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POVOS INDÍGENAS: MUITO MAIS QUE GUARDIÕES DAS FLORESTAS

Eles se compreendem como natureza e nos ensinam a cuidar dos ecossistemas — por isso merecem nosso respeito e
nossa proteção

No dia 19 de abril celebramos o Dia dos Povos Indígenas, que são muito mais que os guardiões das florestas e
verdadeira referência para todos nós na relação, no respeito e no cuidado com o meio ambiente.
O nome da data, antes conhecida como Dia do Índio, foi atualizado por um projeto de lei proposto por Joenia
Wapichana, primeira mulher indígena eleita para a Câmara dos Deputados, em 2018, e aprovado pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados em dezembro de 2021. A mudança no nome valoriza a
pluralidade das nações indígenas, cada qual com seus costumes, línguas e valores distintos, em vez de abordar a
cultura indígena no singular — só no Brasil existem 305 etnias diferentes.
Se possuem costumes diversos, ao menos um ponto une todas as nações indígenas: a forma de se relacionar com a
natureza. Os povos indígenas são mais que guardiões do meio ambiente, pois se compreendem como natureza,
estabelecem modelos de trocas equilibradas — e não monetárias — com todos os outros seres, preservando biomas e
mantendo a biodiversidade de ecossistemas.
“A relação entre os povos indígenas, a preservação do meio ambiente e da biodiversidade é uma relação única,
semiótica e ritualista. Não temos como falar em preservação do meio ambiente e preservação da Amazônia sem levar
em consideração os povos indígenas”, explica Samela Sateré Mawé, artesã, influenciadora e ativista indígena de
Manaus (AM), em entrevista ao Akatu. “Nós, povos indígenas, somos os principais defensores do meio ambiente e da
floresta preservada. Estamos sempre na luta por território e sabemos que os territórios indígenas são as terras mais
preservadas da biodiversidade.”
As palavras de Samela reverberam o livro A Queda do Céu, do líder Yanomami Davi Kopenawa: “Na floresta, a
ecologia somos nós, os humanos. Mas são também, tanto quanto nós, os xapiri, os animais, as árvores, os rios, os
peixes, o céu, a chuva, o vento e o sol. É tudo o que veio à existência na floresta, longe dos brancos, tudo o que ainda
não tem cerca”.
Confira algumas contribuições inestimáveis dos povos indígenas na preservação do meio ambiente e no
combate à crise climática, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO):
1. Proteção a 80% da biodiversidade
Estima-se que os povos indígenas constituam apenas 5% da população global e seus territórios ocupem somente 28%
da superfície terrestre mundial, mas, juntamente com famílias ribeirinhas, eles protegem e preservam 80% da
biodiversidade mundial, entre animais, plantas, rios, lagos e áreas marinhas.
2.Restauração de florestas e recursos naturais
Os povos indígenas não só pertencem ao ambiente em que vivem, mas se compreendem como tal, mantendo o respeito
à natureza. Comunidades de pastores indígenas, por exemplo, cuidam das pastagens e do cultivo preservando fauna e
flora. Nas montanhas, os sistemas de gestão preservam o solo, conservam a água e diminuem o risco de desastres. E,
na Amazônia, povos indígenas defendem a floresta de queimadas, desmatamentos e mineração ilegal, protegendo a
biodiversidade.
3. Tradições ricas em dietas diversificadas
Atualmente, o mundo depende de um conjunto reduzido de culturas alimentares básicas, como arroz, trigo e milho,
que fornecem apenas metade das necessidades energéticas para a nossa nutrição. Repleto de colheitas nativas
nutritivas, como quinoa e oca, os sistemas alimentares dos povos indígenas podem ajudar a humanidade a expandir
essa base restrita de alimentos e incluir diferentes ervas, grãos, frutas, animais e peixes cultivados de forma mais
sustentável.
4. Safras mais sustentáveis
Os povos indígenas cultivam uma variedade de espécies nativas que são adaptadas aos contextos locais. Essas safras
geram menos poluentes e desperdícios, usam recursos naturais de forma consciente e são inspiração para uma
agropecuária mais sustentável.
5. Práticas agrícolas adaptadas às mudanças climáticas
Nações indígenas ao redor do mundo desenvolveram técnicas agrícolas que se adaptam melhor aos ambientes
extremos, seja em altas altitudes ou pastagens secas. Terraços que evitam a erosão do solo e jardins flutuantes em
campos inundados são métodos comprovadamente adequados para mudanças de temperatura e eventos climáticos.
“Os povos indígenas são parceiros inestimáveis no fornecimento de soluções para as
mudanças climáticas e na criação de um mundo sem fome. Nunca alcançaremos soluções a
longo prazo para as mudanças climáticas e para a segurança alimentar e nutricional sem
buscar ajuda e proteger os direitos dos povos indígenas.” — Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)
RESISTÊNCIA

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existem cerca de 370 a 500 milhões
de indígenas em 90 países ao redor do mundo, representando 5 mil culturas diferentes. No Brasil, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) estima cerca de 1,1 milhão de residentes em localidades indígenas e outros 1,1
milhão em quilombos nas cinco regiões do país.
Apesar de ser uma população relativamente pequena — dizimada ao longo dos séculos desde a chegada dos
portugueses em solo brasileiro até os dias de hoje, em que a política do branqueamento segue ativa, ainda que não
oficialmente — os povos indígenas são essenciais para a proteção das nossas florestas e, por isso mesmo, deveriam ser
protegidos por todos nós.
Nos últimos 40 anos, por exemplo, 20% da Floresta Amazônica foi devastada por madeireiras, grileiros, posseiros,
criadores de gado, garimpeiros e mineradoras, enquanto as Terras Indígenas na Amazônia Legal perderam apenas 2%
de suas florestas originais.
Ainda na Amazônia, os povos Apurinã, Paumari, Jamamadi e Deni contribuíram para a conservação de um estoque de
carbono que equivale a 114 milhões de árvores, de acordo com o relatório do projeto Raízes do Purus. Com a
contribuição preciosa e com as práticas sustentáveis de cultivo e estilo de vida, esses povos vão ajudar a remover mais
de 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre 2021 e 2024, conservando mais de 2,3 milhões de
hectares de floresta amazônica — o equivalente a 3,2 milhões de campos de futebol.
Ao mesmo tempo, as queimadas e o desmatamento ilegal promovidos por madeireiras, garimpeiros e pecuaristas
avançam sobre os territórios indígenas, ameaçando a vida de seus povos. Um levantamento feito pela
organização Global Forest Watch e pelo portal Repórter Brasil mostra que mais de 115 mil focos de incêndio
atingiram as Terras Indígenas em todo o país entre janeiro e outubro de 2021, em especial no Parque Indígena do
Xingu (MT) e no Parque Indígena do Araguaia (TO).
Já um estudo da Hutukara Associação Yanomami, lançado no início do mês, revela um avanço de 46% das práticas de
garimpo ilegal em terras Yanomami, o que não só destrói o meio ambiente como também espalha doenças
sexualmente transmissíveis e resulta em casos de agressão sexual, prejudicando diretamente 273 comunidades.
Defender os povos indígenas e consequentemente nossas florestas é algo que compete a todos nós. Além de
assegurarmos os meios de sobrevivência dessas populações milenares, cada vez mais vulneráveis, estamos
preservando rios e nascentes, espécies da fauna e da flora, conservando ecossistemas e recursos naturais essenciais
para a manutenção da nossa vida e das futuras gerações.

FONTE: https://akatu.org.br/povos-indigenas-muito-mais-que-guardioes-das-florestas/

ATIVIDADE AVALIATIVA

1) Quais os principais desafios (perigos) os indígenas da Terra Indígena Araribóia (MA) enfrentam
para se manterem vivos e preservarem suas tradições?

Os índios da Terra Indígena Araribóia, no estado do Maranhão, têm muitos problemas para se
manterem saudáveis e preservar sua cultura. Alguns dos principais riscos incluem: a intrusão de
terras não indígenas, a depredação do ambiente, os conflitos com madeireiros, garimpeiros e
farmers, a falta de acesso a serviços primários de saúde e educação, a perda de suas línguas e
culturas devido à pressão dos colonizadores, e a falta de respeito e reconhecimento dos direitos
indígenas. esses problemas representam um perigo à segurança física e cultural das
comunidades em questão.
2) Os indígenas Awá Guajá, (comunidade isolada cujo estilo de vida depende essencialmente das
florestas) acham-se completamente ameaçados nessa área do Maranhão. Sobre essa temática
responda:

a) Você imaginava que existia e era possível ainda comunidades humanas viverem longe do
que chamamos de “civilização? Explique

Sim, é possível que comunidades humanas vivam isoladas da chamada "civilização" em áreas
remotas, como florestas densas e regiões montanhosas. Existem várias comunidades indígenas
ao redor do mundo que mantiveram seus estilos de vida tradicionais distantes dos centros
urbanos e da modernidade. Essas comunidades muitas vezes dependem dos recursos naturais
disponíveis em seu ambiente para sua subsistência, preservando conhecimentos ancestrais e
uma conexão profunda com a natureza. No caso dos Awá Guajá, eles são uma comunidade
indígena que vive no Maranhão, Brasil, e enfrentam sérias ameaças devido à invasão de suas
terras e à destruição de seu habitat natural.

b) O genocídio indígena acontece desde o período da colonização. O documentário apresenta


um período da história brasileira onde o extermínio indígena se deu de forma muito
acentuada. Qual período é mencionado especificamente e – com base nas informações que
temos desta fase da nossa história – quais os possíveis motivos para tanto descaso com os
povos originários?

.O período em questão no documentário pode corresponder ao período da colonização do Brasil,


que se iniciou no século XVI. Durante este período e os próximos séculos, um grande genocídio
indígena foi cometido, o que resultou na morte de muitas tribos e sociedades. As possíveis razões
para este descaso e comportamento violento contra as populações indígenas podem ser
encontradas na busca por terras e recursos naturais, como é o caso do ouro, da exploração
econômica, da imposição de costumes e crenças africanos sobre as culturas indígenas, da
escravidão dos nativos e da difusão de doenças que os colonizadores criaram, as quais não
possuíam proteção. Essas circunstâncias combinadas levaram a um efeito devastador sobre as
comunidades e suas representações culturais. É fundamental reconhecer e enfrentar este
histórico antigo, assim como preservar e proteger os direitos indígenas no presente.

3) Em 2023 foi criado o Ministério dos Povos Indígenas (com Sonia Guarajara em seu comando
atualmente). Como esse ministério pode vir a auxiliar as comunidades indígenas do Maranhão e
de tantas outras regiões do nosso País?
O Ministério dos Povos Indígenas,, sob a direção de Sônia Guajajara, pode colaborar com os
povos indígenas do Maranhão de várias maneiras. Ele pode preservar os direitos dos nativos,
estimular o debate entre as comunidades e outros indivíduos, criar políticas públicas para atender
às suas exigências, preservar o ambiente e desenvolver a cultura nativa. Para isso, o governo
precisa de fundos e assistência para realizar uma boa administração.

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