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O mercado
de bens simbólicos
/
' Se com pararm os a ditadura m ilitar ao Estado Novo
podemos apreender algum as analogias e diferenças que
esclarecem o papel do Estado em relação à cultura. Nas
duas ocasiões, 37 e 64, o que define sua política é um a
visão autoritária que se desdobra no plano da cultura pela
censura e pelo incentivo de determ inadas ações culturais.
D a mesm a form a que o governo m ilitar desenvolve ati
vidades na esfera cultural, Vargas cria um a série de insti
tuições como o Instituto Nacional do Livro, o Instituto N a
cional do Cinem a Educativo, museus, bibliotecas, além de
r,*M2 8S
EUA 4 400(1946) 79
Inglaterra 1430(1949) % * i9 3 86
A lemanha Oc. 818(1956) - # 167 80
Japão 1 127(1958) 247 78
França 411(1957) 183 55
Itália 819(1955) 556 32
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mente. Norm alm ente esse debate tem sido traduzido na li
teratura sobre comunicação de massa como um a oposição
entre cultura de m assa e cultura de elite. O seminário diri
gido por Lazersfeld, em 1959, organizado pelo Tam im ent
Institut e a revista D a e d a lu s , ilustra bem como se dividem
as opiniões dos intelectuais e dos especialistas quando tra
tam da questão.59 No caso da escola de F rankfurt, creio que
em linhas gerais suas idéias são conhecidas. N um a socie
dade de consumo a cultura se torna m ercadoria, seja para
aquele que a fabrica ou a consome. Na m edida em que a
sociedade avançada é caracterizada pela regressão da au
dição, isto é, pela incapacidade de reconhecer o novo, p ro
dutores e consumidores fariam parte de um mesmo pólo,
reforçando o sistema de dom inação racional.60 Não quero
me alongar neste texto sobre as questões teóricas, são várias
as críticas que poderíam os levantar; pessoalmente penso
que a perspectiva frankfurtiana que vê a ideologia exclusi
vamente como técnica, o que significa assim ilar a cultura à
m ercadoria, tem o m érito de cham ar a atenção p ara certos
problem as, mas nos impede de com preenderm os outros. Eu
diria que a cultura, mesmo quando industrializada, não é
nunca inteiram ente m ercadoria, ela encerra um “valor de
uso” que é intrínseco à sua m anifestação. Há um a dife
rença entre um sabonete e um a ópera de sabão. O prim eiro
é sempre o mesmo, e sua aceitação no mercado depende
inclusive desta “ eternidade” que garante ao consum idor a
qualidade de um padrão. A segunda possui um a unicidade,
por mais que seja um produto padronizado. Por isso prefiro
a postura de Edgar Morin quando afirm a que “ a indústria
(59) Ver Norman Jacobs (org.), Culture fo r M illions, op. cit. Sobre o
mesmo debate, Georges Friedm an, “ Culture pour les M illions", in Ces Mer-
veilleux Instrum ents, Paris, Denoêl, 1979.
(60) São vários os escritos sobre a cultura como m ercadoria. Seguindo esta
tradição temos, no caso da im prensa, Ciro M arcondes Filho, O Capital da N o tí
cia, São Paulo, Ãtica, 1986. É sintom ático que um autor como Hoffman, que na
Alemanha tem defendido a tese da “ im prensa como negócio” , tenha recentem ente
sublinhado os impasses deste tipo de abordagem exclusivamente econômica. Ver
B. Hoffman, “ On the Development of a M aterialist Theory of Mass Communi-
cation in W est G erm any” , in Media, Culture and Society, n? especial A fter the
Frankfurt School, vol. 5, n? 1, janeiro de 1985.
A M O D E R N A T R A D I Ç Ã O B R A S IL E IR A 147
(61) Edgar M orin, L'E sprit du Tem ps, Paris, Grasset, 1962, p. 27.
(62) Edgar M orin, LesS ta rs, Paris, Seuil, 1972.
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