ameaças às aves


marinhas?
As aves marinhas passam toda a sua vida associadas às águas dos oceanos, logo, sua
saúde está diretamente relacionada à saúde dos mares e às atividades desenvolvidas nessa
imensidão azul. A poluição das águas, quer seja por toxinas, petrolatos ou por plástico, é cada
vez mais crescente e influencia diretamente na existência desses animais que, diariamente,
morrem intoxicados. Diversos casos de plásticos encontrados no interior de aves marinhas
são relatados com frequência a cada dia maior, o que torna o cenário assustador e com pers-
pectiva de piora caso não sejam tomadas providências imediatas.
Além da poluição, as práticas de terraplanagem, urbanização, desenvolvimento indus-
trial, pesca desenfreada e caça ilegal têm afetado as espécies de aves (9). Essas práticas co-
locam em risco não só populações de aves, em consequência da redução de áreas de repro-
dução, descanso e forrageio, como também toda a diversidade existente nesses ambientes
costeiros (10). Como resultado da elevada e intensa degradação dos ecossistemas causada
pelo homem, muitas espécies do planeta têm sido perdidas, algumas antes mesmo de serem
conhecidas. Estamos vivendo em plena sexta extinção.
Nas ilhas de Piúma, por exemplo, é possível observar algumas espécies de aves mortas
(Figura 4). As causas das mortes podem ser diversas, tanto impactos antrópicos como a pre-
dação por outras espécies. O elevado número de turistas nas ilhas pode ser um grande agra-
vante para a morte das aves no período reprodutivo. É necessário que nesse período, o cuida-
do seja redobrado ao frequentar esses ambientes.

218
Aves

Figura 4. Indivíduos de trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus)


atobá-marrom (Sula leucogaster) encontradas mortas na ilha de Itapetinga, Itapemirim/ES

Historicamente, as ilhas costeiras do litoral sul do Espírito Santo, ao longo dos anos, so-
freram grande degradação dos seus ecossistemas por estarem próximas a áreas urbanizadas
no continente, favorecendo inúmeras visitas de pescadores e turistas que além de atear fogo
na vegetação insular, coletava os ovos das aves para consumo (8).

7.6. Medidas para a conservação das aves


marinhas
Apesar das ameaças, esforços da comunidade científica têm sido aplicados em prol da
conservação dos ambientes que abrigam as aves marinhas. Um exemplo disso é o Plano de
Ação Nacional para Conservação das Aves Marinhas que tem como objetivo geral “promo-
ver a recuperação das populações e mitigar as principais ameaças às aves marinhas e seus
habitats”. O foco desse plano são 13 espécies de aves ameaçadas de extinção (12), duas dessas
espécies: o trinta-réis-real (Thalasseus maximus) e o trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna
hirundinacea) ocorrem nas ilhas do litoral sul capixaba.
Outra medida de conservação das aves marinhas é a adaptação das artes de pesca para
evitar a captura incidental delas. O Projeto Albatroz, há décadas, desenvolve pesquisas sobre
essas aves marinhas e nos últimos anos desenvolveram testes com pesos de anzóis com o
intuito de descobrir uma solução para o grande número de aves capturadas incidentalmente
durante a pescaria de peixes. A utilização do “peso seguro” é um método criado pelo projeto
para que os anzóis das embarcações afundem mais rápido. Esse método consiste em colocar
o peso de 60g a um metro do anzol, e não a 3 metros como costuma ser utilizado. Essa simples
mudança faz com que o anzol afunde mais rápido e diminua em 90% a pesca incidental de
albatrozes. A pesca de aves diminui mas a pesca de peixes não muda. Incrível não é? Essa
e outras alternativas são estudadas por grupos de cientistas do nosso país com o intuito de
conservar a nossa biodiversidade.

219
Capítulo 07

Medidas políticas e sociais são de extrema importância para a conservação dessas es-
pécies de aves. É importante unir os esforços de todos para que sejam tomadas medidas
efetivas para que não se perca mais espécies. A base para isso acontecer é o conhecimento
científico. Mas se esse conhecimento ficar só dentro dos muros da universidade ele perde
força e não cumpre seu papel. Por isso, através deste material, nós nos propusemos a extra-
polar os muros da academia e chegar à comunidade. Nosso primeiro passo é fazer com que
as pessoas aprendam a reconhecer as espécies de aves de sua região e só então vamos poder
cuidar melhor desses lindos organismos e possibilitar a manutenção dessas espécies nos
ecossistemas costeiros.

Referências
1. PIACENTINI, V. D. Q.; ALEIXO, A.; AGNE, C. E.; MAURÍCIO, G. N.; PACHECO,
J. F.; BRAVO, G. A.; SILVEIRA, L. F. Annotated checklist of the birds of Brazil by the
Brazilian Ornithological Records Committee/Lista comentada das aves do Brasil
pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornito-
logia, v. 23, n. 2, p. 91–298, 2015.
2. SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
3. Basílio, T. H.; GARCEZ, D. S.; BODART, C. N.; SILVA, E. V. Análise integrada de
unidades geoecológicas relacionadas com as atividades pesqueiras no litoral sul
do Espírito Santo. Brasil: Revista da Gestão Costeira Integrada, v. 16, p.163-
170, 2016.
4. PINHEIRO, H. T. A. L.; FERREIRA; J. B. TEIXEIRA. Diagnóstico Ambiental
do litoral sul do estado do Espírito Santo: estudos complementares para a cria-
ção de uma unidade de conservação marinha. Vitória: Associação Ambiental Voz da
Natureza, 2010.
5. INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE - IUCN. The
IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em: <https://www.iucnre-
dlist.org>. Acesso em set. 2019.
6. GARDNER, T. A.; BARLOW, J.; ARAÚJO, I. S.; ÁVILA-PIRES, T. C. S.; BONALDO,
A. B.; COSTA, J. E.; ESPOSITO, M. C.; FERREIRA, L. V.; HAWES, J.; HERNANDEZ,
M. I. M.; HOOGMOED, M.; LEITE, R. N.; LO-MAN-HUNG, N. F.; MALCOLM, J. R.;
MARTIN, M. B.; MESTRE, L. A. M.; MIRANDA-SANTOS, R.; NUNES-GUTJAHR,
A. L.; OVERAL, W. L.; PARRY, L. T. W.; PETERS, S. L.; RIBEIRO-JUNIOR, M. A.; DA
SILVA, M. N. F.; DA SILVA MOTTA, C.; PERES, C.. The cost-effectiveness of biodi-
versity surveys in tropical forests. Ecology Letters, v. 11, n. 2, p. 139-150, 2008.

220
Aves

7. BURGER, J.; JEITNER, C.; CLARK, K.; NILES, J.L. The effect of human activities
on migrant shorebirds:successful adaptive management. Environmental Con-
servation. v. 31, n. 4, p.283-288, 2004.
8. EFE, M. A. Aves marinhas das ilhas do EspÌrito Santo. In: OLINTO BRANCO, Jo-
aquim (org.) Aves marinhas e insulares brasileiras: bioecologia e conservação.
Itajaí: Editora da UNIVALI, p.101-118. 2004.
9. TAVARES, D. C.; SICILIANO, S. Scientific Note Notes on records of Ciconia ma-
guari (Gmelin, 1789) (Aves, Ciconiidae) on northern Rio de Janeiro State, Southeast
Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, p. 8, n.4, p. 352-357, 2013.
10. MARINI, M.A.; DUCA, C.; MANICA, L.T. Técnicas de pesquisa em biologia re-
produtiva de aves. In: Matter, S.V.; Straube, F.C.; Accordi, I.; Piacentini, V.; Cândico-
-Jr., J.F. Ornitologia e Conservação: Ciência aplicada, técnicas de pesquisa
e levantamento. Rio de Janeiro: Editora Technical Books, p. 295-312. 2010.
11. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
- ICMBio, 2014. Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Mari-
nhas. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/planos-
-de-acao/9325-plano-de-acao-nacional-para-a-conservacao-das-aves-marinhas-
-costeiras > . Acesso em set. 2019.

221
Capítulo 08
Resíduos sólidos e impactos ambientais

Thiago Holanda Basilio

Foto: Bianca Miranda Moreira (Estudante do Ifes - Campus Piúma)

“Cuidemos mais de nossas ruas! Pois isso influenciará nos bairros; cuidemos mais de nossos
bairros, e assim, influenciaremos as cidades! Como podemos ver, é por pequenas ações que
poderemos obter grandes resultados. Por que deixar de cuidar do lugar em que vivemos?
Cada ação conta! Valorizemos e cuidemos mais do nosso planeta”
C a r l o s D a n i e l V a l é r i o O l i v e i r a M a r t i n , 15 anos
222
Resíduos sólidos e impactos ambientais

8.1. Introdução

A
história da utilização dos resíduos sólidos está diretamente relacionada com a
história da civilização humana. Porém, a humanidade nunca produziu tantos
resíduos sólidos como atualmente (1). Acredita-se que os primeiros acúmulos
de materiais residuais ocorreram quando as populações nômades passaram a
se estabelecer em determinados locais (2). O avanço tecnológico proveniente, principalmen-
te, da revolução industrial proporcionou graves mudanças na forma como as pessoas conso-
mem os produtos, muitas vezes sem a correta destinação dos resíduos sólidos produzidos.
Por outro lado, o conceito de resíduos sólidos está sofrendo alterações ao longo do tempo, de
acordo com as mudanças culturais, avanços tecnológicos, conscientização ambiental e neces-
sidade para produção e reaproveitamento de materiais que não podem ser utilizados para um
determinado fim, mas que podem servir como matéria prima para uma outra forma de uso. En-
tretanto, este conceito varia de acordo com cada região, que pode estar relacionado com o clima,
lugar, época, cultura e até mesmo de acordo com os hábitos de uma determinada sociedade (2).
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT _ NBR nº 10.004/2004),
os resíduos sólidos são definidos como: “... são os resíduos nos estados sólidos e semissólidos,
que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica hospitalar, comer-
cial, agrícolas, de serviço e varrição.”
O desenvolvimento das tecnologias voltadas para as ciências ambientais derrubou a
crença que dizia que os recursos naturais são ilimitados, e que a natureza se encontra a ser-
viço das ações humanas (2). Com isso, surgiu a preocupação sobre qual seria a melhor opção
para a exploração dos recursos e a destinação correta desses resíduos gerados pela população
que a cada ano só aumenta.
Para tanto, foi instituída, em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) por
meio da Lei nº 12.305, na qual define Resíduos Sólidos e Rejeitos e da seguinte forma:

• Resíduos sólidos

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em so-


ciedade, e cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a pro-
ceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líqui-
dos cujas particularidades tornem inviáveis o seu lançamento na rede pública de esgoto
ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível.

223
Capítulo 08

• Rejeitos

São resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamen-


to e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
Esses rejeitos devem ser destinados corretamente a aterros sanitários controlados.

Esses conceitos nos levam a refletir sobre as nossas atitudes e a nossa forma de consumo
para a destinação dos resíduos que geramos e produzimos. Precisamos expandir esses con-
ceitos para que um maior número de pessoas possa perceber a importância da destinação
correta dos resíduos sólidos. Essa destinação pode gerar alternativas de renda para centenas
de pessoas que trabalham na cadeia produtiva da coleta, triagem, reúso, reciclagem e venda
dos materiais que acreditamos não ter mais utilidade para nós, mas que podem ser re-utili-
zados para diferentes fins.
Várias associações e cooperativas fazem um belo trabalho de coleta dos resíduos para
transformá-los em matéria prima para dar origem a novos produtos, aumentando a renda das
famílias que vivem dessa profissão, reduzindo, assim, a quantidade de “lixo” espalhado nas
ruas, que acaba indo para os rios e mares.

8.2. Impactos ocasionados pelos resíduos sóli-


dos e soluções para o problema.
Os resíduos sólidos estão presentes em todas as fases das atividades humanas, tanto em
termos de composição como de volume, e variam em função das práticas de consumo e dos
métodos de produção. As maiores preocupações estão nas consequências que esses resíduos
podem ter sobre o meio ambiente e sobre a saúde humana (1). No decorrer da história, os
resíduos passaram a ser depositados em locais desabitados e a céu aberto ou em rios e cór-
regos. Desta forma, os resíduos disponibilizados nestas áreas, com ações da natureza e/ou
do homem, tornam-se suscetíveis a chegar nos mares, por meio das correntes marítimas (3).
Os resíduos sólidos produzidos pelos seres humanos, quando não são devidamente equa-
cionados, geram um grave problema ambiental pela falta de sistemas adequados de coleta
que possibilitam sua entrada no ambiente marinho. Nos dias atuais, os resíduos são conside-
rados uma das principais formas de poluição ambiental marinha (4).
A cada dia são encontrados animais marinhos mortos encalhados nas praias com evi-
dências de morte por consumo de plástico e por outros resíduos que acabam chegando no
ambiente marinho de maneira indevida. Esses organismos confundem os resíduos com ali-
mento e os ingerem, impactando a qualidade de vida dos animais que acabam morrendo pela
quantidade de plástico contida no estômago. Os principais organismos afetados são as tarta-
rugas, peixes, aves marinhas, golfinhos, baleias, tubarões e raias. Todos esses estão presentes

224
Resíduos sólidos e impactos ambientais

no entorno das ilhas costeiras do litoral sul capixaba. Portanto, devemos cuidar bem dessas
unidades ambientais para que possamos ter sempre os animais marinhos vivos nandando
em volta das ilhas.
Para agravar a situação, ainda temos o problema da pescaria fantasma, equivalente aos
restos de apetrechos de pesca, como: redes de espera e anzóis que são jogados no mar pelos
pescadores e que acabam capturando indevidamente diferentes tipos de organismos, espe-
cialmente as tartarugas. Os animais ficam presos e não conseguem sobreviver. Esse proble-
ma se agrava pelo fato de que muitos pescadores não respeitam as leis ambientais e lançam
seus materiais de pesca no mar quando não servem mais para uso.
Por outro lado, nota-se que a sociedade já começou a ter iniciativas para encontrar estra-
tégias para resolver essa problemática e, apesar de continuar desperdiçando seus restos de
alimento e resíduos, vem empenhando-se para buscar alternativas para resolver os obstáculos
dos resíduos e reconhecer associações, cooperativas e empresas que se dispõem a fazê-lo (3).
Uma dessas iniciativas é denominada de Dia Mundial da Limpeza, evento conhecido
como “Clean Up the World”. Trata-se de uma campanha ambiental para limpar e conservar o
meio ambiente que ocorre desde 1993 em várias regiões do mundo. Esse evento é realizado
sempre no terceiro sábado do mês de setembro e conta com a participação de cerca de 150
países, tendo um público estimado de 35 milhões de voluntários anualmente, tornando-se
uma das maiores campanhas para sensibilização de limpeza de praias (5).
Participantes como empresas, grupos comunitários, escolas, governos e pessoas de co-
munidades locais fazem uma série de atividades e mutirões de limpeza, buscando melhorias
para o ambiente em que vivem, visando as práticas sustentáveis e de sensibilização para a
destinação apropriada dos resíduos sólidos.
Consequentemente, foi constatado que esse tipo de atividade vem trazendo melhorias,
promovendo uma maior participação da população nas mudanças de atitudes advindas dos
participantes das campanhas na tentativa de reduzir a quantidade de resíduos sólidos desti-
nados incorretamente (5).
Essa ação do “Dia Mundial de Limpeza” vem sendo desenvolvida pelo Núcleo de Educação
Ambiental (NEA) do Ifes - Campus Piúma nas regiões costeiras de Piúma desde 2013 (Figura 1).

225
Capítulo 08

Figura 1. Mutirões de limpeza realizados pelo Núcleo


de Educação Ambiental no município de Piúma/ES.

As campanhas são realizadas de forma interativa, estimulando os participantes a cola-


borarem no processo de coleta, contagem e pesagem dos diferentes grupos de resíduos sóli-
dos, como plástico, vidro, nylon, isopor, borracha, papel e madeira (Figura 2).

Figura 2. Principais tipos de resíduos sólidos coletados nas regiões costeiras do litoral sul capixaba.

Os participantes foram distribuídos em grupos, e cada grupo se dirigia a um determinado


lugar na região costeira para a coleta dos resíduos. Os lugares de coleta foram: Praia Doce,
Praia Maria Neném, Praia Acaiaca, Canal de Itaputanga, Ilha do Gambá, Ilha do Meio, Ilha
dos Cabritos e Ilha de Itapetinga.
Ao final do evento, os resultados eram discutidos com os estudantes e a população em
geral na tentativa da sensibilização ambiental para a mudança de atitudes e formulações de
políticas públicas voltadas à resolução dessa problemática. Alguns desses resultados iremos
apresentar logo abaixo no tópico seguinte.
Além das campanhas realizadas anualmente, o Núcleo de Educação Ambiental (NEA)
também promoveu diversas outras coletas de resíduos junto com o monitoramento socio-

226
Resíduos sólidos e impactos ambientais

ambiental desenvolvido nas regiões costeiras do litoral sul capixaba, especialmente nas ilhas
dos Municípios de Piúma e Itapemirim, como apresentado nos capítulos anteriores. Essas
coletas eram executadas também de maneira seletiva, em que os estudantes participantes do
projeto realizavam a limpeza dos locais de trabalho (Figura 3).

Figura 3. Realização de coletas de resíduos nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba.

227
Capítulo 08

8.3. Resíduos sólidos das ilhas costeiras do li-


toral sul capixaba
Ao todo foram coletados aproximadamente 2.971kg de resíduos sólidos nas praias e ilhas
costeiras de Piúma/ES (Figura 4). Participaram das atividades de limpeza aproximadamen-
te 1.200 pessoas, principalmente os estudantes e os servidores do Ifes. Nos anos de 2016 e
2018, foi coletada uma maior quantidade de resíduos provavelmente por serem os anos com
maior quantitativo de pessoas que participaram do evento.

Figura 4. Quantidade de resíduos sólidos coletados (kg) nas campanhas de limpezas


de praias realizadas na região costeira do município de Piúma/ES, de 2013 a 2018.

Do total de resíduos coletados, 514kg foram retirados das ilhas costeiras do litoral sul
capixaba. A Ilha do Gambá teve um maior número de resíduos coletados, com um total apro-
ximado de 221kg, seguida da Ilha dos Cabritos (143kg), da Ilha do Meio (130kg) e da Ilha Ita-
petinga (20kg) (Figura 5), respectivamente.

Figura 5. Quantidade de resíduos sólidos coletados nas ilhas


costeiras do litoral sul capixaba nos anos de 2015 a 2019.
228
Resíduos sólidos e impactos ambientais

Esse fato pode estar relacionado à facilidade de acesso à Ilha do Gambá. Ela é visitada
diariamente por muitas pessoas da comunidade e pelos turistas. Lamentável que a população
ainda possua a atitude de deixar os resíduos produzidos de qualquer maneira, seja na ilha, na
praia, costão rochoso, em meio à vegetação ou na própria água do mar. Para piorar a situação,
a Ilha do Gambá possui apenas dois pontos de coleta de resíduos, um na Prainha e o outro na
entrada da ilha, não possuindo placas de aviso e/ou placas educativas para que os visitantes
evitem de deixar os seus resíduos de qualquer forma espalhados na Ilha.
A Praia Doce, localizada na entrada da Ilha do Gambá (Figura 6), teve uma maior quanti-
dade de resíduos coletados no município de Piúma. Essa praia encontra-se próxima ao canal
estuarino que passa por dentro da cidade de Piúma, sendo cercada por residências, estabe-
lecimentos comerciais, peixarias e indústrias (6). Os resíduos que são depositados no curso
hídrico são carreados pela correnteza e são depositados na Praia Doce.

Figura 6. Imagem de satélite (Google Hearth) da região costeira de Piúma/ ES,


evidenciando a localização do Ifes, Praia Doce, Ilha do Gambá e bairro Portinho.

No tocante à Ilha dos Cabritos, houve uma elevada quantidade de resíduos coletados
possivelmente pelo fato de ter um restaurante “quiosque” no costão rochoso da faixa de praia
dessa ilha. Essa estrutura é de alvenaria e foi construída ilegalmente (Figura 7).

Figura 7. Estrutura de quiosque construída na Ilha dos Cabritos, Piúma/ES.


229
Capítulo 08

A população utiliza esse restaurante/quiosque como bar, e nela são encontrados diversos
tipos de plásticos, garrafas de bebidas alcoólicas, refrigerantes, latinhas e vestígios de carvão
aquecido, típico de churrasco. Vale salientar que essa prática é proibida em todas as ilhas
costeiras de Piúma, conforme Lei Municipal.
Pesquisadores do Ifes também utilizam esse espaço como apoio nas atividades de
pesquisa, ensino e extensão realizadas pelos servidores em parceria entre os estudantes e
a comunidade envolvida. Atualmente, são desenvolvidas pesquisas na área da aquicultura
de moluscos bivalves e algas marinhas na região da Ilha dos Cabritos pelos servidores e
estudantes do Ifes. Além de ações de educação ambiental como trilhas ecológicas e cam-
panhas de limpeza.
Os principais tipos de resíduos coletados em todos os anos foram o vidro, o isopor, o plás-
tico e as latinhas de cerveja (Figura 8). O isopor e o plástico são matérias de difícil degradação
e de fácil flutuação e essas características acabam favorecendo sua dispersão pelo ambiente
ocasionando assim a poluição dos cursos hídricos.

Figura 8. Principais tipos de resíduos sólidos (% da unidade) coletados


nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba, durante os anos de 2013 a 2019.

Outro item que foi coletado em grandes quantidades foi a bituca de cigarro (Figura 9),
principalmente nas praias de Piúma, onde a movimentação de pessoas e turistas é mais in-
tensa. A bituca de cigarro é uma das principais causas de morte dos organismos aquáticos,
pois os peixes, aves e outros organismos confundem a bituca com seu alimento natural, cau-
sando sérios problemas quando os animais o ingerem.

230
Resíduos sólidos e impactos ambientais

Figura 9. Resíduos coletados nas praias e Ilhas de Piúma/ES, evidanciando


a quantidade de bitucas de cigarro retiradas dessas regiões.

Já em relação ao peso dos resíduos coletados, o Metal/Alumínio/Ferro foram os itens


mais pesados, seguidos do plástico e do vidro (Figura 10). Esses materiais podem ser encon-
trados em todas as ilhas, especialmente em locais de maior concentração de pessoas.

Figura 10. Principais tipos de resíduos sólidos (% do Peso - kg) coletados


nas ilhas costeiras do litoral sul capixaba, durante os anos de 2013 a 2019.

231
Capítulo 08

A Ilha de Itapetinga (Figura 11) foi a que apresentou menor quantidade de resíduos pro-
vavelmente por ser a menos visitada. Ela é eventualmente frequentada por pescadores e
turistas que praticam esportes náuticos. Um belo lugar que possui elevada biodiversidade,
como já foi mostrado nos capítulos anteriores e que precisa também ser monitorado para a
fiscalização e a coleta dos resíduos sólidos que são deixados na ilha por visitantes.

Figura 11. Realização de coleta de resíduos sólidos na pequena Ilha


de Itapetinga, Itapemirim/ES, ao fundo a vista do Monte Aghá.

Os resíduos coletados foram destinados ao aterro sanitário da Central de Tratamento


de Resíduos de Vila Velha (CTRVV), com a qual a Prefeitura de Piúma possui convênio para
destinação dos resíduos produzidos no município.
Ainda, parte dos resíduos foram destinados à Associação de Catadores de Resíduos de An-
chieta (UNIPRAN) a qual possui parceria com o Ifes para a coleta dos resíduos sólidos da ins-
tituição. Esses resíduos possibilitam uma melhoria na renda de várias famílias que trabalham
na associação, viabilizando o regresso desse resíduo às indústrias e, assim, dar origem a um
novo produto. Contudo, os resíduos que foram coletados nas campanhas de limpeza são relati-
vamente pouco utilizados, pois possuem uma grande quantidade de sedimento e de organismos
incrustantes que dificultam a limpeza e a comercialização para as empresas de reciclagem.
Assim, os resíduos devem ser imediatamente, após a sua utilização, serem destinados a as-
sociações e/ou cooperativas de reciclagem para a venda e a destinação correta desses materiais.

232
Resíduos sólidos e impactos ambientais

8.4 Considerações Finais


Pode-se concluir que existe uma grande quantidade de resíduos sólidos descartados ina-
dequadamente em diferentes regiões costeiras do litoral sul capixaba. Portanto, são necessá-
rias ações contínuas de educação ambiental para a sensibilização da comunidade a respeito
da destinação correta dos resíduos, haja vista que é preciso agir agora, para tentar minimizar
os impactos da sociedade de hoje sobre as futuras gerações.
Os resíduos descartados nas ilhas costeiras fazem parte do uso tanto de moradores locais
quanto de turistas que desfrutam de suas belezas, mas acabam prejudicando a natureza ao
deixar rastros que refletem de maneira negativa nas paisagens e na vida de organismos ma-
rinhos que ali residem e que fazem parte do sustento da comunidade pesqueira das regiões
costeiras do Estado do Espírito Santo.
O primeiro passo na tentativa de resolver essa problemática seria a implantação de um
sistema de gestão de resíduos gerados e seus efeitos potenciais no ambiente. A correta coleta
de dados para a realização de análises mais fiéis à realidade, a partir do monitoramento das
práticas que geram um maior número de resíduos, também devem ser implementadas, no
sentido de oferecer suporte para a correta destinação dos resíduos por toda a população, es-
pecialmente os comerciantes, empresários e turistas.
Aliado a isso devem ser desenvolvidos programas de educação ambiental amplos, ofere-
cendo suporte teórico e prático para a sensibilização ambiental, com a possibilidade de gerar
suporte à transformação e a mudanças de atitudes da população.
Existe principalmente a real necessidade de alterações nos padrões de consumo e na for-
ma com que destinamos os resíduos que geramos. Só por meio da educação é que as pessoas
poderão perceber as influências, causas e consequências que a incorreta destinação de resí-
duos sólidos geram para a natureza, o que pode promover desequilíbrios ambientais com a
perda de biodiversidade e redução de práticas econômicas locais, como o turismo e as ativi-
dades pesqueiras.
Ainda são recomendadas algumas atitudes sustentáveis para garantir a redução do con-
sumo, bem como a promoção da reutilização e da reciclagem dos resíduos sólidos (Figura 12).
Essas ações realizadas individualmente e coletivamente podem diminuir a quantidade de
“lixo” ou resíduos sólidos espalhados nas diferentes unidades ambientais relacionadas com
as regiões costeiras. Assim, espera-se que toda a população possa refletir sobre essa proble-
mática e com isso possibilitar um Mundo melhor com menos poluição ambiental.

233
Capítulo 08

Figura 12. Algumas atitudes sustentaveis para um mundo melhor.

234
Resíduos sólidos e impactos ambientais

Referências
1. SISINNO, C. L.S. Resíduos sólidos, ambiente e saúde: uma visão multidisci-
plinar. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
2. SANTAELLA, Sandra Tédde et al. Resíduos sólidos e a atual política am-
biental brasileira. Fortaleza: UFC, NAVE, LABOMAR, 2014.
3. DANIEL, V. R.; MÁRCIO, R, M. Resíduos sólidos: problema ou oportunidade?
Rio de Janeiro: Interciência, 2009.
4. ARAÚJO, M.C.B; COSTA, M.F. The significance of solid wastes with land-based
sources a tourist beach: Pernambuco, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic
Sciences. v. 1, n. 1, p. 28-34, 2006.
5. CLEAN UP THE WORLD - Dia Mundial de Limpeza de Praias. Disponível
em: <http://www.cleanuptheworld.org/es/Acercade/-qu--es-a-limpiar-el-mundo-.
html >. Acesso em: 17 out. 2016.
6. BASILIO,T.H. Unidades Ambientais e a Pesca Artesanal em Piúma/ES. 1.
ed. São Paulo: Lura gráfica editorial, 2016.

235
Capítulo 09
Educação Ambiental e Conservação

Fabricio Ribeiro Tito Rosa, Thiago Holanda Basilio,


Hanna Lima Mattos e Cassia Silveira Fim

“Ensino focado na parte ambiental, responsável por sensibilizar pessoas a não fazer mal
para o nosso meio e a formar pessoas preocupadas com os problemas ambientais”.
L o r r a i n y B r a n d ã o , 15 anos

236
Educação Ambiental e Conservação

9.1. Introdução

A
cada dia que passa observamos grandes avanços tecnológicos e aumento na
produção e no consumo, crescendo também a preocupação com os impactos
ambientais e com a busca pelo desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, percebeu-se o papel muito importante da Educação Ambien-
tal na formação de indivíduos conscientes em relação à importância da conservação ambiental.
Mas afinal de contas, você sabe o que é Educação Ambiental? E desenvolvimento sustentável?
A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/199) define a Educação Am-
biental da seguinte forma (1):

“ENTENDEM-SE POR EDUCAÇÃO AMBIENTAL OS PROCESSOS POR MEIO


DOS QUAIS O INDIVÍDUO E A COLETIVIDADE CONSTROEM VALORES SO-
CIAIS, CONHECIMENTOS, HABILIDADES, ATITUDES E COMPETÊNCIAS VOLTA-
DAS PARA A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, BEM DE USO COMUM DO
POVO, ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA E SUA SUSTENTABILIDADE”.

Vamos tentar entender melhor o que isso quer dizer:

237
Capítulo 09

Ou seja, podemos dizer que educação ambien-


tal são as ações em que cada pessoa e todos juntos
constroem regras de convivência, conhecimen-
tos, habilidades, atitudes e competências com ob-
jetivo de manter o bom estado do meio ambiente,
que todos podem aproveitar, sendo indispensável
à qualidade de vida e à sua sustentabilidade.
E o tal do desenvolvimento sustentável?
Talvez a definição mais conhecida e utilizada seja a do documento “Nosso Futuro Comum”
(2), também conhecido como Relatório Brundtland, que diz:

“DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL É AQUELE QUE ATENDE ÀS NECESSIDA-


DES DO PRESENTE SEM COMPROMETER A POSSIBILIDADE DE AS GERAÇÕES
FUTURAS ATENDEREM A SUAS PRÓPRIAS NECESSIDADES”.

Ou seja, para atingirmos um desenvolvimento mais sustentável temos que ter sempre
em mente o desenvolvimento social e econômico, mas, ao mesmo tempo, ter em mente o uso
racional dos recursos naturais e a preocupação com a preservação das espécies e dos am-
bientes naturais.
Se pararmos para refletir, veremos que o desenvolvimento sustentável não trata apenas
do meio ambiente, como muitos pensam, mas também de questões sociais e econômicas. Es-
ses são os três pilares principais da sustentabilidade. 
Veja o esquema abaixo:

238
Educação Ambiental e Conservação

Pronto, vimos então que a Educação Ambiental tem um papel importantíssimo para que
se alcance o tão falado desenvolvimento sustentável, pois é por meio da Educação Ambiental
que podemos aprender a como reduzir os impactos ambientais que causamos e, assim, cuidar
melhor do meio ambiente, para que todos possam usufruir tudo de bom que a natureza tem
a nos oferecer: a sombra de uma frondosa árvore, um banho em águas cristalinas de uma ca-
choeira, um dia de sol numa bela e limpa praia e muito mais.
Mas e quanto à conservação das ilhas costeiras do litoral sul capixaba? Qual o papel
da Educação Ambiental? Ora, como dito anteriormente a Educação Ambiental tem um papel
essencial, pois é a partir da Educação Ambiental que as pessoas passarão a conhecer melhor
esses ambientes, sua importância ecológica e os impactos que têm sofrido. Afinal de contas,
por que eu me preocuparia em conservar um lugar que não conheço? Que não sei o que tem
ou o que vive por lá? Um local que nem sei para que serve ou qual a sua importância? E que eu
nem mesmo sei se ele precisa ser conservado ou não. Por que me preocuparia com isso?
Pois então, é através da Educação Ambiental que podemos:
• Sensibilizar as pessoas, mostrando a elas a importância desses ambientes.
• C
 onhecer e apresentar a imensa quantidade de seres vivos que vivem e
dependem desses locais.
• Listar os impactos que nós mesmos causamos ao ecossistema costeiro.
• Sugerir como esses impactos prejudicam a todos.
• Propor o que podemos fazer para reduzir os impactos negativos.

Só depois de conhecer e de nos sensibilizar é que vamos poder nos conscientizar para
mudarmos nossas atitudes, reduzindo os impactos ambientais negativos que causamos e
ajudando na conservação da natureza.

E aí? Vamos ajudar?

Você está pronto para refletir sobre suas atitudes e reduzir os impactos que você gera? E
mais importante ainda, está pronto para repassar à sua família e a seus amigos todo o conhe-
cimento que tem agora sobre as ilhas costeiras e a importância desses ambientes? É claro que
sim! Parabéns, a partir de agora você é personagem fundamental para que possamos cada vez
mais conservar esses ambientes.

239
Capítulo 09

9.2. Ações desenvolvidas pelo Núcleo de


Educação Ambiental do Ifes - Piúma
Diante dessa perspectiva e da importância da Educação Ambiental, o NEA desenvolve
diversas ações voltadas principalmente para a sensibilização das pessoas sobre os impactos
que nossas ações geram e a importância de nos preocuparmos e de termos atitudes que ge-
rem cada vez mais impactos positivos e menos impactos negativos ao ambiente.
O trabalho é realizado por meio de atividades participativas que inserem estudantes, ser-
vidores, pescadores, marisqueiras, comunidade e turistas nas atividades que são propostas.
Algumas das atividades realizadas regularmente pelo NEA são:

Dia Mundial de Proteção


Dia Mundial de Limpeza de Praias
às Tartarugas Marinhas

Semana do Meio Ambiente Trote Ecológico

Projeto Jovens Protetores Ambientais

Além dessas ações, o NEA também promove atividades esporádicas como apresentações
de Teatro de Fantoches, Palestras, Trilhas Ecológicas, eventos pontuais, entre outras. Esta-
mos sempre de portas abertas e escolas, grupos comunitários, órgãos públicos e empresas
podem solicitar nosso apoio na realização de tais atividades que teremos o prazer de atendê-
-los de acordo com nossa disponibilidade.
Confira, a seguir, registros fotográficos de algumas das ações realizadas:

DIA MUNDIAL DE PROTEÇÃO ÀS TARTARUGAS MARINHAS

240
Educação Ambiental e Conservação

SEMANA DO MEIO AMBIENTE


Diversas ações realizadas em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente,
como oficinas, palestras, passeatas, teatro, mutirões de limpeza de praias.

241
Capítulo 09

Trote Ecológico
Trilha ecológica pela Ilha do Gambá, com
missões de sensibilização ambiental, que os
alunos ingressantes dos cursos técnicos do
Ifes – Campus Piúma realizam na primeira
semana de aula.

242
Educação Ambiental e Conservação

PROJETO JOVENS
PROTETORES AMBIENTAIS

Atividades desenvolvidas com estudantes de 9º ano de escolas municipais


de Piúma/ES sobre ecossistemas costeiros, sua biodiversidade, impactos
antrópicos e formas de redução desses impactos.

243
Capítulo 09

Dia Mundial de
Limpeza de Praias

Evento de sensibilização e
coleta de resíduos sólidos
nas praias de Piúma - ES

244
Educação Ambiental e Conservação

9.3. Formação de Pesquisadores do Futuro


Foi notória a satisfação e evolução dos estudantes do ensino fundamental que participa-
ram das atividades propostas por esse projeto.
No primeiro momento eles entraram sem saber o que os esperava e o que eles iam fa-
zer. Ao longo das atividades, os estudantes foram se envolvendo cada vez mais nas pesquisas,
campanhas de campo, atividades de laboratório, seminários, reuniões.
Tudo isso em conjunto com a toda equipe formada por professores do Ifes, estudantes da
graduação e dos cursos técnicos do Ifes - Piúma e de outras instituições.
Foram realizadas diversas atividades de formação
ao longo de todo o projeto. Nelas os estudantes pude-
SE LIGA!
ram entender como se realiza uma pesquisa científica,
como podem apresentar e discutir resultados coleta-
dos em campo.
Em todo momento, as atividades eram realizadas
com alegria e descontração. Como são estudantes do en-
sino fundamental, tivemos o cuidado de apresentar as
metodologias de maneira que eles pudessem entender,
falando na linguagem deles e sempre buscando melho-
rias nas condutas relacionadas às atividades do projeto.
Para ilustrar um pouco dessa trajetória apresen-
tamos a seguir alguns registros dessa importante for-
mação de Pesquisadores do Futuro.

Atividades realizadas:
Curso de alinhamento de 90 horas

Formação Interna

Campanhas de monitoramento

Atividades em laboratório

Este projeto teve sua importân-


cia reconhecida e foi premiado Trilhas ecológicas e limpeza das ilhas
em 1º lugar na categoria Facul-
dade/ Cursos Técnicos/ Ifes do
Exposições ambientais
Prêmio Biguá de Sustentabilida-
de da TV Gazeta Sul em 2016.
Apresentação dos relatórios

245
Capítulo 09

Curso de
alinhamento
de 90 horas

Campanhas de
monitoramento

Atividades
em
laboratório

246
Educação Ambiental e Conservação

Formação
Interna

Trilhas
ecológicas e
limpeza das
ilhas

Exposições
ambientais

Apresentação
dos relatórios

247
Capítulo 09

Esperamos que todos que participaram das atividades realizadas possam multiplicar os co-
nhecimentos e proporcionar uma maior sensibilização de todos os familiares, dos amigos e da
população em geral para possibilitarmos a conservação das ilhas costeiras do litoral sul capixaba.
Nas páginas de abertura dos capítulos desse livro vocês já puderam acompanhar depoi-
mentos dos estudantes que participaram desse projeto. A seguir apresentaremos mais algu-
mas ideias e falas desses estudantes. Podemos perceber o quanto o projeto foi importante na
vida de cada um.

Quais eram as atitudes ambientais que


vocês tinham antes de participar do projeto?

Eu confesso que antes eu não tinha toda


essa preocupação, mas depois que comecei
o projeto, minha visão sobre ecossistema
mudou por completo.

Lucas Silva Paulino, 15 anos

Antes eu não ligava muito em jogar


lixo no chão ou ver alguém fazendo isso.
Antes eu pensava que o meio ambiente era
só aquilo que conseguimos ver a olho nu,
eu não conseguia imaginar o tamanho
da biodiversidade.

José Carlos Pacassini Neto, 14 anos

Como foi para vocês a experiência de


receber uma bolsa de pesquisa?

Foi uma experiência boa, porque com o


dinheiro eu ajudei meus pais pagarem a
conta de energia, antes eu não frequentava
muito o cinema, mas agora eu vou, às vezes,
mas eu tenho a consciência de não gastar
o dinheiro todo.

Ana Luiza Martin Sales, 15 anos

248
Educação Ambiental e Conservação

Participar deste projeto ajudou ou


prejudicou seu desempenho escolar?

Ajudou, porque tinha coisas que eu não


sabia antes do projeto, mas no decorrer
do projeto aprendi várias coisas que me
ajudaram na escola.

Ryan Ancini Bourguignon, 14 anos

Vocês têm alguma sugestão de


conservação para a cidade de Piúma?

Rua viva, mais árvores nas escolas, reduzir


o consumo de água, separar o lixo, reutili-
zar tudo que for possível.

Lorrainy Brandão, 15 anos

Mostrar a realidade do terrível desastre


que é causado pela falta de preservação,
organizar algumas palestras ou reuniões e
tentar aumentar o número de pessoas que
possam apoiar a causa da conservação
do meio ambiente.

Carlos Daniel Valério Oliveira Martin, 15 anos

Alguém quer deixar uma mensagem final?

Tudo o que você joga fora acaba


voltando para você.

João Vitor Polonini Valiati, 15 anos

249
Capítulo 09

9.4. Propostas de conservação


A educação ambiental, conforme dito anteriormente, é a mudança de atitude de uma
pessoa sensibilizada, que se conscientiza para conhecer melhor a natureza e suas relações,
auxiliando na correta conduta humana em prol da conservação e preservação socioambien-
tal. Dessa forma, precisamos gerar informações para que a população conheça melhor a bio-
logia e ecologia das ilhas costeiras para reduzir os impactos causados ao meio ambiente. 
Diante do exposto, não podíamos deixar de sugerir algumas propostas para conservação
e preservação das ilhas costeiras do litoral sul capixaba. Algumas dessas propostas são de
responsabilidade individual, outras são de responsabilidade, sobretudo, do poder público e
outras da coletividade, como pode ser observado no esquema a seguir. Junto com as sugestões
propostas, apresentamos também sugestões de prazos para sua execução, com períodos de
curto (1 ano), de médio (3 anos) e de longo (5 anos) prazo. Lembramos que essas sugestões
não esgotam o tema e que pode haver diversas outras sugestões para gestão integrada dos
ecossistemas costeiros com as populações que as utilizam.

Realizar
fiscalizações
Realizar
periódicas
campanhas de Capacitar guias para
divulgação da realizar mergulhos
biodiversidade e guiados
belezas das ilhas
Aproveitar a estrutura na Ilha
dos Cabritos para criação de
um centro de apoio à pesquisa
Coletar Elaborar o Plano de e ao ecoturismo
periodicamente Manejo das ilhas
os resíduos costeiras
sólidos

CURTO MÉDIO LONGO


Instalar coletores
Formação de
de resíduos
Fixar placas de Criar e capacitar profissionais
sólidos
sensibilização grupo de agentes relacionados à
e orientação ambientais conservação ambiental

Sensibilizar Organizar eventos


Capacitação da
constantemente a culturais e esportivos
comunidade
população e turistas ligados à temática
quanto à boa conduta na ambiental
visitação às ilhas

250
Educação Ambiental e Conservação

Assim, a partir das medidas a curto, médio e longo prazo sugeridas e tomando como base
os projetos e ações de sucesso já implementadas nas cidades do Fernando de Noronha (3,4)
e Rio de Janeiro (5), podemos identificar atividades possíveis de serem replicadas e executa-
das com algumas adaptações em Piúma.
Por exemplo, os participantes da administração da Ilha de Fernando de Noronha apre-
sentam diversas sugestões para melhor orientar os moradores e turistas quanto ao convívio
harmonioso com os animais marinhos. Também investem na capacitação de condutores de
visitantes, colocam cartazes em diversos estabelecimentos, produzem vídeos educativos e
cartilhas, afixam placas informativas nas praias e ilhas, além de promoverem campanhas
nas redes sociais.
O Rio de Janeiro, que conta com o projeto Ilhas do Rio, criado em 2011 pela Instituição
Mar a Dentro e apoio da Petrobrás, possui vários pontos em comum com o que é feito em
Fernando de Noronha. O diferencial são as pesquisas científicas, que geram conhecimento
e envolvimento da sociedade para a conservação dos monumentos naturais. Há constante
levantamento da biodiversidade marinha e terrestre das principais ilhas e seus entornos,
identificando espécies novas para a ciência, raras, ameaçadas e invasoras. Isso gera uma sé-
rie temporal de dados ambientais que fornece subsídios científicos ao processo de gestão e
manejo das ilhas.
Este livro, fruto de um trabalho árduo de mais de 3 anos de pesquisa, ensino e extensão
agrega diversas informações sobre as características socioambientais das ilhas costeiras do
litoral sul capixaba. Estamos longe de esgotar a discussão sobre o assunto, mas são informa-
ções que fornecem um subsídio importantíssimo para a conservação desses ambientes.
Desejamos que a população e, principalmente os jovens, possam perceber a quantidade
de organismos que habitam as ilhas, suas belezas naturais e os impactos antrópicos que esses
ambientes vêm sofrendo e, a partir disso, desenvolver atitudes saudáveis para conservação
e preservação das regiões costeiras do litoral sul capixaba. Afinal, precisamos ajudar sem-
pre na gestão e cuidado com a natureza, garantindo assim a sustentabilidade socioambiental
para as presentes e futuras gerações.
Com cada um fazendo a sua parte e unindo forças para realização de ações em conjunto,
podemos cada vez mais contribuir com essa missão. Vamos todos colaborar!!!

251
Capítulo 09

Referências
1. BRASIL. Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 79, 28 abr. 1999.
2. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO.
Nosso Futuro Comum. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.
3. ICMBio. INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVER-
SIDADE. Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Disponível em:
<http://www.icmbio.gov.br/portal/visitacao1/unidades-abertas-a-visitacao/192-par-
que-nacional-marinho-fernando-de-noronha.html>. Acesso em: 15 Jun. 2018.
4. Governo do Estado de Pernambuco. Fernando de Noronha. Disponível em:
<http://www.noronha.pe.gov.br/instMeioAmbiente.php>. Acesso em: 15 Jun. 2018.
5. Projeto Ilhas do Rio. Petrobrás. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fa-
tos-e-dados/midias/projeto-ilhas-do-rio-1.htm>. Acesso em: 13 Jun. 2018.

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