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CONHECIMENTO E USOS TRADICIONAIS

DE RECURSOS FAUNÍSTICOS POR UMA


COMUNIDADE AFRO-BRASILEIRA.
RESULTADOS PRELIMINARES.
ERALDO MEDEIROS COSTA-NETO

s interações homem/ani- seu componente humano (Diegues, 1996),


mais constituem uma das uma vez que os conservacionistas vêem os
cinco conexões básicas “O papel da cultura nas povos tradicionais como entrave à conser-
que toda e qualquer sociedade, em qual- relações do homem com a vação. Mas as populações humanas que
quer época e lugar, mantém com o Uni- vivem dentro e ao redor de Unidades de
natureza é o ponto de partida
verso. As outras quatro são: mineral, botâ- Conservação, em geral caracterizadas
nica, humana e sobrenatural (Marques, da concepção de um como “tradicionais”, constituem um com-
1995). A diversidade de interações com os desenvolvimento sustentável que ponente essencial da paisagem e suas ati-
animais tanto pode ser estudada do ponto vidades são fundamentais para a conserva-
de vista das disciplinas da ciência ociden-
possa garantir a sobrevivência ção e uso compatível dos recursos naturais
tal, tais como zoologia, psicologia e etolo- da espécie numa cadeia de a longo prazo (Redford e Stearman, 1989;
gia, quanto pela perspectiva da etnociên- harmonia e de reciprocidade Jordan, 1995; Neves, 1995; Redford e
cia, mais particularmente da etnozoologia. Mansour, 1996). Sachs (1997) comenta
O prefixo etno refere-se ao sistema de co- com a natureza.” que não se pode falar de biodiversidade
nhecimento e cognição típicos de uma da- MARIN (1996). separando-a da diversidade cultural. Hoje,
da cultura (Sturtevant, 1964). Desse modo, muitos conservacionistas reconhecem que
a etnozoologia pode ser entendida como a maioria da diversidade biológica do pla-
sendo o estudo dos conhecimentos do ho- neta é encontrada em paisagens ocupadas
mem sobre os animais e também dos usos tância que o Princípio 22 da Declaração pelo homem (Alcorn, 1995).
da fauna pelo homem (Bahuchet, 1992), do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvol- Marques (1993) já co-
ou parafraseando D’Olne Campos (1995), vimento defende que “os povos indígenas mentou sobre os modelos de conservação
como o estudo da ciência zoológica do e suas comunidades e outras comunidades importados de países do primeiro mundo,
“Outro” construída a partir do referencial locais têm um papel significativo no ma- os quais, “unindo-se com a ignorância
de saberes da Academia. nejo e desenvolvimento ambientais devido das circunstâncias locais, tornam exclu-
Segundo Ellen (1997), o ao seu conhecimento e práticas tradicio- dentes as populações pobres que depen-
conhecimento biológico tradicional é o re- nais” (Speth et al., 1992). dem dos recursos ambientais não comer-
sultado de gerações de experiências acu- Como dito acima, o co- cializados da área protegida e não encon-
muladas, experimentação e troca de in- nhecimento biológico tradicional ou tráveis além dela”. Os povos indígenas e
formação. Esse conhecimento vem ga- etnobiológico não pode ser mantido sem o tradicionais de muitos países argumentam
nhando atenção em todo o mundo, uma componente da experiência: se desejamos que a sua falta de poder político e de
vez que os saberes e técnicas tradicionais preservar esse conjunto de experiências controle sobre os recursos naturais, aliada
complementam o conhecimento científico devemos trabalhar para conservar os mo- com a imposição de paradigmas desen-
em áreas como: pesquisa e avaliação de dos de vida dos quais elas emergem e de- volvimentistas ocidentais, contribuíram
impactos ambientais; manejo de recurso e senvolvem-se (etnias). No entanto, a visão significativamente não apenas para a sua
desenvolvimento sustentável (Posey, 1984; comum em países que detêm o título de alienação, mas também para uma perigo-
Johannes, 1993; Morin-Labatut e Akhtar, megadiversos é a concepção e implantação sa degradação do meio ambiente (Morin-
1992; Sillitoe, 1998). Tal é a sua impor- de parques de vida silvestre destituídos de Labatut e Akhtar, 1992).

PALAVRAS-CHAVE / Etnozoologia / Etnoconhecimento / Medicina Popular / Brasil /

Eraldo Medeiros Costa-Neto. Biólogo, Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Mestre em


Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFAL. Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São
Carlos. Professor Assistente, Etnobiologia, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Endereço: UEFS, Km. 3, BR
116 Feira de Santana, Bahia, Brasil. e-mail: eraldont@uefs.br

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Uma vez que as popula-
ções tradicionais são vulneráveis ao des-
locamento territorial, perda dos direitos e
pirataria dos recursos (Guha, 1997), polí-
ticas de desenvolvimento planejadas para
regiões habitadas por comunidades indí-
genas e/ou locais devem ser conduzidas
de uma forma socialmente justa e que
respeite tanto a diversidade cultural quan-
to a diversidade biológica dos ecossiste-
mas em que estão inseridas. Desconside-
rá-las significa ignorar possibilidades
múltiplas no momento de se definir no-
vas estratégias de desenvolvimento, pois
quando as comunidades locais não são
envolvidas no processo tornar-se difícil,
se não impossível e mais oneroso para os
planejadores e tomadores de decisão,
identificar e entender os valores ecológi-
cos, sociais, culturais, econômicos e espi-
rituais dos vários componentes do
ecossistema (Sallenave, 1994).
Partindo-se dessas obser-
vações, o presente artigo visa registrar os
conhecimentos etnozoológicos relaciona-
dos com o comportamento (reprodutivo e
social) e a ecologia trófica de recursos
faunísticos, bem como descrever os usos
populares (interações medicinal e trófica)
desses mesmos recursos e as atividades
cinegéticas e pesqueiras desenvolvidas
por moradores da comunidade de Reman-
so, a qual se encontra inserida na Área
de Proteção Ambiental dos Marimbus/
Iraquara, localizada na região central do
estado da Bahia, nordeste do Brasil. O
estudo visa também documentar informa-
ções que possam enriquecer a ciência Figura 1. Localização da Chapada Diamantina dentro do estado da Bahia, Brasil.
ocidental e gerar benefícios para a comu- Fonte: CEI
nidade estudada.
A região, inserida no as culturas do milho, feijão e mandioca
Área de Estudo polígono das secas, apresenta um clima as mais importantes. O excedente da pro-
úmido a subúmido, com temperatura vari- dução agrícola e produtos da pesca são
A Área de Proteção Am- ando de 6ºC a 30ºC e índice pluviomé- comercializados semanalmente na feira
biental dos Marimbus/Iraquara situa-se na trico de 1.266 mm. A vegetação consti- pública de Lençóis. A dieta é comple-
região orográfica conhecida como Chapa- tui-se de floresta estacional semidecidual mentada com proteínas oriundas da caça
da Diamantina e inclui os municípios de e decidual, contato cerrado-floresta esta- e da pesca e carboidratos provenientes de
Lençóis, Palmeiras, Seabra, Andaraí e Ira- cional e cerrado arbóreo aberto, sem flo- méis e frutas silvestres.
quara, apresentando uma extensão de resta de galeria. A estação chuvosa vai
125.400 hectares na área centro-norte do de novembro a janeiro (Centro de Estatís- A Coleta de Dados
estado da Bahia (Anuário Estatístico da tica e Informação, 1994). Aspectos geoló-
Bahia, 1997). A comunidade de Remanso gicos e geotectônicos são encontrados em Os dados aqui apresenta-
(Figura 1) está 100% nela inserida e foi Misi e Silva (1994). dos referem-se a trabalho de campo desen-
escolhida como local de estudo devido a A comunidade de Re- volvido entre outubro de 1995 a maio de
sua localização (próximo à cidade de Len- manso, fundada na década de 1920, é ha- 1996. Foram realizadas sete excursões à
çóis, cujas coordenadas geográficas são bitada por aproximadamente 350 indiví- comunidade, o que totalizou 20 dias de tra-
12º34’S e 41º23’W), seu isolamento relati- duos da etnia afro-brasileira. Trata-se de balho de campo. Nesse período, 13 infor-
vo (o acesso à comunidade é feito por tri- uma população pobre, que está política e mantes de ambos os sexos e de idades que
lhas que atravessam a mata ou por uma economicamente à margem da cidade de variaram de 27 a 70 anos foram entrevista-
precária estrada não pavimentada), sua di- Lençóis. Até recentemente, as habitações dos. Estes eram caçadores, pescadores e
versidade em ecossistemas e em espécies eram simples choupanas feitas com pare- agricultores, os quais foram escolhidos se-
animais, o pouco conhecimento bibliogra- des de barro e cobertas com folhas secas gundo a indicação dos próprios moradores.
ficamente registrado a seu respeito e o de palmeiras, como o dendê (Elaeis Crianças também participaram do estudo
grau de impactos sócio-ambientais a que guineensis) e o ouricuri (Syagrus coro- ajudando na coleta de espécimes de insetos.
está sujeita em decorrência do crescimento nata). Os moradores de Remanso prati- Os dados foram obtidos
da atividade turística. cam a agricultura de subsistência, sendo por meio de entrevistas abertas com o in-

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TABELA I = ecologia trófica, MED = uso medici-
COGNIÇÃO COMPARADA REFERENTE AO COMPORTAMENTO REPRODUTI- nal, REPRO = reprodução, ETO =
VO DOS RECURSOS FAUNÍSTICOS, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DOS MORA- etologia, etc. Os espécimes foram identi-
DORES DA COMUNIDADE DE REMANSO, LENÇÓIS, BAHIA ficados comparando-se as descrições
fornecidas pelos informantes com a litera-
Informações nativas Informações da literatura tura pertinente e através de registros foto-
gráficos.
“Piranha (Serrasalmus brandtii) choca que “Algumas espécies de Serrasalmus têm a
nem outros peixes”, reputação de pôr guarda a massas de ovos O Conhecimento Etnozoológico
postas sobre raízes ...” (Welcome em dos Moradores de Remanso
Marques, 1995).
A primeira abordagem
“Quando o jacaré está choco ele fica valente. “(...). A presença de um adulto pode deter etnozoológica no povoado de Remanso
Enquanto não tira os filhotes, (ele) fica lá”. predadores e, se o ninho é ameaçado, a permitiu o registro da percepção, do co-
mãe pode atacar” (Pough et al., 1993). nhecimento e dos modos de uso de
artrópodos, peixes, répteis (cobras, lagar-
“Os filhotes (referindo-se à prole do cága- “(...). A temperatura do ninho (de tos, quelônios e crocodilianos), aves e
do-d’água, Phrynops geoffroanus) geram tartarugas) afeta a taxa de desenvolvimento mamíferos. Para fins de apresentação, o
no calor”. embrionário (Pough et al.,1993). etnoconhecimento dos moradores de Re-
manso sobre a fauna nativa foi dividido
“Apanharí (Astronotus cf. ocellatus) toma “(...), é peixe (referindo-se a Astronotus em seções, as quais abordam desde os as-
conta dos filhotes”. ocellatus) prolífico e cheio de cuidados
pectos comportamentais e de ecologia
com a prole que protege até certo período
trófica aos usos medicinal e alimentar
da vida” (Santos, 1987).
dos recursos faunísticos. As atividades
“Luís-cacheiro (Coendou prehensilis, “Porcos-espinhos (Erethizontidae) dão à luz cinegética e pesqueira também são desta-
Erethizontidae) produz pouco”. a um único filhote” (Emmons e Feer, cadas. Vale ressaltar que as informações
1990). apresentadas aqui referem-se a breves
aportes do conhecimento etnozoológico
“O cágado (P. geoffroanus) põe mais de 12 “O príncipe de Wied (apud Goeldi, 1905) de uma comunidade do interior baiano.
ovos”. observou, na Bahia, desovas de Phrynops
geoffroanus com 12 a 18 ovos esféricos, Etnoconhecimento Relacionado com o
de casca dura, (...)” (Molina, 1998). Comportamento Reprodutivo

O comportamento repro-
“Geralmente são quatro filhotes ou tudo “Como outros membros do gênero, D. dutivo dos animais é conhecido pelos
macho ou tudo fêmea (referindo-se ao tatu- novemcinctus produz jovens múltiplos a moradores de Remanso, que distinguem
verdadeiro, Dasypus partir de um único óvulo fertilizado. Para não apenas os modos e os períodos em
novemcinctus)”. essa espécie, o número de filhotes é quase que os nascimentos e/ou desovas ocor-
sempre quatro” (Redford e Eisemberg, rem, como também os comportamentos
1992). associados com a reprodução. O conjunto
de informações referentes ao comporta-
mento reprodutivo de peixes, mamíferos
tuito de registrar informações sobre o co- cos tem sido pela obtenção desse mode- e répteis mostra-se consistente com os
nhecimento e a utilização dos elementos lo. Desse modo, os conhecimentos dos dados que são encontrados na literatura
faunísticos, empregando-se a abordagem 13 informantes foram considerados indis- (Tabela I). Sobre o comportamento repro-
êmica (Sturtevant, 1964). Esta consiste tintamente de serem concordantes ou não. dutivo do cágado-d’água (Phrynops geo-
em registrar a visão tradicional, ou seja, Os controles foram feitos através de tes- ffroanus, Chelidae), por exemplo, os in-
o modo como os habitantes locais perce- tes de verificação de consistência e de formantes disseram que a desova dessa
bem, organizam e manejam seu Universo, validade das respostas (Marques, 1991), espécie ocorre no inverno (“No tempo
sem impor as categorias ocidentais do recorrendo-se a entrevistas repetidas em quase perto das águas”), com a fêmea
pesquisador. As expressões e palavras na- situações sincrônicas e diacrônicas. As pondo mais de 12 ovos1. Na construção
tivas foram mantidas a fim de gerar mai- primeiras ocorrem quando uma mesma do ninho, os informantes afirmaram que
or confiança entre as partes. As entrevis- pergunta é feita a pessoas diferentes em “a fêmea bebe um pouco de água e vai
tas duravam de cerca de poucos minutos tempo bastante próximo e as segundas, cavando e moiando o chão. Ela vai mi-
a uma hora. Elas foram registradas por quando uma pergunta é repetida à mesma jando e apilando”. Terminada a desova, a
escrito e/ou através de mini-gravador. As pessoa em tempos bem distintos. A con- fêmea “tapa os ovos com a terra”. Refe-
entrevistas eletromagneticamente registra- sistência e a robustez do conhecimento rindo-se ao tempo de postura de P.
das foram transcritas e encontram-se de- tradicional foram observadas mediante a geoffroanus, Molina (1998) afirma que
positadas no Laboratório de Etnobiologia construção de tabelas de cognição com- este entende-se de outubro a abril. Mo-
da Universidade Estadual de Feira de parada, nas quais trechos das entrevistas lina (1998) também refere-se à observa-
Santana. são comparados com trechos da literatura ção que o príncipe de Wied fez sobre as
Os dados foram analisa- referente ao bloco de informação citada desovas de P. geoffroanus quando esteve
dos segundo o modelo de união das di- (Marques, 1995). As informações foram no estado da Bahia, registrando ninhos
versas competências individuais (Hays categorizadas e agrupadas segundo codi- contendo de 12 a 18 ovos. Segundo da-
apud Marques, 1991). Segundo este au- ficação correspondente, como HAB = dos da literatura, o processo de escavação
tor, a tendência em trabalhos etnocientífi- hábitat, MORF = morfologia, ECOTROF da cova, às vezes, é seguido pela mo-

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lhadura do solo pela água da vesícula da TABELA II
cloaca (Carr, 1995). Dentre as várias hi- COGNIÇÃO COMPARADA REFERENTE À ECOLOGIA TRÓFICA DOS RECUR-
póteses existentes para a eliminação des- SOS FAUNÍSTICOS, SEGUNDO A PERCEPÇÃO DOS MORADORES DA COMU-
se líquido, a mais aceita é a de que o NIDADE DE REMANSO, LENÇÓIS, BAHIA.
mesmo facilitaria o trabalho de abertura
da cova, uma vez que o substrato torna- Informações nativas Informações da literatura
se pastoso quando umedecido pelo líqui-
do (Molina, 1992, 1998). A fêmea fecha “Cágado (Phrynops geoffroanus) come les- “(...) a dieta natural destes cágados (referin-
a cova valendo-se dos membros posterio- ma, lama e ovo de galinha”. do-se a espécimes de Phrynops) parece
res, puxando o substrato para dentro e, constituir-se de pequenos peixes, moluscos,
em seguida, compactando-o com aproxi- vermes e possivelmente vegetais aquáticos”
madamente três batidas (Molina, 1998). (Molina, 1990).
Os informantes reconheceram que os fi-
“O martim-pescador (Chloroceryle sp., “Observamos, (...), que um martim-pescador
lhotes “geram-se no calor” e eclodem dos
Alcedinidae) caga e quando a bosta cai na (Alcedinidae) atraiu peixinhos deixando
ovos quando “troveja”. A literatura regis-
água as piabas se ajuntam e aí ele cai em cair na água suas fezes ...” (Sick, 1997)
tra que a taxa de desenvolvimento embri- cima”.
onário dos quelônios é guiada pela tem-
peratura do ninho (Pough et al., 1993). “Urubu (Cathartes sp.) come dendê”. “O urubu-de-cabeça-vermelha (referindo-se
Esse conjunto de infor- a Cathartes aura) (...) gosta de frutas, in-
mações acerca do comportamento repro- clusive de cocos de palmeiras como a
dutivo dos cágados-d’água torna-se muito macaúba (...) e o dendê (Elaeis
importante para os pesquisadores, uma guineensis)” (Sick, 1997).
vez que “o conhecimento da biologia e
do comportamento das espécies sulameri- “Jacaré (Crocodilia) come sapo”. “Os crocodilianos, todos carnívoros (...),
canas da família Chelidae encontra-se “Jacaré (idem) come traíra, corró, piau, pi- variam suas presas (...); alimentam-se so-
ainda muito deficiente” (Molina, 1998). ranha; de tudo ele arromba”. bretudo de (...) anfíbios, (...) e naturalmente
Daí a relevância dos estudos etnozoo- de peixes” (Ballains em Marques, 1995).
lógicos.
No que concerne ao
comportamento reprodutivo de aves, ob- “Guaxo (Cacicus cf. cela) e sofreu (Icterus “Entre os frutos mais procurados por (...) e
servou-se a presença de antropomorfis- jamacaii) comem dendê (uma arecácea)”. o sofrê, Icterus jamacaii, estão os cocos
mos através do “ciúme” do joão-de-barro maduros do buriti, Mauritia (também uma
(Furnarius sp.). Segundo os informantes, arecácea)” (Sick, 1997).
quando o joão-de-barro desconfia que
está sendo traído por sua “esposa” ele a “Luís-cacheiro (Coendou prehensilis) se ali- “Alimenta-se de sementes de frutos verdes,
prende dentro do ninho, fechando a en- menta de jaca verde”. frutos verdes ou maduros, frutos de palmei-
trada. A fêmea é emparedada viva, vindo ras e ocasionalmente casca e provavelmente
a morrer dias depois: “Quando a gente de folhas” (Emmons e Feer, 1990).
abre, tá o esqueleto dela lá”. Sick (1997)
refere-se a esse fato como “uma das mais to próximo ao ninho pode deter predado- De acordo com Redford e Eisenberg
famosas lendas antropomórficas”. Do res (Pough et al., 1993). (1992), um bando de capivaras é formado
ponto de vista da etnozoologia o fenôme- Outros exemplos de co- por um macho dominante, várias fêmeas
no do emparedamento pelo suposto “ciú- nhecimentos deturpados registram que es- adultas com filhotes e machos subordina-
me” merece ser estudado, pois quem sabe corpiões-fêmeas morrem após cuidarem dos como membros periféricos. Santos
se novos conhecimentos biológicos a res- dos filhotes e que o himenóptero conhe- (1984) diz ainda que “cada grupo possui
peito de furnariídeos não estariam sendo cido pelo nome de cavalo-do-cão (Pompi- uma demarcação efetiva de território,
codificados nessa informação ? lidae) gera-se dos ovos gorados de co- estabelecida pelo macho dominante”. Dos
Não obstante o conheci- bras. Aparentemente, essas informações quatis, os informantes disseram que eles
mento tradicional referente ao comporta- devem ser consideradas como contradi- “andam de rebanho” ou “de cardume”.
mento reprodutivo mostrar-se coerente, de- ções, uma vez que não constam na litera- Redford e Eisenberg (1992) também regis-
turpações, às vezes, apareceram. Os infor- tura pertinente. tram que os quatis ocorrem em grupos
mantes compartilharam a informação se- que variam de dois até mais de 20 indiví-
gundo a qual é o jacaré-macho quem toma Etnoconhecimento Relacionado com o duos. As fêmeas e seus filhotes formam
conta do ninho, permanecendo nas redon- Comportamento Social bandos permanentes, enquanto os machos
dezas até que os filhotes eclodam dos são solitários e percorrem grandes exten-
ovos. Os informantes sustentaram também Os informantes mostra- sões.
a idéia de que o macho deve permanecer ram ter um conhecimento apurado sobre Com relação aos caiti-
com os olhos abertos, pois caso ele o comportamento social de capivaras tus, os informantes reconheceram que o
“pinique” (pisque) os ovos goram (tor- (Hydrochaeris hydrochaeris), de quatis bando é composto por 50 animais e que
nam-se inutilizados). O cuidado parental (Nasua nasua) e de caititus (Tayassu o “chefe vai na frente”. De fato, agrega-
também foi expresso da seguinte forma: tajacu). Das capivaras, disseram existir ções de T. tajacu com mais de 50 ani-
“Quando o jacaré está choco ele fica va- só um “chefe” por bando. Segundo sua mais já foram observadas (Redford e
lente. Enquanto não tira os filhotes, ele (o percepção, o macho que for mais valente Eisenberg, 1992), sendo o bando coman-
macho) fica lá”. Segundo dados da litera- vence e chefia o bando. Esse conheci- dado por um indivíduo mais velho e,
tura, a fêmea é quem verdadeiramente põe mento está coerente com o que é conhe- portanto, com maior experiência (Santos,
guarda ao ninho e a presença de um adul- cido sobre a estrutura social da capivara. 1984).

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Etnoconhecimento Relacionado com a lhas quanto os marimbondos possuem aruará (Pomacea sp.), cuja massa de ovos
Ecologia Trófica uma “abeia-mestre”. Um pequeno verso é usada como emplastro em casos de
registra a sua existência: “Veado comeu desmentidura dos pés, e o escorpião (Ti-
O conhecimento etnozo- na baixa/E descansou no campestre/ tyus sp.), cuja dor provocada por sua
ológico referente à ecologia trófica dos Abéia-miúda faz mel/ Por causa da abeia- ferroada é atenuada esmagando-se o
animais é igualmente compatível com o mestre”. Esta provavelmente corresponde agressor e colocando-se a massa resultan-
conhecimento zoológico acadêmico (Ta- à rainha na visão científica ocidental. te no local atingido.
bela II). Sobre o comportamento alimen- Com relação à ecologia No que se refere ao con-
tar das aves, por exemplo, os informantes trófica dos peixes, constatou-se que os sumo de peixes, o cumbá ou bate-papo
reconheceram que o urubu (Cathartes sp.) moradores de Remanso possuem um co- (Parauchenipterus galeatus), o apanharí
come o fruto do dendê (Elaeis guineensis) nhecimento detalhado de suas interações (Astronotus cf. ocellatus) e o uiuiú (Ery-
e que o carão ou gavião-lesmeiro (Aramus tróficas. Eles inserem-se, inclusive, com- thrinus unitaeniatus) foram considerados
guarauna) alimenta-se de moluscos local- portalmentalmente na rede trófica geral remosos4 porque são classificados como
mente denominados de aruarás (Pomacea através da manipulação das cadeias ali- peixes de couro. Ao contrário, a traíra
sp.). Sick (1997) registra que Cathartes mentares por meio da adição de recursos/ (Hoplias spp.) e a piranha (Serrasalmus
aura gosta de frutas, inclusive de cocos iscas no ambiente, como é o caso do uso brandtii) foram tidos como peixes “man-
das palmeiras macaúba e dendê. Esse au- de “iscas da terra” (minhocas – anélidas sos” apesar de terem muita espinha. Isso
tor também diz que o alimento básico do oligoquetas) para a captura de corrós significa que esses peixes podem ser con-
carão é o aruá (Pomacea guyanensis). (Cichlidae), do uso de cupins (Isoptera) e sumidos por qualquer pessoa e em qual-
Das informações regis- de coco assado para pescar piaus (Lepo- quer período. Dos peixes citados, o
tradas, merece destaque a que versa sobre rinus sp.) e do uso de larvas e pupas de cumbá foi o único considerado como re-
a briga do teiú (Tubinambis merianae) abelhas e vespas para a coleta de traíra curso medicinal. Os informantes afirma-
com as cobras (e. g., cascavéis). Segundo (Hoplias malabaricus) e cumbá (Parau- ram que o esporão desse peixe, moído e
os informantes, esse lagarto não sofre as chenipterus galeatus). misturado ao alimento do indivíduo, fun-
conseqüências da peçonha das serpentes ciona como um afrodisíaco.
porque tem o hábito de consumir a raiz Animais como Recursos Terapêuticos O cágado-d’água (P.
da planta localmente denominada de ba- e Alimentares geoffranus) tem importância na dieta e
tata-de-teiú ou carapiá2, a qual é conside- medicina locais, pois os moradores de
rada como tendo propriedade anti-ofídica. Cerca de 23 espécies Remanso tanto se alimentam dos ovos e
Com isso, ele torna-se apto para enfrentar animais foram consideradas como recur- dos indivíduos adultos quanto utilizam
as cobras, vencendo-as e devorando-as. sos medicinais pelos entrevistados (Tabe- partes do corpo do animal para elabora-
Marques (1999), ao realizar uma revisão la III). A maioria dos produtos zootera- ção de remédios. Um informante, no en-
sobre a interação teiús/cobras/plantas, su- pêuticos provém da caça, da pesca e da tanto, considerou-o “comida sem prestí-
gere que valeria a pena testar a hipótese coleta do mel. Desse modo, os moradores gio”. Tal fato parece ser contestado pelo
segundo a qual esses lagartos, em deter- de Remanso maximizam a energia e o número de cascos encontrados atrás das
minadas ocasiões, poderiam concentrar (e tempo despendidos nessas atividades reu- casas ou sobre os telhados. Na medicina
biomagnificar ?) substâncias bioativas de nindo alimentos e remédios. popular, o pó do casco torrado é usado
plantas medicinais. Dentre a entomofauna no preparo de um chá, o qual é recomen-
Ainda com relação à local, as abelhas sobressaem-se como re- dado para tratar derrame (AVC ?). A ba-
ecologia trófica dos teiús, um dos infor- cursos de significativa importância para nha, frita, é tomada às gotas para curar
mantes levantou a hipótese de que a po- os moradores da comunidade de Reman- reumatismo ou é passada no local afeta-
pulação desses répteis teria diminuído de- so, uma vez que os méis silvestres são do. Outras comunidades também utilizam
vido à ingestão de larvas de lepidópteros. bastante consumidos como alimento e o cágado como remédios. Costa e Schia-
Segundo ele, as “peles” (tegumento) das como remédio. As etnoespécies registra- vetti (1999), por exemplo, encontraram o
lagartas consumidas grudavam-se nos in- das foram: jataí (Tetragonisca sp.), que uso do casco de Phrynops sp. para o tra-
testinos dos lagartos, levando-os à morte. produz pouco mel; asa-branca (?); man- tamento de “perebas” (feridas) por comu-
Uma vez que lagartos do gênero Tubi- daçaia (Melipona sp. ?); uruçu (Melipona nidades ribeirinhas do sul da Bahia. A
nambis caracterizam-se por serem onívo- cf. scutellaris), a qual foi tida como a utilização trófico-medicinal e o registro
ros oportunistas (Normam em Marques, abelha que produz o melhor mel; tubi de conhecimentos etnozoológicos sobre
1995), valeria a pena investigar essa hi- (?); arapuá (Trigona spinipes) e italiana cágados-d’água do gênero Phrynops tam-
pótese de depleção para a população de ou oropa (Apis mellifera). Esta última, foi bém foram realizados por Alves e Souto
teiús na região. considerada uma abelha “porca” pelo há- (1998) no Açude de Bodocongó, em
Considerando-se o co- bito de construir seu ninho com “tudo Campina Grande, estado da Paraíba.
nhecimento popular sobre a fauna apí- que é imundície” (e.g., fezes de animais). As duas etnoespécies de
cola, os informantes afirmaram que a Na medicina, os méis da arapuá, da jacarés (jacaré-do-papo-amarelo, Caiman
arapuá (Trigona spinipes) pousa sobre uruçu e da oropa servem para tratar tos- cf. latirostris e crocodilo, Paleosuchus
carniças, isto é, sobre organismos em de- se, enquanto que o mel da jataí é usado palpebrosus ?) são aproveitadas como
composição. Disseram também que as para curar gripes. Outros produtos extraí- alimento, embora o sejam clandestina-
abelhas “trabalham na chuva para come- dos da arapuá também utilizados como mente devido à proibição do Instituto
rem na seca”, uma vez que nesse período remédios são: a pedra3, a qual serve para Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-
“elas não têm com o que produzir”. Isto preparar um xarope recomendado no tra- cursos Naturais Renováveis (IBAMA). É
é, as abelhas produzem e estocam mel tamento da tosse, e o “samburá” ou pó- na medicina popular, no entanto, que os
durante o inverno, no tempo de inflo- len, com o qual se faz um xarope tam- jacarés são mais utilizados, transforman-
rescência, e usam essa reserva energética bém recomendado para tosse. do-se em recursos de uso múltiplo. Do
durante os meses que constituem o verão. Outros recursos inverte- casco torrado, faz-se um chá que é reco-
Reconheceram, ainda, que tanto as abe- brados utilizados como remédios são: o mendado para o tratamento de “doença

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do vento” (derrame ?). As presas extraí- de cana-de-açúcar (“cachaça”). O pó de tratamento do reumatismo, massageando-
das são atadas a um patuá5, o qual é pen- um pedaço da “catana” ou “cabo” (cau- se o local afetado. O chocalho da casca-
durado no pescoço de uma criança pe- da) torrado é colocado em uma garrafa vel (Crotalus durissus) é usado contra o
quena. Os moradores acreditam que esse de cachaça, a qual é bebida como afro- seu próprio veneno, torrando-se-o e mis-
patuá evita que a criança venha a ter pro- disíaco. O pênis, também chamado de turando o pó resultante na comida, en-
blemas durante o surgimento da primeira “vergalho”, é utilizado para a mesma fi- quanto que uma cobra-coral (falsa ou
dentição. De acordo com Cascudo nalidade. verdadeira) é colocada dentro de uma
(1972), essa crença é comum em toda a Com relação às cobras, garrafa de cachaça e esta é enterrada por
América Latina. As presas também são observou-se que a banha da jibóia (Boa três dias. Após esse período, a garrafa é
usadas contra mordida de cobra, mistu- constrictor) e a banha da salamanta desenterrada e o conteúdo pode ser bebi-
rando-se a raspa do dente ao aguardente (Epicrates ceuchria) são utilizadas para o do para prevenir mordida de cobras.

TABELA III
RECURSOS FAUNÍSTICOS UTILIZADOS NA MEDICINA POPULAR DOS MORADORES DA COMUNIDADE
DE REMANSO, LENÇÓIS, BAHIA.

Taxonomia Parte usada Finalidade Modo de uso


Grupo animal Espécie Nome local

Molusco Pomacea sp. Aruá Massa de ovos Inchaço do pé Massagear a região


Arachnida Tityus sp. Escorpião Integral Contra sua Colocar sobre a área afetada
própria picada
Insecta Apis mellifera Oropa Mel Tosse Tomar o mel
Tetragonisca sp Jataí Mel Gripe Tomar o mel
Trigona spinipes Arapuá Pedra Tosse Fazer um xarope com açúcar
do arapuá e o pó da pedra do arapuá
Mel Tosse Tomar o mel
Pólen ... Fazer um xarope ou chá
(saburá)
Melipona cf. Uruçu Mel Tosse Tomar o mel
scutellaris
Osteichthyes Parauchenipterus Cumbá Esporão Impotência Torrar um esporão,
galeatus moer e fazer um chá com o pó
Répteis Crotalus durissus Cascavel Guizo Contra mordidas Torrar o guizo, moê-lo e misturar
(Chocalho) de cobras o pó na comida
Boa constrictor Jibóia Banha Reumatismo Passar na área afetada
Epicrates ceuchria Salamanta Banha Reumatismo Passar na área afetada
Micrurus spp. Coral Integral Contra mordida Colocar em uma garrafa de cachaça
de cobras e beber o líquido
Tupinambis merianae Teiú Cauda Surdez Usar como cotonete
Couro Reumatismo Torrar um pedaço do couro e fazer
um chá com o pó
Caiman cf. latirostris Jacaré-do Couro Derrame Fazer um chá com o pó do couro
-papo-amarelo torrado e moído
Paleosuchus Crocodilo Pênis Impotência Torrar, moer e pôr o pó em uma
palpebrosus (?) (vergalho) garrafa de cachaça
Dentes Contra mordida Fazer um chá com as raspas de
de cobra um dente
Cauda Impotência Torrar, moer e pôr o pó em uma
(catana) garrafa de cachaça
Aves Gallus domesticus Galinha Banha Gripe Beber a banha frita
domesticus
Rhynchotus Perdiz Pé Contra mordida Torrar, moer e fazer um chá com o pó
rufescens (?) de cobra
Crotophaga sp. Anu Integral Asma Cozinhar um anu sem penas e fazer
um chá
Mamíferos Coendou prehensilis Luís-cacheiro Espinhos Epilepsia Torrar os espinhos, moê-los e fazer
um chá com o pó
Leopardus sp. Gato-do-mato Língua Contra mordida Torrar a língua, moer e fazer
de cobra um chá
Procyon cancrivorus Guará Couro Epilepsia Torrar o couro, moer e fazer um chá
Hydrochaeris Capivara Banha Reumatismo Passar no local afetado
hydrochaeris
Nasua nasua Quati Pênis (binga) Impotência Fazer um chá com as raspas do pênis

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Dos lagartos citados, o extinção ou depleção das populações sel- lhor desenvolvido, os caçadores dão-lhes
teiú (Tupinambis merianae) foi o único vagens. Segundo Oldfield (1984), muitas cupim-bate-cabeça (Isoptera) como ali-
considerado como recurso medicinal. Se- espécies animais têm siso superexplotadas mento. Tal prática repete-se em culturas
gundo os informantes, a cauda do teiú é como fontes de remédios tanto pela in- díspares, como os índios Tewa do estado
utilizada como uma forma de cotonete dústria quanto pelas populações tradicio- do Colorado (EUA), que costumam colo-
para tratar dores de ouvido, enquanto seu nais. No entanto, a autora registra que o car o pó de mangangás (Hymenoptera,
couro, torrado, é remédio eficaz contra o conhecimento da medicina popular ainda Apidae) na comida de seus cães para
reumatismo. A utilização medicinal de te- é uma das fontes mais importantes para a torná-los bons caçadores (Henderson e
iídeos (inclusive os da espécie T. meria- descoberta de novas drogas naturais. Harrington, 1914).
nae) foi registrada para os estados de Fernandes-Pinto et al. (1998) afirmaram Segundo a crença local,
Alagoas (Freire, 1996), Ceará (Paiva e que “as pesquisas sobre usos regionais de a sexta-feira não é um dia recomendado
Campos, 1995), São Paulo (Begossi, animais contribuem para que a fauna sil- nem para caçar nem para pescar. Existe
1992) e Paraná (Fernandes-Pinto e Corrêa, vestre seja devidamente valorizada, não ainda a crença em uma entidade sobrena-
1998; Fernandes-Pinto et al., 1998). Na só do ponto de vista ecológico, mas tam- tural denominada de Dono do Mato, o
região da APA de Guaraqueçaba, por bém econômico e social, e contribui para qual protege os recursos naturais e tem a
exemplo, a gordura do teiú é utilizada a implantação de planos de manejo e de propriedade de dar vida um animal mor-
para 15 indicações terapêuticas (Fernan- conservação das espécies embasados to. Segundo os informantes, o Dono do
des-Pinto et al., 1998). numa realidade social”. Mato pode aparecer tanto como um ser
A avifauna é um recurso antropomorfo quanto um ser zoomorfo,
trófico e medicinal importante para os Atividades Cinegéticas como na forma de um caitetu grande.
moradores de Remanso. Aparentemente, Para se verem livres do contato com essa
todas as espécies de aves são utilizadas Embora a atividade de entidade, os caçadores e os pescadores
como alimento. As exceções são os uru- caça esteja proibida pelo IBAMA, os mo- deixam-lhe oferendas na mata, como um
bus (Ciconiformes) e a garrincha (Thryo- radores de Remanso continuam a exerce- pedaço de fumo e cachaça. Outras comu-
thorus sp. ?). Os primeiros porque são rem a atividade, atuando na clandestini- nidades nacionais também apresentam
considerados imundos e a segunda por- dade. Os animais são caçados para diver- crenças sobre entidades protetoras de re-
que é tida como uma ave azarenta. Na sas finalidades: xerimbabos, alimentação cursos (Marques, 1995; Costa Neto,
etnomedicina, os moradores utilizam a de subsistência, comércio de animais vi- 1999b). Aparentemente, a crença em uma
banha da galinha (Gallus gallus domes- vos e abatidos e fontes de recursos medi- entidade que protege os recursos e casti-
ticus) para tratar gripe, o pé da perdiz cinais. O consumo de animais silvestres ga aqueles que os usam inadequadamente
(Rhynchotus rufescens ?), o qual é reco- aparentemente tem uma importância nu- pode servir como uma estratégia de con-
mendado contra mordida de cobra, e o tricional significativa, tendo em vista os servação bastante eficiente.
anu (Crotofraga sp.), que cozido sem as baixos recursos econômicos das famílias Andriguetto-Filho et al.
penas, é indicado para tratar casos de locais e a conseqüente falta de condições (1998) afirmam que a atividade de caça e
asma. A indicação terapêutica dessas aves materiais para a compra de carne verme- sua importância entre as populações tra-
repete-se em outras localidades do estado. lha proveniente de criações. dicionais brasileiras têm sido desconside-
Em Feira de Santana, por exemplo, a ba- Dentre os mamíferos de radas no manejo das Unidades de Con-
nha da galinha é recomendada para o tra- importância cinegética, destacam-se: tapiti servação do país. Segundo os autores, a
tamento de furúnculos e catarro (Costa (Sylvilagus brasiliensis), mocó (Kerodon atividade de caça de subsistência, correta-
Neto, 1999a). sp.), pacoco (Sciurus aestuans), paca mente manejada, pode ser compatível
Os mamíferos utilizados (Agouti paca), cutia (Dasyprocta sp.), com um programa de conservação ambi-
na medicina popular são: gato-do-mato saruê (Didelphis albiventris), preá (Galea ental no qual a utilização de recursos na-
(Leopardus sp.), cuja língua é remédio spiix), veado (Mazama sp.), caititu (Ta- turais deve dar-se de maneira a conciliar
eficaz contra mordida de cobra; guará yassu tajacu) e os tatus peba (Euphractus as necessidades humanas com a proteção
(Procyon cancrivorus), cujo defumador sexcinctus) e verdadeiro (Dasypus noven- dos recursos naturais. Tal ponto de vista
do couro é recomendado para o tratamen- cinctus). Dentre os “pásso” (pássaros), encontra ressonância nas palavras de
to da epilepsia; capivara (Hidrochaeris destacam-se: juriti (Leptotila rufoaxilla), Sachs (1993), que diz que “a atividade
hidrochaeris), cujos ossos e o couro são zabelê (Crypturellus noctivagus), perdiz deve ser entendida como um sub-sistema
usados como um fortificante ósseo e para (Rhynchotus rufescens), codorna (Nothura do sistema rural, ao lado da agricultura,
reumatismo, respectivamente; quati (Na- boraquira) e jacu (Penelope supercia- da pesca e do extrativismo vegetal, e a
sua nasua), cujo pênis ou “binga” é usa- liaris). Com relação às cobras, observou- discussão do desenvolvimento na região
do para tratar casos de impotência; e se que geralmente são abatidas indistinta- deveria considerar sua importância para a
luís-cacheiro (Coendou prehensilis), cujos mente de serem peçonhentas ou não. No sustentabilidade, pelo menos em suas
espinhos são utilizados para tratar epilep- entanto, quando os moradores reconhe- vertentes social e econômica”. Ainda, o
sia. Esses zooterápicos encontram usos cem espécimes que se alimentam de ou- Artigo 23 da Convenção da Diversidade
similares em outras comunidades do esta- tras cobras, normalmente as afugentam Biológica diz que as atividades culturais
do (Costa Neto, 1999a). Na medicina sem feri-las. de populações indígenas e locais, tais
etnoveterinária, registrou-se o uso do A maioria das aves, pe- como a caça, a pesca e a coleta, devem
michila (Tamandua tetradactyla), cujo quenos mamíferos e répteis são captura- ser reconhecidas como fatores importan-
couro é colocado sobre as verrugas de dos com beca ou badoque. Armadilhas, tes na manutenção da cultura.
outros animais. O couro do michila cos- como a arapuca e a arataca, também são Dentre as etnoespécies
tumava ser utilizado para fazer reio de bastante utilizadas. A primeira serve para listadas, observou-se que o tatu-canastra
roda de casa de farinha por ser, segundo pegar os “pásso”, enquanto a segunda é (P. maximus), o tamanduá-bandeira (Myr-
os informantes, muito resistente. especial para a captura de tatus. Os cães mecophaga tridactyla) e o macaco-gua-
Importa dizer que o uso também são usados nas atividades de riba (Alouatta caraya) foram tidos como
de produtos zooterápicos pode resultar na caça e para terem o sentido do olfato me- extintos provavelmente devido à ativida-

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de de caça e à destruição de seus há- remédio, alimento, material de constru- identificaram um tipo de batata-de-teiú como
bitats. Uma alternativa para a recuperação ção, etc.). Tal conhecimento deveria ser sendo a espécie Jatropha elliptica M. Arg.
(Euphorbiaceae).
dessas e de outras espécies de valor cul- considerado no momento de se definir es- 3
Pedra do arapuá ou scutelum refere-se a uma
tural e econômico seria transformá-las em tratégias de conservação e no processo de região da colmeia de Trigona spinipes. Tra-
recursos manejáveis através de sistemas elaboração de planos de manejo para a ta-se de uma massa dura composta de resina,
de criação que integrassem tanto os sabe- Área de Proteção Ambiental dos Marim- cadáveres de abelhas e outros detritos
res e técnicas tradicionais quanto os co- bus/Iraquara uma vez que, segundo docu- (Almeida e Laroca, 1988).
4
Remoso refere-se ao alimento que tem a carac-
nhecimentos da academia. Estudos recen- mentos como Nosso Futuro Comum, o terística de exacerbar alguns problemas de
tes sobre a criação de espécies nativas manejo sustentável dos recursos naturais saúde quando ingerido (Begossi, 1992).
5
demonstram que esse novo tipo de mane- apenas poderá ser alcançado desenvolven- Patuá é uma espécie de amuleto que consiste
jo promove o reflorestamento de áreas do-se uma ciência baseada nas priorida- em um saquinho de couro ou de pano con-
tendo orações, ensalmos ou pequenos objetos
frágeis e a conservação de espécies des dos povos locais e pela criação de e que os crédulos trazem ao pescoço para os
ameaçadas (Fitzhugh e Wilhelm, 1995). uma base tecnológica que integre tanto as livrar de malefícios (Michaelis, 1998).
abordagens tradicionais quanto as acadê-
Atividades Pesqueiras micas para a solução dos problemas
(Morin-Labatut e Akhtar, 1992). Como REFERÊNCIAS
Devido ao perigo de se- diz Cuéllar (1997), “o desenvolvimento
rem pegos em flagrante na atividade de divorciado de seu contexto humano e
Alcorn JN (1995) Indigenous peoples and
caça, muitos moradores têm a pesca cultural não é mais do que um cresci- conservation. Em: Ehrenfeld D (Ed.)
como principal meio de obtenção de pro- mento sem alma”. Readings from Conservation Biology.
teína animal. Isso fica evidenciado na Considerando-se, ainda, Blackwell Science. Londres. pp. 20-22.
frase de um dos informantes, quando dis- que a cidade de Lençóis e seu entorno Almeida MC, Laroca S (1988) Trigona spinipes
se que “O IBAMA proibiu a caça, mas são símbolos do ecoturismo nacional e (Apidae, Meliponinae): taxonomia, biono-
tamo ainda vivendo do peixe”. Os pesca- internacional, a sustentabilidade da ativi- mia e relações tróficas em áreas restritas.
Acta Biológica Paranaense 17(1-4): 67-108.
dores de Remanso, em suas práticas diá- dade turística poderia ser alcançada por
Alves AGC, Souto FJB (1998) Etnoecologia do
rias de pesca, utilizam-se dos aspectos meio da participação das comunidades cágado-d’água Phrynops spp. (Testudino-
comportamentais, ecológicos e biológicos nativas tanto no planejamento como na morpha: Chelidae) no Açude Bodocongó,
dos peixes, o que lhes permite a devida implantação da atividade, uma vez que Campina Grande, PB. Resumos do II Sim-
captura dos recursos pesqueiros. Segundo elas conhecem as características ecológi- pósio Brasileiro de Etnobiologia e Etnoeco-
logia. p. 83.
os informantes, o peixe mais valorizado cas do meio natural e o seu limite de sa-
Andriguetto-Filho JM, Krüger AC, Lange MBR
na região é o tucunaré (Cichla cf. te- turação. Governo e entidades privadas (1998) Caça, biodiversidade e gestão ambi-
nensis), o qual é uma espécie exótica. poderiam ainda buscar a melhoria das ental na Área de Proteção Ambiental de
Dentre os instrumentos de pesca utiliza- condições de vida da população de Re- Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Biotemas
dos, citam-se: o jararão, que consiste de manso pela sustentabilidade cultural, pro- 11(2): 133-156.
uma rede de nylon retangular presa nas curando incentivar o desenvolvimento das Anuário Estatístico da Bahia (1997) Superinten-
extremidades em varas de madeira e que atividades culturais e artesanais. Isso pos- dência de Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia. Salvador.
é arrastada no rio ou na lagoa; o jiqui e sibilitaria aos moradores não só o aumen-
Bahuchet S (1992) Esquisse de l’ethnoichthyo-
o munzuá, os quais são fabricados com o to de sua renda, mas a permanência da logie des Yasa du Cameroun. Anthropos 87:
cipó-caboclo e utilizados principalmente cultura local. Os moradores também po- 511-520.
para a pesca da traíra (Hoplias spp.) e pi- deriam ser incluídos no processo de de- Begossi A (1992) Food taboos at Buzios Island
ranha (Serrasalmus brandtii); a tarrafa é senvolvimento atuando como guias ecoló- (Brazil): their significance and relation to
também bastante comum. O tingui tam- gicos treinados para levar grupos de tu- folk medicine. Journal of Ethnobiology
12(1): 117-139.
bém é usado. Trata-se de um cipó ristas através de trilhas nos rios e na
Carr A (1995) Handbook of turtles: the turtles
ictiocida utilizado primariamente pelos mata por eles conhecidas e utilizadas. of the United States, Canada, and Baja
indígenas. Para usá-lo, os pescadores de A conservação do co- California. Cornell University Press. New
Remanso tiram um feixe e bate com ele nhecimento tradicional pode também ter York.
na água. Momentos depois, o cipó “solta conseqüências práticas para enfrentar a Cascudo C (1972) Dicionário do folclore brasi-
um sumo e o peixe tonteia e sobe”. Infe- crise ecológica recente, pois novos mode- leiro. Ediouro: Rio de Janeiro.
lizmente, não foi possível a coleta de los de desenvolvimento que incorporem o Centro de Estatística e Informação (1994) Infor-
material em condições de se chegar à sua ponto de vista “nativo” terão mais mações básicas dos municípios do estado
da Bahia: Chapada Diamantina. Governo
identificação taxonômica. O viveiro, feito chances de serem ecológica e socialmente do Estado da Bahia. Salvador.
de uma espécie de cipó, permite manter acertados (Marques, 1991). O manejo Costa RC da S, Schiavetti A (1999) A diversi-
os peixes vivos dentro do rio até o mo- correto do espaço e dos recursos naturais dade ambiental, o conhecimento e seu uso
mento de serem comercializados na feira e o respeito pelo conhecimento tradicio- pelas comunidades ribeirinhas da bacia hi-
de Lençóis. nal permitiriam a manutenção da qualida- drográfica do Rio Cachoeira, sul da Bahia,
Brasil. Resumos do I Encontro Baiano de
de do meio ambiente, assim como a con- Etnobiologia e Etnoecologia, pp. 15-16.
Conclusão servação dos recursos naturais e culturais Costa Neto EM (1999a) “Barata é um santo re-
para usufruto tanto das gerações presen- médio”: introdução à zooterapia popular
Os moradores do povoa- tes quanto futuras. no estado da Bahia. UEFS. Feira de
do de Remanso possuem um conhecimen- Santana.
to etnozoológico tão coerente quanto o Costa Neto EM (1999b) Recursos animais utili-
conhecimento zoológico acadêmico. Eles NOTAS zados na medicina tradicional dos índios
Pankararé que habitam no nordeste do esta-
dependem de seu conhecimento tradicio- 1 do da Bahia. Actualidades Biológicas
O autor, inclusive, conseguiu observar e cole-
nal sobre os animais (e vegetais) para a tar 12 ovos de um ninho no dia 14 de março 21(70): 69-79.
devida apropriação dos recursos da natu- de 1999. Cuéllar JP (1997) Nossa diversidade criadora:
reza e utilização para fins diversos (e. g., 2
No estado do Mato Grosso, Silva et al. (1998) relatório da Comissão Mundial de Cultura

430 DEC 2000, VOL. 25 Nº 9


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Donde hay educación no hay distinción de clases.

Confucio

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