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REVISTA BRASILEIRA DE MEIO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE
Grupo de Estudos Sociais, Econômicos e Ambientais

A SALA DE AULA COMO ESPAÇO PARA AS DISCUSSÕES


RELACIONADAS ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS
DA CAATINGA NORDESTINA
Artigo Científico

José Ozildo dos Santos


Professor da UFCG/ CDSA, mestre em Sistemas Agroindustriais (UFCG)
E-mail: joseozildo2014@outlook.com
Rosélia Maria de Sousa Santos
Professora da Rede Privada, mestre em Sistemas Agroindustriais (UFCG)
E-mail: roseliasousasantos@hotmail.com
Vanessa da Costa Santos
Diplomada em Agroecologia (IFPB) e aluna especial do Curso de Mestrado
em Sistemas Agroindustriais (UFCG)
E-mail: nessacosta1995@hotmail.com
Leandro da Costa Machado
Diplomado em Agroecologia pelo IFPB
E-mail: leandropltj@hotmail.com
Danielly Carneiro de Azevedo
Farmaceûtica (UFPB), especialista em Saúde da Família com Ênfase na Implantação das
Linhas de Cuidado (UFPB) e em Gestão da Assistência Farmacêutica (UFSC),
E-mail: daniellycarneiro@hotmail.com

Resumo: Este trabalho objetivou analisar a percepção ambiental dos docentes de uma escola pública do
interior do Estado da Paraíba, sobre questões ambientais no Bioma Caatinga. Os dados foram coletados
através de questionários e posteriormente analisado. Os dados coletados demonstraram que todos os
professores entrevistados, independentemente da disciplina que lecionam, trabalham a temática ambiental em
suas salas de aulas, e, que a maioria faz isto de forma transversal, embora considere difícil trabalhar tal
temática. Essa dificuldade alegada pela maioria dos professores entrevistados em trabalhar a Educação
Ambiental, traz implicações para o processo de contextualização do ensino, no que diz respeito à necessidade
de se focalizar o Semiárido nas discussões promovidas no contexto escolar. E, como tal temática não é
abordada de forma ampla, vem contribuindo para limitar o conhecimento sobre a região Semiárida,
apresentado pelos alunos da maioria dos professores entrevistados. Desta forma, resumo, existe a
necessidade de se investir na formação continuada destes professores, de maneira que sejam trabalhado
aspectos de instrumentação de seus conhecimentos, de forma a desenvolver cada vez mais a Educação
Ambiental para o desenvolvimento sustentável de Semiárido nordestino.

Palavras-chave: Bioma Caatinga. Questões Ambientais. Discussão Pedagógica.

THE CLASSROOM AS A SPACE FOR THE DISCUSSIONS RELATED TO


NORTHEAST CAATINGA ENVIRONMENTAL ISSUES
Abstract: This work aimed to analyze the environmental perception of teachers of a public school in the
state of Paraiba, on environmental issues in the Caatinga. Data were collected through questionnaires and
subsequently analyzed. The data collected showed that all the teachers interviewed, regardless of the
discipline they teach, work on environmental issues in their classrooms, and most do it across the board, but
believes hard work this theme. This difficulty alleged by the majority of teachers interviewed in work
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Environmental Education, has implications for the process of contextualisation of education, with regard to
the need to focus semiarid conditions in the discussions held in the school context. And as such issue is not
addressed broadly, it has contributed to limit the knowledge of the semiarid region, presented by the students
of most teachers interviewed. Thus, summary, there is a need to invest in the continuing education of these
teachers, so that they are working aspects of instrumentation their knowledge in order to develop more
environmental education for sustainable development of semi-arid Northeast.

Key words: Caatinga. Environmental issues. Pedagogical discussion.

1 Introdução Na concepção de Silva; Cândido e Freire


(2009, p. 24):
A temática ‘Desequilíbrios Ambientais’ não é
nova na história da civilização ocidental. Desde a Temas como este, merecem a atenção de
Grécia antiga já se registrava uma preocupação com estudos que investigam as ações do homem
o uso do meio ambiente de forma desordenada e sobre o ambiente no qual ele está inserido.
também em relação às suas consequências Além de avaliar as diversas formas de uso dos
resultantes do mau uso dos recursos naturais. recursos naturais, a percepção ambiental, é um
No que diz respeito ao semiárido brasileiro, a instrumento utilizado em diversas áreas do
Caatinga tem se constituído um tema bastante conhecimento, para a melhoria da qualidade
discutido, principalmente, por ser considerada um de vida do homem e das demais espécies que
dos biomas brasileiros mais degradado, tendo mais com ele interagem, podendo ser definida
de 45% de sua cobertura original alterada pela ação como uma tomada de consciência do ambiente
do homem e também por localizar-se em uma região pelo homem; ou seja, o ato de perceber o
conhecida como Polígono das Secas, onde se ambiente no qual se está inserido, aprendendo
encontra ecossistemas mais vulneráveis ao processo a proteger e a cuidar do mesmo.
de desertificação (CASTELLETTI et al., 2005).
Um estudo desenvolvido por Araújo e Sousa É importante destacar que os problemas
(2011) abordando o estado de conservação da vivenciados na Caatinga são reflexos de uma longa
Caatinga nordestina, destaca que a situação atual ação predatória, que não tem levado em
apresentada por esse bioma é resultante de fatores consideração os parâmetros de sustentabilidade,
favoráveis a situação de vulnerabilidade, das impossibilitando que o meio se recomponha-se de
condições do clima, dos solos, com também da forma natural.
exploração inadequada dos recursos naturais e No que diz respeito à percepção ambiental,
devido ao superpastoreio, o que tem contribuído trata-se, segundo Silva; Cândido e Freire (2009, p.
para diminuição da fauna original, ameaçando de 24) de:
extinção uma grande variedade de organismos.
Quando se analisa os ‘Desequilíbrios [...] um instrumento utilizado em diversas
Ambientais’ dessa região, dentre as maiores áreas do conhecimento, buscando a melhoria
preocupações, pode-se destacar o processo de da qualidade de vida do homem e dos outros
desertificação, que tem se intensificado pela seres vivos, podendo ser definida como uma
ocupação e intervenção humana desordenada, sensibilização em relação ao ambiente pelo
provocando a perda de solos férteis, a extinção de homem, no caso, o ato de perceber o ambiente
várias espécimes da fauna e da flora, afetando a no qual se está inserido, protegendo e
biodiversidade e a população humana (ABÍLIO; cuidando do mesmo.
FLORENTINO, 2011).
Por outro lado, o Estado da Paraíba, onde o A partir do estudo da percepção ambiental é
presente estudo foi realizado, é a unidade federativa possível compreender as diferentes formas de ver e
que possui o maior percentual de área com nível de sentir o ambiente, possibilitando um maior
desertificação em nível muito grave, afetando o dia- envolvimento com as especificidades de cada
a-dia de mais de 653 mil pessoas residentes em seu comunidade, de maneira que possa ser desenvolvida
território (ABÍLIO; FLORENTINO, 2011). uma educação ambiental participativa, capaz de
Nesse cenário, o bioma Caatinga é valorizar o contexto ambiental, social, cultural,
considerado um tema emergente, já que a exploração econômico e ético, elementos estes importantes para
de recursos naturais realizada de forma o processo relacional homem-sociedade e natureza.
indiscriminada provoca danos irreparáveis no âmbito Assim sendo, levando em consideração o fato
ambiental, social e econômico, afetando, assim, a de que a Caatinga é o único bioma exclusivamente
sustentabilidade desse ecossistema. brasileiro, com biodiversidade composta por fauna e

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flora peculiar, mas que lamentavelmente é representar a intenção de garantir a precisão dos
desvalorizada e pouco explorada cientificamente, resultados, evitar distorções de análise e
como também marginalizada no processo educativo, interpretação, e, possibilitado uma margem de
este trabalho objetiva analisar a percepção ambiental segurança quanto às inferências (RICHARDSON,
dos docentes de uma escola do município de Patos, 2010).
Estado da Paraíba, correlacionando-a com as Como instrumentos de coletas de dados
características evidenciadas no bioma Caatinga. utilizou-se questionários estruturados, contendo
questões conceituais sobre a Biodiversidade e
2 Materiais e Métodos relativas ao Bioma Caatinga, com a finalidade de
conhecer a percepção ambiental e aspectos
A pesquisa foi realizada com 10 professores relacionados a práticas pedagógicas do professor no
da Escola Estadual de Ensino Médio José Alves campo da Educação ambiental.
Gomes, localizada no município de Patos, Estado da A escolha pela utilização de questionários se
Paraíba, durante o mês de setembro de 2016. O deu, principalmente, pela facilidade de se descrever
estudo caracterizou como sendo uma pesquisa de as características e por permitir uma melhor medição
cunho quali-quantitativo, onde utilizou-se os dos variáveis dos grupos sociais estudados (GIL,
pressupostos teórico-metodológicos elementos da 1999).
etnografia escolar.
Segundo Chizzotti (1995, p. 104), “a pesquisa 3 Resultados e Discussão
qualitativa objetiva provocar o esclarecimento de
uma situação para uma tomada de consciência pelos Inicialmente, procurou-se sabe dos
próprios pesquisados dos seus problemas e das professores entrevistados o que é para eles a
condições que os geram, a fim de elaborar os meios Educação Ambiental. Os dados obtidos com esse
e estratégias de resolvê-los”. questionamento encontram-se apresentados no
Para esta pesquisa, utiliza-se também medidas Gráfico 1.
quantitativas associadas às qualitativas, buscando

Gráfico 1. Distribuição dos participantes quanto ao que é Educação Ambiental


80% Uma proposta educativa
70% inovadora, voltada para as
70% questões relacionadas ao
meio ambiente (n=2)
60%
Uma forma de se discutir as
50%
questões ambientais,
40% levando em consideração
apenas os impactos
30% econômicos (n=1)
20% Um processo que visa
20% formar uma população
10% mundial consciente e
10% preocupada com o ambiente
e com os problemas que lhe
0% dizem respeito (n=7)

Analisando-se o Gráfico 1 verifica-se que de Embora existam várias definições para a


acordo com 20% dos professores entrevistados, a Educação Ambiental, utiliza-se com uma maior
Educação Ambienta é vista como sendo uma frequência a definição apresentada durante o
proposta educativa inovadora, voltada para as Congresso de Belgrado, promovido pela UNESCO
questões relacionadas ao meio ambiente, 10% em 1975, oportunidade em que a EA foi definida
entendem tal disciplina como sendo uma forma de se como sendo um processo que visa:
discutir as questões ambientais, levando em [...] formar uma população mundial consciente
consideração apenas os impactos econômicos. No e preocupada com o ambiente e com os
entanto, 70% definem a Educação Ambiental como problemas que lhe dizem respeito, uma
sendo um processo que visa formar uma população população que tenha os conhecimentos, as
mundial consciente e preocupada com o ambiente e competências, o estado de espírito, as
com os problemas que lhe dizem respeito. motivações e o sentido de participação e

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engajamento que lhe permita trabalhar técnicas e métodos que facilitem o processo de
individualmente e coletivamente para resolver tomada de consciência sobre a gravidade dos
os problemas atuais e impedir que se repitam problemas ambientais e a necessidade urgente
[...] (UNESCO apud MARCATTO, 2002, p. de nos debruçarmos seriamente sobre eles.
14).
Assim, pelo demonstrado, a EA é um
Assim sendo, constata-se que a EA é um processo que busca mudar a forma de como o ser
processo que objetiva promover a conscientização humano ver o meio ambiente, envolvendo-o nas
coletiva da sociedade em relação à necessidade de discussões sobre os problemas ambientais, tornando-
preservar o meio ambiente como um todo, formando o responsável pela construção de um mundo no qual
cidadãos conscientes quanto ao seu papel nesse se garanta condições dignas de vida para as gerações
processo de preservação. futuras, de forma que estas possam desfrutar
Destaca Marcatto (2002, p. 12) que: também dos recursos naturais hoje existentes.
Num segundo momento, procurou-se saber
A educação ambiental é uma das ferramentas dos professores que participaram a presente
existentes para a sensibilização e capacitação pesquisa, como eles definiriam a Caatinga, enquanto
da população em geral sobre os problemas bioma. O Gráfico 2 sintetiza os dados colhidos nesse
ambientais. Com ela, busca-se desenvolver questionamento.

Gráfico 2. Distribuição dos participantes quanto ao à definição de Caatinga


45%
40% Como uma região árida que
40% possui uma vegetação à base
de cactáceas (n=3)
35%
30% 30%
30%
Um bioma diversificado e
25% único no mundo (n=4)

20%

15%
Um bioma que possui suas
singularidades mas que
10%
ainda não foi estudado de
forma completa (n=3)
5%

0%

De acordo com os dados apresentados no lugar do planeta, além do nordeste do Brasil


Gráfico 2, 30% dos professores entrevistados (ANDRADE, 2001).
definem a caatinga como sendo uma região árida Informam Ferreira et al. (2007) que a
que possui uma vegetação à base de cactáceas; 40% Caatinga cobre quase todo o nordeste brasileiro,
conceituam a Caatinga como sendo um bioma atingindo uma área de quase 10% do território
diversificado e único no mundo. E, os demais (30%), nacional, abrangendo os Estados do Ceará, Rio
como um bioma que possui suas singularidades, mas Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe,
que ainda não foi estudado de forma completa. Alagoas e Bahia, sul e leste do Piauí e norte de
Duque (2004, p. 31) define a Caatinga como Minas Gerais. Entretanto, essa vegetação única,
sendo “um conjunto de árvores e arbustos constitui-se no terceiro bioma mais degradado
espontâneos, densos, baixos, retorcidos, leitosos, de ambientalmente, no Brasil, perdendo apenas para
aspecto seco, de folhas pequenas e caducas, no verão Floresta Atlântica e para o Cerrado.
seco, para proteger a planta contra a desidratação Afirmam Rocha et al. (2007, p. 2629) que:
pelo calor e pelo vento”.
A Caatinga é o único bioma exclusivamente Dentre os biomas brasileiros, é o menos
brasileiro. Por isso, grande parte do patrimônio conhecido cientificamente e vem sendo
biológico dessa região não é encontrada em outro tratado com baixa prioridade, não obstante ser

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um dos mais ameaçados, devido ao uso grandes extensões desse bioma, objetivando plantar
inadequado e insustentável dos seus solos e pastagens e outras culturas, a exemplo do algodão,
recursos naturais, e por ter cerca 1% de sem, contudo, preocupar-se com o desequilíbrio
remanescentes protegidos por unidades de ecológico proveniente de suas ações impensadas.
conservação. Em ato continuo, indagou-se dos professores
entrevistados quais as plantas típicas da Caatinga
Ao longo de quase quinhentos anos, a que apresentam um maior destaque. O Gráfico 4
Caatinga é explorada. De forma inconsciente, o apresenta os resultados colhidos com esse
homem utilizando-se de queimadas, devastou questionamento.

Quadro 1 - Espécies Vegetais típicas da Caatinga citadas pelos docentes


Famílias Espécimes (Nome popular) Percentual (%)
Braúna 20%
Anacardiaceae Umbuzeiro 80%
Palmatória 10%
Cactaceae Mandacaru 30%
Xique-xique 60%
Caesalpinioideae Catingueira 60%
Jucá 40
Burseraceae Imburama 100%
Bromeliaceae Macabira 100%
Angico 60%
Mimosaceae Jurema 40%
Marmeleiro preto 70%
Euphorbiaceae Pinhão 30%
Urticaceae Urtiga 100%
Apocynaceae Pereiro 100%

Analisando o Quadro 1 verifica-se que o principalmente, durante o período de estiagens


pereiro, a urtiga, o marmeleiro preto, o angico, a (ALBUQUERQUE et al., 2010).
imburana, a catingueira, o xique-xique, a macambira Já em relação ao uso da madeira, dentre as
e o umbuzeiro, encontram-se entre as espécies espécies vegetais da caatinga citadas pelos
vegetais mais citadas pelos professores entrevistados professores, destacam-se o pereiro, o angico e a
na presente pesquisa. imburana. No entanto, tem-se que reconhecer que a
Algumas dessas espécies possuem uso exploração desordenada desses recursos,
medicinal tanto na etnobotânica quanto na principalmente, para a produção de carvão vegetal,
etnoveterinária, como é o caso do pereiro, angico, tem comprometido a sustentabilidade do bioma
pinhão, urtiga, jurema e catingueira (RODRIGUES Caatinga (ALBUQUERQUE et al., 2010).
et al., 2002). Indagou-se ainda dos professores da Escola
Outras, porém, são utilizadas na alimentação Estadual de Ensino Fundamental Simeão Leal, quais
tão do homem, quanto de animais, com destaque as espécies de animais nativos da Caatinga que eles
para o umbuzeiro e o mandacaru, para a alimentação mais conheciam. Os resultados obtidos foram
humana e o xique-xique, a palmatória, macambira, o condensados e apresentados no Quadro 2.
marmeleiro para alimentação animal,

Quadro 2 - Animais típicos da Caatinga citados pelos docentes


Classe Espécies (Nome popular) Percentual (%)
Préa 60%
Mamífero Tatu 30%
Gato do Mato (Maracajá) 10%
Cobra 40%
Repteis Camaleão 20%
Lagartixa 40%
Carcará 10%

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Aves Rolinha 70%


Anum 20%
Abelha jandaira 20%
Insetos Formiga 50%
Besouro do cão 30%

Quando se analisa o Quadro 2, constata-se que ferrão, produz um excelente mel que além de ser
segundo os professores entrevistados, as espécies de consumido como alimento, possui uma utilização
animais típicos da Caatinga que são por eles medicinal, sendo adicionado a algumas plantas
conhecidas são: o preá (mamífero), a cobra e a medicinais a exemplo do mastruz, do limão, da
lagartixa (repteis), a rolinha (ave) e as formigas laranja, da hortelã, da romã, bem como o e alho,
(insetos). Alguns dos animais relacionados no principalmente, no sertão paraibano (ANDRADE et
Quadro 2, são com grande frequência abatidos e al., 2012).
consumidos pelo sertanejo como forma de alimento, Posteriormente, perguntou-se aos professores
com destaque para preá, o tatu, o gato maracajá, o que integram a amostra, o que vem a ser meio
carcará, a rolinha e o anum. Este último, a espécie ambiente. As respostas colhidas nesse
mais consumida é o anum branco. questionamento foram transformadas em dados e
No que diz respeito à abelha jandaira, apresentadas no Gráfico 3.
popularmente conhecida como uma abelha sem

Gráfico 3. Distribuição dos participantes quanto ao que vem a ser Meio Ambiente
60% É o espaço que reúne as
condições necessárias à
50% sobrevivência dos seres
50% vivos (n=2)

40% É o conjunto dos elementos


físico-químicos,
30% ecossistemas naturais e
30% sociais em que se insere o
Homem, individual e
20% socialmente (n=3)
20% É o conjunto de condições,
leis, influências e interações
de ordem física, química e
10%
biológica que permite,
abriga e rege a vida em
0% todas as suas formas (n=5)

Com base nos dados apresentados no Gráfico mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre
3, para 20% dos professores entrevistados, meio todos os seres vivos, inclusive o homem”.
ambiente é o espaço que reúne as condições Vários são os conceitos existentes para o
necessárias à sobrevivência dos seres vivos; 30% termo meio ambiente. No entanto, a noção básica
entendem como sendo o conjunto dos elementos que se tem sobre o mesmo é a de trata-se de tudo
físico-químicos, ecossistemas naturais e sociais em que existe em volta dos seres vivos, incluindo
que se insere o Homem, individual e socialmente. também aquilo que não possui vida, além das
Contudo, 50% definem o termo meio ambiente manifestações socioculturais. Por outro lado, o meio
como sendo o conjunto de condições, leis, ambiente diz respeito aos fatores bióticos, edáficos e
influências e interações de ordem física, química e climáticos que determina a sobrevivência dos seres
biológica que permite, abriga e rege a vida em todas vivos sobre a Terra.
as suas formas. Através do 4º questionamento, indagou-se dos
O próprio IBGE (2004, p. 210) define meio professores participantes, como eles caracterizam o
ambiente como sendo o “conjunto dos agentes Semiárido. No Gráfico 4 encontram-se apresentados
físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais os dados relativos a esse questionamento.
susceptíveis de exercerem um efeito direto ou

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Gráfico 4. Distribuição dos participantes quanto ao fato de como eles


caracterizam o Semiárido
45% Apresenta clima quente e
40%
40% baixas precipitações com
distribuição irregular
35% (n=3)
30% 30%
30%
Apresenta solos
25% pedregosos e pobres em
matéria orgânica (n=3)
20%
15%
Apresenta rede de
10% drenagem formada por
riachos e rios temporários
5% (n=4)
0%

Com base no Gráfico 4, verifica-se que 30% agressivo, havendo uma predominância de cactáceas
dos professores entrevistados, caracterizam o colunares a exemplo do mandacaru e do facheiro,
Semiárido como sendo uma região que apresenta além de outros arbustos e árvores com espinhos.
clima quente, possuindo também baixas Nessa região, o solo é bastante pedregoso e pouco
precipitações distribuídas de forma irregular; 40% profundo. E, por isso, não consegue armazenar a
afirmaram que o Semiárido apresenta rede de água que cai, durante o período chuvoso (DUQUE,
drenagem formada por riachos e rios temporários, 2004).
enquanto que os demais (30%) declararam que tal Posteriormente, indagou-se dos professores
região se caracteriza por apresentar solos pedregosos participantes, de que forma eles trabalham a
e pobres em matéria orgânica. temática ambiental em suas disciplinas. O Gráfico 5,
O Semiárido nordestino caracteriza-se por por sua vez, sintetizam os dados relativos a esse
possuir uma vegetação que apresenta um aspecto questionamento.

Gráfico 5. Distribuição dos participantes quanto à forma como


trabalham a temática ambiental em suas disciplinas
70%
60% Como tema transversal
60% (n=6)

50%

40% Mediante a realização de


palestras/seminários (n=2)
30%
20% 20%
20%
Através de aulas de campo
(n=2)
10%

0%

Quando se analisa o Gráfico 5, verifica-se que outros 20% informaram que utilizam-se de aulas de
60% dos professores entrevistados trabalham a campo para trabalharem a temática meio ambiente.
temática ambiental como um tema transversal; 20% De acordo com Sato (2002, p. 37):
declararam que exploram a referida temática
mediante a realização de palestras ou seminários e

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Há diferentes formas de incluir a temática transformando tal fenômeno em números,


ambiental nos currículos escolares, como exprimindo percentuais, etc. Ao utilizar tal recurso o
atividades artísticas, experiências práticas, professor consegue melhor contextualizar suas aulas,
atividades fora de sala de aula, produção de fazendo com que as mesmas sejam facilmente
materiais locais, projetos ou qualquer outra compreendidas por seus alunos. Em síntese, através
atividade que conduza os alunos a serem dos Temas Transversais pode obter o resgate da
reconhecidos como agentes ativos no processo dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos,
que norteia a política ambientalista. Cabe aos a participação ativa na sociedade.
professores, por intermédio de prática
interdisciplinar, proporem novas metodologias 4 Conclusão
que favoreçam a implementação da Educação
Ambiental, sempre considerando o ambiente A pesquisa de campo possibilitou concluir que
imediato, relacionado a exemplos de a maioria dos professores entrevistados entende a
problemas atualizados. Educação Ambiental como um processo que tem por
objetivo construir uma sociedade consciente sobre a
Diante da necessidade se trabalhar a Educação necessidade de se preservar o meio e de se discutir
Ambiental, cabe à escola a missão de procurar a as questões a ele relacionadas. E, que o meio
melhor maneira objetivando tornar possível uma ambiente diz respeito a um conjunto de condições,
aprendizagem significativa. Assim, em toda e que permitem a existência dos seres vivos na Terra.
qualquer ação desenvolvida, ela deve proporcionar a É consenso entre a maior parte dos
participação de todas os seus alunos nesse processo, entrevistados de que a Caatinga constitui um bioma
revendo o currículo de forma a garantir um melhor único no mundo, possuindo suas singularidades,
desenvolvimento da interdisciplinaridade. sendo formado por uma vegetação à base de
De acordo com Marcatto (2002, p. 19): cactáceas. Especificamente em relação ao
Semiárido, os entrevistados possuem o entendimento
[...] propõe-se que as questões ambientais não de que se trata de uma região, que em razão das
sejam tratadas como uma disciplina específica, condições climáticas, é formada por riachos e rios
mas sim que permeie os conteúdos, objetivos temporários, apresentando ainda solos pedregosos e
e orientações didáticas em todas as disciplinas. pobres em matéria orgânica.
A educação ambiental é um dos temas Uma significativa conclusão proporcionada
transversais dos Parâmetros Curriculares por esta pesquisa diz respeito ao fato de que a escola
Nacionais do Ministério da Educação e Cultura. a qual encontram-se vinculados os entrevistados,
vem desenvolvendo um projeto ambiental,
Independente da disciplina que leciona, o demonstrando uma certa preocupação com o meio
professor em sua sala de aula deve abordar a saúde e ambiente, possibilitando a formação de uma melhor
os questionamentos a ela relacionados, seja como percepção ambiental e dando os primeiros passos
parte dos conteúdos didáticos ou em forma de tema para sua transformação em escola promotora da
transversal. Nesse sentido, expressam os Parâmetros sustentabilidade.
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 64), que Os dados coletados também demonstraram
a transversalidade: que todos os professores entrevistados,
independentemente da disciplina que lecionam,
[...] pressupõe um tratamento integrado das trabalham a temática ambiental em suas salas de
áreas e um compromisso das relações aulas, e, que a maioria faz isto de forma transversal,
interpessoais e sociais escolares com as embora considere difícil trabalhar tal temática.
questões que estão envolvidas nos temas, a Essa dificuldade alegada pela maioria dos
fim de que haja uma coerência entre os professores entrevistados em trabalhar a Educação
valores experimentados na vivência que a Ambiental, traz implicações para o processo de
escola propicia aos alunos e o contato contextualização do ensino, no que diz respeito à
intelectual com tais valores. necessidade de se focalizar o Semiárido nas
discussões promovidas no contexto escolar. E, como
Analisando a citação transcrita acima, tal temática não é abordada de forma ampla, vem
percebe-se que a transversalidade é um recurso que contribuindo para limitar o conhecimento sobre a
em muito enriquece a aula. Através de tal recurso, é região Semiárida, apresentado pelos alunos da
possível o professor de Matemática, por exemplo, maioria dos professores entrevistados.
abordar em sala de aula as questões ambientais, Este fato demonstra a necessidade de uma
discutindo quanto do território brasileiro encontra-se maior capacitação por parte dos professores em
vem sofrendo com a degradação ambiental, torno das questões ambientais, bem como a

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necessidade de uma definição de novas LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C.


metodologias que proporcionem uma maior (eds.). Ecologia e conservação da caatinga. Recife:
aquisição de conhecimento por parte dos alunos, EDUFPE, 2005.
proporcionando, assim, uma aprendizagem
significativa e a formação de cidadãos CHIZZOTI, A. A pesquisa qualitativa em ciências
ecologicamente conscientes. humanas e sociais: evolução desafios. Revista
Em resumo, existe a necessidade de se investir Portuguesa de Educação. Braga, v. 16, n. 2, p. 221-
na formação continuada destes professores, de 236, 2006.
maneira que sejam trabalhado aspectos de
instrumentação de seus conhecimentos, de forma a DUQUE, G. Solo e água no polígono das secas.
desenvolver cada vez mais a Educação Ambiental Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2004.
para o desenvolvimento sustentável de Semiárido
nordestino. FERREIRA, L. M. R. [et al]. Análise
fitossociológica comparativa de duas áreas serranas
5 Referências de caatinga no cariri paraibano. VIII Congresso de
Ecologia do Brasil, 23 a 28 de Setembro de 2007.
ABÍLIO, F. J. P.; FLORENTINO, H. S. Educação Anais..., Caxambu-MG.
Ambiental e o Ensino de Geografia na Educação
básica. In: ABÍLIO, F. J. P.; SATO, M. (Org.). GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social.
Educação ambiental: do currículo da educação 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
básica às experiências educativas no contexto do
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