Você está na página 1de 97

1 Ciências Ambientais na Amazônia

Editora Amazônia Et Al
Av. Carvalho Leal, 1336, 2° andar - Cachoeirinha
CEP: 69.065-001 - Manaus-AM
Telefone: (92) 99301-8186
www.amazoniaetal.com.br
E-mail: contato@amazoniaetal.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Even3 Publicações, PE, Brasil)

S124s Baldoino, Mariana; Sadala, Klaudia


Ciências Ambientais na Amazônia [Recurso Digital] /
Klaudia Sadala ; organizado por Mariana Baldoino e Klaudia
Sadala. – 1. ed. – Manaus: Editora Amazônia Et. Al., 2021.

DOI 10.29327/546273
ISBN 978-65-5941-474-1

1. Amazônia. 2. Ciências Ambientais. 3. Meio-ambiente.


I. Sadala, Klaudia. II. Baldonio, Mariana. III. Título.

CDD 333.72

Elaborado por Amanda Rodrigues – CRB-4/1241

A reprodução parcial ou total desta obra, por qualquer meio, somente será permitida
com a autorização por escrito da editora. (Lei nº 9.610 de 19.02.1998).
Mariana Baldoino
Klaudia Sadala
Organizadoras

CIÊNCIAS AMBIENTAIS
NA AMAZÔNIA
1.ª Edição - Copyright© 2021 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Amazônia Et Al.
DOI: 10.29327/546273

O conteúdo de cada capítulo é de inteira e exclusiva responsabilidade do(s) seu(s)


respectivo(s) autor(es). As normas ortográficas, questões gramaticais, sistema
de citações e referencial bibliográfico são prerrogativas de cada autor(es).

Editor-Chefe: Eduardo Costa


Revisão: Erison Soares e autores
Capa e Projeto Gráfico: Franklin Carioca Cruz

Conselho Editorial
Presidente
Dr Wagner de Deus Mateus
Sec. de Educação do Amazonas (SEDUC, Manaus/AM)
Membros
Dra Aldeniza Cardoso de Lima
Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Manaus/AM)
Msc Denison Melo de Aguiar
Universidade do Estado do Amazonas (UEA, Manaus/AM)
Msc Eduardo Costa
Faculdade Estácio do Amazonas (Manaus/AM)
Dra Klenicy Kazumy de Lima Yamaguchi
Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Coari/AM)
Msc Luiz Claudio Pires Costa
Universidade Paulista (UNIP, Manaus/AM)
Dra Rosilene Gomes da Silva Ferreira
Universidade do Estado do Amazonas (UEA, Manaus/AM)
Dra Rubia Alegre Ferreira
Universidade do Estado do Amazonas (UEA, Manaus/AM)
Sumário

PREFÁCIO .................................................................................................................................................. 06

1 AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO
PARA A AMAZÔNIA ATÉ SÉCULO XX ............................................................................................. 07
DOI: 10.29327/546273.1-1

2 CIÊNCIAS AMBIENTAIS E PSICOLOGIA AMBIENTAL: CONEXÕES


INTERDISCIPLINARES COM A VÁRZEA AMAZÔNICA E SEUS SUJEITOS ............................. 21
DOI: 10.29327/546273.1-2

3 AMAZÔNIA EM BOX: CONHECIMENTO DA PRODUÇÃO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL


DOS VENDEDORES DE ARTESANATO DO MERCADO ADOLPHO LISBOA ........................... 36
DOI: 10.29327/546273.1-3

4 PRÁTICAS DE CONSUMO ENTRE JOVENS:


CAMINHOS PARA O CONSUMO CONSCIENTE ........................................................................... 50
DOI: 10.29327/546273.1-4

5 CORREDOR ECOLÓGICO DO MINDU E SEU


POTENCIAL PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS ................................................................................ 62
DOI: 10.29327/546273.1-5

6 APLICAÇÕES DA CULTURA DE TECIDOS VEGETAIS EM


PLANTAS MEDICINAIS DA AMAZÔNIA: UMA REVISÃO .......................................................... 77
DOI: 10.29327/546273.1-6
Prefácio
A primeira obra com selo “Amazônia et al” em formato e-book foi idealizada a partir do
referencial teórico das Ciências Ambientais integrando trabalhos que dialogam com as várias
dimensões da interdisciplinaridade, elemento de sua sustentação.
Apontar direções faz parte dessa importante área de conhecimento, sobretudo na
perspectiva da Amazônia e de toda sua complexidade socioambiental. Assim, conectam-se
temas pertinentes à região, como a biodiversidade, a sociodiversidade, a sustentabilidade e
todos os aspectos históricos intrínsecos aos processos de sua ocupação e reverberações no
âmbito social, econômico, histórico, ambiental e territorial.
A abordagem interdisciplinar é inerente às Ciências Ambientais, e diante disso os temas
presentes nesta obra se interligam na construção de conhecimentos que permitam a melhor
compreensão da complexidade ambiental para resolução de suas problemáticas e na relevância
social. Os temas presentes no e-book “Ciências Ambientais na Amazônia” integram saberes
de diferentes áreas da ciência, entrelaçadas aos seus atravessamentos históricos e culturais,
colaborando para o desenvolvimento científico da região.
O presente compilado de pesquisas advindas de teses, dissertações e outras propostas,
englobam: aspectos históricos sobre as políticas de desenvolvimento para a Amazônia, a
interlocução da psicologia ambiental na incursão do universo socioambiental dos sujeitos da
várzea amazônica, em especial a do oeste do Pará; também explora a percepção dos vendedores
de artesanato em Manaus/AM e as práticas de consumo consciente (ou não) entre os jovens.
Por último, aborda o potencial pedagógico dos espaços não formais em Manaus para o
ensino de ciências e analisa a temática biotecnológica sobre as aplicações da cultura de tecidos
vegetais em plantas medicinais na Amazônia. As propostas visam integrar conhecimentos
oriundos das ciências no desenvolvimento de soluções voltadas a formas sustentáveis no viver
em sociedade integrada ao ambiente.

Mariana Baldoino
Klaudia Sadala
(Organizadoras)

6 Ciências Ambientais na Amazônia


1.
AS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO PARA
A AMAZÔNIA ATÉ SÉCULO XX

André das Chagas Santos1

INTRODUÇÃO

Amazônia é a maior região brasileira, com cerca de 4,8 milhões de km², ocupa mais da
metade do território nacional. Sua economia esteve sempre ligada ao extrativismo vegetal,
exportando para a Europa produtos como o cacau, castanha-do-pará. A atividade extrativista
amazônica alcançou grande repercussão no mercado nacional e internacional no final do século
XIX, com a exploração da borracha, extraída da seringueira (Hevea brasiliensis). Esse período
trouxe riqueza para a região, porém não resolveu os problemas de desigualdade social e de
baixa densidade demográfica que a caracterizam. (SANTOS, SILVA, DUARTE, 2016).
Para garantir tal integração e expansão do mercado interno, eram fundamentais algumas
correções em relação a estrutura de forças produtivas capazes de inserir a região no circuito
produtivo nacional, garantir a defesa e soberania, aumentar a densidade demográficas, urbanizar
a região e expandir a fronteira agrícola e as frentes pioneiras.
Diante deste contexto, o objetivo neste texto é compreender o processo de implantação
das políticas de desenvolvimento na Amazônia durante o século XX. Para alcançar o objetivo
foi feita uma revisão bibliográfica a partir de autores como (STELLA, 2009); Becker (2009).
Apresenta-se os resultados a partir de uma sequência cronológica, com informações sobre
as políticas na Amazônia, os governos, as instituições, programas criados para garantir

1 Doutorado em Sociedade, Natureza e desenvolvimento (UFOPA), professor do Instituto de Ciências da


Educação (ICED/UFOPA) – ORCID - https://orcid.org/ 0000-0002-3695-7950
E-mail: andrecriz2010@hotmail.com

7 Ciências Ambientais na Amazônia


o processo a integração e inserção da Amazônia no circuito de produção e reprodução
ampliada do capital.
A posse da terra na Amazônia até meados do século XX estava concentrada nas mãos
do Estado. De acordo com Loureiro e Pinto (2005), 87% destas terras eram formadas por
matas incultas e ocupadas por milhares de ribeirinhos e caboclos que viviam de atividades
extrativistas, enquanto 11% destas áreas eram formadas por pastos naturais, em sua maioria
ocupados para o desenvolvimento da atividade pecuária, com destaque para a criação de gado,
sob a propriedade de fazendeiros detentores de títulos de propriedade, notadamente antigos.
Somente 1,8% das terras da Amazônia eram utilizadas para atividades agrícolas e destas
apenas metade detinha título de posse.

Essas poucas fazendas eram como que “ilhas” de criação de gado nos campos naturais
(abundantes na região) e não em pastos formados em cima de mata derrubada ou
queimada como hoje. A mata e os rios estavam preservados e eram aproveitados pelos
habitantes como fonte de alimento, trabalho e vida. (LOUREIRO; PINTO, 2005, p. 77).

Este cenário é resultado de um longo processo histórico de povoamento e exploração dos


recursos naturais da região e, de acordo com Bertha Becker (2009), pode-se distinguir três
grandes períodos de formação territorial da região amazônica.
1. Formação territorial (1616-1930);
2. Planejamento regional (1930-1985);
3. Incógnita do Heartland (1985 ...)
Neste texto, destaca-se especificamente o segundo e o terceiro período, pois são períodos
de aceleração do processo de ocupação do espaço amazônico, caracterizado pelo planejamento
governamental, pela formação do aparelho moderno de Estado e pela crescente intervenção do
Estado na economia.

PERÍODO DE PLANEJAMENTO REGIONAL

Nesta fase percebe-se três períodos: a) De 1930 a 1955, considerado a fase inicial, marcado
pela imposição do Estado Novo; b) No período de 1955 a 1966, fase do planejamento regional;
c) de 1966 a 1985, considerado a fase do desenvolvimento efetivo.
Para Becker (2009), o primeiro período é mais discursivo do que ativo. A campanha da “Marcha
para o Oeste”, a criação da Fundação Brasil Central (1944), do Programa de Desenvolvimento
para a Amazônia (PDA) e da Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA),
revelou a preocupação com a região, no entanto, não foram acompanhadas de ações efetivas.
De acordo com Stella (2009), a partir de 1930, houve o início da integração comercial, física e

8 Ciências Ambientais na Amazônia


produtiva da Amazônia com as outras regiões do país. Essa integração foi resultado do processo de
industrialização nacional e da modernização do Estado. A primeira etapa de integração foi comercial
e se estendeu da década de 1930 a 1960.
Inicialmente o meio de integração entre os estados era a cabotagem, que foi pouco a pouco
substituída com a abertura de rodovias, que iniciaram a integração física promovida pelo Estado
a partir da década de 1950.
Com a crise de 1929, o Estado brasileiro precisou alterar as estratégias de acumulação e
empregar o modelo de substituição de importações, postura que promoveu o mercado interno
que passou a superar o valor das exportações. No entanto, o centro da atividade industrial
nacional estava concentrado na cidade de São Paulo, onde se organizava a divisão regional do
trabalho de produção, enquanto nas demais regiões não se observava o desenvolvimento das
atividades comerciais no mesmo ritmo.
No caso da região amazônica, os principais produtos de exportação como a borracha e a castanha,
que apresentavam uma tendência decrescente das taxas de exportação, equilibraram esse número com
o aumento da demanda do mercado interno nacional, especialmente do estado de São Paulo.
Outros produtos começaram a se destacar na pauta de exportações, como a malva, pimenta
do reino e a juta, configurando um processo de diversificação dos produtos ofertados no mercado
interno e externo. Alguns anos depois, esses produtos ganharam a companhia de minerais como
o manganês e o ferro na pauta de exportações.
A partir da década de 1940, verifica-se a presença mais forte do Estado nacional na região.
Durante a segunda guerra mundial, com os esforços da batalha da borracha, e em 1946, com a
promulgação da Constituição, estipulou-se uma previsão de 3% da receita da União, Estados e
Municípios Amazônicos para o Plano de Valorização Econômica, criado em 1953.
Percebe-se uma presença mais ativa do Estado na região. Uma importante ação tomada foi a
estatização das companhias inglesas The Amazon River Steam Navegation Company Limited e Port
Of Pará, com origem ao Serviço de Navegação do Amazonas e de Administração do Porto do Pará
(SNAPP). Outra importante ação foi a criação dos Territórios do Amapá, Rio Branco e Guaporé.

Para aumentar o controle estatal nas regiões onde se localizavam essas e outras reservas
minerais, especialmente em áreas fronteiriças com vazios demográficos, foram criados
novos Territórios Federais132 em 1943. De parte do AM e MT, foi desmembrado o
território do Guaporé, que depois passou a se chamar Rondônia. O Amapá formou-se
de parte do PA, e o Rio Branco, atual Roraima, de parte do AM. Eles haviam sido
instituídos para que o governo atuasse com poderes para planejar, povoar e garantir a
exploração econômica. (STELLA, 2009, p. 74-75).

Durante a segunda guerra mundial, o Brasil integrou o grupo dos Aliados e assinou,
com os EUA, o chamado “Acordo de Washington”, por meio do qual recebeu financiamento

9 Ciências Ambientais na Amazônia


para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD), além de materiais bélicos. Em troca, o Brasil permitiu a instalação de bases militares
provisórias no Nordeste, forneceu minerais e borracha.
Para o atendimento da demanda de borracha pelos Estados Unidos, o governo brasileiro
desenvolveu uma estrutura que garantisse as condições de produção e exportação. Neste
período foi criado o Banco de Crédito da Borracha (BCB), que tinha como finalidade,
financiar o empreendimento emergencial, inclusive com o recrutamento de mão-de-obra e
encaminhamento dos trabalhadores aos seringais por meio do Serviço Especial de mobilização
de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) e da Superintendência de Abastecimento do Vale
Amazônico (SAVA).
O saldo econômico foi efêmero, alcançando um pequeno ápice em 1944, quando
foram exportadas 21 mil t, ou metade do apogeu em 1912. Manaus, que foi o epicentro
da batalha, encontrava-se deteriorada. Segundo registros depois do surto, seguiu-se
o declínio das exportações. Além do encerramento da guerra que gerava parte da
demanda, a ascensão do produto sintético nos países centrais levou a exportação da
borracha natural à decadência no médio prazo. (STELLA, 2009, p. 77).

Nesse contexto, o desenvolvimento da estrutura das forças produtivas na economia


brasileira exigiu uma maior integração entre as regiões. A partir de meados da década de 1950,
o Brasil, com o plano de metas, iniciou uma fase de industrialização pesada, com a necessidade
de importação de insumos e de bens de capital. A Amazônia ganhou um novo significado
nesse contexto e foi vista como uma fronteira de recursos, ou seja, na divisão territorial do
trabalho, a região assumiu a posição de fornecedora de matéria-prima aos centros em processo
de industrialização no país.
Após a segunda guerra mundial, o cenário econômico mundial foi alterado. No Brasil,
Vargas foi derrubado e eleições foram convocadas. Uma nova Constituição foi aprovada,
na qual foi dedicado espaço para a questão da Amazônia, sinalizando a criação do Plano de
Valorização Econômica.
No início da década de 1960, o Plano de Valorização Econômica foi complementado
com os incentivos fiscais aos empreendedores que tinham interesse em investir na Amazônia.
A partir de 1964, com os governos militares, houve a reformulação da “Operação Amazônia”,
em 1966, e a criação da Zona Franca de Manaus, em 1967. Essas ações aliadas aos projetos
agropecuários e de mineração abriram espaço para uma maior integração na década de 1970.
No período de 1955 a 1966, inicia uma nova fase do planejamento regional. Esta fase inicia
com o governo de Juscelino Kubitschek, com o plano de metas com investimentos nas áreas
de transporte e energia. Suas ações foram efetivas e afetaram a região, em especial devido a
abertura das Rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre. Com estas obras, percebe-se o aumento

10 Ciências Ambientais na Amazônia


do processo de imigração, a população da região salta de 1 para 5 milhões entre 1950 e 1960.
Com a conformação do mercado interno nacional e suas políticas de industrialização, as
desigualdades regionais afloravam, de modo que a partir da década de 1950, o Estado introduziu
as primeiras políticas de desenvolvimento regional.
As mudanças no padrão de acumulação no pólo, que entre 1955 e 1970 passou pela
industrialização pesada, exigiram uma maior integração, fornecimento de matérias-
primas, e ampliação da capacidade de importar insumos e bens de capital. A Amazônia
começou a ser percebida como fronteira de recursos, e ganhou maiores dimensões e
sentido na economia brasileira, tanto para incrementar a produção, como para ajudar
no esforço exportador. (STELLA, 2009, p. 82).

No período pós-guerra surgiu uma visão econômica que via a industrialização como meio
de superar a pobreza e o subdesenvolvimento. A intervenção estatal foi vista como forma
de impulsionar a industrialização. Assim, surgiu o chamado Desenvolvimentismo: concepção
teórica na qual o planejamento estatal define a expansão dos setores econômicos e capta
recursos para realizar os investimentos, uma vez que os recursos privados são insuficientes
(PEREIRA, 2011).
Assim como nos dias de hoje, naquele período as discussões entre as correntes do
pensamento econômico giravam em torno da conveniência ou não da intervenção do Estado
na economia, na qual as ideologias desenvolvimentistas se opunham às ideologias liberais.
Neste contexto, o subdesenvolvimento dos países da América Latina era definido como
o chamado “take off” de Rostow (1956), era entendido como uma etapa do processo pela qual
todos as economias teriam que passar para finalmente chegarem ao status de desenvolvido.
Em 1948, ocorreu a criação da Comissão para a América Latina e Caribe (Cepal), num
momento de insatisfação dos países latino-americanos por terem sido excluídos da ajuda do
Plano Marshall à Europa e pelo sucateamento de seus equipamentos industriais, resultado da
falta de dólares, causada pelos anos de crise das exportações. Assim, a Cepal constituiu-se na
matriz de um original pensamento econômico latino-americano, crítica do liberalismo que
influenciaria toda uma geração de economistas.
Neste cenário percebeu-se uma nova reordenação no processo de divisão territorial do
trabalho entre as regiões brasileiras. A partir dos indicadores sociais, a CEPAL desenvolveu
teorias políticas e estratégias de desenvolvimento e buscavam explicar as causas do
subdesenvolvimento e as possibilidades de sua superação.
Os economistas Cepalinos desenvolveram algumas teses para explicar o atraso das
economias latino-americanas em relação aos países desenvolvidos como: a) desigualdade do
progresso técnico entre centro e periferia; b) crescente desvalorização dos produtos primários
produzidos na periferia em contraste com a agregação de valor cada vez maior dos produtos

11 Ciências Ambientais na Amazônia


industrializados produzidos no centro; c) a inflação era um problema causado pela rigidez
da oferta de alimentos e pela pressão exercida sobre a agricultura seja como produtora de
alimentos exigida pela rápida urbanização ou como fornecedora de matérias-primas exigida
pela expansão industrial.
Para os economistas Cepalinos, o planejamento estatal era a melhor forma de
aproveitar os recursos das economias latino-americanas. Diante da escassez de poupança
interna, defendiam também a implantação de tarifas e subsídios como forma de compensar
a diferença de produtividade entre os produtos locais e importados.
Os Cepalinos acreditavam que existia uma tendência ao desemprego nos países latino-
americanos, principalmente pelo fato de o centro ter o domínio tecnológico e a periferia apenas
importar a tecnologias, que economizavam mão-de-obra (abundante diga-se de passagem). Há
uma tendência ao desequilíbrio externo nos países da América Latina, resultado da razão da
inelasticidade de suas exportações e da necessidade de importação de bens de capital, por isso
os economistas Cepalinos propunham uma indústria substitutiva de importações voltada para
o mercado interno.
O modelo cepalino sofreu críticas por não analisar a natureza das relações de classe do
modelo capitalista, por não realizar estudos sobre distribuição da renda, pois acreditava que a
industrialização por si só resolveria o problema e o Estado seria caminho para o desenvolvimento.
Para Pereira (2011), apesar das críticas, a Cepal representou um grande avanço em direção a
elaboração de um pensamento econômico independente das correntes teóricas hegemônicas
que, a partir do cenário vigente nos países desenvolvidos, eram transpostas para a realidade dos
países subdesenvolvidos. Porém, no decorrer dos anos 60 a Cepal foi perdendo importância e se
desarticulando, período este em que grande parte do continente latino-americano foi marcado
pelas ditaduras militares.
Com a chegada de Juscelino Kubistchek, o JK, ao poder, em 1956, e o seu plano de metas,
houve a manutenção da política de industrialização, no entanto, era necessário o investimento
em infraestrutura, na produção de bens de capital, de bens de consumo duráveis e intensificação
da integração comercial nacional. A integração ocorreu com a construção do aeroporto de
Belém e com a construção de rodovias, como a Belém-Brasília e Brasília-Porto Velho-Acre.
Em 1957, foi aprovada a lei que instituía a Zona Franca de Manaus, com o objetivo inicial de
fazer o “armazenamento, beneficiamento e comércio de mercadorias estrangeiras na Amazônia
com os países limítrofes” (STELLA, 2009, p. 84). Nesta época foi criada a UFPA, refundada a
Universidade do Amazonas, e instalado o ensino superior, no recém-criado estado do Acre.
Apesar dos esforços do Estado, o desenvolvimento da estrutura das forças produtivas na
região Amazônica ainda era precário, o modo de produção capitalista não conseguia colher
os frutos da maneira como se esperava. Diante deste contexto, na tentativa de atrair o capital

12 Ciências Ambientais na Amazônia


privado para a região, o governo central adotou a estratégia de concessão de incentivos fiscais.
Em 1967, a Zona Franca de Manaus foi transformada em Superintendência da Zona Franca
de Manaus. Com esta mudança, deixou de ser um porto livre e passou a ser “uma área de livre
comércio de importações e exportações com vantagens fiscais especiais” (STELLA, 2009, p. 89).
De 1966 a 1985 tem-se uma nova fase no processo de ocupação do espaço amazônico.
Becker (2009) considera que esta é a fase do desenvolvimento efetivo, pois o Estado toma
para si a tarefa de ordenamento do território da Amazônia. A ocupação do espaço amazônico
passou a ser prioridade, pois possibilitava a solução das tensões sociais resultantes da exclusão
de uma grande quantidade de trabalhadores rurais devido a modernização da produção
agrícola no Centro-sul e no Nordeste. Além disso, na região, poderiam se desenvolver focos
revolucionários, e esta era uma questão prioritária, visto que neste período se vivia o auge
das tensões da Guerra Fria. Com a criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus,
percebe-se a produção do espaço pelo Estado.
Após a construção do território, fundamento concreto do Estado, este passa a produzir
um espaço político – o seu próprio espaço – para exercer o controle social, constituído
de normas, leis, hierarquias. Para tanto, impõe sobre o território uma malha de duplo
controle – técnico e político – constituída de todos os tipos de conexões e redes, capaz
de controlar fluxos e estoques, e tendo as cidades como base logística para a ação.
Essa malha, que denominamos “malha programada”, foi implantada entre 1965-85, no
estado brasileiro da Amazônia, visando completar a apropriação física e o controle do
território. (BECKER, 2010, p. 135).

Ainda em 1966, foi lançada a Operação Amazônia, que considerava a região como um
dos maiores desertos do mundo. A partir desta proposição, o Estado externava sua intenção
de promover o povoamento e a integração regional que tinha como objetivo essencialmente
a valorização econômica por meio do povoamento e o aproveitamento dos recursos naturais
disponíveis. As ações adotadas não levavam em consideração os interesses das comunidades
tradicionais locais e os impactos ambientais. Entre os resultados destacamos o desmatamento,
o esgotamento do solo, poluição de rios, conflitos agrários, êxodo rural, inchaço das periferias
de cidades como Manaus e Belém.
Com a Lei nº 5.122 de 28/9/1966, o BCB foi transformado em Banco da Amazônia
(BASA). Com esta alteração “suas atribuições passaram ser a de executar a política do Governo
Federal na região amazônica relativa ao crédito para o desenvolvimento econômico-social e
efetuar operações bancárias em todas modalidades” (STELLA, 2009, p. 86-87).
Além disso, essa lei instituiu um novo plano de valorização econômica da Amazônia.
Na década de 1970, percebemos uma série de transformações e modernização da estrutura na
região amazônica. Foram criadas usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, rodovias, ou seja,
uma estrutura para garantir a circulação e produção de riqueza para se integrar ao restante do

13 Ciências Ambientais na Amazônia


país. Desta forma, nota-se que a integração da Amazônia ao restante do país se fez a partir
de um planejamento que buscava desenvolver o potencial de extração da riqueza da região,
proteger a soberania nacional brasileira com uma presença maior do Estado na região, por
meio de instituições financeiras e centros de produção de conhecimento, como universidades
e o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), além de expandir o papel da Amazônia na divisão
territorial do trabalho, ou seja, além de fornecedor de matérias-primas para as indústrias do
sudeste, a Amazônia passaria, por meio do projeto de integração, à condição de consumidor
dos produtos industrializados.
Outra mudança institucional importante foi a extinção da SPVEA e sua substituição
pela Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), sendo a Amazônia
Legal sua área de atuação. Entre suas atribuições, destacamos a elaboração do novo plano
de valorização econômica, a promoção e execução deste plano.
Com a Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964, promulgou-se o Estatuto da Terra. No
primeiro governo militar foi também criado a Superintendência para a Reforma Agrária (SUPRA)
foi substituída pelos Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), Instituto Nacional de
Desenvolvimento Agrário (INDA) e Grupo Executivo da Reforma Agrária (GERA).

Esses órgãos tiveram curta duração, entre 1964 e 1970, e foram marcados por intensa
corrupção, denúncias de grilagens e de vendas de terras a estrangeiros, o que culminou
em uma CPI. Apesar do escândalo, o governo regularizou a aquisição de imóvel rural
a estrangeiros residentes no Brasil ou a pessoas jurídicas autorizadas a funcionar no
país. (STELLA, 2009, p. 90).

O Estado passou a atuar nos setores elétrico, rodoviário, portos e aeroportos,


telecomunicações e saneamento, considerados como condicionantes se alcançar os objetivos
da Operação Amazônia. Com essas ações, a região teria condições de receber indústrias
garantindo as condições necessárias para produção, reprodução e circulação do capital.
Além da instalação de indústrias, percebe-se os investimentos na extração madeireira e
nos projetos agropecuários. O resultado de tais políticas foi a devastação ambiental, entendida
naquele momento histórico como sinônimo de progresso. A instalação de grupos pecuaristas
foi incentivada com o slogan “o boi precede o homem”, ou seja, a partir da transformação do
espaço, com a produção de áreas de pastagens, o desenvolvimento de atividades econômicas,
garantindo a produção econômica de grandes extensões de terra, atrairia migrantes, mediante
a produção e acúmulo de capital.
Assim, no período de 1930 a 1970, o Brasil apresentou um acentuado crescimento
industrial, a partir da integração entre suas regiões. Os capitais dispendidos no programa
de integração permitiram a articulação comercial e econômica da Amazônia com as demais
regiões do Brasil.

14 Ciências Ambientais na Amazônia


Apesar do dispêndio de energias e capitais, notou-se que:
1. A produção do capital ocorreu de forma concentradora, embora tenha permitido
o crescimento de regiões periféricas;
2. O planejamento regional do norte do Brasil visava a correção das desigualdades
inter-regionais decorrentes do processo de produção e acumulação de capital entre as
regiões;
3. A forma de financiamento e atrativos de empreendimentos para a região, como os
incentivos ficais, buscavam garantir o desenvolvimento de estrutura de forças produtivas
para a produção e reprodução do capital.
Ao final da fase da integração comercial, 1930-1970, a Amazônia encontrava-se
plenamente conectada ao mercado interno nacional como vendedora de produtos
primários e compradora de produtos industrializados, e as exportações voltando
crescer. Apesar dos estímulos gerados pela integração, que diversificaram a pauta de
comércio da região, a Amazônia continuava primário-exportadora. Porém, com as
transformações ocorridas, foi aberto o caminho para que com a ZFM e os grandes
projetos agropecuários e mineradores da década seguinte, a região passasse a
intensificar a integração na economia nacional. (STELLA, 2009, p. 124).

No contexto de modernização e desenvolvimento industrial na região sudeste, nota-se o


processo de modernização da agricultura brasileira com a inserção de novas tecnologias agrícolas,
como fertilizantes, maquinário automotivo e o uso de agrotóxicos, que permitiram um aumento
exponencial da produção agrícola, com o objetivo de alinhar as exportações agropecuárias
brasileiras ao mercado internacional e, desta forma, tem início um processo de homogeneização
de culturas nas quais se destacaram a soja, o milho e o trigo comercializados na forma de
commodities, e promoverem a integração da produção agrícola à nascente industrial nacional.
Com o processo de modernização da agricultura nestas regiões, a Amazônia passou a
cumprir o papel de área de expansão do setor agropecuário, onde inicialmente se investiu na
pecuária extensiva, posteriormente substituída por culturas como a soja e milho.

HEARTLAND (1985 - ...)

A partir de 1985, a Amazônia entra na fase de Heartland (BECKER, 2009). Para a autora,
em meados da década de 1980, tem-se o esgotamento do modelo nacional-desenvolvimentista,
baseado na intervenção do Estado nos assuntos econômicos e na conformação do território.
Nesse mesmo período, nota-se a formação de movimentos de resistências das populações locais –
autóctones e migrantes, cujo maior exemplo é a criação do Conselho Nacional dos Seringueiros.
Para Becker (2009), a esses fatores somou-se a pressão do movimento ambientalista
nacional e internacional para gerar o chamado Vetor Tecno-Ecológico (VTE), ou seja, a

15 Ciências Ambientais na Amazônia


configuração da Amazônia como uma fronteira socioambiental.
As demandas dos movimentos sociais deste período, e suas propostas de desenvolvimento
alternativo, conservacionistas elaboradas pelos grupos populares são resultados dos conflitos
das décadas de 1970 e 1980 (BECKER, 2009). Estes movimentos possuíam apoio de ONGs,
organizações religiosas, governos, partidos.
Nesse período, a movimentação e a discussão da temática ambiental em nível global
promoveram mudanças no olhar da sociedade, do Estado, empresas e grandes instituições
como G7 e Banco Mundial. No caso brasileiro, nota-se como resultado a criação do Ministério
do Meio Ambiente e a tentativa de implantação de projetos de desenvolvimento sustentável.
É neste contexto que se criam reservas extrativistas, unidades de conservação, ou seja,
uma malha socioambiental. Nota-se, nesse cenário, a preocupação com o desenvolvimento
endógeno, voltado para as iniciativas e potencialidades locais, valorizando os saberes
tradicionais. “Os experimentos em curso são formas locais de solução de um problema global:
a proteção da biodiversidade.” (BERCKER, 2009, p. 28).
Esse modelo de desenvolvimento pensado esbarra em dois problemas: a dificuldade de inserção
no mercado devido a carências no aspecto de infraestrutura e formação gerencial dos empreendimentos,
além de sua atuação geográfica ser local, não possibilitando a expansão por toda a região.
Para Becker (2009), a partir de 1996, a história da Amazônia entra em uma nova fase do
planejamento territorial, nesse momento, assumindo a perspectiva de um Vetor Termoindustrial
(VTI), do interesse de empresários, bancos, governos e forças armadas. O resultado dessas
ações foi o conflito de interesses entre o projeto de desenvolvimento exógeno caracterizado
pela exploração de recursos para a exportação e o projeto de desenvolvimento endógeno e da
fronteira socioambiental.
O governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) lança os programas Brasil em Ação (1996) e
Avança Brasil (1999). Com esses programas, o Estado assume o papel de braço direito do capital,
pois objetivavam a integração produtiva da Amazônia e a segurança das fronteiras nacionais. O
pacote de obras lançado previa parcerias com os estados e municípios e empresas privadas.
O Programa Brasil emAção abrangia projetos na área social e de infraestrutura, nos quais pretendiam
superar os gargalos da integração nacional, reduzir os custos da economia e aumentar a competividade
dos produtos e melhorar a qualidade de vida das pessoas (OLIVEIRA, CARLEIAL, 2013).
Uma das principais características desta fase do planejamento nacional e suas propostas para a
Amazônia foi a forte ênfase nas questões ambientais, pois o programa Brasil em Ação estava atrelado
a órgãos internacionais e ao capital externo e, com o avanço das discussões sobre sustentabilidade
e crise ambiental em nível internacional, notamos uma pressão internacional sobre estas questões.
Um dos exemplos desse tipo de ação é o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais
do Brasil, uma iniciativa do estado Brasileiro e da comunidade internacional.

16 Ciências Ambientais na Amazônia


Dentre os projetos implementados pelo Estado no programa Brasil em Ação, os
principais foram a recuperação das BR 164 e 163 – estradas que ligam Brasília ao
Acre e Cuiabá a Santarém, respectivamente – a criação das hidrovias no rio Madeira
e Araguaia Tocantins, as linhas de alta tensão ligando Tucuruí-Altamira-Itaituba e o
gasoduto de Urucu. (OLIVEIRA, CARLEIAL, 2013, p. 10).

As ações do estado neste programa foram potencializar as oportunidades para a sociedade


amazônica, atrair investimentos, imigrantes, o que consequentemente aumentaria a pressão pelos
recursos naturais. Nota-se que o programa não alcançou os resultados esperados em relação ao
desenvolvimento e à integração da Amazônia às demais regiões brasileiras, pois não houve a
preocupação em consultar os interesses das comunidades locais.

Esse não envolvimento é perceptível quando se cria um ambiente que não o favorece,
quando o interesse maior está voltado apenas para a reprodução do capital e dos
interesses privados, propósito defendido e orientado pelo próprio Estado (OLIVEIRA,
CARLEIAL, 2013, p. 11).

O Programa Avança Brasil lançado em 1999 pode ser considerado um megaprograma de


investimentos em infraestrutura e outras áreas em todas as regiões do país. O programa previa o
investimento de 43 bilhões de dólares na Amazônia legal, destes, 20 bilhões seriam alocados em obras
de infraestrutura. O programa trata de investimentos no período de 2000 a 2003, mas no planejamento
da União foi incluído, para além deste período, outros investimentos e projetos no programa, e até
2007 totalizaria 338 projetos em todo o território nacional (FEARNSIDE; LAURANCE, 2002).
Esses projetos são organizados em eixos de desenvolvimento’, idealizados para
estimular a atividade econômica em geral, além das ações financiadas diretamente
pelo plano oficial. Grande parte das verbas para esses investimentos deve vir do setor
privado, em geral de fontes internacionais. (FEARNSIDE; LAURANCE, 2002, p. 06).

Na citação percebe-se a postura neoliberal do governo brasileiro ao buscar a fonte para os


investimentos no setor privado. Em decorrência da origem das fontes de investimentos, as obras
do Programa Avança Brasil acabaram se distanciando dos interesses da sociedade local e dos
movimentos sociais, demonstrando o conflito destes com os interesses do Estado Neoliberal.
Verifica-se dois modelos de desenvolvimento distintos e até certo ponto contraditórios
incidindo ao mesmo tempo na mesma região. De um lado, o desenvolvimento e expansão da
fronteira socioambiental e, de outro, o projeto de desenvolvimento econômico promovido pelo
Estado e com o apoio do setor produtivo.
As principais obras do programa na Amazônia foram a construção de gasodutos, para
o abastecimento das usinas termoelétricas em Rondônia e Amazonas, e os investimentos no
desenvolvimento do agronegócio no centro-oeste, favorecendo a expansão da fronteira agrícola

17 Ciências Ambientais na Amazônia


para a Amazônia e do Arco do desmatamento (OLIVEIRA, CARLEIAL, 2013).
A partir da década de 1980, houve o aumento a discussão da temática ambiental em nível global.
Essas discussões promoveram mudanças no olhar da sociedade, do Estado, empresas e grandes
instituições como G7 e Banco Mundial. Nesse cenário foi criado o Ministério do Meio Ambiente e
a implantação de projetos de desenvolvimento sustentável e a preocupação com o desenvolvimento
endógeno, voltado para as iniciativas e potencialidades locais, valorizando os saberes tradicionais,
procura-se a solução de um problema global: a proteção da biodiversidade. (BERCKER, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto as políticas de desenvolvimento para a região Amazônia faziam parte do


processo de expansão do modo de produção capitalista, com sua lógica de ampliação de mercados
consumidores dos produtos industrializados e fornecedores de matéria prima. Esta expansão
vem seguindo em um processo semelhante ao de outras regiões, com a distribuição de terras
à população camponesa, e as grandes empresas por meio de incentivos fiscais e permitiram a
formação de grandes latifúndios ocupados especialmente em atividades agropecuárias.
Para a efetivação do processo de ocupação do espaço foi necessário o investimento em
bens de capital, ou seja, empreendimentos para a criação da estrutura de forças produtivas
necessária a integração física e econômica, que exigem grandes volumes em capital, que
embora não garantam o retorno financeiro imediato, garante as condições necessárias para a
produção e reprodução ampliada de capital. Neste caso, pode-se citar a construção de rodovias
e de hidrelétricas. A primeira que garantia a integração física, e a segunda garantia o básico
para a instalação industrial. De acordo com Eric Hobsbawn (1981).
É evidente que nenhuma economia industrial pode se desenvolver além de um certo
ponto se não possui uma adequada capacidade de bens de capital. Eis por que, até
mesmo hoje, o mais abalizado índice isolado para se avaliar o potencial industrial de
qualquer país é a quantidade de sua produção de ferro e aço. Mas é também evidente
que, num sistema de empresa privada, o investimento de capital extremamente
dispendioso que se faz necessário para a maior parte deste desenvolvimento não é
assumido provavelmente pelas mesmas razões que a industrialização do algodão ou
outros bens de consumo. (1981, p. 59)

Na citação de Hobsbawn (1981) é possível notar que o investimento em bens de capital se


torna elevado, e não muito atraente para as empresas privadas. No caso da Inglaterra, no século
XIX, devido ao processo de acumulação das grandes empresas foi possível o investimento
em bens de capital, especialmente na construção de ferrovias, pois somente atividades que
exigissem grandes volumes de capital poderiam atuar como esponjas absorvendo a riqueza
produzida socialmente e acumulada sob a tutela dos dono dos meios de produção. As empresas

18 Ciências Ambientais na Amazônia


acumularam tantos recursos que não havia mais locais onde investi-los em seus países, de forma
que se fazia necessário o investimento em bens de capital e em outros países, e teve início o
processo de exportação de capital descrito por Lenin, no início do século XX, na transição do
capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, ou na fase imperialista.
No entanto, o que interessa neste momento, é que no caso do Brasil, não havia grandes
fortunas de grandes industriais, e em um período de hegemonia de governos nacionais
desenvolvimentistas de defesa do bem estar social, após a crise de 1929, e da aplicação das
teorias keynesianas, coube ao Estado a tarefa de criar a estrutura de forças produtivas capaz de
garantir a reprodução ampliada de capital.
Ao contrário do modelo europeu do século XIX, que optou pela construção de ferrovias,
no Brasil optou-se pelo modelo rodoviário, que permitiu a ocupação do território com mais
acessibilidade, e a exploração dos recursos naturais, como a exploração de madeiras e produção
pecuária, e a formação de núcleos populacionais.
Pode-se dizer que tão importante quanto o acesso possibilitado pelas rodovias recém-
abertas, foi a construção das usinas hidrelétricas, que permitiram além da do fornecimento de
energia elétrica para a instalação das indústrias, atraíram e aglutinaram importante número de
trabalhadores nos canteiros de obra.
Criada as condições materiais objetivas para o povoamento faltava efetiva-lo, ocupar
o “vazio demográfico”, tanto para explorar as riquezas quanto para garantir a soberania no
território, ou para absolver a mão de obra excedente em outras regiões como sul e nordeste,
ou para garantir a expansão do modo de produção capitalista. E assim se resume o cenário
das políticas desenvolvimento para a Amazônia a partir de meados do século XX: campo de
expansão capitalista, exploração dos recursos naturais, estratégia de controle do território, e
absorção de mão de obra excedente.
Assim a Amazônia foi integrada econômica e fisicamente nos circuitos nacionais e
internacionais, como uma fronteira de recursos, mas que a partir dos anos de 1990, passou a
ser vista sob a ótica da sustentabilidade em contraposição ao modelo de exploração predatório
das décadas anteriores. Desde então se trava um intenso debate entre as ideologias do
desenvolvimento sustentável e a do desenvolvimento econômico. Assim, nota-se que o discurso
do desenvolvimento sustentável vem sendo adotado pelos mais diversos setores produtivos,
em alguns casos como meio para agregar valor ao produto, pois o produto da Amazônia que
não agride o meio ambiente é mais valorizado.

19 Ciências Ambientais na Amazônia


REFERÊNCIAS

BECKER, Bertha K. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro:


Garamond, 2009.
BECKER, Bertha K. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar
modelos para projetar cenários? Parcerias estratégicas, v. 6, n. 12, p. 135-159, 2010.
FEARNSIDE, Philip M; LAURANCE, William F. O futuro da Amazônia: os impactos do
Programa Avança Brasil. Ciência hoje. 2002.
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1948. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981
LOUREIRO, Violeta Refkalefsky; PINTO, Jax Nildo Aragão A questão fundiária na
Amazônia. Estudos avançados. 2005, vol.19, no.54, p.77-98.
OLIVEIRA, Robson; CARLEIAL, L. M. F. Desenvolvimento amazônico: uma discussão das
políticas públicas do estado brasileiro. Refaf, v. 03, p. 01-31, 2013.
PEREIRA, José Maria Dias. Uma breve história do desenvolvimentismo no Brasil.
Cadernos de desenvolvimento. v.6. n.9. Rio de Janeiro, p.121-141, jul-dez. 2011.
Disponível em: http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201111011216170.
CD9_artigo_5.pdf. Acesso em 10 ago. 2016.
SANTOS, André; SILVA, Deyse; FERREIRA, Elen. Ideologias de Desenvolvimento em jornais de
Santarém-PA nas décadas de 1960 e 1970. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso
de Ciências Sociais da UNIFAP. Macapá, v. 9, n. 2, p. 57-71, jul./dez. 2016. ISSN 1984-4352.
STELLA, Thomas de Toledo. A Integração Econômica da Amazônia (1930-1980). 2009.
227 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico) - Universidade Estadual de
Campinas, 2009.

20 Ciências Ambientais na Amazônia


2.
CIÊNCIAS AMBIENTAIS E PSICOLOGIA AMBIENTAL:
CONEXÕES INTERDISCIPLINARES COM A VÁRZEA AMAZÔNICA
E SEUS SUJEITOS

Klaudia Yared Sadala1

Tânia Suely Azevedo Brasileiro2

INTRODUÇÃO

A problemática do meio ambiente é extremamente complexa, o que nos impulsiona a


planejar estudos que primem por um olhar interdisciplinar que integre a relação entre sociedade,
natureza e desenvolvimento, atuando na produção de conhecimento permeada pela relevância
social. Nas Ciências Ambientais, os problemas de pesquisa são intrínsecos às atividades
sociais, econômicas e tecnológicas, e a interdisciplinaridade uma emergência oriunda destas
atividades, as quais têm se configurado em fortes demandas contemporâneas.
No que tange a Amazônia, as relações deste tripé traduzem-se nos modelos históricos de
ocupação dos territórios, nos processos ecológicos e na sociobiodiversidade, refletindo-se em
preocupações de caráter social, econômico, étnico e nos importantes impactos socioambientais
(CALLEGARI, 2010).

1 Doutora em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) pela Universidade Federal do Oeste do


Pará (UFOPA). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Psicóloga. E-mail: klaudia.
sadala@gmail.com
2 Professora Titular da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), docente da graduação (ICED) e
pós-graduação, junto aos Programas de doutorado em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND/
UFOPA) e Educação na Amazônia (EDUCANORTE/PGEDA), e dos mestrados acadêmicos em Educação
(PPFE/UNFOPA) e em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida (PPGSAQ/UFOPA). Pós doutora em
Psicologia (IP/USP). Doutora em Educação (URV/ES). Psicóloga e Pedagoga. Líder do grupo de pesquisa
PRAXIS UFOPA/CNPq. Orientadora do estudo. E-mail: brasileirotania@gmail.com

21 Ciências Ambientais na Amazônia


A relação pessoa-ambiente é resultado de processos históricos e sociais, conjuntura esta
que demonstra os desafios de se inserir e pensar alternativas que assegurem a preservação de
culturas, modos de vida, valores e saberes de homens e mulheres no contexto das populações
tradicionais na Amazônia. (LIMA; POZZOBON, 2005).
Nesta perspectiva, o contexto multifacetado da relação pessoa-ambiente é confirmado
nos cenários ambientais da Amazônia e, em especial, nas experiências sociais e subjetivas
das populações ribeirinhas, das florestas e do campo e sua inter-relação com o ambiente
social, cultural e geográfico. Mediante estes desafios, os conhecimentos e metodologias
relativas às Ciências Ambientais e a Psicologia Ambiental (PA) encontram dialogicidade e
oportunidades de estudo, nos permitindo, ainda, realçar o percurso histórico e particular que
a relação de homens e mulheres com a terra nos revela, apontando as especificidades nos
modos de vida e sua conexão com a construção de subjetividades nestes contextos vivenciais
e suas particulares relações com os territórios.
A proposta de estudo interdisciplinar apresenta uma visão conciliatória entre os aspectos
contextuais dos fenômenos e busca sair do isolamento do objeto em relação ao seu meio. A
percepção dinâmica da relação existente entre as partes que compõem determinado fenômeno
é assim compreendida e mediada pelas disciplinas em diálogo, questionando o alcance dos
conhecimentos disciplinares tradicionais (MORIM, 2007; TEIXEIRA, 2004; PHILIPPI Jr.; SILVA
NETO, 2011). Neste sentido, permite também uma abordagem crítica e dialógica dos fenômenos,
tal qual Japiassu (1976, p. 127) contribui conceitualmente, ao afirmar que “a interdisciplinaridade
se define por uma crítica das fronteiras das disciplinas, e de sua compartimentação”, destacando
a eficiência das respostas quando diferentes áreas científicas dialogam.
A Psicologia Ambiental possui um caráter agregador em suas proposições de pesquisa,
compreendendo pessoa e ambiente integrados aos contextos físicos (natural ou construído),
social, cultural, histórico e subjetivo. É reconhecida como uma área de atuação e de pesquisa
e incorpora diferentes perspectivas teóricas e epistemológicas, as quais não se baseiam
somente na Psicologia, mas na Sociologia, Antropologia, Planejamento Urbano, Arquitetura,
Ecologia, dentre outras áreas que investigam a temática socioambiental, possibilitando uma
multiplicidade de olhares investigativos (ITTELSON et al., 2005; MOSER, 2005). A PA
guarda em seus pressupostos uma visão pessoa-ambiente dentro de uma totalidade, num
processo de troca dialógica em que pessoa e ambiente se constituem em uma relação mútua,
com base nas inter-relações, considerando as condições do ambiente sobre os comportamentos
individuais e coletivos (GÜNTER; PINHEIRO; GUZZO, 2004).
As transformações políticas, econômicas e sociais do mundo contemporâneo têm alterado
profundamente o cenário espacial da Amazônia brasileira, ajudado a negligenciar a existência
de populações que ocupam tradicionalmente essa região, que tem uma forte dependência de
seus recursos naturais (FERREIRA, 2013). Ferreira (2013) e Cruz (2008) destacam e reforçam

22 Ciências Ambientais na Amazônia


a pluralidade dos atores e das relações que produzem e ressignificam o entorno amazônico,
gerando uma multiplicidade de fenômenos e uma heterogeneidade cultural de seus habitantes.
O contexto histórico da ocupação humana na Amazônia tem como protagonista ambiental
a várzea, a qual guarda uma multiplicidade de processos ecológicos, sociais e de trabalho,
pois, a sazonalidade do rio promove adaptações nas atividades produtivas e nos processos de
apropriação de recursos através das cheias e vazantes do rio.
Calegari, Higuchi e Forsberg (2013) reforçam que o reconhecimento do papel dos povos e
comunidades tradicionais, bem como a manutenção da biodiversidade têm permitido o diálogo
e a valorização da sociodiversidade amazônica. Este reconhecimento, segundo Higuchi e
Higuchi (2012), inclui esta complexa inter-relação entre natureza e cultura, pelo conhecimento
tradicional no manejo dos recursos, o qual vem contribuindo para legitimar as definições
das chamadas “populações tradicionais”, cujos sujeitos encontram-se em longo processo de
interação com o meio ambiente, em espaços de grande biodiversidade.
Mediante este panorama apresentado, este artigo tem como objetivo apresentar os
“achados” bibliográficos que demonstram a base interdisciplinar da Psicologia Ambiental, as
quais nos permitem realizar conexões com o contexto socioespacial amazônico, buscando
a correlação dos conceitos da PA atrelados ao modo de vida de comunidades ribeirinhas
de várzea e sua forma particular de vivenciar essa relação pessoa-ambiente. Estes achados
subsidiaram parte de uma tese de doutorado da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa),
no município de Santarém/PA, em um Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais.
É relevante pensar que quando falamos que as questões ambientais são questões humano-
ambientais (POL, 1993), estamos ressaltando que as relações das pessoas com seu ambiente, o
modo como os espaços influenciam o comportamento dos indivíduos, os significados atribuídos
a eles e os processos psicológicos subjacentes a cada situação, devem ser considerados para
permitir a leitura mais aprofundada desta relação (CAVALCANTE; ELALI, 2018).
O contexto vivencial das comunidades amazônicas permite uma incursão no universo
de pesquisa a partir do cenário geográfico amazônico brasileiro, voltando sua atenção para
estes atores, os quais são percebidos neste estudo como sujeitos de ação/transformação, sendo
afetados pelas incertezas deste novo momento. Os desdobramentos e impactos socioambientais
das relações pessoa-ambiente na Amazônia, devem ser pensados no bojo das relações de ação/
transformação nos espaços que guardam relações políticas e identitárias.
Para os contornos deste estudo, a população estudada é contextualizada a partir das relações
socioespaciais e dos aspectos sócio-históricos que produzem significados de pertencimento a esses
sujeitos e a esta coletividade (CRUZ, 2008). As particularidades intrínsecas aos modos de vida dos
povos na Amazônia nos desafiam a analisar os processos afetivos relativos ao lugar, a partir das
características e particularidades simbólicas das comunidades amazônicas, nas ações de apropriação
do espaço, as quais podem possibilitar a compreensão sobre os impactos nas relações pessoa-ambiente.

23 Ciências Ambientais na Amazônia


Acreditamos ser de fundamental importância revelar estas questões, as quais reproduzem
o universo simbólico e particular na díade pessoa-ambiente e deve ser observada de forma
dinâmica, assumindo a concepção de que o entorno é produto da ação-reação destes sujeitos,
em uma perspectiva transacional de mútuas influências.

MÉTODO

Este estudo está categorizado como de natureza bibliográfica, com recorte temporal, espacial
e temático, por serem condições imprescindíveis neste formato de pesquisa, pois demarcam
explicitamente o contexto deste tipo de estudo, seus limites e possibilidades. Segundo Teixeira
(2012), os estudos bibliográficos configuram-se como um método de pesquisa que se realiza por
meio de uma revisão bibliográfica sobre a produção/compilação de determinada temática em
uma área de conhecimento específica.
Neste sentido, a demarcação temporal da investigação deve ser circunscrita entre os meses
de janeiro a julho de 2019; como contexto espacial as produções encontradas nas bases de dados
Scielo, Banco de Teses e Monografias da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Núcleo
de altos estudos amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA);– Universidade
Federal do Oeste do Pará (UFOPA); Universidade de Fortaleza (UNIFOR); Universidade Federal
do Ceará (UFC), através da análise de artigos publicados em revistas científicas, monografias de
mestrado e teses de doutorado, produzidas ao longo dos últimos 10 anos (2009-2019).
Este recorte temático teve como base referenciais bibliográficos capazes de contemplar
temas que preveem a relação entre: psicologia ambiental e relação pessoa- ambiente, populações
ribeirinhas da Amazônia, várzea amazônica e mais especificamente, a associação destes com
os processos históricos e socioambientais intrínsecos ao contexto amazônico e seus contornos e
atravessamentos culturais. Vale salientar que foram utilizados os seguintes descritores para a busca:
“várzea amazônica”, “populações ribeirinhas”, “relação pessoa-ambiente”, “psicologia ambiental”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A compreensão e a abordagem interdisciplinar implicam em uma visão sistêmica e


contextual dos fenômenos. Japiassu (1976, p. 127) contribui conceitualmente afirmando
que “a interdisciplinaridade se define por uma crítica das fronteiras das disciplinas, e de sua
compartimentação”, percebendo que a especificidade das áreas consegue dar respostas eficientes
a determinados fenômenos. O conhecimento científico disciplinar moderno tem apresentado
limitações para alguns tipos de problemas, os mais complexos, e nesta perspectiva, a proposta
interdisciplinar vem como uma resposta à fragmentação causada pelo conhecimento epistemológico
positivista, generalizador e desintegrador (MORIN, 2011; PHILIPPI Jr.; LAKATOS, 1978).

24 Ciências Ambientais na Amazônia


A ideia de disciplina se constituiu ao longo de vários séculos como uma categoria
organizadora dentro do conhecimento científico, estabelecendo a divisão e a especialização
do trabalho, direcionando a autonomia de certa área de conhecimento, com suas técnicas,
sua linguagem e definindo fronteiras de conhecimento (KLEIN, 2008). Neste sentido, o
conhecimento científico disciplinar moderno tem apresentado limitações para alguns tipos
de problemas e a proposta interdisciplinar busca responder à fragmentação causada pelo
conhecimento epistemológico positivista, generalizador e desintegrador (LAKATOS, 1978;
MORIN, 2007; PHILIPPI Jr.; SILVA NETO, 2011).
A proposta de estudo interdisciplinar apresenta uma visão sistêmica e conciliatória entre
os aspectos totalizantes e contextuais dos fenômenos, e busca sair do isolamento do objeto em
relação ao seu meio ambiente. Segundo Latucca (2001), as disciplinas são formas poderosas de
se dominar uma temática, porém, podem restringir o saber científico, como quadros conceituais
que delimitam os problemas de pesquisa, os tipos de métodos empregados para investigação
dos fenômenos e as respostas que são consideradas legítimas.
Nesta perspectiva, a problemática socioambiental na Amazônia brasileira anseia por
estudos que contemplem toda a sua multiplicidade de fatores e características intrínsecas a
cada macro e microrregião. Diante disso, é urgente pensar em alternativas que primem por
abordagens sustentáveis na relação pessoa-ambiente, situando o sujeito em sua ação/interação/
transformação com o ambiente, que não é apenas físico, mas simbólico e produto das diversas
relações históricas e sociais que demarcam estilos de vida e produzem, inevitavelmente,
mudanças nos ambientes, permitindo-nos interpelar sobre as questões psicossociais e humano-
ambientais inerentes a estas modificações.
O enredamento da temática socioambiental na perspectiva interdisciplinar se propõe a
fornecer uma compreensão mais ampla da interconexão entre os aspectos sociais, culturais,
históricos, políticos, econômicas e subjetivos. Para Gunther, Pinheiro e Guzzo (2004), as
temáticas que tratam da relação recíproca entre os ambientes e as pessoas também ganharam
espaço de discussão em outras áreas do conhecimento como a Arquitetura, Planejamento
Urbano, Geografia Humana/Social, Educação Ambiental entre outras, situação que expressa a
transversalidade e a relevância destas discussões.
Pinheiro (2006) reforça a importância do entendimento dos problemas ambientais na área
da Psicologia, os quais tem ganhado visibilidade a partir do surgimento de uma disciplina -
Psicologia Ambiental. A PA tem sua origem de organização teórica dentro e fora da Psicologia,
e este é um dos motivos que a fazem ser percebida como uma disciplina transdisciplinar. Para
Pinheiro (1997), a questões ambientais devem ser tratadas como humano-ambientais, pois, o
autor compreende que todas as crises e dilemas ambientais devem ser interpretados como crises
das pessoas no ambiente. Nesse sentido, Kuhnen (2002) afirma que as questões ambientais não
interpelam apenas a natureza, mas questionam toda a constituição de uma sociedade.

25 Ciências Ambientais na Amazônia


Valera (1996) defende ser necessário contextualizar a Psicologia Ambiental dentro de
seus componentes disciplinares, incorporada às Ciências Humanas e à Psicologia Social
Aplicada, pois contempla uma parte sigmificativa de suas referências teóricas, epistemológicas
e metodológicas. Em segundo plano, situar a PA dentro do conjunto de disciplinas relacionadas
com o estudo do ambiente, natural ou construído, em uma considerável rede de ciências
extensa e complexa. Pinheiro (1997) destaca que a PA padece de alguns problemas em sua
base, pois se formou a partir de “duas raízes teóricas: uma externa à Psicologia, e outra interna.
Considerar essa dupla natureza é fundamental para uma compreensão adequada da área e de
suas dificuldades na produção de uma identidade teórica” (PINHEIRO, 1997, p. 382); na visão
do autor, estas influências se intercruzam e produzem diferentes nuances teóricas e práticas.
Corroborando Gunther, Elali e Pinheiro (2008, p. 1) anunciam: “o conjunto pouco
homogêneo de áreas de estudo e a variedade de formação dos pesquisadores na PA são reflexos
de uma complexidade característica dos componentes comportamentais e ambientais dos
estudos pessoa-ambiente e da interação entre eles”, pois, a PA tem sua história articulada a
outras disciplinas, anteriormente anunciadas. Kuhnen (2009) realça que a PA também tem
se consolidado como campo teórico e metodológico na Psicologia, investigando demandas
relacionadas às questões humano-ambientais, colaborando com temas que são oriundos dela
e temas amplos e não exclusivos da PA, porém, a elucidação a partir dela é essencial para a
produção de estudos transversais nas Ciências Humanas, Sociais e Ambientais.
Para Gunther, Elali e Pinheiro (2008), refletir a complexidade da interface pessoa e ambiente
é pensar em estudos de PA que primem por uma abordagem social, crítica, interdisciplinar e com
métodos de pesquisa que contemplem a dialogicidade dos fenômenos nas questões humano
ambientais, tendo em sua centralidade trabalhos e pesquisas que relacionem comportamentos
e/ou estados subjetivos das pessoas e as características ambientais.
Melo (1991) afirma que o surgimento do campo da Psicologia Ambiental se deu a partir
do fim da Segunda Guerra, com a reconstrução por inteiro das cidades através de programas
habitacionais em larga escala, em que arquitetos e profissionais da construção civil se uniram
aos cientistas do comportamento humano e juntos defenderam a ideia de que as construções
deveriam corresponder, além das necessidades já conhecidas, às necessidades psicológicas das
pessoas que iriam ocupar esses locais (CANTER; CRAIK, 1981).
Segundo Cavalcante e Elali (2011), a PA inicia sua trajetória no contexto brasileiro na
década de 1970, a partir da tradução e publicação de livros e artigos editados no exterior;
já na década 1990, os grupos de pesquisa começam a se interligar às universidades e a
desenvolver estudos vinculados à laboratórios, permitindo um maior desenvolvimento deste
campo de estudo e ampliação das discussões para outros centros de pesquisa, envolvendo
uma multiplicidade de pesquisadores e uma variabilidade de abordagens metodológicas,
características que evidenciam a amplitude temática da PA e seus desafios.

26 Ciências Ambientais na Amazônia


Para Valera (1996, p. 1), a PA “se ocupa de analisar as relações que, à nível psicológico,
se estabelecem entre as pessoas e seus entornos”, neste sentido, Kuhnen (2009, p. 17) anuncia
que a PA “pressupõe o homem não apenas como uma existência psíquica e social, mas
também como física, que ocupa um lugar, um espaço com propriedades específicas onde vai
desenvolver as suas atividades”. Guzzo (2006) destaca também que a PA busca compreender
o as pessoas em todo o seu contexto físico e social, as relações estabelecidas com o meio,
dando enfoque às percepções, atitudes, avaliações ou representações ambientais e ao mesmo
tempo considera os comportamentos associados a essa relação. Além disso, Moser (1998)
defende que a PA contempla a dimensão temporal e preserva a noção de historicidade das
relações, as quais ocorrem em um espaço de tempo e guarda uma relação bastante especial
entre o passado e a possibilidade de prospectar o futuro das relações.
Para Campos-de-Carvalho, Cavalcante e Nóbrega (2011), a compreensão do termo
ambiente é essencial para a compreensão do objeto de estudo da PA, uma vez que ela integra
as discussões da relação dinâmica e multifacetada que se estabelece entre as pessoas e
o ambiente. Pessoa e ambiente são vistos em constate diálogo e em permanente estado de
interação e transformação. A noção de ambiente para a Psicologia Ambiental assume um caráter
multidimensional, “uma vez que incorpora o meio físico e concreto no qual se constroem as
relações sociais, este meio pode ser natural ou construído, e passa a assumir uma condição
indissociável das demais condições expressadas e constituídas naquele meio específico”
(CAMPOS-DE-CARVALHO; CAVALCANTE; NÖBREGA, 2011, p. 43).
Segundo Moser (2005), a perspectiva de análise da PA perpassa a análise da díade pessoa-
ambiente em quatro níveis de referência espacial: o microambiente, os ambientes de proximidade,
ambientes coletivos e ambiente global; desta forma, é considerado o espaço privado do sujeito,
como por exemplo, a moradia, o bairro, os parques e os espaços verdes, os ambientes públicos, as
cidades e os ambientes voltados à sociedade de modo geral.
Além da compressão do termo ambiente, a compreensão dos estudos pessoa-ambiente
propostos pela PA, também perpassam pelas especificidades de definições dos termos
espaço e lugar, pois são elementos analíticos que atravessam todas as discussões e assumem
uma perspectiva teórica e política, necessitando serem mais bem detalhados. Partimos das
contribuições de Yi-Fu-Tuan, geógrafo humanista de orientação fenomenológica, e uma das
referências neste debate. Ele desenvolve o conceito de topofilia para traduzir a importância
emocional que os espaços geográficos assumem na experiência humana (TUAN, 1983).
O autor citado trata da afetividade produzida pela humanidade e sua relação com o
conceito de lugar, o qual se torna lugar pelas trocas afetivas que lá são possíveis de ocorrer.
Os espaços seria(m) o(s) ambiente(s) possível(is) de percorrer, porém, sob os quais ainda não
se tem uma relação simbólica e de afeto tão presentes. Ele afirma que “O que começa como
espaço indiferenciado transforma-se em lugar à medida em que o conhecemos e o dotamos de

27 Ciências Ambientais na Amazônia


valor...as ideias de ‘espaço’ e ‘lugar’ não podem ser definidas uma sem a outra” (TUAN, 1983,
p. 6). Já Bomfim (2010, p. 4) diz que “transformar os espaços em lugares é então dotá-los de
um valor, atribuir-lhes um significado, e principalmente formar laços de identificação”, o que
também anuncia a relação entre o tempo e a construção de lugares significativos, expressando
a conexão com a temporalidade para a construção de lugares simbólicos.
Para Moser (2001), a subjetividade e os espaços cotidianos convergem em processos de
significação e identificação mútuos. Kuhnen (2002) pensa o lugar dentro de uma dialogicidade,
na qual estão implicadas natureza, cultura e construção social da realidade. Tuan (1983, p.
4) complementa afirmando que “os lugares são centros aos quais atribuímos valor e onde
são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação”. Bomfim
(2010, p. 4), destaca que “o simbolismo do espaço se traduz nesta relação do indivíduo com o
lugar, que transcende uma visão de espaço como cenário, onde as pessoas vivem seu cotidiano
despojado de uma construção social”.
Contudo, Castells (2000) destaca que é necessário situar o espaço como parte de um
conjunto na estrutura social geral e que dialoga com outras formas e processos produzidos
historicamente. Gottdiener (1997) aborda sobre o tema defendendo que o espaço é construído
a partir de uma relação dialética com as transformações sociais e culturais. O espaço é uma
localização física, uma peça de bem imóvel e ao mesmo tempo uma liberdade existencial e
uma expressão mental.
Confirma o autor, anunciando que “o espaço é ao mesmo tempo o local geográfico da
ação e a possibilidade de engajar-se na ação” (GOTTDIENER, 1997, p. 127), traduzindo
assim a centralidade do sujeito e sua ação transformadora no espaço. Tuan (1983) reforça que
o conceito de lugar está ligado ao caráter simbólico que o ambiente físico tem para o sujeito
e/ou para determinado grupo, se configurando em um ambiente em que emerge afetividade,
constituído por objetos naturais e/ou componentes sociais que se consolidam como referenciais
para o sujeito.
Mediante a apresentação dos conceitos de ambiente, espaço e lugar para a Psicologia
Ambiental, é importante perceber a conexão destes com o cenário socioambiental amazônico
e seus atores.
Na Amazônia, os rios e seus movimentos sazonais são importantes elementos norteadores
das relações, em especial dos residentes da várzea, sendo considerados uma via determinante
de acesso aos territórios, utilizados como meio de transporte de pessoas, animais, alimentos
e cargas das mais diversas, transportadas em embarcações de pequeno, médio e grande porte.
Calegare, Higuchi e Forsberg (2013) afirmam que a Amazônia guarda uma especial relação
entre seus habitantes e o rio, se constituindo no principal elemento geográfico de ocupação e
povoamento desde os primórdios da colonização até o presente momento.
Para Higuchi e Higuchi (2012), o ambiente natural figura como referência em relação ao

28 Ciências Ambientais na Amazônia


espaço social, ambos em constante dialogicidade, retratam os aspectos socioculturais próprios
das pessoas naquele ambiente. Ferreira (2013) reforça a importância do entendimento das
formas mais antigas de produção do espaço amazônico, advindas de seus primeiros habitantes,
que aliados a outros agentes sociais produziram um padrão sócio espacial conhecido como
rio-várzea-floresta. Esse padrão rio-várzea-floresta está centrado em um elemento natural
fundamental: o rio e todas as suas representações, mudanças e recursos. Calegare, Higuchi e
Forsberg (2013) e Fraxe, Witkoski e Miguez (2009) afirmam que a relação do ribeirinho com
o rio é permeada por uma proximidade física, a qual inclui a satisfação de suas necessidades
básicas de sobrevivência, aliadas às questões simbólicas do espaço, incorporando elementos
culturais e históricos.
Nesta perspectiva, cabe apresentar algumas considerações sobre a constituição
socioespacial da várzea amazônica brasileira e a organização social dos seus sujeitos. Fraxe,
Witkoski e Miguez (2009, p. 36) descrevem que as áreas de várzea se caracterizam “por uma
sazonalidade marcante devido às enchentes periódicas dos seus rios, que regulam os ciclos de
vida da biota local e consequentemente regulam as oportunidades de subsistência disponíveis
para as populações humanas”. Esta sazonalidade se organiza com base em um período de um
ano, quando a maior porção dessa planície está submersa (em torno de quatro a cinco meses)
e faz parte do ambiente aquático; no período posterior, o que prevalece é o ambiente terrestre.
Devido ao fluxo sazonal, a decomposição de nutrientes é renovada, permitindo à várzea uma
característica de área eutrófica, ou seja, uma área rica em nutrientes.
Zitzke (2005) enfatiza em seus estudos, a exemplo dos ribeirinhos residentes em áreas de
várzea, que as vivências neste contexto de sazonalidade produzem relações bastante especiais
entre sociedade e natureza e esta relação contribui para a construção de um conjunto de valores,
onde o rio assume papel fundamental na elaboração de saberes e práticas desta população.
Importante ressaltar que as construções políticas e identitárias destes povos, guardam complexas
interações sociais, ambientais e de apropriação de território, permitindo segundo Benchimol
(2009), uma formação social e cultural complexa.
Para Fraxe, Witkoski, Lima e Castro (2006), este padrão enchente-cheia-vazante-seca
promove uma concepção de tempo não cronológico, mas ecológico, um percurso temporal
cíclico, impactando no mundo vivido dos habitantes da várzea pela dimensão do tempo das
águas. Nesta perspectiva, as populações humanas residentes nestas configurações espaciais
necessitam assumir ações estratégicas para prover a sua organização social, e para a adaptação
espacial pela alternância entre as fases aquáticas e terrestres, implicando na coordenação
de atividades produtivas específicas para cada ciclo. A seguir imagem ilustrativa de uma
comunidade ribeirinha de várzea, na cheia dos rios.

29 Ciências Ambientais na Amazônia


Figura 1 - Comunidade ribeirinha de várzea (cheia do rio Amazonas)

Fonte: Acervo de pesquisadora (SADALA, 2019).

Nesse sentido, Calegare, Higucgi e Forsberg (2013) afirmam que as características


essenciais dos ribeirinhos residentes na várzea amazônica são a sua flexibilidade e resiliência,
explicadas e justificadas pela sua história e relação com os elementos espaciais que os
circunscrevem. Higuchi e Higuchi (2012) reforçam a estreita relação das populações ribeirinhas
com os recursos físicos e naturais, em especial os providos pela floresta e pelo rio, perfazendo
um complexo de relações sociais, culturais, históricas e assumindo significados existenciais na
produção destas subjetividades.
Ao analisar a identidade ribeirinha na Amazônia, temos que refletir que não é a
simples localização que decide a construção desta identidade, mas sim “os processos, as
relações socioespaciais e histórico-culturais que engendram um sentido e um sentimento de
pertencimento” (CRUZ, 2008, p. 55), atravessadas de elementos constitutivos de experiências
localizadas em um tempo e um espaço. O ribeirinho é um personagem protagonista da
paisagem amazônica, devendo ser visto como pessoa/sujeito com todo seu aporte cultural e
histórico. Fraxe (2004). Fraxe, Pereira e Witkoski (2007) conceituam ribeirinho ou Ribereño
na Amazônia, como a forma de nomear os povos que habitam a margem dos rios, que vivem
da extração, manejo de recursos da floresta, dos recursos aquáticos (rios, lagos e igarapés) e
da agricultura familiar. Segundo Fraxe et al. (2009), os ribeirinhos são sujeitos nascidos na
região amazônica, que em suas relações com o rio, a terra e as florestas criaram sua própria
visão de mundo, práticas de trabalho, crenças e costumes, permitindo contornos e relações
socioambientais peculiares.
Importante enfatizar que o sentimento que desenvolvemos em relação a alguns lugares
contribui fortemente para definir nossa identidade, enriquecê-la com valores e significado
(GIULIANI, 2004). As atividades produtivas e de subsistência dos ribeirinhos se mesclam com
as suas principais atividades cotidianas e se materializam dialeticamente no espaço geográfico
e nas relações sociais e familiares. Nesta perspectiva, Cruz (2008) aponta uma relação de
simbiose dos ribeirinhos com a natureza, seus ciclos de vida, cheias e vazantes dos rios, e toda

30 Ciências Ambientais na Amazônia


dinâmica social, espacial e identitária que emerge destes contextos.
Calegari, Higuchi e Forsberg (2013) defendem que todas estas condições produzem relações
de afeto, pois pessoas e grupos podem sentir-se ligados a lugares que reconhecidamente provém
suas necessidades de sobrevivência como: alimento, abrigo, água, moradia, demonstradas nos
estudos sobre o apego à floresta amazônica, à exemplo do estudo realizado por Rosa (2014) e
Sadala (2020). Neste sentido, as relações pessoa-ambiente no cenário amazônico, em especial
o contexto de vida dos ribeirinhos, está envolto de múltiplas relações simbólicas de espaço e
de lugar, em uma mescla de interdependências dos recursos relativos ao rio, à floresta e à terra,
bem como dos recursos e trocas sociais e arcabouço cultural que emana das relações sócio
historicamente constituídas e reconhecidamente construtoras de subjetividades intrínsecas
aos seus modos de vida. Nesta concepção, pessoa e ambiente definem-se e modificam-se
mutuamente. Estas formas de análise convergem para perspectivas teóricas que privilegiam os
aspectos psicossociais e relacionais, incluindo os vínculos cognitivos e afetivos que produzem
dimensão importante da identidade do sujeito (BOMFIM, 2010),

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A colaboração com diferentes áreas temáticas reflete a riqueza da Psicologia Ambiental (PA)
enquanto campo de estudo, retratando sua significativa contribuição e aplicação em pesquisas
e a necessidade de sua visibilidade para a comunidade científica nacional e internacional,
especialmente no que tange aos diferenciados conhecimentos sobre o contexto socioambiental
dos sujeitos da Amazônia. A PA se distancia qualitativamente de outras formas de se perceber
e se trabalhar os aspectos ambientais, permitindo a inclusão de elementos psicossociais e
afetivos, em uma perspectiva de pessoa e ambiente vista de forma integrada. Kuhnen (2009)
destaca que a partir desta compreensão se impõem duas premissas: a de que o ambiente é
partícipe na construção social da realidade e a de que todos os nossos comportamentos têm sua
ocorrência em determinado meio físico.
Assim, o estudo ora apresentado pretende incitar novas pesquisas e reflexões nas áreas
das Ciências Ambientais e da Psicologia Ambiental, trazendo a emergência dos aspectos
psicossociais inerentes aos sistemas sociais amazônicos no cenário socioambiental de várzea,
contribuindo para a problematização das questões ambientais e atividades de pesquisa e/ou
extensionistas que necessitem de uma abordagem ampliada sobre as relações pessoa-ambiente
no cenário amazônico e as possibilidades de ação/transformação entre seus sujeitos e seu
entorno socioambiental para a compreensão mais profunda de sua identidade.
Anseia também produzir referenciais relevantes para as mais diversas áreas de
conhecimento que se ocupem da relação pessoa-ambiente na Amazônia, em especial para

31 Ciências Ambientais na Amazônia


produções interdisciplinares, com a possibilidade de construções de redes colaborativas de
produção de conhecimento, pautados nas relações histórica e existencial destes sujeitos com o
uso da terra, em uma dialogicidade transformadora. Almeja ainda colaborar para a ampliação do
arcabouço teórico conceitual, gerando inquietações/subsídios para fomentar novas ou revisar
políticas públicas existentes, além de dar visibilidade ao entorno socioambiental amazônico.

REFERÊNCIAS

BENCHIMOL, S. Amazônia: Formação social e cultural. 3. ed. São Paulo: Valer, 2009.
BOMFIM, Z. Á. Cidade e afetividade: estima e construção dos mapas afetivos de Barcelona
e de São Paulo. Edições UFC: Fortaleza, 2010
CALEGARE M. G. A.; HIGUCHI, M. I. G.; FORSBERG, S. Desafios metodológicos ao
estudo de comunidades ribeirinhas amazônicas. Psicologia & Sociedade, v. 25, n. 3, p. 571-
580, 2013.
CALEGARE, M. G. A. Contribuições da Psicologia Social ao estudo de uma comunidade
ribeirinha no Alto Solimões: redes comunitárias e identidades coletivas. 2010. 322 f. Tese
(Doutorado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2010.
Disponível em: <www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-03052010-163111/>.
Acesso em: 01 nov. 2017.
CAMPOS-DE-CARVALHO, M. I.; CAVALCANTE, S; NÓBREGA, L. M. Ambiente.
In.; CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A. (Org.). Temas básicos em Psicologia Ambiental.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
CANTER, D.; CRAIK, K. H. Environmental Psychology. Journal of Environmental
Psychology, v. 1, p. 1-11, 1981.
CASTELLS, M. Materials for an exploratory theory of the network society1. The British
Journal of Sociology, v. 51, n. 1, p. 5-24, 2000.
CAVALCANTE, S.; ELIAS, T. F. Apropriação. In: CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A. (Org.).
Temas básicos em Psicologia Ambiental. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
CRUZ, V. O rio como espaço de referência identitária: reflexões sobre a identidade ribeirinha
na Amazônia. In.: TRINDADE JÚNIOR, S.; TAVARES, M. (Org.). Cidades ribeirinhas na
Amazônia: mudanças e permanências. Belém: EDUFPA, 2008.
FERREIRA, L. dos S. Gênero de vida ribeirinho na Amazônia: reprodução socioespacial na
região das ilhas de Abaetetuba-PA. 2013. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade

32 Ciências Ambientais na Amazônia


Federal do Pará, Belém, 2013.
FRAXE, T. J.; PEREIRA, H. S.; WITKOSKI, A. C. Comunidades ribeirinhas amazônicas:
modos de vida e uso dos recursos naturais. Manaus: EDUA, 2007.
FRAXE, T. J.; WITKOSKI, A. C.; MIGUEZ, S. F. O ser da Amazônia: identidade e
invisibilidade. Ciência e Cultura, v. 61, n. 3, 2009.
FRAXE, T. P. Cultura Cabocla Ribeirinha: mitos, lendas e transculturalidade. São Paulo:
Annablume, 2004.
GIULIANI, M. V. O lugar do apego nas relações pessoas-ambiente. In: GOTTDIENER, M. A
produção social do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1997.
GÜNTER, H.; PINHEIRO, O. J.; GUZZO, R. Psicologia Ambiental: entendendo as relações
do homem com seu ambiente. Campinas, São Paulo: Alínea, 2004. 196 p.
GÜNTHER, H.; ELALI, G. A.; PINHEIRO, J. Q. A abordagem multimétodos em Estudos
Pessoa-Ambiente: características, definições e implicações. Brasília, DF: UnB, Laboratório
de Psicologia Ambiental, 2008. (Textos de Psicologia Ambiental, 23). Disponível em:
<www.psiambiental.net>. Acesso em: 23 abr. 2017.
GUZZO, R. S. L. Psicologia ambiental: entendendo as relações do homem com o seu meio.
Campinas: Alínea, 2006.
HIGUCHI, M. I. G.; HIGUCHI, N. A floresta amazônica e suas múltiplas dimensões: uma
proposta de educação ambiental. Manaus: INPA/CNPQ, 2012. p. 1-15.
HOMMA, A. O. Reservas Extrativistas: uma opção de desenvolvimento viável para a
Amazônia? Pará Desenvolvimento, v. 25, p. 38-48, 1989.
ITTELSON, W. H. et al. Homem ambiental. Brasília, DF: UNB, 2005. p. 1-9.
(Textos de Psicologia Ambiental, 14). Disponível em: <http://www.psi-ambiental.net/
pdf/14HomemAmbiente.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2010.
JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
KLEIN, J. T. Evaluation of interdisciplinary and transdisciplinary research: a literature review.
American journal of preventive medicine, v. 35, n. 2, p. S116-S123, 2008.
KOLLER, S., MORAES, N. A., CERQUEIRA-SANTOS, E. Adolescentes e Jovens
Brasileiros: Levantando Fatores de Risco e Proteção. In: LIBÓRIO, R., KOLLER, S. H.
(Orgs.). Adolescência e Juventude: Risco e Proteção na Realidade Brasileira. São Paulo,
2009.
KUHNEN, A. Interações Humano-ambientais e comportamentos socioespaciais. In: KUHNEN, A.
CRUZ, R. M.; TAKAZI, E. Interações pessoa-ambiente e saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009.

33 Ciências Ambientais na Amazônia


KUHNEN, A. Lagoa da Conceição: meio ambiente e modos de vida em transformação.
Florianópolis: Cidade Futura, 2002.
LAKATOS, I. The methodology of scientific research programmes. New York: Cambridge
University Press, 1978. v. 1.
LATTUCA, L. R. Creating interdisciplinarity: Interdisciplinary research and teaching among
college and university faculty. Nashville: Vanderbilt University Press, 2001.
LIMA, D.; POZZOBON, J. Amazônia socioambiental. Sustentabilidade ecológica e diversidade
social. Estudos Avançados, v. 19, n. 54, p. 45-76, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000200004>. Acesso em: 10 set. 2017.
MELO, R. G. C. Psicologia Ambiental, uma nova abordagem da Psicologia. Psicologia-
USP, v. 2, n. 1-2, p. 85-103, 1991. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?pid=S1678-51771991000100008&>. Acesso em: 20 out. 2016.
MORIM, J. Ribeirinhos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2014. Disponível em: <http://
basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 8 dez. 2016.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2007.
MOSER, G. Psicologia Ambiental no novo milênio: integrando a dinâmica cultural e a dimensão
temporal. In.: TASSARA, E. (Org.). Panoramas interdisciplinares para uma psicologia
ambiental do urbano. São Paulo: EDUC, 2001.
MOSER, G. Psicologia ambiental. Estud. psicol., v. 3, n. 1. jan./June 1998. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-294X1998000100008&script=sci_arttext>.
Acesso em: 21 mar. 2016.
PHILLIPI JR., A.; SILVA NETO, A. J. S. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia &
Inovação. Barueri, SP: Manole, 2011.
PINHEIRO, J. Q. El tiempo en las relaciones persona-ambiente: alfabetización para la
sostenibilidad. In.: AMÉRIGO, M.; CORTÉS, B. (Orgs.). Entre la persona y el entorno.
Intersticios para la investigación medioambiental. La Laguna, Tenerife: Resma, 2006.
PINHEIRO, José Queiroz. Psicologia Ambiental: a busca de um ambiente melhor. Natal:
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 1997. (Estudos em Psicologia). Disponível em:
<www.scielo.br>. Acesso em 23 abr. 2017.
POL, E. La apropiación del espacio. In L. Iñiguez; E. Pol (Orgs.). Cognición, representación
y apropriación del espacio Barcelona, España: Universitat de Barcelona. 1996. (Monografies
Psico-socio-ambientals, 9). p. 45-62. Disponível em: <http://www.ub.es/escult/docus2/Villes.
doc>. Acesso em: 10 out. 2017.

34 Ciências Ambientais na Amazônia


ROSA, D. da C. C. B. Teorias sobre a Floresta e Funções de apego: um estudo sobre a
relação das pessoas com a Amazônia. 2014. 221 f. Tese (Doutorado em Psicologia Cognitiva)
- Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014.
SADALA, Klaudia Yared. Estudo pessoa-ambiente-gênero a partir da vivência das terras
caídas numa várzea amazônica: análise do afeto ao lugar em Fátima de Urucurituba
no Eixo forte/Santarém-PA, 2020. 213 f. Tese (Doutorado em Sociedade, Natureza e
Desenvolvimento) – Universidade Federal do Oeste do Pará, Pará (no prelo)
TEIXEIRA, E. As três metodologias: academia da ciência e da pesquisa. 9. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2012.
TEIXEIRA, O. A. Interdisciplinaridade: problemas e desafios. RBPG, n. 1, jul. 2004.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. 1930. Trad. Lívia de Oliveira. São
Paulo: Difel, 1983.
VALERA, S. Psicologia ambiental: bases teóricas y epistemológicas. In.: IÑIGUEZ, L.; POL,
E. (Eds.). Cognición, representación y apropiación del espacio. Barcelona: Universidad
de Barcelona Publicacions, 1996. p. 1-14. Disponível em: <http://www.ub.es/escult/docus2/
Villes.doc>. Acesso em: 10 out. 2017.
ZITZKE, V. A. Estudo socioeconômico e cultural das famílias ribeirinhas do Médio Rio
Tocantins. Interface, v. 2, p. 32-39, maio 2005.

35 Ciências Ambientais na Amazônia


3.
AMAZÔNIA EM BOX: CONHECIMENTO DA PRODUÇÃO E
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS VENDEDORES DE ARTESANATO DO
MERCADO ADOLPHO LISBOA

Laura Landau1
Andreza Cristhine dos Santos Rodrigues Oliveira2
Fernanda Tatiane dos Santos Reis3

INTRODUÇÃO

A relação do homem com o ambiente natural sempre foi de extremo interesse para a
ciência e continuamente gera uma grande inquietação em relação às questões ambientais e
sociais. Os valores, crenças e significados que uma sociedade atribui ao ambiente e aos objetos
com o qual interage é um pressuposto para um arranjo social sustentável. Os conhecimentos
metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente organizados e suscetíveis de
serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino definem o saber (JAPIASSU,
1991). Contudo, é de grande relevância compreender que a construção do saber não ocorre
apenas no meio científico, antecedidos e paralelamente a ela têm-se os saberes tradicionais,
cujos valores imensuráveis transitam entre as populações de geração em geração (DIEGUES,
2001), majoritariamente de maneira oral e desenvolvidos à margem do sistema social formal.

1 Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas


(UFAM), http://lattes.cnpq.br/7572356468182217 E-mail: laulandau@gmail.com
2 Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), http://lattes.cnpq.br/8444700656410494
3 Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), http://lattes.cnpq.br/8599747824987449

36 Ciências Ambientais na Amazônia


No Brasil, o etnoconhecimento está enraizado em toda a sociedade e fortemente
interligado com a própria formação do povo brasileiro. A etnociência faz parte da linguística
para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, de modo
a descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural (DIEGUES,
2004). Dessa maneira, podemos entender o etnoconhecimento como os saberes e tradições
passadas de geração a geração nas comunidades tradicionais, aprendidos com a vida cotidiana
e a interação direta com o meio que os cerca e seus fenômenos naturais (NASCIMENTO,
2013), possibilitando maneiras distintas de leitura, percepção e significado de determinados
objetos ou lugares, fazendo com que esse conhecimento não seja apenas uma simples troca de
informação, mas sim uma construção social.
Os mercados municipais são espaços importantes para comercialização de produtos,
mas também apresentam grande influência na evolução histórica da sociedade, adaptando-
se ao contexto geográfico, cultural, arquitetônico e social. Historicamente, mercados e feiras
adquiriram uma significância muito grande que ultrapassa seu papel comercial, transformando-
se, em muitas sociedades, num entreposto de trocas culturais e de aprendizado, onde pessoas
de várias localidades congregavam-se estabelecendo laços de sociabilidade (ARAÚJO E
BARBOSA, 2004). Em Manaus, temos o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, local amplamente
visitado por turistas que saem deslumbrados com os artigos e as histórias percebidas no local
e fonte de renda de muitos comerciantes, evidenciando a relação que estes possuem com o
espaço e com os seus produtos vendidos.
O comportamento e as atitudes das pessoas em relação ao ambiente podem ser avaliados
com base nos estudos de seus valores, preferências e representações deste meio (TUAN, 1983).
Os diferentes valores e significados são representados pela percepção ambiental, influenciada
pelo contexto cultural em que os indivíduos se encontram (DEL RIO e OLIVEIRA, 1999;
FERRARA, 1999). É a partir da percepção ambiental que é possível compreender as
necessidades e valores dos indivíduos, ao mesmo tempo em que se entende as relações de
apropriação do patrimônio natural e cultural de uma comunidade.
Davidoff (1983) define a percepção como o processo de organizar e interpretar dados
sensoriais recebidos (sensações) para desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cerca
e de nós mesmos. A percepção ambiental implica, portanto, na interpretação das inter-relações
entre fatores bióticos e abióticos nos diferentes compartimentos ambientais. Por meio dela é
possível conhecer cada um dos diferentes grupos sociais envolvidos, facilitando a realização
de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo, para conhecer como
os indivíduos percebem o ambiente em que convivem, suas fontes de satisfação e insatisfação
(FAGGIONATO, 2007).
O presente trabalho teve como objetivo compreender a percepção dos vendedores do
Mercado Municipal Adolpho Lisboa a partir do Etnoconhecimento acerca dos produtos

37 Ciências Ambientais na Amazônia


artesanais vendidos. Ao analisar os mercados municipais como um desses espaços de grandes
interações e aprendizado é possível perceber que eles participam da vida comunitária de
populações locais de forma mais complexa do que unicamente através das relações de
produção, compra e venda neles encontradas. Compreende-se, nesta ótica, que sua função
social e comunitária vai além de sua função econômica artesanal, o que significa dizer que
ali as transações econômicas estão correlacionadas a diversos outros fatores e arranjos
socioculturais. A cultura, construída cotidianamente nestes processos de produção e reprodução
social, não é constituída apenas de artefatos “exóticos” pela sua artesanalidade, mas de um
conjunto de saberes codificados em ritos, mitos e outras formas de expressão, que precisam
passar para as próximas gerações (LIMA, 2001).
Por sua vez, os objetos vendidos no Mercado Adolpho Lisboa são oriundos do saber,
do viver e do fazer na Amazônia. Inicialmente um processo predominantemente indígena,
foi transmitido e apropriado pelas populações ribeirinhas e (SOUSA, 2009) quilombolas da
Amazônia perpetuando o aprendizado das técnicas de manufaturas de objetos, bem como o
conhecimento sobre os recursos florestais usados nesta produção. É importante salientar que
nesse estudo os objetos pesquisados serão analisados tendo como referências o conceito de
duas categorias que tem como marca registrada o fazer a mão: artesanato utilitário e artesanato
decorativo. Para o artesanato utilitário estamos fazendo referência aos objetos produzidos
manualmente para o uso e conforto doméstico que testemunha os modos mais tradicionais da
cultura material das populações da região investigada. O artesanato decorativo surge como
uma re-significação do artesanato utilitário, desenvolvido com vistas à comercialização e
geralmente usado com uma função estética, carregando consigo o conhecimento das técnicas
de produção utilizadas na fabricação dos artefatos.

ÁREA DE ESTUDO

O Mercado Municipal Adolpho Lisboa (Figura 1) foi inaugurado em 1883, durante o


período áureo da borracha, e era o principal responsável pelo abastecimento de alimentos
na cidade de Manaus na época (PINTO e MORAES, 2011). Atualmente, o Mercadão é um
símbolo arquitetônico da cidade e de reconhecimento da cultura amazonense, onde podemos
encontrar desde as comidas típicas da região como os peixes de água doce e as frutas nativas,
até ervas medicinais e artesanato indígena. Além de um patrimônio cultural, é também um
espaço de construção de identidades.

38 Ciências Ambientais na Amazônia


Figura 1. Mercado Municipal Adolpho Lisboa

Fonte: Guia Manaus 24h

Está localizado na Rua dos Barés, no Centro Histórico de Manaus, às margens do Rio
Negro. Para a maioria dos agentes, que participam de seu cotidiano de mercado, ele é a fonte
de renda; é o lugar do sustento e do trabalho, ele é lugar das inter-relações que dão vida à
paisagem cultural (SILVA, 2008).
O espaço da floresta está representado em diversas mercadorias, na visão de mundo de vários
permissionários e no próprio cotidiano do Mercado Adolpho Lisboa. O artesanato indígena e
caboclo; as ervas curativas, onde a forma de preparo e uso apresenta características xamânisticas;
a culinária regional servida nos restaurantes do Mercado; o jeito de falar e as expressões regionais
que se escuta no tratamento entre os agentes (“o mano”, “tu é leso é?”, “que pixé!”); todos esses
exemplos são aspectos culturais presentes no cotidiano do Mercado (SILVA, 2008).

METODOLOGIA

A pesquisa de campo foi realizada em outubro de 2018. Para a realização deste trabalho,
optamos por fazer uso de entrevista semiestruturada.
A entrevista semiestruturada parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que oferecem amplo campo de interrogativas
(TRIVINOS, 1987). Fazendo uso de um roteiro previamente elaborado e apresentando
questões principais e investigações básicas, ela facilita a exploração mais profunda do estudo
e espontaneidade nas respostas, possibilitando uma melhor amostra para posterior comparação
das informações entre os entrevistados.

39 Ciências Ambientais na Amazônia


Primeiramente, foram observados os boxes que estavam abertos no dia, como também a
natureza dos produtos expostos nos mesmos. A partir disso e levando em consideração que o
foco da pesquisa são os artesanatos, optou-se por excluir os boxes onde a maioria dos produtos
era de ervas medicinais e/ou objetos industrializados. Após essa exclusão, restaram 40 boxes.
Para a amostragem, foi estabelecido 20% do total, contabilizando oito boxes para as
entrevistas. Para a escolha dos mesmos, inicialmente contava-se quatro boxes e o vendedor do
quinto box era abordado, na busca por uma amostra aleatória. Contudo, alguns vendedores
acabavam por estar ocupados e outros não queriam participar da entrevista, fazendo com que a
metodologia fosse adaptada para uma amostra de conveniência.
As seguintes questões foram passadas aos entrevistados: (1) Você vende objetos feitos de matéria-
prima da floresta? (2) Do que os objetos são feitos? (3) De onde vêm os objetos? (4) Como os objetos são
feitos? (5) Qual a função dos objetos? (6) Quem compra? (7) Para quê compra? e (8) Como aprendeu as
informações repassadas? Em relação à pergunta quatro referente ao modo de produção dos objetos, houve
um ajuste metodológico e optou-se em definir um objeto central, a cuia, e indagado sobre a produção da
mesma. Isso porque, inicialmente os entrevistados ficaram livres como nas outras perguntas, mas como
o número de objetos era grande e as respostas eram muito difusas e de difícil comparação para análise
dos dados, optou-se pela escolha de um objeto que estivesse presente nos oito boxes.

RESULTADOS

Os dados sociodemográficos dos vendedores entrevistados são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Dados sociodemográficos dos entrevistados.

Entrevistados Idade Naturalidade Gênero Tempo de trabalho


E1 22 Atalaia do Norte - AM F 1 ano
E2 90 Careiro Castanho - AM M 48 anos
E3 39 Manaus- AM F 30 anos
E4 58 Manaus- AM F 3 meses
E5 72 Paraíba M 43 anos
E6 22 Lima - Peru M 10 anos
E7 15 Manaus- AM M 3 anos
E8 69 AM F 34 anos
Fonte: Próprio Autor

Todos são residentes de Manaus, onde se situa o Mercado, no entanto apenas três são
naturais desta cidade, o restante tem sua origem no interior do estado e de outros estados/país.
Como a pesquisa foi por conveniência não foi delimitado percentagem de entrevistado

40 Ciências Ambientais na Amazônia


por sexo, mas coincidentemente foi atingido igualdade na representação por gênero. Em relação
à idade, apesar de se ter a diversidade de 15 a 90 anos, a maioria tem idade maior de 60 anos.
O tempo de trabalho varia de meses a 48 anos de vivência no Mercado.
Os entrevistados citaram 27 tipos de materiais encontrados na floresta, que são utilizados
como matéria-prima para confecção dos objetos vendidos por eles. Alguns desses materiais
são apresentados na Figura 2.

Figura 2. Exemplos de materiais: Palhas, cuias, sementes, outros materiais mencionados.

Fonte: próprio autor.

Quanto à frequência de citação dos materiais nas entrevistas, a Tabela 2 mostra que a
maioria foi citado apenas uma vez, no entanto alguns materiais se destacaram: cuia, madeira
e semente do açaí.

Tabela 2. Número de citações de cada material utilizado como matéria prima de objetos.

Materiais mencionados
8 vezes Cuia
6 vezes Madeira
5 vezes Semente do açai
3 vezes Tipos de Palha
2 vezes Palha do burití; Palha arumã; Semente tucumã; Semente de jarina; Diversas
sementes; Cipó.

41 Ciências Ambientais na Amazônia


1 vez Folha; Bambu; Penas; Couro; Palha da tala do açaí; Cipó titica; Cipó
Imbé; Ouriço da castanha; Fio de tucu; Semente de tento; Piaçaba;
Esponja ("espuma") de junco; Pau-brasil; Escama de pirarucu; Madeira
Murapiranga; Castanha.
Fonte: Próprio Autor

Os dados referentes aos materiais também foram analisados sob a ótica de especialização/
detalhamento ou não da matéria prima pelo entrevistado (Tabela 3).

Tabela 3. Materiais organizados pela especificação.

Materiais Especificados Materiais


Generalistas
Sementes: açaí, tucumã, jarina, Madeira;
tento;
Diversas sementes;
Cipó: titica, umbé/Imbé;
Tipos de palha;
Palhas: buriti, arumã, tala do açaí;
Cipó;
Ouriço da castanha;
Folha;
Piaçaba;
Bambu;
Fio de tucum;
Penas;
Pau- Brasil;
Couro;
Escama de Pirarucu;

Madeira Murapiranga;

Esponja de junco;

Cuia (cuieira)
Fonte: Próprio Autor

Em relação aos tipos de objetos comercializados que tinham como matéria-prima


materiais da floresta (Figura 3), os mais citados foram: Cuia (8), Peneira (3), Cesto (3), Cocar
(2), Pulseira de semente de açaí (2), Cesto para luminária (2), o restante dos objetos foram
citados apenas uma vez.

42 Ciências Ambientais na Amazônia


Figura 3. Boxes variedade de objetos, na sua maioria destinada à decoração.

Fonte: Próprio autor.

Quando perguntado aos entrevistados a função dos objetos, as respostas se concentraram


em uso doméstico de decoração, enfeites pessoais, ornamentação de espaços comerciais,
utensílios para o ramo da atividade alimentícia e uso medicinal. Utilizando essa diversidade
de respostas sobre o uso dos objetos e a conceituação apresentada na introdução, sobre as
categorias Artesanato utilitário e Artesanato decorativo, os dados foram organizados na tabela
4. Observa-se que alguns produtos têm clara distinção entre utilitário e decorativo, porém
uma terceira categoria agrupa objetos que variam de uso, para alguns são objetos mencionados
como decorativos para outros funcionais e apesar de objetos utilitários alguns são vendidos
com caráter de souvenir turístico e função não tradicional, como chaveiros e carteiras.

43 Ciências Ambientais na Amazônia


Tabela 4. Tipos de objetos por categoria Artesanal.
Objetos por Categoria Artesanal
Artesanato decorativo Artesanato utilitário Artesanato decorativo e
utilitário
Peneira; Botes; Remos; Cocar; Tábuas para cortar carne; Cuia; Cesto; Esteira;
Zarabatana; Balaio; Carteiras; Cesto para
Cestas para café da manhã
luminária; Chapéu de couro;
Pulseira de semente de açaí; ou padaria; Flecha para
Jogo americano; Bolsas de
pesca
Arco e flecha decoração; palha; Chaveiro de tucumã
Pulseira de semente de jarina;
Instrumento musical; Brinco;
Fantasia; Corujas de madeira; Talhas/
esculturas (boto e outros animais);
Brincos de escama de pirarucu; Colares
de semente de tucumã,
Fonte: Próprio Autor

Na pergunta referente à origem dos objetos, três locais tiveram repetição de citação,
sendo citados quatro vezes “interior” e “tribos indígena” e três vezes Santarém/PA, com
a curiosidade que esta cidade foi especificada na origem das cuias, os outros locais foram
citados apenas uma vez. Outra análise dos dados refere-se à especificação/detalhamento ou
não dos locais de origem dos objetos, a Tabela 5 mostra as quatro categorias de análise e os
locais correspondentes.

Tabela 5. Locais de origem dos objetos comercializados por categoria.

Específico Abrangente Generalista Inespecífico


Santarém/PA Pará Interior Solimões (rio)

Itacoatiara/AM Roraima Tribos indígena

Belém/PA Colômbia

Codajás/AM

Parintins/AM

Rio Preto da Eva/AM

Barcelos/AM

Tabatinga/AM
Fonte: Próprio Autor

44 Ciências Ambientais na Amazônia


Em relação a forma de produção dos objetos, foi decidido durante o campo especificar
a forma de produção da Cuia dentre os vários objetos vendidos (Figura 4). Esse recorte foi
necessário para um melhor direcionamento das respostas, possível comparação das mesmas e
com isso um tratamento dos dados mais refinado.

Figura 4. A: Cuia in natura na cuieira (Site: Safari Garden); B: Produção da Cuia (Site: IPHAN); C:
Exposição das Cuias no Mercado Adolpho Lisboa.

A B C

Fonte: Próprio Autor

A escolha pela Cuia obedeceu ao fato da existência do objeto nos 8 boxes estudados.
A partir disso foram selecionadas as falas mais relevantes de cada entrevistado e organizadas
em três categorias: detalhamento da produção, diferenciação da produção indígena (Tabela
6). Cabe salientar que a maioria das falas se encaixam em mais de uma categoria, apenas os
entrevistados 2, 4, e 7 foram classificados em apenas uma categoria cada e coincidentemente
em três categorias distintas. Outro ponto relevante é que na conversa informal ficou claro
que nenhum vendedor tinha contato com a produção em si, eles faziam parte da etapa final,
apenas a venda.

45 Ciências Ambientais na Amazônia


Tabela 6. Categorização das falas dos entrevistados em relação à produção da Cuia.

Categorias Fala relevante


Detalhamento da “A cuia indígena eles forram com um pano com xixi para
produção fixar a tinta.” E.1
“Quando está bem verdinha é retirada da cuieira, corta
a cuia no meio, tira uma bucha que tem dentro dela
aí põe para secar, dá uma lixada para dar um melhor
aproveitamento.” E. 3
Essa Cuia vem do pé de Coité, aqui é conhecido como
Cuieira. Quando seca a cuia, abre, serra ela, tira miolo
que não serve pra nada, pinta ela com leite do jenipapo e
outros ingredientes lá do mato pra ela ficar preta, por que a
cor dela é verde.” E.5
“A cuia vem da cuieira e é limpa, cortada e lixada.” E.6
“A cuia vem de um fruto que não é comestível, é cerrada,
tirada a massa, é feito o polimento, lixa e com semente e
terra fazem uma tinta e tingem ela.” E.7
“A cuia serram...” E.8
Diferenciação da “Existe diferença entre a cuia normal e a indígena.” E.1
Produção Indígena “A cuia só os índios sabem como fazem.” E.2
“Tem o caboco que faz uma cuia e o índio faz outra,
tem diferença do índio pro caboclo. A do índio tem um
trabalho, bem rascunhada. A do caboclo é um desenho
como uma flor. E.5
Fascinação “Depois disso tem o processo da tintura, mas isso eles não
revelam de jeito nenhum como é feita. É um segredo de
quem faz.” E. 3
“... mas o resto eles não contam como é que é, é um
segredo deles.” E.8

Em relação a quem compra os objetos, a maioria dos entrevistados apontaram os


turistas estrangeiros e nacionais, assim como comerciantes da área gastronômica (tacacaria,
restaurantes) e de decoração (festas e lojas). Sobre o motivo da compra, apenas um dos boxes
citou a compra para uso da população local para atividades funcionais como pesca, uso
medicinal/ crença popular (desentortar a perna da criança) e isolamento térmico de suas casas,
o restante foi englobado na ornamentação pessoal ou de ambientes residenciais e comerciais.
Sobre a origem do conhecimento apresentado pelos vendedores, a maioria respondeu
pela convivência diária ao longo dos anos com os fornecedores- indígenas e artesãos. Três
dos entrevistados aprenderam com a família (pai, mãe, avô) que já trabalham no ramo.
Alguns apresentaram conhecimento sobre a flutuação da oferta de alguns produtos devido a
sazonalidade da matéria prima- Jarina, açaí e castanhas;

46 Ciências Ambientais na Amazônia


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mercado Adolpho Lisboa reúne uma ampla gama de produtos que se caracterizam
como artesanato utilitário (LIMA et al, 2006), porém é clara a tendência de objetos com
destinação decorativa. Por se localizar em área privilegiada em relação ao turismo, seu público
consumidor é composto, majoritariamente, por turistas de passagem por Manaus e que desejam
levar uma lembrança cultural do Norte para seus locais de origem.
Como mencionado, o maior número de pessoas que compram nos boxes centrais são
turistas brasileiros e estrangeiros, destinando os produtos a diversos fins decorativos, desde
embelezamento do recinto doméstico a uso em estabelecimentos comerciais como restaurantes.
Mostrando assim, a evidente relação entre tipo de consumidor e uso dos objetos adquiridos na
área de venda de artesanatos.
Os dados sugerem que, em uma metrópole urbanizada, os cidadãos pouco mantêm
relação com artefatos tradicionais provenientes da floresta ao redor. Eles não recorrem a um
dos maiores centros de venda de produtos artesanais para abastecerem suas casas com objetos
domésticos do dia-a-dia, mostrando fraca relação com produtos artesanais e de cultura local
quando se procura atender uma demanda utilitária e não estética.
Isto também fica explícito quando apenas um dos oitos entrevistados indica que a maioria
de seus produtos é procurado por consumidores locais para uso prático. Este mesmo box se
localizava em área periférica e a quantidade de objetos vendidos era visivelmente inferior
quando comparado aos boxes mais centrais e com venda declarada de produtos para turistas.
Os vendedores demonstram um conhecimento variado sobre a origem dos objetos, meios
de produção e materiais de origem florestal. Praticamente todos sabiam processos de produção
detalhados sobre algum produto, mas a maioria não mostrou domínio de informação sobre
tudo o que vendem. O conhecimento sobre a cuia foi bem diversificado, com mais detalhes ou
menos e informações precisas ou incorretas, mas todos expressaram algum saber.
Isto demonstra os diferentes graus de etnoconhecimento acerca dos produtos vendidos,
explicitada na fala dos vendedores:

Tem o caboco que faz uma cuia e o índio faz outra, tem diferença do índio pro caboclo.
A do índio tem um trabalho, bem rascunhada. A do caboclo é um desenho como uma
flor. Essa Cuia vem do pé de Coité, aqui é conhecido como Cuieira. Quando seca
a cuia, abre, serra ela, tira miolo que não serve pra nada, pinta ela com leite do
jenipapo e outros ingredientes lá do mato pra ela ficar preta, por que a cor dela é
verde. (E3, 20 de outubro de 2018)

Esta descrição evidencia que este vendedor tem um conhecimento mais aprofundado
sobre a cuia e sua origem, se distinguindo de falas que remetem ao senso comum (CHAUÍ,

47 Ciências Ambientais na Amazônia


2000) e aos misticismos, que é bastante exaltado para também atrair clientes e deixar o produto
mais interessante, gerar fascinação ao turista: “A cuia só os índios que sabem como fazem.”
“Depois disso tem o processo da tintura, mas isso eles não revelam de jeito nenhum como é
feita. É um segredo de quem faz.”
A transmissão de conhecimento se mostrou fator chave para entender o etnoconhecimento
dos vendedores. Foi visto que a maior parte do conhecimento é passado através da fala e do
tempo de venda de cada entrevistado no mercado, aqueles que tinham mais tempo vendendo
sabiam mais. Estes aprenderam com os vendedores de outros boxes, com seus fornecedores de
produtos e/ou por familiares de quem herdaram a função, entretanto nenhum aprendeu com o
fazer dos produtos, apenas com a transmissão oral. O que aponta que este tipo de transmissão
de conhecimento é muito importante para repassar os saberes tradicionais e manter circulando
a tradição dos objetos artesanais. Juntamente deixa claro o papel do vendedor na etapa final da
produção artesanal. É obviamente um agente necessário para o escoamento da produção, apesar
de não ter contato direto com ela, repassa o produto como também informações relevantes
sobre a cultura amazônica.
Com o estudo foi observado os diferentes níveis de etnoconhecimento dos vendedores
de artesanato do Mercado Adolpho Lisboa. Muitos demonstravam profundo saber sobre suas
mercadorias e grande paixão por aquilo que estavam vendendo, outros estavam em cargos
mais passageiros e não exibiam muita conexão com o que vendiam, porém todos apresentavam
algum grau de conhecimento sobre a origem, produção e material dos produtos vendidos em
seus boxes. Ficou evidente o papel dos vendedores de repassadores finais da produção e como
seu conhecimento é estritamente voltado para o vender, atrair o cliente e passar informações
perguntadas ou relevantes para a venda. Uma consideração final para o aprimoramento da
conexão ambiental dos vendedores seria a realização de eventos e encontro desses diferentes
atores (extrativistas, artesãos e vendedores), assim como práticas de educação ambiental
juntamente com universidades e órgãos ambientais.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, P. C. A.; BARBOSA, L. R. Feira, lugar de cultura e educação popular. In:


Revista “Nova Atenas” de Educação Tecnológica. V7, N2, jul/dez/2004.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
DAVIDOFF, L. F. Introdução à Psicologia, São Paulo, McGraw-Hill do Brasil. 1993.
DEL RIO, V.; OLIVEIRA, L. Percepção ambiental. A experiência brasileira. São Paulo: Nobel, 1999.
DIEGUES, A. C. Ecologia humana e planejamento costeiro. 2ª ed. São Paulo: Nupaub-USP,
2001.

48 Ciências Ambientais na Amazônia


DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada. 5. ed. São Paulo: HICITEC, 2004.
FAGGIONATO, S. Percepção ambiental. 2007. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/>.
Acesso: 02/11/2018.
FERRARA, L. D. Olhar periférico: informação, linguagem e percepção ambiental. São
Paulo, USP, 1999.
JAPIASSU, H. Introdução ao pensamento epistemológico. 6ª ed. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1991.
LIMA, A. A. B. Etnoconhecimento e educação de trabalhadores/as na Amazônia. Núcleo
Trabalho e Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (NUTE/
FACED/UFBA), 2001.
LIMA, D. et al. Artesanato e identidade cultural no Médio Solimões: a promoção de técnicas
e conhecimentos tradicionais em comunidades ribeirinhas das Reservas Mamirauá e
Amanã. IDSM; Belo Horizonte: IPHAN, 2006. 266p.
MARCONI, M. A. LAKATOS, E. M. Técnica de Pesquisa, 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MANN, P. H. Métodos de investigação sociológica. Rio de Janeiro: Zabar, 1970.
NASCIMENTO, G. C. C. Mestre dos mares: o saber do território, o território do saber na pesca
artesanal. In: CANANÉA, F. A. Sentidos de leitura: sociedade e educação. João Pessoa:
Imprell, 2013.
PINTO, M. A. T; MORAES, A. O. Espaço e economia: crise e perspectivas no abastecimento
em Manaus, Amazonas, Brasil. Revista Geográfica de América Central Número Especial
EGAL, Costa Rica, 2011.
SILVA, R. T. Mercado Adolpho Lisboa: cheiros, sons e imagens, uma abordagem simbólica.
Dissertação (Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia). Universidade Federal do
Amazonas, 2008.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo: Atlas, 1987.
TUAN, Y. F. Espaço e lugar, a perspectiva da experiência. São Paulo: Ed. DIFEL, 1983.

49 Ciências Ambientais na Amazônia


4.
PRÁTICAS DE CONSUMO ENTRE JOVENS:
CAMINHOS PARA O CONSUMO CONSCIENTE

Luciene Souza da Costa1


Mariana Baldoino2
Maria Olivia Ribeiro Simão3

RESUMO

A discussão entre os estilos de vida e o consumo tem ganhado evidência por revelar
singularidades a partir das atitudes e valores dos indivíduos. Esta categoria promove inúmeras
possibilidades de investigação nas relações pessoa-ambiente e no comportamento de consumo
consciente, uma das prerrogativas socioambientais emergentes. Apontamos as implicações dos
aspectos culturais presentes nas práticas de consumo - do consumismo ao consumo consciente
- com base em uma pesquisa realizada entre estudantes do Ensino Básico em uma escola
pública na cidade de Manaus, Amazonas. Participaram deste estudo 83 sujeitos, de ambos os
sexos, com idade entre 15 e 21 anos. O estudo descritivo desenvolveu-se em fundamentação
teórica dos conceitos em Psicologia Ambiental de comportamento pró-ambiental (CPA) e
Consumo, na Sociologia do Consumo. Considerando que o consumo consciente está atrelado
à responsabilidade socioambiental, buscou-se investigar se tais aspectos estão presentes
no comportamento de consumo entre os jovens. Para a coleta de dados foi empregado um
questionário elaborado com questões dicotômicas, a partir dos pressupostos dos 8 R (Refletir,

1 Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPG-CASA/UFAM), Professora da


Secretaria Municipal de Educação de Manaus – SEMED. Email: lucienecostamail@gmail.com
2 Doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPG-CASA/UFAM), Professora do
Centro Universitário UNINORTE. Email: mariana_baldoino@yahoo.com.br
3 Professora Doutora da Universidade Federal do Amazonas (PPG-CASA/UFAM).
E-mail: mariaoliviar@uol.com.br

50 Ciências Ambientais na Amazônia


Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Respeitar, Reparar, Responsabilizar-se e Repassar) do consumo
consciente, desenvolvido pelo Instituto AKATU. Cada fator “R” foi composto de forma
independente, com 4 a 7 questões específicas. Foram identificadas as maiores e menores
pontuações nas seções Refletir, Reutilizar e Reparar. Os resultados apontam que Refletir é
a estratégia mais utilizada por 54% dos estudantes antes de decidir o quê e como consumir
por exemplo, utensílios pessoais, livros, eletrônicos e alimentos. Esta decisão, no entanto,
mostra que esses jovens preferem produtos novos , de marcas conhecidas e revelam pouca
preocupação, 16%, se o produto empregou trabalho escravo. A estratégia de Reutilizar está
presente em apenas 11%, na qual o item adquirir roupas e calçados em brechó foi o menos
apontado, com 2% e reutilizar livros de parentes e amigos o maior, com 22%. A estratégia de
Reparar é feita por 43% dos jovens, principalmente em reparos nas vestimentas e aparelhos
eletrônicos de uso coletivo e menor rotatividade, como TVs. Tais resultados indicam uma
baixa sensibilização para as questões socioambientais e consumo consciente. Os componentes
do estilo de vida podem mudar ao longo dos anos, mas, para que aconteça, a pessoa precisa
perceber-se capaz de realizar as mudanças pretendidas, além de identificar algum valor no
componente que queira incluir ou excluir para a efetivação dessa mudança (Sellin & Owen,
1999). Os dados corroboram com Bauman, acerca da liquidez das relações de consumo e das
pessoas com o ambiente, desvalorizando-se a durabilidade e igualando o “antigo” com aquilo
que é defasado e impróprio para uso pessoal, denotando insustentabilidade dos atuais estilos
de vida e padrões de comportamento entre os jovens estudados. Sugere-se práticas de educação
ambiental entre os jovens,principalmente nas escolas da Educação Básica, voltadas ao consumo
consciente, pois o conhecimento e o envolvimento promovem condutas imprescindíveis para
mitigar impactos ambientais produzidos pelo consumismo.

INTRODUÇÃO

Os estudos sobre o consumo entraram na pauta dos debates ambientais no Brasil a partir da
Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e desenvolvimento (Rio 92) e têm se mostrado
um campo frutífero para o entendimento das lutas simbólicas que revelam as contradições sociais
(PORTILHO, 2010). Para Bauman (2008) a cultura pós-moderna é a própria cultura do consumo
ligada a um processo de classificação social, fundamentado nos bens (BAUDRILLARD,1995)
e por isso é necessário compreender as razões, modos, circunstâncias e porquês do consumo
(CAMPBELL, 2006; BOURDIEU,1979) que é, por sua vez, formador de identidades sociais
(DOUGLAS E ISHERWOOD, 2013). Para Conte (2007), entre os jovens o consumo está ligado
à intimidade e à formação da personalidade, portanto, a necessidade de compreender o consumo
moderno enquanto manifestação cultural está ligada à formação da própria sociedade.

51 Ciências Ambientais na Amazônia


Para compreender a relação entre consumo e sustentabilidade na visão do jovem, foi
realizada uma pesquisa com 81 jovens estudantes de 15 a 21 anos de idade, residentes na
Zona Norte de Manaus, capital do Amazonas, Brasil, em 2016. A escolha da juventude se deu
pela representatividade numérica do grupo e por apresentarem-se como sujeitos atuantes na
contemporaneidade (UNICEF, 2011). Dessa forma tais pessoas, nascidas a partir da metade
da década de 90, podem indicar uma condição de melhor entendimento da sociedade pós-crise
ambiental, pós- Eco 92, de uma sociedade em busca da Sustentabilidade.
O objetivo geral da pesquisa foi entender a relação dos jovens com o consumo e a
sustentabilidade a partir da identificação da adoção de critérios de sustentabilidade em suas
decisões de compra. O trabalho contou com uma abordagem multimétodos partindo do
entendimento do consumo enquanto processo que inicia na concepção do produto e finaliza
com o destino dado aos resíduos.

CONSUMO CONSCIENTE

Repensar a relação homem e ambiente se apresenta como condição necessária para a


manutenção da vida no planeta, da mesma forma que o aumento do dispêndio se configura
como um enorme desafio para as ciências ambientais. Os bens se tornam indispensáveis com a
mesma velocidade que nos acostumamos a eles e desta maneira mantém-se um ciclo vigoroso
centrado no consumo.
O homem age sobre o meio e este também age sobre o homem, não há independência
entre estes dois entes. O estudo do consumo pode levar a um questionamento salutar sobre a
sustentabilidade desta díade, revelar sentidos e suscitar novas investigações, “obriga a pensar os
conflitos e opções políticas da humanidade no contexto do mundo material” (PORTILHO, 2010).
O consumo é um lócus de investigação social, fenômeno antropológico ligado
diretamente à formação da sociedade moderna, que reflete a continuidade da desigualdade
social na apropriação dos bens. Por sua vez, a aquisição dos bens é imbricada de uma carga
cultural indissociável do ser. Dessa forma, o consumo serve para o entendimento da cultura
e esta é, por sua vez, responsável pelas escolhas que fazemos. “Estudar consumo significa, em
certo sentido, privilegiar a cultura, o simbólico, experimentando a relatividade dos valores e a
instabilidade nela implícita” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2013).
A forma como a relação com o mundo material se apresenta não se resume somente à
satisfação de necessidades, mas como vemos o mundo e nos posicionamos nele, gerando uma
mudança ontológica (PORTILHO, 2010). Assim, um desafio importante para a Sustentabilidade
é justamente o efeito do consumo alienado, do consumismo ao planeta e consequentemente, à
vida. Na década de 1990, esse tema surgiu como campo de luta que reflete as disputas do futuro
civilizacional da humanidade com objetos, agentes e regras próprias (NASCIMENTO, 2012).

52 Ciências Ambientais na Amazônia


Em um tom mais conciliatório, substituiu-se o aspecto revolucionário do
Ecodesenvolvimento de Sachs (LIMA, 2003) e aliou a tríade Sociedade, Ambiente e Economia
de maneira a gerar um desenvolvimento econômico sem extirpar as possibilidades de vida no
planeta. Segundo Pinto e Batinga (2016) nos últimos anos, tanto na mídia como nas discussões
do meio empresarial e acadêmico, vem surgindo inúmeros conceitos que buscam dar novas
características ao consumo: de ser consciente e sustentável; se preocupar com questões como
bem-estar, qualidade de vida, preocupação com o Meio Ambiente e com os recursos naturais;
preocupação com as futuras gerações, atrelamento à práticas de cidadania, de proteção aos
direitos humanos, entre outras.
Aqui utilizaremos o conceito de consumo consciente, caracterizado pela prática humana
que considera seus impactos sobre o meio, como o resultado de um processo de reflexão,
baseado em um sentimento de pertencimento, no qual suas ações estão direcionadas para a
busca de resultados coletivos (Pinto e Batinga, 2016).
Neste contexto, é interessante verificar como os jovens atores sociais vêm assimilando o ato
de consumir. Será que nas suas escolhas estão presentes critérios relacionados à Sustentabilidade?
Eles adotam comportamentos de consumo consciente, social e ambientalmente responsáveis?
Assim, investigar o consumo entre os jovens é buscar entender seus impactos e implicações
sobre a sustentabilidade desejada.

METODOLOGIA

Esta pesquisa caracteriza-se como pesquisa social (RUMMEL, 1972) de abordagem


qualitativa (GIL, 2002) e multimétodos (GÜNTHER et al., 2004), que também fez uso de
aspectos quantitativos para melhor descrever os resultados obtidos. Partindo das categorias de
análise – consumo consciente e sustentabilidade, realizou-se o estudo em tela com um grupo
de 81 jovens estudantes (de 17 a 21 anos) do terceiro ano do Ensino Médio do turno noturno
da Escola Pública Estadual “A”, localizada nas imediações de um grande Shopping da Zona
Norte da cidade de Manaus – Amazonas.
O Shopping “S” é um ambiente climatizado, bem iluminado que disponibiliza 120 lojas
de várias naturezas (alimentação, vestuário, acessórios, cosméticos, serviços, entre outros) e
espaços de entretenimento (cinema e praça de alimentação). Espaço agradável, seguro, limpo
e de fácil acesso aos jovens que participaram do estudo. A Escola Estadual “A” é uma escola
pública que conta com doze salas de aula e atende cerca de 1.200 alunos do Ensino Médio (do
1º ao 3º ano), matriculados nos três turnos.

53 Ciências Ambientais na Amazônia


Foram aplicados questionários semi- estruturados, que foram elaborados usando os
critérios “Oito R´s da Sustentabilidade”4 (Instituto Akatu5, 2001), abordagem socioeconômica
e os hábitos de consumo.
Após a aplicação dos questionários foram constituídos sete Grupos Focais (TRAD, 2009;
KRUEGER, 1994), cada um com até seis alunos. As temáticas do diálogo com estes grupos
foram as lacunas encontradas nos questionários, principalmente relacionados aos processos de
produção a partir do uso de trabalho escravo, problemas ambientais decorrentes do descarte de
materiais, os critérios de escolhas de produtos para consumo, a sustentabilidade e sua relação
com o consumo. Como forma de chamar a atenção dos alunos e propiciar o diálogo sobre essas
temáticas, as reuniões dos grupos focais foram iniciadas com a mensuração do Índice da Pegada
Ecológica 6 (Ecological Footprint). A observação participante (GIL, 2002; WHYTE 2005) foi
realizada nos grupos focais e durante as atividades escolares como intervalo da merenda, feira
cultural e reunião com a equipe pedagógica. Esta técnica permitiu o envolvimento necessário
para compreender um pouco mais o contexto em que esses jovens estão inseridos permitindo
a análise dos resultados.
Na análise dos questionários as respostas às questões fechadas, expressas pelos
jovens nos questionários, foram sistematizadas em planilhas utilizando o Programa Excel e
posteriormente receberam tratamento estatístico descritivo para elucidar melhor os aspectos
relacionados aos objetivos da pesquisa. As respostas às questões abertas, opiniões expressas
durante a interação nos grupos focais e observação participante foram analisadas utilizando a
Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), compondo um quadro de interpretação que caracteriza
elementos qualitativos da pesquisa.

4 Os Oito R´s da Sustentabilidade do Instituto Akatu foram criados como uma forma de ampliar os conceitos
dos Três R´s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar / disponíveis em http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/producao- e-consumo-sustentavel/consumo-consciente-de-embalagem/principio-dos-3rs) e
dos Cinco R´s (Reduzir, Repensar, Re- aproveitar, Reciclar e Recusar / disponíveis em http://www.mma.gov.
br/comunicacao/item/9410), ambos direcionados para a diminuição dos resíduos sólidos. O objetivo do Instituto
é ampliar a discussão sobre o consumo e por isso entraram, além dos itens descritos anteriormente, mais três,
Respeitar, Reparar e Responsabilizar-se. Respeitar, Reparar e Respon-sabilizar-se.
5 Disponível em http://www.akatu.org.br/Temas/Consumo-Consciente/Posts/Quer-uma-boa-dica-Pratique-
os-8-Rs-do- consumo-consciente acesso em 22 de março de 2017
6 O Índice de Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental expressa em hectares globais
(gha), que tem como objetivo verificar se os padrões de consumo estão dentro da capacidade ecológica do
planeta. Fonte: http://www.wwf.org.br/natu- reza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/o_que_e_pegada_
ecologica/ . Disponível em http://www.footprintnetwork.org/en/in- dex.php/GFN/page/calculators/

54 Ciências Ambientais na Amazônia


ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Quanto aos critérios levados em conta na hora da compra, verificou-se que a grande
maioria dos jovens (91%) sempre considera o preço como critério mais importante, seguido da
durabilidade e utilidade (77%). Somente 9% desses jovens declararam que raramente o preço é
o aspecto mais relevante. Critérios relacionados às características do consumo consciente não
foram apresentados pelos jovens durante as discussões nos grupos focais.
A maior preocupação deles com o preço pago pelos produtos pode ser explicada pelo
pouco acesso a recursos financeiros, uma vez que a maioria não trabalha (67%), mora com
os país e possui renda familiar de até dois salários mínimos (58%) (Tabela 1), valor superior
aos R$1.113,00 (um mil cento e treze reais) apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2015), como a renda média do brasileiro no ano de 2015.
Tabela 1: Renda familiar (em salários mínimos*) de estudantes do Ensino Médio da Escola Pública “A”.
N 81.
SALÁRIO MÍNIMO* NÚMERO DE ESTUDANTES/
FREQUÊNCIA (%)
Até 1 11/ 13,6
De 1 a 2 36/ 44,4
De 2 a 3 -
De 3 a 5 29/ 35,8
Acima de 5 2/ 2,5
Não respondeu 3/ 3,7
TOTAL 81/100

* Salário mínimo com base no ano de 2015 no valor de R$788,00 (setecentos e oitenta e oitoreais).
Fonte: http://www.guiatrabalhista.com.br/guia/salario minimo.htm.
Fonte: Costa, 2017 - Pesquisa de Campo.

Castilho (2007) em pesquisa realizada em uma comunidade de morro, no Rio Grande


do Sul, afirma que entre os jovens, embora haja a valorização da marca de alguns produtos, o
preço tem prioridade na hora da compra. Segundo Bauman (2008), em uma situação em que o
sustento é o principal objetivo, as demais necessidades ficam em segundo plano.
Logo, para esses jovens o preço apresenta-se como uma categoria prioritária para a
tomada de decisão dos locais e objetos de consumo, o que pode explicar a barreira enfrentada
para a compra de materiais de origem verde, reciclável que têm geralmente um preço mais alto.
A maioria dos jovens pesquisados demonstram preferência pelo consumo de produtos
eletrônicos novos. Quanto à reutilização desses produtos, 50% desses jovens declararam às
vezes reutilizarem produtos eletrônicos usados, herdados de parentes, chamados de “segunda
mão”. Porém, somente 9% deles declararam sempre fazer uso, frente a 41% que foram
categóricos ao afirmar nunca usar produtos eletrônicos usados, de “segunda-mão” (Figura 1).

55 Ciências Ambientais na Amazônia


Figura 1: Uso de eletrônicos herdados (“segunda-mão”) entre jovens estudantes do Ensino Médio da
Escola Pública “A”. N=77.

Fonte: Costa, 2017 - Pesquisa de Campo.

Mesmo quando se trata de produtos eletrônicos de alto valor, eles preferem os produtos
novos e 61% deles declaram que esses produtos são melhores (Tabela 2).

Tabela 2: Declaração de opinião dos jovens estudantes do Ensino Médio da Escola Pública “A”,
considerando asuperioridade do produto eletrônico novo. (N=74).

SUPERIORIDADE DO NÚMERO DE ESTUDANTES/


PRODUTO NOVO FREQUÊNCIA (%)
SIM 45/ 61
NÃO 29/ 39
TOTAL 74/100
Fonte: Costa, 2017 - Pesquisa de Campo.

A explicação para a preferência pelo produto novo pode estar ligada à busca pela distinção
(BAUMAN, 2008), seu aspecto identitário, da diferenciação do acesso a “grupos superiores”
(BAUDRILLARD, 1995) e dos signos (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2013; BAUDRILLARD,
1995). Os bens extrapolam sua importância física e se apresentam como instrumentos de
comunicação (BAUDRILLARD, 1995).
O processo de produção e suas implicações na sociedade e no ambiente parecem não
ser foco de análise dos jovens e nem configura-se como critério de escolha na aquisição de
novos produtos. Quando se perguntou se eles deixariam de comprar determinado produto
se soubessem que esse tinha origem no trabalho escravo, a grande maioria afirmou que não
desistiriam da aquisição de produtos com esssa origem (Tabela 3).

56 Ciências Ambientais na Amazônia


Tabela 3: Porcentagem de estudantes do Ensino Médio que desistiriam da compra
de um produto de origem detrabalho escravo. N=75.
VOCÊ DEIXARIA DE COMPRAR UM PRODUTO SE SOUBESSE FREQUÊNCIA
QUE É RESULTADO DE TRABALHO ESCRAVO? (%)
SIM 17
NÃO 83
TOTAL 100

Fonte: Costa, 2017 –Pesquisa de Campo.

Durante as reuniões com os grupos focais, ao serem questionados sobre adquirir


produtos de origem de trabalho escravo, as justificativas podem ser sintetizadas na resposta
deste estudante: “Se o preço for bom, mesmo que o produto tenha relação com a exploração do
trabalhador, vale a pena comprar, pois, a relação com a escravidão não é direta e não comprar
esse produto não tem força contra a escravidão” (estudante, 18 anos). No quadro de incertezas
sobre a origem dos produtos, os jovens não enxergam obrigatoriedade de investigação do
processo produtivo.
Os jovens parecem se sentir impotentes frente aos problemas socioambientais: “Professora,
a gente não pode fazer nada, porque se você faz e o outro ao seu lado não faz, de nada adianta”.
Foi comum, durante as discussões nos grupos focais, atribuírem a outrem o papel dos cuidados
com o ambiente e revelarem de forma clara a individualidade ligada à sobrevivência.
Os resultados são muito similares aos apontados por Oliveira et ali (2014), em uma
pesquisa realizada em formulário online respondido por 217 jovens sobre o consumo fashion e
a mão de obra escrava, na qual nota-se que a maioria dos jovens não deixariam de compra-los
devido a existência de escravidão humana no processo produtivo. Esses jovens não acreditam
ter poder de modificar realidades impostas.
O consumo gera prazer individual e a individualidade é um dos aspectos mais importantes
da sociedade moderna, se contrapõe à lógica de tratar a todos como iguais e se apresenta com
a tendência de tratar cada um de maneira singular. O prazer proporcionado pelo consumo
aparenta ser livre de aborrecimentos e por isso tão sedutor entre os jovens.
Para Bauman (2008), se reduzido à forma arquétipa do ciclo metabólico de ingestão,
digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem
limites temporais ou históricos.
No processo de consumo, a última fase vivenciada pelo consumidor é o descarte. Neste
estudo, boa parte dos jovens entrevistados declarou descartar os celulares com defeito, sendo
seus destinos o lixo comum e o abandono. Porém, mais de 40% desses jovens ainda consertam
seus aparelhos celulares e videogames (Figura 2).

57 Ciências Ambientais na Amazônia


Sobre o celular, Ribeiro, Leite e Souza (2009, p. 191) declaram que:

“A aquisição frequente de novos aparelhos parece indicar menos uma necessidade


de autoafirmação ou uma utilidade real para as atividades cotidianas e mais uma
necessidade em participar do universo social vinculado às novas funções que
são agregadas pelos novos modelos (...). O fato é que se alguma prática torna-se
predominante em um grupo de adolescentes, ela acaba se tornando, por conseguinte,
um critério significativo de inclusão no mesmo”.

Figura 2: Destino dado pelos jovens do Ensino Médio aos aparelhos eletrônicos com defeito. N=78.

Fonte: Costa, 2017 - Pesquisa de Campo.

Quanto às TVs, a maioria deles as conserta (64%) e somente poucos as abandonam (6%)
ou as jogam no lixo (19%). Uma explicação plausível para o alto nível de conserto destes
aparelhos pode estar ligada a uma menor rotatividade mercadológica, além do fato de que
esses aparelhos são destinados ao uso doméstico e muitas vezes coletivo (ligado ao lar), não
representando status individual como no caso dos aparelhos celulares
Entre os jovens estudados, a responsabilidade assumida por eles não vai além daquela
que envolve os cuidados pelo espaço individual ou familiar. O espaço coletivo ou que envolve
o descarte de bens de consumo, como eletrônicos, são atribuídos ao governo e empresas,
respectivamente (Figura 3). Ou seja, somente aquilo que, de alguma forma, está ligado à
sua esfera pessoal, é considerado como sua responsabilidade. Eles não se vêem como atores
envolvidos em processos coletivos, cujo benefício seja de forma compartilhada, como no caso
da arborização da cidade.

58 Ciências Ambientais na Amazônia


Figura 3: Responsabilidade atribuída pelos jovens do Ensino Médio da Escola “A” às ações de: limpeza
das áreas públicas que se localizam em frente aos seus domicílios, arborização e descarte de lixo
eletrônico. N=81.

Fonte: Costa, 2016 – Questionário da Pesquisa de Campo.

CONCLUSÕES

A pesquisa aponta que o preço é o item mais importante na decisão de compra dos jovens.
Muitas vezes a prioridade desse quesito subestima outras características do processo produtivo, como
a origem dos produtos. Na contramão da mídia, os jovens não estão levando em conta critérios como
responsabilidade social ou ambiental. Eles justificam suas escolhas por acharem que não têm força
para mudar a realidade, que eles acreditam estar muito distante de seu campo de ação. Os jovens
se sentem responsáveis por aquilo que está mais próximo de sua esfera privada, como sua casa.
Os locais coletivos, como as ruas, são geralmente tratados como responsabilidade de outrem. A
individualidade é uma característica que se sobressai no discurso e atitude desses jovens.
Outra característica fundamental do consumo juvenil está relacionada ao status, distinção
e novidade. Diante da recusa dos jovens em comprar em brechós , mesmo quando esses
oferecem preços mais baixos. Ao serem questionados, estes atribuem as roupas do brechó
a falta de status, (“não tem status”); exclusividade (“não oferece exclusividade”, “já foi de
outras pessoas”); identidade (“não é meu”); e novidade (“não tem coisas novas”).
A crise ambiental não é negada pelos jovens, todavia, eles não se vêem relacionados a
ela. Os jovens a enxergam como algo dissociado da sua realidade, à parte do seu modo de vida,
como se houvesse uma clara independência entre a vida privada (individual) e os problemas
ambientais (coletivo) que enfrentamos. Um caminho importante para se alcançar o consumo
responsável entre os jovens é através de uma Educação Libertadora e crítica na qual ele se

59 Ciências Ambientais na Amazônia


reconheça como um ser que faz parte, afeta e é afetado na coletividade e responsável pelas
mudanças no planeta, pela crise ambiental. Ampliar o conceito de Sustentabilidade é ampliar a
ideia de Sociedade, contrapondo-se a uma visão individualista, antropocêntrica.
É preciso olhar de maneira crítica para o consumo, entendendo-o como processo inerente
à con- dição humana, resultante da relação complexa entre Cultura e Sociedade. Processo, este,
que inicia muito antes da concepção dos produtos, aquisição da matéria, modos de produção e não
termina com o descarte, pois no processo de reaproveitamento temos um novo modo de consumir.
Para uma Educação Ambiental eficaz precisamos incentivar os jovens a analisar que o ato
da compra não se reduz à aquisição de bens, mas de processos, e se enxergar como um ser não
apenas dotado de liberdade individual, mas de responsabilidades coletivas perante o consumo.
Esta reflexão, que pretendemos aprofundar em trabalhos futuros, parece estar em consonância
com os caminhos do consumo responsável, ligado à aquisição como um processo longo, subjetivo,
inter- ligado a outras esferas sociais, pressuposto importante na ideia de sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BAUDRILLARD,
Jean. A sociedade do consumo. 4ª ed, Lisboa: 70 ltda, 1995
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
________. Vida para o Consumo: A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de
Janeiro: Zahar, 2008
BOURDIEU, Pierre. O desencantamento do mundo. São Paulo: Perspectiva, 1979
CAMPBELL, Colin. Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo
moderno. In: BARBOSA, Livia; CAMPBELL, Colin (org). Cultura, consumo e identidade.
Rio de Janeiro: FGV, 2006.
CONTE, Marta; OLIVEIRA, Carmen Silveira de; HENN, Ronaldo César; WOLFF, Maria
Palma. Consumismo, uso de drogas e criminalidade: riscos e responsabilidades. Revista
Psicologia: Ciência e Profissão, 01 March 2007, Vol.27(1),pp.94-105. Disponível em: http://
www.sci- elo.br/pdf/pcp/v27n1/v27n1a08.pdf>. Acesso em Dez. 2016.
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia do
consumo. 2ª Ed. Rio de Janeiro: editora da UFRJ, 2013
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo. Atlas, 2002.
GÜNTHER, H., Elali, G. & Pinheiro, J. Q. A abordagem multimétodos em Estudos Pessoa-
Ambiente:Características, definições e implicações. In: Série Textos de Psicologia Ambiental.
Universidade de Brasília 2004, nº 23 Instituto de Psicologia.

60 Ciências Ambientais na Amazônia


IBGE. Censo de 2010. Disponível em: www.censo2010.ibge.bov.br
KRUEGER, R. A. Focus groups: a practical guide for applied research. 2. ed. Thousand
Oaks: Sage,1994.
LIMA, Gustavo da Costa. O discurso da Sustentabilidade e suas implicações para a educação.
Ambiente & sociedade – vol. VI nº. 2 jul./dez. 2003. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/deds/arqs/gustlima_ambsoc.pdf>. Acesso em Jan. de 2016.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro. Sustentabilidade: o campo de disputa de nosso futuro
civilizacional. In: LÈNA, Philippe e NASCIMENTO, Elimar Pinheiro (Org.). Enfrentando os
limitesdo crescimento. Rio de Janeiro: Garamond, 2012
OLIVEIRA, Tânia Veludo de; MASCARENHAS, André Ofenhejm; TRONCHIN, Giulia
Rizatto; BAPTISTA, Rodrigo Martins. Consumo socialmente responsável no varejo da moda:
analisando a intenção dos consumidores de deixar de comprar de empresas denunciadas por
escravidão contemporânea. RGSA – Revista de Gestão Social e Ambiental. São Paulo, v. 8, n. 2,
p. 63-75, maio/ago.,2014. Disponível em <http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/
files/arquivos/tania_veludo_-_consumo_socialmente_responsavel_oliveira_mascarenhas_
tronchin_baptista_2014_consumo- socialmente-responsave_33645.pdf > Acesso: Jan. 2017.
PINTO, M. R.; BATINGA, G. L. O consumo consciente no contexto do consumismo
moderno:algumas reflexões. Revista Gestão. v. 14, n.1 Ed Especial, 2016. <http://
www.revista.ufpe.br/gestaoorg>
PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.
RIBEIRO, José Carlos; LEITE, Luciana; SOUSA, Samille. Notas sobre aspectos sociais
presentes no uso das tecnologias comunicacionais móveis contemporâneas. EDUFBA,
2009. ISBN 978-85-232-0565-2. Disponível em: < http://books.scielo.org/id/jc8w4/pdf/
nascimento-9788523208721-09.pdf> Acesso em Ago. 2016.
RUMMEL. Francis J. Introdução aos procedimentos de Pesquisa em educação. Editora
Globo: Rio de Janeiro, 1972.
TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões baseadas em
experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis Revista de Saúde Coletiva,
Rio deJaneiro, 19 [3]: 777-796, 2009.
UNICEF. Relatório Situação Mundial da Infância 2011 – Adolescência uma fase de oportunidades.
Disponível em <http://www.unicef.org/brazil/pt/br_sowcr11web.pdf>. Acesso em: Dez. 2016.
WHYTE, William Foote. Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e
degra-dada. Tradução de Maria Lucia de Oliveira. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005.

61 Ciências Ambientais na Amazônia


5.
CORREDOR ECOLÓGICO DO MINDU E SEU POTENCIAL PARA O
ENSINO DE CIÊNCIAS

Tânia Maria Cortêz de Medeiros1


Sandra de Oliveira Botelho2
Márcia Cristina Borges Barnabé3
Ciro Felix Oneti4
Augusto Fachín Terán5

RESUMO

O artigo relata os resultados de uma pesquisa realizada com os alunos do Mestrado


Acadêmico em Educação em Ciências na Amazônia, da Universidade do Estado do Amazonas,
proporcionada a partir de aulas teóricas, discussões e apresentações dos mestrandos durante
a disciplina Fundamentos em Ensino de Ciências, com o objetivo de descrever o potencial
pedagógico dos espaços não formais e não institucionalizados para o Ensino de Ciências. A
pesquisa ocorreu no no Corredor Ecológico do Mindu, situado no Conjunto Villar Câmara,
zona leste na cidade de Manaus (AM). A metodologia está centrada na pesquisa descritiva e
exploratória de abordagem qualitativa. Os resultados evidenciam que as práticas em espaços
não formais, enquanto estratégia pedagógica, podem auxiliar o professor no processo de ensino

1 Mestra do Programa em Educação e Ensino de Ciências, UEA. Manaus-AM. Professora e Pedagoga da


SEMED-AM. E-mail: taniamariacortez19@gmail.com
2 Mestra do Programa em Educação e Ensino de Ciências, UEA. Manaus-AM. E- mail: botsandra123@gmail.com
3 Mestra do Programa em Educação e Ensino de Ciências, UEA. Manaus-AM. E- mail: marciabarnabe@ig.com.br
4 Mestre do Programa em Educação e Ensino de Ciências, UEA. Manaus-AM. E- mail: ciro_felixx@hotmail.com
5 Professor Doutor do Curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de
Ciências na Amazônia, UEA. Manaus-AM. E-mail: fachinteran@yahoo.com.br

62 Ciências Ambientais na Amazônia


e aprendizagem voltado para o Ensino de Ciências, possibilitando, tanto ao docente quanto ao
discente, não só aprenderem e fazerem ciência ressignificando os conhecimentos existentes,
como também despertando o interesse e a curiosidade pelo objeto de estudo.

INTRODUÇÃO

Sair de um ambiente fechado e ir a campo pesquisar é uma oportunidade ímpar,pois,


proporciona aos estudantes experimentarem situações novas de aprendizagem, para além da
sala de aula e do livro didático. Nesse sentido, a utilização de espaços não formais constitui-
se em uma estratégia pedagógica relevante para que o aluno tenha uma aprendizagem
significativa e enriquecedora.
Nesta perspectiva, entendemos que a educação, conforme Gohn (1999) e Colley (2010),
é um processo de ensino e aprendizagem adquirida pelos indivíduos de diversas maneiras,
podendo ser dividida em três diferentes formas:
• Educação Escolar Formal, desenvolvida nas escolas;
• Educação Informal, transmitida pelos pais, no convívio com amigos,
como em clubes, teatros, leituras e outros, ou seja, aquela que decorre de processos
naturais e espontâneos;
• Educação Não Formal, quando existe a intenção de determinados sujeitos
em criar ou buscar determinados objetivos fora da instituição escolar.
Desse modo, a educação não formal, consoante os apontamentos de Gohn (1999), pode
ser definida como a que proporciona a aprendizagem de conteúdos da escolarização formal
em espaços não formais, como, por exemplo: museus, centros de ciências, ou qualquer outro
em que as atividades sejam desenvolvidas de forma direcionada e com um objetivo definido.
Dentre as três formas de educação, a preterida para a atividade foi a da Educação
Não Formal, mais especificamente os Espaços Não Formais e não institucionalizados, que
possibilitaram aos estudantes entrarem em contato direto com o objeto pesquisado.
Mediante o exposto, surgiu a seguinte problemática: Qual o potencial pedagógico dos
espaços não formais e não institucionalizados para o Ensino de Ciências?
Para o delineamento do percuros da pesquis, elaboramos o seguinte objetivo geral: Descrever
o potencial pedagógico dos espaços não formais e não institucionalizados para o Ensino de Ciências.
Os espaços não formais e não institucionalizados são espaços que apresentam muitas
possibilidades para o ensino; contudo, é necessário que o professor conheça os espaços de
sua comunidade para poder utilizá-los. A esse respeito, Queiroz et al (2011) ressaltam que a
atividade interativa e concreta ajudará o estudante a visualizar os conceitos estudados em sala
de aula, levando-o a uma postura participativa dentro de situações reais de sua comunidade.

63 Ciências Ambientais na Amazônia


O POTENCIAL DOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS PARA O ENSINO DE
CIÊNCIAS

De acordo com Biaconi e Caruso (2005), ensinar ciências vai muito além de fixar termos
científicos; é privilegiar situações de aprendizagem que possibilitem ao estudante a formação
de uma base cognitiva. Nesse cenário, a construção de novas propostas é tarefa árdua para os
profissionais da educação preocupados com a qualidade do ensino construído.
No Ensino de Ciências, os espaços não formais são ações educativas que auxiliam no
processo de aquisição do conhecimento; porquanto, facilitam o entendimento dos fatos e
fenômenos que se manifestam na natureza e no meio.
O termo “espaço não formal”, para Jacobucci (2008), é empregado atualmente por
pesquisadores em Educação, professores de diversas áreas do conhecimento e profissionais
que trabalham com divulgação científica, para descrever lugares diferentes da escola onde é
possível desenvolver atividades educativas.
Nesse contexto, a Educação Não-Formal, caracterizada por um conjunto de atividades educativas,
organizadas e executadas fora do marco do sistema oficial de ensino, possui grande relevância na
construção de conhecimentos científicos da população (BIANCONI; CARUSO, 2005).
Sendo assim, interpretamos que a Educação Não Formal favorece a aquisição de uma
bagagem cognitiva, estimulando a curiosidade porque visa atender as pessoas de todas as
idades, isto é, sem ater-se a uma sequência gradual e programas educacionais voltados à
formação de valores, trabalho e cidadania (BRASIL, 2001).
Nesta perspectiva, os espaços não formais são propícios para o trabalho da
Educação Ambiental, por possibilitar o contato do estudante com o contexto do objeto
de estudo. Em outras palavras, significa que sair do ambiente escolar proporciona
ao discente uma visão mais ampla do mundo ao seu redor, porém é fundamental a
mediação do professor nesse processo, para que essa saída não seja compreendida
como um passeio descompromissado.
Queiroz et al (2011, p. 18-19) esclarecem que a atividade pedagógica em espaços não
formais requer intencionalidade e planejamento “[...] principalmente, com a segurança dos
estudantes neste ambiente, para evitar imprevistos e saber quais os recursos ali existentes que
poderão ser utilizados durante a prática de campo com os estudantes”.

64 Ciências Ambientais na Amazônia


Com relação à questão ambiental, o Ministério da Educação e Cultura – MEC sinaliza que:

[...] é desejável a criação, por nós educadores, de um ambiente educativo que


propicie a oportunidade de conhecer, sentir, experimentar; ou seja, vivenciar aspectos
outros aos que predominam na constituição da atual realidade socioambiental. Isso
poderá potencializar uma prática diferenciada que, pelo incentivo à ação cidadã
em sua dimensão política, repercuta em novas práticas sociais voltadas para a
sustentabilidade socioambiental (BRASIL, p. 91, 2007).

A partir dessas observações, consideramos que práticas, como a do Corredor Ecológico


do Mindu, direcionam o estudante à construção de uma visão mais ampliada de mundo, onde
o conhecimento perpassa pelos sentidos e construção de significados relacionados às questões
ambientais, pois a teoria não está desvinculada da prática e nem da realidade. Em suma, é um
conhecimento contextualizado com seu cotidiano, porque refere-se ao aprender pelo fazer
ou aprender a fazer que se constitui em um dos quatro pilares da educação, conforme os
apontamentos de Morin (2011).
Como pontua Gonzaga (2013), nesse percurso demonstramos o que sabemos a partir
do que fazemos, de um lado. De outro, não importa apenas fazer. Acima de tudo, é importante
estar predisposto a aprender para fazer. Logo, é possível afirmar que: fazendo se aprende. O
autor ainda reforça-nos que:

Não resta dúvida de que este é um processo de aprendizagem que se consolida


nas relações interpessoais na escola, na vida, no mundo do trabalho, através
da flexibilização, que pode ser exercitada a partir da criação de alternativas de
sobrevivência, independentemente da idade, da vida escolar e da condição econômica
(GONZAGA, 2013, p. 139).

Diante dessa premissa, os espaços não formais propiciam esse aprender a fazer, uma
ação educativa que promove o aprendizado pela pesquisa. Surge, dessa maneira, uma nova
proposta para o ensino, através do contato com a natureza. Sabemos que esses momentos
formativos não podem ser realizados utilizando os recursos didáticos tradicionais. Eles, bem-
utilizados, potencializam o processo educativo (QUEIROZ et al., 2011).
A esse respeito, Rocha e Fachín-Terán (2010, p. 43) ressaltam que “a educação que
acontece nos espaços não formais compartilha muitos saberes com a escola, muitos dos
quais são construídos a partir das teorias elaboradas pelas ciências da educação”. Assim, os
espaços não formais e não institucionalizados são fontes de pesquisas por guardarem saberes
encharcados de realidade. Nessa visão, Chassot (2014, p.13-14) enfatiza como proposta
que “[...] o ensino seja séptico, isso é encharcado de realidade cotidiana na qual buscamos
conhecimento [...]”.

65 Ciências Ambientais na Amazônia


Em outros termos, ainda há muito a ser explorado nesses ambientes, sendo
responsabilidade do docente descobrir a melhor forma de aproveitá-los, pois, estes espaços
possuem relevância social e educacional fundamental para a construção de uma cultura
científica, além de potencial concreto para desenvolver, nos estudantes, o espírito científico e
o gosto pela pesquisa (QUEIROZ et al., 2011).
Colaborando com a discussão, Demo (2010) pontua que pesquisar implica ousar novas
fronteiras, as quais podem ser ultrapassadas quando o professor tira o estudante de sala de aula e
o leva para ambientes que irão proporcionar a pesquisa e construção de novos conhecimentos.
Nesse sentido, percebemos que tal raciocínio é semelhante ao de Queiroz et al. (2011), que
acrescentam que os espaços não formais e não institucionalizados se constituem em uma
ótima ferramenta para a construção de uma aprendizagem ecológica.

Diversos educadores, por desconhecerem as características dos espaços não formais


de sua comunidade, estado ou país, não utilizam totalmente o seu potencial educativo,
transformando esta prática educativa em passeio ou em recreação, deixando escapar
a oportunidade de se construir, a partir daquele instante vivenciado, uma educação
científica (QUEIROZ et al., 2011, p.12).

É preciso, no entanto, que haja interesse e conhecimento dos educadores para a


utilização de espaços da comunidade em que estão inseridos, a fim de aproveitarem de
forma eficiente e eficaz esses ambientes. Mesmo dentro de escolas existem esses locais, com,
por exemplo: a área verde, o pátio, a horta, entre outros. Às vezes, só é necessário treinar o
olhar para reconhecer o potencial educativo desses lugares.

METODOLOGIA

O cenário da pesquisa foi o Corredor Ecológico do Mindu, atividade proporcionada


na disciplina de “Fundamentos em Ensino de Ciências”, ministrada pelo professor doutor
Augusto Fachín Terán, no Mestrado Acadêmico em Educação em Ciências na Amazônia, da
Universidade do Estado do Amazonas. A aula foi realizada no dia 9 de março de 2018, no
Conjunto Villar Câmara, localizado na cidade de Manaus, no estado do Amazonas.
O Conceito de Corredor Ecológico Urbano nasceu pela necessidade de se conectar
fragmentos florestais urbanos (Áreas Verdes dos Conjuntos Residenciais, Áreas de Preservação
Permanente, Unidades de Conservação), possibilitando o fluxo gênico e o movimento da
biota entre essas áreas. Nestes espaços, só é permitida a realização de obras e infraestrutura
para implantação de áreas de lazer, compatíveis com a preservação ambiental, desde que
devidamente licenciados pelo órgão ambiental municipal (MANAUS, 2007).

66 Ciências Ambientais na Amazônia


Sendo assim, o local foi escolhido, primeiramente, porque apresentava maior segurança
para que a aula fosse realizada, pois, era um local conhecido pelo professor e utilizado em
outras ocasiões para as aulas do Ensino de Ciências; em segundo lugar, por ser um espaço
público que não requer ofício e nem autorização para se trabalhar nele; o terceiro fator
determinante foi o fato de o ambiente possuir inúmeros elementos que proporcionavam o
incentivo ao Ensino de Ciências, embora fosse um ambiente construído ou modificado; afinal,
ele apresentava os elementos naturais da floresta, tais como: plantas, animais, solo, água e ar.
Quanto à utilização dos espaços não formais e não institucionalizados, considerado o
que foi mencionado acima, entendemos a partir de Queiroz et al. (2011, p.18) que:

A utilização dos espaços não institucionalizados pode servir como alternativa quando
a saída para o espaço institucionalizado não é possível. É importante considerar que,
ao utilizar um espaço como este, o professor não terá a estrutura física de que dispõe
em um ambiente formal, tais como: segurança, banheiros, bebedouros, bancos, entre
outros. Neste sentido, cabe um planejamento criterioso em relação ao espaço escolhido
e, principalmente, que o professor conheça a área em questão para evitar imprevistos.

Participaram da aula o professor orientador, os vinte (20) mestrandos, os quais


foram divididos em grupos e por áreas para realizarem a limpeza da praça. Após essa
atividade, todos se reuniram novamente e fizeram uma caminhada de reconhecimento do
ambiente. A duração da aula foi de aproximadamente 4 horas, onde cada mestrando teve
a oportunidade de vivenciar uma significativa experiência de ensino e aprendizagem.
A metodologia utilizada na pesquisa foi de natureza descritiva e exploratória, uma vez
que esse tipo de estudo tem como objetivo descrever e explorar determinado tema, em busca
de maior aprofundamento para compreender causas e efeitos.
A esse respeito, Gil (2008) considera que a pesquisa exploratória tem como objetivo
principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação
de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Enquanto a
pesquisa descritiva, para o autor, tem como finalidade principal a descrição das características
de determinada população ou fenômeno, ou ainda o estabelecimento de relações entre variáveis.
A abordagem adotada na pesquisa foi a qualitativa, a qual Creswell (2010, p. 26) afirma
ser “um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos
atribuem a um problema social ou humano”, ou melhor, na visão de Prodanov e Freitas
(2013): a pesquisa qualitativa se desenvolve em um ambiente natural, sendo fonte direta para
interpretação de fenômenos e atribuição de significados.
Os instrumentos utilizados foram: roteiro de observação, luvas, sacos de lixo, lupa,
placas petri, celular para filmagens e fotos. Esses instrumentos foram essenciais para a
pesquisa, por permitirem a coleta de imagens, vídeos e a parte do material da pesquisa.

67 Ciências Ambientais na Amazônia


Para coleta de dados, utilizou-se a pesquisa de campo e a observação em equipe, que,
consoante Marconi e Lakatos (2011), é um tipo de observação realizada por várias pessoas
com o mesmo objetivo, pois a equipe ou o grupo observa o fato ou fenômeno de diversos
ângulos. Ademais, Cervo & Bervian (2002, p.27) complementam que “observar é aplicar
atentamente os sentidos físicos a um amplo objeto, para dele adquirir um conhecimento
claro e preciso”.
Na atividade prática em questão, a observação foi muito importante para a compreensão
da realidade, o que deu condições aos mestrandos de responderem ao roteirode observação
elaborado pelo professor.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A atividade prática aconteceu em uma praça pública do conjunto residencial Villar


Câmara, zona leste na cidade de Manaus (AM). O professor trabalhou com os mestrandos o
histórico da fundação do conjunto, que foi em meados dos anos 80, ainda quando a estrada do
bairro Aleixo (zona leste) não era asfaltada.

Figura 1 - Praça pública do Conjunto residencial Villar Câmara

Fonte: Pesquisadores a partir da coleta de dados (2018).

Posteriormente, o professor separou os mestrandos em grupos, dando-lhes nomesde


animais da região amazônica. Os materiais utilizados no desenvolvimento da atividade foram:
luvas, sacos de lixo e celular, para registrar a ação voltada para a questão da cidadania, ou
seja, juntar o lixo que estava jogado na praça e colocá-lo em sacos plásticos.
Após, foi feita a classificação dos lixos, anotando em um caderno de campo os tipos encontrados.
As anotações forneceram aportes para responder as primeiras questões do roteiro de observação
elaborado pelo professor, sobretudo ao que se refere à problemática do lixo e sua relação com a cidadania.

68 Ciências Ambientais na Amazônia


Como nos identificamos com nomes relacionados ao meio ambiente, o nosso coletivo
de alunos, de nome “Grupo anta”, ficou responsável pela limpeza da parte baixa da praça. Os
lixos encontrados com mais frequência foram: garrafas plásticas de Corote (Drink colorido
e doce feito à base de vodka e essência de frutas), copos, pratos, talheres de plásticos,
embalagem de colírio, embalagens de refrigerantes, dentre outros. A maioria do que foi
recolhido é reciclável, com exceção de uma garrafa de vidro.
Uma questão interessante que chamou a atenção dos grupos, nessa atividade, foi a
disponibilidade de alguns jovens que se encontravam nesse mesmo ambiente, os quais se
sensibilizaram ao presenciarem a Educação Ambiental e ajudaram a limpar a praça.
Ao refletir sobre tal particularidade, observamos nos apontamentos de Chassot:

O ensino das ciências precisa ajudar para que as transformações que se fazem
nesse mundo sejam para que um maior número de pessoas tenha uma vida mais
digna. Ainda há algo mais: não apenas entendermos as transformações que ocorrem
no planeta, mas colaborar – ou melhor: cuidar para que estas sejam para melhor
(CHASSOT, 2014, p. 17-18).

Naquele momento, ocorreu uma mudança de paradigmas, não só no ambiente que ficou
mais limpo, mas nas pessoas que estavam presentes no local. Presenciamos uma transformação de
atitude para melhor, embora tenha sido uma ação pequena, ocorreu uma modificação real. Houve
o exercício da cidadania, onde todos se uniram em prol de uma causa comum. Nesta acepção,
temos que formar cidadãos que não somente saibam ler melhor o mundo em que estão inseridos,
mas também tenham a capacidade de transformá-lo em um lugar melhor (CHASSOT, 2014).
Por conseguinte, após a ação de limpeza, os grupos se reuniram novamente em frente
à praça, onde o professor relatou sobre uma espécie invasora que se encontrava naquele
ambiente, chamada Caramujo Africano (Achatina Fulica). O primeiro questionamento
trabalhado com os mestrandos foi a respeito de como esse molusco chegou ao Brasil.

Figura 2- Caramujo africano encontrado na margem do igarapé do Mindu

Fonte: pesquisadores a partir da coleta de dados (2018)

69 Ciências Ambientais na Amazônia


O Caramujo Africano (Achatina Fulica) é uma espécie de molusco terrestre tropical,
originário do leste e nordeste da África. Foi mundialmente disseminado pela ação do
homem vinculada à gastronomia pela região da Tailândia, China, Austrália, Japão e,
atualmente, pelo continente americano. No Brasil, essa espécie foi introduzida a partir
de 1988, visando ao cultivo e à comercialização do escargot, um molusco servido em
restaurantes de vários países.
Os Caramujos Africanos adultos podem atingir uma massa de mais de 200g e chegar a
15cm de comprimento de concha, a qual é cônica, de cor marrom ou mosqueada de tons claros,
atingindo a maturidade sexual entre quatro e cinco meses. Esses caramujos são hermafroditas
e realizam até cinco posturas por ano, com 50 a 400 ovos por vez. São ativos no inverno,
resistem ao frio e à seca; geralmente, durante o dia ficam escondidos e à noite saem para se
reproduzir e se alimentar. Após as chuvas, a umidade é favorável a suareprodução e vivem até
aproximadamente 9 anos. São espécies herbívoras.
Características do Caramujo Africano:
a. Formato da Concha: Espiral cônica, alongada, sem lábio na abertura;
b. Cor da Concha: Marrom-escuro com listras esbranquiçadas;
c. Cor da parte Mole: Marrom-escura;
d. Tamanho dos ovos: Pequenos;
e. Comportamento: Costuma repousar em pontos altos, como muros e troncos
de árvores.
Os mestrandos tiveram acesso ao habitat dos Caramujos Africanos na margem do
Igarapé do Mindu, em uma área de mata dentro do Conjunto Villar Câmara, onde
foi possível visualizar os moluscos em seu habitat natural. Eles estavam situados em meio a
vegetação comprometida por entulhos de construção e lixo de toda espécie. Os tipos de lixos
despejados no Corredor Ecológico do Mindu eram os mais diversos, como, por exemplo:
madeiras, garrafas plásticas, sacos plásticos, um sofá, restos de telhas, folhagens em
decomposição e uma variedade expressiva de entulhos de construção.
Os tipos de lixos que mais poluem o meio ambiente são os plásticos e entulhos de construção,
porque para eles se degradarem na natureza leva muito anos, como mostra a tabela abaixo:

70 Ciências Ambientais na Amazônia


Tabela 1- Tempo de decomposição de materiais na natureza

Fonte: Consumo Sustentável: manual de educação/ Brasil (2005)

Conforme observado na tabela, os materiais que levam mais tempo para se decomporem
são: metal, alumínio, plástico, vidro e a borracha. O plástico está no rankinmg dos que mais
matam, pois, a maioria dos animais aquáticos morrem em decorrência da ingestão de plástico
ou porque ficam presos nesses materiais. Além disso, alguns materiais possuem substâncias
toxicas que poluem e matam diversas espécies.
Em meio a toda essa sujeira, estava o caramujo africano nas formas jovem e adulta.
Mediante isso, foi possível avaliar melhor suas características físicas, que são: o formato da
concha em espiral cônica, alongada, sem lábio na abertura, a cor marrom-escura com listras
esbranquiçadas, e a cor da parte mole marrom-escura.
Quanto à locomoção, o caramujo africano rasteja, liberando um muco contaminado, que
pode infectar os humanos por meio de legumes, frutas e verduras mal lavados. Os caramujos
pequenos aprendem a andar naturalmente, vão andando por imitação.
Foi constatado que, após a morte, a concha fica, geralmente, virada para cima, o que
facilita a entrada de água da chuva servindo de criadouro para o Aedes aegypti e outros
mosquitos (COELHO, 2005).
Uma outra observação que nos chamou a atenção é que na boca do caramujo africano
existe uma estrutura chamada rádula, semelhante a uma língua com inúmeros dentículos de
quitina, que, segundo Barreto (2017, p. 290), “é uma glicoproteína que forma uma cutícula
rígida e protetora” que raspa as superfícies, retirando o alimento. Sua boca, conforme foi
observado, é pequena, porém elástica. Ele se alimenta de tudo, de frutas, verduras, hortaliças,
papelão, plástico, tinta de parede, como também de seus próprios ovos; além de fezes de
animais, como a do rato. Inclusive, ele pratica canibalismo contra indivíduos jovens de sua
própria espécie, pois precisa de muito cálcio por causa da concha que carrega.
É considerada uma das cem piores espécies invasoras do mundo, provocando sérios
danos ambientais, podendo causar desequilíbrios ecológicos, econômicos e trazer riscos para

71 Ciências Ambientais na Amazônia


a saúde pública. Esse animal também pode transmitir doenças como a Meningite Eosinofílica
e Angiostrongilíase Abdominal.
Por ser uma ameaça à saúde pública, torna-se importante que nas escolas seja ensinado
sobre ele. Para tal, é necessário primeiro partir dos conhecimentos prévios dos alunos, porque
quando eles andam pelas ruas, têm a oportunidade de entrarem em contato com o animal.
Mediante o diagnóstico, uma boa alternativa seria socializar documentários sobre essa
espécie de molusco, como também fazer peças teatrais sobre o caramujo africano, bem como levar
as conchas de diversos tamanhos para que os alunos saibam quais são as suas características, ou
ainda trabalhar com recorte e colagem, desenhos e pinturas. Em suma, um passeio no pátio e nos
arredores da escola com o intuito de conhecê-lo e identificá-lo.
Levando em conta a grande proliferação do molusco no Brasil, sua erradicação
torna-se quase impossível, no entanto o controle local continua possível, embora sejam
necessários enormes custos financeiros, bem como mão de obra especializada para combatê-
lo. (COLLEY, 2010).
Prosseguindo a exploração do ambiente, chegamos a uma área do conjunto onde a
vegetação era mais abundante, percebendo, então, a exuberância da natureza e suas nuances,
utilizando-se do silêncio para escutar os sons da natureza, sendo possível ouvir os pássaros,
grilos, cigarras, sapos, dentre outros.
Os grupos continuaram caminhando e se depararam com uma nascente, que mais
parecia com um esgoto a céu aberto por estar bastante contaminada e suja de lixo, tanto no
seu entorno quanto dentro dela.

Figura 3 - Nascente do Corredor do Mindu

Fonte: pesquisadores a partir da coleta de dados (2018)

Seguindo o trajeto, foi encontrada uma planta chamada sensitiva, que, ao ser tocada,
fechava-se, o que se revelou como uma nova descoberta, pois a maioria dos discentes não

72 Ciências Ambientais na Amazônia


conhecia essa espécie. Uma das mestrandas caminhou em meio a vegetação e voltou cheia de
carrapicho, tornando-se uma disseminadora de sementes, levando-as daquele ambiente para
outro, como fazem os animais e o vento.
Mais adiante, encontraram uma lagarta que estava no meio da rua e a colocaram numa
placa petri para observar melhor sua anatomia. Para finalizar, seguiram rumo a outra praça,
onde se encontrava uma igreja, ocasião em que identificaram a sumaúma, maior árvore da
Amazônia e uma das maiores do mundo.
Diante do exposto, o “grupo anta” buscou responder às questões sobre o que é um
Corredor Ecológico e quais são seus objetivos. Nesse sentido, compreendemos que o corredor
ecológico ou corredor de biodiversidade são áreas que unem os fragmentos florestais ou
unidades de conservação separadas por interferência humana, como, por exemplo: estradas,
agricultura e atividade madeireira. Esses corredores permitem o livre deslocamento de
animais, a dispersão de sementes, o aumento da cobertura vegetal e ainda reduzem os efeitos
da fragmentação dos ecossistemas ao promoverem a ligação entre diferentes áreas, permitindo
o fluxo entre as espécies da fauna e flora de uma determinada região.
Outra questão abordada: o conhecimento adquirido foi significativo, mecânico
ou meramente decorativo? O conhecimento adquirido foi extremamente significativo,
considerando que o grupo já possuía conhecimentos prévios sobre os assuntos apresentados,
o que ajudou na compreensão de algo novo, mas não de forma mecânica, por se tratar de
um conhecimento contextualizado, que partiu da realidade in loco. Dessa forma, mesclou-
se o conhecimento existente com o adquirido, possibilitando um novo conhecimento, e,
consequentemente, uma aprendizagem mais significativa.
Para Moreira e Caballero (1997), a aprendizagem significativa é o processo através do
qual uma nova informação (um novo conhecimento) se relaciona de maneira não arbitrária e
substantiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz.
A esse respeito, Ausubel (1963) salienta que a aprendizagem significativa é um
mecanismo humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e
informações representadas em qualquer campo do conhecimento.
Outra pergunta suscitada, após essa experiência, foi: Quais as vantagens que um
professor poderia encontrar ao usar um ambiente como o Corredor Ecológico Urbano do
Mindu para o Ensino de Ciências?
O “grupo anta” concluiu que são inúmeras as vantagens, com, por exemplo: ao sair de sala
de aula, o professor proporciona ao aluno um universo de possibilidades para seu desenvolvimento,
porque o aproxima da realidade e das questões pertinentes ao seu cotidiano, fazendo com que saia
da sua zona de conforto e adentre ao mundo da pesquisa; afinal, educa-se pela pesquisa e possibilita-
se assim que ele seja o autor de seu próprio conhecimento; porquanto, o aluno entenderá a utilidade
do conhecimento para sua vida e esse conhecimento vai fazer sentido para ele.

73 Ciências Ambientais na Amazônia


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das observações realizadas, compreendemos que a educação não-formal e a


formal devem ser complementares na aprendizagem, para que o indivíduo se desenvolva
plenamente. Nesse sentido, aulas em espaços não formais podem servir como um instrumento
para potencializar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos no Ensino de Ciências,
ampliando sua visão de mundo e suas experiências sensoriais e cognitivas, além de possibilita-
lhes o uso de ferramentas pedagógicas que faclilitam a compreensão do aluno sobre os fatos
e os fenômenos físicos, químicos, biológicos e suas interrelações com o meio ambiente, para
que o aluno possa desenvolver suas estruturas cognitivas.
Concernente ao espaço e à técnica, ponderamos que o espaço em que acontece a educação
não-formal oportuniza a inserção do indivíduo na sociedade, fomenta sua consciência crítica e
política, além de viabilizar uma visão ampliada da comunidade que ele ajuda a criar e possui
a oportunidade de modificá-la.
Em outras palavras, esse interesse em descobrir, interagir e, finalmente, mudar o meio
em que vive, representa uma relação materializada pela técnica, via pela qual o ser humano
transforma sua relação com o ambiente e atende as suas necessidades proeminentes.
Um outro aspecto a ser considerado é a contextualização do conhecimento, porque
entendemos que os espaços não formais possibilitam, com propriedade, aproximam o aluno
da realidade. É necessário, no entanto, que ações sejam implementadas de forma a contribuir
para a produção de conhecimentos relevantes. Foi o que percebemos na atividade do Corredor
Ecológico do Mindu, com a contextualização e a valorização dos conhecimentos prévios que
geraram uma aprendizagem significativa.
Se os espaços não formais são utilizados corretamente, auxiliam docentes e discentes a
visualizarem a real necessidade e relevância de se trabalhar os conteúdos científicos atrelados à
realidade, além de possibilitar as trocas de experiências interdisciplinares que contribuem para a
resolução de problemas. Essa forma de aprender e ensinar propicia aos estudantes a expressão de
sentimentos, ideias, crenças, valores e a possibilidade da construção de seu próprio conhecimento.
Como construtor de seu próprio conhecimento, o educando encontra na educação não-
formal um ambiente que não se limita à fixação de tempos e espaços, tendo, nestes locais, restrições
mínimas e a autonomia necessária para a manifestação da capacidade de produção de seu próprio
conhecimento. Sem o excesso de formalidades, a educação não-formal, porque viabiliza um caráter
mais criativo e inovador do sujeito, proporcionado-o a possibilidade de compreensão de si mesmo
e a promoção de uma leitura mais fidedigna da realidade que o circunda.
Os nossos resultados evidenciaram que as aulas, em espaços não formais e não
institucionalizados, são estratégias metodológicas viáveis para se trabalhar o Ensino de
Ciências, possibilitando. Desta forma, uma aprendizagem significativa.

74 Ciências Ambientais na Amazônia


Trazemos como caráter inovador desta pesquisa, a possibilidade da educação não
formal atua em diferentes campos, como na construção da consciência humanitária, ecológica,
socioafetiva e cognitiva, de um lado. De outro, é interessante considerar que a intensidade no
processo de marginalização social também contribui para o crescimento do campo da espaços
não formal, ou seja, por delegar a sociedade civil, o que antes era responsabilidade do Estado:
as ações no setor social.
Destarte, acreditamos que este trabalho pode contribuir para discussões e reflexões sobre
o processo de ensino-aprendizagem e para a formação das competências do professor para atuar
no Ensino de Ciências. Entendemos que esta pesquisa não se esgota aqui, mas a deixamos em
aberto para futuros debates e contribuições.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. P. The psychology of meaningful verbal learning. New York; Grune and
Stratton, 1963.
BARRETO, F. C. Biocionário: a compreensão de cada termo da Biologia desde a origem
etimológica até sua função biológica. 1. ed. São Paulo: CDA Editora, 2017.
BIANCONI, M. L.; CARUSO. F. Educação Não-formal. Cienc. Cult. vol.57 n.4. São Paulo:
Oct./Dec. 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio.
Secretária da Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC, 2001.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consumo Sustentável: manual de educação. Brasília:
Consumers International/MEC/ IDEC, 2005.
BRASIL. Educação ambiental crítica: contribuições e desafios. In: MELLO, S.S.,
TRAJBER, R. (Coord.). Vamos Cuidar do Brasil: conceitos e práticas em Educação Ambiental
na escola. Brasília: Ministério da Educação / Ministério do Meio Ambiente / UNESCO, 2007.
CHASSOT, Á. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 6. ed. Ijuí:
Unijuí, 2014.
COELHO, L. M. Informe técnico para o controle do caramujo africano (Achatina fulica,
Bowdch 1822 em Goiás, Goiânia: Agência Rural, 2005.
COLLEY, E. Medidas de controle do Achatina fulica. p. 203-228. In: FISCHER, M. L.;
COSTA, L. C. M. O Caramujo Gigante Africano A. Fulica no Brasil. Curitiba: Champagnat
– PUCPR, 2010. 226 p. (Coleção Meio Ambiente, v.1).
CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed.

75 Ciências Ambientais na Amazônia


Porto Alegre: Artmed, 2010.
DEMO, P. Educação e alfabetização científica. Campinas: Papirus, 2010. GIL, A. C. Como
elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GOHN, M. G. Educação não-formal e cultura política: Impactos sobre o associativismo do
terceiro setor. São Paulo, Cortez. 1999.
GONZAGA, A. M. Reflexões sobre o ensino de ciências.1. ed. Curitiba, PR: CRV, 2013.
JACOBUCCI, D. F. C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação
da cultura científica. Em extensão, Uberlândia, V. 7, 2008. Disponível em: http://www.seer.
ufu.br/index.php/revextensao/article/view. Acesso em: 26 abr. 2018.
LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 7ª ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
MANAUS (Amazonas). Decreto nº 9.329, de 26 de outubro de 2007. [Cria o Corredor Ecológico
Urbano do Igarapé do Mindu, para fins de proteção ambiental e dá outras providências]. Diário
oficial [do] município de Manaus nº 1832, Amazonas, 30 out. 2007.
MOREIRA, M. A.; CABALLERO, M. C.; Rodríguez, M. L. (org.). Actas del Encuentro
Internacional sobre el Aprendizaje Significativo. Burgos, Espanha, 1997.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários a educação do futuro. Brasília: Cortez, 2011.
PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas
da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2. ed. Universidade Feevale – Novo Hamburgo, Rio
Grande do Sul, 2013.
QUEIROZ, R. M.; TEIXEIRA, H. B.; VELOSO, A. S.; FACHÍN-TERÁN, A.; QUEIROZ,
A. G. A. Caracterização dos espaços não formais de educação científica para o ensino de
ciências. Revista Areté, v. 4, n. 7, p.12-23, 2011. Disponível em: http://www.nutes.ufrj.br/
abrapec/viiienpec/resumos/R1579-2.pdf. Acesso em: 18 abr. 2018.
ROCHA, S. C. B.; FACHÍN-TERÁN, Augusto. O uso de espaços não formais como estratégia
para o ensino de ciências. Manaus: UEA/Escola Normal Superior/PPGEECA, 2010.

76 Ciências Ambientais na Amazônia


6.
APLICAÇÕES DA CULTURA DE TECIDOS
VEGETAIS EM PLANTAS MEDICINAIS DA AMAZÔNIA:
UMA REVISÃO

Milena Áurea Santana dos Santos1


Carolina Costa Araújo2
Fabrizia Sayuri Otani3
Elaine Cristina Pacheco de Oliveira4
Élcio Meira da Fonseca Júnior5

INTRODUÇÃO

Desde o surgimento da humanidade, os produtos naturais, predominantemente da flora, são


utilizados tanto para fins medicinais, quanto para tratamento e prevenção de doenças (BRAGA;
SILVA, 2021). Desta forma, Planta medicinal pode ser conceituada como toda planta que exerça
alguma função terapêutica ao ser administrada ao homem ou animal (LOPES et al., 2005), sem
a utilização de princípios ativos isolados (SCHENKEL et al., 2000). Ao ser empregada, pode
auxiliar o organismo a regularizar suas funções fisiológicas, como restabelecer o sistema imune,
promover a desintoxicação e o rejuvenescimento (FRANÇA et al., 2008). Essas plantas são fontes
ricas em metabólitos especializados e altamente diversificados, com importantes propriedades
que têm cooperado para descobertas de novas estratégias terapêuticas (RAI et al., 2017).

1 Bacharel em Biotecnologia, UFOPA. CV: http://lattes.cnpq.br/9304468740550494


2 Graduanda em Biotecnologia, UFOPA. CV: http://lattes.cnpq.br/8718648499457837
3 Doutora em Aquicultura, UNESP. Professora adjunta da UFOPA. CV: http://lattes.cnpq.br/3506071373362378
4 Doutora em Ciências Agrárias (Biotecnologia Vegetal), UFRA. Professora associada da UFOPA. CV: http://
lattes.cnpq.br/6599499911706902
5 Doutor em Ciências Agrárias (Fisiologia Vegetal), UFV. Professor adjunto da UFOPA. CV: http://lattes.
cnpq.br/3506071373362378 E-mail: meirafonseca@yahoo.com.br

77 Ciências Ambientais na Amazônia


O uso das plantas medicinais para propósitos farmacêuticos, no entanto, pode ser comprometido
por alguns fatores, como a heterogeneidade dos indivíduos, as variabilidades genética e bioquímica
(VERMA; SHUKLA, 2015), dificuldade de propagação vegetal (PEREIRA, 2007) e influência
de fatores ambientais (VERMA; SHUKLA, 2015). Ademais, as plantas que produzem compostos
bioativos são frequentemente obtidas a partir de coleta predatória e indiscriminada no ambiente
natural (VILLAREAL et al., 1997), sendo apenas uma pequena parte proveniente da biomassa
de plantas cultivadas (MORAES et al., 2021). Plantas silvestres representam a maior oferta de
produtos terapêuticos e tais práticas podem ameaçar a diversidade de espécies, torná-las vulneráveis
à extinção, bem como afetar a qualidade e segurança de produtos finais (MORAES et al., 2021).
Como alternativa para solucionar os problemas elencados anteriormente, destaca-
se a cultura de tecidos vegetais que consiste em cultivar in vitro, células, tecidos e órgãos
vegetais, a partir de um segmento do vegetal, denominado explante, em condições assépticas,
nutricionais e ambientais controladas (HUSSAIN et al., 2012). Essa técnica tem auxiliado na
propagação clonal de diversos genótipos de plantas medicinais, pois permite a obtenção de
novas fontes de variabilidade por meio do cultivo de calos e células, na engenharia genética
e na otimização da produção de metabólitos secundários (BOTTA et al., 2001; RAO;
RAVISHANKAR, 2002; ARIKAT et al., 2004).
Quanto à produção de metabólitos secundários in vitro, apresenta uma série de vantagens
em relação à utilização de matérias primas de plantas silvestres ou cultivadas, seja pela redução
de tempo, qualidade, quantidade de material vegetal a ser extraído, padronização, o que tem
beneficiado as indústrias farmacêuticas e de produtos naturais (SOUZA et al., 2018).
Apesar de o Brasil ser considerado o país que detém a maior biodiversidade do planeta,
abrigando inúmeras plantas possuidoras de propriedades medicinais, muitos princípios ativos ainda
não foram identificados (LEWINSOHN; PRADO, 2002). Ainda que a região Amazônica apresente
inúmeras espécies de grande importância medicinal, pode-se inferir que os resultados de pesquisas
nesta área ainda são incipientes. Além disso, com o objetivo de fornecer material para indústrias
farmacêuticas, inúmeras dessas plantas são coletadas de forma extrativista (MORAES et al., 2021).
Devido isso, crescem o desmatamento e a retirada de madeira, fatores que causam, a cada ano, a
extinção de muitas espécies, inclusive as não estudadas quanto ao seu potencial industrial.
Torna-se evidente, portanto, que a cultura de tecidos pode ser uma técnica que auxilia
a conservação e o aproveitamento industrial de plantas medicinais. Logo, o objetivo do
presente estudo foi realizar um levantamento bibliográfico sobre uso da cultura de tecidos
vegetais, comoferramenta para conservação e utilização de plantas medicinais de ocorrência
na Amazônia.
No que tange à metodologia, a base de dados utilizada na busca por trabalhos foram
Google Scholar, Scielo, Science Direct, Pubmed, Web of Knowledge e Periódicos da
CAPES. Para tanto, foram utilizadas palavras-chave pela combinação de plantas medicinais

78 Ciências Ambientais na Amazônia


da Amazônia e: cultura de tecidos; calos; suspensões; germinação in vitro; embriogênese
somática;embriogênese zigótica; sementes sintéticas. A bibliografia encontrada foi publicada
entre os anos de 2002 a 2019, constituída por artigos de revisão de literatura e pesquisa
científica, resumos, monografias, dissertações e teses.
A maior amplitude na revisão de literatura foi dada para possibilitar melhor compreensão
e comparação do uso das técnicas de cultura de tecidos em plantas medicinais de ocorrência
na Amazônia. Abaixo, descrevemos as principais técnicas de cultura de tecidos aplicadas.

MICROPROPAGAÇÃO

A micropropagação consiste na propagação clonal de um genótipo selecionado em massa,


permitindo a rápida produção de plantas em larga escala e espaço reduzido (GUERRA; NODARI,
2006). Representa uma das áreas mais atuantes da cultura de tecidos, devido sua eficácia e
validação em resposta aos métodos aplicados (ERIG, 2005). Esta ferramenta biotecnológica
apresenta diversas vantagens como a obtenção de vários espécimes por meio de um único
explante; produção de mudas durante o ano todo, evitando os limites da sazonalidade; tempo
reduzido na produção; possibilita a obtenção de plantas em boas condições fitossanitárias,
indexadas e de alto padrão, além de elevado potencial produtivo para as culturas em escala
comercial (SINGH; SINGH, 2021).
O sucesso na assepsia e estabelecimento dos explantes in vitro, é um dos principais fatores
que garantem o sucesso da técnica de micropropagação. Pela literatura consultada, muitos
estudos com micropropagação de plantas medicinais na Amazônia ainda se concentram nesta
fase e muitas vezes desconsideram a importância de realizar o pré-tratamento da planta matriz.
Araújo et al. (2010) no estabelecimento de segmentos nodais de camu-camu (Myrciaria dubia
(H. B. K), com diferentes concentrações de hipoclorito de sódio (0,5; 1,0; 1,5 ou 2,0% do
princípio ativo) e tempos de imersão (5, 10, 15 ou 20 min), verificaram que a menor concentração
testada, ou seja, 0,5% de hipoclorito de sódio por 10 min foi a mais eficiente.
Alves et al. (2018) também realizaram assepsia de sementes e segmentos nodais de
pedra-hume-caá (Eugenia punicifolia (Kunth) D.C.) (Tabela 1), verificando que a imersão
em solução de derosal 1% por 1 h, álcool 70% por 1 min e solução de 1% de hipoclorito
de sódio por 30 min foram as mais eficientes. Para a andiroba (Carapa guianensis Aublet)
(Tabela 1), Brandão (2011) verificou que o tratamento com 5 mL/L do fungicida derosal
por 24h e 500 mg/L de ampicilina possibilitou o estabelecimento satisfatório dos explantes
desta espécie. Outros trabalhos para estabelecimento in vitro foram realizados para o
camu-camu (Myrciaria (H.B.K) Mc vaugh) (KIKUCHI et al., 2000), jaborandi (Pilocarpus
microphyllus Stapf) (SABÁ et al., 2002) e guaraná (Paullinia cutana (Mart.) Ducke
(BARBOSA; MORAES, 2004).

79 Ciências Ambientais na Amazônia


A respeito de trabalhos que obtiveram resultados satisfatórios em outras etapas da
micropropagação e não apenas fase de estabelecimento da cultura asséptica, Silva et al.
(2018) utilizando segmentos nodais de Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes (Tabela 1),
conhecida popularmente como ipeca, obtiveram sucesso na micropropagação, utilizando
meio MS suplementado AIA, após 60 dias, com posterior aclimatização. Abreu et al. (2003)
utilizando segmentos nodais de Cissus sicyoides L. (Tabela 1) obtiveram maior sucesso no
estabelecimento e multiplicação em meio MS suplementado com cinetina e ANA, com maior
indução de gemas, crescimento em altura e ausência de calos na base dos propágulos.
Para o jambu (Acmella oleracea (L.) R. K. Jansen) (Tabela 1), Malosso (2007) no
estabelecimento in vitro, utilizou segmentos nodais (± 1cm), com 32% de regeneração e
sem contaminação com hipoclorito de cálcio 0,25% (v/v), sendo os propágulos utilizados
na fase de multiplicação. Para multiplicação, o meio MS acrescido de 0,1 mg/L de cinetina
resultou em 100% de explantes com brotações e as gemas da região central da haste foram as
mais indicadas, com maior porcentagem de explantes com brotações (86,67%) (MALOSSO,
2007). Calderaro (2008), por outro lado, na fase de multiplicação para essa espécie, utilizou
AIA (0,5 a 1 mg/L1) associada a baixas concentrações de BAP (0,5 e 1,5 mg/L-1) as quais
resultaram em maior desenvolvimento dos propágulos.
Malosso (2007) e Calderaro (2008) verificaram enraizamento ainda na etapa de
multiplicação, sem necessidade de transferência para meio, contendo reguladores de
crescimento. Para aclimatização em casa de vegetação, Malosso (2007) verificou melhor
resposta para o substrato Plantmax, sendo a sobrevivência superior (71,81%) quando
comparado com terra (62,50%) e areia (56,25%), após 75 dias. Já Calderaro (2008) não
observou diferença estatística significativa entre os substratos Plantmax (58%), vermiculita
(69%) e serragem (64%) quanto à sobrevivência na etapa de aclimatização. Outra espécie com
protocolo de micropropagação avançado é a Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz
(Tabela 1), conhecida na Amazônia como jucá e em outras regiões do Brasil como pau-ferro
ou pau-ferro verdadeiro (SANTOS et al., 2018). Silva (2015), utilizando segmentos nodais
provenientes de plântulas germinadas in vitro, multiplicaram esse material eficientemente
com 0,1 mg/L de BAP e os brotos, com parte aérea de 7cm de altura, transferidos para
aclimatização direta sem enraizamento, sendo a terra o substrato mais indicado.
Para Uncaria tomentosa e Uncaria guianensis, Rubiaceae, popularmente conhecidas por
unha-de-gato, Raposo e Teixeira (2011) recomendam utilizar segmentos nodais provenientes de
plântulas germinadas in vitro, com aproximadamente 2 cm, contendo pelo menos duas gemas
axilares na fase de multiplicação sem uso de reguladores. Em seguida, enraizar em meio MS/4
e WPM (Wood Plant Medium, elaborado por Lloyd; McCown, 1981), respectivamente, para U.
tomentosa e U. Guianensis sem adição de reguladores de crescimento. Pereira (2004), por outro
lado, utilizou segmentos nodais de mudas de U. tomentosa cultivadas em casa de vegetação

80 Ciências Ambientais na Amazônia


para estabelecimento in vitro verificando que o meio WPM suplementado com 1,0 mg/L
de BAP resultou em maior número de brotações. Ao contrário de Raposo e Teixeira (2011),
que sugerem efeitos tóxicos de citocininas na fase de multiplicação para essas duas espécies,
Pereira (2004) destaca que BAP é componente fundamental do meio de multiplicação. Estes
resultados contraditórios podem ser devidos concentrações ou tipo de citocinina utilizada, no
entanto, Raposo e Teixeira (2011) não forneceram essas informações na circular técnica. Sobre a
aclimatização, descrita apenas por Raposo; Teixeira (2011), sugerem mistura substrato comercial
e vermiculita em recipientes plásticos em câmara incubadora do tipo B.O.D, por 60 dias, com
posterior transferência para tubetes em casa de vegetação, por 90 dias e, então, levar à campo.
Outra planta medicinal importante é a sacaca (Croton cajucara Benth.) (Tabela 1),
espécie produtora do linalol, composto aromático com potencial econômico de interesse para
as indústrias de perfumaria, cosméticos e de produtos de limpeza. A sacaca, por também
produzir o linalol, é apontada como potencial substituta do pau-rosa (Aniba roseodora),
espécie ameaçada de extinção (SILVA et al., 2015). Para o estabelecimento in vitro desta
espécie, Silva et al. (2015) utilizaram brotações apicais (microestacas com gema única)
provenientes de indivíduos coletados no campo. Verificou-se que 1,8 mg/L-1 de BAP em meio
MS (MURASHIGE; SKOOG, 1962), promoveu 58,9% das microestacas com brotações,
após 30 dias de cultivo. Além disso, Silva et al. (2015) também relataram que a adição
de 3,0 mg/L-1 de BAP e 0,5 mg/L-1 de GA3 no meio de cultura promoveu melhorias na
multiplicação in vitro desta espécie.
Há ainda estudos descritos na literatura comparando meios de cultivo. Para testar o
efeito dos meios de cultivo MS e WPM no estabelecimento in vitro de explantes de cedro-
branco (Quassia amara) planta com uso medicinal (Tabela 1), Silva (2015) utilizou plântulas
de sementes germinadas in vitro. O meio MS apresentou maior altura dos brotos, maiores
taxas de multiplicação, enraizamento e de calogênese diferindo significativamente do meio
WPM. Mas, não apresentaram diferenças significativas para o número de brotos e número de
segmentos nodais por broto.
De modo geral, verificou-se que os estudos com micropropagação de plantas medicinais
de ocorrência na Amazônia ainda se concentram na etapa de estabelecimento da cultura
asséptica. A maioria, utilizando explantes de plantas estabelecidas in vitro a partir de sementes
e não explantes retirados diretamente de uma planta matriz cultivada em boas condições
fitossanitárias. Os estudos de micropropagação com plantas medicinais da Amazônia são ainda
incipientes e poucos trabalhos descritos com todas as etapas da micropropagação realizadas.
No caso de plantas medicinais, a micropropagação é uma das técnicas da cultura de
tecidos mais empregadas (MORAIS et al., 2012). No levantamento bibliográfico realizado
neste estudo também foi a técnica mais empregada (Tabela 1).

81 Ciências Ambientais na Amazônia


CULTURA DE EMBRIÕES ZIGÓTICOS

A cultura de embriões zigóticos apresenta inúmeras aplicações, dentre as quais a


recuperação de híbridos raros, testar a viabilidade de sementes, obter variedades para serem
exploradas a curto prazo e obtenção de material como fonte de explantes (HU; FERREIRA,
1998). Neste último caso, os embriões são considerados fontes de explantes que apresentam
baixos índices de contaminação (HU; FERREIRA, 1998). Também apresenta importância em
estudos com espécies ameaçadas de extinção, pois possibilita a criopreservação e posterior
resgate como alternativa de manter a ampla variedade genética.
O pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke) além de apresentar propriedades medicinais
(Tabela 1) é mais conhecido como fonte do linalol, oléo essencial de importância industrial.
Sobre a germinação de embriões desta espécie in vitro, Handa et al. (2005) verificaram que
o hipoclorito de sódio (50% e 2% de cloro ativo) por 10 min não foi eficiente na assepsia,
apresentando contaminação por fungos (19%) e bactérias (3%). Para o murici (Byrsonima
cydoniifolia A. Juss.) (Tabela 1), Martendal et al. (2013) obtiveram boa assepsia com álcool
70%, 1 min, e 25 minutos em hipoclorito de sódio (2,5%), por 25 min. A maior porcentagem
de germinação (95%) foi obtida no controle constituído de água e ágar com redução desta
porcentagem nos tratamentos constituídos de meio MS, WPM em combinação com diferentes
concentrações de sacarose. Para o desenvolvimento das plântulas germinadas, após excisão
da raiz, os melhores resultados foram obtidos para meio WPM nas concentrações de 25% e
50%, com média de comprimento da parte aérea de 2,95 cm e 3,50 cm, respectivamente.

EMBRIOGÊNESE SOMÁTICA

Embriogênese somática é o processo pelo qual, através da técnica de cultivo in vitro,


células isoladas ou um pequeno grupo de células somáticas dão origem a embriões somáticos,
sem ocorrer fecundação, assemelhando-se à sequência de eventos representativos da
embriogênese zigótica (HORSTMAN et al., 2017). Esta técnica destaca-se como importante
via para a regeneração de plantas e oferece vantagens sobre o melhoramento convencional. A
embriogênese somática pode disponibilizar linhagens de células para a Engenharia Genética,
produção em larga escala de plantas geneticamente idênticas, homogeneidade, estudos
básicos funcional e molecular, produção de sementes sintéticas e a conservação de recursos
genéticos, através da criopreservação (PINTO et al. 2010; XU; HUANG et al., 2014).
Faria et al. (2016), utilizando embriões zigóticos de maracujá (Passiflora cristalina
Vanderplank e Zappi), induziram células potencialmente embriogênicas em meio MS em todas
as nove concentrações de 2,4-D utilizadas, de 9,04 µM a 45,24 µM, combinadas com 4,43
μM de BAP, após 20 dias de cultivo. Aos 60 dias de cultivo na ausência de reguladores de

82 Ciências Ambientais na Amazônia


crescimento, embriões somáticos cotiledonares diferenciaram-se nas concentrações de 27,14
μM de 2,4-D combinado a 4,43 μM de BAP com uma média de 51,66 embriões. A combinação
desses reguladores, em particular, para as Passifloráceas atua de forma sinérgica na indução e
na desdiferenciação da embriogênese somática (Rosa et al., 2015). Para unha-de-gato (Uncaria
tomentosa), Maciel et al. (2009) utilizando 2,4-D e TDZ nas concentrações de 2,5, 5,0 e 10 µM
em meio ½ MS, com ápice caulinar como fonte de explantes, obtiveram calos embriogênicos
somente para TDZ, em todas as concentrações.
Pela literatura consultada foram encontrados somente esses dois trabalhos com
embriogênese somática utilizando plantas medicinais de ocorrência na Amazônia.

CULTURA DE CALOS, SUSPENSÕES E BIORREATORES NA PRODUÇÃO DE


METABÓLITOS SECUNDÁRIOS IN VITRO

Para a produção de metabólicos secundários in vitro é de grande importância à formação


de calos, que consistem em massas celulares indiferenciados (SOUSA, 2018). Alguns calos são
compactos e crescem vagarosamente, outros são friáveis e mais difíceis de manipular. Calos
friáveis, os quais apresentam pouca coesão celular, são os mais indicados para induzir a síntese
de metabólitos secundários in vitro em cultura de suspensões celulares (FLORES et al., 2006).
Uma cultura de suspensões celulares refere-se ao cultivo de células isoladas ou pequenos
aglomerados (calos), dispersos em um meio líquido, sob agitação contínua, para evitar possíveis
gradientes nutricionais e gasosos no meio de cultura (SOUZA; ABREU, 2007). É necessário
eleger as diferentes linhagens de calos de acordo com a sua competência celular, para garantir uma
produção eficaz do metabólito de interesse. Para isso, cada calo deve ser testado separadamente,
para avaliar a velocidade de seu crescimento, bem como as concentrações intracelulares e
extracelulares do metabólito. Isto permite uma avaliação da produtividade de cada linhagem
celular, para que somente as linhagens mais produtivas sejam utilizadas nos estudos de células
em suspensão ou biorreatores (FUMAGALI et al., 2008). A indução de calos depende do balanço
hormonal intermediário de auxinas e citocininas (NOGUEIRA et al., 2007).
As copaibeiras, como são vulgarmente chamadas as espécies do gênero Copaifera L., são
árvores bastante conhecidas e utilizadas na região Amazônica (Tabela 1). O gênero possui 16
espécies que são endêmicas no Brasil, principalmente, no bioma Amazônico e Cerrado (Dwyer,
1951). Apesar do grande número de espécies de copaíba, os trabalhos encontrados com cultivo
in vitro, pela literatura pesquisada, foram realizados com Copaifera langsdorffii Desf. Zanotti
et al. (2012) verificaram a indução de calos em explantes foliares desta espécie testando os
meios MS e WPM, com maiores frequências em MS, contendo 15μM de BAP e 5 μM de 2,4-
D. A suplementação do meio MS apenas com BAP resultou em maior oxidação, enquanto que
no meio WPM suplementado com este regulador não resultou na formação de calos. Neste

83 Ciências Ambientais na Amazônia


trabalho os autores não realizaram classificação dos calos obtidos, já que os calos friáveis são
os principais para a produção de metabólitos secundários em suspensões celulares.
De modo semelhante, Barboza et al. (2014) também obtiveram melhores resultados para
calos friáveis em hipocótilos de biribá (Annona mucosa Jacq.) na associação entre picloram
(auxina) e TDZ (citocinina). Porém, diferente do verificado para a copaíba, houve melhor
resposta em meio WPM, com calos de maior massa fresca e seca, com médias de 3,3803g e
0,1692g, respectivamente. Para explantes foliares, parecido com o que foi observado por Zanotti
et al. (2012) a melhor resposta foi obtida em meio MS suplementado com 10 μM de picloram
e 0,1 μM de KIN, com peso seco médio de 0,164g. Já na ausência de picloram, os autores
verificaram que não houve formação de calos. O picloream tem se mostrado eficiente para a
manutenção do crescimento de calos e estabelecimento de culturas de células em suspensão em
várias espécies, em concentrações menores que outras auxinas (GEORGE et al., 2008).
Para o elixir paregórico (Piper permucronatum Yuncker) espécie também medicinal
(Tabela 1), Guimarães (2015) utilizando explantes foliares obteve 100% de indução de calos
friáveis em ½ MS contendo 1,0 mg/L-1 de 2,4-D e 1,0 mg/L-1 de BAP. A atividade do 2,4-D
foi comprovada ao observar que não houve indução de calos na ausência e nos tratamentos
com BAP isoladamente, houve diminuição de oxidação e escurecimento dos calos.
Rebouças (2009) no estabelecimento de segmentos foliares de insulina vegetal (Cissus
sicyoides L.) (Tabela 1) obtiveram número superior de calos friáveis, média de 2,70, em meio
de cultivo MT (MURASHIGE; SKOOG, 1962) contendo 12,0 mg/L-1 de BAP. No entanto,
o processo de desinfestação feito com álcool etílico a 70% por 2 min e hipoclorito de sódio
por 15 min, mostrou-se pouco eficiente. Em Cissus verticillata L., também conhecida como
insulina vegetal, Rocha (2017) verificou 100% de indução de calos utilizando explantes foliares
em meio MS em combinações fatoriais de 2,4-D (0,0; 1,0; 2,0 e 4,0 mg/L) e BAP (0,0; 1,0; 2,0
e 4,0 mg/L), exceto no controle. Apesar de ter observado calos nas combinações 2,4-D e BAP,
este autor sugere uso apenas de BAP na indução de calos desta espécie uma vez que observou
necrose na presença de 2,4-D.
Com o jenipapo (Genipa americana L.) (Tabela 1), Almeida et al. (2015) observaram
a formação de calos em segmentos nodais e foliares inoculados em meio MS com 18,10 e
36,20 μM de 2,4-D na presença de 7,86 μM de BAP para explantes foliares. Para o cumaru
(Dipteryx odorata), Sampaio et al. (2018) obtiveram mais calos, em explantes epicótilo
e hipocótilo de plântulas germinadas in vitro, em meio MS contendo 8,0 mg/L de TDZ
combinado com 1,5 mg/L-1 ANA. Lozano et al. (2020) utilizando folhas de plantas Duroia
saccifera (Mart. ex Roem. & Schult.) K. Schum. germinadas in vitro obtiveram calos friáveis
em meio MS suplementado 2,4-D (17.24 μmol L−1) and cinetina (8.62 μmol L−1), os quais
foram multiplicados através de seguidos subcultivos, sendo que os metabólitos extraídos
apresentaram atividade antibacteriana (Mycobacterium tuberculosis).

84 Ciências Ambientais na Amazônia


Sobre suspensões celulares, pela literatura consultada, foram encontrados somente três
trabalhos com espécies de ocorrência na Amazônia: Piper permucronatum (Piperaceae),
Duroia saccifera (Roem. & Schult.) K. Schum e Duroia macrophylla Huber (Rubiaceae)
(Tabela 1). Para P. permucronatum, Guimarães (2015) verificou curva de crescimento
sigmóide para calos e através desta, sugere-se que a repicagem para subcultivos deve ser
realizada entre 56º e 63º dia após a inoculação. O maior acúmulo de metabólitos secundários
(fase estacionária) foi definido entre o 9º e o 12º dia, através da curva de crescimento das
suspensões (GUIMARÃES, 2015). Sousa (2018), com D. saccifera, verificou crescimento
lento para calos, com maior massa fresca (MF) e seca (MS) no 40º dia. Estes autores
observaram maior crescimento das suspensões celulares entre o 24º ao 36º dia, o que pode
ser útil na produção de metabólitos secundários. Em estudo realizado com D. macrophylla,
por outro lado, Vázquez (2019) não obteve curva de crescimento sigmóide para calos e as
suspensões celulares não cresceram, 60 dias após início do cultivo.
Outra técnica utilizada para aumentar a síntese de princípios ativos a partir de plantas
são os biorreatores de imersão temporária (BIT) que podem ser definidos como equipamentos
que visam à aceleração e multiplicação de organismos, reduzindo os custos de produção
(GUERRA et al., 2016). Por permitir o cultivo em larga escala de plantas e órgãos custo,
tornou-se uma alternativa atrativa para a produção de metabólitos secundários. Para plantas
medicinais de ocorrência na Amazônia, há poucos estudos. Batistine et al. (2002), por
exemplo, verificaram que biorreator de imersão temporária (BIT) para ipeca (Psychotria
ipecacuanha) resultou em maior brotação e altura em relação cultivo em meio semi-sólido.
Outro estudo nesse sentido foi realizado por Malosso (2007), com segmentos nodais de
jambu inoculados em BIT do tipo RITA contendo meio de cultivo líquido MS acrescido de
0,1 mg/L de KIN. Verificou-se que esse sistema promoveu 100% de brotação dos explantes
em 15 dias de cultivo, porém, houve contaminação por uma bactéria endofítica. Segundo
Barros et al. (2011) a utilização desta técnica reduz significativamente o uso de mão de
obra, chegando até 30% do gasto total. Entretanto, esse sistema ainda é pouco difundido
nos laboratórios de cultura de tecidos de plantas.

85 Ciências Ambientais na Amazônia


Tabela 1 - Levantamento da espécie botânica, uso medicinal e técnica de cultura de tecidos
empregadas em plantas medicinais de ocorrência na Amazônia brasileira

Espécie (nome Uso medicinal Técnica


vernacular)
Anestésico para problemas de garganta; Micropropagação (CALDERARO et al., 2008).
Acmella oleracea (L.)
tratamento de dor de dente e de estômago Biorreatores (MALOSSO, 2007)
R. K. Jansen (Jambu)
(MALOSSO, 2007)
Micropropagação (BRANDÃO, 2011). Cultura de
Aniba rosaeodora Atividade analéptica e antimicrobiana embriões zigóticos (HANDA et al., 2005)
Ducke (Pau rosa) (ALCÂNTARA, 2009)

Annona mucosa (Jacq.) Atividade bactericida e fungicida Cultura de calos (BARBOZA etal., 2014).
(Biribá) (BARBOZA et al., 2014)

Byrsonima cydoniifolia Cicatrização de ferimentos; tratamento de Cultura de embriões zigóticos(MARTENDAL et


A. Juss (Murici) infecções intestinais e erisipela; atividade al., 2013).
antimicrobiana (OKOBA, 2016)
Carapa guianensis Óleo repelente de insetos; tratamento de Micropropagação (BRANDÃO,2011).
Aublet (Andiroba) artrite, distensões musculares e alterações no
tecido cutâneo; atividade bactericida e
fungicida (BRANDÃO, 2011)
Cissus sicyoides L. Tratamento de reumatismo, inflamação Cultura de Calos (REBOUÇAS,2009).
(Insulina vegetal) muscular e abscessos; ativadora da circulação Micropropagação (ABREU et al., 2003).
sanguínea; propriedades anti-inflamatórias,
laxativas, antidiarreicas e antidiabéticas
(REBOUÇAS, 2009)
Cissus verticillata (L.) Atividade anti-inflamatória,
Nicolson e C. E. Jarvis anti-hipertensiva, antitérmica, antirreumática, Cultura de calos (ROCHA, 2017).
(Insulina vegetal) antigripal; tratamento de diabetes, infecções
respiratórias, dislipidemia e problemas
urinários (ROCHA, 2017)
Conobea scoparioides Tratamento de câncer de próstata, Micropropagação (COSTA et al.,2016).
Benth. (Pataqueira) avitaminose B1 e malária (COSTA, 2016)

Copaifera langsdorffii Atividade cicatrizante, anti-inflamatória, Cultura de calos (ZANOTTI et al.,2012).


Desf. (Copaíba) analgésica, antimicrobiana, antisséptica,
antitumoral e antioxidante (CAVALCANTE
et al., 2017)
Croton cajucara Benth Tratamento de doenças hepáticas e renais, Micropropagação (SILVA et al.,2015).
(Sacaca) diabetes e dislipidemia (SILVA et al., 2015)

Dipteryx odorata Aubl Tratamento de afta, otite, doenças do coração Micropropagação (SAMPAIO etal., 2018).
(Cumaru) e respiratórias; atividade anti-helmíntica
(AZEVEDO et al., 2018)

86 Ciências Ambientais na Amazônia


Duroia saccifera Atividade antifúngica, atividade
(Mart.Ex Roem. & antibacteriana (LOZANO et al., 2020) Cultura de calos (LOZANO,2020).
Schult.) K.Schum. Suspensão celular
(cabeça de (SOUSA, 2018).
urubu, puruí-da-
mataou puruí-
grande)
Eugenia punicifolia Tratamento de diabetes (ALVES et al., 2018) Micropropagação (ALVES et al.,2018).
(Kunth) D.C.
(Pedra-hume-caá)
Genipa americana Analgésico, diurético, antimalárico e Cultura de Calos (ALMEIDA etal.,
L.(Jenipapo) antipirético (MOURA et al., 2016) 2015).

Libidibia ferrea Atividade antimicrobiana, anti-inflamatória e


(Mart.ex Tul.) L. P. cicatrizante (KOBAYASHI et al., 2015) Micropropagação (SILVA, 2015)
Queiroz (Jucá)
Myrciaria duhia Atividade antioxidante e antimutagênica Micropropagação (KICUCHI etal., 2002).
(Kunth) McVaugh (ARAÚJO et al., 2010)
(camu-camu)
Passiflora cristalina Atividade antioxidante, anti-inflamatória, Embriogênese somática (FARIA et al.,
Vanderplank e Zappi antidiabética, analgésica, antipirética, 2016).
(Maracujá) antidiarreica, antimicrobiana, antidepressiva
e antiepilética; efeito ansiolítico e sedativo
(FARIA, 2016)

Paullinia cupana Efeito anti-fadiga, antidepressivo


var. e ansiolítico; atividade analgésica,
sorbilis (Guaraná) afrodisíaca,adstringente, anorexígena, anti- Micropropagação (BARBOSA;MORAES,
inflamatória, antiplaquetária, cardiotônica, 2004).
broncorrelaxante, gastroestimulante,
imunoestimulante, termogênica e diurética
(PEIXOTO et al., 2017)

Pilocarpus Controle de glaucoma (SABÁ et al., 2002) Micropropagação (SABÁ et al.,2002).


microphyllus
Stapf.(Jaborandi)
Piper Tratamento de cólicas menstruais e
permucronatum intestinais, problemas digestivos, dor de Cultura de calos (GUIMARÃES,2015).
Yuncker estômago, diarreia, hemorragia e náusea
(Elixirparegórico) (GUIMARÃES, 2015)

Protium Tratamento de dores reumáticas, musculares, Micropropagação (BRANDÃO,2011).


spruceanum infecção de vias aéreas e picadas de insetos;
Benth. (Breu branco) anti-inflamatório (BRANDÃO, 2011)

87 Ciências Ambientais na Amazônia


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é considerado o país detentor da maior biodiversidade do planeta, abrigando


inúmeras plantas medicinais com propriedades terapêuticas notáveis, como é o caso da Amazônia.
Estas plantas são frequentemente coletadas de forma predatória e indiscriminada, o que pode
torná-las vulneráveis à extinção. Além da coleta predatória, o uso de plantas medicinais como
matérias-primas pode ser comprometido por fatores como a heterogeneidade dos indivíduos,
variabilidades genética e bioquímica, sazonalidade e dificuldade de propagação.
A cultura de tecidos vegetais representa, pois, uma ferramenta da biotecnologia que
pode agregar valor e contribuir para a expansão, valorização e conservação de plantas
medicinais da região. Entretanto, essas técnicas na região Amazônica ainda estão em
expansão, principalmente em relação ao número de empresas, laboratórios e grupos de
pesquisas voltados para essa área. De acordo com o levantamento bibliográfico realizado, foi
possível verificar que para plantas medicinais amazônicas, os estudos ainda são incipientes,
considerando que essa região abriga a maior biodiversidade do planeta.
Dentre as técnicas, pela literatura consultada, a micropropagação foi a mais empregada,
mas a maioria das pesquisas ainda tentam estabelecer a cultura asséptica. Somente dois
artigos realizaram estudos com embriogênese somática e apenas um trabalho obteve sucesso
até a fase de embrião cotiledonar ou maduro. Para a produção de metabólitos secundários
in vitro, as pesquisas, em sua maioria, concentram-se na indução de calos, e apesar de dois
estudos terem trabalhado com suspensões celulares, são dissertações ainda não publicadas.
A propagação in vitro apresenta várias vantagens e muitas aplicações na pesquisa e
produção de plantas medicinais. No entanto, protocolos eficientes ainda precisam ser
estabelecidos para espécies da Amazônia, evidenciando o enorme gargalo de conhecimento
para plantas medicinais amazônicas e a necessidade de mais investimentos em laboratórios,
centros de pesquisas, fixação de pesquisadores, fomento à pesquisa nesta área da Biotecnologia
tão importante para a região e matéria-prima para a indústria mundial.

88 Ciências Ambientais na Amazônia


REFERÊNCIAS

ABREU, Ilka Nacif de et al. Propagação in vivo e in vitro de Cissus sicyoides, uma planta
medicinal. Acta Amazonica, Manaus, v. 33, n. 1, p. 1-7, jan. 2003. Disponível em: http://
www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/402706. Acesso em: 30 jun. 2021.
ALCÂNTARA, Joelma Moreira. Bioprospecção de espécies amazônicas da família Lauraceae
com potencial aromático e medicinal. 2009. 118 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado
em Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2009.
Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3352. Acesso em: 30 jul. 2021.
ALMEIDA, Camila Santos et al. RESPOSTAS MORFOGENÉTICAS DE JENIPAPEIRO
EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTURA IN VITRO. Revista Caatinga, Mossoró,
v. 28, n. 1, p. 58-64, mar. 2015. Trimestral. Disponível em: https://periodicos.ufersa.edu.br/
index.php/caatinga/article/view/3069/pdf_216. Acesso em: 20 jun. 2021.
ALVES, Josiel Rodrigues et al. Assepsia de Sementes e Segmentos Nodais de Eugenia
Punicifolia (Kunth) D.C. de Genótipos da Amazônia Brasileira e Avaliação das Taxas de
Germinação In Vitro e Ex Vitro das Sementes desta Planta Medicinal. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, [S.L.], v. 07, n. 08, p. 56-68, 22 ago. 2018.
Revista Científica Multidisciplinar Nucleo Do Conhecimento. http://dx.doi.org/10.32749/
nucleodoconhecimento.com.br/biologia/sementes-e-segmentos.
ANDRADE, Sérgio F. et al. Anti-inflammatory and antinociceptive activities of extract,
fractions and populnoic acid from bark wood of Austroplenckia populnea. Journal Of
Ethnopharmacology, [S.L.], v. 109, n. 3, p. 464-471, fev. 2007. Elsevier BV. http://dx.doi.
org/10.1016/j.jep.2006.08.023.
ARAÚJO, Maria da Conceição da Rocha et al. Desinfestação in vitro de segmentos nodais de
camu-camu. In: XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 21., 2010, Natal.
Anais [...]. Natal: XXI CBF, 2010. p. 01-04. Disponível em: https://core.ac.uk/download/
pdf/45484756.pdf. Acesso em: 25 jun. 2021.
ARIKAT, Naser A. et al. Micropropagation and accumulation of essential oils in wild sage
(Salvia fruticosa Mill.). Scientia Horticulturae, [S.L.], v. 4, n. 1, p. 193-202, mar. 2004.
AZEVEDO, Isabel Maria Gonçalves de et al. Production of Dipteryx odorata (Aubl.)
Willd seedlings with high Quality Standard, making Possible Environmental Valorization.
International Journal of Environment, Agriculture And Biotechnology, [S.L.], v. 3, n. 6,
p. 2201-2213, 2018. AI Publications. http://dx.doi.org/10.22161/ijeab/3.6.35.
BARBOSA, Crystianne Bentes et al. Estabelecimento de protocolo para o cultivo in vitro

89 Ciências Ambientais na Amazônia


do guaraná [Paullinia cupana (Mart.) Ducke]. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
DA EMBRAPA AMAZÔNIA OCIDENTAL, 1., 2004, Manaus. Anais [...]. Manaus: Embrapa
Amazônia Ocidental (Cpaa), 2004. p. 30-36. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/
digital/bitstream/item/82619/1/EstabelecimentoDoc-35.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
BARBOZA, T.J.s. et al. Efeito de diferentes meios nutritivos e fitorreguladores visando à
otimização da calogênese de Annona mucosa (Jacq.). Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, [S.L.], v. 16, n. 4, p. 905-911, dez. 2014. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.
org/10.1590/1983-084x/12_117.
BARROS, A.C.B.; COSTA, D.A.; MEDEIROS, E.C. Biorreator de imersão temporária
aplicado na biofabricação de cana-de-açúcar. In: GERALD, L.T.S. (Org.). Biofábrica de
plantas: produção industrial de plantas in vitro. 1º ed. São Paulo: Atiqua, p.52-69, 2011.
BATIHA, Gaber El-Saber et al. Uncaria tomentosa (Willd. ex Schult.) DC.: a review on
chemical constituents and biological activities. Applied Sciences, [S.L.], v. 10, n. 8, p. 2668,
13 abr. 2020. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/app10082668.
BATISTINE, A.P. et al. Avaliação de diferentes sistemas de cultivo in vitro, para a
micropropagação de Psychotria ipecacuanha (Brots.) Stokes. Revista Brasileira de Plantas
Medicinais, Botucatu, v.5, n.1, p.27-35, 2002. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/
bitstream/handle/11449/66995/2s2.00036819344.pdf?sequence=1 &isAllowed=y Acesso em:
30 jun. 2021.
BERTONI, Bianca Waléria. Propagação, variabilidade genética e química de Zeyheria
montana Mart. 2003. 165 f. Tese (Doutorado) – Curso de Doutorado em Genética e
Melhoramento de Plantas, Universidade Estadual de São Paulo - UNESP, Jaboticabal, 2003.
Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102850/bertoni_bw_dr_
jabo.pdf?sequenc e=1 . Acesso em: 30 jul. 2021.
BOTTA, B. et al. Cultura de tecidos vegetais: doze anos de experiência. In: YUNES, R.A.;
CALIXTO, J.B. Plantas medicinais sob a ótica da moderna química medicinal. Chapecó:
Argos, 2001, p.354-79.
BRAGA, Joelma Correia Beraldo; SILVA, Luan Ramos da. Consumo de plantas medicinais
e fitoterápicos no Brasil: perfil de consumidores e sua relação com a pandemia de covid-19 /
Consumption of medicinal plants and herbal medicines in Brazil. Brazilian Journal Of Health
Review, [S.L.], v. 4, n. 1, p. 3831-3839, 2021. Brazilian Journal of Health Review. http://
dx.doi.org/10.34119/bjhrv4n1-303.
BRANDÃO, Hélio Leonardo Moura. Propagação in vitro de andiroba (Carapa guianensis
Aublet), breu branco (Protium spruceanum Benth.), copaíba (Copaifera multijuga

90 Ciências Ambientais na Amazônia


Hayne) e pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke). 2011. 97 f. Tese (Doutorado) – Programa
de Pós-Graduação em Biotecnologia, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2011.
Disponível em: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/4390 . Acesso em: 30 jul. 2021.
CALDERARO, Tatiana da Silva. Propagação vegetativa in vitro a partir de segmentos
nodais de jambu (Acmella oleracea (l.) R. K. Jansen). 2008. 70 f. Dissertação (Mestrado)
– Programa de Pós-graduação em Agronomia Tropical, Universidade Federal do Amazonas,
Manaus, 2008. Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/5628 . Acesso em: 30
jul. 2021.
CARVALHO, M. V. et al. Investigations on the anti-inflammatory and anti-allergic activities
of the leaves of Uncaria guianensis (Aublet) J. F. Gmelin. Inflammopharmacology, [S.L.],
v. 14, n. 1-2, p. 48-56, mar. 2006. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.
org/10.1007/s10787-006-1509-5.
CAVALCANTE, José Wagner et al. Conhecimento tradicional e etnofarmacológico da planta
medicinal copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.). Revista Biodiversidade, [S.L.], v. 16, n.
2, p. 123-133, set. 2017. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/
biodiversidade/article/view/5607/3710. Acesso em: 21 jun. 2021.
COSTA, Marly Pedroso da. Protocolo de micropropagação da Conobea scoparioides Benth.
Plantaginaceae. 2016. 68 f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.
Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/21519 . Acesso em: 30 jul. 2021.
CROTEAU, Rodney et al. Natural Products: (secondary metabolites). In: BUCHANAN, Bob
B.. Biochemistry and Molecular Biology of Plants. 2. ed. [S.I]: American Society of Plant
Physiologists, 2000. Cap. 24. p. 1250-1318.
DWYER, John D.. The Central American, West Indian, and South American Species of
Copaifera (Caesalpiniaceae). Brittonia, [S.L.], v. 7, n. 3, p. 143, 31 jan. 1951. Springer Science
and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.2307/2804703.
FARIA, Rodrigo Brito de. Sistemas de regeneração de novo a partir da organogênese e
embriogênese somática em Passiflora cristalina Vanderplank e Zappi, Passifloraceae
- Uma espécie da Amazônia Meridional. 2016. 121 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento, Universidade do Estado de Mato
Grosso, Tangará da Serra, 2016. Disponível em: http://portal.unemat.br/media/files/pgmp-
rodrigo-brito-de-faria.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
FLORES, Rejane et al. Indução de calos e aspectos morfogenéticos de Pfaffia tuberosa
(Spreng.) Hicken. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v.8, n.3, p.89-95,
2006. Disponível em: https://www1.ibb.unesp.br/Home/Departamentos/Botanica/RBPM-

91 Ciências Ambientais na Amazônia


RevistaBrasileiradePlantasMedicinais/artigo13_v8_n3.pdf Acesso em: 30 jul. 2021.
FRANÇA, Inácia Sátiro Xavier de et al. Medicina popular: benefícios e malefícios das plantas
medicinais. Revista Brasileira de Enfermagem, [S.L.], v. 61, n. 2, p. 201-208, abr. 2008.
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0034-71672008000200009.
FUMAGALI, Elisângela et al. Produção de metabólitos secundários em cultura de células
e tecidos de plantas: o exemplo dos gêneros Tabernaemontana e Aspidosperma. Revista
Brasileira de Farmacognosia, [S.L.], v. 18, n. 4, p. 627-641, dez. 2008. Springer Science and
Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1590/s0102-695x2008000400022.
GEORGE, Edwin F. et al. Plant Propagation by Tissue Culture: volume 1. The Background.
3. ed. Basingstoke: Springer Netherlands, 2008. 502 p. DOI 10.1007/978-1- 4020-5005-3.
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Introdução ao conceito de Biotecnologia:
apostila de Biotecnologia. Florianópolis: CCA/UFSC, 2006. 15 p. Edição Da Steinmacher.
GUIMARAES, Milene de Castro Melo. Estudo da calogênese, dinâmica de crescimento
de calos e estabelecimento de suspensões celulares de Piper permucronatum. 2015. 46 f.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente (PGDRA), Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho,
2015. Disponível em: https://ri.unir.br/jspui/handle/123456789/2083. Acesso em: 30 jul.2021.
HANDA, Lucia et al. Cultura in vitro de embriões e de gemas de mudas de pau-rosa (Aniba
rosaeodora Ducke). Acta Amazonica, [S.L.], v. 35, n. 1, p. 29-33, 2005. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0044-59672005000100005.
HORSTMAN, Anneke et al. A transcriptional view on somatic embryogenesis. Regeneration,
[S.L.], v. 4, n. 4, p. 201-216, ago. 2017. Wiley. http://dx.doi.org/10.1002/reg2.91.
HU, C. Y.; FERREIRA, A. G. Cultura de embriões. In: TORRES, Antonio Carlos et al. Cultura
de tecidos e transformação genética de plantas. Brasília (Df): Embrapa / Spi, 1998. p. 371-393
HUSSAIN, Altaf et al. Plant Tissue Culture: Current Status and Opportunities. In: LEVA,
Annarita; RINALDI, Laura M. R.. Recent Advances in Plant in vitro Culture. Croácia:
Intech, 2012. p. 210. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/297777765_
Plant_Tissue_Culture_Current_Status_ and_Opportunities. Acesso em: 25 jun. 2021.
KIKUCHI, Tatiani Yuriko Pinheiro et al. Produção de plântulas in vitro a partir de diferentes
explantes de sementes de camu-camu (Myrciaria dubia (H.B.K.) Mc vaugh). In: X SEMINÁRIO
DE INICIAÇÃO CIENTIFICA DA FCAP E IV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA
DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL, 10, 2000, Belém. Anais [...] . Belém: Embrapa
Amazônia Oriental, 2000. p. 313-315. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/
bitstream/item/116820/1/p313-315.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.

92 Ciências Ambientais na Amazônia


KOBAYASHI, Yuri Teiichi da Silva et al. Avaliação fitoquímica e potencial cicatrizante do
extrato etanólico dos frutos de Jucá (Libidibia ferrea) em ratos Wistar. Brazilian Journal Of
Veterinary Research And Animal Science, [S.L.], v. 52, n. 1, p. 34, 13 abr. 2015. Universidade
de São Paulo, Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). http://dx.doi.
org/10.11606/issn.1678-4456.v52i1p34-40. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/
bjvras/article/view/61477/96292. Acesso em: 30 jun. 2021.
LEWINSOHN, Thomas; PRADO, Paulo Inácio. BIODIVERSIDADE BRASILEIRA:
síntese do estado atual do conhecimento. São Paulo: Editora Contexto, 2002. 176 p.
LLOYD, G.; MCCOWN, B. Commercially feasible micropropagation of montain laurel, Kalmia
latifolia, by use of shoot tip culture. Proceedings of the International Plant Propagator´s
Society, [S.L.], vol. 30, p. 421-327, 1981.
LOZANO, Stefhania Alzate et al. Duroia saccifera: in vitro germination, friable calli and
identification of β-sitosterol and stigmasterol from the active extract against mycobacterium
tuberculosis. Rodriguésia, [S.L.], v. 71, n. 1, p. 1-7, jan. 2020. FapUNIFESP (SciELO). http://
dx.doi.org/10.1590/2175-7860202071054.
MACIEL, Simone de Alencar et al. Efeito das auxinas 2,4-D e TDZ na indução da embriogênese
somática em Uncaria tomentosa a partir de ápice caulinar. In: 17º CONGRESSO BRASILEIRO
DE FLORICULTURA E PLANTAS ORNAMENTAIS e 4º CONGRESSO BRASILEIRO
DE CULTURA DE TECIDOS DE PLANTAS, 2009, Aracajú. Anais [...] . Aracaju: Embrapa
Tabuleiros Costeiros, 2009. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/
item/112229/1/C033.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
MALOSSO, Milena Gaion. Micropropagação de Acmella oleracea L. R. K. Jansen e
estabelecimento de meio de cultura para a conservação desta espécie em banco de
germoplasma in vitro. 2007. 103p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em
Biotecnologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Amazonas, Coari.
2007. Disponível em: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/3070. Acesso em: 30 jul. 2021.
MARTENDAL, Cíntia de Oliveira et al. In vitro cultivation of zygotic embryos from Murici
(Byrsonima cydoniifolia A. Juss.): establishment, disinfection, and germination. Acta
Scientiarum. Agronomy, [S.L.], v. 35, n. 2, p. 221-229, 26 mar. 2013. Universidade Estadual
de Maringá. http://dx.doi.org/10.4025/actasciagron.v35i2.15402.
MORAES, Rita M. et al. Using Micropropagation to Develop Medicinal Plants into Crops.
Molecules, [S.L.], v. 26, n. 6, p. 1752-1765, 21 mar. 2021. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/
molecules26061752.
MORAIS, T.P. et al. Aplicações da cultura de tecidos em plantas medicinais. Revista Brasileira

93 Ciências Ambientais na Amazônia


de Plantas Medicinais, [S.L.], v. 14, n. 1, p. 110-121, 2012. FapUNIFESP (SciELO). http://
dx.doi.org/10.1590/s1516-05722012000100016.
MOURA, Selma Maria Santos et al. Genipa americana: prospecção tecnológica. Jornal
Insterdisciplinar de Biociências, [S.L.], v. 1, n. 2, p. 31-35, 7 out. 2016. Galoa Events
Proceedings. http://dx.doi.org/10.17648/jibi-2448-0002-1-2-5174.
MURASHIGE, Toshio; SKOOG, Folke. A Revised Medium for Rapid Growth and Bio Assays
with Tobacco Tissue Cultures. Physiologia Plantarum, [S.L.], v. 15, n. 3, p. 473-497, jul.
1962. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/j.1399-3054.1962.tb08052.x.
NOGUEIRA, Raírys Cravo et al. Indução de calos em explantes foliares de Murici-pequeno
(Byrsonima intermedia A. Juss.). Ciência e Agrotecnologia, [S.L.], v. 31, n. 2, p. 366-370,
abr. 2007. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-70542007000200015.
OKOBA, Denis. Atividade antimicrobiana dos extratos hidroalcoólicos de frutos do
Pantanal: Byrsonima cydoniifolia A. Juss. (Canjiqueira), Pouteria glomerata (Miq.)
Radlk. (Laranjinha de pacu) e Vitex cymosa Bert. (Tarumã). 2016. 66 f. Dissertação
(Mestrado), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2016. Disponível
em: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/2719 Acesso em: 30 jul. 2021.
PEIXOTO, Herbenya et al. Anti-Aging and Antioxidant Potential of Paullinia cupana var.
sorbilis: findings in caenorhabditis elegans indicate a new utilization for roasted seeds
of guarana. Medicines, [S.L.], v. 4, n. 3, p. 61-61, 15 ago. 2017. MDPI AG. http://dx.doi.
org/10.3390/medicines4030061. Disponível em: https://www.mdpi.com/2305- 6320/4/3/61.
Acesso em: 30 jun. 2021.
PEREIRA, Rita de Cássia Alves. Micropropagação, indução de calos, características
anatômicas e monitoramento dos biomarcadores de Uncaria tomentosa Willdenow ex
Roemer & Schultes DC e Uncaria guianensis (Aublet) Gmelin (Unha de gato). 2004. 186
f. Tese (Doutorado), Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2004. Disponível em: https://
www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/500463/1/9318.pdf. Acesso em: 25 jun. 2021.
PEREIRA, R.C.A. et al. Influência de diferentes auxinas na indução e cinética de crescimento de
calos de Uncaria guianensis J. F. Gmel. (unha-de-gato). Plant Cell Culture Micropropagation,
Lavras, v.3, n.2, p.69-77, 2007.
PINTO, Ana Paula Chiaverini et al. In vitro organogenesis of Passiflora alata. In Vitro Cellular
e Developmental Biology-Plant, [S.L], n.1, v.46, p. 28-33, 2010.
RAI, Amit et al. Integrated omics analysis of specialized metabolism in medicinal plants. The
Plant Journal, [S.L.], v. 90, n. 4, p. 764-787, 30 mar. 2017. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/
tpj.13485.

94 Ciências Ambientais na Amazônia


RAO, S Ramachandra; RAVISHANKAR, G.A. Plant cell cultures: chemical factories of
secondary metabolites. Biotechnology Advances, [S.L.], v. 20, n. 2, p. 101-153, maio 2002.
Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/s0734-9750(02)00007-1.
RAPOSO, Andréa; TEIXEIRA, Renata Beltrão. Metodologia científica: cultivo in vitro de
unha-de-gato. Rio Branco: Embrapa Acre, 2011. 5 p. (57). Circular Técnica. Disponível em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/912085/1/24058.PDF. Acesso
em: 30 jun. 2021.
REBOUÇAS, Fabiola Santana. Cultivo in vitro de plantas medicinais: Ocimum basilicum
L. e Cissus sicyoides L. 2009. 70 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação
em Ciências Agrárias, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas,
2009. Disponível em: http://www.repositorio.ufrb.edu.br/bitstream/123456789/515/1/
Fab%C3%ADola%20Santana%20Rebou%C3%A7as2009.pdf. Acesso em: 25 jun. 2021.
ROCHA, Josilene Félix. Indução de calos em explantes foliares de Cissus verticillata
(L.) Nicolson & C. E. Jarvis. 2017. 42 f. Dissertação - (Mestrado), Universidade Federal de
Rondônia, Porto Velho, 2017. Disponível em: https://ri.unir.br/jspui/handle/123456789/2058.
Acesso em: 25 jun. 2021.
ROSA, Yara Brito Chaim Jardim et al. Species-dependent divergent responses to in vitro
somatic embryo induction in Passiflora spp. Plant Cell, Tissue And Organ Culture (Pctoc),
[S.L.], v. 120, n. 1, p. 69-77, 6 ago. 2014. Springer Science and Business Media LLC. http://
dx.doi.org/10.1007/s11240-014-0580-7.
SABÁ, Renata Tumá et al. Micropropagação do jaborandi. Horticultura Brasileira,
[S.L.], n. 1, v. 20, p.106-109, 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hb/a/
d4ZXvnnjcbY3sNQV3PsbtDv/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 30 jun. 2021.
SAMPAIO, Paulo Tarso Barbosa et al. Induction of callus and adventitious shoots on epicotyl
and hypocotyl segments of cumaru (Dipteryx odorata). Comunicata Scientiae, [S.L.], v. 9, n.
3, p. 475-480, 4 nov. 2018. Lepidus Tecnologia. http://dx.doi.org/10.14295/cs.v9i3.1618.
SANTOS, Alberdan Silva et al. A dehydrorotenoid produced by callus tissue culture and wild
plant roots of Boerhaavia coccinea. Revista Brasileira de Farmacognosia, [S.L.], v. 17, n. 4,
p. 538-541, dez. 2007. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1590/
s0102-695x2007000400011.
SANTOS, Seidel Ferreira do et al. Aspectos do cultivo in vitro de Libidibia ferrea (Mart. ex
Tul.) L.P. Queiroz (Leguminosae-Caesalpinioideae) como fonte alternativa para produção de
metabólitos secundários. Revista Espacios, [S.L], n. 37, v. 39, n. 37, 2018. Disponível em:
https://www.revistaespacios.com/a18v39n37/a18v39n37p17.pdf. Acesso em: 25 jul. 2021.

95 Ciências Ambientais na Amazônia


SCHENKEL, E.P. et al. Produtos de origem vegetal e o desenvolvimento de medicamentos.
In: SIMÕES, Cláudia Maria Oliveira et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento.
3ºed. Florianópolis: Editora da UFRGS/UFSC, 2000.
SILVA, Daniel da. Micropropagação de Caesalpinia ferrea Martius. 2015. 58 f. Dissertação
(Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte,
Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2015. Disponível em: https://bdtd.inpa.gov.
br/bitstream/tede/2940/2/Tese_Daniel.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
SILVA, Simone da. Estabelecimento e desenvolvimento in vitro de plântulas de Quassia amara
L. (Simaroubaceae). Scientia Amazonia, Manaus, n. 2, v.4, p.92-99, 2015. Disponível em:
http://scientia-amazonia.org/wp-content/uploads/2016/06/v4-n2-92-99-2015.pdf. Acesso em:
30 jun. 2021.
SILVA, Simone da et al. In vitro propagation of Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes under
different concentrations of Indoleacetic acid. Revista Fitos, [S.L.], n. 3, v. 12, p. 263-268,
2018. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/30338/2/simone_et_all.pdf.
Acesso em: 21 jul. 2021.
SILVA, Tatiane Loureiro da et al. Propagação in vitro de sacaca (Croton cajucara Benth.):
entendimentos sobre a dificuldade no desenvolvimento de protocolos de micropropagação da
espécie. Biotemas, [S.L.], v.28, p.41-50, 2015.
SILVA, Franceli da; et al. Folhas de chá: Remédios Caseiros e Comercialização de Plantas
Medicinais, Aromáticas e Condimentares. Viçosa: UFV, 2005. 140 p.
SINGH, Puthem Robindro; SINGH, Luwangshangbam James. In vitro propagation for
improvement of medicinal plants: A review. Journal of pharmacognosy phytochemistry,
[S.L.], n. 1, v. 10, p. 1484-1489, 2021. Disponível em: https://www.phytojournal.com/
archives/2021/vol10issue1/PartU/10-1-16-385.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
SOUSA, Aline Bastos Brilhante de. Cultura de calos e suspensão celular de Duroia saccifera:
estudo fitoquímico, cinética de crescimento e avaliação das atividades biológicas. 2018,
106 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, 2018. Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/handle/
tede/7575. Acesso em: 21 jul. 2021.
SOUZA, Julio Cezar de et al. Produção de metabólitos secundários por meio da cultura de
tecidos vegetais. Revista Fitos, [S.L.], v. 12, n. 3, p. 269-280, 29 out. 2018. Fiocruz - Instituto
de Tecnologia em Fármacos. http://dx.doi.org/10.17648/2446-4775.2018.550.
SOUZA, Kelly Carla Almeida de; ABREU, Heber dos Santos. Biotecnologia aplicada ao
estudo da lignificação. Floresta e Ambiente, [S.L.], v.14, n.1, p. 93-109. 2007. Disponível em:

96 Ciências Ambientais na Amazônia


https://www.floram.org/article/588e2217e710ab87018b464e/pdf/floram-14-1-93.pdf. Acesso
em: 30 jun. 2021.
VÁZQUEZ, Ana Luisa López. Aprimoramento da obtenção de calos e suspensões
celulares de Duroia macrophylla Huber (Rubiaceae) e avaliação dos elicitores NaCl, KCl,
AlCl3, SNP(NO), ABA e luz UV na produção de metabólitos secundários. 2019. 158 f.
Dissertação (Mestrado) - Pós-Graduação em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia,
Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, 2019. Disponível em: https://pos.uea.edu.br/
data/area/titulado/download/77-7.pdf. Acesso em: 30 jun. 2021.
VERMA, Nidh; SHUKLA, Sudhir. Impact of various factors responsible for fluctuation in
plant secondary metabolites. Journal of applied research on medicinal and aromatic plants.
[S.L], v. 2, n. 4, p. 105-113, 2015. ScienceDirect https://doi.org/10.1016/j.jarmap.2015.09.002
VILLAREAL, Maria Luisa et al. Cell suspension culture of Solanum chrysotrichum - a plant
producing an antifungal spirostanol saponin. Plant Cell Tiss Culture. [S.L], v.50 p.39-44,
1997. Disponível em: https://www.academia.edu/24090809/Cell_suspension_culture_of_
Solanum_chrysotrichum_Schldl._-A_plant_producing_an_antifungal_spirostanol_saponin.
Acesso em: 21 jul. 2021.
XU, Lin; HUANG, Hai. Genetic and epigenetic controls of plant regeneration. Current Topics
in Developmental Biology, [S.L], v. 108, p. 1-33, 2014. PubMed https://doi.org/10.1016/
b978-0-12-391498-9.00009-7
ZANOTTI, Rafael Fônseca et al. Germinação e indução da calogênese in vitro de copaíba.
Centro Científico Conhecer, Goiania, v.8, n.15, p. 986, 2012. Disponível em: https://www.
conhecer.org.br/enciclop/2012b/ciencias%20agrarias/germinacao%20e%20inducao.pdf.
Acesso em: 30 jun. 2021.

97 Ciências Ambientais na Amazônia

Você também pode gostar