Você está na página 1de 16

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE BIODIVERSIDADE E SUSTENTABILIDADE


PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS E CONSERVAÇÃO

PRÁTICAS ETNOECOLÓGICAS DO POVO KAYABI DA TERRA INDÍGENA


APIAKÁ-KAYABI NA PRODUÇÃO E EXTRATIVISMO DE ALIMENTOS

Rosalia de Aguiar Araújo

Taddeus Gregory Blanchette


1 INTRODUÇÃO

Sociedades tradicionais e indígenas têm manejado os recursos naturais e


modificado os ecossistemas, promovendo até mesmo o enriquecimento do fluxo
gênico, através de seu cultivo e domesticação, alterando e formando novas
paisagens (ANDERSON, 2011 apud CRUZ, 2014). Pesquisadores em ciências
naturais e conservacionistas começam a reconhecer que grupos, como os
indígenas, têm um conhecimento peculiar sobre seu ambiente e um importante
papel em estratégias de conservação e manejo de recursos naturais (SHEIL;
LAWRENCE, 2004 apud CRUZ, 2014).
Esse conjunto de conhecimentos sobre as relações entre as espécies e
destas com o ambiente é descrito na literatura como conhecimento ecológico local
(CEL), conhecimento ecológico indígena (CEI) ou ainda conhecimento ecológico
tradicional (CET). Para melhor compreender estas relações entre os seres humanos
e o seu meio, encontramos na etnoecologia um campo fértil para pesquisas, que
inclui os fatores abióticos, claramente indicando uma interação entre pessoas e
ambiente (PRADO; MURRIETA, 2015). Toledo (1992), sugere que a etnoecologia
tem suas raízes na antropologia, mesmo que se apresente como uma área de
confluência entre as ciências biológicas e as ciências humanas. Cruz (2014), faz
referência ao prefixo “etno” que possui dois significados: primeiro se refere a um
grupo étnico em particular e segundo, como referência às percepções do grupo
local.
As pesquisas de natureza etnoecológica ou etnobotânica procuram explorar
a importância cultural e econômica das espécies para o modo de vida das
populações, associando seus saberes e práticas com o manejo dos recursos
naturais, investigando o CEL de um povo e como este pode ser útil para a
conservação biológica, o empoderamento das comunidades, respeitando, sobretudo,
os direitos de propriedade intelectual sobre os conhecimentos dessas populações
(HUNN, 2007 apud CRUZ, 2014).
No contexto das populações indígenas, o uso do CEL ou do CEI para
investigações sobre as paisagens, caça, pesca, botânica, ou seja, atributos físicos,
biológicos e culturais estão se tornando cada vez mais instrumentos de luta e
empoderamento das comunidades para a gestão e manejo dos territórios e recursos
(BRASIL, 2012). Por outro lado, a manutenção e o resgate de conhecimentos
tradicionais e ecológicos podem ser integrados ao conhecimento científico, o que
pode assegurar os direitos territoriais dessas populações que estão sob constantes
ameaças constantes de perdas de terras e soberania.
Nos últimos nove anos, com parcerias entre Unemat de Juara, Museu do Vale
do Arinos e Instituto Ecumam, desenvolveram projetos e atividades juntos e com os
indígenas que moram na Terra Indígena Apiaká-Kayabi, entre eles o povo Kayabi.
Essa proximidade nos permite perceber a preocupação das lideranças e dos anciãos
com o comprometimento das tradições dos Kayabi, visto que as alterações são
dinâmicas e os mais jovens, segundo relato de anciãos, não se ocupam mais da
pesca e da caça. Também notamos que alguns rituais e festas estão sendo
modificados ou não ocorrem mais por conta da dificuldade na aquisição da matéria
prima que não se encontra mais nas suas terras.
Desta forma o objetivo desta pesquisa é avaliar padrões de sustentabilidade
ambiental dos Kayabi que vivem na Terra Indígena Apiaká-Kayabi, a partir das
múltiplas práticas etnoecológicas na obtenção de alimentos.
Por meio da observação direta, visitas guiadas, aplicação de questionários e
entrevistas com os moradores, pretende-se como objetivos específicos: (i) estimar a
etnodiversidade e abundância de caça e pesca consumidos pelos Kayabi; (ii)
descrever as técnicas utilizadas para caça e pesca, associando o uso do
conhecimento tradicional com a forma de exploração destes recursos; (iii) entender a
dinâmica utilizada para o manejo dos roçados e estimar sua agrobiodiversidade e;
(iv) descrever as auto restrições alimentares e analisar sua relação com a
conservação ambiental, evidenciando se são fruto da cultura ou surgem a partir de
percepções da redução do recurso.
As populações indígenas são marcadas por forte herança de violência,
exclusão e soberania ocidental, dinâmica esta que provoca constantes mudanças
em sua cultura e modo de vida, principalmente se considerar as alterações que
ocorrem na região onde moram. Essas mudanças não descaracterizam o
tradicional, desde que sejam preservados os principais valores que fazem dela
uma população que possui fortes laços com os ambientes naturais e culturais.
Mesmo habitando terras demarcadas, a grande maioria sofre pressão do
entorno seja pela grilagem de terras, mineração, extração de madeira e mais
recentemente os impactos da mecanização agrícola, por não indígenas. Por outro
lado, sabemos que a proteção da floresta é mais evidente em terras indígenas,
quer pela proibição do acesso aos não indígenas, quer pela relação próxima dos
indígenas com a natureza.
A busca e obtenção da alimentação também podem gerar grandes
pressões sobre os ecossistemas, principalmente a caça e a pesca, mesmo que
seja considerado como soberania alimentar dos indígenas. Este recurso
representa uma das mais importantes ações impossíveis de serem abandonadas
pelas populações indígenas, estando diretamente relacionada ao estoque de
recursos faunísticos (caça e pesca) e agrícolas, e responsáveis pelo constante
avanço de grupos econômicos fortes de forma desrespeitosa até as últimas
fronteiras das terras indígenas. (Cavalcanti, 1995).
Diante destes fatores questiona-se: quais são as práticas etnoecológicas
do povo Kayabi da Terra Indígena (TI) Apiaká-kayabi na obtenção de recursos
alimentares como a pesca, a caça e os sistemas agrícolas? Essas práticas podem
ser consideradas sustentáveis? Ou ainda, podem essas práticas etnoecológicas
comprometer as tradições e cultura deste povo?
Considerando a proximidade da TI Apiaká-Kayabi do centro urbano de
Juara, pode-se perceber a influência desta no consumo de alimentos
industrializados, o que distancia o jovem da alimentação tradicional indígena,
porém o conhecimento da cultura do povo Kayabi pode provocar o
empoderamento dos jovens.
Outra hipótese a se considerar é que o povo Kayabi que reside na aldeia
Tatuí deve ampliar o sistema agrícola, considerando a pressão do entorno da TI,
seja pelo desmatamento ou pela utilização de agrotóxicos na agricultura
mecanizada, o que provoca uma imigração da fauna, contamina os rios, o que
diminui a disponibilidade das fontes de alimentação, como caça e pesca, portanto.
2 OBJETIVOS:

2.1 OBJETIVO GERAL:


Avaliar padrões de sustentabilidade ambiental dos Kayabi que vivem na Terra
Indígena Apiaká-Kayabi, a partir das múltiplas práticas etnoecológicas na obtenção
de alimentos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

● Estimar a etnodiversidade e abundância de caça e pesca consumidos pelos


Kayabi;
● Descrever as técnicas utilizadas para caça e pesca, associando o uso do
conhecimento tradicional com a forma de exploração destes recursos;
● Entender a dinâmica utilizada para o manejo dos roçados e estimar sua
agrobiodiversidade;
● Descrever as auto restrições alimentares e analisar sua relação com a
conservação ambiental, evidenciando se são fruto da cultura ou surgem a
partir de percepções da redução do recurso.
3 METODOLOGIA

3.1 LOCALIZAÇÃO:

Juara dista aproximadamente 720 km da capital de Mato Grosso, se situando


a noroeste do estado, latitude 11° 15' 05.56"S e longitude 57° 30' 18.14"O, se
constitui como cidade polo da região denominada Vale do Arinos. Os rios Juruena e
Arinos são os principais cursos d’água, drenando-a no sentido sul-norte. A cidade de
Juara está situada à margem direita do rio Arinos.
A área da cidade de Juara e entorno, conforme mapeados na escala
1:250.000 pelo Projeto Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico do Estado de Mato
Grosso (2018), está assentada sobre o domínio de solos do tipo Podzólico
Vermelho-Amarelo distrófico, passando a eutrófico mais a região norte do perímetro
urbano e periurbano. Os solos Podzólicos Vermelho-Amarelo distróficos apresentam
horizonte A moderado pouco profundo e profundo, textura média/argilosa, fases
Floresta Equatorial Subperenifólia, relevo forte ondulado.
A vegetação é a Floresta Equatorial Subperenifólia e originam-se de rochas
cristalinas do Complexo Xingu (granitos, gnaisses, migmatitos, etc.). (LIMA;
MODESTO FILHO; MOURA, 2017). “Encontra-se na unidade de Clima Equatorial
Continental Úmido, com estação seca definida da Depressão Sul-Amazônica”
(LIMA; MODESTO FILHO; MOURA, 2017, p. 70).
A população de Juara se constitui dos povos indígenas Kayabi, Apiaká,
Rikbaktsa e Munduruku, além de imigrantes de várias regiões do país,
particularmente de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Criada em meados de
1970, conta com sua economia prioritariamente baseada na agropecuária.
Os povos indígenas de Juara/MT, habitam duas Terras Indígenas: Japuíra e
Apiaká-Kayabi (SILVA e SATO, 2010). O povo Kayabi, ou como se autodenominam
“Kawaiweté” (KAYABI, 2016), habitam a Terra Indígena Apiaká-Kayabi, porém são
originários da região conhecida como “Batelão” que no municípios de Tabaporã e
que se encontra em processo de demarcação. Os Kayabi se dividiram em três áreas
por volta da década de 60, durante a operação Kayabi: Xingú, Alto Teles Pires e
Aldeia Tatuí em Juara/MT (GRÜNBERG, 2004). O foco desta pesquisa é o povo
Kayabi que habita a Terra Indígena Apiaká-Kayabi, distante 60 quilômetros do centro
urbano do município de Juara/MT, com uma extensão territorial de 109.245 hectares,
homologada em 1991. O povo Kayabi, atualmente divide-se em quatro grandes
aldeias: Tatuí, Itu, Vale Verde e Figueirinha, além de diversos núcleos familiares.

3.2 TIPO DE PESQUISA:

Esta pesquisa propõe o uso do método misto de pesquisa, com abordagens


quantitativa e qualitativa. Creswell e Plano Clark apud Paranhos et. al. (2016, p. 391)
“definem métodos mistos como um procedimento de coleta, análise e combinação
de técnicas quantitativas e qualitativas em um mesmo desenho de pesquisa”.
A pesquisa qualitativa se dará na interpretação dos dados, na apresentação
da singularidade êmica do povo Kayabi, bem como a interação da pesquisadora com
os participantes da pesquisa, uma vez que a etnoecologia é “o campo de pesquisa
(científica) transdisciplinar que estuda os pensamentos (conhecimentos e crenças),
sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre populações
humanas e os demais elementos do ecossistema que as incluem, bem como dos
impactos ambientais daí decorrentes” (MARQUES, 2001).
A pesquisa quantitativa se dará na caracterização e classificação das
espécies de fauna e flora descritas e nomeadas pela população Kayabi,
determinando abundância e riqueza. Serão gerados gráficos de distribuição de
frequência para as espécies usadas e conhecidas, frequência de citação de
espécies, finalidades de uso, estruturas e temporalidade do uso (uso atual ou
passado), entre outros enfoques, com uso do programa Excel 2007.

3.3 COLETA DE DADOS:


A obtenção de dados, informações e evidências empíricas serão obtidas a partir
de três técnicas: 1) observação participante, registradas em diários de campo e 2)
entrevistas estruturadas de recordação alimentar e de caça e pesca e 3) entrevistas
semi-estruturadas de etnoconhecimento.

Sempre que possível e permitido as atividades serão filmadas ou gravadas


com uso de celular ou câmeras fotográficas ou ainda filmadoras.

3.3.1 CAÇA E PESCA

Efetuaremos entrevistas estruturadas com questionários em 30% das


residências, incluindo o casal e, oportunamente, filhos que já exerçam a caça e a
pesca. Para aferir sobre a alimentação, caça, pesca e outras fontes, presentes nas
refeições serão aplicados questionários de recordação alimentar 24 horas seguindo
a metodologia de Pezzuti (2003) e Carneiro (2015). Também será aplicado
questionário de recordação de pescaria, caçadas e coletas com os mesmos
moradores. Esses questionários serão aplicados uma vez por semana durante 2
meses na estação chuvosa e 2 meses na estação seca.
Na recordação da última pescaria e caçada realizada pelo informante,
coletaremos informações sobre a localização dos pontos de captura dos peixes e
animais, o tempo de deslocamento até os locais de pesca e caça, o tempo de
percurso entre outros locais utilizados, a duração da atividade em cada local e tipo
de ambiente. Registraremos os artefatos de pesca e caça, como: tipo de ponta
utilizada no arpão, tipo de isca e modo de locomoção. Registraremos também os
animais capturados em cada caçada e pescaria quanto ao número, espécie, sexo e
peso aproximado. O produto da caça e da pesca será identificado com auxílio do
departamento de Biologia da Unemat de Cáceres.

3.3.2 SISTEMA AGRÍCOLA

Técnicas de trabalho em campo (observação participante) e coleta de


informações com informantes chaves de cada família (utilizando-se de um roteiro
semi-estruturado para as questões a serem abordadas), visando:
a) Identificação, origem e tempo de introdução na área dos cultivos e cultivares
que cada família tem em suas roças;
b) identificação de técnicas de seleção, plantio, tratos culturais e armazenagem
para o cultivo.
Para conferir as questões sobre o sistema agrícola, tamanho e forma de roça,
questões relacionadas ao solo e divisões sócio espaciais, serão realizadas turnês
guiadas, que consistirão em visitas as principais roças das aldeias, na presença de
um informante local. Essas informações serão descritas em diário de campo, além
de registros fotográficos e audiovisuais.

3.3.3 OUTRAS FONTES DE ALIMENTAÇÃO:


Aplicar o questionário com a memória alimentar, identificando, além das
fontes alimentares descritas anteriormente, o uso de outro tipo de alimentação como
mel, frutos, etc. Este questionário será aplicado junto com o questionário de caça e
pesca.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS:


Pela abordagem quantitativa de pesquisa, os resultados serão analisados por
meio de técnicas estatística descritiva simples, como as médias, visando explicar a
composição da diversidade das etnoespécies de caça e pesca capturados, relação
média da proporção dos participantes de cada campanha das atividades propostas
envolvendo a caça e pesca.
Pela abordagem qualitativa, propõe-se interpretar e analisar a riqueza e
abundância das etnoespécies, data da caça e pescaria anterior à última recordada.
4 RESULTADOS PARCIAIS E DISCUSSÃO

Etnoconhecimento é uma forma própria e singular de um determinado grupo


de pensar, produzir e cultivar conhecimentos. Desta forma, pode-se entender que
quanto mais se pratica o conhecimento, mais se amplia os saberes de um povo, que
serão repassados de geração em geração, dos mais velhos para os mais jovens,
dos pais para os filhos.
Etnoecologia é um ramo da Etnobiologia que estuda o conhecimento
tradicional de um povo e a interação com o ambiente onde vive. Para alguns
pesquisadores, a etnoecologia é o estudo do ambiente de um determinado grupo,
algo único na história deste grupo, destacando as percepções ou visões do grupo
local sobre algum fenômeno natural.
A etnoecologia tem o objetivo de fornecer uma compreensão dos sistemas de
conhecimento de populações locais, pois investiga a percepção, cognição e uso do
ambiente natural, mas também não pode mais ignorar os aspectos históricos e
políticos que influenciam uma determinada cultura, bem como, as questões
relacionadas à distribuição, acesso e poder que dão forma aos sistemas de
conhecimento e das práticas deles resultantes. É como um conhecimento ecológico
tradicional, que demonstra que um povo tem relação próxima com o meio onde ele
vive, e conhece todos os espaços onde vive, pois faz parte da natureza dessa
população. Sabedores que o ambiente é o local onde se vive e conhece os animais,
plantas, rio, solo, chuva, frio, calor, sol e lua. E esse ambiente, quando é utilizado de
forma ecológica por um determinado povo, significa que há conhecimento e respeito
para mantê-lo conservado e equilibrado.
A Etnoecologia tem suas raízes na antropologia, apesar de possuir influências
de outras áreas (Toledo, 1992) e de hoje constituir-se claramente como uma área de
confluência entre as ciências biológicas e as ciências humanas. A introdução do
termo Etnoecologia na literatura científica está situada no ano de 1954, com a
dissertação de Harold Conklin sobre a relação entre uma população das Filipinas
com as plantas por ela manejadas.
A partir de então, o prefixo “etno” começou a ser usado com dois significados:
primeiro, para fazer referência a um grupo étnico em particular – assim, a
etnoecologia é o estudo da ecologia de um dado grupo étnico, algo único na história
deste grupo – e, segundo, fazendo referência às percepções ou visões do grupo
indígena/local sobre o fenômeno em questão (Fowler, 2000).
Uma outra perspectiva da Etnoecologia é oferecida por Gragson e Blount
(1999), segundo os quais a etnoecologia é usada para cobrir toda uma gama de
estudos de história natural derivados de populações locais e incluindo outras áreas
de estudo como a Etnobiologia, a Etnobotânica, a Etnoentomologia e a
Etnozoologia, mas não se restringindo à história natural a partir de uma perspectiva
antropológica. A etnoecologia procura, então, fornecer um entendimento dos
sistemas de conhecimento de populações locais (Gragson e Blount, 1999). Nazarea
(1999) lembra que a etnoecologia investiga os sistemas de percepção, cognição e
uso do ambiente natural, mas também não pode mais ignorar os aspectos históricos
e políticos que influenciam uma dada cultura, bem como as questões relacionadas à
distribuição, acesso e poder que dão forma aos sistemas de conhecimento e nas
práticas deles resultantes.
Primeiro, um arcabouço teórico e metodológico para compreender sistemas
de percepção, cognição e classificação do ambiente natural por sociedades locais
ou tradicionais. Segundo, o estabelecimento de uma ligação direta entre o
conhecimento construído localmente e o conhecimento acadêmico-científico.
Terceiro, a possibilidade de resgatar e valorizar um conhecimento que tende a
desaparecer rapidamente. Por fim, vale ressaltar que estudos etnoecológicos, junto
com suas implicações sociais, ideológicas e éticas (Toledo, 1992) possibilitam
aumentar a representatividade de uma parcela da sociedade frequentemente
marginalizada nos processos de tomada de decisão formais, em relação aos
recursos que utilizam.
As etnociências de modo geral abrangem um conjunto de subdisciplinas que
têm em comum o estudo dos sistemas locais de conhecimento e processos
cognitivos (CONKLIN, 1954; GOODENOUGH, 1956; FRAKE, 1962; STURTEVANT,
1964). Já a abordagem da etnoecologia, tem sido apresentada como os modos
locais de compreensão das relações entre os humanos e o seu meio natural,
incluindo outros aspectos ecológicos, além das espécies em si, tais como o solo, o
clima, as comunidades ecológicas, entre outros elementos do ambiente (TOLEDO,
1992; HUNN, 2007).

5 BIBLIOGRAFIA

BRASIL. 2012. Decreto Nº 7747, de 13 de junho de 2012, institui a Política Nacional


de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGAT e dá outras
providências. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7747.htm>.
Acesso em 22 de dezembro de 2020.

CARNEIRO, Diogo Borges. “Como eu vivo, me sustento”: formas indígenas de


usos de recursos naturais. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais)-
Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Recursos Naturais da Amazônia,
Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.

CAVALCANTI, C. Sustentabilidade da economia: paradigmas alternativos de


realização econômica.Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade
sustentável. São Paulo: Cortez (1995).
CRUZ, Takumã Machado Scarponi. Etnoecologia de paisagens na terra indígena
Ibirama Laklãnõ, Santa Catarina, Brasil. Dissertação (Programa de
Pós-Graduação em Ecologia), Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC.
Fowler, CS 2000. Etnoecologia. In: Minnis, P. (ed.) Etnobotânica: um leitor.
Imprensa da Universidade de Oklahoma, Norman. P. 13-16. Gragson, TL e Blount,
BG 1999. Etnoecologia: conhecimento, recursos e direitos. University of Georgia
Press, Atenas.
GRÜNBERG, Georg. Os Kaiabi do Brasil Central : História e Etnografia. Posfácio
Klinton V. Senra, Geraldo Mosimann da Silva, Simone Ferreira de Athayde; [tradução
Eugênio G. Wenzel ; tradução dos mitos João Dornstauder]. São Paulo : Instituto
Socioambiental, 2004.
KAYABI, Dineva Maria. Salto Sagrado do Povo Kayabi: uma história de
resistência. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Graduação
Licenciatura em Pedagogia Intercultural, Faculdade Intercultural Indígena, Câmpus
de Barra do Bugres, Universidade do Estado de Mato Grosso.
LIMA, Eliana Beatriz Nunes Rondon; MODESTO FILHO, Paulo; MOURA, Rubem
Mauro Palma de. (Organizadores). Plano Municipal de Saneamento Básico:
Juara-MT. Edufmt, 2017, Cuiabá, MT.

PEZZUTI, Juarez Carlos Brito. Ecologia e etnoecologia de Quelônios no Parque


Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil. Tese (Doutorado em Ecologia), Universidade
Estadual de Campinas, Campinas. SP.

PRADO, Helbert Medeiros; MURRIETA, Rui Sérgio Sereni. A etnoecologia em


perspectiva: origens, interfaces e correntes atuais de um campo em ascensão.
Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. XVIII, n. 4 n p. 139-160, out.-dez. 2015.
SANT’ANA, Daniela Alves Braga. Alianças multifacetadas colonização de Juara –
Mato Grosso – Discursos, práticas culturais e memórias (1971-2008). Cuiabá:
UFMT, 2009. Dissertação (mestrado em História), Instituto de Ciências Humanas e
Sociais, programa de pós graduação em História, Universidade Federal de Mato
Grosso – UFMT, 2009.
SILVA, Regina; SATO, Michèle. Territórios e identidades: mapeamento dos grupos
sociais do Estado de Mato Grosso – BRASIL. Ambiente & Sociedade, Campinas v.
XIII, n. 2, p. 261-281, jul.-dez. 2010.
TOLEDO, Victor. What is Ethnoecology? Origins, Scope, and Implications of a
Rising Discipline. Etnologica, v.1, n. 1, p. 5-21, 1992.
6 PERSPECTIVAS E CRONOGRAMA DE ATIVIDADES CUMPRIDAS E A SEREM
REALIZADAS

Conforme cronograma proposto no projeto (Quadro 1), o ano de 2021 foi


destinado para a integralização das disciplinas que compõem a matriz curricular do
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação.

Quadro 1: Cronograma de atividades do projeto de tese


ATIVIDADES 2021/ 2021/ 2022/ 2022/ 2023/ 2023/ 2024/ 2024/

01 02 01 02 01 02 01 02

Integralização das X X X
disciplinas

Institucionalização do X
Projeto

Aplicação dos X X X
questionários

Turnê guiada X X

Identificação da fauna X X

Identificação da flora X X

Elaboração da tese X X

Qualificação da Tese X

Defesa da Tese X
Fonte: ARAÚJO (2021)

Para o desenvolvimento do projeto, convidamos dois co-orientadores para nos ajudar na


pesquisa por meio de uma carta convite aos professores: Prof. Dr. Fábio Di Dario e Prof. Dr. Rafael
Nogueira Costa, que ainda estamos dialogando.
Fizemos uma relação de bibliografias necessárias para o entendimento da etnobiologia e
antropologia indígena, que estamos adquirindo aos poucos, algumas por meio da internet e outras por
meio da compra de volumes físicos.
Também entramos em contato com as aldeias do Povo Kayabi para explicar a proposta de
pesquisa e solicitar a anuência da comunidade. Ainda estamos aguardando a resposta dos caciques.
Com a pandemia da COVID - 19, o acesso às aldeias foi suspenso por um período, o que
dificultou o contato com as comunidades indígenas, mas ainda não impactou no cronograma da
pesquisa.

7 OUTRAS ATIVIDADES ACADÊMICAS E DE PESQUISA RELEVANTES

7.1 DISCIPLINAS:

7.1.1 DISCIPLINAS CURSADAS:

7.1.2 DISCIPLINAS MATRICULADAS


Disciplina: Fórum de Mudanças Climáticas (03 créditos)

7.2 PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS:

Você também pode gostar